o desenvolvimento do ensino de química no pará

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  • Universidade do Estado do Par

    Centro de Ciencias Sociais e da Educao

    Curso de Lincenciatura Plena em Ciencias Naturais com

    Habilitao em Qumica

    Carlyle de Almeida Souza

    Leon Carlos Santana Lopes

    O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no

    Par

    O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias

    Naturais com Habilitao em Qumica

    Belm

    2013

  • Centro de Cincias Sociais e da Educao

    Rua Djalma Dutra, S/N Telegrafo

    66113-200, Belm - PA

    www.uepa.br

  • Carlyle de Almeida Souza

    Leon Carlos Santana Lopes

    O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no Par

    O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com

    Habilitao em Qumica

    Trabalho de Concluso de Curso

    apresentada como requisito parcial para

    obteno de grau no curso de

    Licenciatura Plena em Cincias Naturais

    com Habilitao em Qumica,

    Universidade do Estado do Par.

    Orientador: Prof Dr. Jos de Ribamar de

    Castro Carvalho.

    Belm

    2013

  • Carlyle de Almeida Souza

    Leon Carlos Santana Lopes

    O Desenvolvimento do Ensino de Qumica no Par

    O Caso do Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com

    Habilitao em Qumica

    Tese de Concluso de Curso

    apresentada como requisito parcial para

    obteno de grau no curso de

    Licenciatura Plena em Cincias Naturais

    com Habilitao em Qumica,

    Universidade do Estado do Par.

    Orientador: Prof Dr. Jos de Ribamar de

    Castro Carvalho.

    Data de Avaliao: ____/_____/_______

    Banca Examinadora

    ____________________________________- Orientador

    Prof Jos de Ribamar de Castro Carvalho

    Dr. em Qumica Universidade Federal do Par

    ____________________________________________

    ____________________________________________

  • Para Clia, Camilla e Patrcia.

    Por seu apoio incondicional.

    Para nossos mestres, todos eles.

  • Agradecimentos

    Agradeo primeiramente, a Deus.

    Agradeo ao meu parceiro de TCC Leon Lopes, que me oportunizou

    esse momento com apoio e estimulo.

    Agradeo ao nosso Preto Velho, que acima de tudo se mostrou um

    mestre, e com sua confiana e determinante incentivo nos levou a concluir

    esse tardio mas necessrio trabalho, portanto agradeo ao nosso mestre com

    carinho, Professor Doutor Jos de Ribamar de Castro Carvalho, muito

    obrigado.

    Agradeo a Mestra Patrcia Homobono, por sua ajuda decisiva no

    final deste trabalho. E por todo caminho decorrido companhia de sua amizade

    to valiosa para meu desenvolvimento pessoal.

    Agradeo ao Professor Doutor Ruy Guilherme Castro de Almeida,

    por sua ajuda a encontrar referencias para este trabalho.

    Agradeo as professoras Maria de Fatima e Conceio Lobato por

    sua ajuda quer seja no incio do trabalho ou em seu fim. E agradeo ao

    Professor Mestre Jorge Ricardo Coutinho Machado, gigante que nos cedeu

    seus ombros e assim pudssemos ver mais longe.

    Agradeo a minha me, dona Clia Maria, que sempre me mostrou a

    importncia de ser honesto e dedicado com meus estudos. Agradeo a minha

    companheira, meu amor Camilla Amaral, por sua imensa pacincia, por seu

    incentivo e companhia nos momentos mais difceis, por sua insistncia em mim

    quando eu mesmo quis desistir.

    Agradeo a minha famlia bero de pessoas honestas e

    trabalhadoras, as quais sempre me mostraram a importncia de ter dignidade

    frente s adversidades da vida. Agradeo aos meus amigos e colegas de curso

    sempre dispostos a ajudar.

  • Agradecimentos

    Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por toda a sade e

    fora que tive para chegar aqui.

    Ao meu parceiro de TCC Carlyle Souza, sempre a postos nas

    correes e na escrita, ao nosso Preto Velho, que nos momentos em que

    travamos ele estava l com um pouco de mestre dos magos, sempre disposto

    a uma palavra sbia e a um incentivo, Prof. Dr. Ribamar Castro sem a sua

    confiana com toda certeza no estaramos nem perto de alcanar esse

    objetivo.

    Agradecer tambm aos meus amigos irmo Eliphas Vieira, Igor Dias

    e Yuri Bitar, que com sua perturbao para que eu terminasse logo com esse

    trabalho, vocs acreditavam muito mais em mim do eu mesmo, vou ser grato

    eternamente a vocs por isso.

    A minha me Cleide que mesmo no estando presente no incio da

    minha caminhada acadmica mais agora no final ajudou-me bastante, ao meu

    Pai Jos Carlos (kasparov) que mesmo ao ler esse agradecimento, escutarei a

    voz dele dizendo no me conta... No me conta, desculpa pelas inmeras

    vezes que o Estou terminando foi dito ao senhor sem que fosse verdade, o

    que posso dizer que agora !

    Ao meu amor, companheira e melhor amiga Paty Sousa que estava

    ao meu lado e inmeras vezes passou horas ouvindo falar sobre a histria da

    cincias e sempre me retribua com um sorriso no rosto, sei que nem sempre

    foi o melhor assunto, aos seus pais Domingos e Marinalva e sua irm Ana

    Paula, que sempre me incentivaram e me cobravam esse termino.

    Meus irmos de sangue, Luane, Gabriela, Lucas, Joo Paulo, Ana

    Paula, Ana Beatriz, Isadora e o Feijozinho (ainda vai chegar), espero que

    essa batalha que travei e a conquista que estou tendo sirva de exemplo e de

    fora para vocs nunca desistirem de seus objetivos.

    Aos meus Pais e Mes que tive a felicidade de ter durante a minha

    vida Adalberto, Claudia, Tia Vera, Simeia, Tia Patrcia, Andr e Cleimer, esses

    sim nunca deixaram de acreditar na minha vitria e sem o exemplo da fora de

    vontade deles, provavelmente no teria chegado ao incio dessa nova fase.

    Em especial a dona Inercila do Carmo, minha V Ila que no est

    aqui para ver essa conquista, mas do meu corao e de meus sonhos ela com

    certeza estar sempre presente me abraando e fazendo aquele cafune na

    cabea que s ela sabe. Te amo V!

  • Condenado pelos deuses, Ssifo tem a sina de levar uma grande pedra morro acima, para v-la rolar ladeira abaixo, e recomear tudo

    novamente. um trabalho insano, inglrio, interminvel. Mas ele persiste.

    A maldio de Ssifo descreve, em boa parte, a prpria histria da comunidade cientifica brasileira, em que so poucos os sucessos e, em geral,

    efmeros. Os homens responsveis por esta comunidade mostraram ser um grupo extremamente ldico, critico, conhecedor de suas prprias limitaes,

    mas apesar de tudo, otimista. Este otimismo ajuda, talvez a entender a persistncia de Ssifo.

    Fazer a histria , em certo sentindo, refazer o caminho, reviver as experincias que deram certo, sentir novamente o clima do trabalho criador,

    recolocando novamente a pedra sobre os ombros e sentir que existe fora para carrega-la.

    SCHAWRTZMAN

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...

    Resumo

    Este trabalho trata do desenvolvimento do ensino de qumica no Par,

    especificamente da mudana ocorrida no perfil do professor aps a criao dos

    cursos de licenciatura plena em qumica nas universidades federais nas

    dcadas de 70 e 80, e posteriormente na Universidade do Estado do Par -

    UEPA. De suma importncia para constatar a mudana do perfil do professor

    formado em reas tcnicas para licenciados, tendo como objetivo de fazer um

    levantamento da ocorrncia dessas mudanas, especificamente no Curso de

    Licenciatura em Cincias Naturais com Habilitao em Qumica da UEPA.

    Prosseguindo atravs de pesquisa bibliogrfica, acerca da graduao dos

    professores docentes da UEPA, junto a plataforma Lattes de currculos. O

    trabalho traz a luz, a discusso acerca da necessidade destas mudanas de

    perfil para o desenvolvimento do ensino de qumica e a otimizao da formao

    do professor e constata a permanncia dos profissionais formados em reas

    tcnica ainda como professores do curso de Licenciatura.

    Palavravas-chave: Ensino de qumica no Par. Perfil do professor de Qumica.

    Formao de Professores. Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais

    com Habilitao em Qumica.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...

    Abstract

    This work is about the development of chemistry teaching on Par-State,

    specifically the change that occurred at the teacher profile after the creation of

    teaching degree courses in chemistry at the federal universities in the 70s and

    80s, and later at the University of Par-State - UEPA. Extremely important for

    note the change in the teacher profile trained in technical areas for graduates,

    specifically in the Degree in Natural Sciences with enabling in Chemistry of

    UEPA. Pursuing through of bibliographic research, about the graduate UEPA

    teachers, along the Lattes curriculum platform. The work brings to top,

    discussion about the need for these changes in profile to the development of

    the teaching of chemistry and optimization of teacher training and confirms the

    permanence of professionals trained in technical areas even as professors of

    Degree.

    Keywords: Chemistry teaching on Par-State. Chemistry teacher profile.

    Teacher Education. Degree in Natural Sciences with enabling in Chemistry.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...

    Sumrio

    1. INTRODUO 10

    1.1. OBJETIVO GERAL 12

    1.2. OBJETIVOS ESPECFICOS 12

    2. AS CINCIAS NO BRASIL, UM BREVE HISTRICO 13

    2.1. HISTRIA PORTUGUESA, INCIO DAS CINCIAS 13

    2.2. CRIAO DO CURSO DE CINCIAS NATURAIS NA UNIVERSIDADE DE

    COIMBRA 14

    2.3. BRASIL COLNIA 16

    2.4. BRASIL NOVA SEDE DO GOVERNO PORTUGUS. 18

    2.5 INDEPENDNCIAS DO BRASIL 22

    2.6. ABOLIO DA ESCRAVATURA E SUAS IMPLICAES NA CINCIA. 23

    2.7. BRASIL REPUBLICA 24

    3. A CHEGADA DO EM ENSINO DE QUMICA AO PAR 28

    3.1. DESCENTRALIZAO DO ENSINO SUPERIOR 28

    3.2. IMPLEMENTAO DA QUMICA NO PAR 29

    3.3. A ESCOLA DE CHIMICA INDUSTRIAL DO PAR. 30

    3.4. INCORPORAO DA ESCOLA DE QUMICA PELA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO PAR 34

    4. A FORMAO DOS PROFESSORES DE QUMICA 38

    4.1. FORMAO DE PROFESSORES DE QUMICA EM BELM. 38

    4.2. CRIAO DO CURSO DE LICENCIATURA EM CINCIAS NATURAIS NA

    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PAR. 42

    4.3. A PROBLEMTICA DO PERFIL DO PROFESSOR FORMADOR. 44

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par...

