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O DESAFIO DA INOVAÇÃO INDUSTRIAL NO ESPÍRITO SANTO Marcos Aurelio Lannes Junior, Rodrigo Loureiro Medeiros (Instituto Federal do Espírito Santo) Resumo: O aumento das incertezas na economia nacional e internacional após a crise econômica de 2008 e a configuração cada vez mais evidente de um processo de desindustrialização no Brasil são situações que se refletem na indústria do Espírito Santo, que precisa ser inovadora para se tornar mais competitiva. Este artigo tem como objetivo tratar dos desafios do setor industrial capixaba, tendo como base o MEIC (Mapa Estratégico da Indústria Capixaba) 2013-22, elaborado pela FINDES (Federação das Indústrias do Espírito Santo). Palavras-chaves: desindustrialização; economia; política industrial; inovação industrial; pesquisa; desenvolvimento. ISSN 1984-9354

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O DESAFIO DA INOVAÇÃO INDUSTRIAL NO ESPÍRITO SANTO 

Marcos Aurelio Lannes Junior, Rodrigo Loureiro Medeiros

(Instituto Federal do Espírito Santo)

Resumo: O aumento das incertezas na economia nacional e internacional após a crise econômica de 2008 e a configuração cada vez mais evidente de um processo de desindustrialização no Brasil são situações que se refletem na indústria do Espírito Santo, que precisa ser inovadora para se tornar mais competitiva. Este artigo tem como objetivo tratar dos desafios do setor industrial capixaba, tendo como base o MEIC (Mapa Estratégico da Indústria Capixaba) 2013-22, elaborado pela FINDES (Federação das Indústrias do Espírito Santo).

Palavras-chaves: desindustrialização; economia; política industrial; inovação industrial;

pesquisa; desenvolvimento.

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

O debate da competitividade da economia brasileira não é novo. Ele esteve presente entre nós em

muitos momentos da história. Mais recentemente, por conta da crise mundial que eclodiu em

setembro de 2008, essa discussão retornou ao palco dos grandes debates nacionais.

Com base nas informações públicas disponíveis sobre a desindustrialização, os cenários que as

economias capixaba, brasileira e mundial viveram no período pós-crise de 2008, este artigo tem

como objetivo geral identificar e listar os desafios que o Espírito Santo terá para tornar o seu setor

industrial mais inovador e competitivo.

Os objetivos específicos consistem em mapear os fatores que levaram a desindustrialização do

País nas últimas décadas, incluindo mudanças na política industrial brasileira, a evolução

industrial com impactos na econômica capixaba, o desenvolvimento de práticas que levem à

inovação industrial em nosso país, finalizando com o relacionamento dos itens anteriores com as

políticas propostas no MEIC 2013-22.

A temática em questão ganhou relevância nos últimos anos devido às discussões sobre como

melhorar a competitividade da indústria brasileira e sua participação no PIB (Produto Interno

Bruto). Tornou-se quase uma “sabedoria convencional” dizer que o caminho é tornar o setor

produtivo nacional mais inovador. Definidos os objetivos e a justificativa do artigo, o método a ser

utilizado é a abordagem analítica de indicadores quantitativos e qualitativos, por meio de fontes

bibliográficas e documentais secundárias.

O artigo encontra-se dividido em seções. A segunda seção tratará do referencial teórico sobre

indústria e política industrial. Na próxima seção serão apresentados indicadores relevantes para a

abordagem do fenômeno da desindustrialização. Posteriormente, na quarta seção, será analisado

como a relação entre teoria e números compõem o diagnóstico do setor industrial brasileiro. Na

quinta seção, serão apresentados os aspectos principais do Mapa Estratégico da Indústria Capixaba

(MEIC) 2013-22 e a sexta seção, na conclusão, será exposta a sua relação com o diagnóstico

empreendido nas seções anteriores.

