a normalidade das atividades industriais e de construção

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1 de 38 A normalidade das atividades industriais e de construção Antonio Fernando Navarro 1 Apresentação: O conceito de normalidade chega a ser abstrato, pois que depende de uma série de questões, como por exemplo: uso e costumes, civilizações, culturas dos povos, regiões de onde nasceram entre tantas outras. A normalidade também pode ser mudada, em seus conceitos diante de situações graves, como catástrofes e guerras. Por exemplo. Entrar em uma loja e roubar ou furtar um galão de água não é uma atitude normal para um povo civilizado. Entretanto, em uma situação calamitosa onde não há água para ninguém e só existe aquele galão no fundo de uma loja e o cidadão está com seus filhos com sede, passa a ser até tolerável ou atenuante. Em uma série novelesca recente, o homem poderia tirar a vida da esposa e do amante se descobrisse que sua “honra” estava sendo maculada (em uma história adaptada de Jorge Amado). Isso não era o normal, mas sim o costume da época. Assim, costumes e normalidades muitas vezes terminam por se confundir. Nas atividades envolvendo obras e indústrias, o normal, requerido e exigido, é que os trabalhadores assumam posturas seguras, já que o empregador, por precaução, não irá querer se responsabilizar por lesões causadas aos seus empregados por acidentes provocados pelo não uso de algum dispositivo de segurança. O empregador tem a seu lado uma Lei, que determina uma série de coisas, inclusive que o trabalhador esteja protegido. Contudo, a mesma Lei determina que o empregador, antes, porém, elimine os riscos. Em sendo isso impossível ou inviável, deve fornecer aos trabalhadores as proteções mais adequadas. A adequação não tem nada a ver com a similaridade. Por exemplo, quando se menciona capacetes de segurança verifica-se que existem dezenas à venda. Alguns são apropriados para aqueles que escalam montanhas, outros para os que trabalham em ambientes energizados, enfim, há modelos para cada uso. Mesmo assim, a qualidade dos materiais e da fabricação depende, resultando em custos menores ou maiores de aquisição. Na outra extremidade do processo há os que estão expostos aos riscos e que precisam ser protegidos. Quando a proteção é a adequada certamente poderá, além da proteção necessária, oferecer o conforto requerido. Quando isso não se dá o trabalhador evita utilizá-lo. E por quê isso ocorre?. 1 Antonio Fernando Navarro é Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Especialista em Gerenciamento de Riscos, Mestre em Saúde e Meio Ambiente e professor da Universidade Federal Fluminense.

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Gestão de Riscos, Gestão de Segurança, Segurança do Trabalho, OHSAS 18001

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Page 1: A normalidade das atividades industriais e de construção

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A normalidade das atividades industriais e de construção

Antonio Fernando Navarro1

Apresentação:

O conceito de normalidade chega a ser abstrato, pois que depende de uma série de

questões, como por exemplo: uso e costumes, civilizações, culturas dos povos, regiões de onde

nasceram entre tantas outras. A normalidade também pode ser mudada, em seus conceitos diante de

situações graves, como catástrofes e guerras. Por exemplo. Entrar em uma loja e roubar ou furtar

um galão de água não é uma atitude normal para um povo civilizado. Entretanto, em uma situação

calamitosa onde não há água para ninguém e só existe aquele galão no fundo de uma loja e o

cidadão está com seus filhos com sede, passa a ser até tolerável ou atenuante. Em uma série

novelesca recente, o homem poderia tirar a vida da esposa e do amante se descobrisse que sua

“honra” estava sendo maculada (em uma história adaptada de Jorge Amado). Isso não era o normal,

mas sim o costume da época. Assim, costumes e normalidades muitas vezes terminam por se

confundir.

Nas atividades envolvendo obras e indústrias, o normal, requerido e exigido, é que os

trabalhadores assumam posturas seguras, já que o empregador, por precaução, não irá querer se

responsabilizar por lesões causadas aos seus empregados por acidentes provocados pelo não uso de

algum dispositivo de segurança. O empregador tem a seu lado uma Lei, que determina uma série de

coisas, inclusive que o trabalhador esteja protegido. Contudo, a mesma Lei determina que o

empregador, antes, porém, elimine os riscos. Em sendo isso impossível ou inviável, deve fornecer

aos trabalhadores as proteções mais adequadas. A adequação não tem nada a ver com a

similaridade. Por exemplo, quando se menciona capacetes de segurança verifica-se que existem

dezenas à venda. Alguns são apropriados para aqueles que escalam montanhas, outros para os que

trabalham em ambientes energizados, enfim, há modelos para cada uso. Mesmo assim, a qualidade

dos materiais e da fabricação depende, resultando em custos menores ou maiores de aquisição. Na

outra extremidade do processo há os que estão expostos aos riscos e que precisam ser protegidos.

Quando a proteção é a adequada certamente poderá, além da proteção necessária, oferecer o

conforto requerido. Quando isso não se dá o trabalhador evita utilizá-lo. E por quê isso ocorre?.

1 Antonio Fernando Navarro é Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho,

Especialista em Gerenciamento de Riscos, Mestre em Saúde e Meio Ambiente e professor da Universidade Federal Fluminense.

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Outra questão que surge é a da natural intransigência ao emprego dos dispositivos de proteção

porque acreditam que o “seu saber” já é suficiente para protegê-los. Assim, cabe a questão:

trabalhar sem as proteções requeridas será algo normal?

Introdução:

A ideia de se escrever sobre o tema surgiu ao acompanhar-se a evolução de uma obra

destinada para fins educacionais, caracterizada por prédio de cinco andares, com salas de aulas e

outros ambientes, durante a qual se teve a oportunidade de avaliar ou presumirem-se os

comportamentos de riscos, assumidos pelos trabalhadores durante várias fases do empreendimento

e, em momentos distintos, onde se percebia que eles, os atores principais da peça, os empregados

(encarregados, pedreiros, carpinteiros, armadores, eletricistas) não demonstravam quaisquer

preocupações para com suas vidas.

Idêntico a um filme, a sequência dessas avaliações passou a conduzir o pensamento para

o lado comportamental do trabalhador. Como a observação era à distância, “sentados em uma

poltrona” passamos a observar e fotografar os cenários, daqui para frente denominados de

“momentos” (onde os trabalhadores assumiam posturas totalmente opostas ao bom senso ou ao

instinto básico de preservação da vida, e mesmo à tão esperada normalidade).

O interessante disso tudo é que a mesma pessoa avaliada (clicada pela lente da máquina

fotográfica) assumia comportamentos que passavam do normal ao anormal ou bizarro ao longo do

dia ou dos dias. Assim, porque não se questionar esses momentos?

O mais difícil, contudo, foi um engenheiro começar a verificar que seus conhecimentos

tão necessários em uma obra passavam a ser limitados quando olhava para o trabalhador, que em

última análise era o responsável pelo andamento ou continuidade do projeto, pois que, além da

distância e da falta de vínculos com a obra, somente lhe restava incomodar constantemente o

encarregado e os engenheiros da empresa construtora relatando os episódios e apresentando as

fotografias tiradas. O interessante disso tudo é que eles reconheciam que haviam erros a serem

corrigidos, mas não implementavam quaisquer medidas para mitigar ou solucionar a questão. Em

um determinado momento chegaram a informar que se tratava de empregados de empresas

contratadas que não tinham qualquer vínculo com a construtora (SIC). Quando a empresa

construtora terceiriza um serviço não terceiriza suas obrigações. Todo o que ocorrer com um

funcionário de uma empresa terceirizada passa a ser legalmente responsabilidade da empresa

contratante, isso é previsto na responsabilidade civil in elegendo e in vigilando, ou seja,

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responsabiliza-se por haver escolhido mal e por não “vigiar” adequadamente as atividades. Se

confiamos a uma empresa de estacionamento nosso veículo e um guardador colide nosso carro

com outro naquele ambiente responde a empresa em que confiamos a guarda do veículo,

independentemente se a responsabilidade foi de um funcionário seu ou de um funcionário

contratado ou folguista.

Lembramo-nos de situações onde os responsáveis pela área de segurança do trabalho da

empresa contratante foram chamados “às barras dos tribunais” para prestar esclarecimentos de

omissão e as contratantes eram punidas por não ter em seus instrumentos contratuais cláusulas

severas que previssem, minimamente, o cumprimento das legislações trabalhistas e de segurança do

trabalho. Em muitos desses casos a contratante era responsabilizada por diligenciar mal e contratar

mal.

Análise da questão:

Quando a mão de obra disponível já é escassa, criar-se mais um “filtro” na contratação

dos trabalhadores, através da avaliação dos níveis de normalidade de cada um, não passa a ser algo

estranho? O que é mais importante? A rápida entrega da obra ou outros detalhes mais que passam a

levar em consideração a saúde, segurança, controle, qualidade do serviço executado, harmonia no

ambiente de trabalho, dentre outros temas?

Realmente, o empresário tem sua visão de negócios voltada para os aspectos

relacionados a custos e oportunidades do negócio. As questões relativas a acidentes no trabalho nem

sempre são o ponto central de discussões gerenciais. Talvez, muito menos as verdadeiras causas dos

acidentes. Tem-se conhecimento de subnotificações de acidentes aos órgãos públicos. Certamente

os acidentes graves ou fatais não relatados. Mas aqueles onde o trabalhador não perde a sua

capacidade laboral não. Por isso percebe-se nas obras trabalhadores “mancando” ou com ataduras

nas mãos, braços e pernas.

Nos tijolinhos postos lado a lado para a avaliação das causas das ocorrências de

acidentes, em sua grande maioria das vezes pressupõem-se: o acidente decorreu de um ato inseguro.

Será? Por trás desse rótulo de ato inseguro, não podem estar escondidas questões relacionadas a

comportamentos, atitudes e ações provocadas ou causadas pelo próprio ambiente do trabalho?

Um trabalhador que tem medo de altura pode ficar montando formas ou realizando

pinturas externas no décimo quinto andar de um prédio? Talvez não seja o recomendado. Mas, e se

ele for um excelente profissional?

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Durante um período de aproximadamente dez anos, entre os anos de 2000 a 2010,

tivemos a oportunidade de avaliar alguns relatos de investigação de acidentes, a maioria em

ambientes em que trabalhávamos e outros, do recebimento de documentos encaminhados por outras

áreas. Podemos afirmar que, de mais de 200 relatórios lidos somente três iam além do simples ATO

INSEGURO. Este artigo pretende repassar algumas das conclusões que tivemos e o que pudemos

avaliar até então, e a partir de então.

Formulação da situação problema

Os critérios para definir-se se uma pessoa é normal ou não são imprecisos e não

conduzem a resultados práticos, já que a normalidade pode ser um estado de espírito, uma situação

auto controlada pelo trabalhador, o resultado de um ambiente harmonioso, enfim, de inúmeros

fatores.

