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O AUMENTO DA JUDICIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS E TRATAMENTOS TERAPÊUTICOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Rodrigo Silva de Oliveira 1 RESUMO Este texto analisa as deficiências das políticas públicas de saúde no que tange aos medicamentos e tratamentos terapêuticos, trazendo um panorama das disputas que ocorreram na década de 1980, no período de redemocratização do Brasil. A consolidação da Constituição e do SUS e a chegada do neoliberalismo na década de 1990 e o projeto privatista de saúde que traz um aumento nos processos judiciais para a aquisição de medicamentos no SUS, levando a uma excessiva Judicialização na Saúde, uma burocratização e desresponsabilização por parte do Estado, o que implica em desafios para a população na efetivação dos seus direitos. Palavras-Chave: Judicialização; SUS; Medicamentos; Estado. ABSTRACT This paper analyzes the shortcomings of public health policies in relation to drugs and therapeutic treatments, providing an overview of the disputes that occurred in the 1980s, in the period of re-democratization of Brazil. The consolidation of the Constitution and SUS and the advent of neoliberalism in the 1990s and privatized health project that brings an increase in judicial processes for the purchase of medicines in the SUS, leading to excessive Judicialization in Health, a bureaucratization and disclaimer on the part of the state, which implies challenges for the population in the realization of their rights. Key Words: Judicialization; SUS; Drugs; State INTRODUÇÃO Nos últimos 20 anos vem ocorrendo um aumento nos casos de Judicialização na área da saúde no Brasil. Esta exponenciação se dá de tal forma que a “Judicialização da 1 Estudante. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. [email protected]

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O AUMENTO DA JUDICIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS E TRATAMENTOS TERAPÊUTICOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Rodrigo Silva de Oliveira1

RESUMO

Este texto analisa as deficiências das políticas públicas de saúde no que tange aos medicamentos e tratamentos terapêuticos, trazendo um panorama das disputas que ocorreram na década de 1980, no período de redemocratização do Brasil. A consolidação da Constituição e do SUS e a chegada do neoliberalismo na década de 1990 e o projeto privatista de saúde que traz um aumento nos processos judiciais para a aquisição de medicamentos no SUS, levando a uma excessiva Judicialização na Saúde, uma burocratização e desresponsabilização por parte do Estado, o que implica em desafios para a população na efetivação dos seus direitos. Palavras-Chave: Judicialização; SUS; Medicamentos; Estado.

ABSTRACT

This paper analyzes the shortcomings of public health policies in relation to drugs and therapeutic treatments, providing an overview of the disputes that occurred in the 1980s, in the period of re-democratization of Brazil. The consolidation of the Constitution and SUS and the advent of neoliberalism in the 1990s and privatized health project that brings an increase in judicial processes for the purchase of medicines in the SUS, leading to excessive Judicialization in Health, a bureaucratization and disclaimer on the part of the state, which implies challenges for the population in the realization of their rights.

Key Words: Judicialization; SUS; Drugs; State

INTRODUÇÃO

Nos últimos 20 anos vem ocorrendo um aumento nos casos de Judicialização na

área da saúde no Brasil. Esta exponenciação se dá de tal forma que a “Judicialização da

1 Estudante. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. [email protected]

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Saúde”, acabou se tornando uma espécie de fenômeno devido à ineficácia e/ou omissão do

Estado, seja pela ausência de medicamentos para população na rede pública, seja pelos

custos dos tratamentos de alta complexidade.

Tomando como referência o atual quadro da Saúde no Brasil, este texto analisa a

precarização do sistema de saúde público brasileiro e consequentemente das políticas

públicas para este setor, fatores impulsionadores do processo de Judicialização.

Para tanto, iniciaremos com um panorama das disputas que ocorreram na saúde

durante a década de 80, que teve início com um amplo debate que permeou a sociedade

civil e a efetivação de alguns direitos. É nesta década que uma nova Constituição é

promulgada, instituindo a Seguridade Social no país. É a efetivação da Seguridade Social

que coloca as bases para a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS), que logo

começará a ser desmontado com a entrada em cena de um projeto de mercado-privatista

nos anos 90, vinculado à política de ajuste neoliberal dada pelos Organismos Internacionais

como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM)

Com a instauração do neoliberalismo no Brasil, na década de 90, se tem um

redirecionamento do papel do Estado, que será posto em curso prioritariamente por meio de

Reformas em setores estratégicos para o capitalismo. Esta Reforma do Estado ou

(contrarreforma) faz com que o Estado se desvie de suas funções básicas. Logo, a

afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido a grande responsável pelo

enxugamento das políticas sociais (dentre elas, a saúde) e redução dos direitos sociais. A

Reforma do Estado dentro dos moldes neoliberais pressupõe a mercantilização das políticas

sociais, dantes públicas. No que concerne à saúde, este giro se materializa na existência de

dois projetos de saúde em tensão: o público (oriundo do Movimento de Reforma Sanitária2 e

promulgado na Constituição de 88); e o privatista (que segue o receituário ditado pelo FMI e

BM de transformar a saúde em mercadoria).

