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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O EFEITO DA DESAPROPRIAÇÃO SOBRE
O FUNDO DE COMÉRCIO
ISRAEL SOARES
ORIENTADORES: IVAM GARCIA
EDUARDO MOREIRA
Rio de Janeiro
2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O EFEITO DA DESAPROPRIAÇÃO SOBRE O FUNDO DE
COMÉRCIO
OBJETIVOS:
Visa a presente monografia narrar a evolução
histórica do direito de propriedade, sua função
social, a desapropriação e o seu efeito sobre o
fundo de comércio. Pretende-se, com a pesquisa,
colaborar no plano acadêmico para o
aprofundamento de um tema de extrema
importância para o Direito Empresarial.
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AGRADECIMENTOS
A todos os autores, corpo docente do Projeto “A Vez do
Mestre”. Aos amigos e pessoas que direta e indiretamente,
contribuíram para a confecção desse trabalho acadêmico.
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais que, mesmo sem terem freqüentado uma
escola, ensinaram-me a ler e a compreender a vida.
Dedico também a minha esposa Vilma e as minhas filhas
Viviane e Sarah por tudo que representam em minha
vida.
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RESUMO
A presente pesquisa tem como objeto uma análise do efeito da
desapropriação sobre o fundo de comércio. É importante observar que não existe,
no direito pátrio, lei que garanta ao proprietário do fundo de comércio o direito a
uma indenização quando ele sofre, por parte do Estado, um prejuízo por conta da
desapropriação. O nosso problema encontra-se na possibilidade ou não de se
estender ao fundo de comércio o direito ao ressarcimento dos seus prejuízos,
quando a propriedade sofrer desapropriação por parte do Estado. Para uma
perfeita compreensão do tema, desenvolveremos a pesquisa falando inicialmente
da propriedade e seguiremos na seguinte ordem: a desapropriação do fundo de
comércio, a indenização pela perda do fundo de comércio por desapropriação, da
dificuldade enfrentada pela doutrina na análise do aviamento, da ação renovatória
de locação. Finalizaremos a pesquisa com comentários sobre a interpretação,
integração e justiça do caso concreto.
Como se vê, trata-se da análise do desenvolvimento da função da
propriedade desde Roma até os dias atuais, observando os seus efeitos sobre
toda a sociedade. O importante é compreender que qualquer modificação que
esse instituto sofra, há de imediato, uma repercussão nas relações jurídicas
existentes na sociedade. Essas modificações produzem efeitos de ordem social.
Nesse efeito social é que se encontra a importância da pesquisa.
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METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde os dados foram extraídos de
livros de direito empresarial, direito civil, direito processual civil, direito
administrativo, revistas do ramo e leis atuais e específicas, utilizando-se a
pesquisa exploratória.
Após a coleta do material da pesquisa foi realizada uma análise
interpretativa dos dados, com reflexão orientada para os objetivos da pesquisa,
visando à elaboração de uma monografia em que será informado o resultado da
pesquisa face aos objetivos propostos, as conclusões que resultaram do estudo e
as recomendações para novos estudos em torno do tema.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 11
DA PROPRIEDADE 11 1.1 - Característica do Direito de Propriedade 16 1.2- Das Teorias a Respeito da Propriedade 17
1.3 - Das Fontes do Direito de Propriedade 20 1.4 - Função Social da Propriedade 21 1.1 - A Intervenção do Estado na Propriedade. 23
CAPÍTULO II 26
DESAPROPRIAÇÃO 26 2.1 – Das Teorias Sobre a Desapropriação 27
CAPÍTULO III 31
FUNDO DE COMÉRCIO 31 3. 1 - O Ponto 32 3. 2 - Nome Comercial 33 3. 3 - Título do Estabelecimento 34 3. 4 - Aviamento 34
CAPÍTULO IV 36
INDENIZAÇÃO PELA PERDA DO FUNDO DE COMÉRCIO POR DESAPROPRIAÇÃO 36
CAPÍTULO V 37
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA DOUTRINA NA ANÁLISE DO AVIAMENTO 37
CAPÍTULO VI 39
AÇÃO RENOVATÓRIA 39
CAPÍTULO VII 42
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DA INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO E JUSTIÇA DO CASO CONCRETO 42 7.1– Eqüidade 42 7.2 – Interpretação Extensiva 45 7.3 – Analogia 46
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA 50
ÍNDICE 52
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INTRODUÇÃO
A pesquisa sobre o direito de propriedade, a desapropriação e o fundo
de comércio interessa a todos. O tema desperta maior interesse quando se
observa o efeito da desapropriação sobre o fundo de comércio. Analisando a
questão percebi que ao longo da história a função social da propriedade sofreu
modificações que tiraram seu caráter de direito absoluto e individualista, tornando-
se relativo e social. Daí, surgiu o interesse à pesquisa sobre o assunto.
O conceito de propriedade na doutrina jurídica, passa de um sentido
individualista romano para uma natureza publicista determinada pelo interesse
social. O seu caráter absoluto não é tido como a possibilidade de utilização da
propriedade sem limitações. Há uma evolução no pensamento que antes era
individualista e posteriormente passa a ser social.
Visa o presente trabalho narrar a evolução histórica do direito de
propriedade e analisar os efeitos da desapropriação quando na propriedade há
um fundo de comércio que pertence a um comerciante ou industrial proprietários
ou inquilino estabelecido no local objeto da desapropriação. O nosso problema
encontra-se na possibilidade ou não de se estender ao fundo de comércio o direito
ao ressarcimento dos seus prejuízos, quando a propriedade sofrer desapropriação
por parte do Estado. Nosso objetivo, em ultima análise, é colaborar no plano
acadêmico para o aprofundamento de um tema de extrema importância para o
Direito Empresarial, já que esse ramo de direito é o meio adequado para
disciplinar este tipo de relação jurídica.
Além disso, o tema da presente pesquisa bibliográfica é relevante, pois se
trata de uma análise do desenvolvimento da função da propriedade desde Roma
até os dias atuais, observando os seus efeitos sobre toda a sociedade. É
importante destacar, que qualquer modificação que sofra esse instituto há, de
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imediato, uma repercussão nas relações jurídicas existente na sociedade, pois
essas modificações produzem efeitos de ordem social. Nesse efeito social é que
se encontra a importância do instituto.
A pesquisa será ordenada do seguinte modo: procuramos inicialmente
traçar a sua origem histórica no Direito Romano, no Feudalismo e na Revolução
Francesa. Em seguida nas Constituições desde do Império até a de 1988. Serão
vistas algumas das características do direito de propriedade e algumas teorias
sobre o tema. Serão vistas, também, as fontes desse direito tanto antigas quanto
as modernas. A função social da propriedade na Constituição de 1988. Num
segundo momento falaremos sobre a intervenção do Estado na propriedade
privada, analisando o efeito dessa intervenção quando ocorre a desapropriação e
há um fundo de comércio para ser indenizado. Dentro desse objetivo falaremos
sobre o direito do comerciante ou industrial ter o seu contrato de locação renovado
quando ele preencher os requisitos legais. E finalizaremos com comentários sobre
um possível caminho para solucionar o conflito, lançando mão da equidade da
interpretação extensiva e da analogia, já que inexiste lei especifica que garanta ao
desapropriado, proprietário do fundo de comércio, o direito a indenização.
O direito de propriedade vem evoluindo desde Roma até os dias atuais,
tornando-se, por conta disso, um direito mais social e humano. Desse modo, seria
possível excluir o proprietário do fundo de comércio do direito à indenização
quando ocorrer à desapropriação? É essa a questão que procuramos responder
com a presente pesquisa.
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CAPÍTULO I
Da Propriedade
Para Ruy Rebello Pinho e Amauri Mascaro do nascimento ao conceituar
propriedade, deve-se considerar, inicialmente, aspectos subjetivos e objetivos. Os
primeiros concernem à pessoa do proprietário. O segundo dizem respeito às
limitações que o interesse social deve impor aos direitos subjetivos, de modo
qualitativo e quantitativo. Assim, a propriedade é o poder de ter uma coisa como
sua, usando-a em proveito próprio, mas na medida do interesse social.
Levenhagen, comentando o Código Civil de 1916 observa que ele não
conceituou a propriedade e que somente se limitou a enunciar os poderes do
proprietário. Diz também que é com base nesse enunciado que a doutrina passou
a definir a propriedade como o direito de usar, gozar e dispor da coisa, e
reivindicá-la de quem injustamente a detenha.
