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O AMBIENTE INSTITUCIONAL E A EXECUÇÃO DE PROJETOS EM DESENVOLVIMENTO LOCAL E SEGURANÇA ALIMENTAR DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O CONSAD VALE DO IVINHEMA EM MATO GROSSO DO SUL Gercina Gonçalves da Silva (UFMS) [email protected] Gabriel Gualhanone Nemirovsky (UFMS) [email protected] Graciela da Silva Umezu (UFMS) [email protected] Cicero Tredezini (UFMS) [email protected] DARIO DE OLIVEIRA LIMA FILHO (UFMS) [email protected] O objetivo proposto aqui é a descrição do ambiente institucional nos municípios contemplados pelo CONSAD Vale do Ivinhema no Estado de Mato Grosso do Sul. A teoria utilizada como referência é a Nova Economia Institucional, Desenvolvimento LLocal e Políticas de Segurança Alimentar no Brasil. A partir de então, são descritos os projetos desenvolvidos nos municípios que promovem a segurança alimentar e o desenvolvimento local. Verificou-se então a necessidade de maior articulação e envolvimento entre os agentes institucionais que compõe o Consórcio, nos municípios, objetivando a motivação dos envolvidos, seja nos projetos, seja nas organizações, bem como a necessidade urgente de um ator que coordene as atividades como um todo, para que o ambiente institucional possa então atuar na promoção do desenvolvimento dos municípios, intervindo na realidade sócioterritorial, integrando políticas públicas, envolvendo atores sociais e gerando trabalho e renda. Palavras-chaves: CONSAD, Ambiente Institucional e Desenvolvimento Local XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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O AMBIENTE INSTITUCIONAL E A

EXECUÇÃO DE PROJETOS EM

DESENVOLVIMENTO LOCAL E

SEGURANÇA ALIMENTAR DOS

MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM O

CONSAD VALE DO IVINHEMA EM

MATO GROSSO DO SUL

Gercina Gonçalves da Silva (UFMS)

[email protected]

Gabriel Gualhanone Nemirovsky (UFMS)

[email protected]

Graciela da Silva Umezu (UFMS)

[email protected]

Cicero Tredezini (UFMS)

[email protected]

DARIO DE OLIVEIRA LIMA FILHO (UFMS)

[email protected]

O objetivo proposto aqui é a descrição do ambiente institucional nos

municípios contemplados pelo CONSAD Vale do Ivinhema no Estado

de Mato Grosso do Sul. A teoria utilizada como referência é a Nova

Economia Institucional, Desenvolvimento LLocal e Políticas de

Segurança Alimentar no Brasil. A partir de então, são descritos os

projetos desenvolvidos nos municípios que promovem a segurança

alimentar e o desenvolvimento local. Verificou-se então a necessidade

de maior articulação e envolvimento entre os agentes institucionais que

compõe o Consórcio, nos municípios, objetivando a motivação dos

envolvidos, seja nos projetos, seja nas organizações, bem como a

necessidade urgente de um ator que coordene as atividades como um

todo, para que o ambiente institucional possa então atuar na promoção

do desenvolvimento dos municípios, intervindo na realidade

sócioterritorial, integrando políticas públicas, envolvendo atores

sociais e gerando trabalho e renda.

Palavras-chaves: CONSAD, Ambiente Institucional e Desenvolvimento

Local

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

A fome é considerada um agravante que, em grande ou pequena escala, atinge todos os

continentes. O fato do Brasil ser considerado como um dos países mais desiguais do planeta

(Mercadante, 2003), tem como conseqüência uma característica permanente na estrutura

econômica e social do país. A fome no nosso país tem como marco, por causa do progresso

desordenado, a absoluta falta de cidadania de camadas da sociedade. Considerar a deficiência

alimentar como uma doença social e política é o primeiro passo para se obter a reparação

deste mal que aflige tantos brasileiros, entrando nesse momento a intervenção do Governo.

O desafio assumido pelo atual governo através do FOME ZERO, foi integrar e articular as

ações públicas visando a minimizar a fome e, ao mesmo tempo, enfrentar o problema da

pobreza. Os Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local - CONSADs são

organizações territoriais, institucionalmente formalizadas, com um número definido de

municípios que se agrupam para desenvolver ações, diagnósticos e projetos de segurança

alimentar e nutricional e desenvolvimento local, gerando trabalho e renda. Nestes territórios, o

Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, apóia a implantação de projetos de combate à

pobreza relacionados a sistemas agroalimentares, capazes de intervir na realidade sócio-

territorial, integrando políticas públicas, envolvendo atores sociais e gerando trabalho e renda.

O CONSAD tem um importante papel a cumprir como agente institucional encarregado da

promoção de projetos, concebidos de forma pactuadas entre a sociedade civil e o poder

público, fornecendo apoio técnico e aval institucional na obtenção de recursos, juntos a

parceiros estaduais, nacionais e internacionais, para implantação de ações voltadas para a

segurança alimentar e a melhoria das condições de vida das populações envolvidas.

No Estado do Mato Grosso do sul, o projeto envolve 24 municípios em extensas regiões. Os

Consórcios já constituídos em Mato Grosso do Sul são: CONSAD Serra da Bodoquena,

CONSAD Vale do Ivinhema e CONSAD Iguatemi.

