o depertar para a filosofia

168

Upload: tacio111

Post on 23-Jun-2015

1.789 views

Category:

Education


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Depertar para a Filosofia
Page 2: O Depertar para a Filosofia
Page 3: O Depertar para a Filosofia
Page 4: O Depertar para a Filosofia

Fortaleza2008

José Anastácio de Sousa Aguiar

Page 5: O Depertar para a Filosofia

Revisão

Sérgio Roberto Nunes Freire

Projeto Gráfico e Capa

Juscelino Guilherme

Imagem da Capa

óleo de Rembrandt

(Filósofo em Meditação)

Impressão

Gráfica LCR Ltda.Rua Israel Bezerra, 633Dionísio Torres - CEP 60135-460 - Fortaleza - CEFone (85) 3272.7844 - Fax (85) 3272.6069www.graficalcr.com.bre-mail: [email protected]

Contato com o autor

[email protected]

A282d Aguiar, José Anastácio de Sousa.O despertar para a filosofia / José Anastácio

de Sousa Aguiar. - Fortaleza : Gráfica LCR, 2008.

166 p.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-85-86627-88-0

1. Filosofia I. TítuloCDD: 100

1ª Edição

Page 6: O Depertar para a Filosofia

Dedicatória

“Minha gratidão a Deus, aos familiares e amigos que direta ou indiretamente contribu-íram para a elaboração deste livro, ao amigo e mestre Cláudio Guterres, e a minha queri-da esposa Soraya Aguiar, pela existência tão doce. Dedico a todos aqueles que se interes-sem pelo tema.”

José Anastácio de Sousa Aguiar

Page 7: O Depertar para a Filosofia
Page 8: O Depertar para a Filosofia

Sumário

Por que ler este livro? ..............................................................9

Prefácio ....................................................................................13

Amor ........................................................................................39

Deus .........................................................................................41

Discernimento .......................................................................51

Filosofia ...................................................................................57

Firmeza ....................................................................................63

Liberdade ................................................................................69

Morte .......................................................................................75

Ordem .....................................................................................83

Paz ............................................................................................87

Política .....................................................................................93

Religião ..................................................................................101

Retidão ...................................................................................109

Sabedoria ..............................................................................115

Tolerância ..............................................................................125

Transcendência ....................................................................129

Vaidade ..................................................................................135

Vida ........................................................................................143

Bibliografia ............................................................................151

Page 9: O Depertar para a Filosofia
Page 10: O Depertar para a Filosofia

Por que ler este livro?

Porque este livro, como toda boa antologia, traz numa única obra textos de vários gênios da humanidade nas questões atinentes a Deus e à Filosofia e, por conseqü-ência, a busca da elevação moral.

Este livro não incursiona pelo proselitismo. Busca, acima de tudo, oferecer ao leitor uma referência de por onde começar. Em outras palavras, despertar a curiosida-de sobre os diversos pensadores citados.

Após o contato com diferentes autores, não fáceis de reunir em uma única obra, o leitor deverá buscar, seguindo seu entendimento próprio, os mestres da humanidade com os quais melhor se identificar e aprofundar o conhecimento.

Na verdade, o que era para ser apenas uma coletânea de textos excepcionais, de uso pessoal naqueles assuntos que mais interessavam ao Autor – Deus, Filosofia, Amor, Discernimento, Liberdade, Política, Sabedoria, Transcen-dência, dentre outros –, algo como “para mim mesmo”, foi ganhando corpo e se transformou em um livro. O livro que o Autor gostaria de ter lido quando começou a se in-teressar pelas questões filosóficas.

Com é sabido, quando começamos a nos interessar pelas chamadas questões filosóficas ou questões que objetivam a elevação moral, temos muitas dúvidas de por onde começar. Esse também foi o itinerário seguido pelo Autor.

Já que estamos falando do Autor, quem é o Professor José Anastácio de Sousa Aguiar? Como o conhecemos de há muito, podemos dizer sem a menor margem para dúvida: é uma daquelas pessoas excepcionais que conseguiu colocar

Page 11: O Depertar para a Filosofia

como razão de viver o mote de Victor Hugo: “É pelo real que vivemos; é pelo ideal que existimos”.

O Professor José Anastácio vive pelo real. Após uma bem sucedida e meritória carreira militar (Oficial do Exérci-to), foi aprovado em concurso público para o cargo de Ad-vogado da União. Quando nas Forças Armadas, além das atribuições inerentes ao oficialato, era também Professor de Idiomas (Espanhol e Inglês). Na vida civil, além de advo-gado do setor público, cargo que desempenha com zelo e competência, foi convidado a lecionar em conceituada Ins-tituição de Ensino Superior em Faculdade de Direito. Além de professor universitário, foi também professor de Cursos Preparatórios para Concursos. Nesse período, escreveu so-bre temas relacionados com Direito Constitucional e Direi-to Administrativo em sites especializados. Publicou livros que foram reeditados. Publicou um livro de genealogia.

O Professor José Anastácio, no entanto, não vive ape-nas pelo real, vive também pelo ideal. O valor de um homem não se mede apenas pelo que faz em suas horas de trabalho, mas sim pelo que faz em suas horas de folga. Nas horas de folga, o Autor busca ardorosamente o seu ideal. Um mundo melhor para os que nele vivem.

Cabe aqui, por pertinência, as palavras de Plutarco: “Que por um ato de um homem se pode reconstituir toda a sua vida”.

Ao reconstituir a trajetória de vida do Autor, pode-se pensar que se está a falar de um ancião. Ficaremos surpresos ao constatar que o Autor nasceu em 1964. É, acima de tudo, um jovem idealista no melhor sentido da palavra, cuja traje-tória invoca o que deixou assente com muita propriedade, José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”.

Page 12: O Depertar para a Filosofia

As circunstâncias nas quais escreveu mais este livro lembram o poema de Fernando Pessoa, que em inigualá-vel síntese, diz tudo:

“Para ser grande, sê inteiro: Nada teu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”

E nem poderia ser diferente. Como bem observado por Karl Jaspers, “o objetivo do pensar filosófico é levar a uma forma de pensamento capaz de iluminar-nos interior-mente e de iluminar o caminho diante de nós, permitindo-nos apreender o fundamento onde encontremos signifi-cado e orientação”.

Concluímos, portanto, com as palavras de Karl Jas-pers, para quem filosofar significa estar a caminho, e que a justificação e o ataque servem apenas para uma aproxima-ção, não para alcançar um predomínio.

Brasília, fevereiro de 2008

Augusto Cláudio Ferreira Guterres SoaresAdvogado e Professor Universitário

Page 13: O Depertar para a Filosofia
Page 14: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

13

Prefácio

“Que o jovem não espere para filosofar, nem o velho de filosofar se canse. Ninguém, com efeito, é ainda imaturo, ou já está de-masiado maduro para cuidar da saúde da alma. Quem diz não ter ainda chegado sua hora de filosofar ou já ter ela passado, fala como quem diz não ter ainda chegado ou já ter passado a hora de ser feliz.”

(Epicuro – Carta a Menequeu)

O Porquê do LivroO presente trabalho é fruto de uma pesquisa realiza-

da nos diversos livros citados na bibliografia ao final desta obra, e começou como uma simples coletânea do que eu achava mais interessante entre os 17 temas que escolhi.

Nada deste livro teria sido possível sem a ajuda e a sempre pertinente orientação de Augusto Cláudio Fer-reira Guterres Soares, digno de ombrear com as mentes mais perspicazes e cultas da atualidade. Tive o privilégio de ter podido adquirir, graças ao seu incentivo, o interesse e a paixão pela filosofia. Agradeço ao fiel amigo a amiza-de e a gentileza de ter pacientemente me orientado nas diversas questões filosóficas. Cumpre também agradecer os ensinamentos da eminente professora Renata Peluso, que, com as suas brilhantes aulas e palestras, permitiu-me um maior aprofundamento na busca filosófica. Em assim sendo, grato pelo que recebi e consciente de que a mais alguém essa pesquisa possa ser útil, resolvi publicá-lo.

Page 15: O Depertar para a Filosofia

Poucos momentos históricos necessitaram tanto da filosofia como a nossa atualidade. Por certo, temos infor-mações em demasia, mas somos extremamente carentes de formação. A ambição e o dinheiro fácil passaram a ser o deus da modernidade, em detrimento dos mais caros valores estóicos. A hipocrisia há muito destituiu a ética, o silêncio foi substituído pelo burburinho incessante de futilidades, a ganância travestiu-se de verdade, a honra foi relativizada, e a Justiça... bom, essa, quem quer que a te-nha idealizado, já a considerou cega.

Erram quando nos ensinam que temos que vencer a competição da vida contra tudo e contra todos, posto que raras são as batalhas que extrapolam o limite do nosso ser, pois, na verdade, só uma competição verdadeiramente deve nos interessar, aquela travada contra as nossas ser-vidões, imperfeições e limitações no campo de batalha do nosso eu. E sobre este tema Espinoza nos auxilia: “Chamo servidão a impotência do homem para governar e refrear suas paixões. Com efeito, submetido às paixões, o homem não é autônomo, mas dependente da fortuna, de tal modo estando sob o seu poder que muitas vezes é forçado a fa-zer o pior, mesmo que veja o melhor” 1.

Muitas são as lições que os grandes pensadores nos legaram. Sócrates propicia a descoberta da autonomia moral da consciência, Epicuro nos lembra que o prazer da sabedoria aproxima o homem de Deus, Pitágoras ensinava que ao educar as crianças, não seria preciso punir os ho-mens e os Iluministas exaltam a confiança na força libertá-ria das luzes do conhecimento.

1 ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradu-ção de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – pág. 283.

Page 16: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

15

O ser humano virtuoso aclamado pelo estóico Marco Aurélio parece não existir na sociedade hodierna. Sabia-mente, o Imperador Romano dizia que a vida de cada um de nós era medida de acordo com o valor das coisas que dedicávamos a nossa atenção. Enfatizava, ainda, a satisfa-ção do homem que é regido pela razão, e se guia pelos valores mais nobres. Preconizava que somente os sábios e fortes é que faziam uso da gentileza e tratavam os irmãos de maneira cordial e amável. Sabia que a filosofia era o verdadeiro amor à verdade, era a arte de viver bem a vida por meio da iluminação dos caminhos de nossas almas, que foram contaminadas por convicções infundadas, de-sejos descontrolados, preferências e opções de vida ques-tionáveis que não são dignas de nós.

Epicteto, outro grande representante da escola estóica, nasceu escravo, mas norteou toda a sua vida pelos mais caros valores morais. Destacava que a filosofia existia para nos aju-dar a distinguir o que é realmente verdadeiro do que é mera-mente o resultado acidental do raciocínio incorreto ou fruto de paixões inconseqüentes. Dentre os seus ensinamentos, pregava que aquele que desejasse ser feliz deveria dominar os desejos, desempenhar as obrigações e aprender a pensar com clareza e respeito de si mesmo e de seu relacionamento com o restante da comunidade humana.

Mas, afinal, o que significa essa tão aclamada e des-conhecida ‘virtude’? Muitas são as definições, dentre elas destaco a de André Comte-Sponville: “A virtude, repete-se desde Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem. É preciso dizer mais, porém, ela é o próprio bem, em espírito e em verdade”2.

2 COMTE-SPONVILLE, André – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes; Tradução de Eduardo Brandão – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1995 – pág. 09.

Page 17: O Depertar para a Filosofia

16

José Anastácio de Sousa Aguiar

CapítulosO primeiro capítulo tinha a ousada pretensão de trans-

crever algumas citações sobre o Amor. Após muito procu-rar e analisar, cheguei à conclusão de que nenhum outro texto trata de maneira tão sintética e poética sobre o tema do amor conjugal, que a poesia do mestre Mário Quintana referida. Apesar de em todos os outros capítulos existirem várias citações sobre os diversos temas, nesse específico, fiz questão de deixá-la sozinha, o leitor entenderá por quê.

Nos demais capítulos, será possível desfrutar os pen-samentos de vários dos principais filósofos da humanida-de, bem como compartilhar das emoções que tomaram conta dos pensadores ao manifestarem seus conhecimen-tos. E é justamente por isso que resolvi destacar as idéias da forma mais completa possível, transcrevendo, às vezes, páginas inteiras, e não somente palavras ou frases isola-das, para que o leitor possa ter a devida abrangência do contexto que envolve cada idéia.

Mais de dois séculos de conhecimento foram co-bertos e várias das principais correntes de pensamento destacadas para que o leitor possa refletir e, quem sabe, identificar-se com o seu pensador predileto.

Quanto aos livros utilizados, optei por priorizar os clássicos, aqui entendido como aqueles autores e livros que são atemporais, posto que suas mensagens aplicam-se em qualquer contexto histórico. Em que pese ter realizado transcrições preferencialmente desses livros, identifiquei na bibliografia, posta ao final, todos os livros que, de uma forma ou de outra, tratam dos temas dispostos no índice.

Por certo, não há alguma pretensão de esgotar qual-quer das questões abordadas, mas sim despertar a curio-

Page 18: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

17

sidade sobre as mesmas, e ajudar o leitor a escolher os seus livros prediletos, permitindo o aprofundamento no tema escolhido.

Relativo x AbsolutoPoucos conceitos são tão importantes para o estudo

da filosofia como a verdadeira compreensão do significa-do das palavras relativo e absoluto.

Esta questão não é nova. Já foi abordada por quase todos os filósofos de uma maneira ou de outra, como por exemplo, quando os primeiros pensadores procuraram identificar o arkhé, ou o princípio único que rege o universo.

Sugiro esta abordagem... Entenda-se por relativo tudo que estiver sob a égide da relação tempo-espaço. Se algo está sujeito e, por via de conseqüência, tem seus limites nesta equação, enquadra-se e pertence ao relativo.

Como conseqüência dessa relação, tudo pode ser carac-terizado e definido, mantendo-se determinados parâmetros, bem como, alterado qualquer fator anterior de medição, pode ser alterado o resultado final. Em outras palavras, o relativo está intimamente ligado aos valores do observador e tem como uma de suas principais características a mutabilidade.

Cumpre alertar, entretanto, que em que pese todas as verdades que possamos alcançar sejam relativas, este relativismo é diferente daquele proposto por Protágoras, ao proclamar que ‘o homem é a medida de todas as coi-sas’. Ele apontava pertencer a cada qual a sua verdade, o que não nego, mas enfatizo que há outro grupo de verda-des que podem ser tão abstratas quanto a totalidade das idéias, senão vejamos Fernando Pessoa sobre o tema:

Page 19: O Depertar para a Filosofia

18

José Anastácio de Sousa Aguiar

“O universo não é uma idéia minha.A minha idéia do universo é que é idéia minha.A noite não anoitece pelos meus olhos,A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentosA noite anoitece concretamenteE o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.”

Já para o absoluto, a regra é exatamente a oposta. Ele pertence ao inconcebível, logo não há qualquer parâme-tro de aferição. Tentar entender o absoluto com valores do relativo, faz-nos, por definição, enveredar por uma seara que jamais poderá ser entendida.

Outra advertência importante, que fica desde já re-gistrada, é que não estou a defender, - nem tampouco a atacar -, o relativismo, enquanto conceito filosófico que se baseia na relatividade de todo conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Muito pelo contrário, enfatizo a existência e o valor de ambos – relativo e abso-luto, desde que aplicados cada um em seu contexto.

Muitos poderiam concluir apressadamente, por esse conceito, que a própria ciência perderia o seu desiderato, posto que não há como alcançar o inconcebível, o que po-deria aportar em um niilismo extremado. Novamente, in-corremos em problema de definição, pois o que a ciência busca, e deve sempre buscar, é o desconhecido, ou seja, o que ainda não se conhece, mas é passível de se conhecer – logicamente, tudo dentro do campo do relativo.

Com efeito, eventual disputa entre a religião e a ci-ência só pode ter relevância para o aprofundamento do

Page 20: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

19

diálogo, pois ambas atuam em sítios correlatos, mas distin-tos. A religião baseia-se substancialmente na questão da fé, que por sua vez está intimamente ligada aos valores de cada indivíduo, bem como às imposições dogmáticas de cada corrente religiosa, setores inatingíveis para a ciência.

Nesse contexto, qualquer característica ou atributo que possa ser associado a Deus não passa de pura questão religiosa, pertencente ao universo relativo de seus segui-dores e só.

Não há como conceber Deus, pois Ele é e pertence ao absoluto, logo não há como Lhe destinar qualquer qua-lidade, como bem asseverou Mestre Eckhart: “que se afas-tasse de Deus toda e qualquer determinação”3.

É bem verdade que essa confusão conceitual per-meou, permeia, e, por certo, permeará, por um longo tem-po ainda, toda a história da humanidade, em razão de in-teresses inconfessáveis, que uma simples leitura imparcial dos fatos históricos poderia desmascarar.

A perda de parâmetros e a deturpação de conceitos nos torna impotentes, na medida que nos faz perder o rumo, como assevera André Comte-Sponville: “Que im-porta o verdadeiro, se não sabemos viver? Que importa a justiça, se somos incapazes de agir justamente?”4

Talvez seja nessa seara que a confusão entre o que é relativo e absoluto tenha a função de eternizar a incom-preensão e preservar a manutenção do poder e influência das correntes dominantes.

3 Kobusch, Theo (org) – Filósofos da Idade Média; Tradução Paulo Astor Soe-the – São Leopoldo – Editora Unisinos – pág. 279.

4 COMTE-SPONVILLE, André – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes; Tradução de Eduardo Brandão – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1995 – pág. 40.

Page 21: O Depertar para a Filosofia

20

José Anastácio de Sousa Aguiar

Concluo esta parte com os ensinamentos de Huber-to Rohden: “A realidade é absoluta e infinita – mas o conta-to com essa realidade, que chamamos conhecer, é sempre relativo (...) Daí a insensatez que há em querer estabelecer regras absolutas e dogmas imutáveis, no terreno religioso ou político, para todos os tempos e todos os homens”.5

O Ser e o Não-SerOutra questão interessante, neste contexto, é o deba-

te filosófico entre Parmênides de Eléia e Heráclito de Éfeso. Ambos tentavam entender o universo ao seu redor e para isso especulavam sobre a unidade e a imobilidade do Ser.

Parmênides acreditava que toda mutação era ilusória e o Ser era uno e imóvel, bem como eterno e imutável. Em razão de seus estudos entre o Ser e o não-Ser, ficou co-nhecido como o fundador da metafísica ocidental.

Já Heráclito, também conhecido como o pai da dialé-tica, ensinava que tudo estava em perpetua mutação, não sendo possível alguém banhar-se duas vezes no mesmo rio nas mesmas condições, pois nem as águas, nem as pes-soas seriam as mesmas.

O estudo acurado dessas idéias permitirá ao leitor entender melhor o alcance das obras de Espinoza.

Penso, logo sou livreOs limites e abrangências do relativo e do absolu-

to ainda estão longe de serem entendidos, posto que até

5 ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradu-ção de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – pág. 47.

Page 22: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

21

mesmo um dos mais vigorosos pensadores da história da humanidade, Baruch de Espinoza, até hoje é considerado, por alguns, um mero panteísta (tudo é Deus, Deus é tudo), e não um esclarecido panenteísta (tudo em Deus, Deus em tudo).

Ele foi o primeiro a sistematizar o conceito da transcen-dência absoluta de Deus, conjugado com a imanência íntima Dele em cada um de seus efeitos, posto que seria intrinseca-mente absurdo e impossível separar a causa de seus efeitos. Senão vejamos, Huberto Rohden sobre o assunto: “O fini-tismo ou antropomorfismo que os seres finitos e humanos atribuem a Deus, não passa de uma simples ficção do sujeito cognoscente ilegalmente projetada para dentro do sujeito conhecido, como se pertencesse a esse objeto”.6

Em verdade, Espinoza, em sua Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras (Parte IV), já nos esclareceu so-bre o tema, na medida que demonstrou que a escravidão do homem depende do erro do conhecimento sensível, pelo que o homem considera as coisas finitas como abso-lutas. Conclui que a libertação das paixões dependerá do conhecimento racional e verdadeiro.

Já na Parte V, Espinoza demonstrou a condição do sábio, libertado da escravidão das paixões e da ignorân-cia. Ele afirma que o sábio concilia a felicidade e a virtude juntamente com o conhecimento racional, tendo em vista que a felicidade depende da ciência, do conhecimento ra-cional intuitivo, que é, em definitivo, o conhecimento das coisas em Deus. Deste modo, amará necessariamente a Deus, causa da sua felicidade e poder.

6 ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradu-ção de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – pág. 24.

Page 23: O Depertar para a Filosofia

22

José Anastácio de Sousa Aguiar

Mas, afinal, quem é Espinoza? Bento ou Baruch de Es-pinoza nasceu em 24 de novembro de 1632, em Amsterdã, numa família de judeus de origem portuguesa, fugidos da península ibérica, em razão da perseguição religiosa condu-zida pelos reis católicos da Espanha e pelo rei de Portugal.

Inicialmente, educado na comunidade judaica, Espi-noza passou a questionar dogmas e tradições, o que o le-vou a ser expulso da convivência dos seus irmãos judeus e perseguido pelas autoridades protestantes, em razão de suas opiniões, ditas, heréticas.

Mas, analisemos a sua heresia. Em suas principais obras, a Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras e o Tratado Político–Teológico, Espinoza tenta demonstrar a existência de Deus, explicando que Ele não está fora do mundo, nem o mundo está fora de Deus, mas Deus não é o mundo, nem o mundo é Deus. Afirma ser Deus infinito em sua essência, mas finito em suas existências ou mani-festações, ou seja, Ele é essencialmente infinito, entretan-to existencialmente finito. Acrescenta que Deus não pode ser dotado de personalidade, consciência e liberdade, - o que deve ter enfurecido muitos -, no sentido tradicional dos termos. Isso seria finitizar o Infinto, relativizar o Ab-soluto, temporalizar o Eterno, o que seria negar a própria realidade de Deus.

Quanto ao homem, Espinoza assevera que ele deve buscar a Deus, por meio da razão intuitiva e espiritual e assim chegar à Verdade. Talvez possa resumir a Ética es-pinozista com a seguinte idéia - compreender o universo é estar libertado dele, compreender tudo é estar livre de tudo, pois só tememos o que não conhecemos e só ama-mos o que conhecemos.

Page 24: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

23

Por certo, suas idéias não seriam tão robustas se ele não as tivesse vivido plenamente em seus 44 anos. Se seus escritos o transformaram em um dos maiores filósofos da humanida-de, sua vida o elevou à categoria dos grandes mestres. Muitas décadas depois de sua morte, por ocasião da inauguração de um monumento em sua homenagem em Haia, foi dito: “Eis aqui o homem que teve a mais profunda visão de Deus”.

O perigo do verdadeiro AmorEm verdade, o que Espinoza parece ter proposto em

sua obra, e, principalmente em a sua vida, é que o verdadei-ro Amor é a culminância da Razão, na medida em que Deus não é apenas o infinito Amor, mas também a Razão eterna.

Ele asseverava que a Verdade era uma só, seja religio-sa, seja filosófica e ao mesmo tempo advogava que todos os seres pertenciam a um Todo único, mas multifacetado em um sistema perfeito, enquanto eterno, em que pese as aparentes injustiças que observamos. Entendia, ainda, que na medida em que cada um de nós é uma manifestação existencial do Todo, somos sempre livres para acessar a nossa essência divina, e para isso não precisamos de in-terposta pessoa ou instituição, mas apenas a nossa íntima consciência elevada às luminosas alturas da ética racional. Entender a essência das coisas existentes seria perceber a unidade por meio da pluralidade.

Na prática, esta noção implicaria a fraternidade uni-versal, na medida em que se cada um de nós pertencemos a um todo único, qualquer ato contra nosso irmão, seria também uma agressão a nós, o que a toda evidência nada mais é do que a exaltação da máxima do Cristo, nascido em Belém: ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’.

Page 25: O Depertar para a Filosofia

24

José Anastácio de Sousa Aguiar

Esta concepção levou Espinoza a ser excomungado, perseguido e humilhado, posto que aboliria toda e qual-quer instituição religiosa que tratasse seus membros como dependentes, e reinstituiria os verdadeiros mandamentos do Nazareno, seguidos pela igreja primitiva.

As religiões e a LiberdadeO Deus da bíblia judaica possui inumeráveis atribu-

tos, passando de Deus caridoso, bondoso e complacente, a vingativo, punitivo e colérico, de acordo com os atos pra-ticados pelo povo de Israel.

Os concílios cristãos e os primeiros papas, ao cria-rem o Novo Testamento, entenderam que ele deveria ser uma continuidade lógica do velho, talvez para fazer uso das profecias que anunciavam a chegada do Mes-sias, ou mesmo para dar coerência à história cristã. En-tretanto, pelo que entendo da mensagem de Cristo, é que Ele veio justamente para romper com a tradição hi-pócrita de um sistema corrupto e injusto, seja ele pagão – romano, ou religioso.

Ao que me parece, a adoção do cristianismo por parte do Imperador Constantino e o posterior reconhecimento como a religião oficial, por Teodósio I, em 380 d.C., deram uma sobrevida ao Império Romano, graças à unidade e à centralização, entretanto, trouxeram uma série de conse-qüências indesejáveis à Igreja Primitiva. A força da mensa-gem de Jesus, o Cristo, baseada na compaixão, mansidão e no amor, perdeu autoridade ao imiscuir-se à corrupta administração romana. O conteúdo deu lugar à forma, os rituais avançaram sobre a genuína fé e a qualidade foi de-finitivamente substituída pela quantidade.

Page 26: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

25

A lenta e progressiva libertação do ser humano de suas amarras só está sendo possível em razão do fortalecimento das garantias e liberdades individuais, por meio do aperfei-çoamento das democracias – que é um legado helênico do período áureo da filosofia, e da consolidação dos Estados de direito – que é um legado iluminista, no qual o Estado deve ser laico e as leis devem visar ao bem comum.

