o bolchevique # 5

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ANO II - N O 5 - jun/2011 - R$3 O Bolchevique O Bolchevique Frente única x Frente popular S em teoria e direção revolucionárias não há movimento revolucionário UNIVERSIDADES FEDERAIS Derrotar os governistas na Fasubra, Sindicatos e assembleias para derrotar o governo Dilma! ANTIIMPERIALISMO: Passeata em São Paulo denuncia ocupação do Haiti e inter- venção na Líbia Saudação do Revolutionary Marxist Group Saudação do Socialist Fight Luta pelo reconhecimento do status de preso político e pela liberdade para os prisioneiros irlandeses republicanos das garras do imperialismo britânico ATIVIDADE INTERNACIONAL: Festival anual do Lutte Ouvrière na França BOMBEIROS: Nenhum apoio às greves policiais nem defesa da “desmilitarização”. Fim de todas as polícias. Por comitês sindicais e populares de ajuda-mútua e auto-defesa! BANCÁRIOS (SÃO PAULO): Avançar na organização política de base RODOVIÁRIOS (SÃO LUIS): Greve contra os patrões, a mídia, Roseana Sarney, o TRT e a PM “MARCHA DA MACONHA”: Nossa posição sobre as drogas UNIVERSIDADES FEDERAIS: Basta! Eleição para reitor na UFMA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: Fora a PM do campus! CORRESPON- DÊNCIA: O critério do antiimperialismo e o pablismo Dilemas da construção do partido no proletariado fabril + NESTA EDIÇÃO http://lcligacomunista.blogspot.com - [email protected] Caixa Postal 09, CEP 01031-970, São Paulo, Brasil Balanço do Comitê Antiimperialista e polêmica em torno de um velho tema EDITORIAL Pela Reconstrução da IV Internacional, O Partido Mundial da Revolução Socialista - O Bolchevique é uma publicação da Liga Comunista A LUTA PELA CONSCIÊNCIA DA JUVENTUDE E QUEM SÃO SEUS ALIADOS HOJE M anifesto da LC ao Congresso da ANEL e à Plenária Estudantil Nacional Classista e Combativa A LUTA PELA CONSCIÊNCIA DA JUVENTUDE E QUEM SÃO SEUS ALIADOS HOJE

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Frente única x Frente Popular, Greve Bombeiros, ANEL, Drogas, proletariado fabril

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Page 1: O Bolchevique # 5

O Bolchevique No5 - Junho de 2011 1

ANO II - NO5 - jun/2011 - R$3

O BolcheviqueO Bolchevique

Frente única x Frente popular

Sem teoria e direção revolucionáriasnão há movimento revolucionário

UNIVERSIDADES FEDERAIS

Derrotar os governistas naFasubra, Sindicatos e assembleias para derrotar o governo Dilma!

ANTIIMPERIALISMO: Passeata em São Paulo denuncia ocupação do Haiti e inter-venção na Líbia ● Saudação do Revolutionary Marxist Group ● Saudação do Socialist Fight ● Luta pelo reconhecimento do status de preso político e pela liberdade para os prisioneiros irlandeses republicanos das garras do imperialismo britânico ATIVIDADE INTERNACIONAL: Festival anual do Lutte Ouvrière na França BOMBEIROS: Nenhum apoio às greves policiais nem defesa da “desmilitarização”. Fim de todas as polícias. Por comitês sindicais e populares de ajuda-mútua e auto-defesa! BANCÁRIOS (SÃO PAULO): Avançar na organização política de base RODOVIÁRIOS (SÃO LUIS): Greve contra os patrões, a mídia, Roseana Sarney, o TRT e a PM “MARCHA DA MACONHA”: Nossa posição sobre as drogas UNIVERSIDADES FEDERAIS: Basta! ● Eleição para reitor na UFMA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: Fora a PM do campus! CORRESPON-DÊNCIA: O critério do antiimperialismo e o pablismo ● Dilemas da construção do partido no proletariado fabril

+ NESTA EDIÇÃO

http://lcligacomunista.blogspot.com

- liga_comunista@

yahoo.com.br

Caixa P

ostal 09, CE

P 01031-970, São P

aulo, Brasil

Balanço do Comitê Antiimperialista e polêmica em torno de um velho tema

EDITORIAL

Pela Reconstrução da IV Internacional, O Partido Mundial da Revolução Socialista - O Bolchevique é uma publicação da Liga Comunista

A LUTA PELACONSCIÊNCIA DA

JUVENTUDE EQUEM SÃO SEUSALIADOS HOJE

Manifesto da LC aoCongresso da ANEL e àPlenária Estudantil Nacional

Classista e Combativa

A LUTA PELACONSCIÊNCIA DA

JUVENTUDE EQUEM SÃO SEUSALIADOS HOJE

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2 O Bolchevique No5 - Junho de 2011

EDITORIAL

Sem teoria nem direção revolucionárias, não há movimento revolucionário

Em meio a um novo ciclo de expansão e acumulação capitalista após a crise econômica de 2008-2009, acentuou-se a corrida interburguesa pela recapitalização das economias e Estados. A fórmula da capitali-

zação é antiga: por um lado, fazer baixar o custo da força de trabalho para aumentar a produtividade, e por outro, realizar uma nova ofensiva colonialista sobre os povos oprimidos, que teve início na África e Oriente Médio.

A tragédia grega está por completar um ciclo reacionário. Após um breve e convulsivo interlúdio, os partidos conservadores e corruptos que administra-ram a destruição econômica da Grécia após a fusão de sua frágil economia com potências como a Alemanha, através da adoção da moeda única euro-peia, tendem a voltar a governar, pelo ódio que os socialistas (Pasok) que controlam as organizações sindicais e populares conseguiram adquirir tentan-do convencer as massas a pagar pela liquidação praticada na administração conservadora. Isto depois que os trabalhadores gregos conseguiram a proeza, inédita na história da luta de classes, de realizarem em menos de dois anos quase uma dezena de greves gerais. Para se ter uma noção do tamanho da tragédia grega graças a falta de protagonistas revolucionários que derrotem os planos de ajuste, em toda a história do Brasil só tivemos duas greves ge-rais. A primeira, em 21 de julho de 1983, na crise da ditadura militar, contra o arrocho e o desemprego crescente. Mas a paralisação foi parcial, em São Paulo, cidades do interior paulista e no Rio Grande do Sul. No resto do país só houve manifestações nas capitais. A segunda, foi em 14 e 15 de março de 1989, cujas palavras de ordem foram contra o arrocho e pelo “Fora Sarney!” (o mesmíssimo que agora governa o Congresso graças ao PT) que cumpria seus extensos 5 anos de mandato. Foi a maior greve geral do país, quando 15 milhões de trabalhadores cruzaram os braços. Na Grécia, as centrais sindicais são social-democratas e a juventude desempregada que protesta nas ruas sofre uma significativa influência anarquista. Como está provado que nem com protagonismo operário e greves de massa nenhum destes setores é capaz de dar uma saída proletária revolucionária para a crise capitalista, a direita tende a retomar o leme do país e, em nome da recuperação econômica e da ordem social, organizar um recrutamento escravagista da enorme massa de desempregados (regado a xenofobia e patriotismo), provocando uma profunda desvalorização da força de trabalho no país e nivelando por baixo os salá-rios em todo o continente. Enquanto isto, os “empréstimos de socorro” que aprofundarão a dependência tanto da Grécia (US$160 bi) quanto de Portugal (US$ 115 bi) vão direto, sem nem chegar a Atenas, para os bolsos do capital financeiro alemão, inglês e estadunidense, os maiores credores do governo e das empresas privadas gregas.

Logo atrás, mas não muito, estão os outros países da periferia da União Europeia, Portugal, Irlanda e Espanha, qua juntamente com a Grécia são os chamados PIGS, cujo destino econômico, social e político segue o mesmo roteiro trágico.

Apesar das massivas manifestações portuguesas contra os planos de ajus-te que o governo socialista de Sócrates queria lhes impor, a orientação econo-micista politicamente correta do PS e do PCP conduziram as massas para um beco sem saída e reconduziram a direita ao poder.

Os ‘indignados’ espanhóis são uma versão das grevesgregas e da luta egípcia sem o protagonismo operário

Pior ainda é a situação na Espanha, onde o movimento dos “indignados”, adorado pela esquerda revisionista, é apresentado como a versão européia da chamada “primavra árabe”, e o acampamento nas praças espanholas apre-sentado como uma reedição da Praça Tahir egípcia. Tudo isto não passa de cretinismo movimentista, a esmagadora maioria dos “indignados” faz parte de uma juventude vítima do maior índice de desemprego no continente. Sem dispor sequer do protagonismo das greves proletárias gregas e portuguesas, o movimento além de mais impotente que seus pares europeus e africanos, potencia o que há de mais reacionário no anarquismo, o apartidarismo, o apoli-ticismo e até o anti-sindicalismo. Tal movimento, cretinamente embelezado por correntes como o PSTU e a LER, não apenas aponta no sentido contrário ao da organização da luta pela tomada do poder pelas massas, quanto pavimen-ta de forma vertiginosa uma base cultural e social da extrema-direita européia.

Na Irlanda, a situação não é diferente e como fazemos notar em um artigo nesta edição dO Bolchevique, como parte da recolonização do país sob a co-adjuvância do Sinn Féin, está o aumento da truculência das forças britânicas sobre os lutadores republicanos irlandeses.

Sem direções antiimperialistas a “primavera árabe” faci-

lita o avanço da “recolonização democrática” da África e do Oriente Médio

No final de maio, os representantes das oito maiores potências econômicas e políticas do planeta se reuniram para a planificação e reacordo em torno dos rumos que darão para a “primavera árabe”. Os “novos” títeres da Tunísia e Egito levaram US$ 3,5 bilhões dos US$ 40 bilhões que o G-8 deliberou investir para expandir seu domínio na suculenta região do Oriente Médio e África. Como parte deste plano, o Conselho de Segurança (CS) da ONU deverá agir contra a Síria, se Assad não renunciar. Embora o governo de Assad não me-reça a menor confiança das massas que devem organizar uma oposição ope-rária e revolucionária para lutar contra o mesmo, várias fontes independentes internacionais apontam que assim como comprovadamente ocorreu no golpe de Estado em 2002 na Venezuela, boa parte dos assassinatos cometidos con-tra os manifestantes sírios, utilizados para demonizar o governo e justificar a intervenção imperialista, é realizada por agentes da CIA infiltrados no país.

Como parte da repactuação entre os bandidos das grandes potências capi-talistas, o governo russo se candidatou a mediar a capitulação de Gadafi que negocia sua permanência no governo de Trípoli pela balcanização do país, um acordo jurídico de reconhecimento do governo paralelo de Bengasi como legítimo proprietário e negociador das riquezas da Cirenaica, similar ao acordo realizado por Evo Morales com as oligarquias governantes das províncias da chamada meia lua boliviana que passaram a ter o direito de negociar, contra a soberania do país altiplano, a entrega do gás boliviano ao imperialismo.

Esta desenvoltura do imperialismo na manipulação dos acontecimentos só é possível porque o descontentamento popular espontâneo não é canalizado contra os alvos imperialistas ou sionistas, mas sim contra os governos a serem substituídos para o incremento da pilhagem neocolonial pós-crise econômica. Segundo as novas regras imperiais, cedo ou tarde os atuais títeres e sua su-perestrutura burocrática terão de dar lugar a governos mais estáveis, menos corruptos e custosos, mas seguramente não mais democráticos, a fim de per-mitir uma maior drenagem da riqueza destas semi-colônias para as grandes potências.

No Brasil, muitas greves, mas os burocratas sindicais,incluindo os da CSP-CONLUTAS nos Metroviários-SP,impedem a unidade da classe

O governo Dilma está dançando conforme o ritmo mundial e, paralelo ao “ajuste fiscal” de cortes estatais com gastos sociais e salários, vem impulsio-nando agressivamente a nova fase expansiva imperialista no Brasil, fazendo com que toda a espetacular lucratividade que o grande capital obteve na era Lula venha a ser um mero “covert” do banquete oferecido agora por sua su-cessora. Mais neoliberal que Collor, FHC e Lula juntos, para poder saciar o im-perialismo, empreiteiros, banqueiros, multinacionais, latifundiários, pós-crise, em nome de “agilizar as obras da Copa e das Olímpíadas”, Dilma vem reali-zando de forma escancarada a privatização de suculentos nacos do Estado brasileiro, aeroportos, correios e intitucionalizando a corrupção na contratação das construtoras para as mega-obras do PAC.

Todavia, combinados a esta política entreguista está o aumento da expro-priação da classe trabalhadora, com um dos menores salários mínimos da história, a tentativa de congelar por uma década os salários do funcionalismo (PL 549), e para o conjunto, inflação, o estabelecimento do reinado do terror no campo com a aprovação do Código Florestal ao custo dos cadáveres de dirigentes da luta camponesa, seguido pela prisão de mais sete membros da luta camponesa, dentro os quais José Rainha Jr.

Ao contrário da Espanha, o Brasil viu de forma crescente nos últimos dois anos uma captação grande do exército industrial de reserva e o país chegou a marca rercorde de utilização de 85% da capacidade instalada do capital. Os trabalhadores foram pagos não pela lucratividade que criaram mas pelo crescimento do crédito, ou seja, não receberam, apenas comprometeram o seu futuro econômico devendo até a alma de seus filhos para o capital. Não por acaso a taxa de inadimplência anual medida em abril disparou para 21,7%. Em um ano o número de famílias brasileiras endividadas disparou de 58,7% para 64,2%, ou seja, 2/3 das famílias brasileiras estão endividadas ou so-breendividadas. Os aumentos salariais que mal se equipararam à falaciosa inflação oficial no ano passado, festejados como vitórias pelas burocracias sin-dicais de todas as colorações, demonstraram que não passaram de migalhas, tapeação, nos últimos meses. Os gastos principais das famílias proletárias, alimentos, aluguéis e transporte, elevaram-se muito além da “inflação oficial”,

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utilizada como base por governo, patrões e burocratas sindicais para esta-belecer o reajuste das campanhas salariais. Enquanto os salários “subiram” no máximo de 6% no último ano, os alimentos subiram em média 22% e os aluguéis 15%. Ônibus, trens e metrôs foram insultuosamente reajustados no começo de 2011. Os banqueiros e empresários lucram com a elevação dos preços das mercadorias sobre os salários arrochados dos trabalhadores. Mas, cinicamente, os economistas burguesas culpam a “falta de educação financei-ra” e o “enorme consumo” das famílias proletárias pela volta da inflação. A partir de abril, em nome de conter a inflação o governo vem tomando uma sé-rie de medidas como o aumento da taxa de juros para o “desaquecimento” da economia. Este anúncio é um sinal para o empresariado transferir novamente suas apostas da produção para a especulação. Para a endividada família do trabalhador significa que alguém em casa vai perder o emprego e que as con-dições de vida vão piorar.

Tudo isto faz os trabalhadores sentirem uma corrosão vertiginosa do valor dos salários, o que tem garantido já neste primeiro semestre o aumento do nú-mero de greves e lutas sociais em relação ao ano passado. A onda de greves foi aberta pelos operários da construção civil das obras do PAC, e foi seguida pelos metalúrgicos em abril e maio, quando cerca de 40 mil paralisaram a GM, Renault, Volvo, Honda, Volks e outras fábricas menores. Em São José dos Pinhais os operários da Volks paralisaram por quase 40 dias, realizando a greve mais duradoura em toda a história da montadora no Brasil. É importante assinalar que, a exceção da Honda onde a greve se realizou contra as demis-sões (400), nenhuma destas paralizações metalúrgicas tiveram um ganho sa-larial superior à falaciosa inflação oficial. As direções sindicais fizeram a greve para descomprimir o descontentamento proletário com o superendividamento, em meio aos superlucros das montadoras com a venda de carros (+ 4,5% em relação a 2010) com um cala-boca de, em média, 12 mil reais de PLR, que mal dará para pagar as dívidas acumuladas nos últimos meses.

Neste meio, as trabalhadoras terceirizadas da empresa União, lotadas no campus Butantã da USP, entraram em greve contra o atraso de seus salários e tiveram o apoio dos estudantes. A LC que recém ingressou no movimento estudantil daquela universidade e agora luta contra a ocupação do campus pela PM (vide matéria nesta edição), reivindicou que a USP pagasse direta-mente os salários atrasados, efetivasse as companheiras (todas ameaçadas de demissão com a ruptura do contrato USP-União) e que o modo de obrigar a Reitoria a adotar estas medidas era uma greve de todos os trabalhadores da USP, efetivos (que sofreram 271 demissões em janeiro passado) e terceiri-zados, mas a LER-QI que co-dirige o SINTUSP preferiu “fazer mídia” com as terceirizadas e usá-las simbolicamente do que realizar uma unidade efetiva dos trabalhadores da USP.

Também houve greves de professores em Santa Catarina, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Amapá, Rio Grande de Norte, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro por planos de cargos e carreiras e contra o reajuste salarial. Nos transportes, os rodoviários de São Luiz (ver artigo neste “O Bolchevique”), Rio Grande do Norte, e ABC paulista pararam, reivindicando aumento salarial.

Também os ferroviários da CPTM passaram por cima dos sindicatos pe-legos da categoria e impuseram uma greve, assim como os trabalhadores de água e esgoto paulistas puseram contra as cordas a CTB/PCdoB. Ocorre que estas duas categorias haviam se coordenado para uma paralisação ge-ral do proletariado do serviço público estadual paulista juntamente com os metroviários, cujo sindicato renovou a diretoria com a derrota do PCdoB para a chapa PSTU-PSOL(CSOL-CST)-PPS. Havia uma expectativa, maior ainda, principalmente dos novos metroviários, por uma mudança política, principal-mente na luta contra a precarização trabalhista, embora o slogan da chapa era de “negociar de verdade”, apostando em um sindicalismo de resultados e na conciliação mais favorável com a direção tucana da empresa. Apesar do bombardeio midiático anti-greve, a população que amarga a superlotação e a precarização do serviço com os trens quebrando toda hora e todo o dia, tam-bém nutria expectativa de o metrô melhorar com uma vitória dos metroviários na campanha “chega de sufoco”. Em uma assembléia histórica de quase 2 mil metroviários, PSOL e PSTU se articularam para confundir, cansar e desmora-lizar a base, onde o PSTU defendeu a greve e o PSOL foi contra, mas quando a proposta de greve ficou visivelmente majoritária no plenário, o PSTU retira sua proposta dizendo que a categoria estava dividida e assim não dava para aprovar a greve. Mesmo que a divisão fosse de 1000 a favor da greve e os demais contra, nenhuma das últimas greves, nos últimos 20 anos da história da categoria, teve início com uma assembléia de mil operários votando a favor. Ainda assim, PSTU e PSOL justificam sua sabotagem com um argumento de só fazer greve com a unanimidade, uma nova política pelega, de “sindicalismo cidadão”, contrário à democracia operária, da decisão da maioria da assem-bléia. Trairam a maior greve que poderia ter ocorrido no Estado de São Paulo, a própria base da categoria, aos sabespianos, aos ferroviários, aos rodoviários do ABC e ao conjunto da população trabalhadora usuária que desejava uma vitória contra o sufoco.

Neste momento também tem início a primeira greve nacional por tempo in-determinado dos servidores públicos federais contra o governo Dilma, a greve da Fasubra, da qual a LC participa fazendo parte do grupo de Trabalhado-

res de Base da Universidade Federal do Maranhão (ver artigo “Derrotar os governistas na Fasubra, Sindicatos e assembléias para derrotar o governo Dilma!” e os panfletos “Basta!” e “Nestas eleições para reitor...” reproduzidos nesta edição), um agrupamento de oposição à diretoria do Sintema dirigido pela CTB/PCdoB. Por meses os Trabalhadores de Base vêm organizando a indignação do conjunto da categoria contra os péssimos salários, humilhações e a precarização trabalhista na UFMA. Desde o primeiro momento tem ficado claro que para realizar uma greve forte é preciso derrotar as direções gover-nistas dentro do movimento que todo o tempo e por todos os meios tratam de sabotar a greve. Durante a greve, a luta dos Trabalhadores de Base se dá pela disputa do controle do Comando de Greve contra os governistas do Sindica-to e pela unificação do conjunto da comunidade universitária, trabalhadores efetivos e terceirizados, professores e estudantes, cobrindo de solidariedade a paralisação.

Frentes únicas de ação e organização por local de trabal-ho, estudo e moradia para construir a única ferramenta capaz de coordenar a resistência e deter a reação impe-rialista e patronal

Sem partido, sem teoria, sem protagonismo operário, sob um profundo re-trocesso ideológico e sob renovados apetites patronais para elevar a produtivi-dade do trabalho, a contrarrevolução se movimenta no planeta e no Brasil. Por isto, a partir de suas pequenas forças, a LC desenvolveu nos últimos meses um trabalho intenso para construir uma frente única de ação para derrotar a intervenção imperialista.

No Brasil, impulsionamos o Comitê de Ação Antiimperialista para potenciar a luta contra a ocupação militar do Haiti e a intervenção imperialista na Lí-bia (ver artigos sobre as atividades do Comitê nesta edição). Os comunistas constroem frente únicas de ação, defensivas, em meio ao refluxo geral da luta antiimperialista, do avanço da recolonização na África e Oriente Médio e do crescimento das tendências à reação, à xenofobia e ao neonazismo na Europa e EUA. Quando quase toda a esquerda mundial faz coro com Obama e seus contras (como na Nicarágua na década de 80) de Bengasi gritando “Fora Gadafi”, quando a patrioteira vanguarda brasileira já se acostumou com a ocupação do Haiti, um punhado de lutadores antiimperialistas marcharam no centro de São Paulo bradando “Fora já, fora já daqui, Obama da Líbia e Dilma do Haiti!”.

Na Líbia, Síria, Irã e Palestina reivindicamos o armamento da população trabalhadora para lutar contra a OTAN e os agentes imperialistas. Nenhuma ilusão na democratização do domínio imperialista através da falaciosa “pri-mavera árabe”, derrotar os governos pró-imperialistas, revolução permanente contra os governos títeres, as multinacionais, o estado nazi-sionista de Israel e o conjunto da burguesia cipaia. Superar o apoliticismo e o anarquismo que marcam os movimentos “indignados” da Espanha e as greves gerais gregas, que vem pavimentando o caminho da reação. Ocupar as praças, mas também organizar-se contra o patronato e seu Estado nos locais de trabalho, estudo e moradia. Pela construção do partido revolucionário da classe trabalhadora que unifique a juventude trabalhadora, os imigrantes e o conjunto do proletariado pela tomada do poder

Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária e ao mesmo tempo defendem e representam no movimento atual o futuro deste movimento, entendem que o verdadeiro triunfo das lutas operá-rias sindicais não são as conquistas econômicas efêmeras e imediatas, mas a crescente união dos trabalhadores. Nestas jornadas do primeiro semestre no Brasil, esta união foi duramente torpedeada por todas as correntes do movi-mento. Novas jornadas virão no segundo semestre, encabeçadas por catego-rias com tradição de luta como metalúrgicos, bancários, correios e petroleiros. É preciso organizar desde já a vanguarda combativa contra a descoordenação e despolitização das lutas impostas pela burocracia governista e pelega. Sem esta unidade, retarda-se a construção da oposição operária e revolucionária ao governo Dilma. A burocracia sindical sabe disto e os trabalhadores também precisam ter plena consciência que o custo deste retardo é extremamente doloroso. Defendemos assembléias intercategorias, a unificação das campan-has salariais, nenhum apoio às greves do aparato repressivo, que uma vez aprimorado se voltará mais forte contra nossas greves. Sem a unidade e o protagonismo operário nas lutas, a juventude se mostra seduzida por aprofun-dar seu apoliticismo, sua alienação. Por isto, ao mesmo tempo que lutamos incondicionalmente pelos plenos direitos individuais, democráticos, de expres-são (vide artigo “Marcha da Maconha”), também alertamos que é preciso ficar atento e forte para resistir ao avanço da barbarie imperialista, construir uma nova direção, tomar consciência de classe e organizar a luta revolucionária.

Só há um meio para deter a barbárie imperialista que ameaça e salvar o futuro da civilização humana: a construção de uma organização internacional dos explorados a tomada do poder pela juventude trabalhadora e pelo con-junto das massas. Afora isto, tudo mais são ilusões. “A crise de direção do proletariado, que se tornou a crise da civilização humana, somente pode ser resolvida pela Quarta Internacional.” Leon Trotsky

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À Liga Comunista

Li com muita atenção a polêmica da LC com os demais parti-dos de esquerda a respeito da situação da Líbia. O combate da LC se dá em dois planos: primeiro contra os “revisionistas” que veem revoluções em todo lugar, revoluções essas sem direção, sem partido, etc. Considero que a FTLI é a mais extremada ex-pressão desse campo. Chegou até a descrever a formação de sovietes de cabos e soldados na Líbia. O otimismo revolucio-nário é sadio, mas quando passa dos limites vira delírio. Agora que ficou clara a colaboração dos “rebeldes” com o imperialis-mo, faz contorcionismos téoricos para argumentar qua é a favor da “revolução”, mas contra a OTAN. Nesse plano eu concordo com a LC integralmente.

No segundo plano há a luta contra a posição da LBI (“pa-blista”, na minha opinião) que coloca o Kadafhi como um líder progressista e anti-imperialista, sem considerar que o líder “terceiro-mundista” nos últimos anos tornou-se um grande alia-do do imperialismo recebendo inclusive grande quantidade de armamentos do Ocidente. No entanto, considero também um desvio “pablista” da LC realçar supostos fatores progressistas no regime de Kadafhi, como, por exemplo, o índice de desen-volvimento humano da Líbia. Nesse sentido, as posições da LC só se diferenciam na superfície das posições da LBI, sendo as desta mais estusiamadas no apoio a Kadafhi. O artigo da LC cita Trotsky na questão de uma hipotética guerra do Brasil com a Inglaterra em que ele coloca, a meu ver corretamente, que ficaria do lado do regime fascista de Vargas contra a agressão imperialista. Mas vejam bem, ele não precisou “enfeitar” o regi-me varguista e nem apresentá-lo como progressista. Tratava-se tão somente de apoiar a hipotética luta de um país semicolonial contra o imperialismo.

Fausto Barreira, Sociólogo

CORRESPONDÊNCIA

O critério do anti-imperialismo e o pablismoEstimado Fausto,

Em primeiro lugar, queremos agradecer por suas obser-vações acerca da polêmica sobre a Líbia que temos realizado contra diversas correntes políticas através d’O Bolchevique e de nosso Blog. Nos animam suas concordâncias conosco em meio à epidemia revisionista que vê revoluções exatamente onde se manifestam contrarrevoluções.

