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16 Caderno do Estudante Quinta-feira 7 de Agosto 2014 | Novas medidas exigem maior qualidade e punem maus resultados O Ministério da Educação avisa que em 2015 se vai registar o fim da “anarquia” nos mais de 700 colégios do país. Promete aplicar regras “duras” aos que não evoluírem e tentarem aumentar a propina sem autorização. Os directores prometem cumprir e sugerem quanto se pode cobrar para se ter um ensino privado de qualidade. Mas há responsáveis a criticar os critérios, sugerindo que só as infra-estruturas “não chegam”. Colégios vão poder subir ou desce Por Edno Pimentel Fotos Mário Mujetes A classificação dos colégios por categorias é um processo que decorre desde 2010. A partir do próximo ano lectivo, todas as escolas privadas em Angola, um total de 706 colégios, vão estar agrupadas e divididas em três classes: A, B e C. Trata-se do cumprimento do despacho do Ministério da Educação (MED) que determi- na a classificação de todas as instituições de ensino particu- lares, tendo em conta as carac- terísticas que estas apresentam (ver caixa). Para o presidente da As- sociação Nacional do Ensino Particular (ANEP), António Pa- cavira, a medida visa “estimu- lar a promoção, uma vez que as instituições de ensino não se podem manter estáticas, o que também vai permitir aos encarregados de educação sa- ber onde e em que condições os seus filhos estudam”. “A tipificação vai dar mais credibilidade ao ensino particular, nenhum pai vai comprar gato por lebre, e vai fazer com que os que investem sistemática e continuamente no ensino se sintam valoriza- dos e reconhecidos”, explica o responsável da ANEP, defen- dendo que “é preciso que os colégios apresentem inovação, os professores sejam continu- amente capacitados, para pro- porcionar um ensino cada vez melhor e formem melhores estudantes”. NÃO BASTAM AS INFRAESTRUTURAS O MED ordena que, para atin- gir a categoria de topo, os co- légios devem ter, entre outras condições, um imóvel em bom estado de conservação, espaço de recreio e de educação física, laboratórios, biblioteca, anfitea- tro e oficinas e turmas com nú- mero de alunos não superior a 35. No entanto, os directores de colégios da classe A alertam que “não basta que a institui- ção tenha boas instalações e outras condições físicas”. Por exemplo, a responsável do co- légio ‘Santa Catarina’, perten- cente à classe A, em Luanda, Teresa Ávila, lembra que, mais do que “salas bonitas e cheias de carteiras, mais do que la- boratórios recheados, é muito mais importante que se aposte na formação dos professores e se avaliem os resultados do seu trabalho, os alunos”. O director do Colégio ‘Ne- val’, também de Luanda, apoia a ideia de Teresa Ávila e alerta que “nem sempre estar na clas- se A define a qualidade da ins- tituição e não deve ser baseada apenas na infraestrutura, pois há colégios com poucas condi- ções, mas apresentam resulta- dos extraordinários”. VALOR MÍNIMO Para António Pacavira, o va- lor da propina, para que um aluno possa receber um ensi- CLASSE A l Imóvel em bom estado de conservação l Espaço de recreio e de educação física, laboratórios, biblioteca, anfiteatro e oficinas l Carteiras e outros meios de ensino em bom estado e em número suficiente l Turmas com número de alunos não superior a 35 l Número de professores efectivos superior a 2/3 do total com formação adequada l Actividades extra-escolares sem acréscimo do valor da propina l Enriquecimento e cumprimento do plano e programa curricula CLASSE B l Imóvel em bom estado de conservação l Espaço para educação física e laboratórios l Carteiras e outros meios de ensino em bom estado e em número suficiente l Turmas com número de alunos não superior a 35 l Número de professores efectivos superior a metade do total com formação adequada l Actividades extra-escolares sem acréscimo do valor da propina l Enriquecimento e cumprimento do plano e programa curricular Fotos Mário Mujetes Teresa Ávila, di- rectora do colégio ‘Santa Catarina’

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Caderno do Estudante Quinta-feira 7 de Agosto 2014 |

Novas medidas exigem maior qualidade e punem maus resultados

O Ministério da Educação avisa que em 2015 se vai registar o fim da “anarquia” nos mais de 700 colégios do país. Promete aplicar regras “duras” aos que não evoluírem e tentarem aumentar a propina sem autorização. Os directores prometem cumprir e sugerem quanto se pode cobrar para se ter um ensino privado de qualidade. Mas há responsáveis a criticar os critérios, sugerindo que só as infra-estruturas “não chegam”.

