novembro 2013

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2013 - ANO XVI - N o 202 O ESTAFETA Foto Laurentino Gonçalves Dias Jr. As frequentes denúncias de corrupção observadas nas diferentes instâncias dos Três Poderes levou a po- pulação à indignação. Diante da viola- ção de valores fundamentais para a so- ciedade, ela se mobilizou e foi às ruas em grandes manifestações durante o mês de junho. A principal bandeira da mobilização foi o combate à corrupção e a ética no serviço público. A principal causa da corrupção no país é a ambição desmedida por rique- zas e poder. A corrupção e a impunidade estão levando o povo ao descrédito na ação política nas instituições, enfraque- cendo a democracia. A atual crise, de- corrente da falta de consciência moral, é estimulada pela ganância e marcada pelo corporativismo histórico que utiliza as estruturas do poder para benefício pró- prio e de grupos. Os principais prejudi- cados com o desvio de verbas públicas são as camadas mais pobres da socie- dade. Frente a esses descalabros, os po- deres constituídos precisam assumir sua responsabilidade diante da corrupção e da impunidade. É preciso mudar a ma- neira de se fazer política e acompanhar de perto os trabalhos desenvolvidos nas diferentes esferas do poder. A popula- ção precisa estar atenta aos que usam da política para se perpetuar no cargo. Mudam de partidos como se troca de roupas, e trabalham sempre com os olhos às próximas eleições. Falta nos políticos compromisso com o eleitor. Neste momento obscuro da vida pú- blica, uma luz se acende e enche de es- peranças as pessoas de bem: a prisão decretada pelo STF dos réus condena- dos no escândalo do mensalão – uma ousada operação clandestina de uso de dinheiro público e privado com o objeti- vo de perpetuação de uma facção no poder que foi marco na República Brasi- leira. O desfecho do escândalo do mensalão, com a ida dos réus para a pri- são, é uma conquista da sociedade. A corrupção vinha vencendo todas as dis- putas com a ética, com a decência e com a justiça. As prisões do dia 15 de novembro são de significado importante. Resga- tam a dignidade e a esperança na justiça brasileira. O povo precisa recuperar a credibilidade e a legitimidade de nossas instituições. O STF fez justiça e mos- trou que ela é para todos. São poucos os que se dão conta da fan- tástica diversidade de aves que podem ser observadas em nosso município. Muitas vezes, as pessoas estão tão atarefadas com problemas do cotidiano, que deixam de apre- ciar a beleza, as cores e o canto dos pássa- ros. Os moradores de Piquete em relação aos de outros municípios são privilegiados por preservarem junto à área urbana significati- vos fragmentos de Mata Atlântica. Esta flo- resta com sua biodiversidade serve de abri- go para inúmeras espécies de aves. Enquan- to moradores de grandes cidades sonham em morar próximo a alguma reserva florestal e acordar com o canto dos pássaros, os piquetenses mantêm um contato diário com a natureza, de maneira que a avifauna da região se encontra muito mais próxima de- les do que imaginam. Com mais de 1.600 espécies registradas em seu vasto território, o Brasil é o segundo país do mundo em diversidade de aves, fi- cando atrás somente da Colômbia. Essa di- versidade espalha-se por todos os biomas que abrigam uma quantidade significativa de espécies endêmicas, ou seja, que são encontradas apenas nesses tipos específi- cos de ambientes. Em Piquete, por estar localizado na re- gião de domínio do bioma Mata Atlântica, podem ser contempladas espécies únicas no mundo. Embora o hábito de se observar aves em seu ambiente natural seja ainda in- cipiente no Brasil, vem ganhando adeptos. Essa atividade pode ser praticada tanto em reservas ambientais como nas cidades. É simples, fascinante e vem aos poucos con- quistando simpatizantes. Existem alguns grupos que se dedicam a essa atividade. Ramo do turismo ecológico, esse é um hobby muito difundido em outros países, especialmente na América do Norte e na Europa. Além de ser uma atividade relaxante, é relativamente barata – para tanto, basta um binóculo e disposição para encontrá-las. Além dos brasileiros, esta modalidade de turismo atrai estrangeiros ao país, ajuda na geração de empregos, aumenta a demanda por serviços e, o melhor, pode ser setor de empreendedorismo sustentável para nossas florestas. Observadores amadores de aves podem contribuir para a preservação do meio ambiente e para um melhor conheci- mento de vários aspectos da vida das aves. Outra atividade pouco difundida rea- lizada tanto por amadores quanto por pro- fissionais, e com uma importância cres- cente, é a fotografia de aves na natureza. Além de servir muitas vezes como docu- mentação da presença de determinada espécie em uma área, a fotografia tem a propriedade de eternizar momentos da bi- ologia das aves que, às vezes, são conhe- cidas apenas em frias descrições da lite- ratura especializada. Observar aves: lazer saudável e ecológico A observação de aves é uma modalidade de turismo que atrai estrangeiros ao Brasil, ajuda na geração de empregos, aumenta a demanda por serviços e – o melhor – pode ser setor de empreendedorismo sustentável para nossas florestas.

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Edição 202, de novembro de 2013, de O ESTAFETA, órgão informativo da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2013 - ANO XVI - No 202

O ESTAFETAFoto Laurentino Gonçalves Dias Jr.

As frequentes denúncias decorrupção observadas nas diferentesinstâncias dos Três Poderes levou a po-pulação à indignação. Diante da viola-ção de valores fundamentais para a so-ciedade, ela se mobilizou e foi às ruasem grandes manifestações durante o mêsde junho. A principal bandeira damobilização foi o combate à corrupção ea ética no serviço público.

A principal causa da corrupção nopaís é a ambição desmedida por rique-zas e poder. A corrupção e a impunidadeestão levando o povo ao descrédito naação política nas instituições, enfraque-cendo a democracia. A atual crise, de-corrente da falta de consciência moral, éestimulada pela ganância e marcada pelocorporativismo histórico que utiliza asestruturas do poder para benefício pró-prio e de grupos. Os principais prejudi-cados com o desvio de verbas públicassão as camadas mais pobres da socie-dade. Frente a esses descalabros, os po-deres constituídos precisam assumir suaresponsabilidade diante da corrupção eda impunidade. É preciso mudar a ma-neira de se fazer política e acompanharde perto os trabalhos desenvolvidos nasdiferentes esferas do poder. A popula-ção precisa estar atenta aos que usamda política para se perpetuar no cargo.Mudam de partidos como se troca deroupas, e trabalham sempre com os olhosàs próximas eleições. Falta nos políticoscompromisso com o eleitor.

