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Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa Folate and Vitamin B12 Serum Levels in Levodopa-Treated Parkinson´s Disease Patients Maria Isabel Ferreira Orientado por: Dr. ª Joana da Cruz Guimarães Ferreira de Almeida Trabalho de Investigação para obtenção de grau de Mestre em Nutrição Clínica Porto, 2013

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Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em

Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Folate and Vitamin B12 Serum Levels in Levodopa-Treated

Parkinson´s Disease Patients

Maria Isabel Ferreira

Orientado por: Dr. ª Joana da Cruz Guimarães Ferreira de Almeida

Trabalho de Investigação para obtenção de grau de Mestre em Nutrição Clínica

Porto, 2013

i

Dedicatória

Dedico este trabalho ao Ivo, à minha mãe, pai e irmã.

ii

Agradecimentos

Agradeço à minha orientadora, Dr.ª Joana Guimarães, pelo apoio prestado e pela

ajuda muito preciosa que tornou possível a realização deste trabalho.

Agradeço ao Dr. Bruno Oliveira pelo apoio imprescindível na análise estatística

deste trabalho.

iii

Índice

Dedicatória………………………………………………………………………………….i

Agradecimentos…………………………………………………………………………...ii

Lista de Abreviaturas…………………………………………………………………….iv

Resumo……………………………………………………………………………………v

Palavras-Chave………………………………………………………………………….vii

Abstract…………………………………………………………………………………..viii

Keywords…..………………………………………………………………………………x

Introdução………………………………………………………………………………….1

Folato, Vitamina B12 e metabolismo da homocisteína………………..……..…..........................2

Consequência da Hiperhomocisteínemia e do défice de folato e vitamina B12 em doentes de

Parkinson tratados com levodopa ………………………………………..…..……………………….4

Objetivos Gerais………………………………….…………………………………..…10

Objetivos Específicos...……………………………………………………………...…10

Abordagem Metodológica……………………………………………………………...11

Resultados…………………………………………………………….…………………15

Discussão………………………………………………………………..……………….35

Conclusão……………………………………………………………….…………….....39

Referências Bibliográficas ……………………………………………………………..41

Índice de Anexos………………………………………………………………………..49

iv

Lista de Abreviaturas

DP - Doença de Parkinson

3-OMD - 3-O-metildopa

COMT - Catecol-O-metiltransferase

SAM - S-adenosilmetionina

SAH - S-adenosilhomocisteína

MTHFR - Enzima redutase do metiltetrahidrofolato

v

Resumo

A Doença de Parkinson é uma doença crónica neurodegenerativa que se

deve maioritariamente à degeneração progressiva de células dopaminérgicas

localizadas no mesencéfalo, nos feixes nigro-estriados. Bradicinésia, tremor em

repouso, rigidez, alterações da marcha e instabilidade postural são os sintomas e

sinais clássicos.

A levodopa é frequentemente conhecida como o tratamento “gold standard”

para a Doença de Parkinson. A levodopa é o percursor imediato do

neurotransmissor dopamina, que se encontra em défice na substância nigra e

estriado dos doentes com Doença de Parkinson.

O grande destino metabólico da levodopa plasmática envolve a sua O-

metilação para formar 3-O-metildopa, uma reação que é catalisada pela enzima

catecol-O-metiltransferase e onde o s-adenosilmetionina age como um dador de

grupo metilo. O catabolismo da levodopa pode portanto interferir, em vários níveis

com o metabolismo da homocisteína, aumentando os seus níveis plasmáticos.

Dado que o folato e a vitamina B12 são ambos necessários para a

metilação da homocisteína, a hiperhomocisteínemia pode provocar uma

deficiência destas vitaminas.

O folato e a vitamina B12 têm papéis fundamentais no funcionamento do

sistema nervoso central, especialmente na conversão de homocisteína em

metionina mediada pela sintase da metionina, a qual é fundamental para a síntese

de nucleotídeos e metilação genómica e não genómica. O folato e a vitamina B12

podem ter papéis na prevenção do desenvolvimento de perturbações do sistema

nervoso central, perturbações do comportamento, depressões e demências.

vi

Assim, com o objetivo de avaliar se os níveis séricos de folato e vitamina

B12 estão diminuídos nos doentes de Parkinson tratados com levodopa e avaliar

se os doentes de Parkinson tratados com levodopa possuem consequências

sintomáticas associadas a níveis séricos de folato e vitamina B12 diminuídos,

como a demência, depressão e polineuropatia foi realizado um estudo

observacional retrospetivo no Hospital de S. João E.P.E. Foi analisado um

grupo de doentes de Parkinson, constituído por doentes de Parkinson tratados

com Levodopa, e paralelamente foi criado um grupo controlo, constituído por

doentes internados no serviço de Neurologia sem diagnóstico de doença de

Parkinson nem tratamento com levodopa. De 328 doentes de Parkinson

internados no período de estudo, 55 desses doentes possuíam critérios de

inclusão. Foram também selecionados aleatoriamente 55 doentes para

constituírem o grupo controlo.

No grupo de doentes de Parkinson, os níveis séricos de folato

apresentaram-se ligeiramente mais baixos, mas sem significado estatístico.

Relativamente aos níveis séricos de vitamina B12, estes revelaram-se

significativamente mais baixos nos doentes de Parkinson comparando com o

grupo controlo. Os valores estavam baixos em 6,1% e normais baixos em 26,5%

dos doentes de Parkinson.

A presença de demência, depressão e polineuropatia foi observada nos

doentes de Parkinson. Os doentes que apresentaram demência, mostraram ter

valores séricos de folato significativamente mais baixos. A presença de depressão

não mostrou diferenças significativas nos valores séricos de folato e vitamina B12.

Observaram-se valores séricos mais baixos de vitamina B12 nos doentes

que apresentaram polineuropatia.

vii

A doença de Parkinson, tendo a levodopa como tratamento principal, leva a

alterações bioquímicas nos doentes, que advêm possivelmente da sua metilação

plasmática periférica.

Nestes doentes deveria ser analisado os níveis séricos de folato, vitamina

B12 e homocisteína, uma vez que, neste estudo, apenas 55 doentes disponham

destes valores séricos.

A terapêutica complementar com folato e vitamina B12 deverá ser mais

frequente nestes doentes de forma a normalizar os níveis séricos contemplados

neste estudo e possivelmente atrasar o aparecimento das consequências

sintomáticas observadas: demência, depressão e polineuropatia.

Palavras-Chave: Folato, Vitamina B12, Doença de Parkinson, Demência,

Depressão, Polineuropatia.

viii

Abstract

Parkinson’s disease is a chronic neurodegenerative disorder caused by

progressive degeneration of dopaminergic cells located in the mesencephalon, in

the nigrostriatal pathway. Bradykinesia, resting tremor, rigidity, gait alteration and

postural instability are the classical symptoms and signs.

