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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO REGIONAL DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA LÚBIA APARECIDA SANTOS O CENTRO E AS NOVAS CENTRALIDADES: considerações a partir dos circuitos da economia urbana na cidade de Caicó/RN CAICÓ/RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO REGIONAL DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

LÚBIA APARECIDA SANTOS

O CENTRO E AS NOVAS CENTRALIDADES:

considerações a partir dos circuitos da economia urbana

na cidade de Caicó/RN

CAICÓ/RN

2015

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LÚBIA APARECIDA SANTOS

O CENTRO E AS NOVAS CENTRALIDADES:

considerações a partir dos circuitos da economia urbana

na cidade de Caicó/RN

Monografia apresentada ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientadora: Profª. Ms. Sandra Priscila Alves

CAICÓ/RN

2015

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LÚBIA APARECIDA SANTOS

O CENTRO E AS NOVAS CENTRALIDADES:

considerações a partir dos circuitos da economia urbana

na cidade de Caicó/RN

Aprovado em: _____/_____/________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Profª. Ms. Sandra Priscila Alves

Orientadora

___________________________________________________________________

Profª. Drª. Jeane Medeiros Silva

Examinadora

__________________________________________________________________

Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho

Examinador

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Dedico este trabalho à minha avó paterna, Maria Segunda (in memoriam). À minha avó materna, Dalvaci Batista por todo o carinho e orações. À minha mãe, Danúbia Araújo, pelo amor incondicional.

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AGRADECIMENTOS

Esta parte do trabalho não tem o caráter científico esboçado no decorrer dos

capítulos, mas sim, o pessoal. Os agradecimentos aqui escritos revelam um pouco

do caminho percorrido por mim para a construção desta pesquisa e as contribuições

dos meus amigos, da minha família e dos meus mestres, que foram essenciais.

No primeiro momento, gostaria de agradecer a Deus, fonte de sabedoria e

luz. Agradeço pela saúde e pela força que pedi incansavelmente dia após dia. Por

não ter me deixado desaminar, mesmo estando cansada após os difíceis dias de

trabalho. Obrigada também pela sabedoria que me concedestes Senhor. Eu te

agradeço e confiarei sempre em ti!

Agradeço à minha mãe, Danúbia Araújo, pela força, pelo carinho e pelo

cuidado que me dedicou todos esses anos, ainda mais no período que me empenhei

no aprendizado da ciência geográfica. Obrigada mãe, você é um anjo de Deus na

terra! Agradeço ao meu pai, Luiz Antônio, e ao meu irmão, Luan Santos, pelas ideias

que me ajudaram a perceber a problemática da pesquisa e as indicações das

melhores formas de dedicar minhas poucas horas do dia para estudar. Vocês são

demais!

Ao meu primo Pablo Lucas, pelas contribuições nas pesquisas de campo.

Pela atenção comigo e com meu trabalho. Por sempre me perguntar como poderia

me ajudar e pelas vezes que me ajudou. Ao meu primo Alysson Adi, também

agradeço pela companhia nas pesquisas de campo e pelas contribuições e dicas de

fotografia! Também agradeço ao primo João Wendell, pelo apoio nos momentos que

precisei conciliar o trabalho e o curso. Obrigada primos!

Ao meu ex-chefe, Janilson Cezar, agradeço pelos ensinamentos da vida,

mas também os profissionais. No período em que fui estagiária no COPOM – 6º

BPM tive o privilégio de trabalhar contigo e aprender não somente estatística, mas

também outras grandes lições que pude utilizar também neste trabalho. Muito

obrigada!

Agradeço ao meu namorado, Geoger Alves, pelo esforço em me ajudar “nos

campos da vida geográfica” durante os últimos quatro anos que me dediquei a esta

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ciência. Também quero agradecer pela paciência que teve comigo nos momentos

difíceis e o carinho que me dedica diariamente. Obrigada Gê!

Quero agradecer às minhas colegas de classe, que se tornaram grandes

amigas e fazem parte do “trio fantástico”: Alexsandra Andrade e Abigail Rute. Quero

agradecer ainda mais à Sandrinha, pelas contribuições de vida e pelos “achados

científicos” que sempre fez questão de me enviar durante a construção desta

pesquisa. Obrigada por me aguentarem sempre, por terem dividido as tarefas e as

discussões, mas também pelo carinho durante os últimos quatro anos. Amo vocês,

xuxus. Obrigadão!

Também quero agradecer aos demais colegas da classe (2015.1), aos meus

colegas de trabalho, aos amigos e aos professores que passaram por minha

formação. Em especial, ao professor Vitor Hugo, gostaria de agradecer pelas aulas e

dicas de cartografia. Foram importantíssimas na construção da base cartográfica

deste trabalho. Obrigada pela força que me dedicaram e pela preocupação que

tiveram comigo. Vocês são ótimos!

Agradeço também aos amigos Josemilson Jonas e Thainara Santos por me

ajudarem nas fotografias, substanciais à pesquisa. Também gostaria de agradecer

às pessoas que foram consultadas nas pesquisas de campo, pelas trocas de ideias

e pela disponibilidade que tiveram comigo.

Não posso deixar de agradecer à Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, campus Caicó. Este lugar de troca de conhecimento foi importantíssimo no

decorrer dos últimos quatro anos. Foi ali que pude conhecer-me e conhecer também

novos pensamentos. Aprendi a enxergar o mundo a partir da Geografia, mas

também a respeitar e entender os outros tantos tipos de personalidades a partir do

convívio na universidade. Foram experiências diárias significativas. E que não sejam

as últimas!

Finalmente, eu quero agradecer imensamente à minha mestre e orientadora

Sandra Priscila Alves. Obrigada por me indicar o melhor caminho científico a

percorrer neste último ano, desde o projeto de pesquisa até a conclusão da

monografia. Obrigada por abraçar este trabalho juntamente comigo e por me ensinar

tantas outras lições. Obrigada pelo carinho dedicado a mim e à minha pesquisa!

Você é sensacional, como pessoa e como profissional. Uma flor!

A todos vocês dedico o meu carinho, o meu respeito e o meu OBRIGADA!

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A cidade é o lugar em que o Mundo se move mais; e os homens também. A co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade é o lugar da educação e da reeducação. Quanto maior a cidade, mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa a co-presença e também maiores as lições e o aprendizado (SANTOS, 1996, p. 40).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso se remete ao espaço urbano de Caicó/RN, cujo objetivo geral foi interpretar suas formas de espacialização comercial e de serviços evidenciadas a partir da teoria dos circuitos da economia urbana. Após o processo de urbanização, com ênfase na expansão urbana de 1970, são destacados as ações e os objetos inseridos na forma de concentração na urbe caicoense. O espaço geográfico, entendido como banal (espaço de todos os homens e todos os fenômenos) e os diversos usos do território são elementos chave dessa interpretação. A partir dessa interrelação de conceitos são evidenciados e percebidos os processos de concentração e centralidade exercidos no bairro Centro, principalmente pelos agentes do circuito superior, mas também pelo circuito inferior. Este subespaço é caracterizado como o mais dinâmico e luminoso da urbe para o uso comercial. Os atores hegemônicos também agem e adjetivam o espaço central como de alto status. Em contrapartida, também foram evidenciados a partir da expansão urbana os processos de periferização e uma tentativa de descentralização comercial de forma espontânea pelos agentes do circuito inferior nos subespaços opacos da urbe. Estes agentes do circuito inferior periférico não promovem a mesma espacialização comercial quando se compara ao processo no centro, mas não se podem negligenciar os dinamismos da economia e do território periférico. Aliado a essa intensa fragmentação do espaço urbano caicoense foi indicada à coexistência também do processo de segregação socioespacial. De um lado, os atores hegemônicos agem nos subespaços concentrados (os luminosos) e promovem a sua autossegregação. Do outro, os não hegemônicos sobrevivem a partir de variadas estratégias nas descontinuidades periféricas (os subespaços opacos) e são indicados como os segregados da urbe. Tem-se, pois, uma cidade profundamente desigual e fragmentada evidenciada a partir da localização dos circuitos da economia urbana. Entende-se que a cidade não está dividida em duas, mas em várias parcelas. Finalmente, a insuficiência no direcionamento das ações do Estado (incluindo o poder público municipal) é percebida. A lei e os dispositivos constitucionais que indicam que todos os homens têm direito ao uso da cidade em sua totalidade são questionados. O espaço urbano capitalista caicoense é território no qual os hegemônicos concentram-se na forma de centralidade urbana e os agentes não hegemônicos são afastados da concentração em direção às periferias. O mercado e o consumo pensados neste período globalizado, a partir do meio técnico-científico-informacional, mostram que nem todas as parcelas e todas as pessoas têm acesso à totalidade citadina. Os circuitos da economia urbana e os conceitos que são discutidos neste trabalho evidenciam tais processos.

Palavras-chave: Circuitos da economia urbana; concentração; centralidade; subespaços opacos e luminosos; Caicó/RN.

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ABSTRACT

The course completion work refers to the urban space of the Caicó/RN, whose general objective was to interpret its spatial forms of commercialization and evidenced services from the theory of the urban economy circuits. After the urbanization process, with emphasis on urban expansion from 1970, the actions and objects inserted in the form of concentration in caicoense city are highlighted. The geographical space, understood as banal (a space of all the people and phenomena) and the various uses of the territory are elemental keys for that interpretation. From this concepts interrelation are evidenced and perceived the merger and centrality exercised within the Central neighborhood, especially the upper circuit agents, but also by the lower circuit. This subspace is characterized as the most dynamic and iluminated for commercial use. The hegemonic agents also act and characterize the central space as the high class. In return also were evidenced, from the urban expansion, the processes of peripherization and a attempt to a commercial decentralization spontaneously by the agents of the lower circuit in opaque sub-areas of the city. These peripheral agents of the lower circuit do not promote the same spatial distribution of trade, when compared to the process in the center. But that can not neglect the dynamics of the economy and the peripheral territory. Allied to this intense fragmentation of urban space caicoense was appointed to the co-existence also of socio-spatial segregation process. On the one hand, the hegemonic agents acts in concentrated subspaces (the illuminated) and promote its self-separation. On the other hand, the non-hegemonics survive from varied strategies in peripheral discontinuities (opaque subspaces) and are indicated as segregated of the city. There is, therefore, a profoundly unequal and fragmented city evidenced from the location of the urban economy circuits. It is understood that the city is not divided in two, but in various parts. Finally, the failure in the directing of the actions of the state (including the local government) is perceived. The law and the constitutional provisions that indicate that all men are entitled to use the city as a whole are questioned. The capitalist urban space of Caicó is a territory in which the hegemonic are concentrated in the form of urban centrality and the non-hegemonic agents are removed from the concentration towards the periphery. The market and the consumption planed in this globalized period, from the technical-scientific-informational milieu, shows that not all the plots and people have access to the entire city. The urban economy circuits and the concepts that are discussed in this research show such processes. Key words: urban economy circuits; concentration; centrality; opaque and illuminated subspaces; Caicó/RN.

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LISTA DE FIGURAS

1 – As bodegas periféricas e os supermercados centrais.................................... 35

2 – Fluxograma. Dependência e complementariedade entre os circuitos........... 36

3 – O Seridoense. Edição de 08 de outubro de 1926.......................................... 40

4 – Caicó. Centro da cidade, década de 20 do século passado.......................... 41

5 – Caicó. Av. Coronel Martiniano em 1942......................................................... 42

6 – Caicó. Av. Seridó. Década de 1920................................................................ 43

7 – Caicó. Rodoviária municipal na Rua Renato Dantas, centro da cidade......... 44

8 – Caicó. Mancha urbana em 1950, caracterizando o processo de

concentração urbana no bairro Centro................................................................. 46

9 – O circuito inferior sob duas rodas. Praça de mototáxi na cidade de

Caicó.................................................................................................................... 55

10 – Caicó. Mancha urbana em 1970, caracterizando o processo de expansão

urbana caicoense................................................................................................. 63

11 – Divisão entre bairros do perímetro urbano caicoense.................................. 66

12 – Ambulantes. Antiga praça da alimentação da cidade. Um novo uso do

território pelo circuito inferior nas proximidades da Av. Coronel Martiniano........ 67

13 – Um espaço destinado aos hegemônicos. Prédio localizado na Av. Coronel

Martiniano............................................................................................................. 69

14 – Caicó. Centro, área de entorno e periferias em 1970.................................. 72

15 – Av. Dr. Rui Mariz no bairro Boa Passagem. Exemplo de valorização

diferencial do espaço urbano............................................................................... 78

16 – Circuito inferior residencial. Ateliê de costura.............................................. 81

17 – Circuito inferior. Novas estratégias de publicidade e propaganda............... 84

18 – Circuito inferior. Copresença de agentes e atividades distintas no mesmo

estabelecimento...................................................................................................

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19 – Novos fixos e novos fluxos. Um passo para a descentralização

comercial? O “Caicó Shopping”...........................................................................

87

20 – As contradições do urbano capitalista. A localização dos segregados

versus a localização dos autossegregados.......................................................... 102

21 – As melhores condições em fluxos da cidade: o bairro Centro..................... 105

22 – As péssimas vias e o transporte “coletivo” encontrado nas periferias......... 107

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LISTA DE GRÁFICOS

1 – Divisão dos cadastros comerciais por bairros junto ao CDL

Caicó.................................................................................................................... 97

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LISTA DE MAPAS

1 – Caracterização espacial. Perímetro urbano do município de Caicó/RN........ 20

2 – Núcleo central do bairro Centro: Avenida Coronel Martiniano e Avenida

Seridó................................................................................................................... 48

3 – Atividades do circuito superior na forma de concentração e centralidade

urbanas – Av. Coronel Martiniano........................................................................ 50

4 – As lotéricas e os correspondentes bancários na urbe caicoense.................. 53

5 – Eixos de valorização diferencial na urbe caicoense....................................... 80

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LISTA DE QUADROS

1 – Comércios e serviços qualitativo-quantitativos espacializados no centro da

cidade. Os circuitos inferior e superior dividem o mesmo

território................................................................................................................ 54

2 – Localização das faculdades (presenciais e EAD), institutos e universidades

na cidade de Caicó............................................................................................... 56

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LISTA DE SIGLAS

ACISC – Associação Comercial, Industrial e Serviços Lojistas

BB – Banco do Brasil

BDC – Bradesco

BNB – Banco do Nordeste

BPM – Batalhão de Polícia Militar

CARDAN – Centro Educacional Dr. Carlindo Dantas LTDA – ME

CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas de Caicó

CEF – Caixa Econômica Federal

CERES – Centro Regional de Ensino Superior do Seridó

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

COPOM – Central de Operações da Polícia Militar

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

CVLI – Crimes Violentos Letais Intencionais

EAD – Educação á distância

FADIRE – Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional

FAIBRA – Faculdade Integrada do Brasil

FCS – Faculdade de Teologia Cardeal Eugênio Sales

FCST – Faculdade Católica Santa Terezinha

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FUNESO – Fundação de Ensino Superior de Olinda

FVJ – Faculdade Vale do Jaguaribe

GEU – Grupo de Estudos Urbanos

GPS – Global Positioning System

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte

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MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SESC – Serviço Social do Comércio

SIG – Sistema de Informações Geográficas

SINDICOMÉRCIO – Sindicato do Comércio Varejista de Caicó

SIRGAS 2000 – Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas

SPA – Sucesso Publicações e Acessoria

SPC – Sistema de Proteção ao Crédito

SUS – Sistema Único de Saúde

UEPB – Universidade Estadual da Paraíba

UERN – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte

UFC – Universidade Federal do Ceará

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNIDERP – Universidade Anhanguera

UNIP – Universidade Paulista

UNOPAR – Universidade Norte do Paraná

UNP – Universidade Potiguar

UVA – Universidade Estadual Vale do Acaraú

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LISTA DE TABELAS

1 – População urbana e rural de Caicó (1950-2010)........................................... 61

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 18

2 PENSANDO A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA

E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO: o centro da cidade de Caicó......... 27

2.1 A cidade como objeto de estudo........................................................... 28

2.2 A teoria dos circuitos da economia urbana............................................ 30

2.3 Caicó: “uma cidade comercial”............................................................... 37

2.4 Concentração e centralidade comercial em parte da urbe: o bairro

Centro.............................................................................................................. 46

3 A EXPANSÃO URBANA CAICOENSE E OS PROCESSOS DE (DES)

CENTRALIZAÇÃO COMERCIAL..................................................................... 59

3.1 Os processos de urbanização e expansão na urbe caicoense............. 60

3.2 Periferias versus centro: os papéis do Estado e dos agentes

hegemônicos no processo de centralidade urbana......................................... 65

3.3 O circuito inferior da economia: um olhar qualitativo de suas formas

espaciais no espaço urbano caicoense........................................................... 75

4 OS SUBESPAÇOS OPACOS E LUMINOSOS DA URBE

CAICOENSE: a segregação socioespacial como elemento de

análise.............................................................................................................. 90

4.2 A segregação socioespacial.................................................................. 91

4.3 A segregação socioespacial e os subespaços opacos e luminosos

como elementos interrelacionados na cidade caicoense............................... 95

4.4 As contradições do espaço urbano capitalista caicoense: a

população e o direito ao uso da cidade...........................................................

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 113

6 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 119

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1 INTRODUÇÃO

O exame de como funcionam as dinâmicas sociais no espaço geográfico, a

partir dos objetos e ações, fornecem dados importantes à compreensão da ciência

geográfica. Este trabalho de conclusão de curso trata da concentração do comércio

e dos serviços, entendidos a partir da teoria dos circuitos da economia urbana, tendo

como recorte de estudo empírico a cidade de Caicó.

Sabe-se que o século XX foi marcado por intensas transformações

econômicas, sociais, culturais e políticas, e não diferente dele está sendo o primeiro

quartil do século XXI. Com isso, diferentes abordagens teóricas das ciências

humanas foram elaboradas sobre o processo de urbanização. Muitas dessas

abordagens trataram de entender a produção do território como um conjunto de

conteúdos e formas, construído e reorganizado a partir do processo de urbanização

atrelado à economia. Ou seja, a produção do território foi pensada e realizada por

meio de inúmeras variáveis, sendo a economia uma delas.

Além do processo de urbanização, o espaço geográfico também é espaço

para outros processos que se materializam e tornam-no um espaço banal. A partir

da contribuição de Santos (1996; 1999), o espaço banal é entendido como sinônimo

de um espaço utilizado por todos, ou seja, todos os tipos de empresas, todas as

instituições e pessoas. Por isso, o espaço urbano caicoense pode ser considerado

um espaço banal, porque nele coexistem diversos agentes sociais (hegemônicos e

não hegemônicos) que se apropriam a partir de seus usos com diferentes atividades

comerciais e de serviços, inferiores e superiores (SALVADOR, 2012b). Assim, o

espaço urbano caicoense é um espaço de reflexões geográficas e se constitui como

recorte empírico desta pesquisa.

Um dos papéis da Geografia empregado neste trabalho foi utilizar uma das

categorias de análise do espaço geográfico: o território, ou seja, o que se

materializa, o concreto. Materializa-se porque nele se concretizam os

desdobramentos sociais (as ações e os objetos), e por isso, a teoria e a empiria não

são tomadas como abstratas, mas sim, reais.

Como disse Santos (2004), o impacto modernizador é seletivo, tanto a nível

nacional quanto aos níveis regional e local. Entender como tais dinâmicas alteram a

economia, a sociedade e a organização do território é uma problemática geográfica.

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Interpretar como acontece tal fenômeno, neste período globalizado, sendo

parte integrante do processo de modernização tecnológica, torna-se parte

fundamental para o entendimento da criação, desorganização e reorganização do

território.

Neste trabalho, se reconhece o crescimento da cidade e os desdobramentos

da sociedade sobre ela. Com isso, diversas abordagens geográficas foram

importantes, com preferencial estudo sobre as cidades brasileiras, cuja delimitação

espacial do trabalho se restringe à cidade de Caicó.

É conveniente destacar, de início, que é um papel difícil e arriscado tentar

interpretar a fundo tais mudanças que acontecem em tempo real e entender as

novas realidades, porém, entende-se aqui, que este é o papel do geógrafo enquanto

pesquisador.

Para isso, foi importante relacionar e entender as ações e os objetos

inseridos no urbano caicoense, imprescindíveis para o entendimento da relação

sociedade-território. Atualmente, o território também ganha novos usos, mas foram

superpostos sobre os antigos. É por isso que a interpretação das ações e dos

objetos inseridos na cidade no decorrer do processo de urbanização se faz

importante na análise, visto que, no decorrer do tempo, o território ganha novos

conteúdos a partir da ciência, da tecnologia e da informação (SANTOS; SILVEIRA,

2003).

Localizado no centro-sul do estado do Rio Grande do Norte (FARIA, 2011), o

município de Caicó tem uma área de unidade territorial que ocupa 1.228,583 km²,

com densidade demográfica de 51,04 (ha/km²) e população de 62. 709 habitantes,

tendo 57.461 habitantes residindo na zona urbana e 5.248 habitantes residindo na

zona rural (Censo 2010). Já a estimativa populacional para o ano de 2015 é de

67.259 habitantes (IBGE, 2015).

Vale destacar que a pesquisa tende a investigar uma problemática do

urbano caicoense, e, por isso, não compreenderá todo o recorte municipal. Mas, não

se pode negligenciar tais informações sobre o município, além de definir o número

populacional urbano que se faz imprescindível nesta pesquisa.

O recorte que identifica o empírico do trabalho está exposto no mapa 1.

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Mapa 1 – Caracterização espacial. Perímetro urbano do município de Caicó/RN.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas malhas digitais do IBGE.

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O recorte empírico assiste a pesquisa para o entendimento e

reconhecimento da teoria dos circuitos da economia urbana e seus diversos usos no

território caicoense, como também, a relação das ações e dos objetos inseridos na

cidade de forma intencionada, principalmente após o processo de urbanização. Além

de evidenciar que, por meio desses processos, o urbano caicoense é espaço de

tantas outras tendências, como: concentração e centralidade urbana, periferização e

uma tentativa de descentralização comercial e de serviços, a formação ou o

aprofundamento dos subespaços opacos e luminosos, além de evidenciar que o

território também é espaço da segregação socioespacial. Isso porque se entende

que o espaço citadino caicoense, como tantos outros, é espaço de remodelação a

partir dos desdobramentos sociais e sendo por isso um espaço banal (de todos)

como já explicitado.

Com base na teoria escolhida, busca-se entender os diversos usos (ações)

que se se manifestam de forma concreta (objetos) no território caicoense a partir da

espacialização comercial e de serviços. Essa espacialização tende a ser

intencionada na urbe caicoense, sendo o centro da cidade o espaço escolhido para

tal processo. Nisto, levanta-se uma questão central no trabalho: em que medida as

atividades comerciais e de serviços, provenientes dos circuitos da economia urbana

(circuito superior – incluindo sua face marginal e o circuito inferior) se aglomeraram

preferencialmente na zona central da cidade, principalmente no que se refere ao

bairro Centro? Como os indivíduos dos bairros periféricos lidam com a necessidade

de deslocamento em direção a concentração e centralidade urbana para resolverem

questões básicas como: os serviços bancários, de saúde, educação, uso das

farmácias, supermercados etc?

A hipótese para que a concentração comercial e de serviços ligada aos

circuitos da economia urbana esteja presente de forma mais significativa no centro

de Caicó se faz por duas principais questões. Primeiramente, pelo centro ter sido o

primeiro espaço a se esboçar como bairro nesta cidade, construído a partir de um

evento1 no sentido de esboçar no território um objeto de função religiosa (Igreja de

1 O nome evento por mais que desperte a ideia de festa também pode ser entendido como uma ação

ou a construção de um fixo/objeto. Os eventos são sempre novos e podem ser exemplificados como: a construção de uma ponte, igreja, hospital etc. O novo objeto é tido como um evento quando produz dinamicidade e novos fluxos/usos no território (SANTOS, 1996). A igreja é, pois, pensada como um evento importante no processo de urbanização.

