o caminho é feito ao andar

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Antologia de textos psicoeducativos, destinada a estudantes universitários e a todos os que se considerem estudantes da vida. Este livro é a compilação dos textos escritos pela Equipa do Serviço de Consulta Psicológica da Universidade da Madeira (Portugal) e que foram publicados desde 2009 na Revista Académica JA da Associação Académica da Universidade da Madeira

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Page 1: O caminho é feito ao andar
Page 2: O caminho é feito ao andar

© Serviço de Consulta Psicológica

da Universidade da Madeira (SCP-UMa)

Funchal, Portugal, Setembro de 2014

ISBN: 978-989-99148

Uma antologia de textos psicoeducativos, escritos pela equipa do SCP-UMa, publicados na

revista Académica JA da Associação Académica da Universidade da Madeira, entre os anos

2009 e 2014.

Psicólogas: Luísa Soares, Carla Vale Lucas, Filipa Oliveira, Cristina Coelho, Catarina Faria, Sónia

Vasconcelos

Fotos de Carla Vale Lucas

FICHA TÉCNICA

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O Caminho é feito ao andar!

Page 3: O caminho é feito ao andar

Capítulo 1: A viagem começa aqui:

A jornada académica .................................................................. 7

Capítulo 2: Para onde segue o comboio?

Escolhas e desafios profissionais ..............................................14

Capítulo 3: Ser maquinista deste comboio:

Autoconhecimento e gestão emocional .................................... 31

Capítulo 4: Carruagens que se ligam entre si

Relações afetivas ...................................................................... 49

Capítulo 5: Estações, para um retemperar de forças

Bem estar psicológico ............................................................... 62

ÍNDICE

O CAMINHO É FEITO AO ANDAR

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Page 4: O caminho é feito ao andar

O Serviço de Consulta Psicológica da Uni-versidade da Madeira (SCP-UMa) foi criado em Novembro de 2009, com o objetivo de apoi-ar na resolução de problemas psicológicos e promover o bem estar e o incremento de com-petências essenciais a um desenvolvimento pessoal otimizado. Destina-se a estudantes e funcionários da Academia e restante comuni-dade da Região Autónoma da Madeira.

Em 2009, o SCP-UMa iniciou a sua colabora-ção com a Revista Académica JA da Associa-ção Académica da Universidade da Madeira. Ao longo destes 4 anos, muitos foram os arti-gos publicados, apostando numa psicoeduca-ção e capacitação do seu público alvo.

Este livro é, pois, a compilação de todos os textos, escritos pela equipa do SCP-UMa, com uma linguagem simples e acessível às diferen-tes faixas etárias e desafios desenvolvimen-tais. Versam temas diversos que abarcam a jornada académica do jovem estudante univer-sitário, os desafios colocados pela tomada de decisão, a importância do autoconhecimento, as nuances do relacionamento interpessoal, bem como as estratégias de promoção do bem estar psicológico e saúde mental.

Por tudo isto, e enquanto serviço que visa a promoção da saúde mental, continuamos a en-carar cada momento como uma oportunidade para capacitar os estudantes universitários e todos os estudantes da vida, face aos desafi-os do quotidiano.

Com esta nota introdutória despedimo-nos, fa-zendo votos que todos os nossos leitores, es-tudantes da vida, embarquem nesta viagem, e encontrem nestes textos uma ferramenta útil para a caminhada.

UMA NOTA INICIAL

O CAMINHO É FEITO AO ANDAR!

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Page 5: O caminho é feito ao andar

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Page 6: O caminho é feito ao andar

ÉS ESTUDANTE NA ESCOLA DA VIDA?

TAL COMO UM COMBOIO VELOZ,

ASSIM É A VIDA!

ESTÁS DISPOSTO A APANHAR O COMBOIO DA VIDA? ENTÃO PREPARA-TE PARA A VIAGEM?

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Page 7: O caminho é feito ao andar

NO COMBOIO DA VIDA,São muitas as linhas férreas que aumentam o leque de escolhas dos possíveis destinos por onde caminhar.

São muitas as estações que servem para re-temperar as energias, para ganhar novo alento para a caminhada, para (re)pensar e fazer (no-vas) escolhas.

NO COMBOIO DA VIDA,Certo é que nunca iremos sozinhos. São múlti-plos os companheiros de viagem, conhecidos e desconhecidos, rumo a algum destino...

São muitas as carruagens, que unidas entre si, embarcam nesta viagem. Servem para reco-lher as aprendizagens das experiências viven-ciadas, junto com outros companheiros de via-gem.

NO COMBOIO DA VIDA,O maquinista é o elemento fulcral.

Necessita aprender a trabalhar com a locomoti-va, conhecer como se atrelam e desatrelam as carruagens. Precisa estar atento ao caminho, ter uma visão de futuro e antever obstáculos...

Assim, devemos ser nós - MAQUINISTAS DA NOSSA VIDA -

autores da nossa própria história.

NO COMBOIO DA VIDA, pode escolher aprender, a cada dia que pas-sa. Pode aproveitar as oportunidades ou sim-plesmente deixá-las passar, permanecendo na estação, por cansaço, por exaustão, por desinteresse... e assim correndo o risco da-quele comboio nunca mais voltar.

NO COMBOIO DA VIDA, para evitar possíveis descarrilamentos (por-que a vida é feita de altos e baixos) é tão im-portante investir no bem estar. Este depende essencialmente da forma como vemos o que nos rodeia, pelo que necessitamos aprender a ver o mundo de forma mais capacitadora,

evitando que o comboio deixe de caminhar,

enquanto a vida continua a correr!

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NO COMBOIO DA VIDA...... A viagem tem início, a partir do momento em que pensa,

escolhe ou, simplesmente, se permite sentir!

Page 8: O caminho é feito ao andar

A Jornada Académica

“Caminhante, não há caminho, o caminho é feito ao andar.

Ao andar se faz o caminho e ao olhar para trás,

se vê a senda que nunca se vai voltar a trilhar.

Caminhante não há caminho, somente rastros no mar."

António Machado

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A VIAGEM COMEÇA AQUI...

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Page 9: O caminho é feito ao andar

Hoje em dia, entrar na Universidade é pratica-mente comum nos países industrializados. A uni-versidade passou a ser o prolongamento do ensi-no secundário, havendo cada vez mais jovens a ingressar no ensino superior.

A entrada na universidade implica várias rotu-ras, descontinuidades e recomeços. No entan-to, significa também a definição de outros ob-jetivos e construção de novas experiências.

Estar numa universidade implica reconhecer e adaptar-se a novos métodos, aprender a traba-lhar em equipa, com pessoas diferentes, de dife-rentes idades e vivências, implica ainda saber comunicar com docentes, colegas, funcionários, aumentar a autonomia no estudo e pesquisa de informação, desenvolver novas estratégias de gestão de tempo e da ansiedade face a apresen-tações orais e exames de maior complexidade.

No entanto, o percurso universitário não acar-reta apenas mudanças e ganhos a nível inte-lectual.

A experiência universitária também oferece ao estudante uma realidade rica e diversificada com ganhos incontáveis para o seu desenvol-vimento pessoal, emocional e relacional.

Ser estudante universitário significa experienciar e reconhecer emoções em si e nos outros, saber lidar com a pressão, a frustração, a desmotiva-ção, a tristeza e a euforia; significa ainda ser tole-rante à diferença, ser solidário, humilde, conhe-cer e aceitar pontos de vista diferentes e mos-trar-se disponível para aprender com os outros; significa encontrar pontos de ligação, construir pontes, estreitar laços e identificar interesses idênticos que enriquecem as relações e perpetu-am memórias.

Mais do que um diploma, um estudante uni-versitário leva consigo uma bagagem cheia de experiências e aprendizagens que não vêm no currículo nem são passíveis de “equi-valências”.

Por isso, se és finalista, estás de parabéns! Su-gerimos que uses algum do teu tempo para abrir a tua bagagem e refletir no que foste capaz de guardar ao longo do teu percurso.

Se ainda estás a percorrer o caminho da vida universitária, convidamos-te a fazer parte do Pro-grama de Tutoria PARES, onde terás um tutor que te pode ajudar nesta viagem e a preencher a tua “bagagem”.

Publicado na Revista JA, edição 76, ano VIII.

PARA ALÉM DO DIPLOMA:

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O QUE LEVAS DA UNIVERSIDADE?1

Page 10: O caminho é feito ao andar

“Entrei na Universidade,

mas ainda não aterrei de cabeça...”

Este é um dos desabafos do Gervásio*, que ao ingressar no ensino superior vê concretizado um sonho, que ao mesmo tempo lhe suscita gran-des dúvidas.

“Conseguirei integrar-me bem? Conseguirei fazer amigos? Poderei mostrar-me tal como sou? Serão todos melhores alunos do que

eu?

Conseguirei chegar ao fim? Os outros alunos também pensam nisto, ou sou o único cliente

destas ideias claustrofóbicas?”

A esta última pergunta do Gervásio, arriscamo-nos a responder “SIM”.

A entrada na universidade constitui um desafio gigantesco a nível académico, pessoal e social, que exige um reajuste de rotinas, e impele a li-dar com o aumento de liberdade e responsabili-dades, com a pressão para obter bons resulta-dos e a incerteza face ao futuro.

“Conjugar tudo o que tenho para fazer é um grande desafio. Perco-me por entre o dever, o meu caprichoso querer e as importantíssimas

e inadiáveis urgências do dia-a-dia.”

A gestão de tempo coloca-se de sobremaneira aos estudantes que têm de conciliar a universi-dade com trabalho e família, e de se confrontar diariamente com as dúvidas relativas à capacida-de de dar resposta a todas as incumbências.

“Gostava de acreditar que vai correr tudo bem nesta minha experiência universitária,

mas não estou completamente convencido e a dúvida semeia insegurança e algum nervo-

sismo.”

O ritmo cardíaco acelerado, a sensação de falta de ar e/ou perda de controlo, alterações de apeti-te, dificuldade em dormir e/ou se concentrar, sen-timentos de tristeza, falta de motivação, entre ou-tros, são alguns dos sintomas que podem surgir nesta fase. Estes sintomas vão e vêm, mas por vezes podem tornar-se intensos e persistentes, interferindo nas diferentes áreas da vida.

De nada adianta camuflar aquilo que sente, seja para não preocupar os demais ou para se mos-trar forte. Tal atitude apenas contribuirá para adi-ar e intensificar o problema. É necessário sim aprender a gerir o que está a sentir.

Já diz a frase:

“O pessimista queixa-se do vento,

o otimista espera que ele mude

e o realista ajusta as velas” (William Ward).

ENTREI NA UNIVERSIDADE E AGORA?

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Page 11: O caminho é feito ao andar

Adaptar-se a um novo contexto é um processo gradual. Dê, por isso, tempo a si próprio e “ajus-te as velas” de modo a reduzir a ansiedade e sentimentos de tristeza, comuns neste período de adaptação.

Encare a entrada na universidade como uma oportunidade única de aprendizagens várias. Procure apoio em amigos e família; pratique exer-cício físico; envolva-se em atividades sociais/a-cadémicas; aprenda a relaxar; alimente-se e dur-ma bem. Estabeleça objetivos realistas para o seu percurso e desenvolva, continuamente, as suas competências.

Caso estas dicas não sejam suficientes procure ajuda especializada. Estamos aqui para o aju-dar!

* Ao longo do texto foram citados os desabafos do Gervásio, personagem de Rosário, P., Nuñez, C. & González-Pienda, P. (2006). Cartas do Ger-vásio ao seu umbigo. Almedina Editores.

Publicado na Revista JA, edição 68, 2013.

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Page 12: O caminho é feito ao andar

Com mais um ano académico, inicia-se uma nova jornada e um período de adaptação para todos os que nele se aventuram, levando consi-go uma “mochila” recheada de utensílios obriga-tórios para esta “chamada”: conhecimentos e ex-periências prévias, valores, expectativas, curiosi-dades não atendidas, desejos de realização e ainda umas quantas dúvidas e anseios, que ine-vitavelmente podem tornar este período de adap-tação mais ou menos difícil.

A entrada em mais este ano exige um reajuste de rotinas de trabalho, o assumir novas respon-sabilidades, o adaptar-se e gerir diferenças inter-pessoais, gerir tempo e recursos, lidar com pres-sões várias, anseios e dúvidas “Será isto o que realmente quero?”, e acima de tudo lidar com a incerteza face ao futuro.

Perante todos estes desafios, não é de estranhar que este período de adaptação seja gerador de alguma ansiedade.

Dê, por isso, tempo a si próprio para se ajus-tar. Adaptar-se a um novo contexto é um proces-so gradual. Enquanto para uns pode ser visto como um período sem grandes entraves e até excitante, para outros poderá ser sinónimo de

algumas dificuldades acrescidas, com repercus-sões negativas na aprendizagem.

Nas situações em que as formas habituais de re-solver estas dificuldades não parecem estar a resultar, poderá ser útil procurar ajuda de um pro-fissional. Às vezes pode achar que os seus “pro-blemas” não justificam esta procura de ajuda, por existirem outras pessoas em situações pio-res, mas lembre-se “se lhe preocupa ou se lhe causa sofrimento, então mais vale pedir ajuda, para que esta dificuldade não constitua um en-trave à sua caminhada!”

Por tudo isto, e para promover uma melhor inte-gração e fomentar o seu bem-estar, é fulcral encarar esta etapa como um período desafiador, uma oportunidade única de aprendizagens vári-as, com benefícios para o desenvolvimento pes-soal.