Levodopa is frequently known as the gold standard treatment for

Parkinson’s disease. Levodopa is the immediate precursor of the neurotransmitter

dopamine, which is lacking in the substantia nigra and striatum of patients with

Parkinson’s diasease.

The major metabolic destiny of plasmatic levodopa is methylation, to form

3-O-methyldopa, a reaction that is made with the enzyme Catecol-O-

methyltransferase, and in which S-adenosylmethionine acts as the methyl group

downer. Levodopa’s catabolism can, in fact, intervene in several levels with

homocysteine’s metabolism, leading to a rise on its plasmatic levels.

Given that folate and vitamin B12 are both necessary for homocysteine’s

methylation, hyperhomocysteinemia can cause a deficit in these vitamins.

Folate and vitamin B12 have fundamental roles in the central nervous

system, especially converting homocysteine in methyonine, made by methyonine’s

sintase, which is fundamental for the nucleotides syntheses and genomic and non

genomic methylation. Folate and vitamin B12 may have rolls in preventing central

nervous system developing disorders, behavioral disorders, depression and

dementia.

Thus, in order to evaluate if the folate and the vitamin B12 serum levels

were decreased in levodopa treated Parkinson disease patients and evaluate if

levodopa treated Parkinson disease patients had associated symptomatic

ix

consequences caused by decreased folate and vitamin B12 serum levels, like

dementia, depression and polyneuropathy, a retrospective observational study

was made in Hospital de S. João E.P.E.

A Parkinson disease patients group was analyzed, that consisted in

levodopa treated Parkinson disease patients, and it was also created at the same

time a control group that consisted in patients admitted in the Neurology Service,

without Parkinson´s disease or levodopa treatment.

From 328 Parkinson patients admitted in the hospital in the study period,

only 55 of those patients here included, because only those had including criteria.

55 patients were also randomly selected to form the control group.

In the group with Parkinson’s disease, folate serum levels were slightly

lower, but not statistically relevant.

Regarding the vitamin B12 serum levels, they were significantly lower in the

Parkinson’s disease patients, comparing to the control group. The values were low

in 6, 1% and normal low in 26, 5 % of Parkinson’s disease patients.

Dementia, depression and polyneuropathy were present in Parkinson’s

disease patients. The patients that presented dementia, showed significantly lower

folate serum levels. Depression did not show significantly differences in the folate

and vitamin B12 serum levels. There were also lower vitamin B12 serum levels in

patients with polyneuropathy.

Parkinson´s disease, having levodopa as its main treatment, leads to

biochemical changes in the patients, which can probably come from levodopa´s

plasmatic peripheral methylation.

Folate, vitamin B12 and homocysteine´s serum levels should be analyzed in

these patients, and, in this study only 55 patients had this analysis.

x

Complementary therapy with folate and vitamin B12 should be more

frequent so that it can normalize the serum levels that were analyzed in this study

and possibly delay the appearance of the found symptomatic consequences:

dementia, depression and polyneuropathy.

KeyWords: Folate, Vitamin B12, Parkinson´s disease, dementia, depression,

polyneuropathy.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 1

Introdução

A Doença de Parkinson (DP) é a segunda patologia neurodegenerativa

mais comum após a doença de Alzheimer, com maior frequência na população

acima dos 50 anos e com um rápido aumento de incidência após os 60 anos. A

prevalência desta doença para idades acima de 65 anos é de aproximadamente

1% globalmente, com uma incidência global ajustada para a idade de 9,7-13,8

casos por 100,000 pessoas por ano (1).

A DP é uma doença crónica neurodegenerativa que se deve

maioritariamente à degeneração progressiva de células dopaminérgicas

localizadas no mesencéfalo, nos feixes nigro-estriados (2). Bradicinésia, tremor em

repouso, rigidez, alterações da marcha e instabilidade postural são os sintomas e

sinais clássicos, que, em conjunto com complicações a longo prazo resultantes do

tratamento dopaminérgico (flutuações motoras e discinésias), levam

progressivamente a uma incapacidade funcional importante (3).

Apesar da terapêutica para a DP ter avançado rapidamente nos últimos anos, o

tratamento sintomático permanece como a abordagem clássica. L-3,4-

dihidroxifenilalanina (levodopa) é frequentemente conhecida como o tratamento

“gold standard” para a DP. A levodopa é o percursor imediato do

neurotransmissor dopamina, que se encontra em défice na substância nigra e

estriado dos doentes com DP (4).

A levodopa permanece o melhor tratamento e com início de ação rápido e

eficaz no alívio de sinais e sintomas associados à DP. A levodopa é adquirida a

baixo custo e possuí poucos efeitos secundários a curto prazo, sendo náuseas,

vómitos e hipotensão ortostática os mais comuns (5). No entanto, a maior

desvantagem na administração de levodopa é o seu característico curto tempo de

2 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

ação, que associada com a progressão da doença, leva a complicações motoras

como flutuações e discinésias. É de notar que aproximadamente 40% dos

doentes de Parkinson possam vir a evidenciar complicações motoras após 4-6

anos de tratamento com levodopa (5). Foi descoberto pelo uso de levodopa em

doentes de Parkinson que, apesar dos resultados iniciais serem eficazes, uma

tolerância ao fármaco foi crescendo, o que resultou numa necessidade de

aumentar a dosagem com o tempo. Eventualmente, efeitos laterais como

discinésias, sintomas gastrointestinais, insónia, alucinações e até psicoses podem

ser muito incapacitantes (6), (7), (8).

O grande destino metabólico da levodopa plasmática envolve a sua O-

metilação para formar 3-O-metildopa (3-OMD), uma reação que é catalisada pela

enzima catecol-O-metiltransferase (COMT) e onde o s-adenosilmetionina (SAM)

age como um dador de grupo metilo (anexo 1) (9). O catabolismo da levodopa

pode portanto interferir, em vários níveis com o metabolismo da homocisteína,

aumentando os seus níveis plasmáticos (10) (11). De facto, existe evidência

experimental de que a administração de levodopa aumenta as concentrações

plasmáticas de homocisteína e de SAM cerebral (12). O aumento parece portanto,

estar relacionado com o catabolismo metilado da droga.

Folato, Vitamina B12 e metabolismo da homocisteína

Como referido anteriormente, os doentes de Parkinson tratados com

levodopa, devido ao catabolismo do fármaco apresentam hiperhomocisteínemia,

facto esse que foi provado experimentalmente em vários estudos como o de

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 3

Padraig E. et al (13) e Mϋller T. et al (14). À medida que a doença progride é

necessário um aumento progressivo na dosagem do fármaco (6), o que leva a um

agravamento cada vez maior desta situação.