    5. METODOLOGIA 46

    6. RESULTADOS 47

    7. CONCLUSO 49

    REFERNCIAS 52

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 10

    1. Introduo

    O desenvolvimento da qumica do Par, tema ainda pouco abordado

    em trabalhos de pesquisa, abrange importante parte dos fatos histricos que

    corroboram a maneira como o estado acolheu a qumica, cincia fundamental

    para o desenvolvimento nacional, capaz de alavancar a industrializao e

    tradicionalmente reconhecida como fator de progresso.

    Evidenciando em um breve histrico do que ocorreu junto ao Brasil,

    desde a chegada da Coroa Portuguesa, marco para o desenvolvimento da

    educao e da cincia no Brasil. Diversos momentos histricos de elevada

    importncia ocorreram em relao a educao superior, como a criao dos

    cursos de licenciatura plena em qumica no estado Par. Os motivos de seu

    surgimento e sua relao com a mudana de perfil projetada para o professor

    de qumica, objetivando uma formao de cunho pedaggico em detrimento da

    formao tecnicista, to tradicional no Brasil.

    Analisando o contexto no qual o Brasil desenvolveu-se

    cientificamente, podemos observar que houve sempre maior inclinao para

    reas tcnicas, devido a inmeros fatores dos quais podemos destacar: as

    necessidades advindas da chegada da Coroa ao Brasil, e do desenvolvimento

    e expanso tardios da educao e de Universidades.

    A criao de cursos de Licenciatura junto a estas, visa uma ruptura

    com a tradicional formao de tcnicos, e o aperfeioamento pedaggico dos

    professores, mas este fato realmente mudou o perfil do professor universitrio?

    A implementao de tais cursos, trouxe de fato mudana para o currculo

    destes profissionais, so os formados atravs destes cursos que ministram

    aulas junto a Universidade do Estado do Par UEPA, tais questionamentos

    nortearam este trabalho.

    Para tanto procuramos definir a formao dos professores da UEPA,

    especificamente do curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais com

    Habilitao em Qumica. Tendo a finalidade de determinar se a criao dos

    cursos de Licenciatura em Qumica nas Universidades Federais, entre as

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 11

    dcadas de setenta e oitenta, realmente est a cumprir com seu objetivo

    suprindo a demanda universitria.

    De suma importncia para melhoria da educao, a formao de

    licenciados, aperfeioa aqueles que estaro em sala de aula. Obter

    informaes e analisar o quadro docente da UEPA, serve de indicador para a

    mudana do perfil do professor universitrio, antes formado em reas mais

    tcnicas, ora formado junto a pedagogia, didtica e psicologia da educao.

    Tambm servindo como feedback, das polticas educacionais implementadas

    no Brasil.

    Portanto, a fim de constatar tais indicadores, utilizamos de pesquisa

    bibliogrfica junto ao departamento de cincias naturais da UEPA, levantando o

    quadro de professores do curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais

    com habilitao em Qumica, e utilizando da Plataforma Lattes para conhecer

    suas graduaes. A partir deste momento pode ser feito uma anlise

    documental de tais informaes, analise quanti-qualitativa.

    Este trabalho se divide em trs captulos, o primeiro tratando do

    desenvolvimento das cincias com a chegada da Coroa Portuguesa ao Brasil

    em 1808, o segundo abordando a descentralizao do ensino superior no

    Brasil e a chegada e implementao de cursos de qumica no Par, o terceiro

    responsvel por elucidar o desenvolvimento do ensino de Qumica no Par.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 12

    1.1. Objetivo Geral.

    Avaliar a formao dos professores que atuam no curso de

    licenciatura plena em cincias naturais com habilitao em qumica da

    universidade do estado Par.

    1.1.1. Objetivos Especficos.

    Analisar a mudana do perfil do professor, antes oriundo de reas

    tcnicas, para um perfil de professor atuante na formao de professores.

    Identificar a diferena do perfil dos professores que atuam na capital

    e nos campis do interior, quanto a sua rea de formao.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 13

    2. As Cincias no Brasil, um breve histrico.

    2.1. Histria Portuguesa, incio das cincias.

    Portugal sempre foi um celeiro de escritores e poetas e por essa

    razo sempre teve sua cultura voltada para a filosofia, escrita e estudo da

    navegao, por esse motivo o desenvolvimento de tal Pas com as cincias

    naturais era visto como uma verdadeira perda de tempo. Enquanto outros

    pases colonizadores estudavam e aprendiam mais sobre as cincias, falando

    em termos tecnolgicos Portugal foi um dos ltimos pases a investir nesse

    campo de estudo.

    Vrios autores de livros histricos que debatem sobre a evoluo do

    ensino no Brasil principalmente na rea das cincias naturais comentam que a

    partir da vinda da Coroa portuguesa (em 1808), inicia-se o processo de

    desenvolvimento educacional brasileiro. Vendo de outra forma esse marco

    histrico de nossa nao podemos obter outra discusso muito proveitosa

    sobre tal acontecimento.

    No discutvel o fato de que o avano da educao brasileira ter se

    iniciado neste perodo, j que antes o estudo na colnia de Portugal era feita

    por jesutas que ensinavam a leitura e a escrita. Outros contedos de certa

    forma eram pouco acessveis e basicamente se destinavam as famlias ligadas

    ao cultivo e comercio na colnia, tendo em vista que esta ainda permanecia em

    um sistema agrrio exportador dependente.

    O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada, com o objetivo de atender diversidade de interesses e de capacidades. Comeando pelo aprendizado do portugus, inclua o ensino da doutrina crist, a escola de ler e escrever. Da em diante, continua, em carter opcional, o ensino de canto orfenico e de msica instrumental, e uma bifurcao tendo um dos lados o aprendizado profissional e agrcola e, de outro, aula de gramatica e viagem Europa. (RIBEIRO, 1992, p.23).

    Este sistema agrrio baseado em latifndios vinculado ao

    escravismo apresenta grandes inverses exigidas pela produo afim de

    encontrar rentabilidade afetiva organizando-se em grandes empresas,

    ocorrendo assim atraso tecnolgico e a monopolizao colonial de carter

    predatrio.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 14

    Num contexto social com tais caractersticas, a instruo, a educao escolarizada s podia ser conveniente e interessar a esta camada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes) que segundo o modela de colonizao adotada, deveria servir de articulao entre os interesses metropolitanos e as atividades coloniais. (RIBEIRO, 1992, p.22)

    Para atender a demanda de escolarizao dos membros oriundos

    das famlias vinculadas ao cultivo do acar, inseridas na pequena nobreza, foi

    fundada na Bahia em 1553 as primeiras classes de latim sob domnio da

    Ordem Jesuta, alm destas outras escolas seriam criadas, Colgio Jesuta de

    Piratininga (1554), Colgio Jesuta de Pernambuco (1570), Colgio Jesuta do

    Rio de Janeiro e Colgio Jesuta do Maranho (1662).

    As condies da colnia eram adversas ao desenvolvimento cientifico: Imprensa proibida, sistema escolar deficiente, ausncia de Universidades, nenhum intercambio com os centros mais avanados, pouco brasileiros tinha condies de completar seus estudos na Europa; os pedidos de reconhecimento para os cursos ministrados aqui pelos padres frequentemente no eram atendidos pelo governo portugus. (MOREL,1979, v. 4, p.26)

    O Marqus de Pombal empreendeu em 1768 a reforma da

    Universidade de Coimbra, acrescentando o estudo da Historia Natural e das

    Matemticas, criando um observatrio, laboratrios, e museus, relacionando-a

    s cincias exatas mais especificamente no caso da Qumica, levando ento

    em conta que a escola portuguesa tinha muita influncia de vrios filsofos tal

    como Aristteles e Ptolomeu. Atravs deste contexto, percebemos o motivo de

    tanto atraso no desenvolvimento de nossa metrpole, s a partir de 1772 quase

    no final do Sculo XVIII, a qumica comeou a ser includa como disciplina no

    ensino superior de Portugal. Por no haver nenhum professor portugus que

    tivesse tal conhecimento, para iniciar e manter um curso de cincias naturais,

    ento foi convidado Domingos Vandelli (1730-1816), professor Italiano j

    conhecido da Universidade.

    2.2. Criao do curso de Cincias Naturais na universidade de

    Coimbra.

    Durante o reinado de D. Jos I, a Universidade sofreu uma profunda

    alterao. Em 28 de Junho de 1772 o rei ratificou os Estatutos Pombalinos, que

    marcam o incio da Reforma, acrescendo o estudo de Histria Natural e das

    matemticas, criando um observatrio, laboratrios, e museus. Demonstrando

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 15

    um grande interesse pelas cincias da natureza e pelas cincias do rigor, que

    to afastadas se encontravam do ensino universitrio. Tal afastamento,

    [...] deve-se ao fato de que os jesutas foram chamados para a Universidade de Coimbra [durante o reinado de D. Joo III], em Portugal, [assim] o ensino se afastaria totalmente do movimento cientifico que comeava a invadir a Europa[..]. (MOREL 1979, v.4, p.26),

    Esta situao se manteve at a ratificao dos estatutos j citados,

    ou seja, tal situao s mudaria atravs das reformas pombalinas.

    Vandelli foi o fundador do curso de cincias naturais da Faculdade

    de Filosofia da Universidade de Coimbra, a partir deste momento os estudos,

    pesquisas e avanos relacionados a essa disciplina, comearam a ser

    estudados e praticadas em Portugal.

    Quando iniciada a colonizao do Brasil, durante o reinado de D.

    Joo III, os jesutas foram chamados para a universidade de Coimbra, em

    Portugal, e o ensino se afastaria totalmente do movimento cientifico que

    comeara a invadir o resto da Europa. Durante dois sculos, os Jesutas

    mantem o seu domnio sobre a cultura portuguesa, o que vai se refletir no

    Brasil atravs de uma de suas diretrizes bsicas, a de converso dos indgenas

    por catequese ou instruo.

    Dele dependeria (...) o exito da arrojada empresa colonizadora; pois que, somente pela aculturao sistematica e intensiva do elemento indigena aos valores espirituais e morais da civilizao ocidental e crist que a colonizao portuqguesa poderia lanar raizes definitivas (...) (MATTOS. 1958, p51).

    Na Colnia as primeiras escolas foram fundadas por jesutas, j em

    1553 fundaram na Bahia as primeiras classes de latim, frequentadas por filhos

    de famlias ligadas ao cultivo do acar. Perceba a disparidade de datas, entre

    a reforma educacional da Universidade de Coimbra e o comeo dos estudos no

    nosso pas, mais de meio sculo aps o descobrimento do Brasil, sendo as

    aulas apenas para a elite agropecuria do pas, simplesmente aulas de latim.

