o buscador, nº1

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www.biotribe.pt | Rua Paio Peres Correia, n.º 10, 1900-364 Lisboa | 214 570 123 | 926 407 168 n.º 1 | 1º Trim 2015 Queremos dar a conhecer um caminho alternativo à vida neurótica que a sociedade insiste em dizer que é segura. Aqui vamos partilhar ideias, opiniões, sentimentos e emoções que fazem parte do nosso dia-a-dia. Esperamos tocar outros corações de pessoas que querem mais da vida do que ser normal e estar seguro. O Buscador é uma publicação trimestral da BIOTribe. Somos um centro de psicoterapia bioenergética e meditações activas de Osho em Lisboa. Vivemos numa comunidade viva, que todos os dias trabalha para algo novo. Se o nosso trabalho e propostas te tocarem, não hesites em visitar-nos. Depois resolve-se... Por Prem Murad T erapia. Este é o tema do nosso primeiro nú- mero. Dizemos e repetimos junto da família, dos amigos e às vezes até mesmo no traba- lho que queremos mais amor, mais prazer, mais alegria de viver. Queremos ter um vida que nos preencha, que nos realize. paraste para pensar porque é que uma coisa que tu queres tanto não acontece? Será algo que está ape- nas dependente da minha força de vontade? Ou será que há mais qual- quer coisa? Qualquer coisa que não está no meu consciente, mas que a cada instante me diz “eu não sou capaz”, “eu não mereço isso”, “é demais para mim”, “tenho de me comportar”, “tenho de aceitar”, “se me comportar, então serei recom- pensado”. Essas vozes estão à nos- sa volta e estão dentro nós. Quererá isto dizer que estamos condenados? Quererá isto dizer que é assim, que é da nossa natureza e não há nada a fazer? - “É o meu karma, tenho que aceitar o meu des- tino, feliz sou eu por ter o que tenho quando há tanta gente a sofrer neste mundo”. Não! Nós não nascemos assim. Nenhum ser humano está condenado a viver uma vida miserável, e distante daquilo que precisa para se realizar, à nascença. Essa programação vem depois. Olha para qualquer criança à tua volta e ob- serva se ela precisa da tua permissão para rir, chorar ou berrar. Observa o quanto ela está ligada com a sua verdade, em cada momento. Ela não reprime aquilo que sente! Ela sente, e essa é a sua verdade. Mas ela tem uma dependência. Ela não é autónoma. Ela precisa do amor, do cuidado e da nutrição dos seus pais. Sem isso a criança morre. Para não morrer, ela aprende a comprometer a sua verdade em prol desse amor. Se a minha mãe diz que é feio eu chorar eu vou tentar controlar o meu choro. Se o meu pai se sente incomodado com o meu grito eu vou-me controlar. Se a minha ver- dade é demasiado forte o pediatra dá-me ritalina ou qualquer outra droga para me dopar. Esta criança sou eu, és tu, somos todos nós. Desde cedo somos ensinados a trair os nossos sentimentos, para que haja harmonia à nossa volta, uma paz que é podre que custa a nossa própria vida, uma vida de liberdade. Esta é uma questão fundamental na atualidade onde ainda domina um enorme preconcei- to em relação à terapia. Como qualquer preconceito, ele nasce do desconhecimento e da ignorância. Neste caso, existe um grande interesse por parte de todas

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Jornal "O Buscador" da BIOTribe - 1º Trimestre de 2015 - com o tema "Terapia".

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Page 1: O Buscador, nº1

www.biotribe.pt | Rua Paio Peres Correia, n.º 10, 1900-364 Lisboa | 214 570 123 | 926 407 168

n.º 1 | 1º Trim 2015

Queremos dar a conhecer um caminho alternativo à vida neurótica que a sociedade insiste em dizer que é segura. Aqui vamos partilhar ideias, opiniões, sentimentos e emoções que fazem parte do nosso dia-a-dia. Esperamos tocar outros corações de pessoas que querem mais da vida do que ser normal e estar seguro.O Buscador é uma publicação trimestral da BIOTribe. Somos um centro de psicoterapia bioenergética e meditações activas de Osho em Lisboa. Vivemos numa comunidade viva, que todos os dias trabalha para algo novo. Se o nosso trabalho e propostas te tocarem, não hesites em visitar-nos.

