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PRÁTICAS JUVENIS CONTEMPORÂNEAS: REPERTÓRIOS PARA A EDUCAÇÃO Angélica Silvana Pereira Universidade Federal de Santa Catarina Elisabete Maria Garbin Universidade Federal do Rio Grande do Sul No meu tempo não era assim No meu tempo não era assim... Uma expressão um tanto saudosista, que demonstra o que nos parece incontestável: nossos modos de vida têm sido drasticamente alterados e junto com eles, o processo de construção de nós mesmos. A expressão, bastante utilizada pelos mais velhos, também nos remete a algumas dificuldades geracionais, as quais parecem estar implicadas com os vertiginosos avanços das tecnologias da informação e da comunicação e com a assimilação dos mesmos na vida cotidiana, especialmente pelos jovens. Por meio delas, se ampliam as possibilidades interação e se potencializam a circulação de referências, narrativas e representações de identidades em nível planetário. Surgemnovas possibilidades de ser/estar no mundo. Multiplicam-se ao infinito os arranjos identitários, cada vez mais associadas à visibilidade. Os jovens que hoje conhecemos são nativos deste momento em que somos ampla e profundamente afetados por mudanças na economia, na política, na cultura, nas maneiras de produção e circulação de informações e de conhecimento, nas concepções de espaço, de tempo e nas formas de vivê-los. Autores têm defendido que vivemos um momento de conformações juvenis múltiplas e escorregadias. São “juventudes líquidas” (SCHMIDT, 2006, p. 48) e polimorfas, porque elas dissolvem modelos tidos como imutáveis, abrindo brechas para muitas outras configurações. Nesta comunicação buscamos apresentar algumas destas configurações que nos formam possíveis conhecer através de nossas pesquisas que se debruçaram sobre práticas juvenis em espaços públicos de Porto Alegre e na internet. 1 Os estudos estão situados na área 1 Referimo-nos as pesquisa de Pereira (2006; 2011) e de Garbin (2001; 2006), vide referências.

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PRÁTICAS JUVENIS CONTEMPORÂNEAS: REPERTÓRIOS PARA A EDUCAÇÃO

Angélica Silvana Pereira

Universidade Federal de Santa Catarina

Elisabete Maria Garbin

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

No meu tempo não era assim

No meu tempo não era assim... Uma expressão um tanto saudosista, que demonstra o que

nos parece incontestável: nossos modos de vida têm sido drasticamente alterados e junto com eles,

o processo de construção de nós mesmos. A expressão, bastante utilizada pelos mais velhos,

também nos remete a algumas dificuldades geracionais, as quais parecem estar implicadas com os

vertiginosos avanços das tecnologias da informação e da comunicação e com a assimilação

dos mesmos na vida cotidiana, especialmente pelos jovens. Por meio delas, se ampliam as

possibilidades interação e se potencializam a circulação de referências, narrativas e

representações de identidades em nível planetário. ‘Surgem’ novas possibilidades de ser/estar

no mundo. Multiplicam-se ao infinito os arranjos identitários, cada vez mais associadas à

visibilidade.

Os jovens que hoje conhecemos são nativos deste momento em que somos ampla e

profundamente afetados por mudanças na economia, na política, na cultura, nas maneiras de

produção e circulação de informações e de conhecimento, nas concepções de espaço, de

tempo e nas formas de vivê-los. Autores têm defendido que vivemos um momento de

conformações juvenis múltiplas e escorregadias. São “juventudes líquidas” (SCHMIDT,

2006, p. 48) e polimorfas, porque elas dissolvem modelos tidos como imutáveis, abrindo

brechas para muitas outras configurações.

Nesta comunicação buscamos apresentar algumas destas configurações que nos

formam possíveis conhecer através de nossas pesquisas que se debruçaram sobre práticas

juvenis em espaços públicos de Porto Alegre e na internet.1 Os estudos estão situados na área

1 Referimo-nos as pesquisa de Pereira (2006; 2011) e de Garbin (2001; 2006), vide referências.

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da educação e apresentam uma fundamentação teórica com filiação conceitual nos Estudos

Culturais e nos estudos sobre juventudes, com o objetivo de conhecer e analisar processos de

subjetivação dos sujeitos jovens.

