normas de qualidade, protecção do ambiente, higiene e segurança no trabalho agrícola
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O Manual apresenta-se de uma forma simples e resumida, dividido em três temas: Normas de Qualidade; Protecção do Ambiente e; Higiene e Segurança no Trabalho Agrícola.TRANSCRIPT
“Normas de Qualidade,
Protecção do Ambiente,
Segurança, Higiene e Saúde no trabalho agrícola”
Curso de
Operador(a) Agrícola - Horticultura/Fruticultura Biológicas
(Manual de Formação)
Formador: Dinarte Pereira
Moura, 2009
Este Manual foi elaborado no âmbito do curso de
Educação e Formação de Adultos: Operador(a) Agrícola-
Horticultura/Fruticultura Biológica e o seu conteúdo é
da inteira responsabilidade do seu autor.
O Manual apresenta-se de uma forma simples e
resumida, dividido em três temas: Normas de
Qualidade; Protecção do Ambiente e; Higiene e
Segurança no Trabalho Agrícola.
Com este manual pretende-se divulgar um conjunto de
normas e conselhos práticos, com o intuito de contribuir
para o processo de aprendizagem do formando.
Moura, 2009
INDÍCE
Pág.
Parte I- NORMAS de QUALIDADE ----------------------------------------------------------------------------------------
5
I- Qualidade e Segurança Alimentar ----------------------------------------------------------------------------------- 6
1.1. Objectivos específicos---------------------------------------------------------------------------------
6
1.2. Introdução ---------------------------------------- ------------------------------------------------------ 6
1.3. Definição de Qualidade -------------------------------------------------------------------------------
7
1.4. Qualidade de Produtos Agro-alimentares -------------------------------------------------------- 8
1.5. Normalização e Normas de Qualidade ------------------------------------------------------------ 10
1.6. Segurança Alimentar ---------------------------------------------------------------------------------- 11
1.6.1.
Requisitos legais ---------------------------------------------------------------------------- 12
1.6.2. Enquadramento legal --------------------------------------------------------------------- 14
1.7. Sistemas de garantia e certificação de processos e produtos -------------------------------
17
1.7.1. Certificação de processos produtivos ------------------------- ------------------------ 19
1.7.2. Certificação de produtos agro-alimentares ------------------------------------------ 20
1.7.3. Procedimentos de certificação ---------------------------------------------------------- 22
1.8. Referências bibliográficas ---------------------------------------------------------------------------- 24
Parte II- ECOLOGIA E PROTECÇÃO AMBIENTAL ---------------------------------------------------------------------
26
II- Ecologia e Preservação do Ambiente -------------------------------------------------------------------------------
27
2.1. Objectivos específicos---------------------------------------------------------------------------------
27
2.2. Introdução ------------------------------------------ ---------------------------------------------------- 27
2.3. Definição de Ecologia ---------------------------------------------------------------------------------
28
2.3.1. Alguns conceitos ------------ --------------------------------------------------------------- 28
2.4. Equilíbrio ambiental -----------------------------------------------------------------------------------
30
2.4.1. O Homem, agente modificador dos ecossistemas e o Ecossistema agrário --
31
2.4.2. Medidas de Conservação ambiental e gestão dos recursos---------------------
33
2.5. Ambiente, Poluição e Saúde ambiental -----------------------------------------------------------
35
2.5.1. Poluição e saúde ambiental -------------------------------------------------------------- 35
2.5.2. Enquadramento legal --------------------------------------------------------------------- 38
2.6. Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------------- 39
Parte III- SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO --------------------------------------------------------- 40
III- Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho Agrícola --------------------------------------------------------------
41
3.1. Objectivos específicos -------------------------------------------------------------------------------- 41
INDÍCE (Cont.)
3.2. Introdução ----------------------------------------------------------------------------------------------- 41
3.3. Riscos e Prevenção de Acidentes e Doenças ----------------------------------------------------
44
3.3.1. Movimentação manual de cargas ------------------------------------------------------ 46
3.3.2. Utilização segura de produtos fitofarmacêuticos ---------------------------------- 48
3.3.3. Utilização de máquinas agrícolas -------------------------------------------------------
53
3.3.4. Prevenção de incêndios ------------------------------------------------------------------- 56
3.3.5. Segurança nas instalações --------------------------------------------------------------- 58
3.4. Noções de primeiros socorros ---------------------------------------------------------------------- 61
3.4.1. Estojo de primeiros socorros ------------------------------------------------------------ 66
3.5. Código de Boas Práticas ------------------------------------------------------------------------------
66
3.6. Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------------- 68
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 5
I- Normas de Qualidade
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Manual de Formação 6
1.1. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
• Apresentar a definição de Qualidade e a sua importância no contexto da produção agrícola;
• Compreender a importância de produzir alimentos seguros garantindo a preservação e protecção do meio ambiente;
• Apresentar as diferentes normas de qualidade adjacentes ao Princípio da Segurança Alimentar;
• Apresentar como se processa a Certificação de Produtos, apresentar as suas vantagens e qual a sua importãncia na economia e desenvolvimento rural.
1.2. INTRODUÇÃO
A crescente preocupação com a segurança dos produtos alimentares, deve-se a vários
factores, nomeadamente: à evolução e modernização das sociedades; às alterações de hábitos
alimentares; à crescente globalização do comércio e ao desenvolvimento de novas técnicas de
produção, preparação e distribuição de alimentos [1].
As várias crises que se verificaram ao longo dos últimos anos no sector agrícola, não só
abalaram a confiança dos consumidores como originaram perdas de rendimento, prejudicaram
o comércio e provocaram consequências nefastas para a saúde humana e para a economia das
nações [2]. De forma a restabelecer a confiança dos consumidores e evitar que tais situações
acontecem com a gravidade e regularidade dos últimos anos, foram estabelecidas várias
normas e regulamentos legais e, criadas várias entidades de fiscalização e controlo.
Dessa forma, a Segurança Alimentar tornou-se num requisito fundamental para as sociedades
actuais, constituindo por isso, uma prioridade para todos os intervenientes do sector. Estes ao
longo de toda a cadeia de abastecimento e independentemente das actividades que
desenvolvem, têm a responsabilidade de assegurar que os produtos alimentares são seguros e
adequados ao consumo [2] e [3].
I-QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR
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Manual de Formação 7
1.3. DEFINIÇÃO DE QUALIDADE
O conceito de qualidade pode ser aplicado tanto a produtos como a serviços e é definido como
sendo a “totalidade de propriedades e características de um produto ou serviço que permite
satisfazer as necessidades expressas de um cliente” [4].
Tem como objectivo produzir bens adequados ao uso ou finalidade, no menor tempo possível
e ao menor custo, de acordo (conformes) com as especificações e padrões nacionais e/ou
internacionais e no interesse da satisfação e das expectativas dos clientes e consumidores.
A qualidade depende de vários factores, nomeadamente, do comportamento da organização e
das diferentes actividades que desenvolve, assim como, das características do produto: físicas,
funcionais, sensoriais e temporais (durabilidade e funcionalidade) e ainda da segurança que o
produto oferece [4].
A qualidade de um bem ou serviço, apresenta vantagens do ponto de vista competitivo, dando
a resposta adequada às exigências do mercado e permitindo o aumento da confiança nos
clientes, além disso contribui para reforçar a imagem da organização/empresa na conquista de
novos mercados. Do ponto de vista financeiro contribui para a minimização dos custos, pois
permite a detecção rápida de não conformidades e a consequente eliminação das mesmas,
evitando assim os desperdícios [5].
As estratégias a desenvolver aquando da implementação de sistemas da qualidade são várias e
passam pela:
• Focalização no cliente, a organização deve procurar e identificar quem são os seus
clientes, quais as suas exigências e nunca partir do pressuposto que sabe o que os
clientes pretendem.
• Avaliação dos fornecedores, o relacionamento entre a organização e os fornecedores
deve ser mutuamente benéfico, as relações deverão ser interdependentes, assegurar
os benefícios mútuos e potenciar a criação de valor. Para tal torna-se necessário
conhecer os fornecedores e saber se as informações transmitidas são claras e
objectivas. Deve-se ainda proceder a uma avaliação dos mesmos com o objectivo de
saber se são os adequados às necessidades da organização e ao pretendido pelos
clientes.
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Manual de Formação 8
• Redução de custos, deve passar pela produção de mais e melhor, para tal torna-se
necessário diminuir os factores de produção, isto é, produzir mais com menos recursos
(água, solo, energia, mão de obra) e evitar os desperdícios e não conformidades.
• Melhoria contínua, a organização deve estabelecer e aplicar processos e
procedimentos que garantem a sua melhoria de forma continuada.
1.4. QUALIDADE DE PRODUTOS AGRO-ALIMENTARES
A qualidade agro-alimentar é um conjunto de atributos que se deve cumprir para satisfazer os
consumidores. Uma das principais propriedades da qualidade nos alimentos é a sua
inocuidade (segurança). É dever de todos, produzir, armazenar, transportar e oferecer ao
consumidor final produtos que não sejam prejudiciais à saúde, tanto humana como animal [6].
A qualidade total de um produto agro-alimentar (fig.1.1) depende do modo de produção, das
características intrínsecas (organolépticas, nutritivas e higieno-sanitárias) assim como, das
características exógenas (apresentação, relação preço/qualidade, facilidade de uso e
reputação que o produto detém no mercado) sendo esses atributos assegurados pelas normas
de comercialização [6].
Fig. 1.1. Qualidade total de um produto agro-alimentar. Adaptado de MADRP (2000).
Condições de produção
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Manual de Formação 9
A avaliação da qualidade destes produtos é efectuada ao longo de toda a fileira (produção,
transformação, distribuição e comércio e consumo), através de vários parâmetros.
Assim temos que na produção a avaliação é feita através da(o):
• Resposta das espécies e cultivares ao meio ambiente;
• Comportamento de desenvolvimento do produto (frutificação e produtividade);
• Épocas e duração da maturação;
• Tolerância às práticas culturais necessárias;
• Mínimo impacte negativo no ambiente e na saúde dos trabalhadores;
• Utilização sustentável dos recursos (água, solo, energia)
No processamento/transformação a qualidade depende de:
• Resposta da matéria-prima ao produto final pretendido;
• Resposta do produto à especificidade da tecnologia utilizada;
• Homogeneidade dos produtos.
Por seu turno a qualidade na distribuição/comércio é avaliada pela:
• Conservação;
• Época própria de mercado;
• Resistência à manipulação e movimentação;
• Estabilidade na oferta do produto com características constantes.
Por fim a qualidade no consumo é avaliada pela:
• Características do produto, físicas e químicas (organolépticas e nutritivas);
• Relação preço/qualidade;
• Funcionalidade/facilidade de uso do produto;
• Características higieno-sanitárias (segurança);
• Apresentação e embalagem e;
• Modo de produção utilizado.
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Manual de Formação 10
Estes parâmetros de avaliação são utilizados por todos os intervenientes da fileira (produtores,
consumidores, industriais, comerciais e entidades competentes) através de alguns conceitos
previamente estabelecidos, nomeadamente: medição dos critérios de qualidade; métodos
utilizados para efectuar a medição e; estabelecimento de limites e classificações através de
normas, especificações e regulamentos legais [6].
1.5. NORMALIZAÇÃO E NORMAS DE QUALIDADE
A decisão de estabelecer um programa internacional de normalização em alimentos remonta
ao ano de 1943, quando 44 países se reuniram na Conferência das Nações Unidas sobre
Agricultura e Alimentos. Esta Conferência recomendou a formação de uma organização
internacional (FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) para
“auxiliar os governos a elaborar e melhorar normas que permitissem a segurança de produtos
alimentares e facilitassem o intercâmbio de tais produtos entre os países” [7].
A FAO em conjugação com a OMS (Organização Mundial de Saúde) criou em 1962 a CAC
(Comissão do Codex Alimentarius), esta em 1969 publicou o denominado Codex Alimentarius.
Em 1993 no referido código, foram aprovadas as linhas de orientação para a aplicação do
sistema HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point) que se baseia no princípio da precaução
e análise de pontos críticos de controlo [2] e [8].
Mais recentemente no ano 2000 a União Europeia aprovou um documento denominado Livro
Branco no qual são apresentadas mais de 80 acções a desencadear nos próximos anos, que
permite garantir os mais elevados padrões de segurança dos alimentos. Por outro lado a
Organização Internacional de Normalização (ISO) elaborou em 2005 a Norma Internacional EN
ISO 22000 – Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar [8].
As Normas são especificações técnicas nacionais ou internacionais de carácter obrigatório
(regulamentos legais) ou de carácter facultativo. Servem para garantir uma aplicação uniforme
das práticas de comércio e destinam-se às organizações e produtos [8]. As normas de carácter
facultativo compreendem as normas da família ISO 9000 (gestão da qualidade) e ISO 22000
(segurança alimentar) são elaboradas pela ISO- International Standart Organization,
especificam os requisitos necessários à implementação de um sistema de gestão da qualidade
ou sistema de segurança alimentar e destinam-se às organizações.
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Manual de Formação 11
As normas de carácter obrigatório apresentam-se sob a forma de regulamentos legais e
destinam-se aos produtos agro-alimentares e/ou às organizações. Podem estar relacionadas
com:
A qualidade do produto e neste caso estabelecem os requisitos ou parâmetros que um
produto agro-alimentar deve respeitar. Exemplo desses parâmetros é a categoria
(extra, I e II) nº de defeitos, coloração, teor em sumo, etc. [6].
A comercialização do produto, estabelecem os requisitos de comercialização que um
produto deve respeitar, nomeadamente: a origem, a variedade, o produto, as
condições de embalagem e rotulagem do mesmo [6].
A produção do produto, estabelecem os princípios e regras de produção, preparação e
distribuição de um produto agro-alimentar (ex: Produção Integrada; Produção
Biológica).
A segurança alimentar, são normas internacionais que estabelecem as medidas para
protecção da saúde dos consumidores e assegura as práticas equitativas no comércio
de alimentos são desenvolvidas pela Comissão do Codex Alimentarius e um exemplo
dessas normas são o sistema HACCP que consiste na análise de perigos e pontos
críticos de controlo.
Além das normas anteriormente descritas, existem directrizes nacionais ou internacionais de
carácter facultativo que se apresentam sob a forma de Códigos de Boas Práticas, que servem
para orientar e promover a elaboração e estabelecimento de requisitos aplicáveis à segurança
dos alimentos.
