o custo da administração do estado brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/fanny...

16
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARTIGO CIENTÍFICO 1 O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua aplicação e resultados Fanny Dias André[email protected] UFF/ICHS Normilda Nascimento Freire [email protected] UFF/ICHS Silvio Ricardo Lima da Silva [email protected] UFF/ICHS Resumo A cobrança de tributos pelo Estado se justifica como fonte de captação de recursos financeiros que possibilitam sua atuação, que deve ser através de políticas que visem o bem comum. E, devido às divergências entre as políticas implementadas e as demandas da sociedade, este estudo teve o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a sua atuação. Assim, este trabalho procurou avaliar, genericamente, através do método indutivo, a eficiência dos métodos de trabalho e a eficácia do desenvolvimento das políticas brasileiras voltadas para a sociedade. E, o resultado obtido, revelou que o Estado não investe em seus recursos humanos no sentido de estimulá-los no seu desenvolvimento e de motivá-los para o desempenho de suas funções, demonstrando como consequência disso sua ineficácia, pela ineficiência de seus agentes. Palavras-chave: tributos; divergências; ineficácia; ineficiência; políticas. 1Introdução A busca por meios que gerassem renda para o Governo administrar a máquina pública resultou na cobrança de impostos, taxas e tributos tornando-se a principal fonte para captação de recursos financeiros para o Estado, possibilitando o seu funcionamento e facilitando a sua atuação. Os governantes das civilizações antigas mais organizadas já utilizavam este método, porém, de forma inapropriada, em benefício próprio. Estes fatos demonstraram a necessidade da criação de regras específicas para a arrecadação de tributos e a distinção entre o patrimônio público e privado que não existia nos primeiros governos, buscando um justo equilíbrio entre governo e governados. Demonstrar que, de fato, existe a necessidade da cobrança de tributos e a sua aplicabilidade pelo Governo junto à sociedade é de grande relevância contextual para este trabalho. Entretanto, devido às divergências entre as políticas implementadas e as demandas da sociedade, o Estado tem demonstrado certa incoerência. O Brasil, segundo o ―Estudo sobre a Carga Tributária/PIB x IDH‖ de 2013, realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) vem ocupando, conforme os resultados obtidos através do cálculo do IRBES (Índice de Retorno de Bem Estar à Sociedade), nos últimos cinco anos, a última posição no ranking de 30 países de maior tributação. Assim, visando colaborar para uma melhor gestão administrativa com consequente atingimento de melhores resultados voltados ao bem comum, este trabalho

Upload: dangque

Post on 04-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

1

O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua aplicação e

resultados

Fanny Dias André– [email protected] – UFF/ICHS

Normilda Nascimento Freire – [email protected] – UFF/ICHS

Silvio Ricardo Lima da Silva – [email protected] – UFF/ICHS

Resumo

A cobrança de tributos pelo Estado se justifica como fonte de captação de

recursos financeiros que possibilitam sua atuação, que deve ser através de políticas que

visem o bem comum. E, devido às divergências entre as políticas implementadas e as

demandas da sociedade, este estudo teve o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a

sua atuação. Assim, este trabalho procurou avaliar, genericamente, através do método

indutivo, a eficiência dos métodos de trabalho e a eficácia do desenvolvimento das

políticas brasileiras voltadas para a sociedade. E, o resultado obtido, revelou que o

Estado não investe em seus recursos humanos no sentido de estimulá-los no seu

desenvolvimento e de motivá-los para o desempenho de suas funções, demonstrando

como consequência disso sua ineficácia, pela ineficiência de seus agentes.

Palavras-chave: tributos; divergências; ineficácia; ineficiência; políticas.

1–Introdução

A busca por meios que gerassem renda para o Governo administrar a máquina

pública resultou na cobrança de impostos, taxas e tributos tornando-se a principal fonte

para captação de recursos financeiros para o Estado, possibilitando o seu funcionamento

e facilitando a sua atuação. Os governantes das civilizações antigas mais organizadas já

utilizavam este método, porém, de forma inapropriada, em benefício próprio. Estes fatos

demonstraram a necessidade da criação de regras específicas para a arrecadação de

tributos e a distinção entre o patrimônio público e privado que não existia nos primeiros

governos, buscando um justo equilíbrio entre governo e governados. Demonstrar que,

de fato, existe a necessidade da cobrança de tributos e a sua aplicabilidade pelo Governo

junto à sociedade é de grande relevância contextual para este trabalho. Entretanto,

devido às divergências entre as políticas implementadas e as demandas da sociedade, o

Estado tem demonstrado certa incoerência.

O Brasil, segundo o ―Estudo sobre a Carga Tributária/PIB x IDH‖ de 2013,

realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) vem ocupando,

conforme os resultados obtidos através do cálculo do IRBES (Índice de Retorno de Bem

Estar à Sociedade), nos últimos cinco anos, a última posição no ranking de 30 países de

maior tributação. Assim, visando colaborar para uma melhor gestão administrativa com

consequente atingimento de melhores resultados voltados ao bem comum, este trabalho

Page 2: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

2

tem como principal objetivo avaliar, genericamente, se a relação da arrecadação com o

investimento realizado gera bem estar para a sociedade.

Destarte, também é necessário compreender se a criação de determinadas

normas permite melhor controle dos recursos arrecadados com a compatibilidade que

deve existir entre a cobrança de impostos para aquisição de recursos financeiros e sua

utilização para o desenvolvimento do bem estar social reduzindo desequilíbrios

socioeconômicos.

