nº1/1998 nº3/2009

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FREQUÊNCIA DE LESÕES MÚSCULO-ESQUELÉTICAS RELACIONADAS COM O TRABALHO E DAS LOMBALGIAS EM ENFERMEIRO(A)S: Estudo ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA - UNL Nº1/1998 Nº3/2009

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FREQUÊNCIA DE LESÕES MÚSCULO-ESQUELÉTICAS RELACIONADAS COM O

TRABALHO E DAS LOMBALGIAS EM ENFERMEIRO(A)S: Estudo

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA - UNL

Nº1/1998

Nº3/2009

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Catalogação Recomendada

O Estudo da frequência de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho e das

lombalgias em enfermeiro(a)s/ coord. António de Sousa Uva, Florentino Serranheira.

Lisboa: ACT, 2015.- 97 p.;25cm

Lesões músculo-esqueléticas / Pessoal da saúde / Avaliação do Risco / Riscos Profissionais /

Prevenção de Riscos Profissionais / Ergonomia / Condições de Trabalho / Hospitais /Estudos

/ Portugal

AUTORES Professor Doutor Florentino Serranheira

Professor Doutor António Sousa Uva

EDITOR ACT - Autoridade para as Condições do Trabalho

Lisboa, fevereiro de 2015

As informações contidas nesta publicação são da responsabilidade dos autores e não

refletem necessariamente a posição ou a opinião da ACT

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Nota prévia

O presente estudo teve na sua origem a constituição de uma linha de

investigação sobre as Lesões Musculoesqueléticas Ligadas ao Trabalho

(LMELT) em enfermeiros. Tal motivou, desde logo, contatos com a Ordem dos

Enfermeiros conseguidos, num primeiro momento, com o apoio da Enfª Maria

do Rosário Fonseca.

A Ordem dos Enfermeiros (OE) recebeu-nos na sua sede em Lisboa tendo sido

acordada uma colaboração, e indicado seu representante no estudo o Prof.

Doutor Enfº Vitor Rodrigues.

Tratando-se de um projeto de dimensão nacional foram também contactados

investigadores de outras Universidades, designadamente da Universidade

Técnica de Lisboa (Faculdade de Motricidade Humana), concretamente a Profª.

Doutora Teresa Cotrim.

Finalmente, para o apoio estatístico, foi convidada a Profª. Carla Nunes da

Escola Nacional de Saúde Pública. Estava constituída a equipa de

investigação. Seguidamente elaborou-se e submeteu-se o projeto de

investigação a financiamento à Autoridade para as Condições do Trabalho

(ACT). Estávamos em meados de 2009.

A decisão de apoio ao estudo (financiamento) por parte da ACT foi-nos

informalmente comunicada em finais de 2009, todavia ficou-se a aguardar

cabimento pelo Ministério da tutela. Não existindo resposta em tempo útil o

estudo teve início sem apoio económico, em 2010, o que condicionou de forma

substantiva o seu desenvolvimento. Tal não impediu que os seus

coordenadores (editores do presente livro) mantivessem a dedicação ao estudo

e o desenvolvessem, apesar desses constrangimentos.

Por fim, em meados de 2013, fomos de novo contactados pela ACT que nos

informou da necessidade de reformular alguns elementos do projeto para se

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proceder à elaboração do protocolo de colaboração entre a ACT e a ENSP. Em

dezembro de 2013 (quatro anos depois) foram concretizados os elementos

formais entre as duas instituições para que este estudo fosse regularizado.

Num percurso tão atribulado, onde podem alojar-se inúmeros (e eventuais)

mal-entendidos, a presente obra finaliza-se com um grande esforço, mas

também um grande empenho, dos seus coordenadores.

Lisboa, 31 de dezembro de 2013

António de Sousa Uva e Florentino Serranheira

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Índice

O estudo da frequência de lesões musculoesqueléticas relacionadas com o

trabalho e das lombalgias em Enfermeiro(a)s ................................................ 5

Publicação 1 ................................................................................................. 13

Publicação 2 ................................................................................................. 31

Publicação 3 ................................................................................................. 59

Notas finais ................................................................................................... 77

Recomendações para estudos futuros nesta linha de investigação ............. 79

Bibliografia .................................................................................................... 81

Anexo ........................................................................................................... 85

Resumo ........................................................................................................ 93

Résumé ........................................................................................................ 95

Abstract......................................................................................................... 97

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4

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5

O estudo da frequência de lesões musculoesqueléticas

relacionadas com o trabalho e das lombalgias em

Enfermeiro(a)s

As Lesões Musculoesqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT), incluindo os

seus sintomas, são patologias muito frequentes na população, designadamente

em trabalhadores de todos os setores produtivos e não exclusivamente em

determinadas atividades, ainda que algumas dessas atividades possam estar

mais relacionadas com tais patologias.

As LMELT constituem, atualmente, um dos mais prevalentes problemas de

saúde dos trabalhadores. Nesse contexto a União Europeia (UE) tem levado a

efeito diversas campanhas que visam a redução dessas doenças relacionadas

(ou ligadas) com (ao) trabalho, como é exemplo a campanha da UE de 2000

“Não vires as costas às lesões musculoesqueléticas” e a campanha de 2007

“Mais carga não”.

Entre outros, a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Internacional Council

of Nurses, o Bureau of Labour Statistics e o Eurofound têm reconhecido que

nos profissionais de saúde se observa um número particularmente elevado de

LMELT, havendo uma substantiva referência à classe profissional do(a)s

enfermeiro(a)s.

De acordo com os dados estatísticos do Bureau of Labor Statistics (2010) o(a)s

enfermeiro(a)s destacam-se entre as profissões com valores elevados de

prevalência de LMELT. Por exemplo, a incidência anual de raquialgias entre os

enfermeiros que mobilizam manualmente doentes é de 40 a 50% (Hignett,

2003). Nos enfermeiros regista-se ainda, em relação à população em geral,

mais 30% de dias de trabalho perdidos devido a sintomatologia ou patologia

lombar (Pheasant; Stubbs, 1992).

Nos Estados Unidos da América (EUA) a sintomatologia músculo-esquelética

no(a)s enfermeiro(a)s assume frequências aproximadas de 72,5%, em pelo

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menos uma região anatómica. Essa sintomatologia, em 15,8% dos casos, é

acompanhada de sintomas simultaneamente na região lombar, região cervical

e ombros (Trinkoff; Lipscomb et al., 2002).

Para além das limitações físicas que determinam, as LMELT causam vários

constrangimentos, designadamente (i) diminuição da qualidade de vida, (ii)

diversas repercussões sociais e mentais com custos intangíveis (Marras;

Karwowsky, 2006) e com uma prevalência ao longo da vida de 40 a 80%

(Edlich; Winters et al., 2004). Há também registos, como já foi referido, a (iii)

importantes períodos de ausência ao trabalho por motivo de doença

(absentismo-doença).

É efetivamente no sector da prestação de cuidados de saúde em enfermagem,

destacando-se os momentos de mobilização, transferência e transporte de

doentes (Owen, 2000; Wicker, 2000), que os enfermeiros apresentam uma

elevada prevalência de LMELT, em particular a nível da coluna vertebral e com

as maiores taxas de incapacidade (Klein; Jenson; Sandstrom, 1984; Engels et

al., 1996; Shelerud, 1998; Daraiseh et al., 2003; Sherehiy et al., 2004;

Karwowsky et al., 2005; Bos et al., 2006).

Nesse contexto, em Hospitais e outras Unidades de Saúde, os principais

fatores de risco de LMELT decorrentes da atividade dos enfermeiros são,

predominantemente, o levantamento, a movimentação ou transporte e o

(re)posicionamento de doentes, a repetitividade de gestos (por exemplo na

interação com os equipamentos) e a frequente adoção de posturas em ângulos

intersegmentares extremos (Byrns et al., 2004; Daynard, 2001).

Tais situações determinam exigências físicas (por exemplo, osteoarticulares,

ligamentares, musculares e cardiorrespiratórias), mas também envolvem a

exposição a fatores de risco psicossociais (incluindo os organizacionais) que

podem igualmente contribuir para a sua etiologia.

Esses fatores de risco organizacionais e psicossociais podem igualmente

contribuir para as LMELT (Serranheira; Uva; Lopes, 2008), designadamente

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7

porque existem exposições frequentes, entre outros, a exigências relativas ao

tipo de doentes e ao número de profissionais, assim como o trabalho noturno

e/ou por turnos (Engkvist, 2004; Garg, 2006; Hess; Kincl, 2006).

Por outro lado é a exposição a fatores de risco relacionados com a atividade

que decorre da realização concreta da atividade profissional, tal como a

movimentação manual de cargas e, em particular, de doentes acamados em

unidades de saúde, ou até mesmo em cuidados continuados, que exige dos

enfermeiros maiores exigências físicas em posições articulares extremas,

principalmente a nível da coluna vertebral e da região lombo-sagrada (Estryn-

Behar; Kaminski; Peigne, 1990).

Por outras palavras, a atividade profissional relativa à prestação de cuidados

de enfermagem envolve substanciais forças de corte e momentos de força a

nível da coluna vertebral (considerados os principais elementos preditivos de

LMELT lombar), assim como rotações axiais do tronco que se consubstanciam

como variáveis contributivas para o incremento do risco de LMELT (Jang et al.,

2007).

Um estudo realizado por Engels e colaboradores revelou que mais de um terço

dos enfermeiros respondentes a um questionário de sintomas de LMELT

(Engels et al., 1996) refere queixas lombares regulares (36%), assim como

queixas a nível dos membros superiores e região cervical (30%) e a nível dos

membros inferiores (16%). Muitos outros estudos, desde então, têm

investigado estas inter-relações entre o trabalho e a saúde dos enfermeiros

(Quadro 1).

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Quadro 1 – Estudos da frequência de sintomas musculoesqueléticos em Enfermeiros

Estudo

Prevalência sintomas nos 12

meses anteriores (%)

Prevalência sintomas nos

últimos 7 dias (%)

Região

lombar

Região

dorsal

Região

cervical

Região

lombar

Região

dorsal

Região

cervical

Lusted et al. (1994) 62 24 43 17 13 20

Lagerstrom et al.

(1995) 56 - 48 - - -

Engels et al. (1996) 33,8 7,9 22,9 - - -

Ando et al. (2000) 54,7 - 31,3 - - -

Trinkoff et al. (2003) 47 - 45,8 - - -

Alexopoulos (2003) 75 - 47 - - -

Gurgueira et al.

(2003) 59 21,9 28,6 31,4 21,9 14,3

Smith et al. (2004) 56,7 38,9 42,8 - - -

Lipscomb et al.

(2004) 32 32 24 - - -

Smith et al. (2005) 72,4 29,7 62,7 - - -

Fonseca; Serranheira

(2006) 65 37 55 58 62 53

Warming et al. (2009) - - - 64 - 55

Tinubu et al. (2010) 44,1 16,8 28 - - -

Serranheira et al.

(2012) 60.6 44,5 48,6 29,5 21,1 25,8

A utilização de sistemas de auto-referenciação de sintomas (sob a forma de

questionários ou outra) pode constituir um meio de alerta na identificação das

situações de risco de LMELT entre os enfermeiros (Jang et al., 2007).

Tais frequências de sintomatologia de LMELT são reveladoras da existência de

um problema que, eventualmente, está associado à forma como os serviços de

saúde atuam preventivamente em matéria de prevenção de riscos

profissionais, isto é, na maioria dos casos esses serviços investem

insuficientemente numa adequada conceção dos postos e espaços de trabalho,

assim como a nível dos circuitos e dos ciclos de trabalho, o que pode constituir,

conjuntamente com a exposição aos tradicionais fatores (profissionais) de

risco, risco acrescido para uma elevada incidência e prevalência dessas

patologias.

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Os principais fatores de risco de LMELT a nível da coluna vertebral (Beeck;

Prevent, 2000) sistematizam-se no Quadro 2, em função do contributo para a

sua matriz etiológica.

Quadro 2 - Fatores de risco de LMELT a nível da coluna vertebral.

Fatores de risco Relação

Relacionados com a atividade

Trabalho manual intenso ++

Movimentação manual de

cargas

+++

Posições/posturas extremas ++

Posições/posturas estáticas +/0

Exposição a vibrações +++

Piso escorregadio e/ou

desnivelado

...........................

+

Psicossociais (incluindo os

organizacionais)

Monotonia +/0

Pressão temporal +/0

Controlo/latitude decisional +/0

Suporte social +++

Insatisfação profissional

+++

.................................

Muitas vezes referem-se caraterísticas individuais, como a idade e o sexo (ou

género) como fatores de risco individuais. Seguramente mais importante que

esses aspetos são a presença de determinadas patologias pré-existentes ou,

por exemplo, determinados hábitos, como os hábitos tabágicos, que podem

constituir situações de maior vulnerabilidade (ou suscetibilidade), esses sim,

verdadeiros fatores de risco de natureza individual.

Mais de um terço dos enfermeiros respondentes a um questionário de sintomas

de LMELT (Engels et al., 1996) refere queixas lombares com frequência regular

(36%), assim como queixas a nível dos membros superiores e região cervical

(30%) e a nível dos membros inferiores (16%).

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A existência de um episódio agudo de lombalgia (ou de lombociatalgia) é

considerada como possível entre 60 a 80% da população sendo todavia entre

os enfermeiros, essa probabilidade superior (até 90%), e no período ativo da

sua vida profissional (Smedley et al., 1995; Knibbe; Friele, 1996).

Nos Estados Unidos da América (EUA) esse problema de saúde dos

enfermeiros é responsável por um elevado número de abandonos precoces da

profissão (Lipscomb et al., 2004). Em parte, e entre outros, relacionados com o

aumento dos cuidados prestados, do tempo de trabalho e da diminuição do

número de profissionais, devido a exigências organizacionais.

Um estudo por nós efetuado em enfermeiro(a)s da região do grande Porto

(Fonseca; Serranheira, 2006) revelou resultados que evidenciaram uma

elevada prevalência de sintomas musculoesqueléticos nos 12 meses

precedentes (84%), atingindo a região lombar (65%), a região cervical (55%) e

o dorso (37%), ombros (34%) e punhos/mãos (30%).

Como se referiu, a auto-referenciação de sintomas tem sido utilizada como um

“processo de alerta” na identificação das situações de risco de LMELT entre os

enfermeiros (Jang et al., 2007) e na perspetiva do planeamento e programação

de medidas de gestão desse risco (Uva, 2006; 2010). De facto, a metodologia

de estudo mais frequente para identificar a frequência de sintomas de LMELT

recorre a questionários de sintomas de LMELT.

Entre nós esses estudos, transversais (“surveys”), baseados em questionários

pessoais e anónimos são, apesar da sua simplicidade, ainda relativamente

pouco utilizados e, ainda menos, em profissionais de saúde.

O atual estudo pretendeu identificar, a nível nacional, a frequência de sintomas

de lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho em enfermeiros,

considerando pertinentes os aspetos sociodemográficos, assim como a

caracterização de variáveis de exposição ocupacional relacionada com a

sintomatologia, nas diferentes unidades de saúde.

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Assim, pretendeu-se, de alguma forma, acrescentar conhecimento relativo à

frequência daquela sintomatologia em enfermeiro(a)s na perspetiva de, com

base no estudo dessas situações de trabalho, desenvolver (ou incrementar)

medidas tendentes ao seu controlo, reduzindo (ou evitando), dessa forma, os

custos, tangíveis e intangíveis, que podem causar.

Para tanto utilizou-se um questionário de sintomas de LMELT dirigido a todos

os enfermeiros portugueses, utilizando o portal da Ordem dos Enfermeiros

(n=62.566). Este questionário foi pessoal e anónimo e de colaboração

voluntária.

O estudo teve a duração de oito meses, tendo decorrido entre Julho de 2010 e

Fevereiro de 2011, período em que a OE colocou (e manteve) um apelo à

participação no estudo no seu portal da internet.

Como referido, a participação do(a)s enfermeiro(a)s foi voluntária. Após acesso

ao banner da OE com a informação sobre o estudo, o(a) enfermeiro(a) foi

redirecionado (link) para uma página da Web da Escola Nacional de Saúde

Pública (ENSP) onde deveria colocar o seu endereço pessoal de email,

constituindo a base da participação no estudo (cada endereço válido

correspondeu a uma inscrição).

