o chamado de gaia. - rl.art.br · ~ 4 ~ “eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo....
TRANSCRIPT
~ 1 ~
O CHAMADO DE
GAIA.
TIAGO GERALDO MACEDO PENA.
~ 2 ~
ROMANCE.
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PARA O ANJO LEDO COMO TUDO MAIS.
~ 4 ~
“Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha
tudo. Aparte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do
mundo.”
Fernando Pessoa.
~ 5 ~
Sumário. SINOPSE. ............................................................................................... 7
GUSTAVO NARRANDO. ......................................................................... 9
JEOVÁ NARRANDO. ............................................................................ 18
ANTÔNIO NARRANDO. ....................................................................... 27
MARCOS NARRANDO. ........................................................................ 34
PADRE LAIR NARRANDO. .................................................................... 43
JEOVÁ NARRANDO. ............................................................................ 52
ANANIAS NARRANDO. ........................................................................ 63
GUSTAVO NARRANDO. ....................................................................... 72
PADRE LAIR NARRANDO. .................................................................... 81
ANTÔNIO NARRANDO. ....................................................................... 91
ISMAEL NARRANDO. ......................................................................... 101
MARCOS NARRANDO. ...................................................................... 111
ROBERTO NARRANDO. ..................................................................... 120
GUSTAVO NARRANDO. ..................................................................... 131
MARTA NARRANDO. ......................................................................... 144
PADRE LAIR NARRANDO. .................................................................. 157
MARCOS NARRANDO. ...................................................................... 167
ANANIAS NARRANDO. ...................................................................... 180
~ 6 ~
MARTA NARRANDO. ......................................................................... 190
GUSTAVO NARRANDO. ..................................................................... 201
ANANIAS NARRANDO. ...................................................................... 215
MARTA NARRANDO. ......................................................................... 228
PADRE LAIR NARRANDO. .................................................................. 247
GUSTAVO NARRANDO. ..................................................................... 258
ANANIAS NARRANDO. ...................................................................... 268
PADRE LAIR NARRANDO. .................................................................. 278
GUSTAVO NARRANDO. ..................................................................... 287
CARLOS ALBERTO NARRANDO. ........................................................ 298
ISMAEL NARRANDO. ......................................................................... 307
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SINOPSE.
O chamado de Gaia é uma história narrada por
diversos personagens, e cada um deles conta uma
determinada parte da trama sob o seu próprio ponto de
vista, trazendo no decorrer dela as informações de um
cenário pós-apocalíptico. Narrada em primeira pessoa
esse romance se diferencia dos demais por justamente
ter como narradores dez personagens. A história se
passa no ano de 2026 em uma ilha nas proximidades de
Santa Catarina. Depois da terceira guerra mundial em
2017, e de uma destruição global que dizimou metade
da humanidade, Gustavo um dos dez personagens, está
preso no forte sétimo da ilha dos mortos, ele tenta a
todo custo escapar de seus algozes; um carcereiro, um
guarda e o cozinheiro, mas tato ele quanto seus algozes
descobrem que foram deixados na ilha pelo governo
único mundial para morrerem. Agora eles têm que
juntar forças para sair da ilha e tentar voltar ao distrito
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de Gaia, mas uma inesperada surpresa muda todos os
seus planos.
O chamado de Gaia aborda como pano de fundo
nas suas entrelinhas, temas polêmicos amplamente
discutidos entre a maioria dos teólogos da atualidade,
tais como: o arrebatamento, a grande tribulação, e o
governador único mundial, ambos os acontecimentos
futurísticos descritos na Bíblia sagrada. Os personagens
durante toda história se esbarraram em fatos e dados
que levará o leitor a um questionamento se o
arrebatamento realmente aconteceu naquele momento
da história ou não. O chamado de Gaia é uma distopia
arrebatadora que aborta um fato considerado verídico
pelas diversas vertentes religiões, em uma história
puramente ficcional.
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GUSTAVO NARRANDO.
Faz cinco meses que estou trancado nessa prisão,
faz cinco meses que não sei o que é ter liberdade, que
não sei o que é andar por aí como qualquer outra
pessoa comum. A minha cabeça dói, dói, dói, muito,
estou enlouquecendo nesta prisão, às vezes tenho
vontade de bater com a cabeça contra a parede até
rachar os miolos, estou a ponto de cometer uma
loucura neste lugar miserável fétido e inóspito. Se não
me falha a memória, amanhã, justamente amanhã, dia
vinte e nove de novembro, e o aniversário dela, acho
que ela completará dezenove anos de idade, e aqui
estou sem poder abraçá-la sem poder sentir o calor do
seu corpo e os seus lábios de mel. Faz tanto tempo que
não vejo aqueles belos olhos azuis, aquela face lívida e
altiva, aquele sorriso contagiante, faz tanto tempo que
não há vejo; tanto tempo que a imagem dela aos poucos
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vai desaparecendo dos meus pensamentos como a neve
em dias de sol forte.
Hoje não é um dia bom, afinal, nenhum dia é bom
quanto se está trancado em uma maldita ilha desabitada,
essa droga de ilha sem vida, sem seres humanos de
verdade, o único ser que meus olhos veem aqui todos
os dias, e muito raramente por sinal é o do carcereiro,
um sujeito nojento cuja bunda já não cabe na cadeira
onde ele se senta. Existe uma pequena mesa um pouco
a frente da minha cela toda feita de madeira rústica,
com um pequeno jarro de água por cima e nada mais.
De vez em quando o nojento do carcereiro sai para
completar aquela jarra de água, e quando ele sai
demora exatamente cento e vinte segundos contados,
tem dias que ele demora um pouco mais; também com
o tamanho daquela bunda não é para menos, mas em
média, tirando um dia pelo outro ele leva exatos cento e
vinte segundos, isso me faz deduzir que sua fonte de
água deva ser bem próxima daqui.
Os motivos que me trouxeram para esse inferno
verde, aos meus critérios, não é motivo que justifique a
prisão de uma pessoa por tanto tempo em uma maldita
ilha desabitada. Fiz por amor, eu sei que meus
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familiares não compreendem o que eu fiz e nem os
meus próprios pais compreendem os motivos que me
levou a mata-lo, mas ele merecia morrer, se fosse
possível mata-lo outra vez eu o faria novamente e
novamente quantas vezes fossem necessárias.
Perguntaram-me se eu me arrependi pelo que eu fiz, é
claro que eu disse que não, é por isso aquele idiota do
psiquiatra achou que eu deveria ficar nessa droga de
lugar, é outro palhaço que merecia o mesmo destino do
outro cara, não menos do que isso, se depender de
mim, vou pendurar a cabeça dele em um poste no meio
da rua para que todos o vejam.
Eu não sei ao certo a localização dessa ilha, eu
imagino que essa ilha esteja em algum lugar nas
proximidades da costa de Santa Catarina, lembro-me de
poucas coisas de quando eu fui preso, essa falta de
memória deva ser por causa dos medicamentos que sou
submetido a tomar todos os dias, aquele crápula do
carcereiro me obriga a toma-los. Esses comprimidos me
deixam com náuseas e tontura, eu tenho recentes percas
de memória, alucinações, audição de vozes,
principalmente durante a noite que é quando eu mais
tenho ilusões; ou eu estou ficando maluco nesse lugar,
ou, essa maldita ilha é cheia de fantasmas, talvez seja
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fantasias e delírios da minha mente, mas acho pouco
provável. Também tenho apresentado muitas
dificuldades para dormir, passo horas e horas acordado
durante a madrugada, e quando consigo dormir o dia
amanhece, enquanto não durmo fico rascunhando em
um velho calhamaço de papéis.
Como eu estava dizendo anteriormente, essa ilha
muito provavelmente fica nas proximidades da costa
catarinense em algum lugar de grande movimentação de
navios. Da janela da minha cela eu posso ouvir o som
dos navios, e pelo pouco que conheço são navios de
pesca, não tão grandes talvez de médio porte. Isso me
faz pensar que talvez essa ilha em algum ponto deva ter
turismo ou grupos de pescaria, se eu ao menos
conseguisse sair desse maldito lugar, se aquele nojento
do carcereiro me deixasse sair nem que fosse por um
dia apenas, eu teria noção da minha localização.
Enquanto isso eu continuo aqui, recluso nessas grades
de ferro, nessas correntes grossas como se eu fosse um
animal selvagem, mas eu não sou um animal selvagem,
animais são aqueles que me colocaram nesse maldito
inferno.
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A vida na ilha passa lentamente, as horas se
arrastam nos ponteiros do relógio, agora são exatamente
cinco e meia da tarde, de um dia qualquer sem
importância. O sol está com tons alaranjados no
horizonte, percebo pelo pequeno cubículo na minha
cela que alguém talvez chamasse de janela, mas para
mim não é uma janela, é um simples pedaço quadrado
recortado na rocha que serve apenas para me torturar
dia e noite sem parar. A minha imaginação a muito já
enlouqueceu de tanto que fico pensando nas coisas lá
de fora. Pergunto-me se nessa ilha tem outras praias
bonitas, talvez mulheres, a única que eu sei é que eu fui
trancado nesse Alcatraz brasileiro. Sonho com o dia em
que vou sair desse lugar, eu sonho de olhos abertos e de
olhos fechados, me perco no desespero de uma
imaginação também trancada e acorrentada.
Meu crime, segundo dizem os magistrados, foi
tirar a vida de um inocente indefeso. Porém, esse
inocente e indefeso a que dizem os doutores da lei, é o
pior mau caráter de que o mundo moderno tem
conhecimento. A corte internacional há alguns anos
atrás o interceptou tentando passar da fronteira do
México com os Estados Unidos, levando consigo uma
maleta pequena contendo o que segundo ele era um
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antídoto ou alucinógenos fortíssimos que induz os
usuários a manipulação. A família desse cara é cheia da
grana, eles possuem várias empresas no ramo de
bebidas, eu tenho certeza que o pai desse canalha pagou
propina aos juízes para que ele fosse absolvido das
acusações que pesavam contra ele. E como as TVS são
de domínio do governo único, desde a última grande
guerra, nada foi falado a respeito do assunto, nem uma
vírgula, nem um ponto sequer.
O que me irrita e que poucos tem conhecimento
é que esse filho de uma mãe tem traficado meninas
durante muito tempo para lugares na Europa e na Ásia,
geralmente as mulheres são adolescentes e servem
como escravas sexuais aos exércitos desses países
unificados. Muitas delas vivem em condições sub
humanas em quartéis servindo aos generais e soldados,
quando eles estão cansados delas as matam.
Sei disso, eu mesmo investiguei esse cara durante um
ano inteiro, mas a gota d'água foi quando ele tentou
influenciar a minha sobrinha e a minha filha, ele achou
que por ter nome e por ser de famílias ricas eu não iria
denúncia- lo, mas foi aí que a merda toda aconteceu, foi
aí que perdi todo o controle da situação e acabei
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fazendo o que fiz, matei o cara com dois tiros na cabeça
e um no peito, e não tenho arrependimento de nada.
Depois da última grande guerra em dois mil e
dezessete, o mundo virou um caus, nenhum país saiu
vitorioso daquela guerra sem sentido, as bombas
atômicas devastaram cidades inteiras e até alguns países
menores, quando eles perceberam o que tinham feito,
que aquilo era loucura, já era tarde demais. A guerra
durou quatro anos, e foi o suficiente para tirar a vida de
milhares de milhões de seres humanos por todo o
mundo.
Depois vieram às doenças e a fome por todos os
cantos da terra, outras milhares de vidas foram ceifadas.
Depois de todos esse genocídio foi criado um comitê
internacional de governo por nome de Gaia, onde um
único líder governa todos os outros países, tantos os da
América do Norte como da América do Sul, também
os países asiáticos e os europeus, cada um divido por
zonas com seus próprios sub líderes que são chamados
de preferidos.
Para América do Sul foi designado um único
preferido e um comitê internacional, foi justamente
nesse comitê que o outro cara foi solto e eu condenado,
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mas a minha justiça foi pessoal e unânime em condena-
lo a morte por execução. Agora vivo aqui, isolado do
mundo, segundo o psiquiatra que me transferiu para
esse lugar eu sou perigoso e uma influência a motins e
rebeliões. A maioria dos condenados pelos juízes do
comitê internacional ficam presos em outras ilhas, não
como essa que é isolada, mas ficam coletivamente em
uma única cela gigantesca, onde os homens e mulheres
têm que ficar todos juntos, os banheiros não tem portas,
o respeito é prioridade nas prisões, não pode haver
brigas e muito menos sexo, qualquer desvio dos
detentos eles são enviados para trabalhos forçados nas
áreas destruídas pela guerra, ou mortos por pelotão de
fuzilamento.
As drogas que são ministradas nos prisioneiros
são para manipulação, uma vez drogados eles fazem de
tudo quanto os seus algozes desejam. Por pouco eu
também não fui submetido às essas drogas, mas pelo
pouco que lembro eu acabei brigando com os guardas,
todos os dias eu arrumava uma tremenda confusão, isso
valeu-me vários hematomas por todo o corpo, sem
dizer nas costelas quebradas.
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A um mês venho tentando fugir desse lugar, mas
não há como sair daqui, é praticamente impossível, esse
carcereiro do inferno não se importa nem um pouco
comigo, ele não vacila, é esperto e sabe que a qualquer
erro dele, por menor que seja eu fujo dessa prisão, eu já
o estudei, sei exatamente como ele funciona, os seus
horários e seus gostos, tudo, tudo ,tudo, muito em breve
vou surpreende-lo.
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JEOVÁ NARRANDO.
Hoje faz dois anos desde que eu fui designado
para assumir o comando da carceragem da ilha dos
mortos. Atualmente sou um dos únicos funcionários
aqui, fora o cozinheiro e mais um guarda que faz rondas
ao entorno dos muros da prisão, não há mais ninguém.
Os dois são pessoas legais, durante certa hora da noite
paramos um pouco para conversarmos. O cozinheiro é
meu amigo de infância, já o guarda eu o conheci no dia
em que ele foi designado para a ilha, inclusive viemos
no mesmo dia, ele é um cara bom, não é de ficar
tagarelando muito, mais é um cara de muito bom
coração, tem sempre histórias para contar a respeito de
coisas que viu na ilha, eu não sou de acreditar nessas
histórias de assombração, mas tudo bem.
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A ilha é um paraíso verde, de uma beleza que
com palavras fica difícil de descrevê-la. O sol ao nascer
é de um espetáculo que tira o fôlego, os matizes
dourados por sobre as águas cristalinas, fazendo com
que o mar pareça ter sido feito todo de ouro puro. Os
muitíssimos pássaros que habitam a ilha parecem
perceber melhor esse espetáculo, a impressão que
tenho é que todos os pássaros param para ver o nascer
do sol, e com uma sinfonia de cantos dos mais diversos
tipos e variados tons, faz com que dia se inicie com mais
beleza e ternura. Às vezes eu penso nos pássaros como
pequenos anjos que Deus enviou para alegrar as nossas
vidas, aquilo que muitos não percebem como belíssimo
os pássaros percebem, e os seus cânticos são louvores
ao criador, é também de alguma forma um diálogo
com a própria natureza que por certo retribui- lhes
alimentando-lhes todos os dias.
A única coisa que não se encaixa com a bela
paisagem dessa ilha é o forte. Quando eu fui designado
para este setor prisional pelo preferido da América do
Sul, ainda não havia presos aqui, um mês depois veio o
primeiro deles. O cara é um sujeito esquisito, não é de
falar muito, às vezes muito rebelde com as medicações
que tenho que ministra nele todos os dias, é um sujeito
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difícil de lhe dar. A acusação e condenação que pesa
sobre ele foi por assassinato sem chances de defesa, não
sei bem o que aconteceu, mas pelo pouco que me
informou o comando ele é um cara extremamente
perigoso e muito inteligente. Ele estava em outro setor
prisional, mas por causar brigas e motins entre os
prisioneiros ele foi transferido para cá a pedido do
psiquiatra. Eu nunca troquei uma palavra com esse cara
em cinco meses.
Às vezes eu tenho o desejo de conversar com ele,
saber da sua história, sua verdadeira história, se ele tem
família, o que o levou a tirar outra vida. Mas aqui na
ilha as coisas são diferentes, o tempo aqui passa de
outra maneira, os ponteiros do relógio parecem se
arrastarem alguns meses aqui tem o peso de um ano
inteiro, para dizer a verdade eu não vejo a hora de
voltar para a cidade Gaia, aqui não é um lugar assim tão
ruim, a dificuldade maior é justamente acostumar-se
com a solidão, nem sempre é possível conversar, uma
vez que, o prisioneiro não fala nada, o cozinheiro está
sempre ocupado e o guarda sempre em ronda, só
mesmo durante a noite para trocarmos algumas palavras
a respeito de como foi o dia de cada um, nos reunimos
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por volta de oito horas da noite, e depois de comermos,
jogamos um pouco de baralho.
O mundo passou por muitas mudanças depois da
grande guerra, muitos países sofreram com as bombas
atômicas que varreram cidades inteiras, lembro-me dos
horrores daqueles dias sombrios. O Brasil foi afetado
por diversas maneiras, tanto pelas bombas quanto pelas
doenças e pela fome. A cidade de Salvador na Bahia e
outras menores já não existem, um dos artefatos
nucleares caiu bem no centro de Salvador, o que resta
hoje são apenas ruínas do que um dia foi a cidade.
Outras mais foram atacadas por bombardeiros
menores, mas com grande poder de destruição. As
doenças vieram logo em seguida devastando o povo
mais pobre, foi preciso criar áreas de contenção para
todas essas pessoas, a fim de que as doenças não se
espalhassem ainda mais, causando mais mortes.
O prisioneiro da qual fui designado para guardar
não parece querer colaborar, eu não sei o que ele pensa
a meu respeito, com certeza não são pensamentos bons.
Tenho muitas dúvidas quanto à este lugar, meus
superiores não me dizem nada, a única coisa que sei é
que não posso deixar esse cara sair da cela por nenhum
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motivo, nem mesmo um banho de sol. Já faz cinco
meses que ele está trancado nesta cela, vendo o sol
nascer por um cubículo miserável, eu não suportaria tal
coisa, se fosse eu já teria colocado um fim na minha
vida, não sei por que esse cara se submete a tantos
sofrimentos e humilhações. Para ser bem sincero eu
não sei se posso continuar com isso, drogando-o dia
após dia, qualquer hora ele morre nessa cela, morre e
ninguém vai saber ninguém, vai ser apenas mais um
corpo.
Outro dia enquanto o prisioneiro dormia pelo
efeito dos medicamentos resolvi caminhar um pouco
pela praia. As coisas já não são as mesmas de antes,
durante muito tempo o mundo ficou ensaiando uma
possível guerra, mas ela nunca acontecia, o que não
percebemos, o que ninguém estava vendo é que os
países na verdade estavam se preparando para guerrear,
aumentando os seus arsenais, treinando os seus
soldados, tudo debaixo dos nossos olhos, mas não
vimos nada, não conseguimos enxergar a verdade nua e
patente debaixo de nossos narizes, quando demos conta
já era tarde demais, não houve tempo de reagirmos, não
houve tempo de protestos, não houve tempo de
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cartazes coloridos e multidões eufóricas gritando pelas
praças pedindo por seus direitos.
Um dos meus passatempos nessa ilha fétida é a
leitura, gosto de ler poemas, sou apaixonado por
poemas, recentemente terminei de ler um livro de um
dos heterônimos do Fernando Pessoa, o livro era de
Alberto Caeiro, amo as poesias desse Cara, não vejo
outras melhores e nem mais profundas, com um teor
filosófico tão peculiar. Caeiro busca a simplicidade em
cada palavra que escrevia, ele era o tipo de pessoa que
vivia para si mesmo, por isso eu gosto tanto de ler
Caeiro. O bem da verdade é que eu gosto de todos os
livros de Fernando Pessoa, todos os seus heterônimos,
é de um brilhantismo descomunal. Não há muitos livros
na biblioteca da prisão, apenas aqueles que eu trouxe
comigo, solicitei outros livros, mas o comandante não
os trouxe. Então costumo devorar esses poucos
exemplares daqui.
Vivo em um mundo de ilusões, tudo não passam
de uma ilusão, as pessoas são ilusões ambulantes que
vagam sem destino certo. As ideias são ilusões que não
passam de histórias sem sentido, e a vida em si, aos
poucos perde o seu sentido, tudo está perdendo o
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sentido, já não suporto mais esse mundo de ilusões em
que estou vivendo. Houve um tempo, quando a guerra
ainda não tinha acontecido, que eu pensei que fosse
crescer na vida e ganhar dinheiro, fazer um curso, coisas
desse tipo, mas aos poucos tudo foi mudando. A crise
econômica de dois mil e dezesseis parecia ter sido
superada, mas foi outra ilusão, quando menos
esperamos estávamos mergulhados até o pescoço em
um rio de sangue e de corpos, as flores foram
manchados de sangue, os sonhos foram manchados de
sangue, tudo passou ser vermelho.
Hoje eu tentei um diálogo rápido com o
prisioneiro, dei-lhe um bom dia, perguntei-lhe se
precisava de algo, mas ele não respondeu nada.
Quando foi a hora do almoço voltei a perguntar se ele
precisava de alguma coisa, ofereci um dos meus livros, e
para minha surpresa ele aceitou. O medicamento que o
psiquiatra receitou não foi ministrado hoje, joguei-os
todos ao mar, estou cansado de torturar esse sujeito sem
nome, afinal, não é só ele o prisioneiro aqui, o bem da
verdade é que todos nessa ilha são prisioneiros, tanto
ele quanto eu o cozinheiro e o guarda, eu não sei o que
os meus amigos pensam a respeito, mas estou ficando
cansado desse lugar dessa vida de solidão, por mim eu
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sairia daqui hoje mesmo. Já faz um mês que ninguém
vem aqui, nenhum barco de entregas, nada, nada, nada,
segundo o cozinheiro nossos suprimentos durarão
apenas mais um mês.
Nas dificuldades nascem as oportunidades, eu li
isso em algum livro de que já não me lembro.
Analisando friamente nossas condições aqui na ilha,
percebo melhor essas oportunidades, talvez o meu
prisioneiro não seja assim tão ruim, talvez a primeira
impressão é que não foi boa, mas acredito que o
destino está nos dando uma nova oportunidade de
refazer essa primeira impressão tornando- a um pouco
melhor. O fato de não ter dado os medicamentos para
o prisioneiro o fez reagir diferente comigo, já não vejo
tanta raiva em seu olhar, até um tímido sorriso ele
esboçou, talvez as coisas mudem, mas devo tomar
cuidado, todos os cuidados são poucos. Meu pai dizia
que coração é terra de ninguém, você nunca saberá o
que se passa no coração de uma outra pessoa. Por esse
motivo devo tomar cuidado com o meu prisioneiro, se
as intenções dele não forem boas estarei colocando a
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minha vida em risco e a de meus companheiros
também. Eu acredito que vale a pena arriscar, não sei o
que pensa meus companheiros, mas vou arriscar, afinal,
o que tenho a perder, já não tenho esposa e nem filhos,
o que eu tenho está nessa ilha. E por mais esquisito que
pareça, as pessoas nessa ilha é a única família que
conheço, até o prisioneiro, por isso devo ajudar-lhe,
creio que seja o certo a se fazer.
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ANTÔNIO NARRANDO.
Caminho solitário pelos muros da prisão, eles se
estendem por uma grande parte da ilha, começando do
norte da praia e indo até a parte leste onde ficam os
paredões de pedra. O muro da prisão tem exatamente
dez metros de altura por um de largura e um corredor
estreito por cima dele por onde posso caminhar. A cada
cem metro de muro foi construído uma cabine de
observação, ela é pequena, mas me permite descansar
entre uma caminhada e outra, em casa cabine também
existe água e uma arma, geralmente uma pistola com
dois pentes carregados para o caso de uma eventual
necessidade, embora eu acredite que não será
necessário o uso da arma, pelo menos não com o
prisioneiro.
A ilha é belíssima, as suas árvores frondosas
circunda toda a parte da frente da ilha depois da praia.
Isso nos ajuda na camuflagem, quem vem do mar alto
não tem uma visão completa do que tem no interior da
ilha, de forma que nossa prisão acaba sendo um
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mistério. Às vezes vejo grandes barcos navegarem
próximo aos paredões de pedra, mas como eles são
muito altos e as árvores também são altas, fica
praticamente impossível enxergar alguma coisa. A ilha
foi construída na época da grande guerra, ela serviria
para os prisioneiros de guerra, o sujeito que a projetou
fez uma espécie de abrigo contra bombas, existe uma
série de compartimentos e túneis que poucos sabem,
existem também algumas salas subterrâneas que nem
mesmo eu entrei ainda.
Caminhar por sobre o muro é um desafio,
principalmente durante a noite. Como sou o único
guarda aqui, eu alterno minhas rondas, durante dois
dias faço o turno do dia trabalhando das sete da manhã
as sete da noite, depois eu descanso um dia, e no outro
dia fico a noite com o turno das sete da noite as sete da
manhã. Não há outro guarda que me substitua na folga,
sou apenas eu, durante a minha folga a muralha fica
desprotegida. Eu já solicitei ao comando que me
enviasse pelo menos mais um guarda para me ajudar,
mas a resposta foi enfática do comandante, ele disse:
“Não enviaremos ninguém para a ilha por enquanto,
estamos com problemas até o pescoço.” Essas foram as
suas palavras e não há como contestar o comando, eu
tenho que obedecer e cumprir as ordens.
Atualmente nós estamos em quatro pessoas na
ilha, eu, o Jeová que é o carcereiro, o Marcos que é
nosso cozinheiro, e o Gustavo que é o nosso prisioneiro
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de número zero do forte. E por falar nesse cara, ele é
muito estranho, parece muito perigoso, observa tudo
atentamente, parece perceber cada detalhe a sua volta.
Faz cinco meses que ele veio para esse ligar, segundo o
comando ele é extremamente perigoso, e deve ficar
trancado e em hipótese alguma ser solto, nem mesmo
para um simples banho de sol. As acusações que pesam
sobre ele é de assassinato de um dos grandes
empresários de Gaia, sinceramente eu não quero saber
o motivo dele ter matado esse cara, para mim assassino
é assassino e deve apodrecer preso, morrer solitário
nesta ilha desabitada, não existe lugar pior do que este
aqui.
Outro dia eu estava justamente conversando com
o Jeová sobre essa ilha. No meu entender alguma coisa
não está encaixando nessa história toda, nos mandar
para um lugar no meio do nada, só a nós quatro, e
ainda com recursos limitados? O Jeová acha que não,
mas conversei como Marcos e ele me disse que os
nossos suprimentos não vai durar mais um mês, depois
disso não teremos o que comer. Eu tentei comunicação
com o alto comando, mas o rádio não funciona, nós
estamos incomunicáveis nessa ilha, quando vierem os
suprimentos vou pedir- lhes um radio novo com uma
antena, eu mesmo vou instalar essa antena, pelo menos
assim saberemos o que se passa no mundo lá fora. Às
vezes me sinto como um prisioneiro também, para ser
sincero, somos todos prisioneiros nessa ilha.
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Têm dias que tenho pesadelos horríveis com os
horrores que presenciei na grande guerra, eu era um
soldado novato, fazia parte do terceiro pelotão de
fuzilamento e de reconhecimento terrestre. Quando a
guerra estourou lá no oriente médio, nosso governo se
aliou aos Americanos e ingleses, no primeiro momento
o conflito se prendeu ao oriente médio e parte da
Europa, os soldados brasileiro foram enviados para o
fronte de batalha. Na primeira leva foram cinquenta mil
homens para combater nas trincheiras da Síria e
regiões, lugar de dificuldade, foram batalhas duras,
muitos soldados morrendo todos os dias, éramos o
pelotão de frente, a bucha de canhão dos americanos e
dos ingleses. Por sorte, muita sorte, muita, muita sorte
eu sobrevivi aquele inferno, fui ferido duas vezes nos
ombros, por Deus não morri.
Às vezes fico pensando em como a vida perdeu o
seu valor, em como o ser humano perdeu suas
características de ser humano. Muitas vezes vemos
animais fazendo coisas que chamam a atenção. Outro
dia, em uma das minhas rondas eu vi um animal
selvagem, acho que uma onça, eu não sei dizer o motivo
nem o porquê, mas o coitado do animal estava ferido,
quase a ponto de desfalecer. Em um determinado
momento aquele animal caiu, fazia sons estranhos,
como se estivesse pedindo socorro, não demorou e
outros apareceram e ficavam em torno do animal caído,
mexiam nele com as patas, com o focinho, como se
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quisesse reanimar ou coisa assim. Quando a onça
morreu as demais ficaram alvoraçado, soltavam o som
parecido com uivos, como se elas estivessem chorando.
Quando eu estava no fronte de guerra presenciei
coisas horríveis, coisas que jamais vou esquecer, muitos
dos meus amigos, pessoas que cresceram junto comigo
morreram na minha frente. Na guerra não há
vencedores, uma guerra serve apenas para enriquecer os
banqueiros, que são os verdadeiros financiadores dos
grandes conflitos, enquanto os mais pobres são levados
ao matadouro. Outra finalidade da guerra é diminuir a
população mundial, o velho plano dos iluminatis, a
muito escritos nas pedras guias da Geórgia, nunca
ninguém deu importância para aquelas pedras e seus
escritos, por muitos anos as pessoas acharam que aquilo
era apenas uma brincadeira, mas na verdade, era uma
profecia desse grupo denominado iluminatis, que
sempre visou à redução populacional.
O que vai ser do mundo a partir de agora? A
maioria das cidades Brasileiras está em ruínas, a fome e
as doenças devastaram o país inteiro, a nossa floresta
amazônica, de que tínhamos tanto orgulho, passou a ser
propriedade do governo único mundial. O que nos
resta é uma vaga esperança que a cada dia vai ficando
cada vez mais apática e doente. Não temos a quem
recorrer, nós não temos saída, ou nos sujeitamos aos
desejos do Governo único, ou ficaremos a mercê da
miséria e do abandono. Meu desejo neste momento é
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voltar para minha esposa, Helena, loira, linda, mulher
maravilhosa, eu quero retornar para casa o quanto
antes. O comandante disse que eu seria substituído, mas
até o momento nada foi feito, nenhuma ligação. A
minha impressão é que estamos esquecidos nesta ilha
esquisita.
Sou um dos poucos sobreviventes das zonas de
conflitos, um dos poucos brasileiros a não voltar dentro
de um caixão, e o que ganhei foi apenas uma ilha
deserta com um único prisioneiro maluco para tomar
conta. Apesar de que não posso reclamar da ilha em si,
pois sua beleza é imparável, surpreende. Faz com que
eu me lembre da minha lua de mel, o ano se não me
falha a memória era dois mil e treze. Naquele ano
passamos a lua de mel em uma das praias do litoral
Alagoano, se não me falha a memória, era a praia do
Gunga. Lugar paradisíaco, cercado de coqueiros, cem
mil pés espalhados de um lado e de outro na pista que
dá acesso a praia. Ficamos em uma casa de praia de um
amigo, aquele foram os meus melhores dias, jamais
esquecerei, se eu soubesse o que me aguardava já os
teria saído daquele lugar.
Às vezes me questiono sobre o que tem na
ilha, nunca adentramos em seu interior, não tenho
ideia de seu tamanho real, nem o que o seu interior
esconde. Certo é, que a minha curiosidade está ficando
maior que o medo, não vai demorar muito e vou me
aventurar na ilha adentro. Vou lhes explorar os seus
~ 33 ~
muitos segredos ocultos, aventurar por horas e horas,
fazer trilhas, descobrir o que está do outro lado da ilha.
Por enquanto essa é minha prisão, ficar confinado nas
dependências desse muro de pedra. Amanhã mesmo
vou conversar com o carcereiro, já não suporto mais
esse lugar, quero sair, eu ei de sair e conhecer
um pouco mais da ilha, saber com que estamos lidando
neste lugar, talvez estejamos aqui somente para sermos
eliminados, como queima de arquivos. Estão querendo
nos ver mortos.
Não sei se há esperança para o mundo, talvez
daqui a alguns anos nem mesmo haja mundo, então fico
a me questionar: Qual a razão disso tudo? Qual o
motivo de continuar com isso? Faço rondas para que?
Se nós somos os únicos habitantes desse lugar. Não há
lógica nenhuma proteger uma prisão com muros
altíssimos, não há lógica nenhuma tantas armas, e para
que? Para quem? Um único homem? Talvez as
razões sejam outras, talvez os motivos sejam outros.
Estou tentado a declinar dessa missão sem sentido, me
sinto só, como se estivesse em um deserto, mas esse
deserto não é de areia, e de árvores e floresta densa.
Hoje é terça-feira, dia quinze de outubro de dois mil e
vinte e dois. E o mundo, e o meu mundo, continua o
mesmo, sem sentido, sem razão de ser.
~ 34 ~
MARCOS NARRANDO.
O suicídio é uma ideia latente dentro de mim,
me corroendo a alma e o coração, um desejo que
queima que arde, às vezes vem forte, muito forte, muito
mais forte do que eu. Eu tento despista-lo, mas não
consigo às vezes eu o desejo, ele corre de mim, às vezes
é ele que me desejo, eu me escondo dele. Minha vida é
essa inconstância. O suicídio me deseja a tanto tempo,
que já perdi as contas, houve momentos da minha vida
que quase cedi aos seus encantos insanos, um momento
de desespero, de angústia, de dor, nas mãos uma corda,
grossa corda. Lá estava o meu pescoço, desejando a
corda, cortejando a morte, mas nesse dia ela fugiu de
mim, a morte não me quis, ela parece não me querer;
ou sou eu que nunca quis a morte? Agora estou
confuso.
~ 35 ~
O suicídio me atormenta em dias de silêncio,
profundo silêncio, penso nele de muitas maneiras
diferentes; existem várias maneiras de se pensar nele, eu
sei que tem maneiras diferentes de pensar nele, ele
mesmo me disse, ele mesmo me mostra. Não é só a
corda, não é só a bala de um revólver, não é só se jogar
de uma ponte, não é só pular de um prédio, não é só se
jogar debaixo de uma carreta, não é só se ferir com uma
faça, não é, não é isso, é muito mais.
O suicídio veio cantando sua fúnebre canção, os
braços estavam abertos, um largo sorriso no rosto, lá
estava ele, em um pequeno frasco desconcertado,
clamando pelo meu nome, querendo a doçura de meus
lábios, eu sem ter o que fazer, sem ter como me
defender; eu que relutei, dentro de mim era uma
confusão só, parte de mim queria aquilo, parte de mim
não queria; ah... Que terrível contradição.
O suicídio é como uma sombra que me
persegue, me espreita por onde quer que eu vá sempre
silencioso, sempre sombrio, frio como as noites mais
geladas, petrifica a alma com seus gemidos misteriosos,
na calada da noite ele se esconde atrás do véu de
mistérios ele se oculta, em noites sem luar onde não há
~ 36 ~
um mínimo de luz, sem compreensão do perigo, eu não
me importo, não me incomodo.
O suicídio beijou-me outro dia, seus lábios
tinham gosto de morte, suave gosto, suave veneno a
correr por minhas veias, a inundar meu coração,
cegando os meus olhos, eu já não vejo as cores no
mundo, aos poucos tudo é preto e branco, os aromas e
perfumes, aos poucos se tornam em cheiro de
cemitério, todo o meu universo aos poucos se dilui,
perde a força vital da vida, e a vida transforma - se em
morte.
O suicídio é uma ideia um tanto quanto
egocêntrica, talvez algum psicológico diga que meus
laços com a sociedade ao meu redor são tênues demais,
talvez sim, talvez seja isso mesmo, uma vez que a
sociedade também ajudou na minha destruição, de
dentro para fora, aliás, minha relação com meus
semelhantes é uma impossibilidade grandiosa, eu os
suporto os tolero, mas no fundo, não me adapto.
O suicídio é o meu café da manhã de todos os
dias, eu coloco o suicídio na fatia do pão, junto com o
café, na sobremesa, na hora do almoço, ele adoça meu
suco, e amarga o meu coração, o seu reflexo está na faca
~ 37 ~
que uso para cortar os alimentos, na faca usada para
cortar o pão, em qualquer vil metal cortante, eu sempre
vejo o meu reflexo, eu sempre o vejo em um caixão de
madeira, estendido eternamente diante de mim.
O suicídio é uma arte, uma pintura na tela negra
do pensamento, com cores sombrias, cores medrosas,
cores covardes, uma tela sem sentido para quem
contempla, mas para o artista que a pintou, ela é
perfeitamente compreensível. Ele também é artista,
sempre pintando o caminho das almas condenadas ao
esquecimento, almas carregadas de cores de tristeza,
cores mortas, a arte da morte é bela.
O suicídio é silencioso como Van Gogh, intenso
como Picasso, seu pincel é uma foice afiada no pescoço,
pronto para usar a tinta vermelha do meu sangue, tinta
maravilhosamente bela. A tela é uma caixa de madeira,
exposta nas profundezas da terra, sete palmos de
profundidade; por cima uma cama de grama, cobrindo
o descanso eterno, de uma alma falida, vencida, perdida
no esquecimento.
O suicídio é a noite escura sem estrelas, sem luar,
noite cheia de quimeras do passado, cheia de gritos e
arrepios, cheia de coisas estranhas que não
~ 38 ~
compreendo, ele porém, é um ótimo observador, fica
de longe espreitando, estudando os meus passos,
medindo as minhas ações, e quando vê uma brecha, um
momento de descuido, ele ataca com ferocidade,
causando feridas enormes, férias que não se cura.
O suicídio é um emaranhado de ideias pequenas,
todas devidamente trançadas, de um modo tão perfeito,
que aquelas tênues ideias isoladas, agora é uma corda
forte, amarrada a meu pescoço, essa corda de morte, é
mais forte do que eu, supera minhas forças, as minhas
vontades, e quando por fim ela der o aperto final, será o
fim, mas ela parece brincar , desafiar, é um gato
brincando com suas presas."
O suicídio é tão desejado por tantas mentes
fracas, é tão almejado pelos corações levianos, mas que
é pouco executado, nem todos os que dizem ser
suicidas em potencial conseguem concretizar o ato de
tirar a própria vida, por medo talvez, medo do que
poderá encontrar do outro lado, afinal, morrer é apenas
mudar de lado, não existe apenas este lado, não é só
essa vida, poucos sabem disso, mas o suicida tem
destino certo do outro lado.
~ 39 ~
O suicídio é apenas uma passagem para o
inferno, digo a verdade é não minto, eu sou um suicida,
e tentei descrever a minha mente suicida, ela é
complexa eu sei, cheia de altos e baixos, de momentos
de extremo desespero e raros momentos de calmaria.
O suicídio é algo real, está presente em cada canto desta
maldita ilha desabitada, eu não suporto mais a minha
vida, eu não suporto mais ter que cozinhar e cozinhar,
nada faz sentido neste lugar miserável, estou no inferno
por antecipação. Não há nada que eu possa fazer, não
há nada que eu possa desejar, não há nada que eu possa
querer além da morte, da sua foice afiada, de um
ingresso na barca de Corante. Viver tem se tornado um
fardo insuportável demais, não mereço o ar que eu
respiro, eu não o mereço. A minha vida perdeu o
sentido, a minha vida não tem razão de ser, ou que eu
sou? Meu Deus o que eu sou? Quem eu me tornei?
O suicídio é a tentativa desesperada de si libertar
desse mundo opressor, não precisamos desse mundo, é
só partir dele. Desde a guerra, maldita guerra, que
ceifou o que eu mais amava que levou o meu tesouro, o
meu coração, a razão da minha vida. Minha doce
princesa de olhos verdes, pequena criança cheia de
vida. O que ele fez para merecer tal destino? O que ela
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fez, diga-me? Porventura uma criança não merece a
vida? Não era para ser assim, não era? Eu não entendo,
não mesmo.
O suicídio é minha única opção, de qualquer
forma morreremos mesmo, os alimentos não vão durar
mais um mês, embora sejamos apenas quatro pessoas, o
que temos não será o suficiente. Eu não gosto desse
lugar, é sombrio, é frio, péssimo lugar para morrer,
péssimo lugar para dar adeus ao mundo, já não o
suporto mais, mundo sofredor, mundo cão. A vida se
desfaz como o gelo que se derrete, a vida se esvai como
o orvalho da manhã, ela se esvai, escorregando por
entre os dedos. Já não suporto mais esse lugar, volto a
repetir, eu não suporto mais esse lugar.
