nossa gente? - tv escola · 2018-04-17 · nal do idioma. o estudo dos aspectos linguísticos da...

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MESTRES DA LITERATURA MÁRIO DE ANDRADE: REINVENTANDO O BRASIL MACUNAÍMA: REPRESENTAÇÃO DE NOSSA GENTE? PROFESSORES IRENE GADEL Literatura THAIS ROSA VIVEIROS Gramática

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Mestres da LiteraturaMário de andrade: Reinventando o BRasil

MacunaíMa: RepResentação de

nossa gente?

ProFessoresirene gadeL literatura

thais rosa ViVeiros Gramática

aPresentaçãoo documentário “Mestres da literatura – Má-rio de andrade” apresenta uma abordagem poética e política da obra produzida por este importante escritor, defensor e construtor da literatura modernista brasileira. em “Macunaí-ma”, seu trabalho criativo pode ser observado por meio da construção de um personagem que surge de um mito indígena e que, quase surrealmente, amarra outros mitos, fazendo-se personagem deles. apesar da questão antropo-lógica da obra ser bem estudada, sua natureza oriunda da tradição oral ainda fica em segundo plano, e será, portanto, foco de nosso trabalho.

sinoPse do PrograMaO filme resgata a história cultural brasileira por meio da obra de Mário de andrade. inovador e profundo conhecedor da cultura popular, Mário de Andrade refletiu sobre a identidade nacional e deixou grandes lições de brasilidade em poemas, ensaios, livros e no seu personagem mais emble-mático: Macunaíma. duas professoras de língua portuguesa participam do programa “sala de professor” e apresentam uma proposta de traba-lho que estimula a leitura do folclore nacional e a produção de textos no estilo de Mário de andrade.

sala de professor mário de andrade: reinventando o brasil 3

a atividade a seguir tem base no estudo das mar-cas de oralidade presentes na obra “Macunaíma”, de Mário de andrade. o Movimento Modernista, ao qual pertenceu o referido autor, tem entre suas prin-cipais características a busca de uma identidade nacional – momento pelo qual todos os países que foram colônias passaram. Considerando que a lín-gua é um fato social, como dizia Émile durkheim, é inviável pensar o reconhecimento de nacionalidade desvinculado de uma compreensão social e funcio-nal do idioma. o estudo dos aspectos linguísticos da Língua Portuguesa, o uso da língua, norma cul-ta e variação linguística, são previsto na Matriz de Referências para o enem 2011. o trabalho pode ser desenvolvido em qualquer série do ensino Médio.

desse modo, um dos grandes méritos da literatura modernista foi a representação literária do falar do povo brasileiro, de modo que o texto escrito fosse um documento real dos diversos níveis de lingua-gem que permeavam o universo linguístico de uma determinada população.

Um exemplo clássico da busca de uma identida-de é o poema “erro de português”, do também modernista Oswald de Andrade:

“Quando o português chegoudebaixo de uma bruta chuva

vestiu o índio.Que pena!

Fosse uma manhã de sol,O índio tinha despido o português.”

UM olhaR paRa o doCUMentáRio a paRtiR da graMática e da Linguística

teoricamente, segundo Celso Cunha e lindley Cintra: É recente a concepção de língua como instrumento de comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus aspectos, meio de expressão de indivíduos que vivem em so-ciedades também diversificadas social, cultural e geograficamente. Nesse sentido, uma língua histórica não é um sistema linguístico unitário, mas um conjunto de sistemas linguísticos, isto é, um DIASSISTEMA, no qual se inter-relacio-nam diversos sistemas e subsistemas. (Cunha & Cintra, 2008)

antecipando o que hoje nos parece óbvio, Mário de andrade produziu sua obra-prima “Macunaíma” com a intenção de representar a riqueza cultural presente no país que possui dimensões continentais. de modo a referir-se às vanguardas artísticas que foram base de todas as produções do início do século, Mário de andrade optou por construir seu romance por meio de uma rapsódia. assim, seria possível abordar os elementos mitológicos indígenas, representar a orali-dade e, ainda, ser vanguardista.

o gênero rapsódia permite isso por ser um texto produzido por meio da mistura de diversos mitos que passam a possuir um elemento comum – um personagem, um tempo, um espaço. o próprio conceito de mistura, de relação, proporciona um estilo de texto que não corresponde à logicidade canônica e, portanto, possibilita a grande quan-tidade de representações que Mário de andrade pretendia indicar.

