novo líder da fla critica dependência do estado

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Açoriano Oriental de 18 06 2016

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Page 1: Novo Líder da FLA critica dependência do Estado

O MAIS ANTIGO JORNAL PORTUGUÊS FUNDADO EM 1 POR MANUEL ANTÓNIO DE VASCONCELOS

ANO CLXXXI . Nº 1 SÁBADO, 1 DE JUNHO DE 1

, € IVA inc.

DIRETOR PAULO SIMÕES

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Obras na falésia de Rabo de Peixe ainda este anoDepois de novas derrocadas, o Governo anunciou que o projeto para a consolidação da falésia na Rua de São Sebastião está a ser ultimado para a obra avançar. Casas ainda estão em segurança PÁGINA

ÁLVARO MIRANDA

RRegional

Torre sineira da igreja da Ribeira Chã está degradada

Festival realiza-se em julho com o objetivo de angariar fundos para a recuperação PÁGINA 1

Desporto

Daniela Oliveira quer bater recorde nacional de apneia

PÁGINA 1

Regional

Criada Academia Júnior na Universidade

PÁGINA

Regional

Novo líder da FLA critica dependência do Estado

PÁGINAS E

Regional

Apreendidas 362 doses de droga junto a escolas

PÁGINA

Duarte Freitas apelou aos Governos dos Açores e da República para suspenderem pagamento especial por conta PÁGINA

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PSD-A pede suspensão do pagamento por conta à lavoura

Regional

Programa para evitar retenção de alunos não gera consensoSindicatos de professores não têm a mesma opinião sobre o programa “Apoio mais - retenção zero” PÁGINA

Page 2: Novo Líder da FLA critica dependência do Estado

2 Regional AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 18 DE JUNHO DE 2016 Regional 3AÇORIANO ORIENTAL

SÁBADO, 18 DE JUNHO DE 2016

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não perca com o Açoriano Oriental

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DOMINGO

ESPECIAL suplemento

Açores magazine, uma revista que fala de nós!

‘Uma sociedade com esta dependência do Estado não está viva’

Como encara o desafio de substituir o líder carismático da FLA, José de Al-meida?

Encaro o desafio de forma natural, por um lado, mas também com apreensão. Sa-bemos historicamente que substituir um lí-der carismático coloca problemas adicio-nais, porque a tendência será efetuar uma comparação com a personalidade que es-tava anteriormente na FLA. O professor Jo-sé de Almeida tinha uma personalidade muito vincada, com uma longa carreia de vida pública. Quem vier a seguir vai estar sempre na sombra, mas a vida não para. Os espaços precisam ser preenchidos. As opi-niões precisam ser transmitidas. O qua-drante independentista nos Açores precisa ser afirmado e precisa continuar a existir.

Continua a ser um sonho ver os Aço-res como uma região independente?

Não digo um sonho, mas tenho a ambi-ção de tornar os Açores independentes. Te-nho plena consciência de que os países são construções. Nós temos 600 anos de vi-vência insular e 600 anos de geografia de-marcada.

A ideia de independência, ao contrário do que se procura fazer ver, não é de agora. Os

RRui Medeiros Novo líder do movimento Frente de Libertação dos Açores (FLA) considera que uma sociedade com 40 por cento dos empregos no setor público está dependente do Estado e fica sem sustentabilidade

LUÍS PEDRO SILVA [email protected]

Rui Medeiros considera que o controlo político nos Açores é efetuado por Lisboa e quem não

obedecer sofre represálias. Defende que a FLA faz falta à sociedade açoriana

EDUARDO RESENDESEEntrevista

primeiros escritos remontam a 1820. Se fo-rem ler nas entrelinhas o padre António Cor-deiro já falava numa possível separação das ilhas. Claro que depois, nos momentos críti-cos, quando houve reivindicação e conquista de poder pelos açorianos os independentis-tas estiveram sempre presentes. Isso acon-teceu em 1820, em 1895 e 1974. Isto permite pensar que as autonomias tem surgido alia-das a fortes movimentos independentistas.

Esta situação foi muito evidente em 1974. A reivindicação apresentada na rua era, es-

sencialmente, independentista. A autono-mia surgiu como uma solução de compro-misso.

