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O COMEacuteRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO NO
BRASIL1
Argemiro Luiacutes Brum2
Patriacutecia Kettenhuber Muumlller3
Endereccedilo Rua do Comeacutercio 3000 Campus Universitaacuterio
Cx Postal 560 - DEConUNIJUI - Campus UNIJUI
98700-000 IjuiRS
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Estudos setoriais cadeias produtivas sistemas locais de produccedilatildeo
Resumo
O comeacutercio mundial de trigo tem na Argentina um importante exportador e no Brasil
um dos principais importadores Todavia a Argentina eacute um tomador de preccedilos no mercado
internacional fato que leva a uma influecircncia indireta dos preccedilos praticados na Bolsa de
Chicago sobre os preccedilos praticados no interior do Brasil Neste contexto o Brasil
desregulamenta a produccedilatildeo de trigo deixando o setor ao sabor do mercado Tal realidade
encontra a cadeia tritiacutecola brasileira relativamente desestruturada para enfrentar um processo
sem a presenccedila do Estado Essa desestruturaccedilatildeo somente se agravou com o passar dos anos
influenciando sobremaneira para a perda de poder negociador e de ganhos junto aos
produtores rurais e suas cooperativas Desta maneira o Brasil natildeo consegue chegar a auto-
suficiecircncia em trigo considerando mais interessante importar o produto da Argentina Assim
a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em competitividade do
setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico no qual haacute de se
avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo
Palavras-chave trigo comeacutercio cadeia produtiva
1 Este artigo resulta da pesquisa intitulada A Competitividade do Trigo Brasileiro Diante da Concorrecircncia
Argentina desenvolvida no Departamento de Economia e Contabilidade (DECon) da Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) atraveacutes do Programa de Mestrado em Desenvolvimento
a qual estaacute em fase final devendo ser publicada em livro 2 Professor do DEConUNIJUI doutor em Economia Internacional coordenador da referida pesquisa
argelbrumunijuitchebr 3 Aluna do curso de Economia da UNIJUI bolsista PIBICCNPq patriacuteciamullerunijuitchebr
Introduccedilatildeo
O presente trabalho se preocupa com a economia do trigo no Brasil agrave luz da
concorrecircncia argentina considerando como hipoacutetese de partida que o vizinho paiacutes no quadro
do Mercosul inibe um maior desenvolvimento da triticultura brasileira
O mesmo analisa o comeacutercio internacional do trigo com destaque para a participaccedilatildeo
da Argentina como paiacutes exportador e do Brasil como paiacutes importador Igualmente destaca os
custos de produccedilatildeo especialmente na Argentina e no Brasil Atraveacutes deste estudo se busca
identificar as principais razotildees da preferecircncia brasileira pelo trigo argentino Na sequumlecircncia se
privilegia o estudo das importaccedilotildees de trigo por parte do Brasil e o papel da Argentina como
fornecedor do mesmo Objetiva-se verificar a participaccedilatildeo da Argentina no fornecimento do
cereal ao Brasil e a importacircncia de nossas importaccedilotildees nas vendas do vizinho paiacutes
Uma raacutepida anaacutelise eacute feita sobre o comportamento dos preccedilos tanto no mercado
mundial atraveacutes da evoluccedilatildeo das cotaccedilotildees na Bolsa de Chicago quanto no mercado FOB
argentino e no mercado interno brasileiro a partir de preccedilos pagos aos produtores rurais do
Paranaacute e do Rio Grande do Sul
Enfim o presente artigo destaca a cadeia produtiva do trigo no Brasil a partir
de uma divisatildeo em insumos produccedilatildeo moinhos transformaccedilatildeo e distribuiccedilatildeoconsumo
2 Aspectos do comeacutercio internacional de trigo
A produccedilatildeo mundial de trigo no ano 200304 chegou a 5505 milhotildees de toneladas
conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) Somando-se os estoques
iniciais resultantes do ano anterior a oferta total do produto neste ano foi de 7176 milhotildees
de toneladas Deste total foram comercializadas no mercado externo cerca de 106 milhotildees de
toneladas Desta forma o comeacutercio internacional de trigo em sua totalidade representou
192 da produccedilatildeo mundial e 148 da oferta mundial Em outras palavras estamos diante
de um produto que tem uma forte caracteriacutestica de consumo interno junto aos principais
paiacuteses produtores
Deste total a Argentina participou com exportaccedilotildees de 75 milhotildees de toneladas a
Austraacutelia com 175 milhotildees de toneladas a Uniatildeo Europeacuteia (com 12 paiacuteses) com 98 milhotildees
de toneladas e os EUA com 314 milhotildees de toneladas Dentre os maiores importadores
encontramos o Egito com volumes que variam entre 55 e 60 milhotildees de toneladas anuais e
o Brasil com volumes entre 50 e 55 milhotildees de toneladas A Uniatildeo Europeacuteia igualmente
importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma
pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total
mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou
seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente
O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto
argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a
partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas
os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto
especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o
Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$
5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante
dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais
em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina
chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)
O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase
o triplo do preccedilo pago 10 anos antes
Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392
do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em
nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do
Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o
Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$
9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA
Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o
seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua
totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso
fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder
forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-
comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu
maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75
milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina
21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()
Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas
naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a
partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de
custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste
gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional
apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso
de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos
No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o
registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios
na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o
referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o
custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco
Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio
Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco
no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o
Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no
Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete
seguidamente a produtividade das lavouras
Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil
era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA
A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas
condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse
do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando
da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o
preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o
mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o
custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$
4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na
Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se
obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que
desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas
realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos
35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da
Argentina em US$ 9354hectare ou 353
Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos
Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177
1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506
Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND
ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA
Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos
anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto
nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute
praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um
custo de US$ 2430hectare
Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos
internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos
acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na
produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa
que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do
Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional
fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu
no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto
de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal
Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu
preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que
definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do
Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo
22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor
Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo
vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas
argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado
brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
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Introduccedilatildeo
O presente trabalho se preocupa com a economia do trigo no Brasil agrave luz da
concorrecircncia argentina considerando como hipoacutetese de partida que o vizinho paiacutes no quadro
do Mercosul inibe um maior desenvolvimento da triticultura brasileira
O mesmo analisa o comeacutercio internacional do trigo com destaque para a participaccedilatildeo
da Argentina como paiacutes exportador e do Brasil como paiacutes importador Igualmente destaca os
custos de produccedilatildeo especialmente na Argentina e no Brasil Atraveacutes deste estudo se busca
identificar as principais razotildees da preferecircncia brasileira pelo trigo argentino Na sequumlecircncia se
privilegia o estudo das importaccedilotildees de trigo por parte do Brasil e o papel da Argentina como
fornecedor do mesmo Objetiva-se verificar a participaccedilatildeo da Argentina no fornecimento do
cereal ao Brasil e a importacircncia de nossas importaccedilotildees nas vendas do vizinho paiacutes
Uma raacutepida anaacutelise eacute feita sobre o comportamento dos preccedilos tanto no mercado
mundial atraveacutes da evoluccedilatildeo das cotaccedilotildees na Bolsa de Chicago quanto no mercado FOB
argentino e no mercado interno brasileiro a partir de preccedilos pagos aos produtores rurais do
Paranaacute e do Rio Grande do Sul
Enfim o presente artigo destaca a cadeia produtiva do trigo no Brasil a partir
de uma divisatildeo em insumos produccedilatildeo moinhos transformaccedilatildeo e distribuiccedilatildeoconsumo
2 Aspectos do comeacutercio internacional de trigo
A produccedilatildeo mundial de trigo no ano 200304 chegou a 5505 milhotildees de toneladas
conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) Somando-se os estoques
