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  • 8/18/2019 Notificação de Marco Aurélio Carone ao PGR Rodrigo Janot.pdf

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    Exmo. Sr. Procurador Geral da Republica – Brasília-DF

    Prezado Senhor,

    Marco Aurélio Flores Carone, inscrito no CPF sob o nº XXXXXXXXXXX e C.I.

    XXXXXXXXX SSP-MG, residente na Rua XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX,  Belo

    Horizonte, MG, jornalista e proprietário do portal eletrônico jornalístico denominado

    “Novojornal”, vem realizar a seguinte 

    Notificação

    Para que cumpra seu dever institucional, sob pena de representação por Crime de

    Responsabilidade junto ao Senado Federal, na forma do art. 40 e seguintes da Lei nº1.079/50

    O notificante foi preso preventivamente, em janeiro de 2014, a pedido do MPMG,

    permanecendo nesta condição por nove meses e vinte dias na Penitenciária de

    Segurança Máxima Nélson Hungria no município de Contagem, Minas Gerais, tudo, sem

    qualquer condenação. A justificativa: “manutenção da ordem pública e no intuito de

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    evitar que fosse publicado matérias que poderiam interferir nas eleições

    presidenciais” . Foi solto três dias após a eleição por: “ excesso de prazo” . 

    Dez dias antes de sua prisão, surpreso, o requerente foi visitado pela senhora Andréa

    Neves, irmã do Senador Aécio Neves em seu portal jornalístico. O intuito era “determinar”

    que diversas matérias, já pautadas, não deveriam ser publicadas. Os temas já eram de

    seu conhecimento uma vez que sua mãe, sua filha, seu irmão e sua sobrinha já tinham

    sido consultados por Novojornal para dar suas versões sobre os fatos que seriam

    noticiados.

    Não era a primeira vez que a senhora Andréa tentava interferir na pauta do Novojornal. A

    conversa foi áspera. Como nas demais vezes foi lhe informado que as matérias seriam

    publicadas, pois tínhamos toda documentação que comprovavam os fatos, oferecendo à

    mesma a oportunidade de apresentar sua versão. Na ocasião, a mesma disse

    textualmente: “você não vai publicar estas matérias, vou ficar livre de você”. “Você

    agora está mexendo com minha família” . 

    Dois dias depois o notificante recebeu em seu portal eletrônico a visita de um

    desembargador do TJMG, fato sob análise no CNJ, informando-lhe que se insistisse na

    publicação das matérias seria preso. Como tais ameaças eram comuns desde 2008, onotificante deu pouca importância. Porém, os fatos ocorridos posteriormente comprovam

    que o desembargador estava certo.

    Uma das matérias que seriam publicadas relatava o ocorrido na “Operação Nobert”, da

    Polícia Federal, Processo nº 503145-62.2005.4.02.5101 (2005.51.01.503145-3)

    (2005.51.01.503175-1) (2005.51.01.538314-3), (2009.51.01.810379-1 Inquérito Policial nº

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    12-208/08-DELEFIN/SR/SP), 2007.51.01.809024-6 Inquérito Policial nº 8/2007-

    DFIN/DECOR/DPF, (2007.51.01.807393-5), tudo conforme sentença do Juiz Federal

    substituto Dr. Tiago Pereira Macaciel.

    O texto da matéria publicada pelo destacado jornalista Luiz Nassif, em janeiro de 2015,

    um ano depois, narra o conteúdo que seria abordado pelo Novojornal:

    “Em 8 de fevereiro de 2007 fora deflagrada a Operação Norbert, visando apurar

    denúncias de lavagem de dinheiro na praça do Rio de Janeiro. Conduzida por três jovens

    brilhantes procuradores — Marcelo Miller, Fabio Magrinelli e José Schetino — foi

    realizada uma operação de busca e apreensão nos escritórios de um casal de doleiros do

    Rio de Janeiro.

    No meio da operação, os procuradores se depararam com duas bombas.

     A primeira, envolvia o corregedor do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Carpena do

     Amorim.

    Carpena foi peça central no assassinato de reputação da juíza Márcia Cunha, trabalhando

    em parceria com a Folha de S. Paulo no período em que o jornal se aliou a Daniel Dantas.

    (Coube a Carpena endossar um dossiê falso preparado por um lobista ligado a Dantas,

    penalizando uma juíza séria). 

     Ao puxar o fio da meada de uma holding, os procuradores toparam com Carpena. O casofoi desmembrado do inquérito dos doleiros, tocado pelo Ministério Público Federal do Rio

    de Janeiro e resultou na condenação do ex-juiz a três anos e meio de prisão.

    O segundo fio foi puxado quando os procuradores encontraram na mesa dos doleiros uma

    procuração em alemão aguardando a assinatura de Inês Maria, uma das sócias da

    holding Fundação Bogart & Taylor — que abriu uma offshore no Ducado de Linchestein.

    Os procuradores avançaram as investigações e constataram que a holding estava em

    https://sites.google.com/site/luisnassif02/relacoesincestuosashttps://sites.google.com/site/luisnassif02/relacoesincestuosashttps://sites.google.com/site/luisnassif02/relacoesincestuosashttps://sites.google.com/site/luisnassif02/relacoesincestuosas

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    nome de parentes de Aécio Neves: a mãe Inês Maria, a irmã Andréa, a esposa e a filha.

    Como o caso envolvia um senador da República, os três procuradores desmembraram do

    inquérito principal e encaminharam o caso ao então Procurador-Geral da República

    Roberto Gurgel.”

    Hoje oito anos depois, o processo em relação a Christiane Puschmann, operadora

    do esquema criminoso e em relação ao Desembargador “Carpena do Amorim”, já

    encontra-se julgado com ambos condenados conforme abaixo:

    “ 05ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro

    Processo nº 0503145-62.2005.4.02.5101 (2005.51.01.503145-3)

     Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

    Réu: CHRISTINE PUSCHMANN E OUTROS

    Nesta data, faço os autos conclusos ao Juiz Federal Substituto

    TIAGO PEREIRA MACACIEL.

    Rio de Janeiro, 10/04/2013.

    SENTENÇA TIPO D1 - Condenatórias

    RELATÓRIO

    Em 24/4/2009, o Ministé rio Pú blico Federal ofereceu denú ncia (folhas 680-690) em

    face de CHRISTINE PUSCHMANN, CHRISTINE M€LLER e INGRID MARIA M€

    LLER LUSQUINOS.

    O autor da ação penal imputa a CHRISTINE PUSCHMANN os delitos descritos no

    artigo 16, conjugado com o artigo 1º, parágrafo único, inciso II, e no

    artigo 22, parágrafo único,  todos da Lei nº 7.492/1986, na forma do

    artigo 69 do Código Penal;  e a CHRISTINE M€LLER e INGRID MARIA M€LLER

    LUSQUINOS, somente o delito do artigo 22,parágrafo único, da Lei nº 7.492/1986. 

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/10631608/artigo-69-do-decreto-lei-n-2848-de-17-de-outubro-de-1940http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40http://www.jusbrasil.com/topicos/10631608/artigo-69-do-decreto-lei-n-2848-de-17-de-outubro-de-1940http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    O teor da acusação é resumidamente exposto no seguinte excerto da denúncia:

     A denunciada CHRISTINE PUSCHMANN, livre e conscientemente, atuou como

    instituição financeira, sem a devida autorização, tendo assim operado, pelo menos, no

    período compreendido entre 2001 e 08.02.2007. Além disso, ainda manteve depósitos

    no exterior, sem declaração à  repartição federal competente, pelo menos em relação

    aos anos-base 2001 a 2006. Já   as denunciadas CHRISTINE MULLER e INGRID

    MARIA MULLER LUSQUINOS, livre e conscientemente, mantiveram depó sitos no

    exterior, sem declaração à repartição federal competente, pelo menos em relação aos

    anos-base de 2005 e 2006 (a primeira) e 2006 (a segunda).

     Ao fim da denúncia, o Ministério Público Federal requereu a expedição de ofício ao

    Banco Central do Brasil e a tradução de documentos em língua estrangeiras

    relevantes para o julgamento da causa.

    Em manifestação anexa à denúncia, o Ministério Público Federal requereu a

    expedição de ofício à Polícia Federal para fins de encaminhamento a este Juízo de

    todo o material lá acautelado. a devolução dos objetos considerados inúteis para a

    persecução penal e de equipamentos de informática cuja perícia já tenha sido

    concluída. Além disso, requereu o encaminhamento de cópia do relatório de folhas

    442-505 à Coordenação Geral de Pesquisa e Informação da Receita Federal (COPEI).

     À folha 698, petição da defesa da acusada CHRISTINE PUSCHMANN, informando

    seu novo endereço residencial e requerendo vista dos autos.

     A denúncia foi recebida no dia 12/5/2009 (folhas 699–701) e foi juntada nos mesmos

    autos do Inquérito Policial nº 001/2005-DELEFIN/RJ, que lhe serviu de base. Na

    mesma decisão, o Juízo deferiu os requerimentos de expedição de ofício ao Banco

    Central do Brasil e à Polícia Federal e de encaminhamento de cópia do relatório de

    folhas 442-505 à COPEI; o requerimento de tradução dos documentos em língua

    estrangeira, porém, foi indeferido.

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     Às folhas 708-711, a defesa da ré CHRISTINE PUSCHMANN requereu que o prazo

    para a apresentação da defesa prévia só começasse a fluir após a tradução dos

    documentos mencionados pelo Ministério Público Federal na denúncia.