1.6. SEGURANÇA ALIMENTAR
A segurança alimentar é um conjunto de regras e medidas destinadas à obtenção de alimentos
seguros. Entende-se por alimento seguro, aquele que não representa perigo para a saúde do
consumidor. Todos os intervenientes na cadeia alimentar são responsáveis pela produção de
alimentos seguros e adequados ao consumo (fig.1.2) [9].
A política de segurança dos alimentos deve basear-se numa abordagem global e integrada, ou
seja ao longo de toda a cadeia alimentar, “do prado ao prato”.
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Manual de Formação 12
Fig. 1.2. Exemplo de comunicação e responsabilidades dos intervenientes dentro da cadeia alimentar. Adaptado: NP EN ISO 22000:2005
Os operadores do sector alimentar são os principais responsáveis em garantir a segurança dos
alimentos. Para tal é necessário e fundamental assegurar a rastreabilidade dos alimentos para
consumo humano, consumo animal e transformação. Essa segurança é conseguida
procedendo-se à análise dos riscos tendo em conta os pareceres científicos, a regulamentação
e o controlo existente e, em caso de acidente comunicar o mesmo através da rede de alerta
rápido [10].
1.6.1. Requisitos legais
De forma a garantir a segurança dos alimentos, todos os operadores estão sujeitos ao
cumprimento de um conjunto de pré-requisitos obrigatórios quer ao nível das instalações e
equipamentos, quer a nível dos recursos (humanos e materiais).
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Manual de Formação 13
Instalações e equipamentos
Construção: o estabelecimento deve estar localizado, ser construído e mantido de acordo com
os princípios de desenho higiénico. Deve existir um fluxo linear de produtos e um controlo de
circulação de materiais e pessoas de forma a minimizar a contaminação cruzada entre
produtos. As instalações devem ser mantidas em bom estado de conservação de modo a não
constituírem um perigo para os alimentos nelas processados [11] e [12].
Equipamentos: todo o equipamento produtivo deve ser concebido e instalado de acordo com
o desenho higiénico, devendo-se estabelecer e documentar programas de manutenção
preventiva. Os equipamentos de inspecção, verificação e medição devem ser calibrados e/ou
verificados periodicamente.
Higienização: todos os procedimentos de limpeza e desinfecção dos equipamentos e
instalações devem ser cumpridos e documentados, deve ser estabelecido um plano de
higienização [11].
Recursos humanos
Higiene Pessoal: todos os operadores ou outras pessoas que entrarem numa área de
processamento de produtos alimentares devem cumprir os requisitos de limpeza e higiene
pessoal, utilizando o vestuário e calçado apropriados para esse fim.
Formação/informação: a organização tem de consciencializar os manipuladores e fazer com
que respeitem determinadas regras de higiene, segurança e saúde. Estas regras devem estar
expostas em locais estratégicos da unidade, tais como: vestiários, instalações sanitárias e junto
aos lavatórios.
Responsabilização: a organização deve designar um responsável da equipa da segurança
alimentar que deve ter responsabilidade e autoridade para gerir toda a equipa e organizar o
seu trabalho, assegurar formação adequada a todos os intervenientes e relatar à gestão de
topo a eficácia dos procedimentos implementados [11].
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Materiais
Rastreabilidade, notificação e recolha: todas as matérias-primas e produtos devem ser
identificados, de forma a garantir a sua rastreabilidade, para que possam assegurar uma
recolha eficaz em caso de ocorrência de perigo alimentar.
Agentes de limpeza: os agentes de limpeza e desinfecção devem ser os apropriados e seguros
para as condições de uso. Devem existir instruções de preparação e utilização destes produtos,
incluindo os aspectos de segurança. A organização deve dispor das fichas técnicas e de
segurança dos produtos que utiliza.
Controlo de produtos químicos: deve existir procedimentos documentados para garantir e a
separação e uso adequado de quaisquer produtos químicos usados nas instalações.
Recepção, armazenamento e expedição: todas as matérias-primas e produtos devem ser
armazenados em condições de higiénicas e ambientais apropriadas, tais como temperatura e
humidade, para assegurar a sua inocuidade.
Gestão de resíduos: os resíduos devem ser geridos (armazenados, transportados e eliminados)
de modo a minimizar a formação de odores e a probabilidade de atracção e desenvolvimento
de pragas [12].
1.6.2. Enquadramento legal
Com o objectivo de reforçar a protecção da saúde humana e o consequente grau de confiança
nos consumidores, a União Europeia procedeu à harmonização das normas gerais de
higienização aplicadas aos produtos alimentares, adoptando a Directiva nº 93/43/CEE de 14
de Junho de 1993 de âmbito horizontal, relativa à higiene dos géneros alimentícios. Esta
estabelece as regras gerais de higiene aplicáveis aos alimentos, incluindo os de origem não
animal e processos de controlo do cumprimento dessas regras.
A União Europeia no ano 2000, motivada pela necessidade de garantir um elevado nível de
segurança nos alimentos, propôs uma abordagem radicalmente nova em relação à política de
segurança alimentar ao elaborar o denominado Livro Branco. De entre as muitas propostas
apresentadas no referido livro, destacam-se as seguintes:
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Manual de Formação 15
• A criação da Autoridade Alimentar Europeia (EAA), esta seria incumbida de um certo
número de tarefas fundamentais que englobariam a formulação de pareceres
científicos independentes sobre todos os aspectos relacionados com a segurança dos
alimentos, a gestão de sistemas de alerta rápido, a comunicação e o diálogo com os
consumidores sobre questões de segurança dos alimentos e de saúde, bem como a
constituição de redes com as agências nacionais e os organismos científicos;
• Atribuir a principal responsabilidade pela segurança dos alimentos aos produtores, à
indústria e aos fornecedores, princípio de “da exploração agrícola até à mesa”;
• Dar uma importância fundamental à rastreabilidade e rotulagem dos géneros
alimentícios. “É necessário introduzir procedimentos adequados para facilitar a
rastreabilidade. Entre estes importa referir a obrigação, por parte das empresas do
sector alimentar e da alimentação animal, de dispor de procedimentos adequados
para retirar do mercado os produtos alimentares e os alimentos para animais sempre
que exista um risco para a saúde dos consumidores”;
• Basear a segurança dos alimentos em pareceres científicos e no recurso ao princípio
da precaução sempre que necessário, além de considerar também a higiene como
elemento fundamental da segurança dos alimentos;
• Criar um sistema de vigilância, semelhante ao Sistema de Alerta Rápido, que permita
a tomada de medidas de salvaguarda rápidas e eficazes para responder a emergências
sanitárias em toda a cadeia alimentar, incluindo a alimentação animal, e ainda a
conveniência da existência de autocontrolos e boas práticas de fabrico no sector da
alimentação animal;
• Realça a importância do controlo do sector da alimentação animal, bem como da
saúde e bem-estar animal para a obtenção de géneros alimentícios seguros, além da
necessidade de alargar os controlos veterinários fronteiriços a todos os produtos
destinados à alimentação animal;
• Realça o facto dos diferentes níveis de implementação das Directivas Comunitárias nos
vários Estados Membros não permitir um mesmo nível de protecção do consumidor;
• Em conjunto com a EAA, promover a informação e a participação do consumidor na
política de segurança alimentar;
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Manual de Formação 16
• Estabelece prioridades e define um plano de acção com a devida calendarização das
medidas a tomar e o objectivo de cada medida em matéria de segurança dos
alimentos [13].
Com base nas propostas apresentadas no Livro Branco, a União Europeia aprovou o
Regulamento (CE) nº 178/2002 de 28 de Janeiro que determina os princípios e normas gerais
da legislação alimentar, cria a Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos e estabelece
procedimentos em matéria de segurança dos géneros alimentícios.
Recentemente a União Europeia aprovou um novo Regulamento (CE) nº 852/2004 de 29 de
Abril relativo à higiene dos géneros alimentícios, o qual estabelece igualmente os princípios e
definições comuns para a legislação alimentar nacional e comunitária, incluindo o objectivo de
alcançar a livre circulação dos alimentos na Comunidade.
A nível nacional, a Directiva nº 93/43 foi transposta para a legislação nacional pelo Decreto de
Lei 67/98 de 18 de Março, posteriormente alterado pelo Decreto-lei 425/99 de 21 de Outubro,
e presentemente revogada pelo Regulamento CE nº 852/2004 de 29 de Abril.
Presentemente vigora o Decreto de Lei nº 113/2006 de 12 de Junho, alterado pelo Decreto-lei
nº 223/2008, que transpõe para a ordem jurídica nacional o Regulamento CE nº 852/2004 e
estabelece a aprovação do Código de Boas Práticas (CBP) nacionais (art. 3º).
Tabela 1.1. Regulamentos legais que estabelecem as normas e requisitos da Segurança Alimentar.
Diplomas Data Sumário Alterações ou rectificações
Directiva 93/43 CEE
14 Junho 1993
Estabelece as regras gerais de higiene aplicáveis aos alimentos, incluindo os de origem não animal e processos de controlo do cumprimento dessas regras.
Reg. (CE) 178/2002
Dec. Lei nº 67/98
18 Março 1998
Decreto de Lei que transpõe a Directiva nº 93/43 CEE para a legislação nacional e recomenda às empresas do sector alimentar a implementação de sistemas de auto-controlo.
Dec. Lei nº 425/99
Dec. Lei nº 425/99
21 Outubro 1999
Altera o Decreto-lei nº 67/98 e actualiza a referência à legislação relativa á qualidade da água para consumo humano.
Reg. (CE) 852/2004
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Manual de Formação 17
Diplomas Data Sumário Alterações ou rectificações
Reg. (CE) 178/2002
28 Janeiro 2002
Determina os princípios e normas gerais da legislação alimentar, cria a Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos e estabelece procedimentos em matéria de segurança dos géneros alimentícios.
Reg. (CE) 852/2004
Reg. (CE) 852/2004
29 Abril 2004
Revoga a directiva 93/43 CEE e consequente Dec. Lei nº 425/99, estabelece as regras gerais destinadas aos operadores das empresas do sector alimentar no que se refere a higiene dos géneros alimentícios.
Reg. (CE) 853/2004
29 Abril 2004
Estabelece as regras específicas de higiene aplicáveis aos géneros alimentícios de origem animal.
Reg. (CE) 854/2004
29 Abril 2004
Estabelece as regras específicas de execução dos controlos dos produtos de origem animal destinados ao consumo humano.
Dec. Lei nº 113/2006
12 Junho 2006
Assegura a execução e garante o cumprimento, no ordenamento jurídico nacional, das obrigações decorrentes dos Regulamentos (CE) Nº 852/2004 e 853/2004.
Dec. Lei nº 223/2008
Dec. Lei nº 223/2008
18 Novembro 2008
Estabelece as regras de execução, na ordem jurídica nacional, dos Regulamentos (CE) nºs 852/2004 e 853/2004 e altera o Dec. Lei nº 113/2006
1.7. SISTEMAS DE GARANTIA E CERTIFICAÇÃO DE PROCESSOS E PRODUTOS
Com a crescente procura de bens alimentares e o desenvolvimento de novas técnicas de
produção, ocorreu o aparecimento de novos perigos, provocando no consumidor final uma
certa preocupação e desconfiança, com resultados nefastos para o comércio e economia do
sector agrícola [14].
Tendo em vista a necessidade de proteger e valorizar um rico património de produtos agrícolas
e agro-alimentares com características qualitativas decorrentes da sua origem geográfica e do
modo particular de produção ligado a hábitos ancestrais das populações, a Comunidade
Europeia, no contexto da política de qualidade dos produtos agrícolas e géneros alimentícios,
criou em 1992, sob a forma de Regulamentos, sistemas de valorização e de protecção jurídica
para os produtos agro-alimentares de carácter específico [15].
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Manual de Formação 18
Esses regulamentos permitiriam uma protecção eficiente de nomes de produtos ou de modos
de produção que, pela sua natureza ou forma de obtenção, podem ser diferenciados e
valorizados comercialmente, criando condições para a manutenção eficiente da actividade
agrícola em regiões que, de outra forma, apenas as ajudas directas poderiam eventualmente
manter [16].
Tendo em conta o descrito anteriormente, o processo de certificação é o instrumento utilizado
para ir de encontro às exigências dos consumidores e mercados actuais; assegurar que as
políticas adoptadas são respeitadas; garantir a conformidade dos produtos a nível de
qualidade e segurança alimentar ao longo de toda a fileira e; acrescentar valor ao produto
[16].
A implementação de um esquema de certificação obriga a dispor de documentos de
referência (normas/especificações técnicas e procedimentos específicos) e de uma
metodologia de avaliação. Por conseguinte, é necessário que esses documentos definam as
regras, características e condições mínimas qualitativas e quantitativas, que enquadrem a
certificação e assim garantam, a quem os adquire, a qualidade e a segurança alimentar dos
produtos certificados [15] e [16].
De acordo com a norma EN 45011 “a CERTIFICAÇÃO de um produto (de um processo ou de um
serviço) é um meio de garantir a sua conformidade com normas e outros documentos
normativos ou regulamentação particular.” É um processo que garante de forma
independente e imparcial que o mesmo foi produzido, manipulado, embalado, distribuído e
fornecido de modo seguro e conforme as exigências definidas através de normas ou
especificações [18].
De acordo com o referencial técnico os sistemas de certificação podem ser de:
• Serviços – Qualidade e Segurança Alimentar (normas Nacionais ou Internacionais);
• Processos produtivos Produção Integrada e/ou Modo Produção Biológico (Regulamentos Europeus e nacionais);
• Produtos agro alimentares – IGP- Indicação Geográfica Protegida, DOP- Denominação de Origem Protegida e ETG- Especialidade Tradicional Garantida (Regulamentos Europeus e Nacionais).
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Manual de Formação 19
1.7.1. Certificação de Processos Produtivos
a) Modo de Produção Biológico (MPB)
A certificação de um produto obtido em MPB, tem por base as regras e
requisitos estabelecidos no Regulamento CE nº 834/2007 de 28 Junho, que
revoga o Regulamento CEE nº 2092/91 e que define a agricultura biológica
como sendo um método de produção agrícola que exclui a utilização de
produtos químicos de síntese.
Este é um modo de produção de géneros alimentícios que combina a produção com as
melhores práticas ambientais, assegurando um elevado nível de biodiversidade e preservação
dos recursos naturais. Combina ainda a aplicação de normas exigentes em matéria de bem-
estar animal indo de encontro com a preferência de certos consumidores por produtos obtidos
utilizando substâncias e processos naturais [19].
b) Modo de Produção integrada (ProdI)
A certificação de um produto obtido em Modo de Produção Integrada, tem por base as regras
e requisitos estabelecidos no Decreto-lei nº 256/2009 de 24 Setembro (que revoga o Dec. Lei
nº 180/95) e as normas técnicas elaboradas e publicadas para cada família de produtos.