A guerra veio ao poucos, sorrateiramente,
escondida por detrás das faces cobertas, com a
prenuncia de terrorismo. Aqueles que não estavam
contentes com a paz provocaram o deus da morte,
financiando armamentos, alimentando ilusões,
dissimulando a discórdia entre os povos, entre as
culturas e raças. Aos poucos, assim como em um fim de
tarde que desaparece sem o percebermos, da mesma
forma a paz foi surpreendida pela guerra e a vida pela
~ 41 ~
morte. Os que viviam a correr livres pelos campos
verdejantes, hoje estão esquecidos nas mansões da
morte, na terra do nada, basta profundezas do abismo
sem fim, acorrentados aos seus desejos mais profanos,
mais absurdos, a guerra veio e não a percebemos.
Sei que ninguém compreende a mente de um
suicida, sei que ninguém aceita a ideia de tirar a própria
vida, mas o que ninguém compreende o que ninguém
entende, é que a minha vida já foi tirada. No dia em que
os aviões sobrevoaram o nordeste do país, eu e minha
filha brincávamos em um terreno descampado,
espaçoso, não havia armas ali, não havia soldados
ali, não havia nada. Eu e minha filha e vinte e cinco
crianças, corríamos e brincávamos quando as
metralhadoras ponto cinquenta disparou contra nós,
muitas crianças mortas, choro, dor, tristeza, entre as
crianças mortas estava a minha filha, doce anjo ledo que
não sorri, nunca mais meus olhos verá o sorriso dela.
Por isso desejo o suicídio, matar o corpo que ainda está
de pé, porque a alma morreu naquele dia, naquele
campo sangramento. Hoje vivo por viver, escondido em
uma ilha que não representa mais nada, apenas o desejo
latente de deixar a vida. Meu último desejo é que
~ 42 ~
escrevam na minha lápide. " Amou, viveu, amou,
morreu. " apenas isso é nada mais importa nessa vida.
~ 43 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
PADRE LAIR NARRANDO.
Às vezes é interessante partir do princípio de não
sabermos quem é a outra pessoa, pelo simples motivo
de ter que descobrirmos um ao outro. A expectativa de
sermos surpreendidos pelo outro é emocionante, e não
é necessário muitas coisas para fazer uma surpresa
agradável.
Voltando ao pensamento anterior, eu não desejo
o glamour de um nome em uma estante de uma livraria,
o meu real desejo é provocar o desejo no coração
alheio, o meu desejo é tocar a alma das pessoas com
simples palavras que vai além de tinta no papel, é o
~ 44 ~
irreal e imaginário se concretizando dentro do coração
de cada leitor. Ouvir de alguém: "Eu amei o que você
escreveu” não tem valor ouvi isso, dinheiro nenhum
paga, é isso que inflama o meu desejo em ser escritor,
mas, com o mundo do jeito em que está será apenas
mais um sonho não realizado.
A vida é cheia de altos e de baixos, de momentos
em que você está sujeito às tempestades da vida; assim
como os discípulos ao serem surpreendidos por uma
forte tempestade no meio do mar, Jesus se fazia
presente naquela embarcação, com a cabeça declinada
em um travesseiro, dormindo tranquilamente.
Enquanto dentro do barco era de um desespero
incompreensível e descontrolado, homens experientes
lutando não contra o mar, mas contra si mesmos, contra
os seus medos internos, contra os seus conflitos
pessoas. Em dado momento Jesus despertou, avaliou a
situação e a gravidade dela, com simples palavras ele
deu ordens ao mar para que se acalmasse e que os
ventos parassem, foi então que grande calmaria se fez
naquele momento. Os discípulos espantados não
sabiam o que dizer e o que fazer.
~ 45 ~
Nas nossas vidas nos deparamos com
tempestades que se avolumam e se agigantam, que
veem de encontro contra a fragilidade do barco da
nossa vida. Somos marinheiros, filhos do mar, éramos
para sabermos lidar com determinadas situações, mas
infelizmente o nosso descuido, a nossa depreciação do
divino impede-nos de alcançarmos os objetivos a nossa
frente. A falta de calma, o descontrole da alma, o
coração em colapso de medo e incertezas nos torna
pessoas fracas e impotentes para atuar com eficácia nas
tempestades das nossas vidas, por fim, desejamos a
desistência, a inconstância, se entregar só ao medo,
alimentando a incerteza. A razão desconhece o coração
por ele ser fraco, e o coração desconhece a razão por
ela ser insensível aos acontecimentos.
Analisando a presente sociedade, ou pelo menos
o que restou dela, vejo um ser humano muito mais
preocupado com o que está dentro de si do que o que
está ao seu redor. Durante muitos anos antes dos
conflitos se agravarem, era notável o modo de vida das
pessoas nas grandes metrópoles, milhares de pessoas
saiam pelas ruas, gastavam as economias que não
possuíam, e descontroladamente tentava preencher um
espaço vazio em si mesmo que era do tamanho de um
~ 46 ~
Deus, este espaço poucos conseguiram preenche - ló,
por isso muitos são ocos, sem vida, sem sentido, a vida
é muito mais do que os olhos possam ver, é muito além
do que o coração possa sentir, não há palavras que
expliquem a grandiosidade da vida que não se baseia no
material.
Houve um tempo que o glamour de uma estante
de livros movia meu coração, pelo simples motivo de
ter o meu nome exposto em uma livraria. Mas em que
isso me ajudou, ganhar dinheiro, folhas de papel, será
que isso realmente importa? O que isso realmente vai
fazer diante da minha alma vazia e sem Deus? O
buraco que existia em mim era grande demais, hoje eu
sei que isso não tem valor, o interessante e saber o
quanto de satisfação meus escritos trarão aos meus
leitores e ver o quanto aquelas palavras vão mover no
mais profundo do íntimo, isso que é válido, é bom,
reconfortante e não há dinheiro que pague. Eu costumo
dizer que o homem tornou-se escravo de si mesmo, de
seus desejos mais mesquinhos, o homem trancou a si
mesmo em uma cela e jogou a chave fora, quando
percebeu o que fez, já era tarde demais.
~ 47 ~
A vida deveria de ser simples, assim como uma
flor ao desabrochar, a vida deveria seguir o curso da
natureza, ter o exemplo das rosas e dos jasmins, mas
nos seres humanos somos ervas daninhas. Passamos a
vida a sufocar nossos próprios sonhos, enquadrando as
nossas expectativas está em um pequeno cubículo de
incertezas e questionamentos sem muito sentido, por
esse motivo, sou o que sou como dizia o apóstolo
Paulo. A vida é um dom gratuito de Deus, ele não nos
cobra o ar para respirarmos, não cobra a água que cairá
da chuva, e nem os raios do sol, tudo nos é dado
gratuitamente. E o que fazemos se não murmurar assim
como murmurou o povo no deserto, mesmo tendo
tudo, acharam que não tinham nada, a ingratidão é o
pior de todos os venenos já criados pelo homem.
Não sei o que existe do outro lado dessa ilha,
talvez nada, talvez tudo, talvez índios selvagens e
canibais. Certo é que o imaginário popular produz
aquilo que convém a respeito do outro lado da ilha. O
que somos senão reféns do mar, das ondas caudalosas
por sobre a praia, rugindo furiosas com as coisas que
estão acontecendo do outro lado do mundo. As pessoas
aqui vivem em seus próprios universos pessoais, não
desejam muita coisa além daquilo que o mar lhes
~ 48 ~
oferece. Eu sou apenas mais um em meio à solidão,
essa palavra solidão tem muito significado na vida de
todos nós. Eu também sou filho da solidão, não a
cultivo no canteiro da minha alma, mas a rego com as
lágrimas dos meus olhos. Eu sou apenas um padre, um
simples sacerdote a serviço de Deus, a mercê da sorte, a
procura de mim mesmo.
O senhor Ananias é um dos mais antigos
pescadores na ilha, ele nunca saiu dela para nada. A
única coisa que ele conhece é o outro lado da ilha, mas
por algum motivo que só ele conhece evita a todo custo
falar do assunto. Por diversas vezes tentei dialogar com
ele sobre o que existe do outro lado, mas ele não diz
nada, eu não sei o que aconteceu na vida dele e nem o
trauma que ele sofreu para não querer falar a respeito,
todavia, é meu dever ajuda-lo a superar as suas
dificuldades e os seus medos, meu trabalho aqui é
quase como o de um psicólogo, mas o que as pessoas
não percebem é que neste meu peito também bate um
coração de carne, que anseia pela liberdade de fazer o
que bem entende. Sou humano, fico triste, às vezes
choro pelos cantos sem que ninguém veja, afinal, não
posso deixar que me visse chorando.
~ 49 ~
O pequeno grupo de pescadores da ilha,
liderados pelo senhor Ananias costumam pescar quase
o dia todo. Geralmente eles saem pela manhã logo
depois do café. Aprontam as suas redes, e com seus
pequenos barcos saem pelo mar. Às vezes as pescaria
não é das melhores, o mar não é mais o mesmo, os
peixes parecem ter sumido, isso se deve a grande
guerra, imaginem milhões de toneladas de bombas
sendo arremessadas no mar. Navios gigantescos de
guerra se enfrentando nos mares do Brasil, eu mesmo
presenciei esses horrores. O homem está provocando o
seu próprio Apocalipse, o homem destrói tudo aquilo
que Deus criou toda beleza da criação está sendo
destruída por conta da ignorância de corações feridos
sem terem paz. Lágrimas nascem de meus olhos.
Certa vez, em uma conversa informal, seu
Ananias falou-me de uma prisão construída do outro
lado da ilha. A prisão segundo ele foi feita com pedras
da própria ilha, seus muros ultrapassavam os dois
metros de altura. Segundo seu Ananias ela fora feita
durante a grande guerra, e serviria como deposito de
armamentos e refúgio de soldados bem como prisão
aos inimigos. Mas a verdade é que essa prisão nunca foi
utilizada, nunca houve soldados naquele forte. Eu pedi
~ 50 ~
tão senhor Ananias que me levasse até o local, ele me
prometeu levar, mas não agora. Existe alguma coisa no
centro dessa ilha que ele não quer me dizer, existe um
mistério muito grande que o deixa apavorado, eu não o
culpo, às tradições populares na ilha são muito fortes e
irrigadas na cultura local, fica complicado explicar-lhes
que é apenas histórias.
Às vezes eu penso que este é o único refúgio que
sobrou na terra, a última fronteira entre o mundo de
belezas e o mundo de destruição e caos. As cidades do
estado Paulista de onde vim, estão todas em ruínas, não
ficou pedra sobre pedra para contar a história. É algo
assustador, de mover a alma de qualquer pessoa, nunca
que imaginaríamos que os conflitos do oriente fossem
nos atingir, mas atingiu. A guerra levou a fé das pessoas
no ser humano, é como se o nosso comportamento
fosse o de uma máquina programada para realizar
determinada coisa. Eu vi soldados tirar a vida de
crianças que em lágrimas duplicavam pela vida, mas a
vida lhes foi negada. Hoje ao olhar as estrelas durante a
noite, eu sei que uma delas é aquela criança bonita de
olhos claros, de um azul que misturava-se ao do céu.
~ 51 ~
Eu já derramei todas as minhas lágrimas, e todas
elas morreram solitárias nesta terra inóspita. As pessoas
enxergam em mim uma espécie de deus, de um
salvador solucionador de seus problemas. A verdade é
que sou tão carente quanto eles, aconselho-os, mas sou
eu quem precisa de conselhos, dou-lhes esperanças que
nem eu mesmo possuo. Sou apenas um ser humano
desgastado, às vezes minha vontade é de por fogo nessa
batina e jogar tudo para o alto, mas quando penso nisso,
sempre tem alguém que precisa de uma ajuda, então me
lembro dos horrores da guerra, dos fuzilamentos em
praça pública, do Rio de sangue escorrendo pelo beiral
da calçada. Eu tenho certeza, absoluta certeza. O
inferno com todos os seus demônios se transferiram
para a terra a fim de provar a fé dos homens.
~ 52 ~
JEOVÁ NARRANDO.
Hoje eu caminhei um pouco pela beira da praia.
O sol lentamente foi escalando o horizonte, colorindo o
mar com tons de dourado. No céu poucas nuvens
dispersas umas das outras. Eu comecei a caminhar com
os pés na água, olhando atento o vai e vem das ondas, o
meu sobre peso dificulta a minha caminhada, os
pulmões tem dificuldades em puxar o ar, o meu
coração trabalha mais do que deveria para bombear o
sangue a todas as partes do meu corpo. Não há muito
que fazer, eu sou um prisioneiro do meu próprio corpo,
duas vezes prisioneiro, na verdade, três vezes
prisioneiro. A primeira é a ilha, sou prisioneiro dela; a
segunda são as minhas ordens de guardar o prisioneiro;
e a terceira é de mim mesmo, deste corpo enorme e
gigantesco. As minhas pernas doem, tremem de
cansaço.
~ 53 ~
Depois de caminhar cerca de cem metros, não
mais do que isso, sentei-me em uma pequena elevação
de areia. O meu cantil de água estava cheio, tomei uma
boa golada, o suor escorria pela minha face gorda,
minha farda estava ensopada. A essa altura o relógio
marcava nove dez horas da manhã. Arranquei a camisa,
dobrei a barra das calças. Uma brisa suave vindo do
mar refrescou um pouco, era minha farda que estava
causando-me todo àquele mal estar. Continuei sentado
apenas observando o mar, eu estava decidido que a
partir daquele momento eu seria outra pessoa, eu não
havia encontrado o que procura. Do que valia a pena
cumprir com ordens sem sentido se ninguém aparece
na ilha, estamos a mercê do destino, isolados do
mundo. Pelo menos na ilha existe uma parte intacta
desse antigo mundo.
Antes de sair para caminhar tive o meu primeiro
diálogo com o prisioneiro. No começo ele estava um
pouco tenso, recluso, mas como eu já não administrava
nenhum medicamento nele, a sua aparência e o seu
humor haviam melhorado bastante. Eu havia deixado
bem claro que tinha jogado no mar todas as caixas de
medicamentos que seria destinada a ele, falei também
que aqueles medicamentos eram alucinógenos e que
~ 54 ~
tinham o objetivo de promover dependência psíquica
do usuário, fazendo- o obedecer a qualquer ordem dada
por uma determinada pessoa. Esse recurso atualmente
é usado pela elite global em seus prisioneiros, é também
administrada certa quantidade nas vacinas, uma
quantidade mínima, que a princípio não parece fazer
efeito, mas com o passar do tempo é devastador.
Enquanto eu lhe explicava todos os porquês, toda
a dinâmica do sistema, ele, para minha surpresa ouviu
tudo atentamente, sentou-se em sua cama. Em um
determinado momento eu abri sua cela, minhas pernas
estavam tremendo de medo, afinal, falaram que ele era
muito perigoso, todo o cuidado era necessário.
Aproximei - me dele passo por passo, ele, sentado na
cama permaneceu quieto, sem dizer uma palavra,
apenas me olhando. Seu rosto estava magro
esquelético, o olhar fundo opaco, a barba enorme,
parecia um homem das cavernas. As suas roupas
estavam imundas, sujas e rasgadas, o seu cheiro era
quase insuportável, difícil de ficar perto dele, ainda sim,
aproximei, ele continuou sentado. Foi então que
percebi seu real estado, o coitado estava tão fraco que
não conseguia manter- se de pé.
~ 55 ~
─ Bom dia moço, meu nome é Jeová, me
desculpe pelo que aconteceu aqui durante certo tempo.
Aquele não era eu. Vou soltar suas algemas tudo bem.
O homem apenas gesticulou a cabeça como sinal
de positivo.
─ Qual é o seu nome, desde que te trouxeram
não disseram nada, aqueles ratos miseráveis nunca
dizem nada.
Com muito esforço, o homem balbuciou algumas
palavras, parecia fraco demais.
─ Meu nome é Gustavo.
Essas fora as suas palavras ele estava
desorientado, o seu estado cortou meu coração, eu tive
pena do coitado, até havia me esquecido o motivo dele
estar preso.
─ Como eu havia dito Gustavo, vou soltar suas
algemas, tudo bem, fique tranquilo, ninguém aqui vai te
machucar.
Ele gesticulando a cabeça aceitou, esboçou um
tímido sorriso.
~ 56 ~
Pequei o molho de chaves que estava no meu
bolso, demorei até encontrar a chave certa. Quando eu
tirei as algemas, havia uma marca profunda nos punhos
do Gustavo, as algemas haviam machucado tanto que
causou feridas enormes, era horrível. Meu Deus,
quanto sofrimento aquele homem estava passando,
quanta dor ele estava sentindo. Se aquele machucando
não fosse tratado logo, a infecção vai mata-lo. Eu tinha
que tomar uma atitude, uma decisão muito importante.
Chamei a todos, o Marcos nosso cozinheiro, e o
Antônio o nosso vigia. Expliquei-lhes tudo desde o
começo, expondo meu ponto de vista, morto de medo
de contestarem minha atitude, fiquei quase meia hora
falando, procurando as palavras corretas, a forma certa
de dizer, eu já esperava uma negativa por parte deles.
─ Todo esse discurso só para dizer isso Jeová -
Respondeu o Antônio.
─ Eu não me importo, todos morrerão mesmo
nesta ilha maldita e amaldiçoada, nessa morada de
demônios.
~ 57 ~
─ Que isso Marcos, vira essa boca para outro
lado, você tá ficando biruta. Disse o Antônio dando
risadas.
─ Então pessoal - prossegui ainda não muito
convencido - podemos soltar o Gustavo.
─ Por mim tudo bem, vamos todos morrer aqui
mesmo, seremos alimentos de demônios comedores de
carne. Disse o Marcos.
─ Por mim também tudo bem - Disse o Antônio
- mas tem uma coisa.
─ O que foi Antônio? Perguntei-lhe.
─ Esse cara preciso de cuidados médicos, e aqui
estamos a mercê de Deus.
─ Tudo bem, vou soltar o Gustavo, depois
veremos o que vamos fazer, uma coisa é certa, fomos
abandonados nesse lugar, todos nós somos prisioneiros,
o Gustavo só foi um pretexto do preferido de Gaia.
─ Nisso todos concordamos. Respondeu o
Antônio.
~ 58 ~
Depois desse breve diálogo e do consenso de
todos é que eu fui até a cela do Gustavo, ele ouviu toda
a nossa conversa e durante todo o tempo não disse uma
palavra. Apenas observava sentado na cama, na mesma
posição em que estava antes.
─ Levante- se homem, vamos, vou soltar você,
caminhe um pouco vai te fazer bem.
Com muito esforço ele colocou-se de pé, nem
deu o primeiro passo é desabou na minha frente, o
Antônio e o Marcos me ajudaram a deita-lo novamente
na cama, o coitado estava tão fraco que não conseguia
se movimentar.
─ Vamos ter que ajuda-lo, ou, ele vai morrer
aqui. Disse aos meus amigos.
─ O que vamos dar a ele? Perguntou o
Antônio.
─ Ervas, baste ervas amargas, na ilha tem algumas
próximas a praia é uma folha pequena de cor amarela,
muito rara de ser encontrada, se vocês conseguirem
pelo menos um pouco, posso fazer uma mistura com o
~ 59 ~
que tenho aqui, isso vai diminuir a inflação. Se der certo
pode salvar a vida do homem.
─ Olho só Marcos! Quem diria para quem estava
ainda a pouco falando em morte é de ser devorado por
demônios, meus parabéns. Disse o Antônio em tom de
sarcasmo.
─ Não enche.
─ Tudo bem pessoal, tudo bem, eu vou pegar a
tal folha amarela. Fiquem aqui que eu vou até lá.
Cuidem dele, agora nossa luta aqui é pela nossa própria
sobrevivência.
O Marcos voltou para a cozinha a fim de adiantar
o processo das ervas, eu sai para procurar as tais folhas
amarelas, e aqui estou agora, sentado em uma elevação
de areia, quase sem ar. Ainda não consegui ver
nenhuma flor amarela, nada mesmo. A vida daquele
desconhecido homem precisava da minha, do meu
esforço, mas a minha própria vida estava em apuros,
meu excesso de peso, a minha dificuldade para
caminhar estava tornando tudo mais difícil. As horas
avançavam no relógio, era quase onze horas, quando eu
estava a ponto de desistir, ao olhar para traz de onde eu
~ 60 ~
estava sentado, um pouco mais a frente, embrenhado
entre a vegetação estava as tais folhas amarelas. Peguei
todas que estavam ali, e mais do que rapidamente voltei
ao forte, acabei esquecendo a minha farda para traz,
caminhei a Ponto de morrer.
Meu excesso de peso está me matando, não
consigo caminhar direito, mesmo assim, com toda a
dificuldade do mundo consegui chegar ao forte com as
flores amarelas. O Marcos as tomou e começou a sua
alquimia, misturando uma coisa com a outra,
esquentando e resfriando. O Antônio saiu para fazer
sua ronda diária, segundo ele era força do hábito,
mesmo sabendo que não havia nenhum tipo de perigo
na ilha, mesmo assim ele saiu. Dessa vez ele não levou
armas, segundo ele não havia necessidade, mesmo
porque os muros eram muito altos para que algum
bicho viesse a pular. Sem dizer que a cada cinquenta
metros havia uma guarita com armamentos pesados. Eu
continuei observando o Marcos preparar o
medicamento para o Gustavo, ele além de excelente
cozinheiro ele era muito entendido em medicina
alternativa.
~ 61 ~
O Marcos preparou dois tipos de medicamentos,
um ele passou sobre as feridas do Gustavo, o outro ele
colocou junto com a comida. Agora era esperar, era
questão de horas até os primeiros efeitos agirem. O
Marcos apesar de ser um sujeito esquisito e as vezes até
melancólico demais, no fundo no fundo tem um bom
coração. Eu não conheço a história dele, nem o porquê
ele veio para este lugar, mas existe alguma coisa do
passado dele que o perturba muito. Houve ocasiões que
o flagrei falando sozinho na cozinha, como se realmente
tivesse outra pessoa ali, outras vezes o vi chorando. Não
sei o que houve com ele, mas eu sinto que tenho que
ajuda-lo o mais rápido possível, vejo nos olhos dele um
desespero sem tamanho, um medo desproporcional, o
meu amigo está sofrendo muito.
Todos nesta ilha estão sofrendo, a solidão e a
incerteza nos corroem como traça corrói a madeira.
Não temos esperança, no começo tínhamos uma ordem
a ser cumprida, uma ordem do mais alto escalão,
imaginávamos que seria algo grande, porém, quando
nos trouxeram para essa ilha, com um único
prisioneiro, já de inicio eu desconfiei que algo estava
muito errado. Mas tudo bem deixei aquele pensamento
de lado e me concentrei no trabalho. Eu imagino que o
~ 62 ~
Marcos e o Antônio tiveram a mesma impressão, mas o
que somos nós contra os desejos da elite global. O
mundo já não é o mesmo. Muitas coisas mudaram e
aconteceram Depois da grande guerra. Aqui estamos
isolados do mundo, não há sequer um velho rádio para
saber o que se passa do outro lado desse vasto mar.
~ 63 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ANANIAS NARRANDO.
Eu conheço o mar desde que eu nasci, foi o mar
quem contemplou as minhas primeiras lágrimas. Meus
pais moravam na mesma casa onde atualmente eu
moro, essa pequena comunidade de pescadores existe a
muitas gerações. Já naquele tempo o ofício da pesca era
praticado pelos homens da ilha, pessoas como o meu
pai viviam do que o mar lhes proporcionavam. Ainda
criança eu me lembro de sempre estar em um pequeno
barco com meu pai, embolado entre as redes,
brincando com os peixes que eram apanhados. Naquele
tempo pescava- se muito mais do que agora, com muito
mais qualidade, nem se compara. Os anos foram
~ 64 ~
passando e os homens agredindo o mar, e o mar por
sua vez castigando os homens.
A modernidade já não existe na ilha, os nossos
barcos são construídos como eram os de antigamente,
madeira de qualidade trabalhada a mão. Não temos
GPS, nem localizadores ou qualquer outra tecnologia
inovadora que nos permitam eficiência na pescaria. O
que temos hoje é o que se tinha antigamente, força de
vontade e experiência, antigamente se pescava desse
jeito, sem muitas frescuras. Meu pai era uma pessoa
muito intuitiva, ele sabia exatamente o que fazer, sabia
onde pescar tinha uma paciência de Jó. Eu aprendi
muito com ele, que Deus o tenha em bom lugar. Hoje a
vila dos pescadores mudou muito, existem apenas
pequenos grupos de pescas onde eu sou o líder. Não
por questão de saber mais do que os outros, nada disso,
sou apenas o mais idoso entre eles, isso fez de mim o
líder automaticamente.
Como eu havia dito anteriormente, o mar foi o
primeiro a ouvir o meu choro. Na ocasião, a minha mãe
grávida já perto de ganhar saiu para pescar junto com
meu pai, mesmo contrariando as suas recomendações,
mesmo com uma barriga enorme, ela resolveu ir pescar.
~ 65 ~
A minha mãe tinha um gênio difícil, quando colocava
uma coisa na cabeça não havia na terra quem tirasse, e
pescar era a sua paixão a sua vida. Meu pai disse que
tentou de todas as formas para impedir que ela fosse
junto com ele, mas, lá estava ela, dona Eunice como era
conhecida, cabelos longos e negros esvoaçando ao
vento, olhos verdes fitando o horizonte, e um desejo na
alma que nem o mar com toda sua imensidão poderiam
compreender. Meu pai a pedido da minha mãe foi ao
mar alto, uma região um pouco mais afastada da Bahia
dos pescadores. O mar estava tranquilo, muito calmo.
Em certo momento da pescaria veio às primeiras
contrações, a minha mãe ignorou-as, mas elas persistiam
assim como as ondas debatendo no barco, meu pai
entretido na pescaria nada percebeu, as dores
continuavam, minha mãe reluzente ignorava. Houve um
momento em que não suportando a dor das contrações
ela gemeu de dor, foi aí que meu pai percebeu nas suas
pernas uma tênue linha vermelha escorrendo. Eles
estavam no meio do nada, não havia nenhum outro
barco para ajudar, e o nosso barco estava forrado de
peixes. Meu pai não teve outra escolha a não ser deitar
a minha mãe em um dos bancos daquela pequena
embarcação. Uma mistura de euforia e medo tomou o
~ 66 ~
seu coração. Euforia pelo filho que estava nascendo,
medo por nunca ter feito um parto na sua vida, ele
estava perdido sem saber o que fazer.
O milagre da vida aconteceria nas caudalosas
águas do mar, sem que ninguém visse. Naquele
momento fez calmaria, os ventos se aquietaram, a
natureza em si parecia ter parado para contemplar o
nascimento de uma vida, falando assim parece até
história de pescador, mas não é. Algumas horas depois,
de gritos e de gemidos intermináveis aquela criança veio
ao mundo. O mar me recebeu, e me tornei naquele dia
filho do mar também. A parte triste desta história foi
que a minha mãe havia perdido muito sangue durante o
parto, uma hemorragia interna a fez perder a vida. lá
estávamos, a deriva no mar. Nos braços do meu pai a
vida é a morte, meu pai segurou a vida é a morte por
um bom tempo. Eu em um dos seus braços chorando,
e minha mãe desfalecida em outro.
Por esse motivo o mar é tudo o que eu tenho, é
parte da minha vida, é o meu sangue é a minha força.
Mas as coisas mudaram no passar dos anos, homens
ruins com ideais malignos tomaram o poder, as cadeiras
governamentais de todo o mundo foram tomada por
~ 67 ~
pessoas que não têm escrúpulos. Pouco tempo depois
começaria os primeiros temores de guerra, ela havia
sido anunciada silenciosamente. Ninguém percebeu, os
países testavam suas armas, preparavam- se para o
ataque, ninguém acreditou até cair à primeira bomba, e
logo depois uma chuva de fogo caiu do céu, e como
uma vassoura que varre a sujeira, assim também as
bombas varreram muitas cidades costeiras, o mar foi
infestado de corpos dilacerados foram as cenas mais
horríveis que já pude presenciar na minha vida.
Na época da guerra eu fui um dos convocados a
lutar, me alistaram no pelotão de reconhecimento
terrestre. Na primeira semana ficamos na base, na
segunda semana estávamos no meio da Amazônia
defendendo nosso território, os inimigos eram como
formigas, surgiam de todos os lados com suas armas
poderosas, bombas de Nepal, artilharia pesada sobre
nossas cabeças. Muitos soldados morreram divisões
inteiras sendo dizimadas. Por um milagre divino, nada
menos do que isso, eu sobrevivi, me escondi no coração
da selva onde somente os mais espertos
conheciam. Passei uma semana dentro de uma
caverna, comendo bichos e bebendo água de mina.
Quando tudo estava mais calmo sai de onde estava. A
~ 68 ~
cena que se seguiu foi uma das piores que meus olhos já
presenciaram.
Com palavras é difícil dizer o que senti naquele
dia. Um terror tomou conta da minha alma ao ver a
selva quase toda devastada pelas bombas. O número de
pessoas mortas era assustador, pessoas mutiladas,
faltando pernas, braços, cabeças, algumas ainda
agonizava em meio a carnificina em decomposição. O
cheiro de carne podre doía nas narinas, era
insuportável. Eu caminhei dias e dias ouvindo gemidos
intermináveis, parecia até que eu estava no inferno
tamanha a agonia daquele lugar. Depois de quase
desfalecer de cansaço de fome e sede, finalmente
cheguei a uma aldeia abandonada em uma praia acho
que na Bahia. Havia água e frutas, benditas frutas que
me alimentaram, fazia dias que eu não comia nada, eu
estava fraco e minha resistência estava que a zero, não
demorou e desmaiei.
Quando finalmente eu despertei, dois dias
depois, havia um grupo de idosos ao meu redor. Eu
estava em uma pequena casa toda feita de madeira, ao
fundo era possível ouvir o mar e o quebrar das ondas na
praia. Eu reconheci aquele barulho, eu sabia que tinha
~ 69 ~
retornado para casa, para a ilha onde eu havia nascido e
de onde eu nunca deveria ter saído à guerra ainda
continuava, impiedosa ceifando vidas aos milhares. De
alguma forma o meu pai junto com alguns pescadores
que também foram para a guerra me resgataram, ele
conseguiu fazer com que eu voltasse para casa,
infelizmente ele continuou na guerra e nunca mais foi
visto. Recebemos uma pequena medalha tempos
depois, duas na verdade. Uma era a do meu pai que
havia sido morto em campo de batalha, a outra era a
minha própria medalha, como eles não me
encontraram deduziram que eu estava morto. Foi assim
que escapei da guerra.
Faz tanto tempo, mas às vezes ainda choro só em
relembrar os horrores daquela maldita guerra. Desde
então continuei na ilha vivendo da pesca, acabei me
tornando uma espécie de líder entre eles. Tempos
depois chegou a nossa ilha certo jovem sacerdote,
acabava- se de ser ordenado a padre. Sua primeira
grande missão foi evangelizar os moradores da ilha,
depois disso ele voltaria para a capital. Mas a afeição
dele conosco o fez desistir, a intimidade dele com todos
os moradores da ilha o fez conquistar os corações mais
duros. Sua carta afrontando ao bispo e expondo- lhe
~ 70 ~
o desejo de abandonar o sacerdócio, fez com que o
bispo se retratasse deixando o jovem padre
definitivamente em nossa comunidade como forma de
castiga-lo, foi uma alegria para todos saber que ele não
sairia mais.
Passamos a ser uma comunidade unida, fechando
para o mundo, esquecidos no meio do nada e cercados
pelo mar. Apenas alguns velhos rádios nos conectam ao
resto do mundo. As notícias das terras civilizadas não
são nada boas, o governo único mundial, uma moeda
única mundial, e uma única religião mundial. Pode
parecer coisa boa, mas algo dentro de mim diz que não
é o padre não fala muito a respeito dessas coisas. Talvez
por medo de nós assustar, também eu não tiro a razão
dele, o que acontece lá fora fica lá fora, devemos viver
as nossas vidas tranquilamente sem a preocupação com
o que acontece no mundo civilizado. O nosso mundo
atrasado, o nosso mundo escondido, para mim é o
melhor lugar do mundo, tudo aqui é para todos e todos
aqui serve em tudo, assim vivemos, a margem do
mundo moderno.
Coisa ruim é ter que viver debaixo de ordens dos
outros. Por esse motivo adotei o sistema do
~ 71 ~
voluntariado na ilha, cada pescador é livre, faz o seu
horário, o seu ritmo, sem pressão de tempo, sem nada.
Quando o pescador deseja vender seus peixes temos
um lugar específico para isso. Esse lugar fica próximo
ao cais, todos os dias às cinco da tarde, a embarcação da
capital busca o nosso produto, eu mesmo o negocio em
troca de alimentos que depois distribuímos em partes
iguais para todos os moradores da ilha. Nada de
dinheiro, nada de cédula de papel, cédulas de papel
nada valem e para nada prestam, apenas corrompe a
boa moral e a conduta dos homens. Os alimentos são
mais importantes do que papéis, cédulas coloridas não
mata a fome de nosso povo, alimentos sim.
~ 72 ~
GUSTAVO NARRANDO.
Às vezes a primeira impressão nem sempre é a
verdadeira, às vezes a segunda impressão te dá uma
chance de enxergar melhor as coisas não percebidas na
primeira impressão. Por um momento a minha
primeira impressão a respeito do carcereiro foi horrível.
Agora sei que o seu nome é Jeová, nome bonito, nome
divino. Quando eu menos esperava ele teve uma atitude
que me surpreendeu, ajudou-me quando eu já pensava
que seria executado. Eu estava sendo tratado como uns
assassinos, de repente, passaram a me tratar como um
príncipe vai entender. Minha desconfiança de tudo e de
todos me fez recuar, ficar em silencio, de poucas
palavras, mas as coisas foram mudando. Ele deixou de
me dar os medicamentos que o psiquiatra receitou,
graças a Deus por isso, eu estava morrendo aos pouco.
~ 73 ~
O excesso de drogas medicamentosas na
corrente sanguínea e a falta de uma alimentação
adequada fez meu organismo entrar em colapso. O
Jeová deixou a cela aberta dessa vez, tiraram minhas
algemas, ele disse que não importa o que eu tenha feito,
ele disse que todos nós temos direito a uma segunda
chance. Eu não sei exatamente onde ele foi, imagino
que fazer uma caminhada ou algo assim. O guarda se
chama Antônio, ele também me ajudou, falou-me que
quando eu me sentisse melhor me era para que eu
levantasse e caminhasse um pouco, que isso ajudaria
bastante. O Antônio é um cara legal, embora seu
semblante seja de uma seriedade amedrontadora, com
ares de malvado, mas no fundo ele é uma ótima pessoa,
agradeço-lhe por tudo. Assim que me sentir confiante
vou caminhar um pouco, estou ansioso para isso, afinal,
foram cinco meses confinados em uma cela.
Como será que está o mundo lá fora? As
pessoas? A minha família? Se é que ainda tenho
família. Às vezes esqueço quem sou, e o porquê disso
tudo, de toda essa maluquice que o mundo está
vivendo. Falta- nos um bom rádio para sabermos das
notícias do mundo civilizado, estou me sentindo um
nômade em um deserto. A diferença é que esse deserto
~ 74 ~
é feito de matar fechada, areia e mar. O cozinheiro,
Marcos, é meio maluco, tem umas ideias esquisitas de
morte, usa roupas escuras e vive falando sozinho, às
vezes penso nele como um potencial suicida. Mas ele
também tem um bom coração e um conhecimento de
ervas sem igual, se não fosse ele eu não estaria aqui. No
momento não sei onde ele se encontra, talvez na
cozinha preparando alguma coisa para comermos. O
bom é que tudo está mudando.
As minhas forças aos poucos estão
sendo retomadas, aos poucos minhas memórias e as
lembranças estão voltando, e de modo gradativo tudo
vai ficando esclarecido. O destino dos homens é
traçado por déspotas com intenções nada amigáveis,
tapinhas nas costas, aquela história de que sou o seu
amigo e estou aqui para ajudar, muitas vezes ouvi isso.
Hoje sei que era tudo fingimento, que eram todos
traidores. Meu coração está ferido, minha alma ainda
chora as desventuras dos meus atos impensáveis. A
verdade é que nada somos nesta vida, nada
representamos. Algo de que não me lembro de quais
foram os motivos que me trouxeram para esse lugar. Eu
não consigo me lembrar do crime que cometi, por mais
esforço que eu faça eu não me recordo. O meu amigo
~ 75 ~
Jeová me disse que os remédios que eu tomava eram
devastadores para memória.
Com muitas dificuldades eu consegui me colocar
de pé e dar os meus primeiros passos. Ao ver o meu
reflexo no pequeno espelho que havia na cela, levei um
tremendo susto com o tamanho da minha barba. Passei
as mãos pelo meu rosto, não acreditando no que os
olhos estavam vendo. Eu me parecia mais com um
animal do que um ser humano de verdade. Olhei para
os lados na tentativa de achar alguma coisa, uma
Gillette, ou qualquer coisa que me ajudasse a fazer
minha barba. Não achei nada, não havia exatamente
nada. De repente uma voz, que me fez levar um
tremendo susto.
─ Na gaveta da mesa do Jeová, lá tem Gillette
para barbear, se for esse seu objeto de procura.
Era o Antônio que havia me falado, ele estava
parado de frente da porta da cela, olhar desconfiado.
─ Obrigado ─ Respondi ─ Obrigado por tudo,
por vocês terem me ajudado e terem salvado minha
vida. Perdoe-me pelas coisas ruins que eu por ventura
tenha lhes dito.
~ 76 ~
─ Tudo bem, não precisa se desculpar, eram os
efeitos dos remédios. Eu vou estar por aqui caso você
precise, outra coisa, a partir de agora você não é mais
prisioneiro, pode sair e ir onde quiser, a ilha é bastante
grande.
Antônio acabou de dizer aquelas palavras e virou
para sair.
─ Espere um pouco - Eu disse chamando- lhe
novamente.
─ O que foi?
─ Onde estamos afinal? Estou confuso e me
lembro de poucas coisas, sem dizer que minha cabeça
dói muito.
─ Tem analgésicos na gaveta de cima, não se
preocupe com isso agora, no almoço conversarmos.
O Antônio retirou- se logo em seguida, o forte
era cheio de entradas e saídas parecendo um labirinto.
Eu não conhecia nada ali enquanto o Antônio parecia
conhecer cada canto daquele lugar. Procurei primeiro
os analgésicos, não tive dificuldade de achar. Os tomei
logo em seguida. Depois eu fui fazer minha barba, o
~ 77 ~
Jeová havia deixado Gillettes novinhos em sua gaveta,
não pensei duas vezes, aos poucos eu fui retirando
aquela barba toda, e em questão de minutos estava
pronto. O próximo passo era tomar um bom banho
para retirar todo aquele fedor, mas onde eu faria isso,
na cela não havia chuveiros, meu único recurso era o
mar. Dava para ouvi-lo da cela, suas ondas quebrando -
se na areia da praia. Era o que eu faria. Minhas forças
não estavam ainda completas, mesmo assim reuni cada
vestígio dela e fui.
Tive um pouco de dificuldade de sair de dentro
do forte, havia muitas portas, entradas e saídas. Mas
quando finalmente eu consegui sair de dentro daquelas
paredes de pedra, quando finalmente meus olhos viram
o mar, a luz do sol com todo o seu resplendor, meus
olhos enxergam de lágrimas. Não me contive de alegria,
ajoelhei-me ali mesmo, na arei, bem de frente com o
mar. Atrás de mim o muro alto da prisão que se
estendia longe, quase a perder de vista. A passos curtos
eu fui caminhando, um turbilhão de pensamentos e
lembranças passavam por minha cabeça. Quando senti
a água do mar molhar meus pés, ajoelhei-me
novamente, as ondas vinham com força contra meu
corpo, a sensação da liberdade é indescritível, saber que
~ 78 ~
não havia mais algemas, e nem mais medicamentos,
chorei novamente.
Olhando para o mar com toda sua calmaria, as
ondas brincando com a areia. A impressão que fica é as
coisas continuam as mesmas, que o mundo lá fora
permanece o mesmo de antes, mas eu sei que não é
assim que acontece. O mundo transformou - se
drasticamente, não imaginávamos que as coisas
tomariam o rumo que tomou. Por detrás das cortinas
das nações os planos foram traçados, acordos foram
assinados secretamente. A grande mídia como sempre
ludibriou-nos com mentiras Muito bem montadas, os
fantoches foram colocados em ação para fazer com que
pensássemos que tudo estava bem, mas a realidade é
que nada estava bem. A maioria dos países ricos estava
à beira da falência, mostravam-se fortes e imbatíveis,
quando na verdade estavam todos quebrados.