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Nossa Senhora Sant’Ana) e, posteriormente, novos fixos de função residencial ao

seu redor. Segundo, pelo município caicoense ter se tornado um espaço referencial

para a produção da cotonicultura e da pecuária. Ligado à produção no campo, o

espaço urbano se destacou pela etapa de comercialização do binômio gado-

algodão, no qual se destaca que foi o início significativo da expressão comercial

incorporada por esta cidade. Sendo assim, a ênfase na hipótese da concentração

comercial no centro se desdobra a partir do consumo e do mercado (ações que se

manifestaram e dinamizaram o espaço urbano caicoense) e podem ter sido capazes

de gerar objetos e fluxos importantes neste espaço da cidade, desde o processo de

urbanização até os dias atuais.

Ligada à importância de analisar as necessidades de consumo da

população, também se faz necessário entender a distribuição e espacialização do

comércio e dos serviços, posto que, consumir e vender são verbos que representam

a “cadeia” de mercado. Nisto, não se interessa que o enfoque sobre o mercado seja

pensado apenas com concepções econômicas, mas também, a ideia de mercado

que se revela neste período globalizado, a partir do período técnico-científico-

informacional (FARIA, 2011). Por isso, pode ser explicado a partir de concepções

geográficas, dado que, trata-se de formas particulares de comando e de uso do

território (SANTOS, 1989).

Os fundamentos gerais para a construção deste trabalho estão ancorados

na necessidade de estudo sobre a abrangência espacial das relações comerciais e

sociais na cidade de Caicó. Essa discussão teórica que se faz aqui é parte de um

conjunto constituído por poucos trabalhos, ainda pioneiros, aliando essa temática

(circuitos da economia urbana) ao território caicoense. Assim como indicou Salvador

(2012b) foram encontradas poucas obras que, realmente, estudam essa teoria

aplicada à cidade de Caicó, a partir de uma visão geográfica de fato. A construção

desse dilema se remete a pouca variedade de trabalhos referente à cidade estudada

e a teoria dos circuitos da economia urbana, com ênfase na análise da concentração

de atividades comerciais e de serviços.

Neste viés, Salvador (2012b, p. 56) diz que: “É preciso deixar os pré-

conceitos de lado e trabalhar a teoria dos dois circuitos da economia urbana de

acordo com o período atual [...]” Mostrando assim, sua importância no cenário em

que se vive, seja para criticá-la e oferecer dados na tentativa de requalificar a teoria,

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ou ainda, para servir de ferramenta ao planejamento urbano da cidade. Por isso, é

importante dizer que este trabalho pode ser uma ferramenta de continuidade para os

estudos sobre a cidade caicoense, como também para os estudos das cidades

potiguares.

Para a efetivação do trabalho, foram realizados os seguintes procedimentos

teórico-metodológicos: pesquisa bibliográfica, revistando, no acervo físico da

biblioteca setorial do Centro Regional de Ensino Superior do Seridó (CERES).

Acervos digitais de universidades brasileiras, como a Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade

Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). No acervo digital de diversos

sites de revistas científicas de Geografia, como: Diplomatique, Espacialidades,

Mercator, GeoUECE, GeoUERJ, RA’E GA, Sociedade & Natureza, Sociedade e

Território, Tamoios e Venezolana, na tentativa de encontrar pesquisas científicas

referentes à temática abordada nesta e/ou abordagens complementares ao tema.

Neste levantamento bibliográfico e revisão bibliográfica, destacam-se obras

importantes de autores, como Arroyo (2008), Azevedo (2014), Carlos (2007), Corrêa

(1995; 2011; 2013), Faria (2011), Montenegro (2010; 2012; 2013; 2014), Morais

(1999; 2005), Salvador (2012), Santos (1989; 1992; 1996; 1999; 2003; 2004; 2005;

2006), Sposito (2000; 2003), dentre outros. Estes e outros tantos autores e suas

discussões foram importantíssimos na compreensão sobre a realidade urbana das

cidades dos países pobres, como também, dos diversos usos do território na cidade

capitalista. Após as consultas houve um processo de leitura e fichamento desses

trabalhos, na tentativa de retirar as principais concepções dos textos, os quais

serviram de base teórico-metodológica para a composição deste trabalho.

As pesquisas realizadas em bancos estatísticos, nos sites do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE) foram substanciais. As informações coletadas foram relevantes e contribuíram

para o entendimento sobre a divisão social e territorial do trabalho, como também de

outras informações, relacionadas à cidade de Caicó.

Também foram realizadas pesquisas de campo, com a aplicação de

entrevistas semi-estruturadas e de fotografias, além da coleta de coordenadas

geográficas no período entre março a outubro de 2015.

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As entrevistas semi-estruturadas contiveram perguntas pré-definidas, mas

foram sempre readaptadas no curso em que surgiam outras questões, no decorrer

dos diálogos. Estas foram importantes para entender à problemática do proposto

trabalho. Também não tiveram aspecto quantitativo, mas qualitativo. Foram

encerradas no momento em que houve repetições nas respostas e quando os

agentes sociais exemplificaram algumas questões até então não percebidas a partir

das leituras. Os diálogos com a população se complementam com as discussões

científicas dos autores destacados anteriormente.

A construção do acervo fotográfico foi outra ferramenta importante para esta

pesquisa. Elas revelaram fatos concretos e caracterizam (na imagem) os processos

que foram discutidos no decorrer do trabalho, podendo servir tanto para as análises

do presente como para análises futuras. As fotografias exemplificam as divisões

territoriais e as formas do território caicoense. Por isso, o uso da fotografia foi

indispensável, pois evidencia as diversas características do processo de

modernização e territorialização existentes na cidade de Caicó.

As coletas das coordenadas geográficas foram realizadas em pontos já

diagnosticados previamente com a pesquisa de campo, entrevistas e fotografias.

Foram realizadas com o uso de GPS – Global Positioning System, modelo Garmim

Etrex e estão representadas na pesquisa através dos mapas. Para a construção da

base cartográfica foram utilizados as malhas digitais do IBGE (perímetro urbano,

limites municipais e divisas estaduais), o Sistema de Informações Geográficas (SIG),

o software ArcGis 10.2 (versão acadêmica) e o DATUM SIRGAS 2000.

A teoria e a empiria foram analisadas de forma conjunta. Os processos de

concentração e centralidade urbana, periferização e descentralização comercial e de

serviços, a formação ou aprofundamento dos subespaços opacos e luminosos e a

segregação socioespacial são discutidos e apresentados a partir dos próximos três

capítulos.

O segundo capítulo, intitulado “Pensando a teoria dos circuitos da

economia urbana e o processo de concentração: o centro da cidade de Caicó”,

discute a cidade como objeto de estudo, além de evidenciar que ela é espaço de

interação mútua entre os sistemas de ações e sistemas de objetos. A teoria dos

circuitos da economia urbana é explicada e evidenciada no espaço urbano

caicoense. As primeiras atividades econômicas que se destacaram no território

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caicoense são relacionadas à teoria dos circuitos e ao processo de urbanização.

Busca-se, a partir da urbanização e da teoria dos circuitos, relacionar as ações e os

objetos de função econômica inseridos na urbe de forma pontual desde o primeiro

quartil do século XX até os dias atuais, entendendo que a intencionalidade dos

agentes sociais foi capaz de promover os processos de concentração e de

centralidade no bairro Centro. As atividades do circuito superior e do circuito superior

marginal que se concentram no centro são evidenciadas pela localização

privilegiada onde se estabelecem. O deslocamento da população em direção à

concentração e centralidade urbana também são discutidas.

O terceiro capítulo foi denominado “A expansão urbana caicoense e os

processos de (des)centralização comercial: considerações a partir da teoria

dos circuitos da economia urbana”. Compreende-se a partir deste capítulo o

processo de expansão urbana, notória a partir dos anos de 1970, no território

caicoense. Com isso, os processos de concentração e centralidade são trabalhados

como contrários aos processos que se manifestam na maioria dos bairros da cidade

de Caicó. O processo de periferização e a ideia de centro-periferia discutida por

Sposito (2000; 2003) exemplificam tal processo. Neste capítulo também se

apresentam as diversas formas e estratégias que os agentes do circuito inferior

promovem nas periferias da cidade, uma vez que as barreiras encontradas por eles

para dividir o mesmo território do circuito superior é percebida. A ideia de uma

tentativa de descentralização comercial espontânea promovida pelos agentes do

circuito inferior é indicada, ao mesmo tempo em que alguns agentes hegemônicos

tentam a descentralização intencionada por meio da construção de um novo objeto –

o Caicó Shopping.

O quarto capítulo foi intitulado como: “Os subespaços opacos e luminosos

da urbe caicoense: a segregação socioespacial como elemento de análise”.

Somam-se nesta seção as discussões anteriores com os conceitos de opacidade e

luminosidade, trabalhados no empírico caicoense por Faria (2011), além do conceito

de segregação socioespacial. Busca-se, pois, o diálogo entre os conceitos e, a partir

disso, a exemplificação das diversas espacializações comerciais e de serviços

existentes na cidade de Caicó. O direito ao uso da cidade – do território caicoense

em sua totalidade – também é colocado em pauta. As contradições urbanas

reveladas na percepção “de várias cidades em uma só” são evidenciadas e

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questionadas pela população, assim como também pelas discussões do presente

trabalho.

Finalmente, o quinto e último capítulo textual deste trabalho se destacam as

últimas considerações sobre o espaço urbano caicoense, suas formas e suas

funções relacionadas à teoria dos circuitos da economia urbana. Os processos e

conceitos trabalhados nos capítulos anteriores não esboçam apenas resultados

fechados. Pelo contrário, a cidade sempre será um espaço problematizado e

evidenciado a se pensar, ainda mais neste período globalizado, quando as técnicas,

a ciência, a informação e as finanças estão interligadas (SILVEIRA; SANTOS, 2003).

São presenciadas, no espaço urbano capitalista caicoense, várias parcelas e várias

funções comerciais presentes nela. O que apresenta benefício para alguns homens

torna-se problemas para outros. A base empírica discutida neste trabalho deixa

novos caminhos para futuras discussões. A cidade pode e deve ser pensada a partir

de várias visões e diferentes ciências.

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CAPÍTULO 2

PENSANDO A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA

URBANA E O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO: o centro

da cidade de Caicó

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2 PENSANDO A TEORIA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA E O

PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO: o centro da cidade de Caicó

2.1 A cidade como objeto de estudo

A cidade é o ponto de “partida” de muitos estudos, inclusive deste trabalho

de conclusão de curso, posto que, ela é uma forma resultante das relações sociais

no espaço geográfico. Nas suas reflexões sobre os estudos das cidades brasileiras,

Abreu (1996, p.145) destacou que, na fase2 de urbanização acelerada, pela qual o

território brasileiro passou, a cidade tornou-se objeto de muitas análises e tem

“posição cada vez mais destacada na estrutura econômica, política e cultural”,

transformando-se, também, em temática privilegiada nos estudos da Geografia.

Sabe-se que as relações sociais se dão no espaço geográfico. Por isso,

cabe destacar que o espaço geográfico é entendido a partir de Santos (2006, p. 39),

como sendo “formado por um conjunto indissociável, solidário e contraditório, de

sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas

como o quadro único no qual a história se dá”. A partir da interação entre os

sistemas de ações e os sistemas de objetos tem-se a indicação de como, por que,

onde, para quê e por quem o território é usado, (des)organizado e reorganizado

(SANTOS; SILVEIRA, 2003).

Corrêa (1995, p. 63), embasado em Santos (1978), reafirma que os sistemas

de objetos e os sistemas de ações exercem uma interação mútua, visto que, os

sistemas de objetos conduzem a forma como se dão as ações, e, por outro lado, o

sistema de ações cria novos objetos ou se reafirmam sobre os objetos preexistentes.

Por meio dessa interação, sendo solidária e, ao mesmo tempo, contraditória

é produzida a dinâmica espacial exercida na cidade. Além disso, é importante

“considerar a noção de tempo, pois são justamente os processos que ocorrem na

história que caracterizam as formas espaciais” (LOPES JÚNIOR; SANTOS, 2010, p.

109). Consequentemente, a formação territorial/geográfica é, pois, o resultado das

relações sociais no decorrer do tempo no espaço geográfico, fazendo com que, se

crie, sobre ele, uma existência real, concreta – o território.

2 A fase de urbanização acelerada destacada pelo autor trata da década de 1970 em diante.

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“À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada

pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas,

cidades etc” (CORRÊA, 1995, p. 63). Esses são alguns exemplos dos sistemas de

ações criando sistemas de objetos no território, destacando novamente a cidade

como objeto concreto das relações humanas.

Após o entendimento dos sistemas de ações e objetos também é cabível

entender que os objetos são criados e recriados com uma intencionalidade humana,

ou seja, as ações são direcionadas para que tenham um fim esperado. Estão

presentes no território para atender a uma determinada função, sobretudo no

período atual, no qual Santos; Silveira (2003) definem como período técnico-

científico-informacional – uma expressão geográfica da globalização. As técnicas, a

ciência e a informação passam a estarem presentes em todos os lugares, de alguma

forma, desde as áreas periféricas até as áreas mais concentradas da cidade.

Diante disso, para considerar a cidade como objeto de estudo, faz-se

necessário entender os conceitos de espaço geográfico, seus sistemas (objetos e

ações), o tempo (dado pela história), o período atual caracterizado pelo uso

integrado da técnica, ciência e informação, os diversos usos do território, além da

“dinâmica de produção e o crescimento através das transformações no processo de

urbanização” (LOPES JÚNIOR; SANTOS, 2010, p. 108).

Desse modo, parte-se do pressuposto de que as relações espaciais são

fruto das relações sociais, sendo estas caracterizadas também pelas diferentes

classes sociais e adjetivando a partir de suas interações o espaço urbano como

capitalista (uso do território para a acumulação de capital, afinal o meio técnico-

científico-informacional também se integra as relações capitalistas3). Nesse sentido,

a reflexão sobre a cidade é, sobretudo, uma análise prática socioespacial “que diz

respeito ao modo pelo qual se realiza a vida na cidade, enquanto formas e

momentos de apropriação do espaço como elemento constitutivo da realização da

existência humana” (CARLOS, 2007, p. 11).

Tem-se, pois, um estudo sobre o espaço urbano caicoense como território

usado a partir das relações socioespaciais e socioeconômicas. Estas são entendidas

sob a óptica das atividades ligadas aos circuitos da economia urbana como forma de

pensar a intencionalidade das ações e objetos na cidade estudada. 3 Estas relações capitalistas serão discutidas a partir da teoria dos circuitos da economia urbana.

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2.2 A teoria dos circuitos da economia urbana

A partir da cidade, inúmeras teorias foram formuladas e reformuladas no

sentido de desvendar sua existência e funcionalidade. Muitos autores tentaram

integrar essa visão por meio de várias concepções e diferentes ciências, usando

escalas dos mais diferentes tamanhos, desde as pequenas cidades até as grandes

metrópoles. De modo geral, as teorias mais difundidas foram sobre as análises das

cidades dos países desenvolvidos, mas estas não conseguiram compreender a

totalidade e a funcionalidade das cidades de todos os países do globo terrestre

(países ricos e, principalmente, os países pobres).

A resposta para isso é que numerosas teorias das ciências sociais sobre o

espaço urbano foram formuladas de maneira dualista, entendendo que cada

atividade econômica correspondia a um lado da dinâmica citadina e, dessa maneira,

nunca foram entendidas de forma integrada. A cidade sempre era pensada como

sendo fragmentada em dois setores (moderno x tradicional), (formal x informal) ou

ainda (capitalista x não capitalista). De um lado, o setor moderno, formal ou

capitalista era classificado como “desenvolvido, coerente de ações eficientes e

racionais, e um setor não desenvolvido, desarticulado, com ações arcaicas,

irracionais e ineficientes” (AZEVEDO, 2014, p. 70) era representado pelo setor

tradicional, informal ou não capitalista.

Para Montenegro (2012, p. 151) essas abordagens sobre a cidade se

tornaram vazias à ciência geográfica porque “fundaram-se, em sua origem, tanto em

explicações sociológicas como em termos econômicos”, esquecendo-se, assim, de

considerar a materialidade e os dinamismos do território como centro e suporte das

análises.

Na década de 1970, o geógrafo Milton Santos propôs a teoria dos circuitos

da economia urbana. A nova teoria tratou de entender o espaço urbano como um

sistema integrado, articulado e dinâmico, onde o processo de urbanização e a

dinamicidade do capital estavam intimamente ligados. Para ele, “relações de

complementariedade e concorrência resumem toda a vida do sistema urbano”

(SANTOS, 2004, p. 261), criando a partir do urbano, dois subsistemas da divisão

social/territorial do trabalho: o circuito superior (que possui também uma face

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marginal) e o circuito inferior da economia urbana.

A divisão social/territorial do trabalho cria, pois, uma hierarquização entre

diferentes lugares e redefine, a cada instante, a capacidade de agir da sociedade,

das empresas e das instituições, resultando no aumento da fluidez do território

(SANTOS, SILVEIRA, 2003). Por isso, uma das formas de entendimento sobre a

totalidade que a cidade representa, segundo Arroyo (2008, p. 01-02) “é por meio da

análise dos dois circuitos da economia urbana que envolvem atividades e agentes

com diferentes níveis de capital, trabalho, organização e tecnologia”. Até a década

de 1970 nenhum cientista e “nenhuma das teorias espaciais levou em consideração

a existência do circuito inferior da economia urbana, que é dependente do circuito

moderno” (AZEVEDO, 2014, p. 73).

Partindo da teoria, o circuito superior foi explicado como “o resultado direto

da modernização tecnológica, o qual consiste nas atividades criadas em função dos

progressos tecnológicos e das que se beneficiam deles” (SANTOS, 2004, p. 40),

tendo também uma face marginal (o circuito superior marginal) com as mesmas

características, mas com um menor grau de capital, tecnologia e organização. O

circuito inferior também é resultante da mesma modernização tecnológica que o

circuito superior e o circuito superior marginal, porém “é um resultado indireto, que

se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam

dos processos recentes e das atividades a eles ligadas” (SANTOS, 2004, p. 40).

A partir dessa contribuição teórica, entende-se que o recorte empírico desta

pesquisa (o urbano caicoense) é contemplado pela coexistência de atividades do

circuito superior (incluindo sua face marginal) e do circuito inferior da economia.

Porém, a distribuição espacial das atividades comerciais e de serviços ligadas a

esses circuitos não contemplam a cidade de forma igualitária.

Grande parte da população citadina tende a sentir alguma dificuldade no uso

das atividades desses circuitos, principalmente quando se trata das atividades

ligadas ao circuito superior da economia. Estas se apresentam espacializadas de

forma prioritária no centro da cidade de Caicó, exemplificando, assim, a afirmação

de Corrêa (1995, p. 08) quando diz que “a desigualdade constitui-se em

característica própria do espaço urbano capitalista”.

Para melhor identificar a forma como os circuitos da economia urbana estão

distribuídos e, assim, entendê-los na cidade de Caicó, Santos (2004, p. 40) explica

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que, de forma simplificada:

pode-se apresentar o circuito superior como constituído pelos bancos, comércio e indústria de exportação, indústria urbana moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores. O circuito inferior é constituído essencialmente por formas de fabricação não-“capital intensivo”, pelos serviços não-modernos fornecidos “a varejo” e pelo comércio não-moderno e de pequena dimensão.

Voltando à discussão sobre o uso do território e analisando as

exemplificações que o autor acima indica serem atividades do circuito superior, logo

é analisado o território onde elas se fazem mais presentes: trata-se, na maioria das

vezes, dos subespaços luminosos4, caracterizados como espaços “rápidos, fluidos e

tecnicamente densos” da urbe caicoense (FARIA, 2011, p. 38).

Esses subespaços estão traduzidos em muitas cidades como regiões

“centrais”, possuidoras de maior capital investido e com uma infraestrutura urbana

diferenciada, onde o centro ou a Zona Sul são exemplos característicos de

representação espacial. Isso se deve porque “o processo de crescimento econômico

e modernização tecnológica, seletivo e concentrador, não consegue atender de igual

forma todos os habitantes da cidade [...]” (ARROYO, 2008, p. 02), nem distribuir

todas as atividades econômicas de forma igualitária geograficamente.

É nessa linha de pensamento que se destaca a interpretação do espaço

geográfico como espaço banal. Compreendido como um espaço utilizado por todos

os agentes sociais e por todos os fenômenos. Ou seja, é o espaço de todos os tipos

de empresas, todas as instituições e todas as pessoas, mesmo sendo de uso parcial

para alguns (SANTOS, 1996; 1999). Esse entendimento sobre o espaço banal é o

que Santos vai nomear como acontecer solidário, onde o “funcional” não se separa

do “territorial” (SANTOS, 2006, p. 191). Logo, a cidade de Caicó e especialmente o

4 Os lugares ou subespaços opacos e luminosos são conceitos discutidos por Silveira (1999). Foram

trabalhados em sua tese de doutorado intitulada como “Um país uma região”, onde se destaca a interpretação sobre os lugares ou espaços letárgicos e luminosos do Brasil. Além disso, tem-se também, os conceitos de opacidade e luminosidade (re)definidos por (SANTOS; SILVEIRA, 2006). Essa metodologia foi então trabalhada na cidade de Caicó por Faria (2011) em sua dissertação “Os eventos geográficos e a expansão urbana de Caicó”. Por isso, destacam-se neste trabalho, muitas das considerações de Faria (2011), visto que, a metodologia foi empregada ao território caicoense, tornando peça-chave de muitas reflexões. Os espaços trabalhados em grande escala por Silveira (1999), Santos e Silveira (2006) são readaptados e analisados na cidade caicoense por Faria (2011) como subespaços, uma menor parcela territorial com as mesmas características.

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bairro Centro é um espaço banal, utilizado por diferentes agentes e de diversas

formas, exercendo sobre o território uma função intencionada – a de centro

comercial.

A cidade de Caicó tem, pois, uma dinâmica atrelada à forte presença do

comércio e dos serviços como base de sua economia – o setor terciário, como

destaca Araújo (2003). Este se faz concentrado na área central da cidade e, por

isso, não está igualmente acessível a sua população total (causando problemas à

população rural e urbana).

Nesse sentido, a acessibilidade discutida neste trabalho diz respeito ao

alcance e facilidade da população no acesso à área central da cidade, uma vez que

existe uma parcela da população que se beneficia e uma parcela que tem

desvantagem na proximidade com a concentração comercial da urbe. Além disso, os

transportes e as vias de tráfego também são pensados no sentido de quem e como

se consegue chegar ao centro, com ou sem a presença de capital para

determinados usos e consumos. Diante disso, uma parcela da população residente

nos subespaços opacos da urbe muitas vezes “não está em condições de se dirigir

ao comércio moderno, em geral implantado longe dos bairros pobres e cujo crédito é

reservado às pessoas que podem pagar” (SANTOS, 2004, p. 240).

Dessa forma, o espaço e as pessoas tendem a ser selecionados de forma

direta ou indireta no que diz respeito ao uso das atividades dos circuitos da

economia urbana (inferior e superior) inseridos no bairro Centro, visto que a

localização dos objetos e ações é intencionada. Neste viés, a questão que se faz

presente é o entendimento dos elementos que formam o espaço urbano e a

sua (re)estruturação que “possibilitam a análise da concentração das atividades e

das pessoas neste espaço e consequentemente a compreensão a respeito das

transformações nas formas da centralidade” (LOPES JÚNIOR; SANTOS, 2010, p.

110).

Quando analisadas as localizações das atividades do circuito inferior, nota-

se que elas podem estar distribuídas no mesmo espaço das atividades do circuito

superior, isso porque também deve ser explicitado que o circuito inferior é

complementar e, ao mesmo tempo, dependente do circuito superior. Porém, no

território caicoense, as atividades ligadas ao circuito inferior da economia se fazem

mais significativas e dispersas nos subespaços opacos da cidade.

