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O Sinal da Cruz

de.

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Monsenhor QaumeProtonotário Apostólico

O Sina! da Cruz

Primeira tradução brasileira

1 9 5 0

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Protonotário Apostólico

"In hoc Signo «inces." Por este Sinal vencerás. (Euseb. vit. Const, 1,22)

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PREFÁCIO(da Segunda Edição Francesa)

Pelo sinal t da Santa Cruz, livrai-nos Deus, f Nosso Senhor, dos nossos t inimigos. Em nome do Padre e do Filho t e do Espí-rito Santo. Amcn.

Duas palavras: uma

sobre a publicação deste livro; outrasobre o resultado inesperado que ele obteve.

1

Como surgiu a idéia deste livro?Quem promoveu a circunstancia tão imprevista, que-a

ele deu origem?Porquê será que um livro destinado a despertar no

mundo católico a Fé no Sinal da Cruz, só hoje ê que aparece é não a uns dois ou três séculos atites ?

Qual a, razão de, até nossos dias, nevúium Papa ter tido a idéia de conceder uma gra,ça espiritual a esta fórmula que é amais venerável, a mais antiga, a mais habitual da Religião?

Como foi que Pio IX, em meio a tantas ocupações,. Se dignou escutar nossa débil vôz e Se apressou em ad

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O SINAL DA CRUZ

uertir os atuais Cristãos a que recorram ao Sinal da Cruz, como sempre fizeram os antigas?

Com que fim o Santo Padre ligou a esta 'prática urna Indulgência duplamente preciosa?

Até ontem, não sabíamos responder a tais perguntas.Hoje, a clarividência está sobre elas derramada.A Providência não procede nunca a esmo.Na Igreja tudo vem muito a propósito.Deus está mais que habituado a servir-Se mesmo daquilo

que não existe para confundir aquilo que existe.E' por isso que em Sua Divina Providência Êle é tão

admirável assim nas cousas pequenas como nas grandes.

— "Maynus in magnis,

non parvus in minimis" —

Houve tempo em que, com todas as forças do seu do-mínio, da sua crueldade e da sua raiva, Satanás era o dominador das idéias, das artes e dos teatros, das leis, dos costumes e das festas.

Dominando tronos e altares, o terrível inimigo da Humanidade manchava tudo e tudo convertia em instrumento de corrupção.

Mas... os primeiros Cristãos instruídos diretamente pelos Apóstolos, ficaram sabedores de que

"O Sinal da Cruz é a — arma de precisão — contra Satanás".

Em luta permanente com tal inimigo, aqueles Fiéis tinham sempre recorrido ao Sinal da Cruz como meio infalível de dissipar a força fascinariora e de arredar aa setas inflamadas do furioso adversário.

Daí o uso do Sinal da Cruz, como o Exorcismo de cada instante.

Reflitamos bem.Se hoje (sem premeditado desígnio do autor) aparece

uma obra destinada a fazer os Cristãos retomarem a arma vitoriosa de seus maiores;

se apezar de tantas contrariedades esta obra se espalha com rapidez;

se até em Roma adquiriu éla o mais precioso dos sufrágios;

se, finalmente, depois de dezoito séculos, o Vigário de Jesus Cristo, o Chefe do longo combate, agora por um áto solene concita o Mundo Cristão a recorrer constantemente ao Sinal outrora vitorioso sobre o paganismo,

que significará isso?E' sinal que nós nos achamos em circunstancias bem

análogas a aquelas dos primeiros Cristãos.Eles se viam em face a Satanás, rei e, deus do século;eles viviam no meio de um mundo que não éra Cristão,

que o não queria ser, que não queria que alguém o fosse, que perseguia a todo o transe a quem insistia em o ser.

E nós?

Não estamos nós hoje, em face a Satanás, desenfreado no mundo, a insurgir as nações contra Jesus Cristo, e a faze-las exclamar com vós infatigável:

— Não queremos mais que Êle reine sobre nós?

"Nolumus hunc regnare super nos?Em que meio vivem os Cristãos de hoje?

Não estão eles envolvidos em um mundo, que deixa de ser Cristão, que o não quer ser, que não quer que alguém seja, e que persegue por todos os modos a quem se obstina em o ser?

A astúcia, a violência, a injúria, a blasfêmia, o sarcasmo, a calunia, a espoliação, o exilio, e até a morte, não são meios empregados hoje contra nós os filhos tal como outrora contra os nossos pais?

Não são hoje armas contra o Cristianismo, as artes, as ciências, as leis, os livros, as festas e os teatros?

E será de espantar, que a Sentinela de Israel, o Soberano Pontífice, venha, por um áto desconhecido a seus predecessores, despertar nos Cristãos a Fé no Sinal protetor da Igreja e da sociedade?

Tal é a analogia, que até os próprios protestantes a reconhecem.

Na opinião deles (como é a nossa) para o mundo atual não ha salvação a não ser na Cruz-

No começo de Outubro, o jornal prussiano, A Gazeta da Cruz, publicou um longo artigo intitulado: "Por este Sinal vencerás"! "In koc Signo vinces".

Estamos hoje em combate espiritual contra o mesmo anti-cristianismo que, ha muito, Constantino vencera com a espada.

Sem duvida que hoje também é necessário dizer: VoiK-erfis por este Sinal! "In Koc Signo vinces."

Potencias ocultas e ferozes assaltam a Autoridade que, por praça de Deu9, é chave cie toda essa abóbada cha-mmln — "ordem social cristã."

E' necessário que o mal e o Remédio sejam igualmente incontestáveis.

Do contrário não se havia de ver aos protestantes, — esses que ha muito haviam repudiado o Sinal da Cruz como um ato de idolatria, — proclamando agora a necessidade dele.

Sim. O Sinal da Cruz é arma indispensável para a vitória sobre as potências ocultas e ferozes, cujo triunfo nos arrasta às condições de um povo bárbaro.

2

A providencial aparição do livro

— O Sinal da Cruz —

explica por si mesma os rápidos resultadosv que es£e livro obteve.

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O SINAL DA CRUZ

Três traduções apareceram em diferentes linguas da Europa; uma na Alemanha, outra em Turim, e outra em Roma-Os jornais católicos, à porfia, o recomendam. Muitas cartas nos têm trazido felicitações dos mais respeitáveis homens da França e. do extrangeiro.

"Soli Deo. honor et gloria."

Todos concordam1." — em mostrar COITLO veio a propósito este humilde

trabalho;2.° — em fazer sobressair a grandeza da graça espiritual,

que é do Sinal da Cruz um dos resultados eternos.Citemos algumas linhas; e os que as escreveram dignem-

se receber aqui a expressão de meu reconhecimento.

* * *

A sábia revista napolitana — "Scienza e fede" — (Ciência e Fé) termina sua longa análise, dizendo:

"Que proveito, perguntará nossa sociedade enterrada no materialismo até as ventas, que proveito poderá tirar a humanidade desta obra de Monsenhor Ganime?

Dará ela algum socorro aos pobres operários que a. revolução deixou sem trabalho?

Alistará alguns voluntários para a Polônia?Exterminará os bandidos que assolam a Itália?Fará muito mais:

— Dará o pão da Fé aos que carecem dele. — Na guerra encarniçada que temos a sustentar contra o bandido infernal, os Cristãos de novo se alistarão debaixo do Estandarte da. Cruz.

Esse Estandarte Divino que salvou o mundo ê o único dotado de força para, hoje salva-lo ainda.

Seja o futuro que fôr, o Estandarte da Cruz- nos en-ninará a. sermos nobres vencedores ou nobres vitimas.

'Iii ¡toe Signo vintes."Maravilhado por ver uma Indulgência ligada ao Sinal da

Cruz, o venerável decano da cadeira católica escreve-nos:

"O Sinal da Cruz Indulgenciado a pedido vosso!... Que dirão tantas pessoas que não quero aqui nomeá-las?

O Santo Padre acaba de pagar-vos com prodigalidade o trabalho que escrevestes para deter o paganismo que nos invade.

Toda a Igreja recebe (-por vós e por causa vossa) o insigne favor duma Indulgência, larga como o universo,, duradoura como os séculos; Indulgência que, d'hora em diante, a cada hora, a cada segundo, cairá, como orvalho refrigerante, sobre as Almas do Purgatório.

Que de Bênçãos não chamarão sobre vós estas santas Almas!

E se, depois da morte fordes obrigado a fazer-lhes-uma visita, que recepção vos não esperará!".

Deixemos outros testemunhos, e passemos a algumas peças emanadas de Roma,

* * *

A comissão encarregada de velar pelas escolas re-gionárias entendeu dever dirigir aos diretores a seguinte circular:

"Por entre um gm/nde número de livros inúteis e ■perigosos, especialmente para fe mocidade, não faltam-livros úteis e próprios a derramar no espirito das crean-gas as melhores máximas e o amor das praticas mais santas de nossa Augusta Religião.

Uma destas obras é, sem contradição, a intitulada:

— O Sinal da Cruz —

que ha pouco saiu da imprensa Tiberina e que tem sido elogiada por um grande número de jornais católicos.

O abaixo assinado, recomendando com insistencia aos senhores mestres, não consintam em suas escolas senão obras aprovadas pela. comissão, egualmente lhes recomenda façam que esta obra seja comprada e lida por os discípulos.

Mais lhes diz: que ela poderá ser dada em prêmio nas distribuições particulares que se costumam fazer nas escolas respectivas."

"Roma, do Secretário da comissão, o deputado

(a) L. Peirano."Antes desta circular havia já aparecido o documento seguinte:

CARTA DE S. EM. 0 CARDEAL ALTIERT a Mons.

Gaume

Protonotario Apostólico.

Roma, 17 de Agosto de 1863

"Ilustríssimo Monsenhor,

Com a publicação de vosso admirável livro sobre o Sinal da Cruz haveis prestado um novo e mui notável, serviço à causa da Igreja de Jesus Cristo.

Na verdade, fizestes conhecer por um modo o mais atraente, tudo o que contém, tudo o que ensina, tudo o que opera de sublime, de santo e divino e por consequência de soberanamente proveitoso às Almas, esta Fórmula Sagrada, tão antiga como a Igreja.

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O SINAL DA CRUZ

O Chefe Augusto da mesma Igreja, o Vigário de Jesús Cristo, o Soberano Pontifice, não podia deixar de acolher com gosto, uma obra tão preciosa' de tamanha utilidade ao povo cristão.

Assim, não só exprimiu viva satisfação, quando de-puz em as Sagradas Mãos o exemplar que por minha via

oferecestes a Sua Santidade, mas dignou-se, além disso, atender com bondade o manifestado desejo de que à prática do Sinal da Cruz se ligasse uma Indulgencia, excitando os Fieis a usal-o sempre que fosse possível e sem acanhamento para proteção e defesa da própria Alma.

No Breve que vai junto vereis quanto o Santo Padre foi generoso ao conceder semelhante graça e como faz apreciar bem seu valor.

Importa muito que este novo favor do Supremo Dis-pensador dos Tesouros celestes concedido em proveito da Igreja militante seja universalmente conhecido, quando vosso Iirvro mui excelente chegar à mão de todos e fôr vossa obra devidamente avaliada.

Na edição italiana, vinda muito a propósito e cuja tradução foi feita pelo incomparável Angelo d'Aquila, existe já o Breve de que falamos; e é necessário inseril-o nas demais edições todas que devem; vir sucedendo.

Está pois, preenchido o vacuo que haveis notado na — Raccolta delle Indulgence — (Coleção de indulgencias).

Assim, por efeito de vosso trabalho, cujo fim é atrair a atenção universal para o primeiro Sinal do culto que todos devem prestar ao principal instrumento da Redenção, vê V. EXcia. o tesouro da Redenção aberto para bem das Almas que vivem sobre a terra ou das que desceram ao Purgatório.

E' a digna recompensa e certamente a que mais V. Excelencia aspira.

Aceitai, Ilustríssimo Monsenhor, a expressão da mafc sincera e elevada estima com que sou,

De V. S. Uma. criado muito afetuoso (a) 0. Cardeal Altieri

BREVE DE SUA SANTIDADE

PIO IX, PAPA— "Ad perpetuam rei memoriam" —

Plenamente certos de que o salutar Mistério da Redenção e a Virtude Divina se contêm no Sinal da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, dele faziam uso frequentíssimo os primitivos Fieis da Igreja, segundo os mais antigos e mais insignes monumentos.

Por este Sinal começavam todGs os seus atos.

"A cada movimento, a cada passo, ao entrar ou "ao sair de casa, ao acender as luzes, estando "para

comer, quando nos juntamos, ao praticar "qualquer ação ou no ato de partir para qualquer logar, nós marcamos a nossa fronte com o "Sinal da Ouz," — dizia Tertuliano.

Havendo isto em consideração, julgamos a propósito despertar a piedade dos Fieis para como Sinal salutar de nossa Redenção, abrindo os Celestes Tesouros das Indulgene ias, a-íim-de que, imitando os belos exemplos dos primeiros Cristãos, se não envergonhem hoje os Católicos de publica e abertamente, munir-se com frequência do Sinal da Cruz, que é o Estandarte da Milicia Cristã.

Eis porque Nós, confiando na misericordia de Deus Onipotente e na autoridade de seus bemaventurados Apóstolos Pedro e Paulo, concedemos, pela forma habitual da Igreja, a todos e a cada um dos fieis de ambos os sexos que fizerem o Sinal da Cruz, contritos ao menos de coração e invocada a Santíssima Trindade, cincoenta dias de Indulgencia, pelas penitencias que lhes forem impostas ou que por outro motivo tivessem de cumprir.

Concedemos além disto, pela misericordia do Senhor, que estas Indulgencias possam ser aplicadas por modo de sufragio às Almas dos Fieis que morreram em graça.

As presentes Letras valham até a perpetuidade, não obstante quanto possa haver em contrário.

Querermos, além disto, que às cópias manuscristas destas ou os exemplares impressos das mesmas, tendo a assinatura d'um Tabelião e estando munidas do selo de um Eclesiástico constituido em dignidade, se dê absolutamente a mesma Fé que se daria a estas presentes Letras, se fossem exibidas ou mostradas.

Também queremos que um exemplar destas mesmas Letras seja remetido à Secretaria da Sagrada Congregação das Indulgencias e Santas Reliquias, pena de nulidade, conforme o decreto da mesma Sagrada Congregação com data de 19 de Janeiro de 1756, aprovado por Nosso predecessor, de santa memória, o Papa Bento XIV, a 28 do dito mês e ano.

Dado em Roma, iunto a S. Pedro, «* o Anel do Pes-cador, a 28 de Julho de 1863, decimo o ltavo de NossoPontificado. ^ Cardeal Paracciani CiareUi

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O SINAL DA CRUZ

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NOTA PRELIMINAR PRIMEIRA CARTA(da primeira edição francesa)

No mês do Novembro deste ano, chegou a Paris, para seguir os cursos de um colégio de França, um jovem Católico, pessoa de grande distinção.

Fiel ao uso tradicional de fazer o Sinal da Cruz antes e depois de comer, foi, desde o primeiro dia, objéto de espanto para os condiscípulos pensionistas.

O dia seguinte, em virtude da — liberdade dos cultos — o objéto das zombarias éra ele.Vindo-me visitar, pediu-me que algo lhe eu dissesse a respeito do Sinal da Cruz; pois os condiscípulos pretendiam faze-lo envergonhar-se de o fazer. Respondem àquele pedido

as cartas seguintes.

Paris, 1862,

Paris, 25 de Novembro de 1862

Sumario:— 1. O mundo atual. — 2.

Hoje o Cristão não faz, ou faz raras vezes, ou faz mal feito o Sinal da Cruz. — 3. Os antigos Cris-tãos faziam-n'o, e muitas vezes, e bem feito. — 4. Quem estará com a razão e com o Verdade?

Meu caro Frederico,

Apenas quinze dias ha que os jornais anunciaram o naufrágio do navio comandado pelo Capitão Walker.

A noticia que ambos lemos nos foi bem dolorosa pela morte de passageiros conhecidos nossos.

Tinha o navio batido contra um escolho e um largo rombo se havia declarado. Apesar dos esforços da equi-pagem, foi impossível tapa-lo. Em menos d'uma hora o porão estava inundado; e o navio descia a olhos vistos abaixo da linha de flutuação-

Diante do perigo, alijaram ao mar as mercadorias; além das mercadorias, as provisões de guerra; depois os inoveis e uma parte dos aparelhos. Por fim lá se foram

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O SINAL DA CRUZ

as provisões de boca, excetuando duas ou três pipas de agua e alguns sacos de bolacha. Tudo inútil.

O navio continuava a afundar-se e o naufrágio tornava-se iminente.

Como último recurso, Walker mandou lançar as lanchas, e muito à pressa entrou numa. Infelizmente a maior parte dos passageiros em vez de nelas encontrarem salvamento, encontrou a morte.

Com pequenas variantes, esta é a história dos grandes naufrágios.

Em transes tais, os que comandam o navio e as demais pessoas que o ocupam são prontos em, alijar tudo quanto podem.

A vida primeiro que tudo.

1

O mundo atual meu caro, (este mundo que ainda se diz cristão e ao qual sem duvida pertencem teus jovens condiscípulos) oferece mais de um ponto de similhança com um navio avariado e prestes a perder-se.

As furiosas tempestades que desde longo tempo não têm cessado de bater contra a Náu da Igreja, nela têm aberto largos rombos.

Em ondas grandes foram entrando doutrinas, costumes, usos, e tendências anti-cristãs.E' necessário um abrigadouro; não para o Navio que é imperecível mas para os passageiros que o não são. O que se tem feito?

Não é ao mundo abertamente pagão que me refiro; dele já o naufragio está consumado.

Falo é deste mundo que ainda pretende ser cristão. Que fez ele?Que faz cada dia às provisões de guerra e de boca, às

mercadorias, aos móveis e aparelhos de que a Igreja tinha provido a Náu, a-fim de assegurar contra o impeto dos ventos e contra os escolhos, o bom resultado da navegação até ao porto da eternidade?

Tudo ou quasi tudo lançou ele ao mar.Que é feito da oração em comum no seio das Familias ?No mar.

Onde andam os estudos da Doutrina, as leituras piedosas e a meditação? No mar.Onde ficaram a assistência habitual ao Santo Sacrifício da Missa, o Escapulário, e as contas do Rosário? No mar.

Onde está aquela santificação séria do Domingo, dia reservado unicamente para assistir à Santa Missa inteira e para escutar às pregações da Palavra de Deus e aos Ofícios Divinos; para a visita dos pobres, dos aflitos e dos doentes?

No mar.

Onde foram parar a prática frequente e regular dos. Sacramentos da Confissão o da Comunhão, a observancia, às Leis do jejum e da abstinencia?

No mar.Onde está. aquele espirito de simplicidade, de modéstia,

de mortificação no vestuário, nos divertimentos, nas habitações, nas mobílias, no alimento?

No mar.Onde está o Crucifixo? Que é das Imagens santas? e a

Agua benta?No mar.Tudo no mar!...E a Náu continua invadida pelas ondas!...

Diminue o espírito cristão e o espírito mundano cresce a olhos vistos-

Entram os viajantes nas lanchas, isto é, nas religiões que eles próprios criam segundo suas edades, suas posições, seus temperamentos, seus gostos.

Aos Domingos vão à Igreja o mais tarde possível, assistem a um pedaço da Missa apressada, e ainda sabe Deus, com que intenção!...

A uma Missa cantada não aguentam.Ir à explicação da Doutrina e às Vésperas, nunca (1).O Cristão de agora frequenta os espetáculos e os bailes,

lê tudo o que se apresenta, pratica tudo o que quer; só não pratica aquilo que deve.

Eis os frágeis batéis a que o homem que se diz Católico, hoje confia a própria salvação.

Por ventura poderá ele admirar-se de tantos naufrágios?E a gente nova que assim se vai creando?

<l) Hoje;, a mniorin nem sabe o que sejam Vésperas.

Entre os usos católicos imprudentemente abandonados pelo mundo atual, um ha, entre todos respeitável, que do naufrágio eu bem quizéra a todo o custo salvar.

E' aquele, meu caro, que teus jovens condiscípulos desprezam, sem saberem o que fazem:

E' o Sinal da Cruz.E' tempo de curar a conservação dele.Se não, daqui a alguns anos terá seguido o caminho de

tantas outras práticas tradicionais que devemos! à ternura maternal da Igreja e à piedade esclarecida dos séculos cristãos (1).

2Meu caro Frederico, queres tu saber o triste paradeiro do

Sinal da Cruz no mundo cristão de hoje?Coloca-te um Domingo à porta duma Igreja.Observa bem a multidão, que entra na Casa de Deus.

Um grande número entra com altivez ou loucamente ... (que, para o logar santo, é o mesmo); entra sem nem olhar para a pia d'Agua benta e não faz o Sinal da Cruz.

22 23-O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

Outros, em número menor, apenas fazem um gesto exterior de tomar Agua benta e de fazer o Sinal da Cruz.

Tu os verás mergulhar na pia a mão com luva; é isso tão errado como seja o confessar-se ou comungar de luvas.

Outros muitos, pelo modo com que fazem o Sinal da Cruz, melhor seria que o não fizessem.

Estou certo de que o mais hábil explicador de hiero-glyphicos, diante daquilo ficaria ern dificuldades.

(1) Realizou-se a previsão, infelizmente!

Um tal movimento de mão irrefleticlo, apressado, truncado, maquinal, a que é impossível designar forma ou dar uma significação, se é que ligam a menor importância ao «que fazem, eis deles o Sinal da Cruz ao Domingo.

Nesta multidão toda de gente batisada, quantas pessoas encontrarás que façam seriamente, regular e religiosamente, o Sinal santo da salvação eterna?

Ora, se em publico e em circunstâncias solenes, a maior parte não faz ou faz mal o Sinal da Cruz, tenho dificuldade em me persuadir que o façam e o façam bem, noutras ocasiões onde há, na aparência, menos motivos de o fazer, e de o fazer bem,

E' pois um fato:os Cristãos de hoje não fazem, ou fazem raras vezes, ou

fazem mal feito o Sinal da Cruz.Sobre este ponto, como em outros muitos, somos

antípodas de nossos avoengos.

3

Os Cristãos primitivos da Igreja faziam o Sinal da Cruz, faziam-no bem e o faziam muitas vezes-

No oriente como no ocidente, em Jerusalém, em Atenas, em Roma, os homens e as mulheres, os mancebos e os velhos,

os ricos e os pobres, os Padres e os simples Fiéis, todas as classes da sociedade, observavam religio-wimente este uso tradicional.

A história não oferece fato que seja mais certo.Todos os Padres da Igreja, como testemunhas ocu-InroR, o

dizem; e todos os historiadores o certificam.Encontrarás isto, meu caro, na obra intitulada — De cruce

—, trabalho do teu sábio compatriota Gretzer.Em nome de todos, escuta agora só um — Tertu-liano.

"A cada movimento e a cada passo, ao vestir e "ao calçar, ao entrar e ao sair de casa, ao lavar "ao assentar à mesa, ao acender as luzes, ao dei-"tar e ao levantar, qualquer que seja o áto que "pratiquemos ou o logar para que vamos, sem-"pre marcamos nossa fronte com o Sinal da "Cruz (1)." Eis o que está bem claro e é muito certo:

— Nossos avós de um lado ou de outro a cada instante faziam o Sinal da Cruz. —

Sim. Não só eles o faziam sobre a fronte, mas, a cada passinho, também na boca, sobrei os olhos e no peito (2). Daqui resulta que

— Se os primeiros Cristãos reaparecendo hoje nos logares públicos ou em nossas casas, fizessem o que faziam ha dezoito séculos, seriam tomados por loucos —,

(1) Ad omnem progressum atque promotum, ad omnem aditum. et exitum, ad vestitum et calceatum, ad lavacra, ad mensas, ad lumina, ad cubilia, ad sedilia, quacunque nos convertatio exercet, frontem crucis signa culo terimus. (De Coron. milit. c. III).

(2) In frontibus et in oculis, et in ore et in pectore et in om-nibus membris nostris. (S. Ephrem, Serm. in pret. et vivit crucem). Os primeiros Cristãos faziam muito & miúdo o Sinal da Cruz com o polegar sobre a fronte, na boca, nos olhos, sobre o peito, em todos os membros. (Santo Éfrem, Sermão sobre a Santa Cruz).

4

E\ pois, muito verdade que, a respeito do Sinal da Cruz, os Cristãos modernos estão sendo uns antípodas dcvs primeiros Cristãos.

A Verdade é uma só; e a razão só pode estar de umlado.

Portanto, meu caro Frederico, uma das duas: ou a razão está com os Cristãos de agora, ou ela ha de estar com os primitivos Cristãos.

h° — Si a razão estiver com os de agora, então os antigos não se justificam e por isso não passam, de uns nécios.

2.° — Si os primeiros Cristãos tinham razão e motivos bastantes para se justificar, os Cristãos modernos é que estão errados.

Não ha meio termo.

A razão com quem estará?Tal é a questão, meu caro Frederico. Questão grave; muito

grave.Por certo é ela mais gravo do que julgam teus condiscípulos e todos os que pensam a modo deles. E' do que espero te persuadir...

nas cartas seguintes.Adeus.

SEGUNDA CARTA

Paris, 27 de' Novembro de 1862.

22 23-O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

Sumario:— 1. Precedentes a favor dos primeiros Cris-

tãos. — 2. Primeiro precedente: a pro-ximidade dos Apóstolos. — 3. Segundo-precedente: a santidade. — 4. Terceiro precedente: o uso dos verdadeiros Cris-tãos. — 5. Foram os Padres da Igreja, grandes genios? —

1

Meu caro Amigo,

Nas causas ordinárias, as circunstâncias exteriores representam um grande papel.

Dada a igualdade das testemunhas diretas, muitas vezes, elas é que constituem motivo para formar a opinião dos Juizes.

Tais circunstâncias se chamam: os antecedentes, a posição, o caráter e etc. das pessoas interessadas no debate. Do processo que nos ocupa não havemos de as. afastar.

Antes pois de produzir para os primeiros Cristãos razões tiradas da própria natureza do Sinal da Cruz, examinemos as circunstâncias ou precedentes que militam a favor da conduta deles.

2

Primeiro precedente:

— a proximidade dos Apóstolos.

Os Apóstolos são Homens que conviveram com o Messias que é Nosso Senhor Jesus Cristo Verbo Encarnado, a Verdade em Pessoa.

Viram-No com os próprios olhos, tocaram-No com suas mãos. Foram os únicos depositários e os órgãos infalíveis da Doutrina do Senhor.

Ordem lhes tinha sido dada pelo Divino Mestre de a ensinar completa: nem de mais, nem de menos.

Por seu turno os primeiros Cristãos viram os Apóstolos e os Homens Apostólicos; trataram com eles e os ouviram.

Deles receberam a Fé e por eles foram Batizados.Foi portanto nas fontes da Verdade que eles a beberam.Da Doutrina Apostólica, a quem tudo deviam, é que

nutriam o Espírito; dela faziam a regra das próprias ações e com inviolável fidelidade a observavam: perseverantes in doe trina apostolorum.

Nunca ninguém esteve em melhores condições do que eles para conhecer o pensamento dos Apóstolos sobre a Doutrina de Nosso Senhor.

Se, pois, os primeiros Cristãos faziam o Sinal da Cruz a cada instante, é forçoso concluir que — eles obedeciam a uma recomendação apostólica.

Se assim não fosse, os Apóstolos e seus primeiros sucessores, guardas infaliveis do tríplice deposito — da Fé, dos costumes e da disciplina, dar-se-iam pressa a proibir um uso inútil, supersticioso e próprio a expor os neófitos à zombaria do paganismo ignorante (1).

Portanto repito:—Fazendo muitas vezes o Sinal da Cruz, os pri-

mitivos Cristãos da Igreja procediam com pleno conhecimento de causa.

3

Segundo precedente: — a

santidade.Não só os primeiros Cristãos eram muito instruídos na

Doutrina dos Apóstolos; mas, também muito fieis em pratica-la.Disto é prova serem muitos os santos daquele tempo. Não há verdade melhor estabelecida do que a seguinte:

A santidade era o caráter comum dx>s primeiros Cristãos.

(1) Neófito — nome que designava os que se convertiam ao Cristianismo.

1.°) Eles preferiam perder tudo, — a liberdade, os bens, o bom nome e a própria vida no meio dos peiores suplícios, — antes dc que ofender a Deus.

Foi um heroismo que durou tanto como as perseguições: — três séculos.

2.°) Eram muito caritativos.

O Céo e a terra se uniram para elogiar-lhes o mutuo amor verdadeiro que os unia, único nos anais do mundo.

Constituíam um só coração, e uma só Alma: "Cor unum, et anima una,", diz deles o próprio Deus nas Escrituras.

Vejam como se 'querem bem e sempre estão prontos a morrer uns pelos outros: "Vide ut invicem se diligant, et ut pro alterutre mori sint parati," exclamavam os pagãos!

3.°) Eram ternos e respeitosos para com os Apóstolos, aos quais obedeciam com submissão filial.

São Paulo, que não era adulador, escreve aos Cristãos de Roma:

"E' celebre no mundo inteiro a vossa Fé."

E aos da Asia diz que o amavam por tal modo, que, se pudessem, arrancariam os olhos para lhos dar.

A um pedido dele, todas as Igrejas voam a socorrer os irmãos de Jerusalem, e Philemon recebe a Onesimo-

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O SINAL DA CRUZ

4.°) Testemunhas oculares, os Padres da Igreja continuaram a dar dos primeiros Cristãos o mais brilhante testemunho de Santidade.

Dirigindo-se aos Juízes, aos Pretores, aos Procônsules do Imperio, Tertuliano lhes propunha este solene desafio:

"Apelo para vossos processos, ó Magistrados "que sois encarregados de fazer justiça. Entre "esta multidão de acusados que todos os dia apa-"recemi á barra de vossos tribunais, qual é o envenenador, o ladrão, o assassino, o sacrilego, o "corruptor, que seja Cristão? "W dos vossos que as prisões estão cheias até "não mais; é dos vossos que as minas estão po-voadas; é dos vossos que se engordam as feras "no anfiteatro; é dos vossos que se formam "a multidão de gladiadores. Entre eles nem um "só Cristão, a não ser pelo único crime de processar o Cristianismo.'* (1)

5.°) Os historiadores pagaos reconheciam-lhes a inocencia, e os mesmos perseguidores prestavam home-nagem à virtude deles.

Tácito, autor tão exigente como injusto a respeito de nossos pais (os primeiros Cristãos), refere a horrível carnificina dos Cristãos no reinado de Nero.

"Uma enorme multidão, multitude ingens, diz "ele, morrem em horrível suplicios." "Eram inocentes de todo o crime e só culpados "no odio do genero humano: odio generis hu-

<1) Apol., c.XLIVEis o ponto.Qual era o género humano de Tácito?Ele próprio o diz:— "Era a ralé viva, a crueldade em pessoa.**

D'onde nascia seu odio aos Cristãos?De ser sempre inimigo irreconciliável do bem.

A santidade de nossos pais era a condenação implacável dos monstruosos crimes que manchavam os pagãos. Daí as fogueiras de Nero e os fachos ateados.

Quarenta anos depois de Nero, Plinio o moço, governador da Bithinia, é encarregado por Trajano de informar contra os Cristãos.

Cortezão zeloso, executa com rigor as ordens do seu Senhor e prende nossos avós.

Dados à tortura, ele mesmo se interroga. Que resultado lhe deram seus sanguinolentos processos ?

"Todo o crime dos Cristãos, escreve Plinio a "Trajano, consiste em se reunirem certo dia, "antes do romper da aurora, para entoar lou-"vores a Cristo, como se fora um Deus; e a "obrigar-se por juramento a não cometer crime "algum, mas a evitar o roubo, o assassinato, "o adultério e o perjúrio. Eu os puz em tortu-"ras e não os achei culpados, a não ser de uma "prejudicial e excessiva superstição." (1)

Fui extenso, meu caro Frederico, sobre a santidade dc nossos maiores.

II» K.pi.st.. lih. X, opist. D7.A meu ver ela constituc a mais poderosa circunstância a

favor do Sinal da Cruz.Quando homens daquele caráter, à frente da morte, se

mostram invariavelmente fieis a um dado uso, é necessário crer que tal uso é um pouco mais mportante do que julgam-no os teus jovens condiscípulos.

4

Terceiro precedente:— O uso dos verdadeiros Cristãos nos séculos

seguintes. —Muito cedo, tanto no oriente como no ocidente, se

formaram comunidades religiosas de homens e de mulheres.Em asilos tais. separados do mundo, é que se encontram,

sinão imobilisados, ao menos perpetuados com a maior fidelidade, o verdadeiro espírito do Evangelho e a pura Tradição do Ensino Apostólico.

Entre os antigos usos, conservados com zolo e cuidado, figura o Sinal da Cruz.

"Nossos Padres, os antigos Monges, escreve um "de seus historiadores, praticavam muitas ve-"zes, e mui religiosamente, o Sinal da Cruz. "Faziam-n'o principalmente ao deitar e ao levantar; antes do trabalho; ao sair da cela e " do Mosteiro e quando entravam; quando se sen-"tavam à mesa; sobre o pão, sobre o "vinho, e sô-"bre cada iguaria" (1).

(1) Marténe. Do anlig. monach. ritib., Üb. I n.° 25, etc.

O uso tradicional do Sinal da Cruz, sinal redentor vcm no mundo em linha paralela.Todos os grandes homens que, durante mais de qui-

nhentos anos, se sucederam no oriente e no ocidente, aqueles genios incomparáveis que se chamam os Padres da Igreja:

— Tertuliano, Cipriano, Atanásio, Gregorio, Basilio, Agostinho, Crisóstomo, Jerónimo, Ambrósio e tantos outros,

cuja lista espantosa com o seu peso esmaga o orgulho dos séculos —

todas estas elevadas inteligencias faziam muito as-siduamente o Sinal da Cruz e o recomendavam com insistencia a todos os Cristãos, que o fizessem em qualquer ocasião.

5

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O SINAL DA CRUZ

Aos Padres da Igreja eu os chamei grandes genios G grandes homens.

Se como tais os fizeres notar a teus condiscípulos, oh! espera logo por um sorriso de impiedade.

jPobres- mancebos! Conhecem eles aos Padres da Igreja, tão bem como os antipodas selvagens hão de conhecer.

Pergunta-lhes primeiro o que entendem eles por grandes homens.

Na falta de uma resposta, eis a minha, que poderá Hervir-té em caso de necessidade.

Grandes homens chamo eu a aqueles que, pela eleva-çAo, profundeza e extensão de seu genio, abraçam imen-■o« horizontes no mundo da verdade; aqueles que conhecem as ciências, os homens e as coisas, não superficialmente, mas em seus principios, em seus fins e em sua natureza intima; aqueles que conhecem não só a materia, mas também o espirito que é indizi-velmente superior à materia; aqueles que não só conhecem o homem, mas também o Anjo; não só a creatura, mas também o Creador; homens que sabem não só o que existe aquém do tumulo, mas também o que deve existir além dele; conhecem não um ou outro fato isolado mas o conjunto dos fatos; não uma lei isolada mas todo o sistema da creação, donde fazem sair inesperadas e luminosas aplicações para o bem da Humanidade.Eis o genio, eis o Padre da Igreja. Podes desafiar teus condiscipulos a achar entre os antigos e os modernos, quem, tão bem ou melhor, tenha definido o grande homem.

Por mais celebres que sejam as notabilidades atuais em química, em física, em mecânica, em industria, eles nem são genios nem grandes homens-

O homem que não abrange com sua vista mais que uma lei secundaria da harmonia universal, não merece o nome de genio; porque, não dizemos grande musico ao que não sabe tirar senão um único som de seu instrumento, mas a aquele que harmoniosamente faz soar todas as cordas.

Hoje não tenho mais tempo de acabar este assunto. Si Deus quiser fa-lo-ei...

amanhã.Adeus.

TERCEIRA CARTA

Paris, 28 de Novembro de 1862.

Sumario:— I. Continuação do terceiro precedente: os

Doutores do oriente e do ocidente. — 2. Constantino, Thcodosio, Carlos Magno, S. Luiz, Bayard, D. João d'Austria, Sobieski. — 3. Quarto precedente: con-

duta da Igreja. — 4. Quinto precedente: os que fazem o Sinal da Cruz. — 5. Re-sumo. —

1

Mou caro Amigo,

Em continuação do ponto de hontem, digo-te: Todos aqueles grandes genios, sem nenhuma exceção, todos faziam o Sinal da Cruz. Faziam-no e muitas vezes.

Mais. Não cessavam de recomendar aos Cristãos que o fizessem em todas as ocasiões.

Dis um deles:"Para os que põem sua esperança em Jesus "Cristo, fazer o Sinal da Cruz, é a primeira e a "mais conhecida coisa que entre nó» se pratica:

"Primum est et notissimum." (1)

Um outro diz:"A Cruz encontra-se em toda a parte — entre "Os Príncipes e entre os súbditos; entre os "Homens e entre as Mulheres; entre as Donzelas e entre as Matronas; entre os escravos e "entre as pessoas livres —; e todos com ela mar-"cam a fronte que é a parte mais elevada de seu "corpo." Nunca deveis transpor o limiar de vossas casas "sem dizer:"Renuncio a satanás e ligo-me a Jesus Cristo "e sem acompanhar estas palavras do Sinal < "Cruz: cum hoc verbo et crucem in fronte im-"qyrimas." (2)

Um outro diz:

"DevemoR fazer o Sinal da Cruz a cada ação do "dia: omne. diei opus in signe facere Salvatoris." " (3)

Outros ainda dizem:

"Que o Sinal da Cruz mais abreviado, se deve fa-"zer constantemente sobre o peito, sobre a boca, "sobre a fronte, à mesa, no banho, na cama, à "entrada e à saída de casa, nas horas de alegria

(1) S. Basil.. DP Bp. S.. c. XXVII.(2) S. Chrys., Quod Chrintiui «lt Deus; et Homll. XXI. up popul. Antloch.Í3) S. Ambr., Ser.. XLIII.

"e de tristeza, assentado, de pé, ao falar, ao an-"dar, em todas as nossas ações; verbo dicam in "omni negotio — numa palavra — em tudo e "sempre."Devermos fazê-lo sobre nosso peito, e sobre to-"dos nossos membros; para que estejam protegidos por esta armadura invencível dos cris-"tãos; armemur hac insuperabüi Christianorum "armatura — armemo-nos deste insuperável es-"cudo cristão." (1)

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O SINAL DA CRUZ

Confirmando suas palavras com o exemplo, até ao último suspiro, vemos morrer estes grandes génios, como o ilustre Crisóstomo, o rei da eloquência, fazendo o Sinal da Cruz.

Educados em tal escola, os mais nobres Cristãos seguem tais passos

Falando de Santa Paula, a neta dos Scipiôes, S. Jerónimo diz:

"Quando estava nas proximidades da morte e "suas palavras dificilmente podiam ser percebidas, Paula tinha o dedo sobre a boca; e, fiel "ao uso, imprimia sobre os lábios o Sinal da "Cruz." (2)

Atravessamos os séculos e assignalemos alguns bri-lhantes anéis da cadeia tradicional.

(1) S. Gaudent. episc. Brixien., Trait. de lect. evang.; S. Cyrill. Hler., Cntech., IV n. 14; S. Ephr., de Panóplia.

(2) Ad Eustoch., de Epitaph, Paulo.2

Sem falar dos grandes Imperadores, legisladores e guerreiros como sejam: — Constantino, Theodosio, Carlos Magno e outros tão fiéis ao uso do Sinal da Cruz, cheguemos ao maior dos nossos reis, S. Luiz.

Amigo que foi e biografo historiador de Luiz IX, o Snr. de Joinville, nos deixou este testemunho:

"À mesa, no conselho, no combate, em todas as "suas ações, o Rei começava sempre pelo Sinal "da Cruz." (1)

O cavaleiro sem medo e sem nota, Bayard, é ferido de morte.

Cheio de dignidade em toda a vida, seu último áto foi o Sinal da Cruz feito com a própria espada.

Representadas por duas esquadras de mais de qua-trocentas velas, a potencia católica e a mussulmana estão em presença uma da outra no golfo de Lepanto.

Do combate depende — salvar-se a civilisação ou triunfar a barbaria.

Os destinos da Europa estão nas mãos de D. João d'Austria.

Antes de dar o sinal de ataque, o herói Cristão faz o Sinal da Cruz. Todos os capitães o repetem, e o Islamismo sofre uma derrota de que jamais se pôde levantar.

Todavia, um século depois, ainda ensaia reparar aquele revez.

(1) Vida, c. XV.Hordas inumeráveis avançam até debaixo dos muros do

Viena.Sobieski é chamado; suas forças não são nada, com-

paradas às do inimigo; mas Sobieski é Cristão.

Antes de descer à planice, manda a seu exercito fazer o Sinal da Cruz vivo, ouvindo Missa de braços abertos.

Foi ali diz um guerreiro Cristão, naquele momento que o gran Visir foi batido-

Não acabaria mais, meu caro amigo, se quizesse citar, uns após outros, todos os fatos que estabelecem a perpetuidade do Sinal da Cruz entre os verdadeiros Cristãos de todos os séculos e condições, assim no mundo como nos claustros, assim no oriente como no ocidente.

Esta gloriosa Tradição não formará respeitável cir-cunstancia a favor de nossos primitivos avós na Igreja?

A tal respeito que pensam teus jovens condiscípulos?

3

Quarto precedente:

—■ a conduta da. Igreja.

Os séculos passam; e com os séculos mudam os homens.Leis, hábitos, modas, linguagem, maneiras de ver e de julgar, tudo se modifica. Só a Igreja não muda.

Imutável como a verdade de que é a Mestra, o que ontinava e fazia ontem, Ela o ensina e faz hoje, Ela o ■minará e fará amanhã, Ela o ensinará e fará sempre.

Qual o pensamento, qual a conduta da Igreja a respeito do Sinal da Cruz?

Não ha outro ponto sobre que com mais brilho se manifeste sua divina imutabilidade.

Pode dizer-se que a Igreja vive do Sinal da Cruz e isto ha dezoito séculos (1).

Nem um instante deixa de empregá-lo.Começa, continua, acaba tudo, por este Sinal.De todas as praticas, o Sinal da Cruz é a principal, a mais

comum, a mais familiar.E' a alma dos exorcismos, das orações, das bênçãos.O que faz hoje à nossa vista em nossas Basílicas, fazia-o à

vista de nossos pais nas catacumbas."Sem o Sinal da Cruz, dizem eles, nada entre "nós se faz legitimamente, nada é perfeito, na-"da é santo (2)."

A semelhança de Seu Divino Fundador, a Igreja exerce poder sobre o homem e sobre as demais creaturas. Estende-o ao Céo e à terra; Data est mihi omnis potestas in coelo et in terra.

E de que modo o exerce? Fazendo o Sinal da» Cruz.Quanto destina Ela a seu próprio uso — agua, sal, pão,

vinho, seda, linho, bronze, prata, ouro — e quanto

(1) Há vinte séculos!

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O SINAL DA CRUZ

(2) Sine ouo signo nihil est sanctum, neque alia consecratio meretur effectm. (S. Cypr. de Bapt. chr.) Quod nisi adhi-beatur, nihil reete perficitur. (S.Aug., Trat. 128. in Joan..

n. 5).

pertence a seus filhos — habitações, campos, rebanhos, instrumentos do trabalho, invenções de indústria — de tudo toma posse pelo Sinal da Cruz.

Se ao Deus do Céo quer levantar uma habitação sobre a terra, primeiro que tudo o logar do edifício deve ser consagrado com o Sinal da Cruz.

"A ninguém, dizem os Concílios, é permitido "edificar uma Igreja sem que o Bispo vá ao "local, fazer o Sinal da Cruz para afugentar de "lá os demonios (1)-

0 Sinal da Cruz é a primeira coisa que emprega para abençoar o edifício do Templo.

Vinte vezes grava-o sobre o pavimento, sobre as colunas, sobre o Altar.

Para o imobilisar, manda fabricá-lo de ferro, e o coloca no vértice do frontispício.Quando seus filhos vierem à Casa de Deus, que farão antes de transpor o limiar? O Sinal da Cruz.Por onde começarão os chefes da oração, os Bispos e os Padres, a celebrar os louvores do Omnipotente? Pelo Sinal da Cruz.

(1) Nemo ccclesiam edificet, antequan episcopus civitatis veniat, et ibidem crucem figat: addit glossa ad abigendas doemonum phnntnsins. (Novela V, paragr. I cap. Nemo deconsecrat. diet I.)

Escreve um antigo liturgista:"Quando no princípio dos Ofício» fazemos o* "Sinal da Cruz acompanhado das palavras; "ô "Deus, vinde em meu auxilio", é como se disséssemos: Senhor, Vossa Cruz é o nosso adjutorio; "com a mão Vo-la representamos enquanto com "a palavra Vos pedimos auxilio. "O diabo é o chefe de todos os inimigos de nossa "salvação, e para nos engodar, lisongea a car-"ne. Se, porem, Senhor, por Vossa Cruz Vós nos "dais auxílio, ele e todos os mais nossos inimi-"gos serão derrotados (1).'*

Vede sobretudo, a conduta da Igreja a respeito do nosso corpo, Templo vivo da Trindade.

A primeira coisa que faz sobre ele, ao sair do seio materno, é o Sinal da Cruz; e a última, quando o entrega ás entranhas da terra, é ainda o Sinal da Cruz.

Eis a primeira saudação, e o último adeus aos filhos de sua ternura — o Sinal da Cruz!

E do berço ao tumulo quantas vezes o Sinal da Cruz sobre o Homem?

No Batismo onde ele se torna filho de Deus, o Sinal da Cruz; na Confirmação, onde se torna soldado da virtude, o Sinal

da Cruz; na Eucaristia, onde se nutre com o pão dos Anjos, o Sinal da Cruz; na Extrema Unção, onde é fortificado para o último combate, o Sinal da Cruz; na Ordem e no Matrimônio, onde é associado à. paternidade do próprio Deus, o Sinal da Cruz.

(1) Raisons de l'Office, p. 270.Sempre e por toda a parte, hoje, como» outr'ora, no

oriente como no ocidente, o Sinal da Cruz sobre o Homem

Isto ainda não é nada.Vede o que faz a Igreja quando sobe ao Altar personificada

no Padre.Com a omnipotência que lhe foi dada, vem a imperar, não

à creatura, mas ao Crcador; não ao homem mas a Deus.À voz do Padre o Céo se abre; o Verbo Se encarna e

renova todos os mistérios da própria vida, morte e res-surreição.

E' um áto que deve ser cumprido com a mais solene gravidade; um áto do qual é necessário banir com o máximo cuidado tudo quanto seja extranho ou supérfluo.

Entretanto no decurso do Santo Sacrifício que é a Ação por excelência, a Igreja mais que nunca multiplica o Sinal da Cruz, envolve-se no Sinal da Cruz, marcha atravéz do Sinal da Cruz; repete-o tantas vezes que o número a que chega poderia parecer exagerado, se não fosse profundamente misterioso.

Sabes quantas vezes o Padre faz o Sinal da Cruz durante a Missa?

Fa-lo quarenta e oito vezes!