Por isso, aproveite cada passo desta jornada, seguindo em frente. Faça amigos. Envolva-se em actividades sociais / académicas que lhe agradem. Mantenha-se activo / exercite-se, o que lhe ajudará a reduzir a ansiedade e senti-mentos de tristeza comuns neste período de adaptação.

“O QUE É QUE TE MOVE?”

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NO INÍCIO DE UMA NOVA JORNADA

Page 13: O caminho é feito ao andar

Mas não se esqueça: seja verdadeiro, respeite-se a si e aos outros, e não deixe ficar esqueci-dos pelo caminho os seus princípios éticos.

E porque a Universidade representa um tempo que acima de tudo permite e exige uma projec-ção no futuro, antes de prosseguir na sua jorna-da... Páre! Pense! e responda:

“O que é que me move?” “Quais as minhas metas e objectivos?”.

A resposta a estas questões será o arranque para este trajecto, mas também para a sua per-secução, porque a motivação é o motor que ori-enta os nossos passos.

Persista e acredite no alcance das suas metas, pois este é um período para não ter medo de er-rar, mas sim de não tentar.

“O futuro não é inevitável. Podemos influen-ciá-lo se soubermos como queremos que ele seja.” (Charles Handy).

Publicado na Revista JA, edição 49, 2010.

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Page 14: O caminho é feito ao andar

A assunção generalizada acerca daquilo que procuram os estudantes universitários passa, so-bretudo, pela tentativa de alcançar o êxito ou de obter um bom rendimento escolar.

O sucesso académico pode ser perspectiva-do a partir de diferentes dimensões. Porém, o parâmetro mais comum continua a ser os resulta-dos académicos, isto é, a operacionalização do rendimento traduzida em escalas numéricas: as notas.

Os objectivos motivacionais são os “respon-sáveis” pelo percurso e pelas escolhas do in-divíduo na procura do sucesso académico. Ao traçar os seus objectivos, o aluno posiciona as suas estratégias ou guias de acção de forma a adequar o seu percurso de acordo com as me-tas que estabeleceu para si próprio.

A forma de atingir o sucesso académico depen-derá, portanto, das escolhas realizadas anterior-mente.

Se o aluno cria e mantém objectivos puramen-te focados na sua realização ou performance, a tendência será para se centrar na obtenção de boas notas ou na comparação com os seus cole-gas, tendo como base dos seus objectivos a mo-tivação extrínseca. Objectivos deste género ten-dem a apelar à competição académica.

Quando o aluno foca a sua realização escolar nos chamados “objectivos de mestria” a sua acção e interesse serão mais intrínsecos e a pro-cura do sucesso basear-se-á na obtenção de co-

nhecimento para benefício próprio. Esta opção é claramente a mais eficaz e produtiva.

Por outras palavras, quando o aluno traça objec-tivos perspectivando unicamente a sua realiza-ção, o mais importante para si será a obtenção de bons produtos escolares: o sucesso académi-co é traduzido nos resultados.

Quando o aluno se encontra intrinsecamente mo-tivado, o sucesso académico terá uma compo-nente mais individual e não tanto social, isto é, a procura e a obtenção de conhecimento é critério suficiente para o aluno se manter motivado para estudar.

Desta forma, a construção dos objectivos moti-vacionais é fundamental no que toca à forma como o indivíduo se posiciona no contexto académico e como se comporta no seu papel de aprendiz.

Toda a realização escolar girará em torno do pa-drão de objetivos e das metas que cada um pre-tender atingir.

A procura do sucesso académico tomará vários caminhos, onde o princípio fundamental é aque-le que o aluno traçou para si mesmo, como “ser bom aluno” ou simplesmente “obter boas notas”.

Publicado na Revista JA, edição 56, 2011.

NO CAMINHO PARA O SUCESSO ACADÉMICO

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Page 15: O caminho é feito ao andar

Escolhas e desafios profissionais

“Só aqueles que arriscam ir demasiado longe

ficarão a saber até onde podem ir.”

T. S. Eliot

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PARA ONDE SEGUE O COMBOIO?

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Page 16: O caminho é feito ao andar

“Eu não me preocupava muito com o futuro. Mas, agora que terminei o meu curso, o que vou fazer? Será que vou ter uma carreira lu-crativa e estável? E se eu não encontrar um emprego? Valeu a pena tantos anos de esfor-ço e de formação?”

A conclusão do semestre significa para muitos o término de um ciclo de estudos e, consequente-mente, a entrada no mercado de trabalho.

Procura-se nesta fase corresponder ao que é considerado o grande ideal para a maioria dos estudantes universitários – ter uma carreira lucra-tiva e estável.

Devido às condições atuais, as questões relacio-nadas com a carreira profissional podem ser uma fonte de preocupação e ansiedade, especi-almente para os jovens licenciados. Note-se que, por vezes, as expectativas associadas ao investimento na formação académica podem não ter correspondência no mercado de traba-lho, ao nível da estabilidade de emprego, estatu-to profissional e compatibilidade entre a forma-ção que recebeu e o emprego que virá a ter.

A dificuldade em ter e manter um emprego pode implicar uma caminhada mais longa para atingir uma autonomia mais plena, e um adia-mento sistemático de outros objetivos afeti-vos e sociais como a autonomia financeira, o sair de casa dos pais e a constituição de famí-lia.

Perante este cenário,

o que esperar no futuro?

Se decidir realizar uma longa viagem provavel-mente, em primeiro lugar, irá consultar um mapa para decidir qual é o melhor trajeto a tomar.

Planear o futuro traduz-se, pois, em algo seme-lhante! Perante a ampla variedade de opções que existe nesta “viagem” de transição para a vida ativa, é necessário fazer escolhas de acor-do com os objetivos que foram previamente de-finidos.

Essas escolhas poderão envolver procurar ativi-dades que proporcionem experiências profissio-nais, como ações de voluntariado ou atividades mais próximas daquelas que gostaria de vir a de-sempenhar futuramente, como programas a tem-po parcial e a realização de estágios.

Estas experiências ajudam os estudantes a iden-tificar as áreas e as atividades para as quais se sentem ou não vocacionados, bem como aju-

ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS: QUE FUTURO?

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Page 17: O caminho é feito ao andar

dam a fomentar e a desenvolver competências profissionais fundamentais na procura e manu-tenção de um emprego.

No entanto, ao longo desta viagem podem surgir imprevistos, que implicam uma redefinição da rota e, por vezes, do ponto de chegada.

Assim, esta transição para a vida ativa não pode ser vista como um ato único e isolado, mas como um processo de concretização de uma série de pequenos projetos orientados para objetivos e que podem envolver uma multiplicidade de trajetos.

Face a tudo isto, se sentir dificuldades em ence-tar esta viagem, fazer escolhas ou tomar uma de-cisão, pode ser importante procurar apoio espe-cializado de um psicólogo.

Publicado na Revista JA, edição 57, 2011.

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Page 18: O caminho é feito ao andar

Para onde vou? Porque vou?

Como e quando vou?

Eis algumas das questões que podem causar assombro, mas que necessitam ser respondi-das no contexto de vida pessoal/ profissional.

Convidamos, por isso, a realizar um pequeno exercício. Imagine que tem 90 anos. Acrescem-lhe algumas rugas e um acumular de experiênci-as. Está sentado rodeado dos seus netos, com um sorriso no rosto. Está a explicar-lhes como foi a sua vida, focando-se no seu percurso profissio-nal. O que lhes gostaria de dizer? Pense nas grandes metas profissionais que alcançou e no que foi preciso fazer para as alcançar.

Como se sentiu ao fazer este exercício? Esperan-çoso ou por outro lado hesitante e receoso consi-derando a contingência sócio-económica atual? Certamente foi invadido por um misto de senti-mentos e, inclusive, algumas dúvidas.

Para tomar boas decisões de carreira, o primeiro passo a dar é fazer uma introspeção e identificar o seu perfil e os seus objetivos profissionais, de modo a saber o que pretende alcançar e desen-volver a coragem para agir, porque “quem não sabe o que procura não reconhece quando o

encontra”. O fundamental é visualizar o seu per-curso à medida que o vai construindo, de modo a que as escolhas que for fazendo, por exemplo ao nível da formação, sejam feitas nesse senti-do.

Nesta procura é essencial conhecer-se. Só as-sim mais facilmente poderá fazer escolhas em função daquilo que quer alcançar e assim procu-rar um trabalho que “encaixe” na sua personali-dade. Note-se que não há ninguém no mundo que não tenha nada para dar e receber.

A intervenção psicológica em orientação e des-envolvimento da carreira pode ser uma importan-te ajuda neste sentido, já que auxilia a respon-der a questões que se colocam ao longo do per-curso de vida, fomentando o autoconhecimen-to e desenvolvimento pessoal. Submeter-se a um teste de personalidade pode, pois, ajudar a parar e refletir acerca das suas preferências, ati-tudes…

As oportunidades existem para quem as pro-cura, pelo que ser proativo em relação à car-reira é fulcral.

PARA ONDE QUERO IR?

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(RE)PENSANDO AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS

Page 19: O caminho é feito ao andar

Neste percurso e, particularmente tendo em con-ta a contingência atual, é necessário compreen-der a situação envolvente, tolerar a incerteza, persistir no esforço, confiar em si e nas suas competências, aceitar sucessos e insucessos, saber receber feedback positivo e negativo, es-tar disposto a aprender (o melhor candidato a um emprego é aquele que mostra disponibilida-de para tal), mas acima de tudo não esquecer que é necessário tempo para que os frutos pos-sam amadurecer e ser colhidos, sem que isso implique uma postura passiva.

Steve Jobs afirmou “cada sonho que deixas para trás é um pedaço do teu futuro que deixa de existir”, por isso aumente o seu autoconhe-cimento, planeie, passe à ação e avalie conti-nuamente o seu percurso.

Descubra o seu potencial, o que de melhor tem para dar, de modo a que numa situação de pro-cura de trabalho possa dizer “Eu sou a melhor escolha...” ou ao fazer uma retrospeção do seu percurso possa afirmar “Eu sou o comandante do meu projeto de vida!”

Publicado na Revista JA, edição 67, 2012.

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Page 20: O caminho é feito ao andar

“ Quando não sabemos para que

porto estamos a remar,

não importa para onde o vento sopra.”

Lúcio Sêneca

O simples acto de traçar objectivos tem um ca-rácter estruturante no funcionamento psicológico do ser humano. Os objectivos por nós traçados tornam-se num mapa que auxilia as nossas deci-sões e numa fonte de satisfação pessoal. No en-tanto, construir este mapa orientador pode ser uma tarefa desafiadora.

Por vezes temos de lidar com as nossas própri-as expectativas algo desfasadas da realidade, bem como com as expectativas que os outros têm relativamente a nós.

Note-se que estas expectativas inadequadas po-dem ter origem em crenças irrealistas (“tenho que ser bem-sucedido em todas as coisas e nun-ca errar”, “tenho que agradar a todos”…) ou com o facto de permitirmos que outros estabele-çam para nós objectivos incoerentes e/ou dema-siado perfeccionistas (“tens que ser o me-lhor”…), longe daquilo que realmente espera-mos ou do que somos capazes de atingir a mé-dio e longo prazo. Neste sentido, traçar objecti-vos segundo estas bases pode constituir moti-vos de frustração.

O ingresso e a permanência no ensino superi-or é caracterizado como uma etapa de defini-ção, redefinição e persecução constante de objectivos.

As nossas decisões são feitas a partir de um quadro de objectivos que vai sendo progressiva-mente moldado, em função das expectativas que temos relativamente a diferentes aspectos mas, essencialmente, das expectativas que te-mos acerca de nós próprios (“sou ou não ca-paz?”...).

As nossas preferências pessoais, experiências, crenças, propósitos, motivações e expectativas influem neste aspecto e são constantemente ponderadas e tidas em consideração a cada de-cisão tomada.

No entanto, por vezes hesitamos, isto com re-ceio de não alcançarmos aquilo a que nos pro-pusemos e, neste sentido, com receio de defrau-dar as expectativas que tínhamos inicialmente (“Acho que não sou capaz de fazer o exame, não vou conseguir obter uma boa nota, é muita matéria para estudar… é melhor deixar a discipli-na para o ano.”, “Gosto muito deste curso, mas é muito difícil, não sou capaz… é melhor mudar de curso”…)

Considerando tudo isto, importa não esquecer que a procura da satisfação pessoal está, em grande parte, ligada às nossas expectativas, por isso urge questioná-las: «Serão as minhas ex-

AO TRAÇAR OBJETIVOS:

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COMO LIDAR COM AS EXPETATIVAS?

Page 21: O caminho é feito ao andar

pectativas de todo realistas? Reflectem as mi-nhas próprias características pessoais? Ou são simplesmente construídas a partir do que os ou-tros esperam de mim, não reflectindo o que real-mente sou?»

Apenas com este questionamento e reflexão pes-soal é que conseguiremos ajustar os nossos ob-jectivos, não esquecendo que os objectivos, an-tes de serem vistos como metas rígidas e inal-cançáveis, devem ser encarados como uma sé-rie de pequenos passos e etapas a alcançar, por-que somos construtores do nosso caminho, um caminho feito de pequenas conquistas… e guia-do pelo mapa que são os nossos objectivos.

Publicado na Revista JA, 2011.

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Page 22: O caminho é feito ao andar

“Nada é mais difícil e, portanto, tão precioso, do que ser capaz de decidir.”