Com efeito, um grande equívoco que tem permeado a história da humanidade é considerar a filosofia inimiga da religião, esquecendo-se que todo homem de experiência profunda é um místico racional, pois conhece as razões do Infinito Amor enquanto vivencia a realidade racional, e como tal só possui as mais elevadas virtudes, como a tolerância, a mansidão, a temperança, a misericórdia e o amor. Quem quer que se apresente como homem de Deus, e não possua todas essas virtudes, não pode ser assim considerado.

O dedo de DeusNesse contexto, vemos que o relativo não é suficien-

temente pleno para nos dar todas as explicações, como já desconfiava C. G. Jung ao introduzir um novo conceito, a sincronicidade. Trata-se de estudo desenvolvido, em me-ados do século XX, pelo eminente médico, na tentativa de explicar acontecimentos que não podem ser definidos por meio da teoria causalista. A sua explicação estaria calcada numa relação de significado entre dois ou mais eventos, talvez por isso seja também chamada por seu elaborador de coincidência significativa.

Em verdade, Jung acrescenta um novo capítulo ao problema da causalidade, tão discutido por David Hume e brilhantemente abordado por Immanuel Kant.

Page 27: O Depertar para a Filosofia

26

José Anastácio de Sousa Aguiar

O cerne da teoria de Jung é a inexistência de uma relação de causalidade entre os eventos envolvidos na ex-periência, ou seja, não há relação direta, pelo menos que se conheça no campo da física, entre a causa e o efeito. As circunstâncias envolvidas, teoricamente, seriam alea-tórias, entretanto, condicionadas a um padrão subjacente expressado por eventos ou relações significativos.

Jung propôs o acréscimo da sincronicidade como quarto elemento à tríade: espaço, tempo e causalidade, que caracterizou por tanto tempo a física clássica. Dois campos do conhecimento humano, a física e a psicolo-gia, nunca estiveram tão próximos com as teorias de Jung sobre a sincronicidade e Einstein sobre a relatividade.

Apesar de ser um conceito relativamente novo, en-quanto forma, não o é enquanto conteúdo, senão vejamos. Uma das referências mais antigas sobre o tema remonta ao próprio conceito do Tao, que, segundo a tradição chinesa, já fazia referência a uma racionalidade latente em todas as coisas. A sabedoria ocidental, que teve como berço a Gré-cia Antiga, também já desconfiava da existência de uma unidade em todas as coisas. As diversas épocas que a filo-sofia ocidental poderia ser dividida abrigaram pensadores precursores de seu tempo, como Platão e Aristóteles, na Grécia Clássica; Mestre Eckhart e Duns Scotus, na Idade Média; e Nicolau de Cusa, Giovanni Pico Della Mirandola e Ficino, na Renascença.

O desenvolvimento da física subatômica do século XXI parece apontar para a validação das duas teorias, na medida em que aproxima o nous da matéria.

Para que o leitor possa ter uma melhor idéia da evolução do pensamento filosófico ocidental, realizei

Page 28: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

27

um pequeno resumo desse tema, a seguir descortinado. Um dos pensadores contemporâneos que melhor trata o tema é o italiano Pietro Ubaldi, em seus livros A Gran-de Síntese, O Sistema e Noúres, bem como o brasileiro Huberto Rohden.

O EspantoA partir de um determinado momento na História, o

homem já não mais se contentava com as antigas expli-cações mitológicas herdadas de seus antepassados e di-fundidas por meio da tradição e do medo entre os seus. A busca por respostas ao seu espanto perante o desconhe-cido, inicialmente identificado pela natureza e seus fenô-menos, gerou a inquietação necessária para o desenvolvi-mento do seu livre pensar.

Foi na Jônia, colônia fundada na costa asiática da Gré-cia por antigos micênios, que surgiram os pioneiros do pensamento ocidental. A filosofia, assim considerada pela tradição clássica, tem seu início com Tales, nascido em Mi-leto entre o final do século VII e meados do século VI a.C. O período que compreende o nascimento de Tales até a mor-te de Aristóteles, três séculos depois, pode ser considerado como o mais abundante em idéias e teorias sobre as mais diversas áreas da natureza e do homem. Quase tudo o mais que veio após, de uma forma ou de outra, é derivação dos fundamentos lançados no berço da filosofia.

O princípio de Tudo pelos Pré-SocráticosVárias são as formas pelas quais os escritores classi-

ficam os primeiros filósofos, aqui utilizaremos o arkhé, ou

Page 29: O Depertar para a Filosofia

28

José Anastácio de Sousa Aguiar

princípio único, posto que este parece ter constituído o ideal da filosofia e ter fornecido o combustível necessário a fomentar o desenvolvimento da arte do pensar crítico.

Para Tales, a água consistia no princípio de tudo, pois de seu ciclo – vapor, chuva, rio, mar e terra -, nasceriam as diversas formas de vida, vegetal e animal.

Anaximandro, contemporâneo de Tales e também de Mileto, optou pelo ápeiron, que seria o ilimitado ou inde-terminado, algo abstrato que comporia, mas não se fixaria diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Este estaria em constante movimento e geraria uma série de pares opostos – água e fogo, frio e calor, etc.

Já Anaxímenes, de Mileto, considerava o ar a origem de todas as coisas e os elementos da natureza seriam fru-tos dos seus diversos graus de condensação e rarefação.

Pitágoras, de Samos, oferece-nos um pensamento mais elaborado sobre o princípio único e pela primeira vez ele assume um componente esotérico e místico. Seus ensinamentos tiveram bastante influência do pensamento órfico, que acreditava na imortalidade da alma e na me-tempsicose, ou seja, a transmigração da alma por meio de vários corpos.

Com ele a matemática é elevada a uma condição di-vina e suas crenças determinavam que o homem, para se salvar das sucessivas reencarnações, deveria identificar-se com o divino por meio da contemplação teórica, tendo como escopo a eliminação dos conflitos e a obtenção da harmonia. A libertação e a purificação da alma dependeria de esforço inteiramente subjetivo e humano calcado em trabalho intelectual, introduzindo dessa forma, em cará-ter incipiente, mas contundente, a possibilidade de o in-

Page 30: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

29

divíduo assumir o controle de seu destino, independente-mente da vontade dos deuses e da natureza. A destruição do templo da sua seita por razões políticas levou à disper-são dos seus discípulos por todo o mundo helênico, que contribuiu sobremaneira para a expansão de seus ideais.

Xenófanes, de Cólofon, via na terra o elemento pri-mordial da natureza, e toda a sua cosmologia baseava-se nesse elemento. Entretanto, foi por meio de sua teologia que ele entrou na galeria dos filósofos precursores, posto que combateu acirradamente a concepção antropomórfi-ca dos deuses e defendia um deus único, distinto do ho-mem, não-gerado, eterno, puro pensamento e imóvel.

Heráclito, de Éfeso, conhecido também como o obs-curo, por seu estilo de escrita e por ter levado uma vida longe de seus concidadãos, cria que todas as coisas estão em movimento e que este processava-se por meio dos con-trários e o fogo seria o gerador do processo cósmico. Afir-mava a unidade de todas as coisas, entretanto ficou mais conhecido pela passagem que asseverava que o mundo é um eterno fluir, como um rio; e é impossível banhar-se duas vezes na mesma água.

Parmênides, de Eléia, contrariamente a Heráclito, eliminava tudo o que fosse contraditório e variável, dis-tinguindo dois caminhos da investigação, o do ser e o do não-ser, sendo que o primeiro é o caminho da certeza, pois conduziria à verdade; e o segundo seria imperscrutá-vel ao homem. Esse pensamento dá início à lógica – princí-pio da não contradição existente no ser, que é, e o não-ser que não é; à metafísica – por buscar a essência das coisas; e à moderna teoria da relatividade – por fazer a distinção entre o relativo e o absoluto.

Page 31: O Depertar para a Filosofia

30

José Anastácio de Sousa Aguiar

Ele formulou a tese de que o mundo tal como o co-nhecemos não é o verdadeiro mundo, ainda que não pos-samos conhecer nenhum outro. Afirma que a mudança é algo que não pode existir, pois tudo que é só pode ser eterno, não pode vir a ser e não pode ser destruído. O que chamamos de realidade, portanto, nada mais seria do que a ordenação enganosa das palavras, e por outro lado, a verdadeira realidade seria absoluta, unitária, imutável e eterna, adotando, em caráter definitivo, o monismo.

Zenão, também de Eléia, discípulo de Parmênides, procura demonstrar com seus paradoxos que a variedade das coisas e o movimento são impossíveis.

Empédocles, de Agripento e Anaxágoras, de Clazo-mena, procuraram conciliar a idéia abstrata de um ser úni-co e imóvel com a realidade fática da pluralidade de movi-mento. O primeiro afirma a idéia de que o ser é eterno e indivisível, mas não a de que é único e imóvel. O mundo seria composto de quatro princípios: água, ar, fogo e terra e tudo resultaria da combinação desses elementos. Já o segundo afirmava que em tudo é incluído parte de tudo, com exceção do espírito, que é ilimitado e autônomo e que também está em algumas coisas.

Leucipo e Demócrito, ambos de Abdera, são os in-trodutores da teoria de que o mundo é composto de áto-mos, palavra grega que significa não divisível. A realidade seria composta de átomos e de vazio. Os átomos seriam, além de indivisíveis, imutáveis, eternos e existentes em número infinito. Os entrechoques dos átomos produzi-riam diversas combinações que gerariam a pluralidade das coisas, colocando o mundo em movimento. O vazio seria um não-ser, um nada, idéia repudiada por Parmênides e Zenão. Asseveravam que o homem deve reconhecer que

Page 32: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

31

está afastado da realidade, pois a opinião de cada um de-pende da afluência dos átomos, e, portanto, nada apren-demos que seja infalível.

Demócrito rejeitava a idéia de que o mundo se fun-dava em qualquer elemento único ou era unificado por qualquer ordem e baseou sua concepção de mundo numa teoria materialista (átomos) e desprovida de espíritos e ânimo, adotando o pluralismo.

Os pré-socráticos nos apresentam, na maioria das ve-zes, uma preocupação especulativa calcada nos postulados físicos da natureza e do universo. A consolidação da demo-cracia ateniense proporcionou o surgimento de novos valo-res que culminaram com a mudança de foco da filosofia que passou a preocupar-se com as questões mais humanas e os representantes primeiros desse novo ciclo foram os sofistas.

Protágoras, conhecido como o primeiro sofista, afirmava que o homem é a medida de todas as coisas e que o mundo é aquilo que o homem faz e desfaz por meio dos seus sentidos. Para ele, caso houvesse um princípio único, o ser humano não poderia concebê-lo, afastando assim de toda a especulação fi-losófica tudo o que estivesse fora da atuação e necessidade humana e afirmando a superioridade das convenções cultu-rais perante a verdade absoluta. Tal relativização da verdade aplicava-se inclusive no campo da moral, ao afirmar que o bem e o mal são simplesmente valores convencionados pelo ser humano por esses nomes. Surge a filosofia prática.

A Filosofia sem almaA concepção da existência da alma sempre foi um

tema recorrente entre os pensadores. Tales acreditava que

Page 33: O Depertar para a Filosofia

32

José Anastácio de Sousa Aguiar

o mundo era dotado de alma e repleto de divindades. Pitá-goras defendia a crença, originalmente oriental, da reen-carnação, e afirmava que a redenção, como acima destaca-mos, dependia de esforço pessoal.

Já Demócrito afastou completamente a possibilidade de existência de alma no mundo. Ele imaginou o universo completamente material, sem qualquer inteligência ou or-dem imposta.

Com os sofistas, especialmente Górgias, o desinte-resse por essa questão tem seu ápice, pois, ao adotar as idéias de Parmênides, ele demonstrou que nada existe; se alguma coisa existisse, seria ininteligível; e, se houvesse algo ininteligível, nada poderia ser dito a respeito.

Convém destacar 3 dos mitos platônicos, que na mi-nha forma de ver, tem um grande potencial para reflexão.

Os Mitos PlatônicosPlatão, sem sombra de dúvida, foi um dos principais

pensadores de toda a história da humanidade. Escreveu sobre quase todos os temas relevantes para o ser humano, tais como a ética, a política, a metafísica e a teoria do co-nhecimento. Conhecido principalmente por sua Teoria das Idéias ou Teoria das Formas, foi por meio dos seus mitos, que seus pensamentos obtiveram grande notoriedade.

A mais conhecida e talvez a mais profunda metáfora elaborada pela filosofia de qualquer tempo é o mito das cavernas, narrado no Livro VII, da República.

Sobre esse mito, bom que se diga de início e que pou-cos sabem que, no livro referido, Platão em seu diálogo está tratando do tema educação, no contexto da formação

Page 34: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

33

humana para a política. Platão viu a humanidade condena-da a uma infeliz condição, a de estar acorrentada no fundo de uma caverna, de costas para a entrada, vendo ao fundo dela, as sombras distorcidas projetadas pelas imagens das pessoas que passavam. Muito se falou sobre as diversas in-terpretações do que seria cada elemento desse mito. Não destacarei o óbvio, apenas gostaria de acrescentar que as correntes que nos aprisionam nem sempre são as nossas limitações, inimigos e obstáculos, mas também as nossas conquistas, que ao não querermos abandoná-las, nos tor-namos seus escravos.

A segunda alegoria é sobre o nascimento de Eros narrado no Livro ‘Banquete’, no capítulo ‘O mito do nas-cimento’. Por ocasião do nascimento de Afrodite, os deu-ses deram um grande banquete, e dentre tantos convi-daram Poros, que simboliza a riqueza, a abundância e a atividade. Ao se exceder na bebida, ele retirou-se para os jardins de Zeus e lá adormeceu. Próximo, Penia, que representa a pobreza, e não havia sido convidada para o aniversário, ao ver Poros dormindo, desejou ter um filho, e assim deitou-se com ele. Desse ato, nasceu Eros, deus do amor, com as seguintes características: da mãe herdou a pobreza e muito longe está de ser belo, sendo rude e sujo, mas possui do pai a bravura, a audácia e a constân-cia e tem no seu interior a noção do que é ser belo. Dessa forma, passa a sua existência na busca da beleza, da ple-nitude e de se completar.

O terceiro mito a ser destacado é a comparação que Platão faz da alma, no livro Fedro, com um carro dirigido por um cocheiro, que representa o intelecto, e puxado por dois corcéis alados, um deles dócil, e o outro rebel-de. Acima da esfera celeste, o cortejo das almas segue os

Page 35: O Depertar para a Filosofia

34

José Anastácio de Sousa Aguiar

carros dos deuses. Porém, se os corcéis não forem bem governados, as almas cairão na terra, perderão as suas asas e encarnarão nos corpos humanos.

Filósofo em MeditaçãoA escolha da capa foi uma atividade bastante insti-

gante, que transcorreu em três momentos distintos. Sem-pre quis ter como capa uma obra de arte para que pudes-se conciliar e oferecer como tributo ao ser humano duas jóias da sua natureza: a arte e a filosofia.

Inicialmente, ocorreu-me utilizar a pintura de Miche-langelo disposta no teto da capela sistina situada no Vati-cano, conhecida como ‘A criação de Adão’. Apesar de sua beleza, a obra, como seu próprio nome diz, não tinha per-tinência com o presente livro. Em um segundo momento, a escultura de Auguste Rodin, denominada, ‘O Pensador’, pareceu-me ser uma ótima opção, entretanto, ainda não estava plenamente satisfeito.

Foi então que surgiu durante uma pesquisa o mag-nífico quadro de Rembrandt, intitulado ‘Filósofo em Me-ditação’. Nele só há basicamente duas cores o amarelo e o preto, com suas diversas matizes. Eu tinha encontrado a pertinência aliada à beleza.

A meu ver, além da genialidade explícita do autor, a obra contém alguns símbolos implícitos em total harmonia com o seu escopo. O filósofo em meditação à esquerda da tela foi retratado com extrema maestria e a representação de sua profunda introspecção impressiona. Entretanto, o que pretendo destacar são dois outros elementos presentes que dão grande vigor ao óleo, quais sejam: o fogo e a escada.

Page 36: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

35

O fogo sempre cativou a atenção e a reverência dos humanos, o que o levou a ser introduzido em várias ce-rimônias de quase todas as religiões. Para a filosofia, o fogo representa a razão ou o conhecimento, aquele trazi-do aos homens por Prometeu. Entretanto, a figura central da tela é a escada, que poderia representar a ascensão humana em busca do divino. Observemos que nem mes-mo o filósofo, que dá nome ao quadro, ocupa a posição central, e, sim, a escada, como se o caminho a ser percor-rido pela humanidade tivesse maior importância do que o próprio homem.

Outro elemento importante, mas não tão fácil de per-ceber no quadro é a semelhança que ele apresenta com o símbolo do ‘Ying-Yang’, que dispensa apresentações. Para conseguir identificar essa relação, precisamos observar a tela com uma certa distância ou vê-la desfocada, somente assim, a enxergaremos com o olho da alma.

As Dimensões do Ser HumanoA título de finalização, trago a lume um tema mui-

to interessante e atual, entretanto, pouco conhecido do público em geral. Trata-se dos conceitos: nous, alma, soma e pneuma, desenvolvidos entre outros por Philon de Alexandria.

Nada mais são do que uma abordagem do ser hu-mano dividindo-o em quatro dimensões, quais sejam: o soma, que se refere ao corpo físico e é o veículo de aper-feiçoamento das outras três dimensões; a psique, ou alma, ou mente, que seria o conjunto das faculdades psíquicas, intelectuais e morais; o nous, refere-se à consciência ou espírito; e a pneuma, que seria a essência do ser humano

Page 37: O Depertar para a Filosofia

36

José Anastácio de Sousa Aguiar

ou o sopro da vida. Alguns a entendem como o verdadeiro espírito imortal que permeia as outras dimensões e desti-na-se ao aperfeiçoamento e à união a Deus.

Creio que o entendimento, e, por conseguinte, a har-monização das diversas dimensões é que trará a grandeza e a plenitude do ser humano e proporcionará a chegada da humanidade a um patamar superior. Destaco o ensina-mento de Louis-Claude de San-Martin7:

“Considera brevemente o que te ocupa durante esse percurso. Poderias acaso crer que teria sido para um destino tão nulo que te verias dotado de faculdades e pro-priedades tão superiores? Terias nascido tão penetrante, tão grandioso, tão vasto nas profundezas de teus desejos e pensa-mentos somente para consumires tua exis-tência com ocupações tão fastidiosas por sua periodicidade; tão tenebrosas e limita-das em seu objetivo; enfim, tão contrárias à tua nobre energia, dado o capricho que parece mantê-las em sua dependência e delas ser o soberano árbitro?”

ConclusãoQuanto ao objetivo maior do estudo filosófico, creio

que Cícero bem o resumiu: “Sócrates repetia que julgava sua tarefa cumprida, logo que as suas exortações tinham despertado suficientemente na alma de uma pessoa o desejo de conhecer e abraçar a virtude. Quando se está firmemente convencido de que nada vale a satisfação de

7 SAN-MARTIN, Louis-Claude de – O Ministério do Homem-Espírito – Curiti-ba/PR – Ordem Rosacruz – 2001 – pág. 19 e 20.

Page 38: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

37

ser um homem honesto, não há acreditava ele, muito mais que aprender”8.

A vida constantemente nos convida a filosofar, mas nem todos estarão dispostos a encarar o desafio, em que pese o prêmio final que nos é oferecido seja a nossa pró-pria liberdade. O caminho é árduo e um dos principais requisitos para a iniciação é a humildade, nas palavras de Epicteto: “Qual é a primeira coisa que deve fazer quem começa a filosofar? Rejeitar a presunção de saber. De fato, não é possível começar a aprender aquilo que se presume saber.”

Como dito anteriormente, esta obra é apenas uma co-letânea de citações e pensamentos de alguns dos principais filósofos que pude estudar. Talvez, a razão maior deste tra-balho seja despertar a curiosidade sobre os diversos pensa-dores citados e levar o leitor a refletir e desfrutar suas obras, que estão devidamente arroladas na parte final do presente livro. Para finalizar, lancemos novamente mão de Huberto Rohden: “A felicidade só pode ter por alicerce a liberdade, e a liberdade é filha da verdade. Logicamente, só pode ser real e definitivamente feliz quem conhece a verdade, a ver-dade vivida e saboreada experiencialmente”9 . Sejam todos bem vindos ao conhecimento e ao nous, e boa viagem.

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”(João 8:32)

Fortaleza, 14 de fevereiro de 2008.José Anastácio de Sousa Aguiar

8 CÍCERO – Do Orador e Textos Vários; Tradução de Fernando Couto – Portu-gal – Coleção Res Jurídica – pág. 53.

9 ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradu-ção de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002, pág. 18 e 19.

Page 39: O Depertar para a Filosofia
Page 40: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

39

Amor

“O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra que havia num terreno baldio entre as nossas casas. Falá-vamos de coisas bobas, isto é, que a gente grande achava bobas. Como qualquer troca de confidências entre crian-ças de cinco anos. Crianças ...

Parecia que entre um e outro nem havia ainda sepa-ração de sexos, a não ser o azul imenso dos olhos dela, olhos em que eu não encontrava em ninguém mais, nem no cachorro e no gato da casa, que apenas tinham a mesma fidelidade sem compromisso e a mesma animal – ou celes-tial – inocência. Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu. Não importava as coisas bobas que disséssemos. Era um desejo de estar perto, tão perto, que não havia ali apenas duas encantadoras criaturas, mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra, enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se. Eles não sabiam que levariam pro-curando uma coisa assim por toda as suas vidas...”

QUINTANA, Mário – Porta Giratória – Editora Globo – São Paulo – 3ª edição – 1997.

Page 41: O Depertar para a Filosofia

40

José Anastácio de Sousa Aguiar

Page 42: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

41

Deus

“Essa essência una, única, absoluta, universal, infinita, não é, todavia, uma substância inerte e passiva, mas uma força viva e ativa; ela é a Vida, a Inteligência, a Consciência, a Razão, o Espírito em grau ilimitado. (...)

Ora, sendo a infinita essência (Deus) sempre ativa e jamais passiva, deriva, dela efeitos múltiplos e incessan-tes, através de todos os tempos e espaços. Deus nunca foi Deus sem ser criador. (...)

Deus é infinito em sua essência, mas finito em suas existências ou manifestações. Deus, essencialmente infi-nito, é existencialmente finito. Essencialmente uno, é ele existencialmente múltiplo: um no seu ser, muitos no seu agir. Em nenhum dos seus efeitos pode Deus revelar-se to-tal e exaustivamente, o que equivaleria a criar um novo Deus e com isso esgotar todas as suas potencialidades criadoras em um único ato criador. (...)

Conforme dissemos em outra parte, o panteísmo, além de identificar a essência de qualquer coisa com Deus (no que está certo), identifica a existência das coisas com Deus (no que está errado). O dualismo, por sua vez, come-te o erro de negar não somente a identidade da essência (no que faz bem), mas também a identidade da existência, no que faz mal. O monismo, porém, afirma a identidade da essência entre a causa divina e qualquer um de seus efeitos, ao mesmo tempo em que nega a identidade entre a essência divina e a existência das coisas criadas. (...)

Page 43: O Depertar para a Filosofia

42

José Anastácio de Sousa Aguiar

Deus não está fora do mundo, nem o mundo está fora de Deus – mas Deus não é o mundo, nem o mundo é Deus.”

ESPINOZA, Baruch - Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tra-dução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Intro-dução de Huberto Rohden – pág. 20, 21, 22 e 23.

“O nada significa o não existir. O nada, portanto, não existe. (...)

Nós, como tudo que existe, estamos em Deus, por-que nada pode existir fora de Deus, nada lhe pode ser acrescentado nem tirado.(...)

Assim, diante do absoluto, encontramo-nos no relati-vo; diante do imutável, no contínuo transformar-se; diante da perfeição, numa condição de imperfeição sempre em movi-mento para atingir a perfeição, diante da unidade orgânica do todo, encontramo-nos fragmentados e fechados em nos-so individual egocentrismo de egoístas, diante da liberdade do espírito, encontramo-nos prisioneiros no cárcere da ma-téria e de seu determinismo; diante do bem, da felicidade, da vida, somos presas do mal, da dor, da morte. (...)

Este nosso mundo de matéria, percebidos pelos nos-sos sentidos, não é Deus (...)

Mesmo Deus estando em tudo o que somos e vemos, tudo isso, por si só, não é Deus. Ele está além de todo fe-nômeno e forma, de toda posição do particular. (...)

A primeira condição, pois, a que deve submeter-se a liberdade é o dever de manter-se em plena adesão à Lei, que exprime o pensamento e a vontade de Deus. (...)

Page 44: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

43

Mas assim o Tudo-Uno-Deus resultou como que par-tido em dois: uma parte continuou na perfeição do Abso-luto e a outra foi formar a estrutura material e espiritual de nosso universo. Devemos, entretanto, compreender bem, não representar este a verdadeira criação, como se crê, mas uma contrafração, uma inversão sua, um seu verda-deiro estado patológico, embora transitório e curável. Em outros termos, o nosso universo não é criação, mas uma sua doença, que lentamente se vai curando.

Essa conclusão implica outra: o método adotado pela ciência, ou seja, o da observação e da experiência, aplica-do aos fenômenos desse universo, jamais poderá condu-zir-nos ao conhecimento das causas primeiras. (...)

Então, não seria mais o homem que criaria um Deus de acordo com uma imagem tirada do emborcamento da própria imperfeição, mas seria o homem uma corrupção da perfeição de Deus, um ser decaído que anseia por vol-tar à perfeição perdida. (...)

Nenhum momento do tornar-se universal se move por acaso, loucamente, mas dentro de margens que lhe disciplinam o transformismo, coordenando-o ao de todos os demais fenômenos, no seio do funcionamento do gran-de organismo do todo. (...)

Por isso, o fenômeno astronômico da formação da matéria surgindo da energia, na formação das galáxias, pertence à última fase do processo involutivo, quando concluído inicia-se o caminho inverso. (...)

Na matéria, temos o ponto mais afastado de Deus, o ponto mais periférico do Todo. (...)

Dessa forma, a energia é prisão do espírito, como a matéria é energia condensada. (...)

