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O carnaval brasileiro segundo a autora apresentou três formas distintas, em diferentes períodos, ao longo dos séculos.Porém, sempre foi brincado nos quatro Dias Gordos, antes da 4ª feira de Cinzas, notadamente nas vilas e cidades. Estas formas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento e transformações sócio-econômicas desses vilarejos e centros urbanos. QUEIROZ, Maria Isaura P. Carnaval brasileiro: da origem européia ao símbolo nacional. Ciência e Cultura. v. 39, n.8, p.717-729. Resumo: O carnaval brasileiro > apresentou três formas diversas durante os séculos > foi celebrado nos quatro Dias Gordos antes da Quarta- feira de Cinzas. 1.O velho Entrudo, trazido de Portugal > realizou-se nas vilas e povoados, até meados do século XIX. 2. De 1850 a 1950 > um novo tipo de comemoração foi introduzido no RJ, vindo de Lisboa, Madri, Paris, Roma > espalhou-se pelas aglomerações urbanas. Compunha-se de: bailes de máscaras; préstitos de carros decorados que pertenciam às Sociedades Carnavalescas; corso de carruagens (mais tarde de automóveis) repletas de gente com ricas fantasias. 3. A partir de 1950 > predomina o carnaval popular, de origem africana, nucleado em torno

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Page 1: O carnaval brasileiro segundo a autora apresentou três formas distintas, em diferentes períodos, ao longo dos séculos.Porém, sempre foi brincado nos quatro

O carnaval brasileiro segundo a autora apresentou três formas distintas, em diferentes períodos, ao longo dos séculos.Porém, sempre foi brincado nos quatro Dias Gordos, antes da 4ª feira de Cinzas, notadamente nas vilas e cidades. Estas formas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento e transformações sócio-econômicas desses vilarejos e centros urbanos.

QUEIROZ, Maria Isaura P. Carnaval brasileiro: da origem européia ao símbolo nacional. Ciência e Cultura. v. 39, n.8, p.717-729.

Resumo: O carnaval brasileiro > apresentou três formas diversas durante os séculos > foi celebrado nos quatro Dias Gordos antes da Quarta-feira de Cinzas. 1.O velho Entrudo, trazido de Portugal > realizou-se nas vilas e povoados, até meados do século XIX. 2. De 1850 a 1950 > um novo tipo de comemoração foi introduzido no RJ, vindo de Lisboa, Madri, Paris, Roma > espalhou-se pelas aglomerações urbanas. Compunha-se de: bailes de máscaras; préstitos de carros decorados que pertenciam às Sociedades Carnavalescas; corso de carruagens (mais tarde de automóveis) repletas de gente com ricas fantasias.3. A partir de 1950 > predomina o carnaval popular, de origem africana, nucleado em torno das escolas de samba. Suas músicas e danças se tornaram também o núcleo central de todas as atividades carnavalescas.

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Periodização do carnaval brasileiro

• A autora discute esses festejos a partir da periodização proposta. Neste artigo sua preocupação > entender de que maneira a nova forma de carnaval (o carnaval das escolas de samba) se torna um símbolo nacional.

• Tal periodização marca a análise da autora e, também, uma certa leitura do carnaval brasileiro.

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1. O ENTRUDO

• A primeira forma de carnaval é O velho Entrudo – trazido pelos portugueses. Era brincado nas vilas até meados do século XIX.

• Era brincado em aglomerações de certo porte e era praticado entre famílias brancas que se conheciam umas ás outras e mantinham relações de amizade.

• Compunha-se de muitos jogos e estruturavam-se a partir do núcleo familiar. Constituam-se basicamente de brincadeiras de molhar, jogar farinha ou cinza uns nos outros. Elas terminavam com o famoso ágape.

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Características do Entrudo

• O núcleo das brincadeiras era a casa, podendo desdobrarem-se à rua.

• Eram práticas carnavalescas que as mulheres participavam intensamente, sendo uma ocasião para iniciar namoros e aproximações entre os sexos. Terminava nos famosos ágapes, regados a muitas bebidas e comidas.

• Os escravos só podiam brincar de manhã cedo, junto às fontes, quando iam buscar água. Podiam ser atacados por seus senhores, mas não era permitido o revide.

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2. O Carnaval de luxo ou carnaval burguês (1850-1950)

• 2. Em meados do século XIX começa nos grandes centros urbanos, notadamente no Rio de Janeiro o chamado carnaval veneziano. Inicia-se com baile de máscaras e, aos poucos, vão aparecendo os préstitos suntuosos, o “corso” - desfiles de carruagens ornamentadas (depois carros), com seus donos portando ricas fantasias. Neste momento, a rua passou a ser o local, por excelência, desses folguedos.

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O Carnaval burguês ou Grande Carnaval• Esse Carnaval de luxo ou Grande Carnaval – (1850-1950) -

inspirado no carnaval do Velho Mundo: Lisboa, Paris, Madrid, Roma – se espalhou por todas as aglomerações urbanas.

• Era um Carnaval luxuoso > restrito aos segmentos endinheirados que dispunham de dinheiro para comprar as fantasias, os ingressos para os bailes e as mensalidades dos clubes e Sociedades Carnavalescas.

