o discurso ideolÓgico no mÉtodo...
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O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL Joo Jos Saraiva da Fonseca
Natal RN 2008
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JOO JOS SARAIVA DA FONSECA
O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obteno do ttulo de Doutor em Educao. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes.
Natal RN 2008
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F673o Fonseca, Joo Jos Saraiva.
O discurso ideolgico no mtodo reflets-Brsil./ Joo Jos Saraiva da Fonseca. -
Natal, 2008.
417 f. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de Carvalho Lopes Tese (Doutorado em Educao). Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, 2008.
1. Educao. 2. Ensino de Lngua Estrangeira. 3. Mtodo Reflets-Brsil. 4. Material Didtico. 5. Ideologia. 6. Discurso Ideolgico. 7. Currculo. I. Ttulo.
CDD: 370
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JOO JOS SARAIVA DA FONSECA
O DISCURSO IDEOLGICO NO MTODO REFLETS-BRSIL
Tese julgada e aprovada em 18 de dezembro de 2008, para fins de acesso ao Doutorado em Educao, como parte dos requisitos necessrios para obteno do ttulo de Doutor em Educao no Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
rea de concentrao: Educao, Linguagem e Formao do Leitor
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes - Dr.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Presidente e orientador
________________________________________________________
Prof Dr. Eullia Vera Lcia Fraga Leurquin Universidade Federal do Cear
Examinadora externa
__________________________________________________________
Prof Dr. Mirian de Albuquerque Aquini Universidade Federal da Paraba
Examinadora externa
__________________________________________________________
Prof. Dr. Joo Gomes da Silva Neto Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Examinador interno
__________________________________________________________
Prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas Andrade Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Examinador interno
__________________________________________________________
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minha famlia que nunca me negou ateno e apoio e a meus pais. minha eterna namorada, Sonia, que permanentemente me estimulou e apoiou face aos desafios do projeto que agora termina.
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AGRADECIMENTOS
Este trabalho s foi possvel graas ao apoio de muitas pessoas.
Particularmente refiro:
Ao orientador Prof. Dr. Marcos Antnio de Carvalho Lopes, pelo
interesse contnuo demonstrado, bem como pelo valioso estmulo ao longo
da elaborao.
Ao Prof. Dr. Joo Gomes da Silva Neto, pelo apoio que me deu e
sem o qual a realizao da Tese se tinha revelado invivel.
Prof. Dra. Maria das Graas Pinto Coelho, pela ateno que me
facilitou durante todo o trabalho.
A tantos outros, que, ao longo desse tempo de percurso, passaram
pelo meu caminho, fornecendo-me elementos preciosos e me dando fora
para realizar este projeto.
Joo Fonseca
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A todos os que, convictamente, acreditam que, tambm pelas lnguas
a diversidade prevalecer.
Orlando Strecht-Ribeiro
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RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo identificar, descrever e compreender o discurso ideolgico do Mtodo Reflets-Brsil. O estudo subsidiou-se, por um lado, na anlise das recomendaes brasileiras e europias sobre o ensino de lngua estrangeira, bem como a reflexo sobre o material didtico e ensino de lngua estrangeira proposta, respectivamente, por Alain Choppin e Christian Puren e, por outro lado, encontrou suporte orientador na proposta terica de John B. Thompson no que diz respeito aos conceitos de cultura e ideologia. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi fundamentada nas idias de Norman Fairclough para a anlise crtica do discurso e organizou-se em torno do pressuposto de que o Mtodo Reflets-Brsil, como produto da indstria livreira europia e, ao mesmo tempo, adaptado para o pblico brasileiro, veicula um discurso ideolgico, apesar das recomendaes normativas brasileiras no mbito da educao e da elaborao de livro didtico. Do estudo, pode-se concluir pela veracidade do pressuposto, sendo que o Mtodo Reflets-Brsil no s pode ser entendido como um veculo ideolgico, como tambm no faculta, na sua proposta de ensino de lngua estrangeira, espao para uma reflexo que possa conduzir e contribuir para uma reconstruo crtica desse discurso e/ou das prticas relacionadas com ensino do francs como lngua estrangeira.
Palavras-chave: Ensino de Lngua Estrangeira, Mtodo Reflets-Brsil,
material didtico, ideologia, discurso ideolgico, currculo.
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RSUM Cette tude vise identifier, dcrire et comprendre, le discours idologique de la mthode Reflets-Brsil. L'tude, a t subventionne en partie par une analyze des recommandations brsiliennes, et europennes, sur l'enseignement des langues trangres, et pour la reflexion sur le matriel d'enseignement des langues trangres, proposes respectivement par Alain Choppin et Christian Puren, et d'autre part, trouv appui thorique, de la proposition de John B. Thompson en ce qui concerne les concepts de la culture et l'idologie. La recherche a t de nature qualitative, sur la base des ides de Norman Fairclough sur l'analyse critique du discours, et a t organis autour de l'hypothse que la mthode Reflets-Brsil, tandis que un produit de la industrie europeane du livre, adapte pour le public brsilien, traduit le discours idologique, malgr les recommandations brsilien en matire d'ducation et le dveloppement des manuels scolaires. Dans l'tude, il a t conclu par la vracit de l'hypothse. La mthode Mthode Reflets-Brsil, non seulement peut tre comprise comme un vhicule idologique, mais ne prvoit pas dans sa proposition pour l'enseignement des langues trangres, un espace de rflexion qui peuvent conduire une reconstruction de discours critique et / ou pratiques lies l'enseignement du franais comme langue trangre. Mots clefs: L'enseignement de langue trangre, la mthode Reflets-tats-
Unis, matriel pdagogique, idologie, discours idologique, curriculum.
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LISTA DE ESQUEMAS
Esquema 1 - Mapa conceitual da pesquisa.. 28
Esquema 2 - Dimenses do discurso 74
Esquema 3 - Seqncia de passos durante a anlise dos dossiers
e lies.. 154
Esquema 4 - Relacionado dimenso: comunidade internacional 278
Esquema 5 - Relacionado dimenso: Frana 282
Esquema 6 - Relacionado dimenso: franceses.. 287
Esquema 7 - Relacionado dimenso: francofonia 303
Esquema 8 - Relacionado dimenso: famlia. 306
Esquema 9 - Relacionado dimenso: relao homem / mulher 308
Esquema 10 - Relacionado dimenso: relao homem / mulher 317
Esquema 11 - Relacionado dimenso: aos princpios ticos 322
Esquema 12 - Relacionado dimenso: simblica. 328
Esquema 13 - Relacionado dimenso: o mundo do outro.. 331
Esquema 14 - Relacionado s situaes de relaes de poder en-
contrados no MRB 336
Esquema 15 - Relacionado s situaes de conflito de reconciliao 339
Esquema 16 - Relacionado s situaes de inconformismo 340
Esquema 17 - Relacionado s situaes de conformismo 340
Esquema 18 - Relacionado s situaes que podem ser associadas
projetos 342
Esquema 19 - Relacionado s situaes que podem ser associadas
ao medo 343
Esquema 20 - Relacionado s situaes que podem ser associadas
celebrao / festa.. 344
Esquema 21 - Relacionado s situaes que podem ser associadas
habitao 348
Esquema 22 - Relacionado s situaes que podem ser associadas
ao meio ambiente. 349
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Comparao entre a estrutura das lies no WebEduc
e no DTA e DTP... 33
Quadro 2 - Comparao entre a estrutura das lies nos DTA e
DTP e a dos episdios dos alunos no MRVI 34
Quadro 3 - Comparao entre a estrutura do episdio 5 do livro
do aluno no MRVI e a da lio 5 no DTA 39
Quadro 4 - Comparao entre a estrutura dos documentos de
trabalho do professor e do aluno.. 41
Quadro 5 - Funes do livro didtico no que diz respeito ao aluno .86
Quadro 6 - Funes do livro didtico no que diz respeito ao prof-
essor.. .87
Quadro 7 - Os crculos de expanso da lngua inglesa 132
Quadro 8 - Evoluo histrica dos mtodos de ensino de lngua
estrangeiro. 150
Quadro 9 - Contedos dos vdeos dos episdios das lies 1 a
8 do MRVI, no que diz respeito ao texto e prtica
Sociocultural 153
Quadro 10 - Sntese da anlise realizada lio 1 177
Quadro 11 - Sntese da anlise realizada lio 2 190
Quadro 12 - Sntese da anlise realizada lio 3 203
Quadro 13 - Sntese da anlise realizada lio 4. 213
Quadro 14 - Sntese da anlise realizada lio 5 223
Quadro 15 - Sntese da anlise realizada lio 6 232
Quadro 16 - Sntese da anlise realizada lio 7 241
Quadro 17 - Sntese da anlise realizada lio 8 248
Quadro 18 - Definio das categorias de anlise, a partir das lis-
tas de itens propostos pelos documentos que serviram
de base ao presente trabalho para serem trabalhados
no ELE, no mbito do desenvolvimento do plurilings-
mo e da competncia intercultural 277
Quadro 19 - Expresses utilizadas no MRB didtico para carac-
terizar Benoit.. 289
Quadro 20 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar Pascal 291
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Quadro 21 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar Julie 293
Quadro 22 - Comparao dos perfis de Julie e Marie.. 300
Quadro 23 - Referncia a famlia nos vdeos de apresentao das
lies e dos episdios do Mtodo Reflets-Brsil 304
Quadro 24 - Situao de galanteio e ligao sentimental implcita
ou explcita 309
Quadro 25 - Referncias relao homem / mulher ao longo do
material didtico do Mtodo Reflets-Brsil 311
