o berro número 0

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O O OBERRO BERRO BERRO BERRO BERRO ANO 1 - N° 0 - MENSAL - R$ 1,00 - OUTUBRO/2008 Pedidos: Caixa Postal: 50083 - Rio de Janeiro - RJ - CEP. 20050-970 Tel/fax: (21) 2208-2979 www.achiame.com Na eleição, polititica no ventilador. E ainda: Sérgio Macaco e outros bichos. Incrível! Malatesta ressuscita!

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Page 1: O Berro número 0

OOOOOBERROBERROBERROBERROBERROANO 1 - N° 0 - MENSAL - R$ 1,00 - OUTUBRO/2008

Pedidos:

Caixa Postal: 50083- Rio de Janeiro - RJ

- CEP. 20050-970

Tel/fax:

(21) 2208-2979

www.achiame.com

Na eleição, polititica no ventilador.

E ainda: Sérgio Macaco e outros bichos.

Incrível! Malatesta ressuscita!

Page 2: O Berro número 0

EDITORIALberro1: sm (de berrar) 1 Voz de boi, cabrito, ovelha e outros animais.2 Voz humana emitida em tom elevado e áspero. 3 Bramido, rugido.4 V berne. 5 gír Revólver. No berro: a gritos, a valentona.ber.ro2: sm Bot Planta escrofulariácea (Mimulus luteus).

Retirado do Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelishttp://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/

index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=BERRO

CONTATOS INFORMAÇÕESADICIONAIS

Caro leitor:Este espaço é seu.

Participe através de nossoe-mail.

Faça contato com a gente.

Você é fundamental paranossa existência.

[email protected]

Esperamos por vocês.

Os Editores.

Capa:Frente: Retirado do projetoComunidade Editoria. Foto de Fabio da SilvaBarbosa e Luiz Henrique Peixoto Cal-das. “A Grande Montanha de Lixo Des-pejado no Morro do Céu 24 Horas porDia”.Verso: Foto de divulgação do livro deWinter Bastos: “Malandragem, Revol-ta e Anarquia”, batida por Fabio da Sil-va Barbosa. O livro foi lançado pelaeditora Achiamé e reflete sobre três gran-des autores da literatura brasileira: JoãoAntônio, Antônio Fraga e Lima Barreto.

O BERRO

DIREITOS REPRODUTIVOS, DIREITOS DE VIVER

Endereços afins:*Biblioteca Social Fábio Luz (situadano Centro de Cultura Social RJ - R. Tor-res Homem, 790, Vila Isabel, Rio, RJ. Aber-ta aos sábados das 9h às 17h) [email protected].*Centro de Cultura Antônio Martinez -Cx. Postal 525522, S. Paulo, SPCEP08010-971.

“– Não sei como, em semelhante sequidão, aindahá quem se lembre de ter filhos... – Vocênão vê como estão cheios de crianças osabarracamentos de retirantes?!... Até pareceimundície, tanto menino..

- É só o que Deus dá aos pobres...

– É um morrer de crianças que até parecepraga...

– Se não morressem, mulher, o mundo já nãocabia mais a gente. Depois, anjinhos, não fazmal morrerem... Vão para o céu rezar pelospais...

– Assim mesmo – retorquiu uma grande matronaque tinha junto quatro crianças – eu não queroque os meus morram... Já que nasceram é melhorque se criem...

– Pois eu tive cinco – atalhou outra – que Deuschamou à sua santa glória. Foram para o céudireitinho, só passaram pelo purgatório paravomitar o leite pecador...” .(Domingos Olímpio – “Luzia Homem”,capítulo 10)

No Brasil de hoje, temos impressão de estarmosno século 19, quando a mulher era consideradamero objeto para satisfação do homem.Assalariadas, estudantes, donas-de-casa sãotolhidas em seus direitos reprodutivos quando,muitas vezes, lhes é negado acesso a métodoscontraceptivos. Quem depende exclusivamentede hospitais públicos sabe a dificuldade em seobter preservativos, anticoncepcionais, pílulasdo dia seguinte etc. É, inclusive, quaseimpossível fazer laqueadura ou ligação detrompas pelo sistema público de saúde. Porém,ainda piores são os perigos a que sãosubmetidas aquelas que optam por ser mães.Com efeito, segundo dados da Organização

