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A Militarização do Ártico: Desafios Políticos, Econômicos e Climáticos 1 Alexandre Piffero Spohr Jéssica da Silva Höring Luíza Gimenez Cerioli Bruna Lersch Josuá Gihad Alves Soares 1. Histórico da questão 1.1. A Região do Ártico O Ártico é a área do extremo norte da Terra, a qual cobre aproximadamente oito por cento da superfície do globo e está no centro do Pólo Norte. Essa região é delimitada pelo Círculo Ártico (paralelo de latitude 66°33’N) e abrange a parte congelada do Oceano Ártico e terras e águas circundantes . Essas terras são partes dos oito países banhados pelo Ártico: 2 Canadá, Dinamarca (através da Groelândia), Finlândia, Islândia, Noruega (através do arquipélago de Svalbard), Federação Russa, Suécia e Estados Unidos (através do Alasca). O clima nessa zona é classificado como polar, com invernos longos e frios, quando a temperatura pode baixar até 50°C. Imagem 1: O Mapa Geopolítico do Ártico De acordo com estudos arqueológicos, o Ártico tem sido habitado por humanos desde antes da última Era do Gelo, aproximadamente 30.000 anos atrás (Sale e Potapov 1 Traduzido por João Paulo Alves, Samuel Machado, Pablo Assoni Raiter, Alexandra Oppermann, Douglas Rocha, Vitória Volpato, alunos de Relações Internacionais da UFRGS. 2 O Círculo Ártico é uma linha imaginária que marca a latitude acima da qual o sol não se põe no dia do solstício de verão (21 de junho) e não nasce no dia do solstício de inverno (21 de dezembro).

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A Militarização do Ártico: Desafios Políticos, Econômicos e Climáticos 1

Alexandre Piffero Spohr Jéssica da Silva Höring Luíza Gimenez Cerioli

Bruna Lersch Josuá Gihad Alves Soares

1. Histórico da questão

1.1. A Região do Ártico

O Ártico é a área do extremo norte da Terra, a qual cobre aproximadamente oito por cento da superfície do globo e está no centro do Pólo Norte. Essa região é delimitada pelo Círculo Ártico (paralelo de latitude 66°33’N) e abrange a parte congelada do Oceano Ártico e terras e águas circundantes . Essas terras são partes dos oito países banhados pelo Ártico: 2

Canadá, Dinamarca (através da Groelândia), Finlândia, Islândia, Noruega (através do arquipélago de Svalbard), Federação Russa, Suécia e Estados Unidos (através do Alasca). O clima nessa zona é classificado como polar, com invernos longos e frios, quando a temperatura pode baixar até ­50°C.

Imagem 1: O Mapa Geopolítico do Ártico De acordo com estudos arqueológicos, o Ártico tem sido habitado por humanos

desde antes da última Era do Gelo, aproximadamente 30.000 anos atrás (Sale e Potapov

1 Traduzido por João Paulo Alves, Samuel Machado, Pablo Assoni Raiter, Alexandra Oppermann, Douglas Rocha, Vitória Volpato, alunos de Relações Internacionais da UFRGS. 2O Círculo Ártico é uma linha imaginária que marca a latitude acima da qual o sol não se põe no dia do solstício de verão (21 de junho) e não nasce no dia do solstício de inverno (21 de dezembro).

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2009, 12), porém pouco se sabe sobre os povos que ocuparam a região nos seus primórdios. O primeiro povo ártico importante do qual se tem conhecimento é os Esquimós , que 3

emigraram da Ásia para o Alasca, atravessando o Estreito de Bering, há aproximadamente 5000 anos. O Ártico atualmente hospeda uma população de 4 milhões de indígenas – descendentes dos primeiros Esquimós – que estão dispersos em pequenos grupos dentro dos limites dos países árticos (Sale 2008).

1.2. Explorações Antigas

Ao longo da história, a região ártica foi explorada por muitas nações interessadas em descobrir as particularidades da área desconhecida. O primeiro explorador europeu marítimo foi o grego Pytheas, em 330 A.C. Ele foi um astrônomo que desenvolveu um método para calcular latitude, medindo a sombra de um pilar vertical no solstício. Devido a sua pesquisa, fez viagens para regiões islandesas e norueguesas e foi a primeira pessoa a descrever o fenômeno do Sol da Meia Noite e do gelo polar (Sale 2008) . 4

Em torno do ano 1000 D.C., os vikings – guerreiros e comerciantes escandinavos – exploraram várias terras ultramarinas, expandindo seus domínios, em um período conhecido como “A Era Viking”, do século VIII ao XI (Byock 2001). Durante esse tempo, os vikings ocuparam e colonizaram territórios árticos, principalmente a Groelândia, o Alasca e o Canadá. As causas prováveis para essa expansão foram os interesses em descobrir novas rotas e em desenvolver comércio em novas áreas, junto da possibilidade da grande expansão da população viking, comparada com a extensão da Península Escandinava (Sale and Potapov 2009).

1.3. Explorações Modernas

Desde o século XII, a Europa tem passado por tempos de mudanças com o desenvolvimento urbano e o renascimento comercial. Esse período é caracterizado pelo aumento da população e pelo incremento das atividades relacionadas com o comércio (Dobb 1987). Nesse contexto, as rotas comerciais tiveram uma importância crescente e as pesquisas ultramarinas por rotas alternativas tornaram­se cruciais. Além disso, a Europa estava muito interessada em novos mercados no Oriente, especialmente Índia e China (Lash e Van Kley 1998). Assim, os europeus lançaram­se em busca de um caminho que conectasse os oceanos Atlântico e Pacífico: a passagem noroeste, ao longo da costa da América do Norte, ou a passagem nordeste, ao longo da costa da Sibéria, ambas através do Oceano Ártico (Sale e Potapov 2009).

3 A palavra Esquimó é uma generalização em relação aos habitantes da região ártica. De fato, esse grupo étnico inclui vários grupos menores os quais têm suas próprias especificidades e variam de acordo com a região que habitam. Os dois principais grupos são o Inuit (norte do Alasca, Canadá e Groelândia) e Yupik (costa e centro do Alasca e da Rússia). 4 Pytheas fez uma viagem para o extreme noroeste da Europa, circunavegando uma parte significativa da Grã­Bretanha e alcançando a região ártica. Ele registrou suas experiências em um documento chamado “No Oceano”, mas apenas poucos fragmentos dos escritos sobreviveram. Pytheas relatou sua chegada a uma ilha desconhecida perto do mar coberto por gelo. Hoje os pesquisadores acreditam que ele referia­se à Islândia ou à costa norueguesa (Sale 2009).

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Nos séculos seguintes, diversas expedições ocorreram na zona do Ártico – a fim de encontrar e explorar essas rotas. A primeira tentativa registrada foi a viagem de John Cabot para a América do Norte, patrocinada por Henrique VII da Inglaterra. Cabot tinha permissão para achar uma rota para a China, mas falhou e desembarcou na ilha Terra Nova, no Canadá (Sale e Potapov 2009). Em 1576, outro explorador, Martin Frobisher, da Inglaterra, tentou encontrar um caminho para o Oriente, porém, dessa vez, através da costa norte da Rússia. Ele organizou três expedições para a Groelândia, entretanto, não obteve sucesso (Sale e Potapov 2009, 80). Foi apenas no século XVIII que as explorações trouxeram resultados efetivos.

Em 1732, o almirantado russo organizou as Grandes Expedições do Norte, ao longo da costa da Sibéria, para encontrar a passagem nordeste. Pela primeira vez, milhares de quilômetros dessa região foram mapeados. Em 1776, o capitão naval inglês James Cook começou sua última viagem explorando a costa americana até o Estreito de Bering (Sale e Potapov 2009). Ele é conhecido como o explorador que mapeou a maioria do litoral noroeste da América do Norte, determinando a extensão do Alasca e definindo melhor os limites ao norte do Pacífico. Já no século XIX, William Parry, um oficial naval britânico, organizou sua expedição em busca da passagem noroeste, em 1819. Foi a primeira vez que uma comissão exploradora entrou no Arquipélago Ártico (Berton 1988). Finalmente, em 1878, Adolf Erik Nordenskiöld, um geólogo finlandês que participou de uma série de expedições em procura da passagem nordeste, alcançou seu objetivo navegando as costas do norte da Europa e da Ásia pela primeira vez (Sale e Potapov 2009).

1.4. Explorações Contemporâneas: o Ártico durante as Grandes Guerras

No final do século XIX e começo do século XX, a economia global passou por um período de mudanças, as quais modificaram o cenário internacional. Tecnologias desenvolvidas durante a Revolução Industrial permitiram o aumento da produção, e, nesse sentido, a busca por novos mercados e por novas fontes de matéria­prima tornou­se essencial. Essas necessidades resultaram em uma corrida imperialista – marcada pela competição entre os países capitalistas – que levaria à Primeira Guerra Mundial. Sob tais circunstâncias, a exploração do Ártico era ainda mais importante para controlar novas rotas e, consequentemente, outros mercados.

Outro aspecto que impactou as políticas internacionais e contribuiu para o interesse no Ártico foi o estudo de um geógrafo inglês, Halford Mackinder. Em 1904, ele formulou a 5

Teoria da Heartland, na qual ele argumentou que o “pivô geográfico da história” estaria localizado no norte e centro da Eurásia, incluindo o território russo, se estendendo até as costas do oceano Ártico . De acordo com Mackinder (1904), essa região continha grandes 6

quantidades de recursos naturais e o país que a controlasse seria capaz de, primeiramente, desenvolver uma ponderosa hegemonia terrestre, além de canalizar meios para construir um poder marítimo. Seria a ascensão de uma potência com capacidades únicas no Sistema

5 Para mais leitura: “Democratic Ideals and Reality”, publicado em 1919 por Halford Mackinder. 6 A Teoria da Heartland foi primeiramente desenvolvida no artigo “Geographical Pivot of History”, submetida à Sociedade Real de Geografia.

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Internacional (Mello 1994). Desde então, a disputa pelo Ártico ganhou uma nova estratégia natural e os países, cada vez mais, passaram a investir na região.

Apesar da maior parte da Heartland do Mackinder corresponder à Rússia, outros Estados continuaram financiando expedições ao Ártico para dominar algum pedaço estratégico. Em 1909, Robert Peary, um explorador norte­americano, foi o primeiro a alcançar o Pólo Norte, fixando a bandeira dos Estados Unidos e deixando claras as intenções deste naquela região (Sale 2008). Outro explorador, um norueguês que obteve sucesso em cruzar pela primeira vez a passagem noroeste, em 1903, chamado Roald Amundsen, liderou a primeira exploração do Ártico por ar, em 1925, a bordo de um dirigível (Sale 2008).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Ártico emergiu como uma área estratégica chave por constituir uma rota de suprimentos dos Aliados. Por exemplo, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), poder aliado que participou ativamente da Guerra, recebeu muitos comboios com recursos do programa dos EUA chamado “Lend­Lease” e a rota ártica era a mais curta e direta para isso (Herring 1973). Além disso, os soviéticos tinham 7

estabelecimentos nos arredores do Ártico, especificamente nos mares de Kara e Barents. Assim, a região tornou­se o alvo de ataques e invasões dos nazistas alemães, sendo o palco de importantes batalhas (Sale e Potapov 2009).

Nesse contexto, a batalha mais importante e decisiva lutada em terras árticas foi a Batalha do Atlântico (1939­1945). A Inglaterra era conhecida por sua excelência marítima e dependência naval sobre produtos importados de mercados ultramarinos (White 2008). Sabendo disso, a Alemanha nazista traçou uma estratégia de bloqueio das rotas mercantis, incluindo a rota do Ártico, através do uso de submarinos que segurariam os navios com suprimentos. Seria a forma para enfraquecer a Inglaterra, a qual permanecia sem recursos, e forçá­la a se render (White 2008). Além disso, o bloqueio dessas rotas reduziria a intervenção americana no cenário de guerra europeu. Entretanto, o plano dos nazistas falhou devido ao moderno sistema de radar inglês, que foi capaz de localizar os submarinos alemães antes de qualquer ataque (White 2008).

Em novembro de 1939, a URSS invadiu a Finlândia, dando início à “Guerra de Inverno” (Sale e Potapov 2009). Apesar da URSS ter encontrado resistência, ela eventualmente obtinha vantagem no conflito e a Finlândia era forçada a conceder parte de seu território, incluindo o litoral finlandês do Oceano Ártico. Esse episódio reflete as pretensões expansionistas na região e demonstra o interesse pelas terras árticas (Sale e Potapov 2009). Outros países árticos também foram invadidos durante a Segunda Guerra Mundial, Noruega e Dinamarca, dessa vez pela Alemanha nazista. Por isso a guerra enfatizou a importância estratégica e militar do Ártico, importância essa que aumentaria no decorrer da Guerra Fria.

1.5. O Ártico durante a Guerra Fria (1945­1991)

76 “Lend­Lease” foi um programa assinado pelos EUA em 1941. Ele garantia que os EUA proveriam armas e suprimentos para os Aliados. Nesse período, os EUA não estavam oficialmente na Guerra, mas apoiavam a Guerra contra o nazismo como uma forma de deter o expansionismo alemão (Herring 1973).

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No final da Segunda Guerra e durante os anos seguintes da década de 1940, a região ártica experienciou quase uma transformação total em sua importância estratégica e militar. Enquanto o Mar Norueguês e o Mar de Barents permaneciam zonas quentes no confronto entre a Alemanha nazista (através da Noruega ocupada) e a URSS durante aquela guerra, as áreas acima do Círculo Ártico ficaram largamente inexploradas, do ponto de vista militar. Esse fator mudaria dramaticamente com a polarização do sistema internacional em torno de suas duas novas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética – as potências vencedoras da Segunda Guerra.

Um fator principal que conta no surgimento da importância estratégica do Ártico foi a característica de apresentar a menor distância entre essas duas ascendentes e antagônicas superpotências. Ele foi rapidamente percebido por estrategistas militares – a rota Sibéria­Alasca (ALSIB), colocada em operação em 1942 para prover aeronaves americanas para as forças soviéticas, fez uso desse espaço aéreo dentro do Círculo Ártico (The Voice of Russia 2008). A utilização dessa rota exemplifica o potencial de comunicação transcontinental entre a as terras eurasiáticas e o continente americano; entretanto, enquanto tendo sido usado como cooperação anti­Axis durante a Segunda Guerra, tal potencial se transformaria em combustível para competição por domínios estratégicos no ambiente bipolar internacional da Guerra Fria. Em outras palavras, os EUA e a URSS eram vizinhos territoriais virtuais na região do Ártico, com a vasta costa siberiana de frente ou fazendo fronteira com o Alasca (EUA) e muitos aliados políticos americanos (i.e. Canadá, Dinamarca através da Groelândia e Noruega).

Outro aspecto importante a considerar é o grande significado do Ártico para a marinha soviética. Apesar de precedida por uma flotilha de civis, a frota norte soviética foi fundada em 1931 com os objetivos de ajudar o 14º Exército, protegendo a região noroeste soviética e mantendo as linhas marítimas de comunicação (SLOC) (Åtland 2008). Com sedes em Severomorsk, na Península Kola, a frota logo se tornou vital para a União Soviética no desenrolar da Segunda Guerra. Assim, no final da Guerra, já era um extenso e poderoso braço do exército soviético, irrestrito em seu acesso a mares altos e quentes. O braço norte 8

podia, também, comunicar­se com o braço do Pacífico, centralizado em Vladivostok no leste distante, por meio de rotas no Oceano Ártico. Esses dois braços receberam, respectivamente, dois terços e um terço de todos os submarinos nucleares soviéticos durante a existência da URSS, o que destaca a importância dada a esses dois braços do exército (Nilsen et al. 1997).

Da década de 1950 em diante, a região do Ártico se tornou um palco para agravamento da tensão militar entre os EUA e a URSS (Åtland 2008). Através do desenvolvimento e posicionamento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), a produção de submarinos carregados com armas nucleares de ataque e a ameaça de mísseis de cruzeiro carregados por aviões bombardeiros, os dois países emitiram recursos para construir suas

8 No caso do Mar Báltico e do Mar Negro, a URSS tinha que passar por estreitos controlados pela Dinamarca/Suécia e Turquia, respectivamente, a fim de alcançar o oceano. O braço do Pacífico é restrito também no sentido de seu ponto de origem em Vladivostok ser circundado pelo Japão e pela Coreia do Sul, dois importantes aliados estratégicos dos EUA.

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capacidades na área vis­à­vis um para o outro. Mais proeminentemente, sistemas de radar preventivos foram construídos e instalados do outro lado da região por ambos americanos e seus aliados e os soviéticos (Åtland 2008).

O Sistema de Alerta a Distância (Distance Early Warning System – DEW, em inglês) foi desenvolvido e construído pelos Estados Unidos e pelo Canadá entre 1954 e 1957; foi composto por uma linha de radares anti­bombardeio em aeronaves chamada a “a linha DEW” atravessando o Alasca, o norte do Canadá e a Groelândia (DEW Line History 2011). O Sistema de Alerta de Mísseis Balísticos (Ballistic Missile Early Warning System – BMEWS, em inglês) foi construído em 1959 e complementou a linha DEW, tendo dois radares anti­mísseis na base aérea Thule (Groelândia) e na Estação Clear da Força Aeronáutica (Alasca) dos Estados Unidos, e na Estação Fylingdales das Forças Aeronáuticas Reais (Reino Unido) (Global Security 2013). Um sistema similar começou a ser construído pela União Soviética em 1963­4 (Podvig 2004) chamado de “Sistema Preduprezhdeniya o Raketnom Napadnii” (SPRK) (Åtland 2008, 3), o qual possuía radares anti­mísseis balísticos espalhados ao redor do território soviético. Entre os primeiros radares a ser construídos, Olenegorsk (localizado na Península Kola) e Skrunda (na Letônia) tinham alcance de detectar mísseis que juntos cobriam toda a área da Groelândia, Islândia e Reino Unido – dessa forma neutralizando as fronteiras dos Estados vizinhos, coincidentemente os parceiros estratégicos dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Ambos EUA e URSS também construíram postos submarinos de detecção (Åtland 2008, 2).