Ora, a exponenciação da “questão social”3, manifestada no empobrecimento da

população, faz com que parte daqueles que ainda detem algum poder econômico migre

para os planos e seguros de saúde. A maior parcela, entretanto, fica à mercê de um sistema

2 Movimento iniciado nos anos 70 por um grupo de intelectuais, médicos e lideranças políticas do setor da saúde. Esse

movimento dará origem à Reforma Sanitária Brasileira. 3 Expressão de sociabilidade erguida sob o comando do capital, onde está necessariamente colada à sociedade burguesa,

onde somente a supressão desta sociedade conduz a supressão da questão social.

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de saúde sucateado. Configuram-se, nas palavras de Mota (2008) o cidadão-consumidor e o

cidadão-pobre.

Neste cenário, à população pobre só resta, como meio para conseguir atendimento

na saúde ou medicamentos para tratar as suas doenças, o recurso ao Poder Judiciário, que

ganha protagonismo na efetivação dos direitos dos cidadãos. A outra opção é morrer à

míngua. O recurso ao Judiciário transforma-se, então, em uma estratégia para a efetivação

de tais direitos, garantidos formalmente, uma vez que existe uma clara dicotomia entre estes

direitos formais e todos os conflitos implícitos na sua real concretização.

1. CRIAÇÃO DO SUS E O PROJETO PRIVATISTA

Na década de 80 ocorre um processo de redemocratização no Brasil, no qual o

projeto da Reforma Sanitária foi concebido como parte integrante de um conjunto de ações

sociais, pois um novo quadro de saúde dependia de mudanças estruturais profundas.

Devido a grande movimentação política pela qual passava o Brasil neste período de sua

história, este projeto tratava de um apelo a uma “nova consciência sanitária”, um projeto de

mudanças na saúde, partindo de uma reflexão entre economia e saúde, entre as condições

de trabalho da população, renda e as condições de prevenção das doenças e recuperação

nas diversas classes sociais.

Considerando as determinações sociais da saúde, o Estado passa a ser reivindicado

como uma instância capaz de responder, democraticamente, às demandas advindas da

classe trabalhadora, levando em conta as determinações sociais da saúde e de ser

responsável pela saúde pública, compreendida como um direito público e universal, capaz

de extrapolar as políticas fracionadas relacionadas às noções de causalidades bio-psico-

sociais. Estabelece-se, assim, a consciência de que há um processo coletivo e

historicamente determinado na produção de estados de saúde-doença. Por conseguinte, o

argumento central da Reforma Sanitária que compreende um movimento ideo-político e não

uma questão no âmbito da teoria do conhecimento da saúde - foi a consideração dos

determinantes econômico-sociais das doenças. Assim, a saúde, a partir de 1980, deixou de

ser interesse apenas dos técnicos, para assumir uma dimensão política, vinculando-se

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estreitamente à democracia, tendo a articulação de diversos setores, movimentos sociais

(urbanos) com a sociedade civil, dentre outras entidades.

Fato determinante para a discussão da questão de saúde no país foi a realização da

8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986 pois, pela primeira vez, contou com a

participação popular, com entidades representativas da classe trabalhadora, tratando agora

a saúde como uma questão de toda a sociedade.

Com isso, se estabelece um divisor de águas da saúde no Brasil, notadamente com

o processo da Constituinte e a promulgação da Carta Constitucional, em 1988, que, ao

menos no plano jurídico, significou grandes avanços, pois afirmou a extensão de direitos

sociais, inexistentes anteriormente por parcela substantiva da população. Sendo assim, a

Assembléia Constituinte

Com relação à Saúde transformou-se numa arena política em que os interesses se organizaram em dois blocos polares: os grupos empresariais, sob a liderança da Federação Brasileira de Hospitais (setor privado) e da Associação de Indústrias Farmacêuticas (Multinacionais), e as forças propugnadoras da Reforma Sanitária, representadas pela Plenária Nacional pela Saúde na Constituinte, órgão que passou a congregar cerca de duas centenas de entidades representativas do setor. (BRAVO, 2009, p.10).

