o brasil na década de 90 uma transição bem sucedida

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Textos para Discussão 91 O BRASIL NA DÉCADA DE 90: UMA TRANSIÇÃO BEM-SUCEDIDA? Armando Castelar Pinheiro Fabio Giambiagi Maurício Mesquita Moreira *Do BNDES, IE-UFRJ e Idesp. **Do BNDES. ***Do BID. Rio de Janeiro, novembro - 2001 *** ** *

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  • Textos para Discusso

    91

    O BRASIL NADCADA DE 90:

    UMA TRANSIOBEM-SUCEDIDA?

    Armando Castelar PinheiroFabio Giambiagi

    Maurcio Mesquita Moreira

    *Do BNDES, IE-UFRJ e Idesp.**Do BNDES.

    ***Do BID.

    Rio de Janeiro, novembro - 2001

    ******

  • 2 Texto para Discusso n 91

  • Sumrio

    Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    1. Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    2. Uma Dcada de Reformas: Os Anos 90 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    2.1. Liberalizao do Comrcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92.2. Privatizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.3. Desregulamentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    3. O Plano Real e os Desequilbrios Macroeconmicos: 1995/98 . . . . . . . . . 15

    4. Trs Mudanas de Poltica em 1999 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    5. Os Choques de 2001: Turbulncia de Curto Prazo ou o Ocaso de um Suposto Modelo?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    6. Futuros Desafios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    7. Comentrios Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    Apndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

    Referncias Bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

  • 4 Texto para Discusso n 91

  • Resumo

    Este trabalho analisa as transformaes da economiabrasileira na dcada de 90 que envolveram a adoo de um novoconjunto de polticas macroeconmicas e a realizao de reformasfavorveis ao mercado. Sustenta-se que, apesar dos equvocos naconduo das polticas e dos graves choques ocorridos no cenriointernacional, o novo regime de polticas econmicas lanou asbases para a retomada do crescimento sustentvel com es-tabilidade de preos. Afirma-se, no entanto, que tal resultadodepende crucialmente da capacidade de o pas consolidar eaprofundar seu compromisso com o livre comrcio e com umregime macroeconmico sustentado por trs pilares: a aus-teridade fiscal, as metas inflacionrias e as taxas de cmbioflexveis.

    Abstract

    This paper looks at the transformations that Brazils eco-nomy went through in the 1990s, which involved the adoption ofa new macroeconomic policy framework and market-friendlyreforms. It argues that, despite a series of policy missteps andsevere external shocks, this new policy regime have laid thefoundations for the resumption of sustained growth-cum-pricestability. It also argues, though, that this outcome hinges criti-cally on the countrys ability to consolidate and deepen its com-mitment to free trade and a macroeconomic regime which restson three pillars: fiscal austerity, inflation targets and flexibleexchange rates.

    Texto para Discusso n 91 5

  • 6 Texto para Discusso n 91

  • 1. Introduo

    O fraco desempenho da economia brasileira no perodo1980/2000 contrasta fortemente com o histrico de crescimentodo pas nas dcadas anteriores do sculo 20. Por diversas dca-das, o Brasil foi uma das economias de crescimento mais rpidodo mundo [Maddison (1995)]. No perodo que vai de 1950 a 1980,a taxa de crescimento anual caiu abaixo do marco de 4% emapenas quatro ocasies e o PIB no mostrou qualquer declnio emtermos absolutos. Em contraste, durante a dcada de 80 a rendaper capita diminuiu 0,5% ao ano em mdia e cresceu apenas 1,1%na dcada seguinte, alcanando uma taxa de 0,3% ao ano aolongo desses 20 anos.1

    Apesar do desempenho semelhante em termos de cresci-mento do PIB, h pelo menos trs diferenas importantes entreos anos 80 (conhecidos como a dcada perdida) e 90. Emprimeiro lugar, a dcada de 80 foi um perodo de inflao cres-cente e polticas macroeconmicas caticas, ao passo que a de 90foi marcada pelo bem-sucedido programa de estabilizao, quereduziu a inflao anual a cifras de apenas um dgito. Em segundolugar, os anos 80 foram caracterizados por grande, quando nocrescente, interferncia do Estado, enquanto os anos 90 podemser descritos como a dcada de reformas orientadas para omercado. Em terceiro lugar, sobretudo em conseqncia dos doisfatores acima mencionados, os anos 80 terminaram em tom dedesesperana, sem um diagnstico claro ou consensual sobre arazo da crise e com o pas rondando a hiperinflao; no final dosanos 90, no entanto, havia sinais de uma retomada da trajetriade crescimento sustentvel, dessa vez no contexto da estabilidadede preos.2

    Apesar dessas importantes mudanas, muitos so os de-safios a serem superados pelo Brasil para que esse cenrio sematerialize. A estabilizao ainda depende da continuidade dosupervit fiscal primrio, o que traria o ndice de endividamentosobre o PIB a nveis mais administrveis, e tambm de umconsidervel aumento das exportaes, o que reduziria a vulne-rabilidade do Brasil a choques externos. As reformas estruturaisempreendidas na dcada de 90 precisam ser consolidadas eexpandidas a outras reas, tais como o Judicirio e os mercadosde capital e de trabalho, para que seja criado um ambienteinstitucional propcio ao investimento e ao aumento da produti-vidade.

    Texto para Discusso n 91 7

    1 Se o Brasil tivesse continuado a crescer no perodo 1980/2000 no mesmo ritmo do perodo 1950/80(7,4% a.a.), e no de acordo com a taxa anual real de 2,1%, a renda per capita em 2000 teria sidode US$ 9.663, ou 2,8 vezes mais do que o valor real de US$ 3.512.

    2 Para uma viso menos favorvel das realizaes do Brasil na dcada de 90, ver Amann e Baer (2000).

  • Este trabalho busca analisar as mudanas e os desafiosque desde o incio dos anos 90 foram incorporados agenda deretomada do crescimento sustentvel; examina tambm a con-tribuio das reformas favorveis ao mercado ocorridas na dca-da de 90; discute ainda os desafios atualmente enfrentados peloBrasil; e avalia se, depois de 20 anos de estagnao na renda percapita, o ritmo de crescimento vai se acelerar, tornando o perodo2001/10 uma dcada de prosperidade, a primeira desde o fen-meno dos anos 70. O grau de consolidao das transformaese a influncia disso sobre as altas taxas de crescimento no futuroso outras questes abordadas no texto.

    O trabalho prossegue com seis sees adicionais. Aps estabreve introduo, analisam-se as reformas estruturais da dcadade 90 (Seo 2). A Seo 3 explora os benefcios produzidos peloPlano Real (1994) e os desequilbrios macroeconmicos reveladospelo fim das altas taxas de inflao. A Seo 4 destaca as mudan-as no regime de polticas que tiveram lugar em 1999, com adesvalorizao da moeda e a adoo de metas inflacionrias e deuma rgida disciplina fiscal. A Seo 5 discute os recentes cho-ques que atingiram a economia brasileira e sugere que, em vistadas caractersticas do novo regime de polticas, eles no ameaama perspectiva de crescimento do pas, seja no mdio ou no longoprazo. A Seo 6 tenta discernir os maiores obstculos a seremenfrentados pelo pas no caminho rumo ao crescimento susten-tvel. A Seo 7 apresenta as concluses mais relevantes.

    2. Uma Dcada de Reformas: os Anos 903

    O Plano Real e a subseqente queda nas taxas de inflaoforam, sem sombra de dvida, os mais significativos eventos daeconomia brasileira nos anos 90. Entretanto, para uma anlisecompleta das transformaes vividas pelo Brasil na dcada, emesmo para compreender adequadamente as razes do triunfodo Plano Real e como as tentativas anteriores fracassaram total-mente, preciso considerar as reformas que influenciaram o ladoda oferta no perodo. Essas reformas compreenderam uma sriede iniciativas que visavam aumentar a produtividade por meio daminimizao da interferncia governamental no mercado e damaximizao da competitividade na economia. Dentre essas ini-ciativas, as mais importantes foram a liberalizao do comrcio,a privatizao e a desregulamentao.

    8 Texto para Discusso n 91

    3 Ver Souza (1999) e Giambiagi e Moreira (1999).

  • 2.1. Liberalizao do Comrcio

    Para dimensionar corretamente o impacto da liberalizaodo comrcio ocorrida na dcada de 90 preciso lembrar que nasduas dcadas precedentes o Brasil se tornara uma das economiasmais fechadas do mundo. A estratgia de substituir importaesfora levada a extremos, e a parcela de importados no consumodomstico de bens manufaturados chegara a nveis soviticos(4,8% em 1989) [Moreira e Correia (1998)]. Essas polticas eramclaramente insustentveis, e no final dos anos 80, quando asrestries cambiais comearam a diminuir, o pas aos poucos seencaminhou para uma poltica comercial mais aberta e neutra.

    No perodo 1988/93, o governo reduziu drasticamente aproteo aos produtores nacionais. Duas reformas, em 1988 e1989, promoveram a queda da tarifa mdia sobre as importaes,que baixou de 51% para 35%. A maioria das barreiras no-tari-frias foi eliminada em 1990, culminando com o fim da reservade informtica em outubro de 1992. Alm disso, um cronogramapreanunciado de redues tarifrias aos poucos levou o valornominal da tarifa mdia sobre importaes de 32,2% (com dis-perso de 19,6%) em 1990 para 14,9% (com disperso de 8,2%)no segundo semestre de 1993 (Tabela 1). A liberalizao docomrcio foi particularmente importante para os bens de consu-mo: as tarifas incidentes sobre bens de consumo durveis dimi-nuram 66 pontos percentuais, e a eliminao da lista de artigosde importao proibida proporcionou aos consumidores acessolegal a produtos estrangeiros que, do ponto de vista prtico,estavam banidos h dcadas.

