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XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019 2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.xxx. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN: O DESENVOLVIMENTO DA GENERALIZAÇÃO EM UMA TURMA DO 7º ANO ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Sára Alves de Matos Rodrigues Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus X [email protected] Célia Barros Nunes Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus X [email protected] Resumo: Por meio de uma investigação de natureza qualitativa, buscou mostrar como a Generalização emerge e se desenvolve em sala de aula no contexto de uma prática de ensino- aprendizagem através da Metodologia de Resolução de Problemas, em uma turma de 7º ano do Ensino Fundamental II. Recorreu-se a dados de estudos de caso da aplicação de um problema selecionado dentro da potencialidade da turma, levando em consideração a necessidade do favorecimento da construção do Pensamento Algébrico e da Generalização matemática, seguindo a Metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas. O problema foi selecionado respeitando o programa de ensino e com um nível crescente de dificuldade objetivando que os alunos construíssem a ideia de equação do 1º grau. Os dados coletados evidenciaram que, além de proporcionar uma cultura de sala de aula onde os alunos assumem o papel de co-construtor do seu conhecimento, a metodologia seguida conduziu os estudantes a uma aprendizagem com significado e compreensão, oportunizando a reflexão, argumentação e discussão coletiva, fazendo-os alcançarem a Generalização. Por fim, fica evidente que o uso de metodologias diferenciadas, sobretudo a de Resolução de Problemas, ajudam professores no trabalho em sala de aula, tendo em vista a promoção do raciocínio matemático, em especial da Generalização e do Pensamento Algébrico. Palavras-chave: Generalização. Pensamento Algébrico. Álgebra. Resolução de Problemas. INTRODUÇÃO A Álgebra sempre teve destaque entre os ramos da Matemática. No entanto, após a Matemática Moderna perdeu prestígio e ficou um pouco esquecida só retomando seu posto nos últimos anos quando trouxe uma nova visão associada ao Pensamento Algébrico (PONTE, BRANCO e MATOS, 2009). O ensino da Álgebra era associado ao estudo das equações, ou seja, na manipulação de símbolos onde esses quase sempre não faziam sentido para quem os manipulavam. Isso tornava a Matemática sem significado e muito abstrata, pautada apenas na repetição incansável de exercícios remetendo ao modelo muito usado na antiguidade por egípcios, babilônios, chineses e indianos.

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Page 1: O DESENVOLVIMENTO DA GENERALIZAÇÃO EM UMA TURMA DO … · Generalização. Por fim, fica evidente que o uso de metodologias diferenciadas, sobretudo a de Resolução de Problemas,

XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática

A sala de aula de Matemática e suas vertentes

UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019

2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.xxx. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:

O DESENVOLVIMENTO DA GENERALIZAÇÃO EM UMA TURMA DO 7º ANO

ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Sára Alves de Matos Rodrigues

Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus X

[email protected]

Célia Barros Nunes

Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus X

[email protected]

Resumo: Por meio de uma investigação de natureza qualitativa, buscou mostrar como a

Generalização emerge e se desenvolve em sala de aula no contexto de uma prática de ensino-

aprendizagem através da Metodologia de Resolução de Problemas, em uma turma de 7º ano do

Ensino Fundamental II. Recorreu-se a dados de estudos de caso da aplicação de um problema

selecionado dentro da potencialidade da turma, levando em consideração a necessidade do

favorecimento da construção do Pensamento Algébrico e da Generalização matemática,

seguindo a Metodologia de ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática através da

Resolução de Problemas. O problema foi selecionado respeitando o programa de ensino e com

um nível crescente de dificuldade objetivando que os alunos construíssem a ideia de equação

do 1º grau. Os dados coletados evidenciaram que, além de proporcionar uma cultura de sala de

aula onde os alunos assumem o papel de co-construtor do seu conhecimento, a metodologia

seguida conduziu os estudantes a uma aprendizagem com significado e compreensão,

oportunizando a reflexão, argumentação e discussão coletiva, fazendo-os alcançarem a

Generalização. Por fim, fica evidente que o uso de metodologias diferenciadas, sobretudo a de

Resolução de Problemas, ajudam professores no trabalho em sala de aula, tendo em vista a

promoção do raciocínio matemático, em especial da Generalização e do Pensamento Algébrico.

Palavras-chave: Generalização. Pensamento Algébrico. Álgebra. Resolução de Problemas.

