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* Numero Zero * Numero Ze ro * NUf11ero # 0 £ '::J Z o MASSACRE DE CANUDOS e o MASSACRE DO BOM SENSO *** CIENCIA VERSUS F ILOSOFIA ? *** A NEGRA NOlTE DA CONSCIENCIA *** o FUTURO Do ,RroicULo * * *** POESIA ***

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* Numero Zero * Numero Ze,· ro * NUf11ero ~ ~o ~ # 0

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o MASSACRE DE CANUDOS e

o MASSACRE DO BOM SENSO

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CIENCIA VERSUS F ILOSOFIA ?

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A NEGRA NOlTE DA CONSCIENCIA

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o FUTURO Do ,RroicULo *

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POESIA

***

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NUMERO ZERO - NOVEMBRO DE 1997 :" :.;,

CONSELHO EDITORIAL Alvaro de Carvalho Pedro Sette' Camara

Sergio Coutinho de ,J3iasi ,':'" Ze Roberto H. B. de Barros

DIAGRAMA!;AO Sergio Coutinho de Biasi

Pedro Sette Camara

FOTOS Sergio Coutinho de Biasi

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ROUBO DE FIGURAS DA INTERNET Sergio Coutinho de Biasi

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o conteudo de cada coluna e manifesta~iio do pensamen,to individual do respectiv6 autor.

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EDITORIAL ,

E bom avisar logo que, num jomal que se chama 0 INDrviDUO, este editorial do nUmero zero vai ser UID

dos raros artigos escritos de forma dita "impessoal". Ou melhor: vai ser assinado por quatro pessoas, nos quatro que fonnamos 0 conselho editorial deste jomal. Porque neste jomal deve imperar 0 estritamente pessonl, pensado e escrito por um individuo sozinho.

Isto esci fundamentado na nossa cren~a no individuo. Num tempo em que se fala muito em coletividades, nos "excluidos", nos "sem-aJ.gq.ma. coisa"(e todos somos sem alguma coisa .. . ), no velho "proletariado", nas "for~as populates", na "juventude" , na "gera~ao cara-pintada", nas " tribos" e tudo mais, nos queremos nos dir:igit: ao ser humano sozinho, de um para UID. Porque e assim que as coisas sao. Individuais.

Todas estas coletividades sao apenas figutas que utilizamos para pensar com uma certa ordem e que niio se traduzem completamente na figura de uma pessoa que, se pode tet caracteristicas atribuidas a coletividade, pode tambem - como acontece na tnaioria dos casos - transcende-las.

Alem do que, aio e, POt exemplo, "a juventude" que pensa, mas cada jovem em seporatkJ. Se ha semelhan~as entre 0

pensamento de vanos jovens, isto aio e razao para cret que 0 coletivo substitua 0 individual, como se "a juventude" fosse urn ente concreto e aio apenas uma qualidade humana (alias, a mais efemeta), como se a produ~ao intelectual simplesmente emanasse diretamente da sociedade ou de grupos sociais sem que no final das contas seja, concretamente, produzida por indivfduos.

Por isso, acreditamos que nao faz sentido nos dirigitmos as pessoas como "grupo". Nos quatro queremos, antes de tudo, atingir e despertar os individuos pensantes, sejam negros, brancos, pardos, fa~am Fisica ou Letras, 0 que quer que seja.

A segunda motiva~ao por tras deste jomal, muitissimo ligada a primeira, esci no nosso estranhamento a muita coisa deste nosso mundo mlldemo e da Pontificia Universidade Catolica. "Madness in great ones must not unwatched go" ("A loucura nos grandes nao deve ficar sem vigilancia',), diz 0 rei Claudius em Hamlet. Assim sendo, escrevemos estes artigos tambem para avisar aos "grandes" - a cada professor, a cada membro do cotpo administtativo da PUC, gente do mundo cultural e jormatkJres de opiniiio em geral - que ha uma plateia vigilante, que nao podem achar que sua loucura passa desapercebida. .

Na verdade, nao temos a menor pretensao de realizar qualquer revolu~ao. So queremos mesmo que a PUC, professores, padres e alunos, saibam da nos sa existencia. Os que gostarem, oti.mo; os que quiserem participar, melhor ainda. Os que nao gostarem provavelmente so aumentarao nossa certeza de estar no caminho certo.

