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Num espaço geográfico cada vez mais rico, há melhor qualidade de
vida para todos?
Lucilene de Souza Lima Corrêa
PDE – 2007
SEED/UFPR
Resumo
A idéia de um sujeito crítico, conhecedor da realidade que o cerca, entendedor das
dinâmicas de como se produz as relações no espaço geográfico, conduz-nos à
formação de um aluno pesquisador/investigador. Analisar o crescimento econômico
enquanto idéia de quantidade e a sua relação com o desenvolvimento ligado à idéia
de qualidade, bem-estar é a questão central do presente trabalho. É
o desenvolvimento das populações, através da evolução do Índice de
Desenvolvimento Humano-IDH numa perspectiva de vinculação com o avanço
industrial como principal agente do crescimento econômico. Assim, o objetivo deste
trabalho é analisar as relações entre o investimento produtivo e a melhoria das
condições de vida das populações, observadas pelo IDH. O enfoque adotado é o de
que desenvolvimento dos povos esteve sempre vinculado ao crescimento
econômico. Assim, conforme a economia apresentava avanços, também a
população sentia e vivenciava uma melhora em suas condições de vida.
Palavras-chaves : Desenvolvimento. Industrialização. Crescimento econômico.
Bem-estar social. Qualidade de vida.
Abstract
The idea of a critical citizen, expert of the reality that the fence, intended of the
dynamic of as if produces the relations in the geographic space, leads to the
formation of investigating a searching pupil/. To analyze the economic growth while
amount idea and its relation with on development to the quality idea, well-being is the
central question of the present work. It is the development of the populations, through
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the evolution of the Index of Development Human being in a perspective of entailing
with the industrial advance as main agent of the economic growth. Thus, the
objective of this work is to analyze the relations between the productive investment
and the improvement of the conditions of life of the populations, observed for the
IDH. The adopted approach is of that development of the peoples always was tied
with the economic growth. Thus, as the economy presented advances, also the
population felt and lived deeply an improvement in its conditions of life.
Word keys : Development. Industrialization. Economic growth. Social welfare.
Quality of life.
1. INTRODUÇÃO
Na sociedade moderna à qual pertencemos, o universo virtual proporciona
acesso às informações de forma rápida e estas chegam em profusão e na maioria
das vezes sem oferecer maiores análises. Fica a informação pela informação não
revelando os interesses ou idéias que estão por trás das mesmas e por vezes
oferecem um panorama parcial de um todo mais complexo.
Formar um cidadão crítico e reflexivo, que participe da sociedade de forma
consciente é a função da escola. Porém, de que forma acontece a sua formação do
aluno dentro do ambiente escolar? A quem cabe a função de preparar este aluno
para o exercício da cidadania, na escola? Como os materiais didáticos fornecidos
pelos governos federal e estadual para a preparação dos alunos são utilizados?
Como a Geografia, na escola, através de seus professores tem sido uma disciplina
de análise, crítica e reflexão sobre a realidade vivida?
Refletindo sobre isto, foi que se resolveu desenvolver um plano de trabalho
dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE oferecido pela SEED –
Secretaria de Estado da Educação do Paraná tendo como tema: bem-estar social X
crescimento econômico: reflexões e análises. O objetivo é o de analisar a
dinamicidade da sociedade no espaço geográfico numa constante relação dialógica
em diferentes escalas espaciais e temporais. As relações entre o lugar – com a idéia
de espaço vivido - e o mundo numa perspectiva de entrelaçamento e interação com
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as dinâmicas locais. Analisar a economia atual, a evolução dos Índices de
Desenvolvimento Humano - IDH, assim como refletir sobre as formas de preencher
lacunas causadas por uma leitura fragmentada da realidade feita através da
transmissão de visões idealizadas de mundo propostas em livros didáticos.
Percebe-se uma Geografia escolar que muitas vezes se enquadra dentro de
uma postura de ciência desinteressada, mera repassadora de conteúdos, carente de
informações atualizadas – principalmente porque através do livro didático os dados
são anteriores ao período de estudo (o mesmo livro deve atender alunos em anos
consecutivos), aliado a uma visão limitada que o professor possui das concepções e
ideologias que estão inseridas nos materiais utilizados em sala de aula. Acaba vindo
revestida de um manto particular ou a serviço de certos interesses nem sempre
percebido pelo professor.
Desta forma, faz-se necessário oferecer aos educandos e professores a
possibilidade de exercitar a sua capacidade de pesquisadores, refletindo
criticamente sobre as informações, dados e índices de forma a pensar sobre o
espaço e suas transformações como um espaço dinâmico, de conflitos e
contradições capacitando os envolvidos a atuarem como cidadãos conscientes da
sociedade em que vivem.
Para efetivar este propósito no desenvolvimento do plano de trabalho foi
idealizado e realizado como parte da proposta de intervenção no Colégio Estadual
“Desembargador Clotário Portugal – Ensino Fundamental e Médio, município de
Campo Largo, a aplicação de um material didático - o FOLHAS, fundamentado nas
Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná – DCE nas turmas de 2ªs séries A, B e
C do período matutino. O FOLHAS desenvolvido com as respectivas turmas
trabalhou com o tema: Num espaço geográfico mundial cada vez mais rico, há
melhor qualidade de vida para todos?