     À folha 714, o Juízo deferiu o requerimento da defesa de CHRISTINE PUSCHMANN

    e determinou a remessa dos autos ao Ministério Público Federal para que

    providenciasse a tradução dos documentos em língua estrangeiras citadas na

    denúncia.

     Às folhas 720-721, o Ministério Público Federal requereu a tradução dos documentos

    por tradutor nomeado pelo Juízo e a remessa de cópia da denúncia à

    Superintendência da Receita Federal para as providências cabíveis.

     À folha 723, o Juízo nomeou técnicos para a tradução dos documentos indicados pelo

    Ministério Público Federal e determinou a remessa de cópia da denúncia à

    Superintendência da Receita Federal.

    Folha de antecedentes criminais das rés às folhas 742-760 e 798-800.

     Às folhas 771-772, a defesa requereu o recolhimento dos mandados e carta

    precatória expedidos para fins de citação das rés (fl. 728-730), uma vez que não foi

    fora concluída a tradução dos documentos mencionados pelo Ministério Público

    Federal na denúncia.

     À folha 774, o Juízo deferiu o requerimento da defesa e determinou o recolhimento

    dos mandados de citação e a devolução da carta precatória expedida.

     À folha 775, resposta do Banco Central do Brasil ao ofício OSE.0042.001502-1/2009,

    na qual declara que a CHRISTINE PUSCHMANN e Norbert Müller não tinham

    autorização para operar instituição financeira.

     Às folhas 788-789, resposta da Polícia Federal ao ofício OSE.0042.001650-3/2009.

     À folha 801, resposta da Polícia Federal ao ofício OSE.0042.001497-4/2009, na qualrequereu a remessa de cópia dos autos de apreensão resultantes do cumprimento da

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    ordem de busca e apreensão deferida na medida cautelar. O requerimento foi

    deferido (fl. 811) e atendido (fl. 812).

     À folha 819, informação de formação de apenso das traduções realizadas pelos

    intérpretes Sérgio Manera e Paula Efthimia Mendes Tsakiridis.

     Às folhas 821-822, requerimentos de pagamento dos honorários pelos intérpretes

    Sérgio Manera Falcão e Paula Efthimia Mendes Tsakiridis.

     À folha 823, o Juízo determinou a reiteração dos mandados e da carta precatória para

    fins de citação das rés e determinação de pagamento dos intérpretes (folhas 826-828).

    Mandados de citação das rés CHRISTINE M€LLER e CHRISTINE PUSCHMANN

    cumpridos, às folhas 909-913.

     Às folhas 832-866, resposta à acusação oferecida pela defesa da acusada

    CHRISTINE PUSCHMANN, na qual se alegou, preliminarmente, a nulidade das

    provas obtidas por meio das medidas cautelares de interceptação telefônica e busca

    e apreensão, por derivação ilícita, tendo em vista a existência de vício na instauração

    do inquérito policial, pois o procedimento teria sido instaurado em razão de ligação

    realizada ao disque-denúncia, sem a devida verificação da verossimilhança das

    informações fornecidas na ligação, e a investigação realizada posteriormente não

    teria sido realizada da forma devida, procedendo-se a mera pesquisa em bancos de

    dados, como o 8º Ofício de Registro de Distribuição de Títulos de Documentos, por

    exemplo. A defesa sustentou a ilegalidade da interceptação telefônica realizada por

    mais de sete meses, por haver ultrapassado o limite temporal previsto no artigo 5º da

    Lei nº 9.296/1996, e também da busca e apreensão, já que a teria sido baseada

    unicamente nos elementos colhidos no monitoramento telefônico. A defesa alegou,

    por fim, que, se não fosse reconhecida a ilicitude das provas, a improcedência das

    acusações seria demonstrado através de prova documental, testemunhal e pericial. A

    peça veio acompanhada de rol de testemunhas. 

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11302083/artigo-5-da-lei-n-9296-de-24-de-julho-de-1996http://www.jusbrasil.com/legislacao/103847/escuta-telef%C3%B4nica-lei-9296-96http://www.jusbrasil.com/legislacao/103847/escuta-telef%C3%B4nica-lei-9296-96http://www.jusbrasil.com/topicos/11302083/artigo-5-da-lei-n-9296-de-24-de-julho-de-1996

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     Às folhas 867-908, resposta à acusação oferecida pela defesa da acusada

    CHRISTINE M€LLER, na qual afirmou que seu pai, Norbert Müller, com o qual

    trabalhava à época dos fatos de que trata a denúncia, era pessoa de boa índole,

    tendo inclusive recebido o título de carioca honorário. Preliminarmente, a defesa

    alegou que os documentos colhidos por meio da medida de busca e apreensão não

    seriam suficientes para lastrear as acusações feitas contra a ré. Afirmou, ainda, que o

    laudo documentoscópico juntado às folhas 384-391 e o Inquérito Policial nº 99/2009

    também não conferem justa causa à demanda, tendo em vista que o laudo foi

    considerado inconclusivo e que o inquérito policial foi arquivado. A peça reproduziu as

    razões aduzidas na resposta da ré CHRISTINE PUSCHMANN com relação às

    alegações de nulidade das provas obtidas por meio das medidas cautelares de

    interceptação telefônica e busca e apreensão. A defesa sustentou que a ré não tinha

    conhecimento da existência da conta bancária mencionada na denúncia e dos valores

    nela depositados, e ressaltou que não foi comprovado o saldo existente em 31 de

    dezembro. Por fim, pediu a absolvição sumária da ré.

     À folha 914, ofício expedido pela 7ª Vara Federal Criminal requerendo a remessa dos

    autos desta ação penal por empréstimo. Requerimento deferido em despacho de

    folha 915.

     À folha 916, ofício expedido pela 3ª Vara Federal Criminal requerendo remessa dos

    autos desta ação penal, por empréstimo.

     À folha 917, termo de entrega expedido pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal,

    atestando a devolução desta ação penal e do Processo nº 2005.51.01.503175-1 a

    este Juízo.

     À folha 922, o Juízo determinou a remessa dos autos, por empréstimo, à 3ª Vara

    Federal Criminal do Rio de Janeiro e, após a devolução, a sua remessa ao Ministério

    Público Federal em conjunto com o Inquérito Policial nº 2009.51.01.810379-1, para

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    análise de prevenção.

    Citação da ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS realizada por carta precatória, à

    folha 929.

     Às folhas 934-966, resposta à acusação oferecida pela defesa da acusada INGRID

    MARIA M€LLER LUSQUINOS, na qual afirmou que seu pai, Norbert Muller, com o

    qual trabalhava à época dos fatos de que tratam a denúncia, era pessoa de boa

    índole, tendo inclusive recebido o título de carioca honorário. A defesa alegou,

    preliminarmente, que a ré não agiu com dolo, elemento indispensável à configuração

    da figura prevista no artigo 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei nº 7.492/1986,

    e apontou a ilicitude das provas utilizadas pelo Ministério Público Federal para o

    oferecimento da denúncia. Por fim, pediu a absolvição sumária da ré, tendo em vista o

    Ministério Público Federal não ter comprovado a consciência da acusada com relação

    à manutenção de recursos no exterior ou a posição dos valores financeiros mantidos

    em 31 de dezembro. A defesa apresentou rol de testemunhas, à folha 966. 

     Às folhas 968-975, decisão em que o Juízo rejeitou os pedidos de absolvição sumária

    e determinou o prosseguimento do processo, a expedição de ofício à Polícia Federal

    e a intimação da defesa técnica da acusada CHRISTINE PUSCHMANN para

    manifestação.

     Às folhas 980-982, ofício nº 19128/2011 da Polícia Federal, em resposta ao ofício

    OSE.0042.001497-4/2009, acompanhado do auto de restituição de bens apreendidos.

     À folha 990, petição da defesa de CHRISTINE PUSCHMANN que manifestou

    desistência da oitiva da testemunha Pedro Paulo Aquino.

     Às folhas 992-1026, pedido de informações para instrução do Habeas Corpus nº

    2012.02.01.002297-0, impetrado em favor das rés CHRISTINE PUSCHMANN,

    CHRISTINE M€LLER e INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS.

     À folhas 1027-1028, despacho que homologou a desistência da oitiva de Pedro Paulo

    http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86

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    de Aquino, determinou a intimação da ré CHRISTINE PUSCHMANN para esclarecer a

    relevância da expedição de carta rogatória para o oitiva de Hans Ulrich Wafler e

    indeferiu o pedido de expedição de carta rogatória para a oitiva de Cláudio Norberto

    Müller, facultando-lhe o comparecimento em juízo para prestar depoimento como

    testemunha arrolada pela ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS.

     Às folhas 1030-1038, oficio nº RJ-OFI-2012/02478 expedido por este Juízo em

    cumprimento ao pedido de informações referente ao Habeas Corpus nº

    2012.02.01.002297-0.

     Às folhas 1041-1044, a defesa da ré CHRISTINE PUSCHMANN, requereu a juntada

    de documento médico e, em cumprimento à determinação do despacho de folhas

    1027-1028, apresentou esclarecimentos sobre a relevância da oitiva de Hans Ulrich

    Wafler por carta rogatória.

     Às folhas 1048-1051, o Ministério Público Federal requereu a oitiva da testemunha

    Márcio Adriano Anselmo em seu domicílio profissional e manifestou-se pelo

    indeferimento da expedição de carta rogatória para a oitiva da testemunha Hans

    Ulrich Wafler.

     Às folhas 1052-1053, o Juízo deferiu a expedição de carta precatória para a oitiva da

    testemunha de acusação Marcio Adriano Anselmo e de pedido de cooperação

     judiciária em matéria penal à Suíça para a oitiva da testemunha de defesa Hans Ulrich

    Wafler.

