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Economia Brasileira

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Economia Brasileira

Material teórico

Responsável pelo Conteúdo:

Prof. Ms. Nelson Calsavara Garcia Junior

Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli

II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

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Para o bom andamento dos trabalhos, será fundamental o seu envolvimento e interesse, por meio da leitura completa da bibliografia proposta (ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, Capítulo IV (Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951, páginas 105 a 122), por meio de contato com o professor para o esclarecimento de dúvidas ou, ainda pela resolução das tarefas propostas, audição do arquivo em PowerPoint, leitura do conteúdo proposto e do material complementar.

A leitura integral da bibliografia é fundamental e deve ser feita antes da utilização de quaisquer recursos que foram colocados à sua disposição. Com isso, haverá por sua parte um entendimento inicial e você deverá utilizar os demais os recursos para complementar e ou facilitar a compreensão da bibliografia em questão.

Outro ponto importante é o cumprimento de prazos na realização das tarefas. Ainda que você tenha à sua disposição o melhor computador e um provedor de alta velocidade para acesso à Internet, lembre-se de que esses equipamentos, às vezes, apresentam problemas, sem contar com a queda de energia e assim por diante. Por isso, evite deixar para entregar suas atividades no último dia, na última hora.

II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

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O estudo desta unidade tem início ainda no governo do presidente Getúlio Vargas,

mais especificamente no período da II Guerra Mundial e segue até o fim do

Governo Dutra em 1951. Dentre todas as unidades dessa disciplina, esta é uma das

ricas em termos da discussão de ideologias e posicionamentos políticos, além da

análise do mandato do governo do presidente Dutra. Para o aproveitamento total

do conteúdo proposto nessa unidade, o aluno deverá inicialmente efetuar a leitura

completa da bibliografia sugerida. Em seguida, o aluno deverá (toda vez que julgar

necessário) entrar em contato com o professor para que as dúvidas sejam

esclarecidas. Feito isso, o aluno estará apto para executar as atividades que serão propostas ao longo do estudo da unidade.

• Governo Dutra: política econômica e industrialização

• A defesa da industrialização: as ideias econômicas do pós-guerra

• A queda do presidente Vargas

• II Guerra mundial e a industrialização

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U n i d a d e : II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

Com o início da II Guerra Mundial, tornava-se cada vez mais importante que o governo do presidente Getúlio Vargas apoiasse uma das duas principais nações: EUA ou Alemanha. Apesar da necessidade, o presidente conseguiu adiar, ao máximo, sua posição e, com isso, barganhou o financiamento de um parque siderúrgico para o País. Os ataques a navios brasileiros foram fomentadores de agitações populares que, ao longo dos anos, ganharam força política, exigindo eleições e o fim da repressão.

Os EUA apoiaram a realização das eleições e Vargas ganhava em popularidade, até que obedecendo à hierarquia militar, o Chefe de Polícia do Rio de Janeiro proibiu as manifestações populares. Vargas entendeu que isso fora uma medida contra a sua candidatura e demitiu o Chefe de Polícia, nomeando seu irmão para o cargo. A partir desse momento perdeu o apoio dos EUA e destituído do poder. A eleição para Presidente da República ocorreu e foi vencida pelo General Dutra.

Ao longo desse período um debate muito interessante sobre qual seria a fórmula ideal para assegurar a industrialização do País foi apresentado por ideais liberais, intervencionistas, socialistas e cepalinos. A respeito do Governo Dutra, os aspectos mais importantes foram: a desmontagem da ilusão liberal, a doutrina Truman e a adoção do Plano Marshall pelos EUA, o comportamento da inflação, a adoção de política contracionista e seu abandono em 1949, evolução do déficit público, o Plano SALTE, a Missão ABBINK, entre outros.

Contextualização

Fonte: en.wikipedia.org | Momentos da Segunda Guerra Mundial

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O período que antecede a II Guerra Mundial foi marcado pela aproximação das relações do Brasil com a Alemanha e também com os EUA. Na verdade, o leitor poderá constatar adiante que o objetivo maior foi apoiar a nação que oferecesse algum tipo de contrapartida financeira.