2–O Custo do Estado

Fatos históricos comprovam a necessidade da presença do Estado em todos os

setores da sociedade, porém, isto representa um custo. Para Mendes et al. (2009) a

Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica do Estado no mercado

mostra-se incapaz de superar grandes recessões sem este, observando-se como exemplo

a recessão americana de 1929 que somente foi superada através da interferência do

Governo. Questões como a segurança das fronteiras para manutenção da soberania,

educação de qualidade e prestação de serviços de saúde não podem ser resolvidas sem a

constante intervenção do Estado através da Administração Pública. Enfim, uma

diversidade significativa de serviços que devem ser custeados pela sociedade através do

Estado. (MENDES et al. 2009)

Entender se os valores cobrados são justos ou não, segundo Jund (2008),

dependerá do entendimento e análise de fatores históricos e sociais para se evitar

avaliações equivocadas. A tributação ideal deverá respeitar os princípios de equidade,

progressividade, neutralidade e simplicidade objetivando a distribuição de renda e

resolver os problemas governamentais. Porém, reside a necessidade de definir o que o

Governo considera problemas a serem resolvidos e quais terão prioridade para avaliar se

existe ou não coerência na arrecadação de impostos. Observa-se que a capacidade

contributiva de cada pessoa ou organização é limitada e, por isso, existe a limitação

(escassez) de recursos para solucionar ou atender todas as necessidades. Nesse sentido,

pode-se dizer que existe por parte do Estado a preocupação com a equidade, através das

transferências compensatórias que contém, conforme Gasparini et al. (2011, p. 313):

[...] uma série de mecanismos federativos de transferência de recursos,

como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e seu

equivalente estadual, o Fundo de Participação dos Estados (FPE). É

interessante destacar que a Constituição Federal de 1988 (CF/88)

atribui a esses fundos um caráter redistributivo, com o objetivo de

promover o equilíbrio socioeconômico entre municípios e estados

brasileiros. (GASPARINI et al. 2011, p. 313)

No Brasil, de acordo com Sanson (2011), existem inúmeros impostos diretos e

indiretos que tem como base de incidência a renda, o patrimônio e o consumo que

permitem ao Estado a arrecadação. Segundo dados do DIEESE (2013), cerca de 34% do

valor do Produto Interno Bruto (PIB) refere-se a impostos. Esta percentagem, ainda,

segundo o DIEESE, se comparada a países em desenvolvimento como a China (21%)

parece imensa, porém se o parâmetro utilizado for de países desenvolvidos como a

Finlândia (53%) torna-se pouca. Então, como definir as condições consideradas justas e

Page 3: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

3

ideais a tributação? Analisando se os gastos governamentais são coerentes com nossa

realidade, torna-se possível saber exatamente quem paga os impostos e entender um

pouco como funciona nossa produção interna. (SANSON, 2011)

É necessário identificar o tamanho do Estado e suas particularidades para

estipular a carga tributária e definir quem paga a conta. No caso brasileiro, conforme

Sanson (2011), a maior parte dos tributos arrecadados recai sobre as classes de renda

mais baixa e os trabalhadores através dos impostos indiretos que não levam em

consideração a renda, pois, são impostos inclusos em bens e serviços onde paga mais

quem ganha menos, os chamados impostos regressivos. Os impostos progressivos,

como o Imposto de Renda para Pessoas Físicas (IRPF) ou o Imposto de Renda para

Pessoas Jurídicas (IRPJ) são considerados mais sensatos, pois, incidem sobre a renda e

sobre o patrimônio, sendo capazes de funcionar como instrumentos de distribuição de

renda. Porém, esses tipos de impostos apresentam grandes distorções em termos de

capacidade contributiva: grandes empresas contribuem com valores pequenos em

relação a sua produtividade, enquanto o empregado tem retido até 27,5% de seu salário

sem levar em consideração outros descontos. (SANSON, 2011).

Entretanto, toda e qualquer alteração da carga tributária deve respeitar os

princípios do Direito Tributário, que são instrumentos que limitam a ação do Governo,

consoante com o Princípio da Legalidade, que estabelece que toda e qualquer tributação

deva estar vinculada às leis que determinam seu valor e define minuciosamente os

critérios para tal cobrança, contido no artigo 5º, inciso II da Constituição Federal de

1988 (CF/88); e, o princípio da Anterioridade, definido no artigo 150, inciso III, alínea

b, também da CF/88, determinando que os tributos somente sejam cobrados após sua

criação não sendo permitidas cobranças anteriores ao fato. (BRASIL, 1988).

Os tributos são cobrados por alíquotas que variam conforme o valor do bem,

serviço ou arrecadação, como por exemplo: o Imposto sobre Propriedade de Veículos

Automotores (IPVA), de origem estadual; o Imposto Sobre Serviços (ISS), de origem

municipal; e, o Imposto de Renda (IR), de origem federal. Os dois primeiros incidindo

com extrema variação de valores, onde estados e municípios possuem independência

para estabelecer valores permitindo ―competição‖ entre si para oferecer maiores ou

menores vantagens aos contribuintes para funcionamento da máquina administrativa,

(SANSON, 2009).

O Demonstrativo a seguir exemplifica os citados impostos com sua origem e

motivo da incidência para melhor compreensão do tema:

Page 4: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

4

Demonstrativo Resumido de Impostos: suas origens, incidências e alíquotas

Imposto Origem Incidência Alíquotas

Imposto de Renda

(IR)

Federal

Sobre salários de

trabalhadores de

carteira assinada a

partir de determinado

valor.

Variação até 27%

Imposto sobre a

Propriedade de

Veículos

Automotores (IPVA)

Estadual

Sobre a propriedade de

veículos automotores e

baseada no valor do

bem.

Entre 2% e 4%,

Quando não há

isenção ou redução

progressiva.

Imposto sobre a

Propriedade Rural e

Territorial Urbana

(IPTU) Municipal

Devido por

proprietários de

imóveis, baseado em

valores através de

cálculo de áreas e

localização do imóvel.