(I) Si reKenerari oportet, crux adest; si mystico illo cibe nutriri. si ordinari, «t si quidves aliud faciendum, ubique nobis adest hoc victoriae Symbolum. (S. Chrys.. in Math, homil. 54, n. 4.) Quod Signum nisi adhibeatur frontibus credentium, sive ipsi aquae in qua regenerantur, sive eleo quoe chrlsmate ungun-tur, nihil eorura recte perficitur. (S.Aug., Joan., tract. 128 n. 5.)

Digo mal: — enquanto dura o Augusto Sacrifício, o Padre é um Sinal da Cruz vivo.

E seria possível, meu caro, que a grave instituidora das Nações, a grande Mestra da Verdade, a Igreja Católica, fosse divertir-se com repetir tantas vezes, no áto o mais solene, um sinal inútil, supersticioso ou de mínima importância?

Se teus condiscípulos julgam isso, tornaram-se crédulos demais: — acreditam o que não devem.

A conduta da Igreja e dos verdadeiros Cristãos de todos os séculos, é uma circunstância vitoriosa a favor de nossos antepassados.

4

Quinto precedente:

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O SINAL DA CRUZ

— os que não fazem o Sinal da Cruz —.No mundo ha seis categorias de seres, que não fazem o

Sinal da Cruz.a) Não o fazem os pagãos: índios, Chinezes, Thi-betanos, Hottentotes, Selvagens da Oceania, idolatras de idolos

monstruosos, povos profundamente degradados e não menos infelizes.b) Não o fazem os mahometanos, imundos pelo sensualismo, tigres pela crueldade, autómatos pelo fatalismo.c) Não o fazem os judeus; profundamente encrus-tados n'uma camada espessa de superstições ridículas, petrificação viva de uma raça decaída.

d) Não o fazem os hereges, que pretenderam refor-mar a obra de Deus e que, em punição do próprio orgulho, tanto têm perdido da verdade, a ponto de chegar um dos ministros prussianos a dizer, pouco tempo faz: — Sou capaz de escrever na unha de meu dedo polegar tudo quanto resta de comum entre os. protestantes—.

e) Não o fazem os católicos renegados de seu Ba-tismo, escravos do respeito humano, uns ignorantes so-berbos que falam de tudo, e que nada sabem; uns idolatras do próprio ventre, das baixezas da carne, e da matéria vil; e cuja vida intima é como um tecido fartamente salpicado de manchas.

f) Não o fazem os brutos: bipedes, quadrúpedes, animais de toda a espécie — patos, marrecos, perus, ce-gonhas, avestruzes, cães, gatos, jumentos, zebras, camelos, curujas e crocodilos, ostras e hipopótamos.

Tais são as seisi categorias de seres que não fazem o Sinal da Cruz.

Nos tribunais, o caráter moral do autor ou do réu contribue poderosamente, ainda antes do exame da cau-sa, para determinar a opinião dos juizes.

Meu caro Frederico, peço-te que julgues se o caráter nos seres que não fazem o Sinal da Cruz é ou não é precedente mui valioso a favor dos primeiros Cristãos que ftompre se distinguiram com o Sinal da Cruz.

5

Km resumo:Relativamente «o uso mui frequente do Sinal da Cruz. 0

mundo divide-se cm dois campos opostos.A favor do Sinal da Cruz estão —

a) Os admiráveis Cristãos dos tempos primitivos da

Igreja;b) Os mais santos e maiores genios do oriente

e do ocidente;c) Os verdadeiros Cristãos de todos os séculos;

d) A própria Igreja que é a Mestra Infalível da

Verdade.Contra o Sinal da Cruz:

os pa.ga.os, os mahometanos, os judeus, os hereges, e os maus católicos. Parece-me que bem podes já te declarar. Tua convicção ainda será mais forte quando souberes os motivos que justificam o procedimento de uns

— aqueles que são a favor;as razões que condenam os outros

— aqueles que são contra.As cartas seguintes te dirão tais motivos e razões.

Adeus.

O SINAL DA CRUZ

QUARTA CARTA

Paris, 29 de Novembro de 1862.Sumario:

— 1. Resposta a uma objeção. — 2. Razões tiradas da própria natureza do Sinal da Cruz: o sinal da Cruz é cinco coisas — 3. E' um Sinal que enobrece o homem, porque c divino. — 4. A idade de ouro do Cristianismo. — 5. Quem é o autor do Sinal da Cruz?

Meu caro Frederico,Dizes-me tu que, quanto a ti, a questão está julgada.

Nunca pudestes acreditar que entregando Deus em partilha aos próprios inimigos a verdade e o bom senso, houvesse de condenar seus melhores amigos à superstição e ao erro.

Tua declaração sem me surpreender me regosija. Teu espírito procura a verdade e teu coração a de-

Seria fácil a tarefa do apologista, se todos houvessem do ter as mesmas disposições tuas. Infelizmente não sucede assim.

Na maior parte das controvérsias, especialmente em flHHunlos religiosos, o adversário não discute com a razão, rniiM com suas paixões.

Não ha perigo que combata pela verdade; o que ele quer é a vitória.

Triste vitória! Consistirá em mais se escravisar à tirania do erro e do vicio!

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O SINAL DA CRUZ

E eu temo que essa vitória funesta seja ambicionada por teus condiscípulos, como vai sendo de tantos outros pretendidos católicos de nosso tempo.

Tenho por eles muita amizade e por isso não posso deixar de lhes disputar esse mau gosto.

Afim de lhes arrancar a ignorância com que se cobrem e cada vez mais esclarecer a tua própria convicção, vou expor as razões intrínsecas que justificam a inviolável fidelidade dos verdadeiros Cristãos no uso mui frequente do Sinal da Cruz.

1

Mas, antes disso, vamos examinar e julgar a grande objeção dos modernos desprezadores do Sinal adorável.

"Outros tempos, outros costumes. 0 que era "útil, e mesmo necessário nos primeiros séculos "da Igreja, não o é mais hoje. Estão os tempos "mudados; é necessário viver com o século.'*

Isso é o que eles dizem. E S. Paulo lhes responde:

"Jesus Christus heri, hodie, ipse et m secula "Jesus Cristo era ontem, Jesus Cristo é hoje, e "será o mesmo por todos os séculos dos séculos."

Tertuliano acrescenta:

"O Verbo Encarnado chama-se — a Verdade, e "não o costume". Ora, a Verdade não muda-Aquilo que os Apóstolos, os primitivos Cristãos da Igreja,

os verdadeiros Cristãos de todos os séculos hão tido por útil e até certo ponto por necessário, não> deixou nunca de o ser.

Ouso até afirmar que, — mais do que nunca, é necessário hoje.

A razão disso está nas relações de similhança que existem entre a posição dos Cristãos dos primeiros séculos, e a situação dos Cristãos do século XIX.

Qual era a posição de nossos maiores na Igreja? Estavam em face de um mundo que

não era Cristão,não o queria ser,não queria que alguém o fosse

e perseguia com violência a quem o era firmemente.

E nós?Não estamos cm face de um mundo que deixou de ser

Cristão,não quer, de modo nenhum, voltar a ser Cristão,

não quer que alguém o seja, e, urnas vezes pela astúcia, outras vezes pela violência persegue aos que são inabalavelmente

Cristãos?

Se os primeiros Cristãos, educados na escola dos Apóstolos, consideraram em igual situação como necessário o uso tão frequente do Sinal da Cruz, que razão teríamos nós para abandona-lo

Somos nós, por ventura, mais hábeis, ou mais fortes do que os primeiros Cristãos?

São hoje menores os perigos, menos numerosos ou menos pérfidos os nossos inimigos?

Tais questões, uma vez propostas, ficam resolvidas pela clarividência.

Passemos adiante.

2

Até aqui, meu caro Frederico, tomámos em conside-ç-ão apenas as circunstancias exteriores do nosso assunto ou da causa que patrocinamos.

E' necessário agora advoga-la mais a fundo.Isso poderá ser feito aduzindo-se razões que são tiradas

da própria natureza do Sinal da Cruz.Para mim (e creio que para ti e para todos os homens

sensatos) tais razões podem se resumir em cinco:

1," — Tirados do pó, o Sinal da Cruz é um Sinaldivino que nos enobrece; 2.a — Ignorantes, o

Sinal da Cruz é um Livrosagrado que nos instrue; 3." — Pobres, o

Sinal da Cruz é um Tesouroinesgotável que nos enriquece; 4/' —

Soldados*, o Sinal da Cruz é um jogo dearmas, que nos defende a nós e derriba o

inimigo;5.* — Viajantes para a Pátria do Céo, o Sinal da

Cruz é guia seguro que nos conduz.3

Veste pois agora a, beca, põe a gorra, ocupa a cadeira do juiz e escuta:

TIRADOS' DO Pó, O SINAL DA CRUZ É UM SINAL DIVINO, QUE NOS ENOBRECE.

Dize-me: Quem é que chorando entra no mundo?Que antes dos primeiros passos se arrasta como um

verme ?Que sempre vive sujeito a todas as enfermidades? E que durante largo tempo é incapaz de prover às suas próprias necessidades?

Todavia, este ser é a Imagem de Deus, é o Rei da creação e é necessário que ele se não degrade.

Mas eis que Deus tocando-o imprimi-lhe na fronte um Sinal Divino que o enobrece e essa tal nobreza o obriga.

Respeitado dos outros, ele se respeitará a si próprio.Este titulo de nobreza, este Sinal Divino, é o Sinal da

Cruz.

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O SINAL DA CRUZ

E' divino, porque vem do Céo e não da terra. Vem do Céo porque só ao proprietário assiste o direito de marcar seus produtos com o seu próprio cunho.

Vem do Céo porque a terra confessa não o ter inventado.Percorre todos os paízes e todos os séculos; não en-

contrarás em parte alguma o homem que imaginou o Símil da Cruz, o Santo que o inventou, o Concilio que o Impoz.

"A tradição o ensina, diz Tertuliano; o costu-"me o conforma; a Fé o pratica (1)."

Em Tertuliano, acabas de ouvir a metade última do segundo século da Igreja.

S. Justino fala pela primeira e te ensina a existência do Sinal da Cruz, não só, mas a maneira porque se o fazia (2).

4Eis-nos agora nos tempos primitivos, tempos de eterna

memoria, tempos que os próprios hereges chamam — edade de

ouro do Cristianismo — não só pela pureza da Doutrina como também pela Santidade dos costumes.

Pois bem, é nestes áureos tempos que nós encontramos o Sinal da Cruz em plena prática, tanto no orientecomo no ocidente.

Avancemos alguns passos e liguemo-nos a S. João Evangelista que foi o último dos Apóstolos a morrer.

Verás o Velho venerando a fazer o Sinal da Cruz sobre um copo envenenado depois beber serenamente o líquido mortífero, ficando incólume! (3).

Ainda antes disso, deparamos com os ilustres colegas dele, — São Pedro e São Paulo,

(1) Harum et aliarum hujusmodi disciplinarum si legem expos-tules scripturarum nullam invenies. Traditio tibi auctrix, con-suetudo confirmatrix. (Tertul., De Coron. mil c. III.)

(2) Dextera manu in nomine Christi, quos Crucis Slgno obsi-guandi sunt, obsignamus. (Quert., IIB)

(3) S. Simeon, Metaph, in Joan.

Tal como São João, do Divino Mestre Discípulo que-rido, São Pedro e São Paulo, Príncipes do Apostolado, fa-zem religiosamente o Sinal da Cruz e o ensinam desde o oriente até o ocidente em toda. a parte, em Jerusalém, em Antiochia, em Athenas, em Roma, entre os Gregos e entre os Bárbaros, aos Judeus e aos gentios!

Escutems um irrecusável testemunho da Tradição:"Paulo, diz S. Agostinho, leva por toda a parte "o Real

Estandarte da Cruz. "Com o Sinal da Cruz, Pedro é o pescador de ho-"mens; com o Sinal da Redenção, Paulo marca "os gentios." (1)

E não o fazem somente sobre os homens, fazem-no também e o mandam fazer sobre as creaturas inanimadas-"Toda a creatura de Deus é boa, escreve o gran-"de Apostolo, e é necessário não regeitar coisa "alguma do que pode ser recebido em ação de gra-"ças, por ser santificada pela palavra de Deus "e pela oração (2)."

Tal é a regra. Qual o sentido?No estudo do Direito, encontrando-se um texto obscuro,

que se faz?Para o elucidar, consulta-se o interprete mais autorizado o

mais visinho do legislador; e a palavra dele faz lei.

Escuta, meu caro, o interprete mais autorizado de S. Paulo, o grande Sj João Crisóstomo:

"Paulo estabeleceu duas cousas: primeira, que "nenhuma creatura é imunda; segunda, que se "o fosse, o meio de purifica-la estava em "nossas mãos.

"Fazei, diz, o Sinal da Cruz sobre essa creatura, dai graças a Deus e rendei-lhe gloria, que "logo toda a mancha desaparecerá (1)."

.5

Não somente sobre as multidões que acodem à Fé e sobre as creaturas inanimadas é que os Príncipes dos Apóstolos fazem o Sinal da Cruz: também o fazem sobresi próprios.

Portanto, este Sinal existia, antes deles.Saulo, o perseguidor, cai por terra no caminho de

Damasco.E' mister que ele fique sendo Apostolo de Deus a

Quem persegue.Qual será o primeiro áto de Deus Vencedor? Marcar o

vencido com o Sinal da Cruz."Vae, diz o Senhor a Ananias, vae e marca i "Saulo com

o Meu Sinal (2)."

(1) Duo capita ponit, uniim quidem quod creatura nulla com-munis est. Sccondo, quod etsi communis sit medicamenturoin promptu est. Slgnum illis Crucis imprime, gratias age,Deo gloriam reíer, et protinus imrnunditia omnis abscessit,

(In Tim. Homil. XII.)(2) Vade ad eum, et signa eum charactere meo. (S. Aug, Serm.II et XXV de Sanclis.)Quem é, pois, o autor e o instituidor do Sinal da Cruz?Para o encontrar, é necessário transpor todos os séculos,

todas as creaturas visíveis, todas as Hierarquias Angélicas; é necessário subir até ao Verbo Eterno que é — a Verdade em, Pessoa.

Escuta ainda uma testemunha nas melhores condições de sabei- o que refere.

(1) tu Domine, Sncerdos sanetc. constituisti nobis incomsump-tibilitor potum vivificum, Crucis Signum, et mortificationis exemplum, (ser. de Pan. chr.)

(2) Signum stium Christus in fronte nobis figi voluit. (In. Ps. 130).

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U) Circumfort Paulus Dorninicum in Cruce Vexillum Et iste p.-scator honnnum, et ille titulat Signo Crucis gentiies. <Di-vu.sAufíustiruis: Serm. XVIII)

(2) I. Tim., IV, 4-5.

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O SINAL DA CRUZ

Seu testemunho é tanto mais irrecusável, quanto é certo te-lo valorisado com o timbre do próprio sangue.

E' o grande Bispo de Carthago, S. Cipriano.Exclama ele:

"Senhor, Vós que sois o Sacerdote Santo, nos "legaste três coisas imorredouras: o Cálix de "Vosso Sangue, o Sinal da Cruz, e o Exemplo "de Vossas Dores (1)." E Santo Agostinho acrecenta:"O1' Senhor Jesus Cristo, Vós quizestes que este "Sinal

ficasse impresso sempre cm nossa fronde (2)."

Seria fácil citar mais vinte testemunhas. Mas, como escrevo cartas e não um livro, paro aqui. O Sinal da Cruz ê um Sinal Divino: — primeiro fato que veio á discussão.

De um outro te falarei amanhã.Adeus.

QUINTA CARTA

Paris, 30 de Novembro de 1862.

Sumario:— I. O Sinal da Cruz nos enobrece. — 2. E' o

brazão do Católico que é um grande povo. — 3. O Sinal da Cruz nos ensina a respeitar nossa pessoa. — 4. Vergonha dos que não fazem o Sinal da Cruz. — 5. Desprezo do grande tesouro que é — o vida. —

1

Meu caro Frederico,Tudo o que é divino enobrece o Homem. E o Sinal da Cruz é

um S'ma\ Divino. Portanto segue-se queO Sinal da Cruz é um sinal que nos enobrece. Esta razão por

si só dispensa qualquer outra. Todavia, acrescente-se que — o Sinal da Cruz é privilegio da parte melhor, mais digna e respeitável da Humanidade; e por isso ele nos enobrece.

Teus condiscípulos terão já refletido nisto?

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O SINAL DA CRUZ

Hei de então renegar o sangue ilustre que percorre minhas veias?Como si fora indigno de zelar um nome augusto, hei eu de repudiar covardemente a lei da justa solidariedade, arrojando à lama tais

brazões de armas e soltando ao vento a rica herança de meus antepassados?Quem não há de se ufanar por pertencer a um povo glorioso em tradições?O português se gloria de pertencer a Portugal; o hespanhol, em pertencer à Hespanha; o inglez à Ingla terra, o francez à França, etc.; e o

mesmo acontece com todos os povos de valor e reputação.E qual ó o maior e o mais afamado povo do mundo?

2

Haverá um outro povo mais antigo que o Católico e que conte maior número de cidadãos?Qual o povo que brilha no mundo, como o sol no firmamento?Um povo de caráter expansivo que, a preço de seu sangue, houvesse tirado o género humano da. barbaria e pelo mesmo preço procure

ainda impedir que nela recaia, qual é?Um povo que veja, entre seus filhos, o que ha de maior no génio, na virtude, na ciência, na coragem, qual é?Uma gente a que pertençam legiões inteiras de Doutores, de Virgens, de Mártires, de poetas, de oradores, de filósofos, de artistas, de

grandes legisladores, de Reis. beneméritos, de guerreiros ilustres, qual é?

Quem não faz o Sinal da Cruz (e ainda o pobre do infeliz que se envergonha de o fazer), fica no rol dos pagãosi, mahometanos, judeus, hereges, maus católicos, e até dos brutos.

Que achas?Não há deveras motivo de enobrecimento num Sinal que

nos distingue soberana e inconfundivelmente dos outros seres que o não fazem?

Ufana-se um por ser membro duma Família que é venerável pela antiguidade e serviços prestados, respeitável pelas virtudes, poderosa em riquezas.

E não é ele também, zeloso pelos brazões da casa?Abre-os em pedra, em mármore, em prata, em ouro, em

agatha, em rubim; grava-os em sua habitação; esculpe-os em seus moveis; desenha-os em sua baixela, e em .sua roupa; imprime-os sobre seu sinete, e quasi os quizera impressos mesmo sobre a própria fronte.

Pinta-os nas paredes do seu coche e com ele decora os arreios de seus cavalos.

Pondo de parte tudo o que houver de vaidade, que (< vicio, há naquilo muito boa razão de ser.

K' conduta que proclama a lei da justa solidariedade que é altamente social.

A glória dos avós é honra para os filhos, netos e mais doscodentes; 6 um patrimonio da família.

O brazão do Católico é —1 o Sinal da Cruz.Sou Católico: portanto, o Sinal da Cruz fala-me da minha

origem e fala a todos da nobreza de minha gente; faln-nos da antiguidade, fala-nos dos serviços, fala-nos das glórias e das virtudes de meus avós.

E não hei de me exultar eu com isto?

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O SINAL DA CRUZ

"Senhor Arcebispo, tirai do tumulo meu corpo "e o achareis incorrupto, excetuados os membros de que fiz mau uso na leveza de minha "infância".

E de fato os olhos, as mãos e os pés estavam consumidos, mas o polegar, com que tinha de costume fazer o Sinal da Cruz, conserva-se intato (1).

Então?Será que sob o ponto de vista de honra, nossos avós não tinham razão para fazer muitas vezes o Sinal da Cruz?E será que os de agora têm razão para o não fazer?

Ah! Como eram eles bem diversos de nós quanto à altivez de nobreza e ao sentimento de dignidade própria!...Oh! Sim. Repetindo constantemente a celebre expressão— "a nossa nobreza nos obriga" — não admira fizessem eles uma Sociedade que, pelos heroísmos de virtude, é a única nos anais do

mundo. É o que vamos ver agora.

3

O primeiro sentimento que o Sinal da Cruz desenvolvo em nós enobreceu do-n os a nossos olhos é — o respeito de nós mesmos —! Grande verdade está aqui, meu caro!

fl) Vede sua Vid., c. III

Um povo de tal aristocracia que todas as Nações lhe devem sua eminencia, qual é?

Para desengano ou melhor persuasão consulte-se o mapa-múndi e toda a história.

Pois, meu caro Frederico, esta gente chama-se — a grande População Católica — a qual eu tenho a graça de pertencer.E o Sinal da Cruz é o brazão desse grande povo. Ora, sendo eu um Católico, deverei envergonhar-me derse Sinal?

O próprio Deus tomou a Seu cuidado mostrar, por brilhantes milagres, quanto se honram a Seus Divinos Olhos as pessoas e os membros que fazem o Sinal da Cruz.

S. Edith, filha de Edgar Rei da Inglaterra, teve, desde a infancia, a Cruz no coração.

A jovem Princeza, uma das mais belas flores da Vir-gindade, que ornou a antiga Ilha dos Santos, não fazia nada sem marcar a fronte e o peito com o sinal salutar.

Havendo edificado uma Igreja em honra de S. Diniz, pediu a S. Dunstan, Arcebispo de Cantorbery, a viesse consagrar.

Ele o fez dc boa vontade e durante as variadas conversas que teve com a santa, ficou impressionado por ver que ela, imitando os primeiros Cristãos, fazia, muitas vezes com o dedo polegar o Sinal da Cruz sobre a fronte.

Tanto prazer teve o Arcebispo quo pediu a Deus abençoasse o dedo da virgem Princeza e o preservasse da corrupção do tumulo.

Foi-lhe a suplica ouvida; pois, havendo a Santa morri «lo aos- vinte e três anos, um dia, anos depois, lhe apareceu e disse:

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O SINAL DA CRUZ

Escrínio precioso, limpidissimo, fabricado pelas Mãos do próprio Deus para receber a verdade e só a verdade,— a inteligência é hoje conspurcada e profanada pela mentira e pelo erro.

Por ventura, o homem de hoje respeita a própria inteligência?E' para satisfazer os nobres anceios da inteligência que hoje ele procura a verdade? Não.

Nem gosto mais tem ele pelas fontes puras de ondejorra a verdade.

Os oráculos divinos, os sermões, os livros ascéticosou de filosofia cristã, causam-lhe nausea.

4

Hoje, si houveres de penetrar o escrínio de uma inteligência batizada, deverá parecer-te que estás num depósito de trastes ou loja de peças velhas!

Encontrarás ali em misturada confusão — ignorancia, contos vãos, frivolidades, preconceitos, mentiras, erros, dúvidas, objeções estultas, impiedades, tolices, negações, vasias inutilidades —.

Triste espetáculo!Faz-me até lembrar o avestruz que ha pouco morreu em Lião.Sabes que, pela autopsia, se descobriu ser um dos estômagos do estupido animal, verdadeiro depósito de cacos de louças e de vidro,

pregos velhos, pedaços de corda e de madeira?

Ern volta de mim, vejo um século, um mundo, uma juventude que unidos não cessam de falar em dignidade humana, emancipação, liberdade.

Palavras, entretanto, que estão vazias de significação ou cheias dum sentido errado e por isso tornam o século, o mundo, a mocidade, — ingovernáveis.

Insubordinados ao jugo necessário de um poder desprezada toda a autoridade, seja ela divina, paternal, social ou civil, vão eles repetindo a tudo, a todos e a toda a hora:

Respeitem-nos.Muito bem!

Mas, se querem ser respeitados, comecem por respeitar a si próprios.

0 respeito dos outros para comnosco mede-se por aquele respeito que temos nós por nós mesmos.

A crueldade, a hipocrisia, a devassidão, o vicio, — ainda que ornados de farda, de penacho, de esporas doiradas, de luvas, de medalhas, de coroa e etc. — só podem inspirar temor.

Respeito é que nume a poderão obter.

Mas... quero eu saber:Os Homens da atualidade, velhos ou moços, — homens

todos que nunca fazem o Sinal da Cruz — eles se respeitam?

Façamos um ensaio de analise.A parte mais nobre d» Homem é a Alma.E da Alma, a faculdade mais nobre é a inteligência.

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O SINAL DA CRUZ

praticando o que de mais vergonhoso faz a escoria do género humano.

Tua mão não toca em tua fronte para fazeres o Sinal Divino; mas tocará a miúdo o que nunca deveria tocar.

Não queres armar, com o Sinal protetor, nem teus olhos, nem teus lábios, nem teu peito; e teus olhos mancham-se olhando o que nunca deveriam ver; e teus lábios, mudos faladores, loquaces muti, — como diz um grande génio (1) não dizem o que deviam dizer, para dizerem o que para sempre deviam calar; e teu peito, altar profanado, arde em umas chamas cujo nome, só em si, é uma vergonha.

Eis a tua história intima.Podes nega-la; mas não podes rasgar-lhe as páginas.Copiada com tinta sobre este papel, ela se lê, no original

de tua existência, escrita com o sangue do pecado: in sangtiine peccati.

5

E a vida?O homem que nunca faz o Sinal da Cruz, perde a estima

da própria vida.Ele a vilipendia, e desperdiça-a; porque nunca, nem uma

só vez a toma a sério.Da noite fazer dia para o dia lhe ser noite; trabalhar

pouco ou nada e dormir demais; pensar tanto em comer

Eis do que é que nutre sua inteligência o homem que nunca faz o Sinal da Cruz.

Eia de que maneira ele a respeita. (1) E o coração?Oh! Dispensa-me, caro Frederico, dispensa-me de te

revelar tais ignominias.Em vez de se fazerem para cima seus movimentos, fazem-

se para baixo.Em vez de se elevar como a águia, rasteja como a lagarta.Em vez de, como a abelha, se nutrir do suco perfumado das

flores, vai, similhante à mosca estercoral, precipitar-se sobre o lixo.

Uma terrível mancha, a cada violação da lei imaculada ante a qual o Homem recua.

Já podes bem te convencer de que a garganta de um tal homem; é como a boca de um antro que transborda em podridão. (2)

E o seu corpo?Pobre do homem que acha coisa indigna de sua pes-•on —

fazer o Sinal da Cruz!...Julgas que és um grande espírito!Entretanto, causas dó... e isso, ainda por favor!Julgas-te independente e não és mais que um vil escravo.Não queres te honrar com fazer o que faz a flor da

Humanidade; e, por um justo castigo teu, tu te deshonras

(I) Qui nutriebantur In croceis, amplexati sunt stercora (Trhen..vr. 5)

Í2» Rtfpulehrum patens est. guttur coram. (Ps. V, II.)

(1) S. Aug., Medit. XXXV, 2.

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O SINAL DA CRUZ

ouviram, nem nosso espírito concebeu alguma coisa si-milhante ao que hoje vemos e ouvimos, ao que hoje tocamos com nossas mãos — O suicídio II.. -

0 suicídio em tal escala que não tem similhante na história.

Só em França, cem mil suicídios nos últimos trinta a li oh !

('em mil!1«! /i progressão 6 crescente!Pol*, ainda «pie eu não tenha provas, tenho a certeza

<le que doa cem mil desesperados, noventa e nove mil ti-nham abandonado o UftO de fazer com seriedade c religião, 0 Si mil ilu (Vai.*,

Toma Isto meu Cflro, como sl fora um decimo terceiroai i Ijjo do Símbolo,

Alé amanhã, si Deus quizer.

SEXTA CARTA

Paris, 1.° de Dezembro de

1862.

Sumario:

— 1. Resximo da carta precedente. — 2. O Sinal da Cruz é um Livro que encerra toda a ciência de Deus

o comer com delicadezas exageradas; não recusar nada às tendencias o ao gosto; consumir o tempo sem relação a eternidade; tudo isso é tecer teias de aranha, é caçar moscas, 6 construir castelos de papelão, é, numa palavra, abusar da vida 'como se fora seu proprietário, e trata-la de bagatela, é não toma-la a sério.

Tomar a vida a, sério, é bem aproveita-la como o exige Seu único Proprietário — Aquele que dispõe <le tudo, Aquele que um dia, nos tirará contas, não em conjunto, mas pelo miúdo; não por anos, mas por minutos.

Quando já fatigado no caminho das bagatelas e das iniquidades, que faz o desprezador do Sinal Divino?

Desprezara aquele Sinal que deveria enobrecer-lho a vida inspirando respeito por a Alma e por o corpo. . . Agora, que faz ele?

Tonta cleafazcr-sc dn vida como de um fardo insuportável.Oonildcrn-Ho um bruto para o qual não ha nem Ui mor

nem nu poruñea além. do tumulo, o. . . milcida-no.K pomo podorol, meu bom Prodorlcn, oxprlmlr-to mpil M

i lo i ipie me vai na Alma?Cheio de ml in l r i ieMn peina maravi lhar! «pie vira r io ' i

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" . l i i iao l IIIOM d .i Inanem viram, nem mivIdoH " I I I I M I M I I I . ii. lo ||(i««o «- iphl lo concebeu nada nl

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Ktn nenhuma npoca, cm i iea l i i in i clima, em nenhum povo pAfT&O ou ol lu iM do linmnm viram, oh ouvidos

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O SINAL DA CRUZ

, do homem e do mundo. — 3. Um Mistério. — 4. O Si-nal da Cru* nos ensina com autoridade, lucidez e projundeza. — 5. O Sinal da Cruz, Mestre o mais sábio e

o mais con-ciso.

1

Meu caro Frederico,

Bem considerado em seu primeiro ponto de vista, o Sinal da Cruz é sem dúvida nenhuma — um Sinal divino — o Sinal que distingue a flor da Humanidade — Sinal que é Brazão do Católico —.

Sendo verdade o adagio que diz "nobreza obriga" devo afirmar o seguinte:

Para inspirar ao Homem o real sentimento da própria dignidade e o necessário respeito de si mesmo eu não conheço nada de mais simples e eficaz do que o Sinal da Cruz feito muitas vezes quando seriamente e re-ligiosamente feito.

Ser guarda da nossa nobreza é, pois, uma das razões de ser do Sinal da Cruz.

B' um antigo Padre da Igreja — São Cyrilo de Jerusalém — que em seu livro de Catecismo nos diz:

"— Eis no Sinal da Cruz a poderosa Guarda que"em vista dos pobres é de graça e por causa dos"fracos não exige esforço."Por ser um favor de

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O SINAL DA CRUZ

Deus, tornou-se timbre"dos fiéis e terror dos demónios."E não venhas tu agora de: preza-lo porque é"gratuito:"antes, como a um benefeitor, ainda mais o de-"ves venerar (1)."

Hoje, meu caro, posso e devo acrescentar

que:— A

eloquência do Sinal da Cruz não é menor do que o poder.

Que diz ele ao Homem? Vejamo

-lo.

2

0 Sinal da Cruz é um livro de profundo saber. Todaft as ciências, Teologia, filosofia, sociologia, política, história, e:tão reduzidas nestas três palavras:

(1) Magna haec est custodia, quae propter P«We^ fjttada tur: sine labore propter infirmes, cum a Deo sit haec gratia, tig num fidelium et timer demonum. Neque propteren, quod; «t gratiutum, contemnas hoc signaculum sed idee> magis vene-rare benefactor**. (S. Cyrill. Hier., Catech., XII).

"Creação, Redenção, Glorificação".

Ciências do passado, ciências do presente, ciências do futuro, tudo está nisto.

Fachos do universo, tais palavras constituem as bases da inteligência.

Mas... vamos por um instante supor que o género humano esquecesse estas três palavras, ou perdesse o sentido delas.

Que seria o mundo em tal caso?

Uma aglomeração de átomos movendo-se no vácuo, sem direção e sem fim.

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O SINAL DA CRUZ

Um cego de nascimento sem guia e sem bordão; um desgraçado sem consolação; um escravo sem esperança-Um mistério inesplicável a si mesmo.

Encerrando em si mesmas o Universo todo, estas palavras

— "Creação, Redenção,

Glorificação" —de modo insubstituível são ao género humano mais necessárias que o pão para nutrir-se, mais que o ar para respirar.

São necessárias a todos e a cada hora; ou antes, são necessárias sempre-Só elas bastam a orientar a vida inteira. Orientam as alegrias, as tristezas, os pensamentos, as palavras, as ações, os sentimentos.

Sendo assim, a simples razão diz que Deus devia es-tabelecer um meio fácil, permanente, universal, que dês-HO a todos este conhecimento fundamental.

Não devia, porem, da-lo uma só vez e de passagem; devia renova-lo constantemente, assim como renova a cada instante o ar que respiramos.

Que sábio se encarregaria deste ensino indispensável?S'. Paulo, Sto. Agostinho, S. Tomás?

Ou outro génio qualquer do oriente ou do ocidente?Não.Estes morreram; e

fora necessário um que não morresse.

Estes habitaram um logar determinado; e fora necessário um que estivesse cm toda a parte.

Estes falaram línguas que nem todos compreendem; e fora necessário um que falasse uma lingua inteligível a todos, tanto ao selvagem da Oceania, como ao civilisado •do antigo mundo.

Quem será pois? Tu já o nomeast

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O SINAL DA CRUZ

e. E' o Sinal da Cruz.Ele e só ele satisfaz a todas

as condições exigidas: Não morre:

está em toda a parte;é por todos entendido.

Um instante lhe basta para dar uma lição, como lhe basta um instante para todos o compreenderem.

3Meu caro amigo, deixa-me descobrir-te um Mistério.O Verbo

encarnado que Isaias chama com razão — o Preceptor do género humano — resolveu morrer por nós.

Apresentaram-lhe muitos géneros de morte: o ape-drejamento, a degolação, envenenamento, a precipitação dum logar elevado, o fogo, a água, e sei lá mais que.

Qual a razão porque, entre todos estes géneros de morte, a Cruz foi preferida?

A isto um sábio theologo ha muitos séculos já respondeu :

"Uma das razões porque a Sabedoria Infinita "escolheu a Cruz, é, que basta um leve movi-"mento da mão para traçar sobre nós esse ins-trumento do

Sagrado Suplicio, Sinal luminoso "e poderoso que nos instrue em tudo quanto de-"vemos saber e que nos serve de escudo contra "nossos inimigos (1)."

Eis, pois, o Sinal da Cruz devidamente constituído em Catequista do geno.ro humano-

4E tu me perguntas:

— E' verdade que o Sinal da Cruz desempenha tais funções? —Ou por outra:E' verdade que o

Sinal da Cruz repete e

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O SINAL DA CRUZ

ensina como convém as três grandes palavras: Creação, Redenção, Glorificação?

<l> Nolult Dominus lapidari, aut glaudio truncari, quod videlicet

Sim.E não só as repete

e ensina, mas explica-as com uma autoridade, profundeza e lucidez que só a ele pertencem.

Repete-as com autoridade; porque, sendo divino em sua origem, é órgão do próprio Deus.

Repete-as com profundeza e lucidez como tu vais ver.Quando levas a

mão à tua fronte, dizendo — "Em Nome" — o Sinal da Cruz te ensina a indivisível Unidade da Esrencia Divina.

Só por esta palavra, qualquer moça ou rapaz sabe mais que todos os filósofos do paganismo.

Que progresso numa só lição!Dizendo — "do

Padre" — novo e imenso raio de luz penetra na tua inteligência.

O Sinal da Cruz te diz que ha um Ser, Pai de todos os Pais, Princípio eterno da existência de todas as crea-turas, celestes e terrestres, visíveis e invisíveis (1).

A esta nova palavra dissipam-se para ti as nuvens densas que por vinte

séculos encobriram aos olhos do mundo pagão a origem das coisas.

Tu continuas dizendo: — "e do Filho" —.O Sinal da Cruz assim continua sua lição.Ele te diz que o

Pai dos Pais tem um Filho similhan-te a Ele.

Fazcndo-te levar a mão ao peito, quando pronuncias esse Nome, ele te diz que este Filho eterno de Deus um

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O SINAL DA CRUZ

(D Ex quo omnis paternitas in coelis et in terra nominatur. (Eph., III, 15.)

dia Se fez Homem, no seio duma Virgem, para resgatar a humanidade.

O homem tinha pecado.Que de luz tão

brilhante não derrama em tua inteligência, meu caro, esta terceira palavra?!.. .A coexistência do bem e do mal sobre a terra; o terrível dualismo que em ti mesmo sentes; a mistura de nobres impulsos e de inclinações abjetas, de ações sublimes e de ações vergonhosas; a necessidade da luta;

a inutilidade dos meios humanos de reabilitação;constituem essas

coisas outros tantos mistérios; são profundezas, que, tendo obrigado a mil investigações inúteis a cabeça dos filósofos pagãos, não têm para ti a menor sombra de obscuridade ou de dúvida.Acabas dizendo: — "e

do Espírito Santo" — Esta palavra completa o ensino do Sinal da Cruz. Graças lhe sejam.Tu sabes que ha

um Deus, Uno na essência, Trino em Pessoas.

Tu tens idéia juwsta do Ser por

excellcncia, do Ser completo.

E Perfeito não seria Ele, se não fosse Um o Três.Se a primeira

Pessoa necessariamente é Poder, a segunda necessariamente é Sabedoria e a terceira necessariamente é Amor.

Este Amor, essencialmente bemfazejo, completando a obra do Pai Creador, e do Filho Redentor, santifica o homem e o conduz à Glória.

Oh! Que luminosa lição para dirigir a vida dos indivíduos e das Nações, dos Reis e dos súbditos?

Se Aristóteles, Platão e Cicero, se todos esses inves-tigadores da verdade — filósofos, legisladores, o moralis-tas — cançados de estudo e sempre atormentados de dú-vidas insolúveis ouvissem falar de um Mestre que ensinasse com a lucidez e profundeza do Sinal da Cruz, sem dúvida eles iriam ao fim do mundo para vê-lo e ter-se-iam por felizes se consumissem, a ouvi-lo, o restante da vida. ,

Pronunciando o nome do Espírito-Santo, tens formado a

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O SINAL DA CRUZ

Cruz; e não só conheces o Redentor, mas também o instrumento da Redenção.

Assim, ao passo que de luz sedutora inunda o espírito, 0 Sinal da Cruz abre no coração uma fonte inexgo-tável de puro Amor.

Eis um novo benefício de que mais tarde falaremos.

5

Agora atende bem e responde-me.Será possível

ensinar em menos palavras, com mais. eloquência, e em linguagem mais inteligível, os três grandes dogmas:

— Creação, Redenção e Glorificação —eixos do mundo

moral e princípios geradores da in-teligência humana?

Ser creado, ser remido, ser destinado à Glória eterna, eis o princípio e todo o futuro do homern.

Que pensas tu, que seja a Theologia, caro amigo?

E' o conhecimento revelado de Deus, do homem e do mundo.

A filosofia que é o conhecimento racional de Deus, homem e do mundo, é filha da Theologia.

Da Theologia o da filosofia nascem todas as ciências — a

política, a moral, a história, etc. —

consequência é pois, e necessária que— "Nunca no

mundo apareceu Mestre mais sábio e conciso do que o Sinal da Cruz".

E queres tu saber, meu caso Frederico, o papel que o Sinal da Cruz representa?

Dir-to-ei...amanhãsi Deus quizer

SÉTIMA CARTA

Pari», 2 de Dezembro de 1862.

RcRumn:— / Locar

que o Sinal

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O SINAL DA CRUZ

da Cruz ocupa no mundo. — 2. F.m que se tornou o mun-do, dmde que deixou de fazer o Sinal da Cruz. — 3. O Sinal da Cruz é um fmouro que nos enriquece. — 4. Uma grande Lei moral.

Meu caro Frederico,Os que desprezam

o Sinal da Cruz ou dele desdenham, não podem ter dúvida nenhuma com relação ao logar que o Sagrado Sinal ocupa no mundo.

Tais indivíduos pertencem a uma classe hoje muito numerosa: 6 a classe dos que de nada duvidam porque ignoram tudo.

Tu, porem, deixa por um instante a sede de Juiz e, dando-me tua mão, cm rápida viagem, percorre comigo os mundos — antigo e moderno.

1

Visitemos primeiro a brilhante antiguidade. Peregrinos da verdade, entremos no oriente e no ocidente.

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O SINAL DA CRUZ

Memphis, Athenas, Roma.São três grandes centros de luzes, que nos convidam a

visitar as escolas de seus sábios.Vejamos que dizem estes mestres ilustres sobre os

pontos cujo conhecimento mais nos interessa.O mundo ê eterno, ou foi creado?Sc foi creado, quem foi o seu creador?E' corpo ou espírito, o autor da natureza?E' ou não ê eterno? K' livre, independente? E' um só ou são muitos?

As respostas são — hesitações, incertezas, flagrantes contradições.Que é o bem? Que c o mal?Qíial a origem do1 bem e do mal?Como o bem e o mal se aclmm no homem e no mundo?Ha um remédio para o mal ou é incurável?Se tem remédio, qual é ele?Quem o possúe?Como se pôde obter?De que modo se aplica?Hesitações, incertezas, flagrantes contradições, são as respostas.Que é o homem?Entra nu sua essência uma coisa chamada. — Alma?Se entra, qual é a sua natureza?E' um fogo?!'.' matéria aeriforme?

Morre com o corpo?Sobrevive ao corpo?E' espírito?Qual é o seu destino?Qual a finalidade de sua existência?

E as respostas a estas e mil outras questões, não passam de hesitações, incertezas, flagrantes contradições.

Ah! Meus grandes povos, meus grandes homens!Apezar de tão pretenciosos, vós não sabeis nem a primeira

palavra de uma resposta a estas questões fundamentais !Não sois mais do que — notáveis ignorantes!Que importa saber fabricar sistemas, compor sofismas,

inundar de eloquência as escolas, os senados, os areópagos ?Que importa saber guiar carros no circo, edificar cidades,

dar batalhas, conquistar provincias, tornar a terra e os mares tributários de vossa avareza?

Ignorais o que sois, donde vindes, e para onde ides?No dizer de um de vos mesmos não passais de uns suinos

mais ou menos gordo, lá do rebanho d'Epicuro!... —

— "Epicuri de grege porei." — Eis o mundo antigo.

Com a divulgação deste Sinal eloquente que é o Sinal da Cruz essas vergonhosas trevas se dissiparam.

Aprendendo a fazer o Sinal da Cruz, o Homem, ilustrado ou não, aprende a ciência de Deus, do mundo, e de si mesmo.

Repetindo-o constantemente, grava-se-lhe no fundo da Alma esta Doutrina a ponto de jamais esquece-la.

Digam o que disserem:graças ao uso tão frequente do Sinal da Cruz em todas

as classes da sociedade, tanto nas cidades e como nas aldeias o mundo católico dos primeiros séculos e da edade média conservou em grau até então desconhecido, o co-nhecimento da Ciência Divina, Mãe de todas as Ciências e Mestra da vida.

Poderia acontecer o contrário disto?Se durante anos, certo homem repete um erro dez vezes

por dia, dele fica plenamente compenetrado e com ele, para assim dizer, se identifica-

Ora, se isto acontece com o erro, porque não ha de acontecer com a verdade?

2

Desejas a contra-prova?Continuemos nossa viagem e entremos no mundo

moderno.Abandonou ele o Sinal da Cruz e desde esse tempo, não

mais teve a seu lado um Monitor que lhe avivasse a cada instante os três grandes dogmas indispensáveis à vida moral.

Por isso que olvidou o Sinal da Cruz, Creação, Redenção e Glorificação, essas três Verdades fundamentais «ao para ele como se não existissem-

Não vês o que ele está sendo em matéria de Ciências?Similhante ao mundo de outrora, tu ouves o mundo do

agora gaguejar vergonhosamente sobre os princípios mais elementares da Religião, do Direito, da Família e (In propriedade.

Que fundo de verdades alimenta suas conversas? Que contêm seus livros de política e de filosofia? À luz de que fachos anda ele com sua vida política e particular?

E que-pensas tm dos jornais?Na torrente de palavras que despejam diariamente na

sociedade, quantas idéias sãs tpoderás apontar, com relação a Deus, ao Homem, e ao mundo?

Qual é a sabedoria deste inundo, deste século de luzes, que não sabe fazer o Sinal da Cnuz?

Igual ao mundo pagão que lhe serve de mestre e de modelo.

O mundo de hoje só conhece e adora

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O SINAL DA CRUZ

o úem-eu, o (\eun-combreio, o áena-dinheiro, o deus-veníre o deus-prasrer.

Conhece e adora

a deusa-industria, a deusa-politicagem a deusa-volupia.

Por serem meios de satisfazer a todos os seus maus desejos, ele conhece e adora as ciências da materia:

— a química, a fisica, a mecânica, a dinâmica;as essências, os sulfatos, os nitratos, os carbonatos.

Eis aqui destes séculos as suas divindades e o seu culto.

Eis aqui a theologia, a filosofia, a politica, a moral, a vida do mundo moderno: — O egoismo com seus vicias. —

Progredindo assim, breve estará ele bem a par dos contemporâneos de Noé, destinados a morrer nas aguas do diluvio.

Para aqueles também consistia-lhes toda a ciência em conhecer e adorar os deuses do mundo moderno.

Consistia em comer, beber, edificar, comprar, vender e casar cada um, a si e aos outros, na depravação.

O homem tinha concentrado sua vida na matéria.Havia-se ele mesmo tornado carne: ignorante como as

carnos o manchado como as carnes. (1)De todas estas más tendências, qual é a que falta ao

mundo atual?Sua essência, posto que menos avançada que a dos

gigantes, não será da mesma natureza?De resto, nada de melhor o mundo hoje exige de sua

própria essência.Não sabendo fazer e não fazendo o Sinal da Cruz, ele se

materializa.

(1) Sicut autem in diebus Noe ita erit et adventus filis hominis. Sicut cnim in diebus ante diluvium comedentes nubentes, et nuptui traclentes... donee venit diluvium et tulit omnes. (Math., XXIV, 3?, 38, 39.)

— Edebant et bibebant: emebant et vendebant; plantabant, ct oedii'icabant. (Luc, XVII, 28.)

— Omnis quipe caro corruperat vitam sunm super terram. (Gon.. VI, 12.)

Quia euro est. 'Ibid., 3.)Em virtude pois da lei de gravitação moral, o género humano tem forçosamente de recair no estado em que estava antes de amar a este Sinal salvador. Digamos a este mundo ignorante de hoje: O Sinal da Cruz é um Livro que nos educa e nos eleva.

Sob tal ponto de vista, podes agora julgar se era sem razão que nossos pais constantemente faziam o Sinal da Cruz-

3

Agora vais ver que, à uma ignorância mui deplorável do mundo atual é que se deve imputar, em grande parte, o abandono do Sinal da Cruz.

Que é a ignorância?

Ê a indigência do espirito.

Em matéria de religião, ela acusa sempre a indigência do coração-

E tal indigência procede da fraqueza em — praticar a virtude e repelir o mal.

E porque existe tal fraqueza?É porque o Homem despreza os meios de obter a graça e

de torná-la eficaz.O primeiro, o mais pronto, o mais vulgar, o mais fácil

destes meios, é, como sabes, a oração.E de todas as orações, a mais fácil, a mais pronta,

a mais vulgar, e, talvez, a mais poderosa, é oSinai da Cruz.

Para ti, eis um novo estudo; e para os primeiros Cristãos, uma nova justificação.

O' pobres do mundo atual, o Sinal da Cruz é um te-souro que nos enriquece.

Mendigos sãa os que todos os dias, de porta em porta, procuram o pão.

Creso era mendigo.Cesar e Alexandre eram pedintes.

Os Imperadores e os Reis são mendigos; personagens coroados sim, mas todos uns pedintes.