Historicamente devemos tomar como ponto de referencia, com relação à
propriedade, as concepções do Direito Romano. Isto porque é no Direito Romano
que vamos encontrar a origem histórica da propriedade. Para eles a propriedade
era individual e absoluta, consistindo no jus utende, fruend e abutendi, isto é no
direito de usar fruir e dispor ilimitadamente da coisa. O direito de propriedade
conferia ao seu titular um poder pleno sobre a coisa, tutelado pela vindicatio.
Um outro momento histórico importante é o feudalismo. Nesse sistema a
propriedade feudal não é unitária e pressupõe o domínio eminente, exercido pelos
senhores feudais, e o domínio útil, exercido pelos vassalos, estes consistentes na
possibilidade de extrair as vantagens da coisa, mediante o pagamento de um
feudo aos detentores do domínio eminente. Portanto, a estrutura jurídica da
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propriedade feudal é de certo modo uma co-propriedade, uma incidência dupla de
poderes diferente.
Um outro marco é a Revolução Francesa, que foi, de algum modo, uma
tomada de posição sobre o problema da propriedade, em termos de um
individualismo que viria a provocar depois outra atitude a reação socialista.
No Brasil, apesar de sua importância histórica, não podemos considerar
como ponto de partida para o estudo da propriedade no direito brasileiro o regime
das capitanias hereditárias, que era, na verdade, uma doação de terras aos
capitães e senhores, com reserva de parte do solo e o dever expresso nas cartas
de doações de parti-las em sesmarias.
Por conta disso, devemos iniciar a nossa pesquisa pela Constituição do
Império do Brasil, de 1824, que assegurava a propriedade privada, corpórea no
seu artigo art.179, n.º 22, nos seguintes termos: “È garantido o direito de
propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem público legalmente verificado
exigir o uso e o emprego da propriedade do cidadão, será ele previamente
indenizado o valor dela. A lei marcará os casos em que terá lugar esta única
exceção e dará as regras para se determinar a indenização. Incorpórea ( art.
179, n.º 26): “Os inventores terão a propriedade das suas descobertas ou das
suas produções. A lei lhes assegurará um privilegio exclusivo temporário, ou lhes
remunerará em ressarcimento da perda que hajam de sofrer pela vulgarização”.
Na Constituição da Republica de 1891, ressaltou que as desapropriações
poderiam se dar por necessidade ou utilidade pública e atribuiu aos proprietários
do solo também o domínio sobre as minas, salvo limitações determinada pela
exploração respectiva (art.72 § 17).
O Código Civil de 1916, que foi influenciado por uma estrutura agrária,
caracterizava-se pelo traço marcadamente individualista, nos moldes romanos,
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assegurava ao proprietário os direitos subjetivos da propriedade, sem maiores
preocupações de caráter social.
Com a Constituição de 16 de julho de1934, o Código de 1916, com menos
de dezoito anos, se torna obsoleto. Isto acontece por conta do reflexo sul-
americano da “Constituição de Weimar”. Para Pinto Ferreira na sua obra
“Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno”, “ o País mudou de uma
democracia liberal para uma democracia social com a poderosa ampliação do
governo no campo econômico”. A nacionalização das empresas, a limitação de
lucros, a função social da propriedade, foram alguns dos traços que marcam o
novo diploma legal, cujo artigo 113, n.º 17, declara: ”É garantido o direito de
propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na
forma que a lei determinar..”
Com a Constituição de 10 de novembro de 1937, um novo sistema político
passou a vigorar significando, de certo modo, reação contra os princípios
estabelecidos e assumindo uma atitude até certo ponto conciliatória com as forças
opostas. Mantém-se o Direito de Propriedade, no entanto foi retirado do preceito
constitucional o primado do interesse social ou coletivo, pois o novo texto
restringiu-se a declarar o seguinte: “A Constituição assegura aos brasileiros e
estrangeiros residente no País o direito à liberdade, à segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes. n.º 14 - o Direito de Propriedade, salvo a
desapropriação por necessidade de utilização pública, mediante indenização
prévia”. Trata-se de um retrocesso ao regime anterior.
Em 1946 uma nova constituição é promulgada, mas nenhuma alteração de
vulto foi introduzida. A única modificação digna de menção refere-se às
desapropriações, que antes eram motivadas pela necessidade ou utilidade
pública, agora também pelo mero interesse social. O que significa uma ampliação
do conceito.
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No ano 1967 uma nova Constituição, inspirada em princípios
revolucionários de combate à corrupção e luta contra o comunismo restabeleceu
a função social da propriedade, assim, foi retomado, nesse particular, o sentido
da Carta de 1937, não obstante a diferença entre as forças moderadoras que
inspiraram os dois diplomas legais.
Apesar da dúvida sobre qual a natureza das medidas adotadas em 17 de
outubro de 1969, se Constituição ou Emendas à Constituição, o certo é que ela
manteve a mesma orientação anterior.
Para Pinto Ferreira, em comentários à constituição Brasileira, “a
propriedade é instituto de caráter político: a ordem jurídica pode reconhecer, ou
não, as características que dão forma ao instituto. Historicamente, a propriedade
constituía verdadeiro direito natural, sendo erigida a direito fundamental nas
declarações de direito da época do constitucionalismo. As tendências
socializastes, porém, alteraram a fisionomia da propriedade, e muitos
ordenamentos jurídicos firmaram o postulado ortodoxo de que a propriedade tinha
caráter provisório até que se chegasse a coletivização em massa”.
O objeto do direito de propriedade há de ser bem econômico, com expressão
patrimonial, seja corpóreo ou incorpóreo.
Em consonância com a Constituição Federal de 1988 o novo Código Civil
de 2002 na Seção I, do Capitulo I, do Titulo III, cuida das disposições preliminares
da propriedade e diz no seu artigo 1.228 diz o seguinte: “o proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha”. O parágrafo primeiro diz “O
direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
sociais de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em
lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
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patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”. O
parágrafo segundo dispõe, “São defeso os atos que não trazem ao proprietário
qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem”. O parágrafo terceiro diz que “o proprietário pode ser privado da coisa,
nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse
social, bem como no de requisição em caso de perigo público iminente”. Já o
parágrafo quarto diz que “O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé,
por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela
houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante”.
Comentando o Código Civil de 1916, Levenhagem, observou que o Código
de 1916 não conceituou o que seja propriedade e que somente limitou-se a
enunciar os poderes do proprietário. Disse, também, que é com base nesse
enunciado que a doutrina passou a definir a propriedade como o direito de usar,
gozar e dispor da coisa, e reivindicá-la de quem injustamente a detenha.
Continuou o professor em seus comentários dizendo que é dessa definição
que se evidenciam os elementos constitutivos desse direito real por excelência,
quais sejam: direito de usar (ius utendi), direito de gozar (ius fruendi), direito de
dispor (ius abutendi) e direito de reaver a coisa (rei vendicatio).
Didaticamente o autor conceituou cada um dos elementos da propriedade dizendo
que o direito de usar consiste na faculdade de colocar a coisa a serviço do titular
ou de terceiro.
O direito de gozar traduz-se na percepção dos frutos, sejam eles naturais,
industriais ou civis.
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Continuo dizendo que o direito de dispor é de todos os elementos da
propriedade o que mais evidencia esse direito real, uma vez que aquele que
pode dispor da coisa, mais claramente se mostra como o dono da coisa.
E por fim, diz o autor que o direito de reaver a coisa de quem injustamente
a detém é um elemento conseqüente ao próprio caráter da propriedade como
direito.
O objeto do direito de propriedade há de ser bem econômico, com
expressão patrimonial, seja corpóreo ou incorpóreo.
1.1 – Características do Direito de Propriedade
A propriedade pode ser plena ou limitada. Será plena, quando todos os
elementos que a compõem posse, uso, gozo e disposição acham-se reunidos no
proprietário. Quando algum desses elementos se desprende, passando a
constituir direito real de outra pessoa, ou quando se trata de propriedade
resolúvel, será, então, limitada.
Propriedade resolúvel é aquela que só não é plena porque está sujeita a
extinguir-se com a realização de uma condição resolutiva prevista no contrato ou
em lei, ou porque por força de contrato ou de lei, tem um termo, um prazo
extintivo. São exemplo de propriedade resolúvel a venda com a cláusula de
“retrovenda”, a que contenha o pacto de melhor comprador e a propriedade
fiduciária “.