Em um artigo bastante interessante redigido pelo Dr. Dirceu Zorzetto Filho, sob o título

“O normal e o patológico em Psiquiatria”, publicado pela Revista Psiquiatria em 2000, obtido no

site: http://www.oocities.org/medpucpr97/psiqui/psiqui.htm. Pela adequação e pertinência do

conceito, para continuarmos nossos comentários é importante citar o comentário do douto professor

em sua íntegra, como:

[...] Existe uma longa e desgastante discussão quanto a natureza do psiquismo/mente. Uma corrente da psicologia, psicanálise e filosofia entende os fenômenos psíquicos como algo que extrapola os limites do físico e orgânico; postula que a atividade psíquica não teria uma sede, um "órgão" biológico a que estivesse vinculada. Um outro grupo (constituídos por psiquiatras de orientação biológica e neurocientistas) acredita que as funções psíquicas são expressões extremamente sofisticadas e elaboradas da atividade cerebral. Defendem a tese de que as funções psíquicas são um reflexo da função cerebral e que os circuitos neurais e os processos neuroquímicos que os mantém em permanente atividade constituem a base física das emoções e da percepção.

Normalidade Psíquica:

O conceito de normalidade psíquica é questão de grande controvérsia. Obviamente quando se trata de casos extremos, cujas alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e de longa duração, o delineamento das fronteiras entre o normal e patológico não é tão problemático. No entanto, existem situações limítrofes em que a diferença entre os comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é muito tênue. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE Há vários critérios de normalidade em medicina e em psicopatologia. A adoção de um ou outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. Apresentam-se em seguida os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia:

1. Normalidade como ausência de doença: O primeiro critério que geralmente se utiliza é o de saúde como “ausência de sintomas, de somais ou de doenças”. Lembremos aqui do velho aforismo

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médico que diz: “A saúde é o silêncio dos órgãos”. Normal, do ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, definir-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta.

2. Normalidade ideal: A normalidade aqui é tomada como certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mais “evoluído”. Tal norma depende, portanto, de critérios socioculturais e ideológicos, e, no mais das vezes, dogmáticos e doutrinários. Exemplos de tais conceitos de normalidade são aqueles baseados na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de determinada sociedade.

3. Normalidade estatística: A normalidade estatística identifica norma e frequência. É um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, quantidade de sintomas ansiosos, etc.). O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Os indivíduos que se situam, estatisticamente, fora (ou no extremo) de uma curva de distribuição normal, passam, por exemplo, a ser considerados anormais ou doentes. É um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é necessariamente “saudável”, assim como nem tudo que é raro ou infrequente é patológico. Tome-se como exemplo fenômenos como as cáries dentárias, a presbiopia, os sintomas ansiosos e depressivos leves, o uso pesado de álcool, fenômenos esses que podem ser muitos frequentes, mas que evidentemente não podem, a priori, ser considerados normais ou saudáveis.

4. Normalidade como bem estar: A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu, em 1958, a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. É um conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar físico, mental e social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”.

5. Normalidade funcional: Tal conceito irá assentar-se sobre aspectos funcionais e não necessariamente quantitativos. O fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, provoca sofrimento para o próprio indivíduo ou para seu grupo social.

6. Normalidade como processo: Neste caso, mais do que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Este conceito é particularmente útil em psiquiatria infantil e de adolescentes, assim como em psiquiatria geriátrica.

7. Normalidade subjetiva: Aqui é dada maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação ao seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas. O ponto falho deste critério é que muitos indivíduos que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de pessoas em fase maníaca, apresentam de fato um transtorno mental grave.

8. Normalidade como liberdade: Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial. Desta forma, a saúde de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais. Portanto, de modo geral, pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais trabalhamos e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional. De forma, essa é uma área da psicopatologia que exige uma postura

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permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais. Por exemplo, todos nós concordamos que o suicídio é uma atitude que exprime algum grau de anormalidade do funcionamento psíquico. Entretanto, no final da II Guerra Mundial, o piloto japonês kamikaze que jogava seu avião carregado de bombas contra navios norte-americanos era considerado um herói, um homem de extrema coragem pelos seus compatriotas. Podemos então constatar o quanto o conceito de (3) normalidade psíquica é circunstancial e não-universal: Naquela época, diante daquela situação e perante os padrões culturais japoneses, o suicídio do piloto kamikaze não era considerado um gesto de loucura! Ao contrário: sua atitude era julgada como um exemplo de devoção ao Imperados e abnegação pela sua pátria. Constituía um ideal ser seguido e não um distúrbio psíquico que necessitasse de tratamento psiquiátrico. Atualmente assistimos a uma mudança de posição em relação ao homossexualismo. Anteriormente definido como uma espécie de perversão (desvio) sexual, desde 1980 não faz mais parte da lista de distúrbios mentais elaborada pela Associação Americana de Psiquiatria, demonstrando o quanto determinadas opiniões a respeito dos comportamentos modificam-se durante a História. Vale lembrar que na Grécia Antiga o comportamento homossexual era bastante frequente e não causava estranheza. Comportamentos considerados "patológicos" ou "anormais" em determinadas épocas, não o são em outras, evidenciando que normalidade psíquica é também um conceito transitório e não permanente. Dentro de uma mesma época e de uma mesma cultura, existem divergências quanto ao que pode ser considerado anormal. Por exemplo, qual o limite entre o fazer uso social de bebidas alcoólicas e se tornar um alcoolista ou um bebedor-problema? Qual a tolerância , em relação ao consumo de drogas, na Jamaica e no Irã? Se formos examinar os critérios e limites que separam uma condição da outra veremos o quanto eles podem ser tênues e causar discordância entre os próprios especialistas no problema. Estamos diante de outra característica do conceito de normalidade psíquica: ele é relativo e não-absoluto. Resumindo, podemos dizer que Normalidade Psíquica é um conceito de valor (ideal), circunstancial, transitório e relativo. Reconhecer sua subjetividade e relatividade não significa que na prática todo tipo de conduta deva ser considerada como normal; nem tampouco apregoar que não existe distúrbio mental! Em épocas diversas da história da humanidade e em culturas completamente diferentes são encontrados relatos sobre pessoas que tinham comportamentos e ideias "estranhas" ou padeciam de intenso sofrimento emocional. Estes relatos quase sempre trazem associado uma ideia que explicava o que ocorria com essas pessoas e qual a melhor maneira de "tratá-las". Atualmente, a despeito de uma série de discordâncias, o conhecimento científico aponta o cérebro como o órgão diretamente relacionado ao nosso funcionamento psíquico. Reconhece-se a importância das condições e contradições sociais que eclodem com intensidade insuportável para o indivíduo (principalmente em nosso país). Além disso, concorda-se que as primeiras vivências do bebê e sua interação com a mãe, seu desenvolvimento psicossexual e os acontecimentos significativos na sua história de vida possam contribuir para a formação de problemas de ordem psíquica. Entretanto, é o cérebro quem vai intermediar as relações de todos esses fatores com o nosso corpo.

Conceito de Saúde Mental

Embora a expressão "Saúde Mental' possa ter significados diferentes para diferentes pessoas, a autoestima e a capacidade de estabelecer relações afetivas com outras pessoas são componentes importantes da saúde mental universalmente aceitos. Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que não são perfeitas nem podem ser tudo para todos. Elas vivenciam uma vasta gama de emoções que incluem tristeza, raiva e frustração, assim como alegria, amor e satisfação. São capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida cotidiana, mas também sabem procurar ajuda quando têm dificuldades em lidar com traumas e períodos de transição importantes: perda de pessoas queridas, dificuldades conjugais, problemas escolares e profissionais ou a perspectiva da aposentadoria. Karl Menninger, um eminente psiquiatra norte-

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americano, diz que "saúde mental é a adaptação do homem ao mundo e aos demais homens com um máximo de eficácia e felicidade". O conceito de Saúde Mental implica na existência de:

1) capacidade funcional e produtiva preservada;

2) estado de equilíbrio do indivíduo consigo mesmo e com outras pessoas com quem se relaciona;

3) adaptação criativa (não uma aceitação passiva) ao meio em que vive.

O que é um "distúrbio mental"? Em 1980, um grupo composto por vários pesquisadores e psiquiatras clínicos, apresentou seu relatório final de um grande projeto para a elaboração de um novo manual para o diagnóstico de distúrbios mentais, conhecido como DSM-III (sigla que significa a terceira versão do Manual de Estatística e Diagnóstico dos Distúrbios Mentais, promovido pela Associação Americana de Psiquiatria). Segundo este manual, atualmente na sua 4ª edição (DSM-IV), Distúrbio Mental é definido como "uma síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente significativo que ocorre numa pessoa e está associado com a presença de mal-estar e incapacidade; com um aumento significativo do risco de vida, dor, incapacidade ou uma importante perda de liberdade. Esta síndrome ou padrão não deve ser meramente uma resposta esperável para um evento particular (por exemplo: morte de um ser querido). Nenhum comportamento desviante, isto é, político, religioso ou social, nem conflitos entre o indivíduo e a sociedade são distúrbios mentais, a não ser que o conflito ou o desvio seja um sintoma de uma disfunção da pessoa". Brendan Maher assinala três critérios que permitem considerar uma conduta como patológica e necessitada de ajuda terapêutica. Esses critérios implicariam na existência de:

1) Angústia pessoal intensa: a pessoa sofre um intenso e desagradável desconforto emocional, insatisfação com sua vida e sofrimento emocional subjetivo que a leva a solicitar ajuda especializada;

2) Condutas incapacitantes: atitudes que prejudicam o desenvolvimento das potencialidades do indivíduo e comprometem seu desempenho pessoal, profissional e social, tais como o comportamento dependente, passivo, agressivo e fóbico. Estes comportamentos acabam levando a uma maior ou menor incapacitação no desempenho de uma tarefa ou obrigação;

3) Contato deficiente com a realidade: caracteriza-se pela compreensão distorcida da realidade socialmente compartilhada, levando a procedimentos inadequados e às vezes perigosos para o indivíduo ou para outras pessoas. Alguns desses comportamentos são motivados por crenças falsas, delírios, alucinações auditivas e visuais e por interpretações errôneas dos acontecimentos.

Tendências futuras

O fato de uma determinada condição comportamental ser vista ou não como doença ocorre em função de muitos fatores: econômicos, sociais, biológicos, etc. À medida que uma sociedade aprimora sua educação, torna-se mais informada e mais estável, as incapacidades (mecanismos adaptativos perturbados) deixam de ser considerados como problemas morais, teológicos ou sociais e se tornam problemas médicos. Muitas condições que hoje consideramos doença passaram por essa transição: epilepsia, mania e várias psicoses. Mudanças similares podem, atualmente, estar tendo lugar em relação ao alcoolismo, dependência às drogas, delinquência, comportamentos violentos, impulsividade e criminalidade. [...]

