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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA TRANSTORNOS ALIMENTARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SORAYA PIACENTINI ITAJAÍ, 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

TRANSTORNOS ALIMENTARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

SORAYA PIACENTINI

ITAJAÍ, 2008

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SORAYA PIACENTINI

TRANSTORNOS ALIMENTARES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Prof.º MSc. Maria Celina Ribeiro Lenzi.

Itajaí SC, 2008

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Membros da Banca ______________________________________ Profº. Dr. Eduardo Legal

______________________________________ Profº. Msc. Giovana Delvan Stuhler

________________________________________ Profº. Msc. Maria Celina Ribeiro Lenzi

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RESUMO Comportamentos patológicos são aqueles que desviam-se dos padrões comportamentais considerados como aceitáveis pela sociedade. Entre estes, encontramos os transtornos psicológicos, os quais são disfunções prejudiciais considerados como um comportamento perturbado, atípico e injustificável. Neste contexto em que se descrevem os transtornos psicológicos foi selecionado para estudo, os Transtornos Alimentares. Estes são caracterizados por graves perturbações do comportamento alimentar; são síndromes comportamentais cujos critérios diagnósticos vêm sendo amplamente estudados nos últimos 30 anos. Nesta etiologia existem três entidades nosológicas: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação (TASOE). Esta é uma pesquisa bibliográfica que possui como objetivo desenvolver um estudo bibliográfico caracterizando os Transtornos Alimentares, ou seja, identificando a etiologia, levantando as principais características, identificando a incidência do comportamento, verificando quais as formas de tratamento, o curso e o prognóstico deste transtorno e descobrindo quais as co-morbidades envolvidas. Apesar da dificuldade em se encontrar material diferenciado, foi possível obter uma ampla gama de informações, que por sua vez possibilitaram uma boa compreensão desse transtorno tão comentado nos últimos tempos.

Palavras-Chave : Transtornos Alimentares; Etiologia; Prognóstico; Co-morbidades.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ............................................................................................................ 63

Quadro 2 ............................................................................................................ 64

Quadro 3 ............................................................................................................ 74

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LISTA DE ABREVIATURAS

AN – Anorexia Nervosa

BN – Bulimia Nervosa

DM – Diabetes Mellitus

TA – Transtornos Alimentares

TASOE – Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação

TCAP – Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 08

2 METODOLOGIA...................................... ............................................... 12

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................... ................................... 14

3.1 ANORMALIDADE x NORMALIDADE..................................................... 14

3.2 COMPORTAMENTO PATOLÓGICO...................................................... 15

3.3 ETIOLOGIA............................................................................................. 18

3.4 TRANSTORNOS ALIMENTARES.......................................................... 24

3.4.1 Anorexia Nervosa (AN)........................................................................... 24

3.4.1.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR..................................................... 28

3.4.1.2 Formas de Tratamento............................................................................ 29

3.4.1.3 Curso e Prognóstico da Doença............................................................. 40

3.4.2 Bulimia Nervosa (BN).............................................................................. 41

3.4.2.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR..................................................... 45

3.4.2.2 Formas de Tratamento............................................................................ 46

3.4.2.3 Curso e Prognóstico da Doença............................................................. 52

3.4.3 Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação (TASOE)................ 54

3.4.3.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR..................................................... 54

3.4.3.2 Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)......................... 55

3.4.3.2.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR..................................................... 57

3.4.3.2.2 Formas de Tratamento............................................................................ 59

3.4.3.2.3 Curso e Prognóstico da Doença............................................................. 62

3.5 CO-MORBIDADES.................................................................................. 64

3.5.1 Transtornos de Ansiedade...................................................................... 65

3.5.2 Transtornos de Humor............................................................................ 68

3.5.3 Transtornos Relacionados a Substâncias............................................... 70

3.5.4 Transtornos de Personalidade................................................................ 71

3.5.5 Diabetes Melittus..................................................................................... 72

3.5.6 Osteoporose............................................................................................ 73

4 CONCLUSÃO........................................ ................................................. 75

5 REFERÊNCIAS....................................................................................... 82

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GLOSSÁRIO......................................... .................................................. 89

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1 INTRODUÇÃO

Para uma melhor compreensão do comportamento patológico, a psiquiatria

desenvolveu diversas formas de estudo, dentre elas pode-se citar as definições de

comportamento normal e comportamento patológico. Para Atkinson (2002), um

indivíduo com bem-estar emocional, ou seja, um indivíduo considerado normal é

aquele que possui uma percepção adequada da realidade, capacidade de exercer

controle voluntário sobre o comportamento, auto-estima e aceitação, produtividade,

e, capacidade de formar relacionamentos afetivos. Já aqueles que não possuem tais

características, são considerados anormais, ou seja, aqueles que apresentam

comportamentos patológicos. Por comportamentos patológicos pode-se entender

aqueles comportamentos que se desviam dos padrões impostos por determinada

sociedade; este pode ser identificado ao se averiguar como tal comportamento afeta

o bem-estar do indivíduo e do grupo social.

Neste contexto encontram-se os transtornos psicológicos, os quais são vistos

como disfunções prejudiciais, ou seja, são considerados comportamentos

perturbados (MYERS, 2003). Frente aos vários transtornos psicológicos existentes,

selecionou-se para este estudo, os Transtornos Alimentares, os quais, de acordo

com Ballone (2002), são definidos como desvios do comportamento alimentar que

podem levar ao emagrecimento extremo (caquexia) ou à obesidade, entre outros

problemas físicos e incapacidades.

Dentro dos Transtornos Alimentares, classificam-se três entidades

nosológicas principais: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtornos

Sem Outra Especificação (TASOE).

A AN pode ser definida como uma inanição deliberada e auto-imposta, sendo

seguida de uma busca interminável pela magreza e por um medo extremo de

engordar, que leva a sérios graus de emagrecimento (GARFINKEL apud NUNES et

al, 1998). A BN define-se pela presença de compulsão alimentar, sendo esta a

ingestão, em um período limitado de tempo, de uma grande quantidade de alimento

acompanhado do sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar durante

o episódio. É seguida de comportamentos compensatórios para a prevenção de

ganho de peso. Já o termo TASOE é aplicado quando existem sintomas de

comportamento alimentar perturbado, mas que não apresentam por completo o

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quadro da AN ou da BN. Esses quadros são conhecidos como quadros atípicos. No

TASOE também encontramos o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica

(TCAP).

Tanto na AN quanto na BN existe uma excessiva preocupação com a forma e

o peso corporal que leva o paciente a adotar comportamentos inadequados dirigidos

à perda de peso; essa preocupação excessiva costuma basear sua autocrítica e o

leva a perseguir o sonho de alcançar um corpo magro “ideal”.

Há muito tempo que os padrões de beleza femininos vêm passando por uma

constante mudança; e dentro do nosso contexto sociocultural atual pode-se observar

nitidamente uma mudança nos padrões de beleza feminina, tendo como ideal um

corpo cada vez mais magro. O culto à magreza transmite a idéia de que um corpo

magro e esbelto está diretamente relacionado à imagem de poder, autonomia e

sucesso. Em conseqüência disso, as pessoas, sendo a grande maioria mulheres,

passam a se preocupar mais com a sua estética corporal visível.

Em função dessa transformação nos padrões de beleza e o medo

desenvolvido, principalmente nas mulheres, da rejeição social devido à obesidade,

as pessoas têm aderido à cultura da magreza, muitas vezes, de maneira incorreta.

De acordo com Galvão et al. (2006b), esse tipo de comportamento citado acima

decorre de uma pressão social relacionada à magreza exposta pela mídia e pode

criar um ambiente psicológico favorável ao desenvolvimento dos Transtornos

Alimentares (TA) quando associados a outros fatores de risco ou vulnerabilidades,

como baixa auto-estima, perfeccionismo, traços obsessivo-compulsivos, entre

outros. Retomando o aspecto citado acima, de que as mulheres são mais

vulneráveis a desenvolver os TA temos como prova um estudo realizado por Ballone

(2005) onde se mostra que 90% das pessoas portadoras de TA são mulheres e,

entre elas, normalmente são aquelas com idade entre 14 e 18 anos.

Nos países industrializados, aos 15 anos de idade, uma em cada quatro

meninas faz regime para emagrecer, sem que, em quase nenhum caso, se

constatem problemas de peso acima de uma faixa de normalidade. Respondendo a

pergunta "você se vê gorda, mesmo que os outros te vejam magra?", 58% das

meninas de 15 anos contestaram afirmativamente a opinião dos outros que as

consideravam normais, magras ou não gordas (BALLONE, 2005).

Os TA tem sido um assunto muito comentado nos últimos tempos, porém há

carência de material científico publicado, dificultando, de certa forma, um maior

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conhecimento sobre este transtorno. A maioria dos trabalhos publicados relata as

mesmas coisas, às vezes sendo até as mesmas palavras, ou seja, são poucos os

livros e artigos científicos brasileiros que trazem descobertas e informações

diferenciadas.

Devido a este fato, o presente trabalho possui como objetivo investigar em

literatura científica especializada os principais tipos de TA. De forma mais específica

buscará conhecer sua etiologia, as formas de tratamento, o curso e o prognóstico da

doença, as co-morbidades e complicações clínicas associadas.

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi feito um estudo bibliográfico a

partir da coleta de fontes na biblioteca da UNIVALI, em acervo particular e na

Biblioteca Virtual de Saúde, PsiqWeb e SCIELO. Nas bibliotecas a busca foi feita

pelo índice dos assuntos através das palavras chaves (Anorexia, Bulimia,

Compulsão Alimentar e Transtornos Alimentares), Os materiais considerados foram

livros publicados entre os anos 1998 e 2008 e artigos científicos com ano de

publicação entre 2002 e 2008.

Após a coleta de dados, foi feita a sistematização de todo o material

encontrado na tentativa de facilitar o acesso ao conteúdo existente sobre os TA,

além de correlacionar as idéias de diversos autores sobre o mesmo assunto.

A sistematização deste material pretende contribuir como um instrumento de

pesquisa aos pesquisadores e profissionais da saúde que trabalham diretamente

com os TA.

No segundo capítulo será apresentada a metodologia que foi utilizada para a

elaboração deste trabalho bibliográfico, apresentando todos os aspectos utilizados,

da obtenção de dados à elaboração do trabalho.

No terceiro capítulo serão abordados temas como a abrangência do

significado de normalidade e anormalidade, ou seja, o que pode ser considerado

como um comportamento comum (normal) ou incomum (anormal). Assim que

esclarecidos os significados designados a tais palavras, foi retratado o conceito de

patologia, o qual, por sua vez, engloba também o conceito de transtornos

psicológicos. Dentro destes encontramos os Transtornos Alimentares (TA) aos quais

o presente trabalho se refere. É também apresentada a etiologia dos TA, a qual

abrange os fatores que predispõem, precipitam e perpetuam determinada patologia.

Além disso, foram esclarecidos os principais pontos de cada patologia relacionada

aos TA, serão elas: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtornos

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Alimentares Sem Outra Especificação (TASOE), dentro deste último optou-se tratar

de maneira ampla sobre o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP).

Foram abordadas também as co-morbidades psiquiátricas ligadas a cada patologia

(AN, BN e TCAP) e algumas complicações clínicas que podem surgir no decorrer do

quadro clínico.

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2 METOLOGIA

O procedimento utilizado para atingir os objetivos foi a pesquisa bibliográfica,

ou seja, baseado no material que a pesquisadora teve acesso em relação ao tema

de estudo. De acordo com Marconi e Lakatos (1999, p.73) a finalidade da pesquisa

bibliográfica “é colocar o pesquisador em contato com tudo aquilo que já foi escrito

sobre determinado assunto. [...] Dessa forma, não é mera repetição, mas propicia o

exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem”.

Para a pesquisa foi seguida uma ordem, a qual visou estabelecer uma melhor

organização dos resultados da pesquisa bibliográfica (MARCONI & LAKATOS,

1999). Para tanto, a presente pesquisa compreendeu as seguintes etapas:

1. Escolha do tema: o tema e o assunto que se deseja provar ou desenvolver;

2. Elaboração do plano de trabalho: nesta fase foi observado a estrutura do

trabalho cientifico, introdução, desenvolvimento e conclusão;

3. Identificação: é a fase de reconhecimento do assunto pertinente ao tema

em estudo. Nesta etapa foi realizado um levantamento bibliográfico que buscou

informações do material já publicado sobre o tema em questão. A pesquisa foi

realizada nas bibliotecas da UNIVALI, em acervo particular, na Biblioteca Virtual de

Saúde, PsiqWeb e SCIELO. Nas bibliotecas a busca foi feita pelo índice dos

assuntos através das palavras chaves (Anorexia, Bulimia, Compulsão Alimentar e

Transtornos Alimentares), os materiais a serem considerados foram livros publicados

entre os anos 1998 e 2008 e artigos científicos com ano de publicação entre 2002 e

2008.

4. Localização: reunião sistemática contida nos livros, revistas ou publicações

avulsas;

5. Fichamento: à medida que a pesquisadora teve em mãos fontes de

referência, foram transcritos os dados em fichas;

O fichamento se baseou na análise de todos os dados encontrados e

selecionados possibilitando a junção das informações para a elaboração do trabalho

proposto.

Nesta fase foram utilizados os livros e os artigos científicos para a elaboração

dos resumos e esboços.

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6. Análise e interpretação: a primeira fase foi composta pelas criticas do

material bibliográfico, a segunda fase compreendeu a decomposição dos elementos

essenciais e sua classificação.

7. Redação: elaboração do texto para o projeto do trabalho de conclusão de

curso, priorizando objetividade, clareza, precisão, consciência, linguagem impessoal

e uso do vocabulário técnico.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 NORMALIDADE X ANORMALIDADE

Antes de abordar o tema do presente trabalho, é necessário a apresentação

de alguns conceitos para o melhor entendimento do mesmo, iniciando pelo conceito

de normalidade. Não existe um conceito específico para “o que é normalidade”, mas,

segundo Atkinson et al. (2002), existem algumas características principais que

indicam o bem-estar emocional de um indivíduo. Essas características são:

percepção adequada da realidade; capacidade de exercer controle voluntário sobre

o comportamento; auto-estima e aceitação; capacidade de formar relacionamentos

afetivos; e, produtividade. Logo, um indivíduo considerado anormal é aquele que não

apresenta estas características.

Para complementar a definição de Atkinson et al. (2002), Dalgalarrondo

(2000) divide o conceito de normalidade em nove critérios, os quais serão citados

abaixo:

• Normalidade como ausência de doença: aqui define-se como indivíduo

normal, aquele que não é portador de algum tipo de transtorno mental

definido;

• Normalidade ideal: neste aspecto se considera a normalidade como

uma certa “utopia”, pois é estabelecido uma norma ideal, ou seja,

aquilo que supostamente é considerado como “sadio”;

• Normalidade estatística: este tipo de normalidade identifica norma e

freqüência. É um conceito que se refere especialmente a fenômenos

quantitativos, ou seja, o normal passa a ser aqueles comportamentos

que são possíveis de serem observados mais freqüentemente;

• Normalidade como bem-estar: pode-se estabelecer neste aspecto a

definição de saúde feita pela Organização Mundial de Saúde em 1958,

na qual se descreve saúde como o completo bem-estar físico, mental e

social, e não simplesmente como ausência de doença;

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• Normalidade funcional: normalidade é aquele fenômeno que não se

considera como patológico, ou seja, não causa sofrimento para o

próprio individuo e nem para o seu meio de convívio social;

• Normalidade como processo: aqui são considerados os aspectos

dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e

reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a

certos períodos etários;

• Normalidade subjetiva: neste aspecto se dá uma ênfase maior à

percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de

saúde;

• Normalidade como liberdade: este conceito de normalidade atribui ao

indivíduo possibilidades que o permitem estabelecer certas relações

entre os sofrimentos e as limitações inerentes à condição humana e,

então, usufruir o resquício de liberdade e prazer que nos é oferecido

pela existência;

• Normalidade operacional: neste último aspecto define-se os conceitos

de normalidade e patologia a priori, buscando trabalhar

operacionalmente com tais conceitos, aceitando, assim, as

conseqüências de tal definição prévia.

3.2 COMPORTAMENTO PATOLÓGICO

A partir daquilo que define-se como comportamento anormal, encontram-se

os comportamentos patológicos, os quais são aqueles que se desviam

acentuadamente dos padrões, ou normas, impostos pela sociedade como sendo

comportamentos aceitáveis. Além disso, este comportamento geralmente é

estatisticamente infreqüênte naquela sociedade. Um dos critérios mais importantes

para se identificar um comportamento patológico, é averiguar como o

comportamento afeta o bem-estar do indivíduo ou do grupo social. Segundo este

critério, o comportamento é patológico quando há inadaptação, ou seja, quando ele

tem efeitos adversos sobre o indivíduo ou sobre uma sociedade. Alguns tipos de

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comportamento desviante prejudicam o bem-estar do indivíduo, assim como outras

formas de comportamento desviante são prejudiciais à sociedade (ATKINSON et al,

2002).

Dentro dos comportamentos patológicos encontram-se os transtornos

psicológicos, os quais são, por diversas vezes, vistos como disfunções prejudiciais.

Disfunção significa não funcionar como a seleção natural predispõe nossa espécie a

se comportar; e prejudicial significa uma avaliação de indesejabilidade. Dessa forma,

o comportamento é rotulado como perturbado quando considerado como atípico,

conturbado, desajustado e injustificável (MYERS, 2003).

Neste contexto em que se descrevem os transtornos psicológicos, foi

selecionado discutir sobre os Transtornos Alimentares (TA), os quais são

considerados como doenças dos países ocidentais desenvolvidos, considerando-se

casos raros em culturas orientais (NUNES et al., 1998). Os TA são caracterizados

por graves perturbações no comportamento alimentar; são síndromes

comportamentais cujos critérios diagnósticos atualmente vêm sendo amplamente

estudados. São descritos como transtornos e não como doenças pelo fato de sua

etiologia patológica ainda não ser bem conhecida (CLAUDINO e BORGES, 2007).

Estes transtornos são determinados por uma diversidade de fatores que interagem

entre si de uma maneira complexa para produzir e, diversas vezes, perpetuar a

doença. Distinguem-se os fatores: 1) predisponentes, que aumentam as chances do

surgimento do TA, mas não o tornam inevitável; 2) precipitantes, que marcam o

aparecimento dos sintomas do TA; e, 3) mantenedores, que determinam se o

transtorno será perpetuado ou não (MORGAN et al, 2002).

Nesta etiologia existem três entidades nosológicas, a Anorexia Nervosa (AN),

que caracteriza-se por uma recusa a manter o peso corporal em uma faixa normal

mínima; a Bulimia Nervosa (BN), que caracteriza-se por repetidos episódios de

compulsões alimentares seguidas de comportamentos compensatórios

inadequados; e os Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação (TASOE), que

são compostos pelos quadros atípicos de AN e BN; esses quadros atípicos

representam manifestações mais leves ou incompletas, muito mais freqüentes que

as síndromes completas e com risco de evoluírem para as mesmas, além de

quadros de compulsão alimentar sem o uso de comportamentos compensatórios,

sendo conhecido como Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Entre

os TASOE, as classificações também citam os quadros de ruminação e pica (mais

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comuns na infância), a hiperfagia (episódios de compulsão alimentar) e algumas

alterações do comportamento alimentar sem critérios específicos que parecem

melhor representar sintomas do que síndromes propriamente ditas (CLAUDINO e

BORGES, 2007).

Existem dois critérios importantes a serem seguidos para que seja feito o

diagnóstico de uma patologia, seja ela AN, BN ou TASOE. O primeiro aspecto

refere-se à necessidade de se esclarecer e definir qual é a dimensão da imagem

corporal que está sendo avaliada e discutida, estando diante de pesquisas ou de

pacientes com TA. O segundo aspecto trata da necessidade de melhor diferenciar a

distorção da imagem corporal entre os diferentes grupos com esse transtorno

(STENZEL, 2006).