Page 45: O Depertar para a Filosofia

44

José Anastácio de Sousa Aguiar

Dessa forma, o conhecimento libertará o homem, pois o que sabe conhece a lei e não é mais constrangido à obediência pelo castigo das sanções de dor, efeito do erro. O que sabe, obedece por adesão espontânea, porque com-preendeu toda a vantagem individual da obediência, a uti-lidade própria em não violar a Lei. A verdadeira liberdade, a que conduz à felicidade, consiste em conformar-se com a Lei, e não em colocar-se como prisioneiro dos baixos ins-tintos, fazendo-nos recair no inferno do Anti-Sistema. (...)

O pensamento humano pode considerar o universo de três modos diferentes:

1º) Como desordenado, ou seja, constituído de elementos separados que se ignoram mutuamente, desconexos e incoerentes, que não constituem uma unidade, nem funcionam nela organicamente, essa é a concepção do involuído, e exprime o seu tipo, desconhecedor das profundas realidades da vida, instintivamente separa-tista, isolado de tudo, na concha de seu egoísmo;

2º) Como ordenado. Os fenômenos são concebidos como ligados por leis naturais que o regulam, ven-do-se, então, no universo princípios diretivos e, por-tanto, em ordem. (...) Essa concepção corresponde a um estado mais evoluído do indivíduo, exprimindo o seu tipo biológico, alcançado pela observação e pelo raciocínio;

3º) Como unitário. O universo é concebido como redutível a uma causa única, central, absoluta, realidade funda-mental, causa de tudo. (...) O universo aparece, então, como um Sistema. Essa concepção corresponde a um estado ainda mais evoluído do indivíduo, exprimindo o seu tipo, que chegou, por intuição, à visão de Deus e do seu Sistema. (...) Esta é a concepção do evoluído

Page 46: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

45

maduro, cujo olhar espiritualizado chegou a ver além das aparências da forma. (...)

A evolução leva-nos do inferno ao paraíso. Posições relativas. Para um indivíduo a terra pode ser um paraíso, mas para o evoluído é um inferno, um mundo povoado de demônios, onde só se pode encontrar luta e dor. (...)

Em nosso mundo os valores mais apreciados são os menos valiosos, os fictícios da matéria, e não os reais e eternos do espírito; quem é premiado na luta pela vida é o mais forte, que vence submetendo o próximo, e não o mais honesto, que trabalha a favor do próximo. (...)

O móvel de toda essa humanidade é o egoísmo se-paratista, principal qualidade do Anti-Sistema, que nos in-dica a oposta, o altruísmo unificador, qualidade principal do Sistema. (...)

Nos planos mais baixos, não apenas tudo é determi-nismo, mas, também, para o elemento, tudo permanece em estado de inconsciência. A sabedoria não está nele, que permanece imerso na mais profunda ignorância, mas na Lei que o guia. (...)

A vida pode ter para cada indivíduo, de acordo com a sua posição evolutiva, um sentido completamente diferen-te. Para os inferiores que saem de baixo, o plano humano pode ser um ponto de chegada bastante alto. Para os mais evoluídos, intencionados em subir a planos mais elevados, a terra pode ser um baixo ponto de partida. Assim, viver em nosso mundo pode representar para os primitivos a maior e mais alegre realização da existência, enquanto para os mais adiantados, pode constituir doloroso estado de sufocação da vida. Acontece, então, que para os involuídos, a juventu-

Page 47: O Depertar para a Filosofia

46

José Anastácio de Sousa Aguiar

de, quando se firma a vida do corpo (que para eles é a vida toda), é alegre, enquanto é triste a velhice, quando esse corpo decai. O contrário ocorre para os evoluídos, para os quais a juventude, quando se firma a vida física, é penosa. Porque representa a obrigação de identificar-se num esta-do biológico inferior a sua natureza, enquanto a velhice é alegre, pois a decadência física liberta o espírito. (...)

Por isso, quanto mais o ser conquistou, com a evolu-ção, um grau mais forte de consciência, tanto menos mor-rerá ao atravessar a morte. Isso porque, quem evolui sobe para o Sistema, onde não existe morte. A substância da vida é expressa pela consciência de existir. A substância da morte é dada pela perda dessa consciência. Ora, involu-ção significa morte justamente porque representa a perda dessa consciência. E evolução significa conquista de vida, porque constitui conquista dessa consciência. (...)

Quanto mais próximo se acha situado o indivíduo do pólo negativo do Anti-Sistema, tanto mais negativas são as suas qualidades, quanto mais próximo do pólo positivo do Sistema, tanto mais são as suas qualidades positivas. Podemos, dessa forma, considerar como índice seguro de involução, o instin-to da destruição, o espírito de agressividade e de polêmica, o egoísmo e a indiferença às dores do próximo. Contrariamen-te, podemos ter como seguro índice de evolução, o instinto de conservação, o espírito de compaixão e de conciliação, o altruísmo e a sensibilidade às dores do próximo. (...)

Dessa forma, pudemos chegar a esta exata aprecia-ção do fenômeno involutivo-evolutivo da queda, e dizer, que mesmo sendo a evolução, um princípio geral, o re-gresso universal de todos ao Sistema, a amplitude e o tipo de estrada é diferente para cada ser, ou seja, cada um de-senvolve-se ao longo de canal próprio. (...)

Page 48: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

47

A condição para esse pensamento cósmico ser alcan-çado, depende apenas da natureza e das condições do in-divíduo, tornando-o apto à percepção.”

UBALDI, Pietro – O Sistema; Tradução Carlos Torres Pastorino – Rio de Janeiro – Instituto Pietro Ubaldi – 3ª Edição.

“Deus existe para mim na medida em que me assu-mo a mim próprio livremente. Não existe como objeto do saber, mas como revelação na existência.

A iluminação da nossa existência enquanto liberdade também não demonstra a existência de Deus, apenas indi-ca o ponto em que a certeza da sua existência é possível.

Em nenhuma prova da existência de Deus, pode o pensamento alcançar o seu desígnio, se o que pretende é uma certeza absoluta. Mas o malogro do pensamento não redunda em nada. Aponta-nos aquilo que se nos ma-nifesta na inesgotável e sempre problemática consciência englobante de Deus. (...)

Enquanto conheço apenas os motivos e as finalida-des da minha ação estou no domínio do finito e relativo. Só quando vivo segundo o que carece de fundamentação objetiva, vivo pelo absoluto. (...)

O absoluto não pode ser demonstrado, não pode ser apontado como existência no mundo – os testemunhos his-tóricos são apenas alusões. Aquilo que sabemos é sempre relativo. (...) O que se pode mostrar já não é absoluto.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa - Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 49, 58 e 61.

Page 49: O Depertar para a Filosofia

48

José Anastácio de Sousa Aguiar

“O verdadeiro ensinamento é que o Todo em si mes-mo está fora do gênero, assim como de qualquer outra lei, mesmo as do tempo e do espaço. Ele é a Lei de que todas as leis procedem e não está sujeito a elas. Contudo, quan-do o Todo manifesta-se no plano de geração ou criação, os seus atos concordam com a lei e o princípio, porque se re-alizam num plano inferior de existência. E, por conseguin-te, Ele manifesta no plano mental o princípio de gênero, nos seus aspectos masculino e feminino.”

TRÊS INICIADOS – O Caibalion: estudo da filosofia hermética do anti-go Egito e da Grécia; Tradução de Rosabis Camaysar – São Paulo – Edi-tora Pensamento – pág. 45.

“Não sendo, portanto, a lei mais do que uma regra de vida que os homens prescrevem a si mesmos ou a outros com determinada finalidade, parece que a devemos dis-tinguir em humana e divina. Por lei humana, entendo uma regra de vida que serve unicamente para manter a segu-rança do indivíduo e da coletividade, por lei divina, enten-do uma regra que diz respeito apenas ao soberano bem, isto é, ao verdadeiro conhecimento e ao amor de Deus. A razão porque chamo divina uma tal lei tem a ver com a natureza do sumo bem, que vou aqui explicar em poucas palavras e tão claramente quanto puder.

Dado que o entendimento é a melhor parte do nosso ser, torna-se evidente que, se queremos realmente procu-rar o que é do nosso interesse, devemos acima de tudo esforçar-nos por aperfeiçoá-lo tanto quanto possível, já que é na sua perfeição que deverá consistir o soberano bem. Além disso, como todo o nosso conhecimento, e bem assim a certeza que afasta efetivamente toda dúvida,

Page 50: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

49

dependem apenas do conhecimento de Deus, já porque sem Deus nada pode existir nem ser concebido, já porque podemos duvidar de tudo enquanto não tivermos de Deus uma idéia clara e distinta, segue-se que o nosso supremo bem e a nossa perfeição dependem exclusivamente do conhecimento de Deus, etc. (...) O nosso supremo bem e a nossa felicidade resumem-se pois, no conhecimento e amor de Deus. (...)

O homem carnal, todavia, não pode compreender essas coisas, que lhe parecem vãs porque tem de Deus um conhecimento por demais insuficiente e porque não en-contra nesse soberano bem nada que possa tocar, comer, ou, enfim, que tenha relação com a carne, sua principal fonte de prazer, dado que um tal bem é de natureza me-ramente especulativa e intelectual. Mas aqueles que reco-nhecerem que não possuem em si nada de mais impor-tante que o entendimento e a mente sã tomarão isso, com certeza, por uma verdade inabalável.”

ESPINOSA, Baruch – Tratado Teológico-Político; Tradução de Diogo Pires Aurélio – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2003 – pág. 68, 69 e 70.

“Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é inve-joso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que é a única coisa compatível com Deus, don-de provém, então, a existência dos males? Por que razão é que não os impede?”

Page 51: O Depertar para a Filosofia

50

José Anastácio de Sousa Aguiar

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 115.

“Aprenda a honrar o que há de mais poderoso no mundo: o Ser que de tudo se serve e a tudo comanda. Igualmente honra o que há de mais poderoso em ti: um ser de natureza semelhante à daquele, pois é o que em ti comanda todo o resto e governa tua vida. (...)

Não te esqueça do Ser total, do qual participas numa parcela mínima da duração total, da qual, um curto, um mínimo instante te foi reservado, e que és uma ínfima par-te do destino universal. (...)

Toda matéria se imiscui na substância do Todo. Tudo acaba se fundindo no princípio do Todo. Toda lembrança é rapidamente sugada pelo tempo.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 49 e 64.

Page 52: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

51

Discernimento

“Tenha como inútil aquilo que algum dia possa te le-var a transgredir tua fé, a perder tua honra, a odiar, a sus-peitar, a amaldiçoar, a dissimular, a cobiçar o que terá que ser oculto por muros ou véus. Quem privilegia a razão, seu deus interior e o culto silencioso da virtude íntima, não se presta a espetáculo, não se lamenta, não procura a solidão e a multidão, mas viverá sem desejos e sem temor. Nisso reside o maior dos bens.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 30.

“Maquiavel lançava sobre o povo um olhar estranho. Cumular a medida, fazer transbordar o vaso, exagerar o horror do feito do príncipe, aumentar o esmagamento para revoltar o oprimido, fazer esguichar a idolatria em execra-ção, exasperar as massas, essa parece ser a sua política. Seu sim, significa não. Carrega o déspota de despotismo para fazê-lo estourar. O tirano torna-se em suas mãos um hediondo projétil que se quebrará. Maquiavel conspira. Por quem? Contra quem? Adivinhai. Sua apoteose de reis é boa para fazer regicidas. Põe na cabeça de um príncipe um diadema de crimes, uma tiara de vícios, uma auréola de torpezas, e vos convida a adorar seu monstro, com a expressão que se espera num vingador. Ele glorifica o mal olhando com esguelha para a sombra.(...)

Page 53: O Depertar para a Filosofia

52

José Anastácio de Sousa Aguiar

Voltaire e Maquiavel são dois temíveis revolucio-nários indiretos, dessemelhantes em tudo e, no entanto, idênticos no fundo pelo seu profundo ódio ao senhor dis-farçado de adulação. (...)

O livre espírito que alça vôo, pássaro chamado pela au-rora, é desagradável às inteligências saturadas de ignorância e aos fetos conservados em álcool etílico. Quem vê ofende os cegos; quem ouve indigna os surdos; quem anda insul-ta abominavelmente os pernetas. Aos olhos dos anões, dos abortos, dos astecas, dos mirmidões e dos pigmeus, para sempre atados ao raquitismo, o crescimento é apostasia.”

HUGO, Victor – William Shakespeare; Tradução de Renata Cordeiro e Pau-lo Schmidt – Londrina – Editora Campanário – 2000 – pág. 233, 234 e 287.

“Aquele que estudar cuidadosamente o passado, pode prever os acontecimentos que se produzirão em cada Estado, e utilizar os mesmos meios que os emprega-dos pelos antigos. Ou então, se não há mais os remédios que já foram empregados, imaginar outros novos, segun-do a semelhança dos acontecimentos.”

MAQUIAVEL, Nicolau – Comentários Sobre a Primeira Década de Tito Lívio; Tradução de Sérgio Bath – Brasília – Editora UnB – 3ª Edição – 1994 – Livro I, Capítulo XXXIX.

“Não é necessário a um príncipe ter todas as qualida-des mencionadas, mas é indispensável que pareça tê-las.”

MAQUIAVEL, Nicolau – O Príncipe; Tradução de Antonio D’Elia – São Paulo - Editora Cultrix – Capítulo XVIII.

Page 54: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

53

“Seres desiguais não podem pensar da mesma ma-neira. Sempre haverá evidente contraste entre o servi-lismo e a dignidade, a torpeza e o gênio, a hipocrisia e a virtude. A imaginação dará a uns impulso original em direção ao perfeito. A imitação organizará em outros os hábitos coletivos. Sempre haverá forçosamente idealistas e medíocres. (...)

Todo idealista é homem qualitativo; possui um senti-do das diferenças que lhe permite distinguir entre o ruim que observa e o melhor que imagina. Os homens sem ide-ais são quantitativos; podem apreciar o mais ou menos, mas nunca distinguem o melhor do pior. (...)

Quando um ideal se molda em um alto espírito, bas-tam gotas de tinta para fixá-lo em páginas decisivas.”

INGENIEROS, José – O Homem Medíocre; Tradução de Alvanísio Da-masceno – Livraria Do Chain Editora – pág. 17 e 190.

“A Misteriosa Excelência

Aquele que conhece o Tao, não fala.

Aquele que fala do Tao, não o conhece.

Quem o conhece, mantém a boca fechada e fecha também as portas dos sentidos e da mente.

Procura desfazer as complicações das coisas e aparar as suas arestas.

Diminui a sua luz, a fim de amoldar-se à obscuridade dos outros.

Isto se chama a Misteriosa Excelência.

Tal indivíduo não pode ser tratado de modo familiar

Page 55: O Depertar para a Filosofia

54

José Anastácio de Sousa Aguiar

nem cerimonioso, pois está além de toda consideração, lucro e injúria. É o mais nobre dos homens sob os céus.”

TSÉ, Lao – O Livro do Caminho Perfeito (Tao Té Ching); Tradução de Murillo Nunes de Azevedo – São Paulo – Editora Pensamento Ltda – pág. 107.

“Se não te fazes igual a Deus, não podes compreender a Deus: pois o semelhante só é inteligível ao semelhante. Faça-te crescer até corresponder à grandeza sem medida, por um salto que te libere de todo corpo; eleva-te acima de todo tempo, torna-te Aíôn: então compreenderás Deus. Sa-bendo que não é impossível para ti, estima-te imortal e ca-paz de tudo compreender, toda arte, toda ciência, o caráter de todo ser vivente. Sobe acima de toda altura, desce mais que toda profundidade, reúna em ti as sensações de todo o criado, do fogo e da água, do seco e do úmido, imaginando que estás ao mesmo tempo na terra, no mar, no céu e que ainda não nasceste e que estás no ventre materno, que és adolescente, ancião, que estás morto e que estás além da morte. Se alcanças com o pensamento essas coisas ao mes-mo tempo: tempo, lugar, substância, qualidade, quantida-de, podes compreender Deus.

TRISMEGISTO, Hermes – Corpus Hermeticum: Discurso de Iniciação; Tradução de Márcio Pugliesi e Norberto de Paula Lima – São Paulo – Hemus Editora Ltda – 5ª edição – pág. 58.

“Com efeito, tu pensas que emitir um juízo que não se conforma à realidade significa afastar-se do caráter absoluto da verdade. Pois o fato de que acontecimentos dúbios tenham sido previstos como que para acontecer

Page 56: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

55

necessariamente é para ti um erro de juízo, não mais a cer-teza infalível, já que do teu ponto de vista considerar as coisas de forma diferente do que são significa afastar-se da rigorosa precisão da certeza absoluta. E a causa desse erro é que todos pensam que conhecem algo a partir das propriedades e da natureza do que é conhecido, enquan-to o que ocorre é justamente o contrário. De fato, tudo o que é conhecido não é compreendido segundo suas ca-racterísticas, mas sim segundo a capacidade daqueles que procuram conhecer.”

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998 – pág. 143 e 144.

“Fazer os outros entender.

É melhor do que fazê-los recordar, pois o entendi-mento é mais importante do que a memória. Às vezes, é preciso lembrar, noutras, aconselhar o que convém. Al-guns deixam de fazer o que é oportuno simplesmente por nunca ter-lhe ocorrido. Que o conselho amigável ajuda a perceber as vantagens. Um dos maiores privilégios da mente está em discernir o que mais importa. Na falta des-te, muitos sucessos não se realizam.

Compreensão de si mesmo.

Do caráter, do talento, do discernimento e das emo-ções. Ninguém consegue dominar-se se não compreende a si próprio. Existem espelhos para o rosto, mas não para o es-pírito; tome lugar do espelho a ponderada auto-reflexão.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – pág. 50 e 58.

Page 57: O Depertar para a Filosofia
Page 58: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

57

Filosofia

“A filosofia nada dá, pode apenas despertar e então ajuda a rememorar, consolidar e perseverar.

Cada um compreende por ela aquilo que realmente já sabia. (...)

Pensar é começar a ser homem. (...)

Aquele que julga ter descoberto tudo deixou já de filosofar. Aquele que confunde a informação das ciências com o conhecimento do próprio ser na sua totalidade está dominado pela superstição científica. Quem não se sur-preende, deixou de interrogar. Quem não vê o mistério, não procura. A filosofia, ao mesmo tempo que humilde-mente aceita os limites das possibilidades do saber huma-no, está totalmente aberta ao que, incognoscível, se revela para lá das fronteiras do saber. (...)

Exige-se do filósofo que a sua vida corresponda a sua doutrina. (...)

Os estados que alcançamos são apenas manifestação dos esforços constantes da nossa existência ou dos seus malogros. Estar a caminho é a nossa essência. (...)

Esta ascensão da vida filosófica é sempre a do ho-mem. Terá de a cumprir por si em comunicação com o ou-tro, mas não poderá endossar a outro.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa - Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 54, 124, 125, 126 e 128.

Page 59: O Depertar para a Filosofia

58

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A filosofia consiste em fazer com que o gênio inte-rior de cada um seja invulnerável aos ultrajes, impassível, superior aos prazeres e às dores. Que não se mova ao acaso, por falsidade ou maldade. Que não cogite do que fazem ou deixam de fazer os outros. Que aceite as vicissi-tudes e o destino como provenientes da mesma origem. Acima de tudo, que aguarde a morte com serenidade, nela não vendo mais que a dissolução dos elementos constitu-tivos de todos os seres. Pois, se para os elementos não há nada de horrível em se transformarem incessantemente uns nos outros, por que temer a transformação universal e a universal dissolução? Como nada é mal segundo a natu-reza, acredite que a natureza assim exige.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 25.

“Todos os espíritos dotados de uma vidência cósmica acima do comum da humanidade-massa suspeitam ou adivi-nham, com maior ou menor clareza, que existe uma vasta e profunda unidade do universo para além dessa aparente mul-tiplicidade de fenômenos perceptíveis e concebíveis. (...)

Para que alguém possa avaliar com justeza e verdade um gênio, deve ele mesmo possuir algo da natureza desse gênio, (...). É mais fácil um sábio aprender de um tolo, do que um tolo aprender de um sábio.

Uma coisa é certa: um homem que viveu integral-mente a sua filosofia, como Spinoza, e dela hauriu ina-balável firmeza de caráter, serenidade interior em plena tempestade e uma nunca desmentida bondade e benevo-lência para com todos, incluindo os seus gratuitos inimi-

Page 60: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

59

gos – esse homem deve ter encontrado em sua filosofia mais do que um interessante sistema de idéias subjetivas; deve ter experimentado a sua filosofia como a expressão de uma grande e dinâmica realidade objetiva, alicerçada na rocha da Verdade eterna e absoluta.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 53 e 55.

“O que faz agora a minha força resulta do fato de vi-ver de acordo com os meus princípios. (...)

A sabedoria e o poder tendem, naturalmente, a unir-se: eternamente se perseguem, se procuram, se juntam; por isso os homens gostam de se lhes referir ou ouvir re-ferir nas conversas privadas e nos poemas. (...)

Afirmo que a verdadeira opinião que se tiver sobre a filosofia será melhor se nós próprios formos probos; a nossa malícia obteria resultados contrários. (...)

Contudo, evita que isto chegue ao conhecimento dos profanos porque talvez não haja doutrinas mais ridículas para o vulgo do que estas que, para os espíritos ricamente dotados são as mais admiráveis e inspiradas. É necessário ministrá-las mais de uma vez, ouvi-las constantemente e durante inúmeros anos, e é apenas com grandes esforços que se consegue purificá-las como se purifica o ouro. (...)

A maior salvaguarda será não escrever, mas aprender de cor, porque é impossível que os escritos não acabem por cair no domínio público. É por isso que nunca escrevi sobre tais assuntos. Não há obra de Platão e nunca a ha-verá. O que hoje se designa com esse nome é de Sócrates

Page 61: O Depertar para a Filosofia

60

José Anastácio de Sousa Aguiar

quando estava no esplendor da sua juventude. Adeus e se-gue os meus conselhos. Quanto a esta carta, começa por a ler várias vezes e a seguir queime-a. (...)

A superioridade da coragem, da agilidade, da força corporal pode ser o apanágio de muita gente, mas a da verdade, da justiça, da generosidade e da distinção inse-parável de todas estas virtudes, deve confessar-se que tem a sorte de pertencer àqueles que fazem profissão de as honrar. (...)

Numa palavra, quem não tem nenhuma afinidade com o objeto não obterá visão, nem graças a sua rapidez de raciocínio, nem graças a sua memória, porque nunca acharão raiz numa natureza desconhecida.”

PLATÃO – Cartas; Tradução de Conceição Gomes da Silva e Maria Adozinda Melo – Clássicos de Bolso – Editora Estampa Ltda – Lisboa – 2002 – pág. 15, 16, 17, 21, 22, 35 e 77.

“Seguir e observar a ordem das coisas, Zenóbio, a que é própria de cada um, e ver e tornar clara a que res-peita ao conjunto, que contém este mundo e o governa, é muitíssimo difícil e raro para os homens.

A isso se acrescenta o facto de que, mesmo que possa haver quem o faça, não conseguirá encontrar um ouvinte que, pelo mérito da vida e por um certo hábito de erudi-ção, seja digno de assuntos tão divinos e obscuros.

E, no entanto, não há nada que as pessoas mais dota-das se empenhem com maior avidez em ouvir e aprender tal como aqueles que observam os escolhos e as tempes-tades desta vida tanto quanto possível de cabeça erguida – do que o modo como acontece que, tomando Deus o

Page 62: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

61

cuidado das coisas humanas, haja tanta perversidade nos assuntos dos homens, espalhada a tal ponto que não pare-ce dever atribuir-se à admiração divina, nem mesmo a de um escravo, se lhe fosse dado um tão grande poder.”

AGOSTINHO, Santo - Diálogo Sobre a Ordem; Tradução de Paulo Oli-veira e Silva – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – Clássicos de Filo-sofia – Lisboa – pág. 87.

“Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ain-da não chegou ou já passou a hora de ser feliz.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 97.

Page 63: O Depertar para a Filosofia
Page 64: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

63

Firmeza

“Sócrates repetia que julgava sua tarefa cumprida, logo que as suas exortações tinham despertado suficien-temente na alma de uma pessoa o desejo de conhecer e abraçar a virtude. Quando se está firmemente convencido de que nada vale a satisfação de ser um homem honesto, não há acreditava ele, muito mais que aprender.”

CÍCERO – Do Orador e Textos Vários; Tradução de Fernando Couto – Portugal – Coleção Res Jurídica – pág. 53.

“Sem adversário a coragem definha: somente fica cla-ro o quanto ela é grande e a quanto chega seu poder quan-do ela mostra, ao suportar o sofrimento, de que é capaz.

É bom que saibas que o mesmo deve fazer o homem de bem: que não se apavorem diante dos fardos duros e difíceis nem se queixem do destino; o que quer que ocor-ra tome por bem, convertam em bem; o que importa não é o que é, mas o modo como tu suportas.

Não vês como os pais mostram sua afeição de um modo, e as mães de outro bem diferente?

Os pais ordenam que os filhos sejam acordados logo cedo para enfrentar as obrigações, não toleram que eles fi-quem ociosos inclusive nos dias de folga e arrancam deles suor e até mesmo lágrimas; mas as mães querem acalentá-los no seio, deixá-los à sombra, e desejam que eles nunca se entristeçam, nunca chorem, nunca se esfalfem.

Page 65: O Depertar para a Filosofia

64

José Anastácio de Sousa Aguiar

É com um espírito de pai que deus se volta aos ho-mens de bem. Ele os ama profundamente, dizendo: ‘Que sejam atormentados por sacrifícios, dores e flagelos, para que adquiram um verdadeiro vigor’.

Os gordos por falta de atividade são indolentes e nem é preciso um esforço maior, como o simples movimento, com o próprio peso já ficam derreados. A felicidade incó-lume não agüenta uma pancada; mas quem teve uma briga incessante com seus infortúnios criou uma couraça pelas injúrias e não cede a nenhum mal: mesmo quando cai, luta de joelhos. (...)