     Às folhas 1054-1081, cópia da decisão proferida pela 1ª Turma Especializada do

    Tribunal Regional Federal da 2ª Região nos autos do Habeas Corpus nº

    2012.02.01.002297-0, na qual se denegou a ordem postulada.

     Às folhas 1088-1089, a defesa das rés CHRISTINE PUSCHMANN e INGRID MARIA

    M€LLER LUSQUINOS indicou as perguntas a serem formuladas à testemunha Hans

    Ulrich Wafler.

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     À folhas 1091, o Ministério Público Federal requereu a aplicação do artigo 222-A,

    parágrafo único, doCódigo de Processo Penal,  e indicou perguntas a serem

    formuladas à testemunha Hans Ulrich Wafler. 

     À folha 1092, ofício expedido pela 3ª Vara Federal Criminal e Juizado Federal

    Criminal de Curitiba que informou a designação de audiência de oitiva da testemunha

    de acusação Marcio Adriano Anselmo para o dia 20/9/2012.

     Às folhas 1093-1099, a defesa manifestou a desistência da oitiva da testemunha

    Hans Ulrich Wafler.

     À folha 1100, o Juízo homologou a desistência da testemunha Hans Ulrich Wafler e

    determinou a expedição de cartas precatórias para oitiva das testemunhas Carlos

    Roberto Escher e Claudinei da Cruz, indicadas pela ré CHRISTINE PUSCHMANN.

     À folha 1101, Ofício nº T2-OFI-2012/13265, que comunicou o trânsito em julgado do

    acórdão proferido no Habeas Corpus nº 2012.02.01.002297-0.

     À folha 1102, ofício expedido pela 3ª Vara Federal Criminal, informando sobre a

    redesignação da data da audiência para oitiva da testemunha de acusação Marcio

     Adriano Anselmo, para o dia 13/9/2012.

     À folha 1114, requerimento de cópia da denúncia pela Editora GLOBO. Intimados,

    Ministério Público Federal (fl. 1116, verso) e a defesa (fls. 1118-1119) manifestaram-se

    pelo indeferimento.

     À folha 1124, o Juízo indeferiu o requerimento da Editora GLOBO para a obtenção de

    cópia da denúncia.

     Às folhas 1127-1128, mensagem eletrônica enviada pela Editora GLOBO

    fundamentando o pedido de cópia da denúncia desta ação penal.

     Às folhas 1129-1133, decisão que deferiu o requerimento realizado pela Editora

    GLOBO. Às folhas 1149-1155, a defesa das rés requereu a reconsideração da decisão que

    http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41

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    deferiu a concessão de cópia da denúncia da presente ação penal à Editora GLOBO.

     À folha 1156, o Juízo manteve a decisão de deferimento da remessa de cópia da

    denúncia desta ação penal à Editora GLOBO e deferiu a extração de cópias de peças

    do processo para remessa ao Ministério Público Federal para eventual abertura de

    investigação.

     À folha 1158, foi designada audiência de instrução e julgamento para o dia 22 de

     janeiro de 2013, para a oitiva da testemunha Claudinei da Cruz, por videoconferência,

    e interrogatório das rés.

     Às folhas 1169-1170, manifestação do Ministério Público Federal requereu a juntada

    de ofício.

     Às folhas 1177-1181, a ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS informou a

    impossibilidade de comparecimento a este Juízo para a audiência designada para o

    dia 22/1/2013.

     Às folhas 1182-1187, petição da defesa da ré CHRISTINE PUSCHMANN, informando

    sobre a impossibilidade de comparecimento a este Juízo para a audiência designada

    para o dia 22/1/2013, em razão de problemas de saúde.

     Ata de audiência às folhas 1191-1192, na qual foi realizada a oitiva da testemunha

    Claudinei da Cruz, por videoconferência, e o interrogatório da ré CHRISTINE M€LLER.

    No mesmo ato, o Juízo determinou a expedição de carta precatória para o

    interrogatório da ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS, deferiu a dispensa do

    interrogatório da ré CHRISTINE PUSCHMANN e determinou a expedição de ofício ao

    Juízo deprecado para a realização do interrogatório da ré INGRID MARIA M€LLER

    LUSQUINOS.

     Às folhas 1203-1218, devolução da carta precatória expedida para oitiva da

    testemunha de defesa Claudinei da Cruz por videoconferência.

     Às folhas 1203-1218, devolução da carta precatória com o interrogatório da ré

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    INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS, realizado na Seção Judiciária de São Paulo

    (folhas 1234-1242).

     Às folhas 1248-1251, a defesa requereu juntada de matéria jornalística de periódico

    publicado na Suíça e de declaração de Peter Lucas Müller e postulou a transcrição de

    dois depoimentos e três interrogatórios gravados em meio audiovisual.

     Às folhas 1258-1259, o Juízo deferiu a juntada da matéria jornalística, e indeferiu o

    pedido de transcrição dos depoimentos e interrogatórios realizados.

    Memoriais do Ministério Público Federal às folhas 1260-1279, em que sustentou, ante

    as alegações da defesa quanto à ilicitude das provas, a legalidade da persecução

    penal nos termos do que já fora decidido pelo Juízo. Com relação a ré CHRISTINE

    PUSCHMANN, alegou que os elementos reunidos durante a investigação,

    principalmente nas medidas cautelares decretadas, evidenciaram a prática das

    condutas ilícitas a ela imputadas.

     Alegou a comprovação do delito de operação de instituição financeira sem

    autorização por meio do ofício expedido pelo Banco Central do Brasil à folha 776, dos

    diálogos interceptados e dos demais documentos, que demonstrariam que a ré

    CHRISTINE PUSCHMANN e seu então marido, Norbert Müller, operaram verdadeira

    instituição financeira informal, inclusive com suas assinaturas em diversos

    documentos. Nesse aspecto, ressaltou que a ré CHRISTINE M€LLER chegou a

    reconhecer, em seu interrogatório, a assinatura do pai e de CHRISTINE

    PUSCHMANN em diversos documentos. No que concerne à manutenção de

    depósitos não declarados no exterior, pelo menos em relação aos anos-base de 2001

    a 2006, salientou que os extratos bancários apreendidos identificaram duas contas

    titularizadas por CHRISTINE PUSCHAMANN sem que ela tenha declarado os valores

    ao Banco Central do Brasil ou à Receita Federal do Brasil. Com relação às demais rés,

    afirma que CHRISTINE M€LLER manteve depósitos no exterior sem declaração à

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    repartição federal competente, ao menos no que diz respeito aos anos-base de 2005

    e 2006, tendo sido apreendidos extratos atestando que a ré titularizava duas contas

    no UBS BANK, nas quais estavam depositados valores. Alegou ser inverossímil a

    versão da ré de que não tinha conhecimento da existência das contas bancárias em

    seu nome, atribuindo os depósitos a seu pai, Nobert Müller, já que a ela mesma

    reconheceu sua assinatura em documento de transferência datado do ano de 2005,

    por ocasião de seu interrogatório em juízo. Por fim, com relação à ré INGRID MARIA

    M€LLER LUSQUINOS, afirma não ser plausível a tese defensiva de que não tinha

    conhecimento das contas de sua titularidade no exterior, atribuindo a autoria do delito

    a seu falecido pai, Norbert Müller, pois os extratos apreendidos provam a existência

    de conta no UBS BANK, titularizada pela ré, constando valores depositados em 2006.

    Ressaltou que, em interrogatório, a ré CHRISTINE M€LLER reconheceu assinatura de

    seu pai em certos documentos em favor da ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS.

    Nesses termos, o Ministério Público Federal pediu a condenação das rés nos termos

    da denúncia, sendo julgada procedente a pretensão punitiva estatal.

     Às folhas 1286-1342, memoriais apresentados pela defesa das rés, que sustentou,

    preliminarmente, cerceamento de defesa, tendo em vista não ter sido juntada aos

    autos a carta precatória expedida para a oitiva da testemunha Carlos Roberto Escher,

    arrolado pela ré CHRISTINE PUSCHMANN. Em razão disso, a defesa requereu a

    conversão do julgamento em diligência, com a posterior restituição do prazo para aapresentação de memoriais. Ainda preliminarmente, a defesa alegou ter havido

    cerceamento de defesa, em razão do indeferimento da transcrição dos interrogatórios

    e dos depoimentos colhidos durante a instrução processual, e impugnou a licitude das

    provas produzidas como consequência das medidas cautelares deferidas nos

    Processos 2005.51.01.503175-1 e 2006.51.01.538314-3.

    No mérito, com relação às acusações dirigidas à ré CHRISTINE PUSCHMANN,

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    argumenta que a sua conduta não se adéqua ao tipo do artigo 16 da Lei

    nº 7.492/1986, tendo em vista que, sob o prisma da tipicidade objetiva, seria essencial

    a demonstração da potencialidade lesiva da conduta ao interesse tutelado pela

    legislação, o que não teria ocorrido, já que os atos delineados não seriam idôneos a

    lesar o funcionamento do sistema financeiro nacional; por isso, pediu que fosse

     julgado improcedente o pedido de condenação calcado no artigo 16 da Lei

    nº 7.492/1986. Quanto ao crime do artigo 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/1986,

    assevera que os extratos mencionados pelo Ministério Público Federal não conferem

    a certeza de que a ré CHRISTINE PUSCHMANN era titular das contas mantidos no

    exterior, reafirmando que o órgão acusador não verificou o saldo das referidas contas

    em 31 de dezembro do ano respectivo, o que impede a caracterização do delito. 