Também se deve notar que as condições naturais específicas do ambiente do Ártico proveram cobertura para os ataques militares via mísseis balísticos lançados de submarinos, uma vez que a profundidade das águas do Oceano Ártico permitiu submarinos nucleares ficarem submersos por semanas ou meses. Além disso, o rangido da zona de gelo marginal produziu condições favoráveis para esses submarinos não serem detectados pelos já citados sistemas de alerta (Åtland 2008, 2­3). À luz da estrutura internacional da Guerra Fria, a produção de submarinos nucleares tornou­se fundamental para o domínio regional no Ártico. Entre 1955 e 2004, a marinha russa construiu 249 submarinos nucleares (Bellona, 2013); ainda em 1986, o braço norte sozinho consistia de 180 submarinos (Åtland 2008, 2). Ao mesmo tempo, a marinha estadunidense dispunha de 140 submarinos no total (Naval History & Heritage Command 2011).

Além da acumulação militar, outros fatores apontam para a militarização de casos regionais durante a Guerra Fria. Sob as águas com gelo, submarinos constantemente patrulhavam o Ártico, engajando­se em espionagem mútua (Colley, 1997). Além disso, aproximadamente 265 testes nucleares foram conduzidos pela URSS no arquipélago de Nova Zemlia, (norte da Sibéria); algumas detonações nucleares subterrâneas aconteceram na ilha americana de Amchitka, fora da costa do Alasca e próxima do limite marítimo EUA­URSS (IAEA, 2004). Em suma, durante toda a era da Guerra Fria, pouco espaço era deixado na região ártica para assuntos que não fossem estratégia ou assuntos militares e nucleares.

Em 1987, entretanto, o sistema internacional via o primeiro maior movimento em direção a um quadro cooperativo vindo de uma das superpotências a respeito do Ártico. No dia 1º de outubro, o então líder soviético Mikhail Gorbachev entregou um discurso, o qual

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veio a ser conhecido como a “Iniciativa Murmansk”, destacando objetivos para facilitar a natureza confrontante de políticas internacionais do Ártico, assim como cooperar no desenvolvimento científico, etc. (Exner­Pirot 2012). Nos anos que se seguiram, a União Soviética também convidou observadores dos Estados nórdicos para assistir aos exercícios militares, um pedido respondido com recusa (Issaraelian 1989).

1.6. Atividade militar desde a década de 1990

Com o desmantelamento da União Soviética, em 1991, nas suas repúblicas sucessoras e o consequente fim da Guerra Fria, a atividade militar na região ártica passou por mudanças substanciais (Åtland 2008). Muitos dos (agora russos) submarinos do braço norte foram desativados; os locais da linha DEW foram devolvidos ao Canadá pelos Estados Unidos, em 1990, e, em 1993, uma cerimônia de desativação formal foi feita em Tuktoyaktuk, território do extremo norte do Canadá (Dew Line History 2011). Durante toda a década e 1990 e 2000, iniciativas cooperativistas em diversos campos relacionadas ao Ártico surgiram no cenário internacional. A mais proeminente foi a fundação do Conselho do Ártico, em 1996.

A despeito disso, uma análise mais profunda deve ver que a reestruturação do sistema internacional proveu um novo quadro político, no qual outros atores árticos foram capazes de reforçar suas ações na região. Em outras palavras, com os Estados Unidos redirecionando sua atenção para novas ameaças de sua segurança, a União Soviética separou­se em repúblicas escassas de recursos. Essa não seria a hora somente para cooperação regional, mas, também, para diferentes tipos de cooperação. Com as perspectivas de uma área ártica cada vez mais sem gelo se avultando, países estão agora visando não apenas a importância estratégica das áreas circundantes do Pólo Norte, mas, também, sua rentabilidade econômica devido a fontes inexploradas de óleo e gás e rotas comerciais internacionais mais curtas . 9

O Canadá tem tomado algumas das ações mais duras em relação à afirmação regional no Ártico. Sob o lema do “Use­o ou perca­o”, o governo canadense tem reestruturado sua política externa com foco nos seus territórios do norte, uma vasta massa de terra de frente para o Oceano Ártico . Um Centro Canadense de Treinamento de Forças do Ártico está 10

planejado para ser construído na Baía de Resolute, exatamente dentro do Círculo Ártico. Em adição, a expansão numérica dos soldados canadenses e a construção de portos de águas profundas estimados em 100 milhões de dólares foram anunciadas (Smith, 2011).

Sendo o Estado herdeiro da União Soviético, a Federação Russa manteve a maioria da capacidade de poder de fogo soviético sob seu cinturão, mas perdeu unanimidade naval nos Mares Cáspio, Negro e Báltico com o nascimento de repúblicas menores. Logo, a Rússia é ainda mais um “país nórdico” do que a União Soviética era, destacando a importância histórica do Ártico pelos seus cálculos políticos (Åtland 2008). Moscou criou a Guarda das Fronteiras Costeiras do Serviço de Segurança Federal e está investindo em novos petroleiros de dupla ação e navios de carga, enquanto ainda está operando o maior braço quebrador de

9 "Registros de pequenas extensões do gelo do Mar Ártico em 2012 e em 2007 têm focado as atenções política e científica em mudanças climáticas no Alto Norte, e nas implicações das temporadas sem gelo no Ártico durante décadas. O Ártico tem sido projetado por muitos cientistas para ficar sem gelo no mais tardar nos verões logo que chegar a década de 2030 (O'rourke 2013, 10).

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gelo do mundo (Smith 2011). Em 2007, a Rússia também reiniciou a patrulha no Ártico (BBC 2007).

A Rússia tem ligações militares com a Noruega (um membro da OTAN), mantendo seu conjunto de exercícios navais Pomor todos os anos desde 2010 (Zapaday 2010). Os dois países resolveram uma disputa de 40 anos da fronteira do Mar de Barents em 27 de abril do mesmo ano, assim, começando a cooperar para um objetivo comum (Fjaertoft 2011). Oslo moveu as bases das Forças Armadas Norueguesas de Jåttå no sul para Reitan, próximo de Bodø, logo a norte do Círculo Ártico, em agosto de 2009. Em 2010 as bases das guardas costeiras também foram movidas para norte (Wezeman 2012). Outro ator ártico, a Dinamarca, tem criado um Comando do Ártico unificado e uma Força de Resposta do Ártico, além de investir 117 milhões de dólares em aprimoramentos militares (Smith 2011).

Atualmente, os Estados Unidos parecem ser o único país ártico cujos objetivos defensivos não incluem uma prioridade manifestada com respeito à proteção dos interesses nacionais no Alto Norte. Não obstante, em abril de 2011, dois submarinos nucleares de ataque participaram do Exercício no Gelo de 2011, operando no Ártico, e um campo foi estabelecido 150 milhas náuticas (278 quilômetros) a norte da Baía de Prudhoe, no Alasca (Wezeman 2012).

Em suma, os recentes desenvolvimentos militares na região lançam alguma luz sobre a importância de suas causas fundamentais. Em outras palavras, problemas tais quais a proeminência política e a soberania territorial no Ártico têm tornado­se indissociáveis das perspectivas econômicas para a qual o aquecimento global e o derretimento progressivo da camada de gelo indicam, ambos em termos de exploração de recursos e de rotas comerciais. 2. Desenvolvimento da questão

2.1. Os territórios do Ártico sob o Direito Internacional

O território é um elemento crucial para a criação e a manutenção de um Estado. Para que um Estado pratique sua soberania, ele deve ter um território em que sua autoridade é a mais forte. No entanto, essa soberania estatal é, em teoria, limitada pelo próprio território (Calster, n.d). A aquisição de territórios pelos Estados ao longo da história seguiu diferentes padrões de ocupação, como colonização, guerras territoriais, dominação de outros povos (e, consequentemente, de seus territórios), e, em alguns casos, através de compra. Porém, algumas questões territoriais persistem ao longo da história e ainda são objetos de discussão em fóruns internacionais.

As disputas a respeito de territórios marítimos levaram a uma série de convenções internacionais para definir a extensão da soberania de Estados costeiros, e as condições sob as quais outros países podem usar águas estrangeiras para a navegação e para o desenvolvimento de atividades científicas. O primeiro avanço nesse ramo do Direito Internacional foi realizado na 1ª Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM I), realizado em Genebra em 1956. Durante a CNUDM I, quatro importantes convenções foram discutidas: a Convenção sobre Mar Territorial e Zonas Contíguas; a Convenção sobre Plataforma Continental; a Convenção sobre Altos­Mares e a Convenção sobre Pesca e Conservação dos Recursos Vivos

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nos Altos­Mares (Santos 2007, 73). Essas convenções foram concluídas em 1958 e, posteriormente, assinadas por muitos países.

As discussões a respeito da questão prosseguiram e uma segunda Convenção sobre o Direito do Mar (CNUDM II) foi realizada em 1960 em Genebra, não tendo resultados semelhantes à primeira. O assunto voltou a ser o tópico de uma reunião internacional em 1973, quando a terceira Convenção sobre o Direito do Mar (CNUDM III) foi conduzida, em Nova Iorque. Essa conferência foi responsável pela criação do principal tratado do direito internacional na área, chamado Convenção sobre o Direito do Mar (CNUDM), também conhecido como Convenção da Baía de Montego, um passo relevante para um futuro quadro internacional consensual que guiaria as relações internacionais sob regras comuns. A CNUDM III não obteve tamanha conquista facilmente, tendo durado mais nove anos a fim de criar o documento, o qual não ainda não foi aprovado e/ou ratificado por muitos países (Santos 2007).

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar manteve a validade sobre as outras convenções a respeito do assunto, assinadas na CNUDM I, comumente conhecidas como Convenções de Genebra. Esta estabeleceu um conjunto de termos usados como referência às partes costeiras que compõem o território de um Estado ou que estão sob a soberania de um Estado, bem como as regras usadas para definir os donos dessas áreas, e as condições sob as quais outros Estados são autorizados a fazerem uso dessas áreas para vários propósitos. A convenção também estabeleceu os mecanismos que devem ser usados para definir disputas territoriais no que tange a corpos d’água (CNUDM, 1982). O acordo foi assinado e ratificado por 164 países e a União Europeia. Outros 15 o assinaram, mas ainda não o ratificaram (oito deles não possuem costa) e outros 17 países amplamente reconhecidos ainda não o assinaram (dez deles não possuem costa). O único Estado do Ártico que ainda não assinou ou não ratificou a convenção foi os Estados Unidos (UN 2013).

Imagem 2: zonas marítimas da CNUDM

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Fonte: Wikipedia Para melhor compreender a situação legal que estabelece os donos e a soberania sobre territórios marítimos por Estados costeiros é importante saber os termos usados para definir as diferentes partes de mares e oceanos, sob a CNUDM:

A) Mar Territorial – é a parte sob a qual a soberania de um Estado costeiro seestende completamente. O país goza de direitos totais à navegação, condução de atividades econômicas e ocupação sobre essa área. O mar territorial de um país deve ser definido pelo mesmo país a qual ele pertence através de um documento oficial. No entanto, a extensão de um mar territorial não deve exceder 12 milhas náuticas , medidas através das linhas de base, determinadas de 11

acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e não pode interferir no direito de outros Estados costeiros aos seus próprios mares territoriais e no seu acesso aos mares altos (explicados abaixo). Navios de outros países devem ter a garantia do direito de passagem inocente no mar territorial de um Estado costeiro (CNUDM 1982, Parte II) . 12

B) Zonas Contíguas – é a zona que é contígua a um mar territorial de um Estado costeiro. O Estado costeiro tem o direito de controlar essa área de forma a prevenir e/ou punir atividades que podem infringir seus direitos e regulações costumeiros, fiscais, de imigração e sanitarista dentro de seu território ou mar territorial. O país não possui o direito de posse sobre essa área, a qual não pode se estender 24 milhas náuticas das linhas de base usadas para definir 13

o mar territorial de um país (CNUDM 1982, Parte II, Seção 4). C) Zona Econômica Exclusiva – é a área além do mar territorial de um Estado

costeiro, sobre os quais os direitos de alguns Estados se estendem. Portanto, um país tem

direitos de soberania para o propósito de exploração e de aproveitamento, conservando e administrando os recursos naturais, vivos ou não­vivos, das águas sobrejacentes ao solo oceânico e do solo oceânico ao seu subsolo, e no que tange as outras atividades de aproveitamento e de exploração econômicos da zona, como

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a produção de energia pela água, correntes e ventos (CNUDM 1982, Parte V, Artigo 56)

pela sua Zona Econômica Exclusiva. Essa zona pode se estender por mais de 200 milhas 14

náuticas a partir das linhas de base usadas para definir o mar territorial de um país. Condições especiais de aproveitamento, com o objetivo de criar regimes conjuntos de exploração, podem ser aplicados se países na região forem privados de costas ou geograficamente possuírem alguma desvantagem (CNUDM 1982, Parte II, Seção 5). 15

D) Plataforma Continental – é a área que

abrange o solo oceânico e o subsolo de áreas submarinas que se estendem além de seu mar territorial por toda a extensão das prolongações naturais de seu território terrestre até o bordo exterior da margem continental, ou até a distância de 200 milhas náuticas a partir das linhas de base a partir da qual a amplitude do mar territorial é mensurada onde o bordo exterior da margem continental não alcança essa distância (CNUDM 1982, Parte VI, Artigo 76, parágrafo 1).

O Estado costeiro tem direitos ao aproveitamento sobre os recursos naturais de sua Plataforma Continental . Esse direito é exclusivo aos Estados costeiros a quem essa Area pertence, salvo 16

alguma negociação realizada entre o Estado e outro país, sobre os termos da CNUDM (UNCLOS 1982, Parte VI, Artigo 77). A exigência de um país por sua Plataforma Continental deve ser feita à Comissão das Nações Unidas sobre Extensão de Plataforma Continental dentro de 10 anos de assinatura da Convenção.

Parte VI da CNUDM estabelece o critério sob o qual Partes (signatários ratificados) podem fazer reivindicações “excessivas” para explorar exclusivamente os recursos do solo oceânico e do subsolo (mas não a coluna de água ou o espaço aéreo acima dele) além de 200 milhas náuticas da ZEE. As reivindicações não podem exceder 15 milhas náuticas adicionais da ZEE ou 10 milhas náuticas além do ponto onde a profundidade da água é 2.500 metros, o que for maior. A fim de validar essas reivindicações, pesquisas intensas devem ser conduzidas para mapear a hidrografia, avaliar a geologia e examinar a geodesia do Ártico. Para apoiar a reivindicação de algum Estado, então, as evidências devem ser submetidas à Comissão estabelecida sob o Anexo II da CNUDM para julgamento, e todas as decisões levantadas são finais e obrigatórias a todas as Partes da disputa. Finalmente, é importante notar que o tempo é essencial: uma nação tem apenas dez anos do dia em que ratifica o CNUDM para submeter reivindicações em excesso de sua respectiva ZEE para julgamento. Em certas áreas do Ártico, a competição é para cumprir esse prazo.

E) Mares­Altos – Todas as partes do mar que não correspondem às aguas internacionais de um Estado costeiro, águas de arquipélagos (aplicável apenas a Estados arquipélagos), mar territorial ou Zonas Econômicas Exclusivas devem permanecer livres para todos os Estados, sejam costeiros ou desprovidos de costa. Essa parte dos mares e oceanos é chamada é de mares­altos, onde um conjunto especial de direitos e deveres é aplicável a todos os estados que almejam a manutenção da conservação e da liberdade da área (CNUDM 1982, Artigo VII).

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Tendo em mente esses conceitos e a quase total aceitação dos termos da CNUDM, há um grande e importante grupo de autores e acadêmicos que acreditam que a CNUDM deve ser aplicada à região do Ártico, considerando­se a composição dessa área. Essa crença é baseada também em um artigo da convenção que afirma que nenhum tratamento diferenciado deve ser dado a áreas congeladas, mesmo que o artigo considerado trate de aspectos climáticos e sobre a responsabilidade pela conservação ambiental, e não sobre a possessão de territórios (Santos 2007, 84).

A possessão dos territórios do Ártico (seja terra ou gelo) e, consequentemente, os recursos disponíveis na região, tornou­se um tema de debate no início do século 20, quando a forma e os direitos de ocupação eram um assunto tratado tanto na esfera política quanto acadêmica. Assim, a interpretação comum sobre a condição do Ártico era de região res nullius, onde nenhuma soberania havia até então sido aplicada e, por isso, encontrava­se disponível para ocupação . A discussão passou a afirmar que o princípio do uti possidetis juris deveria ser 17

usado para determinar a possessão de alguns territórios e que outros métodos deveriam ser utilizados para definir a condição de regiões não ocupadas (Santos 2007, 45). 18

Uma teoria comum usada para definir a região do Ártico entre os Estados do Ártico foi a teoria dos setores. Essa teoria afirma que um país tem direitos de posse sobre uma região triangular esférica acima de seu território (esse triângulo tem como vértice o polo, como lados os meridianos e como base tanto um paralelo quanto uma linha geográfica natural) (Costa 1951, apud Santos 2007, 46). A teoria é baseada em princípios como a intenção de desenvolver a ocupação da região, a possibilidade de estendê­la nos mesmos padrões de segurança, integridade e defesa da parte ocupada, e no controle sobre territórios adjacentes (Santos, 2007, 46).

A teoria dos setores foi discutida primeiramente no encontro do Clube Naval de 1960, na cidade de Nova Iorque. Foi rejeitada em primeira instância pelo Canadá, mas depois aceita e aplicada implicitamente pelos governos canadense e russo. Foi comumente aceita por um longo período de tempo, mesmo que outros países não a aceitassem. No entanto, sua formulação original não abordava questões como a anexação de águas congeladas. Mais tarde a teoria foi duramente criticada e deixou de ser utilizada para que se justificasse a ocupação de territórios (Costa 1951, apud Santos 2007; Santos 2007).