2. Indústria e política industrial

Para entender o cenário atual da indústria, bem como os efeitos das mudanças no setor têm sobre

as medidas a serem tomadas para tornar a indústria instalada no Espírito Santo mais dinâmica

(inovadora), é necessário que se identifique caminhos para essas transformações, assim como os

motivos que levaram o setor a perder participação na economia brasileira. Pode-se ter uma boa

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compreensão do assunto a partir de dois pontos, avaliando a relação entre indústria e política

industrial.

Segundo Suzigan e Furtado (2006), a política industrial (PI) pode ser vista de duas maneiras: para

autores liberais, a PI é vista como uma intervenção limitada do Estado no setor para corrigir

imperfeições de mercado (externalidades, incerteza, informação insuficiente ou assimétrica, etc.),

sendo que tais intervenções não seriam seletivas (escolher uma atividade ou um conjunto destas

em detrimento de outras). Já para os autores neoschumpterianos, a PI é mais abrangente, pois não

se aplica somente ao ambiente industrial, mas também ao ambiente institucional, à infraestrutura e

à economia, que estão relacionadas ao setor. Para este caso, a PI é direcionável a atividades que

possam induzir mudança tecnológica, e possui diversos suportes (instituições de apoio à indústria,

infraestruturas, normas e regulamentações).

Esse confronto de visões sobre a PI persiste nas citações de Cabral (1994 apud REGUEIRA,

2003), em que é dito que esta pode ser definida como as condições básicas necessárias para o bom

funcionamento dos mercados. O modo de condução, assim como descrito pelos autores do

parágrafo anterior, também pode variar, sendo que seus dois extremos são: “O Estado como motor

do desenvolvimento” e “A melhor política industrial é não ter política nenhuma”. Como a

experiência já mostrou, os extremos são perigosos.

Historicamente, conforme Suzigan e Furtado (2006), a industrialização do Brasil entrou de forma

definitiva na agenda política após a Segunda Guerra Mundial, com a implantação de diversas

políticas industriais. Predominava na época o nacional-desenvolvimentismo e o intervencionismo

estatal, que unia diversas forças políticas e interesses econômicos em torno de um mesmo

objetivo. Decisões favoráveis à política industrial tiveram dois momentos de destaque: o Programa

de Metas, do governo de Juscelino Kubitschek, implementado por grupos executivos industriais

que contavam com participação do setor privado, e o II Plano Nacional de Desenvolvimento, no

regime militar, sob a tutela do Conselho de Desenvolvimento Econômico.

A partir da crise da dívida externa, em 1982, seus excessos e suas falhas ficaram expostos. Desde

então, nota-se uma gradual reprimarização da pauta exportadora brasileira e a perda de

participação da indústria na composição do PIB. Esse assunto vem sendo debatido no presente de

forma qualificada no Brasil e muitos estudiosos levantam suas preocupações com o retorno de

excessos intervencionistas (BACHA; BOLLE, 2013). O tema é complexo e divide opiniões em

muitos dos seus aspectos.

Segundo Medeiros (2013), nos primeiros anos de um processo de industrialização, os países

promovem grandes saltos em produtividade e crescem com a migração de seus agricultores para as

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cidades. Isso acontece mesmo sem investimentos significativos em capital humano e no

fortalecimento das instituições. O Brasil cresceu assim durante as décadas de 1960 e 1970. Algo

similar ocorreu com a Coreia do Sul e Taiwan. No entanto, esse processo tem um baixo fôlego,

seja por falta de tecnologia ou em razão do aumento da competição global. Atingido o status de

renda média, o crescimento se torna mais difícil.

Para ultrapassar esse ponto, necessita-se de investimentos em capital humano e em capacidade

institucional (governança, instituições e regulação econômica). Tais investimentos são custosos,

demandam tempo de maturação e não produzem resultados imediatos. Esse parece ser o caso do

Brasil neste momento histórico. A desindustrialização brasileira iniciou-se prematuramente, antes

do país vencer a armadilha da renda média e, nesse sentido, ela não deslocou mão de obra para

serviços de alta produtividade. O ritmo do seu crescimento econômico foi afetado, incluindo o seu

potencial de crescimento sem grandes pressões inflacionárias.