    No que diz respeito s exportaes, a poltica comercialadotara uma linha mais neutra desde meados da dcada de 80e, em especial, aps 1990. Diversos subsdios foram cortados noperodo que vai de 1983 a 1985. Quando o governo Collor tomouposse, em maro de 1990, eliminaram-se os subsdios e reduzi-ram-se os incentivos que beneficiavam os exportadores. Comoresultado, a relao entre os incentivos e o PIB caiu de uma mdiade 3,1% no perodo 1981/84 para 1,3% em 1990/91. Na dcadade 90, o governo continuou a batalhar pela iseno total de

    Tabela 1Tarifas de Importao Brasileiras 1990/95

    (Em %)Data Mdia Moda Mediana Intervalo Desvio-Padro

    1990 32,2 40 30 0-105 19,6

    Fev. 1991 25,3 20 25 0-85 17,4

    Jan. 1992 21,2 20 20 0-65 14,2

    Out. 1992 16,5 20 20 0-55 10,7

    Jul. 1993 14,9 20 20 0-40 8,2

    Jan. 1995 12,1 14 10 0-20 6,1

    Fonte: Clculos dos autores com base em dados da Receita Federal.

    Texto para Discusso n 91 9

  • impostos sobre importaes, inclusive estaduais, e tomou medi-das para fortalecer o esquema de financiamento de exportaes[Sucupira e Moreira (2001)].

    Outro desenvolvimento notvel na poltica comercial dopas foi o estabelecimento do Mercosul em 1991, o acordo decomrcio regional firmado entre Argentina, Brasil, Paraguai eUruguai. O Mercosul foi um fator-chave para atrair o investimentoexterno direto ao Brasil e ajudou a transformar o pas em umabase regional de exportao para muitas corporaes multinacio-nais [Pinheiro e Moreira (2000)]. De modo geral, as exportaesbrasileiras para os parceiros do Mercosul aumentaram 235% de1991 a 2000, enquanto as importaes subiram 244%.

    O impacto da liberalizao do comrcio foi imenso, tantose consideramos a integrao do pas economia mundial comoo incentivo que isso representou para a modernizao tecnolgicae o incremento da produtividade [Moreira e Correia (1998) eMcKinsey & Company (1998)]. As importaes de bens no-pe-trleo saltaram de US$ 11,0 bilhes em 1987 para US$ 44,3bilhes em1995, atingindo US$ 49,4 bilhes em 2000. As impor-taes de bens de capital e de consumo, em especial, tiveramgrande expanso nos anos 90. O acirramento da concorrncia ea facilidade do acesso ao capital estrangeiro, intermediado ouno, estimularam os produtores domsticos a aprimorar suacompetitividade [Muendler (2001)].

    O desempenho das exportaes, contudo, prejudicou o queteria sido uma reao formidvel liberalizao do comrcio. Asexportaes demoraram a responder ao programa. Depois de darsinais de forte recuperao, entre 1992 e 1994, elas reassumiramuma curva negativa, brevemente revertida durante alguns mesesde 1997. Prevaleceu nesse perodo uma tenso de foras entre osmercados interno e externo, que levava as firmas a procuraremas vendas domsticas sempre que a demanda local se aquecia[ver Pinheiro e Moreira (2000)].

    A apreciao da taxa de cmbio parece ter contribudo paraa lenta resposta. Contrariando os conselhos da maioria dosanalistas [ver, por exemplo, Papageorgiu, Michaely e Choski (1991)],a liberalizao do comrcio no foi seguida por uma desvaloriza-o real da taxa de cmbio. Muito pelo contrrio: em dezembrode 1998, o real tinha se valorizado 18% em relao ao dlar (vergrfico a seguir). Essa tendncia cessou apenas em janeiro de1999, quando a deteriorao dos mercados internacionais, aba-lados pela moratria da Rssia, forou o governo a fazer flutuara taxa de cmbio, deciso que resultou em uma desvalorizaode grande monta (ver a Seo 3). A alterao nos preos relativosno tardou a mostrar sua relevncia. No ltimo trimestre de 1999,as exportaes subiram 11,3% (a.a.), e em 2000 a taxa decrescimento das exportaes atingiu 14,7%, liderada pelas expor-taes de produtos manufaturados (20,6%).

    10 Texto para Discusso n 91

  • Alm do efeito negativo da moeda valorizada, as exporta-es tambm se ressentiram da falta de investimentos em infra-estrutura, conseqncia da crise das finanas pblicas dos anos80 e de um sistema fiscal ineficiente, que sobrecarregava osprodutores com impostos cumulativos. No que se refere aosinvestimentos em infra-estrutura, a segunda metade dos anos 90foi marcada por avanos significativos, como resultado da priva-tizao das empresas estatais (ver a prxima subseo). Entre-tanto, ainda falta reformar o sistema fiscal.

    2.2. Privatizao

    Embora o processo de privatizao remonte aos anos 80, foiapenas na dcada seguinte que ganhou destaque no Brasil, a pontode se tornar uma das peas centrais da poltica econmica.4 Emmaro de 1990, o presidente Collor lanou o Programa Nacional deDesestatizao (PND), depois expandido para a incluso de empre-sas estatais bem conhecidas e de grande porte. Em setembro de1992, o presidente foi removido do cargo por impeachment e subs-titudo pelo vice-presidente Itamar Franco, que, apesar da hesitaoinicial, deu seguimento ao processo de privatizao no mesmoritmo. Juntas, as duas administraes venderam 33 empresasestatais, gerando resultados de cerca de US$ 11,9 bilhes, secomputados os recursos obtidos e as transferncias de dvidas(Tabela 2). Um dos episdios de maior importncia nesse perodofoi a venda do setor siderrgico, que fora implantado aps a SegundaGuerra Mundial sob a superviso do governo e tido como umelemento crtico para a segurana nacional.

    O auge do programa de privatizao brasileiro ocorreudurante o primeiro mandato do presidente Fernando HenriqueCardoso (1995/98), quando 80 empresas foram vendidas, geran-do resultados totais de US$ 73,3 bilhes (Tabela 2). Dois fatorespermitiram essa significativa expanso do volume e da abrangn-cia das privatizaes: o primeiro foi a participao dos governosestaduais no esforo de privatizao, o que possibilitou a vendade diversas companhias de distribuio de eletricidade; o segundofoi a deciso de alterar a Constituio para acabar com o mono-plio do governo sobre certas reas e eliminar a discriminaocontra as subsidirias de companhias estrangeiras, criando-secom isso a oportunidade de expandir o programa de privatizaopara setores como telecomunicaes, eletricidade e minerao,que eram as principais reas produtivas sob controle estatal noBrasil. Tambm nessa poca, outras reas que viviam sob a tutelado Estado h dcadas, como as ferrovias e os portos, foram parcialou totalmente transferidas ao setor privado.5

    Texto para Discusso n 91 11

    4 As privatizaes no Brasil durante o governo Collor so discutidas em Pinheiro e Giambiagi (1994).Para saber mais sobre a perspectiva latino-americana em relao ao tema, ver Baer (1994).

    5 Ver os trabalhos em Pinheiro e Fukasaku (2000) para uma discusso extensa sobre a privatizaono primeiro mandato do presidente Cardoso.

  • A ampliao do programa de privatizao tornou-o umimportante pilar de sustentao do Plano Real, especialmente noprimeiro mandato de Cardoso [Pinheiro e Giambiagi (2000)]. Asgrandes privatizaes ocorridas entre 1997 e 1998 atraramvastos fluxos de investimento externo direto para o Brasil, o queajudou a financiar o elevado dficit em conta corrente do pas. Noperodo 1997/2000, o ndice de entradas de investimento externodireto associado s privatizaes sobre o dficit em conta correnteatingiu quase 25% em mdia. A privatizao tambm foi provi-dencial para evitar a exploso da dvida pblica, agravada pelocontnuo aumento do dficit fiscal a partir de 1995. Carvalho(2001) mostra que, como os resultados da privatizao eramusados predominantemente para abater a dvida pblica, emdezembro de 1999 esta representava uma cifra de 8,4% do PIB,inferior que poderia ter sido verificada na falta das privatizaes.

    Em uma perspectiva de longo prazo, no entanto, a mudan-a mais significativa trazida pela privatizao aponta para agesto das antigas estatais. Nas mos de empresas privadas, elaspassaram a se pautar pelas necessidades do consumidor, atua-lizaram seu parque tecnolgico e se equiparam com sistemas deinformtica e melhor gerenciamento de recursos humanos,empregando uma fora de trabalho menor porm mais motivada.O impacto das transformaes e do maior acesso ao capital foimuito satisfatrio, tanto no aspecto de volume de produo como

    Tabela 2Privatizao: Resultados e Dvida Transferida 1991/2000

    (Em US$ Milhes)Setor 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Total

    Governo Federal 1.988 3.383 4.188 2.314 1.628 4.749 12.558 26.606 554 7.670 65.638

    Ao 1.843 1.639 3.788 917 0 0 0 0 0 0 8.187

    Petroqumica 0 1.477 174 528 1.226 296 0 0 0 0 3.701

    Fertilizantes 0 255 226 13 0 0 0 0 0 0 494

    Cia. Vale do Rio Doce 0 0 0 0 0 0 6.858 0 0 0 6.858

    Energia Eltrica 0 0 0 0 402 2.943 270 1.882 1 0 5.498

    Telecomunicaes 0 0 0 0 0 0 4.734 23.948 421 0 29.103

    Empresas 0 0 0 0 0 0 0 21.069 293 0 21.362

    Concesses 0 0 0 0 0 0 4.734 2.879 128 0 7.741

    Bancos 0 0 0 0 0 0 240 0 0 3.604 3.844

    Outros 145 12 0 856 0 1.510 456 776 132 4.066 7.953

    Estados 0 0 0 0 0 1.770 15.117 10.858 3.887 3.040 34.672

    Energia Eltrica 0 0 0 0 0 1.066 13.430 7.817 2.520 1.582 26.415

    Telecomunicaes 0 0 0 0 0 679 0 1.840 0 0 2.519

    Bancos 0 0 0 0 0 0 474 647 148 869 2.138

    Outros 0 0 0 0 0 25 1.213 554 1.219 589 3.600

    Total 1.988 3.383 4.188 2.314 1.628 6.519 27.675 37.464 4.441 10.710 100.310

    Resultados 1.614 2.401 2.627 1.965 1.004 5.485 22.617 30.897 3.203 10.421 82.234

    Dvida Transferida 374 982 1.561 349 624 1.034 5.058 6.567 1.238 289 18.076

    Fonte: BNDES.