Napoleão Bonaparte

Outrora, pensava-se que quanto mais alternati-vas existissem, melhor seria a tomada de deci-são. As várias opções eram vistas como promo-toras da liberdade de avaliar a melhor decisão relativamente a vários assuntos: que curso esco-lher, casar, sair de casa dos pais…

No entanto, escolher entre inúmeras alternativas tornou-se um processo difícil, pelo que, em mui-tas situações, nos sentimos aliviados quando não precisamos de decidir.

Ao escolher uma alternativa, estamos, inevitavel-mente, a abrir mão de outras potencialmente bo-as. Tal poderá gerar sentimentos de perda e situ-ações de impasse, ao ponto de parecer, em cer-tos momentos, mais fácil desistir.

Então, o que nos poderá ajudar na tomada de decisões?

Pensar nas consequências a longo prazo: Pode ser útil escrever os prós e contras de tal decisão, a curto e a longo prazo. Se mantiver-mos os aspetos positivos e negativos apenas na memória, estes tenderão a parecer desfocados. Por outro lado, se os passarmos para o papel, mais provavelmente conseguiremos encontrar

uma solução. Importa, todavia, não deixarmos que o atrativo dos benefícios a curto prazo nos impeça de observar as consequências a longo prazo.

“Dar tempo ao tempo”: Decisões precipitadas, tomadas em ocasiões de stress, podem mostrar-se imprudentes, pelo que importa que pense-mos bem antes de tomar qualquer decisão. Tal, porém, não pode ser confundido com procrasti-nar, na medida em que muitas destas decisões, de tão importantes que são, precisam ser toma-das em tempo útil. O atraso desnecessário pode ser prejudicial para os vários intervenientes e pode tornar as decisões ainda mais difíceis. Além disso, adiar uma escolha, pode acabar por ser, em si mesmo, uma decisão.

Considerando as desvantagens do adiamento sistemático, o que leva a esta tendência? Mui-tos de nós temem consequências imaginárias. Outros, ao se lembrar de decisões anteriores, que tiveram resultados inesperados, hesitam em tomar novas decisões. No entanto, suponhamos que decidimos de determinada forma, e que não obtivemos o resultado esperado. Quem poderá garantir que os resultados seriam diferentes ou melhores, caso se tivesse optado por outro cami-nho?

Aceitar conselhos: Diferentes pessoas nem sempre tomam a mesma decisão perante desafi-os similares. Todavia, pode ser proveitoso saber como tomaram as suas decisões. Por exemplo, na escolha de um trabalho/curso pode ser útil

PORQUE É TÃO DIFÍCIL TOMAR DECISÕES?

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Page 23: O caminho é feito ao andar

pedir aos que já lá estão a trabalhar que falem acerca dos aspetos positivos e negativos.

Ao procurar conselhos e conhecer a experiência de outros, é necessário não esquecer que sere-mos nós a tomar a decisão final e que nos deve-mos responsabilizar por tal. Não é possível ter-mos a certeza de que as escolhas feitas serão sempre as mais adequadas. No entanto, é atra-vés dos acertos e dos erros que será possível tentar fazer de novo, e só assim ir construin-do a nossa história pessoal.

Publicado na Revista JA, edição 71, 2013.

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Page 24: O caminho é feito ao andar

«Deixei-me ficar parado sem saber que rumo to-mar. Não encontrei bússola que guiasse os meus passos e deixei-me ficar nesta incerteza, pressionado para tomar uma decisão que havia teimado em adiar por dias, meses, até hoje... e que me fazia perder em atalhos para chegar à meta que defini para o meu futuro.

Já havia feito tantas outras escolhas: entre o mu-dar ou não de curso, por não ser o que realmen-te imaginava; entre o pôr ou não um fim num na-moro de muitos meses; entre o aceitar uma ofer-ta de trabalho ou continuar onde agora estou…

Sei lá! Tantas decisões que já lhes havia perdido a conta. Mas então porque me custava tanto esta? Talvez não mais do que as outras.

Debatia-me sim, uma vez mais, com o medo por algo desconhecido e pela própria mudança.

O que deveria então fazer?

Enfrentar o medo e seguir numa determinada di-recção ou, por outro lado, deixar as coisas como estão, continuar pelo mesmo caminho, dando ra-zão à insegurança, ao medo? Estava a braços com a necessidade de me responsabilizar por qualquer opção tomada...»

Decidir? Sim!

São muitas as decisões a tomar, muitas as esco-lhas a fazer a todo o momento, dirigidas a um fu-turo. Umas mais simples, outras mais difíceis, de-pendendo das circunstâncias e do significado

que a elas atribuímos… Mas e quando a dúvida se atraca à decisão, como acontece no caso an-terior?

“Foge-se habitualmente do que se tem medo, e tem-se mais medo do que se desconhece, mas quanto mais se foge mais se desconhece e mais o medo aumenta”, escreveu Manuela Fleming. Esta frase, que bem podia constituir a súmula do presente artigo, justifica a hesitação na decisão e coloca-nos perante o inevitável que é a esco-lha, seja por um ou outro caminho, estando dela dependentes os frutos colhidos.

Neste contexto, e em certas situações, pode mesmo ser útil fazer-se uso, principalmente nas decisões mais difíceis, do guião de algibeira que guia o processo de tomada de decisão: identificar/definir qual é o problema e a situação em que surge; definir objectivos; desenvolver al-ternativas e analisá-las; pesar todos os seus pon-tos fortes/fracos e seleccionar a alternativa que se julga mais adequada; implementar essa alter-nativa e, por último, avaliar a sua eficácia, con-frontando os resultados com os objectivos defini-dos.

Neste guião ainda há espaço para, caso neces-sário, redireccionar a escolha feita.

Pedir ajuda, orientação e/ou suporte, em todo este processo, pode ser vantajoso, especialmen-te quando confrontados com um misto de senti-mentos e hesitações que pesam na escolha.

“E AGORA... O QUE FAZER?

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PARA ONDE IR?”

Page 25: O caminho é feito ao andar

O importante é ter sempre presente o que que-remos que o nosso futuro seja, as metas que queremos alcançar, para que as nossas esco-lhas sejam orientadas para tal… porque, aci-ma de tudo, são as escolhas que tomamos que fazem de nós quem somos e definem para onde vamos!

Publicado na Revista JA, edição 45, 2010.

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Page 26: O caminho é feito ao andar

Vivemos na era da globalização, em que cada vez mais urge pensar além-fronteiras, algo bem patente na mobilidade dos estudantes universitá-rios. No entanto, tem-se verificado um fenómeno paralelo na sociedade atual: a regionalização das universidades portuguesas e a saída mais tardia dos jovens de casa dos pais, o que vem colocar inúmeras questões relativas à conquista da independência, autonomia e ajustamento a um mundo em constante mudança.

Estarão os estudantes preparados para esta nova perspetiva de vida: pensar além-fronteiras?

Pensar além-fronteiras pode permitir ao estudan-te desenvolver-se a nível pessoal e intelectual, por se deparar com novos problemas e situa-ções, que requerem que seja criativo.

No entanto tal implica uma preparação atempa-da, na medida em que a autonomia e a indepen-dência precisam ser conquistadas.

Atingir determinada idade ou sair de casa dos pais não significa que os estudantes estejam pre-parados para ser independentes, tal como o fac-to de permanecer em casa dos pais não signifi-ca que o estudante tenha fracassado em se tor-nar um adulto maduro e responsável.

Muitos dos jovens que deixam a casa dos pais à procura da sua independência, acabam por fi-car dependentes destes a nível económico e emocional.

Quais os fatores que podem constituir obstá-culos na procura pela independência?

Muitos jovens dizem não ser capazes de estudar fora do seu país ou da sua zona de residência por não se sentirem preparados para se autono-mizarem.

Na verdade, ser capaz de morar longe da família e gerir todos os compromissos, académicos e outros, assume-se como uma demonstração acrescida de responsabilidade.

No entanto, não são raros os casos em que é a própria família que não apoia o crescimento do jovem neste sentido, alegando falta de maturida-de.

O que acontece é que a relação entre pais e fi-lhos necessita de confiança na separação. Quan-do as relações entre pais-filhos são saudáveis, o apoio à autonomia é maior e a confiança do jo-vem cresce.

É importante analisar quais são as reais moti-vações e expectativas do estudante ao tomar esta decisão e o que espera alcançar.

Alguns jovens saem de casa para tentar fugir aos problemas ou à autoridade dos pais, focan-do a sua atenção no que estão a deixar para

PENSAR ALÉM FRONTEIRAS:

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“ESTÁ PREPARADO PARA SER INDEPENDENTE?”

Page 27: O caminho é feito ao andar

trás e não naquilo que querem alcançar e para onde querem ir. Tal poder-se-ia comparar a con-duzir um automóvel olhando apenas para o retro-visor, não vendo o caminho que surge adiante.

Caso esteja a ponderar estudar fora aqui fi-cam algumas dicas essenciais:

Não se concentre apenas no querer sair de casa, mantenha o olhar fixo num objetivo que seja relevante para si.

A decisão de sair de casa e ser independente, pela sua importância, não deve ser tomada pre-cipitadamente.

Converse com os seus pais e pese os benefícios esperados e os possíveis desafios.

Seja honesto ao analisar as suas motivações.

Se acha que está preparado, então talvez este-ja na altura de tomar o seu próprio rumo na vida.

Publicado na Revista JA, edição 49, 2010.

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Page 28: O caminho é feito ao andar

Eis que é chegado o início de mais um ano leti-vo! Saudamos, por isso, todos aqueles que pela primeira vez ingressam no ensino superior e to-dos os que se aventuram em mais este ano pre-parados para abraçar novos desafios.

Nestes primeiros contactos, como de resto acon-tece noutras áreas da vida, criam-se as primei-ras impressões.

Estudos do psicólogo americano Albert Mehra-bian, indicam que a primeira impressão é forma-da em apenas 30 segundos, sendo que 55% cor-responde à postura ou comunicação não-verbal, 38% ao tom de voz e apenas 7% ao conteúdo, ou seja, à mensagem propriamente dita. Desta forma, a imagem assume-se como fulcral na co-municação. Entenda-se por imagem, todo o con-junto de componentes que a formam, como a postura, os gestos e o vestuário.

Já lá diz o velho ditado popular “Uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Assim, no âmbito das relações estabelecidas (pessoais ou profissionais), a imagem é uma verdadeira porta, sendo necessário refletir qual a imagem que passamos e que mensagem esta transmite.

No meio profissional, em particular, a imagem constitui um dos passaportes para o suces-so, se for usada de forma positiva e em prol dos conceitos e valores da organização. Não se pode falar de imagem profissional sem nos refe-

rirmos à importância da etiqueta, pois esta repre-senta um conjunto de regras previamente estabe-lecidas e características do grupo social e da cultura.

Tendo consciência deste conjunto de regras, mais capazes seremos de passar uma imagem positiva, e desta forma maiores serão as hipóte-ses de sermos bem-sucedidos.

A regra básica do protocolo de etiqueta consiste em ser sincero e atencioso, pois desta forma es-tará a ganhar respeito e confiança.

Existem ainda símbolos que são importantes e que devem ser tidos em conta num primeiro con-tato profissional. Note-se que não é necessário conhecer os valores de uma empresa para sa-ber que um aperto de mão pode revelar confian-ça ou insegurança, dependendo da forma como é estabelecido. Já o vestuário assume uma lin-guagem própria, sendo fulcral conhecer a simbo-logia que transmite.

A título de exemplo, uma gravata associa-se a uma imagem de respeito e credibilidade, pelo que o uso deste símbolo ajudará a transmitir a mensagem pretendida, como acontece no caso de determinadas profissões, como advogados ou bancários.

Nesta ordem de ideias, o Psicólogo, que atua em temáticas subordinadas à Psicologia da Ima-gem, endereça o equilíbrio entre a imagem real e a imagem desejada, ajudando os indivíduos a

UM PASSAPORTE PARA O SUCESSO...

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A CONSTRUÇÃO COMEÇA AQUI!

Page 29: O caminho é feito ao andar

projetar uma imagem adequada ao meio e à or-ganização a que pertencem, mas que seja con-sistente com o seu próprio “conteúdo”.

Por tudo isto, convidamo-lo a apostar no seu autoconhecimento, reconhecendo a sua sin-gularidade e integrando o vestuário de forma positiva na construção da sua identidade e imagem profissional, aliando o seu estilo ao dress code profissional, algo que constitui um dos passaporte para o sucesso, e cuja cons-trução se inicia desde o ingresso no Ensino Superior.

Publicado na Revista JA, edição 73, ano VII.

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Page 30: O caminho é feito ao andar

"Em momentos de crise,

só a imaginação é mais importante

que o conhecimento."

Albert Einstein

Com certeza já ouviu expressão “pensar fora da caixa”. Esta expressão significa ser criativo e ex-pandir-se para além das margens do que é tido como “confortável”.

Uma das caraterísticas mais ricas e potenciado-ras de sucesso no ser humano é a sua capacida-de de resolução de problemas, que vem permitir uma adaptação bem-sucedida ao contexto em que se encontra inserido, mesmo em situações adversas.

Para resolver problemas, nada melhor do que ser criativo e inovar na forma de pensar e agir.

Note-se que a criatividade não é só para al-guns, como se chega a pensar.

Todos os seres humanos, independentemente da idade e/ou formação académica, têm um po-tencial criativo.

Tal constitui uma mais-valia numa altura em que somos obrigados a uma constante adaptação, face à velocidade em que o mundo se transfor-

ma e à exigência que nos é imposta pelo merca-do de trabalho.

