no lucro da empresa - scielo - scientific electronic … · 2013-06-14 · a participaÇÃo do...

12
\ <; / ,.., A PARTICIPAÇAO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA U A lei da justiça social proíbe que uma classe seja pela outra excluída da participação nos lucros ... Cada um deve, pois, ter a sua parte nos bens materiais e deve procurar-se que sua repartição seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social". ("Quadragésimo Armo", encíclica papal da 8.8. o Papa Pio IX, caps. 57 e 58) • Kurt E. Weil Professor Titular do Departamento de Administração, Logística e de operações Industriais da EAE8P/FGV. ,fé RESUMO: O autor procura dar uma visão geral de plano de incentivo e conclui que não há um plano que possa satisfa- zer todos por todo tempo. Há problemas de concorrência entre empresas para contratar mão-de-obra que esteja ligada a planos de incentivos salariais sadiamente orientados, procu- ra o governo brasileiro assegurar pelo saldrio-iamilia e pela fixação do salário mínimo a satisfação das necessidades. Deveria haver, ainda, permissão para que as empresas pudessem comprar na Bolsa de Valores ações suas para even- tual distribuição aos operários. 58 Revista de Administração de Empresas Qualquer distribuição por avaliação de mérito introduz o elemento "preconceito". ,fé PALAVRAS-CHAVE: Governo e incentivo, planos rígi- dos, concorrência, cálculos. ,fé ABSTRACT: The author tries to give a general reviewof the profit sharing theory and practice and concludes that these is not one optimum plan that could satisfy all people all the time. There are problems in conpeting for labor in the profit sharing enterprises. * KEY WORDS: Profit sharing and the govermment, rigid plans, competition, calculations. São Paulo, 32(4): 58-69 Set./Out. 1992

Upload: ngodung

Post on 01-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

\<;

/

,..,

A PARTICIPAÇAO DO EMPREGADONO LUCRO DA EMPRESA

U A lei da justiça social proíbe que uma classe seja pela outra excluída da participação noslucros ... Cada um deve, pois, ter a sua parte nos bens materiais e deve procurar-se quesua repartição seja pautada pelas normas do bem comum e da justiça social".

("Quadragésimo Armo", encíclica papal da 8.8. o Papa Pio IX, caps. 57 e 58)

• Kurt E. WeilProfessor Titular do Departamento de Administração,Logística e de operações Industriais da EAE8P/FGV.

,fé RESUMO: O autor procura dar uma visão geral de planode incentivo e conclui que não há um plano que possa satisfa-zer todos por todo tempo. Há problemas de concorrência entreempresas para contratar mão-de-obra que esteja ligada aplanos de incentivos salariais sadiamente orientados, procu-ra o governo brasileiro assegurar pelo saldrio-iamilia e pelafixação do salário mínimo a satisfação das necessidades.

Deveria haver, ainda, permissão para que as empresaspudessem comprar na Bolsa de Valores ações suas para even-tual distribuição aos operários.

58 Revista de Administração de Empresas

Qualquer distribuição por avaliação de mérito introduz oelemento "preconceito".

,fé PALAVRAS-CHAVE: Governo e incentivo, planos rígi-dos, concorrência, cálculos.

,fé ABSTRACT: The author tries to give a general reviewofthe profit sharing theory and practice and concludes that theseis not one optimum plan that could satisfy all people all thetime. There are problems in conpeting for labor in the profitsharing enterprises.

*KEY WORDS: Profit sharing and the govermment, rigidplans, competition, calculations.

São Paulo, 32(4): 58-69 Set./Out. 1992

Page 2: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

INTRODUÇÃO

A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

A participação dos empregados no lucrodas empresas é determinada pela Consti-tuição dos Estados Unidos do Brasil, em-bora ainda não esteja regulamentada porlei ordinária do Congresso Nacional. Deveser submetida a participação a uma deter-minação governamental? Ou deve ficar ocumprimento da determinação constitu-cional ao livre arbítrio da empresa?

Procuraremos demonstrar, neste artigo,que a única solução para a distribuição doslucros está na livre iniciativa empresariale que a ação do governo deve restringir-seà taxação de lucros e de lucros extraordi-nários, facilitando a distribuição.

Assim, depois de examinarmos econceituarmos as diferentes espécies delucro, analisaremos as modalidades departicipação de que pode fazer uso o em-presário, mostrando suas vantagens edesvantagens e indicando as medidas go-vernamentais necessárias para que sejapossível a distribuição de lucros aos em-pregados.

LUCRO FISCAL E A DISTRIBUiÇÃO

O lucro que provavelmente serve debase para qualquer sistema de distribuiçãoé o apurado em balanço, ou seja, o lucrofiscal. O conceito de lucro fiscal é cômodo,pois permite sem delongas e sem pesqui-sa maior a reserva de "lucros" para distri-buição aos empregados, de acordo comestatutos sociais ou leis governamentais, aexemplo dos lucros "à disposição da as-sembléia", numa sociedade anônima.

Uma diferença importante, entretanto, éque assembléia da sociedade anônimapode determinar que não haja, por diver-sos motivos, distribuição de lucros sob aforma de dividendos e que os capitais, as-sim acumulados, devam ser reinvestidos,se já não o tiverem sido antecipadamente,quer para permitir o aumento da produ-ção, quer o da produtividade da empresa.Ainda assim, essa quantia reinvestidaconsta do balanço como "lucro". Os divi-dendos, nesse caso, devem ser pagos so-mente para as ações preferenciais. Já a dis-tribuição indiscriminada de lucros aosempregados pode provocar grave dese-quilíbrio nas disponibilidades financeiras

da empresa, muitas vezes apesar de estaresta em situação econômica brilhante.

Ademais, o lucro fiscal elevado podecaracterizar um desgaste excessivo das ins-talações, para atender a uma situação mo-mentânea. Se, por exemplo, uma fábrica decimento está localizada nas proximidadesda construção de uma barragem de vulto,os pedidos que recebe durante um certoano podem ser de tal ordem que resultemnuma única alternativa: o trabalho acimada capacidade instalada. O trabalho a120%, por exemplo, da produção normalpode ser conseguido pelo método da ma-nutenção deferida, isto é, as máquinas sãoempregadas sem manutenção preventiva eos consertos de manutenção de emergên-cia são feitos para assegurar a continuida-de da produção e não para prolongar avida das máquinas. Da mesma forma, au-menta-se a temperatura interna do forno,diminuindo a vida útil de seu revestimen-to refratário. Tudo isso pouco importa,entretanto, porque a produção e não a eco-nomia de meios é o que, no momento, in-teressa. Os moinhos ficam com suas cha-pas desgastadas, mas não há substituiçãoe a parada fica para o ano seguinte.

