noite e sol no meu chapÉu - perse.com.br de espera ... lux, luna et stellae ... noite e sol no meu...
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Jorge Escher
NOITE E SOL
NO MEU CHAPÉU
2ª edição
São Paulo
Edição do Autor
2015
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Copyright© Jorge Escher
Noite e Sol no Meu Chapéu
ISBN livro impresso: 85-366-0253-8
Poesia. Literatura brasileira
Capa e Diagramação: Jorge Escher
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A Manhã .......................................................................
Menino sem Espelho ....................................................
O Eremita .....................................................................
A Matemática do Amor ...............................................
Sala de Espera ..............................................................
Eles ...............................................................................
Fera Indômita ...............................................................
O Fim dos Ditos ...........................................................
Convite Feliz ................................................................
Eu (I)nocente ................................................................
Carta a um Diabinho ....................................................
Retrato Falado ..............................................................
Mater Pluvia .................................................................
Brasil, Urgente! ............................................................
Oaristo ..........................................................................
Aprendiz de Mim .........................................................
O País de Meus Pais .....................................................
Do Amor — Perguntas e Respostas..............................
... Ao Sol. .....................................................................
Ser, Consolação do Ser ................................................
Sedução ... ....................................................................
Desastre ........................................................................
Batalha ao Sol ..............................................................
Transeunte Noctívago ..................................................
Café com Leite .............................................................
O Carnaval da Mulata Interior .....................................
Cinderela ......................................................................
A Bela e a Fera .............................................................
Galo Cantador ..............................................................
Corpo ao Sol .................................................................
Astronauta por Um Minuto ..........................................
Por Favor ......................................................................
Relação .........................................................................
Bicho sob a Chuva .......................................................
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Lux, Luna et Stellae .....................................................
A Última Esperança .....................................................
Aquele Amor.................................................................
Dor ...............................................................................
Às Margens do Fim do Mundo ....................................
O Verdadeiro Espaço de Um Homem ..........................
As Pessoas ....................................................................
Maquinista Solitário .....................................................
Desencontro Capital .....................................................
Ávi da Noite .................................................................
Carmen ........................................................................
Menina dos Olhos Verdes ............................................
Noite e Sol no Meu Chapéu .........................................
Um Homem e Sua Terra ..............................................
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A MANHÃ
Essa hora da manhã em que,
sonolentos, espreguiçando,
aprontamo-nos para o trabalho,
tem algo de belo e misterioso.
É o vapor do banho quente
que embaça o espelho do banheiro...
É o aroma do café preto
que acaba de ser coado...
É o pãozinho com manteiga
que sai crocante do forno...
É a gola da camisa
que se conserta carinhosamente...
É o gesto de despedida
que se faz detrás da vidraça...
E lá vamos nós a passos largos,
semiocultos na cerração,
preparados para enfrentar
o monstro claudicante do dia,
que se arrastará violento e aflito
ao longo das próximas horas.
Mas aquela hora que ficou lá atrás,
no colo gentil da manhã,
não se despega jamais da retina,
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resta ali feito promessa,
esperança de conchego, aninho,
sonho de que a vida retorne um dia
— quem sabe amanhã —
à manhã de um dia...
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MENINO SEM ESPELHO
Nunca fui um menino prodígio.
Fui apenas um menino cisco,
que resposta alguma obtinha
às nuas perguntas que fazia.
Nunca fui um menino família.
Fui apenas um menino ilha,
que entre sonhos ladrilhos verdes
cismava à noite no alpendre.
Também não fui um menino pássaro.
Fui apenas um menino alvo,
que teve por madrasta a dor
e pai e avô de si mesmo foi.
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O EREMITA
Nenhum beijo: só desejo.
Nenhum abraço: só espaço.
Nenhum carinho: só sozinho.
Mas não te peço, Mundo, senão um favor:
Não me prives nunca de mim mesmo.
Vade retro com tuas loucuras!
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A MATEMÁTICA DO AMOR
“What is the opposite of two?
A lonely me, a lonely you.”
Richard Wilbur
Éramos quatro, eu e você,
embora aparentemente dois,
porque cada um de nós,
embora aparentemente um,
era na verdade dois:
eu era eu e você, e você, você e eu.
Agora, sem ti, o que sou?
Duas ilhas confinadas
no imenso mar de mim mesmo,
porque eu, desgraçadamente,
ainda sou eu e você,
mas você já não é você e eu.
A matemática do amor
é simples e dolorosa:
dois menos um nunca dá um,
pois sempre restam dois num só.
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SALA DE ESPERA
O sol se põe sobre Ribeirão...
(Nuvens que passam
obscurecem parcialmente o céu...)
Na sala de espera do terminal rodoviário,
pessoas chegam e partem,
em constante burburinho...
(O relógio-termômetro oscila entre
35°, 17:25, 35°, 17:25, 34°, 17:26...)
Enquanto aguardo que o tempo passe,
o sol vai se pondo sobre Ribeirão...
(Apressada e sudorenta, a cidade
recolhe-se às casas, escolas, bares, Pingüins...)
Nada, absolutamente nada me resta fazer
senão aguardar que o tempo passe...
(Um mosquito, sedento e atrevido,
insiste em pousar sobre minha mão,
obrigando-me a constantes e letárgicos
movimentos para enxotá-lo de mim...)
Anoitece suadamente em Ribeirão,
anoitece sensualmente em Ribeirão...
Nada, absolutamente nada me resta fazer
senão continuar aguardando que o tempo passe...