o discurso ideolÓgico no mÉtodo...

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0 O DISCURSO IDEOLÓGICO NO MÉTODO REFLETS-BRÉSIL João José Saraiva da Fonseca Natal – RN 2008

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    O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL Joo Jos Saraiva da Fonseca

    Natal RN 2008

  • 1

    JOO JOS SARAIVA DA FONSECA

    O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obteno do ttulo de Doutor em Educao. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes.

    Natal RN 2008

  • 2

    F673o Fonseca, Joo Jos Saraiva.

    O discurso ideolgico no mtodo reflets-Brsil./ Joo Jos Saraiva da Fonseca. -

    Natal, 2008.

    417 f. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de Carvalho Lopes Tese (Doutorado em Educao). Universidade Federal

    do Rio Grande do Norte, 2008.

    1. Educao. 2. Ensino de Lngua Estrangeira. 3. Mtodo Reflets-Brsil. 4. Material Didtico. 5. Ideologia. 6. Discurso Ideolgico. 7. Currculo. I. Ttulo.

    CDD: 370

  • 3

    JOO JOS SARAIVA DA FONSECA

    O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL

    Tese julgada e aprovada em 18 de dezembro de 2008, para fins de acesso ao Doutorado em Educao, como parte dos requisitos necessrios para obteno do ttulo de Doutor em Educao no Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    rea de concentrao: Educao, Linguagem e Formao do Leitor

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes - Dr.

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte Presidente e orientador

    ________________________________________________________

    Prof Dr. Eullia Vera Lcia Fraga Leurquin Universidade Federal do Cear

    Examinadora externa

    __________________________________________________________

    Prof Dr. Mirian de Albuquerque Aquini Universidade Federal da Paraba

    Examinadora externa

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Joo Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Examinador interno

    __________________________________________________________

    Prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas Andrade Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Examinador interno

    __________________________________________________________

  • 4

    minha famlia que nunca me negou ateno e apoio e a meus pais. minha eterna namorada, Sonia, que permanentemente me estimulou e apoiou face aos desafios do projeto que agora termina.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Este trabalho s foi possvel graas ao apoio de muitas pessoas.

    Particularmente refiro:

    Ao orientador Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes, pelo

    interesse contnuo demonstrado, bem como pelo valioso estmulo ao longo

    da elaborao.

    Ao Prof. Dr. Joo Gomes da Silva Neto, pelo apoio que me deu e

    sem o qual a realizao da Tese se tinha revelado invivel.

    Prof. Dra. Maria das Graas Pinto Coelho, pela ateno que me

    facilitou durante todo o trabalho.

    A tantos outros, que, ao longo desse tempo de percurso, passaram

    pelo meu caminho, fornecendo-me elementos preciosos e me dando fora

    para realizar este projeto.

    Joo Fonseca

  • 6

    A todos os que, convictamente, acreditam que, tambm pelas lnguas

    a diversidade prevalecer.

    Orlando Strecht-Ribeiro

  • 7

    RESUMO

    O presente trabalho teve por objetivo identificar, descrever e compreender o discurso ideolgico do Mtodo Reflets-Brsil. O estudo subsidiou-se, por um lado, na anlise das recomendaes brasileiras e europias sobre o ensino de lngua estrangeira, bem como a reflexo sobre o material didtico e ensino de lngua estrangeira proposta, respectivamente, por Alain Choppin e Christian Puren e, por outro lado, encontrou suporte orientador na proposta terica de John B. Thompson no que diz respeito aos conceitos de cultura e ideologia. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi fundamentada nas idias de Norman Fairclough para a anlise crtica do discurso e organizou-se em torno do pressuposto de que o Mtodo Reflets-Brsil, como produto da indstria livreira europia e, ao mesmo tempo, adaptado para o pblico brasileiro, veicula um discurso ideolgico, apesar das recomendaes normativas brasileiras no mbito da educao e da elaborao de livro didtico. Do estudo, pode-se concluir pela veracidade do pressuposto, sendo que o Mtodo Reflets-Brsil no s pode ser entendido como um veculo ideolgico, como tambm no faculta, na sua proposta de ensino de lngua estrangeira, espao para uma reflexo que possa conduzir e contribuir para uma reconstruo crtica desse discurso e/ou das prticas relacionadas com ensino do francs como lngua estrangeira.

    Palavras-chave: Ensino de Lngua Estrangeira, Mtodo Reflets-Brsil,

    material didtico, ideologia, discurso ideolgico, currculo.

  • 8

    RSUM Cette tude vise identifier, dcrire et comprendre, le discours idologique de la mthode Reflets-Brsil. L'tude, a t subventionne en partie par une analyze des recommandations brsiliennes, et europennes, sur l'enseignement des langues trangres, et pour la reflexion sur le matriel d'enseignement des langues trangres, proposes respectivement par Alain Choppin et Christian Puren, et d'autre part, trouv appui thorique, de la proposition de John B. Thompson en ce qui concerne les concepts de la culture et l'idologie. La recherche a t de nature qualitative, sur la base des ides de Norman Fairclough sur l'analyse critique du discours, et a t organis autour de l'hypothse que la mthode Reflets-Brsil, tandis que un produit de la industrie europeane du livre, adapte pour le public brsilien, traduit le discours idologique, malgr les recommandations brsilien en matire d'ducation et le dveloppement des manuels scolaires. Dans l'tude, il a t conclu par la vracit de l'hypothse. La mthode Mthode Reflets-Brsil, non seulement peut tre comprise comme un vhicule idologique, mais ne prvoit pas dans sa proposition pour l'enseignement des langues trangres, un espace de rflexion qui peuvent conduire une reconstruction de discours critique et / ou pratiques lies l'enseignement du franais comme langue trangre. Mots clefs: L'enseignement de langue trangre, la mthode Reflets-tats-

    Unis, matriel pdagogique, idologie, discours idologique, curriculum.

  • 9

    LISTA DE ESQUEMAS

    Esquema 1 - Mapa conceitual da pesquisa.. 28

    Esquema 2 - Dimenses do discurso 74

    Esquema 3 - Seqncia de passos durante a anlise dos dossiers

    e lies.. 154

    Esquema 4 - Relacionado dimenso: comunidade internacional 278

    Esquema 5 - Relacionado dimenso: Frana 282

    Esquema 6 - Relacionado dimenso: franceses.. 287

    Esquema 7 - Relacionado dimenso: francofonia 303

    Esquema 8 - Relacionado dimenso: famlia. 306

    Esquema 9 - Relacionado dimenso: relao homem / mulher 308

    Esquema 10 - Relacionado dimenso: relao homem / mulher 317

    Esquema 11 - Relacionado dimenso: aos princpios ticos 322

    Esquema 12 - Relacionado dimenso: simblica. 328

    Esquema 13 - Relacionado dimenso: o mundo do outro.. 331

    Esquema 14 - Relacionado s situaes de relaes de poder en-

    contrados no MRB 336

    Esquema 15 - Relacionado s situaes de conflito de reconciliao 339

    Esquema 16 - Relacionado s situaes de inconformismo 340

    Esquema 17 - Relacionado s situaes de conformismo 340

    Esquema 18 - Relacionado s situaes que podem ser associadas

    projetos 342

    Esquema 19 - Relacionado s situaes que podem ser associadas

    ao medo 343

    Esquema 20 - Relacionado s situaes que podem ser associadas

    celebrao / festa.. 344

    Esquema 21 - Relacionado s situaes que podem ser associadas

    habitao 348

    Esquema 22 - Relacionado s situaes que podem ser associadas

    ao meio ambiente. 349

  • 10

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Comparao entre a estrutura das lies no WebEduc