Neste momento obscuro da vida pú-blica, uma luz se acende e enche de es-peranças as pessoas de bem: a prisãodecretada pelo STF dos réus condena-dos no escândalo do mensalão – umaousada operação clandestina de uso dedinheiro público e privado com o objeti-vo de perpetuação de uma facção nopoder que foi marco na República Brasi-leira. O desfecho do escândalo domensalão, com a ida dos réus para a pri-são, é uma conquista da sociedade. Acorrupção vinha vencendo todas as dis-putas com a ética, com a decência e coma justiça.

As prisões do dia 15 de novembrosão de significado importante. Resga-tam a dignidade e a esperança na justiçabrasileira. O povo precisa recuperar acredibilidade e a legitimidade de nossasinstituições. O STF fez justiça e mos-trou que ela é para todos.

São poucos os que se dão conta da fan-tástica diversidade de aves que podem serobservadas em nosso município. Muitasvezes, as pessoas estão tão atarefadas comproblemas do cotidiano, que deixam de apre-ciar a beleza, as cores e o canto dos pássa-ros.

Os moradores de Piquete em relação aosde outros municípios são privilegiados porpreservarem junto à área urbana significati-vos fragmentos de Mata Atlântica. Esta flo-resta com sua biodiversidade serve de abri-go para inúmeras espécies de aves. Enquan-to moradores de grandes cidades sonhamem morar próximo a alguma reserva florestale acordar com o canto dos pássaros, ospiquetenses mantêm um contato diário coma natureza, de maneira que a avifauna daregião se encontra muito mais próxima de-les do que imaginam.

Com mais de 1.600 espécies registradasem seu vasto território, o Brasil é o segundopaís do mundo em diversidade de aves, fi-cando atrás somente da Colômbia. Essa di-versidade espalha-se por todos os biomasque abrigam uma quantidade significativade espécies endêmicas, ou seja, que sãoencontradas apenas nesses tipos específi-cos de ambientes.

Em Piquete, por estar localizado na re-gião de domínio do bioma Mata Atlântica,podem ser contempladas espécies únicas nomundo. Embora o hábito de se observar aves

em seu ambiente natural seja ainda in-cipiente no Brasil, vem ganhando adeptos.Essa atividade pode ser praticada tanto emreservas ambientais como nas cidades. Ésimples, fascinante e vem aos poucos con-quistando simpatizantes. Existem algunsgrupos que se dedicam a essa atividade.Ramo do turismo ecológico, esse é umhobby muito difundido em outros países,especialmente na América do Norte e naEuropa. Além de ser uma atividade relaxante,é relativamente barata – para tanto, bastaum binóculo e disposição para encontrá-las.Além dos brasileiros, esta modalidade deturismo atrai estrangeiros ao país, ajuda nageração de empregos, aumenta a demandapor serviços e, o melhor, pode ser setor deempreendedorismo sustentável para nossasflorestas. Observadores amadores de avespodem contribuir para a preservação domeio ambiente e para um melhor conheci-mento de vários aspectos da vida das aves.

Outra atividade pouco difundida rea-lizada tanto por amadores quanto por pro-fissionais, e com uma importância cres-cente, é a fotografia de aves na natureza.Além de servir muitas vezes como docu-mentação da presença de determinadaespécie em uma área, a fotografia tem apropriedade de eternizar momentos da bi-ologia das aves que, às vezes, são conhe-cidas apenas em frias descrições da lite-ratura especializada.

Observar aves: lazer saudável e ecológico

A observação de aves é uma modalidade de turismo que atrai estrangeiros ao Brasil, ajuda na geração deempregos, aumenta a demanda por serviços e – o melhor – pode ser setor de empreendedorismosustentável para nossas florestas.

Página 2 Piquete, novembro de 2013

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

***************

Em recente consulta ao arquivo daArquidiocese de São Paulo, deparamos comum interessante documento enviado deLorena pelo padre salesiano João JoséCrippa ao bispo diocesano, em São Paulo,datado de 1º de novembro de 1908. Nele estádescrita a situação em que se encontrava aparóquia de São Miguel do Piquete, quan-do Pe. Crippa assumiu sua administraçãonaquele ano.

A criação da Paróquia de São Miguelocorreu em outubro de 1888 e seu primeiropadre tomou posse logo em 1º de novem-bro. Padre Francisco Filippo foi recebidocom grande entusiasmo e festas. Trabalhoumuito, mas, infelizmente, por motivos vári-os, foi-se embora em abril de 1890, paraMachado/MG levando, como deixou regis-trado no Livro do Tombo da igreja de SãoMiguel do Piquete, “as saudades dos seusparoquianos”.

Por essa época, havia, por toda a diocesede São Paulo, grande carência de padres.Eram muitas as paróquias que se encontra-vam desassistidas espiritualmente. Para osparoquianos de São Miguel, a situação sónão ficou pior devido à instalação do Colé-gio São Joaquim, em Lorena, em 1890. A par-tir de então, os moradores de Piquete pas-saram a conviver com os filhos de DomBosco, que, esporadicamente, se revezavampara celebrar na igreja matriz.

No ano de 1903, a Paróquia de SãoMiguel foi cuidada, por curto período, pelopadre João Crippa. Carismático e dinâmico,como todo salesiano, ganhou a admiração eo respeito de todos. Em 1908, retornou eencontrou novo cenário: devido à Fábricade Pólvora havia, segundo ele, no Piquete,“toda casta de gente e no povo uma indife-rença medonha em matéria de religião”. “Para

evitar tanto mal”, padre João Crippa organi-zou de imediato as aulas de religião parameninos e meninas, dando pontos em to-dos os atos religiosos para os que partici-pavam e fazendo rifas, como costume nascasas salesianas. O êxito não poderia ter sidomaior – mais ou menos umas duzentas cri-anças passaram a frequentar as atividadesda Igreja. Uniu os homens de boa vontadeformando a Sociedade de São José – Reli-gião e Pátria, cujos fins eram religiosos,morais e sociais, de maneira que, ainda na-quele ano, já contava com cerca de 260 só-cios e as intrigas políticas locais desapare-ceram – todos trabalhavam com um únicofim: o bem-estar local. Várias uniões ilícitas,por obra dessa Sociedade, foram legitima-das. Para as senhoras, reanimou o Apos-tolado da Oração e instalou a beneméritaAssociação de Nossa Senhora MariaAuxiliadora, que passou a ministrar as au-las de religião para as meninas, enquantoos irmãos de São José o faziam para os me-ninos. Para que os meninos perseverassemna prática da religião, organizou a Compa-nhia de São Luiz de Gonzaga e com eles for-mou uma banda de música. O documentodo padre João Crippa registra, ainda, que aparóquia era pobre – não tinha casa paro-quial nem patrimônio. Vivia de poucos re-cursos provenientes do aluguel de um ter-reno doado pelo coronel José Mariano Ri-beiro da Silva e o vigário não podia se sus-tentar com casa alugada. Ressalta, porém,que, se tivesse um padre no lugar, “poderiarender mais”. Padre João Crippa salienta aobispo diocesano que “se este, durante oretiro, achasse algum padre que não preci-sasse de meios e procurasse bom clima, se-ria o caso de confiar-lhe a paróquia do Pi-quete, pois, estando o padre constantemen-