Conforme tabela das

prefeituras.

Fonte: Adaptado de Sanson (2011, p. 62-65)

Além dos impostos, o Estado se utiliza da cobrança de taxas e tarifas, que são

vinculadas a um serviço prestado pelo Estado, onde, suas diferenças básicas consistem

em: as taxas são obrigatórias, independente de utilização, originárias da lei e de regime

jurídico de Direito Público, como, por exemplo, a taxa de incêndio, já as tarifas são

facultativas, cuja cobrança vincula-se a prestação do serviço, sendo originárias de

contrato entre as partes e regidas pelo Regime Jurídico de Direito Privado, das quais,

tarifas de concessionárias de serviços de energia e telecomunicações. (SANSON, 2011).

O Brasil conviveu anos com sérios problemas econômicos devido a altas taxas

inflacionárias que acarretaram imensa instabilidade econômica, aumentaram a

desigualdade social e não permitiram o nosso desenvolvimento, pois, o crescimento do

Produto Interno Bruto (PIB) não representou melhores condições de vida a nossa

população e a falta de infraestrutura, taxas de juros altas, excesso de burocracia, dívida

pública, são fatores que influenciam a economia e contribuem para a manutenção de

uma máquina administrativa ineficaz e ineficiente com alta incidência de impostos

sobre diversos aspectos. (SANSON, 2011).

A demonstração que a arrecadação é dependente da economia e, que esta é

repleta de incertezas cria infinitos cenários com diversas possibilidades para a atuação

da Administração Pública na busca por recursos financeiros sem permitir que interesses

individuais se sobreponham aos interesses coletivos. Isso exige uma participação

contínua do Governo, seja direta ou indiretamente, aplicando mecanismos que permitam

cumprir sua missão de realização do bem estar social. A história demonstra que isto

somente torna-se possível com controle financeiro. E, embora a busca incessante por

soluções que ajudem a interpretar as múltiplas variáveis existentes em um sistema

econômico tenha criado teorias relevantes que ajudam a enfrentar as crises econômicas,

Page 5: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

5

cada solução apresentará nova problematização com possíveis alterações no sistema

tributário. (SANSON, 2011).

O problema ocorre devido à formulação e a execução dos planejamentos

governamentais serem realizados sem a participação da sociedade, a qual teria papel de

coadjuvante no auxílio da boa gestão, restringindo as decisões à esfera estatal, pois a

participação é uma estratégia de melhoria da ação governamental e a governança é um

processo previsível onde todos devem proceder sob a lei. (MISOCZKY et al. 2011).

Entretanto, este processo de inclusão apresenta vantagens e desvantagens a

serem medidas. As vantagens apresentadas em processos participativos decorrem da

redução dos custos para obtenção de dados dos atores envolvidos sobre suas

necessidades, o fortalecimento da capacidade administrativa das instituições locais, o

aumento da credibilidade das avaliações que concilia as diferentes opiniões. As

desvantagens conhecidas são a não substituição de projetos formais em assuntos

técnicos ou financeiros, o aumento dos custos associados à identificação dos

interessados, a perda de legitimidade com a falta de reconhecimento, possibilidade de

redução da representatividade que pode permitir apropriação indevida de poderes e

gerar conflitos socioculturais. (MISOCZKY et al. 2011)

Nesse sentido, Bairral et al. (2015, p. 3), fazendo alusão à transparência da

informação pública a partir da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade

Fiscal):

A transparência é um elemento da comunicação entre cidadão e gestor

público, um contrato social tácito em que, na perspectiva da clássica

teoria da agência, o principal (cidadão) delega ao agente (gestor

público) uma atividade de seu interesse e monitora sua realização.

Entretanto, conflitos surgem nessa relação, resultando numa

informação incompleta (assimetria informacional) [...] (BAIRRAL et

al. 2015, p. 3)

A exposição consciente dos problemas é o foco dessa participação nos processos

decisórios, pois, a discussão concreta e democrática direciona a estratégia das

organizações, garantindo que a caracterização dos problemas, os chamados nós críticos,

sejam atacados com ações estratégicas planejadas anteriormente no Planejamento

Estratégico Participativo (PEP). Contudo, não é suficiente aplicar automaticamente um

conjunto de técnicas, sendo necessária a vontade política para criar os meios capazes

para garantir a execução do plano, cabendo ao Estado criar tais condições, pois, não é

somente uma questão ideológica, é também, função administrativa. (MISOCZKY et al.

2011)

2.1–Fatores que influenciam o custo da Administração Pública

2.1.1–Busca pela estabilidade econômica

Diversas tentativas foram realizadas em busca de estabilidade econômica que

proporcionasse condições ideais à Administração Pública Brasileira de gerir

Page 6: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

6

corretamente os recursos disponíveis. Conhecer um pouco desta história ajuda-nos a

interpretar a atual realidade brasileira.

A imposição do primeiro plano nacional ocorre na Constituição de 1937, em um

momento de fechamento do Legislativo e proibição de partidos políticos. Orientado por

feição nacionalista e intervencionista, centrado na forte presença do setor estatal, busca

a construção de forte Estado capitalista através da industrialização (BORGES et al.

2010).

Em plena vigência do Estado Novo é instituído em 1939, pelo Decreto-Lei nº

1058, o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional com os

principais objetivos de criar indústrias básicas como siderurgias, a execução de obras

públicas e prover meios para a defesa nacional e da segurança do País. Foi o primeiro

plano quinquenal brasileiro e caracterizado pela vinculação de verbas especiais,

elaboração de orçamentos especiais e adoção de um sistema contábil flexível (BORGES

et al. 2010).