Ter:t:Wnando, queremos salientar que esse nao e um jomal· de opiniOes deca.rciveis, de pensamentos nao elaborados, como aqueles que as pessoas tem ao £im do almo~o. Tudo 0 que estiver aqui publicado pretende estar fundamentado em mgumen/os e devera ser considerado como tal. Quem quer ter razao no grito, POt autoridade ou atraves de chantagem emocional nao nos interessa; so ptestamos aten~ao a quem quiser discutir alguma coisa em bases tazoaveis. E, antecipando uma rea~ao, endCmica em nossos tempos, aqueles. que, como nos, nao consideram que a verdade sutja do consenso, e sim da reflexao, que fique claro desde ja que apesar disso nao nos consideramos os "donos da verdade". E so que 0 nlvel do debate tem estado tio baixo que um poueo de veemeneia e teal capacidade argumentativa (aliada a consistencia do conteudo) assusta os espiritos mais fuigeis, que veem na celebra~ao incondicional de quaisquer opinioes apresentadas a essencia do debate, e nao sua earicatura.

Pode ser ainda que tudo que se escreva aqui seja meramente bobagem, que nos nao passemos de uns malucos arrogantes. Mas, ainda que 0 sejamos, queremos deixar clara a certeza que fundamenta tudo que dissermos, inclusive a possibilidade tkJ error. Nas palavras do espanhol Antonio Machado:

La verdad la verdad es y sigue siendo verdad

aunque se diga al reves.

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Alvaro de Carvalho Pedro Sette Cimara

Sergio Coutinho de Biasi Ze Roberto H. B. de Barros

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ForONS I por ALVARO R VELLOSO DE CARVALHO

o MASSACRE DO BOM SENSO

Diante de cettas . ~apifesta<;oes de total falta de senso que andam invadindo os pilo~~, ~ n±uito val9.rosa a advertencia do historiador Evaldo Cabral de Melo, e~ recente entrevista para 0 cademo "Prosa e Verso", do jomal "0 Globo".

Dizia ele, com coragem rara em nossos intelectuais, que politica retroativa nao e Hist6ria. A Hist6ria, para que se pretenda ciencia, deve ser feita com docurnentos e elementos verificaveis. Em outras palavras, para estudar a Hist6ria, nao nos cabe impor modelos a realidade ou q~erer que 0 passado se adapte as nossas aspira<;6es presentes. E preciso buscar a veracidade, buscar 0 fato, deixando que a realidade se apresente a n6s tal e qual eia foi e nao como gostariamos que eia tivesse sido.

Nao digo com isso que a atividade historiografica vai sempre ser capaz de descrever todos os fatos passados, mas que ela s6 atinge seu verdadeiro prop6sito quando se restringe aquilo que e capaz de descrever, e 0 faz com honestidade. N ada pode ser pior para a descri<;ao hist6rica do que a contamina<;ao ideol6gica, que impede os historiadores de enxergar 0 que nao se adequa a· sua pobre visao de mundo.

Uma vez descrita a realidade, ai sim e possivel emitir sobre ela urn juizo valorativo. Nao me estenderei aqui . sobre a necessidade de emitir esse juizo. Basta dizer que, sem que-possamos enxergar a Hist6ria de urn ponto de vista universal e absotver dela algo 'A.u~ .. nos informe ~obre n6s mesmos, 0 estudo hist6rico deixa de ser necessario. Ora, incarporar a noss~ vida verdades que nos tenham sido legadas por atos ou palavras dos homens que nos antecederam requer a emissao de urn juizo.

Deste ponto de vista, podemos delinear, como aponta Olavo de Carvalho, tres tipos de atua<;ao hist6rica: aquele que nao tern nenhurn tipo de significa<;ao fora do contexto em que se desenroIou, aquele que deixa para os tempos seguintes urn modelo de a<;ao inspirador (e tern imporclncia universal) e aquele que deixa atras de si uma sombra de pesadelo, especie de modelo negativo - 0 que nao se deve repetir.

Tudo isso vern bem ao caso nesta epoca de exalta<;ao ao movimento "revolucionano" de Canudos e ao seu chefe Antonio Conselheiro.