Em termos mais específicos o presidente buscava obter junto a essas nações ajuda econômica para a implantação de um parque siderúrgico no país, que o próprio chamou de "aspiração nacional".

Um exemplo da aproximação brasileira para com a Alemanha foi notado no total das importações brasileiras, que cresceu de 11,4% para 24% no intervalo de 1930-1937. Isso tornou a Alemanha o maior comprador de algodão e o segundo mercado para o café e o cacau brasileiro.

Além disso, a dependência dos militares brasileiros da Alemanha, em matéria de doutrina e de armamento, foi praticamente total. Essa relação ficou mais intensa quando em janeiro de 1939, o general Góis Monteiro1 foi convidado por Hitler, para visitar Berlim.

Por outro lado, tendo em vista as relações com Estados Unidos, o valor das importações brasileiras foi reduzido pela metade no mesmo período. Entretanto, é importante ressaltar que esse fato deveu-se em parte pelos efeitos da crise iniciada em 1929. Ademais, algumas decisões tomadas pelo governo brasileiro após o golpe de 1937 contribuíram para esfriar essa relação, originando atrito com os credores americanos, tais como: suspensão do pagamento da dívida externa e o estabelecimento do controle cambial.

Seguramente o governo do presidente Vargas contou com defensores da aproximação brasileira das duas nações. Mesmo com o início do conflito, o presidente fez questão de manter uma posição neutra, manifestada publicamente em setembro de 1939 juntamente com todas as nações do continente na reunião do Paraná.

O desenrolar desse imbróglio foi finalmente conseguido após longa negociação somente no fim de setembro de 1940, quando o Export Import Bank (Eximbank) assumiu o compromisso de financiar o que iria ser Volta Redonda, o parque siderúrgico nacional.

Com o objetivo principal alcançado, o governo brasileiro iniciou a aproximação da hierarquia militar brasileira com os Estados Unidos, porém havia uma preocupação por parte do governo de Vargas: resistência à presença de tropas americanas no país, pois havia uma incerteza muito grande sobre qual seria o posicionamento da Alemanha sobre esse fato, ainda que os americanos fornecessem material bélico.

1 O general Góis também foi convidado pelo chefe do Estado-Maior do Exercito americano, no mesmo período, para visitar Washington.

1- II Guerra mundial e a industrialização

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U n i d a d e : II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

Mesmo com essa preocupação dirimida, o governo de Vargas não sabia ao certo em 1941 qual seria o desfecho da guerra. Por isso, o governo brasileiro manteve negociações com o embaixador alemão para tentar obter créditos para o parque siderúrgico nacional.

Após o ataque japonês a Pearl Harbor (no fim de 1941) o governo americano entrou de vez na guerra e no mês seguinte foi realizada no Rio de Janeiro a III Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas. Devido à negativa de apoio argentino aos EUA, o Brasil ganhou posição de destaque.

Em termos práticos, os americanos esperavam atingir com essa reunião três objetivos, a saber:

obter o rompimento de todo o continente com os países do Eixo;

tornar efetiva a cooperação militar;

garantir o suprimento de matérias-primas estratégicas.

A partir desse momento, o governo brasileiro negociou o apoio baseado em garantias militares, liberação dos recursos para à construção do parque siderúrgico em Volta Redonda e também um conjunto de medidas de ordem comercial2 para atender as demandas do governo americano.

Com a aproximação político-econômica dos EUA, o governo de Vargas solicitou a realização de um diagnóstico da econômica brasileira, efetuado pela Missão Cooke.

2 Acordos de Washington assinados em março de 1942. Com isso, o governo brasileiro tentou estender a aliança para o cenário político-econômico na tentativa de estabelecer uma aliança privilegiada.

Você já ouviu falar sobre os Acordos de Washington? É um bom momento para fazer uma pesquisa.

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Você sabe o que foi recomendado pela Missão Cooke? É uma boa hora para realizar uma pesquisa.

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Os desfechos da guerra todos conhecem, porém algo que poucos imaginavam inclusive o próprio presidente Vargas, era que a proximidade com os EUA seria um fator decisivo para que em futuro breve, o mesmo deixasse o poder.