    e no DTA e DTP... 33

    Quadro 2 - Comparao entre a estrutura das lies nos DTA e

    DTP e a dos episdios dos alunos no MRVI 34

    Quadro 3 - Comparao entre a estrutura do episdio 5 do livro

    do aluno no MRVI e a da lio 5 no DTA 39

    Quadro 4 - Comparao entre a estrutura dos documentos de

    trabalho do professor e do aluno.. 41

    Quadro 5 - Funes do livro didtico no que diz respeito ao aluno .86

    Quadro 6 - Funes do livro didtico no que diz respeito ao prof-

    essor.. .87

    Quadro 7 - Os crculos de expanso da lngua inglesa 132

    Quadro 8 - Evoluo histrica dos mtodos de ensino de lngua

    estrangeiro. 150

    Quadro 9 - Contedos dos vdeos dos episdios das lies 1 a

    8 do MRVI, no que diz respeito ao texto e prtica

    Sociocultural 153

    Quadro 10 - Sntese da anlise realizada lio 1 177

    Quadro 11 - Sntese da anlise realizada lio 2 190

    Quadro 12 - Sntese da anlise realizada lio 3 203

    Quadro 13 - Sntese da anlise realizada lio 4. 213

    Quadro 14 - Sntese da anlise realizada lio 5 223

    Quadro 15 - Sntese da anlise realizada lio 6 232

    Quadro 16 - Sntese da anlise realizada lio 7 241

    Quadro 17 - Sntese da anlise realizada lio 8 248

    Quadro 18 - Definio das categorias de anlise, a partir das lis-

    tas de itens propostos pelos documentos que serviram

    de base ao presente trabalho para serem trabalhados

    no ELE, no mbito do desenvolvimento do plurilings-

    mo e da competncia intercultural 277

    Quadro 19 - Expresses utilizadas no MRB didtico para carac-

    terizar Benoit.. 289

    Quadro 20 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar Pascal 291

  • 11

    Quadro 21 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar Julie 293

    Quadro 22 - Comparao dos perfis de Julie e Marie.. 300

    Quadro 23 - Referncia a famlia nos vdeos de apresentao das

    lies e dos episdios do Mtodo Reflets-Brsil 304

    Quadro 24 - Situao de galanteio e ligao sentimental implcita

    ou explcita 309

    Quadro 25 - Referncias relao homem / mulher ao longo do

    material didtico do Mtodo Reflets-Brsil 311

    Quadro 26 - Profisses das personagens do material didtico 313

    Quadro 27 - As expresses relacionadas com o trabalho utiliza-

    das no MRB 315

    Quadro 28 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar

    Laurent o estagirio 316

    Quadro 29 - Exemplos no MRB que podero ser vinculados a

    uma dimenso smbolos..... 329

    Quadro 30 - Referncias ao estrangeiro no material didtico do

    mtodo Reflets-Brsil 332

    Quadro 31 - Relaes de poder identificar em diversos momentos

    da ao. 335

    Quadro 32 - Situaes de inconformismo e conformismo apresen-

    tadas no material didtico do Mtodo Reflets-Brsil 337

    Quadro 33 - Situaes de conflitos e reconciliao identificadas

    ao longo do texto. 338

    Quadro 34 - Situaes de celebrao / festa apresentadas no

    MRB 345

    Quadro 35 - Atividades realizadas pelos franceses ao fim de

    Semana.. 346

    Quadro 36 - Elementos considerados essenciais para a anlise

    dos mecanismos relativos produo, consumo e

    distribuio do manual escolar 352

    Quadro 37 - Distribuio dos gneros dos personagens nos v-

    deos do MRB. 359

    Quadro 38 - Tipologia das categorias de questionamento 362

    Quadro 39 - Questionamentos formulados em cada seo do

    MRB.... 366

  • 12

    Quadro 40 - Proposta de trabalho a ser adotada pelo professor

    quando da utilizao do MRB 368

    Quadro 41 - Pressupostos para a anlise do MRB, considerando

    as recomendaes normativas da educao nacional

    sobre o material didtico 369

  • 13

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Dimenses do discurso. 69

    Figura 2 - Modelo tridimensional de Fairclough 76

    Figura 3 - O livro didtico face s mltiplas influncias que sofre .88

    Figura 4 - Caf de Pars 157

    Figura 5 - Torre Eiffel 157

    Figura 6 - Louvre 157

    Figura 7 - Arco do Triunfo 157

    Figura 8 - Champs-lyses 157

    Figura 9 - Mapa de Paris com a localizao (A) do 9 bairro de

    Paris.... 158

    Figura 10 - Porta de madeira trabalhada do prdio onde moram

    Benoit e Julie 158

    Figura 11 - Janela da fachada do prdio onde moram Benoit e

    Julie. 158

    Figura 12 - rea comum do interior do prdio onde vivem Benoit

    e Julie.. 159

    Figura 13 - Nome e sobrenome de Benoit e Julie na placa da por-

    ta do apartamento onde vivem 159

    Figura 14 - Julie atende P-H de Latour na porta do apartamento

    onde vive com Benoit 160

    Figura 15 - Benoit atende P-H de Latour na porta do apartamento 160

    Figura 16 - A postura de Pierre-Henri de Latour formal 161

    Figura 17 - P-H de Latour fala com Benoit e Julie 161

    Figura 18 - Benoit e Julie olham um para o outro antes de se ds-

    pedirem de P-H de Latour 162

    Figura 19 - Postura de Thierry Mercier enquanto fala com Julie 163

    Figura 20 - Benoit se apresenta a T. Mercier e, aps se levantar,

    lhe d a entender que deve fazer o mesmo 163

    Figura 21 - Benoit conduz T. Mercier porta 164

    Figura 22 - A candidata nmero trs apresenta-se acompanahda

    por um co. 164

  • 14

    Figura 23 - O candidato nmero 4 apresenta-se com cabea ras-

    pada e mascando chiclete 165

    Figura 24 - A jovem protagonista da cena 5 l uma revista 165

    Figura 25 - Um jovem, ouvindo msica, apresenta-se como candidato

    6... 166

    Figura 26 - Ingrid uma das candidatas a ser locatria do aparta-

    Mento.... 167

    Figura 27 - Julie mostra, na sua expresso corporal e facial, no

    aprovar a seleo de Ingrid 167

    Figura 28 - Julie apresenta Pascal e Benoit como o novo locatrio.. 168

    Figura 29 - Benoit cumprimenta Pascal, aps ter aceitado que ele

    seja o novo locatrio. 169

    Figura 30 - Paris: Torre Eiffel, Arco do Triunfo e Champs-lyses 170

    Figura 31 - Ambiente urbano de Paris: rua e prdio onde moram

    Benoit e Julie 171

    Figura 32 - Benoit, interrompendo o dilogo entre Julie, e Pierre-

    Henri de Latour se apresentando; indicando a T.