Quanto à polêmica com a LBI, concordamos que este agrupa-mento embeleza o regime de Gadafi, ressalta supostos aspec-tos nacionalistas do governo líbio, chegando a fazer propagan-da enganosa do mesmo, afirmando por mais de uma vez que “a Líbia não exporta nenhuma gota de petróleo para os EUA”. Como você acertadamente assinalou, trata-se de uma capitu-lação pablista, uma adaptação a um suposto anti-imperialismo de Gadafi, tanto é que não reivindicam um programa operário e revolucionário para a nação africana nem preservam qualquer independência política e menos ainda militar dentro da frente única que reivindicam, logo, deformam a tática da frente única militar convertendo-a em uma frente política com a burguesia gadafista, ou seja, em uma frente popular.

Quanto à crítica que nos faz de também possuir um “desvio pablista” e de “embelezar” o regime de Trípoli vejamos se tem razão: 1) como Trotsky, defendemos incondicionalmente o país oprimido contra o imperialismo, independente do regime político do país oprimido, eis a base de nossa posição política; 2) Toda-via não acreditamos que apenas tomar a posição incondicional ao lado da Líbia na guerra encerra o conjunto de elementos po-líticos que perpassam a questão. No tópico onde assinalamos o IDH líbio que tem como subtítulo “Gadafi, do pan-arabismo ao neoliberalismo”, descrevemos que o regime é produto de medidas de nacionalização da economia do país que resul-taram em melhoria das condições de vida da população. No entanto, como destacamos, estas medidas foram incompletas pela incapacidade da burguesia nacionalista de levar adiante um confronto consequente com o imperialismo. Sem destacar esta oscilação de avanços e retrocessos do regime gadafista não é possível explicar como o mesmo pavimentou o camin-ho da reação atual e abriu os apetites dentro do próprio staff de Gadafi para que dele desertassem proeminentes líderes da atual oposição golpista. Para nós, os “fatores progressistas” do regime Gadafi foram produto das nacionalizações ocorridas até a década de 80, enquanto por sua vez, a política neoliberal do caudilho de Trípoli após o fim da URSS e sob a ofensiva da “guerra ao terror” de Bush, vem dilapidando o conjunto das con-quistas do passado. Se prestar um pouco mais atenção ao texto verá que no final desse subtítulo, ao contrário de embelezar o regime líbio, arrematamos: “O estreitamento cada vez maior das relações entre o caudilho e o imperialismo fez com que Ga-dafi aplicasse planos neoliberais, privatistas, entreguistas que corroem e já destruíram várias conquistas sociais produzidas pela nacionalização dos meios de produção das décadas ante-riores.” (O Bolchevique #3).

Acerca da questão líbia, a confusão entre as nossas posições e as da LBI derivam da observação superficial sobre o fato da esmagadora maioria das organizações possuir um desvio es-candalosamente pró-imperialista, enquanto nós defendemos uma política oposta, todavia salvando o programa trotskista do curso pablista tomado pela LBI que descamba para a colabo-ração de classes com o nacionalismo burguês. Todavia, acha-mos salutar que permaneça atento, com cobranças e críticas, contribuindo para que logo nos primeiros passos de nossa jo-vem organização nos mantenhamos no curso correto da políti-ca marxista revolucionária.

Saudações fraternas, Ismael Costa, pela LC

Entre em contato:CAIXA POSTAL 09CEP 01031-970SÃO PAULO - [email protected] lcligacomunista.blogspot.com

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O Bolchevique No5 - Junho de 2011 5

Dilemas da construção dopartido no proletariado fabril

Caros camaradas,

Estamos enviando a nossa critica ao artigo “Nasce a Liga Comunis-ta”. Esta critica era para ser enviada assim que recebemos a revista “O Bolchevique” dos próprios camaradas da Liga Comunista, ou seja, no mais tardar em novembro.

Isto não foi possível por dois motivos: o primeiro pelo acumulo de tarefas cotidiana do nosso Coletivo e segundo para discutir os pontos polêmicos de nossa critica dentro do nosso Coletivo, ou seja, fizemos um acerto teórico entre nós.

Uma vez resolvida as polemicas entre nós, tomamos a iniciativa de tornar pública essa critica que ora fazemos aos camaradas da Liga Comunista, isso tendo em vista a possibilidade dos diversos grupos, correntes e partidos políticos de esquerda assim como a própria Liga Comunista submeter a Rádio Pião a critica.

O nosso artigo polemiza a questão dos métodos de organização, principalmente a relação entre organização central e organização lo-cal, e partindo daí refutamos a idéia sobre a “crise de direção” tão conhecida entre nós.

Para aqueles camaradas, grupos, correntes e partidos políticos de esquerda que não tiveram acesso à revista “O Bolchevique” de Outu-bro de 2010, estamos enviando em anexo o artigo ora criticado por nós, ou seja, o artigo “Nasce a Liga Comunista”.

Os camaradas logo perceberão que as frases citadas têm referên-cias em nota de rodapé das páginas da revista “O Bolchevique”. No artigo “Nasce a Liga Comunista” que enviamos em anexo as frases citadas foram grifadas por nós, e isso foi comunicado aos camaradas da Liga Comunista.

Aguardamos as criticas dos camaradas.

Saudações Revolucionárias. Rádio Pião.25 de março de 2011

Política de alianças:Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades

Caros camaradas da Liga Comunista, a Rádio Pião tam-bém se preocupa em relação à discussão acerca da cons-trução de um Partido Operário, sendo assim, para nós, to-dos os esforços não teriam sentido se não fossem com o objetivo de contribuir de maneira a capacitar o proletariado

para a construção de forças organizadas em vários níveis e formas para derrocar o poder burguês, destruir o seu Es-tado e substituí-lo pela ditadura do proletariado.

Porém, o nosso Coletivo na situação em que atualmente se encontra ainda não se constituiu como uma organização local. E esse é um ponto essencial que abordaremos ao longo deste documento, ou seja, a forma e o nível em que se encontra a Rádio Pião dentro da organização comunista e as dificuldades na organização de um jornal local com a finalidade de educar politicamente a classe operária e os trabalhadores assalariados em geral.

Sendo assim, uma organização local - sem um centro dirigente - que coloque em movimento outras organizações locais e reúna todas as forças revolucionárias do nosso país com políticas de ações, um programa desenvolvido pela teoria científica do proletariado (com base nas aná-lises de Marx e Engels) e que leve em conta as particu-laridades da realidade do nosso país, ou seja, que leve em conta o desenvolvimento político, econômico e social, evidentemente terá muitas dificuldades em organizar o proletariado, principalmente na atual conjuntura, na qual se constata o refluxo da luta de classes.

Contudo, embora haja alguns agrupamentos políticos que se reivindicam o dirigente central de todas as lutas, ou simplesmente se propõem em realizar essa tarefa, de fato, eles não passam de débeis organizações locais e nada mais.

Essa situação também é constatada pelos camaradas em sua revista, como segue: “(...), as correntes que se reivindicam marxistas estão reduzidas a pequenos agru-pamentos de propaganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias, as únicas que podem liquidar a agonia capitalista”.1 Por outro lado, para os “grandes” partidos de “esquerda” a situação não é muito diferente, pois se constata que a raiz da sua impotência, para a organização da luta de classes no país, se deve ao fato de sequer tentarem a criação de organizações locais e assim aproximarem-se do proletariado no seu local de trabalho, moradia e estudo, uma vez que

“(...) a atividade das organizações socialdemocra-tas locais é a base de toda a atividade do partido”. 2

Portanto, tais partidos na realidade, não se atêm a esse “pequeno detalhe” porque há muito abandonaram a práxis revolucionária no aspecto político, ideológico e organizati-

1. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 07.2. Lênin, Vladimir Ilitch, Nossa Tarefa Imediata, 1899.

CORRESPONDÊNCIA

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vo.3

De fato, pode-se observar a derrota da classe operária e dos trabalhadores assalariados em geral como um fenô-meno a nível mundial. Para chegarmos a essa conclusão, realizamos recentemente em nosso Coletivo, um balanço anual das atividades políticas nas quais atuamos, as re-uniões tiveram a duração de dois dias, e, em nossa análi-se, concluímos que a crise cíclica do capital se prolongará por um período maior, porém a sua saída será dentro dos marcos do regime burguês. Esta conclusão é baseada nas observações das últimas manifestações espontâneas do proletariado, principalmente na Europa, em países como Inglaterra, França, Grécia etc., onde esses movimentos es-pontâneos seguidos da atuação política dos setores de es-querda (meramente economicista, diga-se de passagem) na Europa (e também na América) nos revelam o grande retrocesso no qual o movimento operário se encontra, e isso em nível mundial, tanto no terreno político, quanto no ideológico e organizativo. Ora, enquanto o proletariado se encontrar orientado pelo oportunismo e pelas ideologias burguesas e pequeno-burguesas não será possível um rompimento com a ordem existente, o que somente será possível pela via revolucionária.

Portanto, temos a clareza de que, a Rádio Pião, se en-quadra nestes “agrupamentos de propaganda” citado pe-los camaradas, e, evidentemente, reconhecemos as nos-sas debilidades, mas há de se checar como se encontram de fato as outras “organizações de propaganda” e quais os objetivos que elas pretendem alcançar.

O nosso jornal, entretanto, se apresenta como um Infor-mativo operário, e a impressão que a maioria dos leitores têm (principalmente por parte da “esquerda”) é que esse Informativo apenas se atêm a despertar os companheiros das fábricas para a denúncia econômica. Com certeza já se levantaram algumas vozes afirmando que: “isso é o econo-micismo puro! Há que organizar os operários politicamen-te para a tomada do poder!”. Mas, por outro lado, alguns leitores sugerem para que o nosso Informativo abandone a propaganda comunista e se atenha apenas ao aspecto econômico (assumindo o papel de mera Oposição Sindi-

3. (Por outro lado, no documento dos camaradas, na parte em que citam: “as correntes que se reivindicam marxistas”, tornam o termo muito ambíguo, uma vez que a esquerdalha (mistura de esquerda com canalha) também se reivindicam como marxistas).

cal!), sobre a argumentação de que o papel da propaganda se restringe, apenas, as tarefas do partido. De fato, essas pessoas ignoram por completo o nosso trabalho!!!

O nosso método de trabalho consiste em “ir às massas, vir das massas e retornar às massas”, quando os operá-rios nos enviam suas denúncias econômicas, nós devol-vemos tais denúncias como forma de síntese, indicando que os problemas são comuns a todas as fábricas (e de certa forma aos demais ramos de produção) de maneira a demonstrar as raízes dos problemas através das leis de desenvolvimento da economia capitalista, nas categorias econômicas como salário, lucro, moeda etc.

E, também, desenvolvemos a questão do problema polí-tico das relações sociais de produção no sistema capitalis-ta, o antagonismo entre a burguesia e o proletariado, além de revelarmos a vacilação da pequena-burguesia nesta luta pelo seu lugar de intermediário entre a burguesia e o proletariado, a divisão do trabalho manual e intelectual, entre outros.

Portanto, para mostrar os problemas políticos das re-lações sociais, através das relações de classes é necessá-rio ter uma vasta informação de toda a vida política, econô-mica e social de nossa cidade e para isso seria necessário ter a unificação de todos os revolucionários e o envolvi-mento das massas proletárias neste trabalho em todos os setores da cidade, coisa que ainda está longe de nosso alcance, pois esse trabalho pressupõe não só estar na fá-brica, ou melhor, em um determinado ramo da produção, como é nosso caso, ou estar nesse ou naquele ramo da produção, como nas teleoperadoras o que é o caso dos camaradas, é necessário estar em todos os poros da so-ciedade, e mesmo assim não só em uma cidade ou em um Estado, mas em todo o território nacional para dar uma educação política conseqüente ao proletariado.

O nosso Informativo, todavia, cumpre o papel de agita-dor, propagandista e organizador coletivo: Agitador porque denúncia os abusos econômicos dos capitalistas; Propa-gandista porque esclarece a origem dos abusos econômi-cos, da exploração e opressão da classe dos possuidores dos meios de produção (e consumo) sobre o proletariado.

Propaga que somente através de uma revolução social poderemos suprimir as contradições do capital. E para al-cançar esse objetivo, coloca-se a necessidade da criação de seu partido revolucionário, como instrumento do pro-cesso de assimilação da teoria científica do proletariado, o qual, através de sua vanguarda revolucionária, deverá ser ajudado na construção de forças organizadas para levar à prática a política e o programa da revolução socialista, fundamentado e guiado por sua teoria científica revolu-cionária; Organizador coletivo porque é através do nosso Informativo que temos acesso a outros agrupamentos re-volucionários, o que nos permite aglutinar e selecionar os operários das fábricas de acordo com o seu nível de for-mação política etc.

O método que descrevemos acima permitiu que nos aproximássemos do proletariado de forma a conseguirmos contribuições materiais, financeiras etc. Sendo assim, con-seguimos locais para nos reunirmos, carros para distribuir o material etc., enfim cumprimos a resolução que determi-na que a classe tem que financiar sua própria luta. Portan-to, a Rádio Pião não é meramente uma Oposição Sindical como muitos querem, nem, tampouco, se constitui num partido político. Na verdade, ela tenta se constituir em uma organização comunista local, e como uma organização lo-cal ela necessariamente chegará a um ponto em que não poderá superar suas debilidades, simplesmente porque ela

O grito de batalha do proletariado tem de ser a revo-lução permanante (Marx e Engels, na Mensagem do

CC da Liga dos Comunistas, em março de 1850)

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não está centralizada por um partido, e, por conseguinte, todo o seu esforço poderá no máximo realizar a proeza de uma Comuna de Paris!!!!

É por isso que Lênin insistia que todas as organizações locais que não estão centralizadas por um partido operário a nível nacional, por mais que se esforcem para fazer um trabalho revolucionário não poderão romper com os mé-todos artesanais de luta e organização e junte-se a isso o atraso do movimento operário nos terrenos político, ideoló-gico e organizativo.

Por isso o trabalho de agitação política entre as massas se torna difícil, o que possibilita a compreensão do diag-nóstico feito pelos camaradas sobre a “(...) atividade (po-lítica) que as pequenas organizações abandonaram ou a fazem de modo extremamente atrofiado” 4, esse diagnós-tico serve para a Rádio Pião, como certamente servirá à Liga Comunista.

SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PARTIDO OPERÁRIO1- A ORGANIZAÇÃO CONSPIRATIVA

Os camaradas em seu artigo “Contra o ceticismo, cons-truir o partido... etc.” reivindicam “(...) a luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centraliza-dos, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI” 5, e para alcançar este objetivo indicam como tarefa principal para seus militantes a ne-cessidade do “recrutamento das massas nas lutas, nos lo-cais de trabalho e estudo para a compreensão estratégica da organização política, instruí-las na ideologia comunista ...”6. Esse recrutamento das massas visa à formação de “uma nova geração de quadros operários...” 7 que estarão livres de possíveis deformações revisionistas que é causa principal das “traições da direção” e, que portanto, será a “vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI”.

Para empreender as tarefas acima citadas os camaradas têm em vista simplesmente a organização dos operários da cidade de São Paulo (e mesmo assim refere-se somen-te aos operários do setor fabril, ou seja, no setor de pro-dução do capital e acaba por negligenciar a organização no setor da circulação do capital), desta forma os camara-das buscam retomar a política da LBI em sua origem “da acertada orientação política deliberada na IV Conferência da LBI, tomada cinco anos antes, que orientou o desloca-mento gradual da direção política da corrente de Fortaleza para São Paulo, justificado pelo fato da capital paulista8 ser

a principal cidade operária da América Latina e centro po-lítico nacional”9.

Se for verdade que as organizações locais por não terem a sua coordenação por um centro dirigente, ou seja, por um partido, estarem fadadas em um determinado momento de seu desenvolvimento a não conseguirem romper com suas debilidades como, por exemplo, “a LBI cai na prostração, quando é obrigada a constatar que sua intervenção sobre o revisionismo não surte qualquer efeito político e menos ainda organizativo”10, também não é menos verdade que uma organização local atuando de forma isolada não terá grandes êxitos no trabalho de construção do partido, assim como também no trabalho conspirativo: “Ao completar 15 anos de existência, 200 edições do Jornal Luta Operária e ter se tornado uma referencia política principista na van-guarda de esquerda nacional e internacional, a LBI retro-cedia em direção a converter-se em um organismo mono-celular11”. Ter somente como prioridade a organização de uma determinada cidade por sua importância econômica, política e social é de fato um argumento muito insuficiente.

É verdade que a concentração e centralização do capi-tal se dão numa determinada região, porém os camara-das não levam em conta as modificações na estrutura in-dustrial dentro do Estado de São Paulo e fora dele como conseqüência da luta de classes da década de 80, esse processo é expresso pelos economistas burgueses como “deseconomias de aglomerações”12, na verdade a burgue-sia percebeu o perigo que corria ao ter uma concentração elevada de operários numa mesma região, dessa forma ela descentralizou concentrando a indústria, desde Porto Alegre-RS (onde se encontra a maior concentração da in-dústria) até a cidade de São Bento-RS, subindo o mapa, indo pelo Estado de Santa Catarina (onde a concentração industrial pega toda a faixa litorânea de Florianópolis até Joinville), o Estado do Paraná (onde a principal região fica ao redor da cidade de São José dos Pinhais), e, dentro do Estado de São Paulo, a burguesia dividiu a concentração industrial em dois pólos: Grande São Paulo e Interior (as principais regiões são a de Campinas e a Região de São José dos Campos), continuando, pelo estado do Rio de Janeiro (vai desde a Cidade do Rio até Macaé), pelo Es-tado de Minas Gerais (onde a principal concentração se encontra de Betim a Belo Horizonte) até chegar ao Estado do Espírito Santo. Essa descentralização concentrada foi limitada pela circulação do capital, uma vez que os princi-pais portos, rodovias, ferrovias e aeroportos se encontram na região sudeste-sul.

Como se vê a astúcia da burguesia é bem maior que a nossa, pois ela parece pressentir que não temos a capaci-dade de construir várias organizações locais centralizadas (reparem que não mencionamos nada sobre a organização do proletariado do campo!!) dirigida por um partido operá-rio!!! Aliás, não temos nem uma coisa, nem outra, o que temos na verdade são “pequenos agrupamentos de propa-ganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias”!!

Podemos resumir nosso raciocínio (guardado as devidas proporções) nas palavras de Lênin:

“Nosso movimento, tanto no sentido ideológico como no sentido prático e organizativo, se ressen-te sobre tudo por sua dispersão13, porque a imensa maioria dos social-democratas estão quase total-mente absorvidos por um trabalho puramente local que limita seu horizonte, assim como a amplitude

4. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09.5. Idem.6. Idem, p. 08.7. Idem, p. 098. Grifos RP.9. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09.10. Idem, p. 08.11. Idem, p. 09.12 Os economistas da burguesia estudaram o fenômeno das deseconomias de aglomerações na tentativa de atenuar o problema econômico, político e social que têm origem nas relações sociais de produção capitalista, segundo estes economistas: “(...) os principais itens de deseco-nomias de aglomerações tem-se o sistema de transporte de carga de passageiros, incluindo-se a infra-estrutura viária, o sistema de abastecimento de água e de coleta de esgoto, o sistema de coleta de lixo; além disso, têm-se também os custos sociais de poluição do ar e dos recur-sos hídricos; a elevação do número de acidentes de trabalho; a deterioração dos principais indicadores da ‘qualidade de vida’ na área metropolitana, como a questão do desemprego, da elevada rotatividade da força de trabalho, dos serviços sociais de educação e saúde, aumen-to dos índices de criminalidade e condições de habitabilidade, sem deixar de contar com a desenfreada especulação imobiliária e a distribuição desigual dos custos e benefícios nessas áreas. (...) mais recentemente, a maior organização e mobilização dos principais sindicatos dos trabalhadores metropolitanos tem sido apontada como um problema a mais para as indústrias metropolitanas”. Negri, Barjas, Concentração e Desconcentração Industrial em São Paulo, Edi-tora da Unicamp, p.191. A proposta para tentar resolver estes problemas que são inerentes ao processo de produção capitalista, os economistas propõem a desconcentração das indústrias, essa proposta reformista visa a distribuição de renda e a harmonia entre capital-trabalho como declara abertamente o senhor Wilson Cano da Unicamp no prefácio da obra citada “Mostramos, através da boa doutrina (!!!), que o capitalismo se desenvolve, no espaço, ‘de forma desigual e combinada’, e que tanto a diminuição dos chamados desequilíbrios, quanto a da pobreza, não seriam jamais atenuadas pelo mercado, e sim pela vigorosa ação do Estado.” Idem, p. 07. 13 Grifos R.P.

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de seu campo de ação e sua formação e preparação para o trabalho conspirativo. Precisamente nesta dispersão14 devem buscar-se as raízes mais profun-das da instabilidade e das oscilações de que fala-mos acima”15.

O problema das organizações locais e conseqüentemen-te suas dificuldades para realizar o trabalho conspirativo não é algo novo, Marx e Engels, em seu tempo, também tiveram problemas para unificá-las, principalmente após a derrota das revoluções de 1848

“Ao mesmo tempo, a primitiva e sólida organização da Liga (Comunista) se debilitou de forma consi-derável. Grande parte dos seus membros – os que participaram diretamente do movimento revolucio-nário – acreditava que já havia passado a época das sociedades secretas e que bastava a atividade pública16. Alguns círculos e comunidades foram en-fraquecendo os seus laços com o Comitê Central e terminaram por extingui-los pouco a pouco. Assim, pois, enquanto o partido democrático, o partido da pequena-burguesia, fortalecia sua organização na Alemanha, o partido operário perdia sua única base firme, e conservava a custo sua organização em algumas localidades, para fins exclusivamente locais17 e, por isso, no movimento geral, caiu por completo sob a influência e direção dos democra-tas pequeno-burgueses. É necessário acabar com tal estado de coisas, é preciso restabelecer a inde-pendência dos operários”18.

A história do movimento comunista nos mostra que é necessário criar as organizações locais em várias regiões industriais (além do campo) e não só em uma determinada cidade, se agimos dessa forma teremos, no máximo, os mesmos resultados da Comuna de Paris e, no caso bra-

sileiro, das greves de São Paulo em 1917 dirigidas pelos anarquistas que quase levaram a uma insurreição.

Poderíamos propor a unificação de todos os “pequenos agrupamentos de propaganda sem absolutamente nenhu-ma influência real sobre as massas proletárias” e todos os revolucionários do nosso país para “(...) a luta pela cons-trução de um partido de revolucionários profissionais, cen-tralizados, conspirativo, composto pela vanguarda cons-ciente do proletariado do séc. XXI”, porém, nos parece que há uma “pequena” barreira não só teórica, mas histórica que deveríamos romper, trata-se do caráter do partido. Mas, antes de entrar nesse ponto, achamos que seria ne-cessário fazer um breve relato das experiências dos parti-dos de “esquerda” em nosso país.

2 - A EXPERIÊNCIA DOS PARTIDOS NO BRASIL

Na abertura de seu documento os camaradas fazem uma citação de Lênin, como se segue,

“Nenhuma situação, por cinzenta e pacífica que seja, como tão pouco nenhum período de decaimen-to do espírito revolucionário exclui a obrigatorieda-de de trabalhar pela criação de uma organização de combate, nem de levar a cabo a agitação política; mais ainda, é precisamente em tais circunstâncias e tais períodos que é especialmente necessário o tra-balho indicado porque em momentos de explosão e estouros é tarde para criar uma organização. A or-ganização tem que estar pronta para desenvolver sua atividade imediatamente.”

E, nós acrescentamos,

“(...) se não existe uma organização forte, provada na luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se pode nem sequer falar de um plano de atividades sistemática, elaborado a base de princípios firmes e aplicado com perse-verança que é o único plano que merece o nome de tática”19.

Acrescentamos esta citação porque em nossa opinião nunca houve em nosso país uma organização revolucio-nária com tais características, ou seja, que se esforçassem na “luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizado, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado...”, portanto nós con-cordamos que, “é preciso retomar os bons e velhos méto-dos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os trabalhadores conscien-temente à tomada do poder através da revolução social e instauração de sua ditadura revolucionária.”20 Os parti-dos que se reivindicam como “vanguardas conscientes do proletariado” desde 1922 não passaram e não passam de organizações que atuaram e atuam na base da legalida-de burguesa, atuam de forma a não criar nenhum tipo de constrangimento às classes dominantes, como revelou as eleições burguesas de 2010, “Enfim, nestas eleições tive-mos partido ‘comunista’ defendendo a ‘Reestruturação da Forças Armadas brasileiras’, outros implorando aos capita-listas que não boicotassem a sua participação no processo eleitoral.

E mais, houve até partido de ‘esquerda’ defendendo

14 Idem.15 Lênin, Vladimir Ilitch, Por onde Começar? Maio de 1901. 16 Grifos R.P.17 Idem.18 Marx e Engels, Mensagem do Comitê Central a Liga dos Comunistas, Obras Escolhidas, vol. I, p. 8319 Lênin, Vladimir Ilitch, Por onde Começar? Maio de 1901.20 O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09..

Capas de edições do Informativo Operárioda Rádio Pião em 2010 e 2011

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abertamente que sua participação nas eleições seria – apenas – para propagandear as ‘possíveis’ reformas den-tro do sistema capitalista! De fato, estes partidos ‘revolu-cionários’ mostraram como sabem se adaptar com maior ou menor submissão às medidas burguesas. Contudo, os partidos de ‘esquerda’, para legitimar a participação nas eleições, dizem que o proletariado ainda acredita na luta parlamentar e por isso disputam cegamente uma ‘cadeirin-ha’ no parlamento.”21 Esse processo de atuação, conforme a legalidade burguesa, é verificado em toda a história dos

partidos e organizações em nosso país que se reivindi-cavam e se reivindicam como “marxista-leninista”, porém não tinham e não têm, como princípio, a estruturação de organização de partido como os clássicos nos ensinam, de forma a fazer um trabalho que combinasse o ilegal com o legal, a usar as instituições abertas para camuflar as ativi-dades da organização clandestina etc.