A homocisteína é formada pela demetilação do aminoácido essencial

metionina. A metionina é adenilada para formar o SAM, o percursor direto da

homocisteína, pela ação da sintase do SAM. O SAM é depois convertido a s-

adenosilhomocisteína (SAH). A hidrolisação do SAH resulta finalmente em

homocisteína. Uma vez formada, a homocisteína entra imediatamente um ciclo

metabólico que consiste em duas vias alternativas que visam reciclar ou eliminar

o aminoácido: a re-metilação ou a trans-sulfuração. Na via da re-metilação, a

homocisteína recebe um grupo metil derivado do 5-metiltetrahidrofolato, por uma

reação que necessita da enzima dependente da metilcobalamina (vitamina B12),

a sintase da metionina. Numa via auxiliar, grupos metilo podem ser transferidos

pela derivada da colina, betaína. Em ambos os casos, o resultado final é a

reconversão da homocisteína em metionina (anexo 2) (12).

Na via de trans-sulfuração, a homocisteína condensa com a serina para

formar cistationina, através de uma reação irreversível catalisada pela vitamina

B6. Por fim a cistationina é hidrolisada para formar cisteína, que pode ser

incorporada na glutationa ou excretada na urina (12).

Dado que o folato e a vitamina B12 são ambos necessários para a

metilação da homocisteína, a hiperhomocisteínemia pode provocar uma

deficiência destas vitaminas (15).

4 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

O estudo de Nikolaos I. et al (15) demostra precisamente que doentes de

Parkinson tratados com levodopa possuíam valores de folato e vitamina B12

significativamente inferiores relativamente ao grupo controlo.

Lamberti P. et al (16) no seu estudo em doentes de Parkinson tratados com

levodopa obteve valores de homocisteína sérica elevada e de folato e vitamina

B12 baixos relativamente aos seus controlos.

Belcastro V. et al (17) refere no seu estudo que uma suplementação em

folato diminuiu a hiperhomocisteína em doentes de Parkinson tratados com

levodopa, doentes que apresentaram valores diminuídos de vitamina B12 e folato.

No estudo de Cory Toth et al (18), foi analisado a vitamina B12 sérica, onde,

em relação aos controlos, os doentes de Parkinson apresentavam valores

inferiores, em concordância com os estudos anteriores (16), (17).

Um aspeto também a ter em consideração é que os doentes de Parkinson

tratados com levodopa, devido à competição entre a levodopa e aminoácidos

neutros de cadeia longa na absorção intestinal e na barreira hemato-encefálica,

podem beneficiar de uma dieta pobre em proteínas (0,8 g/Kg peso ideal/dia) e

redistribuição da proteína diária, de modo a melhorar a farmacocinética da

levodopa (19). Deste modo, pode haver também uma diminuição da ingestão de

vitamina B12 que está presente maioritariamente em alimentos proteicos (20).

Consequência da Hiperhomocisteínemia e do défice de folato e vitamina B12 em

doentes de Parkinson tratados com levodopa

Um aumento anormal de homocisteína no plasma indica que existe um

défice na sua via metabólica e que o mecanismo de extrusão está a exportar a

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 5

homocisteína em excesso para a circulação, de forma a proteger a célula. A

hiperhomocisteínemia está associada a variadas manifestações clinicas, a maioria

afetando o sistema nervoso central tais como atrofia cerebral e fenómenos de

epilepsia. A hiperhomocisteínemia está também associada a um aumento do risco

de doença vascular aterosclerótica e trombótica (12).

As concentrações de homocisteína podem aumentar como resultado da

deficiência em folato, vitamina B6 ou B12 ou estar ligado a mutações genéticas

que afetam os genes que codificam as enzimas redutase do metiltetrahidrofolato

(MTHFR) e cistationina β-sintase. As mutações no gene da MTHFR são

polimorfismos bastante comuns na população geral, causando defeitos leves a

moderados na eficiência da enzima, limitando assim a redução do 5,10-

metilenotetrahidrofolato a 5-metiltetrahidrofolato (12). Doentes de Parkinson

tratados com levodopa que possuam este polimorfismo (genótipo TT/AA)

apresentam riscos mais elevados de hiperhomocisteínemia (20).

A levodopa causa hiperhomocisteínemia em doentes de Parkinson, mas

segundo o estudo de Mϋller T. et al (9), em doentes em que se combina levodopa

com entacapone (inibidor da enzima COMT), apresentam valores normais de

homocisteína plasmática. Desta forma a inibição da COMT parece controlar a

hiperhomocisteínemia induzida pela levodopa e as patologias ligadas à mesma,

embora, neste estudo (20), os níveis séricos de vitamina B12 permaneceram

baixos, mesmo com o uso de entacapone.

No entanto, Padraig E. et al (13) no seu estudo referem que os inibidores da

COMT do metabolismo da levodopa e da dopamina deveriam em teoria reduzir a

elevação da homocisteína induzida pela levodopa, embora no seu estudo estes

não mostraram qualquer efeito significativo na sua redução.

6 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Nos seres humanos, a dose diária de vitamina B12 é bastante baixa e o

armazenamento desta vitamina no fígado normalmente mantém níveis normais de

vitamina B12 mesmo durante vários anos de malnutrição. No entanto, mesmo na

presença de valores séricos normais de vitamina B12, uma utilização anormal

desta vitamina a nível de sistema nervoso central leva a uma deficiência e pode

contribuir para várias anormalidades neurológicas e psiquiátricas (10).

Apesar dos mecanismos responsáveis pela lesão neurológica devido à

deficiência de vitamina B12 estarem pouco compreendidos, análogos da vitamina

B12 incluindo a metilcobalamina têm sido vastamente usados na terapia de

doenças neurológicas (10).

Segundo Nikolaos I. et al, estados depressivos que se verificam em alguns

doentes de Parkinson podem dever-se a baixos níveis de folato, embora o papel

específico do folato na patofisiologia da depressão ainda esteja sob debate (15).

O folato e a vitamina B12 têm papéis fundamentais no funcionamento do

sistema nervoso central, em todas as idades, especialmente na conversão de

homocisteína em metionina mediada pela sintase da metionina, a qual é

fundamental para a síntese de nucleotídeos e metilação genómica e não

genómica. O folato e a vitamina B12 podem ter papéis na prevenção do

desenvolvimento de perturbações do sistema nervoso central, perturbações do

comportamento, depressões e demências, incluindo doença de Alzheimer e

demência vascular na população idosa (10), (21), (22).

O papel causal da homocisteína no dano neuronal tem sido mostrado por

vários estudos in vitro e in vivo. São comuns deficiências de folato e cobalamina

especialmente em doentes com perturbações neurológicas e neuropsiquiátricas, o

que sugere uma relação causal entre deficiências de vitaminas do complexo B no

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 7

dano neuronal, seja diretamente ou pela via do aumento da concentração de

homocisteína.

