nós & os laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-definição de família antes de...

54
Nós & os Laços Manual técnico do projecto

Upload: duongdang

Post on 28-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

Nós & os Laços Manual técnico do projecto

Page 2: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

1

Page 3: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

2

1ª Parte – Educação parental

1. Definição de família

2. Importância de definir/ conhecer/ caracterizar a família para a Formação Parental.

3. O sistema Familiar e os seus Sub-sistemas.

4. A família e as suas Fronteiras/relação com o exterior.

5. Funções da Família.

6. A Estrutura da família: Eixo Sincrónico e Eixo Diacrónico.

7. Ciclo Vital da Família.

8. Factores de Stress, Factores de Risco, Acontecimentos Inesperados.

9. Compreender a família e delinear um plano de Formação Parental.

10. Evolução e transformações da/ na educação familiar: SÍNTESE.

11. Educação parental: o que é e para que serve?

12. Treino parental ou formação parental?

13. Objectivos gerais das intervenções de formação/ educação parental.

14. A definição de educação parental e as implicações na forma de

intervenção.

15. Contextos de aplicação.

16. A importância e necessidade da formação parental – reflexão.

Page 4: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

3

2ª Parte: o nosso Projecto: Nós & os Laços

1. Projecto nós & os laços

2. Caracterização do público-alvo e abrangência

3. Acções desenvolvidas ao longo do Projecto

4. Metodologias

5. Resultados e produtos

6. Conclusão

7. Anexos

Bibliografia

Page 5: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

4

1- Definição de família

Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de

deter a nossa atenção sobre as (s) definições de Família e a sua importância para o

desenvolvimento individual dos seus membros.

A família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer

educação e assegura, por isso, a ligação entre o

afectivo e o cognitivo, assim como a transmissão dos

valores e das normas (Delors, J. & Alii, 1996, p. 111)

Família é um sistema, um conjunto de elementos

ligados por um conjunto de relações, em contínua

relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio

ao longo de um processo de desenvolvimento através

de estádios de evolução diversificados. (Sampaio,

1985, 11-12)

Page 6: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

5

Sintetizando,

Ao depararmo-nos com a definição de família e se pensarmos no nosso

contexto actual somos levados a concluir que não podemos falar de família,

mas de famílias sendo que os conceitos de diversidade e multiplicidade estão

subjacentes á própria definição de família.

Família Valores

Laços

afecto

Espaço/

tempo

Regras

Comunicação

partilha

A família é a unidade institucional básica da sociedade

primariamente responsável pelas

funções de desenvolvimento, educação e socialização

que envolvem necessidades físicas, suporte emocional,

oportunidades de aprendizagem, orientação moral,

desenvolvimento da resiliência e auto-estima de uma

criança (Relvas, 1996).

Page 7: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

6

Não podemos descurar que não podemos falar de normalidade de

famílias, pois o conceito de “normal” tem diversos sentidos que aludem para o

assintomático, o ideal e para a média, isto é, o típico e portanto, dependente da

conjuntura social. Por esta pluralidade de significados, que estão imbuídos de

subjectividade, não podemos falar de normalidade nas famílias, ou famílias

“normais”. Podemos sim falar de processos desenvolvimentais normativos nas

famílias.

2-Importância de definir/ conhecer/

caracterizar a família para a Formação Parental

È importante perceber os processos desenvolvimentais, o ciclo vital da

família, as principais tipologias de famílias definidos através dos seus padrões

comunicacionais e relacionais, as suas tarefas para podermos Compreender

as famílias, Avaliar e Identificar factores de rico e eventuais dificuldades e

disfuncionalidade para Intervir.

Page 8: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

7

No caso específico da Formação Parental, é necessário conhecer a família,

para poder intervir de forma colaborativa e co-responsabilizadora.

3- O sistema Familiar e os seus Sub-sistemas

A família é um sistema e contém em si mesma vários subsistemas, pelo

que dizemos que existe uma Hierarquia Sistémica. Estes subsistemas definem

os Limites, fundamentais para o desenvolvimento da família e dos indivíduos,

quer as Funções que competem a cada um.

Individual

Conjugal

Parental

Filial

Fraternal

Page 9: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

8

O Sub-sistema Individual é constituído pelo indivíduo que, para além

do seu envolvimento no seio do sistema familiar, desempenha,

também, funções e papéis noutros sistemas. Esta dupla pertença cria-

lhe um dinamismo que se transmite, naturalmente, no seu

desenvolvimento pessoal e na forma como ele está em cada um desses

contextos.

O Sub-sistema Conjugal é constituído pelo casal.

A formação do casal implica alguma perda em individualidade

(pressupõe a interdependência dos participantes) e um ganho em

sentimento de pertença, complementaridade, cooperação, simbiose,

reciprocidade e competição, o que não significa perda de respeito pelo

outro ou pelas suas opiniões.

O Sub-sistema Parental, habitualmente constituído pelo pai e pela

mãe, tem como funções essenciais o apoio ao desenvolvimento e

crescimento das crianças com vista à sua socialização e

autonomia/individuação, o que implica que possua a capacidade tripla

de nutrir, guiar e controlar. Nutrir fornecendo as condições materiais,

físicas, psíquicas e sociais para o crescimento, mas também guiar e

controlar, o que pressupõe impor limites, orientar, proibir, definir

regras e exigir a sua aplicação, podendo assim ser encarado como o

subsistema executivo da família (Minuchin, 1979).

O Sub-sistema Fraternal é constituído pelas

relações intensas e duradouras entre irmãos, que

jamais se anulam, e tem funções específicas no que

diz respeito ao "treino" de relações entre iguais. Dito

simplesmente, os irmãos são agentes socializadores (estabelecem o

contexto para o desenvolvimento social).

Page 10: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

9

4- A família e as suas Fronteiras/relação com o

exterior

A família relaciona-se também com o exterior, com a comunidade, pelo

que a esta relação e a forma como a mesma se constrói define as fronteiras

da família.