E evidente que a empresa terá, duranteo período de atividade a 120% da capaci-dade, um lucro fiscal de todos os pontos devista "extraordinário". Grande poderá sera participação dos empregados nesse lucro.Porém, ele será fictício. Como é fácil prever,no ano seguinte as paradas serão muitomais prolongadas, pois as máquinas deve-rão ser recondicionadas. Junte-se a isso ofato de que o aumento da produção pelapassagem a 120% se faz sem esforço maiorda mão-de-obra e fácil será prever o queacontecerá: a empresa e os empregadosserão prejudicados pela eventual distribui-ção do lucro fiscal- a empresa porque teráreduzido as disponibilidades para a re-construção de seu parque fabril; os empre-gados pela impossibilidade de obtenção delucro no ano subseqüente, a não ser que acapacidade fabril fosse restabelecida pormeio de uma reserva feita no próprio lucrofiscal. O lucro fiscal das empresas obsole-tas constitui outro problema. Na realidade,o lucro dessas empresas só existe quandoo mercado não está saturado. Em anos desaturação, não deve haver, de acordo comas leis econômicas dos meios marginais deprodução, lucro a distribuir. Essas empre-

©1992, 1962, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. Texto publicado na RAE, 2(4): 15·30, mai./ago. 1962. 59

Page 3: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

jJ~/J REVISITADA

60

sas devem, então, procurar usar os anosfavoráveis para se precaver contra o futu-ro difícil, modernizando seu parque fabril,isto é, reinvestindo todo o lucro em meiosmodernos de produção. A distribuição delucros, também neste caso, seria prejudicialaos empregados, que ficariam sem em-prego nos anos de crise.

LUCRO INDUSTRIAL E LUCRO APARENTE

o lucro industrial se distingue do lucrofiscal por levar em conta o valor real desubstituição dos meios de produção. Parao cálculo de base de lucro permite a regu-lamentação do imposto de renda, no Bra-sil, a "reavaliação do ativo", não permitin-do, porém, que a depreciação seja feita so-bre o novo valor de base. Exemplificando,podemos considerar o caso de uma máqui-na (um motor Diesel) de dez anos de vidaútil, importada em 1952 a Cr$ 20,00 pordólar e taxa alfandegária insignificante.Esta máquina estará totalmente amortiza-da em 1962 e o valor da amortização nãoaumenta, apesar de seu valor "livre", de-vido à reavaliação, estar bem acima do quecustou em 1952. O valor de substituiçãoserá, então, muito mais elevado,correspondendo ao valor atual do dólar(mesmo que a máquina seja fabricada nopaís), superior ao valor reavaliado e, evi-dentemente, à reserva feita para deprecia-ção.

O lucro industrial proc:ura considerar,na parte de despesas, precisamente o cus-to de substituição das máquinas e poucasvezes (a não ser sob o título de "Reservapara Contingências" ou "Reserva Geral")consta dos balanços fiscais das empresas.O lucro industrial é, por sua própria natu-reza, confidencial ou de conhecimento res-trito. Assim, não seria possível, salvo atra-vés de oficialização (o que viria contra suanatureza), seu uso para a distribuição delucros aos empregados. Que é, por outrolado, o lucro aparente? Se, por exemplo,uma empresa em péssimo estado econômi-co e financeiro tem a "felicidade" de seratingida por um incêndio destruidor, opagamento do seguro e mais a redução dafolha de pagamento pela dispensa degrande percentagem dos operários dão, aofinal do ano, um lucro de balanço que, narealidade, é um lucro aparente. Assim tam-bém, diversas empresas de aviação em re-

gim e deficitário tiverem a diferença entrelucro e prejuízo coberta pela queda oudestruição fortuita de uma aeronave.

Outra espécie de lucro aparente é aque-le que provém da venda dos meios de pro-dução. Como exemplo, podemos citar avenda de aviões DC-3, já completamentedepreciados, e de máquinas têxteis de 1925.É possivel, neste caso, evitar a distribuição,bastando que não se considere para essafinalidade qualquer lucro que esteja nademonstração de lucros e perdas sob oitem "Outros rendimentos". Em todos oscasos citados acima, o lucro é desfiguradopelo fenômeno da inflação. O lucro indus-trial e o lucro aparente serão, então, resul-tado somente desse fenômeno?

•••••••••••••••••••••••Quanto mais afastado estiver o

pagamento de um incentivo do atoque o deve provocar, tanto menor será

o estímulo dele resultante.

•••••••••••••••••••••••O tentar responder, devemos lembrar,

em primeiro lugar, que a tendência de to-das as moedas, quase sem exceção, desdea época do Império Romano, é de avilta-mento; e, em segundo, que novas descober-tas tornam obsoletas velhas máquinas esistemas de produção, algumas vezes comvelocidade impressionante. Portanto, se olucro industrial não é influenciado pelaeventual desvalorização da moeda, o é,entretanto, pela obsolescência do processo.E essa obsolescência não é exclusiva doregime capitalista de concorrência: é pró-pria de toda tecnocracia, pois significa pro-dução por custo maior, seja este medidoem dólares ou homens-horas, em duraçãoou qualidade. De vez que homem-horapode ser mercadoria tão escassa num paíscapitalista quanto num país socialista, amanutenção de um sistema ultrapassadopela técnica diminui o lucro no primeirocaso e o produto à disposição do povo nosegundo.

COMO E QUANDO DISTRIBUIR?

A distribuição de lucros é, por sua pró-pria natureza, limitada pelo período deapuração contábil (qualquer que seja ele),o que significa que pode ser feita uma vez

Page 4: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

por ano, referindo-se ao ano anterior, comum atraso de dois a quatro meses em rela-ção ao mês de fechamento do balanço.

Uma série de observações feitas, sobre amatéria, pelos mais diversos autores, podeaqui ser resumida em duas regras':

de lucros já a terá absorvido. 2

A formação de pecúlio, a possibilidadede comprar bens imóveis ou fazer aquisi-ções maiores somente é dada pela partici-pação nos lucros quando o salário é sufi-ciente para atender às necessidades bási-cas'.

