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O CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA CATARINA CEMESSC E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ESCOLAR NO SUL DE SANTA CATARINA Cintia Gonçalves Martins 1 Filipe Ricardo da Cruz 2 Giani Rabelo 3 RESUMO: A investigação aqui apresentada consiste em um projeto formulado pelo Grupo de Pesquisa em História e Memória da Educação- GRUPEHME da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, cujo intuito é a valorização e preservação do patrimônio escolar junto às comunidades escolares. Desde 2001, os membros do GRUPEHME vêm desenvolvendo suas pesquisas no âmbito da História da Educação, buscando reconstruir a história e memória dos estabelecimentos de ensino, bem como dos sujeitos envolvidos no processo educacional. Ao longe de sua atuação o GRUPEHME sentiu a necessidade de um trabalho mais efetivo no que diz respeito ao patrimônio educativo, em especial, dos estabelecimentos escolares da região do extremo sul de Santa Catarina, onde concentram-se suas pesquisas. Desse modo, iniciou-se em 2009 e entendido até 2014, a implementação do Centro de Memória da Educação do Sul de Santa Catarina CEMESSC em meio virtual, com a finalidade de salvaguardar e preservar os acervos documentais das escolas públicas estaduais mais antigas das microrregiões da Associação dos Municípios da Região Carbonífera - AMESC, Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense - AMREC e Associação dos Municípios da Região de Laguna - AMUREL. Ao finalizar a implantação do CEMESSC, as/os pesquisadoras/es do GRUPEHME, em parceria com o Centro de 1 Graduada em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Mestranda em Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Bolsista integral PROSUP/CAPES UNESC. Membro do Grupo de Pesquisa História e Memória da Educação (GRUPEHME). E-mail: [email protected] 2 Acadêmico do curso de História da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC). Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/UNESC 2015/2016. Membro do Grupo de Pesquisa História e Memória da Educação (GRUPEHME). E-mail: [email protected] 3 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do Programa de Pós- Graduação em Educação e do curso de Pedagogia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Líder do Grupo de Pesquisa História e Memória da Educação (GRUPEHME). Coordenadora -mail: [email protected]

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Page 1: O CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA … · Imbituba E.E.B Dom Joaquim Braço do Norte Fonte: CEMESSC Os documentos encontrados nos acervos escolares das escolas mencionadas

O CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA CATARINA –

CEMESSC E A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ESCOLAR NO SUL DE

SANTA CATARINA

Cintia Gonçalves Martins1

Filipe Ricardo da Cruz2

Giani Rabelo3

RESUMO:

A investigação aqui apresentada consiste em um projeto formulado pelo Grupo de

Pesquisa em História e Memória da Educação- GRUPEHME da Universidade do Extremo

Sul Catarinense - UNESC, cujo intuito é a valorização e preservação do patrimônio escolar

junto às comunidades escolares. Desde 2001, os membros do GRUPEHME vêm

desenvolvendo suas pesquisas no âmbito da História da Educação, buscando reconstruir a

história e memória dos estabelecimentos de ensino, bem como dos sujeitos envolvidos no

processo educacional. Ao longe de sua atuação o GRUPEHME sentiu a necessidade de um

trabalho mais efetivo no que diz respeito ao patrimônio educativo, em especial, dos

estabelecimentos escolares da região do extremo sul de Santa Catarina, onde concentram-se

suas pesquisas. Desse modo, iniciou-se em 2009 e entendido até 2014, a implementação do

Centro de Memória da Educação do Sul de Santa Catarina – CEMESSC em meio virtual,

com a finalidade de salvaguardar e preservar os acervos documentais das escolas públicas

estaduais mais antigas das microrregiões da Associação dos Municípios da Região

Carbonífera - AMESC, Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense - AMREC

e Associação dos Municípios da Região de Laguna - AMUREL. Ao finalizar a implantação

do CEMESSC, as/os pesquisadoras/es do GRUPEHME, em parceria com o Centro de

1 Graduada em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Mestranda em Educação pela

Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Bolsista integral PROSUP/CAPES – UNESC. Membro do Grupo de