Após a negociação do apoio aos EUA, foram percebidas no país várias manifestações populares (principalmente passeatas, chegando em alguns casos até a pilhagem de estabelecimentos comerciais alemães) e, como resultado dos embates envolvendo, por exemplo, navios brasileiros, sobretudo após 1942.

Um dos exemplos mais relevantes foi o ataque ao navio Cairu, imediatamente após a assinatura dos Acordos de Washington. Esse ataque desencadeou a pilhagem (por parte dos manifestantes) de alguns estabelecimentos comerciais na cidade do Rio de Janeiro.

Nesse período, as passeatas tornaram-se comuns, de fato representavam uma resposta (principalmente da classe estudantil) aos ataques realizados pelos alemães aos sequentes afundamentos das embarcações brasileiras.

As manifestações populares foram ganhando corpo, se espalhando pelas principais cidades do país e cobrando ações do governo. A grande questão por trás desses movimentos3 foi que as classes populares passaram a debater não somente o papel do país no conflito, mas também a necessidade do fim do fascismo (debate político).

Com o aumento das manifestações populares, o Estado teve que enfrentar dois problemas ligados a defesa da democracia: primeiro atender a cobrança da população para o envio de tropas para retaliar a Alemanha e o segundo para devolver para a população a democracia que fora retirada desde a instauração do Estado Novo.

À medida que as manifestações populares se intensificavam, o governo promovia a repressão policial, que desencadeava novos conflitos. Como exemplo, pode-se citar que em novembro de 1943, o protesto iniciado no Centro Acadêmico da Faculdade de Direito de São Paulo, resultou em duas mortes e em alguns feridos.

Essa conjuntura teve o ápice quando o Ministro das Relações Exteriores (Osvaldo Aranha) aderiu ao movimento Sociedade dos Amigos da América. Em represália o governo

3 Como exemplo, seguem a Sociedade dos Amigos da América e Liga de Defesa Nacional.

2- A queda do presidente Vargas

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U n i d a d e : II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

ordenou o fechamento da associação para impedir sua posse, fato que foi retaliado com a renúncia ao cargo de ministro.

A renúncia do ministro e também a publicação no jornal Correio da Manhã de uma entrevista de José Américo (ex-candidato à presidência da república) sem submetê-la a censura foram golpes certeiros para forçar o governo a promover o retorno da democracia.

Na tentativa de apaziguar os ânimos e não perder o controle, o governo estipulou em fevereiro de 1945 que dentro de noventa dias seria agendada uma data para a realização de novas eleições, além da constituição dos partidos políticos.

Até então, o presidente da república passava a imagem de que o mesmo seria novamente candidato ao pleito e tinha como forte concorrente o candidato militar Eurico Gaspar Dutra.

Com a restauração dos partidos políticos, o partido comunista ganhou representatividade. Mesmo assim o apoio americano era evidente e foi externalizado pelo embaixador norte-americano no Brasil, por dois motivos:

porque as relações dos Estados Unidos com a União Soviética não haviam ainda entrado na fase da guerra fria;

por entender que a mobilização política poderia constituir um elemento de pressão para que as elites dirigentes brasileiras realizassem reformas sociais no país.

Todo apoio americano ao governo do presidente Vargas foi baseado em um único pilar: a realização das eleições livres. Enquanto eles acreditaram que o presidente iria promovê-la o apoio ocorreu, mas a partir do momento que começou a pairar dúvidas sobre o posicionamento do presidente sobre esse quesito, o apoio cessou.

A desconfiança da realização das eleições presidenciais tornou-se mais fortes, devido o incidente ocorrido no Rio de Janeiro, quando o chefe de polícia (por determinação militar), proibiu a realização de manifestações populares, inclusive daquelas pró-vargas. Isso resultou na demissão do chefe de polícia do Rio de Janeiro e Benjamim Vargas (irmão do presidente) foi rapidamente nomeado ao cargo.

Esse incidente pôs fim ao mandato do presidente (os militares entregaram o poder ao presidente do Supremo Tribunal Federal, que convocou as eleições e o novo presidente foi eleito), pois a posição do mesmo foi interpretada como um ato de hostilidade à democracia, em outras palavras, a necessidade de se manter no poder contando com pessoas de sua confiança.