    Mercier a sada e falando com Ingrid 172

    Figura 33 - Candidatos: formalidade de Pierre-Henri de Latour,

    informalidade de T. Mercier e radicalismo do jovem

    de cabea raspada e do jovem ouvindo msica.. 172

    Figura 34 - Julie recebendo Pierre-Henri de Latour, recusando

    Ingrid e apresentando Pascal e Benoit 173

    Figura 35 - As candidatas a partilhar o apartamento 173

    Figura 36 - Benoit cumprimenta Pascal 174

    Figura 37 - Os pais de Julie visitam o apartamento 179

    Figura 38 - Julie e Benoit se beijam no rosto quando este chega em

    casa 179

    Figura 39 - Benoit chega em casa e fala com Julie e seus pais 180

    Figura 40 - Julie mostra o seu quarto aos pais 182

    Figura 41 - Pascal est passando roupa a ferro quando sur-

    preendido com a entrada de Julie e seus pais 183

    Figura 42 - Os pais de Julie se despedem de Pascal 183

    Figura 43 - Julie e a me riem da deciso de M. Prvost e, afinal,

    ir comer em um restaurante 184

  • 15

    Figura 44 - Julie e seu pai diante de Benoit quando da sua Che-

    gada em casa e da apresentao ao casal Prvost 185

    Figura 45 - Julie e seu pai diante de Pascal quando da entrada

    no seu quarto 186

    Figura 46 - Julie quando recebe o elogio de seu pai sobre a ar-

    rumao do seu quarto 186

    Figura 47 - Julie e sua me riem discretamente quando o pai aceita

    fazer o jantar e depois desiste 187

    Figura 48 - Julie e Benoit falam porta do prdio onde vivem 193

    Figura 49 - A colega avisa Benoit que ele foi substitudo 193

    Figura 50 - Benoit recebe, com surpresa, a notcia da sua subs-

    tituio 194

    Figura 51 - A colega de Benoit esclarece que se trata de uma

    brincadeira 194

    Figura 52 - O estagirio atende Mme. Desport quando Benoit en-

    tra na sala 196

    Figura 53 - Mme. Desport suplica que Benoit resolva a situao

    rapidamente 196

    Figura 54 - Face ao olhar furioso de Mme. Desport, o estagirio

    desvia o olhar.. 197

    Figura 55 - Laurent surpreendido pelo convite de Benoit para

    irem sala de Nicole. 198

    Figura 56 - Benoit entra na agncia de viagens e resolve rapida-

    mente a situao da cliente difcil 199

    Figura 57 - O estagirio fica sem jeito diante do olhar furioso da

    cliente difcil 199

    Figura 58 - Laurent, surpreendido, quando Benoit o convida para

    ir sala de Nicole 199

    Figura 59 - A cliente difcil atendida por Laurent 200

    Figura 60 - A cliente difcil suplica a Benoit que a atenda 200

    Figura 61 - Comparando Benoit e o estagirio 201

    Figura 62 - Laurent elogiado por Nicole e Annie.. 205

    Figura 63 - Nicole e Annie elogiam Laurent.. 206

    Figura 64 - Laurent elogia os bolos servidos por Nicole e Annie 206

    Figura 65 - Benoit alerta para o fato de estar na hora de conti-

    nuar o trabalho .207

  • 16

    Figura 66 - Nicole e Annie discutem se oferecem flores a Benoit.. 208

    Figura 67 - Laurent coloca a correspondncia na mesa de Benoit 209

    Figura 68 - Benoit recebe os parabns dos colegas de trabalho 210

    Figura 69 - Benoit recebe as flores 210

    Figura 70 - Julie procura entrevistar uma transeunte que afirma

    no ter tempo.. 216

    Figura 71 - Julie, desanimada, se aproxima de Claudia 216

    Figura 72 - Julie desabafa com Claudia que no fcil aplicar

    questionrios.. 217

    Figura 73 - Claudia se dirige a duas transeuntes e tenta conse-

    guir a entrevista 218

    Figura 74 - Julie se dirige a um jovem com o intuito de lhe aplicar

    o questionrio 220

    Figura 75 - Claudia apia Julie quando esta consegue a entrevista

    com o jovem 220

    Figura 76 - Julie espera Claudia na sada de uma estao de

    Metr... 225

    Figura 77 - Julie e Claudia falam enquanto caminham numa rua

    de Paris 226

    Figura 78 - Julie e Claudia falam com Yves e com a jovem artis-

    ta Violaine 227

    Figura 79 - Violaine explica a Julie que procura algum que

    possa vender suas obras 228

    Figura 80 - Comunicao no-verbal de Franois. 229

    Figura 81 - Pascal fica preocupado quando Benoit o informa

    que est acontecendo uma greve nos transportes 235

    Figura 82 - Julie procura ajudar Pascal a resolver a situao

    ocasionada pela greve dos transportes 236

    Figura 83 - Pascal parte na moto de Franois 237

    Figura 84 - Pascal recebido pelo diretor do Centro Cultural 238

    Figura 85 - O diretor do Centro Cultural pede a Isabelle que ela

    conduza Pascal numa visita s instalaes 243

    Figura 86 - Pascal assiste oficina de hip-pop 244

    Figura 87 - Pascal, avisado por Akim, procura os jovens que es-

    tariam junto da moto, mas no os encontra 245

    Figura 88 - Pascal fala com o diretor do Centro Cultural.. 246

  • 17

    Figura 89 - Apresentao de Marie, de preto, contra um fundo de

    composio colorida... 249

    Figura 90 - Philippe, imaginado por Marie, num primeiro momen-

    to de idealizao 250

    Figura 91 - Philippe, imaginado por Marie, num segundo momen-

    to de idealizao 251

    Figura 92 - Chegando no meio do apartamento e depois de um

    rpido olhar, Philippe afirma ser um espao interes-

    sante. 252

    Figura 93 - A quantidade de bagagem trazida pelo jovem motiva

    Marie afirmar que ele muito espaoso.. 252

    Figura 94 - Marie comea falando com Philippe formalmente, com-

    tudo ele categrico quando afirma que no quer ser

    tratado por monsieur ou por vous, mas por tu 253

    Figura 95 - Philippe na imaginao de Marie.. 254

    Figura 96 - Philippe que se apresenta para partilhar o apartamen-

    To....... 255

    Figura 97 - Marie mostra fotos de famlia a Philippe.. 257

    Figura 98 - Philippe l a mensagem no computador 258

    Figura 99 - Marie se protege dos objetos que Philippe arremessa

    contra ela.. 258

    Figura 100 - Philippe surpreendido por Marie quando esta lhe

    prepara uma festa de aniversrio. 260

    Figura 101 - Os amigos chegam para a festa de aniversrio de

    Philippe.................................................................... 261

    Figura 102 - Competncias que devero ser desenvolvidas no

    ensino de uma lngua estrangeira, visando promover

    o plurilingismo. 274

    Figura 103 - Sntese da mensagem veiculada pelo MRB no que

    diz respeito Frana 283

    Figura 104 - Pascal sendo apresentado por Julie a Benoit e ps-

    sando a ferro quando da visita dos pais da jovem.. 285

    Figura 105 - Os candidatos ao lugar de locatrio do apartamento 286

    Figura 106 - Benoit chega em casa e recebido por Julie e apre-

    sentado por esta aos seus pais 286

  • 18

    Figura 107 - Pascal surpreendido por Julie no seu quarto quan-

    do passa a ferro e esta lhe apresenta os pais. 286

    Figura 108 - Benoit em dois episdios do MRB 288

    Figura 109 - Pascal em dois episdios do MRB 290

    Figura 110 - Vesturio de Marie em vrios episdios.. 295

    Figura 111 - Vesturio de Julie em vrios episdios 296

    Figura 112 - Penteado de Marie em vrios episdios. 296

    Figura 113 - Penteado de Julie em vrios episdios.. 297

    Figura 114 - Expresso corporal de Marie em vrios episdios.. 297

    Figura 115 - Expresso corporal de Julie em vrios episdios 298

    Figura 116 - rvore genealgica de acordo com a proposta apre-

    sentada no DTP e DTA do MRB 304

    Figura 117 - Mapa de Paris e arredores com a localizao de onde

    decorre a ao 318

    Figura 118 - Critrios apontados para a anlise dos candidatos 321

    Figura 119 - Imagem do homem francs imaginado por Marie 323

    Figura 120 - Imagem do homem francs representado por Benoit 324

    Figura 121 - Imagem do homem francs representado por Franois 324

    Figura 122 - Imagem do homem francs imaginado por Marie em

    contraponto com um jovem jamaicano calmo e des-

    contrado tambm imaginado 325

    Figura 123 - Imagem do homem francs imaginado por Marie em

    contraponto com a realidade de Philippe 325

    Figura 124 - Imagem do homem francs representado por Benoit

    em contraponto com Franois 325

    Figura 125 - Imagem do homem francs representado por Benoit

    em contraponto com Laurent 326

    Figura 126 - Mme. Desport durante o atendimento por Laurent e

    quando suplica a Benoit que resolva rapidamente o

    seu problema 326

    Figura 127 - Marie v fotos antigas e brinca com um brinquedo de

    pelcia 327

    Figura 128 - Marie feiticeira d a Philippe um misterioso lquido

    fortificante 327

    Figura 129 - Referncias simblicas a Jamaica e ao Oriente.. 331

    Figura 130 - Apartamento dos jovens franceses 347

  • 19

    Figura 131 - Espao partilhado por Marie e Philippe. 347

    Figura 132 - Relao entre os materiais didticos elaborados na

    Frana e no Brasil e utilizados no MRB 355

  • 20

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio das situaes de galanteio e ligao

    sentimental implcita ou explcita no MRB.. 308

    Tabela 2 - Contabilizao dos gneros dos personagens nos v-

    deos do MRB 359

    Tabela 3 - Distribuio da populao francesa em funo da ida-

    de.. 360

    Tabela 4 - Distribuio dos gneros na populao francesa. 360

    Tabela 5 - Contabilizao parcial e final dos resultados obtidos

    nas sees do MRB 366

    Tabela 6 - Nvel da tipologia de questes e categorias de qus-

    tionamento 367

  • 21

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACD - Anlise Crt ica do Discurso

    BRASED - Thesaurus Brasi leiro da Educao

    CNLD - Comisso Nacional do Livro Didtico

    COLTED - Comisso do Livro Tcnico e do Livro Didtico

    DTA - Documento de Trabalho do Aluno

    DTP - Documento de Trabalho do Professor

    ELE - Ensino de Lngua Estrangeira

    FAE - Fundao de Assistncia ao Estudante

    FENAME - Fundao Nacional de Material Escolar

    FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

    INL - Instituto Nacional do Livro

    LDB - Lei de Diretr izes e Bases da Educao Nacional

    LE - Lngua Estrangeira

    LM - Lngua Materna

    MAO - Metodologia udio-Oral

    MAV - Metodologia udio-Visual

    MD - Mtodo Direto

    ME - Ministrio da Educao

    MEC - Ministrio da Educao e Cultura

    MRB - Mtodo Reflets-Brsil

    MRVI - Mtodo Reflets na Verso Internacional

    MT - Metodologia Tradicional

    PCN - Parmetros Curriculares Nacionais

    PLIDEF - Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental

    PNLD - Plano Nacional do Livro Didtico

    QECRL - Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas

    UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a

    Cincia e a Cultura

    USAID - Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento

    Internacional

  • 22

    SUMRIO

    INTRODUO. 24

    1 APRESENTAO DO MTODO REFLETS-BRSIL 29

    1.1 O mtodo Reflets-Brsil.. 29

    1.1.1 Apresentao geral do mtodo.. 29

    1.1.2 Designao do mtodo Reflets-Brsil.. 30

    1.1.2.1 Discrepncias no que se refere designao do MRB.. 30

    1.1.2.2 Discrepncias no que se refere designao dos DTA

    e a do DTP..... 31

    1.1.3 Estrutura do mtodo Reflets-Brsil.. 31

    1.1.3.1 Divergncias entre a estrutura do MRVI e a do MRB. 31

    1.1.3.2 Divergncias entre a estrutura do MRB no WebEduc e

    no DTA e DTP..... 32

    1.1.3.3 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP e a do livro

    do aluno do MRVI.. 34

    1.1.3.4 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP 39

    1.2 Delimitao do corpus 41

    2 O DOMNIO SOCIOCULTURAL NO ENSINO DE LNGUA ES-

    TRANGEIRA 43

    2.1 Conceitos de cultura e linguagem. 43

    2.1.1 Plurilingismo e conscientizao intercultural e o ensino

    de lngua estrangeira 46

    2.2 A abordagem do domnio sociocultural no mbito de docu-

    mentos normativos do ensino de lngua estrangeira.. 48

    2.2.1 Domnio sociocultural, prtica social e ideologia.. 48

    2.2.1.1 Papel social e domnio sociocultural 48

    2.2.1.2 Prtica social 49

    2.2.1.3 Ideologia 49

    2.2.2 A abordagem do domnio sociocultural no quadro europeu

    de referncia............................................................... 50

  • 23

    2.2.3 A abordagem do domnio sociocultural nos currculos na-

    cionais de lngua estrangeira 58

    2.2.4 Referncias no Programa Nacional do Livro Didtico rela-

    tivas vertente sociocultural.. 65

    2.3 Anlise crtica do discurso.. 67

    2.3.1 Categorias de anlise 71

    2.4 Procedimento metodolgico 73

    3 A ANLISE DO MTODO REFLETS-BRSIL 76

    3.1 Modelo tridimensional de Norman Fairclough 76

    3.2 Anlise da prtica discursiva Mtodo Reflets-Brsil: proces-

    sos de produo, distribuio e consumo.. 81

    3.2.1 O conceito de material didtico 81

    3.2.2 O livro didtico 83

    3.2.2.1 O conceito e as funes do livro didtico. 86

    3.2.2.1.1 A evoluo do livro didtico 90

    3.2.2.2 A regulamentao do livro didtico no Brasil 93

    3.2.3 O livro didtico no contexto da indstria cultural. 106

    3.2.3.1 Uma viso do mundo atual.. 107

    3.2.3.2 A indstria cultural.......... 110

    3.2.3.2.1 Os produtos culturais.. 111

    3.2.3.2.2 Reivindicao por uma identidade cultural 113

    3.2.3.3 O circuito de produo, distribuio e consumo do livro

    didtico. 118

    3.2.4 O ensino de lngua estrangeira no contexto da indstria cul-

    tural. 124

    3.2.5 Princpios didticos e pedaggicos associados ao ensino

    e aprendizagem de lngua estrangeira 135

    3.3 Anlise do texto e da prtica sociocultural do Mtodo Reflets-

    Brsil................................................................................ 150

    3.3.2 O surgimento das categorias utilizadas na anlise do MRB 274

    3.3.2.1 Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas 273

    3.3.2.2 Currculos nacionais de l ngua estrangeira 275

    3.3.2.3 Plano Nacional do Livro Didtico 276

    3.3.3 A anlise do MRB considerando as categorias de anlise 277

  • 24

    3.3.3.1 Comunidade internacional. 277

    3.3.3.2 A Frana..... 279

    3.3.3.3 Os franceses........ 283

    3.3.3.4 A francofonia................. 301

    3.3.3.5 A famlia 303

    3.3.3.6 Relacionamento homem / mulher.. 306

    3.3.3.7 Trabalho.. 312

    3.3.3.8 Princpios ticos 317

    3.3.3.9 Dimenso simblica... 323

    3.3.3.10 O mundo do outro.... 330

    3.3.3.11 Relaes sociais 333

    3.3.3.12 Afirmao pessoal 341

    3.3.3.13 Celebrao / festa.................................... 344

    3.3.3.14 Tempos livres e frias............ 345

    3.3.3.15 Habitao 346

    3.3.3.16 Meio ambiente......................................... 348

    3.4 Anlise do Mtodo Reflets-Brsil ao nvel da produo, consu-

    mo e distribuio.. 350

    CONSIDERAES FINAIS...... 370

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 380

    ANEXOS 388

    Anexo A- Dilogos das lies do mtodo Reflets-Brsil. 389

    Anexo B- Textos disponibilizados na seco civilisation no docu-

    mento de trabalho do professor.. 404

    Anexo C- Dilogos da introduo lio 1 do Mtodo Reflets-Brsil 408

  • 25

    INTRODUO

    O desenvolvimento contemporneo nasce, em grande parte, do

    encontro e do conhecimento recprocos de povos e culturas. Nesse

    contexto, o ensino de uma lngua estrangeira dever considerar no

    somente a vertente lingstica, mas tambm possibilitar ao aluno

    compreender melhor a sua prpria cultura e a cultura do(s) povo(s) que

    fala(m) o idioma a aprender. Desse modo, proporciona ao indivduo as

    condies para interagir num mundo globalizado e estimula a reflexo sobre

    o que significa viver, agir e intervir no universo.

    Para que isso seja possvel, o livro didtico para o ensino de uma

    lngua estrangeira deve, alm de ensinar a lngua estrangeira, abordar

    questes culturais relativas lngua em questo, possibilitando ao indivduo

    as condies para a organizao e a interpretao de uma nova experincia

    lingstica e cultural.

    Contudo, o livro didtico para o ensino de lngua estrangeira,

    inserido num contexto que ultrapassa o sistema educacional, envolve, por

    exemplo, o Estado, o mercado e a indstria cultural e existe como possvel

    veiculador de ideologias.

    O entendimento dessa situao particularmente importante no

    atual momento scio-histrico, em que o ensino de lngua estrangeira

    adquire relevncia particular no mbito do jogo geopoltico dos pases em

    estreita relao com a globalizao e a indstria cultural. O Brasil no

    parte ausente nesse processo, vendo-se objeto do interesse da Frana no

    mbito dos planos de expanso da sua lngua.

  • 26

    O presente estudo procura atender ao objetivo geral de identificar,

    descrever e compreender o discurso ideolgico do Mtodo Reflets-Brsil ,

    disponibilizado pelo Ministrio da Educao brasileiro no seu portal de

    contedos educacionais, fruto de um acordo realizado com o Ministrio dos

    Negcios Estrangeiros francs que visa expandir a sua influncia no Brasil,

    tendo como ponto de partida a lngua. O Mtodo Reflets-Brsil consiste de

    uma verso do Mtodo Reflets, inicialmente publicado por um consrcio de

    editoras europias, sob a coordenao da editora francesa Hachette.

    O estudo procura atender aos objetivos especficos:

    - Observar a relao entre o discurso ideolgico do mtodo Reflets-

    Brsil e o papel proposto para o domnio sociocultural no mbito

    do ensino de lngua estrangeira.