Qual é o Homem, ainda que opulento, que não seja obrigado a dizer cada dia à porta do grande Pai de familiar

O -pão nosso de cada dia nos dai hoje?

Poderá o mais poderoso Monarca criar, fazer, um só grão de trigo?

Vida física e vida moral, meios de conservar uma e outra, tudo o homem recebe!

"Quid habes quod non a-ccepisti?

Nada ele possúe propriamente dele, nem um cabelo da cabeça.

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O SINAL DA CRUZ

E o que recebeu, não foi recebido por uma só vez. Sua indigência é de todos os dia>s, de todas as horas, di' todos os segundos.

Ele morreria instantaneamente se Deus, que lhe deu o ser e lhe dá tudo, cessasse a Sua ação beneficente.

E' necessário, pois, que o homem peça porque nada t*Mn e a cada instante de tudo carece.

4

Daqui, meu caro Frederico, uma grande Lei do mundo moral, Lei em que teus condiscípulos nunca refletiram :

"É a Lei da Suplica."

Os povos pagãos de outrora como os idolatras e sel-vagens de hoje, perderam é verdade, uma parte mais ou menos considerável das Verdades Tradicionais.

Ninguém deles porem, perdeu o conhecimento 'da Lei da Suplica.

Sob uma ou outra forma, o género humano a conservou por modo invariável desde que o Homem existesobre a terra.

Mais forte que todas as paixões, mais eloquente que todos os sofismas, o impulso de conservação vem dizendo sempre ao homem:

— Da fidelidade invariável á Lei da Suplica depende tua existência.

0 dia em que não voasse ao trono de Deus uma Suplica, angélica ou humana, cessariam todas as relações entre o Creador e a creatura, entre o Poderoso c o pedinte.

Então a torrente da vida seria instantaneamentesuspensa.

E não será este, meu caro Frederico, o profundo Mistério que o Vrebo Encarnado revelou ao mundo quando disse: — é necessário pedir, mas pedir sempre?

"Oportet semper orare, et nunquam deficere." —

Nota bom meu caro, o que há de imperativo nestas palavras.

O Legislador não convida; manda.E esse mandar indica uma necessidade absoluta: aportei.No cumprimento da Lei não admite Ele qualquer

interrupção, nem de dia, nem de noite:

"oportct sempe-r."

Enquanto for verdade que deante de Deus todo o género humano é um pobre mendigo, a Lei da Suplica não será suspensa nem modificada.

Ora, o género humano será sempre um mendigo.Daqui resulta que a Lei da Suplica conservará seu império

até ao ultimo dia do mundo.

"et nunquam deficere".

O próprio mundo fisico foi organisado em relação com a observância perpetua desta Lei conservadora do mundo moral.

Cracas à passagem «iiccessiva do sol de um a outro hemisfério, metade do género humano está sempre despertada — para a Suplica.

Pois, uma das mais poderosas entre as suplicas é o Sinal da Cruz.

Assim o acreditou sempre todo o género humano porque o tinha aprendido.

E foi do próprio Deus que ele o aprendeu, pois que, Deus o que tudo lhe havia ensinado.

Mui de propósito digo — Teus jovens condiscípulos da

Cruz data só dos Apóstolos usado pelo povo judeu e pelo Verás na carta seguinte rece

tal opinião deles.todo o género humano. pensam talvez que o Sinal ou pelo menos que só fora católico.

o credito nenhum que me-

Adeus.

OITAVA CARTA

Paris, 3 de Dezembro de 1862.

Resumo:

1. O Sinal da Cruz conhecido e praticado desde a origem do mundo. — 2. Sete modos de fazer o Sinal da Cruz. — 3. Jacob, Moisés, Sansâo, fizeram o Sinal da Cruz. — 4. Testemunho dos Padres. — Sansão, David, Salomão e todo o povo judeu, faziam o Sinal da Cruz e reco-nheciam o valor dele.

1

Meu caro Frederico,

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O SINAL DA CRUZ

O Sinal, da Cruz prende-se com a origem do mundo. —

Esta primeira frase da minha carta vai ferir teus ouvidos e os de muitos outros. De verdade;

o Sinal da Cruz foi praticado por todos os povos, mesmo pelos pagãos, nas preces solenes de ocasiões notáveis, quando se tratava de obter uma graça importante—.

Cumpre notar que, entre esta proposição, e a carta precedente, não ha contradição nenhuma.

Hontem falei no Sinal da Cruz na sua forma perfeita e bem compreendida, qual a praticamos depois do Evangelho; hoje vou falar do Sinal da Cruz na sua fôrma, posto que real ainda elementar, e mais ou menos misteriosa para os que dela usavam antes do Evangelho.

Parece-te necessária uma explicação?Ei-la.0 Sinal da Cruz é tão natural ao Homem que não ha

época, nem povo, nem religião em que ele, Homem, se pu-sesse em relação com Deus pela oração, sem primeiro fazer o Sinal da Cruz.

Conheces algum povo, que dirigia suas orações a Deus com os braços caídos?

Eu não conheço.Quantos povos eu conheço — judeus, pagãos e católicos,

— todos fazem o Sinal da Cruz para orar a Deus.

2

Ha sete modos de realizar o Sinal da Cruz:

1.° — Com os braços abertos;e o Homem nesta posição

constitue um Sinal da Cruz.2.° — Com as mãos juntas e os dedos entrelaçados ;

e eis cinco Sinais da Cruz.3.° — Com as mãos aplicadas uma contra outra e o

polegar da direita sobreposto ao da esquerda;

e temos ainda o Sinal da Cruz.4.° — Com as mãos encruzadas sobre o peito; nova

forma do Sinal da Cruz.5o — Com os braços encruzados sobre o peito;

mais uma forma do Sinal da Cruz.6-° — Com o polegar da mão direita passado por

entre o indicador e o máximo;

o que é um Sinal da Cruz muito usado.

7.° — Finalmente, com a mão direita movendo-se da testa à cinta e do hombro esquerdo ao direito;

forma sem dúvida a mais explicita (e a que bem conheces) do Sinal da Cruz.

Sob uma ou outra destas formas, o Sinal da Cruz foi praticado sempre e em toda a parte, nas circunstancias solenes.

E isto com conhecimento mais ou menos claro de sua eficácia.

3Inspirado por Deus, o santo Patriarca anuncia a cada um

deles o que ha de acontecer-lhes no correr dos séculos.À vista de Ephraim e de Manasses, filhos de José, o velho,

cheio de emoção, chama sobre suas cabeças as bênçãos do Céo.

Para obte-las, que faz ele?Encruza os braços, diz a Escritura, colocando a mão

esquerda sobre o que fica à direita e a direita sobre o que fica à esquerda.

Eis o Sinal da Cruz; origem eterna de bênçãos.A Tradição não se enganou.Jacob era a figura do Messias.

Neste momento solene, suas palavras e atitude, tudo devia ser profético no Patriarca. Diz São João Damasceno:

"Jacob encruzando as mãos para abençoar os "filhos de José, faz o Sinal da Cruz. "Não ha nada mais evidente (1)."

Tertuliano verificava o mesmo fato desde os Tempos Apostólicos e lhe dava o mesmo sentido.

"O Antigo Testamento nos mostra Jacob abençoando os filhos de José, com a mão esquerda "sobre a cabeça do que ficava à direita e com "a direita sobre a do que lhe ficava à esquerda.

Jacob está nas proximidades da morte. Seus doze filhos, futuros pais das doze tribus de Israel, estão em volta dele.

(1) Jncob altcrnntis cnncellnlisque manibus, filios Joseph bene-dlcens. Sitfnum Crucis numifestissimo scripsit. (De fkl. orthod... lib. IV. Cap. 12.)

39O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

"Nesta posição, elas formavam a Cruz e anuncia-"vam as bênçãos .de que Jesus Cristo devia ser a "origem". (1)

Passemos a Moisés, deixando em claro o tempo da escravidão do Egypto.

Os hebreus acham-se em face de Amalech, no meio do deserto.

O Rei inimigo, á frente de um poderoso exercito, lhes impede a passagem-

E' inevitável uma batalha decisiva. E que faz Moisés?Em vez de ficar na planície a animar com gesto e voz os

batalhões de Israel, sobe a montanha que domina o campo da batalha.Durante o combate, que faz ele inspirado por Deus? O Sinal da Cruz; só o Sinal da Cruz; durante o combate.

Não se encontra, em parte alguma que ele pronunciasse uma só palavra.

De mãos estendidas e braços abertos para o Céo, ele se tornava um Sinal da Cruz viva —■ Jesus Cristo.

Deus o vê nesta atitude, a vitória é alcançada. (2)Isto não é uma suposição.Ouve o que dizem os Padres da Igreja.

4

São João Damasceno exclama:

"ó Amalech, foram aquelas mãos estendidas em "Cruz que te venceram (1)."

E o grande Tertuliano diz:"Porque razão no momento em que Josué vai ba-"ter Amalech, faz Moisés O que nunca havia fei-"to. orando de mãos estendidas? Em tão critica "circunstância, para tornar mais eficaz a oraRÃO, não deveria ele ajoelhar, bater no peito, e "pro.-trar-se de face por terra? "Nada disto fez, porque — O combate DO Senhor "contra Amalech prefigurava as batalhas do "Verbo Encarnado contra satanás. "E o Sinal da Cruz representava a Cruz pela "qual devia alcançar a vitória. (2)

E S. Justino, o filosofo mártir, cuja vida chega na dos Apóstolos, diz:

"Moisés na montanha com as mãos estendidas "até ao pôr do sol, amparado por Ilur e Aarão, "que outra cousa é, senão o Sinal da Cruz "vivo? (1)."

Insensíveis aos milagres da solicitude paternal de que eram constante objeto, os hebreus murmuram contra Moisés e contra Deus.

Após a murmuração aparece a revolta que se torna geral e rebelde.

Mas, o castigo é imediato ao crime e toma dele os caracteres.

Enormes serpentes, e medonhos reptis, cujo veneno queima como fogo, se lançam sobre os culpados e os des-pedaçam à força de mordeduras.

Enche-se o campo de mortos e moribundos.

A cólera divina é porém aplacada pelas suplicas de Moisés.

Para afugentar as serpentes e curar os inumeráveis doentes, que meio indica o Senhor?

Orações ? Não. Jejuns? Não

Um Altar, uma coluna expiatória? Nada disto.

40O SINAL DA CRUZ

(1) Sed est hoc quoque de veteri sacramento, quo nepotes suos ex Joseph, Ephraim et Manasses, Jacob, impositis capitibus, ct unlermutatis mar.ibus, benedixerit, et quidem ita transversa obligatis in se, ut Christum deformantes, jam 1 tunc protenderot benedictionem in Christum futuram. (De Baptim.)

(21 Lod. 17.°. 10.

(1) Manus Crucis instar extensae, te Amalech, repulerunt. (De fid. orthod., lib. TV, cap. 12.)

(2) Jam vere Moyses, quid utique nunc tantum, cum Jose ad-versus Amalech praeliabatur, expansis manibus, orat resideus, quando in rebustam attonitis, magis utique genibus depositis, et manibus coedentibus pectus, et facie humi volutante, ora-tionem comandare debuisset; nisi quia illic novem Domini dimicabat. dimicaturae quandoque adversus diabulum Crucis quoque erat habitus necessarius. per quan. Jesus victoriam esset relaturus? (Contr. Marcion., n.° 111.)

(1) Moyses expansis manibus in colle, ad vesperam usque, per-mansit cum manus ejus sustentarentur, quod sane nullam aliam nisi crucis figuram exhibet. (Dialog, cum Tryph. n.° 666.)

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O SINAL DA CRUZ

Ordena que se faça de bronze um Sinal da Cruz, per-manente e visível, que cada um dos doentes olhará com Fé e sinceridade.

Será tal a sua virtude que só o vê-lo baste a obter a saúde?...

A significação deste sinal recomendado por Deus não é duvidosa.

O verdadeiro Sinal da Cruz eternamente vivo, Nosso Senhor, Ele mesmo revelou ao género humano que o sinal do deserto era a Sua figura.

"Como Moisés, levantou a serpento no deserto, "assim é necessário que o Filho do Homem seja "levantado, para que não morra, mas antes con-"siga a vida eterna, quem n'Ele acreditar (1)."

Se coubesse nos limites de uma carta, ambos nós per-correríamos os anais do povo figurativo, e tu, meu caro amigo, o verias em todas as ocasiões importantes, (as. únicas bem conhecidas) recorrer ao Sinal da Cruz.

Vou apontar-te algumas.

5

Como nos ensinam os próprios judeus, o Sacerdote nos sacrifícios, primeiro levantava a hóstia, 6egundo a prescrição da lei, e depois, movia-a do oriente para o oci-dente, formando assim o Sinal da Cruz.

(1) Joa., 15.

Executando o mesmo movimento é que o sumo Sa-cerdote, e mesmo os simples Sacerdotes, abençoavam o povo depois dos sacrifícios (1).

Da Igreja judaica passou este sinal à Igreja. Cristã.Os primeiros Cristãos, impressionados do antigo modo de

abençoar com o Sinal da Cruz, foram pelos Apóstolos facilmente instruídos da significação misteriosa des' sinal.

Foram naturalmente levados a continua-lo, junta rio-lhe as divinas palvras que o explicam.

No tcmrpo do profeta Ezechiel chegaram os crimes de Jerusalem ao seu ponto culminante.

Um misterioso personagem, diz o profeta, aparece com ordem de percorrer a cidade e de marcar com este sinal T a fronte dos que gemiam por causa das iniquidades desta criminosa capital.

Seis outros personagens que o acompanhavam, levando cada um sua arma mortífera, tiveram ordem terminante de matar indistintamente os que não estivessem marcados com este sinal salutar (2).

Como se deixará de ver nisto a tocante figura do Sinal da Cruz que se faz sobre nossa fronte?

Assim o pensam os Padres da Igreja, entre outros, Tertuliano e S. Jerónimo.

Dizem eles:"Assim como o sinal Tau T — impresso na fron-"te dos habitantes de Jerusalem que lamenta-

(1i DuRuet. Tratado da Cruz de Nosso Senhor, c. VIII. Cl) Ezecq., IX, 4, etc.

"vam o? crimes daquela cidade, os protegia, con-"tra os Anjos exterminadores, também o Sinal "da Cruz

sobre a fronte do Homem o garante "de ser vitima do demónio e de outros inimigos "da salvação, se lamentar os crimes a que este "Sinal pôde obstar (1)."

Os filisteus reduziram os Israelistas a mais humilhante escravidão.

Sansão começou, sua libertação.Infelizmente o forte de Israel deixou-se surpreender. Prenderam-no depois de lhe vasarem os olhos. Em tal estado o levavam às festas para lhes servir de divertimento.

Sansão, porem, que meditava um plano, projeta esmagar de um só golpe milhares de inimigos.

A Providência dirige por tal modo as coisas, que ele executará o seu desígnio, fazendo o Sinal da Cruz.

Diz Santo Agostinho:

"Colocado entre duas colunas, que sustentavam "todo o edifício, o forte de Israel estende seus "braços em forma de cruz, e nesta atitude omni-potente, abala as colunas, derriba-as, e esmaga "seus inimigos, morrendo, como o grande Cru-"cificado, no meio do seu triunfo (2)."

41O SINAL DA CRUZ

(1) Tertul., adv. Marcion., lib. Ill c. XXII; S.Hier. in Ezach., cX.(2) Jam hic imaginem cruris altendite: expansus enim manus ad

duas colunas, quasi ad duo signa crucis extendit; sed adversários suos interremptos oppressit, et illius passio inter-íectio facta est persequentium. (Serm. 107, de Ternp.)

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O SINAL DA CRUZ

Oprimido de angustias, David é reduzido ao maior «>xtierno a que podo chegar um Rei.

Vè um filho parricida; os subditos revoltados; o trono vacilante; e ainda a velhice que se adianta a passos largos.

Que fará o Monarca inspirado?Orará.Mas de que modo?Fazendo o Sinal da Cruz (1).Acaba Salomão o templo de Jerusalém, e o templo

magnifico é consagrado com uma pompa digna do Monarca.E' necessário atrair as bênçãos do Céo sobre a nova casa

do Deus de Israel e obter Suas graças para os que nela vierem orar.

Que faz Salomão?Ora... fazendo o Sinal da Cruz.Diz o Sagrado Texto:

"Em pé, diante do altar do Senhor, à vista de "todo o povo de Israel, Salomão estende suas "mãos para o Céo, e diz:"Senhor, Deus de Israel, não ha um deus simi-"lhante a Vós, nem no Céo, nem sobre a terra. "Atendei a oração do vosso servo. "Dia e noite estejam os Vossos Olhos abertos "para deferir as suplicas de vosso servo e de vos-"so povo de Israel (2).

Seria um erro acreditar que os Patriarcas, os Juizes, os Profetas, os Reis e os Videntes de Israel, fossem os únicos a conhecer e a praticar o Sinal da Cruz.

Todo o povo o conhecia e religiosamente o praticava nos perigos públicos.

Scnaquerib marcha de vitória em vitória.A maior parte da Palestina é invadida.Jerusalém é ameaçada.Que faz este povo (homens, mulheres e crianças) para

repelir o inimigo?Faz como Moisés, o Sinal da Cuz, tomando, como ele, a

forma deste Sinal-

"Eles invocam o Sinal das Misericórdias, levan-"tando para o Céo as mãos estendidas."E a suplica deles é ouvida pelo Senhor (1)."

Um outro perigo os ameaça.Eis Heliodoro, que vem, acompanhado por soldados, a

roubar os tesouros do Templo.Já ocupam o átrio exterior. Mais um passo e o sacrilégio

será consumado.Os Sacerdotes estão prostrados ao pé do altar. Mas nada

obsta à espoliação.Que faz o povo?

Recorre à sua arma tradicional. Ora, fazendo o Sinal da Cruz e o Templo é salvo (2).

Se é incontestável que é urna forma do Sinal da Cruz orar de braços abertos, conheces que, desde toda a antiguidade, os judeus praticavam este Sinal com impulso mais ou menos misterioso de sua omnipotência.

Amanhã se Deus quiser, veremos se os pagãos eram neste ponto menos instruidos.

Adeus. NONA CARTA

Paris, 4 de Dezembro de 18G2.

Sumario:— 3. O Sinal da Cruz entre os pagãos. Novas

particularidades sobre uma forma exterior do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos. — 2. Os Mártires no anfiteatro.— 3. Etimologia da palavra "adorar".— 4. Os pagãos adoravam fazendo o Sinal da Cruz. De que modo o faziam?' Primeiro modo.

1

Meu caro Frederico,

(1) Expandi inanes meas ad te. (Ps. LXXVIII. 142. etc.) 12) III Rc£.. VIII, 22 e seg. (1) Eccli., XLVIII, 22.

(2) II Machab., III, 20.

1(111 101O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

O objeto desta carta é:

"O Sinal da Cruz entre os pagãos".

Para seguir até ao fim a cadeia tradicional que une a sinagoga à Igreja, vou dizer-te ainda alguma cousa do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos.

Já sabes que eles o faziam a cada instante.Mas, talvez ignores que, para o não interromper enquanto

oravam, transformavam-se eles mesmos em Sinal da Cruz.

O que pôde afirmar-se é que teus condiscípulos, cem contra um, nada sabem disto-

O que Moisés, David, todos os Israelitas fizeram com intervalos, nossos antigos pais o faziam sempre.

Disto compreenderás logo a razão-Era que Amalech, os Filisteus, Heliodoro, nem sempre

lhes atacavam; enquanto que o colosso romano nunca depunha as armas.

A luta travada pelo paganismo de Roma contra nossos pais, os primeiros Cristãos, durante três séculos ela foi violenta, sem tréguas nem descanço.

Por isso os Cristãos eram outros tantos Moisés sobre ;i montanha.

Não um dia só, mas três séculos,' estiveram suas mãos estendidas para o Céo pedindo, como Moisés, a vitória para os Mártires que desciam à arena e a conversão para seus perseguidores.

A respeito do pensamento e dessa atitude deles na oração, que fale uma testemunha ocular.

Diz Tertuliano:

"Nós oramos com os olhos levantados ao Céo e "as mãos estendidas, porque elas são inocentes; "de cabeça descoberta, porque não temos de que "nos envergonhar; e sem monitor, porque nossa "oração é de coração.

"Em tal posição não cessamos de pedir para to-"dos os Imperadores uma vida longa, um reina-"do pacifico, um palácio sem ciladas, exércitos "valorosos, um Senado fiel, um povo virtuoso, "um mundo tranquilo, tudo, finalmente, quanto

"pode caber nos votos dum Homem e nos de um "Cesar (1)."

Assim oravam no Oriente e no Ocidente os Homens, ls Mulheres, as creanças, os mancebos, as donzelas, os /elhos, os senadores, as matronas, os Fieis de qualquer londição.

Esta misteriosa atitude, eles a conservavam, não só ;m suas synaxes no fundo das catacumbas, advogando )s

interesses dos outros, mas também, quando arrastados io anfiteatro onde, à vista de inumeráveis espetadores, tinham a combater nas grandes pugnas do martírio.

2

Poderás figurar, meu caro amigo, um espetáculo mais tocante, que aquele de (pie Eusébio nos conservou a descrição?

"A perseguição de Diocleciano era violenta na "Palestina.

"Um dia, entraram no anfiteatro grande núme-"ro de Cristãos condenados às feras. "Os espectadores não puderam escapar a uma "profunda emoção, à vista desta multidão de "creanças, de mancebos e de velhos. Todos nus,

nibus imperatoribus, vitam illis V1^™™'^^ populum

ssais, ■5= »«£-vota sunt. <Apol. c. XXX.)"de olhos elevados ao Céo e braços levantados

"em Cruz."Imóveis, sem espanto nem temor, no meio de

"tigres e leões esfaimados."O medo que devia agitar os condenados passou

ao espírito dos espectadores e até dos Juizes "(D."Esta. atitude não era excepcional. Que continue a falar o mesmo historiador. Ninguém mais digno de fé, porque foi testemunha ocular do que refere.

"Veríeis, no meio do anfiteatro um mancebo, "que apenas andava beirando vinte anos. "Livre de cadeias, imóvel, tranquilo e de pé, "com os braços em Cruz, orando com ardor, de "olhos e coração fixos no Céo. Estava rodeado "de ursos e leopardos cujo furor anunciava a "morte.

"Porem, estes animais terríveis, quando prestes "a dilacerar-lhe as carnes, são de súbito acal-"tnados

1(111 101O SINAL DA CRUZ

(1) Eusébio de Cezarcn. Hist. eccl., liv. VIII, c. V.(2) Vidisscs adolescentulum, nondum viginti anos íntegros, natitm.

nullis constrictutn vinculis, firmiter consistentem manibus in crucia modum e tranverso expansis, robusta ct excelsa mente in precibus ad Dei numen hanc vel illan parten, de loco in quo steterat, deflectentem; idque cum carn<"n dentibus lacerare aggrederentur, querum ora, divina quadam et incxpli-cabili potentia, néscio quo pacto fuére prope obturata, et itenim ipsi propere recurrerunt. (Idem. Hist. eccl., liv. VIII,. c. VII.)

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O SINAL DA CRUZ

por uma força misteriosa e fogem precipitadamente (2).

Espetáculo mais enternecedor te oferece o Ocidente, pela delicadeza da vítima.

Passava-se o caso no meio da grande Roma.Nunca igual multidão tinha acudido ao circo.

A heroina era Inês, nobre donzela de treze anos de idade.

Condenada ao fogo, entra na fogueira. Diz Santo Ambrósio:

"Não a vedes vós, estender as mãos para Cris-"to e arvorar o vitorioso Estandarte do Senhor "até no meio das chamas?

"De mãos estendidas atravéz do fogo, assim se "dirige a Deus: Ó Vós, a quem é necessário ado-"rar, honrar e temer! Ó Pai Omnipotente de "Nosso Senhor Jesus Cristo, bendito sejais; porquanto, graças a Vosso único Filho, escapei às "mãos dos ímpios e atravessei, imaculada, as "impurezas do demónio. E eis que o orvalho do "Espírito Santo lhe apaga o fogo aos pés; e a "chama espalhada ameaça com seus ardores os "que a tinham atendo.** (1)

Tal era a forma eloquente do Sinal da Cruz, usada pelos Cristãos primitivos da Igreja, os Moisés da Nova Aliança.

Outra prova tu podes obter nas pinturas das catacumbas.

Muito tempo durou esta forma. Eu a vi há trinta anos em

alguns povos católicos da Alemanha.Mas se ela se perdeu entre os fiéis, a Igreja a conservou

religiosamente.Os duzentos mil Padres que sobem diariamente ao Altar

em todos os pontos da terra são os anéis visíveis a nossos olhos da cadeia tradicional que de nós se estende às catacumbas, das catacumbas ao Calvário e do Calvário à montanha de Rapfidim, de onde parte para se perder em a noite dos tempos.

3

Chegamos aos pagãos.Também eles fizeram o Sinal da Cruz.

Fizeram-no orando; e com razão acreditaram ser ele dotado de uma força misteriosa de grande importância.

Pergunta aos teus condiscípulos a etimologia, do verbo adorar: — adorare.

Não terão dificuldade em responder-te.Se este verbo fosse creado pela Igreja, poderias deixar de

interroga-los.Porém., como se acha na lingua latina do século dc ouro,

segundo a linguagem dos colégios, eles devem sabe-la.Decompondo o verbo adorar, ele significa, para todos os etimologistas, levar a mão à boca e beijá-la: "ManUwi ad os admovere".

Tal era o modo por que os pagãos adoravam seus deuses.Disto abundam as provas.

"Quando nós adoramos, diz Plínio, levamos a "mão direita à boca e beijamo-la, e depois des-crevemos um circulo com o nossos corpo, que "gira sobre seu eixo' (1)."

(«irar o corpo sobre seu eixo.Que significa este genero de adoração?Levando a mão à boca, o homem faz homenagem de sua

pessoa à Divindade.Fazendo girar o corpo sobre seu eixo, imita o movimento

dos astros e do mundo inteiro cuja parte mais nobre são os corpos celestes; é ainda fazer homenagem á Divindade.

Este modo de adorar faz parte do Sabeismo ou da, idolatria dos astros que SOBE a muito alta antiguidade.

Segundo os Pitagóricos, isto veio de Numa, que prescreveu a giração:

" Circuma-gi tecum d cos adoras." "Diz-se, acrescenta Plutarco, que é uma representação do giro que o sol dá em seu movimento." (Vida de

Numa, c.XII.)

Esta pratica profundamente misteriosa, estava muito espalhada na América, antes de sua descoberta.

Ainda hoje ela existe entre derviches giradores do Oñente.

Minucio Felix diz:

"Cecilio viu a estatua de Sérapis, e, segundo o "costume do vulgo supersticioso, levou a mão à "boca e beijou-a (1)."

Apuleu diz também:

"Emiliano até hoje não adorou deus algum, "nem frequentou algum templo. "Se passa diante de algum lugar sagrado, consi-"dera um crime aproximar a mão dos lábios pa-"ra adorar (2)"

Porque razão exprimia este gesto o culto soberano, o culto de adoração?

1(111 101O SINAL DA CRUZ

(1) Tendere Cbristo inter manus, atque in ipsis sacrilegis focis tropheum Dcmini signare victoris, etc. (Liv. I de Virgin.)

(2) In adorando dexteram ad osculum referimus, totumquo corpus, circumagimus. (Hist. Natu., I. XXVIII.)

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O SINAL DA CRUZ

Vou dizer-t'o em poucas palavras.O Homem é a imagem de Deus-Este existe todo no seu Verbo e é por Ele que faz tudo.À similhança de Deus, o homem existe todo no seu verbo e

é por ele que faz tudo.Levar a m,ão à boca é comprimir o verbo; é, de algum

modo aniquilá-lo.Fazer isto como o faziam os pagãos em honra do demónio,

era declarar ser vassalo e escravo dele e reconhece-lo até por deus.

Já ves que isto era um enorme crime.Dahi estas notáveis palavras de Job, quando advogava sua

causa:

"Quando vi o sol radiante com todo o seu esplen-"dor e a lua movendo-se banhada em luz, meu "coração se regosijou em segredo, mas nunca "beijei

minha mão porque isso seria a máxima "iniquidade e a negação do Altíssimo Deus: — "iniquitas máxima, negatio contra Dmm altis-" simum (1)."

Este gesto misteriso era, a tal ponto, o sinal da idolatria, que, falando dos Israelitas que haviam conservado infiéis, Deus disse:

—"Eu reservei para mim em Israel sete mil ho-mens que não dobraram os joelhos diante de "Beal, e o não adoraram beijando a mão (2)."

4

0;Í pagãos adoraram, levando a mão à boca e beijando-a.O fato é incontestável.

Mas em tudo isto, me dizes tu, eu não vejo o Sinal da Cruz.Pois vai vê-lo na forma de beijar a mão.

(1) Job. XXXII, 26. etc.(2> Dcrelinquam mihi in Israel Septem milia virorum, quorum genua non sunt incurvaln ante Baal, et omne os quod non adoravit cum osculo manus. (III Reg. XIX,

18.)

(3) Cecilius simulacro Serapidis denotate, ut valgus supersticiosus solet, mnnum or; admovens, osculum labiis pressit. (In Oitnv.)

(4) Nulli rteo ;id hoc vitao supplicavit; nullum templtim frequcn-tavit; si ,'anum alitjuod praelereat, nefas habet, adorandi gratia inanum labiis admovere. (Apol, I. vers, fin.)

1(111 101O SINAL DA CRUZ

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Ill O SINAL DA CRUZ

Olha para este pagão de joelho em terra ou de cabeça inclinada diante de seus idolos.

Com o dedo polegar da mão direita passado por baixo do dedo indicador e repousado sobre o do meio, não o vês tu formar uma Cruz?

Beija-a depois com devoção, murmurando algumas palavras em honra de seus deuses.

Repete este mesmo gesto, e verás, que o Sinal da Cruz não pode formar-se melhor.

Nisto consistia o beijo adorador entre outros muitos pagãos.

Sobre tal ponto faz fé Apuleu:

"Uma multidão de cidadãos e de extrangeiros, "diz ele, correram, à noticia do eximio espectá-"culo.

"Estupefatos em vista da incomparável beleza, "levaram a mão direita à boca, conservando o "dedo indicador repousado sobre o polegar, e "com

religiosa^ orações honravam o idolo como "divindade (1)."

Quanto ao murmúrio de acompanhamento, são bem conhecidos os versos de Ovidio, VI, Metarmophose:

"Restitit, e pa.irido, faveas mihi, murmure disit" "Dux mens: et si mui, faveas mihi, murmure "dixi."

Este modo de fazer o Sinal da Cruz é tão real c ex-pressivo, que ainda hoje é familiar a grande número de Cristãos em todos os paízes.

Mas não era o único conhecido dos pagãos.Como hoje as Almas mais piedosas, eles também faziam

o Sinal da Cruz juntando as mãos sobre o peito.Achamos este Sinal da Cruz em uma das circunstâncias

mais solenes e misteriosas da vida pública.Deixo por hoje tua curiosidade em jejuin.Até amanhã, si Deus quizer.

Adeus.

DECIMA CARTA

Paris, 5 de Dezembro de 1862.

Sumario:— Z. Segundo c terceiro modo pelos quais os

pagãos faziam o Sinal da Cruz. Teste-munhos. Pietas publica. — 2. Os pagãos reconheciam uma potencia misteriosa no Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta crença? — 3. Grande mistério do mundo morai. Importância do Sinal da Cruz aos olhos de Deus. O Sinal da Cruz do mundo físico. — 4. Palavras dos Padres e de Platão. — 5. Inconsequência dos pagãos antigos e modernos. — Razão do ódio particular do demónio ao Sinal da Cruz.

1

Meu caro Frederico,

Ao sair do colégio, depois de dez anos de estudos gregos e latinos, não conhecemos nem a primeira palavra da antiguidade pagã.

Esta nossa moda de educação faz-nos olhar sempre para cima e nunca para baixo.

O que se passa em França, passa-se igualmente nos paízes vÍ8Ínhos.

Para o crer, tenho boas razões.Daí resulta, meu caro amigo, que o fato, de que vou

ocupar-me, será para muitas pessoas uma extranha no-vidade.

Ei-lo:Quando um exercito romano punha cerco a uma cidade,

fosse quem fosse o General — Camilo, Babio, Mételo, Cesar, Cipião, ou qualquer outro, a primeira operação não era abrir fossos ou levantar linhas de circunda-ção; era — evocar os deuses defensores da cidade e chama-los a seu campo.

A formula da evocação é muito longa para uma carta: poderás ve-la em Macrobio.

Ao pronunciar aquela evocação, o General fazia duas vezes o Sinal da Cruz.

Primeiro fazia-o como Moisés, como os primeiros Cristãos, como ainda hoje o Padre ao Altar- Mãos estendidas para o Céo, ele pronunciava então o nome de Júpiter.

Depois, cheio de confiança na eficacia de sua suplica, que fazia ele?

Encruzava devotamente as mãos sobre o peito (1).Eis aqui o Sinal da Cruz em duas formas incontestáveis,

universais e perfeitamente regulares.Se este fato notável é geralmente ignorado, eis um ou-

tro que o não é tanto.O uso de orar com o braços em Cruz era muito, familiar

aos pagãos do oriente e do ocidente.

( I ) Multi civium et arivenae copiosi, quos exirnü spectaculi rumor studiosa celebritate congregabat, inacessoee formositalis admi-ratlone stupidi, admoventes oribus suis dexteram, priore digi-tls in erectum pollicem residente, ut ipsar. prorsus deam Venerem religiosis orationibus venerabantur. (Asin. Aur. lib. IV.)

46O SINAL DA CRUZ

(1) Cum Jovem dicit, manus ad colum tollit; cum votum recl-pere dicit, manibus pectus tangit. (Satur., lib. Ill, cap. II.)

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Ill O SINAL DA CRUZ

Neste ponto não ha diferença deles a nós e aos judeus. Relê os teus Clássicos. Tito-Livio te dirá:

— "De joelhos, eles levantavam a.s mãos suplí -"cantes para o Céo e para os deuses (1).

Dionisio de Halicarnasso:

— "'Bruto sabendo da desgraça e morte de Lu-crecia, levantou as mãos para o Céo, e invocou "Júpiter com todos os deuses (2).

Virgilio:

— "Na praia de mãos estendidas o pai Anquises "invoca os grandes deuses (3).

Ateneu:

—"Dario sabendo com que atenções Alexandre "tratava seus filhos cativos, estendeu as mãos "para o sol o pediu que, a não reinar ele próprio, "reinasse Alexandre (4).

Apuleu enfim declara formalmente que este modo de orar não ora uma excepção, ou, como alguns modernos po-deriam qualificá-lo, uma excentricidade; mas um costume permanente:

"Os que oram elevam a.s mãos para o Céo" (1).Um impulso que chamarei tradicional (porque a não ser

assim não teria nome) lhes mostrava o valor deste Sinal Misterioso.

Poder fazê-lo nos últimos momentos, era para eles uma garantia segura de salvação.

"Se a morte, diz Ariano, me surpreender no "meio de minhas ocupações, bastar-me-á que eu "possa levantar as mãos para o Céo" (2).

Atendei bem.Ele não diz: — Se eu puder cair de joelhos ou. bater no

peito ou curvar minha fronte para a terra; mas: — se puder estender os braços em Cruz e levantá-los para o Céo —.

Qual a razão disto? Pergunta-a a teus condiscípulos. Pergunta-lhes mais.Porque razão colocavam os Egípcios a Cruz sobre seus

templos, oravam diante deste Sinal Adorável e o consideravam cormo anuncio de felicidade futura?

Referem-se os historiadores gregos, Sócrates e Sozo-menes que no tempo de Teodósio quando se destruíam

(1) Habitus orantium sic est. ut manibus extensis ad coelum, precemur. (Lib. do Mundo, recor. fin.)

(2) Siversantem talibus in actionibua, mors arrepiat, satis crit si, perrectis ad Deum maribus, sic loqui valcam. (In Epictet., lib. IV, cap. X.) os templos dos falsos deuses, ao ser destruído o templo de Sérapis, no Egito, encontraram muitas pedras com caracteres hieroglíficos em forma, de Cruz.

Os Neófitos egípcios afirmavam que, segundo os interpretes, estes caracteres significavam na verdade a Cruz, como sinal da Vida futura (1).Entre os romanos era isso também um fato-E não posso ter a menor dúvida porque vi com meus filhos um monumento antigo que é disso uma prova ma-terial.

Conheciam sim a eficácia do Sinal da Cruz, mas não queriam como Moisés e os primeiros Cristãos, permanecer de braços encruzados, durante suas orações.

Que fizeram então eles?Imaginaram uma deusa encarregada de interceder

sempre pela República e a representaram na atitude de Moisés sobre a montanha.

Lá está pois, em Roma, até agora um monumento.No meio do Fórum olitorium onde se observam hoje os

restos do teatro de Marcelo, levanta-se a estatua da deusa chamada — Pictas pública.

Está de pé com os braços abertos em cruz, exatamente como Moisés sobro a montanha ou como os primei roa Cristãos nas catacumbas.

À sua esquerda estava um altar em que ardia incenso, simbolo da suplica (1).

Sobre o valor impetratorio e latréutico do Sinal da Cruz, o alto oriente estava de acordo com o ocidente, o chinez como o romano (2).

Poderíamos acreditar que um Imperador da China, que de tão antigo é quasi mitológico chamado Hien-Yuen, tinha, como Platão, presentido o mistério da Cruz?

"Para honrar o Altíssimo, este Imperador tão "antigo juntava em Cruz dois pedaços de ma-"deira (3)."

Dos sete modos de fazer o Sinal da Cruz, meu bom amigo, os pagãos que não conheciam senão três, pratica-vam-nos com religioso respeito, especialmente nas ocasiões importantes.

2

E dizes-me tu:Muito bem; mas sabiam lá eles o que faziam?

47O SINAL DA CRUZ

(1) Nixne genibus supinas manus ad coclum ac dcos tendentes. iLili. XX XIV.)

(21 Brutos ul cognovit casuni ct neccm Lucrecine, protensis ad coelum manibus: Jupiter, inquit, diique omnes, etc. (Anti-quit., lib. IV.)

(3) At pater Anchieses passes de litores palmis,Numina magna vocat. (AEneid., lib. III.) (•»> Cum hoc

Darius cognovisset, manus ad solem e-xtendens,precatus est, ut vel ipse imperaret, vel Alexandre. (Lib.XIII. cap. XXVII.)

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Ill O SINAL DA CRUZ

Não seria aquilo mais um sinal arbitrario qualquer, insignificante e de onde nada se poderia concluir?

Eu não pretendo convencer a ninguém que os pagãos compreendiam como nós o Sinal da Cruz.

Mas, é certo que tal Sinal entre eles existia como as figuras entre os Judeus.

< 1) Theodosio magno regrante, cum fana gentilium dirimerentur. invente sunt in Serapidis templo hieroglyphicae litterae ha-bentes crucis fornam, quas

videntes illi qui ex /zentibus Christo crotiiderant, aiebant, significanre crucem, apud peritos hiero-Klyphicarum notorum. vitam veneram. (Sozcm.., lib. V, cap XVII: — Id., lib. VII, c.XV.)

Ao ver deles, o Sinal da Cruz tinha uma significação real, um valor considerável, posto que mais ou menos misterioso, segundo os lugares, os tempos e as pessoas. Conheces as cartas escritas com tinta simpática?

À primeira vista, os caracteres, posto que realmente traçados, são pouco visíveis; mas, pela ação do fogo ou dc um reativo, eles aparecem de repente e são perfeitamente legíveis.

Tal era o Sinal da Cruz entre os pagãos.Quando sobre ele atuaram os raios da Luz evangélica, este claro — esmiro não mudou de natureza, mas, como as figuras do Antigo

Testamento, tomou-se inteligível a todos; descobriu-se; falou.Cai por si mesma a suposição de que entre os pagãos o Sinal da Cruz fora um sinal arbitrário.Do que é universal, nada pode ser arbitrário.E neste caso está o Sinal da Cruz-

3

Chegamos, meu caro Frederico, a um dos mais profundos mistérios da ordem moral.Não esqueças que meu fim atual é mostrar do Sinal da Cruz um tesouro que nos enriquece-Para o Homem ser enriquecido é necessário que ele peça vi que Deus o oiça.Para Deus o ouvir é necessário que o homem lhe agrade.

"Deus pecratores non exaudit."

E a Deus, os que lhe agradam são só o Seu Filho e os que a Ele se assemelham.

Para que tudo nos viesse mostrando a necessidade da ação benfazeja da Cruz, quiz Ele que as cousas repro-duzissem-lhe a imagem.

4Escuta a alguns Homens que tiveram olhos para vêr isso

bem ás claras.

"E' digníssimo de nota, diz Gretzer, que, desde a "origem do mundo, Deus quizesse ter sempre a "figura da Cruz debaixo das vistas do genero "humano, e tudo organisasse de modo que nada pudesse fazer sem a intervenção do seu si-"nal (1)-"

(Iretzer é o centésimo eco da filosofia tradicional. Ouve mais a alguns:

"Olhai, dizem eles, para tudo quanto existe no "mundo e vede como todas as cousas são gover-"nadas e postas em obra pelo Sinal da Cruz. "A ave que voa nos ares, e o Homem que nada "na água, ou que ora, formam o Sinal da Cruz; "e nada podem conseguir senão por ela. "Para tentar fortuna

e ir procurar riquezas na "extremidade do mundo, temo navegante necessidade de um navio.

<1> Illiiil consiricrntione uiKr. i K .simum est, quoil Dous figuram Crucia ab unitio sempcr in monitu a oculis vcrsari voluit, resque ¡ta instituit, ut homo prepemoriurr, nihil agere posset, sino interveniente crucis specie. (De Cruce, lib. I c. LII.)

"Este não pode navegar sem mastros e os mas-"tros de nada servem sem vergas em forma de "Cruz.

"Sem esta, portanto, não ha direção possível, "não ha fortuna a esperar.

"O lavrador pede à terra alimento para si, para "os ricos e para os Reis.

"Para obter é-lhe indispensável uma charrua; "mas esta de nada serve se não for armada de "seu cutelo; e a charrua assim forma a Cruz "(1).M

Se o Sinal da Cruz é o meio pelo qual o Homem age sobre a natureza, é-lhe também o instrumento de ação sobre seus similhantes.

Não é a vista das bandeiras que nasi batalhas os sol-dados se animam?

(1) Gretzer. De Cruce, p. 33 — Forcillini, art. Pietas, 7.(2) Latréutico — relativo ao culto de Deus.(3) Discurso prelim, du Chouking., pelo P. Prèmare, ch. IX. p. X.

o. II.

48O SINAL DA CRUZ

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Ill O SINAL DA CRUZ

Os estandartes romanos, chamados caniabra e sijwi-rfa, que mostravam eles senão a Cruz?

Uns e outros eram doirados; atravessados cm Cruz na parte superior por uma peça de pau de onde pendia uma bandeira de oiro e purpura.

49O SINAL DA CRUZ

(1) Aves quando colant ad aethera formam Crucis assumunt. homo natnns per aqua vol orans, forma Crucis visitur. (S. Hier., inc. XI Marc.)

Antemnne navium, velorum corruia, sub figura nostrno Crucis voûtant. (Orig., Homil. VIII, In divers.) — Slcut autem flccle-sia et sine Cruce starc non potest, ita et sine arbore navls infirma est. Statim enim dinbolus inquietnt, et illam ventes nllidit. At ubl Sipnum Cnuis erieitur, stntim et diaboli lni-quitas repcllitlir, et ventomm prooella sopitur. (S. Maxim. Taur., ap. S. Ambr., t. III, serv. 58. &• &.) Poderiam citar-se milhares de aplicações.

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O SINAL DA CRUZ

"Cruz e a universalidade de sua virtude salutar? "Toda a creação representa o Sinal da Cruz. "Não escreveu Platão que a Potência mais visi-"nha do primeiro Deus se havia estendido sobre "o mundo em forma da Cruz (1) ?"

5Daí a resposta peremptória de Minucio Felix aos pagãos

que reprovavam nos Cristãos o Sinal da Cruz.

"Não existe a Cruz por toda a parte? "Vossas bandeiras, vossos troféus e os estandartes de vosso campos, que são eles, sinão "Cruzes ornadas e doiradas? "Não orais vós de braços em Cruz, como nós "outros?

"Nesta atitude solene não empregais vós formulas, pelas quais proclamais um só Deus? Não "vos assimilhais vós então aos Cristãos que ado-"ram um só Deus e que têm a coragem de con-"fessar sua Fé no meio das torturas estendendo "os braços em Cruz?

"Entre nós e vosso povo que diferença ha, quando, de braços em Cruz, todos dizemos Grande

"Deus, Verdadeiro Deus, $e Deus quizer?

"E' esta a linguagem natural do pagão ou a ora-"ção do Cristão?"Ou o Sinal, da Cruz é o fundamento da Religião "natural, ou serve de base a vossa religião (1)."

Porque razão, pois, o perseguis vós?Meu caro

Frederico, a mesma pergunta vou eu fazer aos pagãos modernos.

Porque perseguis vós o Sinal da Cruz?Porque vos envergonhais de o praticar?Porque perseguis

com vossos sarcasmos os que têm coragem para praticá-lo?

Tanto agora como outrora a resposta é sempre a mesma.

Com os pagãos dava-se o seguinte:Mentiroso toda

vida, Satanás inculcou-

As águias de azas abertas no alto das lanças c outras insígnias militares, sempre terminadas por duas azas estendidas despertavam sempre a lembrança do Sinal da Cruz.

"Os troféus, verdadeiros monumentos das vitórias alcançadas, sempre formam a Cruz. "A religião dos romanos que era toda guerreira "adora os estandartes, de preferência a todos os "deuses; e todos os seus estandartes são Cruzes. "Omnes illi imaginum suggestas insignes moni-"lia cruciam sunt (1)."

Quando Constantino quiz perpetuar a lembrança da Cruz, por cuja virtude tinha vencido, não mudou o estandarte Imperial; contentou-se com gravar-lhe a era de Cristo por menos lhe importar o objeto de sua visão que o nome d'Aquele que nela tinha aparecido.

"Por seu turno o Homem. Exteriormente ele se "distingue dos brutos porque anda de pé e pôde "estender os braços. E nesta atitude o Homem "representa de fato a Cruz-"E' por isso que nos c ordenado orar assim; para "que até nossos membros proclamem a Paixão "do Senhor. Quando nossa Alma e nosso corpo "em Cruz confessam a Cristo, é nossa oração "mais facilmente ouvida.""O mesmo Céu é disposto em forma de Cruz, Que "representam os quatro pontos cardiais sinão a

(1) Tortull., Apolog. XVI.

(1) Ideo elevatis manibus orare praecipimur, ut ipso quoque-bembrorum gestu passionem Domini fateamur. Tum enim citius nostra exauditur oratio, cum Christum, quern mens loquitur, etiam corpus imitatur. (S. Maxim. Taur., apud S. Ambr., t. Ill, sor. 56); — S. Miar., in Marc, XI; Tcrll. ApoJ., XVI; — Orig., ffomil, VIII in divers.) — Dixit, vim quae primo Deo próxima ornt, In modum X litterae porrectnm et extensam esse. (S. Just., Apol., II &, &.)

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O SINAL DA CRUZ

se por um deus ao Homem que, enganado assim, o adorava se condenando.