Quadro 26 - Profisses das personagens do material didtico 313
Quadro 27 - As expresses relacionadas com o trabalho utiliza-
das no MRB 315
Quadro 28 - Expresses utilizadas no MRB para caracterizar
Laurent o estagirio 316
Quadro 29 - Exemplos no MRB que podero ser vinculados a
uma dimenso smbolos..... 329
Quadro 30 - Referncias ao estrangeiro no material didtico do
mtodo Reflets-Brsil 332
Quadro 31 - Relaes de poder identificar em diversos momentos
da ao. 335
Quadro 32 - Situaes de inconformismo e conformismo apresen-
tadas no material didtico do Mtodo Reflets-Brsil 337
Quadro 33 - Situaes de conflitos e reconciliao identificadas
ao longo do texto. 338
Quadro 34 - Situaes de celebrao / festa apresentadas no
MRB 345
Quadro 35 - Atividades realizadas pelos franceses ao fim de
Semana.. 346
Quadro 36 - Elementos considerados essenciais para a anlise
dos mecanismos relativos produo, consumo e
distribuio do manual escolar 352
Quadro 37 - Distribuio dos gneros dos personagens nos v-
deos do MRB. 359
Quadro 38 - Tipologia das categorias de questionamento 362
Quadro 39 - Questionamentos formulados em cada seo do
MRB.... 366
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12
Quadro 40 - Proposta de trabalho a ser adotada pelo professor
quando da utilizao do MRB 368
Quadro 41 - Pressupostos para a anlise do MRB, considerando
as recomendaes normativas da educao nacional
sobre o material didtico 369
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Dimenses do discurso. 69
Figura 2 - Modelo tridimensional de Fairclough 76
Figura 3 - O livro didtico face s mltiplas influncias que sofre .88
Figura 4 - Caf de Pars 157
Figura 5 - Torre Eiffel 157
Figura 6 - Louvre 157
Figura 7 - Arco do Triunfo 157
Figura 8 - Champs-lyses 157
Figura 9 - Mapa de Paris com a localizao (A) do 9 bairro de
Paris.... 158
Figura 10 - Porta de madeira trabalhada do prdio onde moram
Benoit e Julie 158
Figura 11 - Janela da fachada do prdio onde moram Benoit e
Julie. 158
Figura 12 - rea comum do interior do prdio onde vivem Benoit
e Julie.. 159
Figura 13 - Nome e sobrenome de Benoit e Julie na placa da por-
ta do apartamento onde vivem 159
Figura 14 - Julie atende P-H de Latour na porta do apartamento
onde vive com Benoit 160
Figura 15 - Benoit atende P-H de Latour na porta do apartamento 160
Figura 16 - A postura de Pierre-Henri de Latour formal 161
Figura 17 - P-H de Latour fala com Benoit e Julie 161
Figura 18 - Benoit e Julie olham um para o outro antes de se ds-
pedirem de P-H de Latour 162
Figura 19 - Postura de Thierry Mercier enquanto fala com Julie 163
Figura 20 - Benoit se apresenta a T. Mercier e, aps se levantar,
lhe d a entender que deve fazer o mesmo 163
Figura 21 - Benoit conduz T. Mercier porta 164
Figura 22 - A candidata nmero trs apresenta-se acompanahda
por um co. 164
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14
Figura 23 - O candidato nmero 4 apresenta-se com cabea ras-
pada e mascando chiclete 165
Figura 24 - A jovem protagonista da cena 5 l uma revista 165
Figura 25 - Um jovem, ouvindo msica, apresenta-se como candidato
6... 166
Figura 26 - Ingrid uma das candidatas a ser locatria do aparta-
Mento.... 167
Figura 27 - Julie mostra, na sua expresso corporal e facial, no
aprovar a seleo de Ingrid 167
Figura 28 - Julie apresenta Pascal e Benoit como o novo locatrio.. 168
Figura 29 - Benoit cumprimenta Pascal, aps ter aceitado que ele
seja o novo locatrio. 169
Figura 30 - Paris: Torre Eiffel, Arco do Triunfo e Champs-lyses 170
Figura 31 - Ambiente urbano de Paris: rua e prdio onde moram
Benoit e Julie 171
Figura 32 - Benoit, interrompendo o dilogo entre Julie, e Pierre-
Henri de Latour se apresentando; indicando a T.
Mercier a sada e falando com Ingrid 172
Figura 33 - Candidatos: formalidade de Pierre-Henri de Latour,
informalidade de T. Mercier e radicalismo do jovem
de cabea raspada e do jovem ouvindo msica.. 172
Figura 34 - Julie recebendo Pierre-Henri de Latour, recusando
Ingrid e apresentando Pascal e Benoit 173
Figura 35 - As candidatas a partilhar o apartamento 173
Figura 36 - Benoit cumprimenta Pascal 174
Figura 37 - Os pais de Julie visitam o apartamento 179
Figura 38 - Julie e Benoit se beijam no rosto quando este chega em
casa 179
Figura 39 - Benoit chega em casa e fala com Julie e seus pais 180
Figura 40 - Julie mostra o seu quarto aos pais 182
Figura 41 - Pascal est passando roupa a ferro quando sur-
preendido com a entrada de Julie e seus pais 183
Figura 42 - Os pais de Julie se despedem de Pascal 183
Figura 43 - Julie e a me riem da deciso de M. Prvost e, afinal,
ir comer em um restaurante 184
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15
Figura 44 - Julie e seu pai diante de Benoit quando da sua Che-
gada em casa e da apresentao ao casal Prvost 185
Figura 45 - Julie e seu pai diante de Pascal quando da entrada
no seu quarto 186
Figura 46 - Julie quando recebe o elogio de seu pai sobre a ar-
rumao do seu quarto 186
Figura 47 - Julie e sua me riem discretamente quando o pai aceita
fazer o jantar e depois desiste 187
Figura 48 - Julie e Benoit falam porta do prdio onde vivem 193
Figura 49 - A colega avisa Benoit que ele foi substitudo 193
Figura 50 - Benoit recebe, com surpresa, a notcia da sua subs-
tituio 194
Figura 51 - A colega de Benoit esclarece que se trata de uma
brincadeira 194
Figura 52 - O estagirio atende Mme. Desport quando Benoit en-
tra na sala 196
Figura 53 - Mme. Desport suplica que Benoit resolva a situao
rapidamente 196
Figura 54 - Face ao olhar furioso de Mme. Desport, o estagirio
desvia o olhar.. 197
Figura 55 - Laurent surpreendido pelo convite de Benoit para
irem sala de Nicole. 198
Figura 56 - Benoit entra na agncia de viagens e resolve rapida-
mente a situao da cliente difcil 199
Figura 57 - O estagirio fica sem jeito diante do olhar furioso da
cliente difcil 199
Figura 58 - Laurent, surpreendido, quando Benoit o convida para
ir sala de Nicole 199
Figura 59 - A cliente difcil atendida por Laurent 200
Figura 60 - A cliente difcil suplica a Benoit que a atenda 200
Figura 61 - Comparando Benoit e o estagirio 201
Figura 62 - Laurent elogiado por Nicole e Annie.. 205
Figura 63 - Nicole e Annie elogiam Laurent.. 206
Figura 64 - Laurent elogia os bolos servidos por Nicole e Annie 206
Figura 65 - Benoit alerta para o fato de estar na hora de conti-
nuar o trabalho .207
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Figura 66 - Nicole e Annie discutem se oferecem flores a Benoit.. 208
Figura 67 - Laurent coloca a correspondncia na mesa de Benoit 209
Figura 68 - Benoit recebe os parabns dos colegas de trabalho 210
Figura 69 - Benoit recebe as flores 210
Figura 70 - Julie procura entrevistar uma transeunte que afirma
no ter tempo.. 216
Figura 71 - Julie, desanimada, se aproxima de Claudia 216
Figura 72 - Julie desabafa com Claudia que no fcil aplicar
questionrios.. 217
Figura 73 - Claudia se dirige a duas transeuntes e tenta conse-
guir a entrevista 218
Figura 74 - Julie se dirige a um jovem com o intuito de lhe aplicar
o questionrio 220
Figura 75 - Claudia apia Julie quando esta consegue a entrevista
com o jovem 220
Figura 76 - Julie espera Claudia na sada de uma estao de
Metr... 225
Figura 77 - Julie e Claudia falam enquanto caminham numa rua
de Paris 226
Figura 78 - Julie e Claudia falam com Yves e com a jovem artis-
ta Violaine 227
Figura 79 - Violaine explica a Julie que procura algum que
possa vender suas obras 228
Figura 80 - Comunicao no-verbal de Franois. 229
Figura 81 - Pascal fica preocupado quando Benoit o informa
que est acontecendo uma greve nos transportes 235
Figura 82 - Julie procura ajudar Pascal a resolver a situao
ocasionada pela greve dos transportes 236
Figura 83 - Pascal parte na moto de Franois 237
Figura 84 - Pascal recebido pelo diretor do Centro Cultural 238
Figura 85 - O diretor do Centro Cultural pede a Isabelle que ela
conduza Pascal numa visita s instalaes 243
Figura 86 - Pascal assiste oficina de hip-pop 244
Figura 87 - Pascal, avisado por Akim, procura os jovens que es-
tariam junto da moto, mas no os encontra 245
Figura 88 - Pascal fala com o diretor do Centro Cultural.. 246
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Figura 89 - Apresentao de Marie, de preto, contra um fundo de
composio colorida... 249
Figura 90 - Philippe, imaginado por Marie, num primeiro momen-
to de idealizao 250
Figura 91 - Philippe, imaginado por Marie, num segundo momen-
to de idealizao 251
Figura 92 - Chegando no meio do apartamento e depois de um
rpido olhar, Philippe afirma ser um espao interes-
sante. 252
Figura 93 - A quantidade de bagagem trazida pelo jovem motiva
Marie afirmar que ele muito espaoso.. 252
Figura 94 - Marie comea falando com Philippe formalmente, com-
tudo ele categrico quando afirma que no quer ser
tratado por monsieur ou por vous, mas por tu 253
Figura 95 - Philippe na imaginao de Marie.. 254
Figura 96 - Philippe que se apresenta para partilhar o apartamen-
To....... 255
Figura 97 - Marie mostra fotos de famlia a Philippe.. 257
Figura 98 - Philippe l a mensagem no computador 258
Figura 99 - Marie se protege dos objetos que Philippe arremessa
contra ela.. 258
Figura 100 - Philippe surpreendido por Marie quando esta lhe
prepara uma festa de aniversrio. 260
Figura 101 - Os amigos chegam para a festa de aniversrio de
Philippe.................................................................... 261
Figura 102 - Competncias que devero ser desenvolvidas no
ensino de uma lngua estrangeira, visando promover
o plurilingismo. 274
Figura 103 - Sntese da mensagem veiculada pelo MRB no que
diz respeito Frana 283
Figura 104 - Pascal sendo apresentado por Julie a Benoit e ps-
sando a ferro quando da visita dos pais da jovem.. 285
Figura 105 - Os candidatos ao lugar de locatrio do apartamento 286
Figura 106 - Benoit chega em casa e recebido por Julie e apre-