Ainda como parte da proposta de intervenção foram realizadas reuniões de
área da disciplina, no respectivo colégio, acerca dos conteúdos veiculados pelos
livros e materiais didáticos utilizados em sala de aula por nós professores de
Geografia. As discussões levaram em consideração as abordagens utilizadas, os
dados fornecidos por estes materiais, bem como as nossas próprias concepções
geográficas pessoais e de formação acadêmica.
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Como uma das funções do programa PDE é a formação em rede e
continuada dos professores foi adotado o Grupo de Trabalho em Rede - GTR, onde
professores da escola pública de todo o Estado tiveram a oportunidade de trocar e
partilhar conhecimentos sobre a disciplina, sobre os conteúdos trabalhados em sala,
sobre as abordagens utilizadas em sala de aula e nos livros e materiais didáticos e
refletir sobre suas próprias práticas pedagógicas.
2. NUM ESPAÇO GEOGRÁFICO CADA VEZ MAIS RICO, HÁ MELHOR
QUALIDADE DE VIDA PARA TODOS?
2.1 PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA
2.1.1 Facilidade de acesso à informação melhora o c onhecimento do espaço
geográfico ou o que acontece é a informação pela in formação?
A Geografia nunca foi tão importante para a sociedade como no momento
atual onde a quantidade e qualidade das informações veiculadas pelo globo ganham
proporções nunca antes imaginadas. Quanto à quantidade das informações não há
questionamento, porém a qualidade, a parcialidade e os interesses existentes por
trás de cada novo assunto leva-nos a enfatizar a importância desta disciplina como
saber acadêmico, como geografia escolar.
Existir, viver no mundo atual conclamado o tempo todo pela mídia e pelo
mundo virtual como “globalizado” - o caso aqui não é a definição do conceito em si,
mas sim como uma palavra de moda traz a idéia de que a sociedade como um todo
tem acesso as informações e, portanto vivenciam suas cidadanias de forma crítica e
participativa – não corresponde exatamente a realidade. Cabe este papel de ligação
entre as informações recebidas pelo aluno através da mídia e o saber acadêmico,
científico à escola e, ainda mais especificamente a disciplina de Geografia.
2.1.2 Saber geográfico – saber para a formação da c idadania
Oferecer ao educando a oportunidade de ampliar o seu repertório, seu
conhecimento tácito sobre determinado assunto, ultrapassando o limite da
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informação para o de formação cidadã, de modo que este cidadão possa ser um
agente de transformação do espaço em que vive é a principal função da disciplina
de Geografia. Porém, ofertar uma educação com qualidade, coerência,
discernimento acerca dos papéis dos diferentes atores e mais, proporcionar uma
análise geográfica que esteja o mais isenta possível das influências “ideológicas” é a
tarefa mais difícil e desafiadora da Geografia dentro do âmbito escolar.
Essa ciência geográfica deve oportunizar a articulação entre a realidade
vivida pela sociedade e o conhecimento construído e sistematizado de forma que
este aluno possa “ler” o mundo e seus territórios de sorte que “conhecer o espaço é
conhecer a rede de relações a qual se está sujeito, da qual se é sujeito” (DAMIANI,
2007) e assim, poder assumir uma posição mais consciente e coerente perante as
infinitas contradições e conflitos pertinentes ao espaço geográfico.
Os conflitos e contradições do espaço geográfico manifestam os conflitos de
interesses, as manipulações e induções de determinadas informações veiculadas
pelas redes de comunicação e informação e estão materializadas nas contradições
das relações sociais e econômicas.
É possível dizer que, se espaço é poder, os caminhos para que a sociedade
viva e conviva de forma harmônica e justa passa pelo conhecimento que se tem
sobre a realidade posta de forma a buscar soluções e posicionamentos.
Se as mediações entre o conhecimento e a prática, a informação e o saber
precisam ser concretizados é por meio do ensino e da pesquisa que se deve abrir
caminho para a formação de uma cidadania efetiva onde o “achar” não é suficiente,
é preciso ir mais além, é preciso buscar dados, analisar informações, comparar
mapas e estatísticas, refletir.
O incentivo à pesquisa, portanto, é o ponto de partida para uma leitura mais
crítica do espaço geográfico.
2.1.3 Pela cabeça de quem pensam os professores de geografia
Parafraseando Kaercher, fazer um saber científico, ser educador, formar
mentes reflexivas e pensantes implica em que se faça a relação entre a escola e a
vida, entre a Geografia e outras áreas, de forma a que se apresente um mundo mais
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real, ligado, orgânico. Porém, para que se analise e discuta uma realidade para
superar este mundo irreal construído pela sociedade é necessário que se façam
alguns questionamentos: como ensinar uma Geografia com seus conceitos e
embasamento teórico, se muitas vezes, nem nós professores a conhecemos bem?
Que concepções estavam presente na formação acadêmica dos professores? Que
novas concepções circulam pelo mundo acadêmico da qual o professor de sala de
aula do ensino básico está distante? Quantas das concepções chegam ao professor
pelo livro didático e ele simplesmente “engole”, sem maiores questionamentos?
Temos criticidade para formar um cidadão crítico?
Dessa forma será que o professor que se propõe a praticar uma Geografia
crítica é, ou teve uma formação nesta linha? Se não teve esta formação, o livro
didático supriu a lacuna na construção dessa idéia? Um professor que não teve
formação de pesquisador consegue desenvolver um trabalho para desenvolver um
aluno investigador, pesquisador, questionador?