• Em que pese os seus traços de carnaval de luxo e organizado para elite divertir-se, conviveu ao seu lado o chamado pequeno carnaval ou carnaval popular que aos poucos foi ganhando projeção, a partir de suas criações e ritmos próprios, expandindo-se, notadamente, nas primeiras décadas do século XX, com os ranchos e cordões carnavalescos. Essas agremiações deram origem, na passagem da década de 20 para 30, às escolas de samba, com música e ritmos próprios. Segundo a autora essa estrutura será predominante a partir de 1950 e dará o formato ao carnaval brasileiro.

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3.Carnaval Popular – 1950 - aos dias atuais > marcado pelo predomínio das Escolas de

Samba

• De 1950 em diante, as escolas de samba tornaram-se donas e senhoras do carnaval brasileiro > suas músicas e danças, provenientes da África, tornaram-se também o núcleo central de todas as atividades carnavalescas. Este processo foi discutido pela autora, com o propósito de recuperar “de que maneira e em que condições a nova forma de carnaval se tornou um símbolo nacional”

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O carnaval popular ou o pequeno carnaval suas origens

• Das sociedades carnavalescas, no Brasil, para as escolas de samba, além da origem totalmente diferente de seus “foliões”, a grande mudança que se operou localizou-se fundamentalmente na música e na dança.

• Durante a segunda metade do século XIX e início do XX > não haviam surgido as melodias especificamente carnavalescas. Nos bailes, as valsas, as polcas, os xotes ritmavam as evoluções dos dançarinos.

• Foi por volta de 1910 > surgiram música e passos de dança específicos, a princípio no desfile dos ranchos, no Rio de Janeiro, com a marcha-rancho,em seguida nos bailes e outros cortejos, com a marchinha carnavalesca e com o samba (p. 724).

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O carnaval popular ou o pequeno carnaval > suas origens (cont.)

• Na leitura da autora, “impuseram-se instrumentos e ritmos de proveniência africana, colorindo todo o carnaval brasileiro e dando-lhe personalidade própria”.

• As mudanças que ocorrem no Brasil, com a industrialização > teve como complemento uma vigorosa urbanização descontrolada e anárquica que intensificou a mescla de nacionalidades e etnias. Isso não foi suficiente para permitir a organização política das “classes inferiores”. Estas se organizaram espontaneamente em escolas de samba... e efetuaram a conquista da festa de rua, antes domínio do carnaval burguês (carnaval dos brancos), “como se fosse uma tomada de bastão opressor por grupos oprimidos”(p.725).

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O carnaval brasileiro > suas origens e transformações

• Diz a autora que ao examinar a origem e as transformações das atividades dos Dias Gordos no Brasil > são constituídas de verdadeiras combinações de elementos de dupla origem - do Ocidente europeu e da África negra.

• A interpretação de traços culturais diversos > deu nascimento a um novo estilo de festa, em que os elementos africanos, embora minoritários em quantidade, pois se limitam a música e a dança, se apresentam no entanto como dominantes pois são eles que comandam o desenrolar dos cortejos, o saracotear nos bailes (p. 725). E nas escolas de samba a bateria é reconhecida como a ala essencial, a sua “alma”.

• A “brasilidade” da festa, o que a torna reconhecida pelos nacionais como autenticamente sua,o que a identifica aos olhos e aos ouvidos dos estrangeiros > é a mistura afro-européia, mas em que o elemento cultural de comando é o africano.

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O carnaval > símbolo de “brasilidade”

• O carnaval tornou-se, pois, um dos símbolos de brasilidade. O símbolo, elemento de reconhecimento entre membros de um mesmo grupo ou sociedade, mantém, entre os integrantes, uma relação inteligível. Despertando determinados estados, ou afetivo, ou de consciência – ou ambos – o símbolo é uma linguagem compreendida por todos os indivíduos (quer o aceitem, quer o repilam) de uma coletividade, reforçando, assim, a coesão interna desta (p.726). No entanto, a feição inteligível do símbolo é mais sentida do que percebido. Apresenta-se como algo misterioso, invisível, inexprimível.

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O carnaval > símbolo de “brasilidade”- considerações finais

• Portanto, o carnaval > é hoje um traço revelador da “identidade nacional” tanto interna quanto externamente.

• Na parte final do texto a autora afirma que a série de metamorfoses sofridas pelas atividades dos Dias Gordos,certamente não chegaram ao fim, como também não chegaram ao fim as transformações sócio-econômicas e demográficas das cidades.

• Qual seria a próxima etapa, agora que as escolas de samba conquistaram para as camadas inferiores o direito à festa e para os traços culturais africanos o reconhecimento de seu valor enquanto componentes significativos e legítimos da identidade nacional?

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Considerações finais• Ou esta valorização não estará sempre sujeita a

modificações através do tempo, associadas às mudanças urbanas, como se viu acontecer no desenrolar das vicissitudes por que tem passado o Carnaval? Manterá o carnaval, pelos anos afora, sua condição de símbolo nacional? Ou será derrotado pelos novos símbolos que poderão surgir?

• Afirma a autora que não é no âmbito deste ensaio que esta resposta poderá ser dada porque não é possível prevê o caminho das metrópoles nacionais no seio da sociedade global, e também as festividades que lhes são próprias.

• Isso só pode ser visto no âmbito das transformações da sociedade, de forma mais global.

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Desfile dos Fenianos -SP

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Carnaval em São Paulo - Lapa (década de 1920)

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Charge de Belmonte, A Cigarra, 1926

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CHARGE DE BELMONTE, A CIGARRA, 1924