Por isso, os partidos e organizações sucumbiram diante das “explosões e estouros” que ocorreram no período de Getúlio Vargas e no Golpe de 1964, e, em seguida, caíram na clandestinidade, não como uma concepção de organi-zação de partido, mas simplesmente por contingência. E mais, essa clandestinidade não visava organizar o proleta-riado para derrocar o poder burguês e destroçar o seu Es-tado para substituí-lo pela ditadura do proletariado, muito que pelo contrário, visavam as “liberdades democráticas” do regime burguês!!! É evidente que os resultados dessas táticas recaem sobre os ombros do proletariado criando o terreno para o atraso ideológico, político e organizativo, uma vez que permitiu o surgimento do Partido dos Tra-balhadores que foi tanto em sua forma como no conteúdo uma corrente liquidacionista22 e contra-revolucionária. As-sim como o é PCB, PSTU, PSOL e consortes.

Desta forma reafirmamos que em nosso país nunca existiu

“...uma organização forte, provada na luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se pode nem sequer falar de um plano de ativi-dades sistemática, elaborado a base de princípios firmes e aplicado com perseverança que é o único plano que merece o nome de tática”.

Não temos nenhuma tradição no trabalho clandesti-no porque nunca tivemos um partido que fosse moldado conforme as concepções do socialismo científico. Temos a obrigação de preparar a revolução, ou seja, preparar o proletariado (principalmente o proletariado do setor in-dustrial) para executar com êxito a política de sua luta de classe e seu programa revolucionário socialista, para isso necessita munir-se de sua teoria revolucionária científica e de seu partido revolucionário. São essas as condições subjetivas básicas para que o proletariado possa domi-nar o conhecimento científico necessário para conhecer a realidade objetiva, a sociedade brasileira, sem a qual não poderá transformá-la. Ademais, sem tais condições subje-tivas, particularmente o partido, não conseguirá construir os instrumentos de forças vitais para assestar duros gol-pes à dominação capitalista e desencadear as lutas que o

enfrentamento de classe exige para por fim a essa domi-nação, tomar o poder político, através da revolução violen-ta, destruir o Estado burguês e instaurar o socialismo.

Depois desta exposição é notável o diagnostico da misé-ria em que nos encontramos após quase 90 anos da fun-dação do Partido Comunista, além da indigência que se encontra o marxismo em nosso país.

3 - PROPOSTA PARA A DISCUSSÃO DO PARTIDO E SUAS LIMITAÇÕES

Em todo o documento dos camaradas são tratadas as questões essenciais sobre a construção do Partido, da qual temos plena concordância, mas é ao mesmo tempo limitada porque somente são considerados “verdadeiros revolucionários” aqueles que reivindicam o legado de Leon Trotsky. Aliás, nos parece que os camaradas afirmam que Trotsky é o verdadeiro herdeiro de Lênin após seu des-aparecimento. Mas, de uma forma geral, em que consiste a argumentação das correntes que reivindicam o legado de Trotsky?23 Simplesmente, nesta fórmula: “A inexistên-cia de uma direção revolucionária para a luta das massas se relaciona com a barbárie imperialista de forma dialéti-ca, como causa e efeito. Como Trotsky prognosticara, as condições objetivas para a revolução proletária apodrecem e a humanidade caminha para uma catástrofe”24. O atra-so do proletariado no terreno ideológico, político e orga-nizativo é a conseqüência da falta desta direção por isso “Como em nenhuma época histórica anterior, a carência de uma direção revolucionária do proletariado cobra hoje seu preço”25. Seus princípios são baseados nas teses da “Revolução Permanente” e no “Programa de Transição”, fundaram a IV Internacional e não dirigiram uma revolução sequer!

Até mesmo a LBI, que gozava de um enorme prestigio entre nós, por ser o exemplo da disciplina, da militância correta, da abnegação pela causa do comunismo, caiu em sua própria armadilha e conseqüentemente “a crise da di-reção cobrou seu preço também para a LBI, levando-a a prostração ceticista.”26

Procuramos deixar claro nas nossas analises que não concordamos com tal ponto de vista, e se concordamos com a formulação da “luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizados, conspirati-vo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI. Apropriando-se dos melhores recursos logís-ticos de hoje para levar adiante a tarefa, é preciso reto-mar os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os tra-balhadores conscientemente à tomada do poder através da revolução social e instauração de sua ditadura revolu-cionária”, é simplesmente por tratar-se de uma tática que resultou, até certo ponto, na vitória do proletariado, assim como “os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política”, portanto, será esse o caminho que a Rádio Pião irá trilhar.

Como dito em uma nota, iremos em breve circular uma análise sobre as concepções trotskistas. Evidentemente, sem entrar na questão da personalidade de Trotsky - lado para qual muitas vezes a discussão é encaminhada – ana-lisar seus pontos de vistas teóricos, bem como daqueles que se reivindicam trotskistas, e a influência destas conce-pções no movimento operário.

21 Rádio Pião, Balanço das eleições de 2010.22 A corrente liquidacionista é formada por militantes (e intelectuais) partidários ao desapareci-mento do partido revolucionário e clandestino da classe operária. Geralmente esses militantes (e intelectuais) defendem a criação de um “amplo partido operário”, rejeitam as palavras de ordem revolucionárias para desenvolver exclusivamente atividades legais.23 A Rádio Pião circulará, em breve, uma análise sobre as concepções trotskistas e suas ex-periências no movimento operário.24. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p.07.25. Idem.26. Idem, p.10.

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Resposta da LigaComunista à Rádio Pião e seus leitores,

Para começar, gostaríamos de agradecer aos com-panheiros da Rádio Pião pelo esforço que realizaram por sistematizar vossas críticas ao documento “Nasce a Liga Comunista” (O Bolchevique #1, 10/2010). Agradecemos também a divulgação na íntegra que fizeram de nosso do-cumento, alvo de vossa crítica.

Agora foi nossa vez de dispor de vossa paciência. Com-preendemos o atraso de novembro de 2010 a março de 2011 em nos responderem e agora foi a nossa vez de poder contar com a vossa compreensão. Que fique cla-ro, não se trata de nenhum revanchismo de nossa parte, afinal, o retardo na organização entre os trabalhadores só fortalece aos seus inimigos, mas de acúmulo de tarefas políticas de construção nacional e internacional de nossa organização.

Esperamos deixar claro, a partir da avaliação da “Critica a Liga Comunista” e dos Boletins que possuímos da RP, nossos acordos e diferenças com vossa organização.

Temos pleno acordo que é necessário construir um par-tido operário, que tal partido será instrumento da assimi-lação da teoria científica marxista pelo proletariado e que sua função é derrotar o poder burguês, destruir o seu Es-tado e substituí-lo pela ditadura do proletariado. Acredita-mos que nunca se consolidou no Brasil uma organização forte, provada na luta política tanto em períodos de regi-mes militares quanto democráticos, de ascenso quanto de refluxo do movimento operário, guiada por um plano de atividades sistemáticas, orientadas por princípios progra-máticos e aplicados com perseverança.

Concordamos que a derrota da classe operária e dos assalariados em geral é um fenômeno mundial, que diante do retrocesso em que o movimento operário se encontra, sua resistência espontânea à crise do capitalismo, con-duzida por setores da esquerda economicista resultará numa saída nos marcos burgueses. Acreditamos também “que todas as organizações locais que não estão centra-lizadas por um partido operário a nível nacional, por mais que se esforcem para fazer um trabalho revolucionário, não poderão romper com os métodos artesanais de luta e organização e junte-se a isso o atraso do movimento operário nos terrenos político, ideológico e organizativo.” (Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: proposta

de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificul-dades, 24/03/2011).

Acreditamos que esta organização deva ser conspi-rativa, combinando o trabalho ilegal com o legal, e deve basear-se em uma direção de quadros revolucionários profissionais. Mas nosso ideal de estrutura organizacio-nal não tem como meta que sejamos um ajuntamento de organizações locais dirigidas por um centro dirigente. Seguimos a proposição de Lenin em sua “Carta a um ca-marada”, de 1902, quando propõe a criação de um partido com dois centros dirigentes, um Órgão Central, respon-sável pela publicidade partidária e formação ideológica, e um Comitê Central, responsável pela condução prática e direta de toda uma rede de militantes, simpatizantes e aspirantes, organizados coletivamente em torno das publi-cações partidárias (jornais impressos, órgãos virtuais de publicidade partidária, boletins e panfletos) e distribuídos nas organizações locais, grupos fabris, de difusão da im-prensa, círculos de propagandistas, etc; os quais devem ser compostas por operários, trabalhadores assalariados, por intelectuais e estudantes.

PROVINCIANISMO OU INTERNACIONALISMO

Consideramos como positivo o diagnóstico sincero que a RP faz de si mesma “o nosso Coletivo na situação em que atualmente se encontra ainda não se constituiu como uma organização local” (Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades, 24/03/2011).

A LC é uma liga de propaganda que almeja construir um partido operário e revolucionário, uma seção do partido mundial da revolução socialista. Não alcançaremos este resultado sozinhos, se quisermos fazer isto de forma sec-tária, mas também, tampouco chegaremos a ele se renun-ciarmos aos princípios do marxismo revolucionário para crescer a qualquer custo.

Não entendemos que a construção do partido operário revolucionário deva ser encarada como um produto natu-ral da multiplicação de organizações locais que desembo-carão em organizações regionais, em seguida nacionais e por fim internacionais. Partindo do pressuposto que a nossa classe é internacional, nossa organização busca desde o princípio também ser internacional. O proletaria-do não tem pátria e não devemos declinar destas tarefas pelas limitações idiomáticas, culturais ou fronteiriças que nos separam de nossos irmãos dos outros países. Acre-ditamos que é preciso realizar um trabalho simultâneo de crescimento local e internacional e que a construção das organizações locais deva ter como eixo ordenador a cons-trução da organização internacional, ainda que as particu-laridades regionais influenciem na evolução do organismo que buscamos criar. Entendemos que:

“o movimento social-democrata é, pela sua própria essência, internacional. Isso não significa somen-te que devemos combater o chauvinismo nacional. Significa também, que um movimento iniciado em um país jovem só pode ter êxito se assimilar a ex-periência dos outros países. Ora, para tanto não é suficiente apenas conhecer essa experiência, ou limitar-se a copiar as últimas resoluções. É preciso saber proceder à análise crítica dessa experiência e controlá-la por si próprio. Somente quando se constata o quanto se desenvolveu e se ramificou o movimento operário contemporâneo, pode-se com-preender a reserva de forças teóricas e de expe-riência política (e revolucionária) necessárias para se realizar essa tarefa.” (Que Fazer?, 1902).

Até a aprovação das teses de abril 1917, propostas por

1919, Mesa do I Congresso daInternacional Comunista. Na parede de fundo:

“Viva a III Internacional!” nos idiomas dos delegados

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Lenin, pelo Partido Social Democrata Russo pela fração bolchevique (ou seja, fração majoritária em russo); os co-munistas se chamavam “social-democratas”.

Queremos nos debruçar sobre uma preocupação que também já percebemos nos camaradas da RP. Trata-se das particularidades regionais e como adequar-se a elas superando abstrações mecânicas que não nos servem para a construção do partido nas condições que nos depa-ramos na vida real. Diante do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo precisamos construir um partido mundial dos trabalhadores, construção que, portanto, ten-de a ser de forma desigual e combinada.

Entendemos que as particularidades regionais, produto sumário da desigualdade do desenvolvimento histórico, se combinam para formar a originalidade dos traços funda-mentais da evolução mundial da luta de classes que por sua vez determinam a estratégia revolucionária. Na com-preensão da LC, o internacionalismo jamais deve ser um obstáculo ao esclarecimento das especificidades históri-cas de cada nação. Não sendo uma abstração, o inter-nacionalismo deve ser alimentado permanentemente por estas especificidades. O internacionalismo da teoria da revolução permanente apoia-se na concepção do desen-volvimento desigual e combinado destas especificidades.

Nos opomos à tendência da moda, predominante nos meios altermundistas, de superestimar as particularidades regionais ou nacionais para, em nome de um suposto re-chaço ao eurocentrismo, rechaçar a concepção materialis-ta e dialética da história. Este ataque ao marxismo faz par-te de um conjunto de concepções decorrentes da ofensiva reacionária anticomunista pós-URSS. Mas como superar as abstrações e adaptar-se a cada situação específica da luta de classes sem cair no campo oposto, o de desviar-se da linha revolucionária proletária e internacionalista? Os traços econômicos específicos nacionais, por mais impor-tantes que sejam, constituem em escala crescente os ele-mentos de uma unidade mais alta que se chama economia mundial e que serve, afinal de contas, de base ao interna-cionalismo dos partidos comunistas. A originalidade social, cultural, política e econômica local é a cristalização das desigualdades combinadas da formação de dada região.

Para exemplificar o que estamos tratando, basta recor-dar que o bolchevismo se originou das particularidades de uma Rússia atrasada, onde a democracia burguesa ger-minava de forma completamente atrofiada pela opressão monarquista, e onde ainda mal tinha se escutado falar em sindicatos. Neste terreno, o movimento operário floresceu como movimento político e o partido social democrata criou os sindicatos (de forma similar como na Alemanha). No Brasil, assim como na Inglaterra, o sindicalismo criou o partido. Na Inglaterra, a aristocracia operária, nutrida pelas migalhas que caíam da mesa da pilhagem colonial britâni-ca, só se viu obrigada a criar o partido trabalhista após um século de luta sindical econômica, quando o declínio do colonialismo britânico já não mais garantia os privilégios das camadas superiores do proletariado inglês através da simples luta econômica. No Brasil, após a liquidação po-lítica e organizativa das organizações de esquerda (pela capitulação histórica do stalinismo, pelo estrangulamento físico ao qual foi conduzida a política foquista da maioria de suas dissidências e pela falta de implantação operária do trotskismo) durante a ditadura, as greves dos grandes centros industriais paulistas deram origem a um grande partido trabalhista. Durante a década de 80 este partido serviu como ferramenta da luta para a conquista dos sindi-catos das mãos do peleguismo, através da criação da CUT. Todavia, a consolidação de uma nova aristocracia operária na direção do PT e da CUT, cooptada para cogerir o Es-tado capitalista na redemocratização do regime burguês, cristalizou-se como um instrumento contrarrevolucionário que converte-se no principal partido de sustentação da or-

dem burguesa na era Lula, assegurando estabilidade po-lítica e consolidando uma posição de relativa hegemonia regional em relação às outras burguesias semicoloniais do continente.

O prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida, ex-metalúr-gico e ex-sindidalista, é um expoente desta geração que saiu dos meios operários para administrar pelas vias esta-tais a exploração do trabalho assalariado pelo capital. Há quase uma década e meia de gestão petista no município, articula-se com os governos federais petistas, estaduais tucanos, e principalmente com o empresariado das mul-tinacionais e grandes industriais (Pfizer, Usiminas, Bau-ducco, Levorin, Pepsico, Sew, Continental, Fragon, Cum-mins, Bardella, Morcego, Dyna, Embacape, Tower-Arujá, Gerdau, Lincoln Electric, Valleo, Aché, Maggion, Karina Plásticos, Europa, Rosset, Yamaha, CIA Lilla, Randon, Te-cfil, Infoton Technology, Borlem, ABB,...), empresários dos transportes (Vila Galvão e Campos de Ouro) e o conjunto de grandes comerciantes (Riachuelo, Ponto Frio, Dia) ins-talados na cidade.

Todavia, um dos ingredientes fundamentais desta fren-te única pró-patronal, que garante para os capitalistas o usufruto do 2º maior PIB do Estado, 9º PIB do país (nada menos que 1% da economia nacional, cerca de três de-zenas de bilhões de reais) através da saqueadora explo-ração institucionalizada sobre a população trabalhadora, é o Sindicato dos Metalúrgicos controlado pelos pelegos da Força Sindical. E, para fechar com chave de ouro esta frente antioperária, mantendo tudo em família, a mulher do presidente do Sindicato oferece a possibilidade ao patro-nato de substituir os operários efetivos por terceirizados mais baratos através de sua empresa, a VRS.

Se não tivermos bem clara uma “obsessão” internacio-nalista, estaremos condenados a degenerar de uma forma ou de outra por nacionalismo, regionalismo ou provincia-nismo. Desde o princípio este foi o critério da Liga dos Co-munistas de Marx e Engels. Neste sentido, o nosso jor-nal deve aprender e ensinar com a luta de nossos irmãos trabalhadores em qualquer parte do planeta, pois jamais teremos consciência de classe se refletirmos apenas os problemas de nosso local de trabalho, jamais entende-remos quais são os interesses históricos e mundiais da nossa classe se nos voltarmos apenas para os nossos um-bigos. Assim, sequer entenderemos porque sobe o custo de vida e a inflação, se acentuam os ritmos de produção, aumenta nossa exploração e as demissões ou como a bur-guesia disputa a produtividade. Como os companheiros da RP acertadamente assumem no seu último informativo “é um erro nosso não sabermos em detalhes a situação dos

Páginas centrais do Jornal Sindical, de outubro de 2010, do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e região, ligado à Força Sindical. “Apoio maciço a Dilma” da burocracia sindical pelega ao governoda mãe das empreiteiras, das privatizações, do

arrocho salarial, contra nossa classe.

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companheiros nos outros países” (RP 29, 04/2011). Diga-se de passagem, a construção de um partido internacio-nal, a solidariedade de classes, o enriquecimento político mútuo que isto ocasiona, nos permite avançar muito mais na luta e em nossa organização do que apenas saber do que se passa nos outros países.

Não concordamos com a observação da RP: “Para em-preender as tarefas acima citadas os camaradas têm em vista simplesmente a organização dos operários da cida-de de São Paulo (e mesmo assim refere-se somente aos operários do setor fabril, ou seja, no setor de produção do capital e acaba por negligenciar a organização no setor da circulação do capital)... Ter somente como prioridade a organização de uma determinada cidade por sua impor-tância econômica, política e social é de fato um argumento muito insuficiente.” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011). A par-tir da nossa defesa da proletarização da militância e do combate a liquidação da regional da LBI na cidade mais importante do país, as quais reivindicamos e pomos em prática nos últimos meses, os camaradas da RP sacaram conclusões equivocadas de que reivindicaríamos uma mi-litância exclusivamente fabril e paulistana. Todavia, além de construirmos na LC a regional de São Paulo como cen-tro de nossa organização e de iniciarmos o trabalho fabril, neste período nós desenvolvemos atividades militantes no Nordeste (Maranhão), no Rio de Janeiro e em Nova Iorque e, em São Paulo, realizamos militância em diversas cate-gorias. Interviemos em vários ramos da produção onde im-pera a circulação do capital como bancários, funcionários públicos federais e municipais, estudantes universitários, teleoperadores, etc; como se pode comprovar nas páginas de nossa imprensa escrita e virtual. Todavia, a crítica que nos fazem serve a RP. Pelo que identificamos nas páginas dos boletins da RP, e supomos que o boletim dos camara-das reflete o centro de sua agitação, propaganda e orga-nização coletiva, são os companheiros que, embora mani-festem a defesa de uma militância mais ampla, limitam-se exclusivamente à militância fabril e municipalizada não em São Paulo, mas em Guarulhos.

É certo que uma jovem organização possui muitas limi-tações, mas se a LC possui apenas alguns meses, é por-tanto um bebê, a RP já pode ser considerada uma criança de sete anos. Então a crítica que nos fazem sobre o ex-clusivismo fabril e municipal se aplica muito mais a própria RP que à LC. A propósito, acreditamos que muito do que está escrito na “Critica a Liga Comunista”, particularmente sobre o tema: concepção de partido, corresponde a idea-lizações da RP sobre o partido que estão muito distantes

da prática política dos camaradas e é disto que trataremos adiante.

ECONOMICISMO OU COMUNISMO

A RP afirma que “tenta se constituir em uma organi-zação comunista local, e como uma organização local ela necessariamente chegará a um ponto em que não poderá superar suas debilidades, simplesmente porque ela não está centralizada por um partido, e, por conseguinte, todo o seu esforço poderá no máximo realizar a proeza de uma Comuna de Paris!!!!” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunis-ta, Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011). Re-conhece que uma organização local com dificuldades até para confeccionar um jornal local e carente de um centro dirigente terá muitas dificuldades em organizar o proleta-riado. É preciso ser categórico para sacar as conclusões precisas a fim de definir um norte correto de construção partidária: uma organização local que não supere o iso-lamento político municipal, não se unifique a outras em torno de um centro dirigente, não pode ultrapassar as deformações do limitado horizonte político provinciano e logo, também não pode formular uma política revolucio-nária para as massas e, ao final, nem sequer poderá se constituir como uma organização comunista local e tende a retroceder antes de chegar à altura de realizar a proeza de uma Comuna de Guarulhos. Portanto, jamais poderá organizar o proletariado em um partido comunista revolu-cionário para sua emancipação política. Não estamos aqui “jogando uma praga” nos camaradas. Mas constatar que com os grandes partidos de esquerda a situação não é diferente pode até servir de consolo, mas não ajuda na luta pela organização política do proletariado. Lamentavel-mente, o reconhecimento das limitações feitas pelos com-panheiros não possui maiores consequências no sentido de superar estas mesmas limitações. Vejamos: “reconhe-cemos nossas debilidades, mas há de checar como se en-contram de fato as outras “organizações de propaganda” e quais os objetivos que elas pretendem alcançar.” (idem). E por aí vai, ou seja, os camaradas abortam o desenvolvi-mento da autoavaliação para se conformar diante da mi-séria organizativa e política das demais organizações que de nada servem ao proletariado.

Como destacamos no “Nasce a Liga Comunista” recon-hecemos que é tarefa dos marxistas educar o proletariado inconsciente de sua missão histórica sob os preceitos do marxismo, uma compreensão do mundo que só pode vir de fora das massas. Se não o fizermos, ninguém o fará: “Em nenhum país, sob nenhuma circunstância, o proleta-riado por si só foi capaz de compreender sua tarefa his-tórica. (...) Aprendemos que as ideias dominantes entre os trabalhadores, são as ideias das classes dominantes, que os operários não desenvolvem sozinhos a consciên-cia socialista, que esta só pode ser introduzida de fora da classe pelos intelectuais materialistas dialéticos como fo-ram Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Mas, se a vanguarda marxista, oriunda da pequena burguesia, acomodou-se e só faz política entre si, recorrendo à classe operária ape-nas para lhe pedir apoio em eleições sindicais ou burgue-sas, como pode o trotskismo penetrar na classe? Esperar que o proletariado, sob o impacto das derrotas históricas e da educação ministrada pelo cretinismo parlamentar, trade-unismo, onguismo,... não retroceda por décadas em sua compreensão política, é idea lizar um proletariado que não existe nem nunca existiu. As massas repletas de contradições internas só terão sua consciência modifica-da em favor da revolução se os marxistas o fizerem.” (O Bolchevique #1, outubro de 2010). Nossa tarefa consiste em conduzir os operários a uma compreensão para além do ponto onde podem compreender sozinhos, ir além da

Edições brasileiras da obra “O que fazer?”,escrita por Lenin em 1902

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consciência sindical, também conhecida como trade-unis-mo ou economicismo.

A RP reconhece que se vê tensionada por duas críticas opostas, uma de que deve romper com o economicismo e outra de que deve romper com o comunismo e assumir meramente a condição de oposição sindical. A RP defen-de-se dizendo que ambas as críticas ignoram por comple-to o trabalho da organização e justifica que seu informativo cumpre o papel de agitador, propagandista e organizador coletivo e propaga que somente a revolução social pode suprimir as contradições do capitalismo e que este objeti-vo só será alcançado pela criação de um partido revolucio-nário. Tudo isto está correto e nós nos constituímos como Liga Comunista para romper com a tradição dos socialis-tas pequeno burgueses que se recusam ao trabalho pa-ciente de disputar a consciência política das massas con-tra os reformistas e revisionistas. É preciso realizar este trabalho de tal maneira que os proletários militantes re-conheçam nossa organização comunista como a que deve dirigir leal e corajosamente as lutas. Para conquistar esta cara confiança do proletariado, os comunistas precisam tomar parte nas lutas espontâneas da classe operária e assumir como sua a missão de defender as condições de vida e de trabalho da classe operária contra a sufocante e crescente escravidão imposta pela bárbarie capitalista. Buscamos aplicar as concepções da III Internacional de Lenin e Trotsky que aponta:

“Os comunistas devem ocupar-se energicamen-te das questões concretas da vida dos operários, ajudá-los a se desembaraçar dessas questões, chamar sua atenção para os casos de abusos mais importantes, ajudá-los a formular exatamente e de forma prática suas reivindicações aos capitalistas e, ao mesmo tempo, desenvolver entre eles o es-pírito de solidariedade e a consciência da comuni-dade dos operários de todos os países como uma classe unida que constitui parte do exército mun-dial do proletariado.Apenas participando desse trabalho miúdo e coti-diano absolutamente necessário, jogando todo seu espírito de sacrifício nos combates do proletaria-do, o “Partido Comunista” pode se transformar em verdadeiro Partido Comunista. Apenas por esse trabalho os comunistas se distinguirão desses par-tidos socialistas de mera propaganda e alistamento que já tiveram sua época e cuja atividade consiste apenas em reuniões, discursos sobre as reformas e a exploração das possibilidades parlamentares. A participação consciente e devotada de toda a mas-sa dos membros de um partido na escola das lutas e contendas cotidianas entre os explorados e os ex-ploradores, é a premissa indispensável não somen-te de conquista mas, numa medida mais larga, da realização da ditadura do proletariado. Somente se colocando à frente das massas operárias em suas guerrilhas constantes contra o ataque do capital, o Partido Comunista pode se tornar a vanguarda da classe operária, aprender sistematicamente a dirigir de fato o proletariado e adquirir os meios de preparar conscientemente a derrota da burguesia.Os comunistas devem estar mobilizados em gran-de número para participar do movimento dos ope-rários, sobretudo durante as greves e os locautes e reuniões de repercussão massiva.Os comunistas cometem uma falta muito grave se acatam o programa comunista, mas na batalha re-volucionária final assumem uma atitude passiva e negligente, ou mesmo hostil em relação às lutas co-tidianas que os operários travam pelas melhorias, ainda que pouco importantes, de suas condições

de trabalho. Por miúdas e modestas que sejam as reivindicações pelas quais os operários se batem hoje contra os capitalistas, os comunistas não de-vem jamais se furtar ao combate. Nessa atividade de agitação, não se deve fazer crer que os comu-nistas são instigadores cegos de greves estúpidas e outras ações insensatas, mas devemos merecer dos operários militantes a reputação de sermos os melhores companheiros de luta.A prática do movimento sindical mostrou que os núcleos e frações comunistas são, muito freqüen-temente, confusos e só sabem o que fazer diante das questões mais simples. É fácil, ainda que es-téril, pregar sempre os princípios gerais do comu-nismo, para cair na via do sindicalismo vulgar nas questões concretas. Com tais ações, facilita-se o jogo dos dirigentes da Internacional Amarela de Amsterdã.” (Teses sobre a estrutura organizativa, os métodos e a ação dos partidos comunistas, Re-solução do III Congresso da Internacional Comu-nista, 22/07/1921).