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O fim do conflito internacional, complementado pelo fim da “era Vargas” trouxe consigo a análise de qual modelo de industrialização deveria ser adotado no Brasil. Para tanto, será apresentado à defesa das principais escolas do pensamento econômico, levando em consideração o momento histórico.

3.1) Introdução

Com efeito, a análise deve começar pouco antes do término da II Guerra Mundial, mais especificamente em 1944, quando da assinatura do Acordo de Bretton Woods. Você sabe o que foi contemplado nesse acordo? É uma oportunidade para elaborar uma pesquisa sobre o assunto.

Em termos práticos (e de modo sucinto) o objetivo desse acordo era de “congelar” a hegemonia americana sobre o restante das nações capitalistas e evitar que as economias (americanas e europeias) fossem seduzidas pelo regime socialista, defendido pela URSS.

Paralelamente a essa questão, o país apresentava a seguinte conjuntura, a saber:

a) queda do consumo privado;

b) aumento do investimento público;

c) acúmulo de reservas internacionais;

d) pressão inflacionária;

Dada essa conjuntura, qual seria o “modus operandi” correto a ser adotado para assegurar ao país, o desenvolvimento, crescimento econômico, emprego, educação, e assim sucessivamente?

É justamente com o propósito de atender essa questão, que será apresentada uma revisão das ideias econômicas das principais escolas do pensamento econômico brasileiro.

3- A defesa da industrialização: as ideias econômicas do pós-guerra

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3.2) Os pensamentos econômicos no pós-guerra

a) liberais: defendiam a necessidade de um governo que tivesse um comportamento mais austero e o país deveria se especializar onde possuía vantagens comparativas. Para tanto, deveria utilizar políticas fiscais, monetárias e creditícias restritivas, desvalorização do câmbio, medidas energéticas contra a inflação. Além disso, demonstravam preocupações com a agricultura, educação, transporte e eficiência na administração pública;

b) intervencionistas: propunham a participação do governo nas indústrias básicas e em setores de infraestrutura, aumento do crédito, medidas protecionistas, porém sem desvalorizar o câmbio, aumentos seletivos de impostos à importação, eram favoráveis ao planejamento e a utilização de 50% das reservas e empréstimos para a realização de investimos da ordem de 700 milhões de dólares;

c) CEPAL: a comissão econômica para a América Latina e o Caribe foi fundada e dirigida de 1949 a 1963 pelo economista argentino Raúl Prebisch. Em suma, a preocupação foi de formular teorias econômicas adequadas à realidade dos países latino americanos, utilizando o modelo keynesiano, ainda que parcialmente.

c.1) Conceitos defendidos por Prebisch:

- centro-periferia: expressava a relação de dominação (poder) através da deterioração dos termos de troca, transferida dos meios de produtividade, perpetuando a situação de inferioridade;

- industrialização por substituição de importações: os choques externos criaram condições para que países da América Latina iniciassem a industrialização, por meio da produção interna, com redução das importações;

- desenvolvimento e industrialização: ele entendia que o planejamento rejeitava a divisão internacional do trabalho. Os países periféricos tinham que exportar produtos agrícolas e importar bens e serviços dos países centrais, devido às vantagens comparativas. Além disso, defendeu a intervenção ativa do Estado para o planejamento, como agente coordenador do desenvolvimento e industrialização. As estruturas produtivas dos países periféricos eram heterogêneas e especializadas, resultando em sensíveis diferenças entre o setor exportador que possuía alta produtividade, porém pouco dinamismo e o setor interno, caracterizado pela baixa produtividade e baixo desenvolvimento;

- os países periféricos apresentavam quatro tipos de problemas: o desemprego com formação de economias de subsistência e excedente de mão de obra, a deterioração dos meios de troca, o desequilíbrio externo e a inflação.

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c.2) Análise do principal texto escrito Prebisch:

- O desenvolvimento econômico na América Latina, publicado em 1949 em português antes da publicação em espanhol.