Sadiamente, orientado, procura o Go-verno brasileiro assegurar pelo salário-fa-mília e pela fixação do salário mínimo asatisfação dessas necessidades. Ao mesmotempo, as empresas estão interessadas emmanter alto nível de satisfação de seusempregados, pois sabem que somente as-sim é possível ter produtividade e poderaquisitivo elevados. Essa satisfação deveprovir do salário e a participação nos lucrostem de ser considerada como uma libera-lidade sobre a qual somente a empresadeve decidir.

1. ALFORD, Production Handbook,Ronald Press, 1953; IRESON &GRANT, Handbook of IndustrialEngineering and Management,Prentice Hall, 1955; BLOCH,Arbeitsbewertung, Verlag Ind.Organisation, Zurich, 1959;ARMSTRONG, Incentive andQuality, Chapman & Hall, 1950.

1. Quanto mais afastado estiver o paga-mento de um incentivo do ato que odeve provocar, tanto menor será o es-tímulo dele resultante, exceto em casosde nível salarial e! ou educacional aci-ma da média. 2. Istoé contrário ao que preconiza a

Encíclica "Quadragésimo Anno' emseu cap.61, onde se lê: "É, pois,necessário empregar energicamen-te todos os esforços para que, aomenos de futuro, as riquezasgranjeadas se acumulem em justaproporção nas mãos dos ricos e,com suficientelargueza,se distribuampelos operários; não para que estesse dêem ao ócio - já que o homemnasceu para trabalhar como a avepara voar - mas para que, vivendocom parcimônia, aumentem os seushaveres' "elivres,assim,deumacondição precária e incerta qual é adosproletários, '... "deixemainda pormorte alguma coisa aos que lhessobrevivem'.

2. A utilidade econômica da participaçãonos lucros só é assegurada se o nívelmensal de salário estiver acima do nívelde subsistência.

Somos a favor da participação como in-centivo para maior produtividade. A clas-se operária, entretanto, que seria a maisbeneficiada, é precisamente aquela que seenquadra na regra 1.

Podemos citar, como exemplo interes-sante, o caso de uma empresa paulista quefoi atingida por um devastador incêndio.Por esforços inauditos, operários emestresconseguiram debelar as chamas, recons-truir a empresa, trabalhar em desconfortomuitas vezes, até que se tivesse normaliza-do a situação. Naquele ano, a empresa nãoteve lucro, mas prejuízo. Entretanto, aindaassim, distribuiu uma "gratificação" aosoperários. O que teria acontecido se a dis-tribuição fosse obrigatória? Apesar de seusgrandes esforços, os operários nada teriamrecebido naquele ano, e esta ausência deincentivo teria certamente prejudicado areputação da empresa junto a eles.

Na realidade, os anos lucrativos são,muitas vezes, aqueles em que a conjuntu-ra semostra favorável, o oposto acontecen-do quando a concorrência aumenta. Noentanto, é exatamente nos anos difíceisquedeve ser pedido o esforçomáximo dos ope-rários. Que dizer-lhes, então? Que não ha-verá lucro, de maneira alguma, mas se nãose esforçarem mais haverá prejuízo? Queresultados isso traria? Quanto à regra 2, ademonstração é axiomática: o funcionárioque espera uma certa quantia como parti-cipação no fim do ano e necessita, para suasubsistência, de quantia maior do queaquela que está ganhando como salário-base, fará dívidas. Ao receber sua parcela

PARTICIPAÇÃO POR DIVIDENDOS E PORDISTRIBUiÇÃO DE AÇÕES

Mencionaremos abaixo algumas das for-mas pelas quais as empresas têm procura-do resolver o problema da distribuição delucros.

Podemos citar o exemplo de uma em-presa norte-americana que procura assegu-rar a participação nos lucros pela distribui-ção aos funcionários da mesma quantiaque distribui aos acionistas. O critério porela utilizado é o de antiguidade e montan-te de salários, isto é, a pessoa altamenteassalariada mas de poucos anos de casarecebe menos do que o simples serventeque trabalhe há muitos anos na empresa.Esta participação por dividendos não exi-ge que operários e demais funcionáriossejam acionistas da empresa.'

Por outro lado, não cremos que a solu-ção no futuro próximo esteja na distribui-ção de ações das empresas aos funcionári-os - especialmente aos de nível menos gra-duado -, no Brasil. Na realidade, mesmonum país socialmente avançado como aAlemanha, no Mitbestimmungsrecht ("co-participação na administração") adotadologo após a Segunda Grande Guerra, emBonn, não se incluiu a participação dosempregados nas ações das empresas.

Assim também, a distribuição ao povodas açõesdas empresas que estavam incor-poradas ao patrimônio da União Federati-va (Bundesrepublik), tais como a Volks-

3. Da Encíclica Papal "Mater etMagistra" se extrai (caps.65 a 69)que o salário não pode ficar com-pletamente abandonado às leis domercado, mas sim deve satisfazereste nível fundamental de subsis-tência condigna.

4 A participação por ações é, entre-tanto, considerada desejável pelaEncíclica "Mater et Magistra', ondese lê: (cap.72): "Não podemos dei-xar de aludir ao fato de que, hoje, emmuitas economias, as médias egrandes empresas conseguem comfreqüência aumentar rápida e consi-deravelmente a capacidade produti-va por meio de autofinanciamento.Nestes casos, cremos poder afirmarque aos trabalhadores se deve re-conhecer um título de crédito nasempresas em que trabalham, espe-cialmente se ainda lhes toca umaretribuição não superior ao saláriomínimo.' (Onde está "título de cré-dito nas empresas' é possível reco-nhecer o caráter de ação - prova-velmente preferencial, mas tambémordinário -da sociedade anônima.)

61

Page 5: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

l1~QREVISITADA

5 Prospecto de lançamento da "VW-Aktie'.

6. Para o norte-americano, poupan-ça à prova de inflação é aquela emque há valorização da ação decor-rente do aumento do valor dos bensda empresa e de sua capacidade delucro, e não do dividendo distribuído.

7. Devemos esclarecer que o pesaratual dos operários se deve à valori-zação das ações. Por outro lado, osaltos salários, o capitalismo do povoe outros fatores têm provocado, nosEstados Unidos, a diminuição pro-gressiva do número de/sócios dossindicatos operários, de acordo cominformações da revista Time.