INTRODUÇÃO

A Álgebra sempre teve destaque entre os ramos da Matemática. No entanto, após a

Matemática Moderna perdeu prestígio e ficou um pouco esquecida só retomando seu posto nos

últimos anos quando trouxe uma nova visão associada ao Pensamento Algébrico (PONTE,

BRANCO e MATOS, 2009). O ensino da Álgebra era associado ao estudo das equações, ou

seja, na manipulação de símbolos onde esses quase sempre não faziam sentido para quem os

manipulavam. Isso tornava a Matemática sem significado e muito abstrata, pautada apenas na

repetição incansável de exercícios remetendo ao modelo muito usado na antiguidade por

egípcios, babilônios, chineses e indianos.

Page 2: O DESENVOLVIMENTO DA GENERALIZAÇÃO EM UMA TURMA DO … · Generalização. Por fim, fica evidente que o uso de metodologias diferenciadas, sobretudo a de Resolução de Problemas,

No entanto, com o avanço tecnológico e devido às mudanças culturais, houve a

necessidade de repensar o currículo escolar e a forma como a Álgebra é ensinada, levando-nos

a fazer mudanças relevantes em nossas práticas, que sejam capazes de alcançar os nossos

alunos. Para Kaput (1995 apud RIBEIRO e ALESSANDRO 2015, p. 12), “A total falência

atual da Álgebra escolar tem mostrado a inadequação das tentativas de vincular os formalismos

à experiência do aluno, depois que eles foram introduzidos. Parece que uma vez sem

significado, sempre sem significado”.

Partindo dessas premissas, o presente trabalho tem por finalidade mostrar os benefícios

consequentes da utilização da Metodologia de Ensino-aprendizagem-avaliação de Matemática

através da Resolução de Problemas para estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental II. Nessa

metodologia, o problema é o ponto de partida. É através dele que professor e alunos, num

processo colaborativo em sala de aula, vão desenvolvendo o trabalho de construção de novos

conhecimentos.

Ademais, com este trabalho de pesquisa, pretendeu-se, oportunizar a construção de

conexões entre Aritmética e Álgebra para ajudar os alunos a perceberem que são capazes de

fazer Matemática e observou-se até que ponto a Resolução de Problemas favoreceu a

construção e o desenvolvimento do Pensamento Algébrico, sobretudo no que se refere à

generalização.

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS X GENERALIZAÇÃO

Até muito recente ensinar através da Resolução de Problemas era visto apenas como

uma forma de aplicar os conhecimentos já adquiridos anteriormente pelos alunos em alguma

situação problema. Dessa forma, os professores avaliavam se os alunos eram capazes de

empregar os conteúdos que foram ensinados, ou seja, os alunos apenas imitavam o que haviam

aprendido.

Porém, o aluno não pode mais aprender a resolver problemas por imitação. Como

enfatiza Bigode e Gimenez (2009) “A Resolução de Problemas não deve ser utilizada apenas

como forma de controlar se os alunos dominam essa ou aquela técnica, esse ou aquele

conceito”. Sendo assim, ela é um meio onde se possibilita a construção do conhecimento com

significado. Implica propor um trabalho onde não se conhece antecipadamente o método para

sua resolução, mas onde se busca estratégias e conhecimentos anteriores que auxiliam na

construção da solução e, por consequência, a construção de novos conceitos matemáticos.

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Sabe-se, porém, que a Matemática é composta por uma parte pouco aplicável e muito

abstrata, o que promove certa dificuldade no processo de ensino-aprendizagem. Levando em

consideração esse aspecto, uma grande parte dos alunos define-a, como uma disciplina cheia

de regras e mecanismos sem utilização no dia a dia.

Delvin enfatiza, ao defender os padrões que

[...] ao longo dos anos a Matemática tornou-se cada vez mais e mais complicada, as

pessoas concentraram-se cada vez mais nos números, fórmulas, equações e métodos

e perderam de vista o que aqueles números, fórmulas e equações eram realmente e

porque é que se desenvolveram aqueles métodos. Não conseguem entender que a

Matemática não é apenas manipulação de símbolos de acordo com regras arcaicas,

mas sim a compreensão de padrões – padrões da natureza, padrões da vida, padrões

da beleza (1998, apud VALE et al, 2009, p. 7).