Dar a esse movimento urn valor alem de suas pr6prias circunsclncias e urna falsifica<;ao enorme, urn exemplo perfeito da citada politica retroativa. Antonio Conselheiro nao foi urn visionano e Canudos nao foi urn Movimento dos Sem-Terra avant la lettre. Foi, simplesmente, urna manifesta<;ao de crendices populares, urn fenomeno localizado, provocado por urn sentimento de impotencia ante as

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novidades republicanas. Nao ha nenhurna profundidade mistica, nem reivindica~6es progressistas nesse movimento. Ha, . sim, fanatismo e ignorancia, recusa . a qualquer autoridade e espirito de desordem.

Quando a nossa esquerda progressista elege como Idolo urn sujeito como Conselheiro, e que perdeu completamente a no~ao dos fatos. Ate porque 0 movimento foi reacionano, anti-progressista. Cons~lheiio criticava as mudan~as introduzidas pela Republica, pregava a volta do Imperio e ' se aproveitava do sentimepto. religioso popular. A atra~ao que exerceu - e exerce - vem da necessidade de ter algum modelo, de depositar as esperan~as em alguma figura publica. Mais ainda, em alguem que se diz investido de poderes divinos.

Citemos a maior autoridade no assunto, Euclides da Cunha, mesmo correndo 0

risco de destruir doces ilus6es: "Canudos ia se tornando 0 homizio [esconderijoJ de famigerados fac1noras." De fato, 0 que Euclides observa no movimento e 0 desrespeito ao que quer que seja, aliado a urna devo~ao fanatica a urn lider messianico, a quem foram atribuidos ate milagres.

Nao pensem que apoio 0 massacre. Pelo contrario. Tao ou mais selvagens que os sertanejos

'~. foram os militares, que nao se esfor~aram nem urn pouco para compreender 0 movimento e nem refletiram sobre a imprevidencia de suas a~6es. o proprio Euclides os advertira que 0 exterminio de Canudos levaria a urna guerra longa e sangtenta. "0

sertanejo e antes de tudo urn forte" e lutou ate 0 £im de suas fo!~as. Ignorando esse fato, o sucessivo envio de tropas do Exercito para a regiao levou a tres conseqiiencias problematicas, mutuamente relacionadas: a exalta~ao dos sertanejos, que culminava com o aumento do prestigio de Conselheiro; a morte (perfeitamente evitavel) de milhares de soldados e a dizima~ao da popula~ao de Canudos; e 0 crescente atrelamento ·do poder politico ao poder militar. A Nova Republica se tornava refem de seu bra~o armado.

Esse breve resumo pretende mostrar que nao nos cabe dar a revolta de Canudos urn status de luta do Bern contra 0 Mal. Reconhe~amos que houve erros de ambas as . partes, da mesma forma como . ,. ambas tinham suas raz6es. A terra e uma reivindica~ao legitima, desde que nao se fa~a disso urn instrumento para a instala~ao do caos - e, vale

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ressaltar, 0 discurso de Conselheiro tende mais para .'>~.;;

o caos do que para a legitimidade. Da mesma forma,

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a seguran~a nacional e uma causa legitima, deixando de se-lo quando 0 poder armado incorre em abusos - caso no massacre de Canudos. Endeusar qualquer urn dos lados e urna imprevidencia e uma estupidez. Satanizar 0 outro, idem.

Mas sera que adianta 0 apelo a razao, quando 0 publico universitario esci ensegue-:­cido pelas trevas da ideologia, e a ansia de poder politico se sobrep6e a qualquer outra aspira~ao da alma?

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FiSICA E METAFislCA I por SERGIO COUTINHO DE BIASI

CI1~:NCIA VERSUS F ILOSOFIA ? lniciamos com este artigo uma coluna cujo

assunto sera a considerac;ao das influencias mutuas entre os desenvolvimentos da ciencia e da filosofia.