A autonomia da Região tem seguido o rumo correto?

O modelo autonómico apenas serve Lis-boa. Quando em 1974, alguns dos inde-pendentistas aderiam ao projeto autonó-mico, foi numa ideia de autonomia

progressiva. Os autonomistas só conse-guiram cativar os independentistas, por-que a autonomia iria permitir atingir um ponto de equilíbrio, entre Lisboa e os Aço-res. O que se tem vindo a verificar é o mes-mo da primeira autonomia, em 1895.

Começou-se com a autonomia, depois fa-lou-se em independência. Em 1930 hou-ve um congresso açoriano em Lisboa, como uma atitude de charme junto do governo central, com o objetivo de convencer o po-der de que a independência seria o ideal. Acontece que em 1974 tínhamos três gabi-netes sem orçamento.

Neste momento a história repete-se. A autonomia progressiva deu lugar a uma au-tonomia tranquila.

Recentemente, após um encontro no Pa-lácio de Santana, o presidente do Governo Regional disse que estava na altura de salva-

guardar o património autonómico adquiri-do. Se numa primeira fase a autonomia era progressiva, passou para tranquila e agora a nossa autonomia está em desconstrução.

Neste momento qual pode ser o papel deste movimento (FLA) na história dos Açores?

Queremos denunciar junto das entida-des internacionais que nós, independen-tistas, somos fantasmas e não podemos existir. Quando dizemos aos parceiros in-dependentistas que os partidos indepen-dentistas e regionais são ilegais, todos mos-tram uma grande surpresa. Portugal pertence a uma Europa, mas comporta-se como uma ditadura. Só com a entrada dos independentistas no circuito do poder podemos quebrar um esquema que leva ao controlo total da vida política e adminis-trativa nos Açores.

Este controlo é feito de uma forma sofis-ticada, mas simples de desmontar. Existe uma cadeia que começa com os partidos. Se os partidos açorianos são sucursais dos partidos nacionais, precisam de meios, por-que se entrarem em rutura com os partidos nacionais ficam sem meios e deixam de po-der candidatar-se.

Havendo controlo dos partidos locais, existe um controle indireto sobre o poder que os partidos locais exercem, logo Lisboa manda. Basta dizer que se não fizerem o que Lisboa pretende são retirados dos lo-cais onde estão.

Isto tem sido um modelo eficaz, porque verificamos que nas questões estruturan-tes e verdadeiramente importantes, para

podermos construir alguma sustentabili-dade acaba sempre por imperar a vonta-de de Lisboa.

Nunca conseguimos levar a avante ideias e projetos estruturantes. Fazem-se festas, portos, aeroportos, mas nun-ca se cria a sustentabilidade. Não existe sustentabilidade nos Açores, porque te-mos 40 por cento da população empre-gada em funções públicas. Isto é anor-mal. Uma sociedade que apresenta esta dependência do Estado não tem vida, está dependente.

O Estado é empregador, com o contro-le dos partidos, que obedecem a Lisboa. Por isso digo que a autonomia não vale nada.

A FLA não poderia formar um partido? Não. Porquê? Porque é independentista, estando proi-

bida por lei de criar um partido. Mas pode apoiar um partido? A experiência mostra-nos que não é uma

boa ideia. Como é que este movimento poderá

ter representação política? É uma questão pertinente, porque é pre-

ciso passar uma mensagem nova e de-monstrar aos cidadãos que existe vantagens em ter os independentistas ligados à ação política. Lisboa diz que a independência é tudo ou nada, mas acho que existe um con-junto de patamares que podem ser explora-dos. Podemos aproximar mais de um lado ou outro, mas compete-nos a nós escolher. Não são os outros que vão dizer aos açoria-nos qual o lado. Aceito que as pessoas não queiram ser independentes, mas não podem é dizer que não temos o direito de escolher.

O que preciso para os Açores serem uma Região sustentável?

É preciso sustentabilidade política e eco-nómica. O acesso que tenho aos dados do poder são os dados publicados por enti-dades reguladoras, porque a população não sabe o que se passa. Nós somos 250 mil ha-bitantes. Montar um país com esta di-mensão é muito fácil.