Mundial de Saúde (OMS), no Brasil ocorre umterço das mortes maternas da América Latina.11/11/2002, Alyne da Silva Pimentel, grávidade seis meses, deu entrada na casa de saúdeNossa Senhora da Glória, em Belford Roxo (RJ).A gestante recebeu alta no mesmo dia, nãoobstante se queixasse de dores abdominais,náuseas e vômitos. Como os sintomaspersistiram, a paciente voltou à clínica dois diasdepois. Aí médicos constataram que o bebêestava morto. O quadro médico de Alynecontinuou piorando até ela sofrer hemorragiano dia 15 e ser transferida para o Hospital Geralde Nova Iguaçu. A ambulância demorou oitohoras. Quando chegou, Alyne estava em coma.Morreu no dia seguinte. Hemorragia interna.Processos contra o município de Belford Roxoe contra o estado do Rio de Janeiro ainda searrastam na Justiça neste 2008. O caso éanalisado também pelo Comitê das NaçõesUnidas pela Eliminação da Discriminação contra

a Mulher (Cedaw). O drama de Alynechamou a atenção de militantes e ONGs, comoo Centro pelos Direitos Reprodutivos, queparticiparam de um protesto na terça-feira 27de maio na Cinelândia (Rio de Janeiro). Numafaixa estendida pelas manifestantes, podia serlido: “Não deixe uma vida se apagar!Aproximadamente 4100 mulheres brasileirasmorrem todos os anos devido às complicaçõesna gravidez, no parto e no pós-parto. Destenúmero, 98% dos casos poderiam ser evitados.Não deixe que mais 4100 mulheres morram.

Manifeste-se!” No estado do Rio de Janeiro,faltam médicos, enfermeiros e técnicos emhospitais públicos; os políticos dizem que nãohá verba. Entretanto no Palácio Tiradentes nãofalta dinheiro: cada deputado estadual pode ter60 assessores nomeados sem concurso(reunidos nem cabem nos gabinetes, que têm

no máximo 80 metros quadrados).

Por: Winter Bastos

Pag.1 Pag.10O BERROOUTUBRO/2008 OUTUBRO/2008

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Nesta quinta feira, 18 de setembro, foiinaugurada a plataforma P-53, no Rio Grandedo Sul. O presidente Lula fez mais umdaqueles discursos onde diz que tudo vai bemcom o Brasil. No entanto, para nós fica acuriosidade de entender por qual motivo aQuarta Frota da Marinha dos Estados Unidosestá tão próxima dali.

Lula reconheceu que comprar equipamentosnavais no exterior sai mais barato do queproduzi-los aqui.

Paralelo a isto, o governo também decidiuaumentar o valor da multa por embriaguez.Tudo isso nos leva a crer em uma certaestabilidade na política brasileira, sempredifundida pelo presidente em todas as ocasiõesque pode.

Porém, não conseguimos ver a justadistribuição desses bens, fruto de nossosimpostos, e de todos os bens que o Brasilpossui (matéria prima em primeiro lugar).

O presidente disse também, em outaoportunidade, que o Brasil tem reservassuficientes para suportar a crise dos EstadosUnidos. E a nossa crise interna? Por quêhá alto percentual de desempregados nopaís, vistos atualmente comprometidoscom campanhas políticas, balançandobandeirinhas pela cidade?

Engraçada a maneira dosbrasileiros escolherem seuscandidatos para votar. É umchurrasco aqui, um examemédico de graça alí...

Outro dia, encontrei um velho amigo noônibus, completamente bêbado, pois vinhade um churrasco de rua, de um políticoqualquer. Ele batia no peito e dizia: Esse é omeu candidato!

Então, chegamos a conclusão de que oproblema, a escassez de benefíciospassados à nação provém da ignorância denosso povo. Estamos condicionados a ummodo de enxergar a política, assim comoera nos tempos do coronelismo, e voto decabresto. (vê aí, o que está ocorrendo emalgumas favelas?).

Lugares, como a comunidade do Bela Vista,em Rio do Ouro (São Gonçalo), que nãopossui saneamento, nem água encanada,sofrem com as promessas dos políticos.Moradores do local disseram que haviaapenas um plítico que asfaltava pequenostrechos de ruas, semanas antes das eleições.Mas ele nunca mais deu notícias.