Eis, porém, um espetáculo digno de merecer a aten-ção de um deus interessado em sua obra, eis um par digno de deus: um homem valoroso duelando com uma má-sor-te, especialmente se ele mesmo a desafiou. (...)

Entre os muitos pensamentos magistrais do nosso Demétrio também há este, que trago fresco na memória – ressoa ainda e vibra em meus ouvidos: ‘Nada me parece mais triste do que um sujeito a quem nunca aconteceu ne-nhuma desgraça’.

De fato, não lhe foi permitido pôr-se à prova. Ainda que todos os benefícios tenham manado para ele gra-ças às suas preces votivas, ainda que antes das preces, os deuses, apesar disso, julgaram-no mal: ele pareceu indigno de algum dia vencer o destino, o qual evita to-dos os homens por demais covardes, como se dissesse: ‘O quê?... Esse aí eu vou tomar por adversário? Num ins-tante ele estará depondo as armas, e nem é preciso usar contra ele toda a minha potência: com uma leve ameaça será enxotado. Ele nem é capaz de encarar-me nos olhos. Outro é que será procurado, com o qual possamos com-

Page 66: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

65

bater: é vergonhoso se bater em duelo com um homem pronto a ser derrotado.

Um gladiador considera uma ignomínia ser posto para lutar com alguém inferior e sabe que é vencer sem glória vencer sem perigo.

O mesmo faz o destino: procura para si os mais valo-rosos adversários, outros supera com fastio.

O destino ataca os homens mais obstinados, os mais hirtos e arrojados, contra os quais desfere toda a sua vio-lência: experimenta o fogo em Múcio, a pobreza em Fabrí-cio, o exílio em Rutílio, a tortura em Régulo, o veneno em Sócrates, a morte em Catão.

Só a desgraça revela o grande exemplo.”

SENECA – Sobre a Divina Providência e Sobre a Firmeza do Homem Sábio; Tradução de Ricardo da Cunha Lima – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 2000 – pág. 25, 27 e 33.

“Sai do inebriamento, torna a ti mesmo. Uma vez desperto, consciente de que eram sonhos que te pertur-bavam, abre bem os olhos e contempla o que vês, como contemplavas aquelas visões. (...)

Que o futuro não te inquiete. Munido da mesma razão que ora te guia, enfrenta-lo-ás no momento oportuno. (...)

A respeito da dor: intolerável, mata. Duradoura é suportável. Concentrando-se, o pensamento se conserva sereno, não permitindo contaminar a porção soberana. Se puder, que o digam as partes do nosso ser atingidas pela dor. (...)

Page 67: O Depertar para a Filosofia

66

José Anastácio de Sousa Aguiar

Deves aceitar piedosamente o que te acontece sem-pre e em toda parte, tratar com justiça aqueles com quem vives, e vigiar com o maior cuidado os teus pensamentos, para que nenhuma má idéia se instale em ti. (...)

Não tenha comportamentos falsos, contenha os im-pulsos, abafe os desejos por demais ardentes, faça com que tua alma seja sempre senhora de ti.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 58, 64, 67, 70, 89.

“Não há nada, na natureza, de tão sacro que não seja atingido por algum desrespeito. As coisas divinas não perdem seu privilégio de respeito máximo porque existe sempre quem intenta contra sua magnitude transcenden-te. Invulnerável não é o que não está sujeito a ser alvejado e, sim, o que não pode ser lesado. Eis a característica pela qual te farei conhecer quem é sábio.”

SENECA – A Constância do Sábio; Tradução Luiz Feracini – São Paulo – Editora Escala – pág. 25.

“Integridade e firmeza.

Esteja sempre do lado da razão, e com tal firmeza de propósito, que nem a paixão comum, nem a violência tirâni-ca o desviem dela. Mas onde encontrar essa fênix de equi-dade? Poucos se dedicam à integridade. Muitos a festejam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam, e os polí-ticos astuciosamente a disfarçam. Ela não teme pôr de lado

Page 68: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

67

a amizade, poder e mesmo seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os perspicazes elaboram sofismas sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razão de Esta-do, mas o homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição, orgulha-se mais de ser firme do que sagaz e se encontra sempre do lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido a algum capricho seu, mas porque os outros abandonaram a verdade.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – pág. 35.

Page 69: O Depertar para a Filosofia
Page 70: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

69

Liberdade

“Se os homens pudessem, em todas as circunstâncias, decidir pelo seguro ou se a fortuna se lhes mostrasse sem-pre favorável, jamais seriam vítimas da superstição. Mas, como se encontram freqüentemente perante tais dificul-dades que não sabem que decisão hão de tomar, e como os incertos benefícios da fortuna que desenfreadamente cobiçam os fazem oscilar, a maioria das vezes entre a espe-rança e o medo, estão sempre prontos a acreditar seja no que for: se têm dúvidas deixam-se levar com a maior das facilidades para aqui ou para ali; se hesitam, sobressalta-dos pela esperança ou pelo medo simultaneamente, ainda é pior, porém, se estão confiantes, ficam logo inchados de orgulho e presunção. Julgo que toda a gente sabe que é assim, não obstante eu estar convicto que a maioria dos homens se ignoram a si próprios. (...) Tanto assim é, que quem nós vemos ser escravos de toda a espécie de supers-tições são sobretudo os que desejam sem moderação os bens incertos. (...) Os homens só se deixam dominar pela superstição enquanto têm medo. (...)

É possível que alguém pense que, com tal argumen-to, fazemos dos súditos escravos, na medida em que se considera que é escravo aquele que age a mando de ou-trem e livre o que se comporta como bem entende, coi-sa que, todavia, não é absolutamente verdadeiro. Porque ninguém, na realidade, é mais escravo do que aquele que se deixa arrastar pelos prazeres e é incapaz de ver ou fazer seja o que for que lhe seja útil; pelo contrário, só é livre aquele que sem reservas se deixa conduzir unicamente pela razão.”

Page 71: O Depertar para a Filosofia

70

José Anastácio de Sousa Aguiar

ESPINOSA, Baruch – Tratado Teológico-Político; Tradução de Diogo Pi-res Aurélio – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2003 – pág. 5, 7 e 241.

“Tomamos consciência da nossa liberdade quando reconhecemos certas exigências em relação a nós pró-prios. (...)

Assegurada a nossa liberdade, logo um segundo pas-so se impõe para a nossa auto-apreensão: o homem é o ser relativo a Deus. Que quer dizer isso?

Não nos criamos a nós próprios. Cada qual pode pensar que teria sido possível não existir. Viver é algo de comum a humanos e animais. Mas nós vivemos na nossa liberdade, pela qual decidimos sem sujeição automática à lei natural, não por nós próprios, mas porque a liberda-de nos é concedida. (...) No auge da liberdade, quando os nossos atos nos parecem necessários, não pela coação ex-terior de um acontecer inevitavelmente submetido às leis naturais, mas pela íntima adesão de uma vontade que não pretende outra coisa, temos a consciência de que a nossa liberdade é uma dádiva da transcendência; quanto mais autenticamente livre, maior é a certeza que o homem tem de Deus. Sempre que sou autenticamente livre, tenho a certeza de que não sou por mim próprio.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos San-tos – Lisboa – Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 66 e 67.

“O objetivo dos antigos era a distribuição do poder político entre todos os cidadãos de uma mesma pátria: era isso que eles chamavam de liberdade. O objetivo dos mo-dernos é a segurança nas fruições privadas: eles chamam

Page 72: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

71

de liberdade às garantias acordadas pelas instituições para aquelas fruições.

Onde existe desigualdade, a liberdade pode estar es-crita nas leis, no estatuto, mas não é coisa real: não é livre o camponês que depende do proprietário, não é livre o empre-gado que permanece submetido ao patrão, não é livre o ho-mem da gleba sujeito ao trabalho incessante dos campos.”

BOBBIO, Norberto – Liberalismo e Democracia; Tradução de Mar-co Aurélio Nogueira – São Paulo – Editora Brasiliense – 6ª Edição – 4ª Reimpressão – 2000 – pág. 08 e 75.

“A felicidade só pode ter por alicerce a liberdade, e a liberdade é filha da verdade. Logicamente, só pode ser real e definitivamente feliz quem conhece a verdade, a verdade vivida e saboreada experencialmente. (...)

Atingir a essência das coisas existentes é perceber a unidade através da pluralidade. (...)

Só o Infinito é pleniconsciente, e, portanto, plena-mente livre. Afirma, todavia, que o homem é parcialmente livre, porque parcialmente consciente. Em Deus, a subs-tância infinita, não há vestígio da causalidade, no sentido passivo (ser causado); qualquer outro ser, porém, está su-jeito à causalidade passiva, isto é, não-livre. (...)

De maneira que o homem, livre por sua essência di-vina, não é livre por sua existência humana. (...)

Pela ignorância, os sentidos nos mantêm na inconsci-ência da nossa escravidão.

Pela ciência, o intelecto nos torna conscientes da nossa escravidão.

Page 73: O Depertar para a Filosofia

72

José Anastácio de Sousa Aguiar

Pela sapiência, a razão nos liberta da escravidão.

A verdade sobre Deus, a verdade sobre o mundo, a ver-dade sobre nós mesmos – eis a grande libertadora! (...)

Compreender o universo, diz Spinoza, é estar liberta-do dele. Compreender tudo, é estar livre de tudo. Somos escravos de tudo o que ignoramos – somos livres de tudo que sabemos. (...)

A ética racional é a proclamação da suprema e defini-tiva liberdade do homem.”

ESPINOZA, Baruch - Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tra-dução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Intro-dução de Huberto Rohden – pág. 19, 20, 30, 32 e 37.

“Do mesmo modo, quando a alma é purificada dos desejos que vêm até ela pela relação muito estreita que tem com o corpo, ela é libertada de todas as paixões, pur-gada de tudo que adquiriu com a encarnação, e, permane-cendo inteiramente só, depõe toda a feiúra que vem até ela através de uma natureza diferente da sua. (...)

Em que consistirá então a verdadeira disciplina mo-ral, a não ser em não se unir aos prazeres dos corpos, mas fugir deles, visto que são impuros e indignos dos puros? A coragem, por sua vez, consiste em não temer a morte.”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 28 e 29.

“Aliás, não consiste a liberdade em nada sofrer. Isso é errado. A liberdade consiste em saber sobrepor o espí-

Page 74: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

73

rito acima das injúrias; em fazer de si mesmo a fonte de onde provém tudo quanto causa satisfação, em desape-gar-se das coisas exteriores, de sorte a não viver preo-cupado, seja pelo medo de riscos desdenhosos, seja de línguas destemperadas.”

SENECA – A Constância do Sábio; Tradução Luiz Feracini – São Paulo – Editora Escala – pág. 73 e 74.

“Chamo servidão a impotência do homem para gover-nar e refrear suas paixões. Com efeito, submetido às pai-xões, o homem não é autônomo, mas dependente da fortu-na, de tal modo estando sob o seu poder que muitas vezes é forçado a fazer o pior, mesmo que veja o melhor.(...)

Assim, vemos que os homens chamam, de ordinário, ‘perfeitas’ ou ‘imperfeitas’ as coisas naturais, mais em vir-tude de um preconceito do que pelo verdadeiro conheci-mento dessas coisas.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 283 e 284.

Page 75: O Depertar para a Filosofia
Page 76: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

75

Morte

“Só o evoluído readquire plena consciência depois da morte, tanto mais plena quanto mais for evoluído. Consciência quer dizer conhecimento do pensamento di-retivo da Lei, do plano geral do universo e de sua posição, para realizar como operário de Deus, a própria função e a do próprio destino de ascensão.

Os animais vivem apenas no plano físico do corpo, não podendo, por isso, gozar depois da morte, de uma vida consciente, que não possuem, pois ainda não con-quistaram. Saem da vida física e a ela voltam por um fenô-meno automático, determinístico, assim como caem as gotas da chuva, sem sabê-lo. A massa involuída da maio-ria dos seres humanos está pouco mais acima desse nível e permanece semi-consciente, ou seja, com uma cons-ciência limitada ao da sua forma mental sensória no am-biente terrestre. (...)

Com a evolução, o centro da vida afasta-se do pla-no material cada vez mais no sentido do plano espiritual. Quanto mais é involuído o ser, tanto mais a vida terrena lhe é não só a verdadeira vida mas também toda a vida, tanto mais lhe é preciosa e tanto mais perdê-la significa verdadeiramente morrer. Quem não possui uma vida in-telectual e espiritual em que viva liberto do corpo, teme a morte, porque nela se sente realmente morrer. Ao contrá-rio, quanto mais evoluído for o ser, tanto menos a vida cor-pórea é a verdadeira vida ou toda a vida. Ele conhece uma vida maior, onde sabe ser eterno e indestrutível; ninguém pode matá-lo, a não ser a sua própria vontade de involuir, praticando o mal. O seu inimigo não é mais o seu seme-

Page 77: O Depertar para a Filosofia

76

José Anastácio de Sousa Aguiar

lhante, que não lhe interessa mais vencer, porque não lhe disputa o espaço vital. Sua luta é contra a própria anima-lidade, única coisa que o impede de dominar, subindo. O evoluído, ao descobrir essa vida maior, não teme a morte, porque sabe que não morrerá de maneira nenhuma.”

UBALDI, Pietro – O Sistema; Tradução Carlos Torres Pastorino – Rio de Janeiro – Instituto Pietro Ubaldi – 3ª Edição – pág. 182 e 183.

“A filosofia será simultaneamente a aprendizagem da vida e da morte. A insegurança da existência no tempo faz da vida uma constante tentativa. (...)

Se filosofar é aprender a morrer, é porque saber morrer é precisamente a condição de uma vida autêntica. Aprender a viver e saber morrer são o mesmo.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa – Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 124.

“A alguém que lhe perguntou se a morte era um mal, Diôgenes respondeu: Como poderia ser um mal, se quan-do está presente não a percebemos?”

LAÊRTIOS, Diôgenes – Vida e Doutrina dos Filósofos Ilustres – Brasília – Editora UnB – 2ª Edição – 1977 – pág. 169.

“É inútil especular sobre a imortalidade e seus atri-butos, porque nenhum homem pode, no presente estágio de evolução, ter um conhecimento claro sobre isso, infi-nitamente maior do que ele no grau atual; a imortalidade

Page 78: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

77

consiste essencialmente na voluntária integração da parte no Todo, no Amor universal. (...)

Negar que o homem, pela separação do corpo mate-rial, perca a consciência da sua identidade equivale a ne-gar a sua imortalidade. Todas as coisas são eternas em seus últimos constitutivos; mas essa eternidade de elementos últimos não é imortalidade. A imortalidade é mais que uma eternidade elementar, é uma eternidade consciente, isto é, a conservação da identidade no Ego.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 45.

“A morte: término das reações de nossos sentidos, das excitações de nossos desejos, das divagações de nos-sos pensamentos, da escravidão da carne. (...)

Preocupas-te por pesares tantos quilos e não mais que isso? Haja da mesma forma quando se tratar de viver tantos anos e não mais. Assim como te contentas com a quantidade de substância que te foi concedida, contenta-te com o teu quinhão de tempo.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 57 e 61.

“Ora, a morte é a separação entre a Alma e o corpo, e o homem que ama estar livre em relação ao corpo não temerá essa separação. Já a magnanimidade é o desprezo pelas coi-sas daqui debaixo. A sabedoria é o ato da inteligência que se desvia das coisas debaixo e conduz a Alma para as do alto. As-

Page 79: O Depertar para a Filosofia

78

José Anastácio de Sousa Aguiar

sim, a Alma, uma vez purificada, torna-se uma Forma (Idéia) e uma Razão: torna-se totalmente incorporal, intelectual e pertence inteira ao Mundo Divino, no qual está a origem da Beleza e do qual provém todas as coisas belas. (...)

Mas se a vida e a Alma existem após a morte, então a morte é um bem para a Alma, uma vez que sem o corpo, ela tem mais liberdade para exercer o ato que lhe é pró-prio. Se ela passa a participar da Alma universal, que mal pode atingi-la ali?”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 29 e 41.

“Um dia, fica doente. Seu olhar torna-se menos vívi-do, sua consciência menos clara. Os móveis que ele amava perdem importância. Os propósitos que ele ouve parecem um ruído inútil. Tudo nele se nivela, tudo se funde numa névoa. Daí em diante, a noite no jardim não mais parece tão escura. Ele está mesmo disposto a ir ver lá fora. Aceita a idéia de passar àquele lugar que o alarmava.

Assim é a luz do mundo que torna a morte trágica; é a consciência clara que lhe dá esse caráter. Quanto mais o homem é vivo, mais intensa é a sua morte.”

GUILMOT, Max – O Legado do Saber – Biblioteca Rosacruz – AMORC – 3ª edição – 1991 – pág. 42.

“Bonaparte tinha razão. Para o herói, para o soldado, para o homem do fato e da matéria, tudo acaba sob sete palmos de terra; para o homem da idéia, tudo começa aí.

Page 80: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

79

Para quem não tem outra ação além da do espírito, a tumba é a eliminação do obstáculo. Estar morto é ser todo-poderoso.”

HUGO, Vitor – William Shakespeare; Tradução de Renata Cordeiro e Paulo Schmidt – Londrina – Editora Campanário – 2000 – pág. 262.

“Vivestes como se fôsseis viver para sempre, nunca vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou; vós o perdeis, como se ele fosse farto e abundan-te, ao passo que aquele mesmo dia que é dado ao servi-ço de outro homem ou outra coisa seja o último. Como mortais, vos aterrorizais de tudo, mas desejais tudo como se fôsseis imortais. Ouvirá muitos dizerem: ‘Aos cinqüenta anos me refugiarei no ócio, aos sessenta estarei livre de meus encargos’. E que fiador tens de uma vida tão longa? E quem garantirá que tudo irá conforme planejas? Não te envergonhas de reservar para ti apenas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já não serve mais para nada? Quão tarde começas a viver, quando já é hora de deixar de fazê-lo. Que negligência tão louca a dos mortais, de adiar para o qüinquagésimo ou sexagési-mo ano os prudentes juízos, e a partir deste ponto, ao qual poucos chegaram, querer começar a viver! (...)

Creia-me, é próprio de um grande homem e de quem se eleva acima dos erros humanos, não consentir que lhe tomem um instante sequer da vida, e assim toda a sua vida é muito longa, uma vez que se dedicou todo a si próprio, não importa quanto ela tenha durado. (...)

Pensarias ter navegado muito, aquele que, tendo se afastado do porto, foi apanhado por violenta tempesta-

Page 81: O Depertar para a Filosofia

80

José Anastácio de Sousa Aguiar

de, errou para cá e para lá e ficou a dar voltas, conforme a mudança dos ventos e o capricho dos furacões, sem contudo sair do lugar? Ele não navegou muito, mas foi muito acossado.”

SENECA – Sobre a Brevidade da Vida; Tradução de William Li – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 1993 – pág. 29, 34 e 35.

“Habitua-te a pensar que a morte nada é para nós, visto que todo o mal e todo o bem se encontram na sensi-bilidade: e a morte é a privação da sensibilidade.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 98.

“Pois os viventes não morrem, meu filho, mas, sen-do corpos compostos se dissolvem: ora, essa dissolução não é morte, mas dissolução de uma mistura. E se eles se dissolvem, não é para serem destruídos, mas para serem renovados. Qual é, com efeito, a energia da vida? Não é o movimento? O que existe no mundo que seja imóvel, meu filho? Nada, meu filho. (...)

Saiba, então, criança, que tudo que está no mundo, tudo sem exceção, está em movimento, seja por diminuir, seja por crescer. Ora, o que está em movimento, também está em vida, mas não há necessidade que todo ser vivente conserve sua identidade. Pois sem dúvida, considerado na totalidade de seu conjunto, o mundo é imutável, minha criança, mas as partes desse mundo são todas mutáveis, sem que nada por isso pereça ou seja destruído: são esses termos apenas que turbam nossos espíritos. Pois, não é o

Page 82: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

81

fato de nascer que é a vida, mas a consciência; e a transfor-mação não é a morte, mas esquecimento. (...)

Todo vivente é, portanto, imortal pelo intelecto.”

TRISMEGISTO, Hermes – Corpus Hermeticum: Discurso de Iniciação; Tradução de Márcio Pugliesi e Norberto de Paula Lima – São Paulo – Hemus Editora Ltda – 5ª edição – pág. 64 e 65.

Page 83: O Depertar para a Filosofia

82

José Anastácio de Sousa Aguiar

Page 84: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

83

Ordem

“Num universo tão complexo, no seio de um orga-nismo de forças regido por uma lei tão sábia, que nunca falhou definidamente, como podes acreditar que teu des-tino esteja abandonado ao acaso, e o desequilíbrio mo-mentâneo, que te aflige e te parece injustiça, não seja con-dição de mais alto e mais perfeito equilíbrio.”

UBALDI, Pietro – A Grande Síntese; Tradução de Carlos Torres Pastori-no e Paulo Vieira da Silva – Fraternidade Francisco de Assis – 19ª Edição – 1997 – pág. 188.

“A razão principal deste erro é que o homem é para si mesmo um desconhecido. Contudo, para que este se co-nheça, há-de dar-se ao trabalho, com grande persistência, de se afastar dos sentidos, de recolher o espírito para si mesmo e de o conservar em si próprio. A um tal ponto só chegam os que se retiram para a solidão ou os que, pelas artes liberais, curam umas certas chagas das opiniões que o decurso da vida quotidiana inflige.

Deste modo, o espírito recolhido em si mesmo en-tende o que é a beleza do universo, que seguramente se chama assim a partir da palavra unum. E por isso mesmo, à alma que avançou para o múltiplo, não é permitido vê-la. Sofregamente, ela vai no encalço da indigência que ignora que só se pode evitar afastando-se da multidão. Falo não da multidão dos homens, mas de tudo aquilo que os sen-tidos captam. Nem é de admirar que, quanto mais coisas queira abarcar, maior miséria sofra por isso.

Page 85: O Depertar para a Filosofia

84

José Anastácio de Sousa Aguiar

Com efeito, tal como num círculo, seja qual for a sua amplitude, há um único ponto médio para o qual todas as coisas convergem (a que os geómetras chamam centro), embora as partes de todo o contorno possam dividir-se inumeravelmente, contudo nada está fora daquele pon-to único, pelo qual todas as outras partes são medidas de igual modo, e que domina todas com uma certa igual-dade de direito; e, de facto, se quisermos partir dali para qualquer parte, tudo se perde, na medida em que se diri-ge para o múltiplo; do mesmo modo o espírito, disperso de si próprio, desgarra-se numa espécie de imensidade e consome-se numa verdadeira penúria, uma vez que a sua natureza o obriga a procurar o uno onde quer que seja, e o múltiplo não permite que o encontre. (...)

Com efeito, nada há mais em qualquer lugar para nos-sa consideração do que a medida das coisas, que ninguém pode não reconhecer. Contudo, aprendê-la, quando alguém se empenha em fazê-lo, é muitíssimo difícil e raro. (...)

Ter o espírito submerso é comum a todos os estultos e indoutos, mas a sabedoria não estende a sua mão e a sua ri-queza de um único e mesmo modo a todos os que estão sub-mersos. Acreditai, há uns que são chamados para as coisas do alto e há outros que são abandonados nas profundezas. (...)

Ora; que existe um outro mundo, muitíssimo afasta-do destes olhos, que o intelecto de uns poucos que têm saúde pode ver, o próprio Cristo o indica suficientemente. Ele não diz: ‘O meu reino não é do mundo.’, mas sim: ‘O meu reino não é deste mundo’. (...)

E a verdadeira e, por assim dizer, genuína filosofia não se ocupa de nenhuma outra tarefa senão a de ensinar qual seja o princípio sem princípio de todas as coisas. (...)

Page 86: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

85

Contudo, creio inabalavelmente que logo que abando-nem este corpo, segundo tenham vivido melhor ou pior, as-sim eles se hão-de libertar com maior ou menor facilidade.”

AGOSTINHO, Santo – Diálogo Sobre a Ordem; Tradução de Paulo Oli-veira e Silva – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – Clássicos de Filo-sofia – Lisboa – pág. 91, 125, 126, 131, 137, 171 e 191.

“Nada pode originar-se do nada. Se assim fosse, tudo poderia ter origem em tudo, sem que para isso se neces-sitasse, pelo menos, de uma matéria criadora. E se aquilo que desaparece se dissolvesse no nada, então tudo que existe realmente já há muito se teria perdido, pois nada existiria em que pudesse se dissolver. A totalidade daquilo que se acha na natureza é imutável desde o início e por toda a eternidade, porque nada existe em que pudesse se transformar. Nada existe fora do universo que possa pene-trar nele e provocar tal transformação.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 48.

“Tudo que é pode não ser. Nenhuma negação de um fato pode envolver uma contradição. A não-existência de um ser qualquer é, sem exceção, uma idéia tão clara e dis-tinta quanto sua existência. A proposição que afirma que ele não existe, embora falsa, não é menos concebível e in-teligível do que a que afirma que ele existe.”

HUME, David – Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano; Tradução José Oscar de Almeida Marques – São Paulo – UNESP – 1999 – pág. 210 e 211.

Page 87: O Depertar para a Filosofia

86

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Segundo a natureza do Todo, tudo se cumpre, e não segundo uma outra natureza a envolvê-la exteriormente, ou nela envolvida, ou sobre ela suspensa. (...)

Envolve-te de simplicidade, de pudor, de indiferença pelas coisas intermediárias entre a virtude e o vício. Ama o gênero humano. Obedece a Deus. O poeta já disse que tudo segue a lei imutável. Porque hão de existir deuses ou átomos elementares. Em todos os casos, lembrar que tudo acontece segundo a lei. Isso já é bastante.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 54 e 67.

