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.NiONSENHOE G aVME

SÃO PaV LO M.CM.LIhttp://www.obrascatolicas.com

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M onsenhor G aum e

Protonotário Apostólico

O Sinal da Cruz

Primeira tradução brasileira

l 0 5

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por Mons. Gaume

Protonotário Apoctôlico

“In. hoc Signo vincM." Por este Sinal vencerás. (Euseb. vit. Conct., 1,22)

Livro que de Pio IX mereceu um "Breve" especial.

Primeira tradução brasileira

cuidadosamente calcada sobre a Quarta Edição Francesa.

19 5 0

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P e lo sinal t da Santa Ç ru z.

^,ivraí-nos Deus. t Nosso Senhor,

dos nossos t inim igos. E m nome

do Padre e do F ilh o t e d o E sp í­

rito Santo. Am en.

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P R E F A C IO

(da Segunda Edição Francesa)

Duas palavras:

uma

sobre a publicação deste livro;

outra

sóbre o resultado inesperado que ele obteve.

1

Como surgiu a idéia. desíe livro?Quem pr^aoveu a circumíancia tão impreíjista, que-

c cie deu origem?Porquê seré q?.íe Iwro destindo a despertar no-

mwndo católico a Fé '1W Sinal da C ^ , só k oje é que apo- rece e a uns dois ou trcs séculos. antes ?

Qual a. razão de, oté nossos dias, nenhum Papa ter- íido a idéia de corweder uma graça esp iriíw l a esta fór- muia. que é a. mais veneravel, a mais antiga, a 'lt'ULiís habi-- íw-l da Religião?

Como fo i que P io IX , em meio a tantos ocupações,, Se dignou escutar nossa débil vóz e Se apresso« em ad-

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uertir os atwlis Cristãos a que r e c u a m cro da Cruz,c omo semrwe ftzcram O!t antigos?

Com que fim o Santo Padre ligou o esta ^nitica Indulgência duplamente preciosa?

Até ôntern, não sabíamos responder a tais perguntas. Hoje, a clarividência está sôbre elas derramada.A Providencia não procéde nunca. a êsmo.N a Igreja tudo vem muito a propósito.Deus está mais oque habituado- a servir-Se mesmo

daquilo que ^ lo eriste para confundir aquilo que existe.E ’ por isso que em Sua Divina Providência Êle é tão

admiravel assim nas consas pequenas como nas grandes.

— “ iWagnus in magnis,

non parvús i » minimis" —

Houve tempo em que, com. todas as forças do seu do­mínio, da sua crueldade e da sua raiva, Satanás era o dominador das idéias, das artes e dos teátros, das leis, dos costumes e das féstas.

Dominando tronos e altares, o terrível inimigo da Hum^^idade manchava tudo e tudo convertia em ins­trumento de corrupção.

Mas . . . os primeiros Cristãos instruídos diretamen­te pelos Apóstolos, ficaram sabedores de que

“ O Sinal da Cruz é a — arma. de precisão — contra Satanfis ".

Em lutn permanente com tal inimigo, a.queles Fiéis tinham sempre recorrido ao Sinàl da Cruz como meio

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infalivel de dissipar a fm^ça fascinariora e de arredar aa sétas in fl^ a d a s do furioso adversário.

Daí o uso do Sinril da Cruz, como o Exorcismo de ca­da instante.

Reflitamos bem.

Se h-oje (sem premeditado designio do autor) apare­ce uma óbra destinada 2 fazer os Cristãos re to ^ re m a arma vitoriósa de seus maióres;

se apezar de tantas contrariedades esta óbra. se espa­lha com rapidez;

se até em Roma adquiriu éla o mais precioso dos sufrágios;

se, finalmente, depois de dezoito séculos, o Vigário de Jesus Cristo, o Chefe do longo combate, agora por um áto solêne concita o Mundo Cristão a recorrer constan­temente ao Sinal outróra vitorioso sobre o paganismo,

que significará isso?E ' sinal que nós nos achamos em circunstancias bem

análogas a aquelas dos primeiros Cristãos.Êles se viam em face a Satanás, rei e deus do século; êles viviam no meio de um mundo que não éra Cris­

tão, que o não queria ser, que não queria que alguem o fôsse, que perseguia a todo o transe a quem insistia em o ser.

E nós?Não estamos nós hoje, em face a Satanás, desen­

freado M mundo, a insurgir as nações contra Jesús Cris­to, e a faze-las exclamar com vós mfatiga,'el:

— Não queremos mais que Êle reine sôbre n6s?

"Nolumus hune renna:re super n,os 7

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Em que meio vivem os Cristãos de hoje?Não esUlo êles c v o h ’idos em um mundo, que deixa.

rle ser Cristão, que o não quer ser, que não quer que al- guem seja, e que persegue por todos os môdos a quem se obstina em o ser?

A astúcia, a violenda, a injúria, a blasfêmia, o sar­casmo, a calunia, a espoliação, o exílio, e até a morte, não silo meios empregados hoje contra nós os filhos tal como- outróra contra os nossos pais?

Não são hoje armas contra o Cristianismo, as artes, as ciências, as leis, os livros, as féstas e os teátros?

E será de espantar, que a Sentinéla de Israel, o So- bcrano Pontífice, venha, por um áto desconhecido a. seus piwle^asôres, despertar nos Cristãos a Fé no Sinál pro­tetor da Igre ja e da sociedade?

Tal é a analogia, que até os próprios protestantes n reconhecem.

Na opinião dêles (como é a nossa) para o mundo atunl não ha salvação a não ser na Cruz-

No começo de Outubro, o jornal prussiano, A Gazeta da. Cr?íz, publicou um longo artigo intitulado: "Pm ' este Shul.l vcnccrõs ” ! " In hoc Signo vinces".

Estamos hoje em c()rnbate espiritual contra o mes­mo anti-eristianismo que, ha muito, Constantino vencê- ra rom a espada.

Sem duvida que hoje tambem é neceasário dizer: Vení^crfis por este SiniLl! “ In hoc Signo vinces.”

Potencins oc^dtas e ferózes assaltam a Autoridade quCt, por graça de Deu11, é chave de' toda essa abóbada cha­mada — "ordem ooâal cristã.”

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E’ necessário que o mal e o Remédio sejam igual­mente incontestaveis.

Do contrário não se havia de ver aos protestantes, — esses que ha muito haviam repudiado o Sinal da Cruz co­mo um ato de idolatria, — proclamando agora a necessi­dade dele.

Sim. O Sinal da Cruz é arma indispensável para a vitória sôbre as potências ocultas e ferózes, cujo triunfo nos arrasta às condições de um pov'0 bárbaro.

2

A providencial aparição do livro

— O Sinal da Cruz —

explica por Bi mesma os rápidos resultadosv que e ^ livro obteve.

Três traduções apareceram em diferentes linguas da Europa; uma na Alemanha, outra em Turim, e outra em Roma.

Os jornais católicos, à porfía, o recom enda.

Muitas cartas nos têm trazido felicitações dos mais respeitmeis homens da França e. do extrangeiro.

Todos concordam

1.0 — em mostrar come veio a propósito este humilde trabalho;

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2.0 — em fazer sobressair a s.rrandeza da espiri­tual, que é do Sin.ál da Cruz uin dos resultados eternos.

Citemos algumas linhas; e os que as escreveram dig- twm-se receber aqui a expr^^lo de meu r^nhecim ento.

A sábia revista napolitana — “ Scienza e fede” — ( Ciência e Fé) termina sua longa análise, dizendo:

“ Que proí,e-ito, perguntará nossa sociedade enterrada n.o m a íeria li.!^ até a;s ventas, que proveito poderá íirar tr. h.^^^^idade desía óhra de Mon.senhor Ga a:ume?

Dará- ela algum socorro aos pobres ope^nirios que a rr/mlução deixou sem trabalho?

Alistará alguns voluntários para a Polônia?Exterminará os bandidas que assdlam a Italia?Fará mu,iío mais:

— Do.rá o pão da F é ao..: que carecem dele. —Na guerra encarniçada que temos a susíentar contra

o bandido in/e^rnal, os Cristãhs de novo se oJistarão debai­xo do Estandarte da C’ ’uz.

E.ç.qc Estandarte ^ v in o que salvmt o mu.ndo e' o imico dotalo de /orr;a poim hoje sal-oa-lo ainda.

Bcja o /utítro q«.c fôr, o Estandarte da Cruz nos en­sinará ase^rmos ndbrcíi uencedores ou nóbres vitimcz.s.

" [ 71. h.oc Signo ZJinces."

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Maravilhado por vêr uma Indulgência ligada ao Si­nal da Cruz, o veneravel deeâno da cadeira católica es­creve-nos:

"O Sinal iüL Indulg^icíado a pedido vosso!. . .Que dirão tantas pessôas que não) ^M ro aqui nomea-

lcuf ■O Santo Paãre acaba de pagar-vos com prodigalidade-

o trabalho que escrevestas para deter o paganismo que nos invade.

Toda. a Ig re ja recebe v6s e por causa vossa) oinsigne favôr duma /ndulgênaid, larga vorno o «niverso,. duradoura como os séculos; Indulgência que, d'kora em diante, !» c^ la h ^ , a. c^ la segundo, cairá, como orvalho- re^ulgerante, sôbre as A l^as do PurgatórW.

Qus <k B ^ ^ ^ s não c ^ ^ ^ ã o sôbre vós estas santas Alwws/

E se, depois iüL morte fôrdes obrigado a fazer-lhes u.ma visi’ta, que recepção vos esperará!"’.

Deixemos outros testemunhos, e passemos a algumas ■ peças emanadas de Roma.

A comissão encarregada de velar pelas escólas re-. gionárias entendeu dever dirigir aos diretores a seguinte circular:

“ Por entre um gra,1tde número de livros inuteis e ■ perigósos, especialmente para tr. mocidatle, não faltam-

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livros ttteis e próprios a derramar no espti.rito cre^s-.ças as melhores maximas e o amar das p r a í i ^ maií? san- ias de nossa Augusta Religião.

Uma destas obres é, sem contradição, a intitulada:

— O Sinal da Crm —

que h«. p ^ o saiu da i?nprensa Tiberirm e que tem sido elogiada por um grande número de jornais católicos.

O abaixo assinado, rec<omendando c ^ insict^wia ao-S' senhores mestres, nõo cconsintam, em esoolas senão

. óbras aprovadas pela comissão, egualmeníe lhes recomen­da faça'rn que esta óbra seja comprada e lida cpor os dis- cipuloo.

Mais lhes diz: que ela poderá ser ^ ida em prêmio nas distribuições particulares que se costumam fazer nas

.e.c;cólas respectivas.”

“ Roma, do- Secretário da comissão,

o deputado

(a) ■ L. P e i r ^ . "

Antes desta circular havia já apareeido o documento seguinte:

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C A R TA D E S. EM. O CARD E AL A LT IE R T '

a Mons. Gaurne

Protonotario Apostólico.

Roma, 17 de Agosto de 1863

“Ilustríssimo Monsenhor,

Com a publicação de vosso admiravel livro sôbre o Sinal dOA Cruz haveis prestado novo e mui n ^^ve l ser­viço à causa da Igre ja de Jesus Cristo.

Na verdade, fizestes conhecer por um modo o mais atraente, tudo o que contém, tudo o que ensina., tudo o que opera de sublime, de santo e divino e por conseqüência de soberanamente proveitoso às A l^ s , esta F^6rmula Sa­grada, tão antiga como a Igreja.

O Chefe Augusto da mesma Igreja, o V igário de Jesús Cristo, o Soberano Pontífice, não ^podia deixar de acolher com gosto, uma óbra tão preciosai de ^ ^ n h a . uti­lidade ao povo cristão.

Assim, não s6 exprimiu viva satisfação, quando de- puz em as Sagradas Mãos o exemplar que por minha via oferecestes a Sua Santidade, mas dignou-se, além disso, atender com bondade o manifestado desejo de que à prá­tica do Sinal da Cruz se ligasse uma Indulgência, exci­tando os Fieis ■ a usal-o sempre que fosse possivel e sem acanhamento para proteção e defesa da própria Alma.

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No Breve que vai junto vereis quanto o Santo Padre foi g e n e r o ao conceder semelhante graça e como faz apreciar bem seu valor.

Importa muito que este novo favôr do Supremo Dis- pensador dos Tesouros celéstes concedido em proveito da Ig re ja militante seja univers^almente conhecido, quando vosso lirvro mui excelente chegar à. inão de todos e fôr vos­sa 6bra devidamente avaliada.

N a edição italiana, vinda ■ muito a propósito e cuja tradução fo i feita pelo ineomparavel Angelo d'Aquila, exirte já o Breve de. que falamos;' e é necessário inseril-

nas demais edições todas que devemi v ir sucedendo.

Está pois, preenchido o vacuo que haveis notado- na — delle Indulgence — (Coleção de indulgên­cias).

Aasim, por efeito de vosso trabalho, cujo fim é atrair a atenção universal para o primeiro Sinál do culto que todos devem prestar ao principal instrumento da Re­denção, vê V. EXcia. o tesouro da Redenção aberto para bem das Almas que vivem sôbre a terra ou das que desce­ram ao Purgatório.

E ' a digna recompensa e certamente a que mais V. Exeelencia aspira.

Aceitai, Ilustríasimo Monsenhor, a expreesão da mai!> aineera e elevada estima com que sou,

De V. S. Uma.

criado muito afetuoso

(a ) O. - Cardeal A líie t i

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BREVE DE SUA SAN TID A D E

P/O IX , P A P A

— "A d perpetuam rei memoriam” —■

Plenamente certos de que o salutar Mistério da Re­denção e a Virtude Dilvina se contêm no Sinal da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, dele faziam uso freqüen­tíssimo os primitivos Fieis da Igreja, segundo os mais antigos e mais insignes monumentos.

Por este Sinal começavam todos os seus atos.

“ A cada movimento, a cada passo, ao entrar ou

“ ao saír de casa, ao acender as luzelc<l, estando

“ para comer, quando nos juntamos, ao praticar "qualquer aç.ão ou no ato de partir para qual-

“ quer logar, nós marcamos a nossa fronte com o

“ Sinal da cruz,” — dizia. Tertuliano.

Havendo isto em consideração, julgamos a propósito despertar a piedade dos Fieis para com o Sinal salutar de n osa Redenção, abrindo os Celestes Tesom'os das Indul-

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gcncins, a-fim-de que, imitando os belos exemplos dos primeiros Cristãos, se não envergonhem hoje os Católi­cos de publica e abertamente, munir-se com frequencia do Sinal da Cruz, que é o Estandarte da M ilida Cristã.

Eis porque Nós, confiando na misericórdia de Deus Onipotente e na autoridade de seus bemavcnturados Apóstolos Pedro e Paulo, concedemos, pela fórma habi­tual da Igreja, a todos. e a cada um dos fieis de ambos os sexos que fizerem o Sinal da Cruz, contritos ao menos de coração e invocada a Santissim.a Trindade, cincoenta dias de Indulgência, pelas penitencias que lhes forem im­postas ou qu-e por outro motivo tivessem de cumprir.

Concedemos além disto, pela misericórdia do Senhor, que estas Indulgencias poosam ser aplicadas por módo de sufragio às Almas dos Fieis que morreram em graça.

As presentes Letras valham até a perpetuidade, não obstante quanto p o ^ haver em contrário.

Queremos, além disto, que às cópias manuscristas destas ou os exemplares impressos das mesmas, tendo a assinatura d’um Tabelião e estando munidas do sêlo de um Eclesia.stico constituído em dignidade, se dê absoluta­mente a mesma Fé que se daria a estas presentes Letras, se f o ^ m exibidas ou mostradas.

Tambem queremos que um exemplar destas mesmas Letras seja remetido à Secretaria da Sagrada Congrega­ção das Indulpondas e Santas Reliquias, pena de nulida- cie, conforme o decreto da mesma Sagrada Congregação com data de 19 de Janeiro de 1756, aprovado por Nosso predecessor, de santa. memória, o Papa Bento X IV , a 28 do dito mês -e ano.

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Dado em Roma, junto a S. Pedro, sob o Anel do Pes­cador, a 28 de Julho de 1863, decimo oitavo de Nosso Pontificado.

(a ) N. Cardeal Paracciani CiareUi

As presentes letras aportóUcas em fórma de Breve, em data de 28 de Julho de 1863, foram (segundo o decreto da mesma Sagrada Congregação com data de 14 de Abril de 1856) a)lresentadas na Se­cretaria da Sagrada Congregação das Indulgências, a 4 de Agosto do mesmo ano.

Dou fé de haver sido dada em Roma, na mesma Secretaria, dia e ano ut supra.

(a) A. A«eb. Prinzivam Subetituto

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N O T A P R E L / M / N A R

(da primtira edição francesa)

No mês de Novembro dêste ano, chegou a París, para seguir os cursos de um colégio de frança, um jovem Cató­lico, pessoa de grande distinção.

^Fiél ao uso tradicional de fazer o Sinal da Cruz an­tes e depois de comer, foi, desde o primeiro dia, objéto de espanto para os condiscípulos pensionistas.

O dia seguinte, em virtude da — liberdade dos cuUos — o objéto das zombarias éra ele.

Vindo-me visitar, pediu-me que algo lhe eu diseésse a respeito do Sinál da Ciuz; pois os condiscípulos preten­diam faze-lo cnvergonhar-se de o fazer.

Respondem àquele pedido

as cartas seguintes.

París, 1862.

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P R IM E IR A C A R T A

París, 25 de Novembro de 1862

Sumario:— 1. O mundo atUAl — 2. Hoje o Cristão ncío

foz, ou faz rara vezes, ou faz mc&t feito o Sinal da C ^ . — 3. Os antigos tõos faziam-n'o, e muitas vezes, e bem feito. — 4. Quem estará a brazão e com a Verdade?

Meu caro Frederic-o,

Apenas quinze dias ha que os jornais anunciaram o naufragio do navio comandado pelo Capitão Walker.

A noticia que ambos lemos nos fo i dolorosa pela morte de passageiros conhecidos nosaos.

Tinha o navio batido contra um escolho e um largo rombo se havia declarado. Apesar dos esforços da equi- pagem, fo i impossível tapa-lo. Em menos d’uma hora o porão estava inundado; e o navio descia a olhos vistos abaixo da linha de flutuação. ■

Diante do perigo, alijaram ao mar a.s mercadorias; além das mercadorias, as provisões de guerra; depois os rn:>veis e uma parte dos aparelhos. P o r fim lá se foram

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as provisões de boca, excetuando duas ou três pipas de agua e alguns sacos de bolacha.

Tudo inutil.

O navio continuava a afundar-se e o naufragio tor­nava-se iminente.

Gomo último ^ u r s o , Walker mandou lançar as lanchas, e muito à pressa entrou numa. Infelizmente a maior parte dos passageiros em vez de nelas encontrarem salvamento, encontrou a morte.

Com pequenas variantes, esta é a história dos gran­des naufrágios.

Em transes tais, os que comandam o navio e as de­mais pessôas que o ocupam são prontos em. alijar tudo quanto podem.

A vida primeiro que tudo.

1

O mundo atual meu caro, (este mundo que ainda se diz cristão e ao qual sem duvida pertencem teus Jovens condiscípulos) oferece mais de um ponto de similhança com um navio avariado e prestes a perder-se.

As furiosas tempestades que desde longo tempo não têm cessado de bater contra a Náu da. Igreja, nela têm aberto largos rombos.

Em ondas grandes foram entrando doutrinas, costu­mes, uso:i, e tendencias anti-cristãs.

E ' necessário um abrigudouro; não para o Navio que é imperccrií,.el mas para os pasaageiros que o não são.

O que se tem feito?

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Não é aO' mundo abertamente pagão que me refiro; dele j;á o naufragio está consumado.

Falo é deste mundo que ainda pretende ser cristão.

Que fez ele?

Que faz cada dia às provisões de guerra e de boca, às mercadorias, aos móveis oe aparelhos de que a Igreja ti­nha provido a Náu, a-fim de assegurar contra o impeto dos ventos e contra os escolhos, o bom resultado da na­vegação até ao porto da eternidade?

Tudo ou quasi tudo lançou ele ao mar.

Que é feito da oração em comum no seio das Fa-- milias?

No mar.

Onde andam os estudos da Doutrina, as leituras pie­dosas e a meditação?

No mar.

Onde ficaram a assistencia habitual ao Santo Sa­crificio da Missa, o Escapulário, e as contas do Rosário?"

No mar.Onde está aquela santificação séria do Domingo, dia

reservado unicamente para assistir à Santa Missa inteira. e para escutar às pregações da Palavra de Deus e aos Oficios Divinos; para a visita dos póbres, dos aflitos e- dos doentes?

No mar.Onde foram parar a prática frequent' e regular dos:

Sacramentos da Confissão e da Comunhão, a observancia. às Leis do jejum e da abstinência

No mar.

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Onde está aquele espírito de simplicidade, de modés­tia, de mortificação no vestuario, nos divertimentos, nas habitações, nas mobilias, no alimento?

No mar.

Onde está o Crucifixo? Que é das Imagens santas? ■e a Agua benta?

No mar.

Tudo n{) mar! . . .

E a Ntá.u continua invadida pelas ondas! . . .

Diminue o espírito cristão e o espírito mundano ci-esce a olhos vistos.

Entram os viajantes nas lanchas, isto é, nas reli­giões que eles próprios criam segundo suas edades, suas posições, seus temperamentos, seus gostos.

Aos Domingos vão à Igreja o mais tarde possível, assistem a um pedaço da Missa apressada, e ainda sabe Deus, com qu€ intenção!...

A uma Missa cantada não aguen^m.Ir à explicação da Doutrina e às Vésperas, nunca (1 ).

O Cristão de agora frequenta os espetáculos e os bail(!S, lê tudo o que se apresenta, pi-atica tudo o que quer; só não pratica aquilo que deve.

Eis os frágeis batéis a que o homem que se diz Ca­tólico, hoje confia a própria salvação.

Por ventura poderá ele admirar-se de tantos nau­frágios?

E a gente nóva que assim se vai creando?

(1) lloje, u mHÍori:i D.cm Pabc o que sejam Vcspercs.

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Entre osusos católicos imprudentemente abandona­dos pelo mundo atual, um ba, entre todos respeitável, que do naufrágio eu bem quizéra a todo o custo salvar.

E ' aquele, meu caro, que teus jovens condiscípulos desprezam, sem saberem o que fazem :

E ' o Sinal da Cruz.

E ’ tempo de curar a conservação dele.

Se não, daqui a alguns anos terá seguido o caminho de tantas outras práticas tradicionais que devemos! à ter­nura maternal da Igreja e à piedade esclarecida dos sé­culos cristãos (1 ).

2Meu caro Frederico, queres tu saber o triste para­

deiro do Sinal da Cruz no mundo cristão de hoje?

Coloca-te um Domingo à porta duma. Igreja.

Observa bem a multidão, que entra na Casa de Deus.

Um grande número entra com altivez ou louca­mente . . . (que, pora o logar santo, é o mesmo); entra sem nem olhar para a pia d'Agua benta e não faz o Sinal da Cruz.

Outros, em número menor, apenas fazem um gesto exteri^n* de tomar Agua benta e de fazer o Sinal da Cruz.

Tu os verás mergulhar na pia a mão com luva; é isso tão errado como seja o confessar-se ou comungar de luvas.

Outros muitos, pelo modo com que fazem o Sinal da Cruz, melhor seria que o não fizessem.

Estou certo de que o mais habi:l explicador de hiero- glyphicos, diante daquilo ficaria em dificuldades.

(1) Realizou-se a previsão, infelizmente!

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Um tal movimento de mão- irrefletido, apressado, truncado, maquinai, a que é impossível designar forma ou dar uma significação, se é que ligam a menor impor­tância ao oque fazem, eis deles o Sinal da Cruz ao Do­mingo.

Nesta multidão toda de gente batisada, quantas pes- sôas encontrarás que façam sériamente, regular e reli­giosamente, o Sinal santo. da salvação eterna?

Ora, se em publico e em circunstâncias solenes, a maior parte não faz ou faz mal o Sinal da Cruz, tenho dificuldade em me persuadir que o façam e o façam bem, noutras ocasiões onde há, na aparencia, menoo motivos rlc o fazer, e de o fazer bem.

E' pois um fato:

os Cristãos de hoje ^ te fazem, ou fazem rarss vezes, ou fazem mal fe ito o Sinal da Cruz.

Sôbre este ponto, como em outros muitos, somos antipodas de nossos avoengos.

3

Os Cristãos primitivos da Igrej a faziam o Sinal da Cruz, faziam-no bem e o faziam muitas vêzes.

No oriente como no ocidente, em Jerusalém, em Atenas, em Roma, os homens e as mulheres, os mancebos e og velhos, os ricos e os póbres, os Padres e os simples Fiéis, todas as classes da sociedade, observavam religio- aftmente este uso tradicional.

A história não oferece fato que seja mais certo.Todos os Padres da. Igreja, como testemunhas ocu-

Ia h i , o dizem; e todos os histonadores o certificam.

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Encontrarás isto, meu caro, na obra intitulada — De ornce — , trabalho do teu sábio compatriota Gretzer.

Em nome de todos, escuta agora s6 um — Tertu­liano.

“ A cada movimento e a cada paS&O, ao vestir e "a o calçar, ao entrar e ao sair de casa, ao lavar “ ao assentar à mesa, ao acender as luzes, ao dei- “ tar e ao levantar, qualquer que seja o áto que “ pratiquemos ou o logar para que vamos, sem- “ pre marcamos nossa fronte com o Sinal da “ Cruz (1 ) . ”

Eis o que está bem claro e é muito certo:

— Nossos avós de um lado ou de outro a cada instante faziam o Sinal da Cruz. —

Sim. Não só eles o faziam sôbre a fronte, mas, a cada ■pasoinho, também na boca, sôbra os olhos e no peito (2 ).

Daqui resulta que

— Se os primeiros Cristãos reaparecendo hoje nos logares públicos ou em nossas casas, f i ­zessem o que faziam ha dezoito séculos, se­riam tocados per loucos — .

(1) Ad omnem progressum atque promotum, ad omnem aditurn. et exitum, ad vestitum et calceatum, ad lavacra, ad mensas, ad l umina, ad cubilio, ad sedilia, quocunque nos convertatio cxercet, frontem crucls signaculo terlmus. (De Coron. milit. c. III).

(2) In frontibus et in ocuUs, et in ore et in pectore et in om- nibus membris nostrls. (S. Ephrem, Sern. in pret. et vivlt crucem). Os primeiros Cristãos faziam muito a. miúdo o SI­nal da ^ruz com o polegar sôbre n fronte, na boca, nos olhos. sôbre o peito, em todos os membros. (Smto Efrem, Se rmio sôbre a Santa Cruz).

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4

E', pois, muito v-erdade que, a i’espeito do Sinal dn Cruz, os Cristãos modernos estão sendo uns a.ntipodas dcs primeiros Ci^istãos.

A Verdade é uma só; e a razão s6 pode estar de umlado.

Portanto, meu caro Frederico, uma das duas: oH a razão está com <ls Cristãos de agora, ou ela. ha de estar com os primitivos Cristãos.

1.0 — Si a razão estiver com os de agora, então os.antigos não se justificam e por isso não pas­sam. de uns nécios.

2.0 — Si os primeiros Cristãos tinham razão e mo­tivos bastantes para se justificar, os Cris­tãos modernos é que estão errados.

Não ha meio termo.

A razãG com ÇMcm estará ?

Tal é a questão, meu caro Frederico.Questão grave; muito grave.Poi certo é ela mais grava do que julgam teus con-

cllscipulos e todos os que pensam a modo deles.

E' do que espero te persuadir . . .

nas eartas seguintes.

Adeus.

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S E G U N D A C A R T A

París, 27 dê Novembro de 1862.

Sumario: — 1. Precedentes a .favor dos primeiros Cris-

tõos. — 2. Primeiro precedente: a pro­ximidade dos Apostolos. — 3. Segundo- precedente: a santidade. — 4. Terceiro- precedente: o uso dos verdadeiros Cris­tãos. — 5. Foram os Padres da Igreja. grandes genios? —

Meu caro Amigo,

Nas causas ordinárias, as circunstâncias exterio­res representam um grande papel.

Dada a igualdade das testemunhas diretas, muitas vezes, elas é que constituem motn-o para formar a opi­nião dos Juizes.

Tais circunstâncias se chamam: os antecedentes, a. posiç-ão, o carater e etc. da.'! pessôas interessadas no deba­te. Do processo que nos ocupa não havemos de as. afastar.

Antes pois de produzir para os primeiro3 Cristãos razões tiradas da própria natureza do Sinal da Cruz, exa­

1

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minemos as circunstâncias ou precedentes que miUtam a favor da conduta deles.

2

Primeiro precedente:

— a proximidade dos Apostolos.

Os Apostolos são Homens que conviveram com o Messias que é Nosso Senhor Jesus Cristo Verbo Encar­nado, a Verdade em Pessôa.

Viram-No com os próprios olhos, tocaram-No' com suas ^mãos. Foram os únicos depositários e os orgãos infaliveis da Doutrina do Senhor.

Ordem lhes tinha sido dada pelo Divino Mesb’e de a ■ensinar completa : nem de mais, nem de menos.

Por seu turno os primeiros Cristãos viram os Apos­tolos e os Homens Apostolicos; trataram com eles e os o u v ir a .

Deles receberam a Fé e por eles foram Batizados.

Foi portanto nas fontes da Verdade que eles a be- beram.

Da Doutrina Apostólica, a quem tudo deviam., é que nutriam o Espírito; dela faziam a regra das próprias ações e com inviolavcl fidelidade a observavam: perse- ue^nnícjí in d.octrina aijosíolorum.

Nunca ninguém esteve em melhores condições do que eles para conhecei" o pensamento dos Apostolos sôbre a Doutrina de Nosso Senhor.

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Se, pois, os primeiros Cristãos faziam o Sinal da Cruz a cada instante, é forçoso concluir que — eles obe­deciam a urna recomendação apostolica.

S'e assim n.ão fôsse, os A^xitolos e seus primeiros sucessores, guardas infalivcis do tríplice deposito — da Fé, dos costumes e da disciplina, dar-se-iam pressa a proi­bir um uso inutil, supersticioso e próprio a expOr os neo- fitos à zombaria do paganismo iguorante (1 ).

Portento repito:

— Fazendo muitas vezes o Sinal da Cruz, os pri­mitivos Cristãos da Igreja procediam com pleno conheci­mento de causa.

3

Segundo precedente:

— a santidade.

Não só os primeiros Cristãos e r ^ muito instruidos na Doutrina dos Apostolos; mas, também muito fieis em pratica-la.

Disto é prova serem muitos os santos daquele tempo.

Não há verdade melhor es^belecida do que a seguinte:

A santidade era o caráter comum dos •primei­ros Cristãos.

(1) Neófito — nome que designava os que se convertiam ao Cristianismo.

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1.“ ) Eles preferiam perder tudo, — a liberdade, os bens, o bom nome e a. própria vida no meio dos peiores suplícios, — antes de que ofender a Deus.

Foi um heroísmo que durou tento como as persegui­ções : — três seculos.

2.®) Eram muito caritetivos.

O Céo e a terra se uniram para elogiar-lhes o mutuo amor verdadeiro que os unia, único nos. anais do mundo.

Constituíam um só coração, e uma s6 A ^ ia : “ Cor «reum, et anima ttna,” diz deles o próprio Deus nas Es­crituras.

Vejam como se 'querem bem e sempre estão prontos a morrer uns pelos outros: “ Vide ut invicem se diíigant, et ut pro alterutre wiori sint parati,” exclamavam os pagãos!

3.") Eram ternos e respeitosos para com os Apo:- tolos, aos quais obedeciam com submássão filial.

São Paulo, que não era adulador, escreve aos Cris­tãos de Roma:

"E ' celebre wo mundo inteiro o vossa Fé.’

E aos da Asia diz que o amavam por tal modo, que, se pudessem, arrancariam os olhos para lhos dar.

A um pedido dele, todas as Igrejas voam a socorrer os irmãos de Jerusalem, e Philemon recebe a Onesimo.

4.®) Testemunhas oculares, os Padres da Igreja continuaram a dar dos primeiros Cristãos o mais brilhan­te testemunho de Santidade.

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Diribrindo-se aos Juizes, aos Pretores, aos Proeonsu- les do Imperio, Tertuliano lhes propunha solêne desafio:

“ Apelo para vosSQs proceesos, 6 Magistrados “ que sois encarregados de fazer justiça. Entre “ esta multidão de acusados que todos os dia apa- “ recum á barra de vossos tribunais, qual é o en- “ venenador, o ladrão, o assassino, o sacrílego, o “ corruptor, que seja Cristão?"E ' dos vossos que as prisões estão cheias até "não mais; é dos voesos que as minas estão po- “ voadas; é dos voasos que se engordam as féras “ no anfi^teaJtro; é dos vossos que se fo^nnam “ a multidão de gladiadores. Entre eles nem um “ só Cristão, a não ser pelo único crime de pro- “ fessar o Cristianismo." (1 )

5.0) Os historiadores pagãos reconheciam-lhes a in^ocencia. e os mesmos perseguidores prestavam home­nagem à virtude deles.

Tacito, autor tão exigente como injusto a respeito de nossos país (os primeiros Cristãos), refere a horrível carnificina dos Cristãos no reinado de Nero.

'“Uma enorme multidão, multííude ingens, diz “ ele, morrem em horrível suplicios."“ Eram inocentes de todo o crime e só culpados “ no odio do genero humano: «dio genei^is hu-

(1) Apol., e. XLIV

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Eis o ponto.Qual era () genero humano de Tacito?Ele próprio o diz:

— “ Era a ralé viva, a crueldade em pessôaZ’D’onde nascia seu odio aos Cristãos?De ser sempre inimigo irreeoneiliavel do benuA santidade de nossos pais era a lcondenaç.ãO' impla-

eavcl dos monstruosos crimes qoo manchavam os pagãos. Daí as fogueiras de Nero e os fachos ateados.

Quarenta anos depois de Nero, Plínio o moço, go­vernador da Bithinia, é encarregado por Trajano de in­formar contra os Cristãos.

Cortezão zeloso, exwmtã com rigor as ordens do seu f'cnhor e prende nossos avós.

Dados à tortura, ele mesmo se interroga.Que resultado lhe deram seus sanguinolentos pro­

cessos?

“ Todo o crime dos Cristãos, escreve Plínio a “ Trajano, consiste em se reunirem certo dia, “ antes do romper da aurora, para entoar lou- “ vores a Cristo, como se fôra um Deus; e a “ ohrigar-se por juramento a não cometer crime “ algum, mas a evitar o roubo, o assassinato, “ o adulterio e o perjurio. Eu os puz em tortu- “ ras c nfio os achei culpados, a não ser de uma “ prejudicial p excessiva superstição.” (1)

h ui cxt.cnso, meu caro Frederico, sôbre a santidade de nossos maiores.

lll K!|)l!ltlih. X, cpist. 97.

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A meu ver ela constitue a mais poderosa. circunstân­cia a favor do Sinal da Cruz.

Quando homens daquele carater, à. frente da morte, se mostram invariavelmente fieis a um dado uso, é ne- cessario crer que tal uso é um pouco mais mportonte do que julgam-no os teus jovens condiscípulos.

4

Terceiro precedente :

— O uso dos verdadeiros Cristãos nosseculosseguintes. —

Muito cedo, tanto no oriente como no ocidente, se formaram comunidades religiosas de homens e de mu­lheres.

Em asilos tais, separados do mundo, é que se encon­tram, sinão imobilisados, ao menos perpetuados com a maior fidelidade, o verdadeiro espírito do Evangelho e a pura Tradição do Ensino Apostolico.

Entre os antigos usos, conservados com Z<-lo e cui­dado, figura o Sinal da Cruz.

“ Nossos Padres, os antigos Monges,^ escreve um “ de seus historia^Iores, praticavam muitas ve- “ zes, e mui religiosamente, o Sinal da Cruz. “ Fazium-n'o principalmente ao deitar e ao le “ vantar; antes do trabalho; ao sair da cela e “ do Mosteiro e quando e n t r a v a ; quando se sen- “ tavam à: mesa; sôbre o pão-, sôbre o "inho, e sô- “ bre cada iguaria” (1 ).

(1) Marténe. Do antig. monach. ritib., llb. I d.o 25, etc.

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O uso tradicional do S‘inal da Cruz, sinal redentor \'em no mundo em linha paralela.

Todos os grandes homens que, durante mais de qui­nhentos anos, se sucederam no oriente .e no ocidente, aque­les genios íncomparaveis que se' chamam os Padres da Igreja:

— Tertuliano, Cipriano, Atanasio, Gregorio, Basi- lio, Agostinho, Crisóstomo, Jerónimo, Ambrósio e ' tan­tos outros, cuja lista espantosa com o seu peso esmaga o orgulho dos seculos —

todas estas elevadas inteligências faziam muito as­siduamente o Sinal da Cruz e o recomendavam com insis­tência a todos os Cristãos, quE! o . fizessem em qualquer ocasião.

5

Aos Padres da Igre ja eu os chamei gra^ndea gentozt e gra.ndes homens.

Se como tais os fizeres notar a teus condiscípulos, oh ! espera logo por um. sorriso, de impiedade.

pobres mancebos ! Conhecem eles aos Padres da IJrreja, tão ^ m como os antipodas selvagens hão de co­nhecer.

Pergunta-lhes primeiro o que entendem eles por grnnde,s homens.

Na falta de uma resposta, eis a minha, que poderá Hol'\'ir-to em caso de necessidade.

G ramdes homens chamo eu a aqueles que, pela eleva- çAo, profundeza e extensão de seu genio,. abraçam imen- 101 horizontes no mundo da verdade; aqueles. que eonhe-

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cem ns c1tmcias, os homens e as coisas, não superficial­mente, mas em seus prindpios, em seus fins e em sua natureza intima; aqueles que conhecem não só a materia, mas tambem o espírito que é indizi.velmente superior à materia; aqueles que não só conhecem o homem, mas tam- bem o An jo ; não só a creatura, mas tambem o Greador; homens que sabem não s6 o que existe aquém do tumulo, mas tambem o que deve existir além dele; con h ^ m não um ou outro fato isolado mas o conjunto dos fatos; não uma lei isolada mas todo o sistema da creação, donde fa ­zem sair inesperadas e luminosas aplicações para o bem da Humanidade.

Eis o genio, eis o Padre da Igreja.

, . Podes desafiar teus condiscipulos a achar entre os antigos e os modernos, quem, tão bem ou melhor, tenha de­finido o grande homem. ,

Por mais celebres que s e j ^ as notabilidades atuáis em química, em fisica, em inecanica, em industria, eles nem são genios nem grandes homens-

O homem que não abrange com sua vista mais que uma lei secundaria ■ da harmonia universal, não merece o nome de. genio; porque, não dizemos grande musico ao que não sabe tirar se^te um único som de seu instru­mento,. mas a aquele que h^armoniosamente faz soar todas as cordas.

Hoje não tenho mais tempo de acabar este assunto;.

Si Deus quiser fa-lo-ei . . .

amanhã.

Adeus.

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T E R C E IR A C A R T A

Paris, 28 de Novembro de 1862.

Sumario:— 1. Continuação do terceiro precedente: os

Doutores do oriente e do ocidente. —2. Constantino, Theodosio, Carlos Mag­no, S. Luiz, Bayard, D. João d'AU8trio, Sobieski. — 3. Quarto precedente: con­duta do Igreja. — 4. Quinto precedente: os que fazem o Sinal da Cruz. — 5. Re­sumo. —

Meu caro Amigo,

Em continuarão do ponto de hontem, digo-te:Todos aqueles grandes genios, sem nenhuma exceção,

todos faziam o Sinál da Cruz.Faziam-no e muitas vezes.Mais. Não cessavam de recomendar aos Cristãos que

o fizessem em todas as ocasiões.

Dis um deles:

“ Para os que põem sua esperança em Jesus “ Cristo, fazer o Sinal da. Cruz, é a primeira e a “ mais conhecida coisa que entre nóSJ se pratica:

I

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"P rim um est et notissimum.” (1 )

Um outro diz:

“ A Crnz encontra-se em toda a parte — enti‘e- “ Os Principes e entre os subditos; entre os “ Homens e entre as Mulheres; entre as Don- “ zelas e entre as Matronas; entre os escravos e “ entre as pessoas livreis — ; e todos com ela mar- •‘cam a fronte que é a parte mais elevada de seu “ corpo.“ Nunca de\'eis transpôr o limiar de vossas casas ‘‘ sem dizer:"Renuncio a aatanc.s e ligo-me a Jesus Cí*isío- “ c sem acompanhar estas palavras do Sinal '*' Cruz: cum hoc nerbo et cntcem in fronte im-- “UJri,ma.s.'' (2 )

Um outro diz:

“ devemos fazer o Sinal da Cruz a cada ação dO' “ dia: omnc diei opus in s-igne facere Salvatoris.” ' •• (8 )

Outros ainda dizem:

“ Que o Sinal da Cruz mais abreviado, se deve fa- “ zer constantemente sobre o peito, sobre a boca, “ sobre a fronte, à mesa, no banho, na cama, à “ entrada e l. salda de casa, nas horas ele alegria

(1) S. Banll., De Sp. S., e. XXVII.(2) S. Chrys., Quod Chrlitiii 1111 Dcu11: et llomil. XXI, np popul.

Antloch.(3) S. Ambl'., Ser., XLIII.

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“ e de tristeza, assentado, de pé, ao falar, ao an- “ dar, em todas as nossas ações; verbo dicam i « “ omni neyotio — n^uma palavra — em tudo e “ sempre.“ Devemos fazê-lo sobre nosso peito, e sobre to- “ dos nossos membros; para. que estejam pro- “ tegidos por esta armadura invencivel dos cris- “ tãos; amemui^ hac in.sttpera6üi Chrisíianoním “ armatura — armemo-nos deste insuperável es- “ cudo cristão.” (1 )

Confirmando suas palavras com o exemplo, até ao último suspiro, vemos morrer estes grandes genios, co­mo o ilustre Crisóstomo, o rei da eloquencia, fazendo o Sinal da Cruz.

Educados em tal escola, os mais nobres Cristãos se­guem tais passos.

Falando de Santa Paula, a neta dos Scipiões, S. Je­rónimo diz:

“ Quando ectava nas proximidades da morte e “ suas palavras dificilmente podiam ser perce- “ bidas, Paula tinha o dedo sobre a boca; e, fiel “ ao uso, imprimia sobre os labios o Sinal da “ Cruz.” (2 )

Atravesam os os séculos e assignalemos alguns bri­lhantes nneis da eadeia tradicional.

(I ) S. Gaudent. eplsc. Brixien., Trait. de lect. evang.; S. Cyrill.Hler., Cntech., IV n. 14; S. Ephr., de Panoplia.

(I) Ad Euitoch.. de Epitaph, Paulo.

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2

Sem falar dos grandes Imperadores, legisladores e guerreiros como sejam: — Constantino, Theodosio, Car­los Magno e outros tão fiéis ao uso do Sinal da Cruz, cheguemos ao maior dos nossos reis, S. Luiz.

^m igo que foi e biografo historiador de Luiz IX , o Snr. de Joinville, nos deixou este testemunho:

“ À mesa, no conselho, no combate, em todas a.s “ suas ações, o Rei começava sempre pelo Sinal “ da Cruz.” (1 )

O cavaleiro sem mêdo e sem nota, Bayard, é ferido de morte.

Cheio de dignidade em toda a vida, seu último âto fo i <> Sinal da Cruz feito com a propria espada.

Representadas por duas .esquadras de mais de qua­trocentas velas, a potencia católica e a mussulmana estão ('m presença u ^ da outra no golfo de Lepanto.

Do combate depende — salvar-se a civilisação ou triunfar a barbaria.

Os destinos da Europa estão nas mãos de D. João d ’Austria.

Antes de dar o sinal de ataque, o heroi Cristão faz o Sinal da Cruz. Todos os capitães o repetem, e o Islamis- mo sofre uma derrota de que jamais se pôde levantar.

Todavia, um século depois, ainda ensaia reparar .aquele revez.

(1) Vida, c. XV.

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Hordas inumeráveis avançam até debaixo dos muros do Viena.

Sobieski é chamado; suas forças não l.'á.o nada, com­paradas às do inimigo; mas Sobieski é Cristão.

Antes de descer à planice, manda a seu exercito fa ­zer o Sinal da Cruz vivo, ouvindo Missa de braços aber­tos.

Foi ali diz um guerreiro Cristão, naquele momento que o gran Visir fo i batido.

Não acabaria mais, meu caro amigo, se quizesse ci­tar, uns após outros, todos os fátos que estabelecem a perpetuidade do Sinal da Cruz entre os verdadeiros Cris­tãos de tod os os séculos e condições, aosim no mundo como nos claustros, assim no oriente como no ocidente.

Esta gloriosa Tradição não formará respeitável cir- cimstancia a f^avor de. nossos primitivos avõic; na Igreja?

A tal respeite que pensam teus jovens condiscípulos?

3

Quarto precedente:

— a conduta da. Igreja.

Os séculos passam; e com os séculos mudam os ho­mens.

Leis, habitos, modas, linguagem, maneiras de ver e de julgm', tudo ,qe modifica.

Só a Igreja não muda.Imutnvel corno a verdade de que é a Mestrn, o que

tmsinava c fazia ontem, Ela. o ensina e faz hoje, Ela o «nainarA c fnrá amanhã, Ela o- ensinará e fará sempre.

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Qual o pensamento, qual a conduta da Igre ja a res­peito do Sinal da Cruz?

Não ha outro ponto sobre que com mais brilho se manifeste sua divina imutabilidade.

Pode dizer-se que a Igreja vive do Sinal da Cruz e isto ha dezoito séculos (1 ).

Nem um instante deixa de empregá-lo.Começa, continua, acaba tudo, por este Sinal.De todas as praticas, o Sin.a.l da Cruz é a principal,

a mais comum, a mais familiar.E ' a alma dos exorcismos, das orações, das benç.ã.os.O que faz hoje à nossa vista em nossas Basilicas, fa ­

zia-o à vista de nossos pais nas catacumbas.

“ Sem o Sinal da Cruz, dizem eles, nada entre “ nós se faz legitimamente, nada é perfeito, na- “ da é aanto (2 ) . ”

A semelhança de Seu Divino Fundador, a Igreja exerce peder sobre o homem e sobre as demais creaturas. Estende-o ac Céo e à terra: Data est mihi omnis potestM in c:oeIo et in terra.

E de que modo o exerce? Fazendo o Sinal da4 Cruz.

Quanto destina Ela a seu proprio uso — agua, sal, pão, vinho, seda, linho, bronze, prata, ouro — e quanto

(1) Há vinte séculos!(2) Sine quo signo nlhil est sanctum. neque alia consecratlo

meretur effectm. (S. Cypr. de Bapt. chr.> Quod nlsl adhl- beatur. nihil reete perficitur. (S. Aug., Trat. 128, In Joan., n. 5).

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pertenc-e a seus filhos — habitações, campos, rebanhos, instnimentos de trabalho, invenções de indústria — de tudo toma posse pelo Sinal da Cruz.

Se ao Deus do Céo quer levantar urna habitação so­bre a terra, primeiro que tudo o logar do edifício deve ser consagrado com o Sinal da Cruz.

"A ninguém, dizem os: Concílios, é permitido “ edificar uma Igre ja sem que o Bispo vá ao “ l ^ l , fazer o Sinal da Cruz para afugentar de “ lá os demonios ( 1) .

O Sinal da Cruz é a primeira coisa que emprega para abençoar o edifício do Templo.

Vinte vezes grava-o sobre o pavimento, sobre as co­lunas, sobre o Altar.

Para o imobilisar, manda fabrioá-lo de ferro, e o co­loca no vertice do frontispício.

Quando seUS! filhos vierem à. Casa. de Deus, que farão ant-es de transpor o lim iar?

O Sinal da Cruz.

Por onde começarão os chefes da oração, os Bispos e os Padres, a celebrar os louvores do ^Omnipotente?

Pelo Sinal da Cruz.

(1) Nemo ecclesiom editicet, antequan episcopus civitatis venlat, el Ibidem crucem figat: addit glossa ad ablgcndas doemonum phantMlar. (Novela V, ■ paragr. I cap. Nemo deconsecrat. dlct. I.>

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Escreve um antigo liturgista :

“ Quando no princípio dos OfíciO& fazemos o- “ Sinal da Cruz acompanhado das palavras; " ó “Deus, viruie em rrwu auxilio", é como se disses- “ semos: Senhor, Vossa Cruz é o nosso adjutorio “ com a mão Vo-la representamos enquanto com “ a palavra Vos pedimos auxilio.“ O diabo é o chefe de todos os inimigos de nossa. “ salvação, e para nos engodar, lisongea a car- “ ne. Se, porem, Senhor, por Vossa Cruz Vós nos "dais auxílio, ele e todos os mais nossos inimi-- “ gos serão deuotados (1 ) ! ’

Vêde sobretudo, a conduta da Igreja a respeito do- nosso corpo, Templo vivo da Trindade.

A primeira coisa que faz sobre ele, ao sair do seio e te rn o , é o Sinal da Cruz; e a última., quando o en­trega ás entranhas da terra, é ainda o Sinal da. Gruz.

Eis a primeira saudação, e o último adeus aos filhos de sua ternura — o Sinal da Cruz!

E do berço ao tumulo quantas vezes o Sinal da Cruz- sobre o Homem?

No Batismo onde ele se torna filho de Deus, o Si­nal da Cruz; na Confirmação, onde se torna soldado da virtude, o Sinal da Cruz; na Eucaristia, onde se nutre com o pão dos Anjos, o Sinal ela Cruz ; na Extrema Un- ção, onde é fortificado para o último combate, o Sinal da Cruz; na Ordem e no Matrimônio, onde é associado à. paternidade do próprio Deus, o Sinal da Cruz.

(1) Raisons de l'Oíflce, p. 270.

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Sempre e por toda a parte, hoje, como outriora, no ori-ente como no ocidente, o Sinal da Cruz sobre o Homem ( 1) ".

Isto ainda não é nada.

Vêde o que faz a Igreja quando sóbe ao A ltar per­sonificada no Padre.

Com a omnipotencia que lhe foi dada, vem a impe- i'ar, não à creatura, mas ao Crcador; não ao homem mru; a Deus.

À voz do Padre o' Céo se abre; o Verbo Se encarna e renova todos os misterios da própria vida, morte e res­surreição.

E' um áto que deve ser cumprido com a mais solêne gravidade; um ftto do qual é necessário banir com o má­ximo cuidado tudo quanto seja extranho ou superfluo.

Entretanto no d ^ r s o do Santo Sacrificio que é a Ação por excelencia, a Igreja mais que nunca multiplica o Sinal da Cruz, envolve-se no Sinal da Cruz, marcha atravéz do Sinal da Cruz; repete-o tantas vez.t>s que o nú­mero a que chega poderia parecer exagerado, se não fos­so profundamente misterioso.

Sabes quantas vezes o Padre faz o Sinal da Cruz du­rante a Miesa?

Fa-lo r oito pe.zcs!

íl) Si regenerari oportet. crux adest; si mystico illo cibe nutriri. si ortlinarl, si quidves aliud faciendum, ubiquc nobis ade!lt hoc victorlae Symbolum. (S. Chrys., In Math. homil. 54, n. 4.) Quod S ign^ nisi adhibeatur trontibus credentium, sive ip^ aquae in qua regencrentur, sive eleo quoe chrlsmate ungun- tur, nihil eorurn recte perficitur. (S. Aug., J'oan., tract. 128 n. 5.)

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Digo mal: — enquanto dura o Augusto Saerif.ício, o Padre é um Sinal da vivo.

E seria possível, meu caro, que a grave instituidora das Nações, a grande Mestra da Verdade, a Igreja Cató­lica, fosse divertir-se eom repeth* tantas vez es, no áto o mais solêne, um sinal inútil, supersticioso ou de mini- ^ importância?

Se teus condiscípulos julgam isso, tomaram-se cre- dulos demais : — ' meditam, o g «e não devem.

A conduta da Igreja e dos verdadeiros Cristãos de todos os séculos, é uma circunstância vitoriosa a favor de n ^ o s antepassados.

Quinto precedente:

— os que não fazem o Sinal da Cruz — .

No mundo ha seis categorias de seres, que não fazem o Sinal da Cruz.

a) Não o fazem os pagãos: Indios, Chinezes, Thi- betanos, Hottentotes, Selvagens da Oceania, idolatras de ídolos monstruosos, povos profundamente degradados e não menos infelizes.

b) Não o faz.em os malun»etano.5, imundos pelo sensualismo, tigres pela crueldade, automatos pelo fata­lismo.

c ) Não o fazem os judeus; profundamente encrus- ^vios n’uma acamada espessa de superstições ridiculas, petrifi^cação viva de uma raça decaída.

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d) Não o fazem os hereges, que pretenderam refor­mar a obra de Deus e que, em punição do próprio orgulho. tanto têm perdido da. verdade, a ponto de chegar um dos ministros prussianos a dizer, pouco tempo fa z : — Sou capaz de escrever na ' unha de meu dedo polegar tudo quanto resta de comum entre os protestantes— .

e) Não o fazem oS' católicos renegados de seu Ba­tismo, escravos do respeito humano, uns ignorantes so­berbos que falam de tudo, e que nada sabem; uns idola­tras do próprio ventre, dais baixezas da carne, e da matéria v il; e cuja vida intima é como um tecido fartamente sal­picado de manchas.

f ) Não o fazem os brutos: bipedes, quadrupedes, animais da toda a especie — patos, marrecos, perús, ce­gonhas, avestruzes, cães, gatos, jumentos, zebras, came­los, curujas e crocodilos, ostras e hipopotamos.

Tais são as seiSl categorias de s e rs que não fazem o Sinal da Cruz.

Nos tribunais, o carater' moral do autor ou do réu contribue poderosamente, ainda antes do' exame da cau­sa, para determinar a opinião dos juizes.

Meu caro Frederico, peço-te que julgues se o caráter nos seres. que não fazem o Sinal da. Cruz é ou não é pre­cedente mui valioso a favor dos primeiros Cristãos que ^m pre se distinguiram com o Sinal da. Cruz.

.5

Km resumo:Relativamente * o uso mui frequente do Sinal da Cruz.

t.t mundo dlvlde-se cm dois campos opostos. '

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A trwor do Sinal da Cruz esído —

a) Os admiraveia Cristãos dos tempos primiti­vos da, Igreja ;

b ) Os mais santos e maiores genios do oriente e do ocidente;

c) Os verdadeiros Cristãos de todos os séculos;

d). A própria Igreja que é a Mestra Infalível da Verdade.

Contra o Stíifl.l da COruz :

os pagãos, os mahometanos, os judeus, os hereges, e os maus ca^Hcos.

Parece-me que bem podes já te declarar.Tua convicção ainda será mais forte quando soube-

res os motivos que justificam o procedimento de uns

-— aqueles que são a fa vo r ; as razões que condenam os outros

— aqueles que são contra. As cartas seguintes te dirão tais. moíitJos e razões.

Adeus.

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Q U A R T A C A R T A

Paris, 29 de Novembro de 1862.

Sumari.o:— 1. Resposta a uma objeçSo. — 2. Razõ.es

tiradas da própria natureza do Stnol d4 Cruz: o sinal da Cruz é cinco coisas —3. £'■ um Sinal, que enobrece o homem, porque é diuino. — 4. A idade de ottro do Cristianismo. — 5. Quem é o outor do Sinal- da Cruz?

Meu caro Frederico,

Dizes-me tu que, quanto a ti, a questão está julgada.Nunca pudestes acreditar que entregando Deus em

partilha aos jproprios inimigos a .verdade e o bom senso, houvesse de condenar seus melhores amigos à supersti­ção e no erro.

Tua declaração sem me surpreender me regosija.Teu esphito ■ pl'Qcura a verdade e teu coração a de-

«e,ia. .

Seria fácil a tarcfa do apologista, se todos houvessem do ter ns mcsmas disposições. tua.s.

Infelizmf.í-nte não sucede assim. .Nu maior parte das controvérsias,, especialmente em

nwimntos religiosos, o adversário não discute c.om a razão, r KiM com suas paixões.

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Não ha perigo que combata pela v.erdade; o que ele quer é a vitória.

Triste vitória ! Consistirá em mais se escrávisar à tran ia dO' erro e do v ic io !