A Produção Integrada é um sistema agrícola de produção de alimentos de elevada qualidade
utilizando os recursos naturais e os mecanismos de regulação natural, em substituição de
factores de produção prejudiciais ao ambiente, de modo a assegurar a longo prazo uma
agricultura viável [20].
É um modo de produção que tem como princípios intervir apenas quando necessário e usar de
forma compatível e integrada o conjunto dos meios de luta disponíveis. Dessa forma contribui
para atenuar o mais possível os efeitos negativos sobre o ambiente e recursos naturais
(auxiliares). No caso de se recorrer à luta química, esta deve ser feita em último caso e só
quando todas as outras opções se esgotaram [21].
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Manual de Formação 20
1.7.2. Certificação de produtos agro-alimentares
Alguns produtos agro-alimentares de carácter específico encontram-se protegidos legalmente
por sistemas de protecção, valorização e diferenciação criados pela União Europeia sob a
forma de regulamentos legais. Em 1992 através do Regulamento CEE nº 2081/92 foram criados
os produtos que ostentam a marca de Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação de
Origem Protegida (IGP) e mais recentemente a Especialidade Tradicional Garantida (ETG).
Entretanto, o regulamento anterior foi rectificado e revogado pelos seguintes regulamentos:
Regulamento CE nº 509/2006 do Conselho, de 20 de Março de 2006, relativo às especialidades
tradicionais garantidas de géneros alimentícios;
Regulamento CE nº 510/2006 do Conselho de 20 de Março estabelece as regras relativas à
protecção das denominações de origem e das indicações geográficas dos produtos agrícolas
destinados à alimentação humana e;
Regulamento CE nº 1898/2006 do Conselho, de 14 de Dezembro de 2006 estabelece as regras
de execução dos Reg. (CE) nº 509/2006 e 510/2006.
a) Produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP)
b) Indicação Geográfica Protegida (IGP)
É o nome de uma região, de um local determinado ou, em casos excepcionais,
de um país, que serve para designar um produto agrícola ou género
alimentício, cuja qualidade ou características se devem essencial ou
exclusivamente a um meio geográfico específico, incluindo os factores
naturais e humanos, e cuja produção, transformação e elaboração ocorrem
na área geográfica delimitada.
É o nome de uma região, de um local determinado ou, em casos excepcionais,
de um país, que serve para designar um produto agrícola ou género alimentício,
que possui determinada qualidade, reputação ou outras características que
podem ser atribuídos a essa origem geográfica, e cuja produção e/ou
transformação e/ou elaboração ocorrem na área geográfica delimitada.
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 21
c) Especialidade Tradicional Garantida
Um produto agrícola ou um género alimentício, para poder beneficiar destes sistemas de
diferenciação, protecção e valorização (IGP, DOP e ETG) deverá ter um referencial técnico ou
CADERNO DE ESPECIFICAÇÕES de conhecimento público, o qual deve conter:
• Nome do produto;
• Características do produto:
Matérias-primas e/ou ingredientes;
Características químicas (pH, resíduos), físicas (forma, aspecto, cor, peso,
textura), microbiológicas (níveis de microrganismos), organolépticas (sabor,
aroma) do produto ou das matérias-primas utilizadas.
• Locais ou zonas de produção;
• Demonstração da origem e tradicionalidade:
Rastreabilidade do produto e;
Demonstração histórica da origem.
• Formas de obtenção e transformação:
Principais técnicas autorizadas ou interditas;
Ar livre, obrigatoriedade de pastagem, limitações a produtos fitofarmacêuticos
ou de fertilizantes, data início de colheita, condições de acondicionamento.
• Apresentação comercial e rotulagem:
Tipo de embalagem e materiais, pesos e calibres possíveis, menções obrigatórias
ou não autorizadas, imagem e logótipo.
Produto agrícola ou género alimentício produzido a partir das matérias-
primas tradicionais, ou com uma composição tradicional ou um modo de
produção e/ou de transformação que dependa do tipo de produção e/ou de
transformação tradicional e que reflicta o tipo de produção e/ou de
transformação tradicional conforme regulamentarmente previsto, através da
obtenção de um Certificado de Especificidade (CE).
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Manual de Formação 22
• Condições de trabalho;
• Questões ambientais;
Impactos da actividade no ambiente, necessidades de monitorização, políticas
de sustentabilidade, etc.
• Restrições à legislação aplicável e;
• Organismo privado de controlo e de certificação (OPC);
1.7.3 Procedimentos de Certificação
De acordo com os regulamentos em vigor os produtores (associados ou individuais) de
produtos candidatos a serem reconhecidos/certificados devem recorrer a organismos privados
e independentes de certificação e controlo (OPC). Estes devem ter competências técnicas e
materiais, protocolos e planos de controlo aprovados para proceder ao controlo das fileiras
produtivas dos produtos candidatos. Estes organismos devem ser devidamente acreditados
pelo Organismo Nacional de Acreditação (IPAC) para que os certificados emitidos pelos
mesmos, sejam credíveis [16]. Na figura 1.3 encontra-se de forma resumida o processo de
certificação de produtos.
Fig.1.3. Diagrama simplificado de certificação de produtos.
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 23
A certificação de produtos apresenta vantagens económicas e de desenvolvimento local e
rural, nomeadamente:
• Permite a criação de emprego no sector, particularmente ao nível da transformação do
produto;
• Permite que haja a retenção de valor acrescentado na área geográfica de produção;
• Permite uma melhoria dos rendimentos dos produtores;
• Permite a diferenciação dos produtos e consequente diferenciação de preços;
• Protege os produtos contra imitações e utilização indevidas;
• Incentiva a produção agrícola diversificada [16];
• Permite a identificação rápida e reconhecimento do produto;
• É um sinal de conformidade com padrões normativos e um símbolo de garantia, de
qualidade e de segurança [22].
Os produtos agro-alimentares que ostentam a marca de certificação encontram-se sujeitos a
normas de rotulagem e apresentação comercial bastante específicas [16]:
Com um rótulo, indicando explicitamente o nome e a denominação a que têm direito
(MPB, ProdI, IGP, DOP e ETG), bem como o nome e morada do seu produtor;
No rótulo tem que constar o nome da entidade (OPC) que efectua o controlo;
Com uma marca de certificação, numerada, que garante que o produto foi submetido
a um sistema de controlo ao longo da sua fileira produtiva e que pode ser rastreado
até à sua origem (exploração agrícola, animal, etc.);
Com o logótipo comunitário, cujo uso é, no entanto facultativo.
Exemplo de alguns logótipos existentes em produtos agro-alimentares certificados
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Manual de Formação 24
1.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] – FAO/WHO (2006) - Guidance to Governments on the Application of HACCP in Small and
Less-Developed Food Businesses. FAO/WHO.
[2] – CAC/RCP 1-1969 Rev.4- 2003, Código de Práticas Internacionais Recomendadas, Princípios
Gerais de Higiene Alimentar. CAC-Comissão do Codex Alimentarius.
[3] – NP EN ISO 22000:2005- Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar. Norma Portuguesa,
Instituto Português da Qualidade, Portugal.
[4] - NP EN ISO 9001:2000- Sistemas de Gestão da Qualidade. Norma Portuguesa, Instituto
Português da Qualidade, Portugal.
[5] Manual de Formação PME, (2004). Gestão da Produção e Qualidade. AEP, Associação
Empresarial de Portugal.
[6] – MADRP (2000). Fruta e Produtos hortícolas, produção, comercialização e qualidade.
Programa de acções para o reforço da aplicação das normas comuns de qualidade para as
frutas e produtos hortícolas. MADRP, Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e
das Pescas. Portugal.
[7] – Martinelli, M. A.(2003). O Codex Alimentrius e a Inocuidade de Alimentos. Ponencia
Realizada para el Seminario de Políticas de Seguridad Alimentaria y Nutrition en América
Latina. Campinas, Brazil.
[8] – Baptista, P., Pinheiro, G. & Alves, P. (2003). Sistemas de Segurança Alimentar.1ª Ed.,
Forvisão-Consultoria em Formação Integrada, Lda., Guimarães, Portugal.
[9] - Regulamento CE nº 852/2004 de 29 de Abril do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativo à higiene dos géneros alimentícios. «Jornal Oficial da União Europeia» L 139 de 30 de
Abril de 2004.
[10] - Comissão Europeia (2004). From farm to fork. Safe food for Europe’s consumers.
Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities, 28 pp. ISBN: 92-
894-7772-5.
[11] - Baptista, P. (2003). Higienização e Desinfecção de Equipamentos e Instalações na
Indústria Agro-Alimentar. 1ª Ed., Forvisão-Consultoria em Formação Integrada, Lda.,
Guimarães, Portugal.
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 25
[12] - Salazar, M., Lopes, L., Nunes, C., Marques, C., & Duarte, A. (2006). Código de Boas
Práticas de Higiene no Processamento de Citrinos para Comercialização em Fresco. MADRP-
Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas. Faro, Portugal.
[13] – Comissão das Comunidades Europeias (2000). Livro Branco Sobre a Segurança dos
Alimentos. Bruxelas.
[14] - Amorim, V., (2006). Certificação de Produtos ou Serviços. Revista Segurança e Qualidade
Alimentar. Ano I, nº1.
[15] - Soeiro, A., (2006). Produtos Qualificados, produtos antigos e respostas modernas. Revista
Segurança e Qualidade Alimentar. Ano I, nº1.
[16] - A. Mantas (2009). Certificação de produtos tradicionais, sustentabilidade ou não? In:
Seminário de Sustentabilidade em Espaço Rural, 18 Setembro 2009. Universidade do Algarve,
Portugal.
[17] - Cortez, L., (2006). Certificação Sim, Mas Acreditada, Revista Segurança e Qualidade
Alimentar. Ano I, nº1.
[18] – NP EN 45011:2001- Requisitos gerais para organismos de certificação de produtos
(ISO/IEC Guia 65:1996). Instituto Português da Qualidade, Portugal.
[19] - Comissão Europeia (2000). A Agricultura Biológica, guia da regulamentação comunitária.
Direcção Geral da Agricultura. Comunidades Europeias, Luxemburgo.
[20] - Cavaco, M. & Calouro, F., (2006). Requisitos mínimos para o exercício da Produção
Integrada. MADRP – DGPC, Oeiras Portugal.
[21] - Aguiar, A., Godinho, Mª do Céu e Costa, C. A., (2005). Produção Integrada: uma
alternativa de agricultura sustentável. SPI Sociedade Portuguesa de Inovação, 1º Ed. Porto,
Portugal.
[22] - J.L. Coelho Silva, (2003). Certificação de produtos alimentares. DRA da Beira Interior,
Portugal.
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Manual de Formação 26
II- Ecologia e Protecção Ambiental
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Manual de Formação 27
2.1. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
• Apresentar a definição de ecologia e de alguns conceitos de natureza ecológica
(ecossistema, habitat e comunidade biótica);
• Sensibilizar os formandos para a necessidade da preservação da
biodiversidade, da conservação da natureza e da melhoria do ambiente;
• Demonstrar como o homem pode ser responsável pela modificação dos
ecossistemas, sobretudo no contexto da actividade agrícola;
• Apresentar medidas que contribuem para o desenvolvimento sustentável das
zonas rurais garantindo a conservação da natureza.
2.2. INTRODUÇÃO
A agricultura é um dos principais propulsores da economia global. É fonte de alimentação,
fibras e, cada vez mais, de energia. Provê sustento e alimento para a maior parte da população
mundial. É vital para o desenvolvimento rural e, portanto, fundamental para a redução da
pobreza [1].
A biodiversidade e os serviços do ecossistema que a apoiam são fundamentais para o sucesso
da agricultura, que depende da biodiversidade para polinização, criação de plantas
geneticamente distintas e variedade de cultivo, para um desenvolvimento robusto, forte,
resistente a doenças e insectos, protecção da colheita e controle das bacias hidrográficas [2].
Estima-se que grande parte da biodiversidade do mundo se encontre em redor do cenário
agrícola. Historicamente, a agricultura serviu para atrair e criar uma renovada força de
biodiversidade. Isso levou a criação de novas plantas e sementes, atraiu outras espécies de
animais e diferentes padrões de habitats. Juntos, a agricultura, biodiversidade e o ecossistema
constituem uma malha finamente entrelaçada de impactos e desafios.
II-ECOLOGIA E PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 28
Actualmente, eles enfrentam um excesso de ameaças comuns. A mudança climática tem
contribuindo para a perda de espécies e desertificação. Por outro lado, um crescimento no
número de espécies estranhas ao meio, ameaça a biodiversidade e compromete a produção
agrícola. Ao mesmo tempo, as exigências na agricultura e a pressão sobre a biodiversidade
culminam numa forçada competição entre as duas [2].
2.3. DEFINIÇÃO DE ECOLOGIA
O termo ecologia deriva das palavras gregas “oikos” que significa casa e “logos” que significa
estudo e o seu conceito foi utilizado pela primeira vez em 1866 pelo alemão Ernst Haeckel. É
uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o espaço que o cerca, levando em
consideração os aspectos físicos, químicos e biológicos [3]. É uma ciência que permite
compreender como os organismos se inserem e integram no mundo real. Permite ainda
estudar a totalidade das relações que se estabelecem entre os seres vivos e o ambiente e,
contribui para procurar regularidades e leis gerais, modelos e teorias explicativas do
funcionamento dos ecossistemas naturais.
O objectivo da ecologia é entender os princípios de operação dos sistemas naturais e prever
suas reacções às mudanças.
2.3.1. Alguns conceitos
Em ecologia, o meio ambiente inclui não só os factores abióticos, meio físico-químico (água,
luz, temperatura, ar, etc.), mas também os seres vivos (factores bióticos) que habitam um
determinado BIÓTOPO.
Biótopo: é o local ocupado por uma comunidade biológica que apresenta regularidade nas
condições ambientais e nas populações animais e vegetais. É definido por parâmetros tais
como clima e características do substrato [4].
Comunidade Biótica ou Biocenose: conjunto de populações interdependentes e de um mesmo
ecossistema, que ocupam a mesma área natural (biótopo) durante um mesmo período de
tempo e que dependem dos mesmos factores ambientais.
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Manual de Formação 29
População: em Biologia o termo população define-se como um grupo de indivíduos que
habitam uma determinada região, produzindo descendência. Uma população pode consistir
em apenas alguns indivíduos ou em milhões deles, desde que esses indivíduos de facto
produzam descendência. Um grupo de indivíduos que não se pode reproduzir não constitui
uma população. A densidade populacional corresponde ao número de indivíduos por unidade
de área.