Há que se cobrar normalidade de um trabalhador que esteja prestes a inspecionar uma

fundação a 15 metros de profundidade sem que ele próprio se dê conta dos riscos a que estará

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exposto ou tenha sido adequadamente notificado e se encontre protegido para o exercício da

atividade? Ainda pode se cobrar um comportamento normal de uma pessoa que nunca andou de

avião e irá ser lançada de um parapente, acompanhada por um instrutor? Talvez os exemplos sejam

absurdos e talvez estejamos confundindo normalidade com ansiedade, medo, angustia, ou mais.

Especialmente nas atividades laborais mister de faz destacar para o trabalhador todos os riscos a que

ele estará exposto e fornecer os equipamentos ou dispositivos de segurança, ensinando-o a emprega-

los. Se olharmos ao nosso redor, nas cidades em que residimos, iremos perceber “muitas coisas

erradas”, como por exemplo: a patroa que pede à sua empregada para limpar as janelas do

apartamento no 18º andar. Um dos casos bizarros que tivemos conhecimento foi o de uma

empregada doméstica que estava concluindo um curso de técnica de segurança do trabalho e que

propôs à sua patroa limpar os vidros da janela de um apartamento no 14º andar. A patroa relutou e a

empregada disse que estava habilitada e que tinha um cinto de segurança e o prenderia no “varal”

da cortina da janela. Felizmente a patroa não concordou com tamanha insanidade. Mas, não há

tantas patroas assim com essa percepção.

Os exemplos de guerreiros indo à guerra em condições normais não existem, ou talvez

somente em revista de quadrinhos, o velho e antigo Gibi, quando então os super-heróis não tinham

medo de nada. O medo, palavra tão temida, é importante para nós e nos faz refletir, ousar menos,

compreender mais, arriscar menos, perceber mais claramente. O medo nos chama a atenção para o

perigo. Assim, dizer que uma pessoa não é normal só porque não tem medo passa a ser uma falácia.

Nos filmes que tratam da guerra no Vietnam, com o exército americano, via-se que

muitos dos soldados recorriam às drogas para não se abaterem nas frentes de batalha. Infelizmente,

o ambiente somado ao uso contínuo de drogas deixou para trás uma legião de pessoas doentes.

Em um dos relatos de investigação de acidentes no trabalho apontados entre os três,

dentro de um universo de 200, como mencionado anteriormente, chamou-nos a atenção aquele onde

o trabalhador, preocupado com sua própria segurança na execução de um serviço ousou ter medo

dos resultados ou das consequências de sua exposição. Pressionado pelo Encarregado, também dito

Feitor, em muitas obras, ou Capataz, ou Mestre de Obra, realizou a tarefa e sofreu o acidente tão

temido. Nas análises não se pôs em cheque a palavra do Capataz, antigo na empresa, mas sim na do

empregado recém-admitido. Ou seja, alguém tinha de ser o culpado e para isso apontaram o dedo

para o empregado. Fácil, não?

Em outro relato um eletricista sofreu um acidente ao executar uma solda em emendas de

cabos de cobre de aterramento. A pólvora estava úmida, o trabalhador portava luvas de couro

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também úmidas e acendeu o dispositivo de solda com um isqueiro comum. O resultado foi que a

pólvora inflamou-se na luva do trabalhador e provocou queimaduras de segundo grau no polegar da

mão direita. O trabalhador com medo de represálias não comunicou o fato a seu encarregado. Com

a cumplicidade de seus colegas conseguiu ficar por um tempo no almoxarifado, até que a ferida

cicatrizou, retornando a suas atividades então. O trabalhador sabia que a pólvora estava úmida.

Sabia que suas luvas estavam úmidas, pois o tempo estava chuvoso havia dois dias. Também sabia

que não podia utilizar o isqueiro de acender cigarros. Aliás, naquele local era proibido portarem-se

isqueiros. Será isso tudo fruto de coincidências? O empregado lesionado, com mais de 15 anos de

experiência agiu como uma pessoa normal? Será que para a empresa era normal o descuido com a

pólvora a ponto de essa ficar úmida pela umidade do ar?

Em um terceiro caso um trabalhador, a pedido de seu encarregado, foi concluir o

fechamento de uma forma para a concretagem que iria ocorrer de tarde. Sozinho, pois estava em

horário de almoço, e com a promessa de que ele poderia ir embora de tarde, subiu na terceira laje e

iniciou suas atividades, às pressas. Quando se aproximou da forma, na primeira martelada essa saiu

de sua posição, pois não havia sido fixada ao piso ou escorada, tombou sobre o trabalhador e o

derrubou dois andares abaixo.

O grupo de fotografias a seguir e todas do arquivo pessoal de AFANP, ilustram

situações de riscos onde podemos nos perguntar: isso é normal? Esse cara é normal?

O operário orienta o operador do guindaste que descarrega as ferragens sobre a laje. Mesmo sabendo dos riscos de ser perfurado por uma ferragem com o balaço acidental da carga segura as extremidades dos ferros com as mãos, em uma atitude relapsa. A justificativa era a de que não havia tempo para que o trabalhador se protegesse.

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Em outra concretagem os trabalhadores executam suas atividades nas proximidades da borda da laje sem nenhuma preocupação para com sua segurança. Para eles essa é uma atividade normal. A chefia não utiliza os EPIs. Assim, por que eles terão que fazê-lo? A justificativa era a de que os empregados já estavam acostumados a esse tipo de serviço.

O operário controla remotamente a movimentação da lança do guindaste, posicionado sob a mesma. Talvez seu tempo de exercício dessa atividade e o fato de não ter sofrido acidentes faça com que se sinta tão à vontade em uma atividade de risco. A justificativa era a de que as ferragens já deveriam ter sido posicionadas no dia anterior, pois que a concretagem estava prevista para o dia seguinte.

O carpinteiro, ao repregar a forma assume uma postura confortável, mas insegura. Para ele, os riscos de sofrer acidentes são “nenhum”, ou seja, sente-se seguro daquela forma. A justificativa,

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além de o carpinteiro ter mais de 20 anos de experiência era o fato de que se tratava de um trabalho rápido.

O encarregado das atividades resolve “prosear” com os colegas. Observe-se que apesar de estar com os EPIs não os emprega corretamente. Além disso, demonstra grande segurança ao apoiar seu corpo na extremidade de uma ferragem. A justificativa apresentada era a de que se tratava de uma conversa rápida e não haveria a necessidade de se fixar o talabarte do cinto em nenhum lugar, já que não havia uma “linha de vida”.

Esse grupo de empregados ajusta uma forma de pilar verificando o prumo. Percebe-se que todos os envolvidos estão atentos às suas tarefas. Porém, nenhum deles está preocupado com sua segurança e nem com a segurança dos companheiros. O maior exemplo é o do colega, observando que o companheiro encontra-se em pé sobre uma ferragem e com as mãos ocupadas com o prumo não está seguro quanto à sua vida. As madeiras utilizadas nos escoramentos são improvisadas e o apoio do trabalhador é improvisado, pois que está sobre a ferragem. O excesso de confiança e o fato de existirem outras pessoas próximas fazem com que os trabalhadores se “sintam” mais seguros. A justificativa era a de que a betoneira com sua carga de concreto iria chegar a um par de horas.

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Em um beiral de uma edificação foi posicionado um estrado improvisado de madeira para que o trabalhador pudesse concluir o rejunte das pastilhas de revestimento das paredes externas. Além disso, o trabalhador iria utilizar também uma furadeira elétrica, já posicionada na plataforma de trabalho. O elemento de proteção do trabalhador era constituído por toras de eucalipto entrecruzadas, presas entre si por um prego. De trechos em trechos eram presas à platibanda por arames de aço. Por entre os vãos da estrutura os trabalhadores poderiam cair, já que não havia tema de proteção. A justificativa para isso tudo, além de ser uma equipe contratada para o acabamento era a de que não existia mais tempo para corrigirem-se os problemas das estruturas de segurança.

Encarregado vistoriando as atividades sem ter a mínima preocupação para com sua segurança e sem se preocupar também em repassar a seus subordinados os cuidados a atenção para o uso dos equipamentos de proteção individual. A justificativa era a de que o encarregado sabia o que fazia e estava ali para “dar uma força” a seus colegas.

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Encarregado orientando a concretagem de uma viga. Sua preocupação no momento está voltada a uma comunicação com o engenheiro da obra. Naquele instante não se preocupava com sua própria segurança e nem da de seus subordinados, que também somente se preocupavam com a utilização da “agulha do vibrador do concreto”. A justificativa – o tempo de concretagem e a necessidade de se concretarem outras vigas, apesar da proximidade do entardecer.

Este carpinteiro, preocupado com a qualidade de seu serviço, de joelho sobre uma tábua de não mais do que quinze centímetros, prepara os últimos detalhes para a conclusão de sua tarefa. Nesse momento não passa por sua cabeça nada que diga respeito à sua própria segurança, que impeça de cair oito metros abaixo. A justificativa, a experiência do trabalhador e sua confiança em sí mesmo.

Pela análise das fotografias anteriores alguém diria: nessa empresa não há

procedimentos. Também, nessa empresa não há encarregados. Ou então, nessa empresa não há

fiscalização. Estas fotografias bem podem estar ilustrando situações que ocorrem em todo o Brasil,

fruto de inúmeros fatores que não cabem ser discutidos aqui. As justificativas apresentadas foram

dadas pelas próprias pessoas que foram entrevistadas. O que de comum surge é que o trabalhador

experiente confia tanto na qualidade de seu serviço que não se preocupa com sua própria segurança.

Muitos ainda dizem que usar os dispositivos de segurança mais atrapalha do que ajudam. Outros

dizem que os EPIs não servem para nada, já que nunca aconteceu nada com eles. Essa sensação de

“completa proteção” ou de nada poderá ocorrer com eles deixa de ser algo normal, em uma empresa

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ajustada às normas de segurança e cumpridora das leis, em contraposição àquelas empresas que

valorizam a produtividade, mesmo que a qualquer custo.

No meio de uma rua com uma movimentação de pedestres intensa conseguimos flagrar a

situação a seguir, onde um trabalhador monta um andaime. Isso na “vista” de todos os passantes.

Quando apontamos a máquina fotográfica em sua direção ele apenas sorriu.

A análise dos acidentes ocorridos em uma organização possibilita a identificação de uma

série de fatores, alguns construtivos para o processo de segurança e outros destrutivos. Esses fatores

estão continuamente interagindo entre si. Quando construtivos percebe-se uma sinergia de ações, do

tipo “casos de sucesso”, estado da arte, benchmarking, aplicados ao empreendimento. Quando há

em um dos lados um fator que não seja construtivo o resultado final pode ser o mais diverso

possível, quase sempre se materializando através de um acidente, ou de uma situação com potencial

para tal.