O próximo plano foi o Plano de Obras e Equipamentos que durou dois anos,

criado pelo Decreto-Lei nº 6144, em dezembro de 1943. Fundamentalmente buscava

garantir a elaboração de um orçamento especial, a realização de obras públicas

consideradas prioritárias e incentivar indústrias básicas. A diferença entre este e o Plano

Especial era a pretensão de integração às suas ações que não ocorria no antecessor.

Porém, consumiu em dois anos de execução as reservas nacionais de ouro e divisas

acumuladas no período de 1945 a 1949 (BORGES et al. 2010).

Uma tentativa de coordenar os gastos públicos veio com o Plano SALTE, em

1949 com a Lei nº 1102. Foi o primeiro plano aprovado pelo Congresso Nacional e

possuía um caráter plurissetorial com uma soma de indicações apresentadas pelos

ministérios federais coordenados administrativamente pelo Departamento de

Administração do Setor Público (DASP). Foi, também, a primeira tentativa de incluir

empresas privadas para dar suporte ao planejamento econômico através de incentivos

fiscais. A sigla do plano indicava seus objetivos principais: Saúde, Alimentação,

Transporte e Energia (BORGES et al. 2010).

Considerado como a primeira experiência efetiva de planejamento

governamental, o Plano de Metas estava relacionado ao aumento da participação

política e ao crescimento da população urbana sendo direcionado, por esta expansão, a

buscar soluções para os setores de energia, transporte e alimentação, visando combater a

falta de infraestrutura. Os objetivos seriam traçados por uma comissão mista Brasil –

Estados Unidos que deveria diagnosticar a situação econômica e financeira do Brasil

para o nosso desenvolvimento econômico. Isto ocorreu no ano de 1951, e

paralelamente, foram elaborados o Programa de Reaparelhamento Econômico e

Fomento da Economia Nacional (1951) e o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE) em 1952, o que acabou acarretando algum tempo depois exigências

de análise prévia para concessão de empréstimos e estudos de viabilidade técnico-

científica para o processo de planejamento (BORGES et al. 2010).

Com a ascensão de Jânio Quadros à Presidência da República, foi criado o Plano

Trienal de Desenvolvimento Econômico Social que inovava ao restringir sua execução

dentro do período de gestão presidencial e objetivava a manutenção da alta taxa de

Page 7: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

7

crescimento de 7% ao ano no período anterior (1956-1961), a redução da inflação e o

reescalonamento de dívida externa (BORGES et al. 2010).

Após o golpe militar de 1964, foram implantados o Plano de Ação Econômica

do Governo e o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social para tentar acelerar o

crescimento econômico que foi reduzido pela metade (3,4%) no período de 1961 a

1964. A necessidade de reduzir a taxa de elevação de preços que atingiu 80% em 1963

ocasionou a procura por redução das desigualdades de renda entre as regiões por via de

investimentos e controlar o déficit das contas externas incentivando as exportações.

Neste período é criado o Banco Nacional da Habitação (BNH), onde são redefinidas

políticas econômico-financeiras, e alterados o Imposto de Renda e o sistema tributário.

As maiores realizações do plano foram as reformas institucionais promovidas

(BORGES et al. 2010).

Entre 1968 e 1970 foi executado o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED)

com amplo domínio do Poder Executivo através de dispositivos constitucionais e Ato

Institucional nº 5 que suplantaram a democracia. Suas diretrizes principais eram o

fortalecimento do setor privado, investimentos em infraestrutura e o aumento da

capacidade de compra do cidadão com intuito de acelerar o crescimento econômico e

reduzir a inflação. Complementando o Plano foi instituído o primeiro Orçamento

Plurianual de Investimento dando ao orçamento um caráter programático em

conformidade com o plano de governo (BORGES et al. 2010).

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) entre os anos de 1970 a 1972

tinha como objetivo maior transformar o país em potência mundial estimulado pela

média de crescimento anual de 11,2%, no período de 1968 a 1973 e que ficou conhecido

como ―o milagre econômico brasileiro‖. O aumento nos setores mais dinâmicos da

economia, o fortalecimento de empresas nacionais, a energia nuclear, aumento de gastos

em pesquisa e na área espacial, investimentos em hidrelétricas e mineração e

comunicações, visam obter a autonomia de insumos básicos para alçar o objetivo. Este

plano deu maior ênfase à indústria de bens de consumo duráveis, buscava a integração

da Amazônia e do Nordeste através do Programa de Integração Nacional (BORGES et

al. 2010).

O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) foi constituído no sentido de

diminuir o desequilíbrio das contas públicas com a substituição de importações e

diversificação das exportações (BORGES et al. 2010).

Outros programas surgiram na tentativa de ajustar a economia: Planos de

Estabilização da Economia; Planos Cruzado 1 e 2, Plano Bresser, Plano Verão, Planos

Collor 1 e 2 e Plano Real. Este último foi o que apresentou resultados efetivos e vigora

até os dias atuais, mas, com a morosidade de nossos políticos, existe grande risco de

retrocesso. (BORGES et al. 2010).

2.1.2–Ferramentas de Controle.

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) institucionalizou princípios referentes à

participação e controle social; os planos plurianuais (PPA), as diretrizes orçamentárias,

os orçamentos anuais aos objetivos, diretrizes e metas para administração pública entre

Page 8: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

8

outras ferramentas que ajudam a controlar a máquina administrativa criando regras

definidas para os governantes, como a Lei Complementar nº 101 de maio de 2000, Lei

de Responsabilidade Fiscal, que estabelece normas de finanças públicas na gestão fiscal.