Pesquisa História e Memória da Educação (GRUPEHME). E-mail: [email protected] 2Acadêmico do curso de História da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC). Bolsista do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/UNESC 2015/2016. Membro do Grupo de Pesquisa História e

Memória da Educação (GRUPEHME). E-mail: [email protected] 3Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do Programa de Pós-

Graduação em Educação e do curso de Pedagogia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Líder do Grupo

de Pesquisa História e Memória da Educação (GRUPEHME). Coordenadora -mail: [email protected]

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Memória e Documentação/UNESC (CEDOC), iniciaram no segundo semestre de 2015, a

devolutiva do CEMESSC nas 27 escolas envolvidas, assim como uma pesquisa para

diagnosticar a situação dos acervos escolares dessas instituições. Desse modo, esse trabalho

busca problematizar e apresentar o retorno do CEMESSC às escolas envolvidas, com a

finalidade de diagnosticar, sensibilizar e orientar as escolas acerca da preservação do

patrimônio escolar.

Palavras chaves: Patrimônio Escolar. CEMESSC. CEDOC. Preservação. Educação.

1 INTRODUÇÃO

Na intenção da preservação e valorização do Patrimônio Escolar dos educandários da

região do Extremo Sul catarinense o Grupo de Pesquisa em História e Memória da Educação

– GRUPEHME4, vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Extensão/UNESC e

cadastrado ao o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq,

vem desde 2001 atuando na Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Seus

membros, por meio de suas pesquisas acadêmicas concluídas ou em andamento, sentiram a

necessidade de ações efetivas que contribuíssem para o fortalecimento da preservação do

Patrimônio Histórico Escolar, junto às comunidades escolares e acadêmicas, por

compreender que os acervos escolares (documentos textuais, iconográficos e musicológicos)

são constantemente vítimas da cultura do descarte. Para Silva e Vidal (2011, p. 26)

Tornou-se recorrente na socialização de trabalhos feitos com os acervos desta

natureza reclamações e desabafos sobre as más condições de acesso, a frágil

organização da massa documental, a escassez de exemplares que possam

testemunhar as práticas escolares.

De acordo com Rabelo e Costa (2014) A preservação da memória e do patrimônio

escolar têm sido uma das maiores preocupações dos membros do GRUPEHME, como têm

demonstrado em suas pesquisas realizadas nos últimos quinze anos. Os/as pesquisadores/as

4 O Grupo de Pesquisa em História e Memória da Educação - GRUPEHME, conta com uma equipe de

pesquisadores/as, acadêmicos/as, mestrandos/as, doutorandos/a e professores/as dos mais diversos níveis de

ensino, vinculados a Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC e das redes municipais e estaduais de

educação da região do extremo sul catarinense.

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compreendem que os documentos produzidos nas escolas necessitam ser socializados no

meio acadêmico, compreendendo a intrínseca relação entre a educação básica e a educação

acadêmica.

Na perspectiva de criar uma cultura de preservação e valorização do Patrimônio

Histórico Escolar da região sul catarinense, assim como instigar pesquisas acadêmicas no

campo da História da Educação é que o GRUPEHME idealizou um espaço no qual pudesse

socializar com a comunidade escolar e acadêmica os acervos escolares, bem como de estar

atuando em conjunto com os educandários na preservação e conservação dos seus acervos

documentais. Nesse sentindo, o CEMESSC, em meio virtual, foi criado com o entendimento

que os acervos escolares:

[...] possuem informações que permitem introduzir a uniformidade na análise

realizada sobre os vários discursos que são produzidos pelos actores educativos –

professores, alunos, funcionários, autoridades locais e nacionais têm

representações diversas relativamente à escola e expressam-nas de formas

diversificadas. (MOGARRO, 2004, p. 72)