POLITITICA

“Existem pessoas tão sumamente pobres,que só têm dinheiro.”

(Autor desconhecido)

O BERROPag.9 O BERRO Pag.2

Por: Alexandre Mendes

O avanço científico e tecnológico parece terafastado de nós todo obscurantismo.Estaríamos, agora, vivendo sob o império darazão e não mais submissos a dogmas. O quepouca gente pensa é que pode estar surgindo,na sociedade, um novo tirano: a máquina. Hojehá transações bancárias feitas através do caixaeletrônico, apesar de clientes preferirem seratendidos por funcionários. Da mesma forma,proliferam máquinas para venda de refrigerantes,cartões telefônicos, doces, isso sem falar nosjogos de azar eletrônicos, das catracas queameaçam substituir os trocadores nos sistemasde transporte coletivo etc. A quem toda essatecnologia está servindo? Quem está por trásdela? .A partir do primeiro semestre de 2001, quandose ligava para o antigo número da ouvidoria daTelemar no Rio de Janeiro, uma gravaçãoinformava que, em virtude da reestruturação daempresa, o serviço fora desativado. E então? Aquem reclamar? Depois de muitas tentativas dese falar com um ser humano através dostelefones da companhia, o usuário acabavasendo esclarecido, por um empregado, de quesó poderia se queixar via internet. Parecemesquecer que a esmagadora maioria dosbrasileiros não tem acesso a tal tecnologia.Então, que progresso é esse? .Em 2008, a situação na citada empresa (quemudou de nome para Oi) tornou-se ainda pior:para pedir um serviço, ou esclarecimento – pormais simples que fosse – passou a ser precisofalar por telefone com uma máquina que nuncadetecta qual a solicitação feita. O cliente foicondenado a ficar repetindo, de modo ridículo,os pedidos enquanto uma gravação informa:“Não entendi...”. Onde foram parar osouvidores, atendentes etc.? Quase todos no olhoda rua! Da mesma forma, vem diminuindo

pessoal em outras companhias que, preferindomáquinas a humanos, promovem o desconfortodo usuário e o aumento do desemprego.A tecnologia é tida como neutra, isenta, nãoideológica. Com tal pensamento, George W.Bush, ao disputar a presidência com Al Gore,defendeu a votação eletrônica nos EUA,argumentando que as máquinas não sãodemocratas nem republicanas (ele só falou issoporque um defeito mecânico o favoreceu nacontagem de votos).

Ocorre que o mundo não é governado pormáquinas. Ele é dominado por sereshumanos que covardemente se escondematrás das maquinarias.

Quando alguém destrói um telefone público,chuta uma máquina de refrigerantes, soca umcaixa eletrônico, geralmente quer atingir osproprietários de tais tecnologias, subservientesao grande capital. .No Brasil, um dos mais claros usos datecnologia para favorecer o poder constituídoé o da adoção das urnas eletrônicas, cujosistema é controlado pela suspeitíssima Abin(Agência Brasileira de Inteligência, herdeira doSNI – Serviço Nacional de Inteligência daditadura militar), uma entidade secreta e, porisso mesmo, antidemocrática. Aliás, as eleiçõesbrasileiras, com a informatização, passaram ater maior ar de legitimidade, apesar de o votose manter obrigatório e a população continuarcom poder de decisão limitado à escolha deseus exploradores. .Dizem que o atual uso das máquinas éinevitável, trata-se de um resultado necessárioda marcha inexorável da ciência. Ora, a mulhere o homem são os sujeitos da História. Só eles

podem traçar o caminho da humanidade.

O homem e a máquinaPor: Winter Bastos

OUTUBRO/2008 OUTUBRO/2008

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FSB: Por que o nome Malatesta? .MALATESTA: O nome é uma homenagem aum dos maiores combatentes doanarcossindicalismo, na virada do século XIX/XX, Errico Malatesta. Ele acreditava que, comos trabalhadores no comando dos sindicatos,seria possível a propagação do ideal anarquista,alcançando a classe proletária. Foi exilado em1926 e faleceu em 1932. Malatesta é a inspiraçãode que eu precisava. .FSB:O que pretende o Retomada? Qual seuobjetivo? .MALATESTA: Conscientizar a classerodoviária, de Niterói a Arraial do Cabo, quedevemos participar das assembléias no sindicato(SINTRONAC), reivindicar pelo que acharmosnecessário. .FSB: Os rodoviários estão dando retorno?MALATESTA: O retorno tem sido mais nasruas, do que na Internet. Quando eu prego oassunto, os colegas se mostram interessados.FSB: Em que situação se encontram os