O CONSAD Serra da Bodoquena é formado por oito municípios: Bela Vista, Bodoquena,

Bonito, Caracol, Guia Lopes da Laguna, Jardim, Nioaque, Porto Murtinho. Os municípios que

irão ser beneficiados por este projeto que integram o CONSAD Iguatemi-MS, são: Mundo

Novo, Japorã, Itaquiraí, Naviraí, Iguatemi, Ponta Porá, Paranhos e Tacuru. O CONSAD Vale

do Ivinhema é formado por cinco municípios: Anaurilândia, Bataguassu, Batayporã, Nova

Andradina e Taquarussu.

O arcabouço teórico desenvolvido pela Teoria Institucional de Douglas North e a

fundamentação da Nova Economia Institucional (NEI), têm sido utilizados para melhor

compreender as relações firmadas entre a formação e evolução das instituições com o

crescimento e desenvolvimento de uma atividade econômica ou evolução histórica de uma

sociedade. As instituições formam a estrutura de incentivo de uma sociedade, e as instituições

políticas e econômicas, em conseqüência, constituem os fundamentos determinantes da

performance econômica (NORTH, 1995).

Para a Nova Economia Institucional (NEI), as instituições são importantes e suscetíveis de

análise. Por isso é importante examinar o papel de elementos institucionais, considerando

como as instituições são criadas e os efeitos do ambiente institucional sobre o resultado

econômico. Diante do acima exposto a problemática aqui envolvida é: O ambiente

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institucional é atuante na promoção do desenvolvimento dos municípios contempladas pelo

CONSAD Vale do Ivinhema, no Estado de Mato Grosso do Sul?

O objetivo é descrever o ambiente institucional criado na região do CONSAD Vale do

Ivinhema, em Mato Grosso do Sul, levando em consideração os projetos orientados a

segurança alimentar ou ao desenvolvimento local que estão incididos nos municípios.

O artigo está organizado em cinco seções, incluindo esta, que se refere a introdução. A

segunda seção apresenta a fundamentação teórica utilizada para obtenção dos resultados

propostos: a Nova Economia Institucional, Desenvolvimento Local e a Política de Segurança

Alimentar no Brasil. Na terceira seção procura-se apresentar a metodologia empregada no

decorrer do artigo. A quarta seção apresenta as discussões e resultados, e a quinta seção

apresenta as considerações finais, seguida pelas referências bibliográficas.

2. Fundamentação Teórica

A Nova Economia Institucional, somado a conceitos de Desenvolvimento Local e breve relato

das Políticas de Segurança Alimentar no Brasil fornecem para este trabalho o referencial

teórico necessário para o estudo proposto.

2.1 A Nova Economia Institucional

Os economistas clássicos, como Smith e Marx, já mencionavam a importância das instituições

para o desenvolvimento econômico em seus estudos, mas a primeira análise aprofundada

surgiu com a corrente denominada institucional original que surgiu no fim do século XIX.

O antigo institucionalismo teve T. Veblen, J. Commons, J.K. Galbraith e W. Hurst como seus

representantes mais destacados em sua primeira geração (ZYLBERSZTAJN, 1995), e de certa

forma, criticava a ortodoxia da teoria neoclássica, não aceitando a pressuposição do homem

racional como ponto de partida. Estes são conhecidos como velhos institucionalistas, e

defendiam o princípio de que a análise econômica deveria basear-se no estudo da estrutura,

das regras e dos comportamentos de organizações.

Nas décadas de 1960 e 1970, outro grupo de economistas começou a desenvolver uma nova

perspectiva, preocupada também com aspectos micro e macroeconômicos das instituições, a

Nova Economia Institucional (NEI), tendo como principais autores Ronald Coase, Oliver

Williamson e Douglas North.

A Nova Economia Institucional trabalha com duas vertentes: o ambiente institucional e

as estruturas de governança. O ambiente institucional analisa o papel das instituições

investigando os efeitos das mudanças no ambiente institucional sobre o resultado

econômico, dedicando-se mais especificamente ao estudo das "regras do jogo". As

estruturas de governança estudam as transações entre agentes de um sistema produtivo,

como por exemplo, a transação entre produtor e atacadista, ou produtor e fornecedor de

insumos. É portanto, uma análise entre dois agentes ou bilateral. De acordo com Farina

(1994) existe uma série de conceitos comuns entre as duas vertentes, destacando-se os

custos de transação, instituições, organizações e contratos.

A NEI tem nos trabalhos de North, (1991) seu principal representante. Para North

(1994), as instituições podem ser definidas como sendo as regras que as sociedades

impõem para estruturar as relações políticas, econômicas e sociais entre os agentes.

Estas regras podem ser formais (leis, direitos de propriedade) ou informais (crenças,

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tradições códigos de conduta). Segundo Gala (2003), o crescimento de longo prazo, ou a

evolução histórica, de uma sociedade é condicionado pela formação e evolução de suas

instituições.