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1.2 - Das Teorias a Respeito do Direito de Propriedade
Para Ruy Rebello Pinho e Amauri Mascaro do Nascimento, Hoje podemos
encontrar quatro posições teóricas fundamentais que uma sociedade política
pode tomar diante do problema da propriedade, vinculada a pressuposto
históricos, filosóficos e econômicos: socialização, nacionalização da propriedade,
democratização da propriedade e a humanização da propriedade. Vejamos cada
uma das espécies:
A primeira das teorias, a da socialização, parti da classificação dos bens
econômicos em bens de consumo, bens duráveis e bens de produção, conforme
sejam destruídos pelo primeiro uso, destruídos pelo uso prolongado ou destinados
à criação dos demais bens, a teoria socialista é, em principio, intransigente quanto
aos bens de produção cuja propriedade será necessariamente estatal. Assim, o
solo, as rodovias, as fabricas, os transportes, a radiocomunicação etc.,
constituem propriedade socialista. O solo , como propriedade estatal, é concedido
em usufruto aos cidadãos, o usufruto é transmissível por direito sucessório. Há
uma limitação de metros quadrados de construção para habitação.
A segundo teoria, a nacionalização da propriedade, significa uma passagem
da propriedade particular para propriedade pública, correspondendo à intervenção
estatal no domínio econômico, sem sacrificar as bases do regime capitalista,
permanecendo, como regra, a propriedade privada dos bens de produção. O
Estado desce ao empreendimento privado e nacionaliza empresas. Manifestações
típicas de nacionalização de propriedade são a dissociação do solo e subsolo, a
estatização das águas, a organização de serviços industrializados, a exploração
pública dos transportes coletivos, da energia elétrica, dos bancos e certas
fabricas.
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Na teoria da democratização da propriedade ocorre a popularização da
propriedade, a sua extensão qualitativa e quantitativa, baseada no trabalho e
utilizações das coisas. Da propriedade estática há uma passagem para a
propriedade dinâmica, com a disseminação da propriedade.
E por fim a teoria da humanização da propriedade que nada mas é do que
uma reação contra a concepção individualista. Consiste em limitações que
atingem a intensidade do direito de propriedade, no benefício do interesse social.
Após a análise das teorias relativas à propriedade, entendem os autores
que compete ao Poder Público na medida do interesse social, estabelecer as
condições e os limites do interesse social com relação à propriedade, observando
as tendências de humanização e os esforços de democratização.
Continuam a analise dizendo que não só os socialistas, mas também os
economistas liberais como Ricardo, sustentam que o trabalho é o único
fundamento legitimo da propriedade. Sem considerar os excessos ai contido, é
preciso admitir a afirmação como acertada em principio, embora aceitos outros
modos de aquisição como a sucessão, a acessão, etc.
Já para César Fiúza, são Quatro as teorias que procuram delinear a
base jurídico-teórica do direito real de propriedade:
a)Teoria da ocupação - para essa teoria o direito de propriedade teria
embasamento na própria ocupação das coisas pelo homem, a fim de satisfazer
suas necessidades.
b)Teoria da Lei - Segundo esta teoria a propriedade é instituída de direito
positivo. Existe porque a Lei que a criou lhe deu garantia e continuidade. Para
Fiúza, essa teoria foi defendida por Montesquieu e Hobbes.
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c) Teoria da Especificação - por esta teoria o direito de propriedade só se
pode entender como fruto do trabalho. É a concepção de Ihering. Também é
defendida pelos economistas e socialistas.
d) Teoria da Natureza humana - por esta teoria o direito de propriedade tem
por fundamento a própria natureza humana, porque é natural que o ser humano
exerça poder e domínio sobre as coisas. Como este direito tem origem na
natureza humana, é perfeitamente legitimo o direito de propriedade.
Para César Fiúza, “as relações jurídicas reais estabelecem-se entre o titular
de direito sobre um bem e o não-titular. Confrontam-se, portanto, titular e não-
titular. Só há titular, por haver não-titular. Só se pode falar, por exemplo, em dono,
em confronto com não dono.
Só para diferenciarmos do Direito das Obrigações, podemos dizer que há
neste uma relação entre credor e devedor. A relação é de caráter pessoal.
Vincula pessoa a pessoa. Pessoas determinadas. Somente entre elas há o
vínculo.
Já o Direito das Coisas liga a pessoa a um bem. Bem em seu sentido
amplo. Além disso, o seu caráter é erga omnes. Obriga a todos. Como foi visto, no
passado o direito de propriedade era considerado direito absoluto. No atual
sistema jurídico perdeu essa condição já que inexiste direito absoluto, mas
continua como um dos princípios mais importante da Ordem Econômica e Social.
Daí o direito de desapropriação por parte do poder público, o direito de vizinhança,
que restringe o direito do proprietário, impedindo-o de ter um caráter absoluto e
intocável.
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1.3 Das Fontes do Direito de Propriedade
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Atualmente o direito de propriedade está disciplinado na Constituição
Federal da Republica Federativa do Brasil de 1988, no Código Civil de 2002 e em
leis especiais. Na Constituição encontra-se no capitulo referente aos Direitos e
Garantias Individuais e Coletivos e no capitulo referente à Ordem Econômica e
Social. No Código Civil no livro referente aos Direitos das Coisas. Há também
varias leis especiais que cuidam da propriedade.
Assim, podemos dizer que Direito das Coisas e o ramo do direito que cuida
das relações jurídicas reais, entendidas estas como as que se estabelecem entre
o titular de uma coisa e a sociedade em geral.
Comentando o artigo 524 do antigo Código Civil de 1916, Levenhagem diz
que: “a propriedade é o direito de usar, gozar e dispor dos bens, bem como de
reavê-la do poder de quem injustamente os possua”. Trata-se de um direto
exclusivo, porque afasta da coisa sobre a qual ela recaia, a ação de qualquer
outra pessoa.
O atual Código Civil repete o artigo supra em seu artigo 1228, dizendo que:
“o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. César
Fiúza comentando este artigo diz: “na verdade, dizer que propriedade é direito de
usar, fruir, dispor e reivindicar é prender-se à definição analítica do Direito
Romano. Dada a dificuldade de se formular definição sintética de propriedade”.
Quanto ao poderes sobre a coisa diz Levenhagem que: ”Embora reunindo
tão grande soma de poderes sobre a coisa, a propriedade não pode ser
considerada como um direito absoluto, porquanto está sujeita a restrições
impostas pelo bem público, pela necessidade de defesa do bem-estar social, da
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paz e da ordem coletiva, assim como pelas exigências da segurança nacional”.
Continua o autor dando exemplos de restrições ao direito de propriedade que são
a desapropriação por parte do poder público, o direito de vizinhança, que restringe
o direito do proprietário, impedindo-o de ter um caráter absoluto e intocável.
1.4 – Função Social da Propriedade
Analisadas as fontes e os elementos da propriedade, passaremos a
comentar a sua função social.
A Constituição Federal de 1988 no artigo 5º cuida do Direitos e Garantias
fundamentais e nos incisos XXII e XXIII, trata da propriedade e de sua função
social dizendo assim: XXII, é garantido o direito de propriedade, XXIII, a
propriedade atenderá a sua função social.
O Professor Júlio Aurélio Vianna Lopes, em Lições de Direito
Constitucional, comenta os incisos supra, dizendo: “A propriedade privada, em
nosso regime constitucional, é um direito individual fundamental, cujo exercício
está vinculado a uma função social básica. Isso significa que o seu titular é aquele
que decide sobre o sentido no qual irá exercê-lo e também que não poderá deixar
de exercê-lo, a fim de que a coletividade não seja prejudicada por seu uso, além
de eventual uso nocivo”.
Continua o comentário, explicando que a função social consiste numa
compensação à comunidade pelas dificuldades, imposição ou mesmo prejuízo que
qualquer propriedade privada acarreta para a mesma. Pode ser urbana ou rural, e
consiste no fundamento jurídico da reforma urbana (art.182) e da reforma agrária
(arts. 185 e 186)
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José Afonso da Silva diz que “a função social urbana é definida por cada
plano diretor municipal e seu descumprimento ocorrerá quando a destinação da
propriedade urbana colidir com o mesmo. Trata-se de compensação à
coletividade municipal, a qual foi constitucionalmente encarregada do
desenvolvimento urbano”.