te presente, poderia atender aos enterros eoutros serviços”. Sugeriu que fosse nome-ado um zelador ou fabriqueiro para a matrize, em caso afirmativo, propôs para a funçãoo major Carlos Ribeiro da Silva, presidenteda Sociedade de São José, de maneira que amatriz passaria a ter quem olhasse por ela.Naquele 1908, a paróquia do Embaú estavaanexada à de Piquete. Padre João Crippa ar-gumenta que “isso não era conveniente, peladistância de três léguas e meia e tambémque, quando o tempo era ruim, os caminhosse tornavam intransitáveis”. Concluiu odocumento dizendo que “se o bispo não ti-vesse padre para mandar para o Piquete,continuaria a atender os paroquianos, vistoter a comodidade de trem todos os dias – oque não acontecia com o Embaú – e pedin-do as bênçãos sobre as associações católi-cas instaladas, cujo fim era tornar os ho-mens práticos com a frequência dos sacra-mentos e que, com trabalho, caridade e ab-negação tudo se conseguiria”.

Fotos Arquivo Pró-Memória

Sociedade de São José – Religião e Pátria

Imagem - Memória

Foto tirada por ocasião da Festa de São José, em 19 de março de 1909. Ao centro, o padre João Crippa com o coronel José Mariano Ribeiro da Silva (1o àdireita), seu filho, Major Carlos Ribeiro (1o à esquerda, sentado), a filha Maria Euphrásia Couto (à direita) e a neta Lili Couto (4a a partir da direita).

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, novembro de 2013

Sylvio TheodoroLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Minha confiança no Brasil definha len-ta e progressivamente. No mês em que po-líticos e banqueiros foram presos no Bra-sil, um tênue ponto de luz pareceu-me alu-miar o futuro dos brasileiros... Que nada!São faíscas que não se mantêm ativas emuito menos têm forças para iniciar umatocha brilhante.

A conclusão da Ação 470, mais conhe-cida como “Mensalão”, seria uma reden-ção para os brasileiros que anseiam porJustiça. A alegação de “falta de provas”por parte dos partidários dos condenadosé óbvia, assim como o é a negação da exis-tência da compra de votos pelos réus. Nãofoi o que julgou o colegiado do STF...

Bem... A inédita condenação e prisãode “colarinhos brancos” provocou-nosum misto de surpresa e sensação de des-forra. No entanto, ainda é gritante a inver-são de valores. No momento em que estetexto está sendo escrito, o Brasil conta comdois deputados condenados e presos. Éum descalabro e mostra que não há serie-dade, mas um corporativismo venal e inte-resseiro que mantém bandidos – um con-denado é um bandido, queiram ou não –no colegiado responsável pela conduçãode mais de 190 milhões de brasileiros. Obrasil partidário aplaude presos bradandosua inocência, reivindicando para si a con-dição de preso político... É o mesmo brasilque afirma normal a existência de caixas-dois em campanhas... É o mesmo brasil quediz desconhecer desvios claros de milhõesde dinheiros em obras inacabadas e/ousuperfaturadas... É o mesmo brasil que co-bra “condições dignas” para seus graúdoscondenados... Nesse último caso, por quese preocupar de forma especial com as con-dições em que ficarão presos os bandidosdo mensalão? Descobriram agora o infer-no que são nossas prisões? Pois os“mensaleiros” merecem as mesmas condi-ções de todos os demais bandidos brasi-leiros, algemas inclusive, como banho frioe refeições “incomíveis”. Se há o que me-lhorar, que se estendam as melhorias e osdireitos a todos os detentos deste país.Afinal, bandido é bandido, não importa ograu – e eles são bandidos perigosos, quecorroem a democracia, que matam nos hos-pitais sem leitos, que estupram em ruasinseguras, que condenam à miséria quemnão recebe uma educação de qualidade.

O “mensalão” não é o único caso decorrupção no país, nem o PT é o bastiãoda corrupção. A concorrência é grande eenvolve a maior parte dos partidos e polí-ticos deste país. O mensalão é parte pe-quena da podridão que consome a riquezade nosso país, que corrói a esperança emum Brasil melhor, mais igualitário.

Vergonhosa é a situação em que se en-contra o Brasil em termos de política. Nãomais acredito que verei mudanças. Torço– teimoso que sou – para que futuras ge-rações possam se orgulhar de um país ho-nesto, digno de ser considerado nossapátria, uma pátria governada e povoadapor cidadãos do bem, que possam mos-trar, sem vergonha, sua cara.

Que o Brasil possamostra sua cara!

Quando das comemorações do 77º ani-versário de Piquete, em 15 de junho de 1968,a população foi surpreendida durante o des-file cívico por um batalhão de guardas mi-rins, recém criado na cidade. A novidade erafruto do trabalho e dedicação de homens devisão, preocupados com os problemas dosjovens no município, sua formação e inser-ção no mercado de trabalho. A guarda mirimsurgiu após a administração do prefeitoChristiano Rosa ter admitido adolescentespara executar determinadas tarefas na Pre-feitura. A ideia foi copiada pela FPV, queocupou outros adolescentes em atividadesexternas. Visando as ampliar as oportunida-des para outros jovens do município, a So-ciedade Amigos de Piquete (SAP) criou aGuarda Mirim. Houve uma seleção de jovensentre 12 e 16 anos e coube à Polícia Militar otrabalho de preparar esses adolescentes. Ocomandante do destacamento policial daépoca era o sargento José Carlos da Luz,que indicou para instrutor o cabo SylvioTheodoro, que recebeu treinamento espe-cial para a função, em São Paulo.

Os guardas mirins recebiam em sua sede,à rua do Piquete, instrução intelectual, cívi-ca, moral e religiosa. Auxiliavam no serviçointerno de trânsito e orientavam motoristase pedestres.

Para os guardinhas, o cabo Sylvio era amaior referência. Jovem, entusiasmado, ze-loso e amigo dos meninos, acompanhava-os nos desfiles e em outras atividades. Na-tural de Piquete, Sylvio Theodoro nasceuem 3 de março de 1938. É um dos oito filhosdo casal Manoel Theodoro e Maria da SilvaTheodoro. Passou sua infância na Vila Ba-rão, na rua São Benedito, onde residia a fa-mília. Guarda boas lembranças da época.

Sylvio foi matriculado no Grupo EscolarAntônio João. “Meus diretores foram osprofessores Murilo e Carlos Ramos. Fui al-fabetizado pela professora Alice”, conta.