    - Caracterizar e descrever em termos de polticas pblicas para o

    ensino de lngua estrangeira a importncia do papel do domnio

    sociocultural.

    - Caracterizar e descrever o papel do domnio sociocultural no

    ensino de lngua estrangeira.

    Esta investigao faz parte de uma motivao pessoal sobre os

    aspectos relacionados com o trabalhar a interculturalidade na produo de

    contedos para educao a distncia, fruto da curiosidade despertada pela

    realizao, respectivamente, de especializao e mestrado na rea de

    educao intercultural, com defesa de monografia, procurando compreender

    as conseqncias da universalizao do ensino nomeadamente no que aos

    aspectos interculturais diz respeito; e de dissertao sobre a utilizao da

    educao a distncia com os mesmos propsitos.

    A concretizao da pesquisa implicar na abordagem do conceito de

    cultura e ideologia, tendo, entre outras, a base terica proporcionada por

    Thompson (2002), bem como os referenciais normativos no que diz respeito

  • 27

    ao domnio sociocultural no ensino de lngua estrangeira do Ministrio da

    Educao para a educao em geral e para o livro didtico em especial e do

    Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas - aprendizagem,

    ensino, avaliao.

    Desse modo, procura-se encontrar subsdios para entender a

    evoluo das recomendaes normativas no Brasil e na Europa, quanto

    elaborao do material didtico e de que modo elas se intersectam com

    condies polticas, econmicas, sociais e culturais subjacentes ideologia.

    O estudo contemplar tambm, entre outros, a contribuio terica de

    Choppin (1998, 2004) e Puren (2000, 2004b). Com eles se pretender

    compreender o circuito de produo, distribuio e consumo do material

    didtico ao longo do tempo, bem como de que maneira eles se intersectam

    com os princpios didticos associados ao ensino de uma lngua

    estrangeira.

    A proposta metodolgica do estudo enquadra-se na modalidade de

    pesquisa qualitativa e recorre tica da anlise crtica do discurso proposta

    por Fairclough (2001) e, por esse motivo, contemplar a anlise do contexto

    de produo, distribuio e consumo do mtodo Reflets-Brsil, no mbito do

    que autor chama de Prtica Discursiva, bem como da ideologia associada

    prtica social e do texto. Objetivando tornar mais consistente a anlise

    dessas questes, foram usados elementos quantitativos, especialmente no

    que se refere caracterizao da populao francesa.

    Procurando contemplar o que foi referido, o estudo compreende trs

    partes, abordando, na primeira, a apresentao do Mtodo Reflets-Brsil. A

    segunda parte se debrua sobre o conceito de linguagem e cultura, e

    analisa a concepo de domnio sociocultural no ensino de lngua

    estrangeira proposta pelo Quadro Europeu Comum de Referncia para as

    Lnguas, pelo currculo de lngua estrangeira proposto pelo Ministrio da

    Educao brasileiro e que, tal como o Plano Nacional do Livro Didtico,

    influencia a elaborao do manual escolar. Este estudo servir de base

    para a elaborao das categorias de anlise que sero trabalhadas na parte

  • 28

    trs da pesquisa, onde se realiza a anlise do Mtodo Reflets-Brsil e se

    apresenta a anlise do mtodo e a discusso dos resultados da pesquisa.

  • 29

    Categor ias de anl ise - Capi tu lo 2.4. -

    A l inguagem e a cul tura

    - Captu lo 2.1. -

    O domnio soc iocultura l no ens ino de l ngua estrangeira

    - Captu lo 2.2 -

    Domnio soc iocultura l no QER

    - Captu lo 2.2.1. -

    Domnio soc iocultura l no curr cu lo

    - Captu lo 2.2.2. -

    Referncias no Programa Nacional do Livro Didtico relativos

    vertente sociocultural

    - Captu lo 2.2.3. -

    Anl ise cr i t ica do d iscurso - Captu lo 2.3 -

    Mtodo Ref lets - Captu lo 1 -

    Modelo tr id imens ional

    apl icado ao Mtodo Ref lets-Brs i l - Captu lo 3. -

    Vdeos ( l ies 1 8) - Captu lo 1 -

    Textos civ i l izat ion - l ivro professor

    - Captu lo 1 -

    Mtodo Ref lets-Brs i l

    Texto e prt ica soc iocultura l

    - Captu lo 3.1. -

    Mtodo Ref lets-Brs i l-

    Processos de produo, d istr ibuio

    e consumo - Captu lo 3.2. .

    IDEOLOGIA

    DISCURSO

    ESQUEMA 1 - MAPA CONCEITUAL DA PESQUISA.

  • 29

    1 APRESENTAO DO MTODO REFLETS-BRSIL

    1.1 O mtodo Reflets-Brsil

    1.1.1 Apresentao geral do mtodo

    O Mtodo Reflets-Brsil (MRB) uma verso adaptada para o Brasil

    do mtodo de ensino de lngua francesa Reflets1 publicado originariamente

    pela editora francesa Hachette em co-produo com mais dois editores

    europeus (SGEL-Espanha e Petrini-Itlia) e a participao do Ministrio dos

    Negcios Estrangeiros francs. O MRB resulta de um acordo celebrado em

    2006 entre o Ministrio da Educao francs e o seu congnere brasileiro,

    para possibilitar o acesso livre na Internet a diversos recursos destinados

    particularmente ao auto-aprendizado de alunos e ao apoio a professores

    interessados na aprendizagem e no ensino da lngua francesa e das

    culturas francfonas (BRASIL, 2007).

    O mtodo Reflets foi apresentado na verso internacional (MRVI)

    dividido em trs nveis, incluindo em cada etapa- um livro do aluno, um livro

    de exerccios, um guia pedaggico, vrias fitas de vdeos e CDs de udio. O

    MRB resulta da adaptao do nvel I do MRVI, e apresenta como recursos

    acessveis no site Francoclic do Portal de Contedos Educacionais

    (WebEduc2) da Secretaria de Educao a Distncia do Ministrio da

    Educao brasileiro3; vdeos disponveis em streaming e exerccios,

    Documento de Trabalho do Professor (DTP) e Documento de Trabalho do

    Aluno (DTA), todos disponibilizados em formato eletrnico, com a

    possibilidade de serem impressos.

    1 O mtodo de ensino da lngua francesa Reflets de autoria de Guy Capelle e Nolle Gidon. 2 O WebEduc , de acordo com informao d isponib i l izada no prpr io porta l, um

    espao onde possvel encontrar mater ia l de pesquisa, objetos de aprendizagem e outros contedos educac ionais de l ivre acesso.

    3 O mtodo Reflets-Brsil, alm de estar disponvel no WebEduc, tambm difundido em diversas emissoras de televiso.

  • 30

    1.1.2 Designao do mtodo Reflets-Brsil

    A adaptao do mtodo Reflets para o Brasil tem a designao

    oficial de Reflets-Brsil. possvel, contudo, encontrar discrepncias entre

    a denominao do MRB encontrada no portal do Ministrio da Educao

    (ME) e os documentos de apoio de trabalho do professor e do aluno. Tal

    fato obriga a um conjunto de escolhas sobre as designaes a adotar na

    presente pesquisa.

    1.1.2.1 Discrepncias no que se refere designao do MRB

    No site Francoclic do Portal WebEduc do ME, o MRB chamado de

    Mtodo de aprendizagem da lngua francesa, de Curso de francs e de

    Mdulos de auto-aprendizagem4. Nos documentos de trabalho do

    professor e do aluno, designado de Mtodo e de Sistema de

    ensino/aprendizagem5. No presente estudo, adotaremos a designao

    Mtodo, originalmente utilizada pela editora Hachette, e que tambm

    corresponde proposta conceitual de Puren (2000), que associa esse termo

    a material didtico6.

    4 Designaes do MRB no portal WebEduc * Mtodo de aprendizagem da lngua francesa

    - Reflets-Bresil- Mtodo de aprendizagem da lngua francesa, especialmente concebido para o pblico brasileiro.

    * Curso de francs - Salut! Apresentamos a vocs o curso de francs Reflets! [...] Este curso contm 24

    lies onde, ao final, voc ter um conhecimento bsico da lngua francesa. - Apresentao do curso. O curso divide-se em 24 lies.

    * Mdulos de auto-aprendizagem - Francoclic um site contendo diversos recursos de acesso livre [...]. Nele voc

    encontra os mdulos- de auto-aprendizagem Reflets-Brsil .... 5 Designaes do MRB nos documentos de trabalho do professor e do aluno * Mtodo * Sistema de ensino/aprendizagem

    - Esta apostila tem como objetivo ajud-lo no seu trabalho dirio com o Mtodo Reflets-Brsil. Nosso grupo de trabalho vem investigando, [...], dois sistemas de ensino/aprendizagem de Francs Lngua Estrangeira - VIF@X e REFLETS.

    6 As Orientaes Curriculares Nacionais de Linguagem, Cdigo e suas Tecnologias para o Ensino Mdio (BRASIL, 2006), referem material didtico como um conjunto de recursos dos quais o professor se vale na sua prtica pedaggica, tais como os livros didticos, os textos, os vdeos, as gravaes sonoras (de textos, canes) e os materiais auxiliares ou de apoio, como gramticas, dicionrios, entre outros. Neste estudo utilizaremos a expresso material didtico para referir o conjunto dos recursos disponibilizados pelo MRB- vdeos e documentos de trabalho do aluno e do professor.

  • 31

    1.1.2.2 Discrepncias no que se refere designao dos DTA e a do DTP

    Alm das discrepncias na designao do MRB, possvel, tambm,

    encontrar divergncias na denominao dos DTA e DTP. Enquanto no texto

    da pgina inicial dos dois documentos eles so designados de material

    para estudo, no texto da apresentao, eles so denominados como

    apostila7. Os mesmos DTA e DTP so denominados, na capa dos dois

    documentos, bem como na pgina do MRB, no portal educacional do ME, de

    Documento de Trabalho do Professor e de Documento de Trabalho do

    Aluno. No presente estudo, adotaremos a designao utilizada no portal

    educacional do Ministrio da Educao- Documento de Trabalho do

    Professor e Documento de Trabalho do Aluno.

    1.1.3 Estrutura do mtodo Reflets-Brsil

    O material didtico do MRB apresenta estrutura divergente entre si e

    com o MRVI. Tal fato obriga a um conjunto de escolhas, no que diz respeito

    s designaes a adotar na presente pesquisa.

    1.1.3.1 Divergncias entre a estrutura do MRVI e a do MRB

    A estrutura do livro do aluno no MRVI contempla uma subdiviso em

    12 dossis, integrando, cada um, dois episdios, num total de 248. A

    estrutura adotada pelo MRB diferente. Por um lado, em vez da designao

    episdios, adota a denominao lio e no contempla dossis. Por

    outro lado, cada uma das 24 lies (com o mesmo nome dos episdios do

    MRVI), contempla, alm do vdeo do respectivo episdio do MRVI9, um

    conjunto de outros vdeos, produzidos especialmente para a verso

    brasileira, e Points de Grammaire, que disponibilizam em cada lio

    aspectos da gramtica. Os vdeos produzidos para a verso brasileira so- 7 Prezado aluno. Esta apostila tem como objetivo [...] Esta apostila flexvel. 8 Cada episdio do MRVI est associado a um vdeo. 9 Os vdeos dos episdios so iguais no MRVI e no MRB.