A ilustração a seguir centraliza a organização como um todo, ladeada pelo ambiente

onde são realizadas as atividades representado por todos os trabalhadores. Sob esses se encontram

listados alguns fatores construtivos ou destrutivos ao processo de harmonização do meio ambiente

do trabalho, harmonia essa que permite o aumento da produtividade, eficiência, redução de

acidentes, pessoais, ambientais ou patrimoniais.

Em conjunto com os demais fatores pontuados, percebe-se que esses podem ser

posicionados como dominós enfileirados. Quando um deles cai todos os demais tendem a cair,

pondo a perder todo um trabalho desenvolvido. É certo que a Organização é ladeada pelo ambiente

onde se encontra inserida e pelo “homem”, representando sua força de trabalho. Não se consegue

perceber uma organização sem a inserção de sua força de trabalho. A interação entre essas é grande,

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já que as culturas da organização permeiam a força de trabalho e o contrário se verificando. O ideal

é quando ocorre a sinergia de ações, pois o resultado final tende a ser o Sucesso.

• Atividades;

• Estratégias;

• Contratos;

• Recursos;

• Insumos;

• Fatores climáticos;

• Prazos;

• Organização do trabalho;

• Espaços e ambientes;

• Organização da produção;

• Lógicas de trabalho;

• Fatores normativos;

• Referências.

• Capacitações;

• Percepções;

• Habilidades;

• Fatores estressores;

• Supervisões;

• Medos;

• Culturas;

• Ansiedades;

• Comportamentos esperados;

• Condicionamentos;

• Estresses;

• Relações de poder;

• Adequação do homem ao meio;

• Conceitos;

• Usos e costumes;

• Referências.

Fatores construtivos e destrutivos existentes em uma organização que impactam no equilíbrio

ambiente versus Ser Humano (AFANP)

Não deve haver dúvidas de que as capacitações, habilidades, culturas e referências, aqui

tomadas como algo claramente visível e mensurável, que se pode comparar com produtividade,

desempenho e outros, são fatos que, quando bem administrados “conduzem” a empresa rumo ao

sucesso. Um aspecto negativo relacionado às “relações de poder”, como de chefias que não sabem

lidar com os seus subordinados, pode ser negativa no ambiente de trabalho, comprometendo

seriamente as relações empregado-chefia.

Enquanto o vínculo e os interesses dos empregados são fortes, como por exemplo, a

manutenção da empregabilidade, salários acima da média do mercado, proximidade da conclusão de

um projeto, “toleram-se” as relações. Contudo, se por alguma razão perdem-se esses vínculos ou

são eles enfraquecidos, as relações de poder passam a ser um elemento bastante pernicioso,

terminando por minar as relações. O resultado final pode ser o mais inesperado possível, inclusive

com a manifestação de acidentes. Ou seja, está se pontuando o acidente, como pior ocorrência em

ambas as situações para ilustrar o poder que esse tem sobre uma empresa, com reflexos muito além

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do imaginado. Está se falando em perdas de oportunidades de contratos, multas ou penalizações,

interdições, indenizações, danos à imagem da organização e por aí segue.

Um acidente, seja esse pessoal, ambiental ou patrimonial, alavanca negativamente o

nome da organização em todas as mídias e, com isso, traz para a empresa todo tipo de fiscalização.

E, o que é pior, pode não representar a atuação normal da empresa, mas tão somente um momento

“ruim”, ou seja, é um aspecto pontual, mas que deixa sequelas algumas vezes irreversíveis.

Outro ponto bastante interessante é o que diz respeito a adequação do homem ao meio

de trabalho. Essa desarmonia não propicia a integração do trabalhador com as suas tarefas, com a

organização, colegas ou chefias. Como resultados costumam surgir: ansiedades ou medos,

desatenção, falta de motivação ou outras consequências. Assim, nota-se que alguns fatores

apresentados podem ser resultantes do desencadeamento de quaisquer dos outros fatores. Ou seja,

as relações passam a ser bastante complexas e uma análise direcionada não possibilita que se

compreendam como o homem (trabalhador) se relaciona com a organização e vice-versa em um

exíguo espaço denominado ambiente de trabalho.

Desta maneira, abordam-se os fatores nem sempre objeto das atenções, que podem

afetar o desempenho ou performance dos trabalhadores, podendo ser causa de acidentes.

Formulação da situação problema:

Pode parecer utópico mencionar-se a possibilidade de se evitar um acidente de trabalho

através da identificação precoce das aptidões dos trabalhadores, harmonia do ambiente de trabalho,

tudo associado a um planejamento das atividades e do projeto. No centro de toda a questão, que, em

essência, é quem materializa os projetos, encontra-se o Homem, com suas limitações, medos e

receios, enfim, como o elo fraco da corrente.

Também se tem certeza de que muito pouco foi feito para que as análises das

ocorrências dos acidentes pudessem vir a se transformar em mais uma ferramenta de gestão. Se em

uma obra ocorreu um acidente com essas características será que ele não pode vir a se repetir em

outras? Ao acreditarmos nessa hipótese realmente estaremos dando largos passos adiante para

reduzir o nível ou quantidade de acidentes.

A avaliação dos níveis de normalidade do trabalhador, principalmente nos exames a que

são submetidos, admissionais e periódicos muito pouco contribuem para identificar-se esse elo

fraco. Como já dissemos, o turnover elevado das obras, provocado pela baixa qualificação e

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empregos fartos faz com que as empresas não busquem melhor capacitar sua mão de obra e os

trabalhadores não demonstram ter tanta preocupação com o seu nível de conhecimento, pois que, se

não o contratam naquela obra ele irá trabalhar em outra que não se preocupe com essa “bobagem”

de capacitação.

Há exceções em atividades críticas como, por exemplo, na contratação de operador de

carregador de container em portos, ou de pontes rolantes, também na operação de guindastes de

grandes proporções e capacidade. Como a muito que se perder nessas atividades, talvez valha a

pena investir-se mais e pesquisar o aspecto comportamental, psicológico do trabalhador.

Hoje em dia tem-se relato do uso de drogas lícitas ou não em muitas obras. Não de deve

esquecer que há um contingente de pessoas da ordem de 15% da população envolvida com drogas,

em maior ou menor grau. Se acrescentarmos as chamadas drogas lícitas, como o álcool e as

medicações o percentual aumenta. Se esse percentual existe na sociedade como um todo, porque

não em uma obra, que de certa forma representa uma pequenina porção dessa mesma sociedade,

mudando-se apenas o aspecto tecnológico e de conhecimento específico? Além disso, grandes

contingentes de pessoas tecnicamente despreparadas ingressam no mercado da construção todos os

dias, mão de obra disponível, barata e imediata.

A VISÃO HUMANA DO ACIDENTE

Quase sempre quando se avaliam as questões humanas nos acidentes procura-se analisar

de que forma essa se deu. Para isso, existem ferramentas de análise preventiva e corretiva dos riscos

e aquelas utilizadas no diagnóstico das causas e efeitos dos acidentes. A empresa americana E. I. du

Pont de Neumurs and Company (DUPONT), com mais de 200 anos de fundação e atuando

fortemente em atividades industriais e na disseminação de uma cultura de SMS,desenvolveu a mais

de meia década uma série de análises procurando associar ou mesmo correlacionar o envolvimento

do ser humano nos acidentes. Nesses estudos baseou-se em pesquisas de Frank Bird, que estruturou

uma pirâmide com quatro níveis de ocorrências, na qual o topo era ocupado pelo acidente principal

– morte e os demais níveis para atos, fatos ou situações que conduziam ou poderiam conduzir a

acidentes fatais. A expertise da du Pont conjugada à visão pragmática de Bird, que em seus estudos

analisou milhares de ocorrências, produziu uma nova pirâmide, denominada de Pirâmide de

Desvios, representada a seguir.

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Representação esquemática da pirâmide de desvios (adaptação de AFANP)

Em outra análise estabeleceram o percentual relativo à participação humana nos

acidentes, chegando ao seguinte resultado:

Na análise a participação do homem é expressiva. Voltando-se à pirâmide anterior (du

Pont), para a imediata redução dos desvios, e, por conseguinte, a eliminação dos eventos maiores ou

de topo, deve-se atuar através de medidas pró-ativas no envolvimento do ser humano, agora,

personagem central do tema, sabendo-se de antemão que os 4% para causas ambientais, podem ter

como contributo o próprio homem. Ora, com uma participação tão expressiva assim a questão da

resiliência sempre é suscitada. Por mais que se invistam nas condições ambientais do trabalho,

através de métodos como “5S” e políticas de housekeeping, esse esforço está voltado para apenas

4% das causas.

Toda essa nova visão possibilitou tratar o acidente não mais de maneira amadorística e

sim profissional. Efetivamente ocorreu uma redução da quantidade de acidentes em ambientes onde

se passou a ter uma visão pró-ativa no tocante a ocorrências de acidentes, e não mais reativas. Isso

quer dizer que se mudou o modo de ver as coisas. Ao invés de lamentarem-se as perdas passou-se a

evitar que as mesmas ocorressem. Entretanto, um dos aspectos relevantes é a visão humanista.

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Como o elo frágil é decorrente da ação humana, porque não investir-se mais no aspecto

comportamental, que, de certa maneira, nunca foi totalmente explorado?

Tivemos a oportunidade de acompanhar inúmeros exames admissionais onde os

trabalhadores omitiam sintomas, doenças, uso contínuo de medicamentos, etc.. Um dos casos mais

impressionantes foi o de um trabalhador que durante a semana anterior ao exame admissional

reduziu drasticamente a alimentação para diminuir os níveis de colesterol e de glicemia. Em outro

caso, um trabalhador de tinha “pressão alta”, auto-medicou-se com remédio de seu colega para não

ser flagrado como hipertenso, já que o contrato de trabalho exigia duas avaliações de pressão

arterial por dia, para a execução de atividades em altura.

Algumas análises transversais de tudo o quanto tem sido publicado na última década, e

as experiências dos profissionais de segurança do trabalho apontam como causa-raiz para a

ocorrência de acidentes que possam ser atribuídos ao Ato Inseguro, traduzido por:

• Angústias;

• Ansiedade;

• Compulsões;

• Culpas;

• Doenças;

• Fatores ambientais, genéticos ou traumáticos;

• Fobias;

• Hábitos;

• Histerias;

• Humor;

• Manias e medos;

• Rotinas e ritmos de trabalho;

• Stress;

• Transtornos diversos (comportamentais, de pânico, de personalidade, obsessivos compulsivos, etc.);

• Traumas físico, emocionais, psicológicos, entre outros;

• Uso contínuo de medicamentos ou drogas.

Como podem esses fatores desencadear um desequilíbrio emocional que possibilite que

o trabalhador se acidente? Estudos realizados em indústrias demonstram que o stress contínuo,

pressões para que seja concluída a tarefa ou reduções de custo, inclusive com a possibilidade de

demissões coletivas podem ser fatores que rompem o equilíbrio emocional dos trabalhadores.