Alegrava-se então com isto o malvado porque o Sinal da Cruz que era feito para adorar o Verdadeiro Deus e salvar aos Homens, estava sendo usado para idolatria e perdição.

Com os Cristãos a Verdade triunfou.Na verdadeira

Religião o Sinal da Cruz está sempre firme em seu lugar, com o destino de adorar ao único e verdadeiro Deus, para salvamento dos Homens.

Com o Sinal da Cruz, adora-se especialmente o Verbo

Encarnado.

E justamente o Divino Crucificado é que é o objeto do ódio pessoal de Satanaz, por ser o Redentor que nos arranca daquelas garras malditas»

No Cristão, o Sinal da Cruz torna-se para o maldito um objeto de escameo e um crime de morte.

E em vez, nos escravos dele já o Sinal Divino deixa de provocar ódio ou sarcasmo, quer se o faça por zombaria, quer por usos profanos, quer por praticas ocultas.

Mas... donde vem, nos maus de todos os

séculos, estas disposições, na aparência contraditórias, de amor e de ódio, de respeito e despreso pelo Sinal adorável?

Do próprio Satanás, responde Tertuliano.

"Como espírito de mentira, sua ocupação é al-"terar a verdade e fazer servir as coisas mais "santas em proveito dos Ídolos. "E' assim» que ele inicia no culto de Mitra.

"Ratisa seus adeptos, assegurando-lhes que a "água apagará seus pecados. Marca na fronte "aos seus soldados, celebra a oblação do pão, pro-"mete a ressurreição e a coroa obtida pela es-"pada."Que direi mais?"Tem lá um soberano pontífice a quem proíbe

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(1) lia Sifttio Crucis aut ratio naturalis innititur, au vestra reli-glo formatur. (Octav.)

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O SINAL DA CRUZ

"segundas núpcias."Tem suas virgens e seus abstinentes. "Examinando um pouco as superstições esta.be-"lecidas por

Numa, — os ofícios sacerdotais, as "insígnias, os privilégios, a ordem e os pormenores dos sacrifícios, os utensílios sagrados,

"todos os objetos ao serviço das expiações e das "suplicas — claramente se verá que o demónio "falsificou tudo isto tirando de Moisés. "Depois do Evangelho a falsificação vem conti-nuando (1)."

Depois do Calvário Satanaz foi mais longe ainda.Conhecendo o

poder da Cruz, quiz atribui-la à sua pessoa e substituir-se ao Deus Crucificado, para assim poder roubar as homenagens do mundo.

Diz Firmico Materno:

— "Instruído pelos oráculos proféticos o inimigo implacável

do género humano, Satanaz con-verteu em instrumento de iniquidade o que era "destinado à salvação do mundo. "Que são os chifres de cuja posse ele se jacta? "São a caricatura dos referidos pelo profeta "inspirado, os quais tu, Satanás, julgas poder "adaptar à tua horrenda figura. "Para que procuras neles o ornamento e a gló-"ria se tais pontas figuram o Sinal da Cruz ? (2)

Assim Satanás brame de raiva em vista de uma fronte

124 12IS

(1) A diabulo scilicet, cujus sunt partes intervertendi veritatem, qui ipsas quoque res sacramentorum divinorum ad idolorum mysteria oemulatur, etc. (De Prescript.)

(2) Agi tans et contorquens comua biformis. .. nequissimum hos-tem generis humani, de Sanctis venerandisque prophetarum oraculis a d contaminata fure ris sui scelera transtulisse. Quoe sunt ista cornua, quoe habere se jactat? Alia sunt comua, quoe propheta, Sancto Spiritu annuente, commémorât, quoe tu, diábole, ad maculatam. faciem tuarn putas posse trans-ferníhil aliud nisi venerandum Crucio Signum monstrant. (Do Errer, prefan, relig., c. XXII.)

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O SINAL DA CRUZ

marcada com o Sinal da Cruz e não acha suplícios que sejam assas bárbaros e cruéis para com eles punir quem traz a imagem do Verbo Encarnado.

Vês, meu caro amigo?Como trata ele a

nossos pais, nossas mães, nossos irmãos, nossas irmãs, os Mártires de todos os paízes e de todos os tempos?

Umas vezes lhes faz esfolar a fronte, e gravar a ferro quente sobre os ossos descobertos uns caracteres de ig-nominia.Outras vezes a faz rasgar em forma de Cruz, Maltrata-os por meio de cordas a ponto de lhes alte* rar a forma.Flagela-os com um azorrague de tal modo a não mais serem conhecidos (1).'* Grande lição!

Seja o ódio de Satanaz ao Sinal da Cruz a medida do nosso amor e confiança para com este Sinal adorável.

Ainda por outros títulos são devidos ao Sinal da Cruz estes dois sentimentos;

Am

or e confiança. Isso verás, si Deus quizer,

amanhã.Adeus.

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(1) Vid. Gretzer, De Crucis lib. IV

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O SINAL DA CRUZ

UNDÉCIMA CARTA

Paris, 6 de Dezembro de 1862.

Sumario:1. O Sinal da Cruz é um tesouro que nas

enriquece porque ê uma suplica: Provas. Suplica poderosa: Provas. Suplica universal: Provas. — 2. Ele provê a todas as necessidades. O Homem carece de luzes para o seu espirito. O Sinal da Cruz, consegue-as: Provas.

1

Meu caro Frederico,

No meio do naufrágio em que o mundo idolatra deixou avariar ou morrer tantas Revelações Primitivas, lá está como vê-se sobrenadando o Sinal da Cruz.

Que diz este fato?E' um fato estranho e novo para ti, incompreensível para

muitos, porém, muito racional para o Cristão habituado a refletir.

Este fato eloquentemente nos, ensina a elevada utilidade do Sinal da Cruz para o Homem, porque demonstra a poderosa eficácia desse Divino Sinal sobre o Coração de Deus.

Do raciocínio, passemos aos fatos.O Sinal da Cruz é uma suplica; uma suplica poderosa;

uma suplica universal.

E' uma suplica.Que é um homem suplicando?E* um individuo que diante de Deus confessa sua in-

digência: — indigência inteletual, indigência moral, indigência material.

E' um mendigo à porta do rico.Ora, o mendigo suplica. De um modo eloquente, porém,

ele suplica é — por seu rosto pálido e descarnado, por suas enfermidades, por seus andrajos, por sua atitude.

Assim suplica por nós sobre a Cruz o adorável Mendigo do Calvário.

Em tal estado, mais que nunca, o Filho de Deus era objéto das complacências infinitas de seu Pai.

124 12IS

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O SINAL DA CRUZ

O Sinal da Cruz. é um tesouro, que nos enriquece E ele nos enriquece, porque é uma excelente súplica. Eis, meu caro amigo, o ponto de Doutrina que estabelecemos neste momento.

Já metade da prova está feita-Consiste na

antiguidade, universalidade, e perpetuidade do Sinal da Cruz.

Ele mesmo nos diz que esta suplica eloquente, mais de lição que de palavras, fora a alavanca poderosa que tudo llu- atraía (1).R que faz o

Homem formando o Sinal da Cruz, quer com a mão, quer estendendo os braços?

Imprime em si mesmo a imagem do Divino Mendigo.Identifica-se com Ele.E' Jacó

cobrindo-se das vestes de Esaú, para obter a benção paterna.

Por esta atitude de Fé, de humildade, de reverência, nós dizemos a Deus:

Vede Senhor, em mim ao vosso Cristo:

"Rcfípice in fatiem Ckristi tui" ■

Suplica mais eloquente que todas as palavras!

"Ela sobe, diz Santo Ambrósio;

e a esmola des-"ce de Deus:

"Ascendit deprecatio, et descendit Dei mise-" ratio."

Tal é o Sinal da Cruz, mesmo sem fórmula. Ele não fala mas diz tudo-

E' uma suplica poderosa.

Quando um agente da Autoridade — comissário de polícia

ou administrador põe a mão sobre um deliquen-te, diz-lhe:

Eu te prendo em nome da lei.Nestas palavras

— em nome da lei — o culpado vê a Autoridade de seu país, a força armada, os juizes, o próprio Rei.

0 medo domina-o e ele dá-se à prisão.

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(1) Cum exultatus fuero a terra, omnia traham ad me ipsum. tJoann., XII, 32)

Humiliavit semetipsiem, factus obediens usque ad mortem... propter quod exaltavit ilium, etc. (Philipp., II, 8)

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O SINAL DA CRUZ

Quando o Homem, ameaçado de um perigo, assaltado pela dúvida, perseguido pela tentação, dominado pelo so-frimento, pela doença, pronuncia estas palavras de solene autoridade:

— "Em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo" — e, ao pronunciá-las, faz o Sinal redentor do mundo, o Sinal vencedor do inferno, como poderás tu admitir a menor resistência por parte do mal?

Não satisfez o Homem todas as condições necessá-rias ao resultado?

E não está Deus em posição de intervir e de glorifi-car Seu Nome e o poder de Seu Cristo?...

A eficácia do Sinal da Cruz nunca foi duvidosa, nem para a Igreja, nem para os séculos Cristãos.

Os mais graves teólogos ensinam que o Sinal da Cruz dá resultados por si mesmo, sem dependência das dispo-siçõe de quem o faz.

Disto dão muitas provas; só apontarei duas.

A primeira é o uso constantemente repetido do Sinal da Cruz.

"Se ele não produzisse, dizem eles, seus efeitos "por si mesmo, não teriam razão os Cristãos "para tal uso.

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O SINAL DA CRUZ

"De que serviria recorrer a ele, se um bom mo-"vimento da Alma ou uma boa obra, bastasse a "obter ou realisar o que se espera do Sina! da "Cruz (1)?"

A segunda funda-se em fatos celebres na história, que são de uma autenticidade incontestável. Eis aqui alguns.

Seja o primeiro o de Juliano Apóstata.Desertor do verdadeiro Deus, este Imperador tornou-se,

o que era enevitável, adorador do demónio.Para conhecer os segredos do futuro, procura em toda a

Grécia homens que tenham relações com o espírito mau.Apresenta-se um evocador que promete satisfazer sua

curiosidade.Juliano é conduzido a um templo de idolos. Feitas as evocações, o Imperador vê-se rodeado de demónios cuja figura o intimida.

Por um movimento irrefletido de medo, Juliano faz o Sinal da Cruz, e todos os demónios desaparecem.

O evocador queixa-se disto e recomeça a evocação. Os demónios reaparecem.

Juliano espanta-se de novo, faz segunda vez o Sinal da Cruz e os demônios de novo desaparecem (1).

Este fato referido por S. Gregorio Nazianzeno, por-Teodoreto e outros Padres da Igreja, deu grande bradoem todo o oriente.

O segundo é mais conhecido no ocidente.Devemo-lo ao Papa S. Gregorio.O ilustre Pontífice começa a narração por estas palavras:

"O fato que vou referir não é duvidoso; porque "ha dele tantas testemunhas, quantos os habitantes da cidade de Fondi (2)."

Um judeu, vindo da Campania em direção a Roma. pela via Appia, chegou à pequena cidade de Fondi.

Por ser tarde, não pôde achar onde alojar-se e acolheu-se para passar a noite a um arruinado templo de Apolo,

Esta velha morada de demônios lhe causou medo e, posto não fosse Cristão, teve o cuidado de munir-se do Sinal da Cruz.

Era meia noite e, apavorado pela solidão, não tinha ainda polido conciliar o sono.

De repente vê uma multidão de demónios. Pareciam vir render homenagens a seu chefe que estava sentado ao cimo do templo.

Ao passo que se vão apresentando, pergunta ele a cada um o que tem feito para induzir os homens aopecado.

Todos lhe descobrem seus artifícios.No meio daquelas prestações de contas adianta-se um e

refere a grave tentação em que fez cair o venerando Bispo da cidade.

— "Até aqui tive perdido todo meu trabalho. "Mas, ontem à tarde a custo consegui que ele "desse uma leve palmada na espádua da santa "Mulher, quedhe governa a casa.

"Continua, lhe responde Satanás o inimigo an-"tigo do género humano, continua e completa "o que tens começado. Tamanha vitória ha-de te "valer uma excepcional recompensa."

No meio de tal espetáculo, o viajante mal apenas respirava-

Para que o pobre sucumbisse de medo, o presidente da assembleia infernal, sabedor de que ele estava ali, ordena aos mais que lhe digam;

— "Qual é o temerário que ousou acolher-se ao "templo?"

Os maus espíritos, aproximando-se dele, encaram-no com mui curiosa atenção e, vendo-o marcado com o Sinal da Cruz, gritam:

— "Desgraça! desgraça! baixel vasio e selado: "Voe! Voe! VOA vacuum et signatum.

A estas palavras toda a infernal multidão desaparece.O judeu por sua vez foge também apressadamente.Logo pela manhã indo à Igreja onde encontraria

venerável Bispo, chama-o de lado, conta-lhe tudo o que viu, como soube da leve palmada que dera na creada e qual- fim o demónio tinha naquilo.

Surpreendido além de toda a expressão, o Bispo despede logo do serviço a creada e proíbe terminantemente que entrem mulheres em sua casa.

(1) Ad crucem confugit, eaque se adversus terrores consignât, eumque quem persequebatur in auxilium adsciscit. Valuit signaculum, cedunt daemonis, pellentur timorés. Quid deinde? reviviscit malum, rursus ad audatiam redit; rursus aggredi-mur, rursus iidem terrores urgent, rursus objecto signáculo daemones conquiescunt, perplexusque haeret discipulus. (S. Greg. Nazian., orat. II, contr. Julián.)

(2) Nec res est dubia quan narro, quia pene tanti in ea testes-sunt, quanti et ejusdem loci habitatores existunt. (Dial., lib. III, c. VII.)

(1) Diximus Signum sanctissimae crucis produeere suos effectus ex opere operato. (Gretzer. lib. IV, c. LXII, p. 703) — Ita etiam doctissimi quique theologi sentiunt, ut Gregoriiis de Valentia, Franciscus Soarez, Bellarminus, Trydus et alii. (Ibid.) Et certe; nisi ex opere operato crux effectus suos ederet, non esset cur tarn sedulo a fidelibus usurperetur: quia bono nnlmi motu et actu, omne illud perficere aeque certo pos-nent. quod adhibito Crucis signáculo peragunt, et se perac-turos sperant. (Ibid.)

1351S4 O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

Mais, tarde o Prelado consagrou a Santo André o velho templo de Apolo.

Aquele viajante judeu converteu-se (1).Citemos outro fato.

Lê-se na História de Nicéforo, que, no reinado do Imperador Mauricio, o Rei da Pérsia enviara a Constantinopla uns Embaixadores persas, que tinham o Sinal da Cruz sobre a fronte.

Pergutou-lhes o Imperador:— "Porque trazeis um Sinal em que não acreditais?

— "O que vedes em nossa fronte, lhe responderam eles, é o testemunho de um insigne favor que outrora recebemos.

A peste assolava nosso país.

Alguns Cristãos aconselharam-nos que sobre a fronte gravássemos o Sinal da Cruz, como preservativo contra o flagelo.

Nós que acreditando o fizemos, fomos salvos no meio de nossas famílias (1).'*

Depois de tais fatos, ocorre naturalmente a reflexão do grande Bispo de Hipona, que parece decisiva a favor da Doutrina dos teólogos:

— "Não devemos pois, nos admirar da virtude "do Sinal da Cruz, quando feito por bons Cris-"tãos, sendo tanta a virtude que ele tem quando "é empregado por os que nele não acreditam, "mas o empregam em honra do grande Rei (2)."

Para ficar bem nos limites da ortodoxia, é necessário acrescentar que — o Sinal da Cruz pura e simplesmente por si mesmo, só mostra virtudes quando é útil à nossa salvação ou à dos outros —.

O mesmo acontece com certas outras praticas, tais como exorcismos.

A elas não corresponde nenhum efeito incondicional-mente infalível-

A piedade de quem faz o Sinal da Cruz, muito con-tribue para a eficácia dele.

O Sinal da Cruz é uma invocação tacita de Jesus Crucificado; é pois, tanto mais eficaz quanto maior o fervor com que é feito.

Seja ela de coração ou de boca, a invocação é tanto mais apta a produzir! efeito, quanto mais o Fiel é virtuoso e mais do agrado do Senhor (1).

E' uma suplica universal.

De certo modo o Sinal da Cruz pôde dizer como o próprio Salvador;

"Foi-me dado todo o poder no Céo e na terra".

Aqui, meu caro Frederico, mais que noutro lugar, é necessário raciocinar sobre os fatos,

E são a tal ponto numerosos que ha dificuldade em escolhe-los.

Todos, mas cada um a seu modo, proclamam de uma parte a Fé que animava nossos maiores; de outra o império do Sinal da Cruz sobre o mundo quer visível quer invisível.

2

O Sinal da Cruz provê as necessidades assim do corpo como da Alma.

Quando o Homem carece de luzes para a Alma, ele as obtém.

S. Gregório, Bispo de Gaza, tem a disputar com uma mulher maniqueia.

A fim de, pela clareza de seus raciocínios, dissipar as trevas que envolviam aquela infeliz, o Santo Prelado faz o Sinal da Redenção e logo a luz brilha espancando as trevas da pobre inteligência transviada.

Juliano, que era um sofista coroado, provoca à controvérsia o virtuoso Médico irmão de S. Gregório Na-zianzeno.

Cesário entra na liça munido do Sinal da Cruz.A um inimigo consumado na arte da guerra e hábil na

argumentação, o magnânimo atleta opõe o Estandarte do Verbo e logo o espírito da mentira é apanhado nos próprios laços. (1).

S. Cirilo de Jerusalem, tão poderoso nas palavras e nas obras, ordena que se recorra ao Sinal da Cruz, sempre que se trate de combater os pagãos; e assegura que assim logo serão reduzidos ao silêncio (2).

1351S4 O SINAL DA CRUZ

(1) Dial., lib. HI, c. VII.

(1) Hist., lib. K VIII, c. XX.(2) Non mirum quod haec signa valent, cum a bonis Christianis

adhihentur, quando etiam cum usurpantur ab extrañéis, qui omnio suum nomen ad instam militiam non dederunt propter honorem tarnen excelentissiani imperatoris valent. (Lib. de 83 qudt., qudt. 79.)

(1) Gretzer, ubi supra.

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O SINAL DA CRUZ

Na ordem temporal tanto como na espiritual, serão necessárias ao Homem as luzes divinas; e o Sinal da Cruz sempre as obtém.

Os Imperadores do oriente, sucessores de Constantino, quando tinham a falar diante do senado, costumavam fazer o Sinal da Cruz (3).

Como já vimos, o nosso grande Rei S- Luiz, antes de discutir em Conselho os negócios de seu Reino, não deixava esta prática religiosa tão antiga.

Se, à imitação dos maiores Principes, que têm governado o mundo, os Imperadores e os Reis do nosso século recorressem ao Sinal da Cruz, pensas que seus negócios iriam pior?

Quanto a mim, tão convencido estou como de minha existência que seus negócios correriam melhor.

Os governadores de hoje será que não precisam de luzes para governar?

Terão talvez a pretensão de achar essas luzes longe d'Aquele que é a Luz do Universo — Lux mundi?

Conhecerão eles um meio mais próprio que o> Sinal da Cruz, para invoca-las com resultado?

Não estão aí os séculos todos a atestar a eficácia do Sinal Bendito?

A Igreja, que devia ser seu oráculo, não continua a proclamar isso?

Ha concilio, conclave ou assembleia religiosa que não comece pelo Sinal da Cruz?

Falam talvez do alto da Cadeira os bons Padres Católicos, herdeiros da tradição, sem que se armem deste Sinal de força, e de luz?

Eis as prescrições dos antigos Padres:"Fazei o Sinal da Cruz, e depois falai, escreve S. Cirilo

de Jerusalém. Fac hoc signum et loqueri (1)."

O que digo dos Reis, meu caro amigo, deve dizer-se de quantos estão encarregados de ensinar os outros.

O Verbo Encarnado não é Ele então o Deus das ciências, o Professor dos professores, o Mestre dos mestres?

Se o Sinal da Cruz presidisse a todas as lições que hoje se dão, a todos os livros» que se imprimem, acreditas tu que havíamos de estar assim, inundados como estamos de erros, de sofismas, de ideias falsas, de sistemas incoerentes cujo resultado incontestável é fazer baixar a olhos vistos o mundo moderno às trevas inteletuais de onde o Cristianismo já o havia tirado?O Homem carece de forças para sua Alma,; e o Sinal da Cruz é de tais forças um manancial fecundo. Vê teus ilustres, avós, os Mártires.

Aonde procuram eles coragem para triunfar em seus combates heróicos?

No Sinal da Cruz.Generais, centuriões, soldados, magistrados, senadores,

patrícios e plebeus, moços e velhos, mulheres solteiras e casadas, todos, ao descer à arena, tratam de cobrir-se desta armadura invencível!

" Insvtperabilis Christianomm armatura".

Segue-me, e eu te mostrarei alguns.Em Cesárea, o Mártir que vai ao suplicio no meio de iim

povo imenso, é o corajoso centurião Gordio.Não o vês que, tranquilo e recolhido, arma-se na fronte

com o Sinal da Cruz (1) ?

Que cidade é aquela da Armênia, que se levanta no meio de neves à beira de um lago de gelo ? E' Sebastes.

Lá vêm marchando à tarde quarenta homens presos e nus.São conduzidos ao meio do lago e condenados a passar a noite, ali, dentro do gelo. Quem são eles?Quarenta veteranos do exército de Licínio. E'-lhes necessária uma força de resistência sobre-humana tanto maior quanto é certo existirem nas margens banhos quentes, preparados para os desertores.

Feito o Sinal da Cruz, a força lhes nasce e morte heróica vem coroar-lhes a coragem (1).

Já vimos a jovem Inês, Sinal da Cruz vivo, bem no meio das chamas.

Eis outras Cristãs, nascidas também na idade de ouro dos mártires.

A primeira é Santa Tecla, ilustre por nascimento, mais ilustre pela Fé.

Agarrada pelos algozes, é conduzida à fogueira.Faz o Sinal da Cruz, entra nela a passo firme e fica

tranquila no meio das chamas.Imediatamente cai do Céo uma torrente de água e o fogo é

apagado.

1351S4 O SINAL DA CRUZ

(1> S. Gregorio Nnzian.. In laúd. Coedar.(2> Accipe arma contra adversarios hujus Crucis: cum enim de

Dominn crucepc contra infideles quaesto tibi erit, prius statue manu lúa Signum, et obniulescel contrae!icens. (Catech., XIII.)

(3) Ipse coronatus solium conscendit avitum.Atque crucis faciens Signum venerabile sedit. Erectaque

manu, cundo présenle senatu.Ore pió haec orans ait. (Coripp., De laúd. Juntin. Junior.)

(1) Ca tech. illumnat., IV.

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O SINAL DA CRUZ

(D S. Basil, Orat, in S. Gord.E a jovem heroina sai da fogueira como os três mancebos

na fornalha da Babilónia, sem haver tostado um só fio de cabelo (1).

A segunda é Santa Eufemia, tão celebre, como' a pri-meira.

À ordem do Juiz, num instante são preparados os instrumentos de suplicio.

A jovem donzela vai ser estendida sobre a roda.Faz o Sinal da Cruz, avança, voluntariamente para a

terrível máquina armada de pontas de ferro, fita-a sem empalidecer, e aquele olhar faz voar em pedaços o satânico maquinismo (2).

Nota ainda.Estamos num desses pretórios romanos, tantas vezes

tintos de sangue de nossos antepassados Cristãos; tantas vezes testemunhas de sua respostas sublimes, e de sua constância heróica.Estamos no mais violento da perseguição de Décio. Tu conheces esse sanguinário Imperador a quem La-tancio dá o epíteto de execrável animal:

"Execrabile animal Decius".

Diante do Juiz está uma multidão de Cristãos. O acusador, como de costume, acaba de carrega-los de todas as espécies de crimes.

Antecipadamente já sabem que estão condenados.Que fazem?Levantam os olhos ao Céo, fazem o Sinal da Cruz e dizem

ao Procônsul:

"Haveis de ver como vós não estais lidando com "gente vil e pusilânime (1).'*

Si fosse, meu caro, continuar até o fim, seria preciso fazer desfilar diante de ti o exercito imenso dos vinte e cinco milhões de Mártires.

Esses valorosos soldados do Crucificado, ao entrar em combate, todos arvoraram o Estandarte do seu Rei.

Deixa-me nomear ainda alguns:— S'. Juliano, S- Ponciano, S. Constante, S. Crescen-re,

Sto. Isidoro, S. Nazário, S, Celso, S. Maximino, Sto. Alexandre, Sta. Sofia e suas três filhas, Sta. Agueda, Sta. Luzia, Sta. Barbara, Sta. Engrácia, Sta. Iria, Sta. Juliana, S. Cipriano e Sta. Justina, etc. (2).

Em todos os paizes e em todas as ocasiões ha teste-munho do uso universal dos Mártires em se armarem do

(1) lili autem uno cricifixi signáculo, Christum in se quasi legis loco ómnibus praescripserünt... Crucem signífera íigura m mente gestabant. <S. Ephrem., Encom. in 40 S.S. Martyr.)

1351S4 O SINAL DA CRUZ

(1) Capta ab apparatoribus ut in fecum jactaretur, sponte pyram ascendit, et Signo Crucis facto, virili animo inter medias flarrimas stetit, subitoque. facta inundatione pluviarum, ignis extinctus est, et beata Virgo ilaesa viturte superna erigitur. (Ado. in Martyrol, 27 sept.)

(2) Postaquan ipsae maehinae dicto citius fuerunt constructae, et Martyr in eas erat conjicienda, validis continuo in se paratis armis, nempe divina Crucis figura, et ea signata, adversus rotas processit nullam quidem vultu estendens tristitiam, etc. (Apud. Sur., t. V, et Baron., Martyrol., 16 sept.)

(3) Oculis in coelum sublates, cum se Christi signaculo munis-sent, dixerunt: Scias te non incidisse in viros pusilli et ab-jecti animi. (Apud Sur., 13 april.)

(4) Vid. seus processos.

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O SINAL DA CRUZ

Sinal da Cruz ao entrar na liça com os homens, com as feras e com os elementos. Mais ainda.

Quando o peso das cadeias ou a atadura dos grilhões houvesse de impedi-los de fazer o Sinal da Cruz, cheios de Fé eles pediam aos Padres ou aos outros Cristãos que os armassem do Sinal vitorioso.

Convertido à Fé pelo Santo Eleutério, vai Corebo receber no anfiteatro a coroa do Martírio.

"Ora, por mim, diz ele a seu Pai em Jesus Cristo "e arma-me das mesmas armas, o Sinal da Cruz, "de que armaste a Felio, o chefe do combate "(1)."

Glicéria a nobre filha de um Patrício que três vezes fora Cônsul ia ser lançada de repente numa estreita prisão.

Vendo-se nas mãos do inimigo, a primeira cousa que faz, é pedir ao Santo Padre Filócrates lhe faça na testa o Sinal da Cruz.

O Padre satisfaz-lhe o desejo dizendo: — "Que este Sinal do Crucificado realize teus votos (2).

E ouve, meu caro, como os votos lhe foram realizados.A jovem heroina desce ao anfiteatro.No momento de colher a palma da vitória, volta-se para

os Cristãos misturados na multidão e lhes diz:

"Irmãos, irmãs, filhos, pais, e vós outras que "eu tenho na conta de mães, acautelai-vos bem "e tende muito em consideração Quem é aquele "Imperador cujos caracteres possuímos e com "cujo Sinal fomos marcados em nossa fronte"(1)." Tu acabas

de ver.Todos os Mártires procuraram força no Sinal da Cruz.

Teriam eles procurado um apoio no vasio? O grande Imperador por Quem eles morriam, te-los-ia deixado numa ilusão incurável?

Se houver alguém que o creia, devetdar provas. Até breve,

se Deus quiser.

(1) Ora pro me, et me arma his armis, nempre Christi signáculo, quibus ducem exercitus munivisti Felicem. (Apud Sur., 18 April.)

(2) Signa me Christi signo. Ad haec Philocrates presbyter: Signum inquit Christi vota tua compleat. (Ibid., t. III, et Baron., t. II.)

(1) Frates, sorores, filii, patres et quaecumque matris loco mini estis, videte et vobis cavete, ac diligentes animadvertite, qualis est Imperator ille, cujus caractrem habemüs, et qualiforma in fronte signati sumua. (Ibidi.)

147O SINAL DA CRUZ146

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O SINAL DA CRUZ

DUODÉCIMA CARTA

Paris, 7 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Necessidade perpetua do Sinal da Cruz

para obter força. Recomendação e prá-tica dos Chefes da luta espiritual. Sinal da Cruz nas tentações. — 2. Sinal da Cruz na morte. Exemplo dos Mártires. Exemplo dos verdadeiros Cristãos, no áto de morrer. — 3. Os moribundos pediam a seus irmãos lhes fizessem o Sinal da Cruz.

1

Meu caro Amigo,

O Sinal da Cruz até hoje nada .perdeu em força.A necessidade que temos dele é talvez maior.Não ha dúvida que si os tiranos morreram, e os an-

fiteatros caíram em ruínas, foi porque o Sinal da Cruz venceu a uns e fez desabar os outros.

Os segundos pode ser que se não levantem de novo. Mas... os primeiros ?De tempos a tempos saem de seus túmulos. A raça dos Neros jamais acabará.

E o mais temível deles ainda está para vir. Depois dos Cesares, outros têm aparecido com o furor antigo.

Hão dizimado outros Cristãos, — raça imoral, raça votada à morte — diz Tertuliano.

"expeditum morte genus."

Os Tiranos, aquilo que fizeram ontem no ocidente, o que fazem hoje no oriente, podem repeti-lo amanhã em todos os logares onde reinarem.

Aviso aos combatentes:"Ninguém esqueça onde está a origem e a fonte da

força.Lembra-te, meu caro amigo, de que a paz também tem

seus Mártires."Habet et pax martyres suos."

Qual é o Homem que não tem em si mesmo um ou muitos Neros?

Ha talvez na vida racional, um dia ou uma hora em que não tenhamos a vigiar-nos e a combater?

Vinte vezes ao dia sedutores objetos se oferecem a nossos olhos; maus pensamentos nos importunam o espírito;

e, revoltados, os sentidos solicitam-nos o coração a traições covardes.

Oh! De quanta força carece o Homem!...Onde a encontrará?No Sinal da Cruz.O testemunho dos séculos, a experiência dos veteranos

e o exemplo dos conscritos na virtude, atestam hoje

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O SINAL DA CRUZ

como ontem o poder soberano que o Sinal Divino tem para dissipar os encantos sedutores, afugentar os maus pensamentos e reprimir os movimentos da concupiscência.

Ouve o cantor dos Mjártires, Prudencio, que conheceu deles juntamente os pormenores dos triunfos e o segredo das vitórias.

"Quando, a convite do sono, caíres em teu cas-"to leito, faze o Sinal da Cruz sobre a fronte, e "sobre o coração."

"A Cruz te preservará de todo o pecado."Fugirão diante dela as potências infernais. San-tificada por este Sinal, a tua Alma não saberá"vacilar (1)." "*

Mais. Ouve os chefes do combate interior.Consumados na arte da guerra espiritual, chamada

ascetismo, os grandes génios e os grandes Santos não têm mais que uma voz todos eles, para recomendar aos soldados Cristãos o uso do Sinal da Cruz.

"Sentes inflamar-se teu coração? diz S. João "Crisóstomo, faze o Sinal da Cruz sobre o peito

"e logo a cólera se dissipará à maneira do fumo "(1)."

E Sto. Agostinho:"Amalech, vosso inimigo, tenta tomar-vos o ca-"minho e impedir-vos de avançar? "Faze o Sinal da Cruz e ele será vencido (2)." Marcos, o grande servo de Deus que predisse ao Imperador Leão a hora de sua morte, diz:

"Conheci por experiência que o Sinal da Cruz "abate as desordens interiores e promove a saú-"de da Alma.

"A graça opera logo; depois do Sinal da Cruz "tudo se mitiga, assim a carne como o coração "(3)."

S. Máximo de Turim:

— "E' do Sinal da Cruz que devemos esperar a "cura de nossas feridas.

"Se o veneno da avareza penetra em nossas "veias, façamos o Sinal da Cruz e ele será ex-"pulso.

"Se o escorpião da voluptuosidade nos pica, recorramos ao mesmo meio e seremos curados.

"Se grosseiros pensamentos terrestres tentam "Manchar-nos, façamos ainda o Sinal da Cruz e "nossa vida será santa (1)."

S. Bernardo:

— "Qual é o Homem tão senhor de seus pensa-"mentos que não tenha alguns impuros?"E' necessário reprimir imediatamente os ataques do inimigo para vence-lo onde ele espera "triunfar."Qual o meio infalível de consegui-lo? — Fazer "o Sinal da Cruz (2)."

S. Pedro Damião:

"Se sentirdes que em vosso espírito surge um "mau pensamento, fazei logo, com o polegar, o "Sinal da Cruz, na certeza de que desaparecerá "tal pensamento (3)."

O piedoso Ecberto:— "Nada mais eficaz que o Sinal da Cruz para "dissipar as tentações, ainda a mais vergonho-"sa (4)."

Resumindo todos estes testemunhos:

— "Qualquer que seja a tentação, conclue S'-"Gregorio de Tours, é necessário repelí-la. "Para isto fazei com coragem e? não com tibieza, "o Sinal da Cruz sobre a fronte ou sobre o peito "(1)."

Se fosse preciso, mil fatos podiam confirmar o que ouviste.Bastará um só.E' a revelação com que foi favorecido um santo Religioso

chamado Patroclo, mediante a qual Deus fez ver o poder soberano do Sinal da Cruz contra as tentações.

Transformado em Anjo de Luz, o demonio apareceu um dia ao venerável Abade e, com palavras repassadas de astúcia, começou a aconselha-lo, que deixasse a solidão e voltasse ao mundo.

Sentindo correr-lhe nas veias um fogo pestilencial, o Homem de Deus prostrou-se em oração e pediu ao Senhor lhe fizesse cumprir o que fosse da Divina Vontade.

A suplica foi ouvida.Aparece-lhe então um Anjo do Senhor e lhe diz: " Sobe a

esta coluna e verás o que o mundo é."O piedoso solitário vê diante de si uma coluna de pro-

digiosa altura e sobe-lhe ao seu vértice.

(1) Pac, cum vocante somno Castum pedis cubile, Frontem locumque cordis Crucis Figura signet. Cruz pellet omne crimen, Fugiunt crucem tenebrae. Tali dicata signoMens fluctuare nescit. (Aput. S. Creg. Turón., lib., I Miracul., c. 106.)

(1) Si siccendi cor tuum senseris, pectus continuo Signáculo Cru-cis signato, et ira illico tanquam pulvis dissipabitur (Im Math., Homil. 88.)

(2) Si adversarius Amalecita iter intercludere atque impediré conabitur, pro reverentissima extentione crachiorum ejusdem Crucis indicio superatur. (Lib. I. Homil., Homil. 20.)

(3) Statim post Signum Crucis gratia sic operatur: sed omnia, membra pariter et cor. (Bibliothä P.P., t. V.)

(4) Apud. S. Ambr. ser. 55.(5) De passion Dom.„ c, XIX. n. 65.(6) Cum pravam tibimet cogitationem esse pereuseris, extento

pollice protinus cor tuum signare festines, eertus, etc. (Instit.monast.)

(4) Signo Crucis nihil efficacius ad effugendas tentationes. (Lib.viar. Domin., c. XXI.)

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O SINAL DA CRUZ

De lá descortina um pedaço do mundo* e vê — homicídios, roubos, carnificinas, desonestidades e os maiores crimes praticáveis sobre a terra. Horrorizado exclama ele:

— "Ah Senhor! Não permitais que eu volte ao "meio de tantos crimes!.. '.**—

151O SIN AL DA CRUZ

(1) Viriliter et non tepide Signum, vel fronti, vel pectori salu-tare superponas. (Ubi. supra.)

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O SINAL DA CRUZ

Eíntão o Anjo lhe diz:

— "Deixa-te de pensar em voltar ao mundo; se-"não, irás com ele."E' melhor que vás para teu oratório. "Pede ao Senhor mercê de uma arma com que "te defendas no meio das provações de tua peregrinação."

Ele assim fez e achou um tijolo onde estava escul-turado o Sinal da Cruz.

Compreendeu o dom de Deus e conheceu que este Sinal era uma fortaleza inexpugnável contra as tentações d)."

2

Na guerra ou na paz, o Homem durante a vida é um Mártir.

E quem é ele na morte?Vês este doente cercado de dores, abandonado de todos,

ou rodeado de parentes e amigos sem força para valer-lhe?Detrás dele o tempo que foge e à sua frente a eterni-

dade que avança.Sim; a eternidade em que ele vai cair sem que nenhuma

força humana possa retardar-lhe o momento da partida ou adoçar as angustias da viagem 1 . . .

Este doente, meu caro amigo, és tui, sou eu, é todo o Homem, rico ou pobre, súbdito ou Monarca-

Se durante os combates da vida carecemos de luz, de força de consolação e de esperança, não teremos nós de tudo isto uma necessidade mil vezes maior nas lutas decisivas da morte

Pois bem!O Sinal da Cruz é tudo isto para todos nós.Debaixo deste aspecto foi ele caro a nossos maiores e

deve ser também a nós muito querido.À maneira dos Mártires que ao caminhar ao último

combate não deixavam de se fortalecer pelo Sinal da Cruz, os verdadeiros Cristãos dos séculos passados recorriam sempre ao Divino Sinal para adoçar as dores e santificar sua morte.

Citamos alguns exemplos-S. Gregório de Nissa falando de Santa Macrina, sua

prezada irmã a quem ele mesmo assistiu nos últimos mo-mentos, assim se exprime:

"Ela dizia: — Senhor, para afugentar o inimi-"go e proteger a vida tendes dado aos que Vos "temem, o Sinal da Cruz. —

Pronunciando estas palavras, ela fazia o adorável Sinal sobre os olhos, nos lábios e sobre o coração (1)."

Do irmão de Santa Macrina o ilustre chará S. Gregorio de Nazianzo, desafiando o demónio, dizia:

(1) — Tu ad hostis perniciem et vitae nostrae seeuritatem de-disti signum metuentibus te, notam sanctaé Crucis aeterne Deus. Haec dicens oculis, et ori, et cordi, Crucis signum opposuit. (Vit. S. Mare.)

(1) Greg, Turon, vit. part. c. IX.

154O SINAL DA CRUZ 155

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O SINAL DA CRUZ

"Se no momento da minha morte ousares me ata~ "car, eu te hei de por em vergonhosa fuga — fa-"zendo o Sinal da Cruz (1).*'

Próximos à morte, em vez de o fazer com a mão, os primeiros Cristãos faziam esse Sinal estendendo os braços. A isto é que eles chamavam sacrifício da tarde.

— " Sacrificium vespertinum.

A este modo de fazer o Sinal da Cruz nos últimos momentos, aplica Arnóbio as palavras do salmista:

— "A elevação de minhas mãos é meu sacrifício "da tarde."

"Toda a nossa atenção deve ser posta em levan-"tar as mãos em Cruz para nos alegrarmos no "Salvador Jesus, no momento em que vamos pa-"ra Ele (2)."

Foi nessa atitude que morreu o eremita S. Paulo, Patriarca do deserto.

E assim por S. Antão foi encontrado, já morto (3)." Com S. Pacomio deu-se o mesmo.

—"Na proximidade da morte, diz o autor de sua "vida, armou-se do Sinal da Cruz-

"E vendo um Anjo de Luz se aproximar entre-"gou santamente a Alma a Deus (1).'*S. Ambrósio morreu do mesmo modo-.

—"No último dia de vida, escreve dele o Padre "Paulino, desde as onze horas mais ou menos até "ao momento em que morreu, orou e — de mãos "estendidas em Cruz (2).**Passemos de Milão a Constantinopla. Eis um outro

Bispo que vai morrer. Diz o biografo: —

"Santo Eutíquio foi atacado de febre violenta "la por volta da meia noite. "Durante os 7 dias que durou tal estado, não "deixou de orar e de se fortificar pelo Sinal da "Cruz (3)."

Acabe-se na França a nossa viagem. Vamos assistir a morte de alguns de nossos Reis. Paremos um instante em Aix-la-chapelle para assistirmos à morte do grande Imperador.

"No dia seguinte, diz um Bispo testemunha "ocular, logo ao amanhecer, Carlos-Magno estando bem consciente do que devia fazer, esten-

"deu a mão direita, e, em quanto pôde, fez o Si-"nal da Cruz na fronte, no peito e no restante do "corpo (1)."

Assim devia morrer tão grande Monarca. Eis seu filho, Luiz o piedoso.

"Depois de ordenar os negócios e fazer suas re-comendações, mandou recitar perto de si a Ora-"cão da noite e colocar sobre o peito uma relíquia "do Santo Lenho."Durante este tempo ele mesmo, enquanto teve "forças, fazia o Sinal da Cruz sobre a fronte e "sobre o coração."E quando estava fatigado pedia a seu irmão "que continuasse (2).""Nos últimos dias de sua vida, não cessava de "chamar em seu auxilio, por gestos e palavras, "os Santos do Paraíso.

"Fortalecia-se continuamente com o Sinal da "Cruz, feito sobre a fronte, sobre olhos, nariz, "lábios, pescoço e ouvidos. "Fazia-os invocando o Divino Espírito Santo e "em memoria da Encarnação, Nascimento, Pai-

"xão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Nosso "Senhor Jesus Cristo."Tal havia sido o habito deste Príncipe em toda "a sua vida, que, por sua vontade, nunca esteve "sem água benta para se persignar (1)."

Citemos ainda Luiz, o gordo."Vendo-se nas proximidades da morte, mandou "estender umi tapete no chão e sobre ele espalhar "cinzas em forma de Cruz. "Colocado por seus oficiais sobre este leito, que "recordava o do Divino Rei do Calvário, não ces-"sou o virtuoso Monarca de fazer o Sinal da Cruz "até exalar o último suspiro (2)."

3

(1) — Car. 22.(2) — Tunc enim in sacrificio vespertino sumus. Ibi est tota

nostra nostrae cogitationis ponenda intentio, ut levantes-manus nostras, in Signo Crucis dum ad Dominum' pergí-mus, gratulemur in Cristo Jesu. (In. Ps. 140.)

(3) — Introgressus speluncam, vidit genibus complicatis, erectacervice extensisque in altum manibus, corpus exanime. (S.. Hier., de vit. S. Paul.)

(1) Vida de S. Pacomio, c, LUI.(2) Eodem tempore quo migravit ad Dominum, ab hora circiter

undecima diei, usque ad illam horam qua emisit spiritum, expansis manibus in modum, oravit. (Paul., in vit S. Amb.)

(3) Vehementi febre crica mediam noctem correptus est: atque ita mansit Septem dies, assidue precibus incumbens, seque Signo Crucis muniens. (Apud. Sur. 2 de Julho.)

157136 O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

Será desdouro a um Rei morrer como morreu um Deus? Não.

O que desdoura é morrer sem compreender a morte; morrer esquecido da Alma como se estivesse no rói dos brutos; morrer sem Religião; morrer sem luz nem Cruz.

Viste os Mártires. Receiosos de não poderem fazer o Sinal da Cruz antes de morrer, pediam aos Cristãos, ir-

(1) Dei sanctis in auxilium suum venire, voce, signis, indesi-nenter orabat, muniens se Semper in, fronte et oculis, naribuset labiis, gutture et auribus, per Signum Sanctae Crucis,memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passionis, Resu-memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passionis, Resur-

. rexionis, et Ascensionis, et Spiritus Sancti. Habuit hoc ex more in vita; cui nunquam defuit volutate acqua benedicta. (Helgald.. in.Epitom. vit. Robert.)(2) Gretzer, p. 617.

(4) In crasdinum vero luce adveniente, sciens quod facturus erat, extensa manu dextera, virtute, qua poterat, Signum sanctae Crucis íronti impressit, et super pectus et omne corpus con-signavit. (Thegan., De gestis Ludov. Imper.)

(5) His peractis et dictis, praecepit ut ante se celebrarentur vigiliae nocturne, et signo sanctae Crucis pectus muñiré tur; et quam diu valebat, manu propria tarn frontem quam pectus eodem signáculo insignibat. Si quando lassabatur, per manus fratis sui mihi id fieri porcebat. (Apud Gretzer: Lib. IV, c. XXVI, p. 618.)

157136 O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

mãos na Fé, Ih'o fizessem. Pois, nossos avós faziam o mesmo.Além do exemplo de Luiz-le-Débonnaire, que acabas de

ler, vou referir-te alguns outros.Passados ainda nos primeiros séculos, mostram eles a

perpetuidade da Tradição.

"S. Zenobio, o amigo intimo de S'. Ambrosio, "próximo a terminar a vida excelente por uma "preciosa morte, levantou a mão e fez. o Sinal da "Cruz sobre as pessoas que o cercavam. "Depois pediu aos Bispos, que, sobre ele, com "suas Mãos Sagradas, fizessem o Sinal da for-"ça, da Esperança e da Salvação (1).**

Do catre de um Padre vamos para junto da cama de um simples fiel.

Eis uma filha dedicada, que assiste a sua terna e ilus-tre-Mãe.

Hoje a maior parte das pessoas contentam-se em dar a seus mais caros doentes, os cuidados materiais.

Fariam escrúpulo em faltar às mais pequenas prescrições do Médico.

— E a assistência Cristã? E as prescrições do Divino Médico? E a graça dos Sacramentos da Igreja, nossa Mãe? Que cuidado ha em satisfazer a deveres tão imperiosos como Sagrados?

Aos mais esmerados cuidados, nossos avos, mais in-teligentes e melhores do que nós, jmitavam os remédios

espirituais; os cuidados da Alma; os meios da SalvaçãoEterna------

Em Belém, Santa Paula, a ilustre filha de Fabio, está para morrer.

Junto a seu leito vemos Santa Eustoqiiia, digna filha de semelhante Mãe,Que faz este Anjo de ternura?

"Não cessa, diz S. Jerónimo, de fazer o Sinal da "Cruz sobre os lábios e coração da sua Mãe, esforçando-se por adoçar-lhe o sofrimento com "impressão e virtude do Sinal Consolador (1)"

Acabas de ver que na vida e na morte — o Sinal da Cruz era o meio constantemente empregado por nossos avós a fim de obter, tanto para si como para os outros abundancias de — luz, força, resignação, coragem, esperança.O Sinal da Cruz é, sem dúvida, uma grande coisa. Por isso é que cont razão exclama uma testemunha de seus maravilhosos efeitos:

"Magna res Signum Crucis (2)."Amanhã, se Deus quiser veremos a eficácia do Sinal da

Cruz, em uma nova ordem de coisas.Adeus.

DECIMA TERCEIRA CARTA

Paris, 8 de Dezembro de 1862'.

Sumario:— 1. O Sinal da Cruz na ordem temporal. — 2.

Dá vista aos cegos, ouvido aos sur-dos, — 3. Dá a fala aos mudos. — 4. Dá uso dos membros aos coxos e paralíticos. — 5. Cura febres e outras moléstias. — 6. Limpa os leprosos e tira o câncer. — 7. Trás à vida os próprios mortos. — 8. Conclusão.

1

Caro Amigo,

Bom dia.Mendigo na ordem espiritual, o Homem não é menos

indigente na temporal.Nosso corpo e nossa Alma não vivem senão de esmolas.