A transmissão e plasticidade sináptica é bastante sensível a fatores

ambientais, e assim sendo, a disfunção e degeneração sináptica ocorre

precocemente na patogénese de várias perturbações neurológicas. Várias

descobertas sugerem que níveis elevados de homocisteína podem alterar a

função sináptica. É também conhecido que uma sobre ativação de recetores de

glutamato está implicada na patogénese de várias perturbações

neurodegenerativas e psiquiátricas. A vitamina B12 é o determinante mais

importante na elevação das concentrações de homocisteína na população idosa,

mais importante que o folato (10).

A possibilidade da doença de Parkinson atingir o sistema nervoso periférico

tem recebido atenção limitada. A presença de neuropatia periférica irá aumentar a

incapacidade motora para os doentes de Parkinson, cujo modo de andar e

equilíbrio estão frequentemente comprometidos (23).

Apesar da deficiência em vitamina B12 estar classicamente associada a

degeneração subaguda combinada, a neuropatia periférica pode igualmente

ocorrer no défice progressivo de vitamina B12. Esta lesão do nervo periférico é

uma neuropatia axonal baseada em estudos eletrofisiológicos e patológicos. Em

estudos recentes, a deficiência em cobalamina foi identificada como a causa de

neuropatia periférica em 8% de doentes com neuropatia criptogénica (24).

Cory Toth et al (23) referem no seu estudo a possibilidade de ser a

acumulação de ácido metilmalónico e homocisteína, e não a deficiência em

vitamina B12, como a causa da neuropatia na população que estudaram com

8 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

doença de Parkinson. Em todos os casos, os sintomas de neuropatia periférica

surgiram bastante tempo após a instalação da doença de Parkinson e da terapia

com levodopa.

A maioria dos estudos que avaliaram a suplementação de vitamina B12 em

doentes com Doença de Parkinson idiopática sugere que a condição pode ser

estabilizada mas não revertida com a suplementação de vitamina B12 (18).

A ocorrência de neuropatia periférica na doença de Parkinson leva a um

consequente aumento da incapacidade funcional devido ao agravamento do

desequilíbrio, à perda sensorial, ao aparecimento de parestesias e dor

neuropática (18).

Cory Toth et al (18) recentemente estimaram, que 43% de doentes com

doença de Parkinson idiopática apresentam neuropatia periférica sintomática e

que 55% de doentes com doença de Parkinson idiopática possuem neuropatia

periférica.

Santos-García Diego et al (25) descrevem 5 casos de doentes com doença

de Parkinson avançada que desenvolveram polineuropatia axonal por deficiência

de vitamina B12 enquanto estavam a ser tratados com infusão duodenal contínua

de levodopa. A infusão duodenal contínua de levodopa é uma terapia eficaz na

doença de Parkinson avançada, no entanto com possíveis efeitos laterais

importantes. Alguns relatos na literatura têm sugerido a ocorrência de síndrome

de Guillain-Barré e de polineuropatia por deficiência de vitamina B12 em alguns

doentes de Parkinson em estádio avançado e tratados com infusão duodenal

contínua de levodopa. A polineuropatia por deficiência de vitamina B12

relacionada com infusão duodenal contínua de levodopa pode ser mais frequente

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 9

do que a maioria dos dados publicados sugerem. Um tratamento correto é

essencial para o prognóstico (25).

No estudo de Cory Toth et al (18), foram as elevações de ácido

metilmalónico e não de homocisteína que se correlacionavam com a exposição à

levodopa e gravidade de neuropatia periférica. Como 50% de doentes que

possuem deficiência em vitamina B12 apresentam níveis séricos normais de

vitamina B12, o subdiagnóstico de deficiência em vitamina B12 é comum, mas a

sensibilidade e especificidade do diagnóstico melhora com as medições de ácido

metilmalónico e homocisteína.

O teste para os níveis de metabolitos séricos, entre indivíduos com níveis

séricos de vitamina B12 no intervalo normal, iria revelar uma deficiência em

vitamina B12 em 5 a 10% de doentes com níveis séricos de vitamina B12 de

menos de 300 pg/mL e em 0,1 a 1% de doentes com níveis séricos de vitamina

B12 de 300 pg/mL ou maior. Nesta base, alguns autores têm recomendado a

medição dos níveis de ácido metilmalónico e homocisteína em todos os doentes

com polineuropatia (como os doentes de Parkinson tratados com levodopa) e com

níveis séricos de vitamina B12 menores que 300pg/mL (24).

Atualmente a elevação do ácido metilmalónico é reconhecido como um

marcador para a deficiência de vitamina B12 (23).

10 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Objetivos gerais

Avaliar se os níveis séricos de folato e vitamina B12 estão diminuídos nos

doentes de Parkinson tratados com levodopa;

Avaliar se os doentes de Parkinson tratados com levodopa possuem

consequências sintomáticas associadas a níveis séricos de folato e

vitamina B12 diminuídos: demência, depressão e polineuropatia.

Objetivos específicos

Comparar os níveis séricos de folato e vitamina B12 nos doentes de

Parkinson tratados com levodopa com um grupo controlo.

Avaliar se nos doentes de Parkinson tratados com levodopa é frequente a

prescrição de folato ou vitamina B12 como terapêutica adjuvante;

Avaliar se existem doentes de Parkinson tratados com o fármaco

entacapone.

Avaliar se o aumento da dose de levodopa e a duração da doença leva a

uma diminuição dos valores séricos de folato e vitamina B12 nos doentes

de Parkinson;

Avaliar se a prescrição de entacapone assegura valores séricos de folato e

vitamina B12 normais nos doentes de Parkinson;

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 11

Abordagem Metodológica

Estudo Observacional Retrospetivo no Hospital de S. João E.P.E.

Recolha de Dados

Através de registo clínico do internamento no Serviço de Neurologia do Hospital

de S. João E.P.E.

Período de estudo - Ano de 2002 a 2012.

Material e Métodos

Grupo de Doentes de Parkinson: Doentes com o diagnóstico de Doença de

Parkinson idiopática tratados com Levodopa.

Critérios de inclusão

Foram critérios de inclusão para o grupo de doentes de Parkinson:

Os doentes terem o diagnóstico de Doença de Parkinson;

Os doentes terem no processo clínico a indicação da toma habitual de

Levodopa;

12 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Os doentes terem no processo clínico os doseamentos de folato e vitamina

B12;

Os doentes apresentarem uma medicação habitual que não cause

alteração nos níveis séricos de folato e vitamina B12 (26);

Foi ainda paralelamente incluído um grupo controlo que foi selecionado da

seguinte forma:

Dentro do período de estudo foi selecionado aleatoriamente uma data;

Nessa data, foi selecionado aleatoriamente um doente com uma idade

semelhante à média de idade do grupo de doentes de Parkinson, e foi

recolhido o seu diagnóstico de internamento;

Foi confirmado que o doente não apresentava Doença de Parkinson nem

tratamento com levodopa;

Foi confirmado que o doente apresentava uma medicação habitual que não

causava alteração nos níveis séricos de folato e vitamina B12 (26);

Foram recolhidos os níveis séricos de folato e vitamina B12;

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 13

Análise dos processos clínicos: dados recolhidos

Registos:

Sexo;

Idade;

Medicação habitual;

Duração da doença;

Dose diária de levodopa (retirada através dos registos da medicação

habitual);

Prescrições terapêuticas

Dados bioquímicos - valores séricos de folato, vitamina B12 e homocisteína

Outros diagnósticos nomeadamente a presença de demência, depressão e

polineuropatia (retirado através dos registos de diagnósticos do processo

clínico).