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De acordo com Faria (2011), a falta de estrutura econômica, a presença da

pobreza, a menor ou nenhuma inserção no mundo modernizador, ditada pelo atual

sistema da globalização e o abandono de áreas por parte do poder público são

características comumente repetitivas dos subespaços opacos. Estes subespaços

lentos (opacos), segundo a lógica da modernização, são territórios nos quais o

circuito inferior da economia se faz presente, representando assim, a única

alternativa em curto prazo para a existência e a manutenção da vida econômica da

população que ali reside.

A maioria dos bairros da cidade de Caicó apresenta mais traços ligados à

opacidade, representados pelos espaços de lentidão e de rarefação técnica, mesmo

que, em alguns lugares dos mesmos sejam encontrados pontos de luminosidade:

“Os subespaços se comunicam e cotidianamente inferem na cidade como um todo,

a diversidade de objetos e de ações e a técnica permeia toda essa encenação de

um urbano complexo e revelador de dicotomias” (FARIA, 2011, p. 49, grifo nosso).

Diretamente ligado aos subespaços opacos da cidade de Caicó, o circuito

inferior da economia se faz mais presente (na periferia), porém, também, de maneira

rarefeita quando comparado ao centro da cidade. De modo geral, o circuito inferior

está representado na cidade de Caicó (tanto na periferia como no centro) pelos

pequenos comércios e prestadores de serviços, como lanchonetes e “espetinhos”,

salões de beleza e barbearias, comércio varejista5 em diversas modalidades

(confecções, calçados, equipamentos de informática, automotivos, materiais para

construção civil, dentre outros), mototaxistas e taxistas, borracharias, mercadinhos,

bodegas, vendedores ambulantes, costureiras, artesãos etc. Porém, “a importância

das atividades do circuito inferior varia de acordo com as aglomerações, variando

inversamente a importância dos centros” (AZEVEDO, 2014, p. 78).

Alguns desses comércios e serviços são característicos ainda pelo uso da

caderneta como “ferramenta lembrete” de compra e venda de mercadorias (como a

bodega, por exemplo). Este comércio não faz uso de cartões de crédito/débito ou

cheque como uma parcela das atividades do circuito inferior e do circuito superior.

Os pagamentos da clientela, muitas vezes, são realizados quinzenalmente ou

mensalmente, acordados de maneira verbal com o dono do estabelecimento.

Em pesquisa de campo, constatou-se que as bodegas (circuito inferior) 5 Venda direta ao consumidor final.

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foram localizadas em maior número principalmente nos bairros da Zona Norte e

Zona Oeste da cidade. Em contraposição, o maior número de supermercados

(circuito superior marginal) foi localizado na Zona Central como mostra a figura

abaixo.

Figura 1 – As bodegas periféricas e os supermercados centrais.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Esses exemplos reafirmam a dependência do circuito inferior em relação ao

circuito superior, como também, a complementariedade deles no espaço urbano

(SANTOS, 2004). A dependência do circuito inferior pode ser evidenciada

principalmente no que se refere ao uso do crédito. Por exemplo, muitos dos

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mototaxistas (circuito inferior) entrevistados relataram que a motocicleta usada para

a prestação de serviço foi comprada a partir do financiamento bancário (circuito

superior). Alguns salões de beleza e lanchonetes também surgem na urbe

caicoense a partir de investimentos cedidos pelo financiamento bancário (para

reforma do estabelecimento – este na maioria das vezes alugado; compra das

primeiras matérias primas; equipamentos para o funcionamento da atividade etc).

Além disso, o circuito inferior ainda depende das técnicas criadas pelo circuito

superior (transportes, computadores, internet, maquinetas de cartão de crédito entre

outros).

Essas ações do circuito inferior enquanto dependência promove ao mesmo

tempo a complementariedade e a concorrência do espaço urbano. A Figura 2 pode

exemplificar algumas das ideias de dependência e complementariedade entre os

circuitos.

Figura 2 – Fluxograma. Dependência e complementariedade entre os circuitos.

Fonte: Elaborada pela autora com base na pesquisa de campo, 2015.

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Com essas exemplificações das atividades comerciais e de serviços

provenientes do circuito inferior, percebe-se que a modernização tecnológica “atinge

seletivamente alguns pontos da cidade, privilegiando cada fração do espaço urbano

com diferentes intensidades e velocidades e criando condições distintas para as

atividades econômicas” (ARROYO, 2008, p. 02). Portanto, é possível identificar que

a cidade de Caicó é dividida territorialmente entre uma zona mais dinâmica,

articulada e densa, e outras menos dinâmicas, desarticuladas e dispersas, parecida

em parte com diversas cidades brasileiras, marcada pela coexistência de

abundância e escassez nas parcelas territoriais.

É nessa linha de pensamento que Corrêa (1995) adjetiva e detalha o espaço

urbano como fragmentado, ou seja, formado por diferentes áreas entre si no que se

refere à dinâmica e à gênese, conteúdos social e econômico, arranjo espacial de

suas formas e paisagem. Essas distintas áreas, são, pois, vivenciadas,

representadas e percebidas de maneiras diferentes “pelos grupos sociais que vivem

na cidade e fora dela. Há, em realidade, uma complexa fragmentação que é

simultaneamente objetiva e (inter) subjetiva” (CORRÊA, 1995, p. 39).

Essa formação diferencial e fragmentada no espaço está diretamente

vinculada aos interesses de reprodução capitalista, onde a sociedade se utiliza do

espaço urbano para manifestar diversos usos do território. Nesta análise, o comércio

e os serviços (vistos sob a teoria dos circuitos da economia urbana) desenvolvidos

no território caicoense refletem, por fim, na organização socioespacial, criando

pontos dinâmicos e outros dispersos. Mas essa fragmentação e diferenciação só

podem ser percebidas a partir do entendimento da totalidade da cidade.

2.3 Caicó: “uma cidade comercial”

As atividades comerciais e de serviços exercem importante função no

processo de crescimento e desenvolvimento das cidades. Algumas delas, como a

cidade de Caicó, tiveram o seu nascimento e crescimento urbano influenciado a

partir das relações econômicas. O constante fluxo de mercadorias, pessoas e capital

propiciaram o dinamismo do espaço urbano caicoense através da pecuária, da

cotonicultura e, posteriormente, do setor terciário (ARAÚJO, 2003). Nesse contexto,

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será importante destacar alguns objetos inseridos na urbe para relacioná-los com a

organização do território caicoense atual.

Para entender melhor o dinamismo e a concentração das atividades

comerciais e prestadoras de serviços na cidade de Caicó é relevante analisá-la no

contexto da Região do Seridó. A maioria das cidades da Região do Seridó teve seu

processo de urbanização ligado a uma determinada atividade econômica, muitas

delas a partir da extração mineral. Já na cidade de Caicó houve uma transformação

de sua base produtiva, deixando para trás uma economia desenvolvida a partir do

binômio gado-algodão e criando, depois disso, um novo padrão econômico firmado

no setor terciário (ARAÚJO, 2003).

A economia desenvolvida a partir do binômio gado-algodão foi resultante das

condições naturais preexistentes no semiárido, principalmente quando se refere à

cotonicultura, resistente à má distribuição das chuvas. Além disso, as atividades

estavam associadas às formas de produção pouco mecanizadas6, mas foram

importantes para constituir uma intensa fase de comercialização. A cidade de Caicó

em meados do século XX, já fazia o papel de centro regional do Seridó, sendo

possível indicar que, mesmo obtendo uma produção ínfima de algodão, destacava-

se principalmente pelas etapas de beneficiamento e de comercialização (AZEVEDO,

2014).

Na segunda metade do século XX, a cidade testemunhou um novo período

geográfico, o meio técnico-científico. Este novo período foi fundamental para

dinamizar o território caicoense no momento de transformação da base econômica

citadina. Essa transformação de conteúdos e funções dos lugares é o que Santos;

Silveira (2003, p. 30) chamam de trabalho vivo7, sobreposto ao trabalho morto. Ou

seja, “organiza-se sob novas formas de produção e circulação, e desse modo uma

nova divisão territorial do trabalho se impõe a preexistente”. Surgia, pois, juntamente

com o novo meio geográfico um novo perfil econômico: o setor terciário (comércio de

bens e prestação de serviços). Essas transformações vividas na cidade de Caicó

6 As formas de produção pouco mecanizadas se referem às usinas de beneficiamento do algodão que

foram instaladas na cidade. 7 Esse conceito marxista é trabalhado por Silveira e Santos (2003) em “O Brasil: território e sociedade

no início do século XXI”. Neste, o trabalho-vivo faz referência ao surgimento de uma atividade ou forma de produção que se sobrepõe sobre outra (as) mais antiga (as) e são importantes na medida em que permitem novos usos do território (como o caso da cidade de Caicó). Já o trabalho-morto refere-se aos lugares já organizados para uma determinada produção.

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“constituíram-se processos sociais e econômicos responsáveis pela

construção/reconstrução das formas espaciais urbanas” (MORAIS, 1999, p. 249).

A forte concentração do setor terciário na cidade de Caicó,

especificadamente no centro da cidade, constitui uma atração para as pessoas do

Seridó e de outras regiões do estado do Rio Grande do Norte. Essa concentração se

faz presente até os dias atuais e está interligada “a existência de uma certa

infraestrutura urbana diferenciada em termos regionais”, e, por isso, oferece os mais

diversos tipos de serviços e comércio (AZEVEDO, 2014, p. 83).

Essa atração comercial que a cidade produziu, e mantém, é proveniente da

incorporação das atividades econômicas pelo que Santos (2004) define como

modernização tecnológica: “É por isso que desde os primeiros momentos de sua

modernização, as cidades dos países subdesenvolvidos têm um terciário mais

importante que o secundário” (SANTOS, 2004, p. 71).

No início da formação urbana no município de Caicó, quando ele era um

sítio praticamente rural, já havia traços importantes para a inicialização de um

recorte territorial mais significativo que os demais. A lógica capitalista “da

acumulação desigual e excludente, associada à expansão demográfica, resultou

numa intensificação da urbanização, bem como numa concentração concomitante

de riqueza e pobreza” na cidade caicoense (AZEVEDO, 2014, p. 69).

Essa lógica capitalista foi introduzida a partir de investimentos dos

habitantes de maior renda no município (fazendeiros), criando objetos (fixos) onde

hoje se localiza o centro da cidade. A construção desigual refere-se especialmente à

primeira formação do ensaio urbano da cidade, quando ele começa a ser esboçado

a partir da construção da igreja de Nossa Senhora Sant’Ana e das casas em seu

entorno, formando a primeira vila, e, posteriormente, o centro da cidade de Caicó.

Assim,

a vila que se fez cidade, iria testemunhar, mais tarde, as diferenças latentes entre as várias áreas que perfizeram o “espaço urbano”. As melhores e mais “suntuosas” residências ao redor da Matriz de Santana (objetos que dão origem à vila), seus proprietários – donos de fazendas na região do Seridó e outros empresários – componentes das várias oligarquias, se colocariam em contraste com aqueles que eram considerados pobres e que foram pouco a pouco habitando outras zonas da cidade (FARIA, 2011, p. 117).

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A partir do entendimento sobre o início do processo de urbanização na

cidade de Caicó, com ênfase no bairro Centro, descrito por Faria (2011) nota-se que

ali estavam habitando pessoas de maior renda (fazendeiros, empresários etc). Nas

demais localidades da cidade estavam habitando as pessoas de menor renda,

indicando assim, que o urbano começa a ser demarcado pelo poder do capital

investido (principalmente para habitação, mas também, para o início da formação

comercial da cidade).

Aliada a essa abordagem, tem-se importantes contribuições históricas.

Medeiros (2011) apresenta em um de seus artigos o jornal “O Seridoense”,

carregado de importantes explicações sobre a relação campo-cidade, como

também, sobre a dinâmica econômica que já se fazia presente na urbe caicoense no

início do século XX. O jornal, com edição datada em 08 de outubro de 1926,

apresenta uma seção denominada como “Informações”. Esta trata das repartições,

atendimentos comerciais, os profissionais liberais e outros comércios e serviços que

existiam na cidade de Caicó. A cidade já despontava como “a principal cidade do

Seridó Potiguar” (MEDEIROS, 2011). Na Figura 3, observa-se a edição retratada

aqui.

Figura 3 – O Seridoense. Edição de 08 de outubro de 1926.

Fonte: Rostand Medeiros, 2011.

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Segundo o mesmo autor, na década de 1920 existia uma população no

município de Caicó estimada em 25.000 habitantes, em que, desses, 8.000 já

estavam residindo na cidade.

Nesse mesmo período, um fixo de grande relevância (constituinte do circuito

superior da economia) já se fazia presente na avenida de mais destaque do centro

da cidade de Caicó na atualidade. Tratava-se da agência de Celso Dantas8, objeto

fixo onde funcionavam as filiais do Banco do Brasil e do Banco de Natal, onde de

acordo com Medeiros (2011) “ficava localizado na então Rua Coronel Martiniano”,

centro da cidade de Caicó.

O centro da cidade de Caicó neste período (década de 1920) e a Av. Coronel

Martiniano (em 1942) estão representados a partir das Figuras 4 e 5.

Figura 4 – Caicó. Centro da cidade, década de 20 do século passado.

Fonte: José Ezelino, 192_.

8 Além de fazendeiro, era também empreendedor. O prédio era o espaço das duas agências

bancárias da cidade de Caicó. Celso Dantas também possuía a única concessionária de automóveis da Região do Seridó (MEDEIROS, 2011).

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Figura 5 – Caicó. Av. Coronel Martiniano em 1942.

Fonte: José Ezelino, 1942.

Outra atividade comercial, esta representada pelo circuito inferior da

economia, eram as “boticas”, conhecidas na época também como “pharmácias”.

Existiam duas na cidade: a primeira delas era a farmácia de José Gurgel de Araújo,

localizada na Avenida Seridó e a segunda de Homero Nóbrega, localizada na Rua

Felipe Guerra, rua esta que corta a Av. Seridó, ambas no centro da cidade. O jornal

“O Seridoense” ainda destacava que os estabelecimentos eram abertos a qualquer

hora do dia ou da noite (MEDEIROS, 2011).

Atualmente, a única farmácia que funciona 24h na urbe caicoense, também

está localizada na Av. Seridó, esta denominada como “Drogaria Central”. Observa-se

que, de certa forma, o estabelecimento dá ênfase ao processo de concentração e

centralidade constituído no bairro Centro. A Avenida Seridó na década de 1920 está

representada na Figura 6.

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Figura 6 – Caicó. Av. Seridó. Década de 1920.

Fonte: José Ezelino, 192_.

Além dessas atividades comerciais, ainda na metade do século XX, o centro

da cidade também já disponibilizava de hotéis. O Hotel Guanabara, criado em 16 de

julho de 1960, a partir do investimento originado da acumulação do capital

proveniente da comercialização do gado9 é um exemplo dessa atividade e se faz

presente no bairro Centro até os dias atuais.

No período de criação do hotel, a cidade de Caicó já contava com outros três

hotéis, localizados todos no centro da cidade. Eram eles: o Hotel Avenida, o Hotel

Maria Assis e o Hotel Guarani. Diferente dos demais, o Hotel Guanabara, do senhor

Francisco Pereira (Dom10), foi construído no período da queda da comercialização

do binômio gado-algodão.

Localizado inicialmente na Rua Renato Dantas, o hotel foi realocado para a

Av. Seridó na busca pelos maiores fluxos e recebia dezenas de pessoas que vinham

à cidade por diversos motivos (vaquejada, festa da padroeira Sant’Ana, exposições,

compra de carne de sol e queijo, além do algodão mesmo que em pequena

quantidade e nos períodos de pouca produção).

9 O dinheiro acumulado na pecuária fez com que Francisco Pereira investisse na construção do hotel.

10 Informações colhidas em entrevista.

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Já na década de 1970, o bairro Centro é espaço escolhido (agora pela

gestão pública) para a criação da rodoviária municipal, a partir da refuncionalização

de um objeto preexistente na urbe. O objeto/fixo localizado na Rua Renato Dantas

foi usado pelo Hospital do Seridó, depois foi espaço do quartel militar e

posteriormente (a partir de 1976), sede da rodoviária municipal. Desde então, a

rodoviária está localizada e em funcionamento no centro da cidade como mostra a

imagem abaixo.

Figura 7 – Caicó. Rodoviária municipal na Rua Renato Dantas, centro da cidade.

Fonte: José Ezelino, 197_.

O período que compreende os anos de 1920 até meados da década de 1980

se faz importante nesta análise para evidenciar os primeiros efeitos comerciais e de

serviços que a cidade incorporou. Primeiramente, o território caicoense foi usado

pela prática pecuarista e uma incipiente agricultura. Posteriormente, a atividade

algodoeira surge – com tempos de crises e tempos de ascensão, estes com a

presença de exportação e a formação de áreas concentradoras (subespaços

luminosos) a partir do dinamismo da produção e comercialização (FARIA, 2011).

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No decorrer desses processos, o município de Caicó vivenciou o processo

de êxodo rural no momento em que o algodão já evidenciava momentos de crises na

economia. Num terceiro momento, juntamente com o processo de urbanização, a

cidade incorporou o setor terciário como pilar de sua economia e se constituiu como

centro regional do Seridó (MORAIS, 1999), concentrando os investimentos

principalmente no bairro Centro, constituindo, pois, vários subespaços de opacidade

no restante da urbe (FARIA, 2011).

A partir desse acúmulo de objetos importantes inseridos no centro da cidade

e a tendência em se concretizar como área comercial privilegiada, a cidade de Caicó

tende a presenciar os processos de concentração e centralidade urbana. O bairro

Centro aparece como espaço principal para os investimentos públicos e privados,

desde a sua formação até os dias atuais: “Toda transformação da sociedade no

curso de sua história conduz a uma correspondente transformação na organização

do espaço” (HISNARD, 1978, p. 10). O início desses investimentos, de maneira mais

significativa e espacializada, foi o período de crise da cotonicultura. Nesse contexto,

se esboça na cidade um processo relacionado à segregação socioespacial, uma vez

que se amplia a concentração de investimentos para uma determinada parcela da

população:

A Caicó desigual dos anos da crise algodoeira (1970-1980) não tem como esconder a segregação urbana da maioria, em detrimento de lócus privilegiados da minoria. Assim sendo, é fato a existência dos espoliantes e dos espoliados como resultantes do processo de expansão urbana caicoense (FARIA, 2011, p. 120).

As despesas em comércios e serviços das classes que detém maior capital

na urbe são maiores que o consumo das classes populares (AZEVEDO, 2014) e

essa tendência de formação concentrada para atender aos interesses dos que

podem pagar mais pelo território e pelos seus usos também foram acompanhados

por Faria (2011).

Numa visão e espacialização geográfica, Faria (2011) mostra o início do

processo de urbanização da cidade com a concentração urbana exercida no bairro

Centro. Esse processo está explícito na Figura 8 com a mancha urbana da cidade

no ano de 1950.

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Figura 8 – Caicó. Mancha urbana em 1950, caracterizando o processo de concentração urbana no bairro Centro.

Fonte: Carlos Eugênio de Faria, 2011.

Entendendo, pois que o espaço urbano caicoense surge como forma

resultante das relações sociais na medida em que esta o produz, apropria-se e o

domina (CARLOS, 2007) esclarecendo o vivido (as ações no decorrer do tempo)

pode-se indicar que desde o princípio de sua urbanização o bairro Centro tornou-se

espaço privilegiado para os investimentos capitalistas. Atualmente, pode-se apontar

que a concentração das atividades ligadas aos circuitos da economia urbana

constituiu essa parcela luminosa da urbe como “a centralidade da cidade de Caicó”.

2.4 Concentração e centralidade comercial em parte da urbe: o bairro Centro

Comentando acerca das atividades comerciais e de serviços na cidade de

Caicó pós-rompimento da economia agrária (algodão-pecuária), Morais (1999)

afirma que o período que sucedeu a crise algodoeira foi assinalado por uma forte

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ascensão, diversificação e especialização do setor terciário na cidade de Caicó.

No decorrer desse processo, a “Área Central da cidade atravessou um

processo de refuncionalização de seu espaço. O núcleo central tornou-se

eminentemente ocupado por atividades do terciário” (MORAIS, 1999, p. 318). Desde

então, a cidade e, com ênfase, o bairro Centro, tem a indicação de centro comercial,

onde exerce influência tanto em relação aos demais bairros da cidade de Caicó,

quanto com as demais cidades da Região do Seridó, além de algumas cidades no

estado da Paraíba (SALVADOR, 2012a).

Essa influência econômica de forma pontual e concentrada gera cada vez

mais fluxos e pode acontecer de os resultados de tal atividade repercutirem em

outras regiões (SANTOS, 2004). É por isso que a cidade de Caicó, em especial o

centro da cidade, mantém uma “condição de centro regional do Seridó”, com

expressividade desde a segunda metade do século XX até os dias atuais (MORAIS,

1999, p. 318). É a “área core do Seridó” como aponta Azevedo (2014, p. 88).

No período de incorporação do setor terciário pela cidade de Caicó

(MORAIS, 1999), o bairro Centro já dispunha de moradias modernas, prédios

comerciais e de prestação de serviço. O valor do solo urbano na cidade de Caicó era

“taxado de acordo com quem o habita (va), pela qualidade das moradias e por estar

“próximo” desse ou daquele comércio ou posto de serviço (supermercados,

farmácias, bancos, correios, entre outros)” (FARIA, 2011, p. 119). Logo, o centro da

cidade se tornava espaço privilegiado para as ações dos agentes hegemônicos e já

concentrava uma importante parcela das atividades ligadas aos circuitos da

economia urbana.

Fazendo um comparativo da situação geográfica do século passado com a

situação atual, entende-se, a partir de Morais (1999) que além da concentração

comercial que o centro mantém, ainda existe um núcleo central do centro de Caicó.

Este núcleo é formado pelo “eixo de cruzamento das avenidas Coronel Martiniano,

que corta a cidade no sentido leste-oeste, e a Seridó que atravessa no sentido norte-

sul” (MORAIS, 1999, p. 251). O núcleo central é apresentado a partir do Mapa 2.

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Mapa 2 – Núcleo central do bairro Centro: Avenida Coronel Martiniano e Avenida Seridó.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas malhas digitais do IBGE.

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A partir da delimitação do núcleo central do centro da cidade descrita por

Morais (1999), é possível entender a intencionalidade na disposição dos objetos –

inúmeros estabelecimentos – encontrados nesse eixo entre as avenidas de mais

destaque da urbe caicoense. A concentração é, pois, produzida e resultado da má

distribuição de renda da população (AZEVEDO, 2014).

Essa concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços no centro

da cidade (principalmente das atividades do circuito superior e do circuito superior

marginal), destacadamente inseridos nas avenidas do núcleo central, define, pois,

esta fração da cidade como uma localização privilegiada.

Quando se compara a concentração, o nível de capital investido e a

organização das atividades comerciais e de serviços nas avenidas Coronel

Martiniano e Seridó com as demais ruas da urbe, percebe-se que as primeiras

trazem pra si certo comando da economia urbana. Por isso, constituem o bairro

Centro e o núcleo central do território caicoense como a centralidade urbana.

“Esses, por se acharem concentrados territorialmente garantem a centralidade [...],

seu poder de dominação e direção; ou seja, sua hegemonia” (LENCIONI, 2008,

p. 14, grifo nosso). Essa concentração de fixos econômicos importantes que se

traduzem no processo de centralidade urbana demonstra a intencionalidade das

ações e dos objetos e se reproduzem “preferencialmente na cidade capitalista”

(VASCONCELOS FILHO, 2003, p. 36).

Este núcleo é marcado pela mescla de atividades dos dois circuitos da

economia urbana, sendo o recorte escolhido preferencialmente pelas atividades do

circuito superior e circuito superior marginal. A concentração do circuito superior é

percebida quando se nota no decorrer da Av. Coronel Martiniano a presença das

agências bancárias (Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Bradesco, Caixa

Econômica Federal e Itaú), como também, de inúmeras concessionárias de

automóveis e motocicletas (F1 Auto Center, Ideal Car, Ideal Motos –Traxx, J. M.