Habitat (do latim, ele habita) é um conceito usado em ecologia que inclui o espaço físico e os
factores abióticos que condicionam um ecossistema e por essa via determinam a distribuição
das populações de determinada comunidade.
Ecossistema: Designação dada ao conjunto dos seres vivos que habitam um determinado
espaço e as interacções que se estabelecem entre esses seres vivos e o meio envolvente. O
conjunto de todos os ecossistemas do planeta é conhecido por biosfera (a esfera da vida).
Relações e interacções: “Nenhum organismo vive completamente isolado. Comunicar torna-se
uma necessidade imperiosa.” No decurso dessa comunicação estabelecem-se relações entre
seres vivos da mesma espécie – relações intra-específicas- e relações entre seres vivos de
espécies diferentes –relações interespecíficas. Na tabela 2.1 estão representados os diferentes
tipos de relações existentes entre os seres vivos.
Tabela 2.1. Tipos de relação existentes numa comunidade.
Tipo de relação Características
Competição Preferências iguais pela fêmea, pelo alimento, pelo local de procriação, pelo local de alimentação, etc.
Predação Um, o predador utiliza o outro, a presa como alimento para o seu desenvolvimento.
Parasitismo Um, o parasita, utiliza outro, o hospedeiro para seu desenvolvimento, causando doença e podendo provocar a morte neste.
Simbiose (mutualismo)
Beneficiam-se mutuamente, separados dificilmente poderiam sobreviver.
Cooperação Beneficiam-se mutuamente, no entanto a relação é mais fraca que na simbiose.
Comensalismo Um beneficia com a relação, que para o outro é indiferente
Antagonismo (antibiose)
Um, para o qual a relação é indiferente, impede o desenvolvimento do outro.
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Manual de Formação 30
2.4. EQUILÍBRIO AMBIENTAL
Todos os ecossistemas têm capacidade de auto-regulação/regeneração, no entanto são
sistemas abertos que se encontram sujeitos a perturbações e desordens. Quando num
ecossistema, a fauna e a flora são mais ou menos constantes, mostrando assim, uma relação
de dependência e ajuste complexo entre as duas, estamos perante um Equilíbrio Ambiental
[5]. Esta relação de dependência/interdependência, inicia-se com a necessidade de O2/CO2.
No equilíbrio ambiental, vários elementos naturais, que fazem parte da cadeia alimentar ou
não, estão em equilíbrio, mantendo assim, a continuidade das espécies e um ecossistema
ajustado. Por outro lado, desde o séc. XVI que o Homem utiliza os recursos disponíveis pela
natureza em benefício próprio. Com o surgimento da Revolução Industrial (séc. XVII), esta
agregação do Homem à natureza intensificou-se e era vista como sendo indispensável para o
desenvolvimento da humanidade e crescimento económico. No entanto esta utilização
desenfreada dos recursos naturais provoca riscos que ameaçam a própria vida humana e
provocam profundas perturbações no planeta [6].
Essas perturbações podem ser provocadas de forma directa através do aumento da população
mundial, do desenvolvimento tecnológico e de técnicas de produção abusivas, que contribuem
para a delapidação e/ou contaminação dos recursos naturais, a extinção de algumas espécies,
a poluição ambiental e consequentes alterações do clima. Como consequência dessas
perturbações temos a escassez de recursos (água) que provocam as guerras, a fome, doenças,
alergias e mutações com consequências do ponto de vista social, ambiental e económico
bastante nefastas [7].
Uma forma de combater os desequilíbrios ambientais passa pela educação ambiental das
populações alertando-as para a necessidade da conservação e preservação da natureza. Esta
aprendizagem deverá possibilitar a construção de uma sociedade mais sustentável e justa,
democrática e participativa, capaz de estabelecer uma rede solidária de relações não só com
esta, mas com as gerações futuras [8]. Associada à educação ambiental, deverão adoptar-se
políticas internacionais e nacionais de gestão e de planeamento que contemplam os princípios
da sustentabilidade.
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Manual de Formação 31
2.4.1. O Homem, agente modificador dos ecossistemas e o Ecossistema agrário
É um sistema “semifechado” onde o ser humano actua como administrador e consumidor.
Sem a permanente intervenção humana os agro ecossistemas não se conseguem manter,
regressando, mais cedo ou mais tarde, a um estado natural, que poderá ser ou não próximo do
original.
É um sistema agrícola controlado pelo Homem através das práticas culturais utilizadas, com o
objectivo de Produzir alimentos e Criar valor. Isso é conseguido através da manipulação do
ecossistema natural pré-existente que por acção do agricultor observa-se:
• a remoção da totalidade ou de parte do coberto vegetal original, afectando muitos dos
ciclos naturais, nomeadamente o ciclo hidrológico e o ciclo dos nutrientes;
• a introdução de espécies exóticas, normalmente menos adaptadas ao meio e por isso
carentes de serem protegidas da competição movida pelas espécies silvestres
endógenas;
• uma redução da biodiversidade e uma simplificação das relações entre os organismos;
• a opção por um reduzido número de espécies vegetais e animais como base no
sistema de produção agrícola;
• a alteração dos fluxos de energia e de matéria e supressão de muitas das funções de
regulação exercidas pelos ecossistemas naturais.
A evolução dos sistemas agrícolas está intimamente ligada com o grau de desenvolvimento das
regiões onde se inserem e dependente de três importantes aspectos: a origem e fertilidade
dos solos, a rotação das culturas e o grau de mecanização das operações agrícolas. Os sistemas
agrícolas incluem uma área de cultivo (com solos formados por processos geológicos e
ecológicos), produção e equipamentos para limpeza do terreno, sementeira, fertilização, rega
e colheita e podem ser de dois tipos: sistema Intensivo (monoculturas ou monofuncional) e
sistema Extensivo (poli culturas ou multifuncional).
O sistema agrícola intensivo ou industrial desenvolveu-se a partir de meados do séc. XIX em
países da Europa e América do Norte e surgiu aquando do desenvolvimento industrial, o qual
pôs ao dispor da agricultura os meios tecnológicos necessários. Consiste numa forma de
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Manual de Formação 32
artificialização da natureza em que se procura uniformizar o meio ambiente local e estabilizar
a produção, controlando ao máximo o risco e eliminando a biodiversidade local. Tem como
principal objectivo a produção de alimentos, bens (vestuário, energia, fibras...) e a criação de
valor [9].
Tem como características a grande produtividade por unidade de área e de trabalho, uma
elevada concentração das empresas agrícolas em determinadas regiões e uma grande
especialização da produção com predomínio pelos sistemas de monocultura. A abertura ao
exterior é feita com a comercialização da produção nos mercados mundiais. Estes sistemas são
ainda caracterizados por uma reduzida auto-suficiência (muito dependentes de ajudas
estatais), por uma utilização intensiva de capital e de factores de produção, utilizando inputs
artificiais não recicláveis, que não integram os processos biológicos naturais. Como
consequência destas características verifica-se:
a) Diminuição do rendimento económico das empresas agrícolas, com o excesso de
produção de alguns dos principais produtos agrícolas, provoca-se uma baixa de preços
dos mesmos, contribuindo para o aumento dos custos de produção e a inevitável
dependência de políticas de apoio estatais (EUA e EU).
b) Degradação, contaminação e esgotamento dos recursos naturais (solo, água,
biodiversidade) indispensáveis à manutenção da agricultura e poluição do meio
ambiente em geral.
c) Expansão da agricultura para algumas regiões de grande fragilidade ambiental, o que
pode provocar a sua posterior desertificação.
d) Contaminação dos alimentos com resíduos dos agro-químicos.
Por outro lado e de forma a contrabalançar os excessos cometidos pelos sistemas de
agricultura intensiva, surgem os sistemas agrícolas extensivos ou multifuncionais. São
Sistemas de agricultura sustentável que permitem equilibrar a produtividade agrícola com as
necessidades do ecossistema e da biodiversidade a fim de garantir as necessidades presentes
sem comprometer o futuro. São caracterizados pela utilização de plantas autóctones
(endémicas e em perigo de extinção) e pelo aproveitamento/recriação dos habitats naturais
locais contribuindo para a conservação da natureza e preservação e aumento da
biodiversidade. Um exemplo desses sistemas agrícolas é o Montado, sistema agrário que
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Manual de Formação 33
resultou da readaptação da floresta mediterrânica através da escolha das árvores mais
adequadas e da remoção do coberto arbustivo, substituído por pastagem, suporte de uma
pecuária extensiva. É um sistema complexo que mantêm algumas características semelhantes
às do ecossistema que lhe deu origem. Um sistema agrícola diz-se sustentável quando:
• Integra os ciclos biológicos naturais no processo produtivo;
• Protege e renova a fertilidade do solo e conserva outros recursos naturais básicos
(água, biodiversidade, combustíveis, etc.);
• Maximiza o uso dos recursos próprios da exploração agrícola;
• Reduz o uso de recursos não renováveis e de inputs “importados”;
• Providencia um adequado rendimento para o agricultor e para toda a comunidade;
• Minimiza os efeitos adversos da actividade agrícola na saúde pública, na vida
selvagem, na qualidade da água e no meio ambiente.
2.4.2. Medidas de Conservação ambiental e gestão dos recursos
Um dos maiores desafios da actualidade é garantir o equilíbrio dos ecossistemas, garantindo a
qualidade de vida das populações presentes e das gerações futuras. Para tal torna-se
imperioso minimizar os impactes ambientais, implementando boas práticas ambientais, dessas
práticas deve-se salientar as seguintes:
• Redução das emissões de CO2;
• Cuidada Gestão dos resíduos;
• Incentivar a utilização das energias alternativas;
• Realizar a Compostagem de resíduos orgânicos;
• Aplicar o princípio dos 3 R’s (reduzir, reutilizar e reciclar);
• Efectuar uma Agricultura sustentável (Produção integrada, Produção Biológica);
Neste contexto, uma agricultura sustentável permite assegurar e aumentar o rendimento na
agricultura ao mesmo tempo que se conserva a biodiversidade, os ecossistemas e se mantém
uma base saudável para todos aqueles que dependem da agricultura para sua sobrevivência.
Por outras palavras, procura-se equilibrar a produtividade agrícola com as necessidades do
ecossistema e da biodiversidade a fim de garantir que todos possam ser capazes de entregar
os seus serviços de maneira sustentável. Esse método integra os três pilares da
sustentabilidade: é economicamente viável, ambientalmente correcto e socialmente justo.
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Manual de Formação 34
Sendo a agricultura uma actividade que contribui para a modificação dos sistemas naturais e
possível poluição ambiental, torna-se necessário adoptar medidas de gestão eficaz dos
recursos naturais.
a) Gestão da água
Deve-se evitar a contaminação das águas. A contaminação atinge tanto as águas superficiais de
escorrimento como as águas subterrâneas de infiltração. É o que se passa com a eutrofização
das águas. Este processo resulta da acumulação de fósforo e de azoto em reservatórios de
água ou rios, o que provoca desenvolvimento acentuado de algas e bactérias, causando o
consumo excessivo de oxigénio e tendo como consequência a morte da fauna piscícola e
tornando a água imprópria para consumo. Uma forma eficaz de evitar a contaminação das
linhas de água com sedimentos é através da manutenção dos corredores ripícolas, que
valorizam a paisagem e aumentam a biodiversidade, pois funcionam como refugio para muitas
espécies, quer vegetais como animais [7] e [8].
b) Gestão dos Solos
A agricultura é responsável pela artificialização dos ecossistemas naturais, nomeadamente as
florestas provocando a destruição de habitats de espécies animais e vegetais silvestres. Sem
coberto vegetal o solo torna-se mais susceptível à erosão, seja ela, Eólica ou Hídrica.
A causa primária de erosão é a desflorestação ou a remoção do coberto vegetal natural. Esta
situação é agravada quando, devido à pressão demográfica, são desbravadas regiões em que
os solos são frágeis e estão mais susceptíveis à erosão. Em zonas declivosas ou muito áridas, o
uso agrícola dos solos ou sobre-pastoreio podem provocar danos irreversíveis nos
ecossistemas e na paisagem. Para evitar a degradação e consequente erosão dos solos, várias
são as medidas e técnicas a adoptar, a destacar a AGRO-FLORESTAÇÃO. Esta é uma medida
integradora que combina a produção agrícola com a produção florestal. Em zonas mais
declivosas, optar pela plantação de árvores que tem como objectivos: proteger o solo contra a
erosão, eólica ou hídrica; diminuir o escorrimento das águas da chuva, permitindo o aumento
da infiltração da água no solo; servir como fonte de matéria orgânica e de outros nutrientes
para o solo e; promover a melhoria das capacidades químicas, físicas e biológicas do solo.
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Manual de Formação 35
2.5. AMBIENTE, POLUIÇÃO E SAÚDE AMBIENTAL
Para muitos autores, ambiente entende-se o “... Conjunto de condições que envolvem e
sustentam os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte desta, abrangendo elementos
do clima, solo, água e de organismos”, e por meio ambiente a “soma total das condições
externas circundantes no interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou
um objecto existe. O meio ambiente não é um termo exclusivo; os organismos podem ser parte
do ambiente de outro organismo” [3].
O ambiente é um Património público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em
vista o uso colectivo. Por outro lado o meio ambiente engloba o ambiente natural (água, solo,
ar, fauna e flora) e o ambiente cultural (património arqueológico, artístico, cultural, histórico,
turístico e paisagístico. É um sistema dinâmico, encontra-se constantemente em mudança e
sujeito às acções da actividade humana [3].
2.5.1. Poluição e Saúde ambiental
A Poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante das actividades, que directa ou
indirectamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem
condições adversas às actividades sociais e económicas, afectem desfavoravelmente a
comunidade biótica, afectem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente e lançam
matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
A exposição à poluição, apresenta muitas possibilidades de interferência com a saúde humana,
levando a situações extremas como as alterações comportamentais e mesmo a morte. A
poluição é um problema gravíssimo, cujo controlo é bastante complexo e que envolve
questões de ordem social, económica e cultural. Na tabela 2.2. apresentam-se alguns tipos de
poluição, possíveis causas para a ocorrência da mesma e as consequências que se podem
verificar a nível da saúde humana.
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Manual de Formação 36
Tabela 2.2. Tipos de poluição, causas e consequências
Tipo Causas Consequências
Poluição visual Excesso de propagandas, anúncios, recados avisos luminosos, placas, etc.
Agride o bem-estar e incentiva o consumismo
Poluição da água
Agricultura, pecuária, consumo, esgotos e lixo.