Para Júlio Aurélio “O plano diretor é simplesmente uma lei municipal que
fixa as diretrizes da urbanização a ser efetivada, especificando as áreas e suas
correspondentes destinações (residencial, circulação, lazer, serviços, etc.).
Embora municípios com população superior a 20.000 (vinte mil) habitantes
estejam obrigados a adotá-los, nada impede que municípios com população de
até 20.000 (vinte mil) habitantes possam formular seu próprio plano diretor.
O parágrafo 4º do artigo 182, da Constituição Federal de 1988 dispõe: “É
facultado ao poder publico municipal, mediante lei especifica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subtilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios.
II - Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo.
III - Desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de
resgate de até 10 (dez) anos, em parcelas anuais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais”.
O parágrafo elenca sanções aplicáveis a imóveis urbanos situados em área
especifica do município e de interesse para expansão urbana. Júlio Aurélio citando
Tupinambá de Castro, comenta que “para a maioria da doutrina, as referidas
sanções só podem ser aplicadas ao proprietário de solo urbano não edificado,
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subtilizado ou não-utilizado, na ordem definida por seus incisos. É preciso
registrar, porém, que esse dispositivo continua sendo de eficácia limitada, pois
sua aplicabilidade depende de um plano diretor (portaria, lei), uma lei municipal
especifica para a referida área e uma lei federal que fixaria os termos para a
exigência do adequado aproveitamento do imóvel urbano por seu proprietário”.
Já, Carlos Ari Sandfeld considera ser pura discricionariedade do Prefeito
municipal a escolha de sanções a ser aplicada, a medida que o dispositivo tem a
finalidade de proteger o interesse do Município como Pessoa Jurídica de direito
Público. Todavia tal posicionamento não é bem aceito pela doutrina majoritária.
Viana Lopes, descorda do posicionamento de Carlos Ari Sundfeld. Para
ele o dispositivo constitucional, como todo preceito sobre função social da
propriedade privada, visa ao equilíbrio entre os interesses do proprietário e os da
coletividade, o que não ocorreria com a mera discricionariedade do Poder Público
na aplicação das sanções administrativas da política de desenvolvimento urbano.
1.5 – A Intervenção do Estado na Propriedade
O professor José dos Santos Carvalho Filho citando BIELSA diz que: “com
relação a intervenção do Estado na propriedade privada resulta da evolução do
perfil do Estado no mundo moderno. Isto que dizer que o Estado moderno não
limita sua ação á mantença da segurança externa e da paz interna, como que
suprimindo as ações individuais. Muito mais do que isso, o Estado deve perceber
e concretizar as aspirações coletivas, exercendo papel de fundamental conotação
social”.
Continua Carvalho dizendo que no curso evolutivo da sociedade, o estado
do século XIX não tinha esse tipo de preocupação. A doutrina do laissez faire
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assegurava ampla liberdade aos indivíduos e considerava intangíveis os seus
direitos, mas, ao mesmo tempo, permitia que os abismos sociais se tornassem
mais profundos, deixando à mostra os inevitáveis conflitos surgidos da
desigualdade entre as vária camadas da sociedade. Esse Estado-polícia não
conseguia sobreviver aos novos fatores de ordem política, econômica e social que
o mundo contemporâneo passou a enfrentar. Pela simples leitura do texto se
percebe que essa situação não seria sustentável por muito tempo. Havia
necessidades de mudanças.
Carvalho dos Santos lança mão do comentário de DALMO DALLARI
dizendo que a forma anterior de Estado deu lugar ao Estado-bem-estar, “que
emprega seu poder supremo e coercitivo para suavizar, por uma intervenção
decidida, algumas das conseqüências mais penosas da desigualdade
econômica”. Assim, Saindo daquela posição de indiferente distância, o Estado
contemporâneo foi assumindo a tarefa de assegurar a prestação dos serviços
fundamentais e ampliando seu aspecto social, procurando a proteção da
sociedade vista como um todo, e não mais como um somatório de
individualidades. Para tanto, precisou imiscuir-se nas relações provadas.
Para o professor Carvalho o estado intervencionista nem sempre
apresenta somente aspectos positivos, mas se considera que é melhor suportar
sua hipertrofia com vistas à defesa social do que assistir à sua ineficácia e
desinteresse diante dos conflitos gerados pelos grupamentos sociais.
Finalizando seus comentários, Carvalho dos Santos, conclui dizendo que
dilema moderno se situa na relação entre o Estado e o indivíduo. Para que possa
atender os reclamos globais da sociedade e captar as exigências do interesse
publico, é preciso que o Estado atinja alguns interesses individuais. E a regra que
atualmente guia essa relação é a da supremacia do interesse público sobre o
25
particular. Na verdade, esse postulado que constitui um dos fundamentos político
da intervenção do Estado na propriedade.
Desse modo, há de se entender que o atual ordenamento jurídico
brasileiro, que tem como fundamento a Constituição de 1988, em seu artigo 5º,
XXII, XXIII, mantém a propriedade privada, todavia, essa propriedade só se
justifica diante dos requisitos sociais que ela estabelece para que seja possível a
tutela: a função social. Se o proprietário não atender o que a lei exige, deve o
Estado intervir para amoldá-la a essa qualificação. Para MARIA SYLVIA DI
PIETRO a função social “autoriza não só a determinação de obrigação de fazer,
como deixar de fazer, sempre para impedir o uso egoístico e anti-social da
propriedade”. A autora entende que o direito de propriedade é relativo e
condicionado.
26
CAPÍTULO II
Desapropriação
O artigo 5º XXII e o 170,III da Constituição Federal garantem a
propriedade privada. Deixam claro, todavia, como uma tendência do Estado
moderno, a possibilidade do Poder Público interferir na destinação de um bem,
ajustando aos interesses sociais, mediante desapropriação, o confisco ou a
requisição. Vários artigos da constituição Federal e da lei cuidam do tema.
Na redação original do Art. 590 do Código Civil de 1916, já fazia a distinção
entre necessidade e utilidade públicas, todavia seus §§ 1º e 2º, que tratavam da
matéria, foram revogados pela legislação posterior. Eis na integra o dispositivo:
“Também se perde a propriedade imóvel mediante desapropriação por
necessidade ou utilidade pública. § 1º Consideram-se casos de necessidade
pública; I - a defesa do território nacional. II - a segurança pública. III - os socorros
públicos, nos casos de calamidade. IV - a salubridade pública. § 2º Consideram-se
casos de utilidade pública: I - a fundação de povoação e de estabelecimentos de
assistência, educação ou instrução pública. II - a abertura, alargamento ou
prolongamento de ruas, praças, canais, estradas de ferro e, em geral, de
quaisquer vias públicas. III - a construção de obras, ou estabelecimentos,
destinados ao bem geral de uma localidade, sua decoração e higiene. IV - a
exploração de minas".
O mais importante, quando se trata de desapropriação, e manter um
equilíbrio entre a autoridade do Estado e a liberdade individual. Para isso Art. 5°,
LIV da Constituição Federal diz que: “ninguém será privado da liberdade ou de
seus bens sem o devido processo legal”.
27
Sobre o conceito de desapropriação, que pode incidir sobre bens móveis e
imóveis, não há grandes divergências. Para o publicista Pinto Ferreira,
desapropriação “é o instituto de direito público, pelo qual a autoridade expropriante
competente, por ato legal, adquire a propriedade de bem imóvel ou móvel de
propriedade de outra pessoa, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
salvo a indenização em títulos de dívida pública nos casos de reforma agrária, por
motivo de necessidade, ou utilidade pública, ou interesse social". Já para Carlos
Ari Sundfeld, desapropriação é procedimento estatal destinado a substituir
compulsoriamente um direito de propriedade pelo equivalente econômico, de
modo a permitir sua afetação a um interesse público ou social.
2.1 - Das Teorias Sobre a Desapropriação
Há várias teorias que procuram fundamentar e justificar o instituto da
desapropriação. As mais importantes são: a) coletivista; b) do domínio eminente
do Estado; c) do pacto social; d) da prevalência do interesse público sobre o
privado, ou teoria da colisão de direitos; e) da função social da propriedade; f) da
alienação compulsória.
Para a Teoria coletivista a propriedade primitiva era comunitária, comunista,
da coletividade e, sendo meramente tolerada a propriedade individual pelo Estado,
reservou-se este o direito de novamente avocá-la para si, quando necessário.
