normalidade x anormalidade

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UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina DLLV – Departamento de Língua e Literatura Vernáculas Letras- Língua Português e Literaturas LLV 7202 Literatura Brasileira II Prof. Dr. Demétrio Panarotto Lucas Denir Espindola Normalidade x Anormalidade Aviso-lhe de antemão que aqui só encontrarás declarações na primeira pessoa. Pois embora esse escritor que lhes fala seja composto de tantos outros escritores, ele (ou melhor), eu, sou o único autor das combinações de leituras que me formam. No presente texto, estabelecerei um breve diálogo entre duas obras do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, são elas: O Alienista e Ideias do Canário, ambos publicados no final do século XIX, em meio ao período de pujança da corrente literária denominada Realismo. A novela, de 1881, O Alienista, assim como o conto Ideias de Canário, possui um narrador onipresente e onisciente que apresenta um protagonista que traz a baila um debate sobre a perspectiva de mundo, na qual é inserido o conceito de normal e seu correlativo oposto, a anormalidade. E, assim,

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No presente texto, estabelecerei um breve diálogo entre duas obras do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, são elas: O Alienista e Ideias do Canário, ambos publicados no final do século XIX, em meio ao período de pujança da corrente literária denominada Realismo.

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UFSC - Universidade Federal de Santa CatarinaDLLV Departamento de Lngua e Literatura VernculasLetras- Lngua Portugus e LiteraturasLLV 7202 Literatura Brasileira IIProf. Dr. Demtrio PanarottoLucas Denir Espindola Normalidade x Anormalidade

Aviso-lhe de antemo que aqui s encontrars declaraes na primeira pessoa. Pois embora esse escritor que lhes fala seja composto de tantos outros escritores, ele (ou melhor), eu, sou o nico autor das combinaes de leituras que me formam. No presente texto, estabelecerei um breve dilogo entre duas obras do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, so elas: O Alienista e Ideias do Canrio, ambos publicados no final do sculo XIX, em meio ao perodo de pujana da corrente literria denominada Realismo.A novela, de 1881, O Alienista, assim como o conto Ideias de Canrio, possui um narrador onipresente e onisciente que apresenta um protagonista que traz a baila um debate sobre a perspectiva de mundo, na qual inserido o conceito de normal e seu correlativo oposto, a anormalidade. E, assim, apesar de terem sido publicados h mais de um sculo, nos possibilitam uma reflexo sobre os diversos julgamentos que fizemos e expomos na sociedade atual, sejam eles de principio socioeconmico, regional, profissional, tnico, de gnero ou em relao orientao sexual. O Alienista, diferente do conto Ideias de Canrio, possui um protagonista frio. Ao contrrio do que exposto inicialmente, ele no tem a mulher como um objeto reprodutivo, e sim como um objeto social. Objeto este que a masculinidade homognea exige que um homem possua, como representativo de um trofu e/ou atestado de normalidade. Embora isso no seja discutido no texto, podemos reparar que o personagem se trata de um homem branco, rico, heterossexual, com uma esposa, caractersticas que lhe garante o prestgio que tem em Itagua, local onde a histria se passa. Alm disso, o livro debate com afinco a tica e a moral do ser social, que julga o outro pela simples sugesto diferena, o que lhe possibilita poder. Parafraseando o pensamento do filosofo Arthur Schopenhauer (1778), incansvel a busca do homem pelo poder, sendo assim, so infinitos os artifcios e caminhos que o homem cria em busca deste.O conto Ideias de Canrio, originalmente publicado em 1895, por sua vez, nos mostra como nossa viso de mundo est limitada aos nossos conhecimentos. O Canrio no ningum mais do que eu e voc, quando julgamos as situaes com base na loja de Belchior, e tomamos isso como verdade nica e imutvel, sem ao menos olhar entre as grades ou ouvir o que se diz alm desta loja.

Referncias Bibliogrficas:ASSIS, Machado de.O Alienista.25. ed. So Paulo: tica, 1995. 48, [32]p. ISBN 8508040830ASSIS, Machado. Ideias de Canrio. Disponvel em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1932. Acesso: 10/04/2015BARTHES, Roland.O rumor da lngua.2. ed. So Paulo: M. Martins, 2004. XXIII, 462 p. ISBN 8533619863Sugesto:RIBEIRO, Luiz Felipe. Um canrio cheio de ideias. Disponvel em: http://revistabrasil.org/seminario/Ideias_de_canario.pdf. Acesso em: 17/04/2015.