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Gazeta Imperial Jornal editado pelo Instituto Brasil Imperial Outubro de 2012 Ano XVII Número 201 www.brasilimperial.org.br DIA DO MONARQUISTA 15 DE OUTUBRO Os desdobramentos do julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Pág. 6 A Constituição de 1824 e os partidos políticos no Império Pág. 13

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Page 1: no Supremo Tribunal Pág. 6 Imperial Gazeta dos cofres públicos através da distribuição pelo executivo para os bolsos de políticos desonestos. Causa estranheza que até ag- ora

GazetaImperialJornal editado pelo Instituto Brasil Imperial Outubro de 2012 Ano XVII Número 201 www.brasilimperial.org.br

DIA DO MONARQUISTA15 DE OUTUBRO

Os desdobramentos do julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal

Pág. 6

A Constituição de 1824 e os partidos políticos no Império

Pág. 13

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GazetaImperialA Gazeta Imperial é uma publicação do Instituto Brasil Imperial. Artigos, sugestões de reportagens, divulgação de eventos monárquicos e imagens podem ser enviados para [email protected]

Comendador Antonyo da CruzPresidente do Instituto Brasil Imperial

[email protected]

Alessandro PadinEditor e jornalista responsá[email protected]

Antonyo da CruzPresidente do Instituto Brasil Imperial

Palavra do Presidente

Hora de acordarDepois de passados oito anos nós estamos assistindo o jul-gamento dos envolvidos no es-cândalo do mensalão, o que é o mensalão? É a distribuição de dinheiro publico recolhido através dos descontos no hol-erite do nosso salário e dos impostos que pagamos ao faz-ermos as nossas compras e roubado dos cofres públicos através da distribuição pelo executivo para os bolsos de políticos desonestos.Causa estranheza que até ag-ora não se falou em devolução ao tesouro nacional, do din-heiro desviado para negócios ilícitos e compra de votos para aprovação de projetos que es-tão levando nosso país à es-querdização de nosso sistema politico e a submissão do povo ao Estado. Até quando vamos continuar a pagar os impostos ao governo e em vez de vermos o retorno em estrutura e serviços públi-cos, assistimos diariamente a farta distribuição de verbas a deputados e senadoras para aprovarem a enxurrada de medidas provisória enviadas pelo governo para votação.Passamos também por uma onda de violência sem prec-edentes, a guerra civil já é um fato só falta ser declarada, até parece que as Farc se mudou da Colômbia para o Brasil, e dizer que tudo isso começou

no início dos anos 80 quanto um ex-exilado politico foi elei-to Governador de Estado.Foi voz corrente à época no folclore policial carioca que Leonel de Moura Brizola usou armas ilícitas para ganhar a eleição para Governador do Estado do Rio de Janeiro nas eleições de 1982 para o man-dato de (1983-1986), Brizola fez um acordo com os tra-ficantes Jose Carlos dos Reis Encina (o Escadinha) e com seu irmão Paulo dos Reis En-cina (o Paulo Maluco).Com o apoio do também trafi-cante Paulo Roberto de Mouro Lima (o Meio Quilo), o Japonês, entre outros, e escadinha e Paulo Maluco Leonel Brizola ganhou estourado a votação nos morros e favelas do Rio de Janeiro. Em troca, eleito, Brizola garantiu o “livre comé-rcio” de drogas, sem a inter-ferência policial.Nada está escrito para atestar esse acordo criminoso, mas um fato é certo o povo lem-bra muito bem que a polícia foi proibida de subir os mor-ros, os helicópteros policiais defesos de sobrevoarem as favelas; assim, estas e out-ras resoluções favoráveis ao fortalecimento da marginali-dade, tomadas pela Casa Civil de Brizola, fizeram com que a polícia não conseguisse mais controlar o crescimento das

mais diversas atividades tais com de Grandes Empresários ou até mesmo de Poderosos Políticos.E o pior é que não temos em quem nos apoiar, não temos um chefe de Estado que de-tenha o quarto poder (poder moderador) para promover o equilíbrio das instituições e a segurança da nação tra-zendo um bem estar ao povo, hoje o poder está concentra-do em uma só pessoa que manda e desmanda à sua vontade sem dar satisfação a ninguém, é uma ditadura muito bem disfarçada de de-mocracia.Acorda Brasil, quanto mais demorar mais difícil fica, va-mos todos por as mãos à Obra pelo futuro da Nação.

quadrilhas/bandos organiza-dos, como Comando Vermel-ho, Falange Jacaré, etc.Hoje para darmos satisfação ao mundo (copa e olimpíadas) foram criadas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), é claro que aplaudimos a inici-ativa, porem o problema não fica totalmente resolvido, para adentrar no morro primeiro o povo é avisado através de in-tensa vinculação na mídia e é lógico que os bandidos vão cantar em outro galinheiro, ou estão achando que eles vão ficar esperando a policia tomar conta da favela.È dito que para se ganhar uma guerra é necessário fechar um flanco de cada vez até que o inimigo seja total-mente encurralado, mas essa estratégia milenar não está sendo usada pela nossa poli-cia, é lógico e nem poderia. De que adianta prender um Escadinha, um Paulo Louco se os grandes fornecedores, aqueles que compram no ex-terior e distribuem aos Es-cadinhas e aos Paulos nun-ca são presos. Se o governo quiser realmente resolver o problema ele pode e tem as ferramentas necessárias, é só lançar mãos dos Arapon-gas e da Policia Federal e efetuar a prisão de não mais de 20 milionários que podem talvez estar disfarçados das