Ironicamente, a criatividade parece ser uma ca-racterística pouco valorizada e estimulada, uma vez que a sociedade parece se basear essenci-almente num modelo estandardizado, em que há uma imposição de modos de pensar e de agir, pelo que a maioria das pessoas resolve proble-mas imitando soluções anteriores à procura de obter resultados diferentes.

Em época de crise, criar é a melhor opção. Pensar “fora da caixa” e reinventar padrões de resolução de problemas assume-se como funda-mental, ao invés de tentar restaurar soluções ina-dequadas e mal sucedidas.

Vejamos a importância da criatividade no mundo atual:

O estudante que sai da universidade à espera de entrar no mercado de trabalho transporta uma série de informações e conhecimentos que quer pôr em prática no seu novo trabalho.

Porém, nem tudo o que é exigido neste contexto está associado à aplicação direta dos tais conhe-cimentos teóricos. O que acontece atualmente é que o ex-estudante, com frequência, não encon-tra um trabalho na área para a qual estudou, ou quando encontra uma oportunidade numa insti-tuição pode não lhe ser pedido que aplique os conhecimentos especializados que aprendeu. Assim, em vez de se sentir inútil ou mal prepara-do, deverá pôr em prática mecanismos de reso-

A CHAVE PARA O SUCESSO: CRI(S)E!

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Page 31: O caminho é feito ao andar

lução de problemas, e sugerir novos projetos cri-ativos e inovadores.

É, pois, urgente transformar o modo como en-caramos o nosso futuro, compreendendo que, no contexto laboral, é esperado que reinvente-mos e construamos projetos de forma criativa, encontrando infinitas formas de os realizar e utili-zando inúmeros recursos.

Em tempos de crise não é suficiente lutar nas mesmas batalhas e percorrer os mesmos ca-minhos. Encontrar um novo trajeto, fora da “caixa”, é a melhor solução!

Ser criativo pressupõe correr riscos, vivenci-ar, explorar e criar. Não tenhamos medo de fa-lhar, já que errar faz parte do processo.

Criemos e reinventemos o futuro.

Mais do que inovadores, sejamos criadores de novos mundos e “façamos o que ainda não foi feito”!

Publicado na Revista JA, 2012.

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Page 32: O caminho é feito ao andar

Autoconhecimento e gestão emocional

“Ninguém obtém bons resultados enquanto estiver a lutar

contra as suas próprias dúvidas.”

Marujo, Neto & Perloiro (2000)

3

SER MAQUINISTA DESTE COMBOIO

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Page 33: O caminho é feito ao andar

“O mais difícil é conhecermo-nos”,

já dizia o filósofo Tales.

Somos um verdadeiro mistério para nós e para os outros (Estanqueiro, 2007) ou não fossemos seres complexos, com diferentes modos de ser e estar no mundo, que agem de acordo com a imagem que têm de si.

Dita o ditado que «Somos o espelho uns dos ou-tros», mas ainda assim não nos podemos julgar, exclusivamente, pelo que pensam de nós, já que apenas vislumbram alguns dos aspectos que nos caracterizam, à luz dos seus valores, preconceitos...

É, pois, importante que aprofundemos o conhe-cimento que temos de nós, das nossas apti-dões, potencialidades e limitações... para que possamos crescer, reforçar competências e melhor viver, num ambiente de relação e cons-tante partilha com o “outro”.

O respeito por nós e pelo outro assume-se como fulcral nas interacções saudáveis, constitu-indo a auto-conhecimento e a confiança elemen-tos facilitadores de tal.

Desenvolver a auto-confiança é desenvolver a convicção de que somos capazes de lidar com os desafios da vida e atingir as metas defini-

das... É assumir que as quedas dadas, serão ti-das como adversidades e não como provas de incapacidade, e que face às mesmas seremos capazes de nos erguer e persistir no esforço, di-zendo «vou tentar novamente».

Desenvolver a auto-confiança é acreditar que te-mos o direito de ser felizes. Tal implica que seja-mos assertivos e defendamos os nossos interes-ses e necessidades.

Cada um de nós deve poder afirmar:

«Tenho o direito de ser respeitado; de expressar os meus sentimentos, opiniões, necessidades; pedir o que desejo; tenho o direito de dizer não e cometer erros sem me sentir culpado, de pedir ajuda e escolher se quero ajudar; tenho o direito de mudar de opinião, de pensar antes de agir ou decidir, de dizer “eu não estou a perceber”; tenho o direito de definir e lutar pelos meus ob-jectivos (...) e o dever de não descurar os direi-tos do outro.»

Muitos dos problemas nas relações, ocorrem por agirmos segundo modelos mais passivos e/ou agressivos, que provocam no outro respostas desajustadas.

Em muitas ocasiões, dizemos “sim” ao outro e “não” a nós, silenciamos e anulamos a nossa vontade.

“ESTE SOU EU!”

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AUTOCONHECIMENTO E ASSERTIVIDADE

Page 34: O caminho é feito ao andar

Outras vezes comunicamos de forma agressiva, gritamos “sim” às nossas necessidades e esque-cemos as do outro.

Vezes há em que ficamos à espera que o outro subentenda ou adivinhe o que desejamos, atra-vés dos nossos gestos... É, pois, necessário que-brar com o mal-estar que decorre destas situa-ções, agindo de forma mais assertiva, comuni-cando ao outro aquilo que para nós seria impor-tante, para que o compreenda.

Infelizmente, não conseguimos ser 100% asserti-vos em todas as ocasiões, mas esta forma de agir deveria ser a nossa meta.

Por tudo isto, o autoconhecimento e a autocon-fiança são chaves para o sucesso.

Cultivá-los, é expandir a capacidade de ser-mos verdadeiros connosco e felizes. É poder-mos afirmar com convicção «Este Sou Eu!», num qualquer contexto de relação.

Publicado na Revista JA, edição 46, 2010.

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Page 35: O caminho é feito ao andar

O corpo é o meio que o ser humano dispõe para se relacionar com o mundo e que possibilita a sua apresentação aos outros. Com a evolução da sociedade, o corpo passou a constituir uma das maiores preocupações do Homem, tornan-do-se inclusive objecto de publicidade e mote para obras de arte.

Numa sociedade como a nossa, tão centrada na imagem, é comum observar-se uma preocupa-ção com a aparência, podendo esta afetar pro-fundamente o modo como as pessoas se relacio-nam.

Ter cuidados básicos de higiene e pensar na sua imagem de uma forma desprendida e tran-quila é um comportamento normal e saudável. No entanto, tal preocupação poderá tornar-se prejudicial quando a inquietação com o seu as-peto se torna persistente, ao ponto de sentir-se mal consigo próprio e de se afastar de outras pessoas. De facto, e ao contrário de Narciso, que se apaixonou pelo próprio reflexo, são mui-tos os jovens que têm uma visão distorcida do seu corpo e que não se sentem satisfeitos com o que veem refletido no espelho.

Num estudo sociológico, 58% das jovens partici-pantes afirmaram estar acima do peso, quando na verdade, apenas 17% destas tinham um peso acima da média.

Como obter um conceito mais positivo sobre a sua imagem?

Conhece aquele tipo de espelhos que distorcem a imagem? Quando se vê refletido neste espe-lho, pode parecer maior ou menor do que real-mente é, o que não corresponde totalmente à re-alidade...

É, por isso, importante fazer uma avaliação ho-nesta da sua imagem. Lembre-se: o peso é ape-nas um número e não traduz nem o tipo de cor-po que tem, a massa muscular, a estrutura ós-sea, nem a sua beleza.

Desenvolva uma atitude equilibrada. Um jo-vem pode começar uma dieta rigorosa, aparente-mente inofensiva, para perder alguns quilos. No entanto, ao atingir o seu objetivo não se sente satisfeito e decide perder mais uns quilos, de-pois outros e mais outros. É desta forma que per-turbações como a anorexia podem surgir. A ano-rexia pode desenvolver-se de uma forma muito subtil, sustentada por um padrão de comporta-mento alimentar muito desadequado, um contro-le patológico do peso e uma distorção da ima-gem corporal. Embora seja maior o número de raparigas a sofrer de anorexia, também os rapa-zes têm vindo a apresentar comportamentos e pensamentos desadequados em relação ao cor-po.

Tenha em atenção que o padrão de beleza mais comum na nossa sociedade é irrealista. As foto-grafias de modelos, atrizes... que encontra nas

EU E O MEU CORPO!

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Page 36: O caminho é feito ao andar

revistas são manipuladas, por questões de estéti-ca e em busca do que é considerado perfeição. Note-se que, em algumas sociedades, o padrão de beleza diverge do mundo ocidental, pois são as mulheres com mais peso as mais valorizadas.

Lembre-se que a maior riqueza está na dife-rença. Caraterísticas distintas diferenciam as pessoas entre si, tornando-as únicas. É pois importante valorizar as suas singularidades, en-contrar os aspectos positivos que tem e rodear-se de pessoas que o aceitem. Ter uma imagem positiva do próprio corpo é fundamental para o seu bem-estar psicológico.

Publicado na Revista JA, edição 65, 2012.

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Page 37: O caminho é feito ao andar

Havia a sociedade de consumo

Mas eles perguntavam

E o homem? É só o que consome? (...)

Havia o verbo ser e o verbo ter

havia o não haver e o haver demais.

Mas eles perguntavam: E viver?

É só este não ser para ter mais?

Manuel Alegre

“Sou consumidor ou consumista?” Eis a questão.

Todos nós somos consumidores. Precisamos ad-quirir bens, mercadorias e serviços de forma a garantir o nosso bem-estar e satisfação pessoal.

O que distingue um consumidor de um consu-mista é a forma como lida com a compulsão de comprar. O consumismo é, por isso, caracteriza-do por um consumo exagerado e inconsciente. O consumista procura satisfazer a necessidade constante de ter. Nesta situação, deixa de ser importante quem é (que valores possui) e passa a ser fundamental o que tem.

Por isso, a partir do momento em que o consu-mo ultrapassa as necessidades existentes, o in-divíduo pode tornar-se escravo do seu próprio

consumo. Precisa ter aquele carro, aquele I-pad, aquelas roupas de marca... sendo que o que tem o define.

O consumismo pode decorrer de diversos fato-res: culturais, sociais e pessoais.

Os fatores culturais influenciam os valores, as percepções e os comportamentos de uma deter-minada sociedade. Após a revolução industrial e com o boom das novas tecnologias, os produtos passaram a estar disponíveis de forma mais fácil para satisfazer as necessidades do consumidor. Aos poucos, os produtos e serviços passaram a criar necessidades. O marketing foi um grande impulsionador, edificando-se então uma “socie-dade de consumo”.

Nesta sociedade, o consumo é, muitas vezes, motivado por factores pessoais como distúrbios emocionais e psicológicos, baixa autoconfiança e necessidade de aceitação. Criou-se a ilusão que consumir sem limites é sinónimo de bem-estar e de civilização.

Esqueceu-se, todavia, as verdadeiras razões que levam os indivíduos a consumir compulsiva-mente, tais como um possível vazio sentido e uma procura pelo prazer decorrente da aquisi-ção de bens.

O consumista, no ato de comprar, não o faz de forma racional, pois não avalia a necessidade da compra nem os benefícios da mesma. Desen-

SOU INDEPENDENTEMENTE DE TER!

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SER CONSUMIDOR E NÃO CONSUMISTA

Page 38: O caminho é feito ao andar

volve, sim, uma relação afetiva e de identifica-ção com os produtos que adquire, e normalmen-te fá-lo de forma compulsiva, o que acarreta con-sequências, como o endividamento, levando o indivíduo a uma fragilidade emocional mais acen-tuada, associada a desgaste nas relações pesso-ais e profissionais. O primeiro passo para a alte-ração deste comportamento, passa pela consci-encialização do problema, o que nem sempre é fácil, por ser muitas vezes inconsciente.

O facto de em certos momentos, comprarmos produtos de que não necessitamos, não nos faz obrigatoriamente consumistas, desde que não sacrifiquemos a nossa vida no consumo, nem o utilizemos como uma via de bem-estar.

Por tudo isto, importa que nos foquemos no ser, que pode conviver com o ter, mas não como um caminho para a construção da felici-dade. O ser passa por nos conhecermos pro-fundamente, avaliarmos os recursos pessoais de que dispomos para alcançar os nossos ob-jetivos, e construirmos dia após dia o nosso bem-estar, independente da envolvente e do que temos ou deixamos de ter!

Publicado na Revista JA, edição 70, ano VII.

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Page 39: O caminho é feito ao andar

Sejam bem-vindos a toda a agitação da vida académica; ao (re)encontro com colegas e pro-fessores, com trabalhos e exames; à necessida-de de cumprir prazos e horários; à antevisão de algumas noites mal dormidas e refeições apres-sadas; ao ter que gerir a ansiedade perante situ-ações diversas; ao tentar encontrar o seu lugar no grupo e lidar com a competição, por vezes, sentida; ao ter que lidar com a pressão para ser bem-sucedido, corresponder a expectativas e, ainda, ao ter que gerir finanças; angústias e frus-trações, dúvidas e preocupações (“Estarei à altu-ra?”, “Tenho que provar que sou capaz...”).

Depois de um tempo de interregno, nem sempre é fácil regressar a esta realidade, em que a ca-pacidade de gerir o stress é continuamente testada, e em função da qual será determinada a melhor ou pior adaptação a este contexto.