Deitado na areia da praia, sentindo a água do mar
banhar meu corpo, os meus pensamentos aos poucos
retomava o caminho da memória. As lembranças que
haviam sido esquecidas aos poucos retornavam, como
cenas desfocadas de um filme. A minha mente havia
sido alterada por alucinógenos e drogas psicossomáticas
~ 79 ~
que tem a função de alterar sua realidade e o seu
humor, fazendo com que você seja inserido em uma
realidade alternativa criada e programa por outra
pessoa. O que você acredita ser verdade na sua vida, a
vida que você imagina ser a sua, na realidade não é. Eu
sei que fui induzido a tais experimentos, mas o quanto
fui submetido eu não sei. A verdade sobre a minha vida
é um mistério para mim neste momento. Eu não sei
quem eu sou de verdade ou o que eu fiz para estar aqui.
Um homem sem identificação, sem rosto, assim
me vejo. É como se eu olhasse no espelho e não visse
reflexo nenhum, sou como um fantasma que não existe,
sou o produto da minha mente. Porque fizeram isso
ainda é um grande mistério. O que está na minha
cabeça agora é confuso, eu seu e sinto que não sou um
assassino, as imagens que estão aqui dentro não fazem
parte do meu ser. Tenho que descobrir a verdade e sair
o mais rápido possível desse lugar.
Aproveitei um pouco mais a água do mar, fazia
tanto tempo que eu não sentia água percorrer meu
corpo que a minha pele estava com um aspecto
esquisito, endurecida. Passei Boas horas deitado na
areia da praia, e naqueles momentos é como se o
~ 80 ~
tempo estivesse parado. Os meus olhos estavam
fechados para as realidades que me cercava.
A minha alma estava aos poucos sendo liberta do
engano, mas ainda existiam correntes grossas a serem
quebradas. Olhando para direção do mar não era
possível ver nenhuma embarcação, olhando para a ilha
o que se via era as muralhas imponentes cercando o
forte, veio então o seguinte pensamento. “ Se aquele
forte foi criado durante a terceira guerra, certamente
que em algum lugar daquela muralha haveria de ter um
farol ou algo assim, que possibilitasse uma melhor
visualização do inimigo que se aproximasse por terra.”
Talvez o Antônio saiba algo a respeito, ou mesmo o
Jeová . Já que fomos esquecidos neste lugar, deixados
para morrer. Esse seria meu próximo passo, procura-los
para perguntar a respeito, talvez haja uma pequena
esperança de sairmos desse lugar e não morrermos de
fome aqui.
~ 81 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
PADRE LAIR NARRANDO.
─ Padre Lair, padre Lair, por favor, padre Lair,
corre, venha ver o que o Carlos Alberto conseguiu fazer
com o velho rádio do farol. Padre Lair, rápido.
Acordei assustado com toda a barulheira do
Ismael. Gritando feito um louco na porta da minha
casa. Como pode um sujeito ser tão barulhento, como
pode um sujeito incomodar tanto o sono das outras
pessoas, sem dizer que não sou um padre de verdade,
eu não me considero um padre eu não sou um padre,
sou apenas uma alma desvalida, descuidada, inquieta e
~ 82 ~
incompreendida. Sou apenas eu mesmo não quero ser
quem as pessoas pensam que sou, eu sou exatamente o
contrário do que as pessoas pensão que sou.
─ Tudo bem, tudo bem... Eu já ouvi Ismael, eu já
te ouvi. Agora eu não posso ir, estou ocupado com
algumas coisas, mas assim que eu terminar eu vou ver.
Respondi sem muito entusiasmo, sem muita
vontade, meu desejo era ficar deitado na minha rede o
dia todo, sem ter ninguém para importunar.
─ Depois aparece lá no farol padre, por favor, é
muito importante - Insistiu ele.
─ Eu vou Ismael, prometo-lhe, eu vou, mas, por
favor, deixe- me terminar o que estou fazendo.
─ E o que o senhor está fazendo padre? -
Insistiu ele novamente.
─ Homem! Deixa de ser curioso, onde já se viu
me deixa quieto criatura, assim que eu terminar eu vou.
─ Tudo bem padre, sua bênção.
─ Deus abençoe meu filho.
~ 83 ~
Eu estava revendo alguns rascunhos em cadernos
velhos, textos antigos partes de sermões que eu usei.
Alguns textos estavam no fundo da minha gaveta, eram
da época do seminário, tempo maravilhoso que
dificilmente vou esquecer, os colegas que lá estiveram
nunca mais eu os vi, não sei onde andam. Sei que todos
se ordenaram, mas por onde andam só mesmo Deus é
quem sabe. Foram momentos bons, lembro-me do
Esron, grandalhão, atrapalhando, tinha o Joranes
também, outra figura de uma alma que transbordava
alegria, contagiava todos que estavam ao seu redor.
Durante as missas sentávamos sempre juntos, nas aulas
de latim, de grego, sempre juntos, sinto saudades de
meus amigos. Revirando meus papéis achei um texto
antigo, um artigo na verdade que havia escrito.
O texto é mais ou menos assim, não é muito bom
mais serviu bem na época.
Os homens e seus planos infalíveis, o desejo de
conquistar do coração humano, o desejo de desvendar
os segredos do universo, de saber como tudo começou
e o porquê disso ou daquilo. homens e seus planos,
construído máquinas monstruosas, bilhões em
investimentos, cooperação mútua entre nações,
~ 84 ~
cientistas renomados, todos reunidos com um único
objetivo, descobrir o segredo da vida, a origem de tudo.
Homens com inteligência acima do padrão médio,
considerados gênios do nosso tempo, homens que
gastaram anos e mais anos de suas vidas em estudos e
pesquisas; homens que envelheceram dentro de um
laboratório, homens que nunca apreciaram o nascer do
sol e o seu espetáculo de todas as manhãs, homens que
nunca viram um pássaro alimentar os seus filhos no
ninho, homens e seus planos infalíveis.
Eles construíram máquinas voadoras, capazes de
atingir alturas impensáveis, o cosmo, máquinas que
viajaram até a lua, máquinas que fotografaram a
superfície lunar, um lugar inóspito, ermo, sem vida
alguma, com deficiência de gravidade, mas o homem
achou que isso não era o suficiente para os seus estudos
e pesquisas, o insatisfeito coração humano empenhou
todos os seus esforços na construção de uma máquina
ainda maior, uma máquina que fosse capaz de
transporta-lo até a lua; bilhões foram gastos, e a
poderosa máquina foi criada, ela foi batizada com um
nome, eles cuidaram dela como se fosse um recém-
nascido, marcarão data para partirem até a lua.
~ 85 ~
Homens e seus planos infalíveis, e o desejo que
nunca será saciado, a potente máquina parte para seu
destino, os olhos do mundo contemplaram a sua
partida, comemoraram como se fosse gol em final de
campeonato, o homem quer sempre mais, cada vez
mais, cheio de desejo em desvendar os mistérios do
universo, querendo a todo custo desmentir a existência
de Deus.
Homens e seus planos infalíveis, homens
incrédulos, ateus que pensam com a razão de uma
ciência cega, eles querem encontrar uma agulha no
palheiro, o que eles fazem é o mesmo que procurar tal
agulha de olhos vendados durante a noite, homens e
seus planos infalíveis, todos imbecis, medíocres,
pensam que sabem, pensam que podem, pensam que
conhecem, mas a verdade é uma só, todos os homens
são cegos, mudos e Aleijados diante de um universo
infinito.
Homens que pisaram na lua, mas que nunca
alçaram o próprio coração, homens que desconhecem
as próprias emoções, homens que não sabem lidar com
a própria espécie, e por algum motivo de pura
ignorância, acham que podem provar a existência de
~ 86 ~
novas raças. Homens que procuram entre as incontáveis
estrelas respostas para entender o imenso vazio de seus
corações. Homens que não aceitam que tudo o que
existe nesta terra e fora dela é criação de Deus. Homens
que preferem gastar recursos e tempo criando latas
voadoras, mas que se negam a pagar um almoço para o
mendigo na esquina, homens miseráveis, que
construíram uma monstruosa maquina em baixo da
terra, com o único objetivo de acelerar as partículas e os
átomos no intuito de dividi- lá e com isso acham que já
conhecem o bastante.
Homens e seus planos infalíveis, que trocaram os
seus corações de carne por um de metal, homens sem
sentimentos, que não conseguem enxergar no sorriso
inocente de uma criança a imagem do criador, homens
tolos, que nunca pararam para ouvir a sinfonia dos
pássaros logo quando o sol nasce homens idiotas, com
ideias idiotas. Homens que não satisfeitos em pisar na
lua, agora querem pisar em marte, homens que não vão
medir esforços para alcançar o planeta vermelho.
Homens que tem como deus a ciência, tecnologias que
poderiam ser usada na cura de doenças; as mentes mais
brilhantes de nossa era não estão interessadas em
resolver os problemas que se amontoam em nosso
~ 87 ~
planeta, apenas alguns, e são bem poucos aqueles que
têm o desejo de ajudar o próximo.
Homens e seus planos infalíveis, cientistas do
diabo, querem o domínio da ciência, quer o controle
total, eles não acreditam em Deus, mas querem ser
vistos como deuses na terra, buscam a todo custo a
imortalidade, se acham senhores da vida, se acham
senhores do mundo, são tolos, imbecis, nada sabem.
Deus é o criador por excelência, tudo está no seu
controle, a vida de cada um de nós está nas mãos de
Deus, se ele resolver nos chamar, não haverá ciência ou
poder humano que possa impedir, o homem com seus
planos infalíveis perecerá, o conhecimento desses
cientistas é para Deus como esterco de vaca, para nada
serve.
O homem não admite sua pequenez, o homem
não admite Que ele não possa jamais explicar o segredo
da vida. O homem quer pisar em Marte, mas não
conseguiu chegar às partes mais profundas do oceano, o
homem é egoístas e egocêntrico, só enxerga a si próprio
e seus desejos. O homem sem Deus no coração é pior
do que os animais e as bestas feras existentes em nosso
planeta.
~ 88 ~
O homem mata por nada, criou armas capazes de
destruir o próprio planeta, não acredito mais no
homem da ciência, definitivamente não. Talvez eu seja
louco sim, afinal, crer que tudo foi feito por Deus, em
apenas sete dias, para o homem da ciência é loucura,
mas para os homens de Deus, isso é algo maravilhoso e
magnífico.
Perdoe-me homens da ciência com seus planos
infalíveis, eu não creio em vós, nada do que vocês
Fazem tem valor para mim, eu creio em Deus, e me
emociono quando contemplo o nascer do sol, o canto
dos pássaros, uma criança ao sorrir, quando vejo estas
coisas percebo o quanto sou pequeno e o quanto Deus
é grande, me sinto como um grão de areia diante do
mar.
Talvez eu esteja louco sim, afinal, dou risada
sozinho, olho para o céu e converso com Deus, com as
estrelas, com as flores, mas é evidente que isso é um
claro sinal de loucura. Saibam de uma coisa, eu prefiro
ser louco com Deus no coração, do que ser um gênio
sem Deus no coração, é isso homens e seus planos
infalíveis, cientistas malucos, eu creio no que os olhos
não veem, eu creio pela fé, simples assim.
~ 89 ~
Na época todos aplaudiram o texto, publicaram
até no jornal da cidade. As pessoas diziam que eu tinha
vocação para ser escritor, foi nessa época que fiquei
animado com a ideia de escrever livros. Eu seria um
padre escritor, mas as circunstâncias da vida minaram
minhas expectativas, aos poucos as minhas esperanças
foram se esgotado. Eu tinha que dar esperança aos
desesperançados da comunidade, mas a minha própria
esperança estava minguando. São coisas difíceis de
entender, eu mesmo não compreendo os mistérios da
vida, os fatos que se passaram tempos depois, os
desaparecimentos em massa, falaram que era a guerra,
falaram que era o retorno de Jesus, mas a verdade é que
ninguém sabe de nada. Depois o que importa, estamos
destinados a eterna solidão.
Havia um amontoado de papéis sobre minha
mesa, textos e mais textos, todos daquela época. Ainda
vou organizar esses textos em um único volume, mas
isso quando houver tempo. Falando assim parece até
que sou muito ocupado, o que na verdade eu não sou.
Às vezes falta coragem de reunir todo esse material.
Mas aqui entre os pescadores, sempre há o que fazer
~ 90 ~
ajudar um e outro. Um conselho aqui, uma reza ali, ou
algum casal pedindo aconselhamentos, como eu disse:
Vivemos como se nada tivesse acontecido, as pessoas da
ilha sabem bem o que aconteceu, mas elas vivem como
se não tivesse acontecido. Particularmente eu gosto
disso, de viver um dia de cada vez, sem ter que pensar
no dia de amanhã. Na ilha a vida segue esse curso
misterioso de pessoas que vivem sempre em silencio
consigo mesmas.
~ 91 ~
ANTÔNIO NARRANDO.
“Todos os rios levam ao mar” Eu li essa frase
um dia desses, não me lembro de onde eu li, acho que
em uma revista. Achei a frase muito bonita, achei que
ela define bem muitas coisas que estão acontecendo
neste momento. Vejo no meu modo de entender, duas
maneiras bem distintas e aplicáveis á todos nós, seres
humanos, de interpretar essa frase. A primeira,
desrespeito às nossas atitudes; Tudo o que fazemos aqui
dentro, todas as decisões que viermos a tomar ou o
plano que porventura viermos a executar. Tudo isso
tem que ser direcionado a um único ponto que vou
chama-lo então de mar. Devemos estar alinhados em
um mesmo propósito, seja lá ele qual for. Embora cada
um tenha sua individualidade tal como um rio, mas as
suas ações são as mesmas.
~ 92 ~
A segunda maneira de entender a frase,
desrespeito aos senhores do mundo. Permita-me
chamar assim aquele grupo pífio de déspotas que está
no comando do globo terrestre. Eles obedecem a lógica
da frase da mesma maneira. Embora os verdadeiros
objetivos estejam ocultos aos nossos olhos, devo
imaginar que eles queiram tão somente o domínio total
e completo de todas as esferas do poder. Fazendo isso,
ninguém poderá lhes oferecer resistência nenhuma, e
tudo vai convergir conforme o desejo maligno de seus
corações. Homens que não desejam que os seus
semelhantes prosperem, a seleção global para
eliminação foi feita com sucesso na primeira fase desse
projeto. A guerra financiada pelos banqueiros gerou um
lucro em dinheiro enorme a esses magnatas do poder.
Desde a antiguidade que o poder vem
corrompendo o homem. O desejo de dominar já vem
de longas datas, antes mesmo dos grandes impérios
surgirem na terra. No jardim do Éden vemos a serpente
tentando manipular a cabeça do ser humano,
oferecendo- lhe aquilo que nem mesmo ela não
possuía. O poder de serem iguais a Deus, conhecedores
do bem e do mal. Por fim a serpente havia conseguido
o que tanto desejava. Corromper o coração da
~ 93 ~
criatura contra o seu criador, fazendo assim, criou-se
um abismo entre as duas partes. Desde então o homem
sofre com a ideia de que o poder pode ser manipulado
e corrompido, é o que ele vem fazendo com o passar
dos anos é justamente isso, corrompendo as ideias e os
ideais, destruindo assim a humanidade de dentro para
fora, essa é a pior forma de destruição.
O meu desejo é o desejo de todos, estar nessa
ilha foi uma condição imposta a nós, na verdade foi,
além disso, fomos obrigados a ficar nesta terra de
ninguém, não há nada aqui, não há ninguém aqui,
somos somente nós. Hoje eu resolvi caminhar um
pouco além, não pelas muralhas, mas ao entorno, na
direção oeste que da para o centro da ilha. Foi a
primeira vez que caminhei rumo ao centro da ilha.
Caminho não existe, a mata é muito fechada, cheia de
obstáculos, tive muita dificuldade para chegar a algum
lugar. Acabei descobrindo outra nascente, a que
utilizamos fica próxima dos muros, essa fica bem mais
para dentro da ilha, suas águas são cristalinas, e seguem
ilha adentro, onde vai dar eu não sei, mas essa nascente
segue um curso formando um pequeno riacho um
pouco mais a frente, embrenhado entre a vegetação.
~ 94 ~
Eu não quis continuar minha caminhada, parei
próximo ao riacho e me sentei debaixo de uma grande
árvore. Os meus pensamentos estavam distantes,
lembrei-me de alguns momentos da vida, um dejavu do
pensamento, uma espécie de retrocesso da memória.
Às vezes isso me ocorre, não é muito frequente e tão
pouco comum, mas acontece às vezes. Eram dez horas
da manhã, o calor estava intenso, e minha disposição
minguando. No forte ficou apenas o cozinheiro; o Jeová
saiu para uma caminhada e não retornou mais, o
Gustavo, que era o nosso prisioneiro, recobrou um
pouco de sua força, antes de sair do forte deixei-o a
vontade para fazer o que ele bem entendesse. Ele é um
cara legal, de coração bom, eu havia me enganado
quanto a ele, eu o imaginava de um jeito, mas nos
enganamos.
Lembranças.
Amazônia, quinze de março de dois mil e
dezoito. O pelotão de reconhecimento terrestre avança
mata adentro, nossa missão é cercar as fronteiras de
toda a floresta amazônica, incontáveis homens
espalhados por todos os lados, munições de grosso
~ 95 ~
calibre, artilharia pesada. Eu fazia parte do pelotão
destinado à parte norte da floresta, onde ficaríamos de
prontidão. Tínhamos informações de que o nosso
inimigo haveria de entrar pelas fronteiras na tentativa de
tomar a Amazônia como ponto de estratégia, mas
estávamos preparados para qualquer coisa, seja o que
for; avançamos rumo ao destino, o pelotão de que eu
fazia parte continha cerca de cem homens. Todos
prontos a lutar, e dar a vida para defender a nossa maior
riqueza, a Amazônia.
Certo momento, quando nosso pelotão estava
próximo do objeto, ouviram os primeiros disparos,
vinha na direção contrária. O inimigo estava bem à
frente, não o víamos, apenas os disparos de
metralhadoras cortando a vegetação, muitos de nossos
companheiros morreram naquele primeiro ataque,
seguido de rajadas de tiros vieram as granadas. Nosso
capitão orientou- nos a espalhamos e nos reagruparmos,
em grupos separados de vinte homens. Assim fizemos,
mas o ataque do inimigo continuava impiedoso. Contra
atacamos, lançando granadas na direção do inimigo, a
luta foi difícil naquele dia, contatamos o comando geral,
passamos a localização do inimigo, pouco depois os
aviões sobrevoaram o local, lançando bombas ao
~ 96 ~
entorno, o ataque foi preciso, perfeito. Pouco depois
estávamos retomando nossas posições, pelo rádio
ouvimos o comando geral dizer que a capital americana
havia acabado de ser atacada, misseis inimigos
choveram na capital mais poderosa do mundo, a
principio a artilharia ante- aérea funcionou, mas o
número de inimigos era maior, então veio a primeira
grande surpresa que daria um novo rumo a guerra.
Entre esses mísseis havia um com potência nuclear de
dez megatons, segundo o nosso contato de radio a
bomba devastou a capital América em questão de
minutos. Um número incontável de pessoas mortas
instantaneamente, sabíamos que os americanos não
deixaria por menos, agora a guerra tomava novos
rumos, as armas nucleares haviam sido retiradas dos
porões, o Apocalipse estava anunciado é prestes a
acontecer. Os Russos se aliaram aos chineses, norte
coreano e estado islâmico. Uma multidão de pessoas,
soldados furiosos como abelhas. A Europa inteira estava
sendo bombardeados, os países menores se aliaram as
grandes potências. O Brasil por sua vez se aliou aos
Estados Unidos e a Inglaterra, países como o Paraguai,
Uruguai, Colômbia, e demais países da América do Sul
juntaram forças aos norte coreano. Navios gigantescos
~ 97 ~
carregados de homens e armas, prontos a matar e
morrer por seus países. Muitas cidades ficaram desertas,
via - se apenas crianças mulheres e idosos, muitos
vagando pelas ruas a procura do que se alimentar.
Foram dias e semanas e meses de terror absoluto,
bombas nucleares devastando cidades inteiras, a loucura
desenfreada tomou a mente de todos.
Hoje sobraram apenas ruínas, as grandes cidades
foram reduzidas as montanhas de escombros. Quem
imaginária tal coisa, quantos pequenos e médios
conflitos tivemos antes da grande guerra, mas os
conflitos que tinham eram apenas uma preparação do
que estava por vir. O dinheiro que era o orgulho de
muitas pessoas, que faziam do vil pedaço de papel o
seu próprio deus. As doenças vieram logo, decorrentes
da alta exposição a materiais tóxicos e nucleares.
Inúmeros cemitérios foram abertos em todo o globo
terrestre. As covas era abertas por máquinas, e os
corpos eram empurrados dentro das valetas com se
fossem bichos, sem alma, sem valor, sem nada.
Estamos à mercê do mundo. Quando eu estava na
~ 98 ~
guerra, eu só pensava nela e respirava ela, não havia
mais nada em meus pensamentos.
Levantei-me e retornei ao forte, o calor estava
intenso, suor descendo pela face. Não havia ninguém lá,
nem o Gustavo, nem o Jeová e nem o Marcos, todos
haviam saído, sentei-me próximo a cela onde o Gustavo
estava, e fiquei quieto, aguardando até que alguém
retornasse. Pouco depois, apareceu o Marcos.
─ Onde você estava que não o vejo desde manhã.
Perguntei-lhe.
─ Sai para procurar ervas aromática atrás do
muro do lado leste tem bastante ervas ótimas para
temperos. Já que estamos ficando sem alimentos pensei
que pudéssemos pescar ou caçar, as ervas serviram
como tempero.
─ Ótima ideia, como eu não havia pensado nisso
antes, sou ótimo pescador. E os outros não retornaram
ainda?
~ 99 ~
─ O Gustavo está lá na praia, banhando-se,
também, o coitado não vê água a meses. Respondeu
Marcos.
─ É o Jeová? Estou preocupado com ele, o vi sair
logo ao raiar o dia, o sol nem tinha saído ainda, e ele
não retornou, estou preocupado com ele.
─ Verdade, já faz um bom tempo que ele
desapareceu.
Neste momento o Gustavo adentrou no local
onde estávamos, parecia outra pessoa, barba feita,
banho tomado, nem parecia o mesmo cara de antes. O
semblante ainda era de um prisioneiro assustado, como
se fossemos fazer-lhe algo de ruim.
Ficamos nos três sentados conversando, o
Gustavo falou pouco, combinamos de sairmos para
procurar o Jeová caso ele não aparecesse, mas não
demorou muito e nosso amigo retornou molhado de
suor, todo vermelho parecendo um pimentão, e com
um cacho de bananas nas costas. Ele disse que havia
encontrado dentro da mata, quase ao final da praia.
~ 100 ~
─ Que bom Jeová, estávamos pensando em
sairmos para pescar ou caçar, ou qualquer coisa assim.
Disse o Marcos.
─ As bananas já vão ajudar bastante. - Eu disse.
─ Mas não se esqueçam de que o que temos só
vai durar mais duas semanas, melhor racionar e
tentarmos pescar ou caçar para ajudar. E é claro, pensar
em um jeitinho de sair daqui. Disse o Marcos.
Começamos a comer as bananas enquanto o
Marcos terminava o almoço, aquele era um dia
diferente, um novo começo para todos nós em um
mundo velho e ultrapassado.
~ 101 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ISMAEL NARRANDO.
As coisas essa semana não parecem andarem
muito bem, éramos para saímos logo cedo para irmos
ao mar. Eu preparei as redes e o barco, tudo do jeitinho
que o senhor Ananias gosta. Ele é um sujeito bom,
muito calado às vezes, fica olhando para o horizonte
como se estivesse em transe. Às vezes temos que
cutucar ele para que o homem volte ao planeta terra
novamente. Tudo o que eu sei relacionado a pesca eu
aprendi com o senhor Ananias que é o pescador mais
velho da ilha, ele nasceu aqui, as pessoas comentaram
que ele já nasceu pescando. Ele e o padre são as
pessoas mais respeitadas na ilha dos pescadores, toda
~ 102 ~
decisão que se venha a tomar antes tem que ser
analisadas por eles.
Não demorou muito para que o senhor Ananias
aparecesse com outros dois colegas pescadores. Como
sempre o seu semblante era pesado, rosto de quem
tomou limão azedo no café da manhã. Às vezes dou
risadas com o senhor Ananias, esse jeito dele de ser
com os outros, meio bruto, mas ao mesmo tempo
amoroso, às vezes ele nos dá broncas e mais broncas,
as vezes acho até que vou apanhar, mas daí, de repente,
do nada ele muda o semblante e começa a rir. Coisa
muito incomum, típico de pessoas que tem um parafuso
a menos na cachola, mas no caso do seu Ananias ele
tem todos os parafusos fora do lugar. Mesmo assim
tenho um afeto muito grande por ele, e o respeito como
se fosse o meu próprio pai, já que eu não conheço o
meu pai verdadeiro, eu o considero o meu pai, e
inclusive o chamo assim, no começo ele estranhou, mas
acostumou depois.
É lá veio ele com o Ronaldo e o Roberto, nossa
pescaria estava marcada para as oito da manhã, mas já
são quase dez horas e somente agora eles apareceram.
~ 103 ~
─ Bom dia meu pai, sua bênção, porque o
senhor atrasou hoje? Perguntei-lhe muito curioso.
─ Bom dia Ismael, Deus o abençoe. Eu tive que
descer até o cais, havia muitos peixes lá e o negociador
apareceu adiantado.
─ Ele costuma vim sempre sexta-feira, hoje é
quarto ainda, o que será que aconteceu para ele ter se
adiantado tanto assim?
─ Eu disse para o seu pai que alguma coisa seria
aconteceu. Disse o Ronaldo.
─ Eu sei Ronaldo, eu sei - Respondeu meu pai -
mas isso não é da nossa conta, e aquele sujeito não me
inspira confiança quanto menos conversa com ele
melhor é.
─ Vamos ao mar logo marujo, ou vamos ficar
aqui jogando conversa fora, se os senhores quiserem eu
mato um frango e nos sentamos para papear. Disse o
Roberto.
─ Vai se ferrar Ronaldo - disse o eu pai - você
não sabe nem o que comeu na janta de ontem seu
merda.
~ 104 ~
─ Ah, seu Ananias, vamos pescar logo que não
vejo a hora de ir para o mar e laçar as redes. Disse
Ronaldo.
─ Tudo está pronto, não estão falando nada,
redes, chumbadas reservas, água, alimento, arpão, está
tudo aí? Perguntou o meu pai.
─ Está sim pai - Respondi - eu mesmo conferi
tudo duas vezes como o senhor explicou. Estamos
prontos para ir ao mar. E a propósito, aonde iremos
hoje, que rumo tomará.
─ Entrem no barco e eu já lhes digo qual rumo
tomaremos. Disse meu pai.
Entramos todos no barco, quem o pilotava era
sempre eu, meu pai pediu para irmos um pouco mais
para o leste, meio que circulando a ilha, achei estranho
aquela atitude, nunca antes havíamos feito isso. Lá
estávamos o mar estava calmo, as ondas tranquilas e os
ventos sopravam com certa leveza, parecendo um
ventilador. Meu pai sentou-se em um dos cantos do
barco, o olhar fixo no horizonte do mar, e como se ele
estivesse perdido em alguns pensamentos. Vindo do
meu pai isso era algo totalmente comum, o contrário
~ 105 ~
seria o anormal. Também não é para menos, ele passou
por muitas coisas, seus olhos viram muitas desgraças
durante a guerra, ele as vezes conta cada história de
arrepiar os cabelos, não gosto nem de imaginar o que
esse homem passou nas frentes de batalha, só mesmo
Deus para o ter guardado.
Cerca de meia hora depois chegaram ao local
indicado por meu pai, não o costumeiro, mas em outro
ponto. Começamos a lançar as redes, uma vez, duas
vezes, é a cada vez que lançávamos as redes elas
retornavam cheias, peixes grandes como nunca antes
havíamos pescado. O meu pai ficou com um sorriso de
orelha a orelha, havíamos descoberto um novo local de
pesca. O barco estava a tal ponto que já não cabia mais
nenhum peixe, retornamos para o cais. O Roberto
estava exausto de tanto puxar rede e lançar rede. Mas
estávamos satisfeitos, havíamos pescado para o mês
inteiro, se trocássemos todo o montante pescado, com
certeza teríamos alimentos para toda a comunidade
para um bom tempo. Bastava apenas negociar com o
nosso contato, mas essa negociação era sempre com
meu pai.
~ 106 ~
─ Que pescaria maravilhosa, em anos de
pesca eu nunca havia apanhado uma quantidade tão
grande de peixes. Como eu não tinha pensado nesse
lugar antes, se eu soubesse que ali era tão bom de
pesca. Disse o papai aos risos.
─ A ideia foi minha, não se esqueçam disso.
Respondi.
─ Foi pura sorte sua sorte de principiante Ismael,
para dizer a verdade arriscou bastante em pescar tão
longe, dava para ver o forte de onde estávamos. Disse
Roberto.
─ Ele fica do outro lado da ilha, mas está
abandonado. - Respondeu o papai.
─ Esse forte é o que na verdade? Perguntei-lhe.
─ Durante a guerra serviu como deposito de
armamentos e como quartel General do comando sul
do país, somente depois que foi usado como prisão.
─ Que tipo de armamentos. Perguntei
novamente.
~ 107 ~
─ Todo tipo de armamentos, desde armas
simples como pistolas a metralhadoras, ponto
cinquenta, lança mísseis e uma infinidade de munições
de todos os calibres.
─ Porque motivo o senhor nunca fala da guerra
pai, o senhor nunca nos fala sobre a guerra.
─ Verdade seu Ananias, verdade, nunca ouvimos
o senhor falar sobre a guerra. Disse o Roberto.
─ Não há muito que dizer; nada verdade não há
nada o que dizer daquele inferno.
─ E quem ganhou essa guerra pai. Voltei a
perguntar.
─ Em uma guerra não existe vencedores meu
filho, o que existe são ilusões, pessoas tolas que
acreditam que venceram, mas na verdade somos todos
perdedores, na guerra todos perdem.
Quando chegamos ao cais havia outro grupo de
pescadores prontos para irem ao mar. Cerca de vinte
homens para mais, todos alvoroçados, prontos para
zarpar, mas quando eles viram a situação do nosso
barco e o tanto de peixes que havia nele, nenhum dos
~ 108 ~
pescadores saíram para o mar, todos compreenderam
que deveriam ajudar no transporte e até mesmo na
negociação se necessário fosse. As mulheres ficaram
animadas com a quantidade de peixes pescados,
puseram a ajudar e segregar as espécies, dos maiores
para os menores, e assim por diante. Papai estava tão
animado que pensava em retornar ao mar novamente,
mas nos não fomos. Estávamos cansados e
precisávamos do resto da tarde para descansar o
esqueleto, nada mais justo depois de uma pescaria tão
produtiva.
Passei o resto da tarde a beira do cais ajudando
na separação dos peixes. Havíamos pescado muito mais
do que o ano inteiro, aquilo era um verdadeiro milagre,
meu pai ainda não acreditava no que seus olhos viam
peixes de todos os tamanhos, especialmente os grandes,
esses eram os mais visados e com maior valor. O meu
pai não perdeu tempo, colocou-os no gelo e foi logo
entrar em contato com o comprador. Não muito tempo
depois ele retornou com sorriso no rosto, havia
conseguido negociar todos os peixes pescados, a
quantidade de alimentos seria baseado no peso total da
pescaria, meu pai estimou mais ou menos mil quilos de
peixes. O que resultaria em mil quilos em alimentos,
~ 109 ~
como arroz, feijão, óleo e demais coisas. Tudo isso
distribuído na comunidade os alimentaria por quase seis
meses.
O fim de tarde veio rápido, o sol aos poucos se
escondia no horizonte, e seus tons alaranjados
refletindo nas nuvens trazia ao céu uma beleza sem
igual. Enquanto nas águas tons dourados na imensidão
do mar. O meu pai ainda trabalhava com os peixes,
separando-os, em outras ocasiões, ele estaria me dando
bronca para ajuda-lo, mas estavam todos tão
entusiasmados que ele se esqueceu de brigar comigo.
Fiquei então observando o mar com toda sua
majestade, meus olhos se encantam com o entardecer.
Todos os dias eu fico neste mesmo lugar, observando as
mesmas coisas, não do mesmo jeito, mas sempre com
um olhar diferente. Às vezes passo tempo demais aqui,
esqueço-me das horas, a noite vem com seus braços
longos e eu nem percebo, saio apenas quando a fome
aperta, ou quando meu pai chama.
Para mim o homem é parte do mar e o mar uma
extensão do homem na terra. Eu sou parte do mar,
gosto de passar mais horas no mar do que em terra.
Quando estou na terra me sinto desconectado, mas
~ 110 ~
quando estou no mar me sinto completo, talvez eu
tenha herdado isso de meu pai, embora o Ananias não
seja meu pai biológico como eu já disse anteriormente,
mas foi ele quem me criou e me ensinou tudo sobre o
mar. Existem coisas que não são passados pela genética,
mas pela convivência e pelo coração. Assim é minha
relação com o meu pai, é muito mais coração, sintonia,
é como se ele realmente fosse meu pai biológico. A
quem diga na ilha que somos parecidos, talvez seja pela
convivência, é o psicológico das pessoas me veem
parecido com ele, coisa que garanto que não é, mas
como todos insistem que sou, não vou contradizer
ninguém.
~ 111 ~
MARCOS NARRANDO.
As pessoas são o resultado de governos
corrompidos, governos fraudulentos e inescrupulosos.
Pessoas que não tinham bons interesses, que se
venderam ao longo dos anos. Muitas pessoas também
adotaram a metodologia desses governos de Satã. Por
trás das cortinas a coisa é diferente, o teatro das almas
acontece sobre manipulação. Fomos e porque não dizer
que ainda somos marionetes de um sistema onde a
lógica é extremamente perigosa e absurda. Às vezes eu
tento manter a racionalidade, manter a calma, ser uma
pessoa aparentemente normal, mas como ser normal e
agir como se nada estivesse acontecido. Os mundos
como o conheceram não é mais o mesmo, o castelo de
cartas caiu repentinamente.
~ 112 ~
Qual é o valor que deram para nós, qual o valor
da alma do homem? Talvez se houvéssemos
despertado a tempo o suficiente de se fazer alguma
coisa, mas não houve tempo. O Brasil é um dos países
com as maiores riquezas naturais do mundo, um país
que tem a maior riqueza em água doce, nosso lençol
freático é o maior do mundo. Mas não devemos nos
esquecer do que aconteceu ao mundo. A guerra
financiada pelos senhores do mundo com o objetivo de
promover o genocídio funcionou perfeitamente. A
agenda destes déspotas foi cuidadosamente articulada
com o passar dos anos. O caos tomou proporções
insustentáveis, mas ninguém percebeu que isso era
apenas uma distração para as coisas maiores que viriam
a acontecer. As chuvas ácidas decorrentes das armas
atômicas devastam várias partes.
A região sul do nosso país e do extremo oeste
foram as áreas mais afetadas pelas chuvas ácidas. As
plantações de alimentos nestas aéreas foram
tremendamente afetadas. A fome assolou boa parte de
nosso país, bem mais do que as bombas que caíram
sobre ele. Em alguns lugares as pessoas morreram pelas
ruas da cidade, em suas casas, nas praças, corpos e mais
corpos apodrecendo por todos os lados. As doenças
~ 113 ~
tomaram conta de tudo, não havia o que fazer, a não ser
aceitar a morte eminente. Nossa população que era tão
numerosa foi reduzida a um terço, as demais morreram,
não havia caixões e nem cemitérios para tantos corpos.
A alta elite mundial, os senhores do mundo, os
financiadores dessa chacina em massa hoje vivem em
ilhas paradisíacas, um mundo a parte somente para eles.
Eu e meus colegas estamos confinados nessa ilha,
pensávamos que tínhamos um prisioneiro perigoso que
deveria ser guardado a sete chaves. Por fim
descobrimos que ele era apenas um pai de família, uma
vítima do sistema assim como nós fomos. Estamos em
um dilema terrível. Continuar na ilha ou sair dela; se
continuarmos a corremos o risco de morrermos de
fome, se saímos corremos o risco de morrer pelas
doenças ou até mesmo sermos presos pelo governo
único mundial e sermos declarados traidores e até
mortos. Eu em particular acho que deveríamos pelo
menos tentarmos ir para o outro lado da ilha, quem
sabe haja alguma coisa lá, não custa tentar. Enquanto
estou confinado nesta cozinha com meus pensamentos,
os meus amigos discutem o que será melhor para todos
nós.
~ 114 ~
A verdade é que nada disso faz sentido, não
temos valor algum, não temos valor para ninguém,
somos todas almas mortas, só que não sabemos disso.
Não temos valor algum, afinal, o que nós somos para a
elite mundial? Certamente que, como alguém bem
disse certa vez: “Para eles somos descartáveis e sem
valor, tal qual gado no pasto." Se pararmos para pensar
é bem verdade, pelo menos é o sentimento que está
predominando em mim, que está forte dentro do peito
deixando a alma doente. É bem isso que eles querem
ver-nos doentes, moribundos, desfalecidos, essa sempre
foi à imagem do pobre trabalhador Brasileiro, imagem
de desolação, semblante caído, vencido por um sistema
que o massacrou, um sistema que aniquilou aos poucos,
essa é a grande verdade, a de que estávamos sendo
eliminados; mortos dia após dia hora após hora,
estávamos sendo aniquilados.
O governo com suas mandíbulas de ferro
destroçou os mais pobres e mais humildes, arrancando-
lhes pedaço por pedaço, até que não sobrasse mais
nada, o povo brasileiro foi sendo dizimado aos poucos,
de um modo silencioso, quase imperceptível. As ruas
das nossas cidades denunciavam o descaso das elites
governamentais, enquanto muitos estão morriam de
~ 115 ~
fome sem ter onde dormir, os políticos desse país
viviam sobre um teto luxuoso, comendo especialidades
com valores exorbitantes, tomando vinhos em garrafas
pequenas, cujo preço ultrapassava a casa dos noventa
mil reais, isso é apenas um detalhe que descobri, essa
elite podre anda dizendo que governa para o bem do
povo; será mesmo? A grande verdade que os brasileiros
não quiseram enxergar que estava sendo sugado, tal
qual um vampiro suga seu o sangue da sua vitima, assim
somos nós nas unhas desses governantes.
A vida nunca foi fácil para os Brasileiros, ainda
mais em tempos de crises e guerras, tempos de
dificuldades, todavia, existem muitos déspotas que estão
se aproveitando para pesar sobre a humanidade as suas
consequências, reduzindo a vida a pó, enquanto seus
impérios são fortificados, a principio, alguém pode até
dizer que é efeito de crise e da guerra, que todos têm
que colaborar, e tal... Mas existem muitos
aproveitadores, a exemplo dos governantes, que só
quiseram reduzir de quem não tinha nada, conheci
muitas empresas que agiram em situações parecidas
mundo afora explorando o funcionário, sendo que,
estes mesmo que se dizem preocupados com o que
acontece são os que menos ajudam de fato, os salários
~ 116 ~
desses déspotas, a exemplo dos salários governantes são
altíssimos, eles têm carros luxuosos alugados para sua
disposição e tantas outras regalias desnecessárias, e se
acham no direito de tirar do pobre.
Quanto mais trabalhávamos menos valor
tínhamos, essa foi uma verdade, eu mesmo sou uma
prova viva disso, durante treze anos da minha vida
trabalhei na cozinha em uma empresa metalúrgica, eu
fazia de tudo, ajudava cozinheiros, lavar louças,
trabalhei como louco. Durante todos esses anos
trabalhei pesado, em local inapropriado, com
temperaturas altíssimas dos fogões industriais. Lembro-
me de quando entrei na empresa, Lembro-me de ouvi
alguém dizer: "vista a camisa da empresa, trabalhe duro
e faça o seu nome dentro da empresa." que tolice foi
minha, acatei o que me disseram, e trabalhei anos a fio
de sol a sol, na maioria das vezes doente, o resultado de
tanto sacrifício foi a deterioração da minha saúde; hoje
tenho quatro parafusos na coluna e uma prótese
intervertebral. Essa foi meu pagamento durante esses
anos, e agora, confinado nesta ilha.
Não era de minha vontade fazer uma cirurgia na
coluna, mas eu estava com desgaste no disco, L4 e L5,
~ 117 ~
com hérnia de disco, as dores eram insuportáveis,
cheguei a travar dentro da minha própria casa, eu já não
exercia a minha função tão bem, surgiu então uma
oportunidade de mudar de função, e assim aconteceu,
fui recolocado em uma nova área dentro da empresa,
eu pensava que seria mil maravilhas, mais uma vez me
enganei, o que tinha de pior naquele setor sobrou para
mim, foi quando tive que fazer a cirurgia. Fiquei
afastado pelo no INSS, passei por situações que muitos
brasileiros passaram; humilhações e descaso; esse é o
nosso país, que não valorizou sua maior riqueza, que é
o seu povo. Ficar o dia inteiro em uma fila de INSS não
é para pessoas fracas, definitivamente não é para os
fracos de espírito, somente guerreiros de verdade
conseguem tal proeza.