    12 Texto para Discusso n 91

  • em produtividade e nveis de investimento.6 Com desempenhomais eficiente e melhores prticas comerciais, essas empresasconseguiram aumentar a lucratividade, o que reabilitou suacredibilidade financeira e facilitou a obteno de novos inves-timentos. Os resultados foram excelentes, tanto no setor indus-trial como no de infra-estrutura. Ambos registraram recuperaodas redes fsicas e aumentos de produtividade, mesmo que osganhos tenham sido maiores em alguns dos setores do que emoutros. No caso das telecomunicaes, em especial, a densidadedas linhas fixas duplicou aps a privatizao, chegando em 2001a um nvel de 20,2 linhas fixas (contra 9,6 em 1996) e 15,0telefones celulares por 100 habitantes (contra 1,6 em 1996).

    No setor industrial, a privatizao foi um sucesso dignode nota, como mostrado pelo aumento do volume de produoe pela competitividade de companhias que antes rondavam afalncia, como a siderrgica CSN e a fabricante de aviesEmbraer. E esse foi um processo sem volta, iniciado assim queo controle mudou de mos. Porm, na rea da infra-estruturaa privatizao representa apenas uma etapa das reformas naregulamentao, que no podero ser dadas como concludasat que leis adequadas sejam adotadas e que as agncias deregulamentao estejam funcionando bem, em status plena-mente operacional. No caso da infra-estrutura, existem neces-sidades maiores do que a mera reduo das perdas tcnicas. preciso avanar mais adiante: aperfeioar a gesto e recuperaras instalaes existentes para poder acomodar a expanso dacapacidade e para traduzir os ganhos de produtividade empreos mais baixos para o consumidor. Nessas reas, o grau desucesso obtido pela nova estrutura regulamentadora bastanteheterogneo, o que reflete as diferenas qualitativas da regula-mentao dos diferentes setores.

    Por uma srie de razes, o processo de privatizaocomeou a desacelerar no segundo mandato do presidenteCardoso, chegando a uma paralisao quase completa, cujaprincipal razo foi o declnio do apoio popular. Mas igual-mente relevantes foram a menor presso por privatizaesno mbito da poltica macroeconmica resultado das mu-danas no regime fiscal e do grande afluxo de investimentoexterno direto no relacionado com as privatizaes e amaior complexidade tcnica e poltica que marcava a priva-tizao das estatais remanescentes. Por causa dessa inter-rupo, ativos considerveis continuam em poder do Estadonos setores de eletricidade, gua e saneamento bsico, queprovavelmente gerariam mais benefcios sociais se estives-sem nas mos do setor privado.

    Texto para Discusso n 91 13

    6 Para uma anlise do impacto da privatizao sobre o desempenho das antigas empresas estatais,ver Pinheiro (1996).

  • 2.3. Desregulamentao

    O Brasil tambm promoveu uma srie de iniciativas paraaumentar a competio nos mercados internos, libertando ascompanhias e os mercados de um grande nmero de controlesadministrativos, introduzidos durante o perodo de substituiode importaes ou anteriormente. O primeiro conjunto de mu-danas foi implementado pelo Programa Federal de Desregula-mentao (PFD),7 que revogou 113.752 decretos presidenciais dototal de 123.370 baixados nos 100 anos precedentes. Outrasiniciativas enfocaram o comrcio internacional (por exemplo, ofim do monoplio do governo sobre a exportao de caf e acare sobre a importao de trigo, assim como o fim da exigncia delicenas de importao e exportao) e o investimento externo(eliminao da maior parte das restries).

    Foi lanado um segundo pacote de medidas com o objetivode fortalecer as polticas de combate a monoplios e de proteoao consumidor. Em1991, a lei antimonoplio de 1962 foi comple-mentada por dispositivos mais rgidos, e em 1994 aprovou-se umanova lei antimonoplio, que consolidou as leis sobre a concor-rncia no mercado e estabeleceu penalidades mais severas, assimcomo resposta jurdica mais rpida em caso de infrao. Desde1991, a Lei de Proteo ao Consumidor, aprovada em setembrode 1990, responsabiliza os fabricantes pela qualidade de seusprodutos e pela honestidade de sua propaganda.

    Um terceiro grupo de medidas anulou as restries legaisque limitavam a entrada de competidores e estabeleciam contro-les de preo em diversos setores no comerciais. As mais impor-tantes foram as emendas constitucionais que terminaram com omonoplio do governo sobre o setor de infra-estrutura e com asdiferenas no tratamento dispensado a empresas nacionais eestrangeiras. Tambm foram revogadas outras restries presen-tes no texto da Constituio, como aquelas impostas pela Lei4.131 sobre o acesso de empresas estrangeiras a linhas definanciamento do governo.

    Criou-se um ambiente mais competitivo com o fim daslimitaes legais entrada de concorrentes no mercado e docontrole de preos em setores como aviao comercial, portos erodovias interestaduais e internacionais, bem como foi es-timulada a competio na distribuio de combustveis e de ao.Abandonou-se a padronizao do preo de combustveis e decertos servios em todos os lugares do pas. As reformas do marcoregulatrio na infra-estrutura tambm incentivaram a competiti-vidade ao estabelecerem um modelo industrial no-monopolista,que previa o desmembramento de diversas estatais, tanto vertical

    14 Texto para Discusso n 91

    7 Este programa, estabelecido em maro de 1990, teve grande atividade at o impeachment de Collorno final de 1992.

  • como horizontalmente, antes de sua privatizao. Exemplos deciso horizontal podem ser encontrados nos setores de ferrovias,eletricidade e telecomunicaes, enquanto exemplos de cisovertical ocorreram nos setores de telecomunicaes e eletricidade.Alm disso, impuseram-se limites de participao em diferentesmercados regionais e nacionais para cada investidor e tambmrestries quanto composio acionria de algumas empresas(como a gigante da minerao CVRD e as ferrovias). As restriescontra a entrada de novos atores foram mantidas em nveismnimos e assumiram, em certos casos, como o das telecomuni-caes, carter meramente temporrio.

    3. O Plano Real e os Desequilbrios Macroeconmicos: 1995/98

    Anunciado em 1994, o Plano Real pode ser visto como aextenso macroeconmica e lgica das reformas implementadasna dcada de 90, tanto por exercer mais impacto sobre o cresci-mento da economia como por gerar as condies polticas paralev-las adiante.8 O Plano resultou numa impressionante quedada inflao, fato que, como previsto, elevou os nveis de eficincia,estimulou a competitividade e atraiu o investimento estrangeiro.A pedra no sapato, contudo, foi o ntido aumento dos dficits fiscale em conta corrente.

    O Plano foi uma opo engenhosa para o combate da altainflao. Vale destacar que no perodo 1986/91 houve no Brasilnada menos do que cinco planos de estabilizao baseados emcongelamento de preos e outras variantes. Todos falharam.9 Oque fez a diferena no caso do Plano Real foi a criao de umamoeda virtual atrelada ao dlar, a Unidade Real de Valor (URV).O governo estabeleceu um perodo de quatro meses para que osagentes econmicos se adaptassem nova unidade. Durante esseperodo, no s a taxa de cmbio como tambm alguns preosbsicos, como os salrios dos funcionrios pblicos, as penses,o salrio mnimo e as tarifas cobradas pelas empresas de serviospblicos, foram compulsoriamente convertidos em URVs. O setorprivado seguiu voluntariamente o mesmo procedimento paracontrolar a maioria dos preos. Atravs desse esquema, o governoadotou a lgica da dolarizao sem a necessidade de implantarum currency board (caixa de converso).

    Nesse perodo de quatro meses, a inflao na velha moedaatingiu quase 50% ao ms. Mas em 30 de junho de 1994 a URV

    Texto para Discusso n 91 15

    8 Ver Pinheiro e Giambiagi (2000) para uma anlise do relacionamento bidirecional no caso daprivatizao.

    9 Para uma viso ampliada da histria inflacionria brasileira, ver Tullio e Ronci (1996).

  • foi convertida na nova moeda, que no por acaso foi batizada dereal para transmitir a idia de constncia no poder de compra.Toda a base monetria da velha moeda foi ento substituda pornovas cdulas e moedas, processo que consumiu poucos dias. evidente o paralelo com o clssico exemplo do fim da hiperinflaona Alemanha da dcada de 20, quando se considera o papeldesempenhado pela nova moeda alem naquela situao.