Vivemos em uma epoca na qual os fil6sofos, em sua maioria, estao muito afastados dos cientistas. Historicamente, tiencia e filosofia surgiram juntas e durante muito tempo se confundiram; a propria fisica

, ,,' ',0 comec;ou como Dlosofia natural. A medida em que 0 0;, #

tempo pas sou, e a ciencia ganhou uma complexidade cada vez maior, e nossa compreensao do mundo e do universo - pelo menos a nivel fenomenologico - se expandiu, porem, uma atividade ficou cada vez mais distinta da outra. A medida em que 0 territorio da ciencia se expandiu, suas fronteiras - para alem das quais esta a metafisica e a filosofia - pareceram cada vez mais

distantes, para muitos, da quase totalidade da atividade cientifica. Desse modo, chegamos a uma cisao suspeitissima na qual acredita-se que e possivel produzir ciencia de alta qualidade sem nunca gerar qualquer pensamento filosofico novo e que seja possivel filosofar sobre a realidade (supondo que exista uma) sem conhecer ou se reportar a ciencia.

Ora, em ambos os sentidos estamos cometendo erros crassos, e prejudicando -em certos casos impedindo - tanto 0 progresso da ciencia como 0 da filosofia.

Por urn lado, a ciencia nao pode avanc;ar - ou sequer existir - sem a filosofia. As estruturas filo so ficas , conscientes ou nao, constituem a ferramenta atraves da qual tentaremos interpretar a realidade - e isso vale tanto para urn bebe recem nascido como para urn grupo de pesquisa em fisica nuclear. Ate ai, poderiamos conceber a filosofia como fundamento implicito mas dissociado do objeto da ciencia. So que 0

conhecimento nao consiste apenas em preencher com percepc;oes e experiencias uma forma ja pronta. Ao contrano, os grandes saltos de compreensao se ciao quando reformulamos nossas formas (geralmente ao depararmos com percepc;oes que nao sabemos onde encaixar). De fato, 0 tipo de conhecimento que a ciencia pretende obter sobre a realidade esta muito mais nas estruturas que descobre serem "adequadas" para interpreci-Ia do que no acUmulo ' ~finito de percepc;oes. Assim, todo grande avanc;o na ciencia - aquele tipo de avanc;o ' que alarga suas fronteiras - nao so requer mas consiste em urna mudanc;a nas estruturas filosoficas atraves das quais pensamos a realidade.

Por outro lado, em particular pelo exposto acima, a filosofia nao pode ficar alheia aos avanc;os da ciencia. A medida em que a ciencia avanc;a, ela penetra em dominios que antes pertenciam a filosofia. Nossa apreensao da realidade se altera atraves das eras e, aos poucos, questoes que antes pertenciam por excelencia ao dominio do debate filoso£ico

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puro, e demarcavam ate mesmo os limites do cognoscivel, passam a poder ser tratadas cientificamente. Dessa fonna, questoes como "Que sao as estre1as ?", "0 que e a 1uz ?", . "?era 0 univers~ infinito ?", "De onde surgiram os seres humanos ?", "0 tempo passa com a mesma~'velocidade em todos os htgat:es ?" que em diferentes epocas ja foram - e facilmente esquecemo-nos disso - questoes filosoficas, hoje sao tratadas pela ciencia. Tal mudan~a de situa~ao nao impede,,~cursoes da filosofia pura em nenhum desses assuntos - porem e fundamental que quem se 4i~pq~a a faze~las considere - e para tanto precisara conhece-los - os argUrllentos cientlficds relevantes. J a outras questoes como "0 que e 0 bern ?", "Por que estamos aqui ?", "Existe um Deus ?", "0 futuro esci predetenninado ?", ainda hoje sao, eminentemente, competencia da filosofia. Talvez algum dia se tome possivel trata-las no ambito da ciencia, talvez nao; a filoso~a e mesmo mais abrangente que a ciehcia. No entanto, 0 filosofo ' deve perceber que as descobertas cientfficas revolucionarias nao apenas apresentam conseqiiencias filosoficas profundas, mas mais do que isso, consistem em reformula~oes filosoficas, e muito bern fundamentadas. .

A' ciencia expandiu-se tanto nos Ultimos seculos que muitas vezes filosofos e cientistas perdem de vista que sao ativid~des com uma fronteira - freqiientemente nebulosa - em comurn, e que quanto mais a filosofia 'fala sobre'a realida4e concreta, mais proxima ela esci da ciencia, assith como quanto · inais a ciencia se UQiversaliza, mais proxiina esci da filosofia pura. Pretender conhec~r a rea1idade e fazer ciencia sem empregat' a filosofia e como tentar construir a cobertura deUm predio antes de lan~ar as funda~oes. Porem, fazer filosofia ignorando a ciencia e como estudar 0 problema generico das funda~oes ignorando os arranha-ceus que ja estao construidos por al.