sentado por esta aos seus pais 286
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Figura 107 - Pascal surpreendido por Julie no seu quarto quan-
do passa a ferro e esta lhe apresenta os pais. 286
Figura 108 - Benoit em dois episdios do MRB 288
Figura 109 - Pascal em dois episdios do MRB 290
Figura 110 - Vesturio de Marie em vrios episdios.. 295
Figura 111 - Vesturio de Julie em vrios episdios 296
Figura 112 - Penteado de Marie em vrios episdios. 296
Figura 113 - Penteado de Julie em vrios episdios.. 297
Figura 114 - Expresso corporal de Marie em vrios episdios.. 297
Figura 115 - Expresso corporal de Julie em vrios episdios 298
Figura 116 - rvore genealgica de acordo com a proposta apre-
sentada no DTP e DTA do MRB 304
Figura 117 - Mapa de Paris e arredores com a localizao de onde
decorre a ao 318
Figura 118 - Critrios apontados para a anlise dos candidatos 321
Figura 119 - Imagem do homem francs imaginado por Marie 323
Figura 120 - Imagem do homem francs representado por Benoit 324
Figura 121 - Imagem do homem francs representado por Franois 324
Figura 122 - Imagem do homem francs imaginado por Marie em
contraponto com um jovem jamaicano calmo e des-
contrado tambm imaginado 325
Figura 123 - Imagem do homem francs imaginado por Marie em
contraponto com a realidade de Philippe 325
Figura 124 - Imagem do homem francs representado por Benoit
em contraponto com Franois 325
Figura 125 - Imagem do homem francs representado por Benoit
em contraponto com Laurent 326
Figura 126 - Mme. Desport durante o atendimento por Laurent e
quando suplica a Benoit que resolva rapidamente o
seu problema 326
Figura 127 - Marie v fotos antigas e brinca com um brinquedo de
pelcia 327
Figura 128 - Marie feiticeira d a Philippe um misterioso lquido
fortificante 327
Figura 129 - Referncias simblicas a Jamaica e ao Oriente.. 331
Figura 130 - Apartamento dos jovens franceses 347
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Figura 131 - Espao partilhado por Marie e Philippe. 347
Figura 132 - Relao entre os materiais didticos elaborados na
Frana e no Brasil e utilizados no MRB 355
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20
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio das situaes de galanteio e ligao
sentimental implcita ou explcita no MRB.. 308
Tabela 2 - Contabilizao dos gneros dos personagens nos v-
deos do MRB 359
Tabela 3 - Distribuio da populao francesa em funo da ida-
de.. 360
Tabela 4 - Distribuio dos gneros na populao francesa. 360
Tabela 5 - Contabilizao parcial e final dos resultados obtidos
nas sees do MRB 366
Tabela 6 - Nvel da tipologia de questes e categorias de qus-
tionamento 367
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21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACD - Anlise Crt ica do Discurso
BRASED - Thesaurus Brasi leiro da Educao
CNLD - Comisso Nacional do Livro Didtico
COLTED - Comisso do Livro Tcnico e do Livro Didtico
DTA - Documento de Trabalho do Aluno
DTP - Documento de Trabalho do Professor
ELE - Ensino de Lngua Estrangeira
FAE - Fundao de Assistncia ao Estudante
FENAME - Fundao Nacional de Material Escolar
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
INL - Instituto Nacional do Livro
LDB - Lei de Diretr izes e Bases da Educao Nacional
LE - Lngua Estrangeira
LM - Lngua Materna
MAO - Metodologia udio-Oral
MAV - Metodologia udio-Visual
MD - Mtodo Direto
ME - Ministrio da Educao
MEC - Ministrio da Educao e Cultura
MRB - Mtodo Reflets-Brsil
MRVI - Mtodo Reflets na Verso Internacional
MT - Metodologia Tradicional
PCN - Parmetros Curriculares Nacionais
PLIDEF - Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental
PNLD - Plano Nacional do Livro Didtico
QECRL - Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas
UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a
Cincia e a Cultura
USAID - Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional
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SUMRIO
INTRODUO. 24
1 APRESENTAO DO MTODO REFLETS-BRSIL 29
1.1 O mtodo Reflets-Brsil.. 29
1.1.1 Apresentao geral do mtodo.. 29
1.1.2 Designao do mtodo Reflets-Brsil.. 30
1.1.2.1 Discrepncias no que se refere designao do MRB.. 30
1.1.2.2 Discrepncias no que se refere designao dos DTA
e a do DTP..... 31
1.1.3 Estrutura do mtodo Reflets-Brsil.. 31
1.1.3.1 Divergncias entre a estrutura do MRVI e a do MRB. 31
1.1.3.2 Divergncias entre a estrutura do MRB no WebEduc e
no DTA e DTP..... 32
1.1.3.3 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP e a do livro
do aluno do MRVI.. 34
1.1.3.4 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP 39
1.2 Delimitao do corpus 41
2 O DOMNIO SOCIOCULTURAL NO ENSINO DE LNGUA ES-
TRANGEIRA 43
2.1 Conceitos de cultura e linguagem. 43
2.1.1 Plurilingismo e conscientizao intercultural e o ensino
de lngua estrangeira 46
2.2 A abordagem do domnio sociocultural no mbito de docu-
mentos normativos do ensino de lngua estrangeira.. 48
2.2.1 Domnio sociocultural, prtica social e ideologia.. 48
2.2.1.1 Papel social e domnio sociocultural 48
2.2.1.2 Prtica social 49
2.2.1.3 Ideologia 49
2.2.2 A abordagem do domnio sociocultural no quadro europeu
de referncia............................................................... 50
-
23
2.2.3 A abordagem do domnio sociocultural nos currculos na-
cionais de lngua estrangeira 58
2.2.4 Referncias no Programa Nacional do Livro Didtico rela-
tivas vertente sociocultural.. 65
2.3 Anlise crtica do discurso.. 67
2.3.1 Categorias de anlise 71
2.4 Procedimento metodolgico 73
3 A ANLISE DO MTODO REFLETS-BRSIL 76
3.1 Modelo tridimensional de Norman Fairclough 76
3.2 Anlise da prtica discursiva Mtodo Reflets-Brsil: proces-
sos de produo, distribuio e consumo.. 81
3.2.1 O conceito de material didtico 81
3.2.2 O livro didtico 83
3.2.2.1 O conceito e as funes do livro didtico. 86
3.2.2.1.1 A evoluo do livro didtico 90
3.2.2.2 A regulamentao do livro didtico no Brasil 93
3.2.3 O livro didtico no contexto da indstria cultural. 106
3.2.3.1 Uma viso do mundo atual.. 107
3.2.3.2 A indstria cultural.......... 110
3.2.3.2.1 Os produtos culturais.. 111
3.2.3.2.2 Reivindicao por uma identidade cultural 113
3.2.3.3 O circuito de produo, distribuio e consumo do livro
didtico. 118
3.2.4 O ensino de lngua estrangeira no contexto da indstria cul-
tural. 124
3.2.5 Princpios didticos e pedaggicos associados ao ensino
e aprendizagem de lngua estrangeira 135
3.3 Anlise do texto e da prtica sociocultural do Mtodo Reflets-
Brsil................................................................................ 150
3.3.2 O surgimento das categorias utilizadas na anlise do MRB 274
3.3.2.1 Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas 273
3.3.2.2 Currculos nacionais de l ngua estrangeira 275
3.3.2.3 Plano Nacional do Livro Didtico 276
3.3.3 A anlise do MRB considerando as categorias de anlise 277
-
24
3.3.3.1 Comunidade internacional. 277
3.3.3.2 A Frana..... 279
3.3.3.3 Os franceses........ 283
3.3.3.4 A francofonia................. 301
3.3.3.5 A famlia 303
3.3.3.6 Relacionamento homem / mulher.. 306
3.3.3.7 Trabalho.. 312
3.3.3.8 Princpios ticos 317
3.3.3.9 Dimenso simblica... 323
3.3.3.10 O mundo do outro.... 330
3.3.3.11 Relaes sociais 333
3.3.3.12 Afirmao pessoal 341
3.3.3.13 Celebrao / festa.................................... 344
3.3.3.14 Tempos livres e frias............ 345
3.3.3.15 Habitao 346
3.3.3.16 Meio ambiente......................................... 348
3.4 Anlise do Mtodo Reflets-Brsil ao nvel da produo, consu-
mo e distribuio.. 350
CONSIDERAES FINAIS...... 370
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 380
ANEXOS 388
Anexo A- Dilogos das lies do mtodo Reflets-Brsil. 389
Anexo B- Textos disponibilizados na seco civilisation no docu-
mento de trabalho do professor.. 404
Anexo C- Dilogos da introduo lio 1 do Mtodo Reflets-Brsil 408
-
25
INTRODUO
O desenvolvimento contemporneo nasce, em grande parte, do
encontro e do conhecimento recprocos de povos e culturas. Nesse
contexto, o ensino de uma lngua estrangeira dever considerar no
somente a vertente lingstica, mas tambm possibilitar ao aluno
compreender melhor a sua prpria cultura e a cultura do(s) povo(s) que
fala(m) o idioma a aprender. Desse modo, proporciona ao indivduo as
condies para interagir num mundo globalizado e estimula a reflexo sobre
o que significa viver, agir e intervir no universo.
Para que isso seja possvel, o livro didtico para o ensino de uma
lngua estrangeira deve, alm de ensinar a lngua estrangeira, abordar
questes culturais relativas lngua em questo, possibilitando ao indivduo
as condies para a organizao e a interpretao de uma nova experincia
lingstica e cultural.
Contudo, o livro didtico para o ensino de lngua estrangeira,
inserido num contexto que ultrapassa o sistema educacional, envolve, por
exemplo, o Estado, o mercado e a indstria cultural e existe como possvel
veiculador de ideologias.
O entendimento dessa situao particularmente importante no
atual momento scio-histrico, em que o ensino de lngua estrangeira
adquire relevncia particular no mbito do jogo geopoltico dos pases em
estreita relao com a globalizao e a indstria cultural. O Brasil no
parte ausente nesse processo, vendo-se objeto do interesse da Frana no
mbito dos planos de expanso da sua lngua.
-
26
O presente estudo procura atender ao objetivo geral de identificar,
descrever e compreender o discurso ideolgico do Mtodo Reflets-Brsil ,
disponibilizado pelo Ministrio da Educao brasileiro no seu portal de
contedos educacionais, fruto de um acordo realizado com o Ministrio dos
Negcios Estrangeiros francs que visa expandir a sua influncia no Brasil,
tendo como ponto de partida a lngua. O Mtodo Reflets-Brsil consiste de
uma verso do Mtodo Reflets, inicialmente publicado por um consrcio de
editoras europias, sob a coordenao da editora francesa Hachette.