  • 32

    - Vdeo de introduo com o resumo da lio anterior (exceto na

    primeira lio) e a introduo da lio a ser estudada.

    - Vdeos de compreenso + exerccios, onde se comentam,

    traduzem e explicam passagens e frases recuperadas de trechos

    do episdio.

    - Vdeos de gramtica + exerccios, onde se recuperam contedos

    gramaticais abordados no episdio e se apresentam o modo como

    so utilizados os elementos e as estruturas utilizadas.

    - Vdeos de Variation + exerccios, onde so recuperadas

    expresses utilizadas no episdio.

    - Vdeos de Bilan10, onde Marie e Philippe resumem a lio;

    1.1.3.2 Divergncias entre a estrutura do MRB no WebEduc e no DTA e DTP

    O MRB, alm dos vdeos mencionados, tambm oferece como

    recurso, em relao apenas s lies de 1 a 8 do MRB, um Documento de

    Trabalho do Aluno (DTA) e um Documento de Trabalho do Professor

    (DTP).

    No que diz respeito estrutura, possvel encontrar divergncias

    entre os DTA e DTP, subdivididos em unidades, e o MRB, apresentado na

    pgina Fancoclic, subdividido em lies. No presente trabalho, utilizaremos

    a designao lio, de acordo com a pgina do portal educacional do

    Ministrio da Educao.

    Ainda no que diz respeito a divergncias na estrutura, entre a pgina

    Francoclic e os DTA e DTP, as lies disponveis no portal WebEduc so

    subdivididas em Introduo, Compreenso, Gramtica, Variations e

    10 A palavra Bilan traduzida literalmente para portugus como balano.

  • 33

    Bilan, enquanto a estrutura dos documentos de trabalho do professor e de

    trabalho do aluno tm uma diviso diferente. Numa tentativa de retratar a

    situao exposta, apresentamos o quadro 1, onde se compara a estrutura

    do mtodo, apresentada no portal, e a dos documentos de trabalho.

    Estrutura das l ies no WEBEDUC Estrutura das l ies nos DTA e DTP

    Introduo

    Episdio Dilogos do episdio

    Qu'est-ce qui se passe?

    Compreenso Comprhension

    Suggestion de dialogue

    Suggestion

    Gramtica Grammaire

    Expressions et grammaire

    Expression orale

    Comprhension crite

    Comprhension orale

    Variations

    Jeu de rle

    Exercices

    Exercices crits

    Activits orales

    Suggestion d'activit

    Civilisation

    CLIP

    Questionnaire

    Enqute

    Petites annonces

    Variations

    Bilan

    Quadro 1 - Comparao entre a estrutura das lies no WebEduc e no DTA e DTP.

    Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

  • 34

    1.1.3.3. Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP e a do livro do aluno

    do MRVI

    Comparando a estrutura do DTA e DTP, com a do livro do aluno do

    MRVI, possvel encontrar divergncias nas subdivises dos documentos,

    situao que se procura expor no quadro 2.

    Estrutura das Lies nos DTA e DTP Estrutura dos Episdios do Aluno no MRVI Dilogos do episdio - Estrutura em relao a cada episdio

    individual: Dcouvrez les situations - atividades de

    reflexo sobre o tema e transcrio dos dilogos do episdio.

    Organisez votre comprhension - atividades de compreenso, anlise dos comportamentos verbais e no verbais dos personagens do episdio.

    Dcouvrez la Grammaire contedos gramaticais e proposta de exerccios.

    Sons et lettres - fontica e ortografia. Communiquez atividades de

    compreenso e produo oral. - Estrutura em relao a cada dossi

    (conjunto de dois episdios): crit - atividades de compreenso e

    comunicao escritas. Des mots pour le dire - vocabulrio

    temtico. Civilisation - aspectos culturais.

    Qu'est-ce qui se passe?

    Comprhension

    Suggestion de dialogue

    Suggestion

    Grammaire

    Expressions et grammaire

    Expression orale

    Comprhension crite

    Comprehension orale

    Variations

    Jeu de rle

    Exercices

    Exercices crits

    Activits orales

    Suggestion d'activit

    Civilisation

    CLIP

    Questionnaire

    Enqute

    Petites annonces

    Quadro 2 - Comparao entre a estrutura das lies nos DTA e DTP e a estrutura dos episdios do aluno no MRVI.

    Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

    No sentido de especificar a afirmao anterior, apresentamos o

    quadro 3, onde se procura comparar a estrutura da lio 5 do MRVI e a

    estrutura da lio 5 do documento de trabalho do aluno.

  • 35

    Estrutura do Episdio 5 do Livro do Aluno

    no MRVI

    Estrutura da Lio 5 no Documento de

    Trabalho do Aluno

    Objetivos de aprendizagem

    Dc

    ouvr

    ez le

    s si

    tuat

    ions

    ativ

    idad

    es d

    e re

    flex

    o

    acer

    ca d

    o te

    ma

    Transcrio do episdio

    Qu'

    est-

    ce q

    ui s

    e pa

    sse?

    - Id

    entif

    ica

    o d

    as p

    erso

    nage

    ns, d

    os lu

    gare

    s on

    de s

    e en

    cont

    ram

    e

    do q

    ue fa

    zem

    A transcrio do episdio est

    disponvel do DTP

    1 Quest-ce quils font?

    2 Interprtez les photos Dcouvrez les situations

    3 Faites des hypothses

    Org

    anis

    ez v

    otre

    com

    prh

    ensi

    on -

    Ativ

    idad

    es d

    e co

    mpr

    eens

    o, a

    nlis

    e do

    s co

    mpo

    rtam

    ento

    s ve

    rbai

    s e

    no-

    ve

    rbai

    s do

    s pe

    rson

    agen

    s do

    epi

    sdi

    o.

    Obs

    erve

    z la

    ctio

    n et

    les

    rpl

    ique

    s

    1 Dans quel ordre ont lieu ces

    vnements?

    Dans quel ordre ont lieu ces

    vnements?

    2 Quest-ce quelle fait?

    3 Quest-ce que rpondent?

    Obs

    erve

    z le

    s co

    mpo

    rtem

    ents

    4. Quelle ets leur attitude?

    5. Qu'est-ce qu'on dit pour... Qu'est-ce qu'on dit pour.

    Suggestion de dialogue

    Comprehension

  • 36

    Estrutura do Episdio 5 do Livro do

    Aluno no MRVI

    Estrutura da Lio 5 no Documento de Trabalho

    do Aluno

    Dc

    ouvr

    ez la

    Gra

    mm

    aire

    I -

    cont

    edo

    s

    gram

    atic

    ais

    e ex

    erc

    cios

    1. Et vous?

    Exp

    ress

    ions

    et g

    ram

    mai

    re

    apr

    esen

    ta c

    omo

    empr

    egar

    os

    elem

    ento

    s e

    as e

    stru

    tura

    s gr

    amat

    icai

    s no

    text

    o.

    Exercice crit

    2. Chacun ses gots.

    3. Depuis quand?

    4. quoi ou de quoi est-ce quils

    jouent?

    5. Quest-ce quils font dautre?

    6. Conversation.

    7. Quest-ce quils aiment? O est-ce

    quils vont?

    Exercice crit- exemples

    Enqute

  • 37

    Estrutura do episdio 5 do livro do aluno

    no MRVI

    Estrutura da lio 5 no documento de

    trabalho do aluno

    Dc

    ouvr

    ez la

    Gra

    mm

    aire

    II -

    co

    nte

    dos

    gram

    atic

    ais

    e ex

    erc

    cios

    .

    Son

    s et

    lettr

    es -

    fon

    tica

    e or

    togr

    afia

    1 - Lisez et coutez- Quel(s) sons

    est-ce que vous entendez entre

    les mots souligns?

    2 - Lisez et coutez- Quelles

    liaisons est-ce que vous

    entendez?

    3 - Un ou plusieurs?

    Com

    mun

    ique

    z -

    com

    pree

    nso

    e p

    rodu

    o

    oral

    1 Visionnez les variations

    Variations - Possibilita utilizar situaes de jogo de papis

    Aborder quelqu'un et

    donner un

    renseignement

    Refuser et donner une

    excuse

    2 Des magazines pour tous.

    3 Lun aime, lautre naime pas.

    4 Retenez lessentiel

    5 Et dans votre pays?

    Jeu de rles

  • 38

    Estrutura do episdio 5 do livro

    do aluno no MRVI

    Estrutura da lio 5 no documento de trabalho

    do aluno

    cr

    it -

    Ativ

    idad

    es d

    e co

    mpr

    eens

    o e

    co

    mun

    ica

    o e

    scrit

    as

    Texto: Le couple et la famille

    Com

    prh

    ensi

    on

    crite

    Texto- Le couple et la famille

    1 Regroupez des mots du texte

    autour de la notion de famille.

    1. Regroupez des mots du texte autour de

    la notion de famille

    2. Quest-ce que vous avez

    compris? 2. Mettez V (vrai) ou F (faux)

    3. Lisez le sondage

    3. Lisez le sondage.

    4. Quel est le bon rsum?

    Des

    mot

    s po

    ur le

    dire

    -

    apre

    sent

    a um

    voc

    abul

    rio

    tem

    tic

    o co

    mo

    com

    plem

    ento

    La famille et la description de

    personnes La famille et la description de personnes

    1. Devinez 1. Devinez

    2. Comment sont-Ils - Dcrivez

    les membres de la famille...

    2. Comment sont-Ils - Dcrivez les membres de la

    famille...

    3. Cherchez lerreur 3 Cherchez lerreur

    Suggestion d'activit- enqute

    CLIP- "Mon mange moi"

  • 39

    Estrutura do episdio 5 do livro do

    aluno no MRVI

    Estrutura da lio 5 no documento de

    trabalho do aluno

    Civ

    ilisa

    tion

    - ab

    orda

    asp

    ecto

    s cu

    ltura

    is

    Dis

    pon

    vel n

    a un

    idad

    e 5

    Texto- Artisanat et mtiers dart.

    Dis

    pon

    vel n

    a un

    idad

    e 6

    Texto- Artisanat et mtiers dart

    1 Quest-ce que vous avez vu? 1 Quest-ce que vous avez vu?

    2. Associez lartisan et son travail 2. Associez lartisan et son travail

    3. Et dans votre pays? 3. Et dans votre pays?

    Quadro 3 - Comparao entre a estrutura do episdio 5 do livro do aluno no MRVI e a estrutura da lio 5 no DTA.

    Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

    Comparando a estrutura do episdio 5 do livro do aluno no MRVI, e a

    da lio 5, no documento de trabalho do aluno, verificamos que o segundo

    no inclui a transcrio do episdio, e que a subdiviso Civilisation, do

    episdio 5 do MRVI, foi includa numa outra lio do mtodo Reflets-Brsil11.

    Por outro lado, parte das subdivises do MRVI, ou no existem no DTA, ou

    tm uma designao diferente e, neste caso, o seu contedo s em parte

    idntico. No documento de trabalho do aluno, foi includa, na lio 5, uma

    subdiviso CLIP, que no foi encontrada no MRVI.

    1.1.3.4 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP

    Focalizando a anlise na estrutura do documento de trabalho do

    professor e do documento de trabalho do aluno, constata-se que as

    11 A subdiviso civilisation da unidade 5 do MRVI, foi includa na lio 6 do mtodo

    Reflets-Brsil.

  • 40

    subdivises Quest-ce qui passe12, Comprhension e Variations,

    encontram-se em todas as lies. Existem subdivises que surgem em uma

    nica lio, como- Suggestion, na lio 2; Expression oral, na lio 6;

    Activits orales, na lio 1; Suggestion d'activit, na lio 5 e

    Questionnaire, na lio 6. Algumas outras subdivises surgem apenas em

    algumas lies, tais como-

    - Grammaire - lies 4, 6, 7 e 8;

    - Jeux de rle - lies 1 e 5;

    - Suggestion de dialogue - lies 2,3,5, 6,7 e 8;

    - Expressions et grammaire - lies 1,2,3 e 5;

    - Comprhension crite - lies 5 e 7;

    - Suggestion d'activit - lies 2,4 e 5;

    - Civilisation - lies 2,3,4,6 e 7;

    - CLIP - lies 2,3,4,5 e 7.

    Do que foi exposto, constatamos que a estrutura do documento de

    trabalho do professor e a do documento de trabalho do aluno, apesar de

    idnticas apresentam diferenas. As diferenas entre a estrutura dos dois

    documentos so-

    - o documento de trabalho do aluno no inclui as subdivises-

    Suggestion d'activit, presente nas unidades 2, 4 e 5 do

    documento de trabalho do professor; Activits orales, presente

    no documento de trabalho do professor na primeira unidade, e

    Dilogos do episdio, presente em todas as unidades no

    documento de trabalho do professor.

    - a subdiviso Comprhension crite, apresentada no documento

    de trabalho do professor, nas unidades 2, 3 e 5, est presente no

    documento de trabalho do aluno somente na unidade 5. O

    documento de trabalho do professor inclui um avant-propos onde

    12 Qu'est-ce qui se passe? um espao dedicado, de acordo com o Avant-propos,

    identificao das personagens, dos locais onde se encontram e o que fazem.

  • 41

    se apresenta a sua estrutura e a proposta de trabalho para o

    professor, o que no acontece no documento de trabalho do aluno.

    No quadro 4, apresenta-se uma comparao entre a estrutura dos

    dois documentos.

    Estrutura 1 2 3 4 5 6 7 8

    Dilogos do episdio ** ** ** ** ** ** ** ** Qu'est-ce qui se passe? * * * * * * * * Comprhension * * * * * * * * Suggestion de dialogue * * * * * * Suggestion * Grammaire * * * * Expressions et grammaire

    * * * *

    Expression orale * Comprhension crite * * Comprehension orale ** ** * Variations * * * * * * * * Jeu de rle * * Exercices * * * Exercices crits * * * * * * Activits orales ** Suggestion d'activit ** ** ** Civilisation * * * * * CLIP * * * * * Questionnaire * Enqute * Petites annonces *

    Quadro 4 - Comparao entre a estrutura dos documentos de trabalho do professor e aluno.

    * subsees presentes nos documentos de trabalho do professor e aluno

    ** subseo presente no documento de trabalho do professor e ausente do aluno

    1.2 Delimitao do corpus

    A presente pesquisa tem como objeto o mtodo Reflets-Brsil. O

    motivo da escolha foi o fato de o MRB ter sido o mtodo de aprendizagem

    da lngua francesa selecionado pelo Ministrio da Educao brasileiro, para

    ser disponibilizado no seu portal de contedos educacionais, como recurso

    destinado a todos os interessados na aprendizagem e no ensino da lngua

    francesa e das culturas francfonas. Atendendo constatao de que o

    MRB proposto pelo Ministrio da Educao brasileiro, o estudo parte do

  • 42

    princpio de que o mtodo respeita as determinaes impostas pelas normas

    regulamentares da educao nacional, no que diz respeito ao domnio

    sociocultural, tais como, a Constituio Federal, as Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional e os restantes documentos normativos especficos para

    o ensino fundamental e mdio e para o ensino de lngua estrangeira. Com

    base no princpio exposto, o estudo procura analisar o discurso ideolgico

    no mtodo Reflets-Brsil e, desse modo, concluir pelo atendimento ou no

    do prescrito pelo Ministrio da Educao.

    A anlise do discurso contemplar as oito primeiras lies do MRB.

    Essa escolha considerou o fato de o DTA e o DTP contemplarem essas

    mesmas lies. Assim, nelas sero analisados os vdeos dos oito episdios

    e os oito primeiros vdeos de introduo, assim como os textos da

    subdiviso Civilisation disponveis nas lies 2, 3, 4, 6 e 7 do documento

    de trabalho do professor.

    O corpus da pesquisa foi selecionado, considerando sua relevncia

    para o estudo do discurso ideolgico no mtodo Reflets-Brsil, na anlise

    dos textos da subdiviso Civilisation e dos vdeos dos episdios (ambos

    idnticos no MRVI e no MRB); bem como para estabelecer uma relao

    entre esses discursos e o dos vdeos de apresentao das lies

    (exclusivos para o MRB).

  • 43

    2 O DOMNIO SOCIOCULTURAL NO ENSINO DE LNGUA

    ESTRANGEIRA

    O presente estudo procura analisar o discurso ideolgico do material

    didtico de lngua estrangeira e, mais especificamente, o discurso

    ideolgico no MRB. Tem subjacente a idia de que o discurso gerador de

    significados, de prticas socioculturais e de ideologias presentes na

    sociedade e, nesse contexto, pensa-se como essencial, para a realizao

    da pesquisa, a compreenso de trs pormenores- os pressupostos

    subjacentes aos conceitos de cultura e linguagem e da interligao entre

    eles; o entendimento que entidades nacionais e internacionais tm sobre a

    abordagem do domnio sociocultural no ensino de lngua estrangeira; o

    contributo que esse entendimento tem oportunizado, para uma discusso

    sobre a ideologia no ensino de lngua estrangeira. Pretende-se sustentar

    nesse trip os critrios de escolha das categorias utilizadas para a anlise

    do discurso ideolgico do mtodo Reflets-Brsil.

    2.1 Conceitos de cultura e linguagem

    O conceito de cultura encontra-se em aberto e em debate. As

    inmeras definies que existem a respeito, quase sempre, motivam alguma

    insatisfao. Na tentativa de encontrar um entendimento para o conceito de

    cultura, recorre-se a Don Mitchell (2003) que procura compreend-la a

    partir de seis referenciais:

    1) cultura o oposto de natureza, o que faz o Homem humano;

    2) cultura so os padres e aquilo que diferencia um povo;

    3) cultura so os processos segundo os quais esses padres se

    desenvolvem;

    4) cultura um conjunto de caractersticas marcantes, que

    demarcam um povo de outro povo, e que permite aos indivduos

    marcarem a sua singularidade;

  • 44

    5) cultura a forma como esses padres, processos e essas

    caractersticas marcantes so apresentadas;

    6) a idia de cultura, muitas vezes, indica uma ordem hierrquica de

    todos esses processos, atividades, modos de vida e produo

    cultural, quando os indivduos comparam culturas, ou atividades

    culturais, com outras.

    Ainda de acordo com Don Mitchell (2003), a cultura no faz parte da

    herana gentica do Homem, nem do ambiente natural terrestre, ela

    socialmente transmitida e permite a sobrevivncia de um grupo como tal.

    Ocupa uma posio central na sociedade, estando onipresente em todos os

    campos da vida social. A cultura define uma espcie de matriz referencial

    para a existncia pessoal e social do Homem na sociedade. Fundamenta-se

    em formas padronizadas de agir, falar, pensar e sentir, suficientemente

    uniformizadas, e razoavelmente diferenciadas das de outras sociedades. A

    cultura adquire seu sentido atravs de diferentes prticas sociais

    compartilhadas pela linguagem, num determinado contexto. Thompson

    (2002) esclarece que esse processo vivido, interiorizado, transmitido e

    transformado, num contexto de relaes de poder e conflito e acontece de

    acordo com a natureza e com a amplitude da participao social do

    indivduo.

    Strecht-Ribeiro (1998) refora a necessidade de uma

    contextualizao social da relao entre a cultura e a linguagem, afirmando

    que a linguagem parte da cultura do Homem e desempenha um papel

    primordial no processo de integrao na sociedade. A linguagem ,

    simultaneamente, parte, produto e condio da cultura. Para o autor,

    enquanto sistema de signos, especfico, histrico e social, a linguagem deve

    ser encarada como um meio de comunicao fundamental entre os

    membros de uma sociedade e como a expresso mais visvel dessa mesma

    sociedade, determinando uma mundiviso especfica, varivel de cultura

    para cultura.

  • 45

    A linguagem e a cultura no so, pois, abstraes

    descontextualizadas, nem se manifestam como totalidades globais

    homogneas; elas se constituem enquanto variantes locais particularizadas

    em contextos especficos. A linguagem possibilita ao Homem significar a

    sociedade, e esta no s sofre a influncia da cultura, mas constitui tambm

    um dos sistemas de sua difuso, sendo utilizada como elemento de

    expresso de seus modelos comportamentais e valores. Uma abordagem da

    dimenso cultural da linguagem ter de considerar, no apenas aquilo que

    manifestamente concreto, mas tambm a percepo que cada grupo tem do

    que o rodeia e que , em maior ou menor grau, partilhada pelos outros. A

    cultura adquire, pois, sentido, atravs de diferentes prticas sociais

    compartilhadas pela lngua, num determinado contexto.

    Por vezes, o meio cultural em que vivemos modela a viso de mundo

    de tal forma que a realidade parece poder ser percebida objetivamente,

    apenas atravs de uma padronizao cultural prpria, o que leva a

    considerar aquilo que diferente como estranho ou at falso. Desse modo,

    constituiria um veculo privilegiado para transmitir uma compreenso

    distorcida da realidade e conduzir ao esteretipo e ao preconceito. Contudo,

    e recorrendo de novo s idias de Thompson (2002), ele pode, tambm,

    criar e sustentar as condies para a resistncia e prticas libertadoras.

    Nesse processo, encontramos em Strecht-Ribeiro (1998) a sustentao para

    afirmar que o ensino de uma lngua estrangeira, ao possibilitar o contato

    com culturas, permite a constatao de que os falantes de outra lngua,

    alm da lngua diferente, tambm exibem padres culturais, costumes,

    formas de vida que refletem vises de mundo culturalmente especificas,

    caractersticas que as identificam como membros de outra sociedade.