A reindustrialização, aumentos das participações relativas da indústria no PIB e do emprego nesse

setor, nos moldes do passado não parece ser uma opção realista. Conforme Medeiros (2013), as

indústrias que sobreviverão serão as altamente produtivas e de capital intensivo, ou seja, serão

aquelas focadas em qualidade e produtividade. Portanto, elevar a produtividade geral da

economia, a partir de qualificados investimentos em capitais humanos e físicos, torna-se essencial.

3. Indicadores relevantes sobre a questão da desindustrialização

3.1 O conceito de desindustrialização

Existem alguns indicadores que são bastante relevantes no sentido de embasar o argumento de que

houve de fato um processo de desindustrialização no Brasil e que isso trouxe (e traz) efeitos

negativos para a economia do país. Antes de falar dos indicadores, porém, é necessário falar sobre

o conceito de desindustrialização, que para Rowthorn e Wells (1987 apud NASSIF, 2008) e

Rowthorn e Ramaswany (1999) significa uma retração significativa do emprego no setor

manufatureiro frente a outros setores, em especial o de serviços. Tal fenômeno começou a tomar

forma nos países desenvolvidos a partir dos anos 1970 e na América Latina esse fenômeno passou

a acontecer com mais intensidade na década de 1990. Tregenna (2009 apud OREIRO; FEIJÓ,

2010) expande esse conceito, incluindo a redução do valor agregado da indústria ao PIB de um

país.

A desindustrialização, de acordo com Rowthorn eRamaswany (1999), possui fatores internos e

externos. Os fatores internos seriam, basicamente, uma mudança na relação elasticidade-renda

(variação na demanda de um bem em função da variação da renda) por produtos manufaturados e

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serviços e o crescimento mais rápido da produtividade no setor industrial em relação ao de

serviços. Já os fatores externos teriam a ver com o grau de integração comercial e produtiva das

economias, ou seja, com o estágio alcançado com o processo de globalização.

Existe ainda um caso a parte sobre o tema da desindustrialização e que é conhecido como “doença

holandesa”. Oreiro e Feijó (2010) caracterizam isso como uma situação em que a abundância de

recursos naturais pode induzir a redução da participação da indústria no emprego e no valor

adicionado por intermédio da apreciação cambial, o que resulta em perda de competitividade da

indústria e um déficit comercial crescente da mesma, em detrimento de um superávit comercial

cada vez maior em setores não industriais. Outras características da “doença holandesa” são: a

desindustrialização causada neste quadro é precoce, antes de suas estruturas industriais terem

chegado a um nível de maturidade tal que permita o esgotamento de todas as possibilidades de

desenvolvimento econômico por meio da industrialização, bem como o fato de que tal quadro se

inicia quando o nível de renda per capita é inferior ao dos países desenvolvidos que passaram pelo

mesmo processo.

3.2 Indicadores da situação brasileira

Diante de informações conceituais mais detalhadas sobre a questão da desindustrialização, é

possível identificar os indicadores que são relevantes para este tema, bem como realizar

inferências sobre os mesmos em função da teoria (esses dois últimos serão abordados de forma

pormenorizada na próxima seção).

O primeiro indicador está na composição do gráfico abaixo, que é a participação da indústria,

sobretudo a de transformação, nos últimos anos no valor adicionado total da economia (valor dos

bens produzidos deduzidos os custos de insumos adquiridos de terceiros). Tal participação vem

caindo desde os meados dos anos 1980.