Veículos, Newtec, Placar Veículos, Peru Veículos, Saint Land, Seridó Motos –

Yamaha, Terrasal – Chevrolet).

O Mapa 3 representa os processos de concentração e centralidade

exercidos no bairro Centro por meio das atividades do circuito superior (incluindo

sua face marginal – como o exemplo das concessionárias).

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Mapa 3 – Atividades do circuito superior na forma de concentração e centralidade urbanas – Av. Coronel Martiniano.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas malhas digitais do IBGE.

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Mesmo entendendo que a cidade é contemplada pela coexistência dos dois

circuitos da economia urbana, é necessário interpretar também que ao mesmo

tempo, ela se faz concentrada em algumas parcelas, principalmente nos subespaços

luminosos do espaço urbano. “Faz parte da racionalidade da acumulação capitalista

concentrar um grande número de população, renda, indústrias [...] e trabalho

qualificado” (LENCIONI, 2008, p. 08). É essa racionalidade e intencionalidade que

foi incorporada ao centro da cidade de Caicó.

O que se impõe ao território e se faz percebido nesta análise são as

conjunturas que se fizeram e se fazem presentes na urbe caicoense, especialmente

no período pós-rompimento da economia do binômio gado-algodão e a incorporação

do setor terciário pela cidade. Nota-se que “a partir dos anos de 1970, acirrou na

cidade uma profunda desigualdade, ou como pensamos: arraigou a ideia de uma

cidade desigual, mesmo que consideremos, e este é o nosso intuito, toda a sorte de

coexistências” (FARIA, 2011, p. 118).

Com a comparação entre o último século e o século atual já é possível

indicar que além da forte concentração das atividades econômicas no centro esta

parcela da cidade também se destaca como centralidade urbana. Na perspectiva de

centralidade, o processo histórico dado “através dos agentes sociais que, por sua

vez, produzem e consomem o próprio espaço é responsável por sua fragmentação-

articulação” (LOPES JÚNIOR; SANTOS, 2010, p. 112).

Essa articulação e fragmentação do espaço urbano capitalista são

visualizadas efetivamente na área central da cidade de Caicó, ainda com mais

expressividade nas duas avenidas do núcleo central (Av. Seridó e Av. Coronel

Martiniano) em relação às outras parcelas da cidade. Dessa maneira, a presença

concentrada dos circuitos da economia urbana tende a evidenciar que “a terra

urbana tem assim, em princípio, um duplo papel: o suporte físico e o de expressar

diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades” (CORRÊA, 1995,

p. 13). No decorrer das décadas compreende-se que os investimentos nas áreas de

maior concentração de capital da urbe caicoense “[...] fazem parte de uma

preparação do território para a competitividade, visto que a fluidez se tornou um dos

principais requisitos para a acumulação primitiva no atual período de globalização”

(MELGAÇO, 2010, p. 90). Isso fica mais evidente quando Morais (1999, p. 249)

apresenta a seguinte discussão:

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No curso desses processos, em que a estrutura da sociedade modifica-se e é modificada pelo seu próprio dinamismo, o espaço urbano tornou-se objeto e objetivação de mutações constantes em suas formas e funções. No interior da dialética de construção e reconstrução do espaço constatam-se a coexistência e articulação de formas passadas e presentes e, simultaneamente, funções espaciais são criadas e/ou redefinidas. É no âmbito dessa dinâmica que se situa a redefinição funcional da Área Central da cidade de Caicó.

A tendência dos centros urbanos se constituírem como centros comerciais

ou de fabricação, ou ainda, os dois, produzem “um inchamento e uma diversificação

das atividades” (SANTOS, 2004, p. 283) assim como acontece no centro de Caicó. A

problemática dessa concentração é a contraposição que se faz percebida nas

periferias, ou seja, as pessoas sentem dificuldades no acesso à centralidade urbana.

Os processos de concentração e centralidade são acompanhados e

reafirmados pela população idosa que reside na cidade de Caicó. Quando em

entrevista semi-estruturada é repetitivo ouvir11: “a gente só resolve as coisas se for

na cidade, na rua” [sic], indicando que a cidade/rua referem-se ao bairro Centro e

que os demais bairros tornam-se uma zona distante, sem comércio ou serviços que

atendam à todas as necessidades da população.

As maiores necessidades de deslocamento ao centro são a procura dos

serviços bancários e serviços ligados à saúde (clínicas privadas especializadas). As

lotéricas (CEF) e os correspondes bancários (BB) são reduzidos nas zonas da

cidade e não disponibilizam de todos os serviços oferecidos na agência central,

como é o caso da lotérica localizada no bairro Boa Passagem, visualizada no Mapa

4 – longe da concentração central. Já em relação aos serviços ligados à saúde, a

população revela que o Sistema Único de Saúde (SUS), que está disponível nos

hospitais e postos de saúde, não abrange todas as especializações necessárias.

Logo, aparece a necessidade de deslocamento à zona central. Desse modo, não se

pode deixar de lado também o papel do Estado como ampliador da concentração e

centralidade na urbe caicoense (esse papel será mais bem discutido no capítulo 4).

O Mapa 4 mostra a espacialização das lotéricas (CEF) e dos

correspondentes bancários (BB) concentrados em sua maioria no centro da cidade.

11

Fala de uma senhora de 75 anos de idade, residente no bairro Boa Passagem desde 1977. As frases ditas por ela se assemelham com as frases dos demais entrevistados.

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Mapa 4 – As lotéricas e os correspondentes bancários na urbe caicoense.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas malhas digitais do IBGE.

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Percebe-se a partir do Mapa 4 que o Itaú, o Bradesco e o Banco do

Nordeste não disponibilizam correspondentes, ou seja, concentram suas ações

apenas nas agências localizadas na Av. Coronel Martiniano, constituindo a

centralidade urbana descrita acima.

Essa intencionalidade de concentrar as atividades corresponde, em primeiro

lugar, à racionalidade capitalista, ou seja, tendem a abrigar em pontos exclusivos da

cidade o maior número de empresas deixando tantos outros desigualmente

fragmentados em termos quantitativos e qualitativos de comércio e serviços: “A

concentração do capital se relaciona à aglomeração urbana e sua contra face, à

dispersão. Por outro lado, a centralização do capital se vincula estreitamente à

questão da centralidade urbana” (LENCIONI, 2008, p. 15). Esses processos são

percebidos por meio da quantidade (aglomeração) e qualidade (nível de

investimento capitalista) das atividades distribuídas no centro. Estas podem ser

observadas no quadro abaixo, exibindo que o centro da cidade abriga os maiores e

melhores comércios e serviços da urbe.

Quadro 1 – Comércios e serviços qualitativo-quantitativos espacializados no centro da cidade. Os circuitos inferior e superior dividem o mesmo território.

Tipo Atividades

Comércio e Serviços A Feira livre municipal12 e o Mercado público municipal

Serviços Bancos, lotéricas e correspondentes bancários

Comércio Lojas de calçados e confecções

Serviços Clínicas de saúde (especializadas) e laboratoriais

Comércio Lojas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos

Comércio e Serviços Equipamentos de informática e telefonia fixa/móvel

Comércios Farmácias e perfumarias

Serviços Hotéis, pousadas e flats

Serviços Escolas (privadas, estaduais e municipais de todos os níveis) e Ensino superior (universidades e faculdades)

Comércio Madeireiras, material de construção civil e automotivos

Comércio Óticas, joias e relógios

12

A Feira livre municipal está localizada no eixo entre a Av. Seridó e R. Olegário Vale. Faz-se mais dinâmica e densa aos sábados, recebendo um grande número de consumidores/vendedores e promovendo a renda dos agentes do circuito inferior. Esta atividade comercial se estende na cidade de Caicó à décadas e é melhor discutida pela sua “resistência” neste período globalizado por Andrade (2015) em seu trabalho de conclusão de curso pela UFRN, intitulado como “A feira livre de Caicó/RN: um cenário de tradição e resistência as novas estruturas comerciais modernas”. (Trabalho não publicado). Já o Mercado Público localiza-se entre a Av. Coronel Martiniano e Av. Seridó (núcleo central).

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Comércio Restaurantes, lanchonetes, “espetinhos” e bares

Comércio e Serviços Salões de beleza, artigos de beleza e esmaltarias Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa de campo, 2015.

Montenegro (2012) discute os processos de centralidade e concentração

atrelada à teoria dos circuitos da economia urbana e destaca “o fato de que a

hierarquia de localidades centrais só existe, efetivamente, para as populações de

alto e médios status, e não para a população pobre cuja a mobilidade é reduzida”

(MONTENEGRO, 2012, p. 157).

Essa mobilidade reduzida é ainda mais acirrada na cidade de Caicó pela

falta de transporte público municipal eficaz. Em contraposição, os mototaxistas –

prestadores de serviço do circuito inferior da economia – se destacam suprindo essa

ausência. Faria (2011) discute que os homens lentos dos subespaços opacos da

cidade Caicó não têm à sua disposição o transporte coletivo devidamente

organizado e regulamentado e veem na figura do mototáxi uma alternativa de

deslocamento. É por isso que se podem visualizar inúmeras praças de mototáxi

espalhadas na cidade de Caicó. A imagem abaixo mostra uma das praças da cidade.

Figura 9 – O circuito inferior sob duas rodas. Praça de mototáxi na cidade de Caicó.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

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Entendendo os serviços prestados pela figura do mototáxi na cidade de

Caicó, pode-se então pensar no consumo periférico. Nisto, a população dos bairros

que não estão próximos ao centro arcam diariamente um valor relevante com os

serviços prestados pelo mototaxista quando necessitam se deslocar à centralidade.

Como as melhores atividades comerciais e de serviços estão concentradas

preferencialmente no centro da cidade, uma parcela do salário mensal da população

periférica é usada para o deslocamento à concentração urbana.

Compreendendo o ensino superior como um serviço e estando a maioria dos

fixos comerciais importantes localizados no bairro centro foram realizadas

entrevistas13 junto aos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(campus Caicó). Notam-se relatos repetitivos da deficiência do transporte coletivo

nas distintas zonas da cidade e a utilização do mototaxista como prestador de

serviço.

O pagamento diário de ida e volta para a universidade é em média R$ 8,00,

sendo R$ 4,00 por cada “viagem” como bem se referem. Se o aluno têm cinco aulas

semanais esse valor será de R$ 40,00 e mensalmente de R$ 120,00. Caso o aluno

ainda precise se deslocar ao bairro Centro na tentativa de resolver outras questões

atreladas às atividades comerciais/serviços esse valor ainda aumentará14.

Neste viés, percebe-se que a figura do mototaxista exerce uma importante

função na economia citadina, promovida por meio do circuito inferior. Nota-se

também que esta atividade se realiza a partir de uma “lacuna” deixada pelo serviço

de transporte público coletivo. Além de constatar que os serviços de educação

superior também se fazem mais presentes (e por que não dizer concentrados) nos

subespaços luminosos da urbe, como é apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Localização das faculdades (presenciais e EAD), institutos e universidades na cidade de Caicó.

Faculdades, institutos e universidades Localização por bairro

CARDAN Penedo

FAIBRA Centro

FADIRE Centro

FCS Paraíba

13

As entrevistas foram realizadas com alunos de diversos bairros caicoenses. 14

Valor calculado a partir das entrevistas realizadas com os alunos da UFRN.

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FCST Centro

FUNESO Centro

FVJ Centro

IFRN Nova Caicó

SPA Paraíba

UERN Centro

UFRN15 Centro e Penedo

UNIDERP Centro

UNIP Centro

UNOPAR Paraíba

UNP Centro

UVA Centro Fonte: Elaborado pela autora a partir de pesquisa de campo e informações da Secretaria de Educação do município de Caicó e do SENAI, 2015.

Esse acúmulo de objetos e ações na zona central16 e no bairro Penedo

(subespaços luminosos) acarreta uma maior valorização das atividades distribuídas

neste território e, por isso, a visualização de inúmeros estabelecimentos comerciais

e de serviços. Essa concentração na forma de centralidade urbana constitui

finalmente na segregação socioespacial entre os habitantes da mesma cidade.

Segundo Corrêa (1995, p. 08), a cidade capitalista manifesta-se seguindo relações

espaciais onde estão envolvidos a circulação de decisões e os investimentos de

capital, sendo processos manifestados a partir da intenção da própria sociedade.

Essas “possibilidades de produção e mesmo de comercialização tornam-se

um privilégio dos centros mais importantes” (SANTOS, 2004, p. 293). Em

contraposição, essa “estrutura polarizada é acompanhada de deslizamentos da

periferia para o centro. Este retém mão de obra, capital, capacidade empresarial,

divisas e matéria-prima” (AZEVEDO, 2014, p. 72).

Dessa maneira, verifica-se que os bairros que não fazem parte de forma

mais direta, no que diz respeito à dinâmica de fluxos comerciais, com o bairro Centro

(como é o caso dos bairros Penedo e parte do bairro Paraíba, que se juntam na

faixa comercial ao bairro Centro pela Av. Coronel Martiniano – pontos de

luminosidade) tornam-se de certa forma uma “periferia” do centro comercial.

15

A UFRN está dividida atualmente em dois prédios na cidade de Caicó. O prédio do centro da cidade é utilizado para o curso de Medicina, enquanto o prédio localizado no bairro Penedo abriga as demais ciências (Direito, História, Geografia, Pedagogia etc). 16

A Zona Central compreende os bairros Acampamento, Centro e Paraíba. Mas, a ênfase desses processos se dá mais concentrado nos últimos dois bairros.

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Essa noção de centro-periferia é definida por vários autores, podendo ser

representado aqui por Sposito (2000, p. 65) quando diz que “o crescimento das

cidades tornou centro a área antes compreendida por todo o núcleo urbano,

formando-se ao seu redor uma faixa nova, considerada a periferia”.

Nisso, o espaço urbano capitalista caicoense pode ser entendido por

intermédio das atividades econômicas e as formas de consumo e reprodução que se

distribuem nele atrelado ao processo de urbanização. Deixando claro que as ações

dos diferentes agentes sociais organizam, desorganizam e (re)organizam o território

para uma determinada função e cada ação “condiciona a localização dos atores”

(SANTOS; SILVEIRA, 2003).

O espaço urbano caicoense, entendido como um espaço banal – espaço de

todos, como já explicitado (SANTOS, 1996; 1999) através da dinâmica social

(sistemas de ações e objetos impulsionados através dos circuitos) condicionam a

cidade de Caicó, e ainda mais o bairro Centro, a ser um território urbano-comercial.

Os processos de urbanização e expansão urbana subsidiaram ainda mais esta

função no território caicoense.

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CAPÍTULO 3

A EXPANSÃO URBANA CAICOENSE E OS PROCESSOS

DE (DES) CENTRALIZAÇÃO COMERCIAL

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3 A EXPANSÃO URBANA CAICOENSE E OS PROCESSOS DE (DES)

CENTRALIZAÇÃO COMERCIAL

3.1 Os processos de urbanização e expansão na urbe caicoense

A cidade de Caicó esboçou o processo de urbanização de forma

concentrada a partir do bairro Centro. Esta urbanização se fez mais evidente no

período em que a economia agrária desenvolvida a partir do binômio gado-algodão

foi demostrando declínio no mercado17, em meados de 1970 (FARIA, 2011). Similar

a muitas cidades brasileiras, a cidade de Caicó também teve seu processo de

urbanização dado a partir de “movimentos migratórios campo-cidade, decorrentes de

mudanças estruturais no campo nos séculos anteriores, face ao desenvolvimento

capitalista, que deu às cidades uma capacidade produtiva maior” (SPOSITO, 2000,

p. 58).

Antes disso, a cidade era o espaço onde se comercializava o gado e o

algodão produzidos no município caicoense. A comercialização do algodão

caicoense teve notável queda com as mudanças no mercado internacional (as crises

internas nos Estados Unidos) além da acirrada concorrência com São Paulo (polo

têxtil industrial do país). A seca também afetou o semiárido nordestino no mesmo

período, o que provocou a rapidez da decadência da economia binômia, uma vez

que, os solos férteis e a abundância hídrica eram fundamentais para as duas

economias.

O período de rompimento dessa economia ficou conhecido como “a crise do

algodão”. A pecuária, que tentou resistir ao período de seca não tinha tanta

representatividade como o algodão e por isso, o espaço urbano cedeu lugar a novas

formas de produção e comercialização. Ruíram, no mesmo período, os pilares da

economia caicoense (ARAÚJO, 2003).

Nesse período, o capital, a informação, a ciência e as novas técnicas

entraram como ferramentas chaves no momento em que a modernização passou a

fazer parte também das cidades dos países pobres, reestruturando o território e a

17

Tanto o mercado interno (cidades da Região do Seridó), como também, o mercado externo (cidades da região sudeste brasileira e alguns países como os Estados Unidos).

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economia urbana nas lógicas globalizadas (SANTOS, 1999). Essa nova forma de

requalificação do espaço e uso do território na cidade de Caicó foram evidenciados a

partir da dinâmica socioespacial atrelada ao setor terciário: “Esta realidade traz à

tona um processo de refuncionalização do território e o advento de uma nova divisão

social/territorial do trabalho” (TAVARES; DANTAS, 2012, p. 61).

No decorrer desse processo (rompimento da economia binômio-agrária) a

população caicoense foi aos poucos deixando de ser majoritariamente rural para ser

maioria urbana, favorecendo, por conseguinte, os processos de urbanização e

expansão urbana. Nesse contexto, é importante destacar que o termo urbanização,

ou ainda, expansão/crescimento urbano se referem ao “aumento da população que

vive em cidades em relação à população total. Logo, este sentido pressupõe a

diminuição relativa da população rural” (SPOSITO, 2000, p. 56).

O aumento da população no espaço urbano caicoense no decorrer das

últimas oito décadas pode ser visualizado a partir da Tabela 1.

Tabela 1 – População urbana e rural de Caicó (1950 – 2010)

População

Ano Rural Urbana Total

1950 16.459 7.755 24.214

1960 11.214 16.233 27.447

1970 12.094 24.427 36.521

1980 9.202 30.828 40.030

1991 7.857 42.783 50.640

1996 6.190 45.829 52.019

2000 6.378 50.624 57.002

2010 5.248 57.461 62. 709

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do IBGE, 2010 e FARIA, 2011.

No decorrer desse processo migratório, a cidade de Caicó incorpora o setor

terciário como base de sua economia (ARAÚJO, 2003). Este se torna fortalecido a

partir do crescente número de trabalhadores na urbe, que se dividem entre as

atividades comerciais e de serviços ligadas aos circuitos da economia urbana,

principalmente quando se nota o aumento considerável de pessoas residindo na

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zona urbana a partir das décadas de 1970 e 1980.

Ao mesmo tempo em que acontece a intensificação do processo de

urbanização no território caicoense é possível afirmar que cotidianamente a

população continua inserindo novas ações e objetos no território a partir da dinâmica

econômica. Para Santos (2004, p. 19), a combinação desses processos “aparece

claramente na organização da economia, da sociedade e do espaço e, por

conseguinte, na urbanização”.

Na apreensão da história dos objetos geográficos na cidade caicoense

(alguns já descritos no capítulo anterior) é possível perceber que a cidade inicia seu

processo de urbanização de forma mais intensa a partir do bairro Centro em meados

de 1950 – após passar pela fase de vila e povoado (ver Figura 8). A partir de 1970,

especialmente, nota-se uma expansão mais significativa e a construção dos demais

bairros da cidade. Nesse contexto, também é preciso ressaltar que o Estado atua

como agente muito importante a partir da criação de novos eventos18 (FARIA, 2011).

Esses eventos foram ações que se instalaram na paisagem nas formas de

objetos/fixos, onde viabilizam uma nova dinâmica territorial. Alguns desses eventos

foram: a construção das pontes “nova” e “velha” – que funcionaram como extensores

urbanos, a construção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (campus

Caicó), de hospitais como o “Regional” e o “Seridó”, inúmeras escolas públicas etc.

Esses eventos criaram novos fluxos a partir da população da própria cidade, mas

também, pela entrada de pessoas das cidades vizinhas.

Nesses casos, onde as construções são direcionadas pelo Estado, não se

pode negar sua ação como ator e condicionador de novos usos do território. Porém,

esta pesquisa não se deterá aos eventos geográficos e o papel central do Estado na

construção deles, mas não se pode negar que foram fundamentais na dinamicidade

do território caicoense. Consequentemente, contribuíram com a expansão urbana da

cidade e, por conseguinte, serviram como atrativo para a instalação de várias

atividades econômicas, fruto dos circuitos da economia urbana. A Figura 10

representa o processo de expansão urbana incorporada à cidade de Caicó no ano

de 1970.

18

Os eventos geográficos são entendidos a partir Santos (2006) em “A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção” e trabalhados também no território caicoense por Faria (2011).

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Figura 10 – Caicó. Mancha urbana em 1970, caracterizando o processo de expansão urbana caicoense.

Fonte: Carlos Eugênio de Faria, 2011.

Entre as décadas de 1950 e 1960, a cidade caicoense possuía uma

configuração espacial da sua cartografia urbana estreitamente delimitada entre os

espaços do rio Barra Nova (sul-oeste) e o rio Seridó (norte-oeste) (MORAIS, 1999).

Destacadamente, o bairro Centro era a única mancha urbana explícita na parte

central (como mostra a Figura 8 no capítulo anterior).

Diferente desse período, a Caicó de 1970 já estava em processo de

expansão urbana. Os equipamentos e serviços urbanos inseridos na urbe caicoense

possibilitaram uma nova dinamicidade na nova economia citadina: “A instalação

desses equipamentos e serviços refletiu diretamente na dinâmica demográfica da

cidade, tendo em vista que seus espaços urbanos tornaram-se focos de atração

populacional” (ARAÚJO, 2010, p. 13).

Esse crescimento urbano provocou também outras transformações

socioeconômicas na cidade, permitindo, assim, uma estruturação do modo

capitalista19 e de novas formas de produção20 nos novos territórios – os novos

19

A marcha do capitalismo marca um alargamento e aprofundamento dos modos de produção,

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bairros: “A cidade nunca fora um espaço tão importante, e nem a urbanização um

processo tão expressivo e extenso a nível mundial, como a partir do capitalismo”

(SPOSITO, 2000, p. 31).

A cidade foi, pois, um espaço transitório de economias (pecuária-algodão-

terciário), onde resultou no processo de expansão urbana de forma expressiva,

como também, em novos usos do território caicoense:

É justamente neste período de transição entre essa crise e o aparecimento de novos rumos que a cidade apresenta um importante alargamento físico. A urbe cresce e denotam novos eventos, que vão pontuando para além do velho perímetro, novos fixos e, consequentemente, novos fluxos. Todo este processo carrega, em si, estruturas, onde velhas e novas formas agora se encontram para fundar e refuncionalizar novos territórios (FARIA, 2011, p. 98).

Não obstante, compreende-se que o processo de expansão urbana no

território caicoense não somente se faz importante pelo número populacional

crescente, mas também, pela introdução de novos hábitos modernos e novos

costumes. Essa realidade também contribui para a criação de novas formas

comerciais, novas prestações de serviços e de produção, sendo, por isso, novos

espaços banais onde as atividades dos circuitos da economia urbana também se

fizeram presentes (TAVARES; DANTAS, 2012).

É nessa linha que se destaca a teoria dos circuitos da economia urbana nas

cidades dos países pobres. Como Santos (2004, p. 395) explica, é “graças à

revolução do consumo, as unidades de consumo, de que a migração de bens e de

pessoas é uma das conseqüências” que se criam expressões espaciais dos

mecanismos da modernização recente, capazes de dinamizar os territórios. Os

novos territórios do espaço urbano caicoense (os novos bairros) tornam-se, pois,

“espaço para o mercado” e “espaço mercadoria”, salvaguardando suas devidas

parcelas.