Inúmeros são os processos de motivação de pessoas e mesmo animais, empregados de

acordo com as espécies e os fins a que se propõem. Há motivações, ou a criação de climas

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motivacionais para a guerra, como os kamikazes japoneses que lançavam seus aviões lotados de

munição contra os navios americanos, ou os terroristas que se auto explodem com enormes cargas

de dinamite para atingir populações ou prédios públicos, motivações para a paz, como Gandhi,

motivações para o trabalho e mesmo motivações para uma partida de futebol.

O trabalhador pode ter ou não uma adequada percepção de que se realizar suas

atividades seguindo orientações pré-estabelecidas pode alcançar como resultado, a conclusão de

suas tarefas, sem ter sofrido acidentes. Qual será esse tipo de estímulo ou motivação? Poderá o

trabalhador buscar alterar suas rotinas, conceitos e métodos para atingir alvos os quais não são

perfeitamente identificados? Suas boas práticas interessam à empresa e serão reproduzidas? Ele

ganhará algo com isso ou será considerado “o estranho” da obra, aquele que cobre EPIs de boa

qualidade ou que se recusa a iniciar um trabalho se não tiverem dito a ele quais serão os riscos da

tarefa? Ele estará errado? Ele será por acaso o estranho ou anormal? Para muitos a resposta será

SIM, ele é o “diferente” e termina contaminando seus colegas com suas opiniões “políticas ou

sindicais”. Aqui um parêntese: na grande maioria dos acordos sindicais não se propõem melhores

condições de segurança e EPIs adequados ao uso. Infelizmente essas questões não “engordam o

bolso de ninguém.

Deve-se estabelecer como premissa que se reconhece que os estímulos somente devem

ocorrer quando a cultura das pessoas ainda não é suficientemente estruturada para que essas possam

espontaneamente realizar suas tarefas de maneira segura sem que seja necessário nenhum tipo de

estímulo, incluindo-se aqui um dos mais importantes: “o muito obrigado”. Não se deve generalizar

que as premiações devam ser eleitas como prioritárias em detrimento das obrigações dos

trabalhadores, aqui implicitamente denominados “valores”. Devolver-se uma carteira de dinheiro

recheada de dinheiro não é razão para premiações, pois se trata de uma obrigação. Mas o

desenvolvimento de uma ferramenta de trabalho adequada que elimine a causa de tantos acidentes

deve ser premiada.

Nas atividades de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS), inúmeras são as

obrigações estabelecidas para os trabalhadores, para que cumpram com segurança suas atividades.

Antes de tudo, devem conhecer os procedimentos, processos, estar inteirados de suas obrigações,

entre outros. Porém, mesmo que saibam efetivamente todas essas questões, em alguns momentos, e

sob determinadas circunstâncias, ficam mais expostos a serem vitimados por acidentes. São os

fatores estressores, o ambiente, falhas ocorridas com os equipamentos, eventuais distrações pelos

motivos mais variados possíveis, e mesmo por razões intencionais, algumas vezes motivadas mais

por insatisfações pessoais do que pela simples intenção de descumprir as ordens recebidas. Neste

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caso estar-se-á falando de orientações recebidas, de abordagens feitas pela fiscalização da empresa,

entre outras causas.2

Retornando ao ponto central da questão, muitas vezes ouve-se dizer: Será que Fulano é

normal? O que é ser normal? Em um mundo globalizado, que exige cada vez mais de todos o que é

ser normal? Os comportamentos bizarros podem ser considerados dentro de um padrão de

normalidade? Os comportamentos tímidos ou agressivos podem ser normais ou dentro de padrões

de normalidade? Será que existe padrão de normalidade para enquadrarem-se pessoas? Como por

exemplo: do lado direito ficam os normais, do lado esquerdo os anormais, à frente os quase

normais, e assim segue. Ainda agora, nas coberturas jornalísticas do Rock in Rio, as pessoas

assumiam atitudes consideradas bizarras fora daquele ambiente. Meninas chorando ao verem seus

ídolos, rapazes empolgados com o ritmo mais intenso das guitarras. Tudo isso é normal? Será

normal alguém chorar ao ver um animal atropelado ou uma linda flor desabrochando? Seguindo

essa linha percebem-se vieses do que chamamos de normalidade com as emoções mais fortes das

pessoas. A pessoa é normal, mas em sua ternura chora ao ver uma flor linda.

O costume é rotular-se alguém com um determinado tipo de transtorno, que possa estar

associado ao comportamento do indivíduo. Assim, há os neuróticos, os esquizoides, os paranoicos,

e, quando a sapiência vai além, há sub-rótulos. O importante, entretanto, é que o ambiente, as

condições e formas com que trabalham, termina por moldar os trabalhadores, quase que os

encaixando em personalidades que não correspondem às personalidades de cada um.

Figurativamente seria o mesmo que fornecer ao trabalhador um uniforme tamanho 40, quando ele

só pode usar o tamanho 50. Ou sobra trabalhador ou sobra uniforme. Ou o trabalhador possui mais

cultura específica do que a organização u o contrário. Nessa troca, todos saem perdendo, já que um

não se adaptará ao outro.

Sabe-se que a personalidade de uma pessoa pode ser moldada e mudada de acordo com

o ambiente social em que o trabalhador se encontra, ou seja, produto do meio. Em obras, como dito,

onde a rotatividade é elevada ou as chefias mudam de acordo com as alterações do projeto, não há

tempo suficiente para que se dê essa mudança. Assim, a “personalidade” momentânea, no canteiro

de obras, não é verdadeira.

Diz-se que o preso assume nova personalidade ao ingressar na prisão e que, se assim não

o fizer talvez não chegue a cumprir o final da pena, com vida ou ainda sendo “macho”.

2 Navarro: Mudando culturas de SMS: prevenção, motivação ou sinergia de ações?

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O ser humano, como apresentado anteriormente, é responsável por mais de 95% das

ocorrências de acidentes. Também foi dito que quando há uma enorme quantidade de desvios há

maior probabilidade de ocorrência de acidentes fatais, já que os desvios formam a base da pirâmide

onde em seu topo há o acidente fatal. Dito isso, resta-nos saber como o homem se envolve em um

acidente. Se a organização não motiva adequadamente os trabalhadores ou não gestiona as ações

preventivas com ênfase necessária, como por exemplo, o foco prioritário na entrega da obra ou o

compromisso com o cumprimento dos prazos em detrimento da segurança pessoal, talvez os

trabalhadores não se sintam motivados o suficiente para romper as barreiras necessárias e abraçar a

causa da prevenção de acidentes, em seus próprios benefícios.

Afora isso, empresas que apresentam grande rotatividade da mão de obra,

principalmente aquelas com atividades de construção civil, não têm tempo suficiente para criar uma

cultura própria e possibilitar que os seus empregados tenham a condição de assimilá-la e pô-las em

prática. Há que se considerar também que existe uma confusão, não generalizada, sobre questões

como: fatores estressores no ambiente de trabalho, estresse, ansiedade, medo, resiliência e outros

temas correlatos, que terminam por associá-los de modo equivocado. Essa interpretação de

conceitos muitas vezes mascara a questão da prevenção de riscos.

A ANSIEDADE:

A ansiedade quase sempre está associada a expectativas, para as quais podemos não

estar preparados. Há ansiedades crônicas, doentias, provocadas pela insegurança ou outras causas.

O profissional que irá ser certificado em suas atribuições e que precisa ser bem avaliado certamente

ficará ansioso antes da realização do teste. O estudante nas vésperas do vestibular também tende a

ficar ansioso. O criminoso que será confrontado com o polígrafo também fica ansioso. A pessoa

com transtorno mental e em tratamento, cujo medicamento foi atrasado fica ansiosa. Ansiedade e

medo são formas mais intensas de se demonstrar uma preocupação. O medo está na interface do

mundo exterior com o mundo interior. Exteriormente, começa pela consciência de fatores de risco

que variam fora do controle da pessoa.

Conforme MOTTA (2002), apud al, os sintomas mais comuns de ansiedade e medo se

refletem nas tendências especificadas a seguir. Além dos sintomas físicos, a ansiedade produz

tendência a:

a) Sensibilidade excessiva.

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A pessoa adquire maior dificuldade em modular emoções e se importuna facilmente

com eventos específicos, sobretudo os que lembram dificuldades anteriores.

b) Maximização de problemas e concentração nos fatores negativos.

A ansiedade perturba o funcionamento normal da mente, gerando comportamentos

inusitados e a tendência a exagerar a importância de certas situações. A convivência com situações

ameaçadoras enfatiza a consciência sobre fatores negativos: a pessoa tende a perceber qualquer

pequena dificuldade como um grande problema.

c) Dispersão mental e transferência da decisão.

Diante da pressão para a decisão, algumas pessoas vêm reduzidas suas habilidades de

compreender e julgar eventos. Adquirem uma inibição de pensar, de raciocinar sobre situações

problemáticas e, mesmo, de manter atenções afetivas com os colegas. Intensificam o desejo de

escapar da situação, concentrando-se em outras tarefas ou transferindo e adiando decisões.

d) Comunicações irrealistas: o incremento da conversa consigo próprio.

Gerentes tendem a ruminar o problema ou a apresentar a si próprios uma série de

hipóteses de solução e de fracasso. Pensamentos e imagens são aos poucos montados numa lógica

por vezes negativa. Em alguns casos, associam-se fatores de medo e de risco numa sucessão de

possibilidades, até se perceber uma verdadeira catástrofe.

(...) A ansiedade alerta a pessoa e a faz agir no sentido de evitar ou safar-se do perigo.

Na realidade, é melhor alarmes falsos do que não perceber uma situação ameaçadora. Exageros

ajudam a mobilizar pessoas, mas conduzem a uma percepção mais generalizada do risco e, portanto,

a mais medo e ansiedade. (...) (Motta, 2002)

OS COMPORTAMENTOS DE SEGURANÇA

OLIVEIRA (2007) trata da questão dos comportamentos com o seguinte olhar: Em

relação aos acidentes de trabalho as estatísticas revelam a perda de 1.250 milhões de dias de

trabalho devido a problemas de saúde em geral em que, 210 milhões são devidos a acidentes de

trabalho (i.e. média de 1.3 dias por trabalhador da União Européia) e 340 milhões devido a

problemas de saúde relacionados com o trabalho (i.e. média de 2.1 dias por trabalhador da União

Européia) (Comissão Européia, 2004, p.27). A sinistralidade na Europa é de tal forma elevada (7.6

milhões de acidentes em 2001, dos quais 4.7 milhões originaram ausências ao trabalho superiores a

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três dias) que a cada cinco segundos ocorre um acidente de trabalho e a cada duas horas morre um

trabalhador vítima de acidente de trabalho, num total de 4.900 acidentes fatais em 2001, segundo a

Comissão Europeia (2004, p.31).