    Nos anos que se seguiram ao Plano Real, a economia tevedesempenho misto, com grande xito no combate inflao, quenos 12 meses anteriores ao Plano tinha atingido a assombrosataxa acumulada de 5.154%, conforme medies do ndice Geralde Preos (IGP). Aps o lanamento do Plano, a inflao acumu-lada anualmente caiu numa curva descendente praticamentecontnua durante quatro anos e meio, atingindo apenas 1,7% aofinal de 1998. Em outras palavras, a taxa de inflao anualem1998 era igual taxa de inflao diria antes do Plano Real.10

    Nem tudo foi positivo, no entanto. Desde 1995, o Brasilampliou substancialmente os dficits fiscal e em conta corrente,o que levou ao aumento das obrigaes pblicas e externas. Nocaso das contas fiscais, o resultado primrio consolidado do setorpblico, que exclui o pagamento de juros, caiu de um supervitmdio de 2,9% do PIB no perodo 1991/94 para um dficit mdiode 0,2% do PIB no perodo 1995/98. A deteriorao foi causada,em parte, pelo desequilbrio acima mencionado, que at ento foraresolvido pela espiral inflacionria e, em parte, pela gestoineficiente dos instrumentos fiscais.

    At 1994, era relativamente fcil controlar os gastos reaisdo setor pblico com a ajuda dos aumentos de preo, o que erafeito retardando-se o momento de desembolso dos fundos. Ainflao tambm facilitava o manejo das disputas polticas porrecursos dentro do prprio governo [ver Cardoso (1998) e Bacha(1994)]. Com a queda da inflao, o preo poltico de dizer notornou-se explcito. A dificuldade em negar pedidos externos einternos de fundos contribuiu para elevar o nvel real de gastospblicos. Alm da influncia da queda da inflao, o dficit dascontas fiscais tambm foi causado pela poltica fiscal maisexpansionista e pelas falhas estruturais na gesto financeira dosetor pblico:11 a) o significativo aumento nos gastos discricion-rios do governo federal; b) o aumento nominal de 43% do salriomnimo em 1995, quando a taxa de inflao era de apenas 15%,com impacto direto sobre as penses dos setores pblico eprivado, o que piorou o dficit da Previdncia Social; e c) a situaodos governos estaduais, cujas receitas foram sugadas pelo

    16 Texto para Discusso n 91

    10 Uma inflao de 1,7% por dia til corresponde a uma taxa mensal de 45%, similar de junho de1994, quando o Plano Real foi lanado.

    11 Para uma discusso da crise fiscal brasileira na segunda metade da dcada de 90, ver Giambiagi eAlm (1999).

  • aumento da folha de pagamentos ocorrido em 1994 e 1995, comefeitos reais que duraram anos.

    O aumento do dficit em conta corrente foi provocado peloaquecimento da demanda e pelos efeitos de aumento da demandarelacionados ao Plano Real. A demanda agregada cresceu comoresultado do aumento nos gastos pblicos, do boom de inves-timentos privados e do aquecimento do consumo. Ademais, acredibilidade financeira resultante da estabilidade de preos e dargida poltica monetria (isto , altas taxas de juros) acentuoua demanda por moeda corrente, o que valorizou significativa-mente o real face ao dlar, tendncia que vinha se fortalecendodesde 1992. Entre junho de 1994 e fevereiro de 1995, o real teveuma valorizao real de 30% em relao ao dlar (ver grfico aseguir).12

    O governo logo abandonou a livre flutuao da taxa decmbio e adotou um sistema de banda cambial, que permitia umadepreciao nominal e gradativa do real. O efeito colateral dessapoltica foi a definio de um teto relativamente alto para as taxasde juro nominais. Temia-se a ocorrncia de uma maxidesvalori-zao sem anncio prvio, tanto pelo impacto inflacionrio comopelos graves danos que infligiria credibilidade do governo.

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    1994

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    1996

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    1997

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    1999

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    2000

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    2001

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    1998

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    1995

    -Mar

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    Ex CPI/IPCA

    Fonte: Banco Central.

    Taxa de Cmbio do Real Jun. 1994/Jun. 2001

    Texto para Discusso n 91 17

    12 A cifra representa a taxa de cmbio real/dlar do grfico, onde CPI o ndice de preos ao consumidordos Estados Unidos e IPCA o ndice de preos ao consumidor no Brasil. A valorizao nominal doreal, inicialmente igual a US$ 1, foi de mais de 15% nos primeiros meses do Plano Real. A isso deve-seacrescentar uma inflao residual nada desprezvel.

  • Em certa medida, esses desequilbrios refletem os bemconhecidos dilemas enfrentados pelas autoridades econmicasque tentam adotar uma agenda de reformas orientadas para omercado onde tanto a estabilizao como a liberalizao docomrcio esto includas. Como afirmou Londero (1997, p. 273):A estabilizao geralmente resulta em uma hipervalorizao damoeda nacional, porm... nas economias mais protegidas, aliberalizao do comrcio requer uma desvalorizao real

    A valorizao do real, combinada com o salto na demandaagregada, provocou uma drstica inverso na balana comercial,que passou de um supervit de US$ 11 bilhes em 1994 para umdficit de US$ 3 bilhes em 1995. Esse declnio foi agravado pelospagamentos de juros e dividendos (que aumentaram mais do queo dobro entre 1994 e 1998). O resultado foi um dficit perigosa-mente alto nas contas correntes (4% do PIB em 1997) e umadeteriorao significativa dos indicadores tradicionais de solvn-cia. O risco desses desequilbrios crescentes no passou des-percebido aos definidores de polticas econmicas, ao mercado ouaos acadmicos.13 Contudo, o governo acreditava que a situaoprevalecente nos mercados internacionais de capital, marcadapor alta liquidez e ampla infuso de capital em economias emer-gentes, dava margem adoo de uma estratgia de ajustesgraduais.

    A deteriorao das contas correntes do Brasil e o fato deque o dficit era financiado por fluxos de capital de curto prazoacentuaram a dependncia do financiamento externo e, conse-qentemente, tornaram o pas mais vulnervel a choques exter-nos. Essa vulnerabilidade foi notada pela primeira vez na crisedo Mxico, em maro de 1995, confirmou-se na crise asitica deoutubro de 1997 e chegou ao limite do suportvel por ocasio damoratria da Rssia, em 1998. Contudo, as atribulaes do Brasilna virada de 1998 para 1999 no foram produzidas apenas pordesequilbrios estruturais os tradicionais problemas fiscais eexternos das economias da Amrica Latina , mas tambm pelafalta de credibilidade do regime de polticas.

    De fato, a crise asitica evidenciou a necessidade deajustes e forou o governo a fazer duas importantes alteraes decurso. Em primeiro lugar, era preciso continuar promovendodesvalorizaes nominais e gradativas no real (aproximadamente8% ao ano), num ambiente de inflao praticamente equiparadaaos baixos nveis internacionais, o que levou a uma desvaloriza-o anual de cerca de 6% em 1998. Em segundo lugar, era precisomelhorar os resultados primrios consolidados do setor pblicoem relao a 1997. Mas, alm de insuficientes, os ajustes foram

    18 Texto para Discusso n 91

    13 Ver, entre outros, Goldfajn e Valds (1996) e Cardoso e Goldfajn (1997). Para uma defesa da polticacambial da poca, ver Franco (1999).

  • tardios demais. Apesar de relevantes, as medidas tomadas nobastaram para reduzir significativamente esses desequilbriosmacroeconmicos.

    Nesse cenrio, a poltica monetria assumiu um papel deextrema importncia para a manuteno de uma taxa de cmbioestvel, com taxas de juros anualizadas que superavam 40% emoutubro de 1998 (e inflao muito baixa, cumpre lembrar). Issoafetou negativamente os nveis de produo e as contas pblicas.Para dar continuidade poltica no mdio prazo, os nveis desupervit primrio deveriam ser capazes de neutralizar o nusdos pagamentos de juros. Do ponto de vista poltico e social, noentanto, esse era um objetivo impraticvel. Em mbito interna-cional, disseminava-se a percepo de que essas polticas econ-micas eram insustentveis.14

    No decorrer dos 50 dias compreendidos entre o incio deagosto e o final de setembro de 1998, o Brasil perdeu US$ 30bilhes em reservas. Em outubro, o anncio de que o governoestudava um acordo com o Fundo Monetrio Internacional(FMI) trouxe algum alvio. Contudo, naquela conjuntura oBrasil no podia se dar ao luxo de cometer nenhum erro. Oseventos acabaram sendo precipitados com a rejeio de umaimportante medida de ajuste fiscal pelo Congresso e o annciode moratria das dvidas contradas junto ao governo federal pelogoverno do Estado de Minas Gerais. Do final de dezembro de1998 at os primeiros dias de 1999, o Brasil perdeu reservas daordem de US$ 500 milhes a US$ 1 bilho por dia. Em 15 dejaneiro, depois de descartar sugestes de controle de capital la Malsia, as autoridades deram sua ltima cartada para evitara rpida evaporao das divisas: deixaram a taxa de cmbioflutuar livremente.

    Embora tenha ocorrido no primeiro ms do segundo man-dato (1999/2002), a crise da moeda pode ser vista como a cenafinal da primeira administrao de Cardoso (1995/98), que,apesar de todos os problemas, foi muito til para aprofundar econsolidar as reformas orientadas para o mercado, iniciadas nocomeo da dcada de 90. A privatizao das empresas de serviospblicos, o aumento da produtividade, o fortalecimento do sis-tema financeiro e, acima de tudo, o controle da inflao rebeldeforam benefcios cuja importncia no pode ser subestimada. Noentanto, a lentido em resolver os principais desequilbrios ma-croeconmicos do pas deixou grandes obstculos no caminho darecuperao econmica. As reformas fiscais do final de 1998 eincio de 1999, ao lado da desvalorizao de janeiro de 1999,foram as primeiras tentativas de superar esses obstculos.