E eu temo que essa vitória funesta seja ambiciona­da por teus condiscípulos, como vai sendo de tantos ou­tros pretendidos católicos de nosso tempo.

Tenho por eles muita amizade e por issp não posso deixar de lhes- disputar esse mau gosto.

A fim de lhes arrancar a ignorancia com que se co­brem e cada vez mais esclarecer a tua p-rópria convicção, vou expôr a:S razões inírinsecq,s que j ustifkam a inviolá­vel fidelidade dos verdadeiros Cristãos no uso' mui fr e ­quente do Sinal da Cruz.

1

Mas, antes dieso, vamos examinar e julgar a grande objeção dos modernos desprezadores do Sinal adoravel.

“ Outros tempos, outros costumes. O que era “ útil, e mesmo necessário nos primeiros séculos “ da Igreja, não o é mais hoje. Estão os tempos “ mudados; é necessário v iver com o séc.ulo. ”

Isso é o que eles dizem.E S. Paulo lhes responde:

‘'J.esu:.s Ghristís heri, hodie, ipse et in secula "Jesus Cristo era ontem, .Tesus Cristo é hoje, e “ será o mesmo por todos os séculos, dos, séculos.”

Tertuliano acresoentã:

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“O Verbo Encarnado chama-se — a Verdade, e “ não o costume” .

Ora, a Verdade não muda.AquUo que os Apostolos, os primitivos Cristãos da

Igreja, os verdadeiros Cristãos de todos os séculos hão tido por útil e a.té certo ponto por necessário, não. deixou nunca de o ser.

Ouso até afirmar que, — mais do -que nunca, é neces­sário hoje.

A i-azão disso está nas relações de similhança que existem entre a posição dos Cristãos dos primeiros sé­culos, e a situação dos Cristãos do século X IX .

Qual era a posição de nossoa maiores na Igreja?Estavam em face de um mundo que

não era Cristão, não o queria ser, não queria que alguem o fosse .e perseguia com violencia a quem o era firm e­

mente.

f nós?Não estamos em face de um mundo que

deixou ele ser Cristão,não quer, de modo nenhum, voltar a ser Cristão, não quer que alguem o seja, e, umas vezes pela astucia, outras vezes pela vio­lencia persegue aos que são- inabalavelmente Cristãos?

Se os pi-imciros Cristãos, educados na escola do.'l po::tnlos, eotisifleraram em igual situação como neces­

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sário o uso tão frequente do Sinal da. Cruz, que razão te­ríamos nós para abandona-lo

Somos nós, por ventura, mais babeis, ou mais. fortes do que os primeiros Cristãos?

São hoje menores .os perigos, menos numerosos ou menos perfidos os nossos inimigos?

Tais questões, uma vez propostas., ficam resolvidas pela ' clarividência.

Passemos adiante.

2

Até aqui, meu caro Frederico, tomámos em conside- ção apenas as circunstancias , exteriores do nosso assunto ou da causa que patrocinamos.

E’ necessário agora advoga-la mais a fundo.Isso poderá ser feito aduzindo-se razões que s.ão ti­

radas da própria natureza do Sinal' da Cruz.Para mim (e creio que para ti e para todos os homens

sensatos) tais razões podem se resumir em cinco:

V — Tirados do :pó, o Sinal da Gruz é um Sinal divino qu<l nos enobrece;

2.* — Ignorantes, o Sinal da Cruz é um Livrosagrado que nos instrue;

3."' — Po/ires, o Sinal da Cruz é um Tesouroinesgotável que nos em*iquece;

4." — Soldadios., o Sinal da Cruz é um jogo dearmas, que nos defende a nós e derriba o inim igo;

5.* — 1'ia.ja.ntes para a Pátria do Céo, o Sinalda Cruz é guia seguro que nos conduz.

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3

Veste pois a.gora. a, beca, põe. a gorra, ocupa a cadeira de juiz e escuta:

TIRADOS' DO Pó, O S IN A L DA CRUZ É UM S IN A L D IVINO , QUE NOS ENOBRECE.

Dize-me: Quem é que chorando entra no mundo?

Que antes dos primeiros passos se arrasta como ^ verme ?

Que sempre vive sujeito a todas as enfermidades?

E que durante largo tempo é incapaz de prover às suas próprias necessidades?

Todavia, este ser é a Imagem de Deus, é o Rei da creação e é necessário que ele se não degrade.

Mas eis que Deus tocando-o imprimi-lhe na fronte um Sinal Divino que o enobrece e essa tal nobreza o obriga.

Itespeitado dos outros, ele se respeitará a si próprio.

I'lstc titulo de nobreza, este Sinal Divino, é o Sinal dn Cruz.

E ‘ divino, porque vem do Céo e não da terra.

Vem do Céo porque só ao proprietário assiste o di- j-oito de marcar seus produtos com o seu próprio cunho.

Vem do C'éo porque a terra confe^m não o ter inven­tado.

Percorre todos os paízes e todos os séculos; não en- cont.rm'ás em parte alguma o h^omem que imaginou o Si- iml dn Cruz, o Sa.n.to que o inventou, o Concilio que o Impoz.

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“A tradição o ensina, diz Tertuliano; o costu- ‘me o conforma; a Fé o pratica (1 ) . "

Em Tertuliano, acabas de ouvir a metade última do segundo século da Igreja.

S. Justino fala pela primeira .e te ensina a existencia do Sinal da Cruz, não só, mas a maneira porque se o fazia (2 ).

4

Eis-nos agora nos tempos primitivos, tempos de eter­na memoria, tempos que os próprios hereges chamam — e^ide de ouro do Cristiamismo — não só pela pure-za da Doutrina como tambem pela Santidade dos costumes.

Pois bem, é nestes aureos tempos que nós encontra­mos o Sinal da Cruz em plena prática, tanto no oriente como no ocidente.

Avancemos alguns passos e liguemo-nos a S. ,Toão Evangelista que foi o último doa Apostolos a morrer.

Verús o Velho venerando a fazer o Sinal da Cruz so­bre um cópo envenenado depois beber serenamente o lí­quido mortífero, ficando incolurne! (3 ).

Ainda antes disso, deparamos com os ilustres colegas dele, — São Pedro e São Paulo.

(1) Harum et aliarum hujusmodi disciplinarum si legem expos- tules scripturarum nullam invenies. Trndilio tibi nur.tríx, con- suetudo confirmatrix. (Tertul., De Coron. mil c. IIIJ

(2) Dextera rnanu in nomine Christi, quos Crucis Signo obai- guandi sunt, obsignamus. (Quert., 11B)

(3) S. Simeon, Metaph, in Joan.

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Tal como São João, do Divino', Mestre Discípulo que­rido, São Pedro e São Paulo, Príncipes do Apostolado, fa ­zem religiosamente o Sinal da Cruz e o ensinam desde o oriente até o ocidente em toda. a parte, em, Jerusalem, em Antiochia, em Athenas, em Roma,- entre os Gregos e en­tre os Barharos, aos Judeus .e aos gentios!

Escutems um irrecusável testemunho da Tradição:

“ Paulo, diz S. Agostinho, leva toda a parte “ o Real Esitandarteda Cruz.“ Com o Sinal da Cruz, Pedro é o pescador de ho- “ mens; com o Sinal da Redenção, Paulo ^ r c a “ os gentios. ” ( 1)

E não o fazem sómente sobre os homens, fazem-no tambem e o mandam fazer sobre as creaturas inanimadas.

“ Toda a creatura de Deus é boa, escreve o gran- “ de Apostolo, e é necessário n.ão regeitar coisa “ alguma do que pode ser reeebido' em ação de gra- “ ças, por ser santificada pela palavra de- Deus “ e pela oi'ação ( 2 ). ”

Tal é a regra.Qual o sentido'!

No estudo do Direito, encontrando-se um texto obs­curo, que se faz?

Para o elucidar, consulta-se o interprete mais auto- i'izado o mais visinho do legislador; e a . palavra dele faz lei.

(1) Circumfcrt Pnuh.ts Dnminicum in Crucc Vexillum. Et iste piscntor hominum, et ille titulat Signo Crucis gentiles. (Di- vusAugusti miR: Serm. XVIII.)

(2) I. 'fim., IV, 4-5. ■

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Escuta, meu caro, o interprete mais autorizado de S. Paulo, o grande S. João Crisóstomo:

“ Paulo estabeleceu duas cousas: primeira, que “ nenhum creatura é imunda; segunda, que se “ o fosse, o meio de purifica-ia- estava em“ nossas mãos.“ Fazei, diz, o Sinal da Cruz sôbre -essa creatu- “ ra, dai graças a Deus e rendei-lhe gloria, que “ logo toda a mancha desaparecerá ( 1 ) . ”

.5

Não sómente sôbre as multidões que acodem à Fé e sôbre as creaturas inanimadas é que os Príncipes dos Apostolos fazem o Sinal da. Cruz: também o fazem sôbre si próprios.

Portanto, este Sinal existia, antes deles.Saulo, o perseguidor, cai por terra no caminho de

Damasco.E ’ mister que ele fique sendo Apostolo de Deus a

Quem persegue.Qual será o primeiro áto de Deus Vencedor ?Marcar o vencido com o Sinal da Cruz.

“ Vae, diz o Senhor a Ananias, vae e marea “ Saulo com o Meu Sinal (2 ) . ”

(1) Duo capita ponlt, unurn quidem quod creatura nulla com- rnunis est. Sccondo, quod etsi communis sit rnedicamentum Jn promptu est. Signum illis Crucls imprime, gratias age, Deo gloriam reíer, et protinus immunditia omnls abscessit. On Tim. Homil. XII.)

(2) Vade ad eum, et signn eum charactere meo. (S. Aug. Serm. II et XXV de SanctisJ

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Quem é, pois, o autor e o instituidor do Sinal da Cruz?Para o encontrar, é necessário transpor todos os se-

cuJos, todas as creaturas visíveis, todas as Hierarquias Angélicas; é neceséario subir até ao Verbo Eterno, que é — a Verdade em. Pessôa.

Escuta ainda uma testemunha nas melhores condi­ções de saber o que refere.

Seu testemunho é tanto mais irrecusável, quanto é certo te-lo valorisado com o timbre do próprio sangue.

E ’ o grande Bispo de Carthago, S. Cipriano.

Exclama êle:

“ Senhor, Vós que sois o S'acerdote Santo, nos “ legaste três coisas imorredouras: o Calix de “ Vosso Sangue, o Sinal da Cruz, e o Exemplo “ de Vossas Dôres ( 1 ).”

E Santo Agostinho acreoenta:

“ O' Senhor .Jesus Cristo, Vós quizestes que este “ Sinal ficasse impresso sempre em nossa fron- “ te (2 ). ••

Seria facil citar mais vinte testemunhas.Mas, como escrevo cartas e não um livro, paro- aqui. O Sinal da . Cruz é um Sinal Divino: — primeiro

fato 'Que veio á discussão.De um outro te falarei amanhã.

Adeus.

(I) Tu Domine, Snccrdos sanctc, constituisti nobis incomsump- tihil i ter potum vivificum, Crucis Signum, cl mortiíicationis exemp!;jm. (ser. de Pan. chr.)

<1 1 Signum siium Christus in fronte nobis figi voluit. (In. Ps. l:!Ol.

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Q U I N T A C A R T A

Paris, 30 de Novembro de 1862.

Sumario:— 1. O Sinal da Cruz nos enobrece. — 2. E'

o brazõo do Católico que é um prande povo. — 3. O Sinal da Cruz nos ensina o respeitar nossa pessoa. — 4. Vergo­nha dos que não fazem o Sinal da Cruz. — 5. Desprezo do grande tesouro que é — a vida. —

'Meu earo Frederico,

Tudo o que é divino enobrece o Homem.E. o Sinal da Cruz é um Sinal Divino. Portanto segue-se que

O Sinal da Cruz é um sinal que nos enobrece.Esta razão por si só dispensa. qualquer outra.

Todavia, acrescente-se que — o Sinal da Cruz é pri­vilegio da parte melhor, mais digna e respeitável da Hu­manidade; e por isso elc nos enobrece.

Teus condiscipulos terão já refletido nisto?

I

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Quem não faz o Sinal da. Cruz (e ainda o pobre do i:ifi'liz que se envergonha de o fazer), fica no rol dos pagãos^ mahornetanos, judeus, hereges, maus católicos,

;itá dos brutos.

Que achas?

N.ão há deveras motivo de enobrecimento num Sinal que nos distingue soberana e inconfundivelmente dos ou­tros sêres que o não fazem?

Ufana-se um por ser membro duma Família que é vfincravel pela antiguidade e serviços prestados, respei­ta vel pelas vii^tudes, poderosa em riquezas.

E não é ele também zeloso pelos brazões da casíi?Abre-os em pedra, em marmore, em prata, em, om-o,

em mratha, em rubim; g ’ava-o.s em I'!ua habitação; escul- ?)o-o.s em seus moveis; desenha-os em sua. baixela, e em fnm ]-oupa; imprime-os sôbrc seu sinete, e quasi os quizera impressos mesmo sôbre a própria fronte.

Pinta-os nas paredes do seu coche e com ele rlceora os arreios de seus caval:os.

Pondo de parte tudo o que houver de vaidade, que' {■ vieio, hú Twquilo muito boa ra7,ão ele ser.

E’ conduta que proclama a lei da justa solidarieda­de qiic 6 altamente social.

A glória. dos. avós .é honra para oi<: filhos, netos e mais dc's<'('dcntes; é um patrimonio da família.

O brazão do Católico é — ' O' Sinal da Cruz.Sou Católico: portanto, o Sinal da Cruz fala-me da

minha origem e fa la a todos da nobreza de minha gente; rn.la-nos da antiguidade, fala-nos dos serviços, fala-nos das glórias c das virtudes de meus avós.

Tíí não hei de me exultar eu com isto?

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Hei de então renegar o sangue ilustre que percorre minhas veias?

Como si fôra indigno de zelar um nome augusto, hei eu de repudiar covardemente a lei da justa solidarie­dade, arrojando à lama tais brazões de armas e soltando ao vento a rica herança de meus antepassados?

Quem há de se ufanar por pertencer a um povo- glorioso em tradições?

O português se gloria de pertencer a Portugal ; o hespanhol, em pertencer à Hespanha; o inglez à Ingla­terra, o francez à Franç.a, cte. ; e o mesmo acontece com todos os povos de valor e reputação.

E qual ó o maior e o mais afamado povo cio mundo?

2

Haverá um outro povo mais antigo que o Católico e que conte maior número de cidadãos?

Qual o povo q ie brilha no mundo, como- o sol no f i r ­mamento?

Um povo de cm^ater expansivo que, a preço de seu sangue, houvesse tirado o frcnero- humano da barbaria e pelo mesmo preço procure ainda impedir que nela recaia, qual é?

Um povo que veja, entre seus filhos, o que ha de- maior no genio, na virtude, na ciência, na coragem, qual é?

Uma gente a que pertençam legiões inteiras de Dou­tores, de Virgens, de Martires, de poetas, de oradores, de filosofos, de artistas, de grandes legisladores, de Reis. benemeritos, de guerreiros ilustres, qual é?

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Um povo de tal ar^ istocracia que todas as Nações lhe devem sua eminencia, qual é?

Para desengano ou melhor persuasão consulte-se o mapa-mundi e toda a história.

Pois, meu caro Frederico, esta gente chama-se — a grande População Católica — a qual eu tenho a graça de pertencer.

E o Sinal da Cruz é o brazão desse grande povo.Ora, sendo eu um Católico, deverei envergonhar-me

de:se Sinal?O próprio Deus tomou a Seu cuidado mostrar, por

brilhantes milagres, quanto se honram a Seus Divinos Olhos as pessoas e os membros que fazem o Sinal da Cruz.

S. Edith, filha ele Edgar Rei da Inglaterra, teve, des­de a infancia, a Cruz no coraç.ào.

A jovem Princeza, uma das mais belas flôres da V ir- gindacl.e, que ornou a antiga /íha, doR Santo.s, não fazia nada sem marcar a fronte e o peito com o sinal salutar.

Havendo edificado uma Igreja em honra de S. Diniz, pediu a S. Dunstan, Arcebispo de Cantorbery, a v i e ^ consagrar.

Ele o fez de l>oa vontade e durante as variadas con­versas que teve c-om a santa, ficou impressionado por ver que ela, imitando os primeiros Cristãos, fazia, muitas vezes eom o dedo polegar o Sinal da Cruz sobre a fronte.

Tanto pj a7.er teve o Arcebispo qui! pediu a Deus abençoasse o dedo da virgem Princeza e o preservasse da corrupção do tumulo.

Foi-lhe a suplica ouvida; pois, havendo a Santa mor- i ido aos vinte c três anos, um dia, anos depois, lhe apa- i't'(,wu c diese:

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“ Senhor Arcebispo, tirai do tumulo meu corpo “ e o achareis incorrupto, excetuados os mem- “ bros de que fiz mau uso na leveza de minha “ infancia” .

E de fato os olhos, as mãos e os pés estavam consu­midos, mas o polegar, com que tinha de costume fazer o Sinal da Cruz, conserva-se intato ( 1).

Então?Será que sob o ponto de vista de honra, nossos avós

não tinham razão para fazer muitas vezes o Sinal da Cruz?

E será que os: de agora têm razão para o não fazer?Ah ! Como eram eles bem diversos de nós quanto à

altivez de nobreza e ao sentimento de dignidade própria! . . .

Oh! Sim. Repetindo constantemente a celebre ex­pressão

— “ a nossa nobreza nos obriga” —não admira fizessem eles uma Sociedade que, pelos

heroismos de virtude, é a única nos anais do mundo.É o que vamos ver agora.

3

O primeiro sentimento que o Sinal da Cruz desenvol­ve em nós enobrecendo-nos a nossos olhos é

— o respeito de nós mesmos — !

Grande verdade está aqui, meu caro!

(1) Vede sua Vid., c. III

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Em volte de mim, vejo um século, um mundo, uma juventude que unidos não cessam de falar em dignidade humana, ew.ancipa.pão, íiber^ide.

Palavras, entretanto, que estão vazias de significa­ção ou cheias dum sentido errado e poi' isso tornam o século, o mundo, a mocidade, — tngovernaveís.

Insubordinados ao jugo necessário de um • poder desprezada toda a autoridade, seja ela divina, paternal. social ou civil, vão eles repetindo a tudo, a todos e a toda a hora:

Respeitem-nos.

Muito bem!

Mas, se querem ser respeitados, comecem por respei­tar a si próprios.

O respeito dos outros para comnosco mede-se por aquele respeito que temos nós por nós mesmos.

A crueldade, a hipocrisia, a .devassidão, o vicio, — ainda que ornados de farda, de penacho, de espóras doi- radas, de luvas, de medalhas, de corôa e etc. — só podem inspirar temor.

Respeito é que ^ nu:nco. poderão obter.

Mas . . . quero eu saber:

Os Hom-ens da atualidade, velhos ou moços, — ho­mens todos que nunca fazem o Sinal da Cruz — eles se re.speltam?

Façamos um ensaio de analise. .A parte mais! nobre d01 Homem é a Alma.E da Alma, a faculdade mais nobre é a inteligência.

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Escrinio predoso, limpidíssimo, fabricado pelas Mãos do próprio Deus para receber a verdade e só a verdade,

— a inteligência é hoje conspurcada e profana­da pela meníira. e pelo erro.

Por ventura, o homem de hoje respeita a própria inteligência?

E' para satisfazer os nobres anceios da inteligência que hoje ele procura a. verdade?

Não.Nem gosto mais tem ele pelas fontes puras de onde

jo ^ a a verdade.Os oraculos divinos, os sermões, os livros- asceticos

ou de filosofia cristã, causam-lhe nausea.

Hoj<*. si houveres de penetrar o escrinio de uma in­teligência batizada, deverá parecer-te que estás num de­pósito de trastes ou loja de peças velhas!

Encontrarás aH em misturada coruusão — ignoran- cia, contos vãos, frivolidades, preconceitos, mentiras, er­ros, dúvidas, , objeções estultas, impiedades, tolices, ne­gações, vasias inutilidades — .

Triste espetáculo!Faz-me até lembrar o avestruz que ha pouco morreu

em Lião.

Sabes que, pela aUJtopsia, se descobriu ser um dos es- tomagos do estupido animal, verdadeiro depósito de ca­cos de louças e de vidro, pregos velhos, pedaços de corda e de madeira?

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Eis do que é que nutre sua inteligência o homem que nunca faz o Sinal da Cruz.

Eis de que maneii'a ele a respeita. (1 )E o coração?Oh! Dispensa-me, c: aro Frederico, dispensa-me de te

revelar tais ignomínias.

Em vez de se fazerem para cima seus movimentos, fazem-se para baixo.

Em vez de se elevar como a aguia, rasteja corno a la­garta.

Em vez de. corno a abelha, se nutrir do suco perfu­mado das flôres, vai, similhante à mosca estercoral, pre- i'ipitai^-se sôhro o lixo.

Uma terrível mancha, a cada violação da lei ima­culada ante a qual o Homem recua.

J'.á podes bem te convencer de que a garganta de um tal homerni é como a boca de um antro que transborda em podridão. (2)

E o seu corpo ?Pobre do homem que acha coisa indigna de sua pes-

— fazer o Sinal da Cru7l! . . .

•Julgas qu(' és um grande espírito!Entretanto, causas d ó . .. e isso, ainda por favor!Julgis-te independente e não és mais que um vil

<'SCl'ílVO.

NNão queres te honrar com fazer o que faz a f1ôr da Humanidade; e, por um justo castigo teu, tu te d esh on ^

( 1.) Qui nutriebantur In croceis, amplexati sunt stercora (T.rhen.. VI. 5)

íí*' Sei iilchrum patens c . gl.lttur corum. (Ps. V, R.)

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praticando o que de mais vergonhoso faz a escoria do ge­nero humano.

Tua mão não toca em tua fronte para fazeres o Si­nal Divino; mas tocará a miudo o que nunca deveria tocar.

Não queres armar, com o Sinal protetor, nem teu-s ijlhos, nem teus lábios, nem teu peito; e teus olhos man­cham-se olhando o que nunca deveriam v e r ; e teus lábios, mudos faladores, loquaces mitít, — como diz um grande g-enio ( 1) não dizem o que deviam dizer, para dizerem o que para sempre deviam calar; e teu peito, altar profa­nado, arde em. umas chamas eujo nome, só em si, ó uma vergonha.

Eis a tua história intima.Podes nega-la; não podes rasgar-lhe as páginas.Copiada com tinta sôbre es.te papel, ela se lê, no ori­

ginal de tua existência, escrita com- o sangue do pecado: in sanguine peccaíi.

5

E a vida?

O homem que nmic.a faz o Sinal da Cruz, perde- a es­tima da própria vida.

Ele a vilipendia, e desperdiça-a; porque nunca, nem uma só vez a t o ^ a sério.

Da noite fazer dia para o dia lhe ser noite; trabalhar pouco ou nada e dormir demais; pensar tanto em comer

(1) S. Aug., Medit. XXXY, 2.

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e comer com delicadezas exageradas; não rec^wmr nada a tendencias e ao gosto; consumir o tempo sem i'(>lnçJ\o »i dernidade; tudo isso é tecer teias dc aranha, é cnçnr moHias, é construir castelos de papelão, é, numa pnlavi‘n, nh^wmr da vida como se fôra seu proprietário, {( h'ntn- la (),n bagatela, é não toma-la a sério.

Tomm.' a vida a sério, é bem aprovcita-la corno o cx i- gc Seu unico Proprietáno — Aquele que dispõe de tudo, Aquele que um dia, nos tirará contas, nàn em conjunto, mas p('lo miúdo; não por anos, mas por minutos.

Quando já fatigado no caminho das bngatelas e dan ialquldades, que fn7. o desprczmlor do Sinal Divino?

I)erpr(':t/ii‘a aquele Sinal que deveria enobi'ecer-Hw 11 vida inspirando i'espeito por a Alma e por o cm‘po . . . Agm‘a, qnt' fnr. el<* '!

Tenta desI"u/,er-se dn vida como de um fardo insu- tKU'Ui vel.

nnnHÍ<lera^«e um l>i’uto pnm o qual não hn nem te­mor " etn PN|wi-ança alúm do tumulo, e . • • suicidn-ao.

M como po(h»i'el, mau bom ll"rctiorlco, oxrwlmlr-tn IU|UI H ilm* ()iitl m(1 \i|(l nn Ahna?

Clhttln tltt H(lmh'nol\o pflhn m«rnvllhmc qii11 vlra nu t»u . u Apaititu dhdftt

011 uJhoi dfl homom vlrAm, nem ouvldoe "ottvIrMm, nem noüo Mplrltlo conoeben n11dn "mllhRnto"-

Polia, Hiilm rlnemne nótl rHIMit' hnj-., eoi oul.ro Himll- do, iTomanda iihut'nndo «nvnrff»rthAdt:JN!

— Jlm iiI!idiuiT»« t1|«u‘«, Clnl nenhiirn cllmn, i'm ne- iihiim povn rm irão om nlhoM do homnm vlriim, oh ouvidos

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ouviram, nem nosso espírito concebeu alguma coisa si- milhante ao que hoje vemos e ouvimos, ao que hoje toca­mos com nossas mãos — O suícidio! ! . . .

O suicídio em tal escala que nã() tem similhante na hl;.;tói'ia.

S6 em França, cem mil suicidios nos últimos trintaU.ÍIOH 1

Com mil I

l<: ii |ii'oV,roHiHfio 6 crescente!

l'olA, alndtt quo ou não tonha provas, tenho a certeza do <jiw dm1 com mll doiHJNporados, noventa e nove m il ti- nhnrn nhmulonntlo o iiMo do fazor eom H«i'iedndc e religião, 0 .S'/jm/. rln C',.)»:.

'I'omn l«to nwn ouro, <*nmo mI fom um dedmo terceiro m llgo do Hlmholo.

A tl' amanhã, si Deus quizcr.

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S E X T A C A R T A

Paris, 1.0 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Resumo da cnrfa precedente. — 2. O

Sinal da Cruz é um Litjro que encerra tôda a ciência de Deus, do homem e do mundo. — 3. Um Mistério. — 4. O Si­nal da Cru:.: nos ensina com autoridade, lucidez e profundeza. — 5. O Sinal da Cruz, Mestre o mais sábio e o mais con­ciso.

Meu caro Frederico,

Bem considerado em seu primeiro ponto de viata, o Hinal da Cruz é sem dúvida nenhuma — um Sinal divino — o Sinal que distingue a f lô r da Humanidade — Sinal que é Brazão do Católico — .

Sendo verdade o adagio que diz “ nobreza obriga" devo afirmar o seguinte:

Para inspirar ao Homem o real sentimento da pró­pria dignidade e o necessário respeito de si mesmo eu nfio conheço nada de mais simples e eficaz do que o Sinal da Cruz fe ito muitas vezes -quando seriamente e re- IhdORamente feito.

1

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Ser guarda da nossa nobreza é, pois, uma das razões de ser do Sinal da Cruz.

E ' um antigo Padre da Igreja — São Cyrilo de Je- rusalem — que em seu livro de Catecismo nos diz:

“— Eis no Sinal da Cruz a poderosa Guarda que ■ “ em vista dos pobres é de graça e por causa dos ‘‘ fracos não exige esforço.“ Por ser um favor de Deus, tornou-se timbre . “ dos fiéis e terro)^ dos. demonios.“E não venhas tn agora de:preza-Jo porque é “ gratu ito:“ antes, como a um benefeitor, ainda mni!\ o de- “ vcs venerar (1 ) . ”

Hoje, meu caro, posso e devo acrescentar que:

— A eloqüência do S'inal da Cruz não é menor- do que o poder,

Que diz ele ao Homem?Vejamo-lo.

2

O Sinal da Cruz é um livro de profundo saber.

TodaB as ciências, Teologia, filosofia, sociologia, política, história, e:;:tão reduzidas nestas três palavras:-

(1) Magna haec est custodia, quae propter pauperes gratis datur: sine labore propter infirmos, cum a Deo sit haec gratia, sig­num íidelium et timor demonurn. Neque propterea, quod est gratiuturn, contemnas hoc signaculum, sed ideo magis vene- rare benefactorem. (S. Cyrill. Hier., Catech., XII).

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“ Creação, Redenção, Glori/icação” .

Ciências do passado, ciências do prsente, ciênciasdo futuro, tudo está nisto.

Fachos do universo, tais palavras constituem as ba­ses da inteligência.

Mas. .. vamos por um instante supor que o genero humano esquecesse estas' três palavras, ou perdess.e o sen­tido delas.

Que seria o mundo em tal caso?

Uma aglomeração de atomos movendo-se no vacuo, sem direção e sem fim.

. Um cégo de nasdmento sem guia e sem bordão; um desgraçado sem consola-lo; um escravo sem esperança.

Um mistério inesplicável a si mesmo.

Encerrando em si mesmas o Universo todo, estas palavras

— “ Creação, Redenção, Glorificação” —

de modo insubstituível são ao genero humano mais ne­cessárias que o pão para nutrir-se, mais que o ar para respirar.

São nece.sfüárias a todos e a cada hora ; ou antes, são necessárias sempre^

Só elas bastam a orientar a vida inteira.Orientam as alegrias, as tristezas, os pensamentos,

ns palavras, as ações, os sentimentos.

Sendo assim, a simples razão diz que Deus devia es­tabelecer um meio fácil, permanente, universal, que dês- se n todos este conhecimento fundamental.

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Não devia, porem, da-lo uma só vez e de passagem; devia renova-lo constantemente, assim . como renova a ca­da instante o ar que respiramos.

Que sabio se encarregaria deste ensino indispensável?S'. Paulo, Sto. Agostinho, S. Tomás?Ou outro genio qualquer do oriente ou do ocidente?Não.Estes morreram; e fôra necessário um que não mor­

resse.Estes habitaram um logar determinado; e fôra ne-

.cessário um que estivesse- em toda a parte.Estes falaram línguas que nem todos compreendem;

e fôra necessário um que falasse uma lingua inteligível a todos, tanto ao selvagem (ta Oceania, como ao civilisado do antigo mundo.

Quem se11á pois?Tu já o nomeaste.E’ o Sinal da Cruz.Ele e só ele satisfaz a todas as condições exigidas: Não morre:

está em toda a parte ;é por todos entendido.

Um instante lhe basta para dar uma lição, como lhe basta um instante para todos o compreenderem.

3

Meu caro a ^ g o , deixa-me d ^ ob rir-te um Mistério. O Verbo e n c a ^ d o que Isaias chama com razão —

o Preceptor do genero humano — resolveu morrer por nós.

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Apresentaram-lhe muitos generos de morte: o ape- drejamento, a degolação, envenenamento, a precipitação dum logar elevado, o fogo, a água, e sei lá. mais que.

Qual a razão porque, entre todos estes generos de morte, a Cruz fo i preferida?

A isto um sábio theologo ha muitos séculos já res­pondeu :

“ Uma das razões porque a Sabedoria Infinita “ escolheu a Cruz, é, que basta um leve movi- “ mento da mão para traçar sôbre nós esse ins- “ trumento do Sagrado Suplicio, Sinal luminoso “ e poderoso que nos instrue em tudo quanto de-- "vemos saber e que nos s e ^ e de eseudo contra “ nossos inimigos (1 ) . ”

Eis, pois, o Sinal da Cruz devidamente comtituido em Ca.ícq íi.<:trt do genero humano^

E tu me perguntas:— E ' verdade que o Sinal da Cruz desempenha tais

funções? —Ou por outra:IO’ verdade que o Sinal da Cruz repete e msina co­

mo convem as três grandes palavras: Creaçfio, Redenção, ríJorificaçrâo?

< 1) Noluit Dominus lapidari, au t glaudio truncari, quod videlicct nos semper nobiscurn lapides aut ferrum ferre non possumus, quihus clofendamiT. Elegit vero crucem, quae levi manus motu cxprimitur, qua et contra inimici versutias manimur. (Alcuin., de Divin. Offic . . c. XVIII.)

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Sim.E não só as repete e ensina, mas explica-as com

uma autoridade, profundeza e lucidez que só a ele per­tencem.

Repete-as com autoridade; porque, sendo divino em sua origem, é orgão do próprio Deus.

Repete-as com profundeza e lucidez como tu vais ver.Quando levas a mão à tua fronte, dizendo — “ Em

Nome” — o Sinal da Cruz te ensina a indivisível Unidade da Esrencia Divina.

Só por esta palavra, qualquer moça ou rapaz sabe mais que todos os filosofos do paganismo.

Que progresso numa só lição!

Dizendo — “ do Padre” — novo e imenso raio de luz penetra na tua inteligência.

O Sinal da Cruz te di1. que ha um Ser, Pai de todos os Pais, Princípio eterno da existência de todas as crea­turas, celestes c terrestres, visivoeis e invisíveis (1 ).

A esta nova palavra dissipam-se para ti as nuven-s densas que por vinte séculos encobriram aos olhos do mundo pagão a origem das coisas.

Tu continuas dizendo: — “ e do Filho” — .O Sinal da Cruz assim continua sua lição.Ele te diz que o Pai dos Pais tem um Filho similhan­

te a Ele.Fazendo-te levar a mão ao peito, quando pronúncias

esse Nome, ele te diz que este Filho eterno de Deus um

(1) Ex quo omnis paternitas in coelis et in terra norninatur. (Eph., III, 15.)

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dia Se fez Homem, no seio duma Virgem, para resgatar a humanidade.

O homem tinha pecado.

Que de luz tão brilhante não derrama em tua inteli­gência, meu caro, esta terceira palavra?! . . .

A coexistênda do bem e do mal sobre a terra ;o terrivel dualismo que em ti mesmo sentes;a mistura de nobres impulsos e de inclinações abje­

tas, de ações sublimes e de ações vergonhosas;

a necessidade da luta;a inutilidade dos meios humanos de reabilitação;

constituem essas coisas outros tantos mistérios; são profundezas, que, tendo obrigado a mil investigações inu- teis a cabeça dos filosofos pagãos, não têm para ti a me­nor sombra de obscuridade ou de dúvida.

Acabas dizendo: — “ e do Espírito Santo” —

Esta palavra completa o ensino do Sinal da Cruz.

Graças l he sejam.

Tu sabes que ha um Deus, Uno na essência, Trino em Pessoas.

Tu tens idéia jussta do Ser por excellência, do Ser completo.

E Peifeito n.ão seria Ele, se não fosse Um e Três.

Se a primeira Pessôa necessariamente é Poder, a se - gunda necesriiriamente é Sabedoria e a terceiu neces­sariamente é Amor.

Este Amoi^, essencialmente bemfazejo, completando IL obra do Pai Creador, e do Filho Redentor, santifica o homem e o conduz à Glória.

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Oh! Que luminosa lição para dirigir a vida dos indi­víduos e das Nações, dos Reis e dos subditos?

Se Aristóteles, Platão e Cicero, se todos esses inves­tigadores da verdade — filosofos, legisladores, e moralis­tas — cançados de estudo e sempre atormentados de dú­vidas insolúveis ouvissem falar de um Mestre que ensi­nasse com a lucidez e profundeza do Sinal da Cruz, sem dúvida êles iriam ao fim do mundo para vê-lo e ter-se- iam por felizes se consumissem, a ouvi-lo, o restante da vida.

Pronunciando o nome do Espírito-Santo, tens forma­do a Cruz; e não só conheces o Redentor, mas tambem o instrumento da Redenção.

Assim, ao passo que de luz sedutora inunda o espí­rito, o Sinal da Cruz abre no coração urna fonte inexgo- tável de puro Amor.

Eis um novo benefído de que mais tarde falaremos.

5

Agora atende bem e responde-me.

Serã possível ensinar em menos palavras, com mais. eloquôncia, e em linguagem mais inteligivel, os três gran­de!'. dogmas:

— Creação, Redenção e Glorific'ação —

eixos do mundo moral e princípios geradores da in­teligência humana?

Ser creado, ser remido, ser destinado à Glória eter-. na, eis o princípio e todo o futuro do homern.

Que pensas tu, que seja a Theologia, caro amigo?

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E ’ o conhecimento revelado de Deus, do homem e do mundo.

A filosofia que é o conhecimento racional de Deus, homem e do mundo, é filha da Theologia.

Da Theologia o da filosofia nascem tod:ls as ciências — a política, a moral, a história, etc. —

conseqüência é pois, e necessária que — “ Nunca no mundo apareceu Mestre mais sábio e

eonciso do que o Sinal da Cruz” .E queres tu saber, meu caso Frederico, o papel que

n Sinal da C 'uz representa?

Dir.to-ei . . .amanhã

si Deus quizer

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S E T IM A C A R T A

PariR, 2 de Dezembro de 1862.

Ilraumo:— í. Loonr quf o Sinal da Cr«z ocupn no

mundo. — 2. Ern que je tornou o mun­do, doide que deixou de fazer o Sinal d<i Cr iz. — 3. O Sinnl da Cruz é um leiouro que nos enriquece. — 4. Uma oronde Lei moral.

Meu caro Frederico,

Os que desprezam o Sinal da Cruz ou dele desdenham, não podem ter dúvida nenhuma com relação ao Jogar que IJ Sagrado Sinal ocupa no mundo.

Tais indivíduos pertencem a uma classe hoje muito numerosa: é a clnsso dos que de nada duvidam porque ignoram tudo.

Tu, porem, deixa per um instante a séde de Juiz e, dando-me tua mão, em rápida viagem, percorre comigo os mundos — antigo e moderno.

l

Visitemos primeiro a brilkanfc CLntiguidad«. Peregrinos da verdade, entremos no oriente e no oci­

dente.

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Memphis, Athenas, Roma.São três grandes centros de luzes, que nos convidam

ji vüdtar as. escolas de seus sábios.Vejamos que dizem estes mestres ilustres sôbre os

pontos cujo conhecimento mais nos interessa.

O mundo é eterno, ou .foi creado?Se foi creado, quem fo i o- seu creador?E ' corpo ou esrpíriio, o ouíor dre nahre::(t,? F:’ on mtO' â (íferno? .N' Nrn-e, indepcndeníe? h” só on sfío mititos?

As respostas são — hesitações, incertezas. flagrantes contradições.

Qne é o bem?Qne é o m.al?Quai a origem d(j bem e do mal?Como o bem e o se acham no homem e no mundo? Ha um. remedio para o nm1 ou e' inenráoeZ?Se tem remédw, qual é ele?Qieem o possúe?Como se póde obter?De que modo se atJlica?

Hesitações, incertezas, flagrantes contradições, são as respstas.

Que é o homem?Entra na. sua esse'ncia «m a coisa chamada — Alma? Se entra, qual e' a sua mtureza?E” um fogo?/•?’ maténa aerifor-me?

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Morrr. com o corpo?Sobrevive ao corpo?E ’ e^criío?Qwaí é o seu des?íino ?Qwol a finalidade de s .a existência?

E as respostas a estas e mil outras questões, não pas­sam de hesitações, incertezas, flagrantes contradições.

A h! Meus grandes povos, meus grandes homens!Apczar de tão prctendoaos, vós não sabeis nem a

primeira palavra de uma resposta a estas questões fun­damentais!

Não sois mais do que — notáveis ignomwtes!Que importa saber fahricar sistemas, compor sofis­

mas, inundai' de eloqüência as escolas, oa senados, os arco- pagos?

Que importa saber guiar carros no circo, edificar c i­dades, dar batalhas, conquistar provindas, tornar a ter­ra e os mares tributários de vossa avareza?

Ignorais o que sois, donde vindes, e para. onde ides?No dizer de um de vos mesmos não passais de uns

suinos mais ou menos gordo, lá do rebanho d'Epicuro !... —

— “ Epicuri de grege porei.’’ —Eis o mundo antigo.

Com a divulgação d este Sinal eloquente que é o Si­nal da Cruz essas vergonhosas trevas se dissiparam.

Aprendendo a fazer o Sinal da Cruz, o Homem, ilus­trado ou não, aprende a ciência de Deus, do mundo, e de si mesmo.

Repetindo-o constantemente, grava-se-lhe no fundo da Alma e sta Doutrina a ponto de jamais esquece-la.

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Digam o que disserem:graç.as ao uso tão frequente do Sinal da Cruz em to­

das as classes da sociedade, tanto nas cidades e como nas aldeias o mundo católico dos primeiros séculos e da edade média conservou em grau até então desconhecido, o co­nhecimento da Ciência Divina, r.Iãe de todas as Ciências e Mestra da vida.

Poderia acontecer o contrário disto?

Se durante anos, certo homem repete im erro dez vezes por dia, dele fica plenamente compenetrado e com e]e, para assim dizer, se identifica.

Ora, se isto acontece com o erro, porque não ha de acontecer com a verdade?

2

Desejas a contra-prova?Continuemos noesa viagem e entremos no mundo

moderno.Abandonou ele o Sinal da Cruz e desde esse tempo,

não mais teve a seu lado um Monitor que lhe avivasse a cada instante os três grandes dogmas indispensáveis à vida moral.

Por isso que olvidou o Sinal da Cruz, Creaç.ão, R.e- dençiio e Glorificação, essas três Verdades fundamentais são para ele como se não existissem

Não vês o que ele está sendo em matéria de Ciências?Similhante ao mundo- de outróra, tu ouves o mundo

d<> agora, gaguejar vergonhosamente sôbre os princípios rnals i'Iementares da Religião, do Direito, da Família e dn propri.cdade.

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Que fundo de verdades alimenta suas c^versas?Que contêm seus tívros de política e de filosofia.'/À luz de que fachos anda ele com sua vida. política e

particular?E que -pensas tu dos jornc^is '!N a torrente de palavras que despejam diajnamente

na sociedade, quantas idéias sã.s (poderás apontar, com re ­lação a Deus, ao Homem, e ao mundo?

Qual é a sabedoria deste mundo, deste seisulo de lu­zes, que não sabe fozer o Sinal da Cnt.z?

Igual ao mundo pagão que lhe serve de mestre e de modelo.

O mundo de ho;i.e só conhece e adora

o deua-eu, o deuH-comercio, o deus-dinheiro, o deus-ventre o deus-pra.zer.

Conhece e adora

a deusa-industria, a deusa-politicagem a deusa-volupia.

Por serem meios de satisfazer a todos os seus maus desejos, ele conhece e adora as ciências da materia:

— a quimica, a fisica, a mecânica., a dinâmica; as essencias, os sulfatos, os nitratos, os carbenatos. Eis aqui destes seculos as suas divindades e o seu

culto.

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Eis aqui a theologia, a filosofia, a politica, a moral, ;i \'ida do mundo moderno: — O eg-oismo com seus vicio.!.. —

Progredindo assim, breve estai'á ele bem a par dos eontemporaneos de Noé, destinados a morrer nas aguas do dilnvio.

Para aqueles tambem consistia-lhes toda a ciência cm conhecer e adorar os deuses do mundo moderno.

Consistia em comer, beber, edificar, comprar, ven­der e casar cada um, a si e aos outros, na depi*avação.

O homem tinha concentrado sua vida na materia.

Havia-se ele mesmo tornado carne: ignorante como as carnes e manchado como as carnes. (1 )

De todas estas más tendencias, qual é a que falta ao mundo atual'! '

Sna esseneia, jiosto que menos avançada que a. dos gigantes, não sei-á da mesma natureza?

De re3to, nada de melhor o mundo hoje exige d(! suíi propria essencia.

Não sabendo fazer e não fazendo o Sinal da Cruz, ele He materializa.

( I) Sicut autem in diebus Noe ita erit et adventus filis hominis. Sicut cnim in diebus ante diluvium comedentes nubentes, et nuptui tradentes... rionec venit diluvium et tulit omnes. (Malh., XXIV, 37, 38, 29.)— Edebant et bibebant: emebant et vendeba:Jt; plantabant, ct oedificabant. (Luc., ^ 'I I , 28.)-- Omnis quipc caro corruperat vitam sunm super terram. (Oen., VI, 12.)Quia caro c.sl. (Ibid., 3.)

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Em virtude pois da lei de gravitação moral, o gene-- ro humano tem forçosamente de recair n'> estado em que estava antes de amar a este Sinal salvador.

Digamos a este mundo ignorante de hoje :

O Sinal da Cruz é um Livro que nos educa e nos eleva.

Sob tal ponto de vista, podes agora julgar se era sem razão que nossos. pais constantemente faziam o Sinal da Cruz.

3

Agora vais ver que, à uma ignorancia mui deplorá­vel do mundo atual é que se deve imputar, em grande parte, o abandono do Sinal da Cruz.

Que é a ignorancia?

É a. ií;d?gc«cia do csv,irüo.

Em m<ateria de religião, ela acusa sempre a indigen- eia do coração-

E tal indigencia procede da fraqueza em — praticar a virtude e repelir o mal.

E porque existe tal fraqueza?

É porque o Homem despreza os meios de obter a graça e de torná-la eficaz.

O primeiro, o mais pronto, o mais vulgai’, o mais facil destes meios, é, como sabes, a oração.

E de todas as orações, a mats facil, a ^ais pronta, a mais vulgar, e, talvez, a mais poderosa, é o

SinaJ de, Crw.

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Para ti, eis um novo estudo; e para os primeiros Cristãos, uma nova justificação.

O ’ pobres do mundo atual, o Sinal da Cruz é um te­souro que nos enriquece.

Mendigos são os que todos os dias, de porta em porta, procuram o pão.

Creso era mendigo.Cesar e Alexandre eram pedintes.Os Imperadores e os Reis são mendigos; persona­

gens coroados sim, mas todos uns pedintes.

Qual é o Homem, ainda que opulento, que não sej a obrigado a dizer cada dia à porta do grande Pai de fa- rnilia:

O .^te nosso de cada dila n.os dai hoje?

Poderá o mais poderoso Monarca criar, fazer, um só írrão de trigo? '

Vida fisk<a e vida moral, meios de conseivar uma e outra, tudo o homem recebe!

“ Qtttd habes quod non accepi,<di?

Nada ele possúe propri.amente dele, nem um cabelo da cabeça.

E o que recebeu, não foi recebido por unia só vez.

Sua indigenda é de todos os dia.s, de todas as horas, todos os segundos.

Ele morreria instantaneamente se Deus, que lhe deu o ser e lhe dá tudo, cessasse a Sua ação beneficente.

E' necessano, pois, que o homem peça porque nada e n cadn instante de tudo carece.

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4

Daqui, meu caro Frederico, uma grande Lei do mun- ■ do moral, Lei em que teus condiscípulos nunca, refleti­ram:

“ Ê a Lei da Suplica.’

Os povos pagãos de outrora como os idolatras e sel­vagens de hoje, perderam é verdade, uma parte mais ou menos considerável dM Verdades Tradicionais..

Ninguem deles porem, perdeu o conhecrimento 'da Lei da Su.plica.

Sob uma ou outra fórma, o genero humano a con­servou por modo invariavel desde que o Homem existe sobre a terra.

Mais forte que todas as paixões, mais eloquente que todos os sofismas, o impulso de conservação vem dizendo sempre ao homem:

— Da fidelidade invariavcl á Icoi da Suplica depen­de tun i*x istcn("ia.

O dia em que niio voasse ao trono de Deus uma Su­plica, angelica ou humana, cessariam todas as relações, entre o Creador e a creatura, entre o Podero:o c o pe­dinte.

Então a torrente da vida seria instantaneamente suspensa.

E não será este, meu caro Frederico, o profundo Mis- terio que o Vrebo Encarnado revelou ao mundo quando disse: — é necessário pedir, mas pedir sempre?

“ Oportet semper orare, et nunquam deficere.” —

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Nota bem meu caro, o que h.á de imperatho nestas palavras.

O Legislador não ccnvida; manda.E esse mandar indica uma necessidade absoluta:

ij/iíwí e t.

No cumprimento da U i não admite Ele qualquer interrupç.ão, nem de dia, nem de noite:

"oportet semper."

Enquanto for verdade que deante de Deus todo o genero humano é um pobre mendigo, a Lei da Suplica não será suspensa nem modificada.

Ora, o genero humano será sempre um mendigo.Daqui resulta que a Lei da Suplica conservará seu

imperio até ao ultimo dia do mundo.

"e í nunquam deficere’

O proprio mundo físico foi organisado em relaç.ão com a observancia perpetua desta Lei conservadora do mundo moral.

Grnças à passagem sucoessiva do sol de um a outro Iwmisforio, metadc do genero humano está sempre des- p(')'t.ada — pam a Suplica.

Pois, uma das mais poderosas entre as suplicas é o Sitml da Cruz.

Assim o acreditou sempre todo o genero humano porque o tinha aprendido.

F. foi do proprio Deus que ele o aprendeu, pois que, Doiis é que tudo- lhe havia ensinado.

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Mui de proposito digo — todo o genero humano.

Teus jovens condiscipulos pensam talvez que o Sinal da Cruz data só dos Apostolos ou pelo menos que s6 fôra usado pelo povo judeu e pelo católico.

V-erás na carta seguinte o credito nenhum que me­rece tal opinião deles.

Adeus.

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O I T A V A C A R T A

Paris, 3 de: Dezembro de 1862.

Resumo: .— 1. O Sinal da Cruz conhecido e praticado

desde a origem do mundo. — 2. Sete modos de fazer o Sinal do Cruz. — 3. Jacob, Moisés, SansSo, fizeram o Sinal da Cruz. — 4. Testemunho dos Padres. — Sansõo, David, Salomão e todo o povo judeu, faziam o Sinal da Cruz e reco­nheciam o valor dêle.

1

Meu caro Frederico,

O da Cruz prende-se com a origem, domundo. —

Esta pi-imeira frase da minha carta vai fe r ir teus ouvidos e os de muitos outi-os.

De verdade;

o Sinal da Cruz fo i praticado por todos os povos, mes­mo pelos pagãos, nas preces solênes de ocasiões notáveis, quando se tratava de obter uma graça importante— .

Cumpre notar que, c;ntre esta proposição, e a carta precedente, não ha contradição nenhuma.

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Hontem falei no Sinal da Cruz na sua forma perfeita e bem compreendida, qual a praticamos depois do Evange­lho; hoje vou falar do Sinal da Cruz na sua fórma, posto que real ainda elementar, e mais. ou menos misteriosa para QS que dela usavam antes do Evangelho.

Parece-te necessária uma explicação ?

Ei-la.

O Sinal da Cruz é tão natural ao Homem que ha época, nem povo, nem religião em que ele, Homem, se pu­sesse em relação com Deus pela oração, sem primeiro fazer o Sinal da Cruz.

Conheces algum povo, que dirigia suas orações a Deus com os braços caídos?

Eu não conheço.

Quantos póvos eu conheço — judeus, pagãos e católi­cos, — todos fazem o S inal da Cruz para orar a Deus.

2

Ha Siete modos de realizar o Sinal da Cruz:

1.0 — Com os braços abertos;e o Homem nesta posição

constitue um Sinal da Cruz.

2.0 — Com as mâns juntas e os dedos entrelaça­dos ; e eis cinco Sinais da Cruz.

3.” — Com ns mTios aplicadas urna contra outra e o polegar da direita sobreposto ao da esquerda;

e temos ainda o Sinal da Cruz.

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4.“ — Com as mãos encruzadas sobre o peito; n ova fórma do Sinal da Cruz.

5.” — Com. os braços encruzados sobre o peito;mais uma fónna do Sinal da Cruz.

6.“ — Com o polegar da mão direita passado por entre o indicador e o máximo;

o que é um Sinal da Cruz muito usado.

7." — Finalmente, com a mão direita movendo- se da testa à cinta e do hombro es­querdo ao direito;

fôrma sem dúvida a mais expli­cita (e a que bem conheces) do Sinal da Cruz.

Sob uma ou outra destas fôrmas, o Sinal da Cruz foi praticado sempre e em toda a parte, nas drcunstancias solênes.

E isto com conhecimento mais ou menos claro de sua eficácia.

3

.Tacob está mis proximidades da morte.

Seus doze filhos, futuros pais das dozC' tribus de Is­rael, estão em volta dele.

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Inspirado por Deus, o santo Patriarca anuncia a ca­da um ■ deles o que ha de acontecer-lhes no correr dos sé­culos.

À vista de Ephraim e de l\fanassés, filhos de José, o velho, cheio de emoção, chama sobre suas ca^beças as. bençãos do Céo.

Para obte-las, que faz ele?Encruza os braços, diz a Escritura, colocando a mão-

esquerda sobre o que fica à direita e a direita sobre O' que fica à esquerda.

Eis o Sinal da Cruz; origem etema de bençãos.A Tradição não se enganou.Jacob era a figura do Messias.Neste momento solène, suas palavras e atitucTe, tudo

devia ser profético no Patriarca.

Diz São João Damasceno:

“ Jacob encruzando as mãos para abençoat os- “ filhos de José, faz o Sinal da Cruz.“ Não ha nada mais evidente (1 ) . "

Tertuliano verificava o me.3mo fáto desde os Tempos. Apostolicos e lhe dava o mesmo sentido.

“ O Antigo Testamento nos mostra Jacob aben- “ çoando os filhos de José, com a mão esquerda “ sobre a cabeça do que ficava à direita e com “a direita sobre a do que lhe ficava à esquer- “ da.

(1) Jneob allcrnntis cancollnlisfiuc manlbus, lllios .To!!rph bene- dlccns. Slf;nuin Crucis mnnifc.stissimc scrlpslt. (De flcl. orthod.,. lib. JV, Cap, 12. l

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“ Nesta posição,elas formavam a Cruz e anuncia, “ vam as .bençãos .de que Jesus Cristo devia ser a “ origem ” . (1)

Passemos a i.\'Ioisés, deixando em claro o tempo da escravidão do Egypto.

Os hebreus acham..se em face de Amalech, no meio do deserto.

O Rei . inimigo, á frente de um poderoso exercito, lhes impede a passagem^

E ’ inevitável uma batalha decisiva.E que fa z :\Ioisés?Em vez de fica r na planície a animar com gesto e voz

os batalhões de Isi-ael, sobe a montanha que domina o campo da batalha.

Durante o combate, q u faz ele inspirado por Deus?O Sinal da Cruz; só o Sinal da Gruz; durante o com­

bate.

Não se encontra, em parte alguma que ele pronun­ciasse uma SÓ palavra.

De mãos estendidas e braços abertos pai-a o Céo, ele se tornava um Sinal da Cniz viva — ' Cristo.

Deus o vê nesta atitude, a vitória é alcançada. (2 )Isto não é uma suposição.Ouve o que dizem os Padres da Igreja.

( ll Sed ert hoc quoque de veteri sacramento, quo nepotes , suos ex Joseph, Ephraim et Manasses, Jacob, impositis capitibus, et unlermutatis mar.ibus, benedixerit, et quidem ita trans- versin obligatis in se, ut Christum deíormantcs, jam 'tunc protenderet benedictionem in Christum futuram. (De Baptim.)

(2l Lod. 17.“, 10.

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4

São João Damasceno exclama:

“ ó ^malech, foram aquelas mãos estendidas em “ Cruz que te venceram ( 1). ”

E o grande Tertuliano d iz:

“ Porque razão no momento em que J osué vai ba- “ ter Amalech, faz Moisés, o que nunca havia fei- “ to. orando de mãos estendidas? Em tão critica “ circunstância, para tornar mais eficaz a ora- “ ção, não deveria ele ajoelhar, bater no peito, e “ pro.'trar-se de face por terra?

“ Nada disto fez, porque — o combate do Senhor “ contra Amalec.h prefigurava as batalhas do “ Verbo Encarnado contra satanás.“ E o Sinal da Cmz representava a Cruz pela “ qual devia alcançar a vitória. (2 )

E S. Justino, o filosofo martír, cuja vida chega na

dos Apostolos, diz:

( 1) Manus Crucis instar extensae, te Amalech, repulerunt. (De fid. orthod., lib. IV, cap. 12.)

(2) Jam vere Moysés, quid utique nunc tantum, cum José ad- versus Amalech praeliabatur, expansis manibus, orat resideus, quando in rebustam attonitis, magis utique genibus depositis, et manibus coedentibus pectus, et facie humi volutante, cra- tionem comandare debuisset; nisi quia illic novem Dominl dimicabat, dimicaturac quandoque adversus diabulum Crucls quoque erat habitus necessarius, per quan Jesus victorlam esset relaturus? (Contr. Marcion., n.® 111.)

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“ Moisés na montanha com as mãos estendidas “ ató ao pôr do aol, amparado por Hur e Aarão, “ que outra cousa é, ^ ã o o Sinal da Cruz “ vivo? (1) ."

Insensíveis aos milagres da solicitude paternal de que eram constante objéto, os hebreus murmuram contra Moisés e contra Deus.