A superação destes e de outros questionamentos passa por uma constante e
continuada formação do professor, por uma capacidade de estar sempre em busca
de novos conhecimentos, metodologias e fundamentação que dêem suporte ao
trabalho de sala de aula.
2.1.4 O livro didático como suporte teórico em Geog rafia
A distância espaço-temporal entre a formação acadêmica do professor de
Geografia e a realidade da sua vivência de trabalho manifesta-se nas diferentes
metodologias, concepções e fundamentações teóricas que são aplicadas em sala de
aula. Além disso, e não menos importante, é necessário acrescentar que existe um
abismo que separa a pesquisa e produção acadêmica das instituições de ensino
superior das escolas de ensino básico.
O livro didático é um recurso que pode, na maioria das vezes, fazer o papel
de sustentação teórica e atualização do professor por uma simples questão de que é
o único material a que o professor do chão da escola tem acesso grátis e de certa
forma mais atualizado do que os materiais que este possua por conta de sua
formação acadêmica.
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As novas tendências, ou concepções, ou ideologias chegam às salas de aula
através das publicações destes livros didáticos. A escolha do livro didático implica
em uma “disputa” entre editoras com campanhas, propagandas em cima do
professor de forma que um material seja considerado mais atraente e propício ao
desenvolvimento dos conteúdos planejados pela disciplina para as diversas
realidades que o material de uma outra editora. A falta de tempo do professor, a
dificuldade de análise coletiva dos livros enviados para avaliação favorece uma
escolha mais prática e fácil sem maiores aprofundamentos conceituais e teóricos.
Para que o livro didático não seja por si só o fornecedor do embasamento
teórico do professor não seria o caso de que a aproximação entre as universidades
e a escola básica acontecesse de forma mais efetiva?
2.1.5 A produção do espaço geográfico gerando cresc imento e/ou
desenvolvimento
O espaço produz e reproduz as relações entre sociedade e natureza que está
materializado nas paisagens. Conhecer esses processos de produção/reprodução
do espaço implica em uma análise e reflexão sobre a realidade que se vive, as
informações que se obtém sobre esta realidade e os dados que mostram as diversas
faces deste processo.
A Geografia, portanto, ao se apresentar como disciplina que se propõe a
oferecer subsídios para que se entendam as dinâmicas da produção do espaço teve
um longo caminho a percorrer em sua evolução como ciência.
O caminho percorrido por esta disciplina até chegar ao momento atual, que
sustenta uma Geografia crítica, relacional entendida aqui como aquela em que um
objeto só pode existir na medida em que ele contém e representa dentro de si
relações com outros objetos e não um espaço absoluto, cartesiano, exato, foi longo
e passou por inúmeras mudanças ao longo de seu processo de evolução enquanto
ciência.
Inicialmente cabe apresentar a conceituação do objeto de estudo da
geografia: o Espaço Geográfico - entendido como um espaço produzido e
apropriado pela sociedade, composto por objetos (naturais, culturais e técnicos) e
ações (relações sociais, culturais, políticas e econômica) inter-relacionados.
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(LEFEVRE; SANTOS, 1996). Espaço que como produto da sociedade reflete as
ações e contradições resultado de processos das relações sociais, políticas,
econômico e cultural da sociedade/natureza.
2.2 PLANO DE TRABALHO
2.2.1Desenvolvimento X crescimento
Primeiramente cabe especificar o significado de algumas palavras chaves.
Seria crescimento e desenvolvimento: simples sinônimos?
O desenvolvimento das sociedades esteve diretamente vinculado ao
crescimento econômico. Assim, conforme a economia apresentava avanços,
também a população sentia e vivenciava uma melhora em suas condições de vida.
Apesar de alguns períodos ter apresentado surtos de crescimento econômico sem
que o avanço desenvolvimentista conseguisse acompanhar.
Ao longo da história humana os meios de trabalho vão se alterando até que a
chamada Revolução Industrial provoca um impacto tão grande na produção do
espaço que as conseqüências se fazem sentir até os dias de hoje. As
transformações do espaço bem como a evolução dos meios de produção continuam
e a indústria apresenta um papel fundamental nesse processo como força motriz
para o crescimento econômico.
Apesar de a indústria estar perdendo parte do valor de produção na formação
do Produto Interno Bruto (PIB) dos países para o setor do comércio e serviços ela
ainda é destaque como um elemento de transformação do espaço em seu entorno e
das sociedades que a circundam como nos diz BECKOUCHE (1998, p. 15): ”A
indústria continua sendo a chave do desenvolvimento econômico. (...) Há uma
relação direta entre o grau de desenvolvimento econômico e a produção industrial:
os países ricos são industrializados, os países pobres são menos”.
ARAÚJO JÚNIOR (2007) faz uma relação entre o crescimento econômico e a
introdução de novas tecnologias onde quem alavanca este crescimento são as
indústrias de bens de capital – aquelas que fornecem os meios (máquinas,
equipamentos, inovações tecnológicas) para a produção de variados produtos em
todos os outros setores industriais. “Dessa forma, está ligada (a indústria de bens de
capital) diretamente com o crescimento e desenvolvimento econômico”.
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Utiliza-se o Produto Interno Bruto (PIB) per capita –- como índice de cálculo
do crescimento econômico e por conseqüência disto credita-se um maior
desenvolvimento humano: aumentando o PIB, aumenta o desenvolvimento (pois
aumenta a renda per capita de cada cidadão). Só que aumentar a renda dos pobres
não é condição suficiente para o desenvolvimento. Amartya Sen afirma que “o
desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as
escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição
de cidadão”.