    Texto para Discusso n 91 19

    14 Portanto, elas combinavam elementos dos dois tipos de crise cambial descritas por Krugman (1998),associados aos assim chamados modelos de primeira e segunda gerao. Conforme afirmam Drazene Masson (1994), chega um momento em que mesmo o compromisso com polticas ainda maisausteras perde a eficcia.

  • 4. Trs Mudanas de Poltica em 1999

    As primeiras conseqncias da crise cambial brasileiraseguiram o padro verificado no Mxico, em 1995, e na Coria doSul, em 1997. Houve uma desvalorizao excessiva nos primeirosmeses da crise, que no durou mais do que um ano. No Mxico,a desvalorizao excessiva foi neutralizada pela inflao, quesubiu a mais de 50% (IPC) em 1995. Na Coria do Sul o ajuste foifeito com uma valorizao nominal, com baixa influncia da taxade inflao. No caso do Brasil, havia temores de que a valorizaodo real fizesse o pas seguir os passos do Mxico, em vista doquadro histrico de inflao no pas. Esse medo tambm explicapor que as autoridades relutaram em permitir a flutuao dastaxas de cmbio. Na prtica, contudo, o processo mostrou seme-lhanas com o ocorrido na Coria do Sul. A taxa de cmbio paraa compra de um dlar, que era de R$ 1,21 antes da desvaloriza-o, atingiu R$ 2,16 no auge da crise e baixou para R$ 1,79 nofinal de 1999. Nessa altura, a desvalorizao nominal era de 48%,contra uma taxa de inflao no consumo de 9%. Isto , o reflexodo aumento da taxa de cmbio sobre os preos internos foi inferiora 20%.

    A desvalorizao coincidiu com um perodo de lento cres-cimento, e isso explica parcialmente por que a inflao noexplodiu como se temia.15 Outros elementos importantes tambmcontriburam para isso: a) a boa administrao da poltica mone-tria, que permitiu oportunos e precisos ajustes de sintonia finanas taxas de juros; b) a renegociao do acordo com o FMI, quedemonstrou a credibilidade dada aos ajustes fiscais e proporcio-nou ao Banco Central a folga necessria para intervir no mercadocambial; c) o anncio de aumentos apenas moderados no salriomnimo em maio; e d) a deciso de adotar um regime de metas deinflao (inflation target).

    O impacto restrito sobre a inflao, que impediu umadrstica queda no valor real dos salrios, e os bons balanospublicados pelas instituies financeiras, que foram em largamedida beneficiadas pela desvalorizao, ajudam a entender porque a desvalorizao no afundou o pas em uma recesso, comoaconteceu no Mxico e na Coria do Sul.16 Com uma desvaloriza-o nominal de 50%, uma inflao no consumo de 10%, umamodesta expanso no PIB, uma leve melhora na balana comer-

    20 Texto para Discusso n 91

    15 Em dezembro de 1998, a produo industrial ajustada sazonalmente estava 10% abaixo de seu picohistrico, atingido no final de 1994, e 7% abaixo do mximo de curto prazo em meados de 1998.

    16 Para informaes sobre a situao relativamente saudvel do setor financeiro no Brasil, ver Standard& Poors (1999). A crise externa de 1999 encontrou o sistema financeiro brasileiro relativamente bemajustado aos parmetros definidos pelo Acordo de Basilia. Alm disso, os bancos estavam bempreparados para a perspectiva de desvalorizao, especialmente aps a crise asitica de 1997. Emcerta medida, o Brasil beneficiou-se do fato de as crises mexicana e asitica j terem ocorrido, poisisso deu aos bancos bastante tempo para se preparar para uma possvel crise.

  • cial, uma boa safra agrcola e sem crises do sistema financeiro, oBrasil pde concluir a transio entre regimes cambiais comrelativo sucesso.17 O processo foi embasado por importantesmudanas no regime de polticas econmicas, que combateramos desequilbrios macroeconmicos herdados da primeira admi-nistrao de Cardoso e criaram condies para um novo ciclo decrescimento sustentvel. Nesse contexto, trs medidas se desta-caram: a adoo do regime de flutuao cambial, o estabeleci-mento de metas fiscais e de metas de inflao.

    O novo regime cambial ampliou o espao de manobra dapoltica monetria e representou mais liberdade para o governo,que no precisou mais defender um certo nvel da taxa de cmbio.Alm disso, ele tambm incrementou a flexibilidade do mecanis-mo de preos, com o objetivo de melhor se adaptar s transfor-maes estruturais ocorridas no Brasil desde o incio da dcadade 90. O efeito negativo foi o risco maior de volatilidade na taxade cmbio, o que poderia prejudicar a estabilidade de preos, osinvestimentos e o comrcio.

    A adoo das metas fiscais determinada sob o guarda-chuva do acordo com o FMI18 possibilitou que o Brasil aderisse tendncia mundial e emergente das regras fiscais. Como notadopor Bayoumi e Eichengreen (1995, p. 32), as restries impostassobre a liberdade fiscal das autoridades oramentrias so oassunto mais noticiado a cada dia. A tendncia se intensificounos ltimos anos, em resposta a uma srie de fatores, como oesforo feito pelos pases membros da Unio Europia paraatender aos critrios do Tratado de Maastricht e a implantaode programas calcados no estilo FMI em diversos pases emdesenvolvimento. Foi assim que o dficit fiscal no Brasil deixoude ser a varivel que revelava a discrepncia entre o clamor porgastos pblicos e a disposio da sociedade em aceitar os impos-tos correspondentes e se tornou uma meta rigidamente es-tabelecida que, para ser alcanada, implicaria ajustes na receitaou nos gastos.

    Uma srie de medidas extraordinrias, como os impostostemporrios, e os resultados da venda das empresas estataispermitiram o crescimento da receita, quando calculada comopercentagem do PIB, apesar das baixas taxas de crescimento edos altos ndices de desemprego (Tabela 3). Todos esses fatorescontriburam para que o setor pblico alcanasse um supervit

    Texto para Discusso n 91 21

    17 A alterao na balana comercial foi bem menos impressionante que nos casos do Mxico e da Coriado Sul, na ausncia de marcada retrao do PIB, como ocorrido nesses dois pases. Alm disso, oBrasil presenciou uma grande deteriorao dos seus termos comerciais em 1999, com uma quedade 13% na mdia de preos dos produtos exportados. Apesar disso, o volume de exportaes cresceu8%, enquanto as importaes diminuram 15%, o que compensou a moderada retrao dos fluxosde investimento e do consumo e fez o PIB crescer 0,5%.

    18 Para uma defesa da lgica dos programas do FMI, ver Mussa e Savastano (1999).

  • primrio consolidado de mais de 3% do PIB, em marcado contras-te com a situao de anos anteriores.19

    O ajuste tambm foi favorecido por uma srie de reformasfiscais, como, por exemplo:

    a) o estabelecimento de certas restries sobre as aposenta-dorias, e a aprovao de uma emenda constitucional que removeuda esfera constitucional a questo dos clculos dos benefcios daspenses (tornando-o matria coberta pelas leis comuns);

    b) a aprovao de um novo mtodo de clculo para osbenefcios pagos a pensionistas, que reduziu a penso dos apo-sentados precoces, que deixam de trabalhar quando ainda somuito jovens ou aps poucos anos de trabalho;

    Tabela 3Necessidades de Financiamento do Setor Pblico (NFSPs) 1994/2001

    (Em % do PIB) 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001a

    Governo Central 10,2 2,4 2,6 2,6 4,9 2,7 2,3 1,9

    Receitas 18,9 18,3 17,5 18,6 20,1 22,0 21,7 22,9

    (-) Transferncias (Estados e Municpios) 2,6 2,8 2,7 2,8 3,0 3,3 3,7 3,9

    Receita Bruta 16,3 15,5 14,8 15,8 17,1 18,7 18,0 19,0

    Despesas No-Financeirasb 14,0 14,8 14,6 15,5 16,5 16,4 16,1 17,2

    Pessoal 5,1 5,6 5,3 4,8 5,0 5,1 5,1 5,2

    INSS 4,9 5,0 5,3 5,5 5,8 6,1 6,0 6,4

    Outrosb 4,0 4,2 4,0 5,2 5,7 5,2 5,0 5,6

    Discrepncia Estatsticac -0,9 0,2 -0,2 0,6 0,0 -0,1 0,0 0,0

    Supervit Primrio 3,2 0,5 0,4 -0,3 0,6 2,4 1,9 1,8

    Juros Nominais 13,4 2,9 3,0 2,3 5,5 5,1 4,2 3,7

    Estados e Municpios 12,1 3,6 2,7 3,0 2,0 3,2 2,2 2,2

    Supervit Primrio 0,8 -0,2 -0,5 -0,7 -0,2 0,2 0,5 0,8

    Juros Nominais 12,9 3,4 2,2 2,3 1,8 3,4 2,7 3,0

    Empresas Estataisd 4,7 1,2 0,6 0,4 0,6 -0,1 -0,8 -0,4

    Supervit Primrio 1,2 0,0 0,1 0,1 -0,4 0,7 1,1 0,9

    Juros Nominais 5,9 1,2 0,7 0,5 0,2 0,6 0,3 0,5

    NFSPs 27,0 7,2 5,9 6,0 7,5 5,8 3,7 3,7

    Supervit Primrio 5,2 0,3 0,0 -0,9 0,0 3,3 3,5 3,5

    Juros Nominais 32,2 7,5 5,9 5,1 7,5 9,1 7,2 7,2

    Memo:

    Supervit Primrio (Meta FMI) 3,1 3,3 3,4

    Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e Banco Central. Para 2001, previso dos autores, com base nosresultados at a metade do ano.aPreviso.bInclui o dficit primrio do Banco Central.cDiferena entre os resultados acima e abaixo da linha. Um valor positivo indica aumento das NFSPs.d(-) = Supervit.