(JUND, 2008)

Os Planos Plurianuais (PPA) visam elaborar quais os investimentos mais

importantes para o desenvolvimento equilibrado da sociedade buscando respostas para

diversos questionamentos estratégicos: quais as ações mais adequadas; quais as

melhores políticas; quais os projetos de infraestrutura; e, quais incentivos e

financiamentos, são questões avaliadas visando à concretização dos projetos e

programas de Governo. A integração do PPA ao planejamento governamental ocorre

através da adoção obrigatória da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei de

Orçamento Anual (LOA). (JUND, 2008).

Como forma de fortalecimento a Lei 101/2000 estabelece que nenhum

investimento que ultrapasse o exercício financeiro poderá ser executado sem prévia

inclusão no plano plurianual sob a pena de incorrer em crime de responsabilidade. Os

projetos somente poderão sofrer alterações se estas forem compatíveis com o PPA. Os

planos são estruturados para quatro anos com vigência até o final do primeiro exercício

financeiro do mandato presidencial subsequente. (JUND, 2008).

O Planejamento Estratégico Participativo (PEP) possui três componentes básicos

que consistem em: formação de consciência crítica e autocrítica na comunidade; a

comunidade identifica e prioriza os problemas em um contexto planejado; e, a

organização do grupo é a estratégia para obtenção de resultados. O PEP se fundamenta

na participação democrática, na autonomia individual, na democratização do

conhecimento e em conceitos técnico-políticos. (MISOCZKY et al. (2011).

Segundo Haddad et al. (2010), o Balanço Orçamentário é um demonstrativo

contábil baseado no orçamento e dividido em receitas previstas (executadas ou

realizadas) e despesas fixadas (executadas ou realizadas), que tem por finalidade apurar

o orçamento previsto e o realizado no exercício através dos resultados de Previsões, de

Arrecadação, de Realização de Despesas e de Execução Orçamentária da seguinte

maneira:

O Resultado das Previsões vem a ser a diferença entre a Receita Prevista

e a Despesa Fixada; quando a Receita Prevista for maior que a Despesa

prevista ocorrerá superávit das previsões, quando menor ocasionará

déficit das previsões;

O Resultado da Arrecadação corresponde à diferença entre Receita

Prevista e Receita Executada; quando esta Receita for maior que esta

Despesa haverá déficit de arrecadação quando menor ocorrerá superávit

de arrecadação;

O Resultado da Realização das Despesas é a diferença entre Despesa

Fixada e Despesa executada; quando maior a Despesa Fixada ocasionará

economia orçamentária, quando maior a Despesa Executada, tornar-se

ilegalidade e impossível de ser efetuada;

O Resultado da Execução Orçamentária corresponde à diferença entre

Receita Arrecadada e Despesa Empenhada; quando a Arrecadada for

maior demonstrará superávit da execução, quando maior a Empenhada

Page 9: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

9

haverá déficit da execução. Este resultado apurará o Superávit

Orçamentário quando a receita for maior comparada à execução, o

Déficit Orçamentário quando a menor, e o equilíbrio Orçamentário

quando da igualdade entre elas;

O Balanço Orçamentário está definido no artigo 102 da Lei nº 4320/1964

e deve ser elaborado conforme modelo previsto e o Balanço Patrimonial,

definido no artigo 105 da lei nº 4320/1964 é o demonstrativo contábil

que envolve o ativo e o passivo, distribuídos como elementos do

patrimônio público. A operação entre o ativo e o passivo permite

encontrar o patrimônio líquido, apresentando Ativo Real Líquido

(superávit patrimonial) ou Passivo Real a Descoberto (déficit

patrimonial), demonstrando os seguintes elementos contábeis: Ativo

Financeiro – crédito e valores realizáveis independentemente de

autorização orçamentária e dos valores numerários;

Ativo Permanente – bens, créditos e valores cuja mobilização ou

alienação depende de autorização legislativa;

Passivo Financeiro – os compromissos exigíveis cujo pagamento

independa de autorização orçamentária;

Passivo Permanente – as dívidas fundadas e outras que dependam de

autorização legislativa para amortização ou resgate;

Saldo Patrimonial: Contas de Compensação – registros de bens, valores e

situações não compreendidos anteriormente que, direta ou indiretamente,

possam vir a afetar o patrimônio. Por determinação de Lei, o Balanço

Patrimonial deverá efetuar a demonstração das contas de compensação,

conforme inciso VI do mesmo artigo 105.

Contas de Compensação – registros de bens, valores e situações não

compreendidos anteriormente que, direta ou indiretamente, possam vir a afetar o

patrimônio. (HADDAD et al. 2010)

Pode-se destacar que o Balanço Patrimonial demonstra o Ativo Financeiro e o

Passivo Financeiro que não estão estruturados no Sistema Patrimonial, mas sim, no

sistema financeiro por fazerem referência a movimentações financeiras. O Ativo

Financeiro é constituído pelas contas de compensação, os saldos das contas relativas a

crédito e valores realizáveis independente de autorização orçamentária e valores

numerários. Enquanto o Passivo financeiro engloba os compromissos cujo pagamento

independe de autorização orçamentária. (HADDAD et al. 2010)

O saldo patrimonial corresponde à acumulação dos Resultados Patrimoniais

apurados na Demonstração das Variações Patrimoniais, enquanto o Balanço Patrimonial

consiste em uma demonstração da posição patrimonial de uma entidade em certo

momento, avaliando o Resultado Financeiro (diferença entre Ativo e Passivo) e o

Resultado Patrimonial ou Econômico (diferença entre o Ativo Real e o Passivo Real).