O estudo procura atender aos objetivos especficos:
- Observar a relao entre o discurso ideolgico do mtodo Reflets-
Brsil e o papel proposto para o domnio sociocultural no mbito
do ensino de lngua estrangeira.
- Caracterizar e descrever em termos de polticas pblicas para o
ensino de lngua estrangeira a importncia do papel do domnio
sociocultural.
- Caracterizar e descrever o papel do domnio sociocultural no
ensino de lngua estrangeira.
Esta investigao faz parte de uma motivao pessoal sobre os
aspectos relacionados com o trabalhar a interculturalidade na produo de
contedos para educao a distncia, fruto da curiosidade despertada pela
realizao, respectivamente, de especializao e mestrado na rea de
educao intercultural, com defesa de monografia, procurando compreender
as conseqncias da universalizao do ensino nomeadamente no que aos
aspectos interculturais diz respeito; e de dissertao sobre a utilizao da
educao a distncia com os mesmos propsitos.
A concretizao da pesquisa implicar na abordagem do conceito de
cultura e ideologia, tendo, entre outras, a base terica proporcionada por
Thompson (2002), bem como os referenciais normativos no que diz respeito
-
27
ao domnio sociocultural no ensino de lngua estrangeira do Ministrio da
Educao para a educao em geral e para o livro didtico em especial e do
Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas - aprendizagem,
ensino, avaliao.
Desse modo, procura-se encontrar subsdios para entender a
evoluo das recomendaes normativas no Brasil e na Europa, quanto
elaborao do material didtico e de que modo elas se intersectam com
condies polticas, econmicas, sociais e culturais subjacentes ideologia.
O estudo contemplar tambm, entre outros, a contribuio terica de
Choppin (1998, 2004) e Puren (2000, 2004b). Com eles se pretender
compreender o circuito de produo, distribuio e consumo do material
didtico ao longo do tempo, bem como de que maneira eles se intersectam
com os princpios didticos associados ao ensino de uma lngua
estrangeira.
A proposta metodolgica do estudo enquadra-se na modalidade de
pesquisa qualitativa e recorre tica da anlise crtica do discurso proposta
por Fairclough (2001) e, por esse motivo, contemplar a anlise do contexto
de produo, distribuio e consumo do mtodo Reflets-Brsil, no mbito do
que autor chama de Prtica Discursiva, bem como da ideologia associada
prtica social e do texto. Objetivando tornar mais consistente a anlise
dessas questes, foram usados elementos quantitativos, especialmente no
que se refere caracterizao da populao francesa.
Procurando contemplar o que foi referido, o estudo compreende trs
partes, abordando, na primeira, a apresentao do Mtodo Reflets-Brsil. A
segunda parte se debrua sobre o conceito de linguagem e cultura, e
analisa a concepo de domnio sociocultural no ensino de lngua
estrangeira proposta pelo Quadro Europeu Comum de Referncia para as
Lnguas, pelo currculo de lngua estrangeira proposto pelo Ministrio da
Educao brasileiro e que, tal como o Plano Nacional do Livro Didtico,
influencia a elaborao do manual escolar. Este estudo servir de base
para a elaborao das categorias de anlise que sero trabalhadas na parte
-
28
trs da pesquisa, onde se realiza a anlise do Mtodo Reflets-Brsil e se
apresenta a anlise do mtodo e a discusso dos resultados da pesquisa.
-
29
Categor ias de anl ise - Capi tu lo 2.4. -
A l inguagem e a cul tura
- Captu lo 2.1. -
O domnio soc iocultura l no ens ino de l ngua estrangeira
- Captu lo 2.2 -
Domnio soc iocultura l no QER
- Captu lo 2.2.1. -
Domnio soc iocultura l no curr cu lo
- Captu lo 2.2.2. -
Referncias no Programa Nacional do Livro Didtico relativos
vertente sociocultural
- Captu lo 2.2.3. -
Anl ise cr i t ica do d iscurso - Captu lo 2.3 -
Mtodo Ref lets - Captu lo 1 -
Modelo tr id imens ional
apl icado ao Mtodo Ref lets-Brs i l - Captu lo 3. -
Vdeos ( l ies 1 8) - Captu lo 1 -
Textos civ i l izat ion - l ivro professor
- Captu lo 1 -
Mtodo Ref lets-Brs i l
Texto e prt ica soc iocultura l
- Captu lo 3.1. -
Mtodo Ref lets-Brs i l-
Processos de produo, d istr ibuio
e consumo - Captu lo 3.2. .
IDEOLOGIA
DISCURSO
ESQUEMA 1 - MAPA CONCEITUAL DA PESQUISA.
-
29
1 APRESENTAO DO MTODO REFLETS-BRSIL
1.1 O mtodo Reflets-Brsil
1.1.1 Apresentao geral do mtodo
O Mtodo Reflets-Brsil (MRB) uma verso adaptada para o Brasil
do mtodo de ensino de lngua francesa Reflets1 publicado originariamente
pela editora francesa Hachette em co-produo com mais dois editores
europeus (SGEL-Espanha e Petrini-Itlia) e a participao do Ministrio dos
Negcios Estrangeiros francs. O MRB resulta de um acordo celebrado em
2006 entre o Ministrio da Educao francs e o seu congnere brasileiro,
para possibilitar o acesso livre na Internet a diversos recursos destinados
particularmente ao auto-aprendizado de alunos e ao apoio a professores
interessados na aprendizagem e no ensino da lngua francesa e das
culturas francfonas (BRASIL, 2007).
O mtodo Reflets foi apresentado na verso internacional (MRVI)
dividido em trs nveis, incluindo em cada etapa- um livro do aluno, um livro
de exerccios, um guia pedaggico, vrias fitas de vdeos e CDs de udio. O
MRB resulta da adaptao do nvel I do MRVI, e apresenta como recursos
acessveis no site Francoclic do Portal de Contedos Educacionais
(WebEduc2) da Secretaria de Educao a Distncia do Ministrio da
Educao brasileiro3; vdeos disponveis em streaming e exerccios,
Documento de Trabalho do Professor (DTP) e Documento de Trabalho do
Aluno (DTA), todos disponibilizados em formato eletrnico, com a
possibilidade de serem impressos.
1 O mtodo de ensino da lngua francesa Reflets de autoria de Guy Capelle e Nolle Gidon. 2 O WebEduc , de acordo com informao d isponib i l izada no prpr io porta l, um
espao onde possvel encontrar mater ia l de pesquisa, objetos de aprendizagem e outros contedos educac ionais de l ivre acesso.
3 O mtodo Reflets-Brsil, alm de estar disponvel no WebEduc, tambm difundido em diversas emissoras de televiso.
-
30
1.1.2 Designao do mtodo Reflets-Brsil
A adaptao do mtodo Reflets para o Brasil tem a designao
oficial de Reflets-Brsil. possvel, contudo, encontrar discrepncias entre
a denominao do MRB encontrada no portal do Ministrio da Educao
(ME) e os documentos de apoio de trabalho do professor e do aluno. Tal
fato obriga a um conjunto de escolhas sobre as designaes a adotar na
presente pesquisa.
1.1.2.1 Discrepncias no que se refere designao do MRB
No site Francoclic do Portal WebEduc do ME, o MRB chamado de
Mtodo de aprendizagem da lngua francesa, de Curso de francs e de
Mdulos de auto-aprendizagem4. Nos documentos de trabalho do
professor e do aluno, designado de Mtodo e de Sistema de
ensino/aprendizagem5. No presente estudo, adotaremos a designao
Mtodo, originalmente utilizada pela editora Hachette, e que tambm
corresponde proposta conceitual de Puren (2000), que associa esse termo
a material didtico6.
4 Designaes do MRB no portal WebEduc * Mtodo de aprendizagem da lngua francesa
- Reflets-Bresil- Mtodo de aprendizagem da lngua francesa, especialmente concebido para o pblico brasileiro.
* Curso de francs - Salut! Apresentamos a vocs o curso de francs Reflets! [...] Este curso contm 24
lies onde, ao final, voc ter um conhecimento bsico da lngua francesa. - Apresentao do curso. O curso divide-se em 24 lies.
* Mdulos de auto-aprendizagem - Francoclic um site contendo diversos recursos de acesso livre [...]. Nele voc
encontra os mdulos- de auto-aprendizagem Reflets-Brsil .... 5 Designaes do MRB nos documentos de trabalho do professor e do aluno * Mtodo * Sistema de ensino/aprendizagem
- Esta apostila tem como objetivo ajud-lo no seu trabalho dirio com o Mtodo Reflets-Brsil. Nosso grupo de trabalho vem investigando, [...], dois sistemas de ensino/aprendizagem de Francs Lngua Estrangeira - VIF@X e REFLETS.
6 As Orientaes Curriculares Nacionais de Linguagem, Cdigo e suas Tecnologias para o Ensino Mdio (BRASIL, 2006), referem material didtico como um conjunto de recursos dos quais o professor se vale na sua prtica pedaggica, tais como os livros didticos, os textos, os vdeos, as gravaes sonoras (de textos, canes) e os materiais auxiliares ou de apoio, como gramticas, dicionrios, entre outros. Neste estudo utilizaremos a expresso material didtico para referir o conjunto dos recursos disponibilizados pelo MRB- vdeos e documentos de trabalho do aluno e do professor.
-
31
1.1.2.2 Discrepncias no que se refere designao dos DTA e a do DTP
Alm das discrepncias na designao do MRB, possvel, tambm,
encontrar divergncias na denominao dos DTA e DTP. Enquanto no texto
da pgina inicial dos dois documentos eles so designados de material
para estudo, no texto da apresentao, eles so denominados como
apostila7. Os mesmos DTA e DTP so denominados, na capa dos dois
documentos, bem como na pgina do MRB, no portal educacional do ME, de
Documento de Trabalho do Professor e de Documento de Trabalho do
Aluno. No presente estudo, adotaremos a designao utilizada no portal
educacional do Ministrio da Educao- Documento de Trabalho do
Professor e Documento de Trabalho do Aluno.
1.1.3 Estrutura do mtodo Reflets-Brsil
O material didtico do MRB apresenta estrutura divergente entre si e
com o MRVI. Tal fato obriga a um conjunto de escolhas, no que diz respeito
s designaes a adotar na presente pesquisa.