Gráfico 1 – Participação dos setores no valor adicionado total, em valores percentuais. (Fonte: IBGE apud. SQUEFF,

2012)

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O segundo está na evolução do PIB per capita e participação da manufatura no valor adicionado,

comparando países latinos, asiáticos e europeus. Conforme colocado na subseção anterior (3.1), tal

participação caiu de forma bastante precoce no Brasil, conforme mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 2 – Comparativo da participação da manufatura no valor adicionado e do PIB per capita. (Fonte: Groningen

Growth and Development Centre apud. MARCONI; ROCHA, 2012)

O terceiro gráfico está relacionado ao quantum do comércio exterior na indústria de

transformação, a preços de 1995. Observa-se que depois de um período de oscilação em torno “do

equilíbrio” seguido por um período de superávit, houve o surgimento e aprofundamento de um

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quadro deficitário na balança comercial, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 3 – Quantum do comércio exterior na indústria de transformação. (Fonte: Funcex apud. MARCONI;

ROCHA, 2012)

O quarto indicador tem a ver com a rentabilidade das exportações, em que são comparados as

commodities e os produtos manufaturados, sendo que nesse quesito os últimos vêm sofrendo

queda desde 2002, conforme mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 4 – Comparativo da rentabilidade das exportações de commodities e manufaturados, tendo como base 100 no

ano de 1995. (Fonte: MARCONI; ROCHA, 2012)

Outros indicadores, não menos importantes para o entendimento do quadro que se desdobrou nos

últimos anos são o nível de emprego e a produtividade, itens que podem ser conferidos no gráfico

abaixo.

Gráfico 5 – Comparativos das taxas anuais médias de crescimento (em valores percentuais) dos itens na indústria:

geração de emprego, folha de pagamento, custo de trabalho e produtividade. (Fontes: IBGE, PIM-PF e PIMES apud.

IEDI, 2014)

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4. O atual quadro da indústria no Brasil

Diante das informações já apresentadas sobre política industrial, desindustrialização, sendo esta

última apresentada na forma de um conceito com indícios que permitam identificá-la, bem como

os dados apresentados na seção anterior, é possível chegar a inferências que nos permitam delinear

sobre o atual quadro da indústria nacional.

O Gráfico 1, mostra que a participação da indústria (tanto em linhas gerais como a indústria de

transformação) no valor adicionado vem entrando em queda desde os meados dos anos 1980,

poucos anos após a eclosão da crise da dívida externa brasileira. Houve um “repique” no ano de

1994 (lançamento do Plano Real), porém depois disso a tendência de declínio foi restabelecida.

Esse quadro aponta para um dos conceitos básicos de desindustrialização, que é a redução da

participação industrial na economia.

No Gráfico 2, há outra informação importante. O início da perda de participação da indústria

brasileira ocorreu em patamares de PIB per capita muito baixos. Enquanto na maioria dos países

desenvolvidos ela só foi observada quando tal indicador ultrapassava os US$ 10 mil e em alguns

emergentes um pouco abaixo disso, em nosso país esse processo começou quando o PIB per capita

chegou a pouco menos de US$ 4 mil. Tal informação sugere o efeito da “doença holandesa”

anteriormente citada.

O Gráfico 3, por sua vez, ilustra uma situação bem clara: com uma política cambial que favoreceu

a valorização do real desde o advento do Plano Real (1994), as importações no setor de

manufatura cresceram de forma acelerada em detrimento das exportações e a balança comercial

industrial, antes superavitária, passou a acumular déficits cada vez maiores desde 2008. Esse

quadro representa mais um obstáculo ao desenvolvimento da indústria brasileira.

Logo a seguir, no Gráfico 4, percebe-se outro empecilho para o desenvolvimento da indústria no

Brasil: a rentabilidade das exportações, que desde 2002 enfrenta sucessivas quedas para os

manufaturados, enquanto que a das commodities oscila em torno de uma tendência central. Tal

quadro é coerente com o temor de “reprimarização” da pauta exportadora brasileira.

Por fim, o Gráfico 5 ilustra situações que ora são indícios do quadro atual, ora são obstáculos para

revertê-lo. Nos últimos três anos, nota-se a redução da participação relativa do emprego industrial,

o custo do trabalho aumentou e a produtividade caiu. O primeiro item aponta para um dos

conceitos básicos de desindustrialização, que é a redução da participação da indústria no emprego.

Os dois últimos itens apontam dificuldades para reverter ou amenizar esse quadro.