Depois resolve-se...Por Prem Murad

Terapia. Este é o tema do nosso primeiro nú-mero. Dizemos e repetimos junto da família, dos amigos e às vezes até mesmo no traba-lho que queremos mais

amor, mais prazer, mais alegria de viver. Queremos ter um vida que nos preencha, que nos realize. Já paraste para pensar porque é que uma coisa que tu queres tanto não acontece? Será algo que está ape-nas dependente da minha força de vontade? Ou será que há mais qual-quer coisa? Qualquer coisa que não está no meu consciente, mas que a cada instante me diz “eu não sou capaz”, “eu não mereço isso”, “é demais para mim”, “tenho de me comportar”, “tenho de aceitar”, “se me comportar, então serei recom-pensado”. Essas vozes estão à nos-sa volta e estão dentro nós. Quererá isto dizer que estamos condenados? Quererá isto dizer que é assim, que é da nossa natureza e não há nada a fazer? - “É o meu karma, tenho que aceitar o meu des-tino, feliz sou eu por ter o que tenho quando há tanta gente a sofrer neste mundo”. Não! Nós não nascemos assim. Nenhum ser humano está condenado a viver

uma vida miserável, e distante daquilo que precisa para se realizar, à nascença. Essa programação vem depois. Olha para qualquer criança à tua volta e ob-serva se ela precisa da tua permissão para rir, chorar ou berrar. Observa o quanto ela está ligada com a sua verdade, em cada momento. Ela não reprime aquilo que sente! Ela sente, e essa é a sua verdade. Mas ela

tem uma dependência. Ela não é autónoma. Ela precisa do amor, do cuidado e da nutrição dos seus pais. Sem isso a criança morre. Para não morrer, ela aprende a comprometer a sua verdade em prol desse amor. Se a minha mãe diz que é feio eu chorar eu vou tentar controlar o meu choro. Se o meu pai se sente incomodado com o meu grito eu vou-me controlar. Se a minha ver-dade é demasiado forte o pediatra dá-me ritalina ou qualquer outra droga para me dopar. Esta criança sou eu, és tu, somos todos nós. Desde cedo somos ensinados a trair os nossos sentimentos, para que haja harmonia à nossa volta, uma paz que é podre que custa a nossa própria vida, uma vida de liberdade.Esta é uma questão fundamental na

atualidade onde ainda domina um enorme preconcei-to em relação à terapia. Como qualquer preconceito, ele nasce do desconhecimento e da ignorância. Neste caso, existe um grande interesse por parte de todas

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as instituições de poder na sociedade em manter essa ignorância, pois dessa forma as pessoas continuam a aceitar serem governadas de forma incompetente, cri-minosa e sem qualquer respeito pela sua individualide bem como pelo planeta que habitam. A verdade é que estamos tão limitados na nossa capacidade de sentir que perdemos a capacidade de ver o que está à nossa volta. Se sentirmos mais, não vamos ter alternativa se não nos indignarmos com um conjunto de coisas que aceitamos no nosso dia-a-dia.Na sua grande maioria, as terapias convencionais existem para colmatar casos extremos, em que a des-conexão com o sentir é tão grande que a pessoa já nem contribui para a máquina, e isso é que não! Nós precisamos de gente para alimentar a máquina. Mas a terapia é muito mais que isso, permite-nos crescer e ampliar a nossa capacidade de sentir. Esse é o foco da bioenergética. Recuperarmos a nossa naturalida-de, lidando com questões de saúde, stress emocional, ansiedade, depressão, dores crónicas, disfunções se-xuais, entre outras. Por tudo isto, é tão urgente trazer este tema à discussão.

