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Ano 10 . nº 30 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2015 Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. CGU publica cartilha de compliance para empresas Francisco Zardo Dano moral por descumprimento de acordo judicial Fernanda Pederneiras É válida a penhora de bem de família de fiador em contrato de locação Fernando Welter Lei de Resíduos Sólidos: instrumento para a qualidade de vida José Roberto Trautwein Os direitos decorrentes da desistência do compromisso de compra e venda de imóvel Vanessa Scheremeta “O combate à violência e à criminalidade exige a atuação conjugada das instâncias policial e judicial do Estado de Direito Democrático”. (Prof. René Ariel Dotti) René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero Luvizotto Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly Crepaldi Bruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled Fernanda Lovato . Caroline Cavet . Luiz Fernando Nascimento

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Ano 10 . nº 30 . Outubro / Novembro / Dezembro / 2015

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

CGU publica cartilha de compliance para

empresas

Francisco Zardo

Dano moral por descumprimento de

acordo judicial

Fernanda Pederneiras

É válida a penhora de bem de família

de fiador em contrato de locação

Fernando Welter

Lei de Resíduos Sólidos:

instrumento para a qualidade de vida

José Roberto Trautwein

Os direitos decorrentes da desistência do

compromisso de compra e venda de imóvel

Vanessa Scheremeta

“O combate à violência e àcriminalidade exige a atuação conjugada

das instâncias policial e judicial do Estado de Direito Democrático”.

(Prof. René Ariel Dotti)

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter . Gustavo Scandelari

Rafael de Melo . Vanessa Cani . Cícero LuvizottoLuis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães

Laís Bergstein . André Meerholz . Diana Geara . Emilly CrepaldiBruno Correia . Ana Cristina Viana . Maria Vitoria Kaled

Fernanda Lovato . Caroline Cavet . Luiz Fernando Nascimento

EDITORIAL

O aprimoramento da Polícia Judiciária (René Ariel Dotti) ...................................................................................................................................... 03

SEÇÃO INFORMATIVA

Participação em eventos ......................................................................................................................................................................................... 04Concurso de artigos .................................................................................................................................................................................................. 05IBDFAM/PR ................................................................................................................................................................................................................... 05

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes ................................................................................................................................................................................................ 05

DIREITO CRIMINAL

Crimes contra a honra praticados por Magistrados: dever de fundamentar, falta de dolo e imunidade material (Alexandre Knopfholz) .......................................................................................................................................................................................... 06Projeto de lei pretende restringir a colaboração premiada (Gustavo Scandelari) ........................................................................................... 06Obrigação do Poder Executivo estadual de garantir diretos de presos (Luis OItávio Sales) ....................................................................... 07As diferentes perspectivas do STF sobre a descriminalização das drogas (Guilherme Alonso) .................................................................. 07As medidas protetivas da Lei Maria da Penha e o exercício do contraditório (Bruno Correia) ................................................................. 08Configuração de denunciação caluniosa exige inequívoca ciência de inocência (Fernanda Lovato) .................................................... 08

DIREITO ADMINISTRATIVO

CGU publica cartilha de compliance para empresas (Francisco Zardo) ............................................................................................................ 09Inflação e correção monetária nas condenações judiciais (André Meerholz) .................................................................................................. 09Projeto de Lei visa inserir disposições sobre segurança jurídica e eficiência no âmbito do direitopúblico (Ana Cristina Viana) .............................................................................................................................................................................................. 10Novas regras nas contratações públicas de microempresas, empresas de pequeno porte emicroempreendedores individuais – MEI (Maria Vitoria Kaled) ............................................................................................................................ 10

DIREITO CIVIL

A nova Lei do direito de resposta (Julio Brotto) ....................................................................................................................................................... 11STJ decidirá se incorporadora responde pela restituição da comissão de corretagem (Patrícia Nymberg) .......................................... 11Os direitos decorrentes da desistência do compromisso de compra e venda de imóvel (Vanessa Scheremeta) ................................. 12Lei de Resíduos Sólidos: instrumento para a qualidade de vida (José Roberto Trautwein) ............................................................................. 12É válida a penhora de bem de família de fiador em contrato de locação (Fernando Welter) ...................................................................... 13O direito de preferência na alienação do imóvel comum (Vanessa Cani) ....................................................................................................... 13O dinheiro de plástico tem o mesmo valor que o de papel (Cícero Luvizotto e Laís Bergstein) .......................................................................... 14A limitação do direito subjetivo dos contratos (Caroline Cavet) ......................................................................................................................... 14Planos de saúde não precisam custear tratamento experimental, quando há cobertura de procedimento tradicionalcompatível com o paciente (Luiz Fernando Nascimento) ............................................................................................................................................ 15

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Tutela de evidência no novo Código de Processo Civil: celeridade e justiça (Rogéria Dotti) .................................................................... 15

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Dano moral por descumprimento de acordo judicial (Fernanda Pederneiras) .................................................................................................. 16Participação de parte em audiência de conciliação via skype (Thais Guimarães) ......................................................................................... 16O pacto antenupcial/contrato de convivência como instrumento de prevenção de conflitos familiares (Diana Geara) ............. 17

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Crônicas de um estagiário (David Edson dos Santos) ................................................................................................................................................... 17Estado de coisas inconstitucional e o sistema carcerário (Gustavo Cezar Vieira) .............................................................................................. 18A alienação parental e os reflexos da lei nº 12.318/2010 (Matheus Amaral Mocelin) ........................................................................................ 18A razoabilidade na prisão preventiva (Orlei Bonamin Neto) ................................................................................................................................... 19Crimes de responsabilidade (Dafne Hruschka e Larissa Ross) ...................................................................................................................................... 19

ÍNDICE

3

O APRIMORAMENTO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA

EDITORIAL

É muito comum em setores da mídia e na população em geral a opinião de que a impunidade se deve à demora dos julgamentos. Trata-se de meia verda-de. Não se pode negar que o retardamento das decisões judiciais beneficia réus em face da prescrição, ou seja, da impossibilidade de o Estado impor uma pena quando não atendeu ao princípio da “razoável duração do processo”, que é uma das garantias previstas na Constituição Federal. Mas no mesmo artigo está dito que também se asseguram “os meios que garantam a celeridade de sua tramita-ção” (art. 5º, § 78º). E tais “meios” compreendem não só a aprovação de leis de procedimento como também a desburocratização de atos da investigação, do processo e do julgamento dos crimes.

Essas reflexões me vieram à mente ao lembrar as conclusões do II Encontro Estadual de Magistrados Criminais, promovido pela ASSOCIAÇÃO DOS MAGIS-TRADOS DO PARANÁ (AMAPAR) (22 a 25/03/2012), presidida pelo juiz FERNAN-DO SWAIN GANEM e que contou com a presença de autoridades judiciárias, a Secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e o Secretário de Seguran-ça Pública do Paraná.

O combate à violência e à criminalidade exige a atuação conjugada das ins-tâncias policial e judicial do Estado de Direito Democrático a fim de que a cor-reta apuração desses fatos antissociais possa evitar não somente a demora dos processos mas, igualmente, o erro judiciário resultante de investigação falha ou errada. Com muita propriedade, o Código de Processo Penal usa a designação “polícia judiciária”, que tem por finalidade a apuração das infrações penais e da sua autoria (art. 4º).

A eficácia da prestação jurisdicional no âmbito criminal depende da “boa instrução do inquérito policial, o que ocorre com o treinamento permanente dos agentes responsáveis pelas investigações”, afirma uma das conclusões do even-to. Expressamente, os participantes do Encontro afirmaram que é necessário o aperfeiçoamento dos policiais em atividade, melhor estruturação do Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal, sendo “salutar que os cargos de escri-vão de polícia sejam ocupados por quem tenha formação jurídica”.

RENÉ ARIEL DOTTI

No dia 26 de agosto, em São Paulo, o Professor RENÉ DOTTI participou do XXI Seminário Internacional de Ciências Criminais - IBCCRIM, onde presidiu a mesa do painel:  “Mecanismo de prevenção da criminalidade econômica”.

No mês de setembro o Professor participou de dois eventos: Seminário “Impeachment: versões políticas e verdades jurídicas”, no dia 17, na  Universidade Positivo, e no  dia  26 do VIII Congresso da ABRAME - Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas, em Florianópolis, no Costão do Santinho Resort. O tema central do  Con-gresso  foi a visão materialista e a espírita em torno da vida.  Em outubro, no dia 17, participou do Congresso OAB/SP,  realizado no Teatro Gazeta. O tema central do Congresso foi Direito Penal e Processo Penal.