Assim podemos então dizer que podemos caracterizar uma família

relativamente às suas fronteiras e limites.

As Fronteiras (sistema/família) e (comunidade/escola/outros), são auto-

reguladas pelas necessidades e características das famílias e podem ser:

Abertas

Movimentos centrífugos (A família e os seus membros movem-se de dentro

para fora, abrindo-se ao exterior)

Fechadas

Movimentos centrípetos (A família fecha-se sobre si mesma)

Família

Sociedade Escola

Page 11: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

10

5- Funções da Família

A família tem na sua génese duas funções cruciais: Interna e Externa

“A família tem como funções primordiais o

desenvolvimento e a protecção dos seus membros (função

interna) e a sua socialização, adequação e transmissão de

determinada cultura (função externa) (Minuchin, 1979). Dentro

deste prisma, "a família terá que resolver com sucesso duas

tarefas, também elas essenciais: a criação de um sentimento de

pertença ao grupo e individuação/autonomização dos seus

elementos" (Relvas, 1996:17). A família contribui para o

desenvolvimento e segurança dos seus elementos de várias

formas: satisfazendo as suas necessidades mais elementares

protegendo-os contra os ataques do exterior; facilitando um

desenvolvimento coerente e estável; favorecendo um clima de

pertença, muito dependente do modo como são aceites na

família. É também na família que os indivíduos fazem a primeira

adaptação à vida social, as primeiras experiências de

solidariedade, proibições, rivalidades etc. (Oliveira,1994).”

Texto de Costa, Maria Isabel Bica Carvalho in A família com filhos

com necessidades educativas especiais”

Page 12: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

11

A partir do texto, podemos perceber que pela sua Função Interna a

família terá de potenciar o desenvolvimento e crescimento autónomo dos seus

membros. O sistema familiar, ao mesmo que deve ser espaço privilegiado de

desenvolvimento do Sentimento de Pertença, deve permitir a Individuação

e/ou Diferenciação de Identidade dos seus membros. O sentimento de

pertença e a individuação dos membros são funções cruciais e fundamentais

para o bem-estar dos indivíduos

Por outro lado, a Família deve permitir a transmissão da cultura de grupo

e criar condições para uma boa socialização/ integração social, sendo que esta

é a sua Tarefa Externa.

6- A Estrutura da família: Eixo Sincrónico e

Eixo Diacrónico

A Família deve também ser estudada/ compreendida pela sua estrutura, que se

divide em dois eixos: Sincrónico e Diacrónico.

1) O Eixo Sincrónico (espacial) ajuda-nos a compreende a família face á

sua estrutura, nomeadamente, ajuda-nos a responder às questões:

Quem?

Com Quem?

Para fazer o Quê?

Como?

Quando?

Page 13: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

12

Através da compreensão e análise da sua estrutura pode apreende-se

quais os subsistemas que (co) existem, como se relacionam entre si, como se

organizam (fronteiras e limites), quais os padrões transaccionais (comunicação,

relações, normas, regras, papeis, expectativas) existentes entre os membros e

os subsistemas.

A partir destes elementos podemos definir à partida dois tipos/ pólos de

estrutura familiar:

Famílias Emaranhadas Famílias Desmembradas

Fronteiras difusas no seu interior

Movimentos centrípetos

Mito da unidade familiar

Mistura de subsistemas

Papéis familiares rígidos

Fronteiras rígidas com exterior

Fronteiras rígidas no seu interior

Movimentos centrífugos

Individualismo

Papeis familiares instáveis

Fronteiras difusas com o exterior

(Minuchin)

Esta estrutura familiar está tipificada, mas cada sistema é auto-

organizado e portanto tem as suas próprias características, sendo que no seu

desenvolvimento e ao longo do seu ciclo vital (do qual falaremos em seguida) a

Família vai oscilando entre o emaranhamento e o desmembramento,

consoante as necessidades, características e ou momentos de crise.

Page 14: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

13

2) O segundo eixo da estrutura familiar, o Diacrónico, permite-nos

compreender a família pela perspectiva temporal e portanto, o seu

desenvolvimento (Ciclo Vital da Família) e os padrões e mitos que se

perpetuam ao longo das gerações.

7- Ciclo Vital da Família

Falaremos assim neste ponto de algo muito importante para

compreender os desafios da família ao longo do tempo, o Ciclo Vital da

Família.

A evolução da Família ao longo dos anos é caracterizada por vários

estádios.

Cada estádio apresenta características, e desafios aos quais a família

terá de adaptar-se e responder adequadamente, cumprindo as suas

tarefas e papéis, permitindo o sentimento de pertença, a individuação e

a sociabilização de todos os seus membros.

E importante perceber a forma como a família gere a mudança dum

estádio para o outro

Estas cinco etapas iniciam-se sempre com a formação de um novo casal

e passam a ser sempre definidas pela idade do filho mais velho.

Page 15: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

14

Passamos a apresentar de forma sistematizada e sintética os diferentes

estádios, segundo Paula Relvas, no seguinte quadro com a respectiva

definição e tarefas:

Estádio Tarefas

1. Formação do Casal

Estabelecimento de uma relação conjugal

mutuamente satisfatória; preparação para a

gravidez e para a parentalidade

2. Famílias com recém-nascido Ajustamento à exigências de desenvolvimento

de uma criança dependente

3. Famílias com crianças em idade pré-escolar

Adaptação às necessidades e interesses das

crianças no sentido da sua estimulação e

promoção do desenvolvimento

4. Famílias com crianças em idade escolar

Assumir responsabilidades com crianças em

meio escolar; relacionamento com outras

famílias na mesma fase.

5. Famílias com filhos adolescentes

Facilitar o equilíbrio entre liberdade e

responsabilidade; partilha desta tarefa com a

comunidade; estabelecimento de interesses

pós-parentais.