Um trabalhador quando experiência direta ou indiretamente uma situação de acidente de

trabalho o seu comportamento modifica, ele pode desenvolver comportamentos de risco (i.e. se

ficou ileso após o acidente, ou seja, não sofreu ferimentos) ou desenvolver comportamentos de

segurança (i.e. nos casos em que se observam consequências dos acidentes). (Oliveira e Silva,

2007).

Quadro de análise de desvios comportamentais – 2007 (AFANP)

O quadro comparativo acima, retirado das análises das auditorias comportamentais

realizadas em atividades voltadas à instalação e montagem de instalações na área de óleo e gás,

durante três meses, apresentou como contributário pelo maior número de desvios o descumprimento

das normas de procedimentos de SMS, seguido por aqueles provocados pela posição incorreta das

pessoas, expondo-se aos riscos, seguido de perto pelos desvios provocados pela falta de uso ou pelo

uso incorreto dos EPIs.

Existem diversos preditores dos comportamentos de segurança como: clima de

segurança (Neal, Griffin & Hart, 2000; Neal & Griffin, 2002); experiência de acidentes de trabalho

(e.g. Rundmo, 1996; Probst, 2004); percepção de risco (e.g. Rundmo, 1996; 2000) ou, motivação e

conhecimento de segurança (e.g. Neal, Griffin & Hart, 2000; Probst & Brubaker, 2001; Wong et al,

2005). De acordo com NEAL & GRIFFIN (2000) os comportamentos de segurança podem ser de

dois tipos diferentes: o trabalhador pode desenvolver comportamentos de segurança porque é

compelido a cumprir regras de segurança, como usar os EPIs, e neste caso referimo-nos a

complacência em segurança, ou podem ser desenvolvidos porque o trabalhador se sente motivado

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em participar voluntariamente em determinadas atividades relativas à segurança, como a

participação voluntária em simulados de segurança.

O comportamento de segurança de um trabalhador depende sempre dos conhecimentos

que este tem sobre as regras de segurança a cumprir no desempenho das suas tarefas, as aptidões

necessárias ao correto desempenho e em segurança e, sua motivação para desempenhar essas

mesmas tarefas em segurança. Um trabalhador que não tenha aptidão para desempenhar uma

determinada tarefa da forma correta, ainda que tenha o conhecimento adequado e esteja motivado

terá dificuldades acrescidas no desenvolvimento do comportamento de segurança que lhe é

solicitado ou exigido. Os comportamentos de segurança para além dos fatores individuais (atitudes,

diferenças individuais), também dependem de fatores organizacionais como o ambiente de trabalho

(e.g. clima de segurança) ou a envolvente organizacional (Neal & Griffin, 2004).

RISCO, ANSIEDADE E MEDO:

A ansiedade pode ser um fator motivador para uma ação ou não, dependendo da forma

com que seja encarada pelo ser humano, da maneira como ele lida com essa questão e do quão está

preparado para enfrentá-la. Já o medo, provoca sérias alterações em nosso comportamento, quase

sempre nos deixando esquivos de qualquer coisa com a qual possamos nos confrontar. Quando a

ansiedade provoca o medo os problemas potencializam-se. O maior temor e ansiedade são

percebidos de modo claro quando está em check o valor profissional: ser injustiçado e humilhado

como profissional ou ser publicamente julgado incompetente. Dirigentes temem a avaliação

negativa de seu desempenho, não pela sua falta de competência e de dedicação às suas tarefas, mas

por desconsideração de fatores ambientais negativos e incontroláveis. Acham que devem competir

sempre para revelar seu valor e alcançar desempenho acima da média. Revelam alta percepção de

risco sobre a manutenção ou perda de sua função ou emprego. Considera-se inseguro no cargo dada

a imprevisibilidade de fatores com os quais tem que lidar. Como os demais funcionários, receiam

contatos com chefes que têm sanções sobre seus recursos de poder e sobre o próprio emprego;

temem a demissão, mas ressaltam o medo de serem mal vistos publicamente, pela família e por

amigos fora do trabalho, como incompetentes ou de serem humilhados e injustiçados por seus

superiores. Como seus esforços dependem de uma coletividade de funcionários, eles nem sempre se

consideram culpados pelos fracassos de sua equipe, embora sejam responsabilizados por isso.

(Motta, 2002)

No sentido negativo, o risco deixa implícito o perigo de consequências adversas e sugere

o esforço gerencial para conscientizar-se de sua existência, evitá-lo ou minimizá-lo. Estar em risco é

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estar vulnerável ao acaso ou a fatores que provocam danos, independentemente de ações

individuais. Evitar o risco é tentar precaver-se contra o perigo do inesperado, do não-familiar ou do

inusitado. Quando visto como algo ruim, o risco incentiva a busca de segurança. Minimizar ou

reduzir risco são expressões que procuram dar segurança à decisão. Vista como algo positivo, a

percepção de risco:

(1) revela a coragem de arriscar apesar das adversidades;

(2) conscientiza as pessoas sobre ameaças e danos potenciais e reais à empresa; e

(3) valoriza o espírito empreendedor e de prosseguir e se aventurar em direção ao êxito.

O risco chega a fascinar algumas pessoas. Não é por acaso que dirigentes se vangloriam

de sua capacidade de correr riscos. Muitas vezes, exageram a inexistência de dados ou sua

inexatidão para realçar a sua capacidade de intuir e de prosseguir apesar de conselhos por cautela.

Proclamam-se mais intuitivos do que realmente são para parecerem mais corajosos, hábeis e

autônomos perante o risco. (Motta, 2002)

Muitas pessoas vivem melhor o ambiente de competição porque são motivadas não pelo

medo, mas pela energia da conquista de um objetivo. Isso talvez possa explicar porque em

ambientes de trabalho de aparência altamente competitiva podem ser obtidos bons desempenhos. É

o exemplo de atmosferas de alta intensidade, como bolsas de valores e salas de emergência de

hospitais: elas motivam as pessoas não pelo medo, mas pela intensidade do estímulo. Essas pessoas

são pouco motiváveis pelos estímulos médios comuns à maioria, mas sentem-se estimuladas em

ambientes de alta intensidade. Há uma diferença entre medo e intensidade, apesar de

psicologicamente serem muito semelhantes. Pessoas com medo não gostam do ambiente e desejam

se livrar do problema que lhes causa a ansiedade. Ao contrário, pessoas com intensidade gostam do

ambiente e desejam a sua permanência; poderiam até viver permanentemente nesse estado. (Motta,

2002)

O AMBIENTE DO TRABALHO E OS RISCOS:

MEDEIROS & RODRIGUES apud al. (2000) quando abordam a questão dos ambientes

do trabalho com foco na construção civil, tratam-na da seguinte maneira: A Indústria da Construção

Civil é uma atividade econômica que envolve tradicionais estruturas sociais, culturais e políticas. É

nacionalmente caracterizada por apresentar um elevado índice de acidentes de trabalho, e segundo

ARAÚJO (1998), está em segundo lugar na frequência de acidentes registrados em todo o país.

Esse perfil pode ser traduzido como gerador de inúmeras perdas de recursos humanos e financeiros

no setor.

Page 27: A normalidade das atividades industriais e de construção

27 de 38

O clima de segurança é constituído na sua essência por percepções partilhadas sobre a

segurança na organização. A definição de clima de segurança seguida neste estudo é a de SILVA

(2003) segundo a qual o clima de segurança é a “…manifestação temporal da cultura que se reflete

nas percepções partilhadas pelos membros de uma organização num determinado momento e

corresponde ao nível intermédio da cultura de segurança…” SILVA (2003) apresenta uma revisão

dos instrumentos utilizados ao longo do tempo, para avaliar o clima de segurança, indicando

diversos instrumentos de medição do clima de segurança desenvolvidos por vários autores (e.g.

Zohar, 1980) mas segundo a autora o clima de segurança tem sido sempre medido através da

aplicação de escalas ou questionários.

O SABER OPERÁRIO:

O saber operário é o conhecimento adquirido ao longo de anos e anos de atividades, e

que passa a ser considerado como referencial interno, esteja esse certo ou errado. Quando posto em

conflito com a obrigatoriedade de passar a empregar novo saber o operário questiona e, por fim,

volta a empregar o seu saber, caso não seja acompanhado nas tarefas. As mudanças de paradigmas

iniciam-se com o convencimento do operário de novos saberes, os quais podem ser incorporados ou

assumidos pela organização caso seja demonstrado serem melhores para aquelas atividades

específicas. O momento importante para o operário é o da incorporação pela organização do seu

saber, enquanto que o oposto se dá com o descarte do seu saber sem quaisquer questionamentos ou

convencimentos. Nessa situação é muito provável que em um momento ou outro os procedimentos

formais sejam descumpridos, podendo causar ou não acidentes. A respeito dessa questão, Yazigi

(1998) assim se manifesta: (...) É preciso criar a mentalidade da participação e passar as

informações necessárias aos empregados. A participação fortalece as grandes decisões, mobiliza

forças e gera o compromisso de todos com os resultados; ou seja: a responsabilidade. O principal

objetivo é conseguir o efeito sinergia, em que o todo é maior do que a soma das partes. Novas ideias

devem ser estimuladas e a criatividade aproveitada para o constante aperfeiçoamento e a solução

dos problemas. (...)

Consoante MEDEIROS & RODRIGUES (2000), em muitas atividades industriais, o que

não exclui a Construção Civil, reina a ignorância sobre alguns processos e seus incidentes. Os

trabalhadores ignoram o funcionamento exato do processo industrial, pois têm apenas “dicas” de

um saber descontínuo. Não existe um conhecimento coerente, nem sobre o próprio processo, nem

sobre o funcionamento das instalações, pois não existe formação destinada aos trabalhadores.

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A consciência aguda do risco de acidente obrigaria o trabalhador a tomar tantas

precauções individuais que dificultaria completamente o trabalho na Construção a ponto de se

tornar ineficaz do ponto de vista da produtividade. Trata-se de um sistema defensivo destinado a

controlar o medo, e pode ser chamado de pseudo-inconsciência do perigo. Além disso, necessita

apoiar-se no caráter coletivo, sendo assegurado pela participação de todos. Ninguém pode ter medo

nem demonstrá-lo. Gera-se então um sistema implícito onde nunca se deve falar de perigo, risco,

acidente, nem do medo. (Medeiros & Rodrigues, 2000)

FATORES ESTRESSORES:

De acordo com ALEVATO (2007), quando trata da questão de agentes estressores, (...)

