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Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1
O circuito Paraíba – Madeira – Maranhão: as trajetórias de João de Abreu
Castelo Branco e de Francisco Pedro de Mendonça Gorjão na
administração colonial (1722-1751)1
Fabiano Vilaça dos Santos
Universidade Candido Mendes
Introdução
Inserido em um projeto de investigação para o doutoramento, iniciado em 2003, sobre
as trajetórias dos administradores coloniais que atuaram no Estado do Grão-Pará e Maranhão,
entre 1751 e 1780, este trabalho é um desdobramento da análise do perfil dos agentes
recrutados pela Coroa para o governo das capitanias do Norte da América portuguesa (Pará,
Maranhão, Piauí e Rio Negro) naquele período.2
O objetivo dessa nova fase de investigações é dar prosseguimento à configuração dos
traços do conjunto dos capitães-mores, governadores e governadores-gerais do Estado do
Maranhão e seus sucedâneos, no século XVIII, considerando-se a origem familiar, a
formação, as experiências e deslocamentos no Real Serviço, as alianças no âmbito da Corte,
as conexões no espaço ultramarino, além dos mecanismos de remuneração que se efetivaram
na carreira de cada um dos agentes.
Este trabalho, em particular, privilegia as trajetórias de dois governadores e capitães-
generais do Estado do Maranhão, João de Abreu Castelo Branco e Francisco Pedro de
Mendonça Gorjão, que realizaram um triplo percurso no cenário das conquistas ultramarinas,
configurando deslocamentos em sucessão mútua, únicos na trajetória dos governantes do
Estado do Maranhão. As experiências de ambos na administração colonial começaram na
capitania da Paraíba, como capitães-mores, seguindo-se o governo da Ilha da Madeira e,
finalmente, o do Maranhão.
1 Esta comunicação apresenta uma nova proposta de investigação, desdobramento do projeto de que originou
minha tese de doutoramento, defendida em 2008 no PPGH da Universidade de São Paulo, publicada sob o título
O governo das conquistas do norte: trajetórias administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-
1780), São Paulo, Annablume, 2011. 2 F. SANTOS, O governo... cit, pp. 47 segs.
Fabiano Vilaça dos Santos
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Os personagens
As informações pessoais de João de Abreu Castelo Branco são bastante escassas.
Nascido na cidade de Bragança3 em data que não se conhece ao certo, construiu sua carreira
militar entre a província natal de Trás-os-Montes, a Beira, o Sul da Espanha e a Catalunha,
tendo servido em vários postos da Cavalaria, desde 1704, quando assentou praça de soldado,
recrutado pelo conde de São João da Pesqueira, até 1720. Nesse período, principalmente
durante a Guerra da Sucessão Espanhola, participou de diversas campanhas, a exemplo da
tomada das praças de Alcântara, Badajóz e Balaguer. Distinguiu-se, como ficou registrado em
sua carta patente para o governo da Paraíba, na Batalha de Almanza, em 1707, “na qual foi
ferido de um bote de baioneta que tapando o sangue com ataduras foi continuando a peleja
com grande desprezo da sua vida”.4
Descontado o excesso retórico comum às narrativas dos feitos de armas da nobreza,
cumpre ressaltar, contudo, que Castelo Branco foi apontado como “sendo das principais
famílias daquela província [de Trás-os-Montes]”5 quando assentou praça de soldado. Por
outro lado, a participação digna de nota na Batalha de Almanza não ficou restrita à carta
patente de 1721. Uma Relação dos governadores do Pará e do Maranhão, desde a sua
fundação até 1783, mais uma vez realçou o valor daquele episódio na carreira de João de
Abreu Castelo Branco em um campo denominado “apêndices em serviços e ações”, em que
foram anotados os préstimos mais relevantes dos administradores nomeados para o Estado do
Maranhão.6
Entre o fim do governo da capitania da Paraíba, em 1729, e a indicação para
governador e capitão-general da Madeira, em 1733, João de Abreu Castelo Branco
permaneceu cerca de quatro anos no Reino e recebeu algumas distinções: a carta do Conselho
de Sua Majestade7 e o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo
8, tendo sido, possivelmente
3 Segundo a carta do título do Conselho de Sua Majestade, de 7 de agosto de 1733, quando foi nomeado
governador e capitão-general da Ilha da Madeira. Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo (doravante
IANTT), Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 24, fl. 345 e Chancelaria de D. João V, livro 82, fls. 343v-
344. 4 IANTT, Chancelaria de D. João V, livro 60, fls. 3-3v.
5 Idem, fl. 3.
6 Biblioteca da Ajuda, 54-XI-27, nº 17, Relação por mapa dos governadores capitães-generais e dos capitães-
mores que governaram o Maranhão e Pará; e depois esta última distinta e separadamente até 1783, fl. 25. 7 IANTT, Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 24, fl. 345 e Chancelaria de D. João V, livro 82, fls. 343v-
344. 8 IANTT, Chancelaria da Ordem de Cristo, livro 101, fls. 106v-107v (Carta de hábito, Alvará de profissão e
Alvará de cavaleiro da Ordem de Cristo, de 8 de abril de 1734) e livro 221, fls. 255-256 (Carta de padrão de
tença de 12 mil réis a título do hábito).
