o cinema na prÁtica pedagÓgica de histÓria · antes de buscar as respostas para estas questões,...
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O CINEMA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DE HISTÓRIA
Autora: Maria Aparecida Miranda1
Orientador: Flávio M. M. Ruckstadter2
Resumo
O presente artigo trata do uso didático de obras cinematográficas nas aulas da disciplina de História. É notável como, atualmente, um grande número de professores se valem desse recurso em suas aulas. O propósito do trabalho desenvolvido foi compreender o cinema como uma importante ferramenta e recurso de ensino na educação básica, trabalhando de forma direta com os professores da disciplina de História. Procuramos participar com a introdução de mudanças de concepção sobre o trabalho a ser efetivado com obras cinematográficas nas salas de aula. Isto se revelou ser muito útil, pois, em grande parte do tempo, na Escola trabalhada, o filme é visto somente como passatempo, não sendo abordado em suas possibilidades pedagógicas. Levando em consideração que o cinema compartilha de uma rica e extensa rede da indústria midiática, sua função na formação do indivíduo é ardilosa e contínua, já que as obras são consumidas consideravelmente. A pesquisa desenvolveu uma ação direta e continuada com os professores da disciplina de História, na qual foram eleitos filmes, preparados roteiros, sendo essas ações aplicadas em sala de aula. O objetivo foi observar e explorar os filmes relacionados com os conteúdos da disciplina, de maneira decisiva e reflexiva, compreendendo-os como condutores de ideias, opiniões e valores que devem ser admitidos e observados. Assim, com uma ação direta com os professores da disciplina de História buscamos interceder em sua formação, cooperando com a construção e uso de métodos pedagógicos expressivos a partir do uso do filme como recurso de ensino. Palavras chave: Ensino de História; Obras Cinematográficas; Indústria Midiática; Prática Docente.
1 Graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju – SP; especialista em
História pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho – PR; especialista em Gestão de Sistema Educacional pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC. Atua como como professora na Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva - EF, no município de Carlópolis, PR. 2 Doutor em Educação. Docente do Centro de Ciências Humanas e da Educação – Colegiado de
História – Universidade Estadual do Norte do Paraná / Campus de Jacarezinho (UENP-CJ).
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1 Introdução
“Trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sistematizados numa mesma obra de arte...”
(Marcos Napolitano)
A educação, frente à evolução tecnológica, tem se deparado com grandes
dificuldades quanto às práticas metodológicas ao implantar as novas tecnologias
presentes na atual fase virtual do ensino. Contudo, é importante fazer uma avaliação
sobre como são usadas as mídias que circulam na escola, como por exemplo: o
rádio, o computador, a televisão, jornais, fotografias e, em especial, o cinema,
enquanto meios para trabalhar os conteúdos didáticos da disciplina de História.
Assistir filmes nas aulas de História proporciona ao aluno momentos de reflexão
diante do processo de cognição, o que possibilita instituir relações com a vivência de
cada indivíduo e a seus propósitos. É importante que o professor de História
suplante a falta de habilidade para trabalhar com a linguagem audiovisual e busque
uma melhor qualificação para lidar com as novas mídias tecnológicas, visando a
compreensão das mudanças e o crescente papel dos meios de comunicação.
O tema o cinema na prática pedagógica de História, aqui discutido,
concentra-se na utilização de novas tecnologias no ensino da disciplina de História.
O artigo se justifica pela importância dessa temática para o desenvolvimento das
aulas de História, fazendo uma articulação entre a tecnologia digital e a cultura
existente na escola, propiciando o contato dos alunos com produtos da cultura
cinematográfica, midiatizada pelas novas tecnologias, cada vez mais presentes na
sociedade contemporânea, permitindo acesso a um número crescente de pessoas.
De modo específico, a questão principal gira em torno do cinema. De que
forma o filme cinematográfico facilita o trabalho do professor de História em sala de
aula? Quais as metodologias que devem ser utilizadas por esse recurso? São
algumas perguntas que buscamos responder no decorrer da pesquisa. Contudo,
antes de buscar as respostas para estas questões, percebemos ser concernente
evidenciar, mesmo que de forma breve, alguns pontos diretamente ligados ao rumo
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da disciplina de História, com a função de entender o significado do que é “fazer”
História e como a associação de novos elementos de estudo incidiu no campo das
pesquisas historiográficas, especificamente, na utilização da imagem e, ainda, na
utilização da imagem animada e harmoniosa.
Esta pesquisa foi implantada no município de Carlópolis, localizado na
região Norte do Estado do Paraná, na Escola Estadual Profª Hercília de Paula e
Silva – EF, ressaltando que a intenção foi estabelecer uma relação entre o cinema e
a prática pedagógica. A metodologia utilizada foi o levantamento de material
empírico, um roteiro de entrevista de caráter exploratório, triangulando informações
com perguntas dirigidas para os três segmentos: alunos, professores e equipe
pedagógica. Também foi efetivada uma revisão bibliográfica que serviu como suporte
necessário para o desenvolvimento da problemática proposta e a análise do material
coletado no decorrer da pesquisa.
Ainda, como processo metodológico, foram exibidos filmes, articulando a
projeção, efetivando debates a partir do cinema e de suas diversas possibilidades
educativas, entre convidados palestrantes, alunos e professores da escola. Esses
debates após a exibição dos filmes serviram como método de avaliação do projeto,
juntamente com uma ficha de acompanhamento apresentada como um roteiro de
análise com questões básicas para a compreensão da proposta do filme.
O artigo está estruturado em seis seções, incluindo a introdução e a
conclusão. A segunda trata da relação dos recursos audiovisuais com a educação.
Mostra como surgiram as novas tecnologias, quais são elas e como exercem
influência na melhoria da qualidade do ensino. A terceira apresenta os tipos de filmes
trabalhados nas aulas de História, diferenciando os documentários dos filmes de
ficção. A quarta discute como o professor deve trabalhar o filme em sala de aula,
desde o ambiente propício para a exibição da obra, até a real compreensão dos
principais pontos relacionados ao conteúdo proposto. A quinta descreve a
implementação do projeto na escola com o passo a passo necessário para o
sucesso do trabalho com filmes.
Para Ferro (1989), o cinema figura entre elementos de estudos dos
historiadores, a partir da década de 1970, sob a visão não de uma obra de arte, e
sim como uma imagem-objeto que tinha sentidos que iam além da abrangência
cinematográfica. Assim, pesquisar e entender uma obra cinematográfica seria o
mesmo que descobrir as analogias existentes na obra propriamente dita; ponderar,
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sobretudo, o cenário, a narrativa, o texto, as semelhanças do filme com o que não é
filme: a produção, o autor, o público, a produção, o regime, a crítica. Tendo em vista
estas suposições, além da obra cinematográfica, a realidade socioeconômica,
política e cultural que a procedeu durante o seu processo de constituição também
precisaria ser motivo de estudo e de compreensão.