Para o grupo controlo

Registos:

Sexo;

Idade;

Diagnóstico do internamento;

Medicação habitual;

Dados bioquímicos - valores séricos de folato e vitamina B12;

14 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Análise estatística

Calcularam-se os parâmetros de localização e de dispersão para as

variáveis contínuas e as frequências absolutas e relativas para as variáveis

categóricas. Usou-se a prova de Levene para avaliar a homogeneidade da

variância. A normalidade da distribuição foi avaliada pela prova de

Kolmogorov-Smirnov. As variáveis níveis séricos de homocisteína, duração da

doença, dose de levodopa e idade apresentaram uma distribuição normal.

Quando a distribuição dos parâmetros estudados era normal, compararam-se as

médias pela prova t de Student. Quando as distribuições não eram normais

utilizaram-se as provas não paramétricas de Mann-Whitney.

O grau de associação entre pares de variáveis considerado foi o seguinte: [0.9; 1]

muito forte, [0.75; 0.9[ forte, [0.5; 0.75[ moderado, [0.25; 0.5[ fraco, [0; 0.25[ muito

fraco.

Compararam-se as distribuições de frequências pela prova de qui-quadrado, ou

pela técnica exacta de Fisher quando o valor esperado em 20% (ou menos) das

células era inferior a 5. O nível de significância utilizado foi de 5%.

As informações recolhidas foram analisadas através do programa estatístico

Statistic Package for the Social Sciences (SPSS®), versão 21.0.

Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para a Saúde e pelo

Conselho de Administração do Hospital de S. João E.P.E. (anexo 3).

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 15

Resultados

Descrição da amostra de doentes estudados no internamento do Serviço de

Neurologia

Relativamente ao grupo de doentes de Parkinson, de 328 doentes de Parkinson

internados no período de estudo, 55 desses doentes apresentavam critérios de

inclusão, os restantes foram excluídos por não apresentarem os doseamentos de

folato e vitamina B12, por não efetuarem tratamento com levodopa e/ou

apresentarem medicação que alterava os valores séricos de folato e/ou vitamina

B12.

A amostra era constituída por 20 mulheres e por 35 homens com uma

idade média de 66,6 anos ± 8,2 anos (compreendidas entre os 46 e os 84 anos).

Relativamente ao grupo controlo, foram selecionados aleatoriamente,

durante o período de estudo, 55 doentes internados no Serviço de Neurologia,

que possuíam critérios de inclusão.

A amostra era constituída por 28 mulheres e por 27 homens com uma média de

idade de 61,9 anos ± 12,2 anos (compreendidas entre os 43 e os 85 anos).

Na Tabela 1, que se segue, são apresentadas as frequências de sexo e média de

idade de cada um dos grupos.

16 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Tabela 1 – Frequências de sexo e média de idade do Grupo de doentes de Parkinson e do Grupo

Controlo.

Grupo Controlo

Diagnóstico do internamento

A tabela 2 que se segue mostra a frequência dos diferentes diagnósticos do

internamento dos doentes constantes do grupo controlo. O diagnóstico registado

mais frequentemente foi doença vascular cerebral, diagnosticado a 24 doentes.

Grupo Controlo

Diagnóstico do internamento

N %

Doença Vascular Cerebral

24 43,7

Epilepsia

2 3,6

Esclerose Múltipla e outras doenças desmielinizantes inflamatórias do sistema

nervoso central

2 3,6

n (%)

Grupo de doentes de Parkinson

55 (100,0)

Grupo Controlo

55 (100,0)

p

Sexo Feminino Masculino

n (%)

20 (36,4) 35 (63,6)

n (%)

28 (50,9) 27 (49,1) 0,177

Idade (anos) Média Desvio padrão

66,6 8,18

61,9 12,2

0,021

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 17

Hidrocefalias

2 3,6

Cefaleias

2 3,6

Doenças do neurónio superior e inferior

4 7,3

Neuropatias cranianas 4 7,3

Doenças do cerebelo e espinocerebelosas

1 1,8

Doenças infecciosas do sistema nervoso

2 3,6

Doenças do músculo esquelético

4 7,3

Síndrome vertiginoso

4 7,3

Outras Patologias (perturbação do sono, oftalmoparésia por lesão do terceiro par

craniano,oftalmoplegia complexa e nevrite ótica)

4 7,3

Total

55 100,0

Tabela 2 – Diagnósticos do internamento dos doentes do Grupo de Controlo segundo

classificação de patologias (27)

.

Grupo de doentes de Parkinson

Como mostra a tabela 3 que se segue a maioria dos doentes de Parkinson toma a

levodopa em conjunto com carbidopa (inibidor da enzima dopadecarboxílase) (9).

O entacapone é tomado por 23 doentes. A dose de levodopa tomada pelos

doentes é em média de 823,53 mg com um desvio padrão de ± 406,04 mg. Em

relação à duração da doença, a tabela mostra que os doentes de Parkinson

incluídos neste estudo possuíam uma duração média da doença de 8,62 anos

com um mínimo de 0,1 anos até um máximo de 20 anos.

18 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

A cirurgia funcional, realizada como coadjuvante à terapêutica parkinsónica (28), foi

realizada a 8 doentes.

Tabela 3 – Toma de levodopa e entacapone, dose de levodopa, duração da doença e presença de

cirurgia funcional no Grupo de doentes de Parkinson.

n (%)

Grupo de doentes de Parkinson

53 (100,0)

Levodopa + carbidopa Levodopa + agonista da dopamina Levodopa + carbidopa + agonista da dopamina

40 (75,5)

2 (3,8)

11 (20,8)

n (%)

53 (100,0)

Entacapone

23 (43,4)

Dose de levodopa (mg) Média Desvio padrão

823,58

406,04

Duração da doença (anos) Média Desvio padrão

8,62

5,16

n (%) 55 (100,0)

Cirurgia Funcional 8 (14,5)

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 19

Valores séricos de folato e vitamina B12 – comparação com o grupo controlo

No grupo de doentes de Parkinson, os níveis séricos médios de folato foram de

6,57 ± 3,68 ng/ml, e no grupo controlo foram de 7,39 ± 3,99 ng/ml (p = 0,214).

