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O Brasil Globalizado A Indústria protegida O modelo econômico responsável pelo surgimento de uma economia do tipo urbano-industrial no Brasil foi chamado de substituição de importações. Segundo esse modelo, o governo busca criar condições para que os mais diversos setores industriais sejam instalados no país, que passam a produzir internamente mercadorias que antes eram importadas. No caso brasileiro, esse processo teve início na década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder com uma plataforma política claramente desenvolvimentista, ou seja, que privilegiava a criação de um ambiente propício à modernização por meio da industrialização. Para isso, o governo erguia elevadas barreiras alfandegárias, a fim de assegurar o mercado interno para as indústrias instaladas no Brasil. Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República em 1956, com um governo que se caracterizou, entre outras medidas, pela abertura ao capital estrangeiro. O eixo de seu plano para modernização do país estava na implantação de um parque automobilístico assentado sobre tecnologias transplantadas diretamente dos Estados Unidos e da Europa. Internamente, a base industrial criada nas décadas anteriores, a construção de rodovias e hidrelétricas, a expansão do refino de petróleo e a urbanização propiciavam um ambiente econômico favorável à implantação das modernas fábricas de bens de consumo duráveis. Nessa época, os conglomerados transnacionais estavam multiplicando filiais e abrindo novas fronteiras de investimentos. O Estado brasileiro, por sua vez, atuava no sentido de viabilizar os investimentos externos. Para tanto, liberava as importações de equipamentos e máquinas e criava mecanismos de crédito destinados a expandir o mercado consumidor interno.

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O Brasil Globalizado

A Indústria protegida

O modelo econômico responsável pelo surgimento de uma economia do tipo urbano-industrial no Brasil foi chamado de substituição de importações. Segundo esse modelo, o governo busca criar condições para que os mais diversos setores industriais sejam instalados no país, que passam a produzir internamente mercadorias que antes eram importadas.

No caso brasileiro, esse processo teve início na década de 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder com uma plataforma política claramente desenvolvimentista, ou seja, que privilegiava a criação de um ambiente propício à modernização por meio da industrialização. Para isso, o governo erguia elevadas barreiras alfandegárias, a fim de assegurar o mercado interno para as indústrias instaladas no Brasil.

Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República em 1956, com um governo que se caracterizou, entre outras medidas, pela abertura ao capital estrangeiro. O eixo de seu plano para modernização do país estava na implantação de um parque automobilístico assentado sobre tecnologias transplantadas diretamente dos Estados Unidos e da Europa.

Internamente, a base industrial criada nas décadas anteriores, a construção de rodovias e hidrelétricas, a expansão do refino de petróleo e a urbanização propiciavam um ambiente econômico favorável à implantação das modernas fábricas de bens de consumo duráveis.

Nessa época, os conglomerados transnacionais estavam multiplicando filiais e abrindo novas fronteiras de investimentos. O Estado brasileiro, por sua vez, atuava no sentido de viabilizar os investimentos externos. Para tanto, liberava as importações de equipamentos e máquinas e criava mecanismos de crédito destinados a expandir o mercado consumidor interno.

Os investimos estatais em novos programas rodoviários, energéticos e siderúrgicos asseguravam o fluxo de matérias-primas para as indústrias, bem como a infraestrutura indispensável para a ampliação do consumo. O mercado brasileiro integrava-se ao resto do mundo e oferecia elevadas margens de lucro para os capitais estrangeiros. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) era alavancada pelo crescimento acelerado do setor industrial.

A tríplice aliança

Durante a ditadura militar (1964-1985), a indústria doméstica continuava protegida da concorrência internacional pelas elevadas tarifas de importação. Entretanto, a estrutura produtiva passou a ser dominada por três grandes agentes, sendo por isso

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conhecida como tríplice aliança. Esses agentes eram o capital estatal, o capital privado nacional e o capital transnacional.

O capital estatal predominava nos setores de infraestrutura e de bens de produção, ou seja, naqueles destinados a servir à produção de outros bens ou ao exercício de atividades essenciais à indústria. Assim, surgiram grandes companhias estatais que controlavam setores estratégicos da indústria e da economia brasileira, tais como a Siderbras (na siderurgia), a Eletrobrás (na geração de eletricidade) e Telebras (telecomunicações). Essas companhias ofereciam, a preços inferiores aos de mercado, os insumos e matérias-primas consumidos tanto pelas transnacionais, que mantinham filiais no país, quanto pelas grandes empresas nacionais.

As empresas transnacionais destacavam-se principalmente no setor de bens de consumo duráveis, que se tornou o mais dinâmico da economia brasileira. O setor automobilístico foi o que mais apresentou crescimento no período, acompanhado de perto pelo setor de eletrodomésticos. As empresas transnacionais eram os principais compradores dos bens de produção e da energia produzidos pelas empresas estatais.

O capital privado nacional, por sua vez, dominava o setor de produção de bens de consumo não duráveis, tais como têxteis, alimentos e calçados, que, em sua maioria, exigem menores investimentos em tecnologia.

Essa estrutura garantiu elevadas taxas de crescimento, em especial durante os anos do chamado milagre econômico (1968-1974), nos quais a economia brasileira cresceu a taxas médias anuais de 9%. Infelizmente, a renda nacional estava fortemente concentrada e, por isso mesmo, a maior parte dos brasileiros não usufruiu dos benefícios do crescimento da economia.

ESPAÇO PARA FALAR DA POBREZA

A globalização e a economia nacional

O modelo de industrialização por substituição de importações esgotou-se na década de 1980. As taxas de juros dispararam no mercado internacional, interrompendo os fluxos de financiamento que alimentavam os investimentos estatais. Enquanto isso, a dívida externa, aquela que contraída junto a outros países e com instituições internacionais, aumentava exponencialmente.

