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21084 – NOVAS RURALIDADES - e-fólio A – 2012/2013 1. Introdução A história da alimentação está intimamente ligada à história da humanidade. Desde a alimentação fortuita e aleatória que consistia, sobretudo, em frutos e raízes, até aos dias de hoje, o homem percorreu um longo caminho na busca permanente pela sua sobrevivência. A partir da recolecção, da caça e da pesca, passando pela sedentarização, necessária à agricultura de subsistência, o homem foi desenvolvendo o comércio, fruto dos excedentes produzidos e, como consequência, foi alterando os seus hábitos e diversidade alimentares, percurso, esse, nem sempre pacífico, em termos históricos. Na verdade, algumas civilizações tornaram-se poderosas graças às suas arrojadas técnicas agrícolas que se traduziram na riqueza acumulada em excedentes alimentares. Esta, era moeda de troca quer para fazer a paz ou mesmo a guerra. Por outro lado, outras houveram, que desapareceram com o impacto de alterações climáticas. Com a agricultura surge a domesticação de animais e uma sedentarização, mais ou menos, estável, propícia a culturas de auto-suficiência, basicamente, familiar. Mais tarde, no período da Revolução Industrial, começam a surgir as grandes cidades, empurrando, definitivamente, as zonas agrícolas para longe do espaço cada vez mais ocupado pelas indústrias transformadoras, nomeadamente, a alimentar, com a produção de alimentos enlatados, congelados e comida de confecção rápida – o chamado fast food, cujo propósito seria alimentar populações urbanas, cada vez maiores. Paradoxalmente, estas alterações em nada beneficiariam as Lena_rbr Página 1

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21084 Novas Ruralidades e-flio A - 2013

21084 NOVAS RURALIDADES - e-flio A 2012/2013

1. IntroduoA histria da alimentao est intimamente ligada histria da humanidade. Desde a alimentao fortuita e aleatria que consistia, sobretudo, em frutos e razes, at aos dias de hoje, o homem percorreu um longo caminho na busca permanente pela sua sobrevivncia. A partir da recoleco, da caa e da pesca, passando pela sedentarizao, necessria agricultura de subsistncia, o homem foi desenvolvendo o comrcio, fruto dos excedentes produzidos e, como consequncia, foi alterando os seus hbitos e diversidade alimentares, percurso, esse, nem sempre pacfico, em termos histricos. Na verdade, algumas civilizaes tornaram-se poderosas graas s suas arrojadas tcnicas agrcolas que se traduziram na riqueza acumulada em excedentes alimentares. Esta, era moeda de troca quer para fazer a paz ou mesmo a guerra. Por outro lado, outras houveram, que desapareceram com o impacto de alteraes climticas. Com a agricultura surge a domesticao de animais e uma sedentarizao, mais ou menos, estvel, propcia a culturas de auto-suficincia, basicamente, familiar. Mais tarde, no perodo da Revoluo Industrial, comeam a surgir as grandes cidades, empurrando, definitivamente, as zonas agrcolas para longe do espao cada vez mais ocupado pelas indstrias transformadoras, nomeadamente, a alimentar, com a produo de alimentos enlatados, congelados e comida de confeco rpida o chamado fast food, cujo propsito seria alimentar populaes urbanas, cada vez maiores. Paradoxalmente, estas alteraes em nada beneficiariam as populaes, tendo em conta o baixo valor nutritivo daqueles alimentos.

Se, por um lado, certo que a humanidade sempre se defrontou com perodos, mais ou menos longos, de fome, quase generalizada, a verdade que, algumas tentativas para debelar pragas e/ou rentabilizar as terras, com a produo macia de adubos a agro-txicos, se revelaram mais negativas do que positivas para o meio ambiente e sade das populaes.

, pois, com base na consciencializao dos efeitos nocivos que a produo massiva de alimentos tem sobre o bem-estar das pessoas que, a partir dos anos 60, se d incio agricultura orgnica que tenta, tanto quanto possvel, um regresso s origens, ou seja, a utilizao de produtos alimentares mais prximos dos originais.

Assiste-se, hoje, em todo o mundo a um movimento, cada vez maior, em defesa da qualidade dos alimentos, da sade e de defesa do meio ambiente. Efectivamente, o consumidor tornou-se, regra geral, mais informado, mais atento, mais exigente e cada vez mais implicado nos processos de compra. Pretende-se, pois, com este trabalho caracterizar uma situao de compra/consumo alimentar qual esteja associado um risco alimentar por parte do consumidor.2. Corpo de textoTodos ns temos presente que os perigos espreitam a nossa cadeia alimentar. Na realidade, agentes biolgicos, qumicos ou fsicos presentes no alimento podem desencadear efeitos nocivos para a sade. Importa, pois, referir que os riscos so uma funo de probabilidade de um efeito nocivo para a sade e da gravidade desse efeito, como consequncia de um perigo. (Codex Alimentarius).Efectivamente, esta dicotomia basilar compra/consumo acaba por ser a chave mestra na anlise do comportamento do consumidor.