1. da oraLidade

Comumente, percebemos as marcas de oralidade por meio de vocábulos ou de específicas representações ortográficas que se aproximam da representação fonética. no entanto, as marcas de oralidade são constituídas por variações lexicais, fonéticas e morfos-

sintáticas. estas são, de fato, as mais relevantes, uma vez que o texto é escrito com o ritmo próprio da fala, o que intensifica a ocorrência de elipses, zeugmas e, sobretudo, anacolutos e quebras do raciocínio sintáti-co que podem dificultar a compreensão de um texto.

sala de professormário de andrade: reinventando o brasil4

para estudar e reconhecer as marcas do discurso oral, trabalharemos com uma edição de “Macu-naíma”, de modo que, durante a leitura de alguns excertos, seja possível o reconhecimento dos elementos próprios da oralidade e de sua relevân-

exemplo B 2. das Vanguardas euroPeias

para compor “Macunaíma”, Mário de andrade também fez uso das vanguardas europeias, sobre-tudo do Futurismo, do Cubismo, do dadaísmo e do surrealismo. no que concerne ao Futurismo e ao Cubismo, isso fica perceptível na velocidade da narrativa e nos trechos que são sobrepostos por meio de anacolutos, como no exemplo abaixo:

[...] Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza. - Puxa, como você cheira bem, benzinho! que ele murmuriava gozado. E escancarava as narinas mais. Vinha um tonteira tão macota que o sono principiava pingando nas pálpebras dele. Porém a Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com um jeito de rede que enlaçava os dois convidava o companheiro pra mais brinquedo. Morto de soneira, infernizado, Macunaíma brincava para não desmintir a fama só, porém quando Ci queria rir com ele de satisfação: -Ai! que preguiça!...andrade, 2004 (Ci, a mãe do mato).

Tudo ele contou pro1 homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E2 o homem sou eu, minha gente3, e2 eu fiquei pra4 vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me5 acocorei em riba6 destas folhas, catei meus car-rapatos, ponteei6 na violinha e em toque rasgado6 bo-tei a boca7 no mundo cantando na fala impura8 as fra-ses e os casos6 de Macunaíma, herói de nossa gente.Tem mais não.9

andrade, 2004 (epílogo).

neste excerto marcamos nove pontos:1. abreviação de para contraída com o artigo o, mar-

ca típica de representação da velocidade da fala;2. Uso da conjunção e como partícula de manu-

tenção da conversação;3. vocativo;4. abreviação de para;5. Colocação pronominal proclítica, típica da oralidade;6. vocábulo típico das regiões norte e nordeste

brasileiras;7. Gíria;8. Referência direta ao fato de o texto ter sido escrito

de forma a representar o falar do povo brasileiro;9. expressão de encerramento típica das regiões

norte e nordeste.

exemplo a

Lá chegando1 ajuntou os vizinhos, criados a patroa cunhãs datilógrafos estudantes empregados-públicos2, muitos empregados-públicos! todos esses vizinhos e contou pra3 eles que tinha ido caçar4 na feira do Arouche e matara dois...-... mateiros, não eram viados mateiros, não5, dois viados catingueiros que comi com os manos6. Até vinha trazen-do um naco7 pra3 vocês mas porém8 escorreguei na esquina, caí derrubei2 o embrulho e o cachorro comeu tudo.andrade, 2004 (Cap. Xi – a velha Ceiuci).

Neste excerto acima marcamos oito pontos em que é possível identificar as seguintes marcas do discurso oral:1. inversão do verbo em relação ao advérbio, marca típica da fala, sobretudo da fala centro-norte brasileira;2. ausência das vírgulas, com o intuito de representar a velocidade da fala;3. abreviação da preposição para, marca muito comum de representação fonética de um vocábulo;4. Forma coloquial da locução verbal tinha ido, ou, mais formalmente, fora;5. Repetição da negativa com intenção de ênfase, típico do discurso oral;6. abreviação de irmãos;7. Uso de gíria;8. Uso de duas conjunções adversativas semanticamente sinônimas – marca típica da fala de crianças ou de

falantes com baixa escolaridade.

cia na obra e na mensagem que pretende passar. abaixo, apresentamos alguns exemplos de como fazer a identificação destes elementos da oralida-de e a sua compreensão no contexto da obra:

sala de professor mário de andrade: reinventando o brasil 5

o surrealismo e o dadaísmo são perceptíveis por meio da falta de logicidade e linearidade da narrati-va. ao mesmo tempo em que essas características conferem à narrativa uma natureza quase cinema-tográfica, dificultam consideravelmente a leitura, uma vez que nós, leitores, estamos habituados a um raciocínio lógico que vai de encontro à nova proposta fornecida por essas vanguardas.