Mas notem, além de “desenvolver entre eles o espíri-to de solidariedade e a consciência da comunidade dos operários de todos os países como uma classe unida que constitui parte do exército mundial”, para realizar todo este trabalho de fusão do comunismo com a vanguarda mais consciente do proletariado é preciso também, e principal-mente, levar a ideologia comunista aos operários, fazer o combate contra o capital e sua influência sobre os tra-balhadores no terreno teórico, político e econômico. Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário, e um conjunto de denúncias econômicas, não deixará de ser essencialmente um conjunto de denúncias econômicas, se salpicamos aqui e ali com lembretes acerca da neces-sidade do partido revolucionário e da revolução para livrar os trabalhadores de toda exploração de classe. Como nos ensinou Lenin:

“A social-democracia dirige a luta da classe ope-rária, não apenas para obter condições vantajo-sas na venda da força de trabalho, mas, também, pela abolição da ordem social, que obriga os não possuidores a se venderem aos ricos. A social-democracia representa a classe operária em suas relações não apenas com um determinado grupo de patrões, mas com todas as classes da socie-dade contemporânea, com o Estado como força

Lenin conversando com operários

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política organizada. Consequentemente, portanto, os sociais-democratas não podem limitar-se à luta econômica, mas, também não podem admitir que a organização das denúncias econômicas constitua a sua atividade predominante” (Que Fazer?, 1902).

E por que fazemos esta ressalva? Porque a organização das denúncias econômicas constitui a atividade predomi-nante da RP. Bastou rever um sumário do conjunto dos bo-letins da RP que dispomos para notar isto: Radio Pião 20 (Sindicato, através de acordo com patrão da Weg, garante a saída da fábrica da cidade; Resposta ao Sr. Ricardo so-bre a eleição sindical; Dyna não quer pagar PLR a seus funcionários; Sindicato cria nova modalidade de demissão na Modine; O cinismo dos patrões em relação à crise do capital; Ricardo e Sindicato: Parceria de Pelegos); RP 21 (Como os capitalistas mantêm suas taxas de lucros em tempos de crise; O sentido político da legislação trabal-hista; A que se propõe a RP?); RP 22 (Campanha salarial: troca de interesses entre sindicato e patrões; Sindicato com sua campanha salarial dobra os operários ao capi-tal; PLR: uma ferramenta que resolve os problemas dos patrões e ilude os operários!; PLR: um “benefício” que só faz mal a saúde dos operários; Modine: Acidentes, dupla jornada e uma corrente ao pé da máquina !); RP 23 (Resu-mo da situação do proletariado em 2009; Sobre a greve na Atelier Morcego; Sindicato tenta esconder que a Morcego está a beira da falência; Já derrubou seu carrasco hoje? Operários da Dyna escorraçam mais um crápula!; Caça aos vampiros sociais: operários da Morcego fazem duas greves em menos de um mês); RP 24 (Companheiros da Dyna fazem crítica à Rádio Pião; Além de não fazer a equi-paração salarial Dyna quer dá calote na PLR; Operários da Modine denunciam: Modine emprega parentes da di-reção do sindicato; Rio Negro não faz equiparação salarial e dá golpe na PLR! A Direção sindical desapareceu!; Im-postos ou Organização? Qual é a verdadeira contribuição operária?; Companheiros da Borlem são assaltados na Via Dutra); RP 25 (Você confia em seu chefe, gerente, diretor ou patrão?; Ciderol 10 anos Uma luta dos operá-rios que foi “esquecida”; Fasal do Grupo Usiminas será fechada em outubro com conivência da direção sindical); RP 28 (Empréstimo consignado: um duro golpe na clas-se operária!; Modine, Dyna, Mtp...: a impossibilidade de conciliação entre capital e trabalho, ou seja, entre patrões e operários!; Estado burguês: financiador do peleguismo; A luta de classes não é uma luta pessoal!!!); RP 29 (1° de Maio e a necessidade de organização antes e após as demissões; O quê a CIPA tem a ver com a PLR?; PLR e Cummins: o quê não é dito aos operários?; O quê o futuro reserva para a classe operária?).

Fica evidente não só que a denúncia econômica é a atividade predominante dos boletins da RP, mas que se constitui quase que exclusivamente como única forma de abordagem do proletariado pela RP. Daí não ser de todo

infundada a crítica de “economicismo” contra a RP. O pro-blema é que costumeiramente quem vos acusa disto são “os partidos socialistas de mera propaganda cuja atividade consiste apenas em reuniões, discursos sobre as reformas e a exploração das possibilidades parlamentares.” que se recusam a “sequer tentarem a criação de organizações lo-cais e assim aproximarem-se do proletariado em seu local de trabalho” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunista, Políti-ca de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011).

A RP pode nos refutar que recorre a esta forma de abor-dagem para integrar as massas no movimento político. Está correto fazer a denúncia econômica, demonstrar a raiz da exploração de classe, apontar que os trabalhado-res devem se organizar em um partido para fazer a revo-lução, mas o predomínio da denúncia econômica atrofia o desenvolvimento da consciência de classe. Ater-se ao “gancho” da denúncia econômica estaria errado e, nas pa-lavras de Lenin, seria “profundamente prejudicial e reacio-nário em seus resultados práticos”:

“Na realidade, a ‘elevação da atividade da massa operária’ será possível unicamente se não nos limi-tarmos à ‘agitação política no terreno econômico’. Ora, uma das condições essenciais para a exten-são necessária da agitação política é organizar as revelações políticas em todos os aspectos. Somen-te essas revelações podem formar a consciência política e suscitar a atividade revolucionária das massas. Por isso essa atividade é uma das funções mais importantes de toda a social-democracia in-ternacional, (...) A consciência da classe operária não pode ser uma consciência política verdadeira, se os operários não estiverem habituados a reagir contra todo abuso, toda manifestação de arbitra-riedade, de opressão e de violência, quaisquer que sejam as classes atingidas; a reagir justamente do ponto de vista social-democrata, e não de qualquer outro ponto de vista. A consciência das massas operárias não pode ser uma consciência de clas-se verdadeira, se os operários não aprenderem a aproveitar os fatos e os acontecimentos políticos concretos e de grande atualidade, para observar cada uma das outras classes sociais em todas as manifestações de sua vida intelectual, moral e po-lítica; se não aprenderem a aplicar praticamente a análise e o critério materialista a todas as formas da atividade e da vida de todas as classes, categorias e grupos de população. Todo aquele que orienta a atenção, o espírito de observação e a consciência da classe operária exclusiva ou preponderante-mente para ela própria, não é um social-democrata; pois para conhecer a si própria, de fato, a classe operária deve ter um conhecimento preciso das relações recíprocas de todas as classes da socie-dade contemporânea, conhecimento não apenas teórico... ou melhor: não só teórico, como funda-mentado na experiência da vida política. Eis porque nossos "economistas", que pregam a luta econô-mica como o meio mais amplamente aplicável para integrar as massas no movimento político, realizam um trabalho profundamente prejudicial e reacioná-rio em seus resultados práticos. Para tornar-se um social-democrata, o operário deve ter uma idéia clara da natureza econômica, da fisionomia política e social do grande proprietário de terras e do papa, do dignatário, e do camponês, do estudante e do vagabundo, conhecer seus pontos fortes e seus pontos fracos, saber enxergar nas fórmulas co-rrentes e sofismas de toda espécie com que cada classe e cada camada social encobre seus apetites

Operários da Volkswagen lendo jornal.

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egoístas e sua ‘natureza’ verdadeira; saber distin-guir esses ou aqueles interesses que refletem as instituições e as leis, e como as refletem. Ora, não é nos livros que o operário poderá obter essa ‘idéia clara’: ele a encontrará apenas nas amostras vivas, nas revelações ainda recentes do que se passa em um determinado momento à nossa volta, do que to-dos ou cada um falam ou cochicham entre si, do que se manifesta nesses ou naqueles fatos, núme-ros, vereditos, e assim até o infinito. Essas reve-lações políticas abrangendo todos os aspectos são a condição necessária e fundamental para educar as massas em função de sua atividade revolucio-nária.” (Que Fazer?, 1902).

Acreditamos que este desvio economicista da RP em-perra até a conversão de vossa “organização local” em “organização comunista local”, uma vez que “não é um comunista todo aquele que orienta a atenção da classe operária exclusivamente sobre si mesma”, impedindo-a que a própria tome noção de conjunto da luta de classes. Este não é um problema de ordem meramente logística (falta de tempo para assumir outras tarefas) mas sobre-tudo, uma debilidade derivada da incompreensão política de como elevar a consciência de classe do proletariado. A LC sentiu esta profunda debilidade dos camaradas quan-do propusemos realizar uma campanha comum de denún-cia das eleições burguesas, das candidaturas patronais de Dilma e Serra nos meios proletários. Vamos refrescar a memória dos camaradas quando desde o ano passado vos criticamos:

“Acabamos de receber o vosso balanço do primeiro turno e concordamos que ‘Nesta eleição ficou evidente o descontentamento das massas proletárias com todos os partidos políticos’. Chegamos a mesma conclusão com os companheiros em nosso ‘Balanço e perspectivas das eleições 2010’ (...) Todavia, gostaríamos de destacar que ao recebermos o e-mail dos companheiros informando que devido a tarefas locais não podem assumir qualquer com-promisso organizativo para o segundo turno das eleições, nós lamentamos a posição que tomaram. Tanto ou mais do que a RP, nós que acabamos de nascer enfrentamos 1001 dificuldades de organização, formação, estruturação no seio da classe e etc. Estamos sentindo na pele as to-neladas de tarefas que recaem sobre as pequenas organi-zações que não se renderam ao oportunismo parlamentar ou sindical. Não concordamos que nossa obrigação de denúncia se encerrou no primeiro turno, ainda mais agora (e vocês devem estar percebendo isto aí também em Gua-rulhos) que a canalha petista anima sua militância para arregimentá-la recriando uma polarização contra a direita tucana, sendo que nós conhecemos bem o quão também é burguesa e reacionária o tipo de esquerda que o PT re-presenta hoje.

Nossa tarefa é imensa diante da influência que exercem os traidores da classe. E tudo que fizermos contra eles com nossas pequenas forças isoladas ou mesmo reuni-das ainda será muito pouco. Não queremos nem pode-mos abraçar o mundo com as pernas, mas seria muito importante para nossa classe que superássemos nossas pequenas limitações materiais e até mesmo nossas dife-renças políticas (que não devem ser desprezadas, mas discutidas tão logo seja possível) para assumir a grande tarefa de apresentar uma política unificada como alternati-va operária e revolucionária de denúncia da farsa patronal, inclusive para além do que nossas forças podem alcançar dos limites de Guarulhos, São Paulo, ABC paulista e no Nordeste. A classe se anima e se politiza de forma sadia, quando se identifica como classe mais do que como ca-tegoria, quando vê a unidade entre distintas correntes de revolucionários chamando-a à luta contra seus inimigos

patronais. E isto tem como ganho, em contrapartida, o for-talecimento do trabalho local, inclusive para impulsionar o combate contra pelegos do quilate dos que vocês enfren-tam aí no sindicato.

Apesar de lamentar profundamente o que esperamos poder superar de comum acordo no futuro, não nos con-tentamos com a impossibilidade dos companheiros de realizar uma frente única conosco, e realizamos uma fren-te ativa e classista com um agrupamento de professores do ABC paulista. Panfletamos em estações de trem, me-trô, terminais de ônibus, escolas, faculdades, locais de tra-balho, e realizamos colagens de cartazes já no segundo turno convocando a população a rechaçar Dilma e Serra.

É necessário, desde ontem, construir uma oposição re-volucionária e programática ao governo burguês de Dil-ma, e essa tarefa cai sobre os ombros das organizações que reivindicam a ditadura do proletariado como processo transitório rumo ao socialismo. Justamente por compre-endermos o tamanho da tarefa é que consideramos, fra-ternalmente, um erro dos companheiros não priorizarem, nesse momento, ações e discussões nesse sentido.” (Car-ta da LC a RP, 25/10/2010).

Queremos alertar aos camaradas que neste curso ten-dem a estrangular inclusive o trabalho que realizam hoje, que acaba por se restringir ao de uma refinada oposição sindical metalúrgica sem dispor para isso do aparato sindi-cal controlado pela burocracia pelega. Como a própria RP relata no seu boletim número 24, o amadorismo compro-mete o desempenho das denúncias políticas e não permi-te sequer suprimir as demandas dentro das fábricas que acompanham:

“Os companheiros da Dyna fizeram uma crítica ao Jornal Rádio Pião 23: trata-se do artigo sobre a Sra. Fábia do RH, que arrancou sem escrúpulos a bandeja da mão de uma criança, filha de uma operária da fábrica. Na opinião dos companheiros a Rádio Pião demorou demais para fazer a denúncia e por isso a fábrica conseguiu pôr panos quen-tes na situação. Era a oportunidade que os companhei-ros tinham para botá-la para fora da fábrica com o apoio do jornal Rádio Pião, ou seja, tiramos o ‘doce da boca da criança’. Por isso - companheiros - aceitamos as críticas, pois além deste fato, há também que mencionar sobre os fatos políticos ocorridos em nosso país que a Rádio Pião não teve como abordar, como, por exemplo, o caso Sar-ney, o mensalão do Distrito Federal e vário outros, além da polêmica sobre o feriado de Zumbi dos Palmares, o Dia In-ternacional da Mulher, etc. Isso no aspecto político, porque no aspecto econômico também não pudemos dar respos-tas imediatas para algumas denúncias! Por conta dessa crítica (e temos certeza que críticas como essas são feitas por companheiros de outras fábricas como a Morcego, Rio Negro, Modine, por exemplo) nós iremos demonstrar a dificuldade que é organizar os operários tanto em nível econômico (sindical), quanto em nível político (anticapi-talista), e consequentemente desenvolver o trabalho da Rádio Pião enquanto Coletivo Operário.” (Companheiros da Dyna fazem crítica a RP; RP 24, Informativo Operário - Ano VI, Abril /2010).

Aparentemente, como justifica a RP, o ocorrido se deve a falta de forças militantes para arcar com o conjunto das tarefas necessárias:

“Organizar a classe operária não é tarefa fácil, primeiro porque em Guarulhos existem 2 mil fábricas e dentre elas o setor metalúrgico, o qual não sabemos a sua quantidade exata de fábricas e operários. O sindicato estipula algo em torno de 50 mil, mas duvidamos desse número, por isso estamos há mais de 5 anos tentando fazer uma pesquisa através dos estudantes que se posicionam no campo da esquerda, mas o projeto jamais saiu do papel, porque de fato os estudantes priorizam mais outras questões do que essa que visa a luta de emancipação da classe operária.

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A Rádio Pião por ser em sua maioria composta por ope-rários, conta com a solidariedade daqueles camaradas de outros segmentos para a distribuição do jornal, porque a diretoria do sindicato e os patrões abriram uma ofensiva contra a Rádio Pião e tanto o Sr. Pereira, presidente do sindicato, quanto o seu vice Cabeção, declararam em as-sembleias que iriam eliminar os militantes da RP. Já os patrões, por sua vez, querem saber quem são os nossos militantes para processá-los!!, (idem)

A RP argumenta sobre a extensão do trabalho, a falta de colaboração dos estudantes, a perseguição por parte da burocracia sindical e dos patrões, que seus militantes são poucos e que é impossível distribuir o boletim para todas as fábricas da cidade, etc., mas a essência do pro-blema está na concepção política que conduz a um ama-dorismo insolúvel em si mesmo. Todos estes obstáculos são reais, mas se tivermos que contar com a colaboração dos estudantes, dos patrões, dos burocratas sindicais ou do ingresso suficientes de militantes na RP para suprir a demanda de distribuição do boletim, certamente que não só os companheiros da Dyna como o conjunto dos ope-rários do planeta vão continuar a esperar por uma orga-nização política que nunca vai poder atendê-los porque simplesmente a atividade militante que está sendo reali-zada nunca desembocará em algo mais do que em uma débil oposição sindical. Tentaremos ilustrar mais uma vez a crítica que realizamos aos camaradas e esperamos que se identifiquem com a tipificação para poderem refletir e superar vosso economicismo:

“Consideremos o tipo de círculo socialdemocrata mais difundido nesses últimos anos e vejamos sua atividade. Tem ‘contatos com os operários’ e se atém a isso, editando ‘folhas volantes’ onde con-dena os abusos nas fábricas, o partido que o go-verno toma em favor dos capitalistas e violências da polícia. Nas reuniões com os operários, é sobre tais assuntos que se desenrola ordinariamente a conversa, sem quase sair disso; as conferências e debates sobre a história do movimento revolucio-nário, sobre a política interna e externa de nosso governo, sobre a evolução econômica da Rússia e da Europa, sobre a situação dessas ou daquelas classes na sociedade contemporânea etc., consti-tuem exceções extremas, e ninguém pensa em es-tabelecer e desenvolver sistematicamente relações no seio das outras classes da sociedade. Para dizer a verdade, o ideal do militante, para os membros de tal círculo, aproxima-se na maioria dos casos muito mais ao do secretário de sindicato do que do dirigente político socialista. De fato, o secretário de um sindicato inglês, por exemplo, ajuda cons-tantemente os operários a conduzir a luta econô-

mica, organiza revelações sobre a vida de fábrica, explica a injustiça das leis e disposições que entra-vam a liberdade de greve, a liberdade dos piquetes (para prevenir a todos que há greve em uma de-terminada fábrica); mostra o partido tomado pelos árbitros que pertencem às classes burguesas etc. etc. Em uma palavra, todo secretário de sindicato conduz e ajuda a conduzir a ‘luta econômica contra os patrões e o governo’. E não seria demais insistir que isto ainda não é "social-democratismo”; que o socialdemocrata não deve ter por ideal o secretário do sindicato, mas o tribuno popular, que sabe rea-gir contra toda manifestação de arbitrariedade e de opressão, onde quer que se produza, qualquer que seja a classe ou camada social atingida, que sabe generalizar todos os fatos para compor um quadro completo da violência policial e da exploração ca-pitalista, que sabe aproveitar a menor ocasião para expor diante de todos suas convicções socialistas e suas reivindicações democratas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico da luta eman-cipadora do proletariado.” (Que Fazer?, 1902).

Sem abandonar por um instante sequer o trabalho di-reto com o proletariado fabril, chamamos a RP a ter outro ideal militante, o do “tribuno popular”. Se este deveria ser o ideal para os comunistas que se fundiam com o prole-tariado de uma Rússia atrasada no inicio do século XX, imaginamos que este alerta de Lenin tenha uma vigên-cia muito maior agora, mais de cem anos depois, para os que querem despertar a consciência comunista em uma massa de operários alfabetizada, que tem acesso ao rá-dio, televisão, jornais e internet e que é bombardeada de informações falsas por todos os meios pela burguesia e é carente de formação e de denúncias políticas e discus-sões ideológicas em milhares de outros assuntos. Neste sentido, também queremos destacar a importância não apenas de aliar a luta política às denúncias econômicas, mas também, da luta teórica. Engels reivindicava como parte de um tripé não apenas duas formas de luta (polí-tica e econômica) mas três, colocando a luta teórica no mesmo plano das outras duas. Lênin insistia, “sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário”. Nós da LC entendemos que a continuidade da teoria marxista re-volucionária na atualidade está nas concepções de Leon Trotsky, assunto que trataremos a seguir.

“CRISE DE DIREÇÃO” EPRECONCEITOS ANTI-TROTSKISTAS

A constatação de que o trotskismo não realizou nenhu-ma revolução vitoriosa, reconhecida a priori pela LC no documento “Contra o ceticismo, construir o partido trots-kista revolucionário da classe operária” (O Bolchevique #1, outubro de 2010), em nada invalida as concepções de Leon Trotsky como sucessor revolucionário e principista das teorias de Marx, Engels, Lenin e Rosa Luxemburgo. Assim como o fato de vivermos hoje sob a mais cruel es-cravidão assalariada, adentrando já na era da barbárie im-perialista, e não sob o socialismo ou sequer em um regime transitório entre o capitalismo e o socialismo como foi o que existiu na URSS, 150 anos depois da elaboração do Manifesto Comunista, não invalida o marxismo como teo-ria essencial para a emancipação do proletariado.

A concepção marxista de que a prática é o critério da verdade, ou um dos princípios básicos da dialética leninis-ta de que não existe verdade abstrata, de que a verdade

Trotsky, Lenin e Kamenev,no Congresso do Partido Bolchevique

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é sempre concreta, nada tem a ver com o raciocínio anti-dialético e a-histórico positivista que afirma que o que não existe nem existiu, e nunca existirá. Este método de racio-cínio e ataque anti-trotskista, os stalinistas copiaram dos ataques dos teóricos positivistas ao marxismo.

Da constatação inegável, de que o marxismo não está sendo aplicado na prática hoje, pode-se chegar a três con-clusões distintas:

1) o marxismo não serve como teoria de transformação da realidade para os trabalhadores;

2) os trabalhadores não são uma classe revolucionária;3) as duas conclusões anteriores estão erradas, o mar-

xismo é revolucionário e os trabalhadores podem fazer a revolução desde que se livrem das concepções burgue-sas e pequeno burguesas impostas a eles pelos órgãos difusores das ideias da classe dominante (família, igreja, escola, estado, mídia, partidos burgueses e pequeno bur-gueses) e tornem-se marxistas.

No e-mail introdutório de vosso documento os cama-radas afirmam: “o nosso artigo polemiza a questão dos métodos de organização, principalmente a relação entre organização central e organização local, e partindo daí re-futamos a ideia sobre a ‘crise de direção’ tão conhecida entre nós.” Fizemos uma crítica do sentido limitado que a RP dá à relação entre a organização central e a organi-zação local nos primeiros parágrafos desta nossa respos-ta e não identificamos maiores justificativas no documento da RP para atribuir a crise do movimento operário a esta relação organizativa. Acreditamos que a RP, ao refutar a teoria da crise de direção, sem, no entanto, apresentar uma argumentação correspondente no conteúdo de seu documento, cedo ou tarde acabará concordando com uma das duas primeiras premissas revisionistas acima.

Se concordamos que a 3ª dedução é a única correta, devemos também constatar que nestes 150 anos, afora o partido bolchevique russo, nenhum dos partidos que se disseram operários e marxistas levou adiante a tarefa de tornar os trabalhadores de classe em si em classe para si, ou seja, fusionar os melhores elementos do proletaria-do com o marxismo. Nenhum dos que se arrogou como partido dirigente de vanguarda da classe, de fato dirigiu a mesma à revolução.

Não somos agnósticos, discordamos daqueles que di-zem que jamais poderemos chegar ao conhecimento da verdade. Somos materialistas, e deduzimos que, se o pro-blema não está na teoria - o marxismo - nem na base ex-plorada da humanidade vítima do capitalismo - os trabal-hadores - está na direção, nos partidos dirigentes da luta dos trabalhadores que por seu caráter de classe não pro-letário, mas pequeno burguês, conduzem a luta à derrota através da conciliação com a burguesia ou de métodos não revolucionários de luta de classes (parlamentarismo, trade-unismo, foquismo). Logo, a crise da humanidade é a falta de uma direção autenticamente revolucionária que fusione a teoria marxista com o proletariado e realize a tarefa de conduzir o proletariado de forma consciente, através do seu próprio partido, à realização de seus inte-resses históricos: a revolução social, a tomada do poder, a instauração do controle operário dos meios de produção, a ditadura revolucionária do proletariado e o socialismo. Até agora os teóricos do ecletismo, do socialismo à brasi-leira, os revisionistas em geral, não nos apontaram outro caminho melhor para o fim da escravidão assalariada nem no Brasil nem no mundo.

Mas existiu um partido que, de modo consciente, nasceu

da fusão do marxismo com o proletariado fabril e mostrou-se concretamente revolucionário, executou a teoria mar-xista pelo menos entre os anos de 1917 a 1924, ou seja, enquanto esteve sob a direção de Lenin e Trotsky e an-tes da degeneração burocrática stalinista. Há também os processos de expropriação da propriedade privada ocorri-dos no Leste Europeu, nos Bálcãs (Iugoslávia, Bulgária, Romênia e Albânia), na China, Coréia do Norte e Vietnã e em Cuba. Nenhum destes processos foi conduzido por um partido operário revolucionário. Todos foram resultado de uma situação excepcional e extrema, quando os partidos stalinistas ou pequeno burgueses democratas radicais, exércitos populares camponeses, e guerrilhas foquistas foram levados a ir além de onde desejavam na ruptura com o imperialismo e a burguesia local.

Como regra geral, os partidos stalinistas e pequeno bur-gueses costumamse comportar como o PCdoB, na melhor das hipóteses como foquistas que se negam a organizar a luta de massas do proletariado em período de ditadura (Araguaia), ou comoconciliadores e cretinos reformistas que se aliam ao que chamam de burguesia progressista contra a ação direta dos trabalhadores, durante o período de democracia burguesa. Nestes tempos em que vivemos a colaboração de classes chega a ser tão escrachada que os “comunistas” do PCdoB se aliam no parlamento à cha-mada bancada ruralista, arqui-reacionários latifundiários assassinos de trabalhadores rurais, para aprovar um có-digo florestal em favor do latifúndio e das multinacionais.

Nos processos revolucionários do último século, exce-tuando o russo, os partidos não revolucionários buscaram, a princípio, estabelecer acordos de colaboração de clas-ses com a burguesia e com o imperialismo, mas o capital que possui sua “apurada consciência de classe” recusou-se a cumprir qualquer compromisso com estas direções pequeno burguesas, impelindo-os a ir além de onde pre-tendiam na ruptura com o capitalismo.

Tomemos Cuba como exemplo: quando em 1959 Castro e Che Guevara tomaram o poder, tinham em mente ape-nas destituir o ditador Fulgêncio Batista, apoiado escanda-losamente pelo stalinista PC cubano, para instaurar uma república democrática na ilha, com a ilusão de que pode-riam contar com o apoio do ‘democrático’ EUA, governado por John Kennedy, para isto. Sob a pressão da população que os apoiou na luta armada contra Batista, os guerrilhei-ros foram obrigados a fazer uma tímida reforma agrária e a executar, através de tribunais populares, aos antigos torturadores da ditadura. A revolução só veio a tomar um caráter anticapitalista e anti-imperialista três anos depois da tomada do poder, após a invasão da Baia dos Porcos por mercenários cubanos organizados pela CIA, em 1961, quando passou a expropriar o conjunto da propriedade pri-vada burguesa, sendo obrigada a armar todo o povo, a construir comitês de defesa da revolução e romper com os EUA que já haviam imposto um bloqueio econômico sobre a Ilha.