6. Famílias com jovens adultos (Saída do 1º filho - Saída do último filho)

Permitir a separação e o "lançamento" dos

filhos no interior, com rituais e assistência

adequada (1º emprego ou educação superior);

manutenção de uma base de suporte familiar.

7. Casal na meia-idade ("Ninho-Vazio")

Reconstrução da relação de casal; redefinição

das relações com as gerações mais velhas e

mais novas.

8. Envelhecimento

Ajustamento à reforma; aprender a lidar com as

perdas (lutos) e a viver sozinha; adaptação ao

envelhecimento

* In Ana Paula Relvas. O ciclo Vital da Família. Perspectiva Sistémica. Biblioteca das Ciências do Homem. Edições Afrontamento. 2ª Edição. Maio de 2000

Formação do casal

Família com filhos pequenos

Família com filhos na escola

Família com filhos adolescentes

Família com filhos adultos

Page 16: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

15

Para além da simples definição dos estádios, é importante saber quais

os mecanismos psicológicos subjacentes à mudança que implica a transição

dum estádio para o outro, sobretudo se quisermos apropriarmo-nos de

conhecimento para intervir no contexto da Intervenção Familiar/ educação

parental.

Assim, apresentamo-lo de forma sintética e sistematizada:

Estádio Processo emocional de Transição de um estádio para outro

Mudanças necessárias ao processo de desenvolvimento

Junção de famílias pelo casamento: o

novo casal

Compromisso com o novo sistema

Formação do novo sistema conjugal

Realinhamento das relações com as famílias de origem e os amigos de modo a incluir o conjugue

Famílias com filhos pequenos

Aceitação no sistema dos membros da nova geração

Ajustamento do subsistema conjugal: criar espaço para o(s) filho(s)

Assumir papéis parentais

Realinhamento das relações com as famílias de origem a fim de nelas incluir os papéis parentais e os avós

Famílias com adolescentes

Flexibilidade dos limites familiares de modo a aceitar a independência

Mudança nas relações pais-filhos; possibilitar aos filhos as entradas e saídas no sistema

Recentração nos aspectos da vida conjugal da meia-idade e das carreiras profissionais

Inicio da função de suporte à geração mais velha

Saída dos filhos Aceitação de múltiplas entradas e saídas no sistema

Renegociação do subsistema conjugal como díade

Desenvolvimento de relações adulto-adulto entre os jovens e os pais

Realinhamento de relações para incluir os parentes por afinidade e os netos

Necessidade de lidar com as

Page 17: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

16

incapacidades e morte dos pais (avós)

Última fase da vida da família

Aceitação da mudança dos papéis geracionais

Manutenção de interesses, próprios e/ou de casal; exploração de novas opções familiares

Papel de destaque da geração intermédia (filhos)

Aceitação da experiencia e sabedoria dos mais velhos; suporte da geração mais velha sem super-protecção

Aceitação da perda do conjugue, irmãos e outros da mesma geração; preparação para a morte; revisão e integração da própria vida.

* In Ana Paula Relvas. O ciclo Vital da Família. Perspectiva Sistémica. Biblioteca das Ciências do Homem. Edições Afrontamento. 2ª Edição. Maio de 2000

Podemos perceber através da análise destes quadros que todas as

famílias passam por uma série de tensos períodos de transição.

O nascimento de um novo filho, a entrada na escola, a adolescência

das gerações mais novas, são todos eles períodos de tensão e de crise, sendo

que Crise, numa perspectiva sistémica não é vista como algo desagradável ou

perigo, mas sim como Oportunidade e Ocasião de Mudança, oportunidade

esta que comporta riscos de impasse e de disfuncionamento, caso a família

não tenha em si mesma as competências necessárias ou não busque fora de si

os recursos inevitáveis.

Page 18: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

17

8-Factores de Stress, Factores de Risco, Acontecimentos Inesperados

No entanto, outras famílias há, onde existe um maior índice de Factores

de Stress (dificuldades económicas, desemprego, situações de violência,

doenças ou deficiências), Factores de Risco (famílias multiproblemáticas,

negligência, maus tratos, alcoolismo, toxicodependência, psicopatologia) bem

como Acontecimentos/ Desafios Inesperados (morte de algum dos membros

da família ou o nascimento de uma criança com alguma doença, "limitações",

deficiência ou Necessidades Educativas Especiais),o que vem aumentar

exponencialmente a tensão durante esses períodos ditos de crise

“normativos” pode chegar a ser especialmente aguda.

Page 19: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

18

9-Compreender a família e delinear um plano

de Formação Parental

No contexto de uma intervenção ao nível da formação parental, temos

de perceber quais os desafios esperados para cada família em cada estádio,

quais são as tarefas e funções esperadas e captar como cada família age e

reage aos desafios e às suas “crises”. Temos de perceber também como a

Familia lida com a Crise e consequentemente com a mudança, quais os seus

factores de suporte (o que ajuda a família a mudar), as suas competências, os

seus recursos.

Sintetizando, para compreender uma família e poder intervir no

contexto da Formação Parental necessitamos de saber:

Descrever e explicar a estrutura familiar, a sua dinâmica, processo e

mudança.

Descrever as estruturas interpessoais e as dinâmicas emocionais dentro

da família

Ter em conta a família como ligação entre o individual e a cultura

Descrever o processo de individuação e a diferenciação dos membros

da família

Obter um conjunto de hipóteses acerca do funcionamento familiar e das

causas da disfunção/ dificuldade.

Prever/ delinear estratégias terapêuticas para lidar com a disfunção

familiar

(Vetere(1987)

Page 20: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

19

10- EVOLUÇÃO E TRANSFORMAÇÕES DA/ NA EDUCAÇÃO FAMILIAR: síntese

Se até às últimas décadas do Séc. XX, a educação familiar e parental era

essencialmente concebida de uma forma “remediativa”, para famílias em risco,

centrada no profissional-especialista que ensinava àquela família-cliente as

“boas práticas de educação”, com uma concepção de controlo social

subjacente a um discurso de protecção, a partir da década de 80 este modelo

médico, baseado nas falhas e no treino, foi sendo lentamente substituído por

um modelo de tipo sociocultural, bio-ecológico, multissistémico, baseado

nas potencialidades.