Não havia muito o que fazer por um país de
corruptos e ladrões, a única maneira, ainda que muito
improvável, era o período de eleições, mas para ser
bem sincero, particularmente eu nunca acreditei no
voto, no meu entender é tudo manipulação, ganha as
eleições quem os senhores do mundo querem, quem
eles escolhem segundo os seus interesses, sempre foi
assim e nunca mudou. A verdade é essa, que a elite
mundial, os senhores do mundo, determinam tudo
~ 118 ~
nesse planeta, os presidentes são meros fantoches nas
mãos dos verdadeiros donos desse país, e acreditem os
donos do país não somos nós o povo, pelo contrário,
somos a vista deles como simples gado de corte. Que
Deus tenha misericórdia das nossas almas, porque os
homens não têm nem um pouco de misericórdia.
Talvez um dia tudo mude, talvez um dia os
governantes mudem, eu bem sei que é impossível essa
mudança, e se de fato acontecesse seria sem dúvidas um
verdadeiro milagre. Enquanto o milagre não acontece,
nós continuamos nas garras afiadas desses déspotas
tiranos, e confinadas nessa ilha. Todos são iguais, estão
no mesmo nível, se um cair, todos caem juntos, por isso
é tão difícil se conseguir algum resultado positivo nesta
nova era, quando a coisa parecia andar, quando
achávamos que esse ou aquele vai ser detido, vem a
surpresa e acaba tudo em pizza, e nós o povo brasileiro,
continuávamos a sonhar com um talvez que nunca
chegou, um amanhã tão improvável quanto incerto.
Somos manipuláveis, esse é o grande problema, somos
fáceis demais, nos conquistaram com poucas palavras
vazias.
~ 119 ~
Fica aqui registrado o meu descontentamento com essa
raça de víboras rastejantes, que Deus nos guarde da
maldade desses corações malignos.
Enquanto os meus amigos conversão eu continuo
na cozinha, é o meu lugar predileto, onde me refúgio
com meus muitos pensamentos. As lembranças do
passado me assaltam às vezes. Não gosto de ficar
lembrando o meu passado, da época que trabalhava nas
cozinhas das fábricas, e depois nas linhas de produções
das mesmas fábricas, nunca ganhei o suficiente. Hoje,
confesso que me arrependo de muitas decisões erradas.
Se eu pudesse voltar no tempo, mas infelizmente o
tempo não volta, ele simplesmente passa atropelando
tudo e todos. Meu coração está apertado, sinto que algo
de errado aconteceu algo de grande aconteceu, não foi
só a guerra, existem ainda algumas perguntas sem
respostas. Mas quem as responderá? O que fica é a
incerteza de um amanhã e a convicção de que tudo foi
em vão.
~ 120 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ROBERTO NARRANDO.
Hoje completei trinta e cinco anos de idade, é
um dia para se comemorar. E o motivo para tal é o fato
de estar vivo em um mundo que já morreu. Viver na
ilha nunca foi minha vontade, eu sempre quis viver nas
grandes cidades, como a capital paulistana, por
exemplo, movimento frenético de carros para todos os
lados. As buzinas e o trânsito gigantesco me fascinam,
eu sei que parece pura maluquice, mas sempre fui
atraído por grandes movimentos, grandes centros
urbanos. A capital paulistana era perfeita para se viver,
muitos discordam de mim, também não é para menos,
querer viver em um lugar daqueles é mesmo coisa de
~ 121 ~
maluco. Sendo assim, posso me considerar um cara
completamente louco, e não me importo nem um
pouco com isso.
Comemoro com grande alegria essa memorável
data, considero-me um sobrevivente. Eu estava em São
Paulo quando o caos tomou conta de tudo, a guerra
começando, milhões de pessoas desaparecidas, e outras
tantas mortes que ocorreram pela própria guerra.
Imaginem uma cidade que não cabia mais nada, assim
era a cidade de São Paulo. Os paulistanos se
preocupavam apenas com suas próprias vidas sem se
importar com o próximo. Aos poucos o sistema todo
caiu, desmoronou como um castelo de cartas. E lá
estava eu, em plena Avenida Paulista quando tudo
começou, quando os tanques invadiram a cidade. Uma
batalha travada pela vida acontecia pelos palcos do
mundo todo. Não havia muito que fazer, desde então
que a única coisa que passamos a fazer era correr e lutar
pela sobrevivência da espécie.
Mas antes de tudo viesse a acontecer eu
trabalhava no jornal. Fazia matérias especiais de todos
os tipos, me enfiava em cada lugar extremamente
perigoso. As favelas do Rio de Janeiro, São Paulo. Mas
~ 122 ~
o que eu mais gostava de investigar era sobre assuntos
ligados aos segredos dos governos, alienígenas,
tecnologias inovadoras, esse tipo de coisa, é claro que
nunca publiquei nada a respeito no jornal, os
donos não partilhavam da mesma ideia, eu apenas
pesquisava e depois arquivada tudo em casa, como se
fosse um diário de coisas estranhas e absurdas. O
mundo estava em transição, em mudança, mas ninguém
os notou, os acontecimentos estavam apenas no
começo e muita coisa estava por vir. Como de fato
vieram, mas quem se importa com o bem estar do seu
semelhante? Quem afinal?
Como eu havia dito anteriormente, é o meu
aniversário, e a um grande motivo para se comemorar.
Eu não tenho esposa e nem filhos, assim como a
maioria dos moradores da ilha. Isso aconteceu depois
da guerra, muitas mulheres morreram, sobraram muitos
homens, e as mulheres que sobraram na sua grande
maioria tornaram-se inférteis. Na ilha existem poucas
mulheres, e as casadas evitam ter filhos com medo das
crianças nascerem deformadas por causa dos níveis
altos de radiação na atmosfera. Às vezes fico a vagar
pela orla da praia, como hoje, por exemplo, onde as
minhas lembranças são as melhores companheiras.
~ 123 ~
Sobrevivi ao holocausto, meu aniversário não tem bolo
e nem velas, porém, tem em meu coração um sabor
indescritível de vitória por estar aqui entre pessoas tão
queridas.
Depois de andar certo tempo na orla da praia,
resolvi voltar para casa. No caminho encontrei alguns
amigos que me desejaram feliz aniversário, o primeiro
foi o seu Ananias.
─ Parabém pelo seu aniversário me perdoe por
não ter dado presente. Disse seu Ananias.
─ A sua amizade já é um grande presente, o
melhor de todos. Eu respondi.
─ Não se esqueça de amanhã, vamos pescar
naquele mesmo lugar.
─ Tudo bem seu Ananias, tudo bem, amanhã
estarei pronto. Estou com a sensação de que vamos
pescar mais do que antes.
─ O Carlos fez umas modificações no barco, ele
ficou ainda melhor, até amanhã Roberto.
─ Até amanhã seu Ananias. E muito obrigado.
~ 124 ~
Quando cheguei em casa a primeira coisa que eu
fiz foi tomar um bom banho. Relaxei o corpo, eu estava
bastante cansado, depois fiz um café bem forte, comi
algumas bolachas, e deitei-me um pouco. Como o sono
não vinha, resolvi revirar alguns papéis antigos, e não é
que encontrei vários de meus artigos. Na época dei-lhes
o nome de teorias da conspiração, eu usava um
pseudônimo de Alberto Lispector, para que ninguém
descobrisse que era eu por trás das matérias. Criei uma
espécie de personagem com esse nome. Escrevi cinco
matérias mas não chegaram a ser publicadas, mas elas
diziam bastante coisas comprometedoras da elite
global.
Eis a primeira matéria.
Dia 20/ 03/ 2016.
O mundo como nos o conhecemos foi moldado
sobre fundamentos falsos, tudo quanto aprendemos na
escola desde criança é uma completa mentira, esqueça
tudo o que você aprendeu. Durante décadas a raça
humana tem sido manipulada, politica, financeira e
religiosamente. Grupos poderosos de banqueiros
internacionais é que detém o verdadeiro poder, setenta
por cento do dinheiro mundial pertence a esses grupos,
~ 125 ~
apenas trinta por cento, essa é a quantia que o resto da
humanidade possui. Verdades sobre a origem de nossa
raça foram escondidas, assim como muitas outras coisas
que vocês nem imaginam. A verdadeira face do mundo
está por detrás das cortinas, durante séculos pessoas
escolhidas são designadas para proteger segredos que
abalariam os alicerces da nossa sociedade. Os seres
humanos estão acostumados a aceitar tudo o que a
mídia diz com muita facilidade, nada é questionado, e
ninguém se preocupa em verificar se o que estão
dizendo ou ensinado é realmente aquilo mesmo. As
pessoas nunca foram tão fáceis de dominar.
O que você pensa que é verdade, pode ser
mentira, e a mentira que te ensinaram pode ser
verdade, você é que vai escolher o que é verdade e o
que é mentira. Vou expor-lhes alguns fatos que no
primeiro momento causara estranheza, mas numa
observação mais minuciosa da sua parte, você percebera
que o que digo, é a mais pura verdade.
Conspirações sempre fizeram parte da nossa
história e de nosso folclore, planos absurdos e paranoias
que parecem ser reais, muitos dizem que tudo não
passa de uma farsa, de invenções fabulosas, mas estou
~ 126 ~
tentado a crer que não é bem assim. Seja bem vindo ao
mundo das teorias das conspirações, meu verdadeiro
nome prefiro não revelar, quero me identificar como
Alberto Lispector.
Em vinte de julho de mil novecentos e sessenta é
nove, o homem pela primeira vez pisa na lua, as
televisões de todo o mundo mostraram as imagens dos
primeiros passos de um ser humano no solo lunar. Eu
quero lhe dizer que verdades sobre esse fato foram
escondidas de você, enquanto mentiras muito bem
elaboradas e encenadas foram largamente divulgadas, a
comoção do povo lhe cegou a tal ponto dele não
perceber que tudo não passava de uma fraude. Alguns
anos depois da ida do homem a lua um pequeno livro é
lançado com o titulo, "Nós nunca fomos à lua." Uma
farsa de trinta milhões de dólares, essa era a primeira
publicação oficial que contradizia a NASA, teorias de
que tudo não passou de uma encenação em estúdios,
muito bem montados, ou pelo menos eles pensaram
que eram bem montados, os astronautas não passavam
de atores em um senário, talvez você esteja me
questionando por ter visto as imagens na televisão, a
nave subindo para o espaço e tudo mais, reflita bem e
observe cuidadosamente tudo, evidencias incontestável
~ 127 ~
apontam para a fraude. Temos que considerar que os
americanos nesse momento da história estavam numa
corrida espacial contra a seu rival russo, então tudo seria
feito para saírem na frente, basta você olhar as
evidencias, as fotos tiradas mostram as sombras em
diferentes direções, como se houvesse outro ponto de
iluminação, falta de poeira nas fotos, sinais de rádios
confusos e outras coisa mais. Você acredita se quiser, só
quero mostrar o que está por detrás desta cortina de
mentiras.
A um ditado que diz que uma mentira contada
muitas vezes torna-se com o tempo uma verdade, e é
isso que vem acontecendo há séculos, basta controlar a
informação, a mídia é o ponto forte nesse plano,
controlando as informações que ela transmite logo você
está controlando toda a massa. Nem tudo o que passa
na televisão é verdade, eu diria que a porcentagem de
verdade é bem pouca.
Em mil novecentos e setenta um projeto chama
do MKULTRA, era colocado em pratica por esse
mesmo país, este projeto estava destinado ao controle
mental das pessoas, experiências horríveis com drogas e
alucinógenos foram feitos com civis e militares, somente
~ 128 ~
em mil novecentos e setenta e sete que o desastroso
programa foi encerrado, mais os seus estragos já
estavam feitos, inúmeras vidas se perderam.
Outra mentira está relacionada à famosa área
cinquenta é um, quando digo mentira não estou falando
da sua não existência, pelo contrario ela é tão real
quanto você e eu. Essa base secreta fica a cento e
cinquenta quilômetros ao nordeste de Nevada, em um
documento de mil novecentos e noventa é cinco o
governo americano admite a existência dessa instalação
secreta. Muitas especulações têm surgido a respeito
dessa instalação e seus projetos, de naves extraterrestres
a viagens no tempo, mas este assunto tratará mais tarde.
O programa de investigação de aurora ativa de
alta frequência ou HAARP. Esta instalação de quatorze
equitares com mais de cento e sessenta antenas todas
interligadas, essas antenas transmite ondas de frequência
extremamente baixas contra a nossa ionosfera, o
governo diz que é para o estudo da ionosfera e o seus
efeitos sobre a transmissão de ondas de rádio, mas essa
não é toda a verdade, o haarp pode ser usado em todo
o tipo de aplicação militar. Esse pode ser um dispositivo
para a manipulação do tempo, ou seja, controlar o
~ 129 ~
clima, fazendo com ele o que bem quiser como causar
tempestades ou até terremotos segundo diz alguns
especialistas.
Outra coisa nociva são os rastros químicos
aplicados na atmosfera por aviões especialmente
preparados com isso, alguns cientistas temem o seu uso
indiscriminado, acredita-se que estas trilhas químicas
que você bem pode ver pela manhã ou no final de
tarde, sejam usadas pelos militares que por sua vez
manipulados por pessoas de alto poder, tendo a
finalidade de adoecer a população mundial vindo a
exterminar boa parte dela, o governo diz que está
borrifando óxidos metálicos para pesquisa e não é nada
prejudicial. Agora fica á seu critério acreditar ou não.
Não sou nenhum especialista nestes assuntos, tão
pouco um cientista, sou apenas uma voz, um
sobrevivente deste mundo cão, as informações que lhes
passo pode ser facilmente encontradas na rede mundial
de computadores, o meu intento em reuni-las e repassa-
las a vocês e desperta-los para aquilo que está
acontecendo debaixo de seus olhos, não tenho família,
vivo solitário, meus anos servido no governo deixaram
profundas marcas não só na minha carne, mas na
~ 130 ~
minha alma também. Sei que serei tachado de louco,
mas não me importo, foi graças as minhas loucuras que
sobrevivi neste mundo cão, não quero falar sobre isso
agora, essa é apenas a primeira parte, aos poucos farei
novas revelações que te deixara perplexo, como eu disse
você é quem decide acreditar ou não.
Relendo esses manuscritos, parece até que eu
estava prevendo o que viria a acontecer, como de fato
aconteceu. E a intenção dos grandes governantes
finalmente apareceu. Naquele momento meus olhos já
estavam pesados de sono, deixe os papéis de lado e
adormeci.
~ 131 ~
GUSTAVO NARRANDO.
Enquanto o Marcos estava na cozinha,
certamente que preparando algo para comermos com
as ervas aromáticas que ele havia encontrado, nos
reunimos em uma pequena sala de escritório do forte.
O dia estava carregado, pesadas nuvens sobre o céu da
ilha, nuvens enegrecidas. Logo ouvimos os primeiros
trovões, ecoando seu estrondo por toda ilha, eu já havia
presenciado tempestades fortes na ilha, mas aquela
parecia diferente. Ventos impetuosos começaram a
soprar cada vez mais fortes, as palmeiras e outras
árvores da ilha dobravam-se com a força do vento. Se o
forte não fosse tão bem construído, ele não iria resistir a
força da ventania, que de tão intensa assobiava pelas
frestas de portas e janelas.
~ 132 ~
Não demorou e as primeiras gotas grossas de
chuva começou a cair, uma aqui, outra ali, e de repente
o céu desabou, chuva forte daquelas que formam
correntezas. Até pequenas pedras de granizo caíram, e
os trovões continuavam, estrondos grandiosos seguidos
de raios que cortavam o céu de um lado a outro.
Ficamos um pouco assustados com a intensidade da
tempestade, mas tranquilos por estarmos dentro do
forte. As paredes de pedra eram fortes o suficiente, as
correntezas e enxurradas formadas pela chuva pareciam
rios, batiam com ímpeto contra as paredes de pedra. A
chuva forte durou cerca de uma hora, depois ficou
fraca, mas continuou a cair, já não se ouvi trovões e
nem raios eram vistos, apenas a chuva mansa e
tranquila, nem parecia que ainda pouco o céu havia
desabado sobre as nossas cabeças.
Enquanto a chuva caia serena, um silêncio
profundo tomou conta do ambiente, ninguém disse
uma só palavra, então me senti só, mesmo estando com
meus amigos, eu me senti só. Lembrei-me de um texto
de um escritor que conheci a muito tempo, o texto fala
de solidão, é mais ou menos assim:
~ 133 ~
A solidão veio novamente visitar minha alma, como
eu gostaria de viver sem ter que me vestir de tristeza
todos os dias, a solidão é teimosa, é pegajosa,
indiferente; mas há que diga que a dor é para ser
sentida, ser sorvia de um só gole, é um mal necessário.
A solidão não quer fugir de mim,
Não quer ocultar a face,
Não quer se dissipar com o vento,
Solidão que não se desfaz nos pensamentos.
A solidão transforma possibilidades em realidades,
muda a essência das coisas, faz o que bem lhe apraz.
Por esse motivo sou amante da solidão, confessando a
ela toda minha penúria, toda a minha angústia, todo o
meu desespero, a dor latente por traz do silêncio de
cada olhar, em cada sorriso existe um peso da minha
solidão.
O meu tipo de solidão é aquela que se dá em meio a
multidão, essa é a minha realidade diária, não sou o que
eu demonstro ser, não sou aquilo que as pessoas pensão
que sou, minha alma poética vive jogada neste mundo
~ 134 ~
de horrores, neste mundo de pessoas sem sentimentos,
pessoas cheias de rancor, e vazias de amor, sou apenas
um reles poeta que o mundo desprezou.
Belíssimo texto que me faz refletir, às vezes eu
me sinto assim, como o autor desse texto. A solidão
sempre vem nos visitar, mas às vezes a solidão quer
fazer morada em nosso coração.
─ Como vamos sair daqui? -Perguntei quebrando
o silêncio - Quer dizer, se é que vamos sair daqui, o que
quero dizer é se realmente compensa sairmos da ilha,
afinal, não sabemos como esta o mundo lá fora.
─ No nosso caso estamos na ilha há quase um
ano. Respondeu Jeová.
─ Eu acho que deveríamos pelo menos tentar
explorar a ilha, tentar achar o outro lado, sei lá,
qualquer coisa assim. Disse Antônio.
─ Mas não devemos nos esquecer do que
aconteceu lá fora. As cidades estão destruídas, não há
alimentos, o pouco que sobrou das cidades os senhores
do mundo as tomou e estão construindo paraísos
~ 135 ~
terrestres somente para os mais poderosos. Disse
Marcos.
─ É uma questão complicada, se ficarmos
morremos, se sairmos morreremos. O que fazer então?
Perguntei-lhes novamente.
─ Eu prefiro morrer tentando a ficar aqui e não
fazer nada. Disse Jeová.
─ Em partes você tem razão. Disse o Marcos.
─ Porque em partes? Não entendi.
─ Simples meu caro Jeová, muito simples. Todos
sabem que nos trouxeram para cá para morrermos, tá
bem claro isso, pelo menos para mim. Sendo assim, de
que adiantaria tanto esforço para sermos presos ou
morrermos de fome. Eu prefiro ficar por aqui mesmo.
Disse o Marcos.
─ Porque não tentamos ir para o outro lado da
ilha, com certeza alguma coisa eles construíram lá
também. Se existe um forte aqui, deve haver outra coisa
do lado de lá da ilha, porque não vamos lá. Não vai nos
custar muito, mesmo porque não temos barco, e nem
~ 136 ~
recursos para construir um. Eu disse sem muito
entusiasmo de ser ouvido.
─ Você tem razão Gustavo, você tem razão.
Gastaríamos menos tempo e menos esforço e não
estaríamos tão expostos. Disse o Marcos.
─ Tudo bem, eu concordo. Vamos ao outro lado
da ilha, quem sabe não encontramos alguma coisa
interessante lá. Disse Jeová.
─ Vamos então, mas, vamos fazer isso com
cautela, não sabemos do perigo dessa ilha, eu vou
preparar as armas, temos que estarmos preparados.
Disse o Antônio.
─ Armas? Todos nós? Perguntei-lhe.
─ Sim todos nós, inclusive você.
─ Já que é assim, vou preparar os suprimentos
para a nossa incursão mata adentro, de barriga vazia
ninguém chega a lugar nenhum. Disse o Marcos se
levantando em seguida e indo direto para a cozinha.
Enquanto o pessoal se preparava para sair, eu
fiquei no escritório, eu e meus pensamentos. As
~ 137 ~
lembranças do passado vieram na minha mente como
as enxurradas da chuva. A família, trabalho. Novamente
me vi em contradição sobre qual era realmente a minha
origem, quem eu era de verdade. Perguntei a mim
mesmo, em voz alta. Gustavo, afinal, quem é você? Eu
não obtive resposta, eu não tenho resposta nenhuma,
então conclui que posso ser que eu quiser ser. Na falta
de uma identidade original, recorro as identidades
alternativas, e minha imaginação passou a tomar espaço,
eu poderia ser um poeta famoso, porque não. Eu
poderia ser um assassino a sangue frio, porque não
também. Mas se de repente eu me lembrasse de tudo,
tudo mesmo, e se o meu verdadeiro eu não agradasse
os meus amigos, e se eu não gostasse de quem
realmente sou.
Esses pensamentos me levaram a uma reflexão
sobre verdades e mentiras, lembrei-me de um texto, não
me recordo onde li e nem o nome do autor, talvez um
amigo, não sei ao certo, mas o texto um pouco
estendido diz o seguinte. Pelo menos boa memória eu
tenho, eis o texto:
~ 138 ~
O mundo como nos o conhecemos foi moldado
sobre fundamentos falsos, tudo quanto aprendemos na
escola desde criança é uma completa mentira, esqueça
tudo o que você aprendeu. Durante décadas a raça
humana tem sido manipulada, politica, financeira e
religiosamente. Grupos poderosos de banqueiros
internacionais é que detém o verdadeiro poder, setenta
por cento do dinheiro mundial pertence a esses grupos,
apenas trinta por cento, essa é a quantia que o resto da
humanidade possui. Verdades sobre a origem de nossa
raça foram escondidas, assim como muitas outras coisas
que vocês nem imaginam. A verdadeira face do mundo
está por detrás das cortinas, durante séculos pessoas
escolhidas são designadas para proteger segredos que
abalariam os alicerces da nossa sociedade. Os seres
humanos estão acostumados a aceitar tudo o que a
mídia diz com muita facilidade, nada é questionado, e
ninguém se preocupa em verificar se o que estão
dizendo ou ensinado é realmente aquilo mesmo. As
pessoas nunca foram tão fáceis de dominar.
O que você pensa que é verdade, pode ser
mentira, e a mentira que te ensinaram pode ser
verdade, você é que vai escolher o que é verdade e o
que é mentira. Vou expor-lhes alguns fatos que no
~ 139 ~
primeiro momento causara estranheza, mas numa
observação mais minuciosa da sua parte, você percebera
que o que digo, é a mais pura verdade.
Conspirações sempre fizeram parte da nossa
história e de nosso folclore, planos absurdos e paranoias
que parecem ser reais, muitos dizem que tudo não
passa de uma farsa, de invenções fabulosas, mas estou
tentado a crer que não é bem assim. Seja bem vindo ao
mundo das teorias das conspirações, meu verdadeiro
nome prefiro não revelar, quero me identificar como
Alberto Lispector.
Em vinte de julho de mil novecentos e sessenta é
nove, o homem pela primeira vez pisa na lua, as
televisões de todo o mundo mostraram as imagens dos
primeiros passos de um ser humano no solo lunar. Eu
quero lhe dizer que verdades sobre esse fato foram
escondidas de você, enquanto mentiras muito bem
elaboradas e encenadas foram largamente divulgadas, a
comoção do povo lhe cegou a tal ponto dele não
perceber que tudo não passava de uma fraude. Alguns
anos depois da ida do homem a lua um pequeno livro é
lançado com o titulo, "Nós nunca fomos à lua." Uma
farsa de trinta milhões de dólares, essa era a primeira
~ 140 ~
publicação oficial que contradizia a NASA, teorias de
que tudo não passou de uma encenação em estúdios,
muito bem montados, ou pelo menos eles pensaram
que eram bem montados, os astronautas não passavam
de atores em um senário, talvez você esteja me
questionando por ter visto as imagens na televisão, a
nave subindo para o espaço e tudo mais, reflita bem e
observe cuidadosamente tudo, evidencias incontestável
apontam para a fraude. Temos que considerar que os
americanos nesse momento da história estavam numa
corrida espacial contra a seu rival russo, então tudo seria
feito para saírem na frente, basta você olhar as
evidencias, as fotos tiradas mostram as sombras em
diferentes direções, como se houvesse outro ponto de
iluminação, falta de poeira nas fotos, sinais de rádios
confusos e outras coisa mais. Você acredita se quiser, só
quero mostrar o que está por detrás desta cortina de
mentiras.
A um ditado que diz que uma mentira contada
muitas vezes torna-se com o tempo uma verdade, e é
isso que vem acontecendo há séculos, basta controlar a
informação, a mídia é o ponto forte nesse plano,
controlando as informações que ela transmite logo você
está controlando toda a massa. Nem tudo o que passa
~ 141 ~
na televisão é verdade, eu diria que a porcentagem de
verdade é bem pouca.
Em mil novecentos e setenta um projeto chama
do MKULTRA, era colocado em pratica por esse
mesmo país, este projeto estava destinado ao controle
mental das pessoas, experiências horríveis com drogas e
alucinógenos foram feitos com civis e militares, somente
em mil novecentos e setenta e sete que o desastroso
programa foi encerrado, mais os seus estragos já
estavam feitos, inúmeras vidas se perderam.
Outra mentira está relacionada à famosa área
cinquenta é um, quando digo mentira não estou falando
da sua não existência, pelo contrario ela é tão real
quanto você e eu. Essa base secreta fica a cento e
cinquenta quilômetros ao nordeste de Nevada, em um
documento de mil novecentos e noventa é cinco o
governo americano admite a existência dessa instalação
secreta. Muitas especulações têm surgido a respeito
dessa instalação e seus projetos, de naves extraterrestres
a viagens no tempo, mas estes assuntos tratarão mais
tarde.
O programa de investigação de aurora ativa de
alta frequência ou HAARP. Esta instalação de quatorze
~ 142 ~
equitares com mais de cento e sessenta antenas todas
interligadas, essas antenas transmite ondas de frequência
extremamente baixas contra a nossa ionosfera, o
governo diz que é para o estudo da ionosfera e o seus
efeitos sobre a transmissão de ondas de rádio, mas essa
não é toda a verdade, o haarp pode ser usado em todo
o tipo de aplicação militar. Esse pode ser um dispositivo
para a manipulação do tempo, ou seja, controlar o
clima, fazendo com ele o que bem quiser como causar
tempestades ou até terremotos segundo diz alguns
especialistas.
Outra coisa nociva são os rastros químicos
aplicados na atmosfera por aviões especialmente
preparados com isso, alguns cientistas temem o seu uso
indiscriminado, acredita-se que estas trilhas químicas
que você bem pode ver pela manhã ou no final de
tarde, sejam usadas pelos militares que por sua vez
manipulados por pessoas de alto poder, tendo a
finalidade de adoecer a população mundial vindo a
exterminar boa parte dela, o governo diz que está
borrifando óxidos metálicos para pesquisa e não é nada
prejudicial. Agora fica á seu critério acreditar ou não.
~ 143 ~
Não sou nenhum especialista nestes assuntos, tão
pouco um cientista, sou apenas uma voz, um
sobrevivente deste mundo cão, as informações que lhes
passo pode ser facilmente encontradas na rede mundial
de computadores, o meu intento em reuni-las e repassa-
las a vocês e desperta-los para aquilo que está
acontecendo debaixo de seus olhos, meus anos servindo
como escravo assalariado deixaram profundas marcas
não só na minha carne, mas na minha alma também.
Sei que serei tachado de louco, mas não me importo,
quando todas essas coisas acontecerem, todos vão se
lembrar de mim, essa é apenas a primeira parte, aos
poucos farei novas revelações que te deixara perplexo,
como eu disse você é quem decide acreditar ou não. "
Essas constantes lembranças de textos e de livros
ou de jornais, não recordo onde eu li isso, contudo, me
fez pensar que de repente eu deva ser algum professor,
ou mesmo escritor. Quem eu sou afinal?
~ 144 ~
MARTA NARRANDO.
Na antiga capital Paulistana.
Depois da guerra, das bombas devastando tudo, o
que sobrou foram apenas dor e sofrimento. Meu nome
é Marta, sou jornalista e escritora, uma das
sobreviventes do genocídio mundial provocado pelos
senhores do mundo. Neste momento estou na capital
paulistana, ou pelo menos no que sobrou dela. O líder
mundial prometeu construir áreas novas em todos os
lugares e para todas as pessoas, ele destinou trilhões em
dinheiro na moeda única vigente para ajudar na
reconstrução dos países mais afetados. Isso é algo bom,
pelo menos uma coisa boa entre tantas tragédias e
destruições. Muitas pessoas estão desaparecidas em
~ 145 ~
todo o globo terrestre. Alguns falam que isso foi
resultado das bombas atômicas.
Enquanto eu caminho por algumas ruas
completamente destruídas, lembro-me de quando
trabalhava aqui, no coração da antiga São Paulo. As
lembranças me assaltam o pensamento doe na alma e
no coração. Enquanto estou aqui, meu irmão, Gustavo,
está desaparecido, já faz um ano desde que ele
desapareceu. Sinto muitas saudades do meu irmão, ele
que sempre cuidou de mim, que me protegeu nos
momentos difíceis da vida. Tentei descobrir onde ele
está se foi morto ou não, a única coisa que sei é que a
última vez que ele foi visto foi na sede mundial aqui em
Gaia. O líder mundial montou uma segunda sede em
cada país do mundo, é como se os países do mundo
fossem prefeituras de seu estado, algo mais ou menos
assim. Depois disso meu irmão nunca mais foi visto por
ninguém, quando fui procura-lo, ninguém tinha
informações.
LEMBRANÇAS.
~ 146 ~
“23 - 12 - 15."
Finalmente férias já era tempo, ando
extremamente cansada, trabalhar em redação de jornal
não é uma tarefa fácil. Principalmente um jornal de
grande circulação como o da Capital paulistana. São
Paulo é uma cidade cheia de vida e de muito
movimento, mexe com os nervos de qualquer um, ao
extremo eu diria. A cinco anos estou trabalhando nesse
jornal, e conciliando com meu trabalho como escritora,
não é nada fácil conciliar as duas coisas, mas com
jeitinho brasileiro conseguimos tudo. Eu gosto da
cidade de São Paulo, nasci aqui, minha vida é para o
trabalho, e o trabalho é a extensão da minha vida. As
coisas ultimamente não tem mudado muito, pelo
menos não parecem mudar. Quero falar um pouco
desta cidade onde nasci, minha cidade, meu mundo
confuso, cheio de preconceitos. Vivemos em uma era
ultra moderna, computadores, tablets, Internet, e tudo
mais que você puder imaginar. Mas a mentalidade da
maioria das pessoas não muda, elas parecem
continuarem no século passado. A São Paulo de hoje
não é a mesma de tempos atrás, da época de meus pais
e meus avós, muitas coisas mudaram desde então, não
para o bem, não senhores, não se enganem, as drogas e
~ 147 ~
a criminalidade tomaram conta da sociedade destruindo
as famílias. Durante um período muitas famílias vieram
do norte do país para São Paulo na tentativa de
conseguir emprego, mas ao invés disso, a crise mundial
assola a maior capital do país. Tempos em que somos
obrigados a fazer sacrifícios. Muitos ficaram
desempregados, famílias inteiras perderam as suas casas
e passaram a morar debaixo da ponte, essa é minha São
Paulo, tão amada quanto odiada. É nesta cidade confusa
que aprendi a viver, entre buzinas e trânsito pesado,
entre assaltos e mortes. Não há como escapar de
situações dramáticas e difíceis. Eu aprendi a controlar as
minhas emoções, e sei bem como controlar as minhas
emoções . Sou uma das poucas jornalistas com coragem
de entrar em favelas e outros lugares dominados pelo
tráfico. Passei por situações de perigos intensos, se não
fosse meu irmão Gustavo, talvez eu não estivesse mais
nesta terra, agradeço a Deus todos os dias pelo irmão
que tenho. Ele é a única pessoa que tenho minha única
família. Bom, como havia dito anteriormente, férias, tão
sonhada férias. Para não ficar em São Paulo, escolhi a
cidade de Santos, litoral, praia, sol sombra e água fresca.
Eu me considero uma mulher racional, e considero o
amor um estranho para mim, difícil de ser entendido,
~ 148 ~
assim como uma equação matemática, ao mesmo
tempo em que o amor é essa equação complicada e
quase indecifrável, é também maravilhoso
e arrebatador. Eu cheguei a ter um namorado a um
ano atrás, o nome dele é Fernando, um gato de olhos
verdes, mas extremamente galinha. Coisa que eu não
suporto, ser traída, é insuportável para mim, acabei o
namoro e não quis mais saber de mais ninguém. Os
homens são todos iguais, só mudam o endereço.
Depois do Fernando meu namorado foi a redação do
jornal e as matérias de todos os dias. É claro que não
vou descartar um possível novo amor, mas no momento
não quero.
Minhas lembranças do passado ficam cada vez
mais frequentes. Parecem devaneios, lapsos da
memória. Naquela ocasião em dois mil e quinze, eu
jamais imaginária que o mundo mergulharia em uma
poça de sangue, que países usariam seus arsenais
atômicos. Como me enganei, o improvável e impossível
veio a acontecer, e quem pagou a conta foram os
milhões de vidas inocentes espalhadas pelos quatro
cantos do mundo. Eu tenho que encontrar meu irmão,
Gustavo, segundo informações o governo único envia
prisioneiros considerados perigosos para uma ilha
~ 149 ~
deserta, mas eu não sei se isso é verdade, se realmente
essa ilha exista, e se existir, onde ela se localiza? Só há
uma maneira de saber, embora isso tenha um grande
risco para minha vida. Se eu conseguir invadir a sede
mundial, talvez eu descubra algo sobre onde meu irmão
está e se ele ainda vive.
De retorno para minha casa, na única parte da
antiga São Paulo que não foi destruída, sintonizo uma
estação de rádio qualquer. Mas de repente, uma rádio
pirata invade a sintonia, e começo a ouvir a seguinte
mensagem.
RÁDIO.
A humanidade desconcertada descarrilhou-se
dos trilhos da sabedoria divina, trocando a sua
identidade original por uma forjada no mais profundo
do inferno. Os homens dos dias atuais esqueceram dos
retos caminhos de Deus, preferiram as sinuosas estradas
do mundanismo diabólico.
Como entender um mundo onde o respeito não
existe, onde o amor foi trocado pelo ódio pela
~ 150 ~
incompreensão. Somos meros produtos de um
mercado negro onde o mais importante é lucrar. Deus
virou um conceito ultrapassado no coração de muitos
homens, a morte tornou-se corriqueira a noticia mais
assistida nos meios de comunicação. As grandes cidades
são selvas de pedras onde o mais forte sobrevive
sobrepondo-se aos fracos.
O entretenimento da maioria dos jovens está
ligado a baladas regadas a bebidas e drogas, noites
inteiras de loucuras e excessos. Na maioria das vezes
essas noitadas terminam em algum velório nem sempre
os culpados estão dentro do caixão.
A humanidade necessita de retomar os trilhos da
sabedoria divina e conquistar suas verdadeiras
identidades, os caminhos atuais jamais levaram o
homem a felicidade eterna. Jesus nos disse que o único
caminho que nos leva a Deus é através dele mesmo. Ele
é o caminho a verdade e a vida. Ele é o alfa e o ômega o
principio e o fim.
Quero por meio destas singelas palavras, dizer o
quanto estou aborrecido com esse mundo vil, que ao
longo dos séculos se deteriorou, ficando cheio de
enganos; mundo de homens néscios, que trocaram as
~ 151 ~
suas Identidades originais criadas por Deus, por outras
forjadas no mais profundo do inferno.
Quero dizer ainda, que muitos desses homens,
tem se colocado como deuses na terra, e querem a todo
custo a nossa reverência, querem a nossa adoração, os
nossos joelhos dobrados diante de suas faces. Mas não
faremos tal coisa absurda, a nossa adoração é somente
para Deus, e nossos joelhos se dobraram somente na
presença da majestade divina. Deus é o criador por
excelência de todas as coisas, no princípio ele fez o
mundo, logo em sequencia fez o homem e a mulher
para habitar neste mundo novo que ele criou, Deus fez
o homem reto, íntegro, mas o homem transgrediu os
limites estabelecidos por Deus, e o pecado entrou
primeiramente no coração do homem é do coração do
homem o pecado se alastrou como erva daninha
mundo afora, a marca do pecado está em todos os seres
humanos, porém, Jesus Cristo, o filho de Deus, veio a
este mundo de perdição para nos livrar da condenação
que estava sobre os nossos ombros, a morte e
ressurreição de Jesus na cruz do calvário nos da a
oportunidade de nos livrarmos da condenação e do
inferno. A Bíblia diz que o salário do pecado é a morte,
e uma vez morto sem estar com o selo da salvação de
~ 152 ~
Cristo, a condenação será com toda certeza o mais
profundo do inferno. Os ensinamentos contidos na
Bíblia sagrada mostram como o homem deve se
comportar neste mundo contaminado sem se deixar
contaminar por ele também. O inferno é real e o céu
também é real, para morar no inferno é muito simples e
fácil, basta descumprir o que a Bíblia ensina, e negar os
bons preceitos ensinados nesta magna carta que é a
Bíblia, basta apenas fazer o que o mundo diz para fazer,
e o seu lugar no fogo eterno estará com certeza
garantida; mas para morar no céu é necessário estar
primeiramente em Jesus, ou seja, tê-lo como o seu
Salvador, e é claro, cumprir com os ensinamentos da
Bíblia sagrada.
Outra coisa que me aborrece nesse mundo de
hoje, é ver as verdades de Deus sendo desprezadas e
taxadas como mentiras, e as mentiras do diabo sendo
consideradas verdades. Os olhos do criador estão em
toda parte, contemplando tudo e a todos, tudo o que
fazemos está sendo registrado por ele, seja de bom ou
de ruim, tenha por certo, que mais cedo ou mais tarde
colheremos daquilo que plantamos, por isso motivo o
mundo está a beira do caus., o mundo quer agradar a si
próprio, satisfazer o seu ego, e os seus malignos desejos,
~ 153 ~
profanos e imundos, todas essas coisas foram plantadas
ao longo dos séculos, a semente do mal cresceu e
frutificou, agora é o momento da colheita; árvore ruim
da fruto ruim, árvore boa da fruto bom, tem sido assim
desde o começo do mundo e será até o final dos
tempos, quem plantou o mal vai colher o mal, mas
quem plantou o bem colherá o bem.
O que mais vemos hoje são notícias ruins,
mortes, assassinatos, doenças incuráveis, terremotos,
guerras, furacões e muitas outras coisas, tudo isso é o
claro resultado da constante desobediência do homem,
e da sua insistente rebeldia insensata. Eu costumo dizer
que nos somos todos livres para fazermos qualquer
coisa que quisermos, o livre arbítrio nos dá esse direito,
mas nunca seremos livres das consequências daquilo
que escolhemos. Essa é uma verdade eterna, que está
em plena atividade na vida de todos os seres humanos o
tempo todo.
Não coloque a culpa em Deus pelas desgraças
que acontece no mundo ou na sua vida, coloque o dedo
em seu próprio nariz e culpe a si mesmo pelos erros
que você cometeu, fazemos escolhas erradas a todo o
momento, e as nossas escolhas não são forçadas por
~ 154 ~
ninguém, não sofremos ameaças para fazer essa ou
aquela escolha, quando alguém decide beber a noite
toda e se drogar, essa escolha é pessoal, dos próprios
desejos do coração humano, levando as decisões de
satisfazer a carne pecadora, a consciência fala dentro da
razão humana, advertindo-a para não fazer tal coisa,
porém, a decisão final é pessoal, então o homem ao sair
com seu carro depois de beber e se drogar a noite toda,
no retorno para o seu lar, bêbedo ao volante, ele estará
sujeito a um acidente grave, que poderá custar a sua
própria vida e a de outras pessoas inocentes. Agora eu
pergunto: De quem é a culpa? Da pessoa que escolheu
beber ou de Deus? Foi Deus que o obrigou a beber?