Estes instrumentos correlacionam-se para conseguir realizar um diagnóstico e análise

organizacionais e instituir políticas que atendam as necessidades da sociedade. O

diagnóstico organizacional é o detalhamento das atividades de uma organização, e

determina os pontos fortes e fracos para melhorar estrategicamente a organização. A

análise organizacional é a avaliação e compreensão dos elementos constituídos no

Page 10: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

10

sistema (ambientes, estrutura, relações) que permitem colocar em prática procedimentos

operacionais com políticas consistentes, eficientes e eficazes (HADDAD et al. 2010).

2.1.3–Fatores de Influência humana

A manutenção de servidores públicos é essencial para o funcionamento da

máquina administrativa, conforme Oliveira et al. (2011, p. 9) ―são as pessoas que fazem

as coisas acontecerem no setor público‖. Isso, porém, representa disponibilidade

significativa de recursos, pois, de acordo com o previsto na Lei Complementar n°

101/2000, é de 50% da receita corrente líquida o limite para a despesa de pessoal da

União, de 60% para os Estados e, também 60% para os Munícipios, onde deveria estar

previsto, entre outros preceitos, o estímulo ao desenvolvimento do servidor público,

conforme instituído no Decreto nº 5.707/06. Assim, Balassiano et al. (2011) comprova

através de estudo, problemas de estresse ocupacional, que podem influenciar na

capacidade produtiva de servidores públicos e consequentemente, nos serviços públicos

prestados. Porém, esse tipo de estudo que poderia ser uma forma de medida preventiva

ao estresse e que automaticamente convergiria ao estímulo à produtividade funcional,

segundo o autor, não é uma prática constante no Estado. Isso revela a má utilização dos

recursos financeiros sob dois aspectos: primeiro no que concerne a todos os gastos que

decorrem do cuidado com a saúde do servidor e segundo com os que decorrem dos erros

por eles praticados.

Através de sua pesquisa e aplicando método estatístico que, segundo o autor,

permite maior confiabilidade, Balassiano et al. (2011, p. 8), utilizando técnicas de

amostragem constituída por 242 funcionários públicos federais civis ativos de

aproximadamente 70 órgãos públicos federais, da administração direta e indireta, no

estado do Rio de Janeiro, filiados ao Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público

Federal no Estado do Rio de Janeiro, coleta de dados e construtos com seus indicadores,

obtiveram resultados que identificaram problemas de estresse ocupacional.

Os resultados da pesquisa identificaram três tipos de estressores ambientais,

emoção, social e mobilidade, e dois tipos de estresse, psicológico e fisiológico, e como

cada um deles age e influencia nos servidores. Este estudo constatou diversas

manifestações sofridas pelos indivíduos como dificuldades em dormir e de atenção,

sonolência, fastio, dor de barriga, tonteiras, enjoos, falta de ar e outros que ocasionam

altos custos não somente para as pessoas, mas também, para as instituições e para a

sociedade, acarretando afastamentos do serviço, baixa produtividade, serviços de baixa

qualidade, custos previdenciários. Também, a natureza da atividade organizacional, sua

cultura, interações humanas, fatores intrínsecos, nível de hierarquia, e sobrecarga de

serviço são fatores importantes para observação e que afetam diretamente a

funcionalidade do indivíduo. Essas descobertas podem servir como medidas preventivas

e contribuir para criar melhores ambientes de trabalho, aumentar a produtividade,

melhorar a qualidade nos serviços, melhorar a qualidade de vida, criar novas práticas

gerenciais e descobrir novas tecnologias, uma vez que, cada um de nós possui um

mecanismo de defesa diferente e individualizado, agindo de formas diversas sobre

condições teoricamente iguais. (BALASSIANO et al., 2011).

3–Metodologia

Page 11: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

11

O método utilizado na confecção deste artigo foi o indutivo, envolvendo a

releitura e interpretação de materiais utilizados, como livros, apostilas, artigos e

pesquisas realizadas através da Internet, em sites como Scielo, Capes, e Google Brasil,

para algumas atualizações de dados e informações. Segundo Zanella (2009), neste

método ―o pensamento percorre um caminho partindo de fatos particulares para fatos

universais‖, onde a generalização é constatada após a observação dos dados obtidos em

três etapas: a observação dos fenômenos, a descoberta da relação sobre eles e a

generalização da relação.

Pelo método e forma de abordar o problema foi utilizada a pesquisa qualitativa

descritiva por descrever e analisar alguns fenômenos e seus significados ao longo do

tempo, Zanella (2009), sendo que, a busca por essa compreensão, advém do

conhecimento empírico de alguns autores, que também são atores participantes da

realidade da sociedade brasileira.

Os objetivos desta pesquisa visam ampliar o conhecimento sobre a ineficácia do

Estado, tipificando, segundo Zanella (2009), as pesquisas exploratórias e, ainda,

segundo a autora, essa expansão do conhecimento, serve de base para o planejamento de

uma pesquisa descritiva.

Na coleta de dados o procedimento utilizado foi a pesquisa bibliográfica,

fundamentando-se a partir do conhecimento disponível em fontes bibliográficas,

principalmente, livros e artigos científicos, cujo interesse, segundo Koche (1997, apud

ZANELLA, 2009, p. 83), , também é ampliar e dominar o conhecimento da área ―para

depois utilizá-lo como modelo teórico que dará sustentação a outros problemas de

pesquisa e para descrever e sistematizar o estado da arte sistematizada.‖

A técnica de coleta e análise de dados utilizada foi a análise documental, onde,

conforme sugere Soares et al. (2011), realizou-se a avaliação prévia de cada documento,

considerando elementos essenciais como o contexto, histórico, o autor, a autenticidade e

a confiabilidade e a natureza do texto.