Assim, numa perspectiva sistémica, a Educação Familiar passa a ser

percepcionada como “um conjunto de actividades educativas e de suporte

que auxiliam os pais ou futuros pais a compreenderem as suas próprias

necessidades sociais, emocionais, psicológicas e físicas e as dos seus

filhos e aumente a qualidade das relações entre eles” (Pugh et al., 1997).

É este modelo teórico que estará subjacente a esta formação, não só a esta

aula, mas ao longo de todo o curso de formação parental.

Page 21: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

20

11 - EDUCAÇÃO PARENTAL: O QUE É E

PARA QUE SERVE?

Vamos começar por fazer uma resenha das diferentes (mas

complementares) definições dadas ao conceito de formação parental, para

podermos em primeiro lugar defini-la e em segundo, reflectirmos acerca da sua

importância e contextos de aplicação.

Educação parental é um conceito multifacetado da intervenção engloba

programas e serviços disponibilizados ao nível dos sectores público e

privado, a pais de diferentes níveis educacionais e económicos, e a

crianças com ou sem necessidades ou características específicas. (Fine

(1989)

Esta forma de perspectivar a Educação Parental implica que a mesma

não se restrinja à intervenção na prestação de cuidados e nas

competências parentais e que as acções não sejam feitas com base em

critérios relacionadas com a idade ou com o meio social de origem,

podendo ser implementadas através de um conjunto alargado de

recursos

acessíveis a quaisquer pais e famílias.

Quer isto dizer que a formação parental pode ter um carácter educativo e

preventivo, mas também pode surgir como resposta a situações de crise.

Page 22: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

21

Educação Parental visa alcançar uma importante aprendizagem, que diz

respeito ao ofício de mãe/pai: trata-se de melhorar as capacidades

educativas das figuras parentais e, nos casos mais graves, de romper o

círculo vicioso segundo o qual as famílias com problemas têm filhos com

problemas que, por sua vez, virão no futuro a criar crianças perturbadas

(Pourtois, Desmet & Barras, 1994).

A formação de pais pode ser definida como o processo de proporcionar

aos pais ou outros prestadores de cuidados, conhecimentos

específicos e estratégias para ajudar a promover o

desenvolvimento da criança (Mahoney et al., 1999; McCollum, 1999;

Kaiser et al., 1999). Segundo Mahoney et al. (op. cit.) a formação de

pais inclui uma gama de conteúdos diversificada como fornecer

informação sobre os processos de desenvolvimento e aprendizagem da

criança, apoiar os pais no ensino de determinadas habilidades e

competências aos seus filhos e na gestão de problemas de

comportamento.

A formação parental constitui um tipo particular de apoio que as famílias

podem requerer. (Dunst, Trivette e Deal (1994) e Dunst (1999))

Modelo de Durning, 1999 - A dimensão profissional da intervenção

familiar compreende o conjunto de intervenções sociais implementadas

para preparar, apoiar (suporte), ajudar ou mesmo substituir os pais na

sua função educativa face aos seus filhos. O objectivo último é a

relação: formar para a relação entre os pais e os filhos.

A educação familiar, centrada nos “comportamentos educativos”, dirige-

se a todos os públicos, numa perspectiva preventiva e “não terapêutica”.

O Modelo de Doherty (1995) - Segundo este autor, os sentimentos,

motivações, atitudes e valores são centrais no processo de educação

parental (Arcus et al., 1993). Com o objectivo de contribuir para o

Page 23: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

22

esclarecimento do conceito de “educação de pais” Doherty, 1995,

elaborou um modelo (Levels of family involvement model) de 5 níveis:

(LEVELS OF FAMILY INVOLVEMENT MODEL) DE 5 NÍVEIS:

Nível 1 A ênfase na família é mínima. De tipo informativo, centrado

no profissional;

Nível 2 Informação e orientação, mas com envolvimento das

famílias. Parceria.

Nível 3 Emoções e suporte. Envolve o domínio afectivo e

experiencial, utilizando as experiências pessoais dos pais

como parte do processo educacional. A combinação dos

domínios afectivo e cognitivo de uma forma não intrusiva,

torna-o no nível ideal de intensidade para a maioria das

actividades de educação de pais;

Nível 4: Intervenções breves com famílias com necessidades

especiais que estão em situações de risco: pais

adolescentes; pais com crianças colocadas em serviços de

protecção de menores ou de saúde mental; pais de

crianças com doença crónica ou deficiência; pais na prisão.

É a fronteira superior entre a educação familiar ou de pais e

as intervenções de tipo terapêutico;

Nível 5 Terapêutico. Fora do âmbito da educação de pais. Os

participantes sabem que estão num tratamento e não num

programa educacional, apesar de poder ocorrer educação.

Modelo de Pugh et al. (1994) - A Educação Parental é “Um conjunto de

actividades educativas e de suporte que ajudem os pais ou futuros pais a

compreenderem as suas próprias necessidades sociais, emocionais,

psicológicas e físicas e as dos seus filhos e aumente a qualidade das

relações entre eles. Estas actividades ajudarão a criar um conjunto de

Page 24: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

23

serviços de suporte nas próprias comunidades locais e as famílias a

utilizarem-nas de forma vantajosa”. Há, neste modelo, uma definição

intencionalmente direccionada para as relações, ao mesmo tempo que

para a necessidade de alargarmos os objectivos das intervenções à

construção de serviços na rede de suporte das famílias e que elas os

possam utilizar.