Após a murmuração aparece a revolta que se torna geral e rebelde.

Mas, o castigo é imediato ao crime e toma dele os caractéres.

Enormes serpentes, e medonhos reptis, cujo veneno queima como fogo, se lançam sobre os culpados e os des­pedaçam à força de mordeduras.

Enche-se o campo de mortos e moribundos.

A cólera divina é porém aplacada pelas suplicas de Moisés.

Para afugentar as serpentes e curar os inumeráveis doente::, que meio indica o Senhor?

Orações?Não.Jejuns?Não

Um Altar, uma coluna expiatória?Nada disto.

( 1) Moysés expansis manibus in colle, ad vesperam usque, per- mansit cum manus ejus suAentarentur, quod sane nullam aliam nisi crucis íiguram exhibet. (Dialog, cum Tryph. n.” 666.)

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Ordena que se faça de bronze um Sinal da Cruz, per­manente e visivel, que cada um dos doentes olhará com Fé e sinceridade.

Sei'á tal a sua virtude que só o vê-lo baste a obter a saúde?. . .

A significação deste sinal recomendado por Deus. não é duvidosa.

O verdadeiro Sinal da Cruz eternamente vivo, Nosso Senhor, Ele mesmo revelou ao geniei'o h u ^ n o que o sinal do deserto era a Sua figura.

‘ Como Moisés, levantou a serpento no deserto, “assim é necessário qu.e o Filho do Homem seja ‘ levantado, para que não morra, mas antes con- ‘ siga a vida eterna, quem n’Ele acreditar ( 1) . ”

Se coubessP. nos limites de uma carta, ambos nós per­correríamos os anais do povo figurativo, e tu, meu caro amigo, o verias em todas as ocasiões importantes, (as. úni­cas bom conhecidas) recorrer ao S'i'nal da Cruz.

Vou apontar-te algumas.

5

Corno nos ensinam os próprios judeus, o Sacerdote nos sacrifícios, primeiro levantava a hostia, segundo a prescrição da lei, e depois, movia-a do oriente para o oci­dente, formando assim o Sinal da Cruz.

(1) Joa., 15.

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líxccutando o mesm() rnovimonto é que o sumo Sa­cerdote, e mesmo os simplrs Sacerdotes, abençoavam o povo depois dos sacrifícios (1 ).

Da Igreja judaka passou este sinal à Igreja. Cristã.

O.s primeiros Cristãos, impressionados do antig-o mo­do de all'Jnçoar com o Sinal da Cru1., foram pelos Apos-to- los fiicilmcnh' mstruidos da significação misteriosa des' sinal.

[•'oram nnturalmeniC" levados a continua-lo, junta do-lhe as divinas palvrrus que o explicam.

No temPo do proféta Ezechiel chegaram os crimes de Jerusalem ao seu ponto culminante.

Um mistérioso personagem, diz o proféta, aparece com ordem de percorrer a cidade e de marcar com este sinal T a fronte dos que gemiam por causa das iniquida- des desta criminosa capital.

Seis outros personagens que o acompanhavam, le- \'ando cada um sua arma mortífera, tiveram ordem ter* minante de matar indistintamente os que não estivessem marcados com este sinal salutar (2 ).

Como se deixará de ver nisto a tocante figura do Sinal da Cruz que se faz. sobre n ossa fronte?

Assim o pens.am ()s Padres da Igreja, entre outros, Tertuliano e S. Jerónimo.

Dizem eles:

“ Assim como o sinal Tau T — impresso na fron- “ te elos habitantes de Jerusalem que lamenta-

< 1 l Du»;uN. Tratado da Cruz de Nosso Senhor, c. VIII. Cll F:7.pcn., IX, 4, etc.

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“ vam o.::;, crimes daquela cidade, os protegia con- “ tra os Anjos exterminadores, tambem o Sinal “ da Cruz sobre a fronte do Homem o garante “ de ser vitima do demonio e de outros inimigos “ da salvação, se lamentar os crimes a que este “ Sinal póde obstar ( 1 ).' '

Os filistcus reduziram os Israelistas a ^ i s hmni- Ihante escravidão.

Sansão comcçon sua libertação.

Infelizmente o forte de ísrael deixou-se surpri'eiuler.

Prenderam-no depois de lhe vasarem os olhos.

Em tal estado o levavam às festas para lhes servir de divertimento.

Sansão, porem, que meditava um plano, projeta es­magar de um só golpe milhares de inimigos.

A Providência dirige por tal modo as coisas, que ele executará o seu designio, fazendo o S'inal da Cruz.

Diz Santo Agostinho:

“ Colocado entre duas. colunas, que sustentavam “ todo o edifício, o forte de Israel estende seus “ braços em forma; de cruz, e nesta atitude omni- "potente, abala as colunas, derriba-as, e esmaga “ seus inimigos, morrendo, como o grande Cru- “ cificado, no meio do seu triunfo (2 ) . "

(1) Tertul., adv. Marcion., lih. III c. ^XII; S.Hier. in Ezach., eX.(2) Jam hic ímaRíncm crui'is altcndite: expansu:; enim manus

ad duas colunas, quasi ad duo signa crucis extendit; sed advcrsarlos suos interreinptos oppressit, et illius passlo inter- fectio facta est pcrscquentium. <Scrm. 107, de Temp.)

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Oririmido de angustias, David é reduzido ao maior pxtremo a que pódc chegar um Rei.

V V- um filho parricida; os subditos revoltados; o tro­no vacilante; e ainda a velhice que se adianta a passos largos.

Que fará o Monarca inspirado?Orarú.M is de que modo?Fazcmdo o Sinal da Cruz (1 ).A iaba Salomão o templo de Jerusalem, e o templo

magnífico é consagrado com uma pompa digna do Mo- iwrca.

E ' necessário atraír as bençãos do Céo sobre a nova easa do Deus de Israel c obter Suas- graças para os que nela v'ierem orar.

Que faz Salomão?Ora. . . fazendo o Sinal da Cruz.Diz o Sagrado- Texto :

“ Em pé, diante do altar do Senhor, à viste de “ todo o povo de Israel, Salomão estencle “ mfíos pura o Céo, e diz:“ Senhor, Deus de Israel, não ha um deus simi- “ Ihante a Vós, nem no Céo, nem sobre a terra. “ Atendei a oração do vosso servo.“ Dia e noite estejam os Vossos Olhos abertos “ para deferir as suplicas de vosso servo- e de vos- “ so povo de Israel (2 ).

(Il F.xp::mdi ma:-!-.j.s me as ad te. ( Ps. LXXVIII, 142, etc.>(2) [11 Rcg., VIII, 22 e seg.

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Seria um erro acreditar que os Patriarcas, os Juizes, os Profétas, os Reis e . os Videntes de Israel, fo:?8em os unicos a. conhecer e a praticar o Sinal da Cruz.

Todo o povo o conhecia e religiosamente o praticava nos perigos publicos.

Senaquerib marcha de vitória em vitória.

A maior parte da P.alostina é invadida.

Jerusalem é ameaçada.

Que faz este povo (homens, mulheres e crianças) paia repelir o inimigo?

Faz como Moisés, o Sinal da Cuz, tomando, como ele, a fórma deste Sinal.

“ Eles invocam o Sinal das Misericórdias, levan- “ íando para o Céo as mãos estendidas.“ E a suplica deles é ouvida pelo Senhor ( 1 ).”

Um outro perigo os ameaça.

Eis Heliodoro, que vem, acompanhado por soldados, a roubar os tesouros do Templo.

Já ocupam o atrio exterior. Mais um passo e o sa­crilégio será consumado.

Os Sacerdotes estão prostrados ao pé do altar. Mas nada obsta à espoliação.

Que fa z o povo?

Recorre à sua anna tradicional. Ora, fazendo o Sinal da C^uz e o Templo é salvo (2 ).

(1) Eccli., XLVIII, 22.(2) II Machab., III, 20.

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Se é incontestável que € uma fôrma do Sinal da: Cruz orar de braços abertos, conheces que, desde toda a anti­guidade, os judeus praticavam este Sinal com impulso mais ou menos misterioso de sua omnipotência.

Amanhã se Deus quiser, veremos se os pagãos eram neste pont^i menos instruídos.

Adeus.

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N O N A C A R T A

Pnris, 4 de Dezembro de 1862.

Sumario: — 1. O Sitwl {la Cruz tmtrc os pngãos. Novas'

partknlaridadcs s6hrc uma fôrma cxte- rior ilo Sinnl da Cruz entre os primeiros Cristios. — 2. Os Mártires no anfitcntro.— 3. Etimologia da palatmt “adorar".— 4. Os pagãos adoravam fazentlo o Sinai da Cruz. De que modo o faziam? Primeiro modo.

1

Meu caro Frederico,

O objeto desta. carta é:

“ O S'inal da Cruz entre os pagãos” .

Para seguir até ao fim a cadeia tradicional que- une a sinagoga à Igreja, vou dizer-te ainda alguma cousa do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos.

Já sabes que eles o faziam a cada instante.Mas, talvez ignores que, pal'a o não interromper-

enquanto oravam, transformavam-se el.es mesmos em Si-. nal da Cruz.

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O que póde afirmar-se é que teus condiscípulos, cem contra um, nada sabem disto-

O que Moisés, David, todos os Israelitas fizeram com intervalos, nossos anHgos pais o faziam sempre.

Disto compreenderás logo a razão.Era que Amalech, os Filisteus, Heliodoro, nem sem­

pre lhes atacavam; enquanto que o colosso romano nunca (Ipinmha as armas.

A luta travada pelo paganismo de Roma contra nos­sos pais, os primeiros Cristãos, durante três séculos ela foi violenta, sem treguas nem descanço.

Pon isso os Cristãos eram outros tantos Moisés sõbre a montanha.

Não um dia só, mas três séculos,' estiveram suas mãos ■estendidas 1iara o Céo pedindo, como Moisés, a vitória pa­ra os Martircs que desciam à arena e a conversão para seus perseguidores.

A respeito do pensamento e dessa atitude deles na oração, que fale uma testemunha ocular.

Díz Tertuliano:

“ Nós oramos com os olhos levantados ao Céo e “ as mãos estendidas, porque elas são inocentes; “ de cabeça descoberta, porque não temos de que “ nos envergonhar; e sem monitor, porque nossa “ oração é de coração.“ Em tal posição não cessamos de pedir para to- “ dos os Imperadores uma vida longa, um reina- “ do pacifico, um palácio sem ciladas, exercites “ valorosos, um Senado fiel, um povo virtuoso, “ um mundo tranquilo. tudo, finalmente, quanto

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‘ pode caber nos votos dum Homem e nos de um ‘ Cesar ( 1 ) . ”

Assim oravam no Oriente e no Ocidente os Homens, LS Mulheres, as creanças, os mancebos, as donzelas, os relhos, os senadores, as matronas, os Fieis de qualquer :ondiç.ão.

Esta misteriosa atitude, eles a conservavam, não só ;m suas synaxes no fundo das catacumbas, advogando )S interesses dos outros, mas tambem, quando arrastados w anfiteatro onde, à vista de inumeráveis espetadores, tinham a combater nas grandes pugnas do martírio.

2

Poderús figu rnr, meu caro amigo, um espetáculo mail'l toejmle, qne aquele de que Eusébio nos conservou a descrição?

“ A perseguição de Diocleciano era violenta na “ P alesti na.“ Um dia, entraram no anfiteatro grande núme- “ ro de Cristãos condenados às feras.“ Os espectadores não puderam escapar a uma “ profunda emioção, à vista desta multidão de “ creanças, de mancebos e de velhos. Todos nus,

(1) Illud suspicientes cristiani rnanibus expansis, quia innocuis, capite nudo, quia non erubescimus, denique sine monitore, quia de pectores oramus, precantes sumus semper pro om­nibus Imperatoribus, vitam illis prolixarn, imperium securum, domum tutam, exercitus íortes, Senatum fidelem, populum probum, orbem quietum quodcumque hominis et Caesaris vota sunt. (Apol, c. XXX.)

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“ de olhos elevados ao Céo e braços levantados . “ em Cruz.“ Imóveis, sem espanto nem te mor, no meio de ■ “ tigres e leões esfaimados.“ O medo que devia agitar os condenados pas­sou ao espírito dos espectadores e até dos Juizes “ (1 ) . ”

Esta atitude não era excepional.Que continue a fa lar o mesmo- historiador.Ninguem mais digno de fé, porque foi testemunha

onilm- do que refére.

“ Verieis, no meio do anfiteatro um mancebo, “ que apenas andava beirando vinte anos.“ L ivre de cadeias, imóvel, tranquilo e de pé, , “ com os braços em Cruz, orando com ardor, de “ olhos e coração fixos no Céo. Estava rodeado “ de ursos e leopardos cujo furor anuncia v a a “ morte.

“ Porem, e:-:tes animais terrí\'eis, quando prestes “ a dilaeei^iu^-lhe as carnes, são de subito acal- “ macloa pot uma força misteriosa e fogem iire- “ pil:ulam:mte (2 ).

(1) Eusehio de Cezarca. Hist. cccl., liv. VIII, c. V.(2) Vidisscs adolescentulum, nondum viginti anos inlvgros, natum,

nullis constrictum vinculis, firmiter consistcntcm manibus in crucis modum e tranverso expansis, robusta ct excelsa mente- in precibus ad Dei numen hanc vel illan parten, de loco in quo steterat, deflectentem; idque cum carn dentibus lace- rarc aggrederentur, querum ora, divir.a q1.;adam et incxpli- cnbili potentia, nescio quo pacto fuére prope obturata, et , itcrum ipsi propcre recurrerunt. <Idem. Hist. eccl., liv. VIII,. c. VIU

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Espetáculo mais enternecedor te oferece o Ocidente, pela delicadeza da vítima.

Passava-se o caso no meio da grande Roma.Nunca igual multidão tinha acudido ao circo.A heroina era Inês, nobre donzela de treze anos de

idade.

Condenada ao fogo, entra na fogueira. Diz Sa^to Ambrósio:

“ Não a vêdes vós, estender as mãos para Cris- “ to e arvorar o vitorioso Estandarte do Senhor “ até no meio das chamas?“ De mãos estendidas atravéz do fogo, assim se “ dirige a Deus: 6 Vós, a quem é necessário ado- “ rar, honrar e temer! 6 Pai Omnipotente de “ Nosso Senhor Jesus Cristo, bendito sejais; por- “ quanto, graças a Vosso unico Filho, escapei às “ mãos dos impios e atravessei, imaculada, as “ impurezas cio demonio. E eis que o orvalho do “ Espírito Santo lhe npaga o fogo nos pés; e a “ clwmn espalhada ameaça cOm seus ardores os “ que a tinham ab‘ndo.” (1 )

Tal <'ra a forma eloqiwnte do. Sinal dn. Cruz, usada pelos Cristãos primitivos da Igreja, os Moisés da Nova Aliança.

Outra prova tu podes obter nas pinturas das ca­tacumbas.

(1) Tendere Christo inter manus, atque in ipsis sacrilegis Íocií tropheum Domini signarc victoris, etc. (Liv. I de Virgin.)

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Muito tempo durou esta fonna.Eu a vi há i inta anos em alguns povos ctólicos da

Alemanha.Mas se ela se perdeu entre os fiéis, a Igreja a con­

servou ^-eligiosamente.Os duzentos mil Padres que sobem diariamente ao

Altar em todo.s os pontos da terra são os anéis visiveis a nossos oUios da cadeia tradicional que de nós se estende às catacumbas, das catacumbas ao Calvário e do Calvái^io à montanha de Rapfidim, dc onde parte para se perder em a noite dos tempos.

3

Chegamos aos pagãos.Tambem eles fizeram o Sinal da Cruz.F iz e r^ -n o orando; e com razão acreditaram ser ele

dotado de uma força misteriosa de grande importância.Pergunta aos teus condiscípulos a etimologia, do ver­

bo adorar: — adorare.Não terão dificuldade em responder-te.Se este verbo fosse creaclo pela Igreja, poderias dei­

xar de inten-oga-los.Porém, como se acha na lingu3r latina do f-‘ér,ulo de

ouro, segundo a linguagem dos colégios, .eles elevem sa- be-la.

Decompondo o verbo adorar, ele significa, pa it todos os etimologistas, levar a mão à boca e beijá-la:

"11anum ad os aclmoi-erc” .

Tal era o modo Jlor que os pagãos adora,'am seus deuses.

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Disto abundam as provas.

“ Quando nós adoramos, diz Plínio, levamos a “ mão direita à boca e beijamo-la, e depois des- “ crevemos um drculo com o nosso c o ^ » , que- “ gira sobre seu eixo (1 ). ”

Girar o corpo sobre seu eixo.

Que significa este genero de adoração?

Levando a mão à boca, o homem faz homenagem de- sua .pessôa à Divindade.

Fazendo girar o corpo sôbre seu eixo, imita o mo­vimento dos astros e do mundo inteiro cuja parte mais nobre são os corpos celestes ; é ainda fazer homenagem á Divindade.

Este modo de adorar faz parte do Sabeismo ou da. idolatria dos astros que sóbe a muito alta antiguidade.

Segundo os Pitagoricos, isto veio de Numa, que ■ prescreveu a giração:

“ C ir c u ^ g i tecum dcos ad.oras.”“ Diz-se, acrescenta Plutarco, que é uma repre- “ sentaç^o do giro que o sol dá em seu movi-. “ mcnto.” (V ida de Numa, c.X II.)

Esta pratica profundamente misteriosa, cstnvji mui ­to espalh;ula.na A^^éi^ka, antes de sua descoberta.

A i nda hoje ela existe entre rfcrí;ir-hc.'f g/mdo?'''.^ do Oncntc.

(2) In adorando dexteram ad osculum rcferimus, totumque corpus. circumagimus. (Hist. Natu., I. XXVIII.)

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Minucio Felix diz:

“ Cecilio viu a estatua de S'érapis, e, segundo o “ c-ostume do vulgo supersticioso, levou a mão à “ boca e beijou-a (1 ) . ”

Apuleu diz tamb^:m:

‘ Emiliano até hoje não adorou deus algum, "nem frequentou algum templo.‘ Se passa diante de algum lugar sagrado, consi- “dera um crime aproximar a mão dos labios pa- ‘ ra adorar (2') ■”

Porque ra7.ão exprimia este gesto o. culto soberano, o culto de adoração?

Vou di?.er-t’o em poucas. palavras.

O Homem é a imagem de Deus:.

Este existe todo. no seu Verbo c é por Ele que faz tudo.

À similhança de Deus, o homem existe todo no seu vcrLo c é por ele que faz tudo.

Levar a mão à boca é comprimir o verbo; é, de al­gum modo aniquilá-lo.

Fazer isto como o faziam os pagãos em honra do de­monio, era declarar ser vassalo e escravo dele e reconhe­ce-lo até por deus.

Já. ves que isto era um enorme crime.

(1) Cecilius simulacro Serapidis denotnte, ut vulgus supcrsticiosuR solet, manum ori admovens, osculum labiis pressit. <In Oitav.)

(2) Nulli dí(i ad hoi' vitnr supp’.icavit; nullurn t.-mplum trcquen- lavlt; •"i ?;mum aliquorl pmclereát, npfns habet, adorandi ;:ra- tla inimum Inhiis admovcre. (Apnl, I, vcrs. fin.)

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Dahi estas notaveis palavras de Job, quando advoga­va sua causa:

“ Quando vi o sol radiante com todo o seu esplen- “ dor e a lua movendo-se banhada em luz, meu “ coração se regosijou em s^^edo, mas nunca “ beijei minha mão porque isso seria a maxima “ iniqüidade e a negação do AltiSoS:imo Deus: — “ iniquitas maxima, negaíio contra Deum altis- “ simum (1 ) . ”

Este gesto misteriso era, a tal ponto, o sinal da idola­tria, que, falando dos Israelitas que haviam con.£ervado infiéis, Deus disse:

— “ Eu ^-eservei para mim em Israel sete mil lio- “ mcns que não dobraram os joelhos diante de “ Beal, e o não adornram beijando a mão (2 ) . ”

4

Or, pagãos adoraram, levando a mão à boca e beijan­do-a.

O fato é incontestável.

Mas em tudo isto, me dizes tu, eu não vejo o Sinal da, Cruz.

Pois vai vê-lo na fórma de beijar a mão.

(1) Job, XXXII, 26. etc.(2) Dcrclinquam mihi in Isrnel scptem milia virorum, quorum

genun non sunt incurvntn nnto Baal, et nmnc os quod non udornvíl cum osculo manus. (III Reg. XIX, 18.)

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Olha para este pagão de joelho em terra ou de cabeça inclinada diante de seus idolos.

Com o dedo polegar da mão direita passado por baixo do dedo indicador e repousado sobre o do meio, não o vês tu formar uma Cruz?

Beija-a depois com devoção, murmurando algumas palavras em honra de seus deuses.

Repete este mesmo gesto, e verás, que o Sinal da Cruz não pode formar-se melhor.

Nisto consistia o beijo adorador entre outros muitos pag-ãos.

Sobre tal ponto faz fé Apuleu :

“ Uma multidão de cidadãos e de extrangeiros, “ diz ele, correram, à noticía do eximio espectá- “ culo.“ Estupefátos em vista da incomparável beleza, ‘‘ levaram a mão direita à boca, conservando o “ dedo indicador repousado sobre o polegar, e “ (.'om religiosas orações honravnm o idolo como “ divindade (1 ) . ”

Quanto ao murmurio de acompanhamento, são bem <‘onhcddos os versos de Ovidio, V I, Metai'mophose:

“ Rcstiíií, e pff.í«do, faueas miki, murmure d is ií” mens: et faveo.s mihi, murmure

“ dixi.”

(l) Multi civium et advenae copiosi, quos exirnii spectaculi rumor studlosa celebritate congregabat, inacessoee formositalis admi- ratlone stupidi, admoventes oribus suis dexteram, priore digi- tls In erectum pollicem residente. ut ipsan prorsus dcam Ve­nerem religiosis orationibus venerabantur. (Asin. Aur. lib. IV.)

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Este modo de fazer o Sinal da Ci’uz é t<lo real e ex­pressivo, que ainda hoje é familiar a grande número di> Cristãos em todos os paízes.

Mas não era o único conhecido dos pagãos.Como hoje as Almas mais piedosas, eles tambem fa ­

ziam o Sinal da Cruz juntando as mãos sobre o peito.Achamos este Sinal da Cruz em uma das circunstân­

cias mais solenes e misteriosas da vida pública.Deixo por hoje tua curiosidade em jejum.Até amanhã, si Deus quizer.

Adeus.

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D E C IM A C A R T A

Paris, 5 de Dezembro de 1862.

Sumario:Segundo e terceiro modo pelos quais os pagúos faziam o Sinal da Cruz. Teste­munhos. Pietas publica. — 2. Os pagãos reconheciam uma potencia misteriosa -no Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta crença? — 3. Gronde mislério do mun­do moral. importância do Sinal da Cruz aos olhos de Deus. O Sinal da Cruz do mundo físico. — 4. Palavras dos Padres e de Platão. — 5. Inconsequência dos pagSos antigos e modernos. — Razão do ódio pnríicular do demonio ao Sina! da Cruz.

caro Frederico,

Ao sair do colégio, depois de dez' anos de estudos gre­gos e latinos, não conhecemos nem a primeira palavra da nntiguidade pagã.

Esta nossa moda de educaç.ão faz-nos olhar sempre pnra cima e nunca para baixo.

O que se passa em França, passa-se igualmente nos Ilab-es visinhos.

l

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Para o crcr, tenho boas rnzõcs.Daí resulta, meu caro amigo, que o fato, de que vou

ocupar-me, será para muitas pessoas uma extranha no­vidade.

E i-lo :Quando um exercito romano punha. cerco a uma ci­

dade, fosse -luem fosse o General — Camilo, Babio, Me- telo, Cesar, Cipião, ou qualquer outro, a primeira opera­ção não era abrir fossos ou levantar linhas de circunda- ção; era — evocar os deuses defensores da cidade e cha­ma-los a seu campo.

A formula da evocação é muito longa para u ^ car­ta: poderás. ve-la em Macrobio.

Ao pronunciar aquela evocação, o General fazia d«as vezes o Sinal da Cruz.

Primeiro fazia-o como Moisés, como os primeiros Cristãos, como ainda hoje o Padre ao Altar- Mãos esten­didas para o Céo, ele pronunciava então o nome de Ju- piter.

Depois, cheio de confiança na eficacia de sua supli­ca, que fazia ele?

Enc^-uzava devotamente as mãos sObre o peito (1 ).Eis aqui o Sinal da Cruz em duas formas incontes­

táveis, universais e peifeitamente regulares.Se este fato notável é geralmente ignorado, eis um ou­

tro que o não é tanto.

O uso de orar com o braços em Cruz era muito. fami­liar aos pagãos do oriente e do ocidente.

(1) Cum Jovem dicit, manua ad colum tollit; cum votum recl- pere dicit, manibus pectns tangit. (Satur., lib. III, cap. 11.)

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}Jeste ponto não ha diferença deles a nós e aos judeus. Relê os teus Clássicos.Tito-Livio te dirá:

— “ De joelhos, eles levantavam as mãos supli- “ cantes para o Céo e para os deuses ( 1).

Dionisio de Halicai-nasso:

— “ Bruto sabendo da desgraça e m.oite de Lu- “ crecia, levantou as mãos para o Céo, e invocou “ Jupiter com todos c.s deuses (2 ).

V irgílio :

— “ Na praia de mãos estendidas o pai Anquises “ invoca os gnmdes deuses (3 ).

Ateneu:

— “ Daiio sabendo t'om que ntcnçõcs Alexandre “ tratava sens filhos cativos, estendeu ns mãos “ para o sol c pediu que, a não reinai^ ele próprio, “ reinasse Alexandre ( 4).

Apuleu enfim dedara formalmente que este modo de orai' nilo era nma exccpção, ou. como alguns modernos po-

( l l Nixae Kcnibus supinns mõlnus ad coclum ac dcos tendentes.(Lih. XX XIV.)

12.1 Urutos u t eog novit casum ct ncccm l.ticri'cinc. protcnsis mlcoclum manibus: Jupiter, inquit, diique omnes, etc. (Anti- quit., lib. IV.)

(3) At pater Anchieses passes de litores palmis,Numinõl magna vocat. (AEneid., lib. lll.)

(41 Cum hoc Darius cognovisset, manus ad solem extendens,precatus est, ut vcl ipse imperaret, vel Alexandre. (Lib. XIH. cap. XXVII)

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dei'iam qualificá-lo, uma excentricidade; mas um costu­me permanente:

“ Os que oram elevam as mãos para o Céo” ( 1).

Um impulso que chamarei tradicional (porque a não ser assim não teria nome) lhes mostrava o valor deste Sinal Misterioso.

Poder fazê-lo nos últimos momentos, era para eles uma garantia segura de salvação.

“ Se a morte, diz Ariano, me surpreender no “ meio de minhas ocupações., bastar-me-á que eu “ possa levantar as mãos para o Céo” (2 ).

Atendei bem.

Ele não diz: — Se eu puder cair de joelhos ou bater no peito ou curvar minha fronte para a terra; mas: — se puder estender os braços em Cruz e lcvantó-1os pm-a o Céo — .

Qual a razão disto?Pergunta-a a teus condiscípulos.Pergunta-lhes mais.Porque razão colocavam os Egípcios a Cruz nobre

Rcus templos, oravam diante deste Sinnl Adorável e o consideravam como anuncio de felicidade futura?

Referem-se os historiadores gregos, Socrates e Sozo- mencs que no tempo de Tcodosio quando se destruíam

(1) Habitus orantium sic est. ut manibus extensls ad coelum, precemur. (Lib. do Mundo, recor. íin.)

(2) Siversantem talibus in actionibua, mors arrepiai, satis crit si, perrectis ad Deum maribus, sic loqui valcam. (In Eplctet., lib. IV, cap. X.)

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OH templos dos falsos deuses, ao ser destruido o templo de Séi-apis, no Egi^^, encontraram muitas pedras com ca- rac.l '‘i c:; hieroglíficos em fórma. de Cruz.

Os Neofitos egípcios afirmavam que, segundo os interpretes, estes caractéres significavam na verdade a Cruz, como sinal da Vida futura (1 ).

Entre os romanos era isso também um fato.

E não posso ter a menor dúvida, porque vi -com meus olhos um monumento antigo que é disso uma prova ma­terial.

Conheciam sim a eficácia do Sinal da Cruz, mas não queriam como Moisés e os primeiros Ci-istãos, permanc- cei (le braços encruzados, durante suas orações.

Que fizeram então eles?

Imaginmam uma deusa encarregada de intcrcevler semiirc pela República e n representaram na atitucle de Moisés sobr{! a montanha.

l l l está pois, em Roma, até agora um monumento.No meio do Forum oUtoriwn onde se observam hoje

ns restos do teatro de Marcelo, levanta-se a estatua da. deusa chamada — Pictas pública.

J'lstá de pé com oi'\ braço:; ahertos em cruz, exata.- monle como Bloisés sôbre a montanha ou como os pri­mei rus Cristãos nas catacumbas.

(l) Theodoslo magno regnante, cum fana gentilium dirlmerentur, Invente sunt in Serapidis templo hieroglyphicae litterae ha- bcntcs crucis fornam, quas videntes illi qui ex gentibus Chrfsto crcdidcrant, aicbant, signiíicanre crucem, apu<l peritos hiero- Rlyphicarum notorum. vitam venturam. (Sozcm., 11b. V, cap. XVII; — Id., 1ib. VII, c. XV.)

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À sua esquerda estava um altar em que ardia incenso, símbolo da' suplica (1 ).

Sobre o valor impetratório e latreutico- do Sinal da Cruz, o alto oriente estava de acordo com o ocidente, o chinez como o romano (2 ).

Poderíamos acreditar que um Imperador da China, que de tão antigo é quasi mitológico chamado Hten-Fucu, tinha, como Platão, presentido o mistério da Cruz?

“ Para honrar o Altíssimo, este Imperador tão “ antigo juntava em Cruz dois pedaço3 de ma- “ deira (3 ) . ”

Dos sete modos de fazer o Sinal da Cruz, meu bom amigo, os pagãos que não conheciam senão três, pratica­vam-nos com religioso respeito, especialmente nas oca­siões importantes.

2

E dizes-me tu:Muito bem; mas sabiam lá des o que faziam?Não seria aquilo mais um sinal arbitrario qualquer,

insignificante e de onde nada si' poderia concluir?Eu nâo prehmdo con\'('nccr a ninguem que os pagãos

compreendiam como nós o Sinal da Cruz.Mas, é certo que tal Sinal entre eles existia como aa

figuras entre os J ncleus.

(1) Gretzer, De Cruce, p. 33 — Forcillini, art. Pietas, 7.(2) ■ Latreutico — relativo ao culto de Deus.(3) Discurso prelim, du Chouking., pelo P. Prèmare, ch. IX, p. X,

o. II.

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Ao vér deles, o Sinal da Cruz tinha uma significa­ção real, um valor considerável, posto que mais ou menos misterioso, segundo os lugares, os tempos e as pessoas.

Conheces as cartas escritas com tinta simpatica?À primeira vista, os caracteres, posto que realmente

traçados, são pouco visiveis; mas, pela ação do fogo ou de um reativo, eles aparecem de repente e são perfeita­mente legíveis.

Tal era o Sinal da Cruz entre os pagãos.Quando sôbre ele atuaram os raios da Luz evangéli­

ca, este claro — escwro não mudou de natureza, mas, como as figuras do Antigo Testamento, tornou-se inteli­gível a todos; descobriu-se; falou.

Cai por si mesma a suposição de que entre os pagãos o Sinal da Cruz íora um sinal arbitrário.

Do que é universal, nada pode ser arbitrário.E neste ca::o está o Sinal da Cruz-

3

Chegamos, meu caj-o Fredertco, a um dos mais pro­fundos mistérios da ordem moral.

Níio esqueças que meu fim atual é mostrar do Sinal da Cruz um tesouro que nos enriquece.

Para o Homem ser enriquecido é necessário que ele peça (‘ que Deus o oiça.

Pam Deus o ouvir é nccess.-li'io que o homem Iht! agi^ade.

"Dr.tts pr.omtm^es no1"/.e.xrwrf/í."

E a Deus, os que lhe agradam são só o Seu Filho e os (jue a Ele se assemelham.

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Ora o Filho de Deus, este único Mediador entre Deus e os homens, é um “ Sinal da C ^ " Vivo^ e Eterno desde a oiigem do mundo.

“ Agnus occisus ab origine mundi. ’

E ' o grande Crucificado.E este grande Crucificado que é o novo Adã^, é o

Tipo do genero humano.

Para agradar a Deus é, pois, necessário que o Ho­mem se pa^reça com seu Divino Modelo e seja — um Cru­cificado, um “ Sinal da Cruz” vivo.

Tal é, qual o do Verbo Divino, seu destino sobre a terra.

Mendigo, outra não deve ser sua atitude quando se apresenta diante de Deus a pedir esmola.

Não quiz a Providência que o Homem ignorasse esta condição ao próprio fim necessária.

"Como não pcrdcrn a Ic^mbrança de quierfa nem a í!.<f- •}>cranm;a de Redencrio, /n.wbéwt nèo fjerdmt do n ista a. Cruz, instrumento redentor.”

Eis porque, desde a origem dos séculos até nossos dias, existe em todos os p6vos no ato de orar, a prática do Sinal da Cruz debaixo de urna ou outra f o ^ a .

Dens não se limitou a gravar no coração do Homem essa atração do Sinal da Cruz.

Fez mais. Para que sitmpre tivessemos presente a nossos olhos corporaiS a necessidade deste Sinal Salutar e hcm comprr.cndessemos o pO<ler soberano que deve a Cruz representar no mundo moral, quiz o Crendor que tudo no mundo material se fizesse pelo S'inal da Cruz.

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Para que tudo nos viesse mostrando a necessidade da ação bcnfazeja da Cruz, quiz Ele que as cousas repro­duzissem-lhe a i^ g e m .

4

Escuta a alguns Homens que tiveram olhos para vêr ■ isso bem ás claras.

“ E ’ dignissimo de nota, diz Gretzer, que, desde a “ origem do mundo, Deus quizesse tR.r sempre a “ figura da Cruz debaixo das vistas do genero “ humano, e tudo organisasse de modo que na- “ da pudesse fazer sem a intervenção do seu si- “ nal ( 1)

dretzer é o centésimo eco da filosofia tradicional. Onve mnis n. alguns:

“ Olhai, dizem eles, para tuclo quanto existe no “ muuflo e vt'-dc corno todas. as cousas são govcr- “ nadas e postas em obra pelo Sinal da Cruz.“A ave qu-e vôa nos ares, e o Homem que nada “ nii ág-ua, ou que ora, formam o Sinal da Cruz; “ p nada podem conseg^iir senão por ela.“ Pai^a tentar fortuna e ir proc u rar riquezas na “ cxtremidado do mundo, tem o navegante net^es- “ vidadc de um navio.

( 1) lllud t'oiisi<li'rri lione dignissim um cst, quod Deus figuram Crucis ab unitio semper in rnonitu a oculis vcrsari voluit, r<\sque ita instituit. ut homo prepemodum nihil agere posset, siiw intcrveniente crucis specie. (De Cruce, lib. I c. LII.)

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“ Este não pode navegar sem mastros e os mas- “ tros de nada servem sem vergas em forma de “ Cruz.“ Sem esta, portanto, não ha direção possível, “ não ha fortuna a esporar.“ O lavrador pede à terra alimento para si, para “ os ricos e para os R€is.“ Para obter é-lhe indispensável uma charrua; “ mas esta de nada serve se não fo r armada de “ seu cutélo; e a charrúa assim forma a Cruz “ (1 ) . ”

Se o Sinal da Cruz é o meio pelo qual o Homem age .sobre a natureza, é-lhe também o instrumento de ação sobre seus similhantes.

Não é a vista das bandeiras que nas batalhas os sol- <lados se animam?

Os estandartes rom.anos, chamados canfabra e sipa.- r/ra., que mostravam eles senão a Cruz?

Uns e outros eram rloira<los; atravessados em Cruz na parte supei-ior por uma ppça de pau de onde pendia uma bandeira de oiro e purpura.

(I ) Aves quantlo colnnl acl nrthera íormnm Crucis nssumunt, homo natans per aqun vcl orans. forma Crucis visitur. (S. Hier., inc. XI Marc.lAntemnae nnvium, velorum eornua, sub figura nostrne Crucia volitant. (Orig., Homil. Vlll, In divers.) — Slcut autcm Jr.ccle- sin et sine Cruce stare non potest, ita et sine arbore navla infirmn cst. Statim enim dlnbolus inqulctnt, et lllam ventes nlliclit. At ubi Sicnurn Cruds crigitur, statlm ct diaboll ini- quitas repellltur. cl ventomin procella sopilur. (S. Mnxlm. Taur., ap. S. Ambr.. t. III, serv. 58, & &.)Poderiam citar-se milhares de aplicações.

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As aguias de azas abertas. no alto das lanças c ou­tras insígnias militares, sempre terminadas por duas azas estendidas despertavam sempre a lembrança do Si­nal da Cruz.

“ Os troféus, verdadeiros monumentos das vitó- “ rias alcançadas, sempre formam a Cruz."A religi.ão d os romanos que era toda guerreira “ adora os estandartes, de preferência a todos os "deuses; e todos os seus estandartes são Cruzes. “ O7mne.9 t7li imaginww SMggestwts ^^cignes m.Mâ- “ lin crMciwm sw.ní ( 1). ”

Quando Constantino quiz perpetuar a lembrança da Cruz, por cuja virtude tinha vencido, não mudou o estan­darte Imperial; contentou-se com gravar-lhe a era de Cristo por menos lhe importar o objeto de sua visão que ■ o nome d’Aquele que nela tinha aparecido.

“ Por seu turno o Homem. Exterio^rmente ele se- “ distingue dos brutos porque anda de pé e póde - “ estender os braços. E nesta atitude o Homem “ representa de fato a Cruz- “ E’ por isso que nos é ordenado orar assim; para “ quo até nossos mcmbros prodamem a Paixão “ do Senhor. Quando nossa Alma e nosso corpo “ em Cruz confessam a Cristo, é nossa oração “ mais facilmente ouvida."‘‘C mesmo Céu é disposto em fórma de Cruz, Que- "representam os quatro pontos cardialc sinão a

(1) Torlull., Apolog. XVI.

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“ Ci‘uz e a unlversalidadí! de sua virtude salutar? “ Tõda a creação repi’esenta o Sinal da Cruz. “ Não escreveu Platão que a Potência mais visi- “ nha do primeiro Deus -lõe havia estendido sòbre “o mundo em forma da Cruz (1 ) ?”

5

Daí a resposta peremptoria de Minucio Felix aos pa­gãos que reprovavam nos Cristãos o Sinal da Cruz.

“ Não existe a Cruz por toda a parte?“ Vossas bandeiras, vossos trcféus e os estan- “ dartes de vosso campos, que eles, sinão “ Cruzes ornadas e doiradas?“ Não orais v6s de braços em Cruz, como nós “ outros?“ Nesta atitude solene não empregais vós formu- “ las, pelas quais proclamais um só Deus? Não “ vos assimilhais vós então aos Cristãos que ado- “ ram ^ só Deus e que têm a coragem de con- “ fessar sua Fé no meio das tortu^-as estendendo “ os braços em Cruz?“ Entre nós e vosso povo que diferença ha, quan- “ do, de braços em Cruz, todos dizemos Gmmrlc

(1) Ideo elevatis manibus orare praecipimur, ut ipso quoque- bembrorum gestu passíonem Domini íateamur. Tum enim citius nostra exauditur oratio, cum Christum, quem mens loquitur, etiam corpus imitatur. (S. Maxim. Taur., apud S. Ambr., t. UI, scr. 56); — S. Hior., in Marc., XI; Tcrll. Apo]., ^VI; — Orig.. Homil, VJJJ in divers.) — Dixlt, vlm qune primo Deo proximn f:rnt, lu moclum X litterne porrectnm et extcnsam esse. (S. Just., Apol., II &, &.)

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"Deus, Verdadeiro Dews, sa Dius quizer?“ E’ esta a linguagem natural do pag.ão ou a. ora- “ ção do Cristão?“ Ou o Sinal, da Cruz é o fundamento da Religião “ natural, ou serve de base a vossa religião (1 ) . ”

Porque razão, pois, o perseguis vós?Meu caro Frederico, a mesma pergunta vou eu fazer

aos pagãos modernos.Porque perseguis vós o Sinal_ da Cruz?Porque vos envergonhais .de o praticar?Porque perseguis com vossos sarcasmos os que têm

coragem para praticá-lo?Tanto agora como outrora a resposta é sempre a

mesma.Com os pagãos dava-se o seguinte:Menthioso toda vida, Satanás inculcou-se por um deus

ao Homem que, enganado assim, o adorava se condenan­do.

Alegrava-se entfio com isto o malvado porque o Si­nal da Cruz que era f-eito para adorar o Verdadeiro Deus e salvar aos Homens. estava sendo usado para idolatria e perdição.

Com os Cristãos a Verdade triunfou.Ka verdadeira Religião o Sinal da Cruz está sempre

firme em seu lugar, com o destino de adorar ao único e verdadeiro Deus, para salvamento dos Homens.

Com o Sinal da. Cruz, adora-se especialmente o V er­bo Encarnado.

(I) Hn Siitiio Crucis nut ratio naturalis innititur, ou vcstra reli- );lo formatur. l Octav.) '

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E justamente o Divino Crucificado é que é o objeto do ódio pessoal de Satanaz, por ser o Redentor que nos ar­ranca daquelas garras malditas.

No Cristão, o Sinal da Cruz torna-se para o maldito um objeto de esc^^ieo e «m crime de ^mnrte.

E em vez, nos ^eravos dele j.á o Sinal Divino deixa de provocar ódio ou sarcasmo, quer se o faça por zombaria, quer por usos profanos, quer por praticas ocultas.

^tas.. • • donde v-em, nos maus de todos os séculos, es­tas disposi^ções., na aparência contraditórias, de amor e de ódio, de respeito e despreso pelo Sinal adorável?

Do prótpTÍo Satanás, responde Tertuliano.

“ Como espírito de mentira, sua -cupação é al •‘terar a verdade e fazer servir as. coisas mais “ santas em proveito dos ídolos.“ E ' assiiili que 1Cle inicia no culto de Mitra. “ Batisa seus adeptos, assegurando-lhes que a “ lágua apagará seus pecados. Marca na fronte “ aos .seus soldados, celebra a oblação do pão, pro-

“ ^eito a ressurreição e a coroa obtida pela es- “ pada.“ Que direi mais?"Tem 1á um soberano pontifíce a quem proíbe “ segundas nupcias.“ Tem suas virgens e seus. abstinentes. “ Examinando um pouco as superstições estabe- “ lecidas por Numa, — os ofícios sacerdotais, as “ insígnias, os priviJ.égios, a ordem e os porme- “ nores dos sacrifídos, os utensilios. sagrados,

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“ todos os objetos ao serviço das expiações e das “ suplicas — claramente se verá que o demonio “ falsificou tudo isto tirando de Moisés.“ Depois do Evangelho a falsificação vem conti- “ nunndo (1 ) . ’’

Depois do Cnlvario Sntanaz foi mais longe aind.a. Conhecendo o poder da Crüz, quiz atril.nti-la :i sun

pessoa e s.ubstituiT-se ao Deus Crucificado, para assim poder roubar as homenagens do mundo.

Diz Firmico Materno:

— ‘‘ Instruido pelos oracu^os proféticos o inimi- “ go implacável do genero humano, Satanaz con- “ verteu em instrumento' dê iniqüidade o que era “ destinado à salvação do mundo.“ Que são os chifres. de cuja posse ele se jacta? “ São a caricatura dos referidos pelo profeta “ inspirado, os quais tu, Satanás, julgas poder “ adaptar à tua horrenda figura.“ Para que procuras neles o ornamento- e a gló- “ ria .se tais pontas figuram o Sinal da Cruz ? (2 )

(1) A diabulo scilicet, cujus sunt partes intervertendi veritatem, qui ipsas quoque res sacramentorum ' divinorum ad idolorum mysteria oemulatur, etc. (De Prescript.)

(2) Agitans et contorquens cornua biformis. .. nequissimum hos- tem generis humani, de sanctis venerandisque prophetarum oraculis ad contaminata fureris sui scelera transtulisse. Quoe sunt ista cornua, quoe habere se jactat'? Alia sunt cornua, quoe propheta, Sancto Spiritu annuente, commemorat, quoe tu, diábole, ad maculatnm faciem tuarn putas posse trans- fornlhil aliud nisi venerandum Crucio Signum monstrant. (De Errer. prefan, relig., c, XXII.)

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Assim Satanás brame de raiva em vista. de uma fronte marcada com o Sinal da Cruz e não acha suplicios que sejam assás barbaros e cruéis para com eles punir quem traz a imagem do Verbo Encarnado.

Vi.'s, meu cm’o amigo?

Como trata ele a nossos pais, nossas mãcs, nossos ir­mãos, nossas irmãs, os Mái‘tires de todos os pnfzes c de todos os tempos?

Urnas vezes lhes faz esfolar a fronte, e gravar a ferro quente sobre os ossos descobertos uns caracteres de ig- norninia.

Outras vezes a faz rasgar em fórma de Cruz.

Maltrata-os por meio de cordas a ponto de lhes alte­rar a forma.

Flagela-os com um azorrague de tal modo a não mrus serem conhecidos (1 ). ”

Grande lição t

Seja o ódio de Satanaz ao Sinal da Cruz a medida do nosso amor e confiança para com este Sinal adorável

Ainda por outros títulos são devidos ao Sinal da Cruz estes dois sentimentos;

Amor e confiança.

Isso v-erás, si Deus quizer,

amanhã.

Adeus.

(1) Vicl. Grctzer, De Crucis Hb. IV c. XXXII, p. 62!:).

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U N D E C IM A C A R T A

Paris, 6 de Dezembro de 1862.

Sumario:I. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos

enriquece porque é uma S1Lplica: Provas. Suplica poderoso: Provas. Suplica uni­versal: Provas. — 2. Ele prové a todas as necessidades. O Homem carece de luzes para o se'IL espirito. O Sinal da Cruz. consegue-as: Provas.

1

Meu caro- Frederico,

O Sinal da Cruz. é um tesouro, que nos enriquece-

E ele nos enriquece, porque é uma excelente súplica.

Eis, meu caro a^migo, o pónto de Doutrina que esta­belecemos neste momento.

Já metade da. prova. está f eita-

Consiste na.

antigutdade, unitrersalidade e perpetuidade

do Sinal da Cruz.

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N o meio do naufrágio em que o mundo idolatra dei xou avariar ou morrer tantas Revelações Primitivas, lá está como vê-se sobrenadando o Sinal da. Cruz.

Que diz este fato?

E um fa to estranho e novo para ti, incompreensível para muitos, p o ^ ^ muito racional para o Cristão habi­tuado a refletir.

Este fato eloquentemente nos ensina a elevada utili^ dade do Sinal da Cruz para o Homem, porque demonstra a poderosa eficacia desse Divino Sinal sdbre o Co^ração de Deus.

Do raciocinio, paesemos aos fatos.

O Sinal da C ^ é uma suplica; suplica poderosa; uma suplica «niv.ersal.

E ' uma suplica.

Que é ^ homem suplicando?

E’ um individuo que diante de Deus confeeea sua in- digência: — indigência inteletnal, indigência moral, in- digência material.

E' mendigo à porta do rico.

Ora, o mendigo suplica. De um mod01 eloquente, po­rém, ele. suplica é — por seu rorto palido e descarnado, por suas enfe^nidades, por seus andrajos, por sua ati­tude.

^Asim suplica por nós sôbre a ^ruz o adorável Men­digo do Calvário.

Em tal estado, mai9 que nunca, o Filho de Deus era objéto das complacências infinitas de seu Pai.

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F%> mesmo nos diz que esta. suplica eloquente, mais de iiçjio que de pala^^rss, fora a alavanca poderosa que tudo llu> ntmia (1 ).

I'l que faz o Homemi formando o Sinal da Cruz, quer «•om a mão, quer estendendo os braços?

Imprime em si mesmo a imagem do Divino- Mendigo.Identifica-se com Ele.E ’ Jacó cobrindo-se das vestes de Esaú, para. obter a

iKmçiio paterna.Por esta atitude de Fé, de humildade, de reverência,

urts dizemos a Deus:Vêde Senhor, em mim ao v o s o Cristo:

"Rr.spice in /aci"em Chnsíi tui ” '

Suplica mais eloquente que todas as palavras!

“ Ela sobe, diz Santo Ambrósio; e a esmola des- “ ce de Deus :"Ascendit deprecatio, eí descendit Det mise- “ ra.tio.”

Tal é o Sinal da Cruz, mesmo sem fórmula. Ele não fala mas diz tudo-

E ’ «m a swplica poderosa.

Quando um agente da Autoridade — comissário de poHcia ou administrador põe a mão sôbre um deliquen- te, diz-lhe:

( 1) Cum exultatus fuero a terra, omnia traham ad me ipsum. (Joann., XII, 32)Humiliavit semetipsiem, factus o bediens usq11e ad mortem ... propter quod exaltavit illum, etc. (Philipp., ll, 8)

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Eu te prendo em nome da lei.

Nestas palavras — em nome da lei — o culpado vê a Autoridade de seu país, a força armada, os juizes, o pró­prio Rei.

O medo domina-o e ele dá-se à prisão.

Quando o Homem, ameaçado de um perigo, assaltado pela dúvida, perseguido pela ten^tação, dominado pelo so­frimento, pela doença, pronuncia estas palavras de solè­ne autoridade:

— nome do Padre e do Filho e do Espírito San­to " — e, ao pronunciá-las, fa z o Sinal redentor do mundo, o Sinal vencedor do inferno, como poderás tu admitir a menor resistência por parte do mal?

Não satisfez o Homem todas as condições necessá­rias ao resultado?

E não está Deus em posição de intervir e de glorifi­car Seu Nome e o poder de Seu Cristo? . . .

A eficácia do Sinal da Cruz nunca fo i duvidosa, nem para a Igreja, nem para os séculos Cristãos.

Os mais graves teologos ensinam que o Sinal da Cruz dá resultados por si mesmo, sem dependência das dispo- siçõe de quem o faz.

Disto dão muitas provas; só apentarei duas.

A primeira é o uso constantemente repetido do Sinal da Cruz.

“ Se ele não produzisse, dizem eles, seus efeitos “ per si mesmo, não teriam razão os Cristãos “ para tal uso.

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“ De que serviria recorrer a ele, se um bom mo- “ vimento da Alma ou ^na boa obra, bastasse a “ obter OU rea.lisar o que se espera do Sinal da “ Cruz (1) ? "

A segunda funda-se em fatos oerlebres na história, qu€1 são de uma autenticidade incontestável.

Eis aqui alguns.Seja o primeiro o de Juliano Apostata.Desertor do verdadeiro Deus, ■ este Imperador tornou-

se, o que- era enevitável, adorador do demonio.Para conhecer os segredos do. futuro, procura em to­

da a Grecia homens que tenham relações com o- espírito mau.

Apresenta-se um evocador que promete satisfazer sua curiosidade.

Juliano é conduzido a um tomploi' de idolos.

Feitas as evocações, o Imperador vê-se rodeado de demonios cuja figura o intimida.

Por um movimento_ irrefletido de medo, J uliano faz o Sinal da Cruz, e todos os demonios des.aparocem.

O evocador queixa-se disto e recomeça a e v ^ ç ã o .Os demonios reaparecem.

(1) Dlxlmus signum sanctissimae crucis producere suos effectus ex opere operato. (Gretzer. lib. IV, c. L:XII, p. 703) — Ita etiam doctissimi quique theologi sentiunt, ut Gregorius de Valentia, Franciscus Soarez, Bellarninus, Trydus et alii. (Ibid.) Et certe; nisi ex opere operato c rux elfectus suos ederet, non esset cur tam sedulo a fidelibus usurperetur: quia bono nnlml motu et actu, omne illud perficeie aeque certo pos- 11ent, quod adhibito Crucis signaculo peragunt, et se perac- turoa sperant. (Ibid.)

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Juliano espanta-se de novo, faz segunda vez o Sinal da Cruz e- os demonios de noYO desaparecem (1 ).

Es-te fato referido por S. Gregorio Nazianzeno, por- Teodoreto e outros Padres da Igreja, deu grande brado em todo o oriente.

O segunda é mais conhecido no ocidente.Devemo-lo ao Papa S. Gregorio.O ilustre Pontifice começa a narração por estas pa--

lavras:

‘ ‘ O fato que vou referir não é duvidoso; porque “ ha dele tantas testemunhas, quantos os ■ habi- “ tantes; da cidade de Fondi (2 ). ’ ’

Um judeu, vindo da Campania em direção a Roma. pela via Appia, chegou à pequena cidade de Fondi.

Por ser tarde, não pôde ae:ha.r onde alojar-se e aco­lheu-se para passar a noite a um arruinado templo de - Apolo.

Esta velha morada de demonios lhe causou medo e, Jl<)sto não fosae Cristão, teve o cuidado de munir-se do. Sinal da Cruz.

Era meia noite e, apavorado pela solidão, não tinha. ainda polido conciliar o sono.

(1) Ad crucem confugit, eaque se adversus teares consignat, e^que quem persequebatur in auxilium adsciscit. Valuit • signaculum, cedunt daemonis, peUentur timores. Quid deinde? reviviscit malum, rursus ad audatiam redit; rursus aggredi- mur, rursus iidem terrores urgent, rursus objecto signaculo daemones conquiescunt, perplexusque haeret discipulus. (S. Greg. Nazian., orat. 11, contr. Julian.)

(2) .Nec res ect dubia quan narro, quia pene tanti in' ea testes- sunt, quanti et ejusdem loci habitatores existunt. (Dial.,. lib. ■ III, c. VII.)

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De repente vê urna multidão de demonios.

Pareciam v ir render homenagens a seu chefe que es­tava sentado ao cimo do templo.

Ao0 passo que se vão apresentando, pergunta ele a cada um o que tem feito para induzir os homens ao ^^ado.

Todos lhe descobrem seus artifícios.

No meio daquelas prestações de contas adianta-se um e refere a grave tentação em que fez caír o venerando , Bis­po da cidade.

— “ Até aqui tiv.e perdido todo meu trabalho. “ Mas, ontem à tarde a custo consegui que ele “ desse uma leve palmada na espadua da santa “ Mulher, que-lhe governa a casa.“ Continua, lhe responde Satanás o inimigo an- “ tigo do genero humano, continua e completa “ o que tens come^çado. T ^ a n h a vitória ha-de te “ valer uma excepcional recompensa.”

No meio de tal espetáculo, o viajante mal a^penas respirava.

Para que o pobre sucumbisse de medo, o presidente da assembleia infernal, sabedor de que ele estava ali, ordena aos mais que lhe digam ;

— “ Qual é o temerário que ousou acolher-se ao “ templo?”

Os maus espíi'itos, aproximando-se dele, encaram-no com mui curiosa atenção e, vendo-o marcado com o Sinal dft Cruz, gritam:

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— “ ^Desgr^^! desgraça! baixei vasio e selado:

“ Voe! Voe! Vos et signatum.

A estas palavras toda a infernal multidão desapa­rece.

O judeu por sua vez foge também apressadamente.

Logo pela manhã indo à Igreja onde encontraria venerável Bispo, chama-o de lado, conta-lhe tudo o que viu, como soube da leve palmada que dera na creada e qual fim o demonio tinha naquilo.

Surpreendido além de toda a expressão, o Bispo des- -pede logo do serviço a creada e proíbe terninantemente .que entrem mulheres em sua casa.

Mais. tarde o Prelado ccmsagrou a Santo André o ve­lho templo de Apolo.

Aquele viajante judeu converteu-se (1 ).

Citemos outro fato.

Lê-se na História de Nicéforo, que, .no reinado do Imperador Mauricio, o Rei da Persía enviara a Constan- tinopla uns Embaixadores persas, que tinham o Sinal da Cruz sobre a fronte.

Pergutou-lhes o Imperador:

— “ Porque t r ^ i s um Sinal em que não acreditais?

— “ O que vêdes em nossa fronte, lhe responderam -eles. é o testemunho de um insigne favor que outrora re­cebemos.

A peste assolava nosso país.

(1) Dial., lib. III, c. VII.

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Alguns Cristãos aconselharam-nos que sObre a fron­te gravas.semos o Sinal da Cruz., como preservativo con­tra o flagelo.