Importante enfatizar a nossa compreensão de que os processos educativos ultrapassam

os limites institucionais formais e se desenrolam cotidianamente em todos os espaços. Tal

assertiva nos parece de extrema importância para o reconhecimento de que as formas de

sociabilidade juvenis, seus pertencimentos, as trocas e o convívio entre pares configuram-se

em espaços educativos, onde podem efetivamente aprender uns com os outros através dos

seus fazeres individuais e coletivos e dos significados a eles atribuídos, produzindo-se no

interior destas relações.

Desse modo, o texto que aqui apresentamos foi escrito em formato de ensaio e versa

sobre práticas juvenis que se desenrolam no movediço terreno sociocultural contemporâneo.

Busca-se colocar em relevo compreensões múltiplas sobre estes jovens que através de suas

práticas desafiam a solidez de instituições como a escola, seus discursos, seus saberes e

fazeres, apresentando novas demandas e impondo a necessidade de outros repertórios

didáticos e pedagógicos.

Um mundo aos estilhaços

Estudiosos, a exemplo de Geertz (2001), chamam a atenção para o processo de

esgarçamento generalizado do mundo, produzindo um mundo aos estilhaços. Segundo ele,

este estilhaçamento é proveniente de um esfacelamento das coesões maiores, como das

potências compactas e blocos antagônicos, das macro alianças, dos Estados nacionais,

desencadeando coesões menores ligadas entre si de forma incerta.

Bauman (2001) utiliza a metáfora da liquidez para mostrar que os abalos do projeto

moderno de sociedade que até então tinha a organização de instituições sólidas como

sustentáculo da vida social, tem transformado os modos de vida contemporâneos. Tudo o que

antes se pretendia sólido, hoje é provisório e temporário: as instituições, os saberes, as

relações, os sentimentos. O desapego e o processo de individualização dos sujeitos também

são características desses tempos em que instituições como família, escola, estado tem

passado um forte e crescente esgarçamento. As instituições são permanentemente

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modificadas, antes mesmo de ter tempo para se fortalecer e se solidificar, transformando-se

em líquidos, em fluidos que mudam de forma e se movem facilmente.

Assim, podemos pensar num mundo que, aos estilhaços, se globaliza, ampliando

possibilidades de trânsito entre mercadorias, objetos e pessoas, acelerando o desenvolvimento

tecnológico, potencializando a comunicação e, acima de tudo, alterando modos de vida. Uma

profusão de ‘novas’ identidades sociais e culturais se afirmam, alterando fronteiras,

transgredindo proibições e tabus, ao mesmo tempo em que são alimentadas diversas facetas

do preconceito. É um mundo de competitividade de toda ordem, de desregulamentação do

trabalho e de expansão do perímetro e do espaço da exclusão, da privação, da afirmação de

identidades otimizadoras do mercado (SILVA, 2006). Um mundo capaz de celebrar a

felicidade, de prolongar o tempo de vida através da ciência e das tecnologias, de enaltecer a

beleza e o prazer e também de produzir o descaso, a doença a solidão.

É nesse mesmo cenário que práticas juvenis diversas se constroem e são

compartilhadas em larga escala por este público. É nesse contexto também que inúmeras

demandas sociais se proliferam, trazendo à arena das discussões das politicas de Estado e de

governo ‘novas’ necessidades e urgências.