Relativamente aos valores séricos de vitamina B12, no grupo de doentes de

Parkinson os valores médios foram de 394,94 ± 185,58 pg/ml, e no grupo controlo

foram de 618,38 ± 470,06 pg/ml (p = 0,010). Os valores estavam baixos em 6,1%

e normais baixos em 26,5% no grupo de doentes de Parkinson (p = 0,031). Estes

resultados levaram à posterior prescrição, no grupo de doentes de Parkinson, de

folato a 1 doente e folato e vitamina B12 a 1 doente, sob a forma de

multivitamínico de vitaminas do complexo B.

A tabela 4 seguinte mostra os valores séricos de folato e vitamina B12 em ambos

os grupos.

n (%)

Grupo de doentes de Parkinson

52 (100,0)

Grupo Controlo

55 (100,0)

P

Folato (ng/ml) Média Desvio padrão Baixo <2,2 Normal 2,2 – 17,5 Alto >17,5

6,57 3,68

n (%)

0 (0)

51 (98,1) 1 (1,9)

7,39 3,99

n (%)

2 (3,6)

53 (96,4) 0 (0)

0,214

0,087

20 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Tabela 4 – Dados bioquímicos - valores séricos de folato e vitamina B12 no Grupo de doentes de

Parkinson e no Grupo Controlo. Valores de referência atuais retirados da análise laboratorial do

processo clínico.

Relativamente aos níveis séricos de homocisteína do grupo de doentes de

Parkinson, podemos ver na tabela 5 que os doentes possuíam uma média de

22,35 ± 19,94 μg/ml e que 61,1% destes doentes possuíam valores elevados de

homocisteína sérica.

Tabela 5 – Valores séricos de homocisteína do Grupo de doentes de Parkinson. Valores de

referência atuais retirados da análise laboratorial do processo clínico.

n (%)

49 (100,0)

55 (100,0)

Vitamina B12 (pg/ml) Média Desvio padrão Baixo <187 Normal baixo <300

(24)

Normal 300 - 883 Alto >883

394,94 185,58

n (%)

3 (6,1)

13 (26,5) 32 (65,3)

1 (2,0)

618,38 470,06

n (%)

1 (1,8)

11 (20,0) 34 (61,8) 9 (16,4)

0,010

0,031

n (%)

Grupo de doentes de Parkinson

18 (100,0)

Homocísteína (μg/ml) Média Desvio padrão

Alta > 14.9

22,35 19,94

n (%)

11 (61,1)

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 21

Os gráficos 1 e 2 que se seguem mostram, respetivamente, as diferenças entre

os valores séricos de folato no grupo controlo e no grupo de doentes de Parkinson

(Parkinson), e os valores séricos de vitamina B12 no grupo controlo e no grupo de

doentes de Parkinson (Parkinson).

Gráfico 1- Diferenças entre os valores séricos de folato (ng/ml) no grupo controlo e no grupo de

doentes de Parkinson (Parkinson). p = 0,214

22 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Gráfico 2- Diferenças entre os valores séricos de vitamina B12 (pg/ml) no grupo controlo e no

grupo de doentes de Parkinson (Parkinson). p = 0,010

Diagnósticos - presença de demência, depressão e polineuropatia

Como está descrito na tabela 6 seguinte, a demência está presente em 20% dos

doentes de Parkinson.

A depressão está presente em 25,5% dos doentes de Parkinson e a

polineuropatia está presente em 3 doentes de Parkinson.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 23

Tabela 6 – Diagnósticos - presença de demência, depressão e polineuropatia no Grupo de

doentes de Parkinson.

Associações obtidas no Grupo de doentes de Parkinson

A tabela 7 mostra uma associação muito fraca e sem significado estatístico entre

a dose de levodopa e os valores séricos de folato e vitamina B12, e uma

associação moderada e sem significado estatístico entre a dose de levodopa e os

valores séricos de homocisteína.

n (%)

Grupo de doentes de Parkinson

n (%)

55 (100,0)

Demência

11 (20,0)

Depressão

14 (25,5)

Polineuropatia

3 (5,5)

24 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Tabela 7 – Correlação de Spearman entre a dose de levodopa e os valores séricos de folato e

vitamina B12 e correlação de Pearson entre a dose de levodopa e os valores séricos de

homocisteína.

A tabela 8 que se segue não mostra diferenças estatisticamente significativas

entre as médias das doses de levodopa nos doentes que apresentam demência,

depressão e polineuropatia.

Correlação de Spearman Dose de levodopa coeficiente de correlação p N

Folato

Vitamina B12

Homocisteína

0,112

0,438

50

0,074

0,616

48

Correlação de Pearson Dose de levodopa coeficiente de correlação p N

0,63

0,805

18

Dose de levodopa Média ± desvio padrão (mg)

Demência Sim Não P

700,00 ± 353,55 855,95 ± 416,46

0,226

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 25

Tabela 8 – Associação entre a dose de levodopa e a presença de demência, depressão e

polineuropatia.

A tabela 9 mostra uma associação fraca e sem significado estatístico entre a dose

de levodopa e a duração da doença. No entanto, retirando da análise os doentes

de Parkinson que realizaram cirurgia funcional, observa-se uma associação fraca,

com significado estatístico.

Tabela 9 – Correlação de Pearson entre a dose de levodopa e a duração da doença.

Depressão Sim Não P

946,43 ± 501,71 779,49 ± 363,23

0,268

Polineuropatia Sim Não P

816,63 ± 354,73 824,00 ± 412,09

0,975

Correlação de Pearson

Duração da

doença

Grupo de doentes de Parkinson

Dose de levodopa coeficiente de correlação p N

0,250

0,077

51

Grupo de doentes de Parkinson

sem cirurgia funcional

Dose de levodopa coeficiente de correlação p N

0,319

0,033

45

26 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

A tabela 10 mostra uma associação muito fraca e sem significado estatístico entre

a duração da doença e os níveis séricos de folato e vitamina B12, e uma

associação fraca e sem significado estatístico entre a duração da doença e os

valores séricos de homocisteína.

Tabela 10 – Correlação de Spearman entre a duração da doença e os níveis séricos de folato e

vitamina B12 e correlação de Pearson entre a duração da doença e os valores séricos de

homocisteína.

A tabela 11 seguinte não mostra diferenças estatisticamente significativas entre

as médias dos anos de duração da doença nos doentes que apresentam

demência, depressão e polineuropatia.

Correlação de Spearman Duração da doença coeficiente de correlação p N

Folato

Vitamina B12

Homocisteína

0,028

0,847

50

0,007

0,964

47

Correlação de Pearson Duração da doença coeficiente de correlação p N

0,444

0,074

17

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 27

Tabela 11 – Associação entre a duração da doença e a presença de demência, depressão e

polineuropatia.

Como mostra a tabela 12 seguinte, os doentes que tomam entacapone

apresentam um valor sérico de folato relativamente superior, mas sem significado

estatístico.