Contaminação da água potável e drástica diminuição; assoreamento de rios e lagos; eutrofização das águas e diminuição de espécies.
Poluição dos solos
Agricultura (uso de pesticidas), desmatamento, queimadas; lixo e resíduos industriais.
Contacto directo de poluentes com produtos agrícolas; erosão-desertificação; contaminação dos lençóis freáticos e descontrolo ambiental;
Poluição radioactiva
Lixo atómico; uso e deposição de lixo rico em metais pesados; produtos químicos entre outros.
Doenças (Irritação da pele, queda de cabelo, cancro, hemorragias); diminuição das defesas do organismo, convalescença e morte.
Poluição sonora Agricultura, actividades domésticas e de lazer; indústria e transportes.
Afecta o equilíbrio psíquico, a audição e a pressão arterial; a circulação e a concentração de ruído provocam insónias, impotência, neurose, taquicardia e contracções musculares.
Poluição do ar
Agricultura; indústria; actividades domésticas e transportes.
Inversão térmica; efeito de estufa, destruição da camada de ozono e ocorrência de chuvas ácidas; Irritação das vias respiratórias e cancro
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) ambiente e saúde abrange “tanto os efeitos
patológicos induzidos directamente pelas substâncias químicas, radiações e alguns agentes
biológicos, como os efeitos frequentemente indirectos na saúde e bem-estar. Para esta
organização, o ambiente deve ser entendido em sentido lato, físico, psicológico, social e
estético, englobando simultaneamente a habitação, o desenvolvimento urbano, o uso dos
solos e os transportes” [10].
Por definição a saúde ambiental compreende nas suas áreas de abrangência:
Saúde ocupacional, poluição ambiental, educação ambiental, planeamento ambiental, política
ambiental, legislação ambiental, desenvolvimento sustentável. Compreende ainda a área da
água nos aspectos de abastecimento, qualidade, reutilização, poluição e águas residuais,
qualidade e poluição do ar e seus efeitos sobre a saúde, qualidade e contaminação do solo,
saneamento básico, rural e urbano. E, por fim, resíduos sólidos no que respeita ao seu destino
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Manual de Formação 37
final, recolha e reutilização nos aspectos de administração, emergências e gestão de riscos
[10].
Os pontos-chave da saúde ambiental são nomeadamente a produção, integração,
processamento e interpretação de informação visando o conhecimento dos problemas de
saúde existentes, relacionados com os factores ambientais. Estes deverão ser as prioridades
para a tomada de decisão e execução de acções relativas às actividades de promoção,
prevenção e controlo adequadas, bem como a sua permanente avaliação.
Um dos pontos de abrangência da saúde ambiental mais destacados pela OMS, diz respeito à
água e ao saneamento básico, pois a sua inexistência provoca a contaminação dos solos, da
água e do ar, contribuindo para a disseminação de várias doenças. Segundo dados da mesma
(OMS) a falta de saneamento básico e de água potável é responsável pela morte de 10 mil
pessoas por dia em todo o mundo. A percentagem de água disponível no planeta é de 97% de
Água salgada e 3% de Água doce, da qual apenas 1% são água potável. No entanto esta
encontra-se ameaçada por: esgotos, lixo, agros químicos, efluentes industriais, desmatamento,
queimadas. A sua má qualidade provoca inúmeras doenças, nomeadamente: febre-amarela e
malária, doenças da pele, cólera, febre tifóide, hepatite, leptospirose e gastroenterites [10].
No entanto e dentro do âmbito agrícola, algumas medidas de protecção da água podem ser
tomadas, para evitar a sua contaminação e perda:
• Evitar a contaminação das águas e aquíferos, utilizando os produtos agro-químicos o
menos possível;
• Proceder à construção e manutenção de corredores ripícolas;
• Utilizar a água de rega de forma eficiente, aplicando técnicas e tecnologias adequadas
(fertirrega e rega gota a gota);
• Utilizar águas residuais devidamente tratadas e depuradas para a rega;
• Armazenar e utilizar a água da chuva;
• Utilizar culturas e variedades adequadas às condições climatéricas da região onde são
produzidas;
• Instalar sistemas de drenagem na agricultura.
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Manual de Formação 38
2.5.2. Enquadramento legal
A nível nacional, a problemática da água e saúde ambiental está assegurada por vários
diplomas legais que garantem a qualidade do ar, da água e do solo.
O Decreto-Lei nº78/2004, que estabelece o regime da prevenção e controlo das emissões de
poluentes para a atmosfera, fixando os princípios, objectivos e instrumentos apropriados à
garantia de protecção do recurso natural ar.
A Portaria nº 675/2009 que fixa os valores limite de emissão (VLE) de aplicação geral aplicáveis
às instalações abrangidas pelo Decreto – Lei nº 78/2004.
O Decreto de Lei nº 178/2006 estabelece o novo regime de gestão de resíduos e define que a
responsabilidade pelo destino final dos resíduos é de quem os produz sem prejuízo da
responsabilidade de cada um dos intervenientes.”
O Decreto de Lei nº 173/2008 estabelece o regime de prevenção e controlo integrados da
poluição proveniente de certas actividades e o estabelecimento de medidas destinadas a
evitar ou, quando tal não for possível, a reduzir as emissões dessas actividades para o ar, a
água ou o solo, a prevenção e controlo do ruído e a produção de resíduos, tendo em vista
alcançar um nível elevado de protecção do ambiente.
O Decreto de Lei nº 243/2001 que regula a qualidade da água destinada ao consumo humano
e tem por objectivo proteger a saúde humana dos efeitos nocivos resultantes de qualquer
contaminação da água destinada ao consumo humano, assegurando a sua salubridade e
limpeza.
Operador(a) Agrícola – Horticultura/Fruticultura Biológica
Manual de Formação 39
2.6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] – “Living Beyond our Means, natural assets and Human well-being”. Statement from the
Board. Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Island Press, Washington, DC.
[2] – Ecosystems and Human Well-being, Synthesis. Millennium Ecosystem Assessment, 2005.
Island Press, Washington, DC.
[3] - Richard Domingues Dulley (2004). Noção de Natureza, ambiente, meio ambiente, recursos
ambientais e recursos naturais. Agric. São Paulo, São Paulo, v. 51, nº 2, p. 15-26, jul./dez. 2004.
[4] – Gestão Costeira Integrada (2009). Journal of Integrated Coastal Zone Management.
Disponível em: http://www.aprh.pt/rgci/glossario/biotopo.html.
[5] – Clovis Cavalcanti (1994). Desenvolvimento e natureza, estudos para uma sociedade
sustentável. INPSO/FUNDAJ, Instituto de Pesquisas Sociais, Fundação Joaquim Nabuco,
Ministério da Educação, Recife, Brasil.
[6] - - Vieira de Sousa D., (2006). O conceito de impacte ambiental no conceito de
sustentabilidade. Caminhos de Geografia, revista on-line. ISNN: 1678- 6343, Vol. 6 nº 19, Pp
126-129.
[7] - Ribeiro, W. C., (2001). Desenvolvimento sustentável e segurança ambiental global. Biblio
3W, Revista Bibliográfica de Geografia y Ciencias Sociales. ISNN: 1138-9796 nº 312.
Universidad de Barcelona.
[8] - Vargas, L. A., (2005). Educação ambiental a base para uma acção política/transformadora
na sociedade. Revista electrónica do mestrado em educação ambiental. ISSN: 1517-1256, Vol.
15, Pp 72-79.
[9] - Avillez, Francisco, Jorge, M.N., Tindade, C.P., Pereira, N., Serrano, P., Ribeiro, I. (2004).
Rendimento e competitividade agrícola em Portugal. Evolução recente, situação actual e
perespectivas futuras. Pp 360, Ed. Almedina. ISBN: 972-40-2361-3. Portugal.
[10] - Ambiente e saúde, portal. Acedido em Outubro de 2009.
http://www.ambientesaude.pt/index.php?page=256&view=news:View&id=3
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Manual de Formação 40
III- Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho
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Manual de Formação 41
3.1. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
• Alertar os formandos para a importância da saúde, higiene e segurança no
contexto da actividade agrícola, assim como a principal legislação adjacente;
• Identificar as principais causas dos acidentes no trabalho agrícola e adoptar
medidas preventivas relativamente às mesmas;
• Reconhecer os riscos e doenças profissionais inerentes à actividade e
apresentar as respectivas medidas profilácticas;
• Estimular o comportamento seguro no contexto do trabalho agrícola.
3.2. INTRODUÇÃO
O êxito de qualquer actividade empresarial é directamente proporcional ao facto de se manter
a sua peça fundamental – o trabalhador – em condições óptimas de saúde e segurança.
A higiene e a segurança no trabalho são um conjunto de metodologias adequadas à prevenção
de acidentes de trabalho, tendo como principal campo de acção o reconhecimento e controlo
dos riscos associados ao local de trabalho e aos processos produtivos. Segundo a O.M.S.
Organização Mundial de Saúde, a verificação de condições de Higiene e Segurança consiste
“num estado de bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença e
enfermidade “.
Nos tempos de hoje, quem trabalha na agricultura também exige qualidade de vida,
nomeadamente, um trabalho digno, seguro, com saúde e bem-estar. Claro que não é fácil
alcançar este objectivo em Portugal e nesta actividade em que abundam as pequenas
explorações, os meios financeiros escasseiam e as condições climatéricas nem sempre são as
mais desejáveis. No entanto, é importante melhorar diversos aspectos da actividade agrícola,
particularmente no que diz respeito à segurança e saúde no trabalho.
III-SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO AGRÍCOLA
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Manual de Formação 42
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem insistido, através das Convenções, na
necessidade de aplicar, também na agricultura, embora com as adequadas adaptações, os
princípios da prevenção de riscos profissionais, actuando fundamentalmente em quatro fontes
de risco numa exploração agrícola.
Actualmente em Portugal existe legislação que permite uma protecção eficaz de quem integra
actividades industriais, ou outras, devendo a sua aplicação ser entendida como o melhor meio
de beneficiar simultaneamente as Empresas e os Trabalhadores na salvaguarda dos aspectos
relacionados com as condições ambientais e de segurança de cada posto de trabalho [1].
De acordo com dados estatísticos (INE- Instituto Nacional de Estatística), Portugal destaca-se
na Europa por uma elevada incidência de acidentes de trabalho, que implicam a paragem de
mais de três dias de trabalho, tabela 3.1., contribuindo a actividade agrícola para esses
números [2]. Segundo o Ministério do Trabalho e Segurança Social, o sector agrícola é dos que
apresenta um número médio de dias perdidos mais elevado, sendo apenas suplantado pelo
sector da construção e das actividades financeiras (tabela 3.2) [3].
Tabela 3.1. acidentes de trabalho considerados graves em Portugal e restantes Países Europeus
Fonte: INE e Eurostat.
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Manual de Formação 43
Tabela 3.2. Acidentes de trabalho, taxa de incidência e dias perdidos
Fonte: MTSS- Ministério do Trabalho e Segurança Social
A actividade agrícola tal como outras comporta vários riscos e é responsável por um elevado
nº de acidentes de trabalho. No ano 2000 em toda a União Europeia (UE) a taxa de acidentes
mortais na agricultura foi de 12,6 por cada 100.000 trabalhadores e o nº de absentismo (mais
de 3 dias) provocado por acidentes de trabalho foi de 6.000 por cada 100.000 trabalhadores.
São esses números que são necessários combater, revelando-se um desafio para as
autoridades e governantes de forma a minimizar esta problemática.
Este problema deverá ser encarado de forma preventiva, pois conhecer os perigos e riscos a
que o operador está sujeito é uma forma de evitar acidentes no trabalho.
O Acidente do trabalho é uma ocorrência não programada, que interrompe ou interfere no
processo normal de uma actividade, ocasionando perda de tempo e/ou lesões nos
trabalhadores e/ou danos materiais. O acidente com danos materiais é o prenúncio de um
acidente com vítima; no entanto, pode ser evitado através de medidas preventivas. Além dos
actos e condições inseguras tidas como causas primárias dos acidentes, há que se considerar
também uma série de outros factores, que propiciam a ocorrência dos acidentes do trabalho
[1].
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Manual de Formação 44
3.3. RISCOS E PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS
A prevenção de acidentes e doenças em qualquer actividade torna-se mais eficaz quando são
conhecidos os perigos e os riscos que essa actividade representa para o trabalhador. É neste
contexto, que torna-se necessário compreender e assimilar alguns conceitos:
A higiene do trabalho propõe-se combater, dum ponto de vista não médico, as doenças
profissionais, identificando os factores que podem afectar o ambiente do trabalho e o
trabalhador, visando eliminar ou reduzir os riscos profissionais (condições inseguras de
trabalho que podem afectar a saúde, segurança e bem estar do trabalhador).
Perigo: conjunto de circunstâncias inerentes a determinada operação ou sistema, suficientes
para gerar uma sequência de ocorrências causadoras de um acidente;
Risco: probabilidade de realização de um acontecimento indesejado: Frequência x Gravidade.
Quantificação do risco: estimativa da probabilidade de ocorrência de um acontecimento não
desejado e das consequências possíveis decorrentes do acidente;
Gestão do risco: Método que age sobre a probabilidade de ocorrência de um acontecimento
indesejado com vista a eliminá-lo, minimizá-lo ou reduzir as suas consequências [4].
De acordo com a OIT as principais fontes de risco na agricultura, as quais se devem salientar
para uma melhor compreensão e minimizar o problema são:
• Riscos na utilização de tractores, máquinas e ferramentas agrícolas (esmagamento, quedas, amputações, cortes e outros);
• Utilização de substâncias químicas/pesticidas (intoxicações, alergias);
• Movimentação de cargas e posturas incorrectas (lesões na coluna, lesões musculares perturbações várias);
• Riscos biológicos (doenças infecciosas, alergias, dermites).
• Riscos na utilização da energia eléctrica;
• Riscos de incêndio.
No trabalho, perante qualquer perigo para a saúde, deve-se em primeiro lugar EVITAR OS
RISCOS (princípio da prevenção) e se não for possível, de seguida deve-se AVALIAR OS RISCOS
que não se podem evitar e depois COMBATER OS RISCOS na sua origem e, assim aplicar os
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Manual de Formação 45
princípios gerais da acção preventiva indicados no Decreto de Lei nº 133/99. A prevenção de
riscos evita o desenvolvimento de doenças do trabalho e previne a ocorrência de acidentes.