O circuito Paraíba – Madeira – Maranhão: as trajetórias de João de Abreu Castelo Branco e de
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão na administração colonial (1722-1751)
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dispensado das provanças para habilitação.9 Por outro lado, as mercês obtidas antes da partida
para a Madeira podem ter sido concedidas em satisfação de um requerimento fundamentado
nos mais de dois triênios na Paraíba ou na própria nomeação para a nova comissão, como
outrora haviam feito tantos outros indivíduos, segundo estudos de Mafalda Soares da Cunha,
concentrados no período da União Ibérica (1580-1640), barganhando concessões régias para
aceitar um encargo na administração ultramarina.10
João de Abreu Castelo Branco permaneceu na Ilha da Madeira até 1737, cumprindo o
triênio para o qual fora nomeado. No mesmo ano, passou a São Luís para assumir o cargo de
governador e capitão-general do Estado do Maranhão11
, que ocupou por dez anos, findos os
quais retornou a Portugal. Faleceu em 1º de março de 1748 e foi sepultado, de acordo com
notícia colhida na Gazeta de Lisboa por Manoel Barata, na Igreja de Santo Estevão de
Alfama, “metido em um rico caixão dentro do carneiro sotoposto ao altar da capela-mor”. Um
dado que, diante da escassez de informações sobre o personagem, indica que possuía certa
distinção social.12
Sobre Francisco Pedro de Mendonça Gorjão as informações biográficas são mais
alentadas. Nascido por volta de 1685, na Quinta da Freiria, freguesia da Roliça, provinha de
uma família radicada havia gerações no termo de Óbidos, com destaque para Bombarral, onde
nasceu grande parte de seus antepassados. Seus pais, Francisco Gorjão Henriques e D. Ana
Maria Osório, eram primos, uma vez que Bernardo Gorjão Henriques e Duarte Vaz Dorta,
avós de Mendonça Gorjão, eram irmãos, filhos de outro Francisco Gorjão Henriques. Pelo
menos três gerações da família usufruíam o foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real, incluindo
Mendonça Gorjão e seus irmãos.13
O pai do militar era ainda cavaleiro professo na Ordem de
Cristo e familiar do Santo Ofício (neste caso, desde 1682).14
A carreira das armas fazia parte da tradição dessa família, oriunda da província da
Estremadura. Depois de ter sido despachado por seus primeiros serviços, praticados até 1692,
9 O processo de habilitação de João de Abreu Castelo Branco não foi encontrado. A falta das provanças,
verificada igualmente em Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, pode ser explicada por uma prática identificada
no final do reinado de D. João V, identificada por Fernanda Olival, quando “foram esporadicamente introduzidas
as dispensas de habilitações”. As ordens militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal
(1641-1789), Lisboa, Estar Editora, 2001, pp. 206 segs. 10
Mafalda Soares da CUNHA, “Governo e governantes do império português do Atlântico (século XVII)” in
Maria Fernanda BICALHO & Vera Lúcia Amaral FERLINI (orgs.), Modos de governar: idéias e práticas
políticas no império português, séculos XVI a XIX, São Paulo, Alameda, 2005, pp. 73. Ver também Mafalda
Soares da CUNHA, “Redes sociais e decisão política no recrutamento dos governantes das conquistas, 1580-
1640” in João FRAGOSO & Maria de Fátima GOUVÊA (orgs.), Na trama das redes: política e negócios no
império português, séculos XVI-XVIII, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010, pp. 130 segs. 11
IANTT, Chancelaria de D. João V, livro 129, fls. 78-78v. 12
Manoel BARATA, Formação histórica do Pará, Belém, Universidade do Pará, 1973, pp. 46-47. 13
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. Pedro II, livro 11, fls. 235-236. 14
IANTT, Habilitações do Santo Ofício, maço 16, nº. 474.