Note-se que o stress tem um efeito cumulati-vo, pelo que caso não sejam encontradas res-postas efetivas para estas situações, a crescen-te ansiedade, dores de cabeça, tensão muscu-lar, cansaço, irritabilidade (...), tornarão mais difí-cil a concentração, rendimento, motivação, toma-da de decisões, levando a sentimentos de exaus-tão.

Porém, tomando por inspiração a metáfora usa-da por Lobo Antunes, podemos, ser compara-dos a um Ferrari que tem tudo para ser bem-su-cedido, mas que pelo facto da estrada da vida não ser suave e sem buracos, não consegue an-dar tão depressa quanto o seu potencial, tendo de se equipar com pneus mais ajustados ao ter-reno e reparar alguns dos buracos da estrada. Assim somos nós! Face a todas as pedras ou bu-racos com que nos deparamos, potenciais fon-tes de stress, precisamos desenvolver os nos-sos recursos de gestão de stress, e pô-los em ação de modo a melhor nos ajustarmos ao ca-minho a percorrer.

Deste modo, a forma como “lemos” as situa-ções constitui um possível recurso, já que afe-ta a forma como lidamos com as mesmas.

Podemos, então, perceber o regresso à universi-dade como algo ansiogénico, tornando mais difí-cil o confronto com situações de stress ou, por outro lado, encará-lo como uma oportunidade para explorar novos contextos e atividades, construir novas relações e saberes.

Cuidar diariamente da nossa saúde física e men-tal; tentar encontrar um equilíbrio entre a vida pessoal e académica; adotar um estilo de vida saudável, com a prática de exercício físico, bons

DE REGRESSO À UNIVERSIDADE E AO STRESS

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Page 40: O caminho é feito ao andar

hábitos alimentares e uma boa higiene do sono; e ainda reconhecer que existem momentos em que podemos beneficiar da ajuda de alguém para recuperar o nosso bem-estar psicológico, são outros dos recursos de que dispomos.

Por tudo isto, encaremos este ano como uma oportunidade para desenvolver o nosso potenci-al, não só pela edificação de conhecimento, mas também pelo nosso próprio crescimento, porque somos responsáveis pelas escolhas que fazemos e pelos recursos que pomos em ação na gestão do dia a dia, sendo que o stress, tal como referido por Hans Selye, é “o tempero da vida e sem stress, a vida não teria excitação, desafios, nem sentido de aventu-ra…”.

Publicado na Revista JA, 2011.

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No final de cada semestre, quase numa espécie de equação matemática, os momentos de avalia-ção multiplicam-se e a ansiedade do estudante tende a aumentar proporcionalmente.

No entanto, para obteres o tão desejado suces-so académico deverás adicionar à equação a parcela das estratégias.

A ansiedade tende a aparecer em quase todas as equações da vida, principalmente nas situa-ções em que sentes que não tens controlo ou re-cursos pessoais suficientes.

É importante lembrar que não és afetado pe-las situações em si, mas pela visão que tens sobre elas.

Além disso, sentir alguma ansiedade nos mo-mentos de avaliação é algo desejável, já que te permite manter ativo, focado e mais capaz.

Um dos momentos de avaliação mais desafia-dores são as apresentações orais.

Os estudantes geralmente ficam preocupados com a possibilidade de se sentirem embaraça-dos, de falhar ou de serem avaliados desfavora-velmente pelos professores e os colegas.

Por vezes, estes pensamentos bloqueadores po-dem se manifestar através de: mãos frias e sua-das, voz trémula, ritmo cardíaco acelerado, face corada e “brancas”.

Como podes, então, adicionar a parcela das estratégias à equação de modo a puderes agir de forma diferente nas apresentações orais?

Antes de fazeres a apresentação oral aceita o desafio de questionares os teus pensamen-tos. Nota que quando os pensamentos são ante-cipatórios e negativos (“Não vou ser capaz”; “Não vão gostar do meu trabalho”) podem dificul-tar o teu desempenho nas tarefas. Por isso, subs-titui-os por outros mais capacitadores (“Vou fa-zer o melhor que sei”, “Vou preparar-me para es-tar à altura do desafio”) que te permitem enfren-tar da melhor forma o teu momento de avalia-ção.

Outras das estratégias eficazes que poderás utili-zar é a respiração diafragmática que contribui para a diminuição e o controlo da ansiedade.

À medida que fazes a tua apresentação, não te concentres em ti (“O que as pessoas estão a pensar de mim?”, “Como é que eu estou a apre-sentar?”, “Os meus colegas acham que estou nervoso?”). Concentra-te sim na informação que estás a transmitir! Também poderás man-ter contato ocular com três ou quatro colegas que te reforcem positivamente e minimizar as pe-quenas falhas que possam ocorrer. Por fim, fala devagar e com naturalidade, articulando bem as palavras. Ah… Por favor, não te esqueças de sor-rir!

CÁBULA DE UM ESTUDANTE COM OS NERVOS EM FRANJA

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Page 42: O caminho é feito ao andar

Lembra-te sempre que nenhuma apresentação pode ser perfeita. Mas uma apresentação bem preparada irá ser apreciada e poderá dar um bom contributo para a tua nota final.

Um último comentário:

A ajuda existe! Ler sobre as dificuldades nos mo-mentos de avaliação e as estratégias para lidar com elas não te faz sentir melhor: é preciso agir! Se depois de experimentares uma série de estratégias, continuares muito ansioso, procura a ajuda de um psicólogo. Tens o direito de inves-tir em ti!

Publicado na Revista JA, edição 75, ano VIII.

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Page 43: O caminho é feito ao andar

Muitas são as vezes em que nos sentimos ten-sos, inquietos e ansiosos perante as mil e uma tarefas e papéis a desempenhar.

Acordamos, vestimo-nos e saímos de casa, para o trabalho ou para as aulas, sempre a correr; de-pois lá vêm os relatórios a terminar, os trabalhos a apresentar entre tantas outras obrigações. Acrescem ainda as habituais preocupações com questões familiares, laborais e/ou as habituais incertezas face ao futuro. Não é, por isso, de es-tranhar que, perante tamanhas exigências e de-safios sintamos, muitas vezes, ansiedade.

Esta ansiedade, na dose certa, impulsiona-nos e ajuda-nos a lidar de forma eficaz com as diver-sas situações com que nos deparamos.

No entanto, quando em demasia, pode mesmo dificultar e/ou impedir a realização das activida-des diárias, surgindo assim a tal dificuldade sen-tida em terminar o relatório no prazo exigido, a chamada “branca” na situação de exame, o blo-queio na apresentação oral, entre outras situa-ções.

Importa ressalvar que todos temos, ao nosso al-cance, a possibilidade de tornar esta ansiedade nossa aliada. Apesar de não existir nenhuma re-ceita mágica que a venha eliminar são muitas as pequenas coisas que poderão ser feitas no quoti-diano de modo a geri-la:

Relaxe e descontraia! Faça actividades que o relaxem, como caminhar, nadar, correr, etc. Es-preguice-se ao acordar e várias vezes ao longo

do dia. Certamente sentir-se-á melhor. O relaxa-mento é um dos melhores antídotos para a ansie-dade!

Enfrente as situações que o deixam ansioso! Quando se evita uma situação o alívio sentido é apenas temporário, sendo que a ansiedade con-tinua a regressar em situações idênticas, poden-do mesmo alastrar-se a outras situações. Tente, por isso, enfrentar, passo a passo, as situações que o deixam ansioso. Caso tenho crenças bási-cas acerca das causas da ansiedade, pode ser muito importante procurar informação sobre os factos, de modo a testá-los, bem como analisar o grau de probabilidade de cada imagem ansio-génica que lhe invade. O conhecimento é, efecti-vamente, outro dos antídotos para a ansiedade.

Pense Positivo! Tente afastar os pensamentos negativos do seu dia-a-dia. Para tal, foque a sua atenção nas coisas boas que estão a acontecer à sua volta!

Planeie e Organize as suas actividades! Faça um calendário com as actividades a cumprir. Saia com antecedência para os seus compromis-sos. Estas pequenas atitudes certamente lhe aju-darão a diminuir os níveis de ansiedade.

Comunique! Fale das suas preocupações e me-dos com um amigo, familiar ou companheiro, pois poderão ajudá-lo a lidar com tal situação e até mesmo levá-lo a sentir-se mais aliviado e me-nos tenso.

COMO GERIR A ANSIEDADE NO DIA A DIA?

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Page 44: O caminho é feito ao andar

Cultive bons hábitos! Ter uma boa noite de sono e ter uma boa alimentação pode ajudar a aliviar a ansiedade.

Se julga estar a vivenciar dificuldades em gerir a ansiedade e se considera que esta, pela sua in-tensidade e frequência, lhe está a causar um in-tenso mal-estar em diferentes áreas da sua vida, pode ser importante procurar o apoio especiali-zado de um psicólogo.

Publicado na Revista JA, edição 41, 2010.

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Page 45: O caminho é feito ao andar

Acontecimentos positivos e/ou negativos da vida podem causar stress. Porém, este nem sempre é contraproducente. O stress pode em-purrar-nos para a ação, quando dispomos de re-cursos para o gerir. Eis algumas estratégias de como o fazer.

Aceite-se tal como é.

Beba com moderação, pratique exercício, ali-mente-se e durma bem.

Celebre as coisas boas da vida.

Defina objetivos e metas (realistas, mensuráveis e concretos). Responda: “Para onde quero ir?”, “Como vou?”, “Quando vou?”.

Errar ontem, aprender hoje e superar amanhã. Os erros fazem parte da aprendizagem. Apren-da com eles.

Faça algo que tem estado a adiar. Comprometa-se a realizar a tarefa durante pelo menos 5 minu-tos e recompense-se ao concluí-la.

Gerir o tempo é essencial. Divida a sua lista de tarefas em categorias: 1)importante e urgente, 2)importante e não urgente, 3)não importante e urgente, 4)não importante e não urgente. Dis-penda mais tempo nas categorias 1/2.

Hoje é o dia! “Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito: um chama-se ontem e o outro, amanhã. Portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.” (Dalai Lama)

Identifique os obstáculos que poderão se inter-por à realização de uma tarefa e defina um pla-no para os superar.

Julgue/avalie a sua performance de modo realis-ta. Analise o que correu bem e o que poderia ter sido melhor. Congratule-se.

Lidamos melhor com os problemas quando parti-lhamos o que estamos a sentir.

Mantenha uma atitude positiva. O otimismo po-tencia o sistema imunológico, diminui a predispo-sição para o stress/ansiedade, e ajuda a encon-trar as oportunidades que se escondem por de-trás de um problema.

Não! Uma palavra que deve aprender a usar, em certas ocasiões, sem se sentir culpado.

Ouça mais, fale menos! Cuide diariamente dos seus relacionamentos. Tente compreender a perspetiva do outro.

Perfeccionismo um pouco, mas não muito! Pro-curar a excelência é essencial. Contudo reconhe-ça quando as tendências perfeccionistas estão a interferir com a concretização da tarefa. Existi-rão certamente momentos em que terá de pedir ajuda e/ou delegar tarefas.

Questione. Pare. Reflita. É necessário desenvol-ver competências pessoais e delinear soluções alternativas e criativas face aos problemas que surgem.

GERIR O STRESS DE A A Z!

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Page 46: O caminho é feito ao andar

Relaxe! Respire fundo, ria e inclua no seu dia ati-vidades que aprecie (ouvir música, ler...).

Saiba analisar os seus pensamentos e reenqua-drá-los. “Não estará a dar demasiada importân-cia à situação; a desvalorizar as suas capacida-des e/ou a pensar de forma absoluta e rígida?”

Tenha consciência do seu nível de stress. No-meie o que sente e atribua um valor, de 0-100. Saberá assim se precisa de recuar um pouco para se acalmar.

Usufrua de tempo para si (pelo menos 30 min. por dia).

Verifique as vantagens e desvantagens de uma tomada de decisão. Aja, não reaja.

Xis, a vida é uma incógnita! Porém, a felicidade depende em grande medida em aprender a con-trolar aquilo que é possível e aceitar o que não é possível.

Zele diariamente pelo seu bem estar e assim vá gerindo as mudanças da vida, porque esta é uma aprendizagem contínua.

Publicado na Revista JA, edição 69, 2013.

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Page 47: O caminho é feito ao andar

“Hoje não tenho nada para fazer. No entanto, todos os meus amigos têm planos e vão se divertir. Eu fui excluído mais uma vez. Estar entre os excluídos não é agradável, mas o que isso pode dar a entender é ainda pior. Será que tenho algum problema? Porque é que ninguém quer a minha companhia?” !

Já alguma vez passou por esta situação?

Parece ser contraditório reflectir sobre a solidão em jovens adultos, pois estes pertencem a uma sociedade em explosão demográfica e a uma faixa etária caracterizada pela presença duma considerável rede social.

No entanto, estar só ou acompanhado não cons-titui um factor decisivo para o desenvolvimento de sentimentos de solidão, afinal períodos ocasi-onais de solitude são apreciados e podem ser ocasiões importantes para reflectir, organizar-se mentalmente e para desenvolver a capacidade de concentração.

Por outro lado, sentimentos de solidão podem afectar qualquer pessoa, sendo os jovens, um dos grupos mais susceptíveis devido às múlti-plas e complexas mudanças que enfrentam, rela-cionadas com a construção de sua identidade e autonomia.

A verdadeira solidão é descrita como uma condi-ção interna do indivíduo que reflecte uma discre-pância entre a qualidade dos contactos sociais desejados e aqueles que são realizados. Parece que, assim como a situação descrita inicialmen-

te, há um enorme abismo figurativo que o sepa-ra dos outros.