    22 Texto para Discusso n 91

    19 Quando o acordo de 1998 com o FMI foi renegociado depois da desvalorizao, ainda havia muitaincerteza sobre a desvalorizao, os futuros nveis da inflao e, conseqentemente, o valor das taxasde juros e o dficit nominal em 1999. Em virtude dessa incerteza, o acordo foi assinado usandocomo critrio de desempenho o piso para o dficit primrio em vez de teto para o dficit nominal, comohabitualmente estabelecido por programas do FMI.

  • c) a renegociao das dvidas dos estados, obtida mediantegarantia associada transferncia de fundos federais aos es-tados, o que conferiu ao governo federal os instrumentos legaisnecessrios para zelar pelo cumprimento dos termos negociados(em resumo, todos os nveis de governo teriam forosamente defazer ajustes, j que no poderiam mais contar com pacotes de ajudado Tesouro);

    d) a aprovao da Lei de Responsabilidade Fiscal, inspiradana legislao da Nova Zelndia, que estabelece padres de compor-tamento para diversos nveis de governo e define tetos para os gastosde folha de pagamento em diversos segmentos do setor pblico;

    e) a privatizao de diversos bancos estaduais que nopassado eram usados como fontes locais e alternativas para ofinanciamento do Tesouro de diversas localidades; e

    f) a privatizao da maioria das companhias mantidas empropriedade dos governos estaduais, tradicionais fontes de pre-juzos.

    A adoo de metas de inflao representou uma mudanafundamental na conduo das polticas brasileiras.20 O compro-misso com a estabilidade j no pode ser visto como uma figurade retrica usada em discursos oficiais, j que a mensagem paraos agentes econmicos ressoa com enorme clareza: o governo devefazer tudo ao seu alcance para atingir as metas inflacionrias.Alm disso, as metas estabelecidas foram especialmente rgidas,j que determinadas com antecedncia de mais de dois anos, edesprovidas de margem para ajustes a meio caminho. As metasdefinidas para o perodo 1999/2001, baseadas no IPC comopadro de referncia, foram, respectivamente, de 8%, 6% e 4%,com margem de erro de 2 pontos percentuais por ano, seja paracima ou para baixo.

    A confiana no novo regime tambm depender do progres-so no campo dos ajustes externos. Um passo importante j foidado nessa direo: o dficit em conta corrente caiu de US$ 34bilhes em 1998 para uma mdia de US$ 25 bilhes no perodo1999/2001 (Tabela 4). A vulnerabilidade aos fatores externosdepender da permanncia de grande parte dos fluxos deinvestimento externo direto, que, depois de chegarem a umamodesta quantia de apenas US$ 1 bilho por ano no perodo1980/94, subiram para uma mdia anual de US$ 13 bilhes noperodo 1995/98 e atingiram o dobro dessa cifra no perodo1999/2001.

    Texto para Discusso n 91 23

    20 Para uma defesa das metas de inflao, ver Mishkin (1999).

  • 5. Os Choques de 2001: Turbulncia de Curto Prazo ou o Ocaso de um Suposto Modelo?

    A economia brasileira chegou ao final de 2000 em grandeforma. A meta inflacionria foi atingida, o crescimento do PIBbateu nos 4,4%, a produo industrial deu um salto de mais de7% no ltimo trimestre, as taxas de juros do real caram pelosegundo ano consecutivo e os investimentos deram fortes sinaisde recuperao. Animado com o desempenho, o governo afirmouque as reformas tinham finalmente dado frutos e que o Brasilpairava no limiar de um perodo de crescimento sustentvel, comtaxas que girariam entre 4,5% e 5,0%. O bom desempenhoeconmico tambm se refletiu no ndice de aprovao popular dopresidente, aumentando as chances do governo nas eleiespresidenciais de 2002.

    Contudo, as condies favorveis no duraram muito.Aps um primeiro trimestre promissor, a economia comeou aenfrentar grandes dificuldades, tanto internas como externas.Primeiro, houve o aprofundamento da crise da Argentina, seguidapela sbita guinada para baixo da economia dos Estados Unidos,acontecimentos que reduziram o fluxo de capitais para a AmricaLatina e restringiram o mercado para as exportaes brasileiras.Seguiu-se a crise energtica, que atingiu o pas no segundotrimestre de 2001. A pior seca dos ltimos 70 anos (cerca de 90%da energia brasileira gerada por hidreltricas), as deficinciasna regulamentao e os baixos ndices de investimento foraramo governo a racionar a eletricidade para evitar interrupes nofornecimento de energia. Finalmente, no terceiro trimestre houve

    Tabela 4Dficit em Conta Corrente 1994/2001

    (Em US$ Milhes) 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    1 Balana Comercial 10.843 -3.353 -5.556 -8.365 -6.591 -1.203 -697 1.000

    1 Exportaes 43.544 46.506 47.747 52.989 51.140 48.011 55.086 58.000

    1 Importaes 32.701 49.859 53.303 61.354 57.731 49.214 55.783 57.000

    2 Servios -14.743 -18.600 -21.044 -27.289 -28.799 -25.885 -25.705 -26.000

    2.1 Juros -6.337 -8.158 -9.173 -10.390 -11.948 -15.270 -15.088 -15.000

    2.2 Lucros e Dividendos -2.566 -2.790 -2.821 -5.749 -7.305 -4.099 -3.590 -4.500

    2.3 Outros Servios -5.839 -7.652 -9.050 -11.150 -9.546 -6.516 -7.027 -6.500

    2.3.1 Viagens -1.181 -2.420 -3.594 -4.377 -4.146 -1.460 -2.086 -1.500

    2.3.2 Transporte -2.441 -3.200 -3.480 -4.514 -3.259 -3.096 -3.307 -3.500

    2.3.3 Seguros -132 -122 -64 74 81 -128 -4 0

    2.3.4 Governo -327 -339 -275 -350 -385 -498 -549 -500

    2.3.5 Outros -1.759 -1.572 -1.637 -1.983 -1.837 -1.334 -1.081 -1.000

    3 Transferncias Unilaterais 2.588 3.974 2.899 2.216 1.778 2.032 1.796 1.500

    Conta Corrente -1.312 -17.979 -23.701 -33.438 -33.612 -25.056 -24.606 -23.500

    Memo: Investimento Externo Diretoa 934 2.569 9.966 15.516 22.619 26.888 30.812 18.000

    Fonte: Banco Central. Para 2001, previso dos autores, com base nos resultados at a metade do ano.aPortlio no includo.

    24 Texto para Discusso n 91

  • o ataque terrorista contra os Estados Unidos, que lanou aeconomia mundial, especialmente os mercados emergentes, numestado de grande confuso. Para os pases em desenvolvimento,esse foi mais um golpe a diminuir as perspectivas de exportar eatrair fluxos de capital.

    No tardou para que essa combinao de eventos tivesseum efeito dramtico nas taxas de cmbio. A perspectiva de dimi-nuio dos fluxos de capital e baixas exportaes, em um pasque tem obrigaes externas relativamente altas, provocou umareviravolta nas expectativas e a segunda grande desvalorizaodo real. A desvalorizao entre dezembro de 2000 e novembro de2001 atingiu 30%, o que gerou pelo menos trs efeitos bastantegraves. Em primeiro lugar, como o setor pblico tinha, no finalde 2000, dvidas denominadas em dlar (dvida externa mais osttulos nacionais indexados em dlar), que correspondiam a 20%do PIB, o ndice de endividamento pblico sobre o PIB disparou,apesar do ajuste fiscal feito pelo governo. Em segundo lugar, ainflao ressurgiu, empurrando a taxa de 12 meses acima dameta do Banco Central. Em terceiro lugar, como resultado disso,o Banco Central foi obrigado a elevar as taxas de juros, revertendoa tendncia de queda to arduamente perseguida desde o inciode 1999. Com a deteriorao dos fundamentals, a economiaentrou em paralisao. A taxa de crescimento do PIB caiu de 4,5%(a.a.) no primeiro trimestre para 1,8% no segundo.

    Em vista desse cenrio, a oposio no tardou a apontarpara fatos indiscutveis como as baixas taxas de crescimento, osgargalos de distribuio energtica, a inflao e as taxas de juroscrescentes, o dficit em conta corrente prximo a 5% do PIB e,apesar do penoso ajuste fiscal, o aumento da dvida pblica amais de 50% do PIB. Exposta a essas crticas, a popularidade dopresidente voltou a cair, ao mesmo tempo em que as pesquisasindicaram um fortalecimento da liderana dos candidatosoposicionistas na corrida presidencial de 2002.

    Entretanto, ao avaliar as conseqncias no imediatas dasegunda maxidesvalorizao, no h razo para pessimismo.Como a desvalorizao de 1999 indicou, a nova poltica econmi-ca brasileira tem a flexibilidade necessria para suportar choquesexternos sem prejuzo significativo das perspectivas de longoprazo. Assim, pode-se imaginar, dentro dos limites do provvel edo razovel, que nos prximos dois anos a economia superargradativamente as dificuldades atuais. Tal afirmao se baseiana admissibilidade das seguintes premissas:

    a) a crise energtica dever acabar em 2002 como resulta-do de uma srie de fatores, como o fim de um perodo de seca derara durao, a atual expanso dos investimentos em energiafeitos pelo governo, a mudana da regulamentao e o aumentodos investimentos privados em usinas termeltricas;

    Texto para Discusso n 91 25

  • b) a taxa de cmbio vai se equilibrar ou o real vai se valo-rizar quando a Argentina reprogramar (voluntria ou involunta-riamente) os pagamentos da sua dvida, os investidores venceroo pnico que geralmente se segue a eventos dramticos como osataques terroristas nos Estados Unidos e o processo de ajuste naconta corrente do Brasil ser potencializado ao mximo;

    c) a estabilizao da taxa de cmbio e os supervits oramen-trios primrios que hoje se aproximam de 3% do PIB levaro adinmica da dvida pblica de volta a patamares sustentveis; e

    d) como ocorreu em 1999, a inflao responder ao con-trole mais rgido da poltica monetria e se enquadrar nas metasestabelecidas pelo governo nos prximos anos.

