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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS “PROJETO A VEZ DO MESTRE” O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ROSÂNGELA DA VEIGA PEREIRA ORIENTADOR: Professor Mestre Robson Materko RIO DE JANEIRO – RJ AGOSTO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

“PROJETO A VEZ DO MESTRE”

O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

ROSÂNGELA DA VEIGA PEREIRA

ORIENTADOR:

Professor Mestre Robson Materko

RIO DE JANEIRO – RJ

AGOSTO DE 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

“PROJETO A VEZ DO MESTRE”

O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

ROSÂNGELA DA VEIGA PEREIRA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para a obtenção do Grau de

Especialista em Psicopedagogia

RIO DE JANEIRO – RJ

AGOSTO DE 2001

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Agradeço a todos que me ajudaram

na elaboração deste trabalho de pesquisa.

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Dedico este trabalho de pesquisa às crianças.

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“Antes eu desenhava como Rafael,

mas precisei de toda uma existência para

aprender a desenhar como as crianças.”

Pablo Picasso

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SUMÁRIO

Página

Resumo ................................................................................................................06

Introdução ............................................................................................................07

Capítulo I : O desenho infantil ..............................................................................09

Capítulo II : As etapas do desenho ......................................................................12

Capítulo III : A importância do desenho e sua aplicação .....................................15

Conclusão ............................................................................................................19

Referências Bibliográficas ....................................................................................20

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RESUMO

Este projeto de pesquisa tem como objetivo mostrar a importância do

desenho no desenvolvimento infantil, como meio de expressão. Através dele a

criança revela coisas que se passam no seu íntimo e que ainda não é capaz de

revelar pela linguagem falada. Por isso, não deve ser empregado como atividade

para ocupação e recreação das crianças.

Respeitar a expressividade natural das crianças é deixar que elas

criem coisas, pensem, construam, cantem, falem sem limitá-las num pequeno

pedaço de papel mimeografado.

O projeto foi desenvolvido através do método dedutivo com uma

abordagem descritiva, apontando para uma pesquisa qualitativa com

levantamento de dados por pesquisa bibliográfica.

Submeter a criança a uma prática voltada para o treino de suas

habilidades pela cópia de modelos é sufocar o desenvolvimento desta linguagem

em vez de estimulá-la, é contribuir para a inibição do traço espontâneo.

Pesquisas devem ser produzidas para que o desenho infantil, produção

tão especial e tão diferente da arte convencional dos adultos possa ser

desvendado, estudado, compreendido.

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INTRODUÇÃO

Para o homem pré-histórico, a arte cumpria uma função de domínio

mágico sobre as forças da natureza. Ao desenhar um bisão nas profundezas de

uma caverna, supunha ter poderes sobre ele. O desenho era produzido pelo

homem caçador.

Na civilização egípcia, a arte tinha uma função religiosa. Reassegurava

a crença na imortalidade da alma e eternizava o poder dos faraós. Sua produção

era administrada pelos sacerdotes e possuía leis rígidas de representação que se

mantinham por várias dinastias.

Nos exemplos dessas duas civilizações, a arte sempre foi parte da vida

do homem, apresentando-se com significados diferentes conforme a cultura onde

foi produzida.

Podemos, retomar esses significados e reinterpretá-los, pois, quanto

mais desenvolvido é o pensamento humano, maiores são as possibilidades de

observar e recriar o passado, criar o presente e projetar o futuro.

A maioria dos planejamentos de ensino justifica a presença das

atividades artísticas no currículo pelo simples fato destas colaborarem para o

desenvolvimento geral da criança, no que se refere aos aspectos perceptivos,

motores e psicológicos. Geralmente, enfatizam, sem fundamentação convincente,

a importância da criatividade.

A escola esvazia os objetos artísticos de seu significado social dentro

de práticas ora acadêmicas, ora espontaneístas, que transformam o fazer artístico

em “arte escolar”, totalmente alienada daquilo que é produzido no meio sócio-

cultural onde a escola está inserida.

Buscar o desenho que ficou perdido na infância é um trabalho que

exige coragem e humildade. É fazer uma viagem em busca de seu próprio

desígnio.

O desenho é a primeira linguagem gráfica da criança, como brincadeira

faz sua marca, cria um espaço de criação, um espaço lúdico.