15 de outubro

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Homenagem

Tudo tem início em uma quarta feira, 22 de abril de 1500, quando a frota de Cabral sob os auspícios do Rei Dom Manoel I, chega à Terra de Vera Cruz, e a primeira missa é rezada no domingo seguinte dia 26 por Frei Henrique de Coimbra.E assim nasceu mais o abençoado estado português batizado com o nome de Brasil.Em 26 de janeiro de 1532, Martin Afonso de Souza fun-dou a primeira vila portuguesa na América, que se chamou de São Vi-cente. Em 22 de agosto do mesmo ano ocorreu a primeira eleição das Américas, sendo eleitos os primeiros oficiais (vereadores) da Camara da vila de São Vicente. Em 1549 foi criado cargo de Gov-ernador-Geral do Brasil, por D. João III, como forma de incrementar a presença da Administração de Por-tugal no Estado Português na Amé-rica (Brasil), Tomé de Sousa, foi no-meado o primeiro governador-geral.Já o cargo de Vice-Rei foi instituído pela primeira vez em 1640, pelo rei Filipe III. Contudo, nem todos os gov-ernadores coloniais que lhe suced-eram ao longo dos setenta anos seguintes usaram o título de Vice-Rei, sendo este apenas conferido a mais alta fidalguia, foram eles: Jorge de Mascarenhas o Marquês de Mon-talvão foi nomeado por Filipe IV de Espanha como 1º vice-rei do Brasil (1640).D. Vasco Mascarenhas, o Conde de Óbidos, foi o 2º vice-rei do Brasil.D. Pedro António de Menezes Noron-ha de Albuquerque o Marquês de An-geja, foi o 3º vice-rei do Brasil.Dom Fernando José de Portugal e

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Alessandro PadinEditor e jornalista responsá[email protected]

Antonyo da CruzPresidente Executivo do IBI

Dia doMonarquista

Castro, Marquês de Aguiar e Dom Marcos de Noronha e Brito Conde dos Arcos, foram respectivamente os 14º e 15º, e últimos vice-reis do Brasil.A função de Vice-Rei deixou de exi-stir após a chegada de D. João VI, em 1808.Em Dezembro de 1815, o Brasil foi elevado da condição de Estado a Reino integrado na Coroa de Portu-gal, formando-se assim o chamado Reino Unido de Portugal, Brasil e Al-garves.Com a Independencia em 1822 foi instituido o Império do Brasil (1822-1889), e em 12 de outubro de 1822, o Príncipe D. Pedro foi aclamado Im-perador com o título de D. Pedro I, sendo coroado em 01 de dezembro.A elevação de Pedro II ao trono im-perial em 1831, por contar com 5

anos de idade, foi criada uma regên-cia para governar em seu lugar até que atingisse a maioridade.Em 18 de julho de 1841, Dom Pedro II foi aclamado, coroado e consagra-do. Governou até a quartelada em 15 de novembro de 1889.Homenageamos neste dia 15 de outubro todos os personagens da história monarquista desde a chega-da de Cabral ao Brasil, e também to-dos aqueles monarquistas que con-tinuam até hoje fazendo e contando a história da monarquia brasileira.Tantos monarquistas eméritos pode-riam ser enumerados, desde 1889 continuaram apoiando e defenden-do a Família Imperial Brasileira e o sistema parlamentarista monárqui-co constitucional. No início dos anos 90 do século passado participaram ativamente

da campanha do plesbicito de abril de 1993 que propunha o retorno da monarquia no Brasil.E não pararam por ai tantos os De-canos como os Jovens Monarquistas permanecem na luta, agindo para atingir o objetivo – a restauração do Sistema Parlamentarista Monárqui-co Constitucional do Império Bra-sileiro, um mecanismo institucional evoluído, moderno, experimentado em países democráticos, com alto IDH e estabilidade política, que pos-sa vir a somar positivamente com a nossa forte economia e nossas riquezas como nação.Assim sendo o Instituto Brasil Im-perial Instituí-o o dia 15 de outubro como o Dia do Monarquista em nos-so país, e presta assim justa hom-enagem a todos os monarquistas do Brasil.

Tudo tem início em uma quarta feira, 22 de abril de 1500, quando a frota de Cabral sob os auspícios do Rei Dom Manoel I, chega à Terra de Vera Cruz, e a primeira missa é rezada no domingo seguinte dia 26 por Frei Henrique de Coimbra

15 de outubro

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Aconteceu no salão nobre da Casa de Portugal em São Paulo a comemoração do DIA DO MONARQUISTA (15 DE OUTUBRO), instituído pelo IBI (Instituto Brasil Imperial) em 14 de janeiro de 2012, conforme registro nº 632873 do 3º oficio de registro de títulos e documentos da Capital de São Paulo. No almoço comemorativo o Comendador Antonyo da Cruz, presidente do IBI, fez a entrega de certificado alusivo ao DIA DO MONARQUISTA, às seguintes autoridades monárquicas: SAIR D. Bertrand de Orleans e Bragança Príncipe Imperial do Brasil, ao Dr. José Guilherme Beccari Presidente da Pró-Monarquia, e o Dr. Júlio Rodrigues Presidente da Casa de Portugal.