    Nesse contexto, um fim prematuro e wagneriano para asnovas polticas est longe de ser algo inelutvel, como sugeremos crticos. A nosso ver, as dificuldades atuais refletem uma gravee, em certa medida, inesperada deteriorao do ambiente externo,mas o novo regime tem todas as armas para combat-la.Analisando mais detidamente a situao recente e os eventos quesucederam os choques do incio dos anos 80 e 90, conclui-se quepor hora os danos perspectiva de crescimento econmico foramrelativamente pequenos. Se o prximo governo reafirmar seucompromisso com as polticas atuais (isto , austeridade fiscal,metas inflacionrias e flutuao da taxa de cmbio) e continuara executar a pauta de reformas microeconmicas e institucionais(ver a prxima seo), a economia tem todas as condies deretomar taxas de crescimento sustentveis de 4,5% a 5,0% anuaisassim que o cenrio internacional mostrar melhoras. Nesse pa-norama, a inflao declinaria gradativamente at atingir nveisinternacionais, a vulnerabilidade a choques externos seria miti-gada pelos benefcios da desvalorizao sobre a balana comerciale as taxas de juros e o ndice de endividamento sobre o PIBreassumiriam uma curva descendente.

    6. Futuros Desafios

    Mesmo que o pas parea estar em boas condies paraatravessar as dificuldades atuais, seria um erro afirmar que adcada de 90 esgotou a agenda de crescimento do Brasil. H pelomenos dois grandes desafios a enfrentar. Em primeiro lugar, esta necessidade de consolidar o novo regime de polticas macroe-conmicas. Pode-se mencionar, por exemplo, a necessidade deestender os ajustes fiscais a fontes de receita no temporrias,como os impostos ad hoc, e a falta de um banco central indepen-dente que tenha a atribuio clara de amparar a moeda e com-bater a inflao.

    26 Texto para Discusso n 91

  • Em segundo lugar, esto as importantes reformas micro-econmicas e institucionais com relao a investimentos, produ-tividade e exportaes, essenciais para a criao de um cenriode crescimento sustentvel. J foram feitos avanos em algumasdessas reas: a taxa de investimentos, que na primeira metadedos anos 90 ficou abaixo de 15% (preos de 1980), subiu para19% em 2000; a produtividade total dos fatores, que diminura2,4% anuais em mdia no perodo 1980/91, exibiu um cresci-mento de 1,7% nos anos compreendidos entre 1991 e 2000[Bacha e Bonelli (2001)]; e as exportaes, como mencionado naSeo 2, depois de um desempenho sem brilho na dcada inteira,mostraram sinais de recuperao aps a desvalorizao de 1999.Contudo, a probabilidade de consolidar ou mesmo aumentaresses ganhos seria muito mais forte se as reformas estruturais einstitucionais fossem aprofundadas e expandidas para reascomo o mercado de trabalho e os sistemas fiscal e judicirio.Trata-se de um elenco de desafios conhecido como a segundagerao de reformas.

    Com relao ao investimento, restam poucas dvidas so-bre o longo caminho que o pas tem a percorrer. De acordo comcertas estimativas, o nvel de investimento deveria aumentar para23%/24% do PIB a fim de que a economia retomasse taxas decrescimento anuais de aproximadamente 5%. Em vista das res-tries do balano de pagamentos, qualquer onda de investimen-tos teria de ser financiada pela expanso da poupana interna,baseada no apenas em uma firme atitude fiscal (j existente),mas tambm no aumento das economias privadas. Essas econo-mias s podem ser beneficiadas por novas reformas no sistemade seguridade social e pelo fortalecimento e aprofundamento domercado financeiro. As dcadas de alta inflao e um sistemajurdico deficiente, que no protege os direitos dos investidores,reprimiram o papel do setor financeiro como mobilizador ealocador de recursos [Pinheiro e Cabral (1998)]. H indciosabundantes de que as firmas no Brasil sofrem restries finan-ceiras, o que prejudica sua capacidade de investir e crescer[Thomas (2000)].

    No que diz respeito produtividade, a pauta ainda extensa e inclui a liberalizao do comrcio, a privatizao e adesregulamentao. Mas parece improvvel que esses fatoresisolados sejam suficientes para manter o crescimento das taxasde produtividade no ritmo da dcada de 90. A desregulamentaodo mercado de trabalho parece ser a maior fonte de ganhosfuturos, alm da capacitao da fora de trabalho, rea em que oBrasil apresenta defasagem mesmo em relao aos padres lati-no-americanos [Ranis e Stewart (2001)]. Ao que tudo indica, ostrs maiores benefcios a serem obtidos com investimentos maio-res e mais eficientes na rea de treinamento e educao so: aacelerao do processo de modernizao; a preparao paramigrar para setores mais produtivos onde se faz uso intensivo de

    Texto para Discusso n 91 27

  • tecnologia, com conseqncias positivas para a economia comoum todo; e a reduo da desigualdade, que sempre foi a marcamais negativa na evoluo da economia brasileira.

    Quanto ao desempenho das exportaes, a continuidadedo impulso gerado aps a desvalorizao de 1999 dependerquase totalmente da habilidade de o governo promover investi-mentos em infra-estrutura, levar a cabo a reforma fiscal e forne-cer aos exportadores melhor apoio institucional e acesso maisamplo ao mercado. No caso da infra-estrutura, como mencionadoantes, a privatizao das empresas estatais na segunda metadeda dcada de 90 representou um progresso considervel. Masainda h muito a fazer, especialmente nas reas de energia (comodemonstra a seriedade da crise atual) e de transporte. impe-rativo reformar o sistema fiscal, cujas caractersticas atuaispenalizam os produtores com impostos cumulativos. O aprofun-damento financeiro tambm se destaca, como condio-chavepara estimular a exportao pelas pequenas e mdias empresase para garantir a sobrevivncia de firmas em setores como o dobens de capital de alto valor por unidade, onde os concorrentesestrangeiros contam no apenas com mercados de capital maisavanados, mas tambm com agncias de crdito para a expor-tao patrocinadas pelo Estado.21

    Do ponto de vista institucional, a exportao uma ativi-dade em que o acesso a informaes sobre oportunidades denegcios essencial. Nesse sentido, o apoio do governo dis-seminao de informaes constitui uma poderosa ferramentapara a promoo das exportaes. Algumas iniciativas j cami-nham nessa direo, tal como a recentemente fundada Agnciade Promoo s Exportaes (Apex). Mas, se compararmos essasiniciativas com o que foi feito na sia, concluiremos que ainda hmuito cho pela frente. H tambm a questo do acesso aomercado, que ser debatida em negociaes cruciais tanto peloatual governo como pelo prximo, especialmente no que se refere agricultura e s aes antidumping, e tambm da inserodessas questes no contexto do Mercosul, da rea de LivreComrcio das Amricas (Alca), da Unio Europia e da OMC.

    7. Comentrios Finais

    Nas duas ltimas dcadas, o desempenho econmico doBrasil ficou muito aqum de seu potencial e de sua tradiohistrica. A taxa de crescimento do PIB atingiu em mdia 1,5%ao ano entre 1981 e 1990 e 2,7% nos 10 anos seguintes, em fortecontraste com as taxas de mais de 7% ao ano dos 30 anos

    28 Texto para Discusso n 91

    21 Para uma discusso sobre o financiamento de exportaes no Brasil, ver Sucupira e Moreira (2001).

  • precedentes. No incio dos anos 90, contudo, o pas adotou umaabrangente pauta de reformas favorveis ao mercado, numatentativa de recuperar o antigo dinamismo econmico. Histori-camente, essas reformas podem ser divididas em trs perodos:

    a) No primeiro (1991/94), o Brasil abandonou o tradicionalregime de substituio de importaes, abrindo a economia eprivatizando firmas industriais. A economia reagiu positivamen-te, mas a alta inflao barrou os ganhos de eficincia e o cresci-mento.

    b) No segundo perodo (1995/98), a primeira adminis-trao de Cardoso avanou mais um passo ao levar o programade privatizao ao setor de infra-estrutura e ao conter a inflao,que caiu de 5.000% ao ano para aproximadamente 2% em 1998.Entretanto, a demora em adotar o regime de flutuao da taxa decmbio e a falta de disciplina fiscal levaram ao aumento do dficitfiscal e em conta corrente, o que tambm comprometeu o cresci-mento.

    c) No terceiro e ltimo perodo (a partir de 1999), adotou-seum novo conjunto de polticas macroeconmicas, baseado emconteno fiscal, metas de inflao e flutuao da taxa de cmbio.Pela primeira vez desde o incio das reformas, o Brasil conseguiualiar as reformas estruturais profundas a uma poltica macroe-conmica adequada. Essa combinao, que h tanto tempo sefazia necessria, animou as esperanas de que o crescimentosustentvel era um objetivo ao alcance do pas. Essas expectati-vas foram confirmadas inicialmente por uma taxa de crescimentode mais de 4% do PIB em 2000. Contudo, aps uma srie dechoques externos e internos, a recuperao foi interrompida em2001 e muitos passaram a questionar a capacidade de o novoregime de polticas cumprir a promessa de crescimento.