8 Neste particular, entretanto, a ex-periência alemã demonstra que ooperário colocado na posição de di-retor de empresa, após breve perío-do, começa a pensar como empre-sário, esquecendo seus eleitores. Arazão para isto é clara: se o operárioeleito paradefender ovalor das açõesde seus colegas não agisse dentrodas regras de boa administração,então a empresa começaria a perdersubstância e os acionistas seriamprejudicados.

9. ARMSTRONG, op.cit.,pp.91 a 95.

62

wagenwerke (fábrica de carro Volkswagen)foi feita em moldes de capitalismo sociali-zado, isto é, as ações foram vendidas emprestações e com descontos especiais aosmenos favorecidos, de acordo com seusalário. O número de ações que podia sercomprado era limitado. A ação, assimdistribuída, era chamada Volks-Aktie, isto é,ação do povo, não podendo ser vendidadentro de certo prazo por quem dela ti-vesse obtido benefícios. Era uma ação or-dinária, com direito a voto .5

•••••••••••••••••••••••o operário tornar-se-ia

co-proprietário e, assim, procurariaaumentar o lucro da empresa aomáximo, evitando toda ação que oprejudicasse, mesmo que fosse no

interesse do Sindicato.

•••••••••••••••••••••••Nos Estados Unidos, o "capitalismo do

povo" isto é, a existência de dinheiro-eco-nomia acima do nível de subsistência e sa-tisfação de necessidades primárias tornoupossível induzir o povo a uma poupança àprova de inflação, ou seja, a um investi-mento dos assalariados nas empresas emgeral, tanto naquelas em que trabalhamquanto em outras."

Os sindicatos americanos, de início, nãoviram com bons olhos essa tendência e as-sim, por exemplo, uma proposta feita pelaFord para distribuição de ações foi rejeita-da pelo Sindicato da Indústria Automobi-lística em 1954, para grande pesar de todosos associados. Os motivos da recusa, entre-tanto, eram interessantes e se aplicavam atodas as situações em que o Sindicato tives-se de tratar com os operários-acionistas:

a) o operário tornar-se-ia co-proprietárioe, assim, procuraria aumentar o lucroda empresa ao máximo, evitando todaação que o prejudicasse, mesmo quefosse no interesse do Sindicato;

b) a identificação do operário com a em-presa e seus dirigentes faria desapare-cer as próprias razões da existência doSindicato,"

Do ponto de vista do empresário, ooperário-acionista representaria um grupo

de pressão que poderia, com certeza, tra-balhar para que os reinvestimentos fossempagos em dividendos em dinheiro. Isso.entretanto, seria somente o início da açãodos operários que, logo a seguir, desde quefossem portadores de ações ordinárias,procurariam eleger representantes seuspara a diretoria."

No Brasil, haveria necessidade de certasmodificações na lei das sociedades porações para ser possível que a empresa com-prasse de volta as ações dos operários quea deixassem, pois, do contrário, a mesmateria de emitir ações constantemente parapoder atender aos novos operários.

Outra dificuldade a ser apontada nestetipo de distribuição é a diferente rentabili-dade das empresas. Assim, qual seria ooperário que procuraria emprego numaempresa em que as ações tivessem ummáximo de dez por cento de dividendosanuais, como as estradas de ferro? Estasnão encontrariam mais mão-de-obra, poistodos procurariam renda garantida nassuas ações, o que atrasaria ainda mais oserviço público em relação às indústriasmais rendosas.

Se, ao contrário, fosse fixado um máxi-mo de dividendos para as ações de indús-trias de todos os ramos, o operário-acionis-ta não mais consideraria a ação como par-ticipação no lucro da empresa, mas sim-plesmente como uma forma de pagamentoindireto de salário.

DISTRIBUiÇÃO POR AVALIAÇÃO DE MÉRITO

Este sistema, que é o empregado poruma grande empresa nacional de petróleo,é também usado na Inglaterra nas empre-sas nacionalizadas." Por ele se procura re-tribuir não só a simples presença física eoperacional do empregado, mas também aação deste em benefício da empresa comoum todo, benefício este que é medido pelaavaliação de mérito.

Assim, a companhia citada distribui par-te dos lucros, antecipadamente (antes defeita a avaliação de mérito), na época doNatal (dez por cento do salário anual, usual-mente), deixando o restante para ser dis-tribuído no ano seguinte, de acordo com aavaliação de mérito (vide Anexo 1).

Qualquer distribuição por avaliação demérito, entretanto, introduz, o elemento"preconceito" e, conseqüentemente, é re-

Page 6: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

cebida por parte dos funcionários (natu-ralmente dos menos favorecidos) comprofundas suspeitas. Realmente, é inevi-tável o aparecimento do efeito "deslum-bramento" em qualquer avaliação subjeti-va de mérito. 10

Já a avaliação objetiva, que é baseada emdados consubstanciados em relatórios, bo-letins de produção e outros documentos,pode provocar um espírito de competiçãointerna, na empresa, que irá desde a explo-ração ao máximo das máquinas - com ne-gligência da manutenção - até o roubo deidéias.

Por estes motivos, vemos sem muitoentusiasmo o uso, para esta finalidade, deum sistema baseado em mérito: no primei-ro caso, vimos que nenhum sistema demérito é perfeito; no segundo, a competi-ção interna pode tornar-se prejudicial àempresa como um todo. Somos de opinião,portanto, que a avaliação deve, no máximo,servir para fins de promoção, já que paraisso ela costuma ser feita, consciente ouinconscientemente.

incentivo para o esforço extraordinário quese faz necessário justamente na época devendas baixas.

Além disso, sendo o lucro o resultado deum período, não deve e não pode ser dis-tribuído mais vezes do que o período a quese refere. Pelos motivos expostos em pará-grafos anteriores, pode e deve haver umadistribuição de lucros por ano. A distribui-ção em períodos de diferentes duraçõesparece-nos, portanto, artificial.

DEFEITOS DE PARTICIPAÇÃORIGIDAMENTE DETERMINADA

Suponhamos que haja três empresas tra-balhando no mesmo ramo - de fechaduras,por exemplo. A empresa A possui máqui-nas modernas, automáticas, tendo a mes-ma produção que Be C mas somente 300operários, ao passo que Btem 400e C 500.Suponhamos, ainda, que os produtos queessas três empresas produzem sejam equi-valentes em qualidade e que os encargosfinanceiros de A, devido à automatização,sejam superiores aos de B e C, mas não osuficiente para tirar de A uma margem delucro maior do que a destas. Tendo estastrês firmas sua produção vendida e osmesmos custos administrativos e de venda,estabelecemos, por hipótese, que seus ope-rários percebem salários fixos iguais.