A fiscalização do cumprimento das instituições é exercida por códigos de conduta auto-

impostos, pelas represálias ou por sanções impostas pelo Estado. Assim, as instituições criam

e delimitam o ambiente onde ocorrerá a transação e onde as organizações irão atuar. Farina

(1994) afirma que o ambiente institucional determinará a composição da estrutura de

governança, de forma que as transformações no ambiente institucional podem mudar a

estrutura de governança. Para North (1991) as instituições representaram ao longo da história

humana a manutenção da ordem e redução das incertezas nas sociedades.

Considerando-se a não existência de um sistema onde o custo de transação possa ser

negligenciado, as instituições devem ser analisadas e consideradas (North, 1995). As

instituições juntamente com as restrições econômicas definem o conjunto de alternativas

e oportunidades a que os agentes econômicos se sujeitam na sociedade, favorecendo, ou

não, a elevação dos custos de transação, transformação e lucratividade exis tentes no

sistema econômico.

O conjunto de instituições econômicas e políticas forma a matriz institucional da

sociedade. A dinâmica evolutiva das economias surge da interação entre as instituições e

as organizações, definida metaforicamente como "os jogadores" (organização) que estão

enquadrados nas "regras do jogo" (as instituições).

O processo de mudança institucional é um processo lento, que não ocorre com

facilidade, mas que se faz de maneira gradativa, em função dos conhecimentos e

habilidades adquiridos e exercidos pelos agentes ao longo do tempo. Dessa forma, a rede

de externalidades que surge de uma matriz de regras formais ou restrições informais irá

enviesar os custos e os benefícios das escolhas em favor da estrutura existente.

2.2 Desenvolvimento Local

A partir da década de 1980 foram introduzidos conceitos novos no que se refere ao

desenvolvido, como por exemplo, o Desenvolvimento Local e a partir deste conceito, novas

formas de intervenções sociais. Através desses novos conceitos a autonomia do econômico

em sociedade não industrializada passou a ser relativizadas, e o social e as pessoas passam a

ser valorizadas. Assim, as pessoas e a comunidade local passam a ser vistas como o espaço

em prioridade para o desenvolvimento, resultando então, em exercício de cidadania que

resulta da participação e implicações desses atores.

Até o final da década de 1970 o modelo de desenvolvimento que prevaleceu não levava em

consideração os limites ecológicos do crescimento econômico e do próprio desenvolvimento,

ignorando tanto os riscos de degradação da natureza, quanto o caráter limitado dos recursos

naturais.

Com o surgimento e avanço de teorias relacionadas ao desenvolvimento local, há a

preocupação com o meio ambiente, tanto do ponto de vista da sustentabilidade do

desenvolvimento, quanto como recurso a favor do próprio desenvolvimento.

Para Amaro (1993), o Desenvolvimento Local é um ―processo de transformação‖. É centrado

na comunidade, como ponto de partida e referência, onde são construídas as identidades, a

partir dos interesses que se identificam, mobilizando ações de solidariedade concretas. O local

é, Amaro (1993) algo que se constrói com o projeto. Na comunidade local procura-se

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respostas a partir de necessidades não satisfeitas, recorrendo-se a recursos exógenos. Desta

forma, o Desenvolvimento local assume uma lógica integrada, de forma que a intervenção não

se restringe a problemas focalizados somente, mas também ao conjunto de problemáticas

interligadas que se influenciam.

Há foco no trabalho em parceria, definindo-se ações que são realizadas conjuntamente,

através de sistemas de cooperação, com a resolução de conflitos. Estas ações impactam a

comunidade, exercendo um efeito de exemplificação, atuando segundo uma diversidade de

caminhos.

Para Milando (2005), o Desenvolvimento Local é visto como um esforço contínuo por parte

dos residentes que se organizam numa localidade para identificar problemas e aspirações, a

partir dos que se criam e formulam estratégias para abordá-los, implementando-se planos e

avaliando-se resultados, numa lógica de participação, onde as mudanças e as renovações

proporcionam o êxito da comunidade. O processo de desenvolvimento local é um diálogo

constante entre os residentes de um local — as autoridades, as organizações cívicas, os grupos

comunitários, os dirigentes empresariais e outras pessoas — objetivando uma melhor

qualidade de vida.

2.3 A Política de Segurança Alimentar no Brasil

A fome se manifestou no Brasil, desde a sua ―descoberta‖ em 1500, entre as populações que

habitavam o solo brasileiro. Desde então surgiram campanhas e protestos contra a fome. Na

década de 1970 foi criado o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição – INAN

objetivando formular uma política de alimentação e nutrição. Sua abrangência incluía o

sistema de produção e distribuição de alimentos básicos.

As primeiras referências à Segurança Alimentar enquanto política pública surgem ao final de

1985 por intermédio do Ministério da Agricultura, que prevê uma "Política Nacional de

Segurança Alimentar", visando atender às necessidades alimentares da população e atingir a

auto suficiência nacional na produção de alimentos, mas até então a noção de segurança

alimentar estava limitada ao controle do estado nutricional dos indivíduos (Maluf, 1996)

Em 1986, durante a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, o tema foi retomado,

colocando a alimentação como um direito básico. Em 1991, o Partido dos Trabalhadores

elaborou um conjunto de medidas na Política de Segurança Alimentar, fundamentada na

proposta de 1986, agora sem limitar a segurança alimentar ao tema do abastecimento e da

problemática agrícola.