N6s que acreditando o fizemos, fomos salvos no mcio de nossas famílias ( 1,).”

Depois de tais fatos, ocorre naturalmente a reflexão do grande Bispo de Hipona, que parece decisiva a favor dn Doutrina dos teologos:

— “ Não devemos pois, nos admirar da virtude “ do Sinal da Cruz, quando feito por bons Cris- “ tãos, sendo tanta a virtude que ele quando “ é empregado por os que nele ^ to acreditam, “ mas o empregam em- honra do grande Rei (2 ) . "

Para fica r bem nos limites. da ortodoxia, é necessá­rio acrescentar que — o Sinal da Cruz pura e simples­mente por si mesmo, só mostra virtudes quando é útil à nossa salvação ou à dos outros — .

O mesmo acontece com certas outras praticas, tais como exorcismos.

A e las não- corresponde nenhum efeito incondicional­mente infalível-

A piedade de quem fa z o Sinal da Cruz, muito con-- tribue para a eficacia dele.

<1) Hist., lib. K VIII, c. XX.(2) Non mi rum quod haec signa valent, cum a bonis Christianis

adhihentur, quando etiam c^m usurpantur ab exttaneis, quf omnio suum nomen ad instam militiam non dei«runt proptei- honorem tamen excelentissiani imperatoris valent. (Lib. de- 83 qudt., qudt. 79.)

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O Sinal da é uma invoc^ão tacite de Jes.us Crucificado; é pois, tento m^is e f i ^ quanto ^ i o r o fer­vor com que é feito.

Seja ela de coração ou de boca, a invocação é tanto mais apta a. produzir! efeito, quanto mais or Fiel é virtuoso e mais do agrado do Senhor (1 ).

E uma 8'Uplica wniversaJ.

De certo modo o Sinal da Cruz p6de dizer como o pró­prio Salvador;

‘Fcn-me ^efo todo o poder 1'W Céo e na terra” .

Aqui, meu caro Frederico, mais -que noutro lugar, é necessário raciocinar sôbre os fatos.

E são a tal ponto numerosos que ha dificuldade em escolhe-los.

Todos, mas cada ^ a seu modo, proclamam de ^ a p^arte a Fé que animava nossos maiores; de outra o im­pério do Sinal da Cruz sôbre o mundo quer visivel quer invisivel.

2

O Sinal da Cruz provê as necessidades assim do cor­po como da Alma.

Quando o Homem carece de luzes para a A^as, ele as obte-m.

S. Gregório, Bispo de Ga.za, tem a disputar com uma mulher maniqueia.

(1) Gretzcr, ubi supra.

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A fim de, pela clareza de seus raciocinios, dissipar as trevas que envolviam aquela infeliz, o Santo Prelado faz o Sinal da Redenção e logo a. luz brilha espancando as trevas da pobre inteligência transviada.

Juliano, que era um sofista coroado, provoca à oon- trovecsia o virtuoso Médico innão de S. Gregório Na­zianzeno.

Cesário entra na liça munido do Sinal da Cruz.

A um inimigo consumado na arte da guerra e habil na argumentação, o magnani^w atleta opõe o Estandar­te do Verbo e logo o espírito da mentira é apanhado nos próprios laços. (1 ).

S. Cirilo de Jerusalem, tão poderoso nas palavras e nas obras, ordena que se recorra ao Sinal da Cruz, sem­pre que se trate ele combater os pagãos; e ass^egura que assim logo serão reduzidos ao silêncio (2 ).

Na ordem temporal tanto como na espiritual, serão necessárias ao Homem as luzes divinas; e o Sinal da- Cruz sempre as obtém. ■

Os Imperadores do oriente, sucessores ele Constanti­no, quando tinham a falar diante do senado, costuma­vam fazer o Sinal da Cruz (3 ).

O) S. Gregorio Nazian., Tn laucl. Coedar.(2> Accipe arma contra adversario.s hujus Crucis; cum enim de

Domino crucepe contra inlideles quaesto tibi erit, prius statue manu tua signum, ct obmutescet contradicens. (Catech., XIII.)

(3) Ipse coronatus solium conscendit avitum.Atque crucis faciens signum venerabilc sedit.Erectaque manu, cuncto presente senatu.Ore pio haec orans ait. (Coripp., De laud. Juntin. Junior.)

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Como já vimos, o nosso grande Rei S. Luiz, antes de discutir em Conselho os negócios de seu Reino, não dei­xava esta prática religiosa. tão antiga.

Se, à imitação dos maiores Príncipes, que têm go­vernado o mundo, os Imperadores e os Reis do nosso sé­culo recorressem ao Sinal da Cruz, pensas que seus negó­cios iriam pior?

Quanto a mim, tão convencido estou como de minha. existência que seus negócios correriam melhor.

Os governadores de hoje será que não precisam de luzes para governar?

Terão talvez a pretensão de achar essas luzes longe d’Aquele que é a Luz do Universo — Lux mundi?

Conhecerão eles um meio mais próprio que o- Sinal, da Cruz, para invoca-las com resultado?

Não estão aí os séculos todos a atestar a eficácia do Sinal Bendito?

A Igreja, que devia ser seu oraculo, não continua a proclamar isso?

Ha condlio, conclave ou assembleia religiosa que não comece pelo Sinal da Cruz?

Falam talvez. do alto da Cadeira os bons Padres Ca­tólicos, herdeiros da tradição, sem que se armem deste Sinal de força e de luz?

Eis as prescrições dos antigos Padres :

“ Fazei o Sinal da Cruz, e depois falai, escreve S. Cirilo de ,J erusalem. Foc hoc sigra.tm eí loqueri ( 1 ). ’ '

(1) Catech. illumnat.. IV.

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O que digo dos Reis, meu caro amigo, deve dizer-se de quantos estã.o encarregados. de ensinar os outros.

O Verbo Encarnado não é Ele então o Deus. das ciên­cias, o Professor dos professores, o Mestre dos, mestres?

Se o Sinal da Cruz presidisse a todas as lições que hoje se dão, a. todos os livros que se imprimem, acreditas tu que haviamos de estar assim, inundados como estamos de erros, de sofismas, de ideias falsas, de si-stemas i n e ­rentes cujo resultado incontestavel é fazer baixar a olhos vistos o mundo moderno às trevas inteletuais de onde o Cristianismo já. o havia tirado?

O Homem carece de forças para sua e o Sinalda Cruz é de tais forças um manancial fecundo.

Vê teus ilustres. uvós, os 1\f.ártires.

Aonde procuram eles coragem para triunfar em seus combates heroicos?

No Sinal da Cruz.

Generais, centuriões, soldados, magistrados, senado­res, patrícios e plebeus, moços e velhos, mulheres soltei­ras e casadas, todos, ao descer à arena, tratam de cobrir- se desta armadura invencível!

“^^swpem&i7is Chr^istia.norum armatitra"

Segue-me, e eu te mostrarei alguns.Em Gesaréa, o M ártir que vai ao suplicio no meio de

-um povo imenso, é o corajoso centurião Gordio.Não <' vês que, tranquilo e recolhido, arma-se na

fronte com o Sinal' da Cruz (1 ) ?

(1) S. Basil, Orat, in S. Gord.

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Que cidade é aquela da Armenia, que se levanta. no meio de neves à beira de ^ lago- de gelo?

E' Sebastes.

Lá vêm marchando à tarde quarenta homens presos e nus.

São conduzidos ao meio do lago e condenados a pas­sar a noite, ali, dentro do gelo.

Quem são eles?

Quarenta veteranos d " exército de Licinio.

E ’-lhes necessária uma força de resistência sobre­humana tanto maior quanto é certo existirem nas mar­gens banhos quentes, preparados para os desertores.

Feito o Sinal da Cruz, a força lhes nasce e morte heroica vem coroar-lhes a coragem (1 ).

Já vimos a jovem Inês, Sinal da Cruz vivo, bem no meio das cha^mas.

E'is outras Cristãs, nascidas também na idade de ou­ro dos mártires.

A primeira é Santa Tecla, ilustre por nascimento, mais ilustre pela Fé.

Agarrada pelos algozes, é conduzida à fogueira.

Faz o Sinal da Cruz, entra nela a passo f i ^ e e fica tranquila no meio das chamas.

Imediatamente cai do Céo uma torrente de água e o fogo é apagado.

(1) Illi autem uno cricifixi signaculo, Christum in se quasi legis loco o^ibus praescripsertnt ... Crucem signifera Ugura in mente gestabant. (S. Ephrem., Encom. in 40 S. S. Martyr.)

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E a jovem heroina sai da fogueira cumo os três man- cebos na fornalha da Babílonia, sem haver tostado um só fio de cabelo (1 ).

A segunda é Santa Eufemia, tão celebre, como- a pri­meira.

À ordem do Juiz, num instante são preparados os instrumentos de suplicio.

A jovem donzela vai ser estendida sobre a roda.

Faz o Sinal da Cruz, avança, voluntariamente para a terrivel máquina armada de pontas de ferro, fita -a sem empalidecer, e aquele olhar faz voar em pedaços o sa- taníco maquinismo (2 ).

Nota ainda.

Estamos num desses pretórios romanos, tantas ve­zes tintos de sangue de nossos antepassados Cristãos; tantas vezes testemunhas de sua respostas sublimes, e de sua constânda heróica.

Estamos no mais violento da perseguição de Decio.Tu conheces esse sanguinário Imperador a quem La-

tancio dá o epiteto de execrawel animal:

(1) Capta ab apparatoribus ut in íecum jactaretur, sponte pyram ascendit, et Signo Crucis facto, virili animõ inter medias flarrimas stetit, subitoque, facta inundatione pluviarum, ignis extinctus est, et beata Virgo iiaesa viturte superna erigitur.(Ado. in Martyrol, 27 sept.)

(2) Postaquan ipsae machinae dicto citius fuerunt constructae, et Martyr in eas erat conjicienda, validis continuo in se paratis armis, nempe divina Crucis figura, et ea signata, adversusrotas processit nullam quidem vultu estendens tristitiam, etc.(Apud. Sur., t. V, et Baron., Martyrol., 16 sept.)

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“Execrabile animal, Decius” .

Diante do Juiz está uma multidão de Cristãos.

■Q acusador, como de costume, acaba de carrega-los de todas as espécies de crimes.

Antecipadamente já sb em que estão condenados.

Que fazem?

Levantem os olhos ao Céo, fazem o Sinal da Cruz e dizem ao Proconsul:

“ Haveis de ver como vós não estais lidando com “ gente vil e püsilanime ( 1 ).”

Si fosse, meu caro, continuar até o fim, seria pre­ciso fazer desfilar diante de ti o exercito imenso dos vin­te e cinco milhões de Mártires.

Esses valorosos 'soldados do Crucificado, ao entrar em combate, todos arvoraram o Estandarte do seu Rei.

Deixa-me nomear ainda alguns.:

— S'. Juliano, S. Ponciano, S. Constante, S. Crescen- re, Sto. laidoro, S. Nazario, S. Celso, S. Maximino, Sto. Alexandre, Sta. Sofia e suas três filhas, Sta. Agueda, Sta. Luzia, Sta. Barbara, Sta. Engracia, Sta. Iria., Sta. Juliana, S. Cipriano e Sta. Justina, etc. (2 ).

Em todos os paizes e em todas as ocasiões ha teste­munho do uso universal dos Mártires em se armarem do

(1) Oculis in coelum sublates, cum se Christi signaculo munis-sent, dixerunt: Scias te non incidisse in viros pusilli et ab-jecti animi. <Apud Sur., 13 april.)

(2) Vid. seus processos.

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Sinal da Cruz ao entrar na liça com os homens, com as feras e com os elementos.

Mais ainda.

Quando o peso das cadeias ou a atadura dos grilhões houvesse de impedi-los de fazer o S'inal da Cruz, cheios de Fé eles pediam aos Padres ou aos outros Cristãos que os armassem do Sinal vitorioso.

Convertido à Fé pelo Santo Eleutério, vai Corebo re­ceber no anfiteatro a coroa do Martírio.

“ Ora, por mim, diz. ele a seu Pai em Jesus Cristo “ e anna-me das mesmas armas, o Sinal da Cruz, “ de que armaste a. Felio, o chefe do combate

“ (1 ) . ”

Gliceria a nobre filha de um Patrício que três vezes fôra Consul ia ser lançada de repente numa estreita pri­são.

Vendo-se nas mãos do inimigo, a primeira cousa que faz, é tredir ao Santo Padre Filõerates lhe faça na testa o Sinal da Cruz.

O Padre satisfaz-lhe o desejo dizendo: — “ Que este do C r^ ^ ^ a d o reoUze feus votos: (2 ).

E ouve, meu caro, como os votos lhe foram realizados.

A jovem heroína desce ao anfiteatro.

( 1 l Ora pro me. et me arma his armis, nempre Christi signaculo. quibus ducem exercitus munivistl Felicem. (Apud Sur.. 18 April.)

(2) Signa me Christi signo. Ad haec Philocrates presbyter: signum inquit Christi vota tua compleat. (Ibid., t. III, et Baron., t. II.)

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No momento de colher a p a l ^ da vitória., volto-se para os Cristãos misturados na multidão e lhes diz:

"Irmãos, irmãs, filhos, pais, e v6s outras que “eu tenho na conta de mães, acautelai-vos bem “e tende muito em consideração Quem é aquele ‘ Imperador cujos caracteres possuimos e com “cujo Sinal fomos marcados em nossa fronte

‘ (1 ) . ”

Tu acabas de ver.

Todos os l\:I.ártires p ^ u ra ra m forÇa no Sinal da Cruz.

Teriam eles procurado um apoio no vasio?O grande Imperador por Quem eles morriam, te-los-

ia deixado numa ilusão incurável?

Se hoU!ver alguem que o creia, deve idar provas.

Até breve,

se Deus quiser.

(l) Frates, sorores, filii, patres et quaecumque matris loco mini estis, videte et vobis cavete, ac diligentes animadvertite, qualis eet Imperator ille, cujus caractrem habemus, et qualiforma in íronte sígnati sumus. (Ibidi.)

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D U O D É C IM A C A R T A

Paris, 7 de Dezembro de 1862.

Sumario: — 1. Necessidnde perpetua do Sinal da Cruz

para obter /ôrça. Recomendação e prá­tica dos Chefes do luta espiritual. Sinal da Cniz nas tentações. — 2. Sinal da Cruz na. morte. Exemplo dos Mártires. Exemplo dos verdadeiros Cristãos, no áto de morrer. — 3. Os moribundos pediam a seus irmãos lhes fizessem o Sinal do Cruz.

1

::VIeu caro Amigo,

O Sinal da Cruz até hoje nada .perdeu em força.

A necessidade que temos dele é talvez maior.

Não ha dúvida que si os tiranos morreram, e os an­fiteatros caíram em ruinas, fo i porque o Sinal da Cruz venceu a uns e fez. desabar os outros.

Os segundos pode ser que se não levantem de novo. Mas. .. os primeiros?De tempos a tempos saem de seus tumulos.A raça dos Neros jamais ^acabará.

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E o mais temivel deles ainda está para vir.

Depois dos Cesares, outros têm aparecido com o fu- lo r antigo.

Hão dizimado outros Cristãos, — raça imoral, raça votada à morte — diz Tertuliano.

“ expediíum morte genus."

Os Tiranos, aquilo que fizeram ontem no ocidente, o que fazem hoje no oriente, podem repeti-lo amanhã em todos os logares onde reinarem.

Aviso aos combatentes:

“ Ninguem esqueça. onde está a origem e a fon­te da força.

Lembra-te, meu caro amigo, de que a paz tambem tem seus Mártires.

"Habet et pax martyressuos.”

Qual é o Homem que não tem em si mesmo um ou muitos Neros?

Ha talvez na vida racional, um dia ou uma hora em que não tenhamos a vigiar-nos e a combater?

Vinte vezes ao dia sedutores objetos se oferecem. a nossos olhos; maus pensamentos nos importunam o espí­rito ; e, revoltados, os sentidos solicitam-nos o coração a traições covardes.

Oh! De quanta força carece o Homem! . . .Onde a enconti*ará?No Sinal da Cruz.O testemunho dos séculos, a experiência dos vetera­

nos e o exemplo dos conscritos na virtude, atestam hoje

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como ontem o poder soberano que o Sinal Divino tem para dissipar os encantos sedutores, afugentar os maus pensamentos e reprimir os movimentos da concupiscên- cia.

Ouve o cantor dos 1\ijártires, Prudencio, que conheceu deles juntamente os pormenores dos triunfos e o segredo das vitórias.

“ Quando, a convite do sono, caires em teu cas- “ to leito, f ^ o Sinal da Cruz sobre a fronte, e “ sobre o coração."“ A CrUtz te preservará de todo o pecado.“ Fugirão diante dela as potências infernais. Sa.n- “ tüicada por este Sinal, a tua A l ^ não saberá ‘‘vacilar ( 1 ). ” '

Mais. Ouve os chefes do combate interior.

Consumados na arte da guerra espiritual, chamada ascetismo,. os grandes genios e os grandes Santos não têm mais que uma voz todos eles, para recomendar aos solda­dos Ciistãos o uso do Sinal da Cruz.

“ Sentes inflamar-se teu coração? diz S. João “ Crisostomo, faze o Sinal da Cruz sôbre o peito

(1) Fac, cum vocante somno Castum pedis cubile,Frontem locumque cordis Crucis Figura signet.Cruz pellet omne crimen,Fugiunt crucem tenebrae.Tali dicata signoMens íluctuare nescit. (Aput. S. Creg. Turoil., lib., I Miracul., c. 106.)

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“ e logo a colera se dissipará à maneira do fumo- “ (1 ) . ”

E Sto. Agostinho:

“ A ^ le c h , vosso mimigo, tenta tomar-vos o ca- “ minho e impedir-vos de avançar?“ Faze o Sinal da Cruz e ele será vencido (2 ) . ”

Marcos, o grande servo de Deus que predisse ao Im­perador ^^ão a hora de sua morte, diz :

“ Conheci por experiência que o Sinal da Cruz “ abate as desordens interiores e promove a saú- “ de da Alma.. ,“ A graça opera logo; depois do Sinal da Cruz “ tudo se mitiga, assim a carne como o coração “ (3 ) . ”

S. Maximo de Turim :

— “ E ' do Sinai da Cruz que devemos esperar a “ cura de nossas feridas.“ Se o veneno da avareza penetra em nossas “ veias, façamos o Sinal da Cruz e ele será ex- “ pulso.“ Se o escorpião da voluptuosidade nos pica, re- “ corramos ao mesmo meio e seremos curados.

(1) Si siccendi cor tuum senseris, pectus continuo Signaculo Cru­cis signato, et ira illico tanquam pulvis dissipabitur (Im Math., Homil. 88.)

(2) Si adversarius Amalecita Iter intercludere atque impedire conabitur, pro reverentíssima extentione crachio rum ejusdem Crucis indicio superatur. (Lib. I. Homil., Homil. 20.)

(3) Statím post. Signum Crucis gratia sic operatur: sed otnnia, membra pariter et cor. (Bibliothã P.P., t. V.)

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‘ Se grosseiros pensamentos terrestres tentam “Manchar-nos, façamos ainda o Sinal da Cruz e ‘ nossa vida s.erá santa (1 ) . ”

S. Bernardo:

— “ Qual é o Homem tão senhor de seus pensa- “ mentos que não tenha alguns impuros?“ E ’ necessário reprimir imediatamente os ata- “ ques do inimigo para vence-lo onde ele espera “ triunfar.“ Qual o meio infalivel de consegui-lo? — Fazer “ o Sinal da Cruz (2 ) . ”

S. Pedro Damião:

“ Se sentirdes que em vosso espírito surge um “ mau pensamento, faze i logo, com o- polegar, o “ Sinal da Cruz, na certeza de que desaparecerá “ tal pensamento (3 ) . "

O piedoso Ecberto:— “ Nada mais eficaz que o Sinal da Cruz para “ dissipar as tentações, ainda a mais vergonho- “ sa (4 ) . ”

Resumindo todos estes testemunhos:

— “ Qualquer que seja a tentação, conclue S'.

(1) Apud. S. Ambr. ser. 55.(2) De passion Dom .. c. XIX, n. 65.(3) Cum pravam tibimet cogitationem esse percuseris, extento

pollice protinus cor tuum signare festines, certus, etc. (Instit.monast.)

(4) Signo Crucis nihil efficacius ad effugendas tentationes. (Lib. viar. Domin., c. XXI. )

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“ Gregorio de Tours, é necessário repeli-la.“ Para isto fazei com coragem (>)não com tihieza, “ o Sinal da Cruz sobre a fronte ou sobre o peito “ (1 ) . ” ..

Se fosse predso, mil fatos podiam confirmar o que ouviste.

Bastará um só.E ' a revelação com que fo i favorecido um santo Re­

ligioso chamado Patroclo, mediante a qual Deus fez ver o poder soberano elo Sinal da Cruz contra as tentações.

Transformado em Anj o de Luz, o demonio apareceu um dia ao venerável Abade e, com palavras repassadas de astúcia, começou a aconselha-lo, que deixasse a soli­dão e voltasse ao mundo.

Sentindo correr-lhe nas veias. um fogo pestilencial, o Homem de Deus prostrou-se em oração e pediu ao Se­nhor lhe fizesse cumprir o que fosse da Divina Vontade.

A suplica foi ouvida.Aparece-lhe então um Anjo do Senhor e lhe diz:

“ Sobe a esta coluna e venás o que o mundo é.”

O piedoso solitário vê diante de si uma coluna de pro­digiosa altura e sobe-lhe ao seu vertice.

De lá desoortina um pedaço do mundO' e vê — homi­cídios, roubos, carnificinas, desonestidades. e os maiores crimes pratioáveis sobre a terra.

Horrorizado exclama ele:

— “ Ah Senhor! Não permitais que eu volte ao “ meio de tantos crimes^! .. : “—

(1) Viriliter et non tepide Signum, vel fronti, vel pectori salu- tare superponas. (Ubi. supra.)

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IDntão o An jo lhe diz:

— “ Deixa-te de pensar em voltar ao mundo; se- “ n.ão, irás com. ele.“ E ’ melhor que vás para teu oratório..“ Pede ao Senhor mercê de uma ^arma com que “ te defendas no meio das provações de tua pe- “ regrinação.”

Ele assim fez e achou um tijolo onde estava escul- turado o Sinal da Cruz.

Compreendeu o dom de Deus e conheceu que este Si­nal era uma fortaleza inexpugnável contra as tentações

(1 ) . ”

2

Na guerra ou na paz, o Homem durante a vida é um Mártir.

E quem é ele na morte?

Vês este doente cercado de dores, abandonado de to­dos, ou rodeado de parentes e amigos sem força para va­ler-lhe?

Detrás dele o tempo que foge e: à sua frente a eterni­dade que avança.

Sim; a eternidade em que ele vai cair sem que ne­nhuma força humana possa retardar-lhe o momento da partida ou adoçar as angustias da. viagem! . . .

(1) Greg, Turon, vit. part. c. IX.

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Este doente, meu . caro amigo, és tui, sou eu, é todo o Homem, rico ou pobre, subdito ou Monarca.

Se durante os combates da vida carecemos de luz, de força de consolação e de esperança, não teremos nós de tudo isto uma necessidade mil vezes maior nas lutas deci­sivas da morte

Pois bem!O Sinal da Cruz é tudo isto para todos nós.Debaixo deste aspecto fo i ele caro a noesos maiores e

deve ser tambem a nós muito querido.A maneira dos Mártires que ao caminhar ao último

combate não deixavam de se fortalecer pelo Sinal da Cruz, os verdadeiros Cristãos dos séculos paesados recorriam sempre ao Divino Sinal para adoçar as' dores e santificar sua morte.

Citamos alguns exemplos-S. Gregório de Nissa falando de Santa Macrina, sua

prezada irmã a quem ele mesmo assistiu nos últimos mo­mentos, assim se exprime:

“Ela dizia: — Senhor, para afugentar o mimi- "go e proteger a vida tendes dado aos que Vos “temem, o Sinal da Cruz. —

Pronunciando estas palavras, ela fazia o adorável Si­nal sobre oa olhos, nos lábios e sobre o coração ( 1) . "

Do i^não de Santa Macrina o ilustre chará S. Gre- gorio de Nasianzo, desafiando o demonio, dizia:

(1) — Tu ad hostis permeiem et vitae nostrae securitatem de- distí signum metuentibus te, notam sanctaé Crucis aeterne Deus. Haec dicens oculis, et ori, et cordi, Crucis signum opposuit. (Vit. S. Marc.)

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“ Se no momento.da minha morte ousares me ate- “ car, eu te hei de por em vergonhosa fuga — fa- “ zendo o Sinal da Cruz ( 1) . ”

Proximos à morte, em vez de o fazer com. a mão, os primeiros Cristãos faziam esse Sinal estendendo os braços.

A isto é que êles chamavam sacrifício da tarde.

— “ ^zerificium vespertinum.

A este modo de fazer o Sinal da Cruz nos últimosmomentos., aplica Arnobio as palavras. do salmista:

— “ A elevação de minhas mõos é. meu sacri/i-C'io “ da tarde.”“ Toda a nossa atenção deve ser posta em levan- “ tar as mãos em Cruz para nos alegrarmos no “ Salvador Jesus, no mo^^nto em que vamos pa- “ ra Ele (2 ) . "

Foi nessa atitude que morreu o eremita S. Paulo, Patriarca do deserto.

E assim por S. Antão fo i encontrado, já morto (3 ) . " Com S. Pacomio- deu-se o mesmo.

— “ Na proximidade da morte, diz o autor de sua “ vida, armou-se do Sinal da Cruz..

(1) — Car. 22. ■(2) — Tunc enim in sacrificio vespertino sumus. Ibi est tota-

nostrn nostrae cogitationis ponenda intentio, ut levantes- ma nus nostras, in Signo Crucis dum ad Dominum ' pergi- mus, gratulemur in Cristo Jesu. (In. Ps. 140.)

<3) — Introgressus speluncam, vidit genibus complicatis, erecta cervice extensisque in altum manibus, corpus exanime. (S.. Hier., de vit. S. Paul.)

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“ E vendo um Anjo de Luz se aproximar entre- “ gou santamente a Alma a Deus ( 1). ’’

S. Ambrosio mon*oo do mesmo modo.

— “ No último dia de vida., escreve dele o Padre “ Paulino, desde as onze horas mais ou menos até “ ao momento em que morreu, orou e — de mãos “ estendidas em Cruz (2 ) . "

Passemos de Milão a Constantinopla. Eis um outro Bispo que vai morrer. Diz o hiográfo: —

“ Santo Eutiquio foi atacado de febre violente “ la por volta da meia noite.“ Dur^:nte os 7 dias que durou tal estado, não “ deixou de orar e de se fortificar pelo Sinal da “ Cruz (3 ) . ”

Acabe-se na França a nossa viagem.Vamos assistir a morte de alguns de nossos Reis. Paremos um instante em Aix-la-ehapelle para assis­

tirmos à morte do grande Imperador.

“ No dia seguinte, diz um Bispo testemunha “ ocular, logo ao amanhecer, Carlos-Magno es- “ tando bem consciente do que devia fazer, esten-

(1) Vida de S. Pacomio, c. LIII.(2) Eodem tempore quo migravit ad Dominum, ab hora circiter

undecima diei, usque ad illam horam qua emisit spiritum,' expansis manibus in modum. oravit. (Paul., in vit S. ^mb.)(3) Vehementi íebre crica mediam noctem correptus est: atque

ita mansit septem dies, assidue precibus incumbens, seque Signo Crucis muniens. (Apud. Sur. 2 de Julho.)

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“deu a mão direita, e, em quanto pôde, fez o Si- “nal da Cruz na fronte, no peito e no restante do ‘ corpo (1 ) . ”

A.ssim devia morrer grande Monarca. Eis seu filho, Luiz o piedoso.

“ Depois de ordenar os negocios e fazer suas re- “ comendaçõès, mandou recitar perto de si a Ora- “ ç.ão da noite e colocar sobre o peito uma reliquia “ do S'anto Lenho."Durante este tempo ele mesmo, enquanto teve “ forças, fazia o Sinal da Cruz sobre a fronte e “ sobre o coração.“ E quando estava fatigado pedia a seu i^rmão “ que continuasse (2 ) . ”“ Nos últimos dias de sua vida, não cessava de “ chamar em seru auxilio, por gestos e palavras, “ os Santos do Paraiso.“ Fortatecia-se continuamente com o Sinal da “ Cruz, feito sôbre a fronte, s<>bre olhos, nariz, “ lábios, pescoço e ouvidos.“ Fazia-os invocando o Divino Espirito Santo e ‘•em memoria da Encarnação, Nascimento, Pai-

(1) In crasdinum vero luce adveniente, sciens quod facturus erat, extensa manu dextera, vlrtute, qua poterat, signum sanctae Crucis íronti impressit, et super pectus et omne corpus con- signavit. (Thegan., De gestis Ludov. Imper.)

(2) His peractis ct dictis, praecepit ut ante se celebrarentur- vigiliae nocturne, et signo sanctae Crucis pectus muniretur; et quam diu valebat, manu propria tam frontem quam pectus eodem signaculo insignibat. Si quando lassabatur, per manus íratis suí mihi id fieri porcebat. (Apud Gretzer; Lib. IV, c. XXVI, p. 618.) '

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“ xão, Morte, ■ Ressurreição e Ascensão de Nosso “ Senhor Jesus Cristo.“ Tal havia eldo o habito deste Príncipe em toda “ a sua vida, que, por sua vontade, nunca esteve “ sem água benta para se persignar ( 1) . ’’

Citemos ainda Luiz, o gordo.

“ Vendo-se nas proximidades da morte, mandou “ estender um tapete no chão e sobre ele espalhar “ cinzas em fonna de Cruz.“ Colocado por seus oficiais sobre este leito, que “ recordava o do Divino Rei do CaI vlá.rio, não ces- “ sou o virtuoso Monarca de fazer o Sinal da Cruz “ ate exalar o último suspiro (2 ). ’’

3

Será desdouro a um Rei morrer como morreu um Deus?

h^ão.O que desdoura é morrer. sem_ compreender, a morte;

morrer esquecido da Alma como se estivesse no ról dos brutos ; morrer sem Religião; morrer sem luz nem Cruz.

Viste os Mártires. Receiosos de não poderem fazer o Sinal da Cruz antes de morrer, pediam aos Cristãos, ir-

<1) Dei sanctis in auxilium suum venire, V'oce, signis, indesi- nenter orabat, muniens se semper W. fronte et oculis, naribus et labils, gutture et auribus, per Signum Sanctae Crncls, memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passlonis, Resu- memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passionis, Resur-

. rexionis, et Ascenslonis, et Spiritus SanctL Habuit hoc ex more in vita; cui nunquam defuit volutate acqua benedicta. (Helgald.. in. Epitom. vit. Robert.)

(2) Gretrer, p. 617.

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mão;.; na Fé, lh’o fizessem. Pois, nossos avós faziam o mesmo.

Além do exemplo de Luiz-Ie-Débonnaire, que acabas de lei , vou referir-te alguns outros.

Passados ainda nos primeiros séculos, mostram eles a perpetuidade da Tradição.

“ S. Zenobio, o amigo intimo de S'. Ambrosio, “ próximo a terminar a vida excelente por uma “ preciosa morte, levantou a mão e fez. o Sinal da “ Cruz sobre as pessoas que o cercavam.“ Depois pediu aos Bispos, que, sobre ele, com “ suas Mãos Sagradas, fizessem o Sinal da for- “ ça, da Esperança e da Salvação (1 ) . ”

Do catre de um Padre vamos para junto da cama de um simples fiél.

Eis uma filha dedicada, que aasiste a sua terna e ilus- tre-:Miãe.

Hoje a maior parte das pessoas contentam-se em dar a seus mais caros doentes., os cuidados materiais.

Fariam' escrupulo em fa ltar às ‘ mais pequenas pres­crições do Médico.

— E a a,.■fsis.têwcia Cristã? •E as prescrições do Divino Médico?E a graça. dos Sacramtentos M- Igreja, nossa. Mãe?Que cuida-do ha em s^atütfazer a. deveres tão im,periosoLS

como Sagrados?

(1) Elevata aliquantulum manu omnes benedixit, rogacitque ads- tantes episcopos, ut sanctissimis suis manibus eum Crucís Signo co^munirent. (Apud Sur. 25 de Maio.)

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Aos esmerados cuidados, nossos a.vót;, mais in­teligentes e melhores do que nós, juníapa-m os remédios espirií^^is; os cuidados da A l ^ ; os meios da Salvação Eterna----

Em Belém, Santa Paula, a ilustre filha de Fabio, es­tá para morrer. „

Junto a seu leito vemos Santo Eustoquia, digna filha de semelhante Mãe.

Que fa^ este Anjo de ternura?

“ Não cessa, diz S. Jeronimo, de fazer o Sinal da “ Cruz sobre os lábios e coração da sua Mãe, es- “ forçando-se por adoçar-lhe o sofrimento com “ impressão e virtude do Sinal Consolador (1 ) •”

Acabas de ver que na vida e na morte — o Sinal da Cruz era o meio constantemente empregado por nossos avós a fim de obter, tanto para si como para os outros abundancias de — luz, força, resignação, coragem, espe­rança.

O Sinal da Cruz é, sem dúvida, uma grande coisa.Por isso é que conf razão excl^ama. uma testemunha de

seus maravilhosos efeitos:

“ Magna res Signum C )^ds ( 2 ) . ”

Amanhã, se Deus quiser veremos a eficácia do Sinal da Cruz, em uma nova ordem de coisas.

Adeus.

(1) Eustochium Paulae matris os stomachumque signabat, et ma- tris dolorem Crucis impressione nitebatur linere. (In Epitaph. Paulae.)

(2) S. Elig., De rectitud cathech., etc., Inter op. S. Aug., t. VI.

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D E C IM A T E R C E IR A C A R T A

Paris, 8 de Dezembro de 1862'.

Sumario: — I. O Sinal da Cruz na ordem temporal. —

2. Do vista aos cégos, ouvido aos SUT- dos. — 3. Dõ a fala aos mudos. — 4. Dá uso dos membros aos coxos e para­líticos. — 5. Cura fébres e outras mo­léstias. — 6. Limpa os leprosos e tira o câncer. — 7. Trás - d vida os próprios mortos. — 8. Conclusão.

Caro Amigo,

Bom dia.Mendigo na ordem espiritual, o Homem não é me­

nos indigente na temporal.

Nosso corpo e noSISa Alma vivem senão de es­molas.

Entre os bens necessários ao Corpo, ha dois em par­ticular, meu caro amigo, que eu quero .de especial maneira notar-te.

São eles — a saúde e a segurança.Um e outro, o Sinal da Cruz no-lo alcança.

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A sGÚde.O Verbo Eterno é a vida vivente e vivificante.Falando do' Verbo quando conversava com os Ho­

mens, oferece o Evangelho {ls seguintes expressões, tão simples como sublimes: — D’Ele precedia uma virtude que curava todas as molestias.

‘ Víríus de Illo exibat, et s^mbat omnes.”

A história diz-nos, que em toda a sua extensão isto se aplica tambem ao' Sinal da Cruz.

Os primeiros Cristãos serviam-se do Sinal da Cruz para a cura das molestias.

Nada ha mais; certo do que isto.

S- Cirilo e S. João Crisostomo — um Patriarca de Je­rusalem e outro de Constantinopla — afirmam positiva­mente que o Sinal da Cruz continuava no tempo deles co­mo no de nossos maiores, a curar molestias e mordeduras de animais fe^rozes (1 ).

2

Vamos às provas.Todos 'ls sentidos do Homem são sujeitos a doenças.Começaremos pela vista, que é o mais nobre.Se em vez de se cansar sobre os autores pagãos a

nossa mocidade estudasse algumas vezes os atos dos Már­tires teria visto nos, de S. Lourenço o brilhante milagre que até hoje a Igreja ^ t a .

(1) Hoc signum ad hodiernum dicm curat morbos. <Catech., XIII; S. Chrys., In Math., Hom. 54.)

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"Qui per Signum Crucis ooecos iUuminavi.t” .

O ilustre Arcediago de Roma . ha\ia ..entrado na casa de um Cristão.

Achava-se lá o cego Crescencio., que, debulhado em lagrimas, se lançou aos joelhos do Santo e Ihe. disse:

— “ Ponde vossa mão sobre ■ meus olhos pa.ra que‘ eu vos ve ja ” .

O bem-aventurado Lourenço, profundamente como­vido, lhe diz:

— “ Dê-vos a luz Nosso Senhor Jesus Cristo qut- “ abriu os olhos ao cego de nascimento.” —

Fez ao mesmo tempo o Sinal da Cruz robre os olhos de Crescencio que logo viu o dia e o ^^^-aventurado Lou- renço (1 ).

De sua própria ^^ão diz o sábio Teodureto:

“ }linha liã e tinha num dos olhos uma doença. “ Havia esgotado já todos os recursos da medici- “ na, sem resultado.“ Tinham-se folheado todos os autores, novos e “ velhos, e nenhum dava remédio para o mal pre- “ sente.“ Estava eu com ela quando amiga a visitava. “ Falou-nos de um Homem de Deus chamado Pe- “ dro, e nos disse:

(1) Apud. Sur,, 10 sug,

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— “ A mulher do Governador do oriente sofria ‘ ‘da mesma. moléstia e dirigindo-se a Pedro que “ era de .Pergamo, ele a curou orando por ela e “ fazendo-lhe o Sinal da Cruz. —

“ Minha Mãe não perde um momento.

“ Vai procurar o Homem de Deus, prostra-se aos “ pés e pede-lhe que a cure.

— “ Eu não sou senão um pobre ^ ^ id o r ; estou ‘ ‘mui longe de ter junto a Deus a virtude que “ supondes^

“ Minha Mãe, chorando cada vez mais, repetiu as “ suplicas, protestando não o deixar sem que es- “ tivesse curada.

— “ Deus é que o Médico de semelhantes males

“ (1 ).“ Ele ouve todos os que têm Fé e de c^erto vos ou- “ virá, não por meus merecimentos, por causa ‘ ‘ de v^sa- Fé.

‘‘ Portanto, se tendes Fé sincera, verdadeira, pu- “ ra e sem hesitações, ponde de parte os médicos “ e seus medicamentos e aceitai o remédio que “ Deus vos dá. —

“ A estas palavras estende a mão sóbre o olho “ doente, faz o Sinal da Cruz e a molestia desa- “ parece (2 ).

(1) O santo raciocinava como Ambros o Paré, o pai da. c irurgia f^nceza — Eu o tratarei e Deus que o cure.

(2) Hoec cum dixiset, manum impossuit oculo, et salutaris Cru- eis Bigno facto, morbum .expuUt. (Hist., S. S. Patr. in Petro.)

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Fatos ^ a is próximos de nós m^ostrar-te que, atravessando os séculos, o Sinal dà Cruz nunca deixou de ser o melhor oculista.

Santo Eloi, Bispo de Noyon, ao passar uma das pon­tes de Paris, curou um. cego que em vez de esmola lhe pe­diu fizesse o Sinal da Cruz. sobre seus olhos (1 ).

Outro milagre temos na vida de S. Froberto, Abade de ^ Morteiro perto de Troyes, em Champ^me.

Era ele ainda creança quando um dia sua :Mãe, cega havia já muitos anos, o asentou em seus joelhos e no meio de abraços e caricias lhe ordenou fizesse o Sinal da Cruz sObre seus olhos.

O santo menino obedecendo às ordena de sua Mãe, in­vocou o Nome do Senhor, fez o Siual da Cruz e logo ela recobrou a vista. (2 )

Na: vida de S. Be^ardo, cita Mabilon mais de trinta cégos, que foram curados por meio do Sinal da Cruz fe i­to sobre eles pelo Ta^naturgo de ^Claraval (3 ) .

3

Do ^n tido da vista, pa^em^os aos outros sentidos. Como o próprio Jesus Cristo, o Sinal da Cruz faz que

os surdos oiçam e os mudos falem.

Em plena Roma do século IV , no palácio do to, diante de nós está um jovem e brilhante Oficial.

E ' Sebastião.

(1) Vida do santo, por S. Ouem, Bispo de Rouen, c. ^^IN.(2) Sua vida a 31 de Dezembro.(3) T. II. ,

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Este nome nem se pronuncia. mais nos colégios.Dirás, pois a teus condiscípulos que S. Sebastião era

Comandante da primeira corte pretoriana, no reinado de- Diocleciano.

Em linguagem moderna quer dizer que era Coronel de ^ ^^im ento d& Guarda

Dotado de uma el()(luência igual ao seu valor, apro-- veitava de am'bos estes dons de ^Deus para a ^ ^ a r os Mártires que eram todos os dias conduzidos ao ^Pretério.

Um dia a mulher do Prefeito teve a felicidade de as­sistir a um daqueles disc^ses.

Ficou tão vivamente impressionada que sei lançou aos- pés do Santo, procurando fazer-lhe entender par gestos, que desejava ser curada.

Havia. seis anos que Zoé estaya muda.Conquanto ela fosse pagã, Sebastião fez-lhe na boca.

um Sinal da Cruz e lhe restituiu imediatamente a fala. O' . primeiro uso que fez da palavra fo i o Batismo (1 ).

Podes ainda dizer a teus companheiros que foi tam- bem com o Sinal da ^ roz que S. Bernardo curou grande' número de surdos e de mudos.

Em Cologne, uma moça surda ha muitos anos.Em Bourlémont, um rapaz surdo e mudo de nasci­

mento.Em Bale um surdo.Em Metz outro, à vista de muita gente.Em Constance Spira e M ^efricht, varios su:rdos--

mudos.

(1) Act. de S. Sebart.

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Em Trotes, uma moça coxa muda, na presença dos Bispos de Langres e de Troyes.

E finalmente em Claraval ^ a jovem de 15 anos, sítrcfu,.muda. (1 ).

Estatva o Abade de Claraval em Spira, operando mui­tas curas milagrosas, quando lá chegou Anselmo, Bispo de Havelsperg.

Andava este Prelado por tal modo sofrendo da gar­ganta. que difici^tónte podia engolir ou falar.

— “Se vós tivesseis Fé como as. bôas mulheres, “ disse-lhe sorrindo o Santo Abade, talvez pudes- “ se como a elas presta.r-;:Voa algum serviço” .— “ Se minha Fé não basta, replicou o Bispo, “que valha avossa pata me curar.”

São Be^^rdo o tocou fazendo-lhe o Sinal da Cruz sô­bre a garganta e logo dôr e inc^^ão desapareceram (2 ).

4

Ocupando-nos o corpo todo, o tacto é o sentido que maior .superfície oferece aos ataques das d^mças.

Mais ou menos dolorosos, como enumerar os males a que ele está exposto? ,

Contudo é censola.dor pensar que nenhum deles re­siste à virtude salutar do S'inal da Cruz.

(1) MabUlon, ob supra.(2) Signavit eum Pater. .. et continua dolor omnisque tumor

absce it. (Vit, lib. VI, c. V, n. i9.)

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Em sua força vê-se Aijuele que curava todas as mo­léstias entre o povo. ’

omnem lenguerem et omnem ?:nfirmi- tatem (1 ) • "

Um dos Bispos mais ilustres e amáveis que gover­naram' a Diocese de Paris, é S. Germano-

Um dia fo i vi&tar Ri Santo Hilário, Bispo de Poitieis.Em caminho, dois h o ^ n s com grande dificuldade

apresenta^ram-lhe u ^ mulher muda e coxa.Logo que o Santo lhe aplicou o Sinal da Cruz, ficou

boa.Três dias depois, fo i agradecer a seu benfeitor o uso

da palavra e da& pernas (2)^Por Sto. Entimio, o grande arquimandrita da Pa^*

lestina, ^m os um outro milagre. 'Terebon, era filho do governador dos S ^acen os na

Arábia.Desde muito dequeno vivia paralítico de meio corpo.Ouvindo falar do Sante Abade, fez-se conduzir' à pre­

sença dele.Acompanhou-o o seu. pai com grande número de bár­

baros. Fez or, Santo sôbre ele o Sinal da Cruz e a cura foi imediata. A este facto, seguiu-se milagre maior — a con­versão de toda aquela gente (3 ).

S. Vicente Ferrer estando em Nantes apresentaram- lhe um homem paralítico, havia já dezoito anos.

(1) Matt 4 — 23.(2) Ut lilgnum Sanctae Crucis expressit, coni'ertim omnis vigor

per membra diffunditur. (Vita c. XLVI.)(3) Fleury, Hist., eccl., lib. XXIV, n. 28.)

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— “ Não tenho nem ouro nem prata, diz o San- “ to ao doente, mas vou pedir a Nosso ^Senhor vos “ dê saúde para o c o ^ ^ e para a Alma. —

Em seguida fez o Sinal da Cruz s.ôbre seus m-embros e logo o paralítico sente-se curado, levanta-se dá graças a Ikus e ao Santo.

Volta para casa e nunca. mais oofre do antigo mal

(1 ).Tal é às vezes a violência da. dor, que, influindo sô--

bre o cérebro, priva o Homem' da razão e da saúde.

O Sinal da Cruz corte a moléstia ainda nesta horrí­vel manifestação.

Edmer, historiador de Sto. Anselmo, Arcebispo de- Canturbery, .refere, que este Santo Homem, indo a. Cluny, curou, pelo Sinal da Cruz, a uma mulher que estava doi­da e furiosa (2 ).

Em Sechingem S. Bernardo fez o mesmo.

Em Colonia, certa vez, tambem apresentaram-ibe uma mulher fre^nética.

Endoidecera com a morte de seu marido.A infeliz usaNa de suas força,s. até contra si mesma;

por isso era preciso tê-la amarrada.

Ao vê-la o Santo ficou muito compadecido e Ihe O' Sinal da Cruz.

Ficou logo sossegada e voltou-lhe 0: uso da r^azão (3 ).

(1) Mox multa ejus membra Cruce consignat, et ille se sentit lncolumis. (Vit., lib. IV.)

(2) Vit. S. Anselm. lib. IL(3) Mabilon, ubi supra, lib. IV, c. IV, n. 33.

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O Verbo Redentor que, segundo o Evangelho, tantas vezes curara febres as; mais rebeldes, ao Sinal da Cruz comunicou ^m bem a virtude de operar o mesmo pro­dígio.

S. Prix, Bispo de Clermont em Aurvergne, vindo ao Mosteird de Daronge, nos Vosges, ^hou ao Abade Ama- rino tão a^tacado de uma febre maligna que não podia an­dar nem tomar senão alguma pouca de .água.

O Santo Bispo recorreu à sua. arma ordi^nária.

Fez o Sinal da Cruz sôbre o doente e ele se levantou perfeitamente curado (1 ) .

Igual virtude tem este Sinal a respeito da epilepsia, moléstia mais grave e dificil de curar do que a fé- bre.

Na vida de S. Malaquias, Arcebispo de Armagh, que morreu em Claraval, diz S. Bernardo:

“ Antes de partir prara Roma a fim de receber o “ PaJium das mãos do Papa Eugenio III , o San- “ to Arcebispo deu saúde a um epilético, fazen- “ do o Sinal da Cruz sObre o peito deste infeliz “ que da moléstia era a^bado muitas vezes ao

.‘ ‘ dia.”

O mesmo S. Bernardo operou igUJal milagre nu^a moça de Troues, em ^^mpague.

( 1) Cum vexillum crucis super aegrum fecisset, protimus, fugata :febre, sanatus aeger surexit. (Vid. dos S. S., 25 de Janeiro.)

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Tal havia sido a força da moléstia que deixara a po­bre eem o uso da fala,

O Santo Abade impondo-lhe as fez o Sinal da Cruz.

Logo em presença dos assistentes, ela começou a fa ­lar, cheia de saúde (1 ).

Segundo o seu exemplo c iirai os leprosos, disse Jesus Cristo.

Seus discípulos a ten d e ra a estas palavras, cuja v ir­tude divina passou ao Sinal da. Cruz.

O nome e a fama da S. ^Francisco Xavier .enchiam as Indias.

Chegou isto aos ouvidos de um' leproso que, há mui-, tos anos, em vão procurava curar-se.

Não se atrevendo a aparecer .em público, pediu ao Santo o fosse ver.

Xavier, muito ocupado, não pôde ^aceder aos desejos deste homem.

Enviou-lhe porem um de seus companheiros com re­comendado de perguntar três vezes ao doente, — se acreditava no Evangelho. — condição necessária para ser curado.

Se prometesse abraçar a Fé, devia o enviado fazer três vezes sobre o enfermo o Sinal da Cruz.

Como Xavier tinha ordenado, tudo fo i feito. E ape­nas o leproso, recebeu o Sinal da CrúZl toruou-se-lhe o cor­po limpo como se nunca tivera semelhante moléstia (2 ').

(1) Signavit eam statimque locuta est. (Mabilon, ubi supra, c. ^ ^ , n. 47.)

(2) Vida lib. V, p. 349.

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Antes de i r mais longe, meu julgo devercolocar aqui nota. de S. Crisóstomo sobre a cura das moléstias ou desvio de acidentes e flagelos:

‘ Se apesar de sua virtude, o Sinal da Cruz, aín “ da que feito em condições convenientes, nem “ sempre livra das moléstias, acidentes e flage- “ los, não é porque lhe falte para isso a força, “ mas porque a nós é útil o passar por aquelas "provações (1 ) . ”

6

Ha outra moléstia não menos cruel que a lepra e do que ela mais. frequente.

E ' o cancro.Como as outras enfermidades humanas, ele não re­

siste ao Sinal da Cruz.Atende este facto referido por Sto. Agostinho, tes­

temunha ^ l a r .^m Cartago, diz ele, v iv ia D.* Inocência, senhora mui

piedosa e das ^ i s ilustres famílias ida cidade.Tinha. no peito um cancro, terrível moléstia que os

médicos julgam incurável.Para aliviar OIS doentes, é necessário continuamente

empregar unguentos ou extraí-lo até as raizes.Ora, segundo Hipóerates, moléstia evidentemente

mo^rtal é inútil obrigar o doente a sofrimentos.

(1) Morbis imporans terriblle esã hoc Nomen, et si non abigerlt morbum, non hine ezi -quod infirm^ sit hoc Nomen, sed quod utilis ezi morbus. (Ad. CoUes., II.)

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Amigo íntimo da f^amília, ■ o .Médico nada lhe havia ocultado.

Inocencia, esperando só de Deus o remédio, para Ele se havia voltado pela ora,ção.

Uma noite, na proximidade da.; Páscoa, fo i avisada ■ em sonho que fo^se para o Batistério, onde se esperavam os ca^tecúmenos e que prostrada ao. lado das mulheres, pe­disse à. primeira neófita que lhe fizesse o S inal da Cruz sobre a parte doente. ';

Vendo-a cO'lp^tamente restalecida, o Médico inda- . gou com ansledadel .qual remédio havia-a curado. '

E D.“ InocenciaJ contou-lhe o que sehavia passado.Então, com ar indiferente, o, Médico lhe respondeu :

— “ Esperava me dis&esseis alg^uma cousa ex- ‘‘ traordiná:ria.“ Não a^u lra nada que Jesus Cristo curasse um “ cancro.“ Pois ressuscitou um. morto de quatro dias. Nun- “ ca houve milagre melhor atestado.“ Dele- foi testemunha uma cidade inteira ( 1) l”

Para. tirar ao Homem a saúde e a 'vida, às moléstias naturais, acrescem às vezes os- ataques dos animais ferozes ou venenosos.

Para isso o remédio está ainda no. Sinal da Cruz.

São ^Thalaso Anacoreta, escreve ; Tcodureto, viajando ■ de noite, pisou u.Ina víbora.

(1) Quid grande íuit Christus sanare cancerum, qui quatridua- n ^ mortuum suscitavit? (De civ. - Dei, lib. XXn, c. VIII.)

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O reptil enraivecido •mordeu-o na plante do pé.Acudindo o Santo com a mão direita, é nela mordido

também.Indo a socorrer-se eom a esquerda, o mesmo lhe acon­

tece.Só depois de haver saciado sua. raiva com mais de

dez mordeduras é que a serpente correu à sua cova, dei­xando a vítima em dores horr:iveis.

Nesta como em outras conjunturas o Servo de Deus não recorreu à medicina.

Para curar suas feridas quis empregar remédios da F é : — o Sinal da Cruz,. a Oração e a invocação do Norne do Senhor (1 ).

7

Senhor da vida, Jesus Cristo é ^mbém o Senhor^ da morte.

m no Sinal da Cruz existe este domínio soberano.Eis o que se. lê na vida de S. Domingos;.Pregava um dia o Santo na antiga Igre ja de S. Mar­

cos, em Roma.

Entre seus ouvintes estava uma Senhora romana chamada Gu^ndonã.

Grande admiração tinha ela por este servo de Deus.Deixou doente um de seus filhos e fo i ouvir-lhe o

sermão.

(1) Sed neque tunc, passus est uti arte medica, sed vulneribus adhibust sola medicamenta, Crucisque signaclifum et oratio­nem et Dei invocationem. (In Thalass.)

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Ao volta.r em casa encontrou-o morto.Acompanhada de suas creadas, leva o cadáver a S.

Domingos.Encontrou-o à porta do Convento de S. Xisto.Coloca o corpo do filho aos pés do Santo e, desfazendo-

se em' lágrimas, pede-lhe que o restitua à vida.Tomado de compaixão, o Servo de Deus pôs-se de

joelhos.Depois de breve oração, fa z sobre o morto o Sinal da

Cruz, toma-o pela. mão e o levanta cheio de vida.

Ao enti*egá-lo à Mãe, recomenda silêncio absoluto so­bre o facto.

O . milagre, porem, chegou logo ao conhecimento de toda a cidade (1 ).

Dois séculos antes temos João • Gualberto.Este nobre e santo m ilitar numa Sexta-feira Santa

perdoou ao assassino de seu i rmão.Deus o recompensou com a Vocação- Religiosa e com

o dom dos milagres.Contra o demonio serve-s.e ele do Sinal da Cruz conto

de ^ a espada. 'Furioso por numerosas derrotas, Sata.nás arma seus

agentes.

Uma noite atacam o Mosteiro. ,Incêndio na. Igreja no edifício e muitos religio­

sos já mo^rtos.Acudindo logo ao l ^ l faz o Santo o Sinal da

Cruz e com e1e dá aos mortos vida c saúde (2 ).

(1) Vida do Santo, livro 11, c. 111.(2) Vêde a sua vida.

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8 .

Como vês, meu caro Frederico, dei-me por contente, citando de moléstia uma ou duas curas.

Bastariam de sobejo para enormes volumes.

S'. João Crisóstomo, S. Cirilo, Sto. Efrem, S. Gregó­rio de Nissa, S. Paulino, e centenares do tes^munhas cé­lebres do oriente e do ocidente provam em todos os sé­culos, pO:rt milhares- de que

— o Sinal adoráveí d’AqueIe que veio ao mundo para curar todas as moléstias, não tem deixado nunca de dar vista ^ cegos, ouvido aos surdos, faJa aos mudos, aaúde ^ doentes e vida aos mortos — .

Tal é a História. Cumpre aceitá-la. Quem a rejeitar,

— ou há-de rasgar todos os livros e ceir no cepti-— cismo, ou, há-de escrever outra mais sábia e— ^a ia verfdica.

Pergunta a teus condiscípulos se eles têmi força paraisso.

Se tiv^erem, que a escr^^m.Depois a veremos.

Adeus.

A té amanhã,se Deus ' quiser.

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D É C IM A Q U A R T A - C A R T A

Paris, 9 de Dezembro de 1862.

S^nario:— 1. O Sinal da Cruz apl4ca as t^pestades.

— 2. Apaga or incêndios. — 3. Defen­de dOs perigos. — 4. Suspende ' o ímpeto das ondas. Foz entrar as ágnas em seu leito. — 5. Afugenta os anim4 is ferozes.— 6. Preserva do ueneno. — 7. Livra- nos das tempestades e dos raios. — 8. Protege-nos de .tudo o que possa preju­dicar a saúde e a vido.

Meu caro ^éderico,

O Sinal da Cruz é poderoso para dar a saúde e a vida.Menos poderoso ele não; é para. afastar o que pode

compromete-las, .Ainda neste ponto os factos: superabundain ; mas os

limites de uma c ^ ta s6 me citar alguns.^Depois do pecadQ original, todos os elementos se çon-

juraram contra o Homem, pela influência do demonio.O ar, o fogo, a água, tudo lhe fa z guerra contínua e

muitas vezes — mortal.Para nos defendermos Nosso Senhor Jesus. Cristò. nos

deixou uma arma universal.E ’ o Sinal da ^Cruz.