O Sentido da VidaPor Prem Milan

O sentido da vida é estar num caminho e não num ponto final. Quando eu entro em con-tacto com a questão de qual o sentido da vida, jogo-me para trás no tempo e lem-

bro-me que quando eu era criança o sentido era brin-car, era jogar futebol com os meus amigos. Naquela

época a gente fazia o trabuco, um revólver de pólvora que era algo impressionante. Nós inventámos o revól-ver, estourávamos canos até achar um que fosse forte o suficiente para poder usar. A aventura era ir para o mato encontrar um ninho de passarinho, subir às ár-vores, aprontar uma grande sacanagem.Era muita adrenalina, então o sentido naquele tempo era gastar toda a energia que a gente tinha que não encontrava um lugar mais criativo para colocar. Eu gastava toda uma energia de criação e de adrenalina e também de frustração por ser pouco amado, pouco querido. Porque os pais não dão muita bola para os filhos. Mesmo hoje pode achar que os seus pais lhe deram muito amor, mas eles quase nunca brincaram consigo, mais o chatearam que qualquer outra coisa. Então, o sentido que eu tinha para a vida era não parar para fugir da dor.Depois começou a adolescência, aí o sentido era ar-ranjar uma namorada, ter um amor, era transar. Eu investi um monte de energia no amor, em transar, em querer transar. Eu lembro-se quando eu tinha 17 anos, estava em Porto Alegre, fazia o terceiro ano, o científico na época, e cursinho pré-vestibular e o resto do tempo todo eu usava para caçar. Eu andava ruas e ruas e quilómetros e quilómetros para encontrar uma menina, nunca rolava nada, era muito raro rolar algu-ma coisa, mas o investimento de horas na vontade de transar era imenso, a criatividade, as coisas que eu de-senvolvi em função de conseguir transar... Era incível. Um gringo grosso, sem vocabulário, sem nada, tinha que desenvolver tanta coisa para poder me aproximar das mulheres, e levava muito tempo. O foco de ener-gia era essa, isso era importante. A todo o momento as esperanças renovavam-se. Quando eu comecei a

transar bastante já não era mais essa sede. Vi que al-cançava aquilo e dava um vazio. Aí eu comecei a buscar um amor, uma pes-soa, um relacionamento. Concomintante com isso comecei a ir para a políti-ca. Eu dava vazão para as duas coisas. A política era porque eu queria transfor-mar o mundo, o meu sen-tido na vida. Mas era um transformar o mundo mui-to impulsionado pela ener-gia das minhas frustrações, e eu não conseguia entrar em contacto comigo mes-mo, não conseguia viver um amor mais profundo,

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sentir as coisas mais profundamente. O meu sentido da vida era mais uma fuga do que qualquer outra coisa.Aí veio o amor, que também não resolveu. Mas nes-se processo de crescimento eu fui encontrando. Veio um outro nível de sexualidade, o meu encontro com a espiritualidade, com o Osho, com a bioenergética. Isso fez uma revolução enorme na minha vida. Mas eu continuava buscando coisas. Uma busca desenfre-ada. Eu queria um amor tântrico. Aí aconteceu uma história tântrica comigo. Foi maravilhoso, fantástico, mexeu profundamente com a minha cabeça. Jogou-me para uma outra dimensão da vida, que é meio inexplicável, que só viven-do dá para sentir. Depois veio a terapia, o Namastê, a Comunidade. Tudo isso foi crescendo. Mas ao mesmo tempop era dúbio. As coisas sempre vinham juntas. Um sentido que eu boto na vida, que acho legal, sempre tinha um sentido. Meu sentido nunca foi ganhar dinheiro, ter uma casa, apartamento. Eu sou feliz porque eu nun-ca fui uma pessoa egoísta. Essa troca com as pessoas sempre me foi preenchen-do. Ao mesmo tempo que eu tinha essa busca minha, eu queria algo mais na vida que o meu conforto pessoal. O sentido da vida está fora do egoísmo, o sentido é estar com pessoas. Todo o egoísta é miserável, são cemitérios, tudo o que ali chega morre. Os egoístas fogem das pessoas. Se querem um amor, botam no formol, no frigorífico, destroem tudo.Eu acho que a vida é a mosca do Raul. O sentido da vida é estar sempre incomodado, criando, buscando, indo. Hoje com 59 anos, olho para trás e o sentido da minha vida é estar em movimento, é estar fora de padrões. Onde se recria a cada momento, nunca existe um ponto de chegada ou um de partida. É um andar. Num momento você anda para um lado, no outro para o outro. Isso é uma riqueza. Teve épocas que para mim o sentido da vida era estar num grande amor, hoje o sentido é mais que isso. Tenho tantas coisas, tanto sentir que vai além. À medida que você se vai preenchendo de coisas o seu sentido muda.Mas para uma pessoa que nunca consegue nada, o senti-do da vida é a fome. Eu acho que para a grande maioria da humanidade o sentido é sentir falta, não se preencher.