Para a criança o desenho é como o gesto ou a fala. Desenha para falar

e poder registrar a sua fala.

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Também é sua primeira escrita, onde deixa sua marca, antes de

aprender a escrever.

O desenho é uma maneira de colocar para fora idéias, elaborar e assim

crescer.

A criança tem a oportunidade através do desenho, de organizar-se

externa e internamente, trabalhar a questão de espaço, ver-se e rever-se, fazendo

um movimento de dentro para fora e de fora para dentro.

Através do desenho a criança não só demonstra seu mundo interior,

seus conflitos, seus receios, suas descobertas, suas alegrias, suas tristezas, etc.,

como os trabalha. Pode-se perceber que no ato de desenhar, pensamento e

sentimento estão juntos.

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CAPÍTULO I

O DESENHO INFANTIL

O desenho infantil tem sido objeto de estudo de psicólogos, sociólogos,

pedagogos, entre outros especialistas, pelo fato de a representação gráfica ser

considerada um meio para o acompanhamento e a compreensão do

desenvolvimento da criança. A atividade do desenho pode indicar os múltiplos

caminhos que a criança usa para registrar percepções, conhecimentos, emoções,

vontade, imaginação, memória na construção de uma forma de interação social.

A criança desenha, não o que vê, mas o que conhece e imagina. Tal

conhecimento e imaginação, permitem a criação do real possível, do real

imaginário.

Toda criança desenha.

Tendo um instrumento que deixe uma marca: a varinha na areia, a

pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e calçadas, o

lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando sua marca,

criando jogos, contando histórias.

“Desenhando, cria em torno de si um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. Lúdico. A criança desenha para brincar.” (Moreira, 1999, p.15)

O desenho como possibilidade de lançar-se para frente, projetar-se.

“Bem sabemos que a palavra desenho tem originalmente um compromisso com a palavra desígnio. Ambas se identificavam. Na medida em que restabelecermos, efetivamente, os vínculos entre as duas palavras estaremos também recuperando a capacidade de influir no nosso viver. Assim o desenho se aproximará da noção de projeto (pró-jet), de uma espécie de lançar-se para frente.” (Artigas, 1967)

A criança desenhando está afirmando a sua capacidade de designar.

Desenha brinquedos, brinca com os desenhos.

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É seu o desenho da sua pipa, o risco da amarelinha, o castelo de areia,

as estradas por onde andam seus carrinhos, a planta da sua casinha.

“Para melhor conhecermos a criança, diz Daniel Widlocher em ‘A interpretação dos desenhos infantis’ (1971, p.13), podemos sem dúvida consultar livros ou ouvir conferências que nos tragam seu retrato objetivo. Mas tal modo de proceder é insuficiente e perigoso. Para melhor conhecer a criança é preciso saber ouvi-la e saber falar-lhe.”

Para melhor conhecer a criança é preciso estar atento à maneira como

desenha, a maneira como escreve a sua história.

Porque o desenho é para a criança uma linguagem como o gesto ou a

fala.

A criança desenha para falar de seus medos, suas descobertas, suas

alegrias e tristezas.

Se a criança desenha para contar sua história, encontramos também a

criança que não desenha para não contar.

O que se pode perceber é que no ato de desenhar, pensamento e

sentimento estão juntos.

“Charlote Doyle fala de ‘um período de concentração’ no processo criativo; período em que o ato e o pensamento fundem-se numa única entidade; período em que o criador se liberta da repressão e do medo; um período de uma resposta intensa e liberada. (...) Um objeto de arte é o produto do fazer, formar ou construir que sintetiza em si respostas perceptivas, afetivas e cognitivas tanto em relação aos materiais quanto objetos. A arte contribui para a formulação da experiência ao colocá-la sob forma ordenada.” (Smith, 1982, p.13)

O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como

possibilidade de falar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada

estágio, o desenho assume um caráter próprio.

Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante

similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de

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temperamento e sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada idade

varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura.

“Comparem-se os trabalhos infantis em exposições internacionais. São bastante uniformes as pinturas de uma mesma faixa etária, embora procedentes de países diversos e de diversa estrutura social, países ocidentais, orientais, industrializados, agrícolas, altamente desenvolvidos, subdesenvolvidos. O que muda, naturalmente, são os objetos significativos que compõem o ambiente vivencial da criança, e a caracterização, ou seja, a função e a importância cultural em que a criança vem a conhecer estes objetos.” (Fayga Ostrower, 1977, p.127)

Para Piaget, 1978, “O sujeito epistemológico é o mesmo em todas as

culturas.”