Assim que a abordagem que afirmava que o Ártico era res nullius e, consequentemente, disponível para ocupação, tornou­se menos popular, o conceito de res communis ganhou importância. De acordo com esse princípio, a região do Ártico não poderia ser ocupada, 19

permanecendo como um território internacional comum. A ascensão de tal categorização ocorreu em um momento em que a condição da região da Antártida também era debatida, resultando no Tratado da Antártida, o qual proporcionou à região o status de região internacional, em que apenas atividades pacíficas seriam conduzidas pelos países signatários (mesmo que autorizasse outros países a assiná­lo e a receber os mesmos direitos) (Tratado da Antártida 1959). 20

Se o princípio do res communis é aplicável ao Ártico, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar torna­se o principal corpo jurídico aplicável à região. Essa abordagem implicaria, então, que não importa em qual estado físico a água esteja, seja sólido ou líquido, o

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mesmo conjunto de regras deve ser aplicado (Santos 2007). Mesmo que nenhum tratado especial tenha sido criado para definir a condição do Ártico (como o Tratado do Ártico), a discussão sobre a região foi levada a fóruns internacionais. Em 1996, um corpo internacional especial foi criado com o objetivo de defender os interesses e os direitos dos Estados do Ártico. Esse corpo é o Conselho do Ártico, composto por oito países, a saber, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Federação Russa, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia. A sua principal meta é promover o desenvolvimento sustentável da região, através de regulações ambientais, econômicas e sociais (Conselho do Ártico 2013).

A discussão em relação à situação sobre a possessão do Ártico pode ser historicamente definida pela oposição entre a sua interpretação como território res nullius e como terra res communis, da qual a exploração deve ser decidida a partir de fóruns internacionais. A segunda interpretação tem ganhado força desde a segunda metade do século 20. Essa tendência contribui para engrandecer o uso da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar para a resolução de disputas na região. Há um forte movimento por parte do governo russo para redefinir os limites marítimos à sua soberania através da interpretação da CNUDM (Zisk 2010). Essa situação ilustra que a definição da divisão territorial da região ainda não está finalizada e que deve ser muito discutida considerando­se os efeitos das mudanças climáticas para o Ártico. A resolução dessa discussão é uma questão muito relevante que envolve uma série de interesses (principalmente se os recursos disponíveis na região são considerados) a que pode representar a maior mudança para a manutenção da paz e da estabilidade no Ártico. 2.2. Os recursos do Ártico

Ao longo da Guerra Fria, o Ártico desempenhou um importante papel no teatro bipolar, dada a sua localização estratégica, servindo como sede para a base­marítima nuclear de retenção soviética, centrada na Frota do Norte. Essa importância geopolítica pode ter diminuído após a queda do Muro de Berlim, mas a relevância estratégica da região se mantém, também em função de sua importância geoeconômica, da qual se espera um crescimento consequente do aumento do estreitamento do mercado global de energia. O Ártico tem uma riqueza mineral significativa, sendo o lar de uma parcela relevante das reservas mundiais de óleo e de gás, e de depósitos de muitos minerais valiosos, como ouro, cobre, ferro, estanho, magnésio, diamantes, entre outros (Cohen 2011). Mesmo que existam atualmente muitas plataformas onshore e minas no Ártico que se aproveitam desses recursos (Gautier et al.2009), os ganhos potenciais da região estão ainda, em sua maioria, por ser obtidos, dadas as dificuldades geológicas que são naturalmente impostas às suas explorações. No entanto, a situação está rapidamente se modificando em razão das mudanças climáticas na região, além de ser mais atraente para explorar em comparação a outras tradicionais fontes de energia global que estão, em grande parte, exauridas ou consideradas instáveis.

Estudos da Pesquisa Geológica dos Estados Unidos estimam que o Ártico tem em torno de vinte e cinco por cento dos recursos de óleo e de gás não descobertos do mundo (Titley e St John 2010; Gautier et al 2009; Mellgren 2007). Possui, ainda, dez por cento da quota mundial de reservas de petróleo (Kenneth et al. 2008, apud Titley e St.John 2010). Consequentemente,

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podemos afirmar que o Ártico já desempenha um papel inquestionável no teatro energético e que este possui um incrível potencial de crescimento, dado seus depósitos intocados. Para melhor compreender a grande parcela de hidrocarbonetos que o Ártico possui, seus dez por cento equivalem a mais de quatrocentas jazidas de óleo e de gás, contendo quarenta bilhões de barris de óleo, 1.136 trilhões de pés cúbicos de gás natural ou oito bilhões de barris de gás natural líquido (Gautier at al.2009). É desnecessário dizer que a exploração desses recursos fica principalmente nas mãos dos chamados Cinco Árticos: Canadá, Dinamarca, Estados Unidos da América, Federação Russa e Noruega.

Aproximadamente sessenta e uma grandes jazidas de óleo e de gás natural foram descobertas dentro do Círculo do Ártico na Rússia, Alasca, Territórios do Noroeste do Canadá e Noruega. Quinze dessas sessenta e uma grandes jazidas do Ártico ainda não foram destinadas à produção; onze estão nos Territórios do Noroeste do Canadá, dois na Rússia, e dois no Alasca Ártico. Quarenta e três das sessenta e uma jazidas estão localizadas na Rússia. Trinta e cinco dessas grandes jazidas russas (trinta e três de gás natural e duas de óleo) estão localizadas na Bacia Ocidental Siberiana. Das oito jazidas russas remanescentes, cinco estão da Bacia de Timan­Pechora, duas estão na Bacia Sul Barents e uma está em Ludlov Saddle. Das dezoito grandes jazidas fora da Rússia, seis estão no Alasca, onze estão nos Territórios Noroestes do Canadá, e uma está na Noruega (Budzic, 2009, 4).

A região do Ártico está dividida em dezenove bacias geológicas, das quais muitas passaram pelo processo de sedimentação das rochas em associação com a formação de petróleo e de gás (Gautier et al. 2009). Entre essas dezenove bacias, algumas já sofreram a exploração de gás e de óleo; a primeira jazida a ser explorada foi a de Tazavskoye, em 1962, pela Rússia, e a segunda foi a Baía do Alasca Prudhoe, em 1967, pelos Estados Unidos (Budzic 2009). O Canadá e a Noruega, atualmente, também se beneficiam com a exploração de petróleo e de gás no Ártico, principalmente através de companhias estatais (Conley 2012). No entanto, menos da metade dessas bacias são exploradas até seu máximo potencial, predominantemente em razão dos altos preços do desenvolvimento de infraestrutura, tecnologia, transporte e manutenção necessários. Um bom exemplo é que “5,4 trilhões de pés cúbicos (6,3 bilhões de barris de óleo ou equivalente) dos recursos de gás natural descobertos na Encosta Norte do Alasca permanecem inexplorados dada a ausência de infraestrutura de transporte” (Budzic 2009, 3). Por conseguinte, hoje, a maioria da exploração de óleo e de gás que ocorre no Ártico é realizada em terra, e há depósitos bem conhecidos na região que ainda não são explorados em função das dificuldades que são naturalmente impostas (Conley 2012).

Os resultados da Pesquisa Geológica dos Estados Unidos para o Ártico não podem ser ignorados . A avaliação da Pesquisa estimou um total de reservas de gás natural e de óleo de 21

412 bilhões de barris de óleo. Setenta e oito por cento desses recursos são esperados de gás natural e de gás natural líquido (Budzic 2009, 6). Os Estados do Ártico já estão providenciando formas de aumentar sua exploração na região, como se pode perceber nos planos russos de expansão da produção de óleo no Mar Pechora e de perfuração das jazidas de óleo de Prirazlomney no início de 2012, ou nos acordos entre a administração de Obama e a Shell

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dinamarquesa pela perfuração marítima no Mar de Beaufort, esperada para ter início em 2012 (Conley 2012).

Imagem 3: Óleo não descoberto no Ártico

Fonte: Gautier et al. 2009

A maioria dos hidrocarbonetos não descobertos está localizada no Ocidente Siberiano, no Ártico Alasca e nas bacias do Leste Barent. O Oceano Ártico toca os continentes Eurasiano 22

e Norte Americano e é composto basicamente de depósitos de óleo; por outro lado, os outros sessenta e quatro por cento estão localizados na Eurásia, compostos fundamentalmente por gás

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natural (Badzic 2009). Tal quantidade de depósitos de gás natural – quase três vezes maior do que os depósitos de óleo estimados – está concentrada principalmente na Rússia, e a produção de gás da Rússia no Ártico compõe noventa por cento da a produção total de gás do país (Conley 2013). Porém, o aproveitamento e o transporte de gás natural é considerado mais caro em comparação ao do óleo, em função do grande custo de capital requerido para a construção das facilidades de liquefação necessárias para comportar o gás (Budzic 2009). Acredita­se que o Ártico possa ser uma das maiores áreas prósperas remanescentes para a obtenção de energia, mas, até agora, dificuldades técnicas e remotas, acopladas ao ainda baixo custo do petróleo, tem garantido que a pequena exploração – de gás e de óleo – ocorram no mar (Gautier et al. 2009).

Além da exaltação pelo gás e óleo não descobertos, outros recursos naturais importantes estão presentes na região do Ártico. Ainda no campo das fontes energéticas, no fundo do Oceano Ártico há grandes depósitos de metano hidratado. Metano hidratado é uma forma sólida do gás natural com 3.000 vezes mais concentração de metano do que o encontrado na atmosfera (Cohen 2011). Todavia, até hoje, não há tecnologias hábeis para extraí­lo com segurança (Cohen 2011). Além disso, a região contém uma larga escala de diferentes minerais disponíveis para extração, incluindo magnésio, chumbo, cobalto, zinco e ouro (Titley e St. John 2010). Nos dias atuais, ninguém pode dizer com certeza quais são os minerais que compõem as reservas naturais do Ártico, nem sua extensão completa. No entanto, cada um dos países do Ártico já começou o processo de extração de minerais como níquel, chumbo, estanho, urânio e fosfato (Conley 2012). Por exemplo, Norilsk Nickel Plant é a maior mina na Rússia Ártica, produzindo aproximadamente um quinto do níquel obtido mundialmente e exportando toneladas de metal e de carvão para países asiáticos; assim como a Noruega, a Rússia exporta minérios de ferro para grande parte da Europa (Conley 2012). Não obstante, da mesma forma como ocorre com a exploração de recursos energéticos, muitos obstáculos técnicos e naturais são impostos para o completo proveito da exploração mineral.

Imagem 3: Gás Natural não descoberto no Ártico

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2.3. Mudança climática e o Ártico

O aquecimento global é um fenômeno que se apresenta como uma das principais questões do século XXI. De fato, o mundo está se tornando mais e mais quente devido ao chamado efeito estufa e, além do desejo daqueles que estão procurando por maneiras de controlar esse processo, mais projeções não são possíveis . Entre as consequências desse 23

fenômeno, uma região que é particularmente afetada é o Ártico, onde indicadores mostram que a mais rápida e mais dramática mudança climática na Terra está ocorrendo (Alexandrov 2009). Um boletim do United Nations Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) afirmou que a calota polar do Ártico está aquecendo mais rapidamente que o resto do gelo do planeta, devido às emissões de gases do efeito estufa (Mellgren 2008). O derretimento do Ártico é uma tendência que pode ser observada com precisão, uma vez que pode ­ e já o fez ­ provocar mudanças não apenas para o meio­ambiente da região, mas também para a sua política.

O Ártico é particularmente afetado pelos gases de efeito estufa devido ao ângulo exato pelo qual os raios solares atingem a região polar durante o verão, e porque o gelo derretido está se transformando em um oceano aberto, que absorve ainda mais as radiações solares (Borgerson 2008). Em outras palavras, o calor do sol do verão derrete o mar do Ártico, e mais energia solar é absorvida por um oceano maior, o que faz a temperatura mais quente ao longo de todo o ano. Desse modo, ainda que seja normal para o Ártico aquecer no verão, o inverno não está sendo capaz de congelar a água na mesma intensidade. Essa dinâmica está criando, assim, um ciclo de derretimento vicioso conhecido como looping de feedback do albedo do gelo (Borgerson 2008).

Esse ciclo de derretimento vicioso está reduzindo a calota polar do Ártico. Cientistas estão observando o recuo do mar de gelo, o derretimento das geleiras, a menor quantidade de neve e a diminuição das áreas de subsolo congelado (Titley e St.John 2010). Somente em 24

2007, mais de um milhão de milhas quadradas de gelo derreteram ­ o mais alto recorde alcançado ­, deixando a região com apenas metade do gelo que existia em 1950 (Ebinger e Zambetakis 2009). Outra consequência do aquecimento global é que o gelo milenar do Ártico ­ ou seja, o gelo que não derrete nem mesmo no verão ­ está, na verdade, ficando menor e sendo substituído por um mar de gelo que é consideravelmente mais diluto e esparso (Borgerson 2008, 66). Esse gelo milenar, devido à sua densidade, desempenha um importante papel na circulação oceânica, provendo espaço para que a energia solar volte ao espaço por meio da reflexão. Com uma calota polar mais diluta e esparsa, a energia solar pode derretê­la e não ser refletida de volta. De fato, os números estão atingindo os recordes da menor calota polar a cada dia (Ebinger e Zambetakis 2009).

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Tal calota polar é a principal razão pela qual o acesso ao Ártico é tão difícil e, em muitos casos, impraticável: o meio­ambiente rude, as quase insuportáveis baixas temperaturas e as camadas de gelo profundas fizeram do Ártico um lugar onde algumas operações marítimas ­ especialmente as comerciais ­ foram arriscadas (Titley e St.John 2010). Entretanto, essa tradicional compreensão do Ártico como uma região não navegável está mudando devido aos efeitos do aquecimento global. Entre 2004 e 2005, o Ártico perdeu 14% do seu gelo perene, um enorme obstáculo para o transporte marítimo, e, nos últimos vinte e três anos, 41% desse gelo desapareceu (Borgerson 2008, 66). Hoje, os estudos variam sobre o ano em que a primeira experiência do Ártico degelado no verão deverá ocorrer, mas o consenso entre a maioria dos modelos é que o Ártico experimentará tais condições em uma porção do verão de 2030 (Titley e St.John 2010). Isso significa que, com a decomposição do gelo milenar, o Ártico será como o Mar Báltico, que é coberto apenas por uma fina camada de gelo no inverno navegável não só no verão, mas também no inverno, com navios quebra­gelos (24) (Boergerson 2008; Smith, 2011). 25

2.4. Os efeitos da mudança climática na geopolítica do Ártico

A região do Ártico está aquecendo. No Alasca e no oeste do Canadá, a média de temperaturas no inverno tem aumentado 7 ºF nos últimos sessenta anos (Borgerson 2008) e a calota polar está derretendo. Isso significa um Ártico crescentemente acessível, e, ainda que a comunidade internacional dirija retardar o ritmo do aquecimento global, a expectativa é um Ártico mais aberto à atividade humana em um futuro próximo. Por atividade humana podemos entender uma vasta gama de operações, como o tráfego do comércio marítimo, turismo, exploração de petróleo e gás, fuligem emitida por navios e operações em terra, gelo ou céu (Ebinger e Zambetakis 2009). Pela primeira vez, em agosto de 2009, dois navios comerciais alemães, sem quebra­gelos, conseguiram atravessar a rota do Mar do Norte ­ por muito tempo impenetrável – de Vladivostok para os Países Baixos (Conley 2012).

Um acesso mais fácil significa que o Ártico terá de ser ajustado para participar das novas regras do cenário internacional. A perspectiva de benefício desses recursos até então intocados, principalmente óleo e gás, já está sendo razão de desacordo entre os Cinco do Ártico e os outros países que desejam manifestar seu interesse na questão (Borgerson 2008). Com essa nova perspectiva, problemas, desafios e oportunidades chegarão não somente para os países da região do Ártico, mas também para a comunidade internacional, para que lide com eles. Questões sobre impacto ambiental, alocação de nativos, comércio internacional, soberania e governança tenderão a surgir com essa mudança de conjuntura na região.

2.4.1. O impacto no meio­ambiente e entre locais

Os danos do aquecimento global para o balanço ambiental estão importunando os ecologistas e o caso do derretimento do Ártico pode ser um dos exemplos mais visíveis dos efeitos drásticos dessa mudança climática. De acordo com Borgerson (2008), o impacto ambiental do derretimento do Ártico tem sido dramático e já afetou muitos aspectos do

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ecossistema da região. O derretimento da calota polar está aumentando as temperaturas da água e, por isso, provocando uma mudança na distribuição do mar e, em consequência, afetando a fauna e a flora que são dependentes do gelo (Ebinger e Zambetakis 2009). Ademais, o derretimento do gelo está afetando diretamente o estilo de vida tradicional dos nativos da região: comunidades que antes estavam isoladas e tinham seus habitantes concentrados nesse complicado ambiente estão agora sendo expostos ao novo comércio, às companhias de petróleo e gás e à atenção internacional. Já é consenso que os impactos para o ambiente do Ártico e para a comunidade local devem ser analisados de perto. Entretanto, eles ainda não são completamente compreendidos, especialmente devido à falta de tecnologias especializadas e de acesso aos satélites e às condições climáticas às quais a região expõe os cientistas (Titley and St.John 2010).