O objectivo último da educação parental é ajudar os pais a desenvolver a

auto-conhecimento e auto-confiança e a aumentarem a qualidade da sua

capacidade para apoiarem e ajudarem as suas crianças a desenvolverem-

se.

Modelo de Smith (1996) - Para esta autora os programas de Educação

Parental têm como objectivo apoiar ou assistir os pais nesse importante

“job for life”, e são desenvolvidos por profissionais da saúde, educação

ou serviço social, como forma de suporte ou educação.

São denominados de “parenting programmes” em vez de “parenting

skills programmes”, “parent education programmes” ou “parent training

programmes”. Isto porque, por um lado, “parenting” é muito mais que um

conjunto de aptidões, e, por outro lado, nem os termos “education” ou

“training” descrevem o processo envolvido na aprendizagem da

parentalidade, pois trata-se de um processo complexo de

desenvolvimento da consciência sobre a parentalidade, através da

participação num conjunto de sessões em grupo, cujo objectivo é levar

os próprios pais a desenvolverem formas alternativas de aumentarem a

qualidade da sua própria parentalidade ou sentirem-se reconfirmados

como pais e nos métodos que utilizam (Smith, 1996, pp.1-2)

Page 25: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

24

12 - TREINO PARENTAL OU FORMAÇÃO

PARENTAL?

Ao fazer uma revisão da literatura, verificamos que alguns autores

defendem e mantêm a distinção entre os conceitos de Treino Parental e

Educação Parental.

O Treino de Parental ou Treino de Competências Parentais está

bastante associado ao trabalho com pais de crianças com problemas de

comportamento, em situações de crise e perigo de maus tratos e

negligência, visando a mudança das práticas parentais, tendo como objectivo

a resolução de problemas específicos.

Por seu lado, a Educação Parental ou a Formação de Pais surge

sobretudo como uma abordagem preventiva, pautada por objectivos de

prevenção de comportamentos e padrões disfuncionais, dirigida a pais com

crianças com problemas de desenvolvimento, ou em risco biológico e

desenvolvimental.

Sintetizando:

Treino parental Dirigida a uma problemática específica (crianças com distúrbio de oposição, Hiperactividade ou a estilos parentais disfuncionais (punitivos, abusivos, negligentes)

Formação parental Dimensão preventiva, dirigida a todos os pais, independentemente das suas capacidades parentais: não implica que seja uma intervenção em situações de crise (Dore & Lee, 1999).

Page 26: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

25

No entanto, devemos ressalvar que quer o treino de competências

parentais quer a formação parental têm traços comuns, designadamente o

facto de terem como objectivo primordial o apoio efectivo aos pais,

proporcionando-lhes informação de carácter prático, conhecimentos,

transmitindo-lhes princípios de aprendizagem e modificação do comportamento

e promovendo competências parentais, de comunicação e de resolução de

problemas (Schaefer &Briesmeister, 1989). Quer um quer outro, propõem-se a

promover a existência de espaços de autoconhecimento, onde os sentimentos,

emoções, dúvidas e dificuldades podem ser partilhados, reflectidos e ser alvo

de diferentes leituras e significados.

Saliente-se que a formação parental e/ou o treino de competências

parentais não pretendem ser uma “escola de pais”, onde uns ensinam e outros

aprendem, mas uma intervenção através da qual se faz uma co-

aprendizagem, uma co-contrução da realidade e das transformações

pretendidas, sendo que devemos perspectivar as famílias, os pais como

competentes para pensar e mudar.

Page 27: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

26

13- OBJECTIVOS GERAIS DAS INTERVENÇÕES DE FORMAÇÃO/ EDUCAÇÃO PARENTAL:

1- Promover os conhecimentos dos pais

2- Desenvolver competências na prestação de cuidados,

3- Estimular e melhorar a relação pais-criança e a aquisição de aptidões

específicas, por parte das crianças.

4- Promover o auto-conhecimento dos pais e/ou dos futuros pais

5- Fomentar modificações positivas na autoconfiança

6- Aumentar satisfação no desempenho das funções parentais

7- Resposta as necessidades da família de uma forma abrangente (de

forma preventiva ou intervenção em situações de crise)

8- Percepcionar os Pais como elementos competentes

9- Incentivar o apoio das redes sociais formais e informais

Page 28: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

27

Em famílias de crianças em situação de risco pretende-se:

Introduzir melhorias no processo interactivo (Affleck et al., 1989;

Mahoney et al., 1998).

Aumentar o conhecimento sobre o desenvolvimento da criança (Olson &

Burgess, 1997).

Promover competências de relacionamento funcional entre pais –

crianças.

Prevenir situações de mau trato, negligência.

Em suma, na base da educação parental devem estar os conceitos:

CAPACITAR, isto é, criar oportunidades para que todos os

membros da família possam demonstrar e adquirir competências

que consolidem o funcionamento familiar

CORRESPONSABILIZAR, isto é, a Capacidade que toda a

família deve demonstrar na satisfação das suas necessidades

aspirações, por forma a promover um sentido claro de controlo e

domínio intra familiar (Dunst e col., 1988, p. X)

Page 29: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

28

14 - A definição de educação parental e as implicações na forma de intervenção

A conceptualização da Educação parental feita atrás deve ter implicações

na intervenção do educador parental:

1 -Com a evolução/ transformação dos modelos (ponto 1) dá-se maior

relevância da auto-estima e do bem-estar dos próprios pais. É consensual que

a Educação Parental envolve uma componente emocional e experiencial sendo

que os sentimentos, motivações, atitudes e valores são centrais no processo

(Doherty, 1995).

2 – Se se pretende que a Educação Parental atinja o seu objectivo (mudar,

educar e não apenas informar) então essa educação tem de ser mais pessoal,

experiencial, profunda que outras formas de educação, sendo até que alguns

autores contestam que se continue a utilizar o termo “educação parental”, por

se encontrar muito ligado ao modelo médico inicial, enquanto outros propõem a

sua reformulação e um reinvestimento neste domínio de trabalho de parceria

com as famílias (cf. Dunst, 1999; Kaiser et al., 1999; Mahoney et al., 1999;

Turnbull et al., 1999; Wintow et al., 1999).