No mês de julho a Advogada ROGÉRIA DOTTI par-ticipou de dois eventos: no dia 17, ministrou aula so-bre o novo Código do Processo Civil na ABDCONST, e no dia 20 do Ciclo de Palestras da Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (ADVO-CEF). O tema da palestra foi o Novo Código de Proces-so Civil. O evento teve como debatedores os Ministros do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ANTONIO CAR-LOS FERREIRA e NEFI CORDEIRO.

Em 18 de agosto esteve em Londrina, onde parti-cipou do evento “O Novo Código de Processo Civil”, re-alizado pela OAB/PR. No dia 11 de setembro, em Foz do Iguaçu, o evento foi o “Bate Papo com a Diretoria”, realizado pela Comissão dos Advogados Iniciantes da OAB/PR.

O Advogado ALEXANDRE KNOPFHOLZ proferiu, no dia 30 de julho, palestra denominada “Processo Penal para Jorna-listas”. O evento, realizado pela OAB/PR, pela Escola Superior de Advocacia (ESA) e pelo JORNAL GAZETA DO POVO, reuniu cento e vinte profissionais de imprensa na sede da seccional do Paraná.

Nos dias 2 e 3 de setembro, participou do “Seminário Internacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Crime Orga-nizado”, promovido pelo Superior Tribunal de Justiça. No evento, foram palestrantes, dentre outros, o Presidente do STF, Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, os Ministros do STJ MARIA THEREZA ROCHA DE ASSIS MOURA, LUIS FELIPE SALOMÃO e NEFI CORDEIRO, o Procurador-Geral da República, RODRIGO JA-NOT, e o Ministro da Justiça, JOSÉ EDUARDO CARDOZO.

Proferiu também palestra, no dia 2 de outubro, no II Congres-so Internacional de Ciências Criminais, promovido pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e pelo Diretório Acadêmico Clotário Portugal (DACP), ocorrido entre os dias 29/09 e 2/10. Na ocasião, fez uma análise crítica do novo Código de Processo Penal (PLS 156 do Senado Federal), atualmente em discussão na Câma-ra dos Deputados.

No mês de agosto o Advogado FRANCISCO ZARDO ministrou módulo sobre Contratos Administrativos na Especializa-ção em Direito Administrativo, coordenada pelo Professor FERNANDO MÂNICA, na Universidade Positivo.

No dia 30 de setembro, proferiu a conferência de abertura no IV Congresso Nacional de Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná. O tema da palestra foi a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013): aspectos polêmicos e atuais.

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SEÇÃO INFORMATIVA

Participação em eventos

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de Almeida

Mudanças relevantes

» STJ APROVA CINCO NOVAS SÚMULASForam aprovadas no dia 14/10/2015 cinco novas súmulas de Direito Privado, com teses advindas e firmadas em julgamentos de recursos repetitivos. São elas:

Súmula 547: “Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pa-gos a título de participação financeira do consumidor no custeio de cons-trução de rede elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916. Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido, observada a regra de transição discipli-nada em seu art. 2.028”.

Súmula 548: “Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito”.

Súmula 549: “É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação”.

Súmula 550: “A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco que não constitui banco de dados, dispensa o consenti-mento do consumidor, que terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados considerados no respectivo cálculo”.

Súmula 551: “Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio independentemente de pedido expresso. No entanto, somente quando previstos no título executivo poderão ser objeto de cum-primento de sentença”.

Concurso de artigos IBDFAM/PR

A Advogada ANA VIANA recebeu o prêmio Romeu Felipe Bacellar ao conquistar o 1º lugar no concurso de artigos do seminário Direito Administrativo e suas transformações atuais. Conquistou também a 2º colocação no concurso de artigos do XVI Congresso Paranaense de Direito Administrativo.

No último dia 23 de outubro a Advo-gada FERNANDA PERDERNEIRAS tomou posse, para o biênio 2016/2017, como Presidente do IBDFAM/PR (Instituto Brasi-leiro de Direito de Família – Seção Paraná) e a Advogada THAIS GUIMARÃES como Secretária-Geral.

» SEPARAÇÃO DE PRESOS NOS ESTABE-LECIMENTOS PRISIONAIS

Lei nº 13.167/2015, de 06/10/2015 (Publicada no DOU de 07/10/2015)Altera a Lei de Execuções Penais e estabe-lece que os presos provisórios ficarão se-parados de acordo com alguns critérios:I - acusados pela prática de crimes he-diondos ou equiparados; II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos aponta-dos nos incisos I e II.Além disso, os presos condenados se-guem a separação pelos seguintes crité-rios:I - condenados pela prática de crimes he-diondos ou equiparados; II - reincidentes condenados pela prática de crimes co-metidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violên-cia ou grave ameaça à pessoa; IV - demais condenados pela prática de outros cri-mes ou contravenções em situação diver-sa das previstas nos incisos I, II e III.

6

Crimes contra a honra praticados por Magistrados: dever de fundamentar, falta de dolo e imunidade material

Projeto de Lei pretende restringir a colaboração premiada

Em sua carreira, não é incomum Ma-gistrados serem acusados por crimes contra a honra em razão de termos e expressões utilizadas em suas decisões. São frequentes procedimentos crimi-nais iniciados pela parte que se sentiu ofendida, afirmando terem os Juízes co-metido crimes de calúnia (CP, art. 138), difamação (CP, art. 139) e/ou injúria (CP, art. 140).

Em regra, tais pleitos são manifesta-mente improcedentes, por três razões: a) é dever do Magistrado fundamentar as decisões judiciais, sob pena de sua nuli-dade (CF, art. 93, IX); b) inexiste dolo es-

pecífico – intenção deliberada – do Juiz em ofender a parte, mas apenas de justi-ficar seu posicionamento (STJ – Apn 740/DF – Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA); c) o Magistrado age no estri-to cumprimento de seu dever de ofício, sendo albergado pela imunidade mate-rial prevista no art. 142, III, do Código Pe-nal, segundo o qual “não constituem in-júria ou difamação punível: (...) o conceito desfavorável emitido por funcionário pú-blico, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever de ofício.” Assim, expressões que se justificam no contexto geral da demanda e da decisão

não caracterizam crimes contra a honra da parte (TJPR – QC 967165-0 – Rel. Min. PAULO ROBERTO VASCONCELOS).

Não é possível, assim, que o incon-formismo com o posicionamento do Juiz transborde para acusações de cunho pessoal. A irresignação deve ser contra a motivação da decisão e não contra o próprio Magistrado. Este não pode ter receio de julgar, fundamentadamente, de acordo com sua consciência. É, ele, o “direito vivente”, que transforma a Justiça em um “fluido vivo, que circula nas fórmu-las vazias da lei, como o sangue nas veias” (PIERO CALAMANDREI).

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

GUSTAVO SCANDELARI

DIREITO CRIMINAL

Em 25 de agosto de 2015, o Depu-tado HERÁCLITO FORTES (PSB/PI) apre-sentou o Projeto de Lei nº 2.755/2015, que “altera a redação do art. 4º da Lei nº 12.850/2013, que dispõe acerca da reali-zação de colaboração premiada forneci-da por investigados e acusados em ações penais”. A proposição, ao acrescer mais duas condições para que a colaboração possa ser devidamente homologada pelo Judiciário, poderá reduzir, na prá-tica, os casos em que o acordo venha a ser aceito.

A primeira condição, que passaria a constar do §17 do art. 4º da citada lei, é a seguinte: “realizado o acordo de colabo-ração o acusado colaborador deverá for-necer, desde a sua primeira oitiva, todas as informações relevantes de que tenha conhecimento, não podendo alterá-las ou

aditá-las posteriormente, sob pena de per-der os benefícios previstos no caput deste artigo”. Com isso, pretende-se, aparente-mente, evitar a delação a “conta gotas”, obrigando o acusado a dizer tudo o que sabe de uma só vez. Porém, sabe-se que, na Operação Lava-Jato, alguns delatores somente revelaram fatos graves, impli-cando agentes políticos, em momento posterior ao primeiro depoimento – re-velações que originaram denúncias cri-minais autônomas.