As primeiras propostas debatidas pelos protagonistas da Reforma Sanitária foram a

universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a

reestruturação do setor através da estratégia do sistema unificado de saúde, visando um

reordenamento setorial com um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a

descentralização do processo decisório para as esferas estadual e municipal; e a

democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão – Conselhos de

Saúde.

A concretização do Sistema Único de Saúde (SUS) representou para a sociedade

brasileira no plano jurídico, a promessa de afirmação e até extensão dos direitos

relacionados à saúde. A Constituição de 88 introduziu avanços que buscaram corrigir as

injustiças sociais universalizando direitos, colocando-os como dever do Estado.

A criação do SUS, em 1990, consolidou avanços como a universalização dos

atendimentos, a descentralização política e administrativa do processo decisório da política

de saúde e a execução dos serviços ao nível local, dentre outras coisas. Mas isso de fato

não levou a grandes melhorias na situação de saúde da população brasileira, pois a

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operacionalização necessária para a efetivação destes preceitos não aconteceu, pois logo

no começo dos anos 90 se tem a entrada em cena da política de ajuste neoliberal.

Este projeto traz um modelo de Estado no qual se tem como características a

eficiência, o controle dos resultados, o cumprimento de metas e a redução dos custos,

estabelecendo uma lógica gerencial para as políticas públicas.

Outrossim, transfere, também, para o mercado, atividades antes exclusivas da

responsabilidade estatal. Neste tipo de modelo, o Estado deixa de lado suas funções

básicas, atuando minimamente para a classe trabalhadora, maximizando sua ação para o

capital, para os grandes empresários.

A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil é responsável pelo corte drástico no

financiamento e nos recursos humanos e materiais para a saúde pública. Por conseguinte,

os direitos conquistados na década anterior vêm se desmantelando, o que traz à tona de

volta um modelo de saúde de privilegiamento do produtor privado.

Este projeto privatista ligado ao mercado veio de encontro ao proposto na

Constituição Federal. O modelo de gestão do SUS passou a sofrer as interferências do

projeto neoliberal, ou seja, nos anos 90 assiste-se, no país, a um redirecionamento do papel

do Estado que deve deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e

social, para se tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades

que antes eram suas. Este projeto tem como principais tendências a contenção de gastos

com a racionalização da oferta e a descentralização com um tipo de isenção de

responsabilidade do poder central; a tarefa do Estado consiste em garantir um mínimo aos

que não podem pagar, deixando ao setor privado o atendimento aos que têm acesso ao

mercado. Traz também propostas de caráter focalizado para atender às populações

vulneráveis através de um pacote básico para a saúde, ampliação da privatização,

estimulando o seguro privado, descentralizando os serviços ao nível local.

Portanto, este projeto, que tem como premissa concepções individualistas e

fragmentadoras da realidade, tem hegemonia atualmente nas políticas brasileiras,

estabelecendo uma tensão entre as concepções coletivas e universais do projeto contra-

hegemônico e aqueles que desejam transformar a saúde em mais uma mercadoria. Daí se

pode perceber o porquê de toda essa burocratização para o acesso efetivo aos

medicamentos e tratamentos no SUS.

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2. O PROTAGONISMO DO JUDICIÁRIO NA SAÚDE O direito à saúde vem a cada dia sendo negligenciado pelo poder público. Este

direito não cabe diretamente ao Judiciário, mas é somente por esta via que se tem

conseguido algumas internações e o custeio de tratamentos e medicamentos atualmente.

A ausência ou omissão do Estado na prestação de certos serviços deu origem à

intervenção do Poder Judiciário na efetivação da assistência médica, através de liminares

concedidas por instâncias da Magistratura obrigando o Estado a prover remédios de alto

custo que não constam na lista do SUS.

Assim, a intervenção judicial cresce no Brasil a partir da década de 90. No que tange

ao fornecimento de medicamentos que deveriam ser dispensados pela rede pública, isto se

dá porque não há, na Constituição de 1988 ou na Lei Orgânica da Saúde, uma clara

definição da distribuição deste tipo de competência entre União, Estado ou Município. A

Portaria do Ministério da Saúde 3.916/98, aprovou a Política Nacional de Medicamentos

com o objetivo de garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos,

a promoção do uso racional e o acesso da população aqueles considerados essenciais.