    At o sculo XIX toda e qualquer atividade cientifica na colnia

    resumia-se as misses europeias, mineralogia e botnicos que observavam,

    coletaram e classificaram nossas riquezas naturais, exercendo fascnio pelo

    novo. O Primeiro tipo de atividade cientifica deu-se a partir da ocupao de

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 16

    parte do nordeste pelos holandeses, o Prncipe Mauricio de Nassau mandou vir

    a Pernambuco uma misso de homens de cincia entre eles estavam o

    naturalista George Marcgraff e o fsico Wilhelm Piso, entre 1630 e 1654. Neste

    perodo tambm nasce primeiro observatrio, que foi estabelecido no Novo

    Mundo para realizar estudos e observaes sobre a fauna e flora do nosso

    extico pas.

    O trabalho deles resultou na publicao, em 1648, da grande

    Histria naturalis brasiliae, no entanto aps esse perodo com a partida do

    prncipe das terras brasileiras no demorou muito para que Portugal

    expulsasse os holandeses de sua colnia, estagnando todo o investimento e

    avanos cientficos realizados no Brasil.

    Como colnia houve um grande e demorado perodo at as cincias

    serem estudadas em terras brasileiras, tendo em vista que muitos brasileiros

    descendentes de portugueses radicados no Brasil, enviavam seus filhos

    brasileiros a Portugal estudar as nobres artes e alguns casos especiais o

    estudo das cincias naturais. Acerca do tema vale destacar precioso

    comentrio feito por Farias, Neves e Silva:

    Como nico pais das Amricas a ser colonizado por portugueses, o Brasil terminou por ser vtima da poltica daquela metrpole com relao as suas colnias, nas quais se impedia a criao de centros de ensino, sobretudo em nvel superior, por se temer que tal iniciativa poderia contribuir, a mdio e longo prazos, para a formao de uma elite esclarecida a qual lutaria pela independncia. Assim, diferentemente dos pases de colonizao espanhola onde Universidades eram criadas, o Brasil viu-se, por mais de trs sculos aps o descobrimento privado da existncia de centros de ensino superior. (FARIAS; NEVES; SILVA, 2010).

    2.3. Brasil Colnia

    Aps 1768, posteriormente a reforma da Universidade de Coimbra

    todas as mudanas existentes iriam refletir diretamente no Brasil atravs de

    brasileiros que l completaram seus estudos e que iriam ocupar cargos na

    estrutura administrativa da Metrpole. A escassez de matricula (de que j se

    queixava o Marqus de Pombal, em 1773) nas sees de cincias naturais e

    filosficas, e nos cursos que mais tarde se criaram na Faculdade de Filosofia

    (Botnica e Agricultura, Zoologia e Mineralogia, Fsica, Qumica e Metalurgia),

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 17

    alm das prprias necessidades tcnicas do Reino e da Colnia, levaram o

    governo portugus a atrair para a universidade os estudantes brasileiros.

    Do ponto de vista Educacional, a orientao adotada foi de formar o perfeito nobre, agora negociante; simplificar e abreviar os estudos fazendo com que um maior nmero se interessasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento da lngua portuguesa; diversificar o contedo, incluindo o de natureza cientifica; torna-los os mais prticos possveis. (RIBEIRO, 1992, p.34).

    Em 1800, sobre o modelo de formao proposto pela cultura da

    poca, viu-se necessrio a formao especializada de jovens brasileiros indo

    para a Metrpole estudar e que voltassem em seguida a sua formao para

    que utilizassem seus aprendizados aqui no Brasil.

    [...]mandou o rei ao governador do Maranho que designasse quatro estudantes para receberem instruo no Reino, fazendo seus cursos em Coimbra, dois, o de matemtica, para depois serem empregados como hidrulicos, agrimensores e contadores, um, o de medicina e o outro o de cirurgia. Se alm dos quatro, mais algum o merecesse pela sua capacidade, podiam as cmaras manda-lo, lanando para esse fim uma finta especial. (AZEVEDO, A cultura brasileira, p.548.).

    Aps esse perodo de incio da sada de brasileiros para Portugal

    para simplesmente ajudarem ao preenchimento de vagas sobrando na

    Universidade, vrias tentativas de instituir o ensino superior no Brasil foram

    sumariamente barradas pelo Reino. Diferente, por exemplo, da Espanha que

    em suas colnias criou desde cedo universidades. Estas propostas de criao

    de ensino superior foram sistematicamente anuladas pelo Estado portugus.

    Uma das tentativas mais marcantes para o desenvolvimento de

    nossa nao foi a da Inconfidncia Mineira, em 1789, liderada por Tiradentes,

    uma das propostas era a de criao de uma Universidade no Brasil, tentativa

    frustrada como vrias outras que vieram anteriormente, dessa maneira

    cincia brasileira estava acondicionada a situao colonial.

    Enquanto isso, alguns brasileiros iam para Portugal estudar qumica

    comeando assim a histria de brasileiros envolvidos em projetos e estudos

    relacionado a esta cincia, sendo boa parte deles aprendizes de Domingos

    Vandelli, dentre eles estavam o conhecido Jos Bonifcio de Andrada e Silva

    (1763-1838), o baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) e o mineiro

    Vicente Coelho de Seabra Silva Teles (1764-1824).

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 18

    Aps de ser tornar doutor, Alexandre Rodrigues auxiliou e fez

    diversas pesquisas junto a Domingos Vandelli, tendo trabalhado no laboratrio

    do Museu de Ajuda de Lisboa. Em 1783 fora enviado ao Brasil para uma

    expedio naturalista que cobriu boa parte do territrio nacional.

    J Vicente Coelho, foi o primeiro brasileiro a escrever um livro de

    qumica chamado: Elementos da Chimica, considerada uma enorme

    contribuio. Sempre levando em considerao o fato de tanto Alexandre

    Rodrigues quanto Vicente Coelho realizaram seus estudos sempre vinculados

    a universidade de Coimbra. Enquanto que no Brasil o estudo e a pratica

    qumica eram muito rusticas e por quase no existiam, a no ser pelos ndios e

    na explorao das riquezas.

    Em contramo a tudo que acontecia surge:

    Joo Manso Pereira o primeiro qumico genuinamente brasileiro. Em total concordncia com o que se poderia esperar num pais onde o ensino superior era interditado, aquele que sem dvida um dos precursores da qumica no Brasil, ou seja, um qumico que no apenas era brasileiro, mas que aqui adquiriu seus conhecimentos e, sobretudo, executou sua obra, Joo Manso Pereira. (FARIAS; NEVES; SILVA,

    2010).

    Joo Manso foi autor de cinco obras sobre a qumica, numa vertente

    mais utilitria, o que seria considerado comum na poca. Mesmo diante de

    tudo isso, o brasileiro no teve seus conhecimentos aproveitados pelo ento

    criado Laboratrio Qumico-Pratico que fora fundado em 1812.

    2.4. Brasil nova sede do Governo Portugus.

    A coroa portuguesa veio ao Brasil por medo da invaso de Napoleo

    Bonaparte, que na Frana institura uma revoluo cientifica e de carter

    humanitrio que pregava como principal ideal a liberdade e igualdade entre os

    homens. Este pensamento no foi bem aceito pelo Rei de Portugal j que na

    sua colnia era basicamente formada por agricultores e escravos que lhe

    rendiam impostos. Sendo o Brasil naquela poca um dos maiores produtores

    de acar e caf, exportando grande quantidade desses produtos para

    Portugal e outras naes amigas, dessa maneira os ideais da revoluo no

    eram interessantes para a metrpole. Ento Portugal se volta contra a Frana e

    com o apoio da Inglaterra vem para o Brasil.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 19

    A instalao da corte portuguesa no Brasil, em 1808, um ponto

    essencial do desenvolvimento cientifico, at ento limitada a alguns indivduos

    que tiveram a oportunidade de investimento suficiente para ter a sua formao

    feita em Portugal. O governo portugus por sua vez, se viu em uma situao

    em que sua colnia no oferecia as menores condies para a instalao da

    corte e seu desenvolvimento, tanto na educao, quanto em servios

    essncias. A exemplo desta falta de condies, na tentativa de aclimatar aqui

    plantas estrangeiras para seu uso no Brasil e pela sua beleza, foi criado o

    Jardim Real, mais tarde chamado de real Jardim Botnico, considerado

    primeira instituio de histria natural brasileira.

    A primeira medida, tomada em 22 de janeiro de 1808, foi abertura

    dos portos brasileiros s naes amigas, o que de certa forma facilitaria o

    desenvolvimento das relaes intelectuais entre o Brasil e os pases europeus.

    Posteriormente os prximos decretos foram para estabelecer novos parmetros

    para a moradia da corte portuguesa, como servios de sade, higiene e

    educao e principalmente investimentos na rea da engenharia militar.

    Como fora citado anteriormente, Portugal no tinha nenhum

    interesse em se desenvolver cientificamente, tanto prova que se no fosse

    participao do Marques de Pombal, a universidade de Coimbra no teria

    iniciado o curso de cincias naturais. Em 1808 quando a coroa portuguesa veio

    fugida para o Brasil nossa principal fonte de renda era a agricultura e

    explorao da terra, assim criando vrios senhores de engenho e coronis de

    caf, desta forma para a Coroa, estimular a educao, nessa poca, era

    totalmente desnecessrio. Sendo cmodo para os governantes que os filhos de

    tais fazendeiros sassem de seu pas para estudar nas escolas portuguesas, e

    quando retornavam o ciclo de dominao agrcola continuavam.

    A partir da instalao da Coroa, o governo se viu obrigado a iniciar a

    criao de cursos superiores, alguns dos primeiros foram os cursos mdicos e

    cirrgicos nos hospitais militares da Bahia e do Rio de Janeiro, graas ao

    mdico pessoal do Prncipe Regente, Dr. Jos Correia Picano, um professor

    brasileiro da Universidade de Coimbra, insistente na criao de tais cursos.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 20

    As primeiras instituies de ensino superior fundadas pelos portugueses no Brasil Colnia, estavam diretamente articuladas s atividades militares, decorrentes da ocupao portuguesa e sua defesa. Elas se destinavam formao de pessoal que os auxiliasse na construo de embarcaes de diferentes portes, usando material local; portos, destinados atracao de embarcaes que carregavam e descarregavam as mercadorias de troca; fortificaes, que protegessem os militares aqui aquartelados na manuteno da colnia; estradas, que permitissem os deslocamentos para o interior das terras descobertas; minas, na explorao das riquezas do subsolo; engenhos para produo de acar de cana e farinha de mandioca. Assim que, em 1808 criada a Academia Real da Marinha, no Rio de Janeiro, e, em 1810, a Academia Real Militar, para formao de oficiais e de engenheiros civis e militares. (COELHO & VASCONCELLOS. 2009, p.2).

