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Notas sobre a situação mundo do trabalho no Estado do Ceará nos anos 2001-2009, notadamente no que se refere à estatísticas do emprego industrial.

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Foi somente a partir da interveno dos organismos institucionais de fomento criados nos anos 60 que o Cear e regio nordestina experimentou alteraes no seu quadro produtivo, infraestrutural e nas suas relaes de produo, muito embora, culminando numa estrutura de ao modernizante na forma, mas conservadora nas suas estruturas

O forte ajuste liberal a partir de 1994 desmantelou as instituies e as polticas regionais de enfrentamento das desigualdades entre regies. A reduo das disparidades regionais perdeu flego ante a crise do modelo desenvolvimentista o que repercutiu na queda dos investimentos governamentais

A opo por um modelo de insero externa competitiva em substituio ao modelo de integrao nacional pressups profundas reformas que obedeceram, grosso modo, o receiturio apregoado pelo Consenso de Washington e suas variantes. Estas converteram-se em credenciais importantes para a entrada do Brasil no processo de globalizao

Eixo da estratgia recente: dirimir as desigualdades intrarregionais por meio de polticas industrializantes e agroindustriais seletivamente dispostas no territrio cearense e induzidas por incentivos fiscais.

A partir dos anos 1950, quando o Governo Federal inicia uma ao planejada de combate s secas nordestinas, com a criao da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), o Cear passa a experimentar uma reformulao na sua estrutura econmica.

A poltica nacional de desenvolvimento busca a diminuio das disparidades interregionais, resultando na criao do BNB, em 1952, e da Sudene, em 1959. Dessa interveno de planejamento regional, resultou uma poltica de incentivos fiscais para a regio Nordeste, a qual veio a se refletir no Cear. Nesse perodo, modernizam-se as indstrias tradicionais, como as txteis, e surgem novos eixos como a castanha de caju e a exportao da lagosta, mantendo-se a base de beneficiamento de produtos agrcolas antes existentes.

Nessa fase, destacou-se a expanso dos mercados de produtos industrializados, que extrapolaram o mbito local, direcionando-se em dois fluxos comerciais: os produtos manufaturados eram destinados ao mercado nacional, enquanto os produtos beneficiados se dirigiam ao mercado externo.

Essa fase d sinais de esgotamento na dcada de 1980, quando comea a diminuir o fluxo de recursos oriundos dos incentivos fiscais. Alm disso, os anos 1990 intensificam uma reestruturao na economia mundial, observando-se a a configurao da terceira fase do desenvolvimento do estado.

A terceira fase fortemente marcada por uma nova composio poltica, quando as elites empresariais do estado, agregadas pelo Centro Industrial do Cear (CIC), assumem o comando do governo.

No campo industrial, o diferencial dessa fase est na poltica de atrao de indstrias, do que decorre a chamada guerra fiscal entre os estados brasileiros, que passam a competir abertamente na oferta de atrativos fiscais e de infra-estrutura a novas plantas produtivas, compensando o baixo nvel de competitividade mercadolgica.

O Cear revelou-se um dos estados mais agressivos nessa poltica: no perodo 1994-1999, 432 novas indstrias tinham manifestado a inteno de se instalar no estado, o que representaria um investimento de US$4,7 bilhes. Dessas, 172 j se encontravam implantadas em sessenta municpios cearenses, com a gerao de 37 mil empregos diretos e 120 mil indiretos (AMORA, 2005).

Essa poltica de atrao propiciou o crescimento da participao do PIB Industrial do Cear, que se elevou de 26,8%, em 1985, para 38,1%, em 2000. Influenciou tambm a implantao de novos ramos industriais, como a metalurgia e a produo de embalagens e de material de transporte, alm de aumentar a participao de produtos industrializados na pauta de exportaes, com destaque para calados, tecidos e fios de algodo, couros e peles.