Quando você tiver um grande amor, vai fazer de tudo para destruir, porque você está preparado para senti falta. O seu sentido da vida é falta, está focado na falta, você não cria as coisas porque quer reclamar que falta. Falta amor, sexo, alegria, tesão. A falta é o seu sentido na vida. E você tem que quebrar com isso porque o sentido começo na abundância. À medida que você tem, você tem novos sentidos para a vida. E eu posso falar porque tive abundância na vida, tive muitos amores e muito sexo. Muito mais que você consegue imaginar. Isso deu-se uma perspectiva de sempre querer mais da vida. Quando se tem pouco,

sempre se quer menos. E isso é uma coisa que eu aprendi com a vida. Esse é o sentido dela. Eu cada vez quero mais, quero mais coi-sas. Quero mais crescimen-to, revolucionar mais, mexer mais com as pessoas. Não tem nenhum momento que eu olhe e pense que já fiz a minha parte. Não! Eu olho para o lado e tem tanta coi-sa para fazer! E eu faço um monte de coisas.O sentido da vida é estar vivo. Não se iluda que você está vivo. Você está meia boca. Mas a vida, quando palpitar em você... vocêvai criar muito mais, vai aven-turar-se muito mais. Se você está vivo nunca vai querer descansar. A própria frase “descanse em paz” é o que mais tem no cemitério, se

você está com essa frase na cabeça esperando a hora do descanso, coitadinho de você. A vida é muito mais e é esse o sentido. O sentido da vida é a mosca na sopa.

Artigo cedido pelo jornal “O Rebelde”http://issuu.com/namastepoa/docs/o_rebelde_novdez

Prem Milan é fundador do Namastê, criou junto com Veeresha o Processo de Pai e Mãe, dá grupos e

treinamentos em Porto Alegre, Belém do Pará, Rio de Janeiro e Portugal. Nestas duas últimas cidades,

ajudou a criar um centro de terapia e meditações hoje ativo e coordenado por terapeutas formados

por ele. Atualmente ele lidera uma comunidade te-rapêutica em um sítio em Porto Alegre, com mais de

cinquenta pessoas.

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OSHO, sobre terapias

Terapia é basicamente uma função do amor, e o amor somente flui quando não há ego. Você só pode ajudar o outro na medida em que você não é egoísta. No momento em que o

ego entra, o outro torna-se defensivo. O ego é agres-sivo; ele cria uma necessidade automática no outro de ser defensivo. O amor é não-agressivo. Ele ajuda o outro a permanecer vulnerável, aberto, não-defensi-vo. Portanto, sem amor não há terapia. Terapia é uma função do amor. Logo, com ego você não pode ajudar. Você pode até mesmo destruir o ou-tro. Em nome de ajuda você pode até mesmo obstruir o seu crescimento. Mas a psicologia ocidental está numa bagunça. A primeira coisa: a psicologia ocidental ainda pensa em termos de um ego saudável. E o ego nunca pode ser saudável. É uma contradição do próprio termo.Ego, em si, é doença. O ego não pode nunca ser sau-dável. O ego leva-o sempre em direção a mais e mais doença. Mas a psicologia ocidental pensa (toda a mentalidade ocidental tem sido) que as pessoas estão a sofrer de egos fracos. As pessoas não estão a sofrer de fraqueza do ego, mas de muito egoísmo.Mas se a sociedade é orientada pela mentalidade mas-