    Para Stepan:

    Uma segunda rea em que a necessidade de pessoas formadas foi sentida era a engenharia militar. A Academia Real Militar, fundada no Rio de Janeiro em 1810, foi fundada para formar oficiais-cadetes nas artes cincias da guerra, e prepara-los para o levantamento e explorao do que era ainda uma terra virtualmente desconhecida. A fundao desta instituio sugeriu-se, representou um esforo deliberado do Prncipe Regente para alterar a mentalidade literria tradicional do Pas. Os livros de textos europeus mais modernos de matemtica e fsica foram importados para uso na instruo obras de Euler, Bezout, Monge, Legendre, Lacorix e Hay. (STEPAN.

    1967. p.37)

    Esta seria a primeira instituio de ensino brasileira que de fato

    estava estudando as cincias, mesmo no sendo muito aplicada, seus cadetes

    tinham instruo para o manuseio de certos materiais, assim a Academia seria

    a primeira a estudar qumica, tendo em vista que a qumica fazia parte do

    currculo a ser seguido na formao dos futuros militares. Mesmo que tais

    estudos nesta rea eram voltados meramente a instruo e formao, sem

    nenhum tipo de incentivo a pesquisas e aprofundamento de outros pensadores

    qumicos ou afim.

    Via-se desta forma que a educao brasileira, neste momento,

    seguia duas tendncias educacionais de fcil percepo, e que as mesmas

    estavam diretamente ligadas as necessidades imediatas do Brasil, estas

    tendncias em um determinado ponto, acarretaram nus para o pleno

    desenvolvimento da educao. Sendo estas tendncias: a organizao isolada

    (no universitria) e a preocupao basicamente profissionalizante.

    Depois dos investimentos em itens de primeira necessidade, vrios

    pesquisadores queriam vir ao Brasil para explorar a fauna e flora de nosso

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 21

    pas, que tanto encantava os cientistas. Com a abertura dos portos brasileiros

    as naes amigas em 1808, vrias expedies foram patrocinadas, algumas

    particularmente e outras por governos estrangeiros.

    Com o casamento da Arquiduquesa Leopoldina (1817), filha do

    imperador Austraco, com o Prncipe Regente D. Pedro, certo nmero de

    cientistas vieram ao Brasil junto a corte da noiva para examinar a vegetao e

    os animais brasileiros. Dentre eles os de maior renome foram os dois bvaros

    Karl Friedrich Philipp Von Martius e Johann Baptist Von Spix, cuja macia Flora

    Brasiliensis em muitos volumes (cujo primeiro foi publicado em 1829) levou

    finalmente 36 anos para ser completada, e permaneceu como livro de texto

    padro da botnica brasileira at o incio do Sculo XX.

    Ainda neste contexto histrico a economia brasileira se mantinha

    fechada sem que fosse necessrio desenvolvimento, coisa que no acontecia

    em outros pases europeus. J que na maioria deles o capitalismo j era um

    mercado corrente em que fazendo o dinheiro circular por todas as esferas da

    sociedade. Portanto Portugal no tinha tanto dinheiro para se defender e o

    nico apoio recebido foi da Inglaterra, assim a metrpole no podia se dar ao

    luxo de ver seu dinheiro circulando sem que fosse aproveitado para manter o

    reino portugus que j tinha se instalado no Brasil. Para minimizar estes

    problemas, Portugal cobrava impostos dos fazendeiros e os mesmos queriam

    ter gastos, principalmente usando escravos para trabalhar.

    Assim a Coroa portuguesa se instalou no Brasil e tentou a partir

    dessa realidade exprimir algum tipo de desenvolvimento no para os habitantes

    que j moravam na colnia, mas para o Rei que agora precisava dar suporte e

    montar uma estrutura para os nobres sditos que vieram junto com a famlia

    real.

    Antes de 1808 o Brasil no possua nenhuma escola que formasse

    novos mdicos, engenheiros entre outros profissionais, prestadores de servios

    essenciais para que a cidade comeasse a crescer, dessa forma dando o

    mnimo suporte necessrio para que o Rio de Janeiro se tornasse a nova

    capital portuguesa.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 22

    Em 1818 foi fundado em parte devido ao interesse na histria natural

    despertado pelo trabalho dos naturalistas estrangeiros, que levou vrios anos

    em vrias expedies, o Museu Imperial foi fundado como uma forma de

    demonstrar o poder de Portugal e por tentar de alguma forma igualar o Rio de

    Janeiro com os grandes museus de histria da Europa, seu objetivo era o de

    generalizar os conhecimentos e o estudo da histria natural no Reino.

    Como notado e de forma bem clara que o desenvolvimento no

    era voltado para todo territrio nacional e para o povo, mas para a nova capital

    portuguesa, o Rio de Janeiro. Como prova disso temos: a criao da Academia

    Real Militar, o Real Jardim Botnico e o Museu Imperial, instituies que

    demonstravam o interesse de Portugal em melhorar a qualidade de vida para

    sua corte e para as naes amigas.

    Como algumas das cidades eram voltadas para o litoral, acabavam

    por consequncia da quantidade de pessoas, que em sua maioria vinham em

    expedies para analisar e at explorar as riquezas de nosso pas, se

    desenvolvendo cada uma a sua maneira. Como apenas a Bahia que tinha sido

    sede do governo de portugus, de Novembro de 1808 a Janeiro do prximo

    ano, quando o Prncipe Regente partiu com sua corte para o Rio de Janeiro,

    poucas outras cidades brasileiras diferentes destas duas, receberam algum tipo

    de incentivo educacional.

    2.5. Independncias do Brasil

    Embora o pas tivesse sofrido certo nmero de mudanas polticas formais nas primeiras dcadas do sculo, inclusive a separao de Portugal seguida pela independncia em 1822, a monarquia foi preservada at 1889 e permaneceu como smbolo da continuidade com o passado colonial do Brasil. A monarquia ajudou a preservar o poder da elite social e econmica tradicional e seus valores. Enquanto as cidades do Rio de Janeiro, Bahia (salvador) e So Paulo cresciam rapidamente, sobretudo no ultimo tero do sculo, o corao da sociedade brasileira ainda estava nas grandes plantaes e na economia de exportao que elas sustentavam, baseadas no acar e, depois de 1840, no caf. (STEPAN, 1967, p.40).

    Antes da libertao dos escravos uma nova gerao de intelectuais

    entrou no cenrio nacional para questionar a eficincia do governo monrquico,

    a moralidade da escravatura e a qualidade da cultura brasileira. Em 1888,

    quando a abolio tomou forma o Brasil j era o ltimo pas do mundo ocidental

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 23

    a tomar essa medida. O fim da escravido foi seguido pelo colapso da

    monarquia em 1889, o exilio do Imperador D. Pedro II, e a formao da

    Republica Brasileira.

    A educao secundaria era um privilgio de poucos, e no um direito

    de muitos, a nfase na educao era mais literria do que cientifica, refletindo o

    interesse das elites. Se a cincia no se desenvolveu no Brasil no Sculo XIX,

    em resumo atribui-se ao pouco valor dado ao estudo da cincia, e por

    consequncia industrializao que ainda no tinha caminhado at um ponto

    onde se pudesse investir com apoio a novos estudos e pesquisas para a

    cincia utilitria e pratica.

    Com essas informaes podemos dizer que se Portugal tivesse

    aceitado os princpios da revoluo empregada por Napoleo, nosso pas

    poderia ter tido a oportunidade de aprender com outras cidades europeias e

    com outros pensadores. Deste modo poderia ter se desenvolvido antes de

    1808 e poderia de alguma forma se igualar ao desenvolvimento cientifico e

    tecnolgico de muitas naes ou cidades europeias.

    Entre 1808 e 1888 que foi quando a Abolio dos Escravos foi

    anunciada no Brasil os primeiros pensamentos sobre libertao j existiam a

    muito, alguns filhos de fazendeiros que saiam de seu pas para se educar na

    Europa voltavam com ideais revolucionrios pregados por professores

    estrangeiro e j lutavam por isso no nosso pas sendo cautelosos com as

    punies do reino brasileiro uma vez que em 1822 o Brasil deixa de ser colnia

    de Portugal e se torna reino, com o seu prprio Imperador.

    2.6. Abolio da escravatura e suas implicaes na cincia.

    Nosso pas passava por uma fase de mudana, pois tnhamos nos

    libertado de Portugal e nos tornado uma nao livre, e como nao livre os

    desenvolvimentos na rea das cincias que tinham se iniciado junto com a

    vinda da coroa portuguesa comeam a serem maiores, como a criao das

    Universidades e de colgios para a formao de uma nova elite formada pela

    nova burguesia que era financiada pela agricultura ainda a principal fonte de

    renda para agricultores e o Reino.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 24

    Mesmo depois de inaugurado o regime republicano, nunca talvez fomos envolvidos, em to breve perodo, por uma febre to intensa de reformas que se registrou precisamente nos meados do sculo passado e especiealmente nos anos 51 a 55. Assim que em 1851 tinha inicio o movimento regular de constituio das sociedades anonimas; na mesma data funda-se o segundo Banco do Brasil (...); em 1852, inaugura-se a primeira linha telegrfica na cidade do Rio de Janeiro. Em 1853 funda-se o Banco Rural de Hipotecrio (...). Em 1854 abre-se ao trfego a primeira linha de Estradas de Ferro do Pas (...). A segunda, que ir ligar Corte a capital da provncia de So Paulo, comea a construir-se em 1855. (HOLANDA, 1973 p.42)

    Muitos professores estrangeiros vieram para o Brasil para trabalhar

    em espaos destinados educao de brasileiros como a Academia Real

    Militar, o Real Jardim Botnico e o Museu Imperial, lugares onde ocorria a

    formao dos novos jovens, detentores de um ideal revolucionrio, e que

    pensavam na igualdade entre os homens. Estes eram influenciados atravs do

    pensamento de seus professores oriundos de outros pases que j haviam

    passado por tal fase de evoluo, tomada como pensamento cientifico estava

    diretamente ligada ao avano da educao. Principalmente por ajudar no

    desenvolvimento de fabricas e indstrias, algo que ainda no era a realidade

    brasileira, mas j era um pensamento totalmente diferente dos vistos a luz

    daquela poca, criando assim (dentro deste contexto) uma discusso sobre o

    certo e errado.

    2.7. Brasil Repblica.

    Aps 1888 a economia brasileira no era uma das melhores, pois o

    pas ainda se adequava a nova realidade da sua populao, com a vinda de

    europeus para o nosso pas e em 1889 quando o pas deixa de ser um Imprio

    para se tornar uma Repblica.