Homenagem

Jantar do Dia doMonarquista15 de outubro

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Como já tem sido comentado com muita freqüência, em 2003 tinha in-ício um novo tipo de governo. Aquele que fora por muito pouco tempo um operário, passando a líder sindicalis-ta, “profissão” que exerceu por déca-das, além de colaborar na fundação de um novo partido político, Lula as-sumia o cargo de presidente do paÍs que saíra de um terrível período econômico e se livrara do mal in-flacionário além de controlar bem as atividades governamentais. Isso tudo aconteceu com as eficientes decisões conhecidas por todos os que de alguma maneira se interes-savam, e assim continuam, pelo andamento do país. Sempre é bom lembrar que o partido vencedor fora criado com úteis propósitos, visan-do o fim da politicagem e da corrup-ção que, pouca ou até muita, sem-pre existiram. Todos esperavam uma nova era, pois o governo que se findava, ex-ecutou uma admirável política de transição entre a eleição e a posse, colocando com clareza tudo o que existia nos diversos setores. Uma nova era que, com alternância de poderes, caracterizava a real de-mocracia. O presidente inicialmente fez bem a sua parte que foi seguir fielmente os princípios recebidos da admin-istração anterior e, auxiliado pelo desenvolvimento extraordinário da economia mundial – que não acon-tecia desde os anos 70 – tinha tudo para fazer uma ótima administração marcando época. Mas algo aconteceu de ruim. Os princípios declarados do partido não

Artigo

Plínio Zabeu

foram seguidos e a corrupção, que a maioria acreditava que teria fim, na realidade foi estimulada, foi ali-mentada com a facilidade de apro-priação de dinheiro público e foi cri-ada a atuação hoje conhecida como mensalão. Foi graças à denúncia de um dos envolvidos (deputado depois cassado) mais a imprensa livre, que o povo tomou conhecimento de tudo. O presidente perdeu uma óti-ma oportunidade de se firmar como extraordinário comandante e, pelo contrário, colaborou e até participou (como hoje sabemos claramente) da atividade corrupta. Usou toda sua autoridade e prestígio popular para encobrir tudo e declarando que se tratava de uma atividade bastante comum, também conhecida como Caixa 2 (atividade criminosa como bem definiu uma ministra do STF).

Muito dinheiro correu nas altas es-feras. Apoios foram comercializa-dos para fortalecimento do partido principal e aliados. A partir de 2006 tudo já era sabido. E por que nada foi feito para combater o crime? A culpa de tudo cabe exatamente à oposição, que simplesmente se calou diante do horrendo espetácu-lo. Não se sebe realmente o motivo. Parece que também no PSDB houve algo parecido para favorecer um político mineiro. Mas existiram também os compo-nentes da parte boa. Autoridades e imprensa não se calaram. O men-salão foi duramente criticado até que algo finalmente foi feito. De-morou muito sim, mas agora, 6 anos depois, estamos assistindo a um julgamento sério, ou “quase sério” já que entre os ministros do STF ex-

istem dois intimamente ligados ao partido comandante. Mas o que se nota é o progresso da seriedade, mesmo levando em conta o comen-tário de Lula sobre o julgamento: “A condenação dos réus Dirceu, Genoi-no e Delúbio não passa de hipoc-risia”. Imaginem se um ex presi-dente poderia assim classificar uma decisão da mais alta corte judicial do país? No Brasil isso pode até ac-ontecer. Mas não deixa de ser uma grave ofensa aos ministros da mais alta corte. O caso caminha para a reta final. Falam em recursos internacionais como se isso fosse possível e viável. O que o brasileiro decente espera é a condenação dos corruptos para que se inicie uma nova fase na política brasileira. Obrigado, sen-hores ministros.

JUSTIÇAEM EVIDÊNCIA

O presidente perdeu uma ótima oportunidade de se firmar como extraordinário comandante e, pelo contrário, colaborou e até participou (como hoje sabemos claramente) da atividade corrupta

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MENSALÃO

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JUSTIÇA

Agora que os mensaleiros estão no fundo do poço, não cessam de ergu-er-se vozes indignadas de petistas, comunistas e socialistas fiéis que os condenam como oportunistas e traidores. Mas por que deveria al-gum líder ou militante ser atirado à execração pública pela simples razão de ter cumprido à risca a sua obrigação de revolucionário?Não é certo que a estratégia marxis-

Olavo de CarvalhoPublicado no site Mídia sem Máscara (midiasemmascara.org)

Artigo

DEPOIS DOta-leninista ordena e determina não só atacar o Estado burguês desde fora, mas corrompê-lo desde dentro sempre que possível para em segui-da acusá-lo de depravado e ladrão e substituí-lo pelo Partido-Estado?Não é notório que, na concepção mais ampla e sutil de Antonio Gram-sci, inspirador e guia da nossa es-querda há meio século, a corrupção do Estado não basta, sendo preciso estendê-la a toda a sociedade, que-brantar e embaralhar todos os crité-rios morais e jurídicos para que, na

confusão geral, só reste como últi-mo símbolo de autoridade a vontade de ferro da vanguarda partidária?Não é óbvio e patente que, se na per-spectiva gramsciana o Partido é “o novo Príncipe”, ele tem a obrigação estrita de seguir os ensinamentos de Maquiavel, usando da mentira, da trapaça, da extorsão, do roubo e do homicídio na medida necessária para concentrar em si todo o poder, derrubando pelo caminho leis, insti-tuições e valores? Na perspectiva marxista, nenhum

dos artífices do Mensalão fez nada de errado, exceto o crime hedion-do de deixar-se descobrir no final, pondo em risco o que há de mais in-tocável e sagrado: a boa imagem do Partido e da esquerda em geral.Para não perceber uma coisa tão evidente, é preciso desviar os olhos para os aspectos mais periféricos e folclóricos do episódio, apagando da memória a essência, a natureza mesma do crime cometido.Que foi, afinal, o Mensalão? Uma gigantesca operação de compra de