Segundo Titley e St. John (2010), o Ártico está aquecendo duas vezes mais rápido que as outras regiões do globo. Esse aquecimento está levando a uma diminuição das áreas cobertas por gelo, causando um aumento do nível do mar, mudando a acidez do oceano e elevando as temperaturas. Uma abordagem mais radical pode até mesmo prever que essas mudanças na acidez e temperatura do Oceano Ártico tiveram ­ e terão ainda mais – efeitos ecológicos no norte e no noroeste do Oceano Atlântico, provocando, ainda, uma futura movimentação do regime e estratificação do padrão de circulação da água entre esses dois oceanos (Greene et al. 2008). Com águas mais quentes, os peixes estão se movendo ainda mais para o norte (Borgerson 2008). Essa nova dinâmica poderá causar algumas discussões entre a pesca tradicional e local dos países do Ártico, uma vez que os peixes estão migrando das regiões tradicionais para outras. Os governos locais já estão cientes dessas mudanças: um exemplo é que, em agosto de 2009, a administração de Obama aprovou o Plano de Gestão de Pesca no Ártico para prevenir a expansão da pesca comercial nas águas do Ártico expostas pelo derretimento do gelo (Ebinger e Zambetakis 2009). É importante, também, lembrar que a migração dos peixes está mudando o nicho ecológico de outros animais da região e afetando todo equilíbrio da fauna . 26

Não só a fauna do Ártico está passando por uma grande quantidade de mudanças, mas também a flora está experimentando situações nunca antes vistas. A tundra, o bioma mais ao norte do mundo, está sendo substituída por um novo tipo de floresta temperada (Titley e St.John 2010). Lugares que eram considerados inóspitos e improdutivos estão agora sendo considerados para certos tipos de plantação. A Groenlândia, por exemplo, está experimentando um boom agrícola, já que o então solo estéril cede lugar ao brócolis, feno e batatas (Borgerson 2008). No entanto, essa mudança na vegetação de tundra para o crescimento de plantas maiores liberará mais gases do efeito estufa, dentre eles o gás carbônico, que irá escurecer ainda mais a paisagem, provocando mais calor e derretimento das calotas polares (Chance and Andreeva 1995).

As mudanças na fauna e na flora do Ártico têm implicações para o sistema de moradia dos nativos. Comunidades da região, como os Inuit e os Nunavut, têm suas estratégias substanciais centradas na caça e na pesca tradicionais, que estão sendo alteradas como resultado da mudança do clima (Ford e Smit 2004). Por outro lado, essas comunidades que

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tiveram, e até hoje tem, uma falta de acesso a algumas das mais básicas necessidades da modernidade em virtude da localização geográfica, das características geofísicas do terreno e da negligência dos governos centrais, podem agora se beneficiar com um mais acessível e lucrativo Ártico (Ebinger e Zambetakis 2009). Com a região ficando mais atrativa para o comércio, exploração de recursos, rotas marítimas e outras atividades lucrativas, será necessário chamar mais atenção governamental e internacional. Essa atenção será especialmente necessária devido às implicações que o degelo, a erosão costeira e o recuo do gelo milenar têm na infra­estrutura desses nativos: vários locais, em consequência dessas alterações no ecossistema, precisarão ser realocados em um terreno mais estável (Ford e Smit 2004). Além disso, é importante que, em todos os planos de perfurar ou explorar os recursos do Ártico, o interesse dos locais seja considerado . Deverá haver um consenso dos indígenas 27

para a exploração dos campos: a companhia Shell, por exemplo, teve que pagar oitenta milhões de dólares para uma comunidade indígena por acessar o Mar Beaufort, na costa norte do Alasca.

Com um melhor acesso humano à região, os cientistas estão se preocupando sobre o dano ambiental que poderia ser causado pelo petróleo, mineração e outros projetos de desenvolvimento de larga escala (Chance e Andreeva 1995). Não somente esses projetos podem causar apreensões devido aos riscos naturais da perfuração, do derramamento de óleo e da mineração, mas também porque eles podem transformar o Ártico em um depósito de poluentes orgânicos e metais pesados derivados dessas operações. De acordo com Chance e Andreeva (1995), um projeto massivo de desenvolvimento de petróleo em Prudhoe Bay já destruiu milhares de acres de hábitat selvagem, causou declínio na vida das populações de animais e deixou centenas de valas abertas contendo milhões de litros de resíduos da indústria petrolífera (U.S. Fish & Wildlife Service 1987 apud Chance e Andreeva 1995). Em consequência, ativistas estão contestando os projetos de novas empresas de petróleo junto a refúgios de hábitat selvagem, como no caso do Mar Beaufort, e levantando a questão dos perigos da perfuração de petóleo nas frágeis condições do Ártico (Chance e Andreeva 1995).

A rápida mudança climática no Ártico está causando preocupação entre cientistas e economistas devido aos seus inquietantes efeitos na fauna, na flora e no ecossistema da região. Além disso, muitos nativos estão sendo expostos à vulnerabilidade e riscos para sua segurança e para seu tradicional modo de vida, uma vez que seu principal meio de subsistência é drasticamente mudado. Por exemplo, em julho de 2002, 52 nativos, vivendo na baía do Ártico, em Nunavut, soltaram­se da terra abruptamente e, ainda que todos tenham sido resgatados com vida, o acidente evidenciou a dificuldade e a necessidade de adaptação em relação às mudança da região (Ford e Smit 2004). Ainda há muitas dúvidas sobre os efeitos negativos do aquecimento das águas dos mares, a inconstância do regime dos oceanos, a modificação na flora e na fauna do Ártico. No entanto, organizações regionais, governos e comunidades já estão percebendo a necessidade do desenvolvimento de um conhecimento de maior alcance e a mitigação e a adaptação das opções (DSD, 2003, apud Ford e Smit 2004).

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2.4.2. Corrida por Recursos

O Ártico está derretendo, fazendo com que a região se abra mais e mais à atividade humana e, em consequência, transformando a imagem da região em um inóspito e marginal local em uma região que está, uma vez mais, se tornando um grande objeto da geopolítica contemporânea. Na verdade, os números confirmam a agitação: o Ministério dos Recursos Naturais russo estima que a fração de águas submersas do Ártico poderia suportar 586 bilhões de barris de reservas de petróleo (Cohen 2011). Os depósitos de petróleo comprovadamente existentes não apenas podem chegar aos três bilhões de barris, como as comprovadas reservas de gás poderiam alcançar 7.7 tcm (ibidem). A possibilidade de 28

explorar esses recursos no Ártico é assustadora, devido ao aperto do mercado de energia. O mercado de energia global deverá manter­se firme no longo prazo, à medida que os preços do petróleo atinjam níveis alarmantes, também a demanda tende a aumentar constantemente (Alexandrov 2009). Ademais, a região não é cercada por nenhum tipo de instabilidade política que é presente em muitos países exportadores de petróleo contemporâneos, então não é tão propício a criar crises internacionais com uma subida inesperada dos preços do petróleo. Depósitos de petróleo em desenvolvimento no Ártico são estrategicamente importantes porque, ainda que existam questões políticas de delimitação territorial, a região não é ocupada por religiões, conflitos étnicos ou sociais e nacionalismo quanto aos recursos que estão presentes em países exportadores de petróleo do Oriente Médio, do oeste da África e da América Latina (Cohen 2011). Portanto, fazer do Ártico um novo polo de energia diminuiria os preços no mercado internacional de petróleo e ainda daria aos Cinco do Ártico ricos depósitos de petróleo e gás para que garantissem o suprimento nacional de energia.

Enquanto a região pode ter um enorme potencial no longo prazo para contribuir para o suprimento de energia global, no curto prazo as expectativas não deveriam ser superestimadas, especialmente porque há outras áreas que são muito mais baratas e menos tecnologicamente desafiadoras para a exploração de petróleo e gás (Ebinger e Zambetakis 2009). Além disso, há incontáveis obstáculos que fazem o desenvolvimento de qualquer projeto de exploração de petróleo e gás na região mais caro que outros. De fato, estima­se que o óleo de perfuração ao largo do Árctico é até uma vez e meia ou duas vezes mais caros do que no Texas, nos Estados Unidos, se a mesma quantidade de óleo é considerada em ambos os casos (Budzic 2009). Entre essas dificuldades, há, primeiro, obstáculos naturais: o clima rigoroso que requer equipamentos especiais, as condições pobres do solo, que demandam uma preparação adicional, e o gelo nos mares que pode facilmente danificar as instalações, fazendo com que qualquer tipo de transporte por longos períodos seja complicado.

Segundo, a tecnologia é uma barreira para o acesso do Ártico, uma vez que não existem apenas limitações de transporte e linhas de abastecimento excessivamente longas para superar, mas também a necessidade de quebra­gelos, muitos alimentados por energia nuclear, que são muito caros para construir: levam de oito a dez anos, e custam aproximadamente um bilhão de dólares cada (Ebinger e Zambetakis 2009). Os países do Ártico têm diferentes capacidades na região: enquanto a Rússia tem vinte quebra­gelos, e o Canadá, doze, os

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Estados Unidos tem apenas um em funcionamento (Ebinger e Zambetakis 2009). Além disso, construir as facilidades de infra­estrutura demandaria grandes gastos com capital, desde que novas estradas, ferrovias, instalações portuárias, campos de ar, geração de energia elétrica e aposentos seriam necessários. Vale a pena recordar que os dutos de gás natural são mais caros e complexos que os dutos de petróleo necessários para o processo de liquefação. Outro importante fator que deve ser levado em conta em relação à questão da infra­estrutura é que, devido às condições climáticas extremas da região, há uma carência de cobertura de satélites, que causa não só dificuldades com a previsão do tempo, mas também torna o Ártico um ambiente hostil para qualquer tipo de operação (Conley 2012). O desenvolvimento das áreas de extração de petróleo e gás é governado por uma economia de mercado, portanto, elas só seriam desenvolvidas se houvesse expectativa de que gerariam lucros suficientes, e essa é a razão principal pela qual os quinze maiores campos de petróleo e gás natural, descobertos nas décadas de 1970 e 1980, ainda esperam para serem desenvolvidos (Budzic 2009).

Encontrar grandes campos de petróleo e gás natural é difícil e caro, mas desenvolvê­los como comercialmente lucrativos é ainda mais desafiador (Budzic 2009). Não obstante, os recursos de exploração de energia no Ártico estão a todo vapor: a Rússia está desenvolvendo seus vastos campos de gás natural em Shkotman, a Noruega tem planos para começar a tocar seu gás em Snoehvit, o Canadá está investindo no desenvolvimento de alta tecnologia de extração, e outros países e companhias de petróleo estão agora revelando seus interesses em lucros vindos desses recursos (Mellgren 2007). Além desses desafios tecnológicos e ambientais, os Cinco do Ártico encontraram maiores obstáculos ao explorar os recursos da região no campo político e da segurança, uma vez que muitos depósitos desses recursos estão localizados em áreas contestadas (Aerandir 2012). 2.4.3. As Rotas do Ártico

O uso das rotas do Ártico para transporte, tanto de bens como de pessoas, tem de ser considerado quando analisadas as oportunidades que a região apresenta e as novas situações que o aquecimento global pode criar. Entretanto, o uso das rotas do Ártico para esses propósitos não mostrou qualquer sinal de desenvolvimento até agora em razão da falta de interesse da economia de mercado do Ocidente (Östreng 2010). Essa posição é baseada nas dificuldades que essas rotas apresentam em seu uso regular, assim como a “falta de horários regulares de navios, o comprimento limitado das estações de navegação, os custos de assistência dos navios quebra­gelos, os altos prêmios de seguros, a limitada velocidade de navegação e capacidade de carga, e os custos na construção de cargueiros reforçados contra o gelo” (ibidem, 4).

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Imagem 5: As Rotas do Ártico

Fonte: Christensen, 2009

A passagem do Noroeste e a rota da passagem do Norte são duas importantes rotas que, ainda que não sejam frequentemente usadas, têm um grande potencial para a redução do custo dos transportes. De acordo com as previsões do aquecimento global, essas duas rotas ganharão navegabilidade em um futuro próximo por longos períodos durante o verão (Titley, St.John 2010). As duas rotas aproximarão a América do Norte, a Europa e a Ásia, e ainda diminuirão as distâncias entre essas regiões e o Hemisfério Sul, claramente competindo com outras rotas contemporâneas, como o Canal de Suez, o Estreito de Malaca e o Canal do Panamá (Smith 2011). As economias propiciadas pelo uso das derrotas do Ártico são enormes. Por exemplo, os navios russos viajando para os portos do sul da Ásia poderiam poupar um milhão de dólares em combustível usando o Ártico ao invés de atravessar o Canal de Suez (ibidem). As diferentes distâncias náuticas entre muitos importantes portos no mundo podem ser vistas na tabela abaixo, comparando o uso das rotas convencionais com as viagens através das duas rotas do Ártico.

Tabela 1: Distância em km entre portos usando várias rotas do Sul e do Norte

Rota Canal do Panamá

Passagem do Noroeste

Passagem do Norte

Suez and Malaca

London ­ Yokohama 23 300 15 930 13 841 21 200

Marseilles ­ Yokohama 24 030 16 720 17 954 17 800

Marseilles ­ Singapore 29 484 21 600 23 672 12 420

Marseilles – Shanghai 26 038 19 160 19 718 16 460

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Rotterdam – Singapore 28 994 19 900 19 641 15 750

Rotterdam – Shanghai 25 588 17 570 15 793 19 550

Hamburg – Seattle 17 110 15 270 13 459 29 780

Rotterdam ­ Vancouver 16 350 14 330 13 445 28 400

Rotterdam – Los Angeles 14 490 15 790 15 252 29 750

Gioia Tauro – Hong Kong 25 934 24 071 21 556 14 093

Barcelona – Hong Kong 25 044 23 179 20 686 14 693

New York – Shanghai 20 880 17 030 19 893 22 930

New York – Hong Kong 21 260 18 140 20 982 21 570

New York – Singapore 23 580 20 310 23 121 18 770

Fonte: Christensen, 2009 No entanto, obstáculos ainda permanecem no uso dessas rotas. Levará algum tempo

para que a rota mostrada acima seja uma possibilidade viável, como os custos para transformá­la em realidade ainda é muito grande (Christensen 2009). Dois pontos que devem ser abordados são quais regras devem ser usadas para definir as condições de passagem nessas áreas e qual soberania deve ser aplicada nesses mares. Essa questão, junto dos direitos de exploração sobre os recursos da região, já foi o centro de disputas territoriais entre os Estados do Ártico, como será analisado no próximo subtópico. 2.5. Disputas territoriais entre os Estados da costa do Ártico

Tendo em mente a evolução da discussão acerca das questões territoriais na região do Ártico, deve­se reconhecer a primazia da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar ao defini­la. Essa tendência tem sigo mais evidente desde o século XX, assumindo o princípio de res communis que, como notado previamente, preza a evolução de um assunto territorial sob o quadro dos fóruns internacionais e tratados internacionais. Esse aspecto tem sido proeminente desde que países árticos têm adotado mais ações agressivas na condição de garantir suas soberanias nessa área estratégica. Apesar de os Estados Unidos serem o único país ártico que ainda não ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM; UNCLOS em inglês), ele geralmente segue suas disposições como Direito Internacional Costumeiro (Aerandir 2012, 21). Portanto, os Estados árticos, em teoria, possuem duas opções para vencer uma disputa territorial na região: através do Direito Internacional, ao qual a CNUDM é aplicado, ou por meio da força. De acordo com Laurence Smith (2011ª), Estados parecem seguir a primeira opção, embora o nível de militarização cresça a medida que os interesses dos países sejam ameaçados, a partir de “um sistema anárquico em que líderes nacionais tendem a ver o conflito e competição através de uma ótica realista, não pelo direito internacional, mas por força militar que funciona como um último garantidor da segurança” (Aerandir 2012, 41).

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Rússia foi o primeiro país a estabelecer uma pretensão sob a CNUDM, em 2001, acerca da área da Dorsal de Lomonossov (Ebinger e Zambetakis 2009, 1226). Porém, a Comissão pediu mais dados, resultando na Expedição Russa no Polo Norte em 2007 (Blank 2011ª, 15). Além disso, Noruega enviou um pedido em 2006, referente ao Loop Hole no Mar de Barents, a Bacia Nansen Ocidental no Oceano Ártico e o Banana Hole no Mar da Noruega, que foi aprovado pela Comissão (ONU 2009). Outros Estados costeiros ainda estão em processo de pesquisa Canadá apresentará sua reinvindicação em 2013, enquanto Dinamarca, em 2014, ambos em relação à condição da Dorsal de Lomonossov (Aerandir 2012, 26).

Aerandir (2012) enfatiza que existem, no presente, cinco grandes disputas territoriais no Ártico com conflito em potencial. Em relação a essas possibilidades, pelo menos quatro devem envolver um nível de confronto entre os Estados Unidos e a Rússia, as duas maiores potências militares da região. Tal padrão é devido ao fato de que todos os países envolvidos nessas reinvindicações são membros da OTAN – em outras palavras – aliados, com exceção da Rússia. As ricas áreas de pesquisas disputadas e a posição estratégica de muitas ilhas árticas e estreitos, criam uma conexão entre ganhos econômicos e aumentos da militarização (Blank 2011a).

Entretanto, o real interesse na “estaca” deve ser questionado, uma vez que, apesar de alguns autores tenham estabelecido uma relação estreita entre o potencial conflito e a existência de recursos de gás e petróleo, “a maior parte das riquezas energéticas estão localizadas em áreas econômicas submetido à inquestionável jurisdição nacional dos Estados do Oceano Ártico” (Blank 2011a, 105). Em outras palavras, 97% desses depósitos de gás e petróleo se encontram dentro das reconhecidas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) dos Estados árticos (Ebinger e Zambetakis 2009, 1221; Nicoll 2012). Contudo, às percepções políticas importa: fazer novas reinvindicações e fazer valer os seus interesses, Estados estão considerando a possibilidade de atingir novas áreas ricas em recursos. Além disso, controle sobre mais territórios significa um maior poder, e possivelmente, pontos estratégicos no Oceano Ártico (Ebinger e Zambetakis 2009; Nicoll 2012). Além, deve­se considerar o papel desempenhado pelos Estados extra regionais, tal como países europeus e asiáticos que estariam interessados na região devido aos benefícios que surgiria de uma nova fronteira energética e de novas rotas comerciais.