Vários são os trechos em que isso fica perceptível. no entanto, é muito evidente no capítulo Xi, “a velha Ceiuci”, quando, para fugir, Macunaíma e seus irmãos atravessam praticamente todo o território brasileiro. sugerimos trabalhar com algumas obras das artes

1. surrealismo: A persistência da memória, salvador dali [1904-1989]. 2. Cubismo – Lês demoiselles d’avignon, pablo picasso [1881-1973]. 3. dadaísmo – tristan tzara [1896-1963]. 4. Futurismo, Umberto Boccioni [1882-1916].

MateriaL

“Macunaíma”, de Mário de andrade;

“nova gramática do português contemporâneo”, de Celso Cunha e lindley Cintra;

Caderno para registros;

imagens e passagens impressas do livro tema.

etaPas

Definição de variação linguística;

sensibilização por meio de exemplos interessantes;

Identificação das marcas de oralidade presentes em “Macunaíma”;

Identificação de exemplos da presença das vanguardas europeias.

Veja Mais

Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27150.

plásticas que podem ser utilizadas para ilustrar com maior clareza as características das vanguar-das presentes na obra:

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UM olhaR paRa o doCUMentáRio a paRtiR da Literatura

Mário de Andrade é uma das figuras angulares da litera-tura modernista brasileira. seu verso “sou trezentos, sou trezentos e cinquenta”, embora hiperbólico, traduz as muitas atividades a que se dedicou o autor: músico, romancista, contista, poeta, folclorista, teóri-co e crítico das artes, guia/consultor para autores mais jovens ou iniciantes, burocrata. Mário foi (é) autoridade reconhecida na literatura Brasileira.

Um dos idealizadores da semana de arte Moderna, ao lado de figuras como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, anita Malfatti, Menotti del picchia, di Ca-valcanti, villa lobos e outros, também participou dos movimentos pós 22, como Pau-Brasil e antropofagia. estes movimentos buscavam sedimentar as ideias modernistas e dar-lhes as tintas que, no caso do pau-Brasil, as ligavam à história do Brasil (relendo autores e obras coloniais a dando-lhes continuidade, fazendo uma literatura de exportação, isto é, antenada com a produção inovadora), ou, no caso da antropofagia, ressignificando as influências estrangeiras em nossa cultura. os dois movimentos têm a lente da crítica bem-humorada, usando esse enfoque para conhecer o Brasil (que sabiam não ser uno, mas múltiplo).

“Macunaíma”, publicado em 1928, é o livro que melhor exprime o movimento da antropofagia. não gratuita é a caracterização do protagonista como um índio, habitante original do Brasil (um ícone literário naciona-lista desde a independência), anterior ao europeu e ao africano. Macunaíma, saído de seu lugar original, vai viajar por outras terras e chegar a são paulo – na épo-ca, uma das duas cidades brasileiras “cosmopolitas”. ali vai incorporando a cultura urbana, já integradora de etnias imigrantes. vai vivendo-a, “usando-a” crítica e antropofagamente: aproveitando o que lhe interessa, rindo do que percebe ridículo, sem sentido (ver “Carta às icamiabas”). expresso no enredo, o movimento antropofágico se mostra também na linguagem, em trechos com claras influências das vanguardas euro-peias, como o Futurismo, o dadaísmo e o surrealismo,

que digeridos aparecem integrados de forma orgânica à história fantástica (pelas peripécias do herói).