Ou foi ele mesmo, usando erroneamente do seu livre
arbítrio escolheu essa condição. Esse é o grande
problema da humanidade de hoje, ela faz escolhas
erradas, sabe que estão erradas, mesmo assim
prosseguem no erro, depois que acontecem os desastres
quer colocar a culpa em Deus, como se Deus fosse o
culpado de tudo o que há de errado no mundo.
Deus não precisa de quem o defenda, mas como
Cristão, eu me sinto no dever de manifestar minha
indignação contra esse mundo de pecados e de injustas
e acusações contra Deus. Jesus carregou em seus
~ 155 ~
ombros o peso de nossos erros, derramou o seu sangue
precioso para nos salvar, para que tivéssemos uma vida
reta e integra, o céu é o destino final dos que aborrece o
mundanismo e obedecem a Deus, já o inferno é o
destino certo dos que desprezam o todo poderoso e o
seu amado filho Jesus.
O mundo não vai melhorar, creia no que estou
falando, tudo tende a ficar ainda pior, todos nós temos
que escolher o caminho de nossa eternidade, e só existe
duas opções, céu ou inferno, o que vai ser, qual é sua
escolha? Eu escolho o céu, não tenho parte neste
mundo perdido, sou um cidadão do céu, estou apenas
de passagem nesta terra, mas enquanto eu estiver aqui,
devo sem sombras de dúvidas, viver pautado na palavra
de Deus, obedecendo aos ensinamentos, obedecendo
ao que Jesus nos ensinou, a amar o meu próximo como
a mim mesmo. Dessa forma vou trilhando meu
caminho para o céu, dia após dia, luta após luta. O
mundo tornou-se ruim por causa do próprio homem
que se tornou ruim, somos convidados pelo Espírito
Santo de Deus, a ter diariamente atitudes que refletem
as virtudes de um verdadeiro cidadão do céu.
~ 156 ~
A escolha é só nossa, céu ou inferno, o que você
vai querer?
Desliguei o rádio com lágrimas nos olhos, não sei
o motivo, mas aquela mensagem mexeu com alguma
coisa dentro de mim. Lembranças de uma infância já a
muito perdida.
~ 157 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
PADRE LAIR NARRANDO.
Uma chuva forte caiu em toda ilha devastando
quase tudo. A maioria dos moradores está assustada.
Suas casas foram praticamente levadas pela enxurrada.
Graças ao bom Deus que existe uma antiga contrição
um pouco mais afastada da praia. Talvez seja algo da
época da guerra, mais pelo espaço e estrutura, servirá
perfeitamente para abrigar todas as famílias que no
momento estão no salão da igreja. Ao todo são cento e
cinquenta pessoas. A maioria de idosos, a chuva veio de
~ 158 ~
repente, sem muito aviso, não esperávamos uma
tempestade tão forte e com vendavais tão devastadores.
A maioria das casas da ilha é construída de madeira,
uma ou outra que tem alvenaria. Quando a intensidade
do vento aumentou, fomos obrigados a deslocar as
pessoas.
Eu nunca vi algo semelhante, eu nunca presenciei
uma tempestade tão grande e tão furiosa. O senhor
Ananias, que Deus o abençoe pela audácia e coragem,
no momento em que a tempestade aumentava. Ele é
alguns pescadores tiraram todas as pessoas das casas de
madeira. Foi o tempo exato das famílias saírem das suas
casas para tudo desabar, muitas pessoas perderam
praticamente tudo, salvaram apenas documentos e
algumas roupas, o resto foi levado pelo vento e pelas
enxurradas. A sorte é que a igreja foi construída em um
pequeno patamar de pedra, isso a possibilitou firmeza.
Traço um paralelo desse episódio com uma história
que Jesus havia dito, do homem que construiu sua casa
na areia e o outro na pedra, a chuva veio aos dois, mas
somente um resistiu, foi justamente o que tinha seus
fundamentos na pedra.
~ 159 ~
Às vezes eu me pergunto qual é o limite de todos
nós. Até onde poderemos chegar? É nos momentos de
crises e de grandes dificuldades que encontramos essas
respostas. Vivemos em um mundo destruído por
bombas atômicas, milhares morreram pela ignorância
de alguns poucos homens, muitas pessoas honradas
foram sepultadas pela falta de honra de alguns poucos
homens. Será mesmo que o homem foi merecedor de
tudo aquilo que o mundo tinha de belo? Às vezes fico
pensando no rumo que as coisas tomaram tudo passou
tão rápido, as coisas aconteceram tão de repente que
não tivemos tempos de reflexão. Quando paro para
refletir no passado e rever algumas lembranças, me dou
conta que o relógio do fim estava a um minuto da meia
noite e nem percebemos isso, a vida apenas seguiu seu
curso.
O palco da destruição estava pronto, nós é que
não percebemos os enfeites de morte, e aqueles que
perceberam tentaram avisar-nos, mas a maioria deles
fora taxados como loucos. Entre meus livros achei
alguns escritos que dão fundamento ao que estou
dizendo-lhes, vejam esse texto, datado cinco anos antes
da grande guerra, nele o autor já falava em senhores do
~ 160 ~
mundo, iluminatis e até na terceira guerra. Nós é que
não estávamos atentos, aos avisos que foram dados.
Eis o texto na íntegra:
O mundo e suas muitas guerras, o homem nunca
esteve satisfeito com o que possuía não lhe bastava
apenas o seu pedaço de quintal, ele desejava mais,
passou então a cobiçar o quintal do seu vizinho, o
homem então, possuído de um desejo descontrolado e
insano, tomou a força o quintal do seu vizinho. Agora
ele possuía um quintal bem maior, mas isso não lhe
bastou, no quintal do outro vizinho, havia um lindo
pomar, o homem então passou a cobiçar esse pomar,
ambicioso ele o toma a força, "agora sim", pensavou o
homem, "estou farto" Com o tempo aquele homem
descobriu algo terrível, ele descobriu que nunca estaria
satisfeito e que sempre iria cobiçar o que era dos outros,
então o homem percebeu que sua felicidade não estava
em conquistar o que era alheio, mas sim em satisfazer
seu desejo por conflitos, em possuir sempre mais,
sempre com uma desculpa esfarrapada na qual ele se
apoiava para promover destruição e violência, seu
verdadeiro gozo estava em tirar vidas, matar, fazer
guerras, ser a guerra, e durante toda a vida o homem
~ 161 ~
seria a essência do mal; sempre com a desculpas
estúpidas sem crédito algum. O único desejo do
homem da guerra é ver o sangue correr pelo chão duro
de terra, o homem tem a guerra dentro de seu coração,
até o dia em que a própria guerra ceifará a sua vida.
Nosso mundo está cheio de homens assim, com
uma inclinação maligna para o mal, para destruição e
para a morte. São almas perturbadas, personalidades
desfiguradas, que ambicionam desmedidamente,
pessoas que na verdade não se controlam, são viciados
em violência sente prazer na dor do próximo, o
alimento dessas almas masoquistas perdidas é a própria
guerra. Vejam que somente no século vinte
aconteceram sessenta guerras, foram milhares de
milhares de vidas ceifadas, milhões e milhões de
crianças e idosos que perderam as suas vidas, a troco de
nada, simplesmente para satisfazer a vontade daqueles
que se denominam como senhores do mundo, essas
pessoas se acham no direito de determinar quem deve
viver e quem deve morrer, e o mecanismo usado para
isso é a guerra, e os propósitos para as guerras são os
mais imbecis possíveis. Os EUA massacraram o Iraque
com a suposta alegação de que eles tinham armas de
destruição em massa, porém nada encontraram o que
~ 162 ~
havia de fato no Iraque era um povo pobre sofredor,
carecendo de tudo, principalmente de amor de atenção
e de Cristo.
Estes senhores do mundo promovem as guerras,
na verdade eles planejaram todas as guerras, tanto a
primeira como a segunda, e acreditem, até aquela que
ainda não aconteceu já está planejada para acontecer.
Eu me refiro a terceira guerra mundial, sim senhores, a
terceira guerra mundial já está planejada.
Leia atentamente o que se segue e tire as próprias
conclusões, este é um documento de um desses
senhores do mundo, homens da guerra, conhecidos
como iluminatis.
A Primeira Guerra Mundial deve decorrer de
forma a permitir que os Illuminati derrubem o poder
dos Czares da Rússia e garantam que esse país se torne
um bastião do comunismo ateísta. As divergências
causadas pelos agentes Illuminati entre a Alemanha e a
Inglaterra serão usadas para fomentar esta guerra. No
final da guerra, o comunismo será criado e usado de
forma a destruir outros governos e ainda para
enfraquecer as religiões.
~ 163 ~
A Segunda Guerra Mundial deve ser fomentada
por forma a tirar vantagem das diferenças entre os
Fascistas e os Sionistas políticos. Esta guerra tem de
surgir de forma a que o Nazismo seja destruído e o
Sionismo político se torne forte suficiente para instituir
um Estado soberano de Israel na Palestina. Durante a
Segunda Guerra Mundial, o comunismo internacional
tem de se tornar forte suficiente de forma a
contrabalançar a cristandade, o qual deverá então ser
refreado e contido em cheque, até ao momento em que
nós voltaremos a necessitar dele para o derradeiro
cataclismo social.
A Terceira Guerra Mundial tem de ser
fomentada de forma a tirar vantagem das diferenças
causadas pelos agentes Illuminati entre os Sionistas
políticos e os líderes do mundo Islâmico. Esta guerra
tem de ser conduzida de forma a que o Islã (Mundo
Árabe Muçulmano) e o Sionismo político (Estado de
Israel) se destruam mutuamente. Entretanto as outras
nações, mais uma vez divididas nesta matéria serão
constrangidas a lutar até ao ponto de completa exaustão
física, moral, espiritual e econômica. Nós iremos então
libertar os niilistas e os ateus, e então iremos provocar
um formidável cataclismo social em que todo o seu
~ 164 ~
horror mostrará claramente a todas as nações as
consequências do ateísmo absoluto, origem de selvajaria
e agitação sangrenta.
Então por todo o lado, os cidadãos, obrigados a
se defender eles próprios contra as minorias
revolucionárias, irão exterminar esses destruidores da
civilização, e a multidão, desiludida com o Cristianismo,
cujos espíritos ficarão a partir desse momento sem
compasso ou direção, ansiosos por um ideal, mas sem
saber para onde direcionar essa adoração, irão receber a
verdadeira luz da manifestação universal da doutrina
pura de Lúcifer, trazida finalmente aos olhos do
público.
Esta manifestação será resultado de um
movimento reacionário geral no qual se seguirá a
destruição do Cristianismo e do ateísmo, ambos
conquistados e exterminados ao mesmo tempo.
Mensagem do Pastor. (autor do texto citado
acima, seu nome é Benjamin de Israelis)
~ 165 ~
Você deve estar se perguntando quem são estes
iluminati? Essa é a definição da origem de como
surgiram.
Illuminati (plural do latim illuminatus, "aquele
que é iluminado") é a denominação de diversos grupos,
alguns históricos, outros modernos, reais ou fictícios.
Mas comumente, contudo, o termo "Illuminati" tem
sido empregado especificamente para referir-se aos
Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta da era do
Iluminismo fundada em 1º de maio de 1776. Nos
tempos modernos, também é usado para se referir a
uma suposta organização conspiratória que controlaria
os assuntos dos vários Estados secretamente,
normalmente como versão moderna ou como
continuação dos referidos Illuminati bávaros, como
sinónimo e cérebro por trás dos acontecimentos que
levariam ao estabelecimento de uma Nova Ordem
Mundial, com os objetivos primários de unir o mundo
sob uma espécie de tirania global.
É hora de acordamos, é hora de um verdadeiro
despertar do povo, os senhores do mundo querem ver
nossas cabeças em bandejas de prata, mas devemos ser
corajosos e a exemplo de João Batista, falar a verdade
~ 166 ~
sem nada temer, os sinais estão por todos os lados, e
são inegáveis. A verdade é uma só, não somos deste
mundo contaminado pelo pecado, somos cidadãos do
céu, estamos apenas de passagem nesta terra de guerras
e morte, nosso lugar é no céu.
Não ouvimos Deus falar conosco, ele avisou-nos
de diversas maneiras que o fim estava próximo, ele
avisou, mas a nossa negligência impediu-nos de
enxergarmos a verdade.
Como eu havia dito anteriormente, enviamos as
famílias para a igreja e para esse salão, agora teremos
que pensar no que iremos fazer. O Ananias está
reunido com alguns anciãos da cidade, discutindo o que
será melhor para todos e principalmente, o que faremos
a partir de agora, o que eu poderia fazer eu fiz, cedendo
à casa de Deus aos seus próprios filhos de Deus, agora
cabem a eles saberem como lidar com essa situação.
Verdade é que estamos esquecidos nessa ilha sem a
menor possibilidade de ajuda externa.
~ 167 ~
MARCOS NARRANDO.
Era sete horas da manhã de um dia qualquer que
não me lembro mais. O sol nascendo lentamente,
escalando o céu por entre as árvores frondosas da mata.
Tons alaranjados cobrem as pequenas nuvens
espalhadas pela extensão celeste. Pequenos pássaros
cantando alegremente nos galhos das árvores. O aroma
suave das manhãs é inconfundível, gosto das primeiras
horas do dia, do silêncio absoluto de todas as manhãs.
Para mim, todos os dias deveriam ser manhãs
maravilhosas como essa que contemplo neste
momento, enquanto meus amigos estão se aprontando,
eu fico aqui, observando o céu e o sol a vida que segue
o seu curso silencioso, sem se importar com os seres
humanos desta terra amaldiçoada.
Lembrei-me de uma poesia muito bonita, perfeita
para esta manhã maravilhosa, não me lembro do nome
~ 168 ~
do autor, mas me recordo perfeitamente de cada verso.
Diz assim:
O sol despertou no horizonte,
Riscou os seus tons vermelhos,
Espalhou-os pelas nuvens.
Na sua lenta marcha,
Escalando o azul celeste,
Aquecendo os corações mornos.
Na copa das árvores,
As aves cantam com maestria,
Anunciando o novo dia.
Novas oportunidades,
~ 169 ~
Novos começos,
Novas chances,
Novos amores,
Renovo da alegria,
Renovo da alma,
Tudo é novo neste novo dia,
Que neste momento se inicia.
O semblante das pessoas revelam suas almas, e a
face expressa o que o coração anseia. Quando observo
meus amigos, quando observo o olhar de cada um
deles, fica perceptível e notório o que cada um sente.
Não sei o porquê tenho isso, desde criança eu sou
assim, lembro-me de ficar horas e horas apenas sentado
em um canto observando as pessoas, a expressão de
seus rostos, o modo como cada um sorri, o movimento
das mãos ao falar de determinados assuntos, o modo
como cada um se locomove, o jeito das pessoas se
~ 170 ~
sentarem, o olhar das pessoas quando estão tensas, o
movimento involuntário das pessoas em momentos de
distração. Enfim, sou um observador do corpo humano
e acredito que ele fala conosco, eu costumo fazer, as
vezes apenas, uma leitura do corpo da pessoa.
Eu não sou um psicólogo, sou apenas um
observador atento. O Gustavo, por exemplo: quando
chegou aqui, a sua expressão era de alguém
transtornado, e não era para menos, tantas medicações
e alucinógenos que foram ministrados nele. Era
impossível traçar seu perfil psicológico, cada dia era um
semblante diferente, cada dia ele parecia uma pessoa
diferente, abordava diversos assuntos, sobre tudo. Uma
hora parecia ser médico, abordava assuntos sobre
medicina, coisas complicadas, nomes difíceis de
pronunciar. Às vezes ele era poeta, recitava trechos
inteiros de poemas épicos, às vezes ele era jornalista, e
parecia fazer entrevistas com alguém imaginário, de
maneira que, ainda eu não consegui traçar seu perfil
psicológico, ainda estou estudando seus
comportamentos, mas é cedo para diagnósticos.
O Jeová, por exemplo: Ele parece muito calmo,
fala poucas palavras, mas quando as pronúncia é
~ 171 ~
notório que ele pensa em cada uma das palavras antes
de falar, é como se ele tivesse medo de dizer algo que o
comprometesse. Ele não faz isso por mal, aliás, ele nem
percebe isso. É um comportamento típico de pessoas
treinadas para espionagem, não estou dizendo que ele é
espião, mas esse tipo de comportamento me faz
entender que ele talvez possa ser ou já foi um. O jeito
que ele olha para cada um, seus olhos estão atentos a
tudo, inclusive no que falamos principalmente em
nossos lábios, ele parece conhecer leitura labial. Mas
também alguma coisa aconteceu com ele que de uns
tempos para cá ele passou a se alimentar
demasiadamente, como se para suprir uma ansiedade
ou qualquer coisa do tipo.
O Antônio é totalmente diferente, é um cara
muito disposto, tem um animo incomum. Ele não
parece se cansar, seu físico é invejável, de um atleta,
corpo forte, cheio de músculos que ele tem prazer em
se cuidar, malha todos os dias. Seu treinamento é muito
perceptível de ser de um militar, um soldado que está
sempre pronto para guerrear, ele tem conhecimentos
de armas sem igual, as vezes passa horas desmontando e
montando várias das armas que tem no forte. Sem dizer
que em matéria de sobrevivência em selva ele é muito
~ 172 ~
esperto, foi ele quem me disse das ervas atrás do muro
do forte. Ele é capaz de sobreviver na mata
tranquilamente por dias. Isso de certa forma me
conforta para sairmos do forte e enfrentarmos o interior
da ilha. Vejo em cada um de nós uma capacidade que
nos beneficiará.
Recapitulando tudo, vejo que estamos prontos.
Temos alimentos enlatados. Temos barras de cereais
que o Antônio achou. Estou levando alguns temperos já
prontos para uso, na parte de preparar e cozinhar
alimentos é por minha conta. O Antônio como eu disse
em matéria de sobrevivência na selva não tem outro
igual. O Jeová, apesar do sobre peso que com certeza
nos atrasará, é um excelente observador, e está atento a
tudo. O Gustavo pelo pouco que conversei com ele,
embora ele tenha perdido a memória, ele tem um
conhecimento de medicina incomum, certamente que
ele foi um médico, disso eu não tenho dúvidas e já disse
isso a ele. Temos materiais suficientes para passarmos
bastante tempo na mata. Eu acredito que a ilha seja
pequena, segundo observações do próprio Jeová, no
demais não vejo problemas.
~ 173 ~
Antes de partirmos, acabei encontrando um
jornal velho, bem velho, datava de cinco de julho de
dois mil e quinze. Não havia nada muito interessante, a
não ser uma crônica cujo texto e o título chamou a
atenção pelo assunto, seu autor é Alberto Lispector.
Eis a crônica.
O HOMEM DO FUTURO.
─ Quem é o senhor?
Perguntou o jovem.
─ Meu nome é Nicolas.
─ Olá Nicolas, tudo bem. É o seguinte Nicolas,
eu estou sempre por aqui e conheço cada pessoa dessa
praça, mas o senhor… Eu não me lembro de
você, acho que eu não te conheço.
─ Certamente que não me conhece, não sou
desse tempo e nem dessa era, eu sou um viajante do
~ 174 ~
tempo, eu vim do futuro, fui enviado pelos meus
superiores ao passado para observação da presente
geração, a fim de ter uma melhor compreensão do
comportamento humano, principalmente de
sentimentos complexos que estão escassos no futuro.
─ É sério Nicolas, são nove horas da manhã, e o
senhor já está bêbado, que conversa é essa meu amigo,
viajante do futuro, é só o que faltava. Olha meu amigo
desculpa aí, mas eu tenho que ir, até mais meu velho, se
cuida lá com o pessoal do futuro.
De repente, passa diante dele alguém que estava
distraído, de tanto que deixou cair uma pasta com
inúmeros livros, o bêbado gentilmente começou a
ajudar aquela pessoa a recolher seus livros.
─ Muito obrigado pela ajuda, muito gentil da sua
parte.
─ O prazer em ajudar foi meu.
─ O senhor não é daqui né, eu sempre passo
aqui todos os domingos de manhã para ir para a escola
Bíblica, e não me lembro do senhor por aqui.
~ 175 ~
─ Meu nome é Nicolas Sarkozy, sou um viajante
do futuro, e fui enviado por meus superiores para
observa-los, estuda-los, e, descobrir sobre os
sentimentos complexos que não existem no futuro. Por
favor, não vá embora moço, é só farei algumas
perguntas rápidas, não vou tomar seu tempo, prometo-
lhe, você pode me ajudar nessa pesquisa que estou
realizando.
─ Veja bem senhor, eu não deveria fazer isso,
mesmo porque eu tenho a ligeira impressão que o
senhor está embrenhado, ainda sim, algo em mim diz
que devo te dar atenção, desde que seja rápido, o que o
senhor deseja saber?
─ Obrigado meu jovem, muito obrigado, é de
suma importância ter informações a respeito do
comportamento desta geração, tenho que entender
como os seres humanos se tornaram tão ruins, no
futuro não existe qualquer sentimento de amor ou
compaixão, as pessoas matam umas às outras, as guerras
acabaram com países inteiros, pouca coisa restou, por
isso eles me enviaram, para através do passado
compreender as coisas que aconteceram no futuro,
coisas essas que mudou drasticamente o nosso futuro.
~ 176 ~
Sei que, talvez eu não consiga mudar o futuro, mas
talvez você possa influenciar as pessoas a sua volta, você
é a única esperança que temos.
─ Me responda uma coisa, pode ser Nicolas.
─ Claro que respondo, pode perguntar.
─ Quando você retornar para o futuro, com as
respectivas respostas, o que vai acontecer lá? Ou
melhor, vai mudar alguma coisa? Se é que você veio do
futuro mesmo.
─ Vai depender muito do que você fará aqui e
agora, permita-me explicar, eu sei tudo sobre o seu
futuro, e acredito que você é a pessoa certa, não fique
tentado a saber sobre o seu futuro, mesmo porque eu
não lhe direi, não foi me dada essa permissão, saiba
apenas que a sua literatura no futuro e a de muitos
outros influenciará essa sociedade, minha esperança e a
daqueles que me enviaram, é que ao retornar ao futuro,
algo tenha mudado. Você não é o único escolhido,
muitos outros estão sendo visitado mundo afora neste
momento. Muitos no futuro me disseram que é perca
de tempo esse nosso esforço, mas acredito que não é
perca de tempo.
~ 177 ~
─ Olha senhor, eu sou apenas um aspirante a
escritor, e estou em um diálogo maluco com alguém
que diz ter vindo do futuro, e, sinceramente, acho que o
senhor está mesmo bêbado, mas, analisando a presente
sociedade, não consigo visualizar um futuro para ela,
haja vista que sentimentos como o amor e compaixão já
estão escassos, mas se por ventura fosse verdade que
você é um viajante do futuro, e imaginemos que seja, eu
não quero desanimar você e os que te enviaram,
porém, creio que melhor do que eu, você saiba bem
que o ser humano não vai mudar tão facilmente, o que
te leva então a crer no contrário?
─ Eu creio pelo simples motivo de estar aqui,
durante a guerra fria visitei algumas pessoas em lugares
diferentes do globo terrestre, se não fosse à influência
daquelas pessoas visitadas, os chefes daqueles governos
entrariam em guerra nuclear, não existiria o presente
momento, é por isso que eu creio na mudança, não
podemos esquecer o livre arbítrio dado ao homem, o
homem é quem escolhe seus caminhos, é livre para
isso, porém, só não será livre das consequências de suas
escolhas, pense nisso caro escritor, pense nisso.
~ 178 ~
─ Tudo bem amigo, vou pensar com carinho,
vejo que o senhor é alguém de certo conhecimento, e já
que mencionou sobre escolhas caminhos e
consequências, você deveria saber melhor do que
ninguém a consequência da bebida e das drogas na sua
vida, logo você, alguém tão inteligente, com certeza
muito estudada, mas a escolha é sua, somente sua, vou
deixar o endereço da comunidade de estudos bíblicos
que participo, vai lá qualquer hora dessas, teremos o
prazer de responder todas as suas perguntas, e lhe dar a
única coisa de que seu coração realmente necessita.
Aquele moço deixou o endereço do local de
onde estaria com bêbado, e saiu logo em seguida, agora
com menos pressa, a passos curtos. O bêbado olhou
fixamente para aquele pedaço de papel contendo o
endereço, levantou-se em seguida, ficou por um instante
parado, pensativo, olhou para o moço que ia mais
adiante, coçou a cabeça, olhou para o endereço
novamente, depois de alguns minutos colocou o papel
no bolso e seguiu a passos curtos em direção contrária.
~ 179 ~
Um bêbado que achava ser do futuro, existem
muitíssimos bêbados neste momento ocupando cargos
importantes pensando que são do futuro. Mas não
passam de bêbados, a exemplo do líder mundial.
─ Vamos Marcos, já estamos prontos. Disse o
Antônio me chamando.
─ Vamos sim. Também estou pronto.
Eram oito horas da manhã em ponto quando
saímos.
~ 180 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ANANIAS NARRANDO.
Depois do forte temporal que devastou quase
todo o vilarejo, uma importante decisão deveria ser
tomada. Convoquei uma reunião de urgência com
conselho de pescadores, que são as pessoas mais idosas
da ilha, a fim de discutimos um plano emergencial para
a nossa comunidade. Cerca de oitenta por cento das
famílias da ilha perderam tudo, algumas estão alojadas
na igreja e outras no salão comunitário. Para nossa sorte
não há crianças na ilha, a população é formada por
pessoas adultas, a grande maioria com idade entre
cinquenta anos e setenta anos. A maioria é de homens,
os mais velhos são os homens. Já as mulheres, em
menor número, porém mais novas, de idade entre trinta
~ 181 ~
a cinquenta anos de idade. Esse é o perfil dos
moradores da ilha.
O conselho se reuniria no escritório da igreja, em
um total de dez pessoas, contando comigo e com o
padre Lair. Não vai ser nada fácil convence-los a fazer
alguma coisa, é bem difícil, mas dadas as circunstâncias,
não devemos ficar parados observando o vento.
Particularmente prefiro formar um grupo de pessoas e
tentarmos o outro lado da ilha, não é tão longe assim.
Pelo menos no outro lado da ilha existe o forte, talvez
se pudéssemos usa-lo como abrigo temporário até que a
vila dos pescadores seja reconstruída. Em questão de
poucos meses poderíamos fazer novas casas a
semelhança das primeiras, pelo menos assim teríamos
onde colocarmos o pessoal da ilha e as famílias
desabrigadas, quanto ao restante dos problemas
veríamos aos poucos, como roupas e alimentos.
Hoje o dia amanheceu bonito, o sol brilhando
com força no horizonte, seus raios em cor de ouro se
espalhando por sobre as águas do mar. Uma brisa
fresca e suave vinda do leste, tornando o ambiente
agradável e bem gostoso. O calor não é tão intenso,
uma sinfonia de pássaros pousou no telhado da igreja,
~ 182 ~
parece até um coral que foi devidamente ensaiado. A
natureza segue seu curso, parece indiferente aos nossos
problemas, parece não se importar com o que estamos
passando. Mas a natureza também tem sido generosa,
oferece-nos o seu fruto doce, o produto da terra. A ilha
tem uma parte de terra fértil, tudo quanto plantamos
colhemos em abundância, dividimos tudo em partes
iguais para todos. Não existe moeda ou dinheiro na ilha
como eu já disse anteriormente, não compramos nada
uns dos outros, simplesmente dividimos o que temos
uns com os outros.
Aos poucos as primeiras pessoas foram chegando
para a reunião, os mais idosos vieram primeiro. Padre
Lair organizou a sala, colocou as cadeiras em forma de
círculo, diz ele que seríamos como os cavaleiros do rei
Arthur, que se reuniam sempre em uma mesa redonda
para discutir seus assuntos. Padre Lair disse que somos
todos iguais perante Deus e o círculo é o sinal de
perfeição, de algo que não tem começo é não tem fim,
assim como a eternidade que não tem fim. Ele disse
que o círculo também é o símbolo do divino, da
perfeição, estarmos reunido em círculo nos coloca de
frente uns com os outros, isso diz que somos iguais que
não há diferenças aqui, todos são importantes, todas as
~ 183 ~
ideias são importantes, cada olhar dever estar diante do
outro olhar, assim nossa reunião será mediada pela
nossa própria consciência.
Assim que todos se acomodaram, cada um no
seu lugar, a principio estranharam as cadeiras em
círculo, mas ninguém fez objeção alguma, isso era um
bom sinal, a ideia do padre Lair havia sido aceita. O
próprio padre iniciou a reunião.
─ Bom dia a todos os presentes, Deus abençoe a
todos, obrigado pela presença. Disse padre Lair.
Todos observavam atentos ao que o padre Lair
falava. O padre era a pessoa mais respeitada na ilha,
embora jovem, com seus quarenta anos, ele possuía um
carisma que cativava a todos, suas palavras sempre bem
centradas eram acolhidas por todos. O padre às vezes
servia até mesmo como um psicólogo na ilha,
resolvendo questões complicadas e por demais
delicadas. Seus sábios conselhos sempre centrados na
bíblia sagrada, eram acatados por todos de bom grado.
Padre Lair então continuou:
~ 184 ~
─ O motivo de reunir os senhores aqui hoje,
deve-se, em primeiro lugar, como os senhores bem
sabem discutirmos a respeito da última tempestade que
devastou nossas casas. A maioria das famílias está em
segurança no salão da igreja, e lá permaneceram pelo
tempo que for necessário. Trabalharemos para ajudar
nossa comunidade, servindo-lhes naquilo que for
preciso. Mas hoje, a pedido do senhor Ananias,
conhecido de todos como o líder de nossos pescadores,
a pedido dele nos reunimos aqui para podermos
dialogar sobre o que faremos daqui para frente.
Algumas decisões deverão ser tomadas, e isso não será
feito por uma só pessoa, mas em comum acordo de
todos como sempre temos feito aqui na ilha, não será
diferente agora, seguiremos o mesmo princípio.
Ao todo estavam presentes, dez pessoas, sendo
nove pescadores a contar comigo e o padre Lair.
─ Eu acho por bem, neste primeiro momento,
priorizar a pesca apenas para o nosso sustento diário.
Mas em meio a tantas coisas ruins, eu tenho uma boa
notícia para compartilhar com os senhores. Os
alimentos que negociamos com a última pescaria, graças
~ 185 ~
a Deus não se perdeu. Eu ainda não havia distribuído,
de modo que ficaram todos armazenados no salão.
Quando eu disse que os alimentos não haviam se
perdido, um tímido sorriso despontou na face daqueles
homens. Por um milagre divino, aquela grande
quantidade de alimentos havia sido estocada no salão,
os alimentos seriam distribuídos no dia da chuva, mas
por atraso meu e do padre Lair, mudamos a data.
─ Pelo menos isso não tem onde ficar, mas pelo
menos temos com que nos alimentarmos. Disse seu
Geraldo, um dos pescadores.
─ O que vamos discutir então Ananias, porque
você nos chamou. Perguntou seu José, um dos mais
velhos do grupo.
─ Vejamos… O que os senhores acham de
montarmos uma pequena equipe para irmos ao outro
lado da ilha onde fica o antigo forte. Eu tenho
conhecimento que esse forte tem compartimentos e
espaço necessários para adequar nossas famílias
provisoriamente. Enquanto iremos reconstruir a vila dos
pescadores do mesmo modo que antes. Eu sei que
parece loucura ir até o forte, mas não custa olharmos, se
~ 186 ~
não houver ninguém lá, utilizaremos suas celas como
quartos provisórios, o que os senhores acham.
Por alguns minutos eles nada disseram, apenas
ficaram entre olhando-se, pensativos, cabisbaixos. Seu
Geraldo foi o primeiro a manifestar-se.
─ Não é muito arriscado Ananias, somos apenas
pescadores, nada além disso, sem dizer que somos
velhos, acho um risco desnecessário.
─ Concordo com o senhor seu Geraldo. Disse
outro pescador.
─ Eu apoio a ideia do Ananias - Disse Anacleto,
o mais novo de todos os presentes. Seu Anacleto tinha
cinquenta anos.
─ O que por Deus; nós iremos fazer do outro
lado da ilha - Disse seu Geraldo com certa impaciência -
É se houver guardas lá, armas, o que faremos? Somos
apenas um bando pescador velho.
─ Fica a critério dos senhores, caso não queiram
pensaremos em outra forma. Mas eu acho que
deveríamos tentar pelo menos.
~ 187 ~
Enquanto seu José e os demais senhores
dialogavam sobre a questão, eu permaneci em silêncio.
Pouco depois todos os pescadores parecera entrarem
em um consenso sobre a questão proposta, seu José
então se pronunciou:
─ Nos aceitamos toda a sua ideia Ananias, mas…
com uma condição aceitaremos parte dela.
─ Pode falar seu José. Respondi.
─ Concordamos em mandar alguém para espiar
o forte, desde que você esteja entre os que os espias,
você é o único com treinamento militar, sabe se
defender, conhece de sobrevivência na selva, não há
pessoa melhor para liderar essa incursão ao outro lado
da ilha. Achamos por bem, deixa-lo escolher o parceiro
que te fará companhia. Os demais pescadores se
dividiram entre os que continuaram na pesca e os que
iniciaram a reconstrução da vila dos pescadores.
─ Tudo bem, por mim está perfeito dessa
maneira, era justamente o que eu tinha em mente.
─ Quem você escolhe para ir contigo no
forte? Perguntou deu José.
~ 188 ~
Antes que eu respondesse qualquer coisa,
Ronaldo, que era um dos presentes naquela reunião
levantou-se do seu lugar de repente, causando-me certo
espanto pela atitude.
─ Se o senhor não se importar, eu gostaria de
poder acompanhar o senhor até o forte. Disse o
Ronaldo.
─ Tem certeza meu amigo, é isso mesmo que
deseja? Você sabe que é perigoso.
─ Tenho absoluta certeza - Respondi - sem dizer
que conheço o caminho até o forte.
─ Por mim tudo bem, se todos estiverem de
comum acordo fecharemos a reunião.
─ Estamos de acordo. Respondeu seu José.
Todos haviam concordado, o padre Lair encerrou
nossa reunião com uma belíssima oração. Antes de sair,
os rapazes me deram boas notícias.
─ Você se lembra do velho rádio que ficava perto
do quiosque do Juvenal, então, o Carlos consertou, tá
~ 189 ~
pegando que é uma maravilha. Conseguimos até ouvir
músicas e um pouco do noticiário. Disse seu José.
─ Então me diga logo homem, o que vocês
ouviram de bom.
─ Para dizer bem a verdade, não é nada
animador. Ouvimos poucas coisas, talvez seja o sinal
ruim, mas o pouco que ouvimos é que o mundo está
sobre uma única liderança mundial, falaram também de
pessoas desaparecidas ou qualquer coisa assim, não
entendo a respeito, melhor você mesmo ouvir.
─ Farei isso muito em breve, obrigado amigos,
agora tenho que ir para preparamos tudo, quanto
menos demorarmos melhor será.
Saímos todos da reunião, os pescadores ficaram
responsáveis por transmitir a mensagem para todos na
ilha. Eu estava animado com a ideia, ou fazemos isso ou
então não vamos conseguir nos manter do jeito que
estamos até o presente momento.
~ 190 ~
MARTA NARRANDO.
Na antiga capital paulista.
De retorno para casa, semblante pensativo, olhos
cabisbaixos. O cenário não é o mesmo, nunca é o
mesmo. Eu já não reconheço a cidade em que nasci
antigamente este lugar era conhecido por todos como a
terra da garoa, uma terra de oportunidades e de
emprego fácil. Lembro-me com perfeição da minha
infância querida. O chão era de terra batida, uma
aconchegante fazenda do interior mineiro, uma família
humilde, porém muito feliz. Meu irmão Gustavo, meu
único irmão, quanta saudade eu sinto dele, de suas
brincadeiras, de seu sorriso contagiante. O que terá
acontecido com o meu irmão meu Deus? A resposta é
tão nebulosa quanto as minhas manhãs. O mundo hoje
é regido pelas mãos de ferro do líder mundial, aos
poucos novas diretrizes são tomadas.
~ 191 ~
Meu irmão foi uma vítima desse sistema assassino
existente, mas quem por Deus ousará se contrapuser a
ele? A cortina que cobre os coloridos discursos do
grande líder está cheia de falsidade, são poucos, os que
conseguem ver suas falhas, e aqueles que as enxergam
tem que ficarem calados, ou se submeterem ao tribunal
do líder máximo. O seu julgo não é Justo, sua sentença
é a prisão ou a morte, semelhante ao que era o tribunal
na época da inquisição espanhola. Mudou-se o cenário
e os personagens, mas a peça em cena é a mesma,
estamos nos atos finais de uma história tenebrosa, os
personagens são tão misteriosos quanto a própria
história contada. Macaluzo, esse é o nome do homem
que detém todo o poder em suas mãos, em uma delas o
ocidente e na outra o oriente. Às vezes me pergunto
como um único homem tem tanto poder?
Não gosto de ficar comentando essas coisas e
nem de relembrará algumas outras. Na época em que
eu era jornalista investigativa, comecei a esmiuçar uma
história muito estranha, um amigo havia me dito haver
indícios de um plano em andamento para o domínio
global por parte de um único homem. Um só governo,
uma só moeda e uma só religião. Tudo sobre a tutela
de Macaluzo, o homem do momento, mas que teve o
~ 192 ~
seu início no passado, escondido numa misteriosa
cortina de fumaça. O tempo passou e nós ficamos para
trás, como eu havia dito anteriormente, Eugênio era
repórter como eu, e ele investigava o domínio do poder
por uma raça de homens misteriosos que faziam parte
da alta magia e se denominavam de reptilianos, ou
qualquer coisa assim, não me lembro de exatamente
como era.
De uma coisa eu sei, o Eugênio começou a
descobrir muitas sujeiras por debaixo do tapete. Certo
dia quando ele chegou da redação, uma moto parou
bem de frente da sua garagem, bem no momento em
que ele chegava do trabalho, não houve tempo para
reação, foi disparado vários tiros contra ele, execução
sumária, disparo a queima roupas, meu amigo deixou
esposa e uma filha. Era um ótimo profissional, uma
excelente pessoa, mas por saber demais acabou morto,
é isso que acontece com quem sabe demais. Por isso
trabalho no anonimato, sozinha, por minha própria
conta sem envolver ninguém. Às vezes quem nós
pensamos ser amigo transforma-se em nosso pior
inimigo, por isso trabalho sem comentar muita coisa a
respeito do que realmente estou fazendo.
~ 193 ~
Ao entrar na minha casa, a primeira coisa que
faço é olhar minha caixa de correios, que está vazia por
sinal. Depois de conversar um pouco com os vizinhos
do apartamento, um bando de alienados e fanáticos por
esse cara, o Macaluzo, eu ainda não entendo como as
pessoas conseguem ver nesse cara alguma coisa boa,
para mim esse cara é o Hitler desta era moderna, mas o
que as pessoas enxergam é totalmente o contrário.
Talvez fosse isso que meu amigo havia descoberto e
tentava me dizer, mas antes de fazer isso foi morto, não
é por coincidência que meu próprio irmão desapareceu
misteriosamente da sede mundial que é controlada por
um dos braços mais fortes do grande líder. Sentada no
sofá de casa eu começo a ler um trecho de um livro
para relaxar um pouco, o título, diário do hospício, o
autor, Lucas de Monfredini. Texto bem maluco.
TEXTO:
Os meus dias passam rápidos, eles voam nas asas
do vento, a minha única companhia é a saudade, minha
alma é triste, estou afogado em tantos pensamentos em
tantas lembranças boas de nossos momentos felizes, das
muitas aventuras, do meu sorriso largo e juvenil.
~ 194 ~
Todos os dias eu venho ao mesmo lugar, é a
mesma rotina chata, mas esse lugar é o nosso cantinho
secreto. Gosto de me sentar à beira da frondosa árvore
de angico, fico observando os pássaros, e pensando
remoendo as lembranças até que de meus olhos nasçam
lagrimas, mas elas logo vão embora e me deixam na
mais dura e completa solidão. A imagem dela surge a
todo instante na tela do pensamento, bela como um
anjo, em meus devaneios ela surge com suas asas longas
e brancas, e depois vai embora.
Sei que não as verei mais, talvez eu desfaleça de
saudades em pouco tempo, ou talvez eu fique ainda
mais louco do que dizem que estou o tempo me dirá o
que será desta alma atormentada.
Hoje eu não quero sentir medo, e nem entrar em
desespero, mas ficar assim longe da imagem de meu
anjo ledo… É torturante… Perdoe-me anjo ledo se eu
não há tenho procurado mais entre as estrelas,
ultimamente o céu não está colaborando muito, tem
chovido bastante a noite, outro dia recebi a primeira
carta sua, isso me deixou muito feliz, na carta havia uma
fotografia sua, eu a escondi embaixo do colchão. As
suas asas estão ainda mais belas de quando a vi pela
~ 195 ~
ultima vez. Houve um dos internos que tentou roubar a
fotografia, tive que tomar uma atitude, acabei por
espanca-lo, isso me rendeu um mês no isolamento,
quase enlouqueci chequei a beira do precipício.