Para a Teoria do domínio eminente do Estado o Estado exerce um
superdomínio sobre seu território, como atributo da própria soberania. Em face
disto, ele pode limitar ou suprimir a propriedade individual, quando achar
conveniente.
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Para a Teoria do pacto social há entre o Estado e o individuo um o contrato
social, de modo a restar implícita a eventualidade de se sacrificar a propriedade de
cada um no interesse de todos.
Já para a Teoria da prevalência do interesse público sobre o privado a
desapropriação se justifica pela subordinação do direito particular ao direito do
Estado.
Uma outra Teoria que já era preconizada por Santo Tomás de Aquino é a da
função social da propriedade. Por esta teoria o proprietário de um bem deveria
utilizá-lo como um gestor perante a sociedade, a fim de favorecer o maior número
possível de indivíduos. A propriedade individual é reconhecida desde que
condicionada ao interesse público.
A última das principais teorias é a Teoria da alienação compulsória.
Segundo essa concepção, a desapropriação vem a ser uma alienação
compulsória, uma vez que o procedimento expropriatório está presente, a entrega
do bem e o pagamento do preço. Tal doutrina peca gravemente ao omitir o acordo
de vontades, essencial a qualquer convenção.
O constituinte brasileiro inspirou-se nas teorias da prevalência do interesse
público e na função social da propriedade, como se observa nos dispositivos
constitucionais.
Há três espécies de desapropriação, previstas na própria Constituição
Federal: a do artigo 5º, XXIV chamada de desapropriação ordinária; a do artigo
182, § 4º chamada de desapropriação para reforma urbana e por ultimo a dos
artigos 184 e 185, chamada de desapropriação para reforma agrária.
Na desapropriação ordinária ocorre a substituição compulsória de um direito
de propriedade por uma indenização justa e prévia e em dinheiro.
29
É importante observar que na desapropriação ordinária a indenização deve
preceder a perda da propriedade, e corresponderá ao justo valor do bem, devendo
ser efetuada em dinheiro. Comentando esta forma de desapropriação Carlos Ari
Sundfeld diz que justa é a indenização que deixa o expropriado indene, sem dano.
Para tanto, há de corresponder ao efetivo valor do bem ou direito, de modo a
representar aquilo que se obteria no mercado, e recompor os eventuais prejuízos
gerados pela desapropriação “.
Tem competência para a desapropriação ordinária: a) a União; b) os
Estados; c) o Distrito Federal; d) os municípios. Nos termos do Art. 14 do Decreto-
Lei nº 512-69, em casos de expropriações para finalidades rodoviárias, é também
competente o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
Dois são os procedimentos para a desapropriação ordinária: o
administrativo e o judicial, este configurado na ação de desapropriação prevista
nos artigos 11 a ao 30 do Decreto-Lei nº 3.365/41.
A constituição federal em seu artigo 182, § 4º disciplina a desapropriação
para reforma urbana, que pode ser conceituada como o procedimento do Poder
Público deflagrado por município ou pelo Distrito Federal, com a finalidade de,
compulsoriamente, substituir o direito de propriedade sobre um imóvel urbano
explorado de forma inadequada, mediante indenização em títulos da dívida
pública.
São requisitos para a desapropriação para reforma urbana: inobservância
da função social urbana; somente imóveis urbanos mal aproveitados; indenização
com título da divida pública e somente pode ser decretado pelos Municípios e
pelo Distrito Federal.
30
Não falaremos da desapropriação para reforma agrária porque seu
fundamento é a inobservância da função social rural, porque os bens que atinge
são, exclusivamente, imóveis rurais improdutivos de grande extensão, sendo
diversa a indenização que enseja (títulos da dívida pública, com ressalva do valor
das benfeitorias úteis e necessárias) e, finalmente, porque a competência para
decretá-la é restrita à União Federal.
31
CAPÍTULO III
Fundo de Comércio
O Dicionário Aurélio menciona que fundo de comércio é o conjunto de bens
e direitos, tangíveis ou não, estabelecimento, freguesia etc., que constituem o
patrimônio do comerciante.
O Dicionário Michaelis (inglês / português) apresenta o goodwil como sendo
fundo de comércio ou aviamento. E define o termo como sendo o bem intangível
do ativo que representa o prestígio de uma firma, ou a probabilidade de que seus
clientes retornem, em resultado de bons serviços ou bens. Normalmente o valor
do aviamento, ou fundo de comércio, se constitui com base num julgamento
subjetivo e só é lançado nos livros contábeis por ocasião da extinção da firma, por
venda ou compra.
Para Amauri Mascaro do Nascimento o fundo de comercio é o
estabelecimento comercial composto de todos os seus elementos, incorpóreos e
corpóreos. Corresponde a funds de commerce, Maison de commerce,
établissement commercial, azienda, fundo ou fondoco, da Itália, goodwill e
business, dos EUA. Alguns comercialistas o equiparam à empresa comercial
tomada como uma unidade de trabalho, capital e organização, destinada a
promover a circulação de mercadorias com fins lucrativos.
O fundo de comércio é um conjunto de elementos necessários para que o
comerciante possa atrair a sua clientela. São os meios de que se utiliza no
desempenho das suas atividades profissionais, que tenham um valor patrimonial.
Não e pequeno o numero de tratadistas que evitam empregar a expressão fundo
de comércio, preferido falar em estabelecimento comercial, isto porque,
estabelecimento pode ser entendido como o local onde se realiza atividade
32
econômica e organizada, estando presentes todos os elementos do fundo
comercial. Todavia, a maioria dos tratadistas preferem a denominação “fundo de
comercio”.
Continua o professor Amauri dizendo que o fundo de comercio é composto
de elementos incorpóreos e corpóreos. Os incorpóreos podem ser resumidos nos
seguintes: a propriedade comercial, ou seja, o domínio sobre o local em que está
situado o negocio; o nome comercial, constituído de firma o denominação; os
acessórios do nome comercial, a saber, título do estabelecimento, insígnia,
expressão ou sinais de propaganda; a propriedade de marcas, consistentes nos
privilégios de patente de invenção, de desenho, de modelo industriais etc; a
propriedade imaterial, isto é, o aviamento, consubstanciado na reputação, no
credito do comerciante, na qualidade de seus produtos etc. Já os corpóreos são
os bens móveis: vitrines, armações, prateleiras, mobiliários, balcões, mercadorias,
produtos etc; os bens imóveis: o terreno, o prédio etc. A essa universidade de
bens dá-se o nome de fundo de comercio. Tem um valor econômico e pode ser
alienado em conjunto ou separadamente.
3.1- O Ponto
O ponto é um dos elementos mais importantes da propriedade comercial. É
o local apropriado onde o comerciante expõe os produtos ao público e realiza os
negócios. De acordo com gênero de atividade, é maior ou menor a importância do
ponto. No entanto, sempre apresenta um valor patrimonial, muitas vezes como
frisa Fran Martins, a quantidade ou a qualidade das mercadorias expostas fica
suplantada pelas vantagens oferecidas pelos pontos comerciais, capazes de atrair
a freguesia pelas facilidades que oferecem um ponto bem situado dá ao
comerciante a possibilidade de realizar maior número de transações e,
conseqüentemente, de auferir maior lucro.
33
O comerciante e o industrial têm direitos sobre o ponto reconhecido pela lei.
Eles podem requerer a renovação da locação do imóvel desde que se trate, como
é obvio, de locação por prazo certo, de no mínimo cinco anos, e desde que esteja
explorando o negocio pelo prazo mínimo ininterrupto de três anos. Não se
efetivando a renovação o comerciante ou industrial terá direito a uma indenização
para ressarcimento dos prejuízos com que tiver de arcar em conseqüência dos
encargos da mudança, perda do lugar do comercio ou industria e desvalorização
do fundo de comercio.
Diante dessa constatação, resta claro que o ponto comercial tem um valor
muito grande para o comerciante. Se ele for privado desse elemento do fundo de
comercio, certamente, ele terá um grande prejuízo. Em algumas situações o
elemento de maior valor em um empreendimento comercial ou industrial é o ponto
onde esse empreendimento está localizado. Sendo assim, é possível causar um
grande prejuízo à empresa quando ocorrer a desapropriação é esse elemento do
fundo de comercio não for indenizado.
3.2 – Nome Comercial
O nome comercial é o nome com o qual a empresa se apresenta no
exercício das suas atividades, assina e assume responsabilidade pelos atos
praticados. Designa, portanto, a empresa, a unidade jurídica.