    Com relação à ré CHRISTINE M€LLER, a defesa alegou não haver quaisquer

    informações que indiquem a titularidade da conta nº 0027891. A respeito dessa

    mesma conta, ressalta a declaração do irmão da ré, Peter Lucas Muller, que

    reconheceu ser o seu titular. Quanto à conta nº 0230500675, alega que a ré

    CHRISTINE M€LLER passou a ter conhecimento de sua existência depois do

    cumprimento da ordem de busca e apreensão e que os valores depositados, segundo

    dito por seu pai, representariam antecipação da herança que lhe cabia. Por fim, no

    que concerne a ré INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS, a defesa replicou os

    mesmos argumentos expostos em favor da segunda ré, no sentido de que ela só teveconhecimento da existência da conta em seu nome em 2007, não agindo, portanto,

    com dolo.

    Ressaltou, novamente, o fato de o Ministério Público Federal não ter apontado o saldo

    da referida conta em 31 de dezembro, afirmando ser este elemento fundamental para

    a caracterização do tipo objetivo. Nesses termos, pediu a absolvição das rés.

    Encontram-se reunidos a ação, além de seus próprios apensos, os autos do Processo

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    nº 2005.51.01.503175-1 (medida cautelar de interceptação telefônica e de dados), do

    Processo nº 2006.51.01.538314-3 (medida cautelar de busca e apreensão), do

    Inquérito Policial nº 2009.51.01.810379-1 (Inquérito Policial nº 12-208/08-

    DELEFIN/SR/SP), do Inquérito Policial nº 2007.51.01.809024-6 (Inquérito Policial nº

    8/2007-DFIN/DCOR/DPF), do Incidente de Restituição de Coisas Apreendidas nº

    2009.51.01.807901-6 e do Processo nº 2007.51.01.807393-5 (medida cautelar de 

    afastamento de sigilo de dados). 

    Estão acautelados em Secretaria os objetos mencionados no termos de folha 722.

    É o relatório. Decido.

    2. FUNDAMENTAÇÃO

    2.1. Das questões preliminares ao mérito

    2.1.1. Da ampla defesa

     As rés alegam ter havido cerceamento de defesa por terem sido intimadas para

    apresentar alegações finais antes de haver sido juntada os autos a Carta Precatória

    nº 5017489-12.2012.404.7108, endereçada à Subseção da Justiça Federal em Novo

    Hamburgo (RS), na qual foi colhido o depoimento da testemunha de defesa CARLOS

    ROBERTO ESCHER, no dia 5/12/2012.

    Por essa razão, a defesa requer a conversão do julgamento em diligência, com a

    restituição do prazo para apresentação de alegações finais após a juntada da carta

    precatória em comento.

    Por oportuno, é necessário consignar que este Juízo determinou que a Secretaria

    instasse a Vara Federal de Execuções Fiscais e Criminal de Novo Hamburgo a

    restituir a Carta Precatória nº 5017489-12.2012.404.7108 imediatamente após o dia

    5/12/2012 (fl. 1156), o que foi cumprido conforme se observa pela correspondência de

    folha 1167.

    No entanto, de acordo com a certidão de folha 1355, a correspondência eletrônica do

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    Juízo deprecado que comunicou a baixa da referida carta precatória (fl. 1356) foi

    redirecionada automaticamente para a pasta de mensagens indesejadas pelo filtro

    anti-spam do serviço de correio eletrônico da Justiça Federal do Rio de Janeiro; assim,

    o depoimento da testemunha não foi juntado aos autos, apesar de a diligência

    deprecada haver sido concluída e de a carta precatória haver sido restituída a este

    Juízo, por meio eletrônico, antes da intimação das partes para o oferecimento de

    alegações finais.

    Dado não se tratar da hipótese prevista no artigo 222, § 2º, do Código de Processo

    Penal (“Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo tempo, a

    precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.”), a resolução da questão ora

    posta pelo requerimento da defesa impõe o exame do conteúdo do depoimento da

    testemunha ouvida pelo Juízo deprecado e a ponderação da ocorrência de prejuízo,

    ou não, para o regular exercício do direito de defesa em razão da juntada da Carta

    Precatória nº 5017489-12.2012.404.7108 após o oferecimento de alegações finais. 

    O depoimento da testemunha CARLOS ROBERTO ESCHER está gravado, em

    arquivo de áudio, na mídia de folha 1354. Das respostas às perguntas feitas pelo

    advogado de defesa e pelo membro do Ministério Público Federal presente à sessão,

    é inconteste a conclusão de que se trata de testemunha dita de caráter ou de

    canonização. Com efeito, CARLOS ROBERTO ESCHER nada sabe sobre a acusação

    que é feita às rés nesta ação penal (4min36seg a 5min34seg) e, inclusive, desconhece

    as rés CHRISTINE M€LLER e INGRID MARIA M€LLER LUSCHINOS (2min57seg a

    3min2seg). A testemunha apenas trabalhou com CHRISTINE PUSCHMANN, em

    sociedades empresárias com atividades no estado do Rio Grande do Sul, e visita a

    no Rio de Janeiro uma vez por ano, motivo pelo qual sabe que ela está gravemente

    enferma (3min41seg a 4min7seg).

    Nesses termos, constata-se que o depoimento de CARLOS ROBERTO ESCHER não

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    contribui de maneira alguma para a resolução do mérito da demanda, de modo que

    ele sequer pode ser computado como testemunha, nos termos do artigo 209, § 2º, 

    do Código de Processo Penal (“Não será computada como testemunha a pessoa que

    nada souber que interesse à decisão da causa.”). 

     A esse respeito, o Supremo Tribunal Federal já decidiu ser dispensável o depoimento

    de testemunha que nada sabe sobre os fatos objeto da ação penal, como se infere do

    seguinte aresto:

    HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. OITIVA DE TESTEMUNHA.

    INDEFERIMENTO MOTIVADO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO

    CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.

    1. A jurisprudência desta Corte está alinhada no sentido de que "[n]ão constitui

    cerceamento de defesa o indeferimento de diligências requeridas pela defesa, se

    foram elas consideradas desnecessárias pelo órgão julgador a quem compete a

    avaliação da necessidade ou conveniência do procedimento então proposto" [HC n.

    76.614, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 12.6.98].

    2. Indeferimento da oitiva de testemunha que se encontrava presa há vários anos,

    muito antes da ocorrência dos fatos apurados na ação penal. Ausência de correlação

    entre estes e os que o réu pretendia provar com a oitiva da testemunha. Inexistência

    de violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Ordem denegada.

    (HC 94542/SP, Min. Eros Grau, 2ª T., j. 3/2/2009, DJe 20/3/2009, pp. 521-526)

     Ademais, registre-se que a defesa teve oportunidade de requerer que o Juízo

    determinasse a juntada da carta precatória em questão em diversas ocasiões (fls.

    1177-1178, 1182-1184, 1191-1192 e 1248-1251), porém postergou o requerimento de

    realização do ato cartorário até o último momento em que deveria manifestar-se,

    antes do julgamento do processo.

    Em suma, por tratar-se de depoimento de relevância nula para o julgamento do mérito

    http://www.jusbrasil.com/topicos/10661970/artigo-209-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/topicos/10661891/par%C3%A1grafo-2-artigo-209-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/topicos/10661891/par%C3%A1grafo-2-artigo-209-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/topicos/10661970/artigo-209-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941

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    desta ação penal, a ausência da carta precatória que o encerra não implica prejuízo

    para qualquer das partes e, por isso, não constitui cerceamento do direito de defesa

    ou de acusação e, principalmente, não obsta a ultimação regular do processo.

     A defesa sustenta, ainda, a necessidade de transcrição dos interrogatórios e

    depoimentos das testemunhas gravados em meio audiovisual, com fulcro no

    artigo 216 do  Código de Processo Penal,  ao argumento de que “a mera inserção

    física de um simples CD ou DVD nos autos também limita todos os sujeitos do

    processo na apreciação da prova e torna dificultoso o trabalho de citação dos trechos

    de depoimentos” (fl. 1298). 

    Como anotado pela defesa, este Juízo já apreciou a questão na decisão de folhas

    1258-1259, à qual ora se faz remissão, oportunidade em que indeferiu o pleito com

    fundamento no texto expresso do artigo 405,§ 2º, do Código de Processo Penal. 

    Nesses termos, refuto todas as alegações de cerceamento de defesa no curso desta

    ação penal.

    2.1.2. Da licitude da prova

     A defesa alega que as provas que instruem o processo foram obtidas ilicitamente,

    pois o Inquérito Policial nº 1/2005-DELEFIN/SR/ DPF/RJ teria sido instaurado

    exclusivamente com base em delação telefônica anônima, sem que a Polícia Federal

    houvesse realizado prévia e genuína aferição da verossimilhança da notitia criminis.

    Por conseguinte, segundo a defesa, seriam ilícitas, por derivação, todas as provas

    originadas da delação, nomeadamente aqueles obtidas pelas medidas cautelares de

    interceptação telefônica e de dados (Processo nº 2005.51.01.503175-1) e busca e

    apreensão (Processo nº 2006.51.01.538314-3).

     A defesa acrescenta à ilicitude por derivação outros vícios que supostamente

    tornariam imprestáveis como prova as gravações de conversas telefônicas e as

    mensagens eletrônicas interceptadas. A autorização judicial para a interceptação

    http://www.jusbrasil.com/topicos/10661487/artigo-216-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/topicos/10640957/artigo-405-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/topicos/10640881/par%C3%A1grafo-2-artigo-405-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/topicos/10640881/par%C3%A1grafo-2-artigo-405-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/topicos/10640957/artigo-405-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41http://www.jusbrasil.com/topicos/10661487/artigo-216-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941

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    telefônica e o afastamento de sigilo de dados telemáticos (folhas 12-16 do Processo

    nº 2005.51.01.503175-1) seria ilegal porque teria sido a primeira diligência

    investigativa realizada no curso do referido inquérito policial.