É importante frisar que “o espaço para o mercado” ou o “espaço mercadoria”

deve ser visto a partir de uma análise geográfica, e não somente sob uma visão

incluindo cada vez mais, um número maior de sociedades e territórios (SANTOS, 1999). 20

“Segundo Marx, a noção de modo de produção é central porque, a cada etapa de evolução da

sociedade, os homens participam de um processo unitário, que inclui formas materiais de produção, relações dos homens entre si e com as coisas (naturais e artificiais) e os seus próprios modos de ser, isto é, as maneiras como os indivíduos expressam sua vida” (LUCAKS, 1970 apud SANTOS, 1999).

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comercial. A análise sobre mercado que interessa ao trabalho é a que se revela

através do período técnico-científico-informacional (FARIA, 2011, p. 31). Revela-se

na proporção em que o território é produto do processo de urbanização no período

em que a técnica, a informação e a ciência são incorporadas por todos os agentes

(mesmo que em diferentes velocidades) e o dinamizam a partir dos circuitos da

economia urbana.

Com isso, algumas ações se materializaram em forma de contradições, uma

vez que o processo de expansão urbana revelou um acentuado crescimento de

atividades ligadas ao circuito inferior da economia também nos novos bairros da

urbe (mesmo os mais pobres) ao mesmo tempo em que concentrou muitas

atividades (do circuito inferior e ainda mais as do circuito superior e do circuito

superior marginal) no bairro Centro.

Esse crescimento comercial do circuito inferior está intimamente ligado às

lógicas da reprodução espacial desigual além da necessidade de capital da

população pobre da cidade (TAVARES; DANTAS, 2012). Com isso, novos usos e

conteúdos se relevam no território caicoense, exercidos pelos agentes do circuito

inferior. A expansão urbana como condicionante do aumento do circuito inferior nas

periferias é pensada nos itens a seguir.

3.2 Periferias versus centro: os papéis do Estado e dos agentes

hegemônicos no processo de centralidade urbana

Atualmente, a cidade de Caicó é dividida em quatro zonas21 e 31 bairros22

como mostra a figura 11.

21

Zona Central, Zona Norte, Zona Leste e Zona Oeste (COPOM, 2015). A 5ª zona (Zona Rural) não é discutida neste trabalho por se tratar de uma problemática urbana. 22

Número contabilizado pelo COPOM – 6º BPM. Já a Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura Municipal de Caicó contabiliza 32, entre bairros oficiais e não oficiais. A diferença nas informações se dá porque a secretaria divide o bairro Barra Nova em dois (Barra Nova e Barra Nova II). O número 31 foi usado na pesquisa pela importância da delimitação cartográfica expressa na Figura 11, uma vez que a secretaria não disponibilizou imagens da divisão entre bairros descrita na informação acima.

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Figura 11 – Divisão entre bairros do perímetro urbano caicoense.

Fonte: COPOM, 2015.

Diferente do seu crescimento urbano inicial (formado pela concentração de

fixos e fluxos no centro da cidade, como mostra a Figura 8), a urbe caicoense a

partir de 1970 cresceu para além de sua área central, porém não provocou o

processo de descentralização espacial do comércio e dos serviços de modo

relevante, principalmente quando se trata das atividades ligadas ao circuito superior

da economia que se instalam de forma prioritária no centro da urbe.

Para Lopes Jr.; Santos (2010), a concentração está identificada por meio da

aglomeração, seja da densidade social, seja da densidade de estabelecimentos

comerciais (como é o caso do bairro Centro). Já a descentralização são os fluxos de

atividades socioeconômicas de aglomerações mais antigas para novas áreas mais

distantes. Dessa forma, entende-se que o processo de descentralização não se

manifesta de modo relevante na cidade de Caicó, uma vez que o bairro Centro

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continua sendo o espaço preferencial de aglomeração das atividades econômicas,

constituindo, assim, o processo de concentração.

As atividades ligadas ao circuito superior (incluindo sua face marginal) forma

uma notória aglomeração espacial na urbe. Cria-se, pois, uma seletividade do

espaço central na forma de concentração, mas também de centralidade para os

diferentes agentes que participam das atividades comerciais e prestadoras de

serviços no bairro Centro. Mesmo não tendo como delimitá-la cartograficamente, a

centralidade é “condição e expressão de central que uma área pode exercer e

representar” (SPOSITO, 2013, p. 73). E essa centralidade não é definida porque

existe o centro, mas porque o bairro Centro exerce uma hegemonia que é percebida,

sentida e representada através dos objetos e das ações.

Com isso, estas atividades concentradas no bairro Centro exercem “uma

hegemonia” no território caicoense e, por isso, as diversas atividades (mesmo as do

circuito inferior, como os ambulantes, por exemplo) tentam se aproximar dos

espaços onde as atividades do circuito superior são exercidas na tentativa de se

beneficiar também desses fluxos (pessoas, mercadorias, capitais). A figura seguinte

é um exemplo da tentativa de beneficiamento do circuito inferior da economia pelos

fluxos gerados a partir dos agentes do circuito superior.

Figura 12 – Ambulantes. Antiga praça da alimentação da cidade. Um novo uso do território pelo circuito inferior nas proximidades da Av. Coronel Martiniano.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

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Essa aglomeração/concentração comercial resulta no deslocamento de uma

parcela da população para um mesmo ponto da cidade na tentativa de usufruir dos

recursos disponíveis da área central, criando, assim, “pontos que dispõem de

vantagens locacionais significativas. Há uma tendência para as concentrações com

efeitos cumulativos” nesta porção do território (SANTOS, 2004, p. 279).

Essa concentração de investimentos na parcela mais privilegiada da cidade

– o bairro Centro – intensifica também a valorização do espaço e a especulação

imobiliária deste, ao mesmo tempo em que provoca o processo de periferização dos

demais bairros da cidade. Além disso, a densidade de estabelecimentos comerciais

provenientes do circuito inferior da economia não formam expressivas

concentrações nos demais bairros de Caicó como acontece no núcleo central

porque na maioria deles são espaços onde reside a maior parcela da população de

baixa renda.

Diferente do bairro Centro, estes bairros “se encontram menos providos de

infraestrutura e serviços básicos, ou seja, as parcelas da cidade não alcançadas

pelos vetores da modernização recente” (MONTENEGRO, 2014, p. 65), são os

lugares ou subespaços opacos, lentos, viscosos, da rarefação técnica, finalmente os

territórios usados pelos homens lentos (FARIA, 2011), pelos agentes do circuito

inferior periférico (MONTENEGRO, 2013).

O bairro Centro detém uma formação concentrada de estabelecimentos

comerciais e serviços (sejam do circuito superior ou do circuito inferior). Por isso, os

proprietários de inúmeros imóveis tendem a usufruir do espaço construído e suas

formas de uso do território para o comércio atrativo e “atuam no sentido de obterem

a maior renda fundiária de suas propriedades, interessando-se em que estas tenham

o uso que seja o mais remunerador possível, especialmente uso comercial [...] de

status23” (CORRÊA, 1995, p. 16), como se observa na figura a seguir.

23

A palavra status é comumente usada por Corrêa (1995, 2003, 2013). Essa forma de adjetivar as parcelas do território como “alto status ou baixo status” se refere à indicação dos investimentos inseridos em cada parcela do território. Os bairros de baixo status são desprovidos de serviços públicos e privados, assim como de comércios e modernas residências. Diferentemente dos bairros de alto status onde os papéis são investidos.

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Figura 13 – Um espaço destinado aos hegemônicos. Prédio localizado na Av. Coronel Martiniano.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Essa prática é executada por vários empresários caicoenses, sendo os

espaços mais privilegiados e de maior status estabelecidos nas avenidas do núcleo

central: Av. Seridó e Av. Coronel Martiniano, acessíveis, por conseguinte, aos grupos

e os agentes sociais cada vez mais selecionados – os agentes hegemônicos

(SANTOS 2001).

Nessa linha, observa-se também que os demais bairros que não são

majoritariamente residenciais de status da cidade tendem a comungar da mesma

desvalorização capitalista por parte dos agentes imobiliários/hegemônicos. Esses

bairros desvalorizados possuem o valor do solo urbano relativamente menor, além

disso possuem edificações que se diferenciam no que se refere à infraestrutura

investida. Os fixos existentes não estão próximos aos equipamentos urbanos

eficazes e/ou em funcionamento como também aos serviços públicos, além da

pouca ou nenhuma proximidade as pequenas concentrações de estabelecimentos

comerciais (mesmo aquelas atividades do circuito inferior).

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Dessa forma, os bairros residenciais de status e o centro da cidade

(subespaços ou lugares luminosos da urbe) foram e são redefinidos como “espaços

atrativos”. Essa redefinição é produzida através de políticas públicas onde o Estado

tende a inserir no território determinados objetos/eventos, serviços públicos e

equipamentos urbanos, como por agentes imobiliários e, consequentemente

também, pela concentração das atividades comerciais (principalmente pelo circuito

superior). Em resumo, esses agentes condicionam “o uso do espaço da cidade à

sua condição de mercadoria; esta tendência submete o cidadão marcando a

passagem do processo de consumo no espaço ao consumo do espaço”

(CARLOS, 2007, p. 14, grifo do autor), sendo assim, o espaço torna-se finalmente, a

partir das relações socioespaciais – uma mercadoria.

O acúmulo de objetos e ações provocados pelo Estado, pelos atores

hegemônicos e em parte pela dinâmica dos circuitos da economia urbana no Centro

(ainda mais quando se trata do circuito superior) faz com que se revele o processo

de periferização no restante da cidade. Cabe aqui dizer que, neste trabalho, o

entendimento geográfico sobre o processo de periferização (ou a periferia) não se

restringe somente à característica física. Ou seja, a periferia não é determinada

apenas pela distância física em relação às áreas de maior densidade de fluxos (área

central), ou pela moradia de certa parcela da população que reside nas áreas mais

pobres da cidade, ou pelo seu poder de compra no mercado. Mas sim, por esse

conjunto de fatores associado também a inacessibilidade que determinada parcela

da população sente a determinados usos do território.

Essa falta de acessibilidade discutida a partir das periferias da cidade é

definida a partir de três vertentes. Primeiro, os meios de transporte e a existência de

vias de tráfego eficazes (esse primeiro critério poderá ser efetivado pelo transporte

público municipal, pelos serviços prestados pela figura do mototaxista ou pelo

transporte individual). Segundo, o capital disponível da população (tanto para as

necessidades tidas como básicas: alimentação, vestimenta etc, como para as

práticas de lazer). Terceiro, o mercado de trabalho (o que fará o segundo critério ser

efetivado). A possibilidade desse acesso e uso do território central será por isso tida

como física e financeira, respectivamente, sendo negado a uma parcela relevante

dos moradores dos subespaços opacos da cidade caicoense. Por isso,

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ao se constatar que o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado, e que esta divisão articulada é expressão espacial dos processos sociais, introduz-se um terceiro momento de apreensão do espaço urbano: é uma reflexão da sociedade. Assim, o espaço da cidade capitalista é fortemente dividido em áreas residências segregadas, refletindo a complexa estrutura social em classes (CORRÊA, 1995, p. 08).

Pelos motivos da acessibilidade e do dinamismo comercial, o espaço

citadino caicoense torna-se uma mancha de fluidez na área central e os demais

bairros tornam-se pequenos pontos quanto ao uso do território para as práticas

comerciais e de serviços. Dessa maneira, os bairros se distinguem principalmente

pelas formas como são empregadas as técnicas, as informações e as finanças:

“Definem-se agora densidades diferentes, novos usos e uma nova escassez”

(SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 53). “O nível de renda também é função da

localização do indivíduo, o qual determina, por sua vez, a situação de cada um como

produtor e como consumidor” do espaço citadino (SANTOS, 2004, p. 21).

Nessa vertente, é importante destacar que, além dos agentes hegemônicos,

o poder público também faz com que se produza no mesmo território (a cidade)

diferentes densidades entre suas zonas, bairros e ruas. Essas ações vão tornando

algumas parcelas do território inacessíveis para uma parcela da população pobre e

outras parcelas ineficazes para a atração de pessoas e instalação de determinadas

atividades. São essas áreas adjetivadas como ineficazes para a supervalorização

imobiliária e comercial de status que abrigam o circuito inferior e seus agentes – a

população pobre da cidade:

A nível intra-urbano, o poder público escolhe para seus investimentos em bens e serviços coletivos, exatamente os lugares da cidade onde estão os segmentos populacionais de maior poder aquisitivo; ou que poderão ser vendidos e ocupados por estes segmentos pois é preciso valorizar as áreas. Os lugares da pobreza, os mais afastados, os mais densamente ocupados vão ficando no abandono… (SPOSITO, 2000, p. 91).

Essas diferentes densidades nos usos do território caicoense foi visualizada

por Faria (2011) ainda no ano de 1970, quando a cidade de Caicó já se expandia de

forma mais ampla. Contrária à expansão da cidade, as ações e objetos importantes

foram intencionalmente concentrados apenas na área central, constituindo as

periferias ao seu entorno. Nisto, a periferia deixa de ser pensada apenas pela

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distância física, mas também, “pela falta de infraestrutura e serviços que

caracterizam o lugar de moradia da população de menor renda (OLIVEIRA et al,

2012, p. 03)” A Figura 14 representa a cartografia e o entendimento geográfico sobre

o processo de periferização na urbe caicoense, visualizado já com expressividade

desde o ano de 1970.

Figura 14 – Caicó. Centro, área de entorno e periferias em 1970.

Fonte: Carlos Eugênio de Faria, 2011.

Nesta imagem, observa-se o processo de expansão urbana atrelado ao

processo de periferização na Caicó de 1970. A partir dela, nota-se que o bairro

Centro (em azul) está recortado na forma de centralidade onde foi espaço

privilegiado e intencionado à concentração de ações e objetos por diversos agentes

explicitados anteriormente, desde então, tornou-se um espaço destacadamente

comercial de status na urbe: “cabe ao pesquisador entender o sentido dessa

localização” (CASTILHO; FREDERICO, 2010, p. 465).

Além disso, as ações e objetos dos diversos agentes hegemônicos inseridos

no bairro Centro na forma de concentração aliados ao processo de expansão urbana

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notória especialmente a partir dos anos de 1970 foram capazes de formar diferentes

densidades na urbe, como também, de promover o afastamento de alguns atores do

recorte mais privilegiado do espaço urbano.

Os agentes não hegemônicos aparecem agora também como agentes

dinamizadores do território mesmo estando nas periferias. Faria (2011, p. 14) indaga

“é realmente importante o papel dos pobres na expansão da cidade?...”, pois sim.

São os espaços lentos que abrigam os homens lentos que finalmente se (re)utilizam

do território a partir do circuito inferior e sustentam a maior parcela da população

citadina graças às suas estratégias de sobrevivência. Dessa forma, as interações

entre os circuitos e seus agentes são capazes de sustentar a cidade capitalista, pois

“os dois circuitos não são dois sistemas isolados e impermeáveis entre si, ao

contrário, estão em interação permanente” (SANTOS, 2004, p. 261).

Esses processos socioespaciais e socioeconômicos foram e são

constituintes de novos usos do território nos bairros periféricos. Criam através

desses processos novas relações da divisão social/territorial do trabalho, adjetivando

as periferias como alguns autores chamam de “periferia comercial”. Os atores não

hegemônicos da economia popular (circuito inferior) são pensados neste momento

não somente como submissos ao circuito superior, mas também, como fonte de

combustível para a retroalimentação do espaço urbano como um todo, uma vez que,

o circuito superior também depende dos agentes do circuito inferior para movimentar

suas ações.

É verdade que os bairros periféricos não concentram numerosos

estabelecimentos comerciais (mesmo sendo do circuito inferior) como acontece no

bairro Centro, mas não se pode negligenciar seu poder de dinamismo na economia

citadina e sua função “de abrigo” para a renda e ocupação dos pobres nas porções

menos valorizadas do território caicoense. Além disso, é importante lembrar que sua

expansão “tem relação direta com a questão do desemprego” (DANTAS; TAVARES,

2012, p. 63).

Também não se pode esconder que muitas atividades estão ligadas à

“informalidade”, indicada no discurso dualista. Algumas são desenvolvidas em

precárias condições, tanto no que se refere ao espaço articulado para as atividades

como também em relação ao agente (falta infraestrutura básica do espaço,

escolaridade, saúde e segurança do trabalho). Além de funcionarem em sua maioria

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longe da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que são: Carteira de Trabalho e

Previdência Social (CTPS), direito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

(FGTS), Seguro-Desemprego, abono salarial, férias e 13º (décimo terceiro) salário

remunerados, licença maternidade e paternidade, entre outros (MTE, 2015). Muitos

dos agentes entrevistados do circuito inferior nas periferias informaram que não

conseguem ter remuneração mensal igual ou superior a um salário mínimo.

Trabalhando na mesma perspectiva, Salvador24 (2012a) define a média

salarial dos agentes dos circuitos da economia urbana na cidade de Caicó. O

rendimento mensal relaciona-se, em sua maioria, com o nível de escolaridade do

agente e a atividade que ele se liga (superior ou inferior). Além disso, percebe-se

que muitos dos agentes do circuito inferior estão desenvolvendo tais atividades pela

falta de oportunidade no mercado de trabalho e criam atividades que sejam

possíveis com “o pouco que têm” e com as experiências vividas. Os agentes

explicitam que as formas de trabalho e renda no circuito inferior deixam de ser uma

escolha e tende a ser interpretada como única opção:

No que tange à renda mensal, os responsáveis por atividades do CS em Caicó recebem, em sua maioria, mais de cinco salários mínimos, havendo também uma significativa porcentagem que recebe de três a cinco salários mínimos mensalmente. No CI, os responsáveis pelas atividades têm, geralmente, renda mensal de um a dois salários, e vários destacaram obter menos de um salário mínimo ao mês. É necessário que se analisem esses dados juntamente com aqueles referentes ao nível de escolaridade dos responsáveis por atividades do CS e do CI. No CS, 44% dos responsáveis são especializados para a atividade que desempenham, 33% concluíram o Ensino Médio e fizeram cursos profissionalizantes relacionados à atividade, 12% concluíram o Ensino Superior e/ou o Mestrado, e apenas 6% não têm o Ensino Médio completo. Entre os agentes do CI, a situação é diferente: 41% concluíram o Ensino Médio, 18% concluíram ou cursam o Ensino Superior, e o restante nunca estudou, ou cursou apenas o Ensino Fundamental (SALVADOR, 2012a, p. 174-75, grifo nosso).

Essas diferenças entre os agentes dos circuitos condicionam também as

formas de uso do território caicoense. Os agentes do circuito superior comandam a

maior parte do centro da cidade enquanto os agentes do circuito inferior promovem

estratégias diversas nas periferias. Estas condicionantes impostas na cidade

24

No decorrer das discussões, Salvador (2012a) abrevia: CS para circuito superior e CI para circuito inferior.

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capitalista são entendidas aqui através de vários conceitos (a segregação

socioespacial é um deles, trabalhado no próximo capítulo). A centralidade urbana

não deixa de ser um “grande negócio” e “tem concentrado a renda, sem melhorar o

acesso a serviços básicos e sem trazer melhorias nas condições de vida” à

população total (ALVES, 2009, p. 30). Esse processo só amplia os benefícios dos

atores hegemônicos, geralmente os que se beneficiam do circuito superior e superior

marginal. Em contraposição, existe uma precária situação na economia periférica da

cidade caicoense exercida pelos agentes do circuito inferior. Percebe-se que estes

agentes estão “adaptados a sobreviver com limites mínimos de consumo e de

conforto, quando não na escassez” (SALVADOR, 2012a, p. 176).

Mesmo assim, “é necessário doravante levar em conta o circuito inferior

como elemento indispensável à apreensão da realidade urbana e encontrar as

medidas a serem adotadas para atribuir a esse circuito uma produtividade mais

elevada” (SANTOS, 2004, p. 23), entendendo que ele tem um grande papel no

espaço urbano caicoense – é uma fonte de renda e sobrevivência para uma grande

parcela da sociedade pobre. As estratégias que os agentes do circuito inferior

desenvolvem, principalmente nas periferias, são percebidas e discutidas adiante.

3.3 O circuito inferior da economia: um olhar qualitativo de suas formas

espaciais no espaço urbano caicoense

As atividades ligadas ao circuito inferior nos demais bairros da cidade, assim

como no bairro Centro, estão representadas em suas diversas formas de

organização e capital investido, pelas microempresas pouco capitalizadas,

prestadores de pequenos serviços, pequenos comerciantes, artesãos, vendedores

ambulantes etc. Mas também se diferenciam, uma vez que, as atividades do circuito

inferior que se espacializam nos bairros periféricos da urbe estão ainda menos

providas de infraestrutura interna e urbana, organização e capital quando

comparadas as que se espacializam no bairro Centro.

Estas atividades do circuito inferior periférico são exercidas principalmente

pela população de baixa renda. Aquele serve como abrigo e fornecedor de

ocupação/renda da maioria. Entendendo, pois a dimensão assumida por essas

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atividades é possível entender também que o espaço em sua forma banal (espaço

de todos) e seus diferentes conteúdos garante a presença ao mesmo tempo em que

convida os agentes da economia popular a certos usos do território

(MONTENEGRO, 2013). É nessa linha de pensamento que se visualiza os

diferentes usos e espacializações do circuito inferior não somente no núcleo central,

mas também nas áreas periféricas da cidade.

Nesse sentido, “a cidade, como meio construído, é uma condição necessária

da atividade econômica, mas usada diferentemente segundo o tamanho das firmas e

seu poder de mercado” (ARROYO, 2015, p. 03). Isso explica as diferentes

densidades e velocidades que a cidade possui além dos diferentes usos do território

caicoense segundo a lógica comercial capitalista. Pelo mesmo motivo, também o

circuito inferior da economia se apresenta de diferentes formas no espaço urbano e

é representado por diferentes atividades e formas espaciais.

Assim, as atividades do circuito inferior com maior capital se concentram de

forma mais densa

[...] em suas áreas centrais e em seus bairros periféricos mais populosos. Tal densidade diferencial da presença do circuito inferior no tecido urbano [...] está relacionada a fatores distintos segundo a localização considerada, conforme veremos a seguir. Para além da valorização desigual do meio construído, podemos apontar certos elementos que, combinados a essa valorização diferencial das localizações e, de certa forma, permitidos por ela, implicam tal distribuição característica do circuito inferior no tecido urbano dessas cidades (MONTENEGRO, 2013, p. 39, grifo nosso).

Esses elementos citados pela autora como conjunto capaz de promover uma

valorização diferencial do tecido urbano estão relacionados à presença de ruas

pavimentadas, avenidas de maior densidade de fluxos e consequentemente, de

veículos, mercadorias, pessoas e capital. Locais onde existem equipamentos

urbanos em funcionamento, serviços públicos etc, como acontece no bairro Centro.

Dessa maneira, essas localidades se tornam um espaço importante e com

capacidade de abrigarem mercados potenciais (mesmo sendo atividades do circuito

inferior). No bairro Centro, consolidam-se como espaços de valorização diferencial:

Av. Coronel Martiniano, Av. Seridó, Rua Renato Dantas, Av. Rio Branco, Av. Dr.

Carlindo Dantas, dentre outras que também cortam o núcleo central da cidade.

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Alguns exemplos dessa valorização diferencial também são encontrados nos

demais bairros da urbe. Esses novos territórios são re(organizados) sob as lógicas

capitalistas e podem ser entendidos como um processo de descentralização

comercial ainda de maneira espontânea, ao mesmo tempo em que, promovem uma

pequena concentração comercial. Mesmo sendo uma afirmação contraditória, é

assim que alguns agentes do circuito inferior periférico tentam se destacar nas áreas

de maior fluxo das periferias, conseguinte, produzem de certa forma, uma tentativa

de descentralização comercial na urbe (sendo possível afirmar que tentam, mas não

possuem a intencionalidade dos agentes centrais e não têm o entendimento do

processo de descentralização). O processo não é percebido por eles, muitos dos

agentes do circuito inferior periférico só precisam de um “ponto que possam pagar” e

que “chame a atenção da clientela” [sic].