Tanto na AN como na BN, uma das principais características, é a existência

de uma perturbação na percepção da forma e do peso corporal (APA, 2002). É

possível observar que no TA o descontentamento com a aparência física não é o

único aspecto que define a chamada distorção de imagem corporal, pois esta pode

estar mais centrada nas sensações corpóreas. Em relação a isso, Stenzel (2006)

cita como exemplo o fato de que um paciente em tratamento pode ter grande

dificuldade de avaliar o quanto está comendo, enquanto a noção sobre sua

aparência física e seu peso corporal pode estar relativamente preservada.

Uma revisão sistemática de 12 estudos de incidência cumulativa realizada por

Pawluck e Gorey, em 1998, mostrou uma estimativa de incidência de forma geral da

média anual da população como um todo de 18,46 por 100.000 em mulheres e de

2,25 por 100.000 em homens quando relacionado à AN. Em relação à BN, relata-se

também uma maior incidência em relação às mulheres, com estimativa de 28,8 em

mulheres e 0,8 em homens (NUNES et al, 2006).

Essa incidência de fato existe devido a um nítido contraste entre a

supervalorização da magreza, das dietas restritivas e do destaque dado pela mídia

de imagens de modelos magérrimas, além da grande disponibilidade de comidas

baratas, calóricas e palatáveis. A idealização da magreza afeta muito mais as

mulheres do que os homens, como demonstra o estudo acima; para a maioria delas

esse padrão de beleza significa possuir autocontrole, competência e atratividade

sexual. Portanto, essa pressão social relacionada à magreza apresentada pela mídia

facilita a criação de um ambiente psicológico favorável ao desenvolvimento dos TA

quando a pessoa apresenta vulnerabilidades, tais como baixa auto-estima,

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perfeccionismo, traços obsessivo-compulsivos, entre outros. Em acordo com este

fato, Vilela et al. (2004), relatam que o papel da nossa cultura, valorizando mulheres

com corpos delgados, está ligado ao aumento da ocorrência desses distúrbios,

relevando dessa forma a importância dos fatores culturais, especialmente o culto à

magreza, no desenvolvimento dessas patologias.

Além da mídia, a influência de familiares e amigos também é considerada de

grande valia, tanto no desencadeamento quanto na perpetuação dos sintomas

alimentares. De acordo com estudos realizados por Polivy & Herman (2002 apud

GALVÃO et al. 2006b), a opinião da família e de amigos sobre esses jovens tem

maior impacto do que o da mídia. A opinião da família, principalmente a da mãe,

possui grande significado na formação da opinião dos filhos em relação a aparência,

peso e forma do corpo.

Galvão et al (2006b), salienta que estudos do padrão temporal do

desenvolvimento de sintomas de AN e BN mostram que em média 50% dos

pacientes com anorexia desenvolvem bulimia e, entre os pacientes bulímicos, cerca

de 30% apresentam história de AN e outros 30%, história de obesidade.

3.3 ETIOLOGIA

Os TA são determinados por fatores diversos que interagem entre si de

maneira complexa, para produzir e, na maioria das vezes perpetuar a doença. Como

já dito anteriormente, podem-se distinguir três fatores: os predisponentes, os

precipitantes e os mantenedores do TA. Morgan e Claudino (2005), acreditam que

os fatores predisponentes são aqueles que caracterizam o aparecimento da

patologia pela exposição do indivíduo aos fatores de risco que aumentam as

possibilidades de aparecimento da mesma; os fatores precipitantes, por sua vez, se

caracterizam pela ocorrência de fatores que precipitam a doença, marcando, então,

o aparecimento dos sintomas alimentares; e, os fatores mantenedores são

responsáveis por determinar a perpetuação do transtorno.

Diante desses três fatores principais, será feita um aprofundamento de cada

um deles, na tentativa de buscar uma melhor compreensão dos aspectos mais

relevantes.

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• Fatores Predisponentes

Os fatores predisponentes, de acordo com Morgan e Claudino (2005), surgem

antes do aparecimento dos TA e deixam o indivíduo predisposto ao seu

aparecimento. Até o momento, pouco se sabe sobre os fatores de risco para o

desenvolvimento do TCAP, no entanto, de maneira geral, os fatores de risco para se

desenvolver os TA dividem-se em três aspectos: os pessoais, os familiares e os

socioculturais.

O fator de caráter pessoal engloba características hereditárias, de

personalidade, tendência à obesidade e experiências traumáticas na infância.

Estudos realizados no ano de 2000 por Bulik et al. mostraram que a BN é

resultante de uma ação genética aditiva, com uma hereditariedade estimada de

aproximadamente 50% dos casos, nesse transtorno. Há também evidências de

transmissão familiar comum entre TA e outros transtornos de comportamento, como

por exemplo, na BN encontram-se influências genéticas comuns com o Transtorno

do Pânico e Fobias, e no caso a AN encontram-se influências genéticas comuns

com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (SILVA, 2005; MORGAN e CLAUDINO,

2005). Morgan & Claudino (2005), ainda relatam que os TA são mais comuns entre

parentes de 1º grau que possuem a patologia do que entre parentes de 1º grau

considerados saudáveis.

Quando relacionado às características da personalidade, características como

perfeccionismo, obsessividade, introversão, passividade e auto-avaliação negativa

são bastante comuns entre pacientes portadores de AN, principalmente na AN

restritiva. Os pacientes com BN costumam apresentar impulsividade e instabilidade

afetiva. A baixa auto-estima e a maior suscetibilidade ao estresse são características

de personalidade comuns entre AN, BN e TCAP e representam fatores de risco para

as três entidades nosológicas (SILVA, 2005; MORGAN e CLAUDINO, 2005).

A tendência à obesidade é citada como um fator de risco, pois as pessoas

vulneráveis a isso tendem a fazer mais dietas em decorrência de serem

normalmente submetidas a freqüentes brincadeiras depreciativas, relacionadas aos

seus respectivos pesos, que acabam trazendo-lhes efeitos negativos na auto-estima,

na formação de imagem corporal, além de aumentarem a pressão social para a

perda de peso. Alguns estudos de caso mostram que pacientes que estão

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suscetíveis a essas situações podem desenvolver BN ou TCAP (SILVA, 2005;

MORGAN e CLAUDINO, 2005).

Silva (2005) ainda salienta que os eventos traumáticos ocorridos na infância

aumentam a vulnerabilidade aos transtornos de comportamento em geral. Logo,

pode ser considerado como um fator de risco principalmente para a BN e TCAP, e,

em menor grau, para a AN.

Os fatores predisponentes de caráter familiar envolvem os padrões

desfavoráveis e precoces na relação entre mãe e filho, além da postura dos pais

diante de certos valores, como forma física, controle alimentar dos filhos, atividades

físicas e rigidez educacional, que influenciam na origem dos sintomas alimentares

(SILVA, 2005).

Em relação aos fatores socioculturais, acredita-se que eles são os que mais

têm influenciado nos últimos tempos, devido a isso ele será amplamente abordado

para uma melhor compreensão.

De acordo com Stice (2002 apud SAIKALI et al. 2004), há evidências que

suportam a idéia de que a mídia ajuda a promover os distúrbios de imagem corporal

e alimentar. Algumas análises estabelecem que modelos, atrizes e ícones femininos,

vêm se tornando cada vez mais magras ao longo dos anos. Pessoas com TA

sentem uma demasiada pressão vinda da mídia, pressão a qual exige um corpo

magro e esbelto, logo, essas pessoas relatam terem aprendido técnicas não-

saudáveis de controle de peso, como dietas drásticas, indução de vômitos, etc.,

através desse veículo.

A AN distribuí-se entre as diferentes culturas, tendo manifestado aumento da

incidência em mulheres jovens ao longo do século XX, com possível estabilização

nas ultimas três décadas (HOEK, 2006 apud FREITAS et al., 2007). Por sua vez, a

BN vem aumentando sua incidência tanto em regiões ocidentalizadas quanto em

regiões em fase de desenvolvimento sociocultural (SCHMIDT, 2003 apud FREITAS

et al., 2007). Pode ser estimado que, no mínimo, 10% das mulheres jovens

apresentam algum quadro de TA. Estes, por sua vez, geram grandes prejuízos às

saúdes física e psicológica, tendo a AN a mais alta taxa de mortalidade entre as

doenças psiquiátricas (5% por década, em média) (HOEK, 2006 apud FREITAS et

al., 2007).

Outro aspecto com grande relevância, retrata os prejuízos socioeconômicos

ainda pouco conhecidos. Considerando-se a faixa etária mais freqüentemente

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acometida nos deparamos com adolescentes que tem de adiar ou até mesmo

interromper seus projetos de vida, seja pelo TA em si, seja pelas freqüentes

complicações clínicas ou co-morbidades psiquiátricas prevalentes nessa população.

A literatura sugere que os custos sociais e de saúde tidos com os TA podem ser

superiores àqueles gastos com graves doenças psiquiátricas como a Esquizofrenia e

o Transtorno de Humor Bipolar (SCHMIDT, 2003 apud FREITAS et al., 2007).

Uma pesquisa etiológica na área, realizada por Schmidt (2003), permite-nos

dizer que nos encontramos diante de patologias multifatoriais. Os avanços

biotécnológicos informam que a genética pode contribuir com aproximadamente

30% a 80% do risco de se desenvolver tais patologias, como já foi dito

anteriormente, porém os achados de aumento de incidência desses transtornos nos

últimos 40 a 50 anos nos fazem refletir sobre o impacto que as mudanças

socioculturais exercem e sua contribuição como fatores desencadeantes e de

manutenção (FREITAS et al., 2007).

Os valores culturais impostos ao peso e à forma corporal podem de fato

estimular o início e a manutenção de dietas restritivas para perda de peso. Essas

dietas são responsáveis em grande parte por desencadear padrões e

comportamentos alimentares alterados, como compulsões alimentares e a utilização

de métodos inadequados de controle de peso. Em alguns grupos ocupacionais,

como bailarinas, modelos e esportistas, o baixo peso corporal é percebido como um

dos principais responsáveis para se atingir o sucesso profissional. Dessa forma

esses profissionais encontram-se em risco aumentado para o desenvolvimento do

TA (HOEK et al, 2003 apud FREITAS et al., 2007). Embora não se possa apontar a

indústria da moda como “culpada” pelo desenvolvimento do TA, acredita-se que

determinadas exigências nessa área favorecem a instalação tanto de padrões

alterados de comportamento alimentar como de quadros completos dos TA

(FREITAS et al, 2007), pois a beleza sintética e de consumo passaram a ser

eficazmente administradas por normas econômicas e pela mídia de massa, as quais

são responsáveis por determinar o que é belo e qual é o padrão estético de beleza,

principalmente, a feminina (SILVA, 2005).

Atualmente nos deparamos com um processo de globalização da beleza, da

padronização das formas; vivemos mergulhados em um ideal de “beleza magra”,

que carrega diversos significados simbólicos, como sucesso, felicidade e poder.

Devido a esse fato, somos bombardeados com imagens de corpos considerados

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perfeitos e confrontados com a redução dos manequins pelas confecções, nos quais

precisamos caber como numa fôrma corporal. Ao buscarmos uma identificação com

os modelos padronizados e inatingíveis de beleza, acabamos por nos afastar da

nossa própria identidade, resultado de uma bela miscigenação que necessita ser

respeitada e valorizada (FREITAS et al., 2007).

Para complementar o que foi citado acima, Silva (2005) salienta que a

maneira como os extremos da busca de um corpo considerado perfeito podem

transformar sofrimentos humanos em espetáculos televisivos, como no caso de

alguns reality shows, os quais começam a se interessar pelos “defeitos” que as

pessoas possam ver em seus corpos e, então, se propõem a ajudá-las na realização

de uma transformação radical, proporcionando tratamentos, dietas, ginástica,

personal trainers, cabeleireiros, aulas de moda e etiqueta, maquiadores e cirurgias

plásticas. E no fim de todo esse processo doloroso mostram-se as reações de

surpresa e fascínio diante das imagens paralelas e simultâneas do “antes” e do

“depois”. Devido a esse tipo de acontecimento pode-se observar que homens e

mulheres, apesar de livres, parecem condenados a uma incessante repetição de um

padrão de robotização de seus corpos, os quais acabam por distorcer seus

pensamentos e aprisionar a sua capacidade de auto-reflexão, seguindo um modelo

que carece de sentido e prazer e que, freqüentemente, utilizam-no como uma forma

de proteção diante das situações de perigo e desamparo.

• Fatores Precipitantes

Dentre os fatores precipitantes, destacam-se as dietas e os fatores

estressantes.

Segundo Morgan e Claudino (2005), as dietas feitas para a perda de peso são

o fator precipitante mais freqüente dos TA, mas ela por si só não é suficiente para

gerar o TA, sendo necessário que a mesma interaja com outros fatores de risco.

Silva (2005) reafirma relatando que alguns estudos realizados com pessoas

portadoras de TA demonstram que seguir dietas aumenta consideravelmente o risco

de vir a desenvolver algum tipo de transtorno relacionado à alimentação.

Sobre os fatores estressantes, Silva (2005) e Morgan e Claudino (2005)

acreditam que episódios vitais relacionados a mudanças, transições, que de alguma

forma ameaçam a integridade física de uma pessoa, costumam anteceder

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freqüentemente os TA, especialmente a BN, e podem adquirir função

desencadeadora, pois realimentam sentimentos de insegurança, inadequação e

baixa auto-estima. O tamanho do impacto desses fatores em uma pessoa é

determinado por recursos prévios que o indivíduo possui como o suporte familiar e

social a que ela dispõe para enfrentar as situações de estresse ocorridas.

• Fatores Mantenedores

Esses fatores originam-se a partir de alterações fisiológicas e psicológicas

causadas pela desnutrição, no caso da AN, e por constantes episódios de

compulsão alimentar e purgação, como no caso da BN, que propiciam a

perpetuação do transtorno. Pode-se dizer que a privação alimentar é um dos

principais aspectos responsáveis no desencadeamento de episódios de compulsão

alimentar e também na ocorrência de pensamentos obsessivos sobre a comida, que

acabam reforçando a necessidade inicial de controle, desenvolvendo então um

círculo vicioso causador de muito sofrimento (SILVA, 2005; SAPOZNIK et al.,

2005a).

Nos casos de AN nota-se algumas alterações de níveis sangüíneos de

substâncias como o cortisol, o CRH (hormônio responsável pela liberação do

cortisol) e a leptina. Essas alterações provocadas pela enorme perda de peso

podem vir a favorecer a manutenção de sintomas como a recusa alimentar, perda de

libido, irritabilidade, inquietação e dificuldade em recuperar e manter o peso ideal.

Nos casos de BN e TCAP, os episódios de consumo excessivo de alimentos podem

vir a alterar o metabolismo da glicose e da insulina, seguidos de um aumento

significativo da glicemia quando o indivíduo está em jejum e da resposta à insulina, o

que favorece que esses indivíduos utilizem o jejum prolongado como uma forma de

compensação alimentar, com isso, ao passar do tempo, o ciclo de novos episódios

bulímicos é reforçado (SILVA, 2005; MORGAN e CLAUDINO, 2005).

Os mesmos autores ainda concordam que os fatores psicológicos

desenvolvidos em uma dinâmica familiar podem dificultar a melhora do TA, pois os

pacientes, especialmente os anoréxicos, se sentem vitoriosos quando conseguem

perder e manter o seu próprio peso, e esse “êxito” tão valorizado em nossa cultura

atual, pode funcionar como uma forma de troféu raro e supervalorizado para

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pessoas que dividem seu dia-a-dia com sentimentos de desvalorização, insegurança

e sensação total de controlar sua própria vida.

3.4 TRANSTORNOS ALIMENTARES

3.4.1 Anorexia Nervosa (AN)

O termo anorexia, deriva do grego orexis (apetite) acrescido do prefixo an

(privação, ausência), este termo, o qual significa perda de apetite de origem

nervosa, não é considerado como a expressão mais adequada, pelo fato de que, ao

menos no início do quadro, existe uma luta ativa contra a fome (NUNES et al.,

1998), pois não existe uma falta de apetite real e sim um controle alimentar rígido e

auto-imposto devido ao medo extremo de engordar. Desta forma pode-se observar

na evolução clínica que esses pacientes, de fato, só perdem o apetite depois que se

encontram em estado de caquexia física (emagrecimento extremo) (SILVA, 2005).

Este transtorno caracteriza-se, essencialmente, por uma perturbação

significativa na percepção da forma ou do tamanho do corpo e, também, de um

temor intenso de se ganhar peso, este último já dito anteriormente. Segundo

Claudino e Borges (2005), estas características representam o aspecto

psicopatológico central da anorexia. Além disso, segundo Claudino e Borges (2007),

a AN envolve uma disfunção hormonal identificada pela amenorréia, ou seja,

ausência da menstruação (em mulheres que se encontram na fase pós-menarca), e

perda do interesse e potência sexual (em homens). No entanto, segundo Claudino e

Borges (2005) a amenorréia corre risco de exclusão dos critérios diagnósticos da AN

devido ao fator de que 20 a 30% das pacientes apresentam amenorréia antes de ter

uma perda significativa de peso e assim podem permanecer até a sua plena

recuperação. Outro fator aponta para o fato de que até 30% das pacientes podem vir

a apresentar o quadro completo da AN sem amenorréia, e o último fator se refere a

uma inexistência de um critério paralelo para homens. Porém, apesar de todos

esses fatores, a permanência desse critério justifica-se por ajudar a distinção de

mulheres com AN de mulheres normais com baixo peso, evidenciando a disfunção

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hipotalâmica e deixando em alerta os potenciais de seqüela (osteoporose e

infertilidade).

Cordás (2004) também caracteriza a AN por perda de peso intensa e

intencional devido à adoção de dietas extremamente rígidas com uma busca

desenfreada pela magreza, baseada em uma distorção grosseira da imagem

corporal e com alterações do ciclo menstrual em mulheres.

Vilela et al. (2004) relata que a AN é uma doença que leva à inanição e que

possui como uma de suas principais características a excessiva perda de peso

(auto-imposta) e um grande desgaste físico e psicológico. Devido a uma distorção

da imagem corporal, os indivíduos com AN não se percebem magros, mas sempre

gordos e, então, continuam a restringir suas refeições em forma de ritual. Pacientes

que se encontram em período pré-púbere podem ter atraso na maturação sexual, no

desenvolvimento físico e no crescimento, além disso, não atingem a estatura

esperada. A AN possui sérias complicações associadas à desnutrição, tais como

comprometimento cardiovascular, desidratação, distúrbios na motilidade

gastrointestinal (capacidade de fazer movimentos espontâneos no estômago e no

intestino), infertilidade, hipotermia (diminuição da temperatura corporal), entre outras

evidências do hipometabolismo.

Os comportamentos anoréxicos dirigidos a diminuir o ganho energético ou

aumentar o seu gasto não são uniformes, ou seja, há diferenças no padrão alimentar

e nos métodos utilizados por essas pessoas portadoras deste transtorno para

alcançar a perda de peso ou evitar o ganho do mesmo. Sendo assim, alguns

pacientes conseguem perder peso por meio de uma rígida restrição alimentar e, na

maioria das vezes, com atividade física intensa e excessiva. Outros, de acordo com

Beaumont (1995 apud GALVÃO et al., 2006a), além de controlar a dieta, também

induzem vômitos, tomam purgantes, fazem uso freqüente de diuréticos ou de drogas

anorexígenas (drogas feitas à base de anfetaminas que inibem o apetite e provocam

vários efeitos colaterais), hormônios tireoidianos ou outras substâncias.

Conforme o peso real diminui, maior se torna a preocupação com o ganho de

peso ponderal, ou seja, o indivíduo nunca se sente satisfeito com seu peso e sua

forma corporal. Alguns até chegam a se sentirem magros, mas desenvolvem uma

preocupação excessiva com algumas partes de seu corpo, como abdômen, nádegas

e coxas (EBERT et al., 2002). Essas preocupações excessivas com partes do corpo

caracterizam aspectos fenomenológicos mais evidentes como o negativismo, a

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irritabilidade e principalmente, a distorção da imagem corporal (GORGATI e AMIGO,

2005).