Macunaíma é, na mitologia macuxi, nome de um ser mitológico, criador. Macunaíma não só conta mitos criadores do folclore (como a história da lua, Capei), mas cria outros, ironicamente: o futebol, o jogo do truco, do gesto de “banana”, a expressão “vá tomar banho”. segundo uma das fontes do livro, indicada pelo próprio Mário de andrade, o etnógrafo alemão theodor Koch-Grümberg (em Von Roraima zum Ori-noco), a personagem era um dos heróis das lendas taulipang e arecuná. ainda menino, era mais safado que todos os outros irmãos. Macunaíma, depois de passar pela água milagrosa, ficar branco e loiro, tam-bém cresce e encorpa, mas fica para sempre com “a cabeça rombuda e a carinha enjoada de piá”.

segundo haroldo de campos (citado no posfácio à edição indicada de “Macunaí-ma”), o estudioso alemão “ressalta a am-biguidade do herói, dotado de poderes de criação e transformação (episódios em que brinca com as cunhadas, transformado em adulto). É nutridor por excelência, mas, ao mesmo tempo, malicioso e pérfido”.

o nome Macunaíma viria de “Maku” (mau) com o su-fixo “ima” (grande), portanto, Macunaíma significaria o Grande Mau. o nome calharia bem para o herói andradeano: sem escrúpulos, autocentrado, prejudi-cial às pessoas que lhe são próximas (como em seu sonho “com dente que profetiza a morte de parente” que anuncia a morte da mãe, as traições ao irmão Jiguê, os episódios de caça).

Mário de andrade chamou sua obra de rapsódia. o termo “Rapsódia” no contexto da música seria uma composição que aproveita temas musicais populares em uma nova composição original. Mário fez exatamen-te isso. “Macunaíma” reúne mitos e lendas do folclore

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de diversas regiões do Brasil, junta crendices, ditados e expressões do povo na saga de um herói que peleja por fidelidade a um propósito (reaver a muiraquitã), propó-sito no fundo romântico, porque a muiraquitã é o último presente de sua amada Ci, a mãe do mato.

o autor escreveu que “gastou muito pouca inven-ção no poema fácil de escrever [...] este livro não passa duma antologia do folclore brasileiro”, o que não é verdade. a costura harmoniosa dos elementos folclóricos foi feita com muita criatividade e bom humor; as lendas aparecem como componentes de

uma história: não são só encaixadas, são assimiladas a uma nova narração, são seus elementos consti-tuintes (atente-se para a conclusão: um papagaio é o narrador das peripécias de Macunaíma, sem ele o escritor não revelaria ao mundo essa personagem e sua vida). o episódio é um exemplo da criatividade de Mário de andrade ao assimilar o espírito fantásti-co do resto do livro ao contar a sua origem.

Vale um inventário (que não pretende ser completo, mas ilustrativo) das lendas e crendices que Mário de Andrade incorporou a “Macunaíma”:

Lendas e crendices que Mário de andrade incorPorou a “MacunaíMa”

Lendas e Mitos

• Caipora;• Curupira;• Mãe do Mato, Ci;• Cobra Grande;• Origem da Lua – Capei;• Origem da mandioca;• Boto conquistador;• Origem das três cores do ser humano;• Cobra Grande;• Origem do Guaraná;• Iara;• História da menina enterrada pela madrasta;• História do macaco que enganou o homem;• Cobra preta que envenena o leite da mãe que

amamenta.

crendices

• Dar água num chocalho faz a criança aprender a falar.• Apontar para uma estrela faz nascer verruga no dedo.• Chupar chave de sacrário cura sapinho. • Colocar uma joia no banho do bebê traz

riqueza para a criança.• Colocar uma tesoura embaixo do travesseiro não

deixa tutu Marambá chupar o umbigo do bebê.• Fechar os olhos da pessoa morta para o Boitatá

não comê-los.• Sonhar com dente é morte de parente.• Canto do uirapuru traz felicidade.• Dar nome de peixe ao cachorro para que não

fique hidrófobo.

ditados e exPressões

• Amor primeiro não tem companheiro.• Tá solto (não fazer o que foi pedido).• Ver passarinho verde (estar feliz sem razão sabida).• Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são.

Macunaíma, o herói de nossa gente, talvez não seja o protótipo do brasileiro, mas é verdade que as características que o brasileiro acredita ter, como a improvisação, a esperteza (que, eventualmente, leva à desonestidade), a sensualidade, estão pre-sentes no herói. por outro lado, podemos interpretar da seguinte forma: Macunaíma, ao expor seu modo de traduzir o mundo, de agir, resumiria a cultura, a alma do brasileiro.