Percebe-se, assim, que medir o desenvolvimento de uma população baseado
apenas no desempenho de sua economia não é adequado, já que a correlação entre
esses conceitos, embora direta não é linear e automática. Idéia esta, defendida por
Amartya Sen, um dos criadores do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, onde
crescimento econômico e desenvolvimento humano não são sinônimos.
Pode-se dizer que crescimento e desenvolvimento são meio e fim:
crescimento é um dos “meios” para se atingir o desenvolvimento – “fim”.
Segundo o instituto de Desenvolvimento Sustentável crescimento é um
fenômeno de natureza quantitativa que define a evolução da atividade econômica.
Ligada ao conceito de crescimento está a quantidade de bens e serviços produzidos
numa determinada sociedade e posta à disposição das pessoas. Inclui progresso
técnico, implica aumento de investimentos e consumo assim como o
desenvolvimento do comércio e não se preocupa com a redução das desigualdades
nem com a preservação do meio ambiente. Desenvolvimento envolve além dos
elementos econômicos, alterações qualitativas. Implica a combinação de
transformações sociais e mentais de uma população, tornando-a apta a fazer
crescer em termos evolutivos o seu produto real global. Assim, apesar de ser preciso
crescimento econômico para que um país se desenvolva, este desenvolvimento só
acontece se houver também a redução das desigualdades, melhoria da qualidade de
vida, satisfação das necessidades básicas da população, respeito aos direitos...
O Produto Interno Bruto (PIB) é o indicador utilizado para avaliar o
crescimento econômico dos países baseado no dinamismo das suas economias.
Este valor transformado em PIB per capita classifica os países de acordo com o seu
nível econômico e até pouco tempo utilizado também para classificar os países em
desenvolvidos e subdesenvolvidos.
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2.2.2 Desenvolvimento humano, qualidade de vida, be m-estar
O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano e o Relatório de
Desenvolvimento Humano RDH, é publicado anualmente pelo PNUD – Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, desde 1990. O relatório foi idealizado
pelo economista paquistanês Mahbub Ul Haq e pelo economista indiano Amartya
Sen – ganhador do prêmio Nobel de Economia de1998. Em contraposição ao PIB
per capita que leva em consideração apenas a dimensão econômica do
desenvolvimento o IDH pretende ser uma medida sintética, do desenvolvimento
humano. Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pela paridade do
poder de compra (PPC – que elimina as diferenças de custo de vida entre os
países), o IDH leva em conta também a longevidade – que indica o número de
expectativa de vida ao nascer e a educação – avaliado pelo índice de analfabetismo
e pela taxa de matricula em todos os níveis de ensino. Essas três dimensões têm a
mesma importância no índice que varia de zero a um.
A substituição do PIB pelo IDH na classificação das localidades quanto ao
desenvolvimento vem sendo uma realidade nos últimos anos, pois oferece um
contraponto à análise do desenvolvimento visto anteriormente apenas pelo
desempenho econômico. O IDH “não abrange todos os aspectos do
desenvolvimento e não é uma representação da ‘felicidade’ das pessoas, nem indica
o ‘melhor lugar do mundo para se viver” coloca Sen no prefácio de abertura do RDH
de 1999. Pode-se colocar que a noção de qualidade de vida/bem-estar mudou e
evoluiu das noções de consumo de bens materiais para áreas como saúde,
educação, segurança, ambiente, liberdade, participação política.
Para os neoliberais, bem-estar é aquilo que se escolhe, aquilo que as
pessoas preferem, é, portanto subjetivo. Então como saber o que é bem-estar que é
o próprio fundamento da economia? Se as preferências são meramente subjetivas,
como utilizá-las como ponto teórico de referência? Utiliza-se o Teorema de Arrow,
segundo o qual é impossível comparar de maneira interpessoal e objetiva as
múltiplas preferências subjetivas – fica, portanto um conceito, indeterminado e
aberto a múltiplas interpretações.
Um ponto a se destacar é a posição de Amartya Sen sobre bem-estar que é
contrária à dos economistas neoliberais que se utilizam do Teorema de Arrow. Sen
afirma que é possível sim, determinar objetivamente certas preferências básicas,
que são parte constituinte de todo e qualquer ser humano – dessas preferências o
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livre exercício de escolha de seu modo de viver. Sem liberdade, não há bem-estar e
como o bem-estar é o próprio fundamento da economia, sem liberdade não há
economia.
2.2.3 Desigualdades e igualdades
As desigualdades provocadas pelo sistema econômico são evidentes, porém
faz-se necessário uma análise séria acerca do fato de que o crescimento econômico
de certa forma altera as condições de vida das populações de seu entorno trazendo
algum tipo de melhoria. Não se pode explicar os problemas de desigualdade e
qualidade de vida das sociedades apenas por uma única via: a de que a lógica do
capitalismo é a responsável exclusiva por estas questões sem levar em conta outros
dados que podem mostrar as realidades com outros olhos.
Os Índices de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M, por exemplo,
mostram que as maiores melhorias em índice são nas localidades em que os
mesmos estavam entre os menores e que o aumento do IDH-M menor são
exatamente onde os índices já eram mais altos o que acarreta um aumento menos
significativo do que para aqueles cujos índices já eram baixos. Se os menores
índices aumentam e os maiores estacionam ou crescem menos significativamente,
até se chegar a um ideal, visualiza-se num horizonte a longo prazo uma equiparação
entre as populações quanto a qualidade de vida e não uma desigualdade ainda
maior.