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Aquele a euja voz há! 19 séculos os ventos e as tem- pectades obedeciam ainda é obedecido até hoje mediante o adorável Sinal da. ^mz.

Lemos na vida de S. Niceto, Bispo de Treves, que, indo para a sua Diocese, adonnecera na embarcação.

A certa altura da viagem, bate um vento forte; tão forte qu.e eneapelon as ondas, rasgou as velas, e quebrou os mastros.

Estava o navio quasí a soç.obrar, quando o Santo é desportedo pelos paasageiros.

Levanta-se mui tranquilamente, fa z o Sinal da Cruz. sobre as ondas enfurecidas, e elas se amainam.

À tempestade sucede a bonança (1 ).

^Segundo a crença da Igreja, tão explicita no Ponti-- fica/ Romano, o demonio :ê o grande recolucionario amo- tinador das nuvens.

N o ar, onde gira com suas. inumeraveis legiões, Sa­tanás demonstra uma perniciosa influência.

Quantas vezes nâo tem ele assim procurado impedir que os Homens de Deus trabalhem na salvação das Almas ?! . . .

São Vicente Ferrer pregava quasi sempre ao ar li- ^ por causa da multi^to que acudia a ouvi-lo.

(1) Excitatus quoque a suis fecit Signum ^racis super acquas, et cessavit procella. (S. Greg. ^iroa, De gloria confees., c. XVII.

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Para impedir a. prédica, muitas vezes o demonio fo r­mava tempestades que o Santo se.smpre as diasipava por meio df? orações e exorcismos.

Das três artimanhas do malvado na vida do Santo, uma das mais terríveis fo i sem dúvida a seguinte.

Era o f im de Junho.

Achava-se o g^-ande Missionário a pregar a Divina Palavra em uma aldeia da Catalúnia.

No dia de São Pedro ao último Evangelho da Missa o Santo Missionário ia pregar à multidão que enchia a praça.

De repente arrnou-SJe perto medonha tempestade com i‘aios e trovões tais que o povo chorava de espanto.

Mas o grande Atleta do Senhor, S€m nem tirar' os paramentos da Misea, fe z com Água benta. um grande Si­nal da Cruz, sobre o ar e a furiosa tempestade mudou ime­diatamente de rumo, disSipand^se à distância (1 ).

Como o ar, o fogo fembem obedece ao Sinal da C ruz.

S. Tibureio, filho do Prefeito de Roma, é condenado a oferecer incenso aos idoIos, sob pena de ser obrigado a passar sobre uma fogueira.

O jovem M ártir fa z o Sinal da Cruz e sem hesitar ent1'31 pelo meio das brasas.

(1) Sparsit aquam sacratam, et deinde Crucis expressit signum. illico .tempestas dlssipatur ... saepissime ... ortas tempestates Crucis signo compescuit. (Vit., lib. DI.)

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De pé e descalço sobre o braseiro ardente, diz ele ao Juiz:

“ Renuncia agora teus erros e reconhece que não “ ha outro Deus além do nosso.“ Se a tanto te atreves, mete a mão em água ,a “ ferver, em nome de teu Júpiter; e ele, se é d e ^ "que faça com que não sintas a mais pequena dor. “ Quanto a mim, parece-me que passeio em pe- “ talas de rosas ( 1 ). ”

Sulpicio Severo nos refere como tendo sabido do pró­prio s. Martinho, o facto seguinte.

Certa noite pegou fogo ao quarto onde dormia o Tau- maturgo das Galias. i

Acordando em sobressalto, procura apagar as cha­mas devorando-lhe a roupa, mas todo o esforço é inútil.

De repente não trata mais de apagar o fogo, nem de salvar-se.

Cheio de confiança, faz o Sinal da Cruz.As chamas logu se dividem e fo ^ ^ a n um areo de de­

fesa para o salvamento. do Santo (2 ).

3

Deixa-me citar-te mais um facto da vida do grande Bispo.

Inimigo infatigável da idolatria, Martinho havia de­molido um templo muito notável e antigo.

(1) Act. S. Sebast.(2) Epict. I ad Euseb. presbyt., et vit S. Martini, llb. X.

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Perto havia um pinheiro enorme, objeto de supers­tição.

Quando estava para co^áslo, os p ^ ^ os se opuseramdizendo ao corajoso Bispo:

— "Tens tanta confiança no teu Deus?“Po is bem; nós mesmos cortaremos a arvore, se “ tu te conservares debaixo ' dela ao cair.” —

O Santo aceita a. condição.À vista de inumerável multidão, va i e permite fícar

do pési atados lá. no lugar para onde a árvorei.pendia.Medo mortal domina aos companheiros.Já meio cortada, a ^ v o r e começa a'mover-se . . .Antes de um minuto será o Bispo esmagado.Que fa z o Homem de Deus ?Soosegado levanta' a e faz o. Sinal da- Cruz.Imedia^mente a árvore . oomo que repelida por um

vento fortíssimo, vira-se e vai cair ao lado oposto.Da imensa multidão pagã quase não houve quem não

pedisse o Batismo ( 1).O acontecido Gallias, repete-se na Itália.O venerando Abade Honorato fundara o Mosteiro de

Fondi.Um dia viu de repente, na iminência de uma total

ruína aquele Asilo de paz, onde viviam duzentos Reli­giosos.

Lá do vértice da monta.nha em cuja raiz estava edi- ficado o Mosteiro, des^mha-se ^ rochedo enorme que vem es^magar tudo.

(1) Id. ubi supra.

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Honorato i n v ^ o Nome do Senhor, ertende a mão direita e' opõe ao rochedo um Sinal da Cruz.

O rochedo para imedia^mente e fica imóvel no flan­co da. monta^zã, na posição que até hoje lá conserva (1 ).

4

Do ocidente pas^mos ao oriente. Veremos que

— A força soberana do Sinal da Cruz não é' limitada, nem pela diferença dos climas, nem pelos graus- de latitude ou longitude — .

Escutemos S. Jerón^^o:

À morte de Juliano Apóstata seguiu-se um terremo­to universal que tirou os mares. de seusr limites.

Levadas pelas furias das ondas, subiam as embar­cações com(Jf vértices de montes.

Vendo aquelas massas aterradoras de água a difun­dir-se sobre a costa, os habitantes do Epidauro temem que a a.ldeia seja submergida como j.á outrora havia acon- ^cido e vão depressa buscar o Santo velho Hilarião.

Colocam-no à frente como se marchassem a um com­bate.

Chegando à praia, fa z ele em três lugares o Sinal da. Cruz sobre a areia e estendendo as mãos para o dilúvio que avança rugindo, d iz: — Respeita estes Sinais da.Redenção. —

(1) S. Greg., dia!., lib. I, c. I.

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E* quase incrível a que altura o mar então se entu- rnescendo cresce e assim se conserva rugindo diante detodos.

Depois de b r ^ i r por muito. tempo, roncos caverno­sos contra o ohstâculo temível que H i l^ ã o lhe opõe, pou- eo a pouco vai baixando e recolhendo suas vagas, sem ousar vencer o Sagrado Limite.

Epidauro e toda aquela redondeza até hoje ainda. pu­blicam este milagre.

As mães vão sempre narrando aos filhos tal gran­deza para que sua memória passe á posteridade (1 ).

Outro facto análogo, porém, mais recente.

O historiador francez, Mé2eray, refere, que 1196 obu- vas torrenciais fizerarn transbordar rios e lagos.

Dai resultaram inundações que p a r e c ia dilúvio.

Para suspender tal flagelo, recorreu-se às orações, -procissões e às, preces publicas.

Das Igrejas saiam Procissões de ponitência até aos campos.

E apenas. se fazia o Sinal da Cruz sobre as águas, elas se reti^^^^w a seu leito (2').

Figura da Cruz, a vara de Moisés pode separar as :águas do ^ a r vermelho e te-las suspensas como mon­tanhas.

(1) Qui cum tria crucis signa pinx^et in sabulo, manusque contra tenderet, incredibile dictu est In quantam altltudinem intumescens mare ante sterit, ac diu fremens et quasi ad obicem indignans, paulatim in semetipsum relapsum est. (Vit.S. HiL virs. fin.)

.(2) Hist. de France, t. H, p. 135,

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O Sinal da. Cruz rreolheJ a seu leito as águas trans­bordadas.

5

Voltemos tí. grandiosa Thebaida.Deixa-me contar-te outras maravilhas de que foram

autores aqueles angelicos solitários e o Sinal da C^^, o instrumento.

Juliano Sabas, o velho de cabelos brancos, atravessa a .árida solidão.

Esperava-o no caminho uma. enorme serPente.O , medonho animal lança sobre ele olhares de san­

gue, abre as largas, fauces e 31Vant;a para devorá-lo.

Sem sç amedrontar o Venerando Anacoreta afrouxa o passo e invoca o Nome do Se^^or.

Faz depois o Sinal da ^rnz e o monstro cai JMrto (1 ).Vamos mais lo^re-Marciano é um solitário da Síria.Estava fazendo oração à porta da cela, quando E usé-

bio, seu discípulo, viu um monstruoso reptil do lado do oriente, prestes a lançar-se sobre o Santo para devorá- lo. Espantado Eusébio da um grito para advertir seu mestre.

Marciano fa z o Sinal da soprando contra o ter- r lw l animal e viu o efeito da palavra prim itiva: — “ Es­tabelecerei guerra de morte entre sua raça e a tua. ” —

(1) At ego Dei nomem appelans, digitoque trophaeum Crucis ortendens, et omnem metum ex cusi, et beUuam extemplo comentem vidl. (Tbeodoret., Thelig, hist., c. 11.)

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O sopro que saiu da boca do Santo, como uma chama em forma de Cruz, mata. a serpente, queimando-a como se fora palha (1 ).

Apresentar longa série de factos ocorridos na­queles lugares cristãmente célebres, seria, fáciL Mas, pas­semos à Italia e lá veremos ^trupar maravilhas do mes­mo gênero.

A antiga Tiferne na Umbria, chama-se hoje — “ Citá di CasteUo” — .

Conhecido com o nome de — Padre de Tiferne — lá vivia Sto. Amancio.

Conforme nos diz S. Gregorio- Magno, as serpentes, ainda as mais terríveis e cruéis, ^ to podiam resisti-lo de nenh^um modo. .

Com o Sinal da Cruz quando as encontrava, ele as fe ­ria de morte.

refugiadas nhlgnm imra.co, ele fecha-va-as com o Sinal da Cruz e elas tin^ham que morrer.

Era o cumprimento da palavra dp Divino Mestre: — Eles matarão as serpentes. —

'Serpentes tollent (2 ) . ’

(1) ■ Digito Crucis signum expressit, et ore insufflans veteris ini- micitas patefecit; mox enim draco, spiritu orla veluti flamma quadam coneptus, exustae instar ^vndinis, in multas p artes d tolvi tur.

(2) In quolibit loco, quanvls immanissimae asperitatis serpentem repererit, mox. ut eum Signo Crueis signaverit, extingnit. CDialog., lib iii, c. ^ ^ ^ . )

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6

Tu sabes que depo-is daquelas palavras N^sso Se­nhor diz: — E se eles ^^berem alguma cousa. envenena­da, não sentirão o meoor mal.

“ E í sí moríi/^erum. çuid biberint, eis 'no-cebit".

E is algu^mas provas entre milhares.

Da cidade de Besra, na Idumea. era Bispo. S'. Julião.

P or odio à Religião, alguns habitantes notáveis qui­seram envenená-lo.

Subornaram o próprio creado do Bispo p ^ a isto.

O infeliz aceitou e recebeu deles a bebida envenenada.

Divinamente de tudo avisado o Santo diZ; ao creado:

— “ Vai, e, da minha parte convida para o meu jan­ta r de hoje os principais habitantes da cidade.”

Bem sabia que entre eles estáriam os culpados.

Todos ao convite acedem.

Num dado momento o Santo Homem, sem difamar ninguem, lhes diz eom doçura ev^^elica :

— “ V isto quererem en^venenar o humilde Julião, eis que diante de vós passo a beber o veneno. ”

Faz três vezes o Sinal da Cruz sobre o copo.

Depois dizendo:

— “ Eu te bebe em Nome do Padre, e do Filho e do Espirito Santo,” — bebe até a ultima gota, sem conse- quência. do menor mal.

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Seus in^úgos caem de joelhos a seus pés e lhe pe­dem perdão (1 ).

E ' necessário ser bacharel do século dezenove (2) para ignorar que novo Moisés, S. Bento, o Patriarca dos Monjes no ocidente, é um. Homem cuja vida deve ser co­nhecida de todos.

Não será pois a ele el a seus filhos que a Europa deve o trabalho de te-la tirado da mão' dos bárbaros?

Mostrai-me uma charneca material ou moral que o Beneditino não tenha arroteado?

Um principio civilizador que ele não tenha cultivado e praticado?

E sabe Deus, à custa de que esforços !

Sabemos que Satanás, qual velho Faraó, não poupou meio nenhum .para impedir a: obra libertadora dos Monges.

Bento se havia retirado para a solidão.Gente muito indi^sa va i lá procura-lo e pede-lhe

tome debaixo de sua conduta.

O Santo os r ^ b a impée-lhes ' uma Regra e empe­nha-se com exemplos e com palavras a submete-los ao jugo da disciplina.

Inúteis todos os esforços!

(1) Voce mltissima omníbus dixit: Si arbitramini humilem Julía- num veneno occidere, ecce coram vobis pertiterum Calicem blbe; signansque ter digito suo calicem, et dicens: In no mine Patris, et FUii et Espirltus Sancti, bibo hunc ealicem, diblt illum coram omnibus totum, atque illaesus prestitit. Quod ilud cum vidissent, prostrati ven^m petiere (Sophron., in Prat. Spir.)

(2) E também do século vinte.

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Os exemplos do ^m to Abade ferem-lhes o orgulho e as palavras. provocam-lhes cólera e ódio.

Tomam afinal a resolução de envenenar o ^venerando Superior.

Lançam veneno em um copo de vinho e apresentam- lhe à mesa.

Segundo o uso cristão, Bento estende a mão e faz. o Sinal da ^Cruz antes de tomâ-1o. Na ^mesmo hora o copo envenenado estala. em ped^aços como se houvera sofrido o choque de uma pedra.

Conheceu o Santo que lhe haviam apresentado uma taça que continha a. morte, mas não pode resistir ao Sinal da Cruz (1 ).

Por estes poucos exemplos e por m il outl'IOS, estás vendo, meu caro amigo, quão poderosa oração é o Sinal da Cruz.

De quantas. g^raças nos enriquece ele e: de quantos pe­rigo.:! preserva noosa frág il existência! . . .

Passemos a uma nova aplicação do SinaL da Cruz. Em França, Espanha, Itália e julgo que em todos os

países, os Catêlicos costumam fazer o Sinal da Cruz quan­do troveja ou relampagueia.

(1) Extenn manu Benedictus signum Cruels editit, et vvas quod longius tenebatur eodem signo rupit, sicque confractum est, ae si in ilo vase mortis pro cruce lapidem dedisaet. Intel- lexit protinus vir Dei quia mortis habuerat, quod portare non potuit- slgnum vitae. (S. _ Greg., Dialog., lib. Il, c. III.)

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Os modernos sabichões ialo por fraqu^ê-

Acham que os verdadeiros Católicos dos dezoitos sé- '. cuJos que nos precedem, todos tenham sido uns espíritos fracos ou mulheres pobrezinhas, cheios de superstição.

Ora, tanto neste como em qualquer outro momento de perigo sabemos que o Sinal dia. Cruz é empregado pe­los Cristãos do oriente e do,ocidente? e isto desde. os pri­meiros tempos da Igreja . '

Sto. Efrem, Sto. Agostinho, S. Gregorio' de Tours e mil outras testemunhas o ates^m.

— “ Se de repente, diz; o Santo ' Diácono de Edes- “ sa, o relampago raSga a nuvem e o trovão “ rompe com estrondo, os homens têm medo, e to-. “ dos, horrorizados, se inclinam, para a terra per- “ signando-se ( 1) . ”

Falando dos que freqüentem assembleias mundanas, acrescenta Sto. Agostiuho:

— “ Se por acaso alguma cousa. lhes faz medo, “ fazem logo o Sinal da Cruz.” (2 )

S. Gregorio jrefere como público e notório que, debai­xo da impressão de um susto e à vista. de um perigo qual-

(1) Si repente fulgor aliquod vel tonitruum clarlus ac vactitts contingat, omnem subito sui formidine perterret hominem, cunctique horrore percuss! in terram nos inclinantus. (Sertn. de Cruce.) O Santo fala do Sinal da Cruz; é evidente que o faziam hestas circunstâncias, pois não deixavam de faze-lo a cada instante nos atos mais ordinários.

(2) Si forte aliqua ex causa: espavescant, continuo se signant. (Lib. I, Homil., homil 21.)

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quer, os Cristãos reconem logo ao Sinal da Cruz e não o fazem sem resultado.

Entre muitos o seg1!inte facto é u ^ prova'Dois homens seguiam jornada de Genebra para Lau-

sana.'De repente' rompe uma violenta tempestade acompa­

nhada de vivos relâmpagos e amiudados trovões.Segundo o costume tradicional dos Cristãos, um de­

les faz logo o Sinal da Cruz.O o^tro e^^^ecendo lhe diz: _— Que b o^^m s são eosaz? Deixa-te de supersti­

ções! Isso é cousa de mulber.velha. Semelhantes. momices até des.honram a. Religião. Isso sãd coisas indignas de um ho^em esclarecido. — ■: • • Mal havia pronunciado estas palavras, que — ferido por um raio — caiu morto' aos pés do companheiro.

O -que havia vido protegido pelo Sinal da Cruz, pros­segue com felieidade o ^caminho, referindo em toda a p^arte o que havia ^ n te c id o (1 ),

8

O Sinal da protege não só a nossa vida mas tudo quanto nos pé^rtence.' .« . ^ a l o ^ catélico de benzer com o Sinal libertodor, a$ casas, campos, frutos, animais e tOdas as cousas de próprio uso.

*' Os católicos,.' d i« o gravè Stuckins, têm orações, "acompanhadas do Sinal da Cruz, para todas as

(1) Tilman; CoUect. dos S. S, Padres., lib. Vn, c. LVDI.

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“ creaturas em particular: àgua.., folhas, flores, “ cordeiro pascal, leite/ mel, queijio, pão, legu- “ mes, aves, vinho, ^ i t e , vaúlhames e utensí-“ lios todos.“ Em cada uma .dessas formuJas de preços e “ çãos pedem expressamente a Deus a sa.úde do “ corpo e da Alma e que seja para bem longe ar- “ redada a força malfazeja. do demonio,.“ Nas festas de :Rá.scoa benzem o leite, o a “ carne, os ovos, o pão, e. mais coisas que o ho-- “ mem. costuma ter e ^m rdar para uso como sau- “ dáveis à vida.“ N o dia da Assunção benzem as ervas, as plan- “ tas, as raízes e as frutas,. p ^ a comunicar-lhes “ medicinal virtude divina. •“ No dia de |8'. João benzem'o vinho; sem isto ele “ é considerado impuro e possuído de cerro prin- “ cípio de males."'Dia de Sto. Estevão benzem os parros e no de “‘S. Marcos os trigais.“ Seguem nisto o preceito de S. Paulo que ordena “ aos Fiéis o benzer quanto é preciso para a v i- “ da e o dar ^graças a Deus (1 ) ” .

Livres da influência do demonio, as ereaturas pas­sam a ser instrumentos úteis eom que a. bondade do Crea- dor nos favorece!

Graças pois ao Sinal da Cruz!

(1) Cujus sane rei a theologis, et quidem optimae, grav^isae- que rationes afferuntur. (Antiq. convivial. lib. H, e. p. 430.)

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Em S. Gregório de Tours lê-se que uma pestilencial moléstia deu de fazer tantos estragos em certos animais. que pouco faltou para se acreditar que tais espécies iriam desa.parecer inteiramente.

À vista daquela mortondade, uns habitantes do acam­po foram à Basilica. de S. Martinho pedir azeite da i m ­pada e Agua Benta.

Fizeram com aquilo o Sinal da. Cruz sobre a ' cabeça . d'Os animais ainda sãos e não foram atacados da peste. Deram a beber daquilo aos que estavam quase à morte »■ ficaram curados.

Esta é a ver^ide. (1 ).Mais um.

último exemplo que hoje te eu conto do poder pro-- tetor do Sinal da Cruz.

S. Gennano, Bispo de Paris, ia indo a.o encontro das: Relíquias do M artir S. Sinfroniano.

Ao passar por uma aldeia, os habitantes vieram po-- dir-lhe que tivesse compaixão de uma pobre viuva cujo. pequeno campo de trigo estava sendo estragado pelos ursos.

"Vinde ver a roça da pobre Panicia; e à vossa "presença os animais ^minhos fugirão.

Ap^sãr da o^isição dos companheiros, o Santo vai ao sítio, reza e faz o Sinal da Cruz sobre a pequena her­dade.

(1) Mox dieto eitius clandestina peste propulsa, pecora liberata sunt. (Lib. III, Miracul. S. Mart., e. XV^H.)

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aparecem a li dois ursos.

Ao se avistarem f i c ^ enfurecidos e se atracam.

Um morre na. luta; o outro, já ibem ferido, ficou mor­to por uma lança (1 ).

Por hoje é só.

Se Deus quiser,até a^manhã.

Adeus.

(l) Fortunat., In vit. S. Genn.

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D É C IM A Q U I N T A C A R T A

Paris, 10 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Respostas a umo questão. — 2. O Sinal

da renoca ho;e seus antigos mila­gres. — 3. A uida é uma lute. — 4. Satanaz existe? . 5. O Sinol da Cruzé a arma especial, a arma de predsão, contra os Anjos maus on demônios. —6. Primeiro tribunal. — 7. Segundo tri­bunal. — 8. EX1)eriéncias.

I

Caro Amigo,

Se comunicares a teus condiscípulos a minha carta passada, é provável que eles te digam: ,

— Se o Sinal da Cruz é tão poderoso como dízeis, ^ ^ u e não faz ele hoje o que então fazia? —

Muitas são as respostas já dadas a esta pergunta.A primeira é dada per S. Agostinho.Falando dos milagres, o Santo Doutor faz wna ob-

seirva.ç.ão mui justa.. '■

Diz e le :

“ Os milagres, referidos no cânon dos livros san- “ tos, têm grande publicidade. Lendo- ou ouvindo

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“ ler a Escritura, ninguém- os ignora. E assim “ devia ser, porque são as. provas. de nossa Fé. ‘ ‘Ainda hoje se fazem milagres em nome de Nos- “ so Senhor, pelos Sac^^entos, pelas orações e “ pelos túmulos dos Santos; deles porém não ha “ tanta ^loticia como dos' primeiros. São apenas “ conhecidos nos lugares onde são operados e, se “ a cidade é grande mais difícil é chegarem ao “ conhecimento de todos. Mesmo que só pouca “ gente disso tenha- conhecimento eles acontecem. “ Quando sã-o contados em outro lugar e às ouitras “ pessoas, a autoridade de quem os conta não é ‘‘ sempre tal que sejam acreditados sem dificul- “ dade ou hesitação, posto que sejam referidos ‘‘por Cristãos a outros Cristãos. (1 ) ”

Gomo prova o Santo refere muitos milagres operados à sua vista, e alguns por m'eio dto , S'ínal da Gruz.

Porque teus condiscípulos ou outras. pessoas nao co­nhecem os milagres de hoje, não se segue que não existam.

A esta primeira resposta segue-se naturalmente uma outra.

. E ' de um outro Doutor igualmente grande, o Papa S. Gregório, que fa z distinção entre tempos antigos e os modernos.

(1) Nam plerumque. etiarn ibi paucissimi sciunt, ignorantibua cocteris, maxime si magna sit civitas; et quando alibi aliis- que narrantur, non tante ea comrnendat aüctoritas, ut sine dificultate vel dubitatione credantur, quamvis- chrictianis fide- libus indicantur.(De Civ. Dei, lib. XVII, c. VIIIJ

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D iz ele;

“ Os mflagres foram necessários nos princípios “ da Igreja. Era por eles que a Fé dos povos' de- “ via firmar-se. Quando plantamos uma árvore, “‘ regamo-la até ganhar raiz; e, q^mdo' disto es- “ tamos certos, cessa a irrigação. Por isao diz o “ Apostolo: — O dom das línguas é um sinal, “ não para os Fiéis, mas para os infiéis ( l ) . Dá­"* se na cultura moral o que se dá na material. Ho»! “ je, que o Cristianismo ganhou raízes nas entra- “ nhas do mundo, os milagres não são tão neces- “ sários como no momento da divina plantação. “ J;á Sto. Agostinho dizia ha quinhentos anos: “ — Hoje constituiria o maior dos prodígios, a. “ pessoa," que, para acreditar, exigisse . prodí- *‘gios (2 ) . "

2

Coloca, meu caro, o mundo por' um instante nas con- ^dições em que se acha,va ao nascimento da Igreja, e ve-

o Sinal da Cruz ainda renova seus antigos ' mila-

Ouve a historia contemporânea.Escreve um dos nossos Bispos missionários:

. (1) Hinc est enim quod Paulus: Linguae in signum sunt, non ' fidelibus sed infidelibus. (Homll. ^XIX, in Evang.) '

(2) Cur, inquiunt, nunc illa miracula, quae praedicatis facta . esse, non fiunt? Possem quidem dicere necessaria fuisse, priusquam crederet mundus, ad hoc: ut crederet mundus. QuisqUe adhuc prodigia, ut credat inquirit, magnum eet ipse prodigi^n qui mimdo credente no credit; ' (Ubi ■ supra.)

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“ Podereis- ãcreditã-lo? Converteram-se dez “ atdeias. E o diabo furioso - descarrega seus“ golpes. AparecerBjm Ciinoo ou seis possessos “ durante os quinze dias de preg^ações. Os Ca- “ tec'lmenos oom Agua-benta e com o Sinal da “ Cruz expulsam os demonios e curam as doen- “ ças. V i coisas maravilho^sas. Satanás serviu- “ me de grande auxílio para converter os pagãos. “ Como no tem^po de-Nosso Senhor, o pai da men- “ tira ^ io pôde deixar de dizer a verdade. E ' um “ pobre possesso que fazendo mil contorsõea diz “ em altos gritos: — . Porque pregas a' Verdadeira “ Religião? Não posso admitir que me roubes "meus discípulos. — Comq te chamas? — per- “ gunta-lhe o Exorcista. D^^^eis de algumas re- '‘ cusas, responde: — Eu sou o enviado de Lúci- “ fer. — Quantos sois? Som^os vinte e dois.“ A Agua-benta e o Sinal da Cruz curaram este “ possesoo ( 1) • ”

Mas ainda que se admita aquilo que eu nunca admi­tirei, isto .é, que o Sinal da Cruz jál. não fa z m ilagres no meio dos povos cristãos, este Sinal não vem revelando sua força, por efeitos. sobrehumanos a cada hora dOt dia e da noite, em todos lugares da terra cristã?

Supoo se o quiseres uns cem milhões de tentações ao d ia ; pois ficarás bem certo de que mais de três quartos

(1) Carta de Mgr. Anauilh, Bispo de Abydor, missionário na China. — Tching-Ting-Fou, provincia de Pekin, 12 de Março de 1862.

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desea quantia são tenmções disai^das e vencidas pelo. Sinal da

Quem há que nSo tenha experimentado isto em si: ^ ^ m o ?

Daqui; lembrando-te do que tu e n6s ' outros fazemos- podellás calcular o poder pe^rmanente e universal do S’i- nal li^ ^ a d o r .

Vou! ainda mais longe e admito mesmo que o Sinal daot Cruz não sirva mais sempre pata afugentar os pensa-- mentos importunos, dissipar os encantos sedutores e sus­ter a Alma no declive do abismo.

Mas. . . a que é devida esta falta?

Não será à pouca Fé dos C ris tos de nossos dias?

Não será nec:l!E"Sário dizer da imfioácia. do Sinal da Cruz o que se diz com razão da inutilidade da Comu­nhão para tanta gente?

O defeito não está no alimento, mas na indisposição' da-quele que o come.

“ Defectus non in ci^o est, sed in edentis dis-- “ positione. ”

3

Desejoso de remediar a fa lta de Fé que empobrece- e ^ ^ im a hoje os Cristãos, foi que empreendi esta, cor­respondência e vou continuá-la.

demons^trar que o Sinal da Cruz goza de- um novo título para despertar a confiança dos Católicos_

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— SOLDADOS, O S IN A L D A CRUZ É UM A A R ­MA QUE D ISS IPA O IN IM IG O . —

Hlá mais de dois mil anos que Job difiniu a vida hu­mana chamando-a de u ^ lute incessante.

"M ilitia est, vita, homiin:i8 super íerram.’

Passaram os séculos, sucederam gerações a gerações, novos impérios substituíram outros, vinte vezes se tem renovado a face da terra, e a defini^lo de Job ainda é hoje muito verdadeira.

A vida é1 de facto uma lutá, para mim, para. ti, para teus condiscípulos.

Luta para o rico e para o pobre; luta a cada instan­te do dia e da noite; luta na saúde; .luta na doença; luta que Principia no berço para acabar no túmulo.

Luta decisiva.Da vitória ou da dierrota depende a nossa eterna

felicid^^e ou eterna. desgr^a.Tal é, meu caro. amigo, a.condição. do Homem sobre

a terra.Nisto não podemos fazer a menor alteração.E quem são os inimigos?Ah ! quem não os conhece? Quer pelo nome, quer

pelos ataques,

— Mundo, demónio e ca.:rne —

Três formidáveis potências empenhadas em nos •perder.

Só me ocuparei do segundo, porque não tenciono ■fazer-te um curso de ascetismo.

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4

É certo que Deus existe.Pois também é certo que ha demónios’. Ambas são verdades reveladas.Voltaire dizia com razão :

— “ Pas de Satan, pas' de Dieti —

Se Satanás não houvesse, como teria havido a que- ' da dos Anjos, a queda do Homem?

E a Redenção?E o Cristianismo?Tudo era uma farsa.E Deus que é a Verdade como havia de existir na

mentira ?

Bem sabemos que os demónios são Anjos decaídos, isto é, Anjos que se tornaram ^ u s .

Na inteligência, na força e na agilidade, já por na­tureza os demónios são superiores ao Homem.

O número deles é incalculável.

Habitam o inferno. Mas a atmosfera que nos ro­deia é acampo deles até ao juízo final.

Porque nós os filhos de Adão somos chamados à f&- licidade que eles perderam, ralados de inveja diu e noite eles s6 se ocupam em a^nar ciladas e laços contra n6s, em fomentar pa^^es, em nos crear situações perigosas -em obscu^recer-nos a F é ; embotar em nós os sentimentos morais, e nos sufocam os remorsos.

Querem nos tornar cúmplices de sua revolta, para lhes sermos companheiros no suplício.

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Todas estas eoísias são verdades que Deus mesmo nos revelou e que nós devemos crer como cremos na existencia de Deus.

Pelo pecado, os demônios ficam sendo nossos tira­nos como também o são das creaturas sujeitas ao nosso domínio.

Vencido o Rei, ao vencedor pertence o reino.Espalhados por toda a creação e podendo influen­

ciar em cada uma das creaturas emi particular, tudo eles infestam de sua maligna influência.

Todo o poder que por natureza de Anjos des têm, convertem-no em instrumento de ódio contra a Alma e o corpo do Homem.

Isto também é um Dogma de Fé universal.Quem ignora estas cousas não sabe nada; quem dis­

to duvida, sabe ainda menos que nada; e quem tais ver­dades quiser negar, não deve mais ser contado no rol dos seres inteligentes.

Conceberás como coisa possível que a Sabedoria Di­vina houvesse deixado o Homem sem meios de defesa numa luta desta?

Gomo se compreende que dois mais dois fazem qua­tro ccmpreende-se que Deus, para equilibrar a luta dera aa Homem uma arma poderosa, universal, sempre à mão e ao alcance de todos.

Mas qual será esta arma?Interroguemos todos os séculos, especialmente os

cristãos, e todos respondem a yoz unânime:

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— Esta arma é o Sinal da Cruz.

E o uso constante que dele têm feito confirma a resposta.

Este ponto de vista é um como farol que ilumina toda a história do Sinal adonável.

Dá a razão de sua existência, justifica em alto grau a conduta dos primeiros Cristãos e igualmente condena a conduta dos modernos que se descuidam de o fazer.

0 Sinal da Cruz é a arma especial, a arma de pre­cisão, contra Satanás,, e todos os Anjos maus.

Sabes dizer-me de que modo se procede, quando se pretende conhecer o valor de uma peça de artilharia, de uma espingarda ou de outra arma de nova invenção?

Não se confia s6 no inventor.A autoridade nomeia uma comisisâo.A arma é experimentada à vista de juizes compo-

tentes e as esperiências ó que decidem do mérito e valor delas.

Seja pois o mesmo para o Sinal da Cruz.Somente lembra-te de que o Sinal da Cruz não é uma

arma fabricada de novo.E’ velha, muito velha.Mas, neml por isso está enferrujada, enfraquecida

ou fora de usa.Quanto ao juri de exame, está formado ha muito

tempo, e não deixa nada a desejar.£ composto de Homens os mais competentes do ori­

ente e do ocidente; homens especiais, que de antigos tem­pos conhecem esta arma, sabem-lhe o emprego teórica e praticamente.

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6Eis O' tribunal: ouve sua decisão.Temos que acreditar na bondade do Sinal da Cruz

e na força desta arma divina contra os nossos inimigos, pois o primeiro Juiz assim se exprime:

— Nunca sairás de tua casa, sem que faças o “ Sinal da Crus,“ Ele será para ti bordão, arma e torre inexpug- “nável. Nem bomem, nem demónio, ousará ata- “car-te coberto de tal armadura. Â ti mesmo “este Sinal dirá que tu és um Soldado pronto a “combater contra o demónio e a lutar pela co- “roa da Justiça.“ Ignoras, porventura, o que a Cruz tem feito? “Pois venceu a morte, destruiu o pecado, esva- “ ziou o inferno, destronou a Satanás e ressus- “citou o universo. E duvidarás ainda de seu “poder (1)?

E’ São João Crisóstomo que o diz,Do segundo Juiz são estas palavras.

“0 Sinal da Cruz é a armadura invencível dos “Cristãos. Esta armadura que te não falte ó “ Soldado de Cristo, nem de dia nem de noite, nem “um só instante, seja qual for o logar em que “te aches.

(1) Sed cum es januae vestibula transgressurus... cruem In fronte imprime. Ignoras quanta crux perfecit? Mortem dis- solvit; peccatum extinvit; orcum inanem reddidit; diaboli solvit potentiam... totum orbem exsascitavit; et tu in ipsa non cottfidia. (S. Crys., HomiL XXII, ad popuL Antloch.)

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“Quer durmas, iquer vigies, quer trabalhes, quer- “comas, quer bebas, quer navegues, quer atra- “vesses rios, sempre andarás revestido desta “couraça.“Orna e protege teus membros com este Sinal “vencedor e nada te poderá fazer mal.“ Contra as setas do inimigo, nâo bá escudo mais. “poderoso.“A vista deste Sinal, trêmulas e aterradas fugi- “ râo as potências infernais (1).”

E* de Santo Efrena.Acreditou no Sinal da Cruz o terceiro Juiz que faz;

aos Cristãos e a si proprio a seguinte recomendação:

“Façamos o Sinal da Cruz com plena confiança,. “e com audacia.“Ao vê-lo os demonios lembram-se do Crucifi- “cado e fogem' e escondem-se e deixam-nos (2).”

São palavras do grande São Cirilo, no Catecismo que- escrevera.

(1) Armetnur insuperabilihac christianorum armatura... hac te- lorica circumtege, membraque tua omnia salutari signo exorna, atque circunisepl, et non accedent ad te mala. Sunt enim véhementer contraria tellis inimici. Hoc signo conspecto ad- versariae potestates conterritae trementes que recedunt. (S. Eph. de Panoplia ot de poenitem., apud Gretzer p. 580, 581 e 642.) -

(2) Hoc signum ostendamus audactez. quando enim doemoner: viderint, recordantur crucilixi... effugat dacmones, declinant,.. recedtmt (S. CyriU., Catecfa., XIII.)

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E que nos diz o quarto Juiz?“Levemos traçada sobre nossa fronte o imortal “Estandarte."Sua vista faz tremer os demônios. Eles, que “não temem os doirados capitólios, têm medo da “ Cruz (1 ).”

Orígenes — Homilia VII sobre tópicos do Evangelho.Assim julga o oriente pelo orgão de seus maiores Ho­

mens: S. Crisóstomo, S. Efrem, S. Cirilo de Jerusalem o Orígenes, aos quais seria íá,cil juntar outros nomes igualmente respeitáveis.

Ouçamos o ocidente. ‘

Sta Agostinho dizia aos catecumenos:

“El com o Credo e com o Sinal da Cruz que é ne- “oessário correr o inimigo. Revestido destas ar- “mas, o Cristão sem dificuldade triunfará do an- “tigo e soberbo tirano. A Cruz basta para des- “ fazer todas as maquinações do espírito das tre­la s (2 ).”

(1) Immortale vexlUum protemus In frontibus nostris, quod, cxim daemones viderint, contremiscent; qui aurata capitolia non timent, Crucem timent. (Orig., Homil., VII, in divers Evang. Locis.)

<2) Noverint cum Symboli sacramento et Crucis vexillo ei de- ■ bere occurri ut talibus armis indutus, facile vincat christia-

nus, de cujus oppressio male antea triumphaverat nequissi- mus. (lib. de Symb., c. L)

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Seu ilustre contemporâneo, S. Jerónimo, escreve:

“O Sinal da Cruz é um escudo, que nos píie a “coberto das frechas inflamadas do demd-“ liiO ( 1 ) . ”

Em outra parte:

“Fazei iwuitas'vezes o Sinal da Cruz sobre á “fronte para que não sejais dominados pelo ex-“terminador do Egito (2 ).’

E Latancio diz:

“Quem quizer conhecer a força do Sinal da Cruz. “ s6 tem a notar quanto ele é temível para oa de- “monios. Esconjurados em Nome de Jesus Cris- “ to, é oi Sinal da Cruz que os faz sair do corpo “dos possessos- E que hi nisto de espantoso? “ Quando o Filho de Deus vivia sobre a terra, “com uma só palavra afugentava os demonios, “e dava sossego e saúde às desgraçadas vitimas “dela,“Hoje são os discípulos que expulsam os mesmos “ eepíritos imundos em Nome do Divino Mestre, “e pelo Sinal da Sagrada Paixão (8 ).”

(1) Scutum fidei, in quo ignitae diabuli exünguuntur sagittae. (Ep. XVni, ad Existoch.) ^ .

(2) Crebre signaculo crucia munias frontem \tuam, ne ésctermi- nator AEgypti in te locum reperlat (Epist. 97 ad^Demetriad.)

(3) Ita nunc sectatores ejus eosdem spiritus inqijunatòs de homi- nibus et nomine Magistri sui et signo Passionis'excludunt. (lib. IV. c. XXVIL) ‘

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Falaram o oriente e o ocidente.Os Juizes mais competentes proclamam o Sinal da

Cruz como excelente e especial arma contra o demônio.Experiências, incalculáveis em número, servem-Dies

de base ao Juízo.Nos primeiros séculos da Igreja as experiências re­

petiam-se todos os dias e em todos os lugares da terra,, na na presença dos Cristãos é dos pagãos.

E eram a tal ponto concludentes que uma testemu­nha ocular, 0 grande Atanasio, dizia sem receio de ser desmentido;

“O Sinal da Cruz torna impotentes todos os ar- “ tifícios da magia, ineficazes todos os encantos, “ e ao abandono todos os Ídolos.“Por elè è moderado, abatido, extinto o fogo da “voluptuosidade mais brutal; e a Alma, curva- “ da para a terra,'levanta-se para o Céo. “ Outrora os demônios enganavam os homens, to- “mando diferentes formas; postados à beira das “fontes e dos rios, nos bosques e nos rochedos, “ surpreendiam por artifidosos enganos aos in- “ sensatos mortais.“ Mas, depois da vinda do Verbo Divino, hasta o “Sinal da Cruz pará desmascará-los todos.“ Quer alguem a prom do que digo?“Não tem mais que colocar-se no meio dos artí- “ fícioa dos demônios, das imposturas dos ôrácu- “ los e dos embustes da magia e, feito o Sinal da “ Cruz, verá como por virtude dele fogem os de-

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“inónios, calam-se os oráculos e se tornam im- “ potentes todos os encantoa e malefícios (1 ).”

8

Vou citar-te algumas daquelas experiências. Latancio, mestre do filho de Constantino e que me­

lhor que ninguémi conhecia os segredos da côrte imperial, refere o seguinte:

“ Estava no oriente o imperador Maximino, mui “curioso crutador de coisas futuras. Imolava um “dia vítimas, em cujas entranhas procurava co- “nhecer os segredos do futuro. Alguns de seus “guardas, que eram Cristãos, fizeram sobre a “fronte o Sinal imortal, immortale signum, e lo- “go fogem os demônios, e o sacrifício fica mu- “ do (2 ).”

Se, à vista do Sinal da Cruz, o demónio é obrigado a fugir de seus antros, como se conservará ele em outros lugares?

Escutemos um dos mais graves doutores do oriente S. Gregório de Nissa.

E’ na vida do outro S- Gregório, o Taumaturgo, cha­mado 0 Moisés da Armênia, que o ilustre, historiador re­fere o seguinte:

( I ) Signo Crucis omnia magica compescentur, veneficia ineffi- câcia fiunt, idolá universa relinquuntur, (Lib. de Incarnat. Verb.) , .

<2) Que facto fugatis daemonibus» sacra turbata sunt. (Lactant., De mortib, persecunt., c. X.)

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“ O Diácono Tróade, chega um dia a Neocesaréa. “ Fatigado da viagem quis hanhar-se e dirige-se “aos banhos púhlíoos. Aquele lugar estava então “dominado por um demónio homicida, que ma- “ tava a quantos ousassem ali entrar dês que “apontassem as stmibras da noite. Eis porque “ao por do sol eram, logo fechadas as* termas. “Apresenta-se o Diácono, e pede lhe seja aber- “ to. O guarda do estabelecimento o adverte di- “zendo; — “Podereis acreditar-me? Quem ou- “ sa entrar aqui a esta hora, nâo sai por seus “ pés.“A noite, o demónio é senhor disto; e muitas des- "graças têm pago sua temeridade com gritos de “ dor e com a morte!”“A nada disto atende Tróade e insiste em que “ lhe sejam abertas as portas.“ Diante de tamanha insistência, o guarda dos “banhos deu-lhe as chaves e para ressalvar sua “ responsabilidade fugiu.“Entra o Drácono só e começa a despir-se na pri- “meira sala,“De repente, rompem de todos os lados objetos “de horror e espanto: espectros variados, meta- “ de fogo e ntetade fumo; figuras de homens e de “animais se oferecem a seus olhos, assobiam a “ seus ouvidos, infectam^no de seu hálito e o “envolvem nuinl círculo impossível de rompes, “Sem impressionar-se o Diácono faz o Sinal da “ Cruz, invoca o Nome do Senhor e vai seguindo “ são e salvo.

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“Entra na sala do banho e cai no meio de um es- “petáculo mais horrível.“O demónio se lhe apresenta de uma forma ca- “paz de o matar de mjedo. A terra treme, as pa- “ redes estalam e rangem, a sala abre-se a meio “ e debaixo de seus pés vê o Diácono uma forna- “ Iha ardente cujas centelhas lhe saltam ao rosto. “Recorre ainda ao Sinal da Cruz e ao Nome do “Senhor e tudo desaparece.“Tomado o banho, vai sais, mas, o demónio “ lhe havia impedido a passagem fechando-lhe a “ porta. Faz o Sinal da Cruz, e as portas se “abrem de par em par.“A saída, diz o demónio ao corajoso Diácono em “voz humana: humama, voce\ —> Não atribuas à “tua virtude o teres escapado à morte; tu o de- “ves Aquele cujo Nome invocaste com o inven- “cível SinaL“Tróade aparecendo salvo, foi causa de muita “admiração para o homení dos banhos e por “quantos deste facto tiveram conhecimen- “to (1 )“.

O facto que acabas de les, mei caro Frederico, não é único: faz parte de uma grande seleção de outros seme­lhantes, atestados por mais testemunhas nos tempos, pas­sados e reproduzidas em nosso dia entre o povos idólatras.

Roma f<» disso moitas vezes testemunha.

“Quando os pagãos, diz ele, sacrificam a seus “deusea, se algum dos assistentes marca sua fron-

<1) V it B. Greg. Inter. oper. Njrss.

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“ te com o Sinal da Cruz, o sacrifício inutiliza-se; “porque o oráculo não responde. Por esta cau- “sa foi que maus Imperadores, várias- vezes, per- “ seguiram os Cristãos. Acompanhando-os aos “ sacrifícios, alguns dos nossos faziam o Sinal “da Cruz; e, assim afugentados os dèmónios nâo “ podiam marcar nas entranhas das vítimas as “ respostas esperadas.”

Quando os arúspices (1) chegavam a perceber isto, instigados pelos demônios, aos quais ofereciam sacrifí­cios lamentavam a assistência dos profanos; e os Impe- rantes, enfurecidos, perseguiam a todo o transe o Cris­tianismo. (2) .

Na próxima carta, se Deus quiser, encontrarás ou­tros factos. ■

Adeus,

(1) Aruspices — ministros da religião pagã entre os Romanos, que consultavam as entranhas das vitimas para predizer o futuro.

(2) Cum enim quidãm nostrorum, sacrificantibus dominis assis- terent, imposito frontibus signo, deos eorum pugaverunt, ne possent in visceribus hostiarum futura depingere. (Lact., lib. IV. c. XV II.)

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DÉCIMA SEXTA CARTA

Paris, 11 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. ü Sinal da Cruz despedaça oa ídolos. ^

2. O Sinal da Cruz expulsa os demônios.— 3. Os exorcismos, — 4. Inutiliza os ataques diretos dos demônios. — 5. Intt* tiliza também os indiretos. Tôdas as crea­turas sujeitas ao demônio lhe servem de insíTtimento para nos jazerem mal. — O Sinal da Cruz impede-os em sua ação nociva contra nosso corpo e nossa Alma.— Profunda filosofia dos primeiros Cris^ tãos. — Uso, que faziam do Sinal da Cruz.— Quadro por S. Crisóstomo. — 6. Duos grandes Verdades. — 7. Para-raio e Mo-- numento.

Caro Frederico,

0 poder do Sinal da Cruz é bem mais extenso que o de satanás.

Havendo o usurpador infernal se apoderado de todas as partes da creaçSo, o I-egitimo Proprietário delas deve, além de expulsá-lo, dar meios de defesa ao que deu o di­reito de possuí-las.

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0 Sinal da Cruz não só impede que os demônios fa­lem; mas obriga-os a fugir dosi lugares que habitam, e os expulsa dos possessos.

Êm apoio destas verdades, vou relatar-te alguns fa­tos entre milhares; e todos por si evidentes.

Governava os povos o Imperador Antonio.0 césar filósofo perseguia cruelmente os Fiéis.Ronm estava cheia de ídolos. Ao pé deles eram ar­

rastados nossos avós para lá serehi forçados a oferecer- lhes incenso,

Uma de nossas irmãs, aparecia diante do Prefeito da Cidade imperial.

“Vamos Glicéria, lhe diz eJe. Toma este facho e “ sacrifica a Júpiter.«— Não; dele não farèi uso. Eu só sacrifico ao “Deus Eterno; e, para isso não careço de fachoa “que fumegam. Miandal apagá-los para que meu “ sacrifício seja a Êle agradável.“ 0 governador dá ordens e os fachos são apa- “ gados.

Então a casta e nobre Virgem levanta os olhos ao Céu, estende a mão para o povo q diz:

— “Olhai para o facho brilhante que é gravado “em minha fronte.“E a tais. palavras, fazendo o Sinal da Cruz, “ acrescentar— “ Deus Omnipotente, para que vossos servos “ sejami glorificados pelo Sinal da Cruz, despeda- “ çai este ídolo que é obra das mãos do homem.”—

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Imediatamente! rebrama forte um trovão e Júpiter de mármore cai reduzido a pedaços (1).

Lê-se o mesmo de S. Procópio mártir no reinado de Deocleciano.

El levado diante doa ídolos.De pé e voltado para o oriente, o glorioso atleta faz

o Sinal da Cruz sobre todo o corpo, levanta os olhos para o Céu 0 diz :

“Senhor Jesus Cristo, eui Vos adoro!**Depois diz às estátuas de ídolos:

“Figuras imundas, em Nome de meu Deus eu “vos ordeno — resolvei-vos em agua e derramai- ‘vos neste templo.” —

Fez sobre elas o Sinal da Cruz e logo se desfizeram em água que escorria pelo châo (2).

Em virtude do SinaLda Cruz, os demônios são igual­mente obrigados a deixar os corpos dos desgraçados pos­sessos.

Os factos são inúmeros e atestados por irrecusáveis testemunhas.

Venha primeiro que todos, S. Gregório, um dos. maio­res Papas que governaram'o mundo católico.

(1) Baron., t. II.(2) Vobis, inquit, dico imundis simulacris, timete Dei mei nomeni,

et in aquam resoluta, in hoc templo dispergamini, quod fac- tum est. (Sur., 8 de Julho.)

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Falando de um facto recente acontecido na terra de­le, diz:

“ No tempo dos Godos, o rei Totila vem a Nar- “mi (1). Era Bispo da cidade o venerável Cas- “ sio. Entendeu o santo Homem ir ao encontro “do Príncipe.“ O hábito de chorar padecimientos alheios tinha- 'The inflamado o rosto. E Totila não duvidou em “ juigar aquilo efeito do vício de beber muito vi- “nho e tratou com profundo desprezo o Homem “de Deus.“Mas 0 Omnipotente Senhor que tudo vê quis “mostrar quanto era grande a virtude daquele de “quem tão pouco caso se fazia.“ Na planicie de Nami, à vista de todo o exército, “ eÍ3 que um demónio se apossa do escudeiro de “ Totila e com crueldade o atormenta. “Conduzido ao venerável Cassio, o Santo ora, “ faz o Sinal da Cruz e em presença do Rei o de- “mónio é expulso.“Desde aquele momento, Totila, conhecendo o “próprio erro troca o desprezo em profundo res- “peito (2 ).”

Ouve este outro facto acontecido na tua Pátria.Na Prússia, num sítio chamado Velsenberg, vivia

um pagão chamado Ethelberg, homem rico e poderoso.

(1) Pequena cidade pouco distante de Roma.(2) V ir Domini, orationi facta, signo Crucis expulit. (Dialog.»

lib. n i. c. V I.)

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Havia ficado possesso do demónio e por isso o con­servavam preso por cadeias.

Sofria grandes dores o pobre homem e atraía muitas visitas.

Um dia, em presença de muitos pagãos idólatras co­meçou o demónio- a gritar:

—■ “Sémf que venha o Servo de Deus Vivo, Swi- “ berto, Bispo dos Cristãos, não sairei daqui.”

Sabes muito bem, que S. Swiberto foi um dos Após­tolos da Prísia, e de uma parte dai Alemanha.

Como o demónio gritando nâó cessava de repetir aquilo, os idólatras confundidos se retiraram, sem saber o que faaer.

Depois de muita hesitação, resolveram procurar o Santo e pediram-lhe com instância, viesse ver o ende- moninhado.

Swiberto concorda,Apenas o Bispo se põe a caminho, o possesso prin­

cipiou a espumar, a ranger os dentes e a soltar gritos mais horriveis que nunca.

Quando já vinha chegando perto da casa, o endemo- ninhado sossega de repente e fica na cama como quem dorme soltamente.

0 Santo entra, ordena aos companheiros que orem e pede ao Senhdr que, para maior glória de Seu Santo Nome e conversão dos incrédulos, se digne expulsar o de­mónio do corpo daquele desgraçado.

Finda a oração, levanta-se e faz o Sinal da Cruzi so­bre 0 endemoninhado dizendo:

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“Em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te “ordeno, espírito imundo, que saias, desta crea- “tura de Deus para que ela possa conhecer seu “verdadeiro Cneador.”

Imediatamente o espirito maligno sai e deixa após de si um cheiro horrível (1).

Ebrio de felicidade o liberto ajoelha-se e pede o Batismio.

Eis, meu caro, o que se passara na Prússia quando foi tirada do estado bárbaro.

Lá como em toda a parte, foi recebido o Evangelho à força de milagres; e deles o Sinal da Cruz foi o instru­mento ordinário.

Qual é boje a Religião dos Prussianos?Secrá a que ensina a fazer o Sinal da Cruz 71E 03 protestantes não cessam de repetir que um

homiem honesto não deve mudar de religião!Estimamos, dizem eles, os homens que se conservam

na religião de seus pais.Pois, eU| estimo e prezo mais os que se conservam na

verdadeira Religião de seus avós.A este respeito conheces, sem dúvida, o facto que se

deu com o célebre Conde de Stolberg.Este Homem amável e sábio, havia abjurado o pro­

testantismo.

(1) Signavit daemoniacum signo salutiferae Crucls, dicens: In Nomine Domini Nostri Jesu-Christi praecipio tibl, immunde spiritus, ut exeas ab hac Dei creatura, ut agnoscat suum verum Creaturem. Statinque cum factores spiritus malignus exiit. (Marcellin. in vlt. S. Swlbcrt, c. XX.)

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Vivamente contrariado com isto, o Rei Guilherme da Prússia, deixou de tratar com ele.

Correm anos, e o Rei, carecendo de um conselho, mmi- da chamarj o Conda.

Logo ao chegar, diz-lhe Guilherme:

— “N\ãoy»sso dissimiular-vos, Snr. Conde, que pouco estimo um homem que mvda de Religião.”

O Conde responde com respeito:

— "E* essa a razão. Senhor, porque eu desprezo pro­fundamente ã Lutero.

0 Sinal da Cruz é a arma universal e irresistível com que se expulsam os demíónios do corpo dos possessoa.

A prova disto está nos exorcismos da Igreja,Se quiseres lançar os olhos ao Ritual Romano, lá

encontrarás o que digo.Os exorcismos com os bafejos e com o Sinal da Cruz,

remontam ao berço do Cristianismo.Deles fazem menção todos os Padres, que falaram de

Batismo; e deste Sacramento quasi todos falaram, quer no oriente quer no ocidente.

Ouçamos a S- Gregôrio Magno:

"Quando o catecúmeno se apresenta para ser "exorcismado, primeiramente o Sacerdote sopra- "Ihe ern rosto para que, expulso o demónio, se- “ja livre a entrada a Jesus Cristo, nosso Deus,

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‘■depois, faz-lhe o Sinal da Cruz sobre a fronte e “sobre o peito dizendo; — Ponho sobre tna fron- ‘te e sobre teu peito o Sinal da Cruz de Nosso “Senhor Jesus Cristo — (1)

Tais como aqui se os descreve, os exorcismos atra­vessaram os séculos e a esta hora ainda estão em uso em todos os pontos da terra.

Onde quer que exista um Missionário Católico e uma creatura humana a ser subtraída ao domínio de satanás, ainda que seja na região mais distante e selvagem, faz-se assim.

Os demônios porém não estão só nos templos pagãos e nas estátuas dos ídolos onde se fazem adorar, ou no corpo dos desgraçados que atormentam.

Estão por toda a parte. O ar esta cheio deles.Infatigáveis, inimigos nossos, constantemente nos

atacam; ora por si próprios, ora por intermédio das crea­turas.

Mas, sejam diretos ou indiretos, francos ou traiçoei­ros, diante do Sinal da Cruz, os ataques deles falham sempre.

Diz Arnóbio:“ 0 Senhor adestrou nossos dedos para o comba- “ te, a-fim-de que, pudessemos formar com eles

(1) Cum ad exorcizandum ducitur, primo a Sacerdote insufflec- tur in faciem ejus, ut, íugato diabulo, Chrlsto Deo Nostro pateat introitua. Et tunc in íronte Cmx Christi agatur, di- cendo, etc., (S. Greg. Sacrament)

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“sobre nossa fronte o Sinal triunfante da “Cruz (1 ).”

Entre milhares de outras moças heroinas, expostas ao perigo, vejamos como Justina de Nicomedia manejava bem esta arma vitoriosa.