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Francisco Gorjão Henriques recebeu a mercê de uma tença de 100 mil réis em remuneração
de seus segundos serviços, realizados no Presídio de Peniche até 1696, e dos préstimos de um
seu irmão, Pedro Taveira Henriques, no Oriente, em Armadas enviadas ao Estreito, na
companhia de D. Antonio de Melo e Castro (1662-1666), vice-rei da Índia, em viagens que
este fizera aos portos de Meca, Mascate e Congo, e no apresamento de embarcações inimigas
nestes portos e em Diu. Pedro Taveira também acompanhou outro vice-rei, D. Rodrigo da
Costa (1686-1690), em combate na região de Pate, praça da costa oriental da África, do qual
saiu ferido à bala.15
Seguindo a tradição familiar de serviços militares, Francisco Pedro de Mendonça
Gorjão atuou em Peniche, em Lisboa, no Alentejo – de onde provinha parte dos antepassados
de sua mãe16
–, além da Catalunha e de outras praças envolvidas na Guerra da Sucessão
Espanhola. Lutou possivelmente ao lado de João de Abreu Castelo Branco, pois diversos
feitos de armas relacionados na carta patente que nomeou Mendonça Gorjão capitão-mor do
Pará – indicação, ao que tudo indica, substituída pela Paraíba – são os mesmos encontrados na
patente de Castelo Branco. Suas ações, contadas de 1706 até 1727, nos postos de soldado a
capitão de Cavalaria, incluem combates à coligação franco-espanhola em Alcântara, Moraleja,
Cidade Rodrigo, estando presente em Madri quando da aclamação de Carlos III como rei de
Espanha. Também provou seu valor na Batalha de Almanza, na qual “ficou gravemente ferido
e não obstante o perigo de sua vida prosseguiu a marcha a Tortosa donde se impediu o passo
ao inimigo no Rio Ebro”.17
A guerra, portanto, forma um elo inevitável nas trajetórias de João de Abreu Castelo
Branco e de Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, reafirmando a sua nobreza por meio de
seus atos heroicos. Conforme ressaltou Fernando Dores Costa, ao analisar o ofício das armas
como um elemento indissociável da formação e da condição dos fidalgos, privilegiando
setores mais elevados da nobreza que ocupavam os postos de comando militar. Ainda que
Castelo Branco e Mendonça Gorjão não pertencessem aos estratos mais seletos da nobreza,
trechos de suas primeiras patentes para a governança colonial ilustram uma ideia expressa por
Dores Costa. Segundo o historiador, mesmo após as grandes conquistas dos séculos XV e
XVI e a Guerra da Aclamação, “as narrativas sobre os feitos militares – que tanto quanto
possível deveriam incluir episódios de bravura, em situações de risco, os indivíduos
15
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. Pedro II, livro 11, fl. 310. 16
IANTT, Habilitações do Santo Ofício, maço 16, nº. 474. D. Ana Maria Osório nasceu na vila de Atouguia,
mas alguns de seus antepassados eram naturais da vila de Beja, no Baixo Alentejo. 17
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 20, fls. 133-134.
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Francisco Pedro de Mendonça Gorjão na administração colonial (1722-1751)
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ostentando nesses momentos o seu desprezo pela morte – continuaram a ter papel crucial nas
crônicas das Casas”.18
Mas, além da partilha de vivências no campo de batalha, João de Abreu Castelo
Branco e Francisco Pedro de Mendonça Gorjão se inseriam em outro campo de ação, no
âmbito dos territórios coloniais, para onde suas experiências deveriam ser convertidas.
Primeiro na capitania da Paraíba, depois para a Ilha da Madeira – para onde Mendonça Gorjão
foi enviado depois de receber, como seu antecessor, o título de membro do Conselho de Sua
Majestade e o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo.19
É de notar que, aparentemente, o
governo da Madeira constituiu um desvio na trajetória dos dois agentes, uma vez que
deslocamentos da Paraíba para o Estado do Maranhão já haviam ocorrido antes.
Da Paraíba ao Maranhão (séculos XVII e XVIII)
Em sua História da América portuguesa, de 1730, Sebastião da Rocha Pita deixou o
seguinte registro sobre a articulação entre determinados postos da administração colonial:
“este lugar [a capitania da Paraíba] têm ocupado pessoas de suposição e serviços, que a ele
passaram de grandes postos; e muitos deste governo foram ao do Estado do Maranhão e a
outras ocupações militares de reputação, para as quais foi sempre degrau competente o
governo da Paraíba.20
As palavras do cronista não deixam dúvida quanto à existência de uma conexão entre
o governo da Paraíba e o do Estado do Maranhão que, por sua vez, representaria uma
promoção para os que haviam passado pela primeira. Do ponto de vista da conquista do
território e de sua defesa contra invasores estrangeiros e índios hostis, a Paraíba possui uma
história similar à do Maranhão e mesmo à do Pará.
O cronista João de Barros, primeiro donatário da Paraíba, encontrou dificuldades para
colonizar o território, o que levou a Coroa a transferir para Frutuoso Barbosa, no final do
século XVI, a missão de promover a ocupação daquelas terras. Mas teve que vencer a
18
Fernando Dores COSTA, “A nobreza é uma elite militar? O caso Cantanhede-Marialva em 1658-1665” in
Nuno Gonçalo MONTEIRO; Pedro CARDIM & Mafalda Soares da CUNHA (orgs.), Optima Pars. Elites ibero-
americanas do Antigo Regime, Lisboa, ICS; Imprensa de Ciências Sociais, 2005, pp. 172. 19
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 20, fls. 133v-134. IANTT, Chancelaria da Ordem de
Cristo, livro 196, fls. 277v-279 (Carta de hábito, Alvará de profissão e Alvará de cavaleiro da Ordem de Cristo,
de 29 de maio de 1737). Sobre a inexistência do processo de habilitação, ver nota 9. 20
Sebastião da Rocha PITA, História da América portuguesa, desde o ano de 1500 do seu descobrimento até o
de 1724, Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1976, pp. 57. Grifo nosso.