Adolescente, cursou o supletivo, tendosido aluno das professoras Mirthes Chavese Marlene Machado. Cursou, mais tarde, o

Ginásio noturno da FPV. Após o serviçomilitar, trabalhou na agência de ônibus Pás-saro Marrom, junto ao Hotel Brasil, na Pra-ça da Bandeira. Em 1963, foi aprovado paraa Polícia Militar. O curso preparatório foifeito em Taubaté. Veio trabalhar em Piquete.O destacamento era composto por oito mili-tares, sob o comando do Sargento Luz. “Acidade era tranquila e pacata. Todos se co-nheciam... Não havia problemas de violên-cia decorrentes do consumo e tráfico de dro-gas, como nos dias de hoje... Havia poucoscasos de ‘desinteligência’ por embriaguez”,destaca Sylvio. Em 1973, a seu pedido, SylvioTheodoro foi transferido para a Polícia Flo-restal, tendo passado pelos destacamentosde Guaratinguetá e Cruzeiro. “Realizei-mecomo policial florestal. Gostava muito deminhas atividades. Éramos poucos para aten-der uma grande região e, portanto, tínha-mos muito trabalho”, conta, orgulhoso.Sylvio atuava contra o desmatamento e nafiscalização da caça e da pesca, além do tra-balho preventivo e de combate a incêndios.

Sylvio Theodoro casou-se com Eneida LeiteDionísio Theodoro em17 de dezembro de 1962.Tem dois filhos e umcasal de netos. Aposen-tado desde 1984, comosubtenente da PolíciaFlorestal, gosta de veros ex-guardinhas emposições de destaquena sociedade. “É umtrabalho de que muitome orgulho, pois deubons frutos... Precisá-vamos de mais inicia-tivas como essa”.

O ESTAFETA Piquete, novembro de 2013Página 4

Neto de Joaquim José Moreira Limae da Viscondessa de Castro Lima, foipersonagem proeminente da história dePiquete. O Barão da Bocaina foi um dostitulares do Império no Vale do Paraíba.Adentrou o período republicano com otítulo nobiliárquico que lhe manteve osprivilégios de classe. Mostrou-se um ti-tular da nobreza progressista.

Levantar os dados históricos dosfundadores de nosso município é en-contrar os da pessoa do Barão, cuja pre-sença, atos e interpretações em nossapolítica delinearam os eventos que sesucederam para marcar nossa paisageme nossas tradições, de referênciasmarcantes no Vale do Paraíba.

O Barão era filho do coronel JoséVicente de Azevedo (coronel da Guar-da Nacional no período do Império) ede dona Angelina Moreira de CastroLima, descendente dos capitães-moresManoel Domingos Salgueiro e de seu filhoManoel Pereira de Castro, respectivamen-te avô e pai de Carlota Leopoldina, viscon-dessa de Castro Lima, casada com o abas-tado comerciante português José JoaquimMoreira Lima. Francisco de Paula Vicentede Azevedo, futuro Barão da Bocaina, diri-giu-se a São Paulo aos 13 anos de idade,onde se formou em Direito.

Nomeado Coletor de Rendas Gerais deLorena em 1876, dedicou-se à política, à in-dústria e ao comércio. Registros dados porJosé Luiz Pasin em “Os Barões do Café –Titulares do Império no Vale do ParaíbaPaulista” (edição da Vale Livros, Aparecida,2001 – p. 61 e segs). Segundo o pesquisa-dor citado, em 1880, Francisco de PaulaVicente de Azevedo assumiu o cargo dechefe do Partido Conservador em Lorena,tendo sido eleito vereador e depois presi-dente da Câmara até a Proclamação da Re-pública. Consta pelos registros que ele foifazendeiro nos municípios de Piquete,Lorena, Guaratinguetá, Cunha, Pinda-monhangaba e Itajubá. Considerado pionei-ro na introdução do trabalho livre em suaspropriedades. Além disso, promoveu o es-tabelecimento de várias colônias agrícolaspara imigrantes, como a de Canas (Lorena),Quiririm (Taubaté) e Sabaúna (Mogi dasCruzes).

Em 1881 adquiriu grande extensão deterras na Serra da Mantiqueira, no atualmunicípio de Delfim Moreira, onde estabe-leceu a fazenda de São Francisco dos Cam-pos, considerada uma fazenda modelo.Como um dos fundadores do Engenho Cen-tral de Lorena, foi agraciado pelo Imperador

D. Pedro II com a Comenda da Imperial Or-dem da Rosa, a 7 de maio de 1887, data emque foi agraciado com o título de Barão daBocaina.

Como presidente da Câmara Municipalde Lorena, dotou a cidade de uma linha debondes, plantou as palmeiras imperiais, fezconstruir o cemitério municipal e uma pontede ferro sobre o Ribeirão Taboão.

A esposa do Barão, em segundas núpci-as, Dona Rosa Bueno Lopes de Oliveira, ti-tulada Baronesa da Bocaina, foi a últimapersonalidade feminina agraciada no Impé-rio.

Tendo mudado residência para São Pau-lo, o Barão da Bocaina foi um dos fundado-res e diretores do Banco Comercial de SãoPaulo e da Cia. de Melhoramentos de SãoPaulo e participou da instalação de outrasgrandes empresas. Foi, ainda, membro daComissão Executiva da nova catedral de SãoPaulo e Diretor dos Correios e Telégrafos.Com a proclamação da República afastou-se da vida pública e foi excursionar pelaEuropa. De lá trouxe novas ideias e projetosprogressistas, e entre eles a introdução dacorrespondência expressa no Brasil. Em SãoFrancisco dos Campos do Jordão fundou aprimeira estância climática e um sanatóriopara tuberculosos e introduziu o conceitode frutas de origem europeia.

Para Piquete, a principal referência é ade que o Barão doou as terras para a insta-lação da Fábrica de Pólvora e para a cons-trução de um Sanatório Militar em Lavrinhas.Esteve também envolvido na construção doRamal Férreo Lorena-Benfica, na área de Pi-quete e nas bases montanhosas da Serra daMantiqueira. Ramal que não se completou

pelos planos iniciais.Além de interessado na localização

de população nas áreas de colônias enas propriedades rurais, incentivava aatividade educacional através da insta-lação de uma Escola Agrícola cujo nomehomenageia o Cel. José Vicente de Aze-vedo. Eram tempos de investimentosagrícolas, principalmente para meninospobres, num conceito pelo qual a eliteclassificava e separava a população.Colégios para essa elite também eram li-derados pela obra do Barão. Os titularesnobiliarquizados do Império eram figu-ras de proa nos investimentos sociais, epor estes, recebiam citações consa-gradoras como condutores de desenvol-vimento, membros de família ilustre, lus-tro da “mais alta estirpe moral e intelec-tual” para a “merecida situação de pre-ponderância da cidade que os re-

ferenciava em destaque frente às suas ir-mãs”. Monarquista, José Luiz Pasin se or-gulhava por não deixar de fazer os devidosregistros das citações tornadas memo-rialísticas.