Sarlo (2000) destaca que as culturas juvenis contemporâneas têm se construído tendo

como marco uma instituição que está em crise, embora ela seja tradicionalmente consagrada

aos jovens. Trata-se da escola, “cujo prestígio se debilitou tanto pela queda das autoridades

tradicionais quanto pela conversão dos meios de massa no espaço de uma abundância

simbólica que a escola não oferece.” (SARLO, 2000, p. 39). Diante dessa crise, ou seja, dessa

conjuntura de incertezas, dúvidas e dificuldades, a autora afirma que as estratégias para

definir o permitido e o proibido também entraram em colapso. “A permanência, que era um

traço constitutivo da autoridade, foi rompida pelo fluir da novidade” (p. 39-40). No contexto

de supervalorização da novidade, “O mercado ganha relevo e corteja a juventude, depois de

instituí-la como protagonista da maioria dos seus mitos” (SARLO, 2000, p.40). Assim, os

jovens, consumidores efetivos ou imaginários, encontram no mercado de mercadorias e de

bens simbólicos, “um depósito de objetos e de discursos fast [rápidos]” preparados

especialmente para eles (SARLO, 2000, p.40).

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Entendemos, portanto, que é nesse contexto da modernidade líquida, onde coexiste o

enfraquecimento das instituições e o crescimento acelerado da cultura do consumo, que as

práticas juvenis se desenrolam. Segundo Featherstone (1995), “a expressão ‘cultura de

consumo’ significa enfatizar que o mundo das mercadorias e seus princípios de estruturação

são centrais para a compreensão da sociedade contemporânea” (FEATHERSTONE, 1995, p.

121). Conforme enfatiza Bauman e outros pensadores, o deslocamento na ênfase da sociedade

de produção para o a sociedade de consumo criou um ambiente propício à cultura de

consumo. Harvey (2007) afirma que a “transição para a acumulação flexível foi feita em

partes por meio da rápida implantação de novas formas organizacionais e de novas

tecnologias produtivas”, ocorrendo, desse modo, uma aceleração na produção (HARVEY,

2007, p. 257).

Tem-se, portanto, o consumo como um pano de fundo das práticas juvenis

contemporâneas. Na direção do que nos propomos neste texto, entendemos as práticas juvenis

como práticas de significação, pois ao mesmo tempo em que elas são constitutivas das

culturas, a própria cultura pode produzir sentidos e significá-las, conferindo-lhes um caráter

discursivo. Tomando o pensamento de Foucault (2005), podemos considerar que não há

prática fora do discurso. “É o discurso que constitui a prática” (VEIGA-NETO, 2005, p. 54).

Assim, as práticas juvenis referem-se aos fazeres individuais e coletivos dos jovens

pautadas na racionalidade de uma época e em seus discursos e são desenvolvidas com alguma

regularidade, nos dois sentidos da palavra: como algo que está em conformidade com uma

regra e como algo que acontece com relativa frequência e/ou pontualidade.

Ao longo de nossas pesquisas, pudemos conhecer algumas práticas juvenis nas redes

sociais e em espaços públicos da cidade as quais são espetacularizadas em encontros que

reúnem um número expressivo de jovens nos finais de semana. Identificamos, nos percursos

das pesquisas, que tais práticas têm suas singularidades locais, ao mesmo tempo em que se

tornaram numa espécie de ‘febre’, de ‘onda’ entre os jovens de muitos outros lugares do

mundo. É sobre elas que falaremos no texto que segue.

Investimentos corporais e performatividade na metrópole

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As práticas juvenis que conhecemos em espaços públicos de Porto Alegre colocaram-

nos em contato com estéticas, estilos, linguagens, performances, experimentações e outras

expressividades juvenis que são exibidas em espaços e tempos que parecem ser recortados,

colocados entre parênteses por esses atores sociais. São momentos específicos em que os

encontros entre muitos jovens em parques, shoppings, espaços turísticos e culturais roubam a

cena, impactam, alteram a paisagem metropolitana.