A auto-estima dos pacientes com essa patologia depende extremamente da

sua forma e peso corporais, e a partir dessa obsessão pelo tamanho do corpo esses

pacientes passam a se pesar excessivamente, medem constantemente as partes de

seu corpo e, persistentemente, usam o espelho para a verificação das áreas

percebidas como “gordas”. A perda de peso é percebida como uma grande

conquista e como sinal de autodisciplina, e conseqüentemente, o ganho de peso é

percebido como um grande fracasso do autocontrole (EBERT et al., 2002).

A AN se desenvolve, principalmente, em pessoas com idade entre 10 e 30

anos, sendo a faixa etária dos 12 aos 16 anos do sexo feminino a mais acometida

na prática clínica. A taxa de mortalidade na AN é altíssima, estudos apontam uma

ocorrência entre 4 e 30% dos casos, levando-se em consideração a idade de início

do quadro, a precocidade do diagnóstico e o tratamento instituído a cada paciente

acometido (SILVA, 2005).

Silva (2005) ainda relata que na maioria absoluta dos casos, os familiares só

constatam a perda de peso das pacientes após muito tempo do início do quadro.

Isso ocorre em decorrência do fato de que as pacientes evitam ingerir suas meras

quantidades de comida perto deles ou em locais públicos, e quando o fazem, levam

horas para terminar um simples almoço à base de folhas, mantendo os alimentos na

boca por vários minutos sem serem mastigados. Apesar de recusarem a

alimentação, os pacientes anoréxicos geralmente desenvolvem extrema

preocupação com a alimentação de seus familiares, pois procuram orientá-los, de

forma obsessiva, sobre o valor calórico de cada alimento e a adequação às

necessidades diárias de consumo de cada um deles.

Ainda sob a mesma perspectiva pode-se citar que os pacientes portadores de

anorexia não procuram tratamento de forma espontânea, pois para eles a doença

não é um problema e sim uma solução para suas insatisfações físicas, ou seja,

manter-se abaixo do peso considerado normal para determinada idade e altura é

considerado como uma prova de sucesso em meio a tantas dúvidas sobre as reais

capacidades.

A AN divide-se em dois subtipos: a AN restritiva, que são aquelas que

reduzem e controlam seu peso pela restrição alimentar baseada em alimentos de

baixas calorias e/ou pelo excesso de atividades físicas, e a AN bulímica/purgativa,

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que são aquelas que após ingerirem quantidades significativas de alimentos,

induzem o vômito, fazem o uso de laxantes, diuréticos e moderadores de apetite

para eliminar e/ou controlar seu peso (SILVA, 2005).

Pacientes com AN sem sintomas bulímicos revelam, com freqüência, estilos

de personalidade marcados por rigidez, controle excessivo e perfeccionismo

(GALVÃO et al., 2006b).

Segundo Claudino e Borges (2005), pacientes com AN do tipo bulímico

apresentam mais comportamentos impulsivos como abuso de substâncias,

automutilação e tentativas de suicídio; tipos de personalidade mais impulsivas, como

bordeline, narcísica e anti-social; e mais antecedentes de obesidade pessoal e

familiar.

Os dois subtipos de AN são norteados pelo grandioso medo de ganhar peso.

Para controlarem a situação, costumam aceitar alimentos oferecidos pelos pais,

porém escondem-nos embaixo da cama, em fronhas de travesseiros, em mochilas

ou bolsas, etc. Perdem a autopercepção do próprio corpo considerando-se acima do

peso mesmo que todas as evidências enquadrem-nas como extremamente magras

ou caquéticas (SILVA, 2005).

De acordo com a mesma autora citada acima, os pacientes anoréxicos,

principalmente os de tipo restritivo, estabelecem pesos ideais muito além dos

necessários para satisfazer os padrões mínimos de saúde, e para conseguirem

alcançá-los se submetem a rituais alimentares rígidos e agressivos. Os rituais

alimentares mais significativos em termos comportamentais são: obrigar os

familiares a não comerem enquanto os pacientes estiverem em casa, comer

sozinhos, horários rígidos de refeições, utilizar apenas alimentos cortados em

pequenos pedaços e bem espalhados pelo prato, verificar se não há algum alimento

considerado como proibido entre os alimentos de seu prato e retirar do mesmo as

substâncias consideradas com alto teor calórico. Nos pacientes de tipo

bulímico/purgativo nota-se a alternação de jejuns prolongados com episódios de

compulsão alimentar seguidos de métodos compensatórios.

Para Galvão et al. (2006b) Transtornos de Humor, de Ansiedade e Obsessivo-

Compulsivo na infância e a presença de traços perfeccionistas de personalidade,

aparentemente são fatores de vulnerabilidade para o desenvolvimento dos TA. Os

pacientes com AN tipo restritivo apresentam freqüentes traços de ansiedade,

perfeccionismo, obsessividade e introversão. Estudos com pacientes com AN tipo

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purgativo sugerem que o estilo de personalidade desses indivíduos é mais

semelhante ao de pacientes bulímicos com peso normal do que ao de pacientes

com AN tipo restritivo.

Os traços perfeccionistas, segundo Gorgati e Amigo (2005), podem ser

avaliados através da rigidez, dos padrões irreais de sucesso e esforço para alcançá-

los, das falhas na conquista desses objetivos, vividas como falhas pessoais, e

através da falta de habilidade para assumir os riscos necessários da maturidade e

das relações sociais.

Silva (2005) e Gorgati e Amigo (2005), citam algumas características

aparentes em pacientes com AN tais como pele amarelada e seca, cabelos finos e

quebradiços e, até mesmo, leve alopecia (perda temporária ou definitiva, senil ou

prematura, de pêlos e cabelos). Essas características propiciam ao paciente uma

aparência envelhecida. Os pacientes com AN do tipo bulímico costumam a

apresentar erosão do esmalte dentário e “calosidades” no dorso das mãos,

provocados pela indução de vômito, essas últimas características também podem

ser observadas em pacientes com BN, que será apresentado mais adiante.

3.4.1.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR

Para facilitar a identificação da anorexia nervosa, o DSM-IV-TR (APA, 2002)

descreve quatro critérios diagnósticos principais:

A – Recusa a manter o peso corporal em um nível igual ou acima do mínimo

normal adequado à idade e à altura (p. ex., perda de peso levando à manutenção do

peso corporal abaixo de 85% do esperado; ou incapacidade de atingir o peso

esperado durante o período de crescimento, levando a um peso corporal menos que

85% do esperado).

B – Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, mesmo estando com peso

abaixo do normal.

C – Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência

indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo

peso corporal atual.

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D – Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos

três ciclos menstruais consecutivos. (Considera-se que uma mulher tem amenorréia

se seus períodos ocorrem apenas após a administração de hormônio, p. ex.,

estrógeno).

Especificar tipo:

Tipo Restritivo: durante o episódio atual de Anorexia Nervosa, o

indivíduo não se envolveu regularmente em um comportamento de comer

compulsivamente ou de purgação (i. é, indução de vômito ou uso indevido de

laxantes, diuréticos ou enemas).

Tipo Compulsão Periódica/Purgativo: durante o episódio de Anorexia

Nervosa, o indivíduo envolveu-se regularmente em um comportamento de comer

compulsivamente ou de purgação (i., é, indução de vômito ou uso indevido de

laxantes, diuréticos ou enemas).

3.4.1.2 Formas de Tratamento

a) Tratamento Farmacológico

Segundo o relato de Claudino (2005) e Appolinario et al. (2006), a

farmacoterapia na AN se divide em duas fases: a aguda e a de manutenção. Na

primeira fase, o uso de medicamentos tem como objetivo favorecer a recuperação

de peso e a redução dos sintomas nucleares da AN, tais como fobia de peso,

distorção de imagem corporal, preocupação obsessiva com a comida,

comportamentos compulsivos (exercícios físicos excessivos, contagem calórica,

rituais alimentares) e sintomas bulímicos. Nessa mesma fase também se contempla

o tratamento da sintomatologia associada: ansiosa, obsessiva e depressiva. Na

segunda fase, a de manutenção, o principal alvo é evitar recaídas com piora dos

sintomas nucleares e diminuição do peso corporal.

De acordo com Nunes e Ávila (2006), o uso de psicofármacos no tratamento

da AN, agem como coadjuvantes no tratamento e são utilizados quando nos

deparamos com sintomas ou transtornos psiquiátricos em co-morbidade.

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• Antidepressivos

Claudino (2005) salienta que os antidepressivos tem sido explorados no

tratamento da AN. Estes freqüentemente desenvolvem sintomas depressivos,

ansiosos, obsessivos e bulímicos. Existe também a identificação de disfunção

serotoninérgica na AN e em outros transtornos psiquiátricos, os quais são

identificados mais adiante como co-morbidades, nos quais comprovou-se a eficácia

de agentes serononinérgicos, e ganho de peso favorecido pelo uso de algumas

drogas antidepressivas.

Pode-se considerar que, como algumas dessas drogas antidepressivas

podem levar ao ganho de peso, como dito anteriormente, elas poderiam ser úteis

como auxiliares na terapêutica de ganho de peso. Os agentes mais estudados são

os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), fluoxetina, citalopram e

sertralina. De maneira geral, estudos abertos sugerem que esses agentes são bem-

tolerados e têm um efeito positivo na recuperação e manutenção de peso, além de

melhorarem o humor (APPOLINARIO et al., 2006). Sapoznik et al. (2005b),

complementa afirmando que os inibidores seletivos de recaptação de serotonina são

os medicamentos mais utilizados, principalmente quando são associados aos

sintomas depressivos, ou do espectro do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

• Antipsicóticos

O uso de antipsicóticos no tratamento da AN envolve a idéia de eles poderem

atuar nas distorções de imagem corporal e também o potencial uso terapêutico do

ganho de peso induzido por esses agentes (CLAUDINO, 2005).

Estudos realizados até o momento, testaram a risperidona e a olanzapina;

estes mostraram resultados positivos em relação ao ganho de peso e alguns

sintomas nucleares da AN, como o medo mórbido de engordar e as distorções de

imagem corporal (POWERS; SANTANA, 2004 apud APPOLINARIO et al., 2006). Em

uma pesquisa realizada pelos mesmos pesquisadores, Powers e Santana, no ano

de 2002, estudou-se o uso da olanzapina em pacientes com AN e descreveu os

resultados favoráveis em relação ao peso corporal, sintomas anoréxicos e melhora

clínica global, com efeitos adversos mínimos (APPOLINARIO et al., 2006). Em outro

estudo realizado por Mondraty et al (2005 apud APPOLINARIO et al., 2006), foi

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possível demonstrar a eficácia da olanzapina nos sintomas de ruminações

anoréxicas, considerados também como um sintoma nuclear da AN.

Claudino (2005) salienta que os principais efeitos colaterais dos antipsicóticos

são tonturas, ganho de peso e sedação.

• Orexígenos

O uso desses agentes no tratamento da AN tem por base a sua ação sobre o

apetite e o peso corporal. A ciproeptadina, substância testada desse grupo, é um

agente antagonista serotoninérgico, com leves efeitos anticolinérgicos e anti-

histamínicos. Apesar de ter apresentado uma boa tolerância, essa substância tem

sido pouco utilizada na prática clínica do transtorno em questão (APPOLINARIO et

al., 2006).

• Outros Agentes

Agentes como naltrexona, tetraidrocanabinol, clonidina e hormônio de

crescimento (GH), foram estudados na AN, mas não houve apoio para efeitos

positivos (CLAUDINO, 2005; ZWAAN; ROERIG, 2003 apud APPOLINARIO et al.,

2006).

• Orientações para Uso de Medicamentos no Tratamento da AN

O uso de medicamentos no tratamento de indivíduos com AN deve ser

individualizado e ter como base os sintomas psicopatológicos do paciente. Dessa

forma, os agentes antidepressivos podem ser utilizados visando à redução de

sintomas depressivos e obsessivos associados. Dentre os antidepressivos, os

inibidores seletivos de recaptação de serotonina apresentam um perfil de efeitos

adversos mais seguro na população de pacientes deprimidos. A medicação deve ser

iniciada de forma gradual, buscando de certa forma doses semelhantes às utilizadas

para depressão. Deve-se considerar o uso da fluoxetina em pacientes com AN do

tipo bulímico, mas por sua vez em doses mais elevadas que as usuais para

depressão (60 mg/dia, se tolerada) (APPOLINARIO et al., 2006).

Ainda sob a mesma perspectiva, os inibidores seletivos de recaptação de

serotonina podem ser utilizados para a prevenção de recaídas. Desta forma sugere-

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se a utilização durante o primeiro ano pós-recuperação de peso. É necessário ter o

cuidado com o uso abusivo desses agentes pelos pacientes anoréxicos com a

finalidade de tentar controlar o apetite.

Appolinario et al. (2006) relatam que os antipsicóticos normalmente são

receitados para pacientes que apresentam alta resistência, agitação, com graves

distorções de auto-imagem ou com outros sintomas com características psicóticas. É

importante ressaltar o fato de que os pacientes apresentam muita resistência frente

a aceitação do uso de antipsicóticos atípicos devido ao acesso de informações sobre

o ganho de peso associado a esses agentes.

Alguns agentes ansiolíticos também são utilizados durante a fase inicial do

tratamento, ou seja, na fase de reabilitação nutricional, principalmente naqueles

pacientes que apesar de demonstrarem colaboração diante do tratamento

encontram enormes dificuldades diante do aumento de ansiedade durante as

refeições e nos momentos antecedentes a esta (APPOLINARIO et al., 2006).

É necessário atentar para a negligência dos pacientes diante do uso de

medicamentos por apresentarem resistência ao tratamento. Em pacientes que

apresentam sintomas purgativos, deve-se ter o cuidado de ministrar os

medicamentos em horários distantes das refeições em que costumam purgar.

Devido as mudanças na composição de proteínas e gorduras corporais, deve-se

atentar aos maiores riscos de efeitos colaterais e toxicidade, dessa forma

recomenda-se todo cuidado no uso de medicamentos nesses pacientes

(APPOLINARIO et al., 2006).

b) Tratamento Hospitalar

O processo de recuperação da AN normalmente se dá após alguns anos de

tratamento. Ainda não foi estabelecido qual é a melhor combinação adequada de

tipos de intervenção para as diferentes fases da doença e qual o tempo necessário

para o tratamento, ou seja, ainda não foi definido qual o melhor setting (NUNES e

ÁVILA, 2006).

De acordo com Silva (2005), uma das primeiras dificuldades com as quais nos

deparamos no caso da AN é se o paciente deve ou não ser internado. Geralmente,

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esses pacientes são levados a se tratarem por se encontrarem em condições físicas

muito precárias. Dessa forma, a hospitalização torna-se uma condição terapêutica

que possui a finalidade de reduzir os riscos de letalidade os quais esses pacientes

estão expostos.

Os pacientes que geralmente necessitam de hospitalização são os mais

sintomáticos, seja pelo surgimento de complicações médicas ou psiquiátricas

graves, ou pela gravidade de sintomas ligados à AN. O tratamento hospitalar deve

contar com uma boa equipe de enfermagem disponível para poder levar o paciente

ao aumento de peso. Este tipo de tratamento deve ser indicado em casos

específicos e no momento que a equipe multidisciplinar considerar que o paciente

necessita de um enfoque mais rígido e abrangente em relação ao seu

comportamento alimentar. É necessário ter conhecimento de que caso a internação

não seja bem-indicada, essa forma de tratamento pode se tornar ineficaz e as

reincidências se tornarem freqüentes (NUNES e ÁVILA, 2006).

De acordo com as autoras citadas acima, para que ocorra a reposição do

peso corporal, é de fundamental importância a inclusão dos familiares no tratamento,

estabelecendo dessa forma uma aliança terapêutica e junto desta, ajudar o paciente

a evitar a negação de seus sintomas. Em decorrência desta realidade, as equipes

responsáveis pela intervenção e tratamento deste transtorno têm feito de tudo para

oferecer aos pacientes diversas alternativas de tratamento que incluem internações

hospitalares com uma equipe multidisciplinar de apoio, internação parcial na forma

de hospital-dia e, também, internações domiciliares. Devido aos altos custos de uma

hospitalização, o hospital-dia tem sido considerado como uma alternativa importante

para a diminuição de gastos. A hospitalização geralmente ocorre em virtude de

situações emergenciais, tais como restauração do peso corporal e co-morbidades

médicas ou psiquiátricas, como diabetes, auto-agressão, depressão, sintomas

obsessivos graves ou purgação excessiva. Somente caso o tratamento ambulatorial

não seja efetivo, a hospitalização torna-se necessária.

Sapoznik et al. (2005b) acredita que a forma de tratamento hospital-dia é

geralmente indicado em casos onde os pacientes já foram tratados sob esquema de

internação, e quando os mesmos apresentam baixo risco de auto-agressão,

apresentam impossibilidade ou incapacidade de auto-cuidado e demonstram

ausência de doenças clínicas agudas. No entanto, na prática esta forma de

tratamento é indicado para aqueles pacientes que não responderam ao tratamento

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ambulatorial e estão interessados e motivados pela proposta terapêutica, além de

concordarem com as abordagens grupais de tratamento.

No ano de 1990, Flaherty (apud SILVA 2005), descreveu três critérios que

deveriam ser levados em conta para determinar se há ou não a necessidade de

internação do paciente. Seriam eles: a perda de peso rápida e maior que 30% ao

longo de seis meses, a severa perda de energia (vista a partir da execução de

tarefas diárias) e hipocalemia (baixa de potássio no sangue).

Seguindo a idéia de Flaherty, a Associação Psiquiátrica Americana (APA)

publicou no ano de 2000 o Guia Prático Para o Tratamento dos TA, o qual tem o

intuito de uniformizar e padronizar os procedimentos terapêuticos nesta área. Serão

citadas abaixo algumas recomendações que podem ser utilizadas como critérios

indicativos para a hospitalização de pacientes portadores de AN (Sapoznik et al.,

2005b; Nunes e Ávila, 2006):

• Pacientes que não estejam altamente motivados para o tratamento

ambulatorial;

• Pacientes apresentando uma perda rápida e contínua de peso;

• Peso corporal menor que 75% do peso mínimo esperado para a idade

e altura;

• Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo da faixa de 13 a 14 kg/altura²;

• Pacientes com instabilidade metabólica importante (principalmente em

certos grupos, como crianças e adolescentes, em vista de

repercussões dessas alterações para o desenvolvimento): hipotensão

arterial grave, bradicardia, hipoglicemia e hipopotassemia;

• Rede de suporte social instável ou fraca;

• Necessidade de monitorização estreita das condições clínicas do

paciente: disfunção cardíaca, renal ou hepática, sintomas de

desidratação e desnutrição graves.

As autoras Nunes e Ávila (2006), propõem outras condições nas quais a

internação também deveria ser considerada:

• Necessidade de interromper comportamentos inadequados, tais como

vômitos e episódios de compulsão alimentar periódica, que, pela

freqüência e/ou duração, podem levar a sérias complicações clínicas;

• Para uma avaliação diagnóstica mais adequada;

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• Para o tratamento das complicações psiquiátricas associadas, como o

risco elevado de suicídio e a auto-agressão, com ideação e planos de

suicídio evidentes;

• Para confrontar o paciente com sua negação da doença;

• Como forma de prepará-lo para um futuro tratamento ambulatorial.