Existem, no entanto, situações que podem indu-zir o indivíduo a vivenciar sentimentos de soli-dão, aumentando o abismo, fazendo-o pensar que não é desejado e que as suas cargas emoci-onais não podem ser partilhadas com outros, como por exemplo mudar-se para outra cidade, estar longe dos amigos, a morte de alguém pró-ximo e uma formação religiosa e étnica diferen-te. Estes sentimentos negativos quando per-sistem não devem ser minimizados ou escon-didos, pois podem afectar o funcionamento psicológico e a saúde mental do indivíduo.

Mas, em vez de ficar parado perante o abismo, poderá tentar descobrir maneiras de construir algumas pontes para atravessá-lo, por cultivar uma visão positiva sobre si mesmo e desenvol-ver interesse sincero pelos outros.

Insistir em desvalorizar-se ou culpar-se pela situ-ação poderá aumentar o abismo. Por outro lado, reconhecer os seus pontos fortes dar-lhe-á a confiança que precisa para se libertar da ima-gem negativa que poderá ter de si mesmo e para dar espaço ao Outro no desenvolvimento da relação.

Desta forma, estará contribuindo significativa-mente para a resolução de um problema silen-cioso e real – a solidão.

Publicado na Revista JA, edição 54, 2011.

SÓS QUANDO ACOMPANHADOS:

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UMA REFLEXÃO SOBRE A SOLIDÃO

Page 48: O caminho é feito ao andar

Falar da morte continua a ser um assunto tabu na nossa sociedade, quer nas gerações mais velhas, quer nas mais novas.

Coloca-nos inevitavelmente perante as nossas fragilidades, limitações e a própria finitude huma-na, desencadeando algum medo pela própria vida ou pela das pessoas que amamos. Talvez por isso evitemos tanto falar sobre este tema, de forma a nos protegermos desta realidade. No en-tanto, o não falarmos da morte, não impede que nos defrontemos com ela.

Muitos foram os que testemunharam e/ou vive-ram a perda de entes queridos aquando da in-tempérie que assolou a Ilha da Madeira, no pas-sado dia 20 de Fevereiro. Outros, por seu turno, viram destruídos os objectos de uma vida de tra-balho e de dedicação.

Em todas estas perdas, o luto é uma reacção normal, que implica diferentes etapas, num por vezes longo e sinuoso caminho.

Assim, nos primeiros dias logo após uma perda é comum as pessoas ficarem atónitas, atordoa-das e em choque com o que o aconteceu, che-gando mesmo a não acreditar no sucedido (“Isto não é possível”). Depois desta fase inicial de ne-gação, começam a aperceber-se que esta per-da é real, sentindo-se revoltadas e zangadas. Fa-lamos da chamada fase de revolta. Segue-se, por vezes, a fase de negociação, em que a pes-soa procura perceber o porquê desta perda, sen-do frequente a atribuição de culpas “ao outro”

(“Porque é que ninguém fez nada para o salvar”) ou a si próprio (“Devia ter feito algo”). A pessoa poderá, mesmo, manifestar desejo de procurar quem ou o que perdeu. Todavia, quando não en-contra o que procura crescem os sentimentos de frustração e tristeza, entrando na chamada fase de depressão. Só quando a pessoa aceita a perda, intelectual e emocionalmente, torna-se capaz de incorporá-la na sua vida e seguir em frente.

Como podem os amigos e familiares ajudar a lidar com a perda?

Muitas vezes o que as pessoas precisam é de alguém com quem possam partilhar a sua pro-funda dor e tristeza. É por isso importante ajudá-las a verbalizar as suas emoções/sentimentos e a falar do que/quem perderam, e quem sabe as-sim contribuir para aliviar a sua dor e aceitar a perda.

E no caso das crianças, o que fazer?

Na verdade, optamos muitas vezes por não falar de morte junto às crianças. Com isto, acredita-mos estar a protegê-las desta realidade e dor. Porém, ao não terem ninguém com quem falar, as crianças podem sentir-se desamparadas e perdidas num turbilhão de emoções, dúvidas e inquietações. É, por isso, fulcral que lhes expli-quemos o que é a morte, usando histórias, dese-nhos ou metáforas, de modo a que elas possam entender a situação e mais facilmente prosse-guir no processo normal de luto, porque acima

QUANDO DIZER O ADEUS É NECESSÁRIO...

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Page 49: O caminho é feito ao andar

de tudo, tanto em crianças como em adultos, im-porta saber dizer “o adeus”, integrá-lo no per-curso de vida e usá-lo para continuar a cami-nhar …

Publicado na Revista JA, Edição 43, 2010.

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Page 50: O caminho é feito ao andar

Relações afetivas

“A mente é como um paraquedas:

funciona melhor quando está aberto.”

Autor desconhecido

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CARRUAGENS QUE SE LIGAM ENTRE SI

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Page 51: O caminho é feito ao andar

As redes sociais provocaram uma grande mu-dança na forma como comunicamos e construí-mos as nossas relações com o Outro.

Este é um aspecto muito importante numa comu-nidade estudantil cada vez mais online, porque a capacidade de construirmos e mantermos rela-ções afectivas saudáveis é um factor fundamen-tal para o nosso bem-estar físico e para a nossa saúde mental.

Que papel assumem as redes sociais neste processo de construção relacional: o de ali-cerce ou adorno?

A resposta depende em muito de como gerimos o nosso tempo na utilização das redes sociais, e até que ponto, tal facto condiciona ou não as re-lações no mundo real.

Negar esta nova faceta virtual, seria também ne-gar uma nova ordem vigente e todas as vanta-gens a ela associadas. No entanto, submeter-se às redes sociais de uma forma acrítica e excessi-va pode ter um efeito potencialmente nocivo no desenvolvimento das nossas habilidades soci-ais, podendo em alguns casos fazer o utilizador experienciar sentimentos de solidão.

Assim, neste processo de construção relacional entre o real e o virtual é necessário obedecer ao princípio da moderação, dando espaço também à experiência sensorial, à linguagem corporal, à comunicação realizada de uma forma síncrona e

a todos os outros aspectos que só são consegui-dos através de uma relação face a face.

Nesta procura pelo equilíbrio, talvez seja impor-tante definir previamente quando e quanto tem-po iremos gastar na utilização das redes sociais e fazer um esforço em cumprir esses limites, não permitindo que o seu uso dificulte ou substitua o tempo que reservamos para os estudos ou para actividades com amigos e família. Se nos propu-sermos a fazer um registo do tempo que empre-gamos nas redes sociais durante uma semana, talvez fiquemos surpresos em saber o resultado e também seja importante reflectir sobre ele.

Além disso, outro aspecto fundamental neste uso equilibrado é manter uma coerência nas interacções sociais entre o virtual e o real, pois quantas pessoas fazem questão de ter a nossa amizade virtual mas quando passam por nós em lugares públicos, não nos cumprimen-tam ou vice-versa? Quantos dos nossos amigos virtuais enviam-nos mensagens e comentam as nossas fotos, mas na vida real não falam connos-co? Como classificaríamos estas relações? As-sim, não é de admirar que embora um utilizador médio do Facebook tenha cerca de 110 amigos, ele apenas mantém com 6 uma relação mais ínti-ma.

Embora as relações que estabelecemos ao lon-go da nossa vida, adquiram diferentes níveis de intensidade e sejam construídas através de dife-rentes formas de comunicação, online ou não, é

EU, O OUTRO E O FACEBOOK:

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CONSTRUINDO RELAÇÕES ENTRE O VIRTU@L E O REAL

Page 52: O caminho é feito ao andar

importante referir que relações afectivas sóli-das têm um impacto positivo maior no desen-volvimento emocional e mental saudável. Por isso, faz todo o sentido procurar construir este tipo de relações com outros, estabelecendo um equilíbrio entre o real e o virtual.

Publicado na Revista JA, edição 52, 2011.

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Page 53: O caminho é feito ao andar

“Nunca fui muito conversador. Sinto-me incapaz de dizer algo significativo. Quando sou apresen-tado a alguém ou tenho oportunidade de expres-sar as minhas opiniões, sinto-me muito ansioso e preocupado com o que vão pensar de mim. Gos-to de estar com pessoas extrovertidas porque as deixo controlar a conversa.”

Já se sentiu alguma vez assim? O que pode es-tar na origem destes sentimentos?

Provavelmente, a razão mais comum é a timidez. A timidez é caraterizada por grandes níveis de desconforto, ansiedade, inibição social e dificul-dade em expressar as suas ideias e em interagir ativamente num grupo.

Todos nós já experienciámos níveis mais ou me-nos elevados de timidez, principalmente em situ-ações de avaliação ou julgamento social.

Existem pessoas que tipicamente se apresentam mais tímidas que outras, com traços de persona-lidade mais reservados.

A tendência de ser tímido não é necessariamen-te prejudicial, sendo até mais fácil lidar com uma pessoa tímida do que com alguém que se apre-sente dominador ou agressivo. Além disso, as pessoas que se consideram mais tímidas são ge-ralmente aquelas que numa conversa têm me-

nos dificuldade em dar espaço e ouvir os outros, e as pessoas, em geral, apreciam bons ouvintes.

Contudo, ser demasiado tímido ou prolongar a timidez em todas as situações sociais poderá constituir um problema, empurrando para um ci-clo de isolamento. Esta condição pode ser agra-vada pela utilização da tecnologia como escapa-tória para determinadas situações, privilegiando o envio de e-mails ou mensagens de texto em detrimento da conversação face a face.

Que estratégias poderão ser úteis nestas situ-ações de timidez extrema?

:: Em primeiro lugar, é necessário reavaliar a for-ma como se encara a si mesmo.

Não estará constantemente a se rebaixar e a di-zer a si próprio que os outros não vão gostar de si ou que não tem nada de valor a dizer?

Estes pensamentos levam a sentimentos negati-vos e impedem-no de se relacionar com os ou-tros de uma forma descontraída e extrovertida. Encontre aspetos positivos em si e procure ra-zões para que outras pessoas queiram relacio-nar-se consigo.

:: Mantenha o sentido de humor. É embaraço-so “meter os pés pelas mãos”, mas aprender a relaxar e a rir de si mesmo nestas situações incó-modas pode ajudar.

:: Seja sincero com os outros. Não necessita esconder os seus medos. Os seus amigos e fa-

QUANDO A TIMIDEZ NOS TRAVA...

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Page 54: O caminho é feito ao andar

mília são aqueles que melhor o conhecem, por isso comece com eles. Expressar a dificuldade que sente em se relacionar com os outros pode ser um primeiro passo para iniciar uma interação agradável, na medida em que as pessoas farão o possível para deixá-lo mais à vontade no diálo-go, ganhando assim maior confiança nas suas competências relacionais.

:: Procure grupos e locais que favoreçam a sua participação. Em vez de evitar o contato so-cial, procure situações em que a sua participa-ção seja importante e em que tenha sucesso. Se o grupo em que se encontra é debilitante para si e não promove o seu envolvimento, procure pes-soas que conheça e que poderão ser um apoio à sua integração.

Publicado na Revista JA, 2012.

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Page 55: O caminho é feito ao andar

O ser humano é um ser social. Influencia e é in-fluenciado. Tem a necessidade de ser reconheci-do pelos outros, estimado e amado. Ter amigos e pertencer a um grupo contribui, por isso, de uma forma significativa para o seu bem-estar psi-cológico e para a definição da sua identidade pessoal.

No entanto, por vezes, o desejo de ser aceite pelo outro pode tornar-se excessivo.

Várias experiências sociais comprovaram o po-der da influência dos outros sobre as atitudes pessoais. É disso exemplo a experiência feita com um grupo de jovens adolescentes, em que lhes foi pedido que indicassem, de entre diver-sas opções, qual a linha mais comprida observa-da. Previamente, todos os jovens, à exceção de um, foram instruídos a indicar incorretamente a resposta. O jovem, alvo de estudo, ainda que desconfiado da opção dos restantes, decidiu se-guir a resposta destes, negando assim a sua pró-pria opinião. Este mesmo resultado foi obtido com 75% dos jovens que participaram na experi-ência.

Querer ser aceite e seguir os outros não se tra-duz necessariamente em algo prejudicial, a me-nos que se transforme numa relação de depen-dência. Por vezes, e por falta de confiança, o de-sejo de aceitação torna-se tão forte que a pes-soa acaba por se tornar prisioneira do outro, do afeto que é nutrido por este e pelo desejo de o agradar... “De cada vez que penso em acabar a

relação entro em pânico...”; “Quando ele/a não me telefona, tenho crises de choro e não me con-sigo concentrar.”; “Preciso da opinião e valida-ção constante das pessoas que me são próxi-mas até para as pequenas decisões do dia a dia, e quando não as tenho sinto-me perdido e extremamente ansioso”. Estas expressões refle-tem situações em que uma relação de depen-dência foi estabelecida, o que acarreta, como consequência, grande sofrimento, sentimentos de culpa e de impotência, e, acima de tudo, leva a relações não satisfatórias. Note-se que o con-ceito que a pessoa tem de si tornou-se depen-dente da relação estabelecida com o outro, podendo a sua identidade pessoal ser amea-çada, tanto mais se este laço for quebrado (“Não me sinto dono da minha própria vida, sin-to-me refém de uma vontade que não é a mi-nha.”)

O que fazer então para manter uma relação saudável?

A confiança é a chave para o sucesso da rela-ção. Para construir uma vinculação segura am-bas as partes devem ser consistentes, ter atitu-des coerentes, respeitar o espaço e a posição do outro, permitir a abertura da relação e a socia-lização com outros elementos de um grupo soci-al, bem como ter confiança em si próprio e no outro.

RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA:

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QUANDO OS AFETOS NOS APRISIONAM

Page 56: O caminho é feito ao andar

Por isso, caso se sinta demasiado dependente da relação que tem estabelecida com alguém, questione-se acerca do que poderá estar na ori-gem dessa insegurança e tente reconstruir o si-gnificado dos papéis que atribui a si e ao outro nessa relação, porque em certas ocasiões talvez seja tempo para dizer “Daqui para a frente vou voltar a andar com as minhas próprias pernas e reassumir o comando da minha vida”.

Publicado na Revista JA, 2012.

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Page 57: O caminho é feito ao andar

No século XIX, o compositor John Howard Payne escreveu: “Lar, doce lar; pois ali o coração pode descansar.”

Atualmente estas palavras, que possuem uma dimensão popular, traduzem o sentimento de fa-miliaridade, segurança e confiança no lar, sendo este um local que deverá promover o bem-estar psicológico dos seus elementos.

É no contexto familiar que grande parte do des-envolvimento humano se desenrola: as relações entre pais e irmãos, a autonomia, a responsabili-dade, a gestão comportamental e emocional, a criação e aceitação de regras... No entanto, em muitos lares, assiste-se a uma frequente falta de comunicação, sendo que esta falta de comunica-ção está, muitas vezes, na origem de conflitos familiares, deixando um sabor amargo.

Partilhar um lar e viver em harmonia não é uma tarefa fácil. Existem caraterísticas individuais que podem dificultar a convivência entre os dife-rentes elementos.

Não existe uma receita milagrosa e universal que potencie o bem-estar familiar, mas é possí-vel listar alguns dos ingredientes fundamentais que podem “adocicar” o ambiente familiar, mini-mizando os conflitos e os problemas de comuni-cação.

1. Diga o que sente de maneira honesta e respeitosa. Por vezes, pode esperar que os ou-

tros membros da família saibam automaticamen-te quais são os seus sentimentos aquando um problema. Por ser irrealista pensar assim, tente dizer-lhes com clareza, objetividade e honestida-de o que pensa e sente sobre o assunto. É im-portante lembrar-se que o objetivo não é vencer uma guerra ou conquistar um inimigo, por isso, diga, na sua opinião, qual é o problema, quando ele acontece, e explique como se sente a respei-to de tal. Por exemplo, se costuma irritar-se por causa da desorganização de outros membros da família, pode experimentar esta abordagem: “Quando chegas do trabalho/escola e deixas a tua roupa espalhada no chão (quando ocorre e qual é o problema), eu sinto que os meus esfor-ços para cuidar da casa não são tidos em consi-deração (explique exatamente como se sente).” Depois, dê a sua opinião sobre como solucionar o problema.

2. Escute os membros da família e leve em conta os seus sentimentos. É possível colocar este ingrediente na receita familiar, mostrando respeito pelos outros e não os interrompendo quando falam. Seguidamente, para ter a certeza que entendeu o que foi dito, repita com as suas próprias palavras o que ouviu, sem ser sarcásti-co ou agressivo. Permita também que o outro o corrija caso não tenha entendido a questão da melhor forma.

3. Seja flexível e negoceie. Partilhar o lar é um verdadeiro trabalho em equipa, em que to-

QUANDO O DOCE LAR SE TORNA AMARGO:

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CONFLITOS FAMILIARES E PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO

Page 58: O caminho é feito ao andar

dos os elementos têm uma função a cumprir. Quando as funções familiares não estão a ser de-sempenhadas da melhor forma poderá ser útil negociar ou ajustar preferências, tarefas, horári-os e condições. As pessoas têm formas de se organizar diferentes, podendo necessitar de al-gum ajuste ou de um apoio pontual dos outros membros da família.

Já pensou qual é a sua receita e que ingredi-ente está disposto a acrescentar?

Publicado na Revista JA, 2012.

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Page 59: O caminho é feito ao andar

Trabalhar em grupo é um autêntico desafio, uma vez que há que lidar com personalidades e mo-dos de pensar, de sentir e agir distintos.

Quando estas diferenças tornam-se muito acen-tuadas surgem conflitos, que geram tensão, ansi-edade e irritabilidade e, consequentemente, in-terferem com o funcionamento e o desempenho do grupo.

Não obstante, é possível minorar o impacto des-tes conflitos, rentabilizando as diferenças existen-tes entre os membros, em prol dos objectivos do grupo. Note-se que é das diferentes perspecti-vas, visões e olhares que o grupo encontra as respostas para os seus problemas e constrói, assim, o caminho para o sucesso.

Nesta óptica, é defendida a importância de se trabalhar em grupo com diferentes pessoas e não apenas com um mesmo grupo. Tal implica uma flexibilização das competências de trabalho e relacionamento interpessoal e a criação de ou-tras competências que venham permitir este tra-balho em conjunto, competências fulcrais num mundo cada vez mais exigente.

Nesta ordem de ideias, e no sentido de se esti-mular desde cedo estas competências nas crian-ças tem sido incentivado, nalgumas escolas, uma rotatividade das turmas, de modo a que as crianças convivam e trabalhem em grupos dife-rentes, ao contrário do que se fazia anteriormen-te em que a mesma turma seguia do pré-escolar até ao 4º ano. Com esta medida, pretende-se

que, enquanto adultos, mais facilmente venham a integrar novas equipas de trabalho e se ajustar aos diferentes estilos de trabalho dos colegas.

Mas como pode, então, um grupo aumentar o seu potencial e a sua eficácia?

Na realidade, não existe qualquer livro que dite uma solução mágica para a gestão dos males do grupo, simplesmente por não existirem gru-pos iguais.

Contudo, existem alguns ingredientes essenciais para a optimização do trabalho em grupo.

O estabelecimento de objectivos claros e exe-quíveis, definidos e acordados entre todos os membros, é um destes ingredientes. Os objecti-vos definidos devem, por isso, ser o fio condutor da actividade do grupo, e servir de mote para a motivação de cada um.

Um outro ingrediente crucial, é o determinar as regras de funcionamento do trabalho do gru-po, que passa pelo estabelecimento de uma agenda de trabalho, papéis, funções e tarefas a desempenhar, considerando as competências de cada um dos membros do grupo. Assim é necessário conhecer de antemão o outro, as suas preferências e os seus modos de traba-lho.

APRENDENDO A TRABALHAR COM O OUTRO

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Page 60: O caminho é feito ao andar

É, ainda, vital que todos participem activamen-te na realização das tarefas e resolução de pro-blemas, mediante a partilha de ideias e suges-tões. Importa, assim ouvir o outro e, em conjun-to, encontrar uma solução que defenda o ob-jectivo do grupo, evitando cair em jogos de inte-resse e poder, porque acima de tudo importa que cada um dê o melhor de si e que todos este-jam unidos e motivados em prol dos ideais do grupo.

Publicado na Revista JA, edição 45, 2010.

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Page 61: O caminho é feito ao andar

“Comunicar” vem do latim communicare,

que significa tornar comum, partilhar.

Este é um vocábulo demasiado simples para re-sumir tudo o que a comunicação pode englobar, principalmente quando se fala em comunicação num contexto tão rico como o universitário. Na universidade, vemo-nos a braços com desafios comunicacionais diversos: tirar dúvidas com o professor, pedir revisão de um exame, resolver conflitos com um colega, pedir informações a um funcionário, contestar uma situação desagra-dável…

Por vezes, sentimos dificuldade em fazer-nos ou-vir e em ouvir o outro, tornando a comunicação difícil. É preciso dar os primeiros passos: dar es-paço e pedir espaço. Para ouvir e para falar.

Comunicar de forma eficaz com colegas, fun-cionários e professores pode ser uma tarefa difícil mas não impossível.

Em primeiro lugar é fundamental o respeito mú-tuo. Dizer o que se pensa é importante, mas é necessário ter alguns cuidados para não usar palavras ou gestos que possam ferir o outro.

A empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, deve estar “em funcionamento” 24 ho-ras por dia.

Tratar o outro como gostaríamos de ser tratados é uma máxima a recordar. Nas relações interpes-

soais nem sempre estamos de acordo: todos te-mos direito a discordar, mas também sabemos que pode ser difícil aceitar críticas! Em vez de tentar apenas apontar erros, é mais produtivo sugerir alternativas ou soluções.

A comunicação com os professores também pode ser um desafio: há algum desconforto por ser alguém a quem tentamos agradar e que tem o “poder” de nos avaliar. No entanto, como já vi-mos, comunicar significa tornar comum. Ao trans-mitirmos a nossa posição, devemos tentar encon-trar um ponto de ligação com o professor e res-peitar os direitos e deveres de cada um.

É natural que em contextos como a Universida-de, surjam conflitos de várias ordens. Por vezes, quando existem muitos intervenientes, a comuni-cação torna-se mais fragmentada e o conteúdo final pode não ser transmitido como seria espera-do. É preferível tentar resolver, em primeiro lugar, com a figura central do problema. “As interferências” na comunicação podem prejudi-car as relações interpessoais.

Colegas e funcionários também completam o ce-nário de personagens intervenientes neste con-texto. É importante cultivar um ambiente des-contraído entre todos, evitando diálogos ten-sos ou conflituosos. O humor e a boa disposi-ção facilitam a comunicação interpessoal e pro-movem a ligação entre todos.

DESAFIOS COMUNICACIONAIS NA UNIVERSIDADE

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Page 62: O caminho é feito ao andar

Desenvolver uma ideia de união e de pertença pode ser uma boa estratégia para cultivar as re-lações interpessoais na Universidade.

A instituição é constituída por todos e por cada um.

Comunicar não deve ser um duelo de opini-ões. Pode e deve ser um momento de constru-ção e de desenvolvimento mútuo, em que as pessoas põem em comum as suas ideias e pers-petivas, contribuindo para a promoção de um ambiente agradável e produtivo.

Publicado na Revista JA, edição 72, ano VII.

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Page 63: O caminho é feito ao andar

Bem estar Psicológico

“A felicidade da nossa vida depende

da qualidade dos nossos pensamentos.”

Marcus Aurelius Antonius

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ESTAÇÕES: PARA UM RETEMPERAR DE FORÇAS

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Page 64: O caminho é feito ao andar

Desafios, conquistas, fracassos, alegrias e triste-zas… factores comuns inscritos nas diferentes histórias de vida, tão singulares como cada pes-soa que as vive, quer no papel de aluno, filho, pai e/ou trabalhador. E é no percurso pessoal de cada um que, sem aviso prévio, se sucedem mui-tas mudanças e rupturas, situações que, por ve-zes, se tornam difíceis de gerir e causam sofri-mento…

Para a “Ana”, de 18 anos, sempre habituada a óptimas classificações, a transição para a univer-sidade foi acompanhada por insucesso escolar e problemas de adaptação. Tem dificuldades em gerir a ansiedade face a situações de avaliação e vive num constante medo de falhar. O “João”, 22 anos, a finalizar o curso, enfrenta dificuldades em lidar com as expectativas e pressão dos pais. Sente-se desmotivado e extremamente pre-ocupado com o que sucederá depois de termi-nar o curso. Por sua vez, a “Isabel”, de 28 anos, trabalhadora-estudante, debate-se com dificulda-des em conciliar as exigências familiares, labo-rais e académicas, o que lhe causa grande an-gústia. A “Joana”, 23 anos, mudou muito, desde que acabou com o namorado, o que tem preocu-pado os pais, amigos e professores. Não mostra confiança nas suas capacidades e sente-se rejei-tada. Por seu turno, o “António”, auxiliar de servi-ços há uma década, vê-se a braços com uma série de mudanças no contexto laboral, a par de problemas financeiros/familiares, que lhe cau-sam sentimentos de desesperança…

Cada uma destas histórias, cujos nomes foram alterados para salvaguardar a confidencialida-

de, retrata situações potencialmente geradoras de sofrimento.

Apesar de cada um de nós ser detentor de capa-cidades que permitem lidar com estas situa-ções, momentos há em que se torna difícil en-contrar recursos para fazer face a tal, momentos em que o sofrimento se manifesta sob a forma de ansiedade; depressão; dificuldades de relaci-onamento interpessoal; baixa auto-estima; insta-bilidade afectiva; descontrolo dos impulsos…, podendo ainda se esconder sob diferentes quei-xas somáticas (cansaço generalizado, dores de cabeça…).

É no seio destes conflitos que a intervenção do psicólogo pode ser útil. A “Joana” optou por se-guir o conselho dos amigos e marcou uma con-sulta de psicologia. Encontrou no psicólogo, um profissional devidamente especializado, uma fon-te de suporte e auxílio, promotora de mudança, que a ajudou a descobrir e experimentar novas soluções. Pôde com ele partilhar, num clima de empatia e confidencialidade, os seus medos, preocupações, inseguranças…

Foi com o intuito de ajudar a gerir os problemas que possam estar a afectar o bem-estar psicoló-gico dos estudantes e restante comunidade aca-démica da UMa, que o Serviço de Consulta Psi-cológica foi criado (...).

Publicado na Revista JA, edição 40, 2010.

EM PROL DO BEM ESTAR PSICOLÓGICO

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Page 65: O caminho é feito ao andar

«Quantas vezes pensei… e quantas vezes ne-guei-me a pedir ajuda psicológica!