2. A RELAÇÃO DOS RECURSOS AUDIOVISUAIS COM A EDUCAÇÃO
Atualmente a escola vem se apropriando e disponibilizando de condições
oportunas para o incremento do trabalho pedagógico com o cinema nas aulas de
história. No entanto, é importante lembrar que o cinema não é uma mídia nova e o
que realmente se configura como novidade é a condição da educação, na
atualidade, de utilizar de forma sistemática os recursos audiovisuais no processo
pedagógico. Assim, Duarte afirma que:
[...] o crescimento vertiginoso das tecnologias da informação nas últimas duas décadas acentuou o interesse pelos meios de comunicação e trouxe a televisão, o vídeocassete e os computadores para dentro da prática pedagógica. Nos últimos anos, observa-se, que a educação diante da evolução tecnológica, vem enfrentando diversos dilemas em torno das possibilidades de práticas metodológicas ao inserir as “novas” tecnologias presentes na contemporânea era virtual no ensino. Dilemas que a didática, como teoria e prática do processo de ensino-aprendizagem, precisa responder com estudos e pesquisas enfocando o uso da tecnologia na prática pedagógica. Ao trazer para dentro do ambiente escolar essas novas tecnologias, que pretendem motivar o processo de ensino-aprendizagem, elas estarão efetivamente propiciando oportunidades de criatividade e inovação, que se acreditam potencializadas a partir do uso criterioso dos recursos digitais? (2002, p.87).
Alguns estudos mostram que as tecnologias podem exercer influência na
melhoria da qualidade do ensino, especialmente aquelas que revelam seu conteúdo
através da imagem. Segundo Napolitano (2003, p.68), por exemplo, o trabalho com
filmes em sala de aula auxilia a escola no reencontro da cultura, pois o cinema é o
campo onde o lazer, a estética, a ideologia e os valores sociais se sistematizam
numa mesma obra de arte. Contudo, é necessário avaliar a forma como são
empregadas as obras cinematográficas que circulam na escola enquanto meios de
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transmissão dos conteúdos didáticos de História: (...) filmes e documentários são
registros importantes que enriquecem nossa formação e as atividades de ensino e
aprendizagem de história. (FONSECA, 2003, p. 185).
Na atualidade as “novas linguagens” estão se destacando nas escolas e o
seu uso não se dá somente para motivar os alunos, mas também, como afirma
Napolitano (2005, p. 149) para tentar “atualizar” a concepção de documento
histórico, incluindo-se neste campo as imagens (paradas e/ou em movimento,
produzidas pela sociedade. Para o autor é evidente que essas “novas linguagens”
não vão resolver os problemas didático-pedagógicos da escola. Elas não surgem
como a fórmula salvadora da História. Não basta introduzir as novas linguagens no
trabalho pedagógico. É preciso articular as atividades pedagógicas tracionais a
essas novas linguagens. As atividades desenvolvidas por meio de obras
cinematográficas tornam possíveis abandonar processos didáticos tradicionais de
memorização em que os alunos se limitam a decorar inúmeras páginas de
conteúdos. Porém é preciso que o professor esteja capacitado para trabalhar com
essas mensagens.
Nesse sentido, os professores vêm incorporando um diversificado número de fontes e problemas na tentativa de evitar a exclusão e a simplificação operadas pelos livros didáticos. A incorporação do cinema, numa perspectiva interdisciplinar, tem possibilitado a abordagem e o debate de diferentes concepções de história e geografia na sala de aula. Isso, sem dúvida, concorre para desenvolver nos alunos o interesse pelas disciplinas, como ciências em construção, no seio das quais convivem leituras divergentes acerca da realidade social em diferentes tempos e espaços (FONSECA, 2003, p. 179).
É possível, hoje, presenciar nas escolas um grande número de recursos
tecnológicos à disposição dos professores a fim de que haja maior qualidade das
aulas e seus métodos didáticos. Porém, como já citado anteriormente, é necessário
que estes saibam se utilizar desses instrumentos. É necessário que se capacitem
para tal, como lembra Bittencourt (2004, p. 372): Que métodos de leitura têm sido
empregados na análise dessa produção feita para um público diverso e
transformada em material de aprendizagem?
Uma das preocupações de nosso trabalho é verificar se a relação entre a
recepção e a mensagem audiovisual é consequência direta da cultura, dos valores
individuais, das experiências adquiridas, da história de vida de cada um e das
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leituras dos alunos e/ou espectadores frente às produções fílmicas. Pois
acreditamos que a recepção é diferente para cada aluno. Salienta-se a importância
de expor diversas imagens na prática pedagógica de História, oportunizando aos
alunos um ambiente agradável em sala de aula. Ao compreender que esta dinâmica
pode exercer influência direta no hábito e no gosto do aluno em frequentar o cinema,
Duarte lembra que:
(...) ir ao cinema, gostar de determinadas cinematografias, desenvolve os recursos necessários para apreciar os mais diferentes tipos de filmes etc., longe de ser apenas uma escolha de caráter exclusivamente pessoal, constitui uma prática social importante que atua na formação geral das pessoas e contribui para distingui-las socialmente. Em sociedades audiovisuais como a nossa, o domínio dessa linguagem é requisito fundamental para se transitar bem pelos mais diferentes campos sociais. (2002, p. 14)
É fundamental que o professor tenha clareza dos limites próprios da
linguagem cinematográfica. É inviável reduzir a obra cinematográfica a uma simples
ilustração ou, ainda, desejar que ela transmita de modo objetivo e sistematizado um
determinado conteúdo.
A fim de ressaltar a importância do cinema Fresquet (2005, p.56) afirma que:
não estamos apenas apreendendo informações, e sim agitando sentimentos,
ativando a curiosidade e, quem sabe, até mobilizando novas buscas e significação
para a própria vida.
O surgimento da necessidade de se ler e reler o mundo partindo das mais
variadas linguagens oferecidas pelo cinema, difunde o acesso à cultura e favorece
reflexões sobre as questões históricas, filosóficas e sociais. Duarte (2002, p. 17)
ressalta que ver filmes, é uma prática social tão importante, do ponto de vista da
formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura das obras literárias,
filosóficas, sociológicas e tantas mais. Esta afirmativa ajuda na compreensão sobre
o desenvolvimento das relações dos indivíduos com as imagens procedentes da
linguagem fílmica.
Ao manifestar os diálogos existentes entre comunicação e educação que
abrangem a linguagem cinematográfica, Duarte faz referência ao “gostar de um
filme” e afirma que:
(...) gostar significa saber apreciar os filmes no contexto em que eles foram
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produzidos. Significa dispor de instrumentos para avaliar, criticar e identificar aquilo que pode ser tomado como elemento de reflexão sobre o cinema, sobre a própria vida e a sociedade em que se vive. Para isso, é preciso ter acesso a diferentes tipos de filmes, de diferentes cinematografias, em um ambiente em que essa prática seja compartilhada e valorizada (2002, p. 89).
A utilização do filme nas aulas de História pode se transformar num
excelente recurso didático. Porém, assistir a um filme somente como forma de
entretenimento, sem que haja a mediação do professor, não manifesta o contexto
histórico nele contido, pois, como afirma Sorlin (1994, p. 84), [...] a imagem não fala.
Sem comentários, uma imagem não significa rigorosamente nada, e podemos
imaginar qualquer coisa, dependendo da nossa fantasia, quando a vemos.
Também Ferro lembra que ao analisar um filme é necessário que se faça
uma relação com o meio em que foi produzido. O autor diz que o filme:
(...) está sendo observado não como uma obra de arte, mas sim como uma produto, uma imagem objeto, cujas significações não são somente cinematográficas. Ele não vale somente por aquilo que testemunha, mas também pela abordagem sócio-histórica que autoriza (FERRO, 1992, p. 87).