Tal permitiu o envio automático para cada endereço de email de um link de

acesso ao questionário do estudo no “survey monkey platform questionnaire”.

O link personalizado permitiu (no momento ou de modo faseado) que cada

respondente, de acordo com a sua decisão pessoal, preenchesse o

questionário online. Garantiu-se, desde sempre, a salvaguarda de dados

pessoais e não existiu acesso a informação que permitisse identificar o

respondente, respeitando dessa forma o seu anonimato.

O questionário utilizado foi uma adaptação do questionário nórdico sobre

lesões musculoesqueléticas (Nordic musculoskeletal questionnaire - NMQ)

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12

(Kuorinka et al., 1987), tendo sido utilizado a versão por nós adaptada em

Portugal (Serranheira; Uva; Lopes, 2008).

O questionário utilizado (Anexo) está organizado em quatro grandes

dimensões: (i) caracterização sociodemográfica, (ii) auto-referência de

sintomas de LMELT, (iii) identificação das tarefas e sua relação com os

sintomas e (iv) caracterização do estado de saúde.

Os resultados alcançados foram publicados em revistas nacionais e

internacionais, assim como apresentados em diversas conferências científicas.

Na presente publicação optou-se por apresentar três dessas publicações em

língua portuguesa, que aqui se reproduzem na íntegra (e com a respetiva

referência bibliográfica).

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Publicação 1

Florentino Serranheira, Teresa Cotrim, Victor Rodrigues, Carla Nunes, António

Sousa-Uva (2012). Risco e Fatores de risco individuais de LMELT em

enfermeiros In: Riscos, Segurança e Sustentabilidade. Editado por: C. Guedes

Soares, A. P. Teixeira, C. Jacinto (Eds.). 1085-1097. Lisboa: Edições

Salamandra. ISBN:978-972-689-247-2.

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Risco e Fatores de Risco Individuais de LMELT em Enfermeiros

Florentino Serranheira a,b, Teresa Cotrim c, Victor Rodrigues d,

Carla Nunes a,b, António Sousa-Uvaa,b

a Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Avenida Padre Cruz, 1600-

560 Lisboa, Portugal [email protected]; [email protected]; [email protected]

bCMDT – Centro de Investigação em Malária e Doenças Tropicais – Saúde Pública, Lisboa,

Portugal [email protected]; [email protected]; [email protected]

cFaculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Estrada da Costa, 1499-

002 Cruz Quebrada - Dafundo, Lisboa, Portugal [email protected]

d Escola Superior de Enfermagem de Vila Real/CIDESD/Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro, Lugar do Tojal, Lordelo, 5000-232 Vila Real, Portugal

[email protected]

Resumo

A avaliação do risco de LMELT é, quase sempre, baseada apenas em aspetos

das condições de trabalho e da atividade não se valorizando, por exemplo,

variáveis individuais como a idade, o sexo, as características antropométricas e

biomecânicas ou o estado de saúde.

Um inquérito por questionário aplicado aos enfermeiros portugueses

(n=62.566), que contou com a colaboração da Ordem dos Enfermeiros (OE),

abrangeu a totalidade dos enfermeiros registados na OE, independentemente

de desempenharem funções em meio hospitalar, nos cuidados de saúde

primários, ou em quaisquer outros locais.

Dos enfermeiros respondentes (n=2.140), desempenham funções em hospitais

1.396 enfermeiros, observando-se uma prevalência do sexo feminino de 74,2%

e uma presença de um maior número de sintomas nos enfermeiros de idade

inferior a 40 anos: a nível cervical (n=414; p=0,212), a nível dorsal (n=455;

p<0,001) e a nível lombar (n=549; p=0,079).

Tais resultados revelam que os enfermeiros mais jovens, que apresentam mais

queixas musculoesqueléticas resultantes da sua atividade profissional, estão

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16

mais implicados, por exemplo, na mobilização de doentes, na alimentação dos

doentes e na administração de fármacos, atividades consideradas fisicamente

exigentes.

A avaliação do risco de LMELT, na perspetiva da sua prevenção, deve portanto

valorizar, com igual destaque, as variáveis de natureza individual no âmbito da

proteção da saúde e segurança dos trabalhadores.

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17

1. Introdução

Os sintomas de lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) são

muito frequentes nos enfermeiros em Portugal (Fonseca & Serranheira, 2006;

Serranheira, Cotrim, Rodrigues, Nunes, & Sousa-Uva, 2012). Quando estes, no

contexto do desempenho profissional e das elevadas exigências da prestação

de cuidados aos doentes, são condicionados à realização de atividades que

exigem posturas extremas, repetitividade gestual, aplicações de força e

mobilização de cargas é frequente existirem sintomas ou queixas do foro

musculoesquelético e o risco de LMELT aumenta significativamente (Barboza,

Milbrath, Bielemann, & de Siqueira, 2008; Hignett & Griffiths, 2009).

É importante referir que a existência de sintomas musculoesqueléticos, tais

como a perceção de desconforto, de tensão, de fadiga, de calor local, a

existência de tremores e de dor que aumenta ao longo do dia de trabalho (Van

der Grinten & Smitt, 1992) não significa que exista lesão com disrupção dos

tecidos, diagnosticada clinicamente ou com apoio de meios complementares de

diagnóstico. Estudos nestas áreas assumem que a existência de sintomas,

particularmente a dor auto-referida, é considerada percursora das lesões

(Serranheira, Pereira, Santos, & Cabrita, 2003; Wahlström, 2005).

Alguns estudos têm abordado, em enfermeiros, a análise da relação entre a

presença de sintomas de LMELT no local de trabalho e os diferentes contextos

da atividade profissional (Choobineh, Rajaeefard, & Neghab, 2006; Jhun, Cho,

& Park, 2004).Apesar disso, a abordagem mais frequente na avaliação do risco

de LMELT em enfermeiros incide quase exclusivamente (senão totalmente) nos

fatores de risco profissionais, designadamente os fatores de risco físicos

presentes no local de trabalho (hospitais, cuidados de saúde primários ou

cuidados continuados, incluindo lares ou outros). Existem poucas referências

às influências que as variáveis individuais podem ter na génese das LMELT

(Widanarko et al., 2011).

De entre as variáveis individuais (sexo, idade, características antropométricas,

doenças naturais, índice de massa corporal - IMC, entre outras) que podem

influenciar a presença de sintomas de LMELT, o sexo e a idade, eventualmente

por existir maior facilidade de acesso, têm sido as variáveis mais estudadas. As

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18

mulheres apresentam mais queixas musculoesqueléticas na região cervical

(Jensen, Ryholt, Burr, Villadsen, & Christensen, 2002; Solidaki et al., 2010), nos

ombros (Morken et al., 2000), nos punhos e mãos (Wijnhoven, De Vet, &

Picavet, 2006), nas zonas dorsal (Wijnhoven, et al., 2006) e lombar (Leijon &

Mulder, 2009), assim como na maioria de todas as outras zonas anatómicas

(Kamaleri, Natvig, Ihlebaek, Benth, & Bruusgaard, 2008), ainda que outros

estudos (Aasa, Barnekow-Bergkvist, Aengquist, & Brulin, 2005)contrariem, em

parte, essas conclusões, pelo menos em relação às queixas lombares.

Relativamente à idade destacam-se, entre outros, os estudos de Vincent e

Naidoo e outros (Naidoo, Kromhout, London, Naidoo, & Burdorf, 2009; Vincent,

1995) que, no essencial, apresentam resultados distintos de prevalência de

sintomas musculoesqueléticos entre diferentes classes etárias: (i) as mulheres

com idade acima dos 40 anos apresentam mais sintomas musculoesqueléticos

a nível dos membros superiores, dos membros inferiores e da coluna vertebral;

(ii) os sintomas a nível lombar são mais frequentes na população entre os 45 e

os 54 anos de idade (35%) quando comparados com um grupo mais jovem

entre os 25 e os 34 anos (23%). Outros estudos realizados em enfermeiros(as)

Grego(a)s mostram que os sintomas a nível dos ombros são mais prevalentes

acima dos 40 anos quando comparados com idades inferiores a 35 anos

(Alexopoulos, Burdorf, & Alokerinou, 2003). Os mesmos autores referem que a

frequência de sintomas a nível lombar e cervical dos enfermeiros de idade

acima dos 40 anos é inferior à dos com idade menor de 35 anos.

No contexto da enfermagem justifica-se pois uma análise mais detalhada das

variáveis individuais e da sua eventual relação com a prevalência de queixas

nas diferentes zonas anatómicas.

2. População e métodos

O estudo, de âmbito nacional, incluiu todos os enfermeiros registados na

Ordem dos Enfermeiros Portugueses (n= 62.566) dos quais 26.920 trabalham

em hospitais. Os enfermeiros foram convidados a participar neste estudo para

caracterização dos sintomas de LMELT através de uma notícia/anúncio

colocado no site da Ordem dos Enfermeiros.

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19

Os respondentes que aceitaram o convite deixaram o seu endereço de e-mail

na página da Web do “survey monkey platform questionnaire”, tendo

posteriormente recebido um link para responderem ao questionário online. O

período de resposta durou cerca de 8 meses, até Fevereiro de 2011.

O questionário utilizado neste estudo é uma adaptação dum questionário

nórdico sobre lesões musculoesqueléticas (Nordic musculoskeletal

questionnaire - NMQ) cujos resultados variam entre 0 e 23% em divergência

com o mesmo respondente (fiabilidade) e apresentam 0 a 20% de discordância

com a história clínica (validade), sendo tal considerado como aceitável para um

instrumento de rastreio ou screening (Kuorinka et al., 1987). Tem sido utilizado,

numa versão adaptada em Portugal, com resultados nesse intervalo para a

fiabilidade e validade (Fonseca e Serranheira, 2006; Serranheira et al., 2003;

Serranheira et al., 2007; Serranheira et al., 2008; Serranheira et al., 2009).

O NMQ teve como principal objetivo na sua génese o desenvolvimento de um

método de estudo epidemiológico, utilizando um conjunto de questões

normalizadas, para a identificação das queixas ou sintomas

musculoesqueléticos em grupos profissionais (Crawford, 2007). Tem sido

amplamente utilizado para avaliar a presença de sintomas do foro

musculoesquelético ligados às atividades de trabalho, destacando-se, entre

outros e a título de exemplo, o estudo realizado com enfermeiros chineses

(Smith, Wei, Kang, & Wang, 2004).

O questionário utilizado apresenta quatro principais dimensões: (i)

caracterização sociodemográfica, (ii) auto-referência de sintomas de LMELT, (iii)

identificação das atividades de trabalho e sua relação com os sintomas e (iv)

caracterização do estado de saúde.

No presente estudo foi realizada a identificação e a caracterização da

sintomatologia musculoesquelética da região lombar em enfermeiros a

trabalhar em hospitais de Portugal.

A análise estatística dos dados foi efetuada com recurso ao software Statistical

Package for Social Sciences (SPSS) versão PASW Statistics 17®.

Page 22: Nº1/1998 Nº3/2009

20

Para avaliar se a prevalência dos sintomas depende do género, idade e Índice

de Massa Corporal (IMC) recorreu-se ao Teste de Independência do Qui-

quadrado. Considerou-se uma probabilidade de erro de tipo I (α) de 0,05 em

todas as análises inferenciais.

3. Resultados

Responderam ao questionário 2.140 da totalidade dos enfermeiros (3,42%),

dos quais 1.396 trabalhavam em hospitais representando, neste caso e em

relação a esse grupo, cerca de 5,19%. A maioria dos respondentes era do sexo

feminino (75%) e tinha uma idade média de 37 anos e moda de 27 anos.

Relativamente ao índice de massa corporal (IMC) os respondentes

apresentavam valores médios de IMC abaixo dos 24 (n=946), o que

representava peso normal ou peso reduzido, enquanto 55,8% apresentava

peso excessivo, em alguns casos obesidade (11,9%).

Tabela 1 – Distribuição das principais variáveis individuais da amostra

Média Mediana Moda

Peso (kg) Fem. 63 61 60

Masc. 79 80 80

Altura (cm) Fem. 162 163 160

Masc. 174 175 180

IMC Fem. 24 23 23

Masc. 26 25 28

Gráfico 1 – Distribuição dos sintomas dos enfermeiros por sexo

Page 23: Nº1/1998 Nº3/2009

21

Os enfermeiros que participaram neste estudo trabalham em média 40 horas

semanais, principalmente em hospitais ou centros de saúde e não se observam

diferenças significativas relativamente aos dois sexos.

Os sintomas musculoesqueléticos dos enfermeiros, por sexo, evidenciam uma

elevada prevalência a nível lombar em ambos os sexos (Gráfico 1),

constatando-se, todavia, diversas diferenças significativas entre grupos, nos

quais o sexo feminino apresenta sempre queixas superiores, designadamente

a nível cervical (p< 0,001), ombros (p< 0,001), punhos (p< 0,05) e

tornozelos/pés (p< 0,001).

A prevalência das queixas do foro musculoesquelético, relativamente ao local

de trabalho em meio hospitalar e respetiva carga física de trabalho (enfermaria

com internamento predominante ou de internamento não dominante), permite

igualmente evidenciar diferenças sintomáticas entre enfermeiros do sexo

feminino e do sexo masculino (Tabela 2):

Page 24: Nº1/1998 Nº3/2009

22

Tabela 2 – Casos de queixas por zona anatómica - enfermeiros hospitalares

Região anatómica Enfermaria de

internamento dominante (elevada carga física de

trabalho)

Enfermaria sem internamento dominante (reduzida carga física de

trabalho)

Cervical Fem. 475 67

Masc. 95 12

Dorsal Fem. * 422 45

Masc.* 124 13

Lombar Fem. 550 69

Masc.* 159 15

Ombros Fem. 348 47

Masc. 75 8

Cotovelos Fem. 59 10

Masc. 25 4

Punhos/mãos Fem. 277 38

Masc. 66 8

Coxas Fem. 104 9

Masc. 23 3

Joelhos Fem. 186 26

Masc. 62 11

Tornozelos/pés Fem. 236 32

Masc. 46 10 * p<0,05 - diferenças entre tipo de trabalho com carga física elevada ou não.

A análise das diferenças das queixas por sexo e por idade revela que essas

diferenças são patentes na sintomatologia dorsal e cervical. As queixas

localizadas à região dorsal, por oposição às queixas cervicais, são mais

frequentes nas idades mais jovens (Tabela 3), o que pode estar relacionado

com as exigências da atividade de trabalho.

Tabela 3 – Queixas de enfermeiros a nível da coluna vertebral

Região anatómica Idade

<30 31-40 41-50 >51

Cervical Fem. * 225 286 246i 94i

Masc. 48 52 43 30

Dorsal Fem. * 267i 243 162 50

Masc.* 67i 64 39 23

Lombar Fem. 305 312 268 81

Masc. 71 94 73 41 *p<0,05 - diferenças classes etárias;

i classes mais contributivas

Page 25: Nº1/1998 Nº3/2009

23

A análise dos mesmos resultados, mas em enfermeiros que desempenham

funções em hospitais, é mais preocupante (Tabela 4), na medida em que se

evidencia um elevado número de enfermeiros jovens (idade inferior a 40 anos)

com queixas musculoesqueléticas.

Tabela 4 – Distribuição das queixas da coluna vertebral em enfermeiros que desempenham

funções em hospitais

Região anatómica Idade (anos)

≤ 40 > 41

Cervical (p=0,212) 414 245

Dorsal* (p<0,001) 455 167

Lombar (p=0,079) 549 277

*p<0,05

Por fim, os resultados estatísticos relativos às diferenças entre queixas dos

enfermeiros com peso normal (IMC<24,9) relativamente aos obesos (IMC>25)

revela que a presença de queixas a nível da coluna vertebral está dependente

do IMC: (1) a nível cervical o sexo feminino apresenta queixas superiores, tanto

nos indivíduos com peso normal como nos indivíduos com excesso de peso

(p<0,05); (2) na região dorsal apenas existem diferenças significativas entre

sexo nos enfermeiros que apresentam excesso de peso (p<0,05) e (3) na

região lombar não se evidenciam diferenças significativas.