No caso de desapropriação o nome comercial também poderá sofrer
prejuízo. Como exemplo, vejamos o caso da loja estabelecida na Praça da Sé no
Município de São Paulo com o nome Sapataria da Sé Ltda. Ora, se essa loja for
transferida para outra localidade por conta de desapropriação, logicamente que o
nome terá que ser mudado e com isso se perdera toda a propaganda feita ao
longo dos anos. Os clientes não mais identificariam a loja com facilidade. Nesse
caso há um grande prejuízo, e por isso deve haver indenização.
34
3.3 – Título do Estabelecimento
O titulo do estabelecimento não é o mesmo que firma individual ou coletiva,
ou a denominação de sociedade. Titulo do estabelecimento é o nome da casa,
identifica o estabelecimento e não a pessoa do comerciante. É o que desperta a
atenção da clientela. Ex: MALHARIA SANTA TEREZA.
Nesse caso também a mudança de endereço causaria um grande prejuízo
já que seria possível que a empresa tivesse como título de estabelecimento o
nome do local onde esta estabelecida. Podemos citar como exemplo o caso da
empresa cujo titulo do estabelecimento fosse CHARUTARIA COPACABANA e
essa empresa fosse desapropriada. Qualquer outro local onde a empresa fosse
ser instalada, fora do bairro de Copacabana, lhe causaria um enorme prejuízo.
3.4 – Aviamento
O Dicionário Aurélio diz que AVIAMENTO é o termo usado no Brasil para
definir o elemento essencial do estabelecimento comercial: o conjunto de
aparelhamento, freguesia, crédito e reputação.
A doutrina convencionou chamar de aviamento o bom aparelhamento do
comerciante para que seu negocio obtenha sucesso. É, portanto, o resultado dos
elementos do fundo de comercio. O aviamento será a fusão de todos os
elementos, o nome comercial, a boa localização do estabelecimento, o capital,
o pessoal, tudo criando a possibilidade de lucros para o comerciante, conforme
Fran Martins. Tem o aviamento um valor patrimonial e alguns autores o
denominam luvas ou chaves.
35
É um bem intangível, porque não se pode tocar; impalpável, intáctil,
intocável. Diz-se de bem que não têm existência física, conforme também nos
chama a atenção o Dicionário Aurélio. Além das patentes ou marcas registradas,
podemos citar como intangível a clientela cativa ou conseguida com propaganda
institucional ou com a aparência do local do estabelecimento, a localização
privilegiada, a qualidade dos produtos, o monopólio que, por exemplo, detêm as
antigas empresas estatais brasileiras que foram privatizadas, entre outros itens
similares. O Fundo de Comércio, na qualidade de Bem Intangível é, portanto, o
preço pago por esses itens impalpáveis quando se compra uma empresa.
Os elementos acima fazem parte daquilo que a doutrina convencionou
chamar de Fundo de Comercio. Para simplificar podemos dizer que o Fundo de
Comércio é a mais valia do patrimônio líquido depois de avaliado a preço de
mercado.
O Professor José Gomes na Revista Paulista de Contabilidade número 464
diz que: "Para os apologistas do fundo de comércio, alguns fatores mais
generalizantes, de praticidade mercantil, caracterizam aspectos diversos, dentre
os quais podem ser equacionados os seguintes: clientelas estabelecidas,
tradicionais e contínuas; oferta de mercadorias de primeira qualidade; preços e
prazos satisfatórios; organização racional do trabalho; organização administrativa;
regime de crédito continuado por parte dos fornecedores; equipe de funcionários
de real capacidade de trabalho; localização da empresa, loja ou estabelecimento;
concessão de distribuição exclusiva de determinado produto; transações sob
regime de monopólio, oligopólio, cartel ou ”trust"; nome comercial ou industrial
amplamente conceituado nos mercados nacional e internacional; "know-how"
sobre produto de marca patenteada com alta lucratividade ou "royalties".
36
CAPÍTULO IV
Indenização Pela Perda do Fundo de Comércio por
Desapropriação
Quando se trata de proprietário comerciante, é possível fazer o
questionamento na própria ação de desapropriação, pedindo a indenização pela
perda de fundo de comércio. Dois são os requisitos necessários para o pedido:
que o proprietário esteja exercendo atividade comercial, e que o estabelecimento
esteja devidamente licenciado pelos órgãos públicos competentes.
Para se estabelecer o valor do fundo de comércio, há necessidade de uma
perícia técnicas contábil, na qual serão periciadas as escriturações fiscais dos
últimos cinco anos. É importante observar se o ponto comercial desapropriado é
fundamental para a atividade do titular do fundo de comércio, porque existem
atividades que não dependem do ponto comercial. Quando a atividade pode ser
desenvolvida em qualquer lugar, logicamente, não teria lugar à indenização pela
perda do fundo de comércio. Mas existe a possibilidade de pedir como
indenização as despesas com a mudança do estabelecimento.
Quando o comerciante desapropriado for o locatário ele poderá questionar
a indenização por meio de ação própria. Isto porque a desapropriação será feita
no nome do proprietário. São requisitos para o exercício da ação: o comerciante
inquilino precisa provar que explora o fundo de comércio há mais de cinco anos
ininterruptos. É esse o prazo que lhe asseguraria direito à ação renovatória de
locação. Além disso, é preciso comprovar que o estabelecimento esta
devidamente licenciado pelos órgãos competentes.
37
CAPÍTULO V
Dificuldades enfrentadas Pela Doutrina na
Análise do Aviamento
O aviamento como se vê, é a aptidão para gerar lucros. Alguns autores,
todavia, dizem que os ativos deveriam representar todo esse potencial, sem
requerer a existência do aviamento. Nesse caso haveria um desmembramento do
ativo e do aviamento. A questão, dessa forma, retornaria ao ponto em que a
avaliação dos ativos e da sociedade não coincidiria, isto é, o cálculo isolado seria
diferente do cálculo conjuntoi. Nesse caso, há uma diferença substancial entre a
soma das partes e o total do empreendimento.
Vários fatores contribuem para se chegar ao valor final do fundo de
comercio. É importante observar que os ativos empresariais estão submetidos a
muitos fatores que tem influência no seu resultado final. Podemos citar como
exemplo o caso de empresas que desenvolvem programa para computadores. O
seu sucesso e a valorização do fundo de comércio dependem mais de boa
administração e investimento em recursos humanos do que investimento em ativo
fixo. O seu fundo de comercio é de difícil mensuração. O que vai diferenciar é a
capacidade de gerar lucros. Lucros acima da média das empresas do setor.
Para se identificar o aviamento o único método de mensuração é a
diferença existente entre o calculo isolado e o conjunto. Essa identificação se
torna muito difícil e depende do setor onde esta estalada o empreendimento. Por
isso, para alguns autores o aviamento é a valorização de uma saciedade
empresarial em relação a media das sociedades que estão no mesmo setor. Isto
é, comparação entre sociedades equivalentes.
38
Todavia, existem autores que não concordam com essa tese sob o
argumento de que o aviamento é um atributo da empresa, que advém
principalmente da organização interna da atividade, para depois expandir ao seu
exterior. Organização e capacidade de gerar lucros seria a síntese do aviamento.
Podemos dizer então que o aviamento é um sobrevalor capitalizável, que
denota a capacidade empresarial do estabelecimento. É a valorização dos
esforços praticados para a complementação do objetivo dos sócios. Há nesse
caso um sobrevalor que é reconhecido pelo mercado.
39
CAPÍTULO VI
Ação Renovatória
Milton Menezes da Costa em seu livro Prática Processual Civil e Comercial
diz que a ação renovatória de contrato de locação de imóveis destinados a fins
comerciais é a que compete ao locatário, sublocatário, ou ao locador de imóveis
destinados àquelas finalidades, para obter a renovação compulsória do respectivo
contrato de locação.
Continua ele dizendo que essa ação poderá, também, ser exercida pelos
cessionários do contrato de locação, pelos sucessores da firma comercial, pela
sociedade a que passe a pertencer o fundo de comercio do respectivo locatário,
instalado no imóvel objeto do contrato de locação e pelo sócio, ou sócios,
sobreviventes, da sociedade locatária, desde que, todos os casos enumerados
verifique-se continuidade na exploração do mesmo ramo de comércio ou
industria, no três últimos anos do contrato de locação.