culina, orientada pela agressividade, o único desejo da sociedade é conquistar tudo, então naturalmente você tem que abandonar tudo o que é feminino em si, tem que abandonar metade do seu ser na escuridão - e tem de viver com a outra metade. A outra metade nunca pode ser saudável, porque a saúde vem da totalidade. O feminino tem de ser aceite. O feminino é o não-ego, o feminino é receptividade, o feminino é amor. Uma pessoa realmente saudável é alguém que está to-talmente equilibrada entre o masculino e o feminino. De fato, é alguém cuja masculinidade foi cortada, destru-ída pela sua feminilidade, que transcendeu a ambos, que não é masculino nem feminino - que simplesmente é. Você não pode categorizá-lo. Este homem é pleno, e este homem é são. E para este homem, no Oriente, nós sempre olhámos como o Mestre. No Oriente, nós não criamos nada paralelo ao psicote-rapeuta. O Oriente criou o Mestre, o Ocidente criou o psicoterapeuta. Quando as pessoas estão mentalmente perturbadas, elas vão a um psiquiatra no Ocidente; no Oriente elas vão a um Mestre.A função do Mestre é totalmente diferente. Ele não o ajuda a atingir um ego mais forte. Na verdade, ele faz sentir que o seu ego já é demais. Abandone-o! Deixe-o ir! Uma vez que o ego foi abandonado, subitamente você é um, pleno

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e fluídico. E não há nenhum bloco e nenhum obstáculo... No Oriente, a nossa abordagem é de que o terapeu-ta não tem de fazer nenhum trabalho. O terapeuta torna-se simplesmente um veículo para a energia de Deus. Ele tem somente que estar disponível como um bambu oco, de maneira que Deus passe através dele. O curador tem de se tornar simplesmente uma passa-gem. O paciente é um homem - aos olhos orientais - que perdeu o seu contato com Deus.Ele tornou-se muito egoísta, e perdeu o seu contato com Deus. Ele criou uma tal muralha da China à sua volta que não sabe mais o que Deus é, ele não sabe mais o que é a totalidade. Ele está totalmente descon-certado das raízes, da própria fonte da vida. É por isso que ele está doente - mentalmente, fisicamente ou de qualquer outra maneira. A doença significa que ele perdeu a trilha da fonte. O curador (healer), o tera-peuta no Oriente, tem como função conectá-lo com a fonte novamente. Ele perdeu a fonte, mas você ainda tem a conexão. Você segura a mão da pessoa. Ela está escondida atrás de uma parede. Deixe-a estar escondida por detrás da parede. Mesmo se você puder segurar a sua mão atra-vés de um buraco na parede... se ela pode confiar em você, ela não pode confiar num Deus, ela não sabe o que Deus significa. A palavra tornou-se sem sentido para ela. Mas ela pode confiar no terapeuta, ela pode dar a mão ao terapeuta. O terapeuta está vazio, sim-plesmente em sintonia com Deus, e a energia começa a fluir. E esta energia é tão vital, tão rejuvenescedora, que mais cedo ou mais tarde ela dissolve aquelas mu-ralhas da China em volta do paciente, ele tem um vis-lumbre do não-ego. Este vislumbre o faz são e pleno, nada mais o faz são e pleno.Portanto, se o próprio terapeuta é um egoísta, então é impossível. Ambos são prisioneiros. As sua prisões são diferentes, mas eles não podem ser de grande ajuda.Toda a minha abordagem sobre terapia, é a de que o terapeuta tem de se tornar um instrumento de Deus. Eu não estou a dizer não saiba o “know-how”. Saiba o “know-how”! - mas faça este “know-how” disponível para Deus. Deixe Ele usá-lo. Aprenda psicoterapia, aprenda todos os tipos de terapias. Saiba tudo o que é possível saber, mas não se prenda a isso. Ponha isso lá, deixe Deus estar disponível através de si. Permita Deus através de todo o seu “know-how”, permita a Deus fluir através de seu “know-how”. Deixe-o ser a fonte da cura e da terapia. Isto é que é amor. O amor relaxa o outro. O amor dá confiança ao outro. O amor banha o outro, cura as suas feridas.»

Vida, quanto tens para mim?Por Prem Murad

Toda a minha vida eu fui grandioso! O melhor aluno, o líder, o representante, o activista, um bom desportista, um empreendedor, um criativo, o inovador, o corajoso, admirado por

muitos, e ao mesmo tempo, triste, solitário e incapaz de amar e de receber o amor dos outros. Quando co-mecei, hà 2 anos atrás, fazer terapia não foi uma es-colha nada clara para mim. Tudo o que eu conhecia de terapia estava numa de duas caixas, ou tu és mui-to rico e tens muito tempo e queres pagar a alguém para te ouvir a dissertar sobre a vida, ou tu estás mui-to lixado e não tens alternativa senão pagar a alguém para te ouvir dissertar sobre a vida. Qualquer dos dois eram para mim sinónimos de falha, e eu era demasia-do grande para poder dar-me a esse luxo de falhar.