“A perda de peso exagerada, principalmente de forma aguda, em geral é acompanhada por sinais de desnutrição: bradicardia, hipotensão, extremidades frias e dificuldades de memória e concentração. É consenso que o IMC igual ou menor que 13,5 representa um importante sinal de gravidade do caso. A manutenção do baixo peso corporal prejudica ou até inviabiliza qualquer abordagem psicoterápica proposta. A dieta seletiva dos pacientes anoréxicos não é tão preocupante quanto o abuso de laxantes ou a freqüência dos vômitos. Tais comportamentos podem levar o paciente a distúrbios hidreletrolíticos importantes. O distúrbio eletrolítico desenvolve-se, na maioria das vezes, de forma gradual, de modo que não exige necessariamente hospitalização. Sem dúvida, é nesses momentos que a presença de uma equipe médica familiarizada com o tratamento dos TA se impõe”. (NUNES e ÁVILA, 2006, p. 185).

Quando a hospitalização integral ou parcial é usada de maneira consciente e

afetiva, ela proporciona ao paciente um ambiente seguro o qual permite que o

mesmo restabeleça seu equilíbrio emocional e sua capacidade de lidar com o

ambiente externo. Para o êxito da hospitalização é preciso que a família e o paciente

aceitem essa intervenção como um meio para se buscar o bem-estar de todos

(NUNES e ÁVILA, 2006).

Ainda seguindo as autoras citadas acima, a instituição hospitalar deve contar

com uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, nutricionistas,

psiquiatras, enfermeiros, clínicos e terapeutas ocupacionais, os quais necessitam ter

mais coesão de idéias do que qualquer saber específico sobre um tratamento. A

ênfase nos aspectos psicológicos torna necessário o treinamento da equipe em

métodos de treinamento psiquiátrico e psicológico em decorrência da compreensão

do TA como uma doença psiquiátrica.

De acordo com Nunes e Ávila (2006), não é possível especificar um tempo

exato em relação à duração da internação, e ainda citam que:

“Para pacientes mais crônicos, as internações costumam ser mais breves, apenas corrigindo as reagudizações. Pacientes que ganham peso rapidamente, com o único objetivo de ter alta hospitalar, tendem a ter recaídas e resistir a reinternações. Ao contrário, pacientes que recebem alta após adquirir um peso normal costumam ter um prognóstico melhor” (p. 186).

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De maneira geral, o tempo de duração médio das internações varia entre 8 e

16 semanas, dependendo de condições como o peso corporal inicial e as

complicações médicas e psiquiátricas. Normalmente, o tempo de permanência

hospitalar se divide em duas etapas: a primeira, na qual o principal objetivo é a

correção das complicações médicas e do peso corporal, e a segunda, quando o

objetivo principal é a modificação dos hábitos alimentares, pensamentos errôneos e

práticas consideradas anormais (NUNES e ÁVILA, 2006).

As autoras ainda salientam que geralmente na primeira internação os

pacientes portadores de AN sentem-se assustados com o novo ambiente e, devido a

não aceitação de seus sintomas, não aceitam ficar sob o controle da equipe. Os

pacientes não costumam aceitar a hospitalização livre e espontaneamente, porém

por diversas vezes eles expõem a necessidade de ajuda pelo sofrimento intenso e

pela dificuldade em seguir o esquema ambulatorial proposto. É importante deixar

claro ao paciente que após um período de evolução da patologia, em conseqüência

da cronificação dos sintomas, existe uma diminuição da capacidade de se alimentar

e de avaliar de forma adequada sua própria vida.

Nunes e Ávila (2006) relatam que a equipe deve possuir flexibilidade para

compreender que cada paciente deve ser considerado individualmente para uma

melhor adequação do tratamento, principalmente em relação à reposição de peso e

ao alívio de comportamentos de risco.

Ainda sob a perspectiva das autoras citadas acima, no primeiro momento do

tratamento hospitalar, os familiares devem estar cientes dos limites desta

abordagem. Recomenda-se que os pacientes sejam internados sem o

acompanhamento de seus familiares. É necessário que seja estabelecido um bom

vínculo entre a família e a equipe para que se facilite a comunicação entre eles, de

forma a aumentar o esclarecimento e transparência do tratamento não só para o

paciente como também para sua família, visando então o aumento das chances de

se obter bons resultados.

Caso a internação hospitalar seja de fato necessária, ela deve ser feita em

um hospital geral e deve ser viabilizada a instalação de vigorosos cuidados de

enfermagem, administração de dieta hipercalórica via oral ou em forma de

alimentação parenteral em casos da persistente recusa do paciente em se alimentar

(SILVA, 2005).

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A hospitalização deve ter em vista o bem-estar geral do paciente,

principalmente o retorno a um funcionamento mental mais saudável. A reposição do

peso dificilmente é alcançada sem mudanças nas atitudes e crenças distorcidas dos

pacientes. O estabelecimento de um vínculo terapêutico entre o paciente e equipe é

de fundamental importância para se alcançar o sucesso no tratamento. Este vínculo

marca o seu início na persuasão do paciente para que o mesmo aceite a

hospitalização. Sempre que ocorre o acompanhamento pela equipe, o paciente

sente-se aliviado e aceita com maior facilidade as combinações propostas. É muito

importante esclarecer os objetivos do tratamento ao paciente e também ajudá-lo a

expressar suas inquietações, seus sentimentos e suas necessidades de uma

maneira que não por meio do seu corpo que emagrece (NUNES e ÁVILA, 2006).

As mesmas autoras relatam que durante a estadia do paciente no hospital, é

importante encorajá-lo a repor o seu peso até o mais próximo possível do peso

considerado normal e tentar mantê-lo em um nível que se considere saudável.

c) Tratamento Nutricional

O tratamento nutricional tem como objetivo a reposição do peso através da

reeducação alimentar, pois mesmo tendo um amplo conhecimento sobre o valor

calórico dos alimentos, os pacientes portadores da patologia em questão pouco

sabem sobre uma nutrição saudável, em decorrência disto é necessário que o

paciente seja informado e educado sobre o que é uma nutrição adequada.

Recomenda-se que a equipe oriente o paciente a manter uma alimentação saudável

variada, contendo diversos tipos de nutrientes, além de ingerir uma quantidade

adequada de carboidratos. Os alimentos que em geral são evitados, também devem

ser incluídos de forma lenta em sua dieta. Depois de realizar uma anamnese

alimentar do paciente, o nutricionista elabora um esquema nutricional básico, e

então discute individualmente cada aspecto do tratamento, da reposição à

manutenção de peso. O valor calórico estipulado para cada refeição vai depender do

ritmo de ganho de peso, adequado ao tamanho do paciente e a seu conforto em

relação à dieta. O controle de ganho de peso do paciente é avaliado através de suas

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pesagens, que são realizadas de duas a três vezes por semana, antes do seu

desjejum (NUNES e ÁVILA, 2006).

De acordo com as autoras citadas acima, durante a hospitalização, o

nutricionista fica encarregado de fornecer informações sobre trocas e

balanceamento das refeições, as quais são servidas ao paciente em bandejas

individuais e revisadas pela pessoa da equipe que fica encarregada de realizar o

acompanhamento, controlando-se o tempo de cada refeição, tendo como limite de

tempo 60 minutos. Após o término das refeições, essas bandejas são checadas,

sendo anotado o que foi consumido. Caso o paciente se recuse a se alimentar de

forma adequada, o ambiente hospitalar permite o uso de uma sonda nasogástrica

(sonda presa ao nariz e que vai até o estômago) ou nasoenteral (sonda presa ao

nariz e que vai até ao intestino) para a realização da mesma.

Nunes e Ávila (2006) citam que é estabelecido como critério de alta uma

reposição de 95% do peso corporal esperado. Assim que o paciente ganha alta, ele

recebe um esquema nutricional que esteja de acordo com as suas necessidades

nutricionais, para que ele então possa manter o seu peso.

d) Tratamento Psicoterápico

Os pacientes portadores de AN, como já citado anteriormente, sentem-se

vitoriosos por conseguirem manter um peso abaixo do considerado normal para

certa idade e altura, sentindo-se “poderosos” por dominarem de forma absoluta o

controle de seu próprio apetite. Em decorrência desse fato, eles temem qualquer

medida que seus familiares possam vir a tomar que possa de alguma forma interferir

nesse autocontrole. Por temerem qualquer atitude que contrarie seus ideais,

adquirem uma postura arisca e inatingível nas primeiras tentativas de tratamento

(SILVA, 2005; GORGATI e AMIGO, 2005). No entanto, no início do tratamento,

continuarão com suas idéias consideradas “bem-sucedidas” e ações sobre

alimentação e perda de peso. Estando a par dessas atitudes, deve-se trabalhar no

sentido de construir, pacientemente, uma relação terapêutica baseada na confiança

e no comportamento de ambas as partes (terapeuta e paciente) (SILVA, 2005).

Cabe ao terapeuta ser humilde, e ter disposição para flexibilizar essas “jovens

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doutoras” que dizem saber tudo sobre alimentação e muito pouco sobre trocas

afetivas e terapêuticas (SILVA, 2005; GORGATI e AMIGO, 2005).

Diferentemente da BN, como veremos mais adiante, a abordagem mais

recomendada para pacientes com AN é a psicoterapia individual, pois essas

pacientes geralmente demonstram ter mais dificuldades em expor seus sentimentos,

retraimento no relacionamento interpessoal e atitude competitiva no sintoma

(STEFANO et al., 2005).

A psicoterapia deve visar a reestruturação de uma forma direta da forma de

pensar e estabelecer conceitos por parte dos pacientes, principalmente quando se

relaciona aos seus valores, à sua maneira de ver e se relacionar com o mundo, às

suas referencias pessoais e ao desenvolvimento de seu talentos acoplados aos seus

projetos de vida. O principal objetivo do tratamento é a normalização do peso

corporal, mesmo que ele ainda não apresente risco de vida iminente para o

paciente. Deverão ser aplicadas técnicas de distração nos pacientes após as

refeições, pois elas tendem a ajudar a diminuir a sensação de desconforto após a

ingestão de alimentos pelo mesmo (SILVA, 2005).

Ainda sob a perspectiva da mesma autora, as excessivas atividades físicas

devem ser reduzidas vagarosamente e então, devem ser substituídas por atividades

que possibilitem o desenvolvimento de relações interpessoais e, conseqüentemente,

o desenvolvimento de habilidades sociais.

É necessário que o nível de expectativa de desempenho do paciente seja

reduzido, com a finalidade de ocasionar menor frustração e melhorar a sua auto-

estima. Além disso, se deve também utilizar técnicas de prevenção de recaída, pois

auxiliam na manutenção dos resultados e as possíveis dificuldades futuras passam a

ser menos temidas (SILVA, 2005).

De acordo com Nunes e Ávila (2005), existe um consenso de que o

tratamento psicológico é fundamental nesse transtorno independente do nível, seja

ele ambulatorial ou hospitalar, mas também se sabe que o paciente anoréxico pouco

se beneficia do tratamento psicoterápico se o seu peso corporal estiver muito abaixo

do normal, de forma que a reposição do peso torna-se o objetivo principal. Logo, a

intervenção hospitalar serve como um meio que auxilia na correção do peso,

facilitando então as abordagens psicoterápicas e nutricionais.

Seguindo o relato de Nunes e Ávila (2005), Stefano (2005) afirma que o

tratamento psicológico deve se iniciar assim que o paciente começa a sua

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recuperação nutricional, buscando abordar conflitos psicodinâmicos,

desenvolvimento cognitivo, defesas psicológicas, as complexas relações familiares e

a presença de co-morbidades psiquiátricas. Normalmente, as intervenções

psicológicas nesses pacientes são necessárias por longos períodos, em média 6

anos, em função da natureza duradoura de seus sintomas e da necessidade de

suporte durante a recuperação.

3.4.1.3 Curso e Prognóstico da Doença

Segundo Freitas (2006), os fatores prognósticos nos possibilitam informar os

pacientes e seus familiares sobre o curso da doença e qual a estratégia terapêutica

seria a melhor para o caso. É necessário ter em mente que nem sempre a evolução

da doença ocorre conforme o esperado, podendo, em algumas vezes, evoluir de

maneira completamente oposta à esperada. No ano de 1977, Russell fez uma

observação, ainda válida nos dias de hoje, que a AN possui uma imprevisibilidade

de prognóstico individualizado. São considerados aspectos prognósticos

desfavoráveis fatores como vômito auto-induzido, episódios de compulsão alimentar,

cronicidade, aspectos obsessivo-compulsivos e métodos purgativos. No entanto,

considera-se como fator favorável os aspectos histriônicos de personalidade.

Assim como Russell (1977) aponta aspectos positivos e negativos, Silva

(2005), relata alguns aspectos favoráveis e desfavoráveis os quais normalmente se

apresentam na vida dessas pessoas e podem contribuir para uma evolução e

prognóstico mais fáceis ou mais difíceis. Os aspectos positivos são: início precoce

do tratamento; maior flexibilidade em lidar com problemas e frustrações; ambiente

familiar flexível; contar com boa referência interna e gostar e reconhecer suas

virtudes; ambiente social menos rígido em relação ao desempenho pessoal e à

aparência física; saber suas limitações e ter persistência e boa vontade em melhorá-

las; e, ser confiante e cúmplice com as pessoas que fazem parte de seu tratamento.

Os aspectos desfavoráveis são: baixa auto-estima; pais exigentes, dominadores e

controladores; perfeccionismo e autocontrole; elevadas expectativas do

desempenho pessoal; humor depressivo; famílias que valorizam de forma excessiva

a beleza física e impõem dietas aos filhos; perdas afetivas importantes e precoces;

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caráter facilmente influenciável; dificuldades em lidar com mudanças, principalmente

quando ocorridas na adolescência; e, história de abuso sexual na infância.

O curso da AN é consideravelmente prolongado, e seus diversos fatores

contribuem para a sua manutenção ou perpetuação, o risco de recaídas durante o

processo de recuperação ou até mesmo após um longo período dessa ocorrer, pode

ser previsto e esperado. Esse fato não pode comprometer a relação de cumplicidade

e confiança estabelecido entre paciente, médico e terapeuta. Muitos pacientes

omitem suas recaídas, consideradas por eles como pecados, e este fato pode

desencadear um afastamento afetivo, o qual, na maior parte das vezes, leva ao

abandono do tratamento. Diante disto, é necessário conscientizar o paciente para

esse fato e lhe garantir sua dedicação incondicional. Existe, também, a possibilidade

da passagem da AN para outras formas de sintomatologia alimentar, especialmente

a BN. Em frente a essa situação, é de suma importância que o paciente entenda que

a passagem para outro tipo de TA não significa um fracasso, e sim uma mudança de

patamar de gravidade (SILVA, 2005).

Ainda diante da mesma perspectiva, é importante saber que apesar de

recuperados, muitos pacientes ainda apresentam padrões idealizados, gerando de

certa forma frustrações e limitações sociais. Essas características refletem o tipo de

personalidade dos pacientes com AN e que os predispõem à própria doença e aos

demais TA. A inflexibilidade social que eles possuem é considerada a principal

matéria-prima a ser trabalhada na terapia desses pacientes.

Sullivan (apud GORGATI E AMIGO, 2005), descreve um resumo de dados

obtidos através da literatura referentes ao prognóstico da AN, incluindo estudos de

até 10 anos após constatação da instalação da patologia em questão. Os resultados

são: aproximadamente 10% de morte; 10% de persistência do quadro; 15% de

remissão parcial dos sintomas; 15% de crossover (quando a AN cursa para a BN) e

50% sem diagnóstico para TA no seguimento do estudo.

3.4.2 BULIMIA NERVOSA (BN)

O termo bulimia deriva do grego bou (grande quantidade de) ou de boul (boi)

e limos (fome), designando fome raivosa ou fome de comer um boi (STUNKARD

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apud NUNES et al., 1998). Na bulimia, assim como na anorexia, existe uma

excessiva idealização da magreza e um preconceito contra a obesidade, em razão

disso, a forma e o peso do corpo acabam por influenciar excessivamente a auto-

avaliação do indivíduo. Esse transtorno, então, caracteriza-se essencialmente por

episódios de hiperfagia (compulsão alimentar), sintoma o qual pode estar presente

em diversas doenças orgânicas, síndromes neurológicas ou genéticas ou até

mesmo em transtornos mentais (NUNES et al., 1998); através de métodos

compensatórios inadequados para se evitar o ganho de peso, e por um medo

mórbido de engordar. Para que esse transtorno possa ser qualificado como

patológico, é necessário que a compulsão periódica e os comportamentos

compensatórios inadequados ocorram, em média, no mínimo duas vezes por

semana durante três meses (APA, 2002).

Cordás (2004) relata, também, que a BN caracteriza-se por uma grande

ingestão de alimentos com sensação de perda de controle, porém a preocupação

excessiva com o peso e a imagem corporal direcionam o paciente a fazer o uso de

métodos compensatórios inadequados para que se possa ter um controle do peso,

como vômitos auto-induzidos, uso de medicamentos (diuréticos, inibidores de

apetite, laxantes, etc.), dietas e exercícios físicos excessivos.

“A crise bulímica é tipicamente desencadeada por estados de humor disfóricos, estressores interpessoais, intensa fome após restrição por dietas, ou sentimentos relacionados a peso, forma do corpo e alimentos. A crise bulímica pode reduzir temporariamente a disforia, mas autocríticas e humor deprimido ocorrem logo após” (APA, 2002, p. 561).

Para o diagnóstico da BN é exigido o engajamento em métodos

compensatórios inadequados após os episódios de compulsão alimentar. De acordo

com Galvão et al. (2006a), o vômito auto-induzido é o método mais freqüente

(ocorrendo em média em 90 a 95% dos casos), de mais fácil identificação e que

melhor delimita o final de uma compulsão. Para Claudino e Borges (2005), pacientes

com Diabetes buscam evitar o ganho de peso deixando de fazer uso da insulina (e a

conseqüente absorção de glicose pelas células).

A BN assim como a AN é mais comum no sexo feminino, tendo como

proporção 9:1. Seu início tende a ser mais tardio que o da AN, ocorrendo por volta

dos 18 anos de idade, então é possível observar significativas taxas de prevalência,

sendo de 5% a 15% nas populações femininas de cursos secundários e

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universitários, e ainda 2% a 3% deste transtorno na população feminina adolescente

e juvenil (SILVA, 2005). Complementando este dado, Sapoznik et al. (2005a),

relatam que a faixa etária de maior incidência para BN se encontra entre os 18 e 23

anos de idade, em mulheres.

Para alguns pacientes bulímicos a simples ingestão de alimentos altamente

calóricos, mesmo sendo essa uma ingestão em quantidade normal, é considerada

como compulsão alimentar (binge subjetivo), pois o fato de terem ingerido um

alimento de alto teor calórico facilita o ganho de peso. Os tipos de alimentos

ingeridos durante um ataque de hiperfagia variam, mas normalmente os pacientes

dão preferência a alimentos de alto teor calórico, e fáceis de engolir e regurgitar

como bolos, sorvetes, leite condensado, chocolate, entre outros, consumindo-os em

exagero. Entretanto, as crises bulímicas caracterizam-se mais pelo excesso de

alimentos ingeridos do que pela ingestão de apenas um determinado tipo de

alimento, como carboidratos. Esta ingestão excessiva de alimentos ocorre de forma

rápida e, normalmente, termina no momento em que a pessoa sente-se

desconfortável, ou até mesmo dolorosamente repleta. Porém, devido à purgação

após a ingestão desses alimentos o peso da pessoa bulímica permanece

relativamente estável, e isso permite que esses indivíduos consigam manter seu

distúrbio alimentar oculto por mais tempo do que os anoréxicos (ATKINSON et al,

2002).

Assim como Atkinson et al (2002), Vilela et al. (2004), relatam que os

bulímicos, geralmente mantém seu peso próximo ao peso normal ou até mesmo com

um leve sobrepeso, pois altera crises de hiperfagia com vômitos auto-induzidos.

Além da purgação por indução do vômito, alguns também utilizam laxantes e

diuréticos como método purgativo. Além disso, os indivíduos podem jejuar por um

dia ou mais, ou exercitar-se excessivamente na tentativa de compensar o excesso

de alimento ingerido. Esses exercícios são considerados excessivos quando

interferem em atividades importantes, quando ocorrem em momentos ou contextos

inadequados ou quando o indivíduo continua a se exercitar mesmo possuindo lesões

ou outras complicações médicas (APA, 2002).