Acrescenta, ainda, que o sublocatário do imóvel, ou parte dele, poderá
exercer a ação renovatória contra o sublocador e contra o proprietário dele,
funcionando este ultimo, como litisconsorte. No caso de a ação ser proposta pelo
sublocatário, sendo julgada procedente, ficará o proprietário diretamente obrigado
à renovação do contrato. Verificada a hipótese do contrato de locação originário
ter prazo suficiente para suportar a renovação as sublocação, será dispensada a
citação do proprietário do imóvel para o feito, como litisconsorte. O sublocatário
que conseguir, pela forma mencionada, a renovação da sublocação, em ação
contra o proprietário, prestará caução para garantia dos encargos e obrigações
do contrato renovado.
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A Lei n.º 8.245/91, que trata da locação comercial diz no artigo 51 que:
“Nas locações de imóveis destinados ao comercio, o locatário terá direito a
renovação do contrato, por igual prazo, desde que , cumulativamente: I - o
contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado; II –
o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escrito seja de 5 (cinco) anos; III – o locatário esteja explorando seu
comercio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de 3 (três) anos.
Apesar de constituir requisito essencial para exercício da ação renovatória,
contrato de locação escrito, com prazo nunca inferior a cinco anos, a Lei admite
que a soma dos prazos seja igual o superior a 5 (cinco) anos.
É importante ressaltar, que é de capital importância nesta ação as perícias
para a fixação do valor do aluguel, bem como do valor do fundo de comercio, ou
ainda, pra constatação do cumprimento do contrato, no que tange a conservação
do imóvel e espécie de ramo de negocio explorado no mesmo.
Quando o locador se opuser à renovação pretendida pelo locatário, em
virtude de melhores condições para a locação, será obrigado a indenizá-lo
do valor do respectivo fundo de comércio que será fixado na sentença que
negar a renovação, tendo em vista as estimativas dos laudos periciais. O
valor atribuído ao fundo de comercio e fixado na sentença e será cobrado do
locador, pelo locatário, nos mesmos autos, em execução de sentença.
Ocorrendo a hipótese de o locador não contestar o pedido no prazo legal,
o juiz, imediatamente, homologará por sentença a proposta constante da petição
inicial, decretando a renovação.
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Como se vê, o contrato comercial escrito e com prazo de 5 (cinco) anos,
recebe da lei proteção especial. O local onde está estabelecido a empresa tem,
perante a lei, uma garantia de continuidade. O proprietário não pode, por vontade
própria, impedir que a empresa continue a funcionar no imóvel de sua
propriedade. Ele tem que respeitar e cumprir o contrato. Caso ele queira retomar
antes do seu término, o locatário terá que pagar uma indenização.
Ora, por uma questão de justiça, quando esse imóvel sofre, por parte do
Estado, desapropriação, o locatário proprietário do fundo de comércio tem o
direito, também, de ser ressarcido dos seus prejuízos. Se o locatário não pode,
sem indenização, retomar o imóvel o Estado também não pode desapropriar o
inquilino detentor do fundo de comércio sem a devida indenização.
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CAPÍTULO VII
Interpretação, Integração e Justiça
do Caso Concreto
7.1- Eqüidade
A Lei não dá ao locatário proprietário do fundo de comércio o direito de ser
indenizado quando ocorrer à desapropriação. A indenização é somente para o
proprietário do bem objeto de desapropriação.
Todavia, é importante ressaltar que neste caso o locatário que sofrer o
efeito da desapropriação pode se socorrer do Poder Judiciário e requerer a justa
indenização, já que não é por ausência de lei que o juiz deixará desamparado
aquele que está sofrendo um grande prejuízo. Para solucionar o conflito o juiz
pode lançar mão da eqüidade, isto é, a justiça do caso concreto.
A.Machado Pauperio, na sua abra Introdução ao Estudo do Direito diz que
nem sempre a justiça atende a todos os imperativos humanos. Muitas vezes, as
circunstancias particulares exigem um complemento aos princípios de justiça ou
de direito aplicáveis à espécie. Tal complemento é a eqüidade.
Continua o mestre dizendo que a equidade complementa a justiça
corrigindo a lei pelas características concretas e muitas vezes imprevistas que as
realidades sociais apresentam e que não são possíveis de enquadramento nos
ditames da justiça geral.
Ele faz uma comparação entre lei e equidade dizendo que: “a lei, como não
pode deixar de ser, regula as relações humanas de caráter jurídico, sob o ângulo
de todo geral e abstrato já a equidade, ao contrário, por sua própria natureza, visa
43
a corrigir a lei quando esta, como anota Aristóteles, se demonstra incompleta, para
abarcar o caso especial e concreto, que foge à aplicação genérica”. Para ele,
portanto, a equidade é a justiça em termos concretos, a justiça do caso particular,
levadas em conta as peculiaridades que possam apresentar.
O que faz a equidade é abrandar o rigor da lei. Enquanto a justiça é de
ordem geral e não se preocupa senão com princípios, a equidade, contrariamente,
perquire as circunstâncias peculiares ao caso e submete a regra abstrata às
razões derivadas da espécie. Isso porque em certos casos, impõe-se abandonar a
letra da lei para acompanhar os ditames da razão e da justiça.
Como se sabe a lei existe para reger os atos humanos, mas estes são
singulares e contingentes, podendo tomar as mais variadas características, o que
nem sempre possibilita a elaboração de normas legais capazes de não falhar em
caso algum.
Na verdade, como entendem alguns autores, a equidade é o próprio direito
natural com relação a sua aplicação e acomodação aos casos concretos.
Para a lei de Introdução ao Código Civil a equidade não é fonte subsidiaria
permanente do direito. Já para o direito do trabalho, nos termos do artigo 8.º, a
autoridade trabalhista deve decidir por equidade “na falta de disposições legais
ou contratuais”.
O que não se permite é que com base na equidade o julgador descumpra
acintosamente a lei.
Já com ralação ao aspecto processual da equidade, Benedito de Azevedo
Barros, na sua obra Princípios de Direito Processual Civil diz que bem poucas
expressões tem tido, no correr dos anos, uma tão larga difusão e, ao mesmo
tempo, uma incerteza em sua definição como a palavra equidade. Conhecida
44
desde os princípios do direito romano atravessou a Idade Média e, em 1934
introduziu-se no nosso direito sem que, no entanto, representasse uma expressão
definida dos limites e contornos apropriados em relação ao seu conteúdo.
A palavra eqüidade varia de acordo com os princípios sentimentais dos
homens e se ajusta às condições que, momentaneamente, dominam na órbita
social. O que é justo, o que se identifica com o velho direito natural, o que não
está nas leis (mas deveria estar) são os princípios que ornam esta expressão.
A equidade do juiz reside na consideração racional dos fatos que devem ser
apreciados. O juízo da equidade iguala em benignidade, sem observar a letra da
lei ou os contratos, as vantagens que deveriam caber aos contratantes. A
equidade estabelece a equivalência das expressões desrespeitadas na lei ou no
contrato. A equidade não significa favor apenas a uma das partes
Há casos em que a lei concede ao juiz a faculdade de decidido, não de
acordo com o direito legislado, mas segundo os preceitos da equidade. Em tais
casos, o juiz aplicará normas que estabeleceria se fosse legislador. O judiciário
pode, em verdade, legislar, mas em casos especiais, quando houver de decidir por
equidade.
A decisão que o juiz proferir, alicerçada na equidade só se justifica quando
não existe preceito de lei determinativo sobre a matéria em julgamento. O
processo não está ao arbítrio do juiz e, se a cada um fosse permitido introduzir as
inovações que julgassem cabíveis, mergulharia a Justiça no caos de que, nem
mesmo os mais bem intencionados na equidade a conseguiria salvar.
O principio que se afirma na órbita judiciária é o de que o juiz não pode
legislar de motu próprio a equidade, quando há texto certo de lei estabelecendo
45
soluções positivas (principio da supremacia do legislativo). Não se pode aplicar o
principio da equidade existindo dispositivo legal expresso que regule a matéria.
O principio da equidade, supletivo da lei permite que, nos casas omissos, o
julgador decida de acordo com a norma que se fosse legislador, estabeleceria
para regular os casos que a lei omitir.
7.2 – Interpretação Extensiva
Sabemos que quanto ao resultado a interpretação pode ser: declarativa,
extensiva e restritiva. A que nos interessa no momento e a interpretação
extensiva.