Page 88: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

87

Paz

“As pessoas isolam-se em retiros nos campos, nas praias, nas montanhas. Tu também costumas desejar es-ses lugares. Desejo insensato, já que podes quando bem quiseres, retirar-te para dentro de ti mesmo. Certamente, nenhum refúgio é mais tranqüilo e resguardado do que o que o homem encontra em sua alma, sobretudo, se para lá levar aquelas verdades sobre as quais lhe basta inclinar-se para imediatamente adquirir uma absoluta quietude. En-tendo por quietude a ordem perfeita da alma. (...)

Nunca se deixe arrastar pelo torvelinho. Em qualquer situação visar a justiça, em todo pensamento, objetivar a compreensão. (...)

É possível levar uma vida feliz, já que podes seguir o caminho reto, já que podes pensar e obrar com método. Duas coisas são comuns à alma de Deus e do homem, de qualquer animal racional: não se deixar perturbar e ser im-pedido por ninguém. Não desejar nada a mais e saber que o bem reside na intenção e na atividade justas. (...)

Reserva-te em ti mesmo. É inerente à natureza da alma equilibrada bastar-se a si mesma quando pratica a virtude, adquirindo a serenidade com essa prática.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 33, 37, 51 e 67.

“Agrada à vaidade humana acreditar que a gente so-fre em conseqüência de nossas virtudes; mas enquanto

Page 89: O Depertar para a Filosofia

88

José Anastácio de Sousa Aguiar

o homem não tiver extirpado de sua mente todo pensa-mento doentio, amargo e impuro, e não tiver lavado em sua alma a última nódoa do pecado, não terá condições de saber e declarar que seus sofrimentos são o resultado de suas boas qualidades e não das más; e o caminho dessa suprema perfeição, ainda que há muito a tenha alcançado, ele descobrirá, operando em sua mente e em sua vida, a Grande Lei que é absolutamente justa e, portanto, não po-derá pagar o bem com o mal e o mal com o bem. De posse de tal conhecimento, ele saberá, então, volvendo os olhos para a sua passada ignorância e cegueira, que sua vida é e sempre foi, ordenada com justiça e que todas as suas ex-periências passadas, boas e más, foram o produto eqüitati-vo de seu próprio ser não evoluído, mas em evolução. (...)

A Lei e não a confusão é o princípio dominante no uni-verso; justiça e não injustiça constitui a alma e a substância da vida; honestidade e não corrupção é a força modeladora e impulsionadora do governo espiritual do mundo. Assim sendo, o homem tem apenas que endireitar a si próprio para endireitar o universo, e durante o processo de endirei-tar-se, ele descobrirá que na medida em que modifica seus pensamentos em relação às coisas e ao próximo, as coisas e o próximo se modificam em relação a ele. (...)

O mundo é o seu caleidoscópio, e as múltiplas com-binações de cores que a cada minuto sucessivo se apre-senta a você são as imagens estranhamente adaptadas de seus pensamentos em permanente mutação.”

ALLEN, James – O Homem é Aquilo Que Ele Pensa; Tradução de Gua-nara Lobato de Morais Pereira – Editora Pensamento – São Paulo – pág. 26, 28 e 30.

Page 90: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

89

“O mais belo fruto da justiça é a paz da alma. (...)

Nem a posse das riquezas, nem a abundância das coi-sas, nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a fe-licidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza. (...)

Não são os convites e as festas contínuas, nem a posse de meninos ou de mulheres, nem de peixes, nem de todas as outras coisas que uma suntuosa mesa pode oferecer, que tornam agradável a vida, mas sim o sóbrio raciocínio que procura as causas de toda escolha e de toda repulsa, e põe de lado as opiniões que motivam que a maior per-turbação se apodere dos espíritos. De todas essas coisas, o princípio e o maior bem é a prudência, da qual nascem todas as outras virtudes; ela nos ensina que não é possível viver agradavelmente sem sabedoria, beleza e justiça, nem possuir sabedoria, beleza e justiça sem doçura. As virtu-des encontram-se por sua natureza ligadas à vida feliz, e a vida feliz é inseparável delas. (...)

A serenidade espiritual é o fruto máximo da justiça.

O justo é sumamente sereno; o injusto, cheio da maior perturbação. (...)

O sábio que se pôs à prova nas necessidades da vida, melhor sabe dar generosamente que receber: tão grande é o tesouro de íntima segurança e independência dos de-sejos que em si possui.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 81, 107, 111, 112 e 114.

Page 91: O Depertar para a Filosofia

90

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A temperança, que é a moderação nos desejos sensu-ais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um gosto esclarecido, dominado, cultivado. (...)

A temperança é essa moderação pela qual permane-cemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus es-cravos. (...) Que infelicidade suportar seu corpo! Que feli-cidade desfrutá-lo e exercê-lo!

O intemperante é um escravo, mais subjugado ainda por transportar em toda parte seu amo consigo. (...) E que liberdade só estar submetido à natureza! A temperança é um meio para a independência, assim como esta é um meio para a felicidade. Ser temperante é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento. (...)

Que prazer estar vivo! Que prazer não carecer de nada! Que prazer ser senhor dos seus prazeres! O sábio epicurista pratica a cultura intensiva – em vez de exten-siva – de suas volúpias. O melhor, não o mais, é o que o atrai e que basta a sua felicidade. (...) Aquele a quem a vida basta, de que poderia carecer? São Francisco de Assis redescobrirá esse segredo, talvez, de uma pobreza feliz. Mas a lição vale, sobretudo, para nossas sociedades de abundância, nas quais se morre e se sofre com maior freqüência por intemperança do que por fome e ascetis-mo. A temperança é uma virtude para todos os tempos, tanto mais necessária, contudo, quanto mais favoráveis eles são. Não é uma virtude excepcional, como a coragem (tanto mais necessária, ao contrário, quanto mais difíceis os tempos), mas uma virtude comum e humilde: virtude não de exceção, mas de regra, não de heroísmo, mas de comedimento. (...)

Page 92: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

91

A temperança não é um sentimento, é um poder, isto é, uma virtude.”

COMTE-SPONVILLE, André – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes; Tradução de Eduardo Brandão – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1995, pág. 45, 46, 47, 49 e 50.

Page 93: O Depertar para a Filosofia
Page 94: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

93

Política

“Quando as ilusões do poder levam os governantes a demolir as barreiras que lhe limitam os caprichos, bre-ve lamentarão tê-lo feito, pois verificarão que as barreiras que limitavam seu poder, também protegiam-no contra os ataques de seus adversários.”

CHALLITA, Mansour – A Arte da Política – Rio de Janeiro – ACIG – pág. 77.

“Resolvei ambos os problemas; animai o rico e pro-tegei o pobre; suprimi a miséria; ponde termo à injusta exploração do fraco pelo forte, refreai a inveja do que vai ainda a caminho contra o que já chegou; ajustai mate-mática e fraternalmente o salário com o trabalho; juntai o ensino gratuito e obrigatório à educação particular da infância, fazendo da ciência a base da virilidade; desen-volvei, alargai a esfera da inteligência, ao mesmo tempo que dais ocupação aos braços; sede a um tempo um povo poderoso e uma família de homens felizes; democratizai a propriedade, não abolindo-a, mas universalizando-a, de modo que todo cidadão seja proprietário, coisa mais fácil do que se pensa; numa palavra aprendei a produzir a riqueza e a reparti-la, e simultaneamente tereis a gran-deza material e a grandeza moral, e sereis dignos de vos chamardes França.

Ousadia: sem ela não há progresso.

Todas as conquistas sublimes são mais ou menos o prêmio da ousadia. Para que a Revolução se consumasse, não bastou que Montesquieu a pressentisse, que a pre-

Page 95: O Depertar para a Filosofia

94

José Anastácio de Sousa Aguiar

gasse Diderot, que a anunciasse Beaumarchais, que a cal-culasse Condorcet, que a preparasse Arouet, que a pre-meditasse Rousseau, foi necessário que Danton ousasse meter-lhe ombros.”

HUGO, Vitor – Os Miseráveis; Tradução de Silva Vieira – Publicações Europa-América – 1998 – pág. 698 e 500.

“Trabalhar para o povo, é essa a grande urgência.

A alma humana, coisa importante a dizer no mo-mento em que estamos, precisa ainda mais de ideal, do que de real.

É pelo real que vivemos, é pelo ideal que existimos. Ora, queremo-nos dar conta da diferença? Os animais vi-vem, o homem existe. (...)

A inteligência, o pensamento, a ciência, a arte severa, a filosofia, devem velar e tomar cuidado com os mal-en-tendidos. Os direitos falsos põem perfeitamente em movi-mento exércitos verdadeiros. (...)

Não, os povos não têm o direito de lançar indefinida-mente a culpa sobre os governos. A aceitação da opressão pelo oprimido acaba sendo cumplicidade; a covardia é um consentimento todas as vezes que a duração de uma coisa ruim que pesa sobre um povo e que esse povo impediria se quisesse, ultrapassa a quantidade possível de paciência de um homem honesto; há solidariedade apreciável e ver-gonha partilhada entre o governo que faz o mal e o povo que o deixa fazer. Sofrer é venerável, submeter-se é des-prezível. Passemos. (...)

Page 96: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

95

As multidões, assim como as vagas, precisam de fa-róis acima delas. É bom que o passante saiba que há gran-des homens. Sem tempo para ler, é-se forçado a ver.”

HUGO, Victor – William Shakespeare; Tradução de Renata Cordeiro e Paulo Schmidt – Londrina – Editora Campanário – 2000 – pág. 226, 251, 277 e 280.

“Quem viver a vida privada tem o direito de exigir que ninguém se ocupe de sua pessoa. Mas quem entra na vida pública deve expor, ao exame de todos, toda a sua vida particular e política, porque ninguém pode ser deso-nesto na vida particular e honestíssimo na vida pública.”

FERRI, Henrique – Discursos de Acusação ao Lado das Vítimas; Tradu-ção de Fernando de Miranda – Coimbra – Portugal – Editora Armenio Amado – 5ª Edição – pág. 157.

“Que pode haver de mais admirável que uma repú-blica governada pela virtude, quando o que manda nos demais não obedece nenhuma paixão, quando não impõe aos seus concidadãos nenhum preceito que ele próprio não observe, quando não dita ao povo lei alguma que ele mesmo não se obrigue e a sua conduta inteira pode apre-sentar-se como exemplo à sociedade que governa?”

CÍCERO – Do Orador e Textos Vários; Tradução de Fernando Couto – Portugal – Coleção Res Jurídica – pág. 129.

“Àquele ou àqueles que detêm o poder público, é portanto igualmente impossível mostrar-se em estado de

Page 97: O Depertar para a Filosofia

96

José Anastácio de Sousa Aguiar

embriaguez ou acompanhados de prostitutas, fazer de bo-bos, violar ou desprezar abertamente as leis estabelecidas por eles mesmos e, apesar disto, conservar a sua majesta-de; isto é-lhes tão impossível, como ser e ao mesmo tem-po não ser.”

ESPINOSA, Baruch – Os Pensadores – São Paulo – Editora Nova Cultu-ral – 1997 – pág. 457.

“É fácil acusar um governo de imperfeição, coisa co-mum a tudo o que é mortal; é fácil impelir o povo ao des-prezo pelo que apreciava antes; quem quer que tenha ten-tado, alcançou-o. Mas, substituir por algo melhor o que se destruiu, muitos o experimentaram sem resultado.”

MONTAIGNE, Michel de – Os Pensadores – Ensaios – Volume II; Tra-dução de Sérgio Milliet – São Paulo – Editora Nova Cultural – 1996 – pág. 42.

“A outra interpretação da distinção entre bom e mau governo repousa, como foi dito, na oposição entre interes-se comum e interesse particular, entre vantagem pública e vantagem privada. Leva em consideração, desse modo, não tanto a forma através da qual o poder é exercido, mas o fim que deve ser perseguido. Que esse fim seja a vantagem co-mum, não do governante ou dos governantes, da classe do-minante, como diríamos hoje, da elite no poder, derivada da natureza mesma da sociedade política, a qual deve prover a satisfação das necessidades relativas a todos os membros e não apenas a alguns deles, tais como, segundo os tempos e segundo as concepções gerais do viver comum e as diver-

Page 98: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

97

sas e com freqüência opostas ideologias, a ordem interna e a paz externa, a liberdade e igualdade, a prosperidade do Estado no seu conjunto, ou o bem estar dos cidadãos uti singuli, a educação para a virtude ou a felicidade.”

BOBBIO, Norberto – Teoria Geral da Política; Organizado por Miche-langelo Bovero; Tradução Daniela Beccacia Versiani – Rio de Janeiro – Editora Campus – 2000 – pág. 210.

“O segundo Tratado sobre o Governo Civil, (1690) de Locke, pode ser considerado como a primeira e mais completa formulação do estado liberal. É um dos três ou quatro livros decisivos na história do pensamento políti-co moderno. Sua importância está na clara solução que dá aos principais problemas que haviam sido debatidos naquele século, muito rico em disputas e lutas políticas na Inglaterra.

Locke é jusnaturalista. (...)

Resumindo: através dos princípios de um direito na-tural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no consenso, de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do Estado libe-ral, concluindo o período das guerras civis na Inglaterra e abrindo um novo período que, através de Montesquieu, chegará às constituições dos estados americanos e à Revo-lução Francesa. Sua obra é a ponte de passagem do estado liberal inglês para o continental.”

BOBBIO, Norberto – Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant; Tradução de Alfredo Fait – Brasília – Editora UnB – 4ª Edição – 1997 – pág. 37 e 41.

Page 99: O Depertar para a Filosofia

98

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A primeira e mais importante conseqüência decor-rente dos princípios até aqui estabelecidos é que só a von-tade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade de sua instituição que é o bem comum. Pois, se a oposição dos interesses particulares tornou necessá-rio o estabelecimento das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o possibilitou. É o que existe de comum a esses vários interesses que formam o vínculo social e, se não houvesse um ponto em que todos os inte-resses concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. Ora, somente com base nesse interesse comum é que a sociedade deve ser governada.”

ROUSSEAU, Jean-Jacques – O Contrato Social e Outros Escritos; Tra-dução de Rolando Roque da Silva – São Paulo – Editora Cultrix – Livro II, Capítulo I – pág. 38.

“Muitos homens desobedecem à lei, porque a odeiam.

Outros obedecem à lei, ainda que a odeiem.

Outros, porém, obedecem à lei porque a amam.

Esse terceiro grupo representaria a superdemocra-cia, ou cosmocracia.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 51.

“Pois, por princípio, os opostos não se associam; à Natureza repugna toda união de contrários. Dessa forma,

Page 100: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

99

como é incontestável que pessoas más freqüentemente ocupam cargos públicos, fica evidente que esses cargos não são intrinsecamente bons, já que toleram pessoas de má índole. Essa é, portanto, a opinião mais racional que devemos ter de todos os presentes da Fortuna, que privi-legia também com tanta abundância as pessoas más.”

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998 – pág. 44.

“Tornar-se conhecido por agradar aos outros.

Especialmente se são seus subalternos. É útil aos sobe-ranos obter as boas graças de todos. A única vantagem do poder: poder fazer o bem mais do que qualquer outro.

Deixar o jogo enquanto estiver ganhando.

Os melhores jogadores fazem isso. Uma retirada elegante é tão importante quanto um ataque de estilo. Ponha a salvo seus sucessos, tão logo forem suficientes, quando forem muitos. Uma boa sorte continuada é sempre suspeita. (...) Ela se cansa quando tem de carregar alguém nas costas por muito tempo.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – pág. 37 e 39.

Page 101: O Depertar para a Filosofia
Page 102: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

101

Religião

“Os sacerdotes freqüentemente repreendem a orgu-lhosa arrogância do indivíduo cuja relação com Deus se realiza por meio da filosofia. Exigem eles obediência ao Deus revelado. Dever-se-á responder-lhes: o indivíduo fi-losofante acredita que obedece a Deus sempre que a sua decisão é profunda, embora sem a garantia objetiva de sa-ber o que Deus quer e, portanto, em permanente risco. Deus age por intermédio das livres decisões individuais.

Os sacerdotes confundem observância a Deus com a obediência às instâncias terrenas da igreja, dos livros e das leis a que dão valor de revelações diretas.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa – Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 74.

“O que é essencial é que se viva a verdade. A verdade é uma só, seja religiosa, seja filosófica. Mas quem não vive a verdade – seja no aspecto religioso ou no filosófico – não sente a força mágica da verdade, da verdade libertadora, como dizia Jesus. A verdade apenas estudada chama-se verdade, a verdade vivida chama-se Amor. O amor é a cul-minância da verdade ou da razão.

O grande mal da humanidade está em possuir ape-nas filosofia estudada e religião crida. (...)

Neste último século do segundo milênio depois de Cristo agonizam cada vez mais as religiões puramente cridas e teologicamente estudadas, e começa a despertar

Page 103: O Depertar para a Filosofia

102

José Anastácio de Sousa Aguiar

cada vez mais a religião vivida e filosoficamente compre-endida. O homem está cansado de estudar belas teorias e acreditar em rígidos dogmas sobre Deus – o homem está ansioso e faminto por uma experiência pessoal de Deus, quer entrar em contato direto com Deus; o homem, pelo menos, o homem-elite, deixou de ser criança e tornou-se adulto, deseja ciência exata sobre Deus, deseja experi-mentar e viver a Deus.

O mais funesto que as igrejas e sinagogas podem fa-zer é não atender a esse legítimo desejo de seus filhos. (...)

A evolução filosófico-espirirual da humanidade vai infalivelmente rumo ao monismo panenteístico, do qual o cristianismo, em sua forma evangélica, primitiva, é a mais perfeita antecipação histórica, embora as teologias chama-das cristãs do Ocidente sejam visceralmente dualistas, as-sim como as filosofias populares do Oriente são, em geral, eivadas de panteísmo. (...)

Preocupar-se com a sua salvação individual é, para Spinoza, prova de falta de confiança na retidão ou justiça do Universo. (...)

Por isso mesmo, não pode haver forma de religião nem regime político definitivos, para todos os tempos e para a humanidade como um todo. A forma de religião e política é necessariamente condicionada pelo maior ou menor grau de evolução do homem. (...)

A realidade é absoluta e infinita – mas o contato com essa realidade, que chamamos conhecer, é sempre relati-vo (...) Daí a insensatez que há em querer estabelecer re-gras absolutas e dogmas imutáveis, no terreno religioso ou político, para todos os tempos e todos os homens.”

Page 104: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

103

ESPINOZA, Baruch - Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tra-dução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Intro-dução de Huberto Rohden – pág. 16, 17, 40, 43 e 47.

“Inúmeras vezes fiquei espantado por ver homens que se orgulham de professar a religião cristã, ou seja, o amor, a alegria, a paz, a continência, a lealdade para com todos, combaterem-se com tal ferocidade e manifestarem cotidianamente uns para com os outros um ódio tão exar-cebado que se torna mais fácil reconhecer a sua fé por es-tes do que por aqueles sentimentos. (...)

Não admira, pois, que da antiga religião não ficasse nada a não ser o culto externo (com que o vulgo mais pare-ce adular a Deus que adorá-lo) e a fé esteja reduzida à cren-dice e a preconceitos. E que preconceitos, que de racionais transformam os homens em irracionais, que lhes tolhem por completo o livre exercício da razão e a capacidade de distinguir o verdadeiro do falso, parecendo expressamente inventados para apagar definitivamente a luz do entendi-mento. (...) Certamente que, se eles tivessem uma centelha que fosse da luz divina, não andariam tão cheios de sober-ba idiota e aprenderiam honrar a Deus e distinguir-se-iam dos outros pelo amor, da mesma forma que agora se distin-guem pelo ódio. Nem perseguiriam com tanta animosida-de os que não partilham das suas opiniões; pelo contrário, sentiriam piedade deles (se é, de fato, a salvação alheia e não a própria fortuna que os preocupa). (...)

Porque as coisas, infelizmente, chegaram a um ponto em que até homens que confessam abertamente não ter a mínima idéia de Deus, nem o conhecer senão pelas coisas criadas (das quais ignoram as causas) não se envergonham de acusar de ateísmo os filósofos. (...)

Page 105: O Depertar para a Filosofia

104

José Anastácio de Sousa Aguiar

Toda a gente diz que a Sagrada Escritura é a palavra de Deus que ensina aos homens a verdadeira beatitude ou caminho da salvação: na prática, porém, o que se veri-fica é completamente diferente. Não há, com efeito, nada com que o vulgo pareça estar menos preocupado do que em viver segundo os ensinamentos da Sagrada Escritura. É ver como andam quase todos fazendo passar por palavra de Deus as suas próprias invenções e não procuram outra coisa que não seja, a pretexto da religião, coagir os outros para que pensem como eles. Boa parte, inclusive, dos teó-logos está preocupada é em saber como extorquir dos Li-vros Sagrados as suas próprias fantasias e arbitrariedades, corroborando-as com a autoridade divina. Nem há mesmo nada que eles façam com menos escrúpulos e com maior temeridade que a interpretação da Escritura, ou seja, da mente do Espírito Santo; (...) Porque, se os homens fos-sem sinceros quando falam da Escritura, teriam uma regra de vida completamente diferente: as suas mentes não an-dariam agitadas com tanta discórdia, não se combateriam uns aos outros com tanto ódio, nem manifestariam um tão cego e temerário desejo de interpretar a Escritura e de in-ventar na religião coisas novas. (...)

Todavia, a ambição e o crime foram tão longe que a religião acaba de consistir menos em obedecer aos ensinamentos do Espírito Santo que em defender hu-manas fantasias, e por não se traduzir em propagação da caridade, mas pela disseminação das discórdias e do ódio mais feroz entre os homens, disfarçado embora de zelo divino e fervor ardente. E, como se esses males não bastassem, há ainda a superstição, que os ensina a des-prezar a natureza e a razão e a admirar e venerar apenas o que as contradiz, (...)

Page 106: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

105

Admira-me bastante, pois, a engenhosidade de pes-soas, como aquelas de quem já falei, que enxergam na es-critura mistérios tão profundos que se torna impossível explicá-los em qualquer língua humana e que, além disso, introduziram na religião tantas matérias de especulação fi-losófica que a Igreja até parece uma academia e a religião uma ciência, ou melhor, uma controvérsia. (...)

Com efeito, uma vez que não podemos compreen-der pela luz natural que a simples obediência é uma via para a salvação, e uma vez que a revelação ensina aconte-cer assim por uma singular graça de Deus impossível de atingir pela razão, segue-se que a Escritura veio trazer aos mortais uma enorme consolação. É que todos podem obe-decer, e só um número muito reduzido, se o comparamos com a totalidade do gênero humano, adquire o hábito da virtude conduzido apenas pela razão, de tal maneira que, se não tivéssemos o testemunho da Escritura, seria caso de duvidar da salvação de quase todos.”

ESPINOSA, Baruch – Tratado Teológico-Político; Tradução de Diogo Pi-res Aurélio – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2003 – pág. 9,10, 32, 33, 114, 115, 208 e 233.

“Quando vires que te tornastes isso; quando a tua interioridade estiver pura e não apresentar obstáculos al-gum a tua unificação; quando nada de exterior estiver mis-turado com o Homem Verdadeiro; quando te encontrares totalmente verdadeiro para com a tua natureza essencial e fores apenas essa luz verdadeira que não tem dimensão ou forma mensuráveis espacialmente, pois é uma luz ab-solutamente imensurável, maior que toda medida e toda quantidade; quando te vires nesse estado, então saberás

Page 107: O Depertar para a Filosofia

106

José Anastácio de Sousa Aguiar

que te tornar-te uma potência viva e poderás confiar em ti mesmo; já não terás necessidade de alguém para te guiar, pois, embora ainda estando aqui (na terra), terás ascendi-do. Fixa então o teu olhar e vê. Esse é o único olho que vê a grande beleza. (...)

Pois é necessário que o olhar se torne semelhante ao objeto que deve ser visto para ser capaz de contemplá-lo. Jamais um olho poderia contemplar o sol, se não fosse se-melhante a ele, e jamais uma Alma poderia contemplar a Beleza suprema se antes não se tornasse bela.”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 34.

“A fé é a antítese do fanatismo. A firmeza do gênio é uma suprema dignidade do próprio ideal. A falta de cren-ças solidamente fundamentadas converte o medíocre em fanático. O fanatismo teme vacilar ante elas e tenta sufocá-las. Enquanto agonizam suas velhas crenças, Saulo perse-gue os cristãos, com fúria proporcional ao seu fanatismo, mas quando o novo credo se afirma em Paulo, a fé o alen-ta, infinita: ensina e não persegue. Prega e não amordaça. Ele morre por sua fé, mas não mata; fanático, teria vivido para matar. A fé é tolerante: respeita as crenças próprias e as alheias. É simples confiança em um ideal e na suficiên-cia das próprias forças; os homens de gênios se mantêm crentes e firmes em suas doutrinas, melhor que se estas fossem dogmas ou mandamentos. Permanecem livres das supertições vulgares e com freqüência as combatem.(...) Nada há de mais estranho à fé que o fanatismo. A fé é de visionários e o fanatismo, de servos. A fé é chama que acen-de e o fanatismo cinza que apaga. A fé é uma dignidade e o

Page 108: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

107

fanatismo é uma renúncia. A fé é uma afirmação individual de alguma verdade própria e o fanatismo é uma conspira-ção de tropas para sufocar a verdade dos demais.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 207 e 208.

Page 109: O Depertar para a Filosofia
Page 110: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

109

Retidão

“Integridade e firmeza. Esteja sempre do lado da ra-zão, e com tal firmeza de propósito, que nem a paixão co-mum, nem a violência tirânica o desviem dela. Mas onde encontrar essa fênix de equidade? Poucos se dedicam à in-tegridade. Muitos a festejam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam, e os políticos astuciosamente a dis-farçam. Ela não teme pôr de lado a amizade, poder e mes-mo seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os perspicazes elaboram sofismas sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razão de Estado, mas o homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição, orgulha-se mais de ser firme do que sagaz e se en-contra sempre do lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido a algum capricho seu, mas porque os outros abandonaram a verdade.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Sabedoria Mundana; Tradução de Ieda Moriya – São Paulo – Editora Best Seller – pág. 25.