Além disso, Vale et al (2009) estabelecem que se essa utilização vier abarcada à

Metodologia de Resolução de Problemas, os resultados tendem a ser ainda mais eficazes sendo

que, permite um excelente contexto para o desenvolvimento de conceitos matemáticos e,

paralelamente, permite envolver os alunos na exploração e formalização do problemas,

levando-os a conjecturar, a verbalizar relações entre os vários elementos do problema e a

generalizar. E principalmente auxiliando-os no desenvolvimento do raciocínio e da

comunicação.

A Generalização está intimamente ligada à Resolução de Problemas, pois facilita a

conexão e aprofundamento de conceitos matemáticos permitindo que os alunos sejam parte

fundamental na construção da sua própria aprendizagem, abordando vários tópicos de

diferentes formas e fazendo conexões com diversas áreas da Matemática, levando-os a refletir

sobre as ações e implicações.

Segundo Mestre e Oliveira (2011), a Generalização pode ser expressa de diversas

formas. Inicialmente, as crianças podem expressar as generalizações que observam no mundo

com palavras e, gradualmente, usar formas mais simbólicas. Segundo Ellis:

A generalização é uma atividade onde as pessoas dentro de um contexto

sociomatemático específico se envolvem em pelo menos uma das três ações seguintes:

a) identificam o que é comum entre os casos; b) estendem o raciocínio para além do

caso original; c) derivam resultados mais amplos a partir dos casos particulares. Neste

sentido, a generalização surge de uma representação coletiva que tem raiz na

comunidade, ocorrendo através de experiências mediadas pela interação, linguagem e

outras ferramentas próprias (ELLIS, 2011 apud MESTRE e OLIVEIRA 2011, p. 117).

Numa Generalização matemática, uma propriedade ou técnica é válida para um conjunto

de objetos matemáticos e uma das formas de desenvolvê-la é sensibilizar para a distinção entre

olhar para e olhar através, conjugando-se esta última com a capacidade de ver a Generalização

a partir do particular. Ademais, ela é um processo que envolve reflexão e discussão, onde os

alunos têm a oportunidade de exercitar a busca pelo padrão que gera as soluções aritméticas

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dos problemas matemáticos em que estão envolvidos. Partindo dessa premissa consideramos a

Generalização como aspecto central do Pensamento Algébrico, pois, segundo Puti:

O pensamento algébrico apresenta algumas características, como a de ser capaz de

perceber padrões e aspectos variantes, saber expressar a estrutura de uma situação-

problema; e saber fazer generalizações. Com estas características, o aluno é capaz de

fazer relações entre objetos, representando-os e raciocinando sobre suas

generalizações (PUTTI, 2011, p. 63).

Problemas que despertam nos alunos a busca pelo padrão geral é um caminho para a

compreensão da utilização da variável e consequentemente da procura da Generalização e da

construção de expressões algébricas. É possível propiciar esses momentos desde os anos

iniciais quando os alunos por meio de observações reconhecem a ordem e organizam as ideias

em relação a uma sequência, um agrupamento... isso, segundo Fujii (2003), citado por Mestre

e Oliveira (2011), aumenta a potencialidade dos alunos em começarem a compreender o

sentido da quase-variável mesmo que não usem símbolos para representá-las, ou seja, por meio

das observações dos padrões que envolvem operações aritméticas chega-se a generalizações.

Branco (2013), fala sobre a importância do professor na promoção de ambientes de

aprendizagem que forneçam mecanismos para o desenvolvimento do Pensamento Algébrico

dos alunos. Sendo essencial promover situações de aprendizagem que visem esse

desenvolvimento.

Vale ressaltar que, nesse trabalho tivemos a oportunidade de ofertar esses momentos em

sala de aula, e pudemos previamente analisar que todos eles, durante a plenária, fizeram com

que os alunos desenvolvessem a ideia de variável e seu sentido levando-os a generalizarem as

expressões.

Na medida em que todas essas instâncias se basearam na Generalização, pode-se

argumentar, sem dúvida, que as sequências generalizáveis são um motor e um aspecto integral

do desenvolvimento do Pensamento Algébrico e que a Generalização tem o poder de aumentar

o pensamento dos alunos em números específicos, operações específicas e abordagens

específicas de Resolução de Problemas para um nível mais alto que prefira variáveis, equações

algébricas e métodos de resolução geral. Para o aluno mais jovem ainda não introduzido na

notação algébrica, essas formas mais gerais de pensar em números, operações, notações tais

como o sinal de igualdade e métodos de resolução de problemas podem ser consideradas

algébricas. Assim, Lew (2004, p. 93, apud Branco, 2013) observou que a "A Álgebra é muito

mais do que um conjunto de fatos e técnicas; é uma maneira de pensar " e, portanto, o

Pensamento Algébrico não precisa necessariamente incluir "fatos e técnicas".