- houve a mudança de hegemonia passando da Inglaterra para os EUA. A Inglaterra possuía características de uma economia mais aberta;

- tese da deterioração dos termos de troca: foi uma crítica a Teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, devido a menor capacidade de incorporação de tecnologia. Prebisch testou essa teoria com dados da ONU (Organização das Nações Unidas) nos períodos de 1876/80 a 1946/47, derrubando a teoria de Ricardo.

c.3) Oswaldo Sunkel (economista chileno cepalino):

- identificou falso dilema entre o desenvolvimento econômico e inflação, sendo que após o desenvolvimento a estabilidade econômica surgiria. As pressões inflacionárias existentes nas economias periféricas poderiam ser de três tipos: estruturais nos setores onde a oferta é menor que a demanda, circunstanciais, como guerras, secas, geadas, e assim sucessivamente, e ainda induzidas ou cumulativas, quando derivadas do próprio processo inflacionário;

- os mecanismos de propagação da inflação tinham relações com as ideias de inflação inercial, pois no início do processo inflacionário os trabalhadores pedem aumento de salário e os empregadores repassam o custo para o preço do produto (preços finais). Além disso, apresentavam características estruturais, devido ao pouco dinamismo do setor exportador. Segundo ele, o setor agrícola não funciona como o setor industrial e quando ocorrem oscilações nos preços, o processo é muito lento.

c.4) Ricardo Bielschowsky (economista da CEPAL):

- estudou o pensamento econômico brasileiro no período de 1945-1964. Segundo ele, o conceito de desenvolvimento, tinha relação com o projeto de industrialização com planejamento central e suporte estatal. No país havia cinco grandes correntes de pensamento, sendo três desenvolvimentistas, uma liberal e uma socialista. A diferenciação entre elas era o entendimento sobre o modo de gerir o processo econômico brasileiro, possuíam corpos analíticos distintos e possuíam instituições e órgãos de divulgação próprios;

c.4.1) Características da corrente liberal: enfocavam as forças de mercado e eficiência econômica, normalmente não se opunham abertamente à industrialização, não faziam oposição (ou omissão) quanto às propostas desenvolvimentistas, contrários ao

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protecionismo (redução de tarifas), tolerantes em relação ao planejamento parcial, enfaticamente contrários à empresa estatal e favoráveis a estímulos provenientes do capital externo. A preocupação maior era o equilíbrio monetário e financeiro;

c.4.2) Desenvolvimentistas do setor privado: defendiam uma posição antiliberal e desenvolvimentista, eram favoráveis ao apoio estatal para a acumulação privada, ao planejamento e ao protecionismo. Moderadamente favoráveis à empresa estatal. Sobre o capital externo eram favoráveis, mas com controles;

c.4.3) Desenvolvimentistas do setor privado não nacionalista: defendiam o apoio estatal à industrialização, tinham preferências por soluções privadas nas disputas sobre inversões estatais, inclinação pela política de estabilização monetária desde que não prejudicassem os investimentos essenciais, favoráveis ao planejamento parcial, ao protecionismo e sobre o capital externo defendiam os estímulos;

c.4.4) Desenvolvimentistas do setor privado nacionalista: defendiam soluções estatais para investimentos em setores estratégicos (mineração, energia, transporte, telecomunicações e algumas indústrias básicas), opositores de políticas de estabilização, enfaticamente favoráveis ao planejamento e a empresa estatal, favoráveis ao protecionismo e entendiam que uma alternativa ao investimento público eram os investimentos externos, dada a fragilidade do capital nacional;

c.4.5) Corrente socialista: possuía vinculação com o partido político PCB, defendiam a industrialização e a intervenção estatal, entendiam que desenvolvimento das forças produtivas era necessário para a transição ao socialismo, pregavam a luta antifeudal e anti-imperialista. Favoráveis ao protecionismo, com destaque a empresa estatal e o planejamento. Por último, contrários sobre o capital estrangeiro (exceto capital de empréstimo).

Com a eleição do presidente Eurico Gaspar Dutra, para o período de 1946-1951, a expectativa era muito acentuada, pois todos aguardavam como seria a condução da economia no retorno a um período democrático. No contexto econômico, houve dois marcos relevantes:

a) fim do mercado livre de câmbio e adoção de um sistema de contingenciamento;

b) afastamento do Ministro da Fazenda (Correa e Castro em 1949) devido à adoção de política econômica contracionista e ortodoxa e a necessidade de maior flexibilidade nas metas fiscais e monetárias.