Em todos estes Estados em que direções não revolu-cionárias foram obrigadas a fazer uma revolução e a ex-propriar a burguesia, foram instaurados Estados Operários que já nasceram deformados, não governados pela demo-cracia operária nem baseados em conselhos populares. A única vez que o proletariado foi conduzido por um partido marxista revolucionário à tomada do poder e à instituição de uma democracia soviética foi sob a direção do Partido bolchevique russo governado por Lenin e Trotsky.

Na maioria das vezes, os partidos pequeno burgueses

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com apoio de massas (França na década de 1930, guerra civil espanhola, Indonésia 1965, Chile 1973) constituem frentes populares de colaboração de classes com setores da burguesia em favor de governos “democráticos e popu-lares”, traem a luta pela revolução social e são apeados do poder pela reação pró-imperialista de algum Kornilov (Rússia), Suharto (Indonésia) ou Pinochet (Chile). No pri-meiro caso, de Kornilov, os bolcheviques realizaram uma frente única militar principista com Kerensky, sem apoiá-lo politicamente e esmagaram a direita golpista.

Lamentamos que a RP comungue dos preconceitos de origem stalinista que tentam apagar da história a impor-tância de Trotsky, apoiando-se na política degenerada dos que se dizem trotskistas hoje. Para nós da LC, o PSTU, que é o maior partido identificado com o trotskismo no Bra-sil hoje, é tão trotskista quanto o PCdoB é comunista.

Primeiramente, foi Trotsky o dirigente do primeiro so-viete da história mundial, na revolução russa de 1905, ostentando o título do orador mais feroz do Soviete de Petrogrado. Foi Trotsky quem lutou ao lado de Lenin con-tra a maioria do CC do partido bolchevique para derrotar a política conciliacionista de Kamenev, Zinoviev e Stalin, de apoio crítico ao governo provisório de Kerensky no primei-ro semestre de 1917. Contra esta política vergonhosa de-fendida pela direção do partido bolchevique Lenin escre-veu as Teses de Abril. Trotsky uniu-se ao CC do partido bolchevique em junho de 1917 com sua organização de 4 mil militantes, a Interbairros, e foi ele e não outro dirigente do partido quem recebeu a incumbência de conduzir a tomada do poder em outubro. A importância fundamental de Trotsky na revolução russa foi até algum tempo depois da mesma reconhecida pelo que viria ser seu carrasco: “todo trabalho prático da organização da insurreição foi levado sob a direção efetiva do presidente do Soviete de Petrogrado, o camarada Trotsky. Podemos dizer com cer-teza, que a rápida passagem da tropa para o lado dos so-vietes e a audaz execução do trabalho do Comitê Militar Revolucionário se deve ao partido e, em primeiro lugar, ao camarada Trotsky.” (Pravda, Joseph Stalin, 06/11/1918).

Também foi Trotsky a quem Lenin responsabilizou a criação do Exercito Vermelho para enfrentar a contra-rrevolução burguesa apoiada por nada menos que uma coalizão imperialista de 14 países que invadiram a Rús-sia. Para isto, o encarregado de Lenin criou, do nada, um Exército de cinco milhões de soldados dispostos a matar ou morrer pela revolução, não qualquer revolução, a sua revolução. Trotsky foi o único revolucionário marxista que viveu e combateu a degeneração da primeira experiên-cia histórica de Estado operário, que viu o nascimento do nazismo imperialista, da política de frentes populares. Foi ele quem desenvolveu um dos mais importantes concei-tos criados por Marx e Engels quando fazem o chamado aos operários para que sejam

“eles próprios a fazer o máximo pela sua vitória final, esclarecendo-se sobre os seus interesses de classe, tomando o quanto antes a sua posição de partido autônomo, não se deixando um só instante induzir em erro pelas frases hipócritas dos peque-no-burgueses democratas quanto à organização independente do partido do proletariado. Seu grito de batalha tem de ser: a revolução permanente.” (“Mensagem do Comitê Central a Liga dos Comu-nistas”, 03/1850).

Consideramos sim, a Trotsky, o verdadeiro sucessor do legado de Marx, Engels, Lenin e Rosa Luxemburgo. Se a Rádio Pião fizer o esforço de conhecer Trotsky direta-mente, sem atravessadores, se estudarem diretamente suas obras e sua história, não se limitando a “circular uma análise sobre as concepções trotskistas” (Critica a Liga Comunista) reconhecerão o fio de continuidade marxista entre os escritos de Marx como o que acabamos e repetir e as Teses da Revolução Permanente desenvolvidas por Trotsky.

Esperamos estar equivocados em nossa interpretação, mas os camaradas dão a entender que seu modo de es-tudo do trotskismo pressupõe que alguém do grupo faça uma análise e repasse sua impressão aos demais. Na própria disposição da abordagem ao trotskismo anun-ciada pelos camaradas parece estar embutido um ranço antitrotskista. “Circular uma análise” pré-concebida é bastante distinto de estudar Trotsky no original e debater abertamente suas concepções e sua trajetória como diri-gente revolucionário.

Desde que iniciamos o contato mútuo entre nossas organizações os camaradas da RP nos solicitaram que fizéssemos criticas aos vossos documentos. Foi o que buscamos fazer nesta resposta. Suspeitamos que a RP pode estar equivocada no diagnóstico acerca da origem de suas dificuldades e apontamos qual seria a origem das mesmas em nosso entendimento. Mas podemos es-tar enganados em algumas observações e errar na mão em outras. Pelo que lemos e conversamos com os ca-maradas identificamos que possuem um bom nível polí-tico, que fazem um esforço honesto por superar vossas debilidades e que estão abertos a discutir e aprimorar-se através da crítica e da autocrítica, e isto é o que existe de mais importante para a construção sadia de uma organi-zação comunista. Nos sentimos sinceramente lisonjeados pelo fato de que ao elaborar a “Crítica a Liga Comunista”, clarificaram melhor as posições políticas dentro de vos-so agrupamento, realizando um acerto teórico interno. O que tiver ao alcance da Liga Comunista para ajudá-los a superar estas debilidades, podem contar conosco. Espe-ramos também que analisem e critiquem este documento como ao conjunto de nossas publicações, queremos que ajudem-nos a identificar e eliminar nossos erros tanto teó-ricos e literais. Também estamos abertos para que con-heçam mais e melhor a nossa atividade prática militante pessoalmente. Se o objetivo é acertar na construção do partido operário revolucionário, tanto para a RP quanto para a LC vale a seguinte observação de Lenin:

“a falta de preparação entre a maior parte dos re-volucionários, sendo um fenômeno perfeitamente natural, não podia dar lugar a qualquer apreensão particular. A partir do momento em que as tarefas eram bem definidas; a partir do momento em que se possuía bastante energia para tentar de novo realizá-las, os fracassos momentâneos consti-tuíam apenas meio mal. A experiência revolucio-nária e a habilidade de organização são coisas que se adquirem. É preciso apenas desenvolver em nós mesmos as qualidades necessárias! É preciso que tenhamos consciência de nossos defeitos, o que, no trabalho revolucionário, já é mais de meio caminho para os corrigir.” (Que Fazer?, 1902).

Saudações bolcheviques trotskistasLiga Comunista

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BANCÁRIOS - SÃO PAULO

Contra os banqueiros, Dilma ea burocracia sindical, avançar na

organização política de base

Na organização política da categoria bancária têm oco-rrido importantes disputas sindicais como as eleições para a nova diretoria do Sindicato e o Congresso Esta-

dual dos Trabalhadores daCaixa Econômica Federal.A Liga Comunista participou da chapa 2, de oposição à atual

diretoria do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Pau-lo, Osasco e Região. A chapa foi formada em uma Convenção democrática realizada no dia 11/05 com cerca de 80 compan-heiros trabalhadores, predominantemente do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, os quais têm sido, historicamente, vanguarda nas lutas de enfrentamento à administração de Lula e do PT. Compuseram a chapa o PSTU, a Liga Comunista e o Espaço Socialista (este último agrupamento faz parte do Coleti-vo Bancários de Base). A LC foi a segunda força em termos de representatividade numérica de bancários na convenção.

Hoje, a política governista e patronal da diretoria do Sindica-to dos Bancários de São Paulo condena a nossa categoria a um brutal arrocho salarial enquanto os banqueiros nadam em lucros estratosféricos. Esta política de colaboração de classes também faz com que os bancários sejam vítimas de metas abu-sivas, péssimas condições de trabalho, assédio moral, demis-sões, transferências arbitrárias e doenças como a LER/DORT, o stress, a depressão e o alcoolismo.

O mais absurdo é que essa burocracia que dirige o nosso sindicato, que foi representada nestas eleições pela continuísta chapa 1, se tornou sócia dos donos das seguradoras e lucra com o assédio moral imposto a nós para vender os seguros e outros produtos.

A Liga Comunista compôs a chapa 2, de oposição, por dois princípios:

1) A independência política em relação ao governo e aos ban-queiros, o que significa a defesa da construção de uma opo-sição de verdade sem compor com setores situacionistas da atual gestão pelega do Sindicato da CUT e do PT, ou seja, sem a Intersindical que também faz parte da atual diretoria do Sin-dicato dos Bancários e fez parte da chapa 2 na recente eleição da APCEF (vide o artigo “Por uma oposição de verdade para a APCEF!” nO Bolchevique #3). Foi por defender este princípio que nós não apoiamos nenhuma das chapas que disputaram a APCEF/SP e chamamos voto nulo no pleito.

Vale destacar que neste processo, uma fração da Intersindi-cal, o Coletivo Bancários na Luta, composto por ativistas que não fazem parte da atual diretoria do Sindicato, apoiou a chapa 2 contra a posição da direção da Intersindical de compor a cha-pa da situação.

2) A defesa da plena democracia sindical dentro da categoria e, sobretudo, dentro da oposição. É por defender este segundo princípio que quando soubemos que a chapa 2 candidata às eleições da APCEF foi impedida pelo gerente de fazer cam-panha em nossa agência, nós entramos em contato com os membros da chapa para articular a volta deles a nosso local de trabalho para fazer campanha, como de fato ocorreu.

Discordamos do balanço da última campanha salarial, come-morada pela corrente hegemônica da chapa, o PSTU e pela direção do MNOB, quando na verdade fomos obrigados a tra-balhar muito mais, com um reajuste que mal supriu as perdas

inflacionárias, muito maiores que a inflação real declarada pelo governo, um reajuste ainda mais miserável se compararmos aos superlucros dos banqueiros. Discordamos da reivindicação do salário mínimo do Dieese, cujo valor é rebaixado por este instituto controlado pela CUT, e defendemos o salário mínimo vital. Discordamos da reivindicação acrítica da PLR e denuncia-mos que este ‘benefício’ é um engodo patronal, reivindicando a incorporação ao salário do que é pago como PLR, assim como o conjunto das gratificações e abonos. Lutamos pela reposição de nossas perdas históricas e a antecipação da campanha sa-larial.

Com este programa realizamos uma importante campanha eleitoral nas agências do Banco do Brasil, da CEF e de Bancos privados (Itaú e Santander). Vale destacar que hoje 85% dos bancários trabalham em bancos privados. Fizemos campan-ha no centro de São Paulo e na região da Avenida Paulista e também abrimos contatos entre os trabalhadores terceirizados. No entanto, apesar de nossos esforços, o resultado da eleição, 83,49% para chapa 1 contra 16,51% para chapa 2 refletiu uma perda crescente de influência política da oposição hegemoni-zada pelo PSTU, esmagada tanto pela máquina burocrática do sindicato, apoiado pelo governo Dilma, como também pela ausência de um trabalho de base na categoria, particularmente nos bancos privados.

Nossa luta continua na disputa por delegados para o Con-gresso Nacional dos Trabalhadores da Caixa Econômica Fede-ral (CONECEF). No último dia 21 de junho, na assembléia para definição dos delegados ao Congresso Estadual de São Paulo da CEF, elegemos um companheiro como delegado.

Em nível imediato, haverá importantes disputas pelas CIPAs e pelos Delegados Sindicais. Nosso objetivo fundamental é ele-var a consciência política dos bancários a partir dos locais de trabalho, construir um núcleo de comunistas revolucionários, do trotskistas, na categoria. Impulsionamos uma oposição de verdade para nosso sindicato, para derrotar a chapa que re-presenta os interesses dos banqueiros e do governo Dilma e reconquistar o sindicato para os trabalhadores bancários.

Companheiro da LC na Convenção da Chapa 2 deOposição para eleição da diretoria do Sindicato dos

Bancários de São Paulo

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20 O Bolchevique No5 - Junho de 2011

No alto à esquerda: Companheira do grupo Trabalhadores de Base divide a mesa com representantante do SINTEMA na Assembléia da Greve na UFMA; No alto à direita: aclamação da greve na UFF; Embaixo à esquerda: plenária da Fasubra onde os

governistas foram derrotados. Na página ao lado,panfletos de convocatória para a Assembléia da UFMA

O Governo do PT já caminha para 10 anos. Os Trabal-hadores em Educação das Universidades Federais já deflagraram quatro greves (2003, 2004, 2005 e 2007)

nesse período e muito pouco foi conquistado. Após a conces-são de ajuste na tabela salarial parcelado em três vezes, em 2008, 2009 e 2010, o Governo Lula comprometeu-se em nego-ciar a questão da carreira da categoria fora da greve. Lula ence-rrou seu mandato e inicia-se uma nova rodada de negociações sobre essa e outras demandas da categoria com o Governo Dilma-PT-PMDB. Temos pleno discernimento de que esta não é uma nova gestão. O quadro de assessores do governo federal continua o mesmo e obviamente a pauta de reivindicações da categoria não é nenhuma novidade para eles.

Quarenta e cinco das cinquenta e duas universidades filiadas à FASUBRA aderiram à greve nacional. A Federação marcou para o dia 6 de junho a deflagração da greve dos Técnico-Administrativos em Educação das Universidades. Para que a mobilização fosse iniciada, foi necessário que os governistas da Tribo/PT, CSD/PT e CSC/PCdoB fossem derrotados numa votação em plenária do dia 1º de junho de 2011, que contabi-lizou 63 votos a favor da greve a 61 contrários. Os governis-tas se empenhavam em blindar o governo federal fazendo-nos acreditar num calendário sem fim de negociações. Não temos motivos o bastante para construir uma greve? Previsão de con-gelamento de salários por dez anos, ameaça de privatização dos HU’s, avanço das terceirizações, falta de incentivo à qua-lificação, carreira que se reduz a tabela salarial, carência de funcionários que acarreta desvio de função em massa e sobre-carga de trabalho, dentre outros ataques a nós, Trabalhadores em Educação das Universidades, que na verdade são um golpe no próprio sistema de Ensino Público Superior.

Do lado da Dilma, as centrais sindicais CUT/PT e CTB/PC-doB, que têm atrasado e refreado a insatisfação dos trabalha-dores o quanto podem, para proteger o governo de que fazem parte. Nesta década, estes traidores fizeram um trabalho muito sujo contra a organização política das nossas lutas, levando um setor da categoria a se tornar bastante desmotivado. Alia-dos ao governo e às Reitorias, os sindicatos dirigidos pelo go-verno Dilma-PT-PMDB atuam como polícia política dentro do movimento, podendo promover retaliações contra os ativistas de oposição e ao conjunto dos grevistas. A confusão política ainda é grande e joga em favor da reação e da desorganização. O ódio aos governistas provoca muita dessindicalização, um caminho errado, individualista e que, de imediato, só favorece aos próprios burocratas sindicais.

A atuação das direções sindicais governistas não pode nos impelir a sair dos sindicatos. O sindicato é um organismo que foi criado pelos trabalhadores para reunir suas forças para um fortalecimento político diante de qualquer patrão. Um trabalha-dor individualmente não consegue absolutamente nada. Para conseguir suas demandas como classe, ele precisa unir-se com seus companheiros contra seus patrões e os agentes destes patrões dentro de nosso movimento, que são os representan-tes dos interesses da burguesia dentro das nossas entidades sindicais.

Nesse processo, a CSP-CONLUTAS, ANDES e ANEL tam-bém não se apresentam como alternativa para organizar os trabalhadores, pois, diante desta situação, poderiam muito bem convocar uma greve conjunta de professores e alunos para apoio da mobilização dos técnico-administrativos e não o faz.

Precisamos relembrar que a Universidade ainda não foi priva-tizada de vez graças às nossas greves anteriores. Precisamos fazer, no mesmo calor da luta, um processo de reeducação da categoria para que ela volte a acreditar em suas próprias fo-rças, não é só possível como necessário derrotar o congela-mento salarial, a privatização, as terceirizações, a sobrecarga de trabalho, a liquidação de uma só vez da educação e de nos-sas condições de trabalho. Nesta luta, convocamos os estudan-tes, professores e os terceirizados a somarem suas forças às nossas, para a realização de assembleias conjuntas da comuni-dade acadêmica para defendermos a universidade que quere-mos sob as condições de trabalho e de gestão que almejamos. Nesta luta, os Trabalhadores de Base – oposição ao SINTEMA - realizam um combate contra a burocracia sindical dentro do Co-mando de Greve. Todos devem aprofundar sua consciência de classe e consciência política para lutar contra a sabotagem dos governistas, o descrédito que eles impõem e a desconfiança da categoria com relação a seu próprio instrumento de luta, o sindicato. Como dizia a revolucionária Rosa Luxemburgo: “ven-ceremos se não tivermos desaprendido a aprender.”

Trabalhadores de Base da UFMA

Derrotar os governistas naFasubra, nos Sindicatos

e assembléias paraderrotar o governo Dilma!

GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

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O Bolchevique No5 - Junho de 2011 21

Basta!Nós, trabalhadores da Universidade Federal do

Maranhão, nunca tivemos uma situação tão de-gradante, tão precária em nosso ambiente de

trabalho: carência de pessoal técnico-administrativo, sobrecarga de trabalho, desvio de função, infraestrutura inadequada para ensino, pesquisa, extensão e ativida-des administrativas, terceirização, assédio moral, salário defasado, projetos de lei que visam precarizar ainda mais o serviço público federal, etc.

Muitos de nós acreditaram que, com um governo do Partido dos Trabalhadores, a situação de nossa classe iria melhorar. No fundamental, não melhorou. Depois de oito anos de Lula, muitos renovaram suas expectativas votando em Dilma. Mas tanto nossa situação não mel-horou quanto o PT se aliou com a oligarquia dos Sarney, mantendo nossa escravidão no Maranhão e pagando o mais baixo reajuste de salário mínimo da história. O go-verno federal só tem nos submetido a condições de tra-balho e salário cada vez mais humilhantes.

Por mais que tenhamos reclamado diariamente, cada

sidade parou na Idade Média, tempo em que foi criada, por esta razão permanece dividida em estamentos: (1) o Magnífico REItor com seu clero de Pró-Reitores, (2) a nobreza das chefias, (3) os professores, alunos e funcio-nários servos e (4) os vassalos terceirizados.

Nos recusamos a participar das eleições para Reitor, já que nunca haverá candidato democrático enquanto a estrutura universitária for antidemocrática, monárquica, feudal. Fazemos ressoar em nossas palavras as vozes de tantos estudantes e trabalhadores de todas as Uni-versidades públicas do país que são conscientes de que esta não é a Universidade pública que queremos. Esta é a universidade que querem Dilma, Roseana Sarney, as empreiteiras, os donos das empresas terceirizadoras e os partidos patronais que os apoiam. Esta instituição di-vidida em castas, feudal, das magnificências, das vestes talares que ostentam poder enquanto servos e vassalos estão nas bases sustentando os pilares da academia.

Como nenhuma das candidaturas que se apresentam nestas eleições para Reitor se compromete com uma luta pela mudança profunda nas atuais relações de trabalho e de governo na UFMA, como a vitória de qualquer uma delas significará apenas a continuidade da opressão, su-foco, excesso de trabalho e humilhações que sofremos, não vamos dar nosso voto a nenhuma delas. Anularemos nossos votos ou nem vamos votar.

Defendemos a soberania da assembleia de toda a co-munidade universitária sobre todos os outros poderes constituídos na universidade. Defendemos que a univer-sidade seja gerida pelos três setores que a compõem, estudantes, professores e funcionários. Só assim quem trabalha e quem estuda poderá governar a universidade de forma democrática.

Trabalhadores de Base da UFMA

Nos Conselhos de Centro e Colegiados, nossa re-presentatividade é irrisória; nos Conselhos Su-periores, somos representados pelo DCE e SIN-

TEMA - o que dizer quando vemos nossas entidades representativas, dirigidas pelo PCdoB, de braços dados com a Administração Superior apoiando a continuidade de tudo o que está aí? Nossos votos valem muito menos do que os votos dos professores nas eleições para Rei-tor...

Nossas vozes não são ouvidas, nossos problemas são silenciados pela voz oficial da “democratização de aces-so ao Ensino Superior”. No entanto a condição elementar da democracia formal de que cada homem tem direito a um voto, estabelecida na revolução francesa, há mais de 200 anos, ainda não chegou à universidade, não chegou à UFMA. O voto dos trabalhadores técnico-administrati-vos e estudantes valem menos do que o dos professores dentro da UFMA. Os terceirizados sequer têm direito a voto. O que pensamos vale menos? Nós valemos me-nos? E ainda querem nos coagir a nos fantasiar vestin-do a camisa de apoiadores do candidato à reeleição da UFMA como se fôssemos palhaços?

Duvidamos que a UFMA conseguisse funcionar um dia sequer sem o trabalho dos técnico-administrativos que, na hora de decidir sobre os rumos da universidade, são desprezados por uma consulta que só serve para legitimar a continuidade desta ditadura sobre nós. A ‘de-mocracia’ na Universidade, na verdade, parou no tem-po, está atrasada há séculos. Ao contrário da exaltação à liberdade e à democracia que se finge nos gabinetes, auditórios e salas de aula, a UFMA permanece sendo um dos setores mais antiquados e antidemocráticos da so-ciedade. Nós sentimos isto na pele, na humilhação diária que sofremos sob o tacão desses democratas. A Univer-

Nestas eleições para Reitornós não vamos apoiar a continuidade de uma

ditadura contra nós mesmos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

um a sua maneira, a administração superior da universi-dade não nos escuta. O governo federal, muito menos. Os trabalhadores terceirizados, ainda mais escravizados, nem sequer são reconhecidos, são como se fossem invi-síveis, trabalham igual ou mais que os efetivos e ganham muito menos.

Só haverá uma forma de nos fazermos ouvir: nossa união, nossa paralisação coletiva, em escala nacional e por tempo indeterminado até serem atendidas nossas reivindicações. Muitos de nós já entenderam isto e, dian-te deste panorama, trabalhadores de 27 Universidades Federais do país decidiram por entrar em greve a partir do dia 06 de junho. Esta é a posição da maioria dos Sin-dicatos filiados à FASUBRA. Precisamos somar nossas energias aos companheiros que já estão em greve e po-demos contar unicamente com nossas forças!

Trabalhadores de Base da UFMADia 15 de junho de 2011, 9h, Hall do Castelão:

Todos à Assembléia Extraordinária do SINTEMA!

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22 O Bolchevique No5 - Junho de 2011

No dia 23/05, os trabalhadores rodoviários filiados ao Sin-dicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão (STTREMA) paralisaram seu tra-

balho pelos reajustes de 16% no salário (de R$ 1.016 para R$ 1.282,96), e do valor do tíquete alimentação de R$ 315 para R$ 450, inclusão de dois dependentes no plano de saúde e no pla-no odontológico, redução da carga horária diária de 7h20 para 6h. Articulado com o TRT, os patrões fizeram uma contrapro-posta insultante de Reajuste de 8,30% no salário (de R$ 1.016 para R$ 1.100,32) e reajuste do valor do tíquete alimentação de R$ 315 para R$ 341,15. Diante da proposta irrisória do TRT, os trabalhadores realizaram uma greve de uma semana contra os patrões e o Estado capitalista.

A luta dos trabalhadores rodoviários de São Luís, simultânea a dos rodoviários de Natal/RN, se deu em um contexto de lu-tas de resistência iniciadas com as heroicas greves de Jirau, passando pelas paralisações dos terceirizados da USP e pelas greves dos transportes em São Paulo (ferroviários da CPTM e rodoviários do ABC), sendo que estas poderiam ter sido fortale-cidas caso o Sindicato dos Metroviários de São Paulo (PSTU e PSOL) não tivesse desmontado a greve prevista para o último dia 01/06, traindo a unificação das lutas.

Assim como toda a população ludovicense que sofre sob o governo municipal de João Castelo (PSDB) e estadual de Ro-seana Sarney (DEM), os rodoviários padecem diariamente pe-las condições precarizadas de trabalho em que se encontram: ônibus em péssimas condições e superlotados, muitas horas de trabalho sem intervalo, falta de segurança, péssima infraestru-tura da cidade de São Luís, ... Como se não bastassem estas situações humilhantes, são obrigados pelos patrões a pagar qualquer dano aos veículos que conduzem, que quebram com grande frequência nas crateras espalhadas por todos os bairros da capital e, quando sobrevivem aos assaltos, são sujeitados a ressarcir as perdas financeiras dos empresários, que já lucram milhões pela superexploração a que submetem a categoria. O Tribunal Regional do Trabalho considerou a greve ilegal pelo fato de a categoria ter repudiado a proposta de que 80% da frota saísse às ruas. O SET (Sindicato Patronal) apresentou ao TRT o quantitativo de veículos como sendo de 1.108 veículos, entretanto, segundo o STTREMA, a frota que circula atualmen-te é de 960; sendo assim, determinar que rodassem 919 ônibus nada mais era que uma manobra estatal para resguardar os empresários, camuflada de benefício para a população, que acompanha a luta diária dos rodoviários e sofre junto a eles pelas péssimas condições do único meio de transporte públi-co existente na capital. A melhoria das condições de trabalho dos rodoviários geraria benefícios a todos os trabalhadores e as trabalhadoras ludovicenses que dependem do transporte também para se sustentar e sobreviver. Contudo, os meios de comunicação do Maranhão, hegemonicamente dominados pelo Grupo Sarney e seus aliados, fizeram questão de criminalizar a manifestação dos grevistas. Em entrevista à Mirante, empresa de TV do Grupo Sarney e filiada à Rede Globo, o Major Dió-genes do Batalhão de Choque da PM se vangloriou da ação criminosa da polícia de repressão aos manifestantes, afirmando que haviam sido presos quatro “elementos”, trabalhadores que resistiam bravamente frente a cassetetes, metralhadoras, bom-bas de efeito moral, unicamente com a força de seus corpos completamente desprotegidos.