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resistência dos índios potiguares, aliados aos franceses contrabandistas de pau-brasil.21
Esses
dois elementos são comuns à conquista da Paraíba e do Maranhão e fazem parte de um quadro
mais amplo, sintetizado por John Russell-Wood: nos idos de 1567, os súditos de Carlos IX
liderados por Villegaignon foram expulsos da Baía da Guanabara, frustrando-se o projeto da
França Antártica, e “depois de uma década de intensa atividade francesa, durante a qual foi
fundada São Luís (1594) no Maranhão e ocupada a Paraíba, os franceses acabaram por se
render, em 1615”.22
Apesar dessas semelhanças no processo de conquista e consolidação da soberania
portuguesa, não é possível aceitar sem reservas a enfática constatação de Rocha Pita de que
foram “muitos” os que passaram do governo da Paraíba ao do Estado do Maranhão. Salvo
outros ofícios régios, no que diz respeito à função governativa, poucos foram os agentes que
realizaram tal deslocamento.
No século XVII, o caso de Antonio de Albuquerque ilustra a articulação entre os dois
governos, embora de modo inverso. “Empregado na conquista” do Maranhão, foi nomeado
capitão-mor pelo pai, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, tomando posse em 1618 e
governando apenas um ano. De volta a Portugal, Antonio de Albuquerque recebeu, em
recompensa pelos serviços prestados na expulsão dos franceses, uma comenda e o posto de
capitão-mor da Paraíba.23
Uma observação se faz necessária: em 1618, o Estado do Maranhão
e Grão-Pará ainda não existia como unidade administrativa – criada somente em 1621 –,
sendo o Pará e o Maranhão capitanias separadas. Considerando-se apenas os indivíduos que
poderiam ter servido de referência a Rocha Pita, apurou-se que apenas um esteve na Paraíba
antes do Maranhão, no século XVII: Inácio Coelho da Silva, capitão-mor de 1670 a 1673.24
Três governadores quase se sucederam nos governos da Paraíba e do Estado do
Maranhão no século XVIII. O primeiro foi João da Maia da Gama. Assim como Castelo
Branco e Mendonça Gorjão, Maia da Gama foi militar da Cavalaria, lutou na Guerra da
Sucessão Espanhola e saltou das fileiras da tropa para o governo da Paraíba, que exerceu de
21
S. PITA, História..., cit., pp. 56. Ver também Robert SOUTHEY, História do Brasil, tradução de Luís
Joaquim de Oliveira e Castro, Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 1981, vol. 1, pp. 251-252. 22
A. J. R. RUSSELL-WOOD, Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia e América (1415-
1808), tradução de Vanda Anastácio, Lisboa, DIFEL, 1998, pp. 43. O historiador considera o ano de 1594 como
o da fundação de São Luís. De fato, a presença francesa remonta àquela data, quando, segundo Jaime Cortesão,
os invasores transformaram a ilha de São Luís em “base naval de todos os flibusteiros franceses”. Jaime
CORTESÃO, História da expansão portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1993, pp. 390.
Contudo, a data mais aceita para a fundação da cidade é 1612. 23
Biblioteca da Ajuda, 54-XI-27, n.º 17, Memória das pessoas que desde o princípio da conquista governaram as
duas capitanias, do Maranhão e Grão-Pará, 1783, fl. 2. 24
Guilherme Gomes da Silveira d’Ávila LINS, Governantes da Paraíba no Brasil colonial: uma revisão crítica
da relação nominal e cronológica (1585-1808), 2ª ed., João Pessoa, Edições Fotograf, 2007, pp. 84-85.
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1708 a 1717.25
Neste ano, voltou a Portugal e retornou à América em 1722 para assumir o
Estado do Maranhão, à frente do qual permaneceu seis anos. A comissão representou o ápice
de sua trajetória, a recompensa de todos os seus préstimos, e o último posto que ocupou no
Real Serviço, após um malfadado requerimento de 1712 para governar Pernambuco, Rio de
Janeiro ou Minas Gerais, mercê de seu ardoroso – e tido como inoportuno – auxílio militar a
Pernambuco durante a Guerra dos Mascates.26
Entre 1722 e 1729, a Paraíba foi governada por João de Abreu Castelo Branco, que
esteve na Madeira entre 1733-1734 e três anos depois tomou posse em São Luís como
governador e capitão-general do Estado do Maranhão.27
Enquanto Castelo Branco governava
a Madeira, o capitão-mor da Paraíba era Francisco Pedro de Mendonça Gorjão (1729-1734),
que veio a ser o sucessor de Castelo Branco na Madeira (1737-1747) e no Estado do
Maranhão (1747-1751).28
Diante do exposto, não é difícil mostrar a fragilidade das anotações de Rocha Pita. A
começar pelas datas. Se a História da América portuguesa veio a público em 1730 e abrangia
fatos ocorridos até 1724, jamais poderia dar conta, completamente, dos deslocamentos de
João de Abreu Castelo Branco, de Francisco Pedro de Mendonça Gorjão e de João da Maia da
Gama.