4- Governo Dutra: política econômica e industrialização

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Além desses marcos importantes, houve uma ruptura significativa relacionada com a “Desmontagem da ilusão liberal”. Esse conceito refere-se á ideia de que a condução política dos países seguir os pressupostos liberais, defendidos pela economia americana, como:

a) princípios liberais de Bretton Woods (já apresentados no início do texto);

b) adoção em 1947 da Doutrina Truman: anunciada pelo presidente dos EUA e teve como principal elemento o Plano Marshall: um projeto de recuperação econômica dos países que estiveram envolvidos na II guerra mundial, sobretudo países europeus, para evitar o avanço socialista defendido pela URSS, assegurando hegemonia política. Em termos práticos, os americanos ofereceram matérias-primas, produtos e capital, na forma de créditos e doações. Em contrapartida, o mercado europeu evitou impor quaisquer restrições às atividades das empresas norte-americanas;

c) ocorreu a exclusão dos comunistas dos governos francês e italiano;

d) no Brasil foi decretada a ilegalidade do partido comunista;

e) ocorreu o aporte de volumosos recursos e postergação da livre conversibilidade de moeda motivada por desvalorizações cambiais em relação ao dólar e a discriminação contra produtos norte-americanos;

Tendo em vista o início do mandato, o governo contava com expectativas favoráveis quanto à situação externa, motivadas pela reorganização da economia mundial (segundo Bretton Woods) e também pela esperança de alta nos preços do café, pois em junho de 1946 foi abolido o preço teto desse produto.

Além dessas expectativas um fato interessante que marcou o governo do presidente Dutra foi o conceito de “Ilusão de divisas”, já que o mesmo entendia que:

a) possuía situação aparentemente confortável quanto às reservas;

b) julgava-se credor dos EUA pelo apoio na guerra;

c) praticava política liberal de câmbio iria atrair investimentos externos, como solução duradoura para o potencial desequilíbrio do balanço de pagamentos.

Para Pensar

Em virtude desse panorama, surge uma pergunta interessante: essas práticas podem ser consideradas liberais? Qual é a sua opinião?

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Apesar do panorama otimista, a inflação era um dos problemas mais graves. Isso porque até 1949 a política econômica adotada pelo governo Dutra foi considerada como ortodoxa, contendo fortemente o investimento público, reduzindo as emissões de moeda e também com a contenção de crédito efetuada pelo Banco do Brasil.

A política ortodoxa adotada pelo governo surtiu efeitos positivos, pois em 1947 o PIB cresceu 2,4% e a inflação recuou para 9%. No ano seguinte, o PIB cresceu 9,7% puxado pelo aumento do crédito de 4%, ocasionando crescimento industrial e a inflação ficou em 5,9%.

O ano de 1949 apresentou uma reversão na condução da política econômica, que até então fora considerada ortodoxa ou contracionista. O abandono dessa política resultou no crescimento da inflação (cresceu 8,1% e em 1950, 9,2%). Tal fato pode ser atribuído a três motivos:

a) proximidade das eleições presidenciais;

b) política creditícia do Banco do Brasil que resultou no aumento de crédito de 7,0% em 1949 e 5,0% em 1950;

c) fim da ilusão liberal e com isso, as razões para manter uma política ortodoxa.

Outra preocupação do governo foi com o déficit orçamentário. Para combatê-lo foi adotada política fiscal e monetária contracionista, além da implantação do Plano Salte que buscava a coordenação dos gastos públicos para obras em infraestrutura, saúde e alimentação.

Mesmo com a adoção de medidas contracionistas em 1946 ocorreu um grande déficit público, em razão do aumento de vencimentos e salários do funcionalismo público, com o resultado de Cr$ 2.633 milhões.

Nos anos de 1947 e 1948, com a adoção de políticas fiscais e monetárias contracionistas, a contenção do investimento público, os resultados foram de Cr$ 460 milhões e Cr$ 3 milhões.

Para o biênio 1949-1950 o déficit no orçamento registrado foi de Cr$ 2.810 milhões e Cr$ 4.297 milhões.