Ironia do destino, ou não, foi exactamente essa gran-diosidade que me fez entrar no caminho da terapia. Eu vivia na escravidão da grandeza, nas relações, no trabalho, etc. Ter sempre razão, ser o melhor, dar conta de tudo, passando por cima das minhas neces-sidades. Eu não tinha necessidades. Em criança eu sempre tive que ser grande. Perceber as necessidades da minha mãe e do meu pai e atendê-las de forma grandiosa. Esse era o meu trabalho, sempre que algo lhes faltasse, ou simplesmente ameacasse faltar, isso significava para mim um risco de vida - o colapsar da minha seguranca, amor e protecção que eu vivia na

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ameaça de perder.Aí eu aprendi a ser grande nessa leitura das necessida-des dos outros. Eu aprendi em criança a prostituir-me para ter um pouco daquilo que eu achava ser amor - “O que o outro precisa que eu faca, que eu seja, que eu sinta!” Lembro-me com 4 anos de estar na espera para levar uma vacina e de sentir um medo enorme e de não poder expressar esse medo, pois a minha mãe precisava que eu fosse forte. Nao era algo que me fos-se dito, mas eu sentia-o. Com 9 anos eu vivia apa-vorado com a ida para o colégio interno e ao mes-mo tempo eu convencia todos à minha volta que essa era a minha vontade. E eu fazia isso bem ! Eu tornei-me grandioso na contrucão de um falso eu.O meu corpo foi ficando cada vez mais duro, e eu cada vez mais insensivel, pois a dor de cada tran-saccão trazia junto um acumulado de muitas ou-tras. Até que a estratégia de sobrevivencia que eu tinha desenvolvido ficou ela própria em risco. A minha insensibilidade cortava a minha capaci-dade de sentir o que os outros precisavam e isso deixava-me num buraco ain-da maior. Esse foi o momento em que eu fiquei verda-deiramente assustado e felizmente encontrei a terapia.Eu queria recuperar a minha normalidade. Eu que-ria voltar a sentir todas as coisas que eu senti antes, mesmo sabendo que era uma merda, era a merda que eu conhecia e eu precisava dela para me sentir segu-ro. Eu queria sair do meu pensamento dominante de “para a próxima vida será melhor, esta agora só me resta aguentar”.Felizmente nesse processo, quando eu estava quase pronto para reintegrar o meu lugar na sociedade, eu descobri a bioenergética, e num exercicio experimen-tal de 1 hora, eu de repente fui invadido por uma forca imensa que não conhecia. Aquela força era minha! Foi aterrorizador! Na verdade, eu tinha medo da minha for-ça. Naquele dia alguma coisa morreu em mim. Hoje eu sei isso. Morreu a possibilidade de viver na ignorância da minha própria força sem saber que ela existia!No princípio era um conflito muito presente. Reco-nhecer-me implicava lidar com um conjunto de coi-

sas que eu não queria lidar. Implicava assumir uma responsabilidade pela minha vida que me parecia de-masiado grande para a minha capacidade, e princi-palmente abdicar da minha grandiosidade - na qual eu tinha investido tanto tempo! Começar a investir na minha verdade. O medo do desconhecido era enorme, eu não sabia o que ía sentir, pois até então todo o meu sentir funcionava em regime de “outsourcing”! E se eu sentir raiva? E se eu sentir tesão,? E se eu sentir

tanta dor que não aguen-te? Com a continuidade da terapia esses medos foram diminuindo, e foi como se o meu corpo fosse redescobrindo a sua capacidade de sen-tir e agir. Com esse pro-cesso foi nascendo uma confianca, uma sensacão interna de que é “okay” sentir o que eu sinto, e de ser como eu sou. Mais do que ser okay, é um pra-zer, traz uma expansão e uma sensacão quente de alegria por estar vivo!Este caminho fez-me per-ceber que ser normal é uma bosta, porque normal, está muito longe do que é natural, do que respeita a minha essência. Normal