4. Discussão e conclusões

Os resultados do presente estudo não pretendem ser representativos da

população alvo, uma vez que não se recorreu a qualquer critério de

representatividade decorrente do enquadramento concreto de realização do

estudo. O acesso aos respondentes foi feito através da totalidade da população

de uma associação profissional, a Ordem dos Enfermeiros, e utilizando

exclusivamente a sua plataforma informática.

É esperável que, apesar de eventual semelhança (até estatística) entre a

distribuição dos resultados por região geográfica, por sexo, idade, ou outra,

Page 26: Nº1/1998 Nº3/2009

24

com as distribuições da população alvo, tal se possa dever ao acaso. De facto

a adesão, voluntária, ao preenchimento do questionário pode estar relacionada

com muitos fatores de natureza individual que estiveram na base dessa

adesão, por exemplo, os que mais valorizam esses aspetos ou os sintomáticos.

Nesse sentido é possível (e até muito provável) que existam vieses

relacionados com essa metodologia.

Cerca de 77% dos respondentes são do sexo feminino o que é revelador de

uma heterogeneidade substantiva entre este grupo de profissionais de saúde,

independentemente dos locais de trabalho onde desempenham funções (ex.:

hospitais – enfermeiros do sexo feminino = 77,5%; cuidados de saúde

primários – enfermeiros do sexo feminino = 84,1%). Tal situação pode

aumentar as dificuldades na realização de determinadas solicitações físicas

que excedam as respetivas capacidades, podendo assim contribuir para o

aparecimento de sintomatologia musculoesquelética, eventualmente,

precursora de LMELT.

Estudos similares em enfermeiros apresentam resultados semelhantes de

prevalência de queixas (Serranheira et al., 2012), sendo sempre muito elevada

a frequência de sintomas, em particular a localizada nível da coluna vertebral

(Tabela 5).

As diferenças de prevalência de queixas que se observam entre os enfermeiros

dos sexos masculino e feminino, em particular a nível cervical (p< 0,001),

ombros (p< 0,001), punhos (p< 0,05) e tornozelos/pés (p< 0,001) pode estar

relacionada, pelo menos parcialmente, com as exigências do trabalho em

função das capacidades físicas dos enfermeiros.

Page 27: Nº1/1998 Nº3/2009

25

Tabela 5 – Prevalência de queixas musculoesqueléticas em enfermeiros

Prevalência de sintomas (%)

Estudos Região Lombar

Região Dorsal

Região Cervical

Lagerstrom, Wenemark, Hagberg, & Hjelm, 1995

56 - 48

Engels, van der Gulden, Senden, & van't Hof, 1996

34 22 23

Alexopoulos, et al., 2003 75 - 47

Trinkoff, Lipscomb, Geiger-Brown, & Brady, 2002

47 - 45,8

Smith, Wei, Kang, & Wang, 2004 56 37 45

Lipscomb, Trinkoff, Brady, & Geiger-Brown, 2004

32 24 -

Fonseca & Serranheira, 2006 65 37 55

Este estudo (2011) 60.6 44.5 48.6

Os sintomas, em particular os localizados a nível dorsal e lombar, em

enfermeiros do sexo masculino e feminino são estatisticamente diferentes

quando desempenham funções em serviços hospitalares com internamento e

doentes de grande dependência vs. serviços de ambulatório e/ou sem doentes

idosos. Os enfermeiros do sexo masculino apresentam queixas

significativamente superiores nos serviços com maiores exigências físicas o

que, sendo contrário ao esperado, poderá, eventualmente, relacionar-se com a

sua participação frequente em todas as situações de trabalho mais exigentes

na perspetiva da carga física, como por exemplo as mobilizações e

transferências de doentes.

No presente estudo não se encontraram relações significativas entre a idade, o

sexo e o IMC com a presença de queixas musculoesqueléticas lombares.

Apesar disso observam-se sintomas a nível da coluna vertebral que podem

indiciar a necessidade de maior vigilância da saúde dos enfermeiros mais

jovens. Em concreto, identificam-se queixas significativamente superiores nos

enfermeiros de idade inferior a 30 anos, em ambos os sexos, a nível dorsal. Tal

poderá estar relacionado com uma desarmonia entre o esperado bom estado

físico dos jovens e as funções que lhes estão distribuídas como por exemplo

mobilizações, alimentação e administração de medicamentos por via

intravenosa. Por outras palavras, a categoria profissional dos mais jovens é

Page 28: Nº1/1998 Nº3/2009

26

também aquela a que correspondem, por norma, as maiores exigências no

contexto deste grupo de prestadores de cuidados de saúde, o que poderá

contribuir para um desequilíbrio entre as solicitações (do trabalho) e as

capacidades (físicas).

Torna-se, desse modo, evidente a necessidade de integrar as variáveis

individuais no contexto da prevenção das LMELT. Os estudos de avaliação do

risco que considerem apenas o ambiente das situações de trabalho, a

organização e os equipamentos podem ser insuficientes para a gestão do risco

dessas patologias se não forem tidas em conta as variáveis individuais

(“individual risk assessment”) (Uva, 2006; 2010).

A abordagem sistémica e integrada permite que o estudo das situações de

trabalho (perspetiva da Ergonomia) evidencie o papel das variáveis individuais

e das condições de trabalho na atividade de trabalho (Serranheira, Uva, &

Sousa, 2010), isto é, no que os trabalhadores realmente fazem, como e porque

o fazem. Nessa perspetiva a carga de trabalho (“workload”) é determinada

pela relação entre a capacidade individual de trabalho e as exigências do

trabalho, o que obriga a que qualquer metodologia de gestão do risco

integre, necessariamente, as variáveis individuais.

De facto, apenas uma abordagem que integre os elementos do trabalho e as

características e capacidades dos trabalhadores permitirá uma efetiva gestão

do risco de LMELT e, consequentemente, a implementação de medidas

preventivas que protejam a saúde e, simultaneamente, possam contribuir para

um aumento dos níveis de realização empresariais (“performance”/

produtividade).

Page 29: Nº1/1998 Nº3/2009

27

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31

Publicação 2

Florentino Serranheira, Teresa Cotrim, Victor Rodrigues, Carla Nunes e A.

Sousa-Uva (2012) - Lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho em

enfermeiros portugueses: «ossos do ofício» ou doenças relacionadas com o

trabalho? Revista Portuguesa de Saúde Pública 30: 2. 193-203.

Page 34: Nº1/1998 Nº3/2009

32

Page 35: Nº1/1998 Nº3/2009

33

Lesões Musculoesqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) em

enfermeiros portugueses:

“ossos do ofício” ou doenças relacionadas com o trabalho?

Serranheira, Florentinoa,*, Cotrim, Teresab, Rodrigues, Victorc, Nunes, Carlad, Sousa-Uva, Antónioe

a, d, e Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Avenida Padre Cruz,

1600-560 Lisboa, Portugal e CMDT – Centro de Investigação da Malária e outras Doenças Tropicais – Saúde Pública, Lisboa, Portugal bFaculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Estrada da Costa, 1499-

002 Cruz Quebrada - Dafundo, Lisboa, Portugal c Escola Superior de Enfermagem de Vila Real/CIDESD/Universidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro, Lugar do Tojal, Lordelo, 5000-232 Vila Real, Portugal

a;e

concepção, recolha, tratamento e análise de resultados e redação do manuscrito; b;c

revisão do manuscrito; danálise estatística dos resultados.

Resumo

Fundamentação: As LMELT constituem um importante problema em todo o

mundo, designadamente nos profissionais de saúde. Realizou-se um estudo

nacional de caraterização da sintomatologia musculoesquelética ligada ao

trabalho em enfermeiros portugueses na perspetiva da sua prevenção.

Métodos: Os enfermeiros portugueses foram convidados a preencher um

questionário em ambiente web com 4 dimensões: dados socio-demográficos,

sintomas musculoesqueléticos em quinze zonas anatómicas, identificação das

tarefas e sua relação com os sintomas e caracterização do estado de saúde. O

estudo decorreu entre Julho de 2010 e Fevereiro de 2011 e contou com a

colaboração da Ordem dos Enfermeiros. A análise estatística baseou-se em

processos descritivos e em associações com o teste do χ2 com um nível de

significância de 5%.

Resultados: Responderam ao questionário 2.140 enfermeiros (3,42% do total

dos enfermeiros portugueses). Destacam-se as queixas localizadas à coluna

vertebral (49% nos últimos 12 meses; 25% nos últimos 7 dias) e o absentismo

relacionado (5,51%), igualmente nos últimos 12 meses. A intensidade dos

sintomas é elevada (19% dos respondentes) assim como a sua frequência (em

*Corresponding author. E-mail: [email protected]

Page 36: Nº1/1998 Nº3/2009

34

33% é superior a 6 episódios anuais). A relação entre as tarefas e as queixas é

significativa (p<0,05), entre outros, com: (i) a administração de medicamentos,

o posicionamento mobilização e transferência do doente e os sintomas nos

punhos e mãos (χ2=9,089; p=0,028; χ2=8,337; p=0,040; χ2=9,599; p=0,022;

χ2=9,399; p=0,024 respetivamente) e (ii) a higiene no leito e os sintomas

localizados aos ombros, cotovelos e punhos/mãos (χ2=8,853; p=0,031;

χ2=8,317; p= 0,040 e χ2=9,599; p=0,022 respetivamente).

Discussão e conclusões: As LMELT em enfermeiros são em grande parte

preveníveis e, por isso, não devem ser encaradas como “ossos do ofício”. A

intervenção sobre os locais, os processos, a organização temporal e os meios

de trabalho pode prevenir as LMELT. O presente estudo, descritivo, é revelador

de uma elevada prevalência de LMELT em enfermeiros portugueses e da

necessidade de desenvolver programas de prevenção.

Palavras-chave: Lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT);

Enfermeiros; Saúde Ocupacional; Saúde e Segurança do Trabalho.

Page 37: Nº1/1998 Nº3/2009

35

Work related musculoskeletal disorders (WRMSD) in Portuguese nurses:

"part of the job" or work-related diseases?

Abstract

Introduction: Work-related musculoskeletal disorders (WRMSD) are a

worldwide health problem, particularly in health care professionals. A

nationwide study was done focused on the characterization of work-related

musculoskeletal symptoms in Portuguese registered nurses (RN) in order to

establish a baseline methodology to manage/prevent WRMSD.

Methods: All Nurses(RN) were invited to complete, in web platform, a

questionnaire of 4 different topics: (i) socio-demographic data, (ii) fifteen

anatomic areas of musculoskeletal symptoms, (iii) tasks identification and its

relation with symptoms and (iv) health status characterization. Statistical

analysis was based on descriptive statistics and associations with the χ2 test

with a significance level of 5%.

Results: A total of 2.140 RN answered the questionnaire (3.42% of all RN).

Spine symptoms were among those most frequent symptoms (49% of RN

referred in the last 12 months, 25% in the last 7 days) and their related work

absence (5.51% of referrals). Other relevant indicators were symptoms intensity

(19% were classified as high in the responding group) and symptoms frequency

(33% of referrals were superior to 6 annual episodes).

Associations between typical work tasks and complaints were found significant

(p<0.05) with (i) drug administration, positioning, mobilization and patient

transfer and hand-fist symptoms (χ2=9,089; p=0,028; χ2=8,337; p=0,040;

χ2=9,599; p=0,022; χ2=9,399; p=0,024 respectively) and with (ii) bed hygiene

and shoulder, elbow and hand-fist symptoms (χ2=8,853; p=0,031; 8,317;

p=0,040; 9,599; p=0,022 respectively).

Discussion and conclusions: Work related musculoskeletal disorders in

hospital nurses are most of times preventable, and they should not be

commonly related to a normal work result. Workplace intervention in process, in

Page 38: Nº1/1998 Nº3/2009

36

temporal organization and in equipment’s could prevent WRMSD. Our

descriptive study aims to evidence the elevated prevalence of WRMSD in RN

and the certainty to develop occupational prevention programs in hospitals.

Keywords: Work-related musculoskeletal disorders (WRMSDs); Nurses;

Occupational Health; Ergonomics; Occupational Health and Safety.

Page 39: Nº1/1998 Nº3/2009

37

1. Introdução

As lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT), incluindo as

raquialgias, são descritas como um dos principais problemas da saúde

ocupacional dos profissionais de saúde, em particular dos enfermeiros (1-11).

As condições de trabalho e as tarefas dos enfermeiros, principalmente em

contexto hospitalar, constituem-se como os principais determinantes da

atividade real de trabalho, condicionando todas as componentes de exposição

aos fatores de risco da atividade, designadamente ao nível postural, de

repetitividade, aplicação de força e de exposição a vibrações, que se

encontram na génese das LMELT (12, 13). Os enfermeiros realizam

frequentemente, durante as suas tarefas de prestação de cuidados de saúde

aos doentes/utentes, atividades que requerem posturas articulares extremas,

aplicações de força com as mãos/dedos assim como exigências a nível da

coluna vertebral e particularmente da zona lombo-sagrada. Tais situações

ocorrem, entre outras tarefas diárias, na prestação de cuidados aos doentes,

designadamente durante a sua alimentação, a administração de medicamentos

intravenosos, as transferências e outras mobilizações como o

reposicionamento, e na sua higiene. Em qualquer dessas situações observa-

se, com frequência, exposição a fatores de risco profissionais, designadamente

elevadas solicitações biomecânicas e fisiológicas que excedem as capacidades

funcionais dos trabalhadores, numa organização que não permite tempos de

recuperação suficientes e tempos de repouso adequados (14).

A multifatorialidade etiológica das LMELT inclui, ainda, os fatores de risco

psicossociais e as condicionantes organizacionais, designadamente e entre

outros, aspetos relativos à satisfação profissional, ao suporte social e ao estilo

de liderança e gestão, como elementos importantes na génese das LMELT

(15). As variáveis individuais, por bizarro que pareça, têm sido

insuficientemente (ou mesmo nada) valorizadas o que tem conduzido a um

menor número de estudos nesse domínio, ainda que com relações claramente

identificadas e extremamente importantes (16, 17). Os estudos de avaliação do

risco não dão o suficiente relevo aos aspetos individuais (“individual risk

assessment”) dirigindo-se, muitas vezes, ao que podemos denominar

Page 40: Nº1/1998 Nº3/2009

38

“trabalhador médio” (18), figura que, de facto, não existe em nenhuma situação

concreta de trabalho.

A maioria dos estudos referidos, quer se trate de exposição a fatores de risco

da atividade, quer a condicionantes da atividade como os fatores de risco

psicossociais e organizacionais, foram efetuados com suporte em questionários

essencialmente de sintomas, com ou sem critério temporal, maioritariamente

em delineamentos metodológicos transversais (e/ou retrospetivos) e

frequentemente com insuficiente (ou mesmo ausente) caracterização da

exposição.

Mantêm-se atuais as dúvidas sobre se (e quais) os níveis de intensidade e de

frequência da sintomatologia que dão origem a “doenças ligadas ao trabalho”,

isto é, se é possível diferenciar as queixas decorrentes das exigências físicas a

que os trabalhadores estão expostos na realização da atividade de trabalho,

das queixas das LMELT como doença profissional ou como doença

relacionada com o trabalho (19)? Tal resposta é, desde logo, difícil de obter

uma vez que a denominação LMELT inclui um conjunto de situações clínicas

muito diversas (e diversificadas) que vão desde sintomas a quadros

nosológicos e incluem doenças profissionais, doenças relacionadas com o

trabalho e, até, doenças agravadas pelo trabalho, isto é, o já referido conceito

de “doença ligada ao trabalho”.

As LMELT afetam um substantivo número de enfermeiros diminuindo a sua

qualidade de vida (20), dão origem à redução da motivação e da participação

no trabalho, às restrições de realização das tarefas de enfermagem, às

transferências de serviço, ao absentismo e até ao abandono precoce da

profissão, com os decorrentes efeitos tanto a nível individual, como em aspetos

sociais e familiares (2).