Colégios vão poder subir ou descer de categoria

Por Edno Pimentel

Fotos Mário Mujetes

A classificação dos colégios por categorias é um processo que decorre desde 2010. A partir do próximo ano lectivo, todas as escolas privadas em Angola, um total de 706 colégios, vão estar agrupadas e divididas em três classes: A, B e C.

Trata-se do cumprimento do despacho do Ministério da Educação (MED) que determi-na a classificação de todas as instituições de ensino particu-lares, tendo em conta as carac-terísticas que estas apresentam (ver caixa).

Para o presidente da As-sociação Nacional do Ensino Particular (ANEP), António Pa-cavira, a medida visa “estimu-lar a promoção, uma vez que

as instituições de ensino não se podem manter estáticas, o que também vai permitir aos encarregados de educação sa-ber onde e em que condições os seus filhos estudam”.

“A tipificação vai dar mais c r e d i b i l i d a d e a o ensino particular, nenhum pai vai

comprar gato por lebre, e vai fazer com que os que investem sistemática e continuamente no ensino se sintam valoriza-dos e reconhecidos”, explica o responsável da ANEP, defen-dendo que “é preciso que os colégios apresentem inovação, os professores sejam continu-amente capacitados, para pro-porcionar um ensino cada vez melhor e formem melhores

estudantes”.

NÃO BASTAM AS INFRAESTRUTURASO MED ordena que, para atin-gir a categoria de topo, os co-légios devem ter, entre outras condições, um imóvel em bom estado de conservação, espaço de recreio e de educação física, laboratórios, biblioteca, anfitea-tro e oficinas e turmas com nú-mero de alunos não superior a 35. No entanto, os directores de colégios da classe A alertam que “não basta que a institui-ção tenha boas instalações e outras condições físicas”. Por exemplo, a responsável do co-légio ‘Santa Catarina’, perten-cente à classe A, em Luanda, Teresa Ávila, lembra que, mais do que “salas bonitas e cheias

de carteiras, mais do que la-boratórios recheados, é muito mais importante que se aposte na formação dos professores e se avaliem os resultados do seu trabalho, os alunos”.

O director do Colégio ‘Ne-val’, também de Luanda, apoia a ideia de Teresa Ávila e alerta que “nem sempre estar na clas-se A define a qualidade da ins-tituição e não deve ser baseada apenas na infraestrutura, pois há colégios com poucas condi-ções, mas apresentam resulta-dos extraordinários”.

VALOR MÍNIMOPara António Pacavira, o va-lor da propina, para que um aluno possa receber um ensi-

CLASSE Al Imóvel em bom estado de conservaçãol Espaço de recreio e de educação física, laboratórios, biblioteca, anfiteatro e oficinasl Carteiras e outros meios de ensino em bom estado e em número suficientel Turmas com número de alunos não superior a 35l Número de professores efectivos superior a 2/3 do total com formação adequadal Actividades extra-escolares sem acréscimo do valor da propinal Enriquecimento e cumprimento do plano e programa curricula

CLASSE Bl Imóvel em bom estado de conservaçãol Espaço para educação física e laboratórios l Carteiras e outros meios de ensino em bom estado e em número suficientel Turmas com número de alunos não superior a 35l Número de professores efectivos superior a metade do total com formação adequadal Actividades extra-escolares sem acréscimo do valor da propinal Enriquecimento e cumprimento do plano e programa curricular

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Teresa Ávila, di-rectora do colégio ‘Santa Catarina’