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08consciências. E para que as con-sciências foram compradas? Para enriquecer os srs. José Dirceu, Genoíno, Valério e mais alguns out-ros? De maneira alguma. Foram compradas para neutralizar o Legis-lativo e concentrar todo o poder nas mãos do Executivo, portanto do Par-tido dominante. Que pode haver de mais leal, de mais coerente com a tradição marxista?Toda a geração que, cinquentona ou sessentona, chegou ao poder nas úl-timas décadas foi educada num sis-tema moral onde as culpas pessoais são insubstantivas em si mesmas, dependendo tão somente da cor política e transmutando-se em vir-tudes tão logo tragam vantagem ao “lado certo” do espectro ideológico.Bem ao contrário: segundo o que essa gente aprendeu desde os tem-pos da universidade, qualquer con-cessão à “moral burguesa”, se não é útil como jogo de cena provisório, é delito maior que a consciência rev-olucionária não pode tolerar. Nessa ótica, que pode haver de mau ou condenável em juntar dinheiro por

meios ilícitos para comprar con-sciências burguesas e forçá-las a trabalhar, volens nolens , para o Par-tido Príncipe?Uma vez que se abandonou a via da revolução armada – não por reverên-cia ante a vida humana, mas por mera oportunidade estratégica –, que outro meio existe de instaurar a “autoridade onipresente e invisível” senão a corrupção sistemática dos adversários e concorrentes?Não faltará quem, movido pela incapacidade geral brasileira de conceber que um político, ao meter-se em tal embrulho, o faça movido por ambições muito mais vastas que o mero desejo de din-heiro, levante aqui a objeção: mas os mensaleiros não ficaram ricos?Ficaram, é claro, mas desejari-am vocês que eles depositassem todo o dinheiro sujo na conta do Partido, atraindo suspeitas sobre a própria organização em vez de protegê-la sob suas contas pes-soais como bons agentes e testas de ferro? Ou desejariam que, de posse de imensas quantias, con-

tinuassem levando existências modestas, dando a entender que eram apenas paus mandados em vez de expor-se como vigaristas autônomos e bandidos comuns sem cor política, que é como agora são vistos por uma opinião públi-ca supremamente inculta, sonsa e – novamente – ludibriada?Pois induzir o povo a vê-los ex-atamente assim, salvaguardando a boa reputação do esquema de poder partidário que os criou e ao qual serviram, é precisamente o objetivo de toda essa corja de moralistas improvisados que ag-ora os cobre de impropérios em nome da pureza e idoneidade da esquerda.Os mensaleiros não são, é claro, bodes expiatórios inocentes. São culpados parciais incumbidos de pagar sozinhos pela culpa geral de uma organização que há trinta anos vem usando do discurso mor-al, com notável eficiência, como disfarce e instrumento do crime.Os que agora tentam se limpar ne-les são ainda piores que eles. Pois o

que fazem é tentar levar o povo a es-quecer que os mensaleiros de hoje são os moralistas de ontem, os mes-mos que, nas CPIs dos anos 90, bril-haram como paladinos da lei e da ordem, enquanto já iam preparan-do, sob esse manto cor de rosa, o esquema de poder monopolístico do qual o Mensalão viria ser nada mais que instrumento. E para que fariam isso, se não fosse para aplanar o ter-reno para novos e maiores crimes?Se os indignados porta-vozes do an-timensalismo esquerdista tivessem um pingo de sinceridade, teriam se insurgido, anos atrás, contra o acobertamento petista das FARC, organização terrorista e assassina, perto de cujos crimes o Mensalão se reduz às proporções de um roubo de picolés num carrinho da Kibon.Como não o fizeram, a narcoguer-rilha colombiana cresceu até tor-nar-se, sob a proteção do Foro de São Paulo, a maior distribuidora de drogas no mundo, prestes a receber do sr. Juan Manuel Santos, sabe-se lá em troca de que, as chaves do poder político.

Não é notório que, na concepção mais ampla e sutil de Antonio Gramsci, in-spirador e guia da nossa esquerda há meio século, a corrupção do Estado não basta, sendo preciso estendê-la a toda a sociedade, quebrantar e embaralhar todos os critérios morais e jurídicos para que, na confusão geral, só reste como último símbolo de autoridade a vontade de ferro da vanguarda partidária?

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09Artigo

CENSURAOutro dia, o romancista baiano João Ubaldo Ribeiro escreveu no jornal O Globo: “Toda ditadura, sem exceção, tem como prioridade básica o controle da imprensa, a vigilância rigorosa so-bre os fatos e opiniões que podem ser conhecidos pelo público”.Ubaldo esqueceu os governos democráticos. Também eles têm como prioridade básica o controle da impren-sa, a vigilância rigorosa sobre os fatos e opiniões que podem ser conhecidos pelo público.Existe uma diferença vital aí: se necessário, as ditaduras usam a força bruta para subjugar a imprensa. Os governos democráticos se valem de meios não violentos. Ou dissimulada-mente não violentos. Mais eficazes na maioria das vezes porque não costu-mam deixar marcas visíveis.A Sociedade Interamericana de Imp-rensa (SIP) realizou em São Paulo mais uma de suas assembleias anuais.Uma pesquisa da SIP aplicada junto a diretores de veículos de comunicação da América Latina concluiu que quase dois terços deles consideram governos e grupos políticos as maiores fontes de ameaça à liberdade de imprensa.Um terço dos pesquisados afirma que os governos atuam para controlar os meios de comunicação, e um terço reclama de iniciativas que limitaram a liberdade de expressão nos últimos cinco anos.Dois exemplos desse tipo de iniciativa castradora: leis de controle de conteú-do. Isso ainda não temos no Brasil. E a manipulação da publicidade oficial ─ isso já temos, e em escala avançada.Liberdade de imprensa não é o direito que têm jornalistas e donos de veícu-los de comunicação de divulgarem o