A segunda condição, que ocuparia o §18 do mesmo dispositivo, está assim redigida: “o colaborador não poderá ser defendido por advogado ou sociedade de advogados que no mesmo processo patro-cine ou tenha patrocinado outro investi-gado ou acusado também interessado em obter os benefícios tratados neste artigo”.

Aqui, a justificativa do Projeto é de que um acusado poderia vir a fornecer infor-mações parciais para que, em momento futuro, outro acusado a complementas-se para “ampliar os benefícios que lhe se-rão conferidos”, “em especial os defendi-dos pelos mesmos advogados”. Trata-se, evidentemente, de uma indevida e gra-ve limitação ao direito, que todo cidadão tem, de escolher seu defensor – além de presumir que todo advogado sempre orientaria seus clientes, nesta hipótese, a faltar com a lealdade processual.

O Projeto ainda tramita na Câmara dos Deputados e está, desde 23 de se-tembro de 2015, em análise na Comis-são de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO).

7

Obrigação do Poder Executivo estadual de garantir diretos de presos

Em 13/08/2015, o SUPREMO TRIBU-NAL FEDERAL julgou o mérito do Recurso Extraordinário nº 592581, que discute a possibilidade de o Poder Judiciário obri-gar o Poder Executivo estadual a execu-tar obras em estabelecimentos prisionais a fim de garantir direitos fundamentais de pessoas presas. À unanimidade, a Corte Suprema decidiu que é lícito ao Ju-diciário impor à Administração Pública a execução de medidas ou obras em esta-belecimentos prisionais para assegurar a detentos o respeito à sua integridade física e moral (CF, arts. 5º, XLIX e 1º, III). Consolidou-se a jurisprudência da Cor-te quanto ao tema (até então dispersa),

que, em casos pontuais (HC 102.309 e RE 272.839), havia repreendido ofensas à integridade de presos mediante inde-nização.

Assentou-se que é dever do Estado preservar a saúde física e moral do de-tento e garantir que as condições de en-carceramento sejam dignas, em atenção à Lei de Execução Penal (arts. 1º, 3º, 40 e 88) e à Resolução 09/11, do Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten-ciária. Decorre da lei, portanto, o dever de respeito à capacidade dos estabeleci-mentos penais e às condições básicas de acomodação (espaço e arquitetura das celas, ventilação e iluminação).

As principais objeções foram afasta-das. Não haveria ofensa à separação de Poderes, pois ao Judiciário cabe zelar pela efetivação de direitos fundamen-tais exaustivamente regulamentados, mas sistematicamente violados na vida pública diária. Não se trata, assim, de ativismo judicial desmedido. Tampouco subsistiria a alegação de que condições orçamentárias deveriam condicionar tais políticas públicas (reserva do possível). A tutela dos direitos mínimos de deten-tos é tema constitucional fundamental e não é menos urgente.

LUIS OTÁVIO SALES

Em agosto deste ano, o STF deu início ao julgamento do Recurso Extraordinário nº 635.659/SP, de relatoria do Ministro GILMAR MENDES, no qual se discute a constitucionalidade da criminalização do consumo pessoal de drogas.

Atualmente, condutas direcionadas ao uso de substâncias entorpecentes ilícitas são consideradas crimes pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2004, sem, porém, a previsão de pena privativa de liberdade. O dispositivo estabelece, basicamente, que o usuário de drogas será advertido sobre seus efeitos, prestará serviços à comunidade e comparecerá a programa ou curso educativo (cabendo admoesta-ção e multa para quem descumprir essas “penas”).

Na primeira sessão de julgamento, o relator votou pela descriminalização irrestrita do uso pessoal de drogas, pro-pondo a alteração da natureza penal das

medidas do art. 28 para civil e adminis-trativa, além do afastamento definitivo da prestação de serviços à comunidade. Na prática, sua posição busca preservar a liberdade individual e afastar o estig-ma do usuário que, mesmo não conde-nado à prisão, registra antecedentes cri-minais caso seja condenado.

Os demais votos até agora profe-ridos, dos Ministros EDSON FACHIN e ROBERTO BARROSO, acompanharam parcialmente o relator, restringindo o al-cance da descriminalização apenas para a maconha (que é a droga utilizada no caso em julgamento). É curioso, porém, que os dois votos se amparam em pers-pectivas distintas: enquanto o primeiro adotou uma posição restrita, ressaltan-do os riscos das drogas e a necessidade de tratamento terapêutico ao invés de penas, o segundo propôs todo um regi-me jurídico provisório para a maconha,

sugerindo critérios para a diferenciação entre usuário e traficante, prevendo a plantação caseira e ressaltando o direito do cidadão “de escolher o que fazer com o próprio corpo”.

O julgamento foi suspenso pelo pe-dido de vista Ministro TEORI ZAVASCKI. Além dele, faltam 7 (sete) votos para a definição sobre a descriminalização.

As diferentes perspectivas do STF sobre a descriminalização das drogas

GUILHERME ALONSO

8

Configuração de denunciação caluniosa exige inequívoca ciência de inocência

FERNANDA LOVATO

As medidas protetivas da Lei Maria da Penha e o exercício do contraditório

BRUNO CORREIA

Deve-se exaltar a grande conquis-ta, em âmbito jurídico, representada pela Lei nº 11.340/2006, que promove o combate à violência doméstica pratica-da contra a mulher – em regra, a parte mais frágil nas relações de coabitação. A tutela é fundamental para que se coíba a repudiante prática de crimes desta natu-reza, mas nem sempre é justo o pleito de quem se diz vítima nessa seara.

O homem contra quem é feito pedi-do de medidas protetivas, por exemplo, pode vir a ser responsabilizado por uma acusação sem fundamento. Pelo cará-ter emergencial delas, qualquer pessoa poderá ser enquadrada como agressora pela lei em referência com a simples co-municação à polícia de um possível cri-me (geralmente ameaça, delitos contra a honra ou lesões leves). Nestes casos, tem-se levado em conta preponderante-mente o desejo da vítima – mesmo que

desacompanhado de testemunhas ou quaisquer outros elementos de prova – e as medidas acabam sendo deferidas imediatamente, cerceando-se a liberda-de do noticiado ao proibi-lo, por exem-plo, de frequentar determinados lugares ou de se aproximar da queixosa. Assim, cancela-se o ônus da prova (que deve ser de quem acusa e não de quem se defen-de) e ignora-se o contraditório (já que registro do Boletim de Ocorrência pela vítima, por si só, costuma ser visto como prova suficiente).

Embora a Lei Maria da Penha não discipline o procedimento de defesa, seu art. 13 determina a aplicação das normas dos códigos de processo civil e penal. Assim, o requerido deverá ter a oportunidade de contestar o pedido de medidas protetivas, apontando-lhe a fra-gilidade, e de indicar as provas que pre-tende produzir. O TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DO PARANÁ, inclusive, já anulou senten-ça que confirmava a medida cautelar por entender que estava mal motivada. Nos termos do voto do relator: “a r. sentença, baseou-se, tão somente, em um boletim de ocorrência que nada mais é do que um ato unilateral (...). É sabido que a concessão das medidas protetivas de urgência atra-vés de liminar, por óbvio, independe da oitiva da parte tida como agressor, dada a sua natureza. Todavia, o mesmo não ocorre durante o curso do processo” (TJPR – ACR 856952-4 – Rel. Des. MARCIO JOSÉ TOKARS). Portanto, não se pode concor-dar com o deferimento automático de medidas protetivas pautadas exclusiva-mente na palavra da vítima – sob pena de se converter um diploma legal demo-crático em um instrumento de mitigação gratuita da dignidade e da liberdade de cidadãos inocentes.

O crime de denunciação calunio-sa, previsto no art. 339 do CP, trata de falsa imputação de crime que dá causa a instauração de investigação policial, processo judicial, investigação adminis-trativa, inquérito civil ou ação de impro-bidade administrativa. Para sua configu-ração, todavia, é indispensável que os fatos atribuídos ao agente não corres-pondam à verdade e que haja certeza de sua inocência por parte do autor da acusação falsa.

Esse é o entendimento confirmado pela 6ª Turma do STJ, que trancou ação penal proposta contra advogados no julgamento do Recurso Ordinário em

Habeas Corpus nº 61334/SC. Os causídi-cos denunciaram à OAB irregularidades cometidas por juiz e promotor em audi-ência de instrução e julgamento, o que acarretou a instauração de procedimen-tos disciplinares contra ambos. O juiz e o promotor, então, ofereceram represen-tação criminal contra os advogados por denunciação caluniosa.