A Paraíba, por outro lado, não era dos postos governativos mais atraentes da América
portuguesa. Economicamente frágil, conforme evidenciaram as pesquisas de Mozart Vergetti
de Menezes, possuía uma Fazenda deficitária e constantemente incapaz de atender a
necessidades básicas e indispensáveis ao funcionamento da capitania, como o pagamento das
folhas de serviços e o sistema defensivo. Uma situação que perdurou de meados do século
XVI até o século XVIII, quando, em 1756, a progressiva dependência econômica em relação a
Pernambuco levou a Coroa a transformar a Paraíba em capitania subalterna.29
25
Fabiano Vilaça dos SANTOS, “Da Paraíba ao Estado do Maranhão: trajetórias de governo na América
portuguesa (séculos XVII e XVIII)” in Revista de História, 161 (2009), pp. 65. 26
F. SANTOS, “Da Paraíba... cit., pp. 63-67. 27
Fernando Augusto da SILVA & Carlos Azevedo de MENESES, Elucidário madeirense, 2ª ed., Funchal,
Tipografia Esperança, 1940-1946, vol. 1, pp. 261. 28
M. BARATA, Formação... cit., pp. 47. Ver também F. SILVA & C. MENESES, Elucidário... cit., vol. 2, pp.
97. O Elucidário não fornece muitos dados sobre Francisco Pedro de Mendonça Gurjão. Apenas diz que os
muitos serviços prestados à monarquia foram registrados em sua lápide, na Capela da Quinta de São Lourenço,
de sua propriedade, e que o mesmo faleceu aos 83 anos. “Catálogo dos governadores e presidentes da província
da Paraíba do Norte”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. 1, vol. 8, 1846,
pp. 81. Um sumário das gestões de João da Maia da Gama, de João de Abreu Castelo Branco e de Francisco
Pedro de Mendonça Gurjão pode ser encontrado em Antônio Ladislau Monteiro BAENA, Compêndio das eras
da província do Pará, Belém, Universidade Federal do Pará, 1969, pp. 144 segs. 29
Mozart Vergetti de Menezes. “Sonhar o céu, padecer no inferno: governo e sociedade na Paraíba do século
XVIII” in Maria Fernanda BICALHO & Vera Lúcia Amaral FERLINI (orgs.), Modos de governar: ideias e
práticas políticas no império português, séculos XVI a XIX, São Paulo, Alameda, 2005, pp. 327-340. Um rápido
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De outro modo, ao longo do século XVIII, o número de “fidalgos” que ocuparam o
governo da Paraíba aumentou em relação ao período que vai de finais do século XVI ao início
do XVIII, de acordo com dados apurados e classificados por Nuno Gonçalo Monteiro e
Mafalda Soares da Cunha, enquanto o número de “nobres” não sofreu grande alteração.30
Entre a Paraíba e o Maranhão, um desvio pela Ilha da Madeira
Da forma como foi exposta a conexão acima, ainda que não tenham sido muitos os
indivíduos que a realizaram, fica claro que o governo do Estado do Maranhão representou
uma via de ascensão em relação a capitanias de menor relevo, como a Paraíba. E, no circuito
aqui privilegiado, representou também o ápice da carreira de Castelo Branco e Mendonça
Gorjão depois de passarem pela Madeira. Deve-se levar em conta que, entre 1737 e 1747,
quando desembarcaram em São Luís, assumiram uma capitania-geral, “cabeça” do Estado,
tendo o Pará como subalterno. Essa situação só se modificou em 1751, quando ocorreu a
inversão para Estado do Grão-Pará e Maranhão, com sede em Belém, embora os titulares do
Maranhão recebessem patente de governador e não de capitão-mor, tal como na época em que
o Pará foi subalterno.31
Mas, como se insere nesse circuito o governo da Ilha da Madeira?