A escolha pela implementação de um centro de memória em meio virtual, tem a

finalidade de possibilitar aos pesquisadores de várias áreas do conhecimento e em especial

do campo da História da Educação estar frente a frente com os acervos dos educandários

sem a necessidade de locomover-se até os mesmos, assim abrindo o leque de fontes e

objetos para suas pesquisas, pois torna o acesso aos acervos mais democrático. Nessa

perspectiva, Costa e Rabelo (2014, p. 48), coordenadoras do CEMESSC, entendem que:

Ao possibilitarmos a socialização desses documentos, enquanto fontes de pesquisa

para a produção científica, temos o intuito de garantir o direito à cultura de todo

cidadão e cidadã das comunidades escolares e, por conseguinte, à memória

coletiva e ao passado histórico. Desse modo, a memória da educação é

estabelecida como um dos referenciais da identidade cultural e um instrumento que

permite o exercício da cidadania, uma vez que o direito à memória histórica é parte

da concepção de cidadania cultural.

Diante desse cenário, os membros do GRUPEHME, acreditam que retirar os

documentos e os objetos das escolas não é uma solução inviável, pois não colabora para a

cultura de preservação e valorização do patrimônio escolar, que deve ser incorporado nas

práticas cotidianas de nossa sociedade. Ressaltando ainda, que as mídias digitais utilizadas

pelo CEMESSC, buscam salvaguardar as informações dos documentos, entretanto jamais

substituíram os suportes materiais das fontes documentais. (COSTA; RABELO, 2014)

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O CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA

CATARINA – CEMESSC

O Centro de Memória da Educação do Sul de Santa Catarina em meio virtual

(CEMESSC), iniciou seu processo de implementação no primeiro semestre de 2009 e foi

finalizado no final do segundo semestre de 2013.

O CEMESSC dispõe de um acervo digital, composto por documentos textuais,

iconográficos e objetos musicológicos pertencentes a 27 (vinte e sete) escolas públicas

estaduais das três microrregiões do extremo sul catarinense, apresentados no mapa a seguir:

Imagem 01: Mapa das microrregiões que abarcam o CEMESSC:

Fonte: CEMESSC

Das três microrregiões que fazem parte do Extremo Sul catarinense foram

delimitadas para participar do projeto, as cidades emancipadas mais antigas de cada região,

bem como as escolas com a data de criação mais antiga e que estivesse em funcionamento

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até os dias atuais. Pois não teríamos condições iniciais de acolher todas as escolas estaduais

e seus respectivos municípios, sendo necessária essa delimitação. A seguir apresentamos as

escolas e municípios que fazem parte do projeto do CEMESSC , descritos no quadro 01, 02

e 03 a seguir:

Quadro 01: Escolas e Municípios da AMESC

Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC)

Escolas de Educação Básica:

Municípios:

E.E.B. Castro Alves

Araranguá

E.E.B. Pedro Simon

Ermo

E.E.B. Jacinto Machado

Jacinto Machado

E.E.B. Manoel Gomes Baltazar

Maracajá

E.E.B. Meleiro

Meleiro

E.E.B. Governador Ildo Meneghetti

Passo de Torres

E.E.B. Bulcão Viana

Praia Grande

E.E.B. Professora Solange Lopes Borba

São João do Sul

E.E.B. Catulo da Paixão Cearense

Sombrio

E.E.B. Timbé do Sul

Timbé do Sul

E.E.B. Jorge Schutz

Turvo

Fonte: CEMESSC

Quadro 02: Escolas e Municípios da AMRESC

Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC)

Escolas de Educação Básica:

Municípios:

E.E.F. Professor Lapagesse

Criciúma

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E.E.B. Padre Schuller

Cocal do Sul

E.E.F. Ângelo Izé

Forquilhinha

E.E.B. Professora Salete Scotti dos Santos

Içara

E.E.B. Visconde de Taunay

Lauro Muller

E.E.B. Princesa Isabel

Morro da Fumaça

E.E.B. Julieta Torres Gonçalves

Nova Veneza

E.E.B. Costa Carneiro

Orleans

E.E.B. José do Patrocínio

Siderópolis

E.E.B. UdoDeeke

Treviso

E.E.B. Barão do Rio Banco

Urussanga

Fonte: CEMESSC

Quadro 03: das escolas e dos municípios da AMUREL

Associação dos Municipios da Região de Laguna – AMUREAL

Escolas de Educação Básica:

Municípios:

E.E.B Marechal Luz

Jaguaruna

E.E.B Hercílio Luz

Tubarão

E.E.B Professora Eulina Heleodoro Barreto

Imaruí

E.E.B Henrique Lage

Imbituba

E.E.B Dom Joaquim

Braço do Norte

Fonte: CEMESSC

Os documentos encontrados nos acervos escolares das escolas mencionadas foram

digitalizados e/ou fotografados e identificados e atualmente estão salvaguardados no acervo

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digital do CEMESSC5. Neste processo, houve o entendimento de que os documentos,

conforme definem Alves e Silva (2015) são qualquer objeto, qualquer base de conhecimento

material que elucida, instrua, reconstrua, confirme cientificamente os fatos ou

acontecimentos. Nesse sentindo, busca-se considerar a pluralidade do campo das fontes

documentais históricas, que segundo os autores envolve desde escritos de todos os tipos,

como por exemplo, atas administrativas de governos, reuniões de todos os modos,

fotografias, periódicos, documentos de origem oral, enfim documentos que constituem como

elementos metodológicos para o desenvolvimento dos estudos e das pesquisas no campo da

educação.

Para que os documentos fossem disponibilizados na internet, o GRUPEHME

/UNESC realizou um convênio6 com a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina

que autorizou a publicação dos documentos escolares na base de dados do CEMESSC em

meio virtual.

A página do CEMESSC acomoda cerca de mil documentos, sendo eles: Atas das

Reuniões Pedagógicas; Atas da Ligas da Bondade; Atas do Museu Escolar; Atas do Clube

Agrícola; Atas do Pelotão da Saúde; Atas dos Centros Cívicos; Atas do Clube de Leitura;

Atas da Liga Pró-Língua Nacional, Atas do Caixa Escolar; Ata Associação de Pais e

Mestres; Atas da Associação do Jornal Escolar; Jornal Escolar; Exames de Admissão;

Livros de Vida Escolar; Provas; Listas de Chamadas; Livros de Inspeção; Planejamentos;

Livros escolares; convites de formatura e uma quantidade relevante de fotografias dos

eventos escolares, das comemorações cívicas dentro e fora da escola, das festas juninas e

festas religiosas, além de álbuns de formatura.

Muitos desses documentos já estão sendo revisitados pelos/as pesquisadores/as da

área da História da Educação e utilizados, analisados, problematizados e elencados como

fontes de suas pesquisas. Para Rabelo e Costa, (2011, p. 15), o CEMESSC tem como

objetivo, no âmbito acadêmico, de suscitar projetos de iniciação científica, trabalhos de

conclusão de Curso – TCC, dissertações e teses na área de conhecimento da História da

Educação, a fim de contribuir para a visibilidade e socialização das experiências realizadas

nas escolas da região, oportunizando vários olhares sobre as mesmas. Ampliar o número de

5 Endereço eletrônico do Centro de Memória da Educação do Sul de Santa Catarina – CEMESSC:. Disponível em:

http://www.bib.unesc.net/muesc/muni_07.php Acesso em: 29 de maio de 2016 6 Vinculo realizado entre Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC e com a Secretaria de Educação do Estado

de Santa Catarina para que os documentos das escolas pudessem ser disponibilizados em meio virtual: Termo de Convênio

Nº 19.010/2011-1.

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pesquisas acadêmicas que utilizem como corpus documental para suas pesquisas as fontes

das escolas do extremo sul catarinense, bem como divulgar o CEMESSC em eventos

acadêmicos de âmbito nacionais e internacionais que possibilitem a publicação de artigos

científicos para as revistas da área de História da Educação.