Dessa maneira, é imprescindível que os alunos sejam críticos e façam uma
reflexão dos filmes que assistem como complementos dos conteúdos das aulas de
História, pois a sociedade atual vem sendo bombardeada pelos meios de
comunicação que se aparelham com imagens que têm como finalidade atingir o
espectador. Tais imagens descrevem e manifestam valores que, consequentemente,
resultam em conceitos sociológicos, ideológicos ou econômicos. Logo, conhecer
essas imagens significa compreender as variadas possibilidades de visão crítica e
de reflexão sobre tudo aquilo que se vê e ouve. É necessário pesquisar novos
métodos, que estão sendo implementados nas escolas, para compreender como a
educação pelo olhar vem se firmando no sentido de se ter condições de interpretar
criticamente as mensagens trazidas pelo cinema, de entender a linguagem
audiovisual.
2.1 As novas tecnologias utilizadas na escola
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Por muito tempo, o universo da educação se sustentou na transmissão oral
e escrita do saber, tornando o universo das imagens um tanto quanto distante. A
escrita assegurou-se como fonte natural e incontestável do conhecimento. Coube ao
professor, uma função solitária e igualmente indiscutível de difusor das informações.
O aluno não passava de um observador inerte, que não fazia parte da construção do
conhecimento.
Observa-se, nas últimas décadas, uma transformação nesse
comportamento, cujo motivo pode estar associado à chegada dos modernos meios
de comunicação inseridos de forma ativa no dia a dia do mundo moderno, resultando
numa transformação não somente de comportamento, mas de ações como um todo.
Introduzir as novas tecnologias em sala de aula é uma dessas importantes ações.
O uso da linguagem audiovisual na educação sugere debates constantes. O
principal se constitui sobre o uso crítico das imagens e sua viabilidade no processo
de ensino-aprendizado. O cinema, a televisão e a Internet, meios de entretenimento
e de comunicação de intenso consumo atualmente, fundamentam discussões e
críticas acerca do método correto de utilização das informações difundidas por essas
tecnologias e, cada vez mais, com maior velocidade. É notória a importância da
linguagem das imagens nos atuais métodos de aprendizagem e isso faz do
audiovisual um importante acessório da educação. O aluno não pode ser tratado
somente como um simples espectador. Com a introdução das novas tecnologias, ele
pode determinar, juntamente com o professor, uma ligação entre o que ouve e o que
vê.
Contudo, o emprego das novas mídias é, ainda, um evento em pleno
desenvolvimento. Existe certa desconfiança em tornar essas mídias presentes nas
escolas. Acreditamos que isso aconteça devido ao demasiado apego a técnicas
tradicionais, principalmente à escrita que ainda tem grande importância como
elemento superior e, muitas vezes, à difusão oral e ao uso de fotografias. Aliás,
existe a dúvida sobre o que é difundido pela mídia e o teor ideológico da
programação, isto é, os professores pensam ser prejudicial e excessivamente inútil a
utilização do audiovisual em sala de aula pelo fato de não vislumbrar nele um
acessório construtivo no sistema educacional, uma vez que, como afirma uma
professora entrevistada, “não existe nada que se aproveite na programação diária
das mídias tecnológicas”.
Assim sendo, notamos que alguns professores da Escola Hercília, fazem
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uso limitado dos recursos audiovisuais. Os filmes acabam por se tornar ferramentas
de difusão automática do conhecimento, despojados de exame crítico, o que acaba
por servir a um fim oposto ao plano originário da inclusão da linguagem imagética
em sala de aula. Segundo Pretto (1996, p.112-113): obrigar o audiovisual cinema,
vídeo, televisão e, agora, as multimídias a entrar à força nas categorias
preexistentes da educação é o mesmo que não utilizá-lo. O conteúdo acaba
tornando-se desnecessário, já que a informação é apenas estabelecida sem originar
o debate ou motivar a investigação.
O papel do audiovisual não é ser somente um sustentáculo na difusão
tradicional do conhecimento. É necessário imaginar os meios de comunicação como
princípio válido de investigação, auxiliar fundamental da investigação científica. Não
levá-los em conta é o mesmo que não considerar sua importância informativa e,
ainda, pedagógica. Um engano tão danoso quanto acreditar em uma provável
imparcialidade dos mesmos é deles se utilizar sem uma abordagem crítica.
2.2 A afinidade da história com a imagem
A semelhança história-imagem vem desde o tempo em que os homens
começaram a fazer uso de desenhos para preservar e descrever sua história. Tal
realidade não se transformou até hoje. Sempre que queremos recordar de alguma
coisa, fazemos a leitura de um livro ou escutamos uma história, as imagens mentais
se formam. Estamos habituados a enfrentar o mundo por meio das imagens e,
atualmente, ainda mais, já que o mundo tem se tornado cada vez mais visual.
Contudo, a despeito dessa prática, o uso das imagens como método para vislumbrar
a História é muito atual. Isso se deve ao fato de que, no século XIX, desde a
admissão da mesma como ciência, para que algo tivesse veracidade precisava estar
fundamentado em fontes confiáveis como só os documentos escritos conseguiam
ser.
A Escola Metódica, que se desenvolveu na Alemanha e na França no século
XIX conferiu o status de cientificidade à História. É entendida como “interpretação
dos fatos, segundo conceitos gerais de sentido e significado do agir humano
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passado” (MARTINS, 2002, p. 11). Para os historiadores da Escola Metódica a
noção de acontecimento desempenhava a função principal na concepção da escrita
da História. Segundo o autor acima, o acontecimento era o conceito básico, em
torno do qual se estabelecia a narrativa cronológica, linear e evolutiva. Para esses
historiadores, o acontecimento, acessível por meio de documentos, dava abertura
para o conhecimento da História.
Com a Escola dos Annales – movimento historiográfico surgido na França
durante a primeira metade do século XX, que se destacou por incorporar métodos
das Ciências Sociais à História e apresentava uma História bem mais vasta do que a
que era praticada até então, apresentando todos os aspectos possíveis da vida
humana ligada à análise das estruturas – esse cenário passa a se transformar.
Abrem-se novos espaços para estudos historiográficos como a cultura, a economia e
outros, porém, ainda baseados no documento escrito. A inserção de novas visões
acerca desses documentos levaram a uma alteração no entendimento dos mesmos
que abandonaram o status de deuses e passaram a ser tidos como falhos, com uma
visão restrita do processo o qual representam.
No fim dos anos 1970 o historiador francês Marc Ferro, em sua obra Cinema
e História, passou a estudar as imagens – particularmente o cinema – como fonte
aceitável para estudos historiográficos, pois se tratava de uma obra produzida pelo
homem e que, com frequência, faz uso da história como fonte de inspiração e é justo
que seja estudado pela ciência que tem como foco fundamental as ações do homem
em um processo de desenvolvimento continuado que é a História. Aliás, desde a
origem do cinema não são raras as obras que se apropriaram de acontecimentos
históricos para narrar suas histórias. A partir daí os debates sobre a viabilidade ou
não do uso de filmes como fonte para o trabalho do historiador só vem aumentando
e, embora alguns historiadores ainda não admitam esse procedimento, vem
crescendo o número de pesquisadores que trabalham as fontes de natureza
cinematográfica.
Lembramos que, nesse trabalho, não tratamos do cinema como fonte
histórica, mas, sim, como recurso didático para as aulas de história. Utilizamos o
filme histórico, onde seu roteiro se baseia em acontecimento histórico, de ficção ou
não. Uma última observação incide em que, mesmo que todo filme seja a
representação da realidade em que é produzida, a representação de filme que
mencionamos aborda realidades peculiares, relevantes por abordar conteúdos em
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sala de aula. Sendo assim, o professor da disciplina de História não deverá excluir
os conteúdos, mas sim, privilegiar os conteúdos através da exibição do filme.