A proposta não foi acolhida pelo Governo Collor, sendo reapresentada ao governo de Itamar

Franco, em 1993, sendo então aceita como base para subsidiar a elaboração do Plano

Nacional de Combate à Fome e à Miséria, bem como a criação do Conselho Nacional de

Segurança Alimentar – CONSEA no mesmo ano.

Sem 1994 realizou-se a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, durante a qual

obtém-se uma declaração política e um documento pragmático com as condições e requisitos

para consolidar uma Política Nacional de Segurança Alimentar. A experiência do CONSEA,

contudo, durou apenas até o final de 1994, quando o governo substituiu essa iniciativa por

ações do Programa Comunidade Solidária.

Após esse período as famílias beneficiadas por algum programa social são transferidas para os

―novos programas‖ criados em 2001, como o ―Bolsa-Alimentação‖ e o ―Bolsa-Escola‖, os

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quais foram implantados pelo Ministério da Educação com recursos provenientes do Fundo de

Combate à Fome.

Em 2004 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), elaborou o

conceito utilizado no Brasil e que foi adotado pela Lei Orgânica que trata do tema (LOSAN),

sancionada em setembro de 2006, onde segurança alimentar e nutricional é definida como

―direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade

suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base

práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam

ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.‖

3. Metologia

O método de pesquisa utilizado para avaliar as implicações do ambiente institucional para o

desenvolvimento das Regiões contempladas pelo CONSAD no Estado de Mato Grosso do

Sul, foi o qualitativo que segundo Creswell (1994) é utilizado quando a realidade é subjetiva e

múltipla, e há a possibilidade do pesquisador interagir com o sujeito da pesquisa,

desenvolvendo um pressuposto axiológico valorativo.

O objeto de estudo está delimitado no Estado de Mato Grosso do Sul, especificamente nos

municípios compõe o CONSAD Vale do Ivinhema. As entrevistas foram realizadas,

predominantemente, com agentes institucionais (Secretarias municipais de: Assistência

Social, Saúde, Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento) e produtivos, notadamente os

participantes dos projetos em funcionamento nesses. O objetivo foi o de buscar uma visão

sistêmica do funcionamento dos projetos.

Nesta pesquisa utilizou-se o estudo de casos como forma de pesquisa que, segundo Godoy

(1995), tem se tornado um procedimento particularmente utilizado quando os pesquisadores

procuram responder as questões ―como‖ e ―por quê‖ certos fenômenos ocorrem, quando a

pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é

sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real.

A pesquisa em questão trata-se de um estudo de casos a partir de uma análise situacional que

segundo Triviños (1987) é um estudo que se centra em eventos específicos, compreendendo

nesse caso projetos orientados à segurança alimentar e desenvolvimento local.

Como proposta metodológica, o ambiente institucional será definido como a variável

dependente a ser considerada a partir das ações e dos projetos referentes às áreas supracitadas

que serão considerados em conjunto como a variável independente, estabelecendo-se assim

uma relação de causalidade diretamente proporcional entre as duas variáveis, culminando em

um processo de argumentação indutiva o qual, segundo Lakatos (1986), tem o objetivo de

levar a conclusões cujo conteúdo é mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.

Foram empregadas técnicas de documentação direta e indireta, e observação direta intensiva

para o levantamento de dados e de informações relevantes à investigação e à compreensão das

questões propostas; bem com de entrevista semi-estruturada que, segundo Lakatos e Marconi

(1986), oferece todas as perspectivas possíveis para que o entrevistado alcance a liberdade e a

espontaneidade necessárias, enriquecendo a pesquisa.

As entrevistas foram delineadas com base em questões apoiadas em teorias e hipóteses que

interessam a pesquisa. As informações levantadas atenderam às seguintes necessidades de

conhecimento: presença e descrição dos projetos orientados a segurança alimentar e

desenvolvimento local, instituições envolvidas nos projetos, presença de Conselhos

Municipais de Segurança Alimentar, informações ambientais visando a identificação e

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caracterização das redes relacionais (formais) existentes, o que possibilitou fazer a descrição

do ambiente institucional na região estudada.

Esta pesquisa é pioneira no que diz respeito a descrição do ambiente institucional nos

municípios contemplados pelo CONSAD no Estado de Mato Grosso do Sul, ressaltando

assim a importância do mesmo, como instrumento propulsor para propostas de novas políticas

públicas direcionadas a segurança alimentar e ao desenvolvimento local. O trabalho se

justifica por ser parte do resultado do Projeto de Iniciação Científica, ainda em

desenvolvimento, tendo como instituição financiadora o CNPq. O Projeto maior está assim

institulado: ―PROMOÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM

TERRITÓRIOS CONSAD‖.

4 – Resultados e Discussão

A Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar

e Nutricional – SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada.

Trata-se de um sistema aberto em razão do seu propósito de organizar e monitorar ações e

programas de diversos setores governamentais e não governamentais, articulando-os numa

política de SAN (Segurança Alimentar e Nutricional). O SISAN estabelece interfaces com

sistemas associados e é composto por subsistemas.

No Estado de Mato Grosso do Sul, foi publicado no Diário Oficial nº 5.816, de 15 de agosto

de 2002, página 01, o Decreto N° 10.883, de 14 de agosto de 2002, reformulando o Conselho

de Segurança Alimentar do Estado, instituído pelo Decreto n° 9.667, de 18 de outubro de

1999, e dando outras providências.