Silva (2005) afirma que a família possui uma função de extrema importância

no diagnóstico e no tratamento dessas doenças. Pois somente eles podem observar

se há algum comportamento estranho na(o) filha(o), como por exemplo se após a

refeição a(o) filha(o) sempre se dirige ao banheiro e se tranca por um tempo, eles já

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podem identificar essa situação como uma alerta a ser cuidadosamente observado e

avaliado. Essas famílias devem ter em mente que julgamentos e críticas sobre suas

posturas costumam não ter resultados favoráveis, ou seja, a verdadeira ajuda só

ocorre quando se reconhece o sofrimento dos outros e quando se é estendida a mão

com possibilidades reais que permitem a todos escolherem qual será o melhor

caminho na direção da real felicidade.

De acordo com Galvão et al. (2006a), a maioria dos pacientes que utilizam

métodos purgativos o faz devido aos episódios de compulsão alimentar e, portanto,

buscam compensar dessa forma os riscos de ganho de peso. É comum também a

ingestão excessiva de água para facilitar a indução de vômito.

A presença dos episódios de compulsão alimentar e o recorrente uso de

métodos compensatórios geram uma grande instabilidade no peso do paciente.

Alguns deles não chegam a se empenhar nos métodos purgativos, porém alternam

dietas muito restritivas ou jejuns aos episódios de compulsão alimentar.

As pacientes bulímicas que utilizam os métodos purgativos normalmente

apresentam um grau maior de psicopatologia, geralmente são mais jovens, têm um

curso pior de doença e um grau maior de insatisfação em relação ao corpo quando

comparadas às pacientes que utilizam os métodos não-purgativos (GARFINKEL e

MITCHELL apud NUNES et al., 1998).

Em pacientes com BN pode-se observar uma incapacidade de controle de

impulsos, não apenas no comportamento alimentar, como também em outras áreas

da vida do indivíduo (GALVÃO et al., 2006b). Em relação a isso, Silva (2005) relata

que situações de estresse funcionam como um estímulo e também como um fator

mantenedor dos episódios bulímicos. Estes pacientes normalmente apresentam

pensamentos dicotômicos (pensam em extremos relacionados à sua aparência ou é

muito crítico em relação a ela) ou extremos do tipo “tudo” ou “nada”, crenças sem

fundamentos acerca de seus conhecimentos sobre alimentos, calorias, métodos

compensatórios e dificuldade no controle de impulsos (SILVA, 2005; SAPOZNIK et

al., 2005a).

As principais complicações existentes devido ao comportamento bulímico são

os distúrbios eletrolíticos, irritação e sangramento gástrico e esofágico,

anormalidades intestinais, erosão do esmalte do dente e aumento das parótidas

(VILELA et al, 2004).

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Um estudo realizado por Nielsen (2001 apud NUNES, 2006), relata que no

período de 10 anos após o transtorno ter sido diagnosticado, os indivíduos bulímicos

apresentam chance de 1,5 vez maior de morte, quando comparados a indivíduos

saudáveis do mesmo gênero e faixa etária.

Silva (2005) e Sapoznik et al (2005a), relatam as principais queixas e

características apresentadas pelos pacientes portadores de BN, são eles:

• Sinal de Russel: presença de calos ou feridas no dorso das mãos,

originados pelo atrito dos dentes no ato de indução do vômito;

• Corrosão no esmalte dos dentes provocada pela acidez dos vômitos;

• Aumento das glândulas parótidas, pela prática dos vômitos. As

glândulas parótidas ficam na região da face junto às orelhas. O rosto

fica com uma forma mais arredondada;

• Alterações do ciclo menstrual;

• Costumam apresentar, após o episódio bulímico, distensão abdominal

seguida de dor, náusea e mal-estar;

• Diarréia, constipação intestinal ou desidratação, pelo uso abusivo de

laxantes e diurético;

• Taquicardia, irritabilidade ou sonolência, sudorese, devido ao uso de

anorexígenos, hormônios tireoidianos, diuréticos, etc.;

• Dor ou “queimação” no estômago em decorrência dos vômitos ou

lesões esofagianas específicas causadas pela acidez do conteúdo

vomitado;

• Fadiga, após as ações purgativas ou atividades físicas intensas (em

média 4 a 5 horas por dia).

3.4.2.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR

De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), existem cinco critérios de

avaliação diagnóstica para a Bulimia Nervosa:

A – Crises bulímicas recorrentes. Uma crise bulímica é caracterizada por

ambos os seguintes aspectos:

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46

(1) Ingestão, em um período limitado de tempo (p. ex., dentro de um

período de 2 horas) de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a

maioria das pessoas consumiria durante um período similar e sob circunstâncias

similares.

(2) Um sentimento de falta de controle sobre o comportamento

alimentar durante o episódio (p. ex., um sentimento de incapacidade de parar de

comer ou de controlar o tipo e a quantidade de alimento).

B – Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com o fim de

prevenir o aumento de peso, como indução de vômito, uso indevido de laxantes,

diuréticos, enemas ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos.

C – A crise bulímica e os comportamentos compensatórios inadequados

ocorrem, em media, pelo menos duas vezes por semana, por 3 meses.

D – A auto-imagem é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso do

corpo.

E – O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia

Nervosa.

Especificar tipo:

Tipo Purgativo: durante o episódio atual de Bulimia Nervosa, o

indivíduo envolveu-se regularmente na indução de vômitos ou no uso indevido de

laxantes, diuréticos ou enemas.

Tipo Não-Purgativo: durante o episódio atual de Bulimia Nervosa, o

indivíduo usou outros comportamentos compensatórios inadequados, tais como

jejuns ou exercícios excessivos, mas não se envolveu regularmente na indução de

vômitos ou no uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas.

3.4.2.2 Formas de Tratamento

A busca por um tratamento especializado normalmente ocorre entre dois e

cinco anos depois da instalação do quadro clínico. Isso acontece devido a vergonha

que os pacientes sentem e por sua crença ilusória de que possuem conhecimento e

métodos suficientes e eficazes para controlarem sozinhos a situação (SILVA, 2005).

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a) Tratamento Farmacológico

Os antidepressivos são os fármacos mais estudados e utilizados na prática

clínica relacionada à BN.

“A farmacoterapia da BN visa à redução e/ou remissão dos episódios de compulsão alimentar periódica, dos comportamentos compensatórios para controle do peso corporal, como vômitos auto-induzidos, e ao tratamento dos sintomas co-mórbidos (depressão, impulsividade)” (APPOLINARIO et al., 2006, p. 160).

• Antidepressivos

Segundo Sapoznik et al. (2005a) e Appolinario et al. (2006), a fluoxetina,

dentre todos os antidepressivos, tem sido a droga de primeira escolha, pois até

então ela é o único medicamento aprovado pelo Food and Drug Administration

(FDA), com o uso preconizado na dose de 60 mg/dia. Os efeitos colaterais mais

comuns notados com o uso desse medicamento são tremores, insônia e náusea,

com intensidade leve. A fluoxetina reduz os sintomas de ansiedade e depressão,

além de tratar os sintomas típicos da doença, como compulsão alimentar,

purgações, preocupações com peso e forma corporal. Nos casos de intolerância aos

efeitos colaterais da fluoxetina, utilizam-se a sertralina e a fluvoxamina como boas

alternativas ao tratamento preconizado com a fluoxetina.

• Anticonvulsivantes

O topiramato aumenta a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA),

antagoniza os receptores do glutamato (AMPA e Kainato) e inibe a anidrase

carbônica, devido a esse contingente de ações ele é considerado um agente

neuroterapêutico de larga escala, sendo aprovado como terapia adjuntiva no

tratamento da eplepsia parcial em adultos e na profilaxia da enxaqueca. O

topiramato tem propiciado uma melhora nos sintomas relacionados à preocupação

com o peso, ao desejo de comer compulsivamente e de provocar purgações, devido

a esses fatores ele tem se destacado como potencial agente terapêutico no

tratamento da BN. Além dos aspectos positivos já citados, aparentemente, essa

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substância também reduz o desejo excessivo de consumir carboidratos, eleva a

saciedade e estabiliza o humor (APPOLINARIO et al., 2006). Complementando o

relato de Appolinario et al. (2006), Silva (2005) cita que o topiramato também auxilia

na redução significativa do desejo de comer compulsivamente, preocupação com o

peso corpóreo, necessidade de efetuar purgações, fissura por doces, massas e

refrigerantes. Seus efeitos também incluem o aumento da saciedade e uma melhora

na estabilização do humor.

• Outros Agentes

O ondansetron tem sido considerado como uma nova opção no tratamento de

BN, pois ele é inibidor periférico dos receptores de serotonina do tipo 5-HT3, sendo

então utilizado no tratamento de náusea induzida por antineoplásicos. Estudos

mostram a redução de 50% dos episódios de compulsão alimentar periódica e

aumento de 33% das refeições sem o uso de métodos compensatórios, sem

maiores efeitos sobre outros sintomas da BN (FARIS et al., 2003 apud

APPOLINARIO et al., 2006).

• Orientações Gerais para Uso de Medicamentos em Pacientes com BN

O uso de medicamentos no tratamento da BN deve estar sempre associado a

outras abordagens psicológicas. Os medicamentos que se mostraram mais eficazes

na redução de episódios de compulsão alimentar periódica e nos sintomas

purgativos, são os antidepressivos. Entre estes, os inibidores seletivos de

recaptação de serotonina são os mais seguros. Dentre eles, a fluoxetina é o

medicamento de primeira escolha, como já dito anteriormente, em doses de 60 a 80

mg/dia (APPOLINARIO et al., 2006).

b) Tratamento Hospitalar

Na BN a internação hospitalar não costuma ser necessária, já que o seu nível

de gravidade e letalidade é bastante reduzido quando comparado à AN (SILVA,

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2005). Porém, quando acontece a internação hospitalar no caso da BN, está

relacionada com a presença de complicações médico-psiquiátricas. O abuso de

substâncias, o risco de suicídios e a gravidade de determinados comportamentos

relacionados aos Transtornos de Personalidade podem vir a exigir uma intervenção

hospitalar. Assim como graves perturbações no comportamento alimentar também

podem indicar uma necessidade de hospitalização para que se possam interromper

os episódios de compulsão alimentar periódica do paciente, porém essa internação

não garante que esses episódios continuem cessados após a alta do paciente. No

entanto, na maior parte dos casos o tratamento da BN ocorre em meio extra-

hospitalar através de abordagens psicoterápicas, aconselhamento nutricional e uso

de psicofármacos (NUNES e ÁVILA, 2006), sendo que este último já foi visto

anteriormente. Complementando esta informação, Sapoznik et al. (2005b) sugere

que a internação hospitalar no caso da BN pode ocorrer em decorrência de

indicações clínicas, secundárias aos sintomas purgativos persistentes, convulsões e

distúrbios hidroeletrolíticos (desidratação), sendo que este último também é uma

característica da AN.

Nunes e Ávila (2006) citam algumas condições estabelecidas pelo Guia

Prático Para o Tratamento dos TA, elaborado pela APA (2000), que devem ser

consideradas caso haja necessidade de hospitalização para pacientes com BN:

• Pacientes com graves problemas clínicos concomitantes;

• Pacientes com problemas psiquiátricos que necessitem de internação

psiquiátrica, independentemente do diagnóstico de transtorno

alimentar;

• Pacientes com sintomas graves e incapacitantes (por exemplo,

episódios de compulsão alimentar periódica ou episódios purgativos

tão intensos ou freqüentes que perturbem de forma significativa as

atividades ocupacionais cotidianas e não-remissão de abuso de

laxantes);

• Pacientes que não tenham respondido adequadamente às estratégias

iniciais de tratamento ambulatorial.

O modelo de tratamento hospitalar de pacientes portadores da patologia em

questão se baseiam nos modelos de hospital-dia. O caso tem a necessidade de ser

acompanhado por uma equipe multiprofissional, assim como no caso da AN. Os

episódios de compulsão alimentar periódica e os métodos compensatórios merecem

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uma atenção especial. Para tanto, o hospital deve ter uma adaptação adequada

para que permita a padronização da ingestão alimentar do paciente através de uma

dieta balanceada, facilitando o controle dos comportamentos inadequados

associados ao transtorno (NUNES e ÁVILA, 2006).

De acordo com as autoras citadas acima, o tratamento normalmente se inicia

através de uma orientação comportamental aonde o paciente vai recebendo mais

privilégios de acordo com a sua adesão às normas progressivas da internação. Nos

casos mais graves é necessária a supervisão direta em todas as atividades,

inclusive quando se trata do uso do banheiro.

Ainda sob o mesmo ponto de vista, na fase de transição do tratamento

hospitalar para o ambulatorial, gradualmente o paciente vai recebendo maior

autonomia e responsabilidade, ocorrendo dessa forma uma diminuição da

supervisão diante do seu comportamento. Diante disso, o paciente começa a se

responsabilizar por sua própria alimentação. Essa forma de transição de tratamento

permite ao paciente ter um contato gradual e progressivo com os agentes

estressores responsáveis pelo desencadeamento dos episódios de compulsão

alimentar periódica e seus conseqüentes métodos compensatórios, sendo possível

treinar em seu ambiente de origem as novas habilidades aprendidas durante a

internação.

“Para garantir a manutenção dos ganhos obtidos durante a internação, faz-se necessária, contudo, a reestruturação do sistema de crenças do paciente, que, ao final da internação, deve ter adquirido uma noção de alimentação adequada. O paciente também deve ter uma visão crítica dos fatores que contribuíram para o desenvolvimento e a manutenção do transtorno alimentar e deve estar treinado em técnicas de autocontrole. Procedimentos para aumento da auto-estima e melhoria de habilidades sociais devem ter sido implementados. O envolvimento da família no tratamento é essencial para que esta torne o meio facilitador da manutenção dos ganhos obtidos” (NUNES e ÁVILA, 2006, p. 191).

c) Tratamento Nutricional

O tratamento nutricional, segundo Nunes e Ávila (2006), tem como objetivo

interromper o ciclo composto por episódios de compulsão alimentar periódica e seus

conseqüentes comportamentos compensatórios inadequados, além de tratar de

suas co-morbidades.

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Durante o início do tratamento, este visa estabilizar o peso e normalizar o

comportamento alimentar. Após as refeições o paciente é obrigado a permanecer na

sala de estar ou na presença de outra pessoa, por um período de uma hora e não

lhe é permitido beliscar ou comer alimentos entre uma refeição e outra. Depois da

estabilização de um comportamento alimentar considerado normal, inicia-se a

segunda fase do tratamento, onde as refeições continuam sendo supervisionadas e

a permanência na sala de estar por uma hora após as refeições ainda é exigida. Na

última parte do tratamento ocorre uma fase de adaptação ao mundo exterior e

reorganização. Caso os episódios de compulsão alimentar periódica voltem a se

repetir, deverá ser aplicado um programa excepcional relacionado à fase de

tratamento em que o paciente se encontra (NUNES e ÁVILA, 2006).

Diante do relato das autoras citadas acima, pode-se estabelecer uma

correlação entre as etapas do tratamento da AN e da BN, pois assim como na AN, o

tratamento da BN se inicia após a realização de uma anamnese alimentar, onde é

possível obter informações sobre a ingestão atual, os episódios de compulsão

alimentar periódica, freqüência dos comportamentos compensatórios e restrição

alimentar. A partir daí, se realiza a avaliação antropométrica (avaliação da gordura

corporal através das dobras cutâneas) do paciente para se identificar o seu estado

nutricional atual. Depois dessa avaliação é determinado um plano dietoterápico para

o paciente, este plano é composto de seis a oito refeições diárias servidas em

bandejas individuais. Após o termino de cada refeição, as bandejas são recolhidas e,

então, é feito o registro dos alimentos que foram ingeridos, assim como na AN.

A pesagem do paciente é feita uma vez por semana, antes do seu desjejum.

Depois de receber alta, o paciente se orienta por uma conduta nutricional para a

perda de peso, caso seja necessário, com a cessação dos comportamentos

bulímicos. É necessário que ocorra a restauração do peso normal e a estabilização

do comportamento alimentar para que se encontre uma solução para os conflitos e

problemas relacionados à manutenção do TA (NUNES e ÁVILA, 2006).

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d) Tratamento Psicoterápico

No tratamento psicoterápico é essencial incluir uma abordagem que seja

capaz de flexibilizar e reconceituar os valores e interesses nesses pacientes. Assim

como na AN, deve ser abordado questões relacionadas à auto-estima, à relação

com a imagem corporal e com o sistema de crenças disfuncionais. Um dos principais

objetivos desse tratamento é o controle de episódios de compulsão alimentar e a

indução de vômitos, para que isso seja possível o terapeuta deve disponibilizar

informações ao paciente sobre a ocorrência de tais episódios, suas complicações

clínicas e psicológicas, assim como sua pequena eficiência na redução do peso

corporal. Também é de suma importância ressaltar que as dietas restritivas

aumentam a possibilidade de ocorrência de episódios de compulsão alimentar e

estes, por sua vez, aumentam o medo de ganhar peso (SILVA, 2005; STEFANO et

al., 2005).

A autora ainda cita que assim como na AN, técnicas de prevenção de recaída

devem ser utilizadas, onde paciente e terapeuta planejam formas para lidar com as

possíveis dificuldades futuras.

De acordo com Sapoznik et al. (2005b), o atendimento psicoterápico pode se

desenvolver de forma individual, familiar ou grupal, dependendo das particularidades

de cada caso.

3.4.2.3 Curso e Prognóstico da Doença

Segundo Silva (2005) e Sapoznik et al. (2005a), a uniformização dos dados

na BN se mostra bastante complexa, uma vez que os fatores metodológicos dos

estudos e pesquisas avaliam que curso e prognóstico nos pacientes bulímicos se

diferenciam em critérios diagnósticos, intervalos de tempo das avaliações e conceito

de recuperação, o qual por diversas vezes torna-se vago e inconsistente. Tendo por

base essas limitações, pode-se levar em conta os estudos de Herzog et al. (1999) e

os de Keel e Mitchell (1997). No primeiro considera-se um intervalo de seguimento

entre 5 e 11,5 anos, e seus dados indicam que 73,8% dos pacientes avaliados

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apresentaram recuperação total ao longo dos anos. No segundo estudo, mostraram-

se índices de recuperação na faixa de 69,9% de recuperação após 11,5 anos de

acompanhamento.

A mesma autora ainda salienta que na prática clínica aproximadamente 60%

dos pacientes apresentam remissão total do quadro em algum momento nos

primeiros dois anos de tratamento. No entanto, esse percentual tende a declinar com

o passar dos anos e então é possível encontrar uma significativa relação entre o

retorno dos sintomas bulímicos de maneira acentuada e o abandono do

acompanhamento médico e psicoterápico. Outros dados sugerem que 25% dos

pacientes ainda sofrem de BN após dez anos de acompanhamento, o que aponta

para um alto índice de cronificação da doença.

Diferentemente do que foi citado acima, Freitas et al. (2006) relatam que

ainda não há resultados de estudos desta patologia que permitam a chegada de

conclusões sobre o prognóstico da mesma. Pouquíssimos fatores se replicaram nos

estudos, a lista de variáveis não se associaram ao desfecho e ultrapassa aquelas

que se relacionaram. Portanto, os estudos realizados até o momento não

conseguiram encontrar resultados significativos, assim como as variáveis que

relacionaram-se ao desfecho desfavorável associam-se às perdas de seguimento.

No entanto, aspectos obtidos em alguns estudos associados a um desfecho

favorável determinam menor tempo de doença e menor idade de início do

transtorno. Os aspectos que contribuem para o desfecho desfavorável contam com

maior gravidade da sintomatologia relacionada ao TA, maior duração dos sintomas,

transtorno de personalidade, impulsividade, co-morbidade psiquiátrica e baixa auto-

estima.