Ricardo NoblatPublicado no Blog do Noblat

A NOVA

que quiser. Não é não.Liberdade de imprensa é o direito que você, eu, todos nós temos de saber o que está acontecendo.Sem saber, como tomar decisões que afetarão profundamente a nossa vida e a vida alheia? Ou mesmo decisões banais, mas capazes de nos infringir prejuízos?A Velha Censura é facilmente identi-ficável. O governo diz o que não pode ser publicado. Os veículos de comuni-cação não publicam.A Nova Censura é mais sofisticada. Um dos seus mecanismos mais poderosos é a formação de grandes conglomera-dos de mídia controlados por empre-sas que nada têm a ver com jornalis-mo. O jornalismo independente perde com isso. Outros mecanismos da Nova Censura:

*a aprovação pelos parlamentos na-cionais de leis destinadas a domesti-car o jornalismo;

*a determinação de governos em fa-vorecer veículos de comunicação que lhes fazem as vontades em detrimento de outros que se comportam de modo independente;

*a concessão pelos governos de ca-

nais de rádio e de televisão a grupos políticos (o Brasil é um dos piores ex-emplos disso);

*a indústria das assessorias de im-prensa (elas não servem ao jornal-ismo que se pretende livre e honesto. Servem de preferência a empresas e pessoas dispostas a manipularem in-formações para sair bem na foto);

*o emprego nos governos e em empre-sas estatais de um número gigantesco de jornalistas. Hoje, tem mais jornal-ista nas redações oficiais do que fora delas.

A Nova Censura se alimenta de con-dições que lhe são favoráveis. No caso do Brasil, por exemplo: a situ-ação falimentar ou pré-falimentar de muitas empresas de comuni-cação. Por serem frágeis, se sub-metem mais facilmente.

Como pode haver independência editorial onde não há independên-cia financeira?

Lembram-se do número de jornais que publicaram de graça uma col-una semanal onde Lula respondia a perguntas de leitores? Mais de

130. Propaganda pura de Lula e do governo. Que não inventaram a fór-mula.

A redução dos investimentos em jornalismo de qualidade torna as empresas de comunicação depend-entes de notícias que lhe são ofer-ecidas a custo zero.

E quem as oferece? Governos e grandes grupos políticos e econômi-cos.

Em setembro de 1994, ao se pre-parar para conceder uma entrevis-ta à TV Globo, em Brasília, Rubens Ricúpero, ministro da Fazenda do governo do presidente Itamar Fran-co, não se deu conta de que havia no estúdio um microfone aberto.

Imaginou que não estava sendo es-cutado quando disse, irônico mas verdadeiro:

- O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde.

É assim que procedem todos os gover-nos, democráticos ou não. A frase de Ricúpero cai bem como lema da Nova Censura.

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IGNORÂNCIAO que é conservadorismo? Tratar o pensamento político conservador (“liberal-conservative”) como boçali-dade da classe média é filosofia de gente que tem medo de debater id-eias e gosta de séquitos babões, e não de alunos.Proponho a leitura de “Conservative Reader” (uma antologia excelente de textos clássicos), organizada pelo filósofo Russel Kirk. Segundo Kirk, o termo começou a ser usado na França pós-revolucionária.Edmund Burke, autor de “Reflexões sobre a Revolução na França” (ed. UnB, esgotado), no século 18, pai da tradição conservadora, nunca usou o termo. Tampouco outros três pensadores, também ancestrais da tradição, os escoceses David Hume e Adam Smith, ambos do século 18, e o francês Alexis de Tocqueville, do século 19.Sobre este, vale elogiar o lançamento pela Record de sua biografia, “Alexis de Tocqueville: O Profeta da Democra-cia”, de Hugh Brogan.Ainda que correta a relação com a Revolução Francesa, a tradição “lib-eral-conservative” não é apenas rea-tiva. Adam Smith, autor do colossal “Riqueza das Nações”, fundou a ideia de “free market society”, central na posição “liberal-conservative”. Não ex-iste liberdade individual e política sem liberdade de mercado na experiência histórica material.A historiadora conservadora Gertrude Himmelfarb, no seu essencial “Os Caminhos para a Modernidade” (ed. É Realizações), dá outra descrição para a gênese da oposição “conservador x progressista” na modernidade.Enquanto os britânicos se preocu-pavam em pensar uma “sociologia das virtudes” e os americanos, uma “política da liberdade”, inaugurando a moderna ciência política de fato,

Luiz Felipe PondePublicado na Folha de S.Paulo

Contra os comissáros da

os franceses deliravam com uma razão descolada da realidade e que pretendia “refazer” o mundo como ela achava que devia ser e, com isso, fundaram a falsa ciência política, a da esquerda. Segundo Himmelfarb, uma “ideologia da razão”.O pensamento conservador se carac-teriza pela dúvida cética com relação às engenharias político-sociais herd-eiras de Jean-Jacques Rousseau (a “ideologia da razão”).Marx nada mais é do que o rebento mais famoso desta herança que cos-tuma “amar a humanidade, mas dete-star seu semelhante” (Burke).O resultado prático desse “amor abstrato” é a maior engenharia de morte que o mundo conheceu: as rev-oluções marxistas que ainda são le-vadas a sério por nossos comissários da ignorância que discutem conser-vadorismo na cozinha de suas casas para sua própria torcida.