As fardas da Guarda Nacional enga-lanavam seus possuidores, que as exibiamem festas e reuniões grandiosas, como so-ciedades de Corte, às quais Lorena orgu-lhosamente se referenciava por possuir emsua sociedade portadores de altas paten-tes. No Vale do Paraíba, essa tradição man-teve-se em Lorena, por exemplo, ao sediara instalação de unidades do Exército Naci-onal. Em Piquete, particularmente, a pre-sença de altas patentes do Exército na Fá-brica de Pólvoras valorizava sempre essareferenciação. Mas o Barão também é cita-do pelo empenho nas atividades industri-ais, que, com homens livres, imigrantes eu-ropeus e os capitais gerados pela cafeicul-tura passaram a ser pontuados como si-nais de progresso para um novo tempo – orepublicano.

Por isso, interessava-lhe o planejamentourbano, já que a indústria induz à concentra-ção de mão de obra e ao urbanismo. Daí ointeresse na edificação de casas, escolas, ca-pelas, instalação de estradas, hospedarias eagência para os Correios, e nisso, o Barão eraseguidor do Cel. José Vicente de Azevedo. Ouseja, ambos vistos como progressistas.

Aos historiadores modernos importa re-conhecer a complexidade e as contradiçõescontidas na passagem do período monár-quico para o republicano, pela manuten-ção do sistema hierarquizado de classes edo processo escravista como força de tra-balho. Dóli de Castro Ferreira

Francisco de Paula Vicente de Azevedo

O Barão da Bocaina

8/10/1856 – 17/10/1938

O ESTAFETA Página 5Piquete, novembro de 2013

Novembro é o mês no qual se comemorao que se convencionou chamar “consciên-cia negra” numa homenagem ao cultuadoZumbi dos Palmares e suasações mitologizadas da defesados quilombolas – escravos fu-gidos das propriedades senho-riais e rebelados contra os maustratos, para se autonomizaremcomo seres humanos com direi-to à vida e à liberdade.

Ciência humana que é, a His-tória procura definir a escravidãoque, como os grandes fenôme-nos da humanidade, tem seusmitos, e é por eles alimentada.

Mas, qual é a natureza e aorigem da escravidão? E comotal, travestida em várias formas é praticadaaté hoje?

Atribuições têm sido dadas para se ten-tar explicar porque seres humanos se orga-nizam como escravo / senhor para caracteri-zarem uma sociedade que se organiza sobreum território e nele se dedica a uma ativida-de produtiva. Há quem afirme ser a escravi-dão uma forma de “abrandamento do cani-balismo”. Segundo essa atribuição, os ca-nibais decidiram num determinado momen-to histórico manter alguns prisioneiros a seuserviço ao invés de devorá-los. Foi daí que,supostamente, surgiram os primeiros escra-vos. Quem adota essa hipótese é o historia-dor francês Olivier Pétré-Grenouilleau, emlivro denominado “A história da Escravi-dão”, Boitempo Editorial, em tradução data-da de 2009.

Investigando a origem e o sentido do fe-nômeno social, o autor debruçou-se sobre o“Grand dictionnaire du XIXe siècle (1886 –1879)”, (Grande Dicionário do século 19), dePierre Larousse, para definir que “servo esenhor prestavam serviço um ao outro”.

O que induziu à análise das múltiplasformas de exploração dos homens e mulhe-res por outros dotados de capacidade dearticulação de um elo que relaciona o senti-do da existência do escravo porque existeum senhor, que escraviza o outro, submeti-do à sua ingerência, a qual pode ser lidacomo força para ser legitimada. Um princí-pio de dependência gerado pelas vitórias

O que é escravidão?versus derrotas em lutas que a humanidadetem travado desde as origens da organiza-ção das sociedades. Houve escravagistas

que argumentaram ser o ato da escravidãocomo “universal, natural, tradicional e pro-gressista”. Leiam-se obras de grandes figu-ras do Império no Brasil. E manifestaçõesdo próprio Imperador Pedro II, reconhecidodocumentalmente contrário ao escravismo,mas justificado pela organização social eeconômica na qual o país se constituía. Afi-nal, os grandes produtores alegavam a ne-cessidade da mão de obra numa faseagroexportadora e latifundiária na formaçãode grandes capitais.

É o que os estudiosos marxistas defi-nem como modo de produção, levando aentender o escravismo como uma forma dedependência humana definida como econô-mica e impositiva. Entretanto, dado comonão “tão produtivo” quanto se imaginava,o escravo deveria ser substituído pelo as-salariado livre que, no Brasil, gerou formasde exploração relativamente aos colonos ini-cialmente instalados. Forma contraditóriacomo de natureza escravagista, sob a argu-mentação da falta de cumprimento às pro-messas divulgadas na Europa pelos arregi-mentadores. Documentos recentementeanalisados enriquecem essas denúncias.

Para os que se dedicam à pesquisa so-bre as origens da escravidão, fica claro queesta não foi apenas negra e africana, o queparece ser para muitos no Brasil. A propósi-to, aos brasileiros sempre parece ser o es-cravo associado ao negro. Entretanto, des-de Aristóteles se discute a questão do es-

cravo tendo-se em vista outras áreas do glo-bo. Trata-se de estudos reconhecidos dasmais antigas manifestações escravagistas

na Antiguidade, causadaspela imposição da força guer-reira de um povo sobre o ou-tro na disputa de terras e ocu-pação de espaço. As narrati-vas bíblicas, lidas e ouvidasnas leituras religiosas, e nemsempre bem entendidas, rela-tam muitos casos de escravi-dão. Entre essas, no Livro doGênesis 9, a “maldição deCam”, filho mais novo de Noé,e por este amaldiçoado por terchamado a atenção dos ir-mãos para o pai nu e em esta-

do de embriaguez. Pelo que Noé, aoamaldiçoá-lo, teria dito: “Maldito seja Canaã!Que seja para seus irmãos o escravo dosescravos!” Assim, o filho deveria ser puni-do pelo erro do pai, como é comum aconte-cer nos relatos do Antigo Testamento. Aatribuição de negro para a descendência deCam acabou sendo tradicionalmente usadapara legitimar a escravidão entre negros afri-canos. Eles, entre si, em guerras de domina-ção praticavam a escravidão e forneciam ossubjugados presos aos grandes comercian-tes de escravos, traficantes de humanos.