sindicatos atualmente? .MALATESTA: Os sindicatos, em sua maioria,estão entregues nas mãos da classe empresarial,e políticos corruptos. Para o trabalhador, ossindicatos são meros planos de saúde (igual aoSUS), e assistência jurídica (advogado). Oaumento salarial dos trabalhadores é calculadoem um percentual irrisório, comparado aoslucros da megaburguesia brasileira. O sistemacapitalista não está enfraquecendo, mas estásempre renovando suas forças e seguindo emfrente. As disparidades sociais e econômicas

Entrevista com Malatestado blog Retomada

Mais um guerreiro na luta contra o mal.

estão se acentuando cada vez mais pelo mundoa fora. Precisamos nos organizar e, em vez detentar as vias eleitorais; devemos tomarinfluência nas assembléias dos sindicatos dopaís; fortalecer a classe trabalhadora; reivindicaro nivelamento dos salários, a princípio. Asdecisões de leis ficarão nas mãos do povo,através do voto, em cabines nas ruas, todos osdias. O povo se conscientizará, e, com a decisãoda maioria, o Brasil tomará novos rumos. .FSB: Em que momento você resolveu quedeveria agir e por quê? Como foi esse momentode transformação? .MALATESTA: No momento que conheci aSociologia e a Antropologia, vi que haviachegado a hora de criarmos velhas expectativasnos trabalhadores comuns, como era em dias deconvenção nas Internacionais européias. Todosos teóricos e ativistas, marxistas e anarquistas,reuniam-se para discutir os caminhos de umanova ordem econômica, à qual deveria serrevolucionada pelo povo comum, através dosvotos públicos ( o povo).A Antropologia mefez pensar nos povos pré-cabralinos, no altonível de evolução econômica em que seencontravam se comparados com os europeus.Enquanto os primeiros tinham uma filosofia devida, que consistia em arranjar comida todo diae, ao término, viviam felizes à descansar.Omaldito português, com sua filosofia de acúmulode riquezas, juntamente com os espanhóis e,mais tarde, com ingleses, franceses e holandeses,dizimaram um sistema econômico de vida ,muito mais evoluído do que o deles.

(retomadaeminente.blogspot.com)

POR: Fabio da Silva Barbosa

A história está cheia de pessoas que sãolembradas sem ter porquê ou merecer. Eis quetemos contada, de forma indigna, a Revolta daChibata, em 1910. Liderada pelo marujo JoãoCândido Felisberto, mais conhecido como“Almirante Negro”, e seus companheiros, osmarujos Francisco Dias Martins e os cabosGregório e Avelino a marinha rasa se sublevou,contra o castigo do açoite. A “última vítima”, omarujo Marcelino Menezes, levou 250chibatadas no convés, e apanhou até depois dedesmaiado. .Esse fato marca o início da revolta em 22 denovembro de 1910. Com os navios MinasGerais, São Paulo e Deodoro, João Cândido eos marujos apontaram os canhões para a capital,reivindincando melhores salários, alimentaçãoe a extinção da chibata. Com astúcia, o governoaceita as reivindicações, mas em seguida(menos de um mês depois), persegue-os,simulando uma rebelião na Ilha das Cobras, ondeestava a maioria dos sublevados. .João Cândido não estava na Ilha das Cobras,mas foi mandado para lá. Outros marinheirosnão tiveram tanta sorte e foram transladadospara o interior da Amazônia, ou fuzilados ejogados ao mar durante o percurso. João Cândidosobrevive e fica louco. É internado em umhospital psiquiátrico e, quando lhe dão alta,sua patente é caçada, e todas as portas fechamna sua cara. João Cândido termina sua injustavida como empregado no comércio pesqueiro,aos 89 anos. Ele nunca abandonou o mar. OAlmirante Negro foi, como Zumbi, um dosnossos verdadeiros heróis. Devemos nosespelhar neste exemplo de cidadão brasileiroque luta pelos seus interesses.Os marinheiros eram perseguidos, e a Marinhado Brasil monstrava-se posturalmenteescravocrata. Hoje em dia, os marinheiros temo seu prestígio e, em 2003, todas as honras,salários e gratificações dos marujos da revoltaforam calculados e repassados às suas famílias.