é um esforço constante para conseguir caber numa caixa que não foi desenhada para mim. E caramba, como eu acreditava que podia mudar a caixa, mas não podia, não e possivel mudar a caixa, só tentar caber nela, ou destruir a caixa.Hoje eu continuo esse trabalho de destruir a minha cai-xa, quanto menos caixa eu tenho, maiores os desafios que me aparecem, mas eu tenho uma confiança, e essa confianca não depende da minha cabeça, dos meus conhecimentos, ou de o quanto eu estou a agradar os outros, mas ela está no meu corpo,e isso vai-me permi-tindo relaxar cada dia um pouco mais. Eu sei que isto não é uma tarefa, mas sim uma prática. É um processo dinâmico, como respirar, mas de forma consciente.Eu podia ter chegado aqui sem a terapia? Eu não acre-dito nisso, o trabalho que eu estou a falar é do incons-ciente que esta materializado no meu corpo, nas mi-nhas tensões musculares crónicas, que de tão rigidas eu já nem as sintia mais. Eu falo do inconsciente e eu sei que a minha mente acha que sabe do que eu estou a falar, mas não sabe... A mente não consegue fazer

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essa distinção. Essa é uma ilusão eterna. Ela nunca vai conseguir. Por isso eu reforco, o trabalho da bio-energética é um trabalho com as coisas que nós não sabemos que não sabemos, mas que mesmo assim, e por isso mesmo, condicionam a nossa vida de forma determinante, e assim não temos liberdade, e sem li-berdade não há amor.

Porquê fazer terapia?Por Dhiren

A palavra terapia tem uma carga muito gran-de. Associava-a logo a doença, “Só quem tem problemas é que precisa de terapia”.Durante 35 anos da minha vida acreditava

que tudo estava bem. Que era “super” normal e que se era assim era porque tinha de ser. À minha vol-ta as pessoas queixavam-se de que acordava sempre mal disposto, que tinha mau feitio de manhã, que era agressivo a falar, e muitas vezes os meus amigos e fa-miliares ficavam chateados com as minhas reacções. Quando chegava a um local desconhecido com pes-soas desconhecidas, primeiro que me integrasse era difícil!Algumas vezes, a minha mulher perguntava-me por-que é que eu era tão carrancudo e triste. Eu não “via” de onde vinha essa pergunta. E a minha resposta ime-diata a tudo isto era: “porque sim!”. “Sou assim e es-

tou muito bem! Está tudo bem.”É claro que me fazia de forte e achava que não preci-sava nada “dessas coisas”, mas a verdade é que mui-tas vezes ficava a pensar que algo não ia bem. Até ao momento em que houve uma crise no meu casamento e ai, tive de reagir.Foi nesta altura que se proporcionou realizar um “workshop” de bioenergética e meditação activa. De-cidi arriscar e ver o que dava.O que deu foi um desmontar completo da mim e per-ceber que havia muito mais para além daquilo que achava que era. Descobri que em mim há uma pessoa sensível, com emoções, com energia e que tinha muito para descobrir.É por isso que faço terapia. É uma busca pelo meu Eu, interior! Em todas as sessões lá sai mais uma cama-da, como muitas vezes já ouvi neste percurso, é como descascar uma cebola, tira-se uma e outra camada e vamos ficando maravilhados com o que vamos en-contrando por dentro.Faço terapia, complementada com meditação, em bus-ca do meu verdadeiro Eu. Para que viva presente em tudo o que faço, procurando usar toda a minha energia.Uma das coisas que mais me fascina na minha busca é precisamente a energia que possuo e as coisas que já consegui fazer! É impressionante o esforço que nós fa-zemos para conter essa energia, para ter uma vida “assim assim”, “mais ou menos”, “faz-se o que se pode”…Para mim a terapia, foi como o abrir de uma caixa de Pandora e ver tudo o que de bom existe em mim.