Por mais forte e clara que seja essa liga~ao, ha porem urna fonna de sabota-la, que desfruta de consideravel popularidade : negar nao so a acessibilidade mas a propria existencia de uma realidade objetiva, concreta, suposi~ao basica sem a qual a ciencia se toma nao so desconectada da filosofia mas completamente inviavel. A conseqiiencia direta dessas concep~oes subjetivistas e relativistas e urn universo no qual todas as opinioes tern 0 mesmo valor e ninguem esta efetivamente "com razao" sobre coisa alguma. Deliciosamente "democratico" ? 0 que de fato ocorre e que demolida a distin~ao entre 0 pensamento / sentimento de cada urn e tudo 0 que esta fora de nos, entre 0 que projetamos nos outros e 0 que vern de nos mesmos, fica, de fato, impossibilitada a comunica~ao e compreensao do outro, dado que estamos efetivamente negando seu direito de existir independentemente. E, como nada faz sentido mesmo, estamos isentos de qualquer responsabilidade e so 0 que pode prevalecer e nossa vontade pessoal. Em uma tal situa~ao, so nos resta submeter (a marretadas) continuamente tudo e todos a nossas ilusoes e fantasias (ao inves de, ao concirio, adaptar nossas concep~oes e representa~oes internas ao que vemos), num orgasmo de egocentrismo esquizofrenico.

Felizmente, essa visao de mundo se revela nao somente dantesca mas tambem de pouca consistencia. Afastada a possibilidade da unifica~ao de todas as nossas realidades subjetivas em uma unica e universal realidade objetiva, qualquer proposta filosofica fica transformada em urn fun em si, em um delirio exclusivamente formal. E, de qualquer forma, nao adianta espemear e dizer que nao e possivel fazer 0 que ja esta efetivamente sendo feito. A evidencia mais contundente da existencia de algum tipo de realidade objetiva e justamente"-Q gigantesco e cada vez maior sucesso que a ciencia vern obtendo em operar baseada nessa suposis:ao.

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o MUNDO COMO MUNDO I por PEDRO SETTE CAMARA

A NEGRA NOlTE DA CONSCIENCIA

. As vezes me pergunto em que pais eu vivo'. Porero, 0 testemunho da minha consciencia me faz ver que a loucura que gera esta questao tem origem nos outtos, ,e nao nurna possivel ilusao geografica minha. Eu continuo sao, e meus olhos nao me ~riganam. A Unica coisa que persiste e, talvez, a sensas:ao de que eu preferia estar profundamente errado ou meio doido mesmo.

Foi exatamente assim que eu . me senti ao descobrir que se realiiaria na PUC urna Semana de Consciencia Negra, urn evento inspirado na ideia norte­americana do "politicamente correto". Acredito mesmo que isso s6 possa ser froto da tal "colonizas:ao cultural", urn fenomeno que, em tempos de "globalizas:ao", ficou meio esquecido, mas que, infelizmente, existe · sim: basta olhar para os negros brasileiros, que, em · termos de aceitas:ao social, tem uma vida muito melhor do que a dos negros americano's - la nos EUA existe racismo m~smo -querendo importar os problemas deles.

, . Se pudessemos apontar qual 0 maior exempl0 -quis:a unico - que 0 Brasil da a humanidade, ele esci na convivencia interracial ' e multicultural. S6 aqui, na lV, passa comercial de programa arabe durante 0 programa

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judeu. S6 aqui todo mundo convive muito bem, sem Ku Klux Klan e sem 6dio "etnico". A unica parte que assume isso sao os skinheads e todo mundo sabe muito bern que eles sao considerados um grupo malevolo a parte que deve ser combatido.

(Alguem pode dizer: "aqui 0 racismo e sutil". Eu pergunto: 0 que e "racismo sutil"? Quem nao gosta de uma ras:a sempre manifesta isso de uma maneira que qualquer espirito, ainda que nab tnuito sutil, percebe.)

o grande racismo, . nada sutil, mas que pouca gente percebe, esci em eventos como esta S emana de Consciencia Negra. Primeiro, porque .ninguero acharia bonito se fizessemos urna S emana da Consciencia Branca. Promover wrui, ras:a, qualquer que seja, e racismo. E eu nao vejo nenhuma razao para tolerar nos outros 0 que eles pretendem condenar em mim. A Unica razao que se poderia alegar par~ que eu tolerasse isso e uma certa infantilidade da parte deles. E em crians:a 'que se tolera ·esse tipo de atitude.