Uma das primeiras conquistas portuguesas no século XV, a Madeira fazia parte de um
eixo de intensas trocas comerciais, que envolvia ainda os arquipélagos dos Açores e de Cabo
Verde, interligando a África, a Europa e diferentes parte da América.32
Em termos da
conquista e colonização, sublinhou Miguel Jasmins Rodrigues que a expansão portuguesa em
direção aos arquipélagos atlânticos – excetuando-se São Tomé e Príncipe – transformou-os
em “um espaço de fixação do séquito dos senhores” da Casa dos Viseu Beja – que teve nos
infantes D. Henrique e D. Fernando dois expoentes – congregando elementos com diferentes
graus de nobilitação. A pequena nobreza, grupo difícil de caracterizar por suas clivagens e
pela ausência de dados que permitam dar contornos seguros aos seus representantes, era
exame da documentação avulsa do Arquivo Histórico Ultramarino é capaz de evidenciar a grande preocupação
com a melhoria do aparato defensivo da capitania, especialmente da Fortaleza do Cabedelo, como no tempo de
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão. Elza Régis de OLIVEIRA, Mozart Vergetti de MENEZES & Maria da
Vitória Barbosa LIMA (orgs.). Catálogo dos documentos manuscritos avulsos referentes à capitania da
Paraíba, existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, João Pessoa, Ed. Universitária, 2002, pp. 117
segs. 30
M. CUNHA, “Governo... cit., pp. 92. N. MONTEIRO, “Governadores... cit., pp. 103 e 115. 31
F. SANTOS, O governo... cit., “Parte 1: O espaço da ação governativa”. 32
A. RUSSELL-WOOD. Um mundo... cit. pp. 62-63 e 98.
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formada, em geral, por gente ligada ao senhorio da terra, ao exercício do poder concelhio ou
ao ofício militar. A ela coube a tarefa de levar a cabo a expansão portuguesa no Atlântico.33
Por outro lado, a relação entre as ilhas da costa ocidental da África e as conquistas do
Norte da América portuguesa remonta ao início do século XVII. Ao longo da centúria, a
Coroa incentivou a ida de colonos açorianos para povoar territórios da América portuguesa,
como o Pará e o Maranhão. Em estudo recente, Rafael Chambouleyron articulou a formação
do Estado do Maranhão ao circuito atlântico, envolvendo especialmente as ilhas da Madeira,
Açores e Cabo Verde, importantes fornecedoras de povoadores, escravos e soldados. Como
na época da invasão holandesa a São Luís, na década de 1640, ou nos idos de 1690, quando
franceses assolavam as terras do Cabo do Norte e a Coroa demandou esforços para enviar
soldados da Madeira para o Estado do Maranhão.34
Ao longo do século XVIII, a cidade do Funchal se consolidou como “importante
centro internacional de comércio”, fortalecendo interesses mercantis britânicos instalados na
ilha no século XVII, após o casamento da infanta portuguesa D. Catarina com Carlos III da
Inglaterra.35
Os interesses correntes naquele circuito foram benéficos, por exemplo, aos
negócios de Duarte Sodré Pereira, governador e capitão-general da Madeira entre 1704 e
1712. Além de participar de uma rede de comércio que articulava diferentes pontos do
Império português, o “fidalgo-mercador” – como é conhecido – cuidou em fortificar a ilha e
em manter seu sistema defensivo bem municiado36
, uma vez que sua administração coincidiu
quase inteiramente com a Guerra da Sucessão Espanhola.
O episódio, momento privilegido para que a nobreza lusitana demonstrasse o seu
valor, está claramente associado ao recrutamento dos agentes no circuito em análise, e muito
possivelmente para outras partes do Império português. Mas, o que importa ressaltar é a
necessidade de rever algumas generalização sobre o perfil dos governantes. Para o autor de
uma História da Madeira, da década de 1990, “o governador e capitão-general da Madeira era
recrutado no quadro geral da nobreza de Corte”. Disse ainda que “embora sempre da nobreza
senhorial, raras vezes eram titulares”, salvo o caso do 4º conde de São Miguel, que recebeu o
33
Miguel Jasmins RODRIGUES, “Nas ilhas de Cabo Verde: a pequena nobreza na construção do império
atlântico português” in Canoa do Tempo, Revista do Programa de Pós-graduação em História da Universidade
Federal do Amazonas, vol. 2, nº. 1, 2008, pp. 64-71. Do mesmo autor há uma abordagem mais aprofundada,
voltada para a experiência da ocupação portuguesa do arquipélago da Madeira no período da dinastia de Avis.
Organização dos poderes e estrutura social: a Ilha da Madeira, 1460-1521, Cascais, Patrimonia, 1996. 34
Rafael CHAMBOULEYRON, “A Amazônia colonial e as ilhas atlânticas” in Canoa do Tempo, Revista do
Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Amazonas, vol. 2, nº. 1, 2008, pp. 187-204. 35
Rui CARITA, História da Madeira, vol. 4: o século XVIII – arquitetura de poderes, Funchal, Secretaria
Regional de Educação, 1996, pp. 27-30. 36
Maria Júlia de Oliveira e SILVA, Fidalgos-mercadores no século XVIII: Duarte Sodré Pereira, Lisboa,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992, pp. 17 segs.
Fabiano Vilaça dos Santos
10 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011
título um ano antes de inciar sua administração, e de outros que se titularam depois, como
Manuel de Saldanha de Albuquerque, conde da Ega, e João Antonio de Sá Pereira, barão de
Alverca.37
Não se pode esquecer que, no século XVII, pelo governo da Madeira também
passaram indivíduos de reconhecida fidalguia, como João de Saldanha de Albuquerque,
familiar do Santo Ofício38
, D. Lourenço de Almada, depois governador de Angola e do
Estado do Brasil, e D. Rodrigo da Costa, antes vice-rei da Índia e mais tarde também
governador-geral do Estado do Brasil.