O relator do recurso, Ministro RO-GERIO SCHIETTI CRUZ, entendeu que a denúncia não apontava circunstâncias capazes de levar a crer que os advoga-dos tivessem narrado fatos falsos ou agido cientes da inocência dos denun-ciados. Segundo o ministro, além de a

vítima ser inocente, o denunciante deve ter a inequívoca ciência dessa inocência: “Qualquer pessoa – advogado ou não – pode representar e pedir providência em relação a fatos que afirme ilegais ou que configurem abuso de poder. Só haverá cri-me se esse direito for exercido por quem, intencionalmente, falsear os fatos, ciente de que acusa um inocente.” Do contrário, continuou o ministro, haveria o risco de cercear o próprio exercício profissional dos advogados, “(...) indispensáveis à ad-ministração da justiça, sendo invioláveis por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

9

DIREITO ADMINISTRATIVO

CGU publica cartilha de compliance para empresasFRANCISCO ZARDO

Inflação e correção monetária nas condenações judiciais

A elevação dos índices inflacioná-rios no país tem sido objeto de profun-das preocupações, o que se revela per-tinente quando se recorre aos números. No regime de metas adotado pelo BAN-CO CENTRAL o índice oficial de preços IPCA tem como centro de meta o per-centual de 4,5%, podendo variar até 2% na banda superior, o que tornaria aceitável um índice de até 6,5% ao ano. Para 2015, a expectativa é que o ín-dice feche o ano próximo a 10%, ou seja, muito acima do teto da meta definido pelo BANCO CENTRAL.

Frise-se que a inflação não é me-dida por um único índice. Os institu-tos de pesquisa adotam diferentes métodos de cálculo, cada qual cor-respondendo a uma determinada cesta de bens que melhor reflita a

composição de demanda da economia no atacado, varejo e construção civil. Daí porque o comportamento de determi-nadas variáveis não repercute de modo uniforme na composição de cada índice. Como exemplo, oscilações da taxa de câmbio tendem a impactar diretamente índices gerais de preços (IGP), dada sua relação direta com os preços no ataca-do; por sua vez, variações de preços de

serviços tendem a repercutir com maior força sobre índices de preços ao consu-midor (IPC).

Em um contexto de inflação cres-cente e generalizada na economia, a questão passa a ser relevante também para os processos judiciais. A fixação de índices em condenação judiciais para correção monetária é adotada com o fim de preservar o valor econômico

da condenação até o seu efetivo pagamento. Contudo, para que cumpra sua finalidade, o índice estipulado na condenação deve ser compatível com a sua nature-za. Caso contrário, há risco de se esvaziar a vitória obtida no méri-to da causa, pela corrosão de sua expressão monetária com o trans-curso do tempo.

ANDRÉ MEERHOLZ

No mês de setembro, a Controlado-ria-Geral da União publicou em sua pá-gina da internet (cgu.gov.br) um manual com diretrizes para a implantação de Programas de Integridade (compliance) em empresas.

A Lei nº 12.846/2013 (lei anticorrup-ção) estabelece sanções graves para pessoas jurídicas que praticarem atos lesivos contra a administração pública, tais como fraude a licitações e o ofereci-mento de vantagem indevida. A multa, por exemplo, pode variar de 0,1% a 20% do faturamento bruto. E um dos itens que será levado em consideração na de-finição do percentual será “a existência de

mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denún-cia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbi-to da pessoa jurídica” (art. 7º, VIII).

De acordo com o art. 18, V, do Decre-to nº 8.420/2015, que regulamenta a lei, a existência de um programa efetivo de integridade pode reduzir a multa em até 4% do faturamento bruto, o que permite afirmar ser esta a relevância econômica do compliance para a companhia.

Segundo o manual da CGU, os cinco pilares de um programa de integridade são: 1º Comprometimento da alta dire-ção com posturas éticas; 2º Identifica-

ção das áreas da empresa que possuem maior interação com a administração pública e que, portanto, estão mais sus-cetíveis a praticar atos lesivos; 3ª Criação de códigos de conduta e a oferta de trei-namentos aos funcionários para orienta-ção e prevenção de irregularidades; 4º Criação de um setor independente res-ponsável pela fiscalização, apuração de denúncias e sugestão de medidas disci-plinares; 5ª Monitoramento dos resulta-dos e aperfeiçoamento contínuo.

Espera-se, com tais medidas, que me-lhorem as relações entre as empresas e o poder público, em todos os aspectos.

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No último dia 5 outubro de 2015 foi publicado o Decreto Federal nº 8.538, que regulamentou o tratamento diferen-ciado e simplificado para contratação de microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores indivi-duais – MEI no âmbito da Administração Pública Federal. O novo decreto revoga expressamente o Decreto nº 6.204/2007, que até então regulava o Estatuto Na-cional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Complementar nº 123/2006).

As novidades no tratamento dife-renciado já dispensado a tais empresas incluem os seguintes privilégios: i) na hipótese de haver alguma restrição rela-tiva à regularidade fiscal, a qual somen-te será exigida para fins de contratação, será assegurado o prazo de 5 (cinco) dias úteis, prorrogáveis por igual período,

para a regularização desta documenta-ção; ii) obrigatoriedade de realização de licitações exclusivas para microempre-sas e empresas de peque-no porte quando os itens ou lotes da contratação não superem a quantia de R$80.000,00; iii) possibi-lidade dos instrumentos convocatórios exigirem a subcontratação de micro-empresas ou empresas de pequeno porte nas licita-ções para contratação de serviços e obras, sob pena de rescisão contratual e aplicação das sanções cabíveis; iv) nas li-citações pelo Sistema de Registro de Pre-ço ou por entregas parceladas, o edital deverá prever a prioridade de aquisição dos produtos das cotas reservadas às mi-

cro e pequenas empresas, salvo quando estas, justificadamente, não atenderem as quantidades e condições do pedido.

A nova norma só entrará em vigor em 5 de janeiro de 2016, razão pela qual não se aplica aos processos e instrumen-tos convocatórios publicados antes des-ta data.

Novas regras nas contratações públicas de microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores individuais – MEI

Está em trâmite no Senado Federal o Projeto de Lei do Senado nº 349/2015. Proposto pelo Senador ANTONIO ANAS-TASIA (PSDB-MG) e elaborado pelos juristas CARLOS ARI SUNDFELD e FLO-RIANO MARQUES DE AZEVEDO NETO, objetiva incluir, na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 1942), normas acerca da se-gurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do direito público.

Observando a incerteza e imprevi-sibilidade geradas pelo crescimento da legislação administrativa que regula a atuação de diversos órgãos do Estado,

propõe-se medidas que buscam neutra-lizar fatores de distorção da atividade ju-rídico-decisória pública. Isto é: o elevado grau de indeterminação de normas pú-blicas; a incerteza inerente do Direito do conteúdo da norma; a dificuldade do Po-der Público obter cumprimento voluntá-rio e rápido da obrigação por terceiros; o modo autoritário como são concebidas e editadas normas pela Administração Pública.

Dentre os dispositivos que visam blindar essas celeumas, destacam-se aqueles que: buscam inserir no âmbi-to da Administração formas de partici-

pação social (arts. 23 e 28); consagram princípios gerais a serem observados em decisões realizadas com base em normas indeterminadas (arts. 20 e 21); instituem regime de negociação entre autoridades públicas e particulares (art. 23); impedem a invalidação de atos em geral por mudança de orientação (art. 25); criam ação civil pública declaratória de validade para dar estabilidade a atos, contratos e normas administrativas (art. 24); determinam a compensação, dentro dos processos, de benefícios ou prejuí-zos injustos gerados para os envolvidos (art. 29).

Projeto de Lei visa inserir disposições sobre segurança jurídica e eficiência no âmbito do direito público

MARIA VITORIA KALED

ANA CRISTINA VIANA

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A nova Lei do direito de resposta

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No último dia 11 de novembro foi sancionada a Lei 13.188, a partir de texto-base de um projeto de lei de au-toria do Senador paranaense ROBERTO REQUIÃO.

A novel legislação contempla impor-tantes dispositivos que terão impacto na atividade jornalística. Não por outro motivo, vem recebendo duras críticas, já que para alguns, ela constituiria um gol-pe ao jornalismo investigativo.