Donde se conclui 0 6bvio: uma S emaita de Consciencia Negra depoe contra a pr6pria ras:a negra, como se esta fosse composta ·de pessoas que precisassem desesperadamente de auto-afirmas:ao. Auto-afinnas:ao, alias, equivocada: nenh~a produs:ao de cultura negra sera boa ou relevante para a humanidade por ser 'negra, .1D:as por ser cultura (nao no sentido anttopo16gico do termo). 0 poeta Cruz e Souza nao . ~e " c;lesta<;:a como urn poeta

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de relevancia universal por ter sido negro, mas pelo valor da sua poesla, que teria 0

mesmo valor se tivesse sido escrita por urn viking. Querer falar de urna consciencia negra como se esta fosse essencialmente diferente

de uma consciencia branca, ou arabe, e realmente esrupido. Porque, sendo diferente, e havendo tamanho esforc;o para celebni-la e estimuLi-Ia, so se pode concluir que ela seja ou superior ou inferior as outras. Faz-se tanto pelo consciencia negra para ajudar ao mais fraco; ou enmo celebra-se tanto a consciencia negra poe ela set superior, a base mesmo da nossa civiliza~ao. A primeita e urn nazismo patetico as avessas; a segunda e nazismo mesmo - e com nazista eu nao converso.

Um argumento que e utilizado pela comunidade negra Ga pensou como soaria comunidade branca?) e 0 de reparac;ao. Reparac;ao das injustic;as que foram cometidas contra os negros, escravizando-os, tirando-os da sua terra, etc. Bem. Os faraos egipcios, que, segundo alguns, eram negros, escravizaram varios povos durante mais de mil anos. A esctavidao era pratica comurn entre as tribos africanas e todos sabemos que os negros das tribos mais fortes foram cUmplices dos europeus no comercio de escravos. Assim sendo, sugiro que os negros que desejam repara~ao faC;am arvores genealogicas para it cobra-la dos descendentes dos negros escravizadores. E, antes disso, pec;am a conta a todos os povos escravizados pelos egipcios.

o pior mesmo e que ninguem atenta para isto. So quando trouxerem a pratica norte-americana Ga banida) de "ac;ao afinnativa" e que vao perceber. Houve na PUC, durante a S emana, urn seminario sobre 0 tema. Para quem nao sabe, "ac;~o afinnativa" ("affirmative action" mesmo) e urna pratica evidentemente racista que consiste em garantir uma porcentagem x de lugares para as minorias em certos meios dos quais elas se sentem excluidas - por exemplo, as universidades. Evidentemente racista porque toda decisao tomada com base em rac;a e racista. Assim, as universidades sao obrigadas por lei a admitir tantos negros, de acordo com urna propor~ao matematica exttaida no nillnero de negros na regiao. A grande diferen~a dos EUA para 0 Brasil, neste sentido, e que la, na hora de voce entrar na universidade - falo por experiencia propria - voce fundamentalmente manda 0 seu curriculo. Aqui no Brasil 0 sistema e de vestibular, e cada universidade tem 0 seu. Ja imaginaram a beleza que vai ser, se a "a~ao afinnativa" vier para ca, 0 vestibular? Salas para negros - que ou farao provas bem mais faceis ou terao criterios mais brandos de avaliac;ao, ja que a universidade e obrigada por lei a ter em seus quadros urn percentual predetenninado de alunos negros - e salas para brancos? Isto ai e ou nao e a explicita~ao de urna demencia completa?

Ninguem ve porque a consciencia mesma, seja negra, branca, grega ou troiana, esci mergulhada nurna noite de preconceitos. E 0 preconceito e urn tipo de cegueita intelectual. Sao cegos perdidos a noite que so tem outros cegos para os guiarem e que creem que a cura da cegueira seja mais cegueira. 0 ruim com 0 ruim nao da bom: d~ pior. Estas praticas, que so aurnentaram 0 racismo nos EUA, produzitao urn efeit~ muito mais nefasto no Brasil, que apesar de nao ter valores culturais tao arraigados, tem como maior valor a boa convivencia racial. Todo este discurso so vai ter· como Unico resultado a importa~ao de urn problema que nos nao temos. Vao inventar a consciencia de urna contradic;ao que nao existe, e 0 Brasil vai dar mais urn passo para longe da realidade.