Em Portugal, entre diversas dificuldades de gestão de um problema da

dimensão das LMELT, encontra-se a ausência de uma base para a

investigação em enfermeiros portugueses. Tal circunstância determinou o

principal objetivo do presente estudo, de âmbito nacional, de identificação da

sintomatologia musculoesquelética ligada ao trabalho em enfermeiros inscritos

Page 41: Nº1/1998 Nº3/2009

39

na Ordem dos Enfermeiros. Pretende-se, dessa forma, despertar a atenção da

comunidade científica para a necessidade de desenvolvimento de mais

investigação em tal domínio contribuindo assim para uma mais eficaz gestão

de tais riscos profissionais (21).

2. População e métodos

O presente estudo foi feito com a colaboração da Ordem dos Enfermeiros (OE).

Foi dirigido a todos os enfermeiros portugueses aí inscritos (n=62.566). O

estudo teve a duração de 8 meses, tendo decorrido entre Julho de 2010 e

Fevereiro de 2011, período em que a OE colocou (e manteve) um apelo à

participação no estudo no seu portal da internet. A participação individual foi

voluntária. Após acesso ao banner da OE, com a informação sobre o estudo,

existia um redireccionamento (link) para uma página da Web da Escola

Nacional de Saúde Pública (ENSP) onde cada enfermeiro colocou o seu

endereço pessoal de email, constituindo a base da participação no estudo (um

endereço válido correspondeu a uma inscrição). De seguida foi enviado para

cada endereço de email um link de acesso ao questionário do estudo no

“survey monkey platform questionnaire”. O link permitiu a resposta única, no

momento, ou faseada de cada respondente, de acordo com a sua decisão

pessoal. Garantiu-se, desde sempre, a salvaguarda de dados pessoais e não

existiu acesso a informação que permitisse identificar o respondente,

respeitando dessa forma o seu anonimato.

O questionário utilizado neste estudo é uma adaptação (22) do questionário

nórdico sobre lesões musculoesqueléticas (Nordic musculoskeletal

questionnaire - NMQ) cujos resultados variam entre 0 e 23% em divergência

com o mesmo respondente (fiabilidade) e apresentam 0 a 20% de discordância

com a história clínica (validade), sendo tal considerado aceitável para um

instrumento de rastreio ou screening (23). Tem sido utilizado, numa versão

adaptada em Portugal, com resultados nesse intervalo para a fiabilidade e

validade (13, 24-28).

O NMQ teve como principal objetivo, na sua génese, o desenvolvimento de um

método de estudo epidemiológico, utilizando um conjunto de questões

Page 42: Nº1/1998 Nº3/2009

40

normalizadas, para a identificação das queixas ou sintomas

musculoesqueléticos em grupos profissionais (29). Tem sido amplamente

utilizado para avaliar a presença de sintomas do foro musculoesquelético

ligados à atividade de trabalho, destacando-se, entre outros e a título de

exemplo, o estudo realizado em enfermeiros chineses (30).

O questionário utilizado (em anexo) está organizado em quatro grandes

dimensões: (i) caracterização sociodemográfica, (ii) auto-referência de sintomas

de LMELT, (iii) identificação das tarefas e sua relação com os sintomas e (iv)

caracterização do estado de saúde.

O presente estudo, descritivo, objetiva conhecer os sintomas

musculoesqueléticos dos enfermeiros portugueses.

A análise estatística dos resultados foi efetuada com recurso ao software

“Statistical Package for Social Sciences (SPSS) vs PASW Statistics 18®”.

3. Resultados

Não existiu qualquer propósito de representatividade da população e não se

pretendeu qualquer generalização dos resultados, que se referem apenas aos

respondentes a este estudo, já que dependeu exclusivamente da sua vontade

a adesão à resposta ao inquérito.

Responderam ao questionário de caraterização de sintomas de lesões

musculoesqueléticas ligadas ao trabalho 2.140 enfermeiros (3,4% do total dos

enfermeiros portugueses). Trata-se de um grupo predominantemente do sexo

feminino (77,4%), dextro (93,7%), que tem um tempo médio na profissão de 13

anos e trabalha, também em média, 40 horas semanais. Relativamente ao tipo

de horário praticado, o trabalho por turnos é maioritário (57,5%). Cerca de um

terço tem um segundo emprego (n=618) em clínicas privadas (30,4%), a larga

maioria a tempo parcial (n=593) e em horário de 20 horas semanais.

Dos respondentes, 26,4% (n=566) trabalham na região norte do país, 20,1%

(n=431) na região centro, 37,8% (n=809) na região de Lisboa e Vale do Tejo,

4,4% (n=95) no Alentejo, 3,7% (n=80) no Algarve e 6,8% (n= 145) nas Regiões

Page 43: Nº1/1998 Nº3/2009

41

Autónomas (4,1% na Madeira e 2,7% nos Açores). Entre os respondentes 0,7%

(n=14) não referiram a região onde trabalhavam.

Quase três quartos dos enfermeiros desempenham funções em hospitais

(71,3%). Os restantes encontram-se distribuídos pelos cuidados primários de

saúde (21,5%) e pelos cuidados continuados (3,0%), cuidados paliativos

(0,4%), emergência médica (0,6%) e INEM/VMER (0,4%), unidades de saúde

móveis (0,2%), enfermagem do trabalho (1,3%) e lares de terceira idade

(1,3%).

Os enfermeiros que desempenham funções em hospitais (n=1.396) fazem-no,

essencialmente, em serviços de: (i) Medicina Interna (21,3%); (ii) Cirurgia Geral

(12,3%); (iii) Pediatria (8,7%); (iv) Ortopedia (8,3%) e (v) Ginecologia e

Obstetrícia (6,9%).

As categorias profissionais dos enfermeiros variam entre “enfermeiro” (34,8%)

e “enfermeiro-supervisor” (1,4%). As categorias de “enfermeiro graduado”

(35,7%), “enfermeiro-especialista” (19%) e “enfermeiro-chefe” (9,0%)

completam as categorias profissionais, sendo mais de três quartos dos

respondentes do sexo feminino (77,4%).

Os enfermeiros referem sintomas de LMELT com elevada frequência que, em

algumas localizações, atingem valores acima dos 50% dos respondentes.

Destacam-se (Figura 1), entre outros, e nos últimos 12 meses, a presença de

sintomas nas zonas cervical (n=1.014), dorsal (n=923), lombar (n=1.257),

ombros (n=761) e punho/mão (n=602).

A sintomatologia presente nos últimos sete dias, mais assertiva pela

proximidade das queixas auto-referidas, apresenta valores inferiores ainda que

igualmente elevados, atingindo mais a coluna vertebral (região: lombar - 632;

cervical - 562 e dorsal - 468). Também os ombros (n=389) e os punhos e mãos

(n=253) são regiões corporais frequentemente atingidas. De destacar ainda o

absentismo associado a essa sintomatologia e (eventuais) lesões referidas na

zona cervical (n= 99), dorsal (n=78), lombar (n=177), ombros (n=87) e

punhos/mãos (n=72).

Page 44: Nº1/1998 Nº3/2009

42

Figura 1: Sintomatologia musculoesquelética e absentismo relacionado

A sintomatologia localizada aos membros superiores, presença de queixas e

respetiva lateralidade, revela diferenças substantivas, por exemplo a nível dos

punhos/mãos onde a prevalência no lado direito é muito superior (Figura 2) o

que se relaciona, por certo, com o membro ativo e, por isso, com a solicitação

na atividade desempenhada. Nos membros inferiores identifica-se

sintomatologia sem predominância de lateralidade, ao contrário dos sintomas

nos membros superiores, destacando-se as queixas localizadas às articulações

tibio-társicas, eventualmente relacionadas com o tempo de permanência na

posição de pé (ortostatismo) e com as grandes distâncias percorridas, em

particular, nas unidades hospitalares.

A análise da sintomatologia musculoesquelética, na perspetiva da sua

intensidade e da sua frequência, revela a nível lombar queixas de intensidade

“elevada” e “muito elevada” da ordem de valores próximos dos 45% dos

enfermeiros sintomáticos e, desses, cerca de 65% referem-no com frequência

superior a seis vezes por dia. Tais valores correspondem a cerca de 26% da

totalidade da população respondente.

49,75%

25,89%

5,51%

23,68%

11,28%

2,77%

19,07%

11,00%

1,50%

0% 5%

10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Raquis Membro Superior Membro Inferior

Sintomasúltimos 12 meses Sintomasúltimos 7 dias Absentismo 12 meses

Page 45: Nº1/1998 Nº3/2009

43

Figura 2: Sintomas musculoesqueléticos a nível dos membros superiores

De uma forma geral a referência a sintomatologia de intensidade “moderada” é

prevalente a nível da coluna vertebral atingindo, tal como a frequência dessas

queixas (com frequência superior a 6 vezes por dia), cerca de um terço dos

enfermeiros sintomáticos (Figura 3).

Figura 3: Intensidade e frequência dos sintomas musculoesqueléticos

10,70%

5,51%

12,38%

3,13%

1,26% 1,40%

12,76%

3,13%

7,15%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

Ombro Cotovelo Punho/Mão

Dto Esq. Ambos

33,05%

14,98%

13,01%

18,97%

8,82%

6,20%

15,65%

9,77%

6,23%

33,26%

14,00%12,98%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Inte

nsidad

e M

oder

ada

Inte

nsidad

e Eleva

da

Frequ

ência

<=5 d

ia

Frequ

ência

>=6 d

iA

Raquis Membro Superior Membro Inferior

Page 46: Nº1/1998 Nº3/2009

44

Se forem analisados em detalhe os sintomas a nível do membro superior

constata-se, igualmente, uma frequência da intensidade “moderada” nos

diversos segmentos anatómicos, bem como uma referência à existência de

queixas com frequência superior a seis vezes por dia que atinge cerca de dois

terços dos enfermeiros portadores dessa sintomatologia (Figura 4).

Figura 4: Intensidade e frequência dos sintomas musculoesqueléticos do membro superior

As tarefas diárias dos enfermeiros respondentes carateriza-se por um conjunto

de intervenções (atividades) que, em média, ocupa cerca de 50% do tempo de

trabalho, destacando-se, entre outros, o trabalho informatizado (10,29%), os

procedimentos invasivos (9,28%), o tratamento de feridas (9,1%) e a

administração de medicação (9,47%) (Figura 5).

Destaque-se que os cuidados prestados no leito que, de uma forma geral

apresentam algumas exigências físicas, abrangem aproximadamente um terço

do tempo de trabalho diário dos enfermeiros.

61,10%

57,96%

67,44%

39,42%43,95%

32,72%

38,37%

44,59%44,09%

62,16%

56,05%56,15%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Intensidade

Moderada

Intensidade

Elevada

Frequência <=5

dia

Frequência >=6

dia

Ombro Cotovelo Punho/Mão

Page 47: Nº1/1998 Nº3/2009

45

Legenda: Trabalho Informatizado, Procedimentos Invasivos, Tratamento de feridas, Administração de Medicação, Avaliação de parâmetros Tensão Arterial, Glicémia e outros, Apoio no Domicílio, Cuidados de Higiene no Leito, Posicionamento e Mobilização do Doente, Transferência e Transporte do Doente, Levante Sem Apoio Mecânico, Levante Com Apoio Mecânico, Alimentação do Doente, Higiene no WC

Figura 5: Retrato da repartição do tempo diário de trabalho dos enfermeiros

Relativamente à frequência de realização das diversas tarefas de enfermagem,

a análise dos resultados revela que o trabalho informatizado, a avaliação de

parâmetros fisiológicos como a tensão arterial e a glicémia (25% cada) e a

administração de medicação (24%) são referidos como muito frequentes no

dia-a-dia do enfermeiro e por um importante número de respondentes (Figura

6). Igualmente de destacar são as diferenças entre o levante sem apoio de

equipamentos mecânicos (23,9% - “pouco frequente”; 9,18% - “frequente”) e

com meios mecânicos (20,26% - “pouco frequente”; 1,17% - “frequente”). Os

procedimentos invasivos são a subatividade com maior referência na

classificação “pouco frequente” (30,16%) e o apoio no domicílio o menos

referido (15,02%).

10,29%

9,28%

9,10%

9,47%

9,56%4,11%

7,24%

8,09%

7,59%

7,48%

4,84%

6,92%

6,03%

Trab. Informatizado

Proc. Invasivos

Trat. Feridas

Adm. Medicação

Av. TA, Glicemia

Apoio Domicilio

C.HigienePosic/Mob Doente

Tranf/transp doente

Levante s/mec

Levante c/mec

Alimentação

Higiene WC

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46

Legenda: Trabalho Informatizado, Procedimentos Invasivos, Tratamento de feridas, Administração de Medicação, Avaliação de parâmetros Tensão Arterial, Glicémia e outros, Apoio no Domicílio, Cuidados de Higiene no Leito, Posicionamento e Mobilização do Doente, Transferência e Transporte do Doente, Levante Sem Apoio Mecânico, Levante Com Apoio Mecânico, Alimentação do Doente, Higiene no WC.

Figura 6: Tarefas de enfermagem

A relação entre a presença de sintomas musculoesqueléticos e as diferentes

posições corporais adotadas ao longo do dia de trabalho em função das

exigências do trabalho, incluindo a mobilização, levantamento e transporte de

cargas/doentes, evidencia o esperável, isto é, os enfermeiros identificam,

claramente, as situações de trabalho em que as exigências físicas assumem

maior relação com a presença de sintomas musculoesqueléticos,

designadamente a mobilização, levantamento e transporte de cargas/doentes

acima dos 20Kg (Figura 7).

23,86% 2,83% 23,53% 7,06%

20,26% 1,17% 23,90% 9,18% 24,32% 9,25%

18,88% 16,92% 24,49% 7,52%

15,02% 3,13% 17,15% 25,14% 17,83% 24,04%

26,99% 13,25% 30,16% 10,86%

20,40% 25,12%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Trab. Inform. Proc. Invas Trat.Ferid Adm. Med Av. TA, Gl Apoio Dom Cuid.Higiene Posic/Mob Tranf/transp Lev. s/mec Lev. c/mec Alimentação Higiene WC

PoucoFrequente Frequente

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47

Legenda: Trabalho de pé, Braços elevados acima da altura dos ombros, Inclinação do tronco, Rotação do tronco, Repetitividade dos braços, Repetitividade dos dedos, Aplicação de força com a mão, Mobilização de carga entre 1 e 4 kg, Mobilização de carga superior a 4kg e inferior ou igual a 10kg, Mobilização de carga superior a 10kg e inferior ou igual a 20kg, Mobilização de carga superior a 20kg.

Figura 7: Perceção dos enfermeiros sobre a relação entre a sintomatologia e as tarefas de enfermagem

A última dimensão do questionário, relativa à caracterização do estado de

saúde dos enfermeiros, evidencia que a maioria pratica regularmente algum

tipo de atividade física (50,8%), não fuma (81,7%), não bebe regularmente

bebidas alcoólicas (91,3%), não bebe café (73%) e não sofre de doenças

crónicas (70,9%). Relativamente aos que referem sofrer de alguma doença

destacam-se: a diabetes (n=24), a hipertensão arterial (n=91), a osteoporose

(n=18), as artroses (n=46) e também as hérnias discais (n=111), as tendinites

(n=61) e a síndrome do túnel cárpico (n=28).

Cerca de dois terços dos enfermeiros não toma medicamentos regularmente

(67,3%). De entre os que se encontram medicados destacam-se as

terapêuticas com calmantes (n=66) e com contracetivos orais (n=232).

Alguns enfermeiros (n=121) realizaram tratamentos de fisioterapia no último

ano. A maioria consulta o seu médico esporadicamente (n=1.224), outros

(n=647) fazem-no periodicamente. No geral, dos enfermeiros que responderam

a esta questão, a maioria (n=600) recorre a serviços públicos enquanto os

restantes (n=404) fazem-no nos serviços privados. No último ano a larga

maioria consultou um médico (n=1.606).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Trab.depé

Braços elev.

Inclin.tronco

Rodartronco

Rep. Braços

Rep. Dedos

Forçamão

Carg. 1-4kg

C..> 4-10kg

C. >10-20Kg

Carg. >20kg

Poucorelacionado com sintomas Muitorelacionado com sintomas

Page 50: Nº1/1998 Nº3/2009

48

Observam-se associações, por vezes significativas, entre as variáveis

individuais (31), a presença de sintomas a nível da coluna vertebral (11) e a

nível dos membros superiores (Tabela 1) com as tarefas típicas de

enfermagem, ainda que no caso do levante com meios mecânicos as relações

sejam protetoras.