Assim como na AN, na BN também pode ocorrer uma migração para outros

TA, em especial para o TCAP. Essa migração tem de ser avaliada cuidadosamente,

pois pode ser temporária e refletir a própria BN como remissão parcial de seus

sintomas. O impacto de um tratamento adequado por determinado tempo aponta

para um bom prognóstico dessa patologia. Essa conduta revela uma significativa

melhora nos seus sintomas. É possível também observar, que os pacientes que são

precocemente tratados apresentam maiores probabilidades de alcançarem a plena

recuperação quando comparados com aqueles que começaram o tratamento

tardiamente (SILVA, 2005).

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Segundo Sapoznik et al. (2005a), a BN assim com a AN apresenta fatores

prognósticos favoráveis e desfavoráveis. Os favoráveis incluem início menos tardio

da BN, curta duração da doença e papel conclusivo na dinâmica famíliar, os

aspectos desfavoráveis por sua vez incluem aspectos como baixo peso, episódios

de compulsão alimentar, restrição alimentar, depressão, tentativas de suicídio,

abuso de drogas, ansiedade, Transtorno de Ansiedade Bordeline, baixa auto-estima,

auto-avaliação negativa na infância, comportamento impulsivo, perfeccionismo,

alcoolismo, papel inconclusivo na dinâmica familiar e relacionamento instável com

parceiro.

3.4.3 Transtornos Alimentares Sem Outra Especificação (TASOE)

De acordo com Claudino e Borges (2005), os transtornos atípicos de AN e BN

têm recebido maior reconhecimento, não apenas por manifestarem-se com

freqüência igual à AN e BN, mas por, também, representarem fonte substancial de

morbidade. Apesar de serem manifestações mais leves e/ou incompletas da AN ou

BN, possuem risco de evoluírem para as mesmas em até 50% dos casos. No

entanto, as características clínicas desses transtornos atípicos não se acham bem

estabelecidos em decorrência da falta de estudos descritivos onde a psicopatologia

tenha sido bem explorada.

3.4.3.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR

Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), essa última categoria, Transtornos de

Alimentação Sem Outra Especificação serve para classificar os transtornos da

alimentação que não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno da

Alimentação específico. Exemplo:

1 – Mulheres para as quais são satisfeitos todos os critérios para Anorexia

Nervosa, exceto pelo fato de que as menstruações são regulares.

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2 – São satisfeitos todos os critérios para Anorexia Nervosa, exceto que,

apesar de uma perda de peso significativa, o peso atual está na faixa normal.

3 – São satisfeitos todos os critérios para Bulimia Nervosa, exceto que a

compulsão alimentar e os mecanismos compensatórios inadequados ocorrem

menos de duas vezes por semana ou por menos de 3 meses.

4 – Uso regular de um comportamento compensatório inadequado por um

indivíduo de peso corporal normal, após consumir pequenas quantidades de

alimento (p. ex., vômito induzido após o consumo de dois biscoitos).

5 – Mastigar e cuspir repetidamente, sem engolir, grande quantidades de

alimentos.

6 – Transtorno de compulsão periódica: crises bulímicas recorrentes na

ausência do uso regular de comportamentos compensatórios inadequados,

característicos da Bulimia Nervosa.

Frente a dificuldade de se encontrar material específico sobre os quadros

incompletos da AN e da BN que caracterizam, também, os TASOE, foi definido

discutir mais amplamente somente sobre o TCAP, o qual é um transtorno que vem

ganhando mais atenção com o passar dos anos e tem se tornado mais comum nos

dias de hoje.

3.4.3.2 Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)

Até o momento, o TCAP tem sido o diagnóstico mais pesquisado entre os

TASOE. Por sua vez, o TCAP é descrito como episódios recorrentes de compulsão

alimentar na ausência de uso regular de comportamentos compensatórios

inadequados característicos da BN (CLAUDINO e BORGES, 2005).

O TCAP pode ser distinguido da BN em alguns pontos, tais como, os

portadores de TCAP normalmente apresentam índice de massa corporal (IMC)

superior aos portadores de BN (GELIEBTER, 2002 apud AZEVEDO et al., 2004).

Além disso, a história natural da BN geralmente revela a ocorrência de dietas e

perda de peso, enquanto que os comportamentos prévios do TCAP são mais

variáveis (STRIEGEL, 2001 apud AZEVEDO et al., 2004). Assim, pacientes com BN

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mostram maiores níveis de restrição alimentar quando comparados aos portadores

de TCAP (GRILO, 2000 apud AZEVEDO et al., 2004).

O TCAP é caracterizado por episódios bulímicos do tipo binge eating (NUNES

et al., 1998), ou seja, pela ingestão compulsiva de grandes quantidades de alimento,

devido à sensação de perda de controle sobre o que se está ingerindo, em no

mínimo duas vezes por semana, feito isso durante seis meses. Caso a compulsão

alimentícia não ocorra dentro desse espectro, ela não pode ser considerada como

um TA.

Uma segunda opinião relata que o TCAP pode caracterizar-se pela ocorrência

de episódios de total descontrole alimentar, onde se pode constatar uma ingestão

pesada e desenfreada de alimentos, tendo em decorrência desse comportamento

uma “ressaca moral” dominada por grandes doses de auto-reprovação e inundada

de sentimentos de culpa de primeira grandeza (SILVA, 2005).

A ingestão descontrolada de uma grande quantidade de alimentos não visa

apenas saciar uma fome exagerada, mas também está relacionada a uma série de

estados emocionais ou situações estressantes. Esses episódios geralmente são

secretos e rápidos, e somente acabam com a chegada súbita de outra pessoa

(interrupção externa), mal-estar físico ou por esgotarem-se os alimentos. Em

conseqüência dessa ingestão excessiva de alimentos, o indivíduo sente-se

angustiado devido à ausência de comportamentos regulares voltados para a

eliminação do excesso alimentar.

Os pacientes chegam ao empanturramento por experimentarem um

verdadeiro descontrole e, mais raramente, segundo Galvão et al. (2006a), até franca

despersonalização ou desrealização, lembrando um fenômeno dissociativo (como se

não agissem por conta própria). De maneira geral, tudo ocorre de forma rápida, de

modo que os pacientes engolem os alimentos sem ao menos saboreá-los.

Galvão et al. (2006a) cita que atualmente concebe-se que um episódio de

compulsão alimentar envolve uma ingestão alimentar excessiva para aquele

momento ou circunstância, levando-se em conta quando e como se deu a última

refeição que antecedeu a compulsão alimentar.

O episódio de compulsão alimentar não é encontrado apenas em pessoas

obesas, mas também é considerada como uma das principais características da BN,

o que ocorre é que no caso do TCAP não existem comportamentos compensatórios.

De acordo com Stefano et al. (2002), alguns indivíduos até chegam a fazer uso de

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métodos purgativos, contudo não costumam fazê-lo com muita freqüência e

regularidade. Alguns estudos brasileiros, segundo Silva (2005), indicam que 15%

dos obesos apresentam este tipo de transtorno.

Indivíduos com diagnóstico de TCAP diferenciam-se dos indivíduos obesos

sem compulsão alimentar e de indivíduos com BN devido à gravidade de sintomas

psicopatológicos, os quais associam-se à quantidade e qualidade da comida

ingerida em dias normais e em dias de compulsão alimentar (GALVÃO et al.,

2006a).

“Devlin e cols. abordaram o estado atual da nosologia do TCAP resumindo exaustivamente as evidências que pudessem apoiar ou refutar quatro formas de conteituá-lo. No primeiro modelo conceitual, o TCAP é considerado um subtipo distinto de transtorno alimentar; no segundo, um subtipo da BN; no terceiro, é visto como subtipo comportamental de obesidade; e, no último modelo hipotético, o TCAP é considerado uma condição clínica que ocorre quando dois transtornos primários coexistem (a obesidade e a depressão, ou a obesidade e a impulsividade)”. (DEVLIN e cols. apud APPOLINARIO, 2004, p. 2).

Os principais traços de personalidade encontrados em indivíduos com TCAP

são: baixa auto-estima, perfeccionismo, impulsividade e pensamentos dicotômicos

(BORGES et al., 2007).

A compulsão alimentar pode ocorrer em um transtorno depressivo maior, com

características atípicas. Além disso, a presença de comportamento alimentar bizarro,

como a ingestão de alimentos não nutritivos, pode ocorrer, também, em pacientes

esquizofrênicos e deficientes mentais (NUNES et al., 1998).

3.4.3.2.1 Critérios Diagnósticos do DSM-IV-TR

De acordo com o Apêndice-B do DSM-IV-TR, os critérios estabelecidos para o

diagnóstico do TCAP são:

A – Episódios recorrentes de comer compulsivo. Um episódio de comer

compulsivo é caracterizado pelos dois critérios a seguir:

1) Ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de

um período de duas horas), de uma quantidade de alimentos nitidamente maior do

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que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstancias

similares;

2) Um sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar

durante o episódio (por exemplo, uma sensação de não conseguir parar de comer

ou controlar o que ou o quanto está comendo).

B – Os episódios de comer compulsivo estão associados com três (ou mais)

dos seguintes critérios:

1) Comer muito mais rapidamente que o normal;

2) Comer até sentir-se incomodamente repleto;

3) Ingerir grandes quantidades de alimentos quando sem fome;

4) Comer sozinho, em virtude do embaraço causado pela quantidade

de alimentos que o indivíduo ingere;

5) Sentimento de repulsa por si próprio, depressão ou demasiada culpa

após comer em excesso.

C – Acentuada angústia relacionada ao ato de comer compulsivamente;

D – O comer compulsivo ocorre, em média, pelo menos dois dias por semana,

durante seis meses.

Observação: O método de determinação da freqüência difere daquele usado

para a BN; as futuras pesquisas devem dirigir-se à decisão quanto ao método

preferencial para o estabelecimento de um limiar de freqüência, isto é, contar o

numero de dias nos quais ocorre o comer compulsivo ou contar o numero de

episódios de comer compulsivo.

E – O ato de comer compulsivamente não está associado com o uso habitual

de comportamentos compensatórios inadequados (por exemplo, purgação, jejuns,

exercícios excessivos), nem ocorre exclusivamente durante o curso da AN ou BN.

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59

3.4.3.2.2 Formas de Tratamento

a) Tratamento Farmacológico

Para a escolha de um agente farmacológico para o tratamento do TCAP

existem três pontos que devem ser levados em consideração, seriam eles, o

comportamento alimentar alterado, ou seja, os episódios de compulsão alimentar

periódico, a psicopatologia freqüentemente associada (depressão, impulsividade) e

o peso corporal. As classes de medicamentos mais estudadas no momento para o

tratamento do TCAP incluem os antidepressivos, os agentes antiobesidade e os

anticonvulsivantes (FREITAS et al., 2005; APPOLINARIO; MCELROY, 2004 apud

APPOLINARIO et al., 2006).

• Antidepressivos

De acordo com Sapoznik et al. (2005b) e Appolinario et al. (2006), devido a

semelhança entre os sintomas da BN e do TCAP e a eficácia do uso de

antidepressivos no tratamento da primeira, reforça-se a idéia da possível utilidade

desses agentes no tratamento do TCAP. Os inibidores seletivos de recaptação de

serotonina são os agentes antidepressivos mais pesquisados nos pacientes

portadores da patologia em questão. Esses agentes reduzem a freqüência de

episódios de compulsão alimentar periódica, porém não ocorre perda de peso

significativa, do ponto de vista clinico.

A venlafaxina, outro agente antidepressivo, mostra-se semelhante ao agente

antiobesidade sibutramina, tendo como mecanismo de ação o bloqueio da

recaptação da serotonina e da noradrenalina (APPOLINARIO et al, 2006).

• Agentes Antiobesidade

A compulsão alimentar correlaciona-se a alterações da regulação do

comportamento alimentar devido ao aumento do apetite e redução da saciedade;

com relativa freqüência o TCAP é associado ao sobrepeso, obesidade e depressão;

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os agentes antiobesidade, normalmente, diminuem o apetite, aumentam a saciedade

e induzem a perda de peso, assim como também podem reduzir os sintomas

depressivos (FREITAS et al., 2005; APPOLINARIO; MCELROY, 2004 apud

APPOLINARIO et al., 2006).

A sibutramina age como inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina,

e induz a perda de peso em conseqüência do aumento da saciedade e da

prevenção da diminuição do gasto energético que ocorre em decorrência da perda

de peso. Sua eficácia frente à indução inicial de perda de peso com subseqüente

manutenção a longo prazo encontra-se bem estabelecida (APPOLINARIO et al,

2006).

• Anticonvulsivantes

Segundo o relato de Freitas et al. (2005) e Appolinario et al. (2006), existem

alguns fatores que sugerem a eficácia dos anticonvulsivantes no tratamento do

TCAP, dentre elas vale destacar a associação entre o TCAP e o Transtorno Bipolar.

Além disso, o topiramato, como já citado anteriormente, auxilia na redução dos

episódios de compulsão alimentar periódica e do peso corporal.

Nos pacientes que fazem uso da zonisamida observa-se a redução

significativa dos episódios de compulsão alimentar periódica, da fome, da gravidade

global da doença e do peso corporal. Tanto o topiramato quanto a zonisamida

apresentam uma boa tolerância, particularmente se o seu uso inicia-se em baixas

doses e sofrem um aumento gradual relacionado à resposta terapêutica e os efeitos

adversos (APPOLINARIO et al., 2006).

• Orientações Gerais para Uso de Medicamentos em Pacientes com

TCAP

Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina eram considerados os

agentes de primeira escolha no tratamento do TCAP, mas diante de estudos

negativos realizados com os mesmos foi necessário questionar a sua indicação para

o tratamento dos pacientes obesos com compulsão alimentar periódica. Em

decorrência deste fato, o topiramato é indicado como uma boa opção terapêutica e

potencialmente mais indicado para pacientes com transtorno bipolar ou labilidade de

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humor. Uma outra opção indicada para pacientes que não correspondem aos

agentes citados anteriormente e que não apresentam co-morbidades psiquiátricas

importantes, é a sibutramina, na dose de 15 mg/dia. Porém, esta droga, mesmo

sendo considerada relativamente segura, pode provocar alterações na pressão

arterial e na freqüência cardíaca (APPOLINARIO et al., 2006).

b) Tratamento Psicoterápico

No tratamento do TCAP buscam-se a modificação nos hábitos alimentares, o

início da atividade física e a redução de peso em caso de obesidade associada.

Para a mudança nos hábitos alimentares, deve-se abordar a auto-estima, dando

uma atenção especial aos sentimentos de vergonha e de inferioridade, que

normalmente acompanham os pacientes com esse tipo de transtorno. O paciente

também deve modificar suas crenças relacionadas ao seu peso, mantendo

expectativas realistas com relação à meta de peso e formato corporal (SILVA, 2005).

A mesma autora cita que o paciente precisa diminuir a sua exposição às

condições que facilitam a alimentação inadequada. De início, o paciente deve

escolher uma atividade física que lhe seja reforçadora de alguma maneira e que

tenha um tipo de programa razoavelmente flexível. No tratamento deste paciente,

também devem ser utilizadas técnicas para prevenção de recaídas.

De acordo com Passos et al. (2005), estudos indicam que pacientes com

TCAP apresentam uma maior propensão a responder a seus sentimentos e a

situações de caráter emocionais com alimentos. Esses pacientes consideram como

condições antecedentes aos atos de compulsão alimentar sentimentos de solidão,

tédio, ansiedade, raiva e estresse. Eles apresentam também baixa auto-estima,

auto-imagem negativa, excessiva autocrítica e propensão a comportamentos

impulsivos. Quando comparados a pessoas obesas, apresentam maiores índices de

insatisfação corporal e pior imagem do mesmo, assim como distanciam mais o peso

desejado do peso real, como conseqüência, apresentam maiores dificuldades em

construir expectativas realistas sobre os tratamentos.

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3.4.3.2.3 Curso e Prognóstico da Doença

De acordo com o relato de Freitas et al (2006), o fato de o TCAP ser

considerado recentemente como uma nova entidade nosológica, pouco se sabe

sobre o seu curso natural. Em estudos realizados por Fairburn e colaboradores no

ano de 2000, relata-se que, após cinco anos de seguimento, apenas 18% das

pacientes participantes realmente apresentavam alguma forma clínica de TA,

entretanto 39% eram obesas, quando comparadas a 21% do início da pesquisa. No

final da mesma, obteve-se o resultado que grande maioria dessas mulheres

diagnosticadas com TCAP se recuperaram (PASSOS et al, 2005; FREITAS et al,

2006).

“Gravidade e prognóstico em TCAP demonstram maior relação com o comportamento alimentar e não com o peso corpóreo em si. Freqüências mais elevadas de compulsões ligam-se a maiores índices de psicopatologias associadas e maior comprometimento de aspectos psicológicos, acarretando piores prognósticos. A gravidade de aspectos psiquiátricos e psicológicos associados estabelece ciclos cada vez mais intensos de compulsões: sentimentos de auto-reprovação e menos valia podem levar a compulsões, que, por sua vez, fortalecem esses sentimentos, ocasionando novas compulsões” (PASSOS et al., 2005, p. 68).

Alguns estudos apontam a psicoterapia como intervenção do TCAP mostram

reduções de cerca de 90% na freqüência dos episódios de compulsão alimentar, e

cerca de 80% de remissão dos mesmos em curto prazo, porém a manutenção

desses resultados em longo prazo tem sido menor (PASSOS et al., 2005).

A seguir, serão apresentados dois quadros. O primeiro (Quadro 2) tem por

finalidade proporcionar uma melhor compreensão das correlações de dados,

apresentando quais os subtipos de cada patologia associada aos TA, seus

comportamentos característicos, seus respectivos tipos de tratamento e o

prognóstico da doença. O próximo quadro (Quadro 3) tem a finalidade de descrever

quais as principais características das 3 patologias principais (AN, BN e TCAP),

estabelecendo então suas diferenças básicas.

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Quadro 1: Principais Aspectos Etiológicos

AN BN TASOE

Subtipos AN restritiva e AN Bulímica

BN purgativa e BN não purgativa

Quadros atípicos da AN e BN; e TCAP

Comportamentos

característicos

Greve de fome sem fins ideológicos

Episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios.

Episódios de compulsão alimentar

Tratamento

farmacológico

Antidepressivos (inibidores seletivos de recaptação da serotonina, fluoxetina, citalopram e sertralina), Antipsicóticos (risperidona e olanzapina), Orexígenos (ciproeptadina) e outros agentes (naltrexona, tetraidrocanabinol e clonidina)

Antidepressivos (fluoxetina, sertralina e fluvoxamina), Anticonvulsivantes (topiramato) e outros agentes (ondasetron)

Antidepressivos (inibidores seletivos de recaptação da serotonina, venlafaxina), Antiobesidade (sibutramina) e Anticonvulsivantes (topiramato e zonisamida)

Orientação

nutricional

Reposição e manutenção do peso e reeducação alimentar

Normalizar o comportamento alimentar e estabilizar o peso

-

Tratamento

psicoterápico

Individual e familiar

Individual, familiar ou grupal

Individual ou grupal

Prognóstico Imprevisibilidade de prognóstico individualizado

Vago e inconsistente

Vago

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Quadro 2: Diferenças Básicas entre os Tipos de Transtornos Alimentares

AN BN TCAP Predominância

excessiva em mulheres

Predominância em mulheres

Predominância em mulheres

Restrição alimentar severa

Episódios de compulsão alimentar periódica

Episódios de compulsão alimentar periódica

Costumam purgar por auto-indução

Provocam purgação após compulsão alimentar

Não fazem uso de métodos compensatórios

Abusam de diuréticos, laxantes e/ou atividades físicas

Abusam de diuréticos, laxantes, anorexígenos, hormônios tireoidianos, etc

Não praticam atividades físicas

Diferenças Grave perda de peso Peso normal ou acima do peso

Grande maioria são pessoas obesas

básicas Predomina em adolescentes, principalmente dos 12 aos 16 anos

Predomina em adultos jovens, na faixa etária dos 18 aos 23 anos

Predomina em adultos, na faixa etária de 30 a 35 anos

Grande distorção de imagem corporal

Distorção de imagem corporal menos acentuada que na AN

Não apresentam distorção da imagem corporal

Ausência de menstruação (amenorréia)

Menstruação irregular Menstruação normal

Normalmente introvertidas

Normalmente extrovertidas

Alternam introversão e extroversão

Julgam seu comportamento alimentar como “normal” e defendem suas atitudes como corretas

Apresentam culpa acentuada por seu comportamento alimentar

Apresentam muita culpa por seu comportamento alimentar

3.5 CO-MORBIDADES

O termo co-morbidade implica a ocorrência simultânea de dois ou mais

transtornos mentais, ou de quadro psiquiátrico associado à condição médica. O fato

de o paciente estar sofrendo de um transtorno mental aumenta consideravelmente a

sua vulnerabilidade a outro tipo de transtorno. Os pacientes com TA que possuem

algum tipo de co-morbidade clínica ou psiquiátrica demonstram algumas alterações,

em decorrência disso, na evolução do quadro clínico de base, na eficácia do

tratamento prescrito e nos custos sociais da doença (AMIGO, 2005).