Em suma,

Em vez de um modelo de formação centrado nas “prescrições” de como

uma família deve ser e funcionar deve privilegiar-se uma formação

centrada na “descrição” de como é que os diferentes tipos de família se

organizam e funcionam.

Page 30: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

29

De um modelo centrado em processos de ensino, que facilitem a

memorização de informações, devemos passar para metodologias mais

subjectivas, experienciais que capacitem os formandos para o

envolvimento e crítica desse conjunto de conhecimentos e sua aplicação

(cf. Allen & Crosble-Burnett, 1992).

15 - CONTEXTOS DE APLICAÇÃO

A formação parental pode ter um carácter educativo e preventivo, mas também

pode surgir como resposta a situações de crise:

Famílias com Crianças com problemas de comportamento ou

emocionais específicos

Pais com problemas de saúde mental

Grávidas/ pais adolescentes

Famílias de crianças sinalizadas por situações e risco e/ou perigo nas

CPCJ, tribunais

Page 31: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

30

Existência de maus tratos e/ou negligência por influência de factores de

risco (tais como baixa auto-estima, impulsividade, agressividade, baixa

tolerância às frustrações e ao stresse, ansiedade e depressão,

Alcoolismo ou toxicodependência; História familiar de maus-tratos na

infância; Desconhecimento sobre o desenvolvimento da criança,

implicando expectativas pouco adequadas relativas à criança; Atitude

intolerante e indiferente face às responsabilidades parentais;

Perturbações no processo de vinculação com o filho).

Existência de NEE´s e/ou deficiência.

Outras situações específicas.

Para além dos pais e mães que possam reconhecer-se nessas condições, as

intervenções poderão abranger um público ainda mais vasto, nomeadamente

avós e mesmo professores, na sua colaboração com os pais (Pourtois, Desmet

& Barras, 1994).

16- A IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DA

FORMAÇÃO PARENTAL – REFLEXÃO

Os programas de Formação ou de Treino de Competências Parentais

constituem excelentes oportunidades para melhorar os níveis de informação

bem como as competências educativas parentais, surgindo mesmo, em

vários estudos, associados a resultados bastante positivos em termos da

percepção de auto-eficácia, no desempenho da função parental (e.g.,

Feldman, 1994; Hornby, 1992a; Wilkinson, Parrish & Wilson, 1994; entre

outros).

Apesar de algumas reservas e questões,

a) Risco de “escolarizar a vida familiar”,

Page 32: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

31

b) “Hiper-estimulação das crianças;

c) Ter por base o mito de uma “família idealizada”, dita “normal”

com comportamentos padronizados e esperados;

d) Questões éticas relacionadas com um mercado crescente de

“oferta” de “escolas de pais” e de informação (revistas, livros,

Web sites, programas em suporte digital, programas na

televisão.) integradas por um modelo informativo versus

educativo;

e) Perspectiva de “educação familiar” como um conjunto de

receitas a aplicar;

Pode dizer-se que a necessidade e importância de intervenções

socioeducativas dirigidas aos pais, implementadas por profissionais,

nomeadamente a Educação Familiar, é consensual desde que enquadrada

por um paradigma de promoção de competências versus de

compensação ou “remediação”.

Este paradigma e a forma como conceptualizamos hoje a Educação

Parental, ou seja, como a possibilidade de CAPACITAR, CO

RRESPONSABILIZAR; CO-EVOLUIR, assente no pressuposto de que as

famílias, os pais, são competentes, deve levar-nos a uma reflexão séria e á

transformação das relações entre profissionais-pais.

Para que tal aconteça devemos seguir um modelo colaborativo (teoria

sistémica), o que implica:

A construção de uma relação não culpabilizante, apoiante e recíproca,

que considera de forma igualitária os conhecimentos do técnico e as

forças e perspectivas únicas dos pais, assente no respeito pelo

contributo de cada pessoa, na confiança e na comunicação aberta.

(Webster-Stratton e Herbert (1993))

Abandonar o papel de perito que ensina competências aos pais, e

trabalhar conjuntamente com estes, solicitando activamente as suas

Page 33: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

32

ideias e sentimentos, tendo em consideração o seu contexto cultural e

envolvendo-os no processo de partilha de experiências, discussão de

ideias e resolução de problemas.

Assumir uma perspectiva de empowerment.

Nesta perspectiva podemos afirmar que a intervenção em Educação

Parental, poderá constituir-se como uma via importante para a promoção da

confiança, auto-suficiência e auto-eficácia dos pais, desde que

Os pais assumam um papel relevante no desenvolvimento de

respostas para as suas próprias questões e dificuldades, em

colaboração com o técnico

Que o técnico assegure a construção de um contexto apoiante e

adaptado às características, necessidades e valores do público-alvo

junto do qual se propõe intervir (Webster-Stratton & Herbert, 1993).

A formação parental assume assim um papel crucial na promoção da

parentalidade positiva, que segundo o Conselho da Europa, (Recomendação

16, Lisboa 2006) se define como um “comportamento parental baseado no

melhor interesse da criança e que assegura a satisfação das principais

necessidades das crianças e a sua capacitação sem violência, proporcionando-

lhe o reconhecimento e a orientação necessários, o que implica a fixação de

limites ao seu comportamento, para possibilitar o seu pleno desenvolvimento”.