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Japão, China e Coréia do Sul possuem programas de pesquisas polares instalações de quebra­gelo para navegar no Ártico (Manicom e Lackenbauer 2013). Esses países reconhecem a Rota Marítima do Norte, em particular, como um estreito internacional que deve ser uma alternativa para as áreas mais voláteis do mundo, como Malaca e o Estreito de Ormuz (Manicom e Lackenbauer 2013; Rainwater 2013; The Diplomat 2013ª). China, em 29

particular, uma presença sólida no Ártico desde a metade da década de 1990, e mais recentemente, através de suas bases de pesquisa no arquipélago de Svalbard (Rainwater 30

2013, 2). Desde que o país precisou de ajuda energética estrangeira, novas fontes de petróleo e gás são fundamentais para o desenvolvimento de sua economia. A perspectiva de uma nova rota comercial é também muito importante para o país, especialmente com o aumento das tensões quanto ao Mar da China Meridional e o Estreito de Malaca. Alguns aspectos que reafirmam a tendência de que o Ártico está ganhando importância para a China está nos planos do país para o desenvolvimento de seus navios quebra­gelos e os investimentos em tecnologias para a exploração de recursos naturais do Oceano Ártico, como a perfuração de petróleo em águas profundas (Rainwater 2013, 69). 31

Nesse sentido, se esses países tornam­se dependentes dos recursos do Ártico, qualquer rompimento em seus fornecimentos energéticos ou na utilização das facilidades das rotas comerciais pode caracterizar uma justificativa para disputa militar. Essa tendência tem se tornado cada vez mais evidente com a recente inclusão da China, Índia, Itália, Japão, Singapura e Coreia do Sul como estados observadores do Conselho Ártico no Encontro Ministerial de Kiruna, na Suécia. De acordo com o Ministro das Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, esse aspecto significa uma ampla aceitação da soberania permanente dos países no Ártico, “porque ao ser observador, esses [...] estados, eles aceitam os princípios e a soberania do Conselho Ártico em questões do Ártico” (The New York Times 2013). No entanto, ao mesmo tempo, esse desenvolvimento corrobora uma direção do Ártico para o centro do mundo, como constatado pelo ex­primeiro­ministro da Groelândia, Kuupik Kleist (The Economist 2013), e uma reafirmação da legitimidade do Conselho Ártico, também abrindo caminho para novas ações estrangeiras na região. Apesar dos observadores permanentes não poderem falar de voto, eles são habilitados influenciar decisões nos seis grupos do Conselho Ártico, sugerindo projetos, e com sua expertise e dinheiro, financia eles (The Economist 2013). No futuro, interesses coincidentes devem aumentar as tensões na região, especialmente devido ao crescimento da presença exterior; acima de tudo, com o desenvolvimento relativo às disputas territoriais, regras de rotas comerciais e exploração de recursos naturais mostra essa tendência de cooperação ou conflito.

2.5.1. A Dorsal de Lomonossov

A Dorsal de Lomonossov é considerada a questão mais problemática envolvendo reinvindicações territoriais no Ártico (Aerandir 2012; Ebinger e Zambetakis 2009; Smith 2011b). O conflito potencial emergiu quando os três países envolvidos decidiram estabelecer suas soberanias sobre essa área: Canadá a define como uma extensão submarina de sua Ilha

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Ellesmere, enquanto Dinamarca argumenta que ela é uma extensão das terras da Groelândia, e Rússia procura evidenciar esta como uma extensão de sua própria plataforma continental (Nicoll 2012). Nesse ponto, particularmente, os Estados Unidos têm seguido seu discurso sobre os conflitos territoriais no Ártico, declarando que a Dorsal de Lomonossov é uma dorsal oceânica e não pode ser reivindicado por nenhum país (Nicoll 2012).

A Dorsal de Lomonossov é uma cadeia de montanhas submarinas, que praticamente divide o Oceano Ártico, e estendendo­se desde as Ilhas da Nova Sibéria, na costa norte­central da Rússia, até a Ilha Ellesmere, que pertence ao Canadá (Aerandir 2012, 22). Apesar dessa área possuir recursos minerais e energéticas, em comparação às outras regiões, essa não aparenta ser de interesse fundamental: “o United States Geological Survey [...] estima que exista, provavelmente, apenas o equivalente à 2,5 bilhões de barris de petróleo naquela área (em vez de aproximadamente 35 bilhões de barris conforme a estimativa russa)” (Aerandir 2012, 24). Apesar disso, a região possui uma importância estratégica e política, uma vez que permite o controle da Rota Marítima do Norte, o menor curso entre a América do Norte, Europa e Ásia, e também o controle do Extremo Norte (Blank 2011a; Nicoll 2012; Smith 2011).

De 2007 à 2011, uma expedição científica russa viajou a dorsal a fim de coletar mais dados para prova­la como uma extensão de sua plataforma continental, conforme requerido pela CLCS (Smith 2011ª). Enquanto competem pelo mesmo território, Canadá e Dinamarca criaram uma joint venue iniciando em 2011 a inspecionar, mapear e coletar dados como suporte para suas respectivas reivindicações na área (Aerandir 2012, 26). Uma nova reivindicação russa não ocorrerá antes de 2013 (Blank 2011a, 48). Canadá tem até novembro de 2013 e Dinamarca até novembro de 2014 para apresentar suas respectivas pretensões (Aerandir 2012, 26; Smith 2011a). Noruega possui interesse fundamental no controle desta área, uma vez que visa se beneficiar da Rota Marítima do Norte e com a cooperação com países asiáticos e europeus devido ao abastecimento de energia e sua indústria naval, que detém tecnologia para navios­meteorológicos árticos (The Diplomat 2013).

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2.5.2. O Estreito de Bering e as disputas do Mar de Beaufort

Outra área frágil no Ártico é o Estreito de Bering, localizado entre os Estados Unidos e Rússia no Mar de Chukchi. Um acordo sobre essa delimitação marítima foi alcançado quando a União Soviética estava em colapso, no fim da Guerra Fria, mas a Duma russa ainda tão o retificou (Aerandir 2012, 27). A razão para isso reside no sentimento de que os Estados Unidos têm uma vantagem em ganhos relativos, desde que aos Estados Unidos foi concedido mais territórios, e nesse sentido, mais recursos, como petróleo, gás, pesca, e espaço para mover seus submarinos (Aerandir 2012, 27). Porém, isso mostra que a Rússia está seguindo com o acordo, não obstante frequentes violações, especialmente por parte das traineiras de pesca russas que entram em águas estadunidenses (Aerandir 2012).

A disputa em relação aos Estados Unidos e o Canadá, por outro lado, refere­se à fronteira marítima no Mar de Beaufort, que “envolve um largo espaço marítimo de 6250 nm²

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ao

longo da costa do Alasca e do território de Yukon” (Aerandir 2012, 29). A

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disputa resulta­se sobre as diferentes interpretações dos dois países de quão longe suas fronteiras se estendem da terra em direção ao mar . Apesar dessa tensão na região, ainda é 32

baixa e permanece relativamente limitada por ambos os países (Aerandir 2012), esse cenário deve mudar, porque “acredita­se que há um tremendo potencial petrolífero ao longo da costa do Alasca” (Ebinger e Zambetakis 2009, 1229). Ambos países têm licença para a exploração na área disputada, mas Canadá tem ordenado a proibição de atividades no local, o que tem preocupado os Estados Unidos, desde que companhias de petróleo não se sentiam confortáveis em investir em uma região de fronteira incerta e em enquadramento jurídico (Aerandir 2012).

2.5.3. A Passagem do Noroeste e a Rota Marítima do Norte

A controvérsia envolvendo a Passagem do Noroeste é causada por diferenças no reconhecimento dos estreitos que cruzam o arquipélago ártico canadense. Enquanto Canadá reclama­os como águas internas (sobre as quais exerce a soberania e outros estados devem pedir permissão para navegá­las), os Estados Unidos considera a Passagem como águas internacionais. Nessa disputa, outros atores são envolvidos, como a União Europeia também destaca a internacionalização do Estreito que conecta dois grandes mares (Aerandir 2012). No final, o estado de águas internacionais significa que “navios de bandeira estrangeira são autorizados a transitar por essas águas sem fornecer aviso prévio para o Estado que os controla” (Aerandir 2012, 35). Porém, as chances de uma intensificação de um conflito militar são baixas, uma vez que os Estados Unidos e Canadá, por longo tempo, têm sido parceiros em questões econômicas e de segurança (Aerandir 2012).

Seguindo o mesmo, Rússia destaca estado nacional da Rota Marítima do Norte, de fundamental importância para o governo russo. Nesse sentido, a política russa no Ártico de 2008 ou os “Fundamentos de Política Pública da Federação Russa no ártico para o período até 2020 e além” reforça sua posição, desde que a Rota Marítima do Norte ligasse o território russo ao ártico, e a estabelece como de interesse nacional para o país (Blank 2011a, 26).

Rússia define a RMN como uma rota de transporte nacional sob jurisdição russa. Navegação através desse canal, que deve concordar com leis russas, também inclui passagem através de estreitos dentro e entre os quatro arquipélagos russos no Ártico, Vilkitski, Shokalski, Dmitri Laptev, e Sannikov. Rússia designa os estreitos como parte de suas águas interiores, enquanto os Estados Unidos têm explicitamente os rotulados como internacionais (Blank 2011a, 108).

Essa Rota irá largamente encurtar a distância entre o Norte da Europa e o Nordeste da Ásia (Ebinger e Zambetakis 2009, 1221) e, nesse sentido, deve surgir como uma alternativa aos Canais de Suez e Panamá (Rainwater 2013). A forte posição russa

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assumida nessa questão tem levantado a atenção de países como Japão e China, que poderia se lucrar com essa linha marítima (The Diplomat 2013). 2.5.4. Disputa do arquipélago de Svalbard e da Ilha Hans

A soberania da Noruega sobre o arquipélago de Svalbard foi reconhecida pelo Tratado de Spitsbergen em 1920. O tratado também estabelece que todos os países signatários possuem direitos iguais de acesso aos recursos do arquipélago, desenvolvimento da economia e atividades de pesquisa na região (Ebinger e Zambetakis 2009, 1228). Até 33

aquele tempo, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito no Mar (CNUDM) não havia ainda projetado e os países possuíam direitos de soberania sobre as três milhas a partir da costa (Ebinger e Zambetakis 2009, 1228). Entretanto, tendo em mente a criação da CNUDM em 1982, Oslo agora reivindica seus direitos sobre 200 milhas de ZEE, seguindo os termos da CNUDM. Nesse sentido, Noruega estabeleceu uma Zona de Proteção Pesqueira (ZPP) com 200 milhas náuticas ao redor do arquipélago de Svalbard em 1977 (Blank 2011a, 107). No entanto, outros países signatários discordaram com tal posição, uma vez que afirmaram que o quadro jurídico do arquipélago ainda é o do Tratado de 1920 (Blank 2011a, 107).

Rússia desempenha um grande papel nessa disputa, como sua posição é uma reafirmação do Tratado de 1920, apesar de novos direitos reconhecidos pela CNUDM (Ebinger e Zambetakis 2009). Essa decisão é baseada no grande estabelecimento russo e nível de atividades econômicas na região. Apesar algumas tensões ainda ocorram, Rússia tem respeitado a jurisdição norueguesa sobre o arquipélago (Blank 2011a,107). O ponto é que “ambos os estados estão interessados na preservação do status quo na região desde a revisão do regime jurídico do arquipélago, podendo abrir a Caixa de Pandora para outros pretendentes, ameaçando a posição privilegiada da Rússia, assim como a jurisdição norueguesa na área questionada” (Blank 2011a, 107). Essa preocupação é devido a importância estratégica da região para a Rússia, que, desde a era soviética, a Rússia considera Svalbard como a única passagem para sua Frota do Norte a partir de Murmansk para o Atlântico Norte, em caso de guerra com os Estados Unidos (Ebinger e Zambetakis 2009, 1228).

O arquipélago de Svalbard é também acreditado como sendo rico em petróleo e gás, e ele é de interesse da Noruega e da União Europeia para desenvolver tais recursos (Grätz 2012). Além do mais, a presença de recursos naturais pode encorajar incursões militares de outros Estados signatários em relação à condição do Tratado de 1920 (Grätz 2012, 3). Apesar de não ser membro da União Europeia, a presença norueguesa na região tem sido um particular interesse para o bloco, uma vez que essa nova fronteira energética poderia ser usada como forma de reduzir a dependência europeia do abastecimento energético russo (Ebinger e Zambetakis 2009, 1227). Como um resultado de tal questão geopolítica, é possível que a Noruega seja instigada a adotar uma posição mais assertiva sobre a reivindicação territorial relacionada ao arquipélago (Ebinger e Zambetakis 2009).

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As disputas entre os Estados árticos excede o campo econômico e preocupa as posições estratégicas de algumas áreas, como no caso da disputa sobre a Ilha de Hans entre Canadá e Dinamarca. Sua localização é importante porque o Estado que controlar o Estreito de Nares perto da ilha irá também controlar o acesso aos “portões do Ártico em um ponto de estrangulamento chave” (Aerandir 2012, 38). A ilha de Hans está acomodada entre a Ilha Ellesmere do Canadá e a Groelândia e é também um local potencial para exploração de recursos (Ebinger e Zambetakis 2009). Em 17 de dezembro de 1973, Dinamarca e Noruega obtiveram uma decisão sobre a delimitação de suas plataformas continentais, ao qual foi ratificado pelo Estados Unidos, mas não foi totalmente solucionado a questão das ilhas (Ebinger e Zambetakis 2009, 1229). É altamente improvável que a disputa irá resultar em um conflito militar, desde que os Estados Unidos e a Rússia não se interessem por essa disputa (Aerandir 2012). 2.6. Recente Militarização e suas Consequências para a Cooperação Regional

A presença militar no Ártico tem aumentado desde a Expedição Polar Russa em 2007, quando uma bandeira russa foi colocada em solo oceânico ártico (Blank 2011a; Smith 2011). Esse evento alarmou os estados árticos e também outros Estados com interesses econômicos e energéticos na região (Blank 2011a). Essa circunstância tem sido definida como o Fator Russo por Katarzuna Zysk, em referência ao processo de militarização no Ártico como um resultado das ações firmas tomadas pela Rússia (Blank 2011a).

A dinâmica no Ártico pode também ser associada com o conflito Russo­Geórgia de agosto de 2008, o qual claramente mostrou um retorno à postura de força pela Federação Russa no sistema internacional (Blank 2011, 14; Haas 2011). Depois da Guerra da Geórgia, é possível dizer que a Rússia mudou sua política em relação à questões de ameaças e segurança nas fronteiras. O compromisso russo com políticas de defesa e poder militar (deixando questões de Direito Internacional em segundo plano) está aumentando as preocupações entre os Estados do Ártico, devido ao aumento da presença militar russa na região e seu desenvolvimento militar, especialmente aqueles relacionados com a Frota do Norte (Blank 2011a; Haas 2011, 30).

Em teoria, relações entre estados são relações de poder, cercado pela sombra da guerra (Mearsheimer 2007; Waltz 2002). Uma vez que o Sistema Internacional é anárquico e Estados não são subordinados por nenhuma estrutura jurídica, “porque alguns estados podem usar a força em qualquer momento, todos os estados devem estar preparados para isso – ou caso contrário, viver à mercê de seus vizinhos militarmente mais fortes” (Waltz 2002, 144­145). Nesse sentido, os Estados podem nunca estar certos das intenções dos outros, como as causas de uma agressão são muitas e podem mudar rapidamente (Marsheimer 2007, 45). O objetivo primário de um estado é sobreviver, portanto busca a segurança e a manutenção de sua integridade territorial e autonomia política. Portanto, quando Estados estão ameaçados, eles têm grandes

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incentivos para o uso de força militar e busca seus interesses através da violência (Mearsheimer 2007; Waltz 2002). Olhando para o Sistema Internacional por esse viés, Aerandir (2012) analisa o conflito potencial ártico através das lentes da percepção envolvendo o processo de tomada de decisão nos Estados.

Quando uma tomada de decisão importante é buscada para entender e interpretar os eventos mundiais e ações de seus vizinhos e competidores, a percepção é tudo. [...] Se as conclusões no processo de decisão conduzem à percepção de uma ameaça, então o potencial para um conflito aumenta. Dependendo da magnitude de uma entrada ambígua no processo (para efeitos do presente, a disparidade entre as palavras e as ações), o potencial para um erro de cálculos de uma ameaça também aumenta, e mostra­se como oportunidade para que um conflito de interesses se intensifique em um conflito armado (Aerandir 2012, 33).

Seguindo os eventos de 2007, o aumento da presença militar no Ártico é notável, em razão de garantir a cada país as suas soberanias de forma jurídica nas suas respectivas Zonas Econômicas Exclusivas e águas interiores, especialmente. (Blank 2011a). Apesar desse alto grau de militarização ser perceptível, países têm também investido em cooperação, e perspectivas de um real conflito são menores por agora. A preferência dada ao Conselho do Ártico e ao quadro jurídico da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) exemplifica essa tendência. Até agora, as disputas têm sido resolvidas sob formas pacíficas e a OTAN parece diluir as possibilidades de um confronto militar. A questão está entretanto que “a militarização implica um grande risco de incidentes”, desde que nenhum avanço nas capacidades militares ou o desenvolvimento de treinamentos possam ser entendidas como uma tentativa de rivalizar as outras forças (Smith 2011a, 126).

2.6.1. As Cinco Ações Árticas em relação à Militarização

Apesar de nenhum conflito militar estar atualmente previsível no Ártico, as tenções referentes a disputas territoriais e ganhos econômicos podem criar atritos entre os Cinco Árticos (Arctic Five em inglês) – Noruega, Dinamarca, Rússia, Canadá e os Estados Unidos. Tal conflito pode ainda possuir interferências estrangeiras, uma vez que os benefícios do Ártico pode transcender as fronteiras da região e chegar até outros países, na Ásia e Europa, especialmente. Tendo em mente que o sistema internacional é anárquico e que todos os Estados são soberanos, sem nenhum poder acima deles, as recentes ações que tem sido tomadas pelos países árticos podem ser vistas como possivelmente provocadoras de “riscos de incidentes”, que, como já mencionado, pode conduzir ao confronto militar.