A fala “chamar a atenção dos clientes” é revelada na entrevista. A ação em

promover a descentralização comercial na urbe não se mostra intencionada, mas

sim, espontânea, pela maioria dos agentes do circuito inferior periférico, diferentes

dos agentes centrais que se beneficiam da concentração e promovem dia a dia sua

centralidade. Aqueles agentes do circuito inferior periférico que se aproximam do

entendimento sobre o processo de descentralização indagam que querem colocar

seu comércio alí “porque da mesma modalidade só tem no centro, aí a concorrência

no bairro é menor [sic]25”.

Não são todos os agentes que conseguem se fixar na área de mais fluidez

da cidade (área central) pela impossibilidade de custear o valor mensal de aluguel

de um prédio comercial que chega a custar em média de dois a dez salários

mínimos. Em pesquisa de campo foram encontrados alguns prédios comerciais

localizados na Av. Coronel Martiniano que são alugados por meio de contratos e

chegam a custar mais de R$ 10.000,00 mensalmente. Esses prédios são destinados

unicamente às atividades do circuito superior – os bancos.

Em contrapartida, alguns estabelecimentos comerciais localizados da

mesma forma contratual na Av. Rio Branco são alugados em média por um ou dois

salários mínimos vigentes. Na Av. Seridó foram localizados prédios comerciais

também de variados preços, desde aqueles de R$ 1.500,00 até os que passam dos

25

Fala comumente repetida dos agentes do circuito superior periférico que se instalam nos eixos de valorização diferencial.

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R$ 3.000,00. O tamanho do imóvel também implica no valor do aluguel e na forma

de contratação temporária (definida em anos).

Entendendo que o valor do espaço central na forma de aluguel é

relativamente alto para o circuito inferior, os agentes que desenvolvem estas

atividades, sendo menos capitalizadas, se espacializam nas áreas periféricas a partir

de variadas estratégias e preços. Estas formas de espacialização foram percebidas

e se destacam três características (comumente repetidas no espaço urbano

caicoense).

A primeira forma espacial é percebida nas ruas e avenidas de destaque dos

bairros periféricos (eixos de valorização diferencial) e são visualizadas,

principalmente, pela presença sequenciada de diversos tipos de estabelecimentos26,

como mostra a Figura 15. Esse exemplo é comumente repetitivo nas avenidas

periféricas de maior fluxo.

Figura 15 – Av. Dr. Rui Mariz no bairro Boa Passagem. Exemplo de valorização diferencial do espaço urbano.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Nesta porção do território, visualizam-se estabelecimentos sequenciados

que abrigam atividades ligadas à construção civil, equipamentos de informática e lan

house (com serviços de xérox, impressão, encadernação etc), sorveteria,

26

Essas atividades do circuito inferior são mais capitalizadas, mas ainda continuam sendo atividades do circuito inferior. Pode-se pensar a hipótese de um circuito inferior emergente (SANTOS, 2004).

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borracharia e salão de beleza. Esses agentes do circuito inferior, diferente dos

agentes da área central, conseguem se fixar nestes espaços em média por R$

350,00 mensais dependendo do espaço interno disponibilizado para o abrigo de tal

atividade. Alguns conseguem o aluguel do estabelecimento por meio contratual,

outros de forma verbal. O exemplo acima de valorização diferencial do espaço

urbano é visualizado na Av. Dr. Rui Mariz, Zona Norte da cidade e não deixa de ser

pensado como “abrigo” das atividades e dos agentes do circuito inferior periférico.

Esse exemplo é comum na urbe caicoense e pode ser visualizada também

nos bairros Barra Nova, Paraíba, Castelo Branco, Vila do Príncipe e Alto da Boa

Vista. Dessa maneira, os bairros tidos como residenciais abrigam pequenos

comércios/comerciantes que não conseguem se fixar no centro da urbe, mas

promovem, mesmo sendo em pequena escala, novos usos do território nas

pequenas parcelas da cidade. Os eixos de valorização diferencial nas periferias

podem então ser pensados como micro concentrações do circuito inferior periférico.

Isso porque não se compara a forte concentração exercida no bairro Centro.

Esses novos espaços que abrigam o circuito inferior (nos eixos de

valorização diferencial) são chamados por alguns autores de centralidades

populares, onde os agentes das atividades econômicas buscam se apropriar dos

fluxos que essas áreas dispõem. Destaca-se aqui a ideia de Montenegro (2013, p.

50, grifo nosso) quando explica que as áreas que se constituem como “centralidades

populares e periféricas dos bairros pobres concentram a maior densidade das

atividades da economia popular, visto que os recursos da maioria de seus agentes

lhes permitem a inserção somente nestas localizações”.

Os mais densos fluxos que caracterizam os eixos de valorização diferencial

foram identificados na Av. Dr. Rui Mariz (que se estende pelos bairros Boa

Passagem e Alto da Boa Vista), R. Major Lula (Paraíba), R. Manoel Possidônio

(Barra Nova), R. Francisco Dantas de Medeiros (Castelo Branco) e R. Júlio

Rodrigues (Vila do Príncipe). Estes eixos de valorização diferencial foram

cartografados sobrepostos à Av. Coronel Martiniano, podendo ser visualizados no

Mapa 5.

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Mapa 5 – Eixos de valorização diferencial na urbe caicoense.

Fonte: Elaborado pela autora com base nas malhas digitais do IBGE.

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A Figura 15 e o Mapa 5 demonstram essa tendência de sequenciar os

estabelecimentos do circuito inferior nas áreas de maior fluxo. São os fluxos diários

que conduzem a visualização dos estabelecimentos e, finalmente, o consumo da

população. É dessa forma que o circuito inferior (e seus diversos usos do território)

se apropria dos espaços onde a valorização diferencial se faz presente.

A segunda forma de espacialização, característica do circuito inferior

periférico, é atribuída pela capacidade do agente da atividade comercial ou de

serviço abrigar tal (re) produção capitalista em sua própria residência como mostra a

figura abaixo.

Figura 16 – Circuito inferior residencial. Ateliê de costura.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

A imagem acima explicita o serviço de costura desenvolvido na residência do

próprio agente.

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A forte presença de um circuito inferior residencial, ou seja, de atividades realizadas em residências, é um traço que aparece marcar a economia popular das periferias [...]. Com efeito, a realização de pequenas atividades em residências aparece como uma de suas principais manifestações, senão a principal. Avançamos, aqui, a hipótese de que o circuito inferior residencial periférico possui uma importância imensurável enquanto gerador de trabalho e renda. Abrangendo toda uma atividade econômica praticamente não estudada, ele exerce um papel fundamental na complementação da renda, ou mesmo enquanto atividade principal, das famílias pobres de bairros periféricos (MONTENEGRO, 2013, p. 47).

Essa estratégia do agente do circuito inferior periférico em abrigar a

atividade em sua própria residência engloba atividades das mais diversas tipologias

como: a venda de picolés e “dimdim”, perfumes e maquiagens, sobremesas

caseiras, serviços como aula de reforço para crianças e fretes, “marmitarias” e

churrascarias, manicure e pedicure, costuras, consertos de eletrodomésticos, dentre

outros. Esses casos são os mais característicos nos bairros considerados

periféricos, além disso, se sustentam e permitem a prática do fiado (anotações na

caderneta) e da pechincha como formas de negociação com a clientela do bairro e

de fora dele.

Quando se compara estas práticas de negociação do circuito inferior

periférico com o circuito inferior da área central nota-se que o desenvolvido no

Centro o fiado vem perdendo espaço para as novas formas de pagamento, como o

cartão de crédito e o cheque. Com isso, percebe-se que os nexos financeiros se

instalaram primeiramente no Centro do que nos demais bairros da cidade “onde o

fiado ainda se mantém como característica típica do pequeno comércio de bairro,

podendo representar, em certos casos, a prática mais adotada” (MONTENEGRO,

2013, p. 49).

Em pesquisa de campo, três de quatro costureiras entrevistadas que

mantém o comércio em suas próprias residências revelaram que a maioria da

clientela atendida por elas costumam pagar seus débitos no início do mês, quando

recebem seus pagamentos mensais. “Se não fosse desse jeito não tinha como

pagar as contas, a escola do meu filho, por exemplo. Tenho que costurar aqui em

casa também porque já economiza o aluguel que eu ia gastar estando noutro lugar”

[sic].

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Mesmo entendendo que a prática do fiado no circuito inferior periférico é

comum não se pode concluir, que em sua totalidade, os agentes não utilizam as

ferramentas de crédito ditadas pelo atual período. Pelo contrário, além da prática do

fiado, o circuito inferior periférico (principalmente as atividades mais capitalizadas,

localizadas principalmente nas ruas/avenidas de maior fluxo, como os salões de

beleza, alguns mercadinhos, lojas de confecções dentre outros) utiliza também o

recebimento das vendas a partir do cartão de crédito e do cheque.

Outra estratégia visualizada na pesquisa, desenvolvida tanto pelo circuito

inferior central quanto pelo desenvolvido nas periferias é a ampliação e divulgação

de suas atividades através da publicidade gratuita via internet.

Em contraposição, Santos (2004) afirma que a ferramenta indispensável ao

circuito superior é a publicidade, arma de criação/modificação de gostos pessoais, já

no circuito inferior a “publicidade” fica ao modo “boca a boca” da clientela

constituinte. Salvador (2012a) também reafirma que a publicidade alicerçada nos

padrões modernos, referindo-se aos instrumentos e equipamentos como o

computador conectado à internet, é comumente utilizado pelo circuito superior.

Nisto, percebe-se que o circuito superior continua firme com a mesma

estratégia, porém, alguns agentes do circuito inferior (central e periférico) também

promovem suas atividades de outras maneiras, além do “boca a boca” descrito por

Santos (2004). Trata-se das redes sociais gratuitas como, por exemplo: o Facebook,

Instagram, Whatsapp e o Twitter.

Essas novas ferramentas são meios gratuitos encontrados pelos agentes do

circuito inferior para a propagação e publicidade de suas atividades. Estão

disponíveis tanto para os que vendem como para os que compram, visto que, a

informação impulsionada pelo período globalizado chega à todo tempo, em todos os

lugares. Para Santos (1999, p. 09) “a instantaneidade da informação globalizada

aproxima os lugares, torna possível uma tomada de conhecimento imediata de

acontecimentos simultâneos [...]”.

Os aparelhos de telecomunicações como telefones celulares, os equipamentos de fotocópia, vídeo e fotografia, assim como os computadores, por exemplo, tornaram-se mais acessíveis aos agentes do circuito inferior e passaram a permear seu cotidiano tanto na esfera do consumo, como do trabalho (MONTENEGRO, 2013, p. 39).

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A Figura 17 evidencia a informação em sua instantaneidade e as novas

ferramentas gratuitas de propagação das atividades. É dessa forma que o circuito

inferior (central, mas também o periférico) faz a publicidade e propaganda e de suas

atividades no território caicoense.

Figura 17 – Circuito inferior. Novas estratégias de publicidade e propaganda.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Essa estratégia (a publicidade) é característica do período técnico-científico-

informacional. A informação contida nela é destinada a melhorar “a eficácia, a

divisão e a especialização do trabalho nos lugares” (SILVEIRA; SANTOS, 2003, p.

22) e também foi incorporada pelo circuito inferior periférico. Hoje, os anúncios são

feitos e compartilhados sem a necessidade de pagamento de um carro de som ou

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de um outdoor, práticas antes muito utilizadas pelo circuito superior marginal na

cidade e “sonho de consumo” publicitário do circuito inferior periférico. Atualmente, o

circuito inferior se insere na economia citadina com estratégias baratas e dinâmicas

(como esta explicitada na figura 17) graças ao alcance dos vetores da modernização

recente ditados pela globalização (SANTOS, 2004).

A terceira forma de espacialização repetitiva e notória do circuito inferior nos

bairros periféricos de Caicó é a copresença de tarefas ou objetos distintos (não

relacionados) a serem vendidos no mesmo estabelecimento como mostra a figura

seguinte.

Figura 18 – Circuito inferior. Copresença de agentes e atividades distintas no mesmo estabelecimento.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

A Figura 18 é um exemplo comum da espacialização do circuito inferior nas

periferias da urbe caicoense. Este estabelecimento dispõe de mercadorias

alimentícias e de higiene, distribuição de água mineral e sorvetes além de

confecções dispostos no mesmo espaço. É uma estratégia comum exercida pelos

agentes do circuito inferior periférico com o intuito de dividir gastos como: o valor de

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aluguel, água e luz. Além disso, os agentes que se agrupam no mesmo

estabelecimento tentam usufruir do espaço para a comercialização e o lucro comum.

Muitas vezes essa prática se concretiza através de ações conjuntas entre

familiares, vizinhos ou amigos, tratando-se, pois, de uma economia “solidária” (como

acontece no exemplo acima). “A diversificação de tarefas e artigos não relacionados

no circuito inferior pode estar relacionada, por exemplo, à solidariedade com

familiares e amigos em situação de dificuldades” (MONTENEGRO, 2013, p. 43).

O conjunto dessas características apresentadas como estratégias

evidenciam ainda mais a expansão e a proporção que o circuito inferior periférico

assume no espaço urbano caicoense. Além disso, se destaca também a questão do

desemprego e/ou dos empregos temporários desenvolvidos pela população de baixa

renda como consequência do aparecimento de novas tarefas e atividades. Estas são

evidenciadas nas vias de valorização diferencial, nas residências dos próprios

agentes ou em conjunto com agentes próximos (familiares, amigos etc), com uso de

novas formas de crédito (cartão ou cheque) ou com a prática do fiado, usando da

propaganda “boca a boca” ou das novas formas de publicidade gratuita criadas no

período atual (técnico-científico-informal).

É verdade que todas as formas espaciais e as estratégias utilizadas pelo

circuito inferior periférico como também pelo circuito inferior central da urbe

caicoense se sustentam “no grande mercado que reside nas áreas periféricas e na

ocupação intensiva de um meio construído precário e desvalorizado”

(MONTENEGRO, 2013, p. 46). Mas é importante destacar que os agentes

hegemônicos também compram no circuito inferior, pois não necessariamente a

população pode/deve comprar no circuito em que se insere diretamente. Notam-se

desvios, visto que, acontece consumo parcial ou ocasional das categorias da

sociedade ligadas a outro circuito. Além da ligação consumidora nota-se, também, a

ligação da força de trabalho (SANTOS, 2004).

As formas de consumo e espacialização das atividades comerciais ligadas

ao circuito inferior periférico também é visualizada pelos agentes

hegemônicos/imobiliários, uma vez que, provocam mesmo que em pequena escala,

uma tentativa de descentralização comercial na urbe. Novos fluxos/ações e

consequentemente novos fixos/objetos começam a esboçar a intencionalidade de

alguns agentes hegemônicos, como também do Estado, numa parcela da periferia. A

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Figura 19 evidencia a intencionalidade das ações e dos objetos descrita por Santos

e Silveira (2003). Estes vão atender uma determinada função no novo território – o

bairro Serrote Branco. Pode-se então indicar que esta tentativa de descentralização

comercial intencionada, agora pelos agentes hegemônicos, seria possível. Isto por

que o nível de capital, organização e tecnologia são inversamente maiores quando

se compara ao circuito inferior periférico.

Figura 19 – Novos fixos e novos fluxos. Um passo para a descentralização comercial? O “Caicó Shopping”.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

A figura acima esboça o projeto pensado para a construção de um shopping

center no bairro Serrote Branco, localizado na Zona Norte da cidade. Esta

construção é intencionada pelos agentes hegemônicos e pela ação do Estado

(principalmente porque se trata de um bairro constituído a partir da compra de

imóveis pela Caixa Econômica Federal). Também pode ser analisada sob a ótica da

descentralização comercial intencionada pelos agentes hegemônicos. Isto porque o

Caicó Shopping vai abrigar inúmeros estabelecimentos no mesmo prédio, ou seja,

outra aglomeração comercial e de serviços existirá nesta parcela da urbe caicoense.

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Trata-se de pensar neste trabalho como descentralização o processo de

multiplicação e diversificação do centro, onde tende a formar uma cidade

polinucleada ou policentrada, de acordo com o pensamento de uma evolução

estruturada no urbano capitalista. Deste modo, explicita-se a produção de uma nova

dinâmica econômica territorial, como também, uma nova espacialização urbana, ou

seja, a ocorrência de novos processos espaciais (LOPES JR; SANTOS, 2010, p.

115).

Pensando no exemplo do shopping percebe-se que a localização é

intencionada por alguns agentes hegemônicos e tendem a promover o bairro como

mais um de status, ao mesmo tempo em que, promove a tentativa de

descentralização. O shopping foi pensado como “elemento imprescindível no estudo

de sua implantação e consequente investimento. Neste sentido, a acessibilidade

intencionada em sua localização está intimamente relacionada ao [...] acesso para

atingir o mercado consumidor” (LOPES JR; SANTOS, 2010, p. 120).

Entendendo as diversas manifestações dos circuitos e suas formas de uso

do território na urbe caicoense aliadas a uma possível tentativa de descentralização

comercial, visualiza-se que, “o momento atual revela continuidades e

descontinuidades que se combinam como conseqüência das transformações na

relação espaço/tempo urbanos” (CARLOS, 2007, p. 11). Estas parcelas contínuas do

espaço urbano estão traduzidas em Caicó pela concentração comercial,

especialmente pelas atividades do circuito superior no núcleo central ao mesmo

tempo em que revela descontinuidades nos bairros periféricos, representadas pelas

atividades do circuito inferior. As descontinuidades são expressas principalmente

quando se nota poucos estabelecimentos comerciais distribuídos nos bairros

periféricos quando comparados ao centro. A cidade é, pois, reafirmada como um

espaço fragmentado, um campo de lutas (CORRÊA, 1995).

Sobre o circuito inferior, evidenciado neste capítulo, identifica-se que mesmo

sendo constituído de estabelecimentos menores e com menor organização e capital

investido, ele possui uma importância relevante na urbe caicoense. Além de estar

relacionado ao processo de uma possível descentralização comercial e de serviços

na cidade (mesmo que seja um processo ainda incipiente) reconhece também que

este subsistema gera um número representativo de empregos e renda para a

população.

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O destaque maior deste capítulo é que existe no território caicoense uma

possível descentralização comercial propulsora a partir da dinâmica espacial do

circuito inferior nos bairros tidos como periféricos. Essa tentativa de descentralização

não fica explícita pela vontade do pequeno comerciante em continuar nas periferias,

pelo contrário, é entendida neste trabalho pela persistência dos agentes do circuito

inferior em resistir aos momentos de crise do emprego e da economia, tendo a

periferia como espaço para abrigar suas atividades. Existe e se desenvolve uma

enorme “diversidade de atividades de uma economia popular que, diferentemente

daquela localizada na região central, se completa na escala de cidade ou, ainda, do

próprio bairro e que se sustenta na freguesia da vizinhança” (MONTENEGRO, 2013,

p. 46).

Essa tentativa de descentralizar aparece como rupturas esboçadas no

espaço e são entendidas a partir da dinâmica dos circuitos, fruto da realização

desigual da população, da construção e reconstrução do meio e suas formas de uso

e ocupação do território onde se apresentam sob a forma de conflito, ou seja, o

núcleo versus as periferias.

Por isso, “nos defrontamos com a necessidade de desvendar os conteúdos

mais profundos do processo de urbanização hoje, a partir das contradições que

estão postas no mundo moderno e que se revelam, com toda a sua força [...]”

(CARLOS, 2007, p. 11-12, grifo do autor). O capítulo a seguir exibe as contradições

da urbe caicoense e daí, entende-se o porquê “do conflito urbano” pelas melhores

localizações comerciais e de serviços.

A concentração e as descontinuidades comerciais e de serviços, impressas

no espaço urbano caicoense tem justificativas. A segregação socioespacial como

elemento constitutivo dos subespaços opacos e luminosos da cidade de Caicó pode

ser uma das possibilidades de entendimento desses processos.

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CAPÍTULO 4

OS SUBESPAÇOS OPACOS E LUMINOSOS DA URBE

CAICOENSE: a segregação socioespacial como elemento

de análise

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4 OS SUBESPAÇOS OPACOS E LUMINOSOS DA URBE CAICOENSE: a

segregação socioespacial como elemento de análise

4.1 A segregação socioespacial

Os capítulos anteriores foram importantes para o entendimento dos

processos de concentração e centralidade exercidos principalmente pela presença e

aglomeração pontual do circuito superior no bairro Centro. Além desses, também foi

visualizada uma tentativa de descentralização comercial (ainda não intencionada)

pelos agentes do circuito inferior nas periferias, que não se faz paralela à taxa de

expansão urbana que a cidade promoveu a partir dos anos 70, uma vez que, este

último processo tem notória representatividade espacial.

Nesse momento, entende-se que, cada um desses processos constitui

finalmente como o resultado das ações intencionadas em privilegiar certas parcelas

da urbe, e por fim, geram diferentes formas e funções espaciais na cidade de Caicó.

Além desses processos discutidos nos capítulos antecedentes, o espaço urbano

capitalista caicoense pode ser visto e analisado também através dos subespaços ou

lugares de opacidade e luminosidade, como bem trabalhou Faria (2011)27.

Agrega-se ainda neste capítulo que os subespaços opacos e luminosos da

cidade de Caicó também podem ser interpretados através da segregação

socioespacial. Tem-se, pois, a possibilidade de analisar a espacialização comercial

através dos subespaços opacos e luminosos e atrelados ao conceito de segregação

socioespacial. Não se trata de negar um ou outro conceito, nem de misturá-los, pois

tem filiações teóricas distintas e foram originados em tempos diferentes. Mas se

complementam e são fundamentais ao entendimento do processo de urbanização

capitalista das cidades brasileiras. Assim, pode-se então, analisá-los em suas

relações com o espaço urbano caicoense.

Como diz Sposito (2013, p. 64) “isso pode ser dito de todos os conceitos,

visto que é preciso tratá-los sempre em suas relações com os outros e com as

27

Mesmo entendendo que o conceito em sua base é analisado por Silveira (1999); Silveira e Santos (2006) interessa neste momento discutir os subespaços opacos e luminosos, tempos lentos e rápidos a partir das contribuições de Faria (2011) por que foram discutidos no espaço urbano caicoense. Não se trata de discutir apenas a metodologia, mas também o mesmo empírico – a cidade de Caicó.

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realidades a que se aplicam e que o colocam em questão ou o negam”. Dessa

forma, será aqui discutida a coexistência dos conceitos como forma de entendimento

da espacialização comercial existente no urbano caicoense, suas características e

suas formas de apropriação do espaço – o banal (SANTOS, 1996).

Como nos capítulos anteriores foram explicitadas as características dos

subespaços opacos e luminosos na cidade, deve ser entendido agora o porquê da

análise dos subespaços através da segregação. Esse conceito pressupõe várias

definições e aplicações no espaço urbano capitalista, mas não pode ser confundido

com outros conceitos analíticos como: exclusão social, marginalização,

discriminação social etc.

O livro “A cidade contemporânea: segregação espacial” produzido por

pesquisadores membros28 do Grupo de Estudos Urbanos (GEU) é um exemplo

dessa “polissemia rica” sobre o conceito segregação e suas diversas formas de

adjetivação (segregação espacial, socioespacial, urbana, residencial etc). Nesse

livro, o conceito de segregação aplicado ao espaço, mas também ao social,

apresenta diferentes leituras, mas só serão destacadas neste trabalho as principais

ideias de Alvarez (2013); Corrêa (2013) e Sposito (2013). Afinal, os autores

trabalham o espaço urbano capitalista através da divisão econômica e da divisão

social do espaço, o que está atrelado ao diálogo abordado aqui pelos circuitos da

economia urbana e suas formas de espacialização na cidade.