Diálogo com o Autor

“O Governo Dutra havia apoiado os projetos de desenvolvimento do país nas suas esperanças de captação de recursos externos através da assistência financeira oficial dos Estados Unidos e no futuro afluxo de capitais privados internacionais”. (ABREU, 2004)

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Já a condução da política cambial e de comércio exterior adotada pelo governo foi marcada inicialmente pelas seguintes características:

a) adoção da mesma paridade cambial de 1939: Cr$ 18,50/US$;

b) foram abolidas as restrições vigentes, liberando então o mercado.

A justificativa para a adoção dessas medidas ocorreu devido o diagnóstico de demanda contida de matérias-primas e bens de capital devido o período de guerra, portanto era necessário o reequipamento da indústria. Ademais, a política anti-inflacionária do período resultou na queda de preços dos bens de consumo, por meio do aumento da oferta de produtos importados.

Com essa política o governo perseguiu o objetivo de ser compatível com a ideologia liberal predominante e com os compromissos internacionais do país, estimulando a entrada de capitais.

Anteriormente já foi atribuído ao governo o conceito da ilusão de divisas e isso se deve ao fato do mesmo entender que possuía uma situação confortável sobre elas. Entretanto o que foi realmente percebido foi que havia uma falsa apreciação da situação das reservas internacionais, pois no fim de 1946, o governo contava com um total de US$ 730 milhões, sendo que:

a) US$ 273 milhões estavam divididos em libras esterlinas bloqueadas de fato e em moedas inconversíveis;

b) US$ 365 milhões correspondiam à quantia de ouro depositado nos EUA, considerada reserva estratégica para emergências futuras;

c) US$ 92 milhões: moedas inconversíveis.

Essa situação pode ser explicada devido à prática de superávits comerciais com a área de moedas inconversíveis e déficits crescentes com os EUA e com outros países de moeda forte. Um exemplo disso pode ser notado em 1947, pelo déficit de US$ 300 milhões, sendo que 60% desse montante referiam-se a importações de produtos dos EUA.

Além disso, outro fator de peso para esse resultado negativo foi a contribuição da manufatura no resultado das exportações, devido ao início de um movimento decrescente, passando de 20%, em 1945, para 7,5%, em 1946, e 1% em 1952.

No tocante as importações, que eram uma fonte para o reequipamento da indústria, tiveram um aumento de preços de 75% em 1947. Isto também ajuda a explicar o resultado apresentado.

Para buscar a reversão dessa conjuntura, a partir de julho de 1947, foram instituídos controles cambiais e de importações, por meio dos quais os bancos que operavam em câmbio foram obrigados a vender ao Banco do Brasil, 30% de suas compras, a taxa oficial de compra.

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O Banco do Brasil forneceria câmbio de acordo com um escala de prioridades que privilegiava produtos essenciais. Em 1948 o controle ficou ainda mais rigoroso com o contingenciamento das importações, baseado na concessão de licenças prévias.

O resultado dessa prática foi um déficit de US$ 313 milhões em 1947, que foi reduzido para US$ 108 milhões em 1948 e em 1949 foi transformado em superávit de US$ 18 milhões.

Pode-se destacar que fatores decisivos para esses resultados foram:

a) quedas dos preços de importações de 23% em 1949 e no ano seguinte ainda houve uma redução de mais 9,7%, devido à recessão da economia americana em 1949;

b) redução das importações originárias da área de moeda conversível, caindo de US$ 923 em 1947, para US$ 527 milhões em 1950.

Especialmente para explicar o resultado da balança comercial em 1949, um ponto importante foi recuperação dos preços internacionais do café, decorrente das fortes geadas de 1947/48 nos EUA e também o aumento de consumo pelos americanos.

Nesse momento o governo decidiu manter a paridade cambial, porém essa medida seguiu em rota de colisão com os importadores americanos. Isso porque eles estavam contando com a desvalorização do cruzeiro para o reabastecerem os estoques.

Quando esses compradores tiveram a notícia que o governo brasileiro não tinha mais estoques de café, eles então passaram a efetuar grandes compras, prática que forçou a alta do preço do café.