Nós temos alguns recursos e possibi-lidades, mas as opções efetuadas são sem-pre por montar infraestruturas e investir pouco nos setores produtivos. (...) O nos-so mar pode não dar muito peixe, mas so-mos a autoestrada que liga a Europa aos Estados Unidos. Em breve todos vão pas-sar por aqui. Sabemos que está a ser des-envolvido um tratado internacional que poderá criar boas oportunidades de ne-gócio para quem está no centro. Agora nós ainda não sabemos de nada. Fala-se em minérios, fontes hidrotermais. Hou-ve uma pessoa do Estado Português que disse que o negócio do mar vale milhões por ano, mas não sabemos nada disto. A informação que existe é reduzida ou qua-se nula.

Sente que as pessoas se iludem muito com as festas e reivindicam pouco os seus direitos?

Sim. É fácil entreter e desviar as popula-ções daquilo que é realmente importante dando-lhes festa. Infelizmente habitua-ram-nos a uma vida fácil, em determinados aspetos, para depois fazerem outras coisas.

Não sou contra as festas, entendo que são importantes, mas precisam ser uma con-sequência das vivências. Nós trabalhamos, produzimos e depois vamos celebrar o nos-so trabalho. Agora, verifico que não existe trabalho e sucesso, pergunto o que existe para festejar. Nós deveríamos ter meio mi-lhão de habitantes no mínimo, mas conti-nuamos com os 250 mil habitantes que tí-nhamos há 40 anos. A única coisa que mudou foi que antes andávamos descalços e agora estamos calçados.

As pessoas têm medo de dizer que são independentistas?

Sim, porque temem as represálias. Numa Região onde cerca de 40 por cento do em-prego é no setor público ninguém dá ne-nhuma oportunidade a um independentis-ta. Em 1989 quando acabei a minha licenciatura a primeira coisa que me per-guntaram foi se já me tinha filiado no PSD. �

Líder da FLA considera que se vive uma autonomia em desconstrução, sendo necessário defender os direitos adquiridos

FLA comunica pela InternetOs novos responsáveis pelo mo-vimento Frente de Libertação dos Açores (FLA) alargaram a comunicação para uma plata-forma digital. Criaram uma pá-gina no Facebook e Internet para divulgar a mensagem polí-tica e garantir o apoio dos jo-vens.

Rui Medeiros reconhece que através da Internet divulga “os princípios gerais e o manifesto político do movimento”, porque sente a necessidade de “clarifi-

car o que é a FLA. Quem preten-der saber o que orienta o movi-mento pode consultar na nossa página da Internet. Também fi-zemos um pequeno resumo da nossa história”, conta.

O novo responsável pelo mo-vimento conta que existem “mo-mentos negros” relativamente à discriminação das ilhas que “nunca foram muito tocados pe-los historiadores do sistema” que são divulgados pelo movi-mento. Através de uma comu-

nicação na Internet o movimen-to acredita que poderá garantir o apoio de “jovens” e renovar a força da Frente de Libertação dos Açores. “Queremos fazer sentir à população que existe vantagens em haver um movi-mento independentista”, frisa.

O próximo objetivo da atual direção da FLA será garantir a “internacionalização” com o apoio de outras associações que mantêm a mesma luta na Europa. � LPS

Ameaças são forma de controlo

Rui Medeiros, líder da FLA, garante não sen-tir nenhum “controlo policial”, mas reconhe-ce ser “muito fácil colocar uma pessoa sob escuta”. “Posso dizer que até ao momento nunca fui abordado por uma entidade policial sobre as minhas ideias. A forma de controlo das opiniões não se faz por via policial, mas por ameaças com desemprego. É uma medida mais eficaz. O flagelo do século XXI é o de-semprego. Se uma pessoa tem uma posição política incómoda basta temer pelo seu pos-to de trabalho para se calar, principalmente se tiver obrigações familiares”, comentou. O líder da FLA recusou, contudo, falar sobre casos concretos que conhece de pessoas que sofreram ameaças de despedimento nos Açores.

“Aceito que as pessoas não queiram ser independentes, mas não podem é dizer que não temos o direito de escolher”