Infelizmente e em prejuzo do rigor necessrio na abordagem desta temtica, h que referir o facto de no existirem estudos recentes relativos percepo dos riscos alimentares, com referncia aos consumidores portugueses, cujo ltimo trabalho data do fim do ano de 2005, (Eurobarmetro) .

No entanto, a maioria dos cidados da Unio Europeia mostra-se preocupada com os resduos de pesticidas na fruta, vegetais ou cereais. A extenso de preocupao dos inquiridos em muitos EM sobre resduos em carne, como antibiticos ou hormonas, similar das preocupaes relativas aos resduos em fruta, vegetais ou cereais, embora o nvel de preocupao seja significativamente mais baixo. (Risk Issues Eurobarometer, 2006).

Podemos, pois, inferir que os portugueses padecem dos mesmos receios e expectativas que os demais europeus.Por outro lado, num estudo efectuado pela Organizao Mundial de Sade, estima-se que, anualmente, 1.8 milhes de pessoas morram devido a doenas diarreicas que, na maioria dos casos, esto ligadas a alimentos ou gua contaminados. A preparao higinica dos alimentos pode prevenir a ocorrncia da maioria destes casos.

Entre os agentes difusores de enfermidades relacionadas com a alimentao, encontramos microrganismos perigosos que podem originar doenas de origem alimentar, nomeadamente, Bactrias Salmonella, Shigella, Campylobacter e E. coli; Parasitas Giardia, Trichinella; Vrus Hepatite A, Norovrus, presentes com mais facilidade nas Fezes; Solo e gua; Ratos, insectos e outras pragas; Animais domsticos e marinhos (ces, peixes, vacas, galinhas e porcos, etc.); Pessoas (intestinos, boca, nariz, mos, unhas e pele) (OMS - Cinco Chaves para uma Alimentao mais Segura: manual (2006).

Para alm do mais, h que ter em linha de conta que, embora o comrcio internacional de alimentos e as viagens proporcionem benefcios sociais e econmicos, podem, igualmente, facilitar a propagao de doenas, pelo que, se torna indispensvel um controlo eficaz da higiene, deteriorao alimentar e suas consequncias na sade e na economia. Assim sendo, agricultores e produtores, manipuladores e consumidores de alimentos tm a responsabilidade de se assegurarem que os alimentos so seguros e aptos para consumo. (Codex Alimentarius . Verso Portuguesa (2003)).

Contudo, o consumidor no , apenas, mais uma pea em toda a engrenagem alimentar. Ao fazer escolhas, mais ou menos conscientes, mais ou menos influenciadas pelo meio social, cultural e institucional que o rodeia, o consumidor tornou-se no centro do debate poltico, influenciando a economia, o ambiente ou as relaes externas entre pases (Gabriel & Lang, 1995) j que, muitas das escolhas de produtos alimentares so feitas em funo dos custos e dos benefcios percebidos, pelo prprio consumidor, ligados a estas escolhas.

Dito de outro modo, o consumidor no pode ser tido como um interveniente totalmente ingnuo nas suas decises de compra/consumo, muito embora, e tal deva ser referido, o seu estado de implicao no seja o mesmo para todas as compras. Quer isto dizer que, como consumidores, nos envolvemos, mais ou menos, de acordo com os nossos centros de interesse ou quando percebemos um risco associado aquisio do bem em causa.

O grau de implicao caracteriza-se quer na recolha e na avaliao de elementos sobre um assunto/produto em causa (natureza cognitiva ou funcional), como na procura de sensaes (implicao emocional ou afectiva) (Moura, 1999), ou seja, os motivos de um estado de excitao podem ser permanentes (implicao permanente) quando o consumidor se envolve de modo contnuo, independentemente da compra. No entanto, interessa, tambm, referir que os produtos podem adquirir simbolismos (reveladores de uma imagem, uma identidade ou um estilo de vida).

Pontualmente, o consumidor poder sentir-se mais implicado na escolha de determinado produto implicao situacional. Neste caso, dizemos que os factores circunstanciais esto em profunda ligao com o risco associado compra. (Moura, 1999) pelo que o consumidor procurar informar-se o melhor possvel de modo a efectuar a melhor escolha, reduzindo o risco.

Posto isto, podemos transpor estas premissas para o consumidor de produtos alimentares. Para o consumidor a qualidade alimentar reflecte os padres objectivos de segurana alimentar, nomeadamente caractersticas higieno-sanitrias, valor biolgico e nutritivo, marca e preo, comodidade na utilizao, facilidade de conservao e de preparao, a que acrescem outros critrios que condicionam a escolha do consumidor. De facto, a maioria esmagadora dos produtos j comporta informao e sensibilizao ao consumidor. No entanto, esta prtica, por si s, no salvaguarda as situaes em que o consumidor desconhece os perigos ou as suas taxas de frequncia, o que tem vindo a provocar, nalgumas situaes de crise alimentar, um desconforto e, de certa forma, animosidade contra os poderes reguladores desta matria e que no cabe neste trabalho mas que daria pano para mangas.

No contexto de compra/consumo de bens agro-alimentares definem-se cinco tipos de risco: O risco financeiro (perda de dinheiro); O risco fsico (consumo); O risco do desempenho; O risco psicolgico ou social; O risco de perda de tempo.