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Em síntese, é possível inferir que as informações apresentadas nos gráficos são indícios de que

existe um processo de desindustrialização no Brasil, sendo que o nosso caso se aproxima de uma

variante da “doença holandesa”, em que a abundância de recursos naturais, combinada com um

ciclo de valorização cambial e o aumento da rentabilidade das exportações de commodities, cria

um ambiente desestimulante para a indústria de transformação nacional. Cabe lembrar novamente

que esse quadro de redução da importância do papel indústria na geração de empregos e na

economia ocorreu a partir um patamar de PIB per capita muito inferior ao observado nos países

desenvolvidos.

5. Mapa Estratégico da Indústria Capixaba (MEIC) 2013-22: alguns pontos

importantes

Assim como o Brasil, o Espírito Santo possui diversos desafios para o desenvolvimento do seu

setor industrial. Alguns desses desafios se processam por conta das características históricas do

processo de industrialização no Estado, que teve um começo tardio em relação ao restante do País

(CORRÊA ROCHA; MORANDI, 2012). Ademais, a economia capixaba possui grau de abertura

muito superior à média nacional. Os gráficos que seguem logo abaixo, extraídos do plano

estratégico ES 2030 (2013), mostram tais diferenças.

Gráfico 6 – Abertura do Espírito Santo ao comércio exterior, em comparação com o Brasil (Fontes: IBGE e HDIC

apud. Governo do Estado do Espírito Santo, 2013)

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Gráfico 7 – Participação dos setores agropecuário, industrial e de serviços no PIB do Espírito Santo e do Brasil no ano

de 2010, em valores percentuais. (Fontes: IBGE e IJSN apud. Governo do Estado do Espírito Santo, 2013)

Gráfico 8 – Participação das atividades da indústria no Espírito Santo e no Brasil no PIB setorial do ano de 2010,em

valores percentuais. (Fontes: IBGE e IJSN apud. Governo do Estado do Espírito Santo, 2013)

Esse grau de abertura da economia capixaba ao comércio exterior, apesar de ter sido vantajosa

economicamente no sentido de atrair maior volume de investimentos e de dar mais dinamismo à

economia, tem na persistência da crise global os seus desafios, alguns velhos e outros novos

(FINDES, 2013). Quanto ao perfil da economia capixaba, a participação da indústria no PIB é

superior à média nacional. Essa é uma situação que poderia ser até encarada como algo muito

animador, não fosse o fato de que a participação das atividades da indústria de transformação com

capacidade de gerar maior valor agregado ser muito inferior ao observado no restante do País (cf.

Gráfico 8). A indústria capixaba pode ser encarada como de baixa maturidade.

Direta ou indiretamente, essas informações econômicas sobre o Espírito Santo influenciaram na

elaboração do Mapa Estratégico da Indústria Capixaba (MEIC) 2013-22, feito no âmbito da

Federação das Indústrias do Espírito Santo. Este plano contém propostas de agenda para o

desenvolvimento da indústria capixaba que visam dar maior dinamismo e capacidade de inovação

à mesma.

Suas propostas são divididas nas seguintes perspectivas: bases do desenvolvimento, focos de

atuação, mercado e resultados. Antes, porém, de se falar das propostas, é necessário tomar nota

das suas metas. A tabela abaixo expõe de forma bem sucinta esse conjunto de metas.

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Tabela 1 – Metas de indicadores econômicos, sociais e ambientais no MEIC 2013-22. (FINDES, 2013)

Em cada uma das diversas perspectivas do MEIC 2013-22 existem temas, que são divididos em

objetivos que preveem ações para que se alcancem metas ao longo do período de vigência do

plano. Existem previstos dois períodos de verificação do cumprimento das metas: 2015

(intermediário) e 2022 (término de vigência do plano).

Alguns dos seus objetivos e ações específicas para tornar a indústria capixaba mais dinâmica e

inovadora devem ser salientados. A começar pelas bases do desenvolvimento, no objetivo 2.1, que

visa à redução da carga tributária e a simplificação de seu sistema, conforme tabela abaixo.