1.1.3.1 Divergncias entre a estrutura do MRVI e a do MRB
A estrutura do livro do aluno no MRVI contempla uma subdiviso em
12 dossis, integrando, cada um, dois episdios, num total de 248. A
estrutura adotada pelo MRB diferente. Por um lado, em vez da designao
episdios, adota a denominao lio e no contempla dossis. Por
outro lado, cada uma das 24 lies (com o mesmo nome dos episdios do
MRVI), contempla, alm do vdeo do respectivo episdio do MRVI9, um
conjunto de outros vdeos, produzidos especialmente para a verso
brasileira, e Points de Grammaire, que disponibilizam em cada lio
aspectos da gramtica. Os vdeos produzidos para a verso brasileira so- 7 Prezado aluno. Esta apostila tem como objetivo [...] Esta apostila flexvel. 8 Cada episdio do MRVI est associado a um vdeo. 9 Os vdeos dos episdios so iguais no MRVI e no MRB.
-
32
- Vdeo de introduo com o resumo da lio anterior (exceto na
primeira lio) e a introduo da lio a ser estudada.
- Vdeos de compreenso + exerccios, onde se comentam,
traduzem e explicam passagens e frases recuperadas de trechos
do episdio.
- Vdeos de gramtica + exerccios, onde se recuperam contedos
gramaticais abordados no episdio e se apresentam o modo como
so utilizados os elementos e as estruturas utilizadas.
- Vdeos de Variation + exerccios, onde so recuperadas
expresses utilizadas no episdio.
- Vdeos de Bilan10, onde Marie e Philippe resumem a lio;
1.1.3.2 Divergncias entre a estrutura do MRB no WebEduc e no DTA e DTP
O MRB, alm dos vdeos mencionados, tambm oferece como
recurso, em relao apenas s lies de 1 a 8 do MRB, um Documento de
Trabalho do Aluno (DTA) e um Documento de Trabalho do Professor
(DTP).
No que diz respeito estrutura, possvel encontrar divergncias
entre os DTA e DTP, subdivididos em unidades, e o MRB, apresentado na
pgina Fancoclic, subdividido em lies. No presente trabalho, utilizaremos
a designao lio, de acordo com a pgina do portal educacional do
Ministrio da Educao.
Ainda no que diz respeito a divergncias na estrutura, entre a pgina
Francoclic e os DTA e DTP, as lies disponveis no portal WebEduc so
subdivididas em Introduo, Compreenso, Gramtica, Variations e
10 A palavra Bilan traduzida literalmente para portugus como balano.
-
33
Bilan, enquanto a estrutura dos documentos de trabalho do professor e de
trabalho do aluno tm uma diviso diferente. Numa tentativa de retratar a
situao exposta, apresentamos o quadro 1, onde se compara a estrutura
do mtodo, apresentada no portal, e a dos documentos de trabalho.
Estrutura das l ies no WEBEDUC Estrutura das l ies nos DTA e DTP
Introduo
Episdio Dilogos do episdio
Qu'est-ce qui se passe?
Compreenso Comprhension
Suggestion de dialogue
Suggestion
Gramtica Grammaire
Expressions et grammaire
Expression orale
Comprhension crite
Comprhension orale
Variations
Jeu de rle
Exercices
Exercices crits
Activits orales
Suggestion d'activit
Civilisation
CLIP
Questionnaire
Enqute
Petites annonces
Variations
Bilan
Quadro 1 - Comparao entre a estrutura das lies no WebEduc e no DTA e DTP.
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.
-
34
1.1.3.3. Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP e a do livro do aluno
do MRVI
Comparando a estrutura do DTA e DTP, com a do livro do aluno do
MRVI, possvel encontrar divergncias nas subdivises dos documentos,
situao que se procura expor no quadro 2.
Estrutura das Lies nos DTA e DTP Estrutura dos Episdios do Aluno no MRVI Dilogos do episdio - Estrutura em relao a cada episdio
individual: Dcouvrez les situations - atividades de
reflexo sobre o tema e transcrio dos dilogos do episdio.
Organisez votre comprhension - atividades de compreenso, anlise dos comportamentos verbais e no verbais dos personagens do episdio.
Dcouvrez la Grammaire contedos gramaticais e proposta de exerccios.
Sons et lettres - fontica e ortografia. Communiquez atividades de
compreenso e produo oral. - Estrutura em relao a cada dossi
(conjunto de dois episdios): crit - atividades de compreenso e
comunicao escritas. Des mots pour le dire - vocabulrio
temtico. Civilisation - aspectos culturais.
Qu'est-ce qui se passe?
Comprhension
Suggestion de dialogue
Suggestion
Grammaire
Expressions et grammaire
Expression orale
Comprhension crite
Comprehension orale
Variations
Jeu de rle
Exercices
Exercices crits
Activits orales
Suggestion d'activit
Civilisation
CLIP
Questionnaire
Enqute
Petites annonces
Quadro 2 - Comparao entre a estrutura das lies nos DTA e DTP e a estrutura dos episdios do aluno no MRVI.
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.
No sentido de especificar a afirmao anterior, apresentamos o
quadro 3, onde se procura comparar a estrutura da lio 5 do MRVI e a
estrutura da lio 5 do documento de trabalho do aluno.
-
35
Estrutura do Episdio 5 do Livro do Aluno
no MRVI
Estrutura da Lio 5 no Documento de
Trabalho do Aluno
Objetivos de aprendizagem
Dc
ouvr
ez le
s si
tuat
ions
ativ
idad
es d
e re
flex
o
acer
ca d
o te
ma
Transcrio do episdio
Qu'
est-
ce q
ui s
e pa
sse?
- Id
entif
ica
o d
as p
erso
nage
ns, d
os lu
gare
s on
de s
e en
cont
ram
e
do q
ue fa
zem
A transcrio do episdio est
disponvel do DTP
1 Quest-ce quils font?
2 Interprtez les photos Dcouvrez les situations
3 Faites des hypothses
Org
anis
ez v
otre
com
prh
ensi
on -
Ativ
idad
es d
e co
mpr
eens
o, a
nlis
e do
s co
mpo
rtam
ento
s ve
rbai
s e
no-
ve
rbai
s do
s pe
rson
agen
s do
epi
sdi
o.
Obs
erve
z la
ctio
n et
les
rpl
ique
s
1 Dans quel ordre ont lieu ces
vnements?
Dans quel ordre ont lieu ces
vnements?
2 Quest-ce quelle fait?
3 Quest-ce que rpondent?
Obs
erve
z le
s co
mpo
rtem
ents
4. Quelle ets leur attitude?
5. Qu'est-ce qu'on dit pour... Qu'est-ce qu'on dit pour.
Suggestion de dialogue
Comprehension
-
36
Estrutura do Episdio 5 do Livro do
Aluno no MRVI
Estrutura da Lio 5 no Documento de Trabalho
do Aluno
Dc
ouvr
ez la
Gra
mm
aire
I -
cont
edo
s
gram
atic
ais
e ex
erc
cios
1. Et vous?
Exp
ress
ions
et g
ram
mai
re
apr
esen
ta c
omo
empr
egar
os
elem
ento
s e
as e
stru
tura
s gr
amat
icai
s no
text
o.
Exercice crit
2. Chacun ses gots.
3. Depuis quand?
4. quoi ou de quoi est-ce quils
jouent?
5. Quest-ce quils font dautre?
6. Conversation.
7. Quest-ce quils aiment? O est-ce
quils vont?
Exercice crit- exemples
Enqute
-
37
Estrutura do episdio 5 do livro do aluno
no MRVI
Estrutura da lio 5 no documento de
trabalho do aluno
Dc
ouvr
ez la
Gra
mm
aire
II -
co
nte
dos
gram
atic
ais
e ex
erc
cios
.
Son
s et
lettr
es -
fon
tica
e or
togr
afia
1 - Lisez et coutez- Quel(s) sons
est-ce que vous entendez entre
les mots souligns?
2 - Lisez et coutez- Quelles
liaisons est-ce que vous
entendez?
3 - Un ou plusieurs?
Com
mun
ique
z -
com
pree
nso
e p
rodu
o
oral
1 Visionnez les variations
Variations - Possibilita utilizar situaes de jogo de papis
Aborder quelqu'un et
donner un
renseignement
Refuser et donner une
excuse
2 Des magazines pour tous.
3 Lun aime, lautre naime pas.
4 Retenez lessentiel
5 Et dans votre pays?
Jeu de rles
-
38
Estrutura do episdio 5 do livro
do aluno no MRVI
Estrutura da lio 5 no documento de trabalho
do aluno
cr
it -
Ativ
idad
es d
e co
mpr
eens
o e
co
mun
ica
o e
scrit
as
Texto: Le couple et la famille
Com
prh
ensi
on
crite
Texto- Le couple et la famille
1 Regroupez des mots du texte
autour de la notion de famille.
1. Regroupez des mots du texte autour de
la notion de famille
2. Quest-ce que vous avez
compris? 2. Mettez V (vrai) ou F (faux)
3. Lisez le sondage
3. Lisez le sondage.
4. Quel est le bon rsum?
Des
mot
s po
ur le
dire
-
apre
sent
a um
voc
abul
rio
tem
tic
o co
mo
com
plem
ento
La famille et la description de
personnes La famille et la description de personnes
1. Devinez 1. Devinez
2. Comment sont-Ils - Dcrivez
les membres de la famille...
2. Comment sont-Ils - Dcrivez les membres de la
famille...
3. Cherchez lerreur 3 Cherchez lerreur
Suggestion d'activit- enqute
CLIP- "Mon mange moi"
-
39
Estrutura do episdio 5 do livro do
aluno no MRVI
Estrutura da lio 5 no documento de
trabalho do aluno
Civ
ilisa
tion
- ab
orda
asp
ecto
s cu
ltura
is
Dis
pon
vel n
a un
idad
e 5
Texto- Artisanat et mtiers dart.
Dis
pon
vel n
a un
idad
e 6
Texto- Artisanat et mtiers dart
1 Quest-ce que vous avez vu? 1 Quest-ce que vous avez vu?
2. Associez lartisan et son travail 2. Associez lartisan et son travail
3. Et dans votre pays? 3. Et dans votre pays?
Quadro 3 - Comparao entre a estrutura do episdio 5 do livro do aluno no MRVI e a estrutura da lio 5 no DTA.
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.
Comparando a estrutura do episdio 5 do livro do aluno no MRVI, e a
da lio 5, no documento de trabalho do aluno, verificamos que o segundo
no inclui a transcrio do episdio, e que a subdiviso Civilisation, do
episdio 5 do MRVI, foi includa numa outra lio do mtodo Reflets-Brsil11.
Por outro lado, parte das subdivises do MRVI, ou no existem no DTA, ou
tm uma designao diferente e, neste caso, o seu contedo s em parte
idntico. No documento de trabalho do aluno, foi includa, na lio 5, uma
subdiviso CLIP, que no foi encontrada no MRVI.