Nesse sentindo o CEMESSC vem conseguindo atingir um dos seus objetivos iniciais,

que é divulgar e ampliar as pesquisas científicas que se utilizam o CEMESSC como lócus de

pesquisa. Todavia, os membros sentiram a necessidade de retornar às escolas envolvidas

para suscitar e sensibilizar seus integrantes sobre a importância da conservação e

preservação dos acervos, com o intuito de valorizar o patrimônio educativo. Este retorno foi

iniciado no segundo semestre de 2015.

3 O RETORNO ÁS ESCOLAS PARTICIPANTES DO CENTRO DE MEMÓRIA DA

EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA CATARINA – CEMESSC

O GRUPEHEME partiu do pressuposto de que, sem conhecimento não há

preservação, portanto, é importante que a comunidade escolar, professores, funcionários,

gestores, diretores/as e alunos/as conheçam os acervos documentais de suas escolas para

assim preservá-los. Neste viés, o GRUPEHME, iniciou a devolutiva do CEMESSC para as

27 escolas, bem como uma pesquisa para diagnosticar a situação dos acervos escolares

dessas instituições de forma mais efetiva, sendo que, no processo de implementação do

CEMESSC, as pesquisadoras já haviam apurado alguns problemas.

A visita nas escolas além de problematizar e dar um retorno sobre o CEMESSC tem

por finalidade, sensibilizar e orientar a comunidade escolar acerca da preservação do se

patrimônio, bem como informar sobre o funcionamento do CEMESSC e as possibilidades de

pesquisa e de atividades com os/as alunos/as, a partir de propostas desenvolvidas pelos/as

professores/as.

Uma das premissas deste trabalho é o de que a digitalização dos documentos

encontrados nos acervos escolares das 27 escolas não substitui, de maneira alguma, o

suporte material dos documentos. Para isso buscou-se as reflexões de Chartier (2002, p.28),

que faz a seguinte reflexão:

[...] com as possibilidades e promessas da digitalização, a ameaça de outra

destruição não se afastou definitivamente. Como leitores, como cidadãos, como

herdeiros do passado, devemos, pois, exigir que as operações de digitalização não

ocasionem o desaparecimento dos objetos originais e que seja sempre mantida a

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possibilidade de acesso aos textos tais como foram impressos e lidos em sua

época.

As iniciativas de salvaguardar a produção cultural das escolas pelo CEMESSCse

deram pelo fato da constatação da escassez de documentos antigos ou descaso com os

mesmos no ambiente escolar n região do extremo sul catarinense, compreendendo que não

existe o hábito da guarda da materialidade produzida nas escolas. Guardam-se pouquíssimos

documentos produzidos pelos/as estudantes e professoras/os, o que mais encontramos são

documentos oficiais, mas que também estão sendo descartados com freqüência, pois alguns

são considerados “velhos” e inúteis. Entretanto, a prática do descarte tem prejudicado o

conhecimento e a memória da educação escolar, bem como a reconstrução da história dos

estabelecimentos de ensino e a participação de seus sujeitos nesta construção, uma vez que a

cultura do descarte tem contribuído de forma significativa para o desaparecimento ou

silenciamento das experiências escolares que foram sendo desenvolvidas durante a

existência dos educandários.

O retorno às escolas está ocorrendo em parceria com o Centro de

Documentação/UNESC – CEDOC e seus profissionais, além da participação de um bolsista

do PIBIC7 e membros do GRUPEHME. Nesse sentindo, as equipes de trabalho têm

procurado diagnosticar a situação dos acervos documentais das escolas envolvidas no

CEMESSC; sensibilizar as comunidades escolares sobre a preservação do patrimônio

educativo; orientar as escolas sobre a conservação e preservação do acervo documental,

além de dar visibilidade ao CEMESSC na região sul de Santa Catarina.