Tabela 1: Relação entre os sintomas musculoesqueléticos dos enfermeiros nos últimos 12 meses a nível do membro

superior e algumas das principais tarefas (Qui-quadrado)

Tarefas Sintomatologia: χ2(3); p

Ombro Cotovelo Punho/Mão

Trabalho Informatizado 2,489; 0,477 8,176*; 0,043 2,112; 0,549

Procedimentos invasivos 5,735; 0,125 4,120; 0,249 6,941; 0,074

Tratamento de feridas 1,555; 0,670 2,159; 0,540 3,742; 0,291

Administração de medicamentos

2,432; 0,488 1.095; 0,778 9,089*; 0,028

Avaliação da Tensão Arterial/Glicémia

2,302; 0,512 0,594; 0,898 4,747; 0,191

Apoio domiciliário 0,940; 0,816 3,165; 0,367 3,799; 0,284

Higiene no leito 8,853*; 0,031 8,317*; 0,040 9,599*; 0,022

Posicionamento/mobilização doente

6,342; 0,096 1,651; 0,648 8,337*; 0,040

Transferência do doente 2,945; 0,400 0,198; 0,978 9,399*; 0,024

Levante (sem meios mecânicos)

3,524; 0,318 0,798; 0,850 8,455*; 0,037

Levante (com meios mecânicos)

9,823*; 0,020 7,915*; 0,048 1,436; 0,697

Alimentação do doente 6,172; 0,104 1,306; 0,728 7,214; 0,065

Higiene no WC 2,804; 0,423 0,750; 0,861 1,953; 0,582

* Significativo (p<0.05).

É ao nível dos punhos e mãos que se constatam associações com maior

significado entre a sintomatologia musculoesquelética e as tarefas de

enfermagem. Assim, observam-se associações significativas entre tais

sintomas e a administração de medicamentos (χ2=9,089; p=0,028) que se

consideram relacionados com uma atividade de elevada intensidade dos

membros superiores, em particular dos punhos, mãos e dedos, durante, entre

outros, a utilização dos sistemas de dose unitária e o esmagar dos diversos

medicamentos a administrar aos doentes com dificuldades de deglutição. O

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49

posicionamento e/ou mobilização do doente (χ2=8,337; p=0,040), as

transferências (χ2=9,399; p=0,024) e o levante sem meios mecânicos

(χ2=8,455; p=0,037) são igualmente tarefas com substantivas exigências a

nível dos punhos e mãos e, como tal, com relações significativas com a

presença de queixas musculoesqueléticas.

A higiene no leito é, nos respondentes, a tarefa com maiores exigências a nível

dos membros superiores e isso é evidente pela relação estatística significativa

em todas as regiões: o ombro (χ2=8,853; p=0,031), o cotovelo (χ2=8,317;

p=0,040) e o punho mão (χ2=9,599; p=0,022).

4. Discussão

Em matéria de Saúde, Higiene e Segurança do Trabalho (SHST), ou de Saúde

Ocupacional (SO), são reconhecidas, particularmente na Europa (32), as

limitações (individuais e sociais) que as lesões musculoesqueléticas ligadas ao

trabalho colocam. Tais aspetos adquirem, em ambiente hospitalar e em outras

unidades de saúde, uma dimensão ainda maior nos profissionais de saúde

(28), designadamente no grupo profissional dos enfermeiros.

Em Portugal o problema foi com frequência abordado no contexto das

empresas da indústria automóvel, ou em empresas desse universo. Tal

atenção, na área da Saúde Ocupacional em Unidades de Saúde, foi entre nós

alvo de estudo nos hospitais da cidade do Porto durante o ano de 2004 (24).

Internacionalmente o problema tem vindo a ser descrito principalmente desde

as décadas de 1980 e de 1990 (33-36), tendo assumido uma considerável

visibilidade e dimensão, que motivou inclusivamente a existência de

campanhas anuais europeias dedicadas à prevenção das LMELT.

A larga maioria dos estudos efetuados no contexto da prestação de cuidados

de saúde, designadamente envolvendo a enfermagem, tem recorrido a

inquéritos por questionário, em particular utilizando adaptações do questionário

nórdico musculoesquelético – QNM (23).

Entre os principais resultados deste estudo encontra-se a referência a sintomas

de LMELT presentes nos últimos 12 meses, nos últimos 7 dias e o absentismo

relacionado. Podendo os resultados ser influenciados pelos respondentes, isto

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50

é, os enfermeiros que participaram voluntariamente no estudo podem ser

maioritariamente os mais queixosos por serem aqueles que apresentavam uma

motivação acrescida de resposta, de uma forma geral, as diferenças

observadas, relativamente a outros estudos nesse grupo de profissionais de

saúde, não são evidentes, destacando-se a prevalência de sintomatologia da

coluna vertebral, nos últimos 12 meses (Tabela 2). Para as referências

sintomáticas relativas aos últimos 7 dias constata-se uma maior amplitude de

variação entre os estudos que, no essencial, apresentam valores de menor

frequência em relação aos encontrados nos últimos 12 meses.

Tabela 2: Prevalência de sintomas musculoesqueléticos em diversos estudos

Estudo Prevalência sintomas 12 meses (%) Prevalência sintomas 7 dias (%)

Região

lombar

Região

dorsal

Região

cervical

Região

lombar

Região

dorsal

Região

cervical

Lusted et al. (1994) (33) 62 24 43 17 13 20

Lagerstrom et al. (1995) (37) 56 - 48 - - -

Engels et al. (1996)(38) 33,8 7,9 22,9 - - -

Ando et al. (2000) (39) 54,7 - 31,3 - - -

Trinkoff et al. (2003) (7) 47 - 45,8 - - -

Alexopoulos (2003) (4) 75 - 47 - - -

Gurgueira et al. (2003) (9) 59 21,9 28,6 31,4 21,9 14,3

Smith et al. (2004) (30) 56,7 38,9 42,8 - - -

Lipscomb et al. (2004) (8) 32 32 24 - - -

Smith et al. (2005) (3) 72,4 29,7 62,7 - - -

Fonseca; Serranheira (2006)

(10) 65 37 55 58 62 53

Warming et al. (2009) (1) - - - 64 - 55

Tinubu et al. (2010) (2) 44,1 16,8 28 - - -

Presente estudo (2011) 60.6 44,5 48,6 29,5 21,1 25,8

No presente estudo a utilização de uma adaptação do QNM, com inclusão de

questões relativas a elementos de caraterização da sintomatologia,

designadamente da sua intensidade e da sua frequência por segmento

corporal, assim como a solicitação da perceção da relação das queixas com as

principais tarefas, pretendeu criar uma base de referência no estudo das

LMELT em enfermeiros portugueses. Tal poderá contribuir no futuro para, com

base nesse conhecimento, conseguir uma melhor gestão desse risco em

Saúde Ocupacional.

Page 53: Nº1/1998 Nº3/2009

51

Os resultados deste estudo permitem considerar que as relações entre

sintomas e tarefas de enfermagem são bem patentes revelando um conjunto

de sintomas musculoesqueléticos ligados ao trabalho, de entre os quais se

destacam as regiões anatómicas dos punhos e mãos, com relações

significativas com cinco tarefas (administração de medicamentos, higiene no

leito, posicionamento e mobilização do doente, transferência do doente e

levante sem meios mecânicos) frequentemente realizadas pelos enfermeiros e,

em particular, com a utilização frequente de repetitividade e, também

frequentemente, com aplicações de força.

Note-se, ainda, que as intensidades referidas da frequência de sintomatologia a

nível da ráquis são consideradas como elevadas em aproximadamente 19%

dos respondentes e com frequência superior a 6 vezes por dia em 33,26%, o

que é revelador da importância dessa sintomatologia.

É de destacar, igualmente, que a presença de sintomas nos últimos 12 meses

a nível da ráquis (49,75%), dos membros superiores (23,68%) e dos membros

inferiores (19,07%), assim como nos últimos 7 dias (25,89%; 11,28% e 11,00%

respetivamente) é indiciadora do nível das exigências físicas, em particular a

nível da coluna vertebral, solicitadas a esses profissionais de saúde.

Os sintomas, maioritariamente bilaterais, na região dos ombros (12,38%)

denotam também as exigências que são colocadas durante a realização das

tarefas de enfermagem e a intensidade elevada, referida por quase 40% dos

respondentes, torna ainda mais evidente a “valorização” dos sintomas auto-

referidos.

Os resultados obtidos assumem também particular relevo quando a

sintomatologia de LMELT é referida com uma intensidade e/ou frequência

elevadas a nível cervical (17,06%; 32,66%), dorsal (13,41%; 28,83%) e lombar

(26,45%; 38,27%), respetivamente.

Por fim, o retrato da repartição do tempo diário de trabalho dos enfermeiros

evidencia elementos da atividade eventualmente díspares do trabalho prescrito

(tarefas). As situações mais exigentes na perspetiva física (cuidados de

higiene, posicionamento, mobilização, transferência, transporte e levante do

Page 54: Nº1/1998 Nº3/2009

52

doente) ocupam quase um quarto do tempo de trabalho (2 horas diárias por

enfermeiro) o que, considerando a atividade real de trabalho, pode ser

encarado como uma atividade física intensa ou de elevada exigência neste

grupo de profissionais de saúde e com as repercussões a nível de

sintomatologia musculoesquelética observadas. Tratam-se, de facto, de valores

muito expressivos de frequência de sintomas em prestadores de cuidados de

saúde que importa ter em consideração, qualquer que seja a perspetiva de

gestão desses riscos.

5. Conclusões

Os enfermeiros respondentes (n=2.140) evidenciam uma elevada prevalência

de queixas musculoesqueléticas ligadas ao trabalho já que cerca de 98%

referem sintomatologia, pelo menos num segmento anatómico. Tal frequência

de sintomas, associada ao conhecimento de diversos elementos das respetivas

situações reais de trabalho (atividade de trabalho com intervenções da

enfermagem) é reveladora das exigências físicas que as organizações de

saúde, nas quais os enfermeiros se encontram a desempenhar funções

(hospitais, centros de saúde, ou outras unidades de saúde), acarretam para a

realização da sua atividade diária.

Analisado de outro ângulo, sempre que as exigências físicas do trabalho

ultrapassem as capacidades e as limitações individuais, independentemente da

maior ou menor predisposição patológica que os profissionais de saúde

possam ter para essas patologias, existe fadiga. Tal efeito pode originar

alterações do estado de saúde dos enfermeiros, designadamente as LMELT,

mas pode igualmente influenciar a atividade de trabalho, em particular aspetos

elementares da qualidade da prestação de cuidados de saúde e,

consequentemente, da segurança dos doentes.

As queixas mais prevalentes nos últimos 12 meses situam-se na região lombar

(60,6%), seguindo-se a coluna cervical (48,6%) e a coluna dorsal (44,5%). A

nível dos membros superiores as queixas mais prevalentes situam-se no punho

direito (12,76%). São os dois segmentos anatómicos mais atingidos e, pelo

menos parcialmente, mais “vulneráveis” às exigências do trabalho de

enfermagem.

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53

Observam-se diversas associações estatisticamente significativas (p<0,05)

entre as tarefas mais frequentes de enfermagem e a presença de sintomas de

LMELT, destacando-se a administração de medicamentos, o posicionamento

mobilização e transferência do doente e os sintomas nos punhos/mãos

(χ2=9,089; p=0,028; χ2=8,337; p=0,040; χ2=9,599; p=0,022; χ2=9,399; p=0,024

respetivamente), assim como a higiene no leito e os sintomas a nível dos

ombros, cotovelos e punhos/mãos (χ2=8,853; p=0,031; χ2=8,317; p=0,040;

χ2=9,599; p=0,022 respetivamente).

No sentido protetor observa-se que o levante com meios mecânicos é também

estatisticamente significativo a nível dos ombros e cotovelos (χ2=9,823;

0,020;χ2=7,915;0,048 respetivamente) o que representa uma diminuição da

probabilidade de sintomas com a utilização de meios mecânicos na tarefa de

levante.

De uma forma geral, julga-se possível afirmar que as queixas dos enfermeiros

em Portugal não são particularmente distintas de outros países, tal como as

suas tarefas também não se consideram diferentes.

Assim, a análise da prestação de cuidados em enfermagem pode ser também

vista pelo lado do prestador e, em particular, num foco centrado sobre os

efeitos da atividade de trabalho no indivíduo (12). Será importante, no futuro

analisar diferenças de sintomatologia entre as diversas tipologias de trabalho

dos enfermeiros, designadamente entre os que desempenham funções em

meio hospitalar e nos diferentes serviços, os que se encontram nos cuidados

de saúde primários e nos cuidados continuados e, por exemplo, aqueles que

têm pluriemprego, entre outros.

No essencial, a matriz multifatorial da etiologia das LMELT engloba fatores

profissionais que, dessa forma, lhe conferem a situação de “doença

relacionada com o trabalho”(40).

A sintomatologia musculoesquelética e as doenças “relacionadas” com a

atividade dos enfermeiros decorrem, de facto, das condições de trabalho e da

organização em que essa atividade é prestada e, ainda, das suas próprias

características, capacidades e limitações pessoais (diferentes entre sexos e

que se alteram ao longo do tempo). Por exemplo, a nível hospitalar existe uma

Page 56: Nº1/1998 Nº3/2009

54

elevada prevalência de sintomas de LMELT em enfermeiros (11), o que estará

por certo associado às exigências colocadas no exercício da sua atividade

profissional.

Nesse contexto é necessário intervir, em primeiro lugar, no trabalho,

modificando-o, por exemplo através (i) da disponibilização de “ajudas técnicas”

como equipamentos de transferência de doentes que reduzam as exigências

(físicas) do trabalho e (ii) da introdução de algoritmos de decisão nas

mobilizações, transferências e levantes, entre outros. A perspetiva de encarar

estes aspetos das relações trabalho/doença numa vertente de “ossos do ofício”

é muito divergente da identificação de fatores de risco e da prevenção dos seus

efeitos centrada na melhoria das condições de trabalho na perspetiva da saúde

e segurança do trabalho (e dos doentes) e da ergonomia. Dito de outra forma,

aquela perspetiva considera o trabalho imutável e as doenças profissionais ou

as “doenças relacionadas com o trabalho” uma inevitabilidade, quando, de

facto, não o são numa outra (e diferente) perspetiva de prevenção.

A gestão desse risco em Saúde Ocupacional necessita de um diagnóstico de

situação para que se possa agir. É fundamental ter informação sobre as

condições, os meios e a organização de trabalho, assim como sobre os

profissionais de saúde e as suas características, capacidades e limitações, de

forma a adaptar o envolvimento ao homem, tornando a atividade menos

penosa e mantendo a qualidade da prestação de cuidados de saúde e a

segurança dos doentes. Se se preferir, ou por outras palavras, as LMELT em

enfermeiros não são uma fatalidade e podem, pelo menos parcialmente, ser

preveníveis. Para tal deve existir consciência que o trabalho não é, de facto,

imutável e pode ser melhorado na perspetiva da saúde e segurança de quem

presta cuidados. Nesse contexto, a intervenção sistémica e integrada

(perspetiva da Ergonomia) atuando, por um lado sobre as condicionantes

externas do trabalho, como os espaços, os circuitos, os processos, a

organização temporal, os equipamentos e os meios de trabalho, e por outro

sobre o trabalhador (profissional de saúde), através da formação e informação,

pode transformar a atividade de trabalho de modo a diminuir os efeitos

negativos sobre a saúde de quem trabalha e aumentar a segurança dos

doentes. Tal metodologia de intervenção pode ainda, por certo, contribuir para

Page 57: Nº1/1998 Nº3/2009

55

a prevenção das LMELT e contribuir, igualmente, para a melhoria das

situações de trabalho dos enfermeiros.

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Publicação 3

Florentino Serranheira, Mafalda Sousa-Uva, António Sousa-Uva (2012) -

Lombalgias e trabalho hospitalar em enfermeiro(a)s. Revista Brasileira de

Medicina do Trabalho 10: 2. 80-87.