    Seria igualmente maculada por ilegalidade, de acordo com a defesa, a prorrogação da

    interceptação telefônica deferida pelo Juízo, passado mais de um ano após a

    interrupção das primeiras gravações interceptadas (folhas 182-183 do Processo nº

    2005.51.01.503175-1), pois não haveria justa causa para prorrogação da

    interceptação, assim como não seria possível fazê-lo por período superior a 15 dias,

    por constituir violação ao disposto no artigo 5º da Lei nº 9.296/1996. 

    O Juízo apreciou as questões suscitadas pela defesa na decisão de folhas 968-975 e

    repeliu categoricamente a ilicitude das provas coligidas antes do ajuizamento da

    demanda.

    Da mesma forma, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no julgamento

    do Habeas Corpus nº 2012.02.01.002297-0 (fls. 1055-1081), reconheceu a licitude do

    procedimento investigatório e das provas surtidas das interceptações telefônicas e do

    afastamento do sigilo de dados. Por oportuno, segue-se excerto do percuciente voto

    proferido pelo eminente Desembargador Federal Abel Gomes no julgamento do writ:

    No caso concreto, não obstante conste nos autos cópia da denúncia anônima obtido

    pelo serviço disque denúncia (fl. 49), em 05/03/2004, resta comprovado que a

    instauração do inquérito policial n. 2005.51.01.03145-3 (IPL n. 001/2005-

    DELEFIN/SR/DPF/RJ) somente ocorreu em 14/03/2005 e foi lastreada no relatório de

    Missão n. 043/2004 (fls. 40/45), referente às diligências efetuadas pela Polícia Federal

    para averiguação prévia dos fatos narrados na denúncia anônima, conforme consultas

    diversas (documentos de fls. 50/76).

    Ou seja, não só ocorreu missão de verificação prévia em torno da pertinência e

    seriedade das notícias, como elas foram veiculadas aos autos por meio de relatório

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11302083/artigo-5-da-lei-n-9296-de-24-de-julho-de-1996http://www.jusbrasil.com/legislacao/103847/escuta-telef%C3%B4nica-lei-9296-96http://www.jusbrasil.com/legislacao/103847/escuta-telef%C3%B4nica-lei-9296-96http://www.jusbrasil.com/topicos/11302083/artigo-5-da-lei-n-9296-de-24-de-julho-de-1996

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    de missão, exatamente deflagrada para verificar previamente, antes do

    aprofundamento de diligências, sobre a notícia anônima produzida.

    No caso, até mesmo o prazo decorrido entre o registro da notícia anônima e a

    instauração do inquérito apresentou-se razoável em razão da natureza dos fatos

    noticiados e daquilo que eventualmente foi preciso para a verificação prévia.

    É óbvio que não se pode dar guarida a paralisações de processos em qualquer esfera

    que seja. Na polícia, no Ministério Público ou no Judiciário, mas quando as

    circunstâncias demonstram que a paralisação é relativa, atingindo somente o

    movimento processual de fase, mas consubstanciando-se a prática de atos para

    atingir a finalidade própria da fase, dá-se por justificado o tempo decorrido.

    [...]

    Como se depreende dos autos, houve uma notícia anônima dizendo que pessoas

    determinadas, em um dado local, mantinham num apartamento uma verdadeira

    central, clandestina, para envio sistemático de dinheiro para Suíça.

     A polícia passou à verificação da seriedade e pertinência dessa notícia, verificando os

    dados das pessoas mencionadas, as anotações existentes no Cadastro Nacional de

    Informações Sociais (CNIS), as participações de tais pessoas em empresas e

    associações com empresas estrangeiras, sendo que foi constatada a presença de

    CHRISTINE como procuradora de uma off-shore. Tudo mediante ofícios e diligências

    de consulta documentados nos autos.

    Em seguida, o inquérito que serviu de lastro à ação penal foi instaurado após a

    colheita de dados em verificações preliminares realizadas pela Polícia Federal, não

    restando constatada manifesta nulidade na investigação impugnada, a ensejar a

    concessão da ordem para trancar a ação penal e as medidas cautelares correlatas.

    Com efeito, realizada a verificação de seriedade e a mínima pertinência da notícia

    anônima ofertada em 05/03/2004, as diligências policiais acima indicadas foram

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    produzidas, segundo o relatório de missão datado de 13/10/2004, e instaurado o

    inquérito com Portaria de 12/01/2005.

    Já no bojo do inquérito, em abril de 2005 foi pedida e deferida judicialmente a

    interceptação telefônica, que foi realizada de 14 a 29 de abril daquele ano, sendo que

    em outubro de 2005 não houve pedido de prorrogação, mas em maio de 2006 (fls.

    144/1146) tal pedido ocorreu e tal medida prosseguiu.

    Note-se que quanto ao decurso de algum tempo entre o primeiro período de

    interceptações e a sua prorrogação por algum tempo depois, constam dos autos

     justificativas plausíveis para o ocorrido, sendo que a documentação bem deixa ver

    que trilha investigativa estava seguindo, e que apenas estava lidando com alguns

    percalços. Afinal, se a decisão deferindo a prorrogação é de 07/06/2006 (fls.

    1149/1152), o fato é que a autoridade policial justifica as razões pelas quais teve

    dificuldades com as medidas anteriormente, como se vê de fls. 85/86, em 03/10/2006,

    em relatório parcial.

    Dessa forma, não obstante a decisão denegatória da ordem de habeas corpus não

    constitua coisa julgada material, invoco as razões de decidir expostas na decisão de

    folhas 968-975 e no acórdão de folhas 1080-1081 e reafirmo a liceidade das provas

    que instruíram a denúncia que deflagrou esta ação penal.

    2.2. Do mérito

    2.2.1. Do crime do artigo 16 da Lei nº 7.492/1986 

    O Ministério Público Federal logrou reunir vastíssimo acervo probatório, apto a

    demonstrar que a ré CHRISTINE PUSCHMANN, em concurso com seu falecido

    companheiro Norbert Müller (fl. 437), agindo consciente e deliberadamente, realizou

    diversas operações de captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros

    de terceiros, até 8/2/2007, data do cumprimento da ordem judicial de busca e

    apreensão nos endereços do escritório e da residência do casal (folhas 32-39 do

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    Processo nº 2006.51.01.538314-3).

    Entre as operações financeiras realizadas irregularmente, avultam a administração de

    virtual agência de instituição financeira estrangeira no país e a celebração de

    contratos de câmbio pelo sistema conhecido como dólar-cabo. Por esse sistema, o

    interessado paga ao operador não autorizado, no Brasil, determinado valor em reais

    em troca da quantia correspondente em moeda estrangeira, que este disponibilizará

    no país de destino, valendo-se de divisas que ele mantém em instituição financeira no

    exterior, de forma que toda a transação corre à sorrelfa. O mesmo sistema ilícito de

    câmbio, mutatis mutandis, é adotado para a operação reversa, isto é, para a

    internação de divisas que o cliente do operador não autorizado mantém no exterior.

    O companheiro de CHRISTINE PUSCHMANN era nacional suíço e, antes de radicar-

    se no Brasil, fora empregado da instituição financeira UNION BANK OF

    SWITZERLAND AG (doravante “UBS”), de maneira que detinha inegável

    conhecimento técnico e interpessoal para a realização de operações financeiras em

    escala global. De fato, as provas demonstram que Norbert Müller era o agente

    preponderante do crime em apreço, principalmente quando se consideram as

    diversas correspondências que o tinham como autor ou destinatário.

    Por outro lado, os documentos apreendidos e as interceptações telefônicas e de

    dados revelaram que também a ré CHRISTINE PUSCHMANN assumiu atuação

    destacada nos negócios ilícitos, possivelmente em razão da idade já avançada do

    companheiro.

    Na residência de CHRISTINE PUSCHMANN e de Norbert Müller, localizada na

    avenida Rui Barbosa, nº 460, apto. 1301, Flamengo, foi apreendida a lista de folhas

    416-419, com mais de 100 nomes – e respectivos telefones – relacionados a contas

    bancárias mantidas na instituição financeira estrangeira LGT BANK IN

    LIECHTENSTEIN AG (doravante “LGT”). A identificação da instituição financeira foi

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    possível a partir do código SWIFT BLFLLI2X, que encima a lista. O código SWIFT

    (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), também denominado

    código BIC (Bank Identifier Code), permite a identificação de instituições financeiras

    em todo o mundo com o objetivo de facilitar as transações interbancárias.

    Saliente-se que quantidade considerável de contas referidas na planilha de folhas

    416-419 é de titularidade de pessoas jurídicas estrangeiras constituídas em

    Liechtenstein (Anstalt e Stiftung) e outros Estados (e.g. Tabary Anstalt, Maravilha

    Foundation, Reiher Stiftung, Beaux Arts International Enterprises Ltd.), o que é

    corroborado pelas dezenas de apensos que constituem dossiês individuais para a

    maioria das contas mencionadas na lista de cientes. Essas pessoas jurídicas eram

    usadas por brasileiros ou residentes no Brasil como artifício para manter contas no

    exterior sem que pudessem ser facilmente identificados, o que se conclui pelo fato de

    todos os telefones de contato anotados serem números brasileiros e por, em alguns

    casos, o nome da pessoa jurídica vir seguido de um nome sabidamente brasileiro (e.g.