1.1.3.4 Divergncias entre a estrutura do DTA e DTP
Focalizando a anlise na estrutura do documento de trabalho do
professor e do documento de trabalho do aluno, constata-se que as
11 A subdiviso civilisation da unidade 5 do MRVI, foi includa na lio 6 do mtodo
Reflets-Brsil.
-
40
subdivises Quest-ce qui passe12, Comprhension e Variations,
encontram-se em todas as lies. Existem subdivises que surgem em uma
nica lio, como- Suggestion, na lio 2; Expression oral, na lio 6;
Activits orales, na lio 1; Suggestion d'activit, na lio 5 e
Questionnaire, na lio 6. Algumas outras subdivises surgem apenas em
algumas lies, tais como-
- Grammaire - lies 4, 6, 7 e 8;
- Jeux de rle - lies 1 e 5;
- Suggestion de dialogue - lies 2,3,5, 6,7 e 8;
- Expressions et grammaire - lies 1,2,3 e 5;
- Comprhension crite - lies 5 e 7;
- Suggestion d'activit - lies 2,4 e 5;
- Civilisation - lies 2,3,4,6 e 7;
- CLIP - lies 2,3,4,5 e 7.
Do que foi exposto, constatamos que a estrutura do documento de
trabalho do professor e a do documento de trabalho do aluno, apesar de
idnticas apresentam diferenas. As diferenas entre a estrutura dos dois
documentos so-
- o documento de trabalho do aluno no inclui as subdivises-
Suggestion d'activit, presente nas unidades 2, 4 e 5 do
documento de trabalho do professor; Activits orales, presente
no documento de trabalho do professor na primeira unidade, e
Dilogos do episdio, presente em todas as unidades no
documento de trabalho do professor.
- a subdiviso Comprhension crite, apresentada no documento
de trabalho do professor, nas unidades 2, 3 e 5, est presente no
documento de trabalho do aluno somente na unidade 5. O
documento de trabalho do professor inclui um avant-propos onde
12 Qu'est-ce qui se passe? um espao dedicado, de acordo com o Avant-propos,
identificao das personagens, dos locais onde se encontram e o que fazem.
-
41
se apresenta a sua estrutura e a proposta de trabalho para o
professor, o que no acontece no documento de trabalho do aluno.
No quadro 4, apresenta-se uma comparao entre a estrutura dos
dois documentos.
Estrutura 1 2 3 4 5 6 7 8
Dilogos do episdio ** ** ** ** ** ** ** ** Qu'est-ce qui se passe? * * * * * * * * Comprhension * * * * * * * * Suggestion de dialogue * * * * * * Suggestion * Grammaire * * * * Expressions et grammaire
* * * *
Expression orale * Comprhension crite * * Comprehension orale ** ** * Variations * * * * * * * * Jeu de rle * * Exercices * * * Exercices crits * * * * * * Activits orales ** Suggestion d'activit ** ** ** Civilisation * * * * * CLIP * * * * * Questionnaire * Enqute * Petites annonces *
Quadro 4 - Comparao entre a estrutura dos documentos de trabalho do professor e aluno.
* subsees presentes nos documentos de trabalho do professor e aluno
** subseo presente no documento de trabalho do professor e ausente do aluno
1.2 Delimitao do corpus
A presente pesquisa tem como objeto o mtodo Reflets-Brsil. O
motivo da escolha foi o fato de o MRB ter sido o mtodo de aprendizagem
da lngua francesa selecionado pelo Ministrio da Educao brasileiro, para
ser disponibilizado no seu portal de contedos educacionais, como recurso
destinado a todos os interessados na aprendizagem e no ensino da lngua
francesa e das culturas francfonas. Atendendo constatao de que o
MRB proposto pelo Ministrio da Educao brasileiro, o estudo parte do
-
42
princpio de que o mtodo respeita as determinaes impostas pelas normas
regulamentares da educao nacional, no que diz respeito ao domnio
sociocultural, tais como, a Constituio Federal, as Diretrizes e Bases da
Educao Nacional e os restantes documentos normativos especficos para
o ensino fundamental e mdio e para o ensino de lngua estrangeira. Com
base no princpio exposto, o estudo procura analisar o discurso ideolgico
no mtodo Reflets-Brsil e, desse modo, concluir pelo atendimento ou no
do prescrito pelo Ministrio da Educao.
A anlise do discurso contemplar as oito primeiras lies do MRB.
Essa escolha considerou o fato de o DTA e o DTP contemplarem essas
mesmas lies. Assim, nelas sero analisados os vdeos dos oito episdios
e os oito primeiros vdeos de introduo, assim como os textos da
subdiviso Civilisation disponveis nas lies 2, 3, 4, 6 e 7 do documento
de trabalho do professor.
O corpus da pesquisa foi selecionado, considerando sua relevncia
para o estudo do discurso ideolgico no mtodo Reflets-Brsil, na anlise
dos textos da subdiviso Civilisation e dos vdeos dos episdios (ambos
idnticos no MRVI e no MRB); bem como para estabelecer uma relao
entre esses discursos e o dos vdeos de apresentao das lies
(exclusivos para o MRB).
-
43
2 O DOMNIO SOCIOCULTURAL NO ENSINO DE LNGUA
ESTRANGEIRA
O presente estudo procura analisar o discurso ideolgico do material
didtico de lngua estrangeira e, mais especificamente, o discurso
ideolgico no MRB. Tem subjacente a idia de que o discurso gerador de
significados, de prticas socioculturais e de ideologias presentes na
sociedade e, nesse contexto, pensa-se como essencial, para a realizao
da pesquisa, a compreenso de trs pormenores- os pressupostos
subjacentes aos conceitos de cultura e linguagem e da interligao entre
eles; o entendimento que entidades nacionais e internacionais tm sobre a
abordagem do domnio sociocultural no ensino de lngua estrangeira; o
contributo que esse entendimento tem oportunizado, para uma discusso
sobre a ideologia no ensino de lngua estrangeira. Pretende-se sustentar
nesse trip os critrios de escolha das categorias utilizadas para a anlise
do discurso ideolgico do mtodo Reflets-Brsil.
2.1 Conceitos de cultura e linguagem
O conceito de cultura encontra-se em aberto e em debate. As
inmeras definies que existem a respeito, quase sempre, motivam alguma
insatisfao. Na tentativa de encontrar um entendimento para o conceito de
cultura, recorre-se a Don Mitchell (2003) que procura compreend-la a
partir de seis referenciais:
1) cultura o oposto de natureza, o que faz o Homem humano;
2) cultura so os padres e aquilo que diferencia um povo;
3) cultura so os processos segundo os quais esses padres se
desenvolvem;
4) cultura um conjunto de caractersticas marcantes, que
demarcam um povo de outro povo, e que permite aos indivduos
marcarem a sua singularidade;
-
44
5) cultura a forma como esses padres, processos e essas
caractersticas marcantes so apresentadas;
6) a idia de cultura, muitas vezes, indica uma ordem hierrquica de
todos esses processos, atividades, modos de vida e produo
cultural, quando os indivduos comparam culturas, ou atividades
culturais, com outras.
Ainda de acordo com Don Mitchell (2003), a cultura no faz parte da
herana gentica do Homem, nem do ambiente natural terrestre, ela
socialmente transmitida e permite a sobrevivncia de um grupo como tal.
Ocupa uma posio central na sociedade, estando onipresente em todos os
campos da vida social. A cultura define uma espcie de matriz referencial
para a existncia pessoal e social do Homem na sociedade. Fundamenta-se
em formas padronizadas de agir, falar, pensar e sentir, suficientemente
uniformizadas, e razoavelmente diferenciadas das de outras sociedades. A
cultura adquire seu sentido atravs de diferentes prticas sociais
compartilhadas pela linguagem, num determinado contexto. Thompson
(2002) esclarece que esse processo vivido, interiorizado, transmitido e
transformado, num contexto de relaes de poder e conflito e acontece de
acordo com a natureza e com a amplitude da participao social do
indivduo.
Strecht-Ribeiro (1998) refora a necessidade de uma
contextualizao social da relao entre a cultura e a linguagem, afirmando
que a linguagem parte da cultura do Homem e desempenha um papel
primordial no processo de integrao na sociedade. A linguagem ,
simultaneamente, parte, produto e condio da cultura. Para o autor,
enquanto sistema de signos, especfico, histrico e social, a linguagem deve
ser encarada como um meio de comunicao fundamental entre os
membros de uma sociedade e como a expresso mais visvel dessa mesma
sociedade, determinando uma mundiviso especfica, varivel de cultura
para cultura.
-
45
A linguagem e a cultura no so, pois, abstraes
descontextualizadas, nem se manifestam como totalidades globais
homogneas; elas se constituem enquanto variantes locais particularizadas
em contextos especficos. A linguagem possibilita ao Homem significar a
sociedade, e esta no s sofre a influncia da cultura, mas constitui tambm
um dos sistemas de sua difuso, sendo utilizada como elemento de
expresso de seus modelos comportamentais e valores. Uma abordagem da
dimenso cultural da linguagem ter de considerar, no apenas aquilo que
manifestamente concreto, mas tambm a percepo que cada grupo tem do
que o rodeia e que , em maior ou menor grau, partilhada pelos outros. A
cultura adquire, pois, sentido, atravs de diferentes prticas sociais
compartilhadas pela lngua, num determinado contexto.
Por vezes, o meio cultural em que vivemos modela a viso de mundo
de tal forma que a realidade parece poder ser percebida objetivamente,
apenas atravs de uma padronizao cultural prpria, o que leva a
considerar aquilo que diferente como estranho ou at falso. Desse modo,
constituiria um veculo privilegiado para transmitir uma compreenso
distorcida da realidade e conduzir ao esteretipo e ao preconceito. Contudo,
e recorrendo de novo s idias de Thompson (2002), ele pode, tambm,
criar e sustentar as condies para a resistncia e prticas libertadoras.
Nesse processo, encontramos em Strecht-Ribeiro (1998) a sustentao para
afirmar que o ensino de uma lngua estrangeira, ao possibilitar o contato
com culturas, permite a constatao de que os falantes de outra lngua,
alm da lngua diferente, tambm exibem padres culturais, costumes,
formas de vida que refletem vises de mundo culturalmente especificas,
caractersticas que as identificam como membros de outra sociedade.
Quebra-se, desse modo, a tendncia para o esteretipo e o preconceito,
motivada pela diviso do mundo em espaos rigidamente opostos, e abrem-
se espaos para o plurilingismo e a consciencializao intercultural.