A prática de manutenção da paridade cambial, mantendo o câmbio valorizado causou um efeito negativo: a inflação interna. Com isso, as exportações brasileiras estavam pouco atrativas, resultando em perda de competitividade para os demais produtos.

Por fim, o controle de importações e a política de crédito do Banco do Brasil incentivaram a substituição de importações. De 1947 a 1950, o crédito real à indústria cresceu 38%, 19%, 28% e 5%, respectivamente.

Diante desse contexto, deve-se ressaltar que mesmo sem surtir todos os efeitos desejados, foi implantando na economia brasileira o Plano Salte. Esse plano econômico, apesar de contar com a iniciativa de desenvolvimento de setores considerados chaves para o crescimento que iniciariam a partir de 1949 com duração até 1953, não possuía fontes de financiamento claras, foi aprovado somente um ano depois pelo Congresso (1950), teve implementação fragmentada e foi abandonado em 1951.

“A única tentativa de intervenção planejada do Estado para o desenvolvimento econômico, porém, foi o Plano Salte”. ABREU (2004)

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Além da tentativa de buscar o desenvolvimento de setores importantes da economia por meio da implantação de um plano econômico, o governo ainda buscou a ajuda externa em 1948, por meio da Missão Abbink.

Essa missão representou momento de definição na política internacional brasileira em 1948, pois o relatório que a Comissão Técnica Mista Brasil-Estados Unidos formulou continha três pontos principais: reorientação dos capitais formados internamente, o aumento médio da produtividade e a atração de capitais privados internacionais.

A partir da eleição do Presidente Truman (EUA), a possibilidade de obtenção de ajuda externa suficiente para contornar os problemas internos tornou-se cada vez mais distante. Somente com o início da Guerra da Coréia foi que os EUA passaram a olhar para essa questão com maior interesse.

Para encerrar a análise desse período, notou-se que algumas questões presentes ficaram pendentes até 1961, tais como:

a) dificuldades no Balanço de Pagamentos;

b) política governamental necessitava modernizar e aumentar a taxa de crescimento da economia

c) sobre o comércio exterior as exportações estiveram representadas por um pequeno número de produtos primários, como o café, cacau, açúcar, algodão e fumo. Já as importações ficariam marcadas pelas reduções de bens de consumo industrializados e aumento de bens de capital e intermediários (combustíveis);

d) o padrão de consumo do mercado mundial para as exportações tradicionais do Brasil dos anos 50 era visto com grande pessimismo, pois foi percebida a redução na participação do Brasil no mercado mundial de suas principais mercadorias. Além disso, havia uma tendência mundial de longo prazo de queda dos preços de alimentos e matérias-primas e a redução da participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial.

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U n i d a d e : II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, capítulo IV (Política Econômica Externa e Industrialização: 1946-1951, páginas 105 a 122).

BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento Econômico Brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1988.

DIB, Maria de Fátima Serro Pombal. Importações brasileiras: políticas de controle e determinantes da demanda. Rio de Janeiro: BNDES, 1985, capítulo II (somente os itens 2.1 e 2.2) e III (item 3.1 até a página 66). Disponível no site: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/premio/pr81.pdf FIGUEIREDO, Ferdinando. As transformações do pós-guerra e o pensamento econômico da CEPAL. Revista de Economia Política, vol. 10, n. 4 (40), out./dez. 1990, p. 138-150. Disponível no site: http://www.rep.org.br/pdf/40-9.pdf

FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Contraponto – Centro Internacional Celso Furtado, 2009.

MANTEGA, Guido. A Economia Política Brasileira. São Paulo: Polis; Petrópolis: Vozes, 1984.

PREBISCH, Rául. El desarrolo econômico de La América Latina y alguns de SUS principales problemas. Santiago de Chile: Comisión Económica para América Latina y el Caribe, 1949.

Material Complementar

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Anotações

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U n i d a d e : II Guerra Mundial, industrialização no pós-guerra e política econômica no governo de Dutra

ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica Republicana, 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 2004, Capítulo II (Apogeu e Crise na Primeira República: 1900-1930). Páginas 73 a 104.

BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento Econômico Brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1988.

Referências