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Estudos realizados até o momento mostram que os portadores de AN, BN e

TCAP apresentam com freqüência outros transtornos psiquiátricos associados tais

como Transtorno de Humor, de Ansiedade, do Controle de Impulsos, de Abuso de

Substâncias e de Personalidade (FONTENELLE et al., 2003; O’BRIEN; VINCENT,

2003; DAWE; LOXTON, 2004; KAYE et al., 2004; HUDSON; HUDSON; POPE,

2005; apud NASCIMENTO et al., 2006).

A presença de outros transtornos psiquiátricos pode influenciar o curso do TA,

camuflar a presença de um TA subjacente, influenciar a procura de assistência e,

também, causar um impacto no planejamento do tratamento (GRILO, 2002, apud

NASCIMENTO et al., 2006).

Segundo Silva (2005), é de fundamental importância a identificação

diagnóstica dessas co-morbidades para que possam ser estabelecidos as

possibilidades terapêuticas desses pacientes, determinando o local onde os

tratamentos poderão ser realizados e de suas respectivas avaliações posteriores.

Existem quatro transtornos psiquiátricos classificados como sendo mais

comuns entre os portadores de TA. São eles: Transtornos de Ansiedade, Transtorno

de Humor, Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtorno da Personalidade.

A seguir será feito um breve relato sobre cada um deles.

Além dessas patologias citadas, enquadram-se nas co-morbidades

complicações clínicas graves como Diabetes Melito e Osteoporose, as quais

também serão abordadas neste capítulo.

3.5.1 Transtorno de Ansiedade

Os Transtornos de Ansiedade mais comumente encontrados nos quadros de

TA são Transtorno de Ansiedade Generalizada, Fobia Específica e Transtorno

Obsessivo-Compulsivo, os mesmos serão descritos a seguir.

De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), a Fobia Social caracteriza-se

principalmente por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de

desempenho nas quais o paciente poderia sentir-se envergonhado. A exposição a

este tipo de situação provoca uma resposta imediata de ansiedade, a qual pode

assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela

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mesma. Em decorrência disso, a situação social passa a ser evitada, porém, em

algumas ocasiões, ela é suportada com pavor.

Seguindo o mesmo ponto de vista, o Transtorno de Ansiedade Generalizada

caracteriza-se por demasiada ansiedade ou preocupação, ocorrendo todos os dias

durante um período de no mínimo seis meses, acerca de diversos eventos ou

atividades. Essa ansiedade e preocupação excessivas são relacionadas com pelo

menos três sintomas adicionais, como inquietação, dificuldade de concentração,

irritabilidade, perturbação do sono e tensão muscular. No caso da AN a ansiedade e

preocupação excessivas se encontram diante do medo mórbido de engordar. Os

pacientes que sofrem de Transtorno de Ansiedade Generalizada relatam sofrimento

subjetivo devido à constante preocupação, pois apresentam dificuldades em

estabelecer um controle sob a mesma, ou apresentam prejuízo no funcionamento

social ou ocupacional, ou até mesmo em outras áreas importantes.

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo, segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002)

caracteriza-se por obsessões ou compulsões recorrentes suficientemente graves a

ponto de consumirem tempo, normalmente mais de uma hora por dia; ou causarem

sofrimento acentuado ou prejuízo significativo. Por obsessão se entende idéias,

pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, as quais são vivenciadas como

intrusivas e inadequadas e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. O indivíduo

com essas obsessões, geralmente, tenta ignorar ou suprimir essas idéias ou

impulsos; ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. A compulsão é

caracterizada por comportamentos repetitivos ou atos mentais cujo objetivo é

prevenir ou reduzir a ansiedade e sofrimento, ao invés de oferecer prazer ou

gratificação.

Tanto na AN de tipo restritivo quanto na de tipo bulímico, os transtornos de

ansiedade mais comuns são a Fobia Social, o Transtorno de Ansiedade

Generalizada e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, com prevalência variando entre

31 e 55%; 24 e 49%, e 21 e 62%, respectivamente (HALMI, 2003; GODART et al.,

2000; GODART et al., 2003, apud NASCIMENTO et al., 2006; AMIGO, 2005). Já nos

tipos de bulimia purgativa e não-purgativa, os Transtornos de Ansiedade que

apresentam maior freqüência são a Fobia Social e o Transtorno de Ansiedade

Generalizada, com prevalências que variam entre 30 e 59%, e 23 e 55%,

respectivamente (GODART et al., 2000, 2003; HALMI, 2003, apud NASCIMENTO et

al., 2006). O TCAP também está relacionado com maior freqüência aos Transtornos

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de Ansiedade com prevalência de pelo menos um tipo de Transtorno de Ansiedade

em cerca de 44% dos pacientes (FONTENELLE et al., 2003, apud NASCIMENTO et

al., 2006).

Em estudos realizados por Godart et al. (2000), observou-se que a freqüência

de episódios de compulsão alimentar e comportamentos purgativos em pacientes

bulímicos estão diretamente ligados à intensidade da sintomatologia ansiosa

(NASCIMENTO et al., 2006).

Obsessões relacionadas à forma corporal, ao peso e à comida são os

aspectos psicopatológicos importantes dos TA (Nascimento et al., 2006), e os

portadores destes transtornos podem desenvolver compulsões, como rituais

elaborados para comer, contagem de calorias, assim como realizar exercícios

compulsivos.

“Estudos atuais, utilizando amostras clínicas, encontraram taxas de comorbidade entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo e AN variando entre 9,5 e 35% e entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo e BN variando entre 18,5 e 40% (LAESSLE et al., 1989; KAYE et al., 2004). Em pacientes com diagnósticos duplos (AN e BN), a freqüência do Transtorno Obsessivo-Compulsivo pode chegar a 44% (KAYE, 2004). A freqüência, deste transtorno, em pacientes obesos portadores de TCAP não difere da apresentada por pacientes obesos sem TCAP (FONTENELLE et al., 2003 apud NASCIMENTO et al., 2006, p. 85)”.

Segundo Milos et al (2002) apud Silva (2005), o Transtorno Obsessivo-

Compulsivo pode estar presente de forma associada em cerca de 29% dos casos de

AN, principalmente naqueles que apresentam o subtipo restritivo. No entanto,

estudos realizados por Gorgati & Amigo (2005), revelam o Transtorno Obsessivo-

Compulsivo se associa a pacientes com AN em uma incidência que varia entre 10 a

13%.

Em estudos realizados por Godart et al. (2000) e por Halmi (2003), relata-se

que o Transtorno Obsessivo-Compulsivo antecede os Transtornos Alimentares em

uma média de 65 a 88% dos casos. Entretanto, em um estudo realizado por

Fontenelle, Cordás e Sassi (2002) encontra-se uma pequena diferença de dados,

onde se relata que até 42% dos portadores deste também podem apresentar TA

(NASCIMENTO et al., 2006).

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3.5.2 Transtornos de Humor

Quando se refere aos Transtornos de Humor pode-se notar uma maior

incidência nos quadros de TA do Transtorno de Depressão Maior e do Transtorno

Bipolar do tipo I.

Os Transtornos de Humor, segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), são aqueles

caracterizados principalmente por possuir algum tipo de perturbação no humor.

Esses transtornos são divididos em Transtornos Depressivos (Transtorno

Depressivo Maior, Transtorno Distímico e Transtorno Depressivo Sem Outra

Especificação), Transtornos Bipolares (Transtorno Bipolar I, Transtorno Bipolar II,

Transtorno Ciclotímico e Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação), Transtorno

de Humor Devido a uma Condição Médica Geral e Transtorno de Humor Induzido

por Substância.

O Transtorno Depressivo Maior é caracterizado pelo DSM-IV-TR (APA, 2002)

por um ou mais episódios depressivos maiores, ou seja, são, no mínimo, 2 semanas

de humor deprimido ou perda de interesse, acompanhados por, pelo menos, 4

sintomas adicionais de depressão, tais como, alterações no apetite ou peso, sono e

atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa;

dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; ou pensamentos

recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio.

O Transtorno Bipolar do tipo I, de acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002),

caracteriza-se por um ou mais episódios maníacos ou mistos, normalmente

acompanhado de episódios depressivos maiores, e o Transtorno Bipolar do tipo II é

caracterizado por um ou mais episódios depressivos maiores, seguidos por pelo

menos um episódio hipomaníaco.

Os sintomas depressivos são mais freqüentes nos indivíduos portadores de

TA, e sua prevalência pode chegar a 98% na AN (RASTAM; GILLBERT, 1995 apud

NASCIMENTO et al., 2006). O diagnóstico clínico de depressão maior é

significativamente mais freqüente nas pessoas com TA do que na população em

geral, sua prevalência é de 50 a 68% na AN e de 38 a 63% na BN (BRAUN;

SUNDAY; HALMI, 1994; HERZOG; NUSSBAUM; MARMOR, 1996 apud

NASCIMENTO et al., 2006). A prevalência de qualquer Transtorno de Humor nos

indivíduos com TCAP, varia entre 32 e 34,3%, também sendo mais freqüente que na

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população geral (FONTENELLE et al., 2003 apud NASCIMENTO et al., 2006). A

depressão maior é indicada como o Transtorno de Humor mais freqüente entre os

pacientes portadores de TA. Já o Transtorno Bipolar do Humor, é mais ligado a BN,

com prevalência entre 2 e 12% (HALMI, 2003 apud NASCIMENTO et al., 2006). De

acordo com Sapoznik et al. (2005a), a depressão aparece em até 83% dos casos de

BN, e em contrapartida com a informação dada por Halmi apud Nascimento et al.

(2006), o Transtorno Bipolar do Humor pode atingir de 5 a 12% dos pacientes com

BN.

Existem hipóteses que tentam de alguma forma explicar a relação dos

Transtornos de Humor com os TA. Uma delas é de que maior parte dos sintomas de

humor poderiam ser explicados pela desnutrição e pelo padrão alimentar caótico

adotado pelo paciente com TA. Uma segunda evidência trata da relação direta da

sintomatologia depressiva com a presença ou não do TA em atividade, observando-

se uma menor co-ocorrência de sintomas depressivos em pacientes em remissão do

que em pacientes com TA ativo, independente do subtipo do mesmo (TROOP;

SERPELL; TREASURE, 2001, apud NASCIMENTO et al., 2006).

Existe também, uma outra hipótese que procura explicar a associação entre

sintomas depressivos e TA, esta acredita que ambos seriam parte de uma mesma

síndrome. Para corroborar essa ultima hipótese, os Transtornos de Humor deveriam

ser precedentes do TA e permanecer após a remissão do mesmo. A literatura torna-

se conflitante neste ponto, pois existem autores a favor da hipótese de que os TA

seriam uma variante dos Transtornos de Humor e, no entanto, parte de uma mesma

síndrome (TROOP; SERPELL; TREASURE, 2001, apud NASCIMENTO et al., 2006).

Alguns autores defendem a hipótese de que os Transtornos de Humor

poderiam ser considerados como fatores de risco para o desenvolvimento da BN,

portanto, é considerado que o principal fator determinante do desenvolvimento de

TA é, possivelmente, a presença de sintomas alimentares (NASCIMENTO et al.,

2006).

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3.5.3 Transtornos Relacionados a Substâncias

Dentre os Transtornos Relacionados a Substâncias, o de maior ocorrência

nos quadros do TA é o Transtorno por Abuso de Substância.

De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), esse tipo de transtorno engloba

desde transtornos relacionados ao consumo de uma droga de abuso, até os efeitos

colaterais de um medicamento e a exposição a toxinas. As substâncias tóxicas

capazes de causar esse tipo de transtorno incluem metais pesados, raticidas

contendo estricnina, pesticidas contendo nicotina, inibidores de acetilcolinesterase,

gases nervosos, etileno glicol (anticongelante), monóxico e dióxido de carbono.

Substâncias voláteis são classificadas como inalantes, quando usadas com intenção

de intoxicação, e são classificadas como toxinas, se a exposição é acidental ou faz

parte de envenenamento intencional. Os sintomas mais comuns associados com

substâncias tóxicas são prejuízos na cognição ou no humor, porém, ansiedade,

alucinações, delírios ou convulsões também podem vir a ocorrer. Esse tipo de

transtorno subdivide-se em dois grupos, os Transtornos por Uso de Substâncias

(Dependência de Substância e Abuso de Substância), e os Transtornos Induzidos

por Substâncias.

Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), o Abuso de Substâncias caracteriza-se

principalmente por um padrão mal adaptativo de uso de substâncias, manifestado

por conseqüências adversas recorrentes e significativas ligadas ao repetido uso da

substância. A Dependência de Álcool pode ser indicada por evidências de tolerância

ou sintomas de abstinência, principalmente quando associada a algum histórico de

abstinência, a dependência fisiológica é indicativa de uma evolução clínica mais

grave. Portanto o Abuso de Álcool pode ser menos grave do que a Dependência, e

apenas é diagnosticado quando se estabelece a ausência desta.

O Abuso de Substâncias é consideravelmente mais freqüente em pacientes

que apresentam episódios de compulsão alimentar (BRAUN; SUNDAY; HALMI,

1994; CORCOS et al., 2001 apud NASCIMENTO et al., 2006). Em um estudo

realizado por Corcos e Colaboradores (2001), com mulheres portadoras de TA,

obteve prevalências de abuso de qualquer tipo de substância psicoativa de 4,5% na

AN de tipo restritivo, de 18,2% na AN de tipo bulímico, de 24,4% na BN de tipo

purgativo e de 26,3% na BN de tipo não purgativo. No mesmo estudo demonstrou-se

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também que o abuso e dependência de álcool e outras drogas psicoativas estão

associadas ao comportamento impulsivo. Ainda neste mesmo estudo relata-se que o

consumo de álcool tem uma freqüência maior em pacientes com BN e AN de tipo

bulímico, com prevalências de 12,4 e 10,9% respectivamente; derivados do

tetraidroxicanabinol (cannabis e derivados) e estimulantes também são utilizados

frequentemente por pacientes com TA (NASCIMENTO et al., 2006). Sapoznik et al.

(2005a) complementa esses dados relatando que pacientes portadores de BN

apresentam risco elevado de co-morbidade com Transtorno por Uso de Substâncias,

atingindo 30 a 37% dos casos, sendo que abuso de diuréticos, anorexígenos e

laxantes tem índice de 20 a 40% dos casos.

Silva (2005) apresenta taxas relevantes em pacientes bulímicos, atingindo

entre 30% e 37% dos casos, são os Transtornos por Uso de Substâncias em Geral,

como nicotina, cafeína, álcool, etc. Quando avalia-se o abuso de substâncias

específicas como diuréticos, laxantes e redutores de apetite (anorexígenos), os

índices podem variar entre 20% e 40% dos casos.

3.5.4 Transtornos de Personalidade

Os Transtornos de Personalidade que mais se mostra presente nos quadros

dos TA é o Transtorno de Personalidade de tipo Bordeline.

De acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002), os Transtornos de Personalidade

possuem como característica essencial um padrão persistente de vivência íntima e

comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas culturais do

indivíduo e manifesta-se em no mínimo duas das seguintes áreas: afetividade,

cognição, controle de impulsos ou funcionamento interpessoal. Este padrão

persistente não tem flexibilidade e abrange uma ampla faixa de situações pessoais e

sociais, além de provocar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento

social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Esse

transtorno subdivide-se em onze tipos (Transtorno de Personalidade Paranóide,

Transtorno de Personalidade Esquizóide, Transtorno de Personalidade

Esquizotípica, Transtorno de Personalidade Anti-Social, Transtorno de

Personalidade Bordeline, Transtorno de Personalidade Histriônica, Transtorno de

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Personalidade Narcisista, Transtorno de Personalidade Esquiva, Transtorno de

Personalidade Dependente, Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva,

Transtorno de Personalidade Sem Outra Especificação).

A principal característica do Transtorno de Personalidade de tipo Bordeline,

segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), é uma grande instabilidade nos

relacionamentos interpessoais, da auto-imagem e dos afetos, assim como uma

acentuada impulsividade que se inicia no começo da idade adulta e se apresenta em

uma variedade de contextos. Esses indivíduos fazem grandes esforços no sentido

de evitar um abandono real ou imaginário, eles são muito sensíveis às

circunstâncias ambientais, pois experimentam intensos temores de abandono e raiva

inadequada, mesmo estando frente a uma separação real de tempo limitado ou

quando há mudanças inevitáveis em seus planos. Sendo assim, eles acreditam que

este tipo de “abandono” implica que eles são pessoas “más”.

Dados demonstram que 53 a 93% dos indivíduos portadores de algum tipo de

TA apresentam pelo menos um Transtorno de Personalidade, e que 37 a 56%

preenchem os critérios necessários para dois ou mais Transtornos de Personalidade

(AMIGO, 2005). Alguns estudos disponíveis relatam que a taxa de co-morbidade

entre os TA e Transtornos de Personalidade varia entre 27 e 94%, relata também

que o Transtorno da Personalidade de tipo Bordeline é o mais freqüente, estado

presente em 31% dos pacientes com BN e em 14% daqueles com AN (GRILO, 2002

apud NASCIMENTO et al., 2006).

3.5.5 Diabetes Mellitus

Segundo Gross et al. (2002), Diabetes Mellitus (DM) engloba um grupo de

doenças metabólicas que se caracterizam pela hiperglicemia, decorrente de defeitos

na secreção da insulina e/ou em sua ação. A hiperglicemia manifesta-se através de

sintomas como poliúra, perda de peso (como no caso da AN), hiperfagia, polidipsia e

visão turva ou por complicações agudas que podem levar o paciente a correr risco

de vida, como a cetoacidose diabética e a síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não

cetótica, esta última é uma complicação aguda clássica do DM tipo II. A

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hiperglicemia crônica associa-se ao dano, disfunção e falência de órgãos,

principalmente os olhos, os rins, os nervos, o coração e os vasos sangüíneos.

Ainda sob o mesmo ponto de vista, relata-se que as alterações da tolerância à

glicose relacionam-se a um aumento do risco de doença cardiovascular e de

desenvolvimento futuro de diabetes. Alguns estudos recentes demonstram que

existe a possibilidade de diminuir de forma significativa a incidência de novos casos

através de medidas de intervenção, tais como realização de exercícios físicos e

redução de peso (no caso de pacientes obesos, onde normalmente há incidência de

TCAP).

De acordo com Papelbaum (2007), há um enorme contingente de evidências

que sugerem que existe um aumento de psicopatologia em pacientes diagnosticados

com DM, dentre eles a Depressão e os TA são os transtornos psiquiátricos que mais

chamam a atenção de clínicos e pesquisadores. Alguns estudos evidenciam um

aumento na ocorrência de BN e de TA subclínicos em mulheres portadoras de DM

do tipo I quando comparadas com indivíduos sem esse tipo de DM. Outros estudos

apontam um aumento nos episódios de compulsão alimentar entre adolescentes

com DM do tipo I, incluindo uma taxa de 11% de omissão das doses de insulina

para, então, evitar o aumento de peso. Quando relacionado aos portadores de DM

do tipo II, estudos encontram taxas elevadas de ocorrência do TCAP. Diante dessa

afirmação, Andrade et al (2004) relata que os TA são particularmente comuns em

mulheres com DM do tipo I, onde mais de um terço delas desenvolve essa patologia.