-
46
2.1.1 Plurilingismo e conscientizao intercultural e o ensino de lngua
estrangeira
O ensino de lngua estrangeira (ELE), para atender ao intento de
evitar o esteretipo e o preconceito, deve, simultaneamente com a lngua,
explorar os aspectos culturais. Para esse propsito e de acordo com
Strecht-Ribeiro (1998), deve procurar ultrapassar uma viso que limita a
lngua a um meio de comunicao; a um espao de expresso do indivduo
nas suas relaes interpessoais e de interao social; a um sistema
estruturado de signos que obedecem a certas regras gramaticais. Por outro
lado, o ELE, fugindo a uma viso que o vincula ao ensino explcito sobre a
cultura, dever contribuir para um entendimento da lngua estrangeira, como
veculo de descoberta dos universos culturais dos povos que a falam.
A proposta de Strecht-Ribeiro segue o percurso de reflexo terica
que conduziu, em 2002, ao Quadro Europeu Comum de Referncia
para as Lnguas, de acordo com o qual o ELE deve contribuir para
que o indivduo, partindo da compreenso da sua prpria cultura, aceite as
diferenas e semelhanas entre a realidade cultural que vivencia e que o
rodeia e o mundo cultural dos que falam a lngua estrangeira.
medida que a experincia pessoal do indivduo, no seu contexto
cultural, se expande, da lngua falada em casa, para a da sociedade em
geral e, depois, para as lnguas aprendidas de outros povos, ele, de acordo
com o Quadro Europeu Comum, desenvolve o plurilingsmo e a
conscientizao intercultural. Ambos referem-se capacidade de mobilizar,
aplicar e desenvolver conhecimentos, habilidades, comportamentos e
atitudes, no uso de lnguas para propsitos de comunicao e tomar parte
em situaes de interao intercultural. O seu desenvolvimento se sustenta
no pressuposto de que um indivduo no possui uma variedade de
competncias distintas e separadas para comunicar, consoante as lnguas
que conhece, mas, sim, o plurilingsmo e a conscientizao intercultural,
que engloba o conjunto do repertrio lingstico de que dispe.
-
47
O plurilingsmo, de acordo com o Quadro Europeu Comum de
Referncia para as Lnguas (2002, p. 231), entendido como a
capacidade para utilizar as lnguas para comunicar na interao cultural, na qual o indivduo, na sua qualidade de ator social, possui proficincia em vrias lnguas, em diferentes nveis, bem como experincia de vrias culturas. Considera-se que no se trata de sobreposio ou da justaposio de competncias distintas, mas sim de uma competncia complexa ou at compsita qual o utilizador pode recorrer.
A partir do mesmo documento, pode-se entender o conceito de
conscincia intercultural como o conhecimento, a compreenso, a aceitao
e o respeito aos valores e estilos de vida de diferentes culturas.
O desenvolvimento do plurilingsmo e da conscientizao
intercultural est associado idia de que os problemas de comunicao,
entre falantes de duas lnguas diferentes, so, freqentemente, ocasionados
pelos diferentes pressupostos culturais presentes nas situaes de
comunicao, mais do que pelo prprio cdigo lingstico. De acordo com
Strecht-Ribeiro, para (1998) que possam contribuir para o desenvolvimento
da conscientizao intercultural, as propostas de ELE devem possibilitar ao
aluno a construo:
- do sentido de si prprio, o que conduz identificao da
informao que lhe diz respeito, desde a raa, nacionalidade e
idade, at as convices religiosas e polticas e nossa hierarquia
dos valores;
- do sentido do outro, o que implica num conhecimento dos mesmos
fatores de identificao do interlocutor, o que vai limitar a
possibilidade de ocorrncia de problemas de comunicao;
- do sentido de relao entre si e o outro, que implica o
reconhecimento das estratgias discursivas a utilizar;
- do sentido da situao social e do local onde o dilogo ocorre;
- do sentido do propsito ou objetivo com que se comunica.
-
48
2.2 A abordagem do domnio sociocultural no mbito de documentos
normativos do ensino de lngua estrangeira
O estudo das recomendaes dos documentos normativos do ELE
sobre o domnio sociocultural fundamental para se compreender a
presena do discurso ideolgico no MRB. Contudo, para um melhor
entendimento desse estudo, torna-se necessria uma compreenso bsica
dos conceitos de domnio sociocultural, prtica social e ideologia e da sua
relao com a linguagem.
2.2.1 Domnio sociocultural, prtica social e ideologia
2.2.1.1 Papel social e domnio sociocultural
Os indivduos interagem num domnio sociocultural, assumindo nele
certos papis sociais. Os papis sociais apresentam-se como um conjunto
de obrigaes e de direitos, definidos por normas socioculturais. Para
Bortoni-Ricardo (2004), os papis sociais so construdos durante o
processo de interao humana. Assim, quando, por exemplo, um indivduo
usa a lngua na comunicao, est, simultaneamente, construindo e
reforando os papis sociais prprios desse domnio sociocultural. Nesta
perspectiva, a escolha de certas formas lingsticas no arbitrria, pois
sempre motivada no mbito de um grupo social, e em um determinado
domnio social.
Este pressuposto est de acordo com a proposta terica de
Fairclough (1989), que apresenta a linguagem como tendo origem e sendo
integrada no domnio sociocultural. Para o autor, a linguagem, mais do que
uma atividade individual, deve ser vista como resultado de uma interao no
domnio sociocultural, vinculada s suas condies de produo.
-
49
2.2.1.2 Prtica social
A prtica social se caracteriza pela multiplicidade e complexidade de
relaes, atravs das quais se criam e se trocam conhecimentos, tecendo
redes, que ligam os sujeitos em interao. Partindo dos pressupostos de
Wenger (1998), podemos afirmar que a prtica social est intrinsecamente
ligada a uma rede de relaes no mbito do domnio social, onde os
indivduos compartilham significados. O conceito de prtica social est,
desse modo, ligado ao fazer, no apenas individual, mas, sobretudo, ao
fazer vivenciado em um domnio social.
Nesse contexto, surge, como natural, a ligao entre a prtica social
e a linguagem, entendida, segundo Marcondes (1992), como no uma
simples representao da realidade, mas como uma forma de ao, atuao
sobre o real. Ainda de acordo com o autor, as prticas sociais so mediadas
pela linguagem, sendo atravs dela que os indivduos interagem no mundo
social.
2.2.1.3 Ideologia
A ideologia, como afirma Demo (1985), apresenta-se como um
sistema terico-prtico de justificao poltica das posies sociais.
Thompson (2001) aprofunda a reflexo sobre o conceito de ideologia,
quando a define como o emprego (a prtica) de formas simblicas para criar
e reproduzir relaes de dominao. Fairclough (2001) segue as bases
conceituais de Thompson (2001), afirmando que as ideologias so
construes ou significaes da realidade, que se fundamentam nas
prticas discursivas e que colaboram para a produo, a reproduo ou a
transformao das relaes de poder.
Desse modo, as prticas discursivas no so neutras. Surgem
atravessadas por instncias de poder e so norteadas por ideologias,
-
50
construdas atravs do discurso e das prticas sociais, que so mantidas
por diferentes grupos com diferentes propsitos. As ideologias caracterizam
as sociedades em que so estabelecidas, numa relao de poder e de
dominao, adquirindo particular eficcia quando conseguem atingir o
estatuto de senso comum.
Fairclough (1989), neste pormenor, introduz uma dinmica biunvoca,
afirmando que, mesmo subordinados ao efeito ideolgico, os indivduos tm
capacidade de agir criativamente, no sentido de executar suas prprias
conexes entre as diversas prticas sociais e ideolgicas a que so
expostos e as reestruturar.
2.2.2 A abordagem do domnio sociocultural no quadro europeu de referncia
A mobilidade crescente do ser humano, o esbater das fronteiras
geogrficas e a possibilidade real de comunicao global colocam a
educao diante do desafio de revalorizar o seu papel, no que se refere
promoo do plurilingsmo e da conscincia intercultural, o que significa
dizer, trabalhar o domnio sociocultural.
No que diz respeito ao ensino de lngua estrangeira, o Quadro
Europeu Comum de Referncia para as Lnguas- aprendizagem, ensino,
avaliao (QECRL)13, refere que o ELE deve-se assumir, crescentemente,
como um espao privilegiado de preparao dos alunos, para a participao
em sociedades, lingstica e culturalmente, diversas, visando o
desenvolvimento do domnio sociocultural pelo plurilingsmo, e da
13 O Quadro Europeu Comum de Referncia foi publicado pelo Conselho da Europa em
2001, e pretende ultrapassar as barreiras da comunicao entre profissionais que trabalham na rea das lnguas vivas, fornecendo uma base comum para a elaborao entre outros de programas de lnguas, linhas de orientao curriculares, exames e manuais na Europa. Descreve o que tem de ser aprendido para algum ser capaz de se comunicar numa lngua e quais os conhecimentos e capacidades que tem de desenvolver para ser eficaz na sua atuao. A descrio abrange igualmente o contexto cultural dessa mesma lngua. O QECR define, ainda, os nveis de proficincia que permitem avaliar os progressos em todas as etapas da aprendizagem e ao longo da vida.
-
51
conscincia intercultural. Isso configura um novo entendimento da
aprendizagem de lngua estrangeira no s como ferramenta de
comunicao, mas, sobretudo, como meio de promoo da liberdade e do
respeito, em face de novas perspectivas e modos de estar na vida e no
mundo.
Um dos caminhos a percorrer pela educao para atingir esse
objetivo ser o da incluso da diversidade lingstica nas prticas
curriculares. O QECRL procura dar subsdios para uma reflexo sobre o
desenvolvimento do plurilingsmo e da conscincia intercultural no mbito
do currculo. Tem como pressuposto a necessidade de o sujeito adquirir
uma clara conscincia- da relao (semelhanas e diferenas) entre a
sociedade e a cultura do seu pas, e a dos pases onde a lngua se fala,
considerando a diversidade regional e social; o modo como cada
comunidade vista na perspectiva da outra; a forma como se manifestam os
comportamentos, de acordo com os princpios definidos nas normas sociais
dos pases, de maneira a poder realizar rotinas do modo esperado e
intermediar a sua prpria cultura com a cultura estrangeira, resolvendo
eficazmente as situaes de mal-entendidos e de conflitos interculturais.