Outro traço desta tradição é criar “teo-rias de gabinete” (Burke), que se cara-cterizam pelo seguinte: nos termos de David Hume (“Investigações sobre o Entendimento Humano e sobre os Princípios da Moral”, ed. Unesp), o racionalismo político é idêntico ao fanatismo calvinista, e nesta posição a razão política delira se fingindo de redentora do mundo. Mundo este que na realidade abomina na sua forma concreta.A dúvida conservadora é filha da mais pura tradição empirista britânica, ao passo que os comissários da ignorân-cia são filhos dos delírios de Rous-seau e de seus fanáticos.No século 20, proponho a leitura de I. Berlin e M. Oakeshott. No primeiro, “Estudos sobre a Humanidade” (Com-panhia das Letras), a liberdade nega-tiva, gerada a partir do movimento autônomo das pessoas, é a única ver-dadeira. A outra, a liberdade positiva

(abstrata), decretada por tecnocratas do governo, só destrói a liberdade concreta.Em Oakeshott, “Rationalism in Poli-tics” (racionalismo na política), os conceitos de Hume de hábito e afeto voltam à tona como matrizes de políti-ca e moral, contra delírios violentos dos fanáticos da razão.No 21, Thomas Sowell (contra os que dizem que conservadores america-nos são sempre brancos babões), “Os Intelectuais e a Sociedade” (É Reali-zações), uma brilhante descrição do que são os comissários da ignorância operando na vida intelectual pública.Conservador não é gente que quer que pobre se ferre, é gente que acha que pobre só para de se ferrar quan-do vive numa sociedade de mercado que gera emprego. Não existe partido “liberal-conservative” no Brasil, só esquerda fanática e corruptos de es-querda e de direita.

Ainda que correta a relação com a Revolução Francesa, a tradição “liberal-conservative” não é apenas reativa. Adam Smith, autor do colossal “Riqueza das Nações”, fundou a ideia de “free market society”, central na posição “liberal-conservative”. Não existe liberdade individual e política sem liberdade de mercado na experiência histórica material

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Contra os comissáros daArtigo

UNESCOColeção Carlos Gomes do Museu Imperial ganha prêmio da

Museu Imperial

O Museu Imperial recebeu, pela se-gunda vez, o Registro Nacional do Programa Memória do Mundo, da Or-ganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O prêmio foi concedido à Coleção Carlos Gomes do Museu Im-perial, que reúne acervo documental e bibliográfico relacionado ao com-positor e maestro.Em 2010, o Museu recebeu a titu-lação para o “Conjunto documental relativo às viagens de d. Pedro II pelo Brasil e pelo mundo”, com documen-tos do Arquivo Histórico, e, agora, con-quista seu segundo prêmio, dessa vez com acervos tanto do Arquivo quanto da Biblioteca.A Coleção Carlos Gomes do Museu Imperial reúne 285 itens, incluindo fotografias, documentos textuais, gra-vuras, desenhos, livros, periódicos, folhetos e uma partitura. Entre as rari-dades, está um álbum de recordações que possui mensagens de grandes nomes da época dedicadas a Carlos Gomes, como um desenho de Pedro Américo, um desenho e uma poesia de Victor Meirelles e uma dedicatória de Manuel Araujo Porto Alegre.Também merecem destaque os cenários da ópera Il Guarany, em aquarelas de Carlo Ferrario, cenógra-fo do Teatro alla Scala de Milão, Itália, e a partitura manuscrita de um hino composto para o primeiro centenário da Independência norte-americana, encomendado pelo imperador d. Pe-dro II e por ele oferecido ao presidente Ulysses Grant na Exposição Universal da Filadélfia, em 1876.O acervo foi doado ao Museu Impe-rial em duas partes, em 1946 e 1950, por Ítala Gomes, filha do maestro. Além dos documentos que compõem o conjunto que concorre à titulação da Unesco, a doação contemplou out-

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12com a abrangência da importância da documentação. Todos os regis-tros são equivalentes, para docu-mentos, ao título de Patrimônio da Humanidade, que é concedido pela Unesco a patrimônios arquitetônic-os.O Museu Imperial foi agraciado com o Registro Nacional em 2010, con-cedido ao conjunto que reúne docu-mentos sobre as viagens de d. Pedro II, como diários, correspondências e notícias de jornais. Em 2012, o mesmo conjunto documental con-corre ao Registro Internacional, pois a relevância dessa documentação excede a história do Brasil e torna-se importante para estudos sobre o con-texto mundial da época..

ros itens, como um piano de Carlos Gomes. Contudo, devido à restrição do prêmio, que se refere apenas a documentos, os objetos não foram in-seridos na candidatura.Programa Memória do Mundo O Programa Memória do Mundo foi cri-ado pela Unesco, em 1992, devido à consciência crescente do lamentável estado de conservação do patrimônio documental e do deficiente acesso em diferentes partes do mundo. O objetivo é dar maior visibilidade a esses documentos e despertar a consciência coletiva sobre a im-portância de sua preservação.O programa é composto por três reg-istros – nacional, regional e inter-nacional –, concedidos de acordo

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13Memória

A CONSTITUIÇÃOE OS PARTIDOSOctaciano NogueiraPublicado no livro “ConstituiçõesBrasileiras”