Macunaíma é o herói sem nenhum caráter por-que o brasileiro é um “povo em fazimento”, nas palavras de darcy ribeiro. assim sendo, o aposto não se refere só à moral dúbia da personagem. como o próprio Mário diz (segundo o posfácio já citado): “o povo brasileiro porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional”, portanto, não tem identidade, caráter. Reunindo em uma colcha de retalhos muito colorida, em uma rapsódia os componentes do folclore, Mário harmo-niza partes da cultura popular, esboçando o que será a identidade do brasileiro.

para o trabalho de análise da obra pelos alunos, sugerimos que trabalhem em duplas, seguindo as seguintes etapas:

sala de professormário de andrade: reinventando o brasil8

MateriaL

“Macunaíma”, Mário de andrade;

Caderno para registros;

Biblioteca ou computadores com acesso à internet.

UMa ConveRsa entRe graMática e Literatura

etaPas

escolha de uma lenda apresentada no livro “Macunaíma”;

Comparação do uso que o autor fez da lenda com a versão original (consensual);

tradução da lenda para outra linguagem.

Veja Mais

disponível em: <folcloreportaldoprofessor.wor-dpress.com>.

1. sob orientação do professor, os alunos escolherão um trecho de “Macunaíma” em que apareça uma das lendas folclóricas;

2. eles deverão pesquisar a lenda folclórica em outros livros, tentando encontrar a versão mais consensual, para comparar com o aproveita-mento que Mario de andrade fez dela;

3. Por fim, sob cuidados do professor, os alunos traduzirão a lenda (a original ou a adapta-da) para outra linguagem (poema, música, desenho, história em quadrinhos, pintura, escultura, literatura de cordel).

os alunos podem ser avaliados pelo processo (empenho, compreensão da lenda) e pelo produto (resultado final do trabalho). As duas avaliações comporão a nota final, para a qual os dois itens podem ter peso igual ou não, a critério do professor. É muito importante que o professor informe quais serão seus critérios para avaliar cada um dos itens.

havendo disponibilidade de tempo, uma quarta etapa poderá ser incluída: a apresentação dos trabalhos para os demais colegas. poderá ser uma

De modo a verificar se os alunos adquiriram um aprendizado significativo, proporemos a eles que façam, assim como Mário de andrade, uma rap-sódia a partir de mitos indígenas fornecidos. Com isso, pretendemos abordar a produção de texto

de um viés menos curricular e mais criativo, com a intenção de estimular o real prazer pela escrita. apresente os mitos aos alunos para que eles tenham o conhecimento prévio necessário para trabalhar. sugerimos os seguintes mitos:

encenação, se escolherem o teatro (em que se ava-lia o desembaraço, a clareza das falas, a postura, o figurino e o cenário, se houver) e pode ser, também, uma explicação do seu trabalho para os colegas (em que se avalia adequação da explicação e da linguagem, postura). desta maneira, trabalhamos nesta atividade o estudo do texto literário, rela-ções entre a produção literária e o processo social, concepções artísticas e procedimentos de constru-ção e recepção de textos, elementos relacionados na Matriz de Referência para o enem 2011.

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Lenda da Vitória-rÉgia

no alto das montanhas na esperança de ser notada pela Lua. Porém, por mais que ela subisse e tentasse aparecer, nada acontecia.

Numa linda e iluminada noite, Naiá viu o reflexo da Lua no lago. Acreditando que a Lua se aproximava para le-vá-la, atirou-se nas águas e desapareceu.

A Lua, que ficou impressionada com o ocorrido, re-solveu transformar a índia numa linda planta aquática: a vitória-régia. É por isso, explica a lenda indígena, que esta planta apresenta lindas flores que abrem so-mente à noite, exalando um perfume agradável.

A lenda da vitória-régia é de origem indígena tupi-guarani e muito popular na Amazônia. Com esta len-da, os pajés explicavam para os índios de sua tribo a origem desta bela planta aquática.

De acordo com a lenda, quando a Lua (um deus para os indígenas) se punha atrás das montanhas, ficava namorando belas moças indígenas. Toda vez que a Lua se escondia, levava consigo uma linda índia que era transformada em estrela.