4.1 CONSAD Vale do Ivinhema

O CONSAD Vale do Ivinhema é formado por cinco municípios: Anaurilândia, Bataguassu,

Batayporã, Nova Andradina e Taquarussu, os quais são beneficiados pelo Projeto de

Produção, Comercialização e Processamento de Produtos Alimentares oriundos da

Agricultura Familiar.

4.1.1 Anaurilândia

Este município conta com a presença de 5 assentamentos, onde se produz principamente leite,

mandioca e cultura de subsistência. Apicultura – há apenas um apicultor no município, dando

continuidade ao trabalho. Projeto PAIS- este projeto aguarda ainda a liberação dos recuros

necessários por parte do governo federal. As hortas verificadas no município são para

consumo, sem finalidade de comércio.

Neste município há o projeto Pintado do Tanque Rede – Lago Usina Sérgio Mota, que tem

por objetivo mostrar o potencial para energia e produção d alimentos. O projeto já obteve a

licença da Agência Nacional das Águas. O projeto recebeu recursos do governo federal da

ordem de R$ 320.000,00 e a prefeitura deverá entrar com uma contrapartida de 10%. Os

beneficiados são os pescadores.

Em relação a empregos o município conta com a presença de um Frigorífico que gera 40

empregos. Conta também com a Usina Açúcar e Álcool que está em construção e deve gerar

cerca de 1.200 empregos. Há também a indústria de confecções que se instalou no município

desde agosto/2009, gerando 12 empregos diretos; bem como laticínios, fecularia, usina e

marcenaria.

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Em relação a Hortas, há uma no Assentamento Quebracho em funcionamento, sendo que os

participantes do projeto são participantes do Bolsa Família e o plantio desta já foi iniciado. A

principal dificuldade apresentada refere-se ao fato de que municípios pequenos encontram

dificuldade de inserção, e também a liberação dos recursos por parte do governo ser lenta.

O município conta com um Balneário municipal que é obra compensatória da CESP, e conta

com a divulgação do mesmo como meio para geração de renda. Em relação a artesanatos,

foram realizados cursos com famílias carentes nos assentamentos, em parceria com a

AGRAER. O Mercado do Produtor está em construção e objetiva a venda de produtos da

horta, mel e leite. Há ainda Escola Pólo com três extensões, sendo uma no assentamento Santa

Ana, com cinco sala de aulas e duas em fazendas da região.

4.1.2 Bataguassu

Nesse município há o ―Ponto de Cultura‖ que se refere a um projeto da prefeitura em parceria

com a Associação de Mulheres do Assentamento Montana. O objetivo é incentivar as

mulheres no que diz respeito ao artesanato como propulsor do aumento da renda familiar. O

projeto conta com a participação de vinte pessoas.

Outro projeto, refere-se a horta comunitária, que se localiza no bairro mais pobre do

município, onde três famílias receberam treinamento e capacitação para a cultura. O objetivo

é obtenção de renda própria, sendo que as famílias são participantes de programas como bolsa

escola ou bolsa família. A vendas dos produtos dessas hortas já foram iniciadas.

Os resultados principais dos projetos, referem-se ao aumento da renda e a gratificação pessoal

dos envolvidos; e a adequação destes, por falta de perfil com a terra representa um entrava ao

desenvolvimento do projeto. O município conta com dois apicultores mas que são

idependentes/particular, sem vínculo com nenhum projeto do município.

As principais dificuldades referem-se a autoridades resistentes no que se refere a programas

sociais. Com os projetos que funcionam no município, verifica-se aumento de renda, sendo

que existem pessoas desejosas por participar. Os recursos que financiam a Horta são de

origem do governo federal, mas o município entrou com contrapartida. A principal queixa

sobre os recursos é quanto a demora e a burocracia para a retirada. Há também queixas

quantos a necessidade de cursos e treinamentos, principalmente no que se refere a conceitos

sobre corporativismo, devido a existência da bacia leiteira na região. O município também

conta com a participação no Projeto PAIS, mas ainda aguardam a liberação dos recursos.

O município conta com empresas ligadas a pecuária de corte, o Lacticínio Vale do Pardo,

Frigorifio Manfrei, Regional Telhas, Regina festas e Artefatos, Refricom, Pepino em

Conserva e outras empresas; o que proporciona renda aos moradores através de postos de

trabalho disponíveis. Há também projetos no município que se relacionam ao meio ambiente

como a reconstituição da mata ciliar do Córrego Iguaçu, projeto para o qual se tem buscado

apoio da CESP.

4.1.3 Batayporã

O município de Batayporã conta com os seguintes projetos orientados a segurança alimentar

ou ao desenvolvimento local:

Pecuária para Leite – o projeto funciona como um incentivo a agricultura familiar; e já existia

em administrações anteriores, sendo financiada pelo PRONAF (instituído pela Lei Nº 10.186,

de 12 de fevereiro de 2001), para aquisição de maquinário (continuidade e adequação).