Durante o Império, nunca chegamos a ter o que hoje poderíamos chamar de um sistema partidário. Na verdade, a Constituição de 1824, ao se omitir em relação aos partidos políticos, que na forma como hoje são concebidos con-stituem uma realidade do fim do Séc. XIX, terminou implantando o regime daliberdade de organização partidá-ria. Os partidos políticos do Império, pelo menos até 1868, quando os liberais organizam a “Liga Progres-sista” e o “Centro Liberal”,ou talvez 1870, quando os republicanos lan-çam o Manifesto de Itu e fundam o Partido Republicano, não eram insti-tuições, não tinham estatutos nem se revestiam de qualquer forma de organização jurídica. Eram, na ver-dade, vontades concorrentes, uma simples convergência de interesses e afinidades – ou ideológicas e de convicções, ou mesmo de simples interesses, acima das convicções. Não parece justa, portanto, como ver-emos, a sentença terrível de Oliveira Viana que em sua obra A queda do Im-pério diz serem eles apenas “simples agregados de clãs organizados para a exploração em comum das vantagens do poder”.Como lembra Oliveira Lima, e como confirma Américo Brasiliense em seu Os programas dos partidos e o Seg-undo Império, os partidos brasileirosdatam da Regência: o Liberal nascido em torno das idéias reformistas propi-ciadas pela Revolução de Sete de Abril, e o Conservador surgido da reação a esse sentimento exaltado, com a es-trondosa passagem do mais famoso líder do liberalismo do primeiro Impé-rio para as fileiras do conservadoris-mo: Bernardo Pereira de Vasconcelos, com o seu movimento “regressista”. Uma síntese muito expressiva de Ol-

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14iveira Lima mostra como e em torno de que interesses se agrupava a elite política dessa época:

“( ... ) o soberano fazia as vezes de eixo do Estado. O pessoal político gi-rava em redor dele, atraídos uns pelo seu magnetismo, afastados outros pelo seu caráter desigual, sem se agruparem em bandos disciplinados. A tendência comum era democrática, portanto antiautocrática, mas simpa-tias e antipatias visavam diretamente o monarca e os princípios mais se regulavam pelos sentimentos assim manifestados.”

É claro que o Sete de Abril, a abdi-cação do monarca e a instalação da Regência modificariam sensivelmente esse panorama. O triunfo das idéias liberais, o fim do absolutismo volun-tarioso de D. Pedro I e o recuo amed-rontado de seus áulicos, fizeram sur-gir um nítido movimento de idéias em torno de reformas políticas e institu-cionais que se tornaram inevitáveis. A partir daí, é ainda Oliveira Lima quem diz:

“Predominaram idéias e paixões: os republicanos uniram-se quase to-dos aos avançados que foram mais tarde os liberais, certo número per-manecendo fiel ao federalismo; os constitucionais fundiram-se com os moderados e rodearam a bandeira conservadora, quando as aspirações dos radicais foram parcialmente satis-feitas pelo Ato Adicional, um momen-to de transação e conciliação entre as elites, para evitar o que ameaçava se transformar em insurreição per-manente. Como disse Evaristo na Câ-mara, foi preciso ‘fazer parar o carro da revolução’.”

O que significava o liberalismo, en-tão? Segundo Oliveira Lima, de quem nos valemos para traçar esse quadro, o sentimento liberal predominante “abrangida a Monarquia federativa; a abolição do Poder Moderador; a eleição bienal da Câmara; o Senado eletivo e temporário; a supressão do Conselho de Estado; Assembléias Legislativas provinciais com duas Câmaras; intendentes municipais de-sempenhando nas comunas o papel dos Presidentes nas Províncias”.O Ato Adicional no entanto, como momento de transação entre os dois extremos, um que desejava tudo

modificar, e o outro que nada admitia mudar, terminou apenas abrandando o rigorismo centralista e instituindo Assembléias Legislativas Provinciais, em lugar dos Conselhos Gerais de Província, que na verdade eram sim-ples órgãos consultivos, sem poderes. As demais aspirações liberais termi-naram, na verdade, umas adiadas e nunca realizadas; outras colocadas em ação pela força dos costumes, mas sem se mexer na Constituição, e outras momentaneamente apenas re-alizadas. Enquanto os liberais exalta-dos achavam que nada se tinha con-seguido, os conservadores radicais acreditavam que se tinha ido longe demais...

Liberais e ConservadoresNa verdade, porém, se o Ato Adicional

não atendeu às aspirações dos libe-rais exaltados, e extrapolou de muito o que concediam os conservadores radicais, foi em torno desse confronto que se criou o sistema partidário do Império. Em 1837, com a renúncia de Feijó e a eleição de Pedro de Araújo Lima, funda-se de fato o Partido Conservador, no momento em que Bernardo Pereira de Vasconcelos, a maior figura do liberalismo exaltado, ao tempo de D. Pedro I, passa com enorme estrondo e seu antológico discurso para a reação conservadora. Esse predomínio conservador, no en-tanto, dura pouco, pois sucumbe ao golpe parlamentar da maioridade, quando os liberais, à margem da Con-stituição, conseguem elevar ao trono o seu herdeiro, então com 14 anos de idade, quatro antes dos dezoito

previstos na Carta de 1824. As revol-tas liberais de Minas e São Paulo, em 1842, e a Praieira, em Pernambuco, em 1848, determinam um longo os-tracismo para o partido que em 1840 fez a maioridade. É a fase do longo predomínio conservador que, no poder, recria por lei o Conselho de Es-tado, banido da Constituição pelo AtoAdicional, faz votar a lei interpretativa do Ato Adicional, travando as conquis-tas liberais e muda o Código de Pro-cesso Penal para reforçar o poder de autoridade.Os vinte anos que se seguem, entre 1848 e 1868, com o pequeno inter-valo da “Conciliação” do Marquês de Paraná, marcam um novo confronto de idéias e posições entre as con-cepções dos liberais e a dos conser-vadores. Nesse jogo de posições,

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15em que coube aos liberais pregar as reformas e aos conservadores efetivá-las, quando no governo, se esgota a política partidária.