É possível não discutir, por exemplo, a relação entre um operário ferido e a queda de um tijolo, no

universo dos riscos físicos da construção civil, mas o mesmo não pode ser dito da relação entre o

cotidiano permeado de pressões por prazos e metas e a hipertensão arterial diagnosticada em um

gerente. No caso dos estressores não se trata de um agente externo (tijolo) oferecendo um perigo

(queda) e uma possível consequência (ferimento). Fala-se agora de uma ameaça que se diferencia

dos clássicos riscos físicos, químicos e biológicos por não ser um elemento isolável dos sujeitos,

mas por permear a vida em todas as suas dimensões, afetando a saúde individual, realimentando-se

de si mesma e transversalizando as atitudes, os desempenhos, as relações sociais, profissionais e

familiares, dentre outros aspectos. Estressores são elementos capazes de mobilizar para a ação ou

desencadear reações humanas. No entanto, cada fonte estressora tem características próprias que

recomendam iniciativas de controle específicas e diversificadas. Os estressores encontrados nos

ambientes de trabalho podem, portanto, ser classificados – conforme sua natureza – em existenciais,

ocupacionais ou sócio ambientais. Os estressores sócio ambientais não escolhem suas vítimas no

ambiente laboral porque se originam em condições culturais, políticas, sociais e econômicas do

micro e do macro cenários. Violência urbana, desemprego estrutural, conflito de valores são alguns

exemplos desse grupo. (...)

A PSICOLOGIA E A PREVENÇÃO DE ACIDENTES:

A associação da psicologia à prevenção de acidentes não é um assunto novo. Inúmeros

são os artigos que fazem essa associação, pois muitas vezes o acidente é fruto de um ato volitivo,

não sob o aspecto do indivíduo intencionalmente descumprir as normas de segurança, mas sim

porque sabe como executar a tarefa e procura fazê-la da forma que conhece e que sempre a fez. Não

são muitos os casos em que o acidente teve como causa esse fato.

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Gráfico de análise de resultados de auditorias comportamentais em 2008 (AFANP)

No gráfico acima, constando 5.187 desvios relatados ao longo de seis meses em uma

obra industrial com o envolvimento de 15 empresas contratadas, apurados através de um programa

de auditoria comportamental, com avaliações visuais e abordagens pessoais, identificou-se que a

grande maioria dos desvios era devido a falta do uso ou do uso de modo irregular dos Equipamentos

de Proteção Individual – EPIs, seguido do desvio por descumprimento dos procedimentos de

Segurança, Meio Ambiente e Saúde.

A grande questão levantada era a de que essas avaliações ocorriam mensalmente e já

havia transcorrido um período médio de obras de pelo menos oito meses. Assim, havia empresas

atuando a mais de três anos no site, empresas com menos de dois anos e empresas recém

contratadas, com 3 meses de contrato. De comum teve-se o fato de que todos os empregados das

empresas passaram por programas de integração, briefings de segurança, e procedimentos de

segurança próprios. Assim, cabe a questão:

• Por que foram identificados tantos desvios sobre condições que, pelo menos aparentemente, já

estavam consolidadas na mente dos trabalhadores?

• Os trabalhadores, pelas experiências demonstradas não sabiam utilizar corretamente seus EPIs?

• Os trabalhadores, em seus programas de treinamento não foram apresentados aos procedimentos

de segurança das empresas?

Sabe-se que situações de stress geralmente precedem os acidentes e escapam ao controle

dos donos ou dirigentes das empresas para as quais o empregado trabalha. É o caso de discussões

em casa com o marido ou a mulher, situações de separação, doença dos filhos, etc... Há alguns tipos

de stress que podem ser evitados. Estudos mostram, por exemplo, que a sobrecarga de serviço e o

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número excessivo de horas de trabalho de um indivíduo o tornam propenso ao acidente do trabalho

por levá-lo ao stress fisiológico ou psíquico. (Friedman, Rosenman, & Carrol, 1975) (Hinkle &

Plummer, 1952).

FATORES HUMANOS E INFLUÊNCIAS COMPORTAMENTAIS:

De acordo com a OIT só as causas naturais matam mais no mundo do que os acidentes

de trabalho. As razões para explicar o elevado número de ocorrências dos acidentes são as mais

diversas, envolvendo falhas nos projetos dos sistemas de trabalho, dos equipamentos, das

ferramentas, deficiência nos processos de manutenção dos diversos elementos componentes do

trabalho. Ocupando lugar de destaque como causa dos acidentes de trabalho encontra-se o fator

humano, compreendendo características psicossociais do trabalhador, atitudes negativas para com

as atividades prevencionista, aspectos da personalidade, falta de atenção, entre outras (DI LASCIO,

2001).

Nas palavras de DEJOURS (1992, p.88): Cada uma das emoções, medo, raiva,

ansiedade, alegria, amor, felicidade, imprime uma disposição e uma direção para a ação. O ser

humano tem uma tendência, baseada na aprendizagem com as experiências passadas, de repetir

determinados padrões de reações que “deram certo no passado” e que se incorporaram, assim, ao

nosso repertorio ou bagagem emocional (GOLEMAN, 1995). O aspecto comportamental supõe

componente sentimental de raiva ou medo, acompanhando a emoção que tem a função primitiva de

preservar a existência. Pode-se argumentar que essas modificações que implicam a emoção, são

fontes de transtornos do organismo, quando as mesmas apresentam características de forma aguda e

intensamente súbita e fazendo-se persistente. Desse modo o desenvolvimento de habilidades e

competências cognitivas que influenciam na capacitação em lidar com as demandas e pressões de

seu ambiente se faz necessário. (Morais et al. apud al. 2005)

HEINRICH (1959, apud Cooper, 1998) observa que as pressões para o aumento da

produção podem reforçar o comportamento inseguro dos funcionários, já que pode ser a única

forma de se assegurar que um trabalho seja feito. Verificou também que dos 330 atos inseguros

observados, 229 conduziriam a um prejuízo grave e um incidente importante. Assim, a inexistência

de acidentes poderia induzir as chefias que as preocupações da área de SMS talvez não fossem tão

importantes assim.

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ESCALAS DE PERCEPÇÃO:

Pessoas com níveis mais elevados de senso de invulnerabilidade tendem a se envolver

em maior quantidade de eventos considerados perigosos e/ou possivelmente danosos, e ainda

tendem a menosprezar eventos como desastres naturais e infortúnios relacionados à saúde, bem

como fenômenos adversos, como crimes ou acidentes de qualquer natureza (Perloff, 1983). É

necessário ressaltar que a experiência de vitimação altera a percepção do indivíduo a respeito de sua

invulnerabilidade. É neste ponto que a estrutura cognitiva da pessoa é abalada, afetando sua auto-

imagem e desestruturando a crença de que o mundo é um lugar previsível, ordenado e tendente a

seguir regras rigidamente estabelecidas (Peterson & Seligman, 1983).

A percepção sobre perigos, em grande parte das vezes, pouco tem a ver com as

referências e os dados coletados sobre o problema. A possibilidade de haver danos é normalmente

menor do que a imaginação das pessoas ao tomarem decisões e, portanto, a percepção de risco é

maior do que a realidade demonstra. Apesar de existirem situações materiais de perigo, o risco é

antes de tudo uma percepção individual e uma construção mental.

Os estudos mais profundos sobre percepção de riscos sociais, originados na perspectiva

cognitiva, presumem o risco como subjetivamente definido pelo indivíduo e influenciável por uma

variedade de fatores psicológicos, sociais, institucionais e culturais. Portanto, a percepção de risco

tem sua dimensão interna e subjetiva; a maneira como as pessoas sentem e atribuem peso ao risco

influencia os comportamentos administrativos defensivos e preventivos (Starr, 1969; Slovic, 1987).

Quanto maior a percepção de risco, maior a predisposição para a ação cautelosa. Se no

futuro há imprevisibilidades, não se conhecem, na verdade, os resultados das decisões presentes.

Ademais, por serem obrigados a antecipar, a prever e a agir para o futuro, os dirigentes jamais

podem ser inconsequentes e valorizar somente o presente. Há uma pressão para a cautela, ou seja,

evitar o perigo, ou reduzir a exposição a fatores de risco. No sentido negativo, o risco deixa

implícito o perigo de consequências adversas e sugere o esforço gerencial para conscientizar-se de

sua existência, evitá-lo ou minimizá-lo. Estar em risco é estar vulnerável ao acaso ou a fatores que

provocam danos, independentemente de ações individuais. Evitar o risco é tentar precaver-se contra

o perigo do inesperado, do não familiar ou do inusitado. Quando visto como algo ruim, o risco

incentiva a busca de segurança. Minimizar ou reduzir risco são expressões que procuram dar

segurança à decisão. Vista como algo positivo, a percepção de risco:

(1) revela a coragem de arriscar apesar das adversidades;

(2) conscientiza as pessoas sobre ameaças e danos potenciais e reais à empresa; e

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(3) valoriza o espírito empreendedor e de prosseguir e se aventurar em direção ao êxito. O risco

chega a fascinar algumas pessoas.

A VISÃO AMBIENTAL DA QUESTÃO:

A visão ambiental da questão contempla todos os fatores que podem estar relacionados

com as atividades e que são inerentes ao local onde os trabalhadores realizam suas atividades,

influenciados ou não por esses fatores. Como dito anteriormente, inúmeros são esses, como:

• Atividades;

• Estratégias;

• Contratos;

• Recursos;

• Insumos;

• Fatores climáticos;

• Prazos;

• Organização do trabalho;

• Espaços e ambientes;

• Organização da produção;

• Lógicas de trabalho;

• Fatores normativos;

• Referências.

Da mesma forma como na análise dos fatores humanos, percebe-se que há situações

facilmente identificadas, de imediato, como contribuintes para o sucesso ou o fracasso de um

empreendimento. Por exemplo, a cultura de uma organização. Quando ela é sólida, bem estruturada

e permeada em todos os níveis funcionais permite que “todos falem a mesma língua”, seja essa boa

ou má. A cultura é percebida de várias maneiras, seja através de programas de treinamento, cartazes

e folders, quadros e aviso e cartilhas, e outros. A cultura possibilita que a organização tenha uma só

identidade. Outra situação complexa é a que diz respeito a prazos. Quando são curtos ou mal

dimensionados para as tarefas contratadas percebe-se que essa pressão pelo atendimento aos

mesmos passa a todos sinergicamente. A história funciona da mesma maneira que a brincadeira de

criança do telefone sem fio. O gerente maior do empreendimento cobra do gerente de produção

maior empenho. O gerente de produção cobra dos encarregados maior dedicação. E o encarregado

cobra dos empregados a cabeça de quem não atingir as metas. Para o empregado, o não atendimento

dos prazos pode significar sua demissão, já que ele não tem ninguém para repassar a culpa.