R. Limongi França em sua obra Formas e Aplicação do Direito positivo diz
que a interpretação extensiva é aquela segundo a qual a fórmula legal é menos
ampla do que a mens legislatoris deduzida. Mas não apenas isto. Ele admite
também como interpretação extensiva àquela que, tendo deduzido a mens
legislatoris dentro de limites moderados e cientificamente plausíveis, adapta essa
intenção do autor da norma às novas exigências da realidade social.
Já para Francisco Gerson Marques de lima, em sua obra Lei de Introdução
ao Código Civil e aplicação do Direito do Trabalho, diz que a interpretação
extensiva evidencia-se quando o intérprete vai além do expressamente previsto
pela norma, fazendo-a alcançar outras situações. Ele dá o exemplo do art. 10,
II,”b”, ADCT-CF e o do art. 165 da CLT (estabilidade do “cipero”). Com efeito, a
CLT assegura estabilidade aos titulares da representação dos empregados nas
CIPAs; a Constituição Federal também autorga dita estabilidade ao empregado
eleito para cargo de direção da CIPAs. No entanto, parcela considerável da
doutrina e da jurisprudência ampliam o sentido desses mandamentos, para
reconhecerem a estabilidade do cipeiro suplente (e não só os titulares). No mesmo
46
diapasão, outros vão além e asseguram o direito à estabilidade, ainda, do
representante do empregador (alegam que o representante da empresa também é
empregado dela e, portanto, encontra-se amparado pela CF).
Essa é a modalidade de interpretação que o juiz deve utilizar quando tiver
que decidir um caso, em que a lei não disciplina, totalmente, a situação.
7.3 - Analogia
É um dos meios de integração da norma jurídica. R. Limongi França, cita
Ferrara dizendo que a analogia “é a aplicação de um principio jurídico que a lei
estabelece para um certo fato, a um outro fato não regulado juridicamente
semelhante ao primeiro”. E explica: “posto que no sistema se podem descobrir
casos análogos já regulados por um processo de abstração de onde se extrai a
regra que vale para aqueles, alargando-a até compreender os casos não previstos
que apresentem no entanto a mesma essência”.
Na mesma ordem de idéias, o referido autor explica o fundamento da
analogia, que, a seu ver, repousa sobre a idéia de que “os fatos de igual natureza
devem possuir igual regulamento, e se um destes fatos encontrar já no sistema a
sua disciplina, esta constitui o tipo de onde promana a disciplina jurídica geral que
deve governar os casos afins. Analogia , conclui, é harmônica igualdade,
proporção e paralelo entre relações semelhantes.
Essa é a modalidade de integração da norma que o juiz pode utilizar
quando tiver que decidir um caso, em que não existe lei especifica que discipline
a questão.
47
CONCLUSÃO
Seguindo a evolução histórica a função social da propriedade evoluiu,
incessantemente, sob duas concepções modificativa: a de direito absoluto e
individualista e de direito relativo e social. O individualismo e o majoritarismos.
A concepção individualista e absoluta da propriedade do Direito Romano,
transforma-se em social e relativa do Direito Moderno e com isso modificou,
indubitavelmente, as instituições.
A evolução foi lenta e gradual e somente nos últimos séculos é que ganhou
força. De Roma até a Revolução Francesa, poucas modificações aconteceram no
direito de propriedade.
Como foi visto, é no século XVIII que a função social da propriedade
começa a ganhar importância.
Essa nova visão social repercutiu no direito brasileiro, de modo que a
Constituição do Império já havia, mesmo que de forma tímida, dispositivo que
tratava da função social da propriedade.
Foi visto que o Código Civil de 1916 acompanhou a concepção romana da
propriedade. Seu fundamento era que o direito de propriedade era absoluto.
Todavia com a evolução que se processou na sociedade, com relação a esse
direito, a concepção anterior foi modificada. O direito que antes era absoluto
passou a ser relativo.
48
As Constituições seguintes ao Código de 1916 passaram da concepção
individualista Romana para uma nova concepção social e com isso o Direito
acompanhava a evolução social.
Retrocesso não houve, as constituições seguintes mantiveram o
posicionamento de que o direito de propriedade não é absoluto e ilimitado, mas
relativo e, tendo que cumprir a sua função social.
A Constituição Federal de 1988 mantém o mesmo posicionamento das
constituições anteriores acrescentando algumas obrigações que o proprietário
deve observar com relação à utilização social de sua propriedade, permitindo,
inclusive a intervenção do Estado na propriedade privada.
Código Civil de 2002 acompanha o posicionamento da constituição,
condicionando e limitando o uso da propriedade pelo seu proprietário.
Após a análise da função social da propriedade a nossa pesquisa teve
como alvo uma reflexão sobre o efeito da desapropriação sobre o fundo de
comércio. Percebemos que apesar da existência de lei que disciplina a
indenização do proprietário pelo imóvel desapropriado, o proprietário e o inquilino
detentor do fundo de comércio não foi beneficiado por ela. Somente o proprietário
do imóvel teria direito a uma indenização.
Diante dessa situação passamos a analisar os diversos elementos do fundo
de comercio a fim de saber se seria possível encontrar um valor que pudesse
ressarcir o proprietário e o locatário que foi prejudicado pela desapropriação.
Descobrimos que a avaliação do fundo de comércio, por se tratar de valores
tangíveis e intangíveis, não é de fácil mensuração.
49
Todavia, mesmo diante da dificuldade de avaliação o proprietário e o
locatário não poderia deixar de ser ressarcido do prejuízo que sofreu com a
desapropriação.
Fizemos um breve relato sobre a ação renovatória de contrato de locação e
com isso buscamos mostrar que a lei protege o locatário comerciante ou industrial,
quando o contrato escrito tenha prazo de 5 (cinco) anos. A Lei impede, também, o
locador de retomar o imóvel sem pagar uma indenização pelo fundo de comércio.
Concluímos assim, que na ausência de lei específica, o juiz diante de um
caso de desapropriação, sem pagamento de indenização ao proprietário do fundo
de comercio, deve lançar mão da interpretação extensiva, da eqüidade e da
analogia, a fim de estender o efeito da lei ao caso concreto, concedendo ao
locatário ou proprietário, que sofrer o prejuízo no fundo de comercio, uma
indenização.
Assim, ao chegarmos ao final desse trabalho de pesquisa concluímos que
proprietário do fundo de comercio faz jus a uma indenização, quando sofrer
desapropriação por parte do Poder Público.
50
BIBLIOGRAFIA
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Janeiro: Borsoi, 1972.
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Janeiro: Freitas Bastos, 1997.
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Editado pelo Autor, 1977.
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Tribunais,1969.
Gomes, José.Revista Paulista de Contabilidade número 464.
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Marques de Lema, Francisco Gérson. Lei de Introdução ao Código Civil e
Aplicação do Direito do Trabalho. São Paulo: Malheiros, 1996.
51
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Privado. São Paulo: Atlas 1978.
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1969.
Silva, José Afonso. Direito Urbanístico brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998.
Sundfeld, Carlos Ari. A Desapropriação no Direito Brasileiro.São Paulo: Malheiros.
Sundfild, Carlos Ari. Desapropriação. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1990.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 11
DA PROPRIEDADE 11 1.1- Característica do Direito de Propriedade 16 1.2- Das Teorias a Respeito da Propriedade 17
1.1 - Das Fontes do Direito de Propriedade 20 1.4 - Função Social da Propriedade 21 1.5 - A Intervenção do Estado na Propriedade. 23
CAPÍTULO II 26
DESAPROPRIAÇÃO 26 2.1 – Das Teorias Sobre a Desapropriação 27
CAPÍTULO III 31
FUNDO DE COMÉRCIO 31 3. 1 - O Ponto 32 3. 2 - Nome Comercial 33 3. 3 - Título do Estabelecimento 34 3. 4 - Aviamento 34
CAPÍTULO IV 36
INDENIZAÇÃO PELA PERDA DO FUNDO DE COMÉRCIO POR DESAPROPRIAÇÃO 36
CAPÍTULO V 37
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA DOUTRINA NA ANÁLISE DO AVIAMENTO 37
CAPÍTULO VI 39
AÇÃO RENOVATÓRIA 39
CAPÍTULO VII 42
DA INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO E JUSTIÇA DO CASO CONCRETO 42
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7.1– Eqüidade 42 7.2 – Interpretação Extensiva 45 7.3 – Analogia 46
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA 50
ÍNDICE 52
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