Os doentes que tomam entacapone apresentam também um valor sérico de

vitamina B12 relativamente inferior, mas sem significado estatístico e um valor

sérico de homocisteína também inferior, sem significado estatístico.

Duração da doença Média ± desvio padrão (anos)

Demência Sim Não p

8,59 ± 6,55 8,63 ± 4,92

0,986

Depressão Sim Não p

7,47 ± 4,63 9,00 ± 5,32

0,329

Polineuropatia Sim Não p

6,00 ± 5,66 8,73 ± 5,18

0,618

28 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Tabela 12 – Associação entre a toma de entacapone e os níveis séricos de folato, vitamina B12 e

homocisteína.

Os doentes de Parkinson que apresentam demência, como demostra a tabela 13

que se segue, apresentam valores séricos de folato inferiores aos doentes que

não apresentam demência (p=0,005).

Os doentes de Parkinson que apresentam polineuropatia apresentam valores

séricos de vitamina B12 inferiores aos doentes que não apresentam

polineuropatia (p=0,066).

Folato

Média ± desvio padrão (ng/ml)

Vitamina B12

Média ± desvio padrão

(pg/ml)

Homocisteína

Média ± desvio padrão

(μg/ml)

Entacapone Sim Não p

7,15 ± 4,02 6,38 ± 3,48

0,651

394,71 ± 157,45 402,11 ± 207,57

0,909

16,31 ± 8,60 36,20 ± 24,30

0,239

Folato

Média ± desvio padrão (ng/ml)

Vitamina B12

Média ± desvio padrão (pg/ml)

Demência Sim Não p

4,38 ± 2,47 7,10 ± 3,74

0,005

391,88 ± 181,54 395,54 ± 389,55

0,966

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 29

Tabela 13 – Associação entre a presença de demência, depressão e polineuropatia e os níveis

séricos de folato e vitamina B12.

Os gráficos 3 e 4 que se seguem mostram, respetivamente, as diferenças entre

os valores séricos de folato na ausência e presença de demência, e os valores

séricos de vitamina B12 na ausência e presença de polineuropatia.

Depressão Sim Não p

6,85 ± 3,35 6,49 ± 3,81

0,743

337,36 ± 181,36 400,03 ± 188,86

0,722

Polineuropatia Sim Não p

7,23 ± 4,26 6,53 ± 3,69

0,806

207,67 ± 183,65 407,15 ± 381,67

0,066

30 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Gráfico 3- Diferenças entre os valores séricos de folato (ng/ml) na ausência e presença de

demência. p = 0,005

Gráfico 4- Diferenças entre os valores séricos de vitamina B12 (pg/ml) na ausência e presença de

polineuropatia. p = 0,066

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 31

Através da correlação de Spearman exposta na tabela 14 que se segue, observa-

se uma associação negativa fraca entre os níveis séricos de folato e os níveis

séricos de homocisteína, sem significado estatístico. Em relação à associação

entre os níveis séricos de vitamina B12 e os níveis séricos de homocisteína,

existe uma associação negativa moderada com significado estatístico.

Tabela 14 – Correlação de spearman entre os níveis séricos de homocisteína e os níveis séricos

de folato e vitamina B12.

O gráfico 5 seguinte mostra a associação entre os níveis séricos de homocisteína

com os níveis séricos de vitamina B12, onde se observa uma associação inversa

entre estas duas medições.

Correlação de Spearman

Folato

Vitamina B12

Homocisteína coeficiente de correlação p N

- 0,309

0,262

15

- 0,541

0,030

16

32 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Gráfico 5- Associação entre os níveis séricos de homocisteína (μg/ml) com os níveis séricos de

vitamina B12 (pg/ml). p = 0,030

Os doentes de Parkinson que apresentam demência, como demostra a tabela 15

que se segue, apresentam valores séricos de homocisteína superiores aos

doentes que não apresentam demência (p=0,009). Os valores de homocisteína

apresentam-se aumentados nos doentes que apresentam depressão e

polineuropatia, mas sem significado estatístico.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 33

Tabela 15 – Associação entre os níveis séricos de homocisteína e a presença de demência,

depressão e polineuropatia.

O gráfico 6 que se segue mostra as diferenças entre os valores séricos de

homocisteína na ausência e presença de demência.

Homocisteína Média ± desvio padrão (μg/ml)

Demência Sim Não p

43,85 ± 32,43 16,21 ± 9,72

0,009

Depressão Sim Não p

28,68 ± 14,13 19,91 ± 21,76

0,337

Polineuropatia Sim Não p

34,33 ± 16,43 19,95 ± 20,18

0,267

34 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Gráfico 6- Diferenças entre os valores séricos de homocisteína (μg/ml) na ausência e presença de

demência. p = 0,009

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 35

Discussão

Os resultados obtidos neste estudo mostram que os doentes de Parkinson

possuíam uma média de idades de 67 anos, o que vai de encontro a vários

estudos realizados a esta população que mostram que normalmente afeta a

população acima dos 50 anos, com um rápido aumento de incidência após os 60

anos (1). Neste estudo observou-se também uma maior frequência de doentes do

sexo masculino.

A duração da doença apresentou uma média de 9 anos o que corresponde

a uma média onde aproximadamente 40% dos doentes de Parkinson possam vir

a evidenciar complicações motoras pois estas acontecem após 4-6 anos de

tratamento com levodopa (5). O grupo controlo, em relação ao grupo de estudo

mostrou-se semelhante no sexo e idade.

Os níveis séricos de folato apresentaram-se ligeiramente mais baixos nos

doentes de Parkinson comparando com o grupo controlo, mas sem significado

estatístico como foi observado no estudo de Gulizar M. et al (2), mas que vem

contrariar alguns estudos (11), (30), (32) inclusive o realizado por Nikolaos I. et al (15).

Comparando com o estudo realizado por Lamberti P. et al (16), o valor médio do

nível sérico é semelhante, embora neste caso não seja significativo. Este

resultado pode dever-se ao facto de o grupo controlo ser também ele um grupo

suscetível a níveis de folato baixos, pois 2 doentes apresentaram níveis séricos

de folato baixos.

Os níveis séricos de homocisteína apresentaram-se elevados em 61,1%

dos doentes de Parkinson, como foi também observado em outros estudos com

doentes de Parkinson (12), (13), (17), (20), (29), (30), (31) embora neste estudo apenas 18

doentes apresentaram esta medição no seu processo clínico.

36 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

Em relação aos níveis séricos de vitamina B12, estes revelaram-se

significativamente mais baixos nos doentes de Parkinson comparando com o

grupo controlo. Os valores estavam baixos em 6,1% e normais baixos em 26,5%

dos doentes de Parkinson, este facto foi também observado em vários estudos

(10), (15), (16), (18), (32), (33), (34). Este resultado pode dever-se também a outros fatores

que não foram determinados neste estudo, como por exemplo os doentes

apresentarem mutações no gene do MTHFR (12), diminuição da ingestão de

alimentos proteicos, que está recomendada para estes doentes (19), (20) ou então à

diminuição da ingestão alimentar por dificuldades associadas à própria doença,

como o aparecimento de disfagia, entre outros (3).