A grave crise econômica iniciada em 1988 e a globalização da economia mundial foram os pontos de partida para o surgimento de um novo modelo econômico, que nasceu sem o pilar estatal que durante tanto tempo sustentara a tríplice aliança.

O processo de globalização promoveu a intensificação dos fluxos internacionais de capitais nos mercados financeiros e a abertura das economias nacionais ao comércio

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global. Em toda a América Latina, os projetos de industrialização protegida deram lugar a ajustes destinados a integrar as economias nacionais na nova economia global.

No Brasil, os governos de Collor e Itamar Franco iniciaram a abertura da economia nacional. Em 1991 iniciou-se o Programa Nacional de Desestatização, com grande participação de capitais provenientes dos Estados Unidos, da Espanha e de Portugal.

No entanto, foi durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), que se consolidou um novo modelo econômico, assentado sobre a liberalização comercial e a atração de investimentos estrangeiros diretos, e cuja implantação representou a desmontagem das estruturas produtivas estatais por meio de um vasto programa de privatizações. Entre 1991 e 1993, o Estado brasileiro vendeu empresas químicas, petroquímicas e as siderúrgicas estatais, como a Usiminas e a pioneira Companhia Vale do Rio Doce – atualmente, uma das maiores mineradoras do mundo.

Desestatização da economia – Relevante?

Após inúmeras vendas, a Petrobras tornou-se o único monumento remanescente da época das poderosas empresas estatais. No entanto, as privatizações não pararam por aí. A terceira etapa, posta em prática durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002) atingiu o cobiçado setor das telecomunicações. As estatais da telefonia foram divididas em empresas regionais e vendidas em disputados leilões.

Dessa forma, o Estado se retirou da tarefa de fornecedor direto de bens e serviços e assumiu as funções de normatização e fiscalização dos serviços públicos, por meio das empresas, agora privatizadas, não deixem de prover os serviços públicos, por meio das agências reguladoras. O objetivo primordial dessas agências é garantir que as empresas, agora privatizadas, não deixem de prover os serviços essenciais com os quais estão comprometidas.

A agência nacional de telecomunicações (Anatel), por exemplo, tem a função de assegurar.

Continua...

Os investimentos externos

A política econômica brasileira adotada na década de 1990 optou nitidamente pela inserção do país nos fluxos globalizados de capitais. Essa opção materializou-se em um conjunto de reformas destinadas a recuperar a capacidade de atração de investimentos estrangeiros.

O Plano Real, lançado em 1994, delineou uma política monetária destinada a estabilizar a economia nacional. Complementado por uma série de reformas

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constitucionais e por uma política fiscal voltada a equilibrar o orçamento público, previa que o Estado deveria arrecadar mais e gastar menos, a fim de garantir a estabilidade da moeda.

A liberalização da economia expressou-se, sobretudo, pela drástica redução do protecionismo comercial. A entrada de produtos estrangeiros a preços competitivos no mercado interno devia gerar um choque de concorrência e estimular a modernização das empresas instaladas no país.

A meta de atrair fluxos de capitais internacionais de fato foi atingida. Os investimentos diretos, que giraram na casa de poucas centenas de milhões de dólares durante a década de 1980, dispararam a partir de 1994. Desde a segunda metade da década de 1990, entre os países subdesenvolvidos, apenas a China recebeu um volume de investimentos superior ao do Brasil.

Parte significativa do imenso ingresso de capitais estrangeiros deveu-se ao programa de desestatização e, em especial, à privatização das telecomunicações. Quando a fase áurea do programa chegou ao fim, no início do século XXI, os investimentos diretos caíram abruptamente, e passaram a se concentrar nos setores financeiro, de comérco e serviços, e também na indústria.

As pressões competitivas sobre as empresas já instaladas no país e a entrada do capital estrangeiro configuraram um ciclo de intensa modernização econômica. Porém, nada disso modificou o panorama de concentração da riqueza que caracteriza o espaço nacional.

Os desafios do comércio exterior

Até a década de 1960, os produtos primários e semimanufaturados dominavam a pauta de exportações do país. Gradativamente, porém, manifestaram-se os efeitos da substituição de importações: na década de 1980, os produtos industriais passaram a predominar na pauta de exportações. No entanto, a partir da metade da década de 1990, os principais produtos exportados voltaram a ser os básicos e semimanufaturados, responsáveis pelo crescimento do comércio externo.

Apesar desse crescimento, o Brasil participa com pouco mais de 1% do total dos fluxos comerciais globais. A explicação para isso é que, em geral, o componente tecnológico das exportações brasileiras é muito baixo. Ampliá-lo é um dos desafios do Brasil contemporâneo.

O intercâmbio multidirecional

O comércio exterior brasileiro é multidirecional: as exportações e importações estruturam-se sobre vários eixos, com o estabelecimento de diversas parcerias. Assim, o Brasil é um global trader, um parceiro global.

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Na condição de global trader, o Brasil está comprometido com a defesa dos princípios do multilateralismo e do liberalismo no comércio internacional. Por isso, participa ativamente das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), combatendo as iniciativas protecionistas das potências econômicas globais.

O Brasil não pertence aos megablocos econômicos mundiais, mas depende dos mercados europeu e norte-americano para expandir as exportações. Incrementar o intercâmbio com os “países continentais” que não pertencem aos blocos da Europa nem da América do Norte é uma estratégia para diminuir a excessiva dependência. A aproximação com os demais Brics é um exemplo dessa estratégia

Falemos do Brics.