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METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

A investigação apresentada nesta comunicação seguiu uma metodologia de caráter

qualitativo de cunho descritivo e analítico, conforme Bogdan e Biklen (1991), uma vez que na

descrição dos resultados da pesquisa buscou-se pela produção escrita dos alunos, notas de

campo, imagens e vídeos a fim de atender ao objetivo de mostrar como o Pensamento Algébrico

e a Generalização emergem e se desenvolvem em sala de aula no contexto de uma prática de

ensino-aprendizagem através da Metodologia de Resolução de Problemas em uma turma de 7º

ano do Ensino Fundamental II. O estudo ocorreu no primeiro semestre do ano letivo de 2018

em uma turma composta por treze alunos, sendo cinco meninas e oito meninos com faixa etária

média de doze anos. A professora, primeira autora deste trabalho, assumiu o papel de

pesquisadora, daí a nomenclatura professora-pesquisadora.

Foram várias problemas trabalhados ao longo do primeiro semestre em busca do

objetivo proposto acima, no entanto, para esta comunicação selecionamos um problema que

julgamos ter respeitado a potencialidade da turma, levando em consideração a necessidade do

favorecimento da construção do Pensamento Algébrico. Tal problema ocorreu durante a aula

regular de Matemática, tendo duração de duas hora/aula para a aplicação e socialização foi

extraído de Menezes, Canavarro e Oliveira (2013), adaptados de acordo com a proposta didática

já referenciada, neste caso, a Resolução de Problemas, respeitando o programa de ensino. Os

alunos, sujeitos da pesquisa, foram identificados por pseudônimos a fim de manter suas

identidades preservadas.

Para a aplicação do problema, obedecemos os passos estabelecidos por Onuchic (2014),

conforme a abordagem didática da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de

Matemática através da Resolução de Problemas, buscando sempre observar o desempenho dos

alunos durante a realização da atividade; contribuir para o desenvolvimento do Pensamento

Algébrico, promovendo construção de conhecimento e gosto pelo fazer matemático;

oportunizando a construção de conexões entre Aritmética e Álgebra para assim estabelecer

significado aos símbolos e analisar como a Generalização se desenvolve em sala de aula, dando

significado e compreensão ao ensino-aprendizagem da Álgebra no contexto de uma prática

através da Resolução de Problemas.

Ao trabalhar em sala de aula com a Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação

de Matemática através da Resolução de Problemas, partimos do problema, pois ele é que gerará

o conceito ou conteúdo matemático que se quer estudar, tendo os alunos como co-construtor do

novo conhecimento (NUNES, 2015). No problema abaixo o que se pretendia era explorar o uso

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da variável para representar os valores desconhecidos e consequentemente promover o

desenvolvimento de uma equação do 1º grau na transposição da linguagem natural para a

linguagem simbólica.

Figura 1 – Enunciado do problema: Eleição para líder de turma.

Fonte: MENEZES, CANAVARRO & OLIVEIRA (2013)

O problema não apresentava um modelo ou sequência para ser seguido, deixando assim

livre para que os alunos pudessem estabelecer suas próprias estratégias e explicar seu

raciocínio. Acreditamos em uma exploração coletiva muito rica pois, o problema pode ser

desenvolvido por tentativa e erro, pela construção de uma tabela e também pelo método

algébrico. Desse modo, o confronto das várias estratégias que poderiam surgir, iriam favorecer

a formalização dos conceitos estudados durante as aulas e mostrar a eficácia do uso da resolução

algébrica.

Seguindo o roteiro estabelecido pela Metodologia de Ensino-aprendizagem-avalição de

Matemática através da Resolução de Problemas, começamos organizando a sala em grupos e

pedindo para que os alunos fizessem a leitura individual do problema para logo começarem a

discutir com o grupo quais as estratégias que deveriam seguir.

O primeiro grupo apresentou uma estratégia por tentativa mas não se atentaram para o

que dizia o enunciado em relação a quantidade de votos de Lucas e Francisco. Então foi

necessário a intervenção da professora-pesquisadora.