Buscar diferentes pontos de vista para ler analiticamente o mundo, ser capaz
de refletir e proporcionar ambiente de aprendizagem pressupõe que se ofereça
variadas fontes de pesquisa. O livro didático que pode ser uma ferramenta
fundamental no ensino da Geografia como em qualquer disciplina precisa se
utilizado pelo professor de maneira coerente. É preciso que o professor esteja muito
atento e constantemente pesquisando para identificar as possíveis linhas adotadas
pelos livros didáticos e como é feita a abordagem de determinado conteúdo, qual a
proposta de análise socioterritorial que assume.
Uma visão fragmentada e idealizada da realidade proposta por uma única
fonte não formará um educando integralmente leitor e ator hegemônico do espaço
geográfico ao qual pertence.
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2.3 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO NA ESCO LA
2.3.1 Material didático - FOLHAS
O projeto Folhas é uma forma de aprimoramento profissional do professor da
rede pública do Estado do Paraná, dentro do projeto de formação continuada e
oportuniza ao professor uma reflexão sobre sua concepção de ciência,
conhecimento e disciplina de forma a influenciar e melhorar sua prática docente. O
projeto consiste na pesquisa, elaboração e produção de um material didático para
uso em sala de aula com os alunos. Este material é fruto de pesquisa e
aprofundamento teórico do professor sobre determinado assunto a partir do
diagnóstico de fragilidade de conteúdos em livros didáticos, ou pela dificuldade de
acesso a materiais ou dados sobre algum tema.
Um dos aspectos mais importantes desta produção didático-pedagógica
consiste no fato de que ela proporciona a implementação das Diretrizes Curriculares
para a Educação Básica através de um posicionamento mais próximo da realidade
local, uma vez que é elaborado especificamente para uma realidade escolar a partir
dos conteúdos básicos previstos para cada ciclo escolar. Ainda assim, carrega a
possibilidade de ser um material coletivo a partir do momento que é disponibilizado
na rede, através da página da Secretaria Estadual de Educação – SEED, para
consulta e uso de outros profissionais da área.
O material didático-pedagógico aqui elaborado buscou preencher uma lacuna
entre os conteúdos oferecidos nos livros didáticos disponíveis, os dados estatísticos
de órgãos públicos e os saberes trazidos pelos alunos sobre a realidade que os
cercam. Dessa forma, a utilização de uma linguagem adequada ao nível do aluno de
ensino médio, numa perspectiva contemporânea do assunto levando-o a pesquisar,
analisar e refletir em diversas escalas e espacialidades.
No programa PDE aqui desenvolvido optou-se pela elaboração de um Folhas,
ligado ao objeto de estudo/problematização com enfoque na sala de aula, no aluno
diretamente, como parte do projeto de intervenção. A formatação deste FOLHAS,
dentro do programa, sofreu algumas alterações com relação a formatação original
previsto no manual do FOLHAS: a produção foi validada pelo orientador da IES e
não por colegas professores de disciplinas que estariam ligadas ao conteúdo
desenvolvido.
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A utilização e aplicação do material didático FOLHAS deu-se no Colégio
Estadual Desembargador Clotário Portugal – EFM de Campo Largo e aconteceu no
período de 21/04/2008 a 23/05/2008 envolvendo 120 alunos das turmas de segunda
série A, B e C do período matutino.
O tema escolhido para o trabalho: Num espaço geográfico mundial cada vez
mais rico, há melhor qualidade de vida para todos? buscou despertar no aluno a
vontade de encontrar respostas, avaliar se suas concepções pessoais sobre o
assunto correspondiam às informações, dados e mapas pesquisados, verificar se as
respostas encontradas por cada aluno satisfaziam à sua própria.
Seguindo a linha de abordagem da disciplina de Geografia nas Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná - DCE, assumiu-se, para o presente material
didático a orientação da adoção de uma concepção crítica de educação, em que
considere a reflexão dialógica, os conflitos e contradições sociais, políticas,
econômicas e culturais de cada espaço. Essa abordagem se deu numa cooperação
e diálogo permanente com outras concepções geográficas que se fizeram
importantes neste trabalho, uma vez que se incorporam elementos da própria
geografia quantitativa enquanto apresente mais coerência com as relações entre
mercado e estado, da geografia cultural que busca compreender as transformações
dos territórios, das identidades das sociedades numa busca de reflexão sobre a
definição de bem-estar social.
O ponto de partida para a execução do material didático partiu da idéia de que
uma das principais formas de análise para entender como se constitui o espaço
geográfico é como se dá a produção de toda materialidade necessária para a
existência humana e pelas relações sociais e de trabalho que organizam essa
produção, dessa forma, como relacionar o crescimento econômico com o bem-estar
social, tomando por base os Índices de desenvolvimento Humano – IDH e os dados
sobre investimento industrial? Os livros didáticos apresentam os índices de IDH
trazendo uma reflexão crítica acerca das séries históricas dos mesmos ou apenas
coloca o ranking dos melhores e piores do mundo em qualidade de vida? Quem ou
que são responsáveis para explicar os problemas de desigualdade de um país ou
região?