4–Resultados e discussões

Comparando-se a carga tributária brasileira, considerada alta, com a qualidade

dos serviços prestados pelo Governo, nota-se imensa discrepância entre valores

arrecadados e o retorno à sociedade. Segundo o ―Estudo sobre a Carga Tributária/PIB x

IDH‖ de Olenike et al. (2015),obtido através do cálculo do IRBES (Índice de Retorno

de Bem Estar à sociedade): ―Entre os 30 países com a maior carga tributária, o Brasil

CONTINUA SENDO o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em prol

do bem estar da sociedade‖. IBPT (2015, grifo dos autores).

Page 12: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

12

Tabela com o resultado final do estudo

Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT (2015, p. 5 -6)

Uma boa Administração Pública deve pautar-se no planejamento financeiro e a

arrecadação busca proporcionar meios de realizar esse planejamento. Definir melhor os

gastos, reorganizando-se, gerindo de forma inteligente os recursos disponíveis,

desonerar bens e serviços para aumentar a demanda, acabar com privilégios e com a

corrupção, investir em meios de produção e, principalmente, entender a realidade

brasileira são passos que precisam ser dados pelos governantes para custear

corretamente a máquina governamental. Administrar bem é um dever dos representantes

do povo e exigir que isto ocorra é um direito e obrigação do cidadão. No entanto, não é

o que se observa diante dos resultados apresentados.

Buscar compreensão para a complexidade e necessidade da cobrança de tributos

de maneira a respeitar todos os princípios exigidos por lei de forma a atender as

demandas sociais é fator determinante para o correto gasto dos recursos públicos. O

legislador, ao criar normas, visa o bom funcionamento ou o aprimoramento de

determinados eventos. O Brasil possui uma ótima e bem definida estrutura legislativa,

que vem se aprimorando ao longo dos anos e de acordo com cada fase que se apresenta

a realidade do país com relação ao cenário mundial. Após a grande depressão de 1930,

diversos planos foram criados com o intuito de alcançar a estabilidade econômica, desde

Page 13: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

13

a Constituição de 1937 até o Plano Real, podendo se destacar dentre os bons resultados,

a institucionalização de princípios referentes à participação e controle social, na CF/88.

O PEP, por se fundamentar na participação democrática, na autonomia individual, na

democratização do conhecimento e em conceitos técnico-políticos, visando resultados

consensuais através de debates entre cidadãos de uma mesma realidade social, seria uma

importante ferramenta de controle social. Também, na CF/88 encontram-se ferramentas

primordiais de controle como o PPA e, as LDO e LOA que dela derivam, visando

diretrizes e metas orçamentárias regionais, com gestão estratégica. E, ainda, a Lei

Complementar nº 101/2000- Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece normas de

finanças públicas na gestão fiscal.

Observa-se, ainda, que adicionado a essas leis, houve a preocupação de se obter

o controle qualitativo e o quantitativo através de Balanços e Demonstrativos, dentre

outras ferramentas importantes. No entanto, o sistema administrativo brasileiro

demonstra-se ineficaz. Os administradores públicos demonstram na sua grande maioria,

despreparo e/ou desmotivação, dificultando, pela não aplicação de ferramentas

adequadas, as transformações de melhoria que se fazem necessárias.

O Estado demonstra seu desempenho pelas suas políticas e, é através da

execução do trabalho dos seus servidores, na prestação dos serviços internos e externos,

que ele as desenvolve. Porém, se o Estado não investe no desenvolvimento e na

motivação dos seus recursos humanos, através de estudos que possam apontar os

problemas, suas causas e como resolvê-los ou evitá-los, a consequência disso será

refletida em resultados ineficazes devido à ineficiência que decorre dos problemas que

afetam pessoas desmotivadas. Não adianta uma maior arrecadação se os recursos não

forem bem aplicados ou a redução da tributação e a paralisação do pouco que funciona.

Assim, o Estado precisa buscar repartir de maneira mais justa as obrigações tributárias e

aplicar corretamente os recursos disponíveis, preocupando-se com a saúde física e

mental dos servidores, utilizando e fazendo-os utilizar as ferramentas disponíveis, de

uma forma eficiente e eficaz, aplicando os princípios administrativos, primordialmente,

o princípio da legalidade contido na CF/88.

5–Conclusão

Demonstrar a complexidade do funcionamento da máquina administrativa com

a cobrança de impostos e suas variadas formas de controle ligadas diretamente à

necessidade de arrecadar recursos teve relevância contextual para o entendimento de

como o Estado se financia e como deve aplicar esses recursos. E, visando colaborar

para uma melhor gestão administrativa com consequente atingimento de melhores

resultados voltados ao bem comum, este trabalho teve como principal objetivo avaliar

se a relação da arrecadação com o investimento realizado gera bem estar para a

sociedade.

O Estado não pode ser autossuficiente na geração de recursos para seu

funcionamento justificando a cobrança de diversos impostos com variados tipos e

características, nas esferas federal, estadual e municipal, como o IR imposto federal

direto progressivo sobre a renda, o ICMS imposto estadual fixo indireto sobre a

aquisição de mercadorias e serviços e o IPTU imposto municipal direto sobre a

Page 14: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

14

propriedade, visando uma justa contribuição. Além disso, o Estado não pode usufruir de

recursos de forma irresponsável e inconsequente sob a pena de perda da governabilidade

instituindo-se para isso a criação de leis específicas como a Lei de Responsabilidade

Fiscal Nº101/2000 que determina o limite da utilização de recursos pelo Estado através

do Orçamento Público. Portanto, o equilíbrio entre receitas e despesas através de

planejamento é essencial, principalmente o PEP, para o funcionamento administrativo e

prestação de serviços para toda a sociedade. Ainda, o Estado presta esses serviços

através de seus servidores que, se estiverem desmotivados, como demonstra a pesquisa

sobre estresse ocupacional, podem influenciar na sua capacidade produtiva e

consequentemente, nos serviços prestados, nas três esferas governamentais, e, em todos

os níveis hierárquicos.