Espero receber outras cartas suas, e um dia sair
desse sanatório imundo, todos aqui pensam que estou
maluca, já não sei mais o que pensar, talvez estejam
certos, mas se amar você tanto assim for loucura ficarei
o resto da vida aqui, espero que me perdoe pela
violência que causei ao interno da qual lhe falei, aquela
foto é a única prova de que você é real, é a maneira que
tenho de manter sua imagem viva na minha memoria.
Estarei todos os dias aqui, ao pé da frondosa árvore, te
esperando, sei que você é real, e que não estou ficando
maluco. Sinto um peso enorme sobre os meus ombros,
uma angustia crescente e desregrada, às vezes a vida
parece não ter sentido, mas lembro-me da sua face
majestosa de seu talhe magnifico, apenas eu e você
sabemos a verdade e a mentira, o certo e o errado. A
nossa vil sociedade me interpreta como não alienado,
sem condições do convívio social, mas estão todos
errados, eles é que estão malucos, eles é que deveriam
estar presos neste inferno.
~ 196 ~
Adeus anjo ledo, vou me recolher ao meu
aposento, a minha prisão, a minha morada, o meu
olimpo caído, adeus anjo ledo, amanha retornarei para
lhe contar as boas novas.
* * * *
Hoje é quarta-feira de um dia extremamente
quente, nunca em minha vida eu tinha sentido tanto
calor como estou sentindo hoje. Estou novamente ao pé
da frondosa árvore, que sombra maravilhosa ela nos
proporciona, os pássaros vem aninhar-se entre seus
galhos, gosto de observa-los, a maneira como eles voam,
a forma como tratam de seus filhotes, tudo magnifico.
O meu anjo ledo também gosta de pássaros, dever ser
pelo fato de terem asas para voar assim como ela tem,
fico imaginando como deve ser bom poder voar, passar
por entre as nuvens, sentir o vento batendo no peito,
dar rasantes e depois subir ao mais alto que puder.
Hoje é meu aniversario, não quero revelar a
minha idade, a minha idade é a minha identidade
secreta. Tivemos um dia daqueles aqui no sanatório, o
Ulisses, que diz ser Dom Quixote, fez da sua cadeira
um cavalo e começou a gritar pelos corredores. “Temos
que combater esse mostro, temos que destruir o
~ 197 ~
cavaleiro da estrela vermelha, eliminar sua ameaça,
avante homens, vamos ao combate, vamos para as ruas."
Assim foi nossa manhã, teve um tremendo alvoroço por
causa disso, mas confesso que gostei muito, foi muito
divertido, estava aponto de seguir o Ulisses, ou como
ele mesmo disse. "Dom Quixote."
Depois veio o almoço, a mesma gororoba de
sempre, só por que somos chamados de loucos, não
significa que temos de comer como animais, do meu
ponto de vista, nem para cachorros serve uma coisa
dessas, mas enfim, nossa fome foi maior e acabamos
por comer tudo. A sala do refeitório é enorme, cheio de
cadeiras e mesas, tudo de plástico, do mais barato
possível, que são a maior porcaria, vive quebrando,
antes era de madeira, retiraram depois de inúmeras
brigas, principalmente entre o duende verde e o
homem aranha, permita-me explicar. O homem aranha
é o Carlos o duende verde o Lucas, eles estão sempre
brigando.
Na parte da tarde eu fico aqui, ao pé de nossa
frondosa árvore, às vezes eu até consigo ver meu anjo
ledo, com suas asas enormes e seu rosto lívido, a luz
que erradia do seu corpo é a coisa mais bela de se ver,
~ 198 ~
se todos pudessem ver o que eu vejo, eu não estaria
mais aqui, é uma pena, um planeta tão grande feito o
nosso, e ninguém conseguir ver um anjo como eu vejo,
ou o meu dom é único ou minha loucura também seja
única, isso não importa, seja o que for será só meu
unicamente meu.
Gosto quando o anjo ledo aparece à noite, me faz
sentir tão bem, tenho sentido sua falta durante as
minhas noites anjo ledo, os meus devaneios tem sido
constantes, os médicos me aplicam remédios tão fortes
que me fazem dormir a força, não te detenhas entre as
nuvens amor da minha vida, quero poder comprovar a
todos a sua existência, quero sair desse lugar horrendo e
trazer para habitar nele o resto do mundo, esses sim são
malucos, com tantas esquisitices. Adeus amor da minha,
vida estarei aguardado ansioso a carta que você me
prometeu, aqui na terra temos o costume de dizer que
promessa é divida, sendo assim você esta me devendo
uma carta, Adeus anjo ledo."
~ 199 ~
A vida tornou-se difícil, e viver neste sistema é
quase uma loucura. Eu tenho um conhecido que
trabalha no centro de operações da polícia única
mundial. Polícia essa regida pelo líder mundial, o alto
comando obedece as suas ordens, suas diretrizes são as
mesmas em todos os países. Esse meu amigo de
infância, disse que os presos perigosos ou aqueles que
sabem demais, quando não mortos de imediato pela
polícia única, são enviados para uma ilha próxima a
costa catarinense, é um lugar isolado. Esses presos são
deixados para morrer na ilha, segundo meu amigo,
inclusive os guardas que os conduzem, também são
deixados para morrer, uma total queima de arquivo,
essa é a ordem do alto comando, durante sete meses, o
alto comando envia suprimentos aos presos, depois
dessa data são largados na ilha sem nada, Depois de um
bom tempo retornam para conferir se de fato
morreram.
Talvez o meu irmão esteja mesa ilha, tudo aponta
para isso. Eu preciso descobrir onde fica esse lugar, mas
tenho que ser prudente, o menor erro e estarei morta,
não posso confiar em mais ninguém, nem mesmo em
meus amigos, envolver mais alguém nisso é um risco
que não pretendo correr. A partir da próxima semana
~ 200 ~
estarei saindo de férias, vou aproveitar esse tempo para
tentar descobrir alguma coisa, se eu tiver sorte, posso
até ariscar ir atrás do meu irmão, eu sou a sua única
esperança dele, ainda que ele sobreviva na ilha, mais
cedo ou mais tarde os capangas do líder mundial vão
ser enviados para fazer uma limpeza total. É uma
questão de honra, eu vou salvar meu irmão, nem que
para isso eu tenha que perder minha própria vida.
~ 201 ~
GUSTAVO NARRANDO.
Ao romper da aurora, quando os primeiros raios
despontaram no horizonte riscando o céu de beleza e
esplendor. Aos primeiros cantos da juriti, saímos a
passos curtos do forte, no meu peito incertezas se
realmente estávamos a fazer o certo; seria uma decisão
acertada? Quais as reais consequências de nossos
atos? Essas e tantas outras perguntas sobravam em
meus pensamentos. Considerando que a minha própria
identidade era uma incógnita, um mistério a ser
solucionado. Talvez escritor, talvez jornalista, talvez
médico, talvez um simples operário, talvez apenas mais
um no meio da multidão. Homem sem face, sem
identidade, havia muitas incertezas quando se tratava da
minha pessoa. Eu buscava uma resposta no silêncio.
~ 202 ~
Antônio nos liderava, ia a nossa frente, com um
facão afiado nas mãos limpava o caminho. Seus
conhecimentos militares eram de muita utilidade para
todos nós. A mata era perigosa, bem fechada e sem
nenhum aparente caminho nem aos menos o resquício
de uma antiga trilha. Apenas o silêncio perturbador da
mata, nós também silenciosos apenas observávamos ao
nosso redor. Ao menor barulho, as vezes provocado
por um animal qualquer, colocava-nos de prontidão
absoluta. Antônio havia trago armas e munições se
necessário fosse. Considerávamos remota a
possibilidade de encontrarmos alguém naquele lugar,
mas também não era descartada possibilidade
nenhuma. O mais provável, e a justificativa da arma era
os próprios perigos oferecidos pela natureza.
Caminhávamos em fila, na frente Antônio abria
caminho determinava o ritmo e a rota a ser seguida.
Inclusive as paradas ficariam a critério dele, salvo
necessidade extrema. O segundo nessa fila, não menos
importante, mas era alguém que preocupa a todos.
Jeová tem um sobre peso que dificultava o nosso ritmo,
a todo instante perguntávamos se ele estava bem, se
poderia continuar com a caminhada. Ele respondia
positivamente, e que continuaria e que não teríamos
~ 203 ~
preocupação quanto o seu desempenho. Certo é, que
Jeová é a pessoa mais resistente que conheço, até o
presente momento, não parou, embora esteja nos
lentos, nosso ritmo era constante e não paramos em
momento algum. No interior da mata o calor não era
tanto, havia pontos mais limpos.
Eu fiquei no meio do nosso comboio, enquanto
o Marcos ficou por último. Pouco depois, não mais do
que meia hora de caminhada, fizemos a primeira
parada. O Antônio aproveitou aquela parte da mata,
cheia de árvores frondosas e altas, com suas folhas todas
caídas ao chão, formando um pequeno tapete macio e
confortável debaixo de nossos pés. O Jeová foi logo se
deitando no meio das folhas, ele estava exausto e
visivelmente com um desgaste muito maior do que o
nosso. Eu não sabia como, mas eu medi a sua pressão
arterial baseado na pulsação da carótida e usando um
relógio para marcar o seu ritmo cardíaco. A pressão do
Jeová era preocupante, estava com mais de dezesseis,
considerando a sua idade, peso, e a circunstância em
que nos encontrávamos, eu acreditava que talvez Jeová
não aguentasse.
~ 204 ~
─ Tudo bem amigo, como você está se sentindo.
Perguntei ao Jeová.
─ Nunca estive melhor, nunca estive tão bem
disposto. Não precisa se preocupar já estou
acostumado. Respondeu ele.
─ Qualquer coisa é só nos avisar e estaremos
prontos a lhe ajudar. Disse o Marcos.
─ Obrigado Marcos, muito obrigado pela
preocupação, mas eu consigo fazer isso, não se
preocupe com nada. Respondeu Jeová.
─ Descansem um pouco mais, daqui a cinco
minutos continuaremos, dessa vez faremos uma perna
de caminhada um pouco mais longa. Disse Antônio.
─ Tudo bem, melhor comermos um pouco.
Disse o Marcos enquanto arrancava da bolsa uma
porção de barras de cereais que distribuiu com todos
nós. Eu particularmente não gostava, mas estava uma
delícia.
Começamos a caminhar novamente, saímos da
parte de árvores grandes e frondosas e passamos a
enfrentar arbustos truncados, um emaranhado de cipós
~ 205 ~
e tudo quanto era galho. Antônio sentia grande
dificuldade em abrir caminho, os braços já não
aguentando de dor. Estávamos em um determinado
ponto do caminho que era inviável voltar para trás, e
continuar era um sacrifício monstruoso. Vendo a
dificuldade, propus uma ideia, que a princípio não foi
muito bem aceita, ninguém negou ajudar, mas você
conhece quando a pessoa não quer ajudar, com a ideia
havia sido minha, me prontifiquei a ajudar. Quando
tomei a frente e comecei a abrir caminho com o facão,
percebi o quanto estava difícil, para não dizer quase
impossível, entre golpes desajustados no meio do
matagal, propus uma história.
─ Pessoal vocês já ouviram a história do ratinho?
Eu disse quase sem fôlego.
─ História do ratinho? Eu nunca ouvi - Disse o
Jeová - Você já ouviu Antônio? Perguntou ele.
─ Não, nunca ouvi dizer nada a respeito.
Respondeu Antônio.
─ Não tenho certeza se é a mesma de que ouvi -
Disse o Marcos - Mas vai lá, conta aí.
~ 206 ~
─ Quer que eu continue - Perguntou Antônio.
─ Por enquanto não Antônio, assim que cansar
eu te aviso. Respondi.
─ Então Gustavo… Que história é essa de
ratinho, conta aí. Perguntou Antônio.
─ Tudo bem, presta bem atenção na história, eu
não vou repetir.
─ Conta logo e para de enrolar. Disse o Jeová
impaciente.
─ É a história do Ratinho Ivan, era esse o seu
nome, se me lembro bem, essa é a história de um
pequeno roedor, que foi jurado de morte, procurou em
vão ajuda, mas o destino que parecia cruel, sorriu para
Ivan. Dona Amélia era uma simpática senhora que
tinha um pequeno sítio próximo à cidade, neste seu
pequeno pedaço de terra havia alguns animais que ele
cuidava, uma galinha, um porco e uma vaca, e também
dois intrusos, a cobra e o ratinho Ivan. Esse pequeno
rato morava no porão da casa, ele era um exímio ladrão
de queijos, os queijos produzidos pela dona Amélia
eram os mais deliciosos de toda a região, seu esposo
~ 207 ~
José sempre ajudava a esposa na hora de fazer os
queijos. Certo dia seu esposo percebeu que os queijos
estavam com mordidas e roído e eram de ratos, o
exímio Ivan havia sido descoberto e uma drástica
atitude seria tomada, seu José comprou diversas
ratoeiras que seriam espalhadas por toda a casa. O
astuto ratinho percebendo o perigo buscou ajuda entre
os animais do sítio, primeiramente procurou a galinha:
─ Bom dia dona galinha, será que a senhora
poderia me ajudar, é que os donos da fazenda
compraram ratoeiras novas e estou com medo de ser
pego.
─ Eu te ajudar - Disse a galinha rudemente -
nunca, não é problema meu.
O ratinho saiu entristecido e foi procurar o
porco, quem sabe ele se sensibilizaria:
─ Bom dia senhor porco, será que o senhor
poderia me ajudar, os donos da fazenda compraram
ratoeiras novas e estou com medo de ser pego.
─ Ajudar um rato, nem morto - Disse o porco
com arrogância - isso não é problema meu.
~ 208 ~
O ratinho cabisbaixo saiu em direção a sua ultima
esperança, a vaca:
─ Bom dia senhora vaca, será que a senhora
poderia me ajudar, é que os donos da fazenda
compraram ratoeiras novas, e estou com medo de ser
pego.
─ Eu te ajudar, nem morta, tenho cascos duros
nos pés, não tenho medo de ratoeiras, e saia daqui logo.
O ratinho triste por não conseguir ajuda foi para
sua toca, passou a tarde e veio à noite, e no começo
daquela mesma noite seu José armou todas as ratoeiras
que tinha comprado, e foi dormir algumas horas depois,
no meio da madrugada dona Amélia ouviu o som da
ratoeira desarmando, no mesmo instante pensou. “Foi
o rato, pegamo-lo, pela manhã jogo esse ladrão na lata
do lixo." Quando amanheceu dona Amélia foi direto à
ratoeira que estava em baixo do armário, ao ver um
pedacinho de um rabo, que julgou ela ser do rato, ao
esticar a mão para puxar a armadilha, veio a
desagradável surpresa; era a cobra que estava presa e
esta lhe deu uma tremenda picada. Ao ver a cena seu
esposo correu para o médico com dona Amélia, pois
~ 209 ~
sabia que aquela cobra era venenosa, o sítio e os
animais ficaram sozinhos. Dois dias depois ela retornou
para casa, estava ainda muito fraca e o médico
recomendou que ela fizesse repouso e se alimentasse
somente de canja, seu José não teve duvidas, matou a
galinha para fazer a canja para a esposa. Os dias se
passaram e dona Amélia continuava na mesma, não
teve jeito ela teve que ser internada novamente, o
médico disse que ela ficaria ali por tempo
indeterminado, seu José teve que pedir ajuda aos
parentes para ficarem no hospital com a esposa, e para
alimentar a todos teve que matar o porco. Uma semana
depois dona Amélia não resistindo ao veneno da cobra,
veio a falecer, seu José ficou desconsolado. O velório
seria no sitio mesmo, todos os seus parentes viriam,
sem saber como alimentar tanta gente, não pensou duas
vezes, matou a vaca.
Moral da história. "Nunca pense que
determinado problema não é seu, uma ora ou outra ele
retorna para você, por isso o melhor a fazer é não
ignorar os problemas e sim resolvê-los." Essa história
está a dias na minha mente, não sei quem me contou e
nem onde ouvi, sei que sei, mas não sei como sei, só sei
que ela serve-nos muito bem.
~ 210 ~
O pessoal percebendo qual era a minha intenção,
começaram a ajudar, eles entenderam que na selva o
problema de um é o problema de todos. Não demorou
meia hora depois e já estávamos fora daquela parte
difícil do caminho. Enquanto caminhávamos,
lembranças vieram em minha mente, imagens de uma
faculdade de medicina, trajes brancos, um grupo de
alunos, enquanto eu ministrava uma aula sobre ponte
safena, talvez eu realmente tenha sido um médico, não
há outra explicação para tal lembrança.
Lembranças.
A cirurgia de revascularização do miocárdio
(“cirurgia de ponte de safena”) é uma técnica para
tratamento da doença arterial coronariana. Acharam
muito complicado? Vou simplificar para vocês. A
doença arterial coronariana acontece quando as artérias
coronárias (vasos sanguíneos que levam oxigênio e
sangue até o coração) apresentam obstrução total ou
parcial. Essa obstrução geralmente acontece por conta
do acúmulo de gordura nas paredes das artérias ao
longo de anos, que começa a ser observada nos
momentos de maior demanda do miocárdio (músculo
~ 211 ~
cardíaco). Uma ideia do que acontece nesta situação é a
angina (dor) e infarto (dor com lesão muscular).
Uma das formas de tratar essa doença é por meio
da cirurgia cardíaca. Nesse procedimento, um “atalho”
entre a aorta e a coronária é feito para que o sangue
passe sem ser interrompido (mais ou menos como uma
ponte). A ideia da ponte é permitir que o sangue
ultrapasse uma obstrução da artéria. Essa ponte precisa
ter características semelhantes às das artérias coronárias,
sem que o sangue coagule. Assim, foi criada a ponte
feita com veias safenas, que, quando são retiradas das
pernas, não fazem muita falta, pois existem vários
outros caminhos para o sangue escoar.
A cirurgia é feita com anestesia geral e,
geralmente, dura cerca de cinco horas. O acesso ao
coração se pelo esterno (osso que fica bem no meio do
tórax, na região anterior). Enquanto um cirurgião retira
as safenas da perna do paciente, outro recebe essas e as
costura na aorta e na coronária, ligando as duas. Uma
opção muito utilizada hoje é usar outra artéria,
~ 212 ~
conhecida pelos cirurgiões como mamária interna. Este
procedimento tem durabilidade muito maior que a das
pontes de safena. Como no corpo só existem duas
mamárias internas para alimentar o esterno, o ideal é
usar apenas uma.
O pós-operatório leva, geralmente, de um ou dois
dias em UTI, e mais dois ou três em internação, e é um
pouco doloroso, principalmente nas costas. Para ter
acesso ao coração, o esterno é separado em duas partes
e causa dor pela movimentação das costelas.
Como em toda cirurgia, o procedimento não é
isento de riscos, que varia dependendo da idade, função
do ventrículo esquerdo, função renal, presença ou não
de infarto ou AVC antes da cirurgia, doença pulmonar
prévia, entre outras. O risco de morte é de cerca de 1 a
2%. Complicações cirúrgicas que podem ocorrer são
infecciosas, que geralmente aparecem ao término da
primeira semana pós-operatória. Além disso, o infarto
pode acontecer pela manipulação das artérias, sendo
geralmente intraoperatório, apesar de raro. Piora de
~ 213 ~
função renal ou cardíaca podem acontecer de forma
transitória e casos de AVC intraoperatório é uma
realidade, por causa da manipulação da aorta e
deslocamento de placas de cálcio.
Os cuidados na ferida operatória são muito
importantes para evitar infecção do osso e do espaço
entre ele e o coração (osteomielite e mediastinite,
respectivamente). Esforço deve ser evitado por cerca de
três meses, mas atividades leves são encorajadas, como
caminhada, por exemplo. O osso geralmente se
consolida bem a partir de seis meses, quando o paciente
pode ter uma vida mais próxima do normal. As
limitações a partir desse momento estão relacionadas
com a condição do coração e das coronárias, que
devem ser reavaliadas, pelo menos, a cada ano.
O uso correto das medicações aumenta a duração
das pontes de safena, também chamadas de enxertos. O
paciente também deve controlar rigorosamente seu
colesterol e os níveis de açúcar no sangue. Reabilitação
cardiovascular: a readaptação ao exercício físico deve
~ 214 ~
ser iniciada o mais precoce possível, mas com
supervisão de uma equipe multidisciplinar, que inclui
médico, fisioterapeuta e educador físico.
~ 215 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ANANIAS NARRANDO.
As manhãs na ilha são muito bonitas, não há no
mundo inteiro uma aurora mais radiante e um alvorecer
com mais beleza do que o da ilha. Desde criança eu
sempre gostei de acordar um pouco mais cedo somente
para contemplar o nascer do sol com todo o seu
esplendor. As aves da ilha tem um canto mais
harmonioso, mais romântico, mais apaixonado. Tudo
aqui parece ser muito diferente do que nas cidades,
tudo é calmo, não existe presa para nada, mesmo agora
com a vila dos pescadores totalmente arrasada pela
tempestade, percebo na face dos moradores certa
tranquilidade. Como conseguem eu não sei, mas não é
assim nas cidades, nem antes da guerra e tão pouco
~ 216 ~
depois dela. Pior agora com as consequências das
bombas atômicas.
Para não perder tempo fui até o Ronaldo, ele
estava se preparando para sair, em um canto mais
afastado por trás da igreja. Uma mochila nas costas, ele
estava rascunhando em um pequeno caderno, estava tão
concentrado no que fazia que nem percebeu quando
me aproximei dele.
─ Bom dia Ronaldo - Eu disse- ele levou um
tremendo susto, caindo para trás com caderno e lápis.
─ Você quer me matar de susto seu Ananias,
meu Deus do céu! Bom dia para você também. Vejo
que já está pronto para nossa aventura no interior da
ilha. Eu também estou pronto, se você quiser conferir o
que estou levando, fique a vontade seu Ananias.
─ Não precisa marujo, eu confio em você, sei
que você também gosta de caçar, não é mesmo?
─ Que te disse isso?
─ Tenho as minhas fontes marujo.
─ Muito esperto você.
~ 217 ~
─ Tenho que ser esperto amigo, tem que ser. O
que você tanto escreve ai neste caderno? Eu já te vi
com ele antes, estou curioso?
─ Não é nada importante, apenas bobagens, às
vezes gosto de escrever meus pensamentos, alguns
versos toscos, nada muito importante.
─ Olha só! Temos um poeta na ilha, meus
parabéns.
─ Eu não sou um poeta.
─ Claro que é você escreve versos, e quem
escreve versos poeta é.
─ Não tenho nenhum livro publicado seu
Ananias, eu não me considero um poeta, no dia em que
eu ver um dos meus livros publicados, daí sim, serei um
poeta.
─ Posso ver o que você está escrevendo aí messe
caderno.
─ Não! Claro que não! Porque o senhor quer
ver.
~ 218 ~
─ Anda rapaz, deixa de ser tímido me deixa ver
isso - Antes que ele falasse outra coisa, Pequei seu
caderno de rascunhos em um movimento rápido, ele
não disse nada, apenas sorriu. No caderno estava
escrito:
Pensamentos.
Então foi tu, o coração maldito, tu que de
continuo fere a minha alma, afligindo-a com angústias
intermináveis. Foi tu, o coração maldito, que me
enganava o tempo todo, foi tu o perverso coração; tu
roubastes a alegria dos meus lábios, és tu que provoca
as minhas lágrimas, estou cansado de sofrer.
De gritar já não aquento mais, o mundo desabou
sobre os meus pés, não suporto mais a dor que me
corrói por dentro. O que eu mais desejo neste
momento, oh! coração pérfido, é apenas derramar
muitas lágrimas, quero que o meu ser se acabe em
tristeza profunda, quero caminhar nesta estrada de dor
até não ser mais visto; traiçoeiro sentimento que me
desnuda. Crave em meio seio à adaga cruel, as lâminas
~ 219 ~
de todas as espadas, cravem para sempre em meu peito,
vida desventurada e cheia de venenos.
Hoje quero apenas a solidão,
Embriagar-me no cálice da dor,
E gritar de amor
No silêncio vermelho de meus olhos.
Não compreendendo este mundo complexo,
com todas essas pessoas confusas e distantes, não
compreendo este mundo que existe dentro de mim, eu
mesmo o criei e confesso que não o compreendo; não
quero mais viver nele.
Que sejam essas,
Minhas últimas palavras poéticas,
Que nenhum mortal,
Leia outro verso meu,
Este poeta hoje morreu para o mundo,
E talvez ele nasça para si mesmo.
~ 220 ~
─ Pronto seu curioso - Disse o Roberto - pode
devolver o meu caderno.
─ Caramba, você ainda diz que não é poeta,
muito bom o seu texto, muito poético, de um lirismo
muito acentuado e profundo.
─ Desde quando você entende e gosta de
literatura? Perguntou ele.
─ Desde que me conheço por gente, vamos
andando, no caminho conversamos sobre literatura. O
que você acha?
─ Ótima ideia, vamos então, por aonde nós
iremos?
─ Como assim por aonde nós iremos? Há
somente um caminho para o interior da ilha.
─ Claro que não, eu costumava caçar no interior
da ilha, certo dia eu fui até as proximidades do forte.
Conheço muito bem todos os caminhos da ilha.
─ Agora estou entendendo o motivo de você ter
se oferecido. Muito bem, fico feliz por ter sua
companhia, vamos então, pelo seu caminho marujo.
~ 221 ~
Saímos a passos curtos, em direção a mata, deixei
o Ronaldo ir à frente, nas mãos ele levava um enorme
facão, ele disse que parte do caminho é bem difícil,
cheio de arbustos e emaranhados, difícil de passar,
porém, é a rota mais segura e mais rápida. Enquanto
caminhávamos começamos a conversar sobre literatura
e livros.
─ Então Ronaldo. Qual é o seu escritor
preferido.
─ Que pergunta difícil de responder, não existe
um escritor preferido, existem vários escritores que eu
te apontaria como sendo meus preferidos, mas apontar
um é bem difícil.
─ Deve ter um por quem você se simpatize mais,
não precisa ser um poeta.
─ Vou te apontar dois um americano e um
brasileiro. O americano não poderia ser outro, Edgar
Allan Poe. E o brasileiro também não poderia ser
outro, João Ubaldo Ribeiro, esses dois são os melhores.
Mas existem muitos outros que também são ótimos
escritores. Eu poderia mencionar vários deles, cada um
~ 222 ~
com sua respectiva importância dentro do seu gênero
literário.
─ Nunca li nada do Poe, mas do João Ubaldo eu
li viva o povo brasileiro, que livro maravilhoso. Quais
livros dele você já leu.
─ Todos os seus livros, eu li todos. Se eu fosse
apontar os livros prediletos que já li, olha, ficaríamos o
dia todo falando sobre literatura. Disse o Ronaldo.
─ Meu autor predileto e Jonathan Swift, eu li as
viagens de Guliver, que livro espetacular, gostei muito
da história.
─ Eu já li Swift, gosto muito do estilo dele. O
modo como ele aborda os assuntos nas Viagens de
Guliver, criticando duramente a sociedade da época,
muitos consideram o livro como uma história infanto
juvenil, mas na verdade ele fez uma crítica ao modo de
vida da sociedade do seu tempo. A própria história dele
é muito interessante.
─ Você conhece bastante de literatura, poderia
dar aulas, o que você acha?
~ 223 ~
─ Eu, professor! Não, não, isso não poderia ser
possível, eu não tenho formação acadêmica.
─ É quem disse que precisamos disso na ilha,
tem muitas pessoas que gostariam de aprender sobre
literatura, você poderia organizar aulas para todos que
desejarem, aos sábados por exemplo.
─ Até que a ideia é boa, gostei Ananias, vamos
por em prática quando a vila for reconstruída.
Continuamos a caminhar, as horas passaram
rapidamente, o calor no meio da mata estava muito
forte, resolvemos parar um pouco para descansar. O
local onde paramos era amplo e limpo, com árvores
altas de copas espalhadas tampando quase
completamente a luz do sol naquele pedaço. Encostei-
me em uma das árvores, eu estava bastante cansado,
fechei meus olhos e não sei o porque, lembrei-me de
um sonho que tive, bem estranho por sinal. O sonho foi
da seguinte maneira. " Estava eu a caminhar
tranquilamente por uma rua aparentemente deserta, era
a tarde de um bonito sábado, início de primavera. Não
havia ninguém naquela rua, as casas estavam todas
fechadas, em algumas garagens havia montantes
~ 224 ~
enormes de papéis, panfletos promocionais e envelopes
de cobranças.
A maioria das casas daquela estranha rua estava
assim, com aparecia de abandono, fiquei pensativo,
imaginando se era possível uma coisa daquelas, uma rua
inteira de casas abandonadas, um cenário digno de um
filme de terror. Onde estariam os moradores daquelas
casas? A maioria das casas era grande, com garagens
espaçosas para no mínimo dois carros, onde, por Deus,
onde estariam essas pessoas?
Continuei a caminhar tranquilamente, com meus
pensamentos ainda distantes, cabisbaixo eu contava os
passos, as mãos enfiadas nos bolsos largos da calça
jeans, um pouco mais a frente a rua terminou, ela dava
de frente com uma pequena praça, árvores grandes
espalhadas ao seu entorno, bancos antigos todos em
concreto, alguns estavam quebrados e outros estavam
sujos.
Não havia ninguém na praça naquele momento,
eu estranhei a falta de pessoas na praça, ainda a pouco
eu havia saído de uma rua completamente deserta e
agora estava em uma praça igualmente deserta, isso
causou-me estranheza, onde estariam os moradores
~ 225 ~
daquele lugar, talvez fosse uma simples coincidência,
mas o fato chamou a minha atenção, porém, continuei a
caminhar pela praça. Quase ao final dela havia uma rua
estreita bem a minha esquerda, a rua também estava
sem nenhum movimento, as casa pareciam
abandonadas, semelhante a rua anterior a praça, essa
rua tinha as mesmas características da anterior,
nenhuma alma viva, as garagens das casas estavam
cheias de lixo, um amontoado de papéis espalhado pela
calçada, essa rua estava bem pior do que a primeira.
Por um minuto parei de caminhar, a curiosidade
foi de tal modo que não me contive, bati palmas em
uma das casas, uma vez, duas vezes, três vezes, por fim
desisti de chamar, continuei a caminhar, dessa vez um
pouco mais rápido, um pouco mais atento, algo ali
estava errado, muito errado, aquele bairro todo parecia
ter sido abandonado, era o típico cenário apocalíptico.
Continuei a caminhar, e a caminhar, e a caminhar
até chegar ao centro da cidade, lojas, supermercados,
tudo estava vazio, em completo silêncio, medonho
silêncio, que aterroriza a alma, fazendo o coração
estremecer no peito, naquele momento eu já havia me
convencido que aquele era um cenário apocalíptico,
~ 226 ~
uma cidade desconhecida, sem nome, sem moradores,
sem alma; apenas o som do vento podia ser ouvido,
apenas isso é nada mais, e tudo era silêncio. Uma
cidade sem pessoas, sem vida, casas e carros em
silêncio, nada se move, nada tem sentido, dinheiro e
ouro e prata, nada tem sentido, o que aconteceu com o
mundo, com as pessoas, não houve guerras, não houve
lutas, não houve ataques, apenas o nada, o silêncio que
voa da aurora a alvorada, talvez seja a morte criada pelo
próprio homem, criada em laboratórios, criada em
silêncio para por fim a existência da própria
espécie. Continuei a caminhar, só que agora, quase a
ponto de correr, quando de repente, avistei carros de
guerra, tanques, metralhadoras, um montante de
armamentos que não tinha fim, agora eu tinha certeza
que aquele era um cenário apocalíptico, uma terrível
guerra certamente aconteceu, porém, algo não se
encaixava na cena, não havia soldados ali, nem vivos e
nem mortos, ninguém, tudo era silêncio, meu medo
cresceu absurdamente, eu era o único ser vivo naquele
lugar, eu tinha tudo, carros, comida, casas, prédios, eu
tinha tudo, mas na verdade eu não tinha nada.
~ 227 ~
Foi quando eu despertei este sonho eu tive antes
da chuva na ilha, na verdade não foi bem um sonho foi
um pesadelo aterrorizante e terrível, despertei com o
coração acelerado, pernas trêmulas, assustado, o
restante da noite eu fiquei acordado, refletindo sobre
aquele terrível sonho e a possibilidade de já estarmos
neste Apocalipse, à possibilidade de termos criarmos o
nosso próprio Apocalipse, nos mesmos estamos
causando a extinção da própria espécie.
Levantamos e continuamos a nossa caminhada ilha
adentro.
~ 228 ~
EM GAIA.
MARTA NARRANDO.
São exatamente dez horas da noite, estou no
comando central da polícia única mundial. Localizada
onde foi à antiga capital paulista, hoje conhecido como
Gaia, o prédio onde a central está localizada é muito
bem guardado, cheio de guardas vinte e quatro horas
por dia. Invadir o local é praticamente impossível, têm
câmeras para todos os lados, monitores observando
tudo. A única oportunidade que me disponho é de
entrar como repórter, fingindo uma matéria especial
sobre a segurança do local como a melhor do mundo.
Esse foi o meu plano inicial, tanto que eu consegui
entrar tranquilamente, agora me resta saber onde
procurar as informações de que preciso, o secretário do
líder mundial foi quem me acompanhou durante toda a
entrevista, foi difícil conseguir sair da presença dele.
~ 229 ~
Ter amigos é tudo nessa hora, ter amigos com
informações é melhor ainda, e para minha sorte eu
tenho os dois, o amigo com as informações. Esse meu
amigo conseguiu um pequeno pen drive contendo
muitas informações sobre a ilha é uma porção de outras
coisas, basta agora eu conseguir achar entre tantos
arquivos a informações certas de que estou precisando.
Mas para que esse pen drive fosse entregue a mim, tive
que inventar que estava com forte de barriga, entrei no
banheiro, meu amigo estava lá escondido, coitado, já
fazia uma horas que ele estava no banheiro, por muita
sorte ele conseguiu sair sem ser visto, já eu tive que
esconder o pen drive em um local nada agradável, era o
único lugar que eu tinha, somos revistados quando
entramos no prédio e depois que saímos dele. Lá
naquele lugar ninguém descobriria.
Quando cheguei a casa fui logo para meu
computador ver o que tinha naquele arquivo, havia
muitas pastas, em uma deles estava escrito. (Teorias da
conspiração, Alberto Lispector.)
Eis o arquivo.
Visões inexplicáveis no espaço, astronautas
relatando coisas que podem ser decorrentes da
~ 230 ~
presença clara de alienígenas. Há fortes rumores que as
missões na lua, nosso satélite natural, teria objetivos
ultrassecretos, sem dizer nas estranhíssimas formações
encontradas na superfície lunar. Segundo dizem, a
corrida para a lua teria o objetivo claro de alcançar
tecnologia extraterrestre, que acreditam ter sido deixada
para traz. Será que a NASA nos contou toda a verdade
sobre o universo? Ou estaria ela nos protegendo de
uma verdade que abalaria com nossa sociedade. Muitos
estudiosos e cientistas, até pessoas comuns, estão de
acordo de que no passado fomos visitados por seres
extraterrestres, e dizem ainda, com muita convicção,
que foram eles que moldaram a nossa história, se nossas
origens são extraterrestres como diz, ela pode muito
bem ser comprovada pela conexão NASA.
Em vinte de julho de mil novecentos e sessenta e
nove, os primeiros homens pisaram na lua, e, quando o
fizeram, as palavras de um deles foram. “Este é um
pequeno passo para o homem, mas um grande passo
para a humanidade perdoe-me por não colocar o nome
dos tais astronautas aqui, razões pessoais. Apesar de
existir outro grupo de pessoas que acreditam que a
~ 231 ~
viagem à lua foi uma farsa, me sinto na obrigação de
expor os dois lados dessa história, tão cheia de enigmas,
de verdades entrelaçadas a mentiras, de forma que não
sabemos onde começa uma e termina outra. Eu mesmo
escrevi sobre tal em artigos passados, como vocês bem
lembram. Mas, considerando essa possibilidade de ida
do homem a lua verdadeira, fica então a grande
pergunta. Qual o real objetivo disso tudo? A visita dos
astronautas a lua teve quase duas horas e meia de
transmissão, entre vídeos e fotos, e a gravação da
bandeira americana sendo cravada na superfície lunar,
mas o que aconteceu fora das lentes? Qual então seria a
verdadeira missão oculta por traz da falsa missão?
Devemos nos perguntar se a NASA tinha certas partes
da lua escolhida, lugares bem específicos. Eles
escolheram partes especificas da lua por abrigarem
estruturas artificiais, e é claro que eles sabiam disso, e
como sempre fazem ocultaram a verdade de todos. O
lugar a principio escolhido por eles teve o nome dado
de mar da tranquilidade, por ter uma superfície plana,
mas dizem alguns teóricos que aquele lugar foi
previamente escolhido, e a data também, aquele lugar
especifico com a data especifica se alinharia com o
cinturão de Orion. A Apolo onze aterrissou quando as
~ 232 ~
três estrelas estavam no horizonte, dizem ainda que os
astronautas que eram maçons teriam celebrado um
ritual maçônico em plena nave, instrumentos científicos
foram deixados na lua, e uma replica de ouro de uma
oliveira, e um disco de silicone com mensagens
gravadas de paz e boa vontade, de setenta e três lideres
mundiais. Pergunte-se, e faça o seguinte
questionamento. Porque essas mensagens foram
deixadas no espaço? Quem a NASA espera encontrar
na lua? Há uma teoria muito forte de que existam
cidades inteiras no lado negro da lua, cidades que é do
conhecimento da NASA, e ela teria trago de suas
missões, artefatos das ruinas destes antigos locais. Não
foram somente rochas e poeira que eles trouxeram nas
bagagens, mas evidencias claras de tecnologia
alienígena.
Se colocarmos como verdade a existência de vida
extraterrestre, embora eu particularmente não tenha
duvidas que existam, imaginemos que estes visitantes
misteriosos vieram aqui no passado, a lua no caso, o
nosso satélite é o ponto de ligação entre nos e o espaço
sideral, seria obviamente o ponto de parada deles, para
~ 233 ~
reabastecimento ou qualquer coisa assim, fica claro que
evidencias poderiam ter sido deixadas na superfície da
lua, vocês a de concordarem que isso explicaria muitas
das coisas estranhas que a NASA andou fazendo.
Verdade ou não, o fato é que a NASA esconde de
todos nos muitas coisas, manipula as informações,
distorce os fatos, colocam verdades como mentiras e
transformam mentiras em verdades, tudo com o
objetivo claro de desviar a atenção de supostos curiosos.
O motivo de tudo isso eu realmente não sei, mas o fato
é que existe algo lá em cima que os intriga, e seria a
resposta de muitas perguntas. Por hoje ficarei somente
neste pequeno apanhado de informações, mas em
breve, muito em breve, eu trarei novas revelações que
ira abalar a estrutura de muitas pessoas, a verdade tem
que ser dita, seja ela acreditada ou não. Eu tive que me
ocultar por certo período de tempo, meu governo
mandou os seus agentes para me executar, mas não se
mata tão facilmente um velho fantasma, enquanto eu
estiver vivo, toda a verdade que nos foi encoberta será
descortinada. "
Em baixo dele está escrito, confiscado pela
polícia único mundial. Havia outro arquivo com o
mesmo nome.
~ 234 ~
Eis o arquivo Dois.
O mundo como nos o conhecemos foi moldado
sobre fundamentos falsos, tudo quanto aprendemos na
escola desde criança é uma completa mentira, esqueça
tudo o que você aprendeu. Durante décadas a raça
humana tem sido manipulada, politica, financeira e
religiosamente. Grupos poderosos de banqueiros
internacionais é que detém o verdadeiro poder, setenta
por cento do dinheiro mundial pertence a esses grupos,
apenas trinta por cento, essa é a quantia que o resto da
humanidade possui. Verdades sobre a origem de nossa
raça foram escondidas, assim como muitas outras coisas
que vocês nem imaginam. A verdadeira face do mundo
está por detrás das cortinas, durante séculos pessoas
escolhidas são designadas para proteger segredos que
abalariam os alicerces da nossa sociedade. Os seres
humanos estão acostumados a aceitar tudo o que a
mídia diz com muita facilidade, nada é questionado, e
ninguém se preocupa em verificar se o que estão
dizendo ou ensinado é realmente aquilo mesmo. As
pessoas nunca foram tão fáceis de dominar.