De todo modo, a norma assegura a quem se sentir prejudicado por divulga-ção de imprensa, independentemente da plataforma utilizada – escrita, radio-fônica, televisiva ou Internet – o direito

de pleitear extrajudicialmente retrata-ção no prazo de 60 dias, a contar dessa divulgação.

Uma das inovações prevê a simetria ou paridade entre a ofensa e a resposta. Para tanto, tendo sido a ofensa em mídia escrita, por exemplo, a resposta ou reti-ficação “terá o destaque, a publicidade, a periodicidade e a dimensão” da matéria original (art. 4°, I) O mesmo ocorrerá com a ofensa televisiva ou radiofônica, para o que se atentará à duração da matéria (art. 4°, II).

A equiparação entre ofensa e retra-tação, em termos de espaço e duração, algo que historicamente não se verifica

em direitos de resposta, possui impor-tância tal que se considera inexistente a resposta caso não se observe a referida simetria (§ 3°, do art. 4°).

O projeto também estipula um prazo máximo de sete dias para que o órgão de imprensa divulgue a retratação. Caso não o faça, “restará caracterizado o inte-resse jurídico para a propositura de ação judicial.” (art. 5°). Segundo essa redação, o ofendido carecerá de interesse proces-sual caso não formule o pedido extraju-dicial previamente à propositura da ação judicial que tenha por objeto o direito de resposta.

Recentemente, o Judiciário foi inva-dido por uma enxurrada de demandas propostas por adquirentes de unidades imobiliárias, pleiteando das incorpora-doras a restituição da comissão de cor-retagem, que, por previsão contratual, é paga pelo cliente diretamente às imo-biliárias. As decisões acerca do assunto se dividem. A Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ entende pela abusividade da cobrança e condena as incorporadoras à devolução em dobro do valor. Em sentido oposto, a Turma de Uniformização dos Juizados Especiais de São Paulo firmou entendimento de que não existe abusividade na cobrança, em

virtude da livre contratação pelas partes, que apenas transferem o ônus para o comprador sem alterar o valor da com-pra do imóvel.

Essa última posição parece ser a mais correta, em vista de que a transferência do pagamento ao comprador decorre de razões fiscais e administrativas, para que a incorporadora não seja tributada du-plamente pelo recebimento de um valor de titularidade do corretor. Evidente-mente, como em qualquer negócio imo-biliário, as despesas do vendedor são acrescidas ao preço final do imóvel, ine-xistindo qualquer ônus ao comprador, que, ao final, pagaria o mesmo preço. Em outras palavras, penaliza-se o vende-

dor, por conferir clareza ao contrato, em atendimento ao dever da informação.

A questão chegou ao SUPERIOR TRI-BUNAL DE JUSTIÇA e será objeto de aná-lise e discussão no julgamento do recur-so repetitivo afetado no Recurso Especial nº 1.551.951, em razão da multiplicidade de recursos sobre o tema e da relevância da questão. Por conta disso, o Ministro Relator determinou a suspensão de to-dos julgamentos das questões idênticas nos Tribunais de Justiça e nas Turmas Re-cursais dos Juizados Especiais. Depois de definida a tese pelo STJ, ela servirá para orientar a solução de todas as demais causas, sendo inadmitidos novos recur-sos que sustentarem posição contrária.

STJ decidirá se incorporadora responde pela restituição da comissão de corretagem

JULIO BROTTO

PATRÍCIA NYMBERG

DIREITO CIVIL

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A Lei nº 12.305/2010 instituiu a Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidos, conten-do os instrumentos para permitir o avan-ço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, so-ciais e econômicos decorrentes do ma-nejo inadequado dos resíduos sólidos.

Dentre os inúmeros benefícios ad-vindos da correta destinação dos resí-duos sólidos, tem-se a possibilidade de otimização de recursos na saúde pública e a consequente melhoria na qualidade de vida das pessoas.

Com efeito, matéria veiculada no site www.epocanegocios.globo.com, de 29/09/2015, relata que o tratamento de

doenças relacionadas ao descarte inade-quado do lixo pode custar US$ 370 mi-lhões (R$ 1,5 bilhão) por ano ao sistema de saúde pública do Brasil.

O trabalho desenvolvido pela Inter-national Solid Waste Associtation (ISWA), em parceria com o Sindicato das Empre-sas de Limpeza Urbana e com a Associa-ção Brasileira de Empresas de Limpeza, destacou que as doenças ocasionadas pela destinação inadequada dos resídu-os sólidos se propagam por contamina-ção de água, solo, ar, fauna e flora.

Os dados, que foram coletados du-rante os anos de 2010 a 2014, permi-tiram a conclusão de que cerca de 1%

da população desenvolve doenças. Por consequência, “o custo para o SUS no tra-tamento destas doenças é de US$ 500 (R$ 2 mil) por pessoa”. “Nossa estimativa é de custos anuais de US$ 370 milhões por ano, totalizando US$ 1,85 bilhão (7,6 bilhões) em cinco anos”.

Daí a necessidade de se adotar me-didas para o descarte adequado dos resíduos sólidos, já que se está diante de uma questão de saúde pública, oti-mizando os recursos públicos, a fim de assegurar não só um meio ambiente equilibrado, como também a qualidade de vida – direito constitucional funda-mental de todas as pessoas.

Lei de Resíduos Sólidos: instrumento para a qualidade de vida

Os direitos decorrentes da desistência do compromisso de compra e venda de imóvel

Em recente julgado, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA confirmou posi-cionamento já adotado pela 2ª Seção quanto à viabilidade de o comprador do imóvel pedir a rescisão do compromisso de compra e venda diante da impossibi-lidade de pagar as parcelas. A questão, que chegou à análise daquela Corte através do Recurso Especial nº 121.323/MS, diz respeito aos direitos de cada par-te quando da rescisão por este motivo.

No caso, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO DO SUL entendeu possí-vel a rescisão e determinou a devolução de todos os valores pagos à compradora, com juros e correção, bem como afirmou

ser devida, em favor da construtora, uma taxa pela ocupação do imóvel apenas em relação ao período da inadimplência. Deixou, portanto, de considerar o fato de a compradora ter efetivamente usu-fruído do imóvel desde a sua entrega. A construtora recorreu justamente em re-lação a este ponto.

Analisando o caso, o MM. Relator, Mi-nistro LUIS FELIPE SALOMÃO, destacou o posicionamento do STJ sobre a possibili-dade de o comprador pedir a resolução do contrato em decorrência da incapa-cidade financeira de arcar com a dívida, sendo devida a restituição dos valores que foram pagos. Todavia, tal restituição

não deve ser integral, pois a construtora tem o direito de reter um percentual de até 25% para cobertura dos custos admi-nistrativos. Além disso, há que se estabe-lecer uma taxa de ocupação por todo o período em que o comprador permane-ceu no imóvel.

Como bem ressaltado no julgamen-to, deve-se procurar deixar as partes na situação que estavam antes do negócio. Assim, a taxa de ocupação deve incidir desde a imissão de posse do comprador, ou seja, desde o dia em que ele passou a ocupar o imóvel, até a data de sua devo-lução, sob pena de se caracterizar o seu enriquecimento ilícito.

VANESSA SCHEREMETA

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

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Após muita alternância de enten-dimentos desde a edição da Lei nº 8009/1990, que trata da impe-nhorabilidade do bem de famí-lia, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA finalmente consolidou o entendimento de que a pro-teção legal não alcança o imóvel pertencente ao fiador de contra-to de locação.

A aprovação da Súmula nº 549, no último dia 14 de outu-bro, põe fim à longa discussão que imperou em torno do tema. Se para alguns a possibilidade de penhora do bem de família

do fiador representa um inaceitável con-trassenso da Lei – já que coloca o garan-

tidor em situação pior que a do próprio devedor principal –, para outros signifi-

ca conceder a segurança necessária a um dos mais importantes instrumentos jurídicos da sociedade.

Independentemente do posicionamento que se defenda, a sedimentação da orientação é iniciativa louvável que atende às as-pirações de estabilidade e previsibilidade do direito, necessárias ao desenvolvi-mento econômico e social do país.

É válida a penhora de bem de família de fiador em contrato de locação

FERNANDO WELTER

O instituto da copropriedade ou condomínio possibilita a duas ou mais pessoas a titularidade sobre um mesmo bem. A lei confere a cada um dos con-dôminos o direito de usar, gozar, dispor e reaver a coisa de quem a detenha in-justamente. Em decorrência disso, é permitido aos condôminos alienarem a integralidade da coisa, assim como suas partes divisas ou indivisas.