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o OBVIO VADIO . I por, ZE R OBERTO H. B. DE BARROS

o FUTURO no RInicuLo Hi alguns dias atras eu pude presenciar 0 especiculo que nos foi

apresentado peIa deputada Marta Suplicy no programa J8 Soares Onze e Meia, onde foram discutidos alguns de seus projetos de lei, entre eles: ''Parceria social entre pessoas do mesmo sexo", "Assedio Sexual"e "Controle de qualidade dos Programas da T elevisao pela Audiencia", para usar a denominacao utilizada pela deputada.

o primeiro destes projetos, a parceria social, visa a cria<;ao de mecanismos juridicos e obviamente voltado para os homossexuais, apesar, da deputada ter riegado isto ao frisar que nao e necessario nenhuma reIa<;ao sexual entre os parceiros comentando que pode ate ser feita entre a av6 e a neta. Ora, nao ha nenhuma necessidade de se criar uma lei nova para a disputa de bens entre a av6 e aneta, ou seja, este comencirio nao foi nada mais que uma tentativa de desviar a conversa do ponto principal, isto

e, a necessidade duvidosa de se coo essa lei para os homossexuais. Digo duvidosa porque nao se sabe quantos homossexuais efetivamente querem assumir esse contrato, e como nao foram apresentadas estatisticas, fica difici1 avaliar isto. Porem, realmente patetica foi a atitude de Jo Soares, ridicularizando, como se fosse urna grande autoridade no assunto, aquelas pessoas que consideram 0 homossexualismo uma doen<;a. Pois eu acho que, se nao e urna doen<;a e, no minimo alga muito peculiar evolutivamente falando.

Quanto ao assedio sexual, tudo 0 que se pode dizer e que e urna lei absurda na maioria dos casos que a ela se aplicariw e desnecessaria nos outros. Para ilustrar este ponto usarei os dois exemplos citados ,pela deputada. 0 primeiro demonstrava nada mais que uma corte tradicional, mas 0 homem tambem era 0 chefe da mulher. Ai, as familiaridades foram crescendo lenta e gradativamente, e a mullierque p~oderia ter dado urn sinal que nao estava interessada achou que se nao fizesse nada 0 chefe iria desisfu; 'numa'ingenuidade muito suspeita. Evidentemente tratar disto como assedio sexual sena urn absurdo .'gtosseiro. Ja ,0 segundo caso tratava do outro extremo, onde 0 chefe mandava a subordinada ir para 0 trabalho s~, sutta para "ver 0 caimento", e dai piorando. Ora, se a situa<;ao e tal que ou eIa aceita isto ou e despedida, seria caracterizado 0 abuso de poder para 0 qual ja existe uma lei, tomando assim desnecessana a lei de assedio sexual neste caso.

o tema principal do segundo bloco da entrevista foi 0 controle de qualidade dos program as de televisao pela audiencia. Este controle consistiria numa c9nspentiza<;ao do povo para que este reclame com quem anuncia em urn programa que 0 revolte e ameace Parar de comprar 0 produto anunciado se este nao retitar a propaganda. A deputada fez questao de Erisar que esta critica deve ser felta junto ao anunciante, e nao a emissora, pois estas s6 estao preocupadas com os indices de audiencia. Parece que a deputada se esquece que a importancia dada a esses indices nao e uma idiossincrasia das emissoras, mas sim porque eles indicam quantas pessoas veem· este programa e a/ham as ofertas anunciadas, ou seja, estes indices sao tambem importantes para os anunciantes, que nao irao se preocupar com a minoria que nao gosta do programa, enquanto a maioria ,do publico contin~ interessado nele. A sorte da deputada e que o J 0, que discordava desta ideia pot, ~er contra todo tipo de censura, nao queria contestar 0 argumento dela, mas S1m participar de urna disputa ridicula pelos apLuisos da plateia, e esta bobagem passou em branco.