Page 34: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

33

II Parte – O projecto

Page 35: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

34

1- Projecto Nós & os Laços

Este projecto baseia-se nas áreas do conhecimento e na formação parental

no âmbito das famílias com filhos com deficiência ou NEE. Tem como

objectivos gerais:

Formação e treino de competências parentais;

Melhoramento do nível de informação e da capacidade dos pais na

aquisição de estratégias facilitadoras da aprendizagem e de

interacções mais positivas;

Promoção do nível de formação na área do desenvolvimento das

crianças com deficiência;

Promoção da informação e conhecimento junto das famílias,

comunidade e serviços;

Divulgação do projecto como recurso acessível á comunidade;

Promoção da Inclusão das Famílias e das Crianças/Jovens com

deficiência/NEE.

2- Caracterização do público-alvo e

abrangência

Deficiência

Sexo

Total N. º

Masculino

N.º

Feminino

Auditiva

Visual

Mental

Motora

Page 36: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

35

Multideficiência 12 12 24

Orgânica

Outra/Especificar

Total

3- Acções desenvolvidas ao longo do

Projecto

Formação/treino de competências parentais através de sessões de

formação parental e de Oficinas de Formação (sessões de formação),

duas vezes por grupo/por mês (em anexo exemplo de planificação e

relatório de uma sessão).

Promoção da informação e conhecimento através de acções de

sensibilização e realização de sessões informativas com a colaboração

de profissionais que intervém na área da deficiência.

Apoio psicossocial individual aos pais que manifestam

necessidades acrescidas, psicopatologia e/ou dificuldades de

ajustamento emocional.

Visitas domiciliárias e sessões de atendimento/acompanhamento

individual para diagnóstico de necessidades e treino de competências

parentais.

Divulgação do projecto junto dos órgãos de comunicação social.

Divulgação do projecto através de acções de sensibilização junto da

comunidade e da rede de serviços.

Criação de um folheto informativo para divulgação do projecto e

suas acções (em Anexo)

Realização de um Seminário nesta área, aberto a outros

serviços/profissionais (em anexo folheto e cartaz).

Criação de um grupo de pais (auto-ajuda).

Page 37: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

36

4- Metodologias

Sessões de grupo (método colaborativo, debate, reflexão e partilha de

ideias, visionamento de filmes e vídeos, fotocolagem, photovoice) ( em

anexo)

Oficinas de formação (método expositivo, método participativo, debate,

fotocolagem)

Visitas domiciliárias (avaliação e intervenção familiar integrada)

Atendimento psicossocial

5- Resultados e produtos

Melhoria dos níveis de informação das famílias. Qualificação das competências parentais.

Aquisição de conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento da criança.

Aquisição de estratégias para melhorar o processo interactivo das famílias.

Produção de um Manual Técnico.

Estabelecimento de interacções positivas entre:

Família-Criança/jovem;

Família-Comunidade;

Família-Serviços.

Sensibilização e mudança de atitudes e crenças.

Sensibilização geral para a problemática da deficiência/NEE

Promoção de factores de protecção

Diminuição dos factores de risco, diluindo o “stress” causado às famílias por

terem um filho com problemas de desenvolvimento.

Estabelecimento e alargamento de contactos sociais e de redes informais de

Page 38: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

37

pais de crianças/jovens com deficiência/NEE.

Criação de um blogue (www.noseoslacos.wordpress.com) para sensibilização

da comunidade e divulgação do projecto.

Participação num congresso internacional promovido pela ANIP com um

poster cientifico sobre o projecto Nós & os Laços ( em anexo).

6- Conclusão

A Educação parental, realizada de forma sistemática e consistente,

proporciona espaços de aprendizagem e reflexão de “formas de comunicar e

de ensinar apoiadas em conhecimentos psicológicos e pedagógicos científicos

e na motivação e voluntarização de mães e pais para adaptarem e mudarem as

suas estratégias educativas num sentido mais adequado e eficaz, que lhes

traga, a eles mesmo, maior bem-estar emocional” (Marujo, 1997, p.131). Os

programas de suporte às famílias visam, assim, fortalecer as suas capacidades

e competências, optimizar os seus recursos, aumentando o empowerment dos

seus elementos (Coutinho, 2003)

Na panóplia de funções que os pais e os familiares desempenham

relativamente às suas crianças, desde os cuidados prestados até aos modelos

de comportamento veiculados, surgem, muitas vezes, dúvidas e inquietações.

No caso de serem pais ou familiares de uma criança com necessidades

Page 39: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

38

especiais, os estudos evidenciam que essas interrogações e incertezas são

maiores, o nível de stress sentido é superior, bem como as exigências vividas

em termos de adaptação e reorganização do núcleo familiar( Coutinho, 2004;

Dinnebel, 1999). Por isso frequentemente, estes pais e familiares

experimentam sentimentos de insegurança “sobre o que fazer e como o fazer”

(Coutinho, 2003,p.228).

Para além destes sentimentos de insegurança detecta-se uma maior

predisposição destes pais (sobretudo das mães) para o aparecimento de

sintomatologia depressiva e/ ou ansiosa, dada a vulnerabilidade e stress a que

estão sujeitos. A maioria das famílias com que intervimos estão sujeitos ao

stress de terem um filho com NEE´s ou com deficiência, mas também e

previamente a isto, são disfuncionais e multiassistidas, isto é, são afectadas

por múltiplos problemas de ordem económica, social, psicológica e emocional,

o que perturba a sua dinâmica, organização e função. Esta desorganização é

de tal ordem que quando se deparam com as dificuldades inerentes a uma

criança com problemas de desenvolvimento, caotizam-se e são incapazes de

organizar sem ajuda externa. Daí o impacto positivo da nossa intervenção junto

destas famílias, pois foi potenciador de mudanças, sobretudo porque se

procurou reactivar os recursos internos existentes mas desconhecidos por eles.

Assim, numa perspectiva de empowerment e de promoção de auto-estima,

procuramos validar e valorizar os factores de protecção e de resiliência

existentes no seio da família e imperceptível no meio do caos.