    “Reiher Stiftung (Daniele)”, “Beaux Arts International Enterprises Ltda [sic] (Lélio)”,

    “Arichi Foundation F: 2533.47.38 Carp. [ena]”).

     Além dos diversos documentos referentes às contas mantidas no LGT, foram

    igualmente apreendidos documentos relativos a contas de clientes do casal e de

    membros da família mantidas no UBS (Apensos nos II-IV, V-VII, 28, 39, 43 e 89).

    Na residência do casal, a Polícia Federal ainda apreendeu, entre vários documentos

    do mesmo gênero, cartões de visita do gerente de relacionamento da LGT (LATIN

     AMERICA) S.A. Juan Mateo Jover (fl. 410) e do gerente-geral da LGT CONSULTORA

    Y ADMINISTRADORA S.A. Gunther Rotzinger (fl. 414). Ambas as sociedades,

    vinculadas ao LGT, são sediadas no Uruguai, porém os cartões trazem, escritos a

    caneta, números de celular com prefixo da cidade de São Paulo. Acrescente-se a

    esses cartões o cartão de visita do próprio Norbert Müller, com indicação de endereço

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    na rua Sete de Setembro, 55, sala 1101, no qual ele se apresentava como consultor

    (adviser) do conselho de administração (executive board) do LGT.

    No escritório localizado na rua Sete de Setembro nº 55, sala 1101, foram apreendidos,

    com outros tantos documentos, formulários em brancos relacionados à abertura e

    movimentação de contas no LGT (traduzidos nas folhas 98-138 do Apenso nº 19) e

    uma planilha intitulada em alemão “BESUCHSPROGRAMM HERR UND FRAU

    ROTZINGER VOM 18.10.2006 BIS 20.10.2006” (fl. 433), o que se traduz como

    “Programação de Visita do Senhor e da Senhora Rotzinger de 18.10.2006 a

    20.10.2006”. Este último documento contém uma lista de clientes do casal

    possivelmente interessados em uma reunião com o já mencionado gerente-geral da

    pessoa jurídica uruguaia LGT CONSULTORA Y ADMINISTRADORA S.A., Gunther

    Rotzinger, e sua mulher.

    De acordo com conversas telefônicas interceptadas no Processo nº

    2005.51.01.503175-1, CHRISTINE PUSCHMANN foi a responsável por comunicar a

    visita dos representantes estrangeiros à carteira de clientes. A título ilustrativo, são

    reproduzidas, a seguir, duas conversações nesse sentido.

    Em diálogo telefônico travado no dia 16/10/2006, CHRISTINE PUSCHMANN trata

    com Ruy Collet Solberg sobre a visita de certo “pessoal” e acerta a entrega de quantia

    “em reais”:

    Ruy: Alô?

    Christine: Doutor Rui, bom dia Christine.

    Ruy: Oi, tudo bem?

    Christine: Tudo. Olha só: aquele pessoal, daquele lugar que eu falei para o senhor,

    que eventualmente, numa emergência, o senhor teria que, poderia contatar...

    Ruy: Sim.Christine: Vão estar aqui quarta e quinta. O senhor, quinta à tarde, teria uma horinha?

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    Ruy: Eu preferia quarta.

    Christine: É, quarta à tarde?

    Ruy: É, porque quinta eu não vou estar aqui. Quarta à tarde.

    Christine: Ah, então tá ótimo para mim também.

    Ruy: Tá bom?

    Christine: Qual seria um bom horário para o senhor passar aqui? Porque aí é mais

    fácil o senhor passar aqui.

    Ruy: É, vamos fazer, vamos fazer o que... vamos fazer tipo duas horas?

    Christine: Tá bom, 14 horas, então.

    Ruy: Então 14 horas...

    Christine: Quarta-feira, dia 18.

    Ruy: Quarta agora, né?

    Christine: Isso‚

    Ruy: Dá para ver, eu ia precisar daquela mesma coisa de novo, aquela quantia...

    Christine: Vinte e cinco, né?

    Ruy: É.

    Christine: Tá, é vinte e cinco em reais, não é isso?

    Ruy: É.

    Christine: Tá, e o senhor quer que eu providencie? Aí eu já lhe entrego na quarta, só

    que aí eu vou lhe entregar discretamente.

    Ruy: Não tem problema.

    Christine: Tá bom?

    Ruy: Ok.

    Christine: Tá ok‚ Tchau‚

    Ruy: Quarta eu tô aí duas horas.

    Christine: Tá bom, obrigada, tchau‚

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    Ruy Collet Solberg é um dos primeiros nomes da lista de folhas 416-419 e figura

    como titular da conta nº 0025.054, identificado como “Rui Collet Solberg”. Com

    relação a essa mesma pessoa, há informação sobre a existência de outra conta

    bancária mantida no LGT, embora seja possível que o número informado na planilha

    de folhas 416-419 não seja o correto, ou que tenha havido alteração do número

    original da conta. Com efeito, no curso da medida cautelar de busca e apreensão,

    foram apreendidos documentos relativos à conta nº 0025.023, de titularidade Ruy

    Collet Solberg (Apenso nº 71).

    No mesmo dia 16/10/2006, CHRISTINE PUSCHMANN ligou para o desembargador

    aposentado Manoel Carpena Amorim, comunicando-lhe a mesma visita:

    Christine: Bom dia, é da residência do doutor Carpena?

    Interlocutora: É.

    Christine: Ele está, por favor? Seria possível falar com ele?

    Interlocutora: Tá.

    Carpena Amorim: Alô?

    Christine: Doutor Carpena? Bom dia, Christine. Tudo bem?

    Carpena Amorim: Oi, como vai? Tudo bom?

    Christine: Tudo bom? Olha só, doutor Carpena, nós vamos receber umas visitas esta

    semana, quarta e quinta, que seria interessante o senhor conhecer.

    Carpena Amorim: É?

    Christine: Aí nós gostaríamos de saber: seria possível, o senhor taria livre

    eventualmente na quarta de manhã?

    Carpena Amorim: Que horas? A partir de que horas?

    Christine: A hora que o senhor quiser. Eu tenho só uma coisa marcada às onze.

    Carpena Amorim: Não, eu chego cedo.

    Christine: Eu sei que o senhor gostar de vim cedo (riso). O que que o senhor quer?

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    Nove e meia?

    Carpena Amorim: É, pode ser, por aí.

    Christine: Então tá bom‚ Em torno de nove e meia...

    Carpena Amorim: Obrigado.

    Christine: Tá, no dia dezenove, que é quinta-feira.

    Carpena Amorim: Obrigado.

    Christine: Tá ok, obrigada, até logo...

     Assim como Ruy Collet Solberg, Manoel Carpena Amorim consta da lista de folhas

    416-419 e figura, nominalmente, como titular da conta nº 025.059, identificado apenascomo “Carpena”. Além disso, cópia do passaporte de Manoel Carpena Amorim foi

    apreendida no escritório do casal, junto com correspondência referente a DONINA

    INTERNATIONAL CORPORATION (Apenso nº 18) e à já mencionada ARICHI

    FOUNDATION, titular da conta 0167.681, atribuída ao mesmo cliente (“Carp.”).

     A propósito, registre-se que, em 4/10/2012, nos autos do Processo

    2009.51.01.813801-0, o Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro

    condenou Manoel Carpena Amorim pelo crime previsto no artigo 22, parágrafo único,

    segunda parte, da Lei nº 7.492/1986, adotando como fundamento as provas referidas

    anteriormente, além de outras produzidas no curso do processo em referência. 

    Existem diversas conversas telefônicas nas quais CHRISTINE PUSCHMANN trata da

    administração de contas bancárias de terceiros e negocia contratos de câmbio

    irregulares, semelhantes àquele tratado no diálogo com Ruy Collet Solberg,

    reproduzido acima. Por exemplo, confira-se o seguinte diálogo do dia 25/10/2006

    entre CHRISTINE PUSCHMANN e Geovah José de Freitas Amarante:

    [...]

    Christine: O senhor respondeu a correspondência que eu lhe mandei?

    http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86

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    Geovah: Estou chegando de Porto Alegre agora, já abri aqui. Porque a minha dúvida

    eu quero esclarecer com você, por gentileza.

    Christine: Sim.

    Geovah: É, eu [incompreensível] uma liberação, uma liberação não, uma

    disponibilidade de alguma coisa, é isso?

    Christine: Certo, é isso mesmo.

    Geovah: É, pois é, você já computou no líquido?

    Christine: Ah, isso já tá descontado, aquele último assunto que o senhor fez. Se o

    senhor olhar lá na penúltima página, o senhor vai ver que já tem a saída ali.

    Geovah: Não, pois é, de qualquer maneira eu tenho disponível de cinco-três-cinco

    mais alguma coisa.

    Christine: Isso, isso.

    Geovah: E vai entrar mais dez e mais dois e trezentos de euros, correto?

    Christine: Em dezembro, se eu não me engano, né?

    Geovah: É dezembro, é.

    Christine: Isso.

    Geovah: Então, a somatória disso vai dar a minha disponibilidade geral, correto?

    Christine: Isso, isso, em final de dezembro.

    Geovah: Final de dezembro, é isso mesmo, vai dar é... Não, tá bom, tá bom.

    Christine: Tá bom?

    Geovah: Não precisa... Esse ano, se Deus quiser, eu não preciso de nada.

    Christine: Tá bom, se precisar, o senhor já sabe quais são as suas disponibilidades.

    Geovah: É, vou vendo isso aí. Me dá... não vou precisar não. Acho que não vou

    precisar, tá bom.