Este estudo revela que o Estado ao falhar na sua primeira missão que é de

promover o bem estar social e que justificaria a arrecadação, demonstra que existe

ineficácia generalizada na máquina administrativa e, que isso decorre da falta de

investimentos em desenvolvimento e pesquisas que visem o bem estar dos servidores

que desmotivados, são ineficientes e utilizam de forma contraditória as ferramentas

disponíveis. Ao aplicar de maneira contraditória ou diversa da que se destinam as

ferramentas governamentais de que dispõe, o servidor público extrapola recursos por

modificar resultados, evidenciando que a existência da falta de investimentos, pelo

Estado, em desenvolvimento profissional e melhorias organizacionais, geradores de

incentivos motivacionais para o desempenho das funções de seus agentes pode ser uma

das principais causas da ineficácia do Estado.

Assim, como colaboração para melhoria das políticas e, sobretudo, àquelas

voltadas para o social, sugere-se que haja investimentos em desenvolvimento

profissional e em pesquisas sobre fatores motivacionais. Porém, acrescenta-se que, é

preciso controlar e fiscalizar de forma permanente as ações de todos os agentes, em

todas as hierarquias e de todas as esferas de governo, e, principalmente capacitá-los e

conscientizá-los de suas responsabilidades, além de motivá-los através de ambientes

mais saudáveis.

6–Referências

BAIRRAL, Maria Amália da Costa; SILVA, Adolfo Henrique Couto e; ALVES,

Francisco José dos Santos. Transparência no setor público: uma análise dos relatórios de

gestão anuais de entidades públicas federais no ano de 2010. Rev. Adm. Pública

[online]. 2015. Disponível em:

<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/49087/47824>. Acesso

em: 28 ago. 2015.

BALASSIANO, Moisés; TAVARES, Elaine, PIMENTA; Roberto da Costa. Estresse

ocupacional na administração pública Brasileira: quais os fatores impactantes? Rev.

Adm. Pública [online]. 2011, vol.45, n.3, pp. 751-774. ISSN 0034-7612.

BORGES, Fernando Tadeu de Miranda; CHADAREVIAN, Pedro. Economia

Brasileira. Volume 1. Santa Catarina. Fundação CECIERJ; Florianópolis, 2010.

Page 15: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

15

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.

Acesso em 29 ago. 2015.

––––––. Decreto n. 5.707, de 23 de fevereiro de 2006. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5707.htm>.

Acesso em: 27 mai. 2016.

––––––. Lei n. 4320, de 17 de março de 1964. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 27 mai. 2016.

––––––. Lei de Responsabilidade Fiscal de 04 de maio 2000. Disponível em

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm> Acesso

em 20 ago. 2015.

DIEESE-Departamento Interestadual de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicos. 10

Ideias para uma Tributação mais Justa / DIEESE. — São Paulo: DIEESE. 2013.

Disponível em: <http://www.dieese.org.br/cartilha/2013/10ideia.>. Acesso em: 05 out.

2014.

GASPARINI, Carlos Eduardo. MIRANDA, Rogério Boueri. Transferências, Equidade e

Eficiência Municipal no Brasil. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/230/211>. Acesso em: 26 abr.

2016.

HADDAD, Rosaura Conceição; MOTA, Francisco Glauber Lima. Contabilidade

Pública, Volume 1. Santa Catarina. Fundação CECIERJ, 2010.

IBPT - Instituto Brasileiro De Planejamento Tributário. OLENIKE, João Eloi.

AMARAL, Gilberto Luiz do. AMARAL, Letícia Mary Fernandes do. Cálculo do

IRBES (Índice de Retorno de Bem Estar à sociedade) Estudo sobre a Carga

Tributária/PIB x IDH. Disponível

em:<http://www.ibpt.com.br/img/uploads/novelty/estudo/2171/IRBES2015.pdf>.

Acesso em: 28 mai. 2016.

JUND, Sérgio. Administração, Orçamento e Contabilidade Pública, 3ª edição. Rio de

Janeiro; Editora Elsevier, 2008.

MENDES, Carlos Magno; TREDEZINI, Cícero Antonio de Oliveira; BORGES,

Fernando Tadeu de Miranda; FAGUNDES, Mayra Batista Bitencourt. Introdução à

Economia. Volume 1. Santa Catarina. Fundação CECIERJ; Florianópolis, 2009.

MISOCZKY, Maria Ceci Araújo; GUEDES, Paulo. Planejamento e Programação na

Administração Pública. Volume I. Santa Catarina. Fundação CECIERJ; Florianópolis,

2011.

Page 16: O Custo da Administração do Estado Brasileiro: sua ...app.uff.br/riuff/bitstream/1/2225/1/Fanny Dias-Normilda-Silvio... · Teoria Clássica que defende a não intervenção econômica

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

16

OLIVEIRA, José Arimatés; MEDEIROS, Maria da Penha Machado de. Gestão de

Pessoas no setor público. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração

/ UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2011.

SANSON, João R. Teoria das Finanças Públicas. Volume 1. Fundação CECIERJ;

Florianópolis, 2011.

SOARES, Érica Beranger Silva; PEREIRA, Alana Deusilan Sester; SUZUKI, Jaqueline

Akemi; EMMENDOERFER, Magnus Luiz. Análises de Dados Qualitativos:

Intersecções e Diferenças em Pesquisas Sobre Administração Pública. Disponível em:

<http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2011/ENEPQ261.pdf>.

Acesso em: 26 abr. 2016.

ZANELLA, Liane Carly Hermes. Metodologia de estudo e de pesquisa em

administração. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC;

[Brasília] : CAPES : UAB, 2009.