Nobre, rica e dotada de rara beleza, a Virgem Cristã, apesar de um viver bem simples, e de muito subtrair-se ao mundo, foi vítima da paixão violenta de um jovem pagão, chamado Aglaide.

Súplicas, oferecimentos, promessas, tudo ele pôs em ação para chegar aos apaixonados fins.

Vendo inutilizados todos os esforços, recorre a Ci- priano, mágico notável da Cidade.

Cipriano encanta-se por ela e em vez de trabalhar a favor do outro, emprega todos os recursos da magia em proveito proprio,

Nãc lhe foi difícil obter auxílios do inferno.Demônios, os mais violentos foram enviados a tentar

a jovem Santa.Vendo-se assim tão atacada, Justina duplicou as ora­

ções, a vigilanda e a mortificação.No mais rude do combate fazia o Sinal da Cruz e os

demônios fugiam.Assim procedendo sempre triunfou brilhantemente

na Virgindade, e teve a graça de converter Cipriano que

(1) Docuit digitos nostros ad bellum, ut dum bellum sive visi- bilium, sive invisibillum senserimus hostium, nos digltis ar- memus írontcm triumpho Crucis. (Arnob., in ps 143,)

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foi um mártir ilustre e uma nobre conquista do Sinal libertador ( í ) .

Antão, o grande atleta do deserto, cuja vida se gas­tou a luitar contra os demônios em paroxismos de raiva e debaixo das mais aterradoras formas, bem sabia ma­nejar esta arma vitoriosa. .

Que nos fale o digno historiador de um tal Homem. Algumas vezes, diz S. Atanásio, repentino estrondo

se dava, tremia a cela de Antão e, pelas peredes entrea­bertas, avançava multidão de demônios;.

Tomavam formas variadas de leões, touros, lobos, áspides, dragões, escorpiões, ursos e leopardos. '

Cada um vozeava de um modo.Os leões rugiam como prestes a devora-lo; touros

mugindo ameaçavam-no com os chifres; as serpentes si- bilavam; oa lobos arreganhavam os dentes; e os leopardos por variadas cores, representavam as astúcias dos espí­ritos infernais; figuras medonhas de se ver, vozes hor­ríveis de se ouvir.

Espancado e ferido, Antão sentia vivas dores mas. s6 no corpo; sua Alma, atentã, permanecia imperturbável.

Posto que as feridas lhe arrancassem dolorosos ais, o Ermitão zombando falava aos inimigos;

—“Pela força que tendes, um s6 basta para me “combater; mas, porque a força de meu Deus “vos enfraquece é que vindes assim em multidão “para ao menos me aterrar.

(1) Vida, 26 de Setembro.

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Dizia mais:

— “ Se tendes algum poder, se Deus me entregou “a vós, eis*me aqui, devorai-me. Porém, se con- “ tra mim nada podeis, para que tantos esforços “ inúteis? O Sinal da Cruz e a confiança em “Dieus são para uós uma fortaleza inexpug- “náA’el. —

Então, raivosos, vendo que por seus ataques só con­seguiam que 0 Santo zombasse deles, por mil modos ameaçavam a Antão (1).

A linguagem soberana que com Fé Antão falava aos demônios, era a mesma de que usava com os filósofos pagãoa.

Dizia o Patriarca do deserto a estes eternos inves­tigadores da verdade:

—“De que serve o disputar?“Nós pronunciamos o Nome do Crucificado e "todos os demônios que vós adorais como deuses ".bramam enfurecidos. Ao primeiro Sinal da- “Cniz saem dos possessos. Onde estão os men- “ tirosos oráculos? Onde pâram os encantos dós "Egípcios? Para que servem as palavras mági- "cas? Tudo foi destruído desde o dia em que “o Nome de Jesus Crucificado soou no mundo.”

Depois, fazendo vir possessos, continuava dizendo a seus interlocutores:

(1) Signum enim Crucis et Fides ad Dominum inexpugnabilis nobis murus est. (De vit. S. Antâo.)

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“Ora, pois! Por vossos silogismos ou por algu- “ma artimanha que vos agrade expulsai destas “desgraçadas vítimas aqueles a que chamais) vos- “sos deuses. Se o não podeis fazer, declarai-vos “vencidos. Recorrei ao Sinal da Cniz, e a hu- “mildade de vossa Fé será seguida de um mila- “gre de Fé e poder.”

A estas palavTas, invocava o Nome de Jesus, fazia o Sinal da Redenção sobre a fronte dos possessos e os demónios fugiam em presença dos filósofos confundidos (1).

Quase tão numerosos como as páginas da história, são ; os factos deste genero.

Mas eu os passo em silêncio.

Aos ataques directos e palpáveis, juntam os demó­nios ataques indirectos e traiçoeiros. ,' Estes, não menos perigosos que aqueles, são mais fre­qüentes.

Deles há. duas especies: uns são interiores e outros, exteriores.

Os primeiros são as tentações propriamente ditas.O Sinal da Cruz é a arma vitoriosa que dissipa as

tentações.Dizendo isto, não sou mais que o eco da tradição uni­

versal e da experiência de cada dia.

(1) De vita S. Ant.

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“Quando fazeis o Sinal da Cruz, diz S'. Crisós- “ tomo, ele vos lembra o que a Cruz significa e “ com isso aplacais a cólera e os movimentos de- “ sordenados do vosso espírito (1 ).”

Orígenes acrescenta:“ E’ tal a forçado Sinal da Cruz que, se o colo- “ cardes diante dos olhos e o guardardes no cora- “ção, não haverá concupiscênciia, voluptuosida- “de ou furor que possa resistir-lhe. Â vista de- “ le desaparece tudo quanto é pecado (2).”

Os ataques indirectos são exteriore.s, quando vêm de fóra. %

Nlão ha creatura que fuja à influência maligna de satanás; a das creaturas todas faz ele instrumento de seu ódio implacável contra o Homem.

Como já o indiquei, este é um artigo do símbolo do Gênero humano.

Que arma Deus nos deu para nos defendernios desses ataques e preservarmos Alma e corpo doá atentáctós''cía-* quele que é chamado, e com razão, o grande homidÜa? — “Homicida uh initio” —■

Todas as gerações católicas surgem de seus túmulos para exclamar:

(1) Cum signaris, tibi in mentem veniat totum crucis argumen­tam, ac tum iram omnesque a ratione adversos animi im- petus extinxeris. (De ador. pret. cru., n. 3.)

(2) Est enim tanta vis Crucis Christi, ut... nulla concupiscentia, nula libido, nullus íuror, nulla superare possit invidia. Sed continuo ad ejus praesentiam totus pecati et carnis fugatur exercitus. (Origen comm. in epLst. ad Rom., lib. VI, n.® 1.)

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A arma que Deus nos deu é o Sinal da Cruz.Todos os Católicos existentes actualmente nas cinco

partes do mundo, unem sua vóz à de seus maiores e repe­tem : — E’ o Sinal da Cruz.

Escudo impenetrável, torre inconquistável, arma es­pecial contra o demónio; arma universal cuja força é sempre superior aos inimigos visíveis e invisíveis; arma fácil para os fracos, gratuita para os pobres.

Tal é a definição que do Sinal adorável nos dão os mortos e os vivos.

Eis duas grandes verdades das quáis não podemos nos esquecer:

1.® — A sujeição de todas as creaturas ao demónio;2.* — A força do Sinal da Cruz para libertá-las a fim

de que nos impeçam o caminho do benuDestas duas verdades, sempre antigas e sempre no­

vas, surgem dois factos incontestàvelmente lógicos:Primeiro: — o emprego perseverante dos exorcis­

mos na Igreja Católica.Segundo: — o uso constante do Sinal da Cruz entre

os primeiros Cristãos.Que significa o exorcismo?A crença da Igreja na sujeição das creaturas ao de­

mónio.Que espera o exorcismo?A libertação das creaturas.

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Não ha creatura que a Igreja Católica não exor­cisme.

Segue-se pois que, ela vê no universo um grande ca­tivo, um grande possesso, uma grande máquina de guer­ra, sempre dirigida contra nós por satanás.

E que é o uso incessante do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos senão um continuado exorcismo?

Todo 0 gênero humano admite com a Igreja:1.* — que todas as creaturas estão sujeitas ao de­

mónio;2.** — que todas servem de veiculo a suas malignas

influências;3.” — que o Homem está em contacto com eles, a cada

hora, a cadiai instante e emi cadat acção.Portanto nada mais racional que o emprego constan­

te de uma arma sempre necessária.0 uso incessante do Sinal da Cruz anuncia pois, em

nossos maiores uma profunda filosofia,. Bem conheciam eles a temível extensão da graride lei de um dualismo no mundo moral.

Cientes de que o ataque era universal e incessante, bem compreendiam que a defesa necessária devia ser tambem universal e incessante.

Os primeiros Cristãos faziam o Sinal da Cruz sobre cada um dos seus sentidos.

Queres saber porque?Os sentidos são as portas da Alma; servem de co­

municação entre ela e as creaturas.Marcados com o Sinal da Cruz, as creaturas já não

podem entrar enl' comunicação com a Alma sem que pas­

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sem por um caminho santificado onde perdera a funesta influência que tinham.

Mas isto ainda não era suficiente para nossos pais.Faziam o Sinal da Cruz sobre os objetos de uso e

quanto lhes era possável, sobre todas as partes da creação.Casas, portas, móveis, fontes, limites dos campos,

colunas de edifícios, navios, pontes, m.edalhas, bandeiras, capacetes, escudos, anéis — tudo era marcadoi com o Sinal adorável.

Quando impedidos de repeti-lo, por toda a parte e sempre eles o imobilisavam, gravando-o, pintando-o, es- culturando-o- ná fronte dé todas aa creaturas por entre as quais ia-lhes correndo a existência.

Pára-raio e Monumento I Tal era então o Sinal augusto.Pára-raio divino para desviar os príncipes do ar

desviando a incalculável malícia deles, o Sinal da Cruz é muito mais poderoso do que as varas metálicas levantadas sobre nossos edifícios para descarregar as nu­vens pejadas do raio. ■

Monumento de vitória que atesta o triunfo alcança­do pelo Verbo Encarnado sbbre o principe das trévas, o Sinal da Cruz é como as colunas que, levantadas pelo vencedor no camipo da batalha, atestam a derrota; do ini­migo.

Das eminências de Constantinopla contemplamos, com S'. Crisóstomo, o mundo esmaltado destes Pára-raios e de.ste3 Monumentos de Vitória.

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— “Mais preciosa que o universo, brilha á Cruz so­bre 0 diadema dos Imperadores. Por toda a parte ela ae oferece a meus olhos. Bu a encontro nos Imperantes e nos súbditos; nas Mulheres e nos Homens; nas solteiras' e nas casadas; nas pessoas escravas e nas pessoas livres.

“Todos são constantes em gravá-la sobre a fronte, parte mais nobre do seu corpo; e lá ela resplandece como coluna de glória,

“ Aparece na Sagrada Mesa como na Ordeimção dos Padres e não falta na Ceia mística do Salvador. -

“Desenha-se em todos os pontos do horizonte; no cume das casas, nas praças públicas, nos lugares habita­dos e nas extensões desertas, nos vaJes profundos e no alto das montanhas, nos bosques e nas campinas, nas ondas do mar, no vértice dos navios, nas praias e sobre as ilhas, nas janelas e nas portas, sobreí as camas, vestuá­rios, armas, livros, e mesas de comer, nos festins, sobre os vasos de ouro e prata, sobre as pedras preciosas, nas pinturas dos quartos e pendente ao colo das Virgens e das crianças.

“A Cruz é sinalada sobre os animais doentes e sobre os possessos do demónio.

“ Com Fé e devoção nós fazemos o Sinal da Cruz na guerra e na paz, de dia e de noite, nas reuniões festivas e nas assembléias de penitencia.

“Para tudo procura-se a proteção do Sinal admirável.“Ha nisto algo de estranho?Não.Pois o Sinal da Cruz é o aímbolo de nossa Redenção,

o monumento da liberdade do mundo, a metnória da Man­sidão do Senhor.

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Quando tu o fizeres, medita no preço em que ficou tua Alma. Ela é uma parte de sua virtude.

Deves, pois, fazê-lo, não só com o teu dedo, mas com tua Fé.

“Se o gravares assim sobre tua fronte, espírito imundo não haverá que possa conterse diante de ti.

“Verá o alfange que o feriu, a espada que o passou de morte.

À vista dos lugares de patíbulo ficamos tomados de horror.

Vendo a arma de que o Verbo Etemo Se serviu para abater-lhes a força e cortar-lhes a cabeça, o dragão satanás e seus maus anjos, quanto sofrerão? (1) ”

Ficam para amanhã se Deus for servido, meu caro Frederico, as reflexões que nascem deste espectáculo arnabatador, tão eloquentemente descrito pelo mavioso São João Crisóstomo, Patriarca de Çonstantinopla.

Adeus.

<1) Quod Ghristus sit Deus, opp. t. 1 p. 697. Edit. Paris, altera; id in Math. homil., 54, opp. t. VII, p, 620, et in c. III, ad Philipp.

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DÉCIMA SÉTIMA CARTA

Paris, 12 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1, Natureza do Sinal da Cruz e o caso Que*

dêle hoje se jaz, — 2. Que cousa anun­ciam Q esquecimento e o desprezo do Si­nal da Cruz? — 3, Espetáculo do mundo atual. —' 4. Permanecer fiel ao 5inal da Cruz, principalmente antes e depois da comida. — 5. Volta de satanás. — 6. A. razáo, a liberdade e a honra o recomen­dam. 7, A conveniência dos que fa-- zem 0 Sinal da Cruz antes e depois da. comida.

Meu caro Frederico,

Arma universal — arma invencível nas mãos do- Homem — pára-raio, marco de liberdade para o mundo — Monumento da vitória do Divino Redentor, eis o que sempre foi o Sinal da Cruz desde os primeiros tempos, cristãos.

Por isso os sentinueintos que inspirava o uso que fa­ziam dele e o magnífico espectáculo a que vamos assistir.

Terémosi Pé hoje como outrora nossos Pais tinham?"

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Para os Cristãos deste século, que coisa é o Sinal da Cruz?

Que uso fazem dele para si e para as creaturas?São riiuito vivos, são mesmo verdadeiros os sentimen­

tos de Fé e confiança, de respeito, gratidão e amor que 0 Sinal da Cruz desperta em nós?

A inaior parte dos que ó fazem, não o farão sem que saibam o que fazem?

Não 0 fazem só a esmo sem lhe dar valor ou impor­tância?

E quantos há que o não fazem nunca?Quantos se envergonham de o fazer?Quantos se incomodam até por ver a outros faze­

rem 0 Sinal da Cruz?Quantos tiram-no da frente de suas casas, baniram-

no de seus quartos e chegaram até a apagá-lo em seus móveis.

Fizeram-no desaparecer das praças, dos jardins, dos passeios, das ruas, dos caminhos, da maior parte dos lü- :gares, em que nosso» maiores o haviam arvorado.

Que é tudo isto?Tais sintomas que coisa anunciam?Queres sabê-lo?Eleva teu pensamento ao principio que ilumina toda

-a história.

Dois espíritos opostos disputam entne si o império -do mundo: o Espírito do Bem e o espírito do mal. ;

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Tudo 0 que se faz procede da inspiração divina ou da inspiração de satanás.

O estabelecimento do Sinal da Cruz, o uso incessan­te que dele se faz, a confiança que nele se deposita, a vir­tude omnipotente que se lhe atribui, tudo há-de ser ou de inspiração divina ou de inspiração satânica: uma das duas.

Se procedem da inspiração swb&núa, então a flor da Humanidade ( — única em fazer o Sinal da Cruz, há dezoito séculos e mesmo desde além — ) está ferida de cegueira incurável.

E quem possui plena luz, são os que não pertencem à classe escolhida do Gênero Humano!...

Seria o mesmo que dizer-se: os míopes, os de meia vista, e os cegos enxergam melhor do que os que não so­frem defeitos da visão.

Imaginas tu que haja um orgulho tão arrojado que seja capaz de enunciar um tal paradoxo?

Ou que haja incredulidade tal para sustenta-lo?Mas... se o Sinal da Cruz — praticado, repetido,

estimado, considerado como arma invencível, universal, permanente e necessária à humanidade contra satanás, suas tentações e seus anjos — é uma inspiração divina, que juízo queres que eu faça de um mundo que não com­preende 0 Sinal da Cruz?

De um mundo que o não faz, que o despreza, que se envergonha dele?

Que juízo deve-se fazer de quem não saúda a Cruz, de quem não a quor diante dos olhos nem à face do sol?. Enquanto a natureza humana se não mudar radical­

mente, enquanto a dualidade não for uma ideia quimérica, enquanto satanás não se retirar do combate, enquanto

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OS seres materiais nâo deixarem de ser instrumento de funestas influências diabólicas, o Cristão de hoje, ,des- prezador como é do Sinal da Cruz, não passa de um dege­nerado ramo vindo de uma estirpe nobre.

Este século é um racionalista insensato que não com­preende nem a luta, nem as condições dela.

O século das luzes é um soldado presunçoso que, ten­do quebrado as armas e deposto a armadura, cego se pre­cipita no meio de espadas e lanças, com os braços ligados e peito descoberto.

A sociedade moderna é uma cidade desmantelada qiv se acha cercada de inumeráveis inimigos, impacientes por arruiná-la, ansiosos de passá-la ao gume das armas de sua guarnição.

Arruiná-la?E não está ela já arruinada?Ruína de crenças, ruína de costumes, ruína de au­

toridade!Ruína da tradição, ruína do temor de Deus, ruína,

da consciência!Ruína da probidade, da mortificação, da obediência!Ruína do espirito de sacrifício; da resignação e da

esperança.Por toda a parte só se vê —i ruínas começadas e ruí­

nas consumadas.Que resta hoje de pé na vida pública e na vida par­

ticular, nas cidades e nas aldeias, nos governantes e noa governados?

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Na ordem das ideias e no domínio dos factos, das pessoas e das cousas que ontom eram completamente ca­tólicas, hoje que resta ainda de pé?

E tudo por que, meu caro Frederico? Tiraram o Sinal da Cruz!

Eis tudo explicado.Diminuindo no mundo o Sinal da Cruz, satanás nele

se agita.0 Sinal da Cruz é o pára-raio do mundo.Fazei-o desaparecer e o raio cairá operando desor­

dens com suas diabruras.O Sinal da Cruz é um brilhante troféu que atesta a

dominação do Vencedor Divino!Despedaçá-lo é dar gosto ao antigo tirano da Huma­

nidade; é preparar-lhe sua volta para uma tirania mais terrível.

Escuta, meu caro, o que ha dezessete séculos escre­via um daqueles Homens que melhor conheceram o mis­terioso poder do Sinal da Cruz.

E’ o mártír, ilustre entre todos os mártires, Sto. Inácio de Antioquia,

Contempla um pouco este Bispo, de cabelos brancos, carregado de ferros, vencendo seiscentas léguas, para vir a Romaj onde seria devorado por leões, à vista da grande assistência no Coliseu.

Tranqüilo, como se estivera no Altar; prazenteiro, como se caminhasse para uma festa, E, em seu caminho semeando instrução, coragem às Igrejas da Asia qua, à sua passagem, lhe vinham ao encontro.

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Em sua admirável carta aos Cristãos de Philipes (1) ele diz:

“0 príncipe deste mundo regozija-se quando vè “a alguém renegar a Cruz.“Muito bem sabe que a Cruz lhe dá a morte “ por ser a arma destruidora de seu poder. “Vê-la, horroriza-o; e oian-la nmnear, espanta-o. “Antes que ela fosse feita, nada desprezou, em- “penhou-se deveras para fazer cem que a cons- “tmissem. Impeliu com ardor aos filhos da “ incredulidade a trabalharem na construção de- “ la.“Fariseus e Saduceus, Anás e Caifás, Judas e “Pilatos, velhos e novos a todos induziu a que “ trabalhassem para fazêla.“ Porém, quando chegou o ponto de vê-la acaba- “ da, perturbou-se.“Lançou o remorso na Alma do traidor, apresen- “ tou-Ihe uma corda e levou-o a enforcar-se. “Aterrou por ura sonho a mulher de Pilatos pa- “ ra que ela dissuadisse o Governador de con- “duí-la.“Todos os esforços ele faz então para impedir “a conclusão da Cruz. Não porque ele tivesse “ remorsos; se os tivera, não seria completamen- “ te mau.“Foi porque, ciando acordo, viu a própria derrota.

(1) Cidade de Maccdonia, que mu cedo abraçou o Cristianismo. Not. do trad.

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'E nâo se havia enganado!.. . A Cruz é o prin- ‘ cipio da condenação de satanás, a causa de sua ‘ ruína, a origem de sua morte e derrota.”

Daqui, meu caro Frederico, temos dois pontos de dou­trina.

1.® 0 demónio tem medo e horror à Cruz e ao seu Sinal.

2.® Ao ver uma Alma ou uni país sem o Sinal da Cruz, satanás aí entra e fica à vontade.

E é tão inevitável que lá ele finne seu domínio quan­to impossível é se obstar que, ao por do sol, as trevas su­cedam à luz.

0 mundo actual é disto uma prova sensível,Não é do dilúvio de negações, impiedades e blasfê­

mias inaudita.', de que ele está inundado, que eu falo. Falo é de outra coisa gravíssima.

Um Homem que, no meio de doidos procede com juí­zo perfeito e outro que, numa roda d « ladrões, respeita a propriedade alheia, ambos se colocam no singular,

E por isso se tornam eles ridíctilos?

Para eles singvlwrizar-se, quer dizer colocar-se no singvMr, praticando um ato ridicido.

Resta esclareces, se — fazer o SivaJ- da Cruz antes e depois de comer seja colocar-se no singular e fazer um papel ridicvlo.

Não ha dúvida que sim, respondem eles, porque é fazer o que os outros não fazem.

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Mas, além destes outros, há também uns ouiros e mais outros t há outros que fazem o Sinal da Cruz e ou­tros que 0 não fazem. Portanto, fazendo-o ou deixando de fazê-lo, ficamos sempre no plural.

Somos nós ridículos por fazê-lo?Para responder a isto, basta ver quem ção esses

outros que fazem o Sinal da Cruz e esses outros que o não fazem.

Os que o fazem somos nós e os da nossa família,E não somos únicos.No meio de nós, em volta de nós. estão os bons Ca­

tólicos.Conosco estão há dezoito séculos, todos os Católicos

verdadeiros, instruidos e corajosos tanto do oriente co­mo do ocidente.

E estes Católicos são os que constituem exactamente a flor da Humanidade. Ora, ninguém é ridículo por tais companhias; antes é completamente ridículo o que não as tenu

A proposição é para todos indiscutível menos para os outros, aqueles que se contentam com palavras e que pretendem com elas contentar os ouiros.

Que a flor da Humanidade fez sempre o Sinal da Cruz antes de comer, é ponto bem determinado. Os Padres que já citei: Tertuliano. S. Cirilo, Sto. Efréia, S. Crisós­tomo, não deixam dúvida alguma sobre a universalidade desta prática religiosa entre os Cristãos da primitiva Igreja.

Apontarei outros.

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— “Quando se chega à mesa, e se toma o pão para o partir, sobre ele se fazem três Cruzes, dando-se graças; e depois da comida dão-se de novo, dizendo três vezies:

0 Senhor de Bondade e Misericórdia deu o alimento aos que o temein.

Glória ao Padre, ao Filho e ao Espírito Santo. Amena” (1)

Que são esse mundo de mesas que giram, se levan­tam e falami?

Esses espíritos uns que se mostram perversos, ou­tros que se dizem amigos?

Essas evocações, chamados, essas consultas e passes, essas conversas com pretendidos mortos?

Que são todas essas artimanhas que. de repente in­vadiram o antigo e novo mundo?

Ao presente vem-se manifestando uma recrudescên- cia inaudita de práticas do ocultismo.

Em Paris, o espiritismo forma associações numero­sas com suas assembléias regulares. Além de uma mul­tidão de livros, oito folhas especiais lhes servem de oí- gâos periódicos. Mietz e Bordeaux contam, segundo consta, muitos milhares de espiritistas. Lyão conta, pelo menos, quinze mil, com um jornal, que afirma ser o espi­ritismo a religião do futuro.

(1) Cum in mensa sederis, cacperisque frangere panem, ipsum ter consignato Signo Crucis. gratias age. Cum igitur surre- xeris a mensa, rursum gratias agendo tribus vicibus dicas, etc. (De Virginit., n. 13.)

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Serão cousas novas?

Não, a Humanidade já as viu.

Mas em que época?

Quando o Sinal da Cruz não protegia o mundo e sa­tanás era o ídolo e rei das sociedades.

Reaparecendo elas hoj© em tamanhas proporções até desconhecidas do paganismo, só nos dizem.

1.® — que 0 Sinal libertador deixou de proteger o mundo:

2.® — que satanás retomou-lhe o domínio.

Que significa tudo isto?

Significa que após dezoito séculos de Cristianismo, reaparecem na França milhares de idolatras. Sabendo-o ou sem que o saibam, fazem elesi publicamente o que há dois m il anos se fazia em Delfos, Dodona, Sinope, e em todas as cidades do antigo paganismo. (1 )

(1) Chegaram as coisas a tal ponto que muitos Bispos se viram forçados a premunir por novas determinações o Cléro e os Fiéis de suas Dioceses contra a invasão satânica. (Nota da 4 » Edição franceza.)

Kota da presente edição.Monsenhor Gaume em Paris já assim falava naquele tempo. Hoje que se deverá dizer em o nosso querido Brasil? A Terra áa Santa Cruz, infelizmente acha-se infestada de —***centros espíritas e **macumbas'* — **centros esotéricos” — *^teosofismo" — ” comunhão de pensamentos** que se difun­dem por jornais, rádios e almanaques; satànás vive, governa e age, enganando a milhares de pessoas batizadas que se envergonham de fazer o Sinal da Cruz ou talvez nem o sai­bam fazer. Já em 1910, o Episcopado das Províncias Ecle­siásticas Meridionais do Brasil, reunido em São Paulo sob a Presidência do Eminentíssimo Cardial Arcoverde, houve por necessário exarar na Pastoral Coletiva de então, à página 13, o seguinte:

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Vês, caro amigo, quão pouco inteligentes são os que abandonam o Sinal da Cruz?

Lamentemo-los sim; mas, não sejamos tolos de os imitar.

Para nós, .bem como fora para nossos pais, o Sinal da Cruz deve continuar sendo uma coisa santa.

Fazê-lo devotamente antes e depois das refeições é um dever sagrado.

Assim 0 exigem a razão, a liberdade, a honra.

Exige-o a razão.

Se perguntares a teus condiscípulos, porque não fa ­zem o Sinal da Crua antes de comer, um deles dirá:

— “ Não quero tom ar-me singular, fazendo o que os outros não fazem.

— “Todos os Católicos se abstcnham da supersti- ‘‘ção e das maldades do espiritismo, segundo man­ada o Divino Espírito Santo no Deuteronomio: — "Guarda-te de querer imitar as abominações da- "quelas gentes, nem se ache entre vós.,, quem “ consulte advinhos ou observe sonhos ou agouros, “ nem que use malefícios,... nem quem consulte os “pitões, ou advinhos, ou indague dos mortos a ver- “ dade. (Cap. XVIII, vs. 9 e seguintes.) — Os Revds. "Párocos e Confessores instruam os Fiéis e repre- “ endam aqueles que pensam ser-lhes lícito frequen- "tar as sessões espíritas por não terem ouvido lá "coisas torpes ou impias.''

Hoje tudo isso é uma calamidade que apavora, porque sata­nás que nunca dormiu, continúa sendo o pai da mentira, nosso figadal inimigo, habilidoso como ninguém para enganar os modernos.

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Não quero tornar-me ridículo, nem que zombem de mim por causa de uma prática inútil e fora da moda. —

Não querem tornar-se singulares?!...A bem deles, quero crer que os coitados nem com­

preendem .0 sentido de tais palavras.Tornar-se singular quer dizer, colocar-se no singular,

isto é, isolar-se, não fazer aquilo que todos fazem. E neste sentido o Homem pode muito bem tornar-se singular sem ser ridículo. Até às vezes somos obrigados a isto, para não nos tornarmos culpados.

S. Jerónimo diz; — “ Ninguéin se sente à mesa sem orar e ninguém se retire sem dar graças ao Creador”. (1)

Aos que seidisptensam desta sagrada lei da sabedoria e do recolhimento, S. Crisóstomo trata-os como bem o merecem, dizendo;

—' “Antes e depois de comer é necessário orar. Ouvi, ouvi bem isto, ó vós todos que à maneira dos porcos, vos nutris dos dons de Deus, sem levantar os olhos para a Mão que vo-los dá.” (2)

A bênção da mesa pelo Sinal da Cruz não era só usada entre as famílias e na vida civil; também era observada

(D Nec cibi summantur, nisi oratione praemissa: nec rededatur a mensa, nisi reíeratur Creatori gratia. (Epist. XX II, ad Eustoch. De custod. virginit.)

(2) Et. hymno dicto exierunt in montem Oliveti. Audiant quot- quot, porcorum instar, contra mensam sensibilem comedentes calcitrant, et temulenti surgunt, cum oportcret gratias agere, et ín hymnos desinere. (Homil. 82, in Matt., n. 2, t. V II p. 885 id., HomiL 4a, in ind. n. 2 p. 569. ed it nov.)

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e com religiosa fidelidade, pelos soldados em seus acam­pamentos.

A tal respeito refere S. Gregôrio Nazianzeno um facto, que se tornou célebre.

Juliano Apóstata gratifica seus soldados, distribuin- do-Ihes um extraordinário de víveres e dinheiro.

Junto ao Imperador está um brazeiro acêso. Cada soldado ao passar deixa cair nele uns grãos de incenso.

Sem suspeitar de idolatria, os soldados Cristãos fa­zem o mesmo que os outros.

Finda a distribuição, reunem-se para saudar o Prín­cipe.

Foi a taça apresentada a um soldado Cristão, que, segundo o costume, a abençoou pelo Sinal da Cruz.

Levantou-se logo uma voz que bradou:— “0 que agora fazes está em contradição com aqui­

lo que há pouco fizeste.— E que fiz eu?

— Pois já esqueceste?Um acto de idolatria; queimando o incenso renegaste

tua Pé? —A estas palavras, ele e seus bravos companheiros

saem da mesa, soltam gemidos de dor e de protesto; diri­gem-se à praça, acusam o Imperador de havê-los enga- nado'com tanta indignidade; e, pedindo nova provação para confessar a Fé, alto e desassombradamente se de­claram Cristãos.

0 Apóstata manda prendê-los. Condenados à mor­te, são conduzidos ao lugar do supUcio.

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Mas, SÓ para não aumentar o número dos mártires, Juliano comuta-lhes a pena e os envia aos pontos mais remotos do Império (1 ).

Quando entre os convivas se achava um Padre, a ele competia a honra de fazer o Sinal da Cruz sobre os ali­mentos (2 ).

A benção da mesa era por tal modo considerada uma coisa tão santa, que, no século IX , os Búlgaros, conver­tidos à Fé, perguntavam ao Papa Nicolau I, se o simples Fiel podia nesta ocasião substituir o Padre.

“ Sem dúvida, responde o Papa; a cada um está “ concedido o direito de, pelo Sinal da Cruz, pre- “ servar-se das ciladas do demónio, a si e a quan- “ to lhe pertencer; é mister triunfar dos ataques “ do inimigo pelo Nome de Nosso Senhor.” (3 )

As vindouras idades hão de ainda restituir e perpe­tuar esta prática entre os verdadeiros Católicos do orien­te e do ocidente.

E tu bem sabes que entre muitos ela ainda hoje per­dura.

Conhecemos já os que fazem o Sinal da Cruz antes de comer.

(1) Orat, 1 contra Julian: Thedoret, Hist, lib. III, c. XVI.(2) Vid. D. Ruinart. Actes du martyro de Saint Theodote.(3) Nam omnibus tatum est ut et omnia nostra hoc signo de-

beamus ab insiddis munire diabuli, et ab ejus omnibus impug- nationibus in Christi triumphare. (Rep. ad consult. Bulgar.)

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Vejamos tambem quais são esses outros tais que o não fazem.

São eles:os pagãos,

os judeus,os maometanos,

os heréticos,os aievs,

os maus católicos, c os católicos ignorantes, escravos do respeito humano.

Eis quais são os que não fazem o Sinal da Cruz e quais os que zombam de quem o faz.

De que lado estará a singularidade ridícula?Adeus.

Até amanhã, se Deus quiser.

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DÉCIMA OITAVA CARTA

Paris. 13 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 2. A honra exige que se jaça oração anícs

e depois da comida, — 2. Orar antes e depois de comer é tão antigo como o universo, tão extenso como o gênero hu­mano. — 3. Benedicete e Graças de to­dos os póvos, — 4. Quem não pratica tais prôvas, assemelha-se aos sêres que não pertencem ao gênero humano.

Caríssimo Frederico,

A honra nos obriga a sermos fiéis ao antigo uso do Sinal da Cruz, antes e depois da comida. Teus condisci- pulos, pelo contrário parecem crer que honroso seja não respeitar semelhante uso.

Eles dizem:

Não quero tomar-me notado, nem sujeitar-me a zom- barias.

Passemos à análise deste novo pretexto.

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A razão, como já vimos, condena os que desprezam o Sinal da Cruz; logo a honra, que nunca está do lado da sem-razão, não pode absolvê-los.

Dizem eles que não querem tornar-se notados.Isto é impossível: por mais que façam, toruar-se-ão

notados,Não os julgo tão infelizes, que nunca se encontrem à

mesa com verdadeiros Católicos; e, neste caso, hão de tor­nar-se tristemente notados.

Temos de novo a questão, já resolvida, dos outros e dos outros.

Quanto à zombaria, que eles temem, ela na verdade afecta aos que se tornam notados, apenas com esta dife­rença: que o verdadeiro Católico em vez de zombar, tem deles dó e piedade.

Todavia, quero ser indulgente, contentando-me com expor teus condiscípulos e outros tais, à nota dos Católico.s.

Vais ver porém que abstendo-se eles de orar antes da comida, a pretexto de se não tomarem notados, desonram- se aos olhos da humanidade inteira.

Quem de livre vontade, se coloca na classe dos bru­tos, desonra-se aos olhos de todo o homem sensato.

Até agora só era conhecida uma classe de seres que comiam sem orar; hoje conhecem-se duas:

os brutose os que se lhes assemelham.

Entre um homem que come sem orar, e um cão, qual a diferença?

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SÓ encontro uma e a academia de ciências tambem não vê outra: o primeiro é um bípede, e o segundo, um quadrúpede; porém, ambos são brutos.

Bípede ou quadrúpede, sentado ou deitado, grasnan- do ou grunhindo, têm eles as mãos ou as patas, os olhos, o coração e os dentes cravados na matéria e devoram estü- pidamente o alimento, sem levantar a cabeça para a Mão que o reparte.

0 homem que assim procede, foge de gênero humano.Senta-se à mesa. como o bruto; como o bruto lá per­

manece; e é tambem como o bruto que se levanta.Que te parece desta proposição?Muito absoluta?E, contudo, tu a aprovas.Oiço-te dizer:— E ’ verdade. Antes de nossa época, só os brutos

— boia, jumentos, mulas, porcos, ostras, crocodilos é quo comiam sem rezar.

Nada mais ceito do que isto.

A ORAÇÃO DEPOIS D A COM IDA É TÃO A N T I­GA, COMO 0 UNIVERSO, E TÃO E X TE N S A COMO 0 GÊNERO HUMANO.

Existe desde toda a antiguidade.Entre os Judeus:“ Quando comeres, diz a lei de Moisés, e estiveres sa­

tisfeito, bendiz ao Senhor (1 ) . ”

(1) Cum comodcris. ct satialus fucris, bcncdicas Domino. Deut. VIII, 10.)

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Eis a oração para depois da comida.Fiéis a esta prescrição divina, observavam os an­

tigos Judeus ao comes, as cerimônias seguintes;0 pai, rodeado de seus filhos, dizia:“Bendito seja o Senhor Nosso Deus, cuja Bondade é

que dá o alimento a toda a carne”.Depois, tomando na mão direita um copo de vinho,

benzia-o, dizendo:“ Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que creou o fru­

to da vida”.Era então o primeiro a beber dele; depois o passava

aos outros, que tambem bebiam.Seguia-se a benção do pão.Tomando-o todo inteiro nas duas mãos, o i>ai dizia:“ Bendito e louvado seja o Senhor Nosso Deus que da

terra tirou para nós o pão”.Em seguida o partia e dele comia um bocado: depois

repartia-o aos demais.Só então é que começavam a comer.Quando vinham novos pratos, ou se mudava de vi­

nho, havia bênçãos particulares, de modo a ser cada ali­mento purificado e consagrado.

Acabando de comer, cantavam um hino em ação de graças (1).

Todos estes ritos se tornaram mais veneráveis, quan­do depois foram praticados pelo mesmo Filho de Deus feito Homem — Jesus Cristo, Nosso Senhor.

(1) Eis his omnibus apparet, vetercs illos judaeos, nullos cibos nbsquo benedictione et gratiorum actione, sumere fuisse soli- los. (Struckíns, Antiq. convivial., lib. II, c. XXXVI, p. 436, ed. in íol. 1695.

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Nada mostra melhor a importância deles.Que faz o Divino Mestre do gênero humano, quando

na ultima ceia come o cordeiro pascal com seus discí­pulos?

Que faz Ele, quando, depois da ceia, canta com seus discípulos o hino de graças?

Et hymno dicto exierunt in montem Oliveti.

Obedecendo religiosamente à Lei Sagrada toma o cálice, abençoa e o passa a cada um dos convivas íl).

Em moitas outras circunstâncias vemos o Modelo eterno do homem, rezar antes de tomar ou dar alimento.

Vai partir pão e dividir peixinhos para repartir ao povo.

Toma os cinco pães e os dois peixes, levanta os olhos ao Céu, e os benze (2).

Tudo isso, dizem os Santos Padres, está indicando a benção dos alimentos. ,

0 Verbo Encarnado procedeu assim para nos ensi­nar, que jamais devemos comer sem nos benzermos e darmos graças (3).

Causará espanto, porventura, o acharmos a benção da mesa entre os primeiros Cristãos?

Os exemplos do Homem-Deus não eram a regra de conduta para eles?

(1) Et accepto calice gratias egit et dixit: Accipite et dividite inter vos. (Luc., XX II, 17.)

(2) Mar., V III, Math., XIV.(3) Consacrat sive benedicit panes... ut me doceret, ut mensam

attingentes gratas prius agamus et deinceps cibum capiamus, etc. (Theophylact., in Math., XVI.)

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Que outra coisa faziam os Apóstolos senão recor­dar-lhes tais exemplos?

Diz Polidóro Virgílio:

“E’ costume entre nós benzer-se a mesa antes da co­mida; e isso se faz imitando a Nosso Senhor (1).”

Em duas ocasiões Jesus Cristo no deserto, benzeu os p>ães; e, em Emaús benzeu a mesa em presença dos dois discípulos.

Tertuliano tambem diz:“ Cessa o acto de comer e começa a oração (2).”De novo se poderia aqui citar — S. Crisóstomo, S.

Jerónimo, Orígenes e muitos outros Padres Latinos e Gregos (3).

O Bevedicite e as Graças dos primeiros Cristãos, possuímo-los até em versos magníficos que são de Pru- dencio:

Cristi privs Genitore potens, etc.Estes cantos de depois da comida são mais uma.

prova da pontualidade com que nossos avós se conforma­vam aos exemplos de Nosso Senhor, que se havia toma­do obediente às prescrições de Deus, Seu Pai.

(1) Nostris mos est mensam jam instructam sacris quibusdam sanctificaxe verbis, priusquam vesci incipiant.

(2) Oratio auspicatur, et claudit cibum. (AboL, III, 9.)(3) Vid. Duranti. De ritibus Eccl. Catli., lib. II, p. 658, edt. 1592.

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Eis em prosa mais outro monumento de nossa an­tiguidade, três vezes venerável.

Antes da comida:

— “ ó Vós que ali mentais a tudo quanto respira, dignai-Vos abençoar os alimentos que vamos tomar. Dis- sestes -que, se invocando Vosso Nome nos acontecesse beber alguma cousa envenenada, não sentiríamos nenhum mal, porque w is Omnipotente. Eliminai, pois destes ali­mentos o que el.es possam conter de prejudicial e malfa­zejo ( ! ) . ”

Depois da comida:

— “ Bendito sejais Senhor Nosso Deus, que desde nossa infância nos haveis alimentado; e conosco, a tu­do o que respira.” —

Profundamente filosóficas, como vt:remos, estas fór­mulas atravessa^m os séculos.

Com ligeira modificação ou sem isso, vês ainda sen­do usadas por os Católicos até nossos dias.

Apesar de suas hostilidades contra a Igreja, muitos protestantes conservam-na assim mesmo.

Ainda hoje, na Alemanha e na Inglaterra, grande número de f^amilias protestantes não comem sem que- primeiro rezem.

O que te parecerá mais estranho é que — a bênção da mesa se encontra até entre os povos pagãos.

(1) Vid. Mamachi, Costum, de primitivi Christiani, t. ll, p. 47, Origen., p. 36.

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Sim, meu caro Frederico; teus condiscípulos, discí-- pulos e admiradores do.:; gregos e dos romanos, que são- hoje modelos obrigados para rapazes de colégio, esses teus condicípulos envergonham-se de fazer o que gregos. e romanos tão religiosamente faziam.

Eis o que nos afirma Ateneu:

“ Nunca os antigos comiam, sem primeiro implorar os deuses ( 1) .

Falando dos Egípcios em particular, acrescenta:

“ — Depois de se recostarem à mesa, levantavam-se- de súbito, punham-se de joelhos, ■ e o chefe do fes^m ou o- sacerdote começava as orações tradicionais, que os ou­tros com ele recitavam. Depois de novo se recosta- vam (2 ) ” —

O mesmo acontecia entre os romanos.

Referindo-se ao assassinato de um homem perpetra­do num jantar por ordem do cônsul Quinto Flaminioi para agradar a uma cortesã, T ito-Lívio a!1sim se exprime:

— “ Este acto monstruoso foi executado quando, en­tre copos de vinho e iguarias, é costume orai’ aos deuses e oferecer-lhes libações (3 ) . ” —

(1) Veteres nunquam cibum cepi^e nisi prius deos placassent. (Depnosophis, lib. IV.)

(2) Port discubitum surgebant rursus, atque in denna procidebant, et praecunte, seu sacrorum administro, patrias quasdam pre­ces simul profundebant, quibus absolutis, denuo mensae ac- cumbebant. (Ibid., lib. IV.)

(3) Commissum est facinus hoc saevum atque atrox inter pecula, atque epulas, ubi libare diis dapes, ubi bene precari mos esst. (Decad. IV, lib. IX.)

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As libações, como sabes, er^m uma especíe de oração por toda a parte conhecida, e muitas vezes repetida.

Os romanos faziam-nas quase a todas as horas do dia: de manhã ao levantar; à noite ao deitar, quando principiavam uma viagem; nos sacrifícios; nos c a s p e n ­tos; antes e depois da- comida.

Não tocaram em alimentos sem consagrar uma par­te deles à divindade.

O que sobejava do festim era posto sobre o pequeno altar, chamado patella.

Isto constituía. para eles o benediciíe e as grafas.Notável tradição de uma perpetuidade universal!Vimos entre os judeus bênçãos novas a cada mudan­

ça de vinho ou a cada novo prato.

O mesmo uso havia entre os romanos.

A cada novo prato havia liba^ções particulares em honra dos deuses.

Cada conviva derrarna^^^a sobre a mesa ou sobre a terra, um pouco de vinho de seu copo, com ce^as orações dirigidas' aos deuses. (1 )

Aos romanos tinham os gregos servido de mestres.

Entre eles, a. me^sma frequência e o mesmo uso das libações no princípio e no fim dos ágapes, as mesmas ora­ções particulares a cada mudança de vinho.

— “ Sempre que se oferecia vinho puro aos convivas, diz ^Deodoro da Sicília, era. cost^ume dizer: Dom do demó­nio. ;E, quando no fim da refeição se servia vinho, mistu­rado com água, diziam: Dom de deus conservador.

(1) Dict. des Antiq. art. libations.

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O vinho capitoso era tido como prejudicial à saúde da Alma e do corpo, enquanto que o vinho discreto era saudável (1 ).

Para o fim da comida, havia uma fórmula geral da acção de graças que se dirigia ao senhor dos deuses (2 ).

4

O uso de benzer os alimentos era tão respeitado en­tre os pagãos, que dera lugar a este provérbio:

— “ Não te sirvas do alimento ainda não santifi­cado.”

“ Ne a chyírc-<Jede cibum nondum s^^íificat%m ra-- pias” .

— “ Este provérbio, diz Erasmo, significa:

— "Não/ vos lanceis ao olimenío’ com^ os brutos; não) tomeis alimento sem primeiro oferecer dele as primícias aos deuses.”

Entre os antigos, segundo refere Plutarco., as refei­ções eram na verdade havidas como coisa sagrada.

Eis porque os convivas con sagrava aos deuses as primícias dos alimentos e testemunhavam com firmeza que o comer era para eles coisas misteriosa e santa (3 ).

(1) Olim moris fuit quoties in caena merum vinum dabatur om- nibus, ut dicatur; boni Daemonis; quum post coenam acqua temperatum acciamabatur Jovis Servotoris, etc. (lib. IV.)

(2) Post coenam a lotis manibus inferi solere calicem Jovis Ser- uotoris. (Id., lib. 11.)

(3) Antiquitas enim, ut auctor est Plutarchus, in Symposiaris, inter rcs sacras habebatur mensa quotidiana, etc. (Apud. StruAins, p. 441.)

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Para ligar a cadeia das tradições pagãs, Juliano Após­tata, teve o cuidadOJ de ^mandar o sacerdote Apolon benzer o célebre banquete no arrabalde de Antióquia. ( 1).

Nisto os barbaros imitavam os povos civilisados.

À mesa, faziam os Vândados circular um copo já consagrado a seus deuses por certas fórmulas de ora­ção (2 ).

Nas fndias, o rei não comia nenhuma iguaria sem que primeiro fosse consagrada à divindade.

Apesar da grande diferença de clima, de costumes e de civilização, os povos da zona glacial pratical\^am o mesmo que os da. zona tórrida.

Os antigos habitantes da Lituania e da Samogicia, bem corno outros bárbaros do norte, chamavam os pró­prios deuses a santificar-lhes a mesa e eles que eram de- mónios, apareciam para tal fim.

A um canto de suas cabanas, certes tríbus selvagens mantinham como ídolos, a u^as ^serpentes domesticada!'.

Em certo dia, por meio de uma toalha branca, faziam que elas subissem à mesa.

As serpentes comiam então de todas as iguarías e retiravam-se.

Santificado assim o a li^ n to , dele os bívi^baros comi­am sem medo (3 ).

(1) Sozomen., Hist., lib. lll, c. XIV.(2) Vandali in conviviis pateram circumferentes olim certis ver-

bis consecrabant, sub nominibus deorum. (Grantz., lib. III. Vand., e. X^XXVII.)

(3) Struckius, ubi supra.

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Entre os abissínios, turcos e judeus modernos, acha- se igualmente a bênção da mesa.

Fiéis às tradições de seus maiores, estes últimos até c o n s e rva o uso de muitas orações durante a comida.

Assim, quando aparecem frutas, eles dizem:

— “ Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que criou a fruta das árvores.”

À sobremesa rezam:

— “ Bendito seja o Senhor Nos!'o Deus, que crcou es­pécies diferentes de alimentos ( 1 ).”

Os actuais povos da Indo-China da China e do Ti- bet não fazem excepção ao uso universal.

Estou certo, que ele existe até entre os negros mais barharos da África.

Escreve um Missionário da China:

— “ Chegamos., pouco antes das onze horas, ao “ g^^nde pagode de Quêm-chouyuêm. Era o mo- “ mento em. que os Benzos iam para ai mesa. Eis “ o espectáculo de que fomos testemunha. Num “ vasto refeitório, noventa Benzos sentados e co- “ locados dorso a dorso, diante de uma mesa com- “ prida e muito estreita, de mãos juntas, e olhos “ sempre fixos na terra, cantavam palavras, que “ nenhum de nós compreendeu.“ Esta oração durou bem dez minutos.“ O grande Benzo estava no centro, detrás de um

11) Struckius, ubi supra, et, c. XXXVIII. De tibationibus anteet post epulas.

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“ ídolo doirado e diante de uma pequena mesa “ mais elevada. De lá, onde dominava a assem- “ bléia, orava sentado como os outros.“ No meio do refeitório e em face do ídolo, esta- “ va um outro Benzo vestido de amarelo que ofe- “ recia à falsa divindade uma tigela cheia de “ arroz. Findas as orações, o Benzo colocou a “ tigela debaixo da barba do ídolo. Então, os “ creados encheram apressadamente os pratos “ das diferentes mesas. Nenhum dos convivas “ se movia; mas, a um sinal dado pelo grande Ben- “ zo, todos com eça ra a comer e n ^ instante “ devoraram grande número de gamelas de ar- “ roz, misturado com beringela ( 1) . ” —

Eis o bened^^ciíe na sua mais solene forma.Já o diziam os primeiros Cristãos e dizem hoje os

seminários e as comunidades.Nossos Missionários acharam a bênção da mesa até

entre os mais degradados selvagens da América do Norte.No princípio da com ida lançam fora de suas cabanas

as primeiras porções de seus festins, como quinhão reser­vado ao Grande Espírito, como igualmente oferecem-lhe as primícias do fumo que sai de seus cachimbos (2 ).

Vês, caro amigo?A oração antes e depois da comida é tão antiga co­

mo o universo e tão extensa como o gênero humano.Ora, se a existência de uma lei se reconhece pela

permanência dos efeitos; se, por exemplo. vendo nascer o

(1) Anais da prop. da Fé, n. 95, p. 340, ano 1844.(2) Anais, etc., n. 216, p. 288.

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sol todos os dias, num determinado ponto do horizonte, qualquer tem direito a dizer que uma. lei regula seus mo­vimentos, terei eu menor direito a afi^rmar que benzer os alimentos é uma lei da hu^m^idade?

Observá-la, é praticar o que faz todo o gênero huma­no; desprezá-la é proceder como os seres que não pe^rten- cem ao gênero humano.

Literalmente isso quer dizer:

— assemelhar-se aos brutos ( 1).

Pergunta a teus condiscípulos se isso é honroso.Em seguida te darei explicações da lei que prescre­

ve o benzer da mesa.

Adeus.

A té breve, se Deus quiser.

(1 ) Homo cum in honore esset non intelexit, comparatus ert jumentis insipientibus, et similis :factus est illis. (Ps. XLVIII.)

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D É C IM A N O N A C A R T A

Paris, 14 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. A benção do mesa é um oto de liber­

dade. — 2. Três tiranos. — 3. Vitória sôbre o mundo. — 4. Vitória soOre a corne. — 5. Vitória sObre o demônio. — 6. Conclusão notável.

Caro Amigo,

“ Os crocodilos é que comem sem orar.”

Tal é o axioma que resume as duas últimas cartas.

Dizes-me que teus condiscípulos foram achatados, pela força dos factos apontados; factos para eles total­mente novos.

Apesar disso, continuam na mesma; não fazem o Si­nal da Cruz nem antes nem depois de comer.

Tu é que agora o fazes impunemente porque eles te­mem o axioma.

Grandes palradores da liberdade e da independência, teus condiscípulos como outros muitos são os mais vis es­

1

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cravos do tirano ainda mais vi1 do que eles — o respeito humano.

Pobres rapazes!

Para encobrir a própria escravidão, querem ainda dizer:

— O Sinal da Cruz stObre os alimentos é causa inútil (• lom da moda.

Quem ainda faz isso pertence à classe mais oUr menos lespeitávcl dos tpapalvos.

Os Padres e os Religiosos são papalvos.

Os verdadeiros Católicos de todos os países sãopapalvos.

Os judeus, os egípcios, os gregos, os romanos, são ■papalvos.

A flor da humanidade é papalva.

A humanidade em geral é papalwa.

O pai, mã.e, irmãs deles são papalvos.

S6 eles é que são os sábios, só eles é que são os ilu.s- tm.dos, entre os morteis.

Para rasgar essa mascara com que pretendem enco­brir-se, vou provar as d ^ coisas seguintes:

1.0 A Bênção da mesa -e o Sinal da Cruz são um acto de liberdade, um acto mui útil, ^ acto que só saiu da m^oda nas baixas regiões do moderno idiotismo.

2.0 A razão, a honra e mais esta consideração, jus­tificando plenamente nossa conduta, explicam o proce­dimento do gênero humano.

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2

Três tiranos disputam a liberdade do Homem.

São: o mundo, a carne e o demónio.

Para escaparmos à escravidão deles é que nós, e conosco a humanidade, nos benzemos tl benzemos a mesa.

Já o vimos e eu o repito;

Não fazer o Sinal da Cruz antes de comer, é separar- se da flo r da humanidade; e não orar é assemelhar-se ao bruto. —

Em ambos os casos vê-se a escravidão de quem dei­xa. .de fazer tais actos.

Fresta bem a atenção.Quem se submete a um poder despótico é escravo.Poder despótico é aquele que não tem direito de po­

der mandar ou aquele que manda contra um direito, con­tra a rrazão, contra a auto^^lde.

Qual é o poder que me proíbe fazer o Sinal da Cruz antes de comer?

Quem chega até a ameaçar-me com suas zombarias, se eu tiver coragem de. fazê-lo?

Qual é o direito que ele tem para isto?De onde procede um tal mandato?Quais os títulos com que se alinhava à minha doci­

lidade?

Quais as razões a favor desse poder sobre mim?Este poder usurpador é o mundanismo actual.E ’ o mundo desconhecido nos anais dos séculos c^o-

tãos.

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E ’ o mundo dos salões, dos teatros, dos cafés, das. tabernas, oo agiotagem e da bolsa.

O uso desse mundo, a impiedade desse mundo, o den­so materialismo desse mundo, a tirania desse mundo é ■ que está dominando a Beócia (1 ) das inteligências.

Eis a menoridade que nascera ontem, e hoje é já decrépita.

Essa menoridade atrevida sempre em revolta contra. a razão, contra a hcnra, contra o gênero humano, é que ■ tem a pretensão de me impor os seus caprichos! . . .

E hei-de ser tão covarde que me subme^ta a tal po­der tão atrevido?

Num desacordo tal com a razão, com a honra, com a flor da humanidade, poderia alguém ter coragem de- falar em digwidade, independência e liberdade?/ . . .

ó soberba louca e vã !

Por debaixo do ouropel do orgulho se escondem os ferros da escravidão.

A máscara fu ^ d a com que se apresentam, mal enco­bre a figura do bruto.

Mas o bom senso aqui repete :

Midas, o rei Midas íem orelhas de burro.

Do cumprimento delas se lisonjeiam os independen­tes de hoje.

Tal independência nós os papalvos não a queremos por nenhum preço.

(1) A Beócia pertencia à Grecia antiga. Seus habitantes eram. tidos por estupidos. (Not. do tradJ

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E ’ vergonhosa a escravidão do mundo; e mais ver­gonhosa ainda, a escravidão do vício.

A ingratidão é um vício.A gula é um vício.A impurem é um vício.Contra estes tiranos protegem-nos o Sinal da Cruz

e a oração, antes e depois da comida.

3

Ha hoje duas escolas diametralmente opostas: a escola do respeito e a escola do desprezo.

A primeira respeita — ^^us, Alma, corpo, igreja, -Autoridade, tradição, creaturas.

Para ela tudo é sagrado; porque tudo vem de Deus e tudo deve voltar para Deus.

Ela ensina a usar de tudo com certa dependência, porque nada é meu; com certo temnr, pm-que de tudo te­nho a dar contas; com muita gratidão, porque tudo é be­nefício; até o próprio ar que lespiro, não é nosso; é uma dádiva de Deus.

A segunda escola despreza tudo: — creaturas, tra­dição, Autoridade, Igreja, corpo, Alma, Deus.

Mestres e alunos usam e abusam da vida e dos bens de Deus, como se de tudo fossem eles os proprietários irresponsáveis.

A primeira es cola tem escrito em sua bandeira — gratidão.

A segunda é sem bandeira porque é de cegos. Ape­nas se governam pelos bra^-os de — egoísmo e desprezo.