Para a alienação da quota-parte, no entanto, há algumas regras que devem ser observadas, a fim de garantir o direi-to de preferência dos demais condômi-nos na aquisição do bem, nos termos do art. 504 do Código Civil. Ou seja, aquele

que pretender vender a sua parte de-verá, além de informar aos demais co-proprietários da sua intenção, oferecer a oportunidade de aquisição em prefe-rência a terceiros interessados. Essa co-municação pode se dar por interpelação judicial ou extrajudicial, desde que reste cabalmente demonstrado que esse co-nhecimento foi efetivamente dado ao seu destinatário.

Portanto, se o bem é do domínio de mais de um proprietário, deve-se reco-nhecer o direito de preferência dos de-mais condôminos, como destacado em recente decisão do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, quando do julgamento do

Recurso Especial nº 1.207.129/MG: “O condômino que desejar alhear a fração ideal de bem em estado de indivisão, seja ele divisível ou indivisível, deverá dar preferência ao comunheiro da sua aqui-sição”. Além disso, “ao conceder o direito de preferência aos demais condôminos, pretendeu o legislador conciliar os obje-tivos particulares do vendedor com o in-tuito da comunidade de coproprietários. Certamente, a função social recomenda ser mais cômodo manter a propriedade entre os titulares originários, evitando desentendimento com a entrada de um estranho no grupo.”

VANESSA CANI

O direito de preferência na alienação do imóvel comum

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Uma das principais alterações no es-tilo de vida do século XXI é a substitui-ção do dinheiro de papel pelos cartões de crédito e débito.

Tal providência é boa tanto para o consumidor, que, diante dos índices im-pressionantes de violência ganha uma forma simples de proteger seu patrimô-nio, quanto para os estabelecimentos, que têm a garantia do recebimento do valor da compra.

Contudo, como estes últimos pagam um percentual do valor da venda para as administradoras de cartão, surgiu um novo modo de cobrança que consiste na diferenciação de valores para pagamen-to em espécie e para o pagamento via cartão.

Diante desse cenário, houve grande debate acerca da abusividade, ou não, da referida prática.

Para pôr fim à discussão, a segunda

turma do STJ proferiu recente decisão na qual considera ser abusiva a diferen-ciação de preço para pagamento em di-nheiro e cartão.

Segundo informações prestadas pelo STJ, o Relator, Ministro HUMBERTO MAR-TINS, entendeu que “o estabelecimento comercial tem a garantia do pagamento efetuado pelo consumidor com cartão de crédito, pois a administradora assume in-teiramente a responsabilidade pelos riscos da venda. Uma vez autorizada a transa-ção, o consumidor recebe quitação total do fornecedor e deixa de ter qualquer obri-gação perante ele. Por essa razão, a com-pra com cartão é considerada modalidade de pagamento à vista”.

Tal posicionamento coaduna-se com o que há muito já havia estabelecido o Ministério da Fazenda por meio da Por-taria 118/94 e segue a mesma linha deci-sória traçada pela Terceira Turma do STJ,

em março de 2010, ao julgar o Recurso Especial nº 1133410/RS. O fornecedor que incorre nessa prática está sujeito a sanções administrativas, inclusive a pena de multa, a ser graduada de acordo com a gravidade da infração.

O Projeto de Lei nº 180/2013, em tramitação no Senado Federal e que aguarda o parecer da Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania, contudo, poderá prolongar a discussão. O texto propõe que seja facultado aos estabele-cimentos comerciais a concessão de des-contos em relação ao preço-base para diferentes meios de pagamento.

Portanto, a partir do momento que o estabelecimento oferece alternativa para pagamento por meio do cartão, é direito do consumidor optar pela moda-lidade que preferir, sem que haja entre elas qualquer distinção.

O dinheiro de plástico tem o mesmo valor que o de papel

A limitação do direito subjetivo dos contratos

CÍCERO LUVIZOTTO E LAÍS BERGSTEIN

Os contratos civis são interpretados em consonância com o princípio da boa--fé objetiva, disposto no art. 422 do Có-digo Civil, que impõe aos contratantes compromissos de fidelidade e coopera-ção nas suas relações. Nesse contexto, a boa-fé objetiva atinge diretamente o componente obrigacional dos contratos, podendo reduzir sua amplitude pela in-cidência do instituto da suppressio. Este instituto decorre da não observância de obrigações e direitos pelo seu titular, seja esta intencional ou não, por longo período de tempo, que gere a outra par-te a expectativa de que estas não serão exigidas em sua forma original.

Assim, a suppressio tem o condão de evitar o abuso do direito por uma das partes pela exigência atemporal de de-terminada obrigação. Destaca-se que, para sua incidência, a jurisprudência e doutrina têm apontado a necessidade de 03 (três) requisitos, a saber: a) inércia do titular do direito subjetivo; b) decur-so de tempo capaz de gerar a expecta-tiva de que esse direito não mais seria exercido; c) deslealdade em decorrên-cia de seu exercício posterior, com refle-xos no equilíbrio da relação contratual. E nesse sentido é o entendimento do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em recente julgamento no Recurso Especial

nº 1374830/SP, ao acolher a limitação do conteúdo obrigacional a despeito da autonomia da vontade e livre contrata-ção, e ao declarar a inexigibilidade de cobrança de cláusula penal frente à tá-cita tolerância do contratante ao cum-primento em menor extensão do que foi pactuado e à desleal exigência em momento posterior.

Com efeito, a conduta das partes, após a celebração de contrato, assume relevante importância nas relações jurí-dicas, a fim de identificar os efeitos e a extensão do conteúdo obrigacional dos contratos.

CAROLINE CAVET

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Tutela de evidência no novo Código de Processo Civil: celeridade e justiça

ROGÉRIA DOTTI

O novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), que entrará em vigor em 18 de março do próximo ano, prevê a possibilidade do juiz, mesmo nos casos em que não há urgência (periculum in mora), conceder uma decisão antecipa-da diante da alta probabilidade da exis-tência do direito do autor.

Trata-se da tutela da evidência, dis-ciplinada no art. 311 do novo diploma e cujas hipóteses de incidência são: a) abuso do direito de defesa ou propósito protelatório do réu; b) existência de pro-va documental e tese firmada em julga-mento de recursos repetitivos ou súmula vinculante; c) contrato de depósito com prova documental suficiente; ou d) pre-tensão amparada por prova documental

quanto aos fatos constitutivos do direito do autor a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

Essa forma de tutela antecipada (que já existia, timidamente, no sistema do Código de 1973, mas que é agora am-pliada pela nova lei) procura assegurar uma melhor distribuição do ônus do tempo no processo, garantindo a reali-zação imediata do provável direito do autor. E isso por uma simples questão de coerência, mesmo nos casos em que inexista risco de perecimento do direito.

Com efeito, diante do tempo cada vez maior para a finalização dos proces-sos, torna-se imprescindível a criação de alternativas para evitar as sensações de frustração e descrédito dos jurisdicio-

nados. Se o autor já apresentou prova suficiente quanto à existência de seu di-reito, por que fazê-lo esperar até o final do processo, tendo que suportar o tem-po das provas abusivamente requeridas pelo réu? Afinal, como muito bem des-tacou o jurista italiano VITTORIO DENTI, tratar um direito evidente e um direito não evidente de igual forma é tratar da mesma maneira situações desiguais (Un progetto per la giustizia civile, p. 259 e ss., apud MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sergio Cruz, MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil: teoria do proces-so civil, vol. 1, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 396).

A nova lei procura agora afastar essa injustiça.

Planos de saúde não precisam custear tratamento experimental, quando há cobertura de procedimento tradicional compatível com o paciente

LUIZ FERNANDO NASCIMENTO

A Lei nº 9.656/1998, que dispõe so-bre os planos e seguros privados de saú-de, prevê que as cirurgias e os tratamen-tos experimentais não estão inseridos no rol de cobertura mínima obrigatória fixado no plano de referência normatiza-do pela ANS.