Tabela 2 – Número de ações da Findes a serem tomadas para o cumprimento da redução da carga tributária e

simplificação de seu sistema (Fonte: FINDES, 2013)

Algumas destas ações são bastante significativas no sentido de dar mais fôlego à indústria

capixaba, como o apoio à redução de tributos sobre a folha de pagamentos e a articulação de ações

para desonerações na aquisição de máquinas e equipamentos, um passo importante para a

evolução tecnológica do setor e, direta ou indiretamente, contribuiria com a questão da

produtividade.

Outro objetivo a ser destacado é o 3.1, que visa melhorar o uso e o acesso às fontes de fomento (as

metas não foram descritas até o fechamento do MEIC). As ações previstas para que esse objetivo

seja alcançado seria o desenvolvimento de ações junto às instituições de fomento para ampliar a

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captação de recursos pelas micro, pequenas e médias indústrias e a articulação de medidas para a

flexibilização de garantias, uniformização de critérios de análise de projetos e de desembolso de

recursos para permitir maior agilidade na execução dos investimentos.

Quanto à infraestrutura econômica, o MEIC 2013-22 elenca como objetivos a melhoria da TIC

(Tecnologia de Informação e Comunicação), a garantia da disponibilidade de energia em longo

prazo e a melhoria da mobilidade urbana na Região Metropolitana da Grande Vitória. Ações

consistentes para desenvolver essa infraestrutura econômica são importantes para garantir um bom

apoio ao setor industrial, uma vez que uma infraestrutura de comunicação rápida e estável, o

fornecimento confiável de energia e uma mobilidade urbana que permita ao trabalhador da

indústria se deslocar com maior eficiência são importantes para garantir uma maior produtividade

do setor.

Outro tema grande relevância do MEIC a ser destacado é a questão da educação, cujos objetivos

são a melhoria da sua qualidade na educação básica e a promoção da educação profissional técnica

e superior, conforme mostra as tabelas abaixo.

Tabela 3 –Metas para a escolaridade média da população, de acordo com o objetivo da melhoria da qualidade da

educação básica. (Fonte: SENAI-ES apud. FINDES, 2013)

Tabela 4 – Metas para o objetivo da promoção da educação profissional técnica e superior. (Fonte: SENAI-ES apud.

FINDES, 2013)

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Tais ações para a melhoria na escolarização dos trabalhadores e na qualidade do ensino básico,

técnico e superior são importantes, uma vez que o desenvolvimento da indústria e mesmo de um

país requer investimentos expressivos em capital humano em seu começo, conforme dito no

referencial teórico. Cabe lembrar que uma indústria que produz mais e com melhor qualidade

requer mão de obra suficientemente qualificada para isso.

Partindo para os focos de sua atuação, alguns objetivos devem ser destacados, a começar pelo 7.2,

que visa desenvolver o fornecedor local de bens e serviços. As metas referentes estão descritas na

tabela abaixo.

Tabela 5 – Número de certificados válidos nos Programas Prodfor (Programa Integrado de Desenvolvimento de

Fornecedores), PQF (Programa de Desenvolvimento e Qualificação de Fornecedores) e outros programas para MPMIs

(Micro, Pequenas e Médias Indústrias). (Fonte: FINDES, 2013)

Outro ponto importante a ser destacado são os segmentos-âncora. Além de prever ações para o

fortalecimento da cadeia produtiva de setores tradicionais (petróleo e gás, mínero-metalúrgica,

papel e celulose) o MEIC 2013-22 prevê ações para o fortalecimento da cadeia produtiva de novas

indústrias. Apesar de importante, tal plano poderia, já a partir deste ponto, ser mais específico e

contundente no sentido de fortalecer uma visão inovadora em tais atividades.

Ainda nos seus focos de atuação, os dois últimos temas convergem para o objetivo principal do

mapa estratégico: tornar a indústria no Espírito Santo mais competitiva e inovadora. No penúltimo

tema (“indústria criativa”, que é basicamente uma indústria que tem potencial de gerar empregos e

renda a partir da exploração da propriedade intelectual, como software e videogames), o objetivo é

o fortalecimento de tal atividade no Espírito Santo, conforme mostra a tabela abaixo.