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No momento em que o homem, comendo consome os dons divinos necessários à vida., uma e outra sinalam sua presença. Fiel ao dever do respeito, a flor da humanida­de reza e dá graças.

E ’ o profundo sentimento que tem da própria digni­dade ; por ieso nã() se confunde com o bruto.

Tem a persuasão do dever e não fica muda à vista dos bens que tão copiosamente recebe da Providência.

A ingraltidão para com os hcmens é coisa odiosa ; portanto, mais odiosa, mil vezes mais odiosa, é a ingrati­dão para com Deus.

Ser escravo da ingratidão é ignorância que a primei­ra escola não aceita nem tolera.

Um coração ingrato jamais será bom.

Os criados na escola do desprezo envergonham-se de .ser reconhecidos.

Para eles a gratidão é um peso insuportável.

Comem à semelhança do bruto ou como o filho des- naturado.

Não encontram no coração nem um só sentimento de ternura.

Não têm nos lábios nem uma só palavra de gratidão para com o Pai, cuja bondade inesgotável provê às ne­cessidades e até aos lícitos prazeres de cada um deles.

Dizia um ilustre chanceler da Inglaterra:

“ Vêde aquele filho ingrato que, sentado à me- “ sa de seu Pai, devoi'a o pão alheio sem nunca “ nem se lembrar de Quem lho dá! Antes, mui- “ tas vezes até O ultraja na hora em que está

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‘ comendo! E, apenas saciado, como se fora um "cão, lhe volta. as costas.‘Tem-se na conta, de quem nada deve!” (1 )

E, porque calpestra um dever, .ei-lo quC' se julg-a um lime/ Proclama-se independente!

Independente do que?De Quem?Independente daquilo que é necessário respeitar e-

prezar, para depois v ir a ser dependente, esc-avo daqui­lo que é neceesário' aborrecer e desprezar.

Na verdade; que triste, que miserável independên­cia !. ..

Outro tirano senta-se conosco à mesa.

E ’ a gula.

Prendendo aos alimentos a vista, o gosto, o olfato, a Kula coloca o homem numa posição de idolatria ao ventre.

Em vez de falar na abundância do coração, aquela hoca nãiJ fala senão do estômago.

Não é das propriedades alimentícias que ele cuida: nas iguarias s6 tem valor o gosto.

Não come para v iver; vive para comer.Por isso nele é o ventre -que se desenvolve e domina.A inteligência emibota-se ; a Alma torna-se uma po­

bre escrava.

(1) Thomaz Morus, ap. Duranti, De ritibus, etc., lib. II. p. 659.

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A mesa lauta é incompatível com a Sabedoria.Nunca um grande homem foi glutão.Todos os Santos foram modelos de sobriedade (1 ).Olha, meu caro Amigo, falo da gula só como desor-

ík-m na escolha de iguarias, viciada delicadeza a serviço do paladar, avidez e sensulid.de no comer.

Quando a isto segue-se ainda a intemperança, conte-se então com uma récua de d ^ ç a s .

A intemperança da gula mata mais gente do que a espada:

— “ Plures OCcidit crapula, quam gladius (2 ) . " —

Nabucodonosor, Farad, Alexandre, César, Tamerlão com todos os algozes e tiranos que junc.aram a terra de cadáveres não chegaxam a matar tanta gente corno a gula.

Notável mistério!

No uso do Sinal da Cruz e da oração, antes e depois da comida existe uma profunda sa^idoria.

Invocando a Deus em nosso auxílio, nós nos armamos contra um inimigo terrível que ataca todas as idades, am­bos os. sexos, todas as condições.

A gula é um inimigo que tenta ligar-nos aos mais grosseiros vícios.

Sabemos que o comer é uma g u ^ a .

Ir à mesa é entrar em combate.

(1) Sapientia non invenitur in terra suaviter viventi^. (Job, X^XXVIII, 13.)

(2) ViRilia, cholera et tortura viro infrunito. (Eccl, ^XX, 23 et XXXVII, 34.)

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Segundo a expressão de um gra^.de gémo, o Sinal da Cruz nos ensina que para não sermos vencidos, é mis­ter tomar os alimentos como -quem toma remédio:

sempre por necessidade: nunca por prazer ( 1) .

Quando a escravidão da Alma começa pela gula, acaba pela ímpuí^eza.

Quem nutre sua carne só de alimentos delicados, tem de sofrer-lhe as vergonhosas revoltas.

O escravo nédio e gordo respinga.

Gousa perigosa é o vinho.

Nele reside a luxúria.

Sendo forte, é tão contrário ao bem da Alma como à saúde do corpo.

Bebido inconsideradamente espuma em volúpia.

No P.stomago dos rapazes é azeite lançado ao fogo.

— “ A gula é a mãe da lu:t"líría e o aígoz da castida­de.” — "Ser glutão e Mpirar a ser casto é querer com azeife apagar um incêndio.” — “ A gula escurece a inte- tigcncia." — “ O glutão é um idólatm; presta cuíto de ido­latria ao! nentre. O templo deste ídolo é a cozinha, a me­sa, o altar; os sacnficadore.? os p in h e iro s ; as 'l.'itima.<J são os pratos; o incenso- é o cheiro das iguarias.”

E, ^ r c a bem, meu caro, este templo é a escola da libertinagem.

(l) Hoc docuisti me, Domine, ut quemadmodum medicamenta, sic alimenta sumpturus accedam. (Santo Agostinho Confess., lib. X, c. XXXI.)

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— “ A gula aíaca-nos, e, sempre que íriun/a, chawa logo a luxúria para fazerem-se múí^w regaliaso.”

— e luxúria são doW demónios inseparáveis.— “ A muítidão lios pratos e garrafas atrai a, muíti-

dão dos espíritos iw-undos, de cuja súcia o pior, o p-rin- citpal char/ta-se demónio do ventre.

— "A safíde física c moral dos pouos é bem propor­cional ao número de trabalho dos cozinheiros.” ( 1)

Acaba de ouvir, meu Frederico, os oráculos da Sa­bedoria divina e da ciência humana.

E ’ a voz dos séculos confirmada pela experiência.Qual o meio para o homem conservar sua liberdade

na presença de um inimigo tüo perigoso que prende e- mata lisongeando?

(1) Luxuriosa res vinum. (Prov., XX,l.) —— Gula genitrix est luxuriae, et castitatis carniíex. (S. Hier., Reg. womach., c. XXXVI.)Qui ventri dum obsequitur, fornicationes spiritum vincere- vult, is ei similis est qui oleo incendium extinguere - nititur. (S. Joan Clim. Grad., XIV.)Deo ventri templum est coquina; altare, mensa; ministre, coqui; immolatae pecudes, coctae carnes;; Fumus incensorum,. odor saporum. (Hug. a S. Vict., De claustr. anim., lib. ll, c.. XIX.)— Esus carnium et potus vini, ventrisque saturitas, semina- rium libidinis est: nule comicus: Sine Cerere, inquit, et Libero. friget Venus. (S. Hier., ad Govi., lib. 11— Immundi spiritus se magis injiciunt, ubi olus viderint

• escarum et potuum. (S. Isid. Hip., De su.m, bon, sent., s.XLIV, sent 3.)Gula semper est in pugna ... Si guiam non viceris, s-ed ipsa te viccrit, statim advocat sororem suam, Luxuriam. (S. Bern., De inteT. Dom. c. XXXIX; S. Bonav. De pugn. spirit., c. II.)— Gula et luxuria, conjurata daemonia. (Tertull.)Muitos morbus, multa/fecunda: innumerabiles esse morbos-. miraris? esqucs numera. (Senec., Ep. XCV. etc.)

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O passado e o presente não conhecem mnis do que um; e o futuro tambem não conhecerá outro:

Somente um soco^ ro de Deu.s.

E tal socorro de Deus só se obtém pela. oração.Para fortificar o homem contra as tentações da me­

sa, fo i estabelecida uma oração especial que é praticada entre todos os povos.

E mesmo os que fazem nem sempre saem vitoriosos.Que será dos que nunca a fazem?E dos que a deprimem, dos que zombam dela?Quererão porsuadir-nos de que ficam sempre senho­

res do campo da batalha?Para os acreditar, não bastam palavras; são neces­

sários factos : e estes são os costumes.

Se em plena luz houvéssemos de vet- os mistérios de - seus pensamentos, a perversidade dos seus desejos, o tris­te efeito de suas visitas, a. fedentina de seus discursos ín­timos, a baixeza de sua conduta?!

Tal exibição, porém, não é necessária.Temo-la cada semana verificada no registo dos es­

cândalos da imoralidade pública.

5

O sMrado dever da gratidão, como ainda a imperio--■ sa necessidade de nos defendermos da gula e da volúpia, justificam plenamente o uso da bênção da mesa.

Ouso, porém, aqui acrescentar que ele repousa numa outra razão de certo modo ainda mais forte e mais pro-

■ funda.

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E ’ aqui onde mais se vê a ignorância e a estupidez do mundo actual.

Já dissemos que há um Dogma de que por toda a parte o Gênero Humano tem sempre conservado a lem­brança.

E ’ este:Desde que satanás alcançou vitória contra nossos

primeiros pais, isto é, desde o pecado, todas as creaturas estão M serviço do príncipe do mal.

Como sempre se acreditou na existência de Deus, todos os povos têm sempre acreditado tambem que as creaturas pelas influências malignas do demônio, ficam sendo instrumentos de seu ódio contra o liomem.

Daqui a infinita variedade de purificações emprega­das por todas as gentes, em todos os séculos, debaixo de todos os climas.

Há, poi-ém, um acto em que o uso destas purifica­ções aparece invariável:

E ' o de tomar o alimento.A universalida.de e in/lexi6üida.de deste uso, assen­

tam de cheio sobre dois factos.

O prime-iro é ser o demónio da. mesa o- mais perigoso de todos (1 ).

K o segundo é ser a união oporada .entre o alimento e o homem a ^ i s íntima de todas poi-que consiste na assimilação.

(1) lis qui ad luxum mensarum propensi sunt, praeest daemon belluo maximus, quem ego verebor appelari ventrí daemo- nem, daemonum pessimum et pernicionssimun. (Ciem. Alex., Poedag., lib. II, c. I.)

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Do alimento pode o Homem dizer:— “ Eis o osso dos meus ossos, a ca^^e da minha car­

ne, o sangue do meu sangue. ” — ,Foi, por isso que Deus nunca permitiu ao Homem

perdesse de vista o pei*igo que há em tal contacto.Nas próprias fórmulas da bênção e da acção de gra­

ças, acha-se a prova de que este medo universal é a ra­zão profunda do uso do Sinal da Cruz e da oração sotwe os alimentos.

6

Cristãos ou pagãos, todos, sem excepção, pedem a Deus que dos alimentos sejam desviadas as malignas in­fluências do demónio.

Queres para teus condiscípulos coisa melhoi' e mais conveniente do que as autoridades bem fora da Igreja?

Baste um só, por todos.Porfírio , o maior teólogo do paganismo, o mais sá­

bio intérprete dos mistérios e ritos da antiga idolatria, diz:

“E ' necessário que todas a.<J habitações es-“ tôo cheias de demónios. E é por isso que quan- “ do queremos orar aos deuses, purificamo-las e:t- “ pnlasndo estes hóspedes malfazejos.

Mais ainda:

De demónios estão cheias todas as creaturas; “ em modo especial as que saboreiann certos gê- “ neros de alimentos.“ Assim,

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"quando nos sentamos à ‘mesa, eles não só “ tomam lugar a nosso até se «nem a"noi<;.'W corpo.“ Daí nasce o uso lustraçõe:s, c ujo fim prin^ “ ri.pal não é tanto invocar os deuses, como ex- “ pulsar os demónios."Ta.ís de‘mónios se deleitam especialmente inas “ impurezas do sangue; e, para se saciarem ò “ vontade, introd‘uzem-se 'no corpo do.S' que lhes "invem sujeitos.“Não há na carne movimento forte de volupíii.o- “ eidad.e ou no espírito a-jpetite violento de con- ■‘cupiscência que não seja excitado por estes “ hóspedes ( 1) ” .

Não te parec.e de São Paulo o que acabamos de ouvir?

Tão precisa é a revelação dos mistérios do mundo sobrenatural, que bem parece ditas pelo Apóstolo.

Além das influências ocultas e permanentes do de­mónio sobi’e nossos alimentos, de tempos a tempos Deus permite factos brilhantes, que revelam:

1.0 — a presença do inimigo;

2.0 — a necessidade de afugentá-lo dos alimen­to?, antes dE: os tomar.

Em S. Gregório Magno, lê-se o seguinte:

“ Uma religiosa entrando na horta do Mosteiro, "m u uma alface que lhe despertou apetite. “Apanha-a sem fazer o Sinal da Cntz e, come-a..

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"N o mesrrw instante cai por terra., possessa do “ demónio e entra em medonhas contJ-ulsõcs. “ Corre logo a socorrê-la o Venerável Abade “Equido que reza. pedindo alívio pa.íw a desg 'ra- “ çadtt."O demónio atormentado c^eça . a. gritar:— “ O que fo i çue eu fiz?“En nãO' f i z n^la/“ Estava en lá bem quieto na oLfase.“E la é çíw a comen sem me afugentar. — “Ordcina-lhe o Santo Abade que, mn Nome de “ Nosso Senhor Jesn.s Cris.to saia. do corpo da- “ quela. serva de Deus c que n-<io ^a.is ft moleste. “ O demónio obedece; e a. religiosa fica pleia- “ mente cnr^la (1 ).

Estás vendo?Os factos concordam com os testemunhos.A teologia pagã com-orda com a cristã..O oriente concorda com o ocidente.Os tempos antigos concordam com os modernos. Porfírio concorda com S. Gregório.E teus condiscípulos?

(1) Plenae siquidem sunt eorum (improborum daemonum) aedes universae, quas ante propterea ipsis ejiciendia expliant, quo- ties diis supplicaturi sunt. Quin etiam eorundem plena sunt corpora, quod certo quodam ciborum gencre proecipue delec- tantur. Itaque recumbentibus nobis non accedunt ipsi modo, sed etiam nostrum ad corpus adhaerescunt, quae causa est quamobrem lustrationes adhiberi consueverint, non utique propter deos potissimum, sed potius ut daemones rccedere atque alio migrare cogantur, etc. (Apud Euseb., Proep. evang.. lib. IV, c. XXII.)

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Que hão-de opor eles a tamanhas autoridades?Dizer que o gênero humano é um paqjalvo; e que o

uso universal de benzer o alimento é supei^stição que pas­sou da moda, é cousa muito fácil.

Eu é que não me contento com palavrab.Dize-lhes que:

se me derem só u ^ razão mesmo do vaior ape­nas de um ceitil, para poderem com ela se dispensar de benzer a mesa, ;eu promJeto, a cada um deles, um busto no Panteon.

Fica pois estabelecido :Orar antes de comer é uma lei da humanidade.

À nossa época é que estava reservada a. triste tarefa de produzir espíritos tô.o fortes que achassem glorioso ao menos algumas vezes ao dia asSiemelhar-se pública- mente ao. gato, ao cão, ao crocodiloi

Deixo-te nesta verdade.

Amanhã, se Deus quiser, tratarei a questão debaixo de outro as^pecto.

Adeus.

(D Dia!., lib. I, Dia!., IV.

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V IG É S IM A C A R T A

Paris, 16 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. üm t:iajor desnorteado. — 2. O Sinal da

Cru.:: é um verdadeiro guia. — 3. A lem­brança é o pulso da amizade. — 4. im­portância do Sinal da Cruz. — 5. Lem­branças Divinas. — 6. .4 ,'ei da imitação.

l\:Ieu caro Frederico,

Perdiào lá pela “ floresta negra” dos tempos de Cé­sar, — imensa, horrível, sem morador, sem caminho nem carreiro — tu te achas só.

Feras rugem rugidos medonhos.

Escmidão de breu.

Piscam relâmpagos.

Trovões rebramam.

Uma chuva torrencial.

Naquele vasto esconderijo dos ursos gen n â n i^ , a cuja vista. nos circulos do Coliseu os Romanos aterrori­zavam-se, mesmo quando sentados nas bancadas inacessí-

I

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vcis, tu não sentirias à falta d.e quem te defendesse e guiasse?

E, se de repente te aparecesse alguém que te ani­masse, te defendesse, e salvo te conduzisse até tua casa?!.

Acharias bom?

Aí tens a imagem palidíssima da realidade.

O mundo é para o homem pior, incalculàvelmente mais temível que a floresta; ne^rr” .

A noite de tempestade, com suas trevas, trovões, re­lâmpagos, perigos, terrores. .. é muito menos do que a vida do homem com as consequêndas terríveis do pecado original.

— Onde estou?Para ond.e vou?Que caminho hei-de ter?

São essas as primeiras inda,gações que lhe surgem à mente ao homem que anda perdido por este mundo en­volto em trevas, cheio de angústias, povoado de perigos.

E quem lhe poderá responder?Quem o animará em um tamanho desalento?Quem o há-de, guiar?

O S'í’nal da Cntz

T a l como São Rafael Arcanjo ao jovem Tobias, o Sinal da Cruz se aprsenta a ti, a mim, a todos para nos acompanhar, guiar e defender.

Viajores por este mundo em demanda do Céu, o Si­na./. da Civuz é guia. seguro que nos conduz s ã s e salvos.

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1 — Mãe sempre solícita e Mestra infalível, a Santa Igreja ensina isto ao Homem, já desde quando ele anda no berço.

2 — Tal é o ponto de vista por onde vamos a.::;or;< estudar este Sinal admirável.

2

Numa eloqüência divina, o sublime Sinal da Crnz tlis ■ ipa as trevas, aclara os ^caminhos, guia o homem e ••-:. - ponde-lhe com clareza pacificadora as perguntas que !b_' causam o pânico da incerteza.

Eis o que ele diz ao homem:

— ” Tu vicste de Deus e a Ele deves voltar. “ Imagem de Deus que é Todo Amor, é pelo amor “ que deves a Ele regressar.“ O amor abrange a lembrança e a imitação. “ Lembra-te de Deus e adora-0.“ Segue Aquele que disse: — Eu sou o Caminho. “ a Verdade, a V ida e imitarás a Deus porque “ Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. “ Só assim cumprirás estas duas leis fundamC?:- “ tais de tua existência” .

Nada mais verdadeiro.

E ’ divina esta linguagem do nosao Guia e Sinal.

Para mais o comprovar, entraremos em alguns por­menores.

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3

Em França, como na Alemanha, como em toda a. parte, hoje, como há quatro mil anos se afirma que

A lembrança é o .p ílso da amizade.

Enquanto o pulso bate, teina a vida; quando deixa. de hater reina a morte.

Do mesmo modo:Enquanto perdura a lembrança do objecto amado,

subsiste a afeição; quando a lembrança enfraquece a afeição diminui.

Tudo isto, como sabes, é coisa elementar.Ser a lembrança um sinal das afeições humanas é

coisa tão c^rte que nas despedidas os amigos não deixam de dizer:

Não te esqueças de mim, que eu jamais me esquece­rei de ti.

E trocam entre eles objectos que durante a ausência, entretenham recíproca lem b ^ ça .

Isso que se dlá. com as amizades humanas, dá-se mui­to mais com o Amor de Deus.

A lembrança de Deus é tudo para o Homem; é a nosõa vida.

Sen do a lembrança de Deus a primeira lei de nossa existência, competia à Sabedoria Divina dar-nos um. meio- de a cumprir.

Este meio deve ser universal, porque a lei tambem.o é.

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Este meio deve ser acessível a todos, porque a lei é para todos: ricos e pobres, !'.ábios e ignorantes, ociosos e dedicados ao trabalho.

Este meio deve ser de grande eficácia, porque a lei é fundamental.

A lembrança é uma lei fundamental da humanidade.Sim, meu caro Frederico; este princípio vai mostrar-

te a im portânia do Sinal adorável.

4

O que o sol é no mundo físico, em grau muito supe­rior, infinitamente acima, Deus é no mundo moral para todos os respeitos.

Imagina o que seria da natureza, se o sol se apagas­se, deixando de enviar à teri’a suas torrentes de luz e calor?!

Não haveria mais vegetação, os rios e os. mares pas­sariam a ser planos de gelo e a terra ficaria dura. qual um 1'ochedo.

Todos os animais daninhos que a luz, detinha no fundo das florestas sairiam de suas cavemas, e por uivos medonhos se chamariam p.ara a carnagem.

A desordem e o terror dominariam o Homem.Por toda a parte reinaria: a confusão, a desespera-

ção, a morte.Em pouco tempo o mundo ficaria sendo ^ caos.Pois hem; se a lembrança de Deus, Sol necessário

das intelig-ências, chegasse a desaparecer da mente de um povo, logo a vida moral entre aqueles homens se extin- guiría.

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Desapareceriam todas as noções do bem e do mal.O justo e o injusto se confundiriam no direito do

mais forte.

A guerra atear-ce-ia por toda a parte; guerra de todos contra todos; guerra que transformaria o mundo em vasto recinto de assassinos e ladrões (1 ).

Toda a cobiça a mais horrenda, todos os desejos os mais selvagens e sanguinários, apareceriam nO' coração do homem, e, ao vendaval dos egoísmos, r o la r ia em frag­mentos o mutilado das fortunas, das cidades e dos im- pérics.

(1) O que foi a guerra europea de 1914 a 1918?Qual a verdadeira causa daquela hecatombe mui cláramente declarou o Santo Padre Bento XV numa audiência dizendo:

— As mais terríveis feridas que estão carcomendo a hu­manidade são:

1 — A revolta contra a Autoridade;2 — O ódio entre irmãos;3 — A sêde dos prazeres e divertimentos;4 — O aborrecimento ao trabalho e ao sacrifício;5 — Um esquecimento do fim sobrenatural da vida. —

E a terribilissima guerra mundial, incêndio que a inda não se apagou de todo, qual a última e verdadeira razão dela? Di-lo o Santo Padre Pio XII quando afirmou que

— Os homens perderam o senso do pecado —Xoutras palavras:Hoje não se vive uma vida bem de acôrdo com os Manda­mentos de Deus.E porque?Porque a Lembrança de Deus vai muito postelgada.E’ notável, muito notável, a VII Pastoral de Sua Eminência, o Snr. Cardeal Câmara. Arcebispo do Rio de Janeiro, provo­cada por as sobreditas palavras do Soberano Pontífice Pio XII. Todo o brasileiro deve lê-la com o máximo interêsse: inte­resse próprio; interêsse da Família e da Pátria.

Nota da prime ira tradução brasileira.

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Olhos humanos ainda nunea viram um tal especüi- culo, porque nunca se velou de todo no universo a luz do Astro brilhante qua o vivifica.

Mas, o que eles já viram fo i um mundo sobre o qual a ideia de Deus, semelhante ao sol envolto em densas nu­vens, não lançava senão luz froixa e incerta.

Apareceram então as tentações sem fim e surgiram logo os sistemas ocos e imorais, as superstições grossei­ras e cruéis, as paixões em vez das leis, os crimes em v-cz das virtudes, o materialismo sem base, o despotismo em seu auge, o egoísmo geral, os combates dos gladiadores e os festins de carne humana.

Mesmo entre os judeus o esquecimento de Deus, ain­da que menos grosseiro que entre os pagãos, produziu amá.logos efeitos.

Vinte vezes, pelo órgão dos profetas, o Senhor atri­bui a este crime as iniquidades de Jerusalem e oS! castigos que sobre ela pesaram.

Jerusalem, como tu bem sabes, era o tipo dos povos.

Eis. o-qu.e diz o Senhor:

— “ Quem jamais ouviu falar de horrOTes iguais “ aos que comete a virgem de Israel. . . só por “ se haver esquecido de Mim?“ Tu tens seguido o caminho de tua irmã Sama- “ ria, e Eu em tua mão c o la r e i o seu copo.“ Tu beberás do copo de tua irmã que é largo e “ fundo e pasaarás a ser o escarnio das nações. “ Tu serás embriagada à força de dores, embria- “ gada pelo cálice de amargura e tristeza, pelo ‘ ‘cálice de tua i rmã Samaria.

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“ E tu o beberás, e tu o esgotarás até as fézes, e “ tu devorarás seus fra^gmentos, e tu a ti própria “ te rasgarás as entranhas.“ Porque tu te esqueceste de Mim e Me colocas- “ te por baixo de teus pés, tu carregarás com “ teu crime e com o castigo de teu crime.” (1 )

Será possível caraterizar com mais energia as conse- quêndas funestas do esquecimento de Deus?

Toda a gravidade do crime avalia-se pela santidade da lei violada.

Sendo ai lembrança de Deus a lei vital da humanida­de, calcula bem, meu caro, sobr.e e::ta base a importância do Sinal da Cruz.

E ’ ele especialmente destinado a avivar no homem e sta salutar lembrança.

Digo especiaZmeníe, e com razão.

5

O Sinal da Cruz é todo cheio de lembranças divinas.

Em fazendo o Sinal da Cruz todas estas lembranças divinas, como si fora um líquido vivificante, penetram profundamente em toda a minha existência.

Fazeiido o Sinal da Cruz, eu me lembro necessaria­mente de Deus Pndre; lembro-me necessàriamente de Deus Filho; lembro-me necessàriamente de Deus Espírito Santo.

(1) Jerem. XVIII, 13; Eseq. XXIII, 31-35.

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Lembro-me do Padre Eterno, meu Creador, do F i­lho Unigénito, meu Redentor, do Divino Espírito Santo, meu Santificador.

O Nome do Padre (a ti. a mim, a todo o Homem, que tem espírito para compreender e coração para. amar) o Nome do Padre faz lembrar todos os divinos benefícios na ordem da creação.

Eu existo; e a Vós, 6 Pai dos pais, devo eu a. inda que é a .base de todos os bens naturais, a, vída que Vós me ha- veis dado a mim de preferência a tantos milhões de se­res apenas possíveis, mas, que não existem.

Mais.

Eu vos devo a conservação da vida.

Cada pulmção de meu coração é um( benefício; e Vós o renovai^ a cada segundo do dia e da noite; e Vós me continuais fazendo há longos anos, apesar da minha in­gratidão e do ^ u uso que dele tenho feito; e Vós em mim o continuais, preferindo-me a tantos outros que mais já não existem posto que nascidos quando eu nasci ou mesmo depois de mim.

A Vós eu devo tudo quanto conserva, consola e em­beleza a vi.da.

Eu Vod devo tudo, ó Pai Creador! O sol que alumia, o ar que respiro, a terra em que me f i ^ o , os alimentos que me nutrem, os vestidos que me cobrem, os remédios que me curam; o meu corpo com os próprios sentidos e a minha Alma com suas faculdades; os meus parentes e os meus amigos; os animais que me servem e todas as creaturas, visíveis e invisíveis, que pusestes ao meu ser­viço.

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Tudo, tudo me vem de Vossa generosidade 6 Senhor Padre Eterno!

O Nome do Filho nos recorda todos os benefícios di­vinos, na ordem da Redenção.

Quando o pronuncio, 6 Filho Unigénito, Vosso No­me transporta-me aos explendores da eternidade e vejo-. Vos igual ao Padre, sentado no mesmo Trono de in fin ib felici.dade.

Desço depois de repente, e Vos contemplo Menino recém-nascido, dei tado em palhas, na pobre mangedoura de Belém, tremendo de frio, levemente aquecido pelos ca­rinhosos cuidados da Virgem Mãe e poío bafejar de dois animais.

Passo da mangedoura ao Calvário e Vos contemplo na Cruz.‘ Que espectáculo! O Monarca dos mundos, o Rei dos Anjos e dos homens o verdadeiro Filho de Deus sus­penso num patíbulo, entre o Céu e a terra, no meio de dois ladrões.

Tem o Corpo rasgado, Pés e Mãos varados por cra­vos, Cabeça coroada de espinhos e Rosto manchado de escarros e de Sangue !

E tudo isto, 6 meu Senhor, Vós o sofreis por amo'' de mim.

A Cruz leva-me ao Tabernáculo.Lá eu me vejo diante de Deus aniquilado, diante de-

Deus convertido em meu pão, diante de Deus meu; prisio­neiro como se fora meu servo, diante de meu Deus que obedece a minba voz, a voz de um filho.

Diante daquele resumo de todos os milagres do Amor,, minha boca emudece.

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A linguagem dos Anjos é tão impotente como a dos Homens para balbuciar alguma coisa i'e.:-peito de um Mistério que só o ^m or infinito pôde conceber.

Q Nome do Espírito-Santo nos faz lembrar todos os benefícios na ordem da santificação.

ó Am or consubstanciai ao Padre e ao Filho! E ’ a Vós que o mundo deove tudo.

Ele Vos deve o Verbo Encarnado, o Redentor:

— “ Qui conoeptus est de Spit'itu Sancto.’

Ele Vos deve a Santa Igreja Católica, uma outra Mãe, que é para o mundo e para mim o 'que Maria é para

.Jesus:

“ C7v;do in Sp-i?iíum Sarwtum, &ncíam Ecclesiam Ca- tftoUcam."

Suas entranhas me geraram, seu leite me alimentou; seus Sacramentos me fortificam e me curam.

Devo a E1a a Comunhão dos Santos, gloriosa Socieda­de que me coloca a mim humilde creatura em relações ín­timas com todas as Hieraquias Angélicas e com todos os Santos, desde ^Abel até o último dos Escolhidos.

D’Ela recebo e só a Ela devo o testemunho a conserva­ção do Evangelho.

Benefício inestimável!

Pois, o Evangelho é o facho luminoso que tirou do es­tado bárbaro o gênero humano, e obsta a que nele recaia.

Conheces tu, porventura, uma lembrança tão fecunda •e tão eloquente, como o Sinal da Cruz? O filósofo, o polí­tico, o Cristão, algumas vezes procura livros para estu­

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dar; e este pode substituir todos os. outros. Inteligível a todos, leg íw i a toda a hora, gratuitamente dado aos Ho­mens, apai'ece entre as mãos de todos. Deus assim o fez; e o que Ele faz, é bem feito.

Lembrar-nos de Deus é a primeira lei de' noasa exis­tência. Agora tu conheces bem, caro amigo, a importân­cia desta. lei e como o Sinal da nos ajuda a c ^ p r i- la .

6

Imita.r a Deus é uma lei não menos fundamenta.l.Nunca em nenhum espírito sensato entrou a menor

dúvida sobre tal respeito.Nã:o será todo o ser como que obrigado a caminhar em

busca. da perfeição?Não será por isto, e só por isto, que a existência lhe

foi dada?A perfeição de um. ente não consistirá na semelhan­

ça dele com o tipo de sua formação?Um quadro, não será ele tanto mais perfeito quanto

J:IWlhor exprimir os traços do modelo?O' Homem é creado à imagem de Deus.Avivar em si traço a traço a Imagem divina e te!

como limites da própria perfeição sõmente a Perfeição Divina do nosso Modelo sublime é a Lei da nossa existên­cia e o írabalfeo imperioso de toda a nossa vida.

“ Eu vos dei o exemplo, dizia o Homem Deus, para que façais assim como Eu mesmo o hei feito” .

E seu grande Apóstolo diz:“ Sêde meus imitadores, como do Verbo Encarnado

eu o sou.”

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Para os que se não apresentarem confonnes ao Di­vino Modelo, não ha salvação.

Ora, para guiar-nos a caminho desta imitação, nada mais próprio que o Sinal da Cruz.

A o fonnar o Sinal da Cruz que diz o Homem?Pronuncia o Nome de Deus; porque, — Deus é o Pa­

dre, o Filho, e o Espírito-Santo — três Pessoas distintas, em uma s6 Divmdade.

Repetindo o Nome de Deus, o Sinal da Cruz nos põe diante dos olhos o Modelo Eterno, o Ser por excelência que reune todas as perfeições e em grau infinito.

Repetindo o Nome de cada Pessoa da Trindade Au­gusta, o Sinal da Cruz nos propõe à imitação não só as Perfeições Divinas, como as Propriedades particulares de cada uma das Três Pessoas.

Do Padre é o Poder Infinito; e o Sinal da Cruz nos diz a cada um de nós:

— O In fin ito Poder do Padre, Creador e Governador de todas as coisas, tu o deves imitar no governo de ti mesmo, com o poder que deves exercer sobre as paixões, sobre as máximaP. do mundo, isto é, sobre os usos, sobre as modas, sobre os intereases, sobre as promessas, sobre as ameaças dele e ainda sobre tudo quanto for contrárin à dignidade e liberdade de um filho de Deus.

Somos filhos de Deus e herdeiros da Glória por isso somos reis como n oso Pai que está no Céu.

Do Filho é a Sabedoria Infinita; e o Sinal da Cruz diz a cada um de nós:

— Deves imitar a Sabedoria do Filho de Deus na Justiça que em tuas apreciações deves ter e nos juízos que fazes na preferência que impreterivelmente deves dar à

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Alma sobre c corpo, à eternidade sobre o tempo, ao de- oer sobre os praZJeres; j l1'3tiça em avaliar as riquezas do Céu que duram sempre e os bens da terra que são passa­geiros.

Do Espírito-Santo é o Am or In fin ito; e o Sinal da Cruz diz a cada um de nós:

— Deves imitar a Caridade do Divino Espírito-San­to, purificando e enobrecendo tua vida com afeições san­tas, guardando até a menor fibra do teu coração para te preservares do egoísmo, do ódio, da inveja e dos demais vícios que geram no interior a degradação e no exterior a desordem.

E não será pois o Sinal da Cruz um' excelente guia.. meu caro?

Quem é o professor de filosofia que póde jactar-se de ' apontar mais claramente a cada potência de nossa Alma o caminho da perfectibilidade?

Todavia não conltecemos ainda senão urna parte des­ta doutrina.

O resto, para ama^nhã,

se Deus quiser.

Adeus.

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V IG É S IM A P R IM E IR A C A R T A

Paris, 18 de Dezembro de 1862.

Sumario:— l. Imitação de Deus. — 2. O Sinal da Cru::

santi/icodor do Homem e das creaturas. — 3. Ensinando-nos a Caricüzde, o Sinal da Cruz é guia eloqüente e seguro.

Caro Amigo,

As três Pessoas Divinas oferecem à nossa imitação todas as perfei^ções.

Graças ao Sinal da Cruz é que podemos ver à. nossa frente, a Santíssima Trindade para imitá-La.

Duas palavras resumem o que hoje mais necessita imitar-se:

Samtidade e Caridade.

Santidade quer dizer unidade.E' a isenção de toda a mistura.Deus é Santo, po.rque é Uno.E ’ três vezes Santo, porque é três vezes Uno.

1

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Uno em Sabedona In fin ita ; Uno em Poder Infinito e Uno em Amor Infinito.

Nada limita, nada pode alterar em Deus esta tríplice unidade.

Deus é Santo, completamente Santo, perfeitamente Santo.

Em todas as Suas obras Deus é Santo.

Em nenhuma delas pode entrar mistura culpável, de­sordem ou pecado, sem que isso repugne à Santidade de Deus.

Os Anjos maus sepultados no inferno, Adão c Eva expulsos do P?.ra.íso terrestre, o mundo afogado no dilú­vio, Sodoma devorada pelo fogo, o Império Romano desfa­zendo-se aos golpes dos .Bárbaros, as calamidades tanto públicas como particulares, o infenio com seu fogo eter­no c a grande Vítima. do Calvário crucificada entre dois ladrões, são outras t:mtas testemunhas da inexorável San­tidade de Deus em S'uas ereaturas.

Eis a primeira lição que o Sinal da Cruz sempre medá!

Não posso fazê-lo sem que Ele me diga:

Imagem Santa do Santo Deus três vezes Santo, ine- xoràvelmente Santo, tambem tu deves ser ^ t o , três ve­zes santo, inexoràvelmente santo:

a) :— na memória,b) — no entendimento,

c) — na vontade.

Santo na minha Alma e no meu corpo; — santo em mim mesmo e santo em minhas o b ^ ; — sempre santo,

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em tudo e em to da a parte, só ou acompanhado; na juven­tude ou na velhice, — devo ser santo!

Eis a sublime Unidade que devo em mim realizar.

"Homem, como és grande! (exclama Teituliano) Se chegares a compreeender-te?!

“ O Homo, twntum nomen, si intelligas te!

Não é ainda bastante.Como faz o próprio Deus, também devo realizar es­

ta unidade mesmo fora de mim.A santidade ou unidade da minha vida deve raiar a

tudo quanto me rodeia.Acções, palavras, tudo em mim deve servir para di­

recta ou indirectamente desviar do mal o meu próximo, imagem de Deus como sou e destinado como eu ao mesmo fim.

Deste dever, tão vivamente recordado pelo Sinal da Cruz, nascem os prodígios de dedicação qu.e de contínuo se renovam no seio do catolicismo.

Pergunta, meu caro, a essas legiões de Apóstolos de ambos os sexos, pergunta-lhes qual o motivo que os obri­ga a por ao serviço de bárbaros desconhecidos as mais distintas inteligências, as mais virtuosas vidas, o sangue mais nobre! . . .

— “ A rpalavra do Mestre (te responderão todos). Temos mwido o Verbo Redentor andando im pri­

m ir em todos os membros da. família humana, o Sina! Augusto da Triinda,de.

Im orta l e divina, esta. Jjalavm de ordem chega até nof-so coração-; e, onde houver uma /i^onte a ser a rca d o

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o Sínaí libertador, corremos a.íé lá e lá traba.lha.re- tnos, lá •m^oreremos, se p?’eciso fo r ! . .. ”

Houve, meu caro, ouve a São Francisco Xaviei^, o generalíssimo dessas legiões heróicas de Missionários, o São Paulo dos tempos modernos.

Sem dúvida sabes que, por seus trabalhos gigantes­cos, este homem prodigioso conquistou à Fé e à civiliza­ção o mundo das índias.

Qual a força. que eleva a tão alta potência a cora­gem dêle e de seus sucessores até se transformar em te­meridade?

Quem vibra-lhes a vontade ao extremo do entusias­mo, alem das raias da loucura?

— Sanctisa.lma. Trinitas!

Trindade sanUssi^^^a!

Eis o grite de guerra n<>S lábios de Francisco Xa­vier, tão frequente como a respiração.

Ele te revela e te explica o pensamento que é comum a todos os Apóstolos e Missionários: do Bem e da Verdade.

Com a vista iluminada pela Fé, lançando um olhar sobre os numerosos povos da índia, da China e do JapãiO, Francisco Xavier enxergava todos eLes sentados à som­bra da morte e em vez do marco glorioso da Santíssima Trindade, vê na fronte deles o sinal da besta do Apoca­lipse.

À vista de tamanha degradação, o zelo se lhe infla­ma na Alma.

E do peito in fla n d o irrompe o grito de guerra:

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— 6 Sanctissima Trinitas!6 Tri^ndade Saníísrima/

Que vergornha para Vós!Que desgraça parn a o-bra de Vossas Mãos!

Vai tornar regulares estas imagens desfiguradas.Para gravar em todas aquelas frontes o Sinal Di­

vino, Francisco Xavier parte da Europa.E i-lo: como um gigante mete mãos à obra.O espaço desaparece debaixo de seus pés.Os perigos não o intimidam; antes, ' deles se ri.O desejo da vontade regeneradora, não conhece por

limites senão os limites do mundo.Ainda. assim, para seu coração, o mundo fo i peque­

no pois andou na sua. vida de Apóstolo o suficiente para três vezes o percorrer à volta.

Obstando a morte a que chegasse a todos os pontos da terra, não o impedia que apontasse aos sucessores as nações a conquistar (1 ).

^to-lhe satisfeitos os desejos.

Levados nas asas dos ventos, como diz Fenelon, mi­lhares de Missionários chegaram a todas as ilhas, flores­tas, e plagas, as mais remotas e inóspitas.

Deles o primeiro cuidado é : restabelecer na frente do homem (decaído até o ponto de devorar a carne de seu semelhante) o- Sinal santificador da Cruz, dizendo, com o chefe:

— O Sanciissi'OULi Trin itas! O' Trindadf' Santíssima!

(1) Vida de S. Fr. Xav., t. Il, liv. p. 208 — 213.

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Esta é a força que anima a todos conquistadores.E a prova disto está em que — primeiro mar^cam as.

nações infiéis com o selo da Trindade e depois — tratam de manter nelas- a divina semelhança.

2

O Sinal da Cruz faz mais: — santifica tudo quanto^ toca, tanto ao Homem como às demais c ^ a tu ^ .

Santificando estas depois de haver santificado aque­le, encaminha tudo ao verdadeiro fim — a 'IJITI.i dade.

A F.é universal afirma que os sinais religiosos têm o po.der de virtualizar as creaturas inanimadas.

E porque é universal, esta crença não pode ser falsa.

A Igreja, Mestra infalível da Verdade, considera-a como parte do depósito confiado à sua vigilância e- cuidado.

Pori isso é que todos os dias Ela a pratica e ensina a praticar.

Não a vêS santificando pelo Sinal da Cruz, há de­zoito século-s, e em toda a parte, a água, o sal, o azeite, o pão, a cei^a, a madeira?

Teològicamante, que quer dizer isto?Quer dizer. que

— O Sinal da Cruz santifica. ao Homem e até - ::ls creátu.ras insensíveis. —

A respeito do Homem, não quer dizer que o Sinal da Cruz lhe confere a graça santificante, como os Sacra­mentos.

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. Quer só dizer que nos comunica uma espécie de san­tificação, semelhante àquela do catecúmeno quando sobre ele se faz. a imposição das mãos antes do Batismo.

S. Agostinho diz que há va rias e::'pécíes de santifica­ção (1 ).

O Sinal da Cruz é um acto a -que Deus lijça a. aplica­ção dos merecimentos de Seu Divino Filho, sem por isso lhe dar a virtude do Batismo ou da Pienitência.

A esmola não é um Sacramento; e, contudo, afirmam todos, ser um acto bom, salutar, piedoso, saníi/icantc.

Quanto às creaturas, santificar uma cousa inani­mada, não é co^nferir-lhe qualidade física, é reduzi- la à sua pureza nativa, e comunicr-lhe uma virtude su­perior à sua natuneza.

Daqui dois efeitos de santificação:Primeiro santificar as creaturas subtraindo-as à in­

fluência do demónio.Segundo torná-las próprias n produzir efeitos, supe­

riores às suas virtudes naturais.Assim modificadas, to rn ^ -se , nas mãos do Homem,

instrumentos de cura, armas contra o demónio, preserva­tivos contra os perigos, tanto da' Alma como do corpo.

Não poderiam citar-se factos milagrosos, públicos ou particulares, antigos e modernos, devidos a creaturas in­sensíveis, santificadas pelo Sinal da Cruz?

Se em vez de folhear fábulas e lendas pagãS! da Gré­cia e de Roma, as novas gerações estudassem a História

(1) Non unius modi est sactificare; nam et catechumenum secun- dum quendam suum modum, per Signum Cristi, et orationem manus impositionis puto sanctificari. (L 11 De peccat. merit.,c. cxxvn .

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da Igreja e a vida dos Santos, saberiam teus condiscí­pulos, a tal respeito, factos melhor averiguados que os fie Sócrates e Alexandre ( 1).

3

Pela imitação da Santidade e Caridade Divinas, o Sinal da Cruz, guia eloquente e seguro, mete-nos e sus­tenta-nos no caminho de nosso único e verdadeiro desti­no.

Deus, de Quem somos filhos e de Quem. devemos ser .a imagem, é Caridade.

Deu.s cfeariías est.Estas palavras dizem tudo.Dizem tudo o que Deus é em Si mesmo e nas Suas

•obras.O Padre, porque é ^Deus, é Caridade.O Filho, porque é Deus, é Caridade.O Espírito-Santo, porque é Deus, é Caridade.A Trindade Santa é Caridade.Conheces palavra mais linda?Pois, o Sinal da Cruz, cada vez que o fazemos, re­

pete-a a nosso coração.Caridade significa união e efu.?âo. Entre. as três au­

gustas Pessoas, tudo é união e unidade.Unidade em poder, em pensamento::., em operações.Unidade na essência.Nunca jamais a sombra de um desacordo vem per­

turbar -esta h^m onia encantadora e perfeita.

(1) Vêde Gretzer, p. 696 e seg.

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Porque, um s6 Amor, pleno, eterno^ inalterável, cons­titui a deliciosa ligação da Santíssima Trindade.

Essencialmente comunicativa, a Caridade tende sem­pre a dilatar-se.

A divina Caridade se dilata com força e abundância infinitas.

As obras exteriores de Deus são cinco, a sabeT:

l.a. — a Creação;2." — a C ^ e rv a ç ã o ;

3.* — a Redenção;4." — a Santificação;

5.* — a Glorificação.

Assim, crear é amar; conservar é amar; remir é- amar; santificar é amar; glorificar é amar.

Toda a Caridade parte do coração.E Deus é Todo um Coração.Conheces talvez, meu caro, uma outra expressão-

mais deliciosa do que esta?

Pois bem: — sempre que fazemos o Sinal da Cruz, ele no-la repete:

"Deus Chariías esí”

Deus é Caridade.A ti, a mim, a todo o Homem de qualquer idade ou

condi^id, esta palavra diz o que devemos ser.Imagem de Deus, nosso dever é — sermos a Ele se­

melhantes.Para isto precisamos ser Caridade.Caridade em nós mesmos e em nosas obras.

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A semelhança de Deus nos é dada eni nós. mesmos pela graça.

Em noasas obras a semelhança de Deus nos é dada po11 um princípio divino, que nos une a todos como pa^rtes de um mesmo Corpo.

Nosso coroação entra a pulsar de acordo com o dos de­mais e, repartindo-se em salutares efusões, realiza o últi­mo desejo do Divino Mestre, que na Oração da ú lt^m Ceia, disse:

— “ Paí, haja unidade entre e'tes, c omo ha entre Nós.” —

Meu caro Frederico, vou apontar-te o questionário destes pontos que fàcilmente desenvolverás.

Só eles bastam a mostrar de sobejo a importância do Sinal da Cruz, como ^ ú a do Homem.

Se teus condiscípulos tiverem ainda a in/elicidade de duvidar desta verdade, tu lhes proporás calmamente as seguintes qoosrtões.

— ha .prr&prio que o Sina,l da a re­cordar-nos Deus e a Sanífesima T ri^^da . —

E' ou não é verdade?

— O Homem é /omdao à imagem de Deus.

E ' ou não é. verdade?

— O primeiro dever e a tendê^da natural de um ente guaíquer é reproduzir em si o tilpo sobre gue /ora form^ado. —

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E' ou não é verdade?

— Não se esforçando o Homem por perseverar s.m- do a. imagem de Deus inevitàvelmente se íraus/ornw. em sentelha:nça do demónio, por suas paixões desregr^^s, dr modo que, se tornando de dia pora dia. ma.is sanfo, mais carítativo, mais semelhante a Deus, torua-se cadc vez mais perverso, mais egOÍSota, mais demónio, mo.w; (>,•,-;. ta"animaltis homo” . —

E ’ ou não é verdade?

Ciente ou incientemente o íwmem tende cmisínnfr- mente a fa.ze r tado à própria imagem.

Desta acç.ão permanente resulta a santidade ou a perversão,

a ordem ou R- desordem,

a salvação ou a ruíno dos indivíduos.

das famílias, das sociedades, das crenças e dos cos­tumes. —

E ’ ou não é verdade?

Ainda que muito minguada lhes seja a lógica e pe­quena a imparcialidade, a resposta de teus companhei­ros tem que ser afirmativa.

Mesmo que a contra,.gosto, teus adversários hão-de concluir que

— Nada há üio bem ^ ^ ^ ^ o , tão /ilo&IJ/is'(), tão lógi­co, dizem hoje, como seja o frequente do Sinal da C ^ . —

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Portanto, concluirás tu para eles:Nem os primeiros Cristãos, nem os Cristãos de to­

dos os séculos, nem a Igreja Católica, nem a flo r da hu­manidade, ninguém se enganou conse^rvando invariàvel- mmte o uso deste Sinal misterioso.

Mais.

Oi erro, a sem-razõo e a vergonha,

estão é do dos que desprezOJYn o Sinal da.Cruz.

Não se o fazendo,envergonhando-se de fazê-lo,

ou zombando-se de quem o faz, é que a gente se coloca na escória

da humanidade desce abaixo dos pagãos e se torna se­melhante ao bruto.

Que resta pois, caro Frederico, a nós e a eles?E' o que te será dito nas últimas cartas, se Deus.

quiser.

Adeus.

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V I G É S I M A S E G U N D A C A R T A

P a ris , 19 de Dezem bro de 1862.

Sumario:— 1. Decisão de um Tribunal Supremo: —

Devemos praticar, resolutamente, muitas vêzes e bem o Sinal da Crnz. — 2. Ra­zões para praticar resolutamente o Sinal da Cruz. — 3. Estado da saúde física do mundo hodiemo. — 4. Quat o esta­do sanitário das Almas no momento atual?

"l.i'O Frederico,

Quando nos tribunais c iv is é dada sentença. da

qual não há apelação, um a s6 soisa resta a fezer-se.

E ' aceitar a sentença cum prindo-a.

Sob pena de rebelião e suas conseqüências, a senten­

ça deve cum prir-se.

N a s questões de D ou trin a acontece o mesmo.

Quando a A utoridade in falível decide um ponto em

litíg io , nada m ais resta que acata r e segu ir aquela deci­

são.

1

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Sob pena d a m ais g rave rebelião e suas conseqüên­

cias, a decisão do Suprem o T ribu n a l deve ser tom ada

como re g ra de ^m.duta.

U m litígio pendia entre nós e os ^primeiros Cristãos.E r a necessário saber-se de que lado estava a razão.Se ria dos prim eiros C ristãos que faz iam m uíía8 ve­

zes e bem o S ina l da C ruz?

Ou será dos modernos que o fazem poucas vezes e

mal?

A questão fo i escrupulosam ente exam inada.Os debates fo ra m públicos.E os arrazoados, bem com preendidos.

D a f lo r d a hum anidade eram os Juizes que consti­tu íam o Triburtal soberano.

T iv e ram por assessores.

1.” — a Fé,2.” — a razão,

3.0 — a experiência,

4.® — os povos detodas as crenças.

O e.grégio T ribu n a l decidiu a questão dando senten­

ça. a fa v o r dos p ^ m e iro s C ristãos d a Ig re ja .Que nos resta a fazer?Resta-nos tão sõmente —

Reatar a cadeia, de nossas an íigas íradições,’

g loriosa que fo i tão v ií e desgr(^a,.çad.(/mente cort^tada.

Resta-nos —P ra t ic a r o0o1n resolução, mu>itas vezes e bem, o S inal

fbL C ^ ^ .

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E porque não praticá-lo com resvh rà o e bm i claras?

Porque ficarem os envergonhados por fazê-lo?N ota , caro am igo : fazê -lo ou deixar de o faz cr, não

é coisa. facultativa.

H on ra -se m uito quem o faz.E quem não o faz?Desonra-se.

Fazendo-o, temos atrás de nós, em volta de nós c co­nosco, todos os Hom ens, os grandes H om ens de todoll. os

séculos, os gran des do oriente e do ^ocidente, en fim toda

a im orta l N ação Católica, isto é, — o apu ro da H um an i­dade.

E não o fazendo, tem os atrás de nós, em volta de

nós, e conosco os pequenos her^ege;, os ^ ^ u e n o s incré­dulos, os pequenos ig o r a n te s e os brutos. . . grandes c

pequenos.

2

Fazendo o S inal da Cruz, nós nos cobrim os a nós e

tam bém as creaturas, com um a defesa invencível.

E não o fazendo, a nós e ás creaturas no3 desarm a­m os e ficam os expostos aos m aiores perigos.

O H om em e o m undo vivem a receber necessàriam cn-

te in fluxos ou do IDspírito do Bem , ou do espírito do maL

O espírito do m al assenhoreando-se do Hom em e das

creaturas, lhes fa z sen tir suas m alignas influências.

Corpo e A lm a, espírito e m atéria, tu.do então pai^ece

viciado.

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O gênero hum ano tem sem pre viv ido na crença des­ta verdade fundam ental.

P o r isso, há dezoito séculos, nos gritam os Chefes do

eterno combate, que nos cubram os a nós e as creaturas,

com o S inal d a C ruz, escudo im penetrável às setas in ­flam adas do in im igo : Scuium in quo igniíoe d iabu li ex - tinguMntur sagittae.

Quais soldados indóceis e infiéis, quei’emos nós de­por voluntariam ente nossa arm adura?

Querem os fic a r a peito descoberto, expostos estupi­damente aos golpes m ortais do exército inim igo?

Só p a ra não desagradarm os a outros?

E que outros?

M as . . . , dizem e les : — O m undo actual não fa z o

Sinal da Cruz, e nem p o r isso lhe va i mal.

‘ S i não lhe -vai ^ a l , porque será que se ouve repetir, todos os dias, n a A lem anha, na F ran ça , em toda a parte

expressões quais de queixum es?

‘N ão há saiide n a época acíual/ . . .

E sta expressão que se tornou popular, não consta de

palavras ocas.

Quando vós mesmos a repetis não pensais bem?

A s Le is D iv inas, fe itas p a ra o Hom em que é espírito

e m atéria, têm nesta v ida duas sanções:

uma, fís ica e outra, m oral.

A profanação p rogressiva dos D om ingos e D ias san­tificados, o desprezo das Leis do je ju m e da abstinen -

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cia, e o abandono da C onfissão e Comunhão, não com-

p^^ometem — só a nossa A lm a , n ão : a saúde do corpo lhea

p aga tributo.

A excitação dos negócios, a s agitações da política,

a fe b re dos prazeres (que fo rm a o caracter distintivo

desta época de m ateria lism o) , a m oleza dos costumes, o hábito anorm alíssim o de fa z e r da noite dia. e d 01 d ia noi­te, preocupação da sensualidade nos alim entos, o consu­mo assu^stador das bebidas alcoólicas, e os quinhentos mil

botequins ou tabernas, quanta conseqüência perniciosa

leva à saúde pública?

D e onde procede a dim inuição das forças, n as g e ra ­ções m odernas? ,

S e rá fá c il achar ho je rapazes nas condições de po­

derem m an e jar as armas- de nossos avós da. idade m édia?

N e m siquer podem com a a^nnadura deles!

A s num erosas re fo rm as operadas pelos conselhos de

revisão m ilita r por causa do estiolamento ou vícios de

organism o e a incapacidade de pessoas p a ra o je ju m ecle- ciástico a inda o m ais sim plificado, que sign ificação

têm ? (1 ) .

(1) Um jornal não suspeito, a Nação, oferece reflexões graves sobre o recrutamento em França. Êle prova “que apezar dos progre^os suce^ivos da higiene e da vulgarização das comodidades da vida, a população em vez de melhorar, ràpi- damente degenera e se abastarda”. Eis resultados singulares que é forçoso admitir. O progresso, a higiêne e as comodi­dades da vida, dão conseqUências que ninguém esperava. No principio dêste século, a altura do soldado éra de sessenta c duas polegadas, daí passou a sessenta, depois a cincoenta c oito, hoje está reduzida a cincoenta e seis. E sabe Deus onde irá parar...

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Que representa o aumento considerável e crescente

das boticas, farm ácias e d ro g a r ia s ; dos médicos, das

casas de saúde, dos hospitais e sanatórios?E os casos sem pre crescentes de su ^ la io e alienação

m ental, que têm atingido a núm eros até hoje desconhe­

cidos, atestarão a fa v o r da. saúde pública?Estes e outros factos com provam que a v ida do H o ­

mem não é ho je regu la r como a de outros tempos.

3

P o r ventura p rogride a saúde e bem estar da natu­reza, sobre a qual se não fa z o S inal da Cruz?

Que sign ificam as moléstias das árvores, dos bata ­tais, das videiras;, dos cereais e hortaliças 1

■ T an tas variedades de p lantas atacadas de m oléefias

g rave s e desconhecidas, doenças rebeldes, po r ven tu ra é

que dem onstram saúde perfe ita nas creaturas do reino

vegetal? (1 )

(1) Nota da tradução brasileira: —Que diremos hoje das pragas da nossa lavoura?1 — A praga do eaíé; 2 — praga do algodão; 3 — praga da cana; 4 — praga das larangeiras; 5 — praga das videiras; 6 — praga dos abacateiros; 7 — pragas do milho; 8 — pra­gas da batatinha; 9 — pragas do arroz; e pragas do feijão. Tudo isso nós temos tido e temos ^mbém so&ido as terrí­veis conseqüências. Os antigos lavradores, nossos avoengoi, Homéns de Fé e profunda seriedade, rezavam humildes diante de Deus impreterivelmente, logo pela manhã ao levantar, também quando o sol a pino marcava-lhes o meio dia à noite ao deitar. Nunca foram capazes de tomar alimento por mais frugal que fosse êle sem que antes e depois da refeição, re­zassem abençoando e dando graças. Mais. Além disso, quando se punham a trabalhar se lembravam da Divina sentença que nos ífira dada no Paraíso terrrcstrc por causa do pecado.