3. TIPOS DE FILMES A SEREM TRABALHADOS NAS AULAS DE HISTÓRIA
3.1 O documentário
No momento em que o professor planeja se utilizar da exibição de um filme
para seus alunos, com a finalidade de revelar que este tem importância enquanto
documento, imediatamente se pensa em um documentário por ser esse o gênero
que, julga-se, mais se aproxima da verdade.
O documentário é uma forma de narrativa que utiliza o recurso fílmico e estilos diversos para passar sua mensagem. Assim, ao estabelecer asserções relativas ao mundo, o documentário admite procedimentos que o singularizam com relação ao campo ficcional. O documentário, antes de tudo, é definido pela intenção do autor de fazer um documentário. (RAMOS, 2008, p. 25).
Contudo, qual é a garantia que um documentário é mais autêntico do que
um filme de ficção no que diz respeito ao período e ao tema ali retratado? É
pertinente questionar: o documentário é a reprodução da realidade e o filme de
ficção é uma ferramenta utilizada para entreter os alunos, um devaneio?
Carrol se refere ao documentário como um filme não ficcional já que
envolve uma intenção de sentido por parte do cineasta que fornece a base para a compreensão de sentidos pelo público, assim como uma intenção assertiva por parte do cineasta que serve como base para a adoção de uma postura assertiva pelo público. (2005, p. 91).
Assim como a fotografia não deve ser considerada um trampolim para o real
devido à objetividade do processo técnico que “assegura o seu valor testemunhal, o
filme documentário também traz em si uma carga de subjetividade. (FONSECA,
2009, p. 204).
Vale ressaltar que nenhum documentário reproduz a realidade como ela
verdadeiramente é. O documentário é uma representação dessa realidade. O modo
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que o cinema utiliza para contar a história em documentários é o mesmo utilizado
para a ficção. Quando um filme é montado, tanto de ficção ou documentário, é feita
uma seleção e classificação de cenas. Ora são escolhidas umas imagens e ora
excluídas outras.
Por buscar a representação da verdade histórica é que a maioria dos
professores adota a exibição dos documentários em suas aulas. Porém, é arriscado
apresentar o documentário como verdade absoluta. Segundo Duarte (2009, p.126), o
documentário “ajuda a desconstruir a ideia, relativamente comum, de que eles são o
retrato fiel da realidade ou que os acontecimentos de que eles se ocupam se
passaram exatamente como são relatados.
3.2 Filmes de ficção
O filme de ficção encanta muito mais os alunos do que o gênero
documentário, pelo fato de que no filme de ficção existe o elemento do prazer
ofertado pelo cinema de espetáculo. Esse prazer não está presente em grande parte
dos documentários.
Apesar de não se comprometer com a realidade, o filme de ficção tem
condições de mostrar de imediato o modo de viver de uma sociedade e quais são
seus valores, instituindo uma conexão entre a obra e o meio que a produz. Os
produtores de cinema não objetivam fazer uma cópia da vida real, porém, ao
transpô-la para o filme, tornam visíveis todos os seus mecanismos.
Ao se utilizar de filmes nas aulas de História, o professor precisa estar
consciente de que: “o cinema é sempre ficção. Ficção engendrada pela verdade da
câmera, verdade das possibilidades técnicas, da reprodução do movimento das
pessoas, das coisas, da natureza”. (ALMEIDA, 2001, p. 39).
A utilização de filmes de ficção, com características históricas, tem sido uma
atividade constante dos professores de História. A questão é: como esses filmes são
transmitidos aos seus alunos? Observa-se que os filmes tem a conotação de
ilustração dos temas históricos.
É notório que o filme de ficção atrai muito mais os alunos do que o
documentário, uma vez que a ficção proporciona maior prazer pelo espetáculo, tem
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uma forma de entretenimento que inexiste na maioria dos documentários.
Para Fonseca, incorporar o cinema nas aulas de História “requer do
professor uma postura interdisciplinar, o gosto pela investigação, a busca
permanente do acesso a esse universo da produção cultural” (2009, p. 205-206).
Muitas vezes a obra de ficção, apesar de não se comprometer com a
realidade, reproduz os valores, a conduta e o modo de vida de uma sociedade,
instituindo certa semelhança entre o filme e o espaço que o produz. Todas as
manifestações artísticas, entre elas a obra cinematográfica acabam se tornando
testemunhas de seu tempo. É função do professor, ao se utilizar do filme em suas
aulas, levar o aluno a perceber, através do olhar, a peculiaridade da linguagem
cinematográfica.
Assim, os filmes de ficção ou os documentários são importantes fontes para
serem trabalhadas nas aulas de História. Porém, segundo Fonseca, é importante
“estar atentos à linguagem própria da cinematografia, que não tem compromisso
com a historiografia, com a didática da História. Logo, exige de nós uma postura
crítica e problematizadora, como em relação às demais fontes históricas” (2009, p.
208).
4 A FUNÇÃO DO PROFESSOR AO TRABALHAR COM FILMES EM SALA DE
AULA
O uso do cinema nas aulas de História, como metodologia de ensino, como
forma de intervenção e de referência, não tem somente a função de determinar
analogias com a realidade. O objetivo da disciplina de História é estudar os
processos históricos concernentes às relações e ações humanas perpetradas pelo
tempo, assim como os significados impostos pelos sujeitos históricos conscientes ou
não de tais ações.
Ao se utilizar de filmes nas aulas de História, o professor deve se desligar
das tradicionais concepções tidas como verdades irrevogáveis. Cabe a ele o papel
de contribuir para que o processo de construção da história, na narração fílmica, seja
transparente. Assim, o professor terá condições de observar criteriosamente, com
seus alunos, os conteúdos históricos do filme. É preciso que esteja atento para o
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fato de que o filme de época sempre será uma forma simbólica do passado,
condicionado pela linguagem cinematográfica.
Uma das hipóteses levantadas por alguns professores é a de que o aluno
deveria ser o primeiro a ver o filme, pois assim não passaria pela interferência do
professor em suas ideias. Ao professor caberia a função de mediador do debate e a
de expressar sua opinião no decorrer do filme.
Ferro, ao estudar a relação entre cinema e história lembra que existe em
todo filme uma "realidade não-visível" (1992, p.143), ou seja, o filme chega a
suplantar seu próprio conteúdo, manifestando pontos de vista da realidade que vão
além da intenção do cineasta, mesmo que, por trás das imagens, se manifeste a
ideologia de um povo. Sob este aspecto é que o filme deve ser encarado como um
documento raro tanto para o historiador, quanto para o professor que precisa
reconhecer, ou seja, perceber o que está oculto em grande parte dos filmes.
Um fator fundamental que não deve ser esquecido é o tempo de projeção de
um filme em sala de aula. Uma aula tem cerca de 50 minutos, então é recomendado
que seja projetado um curta-metragem ao invés de um longa que leva em média 120
minutos para ser exibido.
Ao escolher um filme, o professor deve considerar a faixa etária dos alunos
que irão assistí-lo. É preciso que o filme seja adaptado à compreensão dos alunos e,
também, mais importante ainda, ao conteúdo da aula. O filme deve ser utilizado
como uma dinâmica, para ilustrar um conteúdo, tornar uma aula mais atraente. Após
a exibição do filme, a utilização de textos é muito importante para fixação do
conteúdo. É fundamental fazer uma relação entre o filme e o texto.