Debati-me entre o ir e o não ir ao psicólogo, até ao momento em que decidi e deixei de dar im-portância aos que sempre diziam “Homem não chora nem se pode mostrar fraco… tem de sa-ber controlar as suas emoções”, qual Hércules que se deve agigantar para estar sempre a sorrir e em momento algum deixar a descoberto o seu ponto mais fraco.

Entretanto, e enquanto não tomei essa decisão, fui continuando a enjaular dentro de mim o sofri-mento que sentia e que me ganhava em força a cada momento. E se por momentos, admitia a preocupação que sentia, a alguém que me que-ria bem, não encontrava alento no que respon-diam: “Não penses nisso”, “Vais ver que não é nada”, “Isso são coisas da tua cabeça”. Porque se essas vozes logo paravam uma mostra exteri-or do meu sofrimento, ficava em silêncio, cres-cendo e dominando o meu dia-a-dia.

Muitas coisas havia enfrentado no passado, mas esta situação que vivenciava estava a deixar-me assustado, sem saber o que fazer… e lá no fun-do um grande medo se erguia, o de estar a ficar louco por não me sentir capaz de controlar as minhas emoções, e o achar que estaria a tornar tal real se recorresse a ajuda de um psicólogo. E assim, continuamente dizia “Não preciso de aju-da, sou capaz de lidar sozinho com este proble-ma”. Mas com isto apenas me enganava… tinha consciência disso!

Agora percebo que não foi fraqueza ter-me so-corrido de ajuda para me reerguer e retomar o

meu caminho, mas sim um sinal de coragem para expor as minhas emoções e sentimentos, de forma verdadeira e honesta comigo próprio.

Compreendo o jogo de mitos que ofuscava o meu pensamento e me fazia esquecer da pró-pria condição humana, de um ser imperfeito e em constante relação com o outro: o mito de ter que enfrentar tudo sozinho e o de ser fraco por não o conseguir sem pedir ajuda; o mito de que o psicólogo é para loucos; o mito de que o psicó-logo mexe com a cabeça de uma pessoa…

Quando o facto que encontrei foi de que o psicó-logo me auxiliou na procura de alternativas para a resolução do meu problema, através do questi-onamento e do exercício de ferramentas para melhor compreensão das minhas vivências pes-soais, pensamentos e modos de me relacionar. Porque não dizer mesmo que o psicólogo me aju-dou a focar a lente que toldava a minha visão da-quela situação desencadeadora de sofrimento?

Por isso lanço estas perguntas: Será loucura pro-curar o médico se me sinto doente?! Respondo com certeza que NÃO! Será loucura procurar o electricista se a minha casa está com problemas a este nível?! NÃO! Será então loucura procurar o psicólogo para que me ajudar a derrubar/ultra-passar certas barreiras/medos/receios que impe-dem o meu bem-estar ou simplesmente por me querer conhecer um pouco melhor?! Agora, e só agora… derrubando alguns dos mitos que tinha, posso responder seguramente... NÃO!»

Publicado na Revista JA, edição 42, 2010.

SERÁ LOUCURA?

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Page 66: O caminho é feito ao andar

O início de um novo ano civil constitui, quase sempre, uma época de reflexão e definição de novos objectivos.

Ponderamos sobre as escolhas que fizemos, os nossos desejos e, muitas vezes, através dessa análise franca, é possível que detectemos algu-mas situações, resultado de circunstâncias, acontecimentos, vivências e relações que, ao longo do tempo, foram “fechados numa gaveta” com receio de serem tocadas e mexidas mas continuam sem resolução. No entanto, por ve-zes, essas “gavetas”, por não aguentarem o acu-mular das situações, abrem-se e necessitam ser arrumadas e organizadas para receber outras experiências novas e positivas.

Para que este processo aconteça, precisamos muitas vezes de ajuda. E, embora reconheça-mos essa necessidade, há um caminho sinuoso a percorrer até pedi-la. Infelizmente, o número de pessoas que pede ajuda é muito menor em relação ao número de pessoas que realmente precisa dela. O que torna tão difícil pedir ajuda? Não conseguimos “arrumar as nossas gavetas” sozinhos?

Parece existir de uma forma geral, a crença dis-torcida que devemos ser capazes de resolver todos os nossos problemas sozinhos e que qual-quer sinal de fraqueza deve ser ocultado. Mas, quando vivenciamos algum problema, estamos de tal maneira imbuídos nele que não consegui-mos observar a situação de outras perspectivas ou encontrar outros caminhos e/ou soluções.

Além disso, pedir ajuda pode ser dificultado pelo pensamento de que os problemas acabam com o passar do tempo, enquanto que o que re-almente acontece é uma intensificação dos mes-mos. Por fim, é possível que consideremos que a ajuda de familiares ou de amigos seja o neces-sário para promover a expectável mudança, no entanto, embora esse apoio afectivo e familiar seja importante, nem sempre é o suficiente.

Assim, pedir ajuda, mais do que uma questão de sensatez, é uma demonstração de honestida-de e veracidade para connosco próprios, deixan-do um pouco de lado as expectativas sociais dis-torcidas a respeito do sofrimento psicológico e da procura de ajuda especializada.

O Psicólogo é um auxílio especializado na “ar-rumação das gavetas”, dos assuntos penden-tes, das dificuldades e dos conflitos que que-remos resolver. Ele tem a função de pensar em conjunto, devolvendo-nos uma compreen-são do que se está a passar e possibilitando a descoberta de novas formas de superar situ-ações de desconforto. Por isso, neste ano dê o verdadeiro sentido à frase tão comum: “Ano Novo, Vida Nova” e se esse for o seu caso, peça ajuda!

Publicado na Revista JA, edição 51, 2011.

PORQUE É TÃO DIFÍCIL PEDIR AJUDA?

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Page 67: O caminho é feito ao andar

Louis Braille, Bill Gates e Alexandre o Gran-de, o que têm em comum? Assim como tantos outros, o que realizaram durante a sua juventude teve um impacto significativo no mundo. Afinal, qual é o “poder” da juventude? Os jovens constituem um potencial de mudança nos pa-drões mentais e comportamentais das socieda-des.

Será que estas mudanças ocorrem quando fa-lamos em saúde mental? As questões relacio-nadas com a saúde mental e a procura de ajuda psicológica ainda estão, muito ligadas ao estig-ma e a ideias erradamente pré-concebidas. A desvalorização dos problemas do foro psicológi-co levam muitas pessoas a suprimi-los, sendo mais importante esconder estar mal, do que que-rer estar bem.

Quais as consequências desta forma de pen-sar e se comportar? Cada vez mais pessoas vêem a sua saúde mental afectada mas, pou-cas, procuram ajuda especializada conduzindo a um agravamento da sua condição, ao aumen-to do sofrimento, da incapacidade e do isolamen-to.

Constituem hoje os jovens um factor de mu-dança? A ruptura deste ciclo vicioso passa por uma mudança na forma como se pensa a saúde mental e neste aspecto todos estamos envolvi-dos, pois ninguém está imune a desenvolver uma perturbação mental.

Partindo da premissa que as pessoas necessi-tam de maior informação para alterarem os seus comportamentos, os jovens, muitas vezes alvo de campanhas de sensibilização, têm facilmente acesso a serviços de atendimento em psicolo-gia, informação on-line, entre outros benefícios, daí que deveriam apresentar uma mudança na forma de pensar e de se comportar.

O que podemos observar? Os jovens principal-mente no contexto universitário, têm cada vez mais procurado ajuda psicológica para resolver os seus problemas que na sua maioria estão rela-cionadas com a ansiedade e depressão. Reco-nhecem que consultar um psicólogo é tão nor-mal como ir a outro profissional de saúde.

Há um momento na vida de todos nós, normal-mente quando somos jovens, em que acredita-mos que podemos mudar o mundo. Aqui está a sua oportunidade! Ajude-nos a mudar a for-ma como as pessoas vêem a sua saúde men-tal. Comece, por favor, por si!

Publicado na Revista JA, edição 50, 2010.

JOVENS: UM FACTOR DE MUDANÇA NA SAÚDE MENTAL?

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Page 68: O caminho é feito ao andar

“Quantas são as vezes que pensamos/dizemos para nós próprios que tudo vai mal e/ou que nada de bom acontece?”. Ao dizermos isso, es-tamos a programar os nossos cérebros para se focarem nos dramas, infelicidades e fracassos da vida e, ao mesmo tempo, a reforçar a crença de que há pouco ou mesmo nada que possa-mos fazer para melhorar as nossa vidas. Senti-mo-nos, então, cada vez menos “capazes” de prosseguir e alcançar os nossos propósitos, de-sistindo muitas vezes deles.

Deste modo, a forma como percepcionamos os acontecimentos influencia o nosso modo de sentir e de agir. Assim, se continuarmos a pensar de forma negativa acerca do mundo e das coisas que nos rodeiam, dificilmente os nos-sos dias cinzentos se tornarão soalheiros.

Necessitamos, pois de aprender a reprogramar os nossos cérebros a pensar de uma forma diferente da que estamos habituados ou fo-mos ensinados.

Porque não pensar de uma forma positiva?! Pode até, à primeira vista, parecer complicado, uma vez que temos a tendência de pensar “eu sempre fui assim! Agora já não mudo!”, mas sim… é possível!

Ser optimista ajuda-nos a encarar e a perspecti-var os obstáculos da vida de uma forma mais construtiva, reconhecendo o seu lado positivo e negativo. Ser optimista é, ainda, crer e esperar que as coisas vão correr bem, esforçando-se afincadamente para que tal venha a acontecer, através da planificação e implementação de me-didas que visem o alcance das metas pessoais.

Esta atitude faz com que “abracemos” os dias com maior alegria, confiança, esperança e opti-mismo, transformando grandes problemas em problemas menores e mais manejáveis. Para além disto, conduz a caminhos de melhor bem-estar físico e psicológico, com benefícios inesti-máveis nos relacionamentos interpessoais e su-cesso académico/profissional.

Para desenvolver uma atitude optimista, entre ou-tras coisas, poderá começar por afastar os pen-samentos negativos que invadem a sua mente, redireccionando a sua atenção para actividades positivas (ex: ler, ouvir música, andar a pé, obser-var a natureza) ou então substituir os pensamen-tos negativos por outros positivos /construtivos. Recorrer a ferramentas como auto-afirmações positivas (ex: “sou capaz; “eu consigo”) e repita-las ou escrevê-las e lê-las várias vezes ao dia po-derá ajudar a enfrentar o dia com mais optimis-mo. Paralelamente, envolver-se com pessoas po-sitivas e bem-dispostas possibilita desenvolver expectativas mais optimistas acerca da vida, na medida em que aprendemos e crescemos na re-lação com o outro.

Tudo isto, exige uma prática continuada e persis-tente, para se poder retirar os seus maiores be-nefícios. Porque, acima de tudo, “o esperar e procurar o melhor leva-o a tomar passos mais concretos que o transportam mais perto dos seus sonhos” (Marujo, Neto & Perloiro, 2007).

Publicado na Revista JA, edição 47, 2010.

NO TRILHO DO OTIMISMO

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Page 69: O caminho é feito ao andar

Atualmente, os rostos das pessoas reflectem, com frequência, preocupações, tristeza e apatia. O ritmo de vida é mais rápido do que nunca, e as pressões são maiores. Não raro, quando olham para trás, depois de muitos anos, as pes-soas ficam atónitas ao verificar que situaram mal a verdadeira felicidade.

Embora a procura pela felicidade seja um dese-jo humano inerente, não existe uma receita uni-versal, antes é necessário procurar alguns in-gredientes que possam fazer a receita pessoal resultar. Assim, o que poderá tornar as pessoas mais felizes? Serem mais jovens, mais ricas, mais saudáveis, mais altas ou mais magras? Como colmatar o défice de felicidade?

Um ingrediente importante a ter em conta nesta procura pela felicidade é a gratidão. Esta carac-terística permite à pessoa ter uma perspectiva mais positiva da vida, o que pode fazer diferen-ça nos relacionamentos interpessoais e na auto-realização.

Numa experiência realizada na Universidade de Califórnia, pediu-se a um grupo de pessoas que fizessem durante seis semanas um “diário da gratidão” (um registo das situações pelas quais eram gratas), o que resultou num aumento signifi-cativo da sua satisfação com a vida. Por que não fazer um esforço consciente para se lem-brar do que de bom tem?

A felicidade é um conceito subjectivo, o que indica que o seu significado pode ser diferente para cada um de nós. Despender energia no que realmente é importante para si, poderá ser um bom começo na procura da felicidade.

Se a leitura o faz feliz: leia; se é o desporto que o faz sentir bem: pratique-o; se estar com os ami-gos lhe dá prazer: aproveite os momentos que tem com eles.

Adiar a felicidade não traz benefícios, pelo con-trário, poderá ser prejudicial à sua saúde física e psicológica.

Faça uma lista das coisas que lhe aborrecem du-rante o seu dia e contraponha com algo que gos-taria de fazer. Ao encontrar esses aspectos, a sua motivação vai aumentar e encontrará razões para terminar as actividades que menos gosta.

Não espere que amanhã seja um dia mais fe-liz, pois cada um constrói a sua própria felici-dade. Deixe um espaço na sua agenda para incluir uma actividade que o faça sentir bem, todos os dias. Ser feliz não é um luxo, é um direito.

Publicado na Revista JA, 2012.

UM DIA VOU SER FELIZ:

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PORQUE NÃO AGORA?

Page 70: O caminho é feito ao andar

que corre sem parar... Porque o caminho é feito ao andar!

ESTE É O COMBOIO DA VIDA...

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Serviço de Consulta Psicológica da Universidade da Madeira (SCP-UMa)

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