A presença de demência, depressão (21), (22) e polineuropatia foi observada

nos doentes de Parkinson como foi demonstrado no estudo realizado por Nikolaos

I. et al (15) entre outros (21), (22). A demência está presente em 20% dos doentes de

Parkinson, a depressão está presente em 25,5% dos doentes de Parkinson e a

polineuropatia está presente em 3 doentes de Parkinson.

A presença de polineuropatia nos doentes de Parkinson foi também

observada por Cory Toth et al (18), (23) entre outros (33), (34), (35).

A dose de levodopa e a duração de doença não se associaram a níveis

séricos mais elevados de folato e vitamina B12. Em relação à associação entre

níveis séricos de homocisteína, observou-se uma associação moderada com a

dose de levodopa, sem significado estatístico como foi descrito no estudo de

Mϋller T. et al (11) provavelmente por serem de apenas 18 o número de doentes

com os valores séricos de homocisteína. A dose de levodopa e a duração de

doença não se associaram também à presença de demência, depressão e

polineuropatia.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 37

Foi também observada uma associação fraca, sem significado estatístico

entre a dose de levodopa e a duração da doença, possivelmente devido ao facto

de 8 doentes de Parkinson terem realizado cirurgia funcional no decorrer do seu

período de doença, o que leva a que, a dose habitual de levodopa diminua.

Assim, analisando a associação excluindo os doentes que realizaram a cirurgia,

obteve-se uma associação fraca com significado estatístico.

A toma de entacapone mostrou não alterar significativamente os níveis

séricos de folato, vitamina B12 e homocisteína, como foi também demonstrado no

estudo de Padraig E. et al (13) e outros (20), e contraria o estudo realizado por

Triantafyllou NI. et al (32). Embora os valores de homocisteína nos doentes de

Parkinson que tomam entacapone mostrarem-se inferiores, não são significativos,

contrariando os valores obtidos por Zesiewicz T.A. et al (36).

Os doentes que apresentaram demência, mostraram ter valores séricos de

folato significativamente mais baixos e níveis séricos de homocisteína

significativamente mais elevados. Este facto foi também observado e reportado

em vários estudos (37), (38), (39), (40), (41). Não se verificaram níveis séricos

significativamente mais baixos de vitamina B12 nos doentes com demência.

A presença de depressão não mostrou diferenças significativas nos

valores séricos de folato e vitamina B12. Os valores de homocisteína observados

foram superiores, mas não significativos.

Observaram-se valores séricos mais baixos de vitamina B12 e valores

séricos mais elevados de homocisteína nos doentes que apresentaram

polineuropatia como também demostram vários estudos (33), (35). Os valores

séricos de vitamina B12 não foram significativos devido ao facto do número de

doentes de Parkinson que apresentavam polineuropatia ser muito pequeno (3

38 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

casos). Os valores séricos baixos de vitamina B12 estão moderadamente

associados com valores séricos aumentados de homocisteína como referido por

G. Ali Q. et al (10) e Lamberti P. et al (16) entre outros (42), (43).

Os doentes que apresentam demência são também os doentes de

Parkinson que apresentam uma idade mais avançada como descrito noutros

estudos (44), (45).

É também importante referir algumas limitações deste estudo, como o

facto de não ter sido contabilizada a ingestão alimentar e consequente ingestão

de folato e vitamina B12 em ambos os grupos e o facto de o número de doentes

que disponham destes níveis séricos, os apresentarem por se suspeitar de níveis

séricos diminuídos.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 39

Conclusão

A doença de Parkinson, tendo a levodopa como tratamento principal,

leva a alterações bioquímicas nos doentes, que advêm possivelmente da sua

metilação plasmática periférica. Nestes doentes, a vitamina B12 apresentou-se

significativamente mais baixa e a homocisteína, mais frequentemente elevada.

Apesar da toma de entacapone por 23 doentes, este não se revelou

significativo para aumentar os níveis séricos de folato e vitamina B12, embora os

níveis de homocisteína estivessem mais baixos nestes doentes.

A presença de demência, depressão e polineuropatia é uma realidade

entre estes doentes, a demência está associada a níveis de folato mais baixos e

de homocisteína mais elevados, e a polineuropatia associada a níveis séricos de

vitamina B12 mais baixos.

Desta forma, podemos concluir que, os doentes de Parkinson,

independentemente da dose de levodopa, duração da doença e a toma de

entacapone, podem estar em risco de apresentar níveis séricos de homocisteína

elevados e de vitamina B12 baixos, pois estes doentes podem apresentar

diminuição da ingestão alimentar por dificuldades associadas à própria doença,

que não foram determinados neste estudo, e portanto, estarem mais sensíveis a

estas alterações.

Nestes doentes deveria ser analisado os níveis séricos de folato,

vitamina B12 e homocisteína, uma vez que, neste estudo, apenas 55 doentes

disponham destes valores séricos.

O ácido metilmalónico, que não foi doseado em nenhum doente deste

estudo, deveria ser doseado, de forma a detetar deficiências de vitamina B12

40 Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa

quando esta se apresenta com valores normais, pois foi observado que 13

doentes apresentaram níveis séricos de vitamina B12 normais baixos.

A terapêutica complementar com folato e vitamina B12 deverá ser mais

frequente nestes doentes de forma a normalizar os níveis séricos contemplados

neste estudo e possivelmente atrasar o aparecimento das consequências

sintomáticas observadas: demência, depressão e polineuropatia, de forma a

diminuir a incapacidade motora e as alterações cognitivas que podem surgir ao

longo da evolução da doença de Parkinson.

Este estudo pode ser uma forma de sensibilizar os clínicos que

trabalham com estes doentes para mais algumas consequências da terapêutica

crónica com a levodopa. O défice de folato e de vitamina B12 associado à

terapêutica deve ser monitorizado na vigilância clínica destes doentes de forma a

prevenir de forma eficaz o desenvolvimento de outras patologias, como a

demência, depressão e a polineuropatia.

Níveis Séricos de Folato e Vitamina B12 em Doentes de Parkinson Tratados com Levodopa 41

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a1

Anexo 1

Vias de interação metabólica entre a homocisteína e a levodopa.

COMT- catecol-O-metiltransferase, CH3- grupo metilo,

DDC-dopadecarboxilase, CD- carbidopa. Inibição, síntese(9).

a2

Anexo 2

Ciclo metabólico da homocisteína.

BHMT – Metiltransferase da

betaína homocisteína; DMG- dimetilglicina; MTHFR- redutase

do metiltetrahidrofolato (12).

a3

Anexo 3