Page 62: Nº1/1998 Nº3/2009

60

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61

Lombalgias e trabalho hospitalar em enfermeiro(a)s

Occupational Low-back Pain in Hospital Nurses

Serranheira, Florentinoa,b,c

; Sousa-Uva, Mafaldaa; Sousa-Uva, António

a,b,c

a Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Avenida Padre Cruz, 1600-

560 Lisboa, Portugal bCMDT – Centro de Investigação em Malária e Doenças Tropicais – Saúde Pública, Lisboa,

Portugal cCIESP – Centro de Investigação e Estudos em Saúde Pública, ENSP/UNL, Lisboa, Portugal

Resumo

Contexto: As Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares

Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) são frequentes em contexto hospitalar,

designadamente em enfermeiro(a)s. A identificação dessa sintomatologia

osteomuscular é, frequentemente, realizada com recurso a questionários de

auto resposta que permitem recolher informação sobre a sua frequência.

Objetivos: O presente estudo, de âmbito nacional, pretendeu identificar e

analisar a prevalência de sintomas osteomusculares na região lombar

relacionados ao trabalho dos enfermeiros em contexto hospitalar. Métodos: Foi

utilizado um questionário, respondido em 2011, que abrangeu 2.140

enfermeiros inscritos na Ordem dos Enfermeiros (Portugal), tendo-se no

presente estudo apenas analisado as respostas relativas a 1.396 enfermeiros a

trabalhar em hospitais. Resultados: Os resultados evidenciam uma

prevalência elevada de sintomas de LER/DORT na região lombar presentes

nos últimos 12 meses (60,9%) e nos últimos 7 dias (48,8%). A presença desses

sintomas parece estar associada a algumas variáveis organizacionais e

profissionais tais como: a categoria profissional; o tipo de trabalho; o tipo de

serviço e algumas tarefas, das quais os cuidados de higiene e conforto na

cama foram as com maior relação com a sintomatologia. Conclusões: Conclui-

se, no presente estudo, que as tarefas e as características das atividades reais

de trabalho são os fatores com maior influência na presença de sintomatologia

osteomuscular na zona lombar e, por isso, é possivelmente aí que devem

incidir as intervenções tendentes a prevenir as LER/DORT e a garantir a saúde

e segurança dos enfermeiros no local de trabalho.

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62

Palavras-chave: LER/DORT; Lombalgias; Enfermeiros; Hospitais; Saúde

Ocupacional; Ergonomia.

Abstract

Background: Work-Related Musculoskeletal Disorders (WRMSD) are common

in hospital settings, particularly in nurses. Musculoskeletal symptoms surveys

are performed mainly using questionnaires. Objectives: This national study

intended to identify and analyze the prevalence of low back musculoskeletal

symptoms linked to the activity of hospital nurses. Methods: We used a

questionnaire filled out in 2011; covering 2.140 nurses registered in the

Portuguese Order of Nurses, and in the present study we only analyzed the

responses relating to the 1.396 nurses working in hospitals. Results: The

results show a high prevalence of symptoms of low back WRMSD in the last 12

months (60.9%) and in the last 7 days (48.8%). The presence of these

symptoms appears to be associated with some work aspects such as

organizational and professional ones: the professional category, type of work,

type of service and some work activities. The patient hygiene and comfort in

bed revealed to be the activity with greater effect in the presence of such

symptoms. Conclusions: This study allowed us to conclude that the

characteristics of work activities in the presence of low back musculoskeletal

symptoms are the most important factors and therefore we should focus on

interventions aimed at preventing WRMSD and safeguard nurse occupational

health and safety.

Keywords: WRMSDs; Low-back pain; Nurses; Hospitals; Occupational Health;

Ergonomics.

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63

INTRODUÇÃO

As lesões por esforços repetitivos (LER), também designadas distúrbios

osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) – LER/DORT –

compreendem um vasto grupo de situações clínicas que afetam o aparelho

osteomuscular. Incluem, entre outras, as enfermidades dos tendões a nível das

inserções ósseas, das zonas endoluminais das bainhas tendinosas ou na

região miotendinosa, nas bainhas sinoviais, assim como as enfermidades (ou

doenças) a nível dos nervos, nos seus diversos trajetos e também a nível

articular1.

As LER/DORT podem ser fundamentalmente divididas em dois grandes

grupos: (i) as que resultam de atividades de mobilização e transporte manual

de cargas, com solicitação da coluna vertebral designadamente da região

lombar e (ii) as que estão relacionadas com a realização de tarefas estáticas ou

repetitivas, com ou sem aplicação de força, abrangendo a maioria os membros

superiores. Diversos estudos revelaram uma elevada prevalência de

lombalgias em enfermeiros, designadamente cerca de 1/3 dos respondentes2,

metade a 2/31,3-5 e, até, mais de 70% dos participantes no estudo6.

Os enfermeiros são o grupo de profissionais de saúde mais afetado por essas

patologias2 tendo diversos estudos investigado alguns aspetos relacionados

com o seu trabalho, com a organização do trabalho e as tarefas, as

características reais da atividade7 e os efeitos como as LMELT e estresse8, nas

situações que envolvem mobilização de doentes9.

Em Hospitais, os enfermeiros estão diariamente expostos a vários fatores de

risco no decorrer das suas atividades de trabalho que podem contribuir para o

desenvolvimento desses distúrbios osteomusculares, entre os quais se

destacam, no decorrer da prestação direta de cuidados a doentes acamados, a

sua mobilização durante a realização da higiene e o seu levantamento e

transferência.

O(a)s enfermeiro(a)s apresentam uma grande prevalência de LER/DORT da

região lombar e dos membros superiores (principalmente da região cervical e

dos ombros) e uma prevalência considerável de lesões nos joelhos10.

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64

Adicionalmente as tarefas da enfermagem são, muitas vezes, realizadas em

espaços inadequados de trabalho, que apresentam frequentemente

disposições incorretas e ineficazes dos equipamentos e meios técnicos e sob

pressão temporal, e em regimes de trabalho por turnos, designadamente o

trabalho noturno. Pode ainda existir escassez de enfermeiros para o trabalho a

efetuar o que frequentemente comporta uma carga de trabalho acrescida.

O presente estudo pretendeu identificar e analisar a prevalência de

sintomatologia osteomuscular a nível da região lombar (lombalgias),

autorreferida por enfermeiros a trabalhar em meio hospitalar em Portugal e

identificar eventuais associações entre esses sintomas e algumas

características individuais e variáveis do trabalho relacionadas com atividades

de trabalho específicas da enfermagem.

MÉTODOS

O estudo de âmbito nacional teve como população alvo todos os 62.566

enfermeiros registrados na Ordem dos Enfermeiros Portugueses, dos quais

26.920 (43%) trabalham em hospitais. Assim, todos os enfermeiros

portugueses foram convidados a participar neste estudo para identificação e

caracterização das lesões osteomusculares ligadas ao trabalho através de um

anúncio colocado no website da Ordem dos Enfermeiros (OE), não tendo sido

incluída nenhuma estratégia metodológica que pretendesse qualquer tipo de

representatividade amostral.

Os respondentes que aceitaram o convite efetuado no site da OE deixaram o

seu endereço de e-mail na páginaWeb do “surveymonkey platform

questionnaire”. Posteriormente, receberam um link para responderem ao

questionário online num período de cerca de 8 meses, até fevereiro de 2011.

O questionário utilizado foi uma adaptação de um questionário nórdico sobre

lesões osteomusculares (NMQ -Nordic Musculoskeletal Questionnaire) validado

e aceite como instrumento de rastreio11 e que foi adaptado e utilizado em

Page 67: Nº1/1998 Nº3/2009

65

Portugal em diversos trabalhos de investigação1,12-15. Desenvolve-se em quatro

dimensões com diversas questões que pretendem fazer a caracterização:

(i) sócio-demográfica – que inclui a área geográfica de trabalho, o tipo de

organização do trabalho, a categoria profissional, o sexo, a data de

nascimento, a altura, a estatura, o membro superior dominante, o tempo

de profissão como enfermeiro, as horas semanais de trabalho e o

modelo de organização do trabalho (fixo ou por turnos);

(ii) dos sintomas de LER/DORT - designadamentedos sintomas

osteomusculares, utilizando imagens ilustrativas de cada zona

anatômica; para cada zona existe um conjunto de perguntas sobre a

intensidade e a frequência dos sintomas durante o último ano e durante

os últimos 7 dias.

(iii) das tarefas e da sua relação com os sintomas - constituída,

principalmente, por duas questões: a) autoavaliação diária das tarefas

(usando quatro itens de escala: 0-1 vezes por dia; 2-5 vezes; 6-10 vezes

e mais de 10 vezes por dia), tais como realizar trabalho informatizado,

procedimentos invasivos, tratamento de feridas, administração de

medicamentos, medição da pressão arterial e glicemia, avaliação do

atendimento domiciliar, cuidados de higiene na cama, o posicionamento

e a mobilização de doentes na cama, transferência de doentes com e

sem equipamentos mecânicos, alimentação de doentes e

posicionamento e mobilização de doentes na casa de banho; e b)

sintomas de LER/DORT como resultado da atividade de trabalho, sendo

também avaliados através de uma escala de quatro itens (não

relacionado; pouco relacionado; muito relacionado e totalmente

relacionado com os sintomas referidos). Relativamente à relação das

tarefas com os sintomas é ainda solicitada informação sobre a relação

dos sintomas de LER/DORT com o trabalho sentado e em pé, o trabalho

com os braços acima dos ombros, e em flexão e torção do tronco, a

repetitividade com as mãos, braços e dedos, a força aplicada com as

mãos e dedos, a manipulação de carga com menos e mais de 4 kg, a

elevação de cargas entre 10 e 20 kg e com mais de 20 kg.

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66

(iv) do estado de saúde - através de onze questões sobre a atividade física,

hábitos tabágicos, alcoólicos, café e hobbies, a presença de doença

anterior, medicação prescrita, tratamento, reabilitação e consultas

médicas no ano anterior e caracterização do estado de saúde.

A análise estatística dos dados foi efetuada com recurso ao software Statistical

Package for Social Sciences (SPSS) versão PASW Statistics 17.

Para avaliar se a prevalência dos sintomas na região lombar depende do

gênero; idade; Índice de Massa Corporal (IMC) e categoria profissional dos

enfermeiros recorreu-se ao Teste de Independência do Qui-quadrado. Para

determinar a probabilidade acrescida de lesões osteomusculares na região

lombar nos últimos 12 meses (último ano) foram determinados os Odds Ratio

(OR) bem como os respetivos intervalos de confiança a 95%, através do

método de Regressão Logística Forward: LR. Para todos os testes estatísticos

o nível de significância considerado foi de 5%.

RESULTADOS

Responderam ao questionário 2.140 enfermeiros, cerca de 3,42% do total dos

enfermeiros portugueses inscritos na Ordem dos Enfermeiros. Desses 2.140

respondentes, 1.396 trabalham em hospitais representando, neste caso, cerca

de 5,19% dessa população.

A mediana da idade dos enfermeiros respondentes a trabalhar em hospitais foi

de 36 anos, sendo a do peso de 65 Kg e a da altura de 1,65 metros. A mediana

do número de horas de trabalho semanal e do tempo de trabalho em

enfermagem foi, respetivamente, 40 horas e 13 anos.

A prevalência dos sintomas de lesões osteomusculares na região lombar foi de

48,8% nos últimos 7 dias e de 60,9% nos últimos 12 meses, valores de

semelhante ordem de grandeza daqueles que têm sido descritos em outros

estudos no mesmo âmbito (Quadro 1).

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67

Quadro 1: – Prevalência de lombalgias em estudos realizados anteriormente

Estudo Prevalência de

Sintomas na

região lombar (%)

Lagerstrom et al. (1995) 56

Engels et al. (1996) 34

Ando et al. (2000) 54.7

Alexopoulos (2003) 75

Trinkoff et al. (2002) 47

Smith et al. (2004) 56

Trinkoff et al. (2004) 32

Fonseca e Serranheira (2006) 65

Neste estudo (2012) 60.9

Dos enfermeiros com lombalgias presentes nos últimos 12 meses cerca de 2/3

(64,8%) refere a presença de sintomatologia “6 ou mais vezes por dia” e

relativamente à caracterização do grau de intensidade dessas dores (ou

incómodo) 45,8% dos enfermeiros refere que os sintomas são intensos ou

muito intensos (Figura 1).

Figura 1: Número de vezes por dia que os enfermeiros sofrem de dores (ou incómodo) na

região lombar presentes nos últimos 12 meses e grau de intensidade com que as descrevem.

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68

O teste de independência do Qui-quadrado revelou que a presença de

lombalgias é independente do gênero (χ2 =2,37; p =0,123), da idade (χ2 = 3,86;

p = 0,27) e do IMC dos enfermeiros (χ2 = 1,663; p = 0,197), mas é dependente

da sua categoria profissional (χ2 = 18,86; p = 0,001) (Figura2). Tal poderá

relacionar-se com a atividade profissional, já que as funções mais exigentes

para a coluna lombar na prestação de cuidados estão mais próximas da

categoria profissional de “enfermeiro”.

Figura 2: Distribuição percentual de lombalgias por género (gráfico a); IMC (Gráfico b); idade (Gráfico c) e categoria profissional (Gráfico d).

A aplicação da regressão logística permitiu observar que as tarefas com efeito

estatisticamente significativo sobre a probabilidade de ter sintomas de LMELT

na região lombar, quando realizadas mais que 10 vezes por dia relativamente a

0-1 vezes ao dia são: a elaboração de procedimentos invasivos, a

administração de medicação, a alimentação dos doentes, os cuidados de

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69

higiene e o posicionamento e mobilização de doentes na cama, a transferência

e transporte de doentes e a medição da tensão arterial e da glicemia. Os

cuidados de higiene e conforto na cama é a única tarefa que aumenta a

probabilidade de lombalgias sempre que seja realizada mais do que 2 vezes

por dia e não somente apenas em mais de 10 vezes ao dia (Quadro 2).

Quadro 2: – Impacte das atividades de trabalho nos sintomas de LMELT na região lombar em

enfermeiros cujo trabalho é desempenhado em contexto hospitalar (N=1396).

Atividades Classes Nível de

significância Odds Ratio I.C. (Odds Ratio)

Trabalho Informatizado 0,225

0-1 vezes por dia*

Procedimentos Invasivos 2-5 vezes por dia 0,09 1, 30 0,96 1,75

(Entubação, algaliação e punções venosas) 6-10 vezes por dia 0,19 1,29 0,88 1,88

mais de 10 vezes por dia 0** 2,15 1,43 3,23

Tratamento de Feridas 0,677

0-1 vezes por dia*

Administração de Medicamentação 2-5 vezes por dia 1,88 1,31 0,88 1,96

6-10 vezes por dia 0,17 1,68 1,1 2,58

mais de 10 vezes por dia 0,002 1,86 1,26 2,73

0-1 vezes por dia*

Medição da Tensão arterial, Glicémia e outros 2-5 vezes por dia 0,61 1,1 0,75 1,62

6-10 vezes por dia 0,15 1,35 0,9 2,03

mais de 10 vezes por dia 0,015 1,6 1,09 2,33

Apoio Domiciliário 0,188

0-1 vezes por dia*

Cuidados de Higiene e Conforto na cama 2-5 vezes por dia 0,037 1,36 1,02 1,82

6-10 vezes por dia 0,011 1,63 1,12 2,37

mais de 10 vezes por dia 0,002 2,48 1,4 4,42

0-1 vezes por dia*

Posicionamento e Mobilização do doente na cama 2-5 vezes por dia 0,52

1,13 0,78 1,62

6-10 vezes por dia 0,29

1,22 0,85 1,74

mais de 10 vezes por dia 0,001 2,02 1,35 3,02

0-1 vezes por dia*

Transferência ou Transporte de doentes 2-5 vezes por dia 0,535 1,1 0,82 1,47

6-10 vezes por dia 0,119 1,32 0,93 1,88

mais de 10 vezes por dia 0,018 1,75 1,1 2,78

Levante do doente da cama sem ajuda mecânica 0,094

Levante do doente da cama com ajuda mecânica 0,601

0-1 vezes por dia*

Alimentação dos doentes 2-5 vezes por dia 0,04 1,36 1,01 1,81

6-10 vezes por dia 0,318 1,22 0,83 1,79

mais de 10 vezes por dia 0,004 2,19 1,28 3,73

Cuidados de Higiene e Conforto no WC 0,12

* Classe de Referência; ** p< 0,001

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70

A regressão logística permitiu também determinar qual o impacte de algumas

características do trabalho na probabilidade de ter sintomas de LMELT na

região lombar nos enfermeiros cujo trabalho é desempenhado em contexto

hospitalar. As características do trabalho analisadas foram: o tipo de trabalho

(fixo ou por turnos); se tem segundo emprego; o número de pausas de trabalho

por dia; o número de horas de trabalho por semana e o tipo de serviço onde

trabalha. Apenas o tipo de trabalho e o tipo de serviço revelaram ter um efeito

estatisticamente significativo, sendo que o trabalho por turnos aumenta a

probabilidade de lombalgias relativamente ao trabalho em horário regular

(p=0,022; OR = 1,32) e os serviços com trabalho de enfermaria dominante

relativamente aos serviços sem trabalho de enfermaria (p=0,024; OR = 1,52)

(Quadro 3).

