canções da meia-noite

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Capítulo 1 - O despertar do Bellfarn

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Page 1: Canções da Meia-noite
Page 2: Canções da Meia-noite

O Nascer de um novo mundo

Page 3: Canções da Meia-noite

Capítulo 1 - O despertar do Bellfarn

Estavam todos sentados ao redor da fogueira. Praticamente toda a aldeia estava presente. No centro, ao lado da fogueira, estava o chefe da tribo, conhecido como Dellion, o Senhor Lobo de

Creeddon. Ele segurava um pacote pequeno na mão esquerda, e o cajado com um crânio na mão direita. O espaço havia sido dividido em três círculos: no primeiro ficavam os jovens que seriam iniciados na vida adulta. No segundo ficavam os anciões e os guardiões de tradição da tribo. No terceiro ficava o resto da tribo, incluindo alguns convidados de outras tribos vizinhas. A cerimônia de iniciação já iria começar. O chefe da tribo dirigiu-se para mais perto da fogueira e sentou-se sobre um pequeno toco do lado.

— Antes de começar, gostaria de agradecer pela presença de nosso vizinho e irmão da tribo de Reffin. — um homem velho, atarracado e cego que estava no último círculo levantou-se com dificuldade para que

todos o vissem.

— Bom, vamos começar então. “Há muito, muito tempo atrás, tempos que não podemos expressar com números e nem palavras, não existia nada. Apenas os deuses, que são o Sol e a Lua,

caminhavam neste vasto universo em que vivemos, só que mais longe da terra do que podemos figurar em nossas mentes. Durante eras e mais eras a Terra havia ficado perdida no universo. Até este momento nenhum dos deuses havia visto a Terra. “Porém, um dia o Sol voltou seus olhos para este lado do universo e, então, avistou-a. Não se pode descrever a paixão que invadiu o coração do deus Sol. Logo, ele voltou todas suas atenções para o nosso mundo, deixando de lado a Lua. A Lua, por sua vez, enciumou-se da terra, que recebia mais atenção do Sol do que devia. Pelo menos assim ela pensava. “Sabem por quê? Por que ela amava o Sol, ela realmente o amava. Só que o Sol não. Ele sentia repulsa por ela. Ele, um ser perfeito, Senhor do Fogo e da Sabedoria, e ela, Senhora do Frio, da Inveja, da Luxúria e da Discórdia. Eram seres opostos, que não podiam viver juntos e em harmonia ao mesmo tempo. “Durante eras e mais eras longuíssimas o Sol observou a Terra, pensando em muitas coisas relacionadas a ela.

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Esse tempo só serviu para que o ódio da Lua pela Terra aumentasse. Um dia, porém, o Sol se ergueu de seu trono resplandecente no alto dos céus e, em um salto repentino, atirou-se em direção a Terra. Seu tamanho diminuía à medida que se aproximava da Terra. “Quando todo seu corpo, que ainda irradiava um grande calor, tocou o solo da terra, uma sensação imensa de solidão tomou seu coração. A Lua, que assistiu tudo de seu trono, encheu-se de fúria principalmente por que o Sol, mesmo depois de eras admirando a terra, não havia diminuído seu desprezo pela deusa. “Vendo então o Sol que o planeta que tanto amava estava vazio, resolveu que deveria haver seres, que fossem semelhantes entre si, para povoar e viver na terra. Então, da luz que seu corpo emanava criou os homens, que deveriam servir-lhe e adorar-lhe para todo o sempre. “Porém, o Sol, após um pequeno espaço de tempo, que ele chamou de dia, viu que os homens não estavam satisfeitos, pareciam inquietos. Descobriu então que esta inquietação se devia ao que ele chamou de fome. “Parecia ao Sol que os homens não viveriam muito tempo se não pudessem se alimentar. Então ele resolveu colocar os homens para dormir, enquanto ele tentava resolver esse pequeno problema. Primeiro criou a água, um líquido que não tinha sabor e nem cor, muito menos cheiro. Acordou ele os homens, e deu-lhes de beber desta água. No mesmo momento eles sorriram e se alegraram. Um deles olhou para o Sol, que agora andava na forma humana, e curvou-se perante ele”. O chefe da tribo fez uma pausa, pegou um saquinho de couro velho. Colocou a mão dentro e retirou um punhado de sal. “Essa foi a primeira reverencia que o Sol recebeu de sua criação”. Jogou o sal na fogueira. As chamas e labaredas dela subiram rapidamente, alcançando quase dois metros de altura. Os jovens, que sentavam no primeiro círculo olharam admirados para as chamas, que haviam diminuído tão rápido quanto tinham se erguido. Parecia a todos que o velho havia crescido de tamanho.

— É assim que começou nossa história, meus queridos, — deu uns passos para trás e sentou em um banco baixinho. — e é assim que irá se findar!

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