Segundo Margulis e Urresti (1998), nas cidades contemporâneas as juventudes são

múltiplas e se manifestam num panorama cultural sumamente variado e móvel, que abarca

seus comportamentos, referências identitárias, linguagens e formas de sociabilidade. Feixa

(1998) destaca que desde o período do pós-guerra, a emergência da juventude tem redefinido

mapas das cidades, de seus espaços e de seus tempos. Através de ações ou práticas coletivas,

jovens tem ressignificado espaços urbanos, transformando-os em seus territórios. Nessa

direção, vale ressaltar que desde as últimas décadas do século passado, as grandes cidades têm

tido pontos ou regiões totalmente ocupadas por jovens, em busca de diversão.

Não há dúvida: A metrópole e seus interstícios são cenários favoráveis para as mais

diferenciadas formas de produção e exibição de expressividades juvenis na

contemporaneidade. Jovens performatizam modos de existência por meio de consumos que

podem ser publicizados em e através de seus corpos que transitam e habitam temporariamente

espaços variados, muitos deles inusitados.

Neste sentido, Canevacci (2007) propõe pensar na metrópole como um organismo

vivo, que absorve como uma esponja o que lhe acontece, elaborando a sua própria linguagem.

Conforme o autor, esta linguagem é baseada em lugares, espaços, e principalmente em

interstícios. A linguagem dos interstícios é entrelaçada com as linguagens dos corpos,

favorecendo novos diálogos, baseados nas hibridações e nos sincretismos culturais, sobre

extrema mobilidade e fluidez. “Essa mobilidade, fluidez e hibridação é parte da experiência

cultural, corporal e também urbanística da metrópole contemporânea” (CANEVACCI, 2007,

p. 70).

Assim, os tempos e espaços juvenis têm como condição para a sua existência os corpos

destes jovens capazes de territorializar, formar circuitos, ocupar, transitar, lugarizar...

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diversos espaços da metrópole. Os corpos assumem, então, um papel central nessa

experimentação do ser/estar em distintos espaços, em determinados fragmentos de tempo.

Os corpos transformam-se num dos principais lugares de expressão de si e

transformam-se em espaços de comunicação pessoal. Garbin (2006) destaca que “os jovens

parecem utilizar seus corpos como um texto gerador, armazenador e transmissor de

informações culturais” (GARBIN, 2006, p. 209). É como se os corpos de muitos jovens

retratassem uma espécie de paisagem, um corpo panorâmico, flutuante nas brechas das

metrópoles. Os corpos são mutantes “como são os espaços ‘lugarizados’ [grifo da autora]

pelos jovens” (GARBIN, 2006, p. 210).

Ao mesmo tempo em que os corpos tornam-se a peça-chave para as práticas que

(re)significam espaços diversos, eles próprios convertem-se numa espaço-temporalidade em

inacabáveis processos de significação dos sujeitos. Eles são territórios de múltiplas e

cambiantes experimentações estéticas e afetivas que se misturam à paisagem agregando-lhe

outros significados e alterando seus sentidos. E assim, ao alterar os sentidos da paisagem,

num movimento concomitante e quase recíproco, os corpos também têm seus sentidos

transmutados.

Nas espaço-temporalidades da metrópole há lugar para muitos corpos, os quais têm

uma dimensão performativa que lhes confere visibilidade e reconhecimento perante os

demais. Ao contrário de muitos espaços institucionais cuja organização prevê “um lugar para

cada corpo”, ensinando cada corpo a ocupar o seu exato lugar – tanto no âmbito

material/concreto, quanto no âmbito do discurso –, nas performances juvenis os corpos

inquietos dos jovens circulam transitam, peregrinam, gesticulam, extrapolam, excedem...

Os fluxos comunicacionais que compõem a metrópole contemporânea fundam e

espargem novos tipos de culturas pluralizadas e fragmentadas, dilatando as fronteiras

definidas das identidades estáveis e acabadas. As identidades, assim como as subjetividades,

são móveis, plurais e polifônicas. O mesmo pode-se dizer das fronteiras: elas são móveis e

cambiantes e, por isso, borram-se, misturam-se dificultando a nomeação, a classificação e o

posicionamento das coisas e dos sujeitos em lugares fixos.