Quadro 3 – Impacte de algumas características do trabalho nos sintomas de LMELT na região

lombar nos enfermeiros cujo trabalho é desempenhado em contexto hospitalar.

DISCUSSÃO

Os resultados evidenciam uma elevada prevalência de lombalgias em

enfermeiros portugueses a trabalhar em contexto hospitalar (48,8% nos últimos

7 dias e 60,9% nos últimos 12 meses) não muito diferente da observada em

outros estudos1,4,6,20,21.

Quando é pedido aos enfermeiros que caracterizem a intensidade e a

frequência das dores (ou incómodo) devido à presença de LMELT na zona

Características do Trabalho Classe Nível de

Significância Odds Ratio

I.C. (Odds Ratio)

Tipo de Trabalho Fixo*

Turnos 0,022 1,32 1,04 1,67

Segundo Emprego 0,692

Nº de pausas de Trabalho 0,223 Nº de Horas de Trabalho por semana 0,227

Tipo de Serviço

Sem trabalho de enfermaria* Com trabalho de enfermaria não

dominante 0,85 0,93 0,42 2,05

Com trabalho de enfermaria dominante 0,024 1,52 1,06 2,19

* Classe de Referência

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71

lombar nos últimos 12 meses, a maioria refere sentir dores moderadas (42%)

ou dores intensas (35,2%) e mais de 10 vezes ao dia (42%). Tal frequência

adquire uma grande importância para a saúde e bem-estar dos enfermeiros e

implicará por certo consequências na qualidade da prestação de cuidados de

saúde aos doentes, assim como no absentismo/doença e até no abandono

precoce da profissão, bem como o elevado prejuízo que essas lesões poderão

causar na saúde e bem-estar destes profissionais. Tal determina a

necessidade de minimizar a frequência dessa sintomatologia.

É, portanto, importante conceber programas de prevenção de LMELT nos

enfermeiros, designadamente lombalgias e outras raquialgias.

Por curioso que pareça, não se encontraram associações estatisticamente

significativas entre o gênero, idade e IMC com a presença de níveis de

desconforto (ou dor) com origem na zona lombar do sistema

musculoesquelético o que eventualmente minora a influência dessas variáveis

individuais na prevalência de lombalgias. Dessa forma, talvez as variáveis

individuais tais como ser um enfermeiro do sexo masculino ou feminino, ser

gordo ou magro, ou ser velho ou novo não pareçam influenciar a prevalência

de LMELT na região lombar. Já a categoria profissional demonstrou ter uma

associação estatisticamente significativa com essas lesões (χ2 = 18,86; p =

0,001), sendo que os profissionais com categoria profissional de “enfermeiros”

e “enfermeiros graduados” têm maior prevalência das mesmas (23,44% e

22,88% respetivamente) e os “enfermeiros-especialistas”, “enfermeiros-chefes”

e os “enfermeiros supervisores” têm menor (9,42%; 4,86 e 0,37%,

respetivamente). Tal poderá estar relacionado com o tipo de atividades reais de

trabalho desempenhadas pelos profissionais em cada uma destas categorias.

De fato as categoria de “enfermeiro” e “enfermeiro graduado” têm maior

proximidade com a prestação de cuidados clínicos e consequentemente

maiores exigências físicas relacionadas com o tipo de atividades de trabalho.

As tarefas que se verificou terem efeito na presença de sintomas de LMELT na

região lombar revelaram aumentar a probabilidade de presença dessa

sintomatologia quando realizadas mais que 10 vezes por dia,

comparativamente a 0-1 vezes ao dia, o que revela bem a importância das

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72

exigências organizacionais sobre a repetitividade da atividade no processo de

desenvolvimento de sintomatologia de LER/DORT na zona lombar.

As tarefas que se demonstrou terem influência na ocorrência de lombalgias

foram: a elaboração de procedimentos invasivos (OR = 2,15); a administração

de medicação (OR = 1,86); a medição da tensão arterial, da glicemia e outras

(OR = 1,6); os cuidados de higiene e conforto na cama (OR = 2,48); o

posicionamento e mobilização do doente na cama (OR = 2,02); a transferência

e transporte de doentes (OR = 1,75); e a alimentação dos doentes (OR = 2,19).

Os cuidados de higiene e conforto na cama foi a tarefa com maior efeito na

probabilidade de ocorrência de lombalgias, sendo que essa probabilidade

aumenta sempre que seja realizada mais do que 2 vezes por dia relativamente

a 0-1 vezes por dia e não somente apenas mais de 10 vezes ao dia (2-5 vezes

por dia: OR = 1,36; 6-10 vezes por dia: OR = 1,63; mais de 10 vezes por dia:

OR = 2,48). Trata-se de uma tarefa cuja atividade real de trabalho nos parece

plausível de ser a maior responsável por lombalgias ocupacionais em hospitais,

uma vez que muitas vezes o doente internado acamado adquire posições de

desconforto o que determina que os enfermeiros tenham de aplicar

constantemente força para os colocar novamente numa posição de conforto na

cama. Os cuidados de higiene na cama também nos parece fazer todo o

sentido que representem uma atividade de elevado impacte nessas lesões,

uma vez que os enfermeiros adquirem posturas do tronco que eventualmente

poderão constituir risco.

A alimentação dos doentes é uma tarefa que só tem impacte nos sintomas de

LMELT quando realizada 2-5 vezes por dia e mais de 10 vezes por dia, não se

observando este impacte em 6-10 vezes por dia. Estes resultados

possivelmente poderão estar a ser influenciados por outras variáveis que os

possam justificar (variáveis de confundimento).

Os enfermeiros respondentes ao questionário são, provavelmente, aqueles que

valorizam mais as LER/DORT e, hipoteticamente, os que apresentam

sintomatologia osteomuscular. Assim, é provável que a percentagem de

enfermeiros com lombalgias esteja sobrevalorizada.

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73

CONCLUSÕES

Sendo este o primeiro estudo de âmbito nacional sobre a prevalência de

LER/DORT em enfermeiros em Portugal permite ter um retrato transversal dos

sintomas musculoesqueléticos, bem como a sua eventual origem ou dos

fatores responsáveis pelo seu agravamento.

Apesar disso, a ausência de relação entre algumas características individuais,

como o sexo, a idade e o IMC com a presença de sintomas de LER/DORT na

zona lombar não significa que deva ser rejeitada essa hipótese de estudo22.

Também algumas características da organização do trabalho destes

profissionais de saúde como o segundo emprego, o número de horas de

trabalho por semana e o número de pausas do trabalho por dia não

apresentam um efeito significativo na presença dos sintomas. Já o tipo de

trabalho, a categoria profissional e o tipo de serviço são estatisticamente

significativos para a presença de sintomas de LER/DORT. Assim, a maioria dos

enfermeiros com sintomatologia osteomuscular a nível da região lombar são

“enfermeiros” ou “enfermeiros-graduados”. A probabilidade de ter sintomas e

eventualmente LER/DORT aumenta quando os enfermeiros realizam trabalho

por turnos relativamente ao trabalho fixo, assim como nos serviços com

trabalho de enfermaria dominante relativamente aos outros serviços.

As características das tarefas revelaram ser o fator com maior influência na

presença de sintomatologia osteomuscular na zona lombar, tornando evidente

a importância das condições de trabalho e das atividades reais de trabalho na

presença de sintomas musculoesqueléticos e no desenvolvimento dessas

lesões. A tarefa com maior efeito na presença de sintomas de LER/DORT na

zona lombar é a dos cuidados de higiene dos doentes e as ações relativas ao

seu conforto na cama. Tal revela a necessidade de conhecer, analisar e

entender o que esta atividade real de trabalho representa para os enfermeiros

no sentido de intervir no sentido da prevenção e da garantia da saúde,

segurança e conforto dos enfermeiros no local de trabalho. Justifica-se, assim,

a existência de medidas de gestão23 do risco de lombalgias que, entre outros,

permitam intervir a nível das condicionantes ou determinantes do trabalho, de

forma a tornar mais harmoniosa a atividade de trabalho com as características,

Page 76: Nº1/1998 Nº3/2009

74

capacidades e limitações dos enfermeiros, prevenindo as LER/DORT neste

grupo profissional.

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Page 79: Nº1/1998 Nº3/2009

77

Notas finais

Sendo este um estudo, de âmbito nacional, sobre a prevalência de LMELT em

enfermeiros em Portugal e a sua relação com diversos aspetos da atividade de

enfermagem permite ter um retrato, ainda que transversal, da frequência de

sintomas e da patologia musculoesquelética nesse grupo profissional.

As conclusões obtidas permitem afirmar que o trabalho, designadamente a

categoria profissional e o tipo de trabalho realizado pelos enfermeiros, se

associa a sintomas musculoesqueléticos.

As características das tarefas revelaram ser o fator com maior influência na

presença de lombalgias, tornando evidente a importância que as condições de

trabalho e a atividade real de trabalho podem ter na sua génese. A atividade de

trabalho com mais influência na ocorrência de lombalgias é a relacionada com

a prestação de cuidados de higiene aos doentes e outras ações relacionadas,

como as tarefas prestadas ao doente em posição de decúbito.

A mobilização manual de cargas em segurança continua a ser alvo de grande

discussão (Clemes; Haslam; Haslam, 2010). Em contexto de mobilização de

doentes (cargas animadas) existem fatores difíceis de controlar,

nomeadamente, e entre outras, as características antropométricas do doente, o

grau de imprevisibilidade de movimentos, as assimetrias corporais dos doentes

resultantes de diversas patologias pré-existentes e que se traduzem em

diferentes tipos de colaboração. Tal impede a identificação da técnica mais

segura de mobilização a adotar (Kjellberg, 2003), podendo resultar mesmo em

acidente de trabalho com lombalgia aguda e incapacidade temporária para o

trabalho (ITA).

Face a um problema de saúde dos prestadores de cuidados de saúde tão

frequente, com repercussões de potenciais perdas económicas e de qualidade

de vida para os indivíduos e para a sociedade, torna-se premente investir na

sua prevenção. Essa prevenção que passa por compreender a complexidade,

quer da sua génese, quer dos fatores que contribuem para a sua manutenção e

integra aspetos fundamentais que passam desde logo pela capacitação (ou

Page 80: Nº1/1998 Nº3/2009

78

“empoderamento”) dos trabalhadores, designadamente através de uma

abordagem participativa (Serranheira, Sousa-Uva et al. 2012).

Os programas participativos necessitam, para além de conhecimentos

específicos, de valorizar alguns aspetos como a participação dos

trabalhadores, o apoio da organização (ou da empresa) e das suas

administrações.

A formação e a informação dos trabalhadores sobre as lesões

musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT), sobre os principais fatores

de risco que estão na sua origem e sobre a forma de as prevenir são algumas

das medidas preventivas que, apesar de não substituírem a necessária

melhoria das condições de trabalho na perspetiva da Saúde e Segurança,

conduzem ao caminho correto de um investimento nos locais (e organizações)

de trabalho com o objetivo de os tornar mais saudáveis e portanto adequados

(também) em função das pessoas que lá trabalham.

A capacitação nesse contexto pode ser entendida como um processo que

promove, entre outros, a motivação para a participação dos trabalhadores no

sentido de potenciar as formas de controlo e de gestão das relações

trabalho/saúde (ou doença) no local de trabalho e pode, inclusive, contribuir

para a promoção da saúde no local de trabalho.

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79

Recomendações para estudos futuros nesta linha de

investigação

Existe uma importante prevalência de lombalgias nos profissionais de saúde

que realizam mobilização de doentes. Entre nós, e nos serviços hospitalares,

abrange os enfermeiros e os assistentes operacionais ou auxiliares de

enfermagem, entre outros.

É consequentemente indispensável encontrar estratégias que permitam reduzir

a probabilidade da sua ocorrência. Tal pode ser efetuado de diversas formas

através da formação e/ou do exercício físico, no caso de medidas centradas

nos indivíduos, ou intervindo com medidas ambientais designadamente a nível

dos espaços físicos, dos equipamentos, entre outros, destacando-se, nesse

contexto, as medidas organizacionais. No essencial, pretende-se que a

intervenção sistémica e integrada, e participativa, possam contribuir para a

prevenção das LMELT e, dessa forma, para a manutenção desses

trabalhadores no ativo, e com qualidade de vida.

Subsistem ainda inúmeros aspetos que justificam a manutenção de uma linha

de investigação em tal domínio destacando-se, entre outros, a necessidade de:

estudos sobre a influência da informação e formação dos trabalhadores

sobre a mobilização de doentes e o seu impacte na prevenção das

LMELT e também na prevenção da recorrência de lombalgias nos

profissionais de saúde;

definição de estratégias de prevenção, sistémicas e integradas, através

da implementação de programas de intervenção com perspetiva

participativa em termos organizacionais e a introdução de algoritmos de

apoio à decisão na mobilização de doentes.

No presente estudo a resposta de cada participante foi diretamente incorporada

numa base de dados (caraterísticas sócio-demográficas, sintomas e exposição

ocupacional aos principais fatores de risco da atividade dos enfermeiros). É

pois possível usar no futuro, quer globalmente quer por situação concreta da

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80

prática profissional dos enfermeiros, informação que se considera essencial

para uma linha de investigação de LMELT em enfermeiros de Portugal.

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Page 87: Nº1/1998 Nº3/2009

85

Anexo

Questionário de avaliação de sintomas de LMELT utilizado neste estudo, adaptado de Serranheira; Sousa-Uva; Lopes (2008) - Lesões músculo-esqueléticas e trabalho: alguns métodos de avaliação do risco. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho. Cadernos Avulso 5.

Page 88: Nº1/1998 Nº3/2009

86

Page 89: Nº1/1998 Nº3/2009

87

Questionário de identificação de sintomas de lesões músculo-

esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) em Enfermeira(o)s

Estudo Nacional de caracterização da sintomatologia músculo-

esquelética ligada ao trabalho em Enfermeira(o)s.

Este questionário pretende conhecer aspectos da sua saúde, hábitos e

actividade profissional. O resultado é para utilização exclusiva no

contexto da vigilância da saúde, estando assegurada a confidencialidade

das respostas e a não utilização para quaisquer outros fins.

POR FAVOR, seja o mais preciso possível nas suas respostas.

A sua contribuição é indispensável. O questionário depende da sua cooperação

e estimamos que deverá ocupar apenas cerca de 10 minutos.

As suas respostas são anónimas e totalmente confidenciais.

Regras de preenchimento:

Seleccione a resposta correspondente à sua opção ou identifique o número

correspondente à sua escolha na chave de respostas múltiplas.

Complete as suas respostas quando existir essa oportunidade.