O facto de reconhecer um problema de compra far com que o consumidor, fortemente implicado, recolha e processe informao suficiente e que v de encontro das suas necessidades, o que significa que, se a apreciao global o satisfizer, ento, partir para a compra do produto. No entanto, a fase de consumo pode vir a influenciar futuras compras dependendo do facto de, em funo das suas expectativas, sentir satisfao ou descontentamento ao consumi-lo. De facto, perante uma situao de risco percebido, por exemplo em situao de preocupaes de segurana alimentar, o consumidor tende a reduzir, mudar ou adiar a compra do produto e desenvolve prticas que reduzam a sua insegurana e aceder a produtos que lhe inspirem qualidade. Consideram-se dois tipos de indicadores de qualidade: os intrnsecos (incorporam as caractersticas organolpticas (cor, textura) e higieno-sanitrias do produto, bem como das propriedades fsico qumicas do mesmo e os extrnsecos (marca, preo, imagem de loja, etc.) A figura seguinte ilustra as diversas interligaes que ocorrem entre os atributos associados qualidade (atributos sensoriais, indicadores intrnsecos e extrnsecos) e o impacte que os mesmos tm na inferncia da qualidade alimentar, ou seja, para o consumidor, a qualidade dos produtos alimentares verificada no acto de consumo (quando os alimentos so ingeridos) graas aos atributos de qualidade.

3. ConclusoIngenuamente, talvez, optamos por no nos centrarmos num nico produto. Consideramos que, presentemente, o consumidor assume perante a maioria dos produtos alimentares uma mesma atitude de desconfiana, muito embora as ocorrncias de salmonelose sejam tidas como mais graves para a sade do que, por exemplo, a presena de agro-txicos, baseados sobretudo em aspectos muito pouco objectivos, a que no est alheia toda a informao veiculada nas mdia e que tem vindo a influenciar, positiva ou negativamente, algumas alteraes do comportamento dos consumidores.

Certo que, torna-se claro que h um maior interesse pelo consumo alimentar sustentvel que preconiza uma maior responsabilidade social no processo de deciso de compra, mesmo que cada consumidor no considere o impacto da sua deciso (Eurobarmetro Risk Issues). Esta, quase, ambiguidade pode ser explicada atravs de dois factores preo (10 a 100% mais caros do que os convencionais) e presena dos produtos nos locais habituais de compra que condicionam a compra de produtos alimentares sustentveis factores da envolvente (Cunha e Moura, 2004). Por outro lado, existem os factores prprios do consumidor que encerram valores tais como universalismo, honestidade, idealismo, benevolncia e responsabilidade. Paradoxalmente, no so, por via de regra, estes, os valores que influenciam a compra de produtos alimentares sustentveis mas, to s, a preocupao com a sade, adaptando e ajustando o seu conhecimento/experincia realidade e recorrendo, a outras tcticas/estratgias (indicadores de qualidade e compra de bens agro-alimentares com menor impacte para o ambiente) para fazer as suas compras.Fontes: http://www.maeterra.com.br/site/index.php?mact=News,cntnt01,detail,0&cntnt01articleid=131&cntnt01returnid=60 Moura, A.P. - Captulo 1: Comportamento de compra do consumidor face aos bens agro-alimentares

Manuel Jos Marques Batista - Os Indicadores de Medida da Qualidade dos Produtos Alimentares: ptica do Consumidor - http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/423/1/1.%20Artigo%20Cient%C3%ADfico%20%20PDF.pdf ASAE - Perfil de risco dos principais alimentos consumidos em Portugal (2009) - http://www.fipa.pt/userfiles/file/i005411.pdf Graa, Antnio Pedro Soares Ricardo - Percepo e gesto do risco alimentar em consumidores adultos portugueses (2003) in http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/62545 Codex Alimentarius Verso Portuguesa (2003) in http://www.apicarnes.pt/pdf/segalcodex_.pdf Organizao Mundial de Sade/Instituto Ricardo Jorge - Cinco Chaves para uma Alimentao mais Segura: manual (2006) - http://www.who.int/foodsafety/consumer/manual_keys_portuguese.pdf ASAE - Perfil de risco dos principais alimentos consumidos em Portugal (2009) Pg. 16

Organizao Mundial de Sade/Instituto Ricardo Jorge - Cinco Chaves para uma Alimentao mais Segura: manual (2006)

HYPERLINK "http://repositorio-aberto.up.pt/browse?type=author&value=Graa%2C+Antnio+Pedro+Soares+Ricardo"Graa, Antnio Pedro Soares Ricardo - Percepo e gesto do risco alimentar em consumidores adultos portugueses (2003)

Moura, A.P. - Captulo 1: Comportamento de compra do consumidor face aos bens agro-alimentares

Manuel Jos Marques Batista - Os Indicadores de Medida da Qualidade dos Produtos Alimentares: ptica do Consumidor

Propriedades dos corpos que impressionam os sentidos.

Atributos que, muito embora estejam relacionados com o produto, no fazem parte integrante do mesmo.

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