Podemos supor, portanto, que a partici-pação no lucro para um operário de A sejade 20%sobre seu salário presente por ano;para um Bde12% edeCde8%. Neste caso,o salário do operário de A será sempre su-perior ao de Be C, sendo a relação entre ossalários em A,Be C de 120:112:108.

Assim, o operário que mude de C paraA pode contar com um aumento de 11%em seu salário total. O resultado destefenônemo é óbvio: as empresas menos pro-dutivas perderiam seus homens mais efici-entes para as mais produtivas, de maiorlucro, o que diminuiria ainda mais sua ca-pacidade de concorrer."

Este resultado, provavelmente indese-jado, só poderia ser evitado se, desde oinício, B e C pagassem salários fixos maiselevados do que A.Mas pagando A salárioigual às demais, por consequência da hi-pótese inicial, só seria possível modificar asituação através da incorporação da parti-cipação nos lucros ao salário fixo do ope-rário. Isto seria absurdo, pois não só pro-

DISTRIBUiÇÃO PELO LUCRO DE PRODUÇÃO

Sabemos que há, no Brasil, diversasempresas que distribuem, atualmente, per-centagens do lucro apurado sobre o custode produção para seus operários ou técni-cos graduados.

Neste caso, depois de apurado o custode produção no fim do mês, é calculado ovalor de venda da produção como se esti-vesse toda vendida aos preços correntes eapurado um hipotético "lucro de produ-ção", que serve como base mensal para adistribuição de uma percentagem de"participação no lucro de produção".

Este sistema émultiplamente prejudicialà empresa, pois induz a uma produçãodesordenada, para que o lucro sejamáximo- possa essa produção ser ou não vendida- e provoca falta de iniciativa de economiana época em que a empresa dela precisa,isto é, quando, por ordem superior, a pro-dução for diminuída porque as vendas di-minuíram. Nesta hipótese, a seção de pro-dução culpará a de vendas pela falta departicipação nos lucros. Sendo as vendasbaixas, haverá, ainda, a tendência de abai-xar o preço, com conseqüente diminuiçãoda participação no lucro de produção. E,por último, diminuindo os ganhos, faltará

1O. Por "deslumbramento' se enten-de o reflexo de uma ou duas boas oumás características ou ações sobreas demais. Por exemplo, ao enge-nheiro eficaz, que entrega a produ-ção, perdoam-se todas as demaisfalhas, devido ao deslumbramento.

11. Mesmo sem publicidade, a divul-gação da diferença teria rapidezsurpreendente.

63

Page 7: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

11m REVISITADA

64

vocaria o declínio das empresas marginais,como também faria com que a participaçãodeixasse de ser pecúlio extra, para tornar-se simples fator de equilíbrio salarial entreempresas.

•••••••••••••••••••••••É desejável que, num sistema

capitalista de livre iniciativa, hajaparticipação dos funcionários das

empresas nos lucros por elas obtidos.

•••••••••••••••••••••••Pior, ainda, é o defeito da participação

rígida quando as empresas pertencem aramos diferentes de atividades. Indústriasou empresas comerciais com baixo índicede lucro ficariam somente com a classemais baixa de funcionários, pois os maiscapazes teriam interesse em mudar para asempresas de lucro elevado. Assim, parasomente dar um exemplo, a indústria quí-mica, com alto índice de lucro, atrairia osbons empregados de escritório de indús-trias de baixo lucro - como, por exemplo,das fiações. Outra falha do sistema de dis-tribuição rígida, fixada em lei, é a trazidapela existência de empresas holding - le-gais em si - que diminuem o lucro.

MEDIDAS GOVERNAMENTAISDE INCENTIVO À DISTRIBUiÇÃO

Por todas as razões apontadas acima,quer-nos parecer que a melhor forma dedistribuição está na livre iniciativa da em-presa privada, auxiliada por medidas go-vernamentais que a propiciem e estimu-lem.

Assim, sabemos que a regulamentaçãodo imposto de renda permite, atualmente,no Brasil, no máximo de pagamento a em-pregados igual a três vezes o maior saláriomínimo vigente no país a título de boni-ficação, gratificação ou participação noslucros. As quantias superiores são taxadas.Para evitar fraudes, como a atribuição dequantias que não tenham sido realmentepagas a pequenos funcionários, esta me-dida é plenamente justificada. A partici-pação nos lucros exige, entretanto, a nãoser que fique limitada de antemão, que aempresa tenha o direito de considerá-lacomo uma despesa real de seu funciona-mento.

Outra medida possível, porém maisdiscutível, seria a que considerasse livre deimposto de renda e de taxação dos institu-tos de aposentadoria a quantia paga sob otítulo de "participação nos lucros".

Seria ainda necessário que houvessemodificações e adaptações em leis atuaisou em andamento no Congresso Nacionalpara que as empresas tivessem possibilida-de de considerar reinvestimentos de lucroscomo aumentos de capital que, transforma-dos em ações, pudessem ser distribuídosnessa qualidade para a participação noslucros - já que é intenção do governo di-minuir o pagamento de dividendos pelaaplicação do lucro da empresa no aumen-to do próprio capital ou em ações de in-dústrias de base (Projetonº 325/61 de 1961do Executivo que altera a Lei2.862de 4/9/56 e disciplina a aplicação de capitais pormeio de imposto de renda) dando benefí-cios na taxação.

Haveria, também, necessidade de modi-ficar ou adaptar a Consolidação das LeisdoTrabalho, para que a participação pudesseser paga parcial ou integralmente em ações(espécie) em vez de em moeda corrente dopaís, como o salário.

Deveria haver, ainda, permissão paraque as empresas pudessem comprar naBolsa de Valores ações suas, mantendo-asem caixa (sem direito a voto) para eventualdistribuição aos operários, se tal procedi-mento fosse considerado como o métodomais interessante de participação e nãohouvesse emissão de ações novas para talfim.

Finalmente, deveria haver determinaçãosobre a natureza da participação em suasrelações com o conceito de irredutibilidadesalarial, o cálculo de indenização e outrosaspectos legais correlatos.