Estes, que, por motivações variadas,mas injustificáveis, ainda não desaparece-ram das notícias. Nos dias atuais, fala-se detráfico de crianças e de mulheres, tráfico essedramatizado pelos depoimentos sobre explo-ração não só econômica mas também soci-al. O injustificável permeia as ações huma-nas, enquanto as justificativas se sucedempara ordenar sistemas legais que, apelandopara os costumes e a tradição, manipulamas leis a serviço dos interesses, sejam elesde que natureza forem. Pensar, hoje, nas ra-zões do escravismo e suas origens nos con-duz à consciência do fenômeno.

E como tal, num momento em que se dis-cute o injustificado processo de aprisiona-mento de animais atributivamente submeti-dos a maus tratos, ainda que alegados moti-vos de pesquisas científicas.

Dóli de Castro Ferreira

"A literatura de outras eras não pode suprir a literatura dos nossos dias. Cada geração

quer exprimir o seu próprio pensamento, e nunca duas épocas diversas, nem sequer

duas gerações sucessivas, tiveram os mesmos ângulos intelectuais de visão."

Joaquim Nabuco

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, novembro de 2013

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Os feios

O valor da nossa fauna

As pessoas normais nascem, crescem e,salvo algum acidente, morrem tendo na ca-beça cabelos (que podem ser temporários),testa, dois olhos e bochechas nos lados daface (passíveis de covinhas), um nariz, umaboca, queixo (liso, com furinho ou umareentrância) e duas orelhas... Excluindo gê-meos idênticos, se colocarmos cem mil ouquantas pessoas quisermos lado a lado eprocessarmos a um exame minucioso, veri-ficaremos que não existe sequer uma xeroxda outra. Nem japonês! Como já disse emoutra crônica, isso representa o máximo dacriatividade na transa dos genes. Ou deDeus, se quiserem...

Agora... Existem algumas, sem escolhade sexo, que exageram em ser malparecidas.Têm as mesmas coisas, colocadas nos mes-mos lugares, mas deixam na gente a impres-são de que aqueles poucos atributos estãomal distribuídos...

Contaram-me más línguas que a Serafaera uma moça tão feia, mas tão feia, que nacidade diziam ser ela a estrela principal detodos os pesadelos dos habitantes dali.Chocava na solteirice. Sua mãe a fazer to-dos os tipos de rezas, simpatias, despachose promessas para encontrar um pretenden-te para a filha – em vão. Fé de extremos enenhum cheiro! Apelou para Santo Antô-nio numa promessa que chegou ao cúmulodo absurdo, com compromisso sacra-mentado de execução se conseguisse casara Serafa. O caso já passara a ser de amargormaterno por ter gerado semelhante “coisa”.Os anos correram e a Serafa envelheceu nafeiúra, como em compota não aberta. Zeri-nho e na curiosidade... A promessa da velhaera de fazer a filhota entrar na igreja em trajede noiva levando ao braço um buquê con-feccionado apenas com... vitórias-régias! Ouo casamenteiro não creu nessa possibilida-de ou concluiu que arranjar um noivo erapra Serafa milagre demais mesmo para umsanto.

Mas a desgraciosidade também atingegente famosa: existem feios simpáticos comoo Charles Bronson, Bete Davis, EspiridiãoAmim... Mas quem teria peito de investirnum filme em que o galã fosse o MarcosMaciel?! Mesmo o bom Ulisses, o Guima-rães, ou o Ferreira Goulart?! Talvez nem prafilme do Zé do Caixão! Mas existe um furo

histórico provocado pela feiúra de seu he-rói que considero um barato pela esportivado cara.

Philopêmen, nascido lá pelos idíssimosde 253 a.C., chefe da Liga Acaica, que foi oúltimo na Grécia a receber o título de valoro-so e, por isso, cognominado o “último dosgregos”. O Philo – amigão – tentou mantera unidade da Grécia ante o progresso amea-çador de Roma. Entretanto, não era tão fa-moso com guerreiro como o era pela sua fei-úra. Além do rosto de feições nada agradá-veis, ainda por cima tinha o corpo compridoe mal proporcionado. Contrastando com odesengonçamento geral, era muito afável,com muita urbanidade.

Certa vez, na cidade de Megara, umconceituado cavalheiro o convidou a al-moçar em sua casa. Como estava só ao fa-zer o convite, sua esposa não ficou conhe-cendo o ilustre convidado. No dia marca-do, Philopêmen chegou antes da horamarcada, não encontrando o anfitrião. Amulher, ao atender o visitante, dando decara com “aquilo”, julgou tratar-se de al-gum criado do convidado e perguntou-lhese seu amo demoraria a chegar. O “criado”respondeu que o mesmo já se encontravadentro da propriedade.

Angustiada ante a resposta, a mulhermandou apressar as iguarias. Como haviapouca lenha perto do fogão, recorreu ao“criado” para que a ajudasse rachando al-gumas toras. E ele mandou brasa macha-dando a madeira. Quando fazia o serviço,muito compenetrado, o anfitrião chegou e,vendo-o naquele exercício, espantado per-guntou-lhe o que fazia.

– Estou pagando a pena do meu ruimfocinho...

Um aparte aos interessados: Philopêmenveio a falecer prisioneiro dos Messênios em183 a.C.

Nenhum feio ou feia, porém, deve sedesesperar nem dar bola para esses deta-lhes. Cedo ou tarde aparece um para formarpar... Dizem até que “há sempre um chinelovelho prum pé doente”. Dentro do contextoatual, expressou-se irreverentemente um jo-vem sobre o assunto: “Gosto é como censu-

rado... Cada um tem o seu próprio”. Se istonão resolve, pelo menos alivia. Alivia?!

Nossa fauna é tão rica, que se encontraestampada em nossa economia. Nossa eco-nomia é tão pobre que não se encontra àaltura de nossa fauna. Nosso papel-moeda:

Um real – o beija-flor alimenta-se do néc-tar das flores colhido por sucção por meiode sua língua protrátil.

Dois reais – em consequência de muitosanos de captura indiscriminada, todas asespécies de tartarugas marinhas se encon-tram ameaçadas de extinção.

Cinco reais – a garça vive, em geral, per-to d’água e alimenta-se de peixes, anfíbios,moluscos, vermes e insetos. Captura aspresas vadeando lentamente ou assumin-do atitudes estáticas antes de dar bicadasrepentinas.

Dez reais – caracterizada pelo grandetamanho, forte bico curvo e vistoso colori-do da plumagem, a arara inclui-se entre asmais belas aves das matas latino-america-nas.

Vinte reais – o mico-leão dourado, depelo amarelo-ouro e ampla juba, é conheci-do pela constante ameaça de extinção. Tam-bém chamado de sagui-de-fogo.

Cinquenta reais – onça pintada, típicahabitante das selvas e dos pantanais. Temhábito noturno e intensifica sua atividadeem especial nas noites de lua cheia.