Para desenvolver o domnio sociocultural, com reflexos no
plurilingsmo e na conscincia intercultural, de acordo com o QECRL, o
currculo deve possibilitar a capacidade de ativar o repertrio lingstico de
que dispe o indivduo para que ele seja capaz de comunicar e
compreender mensagens, numa dada situao de comunicao, que se
caracteriza pela presena de mais do que uma lngua. A funo do
professor deixa de ser ensinar uma lngua em particular, com nfase no
desenvolvimento de competncias lingsticas, o mais aproximadas possvel
do falante nativo da lngua que se ensina, para possibilitar a construo e o
desenvolvimento do plurilingsmo e da conscincia intercultural,
respeitando, valorizando e incluindo outras lnguas na sua prtica curricular.
Contudo, esse processo no fica restrito sala de aula. Ele se
desenvolve de modo autnomo, para alm do espao escolar, pois, de
-
52
acordo com o QECRL, o percurso feito por quem fala ou deseja aprender
uma lngua estrangeira envolve uma seqncia de experincias educativas,
em outros contextos de formao, fora do controle de uma instituio14
escolar, e que esses percursos podero ser diferenciados, de acordo com
os sujeitos.
Aceitar a idia de que o currculo educativo no se limita escola e
que no termina com esta implica em aceitar, tambm, que o plurilingsmo
e a conscincia intercultural podem comear antes da escola e continuar a
desenvolver-se, paralelamente, fora dela.
O plurilingsmo e a conscincia intercultural esto, de acordo com
o QECRL, associados promoo do desenvolvimento do domnio
sociocultural, que deve ser realizado, de forma integrada, pelo
desenvolvimento de competncias gerais, associadas ao saber, saber-
fazer, saber-ser e saber-estar.
Para o QECRL, o uso de uma lngua estrangeira, abrangendo o seu
ensino, inclui as aes de pessoas que, como indivduos e como atores
sociais, desenvolvem um conjunto de competncias15 gerais e
comunicativas nessa lngua. As competncias gerais apresentam carter
transversal e no so, especificamente, associadas lngua. Incluem o
conhecimento declarativo (saber), que engloba o conhecimento do mundo, o
conhecimento sociocultural e a conscincia intercultural; as capacidades e a
competncia de realizao (saber fazer); a competncia existencial (ser) e a
competncia de aprendizagem (saber aprender).
14 O percurso feito por quem utiliza ou aprende a lngua atravs de uma seqncia de
experincias educativas, sob o controle ou no de uma instituio , nesta perspectiva, considerado como currculo e analisado sob esse prisma, ele no termina com a escolaridade, mas prossegue ao longo da vida num processo de aprendizagem.
15 Competncia- capacidade de realizar aes, ou seja, de mobilizar, aplicar e desenvolver conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes, no desempenho do trabalho e na soluo de problemas concretos, gerando resultados que atendam aos nveis de desempenhos previamente definidos.
-
53
O conhecimento declarativo (saber) resulta de uma aprendizagem
mais formal (conhecimento acadmico) e da experincia (conhecimento
emprico). O ensino de uma LE implica em considerar certo nmero de
competncias adquiridas ao longo da experincia anterior do aluno
(conhecimento do mundo em que ele est integrado e conhecimento
sociocultural em relao (s) comunidade(s) na(s) qual/quais a lngua que
aprende falada). Isto possibilita-lhe executar as tarefas e as atividades
necessrias para lidar com as situaes comunicativas em que est
envolvido, o que abrange uma tomada de conscincia intercultural
(aceitao das diferenas e semelhanas entre o seu mundo de origem e o
mundo da(s) comunidade(s)-alvo).
O conhecimento do mundo inclui o que pode ser entendido como
conhecimento prvio do indivduo, resultado da sua experincia de vida
anterior ou da sua formao em lngua materna. Os aspectos bsicos da
imagem que os adultos tm do mundo e dos seus mecanismos
desenvolvem-se, completamente, durante a primeira infncia, mas
enriquecem-se pela educao e pela experincia, durante a vida, numa
relao prxima com o vocabulrio e a gramtica da sua lngua materna. O
conhecimento do mundo engloba os lugares, as instituies, as
organizaes, as pessoas, os objetos, os eventos, os processos e as
operaes, em diferentes domnios, e as classes de entidades (por
exemplo- concreto versus abstrato, animado versus inanimado) e as suas
propriedades e relaes (envolvendo, por exemplo- interligao espao
versus tempo, associativo, analtico, lgico, as relaes de causa e efeito).
O conhecimento sociocultural, como conhecimento da sociedade e
da cultura da(s) comunidade(s) onde a lngua falada, um dos aspectos
do conhecimento do mundo e, por no ser parte da experincia prvia de
quem utiliza ou aprende a lngua, pode ser motivo para a ocorrncia de
esteretipos. O conhecimento sociocultural permitir ao aluno desenvolver o
conhecimento geral sobre a sociedade na qual se insere e compreender a
sua posio nela, bem como analisar as relaes existentes entre essa
sociedade e a comunidade mais vasta, partindo do contexto imediato para
uma viso abrangente da sociedade e do mundo.
-
54
A construo da conscincia intercultural envolve um conjunto de
conhecimentos, destrezas e atitudes individuais, especfico de grupos
sociais que influenciam as identidades dos falantes da lngua. O fundamento
da conscincia intercultural envolve a construo de competncias
associadas curiosidade e abertura de mente para o convvio com a
diversidade e relativizao de valores, crenas e comportamentos.
Ao estudar uma lngua estrangeira, se amplia e se enriquece a
concepo de mundo que se tem, possibilitando a abertura de dilogo para
novas culturas. O conhecimento, a conscincia e a compreenso das
semelhanas e diferenas entre o mundo de onde se vem e o mundo da
comunidade que fala a lngua estrangeira produzem uma tomada de
conscincia intercultural que, por sua vez, deve considerar a diversidade
regional e social dos dois mundos e, tambm, a variedade de culturas, alm
das que so veiculadas pela lngua do aluno.
Esta conscincia ampliada ajuda a colocar ambas as culturas em
contexto. Alm do conhecimento objetivo, a conscincia intercultural
engloba uma discusso sobre o modo como cada comunidade aparece na
perspectiva do outro, freqentemente, sob a forma de esteretipos.
As capacidades e a competncia de realizao (saber fazer)
permitem ao aluno relacionar a sua cultura com a dos povos da lngua a
aprender, bem como identificar e utilizar uma srie de estratgias, para se
comunicar com xito com os indivduos dessas culturas. Desse modo, atua
de acordo com os princpios considerados apropriados, para desempenhar,
eficazmente, as aes quotidianas.
A competncia existencial (ser) envolve os fatores relacionados com
a personalidade do aluno (atitudes, motivaes, valores, crenas, estilos
cognitivos) que afetam a sua capacidade de comunicao.
A competncia de aprendizagem (saber aprender) relaciona-se com
a capacidade do aluno observar e participar de novas experincias e de
-
55
integrar novos conhecimentos queles que j possui, descobrindo o outro,
quer ele seja outra lngua, outra cultura, outras pessoas ou novas reas do
conhecimento.
Dota o aluno da capacidade de lidar mais eficazmente, e de modo
mais independente, com os desafios que se lhe apresentam ao longo do
processo de aprendizagem. Engloba, ainda, o conhecimento e a
compreenso dos princpios da organizao e do uso da lngua estrangeira,
a capacidade de produzir os novos sons e de utilizar novos padres de
entoao, bem como o domnio de mtodos e tcnicas de estudo,
recorrendo, por exemplo, s novas tecnologias e linguagens da informao
e comunicao.
So integradas, nas competncias comunicativas em lngua, as
competncias lingsticas; a competncia sociolingstica e as
competncias pragmticas, no seio das quais se distinguem a competncia
discursiva e a competncia funcional. As competncias comunicativas em
lngua so aquelas que permitem a um indivduo agir, utilizando,
especificamente, meios lingsticos. A comunicao envolve, por parte dos
alunos, a combinao das capacidades gerais com a competncia
comunicativa, relacionadas mais especificamente com a lngua.
As competncias lingsticas esto relacionadas com a utilizao de
recursos formais da lngua, necessrios formulao de mensagens
corretas e portadoras de sentido. Nela se incluem o conhecimento e a
correta utilizao da competncia lexical; a competncia gramatical; a
competncia semntica; a competncia fonolgica; a competncia
ortogrfica; e a ortopica.
As competncias sociolingsticas esto associadas ao
conhecimento da sociedade e da cultura das comunidades em que a lngua
falada. Permite lidar com a dimenso social do uso da lngua. Envolve os
diferentes registros da lngua, convenes e/ou normas de cortesia,
expresses da sabedoria popular (provrbios, frases idiomticas, etc.),
dialeto e sotaque.
-
56
A competncia pragmtica aparece associada ao conhecimento do
usurio da lngua sobre os princpios que regem a organizao e a
estruturao de mensagens coerentes competncia discursiva, do
discurso oral e de textos escritos, para realizar atos especficos de
comunicao, quer em nvel de macro funes (descrever, narrar,
argumentar, etc.), quer de micro funes (perguntar, responder, etc.)
competncia funcional.
Esta competncia inclui, tambm, a capacidade de utilizar
corretamente os padres de interao social em contextos de comunicao
real, envolvendo seqncias estruturadas, utilizadas alternadamente pelos
interlocutores. As competncias pragmticas requerem do indivduo um
vasto conhecimento dos significados sociais e culturais no explcitos nas
realizaes lingsticas.
atravs da competncia pragmtica que os sujeitos atribuem
funes comunicativas aos textos que produzem, modelando-os segundo as
convenes que regulam a tipologia de gneros do discurso.
A preocupao com o desenvolvimento do domnio sociocultural, no
mbito do ELE, significa trabalhar o domnio mais ou menos profundo de
todas as competncias, e caracteriza, de acordo com o QECRL, um usurio
competente de uma lngua, incluindo o plurilingsmo e a conscincia
intercultural.
O desenvolvimento do domnio sociocultural, com reflexos no
plurilingsmo e na conscincia intercultural, envolve a abordagem, a ttulo
de exemplo, de temas como:
1. A vida quotidiana, envolvendo- comidas e bebidas, refeies, maneiras mesa; feriados; horrios e hbitos de trabalho; atividades dos tempos livres (passatempos, desportos, hbitos
de leitura, meios de comunicao social). lazer e passatempos (fotografia, jardinagem, etc.).
-
57
2. As condies de vida, considerando- nvel de vida (variantes regionais, sociais e tnicas); condies de alojamento; cobertura da segurana social; esportes (desportos de equipe, at