CONCLUSÕES

É desejável que, num sistema capitalistade livre iniciativa, haja participação dosfuncionários das empresas nos lucros porelas obtidos. Pela natureza do sistema, estaparticipação deve ser deixada ao arbítrio decada empresa, , encorajando o governo, pormeio de vantagens fiscaise medidas contra olucro excessivo, não reinvestido, a distri-buição de certa percentagem dos lucros.

É natural que, dependendo do ramo aque pertençam,terãoasempresasindustriais

Page 8: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

ou comerciais menor ou maior lucro. Étambém natural, entretanto, que a distri-buição de parte dos lucros aos funcionári-os provoque um aumento de salários nasempresas de baixo lucro (ferrovias, porexemplo) que lhes permitam manter seusfuncionários.

Medidas governamentais que visassema uma uniformização nacional de lucrosretirariam, tanto dos empresários, quantodos operários, o incentivo à obtenção dealto lucro, conduzindo, em conseqüência,ao desperdício e, posteriormente, à socia-lização.

Quando todos os meios de produção,num regime socialista, estão nas mãos dogoverno e, por meio dele, nas mãos dopovo, o lucro deve ser mínimo, desapare-cendo a distribuição. Por esse motivo é quenão houve necessidade de considerar,numa análise como esta, a distribuição delucros num regime integralmente socialis-ta.

Já no regime capitalista, quando algu-mas empresas pertencem ao estado total ouparcialmente, ao mesmo tempo que outrasa particulares, a distribuição dos lucrospode ser incentivo para os empregadoresde ambos os tipos de empresa, verificando-se, no livre equilíbrio da oferta e procuraque, muitas vezes, tanto o operário quan-to o empregado graduado preferem a cer-teza de um bom salário a um salário infe-rior com eventual distribuição dos lucrosno fim do período anual.

Sehouvesse rigidez total na exigênciadadistribuição e na taxa de lucros a ser distri-buída, o resultado seria ou uma desorgani-zação no mercado de trabalho ou umaavalanche de regulamentos, determinaçõesregionais, industriais e comerciais, que ca-beriam por modificar a rigidez inicial e porcustar ao país provavelmente mais uminstituto burocrático. Temos, portanto,plena confiança no espírito cristão dosempresários e na a ação do governo que,através de medidas sábias, pode encorajara tão desejada participação nos lucros,evitando o perigo da fixação rígida.

MÉTODO DE CÁLCULODE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS

Empregados: A,B,Ce O - Lucro a distri-buir: Cr$ 400.000,00

2000 Cr$ 400.000,00

o salário do ano-base é transformadoem ponto-salário pela divisão por um nú-mero conveniente qualquer. Aqui esco-lhemos 1000.A soma dos pontos-saláriosdos quatro empregados deu 2000 pontos.É evidente que temos Cr$ 400.000,00a dis-tribuir proporcionalmente aos salários re-cebidos. Então, dividimos Cr$400.000,00por 2000para obter o valor do ponto-salá-rio em lucro a distribuir.

Cada ponto- salário corresponde, por-tanto, a Cr$ 200,00 de lucro a distribuir.Multiplicando, no caso de A, 720 pontospor Cr$ 200,00,observamos que:

A receberá 720 x Cr$ 200 = Cr$ 144.000,00

B 360 x 200 = 72.000,00CD

450 x470 x

200 =

200 =

90.000,0094.000,00

e que a soma das quantias distribuídas éigual a Cr$ 400.000,00.Considerando comovariante do sistema a distribuição pormérito:

Suponhamos que, no caso anterior, hajana empresa um sistema de notas de Oa 10para os funcionários, sendo 10atribuída aodesempenho ótimo.

13.860 Cr$ 400.000,00

65

Page 9: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

!1~~REVISITADA

Para obter o ponto-salário se procede como acima, di-vidindo por 1000. Em seguida, multiplica-se pelo númerode pontos de mérito. Fazendo a soma de pontos de méri-to-salário, encontramos 13.860. Dividimos Cr$ 400.000,00

por 13.860 e achamos o valor do ponto-salário-mérito emlucro a distribuir: Cr$ 28,90 (arredondado para 3 algaris-mos). Procedendo outra vez como acima, achamos que Adeve receber 3.600 x Cr$ 28,90 = Cr$ 104.000,00.

Inicialmente é necessário frisar o grandeproblema não resolvido - a confusãomental. Participação nos lucros não é re-posição de perdas inflacionárias nos salá-rios. O autor tem informações seguras deque o problema de perdas inflacionárias de3 a 8% ao ano (EUA, Suíça, Alemanha) nãoestá resolvido em nenhum desses países. AAlemanha tem indexação com o valorexato da inflação na aposentadoria, e só,mas a filosofia liberal da economia, o mer-cado livre, se estende ao operariado, prin-cipalmente neste começo dos anos 90. As-sim, torna-se tentador diminuir o salárioreal por meio de uma avaliação de méritoe para fazer aparecer o aumento comosendo de "produtividade" e não de ma-nutenção do poder aquisitivo do salário.Em conseqüência:1) Funcionários mais velhos costumam ser

prejudicados na avaliação, para desen-corajá-los. Em algumas empresas, quemtiver mais de 60 anos nem é mais avali-ado, perdendo salário, até ser forçado àaposentadoria. Isso acontece nos paísesacima citados.

2) Toda avaliação é subjetiva, ao menos emparte. Aquilo que os sindicatos alemãeschamam pitorescamente de prêmio de"bajulação", torna-se um mal mundial.

A CONFUSÃO "PRODUTIVIDADE-SALÁRIO"

12. Harpa, Zippa, Graucha, etc.

A produtividade - por sinal mais umapalavra sagrada no panteão patriótico -começou sua marcha no fim do séculopassado e no início deste com os seus pro-

66

fetas máximos Taylor e Gilbreth. Naquelestempos de inocência, a produtividade eraaumentada por meio de estudos de méto-dos e tempos, melhorando aqueles e redu-zindo estes. Pelo sincretismo japonês o es-tudo de métodos e tempos teve a suaincoronazione festiva no total de diversosprocedimentos - o layout agrupado in-glês virou célula no Japão, o just-in-timeamericano virou J.I.T., a REFA alemã viroucírculo de qualidade, o kanban na realida-de parece até brasileiro - usado em 1954pelo ex-aluno da EAESP Itagiba Santiagopara fabricar sapatos de crianças - e okaizen nada mais é que a velha simplifica-ção do trabalho inventado por Gilbrethdistribuída (gratuitamente) pelo mundopelo TWI (Training within Industry) dosnorte-americanos e dos países submetidosà sua influência no fim da 11Guerra.