Na metrópole, as culturas e as expressividades juvenis multiplicam-se, dissolvendo

representações verdadeiras ou reais do mundo. Muitas outras representações tornam-se

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possíveis em seus muros, em suas ruas, em seus monumentos, em seus edifícios e também nos

corpos nômades dos jovens.

Segundo Pais (2008b), os grupos aos quais os jovens pertencem tem suas identidades

firmadas através de um estilo, isto é, de um conjunto de símbolos mais ou menos coerente de

elementos materiais ou imateriais. Assim, os estilos juvenis marcam presença pela diferença

das roupas, dos penteados, dos suspensórios, dos medalhões nos casacos de couro, dos

coturnos, das botas, do tênis all star, das faces maquiadas, etc. Através de algumas

apropriações simbólicas, os jovens transformam-se cada vez mais em imagens.

As composições corporais dos jovens são instrumentos de significação simbólica que

dão visibilidade e por vezes, denunciam arranjos sociais de discriminação de classe, étnica de

sexualidade e outras. O uso da cor preta nas vestimentas de muitos jovens de Se para alguns

jovens, usar preto não tem um significado que vai além do gosto pela cor, para outros, o preto

é um símbolo que tem o poder de estruturar a imaginação e proclamar ou emoldurar a

desordem, a rebeldia e também a transgressão (PAIS, 2008).

Sobre isto, Pais (2006) observa ainda que “A excentricidade no vestir, presente em

muitos estilos juvenis, corresponde também a um questionamento da validade de limites

convencionais” (PAIS, 2006, p. 16). O autor destaca que “os investimentos na imagem

corporal contribuem para a construção da identidade dos jovens, conferem-lhe uma expressão

simbólica de poder, uma vez que se diferenciam entre si através de atributos distintivos”, em

que é preciso ser/estar igual, sendo/estando ao mesmo tempo diferente.

Experimentações

Estudos vêm mostrando que uma característica crescente entre os jovens é a

disposição para experimentar coisas novas, principalmente quando tais novidades estão

associadas ao lazer, a diversão, ao prazer. Em nossas pesquisas pudemos identificar a

recorrência de práticas de experimentação de drogas lícitas e ilícitas e de sexualidade, por

meio da pegação e do ficar.

Ficar e pegar são uma espécie de brincadeira onde todo mundo fica com todo mundo,

uma declaração explícita de que ninguém é de ninguém: menina com menino, menino com

menino, menina com menina. A expressão pegação é parte do amplo e multifacetado arsenal

comunicativo dos jovens e indica, acima de tudo, uma experiência tátil, efêmera e sem grande

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s jogos de sedução. Expressões como, ‘chegar’, ‘atirar’ e ‘pegar’ remetem para essa dimensão

de fisicalidade, de materialidade atingível, alcançável pelos corpos. Assim, as subjetividades

destes jovens tem como denominador comum o primado da fisicalidade que percorre as novas

combinatórias de aproximação e sociabilidade existentes nesse universo (ALMEIDA;

TRACY, 2003).

Nessa lógica, a pegação e o ficar parecem atividades complementares e indissociáveis.

O que justifica a expressão pegação é o ficar/pegar vários ou várias num curto intervalo de

tempo, ou seja, ter uma performance cujo desempenho resulta numa contabilização das

ficadas.

Parece que a espetacularização do ficar entre os jovens tem sido um modo exercer a

sexualidade, na qual, talvez mais do que prazer do beijo ou das carícias ou mesmo do sexo, há

o prazer de estar sendo assistido. Podemos inferir que nas práticas de pegar e/ou ficar, é

produzido aquilo que Ball (2010), em outro contexto, chamou de “um estado de permanente e

consciente visibilidade” (BALL, 2010, p. 40) em que os apelos por uma sexualidade cada vez

mais exibida exaltam a adrenalina e o perigo, componentes acionados nas praticas juvenis da

atualidade.