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AMBIENTE DE TRABALHO E RISCOS:

A Indústria da Construção Civil é uma atividade econômica que envolve tradicionais

estruturas sociais, culturais e políticas. É nacionalmente caracterizada por apresentar um elevado

índice de acidentes de trabalho, e segundo ARAÚJO (1998), está em segundo lugar na freqüência

de acidentes registrados em todo o país. Esse perfil pode ser traduzido como gerador de inúmeras

perdas de recursos humanos e financeiros no setor. Os acidentes de trabalho têm sido

frequentemente associados a patrões negligentes que oferecem condições de trabalho inseguras e a

empregados displicentes que cometem atos inseguros. No entanto, sabe-se que as causas dos

acidentes de trabalho, normalmente, não correspondem a essa associação, mas sim às condições

ambientais a que estão expostos os trabalhadores e ao seu aspecto psicológico, envolvendo fatores

humanos, econômicos e sociais.

RISCOS DO TRABALHO:

Segundo GUALBERTO (1990) existe três linhas de defesa da saúde do trabalhador.

Eliminar todas as possibilidades de geração de riscos na fase de concepção ou na correção de um

sistema de produção trata-se da primeira medida a ser tomada como linha de defesa. Para isso

devem ser observados os seguintes aspectos: seleção de insumos inócuos; redesenho dos diversos

produtos componentes de um sistema de produção; mudanças na organização do trabalho. Em caso

de não se poder aplicar a primeira linha, deve-se partir para a tentativa de conviver com o risco

embora que sob controle. A intervenção passa a se manifestar através do uso de soluções coletivas

constituídas pelos Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC). Na impossibilidade de utilização da

segunda linha, o que se pode dar, inclusive, pelo aspecto desfavorável do balanço custo-benefício

de um empreendimento, surge a terceira e última linha de defesa do trabalhador, que compreende a

proteção individual em suas diversas formas de aplicação.

ASPECTOS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO:

As condições reais dos canteiros de obra já se configuram como riscos. Estes riscos são

agravados pelas variações nos métodos de trabalho realizados pelos operários, em função de

situações não previstas, mas que, na realidade são uma constante no trabalho, pois, não existem

procedimentos de execução formalizados na maioria das empresas. O que existem, no máximo, são

instruções verbais. Também é importante salientar a existência de sistemas de pagamento

diversificados na maioria dos canteiros. Em alguns destes, os parâmetros de produtividade são

baseados muitas vezes apenas no trabalho dos funcionários mais rápidos e experientes. Tal fato

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pode gerar prejuízos à segurança dos trabalhadores, uma vez que os operários – principalmente os

mais inexperientes - ao executarem suas tarefas com mais rapidez, e, assim, com maior desgaste de

sua força de trabalho, podem desempenhar condutas equivocadas que permitam à ocorrência de

acidentes. Deve-se considerar ainda que esses tipos de pagamento são previstos na Consolidação

das Leis Trabalhistas (CLT), mas com limitações no sentido de impedir qualquer tipo de

descriminação de ordem salarial.

FATORES RELATIVOS AO AMBIENTE DAS OBRAS:

Conforme Lima Jr., Dias e Valcárcel, em trabalho: Segurança e Saúde no Trabalho da

construção: experiência brasileira e panorama internacional, editado pela OIT - Secretaria

Internacional do Trabalho, 2005, 72 p, Brasília, (Série Documentos de Trabajo; 200), a construção é

um dos setores de atividade econômica que mais absorve acidentes de trabalho e onde o risco de

acidentes é maior. De acordo com as estimativas da OIT, dos aproximadamente 355 mil acidentes

mortais que acontecem anualmente no mundo, pelo menos 60 mil ocorrem em obras de construção.

O tema da segurança e saúde na construção é relevante não só por se tratar de uma

atividade perigosa, mas também, e, sobretudo, porque a prevenção de acidentes de trabalho nas

obras exige enfoque específico, tanto pela natureza particular do trabalho de construção como pelo

caráter temporário dos centros de trabalho (obras) do setor. Essa circunstância ganhou destaque com

a adoção pela OIT, em 1988, da Convenção 167 sobre segurança e saúde na construção. Numa

visão macrossetorial, a indústria da construção pode ser classificada em três setores distintos:

construção pesada, montagem industrial e edificações.

O segmento da construção é determinante para o desenvolvimento sustentado da

economia brasileira. No ano de 2000, o setor foi responsável por 15,6% do PIB nacional e

empregou 3,63 milhões de pessoas. A dimensão territorial do Brasil e o tamanho da sua população

determinam alto potencial de crescimento, principalmente, no ramo das edificações. A cadeia

produtiva possuía, em 1998, 204.855 empresas distribuídas da seguinte forma:

a) 115.939 em edificações; b) 10.811 em construção pesada; c) 1.660 em montagem industrial; d) 76.445 em empreiteiros e locadores de mão de obra.

Não estão incluídas as empresas de materiais de construção. Quanto ao número de

empregos, temos a seguinte distribuição:

a) diretos : 3,63 milhões;

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b) indiretos : 2,17 milhões; c) induzidos : 7,83 milhões; d) total : 13,63 milhões.

Verifica-se, assim, que cada 100 empregos diretos geram 275 (indiretos e induzidos).

Com relação ao perfil da mão de obra do setor da construção civil, o SESI diagnosticou os

seguintes resultados:

1) Baixa qualificação:

• 72% dos trabalhadores pesquisados nunca frequentaram cursos e treinamentos.

• 80% possuem apenas o 1º grau incompleto e 20% são completamente analfabetos.

2) Elevada rotatividade no setor:

• 56,5% têm menos de um ano na empresa e 47% estão no setor há menos de cinco anos.

3) Baixos salários:

• 50% dos trabalhadores ganham menos de dois salários mínimos (SM).

• Média salarial: 2,8 SM.

• É um dos setores industriais que paga os mais baixos salários.

4) Altas carências sociais:

Educação:

• Alto índice de absenteísmo causado, sobretudo, por problemas de saúde (52% faltaram ao

trabalho no mês anterior à pesquisa).

• Absenteísmo: um entre cinco trabalhadores.

• 14,6% dos trabalhadores sofreram algum tipo de acidente de trabalho no ano anterior à coleta

dos dados, o que significa um universo de aproximadamente 148 mil pessoas ou 21,3% do total

de trabalhadores acidentados no Brasil.

Alcoolismo:

• ingerem bebida alcoólica: 54,3%,

• abusam: 15%,

• dependente: 4,4%.

Associar-se o meio ambiente do trabalho ao homem, a fim de que haja a harmonia nos

ambientes do trabalho é uma atividade hercúlea por uma série de razões. Inicialmente não existe

ainda uma real compreensão do conceito do ambiente do trabalho. Muitos se esquecem que esse

ambiente transcende aos limites impostos às obras. Em segundo lugar, há a questão da participação

dos homens nos acidentes. De acordo com os estudos apresentados o percentual desse envolvimento

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chega a 96%. Isso de certa maneira é bom e por outro lado ruim. O lado bom é o de que os

ambientes de trabalho parecem estar mais seguros do que no passado. SALDANHA (1997), por

exemplo, afirma em seu trabalho que existem situações onde foi encontrada a "negação do risco"

(definição de Dejours para estratégias defensivas).

Ainda existem empresas sem a necessária cultura de SMS, trabalhadores sem orientação,

medidas descoordenadas de incentivo à produção que terminam por fragilizar os processos de

prevenção de riscos, chefias não participativas no processo de gestão de riscos, ferramentas e

equipamentos inadequados, falta de treinamento, passando aos trabalhadores a imagem de que as

questões relativas à prevenção talvez não sejam tão importantes assim. Para muitas, o orgulho

empresarial é o de cumprir as metas a qualquer custo. Nesses casos, o planejamento sério talvez seja

um elemento que irá emperrar o processo de execução das atividades.

CONCLUSÕES:

Quanto ao aspecto humano, ainda há muito a se estudar, pois o ser humano é uma

verdadeira caixa de surpresas quanto ao seu aspecto comportamental. As mudanças de

comportamento muitas vezes ocorrem quase que de imediato, fruto de um acúmulo de problemas.

Os comentários de Motta (2005) são muito interessantes a esse respeito: (...) Não é preciso grandes

ameaças para fazer a pessoa ansiosa: bastam as pressões do dia-a-dia e a imaginação excessiva

sobre um problema real, mesmo os menores e repetitivos. Os que se envolvem com a decisão

administrativa lidam com mais incerteza e risco, não só por causa do desconhecimento humano

sobre o futuro, mas também pela interdependência e desequilíbrio constante entre os diversos

fatores políticos, econômicos, de produção e de mercado.

Será que é possível quebrar-se essa resistência às mudanças? Os artigos pesquisados não

possibilitam obter essa resposta. Mas, se o bom senso pode ser empregado como se acredita, a

resposta é sim. A forma talvez não passe pelo aumento da pressão sobre o trabalhador, pois se essa

maneira desses resultados rápidos, os pais conseguiriam a imediata obediência dos filhos mais

rebeldes, bastando para isso exercerem uma maior pressão. Entende-se que a mudança ocorre

através do aumento da cultura da empresa, do exemplo dado, da mudança de paradigmas, de deixar-

se de lado a busca pelo culpado, ou a teoria da culpa como dizem outros. Essa teoria deve ser posta,

não no singular, mas sim no plural, pois se há falhas, essas se devem tanto a quem cometeu o

desvio, que redundou em um acidente, como também pela empresa que não soube repassar a

mensagem mais adequada e não supervisionou convenientemente.

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As medidas de prevenção devem iniciar-se direcionando o foco para a empresa,

seguindo-se para os processos e por fim, para os trabalhadores. Quando se inverte essa ótica passa a

não se compreender as razões das resistências identificadas ao processo de gestão. Deve estar claro

que muitas vezes a resistência não é quanto ao processo e sim quanto à forma. O trabalhador

dificilmente irá querer mutilar-se intencionalmente ou provocar uma lesão a um companheiro de

trabalho. No momento em que o trabalhador perceber que não há comprometimentos estanques em

sua atividade para com a produção, organização e limpeza, SMS, qualidade e outras, e sim, tudo

integrado naquilo que está sendo feito com a responsabilidade recaindo sobre o próprio trabalhador,

perceberá as significativas mudanças. Essa mensuração das medidas cabíveis é um fator complexo

que depende da cultura da empresa, características dos contratos, se de curta ou longa duração, tipo

de serviços executados, níveis de conhecimento exigidos dos profissionais e outros fatores mais.

Todavia, a “cumplicidade do trabalhador” aqui realçada sob o aspecto positivo, é muito importante

para o sucesso dos programas de reconhecimento e premiação.

Normal? Quem? Esta é a verdadeira questão que devemos compreender. Vimos que os

trabalhadores, em sua maioria, sabem o que deve ser feito e o fazem de modo diverso. Os

encarregados sabem como cobrar e, muitas vezes, deixam de fazê-lo, pois o tempo é mais

importante do que a vida. O empresário, por sua vez, quando não tem incorporados os valores de

SMS, passa a ver questões mais imediatas, como faturas e prazos. Será que não está na hore de

rever-se essa questão?

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