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CAPÍTULO II

AS ETAPAS DO DESENHO

O grafismo é uma atividade que surge espontaneamente e muito cedo

na criança. Desde o primeiro ano de vida, a criança demonstra interesse muito

grande em rabiscar tudo à sua volta, utilizando os mais diferentes recursos que

tenha ao seu alcance.

A fase da rabiscação é muito importante, porque o exercício aí

realizado contribui para que o sistema motor adquira o controle para obedecer

mais tarde à vontade da criança.

“Talvez seja no rabisco, traço ativo, ainda impregnado do dinamismo

do gesto que o produziu, que a instantaneidade do desenho infantil apareça

melhor.” (Méredieu, 2000, p.7)

A evolução da criança começa com o que podemos chamar de

desenho informal. Nesse estágio, no plano plástico, a expressão infantil começa

pelo borrão, ou pelo aglomerado, e, no plano gráfico, pelo rabisco, movimento

oscilante, depois giratório, determinado na origem por um gesto de flexão em

direção ao sentido oposto aos ponteiros do relógio. O estudo dessas primeiras

manifestações é capital para quem quiser compreender a arte infantil.

“O desenho, na sua forma mais simples, que é o rabisco, é uma maneira muito original de a criança sentir tudo que a cerca e comunicar esse sentimento. Quando, desde cedo a criança é submetida a treinamentos em atividades mecânicas, ela fica sem espaço. Isso não se dá por acaso. Na verdade, o incentivo à livre expressão não convém à sociedade em que vivemos. Fazer com que todos ajam de forma uniformizada, preferencialmente sem pensar, corresponde a um projeto de civilização, de país, onde as pessoas não devem perceber, sentir, pensar, ter visão crítica, se expressar e agir. E a escola acaba sendo um importante instrumento dessa dessensibilização.” (Dworecki,1989, p.34)

A criança sente dificuldade, ao desenhar as primeiras figuras, em

formar ângulos agudos, que demandam uma freada do gesto: existe portanto uma

predominância das formas circulares e os primeiros rabiscos consistem em

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espirais ovaladas, executadas com um só traço, sem que a criança interrompa o

gesto ou levante o lápis. Esses traçados circulares podem ser obtidos muito cedo,

às vezes desde o primeiro ano; a aptidão para traçar linhas retas só virá muito

mais tarde e o quadrado por volta dos cinco anos. As linhas verticais de início

predominam sobre as horizontais.

Segundo, Florence de Méredieu: “O olho, que no começo segue a mão,

passa a guiá-la.”

A evolução repousa no domínio progressivo da criança sobre a sua

própria atividade gestual. A produção de pequenos traços retomados e

superpostos, marca a aquisição do controle do ponto de partida: a criança sente

um grande prazer em executar esse tipo de traçado, em poder levantar e abaixar

o lápis. Depois, ela se torna capaz de grafismos mais ricos e mais complexos,

como a figura da irradiação onde encontramos uma prefiguração do boneco

girino.

Daí por diante, tudo está preparado para o aparecimento da figura do

boneco, onde a criança realiza a síntese de duas figuras anteriores, a irradiação e

os círculos.

Progressivamente, o boneco se enriquece, torna-se mais complexo. De

início um simples círculo munido de tentáculos, agora ele se vê dotado de um

corpo que pode se transformar em bonecos-flores-casas-sóis, o que representa

um salto qualitativo a nível de pensamento.

Gradativamente, o desenho passa a ter cada vez mais relação com a

realidade e a criança procura retratar elementos do mundo que a cerca, tornando-

os cada vez mais identificáveis. Isto não significa, porém, que ela faça uma cópia

dos objetos, pois não demonstra ainda, nenhum compromisso com o real. O

emprego das cores, às vezes, é determinado pelas sua emoções: mesmo que

perceba que a grama é verde, ela pode desenhá-la de vermelho, por ser sua cor

preferida ou desejar um colorido mais forte.

O mesmo acontece em relação às proporções, a criança pode

desenhar uma flor ou um animalzinho maior do que uma casa.