Entre os bens necessários ao Corpo, ha dois em par-ticular, meu caro amigo, que eu quero de especial maneira notar-te.

São eles — a saúde e a segurança.Um e outro, o Sinal da Cruz no-lo alcança.A saúde.O Verbo Eterno é a vida vivente e vivificante.Falando do Verbo quando conversava com os Homens,

oferece o Evangelho as seguintes expressões, tão simples como sublimes: — D'Ele precedia uma virtude que curava todas as moléstias.

"Virtus de Illo exibat, et samabat omnes-"

A história diz-nos, que em toda a sua extensão isto se aplica também ao Sinal da Cruz.

Os primeiros Cristãos serviam-se do Sinal da Cruz para a cura das moléstias.

Nada ha mais certo do que isto.S- Cirilo e S. João Crisóstomo — um Patriarca de Je-

rusalém e outro de Constantinopla — afirmam positivamente que o Sinal da Cruz continuava no tempo deles como no de nossos maiores, a curar moléstias e mordeduras de animais ferozes (1).

2

(6) Eustochium Paulae matris os stomachumque signabat, et ma-tris dolorem Crucis impressione nitebatur linere. (In Epitaph. Paulae.)

(7) S. Elig., De rectitud catheeh., etc.. inter op. S. Aug., t. VI.(1) Elevata aliquantulum manu omnes benedixit, rogacitque ads-

tantes episcopos, ut sanctissimis suis manibus eum Crucis Signe communirent. (Apud Sur. 25 de Maio.)

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O SINAL DA CRUZ

Vamos às provas.Todos os sentidos do Homem são sujeitos a doenças.Começaremos pela vista, que é o mais nobre.Se em vez de se cansar sobre os autores pagãos a

nossa mocidade estudasse algumas vezes os atos dos Már-tires teria visto nos, de S. Lourenço o brilhante milagre que até hoje a Igreja canta.

"Qui per Signum Crucis coecos illuminauiV\

O ilustre Arcediago de Roma havia .entrado na casa de um Cristão.

Achava-se lá o cego Crescêncio que, debulhado em lagrimas, se lançou aos joelhos do Santo e lhe, disse:

— "Ponde vossa mão sobre meus olhos para que "eu vos veja".

O bem-aventurado Lourenço, profundamente comovido, lhe diz:

—? "Dê-vos a luz Nosso Senhor Jesus Cristo que "abriu os olhos ao cego de nascimento." —

Fez ao mesmo tempo o Sinal da Cruz sobre os olhos de Crescêncio que logo viu o dia e o 'bem-aventurado Lourenço (1).

De sua própria Mãe diz o sábio Teodureto:

"Minha Mãe tinha num dos olhos uma doença. "Havia esgotado já todos os recursos da medici-"na, sem resultado."Tinham-se folheado todos os autores, novos e "velhos, e nenhum dava remédio para o mal pre-ssente."Estava eu com ela quando uma amiga a visitava. "Falou-nos de um Homem de Deus chamado Pe-"dro, e nos disse:

___"A mulher do Governador do oriente sofria"da mesma moléstia e dirigindo-se a Pedro que"era de Pergamo, ele a curou orando por ela e"fazendo-lhe o Sinal da Cruz. —"Minha Mãe não perde um momento."Vai procurar a Homem de Deus, prostra-se aos"pés e pede-lhe que a cure.— "Eu não sou senão um pobre pecador; estou "mui longe de ter junto a Deus a virtude que "supondes-

"Minha Mãe, chorando cada vez mais, repetiu as "suplicas, protestando não o deixar sem que estivesse curada.— "Deus é que o Médico de semelhantes males "(D."Ele ouve todos os que têm Fé e de certo VOSÍ ou-"virá, não por meus merecimentos, mas por causa "de vossa Fé."Portanto, se tendes Fé sincera, verdadeira, pu-"ra e sem hesitações, ponde de parte os médicos "e seus medicamentos e aceitai o remédio que "Deus vos dá.—"A estas palavras estende a mão sobre o olho "doente, faz o Sinal da Cruz e a moléstia desaparece (2).

(1) O santo raciocinava como Ambrósio Paré, o pai da.cirurgia franceza — Eu o tratarei e Deus que o cure.

(2) Hoec cum dixisset, manum impossuit óculo, et salutaris Crucis signo facto, morbum expulit. (Hist., S. S. Pàtr. in Petro.)

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(1) Hoc signum ad hodiernum diem curat morbos. (Catech., XIII; S. Chrys., In Math., Horn. 54.)

(1) Apud. Sur., 10 sug.

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O SINAL DA CRUZ

Fatos mais próximos de nós vão mostrar-te que, atravessando os séculos, o Sinal dá Cruz nunca deixou de ser o melhor oculista.

Santo Eloi, Bispo de Noyon, ao passar uma das pontes de Paris, curou um cego que em vez de esmola lhe pediu fizesse o Sinal da Cruz, sobre seus olhos (1).

Outro milagre temos na vida de S. Froberto, Abade de um Mosteiro perto de Troyes, em Champagne.

Era ele ainda creanca quando um dia sua Mae, cega havia já muitos anos, o assentou em seus joelhos e no meio de abraços e caricias lhe ordenou fizesse o Sinal da Cruz sobre seus olhos.

O santo menino obedecendo às ordens de sua Mãe, in-vocou o Nome do Senhor, fez o Sinal da Cruz e logo ela recobrou a vista. (2)

Na vida de S. Bernardo, cita Mabillon mais de trinta cegos, que foram curados por meio do Sinal da Cruz feito sobre eles pelo Taumaturgo de •Claraval (3).

3Do sentido da vista passemos aos outros sentidos. Como o próprio Jesus Cristo, o Sinal da Cruz faz que os surdos oiçam e os mudos falem.Em plena Roma do século IV, no palácio do Prefeito, diante de nós está um jovem e brilhante Oficial. E' Sebastião.

Este nome nem se pronuncia mais nos colégios.Dirás pois a teus condiscípulos que S. Sebastião era

Comandante da primeira corte pretoriana, no reinado de Diocleciano.

Em linguagem moderna quer dizer que era Coronel de um regimento da Guarda Imperial

Dotado de uma eloquência igual ao seu valor, apro-veitava de ambos estes dons de Deus para animar os Mártires que eram todos os dias conduzidos ao Pretório.

Um dia a mulher do Prefeito teve a* felicidade de assistir a um daqueles discursos.

Ficou tão vivamente impressionada que sei lançou aos" pés do Santo, procurando fazer-lhe entender por gestos, que desejava ser curada.

Havia seis anos que Zoé estava muda.Conquanto ela fosse pagã, Sebastião fez-lhe na boca. um

Sinal da Cruz e lhe restituiu imediatamente a fala. 0 primeiro uso que fez da palavra foi pedir o Batismo (1).

Podes ainda dizer a teus companheiros que foi também com o Sinal da Cruz que S. Bernardo curou grande-número de surdos e de mudos.

Em Cologne, uma moça surda ha muitos anos.Em Bourlémont, um rapaz surdo e mudo de nascimento.Em Bale um surdo.

Em Metz outro, à vista de muita gente. Em Constance Spira e Maestricht, vários suirdos-mudos.

(3) Vida do santo, por S. Ouem, Bispo de Rouen, c. XXIX.(4) Sua vida a 31 de Dezembro.(5) T. II. (1) Act. de S.

Sebast.

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O SINAL DA CRUZ

Em Trotes, uma moça coxa e muda, na presença dos Bispos de Langres e de Troyes.

E finalmente em Claraval uma jovem d© 15 anos, surdar-muda, (1).

Estaiva o Abade de Claraval em Spira, operando muitas curas milagrosas, quando lá chegou Anselmo, Bispo de Havelsperg.

Andava este Prelado por tal modo sofrendo da garganta que dificilmente podia engulir ou falar.

— "Se vós tivésseis Fé como as boas mulheres, "disse-lhe sorrindo o Santo Abade, talvez pudesse como a elas prestar-vos algum serviço".— "Se minha Fé não basta, replicou o Bispo, "que valha a vossa para me curar."

Sao Bernardo o tocou fazendo-lhe o Sinal da Cruz sobre a garganta e logo dôr e inchação desapareceram (2).

4

Ocupando-nos o corpo todo, o tacto é o sentido que maior superfície oferece aos ataques das doenças.

Mais ou menos dolorosos, como enumerar os males a que ele está exposto?

Contudo é consolador pensar que nenhum deles resiste à virtude salutar do Sinal da Cruz.

Em sua força vê-se Aquele que curava todas as moléstias entre o povo.

"Sa-nans omnem lenguerem et omnem infirmi-talem populo (1)."

Um dos Bispos mais ilustres e amáveis que governaram a Diocese de Paris, é S. Germano-

Um dia foi visitar a Santo Hilário, Bispo de Poitiers.Em caminho, dois homens com grande dificuldade

apresentaran>lhe uma mulher muda e coxa.Logo que o Santo lhe aplicou o Sinal da Cruz, ficou

boa.Três dias depois, foi agradecer a seu benfeitor o uso da

palavra e das pernas (2)-Por Sto. Eutímio, o grande arquimandrita da Pa*.»' lestina,

temos um outro milagre.Terebon, era filho do governador dos Sarracenos na

Arábia.Desde muito dequeno vivia paralítico de meio corpo. Ouvindo falar do Sante Abade, fez-se conduzir à presença dele.

Acompanhou-o o seu pai com grande número de bárbaros. Fez o Santo sobre ele o Sinal da Cruz e a cura foi imediata. A este facto, seguiu-se milagre maior — a conversão de toda aquela gente (3).

S. Vicente Ferrer estando em Nantes apresentaram-lhe um homem paralítico, havia já dezoito anos.

(3) MatK. 4 — 23.(4) Ut signum Sanctae Crucis expressit, confertim omnis

vigor per membra diffunditur. (Vita c. XLVI.)(5) Fleury, Hist., eccl., lib. XXIV, n. 28.)

(1) Mabillon, ob supra.(2) Signavit eum Pater... et continua dolor omnisque tumor

abscessit. (Vit. lib. VI, c. V, n. ¿9.)

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O SINAL DA CRUZ

— "Não tenho nem ouro nem prata, diz o San.-' "to ao doente, mas vou pedir a Nosso Senhor vos "dê saúde para o corpo é para a Alma. —

Em seguida fez o Sinal da Cruz sobre seus membros e logo o paralítico sente-se curado, levanta-se dá graças a Deus e ao Santo.

Volta para casa e nunca mais sofre do antigo mald).

Tal é às vezes a violência da dor, que, influindo sobre o cérebro, priva o Homem da razão e da saúde.

O Sinal da Cruz corta, a moléstia ainda nesta horrível manifestação-

Edmer, historiador de Sto. Anselmo, Arcebispo de Canturbery, refere, que este Santo Homem, indo a Cluny, curou, pelo Sinal da Cruz, a uma mulher que estava doida e furiosa (2).Em Sechingem S. Bernardo fez o mesmo. Em Colónia, certa vez, também apresentaram-lhe uma mulher frenética.Endoidecera com a morte de seu marido. A infeliz usava de suas forças até contra si mesma; por isso era preciso tê-la amarrada.

Ao vê-la o Santo ficou muito compadecido e aplicou-lhe o Sinal da Cruz.

Ficou logo sossegada e voltou-lhe o uso da razão (3).

5

O Verbo Redentor que, segundo o Evangelho, tantas vezes curara febres as; mais rebeldes, ao Sinal da Cruz comunicou também a virtude de operar o mesmo prodígio.

S. Prix, Bispo de Clermont em Auvergne, vindo ao Mosteiro1 de Daronge, nos Vosges, achou ao Abade Amarino tão atacado de uma febre maligna que não podia andar nem tomar senão alguma pouca de água.

O Santo Bispo recorreu à sua arma ordinária.Fez o Sinal da Cruz sobre o doente e ele se levantou

perfeitamente curado (1).Igual virtude tem este Sinal a respeito da epilepsia,

moléstia mais grave e mais difícil de curar do que a febre.Na vida de S. Malaquias, Arcebispo de Armagh, que

morreu em Claraval, diz S. Bernardo:

"Antes de partir para Roma a fim de receber o "PaÜium das mãos1 do Papa Eugénio III, o San-"to Arcebispo deu saúde a um epilético, fazen-"do o Sinal da Cruz sobre o peito deste infeliz "que da moléstia era atacado muitas vezes ao "dia."

O mesmo S. Biernardo operou igual milagre numa moça de Troues, em Champagne-

(6) Mox multa ejus membra Cruce consignât, et ille se sentit incolumis. (Vit., lib. IV.)

(7) Vit. S. Anselm, lib. IL(8) Mabillon, ubi supra, lib. IV, c. IV, n. 33.

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O SINAL DA CRUZ

Tal havia sido a força da moléstia que deixara a pobre sem o uso da fala.

O Santo Abade impondo-lhe as mãos fez o Sinal da Cruz.Logo em presença dos assistentes, ela começou a falar,

cheia de saúde (1).Segundo o seu exempla curai os leprosos, disse Jesus

Cristo.Seus discípulos atenderam a estas palavras, cuja virtude

divina passou ao Sinal da Cruz.O nome e a fama de S. Francisco Xavier enchiam as

índias.Chegou isto aos ouvidos de um leproso que, há mui- x tos

anos, em vão procurava curar-se.Não se atrevendo a aparecer em público, pediu ao Santo

o fosse ver.Xavier, muito ocupado, não pôde aceder aos desejos

deste homem.Enviou-lhe porem um de seus companheiros com re-

comendação de perguntar três vezes ao doeáte, — se acreditava no Evangelho, — condição necessária para ser curado.

Se prometesse abraçar a Fé, devia o enviado fazer três vezes sobre o enfermo o Sinal da Cruz.

Como Xavier tinha ordenado, tudo foi feito. E apenas o leproso recebeu o Sinai da Cruz» tornou-se-lhe o corpo limpo como se nunca tivera semelhante moléstia (2).

Antes de ir mais longe, meu caro Amigo, julgo dever colocar aqui uma nota de S. Crisóstomo sobre a cura das moléstias ou desvio de acidentes e flagelos:

"Se apesar de sua virtude, o Sinal da Cruz, ain-"da que feito em condições convenientes, nem "sempre livra das moléstias, acidentes e flagelos, não é porque lhe falte para isso a força, "mas porque a nós é útil o passar por aquelas "provações (1).'*

6

Ha outra moléstia não menos cruel que a lepra e do que ela mais frequente. E' o cancro.

Como as outras enfermidades humanas, ele não resiste ao Sinal da Cruz.

Atende este facto referido por Sto. Agostinho, tes-temunha ocular.

Em Cartago, diz ele, vivia D.a Inocência, senhora mui piedosa e das mais ilustres famílias.da cidade.

Tinha no peito um cancro, terrível moléstia que os médicos julgam incurável.

Para aliviar os doentes, é necessário continuamente empregar unguentos ou extraí-lo até as raizes.

Ora, segundo Hipócrates, moléstia evidentemente mortal é inútil obrigar o doente a sofrimentos.

(9) Signavit eam statimque locuta est. (MabiUon, ubi supra, c. XIV, n. 47.)

(10) Vida lib. V, p. 349.(1) Morbis imporans terribile est hoc Nomen, et si non a biger it

morbum, non hine est quod infirmum sit hoc Nomen, sed quod utilis est morbus. (Ad. Colles., II.)

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O SINAL DA CRUZ

Amigo íntimo da família* o Médico nada lhe havia ocultado.

Inocência, esperando só de Deus o remédio, para Ele se havia voltado pela oração.

Uma noite, na proximidade da Páscoa, foi avisada em sonho que fosse para o BatistériO, onde se esperavam os

catecúmenos e que prostrada ao, lado das mulheres, pe-• disse à primeira neófita que lhe fizesse o Sinal da Cruz sobre a

parte doente.Vendo-a completamente restalecida, o Médico indagou

com ansiedadel qual remédio havia-a curado.E D.a Inocência contou-lhe o que se havia passado.

Então, com ar indiferente, o Médico lhe respondeu:

— "Esperava me dissésseis alguma cousa ex-.. "traordinária.

"Não admira nada que Jesus Cristo curasse um "cancro.

"Pois ressuseitou um morto de quatro dias. Nun-

"ca houve milagre melhor atestado."Dele foi testemunha uma cidade inteira (1) t"

Para tirar ao Homem a saúde e a vida, às moléstias naturais, acrescem às vezes os ataques dos animais ferozes ou venenosos.

Para isso o remédio está ainda no Sinal da Cruz. São Thalaso Anacoreta, escreve Teodureto, viajando de noite, pisou uma víbora.O reptil enraivecido mordeu-o na planta do pé. Acudindo o Santo com a mão direita, é nela mordido também.

Indo a socorrer-se com a esquerda, o mesmo lhe acon-tece.

Só depois de haver saciado sua raiva com mais de dez mordeduras é que a serpente correu à sua cova, deixando a vítima em dores horríveis.

Nesta como em outras conjunturas o Servo de Deus não recorreu à medicina.

Para curar suas feridas quis empregar remédios da Fé: — o Sinal da Cruz, a Oração e a invocação do Nome do Senhor (1).

7

Senhor da vida, Jesus Cristo é também o Senhor- da morte.

E no Sinal da Cruz existe este domínio soberano.Eis o que sé. lê na vida de S. Domingos;

Pregava um dia o Santo na antiga Igreja de S. Marcos, em Roma.

Entre seus ouvintes estava uma Senhora romana chamada Guttadona.

Grande admiração tinha ela por este servo de Deus.Deixou doente um de seus filhos e foi ouvir-lhe o sermão.

(1) Sed ñeque tune, passus est uti arte medica, sed vulneribus adhibust sola medicamerttá, Crucisque signacüiüm. et oratio-nem et Dei invocationem. (In Thalass.)(1) Quid grande fuit Christus sanare cancerum, qui quatridua-num

mortuum suscitavit? (De civ. Dei, lib. XXII, c. VIII.)

175174 O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

Ao voltar em casa encontrou-o morto. Acompanhada de suas creadas, leva o cadáver a S. Domingos.

Encontrou-o à porta do Convento de S. Xisto.Coloca o corpo do filho aos pés do Santo e, desfazendo-

se em lágrimas, pede-lhe que o restitua à vida.Tomado de compaixão, o Servo de Deus pôs-se de

joelhos.Depois de breve oração, faz sobre o morto o Sinal da

Cruz, toma-o pela mão e o levanta cheio de vida-Ao entregá-lo à Mãe, recomenda silêncio absoluto sobre o

facto.O milagre, porem, chegou logo ao conhecimento de toda

a cidade (1).Dois séculos antes temos João Gualberto.

Este nobre e santo militar numa Sexta-feira Santa perdoou ao assassino de seu irmão.

Deus o recompensou com a Vocação Religiosa e com o dom dos milagres.

Contra o demónio serve-se ele do Sinal da Cruz como de uma espada. *

Furioso por numerosas derrotas, Satanás arma seus agentes.

Uma noite atacam o Mosteiro.Incêndio na, Igreja no edifício e muitos religiosos já

mortos.Acudindo logo ao local faz o Santo o Sinal da Cruz e com

ele dá aos mortos vida c saúde (2).8

Como vês, meu caro Frederico, dei-me por contente, citando de cada moléstia uma ou duas curas.

Bastariam de sobejo para enormes volumes.S'. João Crisóstomo, S. Cirilo, Sto. Éfrem, S. Gregório de

Nissa, S. Paulino, e centenares do testemunhas célebres do oriente e do ocidente provam em todos os séculos, poit milhares de factos, que

— o Sinal adorável d'Aquele que veio ao mundo para curar todas as moléstias, não tem deixado nunca de dar vista aos cegos, ouvido aos surdos, fala aos mudos, saúde aos doentes e vida aos mortos —.

Tal é a História. Cumpre aceitá-la. Quem a rejeitar,

— ou há-de rasgar todos os livros e cair no cepti-— cismo, ou há-de escrever outra mais sábia e— mais verídica.

Pergunta a teus condiscípulos se eles têm» força para

isso.Se tiverem, que a

escrevam. Depois a veremos. Adeus.

Até amanhã,se Deus quiser.

DÉCIMA QUARTA CARTA

Paris, 9 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. O Sinal da Cruz aplaca as tempestades.

— 2. Apaga os incêndios. — 3. Defende dos perigos. — 4. Suspende o ímpeto das ondas. Faz entrar as águas em seu leito. — 5. Afugenta os animais ferozes.— 6. Preserva do veneno. — 7. Livra-nos das tempestades c dos raios. — 8. Protege-nos de tudo o que possa preju-dicar a saúde e a vida.

Meu caro Frederico,O Sinal da Cruz é poderoso para dar a saúde e a vida. Menos poderoso ele não é para afastar o que pode compromete-las.

Ainda neste ponto os factos superabundam; mas os limites de uma carta só me permitem citar alguns.

Depois do pecado original, todos os elementos se con-juraram contra o Homem, pela influência do demônio.

O ar, o fogo, a água, tudo lhe faz guerra contínua e muitas vezes — mortal.Para nos defendermos Nosso Senhor Jesus Cristo nos deixou uma arma universal. E' o Sinal da Cruz.

1

Aquele a cuja voz hâ 19 séculos os ventos e as tem-pestades obedeciam ainda é obedecido até hoje medianteo adorável Sinal da Cruz. >

Lemos na vida de S. Niceto, Bispo de Treves, que, indo para a sua Diocese, adormecera na embarcação.

A certa altura da viagem, bate um vento forte; tão forte que encapelou as ondas, rasgou as velas, e quebrou os mastros.

Estava o navio quasi a soçobrar, quando o Santo é despertado pelos passageiros.

Levanta-se mui tranquilamente, faz o Sinal da Cruz sobre as ondas enfurecidas, e elas se amainam.

(1) Vida do Santo, livro II, c. III.(2) Vede a sua vida.

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O SINAL DA CRUZ

À tempestade sucede a bonança (1).Segundo a crença da Igreja, tão explícita no Pontifical

Romano, o demonio é o grande recolucionario amo-tinador das nuvens.

No ar, onde gira com suas inumeráveis legiões, Satanás demonstra uma permiciosa influência.

Quantas vezes não tem ele assim procurado impedir que os Homens de Deus trabalhem na salvação das Almas?!...

São Vicente Ferrer pregava quasi sempre ao ar livre por causa da multidão que acudia a ouvi-lo.

Para impedir a prédica, muitas vezes o demonio formava tempestades que o Santo sempre as dissipava por meio de orações e exorcismos.Das três artimanhas do malvado na vida do Santo, uma das mais terríveis foi sem dúvida a seguinte. Era o fim de Junho.

Achava-se o grande Missionário a pregar a Divina Palavra em uma aldeia da Catalúnia.

No dia de São Pedro ao último Evangelho da Missa o Santo Missionário ia pregar à multidão que enchia a praça.

De repente armou-se perto medonha tempestade com raios e trovões tais que o povo chorava de espanto.

Mas o grande Atleta do Senhor, sem nem tirar os paramentos da Missa, fez com Água benta um grande Sinal da Cruz sobre o ar e a furiosa tempestade mudou imediatamente de rumo, dissipando-se à distância (1).

2

Como o ar, o fogo também obedece ao Sinal da Cruz.S, Tiburcio, filho do Prefeito de Roma, é condenado a

oferecer incenso aos idolos, sob pena de ser obrigado a passar sobra uma fogueira.

O jovem Mártir faz o Sinal da Cruz e sem hesitar entra* pelo meio das brasas.

De pé e descalço sobre o braseiro ardente, diz ele ao Juiz:

"Renuncia agora teus erros e reconhece que não "ha outro Deus além do nosso. "Se a tanto te atreves, mete a mão em aguada "ferver, em nome de teu Júpiter; e ele, se é deus, "que faça com que não sintas a mais pequena dor. "Quanto a mim, parece-me que passeio em pe-"talas de rosas (1)."

Sulpicio Severo nos refere como tendo sabido do próprio S'. Martinho, o facto seguinte.

Certa noite pegou fogo ao quarto onde dormia o Tau-maturgo das Galias. i

Acordando em sobressalto, procura apagar as chamas devorando-lhe a roupa, mas todo o esforço é inútil.

De repente não trata mais de apagar o fogo, nem de salvar-se.

Cheia de confiança, faz o Sinal da Cruz.As chamas logo se dividem e formam um arco de defesa

para o salvamento, do Santo (2).

3

Deixa-me citar-te mais um facto da vida do grande Bispo.

Inimigo infatigável da idolatria, Martinho havia demolido um templo pagão, muito notável e antigo.

(!) Sparsit aquam sacratam, et deinde Crucis expressit sigmxm, illico tempestas dlssipatur... saepissime... ortas tempestates Crucis signo compescuit. (Vit, lib. III.)

(3) Act. S. Sebast.(4) Epist. I ad Euseb. presbyt., et vit S. Martini, lib. X.

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(1) Excitatus quoque a suis fecit Signum Crucis super acquas, et cessavit procella. (S. Greg. Turon., De gloria confess., c. XVII.

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O SINAL DA CRUZ

Perto havia um pinheiro enorme, objeto de supers-tição.Quando estava para cortá-lo, os pagãos se opuseram

dizendo ao corajoso Bispo:

— "Tens tanta confiança no teu Deus?"Pois bem; nós mesmos cortaremos a arvore, se"tu te conservares debaixo dela ao cair." —

O Santo aceita a condição.À vista de inumerável multidão, vai e permite ficar do

pés atados lá. no lugar para onde a árvore ^pendia.Medo mortal domina aos companheiros.Já meio cortada, a árvore começa a mover-se...Antes de um minuto será o Bispo esmagado.Que faz o Homem de Deus?Sossegado levanta a mão e faz o Sinal da Cruz.Imediatamente a árvore como que repelida por um vento

fortíssimo* vira-se e vai cair ao lado oposto.Da imensa multidão pagã quase não houve quem não

pedisse o Batismo (1).O acontecido nas Gallias, repete-se na Itália.O venerando Abade Honorato fundara o Mosteiro de

Fondi.Um dia viu de repente, na iminência de uma total ruína

aquele Asilo d© paz, onde viviam duzentos Religiosos.Lá do vértice da montanha em cuja raiz estava edificado

o Mosteiro, despenha-se um rochedo enorme que vem esmagar tudo.

Honorato invoca o Nome do Senhor, estende a mão direita e opõe ao rochedo um Sinal da Cruz.

0 rochedo para imediatamente e fica imóvel no flanco da montanha, na posição que até hoje lá conserva (1).

4

Do ocidente passemos ao oriente. Veremos que

— A força soberana do Sinal da Cruz não é limitada, nem pela diferença dos climas, nem pelos graus de latitude ou longitude —.

Escutemos S. Jerónimo:À morte de Juliano Apóstata seguiu-se um terremoto

universal que tirou os mares de seus limites.Levadas pelas furias das ondas, subiam as embarcações

com© vértices de montes.Vendo aquelas massas aterradoras de água a difundir-se

sobre a costa, os habitantes do Epidauro temem que a aldeia seja submergida como já outrora havia acontecido e vão depressa buscar o Santo velho Hilarião.

Colocam-no à frente como se marchassem a um com-bate.

Chegando à praia, faz ele em três lugares o Sinal da. Cruz sobre a areia e estendendo as mãos para o dilúvio que avança rugindo, diz: — Respeita estes Sinais da. Redenção. —■

E* quase incrível a que altura o mar então se entu-mescendo cresce e assim se conserva rugindo diante de todos.

Depois de bramir por muito tempo, roncos cavernosos contra o obstáculo temível que Hilarião lhe opõe, pouco a pouco vai baixando e recolhendo suas vagas, sem ousar vencer o Sagrado Limite.

Epidauro e toda aquela redondeza até hoje ainda publicam este milagre.

As mães vão sempre narrando aos filhos tal grandeza para que sua memória passe á posteridade (1).

Outro facto análogo, porém, mais recente.O historiador francez, Mézeray, refere, que

1196 chuvas torrenciais fizeram transbordar rios e lagos.

Daí resultaram inundações que pareciam dilúvio.Para suspender tal flagelo, recorreu-se às

orações, procissões e às preces publicas.

Das Igrejas saíam Procissões de penitência até aos campos.

E apenas se fazia o Sinal da Cruz sobre as águas* elas se retiravam a seu leito (2).

Figura da Cruz, a vara de Moisés pode separar as águas do mar vermelho e te-las suspensas como montanhas.

0 Sinal da Cruz recolhei a seu leito as águas transbordadas.

5

Voltemos á grandiosa Thebaida.

(1) Id. ubi supra. (1) S. Greg., dial., lib. I, c. I.

182 O SINAL DA CRUZ 18»

(1) Qui cum tria crucis signa pinxisset in sábulo, manusque contra tenderei, incredibile dictu est in quantam altitudinem intumescens mare ante sterit, ac diu fremens et quasi ad obicem indignans, paulatim in semetipsum relapsum est, <Vit. S. Hil. virs. fin.)

<2) Hist. de France, t. II, p. 135,

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O SINAL DA CRUZ

Deixa-me contar-te outras maravilhas de que foram autores aqueles angélicos solitários e o Sinal da Cruz, o instrumento.

Juliano Sabás, o velho de cabelos brancos, atravessa a árida solidão.

Esperava-o no caminho uma enorme serpente.0 medonho animal lança sobre ele olhares de

sangue, abre as largas fauces e avança para devorá-lo.

Sem se amedrontar o Venerando Anacoreta afrouxa o passo e invoca o Nome do Senhor.

Faz depois o Sinal da Cruz e o monstro cai morto (1).Vamos mais longe.Marciano é um solitário da Siria.Estava fazendo oração à porta da cela,

quando Eusébio, seu discípulo, viu um monstruoso reptil do lado do oriente, prestes a lançar-se sobre o Santo para devorá-lo. Espantado Eusébio da um grito para advertir seu mestre.

Marciano faz o Sinal da Cruz soprando contra o terrível animal e viu o efeito da palavra primitiva: — "Estabelecerei guerra de morte entre sua raça e a tua.'* —

O sopro que saiu da boca do Santo, como uma chama em forma de Cruz, mata a serpente, queimando-a comose fora palha (1).

Apresentar uma longa série de factos ocorridos naqueles lugares cristãmente célebres, seria fácil. 'Mas, passemos à Italia e lá veremos agrupar maravilhas do mesmo gênero.

A antiga Tiferne na Umbria, chama-se hoje — "Cita di Castello" —.

Conhecido com o nome de — Padre de Tiferne — lá vivia Sto. Amâncio.

Conforme nos diz S. Gregorio Magno, as serpentes, ainda as mais terríveis e cruéis, não podiam resisti-lo de nenhum modo.

Com o Sinal da Cruz quando as encontrava, ele as feria de morte.

Refugiadas nalgum buraco, ele fechava-as com o Sinal da Cruz e elas tinham que morrer.

Era o cumprimento da palavra dp Divino Mestre: — Eles matarão as serpentes. —

"Serpentes tollent (2)."

6

Tu sabes que depois daquelas palavras Nosso Senhor diz: — E se eles beberem alguma cousa envenenada, não sentirão o menor mal.

"Et si mortiferwn quid biberint, non eis no-cebit".

Eis algumas provas entre milhares. Da cidade de Besra, na Idumea, era Bispo S'. Julião. Por odio à Religião, alguns habitantes notáveis quiseram envenená-lo.

Subornaram o próprio creado do Bispo para isto. O infeliz aceitou & recebeu deles a bebida envenenada. Divinamente de tudo avisado o Santo diz ao creado:— "Vai, e, da minha parte convida para o meu jantar de

hoje os principais habitantes da cidade."Bem sabia que entre eles estariam os culpados.

Todos ao convite acedem.Num dado momento o Santo Homem, sem difamar

ninguém, lhes diz com doçura evangélica:— "Visto quererem envenenar o humilde Julião, eis que

diante de vós passo a beber o veneno.*'Faz três vezes o Sinal da Cruz sobre o copo. Depois

dizendo:— "Eu te bebo em Nome do Padre, e do Filho e do

Espirito Santo," — bebe até a ultima gota, sem consequência do menor mal.

Seus inimigos caem de joelhos a seus pés e lhe pedem perdão (1).

E1' necessário ser bacharel do século dezenove (2) para ignorar que novo Moisés, S. Bento, o Patriarca dos Monjes no ocidente, é um Homem cuja vida deve ser conhecida de todos.

Não será pois a ele é a seus filhos que a Europa deve o trabalho de te-la tirado da mão' dos» bárbaros?

Mostrai-me uma charneca material ou moral que o Beneditino não tenha arroteado?

Um principio civilizador que ele não tenha cultivado e praticado?

E sabe Deus. à custa de que esforços!Sabemos que Satanás, qual velho Faraó, não poupou

meio nenhum para impedir a obra libertadora dos Monges.Bento se havia retirado para a solidão. Gente muito indigna vai lá procura-lo e pede-lhe tome debaixo de sua conduta.

O Santo os recebe, impõe-lhes uma Regra e empenha-se com exemplos e com palavras a submete-los ao jugo da disciplina.

(1) Voce mitissima omníbus dixit: Si arbitramini humilem' Julfa-num veneno occidere, ecce coram vobis pestlíerum calieem bibe; sígnansque ter digito suo calieem, et dicens: In nomine Patris, et Filii et Espiritus Sancti, bibo hunc calieem, dibit ülum coram omnibus totum, atque illaesus prestitit. Quod illud cum vidissent, prostrati veniam petiere (Sophron., in Prat. Spir.)

(2) E também do século vinte.

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(1) At ego Dei nomem appelans, digitoque trophaeum Crucis ostendens, et omnem metum excussi, et belluam extemplo corruentem vidi. (Theodoret., Thelig. hist., c. 11.)

(1) Digito Crucis Signum expressit, et ore insufflans veteris ini-micitas patefecit; mox enim draco, spiritu oris veluti flamma quadam correptus, exustae instar arundinis, in multas partes dissolvitur.

(2) In quolibit loco, quanvis immanissimae asperitatis serpentem repererit, mox, ut eum Signo Crucis signaverit, extinguit. (Dialog., Hb iii, c. XXXV.)

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O SINAL DA CRUZ

Inúteis todos os esforços!Os exemplos do Santo Abade ferem-lhes o orgulho e as

palavras, provocam-lhes cólera e ódio.Tomam afinal a resolução de envenenar o venerando

Superior.Lançam veneno em um copo de vinho e apresentam-lhe

à mesa.Segundo o uso cristão, Bento estende a mão e faz o Sinal

da Cruz antes de tomá-lo. Na mesmo hora o copo envenenado estala em pedaços como se houvera sofrido o choque de uma pedra.

Conheceu o Santo que lhe haviam apresentado uma taça que continha a morte, mas não pode resistir ao Sinal da Cruz (1).

Por estes poucos exemplos e por mil outros, estásvendo, meu caro amigo, quão poderosa oração é o Sinal da Cruz.

De quantas graças nos enriquece ele e de quantos pe-rigos preserva nossa frágil existência!...

7

Passemos a uma nova aplicação do Sinal da Cruz.Em França, Espanha, Itália e julgo que em todos os

países, os Católicos costumam fazer o Sinal da Cruz q.uan-• do troveja ou relampagueia.

Os modernos sabichões tomam isto por uma fraqueza.

Acham que os verdadeiros Católicos dos dezoitos séculos que nos precedem, todos tenham sido uns espíritos fracos ou mulheres pobrezinhas, cheios de superstição.

Ora, tanto neste como em qualquer outro momento de perigo sabemos que o Sinal da Cruz ê empregado pelos Cristãos do oriente e do ocidente? e isto desde os primeiros tempos da Igreja.

Sto. Éfrem, Sto. Agostinho, S. Gregorio de Tours e mil outras testemunhas o atestam.

— "Se de repente, diz o Santo Diácono de Edes-"sa, o relâmpago rasga a nuvem e o trovão "rompe com estrondo, os homens têm medo, e to-"dos, horrorizados, se inclinam para a terra per-"signando-se (1).**

Falando dos que frequentam assembleias mundanas, acrescenta Sto. Agostinho:

— "Se por acaso alguma cousa lhes faz medo, "fazem logo o Sinal da Cruz.** (2)

S. Gregorio refere como público e notório que, debaixo da impressão de um susto e à vista de um perigo qualquer, os Cristãos recorrem logo ao Sinal da Cruz e não

o fazem sem resultado.Entre muitos o seguinte facto é uma prova-Dois homens seguiam jornada de Genebra para Lau-

sana.De repente rompe uma violenta tempestade

acompanhada de vivos relâmpagos e amiudados trovões.

Segundo o costume tradicional dos Cristãos, um deles faz logo o Sinal da Cruz.

O outro escarnecendo lhe diz:— Que bobagens são essas? Deixa-te de

superstições! Isso é cousa de mulher velha. Semelhantes momices até deshonram a Religião. Isso sãò coisas indignas de um homtem esclarecido. —•

Mal havia pronunciado estas palavras, que — ferido por um raio — caiu morto aos pés do companheiro.

O que havia sido protegido pejo Sinal da Cruz, prossegue com felicidade o caminho, referindo em toda a parte o que havia acontecido (1).

8

• O Sinal da Cruz protege não só a nossa vida mas tudo quanto nos pertence.<•..„■ ..Daí o uso católico de -benzer com o Sinal libertador, as casas, campos, frutos, animais e todas as cousas de próprio uso.

"Os católicos, dtó o grave Stuckins, têm orações, "acompanhadas do Sinal da Cruz, para todas as

"creaturas em particular: água, folhas, flores, "cordeiro pascal, leite," mel, queijo, pão, legu-"mes, aves, vinho, azeite, vasilhames e utensílios todos.

"Em cada uma dessas formulas de preços e ben-

"çãos pedem expressamente a Deus a saúde do "corpo e da Alma e que seja para bem longe ar-"redada a força malfazeja do demónio. "Nas festas de Páscoa benzem o leite, o mel, a "carne, os ovos, o pão, e mais coisas que o ho-"mem costuma ter e guardar para uso como saudáveis à vida.

"No dia da Assunção benzem as ervas, as plan-"tas, as raízes e as frutas, para comunicar-lhes "medicinal virtude divina. "No dia de4S'. João

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(3) Si repente fulgor aliquod vel tonitruum clarlus ac vastiüs contingat, omnem súbito sui íormidine perterret hominem, cunctique horrore percussi in terram nos üiclinamus. (Serm. de Cruce.) O Santo fala do Sinal da Cruz; é evidente que o faziam nestas circunstâncias, pois não deixavam de faze-lo a cada instante nos atos mais ordinários.

(4) Si forte aliqua ex causa espavescant, continuo se signant. (Lib. I, Homil., homil. 21.)

(1) Tilman; CollecL dos S. S. Padres., lib. VII, c. LVIII.

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O SINAL DA CRUZ

benzem o vinho; sem isto ele "é considerado impuro e possuído de certo princípio de males.

"Dia de Sto. Estevão benzem os pastos e no de "S. Marcos os trigais.

"Seguem nisto o preceito de S. Paulo que ordena "aos Fiéis o benzer quanto é preciso para a vi-"da e o dar graças a Deus (1)*\

Livres da influência do demónio, as creaturas passam a ser instrumentos úteis com que a bondade do Crea-dor nos favorece!

Graças pois ao Sinal da Cruz!

Em S. Gregório de Tours lê-se que uma pestilencial moléstia deu de fazer tantos estragos em certos animais, que pouco faltou para se acreditar que tais espécies iriam desaparecer inteiramente.

 vista daquela mortandade, uns habitantes do campo foram à Basílica de S. Martinho pedir azeite da Lâmpada e Agua Benta.

Fizeram com aquilo o Sinal da Cruz sobre a cabeça dos animais ainda sãos e não foram atacados da peste. Deram a beber daquilo aos que estavam quase à morte ficaram curados.

Esta é a verdade. (1).Mais um.Último exemplo que hoje te eu conto do poder protetor

do Sinal da Cruz.S. Germano, Bispo de Paris, ia indo ao encontro das

Relíquias do Mártir S. Sinfroniano.Ao passar por uma aldeia, os habitantes vieram pedir-lhe

que tivesse compaixão de uma pobre viuva cujo pequeno campo de trigo estava sendo estragado pelos ursos.

"Vinde ver a roça da pobre Panicia; e à vossa "presença os animais daninhos fugirão.

Apesar da oposição dos companheiros, o Santo vai ao sítio, reza e faz o Sinal da Cruz sobre a pequena herdade.

Logo aparecem ali dois ursos. Ao se avistarem ficam enfurecidos e se atracam. Um morre na luta; o outro, já nem ferido, ficou morto por uma lança (1).

Por hoje é só.Se Deus quiser,

. até amanhã.Adeus. DÉCIMA QUINTA CARTA

Paris, 10 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Respostas a uma questão. — 2. O Sinal da Cruz renova hoje seus antigos milagres. — 3. A vida é uma luta. — 4. Satanaz existe? 5. O

Sinal da Cruz é a arma especial, a arma de precisão, contra os Anjos maus ou demônios. —• 6. Primeiro tribunal. — 7. Segundo tri-bunal. — 8. Experiências.

1

Caro Amigo,Se comunicares a teus condiscípulos a minha carta

passada, é provável que eles te digam: ,— Se o Sinal da Cruz é tão poderoso como dizeis, porque não faz ele hoje o que então fazia ? —Muitas são as respostas já dadas a esta pergunta.A primeira é dada por S. Agostinho.Falando dos milagres, o Santo Doutor faz uma observação mui justa.'Diz ele:

"Os milagres, referidos no cânon dos livros san-"tos, tem grande publicidade. Lendo ou ouvindo

(1) Fortunat., In vit. S. Gerrn.

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(1) Cujus sane rei a theologis, et quidem optimae, gravíssraiae-qtie rationes afferuntur. (Antiq. convivial, lib. II, c. XXXV, p. 430.)

(1) Mox dicto citius clandestina peste propulsa, pecora liberata sunt. (Lib. III, Miracul. S. Mart., c. XVIII.)

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O SINAL DA CRUZ

Diz ele:"Os milagres foram necessários nos princípios "da Igreja. Era por eles que a Fé dos povos de-"via firmar-se. Quando plantamos uma árvore, "regamo-la até ganhar raiz; e, quando disto es-"tamos certos, cessa a irrigação. Por isso diz o *'Apostolo: — O dom das línguas é um sinal, "não para os Fiéis, mas para os infiéis (I). Dá-*'se na cultura moral o que se dá na material. Ho* "je, que o Cristianismo ganhou raízes nas entra-"nhas do mundo, os milagres não são tão necessários como no momento da divina plantação. "Já Sto. Agostinho dizia ha quinhentos anos: — Hoje constituiria o maior dos prodígios, a ""pessoa,' que, para acreditar, exigisse prodígios (2)."

• 2

Coloca, meu caro, o mundo por um instante nas con-dições em que se achava ao nascimento da Igreja, e verás que o Sinal da Cruz ainda renova seus antigos milagres.

Ouve a historia contemporânea.Escreve um dos nossos Bispos missionários:

"Podereis âcreditá-lo? Converteram-se dez "aldeias. E o diabo furioso descarrega seus "golpes. Apareceram cinco ou seis possessos "durante os quinze dias de pregações. Os Ca-tecúmenos com Agua-benta e com o Sinal da "Cruz

expulsam os demonios e curam as doen-"ças. Vi coisas maravilhosas. Satanás serviu-"me de grande auxílio para converter os pagãos. "Como na tempo de Nosso Senhor, o pai da men-tira não pôde deixar de dizer a verdade. E' um "pobre possesso que fazendo

"ler a Escritura, ninguém os ignora. E assim "devia ser, porque são as provas de nossa Fé. "Ainda hoje se fazem milagres em nome de Nos-"so Senhor, pelos Sacramentos, pelas orações e "pelos túmulos dos Santos; deles porém não ha "tanta noticia como dos primeiros. São apenas "conhecidos nos lugares onde são operados e, se "a cidade é grande mais difícil é chegarem ao "conhecimento de todos. Mesmo que só pouca "gente disso tenha conhecimento eles acontecem. "Quando são contados em outro lugar e às outras "pessoas, a autoridade de quem os conta não é "sempre tal que sejam acreditados sem dificuldade ou hesitação, posto que sejam referidos "por Cristãos a outros Cristãos. (1)**

Como prova o Santo refere muitos milagres operados à sua vista, e alguns por meio do Sinal da Cruz.

Porque teus condiscípulos ou outras pessoas não co-nhecem os milagres de hoje, não se segue que não existam.

A esta primeira resposta segue-se naturalmente uma outra.

E' de um outro Doutor igualmente grande, o Papa S. Gregório, que faz distinção entre tempos antigos e os modernos,

(1) Hinc est enim quod Paulus: Linguae in Signum sunt, non fidelibus sed infidelibus. (Homil. XXIX, in Evang.)

<2) Cur, inquiunt, nunc illa miracula, quae praedicatis facta esse, non fiunt? Possem quidem dicere necessária fuisse, priusquam crederet mundus, ad hoc: ut crederet mundus, Quisque adhuc prodigia, ut credat inquirit, magnum est ipse prodigium qui mundo credente no credit. (Ubi-supra.)

(1) Nam plerumque etiam ibi paucissimi sciunt, ignorantibua coeteris, máxime si magna sit civitas; et quando alibi aliis-que narrantur, non tanta ea commendat auctoritas, ut sine dificúltate vel dubitatione credantur, quamvis christianis fide-libus indicantur.(De Civ. Dei, lib. XVII, c. VIII.)

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O SINAL DA CRUZ

mil contorsões diz "em altos gritos: —< Porque pregas a Verdadeira "Religião? Não posso admitir que me roubes "meus discípulos. — Como te chamas? — pergunta-lhe o Exorcista. Depois de algumas re-"cusas, responde: — Eu sou o enviado de Lúci-"fer. — Quantos sois? Somos vinte e dois. "A Agua-benta e o Sinal da Cruz curaram este "possesso (1)."

Mas ainda que se admita aquilo que eu nunca admitirei, isto é, que o Sinal da Cruz já não faz milagres no meio dos povos cristãos, este Sinal não vem revelando sua força, por efeitos sobrehumanos a cada .hora do» dia e da noite, em todos lugares da terra cristã?

Supõe se o quiseres uns cem milhões de tentações ao dia; pois ficarás

bem certo de que mais de três quartos dessa quantia são tentações dissipadas e vencidas pelo Sinal da Cruz.

Quem há que não tenha experimentado isto em si mesmo?

Daqui, lembrando-te do que tu e nós outros fazemos poderás calcular o poder permanente e universal do Sinal libertador.

Voul ainda mais longe a admito mesmo que o Sinal da«* Cruz não sirva mais sempre palça afugentar os pensa-mentos importunos, dissipar os encantos sedutores e suster a Alma no declive da abismo.

Mas... a que é devida esta falta?Não será à pouca Fé dos Cristãos de nossos dias?Não será

necessário dizer da iniefioácia do Sinal da Cruz o que se diz com razão da inutilidade da Comunhão para tanta gente?

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(1) Carta de Mgr. Anauilh, Bispo de Abydor, missionário na China. -- Tching-Ting-Fou, província de Pekin, 12 de Março de 1862.

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O SINAL DA CRUZ

O defeito não está no alimento, mas na indisposição-daquele que o come.

"Defectus non in cibo est, sed in edentis dis-"positione."

3

Desejoso de remediar a falta de Fé que empobrece e arruina hoje os Cristãos, foi que empreendi esta, cor-respondencia e vou continuá-la.