Participam do projeto pequenos agricultores, cerca de 250 dos 400 pequenos. O projeto conta

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com o apoio da AGRAER, IAGRO, Sindicato e entidades ligadas ao setor, Secretaria da

Agricultura; A iniciativa tem por objetivo provocar desenvolvimento, proporcionar maior

renda do produtor que acabam por se fixarem no campo, de forma a refletir no comércio local.

As principais ações do projeto dizem respeito ao preparo do solo, reforma da pastagem,

auxilio ao plantio de mandioca, pecuária de corte e leite, com fornecimento de veterinários,

inseminação artificial, técnicos para o melhoramento genético do gado leiteiro.

Feira do Produtor - o projeto também funciona como um incentivo a agricultura familiar,

sendo os pequenos agricultores os participantes do projeto. Este conta com o apoio da

AGRAER, Iagro, Sindicato e entidades ligadas ao setor, Secretaria da Agricultura; A

iniciativa tem por objetivo provocar desenvolvimento, proporcionar maior renda do produtor

e através do efeito multiplicador, refletir em melhorias no comércio local. As principais ações

do projeto dizem respeito a produção de hortifruti, e fornecimento do esterco. Cerca de quinze

famílias estão envolvidas no projeto e as principais decisões são tomadas pelo Conselho

municipal de Desenvolvimento Rural e associação dos produtores de hortifrutigranjeiro. As

instituições ligadas ao projeto são basicamente a prefeitura municipal, através da Secretaria da

Agricultura.

João e Maria - surgiu na gestão anterior, idealizado pelo SAS (2001 a 2004) e integram o

projeto as famílias já atendidas pelo SAS (92 famílias). O projeto surgiu com o objetivo de

atender crianças de 6 meses a 6 anos, e atualmente atende também a idosos (que utilizam de

medicamento controlado), atendendo tanto mães carentes como seus filhos, melhorando a

qualidade de vida. O projeto distribui, hoje, cerca de 1320 litros de leite. As reuniões

realizadas são contrapartida para palestras.

Há também, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Urbano de Municípios Pequenos

Porte; que surgiu da necessidade da melhoria da infra-estrutura urbana; Participam do projeto

entre 150 a 300 pessoas de todo um bairro. O objetivo é formar uma galeria de captação da

água pluvial, pavimentação do asfalto, e recapeamento das ruas do centro urbano aumentando

a qualidade de vida. Sobre o COMSEA apesar da afirmação de sua existência, o documento

não foi encontrado formalmente.

As ações que vem sendo realizadas até o presente momento são de grande importância para o

município e os resultados mais importantes alcançados pelo projeto dizem respeito ao

crescimento da renda para o agricultor, incentivo de continuar produzindo e melhoria do

comercio. Desde o surgimento do projeto, houve crescimento no número de pessoas

envolvidas. As pessoas beneficiadas participam nas decisões tomadas através das associações

dos conselhos, já no caso da feira, a partir de reivindicações.

Os recursos para financiar as atividades são oriundos da prefeitura, os maquinários e

equipamentos são oriundos do Estado e Governo Federal. As mudanças nos governos locais

(eleições) afetam o desenvolvimento das atividades do projeto. Os principais problemas ou

dificuldades enfrentadas considerando-se o trabalho desenvolvido referem-se a falta de

consciência e união entre produtores e falta de conhecimento dos administradores na

aplicação de recursos. Há pretensão de continuidade nos projetos e as sugestões para

aperfeiçoamento do trabalho que vem sendo desenvolvido dizem respeito aos recursos para

conservação e correção do solo, e participação maior do Estado e Governo Federal.

Os principais problemas ambientais encontrados na região referem-se ao lixo urbano, a

degradação ambiental pelo povoamento do município, bem como a falta de consciência e

educação por parte da população. Não foram criadas leis ambientais para mitigar impactos

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relacionados às principais atividades econômicas da região. Há projeto para construção de

aterro sanitário no município.

4.1.4 Nova Andradina

No município de Nova Andradina há a presença de diversos projetos orientados a segurança

alimentar ou ao desenvolvimento local. Entre estes podemos citar: Geração de renda

(máquinas de costura industrial) , Feira Mulheres de atitute , Qualificação em doces e

compotas (Assent. Santa Olga), Qualificação em aproveitamento de alimentos, Hortas

Comunitárias (Casa Verde), Mini Usina de beneficiamento de leite (Sta. Olga), Feira do

Produtor, Cessão de tratores e resfriadores, Lei de fomento a organizações associativas de

produtores rurais, Agricultura familiar p/ merenda escolar, Hortas escolares, Projeto PAIS,

Auxilio a produção de hortifrutis. Na área da Saúde podemos citar: assistência da criança,

assistência a gestante, planejamento familiar, Ações Intersetoriais (SIAB – Assistência Social

– Secretaria de Educação – Secretaria de Saúde) e Projeto Girassol.

O Centro de Qualificação e Geração de renda, já foi Implantado. Foram adquiridas quarenta

máquinas de costura industrial. Criou-se dois núcleos, um rural e um urbano, onde foram

capacitadas aproximadamente 130 pessoas na primeira etapa. A verba foi conseguida através

dos órgãos federais de políticas para as mulheres e o Projeto foi aprovado em 2007 e iniciou

em 2008.