Outra característica importante do desenho é a transparência que se

manifesta pela inclusão de detalhes que normalmente não apareceriam, tais como

a raiz de uma árvore dentro da terra, os dois olhos numa pessoa de perfil. A

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transparência se dá porque a criança está preocupada em registrar aquilo que

sabe a respeito do que está representado no desenho.

“O desenho como expressão do pensamento tende a conquistar novas formas com o crescimento da criança. É linguagem que precisa conquistar um vocabulário cada vez mais amplo, sem contudo perder a intensidade e a certeza do seu traço.” (Moreira,1999, p.44)

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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO E SUA APLICAÇÃO

Segundo Ostrower, 1977, p.166: “Criar é tão difícil ou tão fácil como

viver. E é do mesmo modo necessário.”

A maioria das crianças quando cresce diz: “Eu não sei desenhar...” e

também não criam mais histórias e endurece seu corpo.

Os desenhos aviões-pássaros-estrelas, ficam esquecidos, como

esquecidos ficam os velhos brinquedos.

“Se os desenhos das crianças são objeto da nossa curiosidade é porque não existe desenho de adultos. O adulto quando não é um artista não desenha. O desenho, da mesma forma que os jogos, é uma atividade que envelhece com o passar dos anos e revela um tipo de conduta própria da criança.” (Widlocher, 1971, p. 8)

O desenho infantil tem sido empregado pela maioria dos educadores

como ótima atividade para ocupação e recreação das crianças.

A criança que deixa de desenhar ao entrar na escola, porque deixa de

brincar, mostra que a escola iniciou sua tarefa com crianças menores, porém não

se equipou para proporcionar as mesmas a expansão necessária ao seu estágio

de desenvolvimento; e a escola vê na alfabetização uma saída viável para ocupar

as crianças e satisfazer os pais.

A escola, “despreza assim a linguagem natural da criança que se expressa através do desenho e do jogo e procura equipá-la com uma linguagem ensinada. Porém, enquanto aprende a dominar um novo código, a criança vai sendo dominada.” (Moreira,1999, p. 68)

A mecânica da alfabetização implica que a criança abandone a sua

escrita e adote uma escrita aprendida, convencional.

O tempo destinado à alfabetização se antepõe ao tempo do desenho,

numa época em que o desenho é a necessidade fundamental da criança.

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Pressionada no tempo e pela mecânica que a faz repetir formas

sempre iguais, “para ser alfabetizada”, é que a criança rompe com o seu desenho.

Ela pára de desenhar, estaciona.

“Em um artigo intitulado ‘A educação artística e a psicologia da criança’, aponta para o fato de que a criança pequena pareça melhor dotada do que as maiores, no que se refere à expressão plástica, gestual e musical; e que quando se estuda o desenvolvimento cognitivo, nota-se uma evolução contínua, enquanto que, no desenvolvimento artístico, tem-se a impressão de um retardamento.

E Piaget comenta: “O que acontece é apenas um aspecto particular deste fenômeno geral que, desgraçadamente, caracteriza os sistemas tradicionais de educação. Do ponto de vista intelectual a escola impõe, muito freqüentemente, conhecimentos todos elaborados, em lugar de estimular a sua busca, mas pouco se nota isto, porque o aluno que repete simplesmente o que o fizeram aprender parece apresentar rendimento positivo, sem que se suspeite de tudo aquilo que ele possui de espontâneo e de curiosidade fecunda. Pelo contrário, no domínio artístico em que nada vem substituir de ordinário tudo que a pressão adulta arrisca a destruir para sempre é muito evidente que o problema uma vez apresentado, comprometa com efeito todo o nosso sistema de ensino.” (Piaget, 1978, p. 53)

A escola não dá atenção à maneira como a criança vê as coisas; antes,

imprime na criança a maneira adulta e lógica de ver o mundo.

“Porque motivo as crianças, de modo geral são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Será a poesia um estado de infância relacionado com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos do viver, estado de pureza da mente em suma? (...) Mas se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em qualquer outra instituição social, elemento corrosivo do instinto poético da infância, que vai fenecendo à proporção que o estudo sistemático se desenvolve, até desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida? – Receio que sim. A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua

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capacidade de viver poeticamente o conhecimento do mundo.” (Drummond de Andrade, 1974, p.15)

O problema da perda do ato de desenhar, é apenas um reflexo de um

problema geral de falta de expressão dentro da escola.