    Quebra-se, desse modo, a tendncia para o esteretipo e o preconceito,

    motivada pela diviso do mundo em espaos rigidamente opostos, e abrem-

    se espaos para o plurilingismo e a consciencializao intercultural.

  • 46

    2.1.1 Plurilingismo e conscientizao intercultural e o ensino de lngua

    estrangeira

    O ensino de lngua estrangeira (ELE), para atender ao intento de

    evitar o esteretipo e o preconceito, deve, simultaneamente com a lngua,

    explorar os aspectos culturais. Para esse propsito e de acordo com

    Strecht-Ribeiro (1998), deve procurar ultrapassar uma viso que limita a

    lngua a um meio de comunicao; a um espao de expresso do indivduo

    nas suas relaes interpessoais e de interao social; a um sistema

    estruturado de signos que obedecem a certas regras gramaticais. Por outro

    lado, o ELE, fugindo a uma viso que o vincula ao ensino explcito sobre a

    cultura, dever contribuir para um entendimento da lngua estrangeira, como

    veculo de descoberta dos universos culturais dos povos que a falam.

    A proposta de Strecht-Ribeiro segue o percurso de reflexo terica

    que conduziu, em 2002, ao Quadro Europeu Comum de Referncia

    para as Lnguas, de acordo com o qual o ELE deve contribuir para

    que o indivduo, partindo da compreenso da sua prpria cultura, aceite as

    diferenas e semelhanas entre a realidade cultural que vivencia e que o

    rodeia e o mundo cultural dos que falam a lngua estrangeira.

    medida que a experincia pessoal do indivduo, no seu contexto

    cultural, se expande, da lngua falada em casa, para a da sociedade em

    geral e, depois, para as lnguas aprendidas de outros povos, ele, de acordo

    com o Quadro Europeu Comum, desenvolve o plurilingsmo e a

    conscientizao intercultural. Ambos referem-se capacidade de mobilizar,

    aplicar e desenvolver conhecimentos, habilidades, comportamentos e

    atitudes, no uso de lnguas para propsitos de comunicao e tomar parte

    em situaes de interao intercultural. O seu desenvolvimento se sustenta

    no pressuposto de que um indivduo no possui uma variedade de

    competncias distintas e separadas para comunicar, consoante as lnguas

    que conhece, mas, sim, o plurilingsmo e a conscientizao intercultural,

    que engloba o conjunto do repertrio lingstico de que dispe.

  • 47

    O plurilingsmo, de acordo com o Quadro Europeu Comum de

    Referncia para as Lnguas (2002, p. 231), entendido como a

    capacidade para utilizar as lnguas para comunicar na interao cultural, na qual o indivduo, na sua qualidade de ator social, possui proficincia em vrias lnguas, em diferentes nveis, bem como experincia de vrias culturas. Considera-se que no se trata de sobreposio ou da justaposio de competncias distintas, mas sim de uma competncia complexa ou at compsita qual o utilizador pode recorrer.

    A partir do mesmo documento, pode-se entender o conceito de

    conscincia intercultural como o conhecimento, a compreenso, a aceitao

    e o respeito aos valores e estilos de vida de diferentes culturas.

    O desenvolvimento do plurilingsmo e da conscientizao

    intercultural est associado idia de que os problemas de comunicao,

    entre falantes de duas lnguas diferentes, so, freqentemente, ocasionados

    pelos diferentes pressupostos culturais presentes nas situaes de

    comunicao, mais do que pelo prprio cdigo lingstico. De acordo com

    Strecht-Ribeiro, para (1998) que possam contribuir para o desenvolvimento

    da conscientizao intercultural, as propostas de ELE devem possibilitar ao

    aluno a construo:

    - do sentido de si prprio, o que conduz identificao da

    informao que lhe diz respeito, desde a raa, nacionalidade e

    idade, at as convices religiosas e polticas e nossa hierarquia

    dos valores;

    - do sentido do outro, o que implica num conhecimento dos mesmos

    fatores de identificao do interlocutor, o que vai limitar a

    possibilidade de ocorrncia de problemas de comunicao;

    - do sentido de relao entre si e o outro, que implica o

    reconhecimento das estratgias discursivas a utilizar;

    - do sentido da situao social e do local onde o dilogo ocorre;

    - do sentido do propsito ou objetivo com que se comunica.

  • 48

    2.2 A abordagem do domnio sociocultural no mbito de documentos

    normativos do ensino de lngua estrangeira

    O estudo das recomendaes dos documentos normativos do ELE

    sobre o domnio sociocultural fundamental para se compreender a

    presena do discurso ideolgico no MRB. Contudo, para um melhor

    entendimento desse estudo, torna-se necessria uma compreenso bsica

    dos conceitos de domnio sociocultural, prtica social e ideologia e da sua

    relao com a linguagem.

    2.2.1 Domnio sociocultural, prtica social e ideologia

    2.2.1.1 Papel social e domnio sociocultural

    Os indivduos interagem num domnio sociocultural, assumindo nele

    certos papis sociais. Os papis sociais apresentam-se como um conjunto

    de obrigaes e de direitos, definidos por normas socioculturais. Para

    Bortoni-Ricardo (2004), os papis sociais so construdos durante o

    processo de interao humana. Assim, quando, por exemplo, um indivduo

    usa a lngua na comunicao, est, simultaneamente, construindo e

    reforando os papis sociais prprios desse domnio sociocultural. Nesta

    perspectiva, a escolha de certas formas lingsticas no arbitrria, pois

    sempre motivada no mbito de um grupo social, e em um determinado

    domnio social.

    Este pressuposto est de acordo com a proposta terica de

    Fairclough (1989), que apresenta a linguagem como tendo origem e sendo

    integrada no domnio sociocultural. Para o autor, a linguagem, mais do que

    uma atividade individual, deve ser vista como resultado de uma interao no

    domnio sociocultural, vinculada s suas condies de produo.

  • 49

    2.2.1.2 Prtica social

    A prtica social se caracteriza pela multiplicidade e complexidade de

    relaes, atravs das quais se criam e se trocam conhecimentos, tecendo

    redes, que ligam os sujeitos em interao. Partindo dos pressupostos de

    Wenger (1998), podemos afirmar que a prtica social est intrinsecamente

    ligada a uma rede de relaes no mbito do domnio social, onde os

    indivduos compartilham significados. O conceito de prtica social est,

    desse modo, ligado ao fazer, no apenas individual, mas, sobretudo, ao

    fazer vivenciado em um domnio social.

    Nesse contexto, surge, como natural, a ligao entre a prtica social

    e a linguagem, entendida, segundo Marcondes (1992), como no uma

    simples representao da realidade, mas como uma forma de ao, atuao

    sobre o real. Ainda de acordo com o autor, as prticas sociais so mediadas

    pela linguagem, sendo atravs dela que os indivduos interagem no mundo

    social.

    2.2.1.3 Ideologia

    A ideologia, como afirma Demo (1985), apresenta-se como um

    sistema terico-prtico de justificao poltica das posies sociais.

    Thompson (2001) aprofunda a reflexo sobre o conceito de ideologia,

    quando a define como o emprego (a prtica) de formas simblicas para criar

    e reproduzir relaes de dominao. Fairclough (2001) segue as bases

    conceituais de Thompson (2001), afirmando que as ideologias so

    construes ou significaes da realidade, que se fundamentam nas

    prticas discursivas e que colaboram para a produo, a reproduo ou a

    transformao das relaes de poder.

    Desse modo, as prticas discursivas no so neutras. Surgem

    atravessadas por instncias de poder e so norteadas por ideologias,

  • 50

    construdas atravs do discurso e das prticas sociais, que so mantidas

    por diferentes grupos com diferentes propsitos. As ideologias caracterizam

    as sociedades em que so estabelecidas, numa relao de poder e de

    dominao, adquirindo particular eficcia quando conseguem atingir o

    estatuto de senso comum.

    Fairclough (1989), neste pormenor, introduz uma dinmica biunvoca,

    afirmando que, mesmo subordinados ao efeito ideolgico, os indivduos tm

    capacidade de agir criativamente, no sentido de executar suas prprias

    conexes entre as diversas prticas sociais e ideolgicas a que so

    expostos e as reestruturar.

    2.2.2 A abordagem do domnio sociocultural no quadro europeu de referncia

    A mobilidade crescente do ser humano, o esbater das fronteiras

    geogrficas e a possibilidade real de comunicao global colocam a

    educao diante do desafio de revalorizar o seu papel, no que se refere

    promoo do plurilingsmo e da conscincia intercultural, o que significa

    dizer, trabalhar o domnio sociocultural.

    No que diz respeito ao ensino de lngua estrangeira, o Quadro

    Europeu Comum de Referncia para as Lnguas- aprendizagem, ensino,

    avaliao (QECRL)13, refere que o ELE deve-se assumir, crescentemente,

    como um espao privilegiado de preparao dos alunos, para a participao

    em sociedades, lingstica e culturalmente, diversas, visando o

    desenvolvimento do domnio sociocultural pelo plurilingsmo, e da

    13 O Quadro Europeu Comum de Referncia foi publicado pelo Conselho da Europa em

    2001, e pretende ultrapassar as barreiras da comunicao entre profissionais que trabalham na rea das lnguas vivas, fornecendo uma base comum para a elaborao entre outros de programas de lnguas, linhas de orientao curriculares, exames e manuais na Europa. Descreve o que tem de ser aprendido para algum ser capaz de se comunicar numa lngua e quais os conhecimentos e capacidades que tem de desenvolver para ser eficaz na sua atuao. A descrio abrange igualmente o contexto cultural dessa mesma lngua. O QECR define, ainda, os nveis de proficincia que permitem avaliar os progressos em todas as etapas da aprendizagem e ao longo da vida.

  • 51

    conscincia intercultural. Isso configura um novo entendimento da

    aprendizagem de lngua estrangeira no s como ferramenta de

    comunicao, mas, sobretudo, como meio de promoo da liberdade e do

    respeito, em face de novas perspectivas e modos de estar na vida e no

    mundo.

    Um dos caminhos a percorrer pela educao para atingir esse

    objetivo ser o da incluso da diversidade lingstica nas prticas

    curriculares. O QECRL procura dar subsdios para uma reflexo sobre o

    desenvolvimento do plurilingsmo e da conscincia intercultural no mbito

    do currculo. Tem como pressuposto a necessidade de o sujeito adquirir

    uma clara conscincia- da relao (semelhanas e diferenas) entre a

    sociedade e a cultura do seu pas, e a dos pases onde a lngua se fala,

    considerando a diversidade regional e social; o modo como cada

    comunidade vista na perspectiva da outra; a forma como se manifestam os

    comportamentos, de acordo com os princpios definidos nas normas sociais

    dos pases, de maneira a poder realizar rotinas do modo esperado e

    intermediar a sua prpria cultura com a cultura estrangeira, resolvendo

    eficazmente as situaes de mal-entendidos e de conflitos interculturais.