Os acidentes de trabalho por definição estipulada no Decreto-Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto,
são o sinistro, entendido como acontecimento súbito e imprevisto, sofrido pelo trabalhador
que se verifique no local e no tempo de trabalho. Considera-se também acidente de trabalho
ocorrido: No trajecto de ida e de regresso para e do local de trabalho nos termos definidos em
regulamentação específica; Na execução de serviços espontaneamente prestados e de que
possa resultar proveito económico para a entidade empregadora; No local de trabalho,
quando no exercício do direito de reunião ou de actividade de representante dos
trabalhadores, nos termos da lei; No local de trabalho, quando em frequência de curso de
formação profissional, ou fora do local de trabalho, quando exista autorização expressa da
entidade empregadora para tal frequência; Em actividade de procura de emprego durante o
crédito de horas para tal concedido por lei aos trabalhadores com processo de cessação de
contrato de trabalho em curso; Fora do local ou do tempo de trabalho, quando verificado na
execução de serviços determinados pela entidade empregadora ou por esta consentidos." In
Portal da Saúde
“Conhecendo os riscos, os acidentes de trabalho podem ser previstos e se estes podem ser
previstos também podem ser evitados”. Os acidentes na agricultura são provocados por
diversos factores, nomeadamente:
• Deficiente segurança das instalações e equipamentos, assim como deficiente
manuseamento destes últimos;
• Ocorrência de incêndios;
• Não respeitar as normas de segurança na aplicação dos produtos fitofarmacêuticos;
• Incorrecta movimentação de cargas;
• Ausência de noções básicas de primeiros socorros.
Além dos acidentes os operadores agrícolas estão sujeitos a doenças do trabalho, provocadas
pela exigência da própria actividade. Doença profissional é aquela que resulta directamente
das condições de trabalho, consta da Lista de Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º
6/2001, de 5 de Maio) e causa incapacidade para o exercício da profissão ou morte.
A Lei também considera que a lesão corporal, a perturbação funcional ou a doença não
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Manual de Formação 46
incluídas na lista serão indemnizáveis, desde que se provem serem consequência, necessária e
directa, da actividade exercida e não representem normal desgaste do organismo (Código do
Trabalho, n.º 2 do art. 310.
Essas doenças são causadas por: Trabalhos manuais e repetitivos; Deficiente postura na
movimentação manual de cargas; Aplicações e tarefas forçadas e que exigem força física;
Corpo sujeito a pressões mecânicas e vibrações; Trabalhos realizados em ambientes adversos
e; Operações monótonas. Na tabela 3.3 encontram-se representadas algumas doenças do
trabalho e respectivas causas.
Tabela 3.3. Doenças no trabalho agrícola e possíveis causas
Doenças Causas
Musculares e reumáticas Posições de trabalho pouco confortáveis, repetitivas e dolorosas e movimentação manual de cargas.
Respiratórias Aplicação de produtos fitofarmacêuticos; Pós e poeiras de várias culturas (fenos); Pós e poeiras dos campos agrícolas; Fumos provenientes de queimadas.
Audição Intensidade sonora dos equipamentos mecânicos (tractores e máquinas agrícolas); vibração de alguns equipamentos.
Doenças da pele e cancro Aplicação de produtos fitofarmacêuticos; contaminações biológicas.
Stress (pode provocar acidentes)
Vibração e ruído de alguns equipamentos agrícolas.
3.3.1. Movimentação manual de cargas
As prescrições mínimas de segurança e de saúde respeitantes à movimentação manual de
cargas que comportem riscos, nomeadamente dorso-lombares, para os trabalhadores
encontram-se estabelecidas na Directiva Europeia 90/269 de 29 de Maio e transcrita para o
direito nacional através do Decreto-lei nº 330/93 de 25 de Setembro.
A “movimentação manual de cargas” pode ser definida como sendo: qualquer operação de
transporte ou sustentação de uma carga que, devido às suas características ou a condições
ergonómicas desfavoráveis, comporte riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, está
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Manual de Formação 47
intrinsecamente associada a todos os sectores de actividade e pressupõe a utilização do corpo
do trabalhador como próprio “instrumento” de trabalho.
É uma actividade susceptível de envolver vários riscos não só adjacentes ao trabalho físico
desenvolvido pelo trabalhador, mas também relacionados com a própria composição dessas
mesmas cargas [5] e [6].
O desrespeito pelos princípios ergonómicos na movimentação de cargas, resulta em
consequências para a segurança e saúde dos operadores, nomeadamente:
Elevada incidência de traumatismos músculo-esqueléticos;
Aumento do absentismo;
Aumento do número de acidentes e incidentes;
Aparecimento de patologias (hérnias e ciática).
Quando numa empresa existe um ou mais trabalhadores responsáveis pela movimentação
manual de cargas, é necessário tomar algumas medidas, no intuito de salvaguardar a
segurança e saúde dos mesmos. Assim sendo, torna-se necessário ter em consideração alguns
princípios de prevenção na movimentação manual de cargas:
• Evitar a movimentação manual de cargas;
• Se tal não for possível, utilizar aparelhos auxiliares que substituam o esforço humano,
tais como carros de mão, rolos, ventosas, pinças, etc;
• Apreender e utilizar métodos e posições correctas de elevação, transporte e descarga
de objectos;
• Complementar estes métodos e técnicas de movimentação de cargas com
equipamentos de protecção individual adequado ao movimento a executar (ex.: botas
com biqueira de aço para levantamento manual de uma carga pesada, luvas de
borracha para o transporte de objectos escorregadios) [5] e [6].
Além destes princípios os operadores devem adoptar boas práticas que garantem a sua
segurança e integridade na movimentação manual de cargas, nomeadamente:
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Manual de Formação 48
a) Para o levantamento manual de cargas
Não sendo possível mecanizar o levantamento de cargas, para o levantamento manual, podem
resumir-se algumas recomendações:
• Posto de trabalho (bancadas, prateleiras, equipamentos, etc.) deve ser projectado tendo em conta a ocorrência de tarefas que obrigam a levantamento de cargas;
• Limitar o levantamento de pesos a 23 Kg, no máximo;
• A carga deve possuir formas que facilitem pegar-lhe (furos laterais, pegas);
• Manter a carga na vertical;
• Manter os pesos próximo do corpo;
• Evitar torções do tronco;
• Manter os pés e costas numa postura correcta;
• Evitar movimentos bruscos que provoquem picos de tensão;
• Alternar posturas e movimentos;
• Trabalhar em equipa. b) Para o transporte manual de cargas
• Limitar a carga;
• Evitar carregar pesos com uma só mão;
• Utilizar equipamentos de transporte, de preferência com rodas;
• Utilizar o movimento do corpo a favor do movimento;
• Utilizar um piso duro e nivelado [5] e [6].
3.3.2. Utilização segura de produtos fitofarmacêuticos
Os Produtos fitofarmacêuticos são químicos biologicamente activos, cuidadosamente testados
relativamente à segurança e utilidade antes de serem lançados no mercado para utilização
agrícola. Se incorrectamente utilizados, estes produtos podem ser prejudiciais para o Homem,
Animais e Ambiente. O rigoroso cumprimento das instruções inscritas no rótulo permite a
prevenção de efeitos prejudiciais. Com o fim de serem utilizados em segurança e eficazmente,
os produtos fitofarmacêuticos devem ser manuseados de acordo com as recomendações dos
fabricantes [7].
Cada Produto fitofarmacêutico é caracterizado por uma certa toxicidade e a eficácia em
relação aos seus inimigos, é consequência dessa mesma toxicidade. A toxicidade pode,
eventualmente, manifestar-se também em relação ao homem, aos compartimentos do
ambiente e às espécies não visadas, caso a aplicação não seja feita com segurança [8].
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Manual de Formação 49
"Produto fitofarmacêutico" é a expressão geralmente utilizada em português para designar o grupo de
produtos químicos que inclui entre outros, os insecticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas,
rodenticidas, nematodicidas, moluscicidas, e reguladores de crescimento [7].
Para uma utilização segura dos produtos fitofarmacêuticos existem vários procedimentos e
recomendações que devem ser tomadas em consideração por parte do operador:
a) Escolha do produto fitofarmacêutico - os utilizadores devem primeiro identificar o
problema fitossanitário e, caso seja necessário, pedir conselho aos técnicos das
Direcções Regionais de Agricultura, aos técnicos das empresas, ou aos técnicos das
associações. Se o emprego de um produto fitofarmacêutico for considerado
necessário, o utilizador ou técnico devem obter as seguintes informações:
• Produtos recomendados e locais de aquisição;
• Concentrações, doses, época e frequência das aplicações;
• Técnicas de aplicação;
• Precauções a tomar antes, durante e após a aplicação;
b) Aquisição, transporte e armazenagem - o produto comprado deve ser precisamente o
recomendado, a sua aquisição e fornecimento devem ser feitos em tempo útil. Todas
as embalagens que se encontrem em mau estado, apresentem derrames, já tenham
sido abertas, ou que não tenham rótulos originais e em português devem ser
rejeitadas. Quanto ao transporte, este deve ser efectuado segundo as normas e
regulamentos em vigor. Não deve ser efectuado em simultâneo com géneros
alimentícios, animais e outros passageiros. A carga, descarga e arrumação das
embalagens de produtos fitofarmacêuticos devem ser feitas com cuidado de forma a
evitar que se danifiquem [7]. Em relação ao armazenamento de produtos
fitofarmacêuticos, este deve ser feito respeitando as normas e regulamentos legais.
Devem ser armazenados separadamente, em local próprio fechado à chave e sempre
longe de géneros alimentícios e outras mercadorias; devem ser mantidos nas suas
embalagens originais em locais frescos e secos, longe de fontes de calor e ao abrigo da
exposição directa do sol.
c) Riscos na utilização dos produtos fitofarmacêuticos - antes de aplicar o produto leia
atentamente o rótulo e siga as instruções e recomendações do fabricante, a saber:
quando deve usar; quando deve efectuar o tratamento; como deve aplicar o produto e
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Manual de Formação 50
que tipo de material de protecção deverá utilizar. A utilização incorrecta dos produtos
fitofarmacêuticos pode ser prejudicial para o Homem, animais e ambiente, havendo
três vias essenciais de penetração destes produtos no corpo humano:
• Pela boca (ingestão); • Através da pele (absorção cutânea); • Pelas vias respiratórias (inalação).
O contacto da pele com os produtos concentrados é a causa mais frequente de intoxicação
com produtos fitofarmacêuticos. A intoxicação pode resultar do contacto directo do produto
com a pele, mas também do uso de roupas contaminadas. Os produtos químicos passam
facilmente da roupa para a pele e alguns podem penetrar mesmo através de uma pele sã, sem
qualquer ferida ou escoriação [9]. Por esses motivos, são aconselhados os Equipamentos de
Protecção Individual (EPI), aquando da manipulação e aplicação dos produtos
fitofarmacêuticos.
O equipamento de protecção individual (EPI) a utilizar deve estar de acordo com: os riscos
inerentes à utilização dos diferentes tipos de material de aplicação, as condições ambientais e
as características e estado do EPI. Este aspecto é fortemente influenciado pela correcta
utilização e conservação do EPI, havendo necessidade de o substituir periodicamente devido à
alteração de características, nomeadamente a camada protectora que se vai estragando
gradualmente. Durante a aplicação o agricultor/aplicador deve proteger-se, no mínimo, com
fato de protecção, luvas, botas e chapéu:
• Todos os equipamentos de protecção deverão estar marcados com o símbolo CE;
• Utilização de luvas adequadas (luvas de nitrilo ou de neoprene);
• Utilizar sempre botas de borracha;
• Consultar o rótulo para verificar a necessidade de utilizar equipamentos de protecção
adicionais (avental, máscara contra pós ou vapores, óculos, etc.).
1. Protecção do corpo
Existem no mercado vestuários de protecção adequados à aplicação de pesticidas que
diferem entre si na confecção (tecido ou não tecido), no modelo e na marca. Os fatos de
protecção são classificados em 6 tipos conforme a protecção que conferem:
Tipo 1 – impermeável a gases;
Tipo 2 – não impermeável a gases;
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Manual de Formação 51
Tipo 3 – impermeável a líquidos;
Tipo 4 – impermeável à pulverização;
Tipo 5 – protecção contra partículas;
Tipo 6 – protecção limitada contra salpicaduras.
Regra geral os fatos de protecção do Tipo 4 ou Tipo 6, salvo indicação contrária, são
recomendados para a aplicação de pesticidas, de acordo com a norma EN 463 ou EN 468.
A lavagem dos fatos pode alterar a sua qualidade, nomeadamente naqueles que têm uma
camada protectora. No entanto, é importante que os fatos sejam lavados com frequência
porque ao ficarem impregnados de pesticidas deixam de ter capacidade para os reter.
2. Protecção das mãos
As luvas que deverão ser utilizadas para manusear e aplicar os pesticidas têm que ser
luvas para protecção contra produtos químicos e microrganismos – Norma EN 374.
Deverão ser de nitrilo ou neprene e apresentar na embalagem os símbolos CE e um
número que indica o tempo de penetração [9].
3. Protecção das vias respiratórias
A utilização de equipamento de protecção respiratória – máscaras e filtros – evita a
inalação de pós finos, gases e gotas finas pulverizadas. Basicamente existem dois tipos
de máscaras: Máscaras descartáveis – têm uma vida útil relativamente curta e a sigla
FF (filtro facial) seguida das especificações de protecção do filtro; Máscara de pouca
manutenção – possuem filtros especiais para substituição, normalmente têm duração
mais longa. Os filtros empregues nas máscaras classificam-se em:
Mecânicos - Protecção contra pós e partículas, distinguem-se pela cor branca, letra P e
número de acordo com o seu poder de retenção (de acordo com a norma EN 143 para
filtros para pó):
P1 – poder de retenção normal para partículas sólidas;
P2 – alto poder de retenção para partículas sólidas e líquidas;
P3 – máximo poder de retenção para partículas sólidas e líquidas
Químicos - Protegem contra gases e vapores químicos, classificados por letra e cor e o
número indica o poder de retenção (1, 2 ou 3).
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Manual de Formação 52
Combinados (mecânicos e químicos) - Protecção simultânea contra gases e partículas,
distinguem-se pela combinação de letras, números e cor [7] e [9].
d) Regras de preparação e aplicação
Após a aplicação das medidas preventivas descritas anteriormente, aquando da
preparação e aplicação do produto deve-se considerar o seguinte: utilizar material
adequado para as medições e preparação da calda e nunca mexer ou agitar os
produtos fitofarmacêuticos com as mãos desprotegidas; preparar volumes de calda
ajustados à área a tratar e proceder à tripla lavagem das embalagens; Verificar se o
material de aplicação é o adequado; Evitar o escorrimento para o solo; Evitar o
arrastamento de calda para zonas vizinhas. Além disso, nunca verter os produtos
fitofarmacêuticos em garrafas de bebidas e não use as embalagens usadas para
guardar alimentos ou água [7].