A Federação Russa é vista como “o mais determinado e assertivo ator na [região]” (Smith 2011b, 120) e “desempenha um importante papel nas estratégias e políticas de todos os outros atores árticos [...] muito desse interesse no Ártico tem sido gerado pelo aumento de atividades militares russas na região” (Blank 2011a, 112). Seguindo a Expedição Polar de 2007, Rússia tem solicitado estabelecer uma presença física marítima, terrestre e aérea no Ártico (Cohen, Szaszdi e Dolbow 2008, 9). A importância estratégica do Ártico para esse país possui dois grandes aspectos, além do econômico: i) é através do Ártico que a Rússia

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tem acesso ao Oceano Pacífico e Atlântico (Grätz 2012) e ii) é a partir do Ártico que a Rússia pode encomendar o míssil balístico lançado de submarinos (SLBM) Bulava, através do submarino da classe Borei, pelo menos por enquanto, o único meio pelo qual a Rússia pode minar o desafio colocado pelo o National Missile Defense estadunidense (Piccolli 2012). 34

Em agosto de 2007, o então Presidente Vladmir Putin ordenou o recomeço de patrulhas aéreas regulares sobre o Oceano Ártico: essa ação envolveu a utilização de bombardeiros estratégicos como o Tu­95 (Bear), o supersônico Tu­160 (Blackjack), o Tu­22M3 (Backfire) e a aeronave de patrulha de guerra antissubmarino e de longo alcance, o Tu­142 (Blank 2011ª, 21; Cohen, Szaszdi e Dolbow 2008, 10). Em 2007, Rússia lançou mais voos de sua Aviação de Longo Alcance (Long Ranged Aviation em inglês) que todo o período após o fim da Guerra Fria; esse padrão aumentou em 2008 e desde então tem continuado no mesmo nível (Blank 2011ª, 112). Também em 2007, “bombardeiros russos penetraram o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD em inglês) em 12 milhas na zona de identificação de defesa aérea ao redor do Alasca por 18 vezes (Blank 2011a, 21).

A respeito do nível estratégico, Rússia têm desenvolvido as capacidades de sua marinha pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria (Blank 2011a). A Marinha do Norte, 35

com base na Península de Kola, é o mais importante componente da presença militar russa no Ártico, e sua capacidade tem sido aperfeiçoada principalmente em sua frota de submarinos, que constituiu a base para a detenção naval nuclear do país (Blank 2011a, 21; Nicoll 2012). 36

Em julho de 2008, A Marinha russa anunciou que sua frota retomou uma presença de navios de guerra no Ártico, e durante 2008 e 2009 seus quebradores de gelo têm constantemente patrulhado a região (Blank 2011a, 22­23). Tais patrulhas navais incluem a área do arquipélago de Spitsbergen, que, como mencionado anteriormente, é um território reivindicado pela Noruega, mas em disputa. A Rússia ainda mobiliza nessa área destroyers de guerra antissubmarino seguidos por um cruiser de míssil­guiado armado com 16 de longo alcance contra navios, cujos mísseis foram projetados para destruir porta­aviões (Blank 2011a, 22).

Para proteger linhas importantes de transportação e comunicação – cujo mais importante tem sido a Rota Marítima do Norte – a Rússia irá aprimorar suas capacidades militares no Ártico (Smith 2011b). Atualmente, a Rússia tem a maior frota de navios quebradores de gelo no mundo, contando com 18 desses navios operando . Entre estes, o 37

maior navio quebrador de gelo no mundo é o The Fifty Years of Victory e os outros sete navios nucleares (Blank 2011a). O país tem pretende construir novos quebradores de gelo com potência nuclear, começando em 2015, mas restrições orçamentárias são um grande desafio para cumprir este objetivo (Blank 2011a). Desde 2008, a Marinha russa tem patrulhadas perto de zonas de defesa norueguesa e dinamarquesa (Blank 2011a, 66). As apostas são importantes uma vez que a frota russa não pode entrar no Atlântico a não ser por meio de pontos de estrangulamento específicos, como a junção da Groenlândia, Islândia e Noruega (GIN Gap) e a junção da Groenlândia, Islândia e Reino Unido (GIUK Gap) (Global Security 2013).

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Em setembro de 2008, o Conselho de Segurança da Rússia adotou “os Fundamentos da Política do Estado Russo no Ártico até 2020 e além”, a estratégia nacional para o Ártico, incluindo o desenvolvimento de unidades militares, fronteiriças e costeiras (Blank 2011a; Zysk 2010). Nesse contexto, também, a Estratégia de Segurança Nacional Russa de maio de 2009, reconhece o Ártico como a espaço mais importante para as relações de segurança internacional e militar russa com outros países (Blank 2011a, 46). A Estratégia também estabelece planos para a constituição de Forças Especiais Árticas, através da criação de unidades de guarda costeira do Serviço de Segurança Federal (FSB em inglês), e o estabelecimento de uma rede de inteligência para fornecer segurança para a região (Blank 2011a, 46). Recentemente, a imprensa da FSB anunciou planos para implantar quatro novos navios de guerra em 2020, e também a construção de onze novas instalações de proteção das fronteiras e a implantação de sistemas de vigilância automática, a fim de proteger a zona ártica russa (Ria Novosti 2013). Estes planos são de acordo com o projeto para reagrupar os distritos militares de Leningrado, da Sibéria e do Extremo Oriente em um distrito do Ártico (Blank 2011a, 67).

Em resposta ao aumento da presença militar russa no Ártico, outros Estados, especialmente os outros quatro países da região do Ártico (Canadá, Dinamarca, Noruega e Estados Unidos) têm também buscado reforçar a sua presença através de "melhorias de infraestrutura, da expansão da frota [e] do aumento da presença militar"(Smith 2011b, 119). Todos estes estados têm direitos de soberania sobre o Ártico, Dinamarca através da Groenlândia e Noruega através do arquipélago de Svalbard.

Juntamente com a Rússia, o Canadá tem certamente emergido como um dos atores mais ativos do Ártico. O país tem feito investimentos, a fim de transformar o seu porto de ancoragem em águas profundas em uma base naval na Ilha de Baffin em Nanisivik, e tem procurado melhorar as suas capacidades de defesa (Ebinger e Zambetakis 2009; Smith 2011b). Atualmente, o Canadá tem doze navios quebradores de gelo, que inclui a aquisição de um novo em 2010 custando 675.000 mil dólares, e está

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buscando estabelecer um escola de luta das Forças Canadenses para o inverno em Resolute Bay, próximo a Passagem do Noroeste, além das perspectivas de construção de seis a oito navios de patrulha marinha em gelo, o primeiro a ser entregue em 2014 (Smith 2011b, 119). O Canadá tem também cooperado em assuntos de defesa, reforçando a sua presença militar na região através de três exercícios anuais, como a articulação da Operação Nanook, o que inclui as forças aéreas, terrestres e marítimas e com a participação dos Estados Unidos e da Dinamarca (Smith 2011b).

Como resultado de suas questões internas relativas a Groenlândia, uma vez que este território está buscando mais autonomia em relação ao governo dinamarquês, a Dinamarca está adaptando suas forças militares. De acordo com Smith (2011b), os investimentos militares recentes somam 117,000,000 dólares, e os Comandos dinamarqueses da Groelândia e das Ilhas Faroe serão combinados em um serviço comum denominado Comando Ártico, além de uma Força de Reação Ártica bem planejada. O país está usando aviões de combate para missões de vigilância e de soberania, e estabeleceu uma maior presença marítima na região, através da RDN Vaedderen, uma das poucas fragatas no mundo capaz de operar em condições de gelo do Ártico (Smith 2011b, 120).

Ao analisar atualizações militares norueguesas, é perceptível a transferência de parte de suas forças para o norte, tais como a sua moderna frota de fragata, suas forças de combate a jato e o seu exército (Smith 2011b, 120). A Noruega teve a iniciativa de comprar quarenta e oito caças F­35 ­ "projetado para ser a próxima geração, uma opção antirradar para as forças dos EUA e seus aliados" (Reuters 2013) ­ e vem negociando a aquisição de mísseis 38

air­to­sea para ser equipado naquelas aeronaves (Smith 2011b). O governo do país tem suscitado um papel importante para a região: em 2005, o Extremo Norte foi designado como uma prioridade estratégica e, em 2006, uma estratégia abrangente foi criada para a região (Blank 2011a, 94). De acordo com esta estratégia, a Noruega procura manter um baixo nível de tensão na região, promover a cooperação com os outros, e beneficiar­se de um desenvolvimento sustentável da região (Noruega 2013). O país ainda fez recentes alegações 39

quanto à sua soberania sobre a Cordilheira de Gakkel, como uma extensão da sua plataforma continental, através de da Ilha de Svalbard, e em resposta, a Rússia tem feito manobras navais na região, que interromperam o tráfego aéreo norueguês em áreas de alto­mar (Ebinger e Zambetakis 2009, 1227).

Mesmo que os Estados Unidos tem feito avanços com a aprovação do seu roteiro Ártico, tem muitos desafios a superar, a fim de satisfazer seus interesses (Blank 2011a;

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Smith 2011a; Smith 2011b). Além de não ter ratificado a CNUDM, o que impede o seu desejo de estabelecer o limite exterior da sua plataforma continental, os Estados Unidos foi denominado por Rob Huebert ­ cientista político da Universidade de Calgary ­ como o "poder relutante" no Ártico (Smith 2011a), uma vez que as melhoras necessárias das suas forças militares não foram atingidas. Atualmente a Guarda Costeira dos Estados Unidos tem apenas três navios quebradores de gelo, dois dos quais estão fora de serviço. Tendo em mente que leva­se de oito a dez anos para obter um destes em serviço, mesmo que o Congresso dos EUA aprove as alocações de financiamento, não seria interessante para os Estados Unidos entrar em uma guerra em que as suas capacidades são menores (Blank 2011a, 12). Porém, é importante ressaltar que os Estados Unidos têm interesse em jogo no Ártico, como o desenvolvimento dos submarinos russos com mísseis nucleares da classe Borei, para ser encomendado com o míssil Bulava, no Extremo Norte – o que pode comprometer o escudo antimísseis estadunidense na Europa –, as perspectivas de recursos naturais no Mar de Beaufort e as disputas pelos pontos de estrangulamento que surgem na região.

Embora a cooperação parece ser o padrão nas relações que envolvem os Cinco Árticos, os níveis de potencial conflito são elevados e, como foi observado anteriormente, as decisões do governo pode mudar rapidamente, e as vezes uma faísca é suficiente para acender o fogo. Em fevereiro de 2009, por exemplo, "caças canadenses decolaram para interceptar a aproximação de um bombardeiro russo em menos de 24 horas antes da visita do presidente dos EUA, Barack Obama, a Ottawa" (Blank 2011a, 44). A Resposta Fria ­ um exercício de 15 países realizada no norte da Noruega e Suécia, em março de 2012, que envolveu 16.300 tropas, foi entendido pela Rússia como uma ameaça, e neste ponto de vista, "reagiu com um exercício envolvendo sua 200th motor rifle brigade de Murmansk, incluindo tanques T­80 com motores de turbinas a gás adequados para o clima do Ártico" (Nicoll 2012). Outro evento possível conflito ocorreu em agosto de 2009, quando dois submarinos de ataque russos do Projeto 971 Schuka­B foram enviados para patrulhar perto de áreas de soberania canadenses (Blank 2011a, 44).

Apesar das reivindicações territoriais entre membros da OTAN, eles mostraram compromisso com a cooperação, em vez do conflito. Pode­se ver a cooperação na base da Força Aérea dos EUA em Thule, na Groelândia, sob acordos bilaterais entre os Estados Unidos e Dinamarca. As Guardas Costeiras dos Estados Unidos e Canadá também guarnecem a Base Aérea de Thule, que é fundamental em caso de conflito. Embora existam algumas divergências sobre a delimitação territorial, os EUA e Canadá fizeram avanços na cooperação militar por meio do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD em inglês), a região com maior relevância desde que a Rússia retomou suas incursões com os bombardeiros (Blank 2011a, 28­29). Outra evidência importante da cooperação regional é o acordo entre a Rússia e a Noruega sob a delimitação do Mar de Barents, rico em recursos, em março de 2010 (Blank 2011a, 91).

A natureza do sistema internacional pode definir alguns padrões nas relações entre os Estados. Uma vez que a sua estrutura não é hierárquica, em outras palavras, é caracterizado pela ausência de um poder soberano governando os países, diz­se que este sistema é um

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auto­ajuda, em que os Estados devem procurar por si mesmos os seus interesses e segurança (Waltz, 2002). Portanto, analisando a dinâmica que envolve o Ártico, é possível ver esforços de cooperação e algumas tensões que podem levar a um confronto militar. Apesar disso, as relações tem, até o momento, estado centradas na cooperação, e qualquer interrupção nos interesses de qualquer Estado do Ártico – ou até de um Estado extra regional – pode mudar as percepções dos tomadores de decisão sobre as grandes perspectivas que envolvem a região, seja no domínio econômico, comercial ou estratégico. Desse modo, é necessário compreender esta dinâmica complexa pelo viés do poder e ganhos relativos, além da existência de um quadro do Direito Internacional referente às preocupações estatais. Um potencial conflito pode ser menor agora, mas qualquer erro de cálculo pode gerar um novo jogo de gato e rato na região. 3. AÇÕES INTERNACIONAIS ANTERIORES

No fim dos anos 80 e início dos anos 90, várias organizações relacionadas

à região do Ártico foram criadas. Atuando em diferentes campos, a fundação de

organizações internacionais, tanto vinculadas ao governo como não

governamentais, assinalaram uma nova era de cooperação na região, sem os

limites estabelecidos pela divisão da Guerra Fria. Alguns exemplos notáveis são

o Forum do Norte (fundado em 1990), que congrega governos provinciais e de

estatais de diferentes Estados do Artico; A Associação Internacional de Ciências

Sociais do Artico (IASSA, fundada em 1990); e a Comissão dos Mamíferos

Marinhos do Atlântico Norte (NAMMC, fundada em 1992). Esses esforções para

coordenação multilateral do Ártico culminaram no estabelecimento do Conselho

do Ártico em 1996. No entanto, a inexistência de um arranjo regional para a

segurança e/ou um mecanismo de controle de armas dessas novas organizações

fez pouco para erradicar a possibilidade de uma renovada competição realpolitik

na região.

3.1 A Estratégia de Proteção Ambiental do Ártico (AEPS) e o Conselho do Ártico

A Estratégia de Proteção Ambiental do Ártico (AEPS) foi iniciada por

esforços Finlandeses em Outubro de 1988, menos de um ano após o discurso da

“Iniciativa Murmansk” de Gorbachev. Discussões iniciaram em Setembro de

1989, em Rovaniemi, na Finlândia, e uma “estratégia” não vinculante foi assinada

em Junho de 1991 (Keskitalo, 2004). A AEPS foi uma organização única na

época, pela sua imagem simbólica como saída da divisão da Guerra Fria, e

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também porque incluía a participação de populações indígenas nativas (Gordon

Foundation, 2012), arranjando a estrutura para sua futura organização “filha”, o

Conselho do Ártico. Sendo a primeira iniciativa multilateral de alto nível que lidá

com problemas amplos sobre o Artico, a Estratégia de Proteção Ambiental do

Artico, focou­se em assuntos não­confrontantes como a proteção do ambiente, o

sistema de monitoramento e a segurança contra radiação (Keskitalo 2004, 55).

Paralelamente à iniciativa Finlandesa, o Canada tamém estava direcionando­se a uma

nova posição frente a região do Ártico. Em Novembro de 1989, o Primeiro Ministro

Canadense Brian Mulroney visitou a União Soviétiva para concluir acordos bilaterais

relacionados ao Ártico. Durante um discurso no Instituto Ártico e Antártico, em Leningrado,

ele tentou obter o apoio dos participantes para o estabelecimento de um “conselho dos Países

Árticos”, para promoção e coordenação de uma possível cooperação. Do ponto de vista

Canadense, a ênfase devia ser dada para a participação e proteção das populações indígenas.

Um Painel do Conselho do Ártico, patrocinado pelo Comitê dos Recursos Canadenses para

o Ártico (CARC), a ONG indígena Conferência Inuíta Circumpolar (ICC) e o Centro

Canadense de Controle de Armas, foi estabelecido (Keskitalo 2004, 67). Em um relato

produzido por este conselho em 1991, considerações de assuntos militares foram incluídos no

plano (ibidem, 68); no entanto, essa inclusão de problemas militares no Conselho foi negada

pelos outros Estados (ibidem, 71). Além disso, os Estados Unidos bloquearam a

apresentação de uma declaração preliminar, pois não estava de acordo com o foco

Canadense de participação de povos indígenas no Conselho (ibidem, 72). Nesse processo,

controvérsias tratando­se de se o foco deveria ser nos problemas ambientais ou na proteção

das populações indígenas foram sendo adiadas até o estabelecimento de uma verdadeira

organização multilateral para o Ártico, em 1996 (ibidem, 74).

O Conselho do Ártico foi formalmente estabelecido em 19 de Setembro de 1996 em

uma reunião ocorrida em Ottawa realizada pelos representantes dos Estados do Ártico­

Canada, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruéga, a Federação Russa, Suécia e os Estados

Unidos. O Conselho, segundo a Declaração de Ottawa, tem o propósito e o dever de prover

meios para interação e cooperação entre os Estados membros em assuntos de proteção

ambiental e desenvolvimento sustentável. Como fica evidente, a proposta Canadense inicial

havia sido enfraquecida para excluir qualquer tópico relacionado à segurança no

estabelecimento da Organização. Seguindo seu foco em assuntos ambientais, o Conselho foi

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estruturado a fim de incluir não somente Estados fora da região do Ártico, mas também

Organizações Intergovernamentais Globais e Regionais e ONG com status observador.

Grupos de avaliação de técnicos e experts são as principais sub­divisões do Conselho

do Ártico, organizados ao redor de temas como a conservação da fauna e flora, proteção do

ambiente marinho, avaliações e reações de emergencia, entre outros. O cargo de Presidencia,

agora ocupado pelo Canadá (2013­2015), tem um mandato de dois anos; com a ausência de

um secretariado permanente, o trabalho do Conselho do Ártico parece ser influenciado

pesadamente pelas prioridades que o Estado Presidente adota no período estabelecido de

dois anos, ao fim do qual é organizada uma reunião ministerial (Koivurova 2010).