Hoje, a produtividade no Brasil está nobinário: lucro reinvestido - modernizaçãode máquinas. O governo, no entanto, sen-do contra o lucro (como foi há 30 anos) masquerendo distribuí-lo e tirá-lo, consegueconstruir um edifício que corresponde auma comédia dos irmãos Marx." Na re-cessão sem lucro quem pode distribuí-lo?Com taxa de juro real anual ao redor de40%, quem pode emprestar dinheiro paramodernizar o parque fabril, já que o lucromédio no Brasil é um dos mais baixos domundo após o Imposto de Renda, muitomenor que nos EUA ou na Alemanha? Olucro médio de 3 a 5% compara-se com di-videndos na Alemanha de 10 a 20% sobreo valor das ações na bolsa. Caso o lucro

Page 10: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

suba, temos sempre algum governante queé contra o lucro - [ânio Quadros achouque lucro de 20% antes do IR sobre a ren-da era moral - enquanto o atualgovernante parece mais propício ao lucrogeograficamente determinado. Em 1954,discutia-se a unificação das tarifas elétricaspelo Brasil, já que o custo alto de algumasregiões não influenciava mais que 1 a 2%o custo total do consumo. A unificação foiabsorvida sem problemas. Agora, aumen-ta a pressão anti-ecológica sobre as regiõesnorte e nordeste para a geração de energiaelétrica, e procura-se a desunificação.

Produtividade é pagar bem aos operá-rios, para que possam adquirir pela eco-nomia de escala os frutos da produção. Osirmãos Marx, no entanto, diminuem o sa-lário e colocam para o fim da vida do assa-lariado uma pensão com redutor embuti-do, motivador de poupança que pode sersubmetida ao imposto sobre grandes for-tunas ou ao furor mental de economistascriativos.

A produtividade, voltando aos sistemasjaponeses, do tipo kaizen, não pode serburocraticamente regulamentada, isto é, oefeito da maior produtividade é a vanta-gem na lucratividade do inventor, e nãoum fator para baixar preços de venda. E olucro é distribuído, pois o comprador e oinventor talvez tenham ações, ou o operá-rio receba pela participação ações, oupartes do seu fundo de pensão em dinheiro.

•••••••••••••••••••••••A solução nacional proposta

no Brasil seria tirar os impostos daempresa nacional - competitividade

adocicada - vide o açúcar donordeste contra o paulista.

•••••••••••••••••••••••Nos EUA, o privilégio de invenção não

é absoluto: o governo federal processual-mente pode determinar a quebra do mo-nopólio, pela licença de produção. En-quanto uma empresa como a Dupont ten-tou defender-se (e perdeu) na Justiça, aBASFfoi muito feliz em licenciar o proces-so nos EUA: pela tecnologia da data decessão, enquanto a fábrica concorrente nosEUA era construída, a fábrica alemã tinhaobtido 15% a mais de rendimento pela

pesquisa e, portanto, apresentava umalucratividade muito maior. Reduzir o pre-ço impossibilitava o funcionamento daempresa norte-americana. A solução foiviver e deixar viver os alemães com lucromaior. A solução nacional proposta noBrasil seria tirar os impostos da empresanacional- competitividade adocicada -vide o açúcar do nordeste contra o paulista.

1) Os salários nos países chamados de"tigres asiáticos" são três vezes maioresque os brasileiros na mão-de-obra indus-trial. Apesar disso, eles são competitivosnos EUA. Exemplo: Taiwan e Coréia (Sul)têm o salário hora incluindo encargos so-ciais de US$ 1.50contra US$0,30a 0,40nocaso do mínimo brasileiro, este sem encar-gos e US$0,60 a US$0,80 com.

2)Salário reduzido pela não compensaçãoda inflação no Brasil não contribuiu paraa diminuição da inflação durante os últi-mos 20 anos. A dupla Bulhões-Camposconseguiu reduzir a inflação em 1964-1967,prefixando em 1965um aumento salarialanual de 40%e o aumento anual industrialde 10% (4 e 6% respectivamente por se-mestre). A mão-de-obra industrial caiu deíndice 100para 70para só em 1968chegarao índice 114de novo. Houve uma recessãomais fácil de absorver que a atual, pois foia primeira, e a inflação foi só 68%em 1963.Assim, caiu para uns 20% .

Ao mesmo tempo, Campos e Bulhõesusaram o método do carro stripped-down(sem extras e sem luxos) e descontos no IPI(naquela época IC - imposto de consumo-em automóveis, caminhões, geladeiras,máquinas de lavar etc. desconto este pro-gressivamente regressivo -1Q mês, 90%,2Q

, 80%e assim por diante.Conseqüentemente, as empresas traba-

lhavam com carga de ociosidade reduzida,os operários podiam conseguir prêmios deprodução e a inflação estava sendo ven-cida. O único ponto falho do plano foramos stripped-down-cars. Brasileiro não estavaquerendo os "pés-de-boi" (VW Fusca) ouos "candangos" (DKW- jeep) sendo que opé-de-boi não tinha tapetes, assentos atrás,frisos, aquecimento, luz interna etc.O votofoi do comprador: ninguém ficou com os"monstrengos" .

Hoje, o programa Campos-Bulhões seriachamado de "prefixação mexicana" com

67

Page 11: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

11!1/J REVISITADA

68

incentivo para economia de escala - quebeneficia os operários.

3) Incentivo funciona em duas hipóteses:quando está acima das necessidades doindivíduo e permite comprar algo que édesejável para o consumo, mas não algoessencial. Exemplo: uma moto além docarro ou um jantar em restaurante caro;quando o incentivo permite a sobrevivên-cia de quem tem salário baixo. Exemplo:Métodos Stakanovich.

4) Incentivo deve sempre comprar algoacima da sobrevivência. Exemplo: naAlemanha e em Israel o incentivo até cer-to limite é isentado do IRcaso sirva para acompra de: casa própria; ações da própriaempresa; fundos de ações ou investimen-to em caderneta de poupança ou despesasde casamento.