Todo filme pode ter um caráter educativo desde que o professor faça uso
dele de modo didático. É preciso reconhecer o seu caráter pedagógico. Contudo,
entender a arte de construção de um filme demanda que se faça um primoroso
diagnóstico de informações que começa com a criação industrial do filme, em
seguida vem o domínio da linguagem e, finalmente, a percepção de como a história
é arquitetada dentro do discurso fílmico.
Fonseca é favorável à incorporação de filmes nas aulas. Porém, lembra que
tal atividade deve ser efetivada:
[...]de forma planejada e articulada ao processo de ensino e aprendizagem – não como forma de ocupar o tempo ou mera ilustração, ou como forma de ocupar o tempo das crianças –, podem contribuir de forma significativa para
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a educação histórica, ética e estética do indivíduo (2009, p. 45).
O professor deve se adaptar às circunstâncias atuais e encarar o desafio da
mudança junto a seus alunos, já que eles são os atores de uma linhagem a cada dia
mais audiovisual e cada vez menos escrita.
Ao se utilizar do filme em suas aulas, o professor precisa tornar transparente
o processo de constituição da História dentro da obra cinematográfica, pois, assim,
terá condições de analisar com criticidade com os alunos. É preciso questionar:
O que as imagens exibidas retratam?
As imagens podem manipular o entendimento dos espectadores?
Como se mostram os protagonistas da história do filme?
Qual a visão do cineasta sobre o passado?
Os produtores do filme respeitaram o conhecimento histórico produzido pela
Academia?
Essas são algumas, senão as principais questões a serem levantadas pelo
professor ao fazer a sua crítica, ressaltando que um filme histórico será, sempre,
uma forma de representar o passado, em conformidade com a linguagem
cinematográfica.
Trabalhar com filmes em sala de aula, principalmente nas aulas de História
pode ser muito prazeroso. O resultado de uma obra cinematográfica bem escolhida
e uma aula expositiva com prévia explicação são alunos concentrados, interessados
e aptos a discutir sobre o que terminaram de assistir. Entretanto, trabalhar com
filmes em aulas de 40 ou 50 minutos não é uma tarefa fácil. Para tirar maior proveito
desse método didático seguem algumas dicas abaixo:
4.1 É necessário construir um ambiente parecido com o do cinema, que seja
adequado ao trabalho com filmes.
Ao se utilizar de filmes em sala de aula, o professor deve observar as várias
fases que precedem a sua apresentação e, ainda, os artifícios que possibilitam a
aplicação dos conteúdos revelados através da obra em trabalhos e nas possíveis
avaliações. Antes de passar o filme, é fundamental que o professor oriente os alunos
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sobre o seu conteúdo a fim de que sejam atingidos os melhores resultados
possíveis. Assim sendo, vale recomendar um prévio planejamento onde o professor
tornará claro:
os objetivos que quer atingir com relação ao uso de determinado filme;
se utilizará a obra completa ou somente algumas partes da mesma – e quais
partes seriam;
a relação existente entre os conteúdos que estão sendo trabalhados com o
filme exibido;
quais os elementos básicos a serem enfatizados antes, durante e após a
exibição da obra;
as ações que serão efetivadas em função do uso do filme nas aulas, o
material didático de apoio ao conteúdo e outros elementos que
ocasionalmente sejam solicitados ou indicados como base para debates e
projetos futuros.
4.2 O filme deve, sempre, estar associado aos conteúdos relacionados no
planejamento e, é muito importante que sua utilização como recurso e
material didático seja definida já no início do ano.
Percebendo a necessidade do planejamento prévio na utilização de filmes
nas aulas de História, é importante descrever neste trabalho alguns passos
fundamentais para que essa metodologia se torne satisfatória. São indicações que
dizem respeito à disposição das aulas com relação às metodologias e estratégias
que irão compor as aulas. A princípio, a intenção é tornar as aulas mais
interessantes e fascinantes e, isso somente acontecerá se forem planejadas
atividades com a participação ativa dos alunos.
Segundo Napolitano (2003): “os filmes, ou melhor, a indústria cultural, no
caso o cinema, oferecem ao professor sua tecnologia, em contrapartida, o mesmo
professor deverá adequar-se diante das circunstâncias e dimensões que este filme
toma”. Sendo assim, é preciso que se faça uma seleção de filmes que se relacionem
com o conteúdo que será apresentado conforme o planejamento do professor.
17
É interessante trabalhar com grupos pequenos e em momentos que simulem
a realidade. Essas são algumas exigências para que as obras cinematográficas
possam ser discutidas e que seja gerada a produção escrita.
Outro termo essencial quando se deseja trabalhar com filmes com os alunos
é: organização. É preciso que sejam apresentados, com antecedência, aos alunos,
todos os pormenores das atividades que serão desenvolvidas. É pertinente que
antes ou logo após a exibição do filme sejam feitas aulas expositivas. As aulas
expositivas apresentadas antes da exibição dos filmes têm a finalidade de delinear
uma visão global do assunto que está sendo pesquisado. Por meio dessa preliminar
dos conteúdos expostos em aula, o aluno tem requisitos para confrontar textos
empregados, dados transmitidos pelos professores, artigos e notícias de revistas e
jornais com os filmes exibidos.
4.3 O trabalho com filmes, associados a materiais obtidos através de revistas,
recortes de jornais, internet, livros didáticos, músicas entre outros, torna
mais interessante o trabalho nas aulas de História.
Utilizar filmes nas aulas de História pode ser uma atividade bastante
interessante e relevante. Moram lembra que:
O vídeo é sensorial, visual, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras (1995, p. 2).
Ao trabalhar com filmes nas aulas de História é importante que o professor
se comprometa a tornar acessíveis os recursos e motive os alunos não somente por
meio de discussões e debates, concentrando as ações. O professor deve conferir
responsabilidades e mobilizar seus alunos através de exercícios desenvolvidos
durante as aulas que precedem a exibição dos filmes.
É fundamental que o professor oriente as atividades direcionando seus
alunos, levantando questões antes da exibição do filme, solicitando que atentem
para certos aspectos da história ali representada ou, ainda, fazendo intervenções
18
nas circunstâncias consideradas propícias. Para que os alunos não percam o foco,
não é aconselhável que tomem nota enquanto o filme está sendo apresentado, pois
isso fará com que percam detalhes importantes que poderão ser usados pelo
professor nas atividades propostas após a exibição.
4.4 A utilização de filmes nas aulas de História como forma de análise das
questões sociais
O professor pode utilizar o filme para levantar e discutir questões sociais.
Temas da atualidade como o meio ambiente, drogas, bulling, crise econômica e
outros podem ser associados a diversos conteúdos. Porém, os temas devem ser
escolhidos conforme o nível escolar, a faixa etária e o grau de compreensão dos
alunos. Uma criança pode até não conseguir entender a crise econômica se a ela
forem apresentados os resultados das transações de bolsas de valores, contudo
perceberá a importância de economizar água e energia em sua casa.
O professor deve se utilizar das aulas expositivas após a exibição dos filmes
para destacar os pontos principais propostos pela obra cinematográfica, estudar
mais a fundo o tema e estabelecer ideias não percebidas anteriormente. A fim de
que suas aulas despertem interesse e se tornem esclarecedoras, o professor deve
se valer de expedientes complementares. Isso fará com que seja despertada a
atenção e a participação contínua dos alunos.