iniciais resultantes do ano anterior a oferta total do produto neste ano foi de 7176 milhotildees
de toneladas Deste total foram comercializadas no mercado externo cerca de 106 milhotildees de
toneladas Desta forma o comeacutercio internacional de trigo em sua totalidade representou
192 da produccedilatildeo mundial e 148 da oferta mundial Em outras palavras estamos diante
de um produto que tem uma forte caracteriacutestica de consumo interno junto aos principais
paiacuteses produtores
Deste total a Argentina participou com exportaccedilotildees de 75 milhotildees de toneladas a
Austraacutelia com 175 milhotildees de toneladas a Uniatildeo Europeacuteia (com 12 paiacuteses) com 98 milhotildees
de toneladas e os EUA com 314 milhotildees de toneladas Dentre os maiores importadores
encontramos o Egito com volumes que variam entre 55 e 60 milhotildees de toneladas anuais e
o Brasil com volumes entre 50 e 55 milhotildees de toneladas A Uniatildeo Europeacuteia igualmente
importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma
pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total
mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou
seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente
O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto
argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a
partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas
os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto
especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o
Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$
5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante
dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais
em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina
chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)
O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase
o triplo do preccedilo pago 10 anos antes
Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392
do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em
nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do
Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o
Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$
9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA
Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o
seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua
totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso
fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder
forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-
comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu
maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75
milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina
21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()
Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas
naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a
partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de
custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste
gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional
apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso
de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos
No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o
registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios
na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o
referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o
custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco
Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio
Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco
no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o
Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no
Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete
seguidamente a produtividade das lavouras
Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil
era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA
A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas
condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse
do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando
da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o
preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o
mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o
custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$
4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na
Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se
obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que
desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas
realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos
35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da
Argentina em US$ 9354hectare ou 353
Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos
Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177
1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506
Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND
ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA
Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos
anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto
nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute
praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um
custo de US$ 2430hectare
Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos
internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos
acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na
produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa
que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do
Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional
fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu
no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto
de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal
Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu
preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que
definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do
Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo
22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor
Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo
vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas
argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado
brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma
pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total
mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou
seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente
O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto
argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a
partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas
os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto
especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o
Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$
5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante
dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais
em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina
chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)
O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase
o triplo do preccedilo pago 10 anos antes
Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392
do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em
nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do
Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o
Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$
9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA
Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o
seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua
totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso
fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder
forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-
comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu
maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75
milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina
21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()
Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas
naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a
partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de
custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste
gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional
apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso
de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos
No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o
registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios
na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o
referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o
custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco
Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio
Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco
no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o
Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no
Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete
seguidamente a produtividade das lavouras
Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil
era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA
A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas
condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse
do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando
da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o
preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o
mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o
custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$
4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na
Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se
obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que
desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas
realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos
35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da
Argentina em US$ 9354hectare ou 353
Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos
Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177
1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506
Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND
ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA
Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos
anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto
nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute
praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um
custo de US$ 2430hectare
Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos
internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos
acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na
produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa
que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do
Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional
fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu
no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto
de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal
Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu
preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que
definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do
Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo
22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor
Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo
vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas
argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado
brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()
Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas
naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a
partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de
custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste
gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional
apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso
de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos
No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o
registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios
na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o
referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o
custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco
Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio
Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco
no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o
Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no
Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete
seguidamente a produtividade das lavouras
Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil
era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA
A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas
condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse
do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando
da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o
preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o
mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o
custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$
4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na
Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se
obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que
desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas
realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos
35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da
Argentina em US$ 9354hectare ou 353
Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos
Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177
1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506
Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND
ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA
Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos
anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto
nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute
praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um
custo de US$ 2430hectare
Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos
internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos
acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na
produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa
que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do
Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional
fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu
no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto
de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal
Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu
preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que
definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do
Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo
22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor
Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo
vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas
argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado
brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da
Argentina em US$ 9354hectare ou 353
Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos
Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177
1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506
Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND
ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA
Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos
anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto
nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute
praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um
custo de US$ 2430hectare
Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos
internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos
acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na
produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa
que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do
Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional
fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu
no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto
de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal
Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu
preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que
definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do
Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo
22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor
Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo
vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas
argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado
brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos
depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele
ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram
procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em
trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo
Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA
(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das
compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)
Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo
que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute
10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de
toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com
respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as
compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina
nas mesmas foi bastante reduzida
Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a
sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre
953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a
participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de
1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional
diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina
se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo
Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram
multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76
milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente
da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado
argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou
seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo
dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as
importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte
da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)
A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias
em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja
um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de
2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a
adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade
levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume
importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em
2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em
quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da
Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes
alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro
anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma
queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95
do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim
embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu
um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial
Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas
exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina
de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90
acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois
na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de
trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas
ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014
toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso
paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa
correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo
relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes
23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e
brasileiros
Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove
meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo
de US$ 480bushel registrado em 1996
Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre
julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este
6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos
periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons
O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia
ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de
1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute
exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000
Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de
2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante
De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos
preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$
1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos
anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de
US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado
pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na
Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o
comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a
Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001
A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu
movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a
meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil
respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da
Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a
uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe
igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os
praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da
produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo
de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu
se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os
projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes
Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$
994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629
em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)
com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos
de preccedilo meacutedio desde 19967
Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com
valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma
qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e
2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo
pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais
elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o
preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23
3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato
No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas
sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002
conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias
com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081
bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos
R$ 3 milhotildees defensivos
R$ 212 milhotildees
maacutequinas e implementos
R$ 492 milhotildees fertilizantes
R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a
produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra
20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a
comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o
valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural
(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um
niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-
gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto
grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002
as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa
o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por
meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo
rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao
valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor
moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo
7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$
796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)
produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de
farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-
se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo
referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse
ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos
diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao
produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal
fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir
desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e
margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre
devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e
sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas
R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo
R$ 2055 bilhotildees biscoitos
R$ 3480 bilhotildees) O
faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees
(auto-serviccedilo
R$ 542 bilhotildees padarias
R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas
R$ 432
bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-
central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas
(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)
induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634
bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil
movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8
Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de
aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo
Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo
distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os
setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes
US$ 25
milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos
US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos
US$135 milhotildees fertilizantes
85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees
(setor de plaacutesticos flexiacuteveis
US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado
US$ 640 mil accediluacutecar
US$ 17 milhotildees sal
US$ 790 mil fermento
US$ 55 milhotildees oxidantes
US$ 740 mil
Enzimas
US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees
induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas
USS 76 milhotildees
8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP
2004 224 p
panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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panificaccedilatildeo
US$ 665 milhotildees padarias
US$ 665 milhotildees biscoitos
US$ 113 milhotildees
raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)
Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de
inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo
propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-
obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a
utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja
isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9
Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da
agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma
meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura
empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram
gerados em 83000 propriedades rurais10
31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo
A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de
1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo
internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo
internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil
era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista
disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar
um profundo impacto no setor
No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se
encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques
mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991
e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994
o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de
Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$
15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina
Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se
conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o
9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP
2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002
sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas
compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os
preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional
ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees
na importaccedilatildeo
No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis
recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques
mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de
importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos
Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a
opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os
produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado
Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997
com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos
niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e
199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa
25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na
comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual
o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo
(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto
A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de
liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente
acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia
supor
O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse
processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de
trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante
deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos
relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma
da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos
Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos
do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que
prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo
O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando
ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo
nacional
Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola
pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee
condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com
descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas
produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas
foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento
havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na
praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o
governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave
qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a
livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de
triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio
do Mercosul
Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal
levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos
investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em
198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia
entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da
demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal
produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em
relaccedilatildeo ao produto
Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e
condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como
enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras
presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil
com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais
Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que
acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da
comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional
desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso
Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como
atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da
comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
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2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou
igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca
da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o
mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura
nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu
ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade
econocircmica rentaacutevel e viaacutevel
Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no
produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos
do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a
concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente
tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado
livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes
ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de
origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o
abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a
situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo
conjunturais
32 Aspectos atuais do trigo no Brasil
Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam
plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se
concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave
cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o
custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura
compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de
culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos
baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos
custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de
solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo
parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a
esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto
agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os
levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
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NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final
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Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em
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_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
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_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
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de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos
viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo
No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via
o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo
passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As
cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer
volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de
lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor
intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou
igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as
cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de
moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o
governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos
e raramente exportam o cereal
Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram
para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito
baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em
termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto
A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta
dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na
medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a
qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal
realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em
demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica
existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de
comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais
uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia
Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos
anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o
Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e
portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as
cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do
produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional
devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto
desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP
Consultorias e
AgroInformativos
AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas
Rio de
JaneiroRJ 2004
BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e
demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999
BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos
econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993
BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no
Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado
Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p
COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo
de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt
httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf
gt
CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas
Rio de JaneiroRJ Setembro de
2004
CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura
Serviccedilo de Informaccedilatildeo
Agriacutecola 1960 v1 361 p
CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em
httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004
CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul
Coletacircnea de Artigos
Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo
1999
FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de
Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p
JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER
Passo FundoRS
JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural
Volume 32 EmaterRS
Porto AlegreRS
ASCAR 2003
MINETTO T J FecoAgro
Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do
Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS
NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final
Instituto UNIEMP
ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo
Editora Atlas 2004 224 p
SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos
Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades
Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt
Acesso em 22 de outubro de 2004
TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia
Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em
lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003
VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas
em Comeacutercio Exterior
______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul
trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994
_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004
_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
UNIEMP Satildeo Paulo
USP Disponiacutevel em
httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro
de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem
todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo
Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros
de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia
produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas
proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O
resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores
agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos
moinhos atraveacutes de contratos
33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11
A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo
de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo
governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da
tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram
induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais
elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo
adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos
produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos
A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este
quadro
Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo
quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se
desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um
consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes
passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas
consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas
A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e
produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de
trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o
consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais
oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as
11 FGVIPEA 1998
oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP
Consultorias e
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JaneiroRJ 2004
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demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999
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Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado
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CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas
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2004
CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura
Serviccedilo de Informaccedilatildeo
Agriacutecola 1960 v1 361 p
CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em
httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004
CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul
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Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo
1999
FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de
Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p
JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER
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Volume 32 EmaterRS
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ASCAR 2003
MINETTO T J FecoAgro
Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do
Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS
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Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
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Acesso em 22 de outubro de 2004
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lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003
VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas
em Comeacutercio Exterior
______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul
trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994
_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004
_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
UNIEMP Satildeo Paulo
USP Disponiacutevel em
httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro
de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a
partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central
disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa
de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou
como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente
havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal
O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da
concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos
industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de
poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado
Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea
em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os
segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos
agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto
grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70
do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57
Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional
destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados
Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos
produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos
de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande
competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais
favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de
destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade
agriacutecola
Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo
passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte
do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a
produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para
aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina
Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que
incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado
ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais
elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-
se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP
Consultorias e
AgroInformativos
AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas
Rio de
JaneiroRJ 2004
BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e
demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999
BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos
econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993
BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no
Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado
Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p
COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo
de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt
httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf
gt
CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas
Rio de JaneiroRJ Setembro de
2004
CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura
Serviccedilo de Informaccedilatildeo
Agriacutecola 1960 v1 361 p
CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em
httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004
CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul
Coletacircnea de Artigos
Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo
1999
FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de
Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p
JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER
Passo FundoRS
JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural
Volume 32 EmaterRS
Porto AlegreRS
ASCAR 2003
MINETTO T J FecoAgro
Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do
Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS
NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final
Instituto UNIEMP
ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo
Editora Atlas 2004 224 p
SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos
Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades
Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt
Acesso em 22 de outubro de 2004
TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia
Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em
lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003
VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas
em Comeacutercio Exterior
______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul
trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994
_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004
_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
UNIEMP Satildeo Paulo
USP Disponiacutevel em
httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro
de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina
os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem
eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de
18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12
Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na
accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como
estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor
agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre
alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o
Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em
situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir
impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo
via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e
adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a
opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do
governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da
agricultura com a da induacutestria13
4 Consideraccedilotildees finais
No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as
importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais
favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no
contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o
mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo
produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul
O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia
mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de
preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes
como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir
sobre os preccedilos
12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo
Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004
Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP
Consultorias e
AgroInformativos
AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas
Rio de
JaneiroRJ 2004
BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e
demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999
BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos
econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993
BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no
Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado
Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p
COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo
de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt
httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf
gt
CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas
Rio de JaneiroRJ Setembro de
2004
CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura
Serviccedilo de Informaccedilatildeo
Agriacutecola 1960 v1 361 p
CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em
httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004
CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul
Coletacircnea de Artigos
Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo
1999
FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de
Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p
JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER
Passo FundoRS
JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural
Volume 32 EmaterRS
Porto AlegreRS
ASCAR 2003
MINETTO T J FecoAgro
Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do
Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS
NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final
Instituto UNIEMP
ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo
Editora Atlas 2004 224 p
SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos
Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades
Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt
Acesso em 22 de outubro de 2004
TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia
Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em
lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003
VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas
em Comeacutercio Exterior
______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul
trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994
_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004
_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
UNIEMP Satildeo Paulo
USP Disponiacutevel em
httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro
de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado
brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo
no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e
1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto
no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre
1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o
Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia
naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A
explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado
nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos
climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios
A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente
pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo
Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa
dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este
fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo
natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada
salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de
trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo
pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$
17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e
US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano
Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento
dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros
mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o
aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e
nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as
importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada
aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal
14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em
200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do
cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna
for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do
momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de
produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto
Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva
Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um
mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a
utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos
custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a
qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda
Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma
certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a
chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com
tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo
5 Referecircncias Bibliograacuteficas
AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP
Consultorias e
AgroInformativos
AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas
Rio de
JaneiroRJ 2004
BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e
demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999
BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos
econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993
BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no
Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado
Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p
COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo
de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt
httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf
gt
CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas
Rio de JaneiroRJ Setembro de
2004
CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura
Serviccedilo de Informaccedilatildeo
Agriacutecola 1960 v1 361 p
CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em
httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004
CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul
Coletacircnea de Artigos
Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo
1999
FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de
Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p
JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER
Passo FundoRS
JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural
Volume 32 EmaterRS
Porto AlegreRS
ASCAR 2003
MINETTO T J FecoAgro
Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do
Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS
NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final
Instituto UNIEMP
ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo
Editora Atlas 2004 224 p
SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos
Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades
Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt
Acesso em 22 de outubro de 2004
TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia
Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em
lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003
VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas
em Comeacutercio Exterior
______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul
trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994
_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em
lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004
_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto
UNIEMP Satildeo Paulo
USP Disponiacutevel em
httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro
de 2005
_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004
Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil
tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em
jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas
produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de
profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica
visando a auto-suficiecircncia em trigo
Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada
por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a
sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade
somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a
cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar
a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em
favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de
benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a
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Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com
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Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em
competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico
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chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de
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tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado
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1999
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Passo FundoRS
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Editora Atlas 2004 224 p
SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos
Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados
2003 e 2004
SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades
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Acesso em 22 de outubro de 2004
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_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens
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UNIEMP Satildeo Paulo
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de 2005
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Vol 24 ndeg 10 pg 45
_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004
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Rio de
JaneiroRJ 2004
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BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos
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de 2005
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Vol 24 ndeg 10 pg 45
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VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de
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UNIEMP Satildeo Paulo
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_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-
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