O que você pensa que é verdade, pode ser
mentira, e a mentira que te ensinaram pode ser
~ 235 ~
verdade, você é que vai escolher o que é verdade e o
que é mentira. Vou expor-lhes alguns fatos que no
primeiro momento causara estranheza, mas numa
observação mais minuciosa da sua parte, você percebera
que o que digo, é a mais pura verdade.
Conspirações sempre fizeram parte da nossa
história e de nosso folclore, planos absurdos e paranoias
que parecem ser reais, muitos dizem que tudo não
passa de uma farsa, de invenções fabulosas, mas estou
tentado a crer que não é bem assim. Seja bem vindo ao
mundo das teorias das conspirações, meu verdadeiro
nome prefiro não revelar, quero me identificar como
Alberto Lispector.
Em vinte de julho de mil novecentos e sessenta é
nove, o homem pela primeira vez pisa na lua, as
televisões de todo o mundo mostraram as imagens dos
primeiros passos de um ser humano no solo lunar. Eu
quero lhe dizer que verdades sobre esse fato foram
escondidas de você, enquanto mentiras muito bem
elaboradas e encenadas foram largamente divulgadas, a
comoção do povo lhe cegou a tal ponto dele não
perceber que tudo não passava de uma fraude. Alguns
anos depois da ida do homem a lua um pequeno livro é
~ 236 ~
lançado com o titulo, "Nós nunca fomos à lua." Uma
farsa de trinta milhões de dólares, essa era a primeira
publicação oficial que contradizia a NASA, teorias de
que tudo não passou de uma encenação em estúdios,
muito bem montados, ou pelo menos eles pensaram
que eram bem montados, os astronautas não passavam
de atores em um cenário, talvez você esteja me
questionando por ter visto as imagens na televisão, a
nave subindo para o espaço e tudo mais, reflita bem e
observe cuidadosamente tudo, evidencias incontestável
apontam para a fraude. Temos que considerar que os
americanos nesse momento da história estavam numa
corrida espacial contra a seu rival russo, então tudo seria
feito para saírem na frente, basta você olhar as
evidencias, as fotos tiradas mostram as sombras em
diferentes direções, como se houvesse outro ponto de
iluminação, falta de poeira nas fotos, sinais de rádios
confusos e outras coisa mais. Você acredita se quiser, só
quero mostrar o que está por detrás desta cortina de
mentiras.
A um ditado que diz que uma mentira contada
muitas vezes torna-se com o tempo uma verdade, e é
isso que vem acontecendo há séculos, basta controlar a
informação, a mídia é o ponto forte nesse plano,
~ 237 ~
controlando as informações que ela transmite logo você
está controlando toda a massa. Nem tudo o que passa
na televisão é verdade, eu diria que a porcentagem de
verdade é bem pouca.
Em mil novecentos e setenta um projeto chama
do MKULTRA, era colocado em pratica por esse
mesmo país, este projeto estava destinado ao controle
mental das pessoas, experiências horríveis com drogas e
alucinógenos foram feitos com civis e militares, somente
em mil novecentos e setenta e sete que o desastroso
programa foi encerrado, mais os seus estragos já
estavam feitos, inúmeras vidas se perderam.
Outra mentira está relacionada à famosa área
cinquenta é um, quando digo mentira não estou falando
da sua não existência, pelo contrario ela é tão real
quanto você e eu. Essa base secreta fica a cento e
cinquenta quilômetros ao nordeste de Nevada, em um
documento de mil novecentos e noventa é cinco o
governo americano admite a existência dessa instalação
secreta. Muitas especulações têm surgido a respeito
dessa instalação e seus projetos, de naves extraterrestres
a viagens no tempo, mas este assunto tratará mais tarde.
~ 238 ~
O programa de investigação de aurora ativa de
alta frequência ou HAARP. Esta instalação de quatorze
equitares com mais de cento e sessenta antenas todas
interligadas, essas antenas transmite ondas de frequência
extremamente baixas contra a nossa ionosfera, o
governo diz que é para o estudo da ionosfera e o seus
efeitos sobre a transmissão de ondas de rádio, mas essa
não é toda a verdade, o haarp pode ser usado em todo
o tipo de aplicação militar. Esse pode ser um dispositivo
para a manipulação do tempo, ou seja, controlar o
clima, fazendo com ele o que bem quiser como causar
tempestades ou até terremotos segundo diz alguns
especialistas.
Outra coisa nociva são os rastros químicos
aplicados na atmosfera por aviões especialmente
preparados com isso, alguns cientistas temem o seu uso
indiscriminado, acredita-se que estas trilhas químicas
que você bem pode ver pela manhã ou no final de
tarde, sejam usadas pelos militares que por sua vez
manipulados por pessoas de alto poder, tendo a
finalidade de adoecer a população mundial vindo a
exterminar boa parte dela, o governo diz que está
borrifando óxidos metálicos para pesquisa e não é nada
prejudicial. Agora fica á seu critério acreditar ou não.
~ 239 ~
Não sou nenhum especialista nestes assuntos, tão
pouco um cientista, sou apenas uma voz, um
sobrevivente deste mundo cão, as informações que lhes
passo pode ser facilmente encontradas na rede mundial
de computadores, o meu intento em reuni-las e repassa-
las a vocês e desperta-los para aquilo que está
acontecendo debaixo de seus olhos, não tenho família,
vivo solitário, meus anos servido a nação deixaram
profundas marcas não só na minha carne, mas na
minha alma também. Sei que serei tachado de louco,
mas não me importo, foi graças as minhas loucuras que
sobrevivi ao inferno de algumas guerras estupidas, não
quero falar sobre isso agora, essa é apenas a primeira
parte, aos poucos farei novas revelações que te deixara
perplexo, como eu disse você é quem decide acreditar
ou não.
Eis o arquivo três.
O projeto blue beam, conhecido como raio azul,
foi denunciado pela primeira vez pelo jornalista
canadense, Serge Monast, o projeto corria em segredo
na NASA, mas alguém lá de dentro teria deixado vazar
informações do projeto, foi então que o jornalista teve
~ 240 ~
conhecimento deste projeto. Segundo ele, em várias
entrevistas que deixou, diz que o projeto e sem
precedentes, arquitetado pela elite global, o projeto em
si, visa a projetar no céu, imagens holográficas da
suposta volta de Cristo, imagens com características
extremamente reais, que tentará convencer o mundo de
que o Messias esperando voltou, porém, vai ser um
impostor_ o anticristo_ ele assumirá essa posição,
unificando todas as religiões, estabelecendo um império
das trevas e consolidando a nova ordem mundial.
O Projeto Blue Beam é uma arma secreta de
alteração da mente está baseada em algo chamado
tecnologia da portadora subliminar, ou Silent Sound
Spread Spectrum (SSSS) (também chamada de S-Quad,
ou 'Squad' no jargão militar). Ela foi desenvolvida para
uso militar pelo Dr. Oliver Lowery, de Norcross,
Georgia, e está descrita na US Patent #5,159,703 -
'Silent Subliminal Presentation System', para uso
comercial em 1992... A tecnologia também é conhecida
como Som do Silêncio e funciona pela transmissão de
sons indetectáveis pelo ouvido, mas que são
implantados no córtex auditivo do cérebro. É o que
existe de mais moderno no controle mental universal...
Essa nova tecnologia de controle da mente pode na
~ 241 ~
verdade fazer você tomar uma atitude que normalmente
não tomaria.
Entretanto, o aspecto mais insidioso de SSSS é
que ela é totalmente indetectável por aqueles contra
quem é direcionada. Como produz sua programação
subliminar diretamente no cérebro humano por meio
do sentido da audição em uma frequência que o ouvido
humano não é
Capaz de identificar como som, não há defesa contra
ela. Todas as pessoas no planeta estão igualmente
susceptíveis ao controle mental via SSSS e não há modo
de escapar, uma vez que as ondas UHF podem ser
transmitidas por longas distâncias a partir de fontes
localizadas em locais remotos e atravessam as paredes e
outros objetos, como se eles não existissem. UHF é a
frequência (na faixa dos 100 MHz) que tem sido usada
para a transmissão de televisão e rádio desde que esses
meios existem. SSSS foi projetada para utilizar UHF
como onda portadora.
Ainda mais insidioso, porém, é o fato que,
acoplado com o uso de supercomputadores, os padrões
eletroencefalográficos (EEG) específicos de um
indivíduo podem ser alterados digitalmente e depois
~ 242 ~
armazenados para serem retransmitidos via UHF
digital. De acordo com Judy Wall, esses EEGs
retocados pelo computador "podem identificar e isolar
os 'blocos de assinaturas de emoção' de baixa amplitude
do cérebro, sintetizá-los e armazená-los em outro
computador. Em outras palavras, estudando os padrões
característicos sutis das ondas cerebrais que ocorrem
quando um ser humano analisado experimenta uma
determinada emoção, os cientistas puderam identificar
o padrão de onda cerebral concomitante e agora podem
duplicá-lo." Esses blocos de assinatura de emoção
modificados podem depois ser transmitidos pelas
frequências portadoras UHF (isto é, sinais de rádio e
televisão normais) diretamente para dentro do cérebro
onde podem então "silenciosamente acionar a mesma
emoção básica em outro ser humano". Em outras
palavras, se o bloco de assinatura emocional para,
digamos, um sentimento de desânimo e desespero
estiver sendo introduzido diretamente no seu cérebro
via ondas de rádio, você sentirá essas emoções.
Muitos dos projetos da NASA foram chefiados
por cientistas trazidos da Alemanha nazista, que foram
trazidos para os EUA no fim da Segunda Guerra
Mundial por meio da Operação Clipe de Papel.
~ 243 ~
O projeto é uma forma de domínio imposto pelo
medo, criando pela nova ordem mundial, esse grupo
seleto visa o domínio das massas por meio da religião,
as projeções são todas falsas, mas para aqueles que não
conhecem soaram como verdadeiras. Neste momento,
há um número enorme de satélites espalhados na órbita
terrestre, esses satélites foram equipados com potentes
projetores holográficos, considerando que nossa
atmosfera a muito está sendo borrifada por aviões que
deixam rastros químicos, que tem a função de preparar
a atmosfera para receber estas projeções vindas dos
satélites, é como se tivessem formado um gigantesco
telão invisível no ar.
Não só as imagens, mas o projeto também visa
emitir sons vindos do espaço, São sons de baixa
frequência que dará a impressão de estar sendo faladas
dentro da nossa cabeça, além das imagens as pessoas
ouviram vozes, tipo de Jesus, Buda, Maomé, e assim
por diante, cada povo ouvindo na sua própria língua.
O Apostolo Paulo nos exorta dizendo que sem a
manifestação da Besta do Abismo e do Anticristo nada
de arrebatamento: "Ninguém de maneira alguma vos
engane; porque não será assim sem que antes venha a
~ 244 ~
apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho
da perdição;" (II Tessalonicenses 2 :3). Além dos
eventos que estão sendo aguardados pela ONU para o
dia da revelação, ainda temos o perigo eminente de um
falso arrebatamento.
A Besta do Abismo também pretende imitar o
acontecimento que ocorreu durante a ressurreição do
Senhor Jesus descrito no versículo abaixo: "E abriram-se
os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam
foram ressuscitados;" (Mateus 27:52) O Falso
Arrebatamento é dentre outras coisas, para confundir e
enganar os cristãos desatentos à palavra.
Estejamos alerta, para as coisas que vão
acontecer, devemos nos firmar na palavra de Deus, ela
nos alerta sobre todas essas formas de engano, a Bíblia
é um livro magnífico e atual, Jesus nos alertou sobre
esses falsos sinais.
Veja o que diz a palavra:
Mateus, 24:24-26. Porque hão de surgir falsos
cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e
prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam
até os escolhidos. Eis que de antemão vo-lo tenho dito.
~ 245 ~
porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e
farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se
possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que de
antemão vo-lo tenho dito.
Estejam atentos, para que não vos engane, temos na
Internet uma tremenda ferramenta para descobrirmos
tudo isso.
Em baixo a mesma inscrição, confiscado pela
polícia única mundial. Só que nesse arquivo havia mais
informações. Dizia o seguinte.
“Sujeito preso por violação de arquivos secretos, levado
a ilha, preso sentenciado à morte."
Foi aí que descobri a respeito da ilha, não há um
nome específico para a ilha, segundo o que levantei,
alguns pescadores a conhece como ilha dos fantasmas,
visto que todos os que são levados para a ilha nunca
voltam, viram fantasmas para o sistema. Outra coisa
horrível a respeito do lugar é que inclusive os guardar
que são levados para o forte com os prisioneiros,
também são deixados para morrer. Junto ao arquivo
~ 246 ~
havia o que eu queria o endereço da ilha, agora restava
somente ir até essa ilha, isso era fácil de fazer, segundo
minhas investigações, todo mês vai um barco para uma
dessas ilhas comprar peixes em troca de alimentos.
Resta-me apenas saber qual barco estará destinado para
está ilha.
~ 247 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
PADRE LAIR NARRANDO.
Todos estavam reunidos na igreja, apreensivos
pelo que estava acontecendo. Ananias e Ronaldo saíram
na tentativa de descobrirem alguma coisa no antigo
forte. Alguns pescadores mais velhos me disseram que
o forte foi palco da terceira guerra, sendo que o lugar
era uma espécie de quartel General e um deposito de
armas. Sendo assim, é bem possível que eles encontrem
armas no local, particularmente eu desacredito que o
lugar esteja sobre a proteção de militares, é algo pessoal
meu, pode ser que tenha prisioneiros, pode ser que haja
alguém lá, mas considerando as rotas dos navios, o mais
lógico seriam eles utilizarem a rota convencional, que
~ 248 ~
passa em frente a nossa praia, e ultimamente não temos
visto nenhum barco militar.
Eu pedi a um dos pescadores, o Ismael, filho do
Ananias, que reunisse todos os moradores da ilha no
salão da igreja, meu objetivo é falar um pouco de fé, da
Bíblia, é transmitir-lhes um pouco de ânimo, de
esperança, embora a esperança pareça distante, longe
de nossa realidade. A vida na ilha é diferente do mundo
lá fora, segundo ouvimos no rádio que o Carlos
consertou, o mundo está sendo reunido debaixo de um
mesmo teto, governado por um homem que se
denomina o líder mundial, por nome Macaluzo. Esse
líder prega a unidade, um só governo, uma só moeda,
uma só religião. Esse é um assunto delicado, eu não
posso falar sobre isso com o povo da ilha, existem
muitas perguntas sem respostas, e uma delas que não
quer se calar dentro da minha mente. Será que Jesus
voltou e ficamos todos para trás? Essa é a grande
pergunta que eu não quero saber a resposta.
Não demorou muito e todos se faziam presentes
no salão, pedi para que todos sentassem. Lembrei-me
de uma passagem bíblica onde Jesus prega para uma
multidão de pessoas, a pregação do monte. Jesus pediu
~ 249 ~
para que as pessoas se sentassem na relva, enquanto ele
discursava, mostrando - lhes as maravilhas do reino de
Deus que estava entre eles. Eu não sou Jesus Cristo,
mas como seguidor de seus ensinamentos me sinto na
responsabilidade de conduzir esse povo a ter fé e
esperança, mesmo que tudo pareça contrário à ela,
ainda que não pareça existir luz no fundo do túnel, meu
trabalho é motivar-lhes a ter esperança de que tudo vai
dar certo. Os semblantes das pessoas revelam o seus
espíritos abatidos e com medo, perderam tudo, e esse
tudo não era quase nada.
─ Bom dia a todos, Graça e paz sejam com todos
vocês. Pedi a presença dos senhores para lhes transmitir
uma palavra de fé e esperança. Nossos amigos, Ananias
é Ronaldo, foram à procura de boas novas no intuito de
achar abrigo seguro, devemos como bons Cristãos, orar
para a missão deles seja bem sucedida. Eu tenho uma
palavra para os senhores.
O texto sagrado diz assim:
“Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único
filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e
oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que
te hei de mostrar."
~ 250 ~
( Gn 22.2 ).
Abraão abraçou o filho, ele estava com medo da
forte tempestade que havia caído durante toda a noite,
raios e trovões que cortaram o céu de um lado a outro,
o abraço forte do pai acalmou o filho, quando a chuva
terminou o menino já havia adormecido. Isaque era o
filho da promessa, durante muitos anos Abraão esperou
pelo cumprimento da promessa de Deus que dizia:
“Tu serás pai de muitas nações”
Mesmo com a idade já avançada, o velho Abraão
creu na promessa que Deus havia feito a ele, passou
quase vinte anos, Deus então cumpre o que prometeu,
o filho da promessa tão esperado, tão amado, a criança
curiosa e cheia de vida, presente dos céus, estava agora
ao pé do monte. No olhar de Abraão havia uma
profunda angústia, Deus tinha lhe pedido o filho amado
em sacrifício como prova do seu amor por ele, o filho
que ele tinha esperando por tantos anos, mesmo contra
a vontade do seu coração, o velho e obediente Abraão
não questionou as ordens do altíssimo, sem nada dizer
se prontificou a fazer o que lhe fora pedido. Na sua
~ 251 ~
mochila estava a faça e uma corda que seria usada no
sacrifício, e pelo caminho ele e o filho recolhiam
pedaços de lenha que também seriam usados no
sacrifício, Abraão nada disse ao filho e nem a ninguém,
guardou no mais profundo da alma as ordens que Deus
tinha dado, Abraão continuou subindo a montanha
lentamente junto com o filho, cabeça baixa o coração
apertado a medida que ia se aproximando do topo do
monte, aumentava a angústia de Abraão, mas ele nada
dizia.
De repente o filho lhe faz a seguinte pergunta:
─ Pai, eu estou vendo a lenha e a faca e a corda,
mas o cordeiro, onde está?
Abraão então responde, suas palavras era um
grito desesperado de fé e confiança em Deus.
─ Deus providenciará para si o cordeiro meu
filho.
Abraão continuou a subir, no momento em que
chegou ao local onde seria feito o sacrifício, ele explicou
tudo ao filho. A exemplo do pai, Isaque se submete a
obediência a Deus, depois do altar pronto, e do filho
~ 252 ~
amarrado, Abraão pega sua faca, levanta a reluzente
lâmina ao céu, lágrimas nos olhos, quando ele ia
desferir o golpe fatal no menino, uma potente voz brada
do céu:
─ Abraão… Não faças nada ao menino, pois
agora você provou que é amigo de Deus.
Essa história verídica, acontecida a tanto tempo,
mostra o amor é a fé de um homem, um simples
homem. Essa inabalável fé e obediência de Abraão a
Deus me impressiona muito, me comove e emociona;
este homem está na lista dos heróis da fé descrita na
carta de Paulo aos Hebreus, também não é para menos.
Abraão não possuía o conhecimento que hoje nos
possuímos, não havia Bíblias modernas de estudo como
hoje temos, também não havia sacerdotes com
doutorado em teologia, não havia informação suficiente;
mesmo assim, aquele homem creu em uma voz que lhe
disse:
“Sai da tua terra, do meio da tua parentela, e vai para
terra que eu te enviar” Essa era a doce voz do criador,
mais do que isso, era a voz de um amigo. Devemos a
exemplo de Abraão, confiar cegamente em Deus, sem
medo deixar que ele governe nossas vidas, nossas ações,
~ 253 ~
fazer dele nosso melhor amigo. Deus quer o melhor
para nós, ele sabe o que é melhor para nós, basta
apenas confiarmos nele, ter um pouco de fé, e ele tudo
fará em nossas vidas.
Todos olhavam atentos ao que o padre lhes dizia,
prosseguiu ele:
─ Jesus Cristo é o nosso alto refúgio meus filhos,
em outro texto bíblico diz o seguinte:
Salmos, 125:1 - Aqueles que confiam no Senhor
são como o monte Sião, que não pode ser abalado, mas
permanece para sempre.
─ Imagine uma grande montanha, a maior que
você puder imaginar, a Bíblia nos diz que os que têm
sua confiança pessoal em Deus, assemelha -se a uma
montanha como esta, nada pode abalar a grandeza de
uma montanha, nada pode destruí - lá, por mais fortes
que sejam os ventos, por maiores que sejam as
tempestades, a montanha continuará inabalável, assim
~ 254 ~
também seremos, se colocarmos em Cristo a nossa
confiança.
Devemos verdadeiramente confiar em Deus,
Jesus Cristo seu filho é o nosso Salvador, devemos
depositar no Espírito santo de Deus toda nossa
esperança, pois na sua palavra está escrito:
2 Samuel, 22:3 - É meu Deus, a minha rocha,
nele confiarei; é o meu escudo, e a força da minha
salvação, o meu alto retiro, e o meu refúgio. O meu
Salvador; da violência tu me livras.
Deus é essa rocha inabalável em que nos fomos
firmados, quem estiver sobre ele jamais será abalado,
mas terá segurança, somos convidados a construir a
nossa casa espiritual sobre essa rocha, na palavra está
escrito:
Lucas, 6:48 - É semelhante ao homem que,
edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs
os alicerces sobre a rocha; e vindo a enchente, bateu
com ímpeto a torrente naquela casa, e não a pôde
abalar, porque tinha sido bem edificada.
~ 255 ~
É inevitável que venham as tempestades, todos
nós passamos por tempestades, mas Aquele que estiver
fundamentado em Jesus Cristo estará seguro, veja o
exemplo dos discípulos quando estavam no barco com
Jesus e levantou grande tempestade, Jesus dormia,
vendo os discípulos que o barco era açoitado com muita
violência, temendo que o mesmo viesse a pique,
despertaram Jesus, o mestre repreendeu a tempestade e
tudo se fez calmaria, o barco onde Jesus está não
afunda, nem a casa onde Jesus habita é abalada.
Lucas, 8:24 - Chegando-se a ele, o despertaram,
dizendo: Mestre, mestre, estamos perecendo. E ele,
levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e
cessaram, e fez-se bonança. Os discípulos presenciaram
o agir do mestre, o seu poder, o domínio dele sobre
tudo, Jesus é poderoso e santo. Ele cuida de nos
momentos de crise.
Mateus, 6:13 - e não nos deixes entrar em
tentação; mas livra-nos do mal. Porque teu é o reino e o
poder, e a glória, para sempre, Amém.
O mundo está totalmente destruído pelas guerras,
rumores de novas guerras, pestes fomes, em todo o
lugar o que se vê é destruição e morte, quem não
~ 256 ~
gostaria em um cenário desses, de extrema insegurança,
ter um pouco de paz e proteção. Só há um lugar no
mundo todo que nos oferece proteção, só há um que
realmente pode nos guardar e livrar de tudo o que está
acontecendo. Jesus é nossa proteção, ele é o nosso alto
refúgio, a nossa fortaleza, nele temos total segurança,
ainda que a tempestade esteja forte, nele jamais seremos
abalados, mas teremos plena proteção.
Na bíblia está escrito:
Isaías, 25:4 - Porque tens sido a fortaleza do
pobre, a fortaleza do necessitado na sua angústia,
refúgio contra a tempestade, e sombra contra o calor,
pois o assopro dos violentos é como a tempestade
contra o muro.
Coloque as suas vidas nas mãos de Jesus, confie
nele para proteger suas famílias, não há lugar melhor
para as nossas vidas do que o centro da vontade de
Deus, esse é o lugar mais seguro que podemos ter, nele,
Jesus Cristo, somos salvos.
A Bíblia é maravilhosa, pois ela nos revela o
amor de um pai de misericórdia, repitam comigo.
~ 257 ~
Deus do meu amor,
Meu alto refúgio,
Em ti eu confio,
Tu és meu,
Meu coração é teu.
A ti honra,
A ti a glória,
E a ti o louvor para todo.
Todos repetiram as palavras do padre Lair,
muitos estavam emocionados, lágrimas molhando a
face, o semblante de tristeza e de derrota haviam se
transformado em sorrisos na face de todos os presentes.
Um fio de esperança queima em cada coração, e a
convicção de que tudo daria certo.
~ 258 ~
GUSTAVO NARRANDO.
Caminhávamos ainda em fila já fazia algumas
horas. A parte mais densa da mata havia passado. O
lugar onde estávamos agora era um pouco mais limpo,
com árvores altas, porém, com um terreno muito
acidentado. Cheio declives, em alguns pontos havia
uma espécie de musgo verde muito escorregadio, o
perigo de cair era enorme. O Jeová coitado havia caído
por diversas vezes seguidas, o Antônio continuava na
frente, com uma bússola nas mãos seguia sua rota, que
segundo ele, baseado no curso de um pequeno riacho
que encontramos iria direto para o mar. O nosso
objetivo era segui-lo até encontrarmos a praia, não
deveria estarmos tão longe do nosso objetivo talvez mais
algumas horas de caminhada.
Durante certo momento da caminhada comecei a
sentir fortes dores de cabeça, reclamei com o pessoal
~ 259 ~
das dores, achamos melhor pararmos em algum
lugar. Achamos outro lugar limpo, ficamos ali mesmo.
Naquele momento as dores estavam insuportáveis,
coloquei minhas mãos contra na cabeça e comecei a
gemer de dor.
─ Gustavo tudo bem, Gustavo, tem alguma coisa
que possamos fazer - Perguntou Jeová - Você trouxe
algum remédio.
─ Não, eu não trouxe nada. Minha cabeça dói,
dói, dói, muito.
De repente, lapsos de memória vieram a minha
mente, hospitais, pessoas feridas, cirurgias, uma mesa
com uma máquina de escrever, no papel estava escrito.
Teorias da Conspiração. De repente em meio à dor
intensa comecei a delirar e a falar coisas que vinham à
mente, coisas referentes à visão.
“Um dos grandes pilares que sustenta a nossa sociedade
é a religião. Desde os primórdios que a religião molda a
alma dos homens, desempenha um papel importante
na vida de milhões de pessoas. Seja a religião tradicional
~ 260 ~
romana ou a protestante, ambas tem a função de
conduzir as pessoas com certo controle, todos os dias
pessoas do mundo todo se reúnem em algum templo
para adorarem o seu Deus, leem e estudam textos
bíblicos, cantam hinos, tudo muito bem regido pela
férrea cartilha produzida pelos seus lideres."
─ Gustavo, Gustavo, o que é isso que você está
dizendo - Perguntou Antônio.
─ Me ajudem, por favor, a minha cabeça, dói
muito, parece que vai explodir.
De repente mais visões, uma mulher, trabalhando
em um jornal, na mesa um nome, Marta era o nome
dela, tudo começou novamente, em meio a dor eu
delirava e pronunciava as mesmas palavras.
“O que vocês não sabem, não por culpa, mas por causa
de seus lideres muito bem instruídos, não para
ensinarem como deveriam, mas para esconder da massa
o que está diante de seus olhos. Muitos religiosos
torcem o nariz quando digo isso, já tive inúmeros
~ 261 ~
problemas com eles justamente por expor minhas ideias
e teorias. É sobre esse assunto que eu gostaria de tratar
hoje, a verdadeira origem do homem, e os mistérios
que estão envoltos sobre a sua criação. A verdade foi
oculta e cabe a eu descortina-la. Não sou tão jovem
como pensam, descumprirei a minha promessa de não
falar sobre minha pessoa. Sinto a necessidade de contar-
lhes apenas alguns fatos relacionados à minha vida, e o
farei aos poucos, somente o meu verdadeiro nome
ficara no manto do mistério. Tenho o dever como
cidadão de abrir os olhos não só da minha nação, mas
de todo o mundo. Crer em mim será uma escolha sua.
Participei da segunda grande guerra e da guerra do
Vietnã, meus olhos já cansados presenciaram o inferno
de perto, contemplei crianças morrerem
impiedosamente pelos fuzis da nossa podre nação,
quando me opus às atrocidades que eles cometiam fui
preso, quando ameacei contar tudo o que sabia me
expulsou e me taxaram como louco, cheguei a ser
internado em um sanatório contra minha própria
vontade, só para fortalecer as mentiras que diziam
contra mim. Passei anos reunindo esse material que aos
poucos coloco ao publico, o faço em um esconderijo,
haja vista que minha vida corre sérios perigos, não que
~ 262 ~
eu tenha medo de perde-la, mas prometi a uma pessoa
que morreu em meus braços na guerra que contaria ao
mundo as verdades que estão escondidas. Agora chega
de falar de mim e vamos ao que interessa. O que vocês
não sabem é que por traz da religião, da politica, e da
economia está um grupo chamado de illuminati. O que
estou passando é um documento secreto da nova
ordem mundial. Sociedade secreta criada em mil
setecentos se noventa e seis, nunca estiveram tão perto
de conseguir o controle do mundo todo. O olho que
tudo vê aquele por cima da pirâmide de um dólar
simboliza essa filosofia, como disse estão em todos os
lugares, atentos a tudo o que fazemos, tendo o controle
da situação. Seja na maçonaria, na Skull and Bones ou
no clube dos Bilderbeg. Os segredos deles contam com
a discrição de seus lideres, e acreditem eles fazem uso
dos púlpitos nas igrejas de todo o mundo este é o
senário politico, e nas bolsas de valores. “A profecia de
Malaquias está preste a se cumprir quando o último dos
papas cair, com o fim do seu reinado a novo governo
mundial será estabelecido, e por fim dominaram o
mundo por completo.”
~ 263 ~
Eu estava quase a ponto de desmaiar, chorando
de dor, as imagens continuavam vindo como cascatas
em minha mente, e a cada imagem, uma insuportável
dor.
─ O que vamos fazer? Perguntou Marcos.
─ Eu não tenho ideia, acho melhor ficarmos
aqui, vocês ficam aqui, eu vou ver se acho algumas ervas
por aí que possa servir de medicamentos. Vocês ficam
aqui. Disse o Antônio.
─ Tá doendo muito, por favor, essas lembranças,
o que é isso.
Em meio às imagens, pela terceira vez, as
mesmas palavras desconexas, mas com alguma ordem e
sentido.
“Muitas das personalidades adoradas e idolatradas da
nossa mídia estão empenhadas em estabelecer o novo
governo mundial, divulgando suas ideias de forma
simbólica”. Ramificações da nova ordem mundial.
~ 264 ~
Maçonaria: Sociedade reservada que conta com mais de
seis milhões de integrantes.
Clube dos Bilderberg: Conferencia anual que reúne
cento e trinta convidados ricos e influentes na América
do norte e da Europa. Skull and bonés: Sociedade
secreta norte Americana fundada em mil oitocentos é
trinta e dois. Aceita apenas homens brancos e ricos. Na
profecia de Malaquias, Bento dezesseis, será o
penúltimo papa e o próximo nome escolhido encerrara
a historia da igreja romana, embora haja controvérsias, a
profecia tem si mostrado acertada em boa parte do que
previa. Com o fim da igreja romana os iluminati estarão
prontos para dominar o mundo. Eles estão no controle
e creem que nada pode detê-los, dizem saberem de
tudo e estarem em todos os lugares, dizem ainda que
um ciclo está chegando ao fim e que a nova ordem
mundial será estabelecida. O chip 666 está sendo
lançado definitivamente, só poderá comprar vender ir e
vir se estiver com o chip em sua mão direita ou na testa.
Religiões a parte mais uma vez uma das profecias
descritas na bíblia está se cumprindo, a dominação será
total, aquele que não a aceitar por bem deverá ser
morto, campos de concentração já estão prontos em
diversos lugares nos Estados Unidos, tudo sob a
~ 265 ~
fiscalização e o controle da F.E.M.A, guarde esse nome,
sobre ele falarei mais tarde. Como eu havia dito, somos
dominados e controlados, desde o nosso nascimento,
nem percebemos, mas em nossa cultura estão
enraizados os ideais desses senhores do mundo, a cada
nova geração que surge mais fácil fica para eles, as
crianças aprendem desde cedo a aceitar tudo sem
questionar nada, crescem com a finalidade de serem
sem saber a ferramenta principal dessas mentes insanas,
não se engane, tudo é controlado por eles, até o seu
voto na urna.
As guerras servem apenas para eliminar a população e
enriquecer os donos de bancos em todo o mundo, as
duas primeiras guerras e as demais que vieram depois,
serviram para encher o bolso dos senhores do mundo e
para eliminar a população, tudo foi feito com esse
proposito, claro que isto não é dito, mas não somos tão
bobos assim, aos poucos mais pessoas estão
percebendo tudo o que está sendo tramado por traz das
cortinas do poder, falo isso por experiência própria, a
terceira guerra é a prova final desse plano maligno.
─ Meu Deus o que é isso? Perguntou o Marcos.
~ 266 ~
─ Eu tenho uma teoria do que esteja
acontecendo.
─ Diga então homem o que é?
─ É o efeito contrário das drogas e alucinógenos
que durante muito tempo ele tomou, eu ouvi dizer que
em alguns casos com o tempo faz o efeito reverso,
trazendo a tona velhas memórias, de uma só vez, todas
as memórias da pessoa, mas na maioria dos casos a
pessoa vinha a óbito.
─ Vira essa boca pra lá rapaz.
─ Gustavo como você está, melhorou?
─ Eu, eu, eu... Eu estou bem, com muita dor
mais estou bem.
─ Caramba, você começou a falar umas coisas
malucas e sem sentido. - Disse o Marcos.
Neste momento Antônio retornou, a única coisa
que encontrou foi uma erva muitíssimo semelhante ao
chá mate, ele fez questão de preparar, enquanto Marcos
e Jeová preparavam uma maca improvisada para
carregar-me, visto a sua situação estar muito delicada, a
~ 267 ~
única esperança agora era encontrar a praia, e pedir a
Deus que me salve.
~ 268 ~
DO OUTRO LADO DA ILHA.
ANANIAS NARRANDO.
À medida que ganhávamos a mata, aumentava o
calor, a resistência do corpo caia drasticamente,
havíamos separado várias garrafas de água, mas parecia
insuficientes. Ronaldo tinha uma resistência invejável,
parecia não se cansar, estava sempre disposto e
sorridente, já eu, desfaleça de cansaço. Pela posição do
sol deveria de serem umas quatro horas da tarde, o
caminho que usávamos era muito antigo, de modo que
a vegetação o cobria por completo, tornando quase
impossível a nossa caminhada. Eu tinha uma pequena
bússola no bolso. E por aquela bússola me orientava
~ 269 ~
baseado no curso do rio, seguindo sempre rio acima,
certo é que em algum lugar chegaríamos.
Houve um momento que, vencido pelo cansaço e
pela idade, não que eu seja assim tão velho, eu sou
relativamente novo, porém, para um ex-combatente de
guerra, que por diversas vezes foi baleado em combate,
e por tantas outras coisas que passei, a idade pesam
como se eu tivesse noventa anos. Estou acostumado ao
mar, à brisa batendo no rosto, os ventos fortes, as
tempestades repentinas, estou acostumado ao peso das
redes cheias de peixes, ao balanço do mar, mas nada
daquilo se compara ao calor infernal que está fazendo
dentro desta mata. Estamos seguindo o curso do
pequeno riacho, suas águas são cristalinas, cheias de
pequenos peixes. Imagino que se não passar pelo forte,
esse riacho estará bem próximo dele, por ser a única
fonte de água doce da ilha, pelos menos água não nos
faltaria.
─ Ronaldo me responda uma coisa. - Perguntei
ao meu amigo que parecia estar distante, com os
pensamentos em outro lugar.
~ 270 ~
─ Pode perguntar se estiver ao meu alcance em
responder-lhe.
─ Eu te conheço a tanto tempo, de não sei nada a
teu respeito, agora que estou percebendo como nossas
relações de amizades são tão fracas na ilha, convivemos
uns com os outros, mas não nos interessamos uns pelos
outros. Fale de você, sua família.
─ Eu tenho a mesma percepção, mas não sei te
responder o porque a natureza masculina é assim, de
um jeito tão... Como vou dizer... Isso… Desprovida de
afeto e de amor. Meus pais morreram na guerra como a
maioria dos moradores da ilha, eu fui criado pelos mais
velhos, aqui e ali, entre uma casa e outra, assim eu fui
vivendo, assim cresci e sou até o dia de hoje.
─ Deve ter sido difícil para você viver em casas
diferentes, com pessoas diferentes. Eu não sei se
aguentaria viver assim, eu sou muito problemático no
que se refere aos sentimentos e a própria convivência
humana. Eu não sei você, mas não sou uma pessoa
sociável, não sou o tipo de pessoa que fica em rodas de
amigos mesa de bares, festas. É por isso que eu gosto do
~ 271 ~
mar, de estar no mar, a imensidão azul me acalma me
conforta.
─ Observando você de modo superficial,
ninguém diz que você é assim, mas, como eu convivo
com você a muitas décadas sem exatamente como você
é. A convivência humana nos torna fracos uns com os
outros, quanto mais nos conhecemos, mais fracos
ficamos, quanto mais te conheço, mais fraco me torno
perante você. Essa é minha teoria.
─ Muito interessante e verdadeira, deve ser por
isso que eu não gosto de proximidade, eu quero estar
sempre forte e não fraco.
Enquanto conversamos, sentados naquele amplo
espaço ente as árvores talvez mais altas de toda a ilha,
de repente, ouvimos barulho de alguma coisa se
aproximando. Escondemo-nos por trás de alguns
arbustos, pensamos que poderia ser algum animal
selvagem e perigoso, mas para nossa surpresa, havia um
pequeno grupo de pessoas, quatro homens na verdade,
mas um estava em uma espécie de maca improvisada,
enquanto dois carregavam, o terceiro vinha mais a
frente, um moço alto forte, roupas militares, armas nas
~ 272 ~
mãos, mesmo correndo o risco de ser morto por
aqueles desconhecidos, eu resolvi apresentar-me.
─ Olá senhores. Boa tarde - Eu disse saído de
onde estava com as mãos levantadas para o alto - Pode
ajuda-los, meu nome é Ananias, aquele ali abaixado é
meu amigo Ronaldo, nós somos pescadores.
Aqueles homens nada disseram se entre olharam
desconfiados, mas o moço que estava na maca
improvisada, levantou a cabeça com grande dificuldade
e disse.
─ Bona tarde meus amigos, estamos em paz, não
lhes faremos mal.
Depois de dizer essas palavras o homem
desmaiou na maca, seus amigos tentavam acorda-lo,
dizendo.
─ Gustavo, Gustavo, acorda, Gustavo, meu Deus
e agora Gustavo acorda. Ele está com febre alta, veja a
temperatura dele, deve estar com alguma infecção, se
não tomar algum medicamento urgente ele não vai
resistir por muito tempo. O que faremos?
~ 273 ~
Percebendo o desespero daqueles homens, o
Ronaldo me cutucou e sugeriu que nós os ajudássemos,
mas eu fui contra ajudar um bando de desconhecidos,
ainda mais que eles estavam armados e um deles era
visível ser um militar, a principio negou a ajuda, mas se
tem uma coisa em que o Ronaldo é bom, é ser
insistente, tanto que mesmo contrariando os meus
princípios, resolvi ajudar.
─ Os senhores querem ajuda com o amigo de
vocês, não podemos oferecer muitas coisas, mas
podemos ajudar a salvar a vida de seu amigo.
Os homens ficaram em silencio por alguns
minutos, conversaram um pouco entre si, por fim,
resolveram aceitar a nossa ajuda, visto que o amigo
deles não dispunha de mais tempo, naquele momento o
relógio era contra ele.
─ Estávamos indo para outro lugar - Eu disse ao
moço alto e forte, mas tudo bem nós podemos adiar,
siga-nos, não muito distante daqui está a nossa
comunidade de pescadores, podemos ajudar seu amigo,
o padre Lair, o nosso líder espiritual, tem alguns
medicamentos na capela, tenho certeza que vai ser útil,
~ 274 ~
durante o caminho conversaremos mais, agora o
melhor é não perdermos mais tempo.
─ Tudo bem, tudo bem amigos, vamos segui-
los.
Saímos todos juntos, só que agora na direção
contrária, seguindo o curso do rio em direção a nossa
aldeia, alternávamos para carregar a maca, havia lugares
tranquilos de se passar, mas havia lugares ruins e bem
acidentados, dificultando e muito a nossa caminhada na
mata, não paramos em momento nenhum, em breve
estaríamos na ilha.
O rapaz que estava na maca era jovem, todos ali
eram jovens, considerando a média de idade da nossa
vila que é de cinquenta e três anos. Aqueles moços não
tinham mais do que trinta e cinco, o mais novo na vila
dos pescadores tinga cinquenta anos de idade. Éramos
uma comunidade de velhos e velhos, não havia uma
criança na ilha, uma sequer, aliás, quando eu estava na
guerra eu não me recordo de ter visto crianças, em
nenhuma das cidades que combati, tanto em terras
brasileiras como em terras estrangeiras, eu não vi
crianças. É um mistério que ainda ninguém soube me
explicar, perguntei a várias pessoas, nenhuma delas deu
~ 275 ~
uma resposta coerente. Muitas coisas misteriosas e sem
explicação aconteceram durante a terceira guerra
mundial. Pessoas desaparecidas misteriosamente.