    A sucesso de choques a escassez de energia, a crise daArgentina e a pior recesso mundial desde a dcada de 70 foium duro golpe para a economia brasileira, principalmente seanalisarmos indicadores como o ndice de endividamento pblicosobre o PIB e o dficit em conta corrente. No entanto, comomostrado pela crise cambial de 1999, o novo regime de polticasest plenamente equipado para lidar com problemas de curtoprazo, como os causados pelos choques externos. Ademais, paraavaliar as implicaes de reformas abrangentes como as dadcada de 90 preciso enxergar alm dos choques. Pode-se, porexemplo, traar um paralelo entre essas reformas e as realizadasem meados da dcada de 60, sob os auspcios do Plano de AoEconmica do Governo. Em ambos os casos, foram feitas mudan-as h muito necessrias tanto no mbito das polticas econmi-cas como no mbito institucional. As reformas dos anos 60abriram caminho para o assim chamado Milagre Econmico(1968/73), um perodo de crescimento rpido e nunca depoisequiparado pelo pas. De modo anlogo, ao desfazer os gargalos

    Texto para Discusso n 91 29

  • formados depois de dcadas de isolacionismo comercial e incriamacroeconmica, as reformas da dcada de 90 podem ser reco-nhecidas futuramente como o elemento que abriu caminho paraum novo ciclo de crescimento acelerado.

    Apesar disso, o resultado ainda depende da habilidade eda vontade poltica do prximo governo (2003/06) para reafirmaro compromisso do pas com o livre comrcio e com o novo regimemacroeconmico. Isso implicaria no somente a manuteno dostatus quo, mas tambm a implementao de medidas parareforar os aspectos institucionais do novo regime, e exigiria umesforo para executar a segunda gerao de reformas, estimu-lando o investimento, a produtividade e as exportaes trselementos-chave para o crescimento sustentvel.

    Em uma anlise mais ampla, pode-se dizer que o Brasilest na encruzilhada entre o crescimento e a estagnao. Por umlado, o pas passou por reformas favorveis ao mercado, queabriram caminho para uma recuperao sustentvel. Por outrolado, certos erros na conduo das polticas, especialmente nosmbitos fiscal e cambial, e uma sucesso de choques externosfizeram com que os resultados tardassem a aparecer, es-pecialmente em termos de crescimento. Essa demora produziuuma certa fadiga do processo de reformas, que minou o apoiopoltico dado ao novo regime de polticas e, mais do que isso, segunda gerao de reformas, importantes para a consolidaodos feitos da dcada de 90. Se, apesar do cansao, a tendnciaem prol das reformas prevalecer em 2003, a dcada de 90 poderpassar histria como aquela em que se construram as fun-daes para um longo perodo de prosperidade. Mas, se os crticostriunfarem, talvez seja vista como outra dcada perdida.

    30 Texto para Discusso n 91

  • Brasil: Indicadores Econmicos 1993/2001

    1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    PIB (US$ Bilhes)a 429,7 543,1 705,5 775,8 807,7 787,7 528,6 593,8 500,0

    Crescimento do PIB (%) 4,9 5,9 4,2 2,7 3,3 0,2 0,5 4,4 2,0

    Indstria (%) 7,0 6,7 1,9 3,3 4,7 -1,5 -1,6 5,0 1,5

    Agricultura (%) -0,1 5,5 4,1 3,1 -0,8 1,9 7,4 3,0 3,5

    Servios (%) 4,5 1,8 1,3 2,3 2,6 1,1 1,5 3,7 2,0

    Inflao IGP jan./dez. (%) 2.709 1.094 14,8 9,3 7,5 1,7 20,0 9,8 9,0

    Deflator do PIB (%) 1.996 2.240 77,6 17,4 8,3 4,7 4,4 8,5 8,1

    Taxa de Juros Real (%)b 7,1 24,4 25,0 16,3 18,5 26,7 15,3 10,8 10,5

    Desemprego IBGE (%) 5,3 5,1 4,6 5,4 5,7 7,6 7,6 7,1 6,5

    Dficit em Conta Corrente(% do PIB) 0,1 0,2 2,5 3,0 3,8 4,3 4,7 4,1 4,7

    Contas Nacionais (% do PIB,preos atuais)

    Consumo Final 77,7 77,5 79,5 81,0 80,9 80,9 80,6 79,2 n.d.

    Privado 60,0 59,6 59,9 62,5 62,7 62,1 61,7 60,4 n.d.

    Governo 17,7 17,9 19,6 18,5 18,2 18,8 18,9 18,8 n.d.

    Formao Bruta de Capital 20,9 22,2 22,3 20,9 21,5 21,2 20,5 23,0 n.d.

    Investimento 19,3 20,8 20,5 19,3 19,9 19,7 n.d. n.d. n.d.

    Variao de Estoques 1,6 1,4 1,7 1,7 1,6 1,5 n.d. n.d. n.d.

    Bens e Servios No-Fatores 1,4 0,3 -1,8 -1,9 -2,4 -2,1 -1,1 -2,2 n.d.

    Exportaes 10,5 9,5 7,7 7,0 7,5 7,6 10,6 9,9 n.d.

    Importaes 9,1 9,2 9,5 8,9 9,9 9,7 11,7 12,1 n.d.

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 n.d.

    nus Fiscal, ContasNacionais (% do PIB) 25,3 27,9 28,4 28,6 28,6 29,3 31,7 32,0 32,5

    Fontes: IBGE, Ipea e FGV. Para 2001, previso dos autores, com base nos resultados at a metade do ano.aPIB dividido pela taxa de cmbio mdia (real/dlar).bTaxa bruta (Selic). Deflator: IGP centrado. Desde 1995, IPC.n.d. = no-disponvel.

    Apndice

    Texto para Discusso n 91 31

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    34 Texto para Discusso n 91

  • TEXTOS PARA DISCUSSO do BNDES

    76 DESAFIOS DA REESTRUTURAO DO SETOR ELTRICO BRASILEIRO Jos ClaudioLinhares Pires maro/2000

    77 A CRISE BRASILEIRA DE 1998/1999: ORIGENS E CONSEQNCIAS Andr Averbug eFabio Giambiagi maio/2000

    THE BRAZILIAN CRISIS OF 1998-1999: ORIGINS AND CONSEQUENCES Andr Averbugand Fabio Giambiagi May/2000

    78 PREVIDNCIA SOCIAL E SALRIO MNIMO: O QUE SE PODE FAZER, RESPEITANDO A RESTRIOORAMENTRIA? Marcelo Neri e Fabio Giambiagi junho/2000

    79 CRIAO E FECHAMENTO DE FIRMAS NO BRASIL: DEZ. 1995/DEZ. 1997 Sheila Najberg,Fernando Pimentel Puga e Paulo Andr de Souza de Oliveira maio/2000

    80 O PERFIL DOS EXPORTADORES BRASILEIROS DE MANUFATURADOS NOS ANOS 90: QUAIS ASIMPLICAES DE POLTICA? Armando Castelar Pinheiro e Maurcio MesquitaMoreira julho/2000

    THE PROFILE OF BRAZILS MANUFACTURING EXPORTERS IN THE NINETIES: WHAT ARE THE MAINPOLICY ISSUES? Armando Castelar Pinheiro and Maurcio Mesquita Moreira June/2000

    81 RETORNO DOS NOVOS INVESTIMENTOS PRIVADOS EM CONTEXTOS DE INCERTEZA: UMAPROPOSTA DE MUDANA DO MECANISMO DE CONCESSO DE RODOVIAS NO BRASIL JosClaudio Linhares Pires e Fabio Giambiagi julho/2000

    82 REMUNERAO POR GNERO NO MERCADO DE TRABALHO FORMAL: DIFERENAS E POSSVEISJUSTIFICATIVAS Marcelo Ikeda setembro/2000

    83 FUSES E AQUISIES NO SETOR DE TELECOMUNICAES: CARACTERSTICAS E ENFOQUEREGULATRIO Jos Claudio Linhares Pires e Adely Branquinho das Dores outubro/2000

    84 COMO A INDSTRIA FINANCIA O SEU CRESCIMENTO: UMA ANLISE DO BRASIL PS-PLANOREAL Maurcio Mesquita Moreira e Fernando Pimentel Puga outubro/2000

    85 O CENRIO MACROECONMICO E AS CONDIES DE OFERTA DE ENERGIA ELTRICA NOBRASIL Jos Claudio Linhares Pires, Joana Gostkorzewick e Fabio Giambiagi maro/2001

    86 AS METAS DE INFLAO: SUGESTES PARA UM REGIME PERMANENTE Fabio Giambiagi eJos Carlos Carvalho maro/2001

    87 A EXPERINCIA BRASILEIRA DE PRIVATIZAO: O QUE VEM A SEGUIR? Armando CastelarPinheiro novembro/2000

    THE BRAZILIAN PRIVATIZATION EXPERIENCE: WHATS NEXT? Armando Castelar Pinheiro November/2000

    88 SEGMENTAO E USO DE INFORMAO NOS MERCADOS DE CRDITO BRASILEIROS ArmandoCastelar Pinheiro e Alkimar Moura fevereiro/2001

    SEGMENTATION AND THE USE OF INFORMATION IN BRAZILIAN CREDIT MARKETS ArmandoCastelar Pinheiro e Alkimar Moura February/2001

    89 PROCURA DE UM CONSENSO FISCAL: O QUE PODEMOS APRENDER DA EXPERINCIAINTERNACIONAL? Fabio Giambiagi maro/2001

    90 A BALANA COMERCIAL BRASILEIRA: DESEMPENHO NO PERODO 1997-2000 MaurcioSerro Piccinini e Fernando Pimentel Puga setembro/2001

  • BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e SocialAv. Repblica do Chile, 100CEP 20139-900 Rio de Janeiro RJTel.: (0xx21) 2277-7447Fax: (0xx21) 2240-3862

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