Preciso demonstrar que o Sinal da Cruz goza de-um novo título para despertar a confiança dos Católicos..

— SOLDADOS, O SINAL DA CRUZ É UMA ARMA QUE DISSIPA O INIMIGO. —

Há mais de dois mil anos que Job difiniu a vida humana chamándo-a de uma luta incessante-

"Militia est, vita hominis super

terram."

Passaram os séculos, sucederam gerações a gerações, novos impérios substituíram outros, vinte vezes se tem renovado a face da terra, e a definição

de Job ainda é hoje muito verdadeira.

A vida ê de facto uma luta, para mim, para ti, para teus condiscípulos.

Luta para o rico e para o pobre; luta a cada instante do dia e da noite; luta na saúde; luta na doença; luta que principia no berço para acabar no túmulo.

Luta decisiva.Da vitória ou da

derrota depende a nossa eterna felicidade ou eterna desgraça.

Tal é, meu caro amigo, a condição do Homem sobre a terra.

Nisto não podemos fazer a menor alteração. E quem são os inimigos?Ah! quem não os

conhece? Quer pelo nome, quer pelos ataques,

— Mundo, demónio e carne —

Três formidáveis potências empenhadas em nos perder.

Só me ocuparei do segundo, porque não tenciono fazer-te um curso de ascetismo.

4É certo que

Deus existe. Pois também é certo que ha

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O SINAL DA CRUZ

demónios. Ambas são verdades reveladas. Voltaire dizia com razão:

— "Pas de Satan, pas de Dieú —

Se Satanás não houvesse, como teria havido a queda dos Anjos, a queda do Homem? E a Redenção? E o Cristianismo? Tudo era uma farsa.

E Deus que é a Verdade como havia de existir na mentira ?

Bem sabemos que os demónios são Anjos decaídos, isto é, Anjos que se tornaram maus.

Na inteligencia, na força e na agilidade, já por na-tureza os demónios são superiores ao Homem.

O número deles é incalculável.Habitam o

inferno. Mas a atmosfera que nos rodeia é campo deles até ao juízo final.

Porque nós os filhos de Adão somos chamados à fe-licidade que eles perderam, ralados de inveja dia e noite ■eles só se ocupam em armar ciladas e laços contra nós, em fomentar paixões, em

nos crear situações perigosas ^m obscurecer-nos a Fé; embotar em nós os sentimentos morais, e nos sufocam os remorsos.

Querem nos tornar cúmplices de sua revolta, para lhes sermos companheiros no suplício.

Todas estas coisas são verdades que Deus mesmo nos revelou e que nós devemos crer como cremos na, existência de Deus»

Pelo pecado, os demónios ficam sendo nossos tiranos como também o são das creaturas sujeitas ao nosso domínio.

Vencido o Rei, ao vencedor pertence o reino.Espalhados por

toda a creação e podendo influenciar em cada uma das creaturas em! particular, tudo eles infestam de sua maligna influência.

Todo o poder que por natureza de Anjos eles têm, convertem-no em instrumento de ódio contra a Alma e o corpo do Homem.

Isto também é um Dogma de Pé universal.Quem ignora

estas cousas não sabe nada; quem disto duvida, sabe ainda menos que nada; e

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O SINAL DA CRUZ

quem tais verdades quiser negar, não deve mais ser contado no rol dos seres inteligentes.

5

Conceberás como coisa possível que a Sabedoria Di-vina houvesse deixado o Homem sem meios de defesa numa luta desta?

Como se compreende que dois mais dois fazem qua^ tro ccmpreende-se que Deus, para equilibrar a luta dera ao Homem uma arma poderosa, universal, sempre à mão e ao alcance de todos.

Mas qual será esta arma?Interroguemos

todos os séculos, especialmente os cristãos, e todos respondem a voz unânime:

— Esta arma é o Sinal da Cruz.

E o uso constante que dele têm feito confirma a resposta.

Este ponto de vista é um como farol que ilumina toda a história do Sinal adorável.

Dá a razão de sua existência, justifica em alto grau a conduta do3 primeiros Cristãos e

igualmente condena a conduta dos modernos que se descuidam de o fazer.

O Sinal da Cruz é a arma especial, a arma de precisão, contra Satanás1,, e todos os Anjos maus.

Sabes dizer-me de que modo se procede, quando se pretende conhecer o valor de uma peça de artilharia, de uma espingarda ou de outra arma de nova invenção?

Não se confia só no inventor.A autoridade nomeia uma comissão.A arma é

experimentada à vista de juizes competentes e as experiências é que decidem, do mérito e valor delas.Seja pois o mesmo para o Sinal da Cruz. Somente lembra-te de que o Sinal da Cruz não é uma arma fabricada de novo. E' velha, muito velha

Mas, nem! por isso está enferrujada, enfraquecida ou fora de uso.

Quanto ao juri de exame, está formado ha muito tempo, e não deixa nada a desejar.

É composto de Homens os mais competentes do ori-ente e do ocidente; homens» especiais,

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que de antigos tem-pos conhecem esta arma, sabem-lhe o emprego teórica e praticamente.

6Eis & tribunal: ouve sua decisão.Temos que

acreditar na bondade do Sinal da Cruz e na força desta arma divina contra os nossos inimigos, pois o primeiro Juiz assim se exprime:

—"Nunca sairás de tua casa, sem que faças o "Sinal da Cruz.

"Ele será para ti bordão, arma, e torre inexpug-"nável. Nem homem, nem demónio, ousará ata-"car-te coberto de tal armadura. A ti mesmo "esto Sinal dirá que tu és um Soldado pronto a "combater contra o demónio e a lutar pela co-"roa da Justiça.

"Ignoras, porventura, o que a.Cruz tem feito? "Pois venceu a morte, destruiu o pecado, esvaziou o inferno, destronou a Satanás e ressuscitou o universo. E duvidarás ainda de seu "poder (1)?

E' São João Crisóstomo que o diz. Do segundo Juiz são estas palavras.

"O Sinal da Cruz é a armadura invencível dos "Cristãos. Esta armadura que te não falte ó "Soldado de Cristo, nem de dia nem de noite, nem "um só instante, seja qual for o logar em que "te aches.

"Quer durmas, quer vigies, quer trabalhes, quer "comas, quer bebas, quer

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O SINAL DA CRUZ

navegues, quer atra-vesses rios, sempre andarás revestido desta "couraça.

"Orna e protege teus membros com este Sinal "vencedor e nada te poderá fazer mal. "Contra as setas do inimigo, não há escudo mais. "poderoso.

"A vista deste Sinal, trémulas e aterx-adas fugi-"rão as potências infernais (1).'*

E' de Santo Éfrem.Acreditou no

Sinal da Cruz o terceiro Juiz que faz; aos Cristãos e a si próprio a seguinte recomendação:

"Façamos o Sinal da Cruz com plena confiança, "e com audácia

"Ao vê-lo os demónios lembram-se do Crucifi-cado e fogem' e escondem-se e deixam-nos (2).**

São palavras do grande São Cirilo, no Catecismo que-

escrevera.

E que nos diz o quarto Juiz?

"Levemos traçada sobre nossa fronte o imortal "Estandarte.

"Sua vista faz tremer os demónios. Eles, que "não temem os doirados capitólios, têm medo da "Cruz <1)."

Orígenes — Homilia VII sobre tópicos do Evangelho.

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(1) Armemur insuperabilihac christianorum armatura... hac te-lorica circumtege, membraque tua omnia salutari signo exorna, atque circumsepi, et non accèdent ad te mala. Sunt enim vehementer contraria tellis inimici. Hoc signo conspecto ad-versariae potestates conterritae trementes que recedunt. (S. Eph. de Panoplia ot de poenitem,, apud Gretzer p. 580, 581 e 642.)

(2) Hoc Signum ostendamus audacter, quando enim doemones-: viderint, recordantur crucifixi... effugat daemones, déclinant,., recedunt. (S. Cyrill., Catech.,

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O SINAL DA CRUZ

Assim julga o oriente pelo órgão de seus maiores Ho-mens: S. Crisóstomo, S. Éfrem, S. Cirilo de Jerusalém e Orígenes, aos quais seria fácil juntar outros nomes igualmente respeitáveis.

7

Ouçamos o ocidente.Sta Agostinho dizia aos catecumenos:

"E* com o Credo e com o Sinal da Cruz que é ne-"cessario correr o inimigo. Revestido destas ar-"mas, o Cristão sem dificuldade triunfará do an-"tigo e soberbo tirano. A Cruz basta para des-fazer todas as maquinações do espírito das tre-"vas (2)."

Seu ilustre contemporâneo, S. Jerónimo, escreve:

"O Sinal da Cruz é um escudo, que nos põe a "coberto

das frechas inflamadas do demo-

"nio (1)."

Em outra parte:

"Fazei muitas'vezes o Sinal da Cruz sobre a "fronte para que não sejais dominados pelo examinador do Egito (2).M

E Latancio diz:

"Quem quizer conhecer a força do Sinal da Cruz, "só tem a notar quanto ele é temível para os de-monios. Esconjurados em Nome de Jesus Cris-"to, é o Sinal da Cruz que os faz sair do corpo "dos possessos. E que há nisto de espantoso? "Quando o Filho de Deus vivia sobre a terra, "com uma só palavra afugentava os demonios, "e dava sossego e saúde às desgraçadas vítimas "dele.

"Hoje sião os discípulos que expulsam os mesmos "espíritos imundos em Nome do Divino

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O SINAL DA CRUZ

Mestre, "e pelo Sinal da Sagrada Paixão (3)."

(1) Immortale vexillum protemus in frontibus nostris, quod,

cum daemones viderint, contremiscent; qui aurata capitolia non timent, Crucem timent. (Orig., Homil., VII, in divers Evang. Locis.)

<2) Noverint cum Symboli sacramento et Crucis vexülo ei de-• bere occurri ut talibus armis indutus, facile vincat christia-. nus, de cujus oppressio male antea triumphaverat nequissi-mus. (lib. de Symb., c. L>

Falaram o oriente e o ocidente.

Os Juízes mais competentes proclamam o Sinal da Cruz como excelente e especial arma contra o demónio.

Experiências, incalculáveis em número, servem-lhes de base ao Juízo.

Nos primeiros séculos da Igreja as experiências repetiam-se todos os dias e em todos os lugares da terra,.na na presença dos Cristãos e dos pagãos.

E eram a tal ponto concludentes que uma testemunha ocular, o grande Atanásio, dizia sem receio de ser desmentido:

"O Sinal da Cruz torna impotentes todos os ar-tifícios da magia, ineficazes todos os encantos, "e ao abandono

todos os ídolos. "Por ele é moderado, abatido, extinto o fogo da "voluptuosidade mais brutal; e a Alma, curva-"da para a terra,"levanta-se para o Céo. "Outrora os demónios enganavam os homens, to-"mando diferentes formas; postados à beira das "fontes e dos rios, nos bosques e nos rochedos, "surpreendiam por artificiosos enganos aos insensatos mortais,

(1) Scutum fidei, in quo ignitae diabuli extinguuntur sagittae. (Ep. XVm, ad Eustoch.)

(2); Crebre signáculo crueis munias frontem tuam, ne exterminator AEgypti in te locum reperiat. (Epist. 97 axTDemetriad.)

(3) Ita nunc sectatores ejus eosdem spiritus inquinatós de homi-nibus et nomine Magistri sui et signo Passioñis

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O SINAL DA CRUZ

"Mas, depois da vinda do Verbo Divino, basta o "Sinal da Cruz para desmascará-los todos. "Quer alguém a prova do que digo? "Não tem mais que colocar-se no meio dos arti-fícios dos demónios, das imposturas dos oráculos e dos embustes da magia, e, feito o Sinal da "Cruz, verá como por virtude dele fogem os de-

"mónios, calam-se os oráculos e se tornam impotentes todos os encantos e malefícios (1)."

8

Vou citar-te algumas daquelas experiências.Latancio, mestre

do filho de Constantino e que melhor que ninguém' conhecia os segredos da corte imperial, refere o seguinte:

"Estava no oriente o imperador Maximino, mui "curioso crutador de

coisas futuras. Imolava um "dia vítimas, em cujas entranhas procurava co-nhecer os segredos do futuro. Alguns de seus "guardas, que eram Cristãos, fizeram sobre a . "fronte o Sinal imortal, immortale signum, e lo-"go fogem os demónios, e o sacrifício fica mu-"do (2)."

Se, à vista do Sinal da Cruz, o demiónio é obrigado a fugir de seus antros, como se conservará ele em outros lugares?

Escutemos um dos mais graves doutores do oriente, S. Gregório de Nissa.

E* na vida do outro S- Gregório, o Taumaturgo, chamado o Moisés da Armênia,

que o ilustre historiador refere o seguinte:

"O Diácono Tróade, chega um dia a Neocesaréa. "Fatigado da viagem quis banhar-se e dirige-se "aos banhos públicos. Aquele

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(I) Signo Crucis omnia magica compescéntur, veneficia ineffi-cacia fiunt, idola universa relinquuntur. <Lib. de Incarnat, Verb.)

<Z) Que facto fugatis daenionibus, sacra turbäta sunt. (Lactant., De mortib, persécunt., c. X.)

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O SINAL DA CRUZ

lugar estava então "dominado por um demónio homicida, que ma-"tava a quantos ousassem ali entrar dês que "apontassem as sombras da noite. Eis porque "ao por do sol eram logo fechadas as- termas. "Apresenta-se o Diácono, e pede lhe seja aber-"to. O guarda do estabelecimento o adverte di-"zendo: — "Podereis acreditar-me? Quem ou-"sa entrar aqui a esta hora, não sai por seus "pés."À noite, o demónio é senhor disto; e muitas des-"graças têm pago sua temeridade com gritos de "dor e com a morte!'*"A nada disto atende Tróade e insiste em que "lhe sejam abertas as portas. "Diante de tamanha insistência, o guarda dos "banhos deu-lhe as chaves e para ressalvar sua "responsabilidade fugiu."Entra o Diácono só e começa a despir-se na pri-"meira sala."De repente, rompem de todos os lados objetos

"de horror e espanto: espectros variados, meta-"de fogo e metade fumo; figuras de homens e de "animais se oferecem a seus olhos, assobiam a "seus ouvidos, infectamvno de seu hálito e o "envolvem num) círculo impossível de romper. "Sem impressionar-se o Diácono faz o Sinal da "Cruz, invoca o Nome do Senhor e vai seguindo "são e salvo.

"Entra na sala do banho e cai no meio de um es-petáculo mais horrível.

"O demónio se lhe apresenta de uma forma ca-"paz de o matar de medo. A terra treme, as pa-" redes estalam e rangem, a sala abre-se a meio "e debaixo de seus pés vê o Diácono uma forna-lha ardente cujas centelhas lhe saltam

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O SINAL DA CRUZ

ao rosto. "Recorre ainda ao Sinal da Cruz e ao Nome do "Senhor e tudo desaparece. "Tomado o banho, vai sair, mas, o demónio "lhe havia impedido a passagem fechando-lhe a "porta. Faz o Sinal da Cruz, e as portas se "abrem de par em par.

**X saída, diz o demónio ao corajoso Diácono em "voz humana: humana uocei — Não atribuas à "tua virtude o teres escapado à morte; tu o de-"ves Àquele cujo Nome invocaste com o invencível Sinal.

"Tróade aparecendo salvo, foi causa de muita "admiração para o homem dos banhos, e por "quantos deste facto tiveram conhecimen-"to

O facto que acabas de ler, me\\ caro Frederico, não é único: faz parte de uma grande seleção de outros seme-lhantes, atestados por mais testemunhas nos tempos.passados e reproduzidas em nosso dia entre o povos idólatras.

Roma foi disso muitas vezes testemunha.

"Quando os pagãos, diz ele, sacrificam a seus "deuses, se algum dos assistentes marca sua f ron-

{1) Vit B. Greg. Inter. oper. Nyss.

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O SINAL DA CRUZ

"te com o Sinal da Cruz, o sacrifício inutiliza-se; "porque o oráculo não responde. Por esta cau-"sa foi que maus Imperadores, várias- vezes, per-seguiram os Cristãos. Acompanhando-os aos "sacrifícios, alguns dos nossos faziam o Sinal "da Cruz; e, assim afugentados os demónios não "podiam marcar nas entranhas das vítimas as " respostas esperadas. '*

Quando os arúspices (1) chegavam a perceber isto, instigados pelos

demónios, aos quais ofereciam sacrifícios lamentavam a assistência dos profanos; e os Impe-rantes, enfurecidos, perseguiam a todo o transe o Cris-tianismo. (2)

Na próxima carta, se Deus quiser, encontrarás outros; factos.

Adeus.

DÉCIMA SEXTA CARTA

Paris, 11 de

Dezembro de

1862.

Sumario:— 1. O

Sinal da Cruz despedaça o

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O SINAL DA CRUZ

s Ídolos. — 2. O Sinal da Cruz expulsa os demônios.— 3. Os exorcismos. — 4. inutiliza os ataques diretos dos demônios. — 5. Inu-tiliza também os indiretos. Todas as crea-turas sujeitas ao demônio lhe servem de instrumento para nos fazerem mal. — O Sinal da Cruz impede-os em sua ação nociva contra nosso corpo e nossa Alma.— Profunda filosofia dos primeiros Cris-tãos. — Uso, que faziam do Sinal da Cruz.— Quadro por

S. Crisóstomo. — 6. Duas grandes Verdades. — 7. Para-raio e Mo

numento.

I

Caro Frederico,

0 poder do Sinal da Cruz é bem mais extenso que o de satanás.

(1) Arúspices — ministros da religião pagã entre os Romanos, que consultavam as entranhas das vitimas para predizer o futuro.

(2) Cum enim quidam nostrorum, sacrificantibus dominis assis-tèrent, imposito frontibus signo, deos eorurn pugaverunt, ne possent in visceribus hostiarum futura depingere. (Lact., lib. IV, c. XVII.)

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O SINAL DA CRUZ

Havendo o usurpador infernal se apoderado de todas as partes da creação, o Legitimo Proprietário delas deve, além de expulsá-lo, dar meios de defesa ao que deu o direito de possuí-las.

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O SINAL DA CRUZ

O Sinal da Cruz não só impede que os demónios falem j mas obriga-os a fugir dosi lugares que habitam, e os expulsa dos possessos.

Êm apoio destas verdades, vou relatar-te alguns fatos entre milhares; e todos" por si evidentes.

Governava os povos o Imperador Antonio.O césar filósofo perseguia cruelmente os Fiéis.Roma estava cheia de ídolos. Ao pé deles eram ar-

rastados nossos avós para lá serem forcados a oferecer-lhes incenso.

Uma de nossas irmãs, aparecia diante do Prefeito da Cidade imperial.

"Vamos Glicéria, lhe diz ele. Toma este facho e "sacrifica a Júpiter.

«— Nião; dele não farei uso. Eu só sacrifico ao "Deus Eterno; e, para isso não careço de fachos "que fumegam. Mandai apagá-los para que meu "sacrifício seja a Êle agradável. "O governador dá ordens e os fachos são apagados.

Então a casta e nobre Virgem levanta os olhos ao Céu, estende a mão para o povo o; diz:

— "Olhai para o facho brilhante que é gravado "em minha fronte.

"E a tais. palavras, fazendo o Sinal da Cruz, "acrescentar

— "Deus Omnipotente, para que vossos servos "sejam; glorificados pelo Sinal da Cruz, despeda-"çai este ídolo que é obra das mãos do homem."—

Imediatamente rebrama forte um trovão e Júpiter de mármore cai reduzido a pedaços (1).

Lê-se o mesmo de S. Procópio mártir no reinado de Deocleciano.

E' levado diante dos ídolos.De pé e voltado para o oriente, o glorioso atleta faz o

Sinal da Cruz sobre todo o corpo, levanta os olhos para o Céu e diz:

"Senhor Jesus Cristo, eus Vos adoro!'* Depois diz às estátuas de ídolos:

"Figuras imundas, em Nome de meu Deus eu "vos ordeno — resolvei-vos em agua e derramai-"vos neste templo," —

Fez sobre elas o Sinal da Cruz e logo se desfizeram em água que escorria pelo chão (2).

2

Em virtude! do SinaLda Cruz, os demónios são igual-mente obrigados a deixar os corpos dos desgraçados pos-sessos.

Os factos são inúmeros e atestados por irrecusáveis testemunhas.

Venha primeiro que todos., S. Gregório, um dos. maiores Papas que governaram o mundo católico.

Falando de um facto recente acontecido na terra dele, diz:

"No tempo dos Godos, o rei Totila vem a Nar-"mi (1). Era Bispo da cidade o venerável Cas-"sio. Entendeu o santo Homem ir ao encontro "do Príncipe.

"O hábito de chorar padecimentos alheios tinha-"lhe inflamado o rosto. E Totila não duvidou em "julgar aquilo efeito do vício de beber muito vi-"nho e tratou com profundo desprezo o Homem "de Deus.

"Mas o Omnipotente Senhor que tudo vê quis "mostrar quanto era grande a virtude daquele de "quem tão pouco caso se fazia. "Na planície de Narni, à vista de todo o exército, "eis que um demónio se apossa do escudeiro de "Totila e com crueldade o atormenta. "Conduzido ao venerável Cássio, o Santo ora, "faz o Sinal da Cruz e em presença do Rei o de-"mónio é expulso.

"Desde aquele momento, Totila, conhecendo o "próprio erro troca o desprezo em profundo res-"peito (2)."

Ouve este outro facto acontecido na tua Pátria. Na Prússia, num sítio chamado Velsenberg, vivia um pagão chamado Ethelberg, homem rico e poderoso.

Havia ficado possesso do demónio e por isso o con-servavam preso por cadeias.

Sofria grandes dores o pobre homem e atraía muitas visitas.

Um dia, em presença de muitos pagãos idólatras co-meçou o demónio, a gritar:

—- "Semi que venha o Servo da Deus Vivo, Swi-"berto, Bispo dos Cristãos, não sairei daqui."

Sabes muito bem, que S. Swiberto foi um dos Apóstolos da Frísia, e de uma parte da Alemanha.

Como o demónio gritando não cessava de repetir aquilo, os idólatras confundidos se retiraram, sem saber o que fazer.

<1) Baron., t. II.(2) Vobis, inquit, dico imundis simulacris, timete Dei mei

nomeni, et in aquam. resoluta, in hoc templo dispergamini, quod fac-tum est. (Sur., 8 de Julho.)

(I) Pequena cidade pouco distante de Roma.(2> Vir Domini, oratiòni facta, signo Crucis expulit.

(Dialog., lib. Ill, c. VI.)

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O SINAL DA CRUZ

Depois de muita hesitação, resolveram procurar o Santo e pediram-lhe com instância, viesse ver o endemoninhado.

Swiberto concorda.Apenas o Bispo se põe a caminho, o possesso principiou

a espumar, a ranger os dentes e a soltar gritos mais horríveis que nunca.

Quando já vinha chegando perto da casa, o endemo-ninhado sossega de repente e fica na cama como quem dorme soltamente.

O Santo entra, ordena aos companheiros que orem e pede ao Senhcír que, para maior glória de Seu Santo Nome e conversão dos incrédulos, se digne expulsar o demónio do corpo daquele desgraçado.

Finda a oração, levanta-se e faz o Sinal da Cruz sobre o endemoninhado dizendo:

"Em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te "ordeno, espírito imundo, que saias desta crea-"tura de Deus para que ela possa conhecer seu "verdadeiro Créador."

Imediatamente o espirito maligno sai e deixa após de si um cheiro horrível (1).

Ébrio de felicidade o liberto ajoelha-se e pede o Batismo.Eis, meu caro, o que se passara na Prússia quando foi

tirada do estado bárbaro.Lá como em toda a parte, foi recebido o Evangelho à

força de milagres; e deles o Sinal da Cruz foi o instrumento ordinário.

Qual é hoje a Religião dos Prussianos?Será a que ensina a fazer o Sinal da CruzB os protestantes não cessam de repetir que um homiem

honesto não deve mudar de religião!Estimamos, dizem eles, os homens que se conservam na

religião de seus pais.Pois, eu estimo e prezo mais os que se conservam na

verdadeira Religião de seus avós.A este respeito conheces, sem dúvida, o facto que se deu

com o célebre Conde de Stolberg.Este Homem amável e sábio, havia abjurado o pro-

testantismo.Vivamente contrariado com isto, o Rei Guilherme da

Prússia, deixou de tratar com ele.Correm anos, e o Rei, carecendo de um conselho, manda

chamar o Conde.Logo ao chegar, diz-lhe Guilherme:

— "Não {posso dissimular-vos, Snr. Conde, que pouco estimo um homem que muda de Religião."

O Conde responde com respeito:

— "E* essa a razão, Senhorf porque eu desprezo pro-fundamente d Lutero.

3

O Sinal da Cruz é a arma universal e irresistível com que se expulsam os demónios do corpo dos possessos,

A prova disto está nos exorcismos da IgrejaSe quiseres lançar os olhos ao Ritual Romano, lá

encontrarás o que digo.Os exorcismos com os bafejos e com o Sinal da Cruz,

remontam ao berço do Cristianismo.Deles fazem menção todos os Padres, que falaram de

Batismo; e deste Sacramento quasi todos falaram, quer no oriente quer no ocidente.

Ouçamos a S- Gregório Magno:

"Quando o catecúmeno se apresenta para ser "exorcismado, primeiramente o Sacerdote sopra-"lhe em rosto para que, expulso o demónio, se-"ja livre a entrada a Jesus Cristo, nosso Deus,

(1) Signavit daemoniacum signo salutiferae Crucis, dicens: In Nomine Domini Nostri Jesu-Christi praecipio tibi, immunde spiritus, ut exeas ab hac Dei creatura, ut agnoscat suum verum Creaturem. Statinque cum factores spiritus malignus exiit. (Marcellin. in vit. S. Swibert. c. XX.)

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O SINAL DA CRUZ

"•depois, faz-lhe o Sinal da Cruz sobre, a fronte e "sobre o peito dizendo: — Ponho sobre tua fron-"te e sobre teu peito o Sinal da Cruz de Nosso "Senhor Jesus Cristo — (1)

Tais como aqui se os descreve, os exorcismos atra-vessaram os séculos e a esta hora ainda estão em uso em todos os pontos da terra.

Onde quer que exista um Missionário Católico- e urna creatura humana a ser subtraída ao dominio de satanás, ainda que seja na região mais distante e selvagem, faz-se assim.

Os demonios porém não estão só nos templos pagãos e nas estátuas dos ídolos onde se fazem adorar, ou no corpo dos desgraçados que atormentam.

Estão por toda a parte. O ar esta cheio deles.Infatigáveis, inimigos nossos, constantemente nos

atacam; ora por si próprios, ora por intermédio das crea-turas.Mas, sejam diretos ou indiretos, francos ou traiçoeiros,

diante do Sinal da Cruz, os ataques deles falham sempre.

4

Diz Arnóbio:"O Senhor adestrou nossos dedos para o comba-"te, a-fim-de que, pudéssemos formar com eles

"sobre nossa fronte o Sinai triunfante da "Cruz (1)/'

Entre milhares de outras moças heroinas, expostas ao perigo, vejamos como Justina de Nicomedia manejava bem esta arma vitoriosa.

Nobre, rica e dotada de rara beleza, a Virgem Cristã, apesar de um viver bem simples, e de muito subtrair-se ao mundo, foi vítima da paixão violenta de um jovem pagão, chamado Aglaide.

Suplicas, oferecimentos, promessas, tudo ele pôs em ação para chegar aos apaixonados fins.

Vendo inutilizados todos os esforços, recorre a Cipriano, mágico notável da Cidade.

Cipriano encanta-se por ela e em vez de trabalhar a favor do outro, emprega todos os recursos da magia em proveito próprio.

Nãc lhe foi difícil obter auxílios do inferno.Demónios, os mais violentos foram enviados a tentar a

jovem Santa,Vendo-se assim tão atacada, Justina duplicou as orações,

a vigilância e a mortificação,No mais rude do comibate fazia o Sinal da Cruz e os

demónios fugiam.Assim procedendo sempre triunfou brilhantemente na

Virgindade, e teve a graça de converter Cipriano que

foi um mártir ilustre e uma nobre conquista do Sinal libertador (1).

Antão, o grande atleta do deserto, cuja vida se gastou a lutar contra os demónios em paroxismos de raiva e debaixo das mais aterradoras formas, bem sabia manejar esta arma vitoriosa.

Que nos fale o digno historiador, de um tal Homem.Algumas vezes, diz S. Atanásio, repentino estrondo se

dava, tremia a cela de Antão e, pelas paredes entreabertas, avançava multidão de demónios.

Tomavam formas variadas de leões, touros, lobos, áspides, dragões, escorpiões, ursos e leopardos.

Cada um vozeava de um modo.Os leões rugiam como prestes a devora-lo; touros

mugindo ameaçavam-no com os chifres; as serpentes si-bilavam; os lobos arreganhavam os dentes; e os leopardos por variadas cores, representavam as astúcias dos espíritos infernais; figuras medonhas de se ver, vozes horríveis de se ouvir.

Espancado e ferido, Antão sentia vivas dores mas. só no corpo; sua Alma, atenta, permanecia imperturbável.

Posto que as feridas lhe arrancassem dolorosos ais, o Ermitão zombando falava aos inimigos:

—"Pela força que tendes, um só basta para me "combater; mas, porque a força de meu Deus "vos enfraquece é que vindes assim em multidão "para ao menos me aterrar.

Dizia mais:

— "Sê tendes algum poder, se Deus me entregou "a vós, eis-me aqui, devorai-me. Porém, se contra mim nada podeis, para que tantos esforços "inúteis? O Sinal da Cruz e a confiança em "Deus são para nós uma fortaleza inexpugnável. —

Então, raivosos, vendo que por seus ataques só con-seguiam que o Santo zombasse deles, por mil modos ameaçavam a Antão (1).

A linguagem soberana que com Fé Antão falava aos demónios, era a mesma de que usava com os filósofos pagãos.

Dizia o Patriarca do deserto a estes eternos inves-tigadores da verdade:

(1) Cum ad exorcizandum ducitur, primo a Sacerdote insufflec-tur in faciem ejus, ut, fugato diabulo, Christo Deo Nostro pateat introitua. Et tunc in fronte Crux Christi agatur, di-cendo, etc., (S. Greg. Sacrament)

(1) Docuit dígitos nostros ad bellum, ut dum bellum sive visi-bilium, sive invisibilium senserimus hostium, nos digítis ar-memus írontem triumph o Crucis. (Arnob., in ps 143.)

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O SINAL DA CRUZ

—"De que serve o disputar? "Nós pronunciamos o Nome do Crucificado e "todos os demónios que vós adorais como deuses "bramam enfurecidos. Ao primeiro Sinal da "Cruz saem dos possessos. Onde estão os mentirosos oráculos? Onde param os encantos dos "Egípcios? Para que servem as palavras

mági-"cas? Tudo foi destruido desde o dia em que "o Nome de Jesus Crucificado soou no mundo."

Depois, fazendo vir possessos, continuava dizendo a seus interlocutores:

<1) Signum enim Crucis et Fides ad Dominum inexpugnabilis nobis murus est. (De vit. S. Antao.)"Ora, pois! Por vossos silogismos ou por algu-"ma

artimanha que vos agrade expulsai destas "desgraçadas vítimas aqueles a que chamais» vos-"sos deuses. Se o não podeis fazer, declarai-vos "vencidos. Recorrei ao Sinal da Cruz, e a hu-"mildade de vossa Fé será seguida de um mila-"gre de Fé e poder."

A estas palavras, invocava o Nome de Jesus, fazia o Sinal da Redenção sobre a fronte dos possessos e os demónios fugiam em presença dos filósofos confundidos (D.

Quase tão numerosos como as páginas da história, são ;os factos deste género. , ".

Mas eu os passo em silêncio.

5

Aos ataques directos e palpáveis, juntam os demónios ataques indirectos e traiçoeiros.

ÊStes, não menos perigosos que aqueles, são mais fre-quentes". '

Deles há duas espécies: uns são interiores e outros, exteriores.Os primeiros são as tentações propriamente ditas. O Sinal da Cruz é a arma vitoriosa que dissipa as tentações.

Dizendo isto, não sou mais que o eco da. tradição uni-versal e da experiência cie cada dia.

"Quando fazeis o Sinal da Cruz, diz S'. Crisóstomo, ele vos lembra o que a Cruz significa e "com isso aplacais a cólera e os movimentos desordenados do vosso espírito (1)."

Orígenes acrescenta:"E' tal a forçado Sinal da Cruz que, se o colocardes diante

dos olhos e o guardardes no cora-"ção, não haverá concupiscência-, voluptuosida-"de ou furor que possa resistir-lhe. À vista de-"le desaparece tudo quanto é pecado (2)."

Os ataques indirectos são exteriores, quando vêm defóra. i

Nlão ha creatura que fuja à influência maligna de satanás; e das creaturas todas faz ele instrumento de seu ódio implacável contra o Homem.

Como já o indiquei, este é um artigo do símbolo do Gênero humano.

Que arma Deus nos deu para nos defendermos desses ataques e preservarmos Alma e corpo doS atentados daquele que é chamado, e com razão, o grande homiciaa? —"Homicida ab initio" —

Todas as gerações católicas surgem de seus- túmulos para exclamar:

A arma que Deus nos deu é o Sinal da Cruz,Todos os Católicos existentes actualmente nas cinco

partes do mundo, unem sua vóz à de seus maiores e repetem : — E' o Sinal da Cruz.

Escudo impenetrável, torre inconquistável, arma es-pecial contra o demónio; arma universal cuja força é sempre superior aos inimigos visíveis e invisíveis; arma fácil para os fracos, gratuita para os pobres.

Tal é a definição que do Sinal adorável nos dão os mortos e os vivos.

6

Eis duas grandes verdades das quais não podemos nos esquecer:l.a — A sujeição de todas as creaturas ao demónio; 2.* — A força do Sinal da Cruz para libertá-las a fim de que nos impeçam o caminho do bem.

Destas duas verdades, sempre antigas e sempre novas, surgem dois factos incontestavelmente lógicos:

Primeiro: — o emprego perseverante dos exorcismos na Igreja Católica.

Segundo: — o uso constante do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos.

(1) Vida, 26 de Setembro.

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(1) De vita S. Ant.

(1) Cum signaris, tibi in mentem veniat totum cruris argumen-tum, ac tum iram omnesque a ratione adversos animi im-petus extinxeris. (De ador. pret. cru., n. 3.)

(2) Est enim tanta vis Crucis Christi, ut... nulla coneupiscentia, nula libido, nullus furor, nulla superare possit invidia. Sed continuo ad ejus praesontiam totus pecati et carnis fugatur exercitus. (Origen comm. in epist. ad Rom., lib. VI, n.° 1.)

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O SINAL DA CRUZ

Que significa o exorcismo?A crença da Igreja na sujeição das creaturas ao demónio.

Que espera o exorcismo? A libertação das creaturas.

Não ha creatura que a Igreja Católica não exorcisme.Segue-se pois que, ela vê no universo um grande cativo,

um grande possesso, uma grande máquina de guerra, sempre dirigida contra nós por satanás.

E que é o uso incessante do Smal da Cruz entre os primeiros Cristãos senão um continuado exorcismo?

Todo o gênero humano admite com a Igreja:1.° — que todas as creaturas estão sujeitas ao demónio ;2.° — que todas servem de veículo a suas malignas

influências;3.° —■ que o Homem está em contacto com eles, a cada

hora, a cada instante e emj cada acção.Portanto nada mais racional que o envprego constante de

uma arma sempre necessária.O uso incessante do Sinal da Cruz anuncia pois, em

nossos maiores uma profunda filosofia.Bem conheciam eles a temível extensão da grande lei de

um dualismo no mundo moral.Cientes de que o ataque era universal e incessante, bem

compreendiam que a defesa necessária devia ser também universal e incessante.

Os primeiros Cristãos faziam o Sinal da Cruz sobre cada um dos seus sentidos.

Queres saber porque?Os sentidos são as portas da Alma; servem de co-

municação entre ela e as creaturas.Marcados com o Sinal da Cruz, as creaturas já não podem

entrar em comunicação com a Alma sem que passem por um caminho santificado onde perdem a funesta influencia que tinham.

Mas isto ainda não era suficiente para nossos pais.Faziam o Sinal da Cruz sobre os objetos de uso e quanto

lhes era possível, sobre todas as partes da creação.Casas, portas, móveis, fontes, limites dos campos, colunas

de edificios, navios, pontes, medalhas, bandeiras, capacetes, escudos, anéis — tudo era marcado com o Sinal adorável.

Quando impedidos de repetí-lo, por toda a parte e sempre eles o imobilisavam, gravando-o, pintando-o, es-culturando-o na fronte dè todas as creaturas por entre as quais ia-lhes correndo a existência.

7

Pára-raio e Monumento! Tal era então o Sinal augusto.Pára-raio divino para desviar os príncipes do ar

desviando a incalculável malícia deles, o Sinal da Cruz é muito mais poderoso do que as varas metálicas levantadas sobre nossos edifícios para descarregar as nuvens pejadas do raio.

Monumento de vitória que atesta o triunfo alcançado pelo Verbo Encamado sobre o principe das trevas, o Sinal da Cruz é como as colunas que, levantadas pelo vencedor no campo da batalha, atestam a derrota; do inimigo.

Das eminências de Constantinopla contemplamos, com S'. Crisóstomo, o mundo esmaltado destes Pára-raios e destes Monumentos de Vitória.

— "Mais preciosa que o universo, brilha a Cruz sobre o diadema dos Imperadores. Por toda a parte ela se oferece a meus olhos. E-u a encontro nos Imperantes^ e nos súbditos; nas Mulheres e nos Homens; nas solteiras" e nas casadas; nas pessoas escravas e nas pessoas livres.

"Todos são constantes em gravá-la sobre a fronte, parte mais nobre do seu corpo; e lá ela resplandece como coluna de glória.

"Aparece na Sagrada Mesa como na Ordenação dos Padres e não falta na Ceia mística do Salvador. -

"Desenha-se em todos os pontos do horizonte; no cume das casas, nas praças públicas, nos lugares habita* dos e nas extensões desertas, nos vales profundos e no alto das montanhas, nos bosques- e nas campinas, nas ondas do mar, no vértice dos navios, nas praias e sobre as ilhas, nas janelas e nas portas, sobre; as camas, vestuários, armas, livros, e mesas de comer, nos festins, sobre os vasos de ouro e prata, sobre as pedras preciosas, nas pinturas dos quartos e pendente ao colo das Virgens e das crianças.

"A Cruz é sinalada sobre os animais doentes e sobre os possessos do demónio.

"Com Fé e devoção nós fazemos o Sinal da Cruz na guerra e na paz, de dia e de noite, nas reuniões festivas e nas assembleias de penitencia.

"Para tudo procura-se a proteção do Sinal admirável."Ha nisto algo de estranho?Não.Pois o Sinal da Cruz é o símbolo de nossa Redenção, o

monumento da liberdade do mundo, a memória da Mansidão do Senhor.

Quando tu o fizeres, medita no preço em que ficou tua Alma. Ela é uma parte de sua virtude.

Deves, pois, fazê-lo, não só com o teu dedo, mas com tua Fé.

"Se o gravares assim sobre tua fronte, espírito imundo não haverá que possa conter-se diante de ti.

"Verá o alfange que o feriu, a espada que o passou de morte.

(I) Quod Christus sit Deus, opp. t. I p. .697. Edit. Paris, altera; id in Math, homil., 54, opp. t. VII, p. 620, et in c. Ill, ad Philipp.

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O SINAL DA CRUZ

À vista dos lugares de patíbulo ficamos tomados de horror.

Vendo a arma de que o Verbo Eterno Se serviu para abater-lhes a força e cortar-lhes a cabeça, o dragão satanás e seus maus anjos, quanto sofrerão? (1)"

Ficam para amanhã se Deus for servido, meu caro Frederico, as reflexões que nascem deste espectáculo arrebatador, tão eloquentemente descrito pelo mavioso São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla.

Adeus.

DÉCIMA SÉTIMA CARTA

Paris, 12 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Natureza do Sinal da Cruz é o caso qué-

dele hoje se faz. — 2. Que cousa anun-ciam o esquecimento e o desprezo do Si-nal da Cruz? — 3. Espetáculo do mundo atual. —■ 4. Permanecer fiel ao Sinal da Cruz, principalmente antes e depois da comida. — 5. Volta de satanás. — 6. A. razão, a liberdade e a honra o recomendam. — 7. A conveniência dos que fazem o Sinal da Cruz antes e depois da-comida,

1

Meu caro Frederico,

Arma universal — arma invencível nas mãos do-Homem — pára-raio, marco de liberdade para o mundo — Monumento da vitória do Divino Redentor, eis o que sempre foi o Sinal da Cruz desde os primeiros tempos, cristãos.Por isso os sentimentos que inspirava o uso que faziam dele e o magnífico espectáculo a que vamos assistir. Teremos Fé

hoje como outrora nossos Pais tinham?"Para os Cristãos deste século, que coisa é o Sinal da

Cruz?

Que uso fazem dele para si e para as creaturas?São muito vivos, são mesmo verdadeiros os> sentimen-

tos de Fé e confiança, de respeito, gratidão e amor que o Sinal da Cruz desperta em nós?

A maior parte dos que o fazem, não o farão sem que saibam o que fazem?

Não o fazem só a esmo sem lhe dar valor ou impor-tância?E quantos há que o não fazem nunca? Quantos se envergonham de o fazer? Quantos se incomodam até por ver a outros fazerem o Sinal da Cruz?

Quantos tiram-no da frente de suas casas, baniram-no de seus quartos e chegaram até a apagá-lo em seus móveis.

Fizeram-no desaparecer das praças, dos jardins, dos passeios, das ruas, dos caminhos, da maior parte dos lu-gares, em que nossos maiores o haviam arvorado.

Que é tudo isto?Tais sintomas que coisa

anunciam? Queres sabê-lo?Eleva teu pensamento ao princípio que ilumina toda .a

história.

2

Dois espíritos opostos disputam entre si o império do mundo: o Espírito do Bem e o espírito do mal.

Tudo o que se faz procede da inspiração divina ou da inspiração de satanás.

O estabelecimento do Sinal da Cruz, o uso incessante que dele se faz, a confiança que nele se deposita, a virtude omnipotente que se lhe atribui, tudo há-de ser ou de inspiração divina ou de inspiração satânica: uma das duas.

Se procedem da inspiração satânica, então a flor da Humanidade ( — única em fazer o Sinal da Cruz, há dezoito séculos e mesmo desde além — ) está ferida de cegueira incurável.

E quem possui plena luz, são os que não pertencem à classe escolhida do Gênero Humano!...

Seria o mesmo que dizer-se: os míopes, os de meia vista, e os cegos enxergam melhor do que os que não so-frem defeitos da visão.

Imaginas tu que haja um orgulho tão arrojado que seja capaz de enunciar um tal paradoxo?Ou que haja incredulidade tal para sustenta-lo? Mas... se o Sinal da Cruz — praticado, repetido, estimado, considerado como arma invencível, universal, permanente e necessária à humanidade contra satanás, suas tentações e seus anjos — é uma inspiração divina, que juízo queres que eu faça de um mundo que não compreende o Sinal da Cruz?

De um mundo que o não faz, que o despreza, que se envergonha dele?

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O SINAL DA CRUZ

Que juízo deve-se fazer de quem não saúda a Cruz, <k quem não a quer diante dos olhos nem à face do sol?

Enquanto a natureza humana se não mudar radical-mente, enquanto a dualidade não for uma ideia quimérica, enquanto satanás não se retirar do combate, enquanto

os seres materiais não deixarem de ser instrumento de funestas influências diabólicas, o Cristão de hoje, des-prezador como é do Sinal da Cruz, não passa de um dege-nerado ramo vindo de uma estirpe nobre.

3

Este século é um racionalista insensato que não com-preende nem a luta, nem as condições dela.

O século das luzes é um soldado presunçoso que, tendo quebrado as armas e deposto a armadura, cego se precipita no meio de espadas e lanças, com osi braços ligados e peito descoberto.

A sociedade moderna é uma cidade desmantelada qw se acha cercada de inumeráveis inimigos, impacientes por arruiná-la, ansiosos de passá-la ao gume das armas de sua guarnição.

Arruiná-la?E não está ela já arruinada?

Ruína de crenças, ruína de costumes, ruína de au-toridade !

Ruína da tradição, ruína do temor de Deus, ruína da consciência!Ruína da probidade, da mortificação, da obediência! Ruína do espírito de sacrifício; da resignação e da esperança.

Por toda a parte sô se vê —. ruínas começadas e ruínas consumadas.

Que resta hoje de pé na vida pública e na vida par-ticular, nas cidades e nas aldeias, nos governantes e nos governados?

Na ordem das ideias e no domínio dos factos, das pessoas e das cousas que ontem eram completamente ca-tólicas, hoje que resta ainda de pé?

E tudo por que, meu caro Frederico? Tiraram o Sinal da Cruz!

Eis tudo explicado.Diminuindo no mundo o Sinal da Cruz, satanás nele se

agita.O Sinal da Cruz é o pára-raio do mundo.Fazei-o desaparecer e o raio cairá operando desordens

com suas diabruras.O Sinal da Cruz é um brilhante troféu que atesta a

dominação do Vencedor Divino!Despedaçá-lo é dar gosto ao antigo tirano da Huma-

nidade; é preparar-lhe sua volta para uma tirania mais terrível.

Escuta, meu caro, o que ha dezessete séculos escrevia ura daqueles Homens que melhor conheceram o misterioso poder do Sinal da Cruz.

E' o mártir, ilustre entre todos os mártires, Sto. Inácio de Antioquia.

Contempla um pouco este Bispo, de cabelos brancos, carregado de ferros, vencendo seiscentas léguas, para vir a Roma onde seria devorado por leões, à vista da grande assistência no Coliseu.

Tranquilo, como se estivera no Altar; prazenteiro, como se caminhasse para uma festa. E, em seu caminho semeando instrução, coragem às Igrejas da Asia que, à sua passagem, lhe vinham ao encontro.

Em sua admirável carta aos Cristãos de Philipes O) ele diz:

"O príncipe deste mundo regozija-se quando vè "a alguém renegar a Cruz.

"Muito bem sabe que a Cruz lhe dá a morte "por ser a arma destruidora de seu poder. "Vê-la, horroriza-o; e ouvi-la nomear, espanta-o. "Antes que ela fosse feita, nada desprezou, em-"penhou-se deveras para fazer com que a construíssem. Impeliu com ardor aos filhos da "incredulidade a trabalharem na construção de-"la.

"Fariseus e Saduceus, Anás e Caifás, Judas e "Pilatos, velhos e novos a todos induziu a que "trabalhassem para fazê-la. "Porém, quando chegou o ponto de vê-la acaba-"da, perturbou-se.

"Lançou o remorso na Alma do traidor, apresentou-lhe uma corda e levou-o a enforcar-se. "Aterrou por um sonho a mulher de Pilatos pata que ela dissuadisse o Governador de con-"cluí-la.

"Todos os esforços ele faz então para impedir "a conclusão da Cruz. Não porque ele tivesse "remorsos; se os tivera, não seria completamente mau.

"Foi porque, dando acordo, viu a própria derrota.

"E não se havia enganado!... A Cruz é o prin-"cipio da condenação de satanás, a causa de sua "ruína, a origem de sua morte e derrota."