    Para desenvolver o domnio sociocultural, com reflexos no

    plurilingsmo e na conscincia intercultural, de acordo com o QECRL, o

    currculo deve possibilitar a capacidade de ativar o repertrio lingstico de

    que dispe o indivduo para que ele seja capaz de comunicar e

    compreender mensagens, numa dada situao de comunicao, que se

    caracteriza pela presena de mais do que uma lngua. A funo do

    professor deixa de ser ensinar uma lngua em particular, com nfase no

    desenvolvimento de competncias lingsticas, o mais aproximadas possvel

    do falante nativo da lngua que se ensina, para possibilitar a construo e o

    desenvolvimento do plurilingsmo e da conscincia intercultural,

    respeitando, valorizando e incluindo outras lnguas na sua prtica curricular.

    Contudo, esse processo no fica restrito sala de aula. Ele se

    desenvolve de modo autnomo, para alm do espao escolar, pois, de

  • 52

    acordo com o QECRL, o percurso feito por quem fala ou deseja aprender

    uma lngua estrangeira envolve uma seqncia de experincias educativas,

    em outros contextos de formao, fora do controle de uma instituio14

    escolar, e que esses percursos podero ser diferenciados, de acordo com

    os sujeitos.

    Aceitar a idia de que o currculo educativo no se limita escola e

    que no termina com esta implica em aceitar, tambm, que o plurilingsmo

    e a conscincia intercultural podem comear antes da escola e continuar a

    desenvolver-se, paralelamente, fora dela.

    O plurilingsmo e a conscincia intercultural esto, de acordo com

    o QECRL, associados promoo do desenvolvimento do domnio

    sociocultural, que deve ser realizado, de forma integrada, pelo

    desenvolvimento de competncias gerais, associadas ao saber, saber-

    fazer, saber-ser e saber-estar.

    Para o QECRL, o uso de uma lngua estrangeira, abrangendo o seu

    ensino, inclui as aes de pessoas que, como indivduos e como atores

    sociais, desenvolvem um conjunto de competncias15 gerais e

    comunicativas nessa lngua. As competncias gerais apresentam carter

    transversal e no so, especificamente, associadas lngua. Incluem o

    conhecimento declarativo (saber), que engloba o conhecimento do mundo, o

    conhecimento sociocultural e a conscincia intercultural; as capacidades e a

    competncia de realizao (saber fazer); a competncia existencial (ser) e a

    competncia de aprendizagem (saber aprender).

    14 O percurso feito por quem utiliza ou aprende a lngua atravs de uma seqncia de

    experincias educativas, sob o controle ou no de uma instituio , nesta perspectiva, considerado como currculo e analisado sob esse prisma, ele no termina com a escolaridade, mas prossegue ao longo da vida num processo de aprendizagem.

    15 Competncia- capacidade de realizar aes, ou seja, de mobilizar, aplicar e desenvolver conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes, no desempenho do trabalho e na soluo de problemas concretos, gerando resultados que atendam aos nveis de desempenhos previamente definidos.

  • 53

    O conhecimento declarativo (saber) resulta de uma aprendizagem

    mais formal (conhecimento acadmico) e da experincia (conhecimento

    emprico). O ensino de uma LE implica em considerar certo nmero de

    competncias adquiridas ao longo da experincia anterior do aluno

    (conhecimento do mundo em que ele est integrado e conhecimento

    sociocultural em relao (s) comunidade(s) na(s) qual/quais a lngua que

    aprende falada). Isto possibilita-lhe executar as tarefas e as atividades

    necessrias para lidar com as situaes comunicativas em que est

    envolvido, o que abrange uma tomada de conscincia intercultural

    (aceitao das diferenas e semelhanas entre o seu mundo de origem e o

    mundo da(s) comunidade(s)-alvo).

    O conhecimento do mundo inclui o que pode ser entendido como

    conhecimento prvio do indivduo, resultado da sua experincia de vida

    anterior ou da sua formao em lngua materna. Os aspectos bsicos da

    imagem que os adultos tm do mundo e dos seus mecanismos

    desenvolvem-se, completamente, durante a primeira infncia, mas

    enriquecem-se pela educao e pela experincia, durante a vida, numa

    relao prxima com o vocabulrio e a gramtica da sua lngua materna. O

    conhecimento do mundo engloba os lugares, as instituies, as

    organizaes, as pessoas, os objetos, os eventos, os processos e as

    operaes, em diferentes domnios, e as classes de entidades (por

    exemplo- concreto versus abstrato, animado versus inanimado) e as suas

    propriedades e relaes (envolvendo, por exemplo- interligao espao

    versus tempo, associativo, analtico, lgico, as relaes de causa e efeito).

    O conhecimento sociocultural, como conhecimento da sociedade e

    da cultura da(s) comunidade(s) onde a lngua falada, um dos aspectos

    do conhecimento do mundo e, por no ser parte da experincia prvia de

    quem utiliza ou aprende a lngua, pode ser motivo para a ocorrncia de

    esteretipos. O conhecimento sociocultural permitir ao aluno desenvolver o

    conhecimento geral sobre a sociedade na qual se insere e compreender a

    sua posio nela, bem como analisar as relaes existentes entre essa

    sociedade e a comunidade mais vasta, partindo do contexto imediato para

    uma viso abrangente da sociedade e do mundo.

  • 54

    A construo da conscincia intercultural envolve um conjunto de

    conhecimentos, destrezas e atitudes individuais, especfico de grupos

    sociais que influenciam as identidades dos falantes da lngua. O fundamento

    da conscincia intercultural envolve a construo de competncias

    associadas curiosidade e abertura de mente para o convvio com a

    diversidade e relativizao de valores, crenas e comportamentos.

    Ao estudar uma lngua estrangeira, se amplia e se enriquece a

    concepo de mundo que se tem, possibilitando a abertura de dilogo para

    novas culturas. O conhecimento, a conscincia e a compreenso das

    semelhanas e diferenas entre o mundo de onde se vem e o mundo da

    comunidade que fala a lngua estrangeira produzem uma tomada de

    conscincia intercultural que, por sua vez, deve considerar a diversidade

    regional e social dos dois mundos e, tambm, a variedade de culturas, alm

    das que so veiculadas pela lngua do aluno.

    Esta conscincia ampliada ajuda a colocar ambas as culturas em

    contexto. Alm do conhecimento objetivo, a conscincia intercultural

    engloba uma discusso sobre o modo como cada comunidade aparece na

    perspectiva do outro, freqentemente, sob a forma de esteretipos.

    As capacidades e a competncia de realizao (saber fazer)

    permitem ao aluno relacionar a sua cultura com a dos povos da lngua a

    aprender, bem como identificar e utilizar uma srie de estratgias, para se

    comunicar com xito com os indivduos dessas culturas. Desse modo, atua

    de acordo com os princpios considerados apropriados, para desempenhar,

    eficazmente, as aes quotidianas.

    A competncia existencial (ser) envolve os fatores relacionados com

    a personalidade do aluno (atitudes, motivaes, valores, crenas, estilos

    cognitivos) que afetam a sua capacidade de comunicao.

    A competncia de aprendizagem (saber aprender) relaciona-se com

    a capacidade do aluno observar e participar de novas experincias e de

  • 55

    integrar novos conhecimentos queles que j possui, descobrindo o outro,

    quer ele seja outra lngua, outra cultura, outras pessoas ou novas reas do

    conhecimento.

    Dota o aluno da capacidade de lidar mais eficazmente, e de modo

    mais independente, com os desafios que se lhe apresentam ao longo do

    processo de aprendizagem. Engloba, ainda, o conhecimento e a

    compreenso dos princpios da organizao e do uso da lngua estrangeira,

    a capacidade de produzir os novos sons e de utilizar novos padres de

    entoao, bem como o domnio de mtodos e tcnicas de estudo,

    recorrendo, por exemplo, s novas tecnologias e linguagens da informao

    e comunicao.

    So integradas, nas competncias comunicativas em lngua, as

    competncias lingsticas; a competncia sociolingstica e as

    competncias pragmticas, no seio das quais se distinguem a competncia

    discursiva e a competncia funcional. As competncias comunicativas em

    lngua so aquelas que permitem a um indivduo agir, utilizando,

    especificamente, meios lingsticos. A comunicao envolve, por parte dos

    alunos, a combinao das capacidades gerais com a competncia

    comunicativa, relacionadas mais especificamente com a lngua.

    As competncias lingsticas esto relacionadas com a utilizao de

    recursos formais da lngua, necessrios formulao de mensagens

    corretas e portadoras de sentido. Nela se incluem o conhecimento e a

    correta utilizao da competncia lexical; a competncia gramatical; a

    competncia semntica; a competncia fonolgica; a competncia

    ortogrfica; e a ortopica.

    As competncias sociolingsticas esto associadas ao

    conhecimento da sociedade e da cultura das comunidades em que a lngua

    falada. Permite lidar com a dimenso social do uso da lngua. Envolve os

    diferentes registros da lngua, convenes e/ou normas de cortesia,

    expresses da sabedoria popular (provrbios, frases idiomticas, etc.),

    dialeto e sotaque.

  • 56

    A competncia pragmtica aparece associada ao conhecimento do

    usurio da lngua sobre os princpios que regem a organizao e a

    estruturao de mensagens coerentes competncia discursiva, do

    discurso oral e de textos escritos, para realizar atos especficos de

    comunicao, quer em nvel de macro funes (descrever, narrar,

    argumentar, etc.), quer de micro funes (perguntar, responder, etc.)

    competncia funcional.

    Esta competncia inclui, tambm, a capacidade de utilizar

    corretamente os padres de interao social em contextos de comunicao

    real, envolvendo seqncias estruturadas, utilizadas alternadamente pelos

    interlocutores. As competncias pragmticas requerem do indivduo um

    vasto conhecimento dos significados sociais e culturais no explcitos nas

    realizaes lingsticas.

    atravs da competncia pragmtica que os sujeitos atribuem

    funes comunicativas aos textos que produzem, modelando-os segundo as

    convenes que regulam a tipologia de gneros do discurso.

    A preocupao com o desenvolvimento do domnio sociocultural, no

    mbito do ELE, significa trabalhar o domnio mais ou menos profundo de

    todas as competncias, e caracteriza, de acordo com o QECRL, um usurio

    competente de uma lngua, incluindo o plurilingsmo e a conscincia

    intercultural.

    O desenvolvimento do domnio sociocultural, com reflexos no

    plurilingsmo e na conscincia intercultural, envolve a abordagem, a ttulo

    de exemplo, de temas como:

    1. A vida quotidiana, envolvendo- comidas e bebidas, refeies, maneiras mesa; feriados; horrios e hbitos de trabalho; atividades dos tempos livres (passatempos, desportos, hbitos

    de leitura, meios de comunicao social). lazer e passatempos (fotografia, jardinagem, etc.).

  • 57

    2. As condies de vida, considerando- nvel de vida (variantes regionais, sociais e tnicas); condies de alojamento; cobertura da segurana social; esportes (desportos de equipe, at