No entanto, podemos afirmar que o problema

nãoacabou... .Outras profissões são perseguidas ediscriminadas, como podemos ver no cotidianodas grandes cidades. Um exemplo disso sãomilhares de vendedores ambulantes, pessoasdesempregadas, que passam o dia gritando onome de suas mercadorias e correndo dafiscalização. Se forem pegas, sua mercadoria(às vezes todo o dinheiro da pessoa é aplicado)é confiscada sem um termo de apreensão. Se apessoa tentar retirar a mercadoria do depósito,ela se dirige até lá e, se ainda tiver algo dela(porque, na calada da noite, as coisas somemmisteriosamente no depósito), ela pega o termode apreensão do que restou, e espera umaaudiência para avaliar o valor da multa (que éigual, ou maior do que o da mercadoria).NÃO EXISTE VOZ NA IMPRENSA QUEFALE A FAVOR DOS AMBULANTES. Elessão marginalizados. Se buscarmos as origensdo comércio ambulante, chegaremos aos negrosrecém-libertos e os ainda escravos, vendedoresde fumo e especiarias, retratados nas pinturasde Debret e Rugendas. Então, reconhece-se aperseguição ao vendedor ambulante, como ummarginal: um homem que vende mercadoriasfalsificadas, sem notas fiscais, que fere os cofrespúblicos e privados (os empresários, que sãovistos como vítimas). Se o ambulante tem suaorigem no escravo, a perseguição ao ambulante,como a dos marinheiros da chibata, não podeser vista como uma simples contenção deprejuízos. O AMBULANTE SEMPREEXISTIU EM NOSSA SOCIEDADE. Nãodeveria ser tratado como um bandido.Reivindico nesta matéria para nossa cultura, otítulo de herói a JoãoCândido e seuscompanheiros, e a valorização dos ambulantes,com a concessão de alvarás, e a admissão deque os tais façam parte do cotidiano histórico,do panorama visual, e econômico das grandescidades brasileiras.

Os Heróis da Chibata e os Heróis da SobrevivênciaPor: Alexandre Mendes

O BERROO BERRO Pag.3 Pag.8OUTUBRO/2008 OUTUBRO/2008

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O BERRO Pag.6

O dia começa e acabaO relógio gira sem pararO dia procede a noite

Que procede o diaQue procede a noite novamente

Tomo meu café, como meu biscoitoVisto minha roupa

Vou para meu trabalho

Será que hoje ainda é ontem,Ou hoje já é amanhã?

Olho para o sol: parece estar no mesmo local de ontemAo chegar no meu trabalho, bato o meu velho cartão

Aquele velho cartão amassado, que era novo no início de agostoAquele velho cartão amassado, que será substituido por outro novo no início de setembro

Começo minha labuta

Será que hoje ainda é ontem,

ou hoje já é amanhã?

Começo minha labutaO suor a escorrerA mesma angústia

O mesmo tédioVelha vontade de perecer

Chega a hora; bate o sino; dá o sinalE na volta pra casa

O ônibus cheioComo uma jaula

Vida animal

Será que hoje ainda é ontemOu hoje já é amanhã?

Rotina daretinaPor: AlexandreMendes

No meu sonho, nunca é ontem!No meu sonho, nunca é amanhã!

Meus sonhosSingelo presente de Marx

No último estágio de sua obra

Meus sonhosSingelo tempo da igualdade

Suave dom da felicidade

De repente toca o trim tão indesejadoE pela realidade sou capturado

Me ponho de pé, e inicioO meu dia tão antigoDia novo, dia velho...