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(1) Cidade de Macedónia, que mu cedo abraçou o Cristianismo. Not. do trad.

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O SINAL DA CRUZ

Daqui, meu caro Frederico, temos dois pontos de dou-trina.

1.° O demónio tem medo e horror à Cruz e ao seu Sinal.2.° Ao ver uma Alma ou um país sem o Sinal da Cruz,

satanás aí entra e fica à vontade.Ei é tão inevitável que lá ele firme seu domínio quanto

impossível é se obstar que, ao por do sol, as trevas sucedam à luz.

O mundo actual é disto uma prova sensível.Não é do dilúvio de negações, impiedades e blasfémias

inaudita?, de que ele está inundado, que eu falo. Falo é de outra coisa gravíssima.

4Um Homem que, no meio de doidos procede com juízo

perfeito e outro que, numa roda de ladrões, respeita a propriedade alheia, ambos se colocam no singular.

E por isso se tornam eles ridículos?Para eles singularizarse, quer dizer colocar-se no

singular, praticando um ato ridículo.Resta esclarecer, se — fazer o Sinal- da Cruz antes e

depois de comer seja colocar-se no singular e fazer um papel ridiculo.

Não ha dúvida que sim, respondem eles, porque é fazer o que os outros não fazem.

Mas, além destes outros, há também uns outros e mais outros:, há outros que fazem o Sinal da Cruz e outros que o não fazem. Portanto, fazendo-o ou deixando de fazê-lo, ficamos sempre no plural.

Somos nós ridículos por fazê-lo?Para responder a isto, basta ver quem são esses outros

que fazem o Sinal da Cruz e esses outros que o não fazem.Os que o fazem somos nós e os da nossa família. E

não somos únicos.No meio de nós, em volta de nós estão os bons Católicos.Conosco estão há dezoito séculos, todos os Católicos

verdadeiros, instruidos e corajosos tanto do oriente como do ocidente.

E estes Católicos são os que constituem exactamente a flor da Humanidade. Ora, ninguém é ridículo por tais companhias; antes é completamente ridículo o que não as tem.

A proposição é para todos indiscutível menos para os outros, aqueles que se contentam com palavras e que pretendem com elas contentar os outros.

Que a flor da Humanidade fez sempre o Sinal da Cruz antes de comer, é ponto bem determinado. Os Padres que já citei: Tertuliano. S. Cirilo, Sto. Efrém, S. Crisóstomo, não deixam dúvida alguma sobre a universalidade desta prática religiosa entre os Cristãos da primitiva Igreja.

Apontarei outros.— "Quando se chega à mesa, e se toma o pão para o

partir, sobre ele se fazem três Cruzes, dando-se graças; e depois da comida dão-se de novo, dizendo três vezes:

O Senhor de Bondade e Misericórdia deu o alimentoaos que o temem.

Glória ao Padre, ao Filho e ao Espírito Santo.Amem." (1)

5

Que são esse mundo de mesas que giram, se levantam e falam?

Esses espíritos uns que se mostram perversos, outros que se dizem amigos?

Essas evocações, chamados, essas consultas e passes, essas conversas com pretendidos mortos?

Que são todas essas artimanhas que. de repente invadiram o antigo e novo mundo?

Ao presente vem-se manifestando uma recrudescência inaudita de práticas do ocultismo.

Em Paris, o espiritismo forma associações numerosas com suas assembleias regulares. Além de uma multidão de livros, oito folhas especiais lhes servem de órgãos periódicos. Metz e Bordeaux contam, segundo consta, muitos milhares de espiritistas. Lyão conta, pelo menos, quinze mil, com um jornal, que afirma ser o espiritismo a religião do futuro.

Serão cousas novas?

Não, a Humanidade já as viu.Mas em que época?

Quando o Sinal da Cruz não protegia o mundo e satanás era o ídolo e rei das sociedades.

Reaparecendo elas hoje em tamanhas proporções até desconhecidas do paganismo, só nos dizem.

1.° — que o Sinal libertador deixou de proteger o mundo:2.° — que satanás retomou-lhe o domínio. Que

significa tudo isto?Significa que após dezoito séculos de Cristianismo,

reaparecem na França milhares de idolatras. Sabendo-o ou sem que o saibam, fazem eles publicamente o que há dois mil anos se fazia em, Delfos, Dodona, Sinope, e em todas as cidades do antigo paganismo. (1)

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(1) Cum m mensa sederis, caeperisque frangere panem, ípsum ter consignato Signo Crucis. gratias age. Cum igitur surre-xeris a mensa, rursum gratias agendo tribus vicibus dicas, etc. (De Virginit., n. 13.)

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O SINAL DA CRUZ

6

Vês, caro amigo, quão pouco inteligentes são os que nbandonam o Sinal da Cruz?

Lamentemo-los sim; mas, não sejamos tolos de os imitar.Para nós, bem como fora para nossos pais, o Sinal da Cruz

deve continuar sendo uma coisa santa.

Fazê-lo devotamente antes e depois das refeições é um dever sagrado.

Assim o exigem a razão, a liberdade, a honra.Exige-o a razão.

Se perguntares a teus condiscípulos, porque não fazem o Sinal da Cruz antes de comer, um> deles dirá:

— "Não quero tornar-me singular, fazendo o que os outros não fazem.

— "Todos os Católicos se abstenham da supersti-"ção e das maldades do espiritismo, segundo man-"da o Divino Espírito Santo no Deuteronomio: — "Guarda-te de querer imitar as abominações daquelas gentes, nem se ache entre vós... quem "consulte advinhos ou observe sonhos ou agouros, "nem que use malefícios,... nem quem consulte os "pitões, ou advinhos, ou indague dos mortos a ver-"dade. (Cap. XVIII, vs. 9 e seguintes.) — Os Revds. "Párocos e Confessores instruam os Fiéis e repreendam aqueles que pensam ser-lhes lícito frequen-"tar as sessões espíritas por não terem ouvido lá "coisas torpes ou impias." Hoje tudo isso é uma calamidade que apavora, porque satanás que nunca dormiu, continua sendo o pai da mentira, nosso figadal inimigo, habilidoso como ninguém para engana-os modernos.

Não quero tornar-me ridículo, nem que zombem de mim por causa de uma prática inútil e fora da moda. —

Não querem tornar-se singulares ?!...A bem deles, quero crer que os coitados nem com-

preendem o sentido de tais palavras.Tornar-se singular quer dizer, colocar-se no singular, isto

é, isolar-se, não fazer aquilo que todos fazem. E neste sentido o Homem pode muito bem tornar-se singular sem ser ridículo. Até às vezes somos obrigados a isto, para não nos tornarmos culpados.

S. Jerónimo diz; — "Ninguém? se sente à mesa sem orar e ninguém se retire sem dar graças ao Creador". (1)

Aos que se.dispensam desta sagrada lei da sabedoria e do recolhimento, S'. Crisóstomo trata-os como bem o merecem, dizendo:

—i "Antes e depois de comer é necessário orar. Ouvi, ouvi bem isto, ó vós todos que à maneira dos porcos, vos nutris dos dons de Deus, sem levantar os olhos para a Mão que vo-los dá." (2)

7

A bênção da mesa pelo Sinal da Cruz não era só usada entre as famílias e na vida civil; também era observada e com religiosa fidelidade, pelos soldados em seus acampamentos.

A tal respeito refere S. Gregório Nazianzeno um facto, que se tornou célebre.

Juliano Apóstata gratifica seus soldados, distribuin-do-lhes um extraordinário de víveres e dinheiro.

Junto ao Imperador está um brazeiro aceso. Cada soldado ao passar deixa cair nele uns grãos de incenso.

Sem suspeitar de idolatria, os soldados Cristãos fazem o mesmo que os outros.

Finda a distribuição, reunem-se para saudar o Príncipe.Foi a taça apresentada a um soldado Cristão, que, segundo o costume, a abençoou pelo Sinal da Cruz. Levantou-se logo uma voz que bradou:

— "O que agora fazes está em contradição com aquilo que há pouco fizeste.

— E que fiz eu?— Pois já esqueceste?

(1) Chegaram as coisas a tal ponto que muitos Bispos se viram forçados a premunir por novas determinações o Clero e os Fiéis de suas Dioceses contra a invasão satânica. (Nota da 4.a Edição franceza.) Nota da presente edição.

Monsenhor Gaume em Paris já assim falava naquele tempo. Hoje que se deverá dizer em o nosso querido Brasil? A Terra da Santa Cruz, infelizmente acha-se infestada de — "centros espiritas e "macumbas" — "centros esotéricos" — "teosofismo" — "comunhão de pensamentos" que se difun-dem por jornais, rádios e almanaques; satanás vive, governa e age, enganando a milhares de pessoas batizadas que se envergonham de fazer o Sinal da Cruz ou talvez nem o sai-bam fazer. Já em 1910, o Episcopado das Províncias Ecle-siásticas Meridionais do Brasil, reunido em São Paulo sob a Presidência do Eminentíssimo Cardial Arco verde, houve por necessário exarar na Pastoral Coletiva de então, à página 13, o seguinte:

(1) Nec cibi summantur, nisi oratione praemissa; nec rededatur a mensa, nisi referatur Creatori gratia. (Epist. XXII, ad Eustoch. De custod. virginit.)

(2) Et. hymno dicto exierunt in montem Oliveti. Audiant quot-quot, porcorum instar, contra mcnsam sensibilem comedentes calcitrant, et temulenti surgunt, cum oporteret gratias agere, et in hyrnnos desinere. (Homil, 82, in Matt., n. 2, t. VII p. 385 id., Homil. 49, in ind. n. 2 p. 569, edit, no v.)

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O SINAL DA CRUZ

Um acto de idolatria; queimando o incenso renegaste

tua Fé? —A estas palavras, ele e seus bravos companheiros

saem da mesa, soltam gemidos de dor e de protesto; diri-gem-se à praça, acusam o Imperador de havê-los enga-nado com tanta indignidade; e, pedindo nova provação para confessar a Fé, alto e desassombradamente se de-claram Cristãos.

O Apóstata manda prendê-los. Condenados à morte, são conduzidos ao lugar do suplício.

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O SINAL DA CRUZ

Mas, só para não aumentar o número dos mártires, Juliano comuta-lhes a pena e os envia aos pontos mais remotos do Império (1).Quando entre os convivas se achava um Padre, a ele

competia a honra de fazer o Sinal da Cruz sobre os alimentos (2).

A bênção da mesa era por tal modo considerada uma coisa tão santa, que, no século IX, os Búlgaros, convertidos à Fé, perguntavam ao Papa Nicolau I, se o simples Fiel podia nesta ocasião substituir o Padre.

"Sem dúvida, responde o Papa; a cada um está "concedido o direito de, pelo Sinal da Cruz, pre-servar-se das ciladas do demónio, a si e a quan-"to lhe pertencer; é mister triunfar dos ataques "do inimigo pelo Nome de Nosso Senhor." (3)

As vindouras idades hão de ainda restituir e perpetuar esta prática entre os verdadeiros Católicos do oriente e do ocidente.

E tu bem sabes que entre muitos ela ainda hoje perdura.

8Conhecemos já os que fazem o Sinal da Cruz antes de

comer.Vejamos também quais são esses outros tais que o não

fazem.São eles:

os pagãos,os judeus.os maometanos,

os heréticos,os ateus,

os maus católicos, e os católicos ignorantes, escravos dorespeito humano.

Eis quais são os que não fazem o Sinal da Cruz e quais os que zombam de quem o faz.

De que lado estará a singularidade ridícula? Adeus.Até amanhã, se Deus quiser.

(3) Orat, 1 contra Julian: Thedoret., Hist, lib. III, c. XVI.(4) Vid. D. Ruinart. Actes du martyre de Saint Theodote.(5) Nam omnibus tatum est ut et omnia nostra hoc signo de-

beamus ab insiddis munire diabuli, et ab ejus omnibus impug-nationibus in Christi triumphare. (Rep. ad consult. Bulgar.)

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O SINAL DA CRUZ

DÉCIMA OITAVA CARTA

Paris, 13 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. A honra exige que se faca oração antes e depois da comida. — 2. Orar antes e depois de comer é tão antigo como o universo,

tão extenso como o gênero humano. — 3. Benedicete e Graças de todos os povos. — 4. Quem não pratica tais provas, assemelha-se aos seres que não pertencem ao gênero humano.

1

Caríssimo Frederico,

A honra nos obriga a sermos fiéis ao antigo uso do Sinal da Cruz, antes e depois da comida. Teus condiscípulos, pelo contrário parecem crer que honroso seja não respeitar semelhante uso.

Eles dizem:

Não quero tornar-me notado, nem sujeitar-me a zombarias.

Passemos à análise deste novo pretexto.

A razão, como já vimos, condena os que desprezam o Sinal da Cruz; logo a honra, que nunca está do lado da sem-razão, não pode absolvê-los.Dizem eles que não querem tornar-se notados. Isto é impossível: por mais que façam, tornar-se-ão notados.

Não os julgo tão infelizes, que nunca se encontrem à mesa com verdadeiros Católicos; e, neste caso, hão de tornar-se tristemente notados.

Temos de novo a questão, já resolvida, dos outros e dos outros.

Quanto à zombaria, que eles temem, ela na verdade afecta aos que se tornam notados, apenas com esta diferença: que o verdadeiro Católico em vez de zombar, tem deles dó e piedade.

Todavia, quero ser indulgente, contentando-me com expor teus condiscípulos e outros tais, à nota dos Católicos.

Vais ver porém que abstendo-se eles de orar antes da comida, a pretexto de se não tornarem notados, desonram-se aos olhos da humanidade inteira.

Quem de livre vontade, se coloca na classe dos brutos, desonra-se aos olhos de todo o homem sensato.

Até agora só era conhecida uma classe de seres que comiam sem orar; hoje conhecem-se duas:

os brutose os que se lhes assemelham.

Entre um homem que come sem orar, e um cão, qual a diferença?

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O SINAL DA CRUZ

Só encontro uma e a academia de ciências também não vê outra: o primeiro é um bípede, e o segundo, um quadrúpede; porém, ambos são brutos.Bípede ou quadrúpede, sentado ou deitado, grasnando ou

grunhindo, têm eles as mãos ou as patas, os olhos, o coração e os dentes cravados na matéria e devoram estupidamente o alimento, sem levantar a cabeça para a Mão que o reparte-O homem que assim procede, foge de gênero humano. Senta-se à mesa. como o bruto; como o bruto lá permanece; e é também como o bruto que se levanta. Que te parece desta proposição? Muito absoluta? E, contudo, tu a aprovas. Oiço-te dizer:

— E' verdade. Antes de nossa época, só os brutos — bois, jumentos, mulas, porcos, ostjras, crocodilos é que comiam sem rezar.

Nada mais certo do que isto.

2

A ORAÇÃO DEPOIS DA COMIDA É TÃO ANTIGA, COMO 0 UNIVERSO, E TÃO EXTENSA COMO O GÊNERO HUMANO.

Existe desde toda a antiguidade. Entre os Judeus:"Quando comeres, diz a lei de Moisés, e estiveres sa-

tisfeito, bendiz ao Senhor (1)."Eis a oração para depois da comida.

Fiéis a esta prescrição divina, observavam os antigos Judeus ao comer, as cerimónias seguintes:

O pai, rodeado de seus filhos, dizia:"Bendito seja o Senhor Nosso Deus, cuja Bondade é que

dá o alimento a toda a carne".Depois, tomando na mão direita um copo de vinho,

benzia-o, dizendo:"Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que creou o fruto da

vida".Era então o primeiro a beber dele; depois o passava aos outros, que também bebiam. Seguia-se a benção do pão.

Tomando-o todo inteiro nas duas mãos, o pai dizia:"Bendito e louvado seja o Senhor Nosso Deus que da

terra tirou para nós o pão".Em seguida o partia e dele comia um bocado; depois

repartia-o aos demais.Só então é que começavam a comer.

Quando vinham novos pratos, ou se mudava de vinho, havia bênçãos particulares, de modo a ser cada alimento purificado e consagrado.

Acabando de comer, cantavam um hino em ação de graças (1).

Todos estes ritos se tornaram mais veneráveis, quando depois foram praticados pelo mesmo Filho de Deus feito Homem — Jesus Cristo, Nosso Senhor.

(1) Eis his omnibus apparet, veteres illos judaeos, nullos cibos absque benedictione et gratiorum actione, sumere fuisse soli-tos. (Struckins, Antiq. convivial., lib. II, c. XXXVI, p. 436. ed. in iol. 1695.

(1) Cum comoiicris. et satiatus fueris. bcnedicns Domino. D«ut VIII, 10.)

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O SINAL DA CRUZ

Nada mostra melhor a importância deles.Que faz o Divino Mestre do gênero humano, quando na

ultima ceia come o cordeiro pascal com seus discípulos?Que faz Ele, quando, depois da ceia, canta com seus

discípulos o hino de graças ?

Et hym.no dicto exierunt in montem Olivcti.

Obedecendo religiosamente à Lei Sagrada toma o cálice, abençoa e o passa a cada um dos convivas (1).

Em muitas outras circunstâncias vemos o Modelo eterno do homem, rezar antes de tomar ou dar alimento.

Vai partir pão e dividir peixinhos para repartir ao povo.Toma os cinco pães e os dois peixes, levanta os olhos ao

Céu, e os benze (2).Tudo isso, dizem os Santos Padres, está indicando a

benção dos alimentos.O Verbo Encarnado procedeu assim para nos ensinar,

que jamais devemos comer sem nos benzermos e darmos graças (3).

Causará espanto, porventura, o acharmos a benção da mesa entre os primeiros Cristãos?

Os exemplos do Homem-Deus não eram a regra de conduta para eles?

Que outra coisa faziam os Apóstolos senão recordar-lhes tais exemplos? Diz Polidoro Virgílio:

"E' costume entre nós benzer-se a mesa antes da comida; e isso se faz imitando a Nosso Senhor (1)."

Em duas ocasiões Jesus Cristo no deserto, benzeu os pães; e, em Emaús benzeu a mesa em presença dos dois discípulos.

Tertuliano também diz:"Cessa o acto de comer e começa a oração (2)."

De novo se poderia aqui citar — S. Crisóstomo, S. Jerónimo, Orígenes e muitos outros Padres Latinos e Gregos (3).

3

O Benedicite e as Graças dos primeiros Cristãos, possuímo-los até em versos magníficos que são de Prudencio :

Cristi prius Genitore potens, etc.Estes cantos de depois da comida são mais uma prova da

pontualidade com que nossos avós se conformavam aos exemplos de Nosso Senhor, que se havia tornado obediente às prescrições de Deus, Seu Pai.

Eis em prosa mais outro monumento de nossa antiguidade, três vezes venerável.

Antes da comida:

— "Ó Vós que alimentais a tudo quanto respira, dignai-Vos abençoar os alimentos que vamos tomar. Dissestes que, se invocando Vosso Nome nos acontecesse beber alguma cousa envenenada, não sentiríamos nenhum mal, porque sois Omnipotente. Eliminai, pois destes alimentos o que eles possam conter de prejudicial e malfazejo (1)."

Depois da comida:

— "Bendito sejais Senhor Nosso Deus, que desde nossa infância nos haveis alimentado; e conosco, a tudo o que respira." —

Profundamente filosóficas, como veremos, estas fórmulas atravessaram os séculos.

Com ligeira modificação ou sem isso, vês ainda sendo usadas por os Católicos até nossos dias.

Apesar de suas hostilidades contra a Igreja, muitos protestantes conservam-na assim mesmo.

Ainda hoje, na Alemanha e na Inglaterra, grande número de famílias protestantes não comem sem que primeiro rezem.

O que te parecerá mais estranho é que — a bênção da mesa se encontra até entre os povos pagãos.

Sim, meu caro Frederico; teus condiscípulos, discípulos e admiradores dos gregos e dos romanos, que são hoje modelos obrigados para rapazes de colégio, esses teus condicípulos envergonham-se de fazer o que gregos-e romanos tão religiosamente faziam.

Eis o que nos afirma Ateneu:

"Nunca os antigos comiam, sem primeiro implorar os deuses (1).

Falando dos Egípcios em particular, acrescenta:

"— Depois de se recostarem à mesa, levantavam-se de súbito, punham-se de joelhos, e o chefe do festim ou o sacerdote começava as orações tradicionais, que os outros com ele recitavam. Depois de novo se recostavam (2)" —

O mesmo acontecia entre os romanos.Referindo-se ao assassinato de um homem perpetrado

num jantar por ordem do cônsul Quinto Flamínio' para agradar a uma cortesã, Tito-Lívio assim se exprime:

(1) Et accepte- calice gratias egit et dixit: Accipite et dividite inter vos. (Luc. XXTI, 17.)

(2) Mar.. VIII. Math., XIV.(3) Consacrât sive benedicit panes... ut me doceret, ut mensam

attingentes gratas prius agamus et deinceps cibum capiamus, etc. (Theophylact, in Math., XVI.)

(4) Nostris mos est mensam jam instruetam saens quibusdam sanetificare verbis. priusquam vesci incipiant.

(5) Oratio auspicatur, et claudit eibum (Aböl, III. 9.)3 Vid Duranti. De ritibus Eccl. Cath.. hb. II. p. 658. edt. 1592.

(1) Vid. Mamachi, Costum, de primitivi Christiani, t. II, p. 47,. Origen., p. 36.

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O SINAL DA CRUZ

— "Este acto monstruoso foi executado quando, entre copos de vinho e iguarias, é costume orar aos deuses e oferecer-lhes libações (3)." —

As libações, como sabes, eram uma espécie de oração por toda a parte conhecida, e muitas vezes repetida.

Os romanos faziam-nas quase a todas as horas do dia: de manhã ao levantar; à noite ao deitar, quando principiavam uma viagem; nos sacrifícios; nos casamentos ; antes e depois da comida.

Não tocavam em alimentos sem consagrar uma parte deles à divindade.

O que sobejava do festim era posto sobre o pequeno altar, chamado patella.

Isto constituía para eles o benedicite e as graças.Notável tradição de uma perpetuidade universal!Vimos entre os judeus bênçãos novas a cada mudança de

vinho ou a cada novo prato.O mesmo uso havia entre os romanos.A cada novo prato havia libações particulares em honra dos

deuses.Cada conviva derramava sobre a mesa ou sobre a terra,

um pouco de vinho de seu copo, com certas orações dirigidas aos deuses. (1)

Aos romanos tinham os gregos servido de mestres.Entre eles, a mesma frequência e o mesmo uso das

libações no princípio e no fim dos ágapes, as mesmas orações particulares a cada mudança de vinho.

— "Sempre que se oferecia vinho puro aos convivas, diz Deodoro da Sicilia, era costume dizer: Dom do demónio. E, quando no fim da refeição se servia vinho misturado com água, diziam: Dom de deus conservador.

O vinho capitoso era tido como prejudicial à saúde da Alma e do corpo, enquanto que o vinho discreto erasaudável (1).

Para o fim da comida, havia uma fórmula geral da acção de graças que se dirigia ao senhor dos deuses (2).

4

O uso de benzer os alimentos era tão respeitado entre os pagãos, que dera lugar a este provérbio:

— "Não te sirvas do alimento ainda não santificado.""Ne a chytre-<pede cibum nond.um samctificatum ra-

pias".— "Este provérbio, diz Erasmo, significa:

— "Não\ vos lanceis ao alimento como os brutos; não tomeis alimento sem primeiro oferecer dele as primícias aos deuses."

Entre os antigos, segundo refere Plutarco, as refeições eram na verdade havidas como coisa sagrada.

Eis porque os convivas consagravam aos deuses as primícias dos alimentos e testemunhavam com firmeza que o comer era para eles coisas misteriosa e santa (3).

Para ligar a cadeia das tradições pagãs, Juliano Apóstata, teve o cuidado) de mandar o sacerdote Apolon benzer o célebre banquete no arrabalde de Antioquia. (1).

Nisto os barbaros imitavam os povos civilisados.À mesa, faziam os Validados circular um copo já

consagrado a seus deuses por certas fórmulas de oração (2).Nas índias, o rei não comia nenhuma iguaria sem que

primeiro fosse consagrada à divindade.Apesar da grande diferença de clima, de costumes e de

civilização, os povos da zona glacial praticatvam o mesmo que os da zona tórrida.

Os antigos habitantes da Lituânia e da Samogicia, bem como outros bárbaros do norte, chamavam os próprios deuses a santificar-lhes a mesa e eles que eram demónios, apareciam para tal fim.

A um canto de suas cabanas, certas tribus selvagens mantinham como ídolos, a umas serpentes domesticadas.

Em certo dia, por meio de uma toalha branca, faziam que elas subissem à mesa.

As serpentes comiam então de todas as iguarias e retiravam-se.

Santificado assim o alimento, dele os bárbaros comiam sem medo (3).

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(1) Veteres nunquam cibum cepisse nisi prius deos plaçassent. (Depnosophis, lib. IV.)

(2) Post discubitum surgebant rursus, atque in denna procidebant, et praecunte, seu sacrorum administro, patrias quasdam preces simul profundebant, quibus absolutis, denuo mensae ac-cumbebant. (Ibid., lib. IV.)

(3) Commissum est íacinus hoc saevum atque atrox inter pecula, atque epulas, ubi libare dus dapes, ubi bene precari mos esst. (Decad. IV, lib. IX.)

(1) Djct. des Antiq. art. libations.

(1) Olim moris fuit quoties in caena merum vinum dabatur om-nibus, ut dicatur; boni Daemonis; quum post coenam acqua temperatum acclamabatur Jovis Servatoris, etc. (lib. IV.)

(2) Post coenam a lotis manibus inferi solere calicem Jouis Ser-vatoris. (Id., lib. II.)

(3) Antiquitas enim, ut auctor est Plutarchus, in Symposiaris, inter rcs sacras habebatur mensa quotidiana, etc. (Apud. Struckins, p. 441.)

<1) Sozomen., Hist., lib. III, c. XIV.(2) Vandali in conviviis pateram circumferentes olim certis ver-bis

consecrabant, sub nominibus deorum. (Grantz., lib. III Vand., c. XXXVII.)

(3) Struckius, ubi supra.

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O SINAL DA CRUZ

Entre os abissínios, turcos e judeus modernos, acha-se igualmente a bênção da mesa.

Fiéis às tradições de seus maiores, estes últimos até conservam o uso de muitas orações durante a comida.

Assim, quando aparecem frutas, eles dizem:— "Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que criou a fruta

das árvores."À sobremesa rezam:— "Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que creou espécies

diferentes de alimentos (1)."Os actuais povos da Indo-China da China e do Ti-bet não

fazem excepção ao uso universal.Estou certo, que ele existe até entre os negros mais

barbaros da África.

Escreve um Missionário da China:—"Chegamos, pouco antes das onze horas, ao "grande

pagode de Quêm-chouyuêm. Era o mo-"mento em, que os Benzos iam para a. mesa. Eis "o espectáculo de que fomos testemunha. Num "vasto refeitório, noventa Benzos sentados e colocados dorso a dorso, diante de uma mesa comprida e muito estreita, de mãos juntas, e olhos "sempre fixos na terra, cantavam palavras, que "nenhum de nós compreendeu. "Esta oração durou bem dez minutos. "O grande Benzo estava no centro, detrás de um

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(1) Struckius, ubi supra, et, c. XXXVIII. De libationibus ante et posí epulas.

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O SINAL DA CRUZ

"ídolo doirado e diante de uma pequena mesa "mais elevada. De lá, onde dominava a assem-"bléia, orava sentado como os outros. "No meio do refeitório e em face do ídolo, esta-"va um outro Benzo vestido de amarelo que oferecia à falsa divindade uma tigela cheia de "arroz. Findas as orações, o Benzo colocou a "tigela debaixo da barba do ídolo. Então, os "creados encheram apressadamente os pratos "das diferentes mesas. Nenhum dos convivas "se movia; mas, a um sinal dado pelo grande Ben-"zo, todos começaram a comer e num instante "devoraram grande número de gamelas de ar-"roz, misturado com beringela (1)." —

Eis o benedicite na sua mais solene forma.Já o diziam os primeiros Cristãos e dizem hoje os

seminários e as comunidades.Nossos Missionários acharam a bênção da mesa até

entre os mais degradados selvagens da América do Norte.No princípio da comida lançam fora de suas cabanas as

primeiras porções de seus festins, como quinhão reservado ao

Grande Espírito, como igualmente oferecem-lhe as primícias do fumo que sai de seus cachimbos (2).

Vês, caro amigo?A oração antes e depois da comida é tão antiga como o

universo e tão extensa como o gênero humano.Ora, se a existência de uma lei se reconhece pela

permanência dos efeitos; se, por exemplo, vendo nascer o sol todos os dias, num determinado ponto do horizonte, qualquer tem direito a dizer que uma lei regula seus mo-vimentos, terei eu menor direito a afirmar que benzer os alimentos é uma lei da humanidade ?

Observá-la, é praticar o que faz todo o gênero humano ; desprezá-la é proceder como os seres que não pertencem ao gênero humano.

Literalmente isso quer dizer:— assemelhar-se aos brutos (1).

Pergunta a teus condiscípulos se isso é honroso.Em seguida te darei explicações da lei que prescreve o

benzer da mesa.Adeus.

Até breve, se Deus quiser.

DÉCIMA NONA CARTA

Paris, 14 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. A benção da mesa é um ato de liber-

dade. — 2. Três tiranos. — 3. Vitória sobre o mundo. — 4. Vitória sobre a carne. — 5. Vitória sobre o demônio. — 6. Conclusão notável.

1

Caro Amigo,

"Os crocodilos é que comem sem orar."Tal é o axioma que resume as duas últimas cartas.Dizes-me que teus condiscípulos foram achatados, pela

força dos factos apontados; factos para eles totalmente novos.

Apesar disso, continuam na mesma; não fazem o Sinal da Cruz nem antes nem depois de comer.

Tu é que agora o fazes impunemente porque eles te-mem o axioma.

Grandes palradores da liberdade e da independência, teus condiscípulos como outros muitos são os mais vis es-cravos do tirano ainda mais vil do que eles — o respeito humano.

Pobres rapazes!Para encobrir a própria escravidão, querem ainda dizer:

— O Sinal da Cruz sobre os alimentos é cousa inútil e fora da moda.

Quem ainda faz isso pertence à classe mais ou menos respeitável dos papalvos.

Os Padres e os Religiosos são papalvos.Os verdadeiros Católicos de todos os países são

papalvos.Os judeus, os egípcios, os gregos, os romanos, são

çapalvos.A flor da humanidade é papalva.A humanidade em geral é papalva.0 pai, mãe, irmãs deles são papalvos.Só eles é que são os sábios, só eles é que são os ilus-

trados, entre os mortais.Para rasgar essa mascara com que pretendem encobrir-

se, vou provar as duas coisas seguintes:1.° A Bênção da mesae o Sinal da Cruz são um acto de

liberdade, um acto mui útil, um acto que só saiu da moda nas baixas regiões do moderno idiotismo.

(1) Anais da prop. da Fé, n. 95, p. 340, ano 1344.(2) Anais, etc., n. 216, p. 288.

(1) Homo cum in honore esset non intelexit, comparatus est jumentis insipientibus, et similis lactus est illis. (Ps. XLVIII.)

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O SINAL DA CRUZ

2.° A razão, a honra e mais esta consideração, jus-tificando plenamente nossa conduta, explicam o proce-dimento do gênero humano.

2

Três tiranos disputam a liberdade do Homem. São: o mundo, a carne e o demónio. Para escaparmos à escravidão deles é que nós, e conosco a humanidade, nos benzemos e benzemos a mesa. Já o vimos e eu o repito;

Não fazer o Sinal da Cruz antes de comer, é separar-se da flor da humanidade; e não orar é assemelhar-se ao bruto. —

Em ambos os casos vê-se a escravidão de quem deixa de fazer tais actos.

Fresta bem a atenção.Quem se submete a um poder despótico é escravo.Poder despótico é aquele que não tem direito de poder

mandar ou aquele que manda contra um direito, contra a razão, contra a autoridade.

Qual é o poder que me proíbe fazer o Sinal da Cruzantes de comer?

Quem chega até a ameaçar-me com suas zombarias, se eu tiver coragem de fazê-lo?Qual é o direito que ele tem para isto? De onde procede um tal mandato? Quais os títulos com que se alinhava à minha docilidade?Quais as razões a favor desse poder sobre mim? Este poder usurpador é o mundanismo actual. E' o mundo desconhecido nos anais dos séculos cristãos.

E' o mundo dos salões, dos teatros, dos cafés, das tabernas, da agiotagem e da bolsa.

O uso desse mundo, a impiedade desse mundo, o den-so materialismo desse mundo, a tirania desse mundo é que está dominando a Beócia (1) das inteligências.

Eis a menoridade que nascera ontem, e hoje é já decrépita.

Essa menoridade atrevida sempre em revolta contra a razão, contra a honra, contra o gênero humano, é que tem a pretensão de me impor os seus caprichos!...

E hei-de ser tão covarde que me submeta a tal poder tão atrevido?

Num desacordo tal com a razão, com a honra, com a flor da humanidade, poderia alguém ter coragem de falar em dignidade, independência e liberdade?!...

Ó soberba louca e vã!Por debaixo do ouropel do orgulho se escondem os

ferros da escravidão.A máscara furada com que se apresentam, mal encobre

a figura do bruto.Mas o bom senso aqui repete:

Midas, o rei Midas tem orelhas de burro.

Do cumprimento delas se lisonjeiam os independentes de hoje.

Tal independência nós os papalvos não a queremos por nenhum preço.

E' vergonhosa a escravidão do mundo; e mais vergonhosa ainda, a escravidão do vício. A ingratidão é um vício. A gula é um vício. A impureza é um vício.

Contra estes tiranos protegem-nos o Sinal da Cruz e a oração, antes e depois da comida.

3

Ha hoje duas escolas diametralmente opostas: a escola do respeito e a escola do desprezo.

A primeira respeita — Deus, Alma, corpo, igreja, -Autoridade, tradição, creaturas.

Para ela tudo é sagrado; porque tudo vem de Deus e tudo deve voltar para Deus.

Ela ensina a usar de tudo com certa dependência, porque nada é meu; com certo temor, porque de tudo tenho a dar contas; com muita gratidão, porque tudo é benefício; até o próprio ar que respiro, não é nosso; é uma dádiva de Deus.

A segunda escola despreza tudo: — creaturas, tradição, Autoridade, Igreja, corpo, Alma, Deus.

Mestres e alunos usam e abusam da vida e dos bens de Deus, como se de tudo fossem eles os proprietários irresponsáveis.

A primeira escola tem escrito em sua bandeira — gratidão.

A segunda é sem bandeira porque é de cegos. Apenas se governam pelos brados de — egoísmo e desprezo.

No momento em que o homem, comendo consome os dons divinos necessários à vida, uma e outra sinalam sua presença. Fiel ao dever do respeito, a flor da humanidade reza e dá graças.

E' o profundo sentimento que tem da própria digni-dade ; por isso' não se confunde com o bruto.

Tem a persuasão do dever e não fica muda à vista •dos bens que tão copiosamente recebe da Providência.

A ingratidão para com os homens é coisa odiosa; portanto, mais odiosa, mil vezes mais odiosa é a ingratidão para com Deus.

Ser escravo da, ingratidão é ignorância que a primeira escola não aceita nem tolera.

Um coração ingrato jamais será bom.Os criados na escola do desprezo envergonham-se de

ser reconhecidos.

259

(1) A Beócia pertencia à Grécia antiga. Seus habitantes eramr. tidos por estúpidos. (Not. do trad.)

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O SINAL DA CRUZ

Para eles a gratidão é um peso insuportável.Comem à semelhança do bruto ou como o filho des-

naturado.Não encontram no coração nem um só sentimento de

ternura.Não têm nos lábios nem uma só palavra de gratidão

para com o Pai, cuja bondade inesgotável provê às ne-cessidades e até aos lícitos prazeres de cada um deles.

Dizia um ilustre chanceler da Inglaterra:

"Vede aquele filho ingrato que, sentado à me-"sa de seu Pai, devora o pão alheio sem nunca "nem se lembrar de Quem lho dá! Antes, mui-"tas vezes até O ultraja na hora em que está

"comendo! E, apenas saciado, como se fora um"cão, lhe volta as costas."Tem-se na conta de quem nada deve!" (1)

E, porque calpestra um dever, ei-lo que se julga um livre! Proclama-se independente! Independente do que? De Quem?

Independente daquilo que é necessário respeitar e prezar, para depois vir a ser dependente, escravo daquilo que é necessário aborrecer e desprezar.

Na verdade; que triste, que miserável independência!...

4

Outro tirano senta-se conosco à mesa. E' a gula.Prendendo aos alimentos a vista, o gosto, o olfato, a

gula coloca o homem numa posição de idolatria ao ventre.Em vez de falar na abundância do coração, aquela boca

não fala senão do estômago.Não é das propriedades alimentícias que ele cuida: nas

iguarias só tem valor o gosto.Não come para viver; vive para comer. Por isso nele é o ventre que se desenvolve e domina. A inteligência embota-se; a Alma torna-se uma pobre escrava.

A mesa lauta é incompatível com a Sabedoria.

Nunca um grande homem foi glutão.Todos os Santos foram modelos de sobriedade (1).Olha, meu caro Amigo, falo da gula só como desordem

na escolha de iguarias, viciada delicadeza a serviço do paladar, avidez e sensulidde no comer.

Quando a isto segue-se ainda a intemperança, conte-se então com uma recua de doenças.

A intemperança da gula mata mais gente do que a espada:

— "Pluresoccidit crápula, quam gladius (2)." —

Nabucodonosor, Faraó, Alexandre, César, Tamerlão com todos os algozes e tiranos que juncaram a terra de cadáveres não chegaram a matar tanta gente como a gula.

Notável mistério!No uso do Sinal da Cruz e da oração, antes e depois da

comida existe uma profunda sabedoria.Invocando a Deus em nosso auxílio, nós nos armamos

contra um inimigo terrível que ataca todas as idades, ambos os sexos, todas as condições.

A gula é um inimigo que tenta ligar-nos aos mais

grosseiros vícios.Sabemos que o comer é uma guerra.Ir à mesa é entrar em combate.

Segundo a expressão de um grande génio, o Sinal da Cruz nos ensina que para não sermos vencidos, é mister tomar os alimentos como quem toma remédio:

sempre por necessidade: nunca por prazer (1).Quando a escravidão da Alma começa pela gula, acaba

pela impureza.Quem nutre sua carne só de alimentos delicados, tem

de sofrer-lhe as vergonhosas revoltas.O escravo nédio e gordo respinga.Cousa perigosa é o vinho.Nele reside a luxúria.Sendo forte, é tão contrário ao bem da Alma como à

saúde do corpo.Bebido inconsideradamente espuma em volúpia.No estômago dos rapazes é azeite lançado ao fogo.

— "A gula é a mãe da luxúria e o algoz da castidade." — "Ser glutão e aspirar a ser casto é querer com azeite apagar um incêndio." — "A gula escurece a inteligência." — "O glutão é-um idólatra; presta culto de idolatria ao\ ventre. O templo deste ídolo é a cozinha, a mesa, o altar; os sacrificadores os cozinheiros; as vítimas são os pratos; o incenso ê o cheiro das iguarias."

E, marca bem, meu caro, este templo é a escola da libertinagem.

— "A gula ataca-nos, e, sempre que triunfa, chama logo a luxúria para fazerem-se mútuas regalias1."

— "Gula e luxúria são dois demónios inseparáveis."'— "A multidão dos pratos e garrafas atrai a multidão

dos espíritos imundos, de cuja súcia o pior, o principal chama-se demónio do ventre.

(1) Hoc docuisti me, Domine, ut quemadmodum medicamenta, sic alimenta sumpturus accedam. (Santo Agostinho Confess., lib. X, c. XXXI.)

259

(1) Sapientia no-ri invenitur in terra suaviter viventium. (Job, XXXVIII, 13.)

(2) ViRilia, cholera et tortura viro infrunito. (EccI., XXXI, 23 et XXXVII, 34.)

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O SINAL DA CRUZ

— "A saúde física e moral dos povos é bem propor-cional ao número de trabalho dos cozinheiros." (1)

Acaba de ouvir, meu Frederico, os oráculos da Sa-bedoria divina e da ciência humana.

E' a voz dos séculos confirmada pela experiência.Qual o meio para o homem conservar sua liberdade na

presença de um inimigo tão perigoso que prende e mata lisongeando?

O passado e o presente não conhecem mais do que um; e o futuro também não conhecerá outro:

Somente um socorro de Deus.

E tal socorro de Deus só se obtém pela oração.Para fortificar o homem contra as tentações da mesa,

foi estabelecida uma oração especial que é praticada entre todos os povos.

E mesmo os que fazem nem sempre saem vitoriosos.Que será dos que nunca a fazem?E dos que a deprimem, dos que zombam dela?

Quererão persuadir-nos de que ficam sempre senhores do campo da batalha?

Para os acreditar, não bastam palavras; são neces-sários factos: e estes são os costumes.

Se em plena luz houvéssemos de ver os mistérios de seus pensamentos, a perversidade dos seus desejos, o triste efeito de suas visitas, a fedentina de seus discursos íntimos, a baixeza de sua conduta?!

Tal exibição, porém, não é necessária.Temo-la cada semana verificada no registo dos es-

cândalos da imoralidade pública.

5

O sagrado dever da gratidão, como ainda a imperiosa necessidade de nos defendermos da gula e da volúpia, . justificam plenamente o uso da bênção da mesa.

Ouso, porém, aqui acrescentar que ele repousa numa outra razão de certo modo ainda mais forte e mais profunda.

E' aqui onde mais se vê a ignorância e a estupidex do mundo actual.

Já dissemos que há um Dogma de que por toda a parte o Gênero Humano tem sempre conservado a lembrança.

E' este:Desde que satanás alcançou vitória contra nossos

primeiros pais, isto é, desde o pecado, todas as creaturas estão ao serviço do príncipe do mal.

Como sempre se acreditou na existência de Deus, todos os povos têm sempre acreditado também que as creaturas pelas influências malignas do demónio, ficam sendo instrumentos de seu ódio contra o homem.

Daqui a infinita variedade de purificações empregadas por todas as gentes, em todos os séculos, debaixo de todos os climas.

Há, porém, um acto em que o uso destas purificações aparece invariável:

E' o de tomar o alimento.A universalidade e inflexibilidade deste uso, assentam

de cheio sobre dois factos.O primeiro é ser o demónio da mesa o mais perigoso de

todos (1).E o segundo é ser a união operada entre o alimento e o

homem a mais íntima de todas porque consiste na assimilação.

Do alimento pode o Homem dizer:— "Eis o osso dos meus ossos, a carne da minha carne,

o sangue do meu sangue." —Foi, por isso que Deus nunca permitiu ao Homem

perdesse de vista o perigo que há em tal contacto.Nas próprias fórmulas da bênção e da acção de graças,

acha-se a prova de que este medo universal é a razão profunda do uso do Sinal da Cruz e da oração sobre os alimentos.

6Cristãos ou pagãos, todos, sem excepção, pedem a

Deus que dos alimentos sejam desviadas as malignas in-fluências do demónio.

Queres para teus condiscípulos coisa melhor e mais conveniente do que as autoridades bem fora da Igreja?

Baste um só, por todos.

259

(1) Luxuriosa res vinum. (Prov., XX,1.) —— Gula genitrix est luxuriae, et castitatis carnifex. (S. Hier., Reg. womach., c. XXXVI.)Qui ventri dum obsequitur, fornicationes spiritum vincere-vult, is ei similis est qui oleo incendium extinguere nititur. (S. Joan Clim. Grad., XD7.)Deo ventri templum est coquina; altare, mensa; ministre, coqui; immolatae pecudes, coctae carnes;; Fumus incensorum, odor saporum. (Hug. a S. Vict., De claustr. anim., Iib. II, c. XIX.)— Esus carnium et potus vini, ventrisque saturitas, semina-rium libidinis est: nule comicus: Sine Cerere, inquit, et Libero friget Venus. (S. Hier., ad Govi., üb. 11— Immundi Spiritus se magis injiciunt, ubi olus viderint '

escarum et potuum. (S. Isid. Hip., De sum, bon, sent., s.XLIV, sent 3.)Gula Semper est in pugna... Si gulam non viceris, sed ipsa te vicerit, statim advocat sororem suam, Luxuriam. (S. Bern., De inter. Dom. c. XXXIX; S. Bonav. De pugn. spirit., c. II.)— Gula et luxuria, conjurata daemonia. (Tertull.)Multos morbus, multa/fecunda: innumerabiles esse morbos-. miraris? esques numera. (Senec, Ep. XCV. etc.)

(1) lis qui ad luxum mensarum propensi sunt, praeest daemon belluo maximus, quern ego verebor appelari ventri daemo-nem, daemonum pessimum et pernicionssimun. (Clem. Alex., Poedag., lib. II, c. I.)

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O SINAL DA CRUZ

Porfírio, o maior teólogo do paganismo, o mais sábio intérprete dos mistérios e ritos da antiga idolatria, diz:

"E' necessário saber que todas as habitações es-"tão cheias de demónios. E é por isso que quan-"do queremos orar aos deuses, purificamo-las ex-" pulsando estes hóspedes malfazejos.

Mais ainda:

''De demónios estão cheias todas as creaturos; "em modo especial as que saboreiam certos gê-"neros de alimentos."Assim,

"quando nos sentamos à mesa, eles não só "tomam lugar a nosso lado mas até se unem a "nosso corvo."Daí nasce o uso das lustrações, cujo fim prin-"ci.pal não ê tanto invocar os deuses, como ex-"pidsar os demónios."Tais demónios se deleitam especialmente nas "impurezas do sangue; e, para se saciarem à

"vontade, introduzem-se no corpo dos que lhes "vivem sujeitos."Não há na carne movimento forte de voluptuo-"sidade ou no espírito apetite violento de con-"cupiscência que não seja excitado por estes "hóspedes (1)".

Não te parece de São Paulo o que acabamos de ouvir?Tão precisa é a revelação dos mistérios do mundo

sobrenatural, que bem parece ditas pelo Apóstolo.Além das influências ocultas e permanentes do demónio

sobre nossos alimentos, de tempos a tempos Deus permite factos brilhantes, que revelam:1.° — a presença do inimigo; 2.° — a necessidade de afugentá-lo dos alimentos, antes de os tomar.

Em S. Gregório Magno, lê-se o seguinte:"Uma religiosa entrando na horta do Mosteiro, "viu uma alface que lhe despertou apetite. "Apanha-a sem fazer o Sinal da Cruz e, come-a.

"No mesmo instante cai por terra... possessa do "demónio e entra em medonhas convulsões. "Corre logo a socorrê-la o Venerável Abade "Equicio que reza pedindo alivio para a desgra-"çada." O demónio atormentado começa a gritar: — "O que foi que eu fiz? "Eu não fiz nada!"Estava eu lá bem quieto na alface. "Ela é que a comeu sem me afugentar. — "Ordena-lhe o Santo Abade que, em Nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo saia do corpo da-"quela serva de Deus c que não mais a moleste. " O demónio obedece; e a religiosa fica plena-"mente curada (1).

Estás vendo?Os factos concordam com os testemunhos.A teologia pagã concorda com a cristã.O oriente concorda com o ocidente.Os tempos antigos concordam com os modernos.Porfírio concorda com S. Gregório.E teus condiscípulos?