Dadas a sua descentralização e complexa estrutura, a falta de assuntos de segurança

em seus objetivos e o caráter não vinculante de suas decisões, o Conselho do Ártico enfrenta

muitos desafios devido ao caráter geopolítico em constante mudança da região. O Conselho

está se tornando cada vez mais complicado ao passo que novos projetos vão sendo adotados

sem uma clara relação com programas já existentes (Koivurova 2010). Tal aparente falta de

coordenação interna pode provar que o Conselho é incapaz, com sua atual estrutura, de lidar

com as alterações climáticas e as perspectivas para o destino das explorações de recursos

naturais no Ártico. Um possível novo surto de militarização, uma ameaça que poderia pôr em

risco esforços já consolidados para a preservação do Ártico, está completamente excluído da

lista de assuntos a serem debatidos pelo Conselho. Essa terrível perspectiva pode se agravar

com a admissão de seis novos Estados Observadores não­árticos para o Conselho no 8º

Encontro Ministerial que ocorre nos dias 14 e 15 de Maio de 2013 em Kiruna, Suécia. Esses

Estados são China, India, Italia, Japão, Singapura e Coréia do Sul (New York Times 2013).

Mantém­se para análise se o Conselho do Ártico será capaz de suportar uma reforma para a

inclusão de uma coletânea de assuntos mais amplos para debate e se manter como a principal

organização regional para debates acerca do Ártico.

3.2. O Comitê Internacional de Segurança e Desarmamento (DSI)

O Comitê Internacional de Segurança e Desarmamento é o primeiro comitê da

Assembleia Geral da ONU. Seu foco inclui tópicos que vão de segurança até direito

internacional, e é por isso que a militarização do Ártico lhe pareceu um assunto importante à

ser discutido.

Mesmo que a região do Ártico ainda não tenha sido discutido objetivamente, os

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problemas da Antártida tem importância crescente nesse comitê, e por serem muito similares,

poderiam ser usados como jurisprudência para o caso do Ártico. Nesse sentido, o DSI

enfatiza a significância da Antártida para a paz e segurança internacional, para o meio

ambiente e para as pesquisas científicas (A/RES/60/47). A desmilitarização do continente,

proporcionada pelo Tratado da Antartida, foi reafirmada pelo Comitê, assim como a

liberdade de informações cientificas (A/RES/60/47). A posição do DSI é baseada na

convicção de que a Antártida deve ser usada exclusivamente com propósitos pacíficos a não

deve se tornar cenário ou objeto de discordância internacional (A/RES/60/47.

O DSI também lida com problemas ambientais que podem ser aplicados à disputa do

Ártico. O Comitê demanda que os Estados adotem medidas bilaterais, multilaterais e regionais

para contribuir com a garantia de aplicação dos progressos científicos e tecnológicos, sem que

haja danos ao meio ambiente (A/RES/60/60). No caso do Ártico, é importante que se

apliquem as normas ambientais e ressaltem aspectos a serem respeitados no contexto de

busca de recursos pelos continentes.

3.3. A Declaração Iluissat

A Declaração Iluissat foi assinada em 28 de Maio, durante a Conferência do Oceano

Ártico, em Iluissat na Groelândia, 2008. Os signatários são os cinco Estados costeiros

banhados pelo Oceano Ártico: Estados Unidos, Federação Russa, Dinamarca, Canada e

Noruega. A declaração reafirma a soberania e jurisdição legal desses países na região do

Ártico e lhes direciona as possibilidades e desafios dessa área (Iluissat Declaration 2008).

O documento aparece como uma importante ação prévia na questão do Ártico, visto

que aplica a Lei dos Mares – rejeitando a necessidade de um regime legal novo para ser

aplicado ao Oceano Ártico – e aconselha os cinco Estados para implementar e aplicar suas

provisões. A Declaração também enfatiza que os Estados do Ártico têm um papel de

comissariado na proteção do ecossistema polar e seus recursos. Sendo assim, a cooperação

entre os Estados costeiros é essencial para a implementação de medidas apropriadas, de

acordo com o Direito Internacional, a fim de tomar conta dessa região (Iluissat Declaration

2008).

A Importância crescente do Oceano Ártico como uma rota marítima de turismo,

transporte e desenvolvimento de pesquisa, requer um reforço nas normas de segurança para

navegação e prevenção dos riscos da poluição vinda dos navios. Os Estados do Ártico,

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trabalhado em conjunto com a Organização Marinha Internacional, promovem a segurança da

vida nos mares da região do Oceano Artico através de cooperação cientifica e troca de

informações e análises (Iluissat Declaration 2008).

Assim, a Declaração Iluissat expressa as intenções dos Estados do Artico em deixar

claro seus papéis predominantes no território e nas causas relacionadas aos recursos do

Artico. Como postop or Braune,

Mesmo que a Declaração Iluissat seja um documento primeiramente defensivo, não

elimina novas disposições de gestão no Artico. Na verdade, ela começa com o

reconhecimento das mudanças iminentes do Artico associadas ao aquecimento global, e

deixa claro que a necessidade para maiores esforços de gestão em certas áreas é aceita

pelos cinco países da costa do Ártico. No entanto, a mensagem central é preventiva,

elaborada para impedir esforços de Estados não­articos em se interessar em um domínio

o qual é concebido para ser questão primária dos A­5. Na verdade, a declaração

implicitamente reconhece que o sucesso dos A­5 em defender um papel predominante do

Ártico em longo prazo vai depender, em alto grau, da eficácia com a qual eles expressarão

as preocupações de uma comunidade internacional mais abrangente tratando do

gerenciamento do Oceano Artico e da proteção dos recursos marinhos do Ártico (Braune

2008).

3.4. Organização Marítima Internacional (IMO)

A Organização Maritima Internacional é uma agência especializada da ONU fundada

em 1943. A sua intenção principal era instituir um sistema de colaboração intergovernamental

sobre questões relacionadas à navegação internacional. A IMO encoraja seus 168 membros a

adotarem padrões relacionados à segurança marítima e à proteção do ambiente ao redor dos

dois polos. Enquanto as perspectivas indicam um crescimento no transporte polar, a

necessidade de normas oficiais sobre navegação se tornou evidente (International Maritime

Organization 2012). Assim, IMO criou uma série de regulamentações para navios operando

em águas polares, chamado de Código Polar, que define linhas recomendatórias a fim de

proteger as duas regiões polares de riscos marinhos (Oysten 2007). O código cobre uma

gama completa de projeção, construção, equipamentos, treinamento, busca, resgate e

assuntos de meio ambiente (International Maritime Organization 2012).

Transporte no Ártico pode ser dividido em muitas categorias, como: embarcações

comerciais, embarcações turísticas, embarcações de pesquisa científica, quebra­gelos e

embarcações de exploração (Oysten 2007). O Código Polar enfatiza que o ambiente Ártico

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impõe demandas adicionais nos sistemas de navegação e que as condições de segurança

requerem atenção especial. Medidas como a obrigação de carregar roupas protetoras e

materiais térmicos para todas as pessoas a bordo e a necessidade de identificação automática

e sistemas de comunicação que funcionem a baixas temperaturas são tomadas (Ibidem). Uma

evidencia documental de aprovação no programa de treinamento de Navegadores do Gelo é

igualmente essencial. Finalmente, o Código Polar regula procedimentos para a proteção do

ambiente tanto no manual de operações da embarcação quanto em planos de emergência para

condições de acidente (Ibidem).

O Código Polar representa um elemento majoritário no ambiente Ártico, porque é

uma abordagem cautelar relativa ao crescimento do transporte nos polos a fim de prevenir

danos (Christian 2013). Impor regulamentações ambientais em setores comerciais apresenta

um desafio aos governos (Ibidem). Os países que estão interessados nos recursos do Ártico

ou nas rotas marítimas do Oceano Ártico devem deixar claras suas motivações na área e

devem adequar suas práticas de acordo com o código. O resultado são uma rigidez e um

controle maiores sobre as atividades nos polos.

4. Posição dos Países

Embora a geopolítica do Oceano Ártico seja de caráter regional, ela acaba por afetar todo o sistema internacional , já que envolve as relações entre as grandes potências. Neste sentido, é possível analisar essa questão regional por uma perspectiva global através da avaliação de dois grandes grupos: o primeiro abrange os países diretamente relacionados com o Ártico, enquanto o segundo grupo envolve os países cujos problemas regionais tornam­se relevantes para nossa discussão. Portanto, as posições dos países estão apresentadas de uma maneira que pode ser possível vincular problemas semelhantes com os países envolvidos, de certa forma, com o Ártico mas localizados em outras regiões ­ como o continente Antártico e as "ZEEs" ­ com o intuito de entender melhor a posição dos países não­regionais.

Grande país ártico, o Canadá tem 40% de seu território no Ártico, representando o quarto maior de toda a região (Arctic Council, 2011a). Os interesses canadenses na região, portanto, são vários e são alvos de uma política externa positiva. A organização através da qual o Canadá desenvolve esta política externa é o Conselho do Ártico, uma organização internacional cuja primeira presidência foi do Canadá, em 1996. No ano de 2013, pela segunda vez o Canadá é líder do Conselho do Ártico, posição através da qual o Canadá tem como meio para melhorar seus projetos para a região (Canadá, 2013a). Considerando as boas relações do Canadá com todos os outros membros do Conselho Ártico, o país agora tem como objetivo fortalecer a primazia da organização para decidir sobre questões relativas

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ao Árctico e proteger as populações nativas(Canadá, 2013c). Os povos residentes no norte canadense são parte importante da sua população total e é um dos objetivos do país defender esse cidadãos e ajudar a promover um desenvolvimento sustentável na região (Canadá, 2013b).

O "Reino da Dinamarca" é composto pela Dinamarca, pelas Ilhas Faroé e pela Groelândia. Todas as três partes do reino são consideradas iguais, cada um com seu governo, compartilhando valores, interesses e cultura (Degeorges 2013). É devido à Groelândia que a Dinamarca é um dos membros do Conselho do Ártico e, devido ao crescimento da atenção na região do Ártico, a Dinamarca publicou em 2011 uma política estratégica para o próprio Ártico. O documento afirma que o Reino irá trabalhar para uma solução pacífica, estável e segura para a região, vínculada ao crescimento auto­sustentável, a cooperação com os povos indígenas e a atenção para as mudanças climáticas (Heininen 2013a). Por ser parte do "Arctic Five", a Dinamarca está disposta a fazer políticas que girem em torno de suas áreas prioritárias: a segurança marítima, o desenvolvimento sustentável com foco nos povos indígenas e a resolução pacífica de conflitos (Ibidem 2013). A política dinamarquesa mostra claramente a importância do direito internacional , especialmente a UNCLOS, para resolver divergências, como seu problema não resolvido com o Canadá sobre a soberania da ilha Hans . O novo plano de defesa do país (2011­2014) tem um grande foco no Ártico, dono de um orçamento militar superior e de planos para o fortalecimento da Groelândia, como jatos de voo para operações de proteção e monitoração da soberania (Barents Observer 2009) . Além disso, a Dinamarca destaca a importância da OTAN e da cooperação entre os "Arctic five" e outros parceiros (Heininen 2013a). Com a política de proteção da Groelândia e da sua entidade, o Reino da Dinamarca quer fortalecer seu status no grupo "Arctic Five" como um jogador global (Ibidem 2013).

A Finlândia também elaborou uma estratégia política para o Ártico em 2010, que se concentra em sete áreas prioritárias: segurança, proteção do ambiente, defesa e inclusão dos povos indígenas, União Europeia, a institucionalização do Conselho do Ártico, e infra­estrutura para a região e economia (Arctic Portal 2013) . A política dá uma grande importância para o setor econômico , enfatizando as atividades econômicas e os benefícios do saber tecnológico do país e experiência para exploração dos recursos naturais do Ártico (Arctic Portal 2013). Além disso, a segurança é um grande foco da Finlândia por causa de sua localização geográfica , na fronteira com a Rússia, onde qualquer conflito pode adquirir dimensões catastróficas. Portanto, Finlândia insiste na necessidade da resolução pacífica de conflitos e da cooperação regional (Barca 2012). Mesmo que a Finlândia esteja fortalecendo seu setor militar, modernizando­o, e , apesar de suas políticas cuidadosamente equilibradas entre a OTAN e os interesses russos , ela recentemente se envolveu em uma cooperação militar com os seus vizinhos nórdicos (Staalesen 2013). Além disso, a Finlândia tem a pretenção de entrar no Conselho do Ártico da União Europeia, sendo por isso um defensor da UE nos assuntos do Ártico a fim de promover­se (Barca 2012).

O governo da Islândia sustenta que o país deve ser reconhecido como um importante jogador na questão do Ártico : todos os partidos políticos islandeses concordaram que a região é uma prioridade na política externa do país (Universidade da Islândia 2013). No

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entanto, o Conselho do Ártico não considera este país como um Estado costeiro, e em suas reuniões, a Islândia não é reconhecida como um "Arctic Five" (Dodds e Ingimundarson 2012). Em 2011, o parlamento da Islândia aprovou uma política para o Ártico, que gira em torno das questões ambientais, recursos naturais, rotas marítimas, as questões dos nativos e da cooperação com outros Estados (Ministério dos Negócios Estrangeiros da Islândia de 2011). O relacionamento com os outros estados não­árticos é vital para a Islândia , porque, após seu colapso econômico em 2008 , tem recebido investimentos estrangeiros de países como a China que, em retorno, obtem a possibilidade de lucrar com a localização geoestratégica da Islândia (Barca 2012). Também é interessante notar que o presidente islandês, Ólafur Ragner Grimsson, anunciou em 2013 a formação do "Círculo Ártico", organização que vai reunir muitos jogadores internacionais nas questões referentes ao ártico, não apenas os Estados, mas as organizações, povos indígenas, instituições, grupos de reflexão, etc ­ para discutir as questões da região (Alaska Dispatch 2013).

A Noruega reconhece o Ártico como prioridade em termos de política externa e de defesa (Noruega 2013). De acordo com a "Iniciativa Extremo­Norte", adotada em 2006, o Ártico e suas áreas vizinhas estão no cerne da política externa norueguesa (Fjaertoft 2013). Esta iniciativa possui três pilares principais: a extração de recursos naturais, o aumento do conhecimento da área e sua relação com a Rússia, que é reconhecido como o principal ator na área (Fjaertoft 2013; Noruega de 2013). Os principais interesses econômicos noruegueses são: o desenvolvimento de sua frota mercante e de sua indústria de construção naval, uma dos mais consolidadas no mundo, o que pode aproximá­lo aos países asiáticos (The Diplomat 2013a) . Como o país possui a tecnologia para a exploração de petróleo e gás natural no Ártico, o país irá lucrar muito , tendo já projetado perfurar nove poços no Mar de Barents em 2013 (Projeto de Segurança americano de 2013). A Noruega é um dos principais atores do quadro UNCLOS para a resolução de disputas, e é de seu interesse evitar uma grande disputa em relação ao arquipélago de Svalbard. Um dos desafios para a cooperação com a Rússia é a tentativa da Noruega para trazer a OTAN para o Ártico , o que vai contra a política de defesa russa (2011b em branco ; Koptelov 2012).

A Federação Russa tem o papel mais significante no Ártico. De acordo com a sua política para o Ártico de 2008, "Fundamentos da política de Estado da Federação da Rússia no Ártico para o período até 2020", o Ártico é prioridade para a política russa, especialmente para seu desenvolvimento econômico como um produtor de energia ( Zysk 2010) . As perspectivas de lucros da região vieram dos recursos naturais e das rotas marítimas , principalmente. A decisão de reativar a Rota do Mar do Norte foi anunciada pelo Presidente Putin, em 2012, quee recentemente aprovou uma lei que regulamenta a Rota do Mar do Norte como uma passagem nacional, o que vai contra os interesses de muitos outros países (Russia & India Report 2013a; Zysk 2010) . Quando se trata de cooperação regional, o principal parceiro da Rússia é a Noruega . Estes dois países executam regularmente um programa naval conjunto, Pomor, que em 2013 foi lançado a partir do mar de Barents (Russia & India Report 2013b) e tem laços nos recursos naturais. Uma das preocupações militares da Rússia no Ártico está relacionado com o escudo­míssil da OTAN (Martins 2013; Piccolli 2012), e na possibilidade de os Estados Unidos implantarem seus navios com

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capacidades de defesa de mísseis na região (Regehr 2013). A Rússia também poderá usufruir da fusão do Ártico para estabelecer uma outra plataforma de lançamento, a fim de manter a sua capacidade de ataque em escudos antimísseis da OTAN (Piccolli 2012). De grande relevância para a Rússia é a delimitação de sua plataforma continental, a ser realizada no período de 2011 para 2012, e o estabelecimento de um sistema de segurança abrangente na área, além da prontidão de combate (Zysk 2010). Concomitantemente, a Rússia adotou um discurso de poder e tem procurado conciliar os seus interesses nacionais com o quadro jurídico internacional e, apesar de sua política para o Ártico não apresentar nenhuma ameaça direta, não nega­se a possibilidade de uma corrida pelos recursos naturais para desenvolvimento futuro (Zysk 2010).

De todos os países do Ártico, a Suécia foi a última a criar sua própria política estratégica, em maio de 2011. Sua estratégia baseia­se em três pontos fundamentais: condições de vida para as pessoas da região (Barca 2012, p. 49), clima e meio ambiente e o desenvolvimento econômico. A Suécia anseia por uma abordagem mais ampla para a questão do desenvolvimento econômico sustentável dos nativos, especialmente os "Samis", com o qual o país tem limites culturais (Heininen 2013b). O fator econômico é recorrente no documento, já que a Suécia está disposta a promover um leque muito variado de atividades econômicas, contudo também destaca a importância de respeitar o direito internacional ao explorar os recursos naturais (Idem 2013b) . Mesmo que a Suécia seja um forte defensor da necessidade de uma solução pacífica e da desmilitarização do Ártico, ela tem fornecido campos de treinamento para a OTAN e os EUA e também tem cooperado militarmente com outros países nórdicos (G.Michael 2011).