Nos primeiros anos escolares, o problema parece estar centrado na

prioridade dada à alfabetização, porque ocupa todo o tempo da criança na escola.

Porém nos anos seguintes o problema se agrava, e o desenho acaba ficando

espremido nas sobras de tempo.

“A educação é obra transformadora, criadora. Ora, para criar é necessário mudar, perturbar, modificar a ordem existente. Fazer alguém progredir significa modificá-lo. Por isso, a educação é um ato de desobediência e de desordem. Desordem em relação a ordem dada, uma pré-ordem. Uma educação autêntica re-ordena. É por essa razão que ela perturba, incomoda. É nessa dialética ordem-desordem que se opera o ato educativo, o crescimento espiritual do homem. Precisamos de certa incoerência para crescer. Educar-se é colocar-se em questão, reafirmar-se constantemente em vista do mais humano para o homem.

A dominação forma gente submissa, que não pensa ou pensa segundo uma realidade que não é a sua realidade.” (Gadotti, 1980, p.89)

A uniformidade que encontramos em desenhos de uma mesma classe

é tradução de uma relação autoritária. Todos temos na lembrança, as casinhas,

os coelhos e outros modelos, que são repetidos incansavelmente por todas as

crianças numa sala de aula; sejam estes desenhos copiados do quadro de giz, ou

mimeografados pelas professoras para as crianças colorirem. E ninguém percebe

que estas são atividades puramente mecânicas, que nada contribuem para o

desenvolvimento das crianças.

“Transformar o mundo através do seu trabalho, dizer o mundo, expressá-lo e expressar-se é próprio dos seres humanos. A educação, qualquer que seja o nível em que se dê, se fará tão mais verdadeira quanto mais estimule o desenvolvimento desta necessidade radical dos seres humanos, a de sua expressividade.” (Paulo Freire, 1977, p.24)

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“... Cada matéria está destinada a ser cuidadosamente arrumada em sua gavetinha: uma para gramática, outra para geografia etc., e cada gaveta não se comunica com as outras. Elas se abrem, uma de cada vez na hora certa (...) Algumas guardam coisas de maior valor. Na escola primária, por exemplo, uma das maiores riquezas que se pode arrumar numa gaveta é a ortografia. Segundo o domínio que se tenha dela é que se poderá prosseguir nos estudos. Outras gavetas são menos consideradas. Pouco importa à escola que se tenha uma gaveta repleta de boa música ou de belos desenhos!” (Id)

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CONCLUSÃO

Tendo em vista os aspectos estudados, conclue-se que, arte é a

primeira linguagem do homem, pois antes de escrever o homem primitivo fez

desenhos nas cavernas, assim como acontece com qualquer criança.

Toda criança é capaz de desenhar. Submetê-la a uma prática voltada

para o treino de suas habilidades pela cópia de modelos é sufocar o

desenvolvimento desta linguagem, é contribuir para a inibição do traço

espontâneo.

O desenho não serve apenas para treinar as habilidades motoras das

crianças. Muito mais que isso, é através dele que as crianças desenvolvem sua

capacidade de percepção da realidade.

Assim sendo, o desenho assume relevante importância no

desenvolvimento infantil quando as crianças são incentivadas à livre expressão.

Faz-se necessário futuros estudos para um maior aprofundamento

sobre o tema.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1974, 15 p.

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FREIRE, PAULO. Ação cultural para a liberdade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e

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GADOTTI, M. Educação e poder: Introdução à pedagogia do conflito. São

Paulo: Cortez, 1980, 89 p.

MÉREDIEU, Florence de. O desenho infantil. 7ª ed. São Paulo: CULTRIX, 2000,

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MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: educação do

educador. São Paulo: Loyola, 1984, 15 p, 44 p, 68 p.

OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Rio de Janeiro: Imago,

1977, 127 p, 166 p.

PIAGET, Jean. O estruturalismo. São Paulo: Difel, 1978, 53 p.

SMITH, N. A criatividade nas pinturas das crianças e dos artistas. Revista

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WIDLOCLER, D. A interpretação dos desenhos infantis. Petrópolis, RJ: Vozes, 1971,

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