Entretanto, mesmo com a Política Nacional de Medicamentos, há medicamentos e

tratamentos que são responsabilidade dos Estados, outros dos Municípios e outros que não

são de responsabilidade de nenhuma das duas instâncias. Então se uma pessoa tem que

receber algum tratamento que não se enquadra nestes parâmetros, ela tem sua

necessidade básica negada e se volta para o Poder Judiciário na tentativa de obter este

direito, essencial para a manutenção de sua vida.

Deste modo, a Judicialização se torna necessária, pois cabendo ao Estado prover

políticas públicas para a sociedade, o mesmo se omite e particulariza a questão da saúde,

deixando para quem pode pagar o acesso a tais serviços.

A falha na prestação de assistência farmacêutica e terapêutica evidencia a

ineficiência em que foi posta a estrutura do Sistema Único de Saúde, afrontando o direito

fundamental à saúde.

3. BUROCRATIZAÇÃO E JUDICIALIZAÇÃO EXCESSIVA

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Grande parte da demanda da Judicialização da Saúde atualmente se efetiva nos

processos judiciais individuais de cidadãos reivindicando o fornecimento de tratamentos

terapêuticos e medicamentos. Existe uma burocratização para que se atinja tal objetivo, pois

mesmo com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), ocorre uma

demasiada demora para a inclusão de certos tratamentos e medicamentos nas listagens e

isso acaba gerando total ineficiência na questão medicamentosa dos vários tratamentos à

população.

A distribuição de medicamentos na Atenção Básica à Saúde é parte integrante do processo de cura, reabilitação e prevenção de doenças. Os medicamentos distribuídos neste nível de atenção são os chamados medicamentos essenciais, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São aqueles que satisfazem as necessidades de cuidados de saúde básica na maioria da população. (OLIVEIRA. et.al.,2010, p.3562).

Apenas pessoas que necessitem de tratamento de doenças como diabetes,

hipertensão, dentre outras mais simples são contempladas com Farmácias Populares e

outros mecanismos que garantam sua terapêutica, ou seja, doenças que não se enquadram

nestas citadas, como o câncer, ficam à mercê do poder público, já que a esmagadora

maioria da população brasileira não tem como prover seus custos de saúde e necessitam do

SUS.

Com isso se tem uma Judicialização excessiva, pois grande parcela da sociedade

brasileira acaba recorrendo ao Poder Judiciário para conseguir seus direitos. Assim, são

postas algumas questões, como a interferência no orçamento público, já que muitas vezes o

dinheiro alocado para o pagamento de tais concessões não é aquele destinado à

Assistência Farmacêutica. Portanto, por vezes acaba se tornando mais caro manter este

tipo de situação do que criar devidas políticas públicas de qualidade que atendam a toda

sociedade brasileira.

É possível formular estratégias e ações potencialmente mais efetivas para a melhora

do acesso à saúde em geral, como para a redução das demandas judiciais, tendo a garantia

da Assistência Farmacêutica e Terapêutica com qualidade.

CONCLUSÃO

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O tratamento da saúde no âmbito da Seguridade Social, estabelecida em 1988, e as

condições de acessibilidade a tal direito, só podem ser consideradas a partir das relações

estabelecidas entre Estado e sociedade.

O que vemos nos dias de hoje é apenas a continuação da política macroeconômica,

de governos anteriores, desde a década de 90, as políticas sociais como um todo, mas em

especial a saúde, estão sendo fragmentadas e subordinadas à lógica econômica.

A perspectiva universalista está longe de ser atingida com a desvinculação de

recursos para a Saúde e Educação, direções estas dadas pelos Organismos Internacionais

como FMI, ameaçando o financiamento das políticas públicas no Brasil. O que ocorre,

então, é o desfinanciamento público em função de outras pautas de prioridade, privilegiando

o capital financeiro nacional e internacional.

Suas bases são a descentralização dos serviços e a desresponsabilização do

Estado.

Como existe uma enorme diferenciação entre o que está posto no papel e o que de

fato ocorre no dia a dia dos hospitais e tribunais brasileiros, os casos de Judicialização da

Saúde são de extrema relevância e as deficiências nas políticas públicas se constituem

como desafios, pois a oferta destes serviços se dá de forma totalmente sucateada.

Sendo assim, uma luta pela transformação efetiva do papel do Estado se torna

necessária em relação à sociedade no sentido de fazer valer os direitos conquistados

formalmente e ampliá-los visando um bem estar social.

REFERÊNCIAS

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