Apesar dos planos de saúde reprodu-zirem essa disposição legal em seus con-tratos, o que na prática os desobrigaria de cobrirem tratamentos e medicamen-tos experimentais, há inúmeras decisões judiciais que flexibilizam essa restrição e compelem as operadoras a custeá-los, sob o fundamento de que o plano de saúde não pode discordar da prescrição médica e escolher o tratamento tradicio-nal para o paciente.

Entretanto, essas decisões devem

se compatibilizar com a recente evolu-ção da jurisprudência do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ (Apelação Cível nº 1359336-3, J. 11/06/2015) e do SUPE-RIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Recurso Es-pecial nº 1279241/SP, DJe 07/11/2014), que superou a antiga discussão sobre a impossibilidade do plano escolher o tra-tamento para o paciente. Sob a ótica das modernas concepções da boa-fé objetiva e da função social con-tratual, a nova jurisprudência entende que a flexibilização dos contratos e da legislação só pode ocorrer quando inexistir trata-mento convencional compatível com o paciente, ou quando este tenha sido ineficaz e o procedi-mento experimental indicado

pelo médico seja a última alternativa co-nhecida para a cura.

Não se nega, portanto, o direito à saú-de. Defende-se, apenas, que na hipótese de existir tratamento tradicional com co-bertura integral e perspectiva de respos-ta satisfatória, não pode o paciente optar pelo experimental às custas da segurado-ra ou operadora de plano de saúde.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Dano moral por descumprimento de acordo judicial

Participação de parte em audiência de conciliação via skype

FERNANDA PEDERNEIRAS

THAIS GUIMARÃES

Em inédita atuação, o Juiz da 2ª Vara de Família e das Sucessões de São José dos Campos/SP realizou, via skype (vídeo em tempo real através do computador), uma audiência de conciliação em ação que tramitava desde o ano de 2010.

O alto grau de litigiosidade entre as partes, que pleiteavam a guarda e a re-gulamentação de visitas à filha, incenti-vou o Magistrado a utilização dos meca-nismos modernos de comunicação para facilitar a finalização do processo.

No caso, a genitora passou a residir em Natal/RN e, mesmo tendo outorga-do procuração com poderes específicos para celebração de acordo, não havia

autorizado sua procuradora a celebrar qualquer composição. Contudo, em ra-zão da distância, a parte não tinha con-dições financeiras de comparecer ao ato.

A sugestão da participação da geni-tora ocorreu em audiência e prontamen-te foi acolhida pelo Magistrado, com a presença do Ministério Público. Com esta possibilidade, as partes transigiram quanto à guarda e convívio paterno, com a consequente extinção do processo.

Conforme notícia do site www.ib-dfam.org.br, o Julgador salientou que “a realização da audiência na tentativa de conciliação via skype serviu para en-fatizar que, mais importante que o ape-

go ao excessivo formalismo, a atividade fim do Judiciário é a obtenção da pacifi-cação social”.

Em que pese tal utilização seja ex-ceção, é respaldada pelos princípios da celeridade e economia processuais. Por-tanto, em inúmeros processos em que as partes estão impossibilitadas de compa-recer ao ato designado, ou até mesmo nas hipóteses em que não se sentem confortáveis na presença da parte adver-sa, principalmente nas ações do Direito de Família, a utilização de videoconferên-cia pode viabilizar a composição e deve ser incentivada pelo Poder Judiciário.

A indenização por danos morais no direito de família ainda é vista com cer-ta reserva pela doutrina e jurisprudência brasileiras, quer pela resistência em se identificar uma responsabilidade civil neste âmbito, quer pela pouca simpatia com a ideia de monetarização das rela-ções familiares.

Por outro vértice, não se ignora que o princípio da boa-fé objetiva é aplicável a todas as formas de relações civis, não só as negociais. Assim, também entre os en-tes familiares é imposto o dever de não adotar condutas contraditórias às expec-tativas geradas ao outro. Não é razoável defender que a reparação financeira pela prática de uma conduta antijurídica não

seja considerada indenizável somente porque oriunda de uma relação familiar.

Atento às peculiaridades do caso, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GE-RAIS deu provimento à apelação inter-posta pela ex-esposa, condenando o ex-marido ao pagamento de indeniza-ção pelos danos morais a ela causados em decorrência do descumprimento de acordo de separação judicial (Apelação nº 1.0525.14.011785-0).

Nos termos do acordo, celebrado em audiência de conciliação, o recorrido fi-cou responsável por regularizar a docu-mentação do imóvel a ele destinado na partilha de bens, para o fim de excluir a ex-esposa do contrato de financiamento

celebrado com o banco.Todavia, o ex-marido não só deixou

de tomar as providências necessárias para a regularização do contrato, como também não efetuou o pagamento das parcelas de financiamento, o que acar-retou a inclusão do nome da ex-esposa nos cadastros restritivos de crédito.

Em julgamento unânime, o Tribunal entendeu ter restado plenamente confi-gurado o dano moral pela conduta cul-posa do ex-marido no descumprimento do acordo judicial, condenando-o ao pagamento de R$ 7.880,00, equivalente a 10 salários mínimos.

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

1717

O pacto antenupcial/contrato de convivência como instrumento de prevenção de conflitos familiares

DIANA GEARA

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

CRÔNICAS DE UM ESTAGIÁRIO

Dia de julgamento no Tribunal, o Pre-sidente da sessão pede a proteção do Grande Arquiteto do Universo, indaga se há retificação da ata da sessão anterior, anuncia os feitos que serão adiados, os que têm pedido de acompanhamento e, por fim, os que serão objeto de sustenta-ção oral. Advogados, em seus melhores trajes, estão a postos, com as mãos nas pernas, aguardando que o togado infor-me, pelo número da pauta, o feito que será julgado.

Neste dia, quando eu aguardava o julgamento do processo que iria acom-panhar, foi chamado à tribuna um advo-gado de meia idade, cabelos grisalhos e terno marrom, que havia se cadastra-do para a sustentação oral. Ainda com as mãos nas pernas explicou que sua advocacia era “simples”, pois veio do in-

terior do estado e queria apenas fazer alguns apontamentos. O Presidente da sessão perguntou o porquê dele não estar trajado com a beca. Um tanto en-vergonhado, o causídico informou que não sabia da exigência da beca, ao que o Desembargador respondeu dizendo que os advogados já utilizavam a beca naquele tribunal há quase um século. Outro advogado, compadecido com a situação do colega de classe, emprestou sua “farda” e, desajeitado, o causídico do interior subiu à tribuna. Este advogado não fez uma sustentação oral como as que costumam ser feitas, ele esponta-neamente contou um “causo”, a história do seu cliente e dos autos. Ao terminar, a relatora de seu processo disse que o voto anteriormente minutado era contra o que foi sustentado, mas pela bela ex-

posição do “causo”, a togada iria adiar o julgamento para estudar melhor a causa.

Na semana seguinte voltei à sessão para acompanhar meu feito que tam-bém foi adiado e encontrei, novamen-te, o “advogado do interior”. Convocado novamente à tribuna, a relatora profe-riu seu voto, agora favorável ao doutor interiorano, sendo acompanhada pelo revisor e pelo vogal. Ela ressaltou que a sustentação do patrono do interior foi excelente e mostrou um ponto nodal que havia passado despercebido em sua primeira análise do caso.

Por fim, como estagiário que cami-nha rumo à formação como advogado, percebi que o bom advogado precisa, dentre outros atributos, ser um bom contador de histórias, além de conhecer muito bem os autos.

DAVID EDSON DOS SANTOS | Acadêmico do 3º ano da PUC/PR

Uma tendência da constitucionaliza-ção do direito civil é respeitar a individu-alidade das múltiplas formas de família, e mais, permitir que a família seja um locus de afeto.

O direito tem, então, respeitado cada vez mais a autonomia dos entes familia-res, não só no sentido de permitir a plu-ralidade familiar, mas também para fins de respeitar as escolhas dos cônjuges/companheiros.

Neste sentido, a utilização do pacto antenupcial (para os casamentos) e do contrato de convivência (para as uniões estáveis) é, sem dúvidas, viável não ape-nas para a escolha do regime de bens do

casal (o que reflete igualmente nos di-reitos sucessórios), mas, também, para o exercício da liberdade contratual.