O Anel Viário, localizado na região central de São Luís, por onde passam praticamente todos os ônibus da cidade, foi palco de investidas policiais violentas aos rodoviários, tratados como marginais pela mídia sarneysta. Enquanto isso, nas portas das garagens das empresas, mais agentes da polícia coagiam mo-

RODOVIÁRIOS - SÃO LUIS

Greve contra os patrões, a mídia, RoseanaSarney, o TRT e a tropa de choque da PM

toristas e cobradores a saírem forçadamente para o trabalho, com aval e por determinação da Justiça do Trabalho para pren-der e agredir qualquer um que impusesse resistência à coação. A polícia federal também foi acionada por essa “Justiça” para investigar e abrir inquérito contra os grevistas, cuja mobilização fora considerada “ilegal e abusiva”.

O TRT determinou que se a categoria não retornasse ao tra-balho até o meio dia de 25 de maio, o presidente do sindica-to seria preso. A despeito de toda essa pressão para o fim da greve, os rodoviários permaneceram firmes na decisão de dar continuidade ao movimento, mesmo sofrendo ameaças de de-missão por justa causa e prisão. Os meios de comunicação sar-neystas também tratam de confundir a população associando greve de rodoviários a aumento do valor das tarifas, contudo, nada é acrescido ao salário da categoria quando as passagens ficam mais caras. Os empresários são os que mais lucram com o alto custo das passagens de ônibus em São Luís, enquanto rodoviários adoecem principalmente de doenças renais, stress, depressão e problemas circulatórios, devido à sobrecarga de trabalho por mais de oito horas diárias sem intervalo.

No dia 27 de maio, após tantos ataques estatais, os rodoviá-rios voltaram ao trabalho, cumprindo a determinação do TRT de colocar 80% da frota para rodar, entretanto ainda enfrentam processos judiciais acompanhados de demissão por “justa cau-sa” de 76 trabalhadores: sendo 50 da empresa Taguatur, 20 da São Benedito e 6 da Maranhense. Diante deste ataque, a categoria já se prepara para uma nova paralisação.

Se faz necessário, frente ao arrocho salarial e à superlo-tação, que os trabalhadores rodoviários de São Luís organizem o contra-ataque da classe trabalhadora a partir do crescimento de sua organização, ponham a burocracia de seu sindicato na parede e retomem a luta, tendo como norte estratégico de sua luta a estatização dos transportes coletivos sob o controle dos trabalhadores.

Por Pilar Oliveira

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O Bolchevique No5 - Junho de 2011 23

O papel da juventude não é o de apoiar as reacio-

nárias greves do aparato repressivo (bombeiros),

não é apoiar a ofensiva de Obama ao lado dos con-

trarrevolucionários de Bengasi, nem desejar ainda

mais entorpecimento (uso de drogas). O lugar da

juventude é lutar com os trabalhadores em gre-

ve nas universidades federais contra Dilma e pela

educação pública gratuita e estatal, com os tercei-

rizados contra a precarização trabalhista, com os

povos oprimidos em sua luta anti-imperialista e para

ter consciência de que seus interesses históricos

só poderão ser plenamente satisfeitos na luta pela

construção do partido e da revolução comunista!

MANIFESTO AO CONGRESSO DA ANEL E À PLENÁRIA ESTUDANTIL NACIONAL CLASSISTA E COMBATIVA DA RECC

LIGA COMUNISTAhttp://lcligacomunista.blogspot.com Caixa Postal 09, CEP 01031-970, São Paulo, Brasil - [email protected]

A luta pela consciência da juventudetrabalhadora e quem são seus aliados hoje

A reorganização do movimento estudantil é tarefa que está posta na ordem do dia, após a UNE, controlada pelo PCdoB, agente dos dos latifúndiários assassinos

na aprovação do Código Florestal, e patrocinada pelo governo burguês do PT, ter passado a defender os interesses do capital e a atuar na desmobilização dos estudantes.

Os ataques que os estudantes e trabalhadores estão sofren-do pelas políticas neoliberais de Dilma são imensos, e a ten-dência é que a situação se agrave neste contexto de cortes nos gastos públicos e intenso arrocho salarial, o que se prova pelo recente corte de 3,1 bilhões de reais no orçamento da edu-cação.

A ANEL, entidade hegemonizada pelo PSTU, procura se referenciar como alternativa de luta aos estudantes fren-te à subordinação da UNE ao estado ca-pitalista. No entanto, temos visto que esta “alternativa” não passa de palavreado vazio, pois diante das batal-has que estão postas, tanto no campo estu-dantil como diante dos ataques imperialistas contra os trabalhadores no mundo, a ANEL tem renunciado à construção de uma organização com-bativa dos estudantes.

Como poderá a ANEL ser uma alternativa de direção para a juventude na luta contra os cortes orçamentários de Dilma, se copia acriticamente a posição defendida pela UNE, dos 10% do PIB para a educação? Não basta se opor à política reducionista do PNE, que visa precarizar ainda mais a educação. Nem os 7% do PNE e nem os 10% propostos pelo corrupto Conselho Nacional de Educação. Por Conselhos de Estudantes e Trabal-hadores para planificar a educação estatal.

Como pode ser a ANEL uma alternativa de resistência an-tiimperialista no país, se repercute a propaganda de guerra midiática imperialista de Obama, defendendo os contrarrevo-lucionários, monarquistas, xenófobos e racistas de Bengasi como se estes fossem “revolucionários”, que juntamente com a OTAN massacram o povo Líbio? Escandalosamente tanto o PSTU quanto a LER, que se apresenta como “ANEL às Ruas” não construíram e nem sequer participaram dos debates nem do ato de rua nacional organizado pelo Comitê Antiimperialista e pelo Comitê pró-Haiti contra a intervenção brasileira no Haiti, que em junho de 2011 completou sete anos, uma verdadeira renúncia ao internacionalismo e uma capitulação à própria bur-guesia dilmista.

Agora se desenvolve no país a primeira greve nacional de servidores públicos contra o governo Dilma, e nem a ANEL nem seus aliados movem qualquer dedo na direção da construção

de uma greve nacional de estudantes e trabalhadores.Estamos diante de uma grande investida do Estado capita-

lista que quer controlar melhor os estudantes e impedir a sua organização, ampliando todo o processo de crescente crimina-lização dos movimentos sociais, através da presença de poli-ciais militares nos campus e, no caso da USP, da instalação de uma base da PM dentro da cidade universitária. Mesmo diante desta grave e premente ameaça, não vemos a ANEL mobilizar ninguém, e nem ao menos fazer nenhuma campanha frente à propaganda midiáti- ca policialesca que busca

deformar a consciência dos estudantes, infundin-do-lhes medo e cumpli-cidade com a repressão.

Por falar em repres-são, enquanto não or-ganiza os estudantes para apoiar os trabal-hadores das univer-sidades, a direção da ANEL entra de cabeça no apoio à reacioná-ria greve policial dos bombeiros que neste momento juntamente com o BOPE ocu-pam, pela 18a vez, os bairros proletá-rios cariocas, que nas horas de folga participam das mi-

lícias da mesma forma como faziam serviços sujos para a a ditadura mi-

litar.E qual a perspectiva de luta, o exemplo de revolução que a

ANEL apresenta para a juventude? As conquistas da Praça Ta-hir, a “primavera árabe” patrocinada pelo G-8, o movimento dos ‘indignados’ espanhol? Parafraseando Marx, uma MISÉRIA DE REVOLUÇÃO, para além das boas intenções de seus partici-pantes. A juventude não pode se contentar com a troca de fusí-veis imperialistas como ocorre no Egito, onde um tirano odiado foi trocado por uma Junta Militar dos que executaram a tirania por 30 anos, não pode ser desviada para as praças públicas para, sob uma política apoliticista, anti-partido e anti-sindicato, não organizar a tomada e o controle dos locais de trabalho e es-tudo, acabando por pavimentar com sua consciência atrasada o avanço da reação.O papel da juventude não é o de apoiar as reacionárias gre-ves do aparato repressivo (bombeiros), não é apoiar a ofensiva de Obama ao lado dos contrarrevolucionários de Bengasi, nem desejar ainda mais entorpecimento (uso de drogas).O lugar da juventude é lutar com os trabalhadores em greve nas universidades federais contra Dilma e pela educação pública gratuita e estatal, com os terceirizados contra a precarização trabalhista, com os povos oprimidos em sua luta anti-imperialis-ta e para ter consciência de que seus interesses históricos só poderão ser plenamente satisfeitos na luta pela construção do partido e da revolução comunista!

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24 O Bolchevique No5 - Junho de 2011

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Fora a PM do campus!

Desde a ditadura, a presença da polícia militar nas universidades sempre representou fortes agressões contra os estudantes. Te-mos ainda viva em nossa memória a lembrança dos ataques

e torturas do qual foram vítimas muitos estudantes e do qual ainda continuam sendo vítimas milhares de jovens, principalmente negros e pobres. Na USP não é diferente, a policia já antes dessa suposta “onda de violência” circulava pelas ruas do campus, sendo que há bases militares instaladas nos principais portões da cidade universitária. Os agentes da repressão avançam a passos criteriosamente calculados com o objetivo de eliminar a liberdade de luta e de mobilização dos estudantes e trabalhadores.

Este mês, devido a uma suposta “onda de violência” na USP, este assunto vem novamente ao conhecimento da comunidade universitá-ria. No dia 18 de maio foi assassinado o estudante Felipe Ramos Paiva que saía da FEA (Faculdade de Economia e Administração) e se dirigia ao seu veículo no estacionamento em frente ao prédio da faculdade. Utilizando-se deste caso que, por mais terrível que seja, não represen-ta esta “onda de violência” alardeada pela mídia, a Reitoria busca criar pânico e, assim, manipular a opinião pública a fim de referendar seu interesse de colocar uma base policial dentro do Campus.

O DCE e os CA´s que deveriam representar os estudantes, se omi-tem diante de uma disputa tão importante para o futuro da “segurança” de nossas lutas, como a presença da PM na cidade universitária. E, ao não disputar a consciência dos estudantes contra a mídia, a Reitoria e seus agentes, o movimento estudantil dá margem para o avanço da direita na USP.

A USP é, de fato, uma universidade elitista, o que pode-se compro-var apenas lembrando a forma excludente como é feito o vestibular e analisando o perfil socioeconômico dos alunos. Isto já é uma violência contra todos os jovens filhos de trabalhadores que não tem condições de pagar os caros cursinhos que a burguesia paga para que seus fil-hos obtenham a vaga na Universidade pública, Universidade esta que deveria ser direcionada aos filhos do proletariado. Esta campanha da reitoria visa infundir medo na classe média estudante da USP, porém seus argumentos são, todos, falsos. Em primeiro lugar, cabe a per-gunta: qual o objetivo desta base militar dentro da cidade universitá-ria? Fazer da USP uma bolha social ainda mais restrita para a elite, isolando-a da violência, que é fruto da estrutura econômica exploradora do capitalismo e está presente em toda a sociedade, com muito mais intensidade fora dos muros da Universidade do que dentro?

É preciso expor o cinismo e a demagogia do reitor Grandino Ro-das, que tenta se mostrar a favor da segurança dos estudantes, porém nunca se preocupou em tomar medidas bem simples para garantir a mesma, como por exemplo, aumentar a iluminação no campus. Não é novidade que na USP sempre ocorreram casos de estupro, assim como em muitos outros locais da cidade de São Paulo, e principal-mente naquela região, por concentrar muitos locais isolados e escuros. Também nenhuma repercussão teve o caso do estudante que passou mal nas proximidades da praça do relógio e, por falta de ambulância do Hospital Universitário para removê-lo, acabou morrendo. Vale lembrar também que Rodas foi a favor da liberação dos responsáveis pelo as-sassinato da Zuzu Angel durante os anos de chumbo.

Intencionalmente encobrindo estes graves problemas para não ser

desmoralizada, a Reitoria apresenta um discurso que se assemelha aos piores discursos nazistas e ditatoriais, trazendo a militarização da universidade como solução para a violência dentro do campus. Mas, que solução pode trazer este destacamento de homens armados que, na luta de classes, apenas serve aos interesses do capital, atuando para ordenar a exploração dos trabalhadores, institucionalizada pelo Estado capitalista? Para os trabalhadores, e em especial, para os tra-balhadores moradores nas favelas ao redor da USP, como por exem-plo, a Paraisópolis, segunda maior de São Paulo, a polícia nunca repre-sentou segurança. Ao contrário, sempre foi sinônimo de medo, morte e repressão. No Rio de Janeiro, na última década, dez mil pessoas foram mortas pela polícia. Na última semana, vimos um policial da Unidade de Polícia Pacificadora assassinar friamente, com tiros pelas costas, um garoto de 16 anos, empregado de um supermercado da região e que, como a maioria dos jovens assassinados, não possuía nem passagem pela polícia.

Na USP, a maior expressão da truculência policial desde a ditadura militar promovida pela Reitoria, “pau-mandado” do governo Serra, inimi-go declarado da educação pública, foi a brutal repressão ao movimento grevista da Universidade em 2009, quando este fascínora enviou a tro-pa de choque para atacar os estudantes e dispersar a manifestação a base de tiros, bombas, cassetetes, balas de borracha e todo o arsenal bélico de que é dotado o aparato repressivo.

Mas, tenhamos claro: tanto interesse, justamente agora, de trazer uma base policial para dentro do campus, não é por acaso, e muito me-nos se destina a resolver o problema da violência na Universidade, uma vez que, como já vimos, há medidas muitos simples que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, e não foram. A “verdade por trás dos fatos” é que a Reitoria da USP vem seguindo um curso privatista e li-quidacionista da Universidade Pública. Vem implementando várias me-didas de violência contra o ensino público e a qualidade da educação em nosso país. Privatizações, terceirização dos serviços por empre-sas picaretas que não pagam o salário dos trabalhadores (inclusive se mantendo trabalho escravo, como o que aconteceu com as terceiriza-das da empresa União, há poucos meses), salas de aula superlotadas, laboratórios de informática insuficientes, falta de títulos nas bibliotecas, baixo investimento em pesquisa, salas com risco de desabamento etc., são o resultado da gestão Rodas que, como consequência natural, têm a insatisfação e a revolta dos estudantes, funcionários e professores da USP. Dessa maneira, o objetivo real da instalação da base da PM no campus é reprimir preventivamente os estudantes e trabalhadores, coi-bindo qualquer iniciativa de protesto contra os desmandos da reitoria, para, então, levar a cabo tranquilamente sua política de destruição da Universidade pública.

Não queremos que se consolide a permanência da policia militar no Campus. Não aceitamos a instalação de bases militares na Cidade Universitária. A segurança dos estudantes, professores e trabalhadores deve ser organizada pela própria comunidade universitária, deliberada em assembleia democrática, orquestrada a partir de um comitê de au-todefesa organizado pelo DCE, Sintusp e Adusp.

Rosa, Estudante de História da USPCarpe, Estudante de Letras da USP

2009, brutal repressão da PM contra os estudantes da USP

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O Bolchevique No5 - Junho de 2011 25

Nenhum apoio às reacionárias greves policiais nemdefesa da “desmilitarização” do aparato repressivo

burguês. Fim de todas as polícias! Por comitêssindicais e populares de socorro mútuo e auto-defesa!

Enquanto sabota a unificação das greves dos trabalhadores, a esquerda re-visionista fortalece a luta de seus algozes. Nos referimos especialmente à traição feita pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, dirigido pelo

PSTU-PSOL(CSOL e CST)-PPS, que abortou a que seria a maior greve unitária do Estado de São Paulo dos últimos anos. A greve estava marcada para iniciar no dia 1º de junho, quando os metroviários se unificariam com os trabalhadores da Companhia Paulista de água e esgoto (SABESP), com os ferroviários e com os rodoviários do ABC paulista. Todavia, estes mesmos senhores, através da CSP-Conlutas e da Intersindical, realizaram uma grande unidade com os bombeiros e a PM em torno do apoio à reacionária greve dos primeiros.

Para os marxistas, e fundamentalmente para Trotsky, um operário que se torna policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês e não um “trabalhador fardado”. Isto é assim porque um policial, independente de sua classe de origem, faz parte de um destacamento especial de homens armados que exerce o mo-nopólio da violência a serviço da classe dominante contra o proletariado. Mas, a esquerda revisionista do trotskismo (PSTU, CST, OT, EMPT, MR, CL) apoia as reacionárias greves policiais, greves que reivindicam o aumento dos soldos e o incremento do aparato repressivo (‘melhores condições de trabalho’, como na faixa acima ao lado da bandeira tremulante da CSP-Conlutas).

A greve ocorrida em tempo de corte de gastos e ajuste fiscal se deve ao des-prezo do Estado burguês com um setor secundário de seu aparato repressivo. Os bombeiros, que para o senso comum existem apenas para prestar socorro em enchentes, apagar incêndios e tirar gatos de árvores, são na verdade uma corporação militar que faz parte da PM, um destacamento destinado a operações especiais do Estado burguês.

Em tempos de ascenso, de muitas manifestações de massa, são invocados para a repressão com jatos d´água contra greves e manifestações de rua. Por sua especialização com explosivos, é dos bombeiros que saem as forças parami-litares da extrema-direita (como no atentado a bomba no show contra a ditadura militar que reuniu os melhores cantores brasileiros no primeiro de maio de 1981 no Riocentro). As mafiosas e criminosas milícias são compostas mais de bombeiros do que de PMs, como até a CPI das milícias concluiu.

Os bombeiros são uma força auxiliar do BOPE, Polícia Militar, Polícia Civil, Po-lícia Federal e das Forças Armadas na invasão dos bairros proletários, como foi o caso da ocupação do Morro da Mangueira, na zona Norte do Rio, no último dia 19 de junho, para a ocupação do Morro pela 18a “Unidade de Polícia Pacificadora” (UPP). Uma angustiante lição para aqueles moradores da Mangueira que apoia-ram a greve dos bombeiros, os quais correm o risco de dar de cara, arrombando a porta de seus casebres, com aqueles bombeiros que ontem, de forma ingênua, parabenizaram por sua greve.

As correntes de esquerda que apoiam a greve destes policiais, por puro espon-taneísmo sindicalista, apoiam compulsoriamente o aprimoramento da máquina

assassina dos inimigos da classe trabalhadora. Por isto, a LC foi contra esta greve, mas também não defende a prisão ou o processamento dos grevistas, medidas que também fortalecem a autoridade coercitiva do Estado capitalista.

LER E LBI DEFENDEM A REFORMA DO APARATO REPRESSIVO

A LER, que foi contra a greve, se opôs sectariamente a chamar a libertação e o desprocessamento dos grevistas, reconhecendo tacitamente o direito repres-sivo de Cabral. Por sinal, embora posem de principistas, tanto a LER quanto a LBI declinam diante desta força policial, reivindicando a desmilitarização desta corporação. No auge de sua declamação de ortodoxia, a LER vacila “Apoiaría-mos, se houvesse, um movimento dos bombeiros pela sua desmilitarização mas não um movimento que fortalece esta força que pode ser repressora e menos ainda por levar ao fortalecimento do conjunto das forças repressoras do Estado.” (Nenhum apoio ao repressor Sérgio Cabral nem ao motim dos bombeiros, site da LER, 5/06/2011).

A LBI, por sua vez, vende gato por lebre no “combate” às posições da LER e do PSTU e acompanha a ambos em sua enorme capitulação à própria manutenção deste aparato policial, pondo hierarquicamente a consigna socialdemocrata: “Pela desmilitarização do Corpo de Bombeiros!” (site da LBI, 06/06/2011) como a primei-ra, ou seja, como a mais importante no título de seu artigo sobre a greve bombeira, seguindo os passos da corrente mãe, o PCO, que defende a democratização das PMs assim como a corrente revisionista-mor, o PSTU. Quem defende tais po-sições, não busca a destruição, mas a reforma do aparato repressivo.

Esta proposta é tão reacionária que até as organizações Globo e o patronato da indústria armamentista brasileira a defendem: “Para especialistas, a desmilitari-zação dos bombeiros - frequentemente associados a milícias - é uma necessidade urgente. Na opinião de todos os consultados pelo GLOBO, a rotina militar desvia o foco da atividade fim, além de comprometer a profissionalização e a autonomia... Até empresário de arma acha um “erro histórico”. Tratar como urgentes a desmi-litarização do Corpo de Bombeiros e o fim da autorização de porte de arma para seus integrantes é consenso. O advogado e oficial da reserva do Exército Fernan-do Humberto, presidente da Confederação Brasileira de Tiro e Caça do Brasil e empresário da indústria de armamento, afirmou que bombeiro militar e armado é um erro histórico que o país precisa corrigir: ‘- Defendo que todo cidadão brasileiro tenha o direito de possuir uma arma, mas considero um absurdo a militarização dos bombeiros. Eles deveriam ter só status civil, como acontece em outros países. Bombeiro também não precisa de arma, de andar armado. Precisamos corrigir já esse erro histórico.’” (O Globo, Repercussão: Especialistas defendem desmili-tarização dos bombeiros, 18/06/2011) http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/06/18/especialistas-defendem-desmilitarizacao-dos-bombeiros-924720354.asp

Somos pela destruição dos bombeiros porque são uma polícia burguesa, por serem, repetindo mais uma vez os ensinamentos do velho Engels, um destaca-mento especial de homens armados do Estado capitalista, não simplesmente por serem militarizados. Aliás, a reivindicação da desmilitarização, neste caso, parte de concepções de reformas liberais-pacifistas do aparato repressivo do Estado capitalista, que nada têm a ver com o marxismo. As milícias operárias revolucio-nárias que combaterão ao conjunto das polícias militarizadas e não militarizadas necessitarão ser militarizadas e hierarquizadas para poderem vencer o inimigo. Por sua vez, os bombeiros são militarizados no Brasil e não militarizados nos EUA, Japão e Austrália, e nem por isto deixam de ser uma força coadjuvante da repres-são policial nestes países. Com esta política, jamais “revolucionários” do quilate de uma LER ou LBI poderiam realizar uma revolução, pois além dos bombeiros, estes pseudotrotskistas certamente deixariam então intacta a arqui-reacionária, corrupta e assassina polícia civil, que não faz parte da corporação da PM, não é militarizada, mas é parceira da PM em todas as atrocidades deste esquadrão patronal assassino contra a classe trabalhadora.

Por tudo isto defendemos, nenhum apoio à greve bombeira, contra as medidas de Cabral de repressão à greve, destruição de TODAS as polícias e substituição das mesmas por comitês sindicais e populares de auto-defesa e socorro mútuo da classe trabalhadora!

BOMBEIROS - RJ

19/06/2011 - Com o auxílio dos bombeiros, blindadoinvade o Morro da Mangueira (RJ) para a impor a 18ª UPP

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“MARCHA DA MACONHA”

Nossa posição sobre as drogasNo dia 18 de junho ocorreram as “Marchas da Liberdade”. Segundo

os organizadores, participaram 40 cidades brasileiras e pelo me-nos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília foram

reunidas cinco mil pessoas. O movimento pela legalização da maconha que há muitos anos realizava pequenas manifestações anuais tomou um novo impulso após a selvagem repressão policial à “Marcha da Maconha” no dia 21 de maio em São Paulo. A partir de então, converteu-se em uma miscelânea de manifestações pela liberdade de expressão (pela legali-zação das drogas, em defesa da greve policial dos bombeiros, LGBTT’s, em defesa dos bicicleteiros, contra o machismo, punks, ecologistas, ve-gans) cuja “reivindicação geral” é a “regulamentação que proíba o uso de armamentos pela polícia em manifestações sociais” (Manifesto da Marcha da Liberdade – SP), ou seja, pela regulamentação da repressão.Vale destacar que desde a imolação de um trabalhador tunisiano, reivindi-cando o direito de pelo menos ser camelô, até a “marcha das vadias” pelo direito das mulheres vestirem-se como desejam contra os preconceitos machistas, passando pela luta contra a criminalização do uso de dro-gas, todas estas reivindicações nasceram de reivindicações imediatas extremamente justas, mas sua espontaneidade, em que, em um primeiro momento reside sua força, logo se converte em seu maior perigo, quando acaba se transmutando em um movimento para legitimação de uma for-ma mais estável de opressão e exploração capitalistas.

Em meio à diversidade, as características predominantes são o fato de socialmente pertencerem à pequena burguesia, se organizarem em ONG´s e se articularem pelas redes sociais da internet. A mídia burguesa e alguns partidos como o PSTU e a LER apontam que este fenômeno re-presenta a chegada da “primavera árabe” no Brasil. Se nasceram a partir de protestos espontâneos, hoje a tão propalada “primavera árabe” é um fenômeno de massas que por não ter qualquer protagonismo proletário, nem muito menos uma direção revolucionária, acabou sendo manipulado pelo imperialismo para reciclar seu domínio naquela parte oprimida do planeta. Não por acaso, o G-8 acaba de aprovar em sua última reunião uma doação de 40 bilhões de dólares para impulsionar o movimento.

Outra característica comum destes movimentos é o apartidarismo mi-litante, a rejeição até do uso de carros de som e as ilusões pacifistas e de conciliação com o aparato repressivo. Ao mesmo tempo em que ali-mentam estas concepções em nome do combate ao autoritarismo da es-querda, à hierarquia e ao dirigismo, os “anti-autoritários” coordenadores da marcha, entre eles Desentorpecendo A Razão, Movimento do Passe Livre, Aymberé e Movimento Fora do Eixo, reuniram-se com o comando da PM entre a manifestação do dia 21 e a do dia 28 de maio para estabe-lecer não apenas o caráter desta última manifestação, mas para garantir ao aparato repressivo que não iriam fazer mais a “marcha da maconha”, que a partir de então seria chamada “marcha da liberdade”, que não só coibiriam a alusão à maconha em suas palavras de ordem como também tornariam-se os próprios coordenadores da marcha, uma polícia política contra a liberdade de expressão de seus companheiros, um acordo sobre bases tão reacionárias que poucos depois, no dia 15 de junho, o arqui-reacionário Supremo Tribunal Federal autorizou a “Marcha da Maconha”.