MUITO OBRIGADO PELO SEU CONTRIBUTO

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88

A – Caracterização sócio-demográfica

1. Local de trabalho: Norte Centro LVT Alentejo Algarve Ilhas

2. Hospital EPE Hospital SPA

ARS Outro ____________________

3. Serviço (lista de serviços hospitalares + Cuidados de Saúde Primários; CS Continuados; CS Paliativos; INEM; Enfermagem do Trabalho)

Outro______________________________________________

4. Categoria profissional

5. Tipo de Horário: Fixo Turnos

6. Género: Feminino Masculino

7. Ano de nascimento:____________ 4. Peso _________ Kg 5. Altura _______ m

8. Membro superior dominante:

Dextro Esquerdino / Canhoto Ambidextro

9. Há quanto tempo é Enfermeira(o)? __________ anos _________ meses

10. Em média, quantas horas trabalha por semana? ________ horas

11.Tem segundo emprego? NÃO SIM

11.1. A tempo: Completo (horas)_______ Parcial (horas)________

11.2. Hospital USF Clínica Privada

11.3. Outro_____________________________________________

Dia Mês Ano

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89

B – Caracterização da sintomatologia ligada ao trabalho

Preencha a tabela seguinte, assinalando com uma cruz o quadrado correspondente ao seu estado de fadiga, desconforto ou dor, em função dos segmentos corporais considerados. No caso de referir sintomas, indique qual a sua intensidade e a sua frequência anual, de acordo com as escalas que se seguem, assinalando um círculo à volta do número correspondente:

Intensidade do desconforto/dor: 1- Ligeiro 2- Moderado 3- Intenso 4- Muito intenso

Ex.: Intensidade: Considera os sintomas como intensos – 1 2 3 4

Frequência (nº de vezes por ano): 1- Uma vez 2- 2 ou 3 vezes 3- 4 a 6 vezes 4- Mais de 6 vezes

Ex.:Frequência: Sentiu as queixas 2 ou 3 vezes por ano – 1 2 3 4

Para responder por toda(o)sa(o)s

Enfermeira(o)s

Se respondeu “SIM” passe às seguintes questões:

Teve algum problema durante os últimos 12 meses

(FADIGA, DESCONFORTO, DOR, EDEMA), que estivesse

presente pelo menos 4 dias seguidos? Se sim, refira qual a

sua intensidade e frequência, assinalando-as com um círculo

(ver exemplos apresentados em cima).

Os sintomas referidos estão

presentes (ou estiveram

presentes) durante os

últimos 7 dias?

Nos últimos 12 meses,

esteve impedido de realizar

o seu trabalho normal

devido a esse problema?

PESCOÇO

1- NÃO 2- NÃO 3- NÃO

4- SIM

Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

5- SIM 6- SIM

Quantos dias? _____

ZONA DORSAL

7- NÃO 8- NÃO 9- NÃO

10- SIM

Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

11- SIM 12- SIM

Quantos dias? _____

ZONA LOMBAR

13- NÃO 14- NÃO 15- NÃO

16- SIM

Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

17- SIM 18- SIM

Quantos dias? _____

OMBRO

19- NÃO 20- NÃO 21- NÃO

22- SIM, direito Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 24- SIM 25- SIM

Quantos dias? _____ 23-SIM, esquerdo Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

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90

Para responder por toda(o)s a(o)s Enfermeira(o)s

Se respondeu “SIM” passe às seguintes questões:

Teve algum problema durante os últimos 12 meses

(FADIGA, DESCONFORTO, DOR, EDEMA), que estivesse

presente pelo menos 4 dias seguidos? Se sim, refira qual a

sua intensidade, assinalando-a com um círculo (ver exemplo

apresentado no cimo do questionário).

Os sintomas referidos estão

presentes (ou estiveram

presentes) pelo menos 4

diasdurante os últimos 7

dias?

Nos últimos 12 meses,

esteve impedido de realizar

o seu trabalho normal

devido a esse problema?

COTOVELO

26- NÃO 27- NÃO 28- NÃO

29-SIM, direito Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 31- SIM

32- SIM

Quantos dias? _____ 30-SIM, esquerdo Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

PUNHO/MÃO

33- NÃO 34- NÃO 35- NÃO

36-SIM, direito Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 38- SIM 39- SIM

Quantos dias? _____ 37-SIM, esquerdo Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

COXA

40- NÃO 41- NÃO 42- NÃO

43-SIM, direita Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 45- SIM

46- SIM

Quantos dias? _____ 44-SIM, esquerda Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

JOELHO

47- NÃO 48- NÃO 49- NÃO

50-SIM, direito Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 52- SIM

53- SIM

Quantos dias? _____ 51-SIM, esquerdo Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

TORNOZELO / PÉ

54- NÃO 55- NÃO 56- NÃO

57-SIM, direito Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4 59- SIM 60- SIM

Quantos dias? _____ 58-SIM, esquerdo Intensidade: 1 2 3 4

Frequência: 1 2 3 4

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91

C – Caracterização da situação de trabalho e relação com os sintomas

1 – Classifique as tarefas descritas de acordo com a sua frequência durante um dia de trabalho, utilizando a seguinte chave:

ASSINALE COM UM CÍRCULO O NÚMERO DA SUA ESCOLHA, EM FUNÇÃO DA SEGUINTE CHAVE:

1 – 0 – 1 VEZ POR DIA ............................ 8 – NÃO SABE

2 – 2 A 5 VEZES POR DIA ...................................... 9 – NÃO SE APLICA

3 – 6 A 10 VEZES POR DIA ....................................

4 – MAIS DE 10 VEZES POR DIA ..............................

A) TRABALHO INFORMATIZADO ......................................... 1 2 3 4 8 9

B) PROC. INVASIVOS (ENTUBAÇÃO,ALGALIAÇÃO,PUNÇÕES) 1 2 3 4 8 9

C) TRATAMENTO DE FERIDAS .......................................... 1 2 3 4 8 9

D) ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAÇÃO ................................. 1 2 3 4 8 9

E) AVALIAÇÃO TENSÃO ARTERIAL / GLICEMIA / OUTROS .... 1 2 3 4 8 9

F) APOIO DOMICILIÁRIO .................................................. 1 2 3 4 8 9

G) CUIDADOS DE HIGIENE E CONFORTO NA CAMA ............. 1 2 3 4 8 9

H) POSICIONAMENTO/MOBILIZAÇÃO DO DOENTE NA CAMA 1 2 3 4 8 9

I) TRANSFERÊNCIA OU TRANSPORTE DE DOENTES ........... 1 2 3 4 8 9

J) LEVANTE DE DOENTE DA CAMA SEM AJUDA MECÂNICA .. 1 2 3 4 8 9

K) LEVANTE DOENTE DA CAMA COM AJUDA MECÂNICA ...... 1 2 3 4 8 9

L) ALIMENTAÇÃO DOS DOENTES ...................................... 1 2 3 4 8 9

M) FAZER AS CAMAS ...................................................... 1 2 3 4 8 9

N) CUIDADOS DE HIGIENE E CONFORTO NO WC ............... 1 2 3 4 8 9

O) OUTRA. QUAL? ___________________________ .. 1 2 3 4 8 9

2 –Classifique as componentes da actividade de acordo com a relação existente com os sintomas, utilizando a seguinte chave (pode referir vários elementos):

ASSINALE COM UM CÍRCULO O NÚMERO DA SUA ESCOLHA, EM FUNÇÃO DA SEGUINTE CHAVE:

1– SEM RELAÇÃO COM OS SINTOMAS .... 8 – NÃO SABE

2 – POUCO RELACIONADO COM OS SINTOMAS REFERIDOS 9 – NÃO SE APLICA

3 – MUITO RELACIONADO COM OS SINTOMAS ........

4 – TOTALMENTE RELACIONADO COM OS SINTOMAS

A) TRABALHO SENTADO ................................................ 1 2 3 4 8 9

B) TRABALHO DE PÉ....................................................... 1 2 3 4 8 9

C) BRAÇOS ACIMA DA ALTURA DOS OMBROS .................... 1 2 3 4 8 9

D) INCLINAR O TRONCO .................................................. 1 2 3 4 8 9

E) RODAR O TRONCO ..................................................... 1 2 3 4 8 9

F) REPETITIVIDADE DOS BRAÇOS .................................... 1 2 3 4 8 9

G) REPETITIVIDADE DAS MÃOS/DEDOS ........................... 1 2 3 4 8 9

H) PRECISÃO COM OS DEDOS ........................................ 1 2 3 4 8 9

I) APLICAR FORÇA COM AS MÃOS OU DEDOS ................... 1 2 3 4 8 9

J) MANIPULAR CARGAS ENTRE 1 – 4 KG ........................ 1 2 3 4 8 9

K) MANIPULAR CARGAS SUPERIORES A 4 KG ................ 1 2 3 4 8 9

L) LEVANTAR E DESLOCAR CARGAS ENTRE 10 – 20 KG . 1 2 3 4 8 9

M) LEVANTAR E DESLOCAR CARGAS SUP. A 20 KG .......... 1 2 3 4 8 9

N) OUTRA. QUAL? ___________________________ .. 1 2 3 4 8 9

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92

2 – Em média quantas pausas tem ao longo do turno de trabalho? _______ (nº de pausas);

3– Que tarefa considera mais difícil?

3.1 – Porquê? ________________________________________________________

D – Caracterização do estado de saúde

1. Realiza regularmente algum tipo de atividade física? NÃO SIM

1.1 Se Sim, qual? __________________________

2. Fuma? NÃO SIM 2.1. Nº de cigarros/outro _____/dia

3. Bebe habitualmente bebidas alcoólicas? NÃO SIM

4. Bebe habitualmente café? NÃO SIM

5. Sofre de alguma doença? NÃO SIM

5.1. Se sim, qual?

Diabetes Hipertensão Gota Osteoporose Artrose

Hérnia discal Síndrome do túnel cárpico Tendinite

5.2. Outra: ______________________________________________________________

6. Toma medicamentos regularmente (incluindo calmantes ou a pílula)?

NÃO SIM

7. Está a fazer algum tratamento de reabilitação? (ex.: Fisioterapia, Terapia Ocupacional,…) NÃO SIM

7.1. Se sim, qual?_______________________________________

8. Consulta o seu médico:

8.1 Periodicamente Esporadicamente Em serviços públicos Privados

9.Consultou algum médico no último ano? NÃO SIM porquê?____________

_____________________________________________________________________

MUITO OBRIGADO pela sua colaboração!

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93

Resumo

As Lesões Musculoesqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) constituem um

importante problema de saúde designadamente nos próprios profissionais de

saúde.

Realizou-se um estudo nacional de caraterização da sintomatologia

musculoesquelética ligada ao trabalho em enfermeiros portugueses na

perspetiva da sua prevenção. Os enfermeiros portugueses foram convidados a

preencher um questionário em ambiente web com quatro dimensões: (i) dados

socio-demográficos, (ii) sintomas musculoesqueléticos em quinze zonas

anatómicas, (iii) identificação das tarefas e sua relação com os sintomas e (iv)

caracterização do estado de saúde. O estudo decorreu entre Julho de 2010 e

Fevereiro de 2011 e contou com a colaboração da Ordem dos Enfermeiros.

Responderam ao questionário 2.140 enfermeiros (3,42% do total dos

enfermeiros portugueses). Destacam-se as queixas localizadas à coluna

vertebral (49% nos últimos 12 meses; 25% nos últimos 7 dias) e o absentismo

relacionado (5,51%), igualmente nos últimos 12 meses. A intensidade dos

sintomas foi elevada (19% dos respondentes) assim como a sua frequência

(em 33% é superior a seis episódios anuais).

A relação entre as tarefas e as queixas foi significativa (p<0,05), entre outros,

nas seguintes atividades: (i) a administração de medicamentos, o

posicionamento, mobilização e transferência do doente e os sintomas nos

punhos e mãos (χ2=9,089; p=0,028; χ2=8,337; p=0,040; χ2=9,599; p=0,022;

χ2=9,399; p=0,024 respetivamente) e (ii) a higiene no leito e os sintomas

localizados aos ombros, cotovelos e punhos/mãos (χ2=8,853; p=0,031;

χ2=8,317; p=0,040 e χ2=9,599; p=0,022 respetivamente).

O presente estudo é revelador de uma elevada prevalência de LMELT em

enfermeiros portugueses e da necessidade de desenvolver programas de

prevenção. Para essa prevenção a intervenção nos locais, nos processos, na

organização temporal e nos meios de trabalho podem constituir medidas de

indiscutível interesse em matéria de gestão desses riscos profissionais.

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94

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95

Résumé

Les troubles musculosquelettiques (TMS) sont un problème majeur de santé,

en particulier parmi les professionnels de la santé. Nous avons mené une étude

nationale de caractérisation des symptômes et douleurs des troubles

musculosquelettiques liés au travail, du point de vue de leur prévention, parmi

les infirmières portugaises. Les infirmières portugaises ont été invitées à remplir

un questionnaire dans un environnement web incluant quatre dimensions: (i)

caractérisation sociodémographique, (ii) identification des symptômes

musculosquelettiques dans quinze régions anatomiques, (iii) identification des

tâches et leur relation avec les symptômes de TMS et (iv) caractérisation de

l'état de santé. L'étude a eu lieu entre Juillet 2010 et Février 2011, et a été

menée en collaboration avec l'Ordre des Infirmières et Infirmiers du Portugal.

2.140 infirmières ont répondu au questionnaire (3,42% du total des infirmières

portugaises). Nous avons observé des douleurs localisées dans la colonne

vertébrale (49% au cours des 12 derniers mois, 25 % dans les 7 derniers jours),

et un absentéisme lié à ces douleurs également au cours des 12 derniers mois

(5,51%). Nous avons également observé une intensité élevée des symptômes

(19% des répondants), ainsi qu’une fréquence importante (supérieure à six

épisodes annuels dans 33% des cas).

La relation entre les tâches et les plaintes est significative (p<0,05), entre

autres, pour les activités suivantes: (i) administration de médicaments,

positionnement, transfert et mobilisation du patient, et symptômes dans les

poignets et les mains (χ2=9,089 , p =0,028 , χ2=8,337, p=0,040 , χ2= 9,599 ,

p=0,022 , χ2=9,399 , p=0,024 respectivement) et ( ii ) hygiène dans le lit et

symptômes localisés aux épaules, coudes et poignets/mains (χ2=8,853,

p=0,031; χ2=8,317, p=0,040 et χ2=9,599 , p=0,022 respectivement).

L’étude révèle une prévalence élevée de TMS parmi les infirmières portugaises

et la nécessité de développer des programmes de prévention. Pour cette

prévention, l’intervention sur les locaux, dans les processus, dans l'organisation

temporelle et sur les équipements peuvent constituer des mesures adéquates

de gestion de ces risques professionnels.

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96

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97

Abstract

Work-related musculoskeletal disorders (WRMSD) are a worldwide health

problem, particularly among health care professionals. A nationwide study was

carried out to characterize work-related musculoskeletal symptoms among

Portuguese registered nurses (RN - Nursing Board of Portugal), in order to

establish a baseline methodology to manage/prevent WRMSD.

All nurses (RN) were invited to complete, on a web platform, a questionnaire

including four different topics: (i) socio-demographic characterization, (ii)

identification of fifteen anatomic areas with musculoskeletal symptoms, (iii)

tasks identification and their relationship with symptoms and (iv) health status

characterization.

A total of 2.140 RN answered the questionnaire (3.42% of all Portuguese RN).

Spine symptoms were among the most frequent symptoms (mentioned by 49%

of RN for the last 12 months, 25% for the last 7 days), so as spine symptoms-

related work absence (5.51%). Other relevant aspects were symptoms intensity

(19% were classified as high among respondents) and symptoms frequency

(33% of cases were superior to 6 annual episodes).

Associations between typical work tasks and complaints were found significant

(p<0.05) for (i) drug administration, positioning, mobilization and patient transfer

and hand-fist symptoms (χ2=9,089; p=0,028; χ2=8,337; p=0,040; χ2=9,599;

p=0,022; χ2=9,399; p=0,024 respectively), and for (ii) bed hygiene and shoulder,

elbow and hand-fist symptoms (χ2=8,853; p=0,031; 8,317; p=0,040; 9,599;

p=0,022 respectively).

Work-related musculoskeletal disorders among hospital nurses are preventable

most of the time, and they should not be commonly related to normal work. To

implement prevention, interventions on work settings, in processes, in temporal

organization and on working means could prevent WRMSD. Our descriptive

study provides evidence of the elevated prevalence of WRMSD among RN and

the need to develop occupational prevention programs in hospitals.