Não me rendo a hipocrisiaPor: Fabio da Silava Barbosaestou cansado de pessoas que sabem tudodizendo o quanto a hipocrisia é belao quanto a verdade é rudeo quanto devemos ter cuidadocom o que dizemosestou cansado dos senhores do sabercom suas regras impostasnos impondo seu certoque aceitaram tão passivamentequanto o gado aceita a mortequando vai ao abatedouroe olha que ele não a aceitaisso não tem nada a ver com aceitaçãoisso é só força de expressãoestou cansado da mentira peçonhentaque nos enfraquece enquanto os alimentaque nos mutila em forma de graduaçãoque nos castra enquanto cidadãoda lavagem cerebralque somos obrigados a aceitardessa forja que nos formada sutileza azedadas amargas boas maneirase de versos métricos que me enfadammas não como as fadas me enfadamfadas da vidafadas feridas

Chego em casaMinha casa

A mesma casa: vou descansarEntro em coma

e nos meus sonhosParece que tudo está a mudar

Dia 12 de junho de 1968, o capitão para-quedista Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho,convocado a uma reunião, foi recebido nogabinete do ministro da Aeronáutica pelosbrigadeiros Hipólito da Costa e João PauloBurnier, que viria a se tornar conhecido comotorturador e assassino. .Sérgio era admirado por indianistas como osirmãos Vilas-Boas e o médico Noel Nutels. Foiamigo de caciques como Raoni, Kremure,Megaron, Krumari e Kretire. Os índios ochamavam “Nambiguá caraíba” (homem brancoamigo). Aos 37 anos, Sérgio Macaco (como eraconhecido na Aeronáutica) já tinha seis milhoras de vôo e 900 saltos em missõeshumanitárias, de resgate e socorro em geral.Todavia o tipo de tarefa que lhe seria propostaali pelos oficiais não era nem um pouco dignaou solidária. .– O senhor tem quatro medalhas por bravura,não tem? – indagou Burnier.Sérgio respondeu afirmativamente. Então obrigadeiro continuou: .– Pois a quinta, quem vai colocar no seu peitosou eu – fez uma pausa. – Capitão, se ogasômetro da avenida Brasil explodir às seishoras da tarde, quantas pessoas morrem?Achando que a pergunta se referia apenas àremota hipótese de um acidente na cidade doRio de Janeiro, Sergio respondeu:– Nessa hora de movimento, umas 100 milpessoas. Foi nesse momento que os doisbrigadeiros começaram a explicar um terrívelplano terrorista das Forças Armadas e qualdeveria ser a participação de Sérgio. Os doispropuseram que ele, acompanhado por outrospara-quedistas, colocasse bombas na porta daSears, do Citibank, da embaixada americana,

Sérgio Macaco: ohomem que fez adiferença.Por Winter Bastos

O BERROPag.5 OUTUBRO/2008 OUTUBRO/2008

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O BERRO O BERRO Pag.7 Pag.4

Colocariam a culpa nos grupos esquerdistas quelutavam contra a ditadura. Sérgio seria tido comoherói por salvar as supostas vítimas dos“comunistas” e receberia sua quinta medalha,enquanto a ditadura teria um pretexto paraaumentar a repressão a socialistas e democratas.O capitão se negou a participar de uma ação tãovil. Declarou corajosamente aos bandidosfardados: .- O que torna uma missão legal e moral não é apresença de dois oficiais-generais à frente dela,o que a torna legal é a natureza da missão.Outros em seu lugar simplesmente encolheriamos ombros e obedeceriam aos superiores, iriamse desculpar dizendo que estavam apenas“cumprindo ordens”. Mas Sérgio era ético,íntegro, não tinha obediência cega a ninguém,seguia acima de tudo sua consciência e valores.Era um homem de verdade: denunciou o planodiabólico e evitou aquela que seria a maiortragédia da nossa história. .Foi perseguido pela ditadura, discriminado,removido para o Recife, reformado na marraaos 37 anos, cassado pelo AI-5 e pelo AtoComplementar 19, curtiu prisão... só nãopuderam quebrar-lhe integridade e honra, suafirmeza de ser humano. Sérgio se recusou a seranistiado. “Anistia-se a quem cometeu algumafalta”, costumava dizer. “Não posso seranistiado pelo crime que evitei”. Em 1970,necessitando de um tratamento de coluna,aconselharam-no a não se internar em unidade

causando algumas mortes. Em seguida viria agrande carnificina: queriam quedinamitasse a Represa de Ribeirão das Lajes e,simultaneamente, explodisse o gasômetro. Ascargas, de efeito retardado, seriam colocadaspelo capitão Sérgio, que depois ficariaaguardando, no Campo dos Afonsos, osurgimento duma grande claridade. Aí eledecolaria de helicóptero e aportaria no local datragédia posando de bonzinho, prestandosocorro a milhares de feridos e recolhendomortos vitimados pela ação da própriaAeronáutica.