Ao terminar de ver este programa, foi com grande pesar que percebi que esta mulher, que durante 0 programa s6 falou absurdo sobre absurdo, e considerada por muitos como urn dos expoentes da sociedade brasileira, levando 0 Brasil para 0 futuro no contexto das rela<;5es sociais.

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, A so'mbrd de haver sentido de ser supera 0 pesar.

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o sonho do outro, se e que hti outro, estti em se dar.

Alem da medida comum dessa vida -que 'e 'de lascar.

o rejto e saudade: tristeza que invade a falta de amar.

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ANTROPOLOGIA CU LTURAL ! por Cldudio Uvi's-ue.

QU'EST-CE QUE C'EST "CAMBRALHA" ? Quando vim visitar a PUC, deparei com urn estranho fenomeno da pensee sauvage: a

"Cambralha". Fui ver 0 que 0 te.rmo queria dizer e descobri ' que significa "halloween" em portugues, tendo provavelmente sido inventado por Haroldo de Campos. Nesta pratica, os alunos organizam performances pela universidade, pintam faixas e perguntam as pessoas: "esquerda ou direita?" Se 0

coitado diz que e de direita, pregam-lhe atras urn adesivo dizendo "neonazifascista"; se nao sabe, chamam-no "aliena do" aos berros histericos, obrigando-o . a engolir urn monte de cultura ao molho pardo. ~Yias, se for de esquerda, enuo cambralhista e c~l?r~hado prometem urn lutar pelo aborto do outro na proxima encama~ao, que 0 direito ao aborto e 0 mrus inalienavel dos direitos humanos.

Sem duvida, trata-se de urn caso de colooiza<;ao cultural(de bactenas), pois a inspira~ao e evidentemente anglo-saxonica. Tal culto pelo macabro so pode ser &uto de uma falta do que fazer que nao faz nada alem de assistir it enlatados norte-americanos na NET 0 dia inteiro - como dizem os ingleses, the devil plqys with idle hands. Associada a esta causa esci. 0 consumo de maconha, cujos danos ao cerebro sao visiveis a qualquer tomografia na cabe<;a destas pessoas. Furnam a erva natural, aquela erva natural como veneno de cobra, que "nao pode te prejudicar" e sacm cambralhando por ai. Quando a pensee sauvage utiliza tristes psit'otropiques, e lobotomia na certa! Essa gente devia prezar os poucos neuronios que tern, ..

Falando em drogas, 0 motivo desta vez para a Cambralha e a Guerra de Canudos. 0 leitmotive 0

espirito de indigna<;ao em si. Desconfio haver uma apologia ao uso de cocaina ai, mas deixemos de maldades - e claro e evidente que 0 assunto de maior relevancia no Brasil de hoje e 0 centeruirio de Canudos. 0 Coletivo Cultural, entidade oriunda do Patridao que ere que vanas burrices juntas pensam melhor que uma burrice solitaria, numa grande "corrente pra frente" neuronal, pretende pedir urn patrocinio ao Subway para a implanta~o de uma instala<;ao com mais de urn milhao de canudinhos de plastico, que serao todos pintados de fieis de Antonio Conselheiro, de soldados, e de Euclides da Cunha. Havera ainda urn canudo gigante que sera 0 proprio Conselheiro, 0 Canudo-Chefe. Estes selvicolas me cansam ...

Mas 0 mais interessante e a faixa que dizia "Che". Primeiro pensei que. fosse uma homenagam ao Nobel de Dario Fo, mas logo vi que se tratava de uma referenda a segunda encama<;ao de Antonio Conselheiro. E nao e que 0 cara baixou num sujeito, que, atormentado, foi parar na Juliano Moreira? (Nao, nao era 0 Arthur Bispo do Rosario.) Esse maluco, achando que era N apoleao Bonaparte, adotou o nome de Che Guevara. CoitaQ~... enlouqueceu na guerrilha. Sua lenda se espalhou, mas eu nunca imaginei que ele fosse chegar a se tornar a Grande Abob6ra do movimento pelo Halloween na PUC.

CLAUDIO LEVI'S LEE e autor, entre outros, de ti~ Pensamento Puckiano". Esta no Brasil como enviado especial da Sorbonne.para estudar tiL 'Exotique ".

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