“UM ASSUNTO PRIVADO PARA O ESTADO,MAS NÃO PARA O PARTIDO”

Nós da LC defendemos o direito às liberdades individuais civis e de-mocráticas dentro do Estado burguês. Defendemos intransigentemente o direito do controle das pessoas sobre seu próprio corpo, ou seja, ao sui-cídio, à prévia determinação da eutanásia, ao aborto, a usar os adereços que bem entendam (roupas, véus, tatuagens, piercings, silicone,...). Nes-tes marcos, somos favoráveis à descriminalização das drogas ilegais.

Mas, uma coisa é defender O DIREITO ao uso de drogas, como parte da luta pelo controle do corpo contra o capital, outra coisa é usar drogas e renunciar, pela via química, ao controle da consciência. Mesmo defen-dendo a liberdade do uso das drogas ilegais e legais, o marxismo revolu-cionário considera o uso regular e sistemático dos entorpecentes e do ál-cool como alienantes. Assim como a religião é o ópio do povo, o “ópio”, ou seja, o conjunto das drogas, obviamente, é o próprio “ópio do povo”, bem utilizado pelo imperialismo para desmoralizar e entorpecer suas vítimas e pelos Estado capitalista para o controle social de minorias. Como afirma

o militante negro estadunidense, preso no corredor da morte, Mumia Abu Jamal “a maconha, a cocaína, o LSD e a heroína... foram usadas para destruir a população negra dos EUA”. Um dos dividendos principais da in-tervenção imperialista na Colômbia, ex-Iugoslávia (Kosovo) e Afeganistão é o aumento do controle do tráfico de drogas em escala planetária pelos cartéis de Washington. O consumo de drogas de efeito mais destrutivo como o crack é cinicamente administrado pelo Estado para exterminar uma parcela da juventude lumpemproletarizada. Em dezembro o Ministé-rio da Saúde declarou que existem 1,2 milhões de pessoas viciadas em crack no Brasil, com perspectiva de causar 300 mil mortes nos próximos 6 anos. A manipulação do tráfico de cada droga para diferentes nichos sociais tem fundamentos diferenciados para o capitalismo cuja perversão vai além dos lucros que a mesma fornece como mercadoria.

Ainda que estes movimentos possuam uma nítida composição de jo-vens de classe média, os marxistas formulam suas posições a partir da ótica do que é mais progressivo para os trabalhadores. Se buscamos que os explorados rompam com a alienação da ideologia burguesa e que o proletariado se converta em classe para si, arrastando consigo a ju-ventude, a pequena burguesia e setores semi-proletários, devemos nos posicionar contra o entorpecimento das consciências provocado pelo uso constante das drogas.

Para os bolcheviques, assim como a religião, as drogas devem ser um tema privado para o Estado, mas não para o partido revolucionário. Lenin afirma:

“Exigimos que a religião seja um assunto privado em re-lação ao Estado, mas não podemos de modo nenhum con-siderar a religião um assunto privado em relação ao nosso próprio partido (...) Em relação ao partido do proletariado a religião não é um assunto privado. O nosso partido é uma associação de combatentes conscientes e de vanguarda pela libertação da classe operária. Essa associação não pode e não deve ter uma atitude indiferente em relação a inconsciência, a ignorância ou ao obscurantismo sobre a forma de crenças religiosas.” (Lenin, “O socialismo e a reli-gião”, Novaia Jizn #28, 03/12/1905).

O combate à inconsciência, à ignorância e ao obscurantismo também deve se dar quando estes se expressam através da droga que oblitera a luta pela superação da ideologia burguesa pela ideologia comunista.

Assim como a religião, os bolcheviques combateram também o al-coolismo, inclusive se valendo das medidas excepcionais herdadas do czarismo durante a primeira guerra mundial:

“Dois fenômenos importantes imprimiram a sua marca no mundo de vida operário: a jornada de oito horas e a proi-bição da vodka. A liquidação do monopólio da vodka, que a guerra exigia meios tão avultados que o czarismo podia renunciar, como a um pecadilho, aos rendimentos que lhe advinham da venda de bebidas alcoólicas. Um bilhão de mais ou de menos era a diferença mínima. A revolução foi herdeira da liquidação do monopólio da vodka; sancionou o facto, fundando-se, porém em considerações de princí-pio. É só depois da conquista do poder pela classe ope-rária — poder construtor consciente de uma economia nova — que a luta do governo contra o alcoolismo, luta ao mesmo tempo cultural, educativa e coerciva, adquire toda a significação histórica. Nesse sentido a interdição da venda devido à guerra imperialista, de nenhum modo modifica o facto fundamental de que a liquidação do alcoolismo vem acrescentar-se ao inventário das conquistas da revolução. Desenvolver, reforçar, organizar, conduzir com êxito uma política anti-alcoólica no país do trabalho renascente — eis a nossa tarefa. E os nossos êxitos econômicos e culturais aumentaram paralelamente com a diminuição do números de “graus”. Nenhuma concessão é aqui possível.” (L. Trots-ky, “A Vodka, a Igreja e o Cinema”, Do Questões do Modo de vida).

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ATIVIDADE INTERNACIONAL

Relato do Socialist Fight sobre oFestival anual organizado por

Lutte Ovrière na França

O Luta Socialista teve uma barraca na “Fête” (Festival) de Lutte Ouvrière, realizada em uma fazenda perto da pequena aldeia de Presles, em Val d’Oise, a 50 quilômetros ao norte de Paris, no fim

de semana de 11 - 13 de Junho. Este é o maior encontro da esquerda que se reivindica revolucionária no mundo, atraindo cerca de 40.000 vi-sitantes no fim de semana. Na atividade foram vendidas muitas edições de “Luta Socialista” e “Em Defesa do Trotskismo”, a imprensa do Grupo “Luta Socialista”, “Qina Msebenzi”, a imprensa do “Grupo Revolucionário Marxista” da África do Sul e “O Bolchevique” e “The Bolshevik”, da Liga Comunista.Este ano o evento pareceu menor do que nos últimos anos e certamente o “politique cité”, onde todos os grupos de esquerda concentram suas barracas e se envolvem em debates políticos no Fórum, foi menor do que nunca. Nos anos 80 e início dos anos 90 essa parte era enorme, a maior parte do Festival.

A crise política da esquerda era evidente. O Novo Partido Anticapita-lista (Nouveau Parti anticapitalista, NPA), tinha uma barraca grande. A

Liga Comunista Revolucionária (LCR, ligado ao Secretariado Unificado da Quarta Internacional, mandelista), que afirmou ser o maior grupo “trotskista” do mundo, dissolveu-se no NPA em 2009, com a expectativa de aumentar sua votação eleitoral. Porém, o resultado foi o oposto: os trabalhadores radicais franceses abandonaram-os em massa, reduzindo o seu apelo eleitoral. O índice de votação do conjunto dos grupos da extrema esquerda despencou de um patamar de 10%, obtidos em 2006, para cerca de 3% agora.

Um camarada do Chile que conversou conosco se recusou a acre-ditar que o NPA exigiu que todas as potências imperialistas e todos os estados do mundo burguês reconhececem os rebeldes Bengasi como o legítimo governo da Líbia. “Vou perguntar a eles”, disse ele, e dirigiu-se à barraca do NPA. No retorno reconheceu “você está certo, mas eles disseram que era apenas seus dirigentes, que não concordavam com esta exigência”. Bem, se é o caso das fileiras da base do NPA serem mais anti-imperialistas do que os seus dirigentes, então eles certamente não têm muitos direitos democráticos dentro de sua organização para derrotar esses dirigentes.

Todos os grupos presentes, a exceção da Tendência Bolchevique Inter-nacional (TBI), ou apoiaram o ataque à Líbia ou apoiaram os rebeldes de Bengasi. Alguns incrivelmente opõem-se aos bombardeios da OTAN, mas continuam a apoiar os “rebeldes revolucionários”, o exército de terra do imperialismo. Todavia, a TBI, juntamente com os outros dois integrantes da “Família espartaquista”, a Liga Comunista Internacional e o Grupo In-ternacionalista, se recusaram a tomar uma posição consequente de frente única anti-imperialista com o regime de Kadhafi contra os “ rebeldes”.

A Lutte Ouvrière se esforçou para se identificar como a corrente trots-kista da França, sentindo o vazio no mercado. Mas, o próprio nome do grupo internacional “União Comunista Internacionalista (trotskista)” aponta suas contradições. “Mas porque é ‘trotskista’ entre parênteses?”, perguntou um militante de longa data da corrente, revelando as disputas internas tradicionalmente bem ocultadas pelo grupo. O LO se opõe ao bombardeamento da OTAN sobre a Líbia, mas se trai no resto do pro-grama, pois não defende nenhuma frente única anti-imperialista com Gaddafi e nem sequer defende a derrota das forças da OTAN em terra, os ‘rebeldes Bengasi’. Nas questões estritamente sindicais, o LO enco-briu as traições das direções sindicais nas greves dos petroleiros e dos trabalhadores portuários e estudantes contra cortes das aposentadorias no mês de Outubro-Novembro de 2010. Sua colaboração crescente nos sindicatos com o Partido Comunista da França (PCF) ultrapassou a legíti-

O partido não pode nutrir uma posição administrativa em relação ao ópio do povo. Mas, menos ainda tem o direito de ser complacen-te com o agravamento da alienação através das drogas. Falamos de toda e qualquer droga que agrave por meios químicos a perda da consciência já falsificada pela ideologia burguesa, pois algumas co-rrentes acabam por manter uma posição ambígua ou omissa sobre o tema elegendo algumas drogas (a maconha, por exemplo) como mal menor diante de outras (o crack). Não bastasse a profunda embria-guez ideológica da juventude hoje, algumas correntes defendem o uso das drogas superestimando os efeitos pretensamente positivos das mesmas, afirmando que podem ser “um estimulante benéfico, social e medicinal”. Não existem drogas confiáveis no capitalismo e a tarefa de desenvolver drogas potenciadoras das habilidades humanas é uma tarefa pós-revolucionária, quando os cientistas socialistas de um Es-tado operário vão poder juntamente com o proletariado controlar todo o processo produtivo.

O partido que renuncia de modo liberal ao combate contra o en-torpecimento do pensamento causado pela religião ou pelas outras drogas, acaba por renunciar também à luta pela consciência política revolucionária das massas, renuncia à revolução.

... Nossa posição sobre as drogas(Continuação da pág. 26)

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ma tática da frente única, convertendo-se claramente em uma orientação estratégica para fazer sua própria ascenção na burocracia sindical. Vajam como eles próprios justificaram a política vendida dos burocratas sindi-cais no final do ano passado:

“Os dirigentes sindicais têm o direito de esperar que, em um proble-ma social, eles poderiam participar das negociações e poderiam justificar o seu papel e sua preferência por negociações que obtenham algumas concessões que poderiam usar contra o descontentamento dos trabalha-dores. Bem, eles certamente não participaram das negociações!”

O grupo Lutte Ouvrière defende a traição sindical às greves contra a reforma previdenciária na França, Alex Lantier, 10 de dezembro de 2010 http://www.wsws.org/articles/2010/dec2010/lutt-d10.shtml

Agora é a hora de combater fortemente tais correntes que estão se aproximando da burocracia sindical e do interesse de seus próprios esta-dos imperialistas, como demonstraram na recusa a se mobilizarem contra a reforma previdenciária e contra o ataque à Líbia, deixando os militantes de base cada vez mais preocupados com a direção destas correntes.

Gerry Downing,Luta Socialista (Grã Bretanha)

“O Bolchevique” da LC participa do ‘Festival’ de Lutte Ovrière na França, lançando sua

versão em inglês “The Bolshevik”

O Bolchevique - Outubro de 2010 1

O Bolchevique assinatura solidária de 24 números - 100 reaisContacte-nos: [email protected]

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PRISIONEIROS REPUBLICANOS IRLANDESES

Pelo reconhecimento da condição de presospolíticos e pela liberdade para os prisioneiros republi-canos irlandeses das garras do imperialismo britânico!

Boletim do Grupo de Apoio aos presos políticosirlandeses; cartaz pela liberdade de Marian Price; protesto

no Ministério da Justiça em Londres; marcha àprisão de Maghaberry

A Irlanda foi atrofiada desde o século XII até hoje em seu desenvolvimento pela invasão inglesa que fez da ilha vi-zinha sua primeira colônia, subjugada “através do mais

abominável reinado do terror e da mais condenável corrupção” (Carta de Marx a Kugelmann, 29/11/1869). A luta deste povo sempre foi acompanhada de forma apaixonada por Marx e En-gels que defendiam intransigentemente a libertação nacional irlandesa e os presos políticos fenianos (organização revolucio-nária guerrilheira irlandesa). Para Marx a libertação da Irlanda era “A” condição preliminar da revolução socialista na Inglate-rra.

“Portanto, é tarefa da Internacional, em toda parte, colocar em primeiro plano o conflito entre a Inglaterra e a Irlanda, pondo-se abertamente ao lado da Irlanda. E é tarefa do Co-mitê Central em Londres despertar a consciência dos operá-rios ingleses para o fato que, para eles, a emancipação na-cional da Irlanda não é uma questão de justiça abstrata ou de sentimentos humanitaristas, mas a primeira condição para sua própria emancipação social”. (Carta de Marx a S. Meyer e A. Vogt, Londres, 09/04/1870, grifos no original).

É a partir desta luta que Marx deduz que “um povo que sub-juga outro forja suas próprias cadeias.”

Após séculos de dominação colonial, o povo irlandês se le-vantou em armas em 1916. A Inglaterra tentou sufocar a rebe-lião, ocasionando uma guerra civil que terminou em 1921 com a libertação da maior parte do território do país. No entanto, seis dos 32 condados irlandeses, de maioria anglicana situados no norte, mantiveram-se sob ocupação britânica. A maioria dos ir-landeses — tanto no território liberado que deu origem à Repú-blica da Irlanda quanto na parte norte, ocupada — não aceitou essa situação e, durante todo o século XX, houve luta armada na Irlanda do Norte. Em 1972, as tropas de ocupação ingle-sas dispararam contra uma manifestação pacífica em Derry, na Irlanda do Norte, matando quatorze pessoas, das quais sete eram menores de idade. Todas as vitimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas.

Os manifestantes protestavam contra a política do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. Essa política era dirigida contra o Exército Republi-cano Irlandês, o IRA, uma organização guerrilheira que lutou pela separação da Irlanda do Norte da Grã-bretanha e posterior união com a República da Irlanda.

Após o “Domingo Sangrento”, o IRA ganhou um número enor-me de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro. Em memória daquele dia, foi feita a canção Sunday Bloody Sunday! em 1983, pela banda irlandesa U2 (que depois se converteu em uma das principais bandas do imperialismo).

Em 1981, vários militantes do IRA presos na Inglaterra, lide-rados por Bobby Sands, entraram em greve de fome para que a Coroa reconhecesse sua condição de prisioneiros políticos. Após 66 dias, a inflexibilidade do governo inglês leva-os à mor-te. Mas a greve desmoralizou a Dama de Ferro, Margareth Tat-cher, fundadora junto com o ianque Ronald Reagan da ofensiva antioperária batizada de neoliberalismo. Tatcher aumentou a presença das tropas britânicas nos 6 condados e tentou crimi-nalizar o republicanismo irlandês aos olhos da opinião pública, suprimindo qualquer diferença entre o tratamento dispensado, nos cárceres, entre o IRA e os presos comuns.

Em resposta, os presidiários republicanos irlandeses defla-

gram uma greve de fome. Suas reivindicações: não usar unifor-mes de presidiário; não realizar trabalhos forçados; liberdade de associação e organização de atividades culturais e educa-tivas; direito a uma carta, uma visita e um pacote por semana; e que os dias de protesto não fossem descontados quando do cômputo do cumprimento da pena. Recusando-se a ser trata-dos como criminosos, defendiam, simultaneamente, sua digni-dade pessoal e a legitimidade da luta pela libertação de seu país. Ao custo de 10 mortes, os grevistas conseguiram duas vitórias, uma moral, ao fazer com que os ingleses, mesmo sem conceder-lhes oficialmente o status de presos políticos, ame-nizassem a repressão carcerária poucos meses após o fim do movimento; e uma vitória política ao frustrar os planos de crimi-nalização da luta pela libertação nacional irlandesa aos olhos

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No dia 04 de junho realizou-se em São Paulo o ato nacio-nal contra a intervenção imperialista no Haiti e na Líbia. Participaram da atividade as organizações: Comitê An-

tiimperialista, Comitê Pró-Haiti, Liga Comunista, Espaço Cultu-ral Latino Americano, Refundação Comunista, Espaço Cultural Mané Garrincha, NATE, Núcleo do PSOL de Santa Cecília, PCO, PH, PCB, MST, UST, Intersindical, PCR e OT. A atividade foi divulgada na internet, blogs e sites. Cartazes foram colados nas universidades USP, PUC, Cásper Líbero, ESPSP, agências bancárias, Sindisprev/SP, nas assembleias dos trabalhadores metroviários, e em vários outros locais de trabalho e estudo. Reuniram-se trabalhadores de diversas categorias: bancários, dos correios, da USP, teleoperadores, operários, professores e estudantes universitários e do ensino médio, funcionários pú-blicos e privados, aposentados, terceirizados. A concentração foi na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal, e de lá as organizações, ativistas e lutadores sociais independentes,

aproximadamente 100 manifestantes, marcharam em passeata bloqueando o viaduto do Chá, passando em frente à Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, até a Praça da Sé, onde se concluiu a atividade.

BOICOTE DOS QUE CAPITULARAMAO IMPERIALISMO E AO GOVERNO DO PT

Para os marxistas revolucionários, em uma guerra entre um país oprimido e o imperialismo é preciso tomar a defesa incon-dicional do país oprimido. Independente do regime que possua o país oprimido (seja ele uma ditadura despótica ou uma demo-cracia liberal) é preciso defendê-lo do imperialismo que intervém no mundo para aumentar a pilhagem sobre as riquezas naturais (no caso líbio, o petróleo), a exploração sobre os trabalhadores subjugados e obter o pleno controle político-militar da região. Portanto, se suas forças vencem o conflito, impreterivelmente

Frente Única de Açãoversus

Frente Popular de colaboraçãoBalanço do Comitê Anti-imperialista e polêmica em torno de um velho tema

PASSEATA EM SÃO PAULO DENUNCIA OCUPAÇÃO DO HAITI E INTERVENÇÃO NA LÍBIA

Se a união é verdadeiramente necessária, escrevia Marx aos dirigentes do partido, façam acordos para realizar os objetivos práticos do movimento, mas não cheguem ao ponto de fazer comércio dos princípios, nem façam “concessões” teóricas. Tal era o pensamento de Marx, e eis que há entre nós pessoas que, em seu nome, procuram diminuir a importância da teoria!

(Lenin, Que Fazer?, 1902)

do mundo. Uma grande proeza levando em conta que em seus onze anos de governo, Thatcher esmagou todos os que atravessaram seu caminho, desde a ditadura militar argenti-na (na guerra das Malvinas) até o movimento sindical inglês. Convicto até o final de seus dias Bobby Sands afirmava: “Eles não têm nada em seu arsenal imperial que possa quebrar o espírito de um irlandês que não quer ser quebrado”

Mas, em 1998 o Sinn Féin, braço político do IRA, assina o Acordo de Belfast (GFA) pelo desmantelamento da guerrilha. Este acordo é uma expressão do fortalecimento do imperia-lismo após a restauração capitalista na URSS sobre aquela luta de libertação nacional. A partir de então, aumentou a re-pressão aos presos políticos republicanos irlandeses, princi-palmente entre os militantes que discordaram da capitulação do IRA, como Marian Price, dirigente do Movimento pela So-berania dos 32 Condados (32CSM).

Segundo o Boletim do Grupo de Apoio aos Presos Políti-cos Irlandeses (IRPSG, fac-símile na pág. 29 deste jornal), “na prisão de Maghaberry em 29/05/2011: a cela de Harry foi invadida pela tropa de choque, sem que previamente tives-se havido qualquer confronto ou troca de palavras, apenas

a brutalidade. Seus óculos foram quebrados com tanta força que entraram vidros nos seus olhos. Ele possui múltiplas la-cerações no rosto. Os bandidos fardados seguraram-no, en-quanto outros deram socos, chutes e rasgaram suas roupas.”

De acodo com Gerry Downing, dirigente do Socialist Fight britânico e Secretário do IRPSG, “existem irlandeses prisio-neiros de guerra hoje lutando como em 1981. A resistência é inevitável. Os ‘dissidentes’ republicanos denunciam que o imperialismo britânico continua dividindo o povo irlandês pela força e por isto eles continuam a luta para a expulsão das forças da coroa. A luta pelo reconhecimento da condição de presos políticos, que foi abandonada há 13 anos com a assi-natura da GFA, está se intensificando dentro das prisões, da mesma forma que os 10 da greve de fome morreram há 30 anos atrás. O GFA dificultou a unificação da Irlanda. Na Con-ferência do Sinn Féin no 30º aniversário da greve de fome, em 18/06/2011 em Londres, exigimos que os participantes deste encontro assumissem a sério suas responsabilidades para com os presos de hoje, lutando por seu status político e que o Sinn Féin rompa com a política de austeridade econômica sobre a classe trabalhadora e os pobres.”

...PRISIONEIROS REPUBLICANOS IRLANDESES(Continuação da pág. 29)

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será imposto um outro regime burguês cuja missão é acentuar o parasitismo e a opressão sobre a população trabalhadora. E, se vence a batalha na Líbia, o imperialismo sai fortalecido na luta de classes contra os trabalhadores do Brasil e de qualquer outra parte do globo. Nisto consiste a essência da questão líbia.

A agressão imperialista de Bush ao Iraque e Afeganistão pro-vocou um repúdio mundial de massas. Vale lembrar que milha-res de pessoas participaram da gigantesca manifestação que marchou da Avenida Paulista ao Ibirapuera em 2003. Entretan-to, a intervenção militar da OTAN que está balcanizando a Líbia dispõe de uma ampla cumplicidade da vanguarda “anti-impe-rialista”; Obama, tanto ou mais que o também “imperialista-de-mocrata” Clinton que provocou uma guerra fratricida e dividiu a Iugoslávia nos anos 90’, conta com o apoio crítico da esquerda pequeno burguesa. Neste dia 04 nós marchamos porque não nos deixamos enganar pelo bombardeio midiático que conven-ceu a quase totalidade desta esquerda a se alistar no exército de papagaios das mentiras difundidas pelo imperialismo para recolonizar a África.

Por sua vez, a ocupação do Haiti pelo governo do PT, que completou sete anos neste dia 04, não dispôs de outro repúdio além da nossa manifestação porque já foi assimilada e natura-lizada pela quase totalidade da esquerda brasileira. Ambas as agressões são, no máximo, motivo da oposição protocolar dos “antiimperialistas” de palavras, cúmplices do neocolonialismo de fato. Não por acaso estiveram ausentes do ato as direções do PT, PCdoB, PSOL, PSTU, CUT, CTB, CSP-Conlutas e In-tersindical. Vale destacar que o MST, com todo o peso social que ainda tem, só enviou um dirigente e que a UST não dispôs de seu aparato sindical em favor da construção da atividade. A corrente OT do PT só enviou um militante para a atividade. A CST, que participou das primeiras reuniões e do debate, não foi à manifestação. A Liga Operária e o PCML, que estiveram no debate do dia 21 de maio no ECLA, também não foram. A LER-QI se negou a participar deste emblemático protesto e apenas uma militante de base compareceu ao mesmo.

Concretamente, o boicote total ou parcial da maioria dos apa-ratos sindicais e partidários ao Comitê Antiimperialista, justifica-do por algumas organizações por motivos administrativos, se deve, no mínimo, à falta de compreensão da luta anti-imperia-lista, mas sobretudo às diferenças políticas e ao fato do Co-mitê não servir de camuflagem aos que de palavras se opõem à intervenção imperialista, mas apoiam a ação dos agentes mercenários da CIA em solo líbio, assim como fazem Obama e Sarkozy, apresentando os contrarrevolucionários de Bengasi como “revolucionários”.

O PSTU e a CSP-Conlutas que em coro com Obama e seus agentes em solo líbio defendem o “Abaixo Gadafi!”, esquivam-se até de participar de um debate para o qual foram convida-dos, onde poderiam livremente e democraticamente expor suas posições pró-imperialistas, mas dada a superficialidade de seus argumentos, baseados na euforia em torno da “primavera ára-be”, correm léguas de nossa campanha anti-imperialista e deli-beram o mesmo para sua base militante.

Outras organizações com algum peso político ou de massa enviam apenas um quadro dirigente para as atividades do Co-mitê para não ficar evidente o boicote da mesma à luta anti-im-perialista e, por outro lado, para proteger suas bases do franco debate político sobre a questão da Líbia ou do Haiti, no qual a posição da organização é frágil e pró-imperialista.

O fato de ser um Comitê de Ação não significa que a luta política e programática deixe de se processar entre os compo-nentes do Comitê. O PCO, por exemplo, revela a causa política de sua participação no ato contra a ação do imperialismo na Líbia: “É necessário desmascarar a suposta ação humanitária do imperialismo que não armou os insurgentes nem ofereceu qualquer ajuda real, pelo contrário impede a luta dos trabalha-dores e das massas contra Kadafi.” (site do PCO, 10/06). Fica evidente que para a CST/PSOL e para o PCO, o imperialismo está fazendo corpo-mole em sua intervenção, devendo jogar todo o peso em armar os “revolucionários de Bengasi”. Certa-mente estas correntes estariam ‘contempladas’ com a simples substituição dos pilotos estadunidenses ou franceses pelos mercenários de nacionalidade líbia à frente do manche dos aviões que bombardeiam diariamente com urânio empobrecido a população líbia.

Todo este boicote político não é por acaso. Se transferidos

para o teatro de operações da guerra, seja no país caribenho ou africano, que hoje são vítimas de intervenções militares, segu-ramente os verdadeiros antimperialistas estariam na barricada oposta a várias destas organizações políticas brasileiras.

FRENTE ÚNICA, FRENTE POPULARE ULTIMATISMO OPORTUNISTA

Todo este boicote não nos impediu de realizar uma significati-va marcha no centro da maior capital do país. A realização desta atividade não seria possível se não contasse com a disposição militante de vários quadros e companheiros de base das orga-nizações que constroem o comitê, com os quais comprovamos ser possível tanto a colaboração prática comum como também estreitamos relações pessoais até então inexistentes.