Numa tribo tupi-guarani vivia uma índia chamada Naiá. O sonho dela era também ser levada pela Lua e transformada numa estrela. Toda noite, Naiá subia

Festa no cÉu

com a viola a tiracolo, rumo ao céu. Chegando na festa, em um momento de distração do feliz urubu, o sapo espertalhão saltou para fora da viola e surpreendeu a todos com sua presença no folguedo celeste.

Durante toda a noite, divertiu-se a valer. Quando a festança chegava ao final, o maroto aproveitou a con-fusão e meteu-se de novo na viola do urubu. Mas, cansado de esperar e impaciente para chegar logo em casa, o sapo começou a se mexer dentro da viola. Durante o voo, um barulho estranho chamou a aten-ção do urubu. Percebendo que havia alguma coisa dentro da viola, imediatamente virou o instrumento de boca para baixo e, espantado, observou o sapo despencar como uma pedra das alturas.A queda foi tremenda. Um verdadeiro tombo do céu. O bicho ain-da tentou voar, mas, como sapo não voa, esborra-chou-se de encontro ao chão.Desde então ficou as-sim: boca enorme de tanto gritar, olhos esbugalhados de pavor e o corpo todo amassado, cheio de dobras e manchas, o que restou do maior tombo de sua vida.

Quem já observou com atenção um sapo, certamente notou sua feiúra. Boca grande, olhos esbugalhados, pele áspera e fria, verrugas por toda parte e corpo achatado, como se alguém tivesse pisado sobre ele. Que mal terá feito essa pobre criatura para ser tão feia assim?Certa vez, uma grande festa no céu reuniu muitos convidados. Naturalmente, para chegar até lá, em uma festança nas alturas, era necessário saber voar. Por isso, somente as aves poderiam participar. O sapo, porém, cismou que também iria à festa. Mas, como sapo não sabe voar, foi elaborado um plano en-volvendo um grande urubu.

No dia da festa, a enorme ave negra foi visitar o sapo, que a havia convidado exatamente para poder executar seu plano. À vontade, o urubu conversava entretido com o sapo. Enquanto isso, com a desculpa de ter que ir para a festa na frente, pois andava muito devagar, o sapo se enfiou sorrateiramente na viola que o urubu levaria para animar a festa. E, pacientemente, aguardou a hora de viajar.Sem desconfiar da trama sapal, o urubu alçou voo

Lenda da Mandioca

De acordo com a lenda, uma índia tupi deu à luz uma indiazinha e a chamou de Mani. A menina era linda e tinha a pele bem branca. Vivia feliz brincando pela tribo. Toda a tribo amava muito Mani, pois ela sempre transmitia muita felicidade por onde passava.

Porém, um dia Mani ficou doente e toda a tribo ficou preocupada e triste. O pajé foi chamado e fez vários rituais de cura e rezas para salvar a querida indiazinha. Porém, nada adiantou e a menina morreu.

Os pais de Mani resolveram enterrar o corpo da me-nina dentro da própria oca, pois esta era a tradição

e o costume cultural do povo indígena tupi. Os pais regaram o local onde a menina tinha sido enterrada com água e muitas lágrimas.

Depois de alguns dias da morte de Mani, nasceu dentro da oca uma planta cuja raiz era marrom por fora e bem branquinha por dentro (da cor de Mani). Em homena-gem à filha, a mãe deu o nome de Maniva à planta.

Os índios passaram a usar a raiz da nova planta para fazer farinha e uma bebida (cauim). Ela ganhou o nome de mandioca, ou seja, uma junção de Mani (nome da indiazinha morta) e oca (habitação indígena).

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Uma possível variação da atividade é deixar sob responsabilidade dos alunos a pesquisa e escolha das lendas, mitos e histórias, que podem envolver elementos da cultura local. neste caso, podem ser incluídas lendas urbanas, como “a loira do banhei-ro”, ou “A flor colhida num túmulo”, ou “O rapaz que dá carona à moça vestida de branco”, ou “o rapaz que empresta o paletó à moça que conheceu num baile”. em geral, os alunos gostam de ouvir e contar histórias, por isto, caso haja disponibilida-de, programar uma “contação de histórias” poderá ser muito motivador.

a avaliação poderá ser feita em cada etapa. infor-me o valor e os critérios de cada parte aos alunos com antecedência. Uma autoavalição poderá compor da avaliação final, cujos componentes se-rão combinados entre o professor e os alunos.