Quando finalmente chegamos à vila dos
pescadores já estava noite, houve um grande alvoroço
no momento em que chegamos ao salão da igreja com a
maca. Padre Lair e os pescadores mais velhos, de
pronto já se dispuseram em ajudar-nos, mesmo os
nossos amigos sendo pessoas desconhecidas, se
impressionaram com a disponibilidade dos pescadores
da ilha em ajudar-lhes. Depois de passado os primeiros
momentos da nossa chegada e do rapaz acamado já
terem sido medicados, sentamos para conversarmos,
pois do momento do nosso primeiro encontro na mata
até agora, empenhamos todos os nossos esforços para
salvar a vida do moço. Refizemos o nosso trajeto de
volta em tempo recorde. Assim como os outros moços,
estávamos exaustos, quase a ponto de não conseguirmos
falar direito.
─ Os senhores desejam alguma coisa - Perguntei
aos moços que ficaram próximos da cama onde os
colegas deles estavam.
~ 276 ~
─ Alguma coisa para comer e beber. Nada mais.
Disse um deles.
Chamei-os até a cozinha do salão, havia muitas
pessoas, que apenas olhavam curiosas aqueles moços, a
imagem deixou-os assustados, pois a maioria dos
moradores desabrigados da ilha estava ali reunidos,
todos em colchões improvisados, alguns dormiam
outros estavam acordados. O nome do rapaz acamado
segundo eles é Gustavo, o moço alto forte é Antônio, o
Gordinho Jeová é o outro Marcos. Todos vieram do
forte, local para onde iríamos, mas por intermédio
divino, ali estávamos, todos reunidos debaixo do
mesmo teto. Não era o que planejei, mas a presença
deles é de suma importância.
Dizem que não existe destino, dizem tudo na
verdade já foi estabelecido para acontecer como
aconteceu. Será mesmo? Tenho lá minhas dúvidas.
Depois do que nos aconteceu, acho que o destino na
verdade não foi bem compreendido. O destino na
minha visão é a mesma coisa daquilo que é pré-
estabelecido, o que acontece é a forma que as pessoas
enxergam as coisas, o ângulo ou a ótica daquilo que está
sendo visto. A variação a partir do ponto que se está
~ 277 ~
vendo determinada coisa a fazer parecer diferente, mas
não é. Como uma sombra projetada do nosso corpo, a
depender da nossa posição em relação ao sol, nossa
sombra se projeta deformada no chão, mas sua
deformidade não condiz com a realidade. Digo isso
porque o destino foi gracioso conosco nos enviando
esses moços.
~ 278 ~
AINDA DO OUTRO LADO DA ILHA.
PADRE LAIR NARRANDO.
Na noite de ontem, eu fui surpreendido por tão
grande alvoroço que se formou no lado de fora do salão
da igreja. Na sala do escritório da igreja eu terminava o
meu sermão da manhã. A minha cabeça estava a mil,
pensamentos imperfeitos, perguntas sem respostas, eu
buscava sentido em coisas sem sentido. Sou apenas um
padre velho, na verdade nem sou padre de verdade, sou
apenas ideias sem desejos, e desejos sem ideias.
Buscando no nada uma gota de tudo, quando na
verdade tudo já não vale uma gota de nada. Eu não
compreendo a vida e a vida também não me
~ 279 ~
compreende, mas eu tenho que compreender a vida
dos outros do meu ponto de vista cego.
As horas avançavam no relógio, são horas
traiçoeiras que não me diz a verdade do tempo, porque
aqui na ilha, o tempo não tem valor e os dias caíram no
esquecimento. Na ilha todos os dias são dias de
domingo, de sábados e de segundas e de terças e de
quartas e de quintas e de sextas. Há muito tempo
contamos o tempo de um modo diferente, é
complicado de se explicar, mas de viver e muito bom,
esse desapego ao tempo nos deixa livres, como os
pássaros. Acabei a minha mensagem dessa manhã,
agora vou me preparar para a exposição da palavra.
Visto meus aparatos sacerdotais e me dirijo para o
púlpito da igreja, hoje a reunião vai ser na igreja, não no
salão, os novos amigos vão estar presentes em nossa
reunião. Hoje depois da missa alguns pescadores se
sentaram para conversar com eles.
Antes de sair para o púlpito da igreja, parei diante
de uma das janelas que davam de frente para o mar e
comecei a meditar na vida, como faço todas as manhãs
eu faço. Além de meditar rascunho tudo em meu
diário.
~ 280 ~
Diário.
O sentido da vida... (texto filosófico)
Eu poderia encher linhas e mais linhas ditando
clichês conhecidos sobre o sentido da vida... Que nada
é tão difícil que não se possa mudar e etc. etc. Mas na
verdade ninguém pode dizer qual, realmente, é o
sentido da vida. Por que não haveria sentido viver com
uma coisa dessa magnitude definida e explicada. A
essência do viver, propriamente dito, está exatamente
em não saber o que é viver... Viver é descobrir o não
definido, é procurar o perdido, é permanecer em
constante luta pelo conhecimento em nos sentir cada
vez mais integrados com que nos foi "dado"
Faria algum sentido nascermos sabendo tudo?
Qual a graça teria de sermos cientes de tudo que nos
rodeia? A magnitude do viver está exatamente em
desconhecer... Pense bem, não é bom quando se
descobre que alguém está apaixonado por você ou
descobrir qual o segredo o qual gostaria de saber a
séculos, ou mesmo conseguir resolver uma questão de
álgebra que nenhum de seus colegas conseguiu fazer?
Creio que o que nos torna seres cada vez mais
apaixonados pela vida é a sede de poder descobrir que,
~ 281 ~
logo mais adiante, pode estar algo que procuramos a
vida toda!
A única certeza que temos é que a vida é feita de
incertezas...
É um texto filosófico de muita beleza e
expressividade, a incerteza é a única garantia da vida.
Início a missa, estão todos os presentes, incluindo
os novatos.
─ Bom dia em Cristo meus amigos, hoje é um
dia especial, como todos os outros, porém, o especial
de hoje tem peso de boas novas. Diferente das outras
reuniões dará início já com a exposição da mensagem
de hoje, estejam todos atentos e prontos para ouvir.
“Deus é infinito eterno e auto - existe, Nunca
houve um momento que Deus não existisse, como diz
Moisés. " Antes que os montes nascessem, ou que tu
formasse a terra e o mundo, de eternidade a eternidade,
tu és Deus. “Ele é anterior a toda criação, tanto no céu
como na terra, Deus está acima de tudo”.
Deus se revela como um ser pessoal que criou
"Adão e Eva." E foram criados a imagem do criador, de
~ 282 ~
forma que podiam se comunicar com ele de modo
amoroso e pessoal. O criador também se revelou de
modo moral, criando tudo de bom, ou seja, sem
pecado. Ao terminar a obra da criação Deus observou
que tudo o que ele havia criado era bom, o homem foi
colocado no jardim do Éden, o homem era perfeito,
sem Mancha, e caminhava com Deus nos fins de tarde.
Deus criou todas as coisas. “Céus e terra". O
verbo criar é de uso exclusivo de Deus, somente o
criador pode realizar tal grandeza, isso significa que,
num momento específico, Deus criou a matéria e a
substância, o que não existia até então passou a ter
existência. A Bíblia diz em Gênesis, que no princípio da
criação a terra era informe, vazia e coberta de trevas,
naquele momento o universo não tinha forma ordenada
como tem agora. O mundo estava vazio, sem nenhum
ser vivente, e destituído do mínimo vestígio de luz,
depois dessa etapa Deus criou a luz para dissipar as
trevas, deu forma ao universo, encheu a terra de seres
viventes. O método usado por Deus foi o poder da sua
palavra, repetidas vezes Está declarado. “E disse
Deus..." Em outras palavras, Deus falou e tudo passou
a existir, antes dessa palavra criadora nada existia.
~ 283 ~
Toda a trindade, não apenas o pai desempenhou
a sua parte na criação. Jesus é esta palavra poderosa
através do que Deus criou tudo. Deus tinha razões para
criar o mundo, os céus e a terra, tudo reflete a glória e a
majestade e o poder divino. Deus criou os céus e a terra
para receber a glória e a honra que lhes são devida.
Tudo o que existe neste planeta, de plantas a animais e
seres humanos, tudo rende louvores ao Deus que os
criou. Portanto é inegável a existência de Deus, não
somos frutos da evolução, não viemos do macaco como
dizem os cientistas, eles nada conhecem, não percebem
a grandeza de Deus nas menores e mais simples coisas
existentes no nosso planeta.
Os evolucionistas não creem em Deus, para eles
somos o resultado da evolução da espécie. Darwin é o
principal nome que vem na cabeça de qualquer pessoa
quando se fala em evolução, mas o que poucos sabem é
que o próprio Darwin, pai da teoria da evolução, antes
de morrer, admitiu que estivesse equivocado, que a sua
teoria sobre evolução não tinha provas e nem
fundamentos, porém, ninguém quis ouvi-lo, prefiram o
que ele já havia dito ou escrito. Darwin no fim da vida,
segundo dizem, tornou-se um Cristão, desmentindo
tudo o seu trabalho, mas era tarde demais, o mundo
~ 284 ~
ateísta abraçou suas ideias e difundiram suas teorias
mundo a fora como se fossem verdades. É interessante
que a mentira se espalha muito mais rápido do que a
verdade. Poucas pessoas sabem dessa história de
Darwin, a sua mentira foi perpetuado pelo diabo, o
personagem mais obscuro de todos os tempos.
Por trás da história comum esse personagem
sombrio planejou e construiu os seus planos malignos,
ele se escondeu no jardim do Éden, assim como ele se
esconde por trás da história, ele enganou Eva no
paraíso, plantou no coração do homem o pecado e a
rebeldia. Induziu Caim a matar o próprio irmão. Estou
falando daquele que um dia foi chamado de anjo de luz,
ele era o regente do coro celestial, cheio de beleza e
esplendor, mas em determinado momento, o seu
coração se corrompeu, a sua beleza ofuscou sua
inteligência, Lúcifer achou que poderia colocar-se como
Deus, ele desejou a adoração para si próprio, mas o
criador não divide sua gloria com a criatura, Lúcifer é
uma criatura, ele foi criado por Deus, assim como o
homem foi. Sua rebeldia e rebelião arrastaram muitos
dos anjos que estava no céu, anjos que se deixaram levar
pelas mentiras desse anjo caído.
~ 285 ~
Antes da manifestação de Lúcifer, havia paz e
alegria por todo o universo, o amor de Deus era
supremo. Cristo era um com o pai em natureza, caráter
e propósito. __ O único que poderia entrar nas decisões
e propósitos de Deus é Jesus Cristo. “Nele foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou
autoridades, todas as coisas foram criadas por ele e para
ele”.
Houve, porém, alguém, que preferiu deturpar a
liberdade divina. O pecado se originou com aquele que
depois de Cristo, havia sido o mais honrado por Deus.
Antes do pecado Lúcifer era o primeiro dos querubins
guardiões, santo e puro. As honras concedidas a Lúcifer
não despertou nele gratidão a Deus, mas o desejo de ser
igual a Deus, o resultado da sua rebelião foi a sua
expulsão do céu.
Sendo assim, durante todo o decurso dos anos e
séculos, a serpente que é o diabo, manipulou e
manipula a vida das pessoas, suas atitudes, suas
vontades, Darwin, no meu ponto de vista, durante anos
da sua vida foi instrumento do diabo para desacreditar a
existência de Deus, quando Darwin felizmente se vê
~ 286 ~
livre das garras do anjo caído, as suas ideias já tinham
sido difundidas e absorvidas.
Uma coisa é certa, creia os leitores ou não, é um
direito que assiste cada leitor, o de crer ou não na
existência de Deus, do céu e do inferno, e do diabo,
mas independente de acreditar ou não, o céu existe, o
inferno também, assim como Deus e o diabo. Portanto,
quero dizer que estamos diante de uma escolha, de dois
caminhos, ou é o céu ou é o inferno, ou é Deus ou o
diabo. Perdoe-me os ateus, mas definitivamente eu me
recuso a crer que vocês não acreditam em Deus, me
atrevo a dizer que vocês acreditam mais do que muitas
pessoas que conheço, que andam por aí com bíblia e
titulo, mas que na verdade não tem nada no coração
além de um abismo enorme. Os ateus são
simplesmente pessoas magoadas são infelizes, pessoas
confusas. Coloque qualquer ateu em um avião que
esteja caindo, tenho certeza que ele clamará por Deus
com todas as forças do coração.
Terminei a mensagem e dei continuidade ao rito
costumeiro da reunião, a igreja estava feliz, por um
minuto todos pareceram esquecer as mazelas da vida, e
começaram a cantar.
~ 287 ~
GUSTAVO NARRANDO.
Acordei com uma dor de cabeça terrível, meus
olhos pareciam que iam sair. Levantei-me com muita
dificuldade, não havia ninguém naquele pequeno
quarto, eu não me lembrava de direito do que havia
acontecido. A minha última lembrança e de estar no
meio da mata indo para o outro lado da ilha depois
disso não me recorda de muitas coisas, apenas uma dor
horrível latejando dentro da cabeça, muitas imagens
surgiam na minha mente, coisas desconexas que ainda
não consigo entender completamente. Aos poucos
minha memória retorna, lembro-me da minha irmã,
uma jornalista da capital paulistana. Lembro-me de
estar em uma livraria autografando vários livros, e
também de um consultório médico.
Ao longe eu ouvi a voz de uma pessoa, como se
fosse a um culto religioso, a voz forte parecendo de um
radialista, falava da Bíblia. Levantei-me de onde eu
~ 288 ~
estava e sai para ver o que era aquilo, na minha frente
havia um enorme corredor, segui em frente até a porta,
abri e sai dentro de um salão, havia neste salão um
número enorme de colchões e de roupas e tudo mais
que se possa imaginar, como se tivesse pessoas
morando ali. Saindo daquele enorme salão, percebi que
estava próxima a praia, de onde eu estava era possível
ouvir o som do mar. Na frente desse salão havia uma
pequena duna de areia, com certa dificuldade escalei a
duna, mais a baixo dessa duna havia uma enorme igreja
construída, muitas pessoas estavam presentes em uma
espécie de cerimônia religiosa, talvez um culto ou uma
missa.
Com dificuldades desci até o salão, na porta um
senhor de aproximadamente uns sessenta anos de
idade. Ele ficou me olhando, cumprimentou - me, e
convidou - me a entrar, estranhei a atitude dele mesmo
assim adentrei. A igreja estava lotada, umas cem pessoas
para mais estavam presentes, e todos idosos, com mais
de cinquenta anos, incluindo o padre que fazia aquele
bonito sermão. Lá na frente eu vi meus amigos, eu me
lembrava deles, o Jeová, o Marcos, é o Antônio.
Quando me viram vieram ao meu encontro, abraçando-
me em plena igreja, me colocaram em um banco ao
~ 289 ~
lado onde eles estavam. Fiquei constrangido, bem
incomodado com a situação, todas as pessoas me
olhando, a cabeça ainda doía bastante, as lembranças
não paravam dentro da mente, eu estava confuso.
Lembrei-me de certo poema que diz o seguinte:
O sol surgiu no horizonte,
Riscou o firmamento,
Com seus multicoloridos raios.
O sol se entregou aos braços do oceano,
Ao som harmonioso dos pássaros,
Enquanto as flores na beira do rio,
Entregavam-se ao beija flor.
Os meus olhos inundados de lágrimas,
Revelam uma alma atormentada,
~ 290 ~
Torturada pela lembrança,
Lágrimas que se misturam ao do riacho,
E o som do seu choro,
Ao cantar dos pássaros.
Como dói recordar bons momentos,
Animadas conversas ao rompendo da madrugada,
Como dói recordar você o tempo todo.
Eu que te contei meus segredos,
Os meus medos e angústias,
Desnudei meu coração para você,
Derramei-me sem medo,
Na ilusória esperança do amor.
Hoje não restou nada em mim,
~ 291 ~
Somente o tormento da realidade,
Tudo é uma ilusão,
Fantasias do coração.
O riacho levou as minhas lágrimas,
Mas não levou a dor dentro de mim,
A dor diária da lembrança,
De que sempre serei só,
Um solitário a espreita,
Tentando enxugar as lágrimas.
( Giovanni Marconi ).
A missa terminou pouco tempo depois, a maioria
das pessoas se retiraram, algumas apenas ficaram
conversando com o padre. Eu e meus amigos ficamos
onde estávamos, quando um dos pescadores nos
chamou até a presença do padre. Levantamos e fomos
até onde eles estavam. A minha mente recordava de
~ 292 ~
tudo a respeito da minha vida, aos poucos a memória
foi sendo retomada, e à medida que essa memória era
sendo reestabelecida fatos que antes pareciam confusos
foram se desenrolando, perguntas que não tinham
respostas eram respondidas. A dor da realidade, de se
saber exatamente quem sou levou - me ao desespero.
Tudo o que eu imaginava de mim era uma mentira, e
toda a minha vida, ou aquilo que eu acreditava como
vida era uma grande invenção.
─ Venham até aqui - Dizia o padre acenando
com as mãos - Venham até aqui preciso falar com
vocês.
Junto ao padre havia outra pessoa, segundo os
meus amigos era o mesmo pescador que nos encontrou
no meio da mata é ajudou-nos a chegar nesse lugar.
─ Vamos até a minha sala, desde ontem, depois
de toda correria com a chegada dos senhores ainda não
tivemos tempo de conversarmos. Tudo bem para vocês,
se não for causar-lhes nenhum incomodo. Disse o
padre.
~ 293 ~
─ Vejo que o amigo de vocês está bem melhor,
com uma ótima aparência, os medicamentos fizeram
efeito. Disse o outro moço que estava com o padre.
─ Eu agradeço de todo o meu coração pela
ajuda, pela hospitalidade comigo e meus amigos,
agradecemos de coração.
A sala que nos reunimos fica detrás do púlpito da
igreja, uma sala pequena, mas confortável.
─ Mais uma vez, e nunca é demais dizer, fico
feliz pela vida dos senhores e pela presença neste
momento tão importante na nossa pequena
comunidade - Disse o padre olhando diretamente para
mim - ontem à noite eu conversei um pouco com os
seus três amigos, eles me falaram de onde vocês
estavam, falaram da vida pessoal deles e como tudo se
deu até o momento em que nosso amigo Ananias os
encontrou em grandes dificuldades. Como eu disse aos
seus amigos, somos uma pequena comunidade de
pescadores isolados do mundo nesta ilha da costa
Catarinense, há anos vivemos sem depender do mundo
exterior, mas algo recente aconteceu-nos, e ficamos sem
muitas opções. Como vocês mesmo viram, a nossa vila
~ 294 ~
está destruído, uma forte tempestade devastou tudo,
agora nossa luta é para reconstruir a vila.
─ Por isso as pessoas estão naquele salão maior
um pouco mais afastado. Eles que perderam suas casas?
Eu disse.
─ Isso mesmo, eu os coloquei lá
provisoriamente. Respondeu o padre.
─ E onde os seus amigos estavam indo quando
nos encontrou? Perguntei-lhe.
─ Estávamos justamente a procura do forte de o
onde vocês saíram. Disse o outro pescador por nome
Ananias.
─ Que contradição interesse, nos fazíamos o
contrário, procurávamos justamente essa praia, mas não
sabíamos que era habitada. Disse o Antônio.
─ Estávamos sem comida, por isso decidimos sair
para procurarmos neste lado da ilha alguma coisa que
pudesse nos servir. Ou até mesmo sermos vistos por
uma embarcação. Na verdade fomos abandonados
naquele forte. Eu disse.
~ 295 ~
─ É uma história complicada padre. Disse o
Jeová.
─ Eu gosto de ouvir histórias complicadas, eu as
ouso todos os dias.
Aquele era o momento que o destino
caprichosamente nos deu, eu via ali uma grande
oportunidade de recomeçar, um novo início, visto que
minha memória retornava. Agora eu já sabia quem eu
era lá fora.
─ Depois da guerra e dos últimos
acontecimentos, muitas coisas mudaram, nos ficamos
neste lado da ilha por muito tempo isolado, sem
comunicação com o mundo. O nosso único contato
com o mundo externo é um senhor que vez por mês
vem trazer alimentos, eu os negocio com os peixes que
pescamos. Disse Ananias.
─ Vocês conseguem dinheiro com as vendas dos
peixes?
─ Não, não, nada de dinheiro, nossa moeda de
troca são os peixes e nada mais. Respondeu o Marcos.
~ 296 ~
─ E você - Perguntou-me o padre - Qual é a sua
história.
─ Eu vou lhes contar, minha memória está
voltando graças a Deus, já estou me lembrando de baste
coisa. Meu nome é Gustavo Augusto Nogueira, escritor,
médico, pesquisador. Antes da terceira guerra mundial
eu trabalhava para o governo em um projeto
experimental, desenvolvendo toxinas e armas químicas
para o governo Brasileiro. Mas houve um momento da
minha vida que percebi que o que estava fazendo era
errado, tentei alertar as pessoas, lancei um livro com o
pseudônimo de Alberto Lispector, onde eu relatava
tudo o que estava acontecendo não só aqui no Brasil
como no mundo todo, o título do livro era teorias da
conspiração, mantive tudo em sigilo. Nem minha irmã
que é jornalista ficou sabendo. A primeira versão do
livro não fez muito sucesso, as pessoas não levaram a
sério. O tempo passou, veio a guerra, maldita guerra,
veio as armas nucleares destruindo tudo. Tentei roubar
documentos na sede mundial que provava o
envolvimento do governo brasileiro com o líder
mundial, planos de extermínio e genocídio em massa.
Eu fui preso, fui submetido a drogas experimentais que
alteram a realidade da pessoa, a fazendo crer que é
~ 297 ~
outra pessoa. Foi nesse momento que conheci meus
amigos quando me prenderam no forte. O que eles
também não sabiam é que eles também foram deixados
ali para morrer, queima total de arquivo, embora a
verdade a meu respeito eles estejam sabendo agora.
Essa é minha breve história de vida.
Todos me olhavam espantados, inclusive meus
amigos, eu ainda não havia lhes contado nada a respeito
do meu passado, haja vista a minha perca de memória.
─ Isso explica muita coisa - disse o Jeová - as
coisas que você dizia quando estava preso, eu que
achava que eram delírios.
─ Em partes sim meu amigo, em partes não.
─ O que faremos agora? Perguntou Antônio.
─ Ficaremos todos juntos, e juntos pensaremos
em uma solução para nossos problemas. Disse
Ananias.
Todos ficaram de acordo com o que Ananias
disse, ficaríamos na vila dos pescadores
momentaneamente.
~ 298 ~
CARLOS ALBERTO NARRANDO.
Os últimos acontecimentos deixou tudo muito
movimentado na ilha, principalmente depois da grande
tempestade que destruiu as nossas casas. Por sorte,
muita sorte, os barcos não sofreram danos. Atualmente
estamos com dois barcos em atividade, o terceiro está
quebrado, venho tentando conserta-lo há dois meses, a
minha maior dificuldade são com as peças, como é
difícil encontra-las, temos que negociar com o
barqueiro, tudo tem que negociar com ele, para cada
coisa existe um preço baseado tem quilos de peixes. Eu
acho ridículo isso, eu não entendo o porquê não
podemos usar dinheiro físico como as pessoas normais.
Tudo graças à neura do Ananias em não querer usar
dinheiro.
Se eu tivesse dinheiro já teria reconstruído o
barco a muito tempo, mas tudo bem, ele é o líder da
~ 299 ~
comunidade sabe o que é melhor. Outra coisa que
consegui consertar com muito custo e digamos, com
sorte, é um velho rádio que encontrei lá atrás na praia.
A princípio eu achei e o desprezei, acho que nunca iria
funcionar. Faltavam algumas peças, mas, como eu disse
anteriormente, a sorte sempre esteve ao meu lado.
Caminhando pela praia um dia desses, não é que
encontrei um pequeno rádio meio enterrado na areia,
com certeza caiu de alguma embarcação, e a maré e as
ondas o trouxe até mim. Desmontei-o e usei suas peças,
para minha surpresa, ao ligar o rádio com a bateria do
barco que está quebrado, o rádio funcionou
perfeitamente, sintonizando várias estações, estou
levando o rádio até o Ananias é os outros pescadores.
****
Encontrei-os reunidos do lado de fora da igreja,
estavam presentes o Ananias é os quatro novatos que
vieram do forte, eles discutiam coisas concernentes a
ilha é a possibilidade de sairmos dela para outro lugar
ou não. Segundo os nossos novos amigos, há uma
pequena possibilidade da polícia única mundial, que é a
polícia comandada pelo líder mundial, de virem a ilha
~ 300 ~
para fazerem uma vistoria. Segundo disseram, depois de
certo tempo que eles deixam presos no forte, eles
retornam para conferir se estão mesmo mortos. É uma
forma de queima de arquivos, tanto os prisioneiros
como os guardar é eliminado. No início cogitamos a
possibilidade de irmos até o forte no intuito de
acharmos alguma coisa que nos servisse para podermos
reconstruir nossas vilas, o Ananias é o Ronaldo foram
rumo ao forte.
Mas o destino os trouxe de volta com esses
rapazes. Aproximei - me deles.
─ Boa tarde pessoal, desculpe incomodar vocês.
Mas tenho algo a lhes mostrar.
─ Boa tarde meu amigo, conte-nos as boas novas
- Disse o Ananias sorrindo.
Os outros rapazes pararão de conversar, ficaram
observando atentos ao eu ia dizer.
─ Lembra-se do velho rádio que eu estava
tentando concertar e vocês ficavam falando que eu
nunca ia conseguir.
~ 301 ~
─ Lembro-me sim - Respondeu o Ananias - mas
no rádio faltavam alguns componentes eletrônicos
indispensáveis ao seu funcionamento, como você o
fez... Não vai dizer que o rádio está funcionando
novamente. Caramba isso seria maravilhoso.
─ Então alegre - se, pois eu consegui conserta-lo.
Está funcionando perfeitamente.
─ Como você fez esse milagre?
─ Novamente eu fui agraciado pela sorte, em
uma dessas manhãs, eu caminhava a beira da praia,
como sempre costumo fazer. Acabei encontrando outro
rádio, bem menor que o nosso, meio enterrado na
areia, quase não acreditei quando o vi. Levei-o e o
desmontei, e para minha sorte havia justamente os
componentes de que eu precisava. Eu acredito que seja
o rádio de algum barco que deva ter caído no mar.
─ Onde está ele, vamos coloca-lo para funcionar.
Faz anos que não ouvimos o som de um rádio e nem
escutamos nada a respeito das cidades lá fora, será uma
ótima oportunidade.
~ 302 ~
Levei-os até onde estava o aparelho, achei melhor
não tirar ele de onde estava com meço de perder o sinal
e ele não pegar. Liguei o rádio, e ele novamente
funcionou. Os meus amigos ficaram alegres, entre as
muitas músicas que ouviram nas diversas estações
sintonizadas, uma chamou a atenção, imagino que seja
uma programação pirata, o locutor que ao que parece é
algum pastor evangélico, dizia o seguinte:
( RÁDIO. )
Deus ao criar o homem deu a ele um dom precioso da
qual ele não soube usar. “O livre arbítrio”, ou seja, a
capacidade de escolher por si só, mas a palavra de Deus
mostra-nos que já nos primórdios da história o homem
usa erroneamente a sua liberdade de escolha recém-
adquirida. Mesmo tendo ciência das palavras do
altíssimo, o homem escolhe desobedecer comendo do
fruto proibido, a desobediência entendida como pecado
cometido no Éden, parte do uso errado do livre
arbítrio. Deus havia dito para o homem não comer de
tal fruto, disse-lhe das implicações que teria se o fizesse,
~ 303 ~
todavia, não o impediu em momento algum. O direito
de escolha do homem não foi violado, a escolha do
homem que violou o pedido divino.
O homem é se sempre será livre para fazer suas
escolhas e seguir seus caminhos, todavia, jamais será
livre das consequências de cada escolha. Este pecado
cometido no Éden distanciou Deus do homem, o filho
tornou-se simples criatura. O homem feriu o coração
amoroso de Deus, ao ser afastado da presença da luz o
homem se fez trevas e escravo do pecado, e agora
pecador, sofre nas unhas do diabo. Ser esse, que no
princípio era tão belo anjo de luz, mas ao rebelar-se
contra o poder divino torna-se horrenda criatura
abismal de rabo e chifres.
No decorrer dos séculos o que se desenhou foram
inúmeras escolhas erradas, a exemplo de Adão,
escolhas que em dado momento quase colocou fim a
raça humana. Contudo, graças a Noé, Deus salvou a
raça humana da extinção. O mundo retomou o seu
caminho, e novamente, o caminho errado, mas dessa
vez não foi o dilúvio divino que quase deu fim a vida na
terra, foi à própria bestialidade do homem na sua
criação, bombas nucleares devastando cidades inteiras.
~ 304 ~
Não há Noé para nós salvar, a arca foi levada, e nós,
fomos deixados para trás, agora pagaremos o preço das
nossas escolhas, e a salvação será concedida somente
para aqueles que pagarem por ela com o próprio sangue
derramado.
A humanidade desconcertada descarrilhou-se dos
trilhos da sabedoria divina, se entregando aos obscuros
desejos de seus corações. O homem perdeu a sua
identidade original, trocou-a por uma forjada nas
profundezas do abismo. Os homens dos dias atuais se
esqueceram dos preceitos e do amor divino, se
aventuram por estradas tortuosas de prazeres
temporários, carregam o pesado fardo do pecado, cujo
pagamento final é a própria morte. Muitos da esfera
pública mundial que se diziam buscar a paz e um
mundo melhor fizeram armas de destruição em massa
para justificar essa falsa paz O que dizer dos milhares de
milhões que morreram por essas bombas. O que vou
dizer aos que ficaram para trás? O líder mundial
adornado de uma áurea de pacificação tem na verdade,
no fundo do seu olhar a guerra e a morte e o engano.
Ele diz trazer a paz, mas nós, os que ficamos bem
sabemos os seus verdadeiros planos. Você que nós
ouvimos, prestem atenção, fuja o quanto antes desse
~ 305 ~
tirano maligno, fujam enquanto podem. “A noite já está
presente, e nada mais poderá ser feito.”
De repente o sinal daquela estação sumiu e não
conseguimos mais sintoniza-la, as demais estações eram
de músicas e programas normais. Ficamos pensando no
que poderia significar aquelas palavras misteriosas.
─ O que vocês sabem a respeito? Perguntei-lhes.
─ Não sabemos nada a respeito do que se passa
fora da ilha, ficamos anos isolados, como se fossemos
fantasmas. Disse o Ananias.
─ Mas é o que nos somos! Fantasmas.
─ Eu não tenho ideia do que está se passando lá
fora, sei apenas de uma coisa, até conversei com o
Gustavo e os seus amigos, os caras que vieram do forte.
A melhor coisa a fazermos no momento é juntarmos
nossas forças e ficarmos aqui na ilha. Temos o que
precisamos a própria natureza nos serve, sem dizer que
nossos novos amigos querem nos ajudar. O Gustavo é
~ 306 ~
médico! Veja só, o Marcos é cozinheiro, o Jeová tem
conhecimentos em Agricultura, e o Antônio tem
conhecimento militares.
─ Caramba, era exatamente o que precisávamos
aqui na ilha.
─ É o que estou dizendo, com a ajuda deles não
vamos precisar mais negociar tantos peixes.
A ideia do Ananias era excelente, viveremos
isolados do mundo como sempre vivemos, agora mais
do que nunca, já que lá fora parece ser um lugar muito
perigoso.
~ 307 ~
FINAL.
ISMAEL NARRANDO.
Meses depois.
O tempo passou rápido na ilha, no começo não
foi nada fácil, tivemos muito trabalho para reconstruir a
vila dos pescadores. Usamos madeiras da para construir
as casas, uma técnica antiga, mas muito eficiente. A
técnica consiste em colocar madeiras entrelaçadas
formando pequenos quadrados, esses quadrados são
preenchidos com argila vermelha, essa é a técnica de
contrição das paredes. Na ilha existe bastante desse tipo
de argila. As casas ficaram lindas, pintamos todas elas
com um tipo de barro branco onde é possível fazer uma
espécie de tinta natural. Fizemos um total de cinquenta
casas, todas em estilos parecidos.
~ 308 ~
O Ananias continua sendo o nosso líder, o padre
Lair infelizmente faleceu, foi uma grade perca que
deixou todos entristecidos. Continuamos a pescar, mas
diferente de antes, pescamos apenas o necessário para o
dia a dia, Ananias decidiu não fazer mais negócios com
o barqueiro, aconselhado pelo Gustavo, que agora
passou a ser o médico da nossa vila, por motivos de
segurança não temos contato com ninguém fora da ilha,
a única pessoa que chegou a ilha em um pequeno
barco, foi uma mulher por nome Marta, ao que parece,
é a irmã do Gustavo. O Marcos nos ajuda a preparar
pratos práticos com aquilo que o mar e a ilha oferecem.
Já o Jeová passou a ser um líder espiritual, o Antônio
ajuda o Ananias em quase tudo. Dessa forma criamos a
nossa própria sociedade na ilha.
Conseguimos melhorar o nosso rádio, mas a
bateria não durou por muito tempo, a única bateria
nova e com carga é a do barco que veio a Marta, a
utilizamos uma única vez por semana para sabermos
notícias do mundo exterior. Mundo esse que não
mudou o líder mundial Macaluzo, está sendo
ovacionado como um deus na terra, todos se dobraram
aos seus pés, mas o Jeová nos disse que ele é uma farsa,
alguém com intenções nada amigáveis. Por isso não
~ 309 ~
devemos acreditar no que ele diz. Não sabemos o que o
futuro nos aguarda, talvez ele nem exista, mas enquanto
estivermos aqui, unidos, seremos fortes. Eu sei que mais
cedo ou mais tarde, o líder mundial vai nos encontrar, e
quando esse dia chegar, ele não trará flores. Mas por
enquanto fingimos que esse dia nunca chegará.
Vou terminar minha narrativa de hoje neste
pequeno diário com uma mensagem que ouvi no rádio
outro dia. Ela diz assim:
“Deus é infinito eterno e auto - existe, Nunca houve um
momento que Deus não existisse como diz Moisés. "
Antes que os montes nascessem, ou que tu formasse a
terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és
Deus. “Ele é anterior a toda criação, tanto no céu como
na terra, Deus está acima de tudo”.
Deus se revela como um ser pessoal que criou
"Adão e Eva." E foi criada a imagem do criador, de
forma que podiam se comunicar com ele de modo
amoroso e pessoal. O criador também se revelou de
modo moral, criando tudo de bom, ou seja, sem
pecado. Ao terminar a obra da criação Deus observou
~ 310 ~
que tudo o que ele havia criado era bom, o homem foi
colocado no jardim do Éden, o homem era perfeito,
sem Mancha, e caminhava com Deus nos fins de tarde.
Deus criou todas as coisas. “Céus e terra". O
verbo criar é de uso exclusivo de Deus, somente o
criador pode realizar tal grandeza, isso significa que,
num momento específico, Deus criou a matéria e a
substância, o que não existia até então passou a ter
existência. A Bíblia diz em Gênesis, que no princípio da
criação a terra era informe, vazia e coberta de trevas,
naquele momento o universo não tinha forma ordenada
como tem agora. O mundo estava vazio, sem nenhum
ser vivente, e destituído do mínimo vestígio de luz,
depois dessa etapa Deus criou a luz para dissipar as
trevas, deu forma ao universo, encheu a terra de seres
viventes. O método usado por Deus foi o poder da sua
palavra, repetidas vezes Está declarado. “E disse
Deus..." Em outras palavras, Deus falou e tudo passou
a existir, antes dessa palavra criadora nada existia.
Toda a trindade, não apenas o pai desempenhou
a sua parte na criação. Jesus é esta palavra poderosa
através do que Deus criou tudo. Deus tinha razões para
criar o mundo, os céus e a terra, tudo reflete a glória e a
~ 311 ~
majestade e o poder divino. Deus criou os céus e a terra
para receber a glória e a honra que lhes são devida.
Tudo o que existe neste planeta, de plantas a animais e
seres humanos, tudo rende louvores ao Deus que os
criou. Portanto é inegável a existência de Deus, não
somos frutos da evolução, não viemos do macaco como
dizem os cientistas, eles nada conhecem, não percebem
a grandeza de Deus nas menores e mais simples coisas
existentes no nosso planeta.
Os evolucionistas não creem em Deus, para eles
somos o resultado da evolução da espécie. Darwin é o
principal nome que vem na cabeça de qualquer pessoa
quando se fala em evolução, mas o que poucos sabem é
que o próprio Darwin, pai da teoria da evolução, antes
de morrer, admitiu que estivesse equivocado, que a sua
teoria sobre evolução não tinha provas e nem
fundamentos, porém, ninguém quis ouvi-lo, prefiram o
que ele já havia dito ou escrito. Darwin no fim da vida,
segundo dizem, tornou-se um Cristão, desmentindo
tudo o seu trabalho, mas era tarde demais, o mundo
ateísta abraçou suas ideias e difundiram suas teorias
mundo a fora como se fossem verdades. É interessante
que a mentira se espalha muito mais rápido do que a
verdade. Poucas pessoas sabem dessa história de
~ 312 ~
Darwin, a sua mentira foi perpetuado pelo diabo, o
personagem mais obscuro de todos os tempos.
Por trás da história comum esse personagem
sombrio planejou e construiu os seus planos malignos,
ele se escondeu no jardim do Éden, assim como ele se
esconde por trás da história, ele enganou Eva no
paraíso, plantou no coração do homem o pecado e a
rebeldia. Induziu Caim a matar o próprio irmão. Estou
falando daquele que um dia foi chamado de anjo de luz,
ele era o regente do coro celestial, cheio de beleza e
esplendor, mas em determinado momento, o seu
coração se corrompeu, a sua beleza ofuscou sua
inteligência, Lúcifer achou que poderia colocar-se como
Deus, ele desejou a adoração para si próprio, mas o
criador não divide sua gloria com a criatura, Lúcifer é
uma criatura, ele foi criado por Deus, assim como o
homem foi. Sua rebeldia e rebelião arrastaram muitos
dos anjos que estava no céu, anjos que se deixaram levar
pelas mentiras desse anjo caído.
Antes da manifestação de Lúcifer, havia paz e
alegria por todo o universo, o amor de Deus era
supremo. Cristo era um com o pai em natureza, caráter
e propósito. __ O único que poderia entrar nas decisões
~ 313 ~
e propósitos de Deus é Jesus Cristo. “Nele foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou
autoridades, todas as coisas foram criadas por ele e para
ele”.
Houve, porém, alguém, que preferiu deturpar a
liberdade divina. O pecado se originou com aquele que
depois de Cristo, havia sido o mais honrado por Deus.
Antes do pecado Lúcifer era o primeiro dos querubins
guardiões, santo e puro . As honras concedidas a
Lúcifer não despertou nele gratidão a Deus, mas o
desejo de ser iqual a Deus, o resultado da sua rebelião
foi a sua expulsão do céu.
Sendo assim, durante todo o decurso dos anos e
séculos, a serpente que é o diabo, manipulou e
manipula a vida das pessoas, suas atitudes, suas
vontades, Darwin, no meu ponto de vista, durante anos
da sua vida foi instrumento do diabo para desacreditar a
existência de Deus, quando Darwin felizmente se vê
livre das garras do anjo caído, as suas ideias já tinham
sido difundidas e absorvidas.
Uma coisa é certa, creia os leitores ou não, é um
direito que assiste cada leitor, o de crer ou não na
~ 314 ~
existência de Deus, do céu e do inferno, e do diabo,
mas independente de acreditar ou não, o céu existe, o
inferno também, assim como Deus e o diabo. Portanto,
quero dizer que estamos diante de uma escolha, de dois
caminhos, ou é o céu ou é o inferno, ou é Deus ou o
diabo. Perdoe-me os ateus, mas definitivamente eu me
recuso a crer que vocês não acreditam em Deus, me
atrevo a dizer que vocês acreditam mais do que muitas
pessoas que conheço, que andam por aí com bíblia e
titulo, mas que na verdade não tem nada no coração
além de um abismo enorme. Os ateus são
simplesmente pessoas magoadas são infelizes, pessoas
confusas. Coloque qualquer ateu em um avião que
esteja caindo, tenho certeza que ele clamará por Deus
com todas as forças do coração.
Que Deus nos abençoe, e nós de a sua paz e
tranquilidade, em tempos tão turbulentos que se
mostram tão difíceis.
~ 315 ~
~ 316 ~