A LC interveio por diversas vezes no ato através de seus militantes trabalhadores ressaltando a importância do comitê de ação como um instrumento da luta internacionalista para quebrar a resistência dos aparatos burocráticos dos partidos, correntes e sindicatos agentes do imperialismo e do governo Dilma. Ao mesmo tempo, defendeu uma política anti-imperialis-ta consequente através de uma frente única militar com a resis-tência haitiana e com o governo líbio, sem emprestar nenhum apoio político nem se subordinar militarmente a correntes es-tranhas ao proletariado revolucionário. Deixamos claro que, ao reivindicar uma frente única com o caudilho Gadafi, a LC está se colocando contra o “Abaixo Gadafi” que neste momento é a política de Obama, Sarkozy e do G8. Algumas correntes que-rem identificar esta política como “etapismo”. Teriam que dizer o mesmo de Lenin quando propôs um “compromisso” com o governo burguês de Kerensky contra Kornilov:

“Em que consiste pois a nossa mudança de tática, após o motim de Kornilov? Em modificarmos a forma de nos-sa luta com Kerensky. Sem reduzir a nossa hostilidade para com ele, sem retirar uma só palavra que tenhamos pronunciado contra ele, sem renunciar a derrubá-lo, nós declaramos que é preciso ter em conta o momento; que não nos preocuparemos na hora presente em derrubar Kerensky; que o combatemos, agora, de uma outra ma-neira, patenteando ao povo (que combate a Kornilov) a fraqueza e as hesitações de Kerensky” (Lenin, Ao CC do PSDR, 30/08/1917).

A concepção que diz ser impossível fazer uma frente única com Gadafi contra o imperialismo, porque Gadafi tornou-se um agente do imperialismo, é tão tola como a que acredita ser im-possível fazer uma frente única em um ato anti-imperialista com correntes que alimentam ilusões nos agentes internos do impe-rialismo na Líbia. Ambas se apoiam em um radicalismo vulgar. Da negação marxista da contradição absoluta, esta concepção deduz a negação de toda e qualquer contradição, mesmo re-lativa entre a burguesia gadafista e o imperialismo, ou entre o imperialismo e as organizações políticas pequeno burguesas. A partir destas contradições os revolucionários que não dispõem sozinhos de força política e material capaz de transformar a realidade devem saber construir comitês de ação com aliados vacilantes e pouco confiáveis sob determinados critérios. Como recorda Trotsky da tática de Lenin no episódio de Kornilov às vésperas da ascensão do nazismo na Alemanha, quando ele, Trotsky, propunha uma frente única entre a social democracia e o PCA:

“Nenhuma plataforma comum com a social-democracia ou com os chefes dos sindicatos alemães, nenhuma edição, nenhuma bandeira, nenhum cartaz comum: marchar separadamente, lutar juntos. Combinação ape-nas nisto, como combater, quem combater e quando combater? Nisto, pode-se entrar em acordo com o pró-prio diabo, com sua avó e mesmo com Noske. Com uma condição: conservar as mãos livres (...) Nada atenuar de nossa crítica à social-democracia, nada esquecer do passado. Toda conta histórica, nela compreendida a conta de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, será apresentada oportunamente, como nós, bolcheviques russos, apresentamos, no fim de tudo, uma conta geral aos mencheviques e socialistas-revolucionários, pela

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expulsão, calúnia, prisões e assassínios de operários, soldados e camponeses. Mas só apresentamos a nossa conta geral, dois meses depois de nos termos utilizado dos ajustes de contas parciais entre Kerensky e Korni-lov, entre os “democratas” e os fascistas, a fim de mais seguramente repelir o fascismo. Foi unicamente graças a isto que vencemos.” (Carta ao operário comunista ale-mão do PCA, 08/12/1931).

SAUDAÇÃO AO ATO CONTRA AINTERVENÇÃO MILITAR NO HAITI E NA LÍBIA

Nós, Trabalhadores de Base da Universida-de Federal do Maranhão, saudamos a todos os participantes do “Ato contra a intervenção impe-rialista na Líbia e no Haiti”. Consideramos como uma necessidade histórica a iniciativa de reunir a vanguarda dos trabalhadores para tornar público nosso repúdio às operações intervencionistas do imperialismo em países historicamente massacra-dos pelas burguesias nacionais e internacionais. Temos por obrigação que prestar solidariedade e apoio ao povo líbio, palestino, afegão, iraquiano e haitiano, posto que uma vitória do imperialismo ou de seus agentes mercenários seja na Líbia ou em qualquer um desses países será uma derrota para nós trabalhadores, enquanto a vitória desses povos constituirá uma vitória de todos os trabal-hadores do mundo, vítimas do mesmo regime, o capitalismo em sua fase mais bárbara e cruel, que nos oprime por meio dos mesmos gestores, Oba-ma, Dilma e seus aliados.

Trabalhadores de Base da UFMA

As fraquezas e hesitações do ‘socialista’ Kerensky pavimen-taram o caminho de Kornilov. A social-democracia alemã – ou melhor dizendo, os social-imperialistas – dirigidos por Noske, o mandante do assassinato de Luxemburgo e Liebknecht, pavi-mentaram o caminho de Hitler. Como bem caracterizou o escri-tor Isaac Deutscher, o assassinato dos dois dirigentes da Liga Espartaco foi o primeiro triunfo da Alemanha nazista. O ‘socia-lista’ Allende desarmou os cordões industriais do proletariado chileno e pavimentou o caminho de Pinochet. Igualmente, a po-líticas dos governos Milosevic, Saddan Hussein e Gadafi aplai-naram o terreno da intervenção militar imperialista que sofreram e sofrem as nações oprimidas dirigidas por estes mandatários. Todavia, aos verdadeiros revolucionários não cabe o luxo de ostentar uma política de ultimatismo burocrático – como tiveram os stalinistas alemães do PCA, traição pela qual Trotsky con-cluiu que a III Internacional estava definitivamente falida para o proletariado mundial, sendo necessário construir uma nova internacional – nem muito menos a capitulação ao imperialismo como fazem todo o arco revisionista do trotskismo irmanar-se na defesa dos “rebeldes” de Bengasi.

No Comitê Antimperialista estabelecemos um acordo em tor-no de uma convocatória comum para atividades práticas que se baseassem no combate aos agentes externos (OTAN) e inter-nos (CNT, mercenários líbios armados pela CIA) do imperialis-mo na Líbia. Esta delimitação repeliu muitas organizações da esquerda defensora dos ‘contras’ de Bengasi, como no caso, o PSTU. A cobrança por empenho efetivo na construção da ativi-dade prática depurou mais ainda o Comitê.

DESERÇÃO DA LUTA ANTIIMPERIALISTAE ANTICAPITALISTA E CONSTRUÇÃO DA UNIDADE

No processo de constituição desta frente única, algumas co-rrentes vêm fazendo zigue-zags para manter a aparência anti-imperialista enquanto funcionam como caixa de ressonância da propaganda midiática imperialista em favor da “primavera árabe” que se apoia em levantes espontâneos (Tunísia, Egi-to, Bahrein, Iêmen), sem direções revolucionárias, e outros nem tão espontâneos, melhor dizendo, ‘levantes’ claramente fabricados pela usina de golpes de Estado da CIA (Líbia, Sí-ria e Irã), com direções abertamente contrarrevolucionárias e pró-imperialistas para substituir os atuais regimes políticos por outros mais afinados com os insaciáveis apetites imperialistas após a última crise financeira. Não foi à toa que a cúpula do G-8 deliberou por ajudar as “revoluções árabes” com 40 bilhões de dólares e defendeu a renúncia de Gadafi, o “abaixo Gadafi” como também defendem PSTU, CST e LER.

Para além das denúncias que realizamos em nosso blog e no jornal, a frente tem desmascarado que o anti-imperialismo de muitos não passa de palavras vazias, e que na hora de orga-nizar uma luta efetiva contra a intervenção, os revisionistas se unem no boicote à luta.

Tomemos a “Esquerda Marxista” do PT (EMPT), por exem-plo, corrente ligada à CMI de Alan Woods, o mais proeminente sucessor da política de liquidação pablista do trotskismo dentro de aparatos partidários controlados por partidos burgueses com influência de massas (Partido Trabalhista inglês, PT no Brasil, CNA sul africano, PPP no Paquistão e PSUV na Venezuela). A política do CMI é impulsionar frentes populares e não fren-tes únicas de ação. A EMPT participou das primeiras reuniões do Comitê propondo que o mesmo adotasse a tática de ficar adulando a burocracia sindical lulista, com cartas de exigências alimentando ilusões na disposição anti-imperialista dos men-saleiros da CUT e do PT, cúmplices e mandantes da ocupação militar do Haiti via governo federal. Quando o comitê se recu-sou a adotar esta tática claudicante frente populista, rechaçou a consigna pró-imperialista do “Abaixo Gadafi” e em sua con-vocatória denunciou o governo Dilma pela ocupação militar do Haiti e pelo salário de miséria imposto à classe trabalhadora brasileira, a EMPT abandonou o Comitê.

A ciber-trotskista LBI que, em nome de fazer uma frente única militar com Gadafi, se opõe a reivindicar um programa operá-rio revolucionário independente (não subordinação à disciplina militar do exército do caudilho líbio, direito de greve, de sindica-lização, plenos direitos trabalhistas aos trabalhadores estran-geiros, constituinte revolucionária, etc.) e ainda faz propaganda

Cartazes da campanha Anti-imperialista

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política enganosa do regime burguês, embelezando o mesmo ao jurar que da Líbia não saía uma gota de petróleo para os EUA, estabelece politicamente, não uma frente militar, mas uma frente popular, de colaboração de classes, com Gadafi. Para compensar a perda militante com a ruptura da LC, a LBI acentuou suas características auto-proclamatórias e messiâni-cas de forma patológica, apelando cada vez mais aos truques do mundo virtual para suprir sua impotência real. Foi assim que ao ver negado seu pedido de compor a mesa do debate do dia 21/05 no ECLA, buscou por qualquer meio outra forma de aparecer. Primeiro propôs uma vergonhosa negociação progra-mática a fim de estabelecer um eixo político comum dentre as distintas e inconciliáveis posições políticas do comitê. O diri-gente desta corrente propôs em sua fala que: “A frente única se mantém não com os eixos de A ou B ou C, ela se mantém com os eixos que são determinados por um consenso ou por uma maioria... Nós defendemos além do eixo que está colocado aqui pelo comitê com o qual nós temos acordo, ‘a vitória militar da nação líbia frente à agressão da OTAN”. Não há nada mais ambíguo, mais oportunista do que buscar uma frente política para irmanar distintas posições do comitê em torno de um eixo programático comum de “pela vitória militar da nação líbia fren-te à agressão da OTAN”, posição que facilmente contemplaria até a CST que acredita que os mercenários de Bengasi são os legítimos representantes da nação líbia. Por trás de um suposto principismo a LBI defende uma politica oportunista, frente po-pulista, de colaboração de classes tanto em relação a Gadafi quanto em relação ao Comitê Antiimperialista. Foi então que a corrente prostrada que nunca esteve disposta a construir uma verdadeira unidade de ação pela derrota do imperialismo seja no Brasil, na Líbia ou em qualquer parte e que hoje não pas-sa de uma caricatura de si mesma, desertou do Comitê assim como a EM do PT.

Educados sob a tradição petista e sob a estratégia da Frente Brasil Popular, vários militantes acreditam que frente única é um acordo sob um ponto político-programático comum, como defenderam a CST e a LBI no debate do dia 21. Acreditamos que esta concepção é fruto da má escola petista da vanguarda de esquerda brasileira. Por sua vez, a política de frente popular conduziu o movimento operário a sangrentas tragédias, é um crime contra a independência política da classe.

No momento atual, a questão das questões é a frente popular. Os centristas de esquerda procuram apresen-tar esta questão como uma manobra tática ou até técni-ca, para poder melhor vender sua mercadoria na som-bra da frente popular. Na realidade, a frente popular é a questão principal da estratégia proletária desta época. Também oferece o melhor critério para distinguir entre o bolchevismo e o menchevismo.” (León Trotsky, “Car-ta ao RSAP holandês”, julho de 1936).

Acordos práticos com outras forças políticas não só são admissíveis como até em certos momentos obrigatórios. Não fazem apologia abstrata da unidade nem caem no fetichismo em torno da tática da frente única que deve ter objetivos prá-ticos bem delimitados, como a organização comum de mani-festações, debates, colagens, chapas sindicais, para responder aos grupos “fascistas”, sob completa independência organiza-tiva e política, sem estabelecer programas comuns nem renun-ciar à crítica aos aliados circunstanciais.

Em seus parcos meses de existência, a jovem Liga Comunis-ta vem se caracterizando pelo rechaço à paralisia oportunista, à prostração política e ao sectarismo estéril, constituindo frentes únicas de ação no combate ao imperialismo, aos neonazistas e à burocracia sindical governista.

Em outubro de 2010, constituímos o comitê com os professo-res do CLPI para realizar colagens de cartazes nos pontos de ônibus, pinturas dos muros nas linhas de trem do ABC paulista, denunciando para o proletariado as candidaturas patronais de Dilma e Serra e chamando os trabalhadores a boicotarem ou votarem nulo nas eleições presidenciais. Em março de 2011, no Rio de Janeiro realizamos o ato pelo “Fora Obama!” na Cine-lândia, constituindo uma frente com a FIST, RECC e o CL para marchar adiante quando as outras organizações (CUT, CTB, Conlutas, Intersindical, MST, PSOL, PSTU, CST, LER, LBI,...)

se subordinaram ao PT, anfitrião de Obama, que proibiu ex-pressamente aos seus militantes de protestarem contra o im-perador. Em abril, em São Paulo, no MASP, realizamos com o SINTUSP, a LER e os anarquistas um corajoso contra-ato de enfrentamento aos criminosos fascistas bolsonaristas.

Nas eleições para a diretoria da APCEF nos opomos a cons-tituir uma chapa de oposição composta pela Intersindical que faz parte da diretoria do Sindicato dos Bancários e agora parti-cipamos de uma outra chapa de oposição com o PSTU e o ES nas eleições para a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo contra a CUT e a Intersindical.

Todavia, o Comitê Antiimperialista é impulsionado por jovens e pequenas organizações como a própria LC e é preciso re-conhecer esta debilidade para superá-la, e ampliar o Comi-tê a partir de sua nucleação nos locais de trabalho e estudo, vinculando-o às lutas cotidianas da classe operária, para dar consequência de forma ininterrupta e revolucionária às lutas de emancipação nacional. É importante destacar que desde o iní-cio a LC buscou dar um caráter internacionalista a este comba-te e encontrou importantes aliados nos agrupamentos Socialist Fight (Grã-Bretanha), e Revolutionary Marxist Group (África do Sul) que apoiaram nossas atividades, enviando saudações de solidariedade que foram lidas nas mesmas. Com estas organi-zações trotskistas, a LC não constituiu um comitê de ação, mas um acordo de concepções programáticas entre nossas três or-ganizações, no marco de uma declaração internacional comum dirigida ao proletariado e a sua vanguarda internacionalista.

Ao contrário de alguns que temem o debate político aberto, a luta de partidos dentro do Comitê o fortalece, separa o joio do tri-go e impulsiona a unidade dos que buscam fazer um verdadeiro combate político anti-imperialista e anti-capitalista. A vitória da manifestação consiste em ter reunido aqueles trabalhadores e ativistas que efetivamente se colocaram pela construção de uma manifestação unitária anti-imperialista. O Comitê alcançou seus objetivos, conseguimos realizar um importante protesto de rua no centro da maior cidade do país contra a ocupação militar do Brasil no Haiti, que neste dia 04 completou sete anos, e, pela primeira vez desde 2003, quando da invasão do Iraque, passar a mensagem anti-imperialista dos lutadores sociais brasileiros.

Orador da LC ao megafone em frente ao Teatro Muncipale marcha sobre o viaduto do Chá com carro de som

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Saudação do grupoSocialist Fight da Grã Bretanha

DEBATE ANTIIMPERIALISTA

O Luta Socialista envia suas mais calorosas sau-dações para o Debate organizado pelo Comitê contra a intervenção imperialista na Líbia com

a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 21 de maio de 2011.

O imperialismo tornou-se mais sanguinário e predador em suas tentativas violentas para descarregar sua crise sobre as costas da classe trabalhadora e dos povos semi-coloniais. Seus bombardeios ilegais na Líbia são projeta-dos para garantir total controle sobre recursos interpostos naturais da Líbia, particularmente sobre o petróleo e o gás natural. Assim, os imperialistas dos EUA, Inglaterra e França procuram fazer uma nova conquista da África às custas do sangue e dos ossos de suas vítimas para ganhar a disputa contra seus rivais da Alemanha, Rússia, China, Índia e Brasil, que abstiveram-se nas Nações Uni-das de votar pela zona de exclusão aérea. Posteriormen-te a África do Sul passou a apoiar o bloco das potências invasoras votando a favor da zona de exclusão aérea que verdadeiramente deu início à guerra.

Os imperialistas também procuram roubar os pobres sem terra e a classe trabalhadora do Brasil. O MST, com 1,6 milhões de sem terras, em aliança com a classe tra-balhadora brasileira, luta contra a injusta distribuição de terras e pelos seus direitos civis. Para terem acesso à terra, os despossuídos necessitam de um novo contra-to social que proporcione um modo de vida sustentável

Trecho da apresentação da RevistaIn Defence of Trotskysm #2, verão de 2011

publicada pelo Socialist Fight:

“A ofensiva do imperialismo contra a classe trabalha-dora do mundo tem se intensificado acentuadamente desde a crise de escassez de crédito que começou em 2008. De mãos dadas com esta está a ofensiva contra a ideologia da libertação da classe trabalhadora global, o trotskismo revolucionário. É escandaloso o colapso político e ideológico de todos os grupos da “esquerda soft” que se recusam a chamar uma Frente Unida Anti-Imperialista, sem apoiar politicamente a Gadafi, e que continuam a apoiar os rebeldes contra-revolucionários de Bengasi e exigir a derrubada de Gadafi em conjunto com o imperialismo. Hoje, os novos ideólogos renegados se juntam ao pânta-no do oportunismo de ontem; Karl Kautsky encontra um novo sucessor em Lars T Lih. Max Shachtman e Raya Du-nayevskaya, anteriormente apenas defendidos por Sean Matgamna, encontram novos adeptos em Cyril Smith, A Comuna, Revolução Permanente, o Movimento para o Socialismo, István Mészáros e etc. Cliff Slaughter procu-ra superar o bolchevismo de Lênin e Trotsky unindo-se a escória contra-revolucionária reformista da história ao gosto de Kautsky. In Defence Of Trotskysm luta contra todos esses ideólogos pequeno-burgueses, inimigos do futuro comunista da humanidade.”

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o caminho para uma luta maior contra o sistema capitalista global. Nosso anti-imperialismo é claro e fundamental para o nosso bolchevismo! Somos a favor de uma Irlanda unida, secular e socialista! Nós somos por uma Palestina unida, se-cular socialista! Somos a favor da derrota militar das forças da OTAN/ONU na Líbia!

Nós nos voltamos diretamente para os movimento de mas-sas dos trabalhadores - sindicatos, movimento sem terra; jo-vens e estudantes, para as mulheres e para a comunidade gay e lésbica. Para eles, nós dizemos: Não podem alcançar a liberdade sozinhos - seus interesses são os mesmos - o seu futuro está na reconstrução socialista da sociedade! A luta contra o imperialismo só pode ser conduzida pela classe trabalhadora, é uma luta que só pode ser vencida como e quando a classe trabalhadora tornar-se de uma classe em si a uma classe para si - independente da burguesia, lutan-do em seu próprio programa e se preparando para tomar o poder em seu próprio nome! Para que isso aconteça o mo-vimento dos trabalhadores, as camadas mais avançadas, devem forjar para si um partido revolucionário, parte de um partido internacional da revolução socialista!

Saudamos a todos vocês pelo esforço de levantar a ban-deira do anti-imperialismo! Saudamos os nossos camaradas na Liga Comunista do Brasil! Sua luta é nossa luta - A hora da derrota do imperialismo se aproxima! Vamos nos preparar para cavar a cova e enterrar o cadáver fedorento e podre do capitalismo global! Viva o anti-imperialismo! Avante ao So-cialismo!

Solidariamente, Tom MunroGrupo Revolucionário Marxista - África do Sul

21 de maio de 2011

para os pobres que moram em áreas rurais. Reconhece-mos a luta militante que levou o MST a ocupar a fazenda de laranja em Borebi, no Estado de São Paulo em 2009, de propriedade da multinacional Cutrale, luta que inspira a classe trabalhadora e os oprimidos em todo o mundo. Escandalosamente 1,6 % dos proprietários controla cer-ca de metade (46,8%) das terras agricultáveis. Enviamos nossas saudações revolucionárias para vocês em sua luta e desejamos-lhe todo o sucesso.

Estamos todos cientes das dificuldades de direção para nossa luta no enfrentamento desta crise. As direções exis-tentes de todas as organizações da classe trabalhadora são muito burocratizadas, comprometidas com ‘suas pró-prias’ classe capitalistas e com a valorização dos seus próprios privilégios corruptos e estilos de vida que os leva a trair as lutas da classe trabalhadora e dos oprimidos em todas as ocasiões. Mesmo quando uma nova esperança surgiu na década de 1980, com o surgimento de novas di-reções sindicais e partidos operários na África do Sul e no Brasil, quando muitos acreditaram que lutariam fielmen-te pelas massas, logo estas novas direções abraçaram a agenda neoliberal do imperialismo mundial. Hoje o CNA da África do Sul e o Partido dos Trabalhadores do Brasil não são mais do que os fantoches de Wall Street e da City de Londres e traidores de suas próprias bases.

As coisas não são melhores na Grã-Bretanha. Aqui os líderes sindicais, até os ‘esquerda’ aceitaram totalmente a política de austeridade do governo conservador de David Cameron. Infamemente até o principal sindicato, o Unite, com o seu novo líder de ‘esquerda’, Len McCluskey, rei-vindicou o “cortes dos trabalhadores temporários” em ple-na manifestação contra as 500 mil demissões em 26 de março, em Londres. Em outras palavras, ele abandona a defesa dos trabalhadores mais explorados e precarizados sob o lema “corte o emprego dele e não os nossos!” Que traição!

Camaradas estamos juntos com vocês nestas lutas. Nós oferecemos-lhe a nossa mais profunda solidariedade re-volucionária em sua luta para derrotar as grandes empre-sas e corporações internacionais, que roubam as terras do Brasil. Para derrotar os planos do imperialismo mundial na Líbia e ajudar a classe trabalhadora e os oprimidos do mundo. Avante camaradas, até a vitória, venceremos!

Socialist Fight – Grã Bretanha20 de maio de 2011

Mesa do Debate composta por Lúcio F.de Almeida (PUC/SP), Marcelo Buzetto (MST), o mediador do

ECMG e o representante do Comitê e membro da LC de pé lendo a Saudação do SF inglês

Membro da Liga Comunista defendendo as posições da corrente no Debate Antiimperialista. Abaixo, foto

da mesa de publicações da LC no evento

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Viva os trabalhadores em lutapara derrotar o imperialismo!

Camaradas, estamos muito satisfeitos em poder esten-der a solidariedade a vocês nesta atividade que vocês estão empreendendo de construção de um Comitê

Anti-imperialista de ação e desejamos-lhes todo o sucesso nessa empreitada.

Como vocês sabem tanto a África do Sul eo Brasil são fo-rças regionais a serviço do imperialismo. O governo do CNA na África do Sul e do PT no Brasil são governos burgueses, pró-imperialistas com grandes ambições para o seus pró-prios projetos imperialistas “nacionais” em suas respectivas regiões do globo. O PT e o CNA não são apenas pró-imperia-listas - eles também abraçaram a agenda do neoliberalismo e até agora estão preparando novos ataques contra o proleta-riado. Tanto o PT quanto o CNA são hábeis na retórica de ser “pró-pobres” e “desenvolvimentistas”, mas por trás dessas palavras vazias e mentiras, escondem seu caráter de clas-se verdadeiro - eles são os melhores agentes políticos para as suas respectivas classes capitalistas, sobretudo porque estes partidos são supostamente organizações de massas, e são muito competentes em enganar a classe trabalhadora com ilusões parlamentares e patéticas “reformas”.

A luta contra o imperialismo é, portanto, uma luta contra a burguesia e os seus agentes políticos dos nossos países. Não vamos fugir do dever internacionalista proletário. Vamos continuar a mostrar - na prática - que a classe trabalhado-ra não tem nenhum interesse em comum com sua “própria burguesia”, que a classe operária não tem pátria e que só a revolução socialista internacional pode acabar com a miséria e degradação que a grande maioria dos pessoas do mundo suportam para que poucos possam viver na riqueza e super-luxo.

Nosso inimigo é o capitalismo! Nosso inimigo é a “burgue-sia patriótica”! Nosso inimigo é o imperialismo! Nosso inimigo são os agentes do capitalismo e os campeões da paz social e da unidade nacional!

Foi a classe trabalhadora que derrotou o apartheid e o regi-me militar. Infelizmente os trabalhadores não tiveram tempo para forjar uma direção revolucionária com base no progra-ma socialista de independência de classe capaz de liderar o movimento de massas para a conquista do poder. O PT e o CNA, cada um a seu modo, tem enganado a classe trabal-hadora e enfraquecido a classe trabalhadora e suas organi-zações. Mas os trabalhadores do mundo estão aprendendo rapidamente que não há tal coisa como “progresso social” na época do imperialismo e que não há imperialismo sem guerras e violência! Sabemos e entendemos a máxima bol-chevique: o imperialismo é a época de guerras e revoluções!

Enquanto o imperialismo aparece forte, a cada nova aven-tura militar, a cada nova investida contra a classe trabalhado-ra, também acentuam-se as contradições de classe e abre-se

De pé à direita, uma camarada da LC lendo a saudação do RMG no Debate Antiimperialista. Na mesa prof. Lúcio

F. de Almeida (PUC/SP), Marcelo Buzetto (MST), mediador (ECMG) e o representante do Comitê Antiimperialista (LC).

SAUDAÇÕES REVOLUCIONÁRIAS PROLETÁRIAS INTERNACIONALISTASDO RMG (ÁFRICA DO SUL) AO DEBATE ANTIIMPERIALISTA

Acima o jornal Qina Msebenzi do Revolutionáry Marxist Group da África do Sul. Segundo o RMG: ‘Qina Msebenzi’ significa ‘ser forte trabalhadores’, numa tradução literal,

mas o seu verdadeiro significado é parecido com ‘ser firme / teimoso ser / ser intransigente’, por isso tem dois signi-ficados, que é como ele é usado como um slogan do mo-

vimento dos trabalhadores: ‘Os trabalhadores são fortes e poderosos” e “sua missão é ser firme’. É Zulu, como parte da família das línguas nguni é amplamente compreendido.”