Se o professor notar que é necessário poderá apresentar várias vezes as
partes mais importantes do filme, depois que os debates e as discussões, bem como
a redação ou o relatório sobre o filme, já estiverem em andamento durante a aula.
Acredita-se que o trabalho feito com grupos pequenos é mais eficiente
porque, assim, os alunos têm maior oportunidade de trocar ideias entre si, lembrar
dos aspectos não percebidos por todos, discutir as questões sugeridas pelo
professor e escrever sobre o que viram.
Propor representações de ação nas aulas após a exibição do filme tem a
finalidade de trazer o assunto apresentado para a realidade, fazendo com que o
tema em questão se torne ainda mais palpitante e real para os alunos.
19
5. A implementação do projeto
A implementação, na Escola Estadual Profª Hercília de Paula e Silva – EF,
do projeto: A utilização de obras cinematográficas como prática pedagógica
nas aulas de História, objetivando fazer uma articulação entre a tecnologia digital e
a cultura existente na escola, propiciando o contato dos alunos com produtos da
cultura cinematográfica, midiatizada pelas novas tecnologias, cada vez mais
presentes na sociedade contemporânea, permitindo acesso a um número crescente
de pessoas, aconteceu da seguinte forma:
Meses de junho e julho de 2011: foram preparados os materiais que seriam
expostos a direção, equipe pedagógica, professores e funcionários na semana
pedagógica. Foram preparados slides, resumo do projeto e resumo das leituras
para a elaboração do projeto a ser desenvolvido.
04 de julho de 2011: apresentamos à equipe pedagógica e ao diretor da Escola
nosso Projeto de Intervenção Pedagógica. Fomos muito bem recebidos por todos
que compreenderam a importância do trabalho, quando mostramos o objetivo que
era: propor ações pedagógicas com a utilização de obras cinematográficas,
envolvendo professores da disciplina de História. Esclarecemos ao diretor da
Escola que os encontros com os professores seriam nas horas-atividades e no
período noturno.
20 de julho de 2011: junto à direção, equipe pedagógica, professores e
funcionários, com base na bibliografia consultada sobre a importância do uso de
“novas linguagens” e tecnologias – dando destaque ao cinema –, para o
incremento das aulas de história fizemos uma breve apresentação do Projeto de
Intervenção.
31 de agosto: com a finalidade de aprofundar o conhecimento e facilitar o
entendimento sobre o uso de obras cinematográficas nas aulas de história, bem
como mostrar a importância do professor na condução dessa metodologia, foi
20
estudado e socializado com os professores de História da Escola Estadual Profª
Hercília de Paula e Silva – EF os seguintes textos:
BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de História:
fundamentos e métodos. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008
SALES, Eric de. História e Documentários: Reflexões para
o uso em sala de aula. Revista Solta a Voz. Goiás, v. 20, n. 2,
p. 234-247, jan./jun. 2009.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de
aula. São Paulo: Contexto, 2010.
Como recurso didático utilizamos o Datashow com slides sobre o tema.
http://www.youtube.com/watch?v=ncz6xmR6-kE&festure=related
http://www.youtube.com/watch?v=iiXp8kRIQNE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=jzousNBqr1s&feature=related
Os professores mostraram bastante interesse em aprofundar os
conhecimentos sobre o assunto, alguns informaram que aprenderam muito, pois
segundo eles, nunca tinham estudado o tema sugerido com tantos detalhes e de
forma tão esclarecedora.
15 de setembro de 2011: apresentamos, aos professores de História, o material
didático a ser implementado: A utilização de obras cinematográficas na sala de
aula como prática pedagógica nas aulas de história. Durante a apresentação foi
feita uma explanação sobre como seria trabalhado o material. O material foi bem
aceito, principalmente por se tratar de um tema que ainda não é bem explorado
pelos professores. Na ocasião os professores sugeriram novas ações a serem
incorporadas no projeto. Também, como parte do projeto, foi distribuído, a cada
professor, um questionário para levantar dados sobre o conhecimento e que será
utilizado para a conclusão dos trabalhos.
21 de setembro de 2011: foi realizado um encontro com os professores de
História. Nesse momento, fizemos uma demonstração de como trabalhar o
21
Nazismo, como sugestão de um dos professores. Na ocasião exibimos os filmes: A
Queda; Triunfo da Vontade e A Criatura da Destruição. Após a exibição dos
filmes, o grupo deu depoimentos e se propuseram a incorporar ao planejamento a
experiência ali vivida. Enfim, os professores ficaram empolgados e esperançosos,
afirmando que a metodologia pode vir a superar os desafios da prática pedagógica,
tornando a aprendizagem mais crítica e atrativa.
04 de outubro de 2011: foi realizado um encontro no qual apresentamos dois
exemplos de como trabalhar filmes em sala de aula: Tempos Modernos e Diários
de Motocicleta. Nesse dia assistimos aos filmes e trabalhamos as sugestões ali
contidas.
13 de outubro de 2011: fizemos apresentação do vídeo, PROJETO FILMES EM
SALA DE AULA: “Um novo olhar no ensino de História”.
http://www.youtube.com/watch?v=CFvmQvvuiFY
Após a exibição do vídeo foi aberto um debate com opiniões sobre o
assunto.
26 de outubro de 2011: houve um encontro no qual mostramos o resultado do
questionário respondido por professores de História e ouvimos as opiniões dos
participantes sobre o resultado. Foi uma discussão muito proveitosa, já que várias
sugestões foram dadas para a implementação do projeto.
A seguir apresentamos como o passo a passo do trabalho com os
professores da disciplina de História da Escola Hercília.
5.1 Como utilizar filmes em sala de aula
Realizadas as reflexões prévias acerca da mudança de entendimento sobre
o que seria o documento histórico, tratamos da utilização do cinema como uma
22
linguagem de ensino em sala de aula. Ao salientar a existência desse nível de
polivalência essencial ao cinema, fizemos, ainda, algumas observações quanto ao
seu uso no processo de ensino-aprendizagem, especialmente, mostrando algumas
precauções metodológicas indispensáveis que precisam ser tomados durante o
trabalho com a exibição de filmes de qualquer gênero.
Segundo Vesentini (2002), “o uso da produção cinematográfica em sala de
aula faz com que a temporalidade situe o acontecimento histórico dentro da obra
fílmica”. É preciso, primeiramente, entender o filme no momento de sua produção,
isto é, as circunstâncias de raízes culturais, políticas e sócio-econômicas que o
transcorreram.
Atualmente é grande o conhecimento em todas as áreas, envolvendo
especialmente a educação escolar. É certo que em dez ou quinze anos os alunos
formados estarão adentrando o espaço profissional. Problematiza-se, então: que
espécie de conhecimento será necessário para acompanhar o processo de
transformação da sociedade? Assim, a educação se depara com consideráveis
dilemas diante da nova relação existente entre tecnologia, educação e comunicação.
Nosso estudo foi válido por entender que o cinema integra uma importante e
vasta rede da indústria da mídia, seu papel na constituição do indivíduo é muito
capcioso e contínuo, já que as obras cinematográficas são consumidas em grande
quantidade. Levantamos questões como: o professor de História está preparado
para integrar a hipermídia, o audiovisual e cinema nas aulas?