Cem reais – de sabor excelente, agaroupa habita águas litorâneas, perto depedras, lajes, ilhas, baixios e recifes. Agaroupa verdadeira, de coloração chocola-te com manchas verdes esparsas, tem umarisca negra atrás dos maxilares e nadadeirasescuras debruadas de branco.

Os animais estampados nas cédulas nãocondizem com os valores das mesmas, elessão superiores.

Todos nós precisamos deles, eles aindamais do que nós, pra que possam continuarnos seus respectivos habitats.

IBAMA?Deus seja louvado!

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

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Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem,

os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não

tenham nada em comum senão compartilhar as

mesmas recordações.Vinícius de Moraes

O ESTAFETAPiquete, novembro de 2013 Página 7

Piquete recebeu por quase duas sema-nas, neste mês de novembro, o Destacamen-to Mantiqueira, um grupo de cerca de 180homens do Exército Brasileiro. Comandadopelo capitão Marcio Jorge, o Destacamentoparticipava de um Curso de Forças Especi-ais – Adestramento de Tropas, que faz par-te do programa do Centro de Instrução deOperações Especiais.

De acordo com os capitães Márcio Jor-ge e Guttoski Lemos, Piquete foi escolhidoem função de uma série de variáveis, mas,principalmente, em função das característi-cas populacional e geográfica, ideais paraas atividades previstas, e pela receptividademostrada no primeiro contato travado coma Prefeitura Municipal.

Acampados no recinto de Festas MiguelPurcino Ferreira, a tropa desenvolveu umasérie de atividades no município. Destaca-

ram-se as Ações Cívico-Sociais (ACISO),que levaram médicos, dentistas e enfermei-ros para diversos bairros urbanos e ruraisdo município. Também foram importantes os“checkpoints”, posições taticamente esco-lhidas, nas quais ficaram posicionados sol-dados que reforçavam a interação com a po-pulação, ao mesmo tempo em que guarneci-am o local. Foram realizadas, ainda, pales-tras em escolas sobre o papel do Exército,formas de ingresso, a importância das For-ças Armadas para o país, entre outros as-suntos relacionados com o treinamento.

Piquete tem sua história estritamente li-gada ao Exército Brasileiro em função daFábrica Presidente Vargas. Não obstante suafunção primordial de defender a soberanianacional, o Exército é sinônimo de atendi-mento social e segurança eficientes e dequalidade. Nesse período em que sediou tão

significativa missão, Piquete recebeu osmilitares com especial atenção. Beneficia-dos pela tranquilidade que proporciona apresença de tropas amigas e solidárias, ospiquetenses se sentiram privilegiados e con-fortados com as ações desenvolvidas. Nosábado, 23/11, especialmente uma ação con-centrou diversas atividades na Praça Du-que de Caxias, que, sob chuva, ainda assimrecebeu público significativo. No domingo,uma confraternização especial: partida defutebol entre as “seleções” do Exército e dePiquete. Venceu Piquete...

Os momentos de Piquete “sitiada” fo-ram muito gratificantes para o município.Que o Exército tenha obtido os resultadosesperados. Que Piquete mereça a honra derecebê-lo novamente em oportunidades fu-turas.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Piquete sedia treinamento do Exército Brasileiro

Cenário 1 – “O Prof. Fulano é um car-rasco: me reprovou por dois décimos”.

Cenário 2 – “Com a tal aprovação auto-mática, ou progressão continuada, a minhafilha já está na quarta série e ainda não sabeler”.

A avaliação que prescreve nota míni-ma, como se observa no Cenário 1, não éadequada ao Ensino Fundamental. Dá bonsresultados em provas de seleção.

A progressão continuada, Cenário 2, éa ideal desde que aplicada corretamente.

Aos quatro anos, a criança deve encer-rar o período de creche.

No ano seguinte, deverá ser matricula-da no Ensino Fundamental.

Cada nível de escolaridade correspondea uma série ou a um ano letivo.

Para facilitar a compreensão, cada nívelvai corresponder à idade das crianças.

Nos dois primeiros – Nível 5 e Nível 6 –os alunos vão ser preparados para se sub-meter ao currículo do Ensino Fundamental.

É o momento do exame médico ebiométrico.

Os pais serão avisados de limitaçõesde audição, de visão, de estatura.Verminoses, anemias, defeitos posturaisnão poderão passar despercebidos.

É nestes níveis que o aluno vai acordarpara o conhecimento sistematizado.

O passo mais importante é o enriqueci-mento do vocabulário. Declamação, canto

coral, teatro, folguedos tradicionais e jogosde computador vão abrir o universo ines-gotável das palavras.

A noção de enredo não pode ficarrelegada a segundo plano. A contação deestórias e a caracterização dos personagensvão fornecer preciosos dividendos.

O ritmo embala a alma da criança. Abandinha com instrumentos simples de per-cussão é sempre bem-vinda.

O desenho, a pintura e as pequenas es-culturas com massinhas coloridas desper-tarão para os tamanhos e as formas.

Nas feirinhas-livres, organizadas pelaspróprias crianças, será desenvolvida a no-ção de valor com o uso de fichas coloridasem que aparecerão os animais das cédulasbrasileiras e as pessoas ilustres de nossasmoedas.

Além do professor, nos Níveis 5 e 6, terápresença decisiva o arte-educador.

O Nível 7 vai ser o divisor de águas daavaliação: chegou o momento da leitura eda escrita.

Daqui para a frente, todos os níveis se-rão divididos em fases ou módulos decidi-dos em cuidadosos encontros pedagógicos.

E serão designados os dois profissio-nais responsáveis pelo bom resultado dostrabalhos: o professor e o assistente de clas-se.

O assistente de classe, pedagogo oupsicopedagogo se encarregará de mensurar

a aprendizagem.Este profissional acompanhará todas as

avaliações orais e escritas do Nível que lhefor confiado. Assinalará a atuação do pro-fessor e de cada aluno.

O número de assistentes de classe de-penderá do número de classes de cada Ní-vel.

O assistente de classe, pelo resultadoda avaliação, vai determinar se o professorvai repetir o módulo ou se apenas algunsalunos vão ser submetidos a reforço.

Na Progressão Continuada, não se podeadmitir que uma unidade de noções deixede ser assimilada por um aluno.

Não haverá reprovação, porque o aten-dimento ao aluno fará com que ele chegueao nível seguinte com todas as noçõesinteriorizadas.

Quando imperava o sistema de avalia-ção revelado no Cenário 1, os professoresresponsáveis perguntavam:

“Você entregaria a saúde de sua famíliaa um médico aprovado com nota 5”?

“Quanto tempo permanecerá em pé umaobra construída sob a responsabilidade deum engenheiro aprovado com a nota 5,2”?

No Sistema de Progressão Continuada,todos têm de saber tudo.