“Os liberais admitiam o direito de resistência armada, toda vez que o Governo cometesse arbitrariedades e ofendesse as leis e a Constituição do Império; os conservadores repudi-avam como ilegal qualquer revolução, visto que era livre toda propaganda doutrinária, e que a imprensa, as ur-nas e os Tribunais ofereciam meios suficientes de reparar os abusos das autoridades e emendar os atos con-trários ao interesse público. Os libe-rais permaneciam aditos ao princípio da descentralização administrativa, queriam reduzir ao mínimo a ação da polícia e pregavam a eleição popular dos magistrados, agentes judiciais que deviam ser de livre escolha da Nação e não instrumentos do poder; os conservadores julgavam a centrali-zação política indispensável à integri-dade do Império, e a independência e inamovibilidade do Poder Judiciário, arredado dos favores do sufrágio, necessárias à dignidade de sua mis-são protetora dos direitos dos ci-dadãos e organizadora da resistência legal.”

Era em torno de questões assim concebidas, segundo o testemunho de Oliveira Lima, que o Partido Lib-eral se opunha ao Conservador e que este resistia às investidas daquele. O Marquês de Paraná morre em 1856, como Presidente do Conselho, mas a “Conciliação” que ele moldou con-tinuou lentamente a produzir frutos. Abrandam-se os radicalismos dos dois partidos existentes e é na cris-ta de uma onda arrebatadora que ressurge, renascido e renovado, o novo liberalismo, representado pela eleição irrefutável pelo município da Corte da grande tríade liberal: Teófilo Otoni, Francisco Otaviano e Saldanha Marinho. Oito anos depois, quando da queda imotivada do Gabinete Zacari-as, por causa do incidente com Caxi-as, a Liga Progressista e depois o Cen-tro Liberal são apenas expressões que antecipam o que viria dois anos mais tarde: a fundação do Partido Republi-cano, em 1870. O programa liberal de 1868, redigido por Nabuco, lembra os liberais exaltados de 1831: ele prega a descentralização política e adminis-trativa, defende a abolição do Poder

Moderador e advoga um Senado ele-tivo e vitalício. Quer que a escolha dos Presidentes seja feita pelos elei-tores de cada Província, antecipando a Federação, preconiza a liberdade do ensino e postula uma polícia eleita pelos cidadãos. Defende o fim da Guarda Nacional e dos alistamentos compulsórios, propõe o votodireto e a sujeição dos Magistrados apenas ao julgamento dos Tribunaissuperiores, tornando-os imunes à ação do Executivo. Vinte anos depois,quando a República tornou-se in-evitável, todas as propostas liberais, com exceção talvez da Federação, que seria fatalmente concedida, não fora o golpe militar, estavam atendi-das. Até mesmo a questão crucial da escravidão que os liberais, de início, tão timidamente enfrentaram. O que

foram, no entanto, os partidos, sob a Constituição do Império, em seus 65 anos de duração?

Partidos, todos de ocasiãoOliveira Lima, invocando o teste-munho de Nabuco, diz que ele, que era “sobretudo um legista e profes-sava em matéria política um ceti-cismo de bom quilate, não descobria mesmo lugar no Brasil para partidos profundos”. Nabuco baseava-se no fato de que “nada dividia essencial-mente a sociedade brasileira, tão homogênea, onde o feudalismo não deixava vestígios e se achavam com-pletamente fora de lugar as quime-ras políticas e os programas abstra-tos”. Para ele, “os partidos, como os Ministérios, duravam ou deviam durar o tempo que duravam as idé-

ias que os legitimavam. Os partidos seriam, portanto, todos de ocasião, liberais ou conservadores, de acordo com as circunstâncias e os interess-es, não de acordo com princípios de doutrina ou escola, ou com tradições históricas. A ausência de privilégios condenava os partidos a defenderem somente princípios de atualidade, idéias ondeantes, as quais não po-diam sobreviver”.Se isto foi um bem ou um mal, só a crítica histórica poderá dizer.Mas, quem olha o panorama par-tidário da vida política contemporâneado Brasil, fatalmente há de concordar que, deixando a questão partidá-ria ao livre jogo dos arbítrios dos ho-mens, a Constituição de 1824 nadamais fez do que atender a irremovível pressão da realidade brasileira.

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No dia 15 de outubro de 1864 aconteceu o casamento da Princesa Dona Isabel com o Conde d´Eu, filho do Duque de Nemours, da França. O cortejo saiu da Quinta da Boa Vista cerca de 9 horas e seguiu, sob aplausos do povo, até o Lar-go do Paço (atual Praça XV), onde aguardavam a Guarda Nacional e um Batalhão de Fuzileiros, em trajes de gala. As salas do Paço estavam cheias de gente. A Princesa trajava um vestido de filó branco com renda de Bruxelas e uma grinalda de flores de laranjeira. O noivo, em farda de Mare-chal, trazia a grã-cruz do Cruzeiro, a comenda da Ordem Militar de Espanha, a comenda da Ordem da Casa de Saxe e a medalha da Campanha do Marrocos.