Este trabalho teve a pretensão de estabelecer uma articulação entre a
tecnologia digital e a cultura existente na escola, propiciando o contato dos alunos
com produtos da cultura cinematográfica, midiatizada pelas novas tecnologias, cada
vez mais presentes na sociedade contemporânea, permitindo acesso a um número
cada vez mais crescente de pessoas.
Considerando a escola como um espaço que favorece um entendimento
crítico dos processos de comunicação e das formas culturais e, percebendo a
variada capacidade de articulação educacional, cultural e informacional através das
imagens é que veio à tona essa pretensão de estudar o cinema na prática
pedagógica. Buscamos compreender qual a relação existente entre o cinema e as
práticas pedagógicas nas aulas de história, com o registro de sons e imagens
reproduzindo-se como mídia em cultura e comunicação, que hoje em dia circula no
23
ambiente escolar.
Durante o processo foi necessário abordar as dificuldades enfrentadas pelos
professores para estabelecer uma articulação entre a educação e as novas
tecnologias, mais especificamente o cinema, uma vez que este faz parte dos
conteúdos da disciplina de História estabelecida nas DCEs.3
Para desenvolver esse trabalho, partimos da visão dos três segmentos:
alunos, professores e equipe pedagógica, comprometidos com o processo de ensino
e aprendizagem de História com obras cinematográficas que objetivam uma
interdisciplinaridade fortalecida pela participação de convidados que debatam os
temas relacionados aos filmes exibidos. Atualmente é grande o conhecimento em
todas as áreas, envolvendo especialmente a educação escolar. A questão é: que
espécie de conhecimento será necessário para acompanhar o processo de
transformação da sociedade? Pudemos sentir que, é evidente que a educação vem
se deparando com consideráveis dilemas diante da nova relação existente entre
tecnologia, educação e comunicação.
Por visualizar a propagação tecnológica nas práticas pedagógicas, é que
nos propusemos a investigar “se” e o “quanto” é importante estudar o cinema na
escola, procurando entender “se” está sendo utilizado nas aulas de história e “como”
é efetivada essa prática; quais são as relações que estão sendo firmadas entre a
didática e as produções cinematográficas no interior da escola; como o cinema pode
ser trabalhado nas aulas de História, visando compreender a relação das múltiplas
obras, que circulam em um ambiente informativo e educacional, enquanto agente de
possibilidades didáticas; como os professores de História podem incrementar
práticas que incluam os recursos.
Constatamos que sucessivos erros ocorrem quanto ao uso de filmes na
Escola pesquisada. A maioria dos professores utiliza esse recurso somente como
ilustração, quase sempre sem sentido prático, em suas aulas tradicionais. Isto nos
levou a questionar: qual o enriquecimento que ocasionará tal uso para o ensino da
disciplina de História e para a criticidade dos alunos? Concluímos que a resposta é:
nenhum.
É notório como essas práticas facilitam o trabalho do professor. Projetar um
3 Diretrizes Curriculares Estaduais: documento que traça estratégias que visam nortear o trabalho do
professor e garantir a apropriação do conhecimento pelos estudantes da rede pública do Estado do Paraná.
24
filme e encarregar os alunos da crítica de tal, é um estratagema bastante usado por
grande parte dos professores da Escola pesquisada. É uma estratégia que suprime
totalmente a propriedade lógica da imagem em sala de aula. O papel do professor
consiste em, exatamente, orientar a discussão. Também é função do professor
elucidar o que está confuso no roteiro, completando os “buracos” deixados de
propósito ou não pelos autores do filme. É assim que os alunos vão instituindo
relações entre o que estão assistindo e a realidade em que vivem.
Nossa proposta foi que, antes de iniciar a exibição do filme, aconteça uma
aula preliminar para que os alunos conheçam a realidade apresentada. Não estamos
fazendo exigência quanto ao número de aulas. O mais apropriado é que após o
trabalho do tema em sala de aula, o filme seja exibido. Enfim, não adianta nada um
debate onde os participantes não tenham qualquer familiaridade com o tema em
discussão. Logo depois da exposição do filme, principiará a discussão. A função do
professor será instigar o senso crítico do aluno, lançando ou requerendo o
levantamento de questões alusivas ao assunto. Tal fato não deve parecer uma
determinação de quem detém o conhecimento, de quem tem todas as informações e
é o grande sabedor do tema. É viável afirmar que o professor também é um
observador e precisa se comportar como tal, isto é, aberto a diferentes visões acerca
do que assistiu.
Foi muito válida a implementação do projeto na escola. O resultado foi
professores mais interessados em busca da solução para o trabalho com obras
cinematográficas nas aulas de História. Abriu-se a possibilidade de utilização dos
filmes como material didático não somente como passatempo ou para “tapar
buracos”. Para o próximo ano letivo, visualizamos a possibilidade de uma mostra de
cinema na escola. Esse evento deverá contar com a participação de alunos,
professores e comunidade em geral.
Como pontos positivos, enumeramos: o interesse dos professores, não
somente de História como também de outras áreas no projeto; a mudança de
atitudes quanto ao uso de filmes nas aulas e o incentivo da equipe pedagógica e da
direção da Escola no desenvolvimento do projeto.
Como ponto negativo: a falta de tempo que o professor tem para participar
dos encontros ou cursos de capacitação.
Deixamos bem claro que, em momento algum, estamos pregando a
25
obrigação do professor de História em se tornar um perito em cinema para se valer
do mesmo como método pedagógico – embora seja necessária uma noção acerca
dessa área para melhor explorar o universo de informações inseridos nos filmes –,
não é essa a finalidade desse novo método de ensino. O que pretendemos é
transformar as aulas da disciplina de História, abandonando a já ultrapassada
postura do professor que pensa ser detentor de todos os conhecimentos e do aluno
receptor apático para uma formulação na qual o diálogo entre professor e aluno
venha a suscitar o conhecimento sem que um tire proveito do outro.
Outro ponto crucial é que não é viável fundamentar todo um curso somente
na utilização de filmes. Conforme citamos anteriormente, o filme não consegue fazer
a abordagem de todas as circunstâncias necessárias para se compreender o
processo histórico em sua totalidade. Por isso, não se aconselha utilizar o filme de
modo isolado de outras técnicas, sejam as recentes, como internet, cd-roms e
outros, como dos velhos quadros de giz e livros, além evidentemente, do professor.
Por isso, já que se almeja formar indivíduos capazes de pensar o mundo de um novo
modo, é fundamental que haja contato com materiais e métodos diferentes, pois
essa diversidade é propícia para instituir a consciência do quão importante é manter
contato com os diversos tipos de manifestações do pensamento humano, não
permitindo nenhuma superioridade ou adversidade entre tais manifestações.
É bom relembrar que não é nossa finalidade forçar o uso do filme ou de
qualquer outra nova tecnologia em sala de aula, pelo contrário, o que se almeja é
criar um ambiente para debater o tema. É uma questão particular os professores
acatarem ou não esses novos paradigmas da educação, porém, em pouco tempo,
aquele que não se adaptar às novas tecnologias corre o risco de ficar perdido no
tempo, uma vez que, dia a dia, elas se tornam inseparáveis do cotidiano mundial e
essenciais no processo ensino-aprendizagem.