Tabela 6 – Metas para o peso da Indústria Criativa na economia do Espírito Santo e de empregos referentes à mesma.

(Fonte: MTE/Rais apud. FINDES, 2013)

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Quanto ao último tema, o aumento da produtividade, qualidade e competitividade, o MEIC prevê

diversas metas, conforme mostra as tabelas abaixo.

Tabela 7 – Metas para o índice de produtividade da indústria capixaba. (Fonte: IBGE apud. FINDES, 2013)

Tabela 8 – Metas para o percentual de participação de indústrias locais em grandes projetos. (Fonte: FINDES, 2013)

Tabela 9 – Metas para o número de horas de capacitação de profissionais nos cursos IEL/ES. (Fonte: FINDES, 2013)

Tabela 10 – Metas para o percentual de investimento da indústria do Espírito Santo em inovação (Fonte: FINDES,

2013)

Quanto à produtividade, tanto o valor atual como as metas para 2015 e 2022 referentes ao

indicador são muito superiores aos observados no Brasil (ver Gráfico 5). O aumento do percentual

de indústrias locais em grandes projetos também pode ser visto como uma oportunidade de

crescimento para todas as atividades da indústria no Espírito Santo. Por fim, quanto ao aumento da

capacitação e dos investimentos em inovação, isso novamente vai ao encontro do referencial

teórico que prevê como condições de competitividade, explícita ou implicitamente, esses itens.

Alguns objetivos continuam indo ao encontro das medidas a serem tomadas para amenizar o

quadro de desindustrialização no Brasil: fabricar produtos competitivos e de qualidade, ofertar

produtos e serviços de maior valor agregado, aumentar a participação do Espírito Santo no

comércio exterior do Brasil e o crescimento da produção industrial. Para este último item cabe

uma citação bastante pertinente:

“O crescimento industrial requer a existência de normas claras e estáveis que tragam

segurança ao investidor. As transformações tecnológicas e de gestão exigem foco na

produtividade, contando com mão de obra qualificada. Não se podem esquecer as

reformas estruturais que incluem desoneração tributária, como fomento ao crédito com

taxas competitivas” (FINDES, 2013, p.52).

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Por fim, na perspectiva dos resultados, são retomadas as metas previstas na Tabela 1, que são as

expectativas feitas em torno do cumprimento das metas previstas.

6. Conclusão

Diante das informações extraídas do Mapa Estratégico da Indústria Capixaba (MEIC) 2013-22 e

uma breve análise à luz da teoria sobre política industrial e desindustrialização, pode-se dizer que

existem metas claras e objetivas de forma a preparar a indústria capixaba para enfrentar o novo

cenário econômico brasileiro e mundial, mais incerto e competitivo.

Também é possível dizer que existe uma preocupação do setor industrial capixaba em apoiar e

promover ações e políticas que visem à promoção de atividades com um maior grau de tecnologia,

bem como a criação e a expansão de toda uma infraestrutura econômica e social de apoio (energia,

transporte e educação, por exemplo), ações e políticas estas que ajudariam o Espírito Santo a ter

uma indústria mais competitiva. Entretanto, o MEIC 2013-22 poderia ser mais específico e

contundente em alguns aspectos, como o estabelecimento de objetivos e metas referentes à

indústria de transformação. Além disso, faltou um grau maior de detalhamento em relação às

ações apresentadas para o cumprimento de algumas metas, o que dificulta a compreensão da visão

geral em certos pontos.

Enfim, o que pode se dizer é que o MEIC 2013-22, apesar de suas particularidades por conta da

configuração da indústria e em última instância da economia capixaba, vai ao encontro das

medidas necessárias para o enfrentamento do processo de desindustrialização que o Brasil

vivenciou nas últimas décadas, mesmo com as lacunas citadas no parágrafo anterior.

7. Referências

BACHA, E.; BOLLE, M. B. (orgs.) O futuro da indústria no Brasil: desindustrialização em

debate. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

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FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO. Mapa Estratégico da Indústria

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