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Colégios vão poder subir ou descer de categoriano de qualidade, deve ser, no mínimo, de 15 mil kwanzas, e “um colégio que cobre menos do que isso dificilmente pode oferecer um ensino de qua-lidade”. “A criança não deve ficar quatro horas seguidas sentada numa cadeira a estu-dar ou a olhar para o quadro. Ela deve estar munida de um conjunto de materiais e isso, segundo um estudo, custa, pelo menos, 15 mil kwanzas”, defende o responsável. A tran-sição de uma categoria para a outra não vai implicar a altera-ção da propina. Zita de Sousa, chefe do Departamento do En-sino Particular do MED, alerta que caberá apenas ao órgão de tutela regular e ajustar o valor da propina. Por isso, o MED está a elaborar um estudo do custo por aluno na sala de au-las, com o objectivo de saber o valor “razoável” que os co-légios devem cobrar. “A partir de 2015, vamos procurar pôr fim à anarquia que se verifica em muitos colégios que fazem o que querem, cobram preços exorbitantes sem o benepláci-to das autoridades”, avisa Zita de Souza.

POUCOS NA CLASSE AEm todo o país, há 706 escolas do ensino particular. Dessas, apenas aproxi-madamente cem reúnem con-

dições para estarem na classe A. Em Cabinda, por exemplo, estão nessa categoria os colé-gios ‘Tchissola’ e ‘Latino’; em Benguela, o ‘Pim Pam Pum’, ‘Gustave Eiffel’, ‘Sessá’; no Hu-ambo, o colégio ‘Renascença’; em Luanda, o ‘Santa Catarina’, ‘Pitabel Jardim de Rosas’, Al-pega’, ‘Jacimar’, entre outros. Os colégios da categoria C, que não reunirem as condições mí-nimas exigidas em dois anos após a última inspecção, po-dem ser encerrados. Já os das categorias A e B que retrocede-rem, ou seja, que piorarem as suas condições podem baixar de classe.

CLASSE Cl Imóvel em deficiente ou mau estado de conservaçãol Carteiras e outros meios de ensino deficiente ou em mau estado de conservação e em número insuficientel Ministra níveis ou cursos sem autorizaçãol Turmas com número de alunos superior a 35l Número de professores efectivos inferior à metade do total com formação adequadal Falta de espaços para educação físical Insuficiência de laboratório

Ciência e Tecnologia

A Ministra da Ciência e Tecnologia, Maria Cândida Teixei-ra, defendeu que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) “buscam maior dinamização das me-todologias de alfabetização e pós-alfabetização”.

Segundo a dirigente, que participou numa palestra sob o tema ‘Importância de Educação, Ciência e uso de novas Tecnologias no Contexto Angolano’, o Ministério da Ciên-cia e Tecnologia (MINCT) está a preparar, em parceria com a Unesco, um projecto-piloto designado Centros Comu-nitários de Aprendizagem para o Desenvolvimento (CE-CAD), para alfabetização e pós-alfabetização com recurso às TIC, em Luanda e no Huambo.

Cândida Teixeira defendeu que as TIC exercem um papel “relevante” no sistema educativo do país, “propor-cionando novos objectivos para a educação que emergem uma sociedade de informação e da necessidade de exercer uma cidadania participativa, crítica, interveniente e valo-rizando o trabalho cooperativo”.

O Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), em Luanda, vai outorgar diplomas a mais de 286 mestres e licen-ciados, a três e quatro de Setembro, nas suas novas instala-ções na cidade do Kilamba.

Os diplomas vão ser entregues a finalistas de vários cur-sos ministrados naquela instituição de ensino superior como Línguas e Literaturas (Português, Francês, Inglês e Africa-nas), Pedagogia, Psicologia, Filosofia, Matemática e História.

O ISCED/Luanda é, desde Junho de 2012, uma instituição do ensino superior autónoma científica, pedagógica, admi-nistrativa e financeiramente. Tem um centro de estudos e in-vestigação em Ciências da Educação, oito departamentos de ensino e investigação, oito cursos de licenciatura e cinco de mestrado, mais de 3.000 estudantes e mais de 200 docentes.

Ministra defende TIC na Educação

ISCED-Luanda outorga diplomas

António Pacavira, presidente da ANEP

Eduardo Ramiro, director do colégio ‘Neval’

A tipificação dos colégios vai dar mais

credibilidade ao ensino particular e nenhum pai vai comprar gato por

lebre.

Não se deve basear apenas na estrutura. Há colégios com poucas

condições, mas com resultados extraordinários.

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