“A perfeição objetiva do homem consiste em que ele compreenda a última razão por que deve ser bom. Essa razão não está no plano horizontal do querer conscien-te, nem no terreno social, na necessidade que o homem civilizado tem de conviver com seus semelhantes, convi-vência essa impossível sem a justiça, a bondade, o amor. O homem perfeito é ético também na solidão, sem nenhum contato com a sociedade, como se vivesse sozinho aqui na

Page 111: O Depertar para a Filosofia

110

José Anastácio de Sousa Aguiar

terra. A ética não nasceu da convivência social, mas sim, da inteligência, da vontade e da razão. (...)

De maneira que o homem que atingiu as luminosas alturas da ética racional ou cósmica é uma personalidade individual perfeitamente integrada no Todo universal – in-dividualizada pela inteligência, integrada pela razão. (...)

À luz da ética racional não crescem essas plantas dani-nhas chamadas temor e ódio, porque não encontram clima propício. Em lugar delas vicejam a confiança e o amor.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 33, 35 e 37.

“Eis que o varão merecedor desse nome, aquele se esforça por colocar-se de imediato entre os melhores, é qual um sacerdote, ministro dos deuses, amigo Daquele que nele habita e o torna incorruptível pelo prazer, in-vulnerável ao sofrimento, insensível aos ultrajes, escuda-do à maldade, combatente do mais nobre dos embates – aquele que se trava para dominar as paixões, – interior-mente impregnado de justiça, aberto a todos os suces-sos, conformado com o destino, só raramente, e levado por necessidade imperiosa ou pelo interesse comum, co-gita do que dizem, fazem ou pensam os outros. Aplica a sua atividade exclusivamente à sua própria vida, medita constantemente a respeito da sorte que lhe reservam as leis do Todo. (...)

Que a tua faculdade soberana, que é dona da tua alma, seja inatingível aos movimentos da carne, tanto os suaves quanto os rudes. Que não se confunda a faculdade

Page 112: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

111

soberana com a carne, mas, em si mesma fechada, circuns-creva aos membros aquelas impressões. (...)

Como podem almas grosseiras e ignorantes pertur-bar uma alma preparada e sábia? Qual alma é preparada e sábia? Aquela que conhece o princípio e o fim, a razão espalhada por todos os seres, que por toda a eternidade rege o Todo por meio de revoluções regulares. (...)

Eis a melhor maneira de se vingar: não se lhes asse-melhar. (...)

Para o homem, a felicidade consiste em fazer o que lhe é natural. E o natural do homem é ser benevolente para com seus semelhantes, desdenhar da carência dos senti-dos, discenir as ações que merecem crédito, contemplar a natureza do Todo e tudo que dela decorre. (...)

Combate o modo de viver pernicioso, repetindo a ti mesmo: ‘A partir de agora depende de mim expulsar de minha alma o vício, a ambição, em suma, tudo o que per-turba, e, vendo as coisas realmente como são, delas me servir segundo o seu valor’. Jamais te esqueças desse po-der que te é natural.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 28, 29, 49, 50, 51, 52, 79 e 80.

“Aquele que ambiciosamente muitas coisas cobiçou, orgulhosamente desprezou, insolentemente venceu, trai-çoeiramente enganou, desonestamente roubou e prodi-gamente dissipou seus bens, necessariamente terá que temer suas próprias recordações. (...) É próprio de uma mente segura de si e sossegada poder percorrer todas as

Page 113: O Depertar para a Filosofia

112

José Anastácio de Sousa Aguiar

épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode se voltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo; e, tal como não é de nenhum proveito procurar encher uma ânfora, por mais que nela se coloque líquido, se não há fundo que o receba ou sustenta, assim não importa quanto tempo tens à disposição; se não tens como retê-lo, ele vazará como de almas rachadas e furadas. O tem-po presente é brevíssimo, tanto que a alguns parece não existir, pois está sempre em movimento; flui e precipita-se; deixa de ser antes de vir a ser; é tão incapaz de deter-se, quanto o mundo ou as estrelas, cujo infatigável movimen-to não lhes permite permanecer no mesmo lugar. (...)

Já que a Natureza nos permite entrar em comunhão com toda a eternidade, por que não nos desviarmos des-sa estreita e curta passagem do tempo e nos entregarmos com todo o nosso espírito àquilo que é ilimitado, eterno e partilhado com os melhores? (...)

Existem famílias dos mais nobres espíritos: escolhe a qual delas queres pertencer, e receberás não apenas seu nome, mas também seus próprios bens, que não terás de vigiar miserável e mesquinhamente, pois, quanto mais fo-rem partilhados pelos homens, maiores se tornarão. Estes te darão acesso à eternidade, te elevarão àquelas alturas de onde ninguém se precipita.”

SENECA – Sobre a Brevidade da Vida; Tradução de William Li – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 1993 – pág. 38, 39, 46 e 47.

“Se aquilo que ocasiona prazer aos libertinos eliminasse os receios do espírito, dos fenômenos da natureza, da morte

Page 114: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

113

e das dores, e se ainda ensinasse o conhecimento da limitação das ânsias, nada teríamos a desaprovar nessas pessoas. (...)

Nada é suficiente para quem julgar o suficiente de-masiadamente pouco.

Nada faças na vida algo que te cause medo se teu vi-zinho vier a sabê-lo. (...)

O fruto mais saboroso da auto-sufiência é a liberdade. (...)

O mais belo fruto da justiça é a paz da alma. (...)

Vive na solidão! (...)

O essencial para nossa felicidade é a nossa condição íntima: e desta somos nós os amos. (...)

E consideramos um grande bem bastar-se a si pró-prio, não com o fim de possuir sempre pouco, mas para nos contentarmos com pouco no caso em que não pos-suamos muito, legitimamente persuadidos de que desfru-tam da abundância do modo mais agradável aqueles que menos necessidades têm, e que é fácil tudo o que a natu-reza quer e difícil o que é vaidade.

Se quiseres enriquecer Pítocles, não lhe acrescentes riquezas: diminui-lhe os desejos.(...)

A serenidade espiritual é o fruto máximo da justiça.

O justo é sumamente sereno; o injusto, cheio da maior perturbação. (...)

O homem que tenha alcançado o fim da espécie huma-na será honesto mesmo que ninguém se encontre presente.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 63, 79, 80, 81, 82, 99, 109, 112 e 113.

Page 115: O Depertar para a Filosofia

114

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Dizem que Youssef Ben Jacó, quando dono dos te-souros do faraó, deixava-se passar fome e se alimentava de cevada. Disseram-lhe: ‘Passa fome quando dispõe dos tesouros do mundo!’ Respondeu: ‘Receio que ao viver na abundância esqueça os famintos’.”

CHALLITA, Mansour – Belíssimas Páginas da Literatura Universal – Rio de Janeiro – ACIG – pág. 15.

“O bom estudioso deve ser humilde e manso, afasta-do totalmente das preocupações vãs e dos ilícitos das vo-lúpias, diligente e constante, para que aprenda com prazer de todos, nunca presuma de sua ciência, fuja dos autores de doutrinas perversas como do veneno, aprenda a refle-tir longamente sobre alguma coisa antes de julgá-la, não queira aparecer douto, mas sê-lo, ame os ensinamentos aprendidos dos sábios e procure tê-los sempre diante dos olhos como espelho do seu próprio rosto. E se, por acaso, certas coisas mais obscuras não são admitidas por sua in-teligência, o bom estudioso não prorrompa em impropé-rios, como se cresse que nada é bom a não ser aquilo que ele pode entender.”

SÃO VITOR, Hugo de – Didascálicon – Da Arte de Ler; Tradução Anto-nio Marchionni – Petrópolis/RJ – Vozes – 2001 – pág. 159.

“Quanto melhor alguém é, mais benevolente se torna com relação a todas as coisas e com relação aos homens.”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 263.

Page 116: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

115

Sabedoria

“Se acaso encontrares nessa vida algo melhor do que a justiça, a verdade, a temperança, a coragem, me-lhor ainda do que o pensamento que a si mesmo basta quando, submisso à razão, fornece o rumo certo de ativi-dade, que com seu destino se conforma ao aceitar a sorte que não escolheu, se, reafirmo, encontrares algo melhor, abraça-te a isso com todas as forças e goza o bem supre-mo que descobristes (...)

Caso alguém me convencer, me provar que penso ou procedo erradamente, tratarei de corrigir-me, já que bus-co a verdade, que nunca fez mal a ninguém. Mas quem persiste no erro e na ignorância faz mal a si mesmo.

De mim, faço o que é meu dever. Desse dever não me afastarão os outros seres que são inanimados, irracionais ou se transviaram e desconhecem seu melhor caminho. (...)

Coloca sua felicidade nas ações de outrem aquele que ama a glória. Aquele que ama o prazer, nas próprias sensações. Aquele que ama a inteligência nas próprias ações põe sua felicidade. (...)

Passar todo dia com se fosse o último, sem agitação, sem moleza, sem falsidade, nisso consiste a perfeição dos costumes. (...)

Se uma causa exterior te perturba, a tua aflição não vem dessa causa, mas, sim, do teu juízo a respeito dela. Em teu poder está a possibilidade de diluir essa aflição. Se teu desgosto decorre de uma disposição interior, quem te impede de corrigir teu estado de espírito.”

Page 117: O Depertar para a Filosofia

116

José Anastácio de Sousa Aguiar

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 29, 56, 62, 73 e 83.

“Não ceder a paixões: a qualidade espiritual mais elevada.

Que sua superioridade o redima de impressões co-muns, passageiras. Não há maestria maior que o domínio sobre si próprio e as paixões: é o triunfo do livre arbítrio. A paixão pode até afetá-lo, mas não permita que afete sua posição, muito menos se esta for importante. Trata-se de uma maneira sensata de evitar problemas e um caminho mais curto para se obter a estima dos outros.

Homem criterioso e observador.

Domina as coisas e não deixa que as coisas o do-minem. Sonda as maiores profundezas e disseca os pro-blemas com perfeição anatômica. Só de ver alguém, já o compreende e avalia sua essência. Possui grande poder de observação, decifra mesmo o que se acha mais oculto. Observa com argúcia, concebe sagazmente, argumenta sabiamente: não há nada que não possa descobrir, notar, apreender, entender.

Nunca perder o controle.

Grande ênfase deve pôr a prudência em não perder o controle. Assim se portam os grandes homens, pois a magnanimidade dificilmente se abala. As paixões são os humores da alma, e qualquer excesso indispõe a prudên-cia. Se a moléstia sai da boca, sua reputação estará em perigo. Tendo completo domínio de si próprio na pros-

Page 118: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

117

peridade como na adversidade, ninguém irá censurá-lo, mas admirá-lo.

Nem tudo mau, nem tudo bom.

Um certo sábio reduziu toda a sabedoria ao caminho do meio. Levar o certo longe demais e ele se torna errado. A laranja espremida ao máximo dá só amargor. Mesmo no prazer não devemos ir a extremos. A própria inteligência se esgota se exigida demais, e se ordenharmos uma vaca em excesso teremos sangue por leite.

Saber usar os inimigos.

Não segure a arma pela lâmina, que será ferido, mas pelo cabo que o defenderá. E isso vale também para a competição. Quem é prudente considera os inimigos mais úteis do que o tolo considera os amigos. (...) O ho-mem prudente considera a ojeriza em espelho, mais con-fiável que o do afeto, pois o ajuda a reduzir os defeitos ou corrigi-los.

Conhecer o principal defeito.

Ninguém vive sem ter um contrapeso da sua melhor qualidade, e se a inclinação o favorece, subjuga a pessoa como um tirano. Comece a combatê-lo prestando-lhe atenção, identificando-o. Dê, para esse defeito, a mesma atenção que lhe é dada por quem o observa. Para ser se-nhor de si, deve refletir sobre si mesmo. Vencida essa im-perfeição, que é a maior de todas, as outras se acabarão.”

Page 119: O Depertar para a Filosofia

118

José Anastácio de Sousa Aguiar

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – págs. 27, 43, 44, 55, 56 e 111.

“Conhecimento e intenções nobres asseguram que seu sucesso dê frutos. Quando a compreensão se une com a má intenção, não se tem um matrimônio, mas uma viola-ção monstruosa. A intenção malévola envenena as melhores qualidades. Auxiliada pelo conhecimento, corrompe com mais sutileza. Infeliz a eminência que se entrega à maldade! Conhecimento sem bom senso significa loucura em dobro.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Sabedoria Mundana; Tradução de Ieda Moriya – São Paulo – Editora Best Seller – pág. 20.

“Não conheço grandes homens que não tenham adotado modelos. Rousseau imitou Marot; Corneille, Lu-cano e Sêneca; Bossuet, os profetas; Racine, os gregos e Virgílio.(...)

Mas esses grandes homens ao imitarem, permane-ceram originais, porque tinham mais ou menos o mesmo gênio daqueles que tomavam por modelos; de maneira que cultivavam seu próprio caráter sob esses mestres que consultavam e aos quais, às vezes, ultrapassavam (...)”

VAUVENARGUES, Luc de Clapiers – Das Leis do Espírito – Florilégio Filosófico; Tradução de Mário Laranjeira – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1998 – pág. 27.

“A verdadeira felicidade e beatitude do indivíduo consiste unicamente na fruição do bem e não, como é evi-

Page 120: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

119

dente, na glória de ser o único a fruir quando os outros dele carecem; quem se julga mais feliz só porque é o úni-co que está bem, ou porque é mais feliz e mais afortunado que os outros, ignora a verdadeira felicidade e beatitude. Porque a alegria que assim se experimenta, a menos que seja infantil, não pode resultar de outra coisa que não seja a inveja e a má vontade. Exemplificando: a verdadeira feli-cidade e beatitude dum homem consiste apenas na sabe-doria e no conhecimento da verdade e não em ser mais sábio do que os outros ou no fato de eles não possuírem o verdadeiro conhecimento, pois isto não acrescenta ab-solutamente nada a sua sabedoria, que o mesmo é dizer, a sua verdadeira felicidade. (...)

Para o compreender, é preciso ter em conta o se-guinte: tudo o que podemos honestamente desejar resu-me-se nestes três objetivos principais: conhecer as coisas por suas causas primeiras; dominar as paixões, ou seja, adquirir o hábito da virtude; enfim, viver em segurança e em boa saúde. (...)

Por este motivo, sempre que algo na natureza nos parece ridículo, absurdo ou mau, é porque só conhece-mos as coisas em parte e ignoramos em grande medida a ordem e a coerência de toda a natureza, além de que pre-tendemos que tudo esteja orientado segundo as normas da nossa razão, quando o que a razão considera ser mau não o é do ponto de vista da ordem e das leis de toda a natureza, mas apenas do ponto de vista das leis da nossa própria natureza.”

ESPINOSA, Baruch – Tratado Teológico-Político; Tradução de Diogo Pires Aurélio – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2003 – pág. 50, 53 e 236.

Page 121: O Depertar para a Filosofia

120

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Os falsos sábios, reconhecendo a irrealidade com-parativa do Universo, imaginaram que podiam transgre-dir as suas Leis: estes tais são vãos e presunçosos loucos, eles se quebram na rocha e são feitos em pedaços pelos elementos, por causa da sua loucura. O verdadeiro sá-bio, conhecendo a natureza do Universo, emprega a Lei contra as leis, o superior contra o inferior; e pela arte da alquimia transmuda aquilo que é desagradável naquilo que é agradável, e deste modo triunfa. O Domínio não consiste em sonhos anormais, em visões, em vida e ima-ginações fantásticas, mas sim no emprego das forças su-periores contra as inferiores, escapando assim das penas dos planos inferiores pela vibração nos superiores. A transmutação não é uma denegação presunçosa, é uma arma ofensiva do mestre.”

TRÊS INICIADOS – O Caibalion: estudo da filosofia hermética do anti-go Egito e da Grégia; Tradução de Rosabis Camaysar – São Paulo – Edi-tora Pensamento – pág. 48.

“Serenidade de espírito é uma das mais belas jóias da sabedoria. É o resultado de um longo e paciente esforço de auto-controle. Sua presença é indício de experiência madura e de um conhecimento bem pouco comum das leis e modo de operar do pensamento.

Um homem se torna calmo na medida em que passa a compreender a si mesmo como um ser de pensamento evoluído, pois semelhante conhecimento exige a compre-ensão dos outros como resultado do pensamento, e na medida que ele desenvolve uma compreensão correta e vê cada vez mais claramente as relações internas das coi-sas através da lei de causa e efeito, deixa de se agitar e de

Page 122: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

121

se irritar, de se preocupar e de se queixar, e se torna equi-librado, firme e sereno. (...)

Quão insignificante nos parece a mera busca do di-nheiro se comparada a uma vida serena – uma vida que ha-bita as profundezas do oceano da Verdade, sob as ondas, fora do alcance das tempestades, na Eterna Calma!”

ALLEN, James – O Homem é Aquilo Que Ele Pensa; Tradução de Guanara Lobato de Morais Pereira – Editora Pensamento – São Paulo – pág. 63 e 64.

“Portanto, se a razão é imortal e eu, que separo ou re-úno todas estas coisas, sou racional, aquilo pelo qual eu me chamo mortal não é meu. Ora, se a alma não é o mesmo que a razão e, contudo, eu me sirvo da razão e pela razão sou melhor, deve evitar-se o que é inferior em função do que é melhor, o que é mortal em função do que é imortal.”

AGOSTINHO, Santo – Diálogo Sobre a Ordem; Tradução de Paulo Oli-veira e Silva – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – Clássicos de Filo-sofia – Lisboa – pág. 225.

“Para a inimizade das essências, não existe remédio. A água, mesmo fervida, apaga o fogo.

Quem põe seus esforços a serviço dos ingratos, age como quem lança a semente à terra estéril, ou dá conse-lhos a um morto, ou fala em voz baixa a um surdo.

A erva débil, quando reunida, forma a corda forte que serve para imobilizar o elefante poderoso.

Dois nunca se saciam: o que acumula dinheiro e o que acumula saber.”

Page 123: O Depertar para a Filosofia

122

José Anastácio de Sousa Aguiar

IBN AL-MUKAFA – Calila e Dimna; Tradução de Mansour Challita – ACIG – Rio de Janeiro.

“De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é a Sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito.

A sapiência ilumina o homem para que conheça a si mes-mo, ele que, quando não sabe que foi feito acima das outras coisas, acaba achando-se semelhante a qualquer outra coisa.

A mente imortal do homem, iluminada pela Sapiên-cia, se volta para o seu princípio, e percebe quanto é in-conveniente ao homem procurar coisas fora de si, uma vez que poderia ser-lhe suficiente aquilo que ele próprio é. Lê-se escrito na trípode de Apolo: gnoti seauton, ou seja, ‘conhece-te a ti mesmo’. De fato, o homem que não es-queceu a sua origem sabe que é nada, tudo aquilo que é sujeito a imutabilidade. (...)

Quase todas as forças do corpo mudam nos ve-lhos, e, enquanto cresce apenas a Sabedoria, todas as outras decrescem.”

SÃO VITOR, Hugo de – Didascálicon – Da Arte de Ler; Tradução Antonio Marchionni – Petrópolis/RJ – Vozes – 2001 – pág. 47 e 163.

“Num duelo espiritual, aquele que é vencido, ganha, contanto que tenha ampliado os seus conhecimentos. (...)

O homem de sentimentos nobres aspira antes de tudo a alcançar a sabedoria e a amizade. Esta é um bem efêmero, aquela, um bem imorredouro. (...)

Quem menos necessita do dia vindouro, recebe-o com maior alegria. (...)

Page 124: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

123

As leis existem para os sábios, não para que não pra-tiquem injustiças, mas para que não as sofram. (...)

Não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos, como da confiança na sua ajuda.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 79, 80, 81, 82 e 113.

“Para que alguém possa avaliar com justeza e verdade um gênio, deve ele mesmo possuir algo da natureza desse gênio, porquanto cognitum est in cognoscente secundum modum cognocentis. É mais fácil um sábio aprender de um tolo, do que um tolo aprender de um sábio.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 55.

Page 125: O Depertar para a Filosofia
Page 126: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

125

Tolerância

“Existe, com efeito, um ceticismo mais mitigado, ou filosofia acadêmica, que pode ser tanto útil quanto dura-douro, e que pode ser em parte o resultado desse pirro-nismo, ou ceticismo excessivo, quando suas dúvidas in-discriminadas são em certa medida corrigidas pelo senso comum e a reflexão. As pessoas tendem naturalmente, em sua maior parte, a ser afirmativas e dogmáticas em suas opiniões; e, ao contemplarem os objetos apenas unilate-ralmente, sem fazer idéia de qualquer argumento que se possa contrapor, atiram-se precipitadamente em direção aos princípios pelos quais sentem inclinação, e não de-monstram nenhuma indulgência para com aqueles que professam opiniões contrárias. Hesitar ou ponderar são atos que confundem seu entendimento, imobilizam suas paixões e suspendem suas ações. Sentem-se, portanto, impacientes para escapar de um estado que lhes é tão des-confortável, e julgam que a violência de suas afirmações e a obstinação de suas crenças podem pô-los a uma dis-tância segura dele. Mas se tais raciocinadores dogmáticos pudessem tornar-se conscientes das estranhas fraquezas do entendimento humano, mesmo em sua mais perfeita condição e ao deliberar da forma mais exata e cuidadosa, essa reflexão naturalmente iria inspirar-lhes mais modéstia e reserva, diminuir a elevada opinião que têm de si mesmo e seu preconceito contra os antagonistas.”

HUME, David – Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano; Tradução José Oscar de Almeida Marques – São Paulo – UNESP – 1999 – pág. 207 e 208.

Page 127: O Depertar para a Filosofia

126

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Mas gostaria de discutir um pouco contigo colocan-do-me no lugar da Fortuna. Vê se sua causa não é justa. ‘Por que, ó homem, te obstinas em me acusar e me perse-guir com tuas inumeráveis queixas? Que mal te fiz? Aca-so me apossei de algo que era teu? Debate comigo diante de qualquer tribunal a propriedade de quaisquer bens ou honrarias e, se conseguires demonstrar que aquilo é pró-prio de algum mortal, eu admitirei que aquilo que reivindi-cas é mesmo teu. Quando a natureza te fez sair do ventre de tua mãe, estavas totalmente nu e não tinhas nada. Fui eu quem te acolheu, tratou com o maior cuidado e, se não me suportas mais, é porque te elevei muito, dedicando-me muito a tua causa, e fui excessivamente pródiga em relação a ti. Mas agora decidi retirar minha mão de teu om-bro. Tu deverias agradecer-me o usufruto de bens que não te pertencem e não tens o direito de te queixares como se tivesses perdido os teus próprios. Por que então essas lamentações? Não fostes agredido de nenhum modo por mim! As riquezas, as honras e os outros bens da sorte são minha propriedade. Esses bens estão sob as minhas ordens e me reconhecem como rainha; eles chegam ao mesmo tempo que eu e partem quando me vou. Chego mesmo a afirmar com certeza que, se tu fosses proprietário daquilo que reclamas, tu não o teria perdido’.”

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998 – pág. 28.

“Não é ao jovem que se deve considerar feliz e in-vejável, mas ao ancião que viveu uma bela vida. O jovem na flor da juventude é instável e é arrastado em todas as direções pela fortuna; pelo contrário, o velho ancorou na

Page 128: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

127

velhice como em um porto seguro, e os bens que antes esperou cheio de ansiedade e de dúvida, os possui agora cingidos com firme e agradecida lembrança.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 114.

“Quanto ao bom e ao mau, não indicam nada de po-sitivo nas coisas, pelo menos se consideradas em si mes-mas, e não são senão modos de pensar ou noções que formamos porque comparamos as coisas entre si. Uma só coisa pode ser ao mesmo tempo boa e má, e também indi-ferente. Por exemplo, a música é boa para o melancólico, má para o aflito, para o surdo não é boa nem má.”

ESPINOZA, Baruch – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradução de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002 – Introdução de Huberto Rohden – pág. 286.

Page 129: O Depertar para a Filosofia
Page 130: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

129

Transcendência

“Em uma noite profunda,Estando eu cheia de angústia e de amor ardente,Oh! Sorte feliz!Saí sem ser vista!Quando a minha casa estava já em paz.

(...) A alma começa a entrar na noite profunda quan-do Deus a eleva acima do estado daqueles que começam, ou seja, daqueles que se servem ainda da meditação na via espiritual; Deus coloca-a a pouco e pouco no estado daqueles que estão avançados, ou seja, o dos contempla-tivos, a fim de a conduzir deste modo ao estado dos per-feitos, que é aquele que a alma se une a Deus.”

CRUZ, São João da – A Noite Obscura; Tradução Teresa Antunes Car-doso e Armando Pereira da Silva – 1ª edição – Lisboa – Portugal – 1993 – pág. 37 e 39.

“Pela transcendência somos guiados de modo diferente do que qualquer outro guia do mundo, porque há um único modo de ser guiado por Deus. É o que se serve do caminho da própria liberdade. A voz de Deus está em tudo o que surge ao indivíduo com caráter de certeza, quando está em disponibilidade para o que se lhe depara na tradição e no mundo que o rodeia.”

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa – Guimarães Editores – 9ª Edição – pág. 69.

Page 131: O Depertar para a Filosofia

130

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Muitas vezes ocorreu-me ser retirado do meu corpo e conduzido a mim mesmo; ser retirado das coisas exter-nas e introduzido em mim mesmo; e então ver uma Bele-za maravilhosa, tornando-se ainda maior a certeza de que pertenço à ordem superior dos seres por ter realizado em ato a mais nobre forma de vida; ter-me identificado com a divindade; ter-me estabelecido nela; ter vivido o seu ato e me situado acima de tudo quanto é inteligível, exceto o Su-premo. No entanto, depois dessa estadia na região divina, quando desço da Inteligência ao raciocínio, pergunto-me perplexo como é possível a minha Alma estar neste corpo, sendo ela, mesmo estando no corpo, essa coisa elevada que se revelou a mim?”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 81.