Nesse sentido, a constatação de que foram raros os titulares que assumiram o governo
da Madeira parece correta, mas ainda é necessária certa reserva quanto à afirmação enfática
de que eram “sempre da nobreza senhorial”. Esta caracterização se aplica perfeitamente a
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão e ao próprio Duarte Sodré Pereira, contudo, no estágio
atual da investigação, não serve a João de Abreu Castelo Branco, que pode constituir uma
exceção – acompanhada eventualmente de outras – à regra.
Ao menos na primeira metade do século XVIII, os governos da Madeira e de outras
praças, como Mazagão, Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão estavam articulados a uma
complexa teia de relações sociais que envolvia membros da elite senhorial e o Conselho
Ultramarino. Resta averiguar se João de Abreu Castelo Branco e Francisco Pedro de
Mendonça Gorjão estavam inseridos no círculo de relações esboçado a seguir, ou se
simplesmente receberam a comissão apenas pela experiência no manejo das armas na Guerra
da Sucessão Espanhola.
A teia pode ser desfiada a partir da sucessão de Duarte Sodré Pereira, que recaiu em D.
Pedro Álvares da Cunha.39
Do Conselho de Sua Majestade, trinchante-mor, senhor do
morgado e Casa de Tábua, Alcaide-mor da vila de Ouguela e comendador da Ordem de
Cristo, era irmão mais velho de D. Luís da Cunha. O matrimônio uniu D. Pedro e sua
descendência a pelo menos duas famílias da nobreza senhorial: a dos senhores de Pancas,
representada à época por Cristóvão da Costa Freire, e à do próprio Duarte Sodré Pereira,
senhor dos morgados de Águas Belas e Tibaus.40
D. Pedro Álvares da Cunha casou-se em
primeiras núpcias com Inês Maria de Melo, filha de Cristóvão da Costa Freire. Militar da
Cavalaria, o senhor de Pancas foi governador do Estado do Maranhão (1707-1718) e
37
R. CARITA, História... cit., pp. 40-41. 38
IANTT, Habilitações a Familiar do Santo Ofício, maço 15, nº. 407. 39
M. SILVA, Fidalgos-mercadores... cit., pp. 27-31 (nota 97). 40
Felgueiras GAYO, Nobiliário das famílias de Portugal, Braga, Edições Carvalhos de Basto, 1989, vol. IV, pp.
146 e 603. D. Antonio Caetano de SOUZA, História genealógica da Casa Real Portuguesa, 2ª ed., Coimbra,
Atlântida, 1946, vol XI, pp. 494 e vol. XII, pp. 30.
O circuito Paraíba – Madeira – Maranhão: as trajetórias de João de Abreu Castelo Branco e de
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão na administração colonial (1722-1751)
Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 11
indicado, em 1723, para o Rio de Janeiro41
, falecendo no ano seguinte sem assumir a
capitania. Viúvo, D. Pedro Álvares da Cunha casou-se com D. Maria Teresa de Vilhena, filha
de D. Antonio de Meneses, alcaide-mor de Sintra.42
Uma das filhas desse consórcio, D.
Teresa Heliodora de Meneses da Cunha, veio a se casar, em 1738, com Antonio José Sodré
Pereira, primogênito de Duarte Sodré Pereira.43
A teia de relacionamentos tinha em Cristóvão da Costa Freire outro personagem
importante, não só pela articulação entre os governos do Estado do Maranhão e do Rio de
Janeiro, mas também porque sua irmã, D. Briolanja Henriques, era casada em segundas
núpcias com André Lopes de Lavre, secretário do Conselho Ultramarino.44
É bem possível
que este vantajoso casamento estivesse por trás da nomeação do senhor de Pancas para o
governo do Rio de Janeiro e de seu filho segundo, Francisco da Costa Freire, para capitão-
general da Madeira, em 1724.45
Por fim, uma filha de D. Briolanja Henriques e André Lopes
de Lavre, D. Maria Antonia Henriques, teve como segundo marido D. Manuel Rolim de
Moura46
, capitão-general do Estado do Maranhão (1702-1705), governador de Mazagão
(1713-1719) e de Pernambuco (1722-1727), sendo sucedido nos dois últimos cargos por
Duarte Sodré Pereira.
O círculo de relações envolvendo Cristóvão da Costa Freire, D. Pedro Álvares da
Cunha, Duarte Sodré Pereira e sua respectiva parentela é revelador de conexões entre postos
governativos com diferentes graus de importância no Império português. Se a Madeira
representou uma espécie de desvio nos percursos de João de Abreu Castelo Branco e de
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, haja vista a existência prévia de um circuito Paraíba –
Maranhão, os governos de certas unidades (Rio de Janeiro, Pernambuco e Mazagão, por
exemplo) também ajudaram a delinear circuitos alternativos nas trajetórias de outros agentes,
cujos sentidos devem ser estudados.