    Christine: Tá.

    Geovah: O... fica cinco-três-cinco mais 10, mais 11...

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    Christine: 15...

    Geovah: Setecentos, fica é ... não, mas é cinco-três-cinco, dá... cinco e 45...

    Christine: Uhum...

    Geovah: Mais... praticamente 550.

    Christine: Certo.

    Geovah: Praticamente 550... euros.

    Christine: É, o total o senhor tem lá na primeira página, né?, que é incluindo inclusive

    o que vai entrar de disponibilidade.

    Geovah: Não, só entrou uma.

    Christine: Só entrou uma, mas, eu estou dizendo, quando eles fazem aquela

    avaliação da... do total do que tem aplicado, o senhor vai ver que ali já tem incluído os

     juros.

    Geovah: Ah, sim.

    Christine: Proporcionais até a data do dia que ele... que o senhor pediu o documento.

    Geovah: praticamente, quase 550.

    Christine: Isso, isso.

    Geovah: Mais ou menos.

    Christine: É.

    Geovah: Tá bom, vamos conversando.

    Christine: Tá combinado, então.

    Geovah: Um abraço.

    Christine: Tá, um abraço, até logo doutor.

    O nome de Geovah José de Freitas Amarante – com o prenome grafado “Jeovah” –

    está incluído na referida lista de clientes de CHRISTINE PUSCHMANN e Norbert

    Müller como titular da conta nº 0021.689 no LGT (fl. 416).

    Outrossim, representam boa amostra do sistema dólar cabo operado pelo casal as

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    mensagens eletrônicas impressas nas folhas 480-483, trocadas entre CHRISTINE

    PUSCHMANN e a cliente Marion Appel no mês de janeiro de 2007, nas quais ambas

    tratam da transferência de valores para a conta do filho desta última, em Londres, a

    partir de uma conta mantida no LGT.

    O exame sinótico da pletora de provas compiladas pela acusação evidencia que,

    apesar de o LGT não ter autorização para funcionar no Brasil, contava com

    representantes efetivos que ofereciam irregularmente os serviços dessa instituição

    financeira estrangeira a clientes brasileiros. CHRISTINE PUSCHMANN e Norbert

    Müller administravam uma verdadeira sucursal do LGT na cidade do Rio de Janeiro,

    como bem simboliza o fax de folhas 259-261 do Processo nº 2005.51.01.503175-1,

    enviado pelo LGT para um dos telefones do casal, identificado como “RIO MULLER”

    no canto superior esquerdo do documento.

    Nesses termos, considerando que CHRISTINE PUSCHMANN não detinha

    autorização do Banco Central do Brasil para operar instituição financeira (fl. 776),

    como exige o artigo 10, X,  da Lei nº 4.595/1964, as ações descritas na denúncia e

    provadas no curso do processo adéquam-se ao tipo do artigo 16 da Lei nº7.492/1986: 

     Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de

    direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória,

    cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos

    financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia,emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores

    mobiliários.

    Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:

    [...]

    II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda

    que de forma eventual.

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11666866/artigo-10-da-lei-n-4595-de-31-de-dezembro-de-1964http://www.jusbrasil.com/topicos/11666463/inciso-x-do-artigo-10-da-lei-n-4595-de-31-de-dezembro-de-1964http://www.jusbrasil.com/legislacao/109151/lei-da-reforma-banc%C3%A1ria-lei-4595-64http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/109151/lei-da-reforma-banc%C3%A1ria-lei-4595-64http://www.jusbrasil.com/topicos/11666463/inciso-x-do-artigo-10-da-lei-n-4595-de-31-de-dezembro-de-1964http://www.jusbrasil.com/topicos/11666866/artigo-10-da-lei-n-4595-de-31-de-dezembro-de-1964

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    32/58

    ...............................................

     Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida mediante

    declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição de valores

    mobiliários ou de câmbio:

    Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

    No que concerne à adequação típica, a defesa objeta a subsunção da ação narrada à

    norma inscrita no referido artigo 16, pois sustenta não ter havido potencial ofensa ao

    bem jurídico protegido pelo tipo, qual seja a higidez do sistema financeiro nacional.

    Como bem observado nas alegações finais, a doutrina e a jurisprudência majoritárias

    concordam que o crime do artigo 16 da Lei nº 7.492/1986 classifica-se como delito de

    perigo abstrato, que prescinde da demonstração de exposição do bem jurídico a

    perigo efetivo; logo, para a ação conformar-se ao tipo, é bastante que se explicite a

    sua aptidão para pôr em risco o bem jurídico protegido pela norma (v. ROXIN, Claus.

    Strafrecht: allgemeiner Teil. Band I. Grundlagen. Der Aufbau der Verbrechenslehre. 4ª

    ed. Munique: C. H. Beck, 2006. p. 338). 

     A operação de instituição financeira sem a autorização do Banco Central do Brasil é

    idônea a lesar a integridade do sistema financeiro nacional na medida em que impede

    as autoridades brasileiras de exercer o poder regulador que lhes foi cometido por lei e

    que não é suscetível de mensurar-se em termos exclusivamente pecuniários.

    Observe-se que a instituição financeira clandestina não se submete às normas que

    regulamentam o sistema financeiro nacional e, ipso facto, ofende-o de maneira

    inegável ao não atender, por exemplo, à obrigatoriedade de informar transações

    atípicas ao Coaf; ao não se sujeitar aos efeitos de tributos extrafiscais sobre suas

    atividades, como o imposto sobre operações financeiras; e, ainda, ao competir de

    forma desleal com as instituições financeiras que operam licitamente no Brasil e que,

    por isso, obedecem a todas as restrições impostas pelo ordenamento jurídico nacional.

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    Dessa forma, está perfeitamente configurada a tipicidade da ação atribuída à

    demandada, em virtude de sua insofismável aptidão a lesar o sistema financeiro

    nacional.

    Em conclusão, não tendo sido verificadas causas de justificação da ação típica ou de

    exculpação do injusto penal, impõe-se o acolhimento da pretensão punitiva no que

    respeita ao crime do artigo 16 da Lei nº 7.492/1986, imputado a CHRISTINE

    PUSCHMANN. 

    2.2.2. Do crime previsto no artigo 22, parágrafo único da Lei nº 7.492/1986 

    O Ministério Público Federal acusa as rés CHRISTINE PUSCHMANNM, CHRISTINE

    M€LLER e INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS de haverem mantido depósitos no

    exterior sem declará-los à autoridade brasileira, razão pela qual teriam incorrido no

    crime previsto no artigo 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei nº 7.492/1986: 

     Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão

    de divisas do País:

    Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

    Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem

    autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver

    depósitos não declarados à repartição federal competente.

    Da leitura do texto legal, infere-se que a ação típica consiste em manter depósito em

    país estrangeiro com relação ao qual haja norma que obrigue o titular a declará-lo à

    autoridade brasileira. A aferição da ação em si mesma constitui questão

    eminentemente probatória, ao passo que a existência, ou não, de norma que torne

    compulsória a declaração demanda o exame da legislação que trata da matéria.

     A obrigação de apresentar ao Banco Central do Brasil declaração sobre ativos

    mantidos no exterior decorre do disposto no artigo 1º do Decreto-Lei nº 1.060/1969 e

    no artigo 1º da Medida Provisória nº2.224/2001. Os prazos para a apresentação da

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11122649/artigo-1-da-medida-provisoria-n-2224-de-04-de-setembro-de-2001http://www.jusbrasil.com/legislacao/100920/medida-provisoria-2224-01http://www.jusbrasil.com/legislacao/100920/medida-provisoria-2224-01http://www.jusbrasil.com/topicos/11122649/artigo-1-da-medida-provisoria-n-2224-de-04-de-setembro-de-2001http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753697/artigo-16-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    declaração e os valores máximos para a dispensa da obrigação foram estabelecidos

    por sucessivos atos normativos editados pela própria autarquia (v.g., Resolução nº

    2.811/2001, Circular nº 3.070/2001, Circular nº 3.071/2001, Circular nº 3.110/2001,

    Circular nº 3.181/2003, Circular nº 3.225/2004, Circular nº 3.278/2005, Circular nº

    3.313/2006, Circular nº 3.345/2007, Resolução nº 3.540/2008, Circular nº 3.384/2008,

    Circular nº 3.342/2009, Resolução nº 3.584/2010 e Circular nº 3.496/2010). 

    Todas as circulares do Banco Central do Brasil que disciplinam a obrigatoriedade de

    declarar depósito mantido no exterior determinam que o titular informe o saldo do

    depósito existente no dia 31 de dezembro do respectivo ano-base; assim, faz-se

    necessário ao perfazimento da adequação típica que o titular omita a manutenção de

    depósito no exterior em valor superior ao limite regulamentar conforme o saldo

    existente no dia 31 de dezembro do ano em questão.

    Com base nessas premissas, passa-se a examinar a acusação que pesa sobre as rés.

    2.2.2.1. Dos depósitos omitidos por CHRISTINE PUSCHMANN

    O Ministério Público Federal alega que CHRISTINE PUSCHMANN teria mantido

    depósitos não declarados em duas contas mantidas no LGT: (a) conta nº 0153.954 e

    (b) conta nº 0027.337.

    Os formulários de abertura de conta nº 0153.954 constam das folhas 2 e seguintes do

     Apenso XV, devendo ser ressaltado que, para esse propósito, a firma da ré foi

    reconhecida em cartório. Na folha 16 do mesmo apenso (traduzida na folha 165 do

     Apenso 19), há informação de saldo superior a US$ 1.000.000,00 na conta citada no

    dia 31/12/2001.