Durante a aplicação, Ter em conta as condições meteorológicas que podem afectar a
eficácia e segurança do tratamento (precauções indicadas no rótulo) e manter as
pessoas e animais afastados de culturas recentemente tratadas.
Fig. 3.1. Cuidados na manipulação e preparação de produtos fitofarmacêuticos.
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Manual de Formação 53
3.3.3. Utilização de máquinas agrícolas
Com o desenvolvimento tecnológico, as máquinas e equipamentos agrícolas apresentam-se
cada vez mais, como um importante auxiliar do Homem na realização de tarefas relacionadas
com a actividade agro-pecuária. Embora a sua concepção constitua um processo dinâmico em
busca de características visando a segurança, se estas não forem devidamente utilizadas e
manobradas, apresentam sérios riscos para a saúde e segurança do operador. Segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma das principais fontes de risco na agricultura
são a utilização de tractores, máquinas e ferramentas agrícolas.
Quando se trata de utilizar os tractores nas diversas tarefas agrícolas, os riscos mais comuns e
perigosos são os de reviramento (capotamento) e de empinamento [10]. Estas situações
ocorrem principalmente devido a falhas humanas. A fadiga e cansaço físico, a falta de
formação ou o excesso de confiança do operador levam a que os acidentes com tractores e
máquinas agrícolas se repitam. As principais condições perigosas que podem conduzir a estas
situações de risco são:
• Velocidade e carga excessivas para determinada tarefa ou situação; • Conduzir/trabalhar em encostas (rebocar cargas, mudar de direcção, circular com
equipamento montado, entre outras situações); • Travões inadequados, • Parqueamento, nomeadamente em declives e com cargas; • Conduzir/trabalhar perto de valas ou bermas de declives acentuados; • Compactação de silagem; • Conduzir em zonas com eventuais obstáculos encobertos (ex.: erva alta); • Embraiar subitamente pode provocar o empinamento do tractor; • Tractor com carregador frontal em posição elevada e com carga; • Cisternas vazias ou pouco cheias e reboques com carga em excesso, mal distribuída ou
solta; • Trabalhar com guincho montado e não alinhado com o tractor.
Um outro dispositivo especialmente perigoso é o Veio Telescópico de Cardans (Fig. 3.2.), que
serve para fazer a ligação do tractor aos diversos equipamentos a si acoplados. A finalidade
deste dispositivo é o accionamento dos equipamentos através da transmissão de potência pela
tomada de força do tractor (TDF) [10] e [11].
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Manual de Formação 54
As principais condições perigosas no
manuseamento deste dispositivo são:
• Colocação e protecção incorrecta do
veio telescópico de cardans,
potenciando o risco de ruptura;
• Executar intervenções (afinações,
ligações ou limpezas) com o veio em
funcionamento [10].
Medidas de Prevenção e equipamentos de segurança
De forma a evitar correr riscos desnecessários, além da formação do operador e respeito pelas
normas de segurança do fabricante, existem alguns equipamentos e procedimentos que
contribuem para a segurança do operador [10], nomeadamente:
a) Estruturas de segurança em máquinas agrícolas, são estruturas montadas ou
integradas na máquina que, em caso de capotamento, permitem garantir um espaço
inviolável e suficientemente amplo, que no momento do acidente proteja o operador e
simultaneamente proteja a própria máquina. Este equipamento, para constituir uma
estrutura de segurança, deve ser homologado e certificado para cada modelo de
máquina e pode assumir três tipos: Aros, Quadros e Cabinas (montadas e integradas).
b) Estruturas de segurança em alfaias agrícolas, são normalmente constituídas por
barras ou forras que garantem a integridade física do operador face aos órgãos em
movimento, garantindo simultaneamente a protecção da própria alfaia.
c) Órgãos que desenvolvem e transmitem movimentos, nomeadamente: Rodas,
utilização de pneumáticos recomendados para o modelo da máquina, com piso em
bom estado de conservação e protegidas por guarda-lamas; Tomada de força,
protegida por tampa de resguardo; Veio telescópio de cardans, para que a sua função
seja exercida em segurança, deve garantir sempre uma sobreposição mínima de um
terço do seu comprimento total.
Fig. 3.2. Veio Telescópio de Cardans
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Manual de Formação 55
d) Outros mecanismos de protecção: Dispositivo de arranque manual, deve ser
concebido de forma a permitir que a mão se solte facilmente em caso de inversão do
sentido da rotação; Sistema homem morto, sempre que a mão do operador deixe de
pressionar o manípulo, provoca a paragem automática da máquina; Patilha de
segurança de acelerador, só permite accionar o acelerador quando a patilha de
protecção estiver premida.
e) Equipamento de protecção individual (EPI), no trabalho com máquinas agrícolas, é
fundamental adequar-se o EPI à tarefa que se está a desenvolver. Neste sentido, pode-
se considerar o equipamento genérico que o operador deve usar sempre que, procede
à manutenção ou a pequenas reparações numa qualquer máquina agrícola: Vestuário
justo, fechado/apertado e sem pontas pendentes (preferencialmente fato de macaco);
Calçado com biqueiras em aço; Luvas; Protecção da cabeça, chapéu, boné e sempre
que tenha cabelo cumprido usá-lo apanhado.
f) Manutenção A manutenção das máquinas e alfaias agrícolas, constitui uma das mais
importantes medidas de prevenção de acidentes. Antes de iniciar um dia de trabalho
devem executar-se os cuidados periódicos diários.
g) Acesso à máquina agrícola A abordagem à máquina deve ser sempre efectuada pela
esquerda (lado da embraiagem). A subida/descida deve fazer-se sempre com a
máquina imobilizada, usando todos os degraus à disposição e, utilizando sempre três
apoios, recorrendo às pegas colocadas ergonomicamente para o efeito.
h) Engate/desengate de alfaias: Sistema de engate manual, o operador deve ter o
máximo de cuidado ao realizar esta operação, a máquina deve estar imobilizada e
alinhada com a alfaia; O operador deve abordar os pontos de engate sem se colocar
entre os dois equipamentos, não se deve apoiar em qualquer um deles nem tentar
arrastar a alfaia; Preferencialmente a máquina deve esta equipada com comandos
externos do sistema do hidráulico. Sistema de engate rápido, o operador pode
proceder ao engate e desengate de alfaias, comodamente e em segurança, sem
abandonar o posto de condução [10] e [11].
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3.3.4. Prevenção de incêndios
O fogo é uma forma de energia poderosa que quando não é controlada pode provocar graves
danos e destruir vidas humanas.
A segurança contra incêndios contempla todo o conjunto de medidas destinadas a:
• Evitar a deflagração dos incêndios;
• Controlar a sua propagação e;
• Eliminar por completo o incêndio [4].
Quando a actuação se encarrega de evitar o início do
incêndio, é denominada Prevenção contra Incêndios. Para
que o fogo se inicie é necessário que se conjugam 3 factores,
denominados factores do fogo: Combustível; Comburente e
Calor (fig. 3.3).
Combustível: qualquer substância capaz de arder. Pode ser sólida, líquida ou gasosa
Substâncias combustíveis que queimam muito rapidamente são chamadas inflamáveis. É o
caso da gasolina, por exemplo, citada como combustível líquido.
Comburente: é o agente activador do fogo que dá vida às chamas comburente normal é o AR
que contem cerca de 21% de oxigénio.
Calor: o suficiente para que o fogo se produza. Fontes de calor mais comuns são cigarros,
faíscas, fogos mal apagados, falhas eléctricas, etc.
Prevenir a ocorrência de incêndios, é o método mais eficaz de evitar a sua deflagração. A
Prevenção é um conjunto de acções tendentes a impedir a ocorrência dos incêndios, através
da eliminação de algum dos três factores do fogo, para tal aconselha-se a adopção de várias
normas gerais:
• Armazenar os produtos inflamáveis e combustíveis em locais isolados e afastados das zonas de trabalho;
• Utilizar recipientes fechados, tanto para o armazenamento como transporte e depósito de resíduos;
Fig. 3.3. Factores do fogo
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• Licenças de trabalho para intervenções de manutenção ou reparação de circuitos eléctricos e materiais inflamáveis;
• Proibição de fumar e de introduzir materiais susceptíveis de causar chamas;
• Evitar que a instalação eléctrica seja origem de focos de calor;
• Não misturar substâncias químicas cuja reacção se desconhece, e que podem provocar calor.
A Protecção Contra Incêndios, consiste num conjunto de medidas destinadas a realizar a
acção preventiva. Uma boa protecção está directamente associada a um bom sistema de
detecção, extinção e alarme. Após a deflagração do incêndio, o tempo de actuação é
fundamental. Os cinco primeiros minutos são decisivos, se o fogo não for dominado nesse
prazo, a tendência é ele escapar ao controle. Por este motivo, é muito importante dotar os
LOCAIS de TRABALHO com detecção automática ou, pelo menos, fazê-lo nas zonas em que os
riscos de incêndios podem ser maiores.
Os fogos não são todos iguais, e nem todos os agentes extintores são os adequados para todos
os fogos (Tab. 3.4). Um uso incorrecto do agente extintor face a um determinado tipo de fogo
pode agravar o problema em vez de o atenuar. Os extintores são um equipamento que contém
uma substância extintora que pode ser projectada sobre o fogo por acção de uma pressão
interna. Estes devem ser colocados em localizações determinadas de acordo com o tipo de
fogo.
Tab. 3.4. Agente extintor versus classe do fogo
Classe Tipo combustível
Caractrísticas do fogo Agente extintor
A Sólidos
Incêndios envolvendo materiais sólidos que queimam em superfície e profundidade e deixam resíduos. Ex.: madeira, papelão, tecidos etc.
Água e espuma
B Líquidos Incêndios envolvendo materiais líquidos que queimam em superfície e não deixam resíduos (não há formação de brasas).
Gás carbónico, pó seco e espuma
C Gasosos Incêndios envolvendo materiais gasosos que queimam em superfície e não deixam resíduos (não há formação de brasas).
Gás carbónico, pó seco e espuma
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Classe Tipo combustível
Caractrísticas do fogo Agente extintor
D Metais
Incêndios envolvendo metais ou outras substâncias que se inflamam quando entram em contacto com o ar (magnésio, titânio e zircónio)
Pó químico seco, limalha de ferro e grafite
E Eléctricos Incêndios envolvendo toda linha de materiais eléctricos, isto é, ligados (motores, equipamentos elétricos etc.).
Gás carbónico, pó químico seco
Nos fogos classe A, em seu início, poderão ser usados ainda pó químico seco ou gás carbônico.
A extinção de incêndios tipo D requer a utilização de pós especiais, de acordo com o metal
envolvido no incêndio.
“A protecção contra incêndios é um conjunto de acções destinadas a completar a acção
preventiva, para que, em caso de deflagração de um incêndio, este seja reduzido no que diz
respeito à sua propagação e às suas consequências” [4]. Por esse motivo é necessário que a
organização efectue uma boa sinalização das instalações e equipe o local de trabalho com
sistemas de combate: extintores, mantas de fogo, bocas de incêndio, etc.
3.3.5. Segurança nas instalações
Um dos princípios que contribuem para a prevenção de riscos, descritos na legislação em
vigor, passa pela segurança das instalações e equipamentos. De acordo com o art. 8º do
Decreto Lei nº 441/91, o empregador tem a obrigatoriedade de assegurar a todos os
trabalhadores as condições de segurança, higiene e saúde em todos os aspectos relacionados
com o trabalho”(...) Deve Identificar os riscos previsíveis, combatendo-os na origem, anulando-
os ou limitando os seus efeitos de maneira a garantir um nível de protecção elevado ainda na
fase da concepção das instalações, dos locais e dos processos de trabalho [12] e [13].
No entanto os riscos na origem nem sempre são possíveis de combater, por esse motivo,
torna-se necessário adoptar outras medidas de segurança, nomeadamente medidas de
protecção colectiva e individual dos trabalhadores. Medidas essas que protegem os
trabalhadores contra os riscos que não são possíveis de evitar ou reduzir [4]. Dentro desse
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Manual de Formação 59
âmbito, equipar e preparar as instalações de forma adequada, estamos a contribuir para a
segurança quer dos trabalhadores quer das infraestruturas (equipamentos e instalações).
Os principais riscos provenientes das instalações são: quedas ao mesmo nível e a um nível
diferente; pisadela de utensilios e ferramentas; choque contra objectos móveis e imóveis;
atropelamento com veículos; quedas de objectos por desiquilibrio ou derrubamento e
electrocussão e incêndio [10]. Conhecendo os riscos associados às instalações, torna-se
relativamente fácil adoptar medidas de segurança que contribuem para a minimização dos
mesmos. É recomendado que nas instalações:
• As máquinas devem estar a uma distância de segurança que permita aos trabalhadores um espaço para acesso e movimentação segura;
• Os postos de trabalho devem estar claramente identificados e dispor de um local fixo para depósito de utensilios e ferramentas;
• As passagens, os corredores e as escadas devem ter dimensões adequadas e devem estar livres de obstáculos;
• Deve existir sinalização e iluminação adequadas;
• Os edificios gerais (água, electricidade, gás, etc) devem estar em bom estado de conservação e ter manutenção adequada;
• Devem existir passagens de circulação diferentes para os trabalhadores e para os veículos;
• As saídas de emergência devem estar totalmente desimpedidas e devidamente sinalizadas;
• Os pavimentos devem ser antiderrapantes, facéis de higienizar e existir um tipo de calçado apropriado ao tipo de pavimento sempre que seja necessário a sua utilização;
• Devem ser colocadas protecções adequadas nas paredes sempre que possa ocorrer a queda de materiais;
• Os postos de trabalho devem estar arrumados e limpos, realizando-se inspecções periódicas. A arrumação e limpeza são princípios básicos que favorecem a segurança.
Uma das medidas descritas anteriormente que contribuem para a segurança nas instalações e
dos trabalhadores é a adopção de uma SINALIZAÇÃO adequada. Esta é uma técnica
complementar e eficaz de segurança, mas NÃO é uma técnica de eliminação de riscos.
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Deve ser aplicada quando:
• Não é possível eliminar o risco no projecto;
• Não é possível a utilização de sistemas de protecção colectiva;
• Não é possível proteger o operador com EPI’s;
• Como complemento das restantes acções de prevenção.