5.2 Como usufruir das obras cinematográficas no Ensino Fundamental e
melhorar o desempenho dos alunos
Já faz algum tempo que a professora da disciplina de História Josemaris
Miranda Paiva, da Escola Est. Prof.ª Hercília de Paula e Silva, em Carlópolis, faz uso
de filmes em suas aulas. Em 2011, durante um trimestre, a Idade Média foi tema de
26
suas aulas na 7ª série. Iniciando, Josemaris, fez uso do quadro-negro e de suas
noções teóricas acerca do assunto para explanar esse período da história. Contudo,
era necessário criar uma metodologia de ensino para que o interesse da turma pelo
tema aumentasse.
Os alunos fizeram pesquisas na Internet, porém ao assistir ao filme de
aventura Coração de Cavaleiro, de Brian Helgeland, sugerido pela professora
Josemaris, tiveram um conhecimento mais profundo de como eram as relações entre
a nobreza, o clero e os camponeses: "Os ‘meus’ alunos se impressionaram com as
vestimentas medievais e puderam perceber como a vida naquela época era difícil.
Esse deslumbramento e essa noção só são possíveis com a exibição de um a obra
cinematográfica", conta Josemaris.
...para a exibição do filme, cuja duração é de 132 minutos, foram necessárias três aulas e, para isso, contou com a colaboração de outros professores que cederam suas aulas. A professora da disciplina de Português explorou o filme com leitura e produção de textos foram explorados, quando os alunos produziram contos sobre a cavalaria (prof.ª Josemaris, 2012).
5.2.1 Exibir o filme na íntegra ou algumas partes que interessem à aula?
Para o professor Alessandro, da disciplina de História da Escola Est. Prof.ª
Hercília de Paula e Silva, o filme não precisa ser exibido em sua totalidade, somente
se os alunos pedirem. "Existe o risco do professor precisar de mais de uma aula
para passar o filme e o aluno não compreender onde ele queria chegar", conta o
professor Alessandro, que conta com vasta experiência no Ensino Fundamental. Ele
faz a seleção das cenas consideradas mais importantes para o conteúdo que está
trabalhando e outras vezes parte do filme para principiar um debate ou um assunto
novo. Antes de iniciar a exibição, lança um roteiro de questões que orienta os
alunos: De que fala o filme? Em que local ocorre a maior parte das cenas? Quais as
cenas que mostram conflitos? Qual a mensagem transmitida pelo filme?
5.3 Por que levar o filme em sala de aula.
27
Na implementação do projeto na Escola sentimos a necessidade de levantar
alguns pontos antes de mostrar a importância da exibição de filmes nas aulas de
História. Um dos pontos principais é analisar a época que o filme evoca. Uma obra
cinematográfica faz referência a mais tempo do que aquele mostrado na tela em
primeiro plano. O filme simula tanto o passado quanto o presente, ficando estes dois
períodos acontecendo num processo simultâneo. Como conceito moderno sobre o
passado, o filme sempre apresentará, de forma significativa, a exposição das ideias
do seu tempo. Isso quer dizer que o filme faz uso da história narrada para
comunicar, de forma subconsciente, opiniões e fatos presentes na ocasião de sua
produção. Como exemplo, em um dos encontros, exibimos o filme Gladiador (Ridley
Scott, 1999) e pudemos fazer colocações sobre a corrupção no Estado romano
antigo e a condição do Brasil atual. O filme histórico é o retrato do passado que
apresenta. Como acontece com outros tipos de fonte, a proposta do filme é
proporcionar uma nova visão do passado e, consequentemente, lançar conceitos e
novas críticas do episódio em questão. Por isso, a obra cinematográfica é uma fonte
parcial assim como são todas as fontes, pois apresentam a visão de um determinado
lado. Portanto, lembramos que, ao utilizar um filme como material de análise
historiográfica, nem todos os aspectos da história serão considerados. Enfim, não é
função do diretor tomar para si o papel de historiador, pois a função do cinema ainda
é o entretenimento do espectador que irá associar o filme com seu espaço/tempo,
isto é, os episódios do seu dia a dia exercem influência em sua compreensão da
obra e, de tal modo, é estabelecido um diálogo entre o expectador e a realidade
mostrada na tela.
Junto com os professores de História, compreendemos, que ao exibir um
filme histórico, é estabelecida uma afinidade dialógica onde o aluno torna-se
partícipe do processo de constituição do seu aprendizado e dos seus valores, na
proporção em que ele é capaz de compreender as relações entre o que está
observando no filme e sua própria experiência. Aliás, cabe aqui, lembrar da
propriedade lúdica presente na obra cinematográfica, porque o cinema é e sempre
será um artifício sedutor na transmissão de informações, apropriado para prender a
atenção do aluno.
28
6. CONCLUSÃO
Levando em conta os pontos aqui abordados, cremos ser necessário
destacar que é essencial diversificar as fontes históricas no processo de ensino-
aprendizagem da História. Assim sendo, utilizar filmes nas aulas de História torna-se
uma alternativa muito rica. Porém, é preciso lembrar que o professor deve se
comprometer a fazer um trabalho consciente e organizado por procedimentos que
impressionem, que despertem o interesse dos alunos por adquirirem novos
conhecimentos.
Logo, concluímos que é preciso ser cauteloso ao usar o filme como
metodologia de ensino da disciplina de História para que este não se torne
inadequado e se preste somente como ilustração de um conteúdo apresentado, sem
o aprofundamento necessário, um passatempo.
O filme precisa ser pensado, antes de tudo, como parte do conteúdo que
dará condições ao professor de desenvolver suas ações centradas somente em sua
disciplina ou instituir relações com as demais disciplinas e, através da
interdisciplinaridade, desenvolver ações com fins pedagógicos.
Os filmes nas aulas de História, se bem selecionados, tornam possível uma
compreensão maior da realidade e uma reflexão crítica dos acontecimentos
históricos. Deste modo, precisam ser usados de modo planejado pelos professores,
que não devem se valer das obras cinematográficas somente como simples
passatempo ou para substituir a ausência de professores.
O uso de filmes pelos professores de História em suas aulas pode se tornar
uma alternativa enriquecedora. Porém, o professor deve se comprometer a
desenvolver esse trabalho de maneira séria e coordenada por meio de metodologias
que incentivem seus alunos, estimulando sua curiosidade, anseios e interesse com
relação aos conteúdos propostos.
É de grande importância lembrar que o uso de filmes nas aulas de História
não deve ser visto como meio de efetivar o milagre na educação, porém, será um
considerável aliado na organização do conhecimento e de novos métodos e práticas
didáticas.
Entre outros benefícios, os professores da Escola Hercília chegaram à
29
conclusão que, o uso de filmes desperta nos alunos o gosto pela História, fazendo
com que o professor se desligue um pouco da monotonia das aulas expositivas onde
o aluno não é nada menos que um expectador passivo.
Enfim, ao professor cabe a função de motivar e, até mesmo, revolucionar
suas aulas. O resultado de uma aula bem preparada é o sucesso. Com as novas
tecnologias existentes na escola chega ao fim a mesmice e o professor que oferecer
resistência a essas tecnologias estará fadado ao fracasso. O professor de História
deve estar preparado e, muito importante, disposto a romper as barreiras deixando o
comodismo de lado.
Assim, a implementação empreendida na Escola Hercília procurou,
principalmente, assegurar que o cinema e o filme histórico são documentos
apropriados e imprescindíveis para a compreensão de fatos passados.
É preciso tornar a experiência com os filmes em sala de aula num exercício
de capacidade crítica onde o aluno seja capaz de constituir uma relação dentre o
exibido e o mundo que o cerca. Ao professor cabe ajudar o aluno durante esse
processo.
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