MateriaL

lendas e mitos indígenas;

Caderno para registros;

Biblioteca ou computadores com acesso à internet.

Veja Mais

disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br?> – livro clipe feito a partir do romance “amar verbo intransitivo”, de Mário de andrade.

Como dissemos, o trabalho final sobre Mário de andrade será compor uma rapsódia. os alunos, di-vididos em grupos de três ou quatro integrantes, já instrumentalizados pelos estudos feitos nas duas frentes, percorrerão um trajeto semelhante ao de Mário ao escrever “Macunaíma”.

antes de iniciar a atividade, convém avisar aos alu-nos sobre a organização do trabalho, por exemplo, os critérios para elaborar cada uma das etapas: prazos, número base de páginas, lugar de trabalho (em sala ou em casa), número mínimo e máximo de lendas a serem incluídas, se os trabalhos devem ser digitados ou manuscritos (em caso de impossi-bilidade), entre outros.

a partir dos três mitos, o professor deve orientar seus alunos sobre o planejamento da rapsódia. para isto, seria ideal elaborar um roteiro que aponte um personagem protagonista que agirá articu-lando as lendas através de sua atuação e suas peripécias. além disso, o roteiro deve conter os elementos principais do enredo da história. alerte os alunos para a coerência dos fatos e atuação das personagens. pela extensão do trabalho, é mais produtivo que os alunos sejam orientados a pensar no enredo na medida certa, que sejam desafiados, não impossibilitados. o lugar e a época em que se passa o enredo também são dados importantes.

Por fim, para a redação final da rapsódia, a suges-tão é que seja feita em etapas e acompanhada pelo professor, que deve motivar os grupos a ilustrarem os trabalhos. etaPas

escolha dos três mitos ou lendas;

Roteiro com a descrição da personagem protagonista;

Roteiro com a descrição da atuação desta perso-nagem de maneira que articule as lendas;

Roteiro com a descrição do enredo;

Redação da rapsódia.

sala de professor mário de andrade: reinventando o brasil 11

sugestões de leitURa e oUtRos ReCURsos

LiVros e reVistas

andRade, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: ed. livraria Garnier, 2004.

CUnha, Celso & CintRa, lindley. nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: ed. lexikon, 5ª ed., 2008.

CasCUdo, luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. são paulo: ed. Global, 2004.

andRade, M. Macunaíma. Belo horizonte, Garnier, 2004.

Candido, a. e Castelo, J. a. presença da literatura brasileira, 7ª ed., são paulo, difel, 1979, 3º vol.

Bosi, a. história concisa da literatura brasileira, 3ª ed., são paulo, editora da Universidade de são paulo, 1980.

sites e outros recursos

<www.iel.unicamp.br/cefiel/alfaletras/Macunaima.pdf>.

<www.infoescola.com/artes/cubismo>.

<www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/vitoria_regia.htm>.

<www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/lenda_mandioca.htm - lenda indígena>.

<www.itaucultural.org.br/cindex.cfm?>.

FiLMes e docuMentários

vídeo youtube: a importância da lenda de Macunaíma pela pesquisadora Maria edna de Brito.

MaCUnaÍMa, de Joaquim pedro de andrade.

Um documentário da tv escola. Um ponto de partida para grandes trabalhos com os alunos. assim é o sala de pofessor. o progra-ma incentiva os professores de ensino Médio a desenvolverem projetos que mudem a roti-na em sala de aula. em cada programa, dois professores convidados criam um projeto a partir de documentários exibidos na tv es-cola. são sempre propostas e experimentos inovadores, que podem ser reaplicados em qualquer escola do país.

os trabalhos apresentados são detalhados em dicas pedagógicas como essa e ficam disponíveis no site da tv escola. os profes-sores também podem usar as artes criadas para o programa: são animações, tabelas, mapas e infográficos que tornam os con-teúdos mais visuais e interativos. as dicas pedagógicas e as computações gráficas fo-ram transformadas em fascículos interativos para tablets. e o professor também pode navegar pelo material extra do programa no blog do sala. para ter acesso a esses pro-dutos, acesse o site tvescola.mec.gov.br ou curta a fan page da tv escola no Facebook.

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