    De qualquer forma tornara-se evidente, ao aproximar-se o fim do sculo XIX, que o aparelho de Estado se tornara obsoleto, no correspondia mais realidade econmica e poltica, transformara-se num trambolho. A Repblica quando altera aquele aparelho de Estado, traduz o problema: cai o Poder moderador, cai a vitaliciedade do senado, cai a eleio base de renda, cai a nobreza titulada, cai a escolha de governadores provinciais, cai a centralizao. O novo regime permite a participao no poder, embora transitoriamente, da classe mdia, e h com a mudana de regime, claramente, uma luta em torno da poltica tarifaria e cambial. As reformas citadas na realidade traduzem, o que se processa em profundidade. No surgiram da imaginao dos republicanos da primeira hora: visavam, muitas vezes apenas na inteno, atender a determinados fatores, que eram relativamente novos, que vinham em ascendncia. No surgiram do acaso em suma. (SODR, 1973, p.273).

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 25

    Nessa nova viso a industrializao comeou a ser uma das maiores

    fontes de renda do Brasil, diante disso veio tona a preocupao com os

    operrios de tais fabricas, sua educao e sua capacidade de aprendizado. Os

    escravos haviam acabado de ser libertos e ainda marginalizados moravam a

    merc da sociedade.

    Neste momento percebe-se a precariedade que era a situao da

    maior parte da populao, surgindo a imigrao de europeus para o Brasil atrs

    do trabalho do plantio e da colheita principalmente de caf. Estes Imigrantes

    saram de seus pases para tentar uma vida nova, na maioria das cidades

    europeias a educao era muito valorizada.

    Dessa maneira percebe-se que eles tinham necessidades maiores

    que as condicionadas aos negros, que lutavam por paz e sua libertao, os

    imigrantes queriam novos horizontes novas formas de trabalho, e nas fabricas

    foi onde eles mais se adequaram. A maioria desses imigrantes chega com o

    ideal de ganhar dinheiro e fazer fortuna, por consequncia faziam economia.

    A partir dessas mudanas na estrutura da sociedade brasileira, o

    dinheiro comeava a circular por todas as camadas, bens de consumo

    comeavam a se tornar essncias, assim o Capitalismo tomou conta da

    economia de nosso pas, fazendo com que o dinheiro circulasse por lojas,

    empresas, mercados entre outros lugares.

    A educao mesmo sendo muito escassa comeava a ser vista de

    outra maneira, na parte cientifica era totalmente empregada na formao de

    empregados de fabricas, farmacuticos entre outros ramos da educao

    tcnica sempre sendo de carter Industrial.

    A outra inteno era fundamentar esta formao na ciencia rompendo com a tradio humanista clssica, responsvel pelo academismo dominante no ensino brasileiro. A predominancia literaria deveria ser substituida pela cientifica e, para tanto foram intorduzidas as ciencias, respeitando-se a ordenao positivista (matematica, astronomia, fisica, quimica, biologia, sociologia e moral. (RIBEIRO, 1992, p.69).

    A cincia entra nessa nova realidade como uma forma de

    desenvolvimento das fabricas e empresas, pois era necessria a formao de

    novos engenheiros, qumicos, matemticos entre outros. Os cientistas ou

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 26

    pesquisadores da poca rstica da qumica viam nesses estudiosos uma

    maneira de desenvolvimento e novas pesquisas relacionados a avanos na

    melhoria e crescimento de algumas fabricas.

    Nesse perodo de desenvolvimento, fixao e aperfeioamento da

    educao para os brasileiros, nosso pas passou por vrias mudanas tais

    como uma colnia sendo explorada por sua metrpole, indo a fase de

    Metrpole, ora vista como a capital de Portugal, e por fim um pas livre e

    independente. Com esses atrasos impostos na maioria das vezes por Reis e

    Imperadores, sempre acompanhados da centralizao do desenvolvimento,

    pois estados como o Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e a Bahia

    tiveram mais recursos.

    Rio de Janeiro como nova capital brasileira recebeu museus, Jardim

    Botnico, entre outras instituies que fizeram com que o ensino das cincias

    fosse melhor aproveitado, dessa maneira os estados prximos a capital

    comeavam a se desenvolver na mesma proporo que o Rio de Janeiro.

    No estado do Par j inicivamos uma certa produo biolgica no

    de tanta expresso mais reconhecida pelo seu tamanho e diversidade de

    espcies, o Museu Paraense que a priori seria criado para server como um

    museu escola, dando suporte aos alunos e aos naturalistas que viriam ao

    Estado, como afirma o autor:

    "O Museu deveria ter atributos de uma Academia. Na ausncia de escolas superiores em Belm, este deveria exercer esta funo, dotado de biblioteca e sees tcnicas, cuja finalidade seria o estudo da natureza amaznica: fauna, flora, geologia, histria e o estudo do homem indgena amaznico. Tambm seria dotado de funes pedaggicas, com uma seo de extenso ao ensino para alunos de escolas de Belm e pessoas interessadas. Nessas sees seriam ministradas prelees de Histria Natural e outras."(BERTHO, 1994, p.63-64)

    Depois de alguns anos de funcionamento o Museu Paraense foi

    ganhando um status de referncia em pesquisas na regio norte do pas e a

    sua consolidao caminhou junto com a poca urea da borracha, sendo

    fixado de fato com o incio da republica, sobre tal fato podemos utilizar como

    referncia o texto a seguir:

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 27

    Ameaado de completa extino em 1888, o Museu Paraense foi recuperado por determinao do Governador Lauro Sodr, que, atravs da mediao do escritor e crtico paraense Jos Verssimo Dias de Mattos, trouxe para sua direo, em 9 de junho de 1894, o cientista suo e ex-funcionrio do Museu Nacional, Emlio Augusto Goeldi (1859-1917). A chegada desse naturalista ao Par coincidiu com o momento de valorizao dos museus e com o boom da borracha na Amaznia, possibilitando mais verbas para a instituio. Goeldi foi implacvel na reconstruo do Museu Paraense, consolidando sua imagem como um museu cientfico caracterstico do final do sculo. (FIOCRUZ, 2013)

    Sem os esforos reconhecidamente feitos por Lauro Sodr e Goeldi,

    poderamos hoje no tem mais esse espao localizado no centro da cidade,

    referncia em pesquisa e com uma diversidade de fauna e flora diferente dos

    demais museus.

    Com a borracha sendo explorada no Par, e com um museu onde

    poderiam ser estudadas, o estado comeou a ser enxergado como um possvel

    lugar onde poderiam instituir escolas, universidades e at o momento cursos

    tcnicos voltado a rea da cincia.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 28

    3. A chegada do Ensino de Qumica no Par.

    3.1. Descentralizao do Ensino Superior

    O final do sculo XIX presencia eventos categricos para a nao brasileira: a troca de regime poltico, a abolio da escravatura, a introduo de mo-de-obra livre, a poltica imigratria e o primeiro surto industrial (MOROSINI, 2005, p.308).

    No incio da Repblica percebe-se uma relativa urbanizao do

    nosso pas, e os grupos que estiveram junto aos militares na idealizao e

    construo do novo regime vieram de setores sociais urbanos que preferiam

    carreiras de trabalho mais escolarizadas em detrimento do trabalho braal.

    Junto a isso e ao clima de inovao poltica, surgiu ento a motivao para

    muitos intelectuais brasileiros viessem a discutir a necessidade de abertura de

    escolas.

    Nesse perodo, os Estados se caracterizavam pela poltica dos governadores, pela qual se entregou cada estado federado, como fazendas particulares, oligarquia regional que a dominasse, de forma que esta, satisfeita em suas solicitaes, ficasse com a tarefa de solucionar os problemas desses estados. Apesar do carter oligrquico, esse foi um perodo frtil para a expanso do ensino superior que de 1907 a 1933 passa de 25 para 338 instituies de ensino superior e 17 universidades e de 5. 795 para 24. 166 alunos. Entretanto, mesmo com esta expanso, a taxa de escolarizao era muito baixa, pois somente 0,05% da populao total do pas, em torno de 17 milhes de habitantes, estava matriculada em um curso superior. (MELO; SANTOS; ANDRADE, 2009).

    Dentro deste contexto de expanso, haver a criao dos cursos de

    qumica industrial, derivada de um projeto do deputado paulista Rodrigues

    Alves Filho, de 1919, e tinha como ideia central a necessidade de formar

    profissionais para suprir a nascente indstria do Pas.

    Sobre isso h a afirmao:

    Como entidades didticas independentes, mas anexos a instituies j existentes, com o fim do aproveitamento de seus docentes e laboratrios, possibilitando tambm, igualmente, o contrato de profissionais estrangeiros. (RHEINBOLDT, 1955, p. 68)

    A diversidade de matria prima na Amaznia levou a muitos

    exploradores pesquisarem sobre a fauna e flora regional onde se encontravam

    muitas riquezas e locais, onde alm dos ndios ningum tinha conseguido

    chegar. Realidade essa que aguou e estimulou vrios cientistas a conheceram

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 29

    a regio, matria prima essa que vinha a se mostrar muito lucrativa e uma

    inovao para a comunidade cientifica da poca em questo.

    3.2. Implementao da Qumica no Par

    Diante dessa realidade da vastido de materiais naturais a serem

    explorados e compreendidos, faz-se necessria a implementao da qumica

    no Par, em certo momento do desenvolvimento educacional e exportador

    brasileiro, devido grande diversidade de materiais a serem explorados, e a

    quantidade insuficiente de pessoas capacitadas a trabalhar nessa rea.

    Sobre a pratica exploratria indiscriminada em nossa regio vem

    nesse contexto o caso da Ltex, retirado das seringueiras na floresta

    amaznica;

    Por volta de 1744 Charles Marie La Condamine descobriu que os ndios usavam o ltex para fabricar garrafas, botas e bolas ocas que se achatavam quando eram pressionadas. Retornando ao formato original quando cessava a presso. Era evidencia da elasticidade da borracha, familiar aos ndios mais somente empregada com sucesso para a fabricao de cmaras de ar de pneus em 1888. (MACHADO, 2004. p. 40 e 41).

    No momento em que a histria paraense, principalmente na capital

    Belm ficou conhecida como a poca da borracha, que deu ao Par assim

    como a Manaus um ar de Paris na Belle poque. Nome este, dado por conta

    das vestimentas utilizadas na poca e pela grande influncia europeia em

    nossa cidade graas a descoberta e explorao da seringueira. Deste modo o

    Par vivia

    [...]cenrios favorveis inveno de tradies e mitos sobre um perodo de excessos, embalado pela lrica, regrado pela ordem republicana, estimulado pelo cosmopolitismo e confiante no progresso (DAOU, 2000, p. 11).