Portanto, estas devem ser vistas com um rigor maior, devido ao aumento de

complicações microvasculares e metabólicas.

3.5.6 Osteoporose

A osteoporose é definida como uma doença que se caracteriza por baixa

massa óssea e deterioração da microarquitetura do osso, aumentando a fragilidade

óssea e, em conseqüência, elevando o risco de fraturas. Entretanto, apesar da

importância da massa óssea, a National Health Institutes, define a osteoporose

como uma doença caracterizada por uma resistência óssea comprometida e elevado

risco de fratura (COSTA-PAIVA et al., 2003).

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De acordo com Oliveira et al. (2003), o desenvolvimento de padrões

alimentares anormais acarreta na disfunção menstrual e, em conseqüência, à

osteoporose, sendo, então, necessário o controle dos sintomas dessas alterações. A

osteoporose, por sua vez, é mais identificada nos casos de pacientes que praticam

algum tipo de atividade física, sendo então, considerados como atletas.

A seguir será apresentado um quadro a fim de sistematizar as principais co-

morbidades de cada patologia, possibilitando dessa forma um melhor entendimento

sobre o assunto.

Quadro 3: Co-morbidades Associadas aos Transtornos Alimentares

AN BN TCAP

Co-morbidade

Transtorno de Ansiedade (Fobia Social 31 a 55%; Transtorno de Ansiedade Generalizada 24 a 49%; Transtorno Obsessivo-Compulsivo 21 a 62%), Transtorno de Humor (Depressão 50 a 68%), Transtorno de Abuso de Substancias (Substancias psicoativas 4,5 a 18,2%; Consumo de álcool 10,9%) e Transtorno de Personalidade (Bordeline 14%)

Transtorno de Ansiedade (Fobia Social 30 a 58%; Transtorno de Ansiedade Generalizada 23 a 55%), Transtorno de Humor (Depressão 38 a 63%; Transtorno Bipolar 2 a 12%), Transtorno de Abuso de Substancias (Substâncias psicoativas 24,4 a 26,3%; Consumo de álcool 12,4%; Abuso de diuréticos, laxantes e anorexígenos 20 a 40%) e Transtorno de Personalidade (Bordeline 31%)

Transtorno de Ansiedade 44% e Transtorno de Humor 32 a 34,3%

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4 CONCLUSÃO

Este estudo buscou na literatura científica vigente os principais tipos de TA.

De forma mais específica investigou sua etiologia, as formas de tratamento, o curso

e o prognóstico da doença, as co-morbidades e complicações clínicas associadas.

Desta forma, pode-se inferir que seus objetivos foram alcançados, uma vez que a

sistematização dos dados apresentou material suficiente para desenvolver as

conclusões descritas a seguir.

Observa-se que nos últimos anos alguns comportamentos associados à

alimentação e à imagem corporal têm sido divulgados demasiadamente por meios

de comunicação, fenômeno este que por sua vez tem sido constatado

principalmente na cultura ocidental.

Os jornais, as novelas, as revistas, os documentários, os programas de

entrevista ou os de caráter informativo, em geral, vem carregado de informações

distorcidas que vendem a imagem do corpo magro associado ao ideal, ao poder e

ao sucesso. São meios de comunicação que direcionam a sua abordagem para um

público jovem, no qual os TA costumam apresentar suas primeiras manifestações.

Desta forma, reafirma-se que nas sociedades ocidentais, o preconceito

relacionado à obesidade é muito forte e este culto à magreza se associa diretamente

à imagem de poder, beleza e mobilidade social, gerando um quadro contraditório

quando relacionado à mídia da indústria de alimentos, pois esta por sua vez, vende

gordura, com apelo aos alimentos hipercalóricos.

Os TA mais relevantes no momento são a Anorexia Nervosa, a Bulimia

Nervosa e o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica. Esta relevância se deve

ao aumento significativo do número de casos constatados ultimamente, se pode

pensar em usar o termo “epidemia do culto ao corpo”, principalmente quando

referidos à AN e à BN.

É de suma importância destacar que os TA são patologias que precisam ser

diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível, em decorrência do fato

que sua incidência tomou grandes proporções e sua gravidade tem feito muitas

vítimas. No entanto, não se pode deixar de ver o aspecto sociocultural destas

patologias, uma vez que a formação da auto-imagem corpórea e dos hábitos

alimentares de cada pessoa são fortemente influenciados pela maneira como os

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membros de uma sociedade pensam e agem em relação ao que seja ter um corpo e

uma alimentação saudáveis.

Os fatores etiológicos não podem ser divididos por patologia, pois acredita-se

que eles são basicamente os mesmos para todos os tipos de TA. Com base em todo

o material pesquisado até então, pode-se pensar em dizer que os fatores

socioculturais são de grande influencia no desenvolvimento dos TA. Pois, como

pode-se observar no caso da AN a mídia muitas vezes fica responsável por divulgar

corpos de atrizes e modelos magérrimas, que acabam se tornando um tipo de

modelo padrão, mulheres que são magras, mas nem sempre saudáveis, que

atingem o sucesso. A partir daí, alguns jovens passam a querer o mesmo para elas,

achando que a magreza extrema vai levá-las conseqüentemente ao sucesso, logo

essas jovens podem deixar de se alimentar de maneira saudável, tornando-se

pessoas doentes e acabam por desenvolver, na grande maioria quando associada a

outros fatores etiológicos, uma doença grave com alto índice de mortalidade,

chamada Anorexia Nervosa.

Na BN, pode-se constatar um pensamento dicotômico, no qual as jovens

ficam divididas entre esses padrões “não-saudáveis” de beleza e as “apetitosas”

propagandas de alimentos hipercalóricos. Dessa forma, elas se deixam levar pelos

alimentos gordurosos, porém desenvolvem um grande sentimento de culpa que as

fazem recorrer aos métodos compensatórios (vômito, uso de laxantes, exercícios

físicos excessivos, etc.), fazendo com que isso se torne um ciclo vicioso, no qual

elas não passam vontade, ingerindo os alimentos que a mídia vende, mas tentam

evitar o ganho de peso, fazendo o uso dos métodos compensatórios. Este ciclo

vicioso normalmente mantém o peso corpóreo estável, tendo uma pequena variação

de peso, dessa forma essa patologia se torna mais sigilosa, e a sua descoberta

normalmente se dá devido ao sofrimento pessoal do indivíduo.

O TCAP não engloba os corpos delgados que a mídia vende como modelo

para ser uma pessoa bem-sucedida, mas pode-se dizer que ele “compra” os

alimentos hipercalóricos que a mídia “vende”. Pessoas com essa patologia perdem

total e absoluto controle diante dos alimentos, e estes por sua vez não são alimentos

considerados saudáveis, e sim alimentos extremamente gordurosos e calóricos, os

quais levam o indivíduo a um considerável aumento de peso.

Apesar da produção científica disponível sobre o tema não se diferenciar

muito uma das outras, observa-se uma grande mobilização nas equipes de saúde no

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sentido de criar estratégias de tratamento para esse transtorno, desenvolvendo um

trabalho multidisciplinar a fim de estabelecer um ambiente mais apropriado para

esses pacientes.

É de suma importância que esse tratamento multidisciplinar seja fortalecido,

relevando o início do tratamento, quando o paciente se encontra em uma fase muito

propensa a recaídas e conseqüentes desistências. Em decorrência dessas

prováveis desistências, principalmente nos casos de pacientes com AN, sugere-se o

tratamento em ambiente hospitalar, onde é possível obter um maior controle sob a

evolução do quadro clínico desses pacientes.

No tratamento de pessoas portadoras de TA é necessário também

acompanhamento da família no seu dia-a-dia, pois acredita-se que a presença desta

pode auxiliar na criação de um ambiente terapêutico mais seguro e familiar,

melhorando conseqüentemente a aceitação do paciente diante do tratamento, além

do fato desta poder acompanhar de perto a evolução do paciente e compreender

melhor quais são as suas reais necessidades e dificuldades.

Os psicofármacos têm sido coadjuvantes fundamentais no tratamento desses

transtornos, principalmente quando se encontram associados com algumas co-

morbidades, como Transtorno de Personalidade, Transtorno de Humor, Transtorno

Relacionado a Substâncias, etc., mas eles apenas se apresentam de forma eficaz

quando associado a outras formas de tratamento, como o nutricional e o

psicoterápico. Aliás, nenhuma dessas formas de tratamento mostra bons resultados

quando realizadas sozinhas, aqui eles necessitam estar interligados, é de suma

importância que haja o tratamento de forma multiprofissional, como dito

anteriormente, para que o paciente possa ter um melhor benefício.

No tratamento farmacológico, os medicamentos mais utilizados nas três

entidades nosológicas são a fluoxetina e os inibidores seletivos de recaptação de

serotonina, sendo então possível observar o grande uso dos antidepressivos no

tratamento dos TA devido ao grande sofrimento apresentado por pessoas que

sofrem dessa patologia.

No tratamento psicológico também pode-se notar uma grande igualdade entre

os métodos utilizados, o individual tem o maior nível de aceitação, porém a terapia

em grupo é bastante indicada especialmente nos casos de BN e TCAP, para que os

indivíduos possam estar compartilhando o seu sofrimento e, conseqüentemente,

ajudando uns aos outros.

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Pelo fato de o TCAP ser considerado como uma entidade nosológica recente,

há pouco material publicado sobre ele, dificultando seu conhecimento.

Diferentemente da AN e da BN, não se achou muito material científico publicado

sobre o tratamento de ordem nutricional do TCAP, contudo, acredita-se que este tipo

de tratamento tem como objetivo normalizar o comportamento alimentar, cessando

com os episódios de compulsão alimentar, assim como na BN, além de reduzir o

peso corporal do paciente, pois estes normalmente se encontram acima de um peso

considerado normal e saudável, sendo então classificados como obesos. Em relação

ao tratamento hospitalar, também não há muito material publicado, considerando-se

que este tipo de tratamento somente se torna necessário caso o transtorno se

associe com alguma complicação clínica de suas respectivas co-morbidades.

Sobre as diferenças básicas observadas entre as patologias dos TA, pode-se

observar que este é um transtorno que ocorre principalmente nas mulheres,

acometendo várias faixas etárias. Na AN podemos notar que ela se desenvolve

principalmente entre os 12 e 16 anos, idade que caracteriza o período de

adolescência em que ocorrem algumas mudanças corporais, as quais acarretam o

aumento de gordura corporal, principalmente no corpo das meninas que passa a ser

um corpo mais curvilíneo. A BN acomete pessoas com idade entre 18 e 23 anos,

quando se inicia a fase adulta, e o TCAP, por sua vez, predomina em mulheres

adultas com idade entre 30 e 35 anos.

Pode-se observar que na AN há ausência de menstruação, pois o estado de

desnutrição em que mulheres se encontram, geram alterações hormonais que

geram sérias conseqüências, dentre elas a ausência do período menstrual e a

infertilidade. Na BN este período sofre algumas alterações, como atrasos, porém

nada muito grave; no TCAP a mulher permanece com o ciclo menstrual normalizado.

Características fisicamente visíveis são: a excessiva magreza, pele

amarelada e seca, cabelos finos e quebradiços e, até mesmo, queda dos cabelos e

pêlos do corpo na AN. Entre AN do tipo bulímico, e BN é possível estabelecer uma

correlação nas características, pois em ambas os pacientes apresentam erosão do

esmalte dentário e “calosidades” no dorso das mãos, devido à purgação. Na BN

podemos também observar nos indivíduos um rosto mais arredondado por conta do

aumento das glândulas parótidas, decorrente da purgação excessiva. Nos indivíduos

com TCAP notamos um grave nível de obesidade, pois estes têm o costume de

apresentar um nível mais alto de gordura corporal que os obesos comuns.

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Vale a pena salientar que qualquer uma das três entidades nosológicas

apenas pode ser considerada como transtorno se os comportamentos

característicos de cada patologia, seja ela AN, BN ou TCAP, persistirem por mais de

6 meses, se repetindo no mínimo duas vezes por semana.

A única entidade nosológica do TA que possui um prognóstico bem definido é

a AN, em relação a BN existem algumas informações contraditórias e quanto ao

TCAP não há muito material publicado (como já foi dito anteriormente), pois os seus

estudos ainda estão em fase de desenvolvimento.

Pacientes com AN possuem fatores prognósticos favoráveis e desfavoráveis

que surgem no decorrer do tratamento auxiliando ou dificultando a evolução do

mesmo. Como exemplo de aspecto favorável é possível citar aquelas pessoas que

tem mais facilidade em lidar com os problemas e com certas situações, pessoas que

de certa forma são mais flexíveis, como aspecto desfavorável, podemos dar como

exemplo pessoas que apresentam rigidez diante dos seus próprios problemas, ou

seja, aquele tipo de pessoa que não aceita opiniões alheias, estas normalmente são

perfeccionistas, dominadoras e controladoras.

A AN é uma doença que tem um curso prolongado, pois devido às

características pessoais que os pacientes apresentam existem diversos fatores que

influenciam na manutenção e até mesmo perpetuação da doença, aumentando

consideravelmente o risco de recaídas. É valido ressaltar que a AN é considerada

uma doença com alto índice de mortalidade em decorrência da rigidez apresentada

diante do tratamento.

Sobre a BN não é possível ter uma conclusão bem definida sobre o seu

prognóstico, pois alguns autores citaram a remissão total dos sintomas enquanto

outros relatam que os estudos ainda não foram finalizados. Em pacientes bulímicos

também existem aspectos favoráveis e desfavoráveis. Um exemplo de aspecto

favorável é o início tardio da doença, visto que este acomete principalmente pessoas

com idade entre 18 e 23 anos. Como aspecto desfavorável podemos citar pessoas

ansiosas, que fazem uso de drogas lícitas e ilícitas, entre outros.

O pouco material encontrado sobre o prognóstico do TCAP, relata uma alta

incidência de recuperação, bem como relacionam a gravidade dessa patologia com

as co-morbidades envolvidas.

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É possível notar que o tratamento precoce de todas as entidades nosológicas

do TA aumentam as probabilidades de se alcançarem uma plena recuperação,

favorecendo um bom prognóstico.

Em relação às co-morbidades, pode-se analisar o fato que pelo TCAP ser

considerado um novo campo de estudo pouco se sabe sobre o mesmo, sendo

divulgadas apenas informações generalistas. Na AN e na BN podem-se observar

dados mais detalhados sobre a porcentagem de cada subtipo de transtorno

psicológico que acomete a população, sendo possível estabelecer uma correlação

entre ambos. É possível observar que tanto a Fobia Social quanto o Transtorno de

Ansiedade Generalizada acometem grande parte da população com AN e BN, assim

como a Depressão, o Abuso de Substâncias Psicoativas, Abuso de Álcool e o

Transtorno de Personalidade Bordeline.

Existem estudos que relatam uma taxa que varia entre 27 e 94% de

ocorrência dos Transtornos de Personalidade em pessoas com TA. Os sintomas

depressivos, característicos dos Transtornos de Humor, acometem 98% dos

pacientes com AN. Outro transtorno com grande incidência é o Transtorno

Obsessivo-Compulsivo que acomete entre 65 a 88% dos casos.

Considera-se necessário uma exploração um pouco mais fundamentada das

informações que certas fontes publicam, pois esta distorce alguns dados e deixa

tantos outros de maneira superficial, generalizando de certa forma os conceitos,

principalmente da BN e da AN. E relevando o aspecto que essas informações

abrangem em sua maioria um público jovem, o qual passa a crer que desenvolvendo

os sintomas desses transtornos (privação alimentar, purgação, atividade física

excessiva, etc.), é a maneira mais fácil de se atingir seus objetivos pré-

estabelecidos. Em contrapartida existe uma necessidade urgente de publicação de

informações corretas, divulgando as características principais da doença, quais os

seus aspectos negativos e suas conseqüências à saúde da pessoa, uma vez que

este transtorno é uma doença silenciosa que tem acometido diferenciadas classes

sociais.

Podemos deixar como sugestão o desenvolvimento de pesquisas qualitativas

que tenham como objetivo principal a descoberta do processo de migração de uma

patologia para outra, ou seja, em que ponto e quais os reais motivos que levam os

pacientes com AN passarem a desenvolver BN e pacientes com BN passarem para

TCAP.

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Outra sugestão importante é uma pesquisa, também qualitativa, relacionando

a Diabetes Mellitus com os episódios de compulsão alimentar periódica.

Sugere-se também uma pesquisa bibliográfica que sistematiza um

levantamento do TCAP, visto que este é considerado como uma nova patologia

ainda encontrando-se no apêndice-b do DSM-IV-TR.

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GLOSSÁRIO

Alimentação parenteral. Consiste em alimentar por via venosa pessoas que

tenham o trato digestivo incapacitado de receber qualquer tipo de nutrição.

Alterações eletrocardiográficas. Depressão na onda T e elevação da onda U.

Anidrase carbônica. Enzima eritrocitária que contém zinco, com peso molecular de

30 kD. Está entre as enzimas mais ativas conhecidas, e catalisa a hidratação

reversível do dióxido de carbono, que é significante no transporte de CO2 dos

tecidos para os pulmões. A enzima é inibida pela acetazolamida.

Antineoplásicos. Que destrói neoplasmas ou células malignas; que evita ou inibe o

crescimento e a disseminação de tumores.

Bradicardia. Lentidão excessiva na ação do coração, normalmente com uma

freqüência cardíaca abaixo de 60 batimentos por minuto.

Cetoacidose diabética. Disfunção metabólica grave causada pela deficiência

relativa ou absoluta da insulina, associada ou não a uma maior atividade dos

hormônios contra-reguladores (cortisol, catecolaminas, glucagon, hormônio do

crescimento).

Hipopotassemia. Concentração anormalmente baixa de potássio no sangue; ela

pode resultar de perda excessiva de potássio pela via renal ou gastrintestinal, de

ingestão diminuída ou de desvios transcelulares. Ela pode ser manifestada

clinicamente por distúrbios neuromusculares variando de fraqueza à paralisida, por

alterações eletrocardiográficas, por doença renal e por distúrbios gastrintestinais.

Leptina. Proteína reguladora que informa ao cérebro o possível excesso de gordura

do corpo, a fim de que sejam liberadas substancias que facilitem o emagrecimento.

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Parótidas. A maior das glândulas salivares. Situada atrás do ramo ascendente do

maxilar inferior, ligeiramente abaixo do conduto auditivo externo. Prolonga-se em

profundidade na direção do músculo masseter.

Pica. Caracteriza-se por consumo persistente de substâncias não nutritivas. A

substância típica tende a variar com a idade. Bebês e crianças mais jovens

tipicamente comem reboco, tinta, cabelos cordões e tecidos. Crianças mais velhas

podem comer fezes de animais, insetos, areia, folhas ou pedregulhos. Adolescentes

e adultos podem consumir argila ou terra. Não existe aversão à comida.

Polidpsia. Sede constante, exagerada, levando à ingestão sucessiva de líquidos.

Poliúria. Eliminação de uma grande quantidade de urina com um aumento na

freqüência urinária, comumente visto em diabetes.

Ruminação. A característica essencial do Transtorno da Ruminação consiste na

repetida regurgitação e re-mastigação de alimentos, que se desenvolve em um bebê

ou criança após um período de funcionamento normal. O alimento parcialmente

digerido é regurgitado sem náusea, esforço para vomitar, repugnância ou transtorno

gastrointestinal aparentes. O alimento é, então, ejetado da boca, ou, mais

comumente, mastigado e engolido de novo.