Para além deste trabalho, é necessário, inevitavelmente, fazer o luto pelo

filho imaginário e encetar um trabalho de aceitação/ construção do filho real,

estando conscientes das suas limitações, porém não se centrando apenas

Page 40: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

39

nelas, mas sobretudo nas suas potencialidades e recursos. Um trabalho deste

género não se faz à margem da promoção de competências sociais e afectivas

dos próprios pais, implica, isso sim, a procura do que há melhor dentro deles,

não só como pais mas sobretudo como pessoas, promovendo o seu bem-estar

pessoal e assim, capacitando-os para serem seres humanos mais felizes, mais

tranquilos e consequentemente melhores pais.

Page 41: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

40

7. Anexos

Page 42: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

41

Planificação 1ª Sessão - 21/09/2011

Objectivos:

o Apresentação do grupo, dos objectivos do grupo e partilha de expectativas.

o Promoção da coesão e de empatia no grupo.

o Promoção do sentimento de pertença ao grupo por parte dos pais.

o Reflectir e partilhar experiências acerca da parentalidade.

Actividades/ procedimentos:

Apresentação individual (pais)

Apresentação do grupo, dos objectivos (Carmen e Celina)

Dar um nome ao grupo (brainstorming)

Exploração de expectativas acerca do grupo e das actividades a

realizar

Como me sinto como pai/ mãe? Como me sinto como pai/ mãe de

uma criança com dificuldades/ problemas? – Actividade em grupo:

recorte e colagem de imagens (subdivisão do grupo), seguida de

partilha e debate com o grupo completo.

Conclusões

Duração: 90 minutos

Page 43: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

42

Relatório Sessão Formação Parental

Compareceram todas as famílias convocadas para a sessão, tendo estado também

várias crianças, mas em sala à parte, supervisionadas por um colega, a realizar

origamis.

Nesta sessão, foi feita a apresentação do grupo, individualmente, dos objectivos do

grupo e partilha de expectativas. Procurámos envolver as famílias, promovendo o

denominador comum a todas: filhos com deficiência ou NEE’s.

Desafiámos as famílias a encontrar um nome para esta actividade/grupo. Ficou como

TPC para todos, para a próxima sessão (fazer chuva de ideias sobre o nome a dar ao

grupo).

Ao longo da sessão, reflectimos em conjunto e as famílias partilharam experiências

acerca da parentalidade de crianças/jovens com deficiência ou NEE’s – principais

dificuldades sentidas (em termos emocionais).

Foi realizada uma Dinâmica de grupo centrada nas questões:

Como me sinto como pai/ mãe?

Como me sinto como pai/ mãe de uma criança com dificuldades/ deficiência?

(desmistificação de caso único)

Reflexão individual – sentimentos comuns:

Vergonha / Medo / Frustação / Tristeza

Operacionalização – divisão em dois sub – grupos

Page 44: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

43

* recorte e colagem de imagens em cartolinas, com as quais identificavam os

seus sentimentos em relação ao tema, seguida de partilha e debate com o

grupo completo

(técnica da fotocolagem)

Page 45: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

44

Page 46: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

45

Page 47: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

46

Conclusões

A comparência e adesão à sessão de grupo por parte de todas as famílias,

surpreendeu-nos muito (positivamente), pois foi difícil terminar a sessão. Sentimos que

as famílias ficariam muito mais tempo na actividade desenvolvida e a partilhar as suas

experiências pessoais.

Estas famílias estão, apesar das redes de serviços que as acompanham, muito

solitárias e confusas em relação à educação de um filho “diferente” dos outros

meninos. Acresce o facto destas famílias viverem outras situações difíceis (económica,

familiar, etc), o que traz um stress adicional.

Page 48: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

47

Têm muito medo de serem julgadas e pensamos que, connosco, que não temos o

papel de informar o Tribunal ou de elaborar relatórios acerca da evolução

familiar/relacional, se sentiram à vontade e por isso, houve espaço para chorar, rir e

falar à vontade das suas próprias dificuldades. Sentem-se pressionados pelos

Técnicos a fazerem e a tomarem decisões que lhes são difíceis, ou para as quais não

estão preparados, ou ainda, não entendem porque tem que o fazer.

Page 49: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

48

Folheto informativo

Page 50: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

49

Poster científico

Page 51: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

50

Folheto/ cartaz seminário do projecto

Page 52: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

51

Page 53: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

52

Bibliografia

Alarcão, Madalena (2000) (Des) Equilíbrios familiares. Coimbra: Editora

Quarteto.

Ausloos, Guy (1996); A Competência das Famílias - Tempo, Caos,

Processo; Lisboa: Climepsi

Costa, Mª Isabel Bica Carvalho; A família com filhos com necessidades

educativas especiais, in www.ipv.pt/millenium/millenium30/7.pdf

Gaspar, M. (2005). Educação familiar como intervenção socioeducativa: Porquês, para quem, como e por quem?. Revista Portuguesa de Pedagogia, 39 (3), 61-98. MATSUKURA, Thelma Simões et al; Estresse e Suporte social em mães de

crianças com Necessidades Especiais, Brasil – in www.scielo.br

Relvas, Ana Paula. O ciclo Vital da Família. Perspectiva Sistémica.

Biblioteca das Ciências do Homem. Edições Afrontamento. 2ª Edição.

Maio de 2000

Sousa, Liliana (2005); Famílias multiproblemáticas. Coimbra: Editora

Quarteto

Rolfsen, Andréia Bevilacqua et al, Programa de Intervenção para pais de

crianças com dificuldades de aprendizagem: um estudo preliminar,

Universidade Federal de S. Carlos, São Carlos –SP, Brasil

Ribeiro, Maria José dos Santos (2003); Ser família – Construção,

implementação e avaliação de um programa de Educação parental, Braga.

Page 54: Nós & os Laços - noseoslacos.files.wordpress.com · 4 1-Definição de família Antes de avançarmos para a definição de ciclo vital e dos tipos de famílias, temos de deter a

53

Coimbra, Dezembro de 2011

Carmen Fonseca

Celina Carvalho