Como orientação para a elaboração do FOLHAS foi utilizado as Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná – DCE, documento base na elaboração e
construção dos Projetos Políticos Pedagógicos de cada escola pública do estado
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que orienta a organização dos conteúdos básicos de cada disciplina. As diretrizes
para Geografia estão organizadas a partir de quatro conteúdos estruturantes:
Dimensão econômica da produção do espaço geográfico, Dimensão política do
espaço geográfico, Dimensão socioambiental do espaço geográfico e Dimensão
cultural e demográfica do espaço geográfico.
Estes conteúdos estruturantes são abordados a partir das categorias de
análise: relações espaço-temporal, relações sociedade-natureza e relações de poder
e do quadro conceitual de referência: lugar, território, paisagem, natureza, região,
sociedade. Embora o presente trabalho tenha sua colocação na dimensão
econômica da produção do espaço geográfico ele está em permanente relação com
as outras dimensões numa “conversa constante”, nunca estando separados.
A orientação na escolha da dimensão econômica da produção do espaço
geográfico como aquela que servirá de base para o trabalho parte da própria
fundamentação das DCE, “Assim a apropriação da natureza e sua transformação
em produtos de consumo humano envolvem as sociedades em relações
geopolíticas, ambientais e culturais fortemente direcionas por interesses
socioeconômicos locais, regionais, nacionais e globais. A instalação de uma
indústria ou um parque industrial em determinado lugar, por exemplo, pressupõe
alterações ambientais, mudanças culturais e sociais, como também podem gerar
conflitos geopolíticos, movidos por interesses econômicos e pelas novas relações de
poder geradas por essa transformação” (DCE, 2006).
Numa abordagem em que se pesou a análise crítica de uma realidade fez-se
necessário recorrer à pesquisa e busca de informações e conteúdos em áreas
outras que não apenas a geográfica no estudo do objeto em questão: relações entre
crescimento econômico e bem-estar social.
Os objetivos propostos aos alunos na implementação do material didático
FOLHAS foram:
• Compreender a relação entre crescimento econômico e bem-estar social.
• Pesquisar os dados e relatórios sobre IDH e crescimento econômico.
• Mapear as espacializações dos fenômenos: bem-estar, IDH, IDH –m,
crescimento industrial.
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• Realizar constante pesquisa bibliográfica sobre o tema buscando
fundamentação para acompanhar o processo de implementação do plano de
trabalho proposto.
• Construir gráficos e tabelas, mapas.
• Refletir sobre o objeto estudado.
• Comparar e analisar índices e dados variados de economia, população,
indústria.
• Exercitar a capacidade de usar tecnologias como a Internet, revistas, boletins,
Atlas, de forma educativa.
Organização do material:
• Despertar o interesse do aluno para o tema utilizando como recurso uma
imagem, uma frase de efeito ou um questionamento pessoal, de forma a que
o mesmo se prontificasse a interagir com o assunto de forma dinâmica.
• Como primeira atividade foi solicitado um parecer pessoal sobre o que é
qualidade de vida, bem-estar e boas condições econômicas, que foi
registrado para utilizar posteriormente em comparações.
• Posteriormente foi realizada a leitura de textos, correspondente ao “corpo” do
material didático proposto que foi usada como fonte de informações e
formação de alguns conceitos: espaço geográfico, sociedade,
industrialização, qualidade de vida, economia. Concomitante foi proposto
como atividade uma pesquisa/entrevista com pessoas mais velhas (familiares
e/ou da comunidade) que teve como objetivo verificar as noções individuais
sobre qualidade de vida, sobre crescimento econômico, sobre a sociedade e
economia baseada na indústria.
• Organizaram-se a partir das leituras diferentes situações de ensino e de
aprendizagem através da coleta e análise de dados, mapas e informações
integrando o maior número possível de aspectos pertinentes ao objeto
geográfico em estudo: como se apresenta a aplicação de investimento em
capitais produtivos com dados do IPEA – Instituto de Pesquisas econômicas
Aplicadas, do IBGE, - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IPARDES
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– Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, bem como
dados dos Relatórios de Desenvolvimento Humano - RDH, e de outras fontes
que se mostraram importantes.
• Apresentou-se e discutiu-se dos dados resultantes das entrevistas, tabulação
das informações sobre o que é qualidade de vida, bem-estar, como a
economia pode modificar as condições sociais e econômicas da sociedade ao
redor.
• A avaliação se deu através de uma produção de texto: mais riqueza significa
mais qualidade de vida? As informações e as idéias amadurecidas durante as
discussões, pesquisas e análises foram verificadas nas colocações feitas
pelos alunos num texto de opinião.
Recursos:
Os recursos necessários para a implementação do projeto de intervenção
execução do plano de trabalho em sala de aula foram:
• Laboratório de informática da escola para realizar pesquisa de dados,
índices, relatórios de forma a obter informações atualizadas.
• Jornais, revistas, boletins, informativos de órgãos estatais de pesquisa.
2.3.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS CONTEÚDOS DOS LIVROS DIDÁTICOS
Como parte integrante da proposta de intervenção sugerida no Plano de
Trabalho no projeto PDE, foi previsto a discussão e análise dos conteúdos
trabalhados nos livros didáticos e suas formas de abordagem, pelos professores de
Geografia da escola de lotação e na qual o trabalho de intervenção pelo material
didático FOLHAS estava sendo desenvolvido.