     A despeito do que alega a defesa, há provas suficientes de que CHRISTINE

    PUSCHMANN era a titular da conta nº 0027.337. Na planilha de folhas 416-419, que,

    como visto anteriormente, relaciona os clientes com contas no LGT, o nome da ré é

    vinculado a essa conta, com o prenome abreviado (“Ch. Puschmann”). Existem,

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    outrossim correspondências em nome da ré endereçadas a Markus Buehler,

    funcionário do LGT, em que ela solicita o creditamento de determinado valor em sua

    conta (“Duerfte ich Sie bitten, den Betrag meinem Konto [sem grifo no original]

    gutschreiben zu lassen.”, cf. fl. 5 do Apenso VIII) e o depósito de cheque na referida

    conta (fl. 8 do Apenso nº VIII). 

    Quanto ao valor depositado, os documentos de folhas 24 e 39 do Apenso VIII

    (traduzidos nas folhas 146 e 156 do Apenso nº 19) registram saldo superior a

    US$ 1.000.000,00 na conta nº 0027.337 em 31/12/2004 e 31/12/2005,

    respectivamente.

    Considerando os valores que CHRISTINE PUSCHMANN manteve no exterior são

    superiores ao mínimo estabelecido na legislação administrativa e que a ré não

    informou ao Banco Central do Brasil a existência dos citados depósitos, está perfeita

    a adequação típica; e, como não há causas que afastem a ilicitude ou a culpabilidade,

    ela deve responder pelo crime previsto no artigo 22, parágrafo único,  da Lei

    nº7.492/1986. 

    No entanto, por não haver informação sobre o saldo das referidas contas no dia 31 de

    dezembro dos anos posteriores a 2005, o crime em comento, de natureza

    permanente, é considerado consumado em 1º/6/2006, primeiro dia após o fim do

    prazo em que a titular deveria ter informado ao Banco Central do Brasil os valores

    depositados na referida conta, nos termos da Circular BCB nº 3.313/2006.

    Desse modo, acolho apenas em parte a pretensão deduzida pelo Ministério Público

    Federal, uma vez que não há prova de que CHRISTINE PUSCHMANN tenha mantido

    depósitos estrangeiros de declaração compulsória após 31/12/2005.

    2.2.2.2. Dos depósitos omitidos por CHRISTINE M€LLER

     A denúncia afirma que a CHRISTINE M€LLER não declarou o Banco Central do Brasil

    valores depositados na conta nº 0027.891, mantida no LGT, e na conta nº 230-

    http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033694/constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033694/constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988

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    500.675, mantida no UBS.

     A defesa nega que a ré seja titular da primeira conta citada, que seria, na realidade,

    de seu irmão Peter Lucas Müller, nos termos da declaração de folha 1255. Quanto à

    segunda conta atribuída a ré, a defesa sustenta que os valores ali depositados

    constituiriam adiantamento de herança que ela, ré, ignorava até o cumprimento do

    mandado de busca a apreensão.

    No que se refere à conta nº 0027.891, mantida no LGT, não há, de fato, prova

    suficiente de que ela pertencesse à ré CHRISTINE M€LLER. O único elemento

    indiciário apontado pela acusação é a planilha de folhas 416-419, porém, nesse

    documento, o número da conta é seguido dos nomes “Tininha (Peter)”, o que não

    permite determinar se a conta pertencia à ré ou ao seu irmão, como alega a defesa.

    Note-se que, em interrogatório gravado em meio audiovisual (fl. 1197), a ré confirmou

    que seu apelido é “Tininha” (4min55seg), porém, no demonstrativo da conta na folha 7

    do Apenso XVI, está anotado, a lápis, o nome “Pedro”, que, como se sabe,

    corresponde a “Peter”, em alemão. Em interrogatório, a ré declarou que a família

    refere-se a Peter como “Pedro” (4min44seg), o que não é de modo algum inverossímil.

    Dessa forma, vê-se que realmente não existe prova de que a conta nº 0027.891,

    mantida no LGT, e cujos documentos são encartados no Apenso XVI pertencia a

    CHRISTINE M€LLER, pois existe dúvida razoável de que o seu irmão possa ser

    verdadeiro o titular da conta.

    Por outro lado, no que tange à titularidade da conta nº 230-500.675, mantida, no UBS,

    as provas são robustas. O documento de folha 2 do Apenso IV (traduzido na folha 189

    do Apenso nº 19), assinado por Norbert Müller, faz referência à conta em questão

    seguida do nome da ré. A correspondência de folha 3 do Apenso IV (traduzido na

    folha 190 do Apenso nº 19) menciona a conta referida como “minha conta” (“mein

    Konto”) e é assinado pela própria ré, que, em interrogatório (fl. 1197), reconheceu que

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    a assinatura em causa parecia se “muito mesmo” com a sua (5min). Por fim, nos

    documentos de folhas 4-5 do Apenso IV (traduzido na folha 191-192) do Apenso nº 19,

    assinados por Norbert Müller, o número da conta é seguido do nome “Christine”, que

    é mencionada no texto como sua filha (“meine Tochter”). Registre-se ainda que a

    assinatura da ré no documento de folha 3 do Apenso IV foi objeto de perícia

    grafotécnica (fls. 384-391) que concluiu pela semelhança entre o material gráfico

    fornecido por ela e o lançamento periciado, embora uma conclusão categórica não

    fosse possível por tratar-se de documento fotocopiado.

    O demonstrativo de folha 25 do Apenso IV (traduzido na folha 212 do Apenso nº 19)

    revela que a titular manteve mais de SFr. 2.500.000,00 depositados na referida conta

    entre 29/12/2006 e 23/1/2007. Os demonstrativos subsequentes não indicam

    retiradas nesse período, razão por que se conclui que, em 31/12/2006, a ré mantinha

    em depósito valor superior ao limite de US$ 100.000,00 previsto na Circular BCB nº

    3.345/2007 e, por essa razão, estava obrigada a declará-lo até 31/5/2007, como

    preceituava esse mesmo diploma normativo.

    Cumpre tecer mais uma observação sobre os elementos objetivos do tipo. Não

    obstante a defesa afirmar, reiteradamente, que os valores depositados nas contas em

    nome de CHRISTINE M€LLER e INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS representam

    doação por adiantamento de herança, a origem dos depósitos mantidos no exterior é

    irrelevante para a caracterização do delito previsto no artigo 22,parágrafo único,  daLei nº 7.492/1986, que se consuma com a omissão de declaração de depósitos

    existentes no exterior, no tempo e modo determinados pelo Banco Central do Brasil. 

    Configurado, assim, o tipo objetivo, cumpre aferir a presença, ou não, do elemento

    subjetivo doloso. Em interrogatório, a ré afirmou que seu pai, Norbert Müller,

    entregava-lhe “pilhas de papel” referentes a “atas e reuniões” para que ela assinasse

    (6min30), pois ela era sócia de várias pessoas jurídicas a pedido dele. A ré disse,

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986

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    ainda, que não lia os documentos que o pai lhe dava para assinar, porque confiava

    “cegamente” nele (7min10seg), e nunca o inquiriu sobre as transações a que se

    referiam aqueles documentos, mesmo sendo ela fluente em alemão e, portanto,

    capaz de compreender integralmente o que subscrevia.

    Considerando que CHRISTINE M€LLER não dispunha de qualquer valor para

    depositar na conta bancária que abrira na Suíça, é certo que o fez com o

    conhecimento de que seu pai ou terceiros a utilizariam como destinação de depósitos,

    tanto que ela cedeu virtualmente o direito de movimentar a conta em favor de seu pai,

    cujos papéis assinava sem questionamento.

     A ré é pessoa de estrato social elevado e viveu em ambiente familiar no qual o trato

    com grandes transações societárias e bancárias era questão ordinária. Ela própria

    declarou em juízo que trabalhou com seu pai em negócios de administração de

    empresas; assim, não deve haver rebuços em afirmar que (a) CHRISTINE M€LLER

    era capaz de representar intelectualmente a ocorrência possível dos elementos

    objetivos do tipo do artigo 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/1986 e, além disso, (b)

    conformou-se com a produção do resultado típico ao assinar, levianamente, todo e

    qualquer documento que lhe era arrostado pelo pai. 

    Dessa forma, conclui-se que a ré agiu imbuída de dolo indireto ou eventual (v.

    TAVARES, Juarez. Teoria do injusto penal. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. pp.

    341 ss.), de modo que está perfeitamente demonstrado o elemento subjetivo doloso,na forma do artigo 18, I, segunda parte, do Código Penal. 

    Nesses termos, ausentes causas de legitimação ou exculpação, CHRISTINE

    M€LLER deve responder pelo crime de que é acusada, com a ressalva de que a

    duração do delito limita-se à declaração omitida sobre o ano-base de 2006,

    diversamente do que consta dos termos da denúncia.

    2.2.2.3. Dos depósitos omitidos por INGRID MARIA M€LLER LUSQUINOS

    http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/10637924/artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940http://www.jusbrasil.com/topicos/10637890/inciso-i-do-artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40http://www.jusbrasil.com/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40http://www.jusbrasil.com/topicos/10637890/inciso-i-do-artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940http://www.jusbrasil.com/topicos/10637924/artigo-18-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940http://www.jusbrasil.com/legislacao/110242/lei-do-colarinho-branco-lei-7492-86http://www.jusbrasil.com/topicos/11753423/par%C3%A1grafo-1-artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986http://www.jusbrasil.com/topicos/11753449/artigo-22-da-lei-n-7492-de-16-de-junho-de-1986