Em suas reflexões sobre a produção do espaço urbano a primeira autora

introduz a ideia de que “a segregação constitui um dos fundamentos da produção do

espaço urbano capitalista” (ALVAREZ, 2013, p. 111). A cidade de Caicó como

exemplo da reprodução capitalista não foge de ser exemplo desse processo, visto

que, o espaço é “produto/mercadoria” para as diversas formas de uso do território e

para as práticas capitalistas ditadas pelas atividades dos circuitos da economia

urbana.

Em seguida, Corrêa (2013) introduz a ideia de que a segregação apresenta

também um enfoque em menor escala geográfica com a indicação de uma

“segregação residencial”. Essa outra forma peculiar de segregação envolve uma

complexa articulação de conceitos, mas denota dizer que as distintas áreas da

28

Todos os membros estão disponíveis na obra completa – “A cidade contemporânea: segregação espacial”.

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cidade são fragmentadas e a localização das residências implica a espacialização

de tal processo. Essa tipologia é esboçada na urbe caicoense tanto pela localização

das residências como pela localização das atividades dos circuitos da economia

urbana como foram vistos nos capítulos anteriores.

A concentração no centro da cidade atrai os interesses dos agentes que

podem abrigar-se nela (tanto na forma de comércios como na forma de residências)

e atrai também aos que podem consumir nela, mesmo sendo de uso parcial – esse

“uso parcial” especifica os atores não hegemônicos (SANTOS, 1996).

A centralidade urbana originada pela forte concentração de fixos e fluxos

importantes e exercida de forma hegemônica no bairro Centro (com ênfase nas

avenidas do núcleo central) é composta pela presença de técnicas modernas

inseridas pelos homens rápidos e por isso, sua luminosidade (FARIA, 2011). Os

grupos de alto status se interessam em promover ainda mais a hegemonia desta

parcela do território caicoense através das atividades comerciais e de serviços.

Noutras parcelas do território caicoense, a população de baixo status – os

não hegemônicos – se abrigam e criam precárias condições e estratégias de

existência (equivale pensar tanto nas formas de habitação quanto nas formas de

comercialização – este claro, sob as características do circuito inferior da economia).

Logo, o modelo centro-periferia discutido por Sposito (2000; 2013) que exibe as

vantagens da localização dos objetos/fixos mais importantes no centro demonstra

tratar da mesma problemática. Há, sempre, que se pensar a organização espacial

da cidade capitalista como sendo um espaço articulado e fragmentado,

profundamente desigual (CORRÊA, 1995).

É importante destacar finalmente que o conceito “segregação” será

entendido neste trabalho como produto social no espaço, tornando-se, pois, uma

segregação socioespacial como adjetiva Sposito (2013).

Exemplificando o conceito, a segregação socioespacial implica o

rompimento “entre a parte segregada e o conjunto do espaço urbano, dificultando as

relações e articulações que movem a vida urbana” (SPOSITO, 2013, p. 65). Em

outras palavras, a percepção do processo e a espacialização da segregação

socioespacial sobre a cidade capitalista pode e deve ser vista quando se valoriza

mais uma(s) do que outra(s) de suas múltiplas parcelas territoriais, podendo ser

apreendida através de relevantes condições e expressões econômicas.

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Outra característica da segregação socioespacial é que ela é um processo e

não uma expressão espacial. “Sua espacialidade só pode ser apreendida na

perspectiva temporal, ou seja, considerando-se as múltiplas temporalidades que

ensejam a vida urbana” (SPOSITO, 2013, p. 66). Por isso, é importante considerar

as ações e os objetos/fixos de diversas funções inseridas na cidade de Caicó de

forma pontual no decorres das últimas décadas, principalmente a partir de 1970,

com a expansão urbana.

Mesmo trabalhando o conceito segregação socioespacial (SPOSITO, 2013)

também não se podem deixar de lado as diversas contribuições sobre o conceito

como a “segregação residencial” trabalhada por Corrêa (2013) ou a “segregação

urbana” trabalhada por Alvarez (2013). Não se interessa esgotar as diferentes

linguagens sobre a segregação, mas sim, entender que as manifestações sociais

criadas a partir dos sistemas de ações e objetos se imprimem no território nas

formas espaciais e criam modos de apropriação e uso (s) dele a partir também da

segregação.

As adjetivações dos atores descritos acima não muda a ênfase do processo,

porque em todas as abordagens a segregação é tida como fruto social sobre o

espaço e “rompem” a totalidade da cidade, formando parte (s) segregada (s) do

espaço urbano evidente.

Os subespaços opacos e luminosos e a segregação socioespacial são

traduzidos de várias formas. Cabe ao pesquisador entender a especificidade da

cidade de estudo. A variação de adjetivações do conceito segregação não parece

interferir no diálogo entre eles, pelo contrário, um dá suporte ao outro. Isso é

evidente quando a aplicação dos conceitos sobre o empírico estudado esboça o

porquê da espacialização trabalhada aqui também pelos circuitos da economia

urbana. Além disso, relacionar-se com a problemática da concentração e

centralidade no centro em contraposição com a dispersão comercial nas periferias.

Esta ligação entre os conceitos fica mais evidente a partir das discussões a

seguir.

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4.2 A segregação socioespacial e os subespaços opacos e luminosos como

elementos interrelacionados na cidade caicoense

Já se pode concluir que o bairro Centro – pela forte concentração de

comércios e serviços privados, de residências e de equipamentos e serviços

urbanos – se destaca como o subespaço mais luminoso da urbe e constitui também

uma centralidade. Em seguida, o bairro Penedo29 se destaca pela luminosidade,

visto que a maioria das residências e dos prédios comerciais nele edificados se

caracterizam pelas técnicas sofisticadas, uma “arquitetura rica”. Além disso, o bairro

Penedo ainda se liga ao centro pela concentração comercial e de serviços dispostas

na Av. Coronel Martiniano, gerando fluxos constantes neste eixo.

Em terceiro, alguns eixos, principalmente dos bairros Paraíba, Boa

Passagem, Barra Nova e Castelo Branco se aproximam das características dos

bairros acima, porém, são ainda, majoritariamente opacos quando se nota apenas

uma “pequena luminosidade” nos eixos de ligação entre bairros (são as ruas e

avenidas de maior fluxo).

Essas pequenas concentrações do circuito inferior nos eixos de maior fluxo

periférico podem ser caracterizados como “subespaços luminosos marginais”:

“Essas áreas da cidade são diferenciadas, quando se caracterizam por um mix, uma

situação que se coloca entre a densidade e a rarefação da técnica” (FARIA, 2011, p.

63).

Esses pequenos pontos de luminosidade foram caracterizados no terceiro

capítulo como “eixos de valorização diferencial” (MONTENEGRO, 2013) porque

abrigam diversos estabelecimentos do circuito inferior e promovem uma tentativa de

descentralização30 comercial ainda de maneira incipiente na cidade (ver Mapa 5).

29

Por mais que os bairros Maynard e Vila Altiva sejam destacados como subespaços luminosos por Faria (2011) eles não são evidenciados neste trabalho porque são bairros majoritariamente residenciais e não se nota grandes fluxos comerciais. Em contraposição, no Penedo (também indicado pelo autor como um subespaço luminoso) visualizam-se os fluxos gerados a partir dos circuitos da economia urbana e os fixos dispostos na Avenida Coronel Martiniano – que liga o Penedo ao Centro – sendo parte do núcleo central. O Penedo se sobrepõe aos demais bairros luminosos pela dinamicidade das relações comerciais. 30

Por mais que o processo de descentralização comercial nas periferias pareça não ser intencionado deve ser indicado. As relações socioeconômicas e socioespaciais-temporais poderão efetivar o processo indicado ainda de maneira incipiente.

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Assim, os outros bairros da cidade (com exceção dos bairros Maynard e Vila

Altiva), pela distância física em relação aos pontos de maior luminosidade ou por

não concentrarem funções importantes na urbe (comércios e serviços

públicos/privados, residências modernas ou equipamentos/serviços urbanos

eficazes) são caracterizados como opacos, mesmo visualizando algumas “exceções

luminosas”. As exceções adjetivadas como luminosas referem-se a algumas casas

bem projetadas, algumas ruas pavimentadas e com a presença de veículos

modernos, alguns equipamentos urbanos etc. O que predomina dizer que os outros

bairros são subespaços opacos é a sua totalidade, o que eles dispõem e os que

neles vivem.

Por essa característica de escassez (a opacidade) é que os demais bairros

da cidade sofrem ainda mais o descaso do poder público. Este não movimenta

ações para dinamicidade dos territórios “lentos”. A lentidão dos homens, das funções

e do território se torna visível quando se compara aos demais subespaços ou

lugares de luminosidade da cidade que se movimentam principalmente através dos

circuitos da economia urbana. A velocidade dos homens é distinta no espaço

(SANTOS, 1996), a dinamicidade e a articulação do capital, impulsionadas pelas

diferentes classes em cada subespaço também.

Na sociedade de classes, como a capitalista, diferenciada internamente por uma complexa estrutura de classes e por um poderoso, porém desigual, desenvolvimento das forças produtivas, a organização espacial é necessariamente desigual, qualquer que seja a escala considerada, internacional, nacional, regional e intra-urbana (WALKER, 1978 apud CORRÊA, 2011, p. 218, grifo nosso).

Considerando a escala intraurbana (no interior do mesmo perímetro urbano),

apontada pelo autor acima como estrutura complexa e desigual, pode ser analisada

outra característica do espaço urbano capitalista caicoense. Além da valorização

diferencial dos eixos principais nos bairros periféricos existe, também, uma

“valorização organizacional/comercial das empresas” dos subespaços luminosos ou

ainda das atividades que se destacam nos eixos de valorização diferencial.

Essa característica que se propõe adjetivar agora como uma valorização

organizacional/comercial das atividades comerciais e de serviços é entendida por

alguns autores como característica de uma empresa “formal”. Mas, essa linguagem

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(formal e informal) das atividades já não é atribuída nesta pesquisa porque se refere

ao pensamento da cidade de modo dualista (MONTENEGRO, 2012). A cidade não

pode ser vista como dividida em duas, mas em várias parcelas. As parcelas e os

agentes que mandam e as parcelas e os agentes que obedecem. Essas disputas

“expressam-se na produção do espaço urbano e geram disputas por sua ocupação e

uso” (FERNANDES, 2005, p. 219).

A valorização organizacional/comercial das empresas é apontada quando se

percebe que alguns dos agentes dos circuitos da economia urbana fazem o cadastro

junto à Casa do Empresário de Caicó. Esta casa é composta por três entidades:

Associação Comercial, Industrial e Serviços Lojistas (ACISC), Câmara de Dirigentes

Lojistas (CDL) e o Sindicato do Comércio Varejista de Caicó (Sindicomércio)

(ANUÁRIO, 2014). Tomando a entidade com maior número de cadastros das

atividades comerciais e de serviços em Caicó – a CDL, pode-se demonstrar a

afirmação indicada como “valorização organizacional/comercial” dos agentes. A

divisão dos cadastros junto ao CDL Caicó apresenta a seguinte espacialização

exibida no gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Divisão dos cadastros comerciais por bairros junto ao CDL Caicó.

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa de campo e entrevista junto ao CDL Caicó,

2015.

10%

90%

Barra Nova

Boa Passagem

Castelo

Centro

Paraíba

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A partir do Gráfico 1 percebe-se que o Centro possui o maior número de

cadastros (de lojas comerciais e prestadoras de serviços) junto ao CDL Caicó,

exibindo o número relevante de 90% (noventa por cento) de empresas cadastradas

concentradas nele. Esse número pode “expressar” o nível de organização que as

empresas que se concentram no Centro desemprenham.

Estes comerciantes entendem a importância do CDL Caicó como classe

representativa do empresariado caicoense e procuram o fortalecimento de suas

atividades. Além disso, os agentes procuram aprimorar ideias para melhorar a

dinamicidade do comércio nesta parcela do território caicoense. As ideias são

trocadas através de projetos e cursos na parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio

às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o

Serviço Social do Comércio (SESC). Além disso, os cadastrados junto ao CDL

dispõem de uma ferramenta importante – o Sistema de Proteção ao Crédito (SPC).

Esta ferramenta serve às empresas que trabalham com o crédito próprio (boleto)

além dos pagamentos à vista, cartão de crédito e cheque. É uma forma de apropriar-

se do modelo “fiado”, característico das empresas do circuito inferior periférico com

uma ferramenta “moderna” de cobrança.

O gráfico também apresenta outra informação relevante. Os outros 10% (dez

por cento)31 dos cadastros junto ao CDL Caicó estão divididos entre os bairros Barra

Nova, Boa Passagem, Castelo Branco e Paraíba. Esta informação trabalhada no

gráfico é paralela à inserção do circuito inferior periférico nas avenidas e ruas que se

caracterizam como “eixos de valorização diferencial” do espaço urbano caicoense,

discutidas no capítulo anterior. Esses quatro bairros (ainda mais quando se pensa

nos eixos de maior fluxo) são destacados e reafirmados como os mais dinâmicos

nas periferias.

Como aponta Montenegro (2013), é uma tendência das periferias mais

populosas em se caracterizarem como novas centralidades – as “centralidades

periféricas”. A descentralização comercial na urbe é um processo ainda incipiente,

31

Importante frisar que o CDL Caicó informou os números dos cadastros de maneira geral (número

majoritário representativo: 90% centro + 10% dos demais bairros). Mas, não se deve concluir que não exista a possibilidade de cadastro de uma ou outra empresa localizada nos outros bairros menos providos de atividades comerciais e de serviços.

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indicada como um processo “ainda não intencionado, espontâneo”. Mas as relações

espaço-temporais ou a história dos “cotidianos sucessivos” como bem denota

Santos (1991) poderá exibir na paisagem urbana a afirmação ou a negação deste

processo.

O que importa apontar nesta pesquisa é que a maior diferença entre o

centro e os demais bairros que se “sustentam” nos circuitos da economia urbana

refere-se “ao número de bens e serviços oferecidos, ao número de estabelecimentos

varejistas e de serviços, e ao grau de especialização das lojas varejistas” (CORRÊA,

2011, p. 23). Por mais que participem da mesma modernização tecnológica (ditada

pelo período geográfico recente), os comércios das áreas pobres são distintos da

zona central porque atendem em sua maioria ao mercado/consumo periférico. Já o

comércio central possui um amplo alcance espacial. Podem “abraçar” tanto o

consumo periférico – quando os indivíduos destas áreas se deslocam ao bairro

Centro, como também, o consumo central já localizado nas proximidades. Essa

diferença no alcance espacial esclarece a qualidade e a quantidade dos circuitos no

centro da cidade, principalmente a esboçada no núcleo central (Av. Coronel

Martiniano e Av. Seridó).

Essa qualidade e quantidade dos comércios/serviços nos subespaços

luminosos estão ligadas as frequentes indagações da população pobre da cidade

durante as pesquisas de campo. A pergunta frequente dos moradores dos bairros

desprovidos de infraestrutura urbana e de comércios próximos as suas residências

é: “porque não existe comércio bom nos bairros da cidade, como tem no centro? É

porque aqui tem mais pobre do que rico?” [sic]. A moradora do bairro Walfredo

Gurgel, localizado na Zona Oeste da cidade visualiza a mesma problemática

geográfica deste trabalho, mesmo enxergando o problema a partir do “conhecimento

popular32”.

Os bairros tidos como periferia geográfica, mas também como periferia

comercial da cidade de Caicó (ver figura 14) não abriga os adjetivados “bons

comércios” pela opacidade que os caracteriza. É neste momento que o conceito

segregação socioespacial aparece como relevante e tem interrelação aos

subespaços opacos e luminosos caicoenses.

32

Conhece a cidade a partir do vivido, do presenciado e percebido. A linguagem cientifica não é presenciada nas entrevistas.

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Os atores hegemônicos que usam33 o território caicoense tendem a se

autossegregar na parcela mais privilegiada da cidade. “A autossegregação visa

reforçar diferenciais de existência e de condições no espaço urbano, tornando-as

exclusivas em razão dos elevados preços da terra urbana” (CORRÊA, 2013, p. 43).

É por isso que a segregação socioespacial está diretamente ligada aos conceitos de

opacidade e luminosidade na cidade.

Os que se autossegregam estão, geralmente, nos subespaços luminosos

onde o preço da terra para a habitação e para a localização dos circuitos da

economia urbana está disponível apenas aos que podem pagar mais caro por eles.

Nos subespaços luminosos da urbe caicoense, no qual o bairro Centro e o bairro

Penedo são exemplos, é realizado a autossegregação dos agentes que ali residem.

Os autossegregados se diferenciam principalmente pela localização de suas

habitações. A maioria deles está inserida nos subespaços luminosos da urbe e são

representados pelas

[...] áreas nobres de moradia da cidade, mas, também, e principalmente, (por) alguns pontos, onde uma gama de instituições do setor secundário e terciário, sejam públicas ou privadas, disponibilizam um conjunto de técnicas que atestam a estes subespaços uma densidade, uma luminosidade e uma fluidez que podem ser comparadas a outras “áreas nobres”, seja em escala regional, seja nacional, seja global (FARIA, 2011, p. 66).

Já os bairros representados como subespaços opacos da urbe, e

especialmente os mais rarefeitos em técnicas (majoritários na Zona Oeste da

cidade) são pensados pelos atores hegemônicos “como símbolos de oposição à

idéia de cidade como espaço destinado ao progresso, ao desenvolvimento e à

modernidade” (FERNANDES, 2005, p. 223). São classificados muitas vezes como

“as favelas da cidade, lugar da marginalidade ou zona do medo” [sic]34. São ainda

adjetivados como “territórios dos homens sujos” ou “territórios dos homens maus”

(FARIA, 2011, p. 49).

Esses subespaços opacos são traduzidos na paisagem urbana caicoense

pela notável pobreza das periferias. Nessas, há uma desvalorização na aplicação do

33

Todos os usos, de todos os agentes sociais é o que faz o espaço ser adjetivado como banal (SANTOS, 1999). O território é a forma concreta de visualização destes usos. 34

Fala comum da população caicoense quando se refere à Zona Oeste da cidade. Revelada em pesquisa de campo.

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capital, seja dos agentes imobiliários/hegemônicos, seja do Estado (FARIA, 2011). O

território onde se agregam os mais densos fixos e fluxos e “usado como mercadoria”

é direcionado aos que podem pagar e consumi-lo. Logo, tratam de afastar os

homens lentos da concentração/centralidade urbana em direção às periferias. Há

finalmente a intenção em segregar indivíduos pobres em subespaços opacos, como

se fosse uma “limpeza social” exercida pela politica de classe (CORRÊA, 2013).

Essa política de classe é exibida e percebida através das estratégias criadas

pelos grupos de alto status (maior renda), capazes de manter controle, “em maior ou

menor grau, do aparelho de Estado, das principais atividades econômicas, das

melhores terras urbanizáveis e de empresas imobiliárias” (CORRÊA, 2013, p. 43). A

tendência do processo autossegregação (homens rápidos) em contraposição à

segregação (dos homens lentos) parece expressar o que o autor acima enfatiza

como “limpeza social” do espaço urbano capitalista. Essa política de classe e a

tendência dos agentes de maior renda em se autossegregar no espaço urbano têm

exemplos, a criação de espaços exclusivos são característicos.

“[...] o surgimento de formas urbanas tais como os shopping centers, clubes, escolas particulares, bancos ou hospitais destinados a classes de alta renda, parques temáticos, além de toda sorte de propriedade privada voltada ao uso coletivo, mas com restrição de acesso. [...] O próprio automóvel pode ser considerado como exemplo que priva pela exclusividade” (MELGAÇO, 2010, p. 23)

Nesses exemplos, se destaca na cidade caicoense, os fixos comerciais e de

serviços, mas também os de uso residencial. As residências dispostas nos

subespaços luminosos explicitam a contraposição das residências edificadas nos

subespaços opacos caicoenses. O par contraditório descrito por Sposito (2013)

autossegregação <->35 segregação descreve claramente a paisagem urbana

caicoense, assim como os diferentes usos no território. A figura a seguir pode

representar as contradições do espaço urbano capitalista caicoense a partir dos

fixos residenciais. É possível também entender o porquê das más adjetivações da

população – “as favelas, a marginalidade, o medo” – quando se refere à população

periférica, uma vez que, o descaso do poder público fica explícito.

35

O símbolo trabalhado por Sposito (2013) e, também usado nesta pesquisa, reforça a ideia de contradição. Trata de apontar que a cidade capitalista é desigual e vista de dois lados (os que se autossegregam <-> os segregados).

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Figura 20 – As contradições do urbano capitalista. A localização dos segregados versus a localização dos autossegregados.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

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103

A expressão “versus”, assim como o processo (autossegregação <->

segregação) que afasta os homens lentos em direção às parcelas pobres da cidade

e os liga à ideia contrária do progresso citadino se revela, também, além das

fotografias exibidas neste trabalho. É comum perceber a descrição do processo na

fala tanto da população residente nos subespaços luminosos como da população

residente nos subespaços opacos. Agrega-se ainda, na fala da população

caicoense, uma indicação da possível “desculpa” do processo de segregação

socioespacial – a violência urbana.

Os homens lentos, muitas vezes (auto)denominados “favelados”, residentes

principalmente na Zona Oeste36 são muitas vezes classificados por essa adjetivação

porque nesta parcela opaca do território caicoense é onde acontece o maior número

de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI). A taxa de mortes violentas pode

estar diretamente ligada ao tráfico de drogas, principalmente nos últimos anos –

2013/2014 e 2015 (COPOM, 2015)37. O território usado como um sinônimo de

espaço banal (usado por todos) também são espaços “dos usos criminosos”. Isso

explica também a adjetivação descrita por Faria (2011) quando a população indica

que alí são os “territórios dos homens maus”. Melgaço (2010, p. 32) em suas

discussões sobre o medo da violência urbana introduz a hipótese que “a violência

muitas vezes é uma desculpa para justificar uma deliberada segregação espacial”.

Os conceitos de marginalização, segregação, diferenciação, desigualdade,

pobreza, violência etc aliados à notória rarefação dos comércios e serviços se

confundem na fala e na interpretação da população pobre da cidade. Esta pesquisa

não se deterá a mais um conceito ou a mais um processo existente na urbe. O que

interessa discutir neste capítulo é apontar que os homens rápidos da cidade se

autossegregam, resultando na rarefação de técnicas e objetos fixos importantes nas

parcelas opacas da cidade. A centralidade urbana é finalmente contrária às

descontinuidades das periferias.

Esta característica dos agentes hegemônicos em se autossegregar nos

subespaços luminosos da urbe influi finalmente no pouco dinamismo e usos do

36

Adjunto Dias, Frei Damião, João XXIII, João Paulo II, Paulo VI, Soledade e Walfredo Gurgel (COPOM, 2015). O bairro Barra Nova pouco aparece como “bairro problema” na fala da população do bairro, já que tem um comércio presente no eixo de valorização diferencial. Está ligado ao bairro Centro pela Rua Manoel Possidônio. 37

Dados recolhidos em entrevista no COPOM – 6º BPM.

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território pelos circuitos da economia urbana no restante do espaço urbano

caicoense.

O circuito inferior periférico ainda não apresenta características relevantes,

neste momento, que possa indicar que o processo de descentralização comercial é

intencionado, pelo contrário, apresenta como característica a espontaneidade no uso

do território. A expansão urbana não é paralela à distribuição dos circuitos da

economia urbana no território caicoense e os diversos agentes sociais não possuem

o mesmo “poder” ditados pelo capitalismo.

Sendo assim, o papel do Estado como (re) produtor do território e como

agente interligado ao processo de segregação socioespacial é pensado no item

seguinte.

4.3 As contradições do espaço urbano capitalista caicoense: a população e

o direito ao uso da cidade

A tendência em segregar parcelas do território caicoense é aprofundada dia

a dia pelas lógicas contemporâneas de produção do espaço urbano capitalista. Essa

tendência pode ser pensada pela má distribuição espacial dos comércios e serviços

(representados pelos circuitos da economia urbana), mas também pela má

distribuição dos meios de transporte coletivo e pelos problemas de tráfego das vias.