A Feira Mulheres de Atitude acontece desde 2006, e hoje são beneficiadas 70 mulheres,

ocorrendo a cada dois meses, mas encontra dificuldades no que se refere a consciência de que

as beneficiadas devem caminhar para autonomia. Grande parte destas trabalham também na

feira do produtor. Disponibiliza artesanato e alimentação ao público. A prefeitura tem a

intenção de criar um local fixo para a venda do artesanato.

A Qualificação em Doces e Compotas no Assentamento Santa Olga é um projeto realizado

em parceria com a assistência técnica contratada pela FETAGRI, a CRESCER. Consistiu em

um treinamento de 3 dias, e as mulheres participantes já estão comercializando na feira. A

Qualificação em Aproveitamento de Alimentos consistiu em capacitação de mulheres para

reaproveitamento de alimentos, utilizando cascas, talos e folhas. Foram treinadas 200

mulheres. Foram envolvidas Pastorais, Merendeiras, Clubes de Serviços.

As Hortas Comunitárias (Casa Verde) possuem convênio com a prefeitura, e o gerenciamento

é da AGRAER. Existem dificuldades na mobilização de pessoas para tocar o projeto. A infra-

estrutura já existe, e já teve produção, porém está enfrentando problemas e a prefeitura quer

colaborar para retomada do projeto.

A Mini Usina de beneficiamento de leite (Santa Olga) teve subsidio do CONSAD.

Atualmente necessita ainda de licenciamento ambiental para iniciar operação, bem como de

inspeção sanitária. A operação será via cooperativa dos assentados do Santa Olga. Ver projeto

Balde Cheio da AGRAER.

A Feira do Produtor é uma feira itinerante com freqüência de quatro vezes semanais, e está

sendo gerenciada por uma associação que está em vias de se tornar cooperativa. A prefeitura

entrou com as barracas e organização inicial. Pretende-se ainda esse ano adquirir um

caminhão para auxilio aos pequenos produtores e estruturação de um local de

comercialização. A prefeitura municipal conta a cessão de tratores e resfriadores onde quatro

tratores são cedidos para os assentamentos visando incentivar a produção, ou com horas

subsidiadas para ações que visem o bem-comum. São também cedidos 48 resfriadores para os

produtores de leite.

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Agricultura familiar para merenda escolar ainda está em fase de implementação, mas o

objetivo é atendimento do que prevê a lei: 30% da merenda escolar. As hortas escolares, são

ainda inicia horta da APAE. Algumas escolas apresentaram interesse a solicitaram o apoio da

secretaria que interferiu nesse sentido.

O Projeto PAIS está ainda em fase de implantação, sendo gerenciada pela AGRAER. A

prefeitura auxilia na identificação e cadastramento das famílias, estas são atendidas pelo Bolsa

Família. O Auxilio a produção de hortifrutis conta com contratação de um técnico agrônomo

para auxiliar na produção com assistência técnica.

O projeto ―Padaria Comunitária‖ visa oferecer oportunidades às pessoas de baixo poder

aquisitivo. As oportunidades consistem em oferecer trabalho, aprendizagem e meios que

venham disponibilizar o sustento de suas famílias, a proteção de suas vidas, sua dignidade e a

justiça social para todos. O CONSAD em parceria com o Programa de Atenção Integral à

Família – PAIF, pretendem com este projeto implantar uma padaria comunitária que

beneficiará as famílias favorecidas pelo Bolsa Família e cadastradas no PAIF. Paralelo a

capacitação profissional serão realizadas atividades psicossociais com o intuito de melhorar a

qualidade de vida, resgatar a cidadania e a emancipação familiar. O município conta a

presença do Conselho Municipal de Segurança Alimentar.

Os principais problemas ambientais encontrados na região dizem respeito aos Resíduos

sólidos, erosão e assoreamento, impermeabilização do solo, arborização. Foram criadas leis

ambientais para mitigar impactos relacionados às principais atividades econômicas da região.

Em 2008 foi criada a política municipal de meio ambiente, esse ano (2010) será colocado em

prática a parte de licenciamento em convênio com o estado, e com isso gerar receita para

ações. Existe também o fundo municipal do meio ambiente. Além das leis, para contornar

problemas ambientais decorrente das atividades econômicas as ações realizadas dizem

respeito a orientação.

4.1.5 Taquarussu

Os projeto s verificados em Taquarussu são:

Coleta Seletiva – da população municipal apenas cerca de 40% participam do projeto. A

Empresa Metapi fornece a prensa para a venda desse lixo e apoio logístico. A atividade é

coordenada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Além de ampliar o projeto para a

área rural, os objetivos são: conscientização, questão ambiental, saúde e questão referente

sustentabilidade e investimento no futuro turístico da região. A coleta ocorre com a

distribuição de tambores destinados ao lixo orgânico e sacolas pretas para a coleta seletiva,

nas sacolas ficam misturados todos os restantes de lixos, sem separação, e o recolhimento é

realizado com o trator personalizado. As decisões necessárias para andamento do projeto são

tomadas pelo Conselho Ambiental.

Geração de Renda - mas é executado e regulamentado. Surgiu pela parceria da Prefeitura

(CRAS) e SENAR. Participam do projeto, mulheres com baixa renda, desempregadas. O

objetivo é ajudar pessoas necessitadas e sem emprego. Há o fornecimento de cursos de

geração de renda como o de reaproveitamento de alimentos, corte e costura, pães e bolos.