5) Participação nos lucros depende daexistência dos mesmos, o que é o óbvioululante. Mas qual é a confiança do ope-rariado nesta hipótese caso o governoconstantemente provoque animosidadecontra o lucro, ou o limite e impossibilitepor C.LPs, SUNABs ou congêneres, ouquando o lucro depende de contingênciasde mercados internacionais? Confiança éessencial.

6) A confiança do norte-americano noparadigma da confiável participação noslucros, na Eastman-Kodak, foi abalada,pois o negócio era tão bom que empregoseram "vendidos" pelos funcionários doDepartamento Pessoal por US$ 2000 a5000. Sem isso o empregado não era ad-mitido.

7)Operário insatisfeito, mal pago pela nãocompensação da inflação, com aumentonos impostos, vendo a aposentadoriaminguar não é precisamente quem se pro-cura em ter motivação patriótica de "dartudo pelo Brasil". Fracassou na URSS,fracassará aqui, sob qualquer nome, sejaentendimento nacional ou outro.

8) É mais interessante instalar a filial deempresa nos EUApois os investimentos lá,por unidade produzida, são menores, a

matéria-prima é a mesma e os técnicos eengenheiros mais abundantes e salarial-mente motivados para maior produtivi-dade. Investimento pressupõe clima fa-vorável e lucro a reinvestir, não discursoscondenando empresários.

•••••••••••••••••••••••Operário insatisfeito, mal pago pelanão compensação da inflação, comaumento nos impostos, vendo aaposentadoria minguar não éprecisamente quem se procura

em ter motivação patriótica de /I dartudo pelo Brasil".

•••••••••••••••••••••••

9) Uma palavra mal colocada em raivadestrói anos de preparo de uma imagem.Operário se fia em fatos, não em discursos.Poder aquisitivo fala mais alto que publi-cidade. O cálculo sobre o retorno de in-vestimento em certos estudos demonstra ainviabilidade dos mesmos. Um médico,por exemplo, gasta dez anos entre cursi-nho, faculdade e residência, para receberpor 4 horas de serviço, em janeiro de 1992,no serviçopúblico estadual, Cr$ 300.000,00;portanto, em 12 horas pode chegar aCr$ 900.000,00,com responsabilidade porerro médico apontado por clientes (pacien-tes) insatisfeitos com o serviço gratuito esem seguro contra terceiros por erro, talqual nos Estados Unidos e na Alemanha.Só médico especialista que se livra do Es-tado pode ter retorno positivo.

10)No Japão, a bonificação para operári-os em anos de lucro pode chegar até 6 oumais salários, mas se houver prejuízo, hádiminuição do salário-base. No Brasil, enão só por motivo legal, a diminuição dosalário-base seria chegar ao stalinismo danorma da produção - salário que não al-cance quem tenha fome e frio.

11)Economista-planejador que não este-ve jamais em frente a máquinas não co-nhece o cheiro de fábrica. Qualidade,produtividade, massa salarial, benefíciosextras são abstrações - para ele o preço éderivado do custo, curvas dão o ponto de

Page 12: NO LUCRO DA EMPRESA - SciELO - Scientific Electronic … · 2013-06-14 · A PARTICIPAÇÃO DO EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA A participação dos empregados no lucro ... em dólares

A PARTICIPAÇÃO 00 EMPREGADO NO LUCRO DA EMPRESA

melhor lucro etc. Uma piada que parecereal. Não se deve esquecer o plano de tor-nar o metrô mais eficiente: ter vácuo nassuas instalações, assim não haverá resis-tência do ar. Teoricamente o incentivo éperfeito, na prática ...

Na prática, para fins de participação ouprêmio qualidade-produtividade precisa-mos apresentar o gráfico (ábaco) para cál-culo (figura 1, na próxima página) usadosob esta ou formas semelhantes na Ale-manha.

As próprias máquinas podem ter culpapela qualidade insatisfatória, e não ha-vendo investimento, a nada pode o operá-rio aspirar.

Nota-se que o PIS - participação nofaturamento - nada tem a ver com pro-dutividade e qualidade.

Exemplo:110% produtividade com 1% de defeitos

dá salário de 130%ou100% produtividade com 0% de defeitos

dá salário de 130%ou100%produtividade com 4% de defeitos

dá salário de 90%

12) Toda avaliação é, ao menos parcial-mente, subjetiva, mesmo para prêmios.

A partir do grande progresso da pro-dutividade japonesa, por exemplo, na in-dústria automobilística (14 homens-horana linha contra 16 a 24 h-h por carro nosEUA e na Alemanha e 36 h-h no Brasil) háconstantemente a tentação dos economis-tas de gabinete de comparar o desempenhodo Brasil com o do Japão. Na realidade, noJapão há pressupostos que a admi.nistraçãoocidental não tem:• investimentos produtivos são financia-

dos pelos bancos japoneses a fundoperdido com juros subsidiados.

• o técnico e operário japoneses estão se-guros de seu emprego mesmo quando atentativa técnica malogra, desde que nãoseja produto de erro grosseiro ou enga-no catastrófico.

• o tempo não significa para o oriental otime is monev do norte- americano.

Dentro desses pressupostos o técnicojaponês trabalha com métodos velhos co-nhecidos dos ocidentais, com maior su-cesso e brilho.

ÁbacoQualidade-produtividade para fins salariais e incentivo

Salário +% incentivo

Produ~vidade = ProduçãoPadrão

UG

Na atual situação brasileira, para poderter sucesso com um plano de incentivos eprêmios, há necessidade de confiança e nãode sucessivos choques-confiscos etc. queabalaram essa crença. Tornou-se o Paíspessimista. Não vejo hoje necessidade deum plano nacional de participação nos lu-cros, insisto em participação. moderna naliderança-cogestão e no democrático jogode proteção do industrial- até que ele setorne competitivo internacionalmente.Toda luta no GATT e na Comunidade Eu-ropéia é sobre tarifas protetoras.

Portanto, toda participação como des-crita há 30 anos é válida; porém, sem lucroe proteção parcial não há crescimento nemparticipação ... devemos baratear a impor-tação de matérias-primas e a estrutura dotransporte, principalmente marítimo e dosportos, para que pela competitividade equalidade de novas máquinas, o operáriopossa ter inicialmente salário digno e de-pois participação.

Conclusão:

Res non uerba."Ouvi 30 anos de discursos de participa-

ção, mas a única, de sucesso parcial, é a doImposto de Renda e outros da Receita Fe-deral. ..J 13. Fatos, não palavras.

69