“A adaptação da consciência ao invisível é progres-siva – como na terra a adaptação da criança ao visível. O eu interior vai se harmonizando com o plano psíquico. É a quantidade das vidas anteriores que decide o seu nível cósmico. Do mesmo modo que, na terra, o homem se apro-xima por instinto dos seres de acordo com os seus senti-mentos, o eu interior volta espontaneamente a se reunir à sua família psiquíca. O parentesco é natural, como as sim-patias durante a encarnação.

No mundo físico, um objeto é vermelho porque sua su-perfície absorve todas as radiações da luz branca exceto a ver-melha. Assim, formam os objetos vermelhos um conjunto.

De modo semelhante, as consciências formam os seus parentescos segundo seu poder de absorção da Consci-

Page 132: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

131

ência Cósmica, e a tonalidade que elas refletem depende desse próprio poder, que por sua vez é função do passado planetário. O nível cósmico que o homem alcança resulta das lições aprendidas na terra.”

GUILMOT, Max – O Legado do Saber – Biblioteca Rosacruz – AMORC – 3ª edição – 1991 – pág. 58.

“Todo homem tem em si seu Patmos. É livre para ir ou não ir a esse assustador promontório do pensamento cujas trevas vislumbramos. Se não vai, fica na vida ordi-nária, na consciência ordinária, na virtude ordinária, na fé ordinária, ou na dúvida ordinária; e está bem. Para o re-pouso interior, é evidentemente o melhor. Se vai até esse cimo, é tomado. As profundas vagas do prodígio apare-ceram-lhe. Ninguém vê impunemente esse oceano. Do-ravante ele será o pensador dilatado, engrandecido, mas flutuante; ou seja, o sonhador. Tocará por uma ponta o poeta e pela outra o profeta. Certa quantidade dele per-tence agora à sombra. O ilimitado entra em sua vida, em sua consciência, em sua virtude, em sua filosofia. Torna-se extraordinário aos outros homens, tendo uma dimensão diferente da deles. Tem deveres que eles não têm. Vive na prece difusa, ligando-se, coisa estranha, a uma certeza indeterminada que ele chama de Deus. Distingue nesse crepúsculo o bastante da vida anterior e o bastante da vida ulterior para apanhar essas duas extremidades do fio som-brio e reatá-las à sua alma. Quem bebeu, beberá, quem sonhou, sonhará. Fica obcecado por esse abismo atraente, por essa sondagem do inexplorável, por esse desinteresse pela terra e pela vida, por essa entrada no proibido, por esse esforço por tatear o impalpável, por esse olhar para

Page 133: O Depertar para a Filosofia

132

José Anastácio de Sousa Aguiar

o invisível, vai, volta, acotovela-se, inclina-se, dá um passo, em seguida dois, e é assim que se penetra no impenetrá-vel, é assim que se ingressa nas amplidões sem margens da meditação infinita.”

HUGO, Vitor – William Shakespeare; Tradução de Renata Cordeiro e Paulo Schmidt – Londrina – Editora Campanário – 2000 – pág. 137.

“O principal fato a ser considerado é que as facul-dades superiores podem compreender as subalternas, enquanto estas não podem jamais elevar-se ao nível das que lhes são superiores. Com efeito, os sentidos não po-dem perceber nada além da matéria; a imaginação não é capaz de apreender a idéia geral da espécie; e a razão não pode conceber a forma absoluta. A inteligência, no entan-to, como que pairando acima de todas as coisas, não ape-nas vê a forma absoluta como distingue também a matéria contida na forma, e da mesma maneira distingue o absolu-to, coisa que as outras faculdades são incapazes de fazer.”

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998 – pág. 144 e 145.

“Muitas vezes, acordando longe do meu corpo, tor-nado estranho a todo o resto, eu contemplo, no meu ínti-mo, uma beleza maravilhosa e creio, especialmente ago-ra, pertencer a um destino superior, realizando uma vida melhor, unificado com o divino e fundado nele, eu chego a exercitar uma atividade que me põe acima de todos os outros seres espirituais.”

Page 134: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

133

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 148.

“É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que aprendemos mediante a intuição mental.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 101.

Page 135: O Depertar para a Filosofia
Page 136: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

135

Vaidade

“Quem quer que seja que pretenda curar os males do mundo sem ter primeiramente alterado a sua própria disposição mental, somente multiplicará os males que se propõe curar.”

MAMBERT, W. A – Viagem ao Inconsciente; Tradução de Octávio C. Bernardes – São Paulo – Círculo do Livro – 1973 – pág. 14.

“De ordinário, as grandes asneiras são, como as cor-das grossas, formadas por uma multidão de fios. Pegai na corda e desfiai-a, tomai separadamente todos os peque-nos motivos determinantes, e direis, quebrando-os um a um: ‘Pois é só isso!’ Entrançai-os, porém, e torcei-os todos, e ficar-vos-á uma enormidade.”

HUGO, Vitor – Os Miseráveis; Tradução de Silva Vieira – Publicações Europa-América – 1998 – pág. 406.

“São passageiros tanto o louvor como o louvado. (...)

Um pouco mais e estarás morto. E não conseguiste ainda ser simples nem tranqüilo, não venceste o erro de imaginar que te possam ser nocivas as coisas exteriores, não adquiriste a benevolência para com todos nem a certeza de que a sabedoria consiste apenas em agir com justiça.

Investiga as almas, vê o que evitam e buscam os sábios. (...)

Page 137: O Depertar para a Filosofia

136

José Anastácio de Sousa Aguiar

Como dizia Epíteto, és uma alma infante que carrega um cadáver. (...)

Com certeza, a abundância é uma perigosa imposto-ra, que te ilude precisamente quando julgas dedicar-te ao que é digno do teu zelo. (...)

A maioria das coisas que as pessoas vulgares admi-ram pertencem ao que há de mais comum, ao que subsiste por sua constituição ou sua natureza. São pedras, madei-ras, figos, vinhas, oliveiras. Os menos topeiras admiram os objetos animados, por exemplo, as ovelhas, o gado. As pessoas mais distintas admiram seres governados por uma alma dotada de razão, não a razão universal, porém a que torna o homem hábil nas artes e habilidades, ou simples-mente capaz de adquirir muitos escravos. O que preza a alma dotada da razão universal quer apenas conservar em sua alma disposições e atividades racionais e sociais, e aju-dar o próximo a desenvolver idêntica disposição. (...)

Ler, não podes mais. Reprimir o orgulho, entretanto, tu o podes. Ser superior aos prazeres e as dores, tu o podes. Colocar-te acima da glória vã, tu o podes. Não guardar rancor aos insensíveis e ingratos, antes, lhes ser útil, tu o podes.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 39, 40, 54, 55, 76 e 77.

“Os espíritos rotineiros resistem à admiração, não re-conhecem o fogo dos astros, porque nunca tiveram em si uma fagulha. (...)

Quem vê os defeitos e não as belezas, os pecados e não os méritos, as discordâncias e não as harmonias,

Page 138: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

137

morre em um baixo nível, onde vegeta com a ilusão de ser um crítico. (...)

Aquele que critica um alto espírito estende a mão, esperando uma esmola de celebridade. Basta ignorá-lo, deixá-lo com a mão estendida, negando-lhe a notoriedade que a réplica lhe conferiria. (...)

Aquele que tem consciência de seu mérito não se presta a inflar a vaidade do primeiro indigente que apa-rece à sua frente, pretendendo distraí-lo, obrigando-o a perder seu tempo. (...)

Onde todos podem falar, os ilustrados calam. Os enriquecidos preferem escutar os mais vis enganadores. Quando o ignorante se crê igualado ao estudioso, o ve-lhaco ao apóstolo, o boquirroto ao eloqüente e o mulo ao digno, a escala do mérito desaparece em uma oprobriosa nivelação de vilania. (...)

Sempre há medíocres. Eles são eternos. O que varia é seu prestígio e sua influência. Nas épocas de exaltação re-novadora, mostram-se humildes, são tolerados. Ninguém os nota, não ousam imiscuir-se em nada. Quando se fragi-lizam os ideais e se substitui o qualitativo pelo quantitati-vo, se começa a contar com eles. Passam a ter consciência de seu número, unem-se em grupos, arrebanham-se em partidos. Sua influência cresce à medida que o clima se tempera, que o sábio é igualado ao analfabeto, o rebelde ao lacaio, o poeta ao prestamista. A mediocridade se con-densa, converte-se em sistema, é incontrastável. (...)

A característica do inculto é se achar apto para tudo, como se a boa intenção salvasse a incompetência. (...)

Corre em suas veias uma linfa vaidosa, própria da es-tirpe dos perus e quintessenciada no pavão, simbólica ave

Page 139: O Depertar para a Filosofia

138

José Anastácio de Sousa Aguiar

que soma candidamente a sensaboria e a fatuidade. São ter-mômetros morais de uma época. Quando a mediocracia in-cuba filhotes de perus, os de águia não têm atmosfera. (...)

Vivem de espaventos, que só correspondem às for-mas. A austera sobriedade do gesto é atributo dos homens. A suntuosidade das aparências é o galhardão das sombras. Depois de incubar seus anseios, trêmulos de humildade ante seus cúmplices, nublam-se de fumaças e engalam-se de fatuidades. Esquecem que se envaidecer por uma posição é confessar-se inferior a ela. (...) O ambicioso quer ascender até onde suas asas o possam levantar. O vaidoso acredita estar nos cumes superiores cobiçados pelos outros.”

INGENIEROS, José – O Homem Medíocre; Tradução de Alvanísio Damas-ceno – Livraria Do Chain Editora – pág. 136, 137, 156, 157, 165, 170 e 173.

“Posições Incômodas

Quem fica na ponta dos pés, não tem firmeza.

Aquele que abre as pernas demais, não anda facilmente.

Da mesma forma, o que se mostra, não brilha.

Quem defende seus pontos de vista com obstinação, não é cortês.

O homem que se vangloria, não tem seu mérito re-conhecido.

Quem é orgulhoso, não possui a superioridade que pretende ter.

Tais condições, do ponto de vista do Tao, são como remanescentes de comida, de um tumor do corpo e de tudo que é excrescente.

Page 140: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

139

Por essa razão, aqueles que seguem o Caminho Per-feito não as adotam, nem permitem que existam.”

TSÉ, Lao – O Livro do Caminho Perfeito (Tao Té Ching); Tradução de Murillo Nunes de Azevedo – São Paulo – Editora Pensamento Ltda – pág. 47.

“Mas o que temos de fazer para chegar a isso? Qual é o caminho para alcançá-lo? Como poderemos ver essa Beleza imensa que permanece, por assim dizer, no inte-rior do santuário e não se dirige para fora para ser vista pelo profano?

Que aquele que pode fazê-lo siga-a até a sua inte-rioridade, abandonando a visão dos olhos, e não se volte para o esplendor dos corpos que admirava antes. Quando vemos as belezas corporais, não devemos correr atrás de-las, mas saber que elas são imagens, traços e sombras; e que portanto, devemos fugir em direção àquela Beleza da qual elas são uma imagem. Se corrermos para apanhar as imagens como se fossem reais, seremos semelhantes ao homem que quis apanhar sua bela imagem refletida nas águas, caiu em suas profundezas e desapareceu.”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 32.

“Se alguém corresse ao encontro da beleza dos corpos, para prender-se a eles, como se foram realida-de, ele seria semelhante a quem quisesse agarrar-se à própria imagem na água – como, segundo me parece, um certo mito o pretende mostrar – e, tendo-se cur-

Page 141: O Depertar para a Filosofia

140

José Anastácio de Sousa Aguiar

vado demais sobre a torrente, desaparece. Do mesmo modo, aquele que tende à beleza dos corpos, não com o corpo, mas com a alma, cairá nas profundezas tene-brosas e horríveis e permanecerá no Hades, cego com-panheiro da sombra.”

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommerman – São Paulo – Polar Editorial – 2000 – pág. 88.

“Não ser vulgar em nada.

Sobretudo no gosto. Sábio é aquele que fica des-contente quando suas coisas agradam a muitos. As pes-soas sensatas nunca se satisfazem com aplausos comuns. Alguns são tão camaleões da popularidade que preferem o sopro vulgar da multidão do que as suavíssimas brisas de Apolo. Também não seja vulgar no discernimento. Não aprecie os milagres do vulgo, pois não passam de charla-tanismo. A multidão se encanta com a tolice e não presta qualquer atenção a um bom conselho.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – pág. 35.

“Prefiro proclamar abertamente aos homens, ba-seando-me no meu conhecimento da natureza, aquilo que lhes seja útil, ainda que ninguém o compreenda, a dar, sob caloroso aplauso da multidão, o meu acordo em tolices. (...)

Renuncio de boa vontade ao belo, que não traz pra-zer, e desprezo também os seus tolos admiradores. (...)

Page 142: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

141

Então quem obedece à natureza, e não às vãs opini-ões a si próprio, se basta em todos os casos. Com efeito, para o que é suficiente por natureza, toda aquisição é ri-queza, mas, por comparação com o infinito dos desejos, até a maior riqueza é pobreza. (...)

A quem não basta pouco, nada basta. (...)

A vida do insensato é ingrata, encontra-se em cons-tante agitação e está sempre dirigida para o futuro.”

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005 – pág. 76, 81, 109 e 110.

Page 143: O Depertar para a Filosofia
Page 144: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

143

Vida

“Das IdéiasQualquer idéia que te agrade, Por isso mesmo... é tua.O autor nada mais fez do que vestir a verdade,que dentro em ti se achava inteiramente nua...”

Quintana, Mário – Espelho Mágico – Editora Globo – Porto Alegre – 1951.

“A vida pode ter para cada indivíduo, de acordo com a sua posição evolutiva, um sentido completamente dife-rente. Para os inferiores que saem de baixo, o plano hu-mano pode ser um ponto de chegada bastante alto. Para os mais evoluídos, intencionados em subir a planos mais elevados, a terra pode ser um baixo ponto de partida. As-sim, viver em nosso mundo pode representar para os pri-mitivos a maior e mais alegre realização da existência, en-quanto para os mais adiantados, pode constituir doloroso estado de sufocação da vida. Acontece, então, que para os involuídos, a juventude, quando se firma a vida do corpo (que para eles é a vida toda), é alegre, enquanto é triste a velhice, quando esse corpo decai. O contrário ocorre para os evoluídos, para os quais a juventude, quando se firma a vida física, é penosa. Porque representa a obrigação de identificar-se num estado biológico inferior a sua nature-za, enquanto a velhice é alegre, pois a decadência física liberta o espírito. (...)

Por isso, quanto mais o ser conquistou, com a evolu-ção, um grau mais forte de consciência, tanto menos mor-

Page 145: O Depertar para a Filosofia

144

José Anastácio de Sousa Aguiar

rerá ao atravessar a morte. Isso porque, quem evolui sobe para o Sistema, onde não existe morte. A substância da vida é expressa pela consciência de existir. A substância da morte é dada pela perda dessa consciência. Ora, involu-ção significa morte justamente porque representa a perda dessa consciência. E evolução significa conquista de vida, porque constitui conquista dessa consciência. (...)

O elixir da longa vida procurado pelos alquimistas medievais para conseguir a eterna juventude, existe; não porém, sob forma de bebida, mas de esforço para evoluir, porque com a evolução será reconstruída a vida plena e contínua, não mais interrompida pela morte.”

UBALDI, Pietro – O Sistema; Tradução Carlos Torres Pastorino – Rio de Janeiro – Instituto Pietro Ubaldi – 3ª Edição.

“Considera brevemente o que te ocupa durante esse percurso. Poderias acaso crer que teria sido para um destino tão nulo que te verias dotado de faculdades e propriedades tão superiores? Terias nascido tão pene-trante, tão grandioso, tão vasto nas profundezas de teus desejos e pensamentos somente para consumires tua existência com ocupações tão fastidiosas por sua perio-dicidade; tão tenebrosas e limitadas em seu objetivo; en-fim, tão contrárias à tua nobre energia, dado o capricho que parece mantê-las em sua dependência e delas ser o soberano árbitro?”

SAN-MARTIN, Louis-Claude de – O Ministério do Homem-Espírito – Curitiba/PR – Ordem Rosacruz – 2001 – pág. 19 e 20.

Page 146: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

145

“Recorre a esta reflexão quando te for penoso acor-dar pela manhã: ‘Levanto-me para realizar uma tarefa de homem. Por que teimar, se vou fazer aquilo para o qual nasci, para o qual fui enviado ao mundo? Terei sido criado, por acaso, para ficar agasalhado sob as cobertas?’ – ‘Mas é mais agradável.’ – ‘Então nasceste só para lazer? Não será para trabalhar e mostrar-te capaz de esforço? Não vês as plantas, os pássaros, as formigas, as aranhas executarem cada qual a sua tarefa peculiar e concorrerem no que lhe compete para a ordem do mundo? Foges, apesar das evi-dências, das tuas obrigações de homem? Não concorres ao que é de acordo com a tua natureza?’ – ‘Mas o descanso também é necessário.’ – ‘Concordo. Mas a natureza mar-cou-lhe os limites, como os delimitou à comida e à bebida. Tu ultrapassas estes últimos, indo além da necessidade. Mas se dá o contrário quando se trata de ser produtivo. Aí ficas aquém do possível. É que não te amas a ti mesmo. Se o fizesses, amarias também a tua natureza e seus de-sígnios. Aqueles que amam seu ofício nele se atiram, es-quecidos até do banho e das refeições. No entanto, prezas menos a tua natureza do que o cinzelador a cinzeladura, o dançarino a dança, o avarento o dinheiro, o vaidoso a gló-ria vã. Entregues à paixão, sacrificam a bebida e o sono ao que os empolgam. As ações úteis à sociedade parecem-te menos valiosas e dignas de zelo?’ (...)

Tua alma é de conformidade com teus pensamen-tos habituais. As idéias colorem a alma. Sendo assim, tinge-a pela meditação de pensamentos como este: em qualquer lugar em que se pode viver, pode-se viver bem. (...)

A ninguém acontece nada que a natureza não lhe dê forças para suportar. (...)

Page 147: O Depertar para a Filosofia

146

José Anastácio de Sousa Aguiar

Por si mesmas as coisas não atingem ponto algum de nossa alma.”

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003 – pág. 43 e 48.

“A concepção das duas cidades encontra sua base na reflexão agostiniana dos dois amores. A vida humana se de-senrola entre dois amores, entre duas forças: uma terrestre e outra espiritual e celeste. Entre estas duas forças, ou dois amores, se desenvolve a vida humana. Será que esta mesma dinâmica não acontece também na história? (...)

Uma coisa não é a ventura da cidade e outra a do ho-mem, pois toda cidade não passa de sociedade de homens que vivem unidos.”

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona – A Cidade de Deus – Parte I – Petrópolis – Editora Vozes – 3ª edição – 1999 – pág. 45.

“Assim como a planta brota, e não poderia brotar se não fosse a semente, também cada ato do homem brota das sementes ocultas do pensamento, e sem elas não po-deria surgir. (...)

O homem é um produto da Lei e não do artifício, e causa e efeito são tão absolutos e inevitáveis no plano se-creto do pensamento quanto no mundo das coisas visíveis e materiais. Um caráter nobre, à semelhança de Deus, não é algo que se possa atribuir ao favor ou ao acaso, mas, sim, o resultado natural de um contínuo esforço de reto-pen-sar, o efeito de um prolongado anseio de associação com

Page 148: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

147

o pensamento de Deus. Um caráter ignóbil e bestial, pelo mesmo processo, é o resultado de um constante acolhi-mento a pensamentos vis. (...)

De todas as belas verdades pertencentes à alma que foram restauradas e trazidas à luz neste século, nenhuma é mais risonha ou mais rica em divinas promessas e em confiança do que esta – a de que o homem é o senhor do pensamento, o modelador do caráter e o construtor e for-jador da condição, do meio e do destino. (...)

Esse é o senhorio consciente que o homem só atinge quando descobre dentro de si mesmo as leis do pensa-mento, descoberta essa que é inteiramente uma questão de aplicação, auto-análise e experiência. (...)

Todo homem está onde está pela lei do seu ser; os pensamentos que ele incorporou ao seu caráter coloca-ram-no ali, e na disposição da sua vida não existe nenhum fator casual, mas tudo é o resultado de uma lei que não pode falhar. Isso é tão verdade em relação àqueles que se sentem em desarmonia com o seu meio, como aos que se sentem satisfeitos com ele. (...)

A alma atrai aquilo que ela secretamente abriga; aquilo que ela ama e também aquilo que teme; ela atinge o apogeu de suas mais caras aspirações e desce ao ní-vel de seus desejos impuros – e as circunstâncias são os meios pelos quais a alma recebe o que lhe é devido. (...)

O mundo exterior das circunstâncias molda-se ao mundo interior dos pensamentos, e as condições exter-nas, tanto as agradáveis como as desagradáveis, são fatores que contribuem em seu resultado final para o bem do in-divíduo. Como ceifeiros de sua própria colheita, o homem aprende tanto pelo sofrimento como pela felicidade. (...)

Page 149: O Depertar para a Filosofia

148

José Anastácio de Sousa Aguiar

Os homens não atraem aquilo que eles querem, mas aquilo que eles são.”

ALLEN, James – O Homem é Aquilo Que Ele Pensa; Tradução de Gua-nara Lobato de Morais Pereira – Editora Pensamento – São Paulo – pág. 13, 14, 15, 20, 21 e 22.

“Na minha opinião, o fato de Deus conhecer to-das as coisas previamente e ao mesmo tempo existir o livre-arbítrio são duas afirmações completamente con-traditórias e incompatíveis. Pois, se Deus prevê tudo e não se pode enganar de forma alguma, tudo se produz conforme a Providência previu. Deste modo, se Ela co-nhece tudo previamente desde toda a eternidade, e não apenas as ações dos homens, mas também suas inten-ções e suas vontades, não seria possível haver qualquer livre-arbítrio.”

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998 – pág. 135 e 136.

“Saber esquivar-se.

Uma das maiores regras da vida consiste em saber negar, e é ainda mais importante recusar tanto certas ta-refas quanto aos outros. Existem certas atividades incon-venientes – traças do tempo precioso -, e ocupar-se com o descabido é pior do que não fazer nada. Para ser prudente não basta não se intrometer nos assuntos alheios: é preci-so também impedir os outros de se intrometer nos seus. Não se dê aos outros ao ponto de não poder mais se dar a si mesmo. Não abuse de seus amigos, nem lhes peça mais

Page 150: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

149

do que concederiam por si. Todo excesso constitui um ví-cio, principalmente no trato com os outros.”

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998 – pág. 37.

“Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia conside-rar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas co-res e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para go-zá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por ou-tros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.”

PESSOA, Fernando – Do Livro do Desassossego.

Page 151: O Depertar para a Filosofia
Page 152: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

151

Bibliografia

ALLEN, James – O Homem é Aquilo Que Ele Pensa; Tradução de Gua-nara Lobato de Morais Pereira – Editora Pensamento – São Paulo.

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona – A Cidade de Deus – Par-te I e II – Petrópolis – Editora Vozes – 3ª edição – 1999.

____________ – Diálogo Sobre a Ordem; Tradução de Paulo Oli-veira e Silva – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – Clássicos de Filosofia – Lisboa.

ARISTÓTELES – Jonathan Barnes; Tradução de Adail Ubirajara So-bral e Maria Stela Gonçalves – Edições Loyola – São Paulo – 1996.

____________ – A Constituição de Atenas – Tradução de Francis-co Murari Pires – Editora Hucitec – São Paulo – 1995.

____________ – A Política; Tradução de Roberto Leal Ferreira – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2ª Edição – 1998.

____________ – Da Geração e da Corrupção seguido de Convite à Filosofia; Tradução de Renata Maria Parreira Cordeiro – Landy Livraria Editora – São Paulo – 2001.

ASSIER-ANDRIEU, Louis – O Direito nas Sociedades Humanas; Tradução de Maria Ermantina Galvão – São Paulo – Martins Fon-tes – 1ª edição – 2000.

AURÉLIO, Marco – Meditações; Tradução de Alex Marins – São Paulo – Editora Martin Claret – 2003.

BACON, Francis – Novum Organum – Tradução de António M. Magalhães – RÉS Editora Ltda. – Porto – Portugal

BARBOSA, Ruy – Escritos e Discursos Seletos; Organização Vir-gínia Cortes de Lacerda – Rio de Janeiro – Editora Nova Aguillar – 1997.

Page 153: O Depertar para a Filosofia

152

José Anastácio de Sousa Aguiar

____________ – Oração aos Moços – Rio de Janeiro – Fundação Casa de Rui Barbosa – 4ª Edição – 1997.

BAUGHT, James A. – Perseguições Religiosas; Tradução de Bete Torii – Rio de Janeiro – Editora Ediouro – 2003.

BLUM, Paul Richard (org) – Filósofos da Renascença; Tradução Nélio Schneider – São Leopoldo – Editora Unisinos.

BOBBIO, Norberto – Direito e Estado no Pensamento de Ema-nuel Kant; Tradução de Alfredo Fait – Brasília – Editora UnB – 4ª Edição – 1997.

___________ – Os Intelectuais e o Poder; Tradução de Marco Au-rélio Nogueira – São Paulo – Editora UNESP – 1997.

____________ – Liberalismo e Democracia; Tradução de Marco Aurélio Nogueira – São Paulo – Editora Brasiliense – 6ª Edição – 4ª Reimpressão – 2000.

___________ – Teoria Geral da Política; Organizado por Miche-langelo Bovero; Tradução Daniela Beccacia Versiani – Rio de Ja-neiro – Editora Campus – 2000.

BOÉCIO – A Consolação da Filosofia; Tradução de William Li – São Paulo – Martins Fontes – 1998.

BOÉCIO DE DÁCIA – A Eternidade do Mundo; Tradução de Má-rio A . Santiago de Carvalho – Lisboa – Edições Colibri.

BOSCH, Philippe van den – A Filosofia e a Felicidade; Tradução de Maria Ermantina Galvão – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1998.

BROWN, Dan – O Código Da Vinci; Tradução de Celina Caval-cante Falck-Cook – Rio de Janeiro – Sextante – 2004.