Assim, percebe-se a gradativa aceita-ção dos tribunais nacionais, com base na consolidação da doutrina, no sentido de que podem os casais, em exercício de au-tonomia de vontade e sem desrespeitar normas de ordem pública, também con-vencionar (em seus pactos antenupciais/escrituras públicas) cláusulas de cunho não patrimonial, que regerão suas rela-ções familiares, bem como a finalização delas, como, por exemplo: a forma de contribuição do casal nas despesas fami-liares; o pagamento de multa em casos

de traição; a compensação financeira de um dos cônjuges/companheiros no caso de separação; a convenção de que as questões patrimoniais do casal deve-rão ser resolvidas através de arbitragem e até mesmo a definição de quem ficará com os animais de estimação do casal quando da separação.

Portanto, tal como uma sociedade empresarial, na qual os sócios refletem e convencionam antecipadamente como serão as regras de convivência e eventu-al dissolução, a prévia reflexão e pactu-ação destas questões nas relações fami-liares é medida eficaz para prevenção de conflitos.

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A ALIENAÇÃO PARENTAL E OS REFLEXOS DA LEI Nº 12.318/2010

Cada vez mais constante nos casos de dissolução conjugal litigiosa e de disputa de guarda no Brasil, a alienação parental pode ser definida como trans-torno psicológico no qual a criança ou o adolescente vem a ter sua relação com o genitor não guardião comprometida ou

deteriorada em razão de uma ação abu-siva do genitor guardião.

A fim de coibir essa prática com mais veemência, foram indicadas, na Lei nº 12.318/2010, suas mais frequentes hi-póteses de incidência, tais como a des-qualificação do alienado no exercício da autoridade parental, a criação de dificul-dade de contato deste com a prole, e a apresentação de falsa denúncia por par-te do alienante.

Em síntese, com o intuito de melhor averiguar a ocorrência desta prática e preservar o interesse da criança, a ino-vação legal possibilitou aos magistrados uma maior interação com profissionais das áreas da psicologia e serviço social como forma de aproximação com a reali-dade exposta no caso concreto.

Verifica-se que as formas de alienação previstas na lei são exemplificativas, ou

seja, seu rol não é exaustivo. Assim, outros atos praticados diretamente pelo genitor ou com auxílio de terceiros, poderão ser constatados pelo juiz ou por perícia, en-sejando as sanções determinadas.

Neste sentido, o não fornecimento de informações relevantes sobre o infan-te ao genitor que não exerce a guarda, hipótese prevista na lei, não é única for-ma de alienação por omissão, uma vez que muitas vezes a conduta passiva do genitor alienante pode induzir o infante a demonstrar um comportamento nega-tivo frente ao genitor alienado.

Deste modo, há de se atentar ao fato de que a alienação parental possui tama-nha complexidade que demanda todo o cuidado dos magistrados e de sua equi-pe multidisciplinar, para que não se limi-tem às modalidades previstas na Lei nº 12.318/2010.

MATHEUS AMARAL MOCELIN | Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL E O SISTEMA CARCERÁRIO

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ajuizou a Arguição de Descumpri-mento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 347 no STF, pleiteando o reconheci-mento de violação dos direitos funda-mentais da população carcerária, bem como requerendo que seja imposta ao Poder Público a adoção de providências para reparar essas lesões. Esta ação é co-nhecida como Estado de Coisas Inconsti-tucional, pelo fato de abordar diversas infrações ao sistema carcerário brasilei-ro, em especial as superlotações, revistas invasivas e demais fatos observados no cotidiano prisional.

A Norma Inconstitucional diferencia-

-se do Estado de Coisas Inconstitucional, porque este indica descumprimento de princípios constitucionais, ao passo que aquela indica uma falha do legislador em respeitar a Constituição.

Não ocorreu somente o reconhe-cimento da inconstitucionalidade. No dia 9 de setembro de 2015, houve de-ferimento parcial da medida cautelar da ação, acarretando a aprovação de dois pedidos dos oito propostos: a audiência de custódia e a proibição do contingen-ciamento do Fundo Penitenciário. O pri-meiro pedido exige uma audiência em até 24 horas após a prisão em casos de flagrante, e o segundo determina a apli-

cação do fundo de construção e amplia-ção dos presídios.

Com relação ao aspecto de lotação prisional, o STF manteve-se inerte. Este ponto não deixa de ser essencial. No entanto, espera-se que o julgamento de-finitivo da ação compreenda as demais violações de direitos dentro do sistema carcerário, assim promovendo o diálogo entre os poderes e contribuindo na ela-boração de um plano a nível nacional para superar esse “Estado de Coisas In-constitucional”, tendo em vista que preci-samos cada vez mais sanar os obstáculos que desrespeitam a nossa Constituição.

GUSTAVO CEZAR VIEIRA | Acadêmico do 2º ano da Faculdade da Indústria (IEL)

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CRIMES DE RESPONSABILIDADEDAFNE HRUSCHKA E LARISSA ROSS | Acadêmicas do 3º Ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Estando o processo de Impeachment em voga no cenário político atual, sur-gem questionamentos sobre a quem compete julgar tal procedimento, e ainda, se seria o crime de responsabili-dade que provoca o Impeachment uma conduta explicitamente mencionada no Código Penal Brasileiro. Ou seja, seria, de fato, um crime?

Os crimes de responsabilidade co-metidos pelo Presidente da República estão previstos na Constituição Federal e na Lei nº 1079/1950. Tais condutas de-lituosas, quando comprovadas, desen-cadeiam o processo de Impeachment. Julgado procedente o pedido, seriam aplicadas as penas de perda do cargo e inabilitação de até oito anos para o exercício de qualquer função pública, impostas exclusivamente pelo Senado Federal, conforme previsto no parágrafo único do art. 52 da Constituição Federal Brasileira. 

A diferença, portanto, entre o crime

de responsabilidade e os crimes comuns está na competência para o julgamento. Os crimes previstos no Código Penal são julgados pelo Poder Judiciário, enquan-to os de responsabilidade serão discuti-dos junto ao Poder Legislativo. 

Vale lembrar, no entanto, que existe no Código Penal um rol de crimes contra a administração pública, mais especifi-camente aqueles praticados por funcio-nário público, que também são crimes de responsabilidade, porém, cuja com-petência cabe ao judiciário brasileiro. O exemplo mais co-mum é o peculato, delito no qual o fun-cionário público se apropria indevida-mente de dinheiro, valores ou bens mó-veis dos quais tenha posse em razão de seu cargo. A diferen-

ça está tanto em quem comete o delito, quanto no tipo de crime de responsabi-lidade que está sendo discutido. 

Conclui-se, assim, que a conduta que em tese originaria procedimento de Im-peachment pode, de fato, ser entendida como um crime (embora não no sentido tradicional dos crimes comuns) e o ob-jetivo de sua existência no ordenamen-to jurídico está relacionada, em geral, à proteção do bem-estar social e do inte-resse público.

A RAZOABILIDADE NA PRISÃO PREVENTIVA

O Código de Processo Penal, em seu art. 312, prevê a possibilidade da decretação de prisão preventiva como uma medida cautelar. Ela poderá ser utilizada “como uma garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conve-niência da instrução criminal, ou para as-segurar a aplicação da lei penal”, ou seja, quando a liberdade do acusado colocar em risco qualquer um desses aspectos do processo.

Contudo, houve uma omissão do le-gislador quanto ao estabelecimento de um limite de duração para a prisão pre-

ventiva. Isso é preocupante, haja vista que a liberdade do acusado (um direito fundamental) ficará indeterminadamen-te cerceada, o que abre espaço para ar-bitrariedades que não devem existir em um processo penal democrático.

Justamente, a fim de remediar essa situação, o STF, adotando jurisprudên-cia da Corte Interamericana de Direitos Humanos, estabeleceu critérios para a verificação do prazo razoável da prisão preventiva. Destacam-se: a complexi-dade da causa (o número de partes no processo e o número de incidentes pro-

cessuais); a atividade processual dos su-jeitos do processo (regular atuação das partes); a condução do processo pela Justiça (se houve, ou não, inércia do po-der público).

Deste modo, para que não haja ex-cesso de prazo, é necessária a verifica-ção desses critérios em concordância com a razoabilidade, assegurando-se, assim, que o acusado não venha a cum-prir, antecipadamente, uma condena-ção que ainda esteja sendo contestada por recurso.

ORLEI BONAMIN NETO | Acadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Tel. 41 3306 8000 | Fax 41 3306 8008 www.dotti.adv.br | [email protected] / Novembro / Dezembro / 2015

Ano 10 | Número 30

Tiragem: 1.800 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Comunicare

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.

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