Em relação às experimentações relacionadas ao consumo de drogas lícitas e ilícitas,

identificamos o maior consumo entre jovens que se encontram aos domingos à tarde num dos

parques da cidade. Nas festas animes e nos encontros de jovens que apreciam mangás, não

identificamos a presença de bebidas alcoólicas, nem de cigarros.

Performar o consumo de álcool, entre os jovens muitas vezes está associado ao

consumo de tabaco. Chamou-nos atenção o número crescente de jovens com cigarros entre os

dedos. Entre estas duas drogas lícitas, o consumo de álcool parece conferir um status mais

elevado aos jovens, já que ele altera os sentidos.

Em alguns domingos presenciamos cenas de embriaguez, deparando- nos com sinais

visíveis de mal- estar que inclui vômitos e perda temporária dos sentidos. Os corpos caídos e

o vômito exposto parecem parte de uma performance cujo desempenho pode ser avaliado a

partir dos efeitos do álcool nos corpos. Cenas como estas performatizam não somente o

consumo de álcool, mas a ideia de que o limite é o chão.

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Sabemos que não é novidadeira o uso ou a experimentação de drogas entre os jovens.

No caso do álcool e do tabaco, as construções discursivas que naturalizaram estas práticas

emergiram num momento em que o mercado começou identificou no público jovem um

potencial consumidor. No pós-guerra, algumas culturas juvenis incorporaram as drogas lícitas

e ilícitas como experiências de ruptura associadas a liberdade, ao autogoverno, ao prazer.

Outro aspecto a ser considerado, refere-se a ideia de burlar normas e leis para ter

acesso aos produtos que não podem ser comercializados com menores. Isto coloca em

evidência determinados modos como os jovens lidam com as convenções sociais, e como são

subjetivados por elas. Por este motivo, entendemos que as subjetividades são exibidas por

estes jovens, através de seus corpos investidos de inúmeras marcas inventadas e apresentadas

como forma de insurgência.

Assim como a maioria das pessoas, os jovens não reconhecem o álcool e o tabaco

como drogas, sendo tratados como consumos sociais. Beber e fumar são práticas incitadas

livre e abertamente pela mídia, desde que sejam exibidos os alertas midiáticos Fumar é

prejudicial à saúde e Beba com moderação.

Os jovens buscam diversão e, neste contexto, aqueles que fazem uso de entorpecentes

como o álcool, maconha e outros não o fazem buscando exclusivamente o bem-estar e o

prazer, mas também para exibir o mal-estar causado pela intensidade de alguns consumos.

Assim, não basta consumir, é preciso que este consumo possa ser visível nos seus corpos,

através de sinais de embriaguez e de torpor. Tais consumos consistem na busca do prazer, de

diversão, de alegria, de pertencimento, mas também de entorpecimento, de ultrapassagem de

limites.

Práticas na Rede

Conectar-se, encontrar-se no mundo virtual e conversar através de programas de

mensagens instantâneas, visitar sites diversos, postar comentários, baixar músicas e vídeos,

são algumas atividades cotidianas entre jovens que só podem ser feitas através da internet.

Isto revela que tem sido cada vez mais difícil não levar em conta o impacto destas práticas ao

pensar a vida cotidiana dos jovens na contemporaneidade. Além disso, os usos das

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ferramentas da internet têm mostrado que o conhecimento pode ser acessado de qualquer

lugar, a qualquer momento.

Os diversos contornos das atividades e dos relacionamentos que os jovens constroem

cotidianamente, os modos com o forjam suas identidades estão cada vez mais atravessados

pelas ferramentas da internet. Lemos (1999) arrisca supor que possivelmente estejamos

vivendo uma reversão do processo individualista moderno, buscando, através das tecnologias,

novas formas de agregação social, o que ele chama “agregação eletrônica.” (p.16).