Para a realização da visita, primeiramente é realizado o contato via telefone com o/a

gestor/a escolar para que se possa marcar um dia e horário e de preferência que faça parte

das atividades pedagógicas da escola. As escolas têm disponibilizado cerca de duas horas

para as discussões e apresentação do CEMEESC. A apresentação é realizada com o uso do

data-show e na presença de professores/as, membros das equipes diretivas e alguns/algumas

funcionários/as.

Realiza-se uma breve apresentação do CEMESSC, seus objetivos voltados à

valorização do patrimônio educativo, como ocorreu o seu processo de implementação, suas

delimitações, quais os trabalhos acadêmicos que já estão utilizando suas fontes como corpus

documental, quais as possibilidades de atividades pedagógicas com os documentos

7 Proposta de trabalho aprovada pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão, por meio do edital nº 18/2015.

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escolares, as vantagens e desvantagens de utilização das mídias digitais, apresentação de

alguns documentos digitalizados e utensílios fotografados, bem como uma explanação que

busca sensibilizar os/as ouvintes para a preservação do patrimônio educativo, evidenciando a

sua importância para as pesquisas cientificas, assim como a importância do projeto para a

preservação da memória e história das escolas e de quem passou por ela. Na sequência

apresentamos o site do CEMESSC e como os documentos de cada escola estão organizados

e disponíveis para serem acessados.

Posteriormente, realiza-se uma orientação teórica sobre preservação e conservação de

acervos documentais e técnicas básicas de restauração. Esta parte é realizada pelas

profissionais do CEDOC, que apresentam algumas noções básicas sobre preservação de

documentos e forma adequada de acondicionamento dos acervos, realizando demonstrações

em documento que foram acometidos por pragas e insetos e passaram por um processo de

restauração. Ao final realiza-se uma pequena oficina dando orientações básicas de

conservação e preservação de documentos, como por exemplo, a retirada de grampos e clips

e a substituição por costuras. Neste momento, os/as participantes vivenciam tal técnica em

um pequeno caderno e com agulha e linha correte número 10, que as restauradas apresentam

ao corpo docente, presente na oficina. Tal caderno produzido pelo CEDOC consta noções

básicas de conservação e preservação de documentos. As apresentações ocorrem em

constante diálogo com os/as participantes, que levantam dúvidas e questionamentos sobre os

cuidados e procedimentos com os documentos escolares.

No final da visita, os locais onde estão guardados os documentos são fotografados e

um questionário é deixado para que um representante da equipe diretiva responda no quais

são indagadas as seguintes questões sobre a situação dos acervos documentais e o quão tem

sido importante para a valorização da memória destas escolas, em contraposição ao

esquecimento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No retorno às escolas foi possível observar que existe certo (des) conhecimento sobre

a importância dos acervos históricos para a memória da educação e dos educandários. Em

algumas escolas é evidente o descaso para com os documentos e objetos históricos, que vai

desde o modo de armazenamento até a falta de um ambiente próprio para a salvaguarda dos

documentos, sendo em muitas situações lugares úmidos com pouca ou muita luminosidade.

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Na maior parte das escolas revisitadas existe a falta de um profissional que esteja apto para

organizar os documentos. Não há uma preocupação sistemática quanto à higienização e

conservação dos mesmos. Mas cabe salientar que, neste processo, encontramos algumas

escolas com salas apropriadas para a guarda dos documentos, algumas com uma organização

maior, em ordem cronológica, alfabética e /ou numérica.

O trabalho de retorno às escolas encontra-se em andamento, faltando algumas visitas,

entretanto, já foi possível verificar que boa parte dos profissionais não conhecem os acervos

escolares, não compreendem a importância que os mesmos têm para as pesquisas em história

da educação, no que se refere à instituição e à comunidade escolar. O que é animador é que

neste processo, percebe-se que algumas escolas já estão sensibilizadas e por essa razão, tem-

se a certeza da importância deste tipo de atividade, pois o conhecimento é a principal

ferramenta para se contrapor a cultura do descarte.

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