Nos capítulos anteriores, nota-se que a espacialização comercial no centro

da cidade é melhor quando comparada as periferias, promovendo o consumo

coletivo dos que alí residem. A maioria da população central dispõe de transporte

individual (motocicleta e/ou carro). Mesmo assim, o transporte coletivo é presente

nas vias centrais da cidade e a rodoviária municipal também se estabelece no bairro

Centro.

As vias de tráfego centrais, onde os fluxos são mais intensos, promovem

certo congestionamento, principalmente entre os horários de 07h00min às 12h00min

e de 13h00min às 18h00min, uma vez que, os funcionários e os consumidores do

comércio central deixam seus veículos nestas ruas. Mas a infraestrutura das vias (no

que se refere à manutenção e a extensão delas) é a melhor encontrada na cidade.

As boas vias de tráfego, a presença do transporte coletivo e a proximidade do

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comércio central podem ser visualizadas nas ruas e avenidas centrais. A figura

seguinte é apresentada a partir das fotografias na Av. Coronel Martiniano e na Rua

Felipe Guerra e exemplificam os fluxos gerados a partir das boas condições

encontradas na parcela central da cidade.

Figura 21 – As melhores condições em fluxos da cidade: o bairro Centro.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Já na maioria dos subespaços opacos da cidade esses problemas não são

amenizados, pelo contrário. O que se mostra benefício para os agentes sociais do

centro aparece como problema para os agentes periféricos. A concentração dos

comércios e serviços nas periferias (como visto nos capítulos anteriores) não é

equivalente à concentração central. A tentativa de descentralização ainda incipiente

parece ser um processo não intencionado, espontâneo. Os agentes que se

beneficiam do comércio de bairro se apropriam do território sob os seus diversos

usos apenas para tirar “o mínimo” à subsistência, sua e de sua família.

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O transporte coletivo não é pensado como “coletivo”. Isto porque muitas

vezes os ônibus são substituídos por vãs e comportam poucas pessoas. Além disso,

estes veículos circulam apenas em alguns bairros e transitam nas periferias pelas

ruas e avenidas mais movimentadas – as mesmas que o circuito inferior periférico se

espacializa e cria as pequenas concentrações – os eixos de valorização diferencial

(ver mapa 5).

Através da pesquisa de campo foi possível perceber que a empresa

TransUnião é a que mais transita no espaço citadino. Segundo o motorista, os

ônibus da empresa percorrem algumas ruas dos bairros: Acampamento, Centro,

Paraíba, Penedo, Castelo Branco, Nova Descoberta, Boa Passagem, Samanaú,

Salviano Santos, Nova Caicó e Vila do Príncipe. Alguns bairros da Zona Leste e os

bairros da Zona Oeste não fazem parte da rota da empresa. Em contraposição,

foram visualizadas vãs e ônibus em péssimas condições trafegando em poucas vias

da Zona Oeste, sendo que as empresas não foram identificadas. O transporte

“coletivo” na Zona Oeste parece estar ainda mais longe das normatizações porque a

clandestinidade é aparente. A segurança dos passageiros também não é enxergada.

Outra problemática em relação ao transporte coletivo que transita nas vias

periféricas é o estado de conservação dos transportes. Os “homens lentos” parecem

ter como opção usar os ônibus e as vãs mal conservados ou o moto taxista como

saída de deslocamento.

Na cidade em estudo, o transporte coletivo ainda é composto por vãs que têm como combustível, gás de cozinha em botijões, representando uma ameaça cotidiana aos moradores que fazem opção por este tipo de transporte, além de que os mesmos não têm horário sistematizado. Os ônibus são a exceção e os que fazem alguns percursos da cidade, estão em péssimas condições de conservação (FARIA, 2011, p. 59).

Em relação às vias de tráfego nas periferias pode-se concluir que são

majoritariamente não pavimentadas e as que estão pavimentadas não recebem

manutenção de qualidade. A população periférica indica que na maioria, as vias

recebem “uma maquiagem na festa de Sant’Ana e no carnaval pela prefeitura,

depois disso, a gente sofre com a buraqueira que você ver aqui” [sic].

Esses problemas das vias de tráfego, indicados pela população periférica,

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também é notória nos eixos de valorização diferencial. O poder público

(principalmente quando se pensa na esfera municipal) não planeja o território em

sua totalidade, concentrando os recursos principalmente no bairro Centro. Isso

acaba colaborando para o aumento da segregação socioespacial e “trazem consigo

um corolário de problemas, comprometendo parte do tecido urbano e a sociedade

de uma maneira geral” (VASCONCELOS FILHO, 2003, p. 34). Estes problemas nas

vias de tráfego e nos transportes “coletivos” são indicados a partir das fotografias

abaixo.

Figura 22 – As péssimas vias e o transporte “coletivo” encontrado nas periferias.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

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108

Confirma-se, pois, um par contraditório e coexistente no espaço urbano

caicoense (autossegregados <-> segregados). A partir da segregação socioespacial

exercida nos subespaços luminosos e opacos é possível perceber que existem “os

que segregam e os que são segregados, os que estão na área segregada e aqueles

que estão fora dela” (SPOSITO, 2013, p. 70). É por isso que a cidade é antes de

tudo pensada como mercadoria, antes mesmo de ser pensada como espaço a se

morar/viver, “ela tendenciosamente vem sendo considerada como um grande

negócio capitalista, fonte imensurável de lucro” (VASCONCELOS FILHO, 2003, p.

35). A segregação socioespacial é um dos conceitos teórico-metodológico que visa

interpretar esse grande “negócio capitalista” existente no espaço urbano capitalista,

inclusive o caicoense. Todos os exemplos supracitados são indicadores desse

processo.

Assim, para compreender o processo de segregação socioespacial é preciso sempre perguntar quem segrega para realizar seus interesses: quem a possibilita ou a favorece, com normas e ações que a legalizam ou a legitimam: quem a reconhece, porque a confirma ou parece ser indiferente a ela; quem a sente, porque cotidianamente vive essa condição; quem contra ela se posiciona, lutando ou oferecendo instrumentos para sua superação; quem sequer supõe que ela possa ser superada e, desse modo, também é parte do movimento de sua reafirmação (SPOSITO, 2013, p. 67).

A concentração de formas e funções importantes no bairro Centro (ainda

mais as comerciais) torna a parcela central uma centralidade urbana. Já as periferias

por desvantagens locacionais, frutos da segregação socioespacial, exibem na

paisagem os objetos arcaicos, rarefeitos em técnica e a pobreza urbana como

resultado do processo de acumulação capitalista pontual e desigual. As periferias

imprimem uma “morfologia profundamente desigual das habitações, na dificuldade

e/ou impossibilidade de acesso à centralidade urbana e aos serviços” (ALVAREZ,

2013, p. 113).

Esses fundamentos de produção do espaço urbano capitalista estão

interligados a diferenciação dos objetos e dos agentes que estão nos subespaços

luminosos em relação aos dos demais bairros da cidade. O processo se mostra

ainda mais visível quando se compara os subespaços luminosos com os

subespaços mais opacos da urbe. Estes estão localizados na Zona Oeste da cidade

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e são representados pelos bairros: Adjunto Dias, Frei Damião, João XXIII, João

Paulo, João Paulo II, Soledade e Walfredo Gurgel. Parte do bairro Barra Nova só se

diferencia dos demais bairros da zona a que pertence porque está interligado

geograficamente ao centro, seus limites se unem e promovem a continuação da

inserção de atividades comerciais/serviços (no eixo de valorização diferencial).

Não sendo apenas os objetos e os comércios/serviços diferenciados em

suas espacializações entre os bairros, o sistema de transporte coletivo e as vias de

tráfego também se mostram distintas. Estas diferenças que se mostram qualitativas

como também quantitativas são condicionantes a diferenciar e separar os agentes

sociais do centro e das periferias. O acesso à cidade é definido por quem pode

pagar até chegar a todos os lugares, inclusive ao centro:

Os homens lentos dos opacos lugares de Caicó não têm à sua disposição transporte coletivo devidamente regulamentado e, portanto, sofrem com a carência, a irregularidade e a clandestinidade destes, deixando-os à mercê da eventualidade e fazendo com que as distâncias a percorrer e percorridas sejam vencidas em um tempo maior, ou seja, aí se revela um território viscoso, mas que apresenta, [...], alternativas como, por exemplo, as mototáxi. Devido às suas baixas rendas, não têm, também, em sua maioria, acesso a um meio de transporte particular e, quando isso acontece, esses meios são, em geral, de baixa eficiência e com pouco ou nenhum conforto, além de que as vias de deslocamento, que estão em condições normais de tráfego, não são muitas (FARIA, 2011, p. 50-51).

A mobilidade das pessoas mais pobres da cidade é reduzida, pela

insuficiência de meios de transporte (isso inclui o sistema de transporte coletivo e a

forma de deslocamento individual como o uso da motocicleta e/ou de carro), como

também do número limitado de empregos disponíveis, entendendo que os empregos

oferecidos na mesma zona de residência são bem reduzidos quando comparados à

zona central da cidade. De maneira geral, a população periférica sofre dificuldade

pela falta de proximidade de equipamentos e serviços básicos necessários, tanto os

privados quanto os públicos. Assim, muitos dos homens lentos estão afastados

fisicamente e financeiramente:

[...] de escolas públicas, de postos de saúde, de comércio de vizinhança, conforme a demora na implantação desses equipamentos poderão ser submetidos ao processo de segregação socioespacial, dado o isolamento relativo em que se encontram e as

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dificuldades que têm de ter acesso ao conjunto de meios de consumo coletivo que a cidade oferece (SPOSITO, 2013, p. 71).

Dessa maneira, existe a falta de acessibilidade física e financeira dos

agentes dos subespaços opacos em usar do território caicoense. Em contraposição

a facilidade de consumo dos agentes dos subespaços luminosos da urbe. Os

circuitos da economia urbana e as diversas formas de uso do território caicoense

são diferenciados pelos agentes que dominam e pelos que são dominados, pelos

que autossegregam e pelos segregados, pelos homens lentos e pelos homens

rápidos.

Essas contradições exibidas na paisagem na forma de concentração versus

dispersão são condicionadas ou deixadas de lado pelo Estado. Este agente acaba

condicionando novas formações de núcleos de pobreza urbana que se instalam na

cidade, principalmente nas periferias, por deixar de “cumprir suas funções sociais”

(VASCONCELOS FILHO, 2003, p. 78).

Essas condições pré-estabelecidas à população periférica leva a uma

indagação: em que medida toda a população caicoense tem mesmo o “direito ao uso

da cidade” como está proposto na legislação e nos dispositivos constitucionais?

O Estatuto da Cidade, na Lei nº 10.257, de 10 de Julho de 2001 concerne no

art. 2º:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos [...] (p. 17-18).

Como também: “IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do

processo de urbanização” (p. 18).

O direito ao uso da cidade na forma da lei é explícito (e o direto é de todos,

sem distinção). Sabe-se ainda que as ações impulsionadas na forma da lei, do poder

público em sua esfera municipal, podem ter maior peso, mesmo depois do Estatuto

da Cidade (2001) (SPOSITO, 2013). Porém, elas são deixadas de lado e o “direito

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111

ao uso da cidade" é exibido e propiciado apenas a certas parcelas do território e a

certa parcela da população.

Nisto, a partir dos interesses dos agentes hegemônicos, traduzidos muitas

vezes pelos circuitos da economia urbana são criados vários subespaços numa só

cidade. O poder público também exerce papel significativo nesta separação,

“interferindo ativamente na produção da cidade, inclusive por dispositivos legais

referentes ao acesso, ao uso e à comercialização da habitação e da terra”

(FERNANDES, 2005, p. 219). É por isso que Vasconcelos Filho (2003, p. 35) afirma

que “hoje torna-se cada vez mais difícil morar na cidade, exceção feita àqueles que

podem pagar caro para morar, e aqui talvez, sob vários aspectos não se pode falar

em morar bem, dado ao quadro caótico que a vida urbana alcançou”. Em que

medida os homens lentos pode consumir na concentração/centralidade exibidas nos

subespaços luminosos da urbe caicoense? A mesma delimitação dos subespaços

opacos e luminosos é correspondente ao processo de segregação <->

autossegregação?

Não se tem uma explicação concreta e determinista para responder a todas

as questões de uma só vez, visto que não se pode cartografar a segregação

socioespacial, mas percebê-la, senti-la. Os segregados percebem e sentem! E os

autossegregados, percebem este processo quando se concentram numa

determinada parcela da cidade? São muitos questionamentos quando se analisa o

espaço urbano capitalista e as diversas problemáticas encontradas nele.

O que se pode afirmar é que a cidade enquanto espaço de reprodução

capitalista será “lugar” de processos sociais (ações) capazes de fragmentar ainda

mais a cidade, seja nas formas de concentração e centralidade, seja na forma de

periferia, seja nos subespaços luminosos e opacos. A distribuição das ações e dos

objetos e suas funções serão sempre intencionadas. A intenção em privilegiar tais

parcelas do território nesta perspectiva capitalista avassaladora é visualizada,

percebida e sentida pela população pobre. Isso é notório.

É por isso que a cidade é visualizada através da problemática da

concentração comercial e de serviços e trabalhada como um espaço banal

(SANTOS, 1996). Com isso, se pode afirmar que o espaço urbano capitalista (e

banal) caicoense “é plasmado pelos que mandam, mas é também pontuado pelos

que obedecem (FARIA, 2011, 60). Essa é a lógica da reprodução do espaço urbano

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capitalista, seja ela reproduzida pelos circuitos da economia urbana e suas formas

de espacialização, seja através do processo de segregação socioespacial. Ou ainda,

a mescla dos dois como propõe esta pesquisa. A cidade revela diversos usos e

conteúdos do território impressos nas formas espaciais, cabe ao pesquisador tentar

entendê-los.

O processo de expansão urbana e a ausência de políticas públicas que

valorizem as várias parcelas da cidade não acontecem de forma igualitária no

território como um todo porque essas ações são definidas principalmente pelos

interesses de mercado dos atores hegemônicos, e não por interesses coletivos. “A

Prefeitura abdica de sua prerrogativa de planejar a cidade e repassa a grupos

privados” (MONTENEGRO, 2010) cujo interesse é autossegregar áreas a seu favor.

A totalidade deixa de ser vislumbrada e as parcelas mais importantes da urbe são

destacadas nos investimentos lucrativos.

As ações públicas na cidade capitalista agravam “a diferenciação quanto à

dotação de recursos, uma vez que parcelas cada vez maiores da receita pública se

dirigem à cidade econômica em detrimento da cidade social” (SANTOS, 2005, p.

107). O poder público ainda age de forma a ocultar o fato que os desequilíbrios

trazem, formando divergências na distribuição setorial e espacial dos investimentos

públicos, elevando ainda mais a segregação socioespacial (VILLAÇA, 2000). Mas,

estas ações não passam aqui despercebidas.

O território, neste período globalizado, será sempre pensado como

produto/mercadoria. A partir da contribuição da ciência geográfica é possível

entender as causas e não somente os resultados dessas ações.

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113

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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114

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espaço geográfico é o objeto de estudo da Geografia. Uma de suas

categorias de análise é o território e foi um conceito trabalhado na pesquisa, visto

que, as ações humanas se concretizam nele a partir dos objetos. O território e seus

diversos usos foi foco para análise da problemática exposta.

A partir da estrutura teórica e do recorte empírico identificou-se as primeiras

formas da ocupação urbana e as primeiras expressões comerciais no território

caicoense. A partir dessa linha de pensamento, a hipótese trabalhada no projeto de

pesquisa foi confirmada. A maior aglomeração das atividades comerciais e de

serviços está presente de forma mais significativa e mais espacializada

principalmente no centro de Caicó do que nos demais bairros da cidade, por duas

principais questões:

Primeiramente, por ter sido o primeiro espaço a se esboçar como bairro

nesta cidade, constituído a partir das casas (fixos) presentes ao redor da igreja de

Nossa Senhora Sant’Ana (essas edificações se fazem presentes até os dias atuais,

porém, reformadas e com alta especulação imobiliária). Essa igreja deve ser

pensada como um objeto importante para o processo de urbanização em Caicó.

Segunda hipótese confirmada é que o município além de ter se tornado um

espaço produtor algodoeiro, tornou o recorte urbano um espaço referencial para a

etapa de comercialização do binômio gado-algodão. Identifica-se, pois, que o centro

da cidade esboçava desde o início do século XX características comerciais

relevantes. Foi nesse ensaio que começaram as primeiras relações econômicas

(urbano-rural) como também com as demais cidades da Região do Seridó. A cidade

de Caicó e especialmente o centro da cidade seria transformado em um território

“core” para a espacialização dos circuitos da economia urbana.

Reconhece-se neste trabalho que os comércios e os serviços, entendidos a

partir da teoria dos circuitos da economia urbana, não estão representados de forma

delimitada e igualitária geograficamente na cidade caicoense, pelo contrário, estão

aglomerados na forma de concentração e centralidade urbana. Por isso, essas

ações e objetos inseridos na urbe de maneira concentrada significam formas amplas

de ligação entre economia, sociedade e usos do território, representando um

sistema de dependência e coexistência entre ambos.

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Nesse sentido, acredita-se que o centro da cidade de Caicó tem papel

significativo desde a sua criação até os dias atuais por ter sido construído, a partir

dele, formas e funções importantes ao longo dos anos. O bairro se tornou espaço

privilegiado para a concentração de atividades comerciais e de serviços, frutos dos

circuitos da economia urbana. Com isso, a concentração do comércio e dos serviços

no centro da cidade acarreta problemas no que se refere à população periférica que

precisa se deslocar cotidianamente. E se mostra benefício para os agentes que se

espacializam nele e nas suas proximidades.

Nas periferias, também se pode concluir que a produção do território e as

formas de espacialização comercial e de serviços estão sendo dinamizadas através

do circuito inferior. As ruas periféricas mais densas em fluxos (pessoas, capital e

mercadorias) são adjetivadas como os eixos de valorização diferencial. Os agentes

do circuito inferior periférico promovem através de variadas estratégias uma tentativa

de descentralização comercial ainda de maneira espontânea. Pode-se, então,

considerar a ideia de futuras centralidades periféricas.

Os processos de concentração e centralidade versus periferização e

dispersão se mostram visíveis no território. Os primeiros são representados e

exercidos nos subespaços luminosos, enquanto os segundos são identificados nos

subespaços opacos da urbe. Sendo assim, o processo de segregação socioespacial

está intimamente ligado aos processos anteriores. Os conceitos “conversam”,

coexistem e se complementam no entendimento sobre a totalidade do território

caicoense. A cidade caicoense é pensada conjuntamente como um espaço urbano

capitalista, fragmentado, profundamente desigual e como um “campo de lutas”.

A disparidade de renda e de permanência no mercado de trabalho dito

“formal”, ou ainda, do trabalho contínuo (aquele que difere do que muitos chamam

de trabalhos ocasionais ou informais, o popular “bico”) cria diferenças quantitativas e

qualitativas de consumo no território. A cidade é um espaço profundamente desigual

porque os que têm renda e os que não têm, tende a sentir as mesmas necessidades

básicas e a mesma vontade de satisfazê-las, o problema é que nem todos os

homens conseguem ter mesmo o acesso ou mesmo o “direito ao uso da cidade”. O

espaço urbano caicoense é fragmentado pelos agentes hegemônicos e o consumo,

neste período globalizado, acaba sendo uma das formas de visualizar essa

problemática.

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Neste trabalho de conclusão de curso não se discutiu apenas a ideia

reducionista de pensar a cidade como espaço da reprodução do capital ou da

dominação do Estado. Pelo contrário, a cidade é espaço de análise das ações de

diversos agentes e das relações sociais/espaciais/temporais onde se materializam

os diversos usos num território real e concreto, produzindo finalmente outros tantos

processos combinados à urbanização. Esses diversos usos foram visualizados a

partir da dinamicidade das atividades comerciais e de serviços ligados aos circuitos

da economia urbana, sendo capazes de promover alterações no espaço urbano no

ponto em que as relações socioespaciais (incluindo também as ações do Estado)

são promotoras além de novos usos do território, também, dos processos de

concentração, centralidade, descentralização e segregação socioespacial.

É por isso que foi aplicada a teoria dos circuitos da economia urbana no

espaço urbano caicoense. Visando interpretar e aliar o arcabouço teórico e o

empírico, entendendo que é necessário produzir conhecimento que dê suporte de

unir a teoria a uma prática socioespacial que se realiza na cidade. A teoria aplicada

ao território caicoense expressa um desafio geográfico em desvendar as novas

realidades do espaço urbano.

Não se pode dizer que as aplicações teórico-metodológicas utilizadas nesta

pesquisa é a única forma de se pensar a cidade como espaço das práticas

socioespaciais. Mas, é uma forma de desvendar os conteúdos do processo de

urbanização nos dias de hoje, aliando a temporalidade (dado pela história) e a

interpretação dos objetos geográficos na construção do processo de urbanização.

O acúmulo de variadas interpretações sobre a cidade foi fundamental no

processo de construção deste trabalho, inúmeras delas das ciências sociais e de

enfoque interdisciplinar. Entender a cidade em sua totalidade é um grande esforço

geográfico. Interpretar como acontece a organização espacial da distribuição do

comércio e dos serviços através da teoria dos circuitos da economia urbana é

relevante, posto que, pode enriquecer a visão geográfica da sociedade, isto é, a

compreensão das diferentes formas de produção do espaço urbano.

A concentração, a centralidade e a tentativa de descentralização comercial

(ainda espontânea) tendem a esboçar no urbano caicoense a distinção entre as

parcelas da cidade. Isso porque a segregação socioespacial por mais que não se

possa cartografar é percebida e sentida pelos agentes mais pobres da urbe. Os

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subespaços luminosos são hierarquizados quando comparados aos subespaços

opacos da cidade e estão representados, respectivamente, pelo modelo centro-

periferia de Sposito (2000). Essas considerações tratam de reafirmar a problemática

e a justificativa deste trabalho.

Este trabalho de conclusão de curso explicou de maneira científica uma

situação geográfica imposta pelos agentes hegemônicos. O urbano caicoense trata

de ser espaço da segregação socioespacial gerada também a partir das relações

socioeconômicas e concretizadas finalmente no território caicoense. Considera

ainda como agravante a forma de planejamento como a cidade foi construída, como

também, a má condução da gestão pública.

O objetivo maior do trabalho foi analisar os processos de concentração e

centralidade urbana através dos circuitos da economia urbana. Estes se mostraram

ter íntima relação com a formação e/ou o aprofundamento dos subespaços opacos e

luminosos na urbe caicoense. Os processos de urbanização, periferização,

descentralização e segregação socioespacial são outros conceitos complementares

ao entendimento e discussão da problemática urbana destacada na pesquisa. Os

conceitos revelam as continuidades e descontinuidades no espaço urbano e podem

explicitar os diversos usos no território (capitalista) caicoense.

Nesse sentido, entendeu-se neste trabalho de conclusão de curso que é

papel do geógrafo enquanto profissional e elaborador de pesquisas científicas fazer

pesquisa social, entendendo que a sociedade é produtora e reorganizadora do

espaço geográfico, sendo este último o objeto de estudo da Geografia. Dessa

maneira, acredita-se que o ofício mais relevante é estudar as causas, e não,

somente, as consequências finais, por mais que estas se tornem o resultado das

primeiras.

Esta pesquisa, como quaisquer outros trabalhos científicos deixará lacunas

para críticas e reformulações, e são por esses motivos que a ciência evolui, mas é

interessante ressaltar que houve um esforço geográfico para entender a totalidade

do território urbano caicoense e seus diversos usos. A cidade é pensada como

produto das ações humanas e organizada com uma finalidade. A organização ditada

pelo capitalismo permitiu dividir a cidade caicoense em uma área central e as várias

periferias. A localização dos circuitos da economia urbana evidencia as várias

parcelas.

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