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A mobilizao social enjeitada pelo CIC culminou com a ascenso de Tasso Jereissati ao governo cearense no pleito de 1986, deflagrando uma reestruturao do Estado que, conforme Gondim (2000:411), no significou o fim do coronelismo, pois este j estava, se no extinto, pelo menos moribundo e, tampouco, o projeto poltico-administrativo mudancista do CIC reconhecidamente inovador foi o responsvel pelos avanos infraestruturais e sociais ocorridos nos mandatos que se seguiram27. Na verdade, os fundamentos para a modernizao haviam sido dados por Virglio Tvora28 em seus mandatos frente do governo cearense que, juntamente com Carlos Jereissati simbolizavam lideranas representativas de uma transio para a ideologia da modernidade, refletindo as idias de Celso Furtado e do Banco do Nordeste. (Parente, op. cit., p. 395).

Datam desse perodo a eletrificao do Estado, a criao do Banco Estadual (BEC), alm do I Distrito Industrial, da Companhia Docas do Cear, superintendncias e secretarias de desenvolvimento, planejamento estratgico e coordenao administrativa. Apesar disso, essas administraes no conseguiram proteger a mquina pblica dos interesses clientelistas dos polticos do interior cearense, resistentes a mudanas no modus operandi da burocracia estatal.

Todavia, para o nascente projeto mudancista iniciado com Tasso, a modernidade transparecia no mrito empresarial, na eficincia administrativa e na interveno gil das instituies pblicas (Abu-El Haj, op. cit., p. 87). Desse modo, foi reformulado o aparelho estatal, comprimindo gastos com o funcionalismo, saneando as finanas pblicas, ampliando a arrecadao e racionalizando a ao social do Estado.

Tudo isso garantiu um clima favorvel reproduo capitalista, recuperando a capacidade estadual no financiamento de contrapartidas junto a recursos captados em agncias multilaterais de crdito. Esses financiamentos garantiram nos mandatos subseqentes a contratao de infraestruturas de grande porte que atraram novos investimentos produtivos nacionais e estrangeiros.

Aos poucos, a modernidade cearense foi reinventando o governo, sincronizando a estrutura do Estado ao iderio hegemnico do mercado, incorporando novos mtodos sistmicos e racionais de gesto, amplamente difundidos na iniciativa privada (Meneleu Neto, op.cit. p.42). Essa postura marcaria tambm a gesto de Ciro Gomes (1991-94), quando, nesse sentido, apoiou a criao do Pacto de Cooperao do Cear.

Com essa reestruturao administrativa, o modelo Nacional-desenvolvimentista, que atribua ao aparelho de Estado um papel empreendedor, produtor do dinamismo econmico, deu vez s concepes Neodesenvolvimentistas amadurecidas pelo CIC, em que o Estado devia aparecer como propulsor do desenvolvimento, mais flexvel em suas intervenes, parceiro do setor privado (Abu-El Haj, op. cit.).

, de fato, inusitado, que essa quebra de paradigma venha justamente do Nordeste, tradicionalmente apegado ao modelo mais arcaico. Entretanto, elucida Parente (2002:134), esse fenmeno do Brasil moderno materializado na maior proximidade entre a economia e a poltica com a presena mais direta do empresariado no Estado Brasileiro teve na especificidade cearense as condies histrico-polticas de concretizao.

No se pode deixar de observar que, neste momento (1987-94), a conjuntura econmica nacional foi extremamente desfavorvel ao projeto cearense hiperinflao e descontrole fiscal-financeiro solapavam a economia exigindo aes mais racionalizadas dos estados.

Sendo assim, o tipo de administrao implantada no Cear tornou-se emblemtico para o Pas, pois j procedia o ajuste e a responsabilidade fiscal, e a sua posio de vanguarda na reforma das contas estaduais, iniciada ainda nos anos 80, permitiu durante a estabilidade econmica do Plano Real (1994) uma posio vantajosa na competio por investimentos produtivos31.