militar, pois certamente seria assassinado ládentro. Graças ao jornalista Darwin Brandão,com auxílio do médico Sérgio Carneiro, ocapitão acabou sendo tratado clandestinamenteno Hospital Miguel Couto.Nos anos 90, o Supremo Tribunal Federaldeterminou indenização e promoção de Sérgioa brigadeiro. Tal sentença dependia, porém, daassinatura de Itamar Franco. Itamar, como sesabe, não é nenhum modelo de virtude e, nãopor acaso, foi vice do corrupto Fernando Collorde Mello, que foi prefeito biônico de Maceiódurante a ditadura e se criou politicamentegraças ao regime militar... Por seis meses,o presidente Itamar Franco – mesmo sabendoque Sérgio estava acometido de um câncerterminal no estômago – guardou, na gaveta, asentença do STF favorável ao capitão. Só aassinou três dias depois da morte do heróiocorrida em 4 de fevereiro de 1994.Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho (cujahistória é narrada no documentário “O Homemque disse Não” do diretor francês Olivier Horn)foi enterrado no cemitério São Francisco Xavierno Caju sem honras militares. É lembrado,entretanto, por todos aqueles que valorizamvida, ética, honestidade, coragem. Sérgio provouque, ao contrário do que muitos dizem, umapessoa pode mudar a História: cada um de nósfaz diferença no mundo.

BLOGS E SITES:

inversoeaocontrario.blogspot.com

comunidadeeditoria.blogspot.com

suamajestadeobaiao2.blogspot.com

www.fazendomedia.com

www.midiaindependente.org

midia-rebelde.blogspot.com

Você acha que o jornalismo está realmenteligado à verdade? Você acredita naimparcialidade e na ética jornalística? Entãovou te contar um segredinho: O jornalismotem um só compromisso. Com um sistemamedíocre e pré-estabelecido queteoricamente purifica a verdade, mas quena prática, impõe tanto ruído a essaverdade, que a transforma em um espectrofrágil do que realmente é. .O sujeito já começa tendo que se submetera uma linha editorial. Ou seja: nossa visãoé essa. Você nunca pode olhar para outrolado, porque só olhamos para aqui. Dandocontinuidade a isso, vem uma doutrinaonde o repórter deve se comportar de umjeito x. Seus movimentos, gestos e falassão minuciosamente regulados. Oindivíduo se torna um boneco, abrindo mãode toda a humanidade que possui. Ele nãopode ser humano e nem pode humanizar oalvo de sua reportagem. .Parece ridículo, mas muitas vezes o repórterconversa com o entrevistado sobre amatéria antes da entrevista. Explica o queele pretende, como serão as perguntas ealguns chegam ao clímax da hipocrisia deorientar a resposta. “Não dizemos o queele deve responder, mas não tem nada demais mostrar a melhor forma das coisasserem ditas. Isso é normal.” Isso eu ouvida boca de um colega jornalista. Um sujeitoque vive vomitando a ética do jornalismo.Como podemos facilmente observar, nadadisso tem haver com verdade. Nem ao

Fórmulas previamente estabelecidasdestroem a verdade

Por : Fabio da Silva Barbosamenos com um recorte da realidade. Issotem a ver com pessoas cegas e sem atitudeseguindo uma doutrina que já está podre emofada, que pede para ressuscitar, pararespirar... para se banhar na fonte dajuventude e automaticamente se renovar. .Por isso prefiro a contramão. Pode ser ocaminho mais difícil, mas é o caminho emque acredito. É o certo. É a verdade. É omais próximo da imparcialidade que se podechegar. É a reposta que afronta a todo essepadrão Globo que estupra a verdadeira éticado profissional. A contramão é a verdadeiraética. .Por isso saúdo aos que fizeram a diferençae ficaram imortalizados por sua visão únicado jornalismo. Saúdo também aos quemorreram na sarjeta, por não seremadmitidos nesse clubinho alienante,formado por eruditos e pessoasmanipuláveis e manipuladoras. .

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w.nofashionhc.com

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