Problema Proposto: Eleição para o líder de turma.

A diretora de turma que coordenou o processo de eleição do líder de turma,

informou no final que:

1. Os 30 alunos da turma votaram e não houve votos brancos ou nulos;

2. Apenas três alunos receberam votos: a Francisca, o Lucas e a Sandra;

3. O Lucas recebeu menos dois votos que a Francisca;

4. A Sandra recebeu o dobro dos votos que recebeu o Lucas.

Quem ganhou as eleições? Com quantos votos?

Não te esqueças de apresentar e explicar o teu processo de resolução.

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Figura 2 – Primeira solução apresentada pelo grupo A

Fonte: Produção dos alunos

PROFESSORA-PESQUISADORA: Meninos lá no enunciado diz que Lucas recebeu

quantos votos?

GRUPO A: Diz que Lucas recebeu menos dois votos que a Francisca (leram o

enunciado).

PROFESSORA-PESQUISADORA: Na solução de vocês, Lucas recebeu oito votos e

Francisca seis. Então essa solução obedece as informações do enunciado?

GRUPO A: Não, Lucas recebe dois votos a mais que Francisca.

PROFESSORA-PESQUISADORA: Desse modo o valor que vocês pensaram não

satisfaz as informações dadas, é preciso pensar em uma outra que atenda todas as

informações e não apenas uma só delas.

GRUPO A: Vamos pensar novamente.

Figura 3 – Solução modificada apresentada pelo grupo A

Fonte: Produção dos alunos

O grupo repensou a quantidade de votos que cada um dos candidatos haviam recebido

mas dessa vez tiveram mais atenção para atender todas as informações que o enunciado trazia.

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Eles continuaram trabalhando com a tentativa e erro e não pensaram em usar uma variável para

apresentar a quantidade desconhecida de votos.

Observando o grupo B, já podemos notar que eles também usaram a tentativa e erro,

mas fizeram o registro na linguagem natural e na linguagem simbólica para representar as

quantidades de votos de cada candidato, porém não chegaram a um modelo genérico que

relacionasse as quantidades de votos dos três candidatos juntos.

Figura 4 – Solução apresentada pelo grupo B

Fonte: Produção dos alunos

PROFESSORA-PESQUISADORA: Vocês fizeram três registros diferentes para

representar a solução do problema, mas fiquei curiosa com a parte em que usaram a

variável para representar os votos. Vocês conseguem explicar no que pensaram?

ALUNO MÁRIO: Nós primeiro fizemos por tentativa mesmo, mas a primeira vez não

deu certo porque Lucas ficava com dois a mais que Francisca e isso não podia. Então

fizemos novamente e deu certo, aí decidimos escrever a explicação para mostrar como

pensamos. A parte do símbolo foi feita seguindo o que estava escrito no problema mas

não usamos, só foi feito mesmo para registrar o número desconhecido. Foi bom que

deu para entender que primeiro precisamos pensar no número de votos de Francisca

para depois descobrir o dos outros candidatos por que senão, não daria certo.

É possível notar que nos dois primeiros casos, os grupos A e B usavam a divisão por

três por se tratar de três candidatos, a partir daí iam pensando em números próximo ao dez (que

é o resultado da divisão de trinta votos por três candidatos) que satisfizessem as condições do

enunciado. Os grupos C e D também pensaram na mesma forma de solução, no entanto, eles

foram além e conseguiram generalizar e montar uma relação matemática fazendo uso dos

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símbolos (variável) para relacionar os votos de cada candidato e o total de votos. Ver figuras 5

e 6.

Figura 5 – Solução apresentada pelo grupo C

Fonte: Produção dos alunos

Figura 6 – Solução apresentada pelo grupo D

Fonte: Produção dos alunos

Nesses dois casos observamos que os alunos já foram capazes de entender o sentido da

variável e conseguiram desenvolver as expressões algébricas. Apesar de ainda recorrerem a

tentativa e erro, pois estes ainda não haviam estudado equações do 1º grau. Aqui, foi possível

observar que eles se aproximavam da definição da generalização distante, definida por Mestre

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e Oliveira (2011), pois construíram um modelo partindo das regras do problema, fazendo uso

das noções de abstração e generalização para sua resolução, mesmo sem terem tido contato

prévio com a solução de equações do 1º grau.