As conversas/reuniões para discussão e reflexão sobre os conteúdos e
abordagens dos livros didáticos e as possibilidades de “aplicar”, “desenvolver” um
material didático próprio em sala de aula foi o foco principal desta parte do projeto de
intervenção. Estes encontros aconteceram no período de 03/03/2008 a 30/04/2008,
no Colégio Estadual “Desembargador Clotário Portugal” – Campo Largo e contaram
com a co-participação dos colegas de disciplina, além de em alguns momentos
contar com a presença, opinião e parecer da equipe pedagógica do respectivo
colégio.
17
As discussões, análises e reflexões sobre os conteúdos em livros didáticos se
deram num momento oportuno: estava sendo realizada a escolha de livro didático de
Geografia para o ensino médio e naquele período do ano as horas-atividades da
disciplina eram feitas simultaneamente permitindo o encontro e a troca entre os
professores de forma mais efetiva.
As idéias sobre os conteúdos apresentados pelos livros didáticos se deram a
partir do enfoque: distância do professor em sala de aula das atualizações didáticas,
teóricas e conceituais da disciplina produzidas pelas instituições científicas de
formação, o uso do livro didático como único meio de atualização de conteúdos
disciplinares, a distância de tempo e de concepções teóricas na formação
acadêmica do profissional e a realidade de trabalho atual (distância entre o ensino
superior e a educação básica) dando origem a uma modalidade de “formação
continuada” feita através do livro didático, a “ciência e consciência” de que existem
interesses por trás dos conteúdos ofertados, porém a dificuldade de acesso a outros
materiais é uma realidade.
2.3.3 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM REDE – Grupo de Tr abalho em Rede –
GTR
O Grupo de Trabalho em Rede – GTR é uma forma de capacitação
continuada dentro do projeto de formação continuada do estado do Paraná que
consiste na inscrição e participação dos professores da rede pública de todo o
Estado em cursos “virtuais” dentro de cada disciplina ou áreas afins.
O GTR é parte integrante do Plano Integrado de Formação Continuada do
PDE e foi desenvolvido no 2º e 3º períodos do Programa, com carga horária para o
professor PDE/Tutor de 64 horas. Para os demais professores da Rede, inscritos no
GTR como participantes, uma carga horária de 60 horas.
Conforme fundamentação da SEED, o GTR possibilita a inclusão virtual dos
professores da rede nos estudos, reflexões, discussões e sugestões de melhoria nos
trabalhos realizados pelo professor PDE. É forma de democratização do acesso aos
conhecimentos teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas do Programa.
Os objetivos do GTR são principalmente, oferecer novas alternativas de
formação continuada aos professores da Rede Estadual; possibilitar um espaço de
estudo e pesquisa onde as diversidades possam ser partilhadas entre os
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professores; ligar a teoria à prática de forma a resgatar o processo de formação
acadêmica com a realidade do chão da escola visando a melhoria didático-
pedagógico, por meio de leituras, reflexões, troca de idéias e experiências; socializar
o Plano de Trabalho do professor PDE, com os demais professores da Rede.
Metodologia
• O professor PDE foi tutor de apenas um Grupo de Trabalho em Rede onde
socializou o Plano de Trabalho elaborado;
• As atividades do Grupo de Trabalho em Rede foram desenvolvidas à
distância, utilizando a via digital e informatizada do Portal Educacional do
Estado do Paraná ;
• A organização e encaminhamentos do Grupo de Trabalho em Rede - GTR foi
realizada pelo professor PDE, que para ter condições de gerenciar um grupo
de professores à distância participou de um curso de Instrumentação em
Moodle e SACIR.
Registro das atividades
As atividades propostas pelo professor tutor PDE foram realizadas e postadas
a partir da utilização na Plataforma MOODLE pelos professores da rede estadual,
participantes do Grupo de Trabalho em Rede – GTR.
O acompanhamento e assessoramento aos participantes do GTR, foram feito
basicamente pelo professor tutor PDE e deve-se pontuar que houve muitos
problemas técnicos no decorrer do processo dos cursos em andamento.
No Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, o Grupo de Trabalho
em Rede foi pioneiro nesta modalidade de cursos a distância e ocorreu no período
de 23/07/2007 a 18/12/2007 e de 04/02/2008 a 04/07/2008.
A sistemática de funcionamento do GTR consistia na inscrição do professor
da rede via digital num determinado curso oferecido pelos professores PDE. Nesta
primeira participação do Grupo de Trabalho em Rede, os professores não tiveram a
oportunidade de escolher o tema que mais lhes interessasse e apenas confirmavam
suas inscrições.
A dinâmica do curso virtual consistia em seis módulos, cada qual com uma
tarefa específica a ser realizada e com prazos definidos para realização e
apresentação nos fóruns de discussão.
Como tudo que é novidade passa por um processo de aprendizado,
incertezas, dúvidas, não foi diferente com o GTR. Por um lado, nós, professores no
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programa PDE, nos primórdios da utilização de uma nova ferramenta: a internet,
tivemos que encarar as nossas próprias limitações para oferecer segurança ao
professor da rede que contava com o nosso apoio. Por outro lado, problemas de
ordem técnica, de capacitação e até mesmo de calendário quanto a realização dos
módulos de atividades causaram certo desconforto, quando não, até mesmo a
desistência de muitos professores que não conseguiram ter sucesso na utilização da
plataforma Moodle ou não conseguirem enviar as atividades realizadas.