Garbin (2001, 2003, 2009) tem advertido que não há dúvidas de que a internet se

converteu num ‘laboratório’ [grifo da autora] para a realização de experiências com as

construções e reconstruções do ‘eu’ na vida pós-moderna, porque, na realidade virtual, de

certa forma moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos. Por esse motivo, ela torna-se um ‘imã’

para jovens que a utilizam, seja como uma forma de comunicar, seja como um instrumento de

demarcação de fronteiras, tornando-se um objeto a ser incessantemente louvado, usado,

teclado, enfim, acessado.

A internet se constitui numa Rede que oferece uma infinita quantidade de

informações e de sites de relacionamento, de forma a proporcionar que seus membros criem

novas amizades e mantenham seus relacionamentos, contrariando algumas visões que a

demonizam e a culpabilizam pelo isolamento dos sujeitos. Não se pode afirmar que todos os

usos e modos de se relacionar através da internet são saudáveis, pelo contrário, há muito para

ser problematizado. Mas por outro lado, pode-se observar o quanto, através da internet,

estamos interagindo e estabelecendo contatos mais frequentes com as pessoas.

Diante do exposto, podemos considerar que o tripé formado pela família, pela escola e

pelo grupo de amigos de convívio dito presencial, há muito considerados basilares nos

processos de sociabilidade de crianças e jovens, tem se alterado nos últimos anos por essas

‘novas’ agências de espaço social, que acabam desencadeando outros processos de

subjetivação e produzindo outras subjetividades. Além disso, na internet é possível encontrar

informações e conhecimentos de todos os tipos, expostos de inúmeras maneiras, os quais

podem ser acessados de qualquer lugar e em qualquer momento, levando-nos a pensar nos

desafios que se impõem à escola e ao ser professor frente a tantas reconfigurações da vida

cotidiana tecnologizada.

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Segundo Urresti (2008), a presença das novas tecnologias da informação e da

comunicação na vida das pessoas, ganha importância cada vez maior, principalmente, pelas

transformações por elas produzidas nos distintos âmbitos da vida social, redefinindo

processos econômicos, sociais, culturais e afetivos. Isto sugere que aquilo que para gerações

anteriores é novidadeiro, para os jovens é praticamente uma questão ‘nativa’. O autor utiliza a

expressão “nativos digitais” (p. 13) para referir-se a tais tecnologias como um dado a mais da

existência cotidiana do público jovem, ou seja, como algo já ‘naturalizado’ nas tramas

culturais dos sujeitos que nasceram, especialmente, a partir dos anos 1990.

Feixa (2003) tem apontado que com o advento do desenvolvimento tecnológico,

estamos vivenciando uma mudança fundamental nas concepções de tempo em que, os jovens,

mais do que ninguém, parecem ser sujeitos que experimentam tempos de modos diversos, em

distintos e variados espaços, alterando, sobremaneira, os modos de transmissão geracional.

Nesse contexto, Feixa (2003) destaca que são os mais velhos que aprendem com jovens; os

pais aprendem com seus filhos, construindo uma nova referência de autoridade. Esta

modalidade de transmissão geracional é expressa basicamente, nos meios de comunicação,

nas formas de diversão digitais, nas novas tecnologias da informação e da comunicação. O

tempo e o espaço passam a ser globais e a velocidade dos transportes, das redes eletrônicas

digitais televisivas e telefônicas de alcance universal corroboram a com a sensação que todos

vivemos um mesmo tempo e que tudo acontece em tempo ‘real’, produzindo o que o autor

denomina de simultaneidade (FEIXA, 2003).

Feixa (2004) chamou de “geração @” a esta geração tecnologizada e internauta, no

intuito de evidenciar a centralidade das tecnologias digitais para os sujeitos dos nossos

tempos, em especial para os jovens, em que o @ significa viver conectado. O autor argumenta

que esta é uma geração que não ficou isolada a partir dos seus contatos com o computador e

com as ferramentas da internet; pelo contrário. A internet e suas várias possibilidades de

interação vêm caracterizando-se como uma potente intensificadora das relações entre os

pares, que favorece a comunicação com um número maior de pessoas, as quais a distância

geográfica não aproximava.