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É impossível parar.É um caminho e como tal vai-se percorrendo, umas vezes mais depressa, outras mais devagar. Umas ve-zes mais decidido, outras com mais dúvidas. Mas uma coisa é certa, este é o caminho e agora já não há maneira de voltar atrás, nem parar…

Terapeutas em Terapiapor Alexander Lowen

“Quando eu era um terapeuta jovem, entusiasmava-me com a terapia e era optimista a respeito do que ela poderia fazer. Acreditei que se podia libertar uma pessoa das suas repressões, devolvendo-a a um estado de harmonia consigo mesma e com a natureza. Fiquei finalmente convencido de que Reich tinha razão ao alegar que a supressão da sexualidade era a causa de todas as nossas dificuldades. Portanto, o objectivo te-rapêutico era restabelecer a capacidade para uma ple-na entrega às sensações sexuais, o que Reich chama-va de potência orgástica. Isto devia conseguir-se por uma combinação de análise de carácter com trabalho corporal. Este último tinha por objectivo reduzir ou eliminar as tensões musculares que bloqueavam a en-trega ao corpo e as suas sensações. Na qualidade de paciente de Reich, eu havia experimentado a eficácia da sua abordagem terapêutica.Já se passaram agora trinta e cinco anos após o início da minha terapia pessoal com Reich, que durou três anos. Também passei por terapia com o meu antigo colaborador, Dr. John Pierrakos, durante três anos, e além disso tenho trabalhado consistentemente comi-go mesmo, para me libertar das inibições e repressões da minha educação. Seria bom dizer que consegui ser bem sucedido, mas, apesar de eu ter mudado a respei-to de aspectos significativos, ainda estou consciente de tensões a respeito de aspectos que me perturbam e limitam o meu ser. Isto deixa-me triste. Contudo, nada há que me impeça de prosseguir, trabalhando com o meu corpo para expandir o meu ser, e estou comprome-tido com esta tarefa pelo resto da minha vida. A ideia de “ainda não tê-lo conseguido” não é deprimente. Ao contrário: é estimulante pensar que eu posso melhorar em áreas nas quais sinto uma falta no meu ser.Como vai a minha potência sexual? Mudou, junto com as mudanças no meu ser. Na mesma extensão em que eu, enquanto pessoa, cresci e amadureci, as mi-nhas sensações sexuais tornaram-se mais profundas e plenas. Contudo, conforme fui ficando mais velho o meu impulso sexual perdeu parte da sua intensidade. A sexualidade é uma manifestação do ser da pessoa e reflecte assim o estado do seu ser. Portanto, tam-

bém ao nível sexual ainda não “consegui”. Não sou totalmente potente orgasticamente, no sentido rei-chiano do termo. Tenho tido extraordinárias experi-ências, que posso creditar à terapia. E, sobretudo mais importante, as sensações de prazer e satisfação que extraio da minha sexualidade têm aumentado signi-ficativamente. (...) O facto de a maioria das pessoas precisar de actualmente de ajuda para funcionar com um pouco de facilidade e prazer é um triste reflexo da nossa cultura, mas é a verdade. (...) A terapia é um adjunto necessário à vida moderna tal como, parece, o são sedativos e tranquilizantes. São o sinal do “pro-gresso”. Até certo ponto, os limites da terapia decor-rem do facto da mesma pertencer à cultura que produz os problemas que tenta solucionar. (...) Nesse sentido, estamos tentando ajudar alguém a reduzir a tensão (stress) da sua vida, dentro de uma situação cultural que a submete diariamente a tensões semelhantes. É como dizer a ela que permaneça calma e descontraída enquanto os canhões de guerra disparam à sua volta, ou que fique lúcida e racional enquanto vive num asi-lo de lunáticos.(…) A terapia que tenha por objectivo aumentar ou expandir o estado de ser deve tomar conhecimento do factor dinâmico ou energético. Mais sensações e sen-timentos significam mais vitalidade, mais excitação e mais energia no organismo. Corpos tensos e contraí-dos não conseguem tolerar aumentos de carga energé-tica pois isso ameaça a integridade da personalidade. Da mesma forma, quando sopramos ar demais dentro do balão de aniversário, a carga elevada corre o risco de explodir ou estourar, assim também, isso será vivi-do pela pessoa como medo de morrer ou elouquecer. (...) Uma terapia para o ser envolve a constante elabo-ração de tensões musculares e de conflictos emocio-nais subjacentes, com uma concomitante descarga de sensações e sentimentos associados.”

Excerto do livro “Medo da Vida”