    A qumica pura e ensinada chegou no Par por volta de 1904 como

    qumica farmacutica, com a criao da Escola de Farmcia. Nesse

    determinado perodo essa disciplina era utilizada simplesmente como um

    conhecimento adicional ao curso de farmcia e no a qumica de ensino e de

    pesquisa que conhecemos nos dias atuais. Com o fim da Primeira Guerra

    Mundial dois acontecimentos relevantes para o ensino de Qumica no Brasil,

    segundo Rheinboldt (1994), so: a criao do ensino profissional tcnico e a do

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 30

    ensino cientfico orientado para a pesquisa nas cincias puras, decorrentes

    diretamente do surto industrial que originou-se em consequncia daquele

    conflito mundial,

    "modificando rapidamente a fisionomia da nao, como tambm os ensinamentos dessa guerra, que mostraram ao mais indiferente leigo a enorme importncia da qumica, ao menos de sua indstria, para a civilizao e a defesa das naes, alargaram as maneiras de pensar e abriram os olhos para a necessidade inevitvel de indstrias qumicas com tcnicos especializados" (RHEINBOLDT, 1994). No ano seguinte, a lei Oramentaria de Despesas n 3.991 consignou uma subveno de 100 contos de ris por curso. Deveriam estabelecidos cursos em Belm, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Ouro Preto, Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre (SCHWARTZMAN 1979, p.118).

    A partir de 5 de Janeiro de 1920, foram criados os primeiros cursos

    de qumica no Brasil, e Belm foi sede de uma das escolas tcnicas, a ento

    fundada Escola de Chimica Industrial tendo Paul Le Cointe como seu primeiro

    diretor.

    3.3. A Escola de Chimica Industrial do Par.

    A respeito da fundao da Escola de Chimica Industrial:

    A criao de uma instituio de ensino de qumica em Belm foi resultado da ao de parlamentares paraenses, na cmara federal, que aproveitam a deciso do Congresso Nacional de criar diversos cursos de qumica no Pas. Foram, assim, criados cursos de qumica nos institutos tcnicos e j existentes nas cidades de So Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Como em Belm ainda no houvesse uma escola politnica foi necessrio criar uma instituio prpria. Paralelamente, a Associao Comercial do Par. Que possua um Museu Comercial, onde eram exibidos materiais primas regionais e alguns processamentos para obteno de produtos acabados e semiacabados, motivou-se pela implantao da instituio de ensino, que, alm de ensino, prestaria servios aos setores pblicos e privados. (ALENCAR, 1985, p.120).

    A escola tinha por interesse formar profissionais que trabalhassem

    nas reas tcnicas das empresas regionais, como as de borracha, as boticrias

    e industrias relacionadas ao desenvolvimento de matrias primas naturais da

    regio amaznica, tendo em vista que essas reas eram as que

    movimentavam a economia.

    Dentro deste contexto, Machado (2004, p. 40) afirma:

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 31

    Da cultura tecno-qumica primitiva da Amaznia restaram ainda vrios conhecimentos, posteriormente aperfeioados, sobre leos vegetais, ltex, farinhas, pigmentos, fibras vegetais, medicamentos naturais, perfumes e conservao de alimentos. Do deslumbramento dos europeus com a diversidade de substncias qumicas encontradas no Brasil resultou um contnuo (e s vezes sigiloso) fluxo de materiais. Sabe-se que La Condamine enviou amostras de ltex para serem estudadas pela Academia de Cincias da Frana e o caso das sementes de seringueira contrabandeadas para a Malsia notrio.

    No texto citado a cima, evidente a variedade de compostos e de

    materiais que podem ser utilizadas para pesquisas, e aprimorados com

    tcnicas qumicas, tanta diversidade chamou a ateno do naturalista francs

    Paul Le Cointe, primeiro diretor da Escola de Chimica do Par. Que antes de

    ser escolhido para o cargo j mostrava grande interesse pela natureza

    amaznica desde o tempo em que lecionava qumica na Universidade de

    Nancy. Tendo publicado vrios trabalhos sobre a Amaznia, entre o mais

    importante deles o LAmazonie Brsilienne de 1922.

    Le Cointe no foi o nico especialista francs que participou do

    funcionamento da escola de Qumica, outros franceses fizeram parte do corpo

    Docente, alm de alguns professores paraenses que lecionavam nos

    Gynasios Estaduais.

    Sobre isso afirma Machado (2004, p.42):

    Alm de Le Cointe, outros especialistas franceses participaram da Escola de Qumica, primeiro Charles Paris e Raymond Joannis e depois Ren Rougier, Georges Bret, Camille Henniet e Andre Callier, e ainda os brasileiros Antnio Maral e Renato Franco.

    O curso tcnico em qumico industrial era realizado em 4 anos,

    sendo o ltimo ano, complementar aos trs anos oficiais, destinado a um

    trabalho de tese e especializao em indstria, geralmente de interesse

    amaznico. A grade curricular das disciplinas do mesmo era administrada da

    seguinte maneira:

    a). No primeiro ano - qumica mineral, qumica industrial, anlise

    qualitativa, fsica, matemtica e tecnologia amaznica;

    b). No segundo ano - qumica orgnica, qumica industrial,

    qumica biolgica, anlise quantitativa e fsica;

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 32

    c). No terceiro ano - qumica industrial, fsico-qumica,

    mineralogia e desenho linear.

    d). No quarto ano suplementar ensinava-se tecnologia industrial,

    qumica industrial, uma especializao e havia carga horria

    para preparao de uma tese de graduao.

    Com a tese aprovada, o aluno receberia o diploma de qumico. No

    sendo muito distante de como aplicado o tempo e a forma para a concluso

    dos cursos de licenciatura em Qumica atualmente.

    Os alunos tinham aulas tericas e prticas, sendo estas ltimas com um mnimo de vinte horas de laboratrio por semana, alm de visita a fbricas e trabalhos de campo. A biblioteca era atualizada com literatura cientfica internacional, com predomnio francs. Sobre aquela biblioteca, A Folha do Norte de 22/11/1970 (pag. 2) menciona como parte do acervo: DICTIONNAIRE DE CHIMIE de Wurtz (Paris, 1892); ENCYCLOPDIE CHIMIQUE de M. Frmy (Paris, 1894); TRAIT COMPLET D'ANALYSE CHIMIQUE APPLIQU AUX ESSAIS INDUSTRIELES, de Post e Newmann (1919) e os famosos ANNALES DE CHIMIE ANALYTIQUE, Societ des Chimistes Franais (1923), obras em francs, lngua que, segundo Ben-David, apud Alves (2004), em algum momento representou referncia internacional para modernizao e internacionalizao da cincia. (MACHADO, 2004, p.42).

    A escola de Qumica Industrial desenvolveu suas atividades por um

    perodo de nove anos somente, desenvolvendo vrias pesquisas sobre as

    matrias primas regionais e formando poucos alunos nesse perodo, no

    entanto, com trabalhos de diversos gneros que foram publicados em um

    peridico um ano aps o seu fechamento em 1930. At o ano que antecedeu o

    termino das atividades da escola foram formados nove qumicos, aptos a

    repassarem conhecimento como futuros docentes ou trabalharem em

    empresas da regio, este segundo sendo mais possvel de acontecer.

    A escola era mantida por verba federal dividindo despesas com a

    Associao Comercial do Par. No entanto ao assumir a presidncia do pas

    Getlio Vargas instituiu o Nacionalismo, estatizando muitas instituies e

    criando medidas e leis estimulando o crescimento do pas e do Governo. Assim

    as verbas de escolas especificas, vinculadas a qualquer instituio privada

    foram suspensas, fazendo com que muitas dessas escolas de Qumica fossem

    fechadas. Mesmo com essa realidade a Associao Comercial tentou manter a

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 33

    instituio aberta, mas pelos altos custos decidiu por finalmente encerrar as

    atividades em 1930.

    Sobre o fechamento e o desenvolvimento da Escola de Qumica:

    At 1929 a escola formou nove qumicos. Apesar de todos os trabalhos e de todas as pesquisas realizadas serem de vital importncia para o desenvolvimento da Amaznia, a Escola de Qumica Industrial do Par foi fechada em 1930, devido crise econmica ocasionada pela revoluo do mesmo ano. Alm dela, a maioria das Escolas de Chymica tambm foram fechadas, e canceladas as subvenes federais. Mesmo com o fechamento da Escola, seu boletim cientfico, publicado em 1930, continha 15 trabalhos sobre produtos naturais amaznicos. O Boletim tinha a finalidade de publicar a produo cientfica da escola e seu segundo nmero encontrava-se j pronto para ser publicado quando do encerramento das atividades. (MACHADO, 2004, p.43).

    Depois de 25 anos fechada a Escola de Qumica novamente seria

    reaberta pois acreditava-se que a Amaznia e principalmente o Par continham

    riquezas que deveriam ser estudadas e pesquisadas por qumicos. Uma vez

    que todo o trabalho que era conhecido sobre a nossa regio, eram os

    peridicos publicados pelos alunos da extinta Escola de Chymica Industrial e

    os livros do ento diretor Paul Le Cointe. Nesse esforo alguns merecem maior

    destaque na histria dessa instituio, nesse caso a professora Clara Martins

    Pandolfo, ex-aluna de Le Cointe.

    Sobre a retomada das atividades da escola e sobre os esforos de

    ex-alunos para que a qumica fosse novamente estudada numa escola

    especifica e com professores capacitados a ensinar essa disciplina:

    Atravs dos esforos da superintendncia da SPVEA (Superintendncia do Plano de Valorizao Econmica da Amaznia), da Associao Comercial do Par e do movimento de ex-alunos, em 1956 com o Decreto Federal 38.876 era autorizada a reabertura e funcionamento da Escola de Qumica Industrial do Par. No mesmo ano foi realizado um vestibular e a Escola reiniciou suas atividades. No dia 20 de abril deu-se a aula inaugural, que versou sobre o tema: Qumica uma cincia a servio da humanidade. O diretor poca era o professor Joo Renato Franco, sob cuja direo a Escola continuou funcionando no mesmo local, onde era mantida provisoriamente com pequenos recursos da Associao Comercial do Par e auxlio da SPVEA. A maioria dos docentes era constituda por ex-alunos. LIMA, ALENCAR, BARBOSA (apud MACHADO, 2004 p.47):

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 34

    Mesmo com a sua reabertura em 1956 a escola no havia sido

    reconhecida, somente em 1959 a partir do Decreto Federal 47.340, de

    03.11.59, tornando-se uma instituio de ensino reconhecida, mesmo

    continuando com os problemas que a assolaram desde a sua criao, que

    seria de onde viriam os recursos, j que o governo federal no poderia ser o

    financiador de tal escola, correndo o risco de encerrar as atividades por falta de

    recursos.