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E ste fenómeno, tão sin istro e assustador, por não

haver igual na história, não parece dar feições de um

gran de hospital, à presente vegetação, que, à semelhan­

ça do gênero hum ano, sofre, languesce e se vai estiolan- do? (1 )

— A terra só dará espinhos e abrolhos.Comerás o pão com o suor de teu rosto; isto é. a poder de trabalhos e esfórços. —

E por isso ao começar qualquer trabalho nunca deixavani de se benzer. Antes de principiar a plantação, vinha sempre o Sinal da Cruz a santificar tudo implorando sôbrc todos as Misericórdias do Senhor Deus.Ofereciam religiosamente os dízimos e as primissas, coisas que os modernos talvez nem saibam o que seja!& ci.ra afastar as artimanhas do demônio prejudicando a lavou!:-. com Fé e fer^^or tomavam parte — 1.“ nas solenidades da Candelária a 2 de Fevereiro; 2.“ na benção de Ramos e Missa da Ressurreição; 3.o nas Procissões e Missas das Rogações ou Ladainhas dos três dias que precedem a festa da Ascensão do Senhor. Sabiam também rezar e Magniíicat e fazer uso da véla benta e da palma benta. Em tudo isso, andava sem­pre o Sinal da Cruz.

(1) Ofereço aos olhos de todos a maior parte dos vegetais, que atualmente sofrem com a indicação das moléstias que os ferem. L, indica manchas negras ou lepra. — O, sidium. — F, ferrugem. I, insetos, ou pequenos animais que vivem nas folhas ou cascas vegetais.

Carvalho. L .I. Roseira brava. O.Faia. L. I. Ribcs nigra et rubra. L.Olmo. L. I. Barberina vulgaris. O.Bordo. L. I. Lilás. L. I.Betula. L. I. Jasmim de Valença. L.Chôpo de Itália. L. I. Sabugueiro. L.Chôpo do Canadá. L. I. Wezelia. L.Castanheiro. L. Queijeira do Canadá. L.Salgueiro. L. F. Groselheira. L. I.Ébano. L. I. Seringa Vulgaris. L.Tilia. I. Althea. L. I.Platano. L. Aveleira. L. I.Macieira. L. I. Vime. L. I.

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E ’ um facto :N ã o se pode negar.

O m undo actual, considerado no Hom em e nas crea­turas a ele im ediatam ente sujeitas, é hoje m ais enferm o

que outrora.

Qual é o m al que o persegue?E ' o enfraquecim ento da vida.O V e rbo C reador é que é a vida, e a v ida toda.A vida portanto deve crescer pa ra os que d ’E le se

aproxim am , e deve d im inu ir p a ra os que se desviam d ’E le.

N o pensar da Ig r e ja e no de todos os séculos C r is ­

tãos, o acto exterior m ais un iversal e ord inário que^ ser­ve p a ra colocar o iH om em em contac.to com o Princíp io da

vida é o S inal da Cruz.

Pereira. L. Pionia. L.Cerejeira. L. Millefolium. L.^mcixeira. L. Campanula. F.Pecegueiro. L. O. Ortiga. L. O.Damasqueiro. L. O. Cardo santo. F.Amoreira. L. O. Camomila. L.Larangeira. L. O. Violeta. L.Videira. L. O. Brithrynum crista galli. L.Cana de Açúcar. L. O. Margaridas. L.Roseira. L. O. F. I. Dictera spectabilis. L.Espinheiro. L. O. I. Rainha dos prados. L.Glicinia cinensis. L. Heliotropo. L.Framboezeiro. L. F. Primavéra. L.Espinheiro. L. F. O. Taraxaco. F.Lírio roxo. L. F. Feijão. L. F.Chicórea. L. F. O. Escorcioneira. F.Escabiosa. L. Aipo. F.Agrimonia. L. Azeda. F.Achemilla. L. Couve. L. F.Trigo. L. F. Nabo. F. I.Centeio. F. Beterraba. F.Aveia. L. F. Fava. L. F.Cevada. F. Trevo. L. O.Batata. L. Junco. L. F.

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E vós dele zom bais; não o fazeis ; não o quereis f a ­zer.

Q uanto aos Hom ens, ho je querem a este S inal (bem

com o à oraç.ão, estações da V ia -S 'acra e peregrinações,) querem subetitu ir po r banhos de m a r ; banhos frios, tép i­

dos, quentes; banhos su lfu rosos e ferruginosos, estações

de V ichy , da Suíça, d a A lem anha, dos P ir in eu s e outras.Q uanto à s creaturas i^n c ion a is , a acção do sobrena­

tu ra l querem substituídas pelos estrum es a iiific ia is , pela

lim peza das lagartas , pe la drenagem e pela enxofração e

m il outros meios m odernos.M as, o oerto fo r a f ^ r um a coisa sem om itir a outra.

"O p o ríe t kaec facere., et ííla non om ittere.”

O m undo actual desprezando a Sabedoria D iv ina

pensa que pode v io la r im punem ente um a L e i respeitada

Devemos erta relação ã bondade de um sâbio naturalista. o Snr. M. F. Verecruysae de Courtrai. Êle mesmo colheu êste ano de 1862, folhas de todos êsses doentes, e delas nos man­dou amostras. Pe^ita-nos êle que publicamente lhe expres­semos nosso reconhecimento.As creaturas materiais porque são incapazes de bem e do mal, só adoecem por tabela, seguindo as condições do Homem. Centro e resumo da creação, encerra o Homem tôdas as leis, que regem as creaturas Inferiores. Se êle as transgride, tôda a natureza sente os resultados desta violação. Tal acontece com o pecado de Adão. A igual causa reproduzida pelo an­dar dos séculos, se devem atribuir as moléstias das creaturas irracionais, sempre na razão direta de suas causas.Isaías escreveu: — “A terra foi infetada por seus habitantes. Dai as lágrimas, o luto, a frouxidão da terra, a decadência do globo, a doença das vidas e as lamentações dos cultiva­dores". "Luxit et defluxit terra, et in fir^ta est ... defiuxit orbis... et terra infecta ert ab habitatoribus suis, quia ... ^UTAVER^UNT JUS ... propter hoc ... infirmata ert vitis, etc. (^XIV, 4 et s. 99.) Habacuc, Jeremias, e os outros pro- fétas falam nos mesmos termos dêste sofrimento da natureza.

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pela C ristandade deco-de o berço do Cristianism o, quando . até m esm o pagãos a respeitavam .

E ' notável a m áxim a dos antigos pagãos:E ’ necessário o ra r para haver saúde física e m o ra l! .

‘O randam est ut s i í m ens sana in corpore sano.'

N ão devemos nos queixar pois, sofrem os o que se ■ procura sofrer.

4

M esm o que, sem o S inal da Cruz, a saúde fís ica do

hom em e d a natureza fosse tão florescente quanto se d e - sej asse, ainda assim e ra m ister atender à saúde moral,. bem m ais im portante.

M a s . . .Q ual é o estado san itário das A lm as no mundo-

actual?M uito longe m e levaria a resposta.Só te faço lem brar, m eu caro, queM ora l e fisicam ente, o H om em está na alternativa .

inevitável de v iver, ou debaixo da salutar in fluência do- E sp írito do Bem , ou debaixo d a m alé fica artim anha do. espírito do mal.

O S inal da C ruz coloca-nos na prim eira posição; e a.

fa lta dele, na. segunda.

T a l é a doutrina da Ig re ja .

D ou trin a que fo i con firm ada pela p rá tica dos largos. séculos cristãos.

P a ra vós,, a experiência de dezoito séculos n ada va le .

V ó s não quereis o S inal libertador.

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V6s não acreditais nele.

Vós não m arca is com ele nem a fronte, nem os lábios,

nem o coração, nem os alimentos.

Po is bem : não é preciso m icroscópio p a ra descobrir

o sinal da beste em vosca fronte, em vossos lábios, em

vossos corações, em vossos alimentos.

Q uais são os sinais d a besta na fronte?

São o orgulho, a insubordinação, a cólera, o desprezo, o descaram ento, a vaidade, a agitação das feições, a inap- tidão p a ra a s ciências espirituais, o enojo p a ra o estudo

m oral, o descaram ento das faces por vícios im puros, ou

seu abrasam ento pela acção do vinho, a depressão da

fronte, a pequenez do ân gu lo facia l, os ares de baixeza, grosseria, abatim ento e bcstialidade na. fisionom ia, e, f i ­nalmente, a c.ínica expressão dos olhos, cheios de adulté­rio, cheios de um. pecado p e r .a n e n te , olhos que sem tré ­guas -provocam as A lm as inconstantes. (1 )

Sobre os lábios quais são os sinais da besta?São o riso im oderado -ou impudico, nèsciam ente ím ­

pio ou cruelmente m o fad o r; a loquacidade sem regras, sem im portância e sem f im ; as pala^vTas obeenas, as ex­

pressões repassadas de m entira, de irreligião, de b lasfê­mia, de ódio, de m aledicência, d e inveja, e de concupis- cê.Hcia que se traduz em espum a, espum a in fectante como

as exala^ções de um sepulcro, coisa m o rtífe ra como o ve­

neno da serpente. (2 )

(1) Animalis nutem homo non percipit ea quae sunt spiritus Dei. (I Cor. XI, 14) Oculos habentes plenos adulteris et incessa- bilis delicti, pellicientcs animas instabiles. (II Pctr., IX, 14.)

(2) Sepulcrum patens est guttur corum. . (Ps. XIII, III) — Des- pumantes confusiones. (Ind., XIII.)

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E sobre o coração quais são eles?

São os m aus pensamentos, ou m aus desejos, a s deso- nestidades, os adultérios, as vergonhosas baixezas do

egoísmo, os roubos, os envenenamentos, os hom icídios

( l ) , os desrespeitos à M ulher, o cortejo às perdidas e a

apoteose das im pudicas e d a volúpia.

E' sobre os alimentos, quais são os sinais da ^besta?São o deterioram ento, a m istura, a fa lsificação, suas

conseqüências e a perniciosa influência.N ão sendo purificados pelo S inal redentoi*, ser-vem,

como os próprios pagãos reconhecem, servem de veículo

ao demónio.

In flu in do sobre a A lm a e x i t a m m aus apetites, lison- geiam gostos rasteiros, e despertam todas as paixões

más.:Ca sensualidade nas comi.das e bebidas resulta.: o

despotismo da ca^^e, a repugnância ao trabalho, a inca­pacidade p a ra res istir às tentações, a quebro-, e, às vezes, o em brutecimento da inteligência, a moleza dos costumes, o sibaritism o dos hábitos, a idolatria do ventre, que ter­

m ina, hoje m ais qu.e nunca, pelo desprezo próprio, pe­lo abafam ento da consciência e do senso m oral, pelo in - fan tic íd io e pelo suicídio lento. (2 )

O lha em torno de tí, m eu caro, e p rocu ra as frontes,

os lábios, os- corações, as mesas, onde se conservam a san-

(1) De corde enim execunt cogitationes mamae. homicidia, adul- teria. íornicationes, furta, falsa tatirnonia, blasphemiae. (Math., XV, 19, etc.)

(2) . . . Inimicos crucis Christi, quorum finis interitus: quorum deus venter est, et glória in fusione ipsorum. (Philipp., III, 18.)

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tidade, a dignidade, a sobriedade do H om em e do C ris ­

tão ; nota a s v idas m ortificadas e puras, as v idas fortes

contra a s tentações, as v idas dedicadas à C aridade e à

V irtu d e ; a s v id as que ^ id e m ^ m nenhum acanham ento

revelar-se a am igos e in im igos, c tudo isto encontrarás

sob a protecção do S inal da C ruz.

O que h o je te digo, aceita c()mo facto da experiência.

A m anhã, se D eus quiser, dar-te -e i d isto as razões e

as provas.

Adeus.

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V I G É S I M A T E R C E I R A C A R T A

P aris , 20 de Dezem bro de 1862.

Sumario:— 1. Dogmo fundamental. — 2. A reforma,

primeira filha da renascença do paga­nismo, da rruba tôdas as Cruzes. — 3. A revolução franceza, segunda filha da pa- gan^mo, imita sua irmô. — 4. Primeira obrigação: — fazer muitas vêzes o Sinal do Cruz. — 5. Segunda obrigação: — fozer bem o Sinal da Cruz. — 6. O Sinal da C ^ feito de preferência na fronte. — 7. Quatro coisas nece^d^ritu para se fazer bem o Sinol da C ^ . — 8. Constantino.

M eu caro Frederico,

N ã o te es^queças de que estamos tirando as conse­

qüências p ráticas do ju ízo estabelecido en tre nós e nos­sos m aiores.

A p rim eira conseqüência é, que

Devem os fa z e r o S ín a l da C ruz bem fe iío e com f i r -

m esa.

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M uito em bora a decisão sem m ais apelo a tribunal algum bastasse a determ inar nossa conduta, quero, toda­via, p a ra torná-la m ais respeitável, m ostrar-te as conse­qüências vergonhosas, os perigos e desgraças de uma ou­t ra resolução, teórica ou prática, levantada contra aque­la inapelávcl dedsão.

V iste o sinal da besta g ravad o sobre a.s frontes, lá­bios, coração e alim entos não santificados pelo S inal da

Cruz?M as . . . po r que sel"á que o sinal da besta m arca

tudo, Hom em ou coisa, que não se ja protegido pelo Sinal libertador do Hom em e do mundo?

H á um dogm a que é o m ais profundo e incontestá­

vel da hum anidade:

— A su jeição do homem e do mu^ndo oo espírito d() mal, depois d a queda de A d ão e ECJa, nossos rpr/meiros

pois.

P a r a to rn a r m ais pa lpáve l a elevada m issão do S inal

da Cruz, vou re lem brar a lguns factos históricos não m ui­to conhecidos.

O que se pasa n a ordem fís ica é o re flexo d a ordem

moral.Quando um a d inastia ocupa um trono, tem o cuidado

de a rv o ra r logo em toda a parte sua ban de ira e em toda

a parte g ra v a r seus brazões de arm as, como sinal do

seu domínio.Se um d ia vem ela a ca ir, o prim eiro acto do vence­

dor é substitu ir pelos p róp rio s os em blem as da dinastia

vencida, p a ra desta a rte anunciar aos povos a inaugura­ção dO' novo reinado.

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Q uantas vezes, nestes setenta anos, não se tem tido

esta m udança de cores e escudos?! . . .

E m vindo a tom ar posse de Seu reino, o V erbo E n ­carnado achou satanás fe ito re i e ídolo do mundo.

A s estátuas, os troféus, os brasõen de arm as, as in­sígnias do antigo usu rpador andavam espalhadas por to­da a parte.

Apenas fo ra o demónio vencido, desapareceram to­dos os sinais de seu domínio.

E em' lu ga r deles brilhou a C ruz, que é o brasão do- Vencedor D ivino.

Qua^^o, por seus crim es, um a pobre A lm a ou mesmo

um a nação torna a ca ir nas g a rra s de satanás e é po r ele

dom inada, o p rim eiro aeto do- usurpador é ap aga r o S i­nal da Cruz.

Só então, nada m ais recebendo deste S inal tem ível,

è que ele a li m anda e desm anda como tirano.

2

R elem bra urna pagm a da h istória d e teu país.N o ta bem o quadro que a A lem anha te ofereee de

1520 a 1530.

D o Reno ao Danúbio, todas as Cruzes que. dom inavam

as colinas e as montanhas, que bordavam os cam inhos e

esm altavam os campos, que ornavam o cume das casas e

brilhavam no vértie das Ig re ja s , que decoravam as

salas dos rios ou consolavam a chou^m a do pobre, todas

elas fo ram derribadas, quebradas e depois lançadas ao

vento ou a rrastadas à lam a, no meio de insultos e voze-

rias de um povo delirante.

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QJer era aquele furacão destruidor?Era a volta do usurpador e o restabelecimento de seu

reinado.

ll:sde aquele tempo, o espírito das trevas domina a

Alemanha e, nela como no antigo mundo, ele reina pelo

dospotismo, voluptuosidade, crueldade, assassínio, roubo,

confusão do justo pelo injusto.É a anarquia intelectual, sob todos os nomes e todas as

formas.

Oferecem igual quadro a Prússia, a Saxônia, a Holanda, a

Dinamarca, a Suécia, a Noruega, a Inglaterra, a Suíça e todos os

JBíses onde o usurpador entra no lugar do Rei legítimo.

Este fato é tanto mais significativo quanto é certo não ser

m ico nos anais da história.Sempre que satanás se apodera de um país, ele se reproduz.

Geral ou particular, lento ou rápido, tais quadros sempre

^ i f e s t a m o caráter da vitória e a medida de sua extensão.

3

Em 1830 que foi a miniatura de 1793, as Cruzes derribadas

contaram-se aos centos.

território da França, quando o paganismo cantou seu

triunfo completo, não se contaram aos centos, mas aos milhares,

as Cruzes abatidas e quebradas.

Niquela época de uma recordação tão triste como

instrutiva, salienta-se um dia que é nefasto entre todos.

Foi o dia lO de Agosto.

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Aos assaltos das hordas fanatizadas, ele viu cair, no meio

das ondas de sangue, o Trono e o Altar.

Os massacres do Carmo e de S. Firmino, a proclamação da

República, o assassinato de Luís X V I, as hecatombes do terror, as

indecências do diretório, as apostasias, os sacrilégios, as semi-

deusas da razão, foram as conseqüências nojentas daquele dia

lamentável.

:\11arcará ele eternamente e com precisão, a hora em que

satanás entrou triunfante no reino cristianíssimo da França.

"Neste momento, (escreve um "historiador daquela época) uma "tempestade sem igual rebentava sobre "Paris."Um calor pesado e sufocante impedira "todo o dia e respiração."A tarde, nuvens grossas, variadas em "cores sinistras tinham empanado o sol "no oceano .suspenso da amosfera."As dez horas, a eletricidade figurava "por milhares de

relâmpagos, que "pareciam luminosas palpitações do "finnamento."Os ventos encarcerados neste abafado "de nuvens, romperam suas prisões e "com o rugido das vagas, alastraram "searas, quebraram árvores, levaram "telhados."A chuva e a saraiva retiniam sobre o "solo, como se do alto fora a terra "apedrejada."Fecharam-se as casas."As ruas e vielas num instante se "esvaziaram."Durante oito horas sucessivas, o raio "não dei-

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“ xou 'le ciniilar e ferir, m atando grande núm e- “ ro de homens e mulheres.“N a cinza guaritas estavam sentinelas fu l - “min^adas.“ T o rc id M pelo vento e !]:ielo fo go do Céu, gmde.s’

“ de /etTo fo r^ m arranc^adas às paredes a que

"estavam chumb^adas e arremessadas a distrin- “ cias incríveis.

“M onte M a rte e M onte Valeriano, dois zim bó- “ rios que se elevam no horizonte de Paris, sus-

“ t e n t a r a em sua 'máxima superfície o flu ido

“ eléctrico acum ulado em nuvens que os envo l- '‘via.m.“Pre ferin d o m onum entos isolados ou cercados

"d e /erro, o ra io derribou todas as C ruzes que

“ se elevavam nas e becos, desde a p lan í-

“ cie de Is sy e os bosques de S. Germa^no e de V e r -

“ salhes até a C ru z d a ponte de Cka.renton." N o d ia imediato 0'8 braços destas Crruzes ju n ca -

“ uat^n o sóto, como se um exército invisível tivesse

“destruido em sua passagem tod-os os rejeitados

“ sinais do culto C ristão .”

Como não! há saltos em a natureza, não se dá o acaso

na ordem m oral.

Portanto, os factos re feridos têm um a significação.A s circunstâncias que o acom panharam e seguiram ,

provam com evidência a razão de ser do S inal da C ruz

num P a ís onde não h á motirvo p a ra deixar de existir.

P ro vam igualm ente às Nações, à s Províncias, às A l ­deias, aos Hom ens de qualquer condição, quanto lhes im -

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porta conservar, m ultip licar e h on rar o S inal protector

de toda a creação.

Segundo conseqüência p rática da sentença dada é

— F aze r m uitas vezes o S inal d a Cruz.Porque razão havem os de não fa ze r o S inal da C ruz

m uitas vezes?Porque razão cada um de nós h a de por sua parte não

voltar à p rática de nossos m aiores?

N ã o sendo protegidos pelo S inal Salutar, nem um

instante se ju lgavam eles seguros, mesmo nos actos maia

ordinários da vida.

Serem os nós talvez m ais fo rtes do que eles?

Serão menos num erosas ou menos v ivas em nós as

tentações?

Serão m enos urgentes p a ra nós os perigos?

N ossos deveres são talvez menos obrigatórios?

Sem pre que saíam de casa, nossos pais, os prim eiros

Cristãos tinham os olhos ofendidos pela v ista de estátuas, pinturas, objectos obscenos, práticas e festas em que se

ostentava o espírito do m al.

Discursos, cantos ou conversações im pudicas feriam

seus castos ouvidos.

Debaixo de fo rm as variadas e sedutoras, o sensua­

lismo e o natl.lJralismo das ideias e do3 costumes, sem pre

conspiravam contra a vida sobrenatural, contra o espíri­

to de m ortificação, de sim plicidade, de abneg^ação.

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A d e ^ i s tinham que defender a p rópria Fé contra

os sarcasm os, desprezos e sofism as da plebe e da filoso­

f ia pagã. ,

T inham que responder por ela diante dos J-uízes, t i­

nham que con fessá-la nos ^ iritea tros .

E p a ra se sa lvarem d-e tantos perigos, qual e ra o se­g redo deles?

Sem pre o S inal da C ^ .

E nós os Católicos deste século em que condições nos

achamos?

N ã o se tornou pagão quase tudo o que ■ nos rodeia?Encontra-se por ventura, um a p a lav ra do Evangelho

na m aior pàrte dos Hom ens e das coisas?

Como as de outrora, não estão as cidades da E uropa

aetual inundadas de estátuas, quadros, g ra v u ra s e outros

objectos, capazes de acender nos espíritos m ais frio^ o

fogo im puro da concupiscência?

Que se ouve nas ruas, n as salas, prosas quoti­dianas?

N a s casas, na m obília, no luxo d a m ^ , no vestuá­

rio e nos prazeres, que fa lta ao m undo actua.l p a ra ser

completamente pagão?Os m aus vezos são os mesmos que no tempo dos

Césares. ■ ,'

Os espectá:culos são um as arm adilhas constantes.

D esgraçado daquele que não velar, dia e noite, em

cuidados pelo p róprio coroação e pelos sentidos! . . .Se é tão d ifícil defender nossos costumes, quanta

g u ^ a não terem os que sustentar p a ra sa lva r e gu a rd a r

a n o ssaF é?

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V ivem os num a época eni. que as ideias fa lsas, as

mentiras, os so fism as circulam na sociedade tão bastos

como o:: átomos que compõem a atm osfera.

P o r toda a parte as arenas dos an fiteatros onde de­

vemos combater.

E o com bate é pela. Ig re ja ,‘ por nossas tradições, por

nossos bons costumes, pelo sobrenaturalism o Cristão.

N unca esta arena está fechada; m n combate ainda

ni.ío está acabado e j á começa outro m ais renhido.

Colocados n as mesmas condições, os prim eiros C ris ­tãos não conheceram mais que um a a ^ ^ ^ vitoriosa, a^rma

universal, a todos fam ilia r, de que faziam uso contínuo.

E r a o S inal d a Cruz.

Terem os nós ou tra melhor?

A h ! H o je mais do que nunca, é necess.ano fazer a

m iúdo o S inal protector, sobre nós e sobre as creaturas.

Quem nos im pede ago ra de im itarm os a nosaos avós?

Que há de incom patível com n o ^ a s ocupações o f a ­zermos o S inal da Cruz sobre o coração?

Assim como faz iam os antigos, porque não o faze­

mos tam bem com o po legar sobre a fronte, ou cruzando

na hoca o po legar sobre o indicador?

Se form os vencidos, quem será o culpado?

"P e rd it io í'UOI ex íe, Israe l/ ’

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Fazer bem o S inal da C ruz é a terceira aplicação

da sentença pronunciada.

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Quando fizerm os o S inal adorável, a regu laridade, o

respeito, a atenção, a confiança, a dev^oção, devem acom ­panhar nossa mão.

A reg'lilarir!ade exige, que o S ina l da C ruz, em sua

fo n n a perfe ita , se faça , não com a m ão esquerda, m as

com a m ão direita.

E ela deve i r devagar, da testa, à cinta e do ombro

esquerdo a o direito .

Enquanto ieso, se pronunciam o N o m e das três P es ­

soas da T rin dade augusta. (1 )

N a d a disto é a rb itrá rio .

Se houvessem de sa ir de seus túm ulos os prim eiros

Cristãos, havíam os de v e r que desde os tempos Apostó ­licos, fa z iam ass im o S in a l d a C ruz.

Cum pre ouv ir um a testem unha ocular.

“ A p e sa r de só haver d iferença de posição c mio

“ de natureza, nós fazem os com a m.ão d ire ita o

“Sí^nal d a C ruz sobre os catecúmcnos, diz S. Ju<s-

“ tino; porque a d ire ita é mais nobre que a e.'f- “ querda.

"O ram o s voltados ao Oriente. por ser a parte

"m a is nobre dm creação.”

D e quem recebeu a I g r e ja este m odo de o rar, senão

dos p róprios Apóstolos? (2 )

(1) Nominato Spiritu Sancto, dum ab uno ad alterum latus sit transversío. <Navarr., Comment. de Orat. et horis canon.. c. XIX; n, 200.)

(2) Quemadmodum dextera manu in Nomine Christi. eos, qui Crucls signu obsignandi sunt, obisiP.'lamus propterca quorl dextera manus praestantior ccnsetur quam sinistra; quam-

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Sobre a nobreza da m ão d ireita há de Santo A gos ­tinho um a passagem c u r i^ a .

"N õ o repreendeis vós, d iz ele, quem qtter com er

"com a e sq ^ ^ d a?

"S e co^nsiderais acção de in jú r ia à vossa m esa

"o conviva qwe com e com a ^ ã o esqwerda, p o r-

“ que não feaverá in jtír ia à M eso D iv in a fazen - "do -se com o miLa esquerda. o que deve ser feito

“ com a d ire ita , ou com esta o que deve ser feito

"com aquela?” ( l )

S . G regório acrescenta:

“ O modo de entender entre os ^homens é ter por

“ nobre e m ais precioso o que f ic a à d ire ita ; e co-

“m um e menos precioso o que f ic a à esquer- " d a .” (2 )

Quanto às palavras- que acom panham o movimento

da mão, é certo terem tam bem um a Trad ição Apostólica.

quam situ non natura ab ea differat: sic ut quae pars sit in natura praestantior, ad Dei venerationem cultumque se­creta ert ... a quibus autem Ecdesia precandi morem acce- pit? Ab iis etiam ubi precandum sit accepit.

(1) Nonne corripis eum, qui de sinistra voluerit manducare? Si mensae tuae injuriam putas fieri, manducante conviva de sinistra; quomodo non fit injuria m e ^ e Dei, si quod dex- trum est, sinistrum feceris; et quod sinistrum est, dextrum faceris? psal., c. ^ ^ e v l . )

(2) Ipso enim locutionis uso, pro dextro habere dieirnur, quod pro magno pensamus; pro sinistro vero quod despicimuil (Morai., Lib. XX, c. XVIII.)

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" A quaíq?.W?- luga?- que tenhais de vos diriV/ji^, di1.

“ S. E frem , /«.rci primeii*o o S ina i da Ct-uz rli-

“ zendo :

''E m Nom.e do P ^ r e e rio F ü h o t e do E sp írito -

“ S an to ." (1 )

K Tertu liano diz :

“N o P a 4 re e no F ilh o e -tw EsíJírito-Santo, e' ^ m -

■■ sign ada a Fé.^’ (2

Sto. A lexandre , soldado e m ártir no reinado de M ajri-

miano, sendo condenado à morte, volte--se p a ra o oriente, e,

fazendo três vezes o S ina l da C ruz sobre seu corpo, diz :

‘G ló ria a Vós, ó Deus de nosaos P a is , que sois —

“ P ad re , Fi7ho e E sp írito -S an to ." (3 )

E n tre os prim eiros C ristãos era uso tam bém fazer-se

o Sinal ela C ruz com o po legar sobre a fronte.

■* F ron tem cnu:i.s l r i g ^ ^ d o terimm:u.s.’'

Faziam assim,

!.• — p a ra fa c ilite r a quase incessante repeti­

ção rlo S inal adoráve l;

(1) Quoecumque pertransii. signa prlmum in Nomine Patris ct Füii et Spiritus-Sancti. (De panoplia.)

(2) Fides absignata in Patre et Filio et Spiritu-Sancto. (De Baptism c. VI.>

(3) Totum Cruce ter signavit, et ad orientem versus: Glória. inquit, tlbi sit Deus Patrum nostrorum, Pater, et Filius et Spiritus-Sanctus.

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2.* — devido ao m edo que tinham de se traírem .

Tal é hoje a inda o S inal da C ruz usado m ais de f r e ­quente na E spanha e em outros vários países.

6

P o r que preferiam eles a fronte em vez do coroação?

M eu ca ro Frederico, aqui com o em tudo o que é an­tigo, há grandes m istérios.

Vou apontar cinco.

1.° — A hon ra do D ivino Crucificado.

“ N ã o é sem razão, diz S. Agostinho, que o V erbo

“ Encarnado qu is que nossa fronte fosae m a ^ -

“d a com o Seu Sinal. A fron te é a sede do pu-

“ d o r ; e ele quis que o C ristão se não envergo-

“nhasse pelos opróbrios de seu M estre. Se, pois,

“ o fizeres sem acanham ento diante dos homens,

“ conta com a M isericórd ia D iv in a .” (1 )

2.* — A honra de vossa fronte.

“ O S inal da Cruz, diz Tertuliano, é o S inal das

“ fron tes : s i^m cu lum fron tium .” (2 )

D iz Sto. A gostinho :

“ U m a fronte sem Sinal da Cruz é semelhante a

“ um a cabeça sem cabolo. Cabeça calva e fronte

Non sine causa signum suum Christus in fronte nobis voluit. tanquam in sede pudoris, ne Christi epprobria Chrisüanus erubescit. (In ps. XXX; Ernarr. VI, n. 8.)

(2) Contr. Marcion.. lib. V.

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“ sem Sinal d a C ruz aão objectos de escárnio c

“ vergonha. T a l fron te é im pudente. Escuta o

“ hom em que insu lta outro. Êle lhe d iz : T u não

“ tens fronte, o que equivale a cham ar-lhe im pu- “ dente. Deus me liv re de ter a fron te n u a ; sem-

“ p re ela se ja coberta e ornada pelo S inal de meu

“ M estre .” ( 1 )

3.o — O m ilagre da Redenção.

O S inal da Cruz é um tro féu ; e os troféus se co­

locam nos lugares m ais altos e públicos, onde toda a gen ­

te os possa v e r e por eles reco rdar os tr iu n fo s do vence­dor.

“ A troco de que, pois, exclam a o g rande A gos - “ tinho, h averia o V e rb o D iv ino de não p o r na

“ fron te do homem (a fron te que é o m ais nobre

‘‘e visível de seus m em bros ), a C ruz, o S inal da

“ v itó ria alcançada sobre as potências in fer-

“ nais ?" (2 )

D os lugares de suplício passando para a fronte

dos Im peradores, e ra necessário que a C ruz proclam asse

eternam ente o g ran d e m ilagre da conversão do universo.

4.” — A propriedade divina.

Tom ando posse do Hom em , o D ivino Crucificado

m arcou-nos com o seu sinete, como o- proprietário faz aos

objecto& que lhes pertencem.

(1) Non habeam nudam frontem; tegat eam Crux Domini mei. (In ps., c. XXXI.)

(2) Ipsan cruccm de diabulo superato, tanquam trophaeum in írontibus fidclú:m. positurus erat. (In Joan. Tract. XXXVI.)

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“ Logo que o Redentor, diz S. Cesário de A rles, “ deu liberdade ao Homem, m arcou-o com seu

“ Sinal, que é a Cruz. Com o aparece g ravad a

“ nas portas dos palácios, nós a trazem os em

“ nossa fronte. E ’ o Vencedor quem a coloca aí,

“ para d izer a todos qu e entram os em sua posse e

“ somos seu palácio seu templo vivo. P o r isso,

“ o demônio invejoso e enraivecido, trabalha

“ sem pre a v e r se nos rouba o S inal de nossa

“ franqu ia , a carta de nossa liberdade.’' (1 )

5.0 — A dign idade do Hom em .

A fronte é a parte m ais nobre do Hom em , é quase

para assim dizer, a séde da

O que dom ina a cabeça, dom ina o Hom em .

P o r isso, de todas as partes do corpo, é a cabeça a que

o demónio, com m ais empenho procu ra desfigu rar.

A desfiguração deste o rg ã o por com pressões a rt ifi­

ciais, correu todo o mundo e ainda existe em muitos

países.

L e s f ig u ra r a im agem de Deus, en fraquecer as fa c u l­dades intelectuais, desenvolver as inclinações ba ixas e

vis, eis o resultado desto desfiguração humanamente

inexplicável.

N osso S'enhor, R eparador de todas coisas, quis que

o S'inal da Cruz; de preferência, fosse m arcado sobre a

. (1) Et ideo nunc (diabolus) gemit, invidet. circuít, sin forte vel furto a nobis possit auferre instrumentum ipsius manumis- sionis et acquisitae tabulae libertatis. (Homil. V, de parcha.)

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fronte para libe rta r o Hom em e restituir-lhe, com a p le­

nitude de suas faculdades, a dignidade de sua essência.

7

Q uatro coisas são necessárias p a ra fazer-se bem o

Sinal da C ru z :

"— Respeito, atenção, confiança e devoção. —

Respeito. M uito g ran de é o respeito que devemos ao

Sinal da C ruz porque é ele um acto de R elig ião e acto

quatro vezes venerável, a saber:

1.“ — pela o rigem ;

2.0 — pela an tigu idade :

3.® — pelo uso que fizeram dele os Apóstolos, os M á r ­

tires, os Católicos da p rim itiva Ig re ja e de todos os sé­culos, representantes do que h av ia de m aior e m ais santo

no M undo.4.0 — pela g ló ria com que há-de b r ilh a r no último

dia, ao anunciar a chegada do Juiz Soberano.

A parecerá então no ar, a Cruz, cintilante de luz, e

se colocará ao lado do T ribu n a l Suprem o, consolando os

.Justos e confundindo os pecadores.

Atençõo. Sem a devida atenção o S inal Redentor

não passará de um m ovim ento m aquinai. Q u ^% sempre

inútil a quem assim sem atenção o praticar, fic a sendo um

proc-edimento in ju rioso àquele C u ja M ajestade, ^ m o r

e Benefício o Sagrado S inal fa z recordar.Con/iatnça. Fundada na p rática da lg i ’e ja , no teste­

munho dos séculos e nos efeitos m aravilhosos que ele p ro ­

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duz, nossa confiança no Sinal da C ru z deve ser filia l, vi­

va, forte.Tem ível ao demónio, é ele o S inal libertador do H o -

mLhi e do mundo.

Denoção. P raticando o S inal da C rnz o que é que eu

faço?Declaro-m e discípulo, irm ão, am igo e filho de um

Deus Crucificado.

Mas, se o coração d iscordar dos lábios, se o exterior

não estiver de acordoi com o íntimo não hú devoção.

E: então minto a Deus. m into ao mundo, minto n

miln mesmo.

Ouçamos a nossos pa is :

"Q uan do te benze.s, pen.sa nos m istérios da C ^ . N iio

íirtsfü. fo rm á -la sitnples?nente co-m o dedo.

E ' necessário qi.te o acto -seja acompan^hado de F é e

1>oa. vontade.

Quando com o S in a l d4 m arcas o peito, os oíhose ontros wernliros, te o fe reres tt D ^ w em sacri/íeio a g ra ­

dável.”''M arcatido-te com o S ina l da Cruz, tu te p r o c ^ ^ a s

soldado de Cristo.Se porém , segundo tuas /orça.?, tu ndo ezerces nem.

a C aridade, nem a ju stiça , nem o- Castidade, f ic a certo

de qne .semelhante S i ^ d do te ,s’ervit^ó. ”“ M u i g ran de coisa i o S iua l d a Cr -u.z; deve poj^ isso

se i'v ir de ^ a ^ c a sO p a ra as grandes coi.-;as e coisas F e -

ciosas.D e çue serve po? 'marca de ouro em objectos de palha.

O'K

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Que sign ifica o da Crwz na fron íe e nos lábios,

q-imndo a A ím a est!i. coberta dc e n c h a s ou de^'negrida de

pecados e chagada de C»'im.es?” (1 )

“ Que fa z gtte-m f o r ^ o S iM Í . da C ruz e rpeca,?Coloro n a boca o S in a l da Vid.a, e crofja no ccn^aç«o

v J;unhal. da moi^íe.” (2 )

D a i o p rovérbio dos p rim eiros C ristãos:

“ Irm ãos, íraíjei a Jesus C risto no coração e n a fronte

o S inai d ’E ie : HabettJ Christum in cordibus, et signum

e/ws in fron tibu s ." (3 )

D a í as pa lavras de Santo A gostin h o :

“D eus não quer pintores, operadores de se^/s

M istérios. Se te^ndes em vossa. fron te o S in a l da humil­dade .de Jesus Cristo, tende tCliYn.bém em vosso peito a. im,itação dessa. hum^ildade /” ( 4 )

Portanto, ninguém pense nem d ig a : — “ faze r bem

ou o Sinal da Cruz, pouco im porta ,” — porque di­ferentem ente pensaram os séculos cristãos, a Ig re ja C a ­

tólica que é a 1\fustra in fa líve l da Ver.dade e a p róp ria

V erdade em pessoa, no C o ^ w M ístico de N osso Senhor

Jesus Cristo.

(1) S. Chriys., Homil. 54, in Math.; S. Eph., De adorat. vivif.cruc.; S. Aug., Serm., 215. De temp. — Signum maximumatque sublime. Lact., Dev. instit., lib. IV, c. XXVI.

(2) Qui se signat et aliquid de sacrílego cibo manducat, quo- modo se signat in ore, et gladium slbi mittit in pectore. (S. Coes., Serm... 278, inter Augustim.)

(3) Bed., t. III, In collert. flor. et paraph.(4) Factorem quaerit Deus signorum suorum, non pictorem, etc.

(S. Aug., Ser. 32.) '

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O SINAL DA CRUZ 333 ^

M esm o que fosse pequeno o va lo r do S inal d a Cruz,

deveríam os lem brar' daquilo que disse o V e rb o E n c a r ­

nado:

Quem é fiel nas coisas pequenas será fie l nas g ra n ­des; e quem é in justo no pouco tam bém é in ju sto no m ui­to. (S . Lucas 16-10)

E sta fide lidade quotidiana fo rm a a V id a C ristã e

prepara a felicidade eterna.

E m negócio de salvação, não è bastante o q «e é

ficiente.

Quem não fa z senão o necessário, não o f a r á poi^

m uito tempo.

Faça. eu cinqüenta vezes ao d ia o S ina l da C ruz, c

se ele é bem feito, tenho cinquenta boas obras, cinqüen­ta degraus de g ló r ia e felicidade p a r a a vLda eterna.

São m ais cinquenta. m oedas p a ra p a g a r m inhas dí­

vidas ou a s de m eus irm ãos existentes na te rra ou no p u r ­gatório. M a is cinquenta súplicas p a ra obter a conver­são dos p ^ a d o re s e a perseverança dos justos, para; a fa s ­ta r do mundo e das c reatu ras as m oléstias, os perigos e os

flagelos.Calcu la, m eu caro , a soma de m éritos acumulados

no fim de uma sem ana, de um ano, de um a v id a de cin­

quenta a{los!?

8

Carísáim o Frederico, a g o ra conheces o Sinal da Cruz

e a m aneira de o fazer.

D eixa-m e con fiar-te um a asp ira^ le .

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Se estrangeiro chegasse a P a r ís e perguntasse:

Q ual é o rapaz que, na imensa capital, faz melhoi; o

Sinal da Cruz?

O indicado por todos quero que se jas tu.

P o r tal preço ■ eu te prom eto

a ) v ida tão d igna como tiveram nossos avó& da p r i ­

m itiva Ig r e ja ;

h ) m orte gloriosa diante de D eus;

c ) e, se tanto fosse necessário, as honras d a Cano­nização.

" In hoc signo vinecs.”

Pon esíe sinal vencerás.

Expressão d iv in a !

Sem pre antiga e sem pre nova;!E ’ a fó rm u la de um a Lei.Quem prim eiro m ereceu ouvi-la fo i o g rande Capitão

libertador de Roma.

Constantino M agno foi tipo de Homem.

O g ran d e Im perador avançava de m archa forçada a

eom bater M axencio, horrive l tirano, que se havia apode­

rado da C ap ita l do mundo.

E m pleno meio dia, o S inal da Cruz aparece de re­pente a Constantino e a seu exército, com esta inscrição ;

P o i' este sinal vena^erás. “ In hoc signo vinces."

De noite, sustentando na mão a Cruz do dia, o F i­lho de Deus aparece ao Im perador ordena-lhe que faça

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um Lába ro semelhante para usá-lo nos combates, e lhe

pi'omete a v itória.

Constantino obedece; o S inal celeste é levantado, à

frente das legiões, e torna-se célebre o L 'i b a ^ m notá­

vel. (1 )

■ E sta ini,.ígnia de confiança an im a aos soldados de

Constantino e intim ida os de M axencio.

A s águ ias rom anas fogem diante da Cruz.

O paganism o se curva diante do Cristianism o.

Satanás, o antigo tirano de Rom a e do mundo, ren-: •

de-se diante de .Tesus Cristo, Sa lvador de Roma. e da H u ­

m anidade inteira.A ssim d ev ia ser.

M axencio é derrotado e afogado.Constantino entra em .Roma.U m a estátua lá o representa sustentando a Cruz,

com a seguinte inscrição d itada por ele mesmo.

“P o t esiíc S in a l sa.í'!dar, verdadeü^o símbolo fie /or­ço. é libertei i:osso. cidade do ju go da tiran ia e. dei li- bm^dade ao senado e a-0 povo, p^^"» os reciabelecer em

majestade e esplendor, antigos.'’ (2 )

Outro Constantino és tu, meu Frederico, somos nós

os batizados, é todo o m undo cristão.

(1) O Labaro era uma Cruz com ferro de lança na extremidade .superior. Eos braços pendia um véu de púrpura com uma águia pintada. Not. do trad.

(2) Hanc inscriptionem, latino sermone, mandat incídere: Hoc salutari signo, vero fortitudinis indicio, civitatem vestram tyrannidis jugo liberavi, et S. P. Q. R. in libertatem vindicans pristinac amplitudini et splendori restitui. (Euseb., Vit. Cons- tant., lib. E, c. XXXIII.)

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Lançados n a arena da v ida , nós tcdos, com as facu l­

dades e sentidos na vang-uai’da, m archam os ao encontro

de um tirano m ais tem ível que M axencio.

Rom a nós é o Céu, cu jas portas ele p rocu ra fe ­char-nos.

A rrem ete ele sem pre contra nós a fren te de suas' le­

giões in fernais.O combate é inevitável.

Como a Constantino, D eus nos dá igual meio de ''en -cer.

E ’ o S inal da Cruz.

“In hoc Sigwo v tares ."

H o je , como outrora, este S inal é o te rro r dos demó-

mos.■ “PorTOÜlo doem onum ."

Cum pre fazê -lo com Fé.

O cam inho da- C idade E terna, por E le nos será

aberto.Viencedores e p a ra sem pre, nossa gratidão levantará à

vista dos A n jo s e dos E leitos um a estátua com inscrição

eomo a de Constantino.

" P o r este S inai salutar, verdadeiro sím bolo da, fo r -

(;a, é que mtde vencer o demónio, libertar m eu torj)o e

minha Al?na da. tiran ia , e d a r às m inhas facu ldades e sen­tidos a vc?'dadeira libe^^^lde, para os estabelece^r loor to­

da a eternidade nos esplendores de um a g ló r ia sem 'rnan- t:ha nem lihnites."

“ In hoc S ign o V inces".

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Repetindo as pa lavras dos Pad res e dos Doutores do

0i'iente e do Ocidente, d irem os :S a lve ! Ó S inal da Cruz !

E standarte do g ran de Rei, tro féu im ortal do Senhor, Sinal de vida, salvação e bênção.

T e rro r de satanás e das legiões in fernais, ba luarte

in expu^m vel, a rm ad u ra invencível !Escudo im penetrável, espada rea l, h o ^ ^ da fro n te !

E ’s a esperança dos Cristãos, o remédio das en fe r­

m idades, a resaurreição dos m ortos; gu ia dos cegos, am ­

paro dos fracos, consolação dos pobres; p raze r do bons,

terror dos maus, fre io dos ricos; ru ín a dos soberbos, ju go

do injustos, liberdade dos escravos.

E ’s a g ló ria dos m ártires, a. castidade dos virgens, a

virtude dos santos, és o fundam ento da Ig re ja .C aro Frederico, a í tens a resposta às tuas questões.A autoridade d os séculos reso lveu -as a teu fa;vor.

A vitoriosa. apo logia de tua nobre conduta, h a ja de te

a rm ar p a ra sem pre contra as zom barias e so fis^ n s dos

in feriores, tão ridículos e atrevidos como ignorantes.A g o ra sabes quanto é im portante e solidamente fu n ­

dada a p rá tica hab itua l do S inal da Cruz.E ’s competente para calcu lar o va lor m esquinho dos

que o não fazem .S'abes apreciar a fa lta de carácter dos que se enver-

•ronham de o fazer.

Adeus.Que o Senhor se sm ereeie de nós.

In hoc Stgno vinces.

F IM

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í N D I C E

Prefácio (da segunda edição francesa ) .............. 7Carta de S. ^m. o Cardeal Altíeri a Mons. Gaurnf' ___ 15Breve de S. Santidade o Papa; Pio I X .............................. 17Nota Preliminar (da primeira edição francesa) ............ 20

PRIM EIRA CARTA

1. O mundo actua.l ......................................................... 212. Hoje o Cristão não faz ou faz raras vezes, ou faz mal

feito o Sinal da Cruz ................................................ 253. Os antigos Cristãos faziam-no, e muitas vezes, e bem

feito .................... 264. Quem estará com a razão e com a Verdade?.......... 28

SEGUNDA CARTA

1. Precedentes a favor dos primeiros Cristãos ............. 292. Primeiro precedente: a proximidade dos Apóstolos 303. Segundo precedente: a santidade ........................... 314. Terceiro precedente: o uso dos verdadeiros Cristãos 355. Foram os Padres da Igreja grandes genios? ......... 36

TERCEIRA CARTA

1. Continuação do terceiro precedente: os Doutores elooriente e do ocidente ................................................ 38

2. Constantino, Teodósio, Carlos Magno, São Luis,Bayard, D. João d’Austria, Sobieski .......................

3. Quarto precedente: conduta da Igreja............ ............ 424. Quinto precedente: os que fazem o Sinal da Cruz .. . 1-75. Resumo .......................................................................... 48

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QUARTA CARTA

1. Resposta a uma objecção ............................................. 502. Razões tiradas da própria nat^ureza do Sinal da Cruz:

O Sinal da Cruz é cinco coisas .................................. 533. É um Sinal que enobrece o homem, porque é divino 544. A idade de ouro do Cristianismo .............................. 555. Quem é o autor do Sinal da Cruz? .......................... 57

Q U IN T A CARTA

1. O Sinal da C ^ b nos enobrece .................................. 592. É o brasão do Católico que é um grande povo ____ 613. O Sinal da C ^ nos ensina a respeitar nossa pessoa 634. Vergonha dos que nSo fazem o Sinal da Cruz............ 65;) . Desprezo do grande tesouro que é — a vida - ------ 67

SEXTA CARTA

1 . Resumo da carta p^^alente ..................................... 702. O Sinal da Cruz é um Livro que encerra toda a ciôn-

cla de Deus, do homem e do m u n do ............... 713. Um Mistério ................................................................ 734. O Sinal da Cruz nos ensina com autoridade, lucidez

e profundeza ....... 745. O Sinal da Cruz, Mestre o mais sábio e o mais conciso 7'7

SÉTIM A CARTA

1. Luga^- que o Sina I da Cruz ocupa no mundo .......... 792. Em que se tornou o mundo, desde que deixou de fa ­

zer o Sinal da C ru z %3. O Sinal da C^ruz é um tesouro que nos enriquece .. . 85-1. Uma grande Lei moral .............................................. 8i

O ITAVA CARTA

1 . O Sinal da Cruz conhecido e praticado desde a origemdo mundo .................................................................... 90

2. Sete modos de fazer o Sinal da Cruz ....................... 913. Jacob, Moisés, Sansão, fizeram o Sinal da Cruz .. . 924. Testemunho dos Padres, — Sansâo, David, Salomão

e todo o povo judeu faziam o Sinal da Cruz e reconhe­ciam o valor dele ......................................................... 95

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N O N A CARTA1. O Sinal da Crua entre os pagãos. Novas particulari­

dades sobre uma forma exterior do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos ...................................... 103

2. Os mártires do anfiteatro ............................................ 1053. Etimologia da palavra “adorar" .............................. 1034. Os pagãos adoravam fazendo o Sinal da Cruz. De

que modo o faziam? Primeiro modo ....................... 111

DÉCIM A C ^ r p A

1. Segundo e terceiro modo pelos quais os pagãos fa­ziam o Sinal da Cruz. Testemunhos. Pieta.s publico 114

2. Os pagãos conheciam uma potência misteriosano Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta crença? 119

3. Grande mistério do mundo moral. Importância do Sinal da Cruz aos olhos de Deus. O Sinal da Cruzdo mundo físico ......................................................... 120

4. P a l a ^ s dos Padres e de Platão .............................. 1225. Inconsequência dos pagãos antigos e modernos. Ra­

zão do ódio particular do demónio ao Sinal da Cruz 125

UNDÉCIM A CARTA

1. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos enriquece porque é uma suplica: Provas. Súplica poderosa:Provas. Súplica universal: Provas ........................... 130

2. Ele provê a todas as necesidades. O Homem carece de l ^ s para o seu espírito. O Sinal da Cruz, con­segue-as: Provas ......................................................... 139

DUODÉCIMA c a r t a

1. Necessidade perpétua do Sinal da, Cruz para obter força. Recomendação e prática dOs Chefes da luta espiritual. Sinal da Cruz nas tentações ................ 148

2. Sinal da Cruz na morte. Exemplo dos Mártires. Exemplo dos verdadeiros Cristãos, no acto de morrer 154

3. Os moribundos podiam a seus irmãos lhes fizesem o Sinnl de Cruz ................................................................ Ifi9

DÉCIM A TERCEIRA CARTA

1. O Sinal da Cruz na ordem temporal ......................... 1622. Dá vista aos cegos ouvidos aos surdos ..................... 163

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2

D ÉC IM A QUARTA CARTA

DÉCIM A Q U IN T A CARTA

DÉCIM A SEXTA CARTA

3. Dá a fala aos mudos ....... 1664. Dá uso dos membros aos coxos e paraliticos 1685. Cura febres e outras moléstias.................................... 171!l. Limpa os leprosos e tira o cancer 173 .7. ^raz à vida os próprios mortos................................... 1758. Conclusão .................................................................... 177

1. O Sinal da Cruz aplaca as tempestad<*s .................. 1.71-:Apaga os incêndios ...................................................... 180

3. Defende dos perigos ................................................... 1814. Suspende o ímpeto das ondas. Faz entrar as águas

em seu leito ................................................................ 1835. Afugenta os animais ferozes ..................................... 1856. Preserva do veneno ................................................... 1877. Livra-nos das tempestades e dos raios ....................... 1898. Protege-nos de tudo o que possa prejudicar a saúde

e a vida ......................................................................... 191

1. Resposta a uma questão ............................................ 1952. O Sinal da Cruz renova hoje seus antigos milagres 1973. A vida é ^ a luta ..................................................... 1994. Satanás existe? ......................................................... 20J5. O Sinal da Cruz é a 11.rma especial, a arma de pre-

' cisão, contra, os Anjos maus ou demonios ................ 202fi. Primeiro Tribunal ..................................................... 2047. Segundo Tribunal .......................■............................... 206S. Experiências ................................................................ 209

1 . O Sinal da Cruz despedaça os ídolos : 2132. O Sinal da Ci^z Pxpulsa os demónios ...................... 2153. Os exorcismos ............................................................. 219■1. Inutiliza os ataques directos dos demônios................. 2205. Inutiliza tambem os indirectos. Todas as ^ a tu r a s

sujeita!'. ao demónio lhe seivem de instrumento para nos fazerem mal. ' O Sinal da Cruz im ^^e-os em sua acção nociva contra nosso corpo <' nossa Alma. Profunda filosofia dos primeiros Ciistãos. Uso, que faziam do Sinal da Cruz. Quadro por S. Crisóstomo 224

il. Duas grandes Verdades ................................................ 2267. Pára-raio e Monumento ................................................. 228

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íNDICE 343 — — »

DÉCIM A SÉTIMA CARTA

1. Natureza do Sinal da Cruz e o caso que dele hojese fa.?. 231

2. Que coisa anunciam o esqi.K'cimento P o desprezo <loSinal da ^ u z? 232

3. Espectáculo do mundo actual ...................................... 234-1. Permanecer fiel ao Sinal da Cruz, principalmente

antes e depois da comida ............................................ 2375. Volta de satanás .......................................................... 239fi. A razão, a liberdade e a honra o recomendam ........ 2417. A conveniência dos q'Ue fazem o Sinal da Cruz antes

e depois da comida ....................................................... 242

DÉCIM A OITAVA CARTA

1. A hunra exige que se faça oração antes e dcpnis dacomida .......................................................................... 246

2. Orar antes e depois de comer é tão antigo cotno ouniverso, e lão cxtcnso como d gênero hum ano. ms

3. Benedicite e Graças de todos os povos ........ 2514. Quem n3o pratica tais provas, assemelha-se aos se­

res que não pertencem ao gênero hum ano 255

D ÉCIM A N O N A CARTA

1. A bênção da mt:>Sa é um acto de liberdade............... 2602. Três tiranos ................................................................ 2623. Vitória sobre o mundo .......................................... 2644. Vitória sobre a c a rn e .................................................... 213ô5. Vitória sobre o demônio ............................................... 2706. Conclusão notável ........................................................

VIGÉSIM A CARTA

1. Um viajor desnorteado .............................................. 2762. O Sinal da Cruz é um verdadeiro guia ..................... 2783. A lembrança é o pulso da amindc^ .......................... 2794. Importância do Sinal da Cruz ................................... 2805. Lembranças Divinas ................................................... 2836. A lei da imitação ........................................................ 287

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VIGÉSIM A PR IM EIR A CARTA

1. Imitação de Deus .. . ............................................... 2902. O Sinal da Cruz santificador do Homem e das

creaturas .................................................................... 2953. Ensinando-nos a Caridade, o Sinal da Cruz é gu'a

eloquente e seguro .................................................. 297

V I G É S ^ ^ SEG U N D A CARTA

1 . Decisão de ^ Tribunal supremo: Devemos praticar,resolutamente, mtl-itos vezes e bem o Sinal da Cruz 302

2. Razões para praticar resolutamente o Sinal da Cruz 3043. Estado de saúde fisica do mundo hodierno .............. 3074. Qual o estado sanitário das Almas no mundo actual? 311

VIGÉSIM A TERCEIRA CARTA

1 . Dogma 'fundamental ................................... 3152. A reforma, primeira .filha da renascença do paganis-

. mo derruba todas as C^tres . . 3173: A revolução francesa, segunda filha do paganismo,

imita sua irmã ............................................................. 3184. Primeira obrigação: fazer muitas vezes o Sinal da

Cruz ............................................................................. 3215. Segunda obrigação: Fazer bem o Sinal da C ru z 3236. O Sinal da Cruz feito de preferência na fro n te 3277. Quatro cousas necessárias para sd fazer bem o Sinal

da Cruz ........................................................................... 3308. Constantino .............................................................. . 333

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