No entendimento de Garbin (2009), a internet reúne três campos que pareciam

distintos uns dos outros: a cultura e novos conhecimentos produzidos a partir das tecnologias

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digitais; a comunicação e o lazer e, por fim, a informação simultânea e seu caráter efêmero,

quebrando as fronteiras entre estes três temas. A própria palavra escrita, a fala, as imagens

fixas e as imagens em movimento, a música, os sons variados, enfim, tudo se encontra

reunido na Rede. Estas redes que antes eram tecidas nos clubes sociais e esportivos, nas

praças, nos parques, nas danceterias, hoje se articulam também em sítios como o facebook,

twitter, etc. (URRESTI, 2008).

Desse modo, os jovens que hoje conhecemos e que estão dentro das nossas escolas,

parecem estar sempre abertos à novas aventuras internáuticas. Além disso, são sujeitos

capazes de realizar várias atividades ao mesmo tempo, conectados com o mundo o máximo de

tempo possível, ‘ensinados’ a comandar suas atividades cotidianas apertando botões e teclas:

do computador, do telefone celular, do controle remoto, do mp 3,4, do tablet, do GPS...

Green e Bigum (1995), em uma pesquisa realizada em escolas australianas ainda no

final do século passado, apontaram para o surgimento de um novo ‘tipo’ de estudante, com

novas necessidades, capacidades e subjetividades. Eles seriam sujeitos que usam essas

tecnologias como se já as conhecessem há muito tempo, como se fizessem parte de outro

mundo. Seriam estes alunos, alienígenas aos olhos de professores, pais e de outros adultos?

Ou seriam os professores [e outros adultos/idosos] os alienígenas, posto que estes, muitas

vezes, não se apropriam do mundo tecnológico? Temos assim, a produção de sujeitos

alienígenas: para os alunos o alienígena pode ser o professor desconectado, ao passo que para

o professor, os alienígenas são os alunos que não conseguem desconectar-se.

Diante do exposto, podemos inferir que ser jovem na contemporaneidade é pertencer a

este mundo de explosões e de crescimento tecnológico alarmantes, dominando-os com

extrema habilidade e relacionando-se com artefatos tecnológicos e midiáticos de forma íntima

e intensa.

Desse modo, os mesmos jovens que vivem e celebram o presente, que vivem um

tempo de urgências, que são nômades virtuais, convivem com um tempo de morosidades,

permeados por práticas repetitivas e quase nada novidadeiras dos currículos escolares, das

estratégias de ensino, das tentativas de controle e regulação de seus corpos. Nesse caso, são os

jovens que não conseguem conviver este tempo...

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Repertórios para a educação

As práticas juvenis apresentadas neste artigo parecem ratificar a ideia de perda

irreversível da dimensão de exatidão da palavra juventude, apresentando-nos modos de ser

jovem que deslizam sobre as pretensões de verdade, dificultando nossas tentativas de nomeá-

los, classificá-los, fixá-los.

Nossos percursos de pesquisa permitem ponderar sobre a existência de uma dimensão

educativa de grande importância nesses movimentos de estar juntos dos jovens, seja na rua,

nos parques, nos shoppings, na escola, etc.

(Re)conhecer e entender práticas juvenis diversas em espaços e tempos distintos,

tornando-nos mais sensíveis aos repertórios culturais juvenis, ao nosso ver, ainda é um grande

desafio para a educação escolar. Conhecer os gostos, os anseios, os medos, os modos como os

jovens se divertem, bem como as maneiras pelas quais aprendem entre si parece ser uma

experiência de aprendizagem capaz de ampliar nossos repertórios didáticos, linguísticos,

inventivos...

Por que, então, não possibilitar que elementos constitutivos desses universos juvenis

possam penetrar nossos currículos, movimentar nossos planejamentos, e, quem sabe, entrar

em nossas salas de aula como convidados especiais para ali permanecerem sem dia e hora

certa para sair, ao invés de simplesmente tolerá-los por algum tempo ou tratá-los como visitas

indesejáveis?

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