E pasmem os senhores!No Ensino Fundamental, isto não é ape-

nas desejável. Pode virar realidade.Abigayl Lea da Silva

Avaliando a Avaliação

Foto Arlete MonteiroFoto Arlete Monteiro Foto Laurentino Gonçalves Dias Jr.

O ESTAFETA Piquete, novembro de 2013Página 8

Um grande desafio a ser enfrentado pelaadministração municipal de Piquete é o depromover uma intervenção planejada sobreos espaços urbano e natural do município.Parece um sonho que isso ocorra. Mas épreciso ser feito. Para isso são necessáriasousadia, muita coragem, determinação evontade não apenas da administração pú-blica, como de todos os moradores, para quea Cidade Paisagem possa ser realmente me-recedora desse título.

Todos que conheceram Piquete até al-gumas décadas atrás guardam em suas me-mórias afetivas referências das paisagensque lhes são caras: praças, clubes hospital,cinemas, estações ferroviárias, igrejas...

Historicamente, a expansão da malhaurbana de Piquete se deu a partir do iníciodas obras de construção da fábrica de pól-vora e a chegada de muitas famílias ope-rárias. Políticas sociais subsequentes le-varam à edificação de inúmeras obras quese tornaram marcos na paisagem urbana.

A necessária revitalização urbana da Cidade PaisagemCom o passar do tempo, houve uma dete-rioração desses monumentos. Alguns fo-ram descaracterizados, outros abandona-dos á própria sorte, de maneira que a cida-de perdeu áreas de importância histórica,com a redução de espaços de convivên-cia pública e, também, a destruição da pai-sagem natural.

Ao longo dos anos, com a expansão damalha urbana, os ribeirões Benfica e Pique-te foram sendo assoreados. O desma-tamento nas regiões de nascentes concor-reu para a redução do volume d’água. Alia-do a isso, o esgoto doméstico lançado in-natura em suas águas levou a uma situaçãocrítica. A recuperação imediata dos cursosd’água e a revegetação das encostas faz-senecessária para a melhoria da qualidade devida da população. A cidade ganharia muitocom esses investimentos.

A pouca valorização do patrimônio his-tórico e paisagístico não é prerrogativa dePiquete. Muitas cidades atropelam sua his-

tória e destroem seus espaços de memória.Atentas a essas questões, políticas pú-

blicas recentes buscam revalorizar opatrimônio histórico ambiental, bem como aadoção de medidas para recuperação doespaço urbanizado. Surge, daí, o conceitode revitalização urbana, pautado pelaintegração de parceiros públicos e privadosa fim de garantir recursos para intervençõesurbanísticas ou arquitetônicas em áreas de-gradadas. Recentemente somou-se a essaideia a necessidade de se organizar proces-sos sustentáveis nas áreas revitalizadas.Embora as experiências de revitalização es-tejam se disseminando pelo Brasil, obser-va-se que elas acontecem em maior escalanas grandes cidades. Mais recentemente,pequenos municípios, com os olhos volta-dos para o futuro e para o seu potencialturístico, têm buscado revitalizar áreas de-gradadas reafirmando a importância do con-vívio entre o passado e o presente, entre ourbano e o natural.

No início do mês de novembro realiza-mos, em toda a Igreja, duas celebraçõesmuito significativas na tradição cristã: o“Dia de Todos os Santos” e a “Comemora-ção dos Fiéis Defuntos”. O filósofo ale-mão Martin Heidegger observa que só levauma vida autêntica aquele que a assumecomo própria, que a conduz, forja e cons-trói de acordo com as próprias possibilida-des. Ninguém pode excluir a realidade deque, entre as possibilidades humanas, aúltima é a morte. Vivem autenticamente osque não deixam de experimentar a possibi-lidade que nos acompanha em todo o exis-tir – a de cessar de existir. A morte pertenceà estrutura fundamental do homem. Não éuma possibilidade distante, mas constan-temente presente. O existir se dá semprenesta possibilidade. O homem começa aexistir e já está atirado nela. A angústia quemuitas vezes nos toma, sem que dela pos-samos nos esquivar, é que nos faz adquirirconsciência de nossa sujeição à morte enos permite sair da decadência de um exis-tir iludido, de mortais vivendo como divin-dades eternas e onipotentes, para um vi-ver autêntico, precário, finito, muitas ve-zes experimentado como inútil, mas autên-tico.

Nessa experiência de precariedade, esomente nela, se abre ao homem, tambémcomo possibilidade, a transcendência. O serhumano possui um desejo subversivo deromper os interditos, de ultrapassar os limi-tes que lhe são impostos, ele não se con-tenta com a precariedade de sua própria exis-tência. As religiões brotam desse impulsohumano de não se deixar conter, desse afãde não se resignar ao estabelecido. Os ca-minhos espirituais autênticos possuemcomo base e raízes mais profundas a cons-ciência da fugacidade e da finitude do exis-tir humano e sua condição de fragilidade,são sempre maneiras de lidar com as diver-sas manifestações dessa possibilidade denão mais existir.

O livro de Jó é uma belíssima reflexãosobre como a consciência da miséria e dainutilidade do existir humano pode nos aju-dar a intuir a transcendência e o sagradocomo um grande mistério a nos esperar. Jó,homem justo, vê-se imerso na desgraça,busca investigar a causa de sua desventurae nada conclui. Apenas quando se esgotamtodas as argumentações e é tomado pelaconsciência de sua completa contingênciaé que pode intuir a grandeza de Deus. A cer-teza da finitude faz o homem abrir-se ao mis-

tério que o transcende. No final do livro,Jó compara o saber que tinha aprendidosobre Deus com o conhecimento a que aexperiência da precariedade do existir hu-mano o tinha conduzido. Na mais completaruína, diz Jó a Deus: “Bem sei eu que tudopodes, e nenhum dos teus pensamentospodem ser impedidos. Quem é aquele, di-zes tu, que sem conhecimento julga meusplanos? Por isso reconheço que falei doque não entendia; coisas que para mim eramcertas, mas na verdade não as compreen-dia. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvisobre ti, mas agora te veem meus olhos.Por isso me abomino e me arrependo no póe na cinza”. (Jó 42, 2-6)

As celebrações às quais me referi noinício têm a força de nos colocar em conta-to com a morte como algo constituinte davida. Permitem-nos, assim, vislumbrar avida para além da morte. Esses ritos en-contram sentido e fundamento na fé cristã,na ressurreição de Jesus, que, como afirmao Apóstolo Paulo em suas cartas, é o pri-meiro dentre muitos irmãos a passar damorte à vida. Celebramos a morte e com-preendermos a vida.

Pe. Fabrício Beckmann

Pensamos na morte e compreendemos a vida

Fotos Arquivo Pró-Memória