    O problema das verbas, alis, era histrico, uma vez que j na

    criao dos curso de qumica industrial em 1919, referindo-se ao custeio das

    instituies, Rheinboldt (apud MACHADO, 1994) menciona que:

    "logo no primeiro ano de vida os embaraos e as deficincias se apresentaram no ensino prtico das disciplinas, como as de qumica, exigentes de longa permanncia em laboratrios, devendo servir aos alunos da Escola de Engenharia [no caso de So Paulo] e aos do curso (estes ltimos se viam sempre prejudicados). Com raras excees as prprias escolas no disporiam de laboratrios adequados e a verba de cem contos no era suficiente para cobrir pagamento de docentes, material de ensino e novas instalaes; o aumento posterior da verba a 120 contos no resolveu o problema do oramento dos cursos."

    Com todos esses problemas a criao da Universidade Federal do

    Par (UFPA) em 1957, seria uma forma de manter em pleno funcionamento as

    atividades da escola, mas a instituio no foi federalizada ficando assim fora

    da ento grade de cursos da UFPA, fato esse no entendido por vrios

    professores e alunos da escola. Nesse atual contexto em que se encontrava,

    mas uma vez estava beira de encerrar as atividades, porm o Governo

    Estadual por meio da Lei Estadual 2173, de 17.01.61 tomou posse da

    instituio evitando mais uma vez a sua extino.

    3.4. Incorporao da Escola de Qumica pela Universidade Federal do

    Par

    Desde sua reabertura em 1956 e seu reconhecimento em 1959

    foram mais 4 anos de espera e de estruturas precrias para a pratica do ensino

    e aprendizado de Qumica, at que finalmente fosse acampada a Universidade

    Federal do Par em novembro de 1963, mediante a protestos e reinvindicaes

    de alunos e professores, agora sim tornando-se Escola Superior de Qumica.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 35

    Dentro deste contexto acima citado MACHADO (2004, p 45) diz:

    Com a participao de docentes, alunos, movimento estudantil, ex-alunos e polticos (destacando-se o Deputado Ferro Costa), a Escola foi encampada pela UFPA no dia 18 de novembro de 1963 (Lei 4283 de 18.11.63), tendo o mesmo ocorrido com a Escola de Servio Social, que (pela mesma razo?) tambm ainda no o havia sido. Tal, no entanto, no foi aceito pela administrao da Universidade, que continuou resistindo incorporao das Escolas e pressionou politicamente o Governo Federal, o que levou o Presidente da Repblica a vetar o projeto de Lei que encampava as duas escolas. O Congresso Nacional, cedendo s presses do movimento estudantil paraense, rejeitou o veto presidencial, tornando a Escola, agora, Superior de Qumica, integrada Universidade Federal do Par.

    A Universidade Federal do Par sofreu uma reestruturao em

    1969/70, onde as Escolas superiores foram extintas sendo criado os

    Departamentos de Qumica Bsica e Engenharia Qumica do Centro de

    Cincias Exatas e Naturais. Especificando ainda mais as atividades e

    abrangendo uma quantidade maior de investimento nessa rea que a muito

    faltava ser feito. Aps nova reestruturao as atividades de qumica Bsica

    ficaram a cargo do Departamento De Qumica do Centro de Cincias Exatas e

    Naturais e as aplicadas a cargo do Departamento de Operaes e processos

    Qumicos do Centro Tecnolgico (MACHADO, 2004).

    MACHADO (2004, p.46) afirma: tardia encampao da Escola de

    Qumica do Par pela Universidade deu-se em 1963, depois de muitas

    dificuldades vencidas (LIMA, ALENCAR e BARBOSA, 1985) e oportunizou o

    desenvolvimento das atividades de ensino graas principalmente capacitao

    docente ocorrida, implantao de projetos de pesquisa e atualizao

    curricular do curso de qumica industrial.

    Percebemos que a demora em unir os esforos locais de ex-alunos

    da escola de qumica com os subsdios do Governo Federal atrasou muito o

    desenvolvimento de tcnicas e pesquisas que poderiam ser estudadas e

    praticadas no Par. A educao em Belm sempre foi iniciada da forma tardia,

    desde a criao da Escola de Farmcia em 1904, em um perodo onde foi

    percebido que as riquezas naturais do norte do pas poderiam dar um retorno

    lucrativo a empresas e porque no h educao.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 36

    Foi somente em 1924 segundo Beckmann (1985), no propriamente

    em decorrncia das Faculdades existentes, mas da iniciativa pessoal de

    homens ligados a cultura oriundos das cincias e do magistrio, que se criou a

    Universidade Livre do Par.

    Para BECKMANN (1985, p. 508):

    Somente aps a quebra da borracha, em 1912, que viria a expandir-se o nosso ensino superior, num evidente contraste econmico-educacional. Em 1914 fundava-se a Faculdade Livre de Odontologia; a de Agronomia e Veterinria em 1918, e, em 1919, a Faculdade de medicina e Cirurgia do Par, que chegaria a ocupar lugar de destaque no cenrio mdico nacional.

    A Universidade Livre do Par, estaria ministrando curso e

    organizando outras instituies de ensino superior, agindo como uma

    instituio cultural, assim no tendo uma extenso de ensino e pesquisa. J na

    dcada de 30 seria fundada a Escola de Engenharia do Par, voltando assim a

    falar em Universidade, assim em 1950 a Universidade de Medicina foi ento

    federalizada, sendo de vital importncia para a criao de uma Universidade

    Paraense.

    Sobre a criao e a afirmao da Universidade no Par e seu

    processo de desenvolvimento, para BECKMANN (1985), em julho de 1957

    mediante lei sancionada pelo ento presidente Juscelino Kubitschek de

    Oliveira. Na sua Origem estavam as trs faculdades, (Medicina, Direito e

    Farmcia), as quais foram acrescentadas a Escola de Engenharia e as

    Faculdades de Odontologia, Filosofia, Cincias e Letras e Cincias

    Econmicas, Contbeis e Atuariais, tardiamente a encampao da Escola de

    Qumica do Par pela Universidade deu-se somente em 1963.

    Nesse contexto da implementao e estruturao do curso de

    licenciatura em Qumica na universidade federal do Par afirma MACHADO

    (2004, p. 46 e 47):

    Reunidas as condies suficientes, deu-se afinal a criao do Centro de Cincias Exatas e Naturais da UFPA (CCEN) (Decreto Lei n 252/67) dentro do que se denominou, poca, de Reforma Universitria. Tais condies surgiram em decorrncia da prpria consolidao da Universidade do Par que, como vimos, precisava das disciplinas da chamada rea de Cincias Exatas e Naturais ofertadas de forma ostensiva a muitos a muitos dos seus cursos. A

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 37

    implantao do CCEN deu-se a partir de janeiro de 1971 j no campus universitrio recm construdo e reunia as estruturas didtico-administrativas do Ncleo de Fsica e Matemtica, do curso de Geologia e parte da estrutura da antiga Escola Superior de Qumica (LIMA, ALENCAR E BARBOSA, 1985). Vinculado ao CCEN deu-se, em 1972 (Resoluo n 86 de 15.05.72 do COSEP) a criao do curso de Licenciatura em Qumica, que passou a ser redigido pela Resoluo CONSEP n 356 de 08.07.76. At ento, os cursos de Qumica no Par conferiam a sus formados atribuies exclusivamente tecnolgicas, no os preparando para o exerccios do magistrio no 1 e 2 graus (hoje nvel fundamental e mdio). Assim, formavam profissionais para a pesquisa e a indstria, mas no os habilitavam para uma reflexo mais consistente sobre os problemas da Educao Qumica. Engenheiros e tecnlogos podem, evidentemente, tornarem-se excelentes professores, mas a efetiva formao para o magistrios deve ser proporcionada por cursos de Licenciatura.

    Este curso criado dentro de um contexto onde acreditava-se que o

    mesmo era mais um curso de qumica, observamos a grande predonminancia

    de conhecimentos qumicos sobre os demais, relevando que sua criao muito

    se relaciona com a concepo moderna de cincia e educao presente na

    poca.

    Posteriormente essa concepo moderna da formao de

    professores, cair em crise, tendo como fatores a complexidade do ato de

    ensinar e a incapacidade de se posicionar frente a problemas sociais graves

    como violncia, criminalidade e desemprego, alm do sentimento de

    desconfiana em relao a tecnologia e o surgimento de uma demanda de

    ensino para qual s a modernidade j no basta, um ensino com temas mais

    amplos, complicador para esta concepo.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 38

    4. A formao do Professores Qumica.

    4.1. Formao de professores de qumica em Belm.

    Depois de 40 anos de funcionamento e criao dos cursos na rea

    da qumica pela UFPA, sendo assim a primeira instituio no Par a

    implementar esse curso na sua grade, tendo em vista a carncia de

    professores especializados em licenciatura para se trabalhar com ensino

    fundamental e mdio.

    Engenheiros Qumicos, Qumicos Industriais, Bacharis em Qumica

    e Farmacuticos, Mdicos, poderiam sim ser bons professores dessa

    disciplina, porm, os mesmos estariam cometendo o mesmo erro j cometido

    por instituies de ensino que antecederam a mesma no incio do sculo

    passado, com profissionais no especializados em reas pedaggicas e com o

    mnimo de trato em sala de aula.

    Sobre essa pratica de outros profissionais atuarem na rea da

    educao sem a devida instruo comenta Retondo, Silva (2007, p.146):

    Sabe-se que esta prtica tradicional de acrescentar aos conhecimentos cientficos alguns conhecimentos pedaggicos partindo-se do princpio de que estes, somados queles, resultariam num conhecimento que daria conta de solucionar os problemas prticos da profisso vem carregada de inmeros problemas (Schn, 1992). O caminho para a viso da totalidade outro. Nem sempre fcil ou desejado. Tanto a legislao quanto a literatura educacional sinalizam claramente que pensar a formao de professores hoje vai muito alm de oferecer ao aluno algumas disciplinas pedaggicas ao final do bacharelado. Formar professores numa universidade implica ter um projeto especifico e partilhado por todos os docentes da licenciatura (no apenas pedagogos).

    A partir desse momento ento definitivamente criado o curso de

    Cincias Habilitao em Qumica. Reconhecido pela portaria n73 de 15 de

    janeiro de 1980, Construdo a partir de uma mentalidade racional moderna, o

    curso estruturou-se em torno da concepo tradicional de cincias e de

    conhecimento. (MACHADO 2004, p.49).

    Fato esse que atrasou um pouco e deixou os futuros licenciados em

    qumica a margem dos cursos tcnicos e bacharis dessa disciplina, sendo

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 39

    colocados como um curso sem a devida importncia na formao de

    professores.