BRUN, Jean – O Estoicismo; Tradução de João Amado – Edições 70 – Lisboa – Portugal.

BUENO, Eduardo – Brasil: Uma História – A Incrível Saga de um País – São Paulo – Editora Ática – 1ª Edição – 2ª Impressão - 2003.

Page 154: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

153

BULCÃO NETO, Manuel Soares – As Esquisitices do Óbvio – Fortaleza – APEX – 2005.

CALVINO, Ítalo – Por que Ler os Clássicos – Tradução de Nilson Moulin – São Paulo – Companhia das Letras – 2000.

CARLETTI, Amilcare – Os Grandes Oradores da Antiguidade – Demóstenes – São Paulo – Livraria e Editora Universitária de Di-reito Ltda – 1995.

CHALLITA, Mansour – A Arte da Política – Rio de Janeiro – ACIG.

__________ – Belíssimas Páginas da Literatura Universal – Rio de Janeiro – ACIG.

__________ – Os Mais Belos Pensamentos de Todos os Tempos – Rio de Janeiro – ACIG – 5º Volume.

CHAVES, José Reis – A Face Oculta das Religiões: numa visão racional da Bíblia – São Paulo – Editora Martin Claret – 2000.

CÍCERO – Do Orador e Textos Vários; Tradução de Fernando Couto – Portugal – Coleção Res Jurídica.

__________ – Manual do candidato às eleições, Carta do bom administrador público e Pensamentos políticos selecionados – Tradução de Ricardo da Cunha Lima – Editora Nova Alexandria – São Paulo – 2000.

COLLARD, Gilbert – A Arte de se Exprimir em todas as Circuns-tâncias – Lisboa – Portugal – Editorial Estampa – 1999.

COMTE-SPONVILLE, André – Pequeno Tratado das Grandes Vir-tudes; Tradução de Eduardo Brandão – São Paulo – Editora Mar-tins Fontes – 1995.

COOPER-OAKLEY, Isabel – O Conde de Saint Germain; Tradu-ção de Beatriz Sidou – São Paulo – Editora Pensamento – 2004.

CONFÚCIO – Os Analectos; Tradução Cláudia Berliner – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2000.

Page 155: O Depertar para a Filosofia

154

José Anastácio de Sousa Aguiar

COULANGES, Fustel de – A Cidade Antiga; Tradução de Fernan-do de Aguiar – São Paulo – Editora Martins Fontes – 4ª edição – 2ª Tiragem – 2000.

CRUZ, São João da – A Noite Obscura; Tradução Teresa Antunes Cardoso e Armando Pereira da Silva -–1ª edição – Lisboa – Por-tugal - 1993.

CUOMO, Franco – As Grandes Profecias: uma nova chave de lei-tura das mais célebres previsões da história; Tradução de Gilson B. Soares – Rio de Janeiro – Bom Textos; Uniletras – 2002.

CURY, Augusto Jorge – Análise da Inteligência de Cristo – O Mestre do Amor – São Paulo – Editora Academia de Inteligência – 2002.

CUSA, Nicolau de – A Douta Ignorância; Tradução Reinholdo Aloysio Ullmann – Porto Alegre – EDIPUCRS – 2002.

DANTAS, San Tiago – D. Quixote, Um Apólogo da Alma Ociden-tal – Brasília – Editora Universidade de Brasília – 1997.

____________ – Palavras de Um Professor – Rio de Janeiro – Edi-tora Forense – 2ª edição – 2001.

DELOREY, Christine – Ciclos da Vida; Tradução Henrique Amat Rego Monteiro – São Paulo – Editora Pensamento/Cultrix Ltda – 1ª edição – 2004.

DESCARTES, René – Discurso do Método e Regras Para a Dire-ção do Espírito; Tradução Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002.

DETHLEFSEN, Thorwald – Édipo, o Solucionador de Enigmas; Tradução Zilda Hutchinson Schild – Editora Cultrix – São Paulo.

DIDEROT – Obras I, Filosofia e Política; Tradução de J. Guins-burg – Editora Perspectiva São Paulo – 2000.

DINOUART, Josep-Antoine-Toussaint – A Arte de Calar; Tradução de Luis Filipe Ribeiro – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2001.

Page 156: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

155

EMERSON, Ralph Waldo – Homens Representativos; Tradução de Alfredo Gomes – Clássicos de Bolso – Grupo Ediouro.

_________ – Ensaios; Tradução de Carlos Graieb e José Marcos Mariani de Macedo – Rio de Janeiro – Imago Editora – 3ª Edição – 1994.

EPICTETO; Interpretação de – Arte de Viver – Sharon Lebell; Tra-dução de Maria Luiza Newlands – Rio de Janeiro – Editora Sex-tante – 2000.

EPICURO – Pensamentos; Tradução Johannes Mewaldt e outros – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005.

ESPINOSA, Baruch – Os Pensadores – São Paulo – Editora Nova Cultural – 1997.

__________ – Tratado Teológico-Político; Tradução de Diogo Pi-res Aurélio – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2003.

_________ – Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras; Tradu-ção de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002.

ÉSQUILO – Oresteia (Agemémnon, Coéforas, Euménides); Tra-dução de Manuel de Oliveira Pulquério – Edições 70 Ltda. – Lis-boa – Portugal.

_________ – Prometeu Acorrentado, Sófocles: Ájax, Eurípides: Alceste; Tradução de Mário da Gama Kury – Rio de Janeiro – Jor-ge Zahar Editor – 1998.

_________ – Os Persas; Sófocles, Electra; Eurípides, Hécuba; Tra-dução de Mário da Gama Kury – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor – 1992.

EURÍPIDES – Medéia, Hipólito, As Troianas; Tradução de Mário da Gama Kury – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor – 1991.

__________ – Ifigênia em Áulis, As Fenícias, As Bacantes – Tra-dução de Mário da Gama Kury – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor – 1993

Page 157: O Depertar para a Filosofia

156

José Anastácio de Sousa Aguiar

EVOLA, Julius – O Mistério do Graal; Tradução de Píer Luigi Ca-bra – São Paulo – Editora Pensamento.

FERRI, Henrique – Discursos de Acusação ao Lado das Vítimas; Tradução de Fernando de Miranda – Coimbra – Portugal – Edito-ra Armenio Amado – 5ª Edição.

FICHTE, Johann Gottlieb – Lições Sobre a Vocação do Sábio e Reivindicação da Liberdade de Pensamento; Tradução de Artur Mourão – Lisboa – Portugal – Editora 70 Ltda – 1999.

FLUSSER, Vilém – A Dúvida – Rio de Janeiro – Editora Relume Dumará – 1999.

FOUCAULT, Michel – Microfísica do Poder; Tradução de Roberto Machado – Rio de Janeiro – Edições Graal – 15ª edição – 2000.

___________ – A Ordem do Discurso; Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio – São Paulo – Edições Loyola – 7ª Edição – 2001.

GAARDER, Jostein – O Livro das Religiões; Tradução de Isa Mara Lando – São Paulo – Companhia das Letras – 2000.

GIANNETTI, Eduardo – Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização – São Paulo – Companhia das Letras – 2002.

GIBRAN, Kahlil – O Profeta; Tradução de Eduardo Pereira e Fer-reira – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 2002.

GOETHE, Johann Wolfgang von – Fausto; Tradução de Jenny Kla-bin Segall – Belo Horizonte – Editora Itatiaia – 1997.

___________ – Goethe, Máximas e Reflexões; Tradução de Afon-so Teixeira da Mota – Colecção Filosofia e Ensaios – Lisboa – Guimarães Editores – 3ª edição – 1997.

GRACIAN, Baltazar – A Arte da Prudência; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 1998.

___________ – A Arte da Sabedoria Mundana; Tradução de Ieda Moriya – São Paulo – Editora Best Seller.

Page 158: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

157

GUILMOT, Max – O Legado do Saber – Biblioteca Rosacruz – AMORC – 3ª edição – 1991.

GUINSBURG, J. – Diderot / Obras I / Filosofia e Política – São Paulo – Editora Perspectiva – 2000.

HADDAD, Gerard – Maimônides; Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira – São Paulo – Editora Estação Liberdade – 2003.

HAWKING, Stephen – O Universo Numa Casca de Noz; Tradu-ção de Ivo Korytowski – São Paulo – Editora Arx – 2001.

HEGEL – Textos Escolhidos (Roland Corbisier) – Rio de Janeiro – Editora Civilização Brasileira – 2ª Edição – 2001.

HERSCH, Jeanne – Karl Jaspers; Tradução de Luis Guerreiro P. Cacais – Brasília – Editora UnB – 1982.

HESSEN, Johannes – Teoria do Conhecimento; Tradução de João Vergílio Gallerani Cuter – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1999.

HOBBES, Thomas – Diálogo Entre um Filósofo e um Jurista; Tradução de Maria Cristina Guimarães Cupertino – São Paulo – Landy Editora Ltda – 2001.

HUME, David – Diálogos Sobre a Religião Natural; Tradução José Oscar de Almeida Marques – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1992.

_________ – Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano; Tra-dução José Oscar de Almeida Marques – São Paulo – UNESP – 1999.

HUGO, Vitor – Conversando Com a Eternidade; Tradução de Marcos Malvezzi Leal – São Paulo – Madras Editora Ltda – 2000.

_________ – Napoleão – O Pequeno; Tradução de Marcia Valéria Martinez de Aguiar – São Paulo – Editora Ensaio – 1996.

_________ – Os Miseráveis; Tradução de Silva Vieira – Publica-ções Europa-América – 1998.

Page 159: O Depertar para a Filosofia

158

José Anastácio de Sousa Aguiar

__________ – William Shakespeare; Tradução de Renata Cordei-ro e Paulo Schmidt – Londrina – Editora Campanário – 2000.

HUTTON, Will – Como Será o Futuro Estado; Tradução de Sér-gio Bath – Brasília – Linha Gráfica e Editora – 1998.

__________ – O Estado que Temos Hoje; Tradução de Sérgio Bath – Brasília – Linha Gráfica e Editora – 1998.

IBN AL-MUKAFA – Calila e Dimna; Tradução de Mansour Challi-ta – ACIG – Rio de Janeiro.

INGENIEROS, José – O Homem Medíocre; Tradução de Alvaní-sio Damasceno – Livraria Do Chain Editora.

JASMIN, Marcelo Gantus – Racionalidade e História na Teoria Política – Belo Horizonte – Editora UFMG – 1998.

JASPERS, Karl – Iniciação Filosófica; Tradução de Manuela Pinto dos Santos – Lisboa – Guimarães Editores – 9ª Edição.

__________ – La Filosofia; Tradução de Jose Gaos – México – Fun-do de Cultura Económica – 11ª edição – 1991.

JEAUNEAU, Edouard – A Filosofia Medieval; Tradução de João Afonso dos Santos – Edições 70 – Lisboa – Portugal.

JULLIEN, François – Um Sábio Não Tem Idéia; Tradução de Edu-ardo Brandão – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2000.

JUNG, Carl Gustav – Psicologia e Religião; Tradução do Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha – Petrópolis – Vozes – 6ª edição – 1999.

__________ – Sincronicidade; Tradução do Pe. Dom Mateus Ra-malho Rocha – Petrópolis – Vozes – 14ª edição.

KAFKA, Franz – Na Colônia Penal; Tradução de Modesto Carone – Rio de Janeiro – Editora Paz e Terra – 1996.

___________ – O Processo; Tradução Torrieri Guimarães – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002.

Page 160: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

159

KOBUSCH, Theo (org) – Filósofos da Idade Média; Tradução Paulo Astor Soethe – São Leopoldo – Editora Unisinos.

LAÊRTIOS, Diôgenes – Vida e Doutrina dos Filósofos Ilustres – Brasília – Editora UnB – 2ª Edição – 1977.

LEADBEATER, C. W. – A Mônada; Tradução de Ingrid Lena Klein – São Paulo – Editora Pensamento – 2000.

LOCKE, John – Dois tratados sobre o Governo; Tradução de Ju-lio Fischer – Editora Martins Forense – 1ª Edição – 1998.

LÚLIO, Raimundo – O Livro dos Mil Provérbios; Tradução de Ricardo da Costa – São Paulo – Editora Escala.

LORENZ, Francisco Valdomiro – O Filho de Zanoni – Editora Pensamento – São Paulo – 1994.

MAMBERT, W. A – Viagem ao Inconsciente; Tradução de Octávio C. Bernardes – São Paulo – Círculo do Livro – 1973.

MARTINS FILHO, Ives Gandra – Manual Esquemático de Histó-ria da Filosofia – São Paulo – LTr – 1997.

MARCONDES, Danilo – Textos Básicos de Filosofia: dos pré-so-cráticos a Wittgenstein – 2ª Edição – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editores – 2000.

MAQUIAVEL, Nicolau – O Príncipe; Tradução de Antonio D’Elia – São Paulo – Editora Cultrix.

___________ – Comentários Sobre a Primeira Década de Tito Lí-vio; Tradução de Sérgio Bath – Brasília – Editora UnB – 3ª Edição – 1994.

___________ – Escritos Políticos; Tradução de Lívio Xavier – Edi-pro – 1995.

MAZARIN, Cardeal – Breviário dos Políticos – São Paulo – Edito-ra 34 – 2ª Reimpressão – 1998.

Page 161: O Depertar para a Filosofia

160

José Anastácio de Sousa Aguiar

MILTON, John – Areopagítica – Discurso pela Liberdade de Im-prensa ao Parlamento da Inglaterra; Tradução de Raul de Sá Bar-bosa – Rio de Janeiro – Editora Topbooks.

MONTAIGNE, Michel de – Os Pensadores – Volume I; Tradução de Sérgio Milliet – São Paulo – Editora Nova Cultural - 1996.

________ – Os Pensadores – Ensaios – Volume II; Tradução de Sérgio Milliet – São Paulo – Editora Nova Cultural - 1996.

MORAES, João Quartim de – Epicuro: As Luzes da Ética – São Paulo – Editora Moderna – 1ª edição – 1998.

MOREAU, Joseph – Espinosa e o Espinosismo; Tradução de Lur-des Jacob e Jorge Ramalho – Edições 70 – Lisboa – Portugal.

NASCIMENTO, Maria das Graças de Souza de – Voltaire: a razão militante – São Paulo – Editora Moderna – 4ª edição – 1993.

PASCAL, Georges – Compreender Kant; Tradução de Raimundo Vier – Petrópolis – Vozes –2005.

PERFETTI, Francesco (Organizador) – Napoleão – Aforismos, Máximas e Pensamentos; Tradução de Annie Paulette Marie Cambè – Rio de Janeiro – Editor para Brasil: Newton Compton Brasil Ltda. – 1996.

PIERRAKOS, Eva – O Caminho da Autotransformação; tradução Euclides L. Calloni e Cleusa M. Wosgrau – São Paulo – Editora Cultrix

PLATÃO – Apologia de Sócrates e Banquete; Tradução Jean Mel-ville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2006.

__________ – Cartas; Tradução de Conceição Gomes da Silva e Maria Adozinda Melo – Clássicos de Bolso – Editora Estampa Ltda – Lisboa – 2002.

__________ – Diálogos / Fédon, Sofista, Político; Tradução de Jor-ge Paleikat e João Cruz Costa – Rio de Janeiro – Ediouro.

Page 162: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

161

__________ – Parménides ou Das Idéias; Tradução de A. Lobo Vilela – Lisboa – Editorial Inquérito Limitada.

__________ – A República; Tradução de Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 2006.

PLOTINO – Tratado das Enéadas; Tradução Américo Sommer-man – São Paulo – Polar Editorial – 2000.

QUINTANA, Mário – Antologia Poética – Porto Alegre – L & PM Editores – 1997.

_________ – Espelho Mágico – Porto Alegre – Editora Globo – 1951.

_________ – Porta Giratória – São Paulo – Editora Globo – 3ª edi-ção – 1997.

RABELAIS, François – Gargântua e Pantagruel; Tradução de Da-vid Jardim Júnior – Belo Horizonte – Villa Rica Editoras Reunidas Limitada – 1991.

READ, Piers Paul – Os Templários; Tradução de Marcos José da Cunha – Rio de Janeiro – Imago Editora – 2001.

RIZK, Hadi – Compreender Spinoza; Tradução de Jaime A Cla-sen – Petrópolis – Vozes – 2006.

ROHDEN, Huberto – Assim Dizia o Mestre – São Paulo – Editora Martin Claret – 5ª Edição – 2002.

_________ – Porque Sofremos – São Paulo – Editora Martin Cla-ret – 2004.

ROMILLY, Jacqueline de – Alcibíades ou Os Perigos da Ambi-ção; Tradução de Roberto Cortes de Lacerda – Rio de Janeiro – Ediouro – 1996.

ROTTERDAM, Erasmo de – Elogio da Loucura – Edipro – 1ª Edi-ção – 1995.

Page 163: O Depertar para a Filosofia

162

José Anastácio de Sousa Aguiar

ROUSSEAU, Jean-Jacques – Os Devaneios do Caminhante Soli-tário; Tradução de Fúlvia Maria Luiza Moretto – Brasília – Editora Universidade de Brasília – 3ª Edição – 1995.

_________ – O Contrato Social e Outros Escritos; Tradução de Rolando Roque da Silva – São Paulo – Editora Cultrix.

RUSSEL, Bertrand – História do Pensamento Ocidental: A Aven-tura dos Pré-socráticos a Wittgenstein; Tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello – Rio de Janeiro – Ediouro – 2001.

SÃO VITOR, Hugo de – Didascálicon – Da Arte de Ler; Tradução Antonio Marchionni – Petrópolis/RJ – Vozes – 2001.

SAN-MARTIN, Louis-Claude de – O Ministério do Homem-Espí-rito – Curitiba/PR – Ordem Rosacruz – 2001.

SARTRE, Jean-Paul – A Náusea; Tradução de Rita Braga – Rio de Janeiro - Editora Nova Fronteira – 10ª Impressão.

SCHEINDLIN, Raymond P. – História Ilustrada do Povo Judeu; Tradução de Miriam Groeger – Rio de Janeiro – Ediouro – 2003.

SCHOPENHAUER, Arthur – A Arte de Ter Razão: exposta em 38 estratagemas; Organização e Ensaio de Franco Volpi – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2001.

SCHURÉ, Edouard – Os Grandes Iniciados: Esboço da História Secreta das Religiões; Tradução de Augusta Garcia Dorea – São Paulo – IBRASA – 7ª Edição – 1999.

SCRUTON, Roger – Espinosa, Mestre do Pensar; Tradução de Luiz Paulo Rouanet – São Paulo – Edições Loyola – 2001.

SENECA – A Constância do Sábio; Tradução Luiz Feracini – São Paulo – Editora Escala.

______________ – Sobre a Brevidade da Vida; Tradução de William Li – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 1993.

Page 164: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

163

______________ – Sobre a Divina Providência e Sobre a Firmeza do Homem Sábio; Tradução de Ricardo da Cunha Lima – São Paulo – Editora Nova Alexandria – 2000.

______________ – A Vida Feliz; Tradução de André Bartholomeu – Campinas – São Paulo – Pontes Editores – 1991.

SHAKESPEARE, William – Hamlet – São Paulo – Editora Martin Claret – 2001.

SÓFOCLES – A Trilogia Tebana (Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona); Tradução de Mário da Gama Kury – 8ª Edição – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor – 1998.

SOUSA, Byron de – Artes da Política: Pensamentos e Citações – Brasília - Marina Editora – 1988.

SOLOMON, Robert C. & Kathleen M. Higgins – Paixão pelo Saber: uma breve história da filosofia; Tradução de Maria Lui-za X. de A Borges – Rio de Janeiro – Editora Civilização Brasi-leira – 2001.

STEINER, Rudolf – A Filosofia da Liberdade: fundamentos para uma filosofia moderna; Tradução de Marcelo da Veiga – São Paulo – Antroposófica – 3ª Edição – 2000.

SUETÔNIO – A Vida dos Doze Césares – São Paulo – Editora Martin Claret – 2005.

SUN TZU – A Arte da Guerra; Tradução de José Sanz – Rio de Janeiro – Editora Record – 15ª Edição – 1994.

TAHAN, Malba – O Homem Que Calculava – Rio de Janeiro – Editora Record – 58ª Edição – 2002.

TOMÁS DE AQUINO, Santo – Escritos Políticos; Tradução de Fran-cisco Benjamin de Souza Neto – Petrópolis/RJ – Editora Vozes.

______________ – Sobre o Ensino (De Magistro) – Os Sete peca-dos Capitais; Tradução de Luiz Jean Lauand – São Paulo – Editora Martins Fontes – 2001.

Page 165: O Depertar para a Filosofia

164

José Anastácio de Sousa Aguiar

______________ – Suma Contra os Gentios; Tradução de D. Odi-lão Moura e D. Ludgero Jaspers – Volume I e II – Porto Alegre – Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes – 1990.

______________ – Tratado da Lei; Tradução de Fernando Couto – Coleção Resjuridica – Porto – Portugal.

______________ – Tratado da Justiça; Tradução de Fernando Cou-to – Coleção Resjuridica – Porto – Portugal.

______________ – A Unidade do Intelecto Contra os Averroístas; Tradução de Mário Santiago de Carvalho – Textos Filosóficos – Edições 70 – Lisboa – Portugal.

______________ – Verdade e Conhecimento; Tradução de Luiz Jean Lauand e Mário Bruno Sproviero – São Paulo – Martins Fontes – 1ª edição – 1999.

TRÊS INICIADOS – O Caibalion: estudo da filosofia hermética do antigo Egito e da Grégia; Tradução de Rosabis Camaysar – São Paulo – Editora Pensamento.

TRISMEGISTO, Hermes – Ensinamentos Herméticos; Coordena-ção e Supervisão Charles Vega Parucker – Curitiba – AMORC – 1ª Edição – 1990.

___________ – Corpus Hermeticum: Discurso de Iniciação; Tra-dução de Márcio Pugliesi e Norberto de Paula Lima – São Paulo – Hemus Editora Ltda – 5ª edição.

TSÉ, Lao – O Livro do Caminho Perfeito (Tao Té Ching); Tradução de Murillo Nunes de Azevedo – São Paulo – Editora Pensamento Ltda.

TUCÍDIDES E OUTROS – Eloqüência Grega e Latina; Tradução de Jaime Bruna – Ediouro.

UBALDI, Pietro – O Sistema; Tradução Carlos Torres Pastorino – Rio de Janeiro – Instituto Pietro Ubaldi – 3ª Edição.

_____________ – A Grande Síntese; Tradução de Carlos Torres Pastorino e Paulo Vieira da Silva – Fraternidade Francisco de Assis – 19ª Edição – 1997.

Page 166: O Depertar para a Filosofia

O Despertar para a Filosofia

165

ULLMANN, Reinholdo Aloysio – Plotino: Um Estudo das Enéa-das – Porto Alegre – EDIPUCRS – 2002

VAUVENARGUES, Luc de Clapiers – Das Leis do Espírito – Flori-légio Filosófico; Tradução de Mário Laranjeira – São Paulo – Edi-tora Martins Fontes – 1998.

VOLTAIRE – Dicionário Filosófico; Tradução Pietro Nassetti – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002.

____________ – O Filósofo Ignorante; Tradução de Antonio de Pá-dua Danesi – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1ª Edição – 2001.

____________ – O Preço da Justiça; Tradução de Ivone Castilho Benedetti – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1ª Edição – 2001.

____________ – Tratado sobre a Tolerância; Tradução de Paulo Neves – São Paulo – Editora Martins Fontes – 1ª Edição – 1993.

____________ – Vida e Pensamentos – São Paulo – Editora Martin Claret – 2001.

WEBER, Max – A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo – São Paulo – Editora Martin Claret – 2001.

WEFFORT, Francisco C. (Organizador) – Os Clássicos da Política – Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, O Federa-lista – 1º Volume – São Paulo – Editora Ática – 9ª Edição – 1998.

WEISCHEDEL, Wilhelm – A Escada dos Fundos da Filosofia; Tra-dução de Edson Dognaldo Gil - São Paulo – Editora Angra – 1ª Edição – 1999.

WHITEHEAD – A . N. – A Função da Razão; Tradução de Fernan-do Dídimo Vieira – Brasília – Editora UnB – 2ª Edição – 1988.

YATES, Frances A – Giordano Bruno e a Tradição Hermética; Tradu-ção de Yolanda Steidel de Toledo – São Paulo – Editora Cultrix.

XENOFONTE – Econômico – Tradução de Anna Lia Amaral de Almeida Prado – São Paulo – Martins Fontes – 1ª Edição – 1999.

Page 167: O Depertar para a Filosofia

Este livro foi composto na fonte Optima (T1), corpo 10, 11, 12, 15 e 16. O miolo foi impresso em papel pólen soft 80 g/m² e a capa em cartão supremo 250 g/m², na Gráfica LCR, em maio de 2008

Page 168: O Depertar para a Filosofia

Este livro traz o melhor de vários dos maiores filóso-fos da história da humanidade. Distribuído em 17 temas, todos intimamente ligados aos aspectos mais

importantes do dia-a-dia do ser humano, esta obra per-mitirá ao leitor refletir sobre questões como a paz, a sa-bedoria, o amor, a vida, a morte, dentre outras.

Há mais de 2500 anos, a filosofia tem sido um veículo facilitador para que o ser humano possa entender o mundo ao seu redor, contribuindo para a resolução de questões que tanto afligem a todos.

Poucos momentos históricos necessitaram tanto da filo-sofia como a nossa atualidade. Por certo temos informa-ções em demasia, mas somos extremamente carentes de formação. A ambição e o dinheiro fácil passaram a ser o deus da modernidade, em detrimento dos mais caros valores estóicos. A hipocrisia há muito destituiu a ética, o silêncio foi substituído pelo burburinho incessante de futilidades, a ganância travestiu-se de verdade, a honra foi relativizada, e a Justiça... bom, essa, quem quer que a tenha idealizado, já a considerou cega.

Ler os filósofos clássicos, é sorver diretamente o conhe-cimento dos maiores pensadores de todos os tempos.