É uma técnica que recorre ao auxílio de sinais de segurança, que resultam na combinação de
uma forma geométrica, uma cor (cor de segurança, Tabela 3.5.) e um símbolo ou pictograma.
Consoante o significado, os sinais podem ser classificados em:
• Proibição: proíbe um comportamento que possa originar perigo.
• Obrigação: sinal que obriga a adoptar um determinado comportamento.
• Aviso: sinal que avisa da existência de um determinado risco ou perigo.
• Socorro: indicação relativa a saídas de emergência ou primeiros socorros, ou aos
dispositivos de salvamento.
• Indicação: apresenta informações diferentes das acima indicadas.
• Sinal adicional ou auxiliar: contém exclusivamente um texto e é utilizado com
conjunto com um dos sinais acima descritos.
Tab. 3.5. Cores de segurança
Cores de segurança, significado e aplicações
Vermelho
Paragem Proibição Luta contra incêndios
Sinais de paregm; Sinais de proibição; Dispositivos de desligamento rápido; Localização
Amarelo Atenção Zonas de perigo
Sinalização de riscos; Sinalização de ombreiras, passagens, obstáculos, etc.
Verde Situação de segurança Primeiros socorros
Sinalização de passagens e saidas de emergência; Posto de primeiros socorros.
Azul Obrigação Indicações
Obrigação de protecção pessoal; Localização de telefone, oficinas, etc.
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3.4. NOCÕES DE PRIMEIROS SOCORROS
Uma situação de emergência pode provocar lesões nas pessoas ou danos nas instalações e no
meio ambiente. Para evitar ou minimizar os referidos danos, a empresa deverá prever e
organizar adequadamente o modo de actuação perante situações de emergência [4]. É com
base neste pressuposto que a Lei nº 102/2009 (art. 75º) define o seguinte: a empresa ou
estabelecimento, qualquer que seja a modalidade de organização das actividades de
segurança, higiene e saúde no trabalho, deve ter uma organização interna que assegure as
actividades de primeiros socorros, de combate a incêndios e de evacuação de trabalhadores
em situações de perigo grave e iminente, com a identificação dos trabalhadores responsáveis
por essas actividades [14].
Em caso de acidente laboral, a rapidez e eficácia dos primeiros socorros prestados à vitima,
pode condicionar a recuperação do mesmo, ou inclusivamente salvar a sua vida. Dependendo
das lesões provocadas, existem uma série de procedimentos adquados para cada caso
específico. Muitas vidas já foram perdidas por falta de auxílio imediato, ou prestado por uma
pessoa leiga, no momento de um acidente, até ao atendimento por socorro especializado.
Outras vezes, a ajuda bem-intencionada, porém quando mal executada, pode resultar no
agravamento do quadro clínico da vítima ou sujeitar o socorrista a riscos desnecessários [3].
Os Primeiros socorros são os cuidados imediatos, adequados e prestados às pessoas
acidentadas ou com alguma enfermidade antes de serem atendidas pela assistência médica".
Tem como objectivos conservar a vida, evitar complicações físicas e psicológicas, ajudar na
recuperação do sinistrado, assim como, assegurar o bem estar da vitima até ao atendimento
por profissionais especializados [15].
Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o socorrista não deve expor-se a si ou a
terceiros a maior risco do que aquele em que se encontra a própria vítima [15]. Antes de se
aproximar de alguém que possa eventualmente estar em perigo de vida o socorrista deve
assegurar primeiro que não irá correr nenhum risco, nomeadamente:
Ambiental – choque eléctrico, derrocadas, explosão, tráfego.
Intoxicação – exposição a gás, fumo ou tóxicos.
Infeccioso – tuberculose, hepatite, HIV, etc.
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Na maioria das vezes uma avaliação adequada do local e da vítima (fig. 3.4), assim como, um
mínimo de cuidado são suficientes para garantir as condições de segurança necessárias. A
avaliação do local consiste em verificar se o local oferece perigo adicional à vítima e aos
demais; isolar e proteger o local do acidente. A avaliação da vítima depende do estado de
consciência ou inconsciência da mesma. Isto porque a vítima inconsciente requer muito mais
cuidados e atenção (não pode fornecer informações sobre seu estado) [16].
Perante um caso de sinistro, as normas básicas a ter em conta são:
• PROTEGER - Previamente a qualquer actuação é imprescindivel a segurança do socorrista ou pessoa que efectua o primeiro auxílio, esta deve estar fora de qualquer perigo. Há que determinar os possiveis perigos do lugar do acidente e evitá-los.
• AVISAR - Antes de proteger deve-se avisar os serviços de saúde da ocorrência e existência do acidente, tentando fornecer a máxima informação possivel acerca do mesmo (localização, gravidade, número de vitimas, etc.).
• SOCORRER - Antes dos primeiros passos, pode-se atender o acidentado começando pelo reconhecimento dos seus sinais vitais (primeiro, consciente ou não; segundo a respiração e terceiro o pulso). Como norma geral não se deve mover os acidentados nem dar-lhes de beber.
Em caso de emergência e não havendo um profissional da área de saúde por perto, é dever de
quem estiver próximo da vítima, agir como socorrista, isto é, prestar-lhe os primeiros socorros.
Numa situação dessas os princípios a adoptar são:
• Agir com calma e confiança – evitar o pânico • Ser rápido, mas não precipitado • Usar bom senso, sabendo reconhecer as suas limitações • Usar criatividade para improvisação • Demonstrar tranquilidade, dando ao acidentado segurança • Manter a sua atenção voltada para a vítima quando estiver interrogando-a • Falar de modo claro e objectivo • Aguardar a resposta da vítima • Não sobrecarregar a vítima com demasiadas perguntas • Explicar o procedimento antes de executá-lo • Responder honestamente às perguntas que a vítima fizer • Usar luvas descartáveis e dispositivos protecção individual, para proteção contra doenças de transmissão respiratória e por sangue. • Atender a vítima em local seguro (remove-la do local se houver risco de explosão, desabamento ou incêndio).
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Fig. 3.4. Esquema simplificado dos procedimentos gerais em caso de avaliação do sinistrado (vítima).
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Fig. 3.5. Posição lateral de segurança (PLS) da vítima
A posição lateral de segurança, mostrada na figura 3.5, evita a asfixia da vítima, nos casos de
vómito e permite manter a via aérea sem obstruções. No entanto em casos de Vítimas que
apresentem lesões de coluna não deve ser executada a PLS
Antes de iniciar a prestação dos cuidados de emergência, o socorrista deve fazer um rápido e
minucioso exame primário para avaliar a existência de alterações dos sinais vitais, provocadas
por lesões que possam por em perigo a vida da vítima.
O exame da vítima tem como objectivo Identificar as situações de compromisso das funções
vitais (estado de consciência, ventilação, sinais evidentes de circulação, existência de
hemorragias externas graves e sinais evidentes de choque).
• Pulsação - pode ser sentida através do tacto. Todos nós temos alguns pontos onde a
pulsação pode ser sentida com facilidade.
• Respiração - a respiração consiste em dois movimentos básicos: inspiração e expiração, que tem por finalidade renovar a oxigenação das células. Um modo prático para verificar se a vítima está respirando consiste em colocar, próximo ao seu nariz, um espelho ou qualquer pedaço de metal polido, que deve ficar embaciado.
• Temperatura - a temperatura normal do corpo humano é 36ºC. Para saber se a temperatura da vítima está muito diferente do normal, compare o calor do seu corpo com o da vítima.
• Estado das pupilas - em condições normais, as pupilas contraem-se com a luz e dilatam-se na escuridão. Se o exame do olho mostrar insensibilidade da pupila à luz, é sinal de inconsciência ou estado de choque.
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• Cor e humidade da pele - a aparência normal da pele é rosada, na maioria das pessoas. Em caso de acidente, deve-se observar principalmente as extremidades dos membros (mãos e pés), pois uma aparência diferente nessas regiões pode ser indicativa de falta de irrigação sanguínea.
• Sensibilidade - os músculos, quando estimulados, reagem, com movimentos de contracção. Se isso não ocorrer é sinal de inconsciência.
A avaliação da existência de perigo de vida implica a detecção de alterações dos sinais vitais e
início imediato da prestação dos cuidados de emergência adequados:
Abrir as vias aéreas e conservá-las permeáveis; Desobstruir as vias aéreas; Iniciar a reanimação cárdio-pulmonar; Controlar hemorragias graves; Prevenir e/ou combater o choque.
Se forem constatadas lesões na cabeça e se houver hemorragia por um ou ambos os ouvidos,
ou pelo nariz, deve-se suspeitar de traumatismo craniano. Nesse caso, a vítima deve ser
removida e transportada de imediato para o hospital mais próximo.
Seguidamente deve realizar o exame secundário, pesquisando a existência de lesões que não
pondo de imediato a vida em perigo, necessitam cuidados de emergência e de estabilização.
PLANO DE ACÇÃO
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3.4.1. Estojo de primeiros socorros
O estojo ou caixa de primeiros socorros é um equipamento indispensável em qualquer
organização, independente da actividade que é desempenhada. Esta deve conter:
• Tesouras e pinças
• Adesivos esterilizados em embalagens individuais
• Compressas em gaze estéril de vários tamanhos em bolsas individuais
• Fita adesiva e Ataduras
• Luvas descartáveis
• Manta isolante
• Água oxigenada ou solução salina a 0,9% em recipientes descartáveis
• Toalhetas de limpeza sem álcool
• Solução de Betadine
3.5. CÓDIGO DE BOAS PRÁTICAS
Podemos considerar que os agricultores desenvolvem diariamente uma parte da sua
actividade em instalações onde se realizam diversos trabalhos de preparação das operações
culturais, manuseamento de produtos fitofarmacêuticos, de armazenamento e de manutenção
de equipamento. Simultaneamente, desenvolvem também uma outra parte da sua actividade
directamente na exploração, onde põem em prática essas operações culturais (sementeiras,
sachas mecânicas e químicas, amontoas, colheitas, regas,...), que se concretizam com
condução de veículos e máquinas agrícolas, maneio de animais, movimentação manual de
cargas, manuseamento de substâncias perigosas e produtos tóxicos, utilização de energia
eléctrica, entre outros.
Associado ao trabalho desenvolvido nesta actividade, existem riscos de atropelamento, de
esmagamento, de quedas, de lesões dorso-lombares, de intoxicações e ainda perigos na
utilização da electricidade, que podem, também, resultar em riscos de incêndio e
electrocussão [10].
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Manual de Formação 67
De forma a garantir a segurança e evitar os riscos decorrentes da actividade agrícola existe um
conjunto de boas práticas, algumas de carácter obrigatório, que devem ser adoptas quer pela
entidade patronal quer pelo operador:
As medidas de prevenção devem ter por princípio a organização do espaço, das instalações e de trabalho de modo a serem o mais adequadas possíveis aos processos, pessoas e animais.
Assegurar formação e informação a todos os trabalhadores de forma a evitar situações de risco.
Cumprir sempre as instruções do fabricante de máquinas e equipamentos
Garantir que as instalações possuem vias de circulação, que permitem a deslocação fácil e segura das pessoas e equipamentos.
Proteger as zonas de perigo de queda em altura, munindo-as de resguardos de protecção, nomeadamente guarda corpos e rodapés.
Optar por um pavimento antiderrapante, sem inclinações, saliências e cavidades perigosas.
Asseguar que os operadores encarregues do maneio animal disponham de equipamentos de protecção individual EPI.
Prevenir a fuga de animais através de cercas seguras e resistentes.
Garantir que os locais de maneio, comopor exemplo as mangas, permitem que os trabalhadores realizem as tarefas em segurança.
Utilizar sempre uma postura correcta na movimentação manual de cargas.
Ter precauções especiais na armazenagem, preparação e aplicação de produtos químicos, cumprindo sempre as instruções de segurança do produto e fabricante.
Prevenir alergias, infecções ou intoxicações dos operadores devido aos riscos biológicos causados po fungos, bactérias, vírus e parasitas.
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3.6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] – INE- Instituto Nacional de Estatística (2009) Indicadores Estruturais.
[2] – MTSS- Ministério do Trabalho e Segurança Social (2007). Acidentes de Trabalho, síntese
estatística. MTSS, Gabinete de Estratégia e Planeamento.
[3] – Manual de Formação PME, (2004). Higiene e Segurança no Trabalho, AEP, Associação
Empresarial de Portugal.
[4] – IDICT (2002). Curso de Formação para o desempenho de funções de Segurança, Higiene
no Trabalho por Trabalhadores designados. Manual de Formação. Instituto de
Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho.
[5] – HSE-Health and Safety Executive (2008). Manual handling assessment charts. Published
by the Health and Safety Executive INDG383.
[6] – Portal da Construção (2008). Segurança e Higiene no Trabalho, Volume VIII –
Movimentação Manual de Cargas. Guia Técnico.
[7] – Anipla (2008). “NORMAS para a utilização segura e eficaz dos produtos
fitofarmacêuticos”. Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas.
[8] – João Santos Simões (2005). Utilização de Produtos Fitofarmacêuticos na Agricultura. SPI-
Sociedade Portuguesa de Inovação. 1ª Edição, ISBN: 972-8589-48-4.
[9] - António José Jordão & Jorge Frazão Moreira (2006). Equipamentos de protecção
individual, a utilizar na manipulação e aplicação de produtos fitofarmacêuticos. MADRP,
Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas.
[10] – Manual de apoio à exploração agrícola (2009). Vol 3 - Higiene e Segurança no Trabalho
Agrícola. CNA- Confederação Nacional da Agricultura. ISBN: 978-989-95157-6-5.
[11] - SANTOS, F. (1996) – Conforto e segurança na utilização dos equipamentos agrícolas. Vila
Real: UTAD, Universidade de Trás-Montes e Alto Douro.
[12] - IPS- Instituto Politécnico de Setúbal (2006). Segurança e Saúde, Sebenta de apoio. Curso
de Gestão de Recursos Humanos.
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[13] - Decreto de Lei nº 441/91 de 14 de Novembro que estabelece os princípios que visam
promover a segurança, a higiene e saúde no trabalho. Diário da República, I-Série A, nº 262.
[14] – Lei nº 102/2009 de 10 de Setembro que regulamenta o regime jurídico da promoção da
segurança e saúde no trabalho. Diário da República, I-Série nº 176.
[15] – Unimed (2008). Noções básicas de primeiros socorros. Manual de formação,
departamento de Segurança e Higiene no Trabalho.
[16] – Unicamp (2009). Noções básicas de primeiros socorros. Medicina do Trabalho.
Universidade Estadual de Campinas – Diretoria Geral de Recursos Humanos