Projeto da Agricultura Familiar - por lei (Lei Nº 11.947) 30% da alimentação escolar deve ser

origem nas pequenas propriedades. No projeto, participam entre 100 a 120 produtores; O

apoio vem da AGRAER e é coordenado Secretaria da Agricultura;; Realiza-se

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conscientização e trabalho de campo indo nas propriedades para incentivar a produção. A

compra é realizada pela prefeitura.

As ações que vem sendo realizadas até o presente momento são vista de forma positiva. Os

resultados mais importantes alcançados pelo projeto dizem respeito a redução de material

depositado no lixão, e boa repercussão. Desde o surgimento do projeto, houve crescimento no

número de pessoas envolvidas, envolvendo grande parcela da população. Os recursos para

financiar as atividades são oriundos da prefeitura, sendo suficientes para cumprir com os

objetivos do projeto. Os principais problemas ou dificuldades enfrentadas considerando-se o

trabalho desenvolvido dizem respeito a participação e/ou falta de conscientização e

resistência por parte de alguns moradores.

Os principais problemas ambientais encontrados na região, na zona urbana é que a falta de

código ambiental proporciona estragos causados por veículos de carga pesada a mais sobre os

asfaltos recém formados. Outro fator é que devido a produção da cana-de-açúcar, não há uma

reserva legal na região. Para mitigar impactos relacionados a atividade há apenas as leis

estaduais e federais. Para contornar problemas ambientais decorrente das atividades

econômicas o município conta com a coleta seletiva, conscientização por palestras (até para

propriedades rurais), viveiro municipal de mudas para formação de mata ciliar, e educação

ambiental. Não há COMSEA no município.

5- Considerações Finais

Quando as especificidades de uma região são conhecidas, há aproximação com a realidade

desta, facilitando a efetivação de ações com o objetivo de constituir redes de proteção,

promoção social, que ao serem utilizadas podem promover a superação de práticas

assistencialistas arraigadas na sociedade. Iniciativas de âmbito municipal visando a geração

de trabalho e renda contribuem com o desenvolvimento local, a partir do momento em que se

enfrenta o desemprego e a pobreza, proporcionando condições de melhorias na condição

alimentar de famílias, tanto no âmbito doméstico como no comunitário.

O CONSAD tem cumprido papel importante, enquanto agente institucional encarregado da

promoção e execução de projetos, haja visto os projetos desenvolvidos em cada município.

Estes projetos além de diminuir a insegurança alimentar para as famílias de baixa renda tem

estimulado a promoção do desenvolvimento local com geração de trabalho e renda.

O trabalho realizado no CONSAD Vale do Ivinhema, em Mato Grosso do Sul, mostra-se

importante por proporcionar o aumento da renda familiar, bem como a satisfação pessoal dos

envolvidos. No entanto, até o momento, não houve superação de práticas assistencialistas por

parte do governo, seja pela insuficiência dos montantes disponíveis como recursos

financeiros, seja pela cultura local ou inaptidão para o desenvolvimento dos projetos. As

famílias participantes dos projetos, em sua maioria, continuam a participar de projetos como o

Bolsa Escola ou Bolsa Família.

O CONSAD ainda fez a articulação para a criação dos COMSEAs (Conselhos Municipal de

Segurança Alimentar), mas nas regiões verificadas por este trabalho, apenas um dos

municípios conta com a criação do Conselho. No que diz respeito às questões ambientais,

verificou-se que nem todos os municípios dispõem de normas que regulem atividades de

empresas, indústrias e afins, objetivando o desenvolvimento sustentável da região, através de

atividades preventivas. Os problemas ambientais são analisados e tratados, após constatação

de degradação.

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Nos municípios de estudo, entre as secretarias municipais que possuíam conhecimento sobre

os projetos ou que se mostraram conhecedores das necessidades da população local, destacou-

se a Secretaria municipal de Assistência Social, ou Desenvolvimento. Em algumas das

secretarias verificou-se o desconhecimento a respeito do CONSAD ou presença deste no

município, bem como desconhecimento dos projetos promovidos pelo município com ou sem

parceria com o CONSAD.

O ambiente institucional verificado através das pesquisas não se mostra atuante na promoção

do desenvolvimento dos municípios participante do CONSAD Vale do Ivinhema, no Estado

de Mato Grosso do Sul.

Verifica-se a necessidade de maior articulação e envolvimento entre os agentes institucionais

que compõe o Consórcio, objetivando a motivação dos envolvidos, seja nos projetos, seja nas

organizações, bem como a necessidade de um ator que coordene as atividades como um todo,

para que o ambiente institucional possa então atuar na promoção do Desenvolvimento das

regiões, intervindo na realidade sócio-territorial, integrando políticas públicas, envolvendo

atores sociais e gerando trabalho e renda.

As limitações do estudo referem-se principalmente à ausência dos resultados das pesquisas

que abranjam todos os municípios participantes dos três CONSADs em Mato Grosso do Sul.

Para os trabalhos futuros sugere-se que sejam analisados os resultados dos demais CONSADs

em comparação com os resultados aqui obtidos.

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