41
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 15, fl. 274. 42
F. GAYO, Nobiliário... cit., vol. IX, pp. 226 e vol. X, pp. 563. 43
M. SILVA, Fidalgos-mercadores... cit., pp. 31. 44 A. SOUZA, História... cit., livro XIII, pp. 51-52. Sobre a influência dos Lopes de Lavre no Conselho
Ultramarino, há um trabalho da professora doutora Maria Fernanda Bicalho (UFF), ainda não publicado,
intitulado “Ascensão e queda dos Lopes de Lavre, secretários do Conselho Ultramarino”, apresentado no III
Colóquio Internacional Raízes do Privilégio: hierarquia e mobilidade social no mundo ibérico do Antigo
Regime (Rio de Janeiro, Brasil, 22 a 25 de junho de 2009). Ver, da mesma autora, “As tramas da política:
conselhos, secretários, e juntas na administração da monarquia portuguesa e de seus domínios ultramarinos” in J.
FRAGOSO & M. GOUVÊA (orgs.), Na trama... cit., pp. 356-365. 45
IANTT, Registro Geral de Mercês, D. João V, livro 15, fl. 495. 46
A. SOUZA, História... cit., pp. 52.
Fabiano Vilaça dos Santos
12 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011
Considerações finais e propostas para investigação
As vias de promoção no Real Serviço não obedeciam, portanto, simplesmente à
observância do tirocínio militar ou a uma suposta lógica de deslocamentos na administração
colonial, como seria fácil atribuir ao circuito Paraíba – Madeira – Maranhão. É preciso
considerar o contexto histórico em que as indicações foram feitas, o papel fundamental de
instituições – como o Conselho Ultramarino – e as relações pessoais no âmbito da Corte na
escolha dos servidores régios. Tal como na perspectiva conceitual das “redes governativas”.47
Os próximos passos da investigação darão conta da conjuntura europeia na segunda
metade do século XVIII, sobretudo a fase posterior à Guerra da Sucessão Espanhola e seus
reflexos nos domínios ultramarinos. Serão observadas: as linhas de força da diplomacia
portuguesa no reinado de D. João V, as políticas coloniais adotadas no período, com destaque
para o circuito aqui privilegiado – atentando-se para a articulação com outros destinos no
ultramar.
Até o presente, os contornos biográficos dos dois servidores régios considerados
indicam diferenciações nos níveis de pertencimento à nobreza. Oriundo de uma província
afastada da Corte, o transmontano João de Abreu Castelo Branco pertence, ao que tudo
indica, à pequena nobreza, graças aos feitos memoráveis no campo de batalha. Não há, no
momento, dados seguros que comprovem a sua fidalguia ou a sua vinculação a uma elite
provincial.48
Por sua vez, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão era membro de uma família
senhorial da Estremadura, portador de insígnias que o identificavam com a fidalguia, como o
foro de fidalgo cavaleiro, e outras verificadas em seus parentes próximos, a exemplo do
hábito da Ordem de Cristo e da carta de Familiar do Santo Ofício.
A presente comunicação procurou, no estágio atual da investigação, delinear os perfis
biográficos dos dois personagens e identificar os principais contornos de sua circulação na
administração colonial. Uma análise da realidade da colonização da Paraíba, do Estado do
Maranhão e da Ilha da Madeira (levando-se em conta, neste caso, a situação de Machico e de
Porto Santo) também se faz necessária para reforçar o sentido dos percursos de João de Abreu
Castelo Branco e de Francisco Pedro de Mendonça Gorjão. Essa incursão poderá permitir,
ainda, avaliar a experiência adquirida pelos governadores no exercício da administração e até
47
Para uma abordagem do conceito de “rede” em termos historiográficos e teórico-metodológicos, ver M.
CUNHA, “Redes... cit., pp. 119-125.
48
Para uma caracterização da elite provincial portuguesa, ver Nuno Gonçalo MONTEIRO, Elites e poder: entre
o Antigo Regime e o Liberalismo, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais; Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa, 2003, pp. 76-77.
O circuito Paraíba – Madeira – Maranhão: as trajetórias de João de Abreu Castelo Branco e de
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão na administração colonial (1722-1751)
Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 13
que ponto esta serviu à resolução de problemas e situações que se apresentaram em sua
circulação pelo Império português.49
49
Refiro-me à ideia de que a circulação de governadores no Império português permitiu-lhes o acúmulo de
informações e a constituição de uma visão mais alargada do Império ultramarino”, além de “uma compreensão
acerca da diversidade dos problemas enfrentados, bem como da similitude de situações e de estratégias”. João
Luís Ribeiro FRAGOSO, Maria de Fátima Silva GOUVÊA & Maria Fernanda Baptista BICALHO, “Uma
leitura do Brasil colonial - bases da materialidade e da governabilidade no império”, Penélope, n.º 23, 2000, pp.
83.