    Sobre esse tipo de ensino e como foram institudos os cursos de

    licenciatura em qumica no Brasil SCHNETZLER, (2000); CARVALHO; GIL-

    PREZ, (2003):

    De fato os currculos das licenciaturas das reas das cincias naturais entendidas como Qumica, Fsica e Biologia nas Universidades brasileiras tm sido compostos por um recorte do currculo bacharelado acrescido de alguns componentes psicopedaggicos.

    Sobre a relao entre os avanos tecnolgicos e as dificuldades que

    nortearam assim a implementao dos primeiros ano da Licenciatura em

    Qumica no Brasil, Gonalves (1998, p.45) se manifesta dessa maneira:

    No ano de 1972, a Universidade d incio, no meu ponto de vista, desvalorizao do curso de licenciatura em matemtica e de outras Licenciaturas. O conselho do centro, em funo do Art. 4, Pargrafo nico da resoluo 108 do CONSEP, permitiu que trinta e dois (32) alunos das diversas engenharias cursassem simultaneamente a licenciatura em matemtica.

    Este fato gerou muita polmica, uma vez que com o passar dos anos, verificou-se, que na verdade esses alunos em sua grande maioria cursavam a licenciatura em matemtica para obter vantagens, tais como: acelerar os seus cursos de Engenharia, o que era possvel em funo de vrias disciplinas serem comuns aos dois cursos; para obter licena para lecionar, outros prestavam vestibular para a Licenciatura em matemtica, como trampolim a uma das engenharias, pois no ano seguinte tentavam trocar de curso ou faziam novo vestibular, objetivando o curso pretendido, mas agora melhor preparados e j com vrias disciplinas cursadas a serem creditadas no novo curso. Entretanto, grande parte desses alunos continuava a se matricular no curso de matemtica, naquelas disciplinas comuns aos dois cursos. Destes, poucos se interessavam em, de fato, obter diploma dos dois cursos. No entanto, alguns tinham o intento de acelerar o seu curso de engenharia e outros, o de pedir licena para lecionar.

    Em 1975, o MEC torna obrigatrio o Curso de Licenciatura em Cincias do 1 grau. Mais uma vez, atravs de um decreto, o Governo tenta mudar os rumos do ensino no Brasil. A Universidade Federal do Par no reagiu contra a medida e, no mesmo ano, adota-a e implanta o curso de Cincias. Inicialmente o curso lotado no Centro de Educao, tendo, a partir de 1976, sido transferido para o Centro de Cincias Exatas e Naturais. Sem estar preparada para tal empreitada, a Universidade, diferentemente de outras instituies do pas, acatou prontamente a determinao do MEC, com o agravante de que os Centros envolvidos com as licenciaturas, no foram sequer consultados.

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 40

    A situao torna-se tragicmica: os alunos que prestavam vestibular para os cursos de Qumica, Fsica, Biologia ou Matemtica eram obrigados a fazer inicialmente o Curso de Licenciatura em Cincias do 1 grau. Ao termino do referido curso, tornavam-se professores de Cincias e Matemtica de 5 a 8 srie do ensino fundamental.

    De acordo com que escreveu GONALVES (1998) podemos

    perceber claramente como a implementao dos curso de Licenciatura na

    Universidade Federal do Par foi feita de uma forma inconsequente e porque

    no sem os pr-requisitos mnimos para uma formao profissional adequada a

    uma pessoa que entraria em sala de aula e repassaria o conhecimento a outros

    alunos.

    Ainda sobre a formao de professores e como a instituio recebeu

    o curso de licenciatura, GONALVES (1998) diz:

    Com a criao do Curso de Licenciatura em Cincias, foi baixada a Resoluo de nmero 257 de 28.04.75, alterando, novamente, o 1 ciclo da rea de Exatas, alterando a resoluo 03/70, acrescentando as disciplinas Biologia Geral e lgebra 1, retirando Qumica Geral como obrigatria de setor do curso de Matemtica, e acrescentando esta ltima ao curso de Licenciatura em Cincias.

    Em julho de 1976, a Resoluo nmero 354 altera, novamente, a Resoluo 03/70, que tinha ido alterada em 75. As alteraes foram os acrscimos de Biologia Geral, Botnica 1, Zoologia 1 e Elementos de Geologia, e volta, novamente, a ser obrigatria a Qumica Geral para o curso de matemtica e para o curso de Cincias. Todas estas alteraes, feitas de forma inconsequente, provocaram um verdadeiro caos nos cursos de licenciatura em Matemtica, Fsica, Qumica e Biologia. Seus coordenadores ficaram por algum tempo totalmente desorientados, uma vez que todas as alteraes eram realizadas sem sua participao. Todas as medidas foram impostas. fcil imaginar a situao dos alunos frente a toda essa organizao.

    Como visto nessa resoluo as atribuies de um licenciado em

    Qumica era meramente um profissional com especificaes pedaggicas no

    currculo, sendo dessa maneira considerado por muitos autores um modelo

    tecnicista predominante nos cursos de formao de professores, um modelo

    onde os ento estudantes de licenciatura em qumica

    Sobre tal modelo, BEJARANO, et al. (2004) afirma que:

    A formao do professor encontra-se voltada para a memorizao e aplicao dos saberes de forma acrtica e descontextualizada, sem problematizao e sistematizao dos

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 41

    conhecimentos qumicos e pedaggicos, deixando os alunos sem outra alternativa seno manter a concepo de ao docente elaborada na formao ambiental ao longo das suas vivencias, em especial enquanto estudantes.

    Dessa maneira vimos que a falta de organizao das instituies

    federais e a falta de cuidado na hora da estruturao dos projetos curriculares

    e a maneira como os licenciados em qumica eram tratados de um ponto de

    vista acadmicos, acabou-se construindo-se uma concepo de que o

    professor de qumica um qumico com atribuies pedaggicas, tendncia

    que dominou a partir desse momento o desenho curricular de todos os

    posteriores desenhos curriculares do curso.

    Com esse tipo de formao alguns autores afirmam a m formao

    de alguns professores de cincias e ao concluir o curso comum que os

    licenciados exibam uma atitude de insegurana e sentem-se despreparados

    para ministrar boas aulas, pouco tempo depois vindo a sentir um frustrao e

    insatisfao profissional, conforme relata ROSA (2004, p.19):

    Ao me tornar professora da escola pblica muitas questes emergiram entre elas: Que cincia essa que conheci?; Como possibilitar aos meus alunos o acesso cultura cientifica para que eles usufruam deste tipo de conhecimento no seu entorno social? (...). Que tipo de professora me tornei? Reflito para tentar responder, contudo fcil recordar que passados alguns poucos anos de profisso docente j me encontrava insatisfeita e frustrada como a maioria de meus colegas.

    Sobre essa afirmao acima, percebemos como muitos professores

    tem a certeza e porque no a incerteza que os licenciados e futuros licenciados

    tem pela frente ao enfrentar uma realidade que j perdura ao longo dos anos.

    Como citou Gonalves (1998) alteraes no currculos foram feitas de forma

    inconsequente, deixando os coordenadores desorientados com tantas

    mudanas, uma vez que todas as alteraes eram realizadas sem a sua

    participao efetiva.

    Para Schnetzler (2000, p.14), sem as alteraes significativas em

    seus modelos de formao e currculo do curso, ela diz:

    A grade curricular da maioria dos cursos de licenciatura manifesta e enfatiza dois caminhos paralelos, que no se aproximam sequer, um do outro, durante os vrios semestres, mas que s vo se cruzar e se articular em disciplinas de

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 42

    natureza tal como a Prtica de Ensino, a de Didtica Especifica e/ou de instrumentao para o Ensino.

    Portanto somente em momentos em que h relevncia do ensino

    sobre os conhecimentos especficos e que vamos perceber a unio das

    disciplinas trabalhando de maneira conjunta trazendo melhorias para o ato de

    lecionar.

    4.2. Criao do curso de Licenciatura em Cincias Naturais na

    Universidade do Estado do Par.

    A Universidade do Estado do Par UEPA, tem como princpio ser

    o motor de revitalizao para o desenvolvimento do Estado, o que exige dar

    respostas s necessidades e desafios locais e romper-lhes os pontos de

    estrangulamento, quer pela via da cincia, da tecnologia, da educao e da

    cultura, quer pela produo de caminhos alternativos prprios (Plano de Ao

    1996/2000).

    Nessa posio e conhecendo a realidade educacional de nosso

    estado, e as condies scio econmica, juntamente com a extenso

    geogrfica, a UEPA teve que tomar a deciso de se fazer presente em todas as

    regies do Estado, nessa situao em especial foi criado o Projeto de

    Interiorizao de Cursos de Graduao, principalmente nas reas que no

    eram alcanadas pelas outras instituies paraense.

    Depois de visto acima os padres e parmetros para a criao dos

    cursos de licenciatura no Par a UEPA com um pensamento mais regional e de

    suprir demanda do interior do estado que sofria com a falta de profissionais das

    reas de Biologia, Fsica e Qumica.

    Sendo assim a UEPA, atravs do Centro de Cincias Sociais e da

    Educao e do Departamento de Cincias Naturais prope, implantar o curso

    de Licenciatura Plena em Cincias, considerando as condies fsicas e

    materiais, necessrias ao funcionamento do curso.

    A cerca da criao dos cursos em licenciatura o relatrio anual do

    curso de licenciatura plena em cincias naturais - 2011

  • LOPES, Leon C. SOUZA, Carlyle A. O desenvolvimento do ensino de qumica no Par... 43

    O Curso de Licenciatura Plena em Cincias Naturais (Biologia, Qumica e Fsica) da Universidade do Estado do Par foi criado pela Resoluo CONSUN n 277 de 11 de dezembro de 1998 e comeou a funcionar na modalidade intervalar a partir de 1999, com um limite de 200 (duzentas) vagas distribudas em 5 (cinco) turmas, com desenvolvimento nos municpios de Altamira, Conceio do Araguaia, Marab, Paragominas e So Miguel do Guam, de natureza intervalar/modular e destinado exclusivamente ao atendimento da demanda do interior do Estado. A forma de ingresso no curso de Cincias se deu, desde a sua criao, atravs do Processo Seletivo e PRISE. O Curso foi aprovado pela Resoluo N 391/00 de 21 de maro de 2000.

    Desta maneira podemos observar que os primeiros cursos de

    licenciatura foram criados nos interiores, foco principal do interesse estadual

    que seria o de suprir as demandas necessrias com profissionais da prpria

    regio, tendo em vista a dificuldade que seria para uma pessoa que morasse

    na capital ir para cidades muito distantes, como facilitaria a distribuio do

    conhecimento que estava sendo repassado somente na capital.

    Tal situao se fez necessria pois, como observa o pargrafo 4,

    inciso IV do artigo 87 da Lei de Diretrizes Bsicas de Educao Naciona