O fato de o Grupo de Trabalho em Rede ter início em um ano letivo e terminar
no ano letivo seguinte, causou de certa forma, uma ruptura no processo de
realização das atividades uma vez que a realização de uma atividade interrompida
pelo período de férias deixa dois pontos em aberto: saber que ficou um trabalho
inacabado o ano letivo e ter que retomar as leituras e discussões para se inteirar
novamente do andamento do curso.
3. CONCLUSÃO
A clareza, o conhecimento, o discernimento acerca do mundo que nos rodeia
e que nos permite participar e interagir na sociedade de forma consciente e cidadã
passa por nossa formação escolar. As contradições expressas e impressas no
espaço geográfico a partir da relação sociedade/natureza só são possíveis de serem
compreendidas através de uma leitura crítica em como se dá a materialização deste
espaço.
Relacionar conceitos e idéias implica em que os agentes envolvidos no
processo de análise se posicionem numa perspectiva dialética, onde o que se pensa
sobre o assunto possa ser posto em contraposição com dados apresentados por
instituições de credibilidade e ofereça dúvida o suficiente para que se repense sobre
o assunto e se tome uma posição.
A opção por elaborar e trabalhar em sala de aula com o material didático-
pedagógico FOLHAS: num espaço geográfico mundial cada vez mais rico, há mais
qualidade de vida para todos?, de certa forma ofereceu a oportunidade de
experimentar, professor e aluno, a condição de pesquisador para além do
conhecimento pronto e posto, seja pela mídia, seja pelo viver de cada um.
É possível verificar, pela qualidade das produções de texto, da excepcional
participação na entrega e apresentação das entrevistas sobre qualidade de vida,
bem-estar e economia que houve um ganho de conhecimento e de postura crítica
20
por parte dos alunos. Este fato pode ser comprovado pelo resultado da avaliação do
processo e finalização do FOLHAS onde dos 120 alunos apenas 5 conseguiram
rendimento insatisfatório.
Como avaliar o conhecimento adquirido, para além da nota, só é possível
através do posicionamento em discussões, na capacidade de argumentação, na
qualidade das informações fornecidas ao interlocutor, o resultado da aplicação do
material didático se mostrou extremamente eficiente e produtivo de forma imediata,
pois ao se avançar para outros conteúdos observou-se uma participação muito mais
crítica e coerente por parte dos alunos nas discussões.
Os diálogos com os colegas da disciplina de Geografia sobre os conteúdos
dos livros didáticos, bem como das linhas de abordagem seguidas por autores ou
editoras, foram extremamente produtivos nos encontros. Percebeu-se a clareza dos
professores com relação à utilização de forma coerente e crítica dos livros didáticos
– embora possa não ser o melhor modo de formação escolar, os mesmos oferecem
a possibilidade de ampliar os conhecimentos trazidos pelo aluno e cabe ao professor
provocar a reflexão e análise de cada conteúdo. A questão da formação acadêmica
de cada um ganha contornos mais complexos pela consciência de que ela é
extremamente diversa e que a troca e a “conversa” constante pode permitir um
trabalho mais coerente e consciente.
A ampliação desse diálogo e discussão sobre a fundamentação teórica do
professor, dos métodos e metodologias utilizadas, da formação pessoal e acadêmica
de cada um, as dificuldades e sucessos do trabalho no chão da escola, ganha novos
contornos ao partilhar do Plano de Trabalho do PDE, bem como o material didático
FOLHAS através do curso virtual, o Grupo de Trabalho em Rede – GTR. Do qual
fomos tutor. Foi um passo importante na caminhada por uma formação continuada
em rede. Reunir um grupo de professores de vários cantos do Estado,
espacialidades diferentes, formações diversas, experiências profissionais variadas,
no mínimo proporciona um universo de conhecimento muito rico e percebe-se a
qualidade e o posicionamento crítico que deve permear a educação.
O contato com professores da rede pública de todo estado adquire uma
importância fundamental na medida em que as diversas realidades, regionalidades e
conhecimentos são partilhados, discutidos, analisadas, adaptadas e de certa forma
cria-se uma rede integrada de formação e capacitação continuada.
21
O programa de formação continuada realizado através do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, foi de grande valia uma vez que proporcionou
um ganho significativo à todos os envolvidos; à educação de todo o estado do
Paraná por conta de que a participação e o contato com professores de todo canto
do estado se fizeram presentes e aconteceu a partilha e aprimoramento das
vivências de cada um , o que se manifesta no dia-a-dia da sala de aula; do professor
PDE que teve a oportunidade de voltar aos bancos escolares, rever e conhecer
novos conceitos postos à disciplina, aprimorar seus conhecimentos, questionar-se
sobre seu papel como educador e formação de cidadãos críticos e participativos,
aos alunos que puderam, de alguma forma, participar além de uma nova postura do
professor que retorna de um período de estudos, também de fazer parte da
implementação da proposta de um material didático usando uma abordagem
diferente da que estavam acostumados; enfim, como a formação continuada se
propõe a ser em rede, os ganhos e avanços se multiplicam pelos espaços de uma
forma ou de outra.
A continuação do PDE é uma necessidade e uma possibilidade de melhoria
na educação oferecida pela escola pública, assim, deve se manter como tal,
buscando sempre o aprimoramento do Programa, corrigindo falhas e inovando, de
forma que a cada novo grupo de professores que adentram ao programa novos
horizontes e perspectivas sejam oferecidos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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