PROFESSORA-PESQUISADORA: Meninos vocês gostariam de explicar o que

fizeram (grupo C)?

ALUNO LEONARDO: Nós primeiro dividimos por três que é o número de candidatos

e depois resolvemos tentar quais números chegavam mais perto.

PROFESSORA-PESQUISADORA: Mas tinha alguma regra para escolher esses

números.

ALUNA MILENA: Tinha tia, tinha que lembrar o que o problema falava, porque lá

não dizia quantos votos cada um tinha mas falava umas regras.

PROFESSORA-PESQUISADORA: Sim, é muito importante lembrar das informações

do enunciado. Além disso percebi que vocês fizeram uma expressão para representar a

quantidade de votos.

ALUNO LEONARDO: Como das outras vezes nós usamos um símbolo para

representar o número que a gente precisava descobrir então fizemos a mesma coisa.

PROFESSORA-PESQUISADORA: E porque vocês igualaram a expressão ao número

trinta.

ALUNO LEONARDO: O total de votos era trinta, quando somar os votos de Lucas,

Francisca e Sandra então tem que ser trinta.

PROFESSORA-PESQUISADORA: E o grupo D pode nos dizer de que maneira

pensastes?

ALUNO JOÃO: Nós pensamos bem parecido ao grupo C, fizemos a tentativa e depois

usamos a letra x para representar o que era desconhecido. Como achamos que

Francisca tinha nove votos ai nós trocamos a letra x por nove e verificamos se no final

o resultado era trinta e deu certo.

Como estabelecido previamente, o objetivo central do problema, era levar os alunos a

formularem expressões algébricas que atendessem todos as restrições do problema e

posteriormente relacionar essas expressões formulando uma equação do 1º grau. Ou seja, no

momento da formalização a professora-pesquisadora trabalhou a resolução da equação

encontrada pelos alunos dos grupos C e D mostrando que o processo é mais rápido e eficiente.

Para validar as vantagens do uso da equação do 1º grau foram apresentadas outras equações

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com valores maiores e, assim os alunos puderam perceber que a resolução por tentativa e erro

nem sempre é eficiente podendo ser um processo longo e complexo.

Nessas circunstâncias, comprovou-se as vantagens do trabalho com a resolução da

equação do 1º grau e para fixação das ideias e conceitos discutidos. O trabalho, como forma de

estudo e fixação das ideias sobre equação do 1º grau, foi estendido, deixando outros problemas

para que os alunos resolvessem e apropriassem com segurança dos conhecimentos adquiridos.

Para Onuchic (2014) é importante ressaltar o papel do professor neste momento, ele

precisa estabelecer conexões com as aprendizagens que foram adquiridas anteriormente,

valorizar todas as estratégias usadas, organizar e estruturar os conceitos construídos através da

resolução do problema e por fim ensinar os alunos a resolverem a equação do 1º grau.

REFLEXÕES FINAIS

O que se pode evidenciar deste trabalho, a promoção do Pensamento Algébrico que

favoreceu o desenvolvimento da Generalização e, o papel da professora-pesquisadora foi

crucial nessa dinâmica ao promover o ambiente de Resolução de Problemas, encorajando e

levando seus alunos a reformularem suas justificações, por meio de questionamentos

específicos. Vale ainda destacar que essa interação com os alunos, sempre transmitindo

segurança e incentivo, fez com que eles se entusiasmassem e não desistissem do processo pela

busca da solução, validando o sucesso do trabalho.

Desse modo, espera-se que a experiência apresentada possa estimular os professores a

aturem de forma reflexiva, lembrando que a promoção de um ambiente favorável para a

construção do Pensamento Algébrico é capaz de fazer com que os alunos generalizem as

expressões em linguagem natural e aprendam a Álgebra de forma prazerosa por meio das

relações estabelecidas na Aritmética. Segundo Onuchic (1999, p. 211) “nenhuma intervenção

no processo de aprendizagem pode fazer mais diferença do que um professor bem formado,

inteligente e hábil”.

A legitimidade da proposta apresentada é fundamentada através dos seus resultados, que

evidenciaram os benefícios da utilização da Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação

de Matemática através da Resolução de Problemas em sala de aula tendo em vista a promoção

do raciocínio matemático, em especial do Pensamento Algébrico e da Generalização.

REFERÊNCIAS

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