Os Estados Unidos da América é o único país do Ártico que ainda não assinou até agora a UNCLOS, por causa de opiniões divergentes em seu Senado. No entanto, tem havido uma luta recente do Departamento de Estado dos EUA para se aderir à Convenção ( US Department of State, 2013a). Considerando a localização de um dos seus membros (Alaska) na região do Ártico, e a proximidade e a influência da massa de água fria do Ártico para os Estados Unidos, os EUA estão fortemente preocupados com a condução de políticas para a região via organizações internacionais. Os Estados Unidos defendem o papel do Conselho do Ártico na condução de tais políticas. Os efeitos das mudanças ambientais para a região são uma questão que diz respeito profundamente aos EUA, principalmente por causa das consequências de tais mudanças para o desenvolvimento de atividades econômicas do país ( ARCUS , 2013 ). A manutenção da segurança da região é um ponto importante da agenda os EUA para o Ártico (US Department of State, 2013a) .

De acordo com uma resolução parlamentar de 2011, a União Europeia está disposta a organizar uma política para o Ártico unida e coordenada entre todos os seus membros , com uma estratégia clara e bem definida. A União Europeia tem demonstrado um interesse crescente no Ártico, especialmente em três áreas: a segurança ambiental, a política marítima e a segurança energética (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011). Considerado um líder em tecnologia ambiental sustentável, pesquisa e políticas, a UE determina­se como um jogador importante na questão do Ártico ( Barca 2012). Para a UE, proteger e preservar o Ártico em uníssono com a sua população e promover a exploração

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sustentável dos seus recursos são os dois pontos que devem ser considerados prioritários em todas as atividades desenvolvidas na região ( Conselho Internacional canadense , Gordon Foundation 2011). Além disso, a UE está igualmente preocupada com a necessidade de uma regulamentação internacional para o acesso gratuito a novas rotas comerciais, recursos energéticos e pesca ( Ibidem , 7). Finalmente , a UE pediu a adesão no Conselho do Ártico, a fim de melhor defender os seus interesses estratégicos, no entanto, este assento até agora tem sido negado. No entanto, muitos países europeus estão no Conselho do Ártico , como observadores permanentes, e a UE apoia fortemente a adição da Islândia como membro permanente , para posterior legitimação do Conselho ( Parlamento Europeu de 2011).

Mesmo a França não possuindo qualquer território no Ártico, é o único país não­ártico que tem um embaixador encarregado das questões do Ártico (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011). O embaixador Michel Rocard afirmou que o país não tem uma própria política para o Ártico e sustenta que ele é uma grande voz de posição da UE e que está disposto a participar em todas as negociações no Conselho do Ártico ( Radio Canada 2010). Na mesma declaração, ele ressaltou que a questão é internacional, onde não só Estados árticos devem estar envolvidos, acima de tudo, se o debate é sobre a ameaça ambiental (Idem 2010). No entanto, não só as mudanças no clima e suas implicações motivam a França a se tornar mais diplomaticamente envolvido no assunto, mas também a segurança marítima, o maior interesse comercial e, mais importante, a fortificação da posição do país como uma voz dos interesses geopolíticos da UE ( Canadian International Conselho; Fundação Gordon 2011) . Além disso, a França é um membro da OTAN com um exército capaz de operar em condições atmosféricas extremas e também é uma potência nuclear, que fornece ao país um papel internacional importante no caso de uma crise no Grande Norte ( Collin 2010).

A Alemanha é um dos países da União Europeia que está no Conselho do Ártico como observador permanente e tem múltiplos interesses econômicos e ecológicos na região (Canadian International Council; Gordon Foundation 2011). A marinha alemã é considerada uma das maiores do mundo e a perspectiva de novas rotas marítimas, especialmente a abertura da Passagem Noroeste , são atraentes porque significam poupança econômica e de tempo de viagem; por essa razão, a Alemanha apoia a necessidade da liberdade marítima ( Germany Embassy in Canada 2013; Canadian International Council; Gordon Foundation 2011) . Em 2009, um navio mercante alemão foi o primeiro navio comercial não­russo a navegar a Rota do Mar do Norte, e as empresas alemãs estão mostrando seu interesse em investir não só por causa dos benefícios de novas rotas, mas também por causa do novo acesso aos recursos árticos (ibidem 2013). Através da cooperação tecnológica e militar, a Alemanha quer fortalecer a posição da UE e , para isso, já assinou acordos militares conjuntos no Extremo Norte com os Estados nórdicos ( German Foreign Policy 2010).

Também um observador permanente do Conselho Ártico, o Reino Unido dedica­se a sustentar a posição da União Europeia sobre o assunto. O governo britânico sublinhou oficialmente que o país tem um forte interesse político, econômico e científico­ambiental na região e que está disposto a ajudar com tecnologia e experiência ( Macalister 2012). Mesmo que o Reino Unido não tenha quaisquer interesses territoriais na região, é claramente

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interessado nas novas rotas de navegação, nas novas fontes de energia e também na oportunidade de influenciar no cenário internacional (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011, 9 ) . Não apenas o governo está interessado no extremo norte , mas também as empresas petrolíferas britânicas já estão mostrando grande curiosidade nesta nova fronteira econômica ( Macalister 2012). A Holanda tem uma posição importante na questão da proteção do meio ambiente ártico e vem estudando ainda as consequências das mudanças climáticas na região Meeting of the Senior Arctic Officials 2002). ). O país sustenta que a exploração de qualquer recurso de energia deve ser feito com um alto nível de prevenção e responsabilidade, e por isso já utilizou de regras internacionais para prevenir danos ambientais ( Governo da Holanda 2012). No entanto, é claro que o país tem interesses diretos no Ártico em conseqüência de suas atividades de petróleo e gás, pesca, das novas rotas de navegação e da exploração mineral ( Imares 2012). A Dutch Shell é um importante parceiro da Gazprom da Rússia, e juntos eles fizeram planos para continuar a desenvolver a exploração de petróleo no mar de Chukchi, Mar do Leste da Sibéria e do Mar Pechora ( Ibidem 2012).

Os observadores permanentes europeus outros do Conselho do Ártico são a Itália, a Polônia e a Espanha. Esses três países seguem a posição comum da União Europeia sobre o assunto. A Itália é o mais recente observadora do Conselho do Ártico, sendo adicionada em maio de 2013. Esse novo vínculo é considerado o reconhecimento da participação de longa data de Itália em estudos e pesquisas na região, bem como a percepção do interesse de muitas empresas italianas nos benefícios comerciais da região ( Myers 2013) .

A Polônia está determinada a contribuir com a União Europeia, a fim de fortalecer sua posição ( Szpunara 2012). O principal objetivo polonês na região é de continuar participando na investigação científica, cooperando com infra­estrutura e recursos humanos nas atividades de pesquisa no Ártico ( Ibidem 2012). A Espanha é um dos países europeus mais afetados pelas alterações climáticas e, por esta razão, tem um importante centro de pesquisa para estudos ambientais e está disposta a cooperar para promover os debates sobre as questões do Ártico ( Méndez 2010). Entretanto, a Espanha não tem ainda uma política própria para o Ártico , seguindo , portanto, a da UE.

China , Japão e Coréia do Sul ­ todos observadores permanentes do Conselho do Ártico ­ percebem o Ártico da mesma forma, especialmente quando se trata de contornar áreas voláteis, como o Malaca e o Estreito Ormuz através de rotas comerciais do Ártico (Manicom e Lackenbauer de 2013). Nos últimos cinco anos, a China tomou medidas que dizem respeito a suas principais prioridades da região, que são a capacidade de responder a efeitos de mudanças climáticas em seu território, o acesso a rotas, e sua capacidade de aproveitar os recursos e a pesca do Ártico ( Jakobson e Lee 2013 ). Depois de ser aceita como uma observadora permanente no Conselho do Ártico, ela está programando uma expansão de seu instituto científico polar, reafirmando seu compromisso com a região. Mesmo que a China não tenha uma estratégia oficial para o Ártico, é comprometida com a estrutura jurídica da UNCLOS e esta aniosa para realizar seus interesses na navegação e pesca na área. O "Polar Research Institute of China" começou seus estudos do Ártico em 1999, e em

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2003, o país estabeleceu seu centro de pesquisa, Yellow River Station, em Svalbard. A China tem um navio de pesquisa, Xuelong, e planos para a construção de um segundo. A China é dependente do fornecimento de petróleo estrangeiro e existem temores de que uma ruptura nesse comércio pode acarretar um colapso econômico. Neste sentido, seus planos são de diversificar os seus fornecedores e evitar áreas voláteis, como o Oriente Médio, a Malaca e Ormuz Estreito e do Canal de Suez.

Os principais interesses do Japão no Ártico estão relacionadas à investigação científica sobre as mudanças climáticas e as espécies marinhas, as novas rotas comerciais e os recursos naturais (Conselho Internacional canadense , Fundação Gordon 2011 ). Depois do desastre de Fukushima, em 2011, o acesso à novas fontes de energia tornou­se crucial para o país ( Jakobson e Lee 2013). O Japão está envolvido na pesquisa do Ártico desde 1990, quando se tornou membro do Comitê Internacional da Ciência no Ártico ( IASC) . Atualmente, como signatário do Tratado de Svalbard, tem dois observatórios no arquipélago de Svalbard ( Tonami e Watters 2012a incumbentes ). Para conduzir sua pesquisa polar, o Japão tem três navios, Shirase , Soya e Teshio (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011) .

A República da Coréia está comprometida com o Ártico , devido ao seu desejo de aumentar a sua influência como um jogador na comunidade internacional e os ganhos econômicos de sua indústria . Como um país pobre em recursos, o país pode se beneficiar de recursos naturais do Ártico e de rotas comerciais ( Jakobson e Lee 2013 ). Enquanto o maior construtor de navios do mundo, um porto no Ártico é essencial para esse segmento (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011). Algumas empresas importantes que convergem para o Ártico são a Daewoo Shipbuilding e Marine Engineering e a Samsung Heavy Industries, que produz muitos dos navios "quebra­gelo" do mundo. Outra prioridade do governo é a investigação das alterações climáticas. Nesse sentido , desde 2002 o país está operando a estação de pesquisa Dasan Ártico em Svalbard.

Os interesses da Índia no Ártico estão relacionados com a segurança energética, recursos naturais relativos à segurança alimentar e novas rotas comerciais (Conselho Internacional do Canadá ; Fundação Gordon 2011). A Índia reconhece­se como uma das partes interessadas no Ártico e, como membro do Tratado de Spitsbergen, tem uma estação de pesquisa, Himadri, em Svalbard desde 2007. No entanto, ainda é um jogador novo na região: sua primeira expedição à região foi em 2007 e não possuir qualquer navio de gelo ( Conselho Internacional canadense , Fundação Gordon 2011). É de importância vital para a Índia entender como ocorre a mudança climática, e, como um gigante em desenvolvimento, existe a necessidade de que seus hidrocarbonetos aproximem o país do Ártico, tendo algumas de suas indústrias já engajadas na extração de recursos, especialmente em cooperação com a Rússia ( Aruliah 2013 ). O NSR pode ser um desafio para a sua doutrina militar, que envolve o controle do Estreito de Malaca, como elemento de barganha importante ( Indian Express 2013). Sua aceitação no Conselho do Ártico pode ser uma estratégia do Conselho para contrabalançar os interesses da China na região. Como os dois países têm divergências em questões regionais , essas questões podem se desdobrar para o Ártico.

A Angola é uma forte defensora da manutenção de um ambiente de paz nos mares.

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Esta intenção foi confirmada por sua participação tanto na UNCLOS e na Paz do Atlântico Sul e Zona de Cooperação ( ZOPACAS ), contribuindo para a exploração das reservas de petróleo de Angola ( de Jane, 2009a).

A Argentina possui uma reclamação sobre uma parte do continente antártico, tendo assinado tanto a UNCLOS quanto o Tratado da Antártida ( Secretaria do Tratado Antártico , 2013). No entanto, a manutenção de um clima de paz no Atlântico Sul também faz parte da política externa da Argentina, uma vez que pode ser provado ao se juntar ao ZOPACAS, mostrando seu compromisso de manter as rotas marítimas atuais ( Argentina , 2013 ) .

A Austrália não é um ator nas questões do Ártico, mas tem sido amplamente interessado no continente antártico . Sua política tem como objetivo a manutenção de uma área pacífica, uma vez que uma zona desmilitarizada Antártica significa nenhuma ameaça perto das fronteiras da Austrália ( Jennings 2013). A Austrália foi um dos doze países­signatários originais do Tratado da Antártida, também é um dos signatários da CNUDM e está comprometida com a resolução política de todos os conflitos. A Austrália afirma que 42% do continente antártico está sob soberania australiana, embora alguns países não concordem com tal afirmação. O país tem uma ampla cooperação com os Estados Unidos, principalmente no campo militar e, em conjunto com a Nova Zelândia , é um membro da comunidade das nações.

O Brasil é um país signatário tanto da UNCLOS e do Tratado da Antártida, que tem uma missão científica credenciada para a região ( Secretaria do Tratado da Antártida de 2013 , o Brasil , 2013b ). O Brasil desenvolveu uma forte posição ao defender a manutenção de um sistema pacífico de cooperação no Atlântico Sul ( ZOPACAS ). Esta posição é extendida a outras áreas do globo, especialmente na defesa da não­militarização do outros oceanos e rotas marítimas (Brasil, 2013a ).

Outro país signatário tanto da UNCLOS quanto do Tratado da Antártida, o Chile reivindica parte do continente antártico , que é uma parte importante de interesses da política externa do país ( Chile , 2012 ). A manutenção do seu estatuto jurídico e da segurança na região são elementos importantes quando se discute o direito do mar e da situação nos pólos do globo.

O Egito, um país signatário da UNCLOS, é responsável pela manutenção do principal trecho do Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico, o Canal de Suez. A segurança desta passagem é um aspecto importante da preocupação política externa egípcia, considerando o grande fluxo de mercadorias e pessoas que cruzam o Canal regularmente ( Egito , 2013 ) . A criação de uma nova rota marítima ártica de bens e pessoas afetaria o fluxo de embarcações que cruzam o Canal de Suez.

Devido aos seus interesses e responsabilidades sobre o Estreito de Malaca, a Indonésia, a Malásia e a Cingapura são atores importantes na Ásia; eles estão cooperando neste governança. A política externa da Indonésia tem se preocupado principalmente em reforçar o multilateralismo no Sudeste Asiático, reconhecendo­se como um líder da IRA. As ações do país coincidem com os princípios de solidariedade da ASEAN e da Carta da ONU, concebendo como prioridades a resolução de suas disputas de fronteira, especialmente as marítimas com a Malásia, Austrália e Cingapura ( Ibidem ). Neste sentido, o país pode lidar

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com as questões do Ártico através da cooperação e da correspondência pela ONU. A Malásia tem um papel importante na dinâmica geopolítica da Ásia. Em relação ao

estreito de Malaca, garante a segurança para a navegação internacional, enquanto no Mar do Sul da China , onde existem disputas sobrepostas com a China , Brunei, Vietnã e Filipinas, a sua política é baseada na resolução pacífica de tais controvérsias ( ARF Outlook Segurança Anual de 2011). Desde 2011 a Malásia é um signatário do Tratado da Antártida e demonstrou as suas intenções em ter um programa científico significativo na Antártida (East Asia Forum 2012). Como a Indonésia , é um dos signatários da CNUDM e está altamente comprometido com as Nações Unidas.

Os principais interesses da Nova Zelândia, por sua vez, estão no continente antártico, onde ele afirma sua soberania sobre território de Ross. Mesmo que esse território não se sobreponha com reivindicações territoriais de outros países, sua soberania é contestada (EUA 2013 ) .

Nigéria tem reservas de petróleo e está fortemente interessado em manter os oceanos em condições pacíficas ( Jane , 2009b ). Seus esforços para mantê­lo assim definem o tom da sua política externa em relação ao mar. O país é signatário da UNCLOS .

Panamá é um país signatário da UNCLOS e o Canal do Panamá é um dos principais alvos de sua preocupação ao negociar assuntos internacionais. Assim , um dos principais objetivos da política externa do Panamá é manter as atuais rotas marítimas que fluem regularmente, ainda. estão preocupados com a segurança dos mares ( Panamá , 2013 ) .

Sendo um dos seis novos observadores permanentes no Conselho do Ártico, os interesses de Cingapura na região estão crescendo, devido às perspectivas de ganhos econômicos através de seu setor industrial, "nomear Cingapura como um porto global, como uma importante base de engenharia marinha e como um líder internacional na manutenção de portos" (Eurásia Review de 2013). Além disso, o país é um membro de longa data da Organização Marítima Internacional (IMO) e está interessado na governação marítima do transporte. Cingapura percebe a liberdade de navegação como vital para os seus interesses e reconhece os oceanos como uma herança comum da humanidade. Um ponto­chave para os interesses do país envolvendo o Ártico, é o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte ( NSR ), que pode desafiar o seu papel como um ponto de transporte global ( Eurásia Review de 2013).

A África do Sul assinou tanto o UNCLOS e do Tratado da Antártida. Ela implementou uma missão para a Antártida, sendo positivamente empenhada em garantir os princípios acordados na assinatura do tratado, principalmente o desenvolvimento de atividades pacíficas no continente ( África do Sul, 2013). Esta posição é confirmada pela participação sul­africano. 5. Questões para ponderar.

1) Como estipular o direito dos países de usar rotas e riquezas do Ártico?

2) Quais as oportunidades e desafios de se instalar rotas no Ártico? Como esse processo

deve see conduzido para maximinar os benefícios para a humanidade?

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3) Qual o papel dos países não­Árticos na questão e como as suas ações podem afetar a

soberania dos demais países?

4) Considerando o Direito Internacional e as controvérsias territorias, quais os tipos de ações

coletivas que podem ser tomadas para impedir a militarização?

5) Quais ações podem ser tomadas para melhorar a governança no Conselho Ártico e/ou

eventualmente chegar­se a uma constituição de um "regime internacional" para o Ártico?

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