Que hão-de opor eles a tamanhas autoridades?Dizer que o gênero humano é um papalvo; e que o uso

universal de benzer o alimento é superstição que passou da moda, é cousa muito fácil.

Eu é que não me contento com palavra*».Dize-lhes que:

se me derem só uma razão mesmo do valor apenas de um ceitil, para poderem com ela se dispensar de benzer a mesa,'eu promieto, a cada um deles, um busto no Panteon.

Fica pois estabelecido:Orar antes de comer é uma lei da humanidade.

À nossa época é que estava reservada a triste tarefa de produzir espíritos tão fortes que achassem glorioso ao menos algumas vezes ao dia assemelhar-se publicamente aos gato, ao cão, ao crocodiloi

Deixo-te nesta verdade.Amanhã, se Deus quiser, tratarei a questão debaixo de outro

aspecto.Adeus.

(1) Plenae siquidem sunt eorum (improborum daemonum) aedes universae, quas ante propterea ipsis ejiciendia expliant, quo-ties diis supplicaturi sunt. Quin etiam eorundem plena sunt corpora, quod certo quodam ciborum genere proecipue delec-tantur. Itaque recumbentibus nobis non accedunt ipsi modo, sed etiam nostrum ad corpus adhaerescunt, quae causa est quamobrem lustrationes adhiberi consueverint, non utique propter deos potissimum, sed potius ut daemones recedere atque alio migrare cogantur, etc. (Apud Euseb., Proep. evang., lib, IV, c. XXII.)

(1) Dial., lib. I. Dial., IV.

VIGÉSIMA CARTA

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O SINAL DA CRUZ

Paris, 16 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Um viajor desnorteado. — 2. O Sinal da

Cruz é um verdadeiro guia. — 3. A lembrança é o pulso da amizade. — 4. Importância do Sinal da Cruz. — 5. Lembranças Divinas. — {>'. A lei da imitação.

1

Meu caro Frederico,

Perdido lá pela "floresta negra" dos tempos de César, — imensa, horrível, sem morador, sem caminho nem carreiro — tu te achas só.

Feras rugem rugidos medonhos.Escuridão de breu.Piscam relâmpagos.Trovões rebramam.Uma chuva torrencial.Naquele vasto esconderijo dos ursos germânicos, a cuja

vista nos círculos do Coliseu os Romanos aterrorizavam-se, mesmo quando sentados nas bancadas inacessíveis, tu não sentirias à falta de quem te defendesse e guiasse ?E, se de repente te aparecesse alguém que te animasse, te defendesse, e salvo te conduzisse até tua casa?!. Acharias bom?

Aí tens a imagem palidíssima da realidade.O mundo é para o homem pior, incalculàvelmente mais

temível que a floresta negra".A noite de tempestade, com suas trevas, trovões, re-

lâmpagos, perigos, terrores. .. é muito menos do que a vida do homem com as consequências terríveis do pecado original.

— Onde estou?Para onde vou?Que caminho hei-de ter?

São essas as primeiras indagações que lhe surgem à mente ao homem que: anda perdido por este mundo envolto em trevas, cheio de angústias, povoado de perigos.

E quem lhe poderá responder?Quem o animará em um tamanho desalento?Quem o há-de guiar?

O Sinal da Cruz

Tal como São Rafael Arcanjo ao jovem Tobias, o Sinal da Cruz se apresenta a ti, a mim, a todos para nos acompanhar, guiar e defender.

Viajores por este mundo em demanda do Céu, o Sinal da Cruz é guia seguro que nos conduz sãos & salvos.

1 — Mãe sempre solícita e Mestra infalível, a Santa Igreja ensina isto ao Homem, já desde quando ele anda no berço.

2 — Tal é o ponto de vista por onde vamos agora estudar este Sinal admirável.

2

Numa eloquência divina, o sublime Sinal da Cruz (lis ¡pa as trevas, aclaraos caminhos, guia o homem e ro-ponde-lhe com clareza pacificadora as perguntas que lhe causam o pânico da incerteza.

Eis o que ele diz ao homem:

— "Tu vieste de Deus e a Ele deves voltar. "Imagem de Deus que é Todo Amor, é pelo amor "que deves a Ele regressar. "O amor abrange a lembrança e a imitação. "Lembra-te de Deus e adora-O. "Segue Aquele que disse: — Eu sou o Caminho, "a Verdade, a Vida e imitarás a Deus porque "Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. "Só assim cumprirás estas duas leis fundamentais de tua existência'*.

Nada mais verdadeiro.E' divina esta linguagem do nosso Guia e Sinal. Para mais o comprovar, entraremos em alguns pormenores.

3

Em França, como na Alemanha, como em toda a parte, hoje, como há quatro mil anos se afirma que

A lembrança é o /pulso da amizade.

Enquanto o pulso bate, reina a vida; quando deixa de bater reina a morte. Do mesmo modo:

Enquanto perdura a lembrança do objecto amado, subsiste a afeição; quando a lembrança enfraquece a afeição diminui.

Tudo isto, como sabes, é coisa elementar.Ser a lembrança um sinal das afeições humanas é coisa

tão certa que nas despedidas os amigos não deixam de dizer:

Não te esqueças de mim, que eu jamais me esquecerei de ti.

E trocam entre eles objectos que durante a ausência, entretenham recíproca lembrança.

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O SINAL DA CRUZ

Isso que se dá com as amizades humanas, dá-se muito mais com o Amor de Deus.

A lembrança de Deus é tudo para o Homem; é a nossa vida.

Sendo a lembrança de Deus a primeira lei de nossa existência, competia à Sabedoria Divina dar-nos um meio de a cumprir.

Este meio deve ser universal, porque a lei tambémo é.

Este meio deve ser acessível a todos, porque a lei é para todos: ricos e pobres, sábios e ignorantes, ociosos e dedicados ao trabalho.

Este meio deve ser de grande eficácia, porque a lei é fundamental.

A lembrança é uma lei fundamental da humanidade.Sim, meu caro Frederico; este princípio vai mostrar-te a

importância do Sinal adorável.

4O que o sol é no mundo físico, em grau muito superior,

infinitamente acima, Deus é no mundo moral para todos os respeitos.

Imagina o que seria da natureza, se o sol se apagasse, deixando de enviar à terra suas torrentes de luz e calor?!

Não haverta mais vegetação, os rios e os mares pas-sariam a ser planos de gelo e a terra ficaria dura. qual um rochedo.

Todos os animais daninhos que a luz detinha no fundo das florestas sairiam de suas cavernas, e por uivos medonhos se chamariam para a carnagem.

A desordem e o terror dominariam o Homem.Por toda a parte reinaria a confusão, a desesperação, a

morte.Em pouco tempo o mundo ficaria sendo um caos.Pois bem; se a lembrança de Deus, Sol necessário das

inteligências, chegasse a desaparecer da mente de um povo, logo a vida moral entre aqueles homens se extinguiria.Desapareceriam todas as noções do bem e do mal. O justo e o injusto se confundiriam no direito do mais forte.

A guerra atear-se-ia por toda a parte; guerra de todos contra todos; guerra que transformaria o mundo em vasto recinto de assassinos e ladrões (1).

Toda a cobiça a mais horrenda, todos os desejos os mais selvagens e sanguinários, apareceriam no coração do homem, e, ao vendaval dos egoísmos, rolariam em frag-mentos o mutilado das fortunas, das cidades e dos impérios.

(1) O que foi a guerra europea de 1914 a 1918?Qual a verdadeira causa daquela hecatombe mui

claramente declarou o Santo Padre Bento XV numa audiência dizendo: — As mais terríveis feridas que estão carcomendo a humanidade são:

1 — A revolta contra a Autoridade;2 — O ódio entre irmãos;

3 — A sede dos prazeres e divertimentos;4 — O aborrecimento ao trabalho e ao

sacrifício;5 — Um esquecimento do fim sobrenatural

da vida. —

E a terribtlissima guerra mundial, incêndio que ainda não se apagou de todo, qual a última e verdadeira razão dela? Di-lo o Santo Padre Pio XII quando afirmou que

— Os homens perderam o senso do pecado — Noutras palavras:

Hoje não se vive uma vida bem de acordo com os Mandamentos de Deus. E porque?

Porque a Lembrança de Deus vai muito postelgada. E' notável, muito notável, a VII Pastoral de Sua Eminência, o Snr. Cardeal Câmara. Arcebispo do Rio de Janeiro, provo-cada por as sobreditas palavras do Soberano Pontífice Pio XII. Todo o brasileiro deve lê-la com o máximo interesse: interesse próprio; interesse da Família e da Pátria. Nota da primeira tradução brasileira.

Olhos humanos ainda nunca viram um tal espectáculo, porque nunca se velou de todo no universo a luz do Astro brilhante quo o vivifica.

Mas, o que eles já viram foi um mundo sobre o qual a ideia de Deus, semelhante ao sol envolto em densas nuvens, não lançava senão luz froixa e incerta.

Apareceram então as tentações sem fim e surgiram logo os sistemas ocos e imorais, as superstições grosseiras e cruéis, as paixões em vez das leis, os crimes em vez das virtudes, o materialismo sem base, o despotismo em seu auge, o egoísmo geral, os combates dos gladiadores e os festins de carne humana.

Mesmo entre os judeus o esquecimento de Deus, ainda que menos grosseiro que entre os pagãos, produziu análogos efeitos.

Vinte vezes, pelo órgão dos profetas, o Senhor atribui a este crime as iniquidades de Jerusalém e os castigos que sobre ela pesaram.

Jerusalém, como tu bem sabes, era o tipo dos povos.

Eis o que diz o Senhor:— "Quem jamais ouviu falar de horrores iguais

"aos que comete a virgem de Israel.. . só por "se haver esquecido de Mim? "Tu tens seguido o caminho de tua irmã Sama-"ria, e Eu em tua mão colocarei o seu copo. "Tu beberás do copo de tua irmã que é largo e "fundo e passarás a ser o escárnio das nações. "Tu serás embriagada à força de dores, embria-"gada pelo cálice de amargura e tristeza, pelo "cálice de tua irmã Samaria.

"E tu o beberás, e tu o esgotarás até as fezes, e "tu devorarás seus fragmentos, e tu a ti própria "te rasgarás as entranhas.

"Porque tu te esqueceste de Mim e Me colocas-"te por baixo de teus pés, tu carregarás com "teu crime e com o castigo de teu crime." (1)

Será possível caraterizar com mais energia as conse-quências funestas do esquecimento de Deus?

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O SINAL DA CRUZ

Toda a gravidade do crime avalia-se pela santidade da lei violada.

Sendo a lembrança de Deus a lei vital da humanidade, calcula bem, meu caro, sobre er.ta base a importância do Sinal da Cruz.

E' ele especialmente destinado a avivar no homem esta salutar lembrança.

Digo especialmente, e com razão.

5

O Sinal da Cruz é todo cheio de lembranças divinas.Em fazendo o Sinal da Cruz todas estas lembranças

divinas, como si fora um líquido vivificante, penetram profundamente em toda a minha existência.

Fazendo o Sinal da Cruz, eu me lembro necessariamente de Deus Padre; lembro-me necessariamente de Deus Filho; lembro-me necessariamente de Deus Espírito "Santo.

(1) Jerem. XVIII. 13; Eseq. XXIII. 31-35.

Lembro-me do Padre Eterno, meu Creador, do Filho Unigénito, meu Redentor, do Divino Espírito Santo, meu Santificador.O Nome do Padre (a ti. a mim, a todo o Homem, que tem

espírito para compreender e coração para amar) o Nome do Padre faz lembrar todos os divinos benefícios na ordem da creação.

Eu existo; e a Vós, ó Pai dos pais, devo eu a vida que é a base de todos os bens naturais, a vida que Vós me haveis dado a mim de preferência a tantos milhões de seres apenas possíveis, mas, que não existem.

Mais.Eu vos devo a conservação da vida.Cada pulsação de meu coração é UM benefício; e Vós o

renovais; a cada segundo do dia e da noite; e Vós me continuais fazendo há longos anos, apesar da minha in-gratidão e do mau uso que dele tenho feito; e Vós em mim o continuais, preferindo-me a tantos outros que mais já não existem posto que nascidos quando eu nasci ou mesmo depois de mim.

A Vós eu devo tudo quanto conserva, consola e embeleza a vida.

Eu Voá devo tudo, ó Pai Creador! O sol que alumia, o ar que respiro, a terra em que me firmo, os alimentos que me nutrem, os vestidos que me cobrem, os remédios que me curam; o meu corpo com os próprios sentidos e a minha Alma com suas faculdades; os meus parentes e os meus amigos; os animais que me servem e todas as creaturas, visíveis e invisíveis, que pusestes ao meu serviço.

Tudo, tudo me vem de Vossa generosidade ó Senhor Padre Eterno!

0 Nome do Filho nos recorda todos os benefícios divinos, na ordem da Redenção.

Quando o pronuncio, ó Filho Unigénito, Vosso Nome transporta-me aos explendores da eternidade e vejo-Vos igual ao Padre, sentado no mesmo Trono de infinita felicidade.

Desço depois de repente, e Vos contemplo Menino recém-nascido, deitado em palhas, na pobre mangedoura de Belém, tremendo de frio, levemente aquecido pelos ca-rinhosos cuidados da Virgem Mãe e peío bafejar de dois animais.

Passo da mangedoura ao Calvário e Vos contemplo na Cruz.

Que espectáculo! O Monarca dos mundos, o Rei dos Anjos e dos homens o verdadeiro Filho de Deus suspenso num patíbulo, entre o Céu e a terra, no meio de dois ladrões.

Tem o Corpo rasgado, Pés e Mãos varados por cravos, Cabeça coroada de espinhos e Rosto manchado de escarros e de Sangue !

E tudo isto, ó meu Senhor, Vós o sofreis por amor de mim.

A Cruz leva-me ao Tabernáculo.Lá eu me vejo diante de Deus aniquilado, diante de Deus

convertido em meu pão, diante de Deus meu; prisioneiro como se fora meu servo, diante de meu Deus que obedece a minha voz, a voz de um filho.

Diante daquele resumo de todos os milagres do Amor, minha boca emudece.

A linguagem dos Anjos é tão impotente como a dos Homens para balbuciar alguma coisa a respeito de um Mistério que só o Amor infinito pôde conceber.

Q Nome do Espirito-Santo aos faz lembrar todos os beneficios na ordem da santificação.

Ó Amor consubstancial ao Padre e ao Filho! E' a Vós que o mundo deve tudo.

Ele Vos deve o Verbo Encarnado, o Redentor:

— "Qui conceptus est de Spiritu Soneto."

Ele Vos deve a Santa Igreja Católica, uma outra Mãe, que é para o mundo e para mim o que Maria é para Jesus:

"Credo in Spiritum Sanctum, Saneiam Ecclesiam Ca-tholicam."

Suas entranhas me geraram, seu leite me alimentou; seus Sacramentos me fortificam e me curam.

Devo a Ela a Comunhão dos Santos, gloriosa Sociedade que me coloca a mim humilde creatura em relações íntimas com todas as Hieraquias Angélicas e com todos os Santos, desde Abel até o último dos Escolhidos.

D'Ela recebo e só a Ela devo o testemunho a conserva-ção do Evangelho.

Benefício inestimável!

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O SINAL DA CRUZ

Pois, o Evangelho é o facho luminoso que tirou do estado bárbaro o género humano, e obsta a que nele recaia.

Conheces tu, porventura, uma lembrança tão fecunda •e tão eloquente, como o Sinal da Cruz? 0 filósofo, o político, o Cristão, algumas vezes procura livros para estudar; e este pode substituir todos os outros. Inteligível a todos, legível a toda a hora, gratuitamente dado aos Homens, aparece entre as mãos de todos. Deus assim o fez; e o que Ele faz, é bem feito.

Lembrar-nos de Deus é a primeira lei de nossa exis-tência. Agora tu conheces bem, caro amigo, a importância desta lei e como o Sinal da Cruz nos ajuda a cumpri-la.

6

Imitar a Deus é uma lei não menos fundamental.Nunca em nenhum espírito sensato entrou a menor

dúvida sobre tal respeito.

Não será todo o ser como que obrigado a caminhar em busca da perfeição?

Não será por isto, e só por isto, que a existência lhefoi dada?

A perfeição de um ente não consistirá na semelhança dele com o tipo de sua formação?

Um quadro, não será ele tanto mais perfeito quanto melhor exprimir os traços do modelo?

O Homem é creado à imagem de Deus.Avivar em si traço a traço a Imagem divina e tef como

limites da própria perfeição somente a Perfeição Divina do nosso Modelo sublime é a Lei da nossa existência e o trabalho imperioso de toda a nossa vida.

"Eu vos dei o exemplo, dizia o Homem Deus, para que façais assim como Eu mesmo o hei feito".

E seu grande Apóstolo diz:"Sede meus imitadores, como do Verbo Encarnado eu o

sou."

Para os que se não apresentarem conformes ao Divino Modelo, não ha salvação.

Ora, para guiar-nos a caminho desta imitação, nada mais próprio que o Sinal da Cruz.

Ao formar o Sinal da Cruz que diz o Homem ?Pronuncia o Nome de Deus; porque, — Deus é o Padre,

o Filho, e o Espirito-Santo — três Pessoas distintas, em uma só Divindade.

Repetindo o Nome de Deus, o Sinal da Cruz nos põe diante dos olhos o Modelo Eterno, o Ser por excelência que reúne todas as perfeições e em grau infinito.

Repetindo o Nome de cada Pessoa da Trindade Au-gusta, o Sinal da Cruz nos propõe à imitação não só as Perfeições Divinas, como as Propriedades particulares de cada uma das Três Pessoas.

Do Padre é o Poder Infinito; e o Sinal da Cruz nos diz a cada um de nós:

— O Infinito Poder do Padre, Creador e Governador de todas as coisas, tu o deves imitar no governo de ti mesmo, com o poder que deves exercer sobre as paixões, sobre as máximas do mundo, isto é, sobre os usos, sobre as modas, sobre os interesses, sobre as promessas, sobre as ameaças dele e ainda sobre tudo quanto for contrarie à dignidade e liberdade de um filho de Deus.

Somos filhos de Deus e herdeiros da Glória por isso somos reis como nosso Pai que está no Céu.

Do Filho é a Sabedoria Infinita; e o Sinal da Cruz diz a cada um de nós:

— Deves imitar a Sabedoria do Filho de Deus na Justiça que em tuas apreciações deves ter e nos juízos que fazes na preferência que impreterivelmente deves dar àAlma sobre c corpo, à eternidade sobre o tempo, ao dever sobre os prazeres; justiça em avaliar as riquezas do Céu que duram sempre e os bens da terra que são passageiros.

Do Espírito-Santo é o Amor Infinito; e o Sinal da Cruz diz a cada um de nós:

— Deves imitar a Caridade do Divino Espírito-Santo, purificando e enobrecendo tua vida com afeições santas, guardando até a menor fibra do teu coração para te preservares do egoísmo, do ódio, da inveja e dos demais vícios que geram no interior a degradação e no exterior a desordem.

E não será pois o Sinal da Cruz um excelente guia. meu caro?

Quem é o professor de filosofia que pôde jactar-se de apontar mais claramente a cada potência de nossa Alma o caminho da perfectibilidade?

Todavia não conhecemos ainda senão uma parte desta doutrina.

O resto, para amanhã,se Deus quiser.

Adeus.

VIGÉSIMA PRIMEIRA CARTA

Paris, 18 de Dezembro de 13G2.

Sumario:— 1. Imitação de Deus. — 2. O Sinal da Cruz

santijicador do Homem e das creaturas. — 3. Ensinando-nos a Caridade, o Sinal da Cruz é guia eloqüente e seguro.

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O SINAL DA CRUZ

1

Caro Amigo,

As três Pessoas Divinas oferecem à nossa imitação todas as perfeições.

Graças ao Sinal da Cruz é que podemos ver à nossa frente, a Santíssima Trindade para imitá-La.

Duas palavras resumem o que hoje mais necessita imitar-se:

Santidade e Caridade.

Santidade quer dizer unidade,E' a isenção de toda a mistura.Deus é Santo, porque é Uno.E' três vezes Santo, porque é três vezes Uno.Uno em Sabedoria Infinita; Uno em Poder Infinito e Uno

em Amor Infinito.Nada limita, nada pode alterar em Deus esta tríplice

unidade.Deus é Santo, completamente Santo, perfeitamente

Santo.Em todas as Suas obras Deus é Santo.

Em nenhuma delas pode entrar mistura culpável, de-sordem ou pecado, sem que isso repugne à Santidade de Deus.

Os Anjos maus sepultados no inferno, Adão e Eva expulsos do Paraíso terrestre, o mundo afogado no dilúvio, Sodoma devorada pelo fogo, o Império Romano desfa-zendo-se aos golpes dos Bárbaros, as calamidades tanto públicas como particulares, o inferno com seu fogo eterno e a grande Vítima do Calvário crucificada entre dois ladrões, são outras tantas testemunhas da inexorável Santidade de Deus em Suas creaturas.

Eis a primeira lição que o Sinal da Cruz sempre medá!

Não posso fazê-lo sem que Ele me diga:Imagem Santa do Santo Deus três vezes Santo, ine-

xoravelmente Santo, também tu deves ser santo, três vezes santo, inexoravelmente santo:

a) :— na memória,b) — no entendimento,

c) — na vontade.

Santo na minha Alma e no meu corpo; — santo em mim mesmo e santo em minhas obras; — sempre santo,

em tudo e em toda a parte, só ou acompanhado; na juven-tude ou na velhice, ■— devo ser santo!

Eis a sublime Unidade que devo em mim realizar.

"Homem, como és grande! (exclama Teituliano) Se chegares a compreender-te?!

"O Homo, tanium nomen, si intelligas te!

Não é ainda bastante.Como faz o próprio Deus, também devo realizar esta

unidade mesmo fora de mim.A santidade ou unidade da minha vida deve raiar a tudo

quanto me rodeia.Acções, palavras, tudo em mim deve servir para directa

ou indirectamente desviar do mal o meu próximo, imagem de Deus como sou e destinado como eu ao mesmo fim.

Deste dever, tão vivamente recordado pelo Sinal da Cruz, nascem os prodígios de dedicação que de contínuo se renovam no seio do catolicismo.

Pergunta, meu caro, a essas legiões de Apóstolos de ambos os sexos, pergunta-lhes qual o motivo que os obriga a por ao serviço de bárbaros desconhecidos as mais distintas inteligências, as mais virtuosas vidas, o sangue mais nobre!...

— "A (palavra do Mestre (te responderão todos).Temos ouvido o Verbo Redentor mandando imprimir em

todos os membros da família humana, o Sino! Augusto da Trindade.

Imortal e divina, esta palavra de ordem chega até noüso coração; e, onde houver uma fronte a ser marcada com o

Sinal libertador, corremos até lá e lá trabalharemos, lá morreremos, se preciso for!..."

Houve, meu caro, ouve a São Francisco Xavier, o generalíssimo dessas legiões heróicas de Missionários, o São Paulo dos tempos modernos.

Sem dúvida sabes que, por seus trabalhos gigantescos, este homem prodigioso conquistou à Fé e à civilização o mundo das índias.

Qual a força que eleva a tão alta potência a coragem dele e de seus sucessores até se transformar em temeridade?

Quem vibra-lhes a vontade ao extremo do entusiasmo, alem das raias da loucura?

— Sanctissima* Trinitas! Trindade santíssima!

Eis o grito de guerra nos lábios de Francisco Xavier, tão frequente como a respiração.

Ele te revela e te explica o pensamento que é comum a todos os Apóstolos e Missionários do Bem e da Verdade.

Com a vista iluminada pela Fé, lançando um olhar sobre os numerosos povos da índia, da China e do Japão, Francisco Xavier enxergava todos eles sentados à sombra da morte e em vez do marco glorioso da Santíssima Trindade, vê na fronte deles o sinal da besta do Apocalipse.

À vista de tamanha degradação, o zelo se lhe inflama na Alma.

E do peito inflamado irrompe o grito de guerra:

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O SINAL DA CRUZ

-— ô Sanctissima Trinitas!Ó Trindade Santíssima! Que vergonha para Vós!

Que desgraça para a obra de Vossas Mãos!

Vai tornar regulares estas imagens desfiguradas.Para gravar em todas aquelas frontes o Sinal Divino,

Francisco Xavier parte da Europa.Ei-lo: como um gigante mete mãos à obra.O espaço desaparece debaixo de seus pés.Os perigos não o intimidam; antes, deles se ri.O desejo da vontade regeneradora, não conhece por

limites senão os limites do mundo.Ainda assim, para seu coração, o mundo foi pequeno

pois andou na sua vida de Apóstolo o suficiente para três vezes o percorrer à volta.

Obstando a morte a que chegasse a todos os pontos da terra, não o impedia que apontasse aos sucessores as nações a conquistar (1).

São-lhe satisfeitos os desejos.Levados nas asas dos ventos, como diz Fenelon, mi-

lhares de Missionários chegaram a todas as ilhas, florestas, e plagas, as mais remotas e inóspitas.

Deles o primeiro cuidado é: restabelecer na frente do homem (decaído até o ponto de devorar a carne de seu semelhante) o Sinal santificador da Cruz, dizendo, com o chefe:

— O Sanctissima Trinitas! O* Trindade Santíssima!

(1) Vida de S. Fr. Xav., t. II. liv. p. 208 — 213.Esta é a força que anima a todos conquistadores.E a prova disto está em que — primeiro marcam as

nações infiéis com o selo da Trindade e depois — tratam de manter nelas a divina semelhança.

2

O Sinal da Cruz faz mais: — santifica tudo quanto toca, tanto ao Homem como às demais creaturas.

Santificando estas depois de haver santificado aquele, encaminha tudo ao verdadeiro fim — a unidade.

A Fé universal afirma que os sinais religiosos têm o poder de virtualizar as creaturas inanimadas.

E porque é universal, esta crença não pode ser falsa.A Igreja, Mestra infalível da Verdade, considera-a como

parte do depósito confiado à sua vigilância e cuidado.Pori isso é que todos os dias Ela a pratica e ensina a

praticar.Não a vês santificando pelo Sinal da Cruz, há dezoito

séculos, e em toda a parte, a água, o sal, o azeite, o-pão, a cera, a madeira?

Teologicamente, que quer dizer isto?Quer dizer que

— O Sinal da Cruz santifica ao Homem e até RS creaturas insensíveis. —

A respeito do Homem, não quer dizer que o Sinal da Cruz lhe confere a graça santificante, como os Sacramentos.

Quer só dizer que nos comunica uma espécie de san-tificação, semelhante àquela do catecúmeno quando sobre ele se faz a imposição das mãos antes do Batismo.

S. Agostinho diz que há varias espécies de santificação (1).

O Sinal da Cruz é um acto a que Deus liga a. aplicação dos merecimentos de Seu Divino Filho, sem por isso lhe dar a virtude do Batismo ou da Penitência.

A esmola não é um Sacramento; e, contudo, afirmam todos, ser um acto bom, salutar, piedoso, santificante.

Quanto às creaturas, santificar uma cousa inanimada, não é conferir-lhe uma qualidade física, é reduzi-la à sua pureza nativa, e comunicar-lhe uma virtude superior à sua natureza.

Daqui dois efeitos de santificação:Primeiro santificar as creaturas subtraindo-as à influência

do demónio.Segundo torná-las próprias a produzir efeitos, superiores

às suas virtudes naturais.Assim modificadas, tornam-se, nas mãos do Homem,

instrumentos de cura, armas contra o demónio, preservativos contra os perigos, tanto da Alma como do corpo.

Não poderiam citar-se factos milagrosos, públicos ou particulares, antigos e modernos, devidos a creaturas in-sensíveis, santificadas pelo Sinal da Cruz?

Se em vez de folhear fábulas e lendas pagãs da Grécia e de Roma, as novas gerações estudassem a História

(1) Non unius modi est sactificare; nam et catechumenum secun-dum quendam suum modum, per Signum Cristi, et orationem manus impositionis puto sanctificari. (L II De peccat. merit., c. CXXVI).

da Igreja e a vida dos Santos, saberiam teus condiscípulos, a tal respeito, factos melhor averiguados que os de Sócrates e Alexandre (1).

3

Pela imitação da Santidade e Caridade Divinas, o Sinal da Cruz, guia eloquente e seguro, mete-nos e sustenta-nos no caminho de nosso único e verdadeiro destino.Deus, de Quem somos filhos e de Quem devemos ser a imagem, é Caridade. Deus charitãs est. Estas palavras dizem tudo.

Dizem tudo o que Deus é em Si mesmo e nas Suas •obras.

0 Padre, porque é Deus, é Caridade.O Filho, porque é Deus, é Caridade.O Espírito-Santo, porque é Deus, é Caridade.A Trindade Santa é Caridade.Conheces palavra mais linda?

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O SINAL DA CRUZ

Pois, o Sinal da Cruz, cada vez que o fazemos, repete-a a nosso coração.

Caridade significa união e efusão. Entra as três augustas Pessoas, tudo é união e unidade.

Unidade em poder, em pensamentos, em operações.Unidade na essência.

Nunca jamais a sombra de um desacordo vem perturbar esta harmonia encantadora e perfeita.

(1) Vede Gretzer, p. 696 e seg.Porque, um só Amor, pleno, eterno, inalterável, constitui

a deliciosa ligação da Santíssima Trindade.Essencialmente comunicativa, a Caridade tende sempre

a dilatar-se.A divina Caridade se dilata com força, e abundância

infinitas.As obras exteriores de Deus são cinco, a saber:

IA — a Creação;2." — a Conservação;

3.* — a Redenção;

4.* — a Santificação;5.* — a Glorificação.

Assim, crear é amar; conservar é amar; remir e amar; santificar é amar; glorificar é amar. Toda a Caridade parte do coração. E Deus é Todo um Coração.

Conheces talvez, meu caro, uma outra expressão mais deliciosa do que esta?

Pois bem: — sempre que fazemos o Sinal da Cruz. ele no-la repete:

"Deus Ckaritas est"

Deus é Caridade.A ti, a mim, a todo o Homem de qualquer idade ou

condição, esta palavra diz o que devemos ser.Imagem de Deus, nosso dever é — sermos a Ele se-

melhantes.Para isto precisamos ser Caridade.Caridade em nós mesmos e em nossas obras.

A semelhança de Deus nos é dada em nós mesmos pela graça.

Em nossas obras a semelhança de Deus nos é dada poif um princípio divino, que nos une a todos como partes de um mesmo Corpo.

Nosso coração entra a pulsar de acordo com o dos de-mais e, repartindo-se em salutares efusões, realiza o último desejo do Divino Mestre, que na Oração da Última Ceia, disse:

— "Pai, haja unidade entre eles, como há entre Nós." —

Meu caro Frederico, vou apontar-te o questionário destes pontos que facilmente desenvolverás.

Só eles bastam a mostrar de sobejo a importância do Sinal da Cruz, como guia do Homem

Se teus condiscípulos tiverem ainda a infelicidade de duvidar desta verdade, tu lhes proporás calmamente as seguintes questões.

—• Nada ha mais (próprio que o Sinal da Cruz a recordar-nos Deus e a Santíssima Trindade. —

E' ou não é verdade?

— O Homem ê formado à imagem de Deus. E' ou não é verdade?— O primeiro dever e a tendência natural de um ente

qualquer é reproduzir em si o tipo sobre que fora formado. —E' ou não é verdade?

— Não se esforçando o Homem por perseverar sendo a imagem de Deus inevitavelmente se transforma em semelhança do demónio, por suas paixões desregradas, de modo que, não se tomando de dia para dia- mais santo, mais caritativo, mais semelhante a Deus, torna-se cada vez mais perverso, mais egoísta, mais demónio, mais bcs-ta"animalis homo'*. —

E' ou não é verdade?

Ciente ou incientemente o homem tende constant r-mente a fazer tudo à própria imagem.

Desta acção permanente resulta- a santidade ou a perversão,

a ordem ou a desordem,a salvação ou a ruína dos indivíduos,

das famílias, das sociedades, das crenças e dos costumes. —E' ou não é verdade?Ainda que muito minguada lhes seja a lógica e pequena a

imparcialidade, a resposta de teus companheiros tem que ser afirmativa.

Mesmo que a contra-gosto, teus adversários hão-de concluir que

— Nada há tão bem fundado, tão filosófico, tão lógico, dizem hoje, como seja o uso frequente do Sinal da Cruz. —

Portanto, concluirás tu para eles:Nem os primeiros Cristãos, nem os Cristãos de todos os

séculos, nem a Igreja Católica, nem a flor da humanidade, ninguém se enganou conservando invariavelmente o uso deste Sinal misterioso.

Mais.Oi erro, a sem-razão e a vergonha

estão é do lado dos que desprezam o Sinal da.

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O SINAL DA CRUZ

Cruz.Não se o fazendo,

envergonhando-se de fazê-lo,ou zombando-se de quem o faz, é que a gente se coloca na escória da humanidade desce abaixo dos pagãos e se torna semelhante ao bruto.Que resta pois, caro Frederico, a nós e a eles? E' o que te será dito nas últimas cartas, se Deus. quiser.

Adeus.

VIGÉSIMA SEGUNDA CARTA

Paris, 19 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1, Decisão de um Tribunal Supremo: —

Devemos praticar, resolutamente, muitas vezes e bem o Sinal da Cruz. — 2. Razões para praticar resolutamente o Sinal da Cruz. — 3. Estado da saúde jisica do mundo hodierno. — 4. Qual o estado sanitário das Almas no momento atual?

1

vo Frederico,

Quando nos tribunais civis é dada uma sentença da qual não há apelação, uma só soisa resta a fezer-se.

E' aceitar a sentença cumprindo-a.Sob pena de rebelião e suas consequências, a sentença

deve cumprir-se.Nas questões de Doutrina acontece o mesmo.Quando a Autoridade infalível decide um ponto em litígio,

nada mais resta que acatar e seguir aquela deci-Sob pena da mais grave rebelião e suas consequências, a

decisão do Supremo Tribunal deve ser tomada como regra de conduta.

Um litígio pendia entre nós e os primeiros Cristãos.Era necessário saber-se de que lado estava a razão.Seria dos primeiros Cristãos que faziam muitas vezes e

bem o Sinal da Cruz?Ou será dos modernos que o fazem poucas vezes e mal?

A questão foi escrupulosamente examinada. Os debates foram públicos. E os arrazoados, bem compreendidos. Da flor da humanidade eram os Juizes que constituíam o Tribunal soberano. Tiveram por assessores.

1.° _ a Fé,2.° — a razão,

3.° •— a 'experiência,4.° — os povos de

todas as crenças.O egrégio Tribunal decidiu a questão dando sentença a

favor dos primeiros Cristãos da IgrejaQue nos resta a fazer?Resta-nos tão somente —

Reatar a cadeia de nossas antigas tradições; cadeia gloriosa que foi tão vil e desgraçadamente cortada.

Resta-nos —Praticar com resolução, muitas vezes e bem, o Sinal da

Cruz.

E porque não praticá-lo com residirão e bem cu; claras?Porque ficaremos envergonhados por fazê-lo? Nota, caro amigo: fazê-lo ou deixar de o fazer, não é coisa facultativa.

Honra-se muito quem o faz. E quem não o faz? Desonra-se.Fazendo-o, temos atrás de nós, em volta de nós e co-

nosco, todos os Homens, os grandes Homens de todos os séculos, os grandes do oriente e do ocidente, enfim toda a imortal Nação Católica, isto é, — o apuro da Humanidade.

E não o fazendo, temos atrás de nós, em volta de nós, e conosco os pequenos hereges, os pequenos incrédulos, os pequenos ignorantes e os brutos... grandes c pequenos.

2

Fazendo o Sinal da Cruz, nós nos cobrimos a nós e também as creaturas, com uma defesa invencível.

E não o fazendo, a nós e ás creaturas nos desarmamos e ficamos expostos aos maiores perigos.

O Homem e o mundo vivem a receber necessariamente influxos ou do Eispírito do Bem, ou do espírito do mal.

O espírito do mal assenhoreando-se do Homem e das creaturas, lhes faz sentir suas malignas influências.

Corpo e Alma, espírito e matéria, tudo então parece viciado.

O gênero humano tem sempre vivido na crença desta verdade fundamental.

Por isso, há dezoito séculos, nos gritam os Chefes do eterno combate, que nos cubramos a nós e as creaturas, com o Sinal da Cruz, escudo impenetrável às setas inflamadas do inimigo: Scutum in quo ignitoe diabuli ex-tinguuntur sagittae.

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O SINAL DA CRUZ

Quais soldados indóceis e infiéis, queremos nós depor voluntariamente nossa armadura?

Queremos ficar a peito descoberto, expostos estupi-damente aos golpes mortais do exército inimigo?

Só para não desagradarmos a outros?E que outros?

Mas..., dizem eles: — O mundo actual não faz o Sinal da Cruz, e nem por isso lhe vai mal.

' Si não lhe vai mal, porque será -que se ouve repetir, todos os dias, na Alemanha, na França, em toda a parte expressões quais de queixumes?

"Não há saúde na época actual!..."

Esta expressão que se tornou popular, não consta de palavras ocas.

Quando vós mesmos a repetis não pensais bem?As Leis Divinas, feitas para o Homem que é espírito e matéria, têm nesta vida duas sanções: uma, física e outra, moral.

A profanação progressiva dos Domingos e Dias san-tificados, o desprezo das Leis do jejum e da abstinência, e o abandono da Confissão e Comunhão, não comprometem — só a nossa Alma, não: a saúde do corpo lhe3 paga tributo.

A excitação dos negócios, as agitações da política, a febre dos prazeres (que forma o caracter distintivo desta época de materialismo), a moleza dos costumes, o hábito anormalíssimo de fazer da noite dia e do dia noite, preocupação da sensualidade nos alimentos, o consumo assustador das bebidas alcoólicas, e os quinhentos mil botequins ou tabernas, quanta consequência perniciosa leva à saúde pública?

De onde procede a diminuição das forças, nas gerações modernas?Será fácil achar hoje rapazes nas condições de poderem manejar as armas de nossos avós da idade média? Nem siquer podem com a armadura deles!

As numerosas reformas operadas pelos conselhos de revisão militar por causa do estiolamento ou vícios de organismo e a incapacidade de pessoas para o jejum ecle-siástico ainda o mais simplificado, que significação têm? (1).

(D Um jornal não suspeito, a Nação, oferece reflexões graves sobre o recrutamento em França. Êle prova "que apezar dos progressos sucessivos da higiene e da vulgarização das comodidades da vida, a população em vez de melhorar, rapidamente degenera e se abastarda". Eis resultados singulares que é forçoso admitir. O progresso, a higiene e as comodidades da vida, dão conseqüências que ninguém esperava. No princípio deste século, a altura do soldado éra de sessenta e duas polegadas, daí passou a sessenta, depois a cincoenta e oito, hoje está reduzida a cincoenta e seis. E sabe Deus onde irá parar...

Que representa o aumento considerável e crescente das boticas, farmácias e drogarias; dos médicos, das casas de saúde, dos hospitais e sanatórios?

E os casos sempre crescentes de suicídio e alienação mental, que têm atingido a números até hoje desconhecidos, atestarão a favor da saúde pública?

Estes e outros factos comprovam que a vida do Homem não é hoje regular como a de outros tempos.

3

Por ventura progride a saúde e bem estar da natureza, sobre a qual se não faz o Sinal da Cruz?

Que significam as moléstias das árvores, dos batatais, das videiras:, dos cereais e hortaliças?

Tantas variedades de plantas atacadas de moléstias graves e desconhecidas, doenças rebeldes, por ventura é que demonstram saúde perfeita nas creaturas do reino vegetal? (1)

(1) Nota da tradução brasileira: —Que diremos hoje das pragas da nossa lavoura? 1

— A praga do café; 2 — praga do algodão; 3 — praga da cana; 4 — praga das larangeiras; 5 — praga das videiras; 6 — praga dos abacateiros; 7 — pragas do milho; 8 — pragas da batatinha; 9 — pragas do arroz; e pragas do feijão. Tudo isso nós temos tido e temos também sofrido as terríveis conseqüências. Os antigos lavradores, nossos avoengoi. Homens de Fé e profunda seriedade, rezavam humildes diante de Deus impreterivelmente, logo pela manhã ao levantar, também quando o sol a pino marcava-lhes o meio dia à noite ao deitar. Nunca foram capazes de tomar alimento por mais frugal que fosse êle sem que antes e depois da refeição, rezassem abençoando e dando graças. Mais. Além disso, quando se punham a trabalhar se lembravam da Divina sentença que nos fora dada no Paraíso terrrestre por causa do pecado.

Este fenómeno, tão sinistro e assustador, por não haver igual na história, não parece dar feições de um grande hospital, à presente vegetação, que, à semelhança do gênero humano, sofre, languesce e se vai estiolando? (1)

— A terra só dará espinhos e abrolhos.Comerás o pão com o suor de teu rosto; isto é,

a poder de trabalhos e esforços. —E por isso ao começar qualquer trabalho nunca

deixavam de se benzer. Antes de principiar a plantação, vinha sempre o Sinal da Cruz a santificar tudo implorando sobre todos as Misericórdias do Senhor Deus.

Ofereciam religiosamente os dízimos e as primissas, coisas que os modernos talvez nem saibam o que seja! «. ára afastar as artimanhas do demônio prejudicando a lavour-. com Fé e fervor tomavam parte — 1.° nas solenidades da Candelária a 2 de Fevereiro; 2.° na benção de Ramos e Missa da Ressurreição; 3.° nas Procissões e Missas das Rogações ou Ladainhas dos três dias que precedem a festa da Ascensão do Senhor. Sabiam também rezar e Magnificai e fazer uso da vela benta e da palma benta. Em tudo isso, andava sempre o Sinal da Cruz.

(1) Ofereço aos olhos de todos a maior parte dos vegetais, que atualmente sofrem com a indicação das moléstias que os ferem. L, indica manchas negras ou lepra. — O, sidium. ■— F,

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Roseira brava. O. Ribes nigra et rubra. L. Barberína vulgaris. O. Lilás. L. I.Jasmim de Valença. L. Sabugueiro. L. Wezelia. L.Queijeira do Canadá. L. Groselheira. L. I. Seringa Vulgaris. L. Althea. L. I. Aveleira. L. I. Vime. L. I.

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O SINAL DA CRUZ

ferrugem. I, insetos, ou pequenos animais que vivem nas folhas ou cascas vegetais

Carvalho. L .1. Faia. L. I. Olmo. L. I. Bordo. L. I. Betula. L. I. Chôpo de Itália. L. I. Chôpo do Canadá. L. I. Castanheiro. L. Salgueiro. L. F. Ébano. L. I. Tília. I. Plátano. L. Macieira. L. I.

E' um facto: Não se pode negar.O mundo actual, considerado no Homem e nas crea-

turas a ele imediatamente sujeitas, é hoje mais enfermo que outrora.

Qual é o mal que o persegue?E' o enfraquecimento da vida.O Verbo Creador é que é a vida, e a vida toda.A vida portanto deve crescer para os que d'Ele se

aproximam, e deve diminuir para os que se desviam d'Ele.No pensar da Igreja e no de todos os séculos Cristãos, o

acto exterior mais universal e ordinário que serve para colocar o Homem em contacto com o Princípio da vida é o Sinal da Cruz.

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O SINAL DA CRUZ

Pereira. L. Pionia. L.Cerejeira. L. Millefolium. L.Ameixeira. L. Campanula. F.Pecegueiro. L. O. Ortiga. L. O.Damasqueiro. L. O. Cardo santo. F.Amoreira. L. O. Camomila. L.Larangeira. L. O. Violeta. L.Videira. L. O. Brithrynum crista galli. L.Cana de Açúcar. L. O. Margaridas. L.Roseira. L. O. F. I. Dictera spectabilis. L.Espinheiro. L. 0. I. Rainha dos prados. L.Glicinia cinensis. L. Heliotropo. L.Framboezeiro. L. F. Primavera. L.Espinheiro. L. F. O. Taraxaco. F.Lírio roxo. L. F. Feijão. L. F.Chicórea. L. F. 0. Escorcioneira. F.Escabiosa. L. Aipo. F.Agrimonia. L. Azeda. F.Achemilla. L. Couve. L. F.Trigo. L. F. Nabo. F. I.Centeio. F. Beterraba. F.Aveia. L. F. Fava. L. F.Cevada. F. Trevo. L. O.Batata. L. Junco. L. F.

E vós dele zombais; não o fazeis; não o quereis fazer.Quanto aos Homens, hoje querem a este Sinal (bem

como à oração, estações da Via-Sãcra e peregrinações,) querem substituir por banhos de mar; banhos frios, tépidos, quentes; banhos sulfurosos e ferruginosos, estações de Vichy, da Suiça, da Alemanha, dos Pirinéus e outras.

Quanto às creaturas irracionais, a acção do sobrena-tural querem substituídas pelos estrumes artificiais, pela limpeza das lagartas, pela drenagem e pela enxofração e mil outros meios modernos.

Mas, o certo fora fazer uma coisa sem omitir a outra.

"Oportet haec facere, et üla non omittere."

O mundo actual desprezando a Sabedoria Divina pensa que pode violar impunemente uma Lei respeitada

Devemos esta relação à bondade de um sábio naturalista, o Snr. M. F. Verecruysse de Courtrai. Êle mesmo colheu este ano de 1862, folhas de todos esses doentes, e delas nos mandou amostras. Permita-nos êle que publicamente lhe expressemos nosso reconhecimento.As creaturas materiais porque são incapazes de bem e do mal, só adoecem por tabela, seguindo as condições do Homem. Centro e resumo da creação, encerra o Homem todas as leis, que regem as creaturas inferiores. Se êle as transgride, toda a natureza sente os resultados desta violação. Tal acontece com o pecado de Adão. A igual causa reproduzida pelo andar dos séculos, se devem atribuir as moléstias das creaturas irracionais, sempre na razão direta de suas causas. Isaías escreveu: — "A terra foi infetada por seus habitantes. Daí as lágrimas, o luto, a frouxidão da terra, a decadência do globo, a doença das vidas e as lamentações dos cultivadores". "Luxit et defluxit terra, et infirmata est... defluxit orbis... et terra infecta est ab habitatoribus suis, quia... MUTAVERUNT JUS... propter hoc... infirmata est vitis. etc. (XXIV, 4 et s. 99.) Habacuc,

Jeremias, e os outros profetas falam nos mesmos termos deste sofrimento da natureza.

pela Cristandade decde o berço do Cristianismo, quandoaté mesmo pagãos a respeitavam.

ET notável a máxima dos antigos pagãos:E' necessário orar para haver saúde física e morai!.

"Orandum est vi sit mens sana in corpore sano."

Não devemos nos queixar pois, sofremos o que se procura sofrer.

4Mesmo que, sem o Sinal da Cruz, a saúde física do

homem © da natureza fosse tão florescente quanto se de-sejasse, ainda assim era mister atender à saúde moral,, bem mais importante.

Mas...Qual é o estado sanitário das Almas no mundo-actual?Muito longe me levaria a resposta.Só te faço lembrar, meu caro, queMoral e fisicamente, o Homem está na alternativa,

inevitável de viver, ou debaixo da salutar influência do> Espírito do Bem, ou debaixo da maléfica artimanha do-espírito do mal.

O Sinal da Cruz coloca-nos na primeira posição; e a. falta dele, na segunda.

Tal é a doutrina da Igreja.Doutrina que foi confirmada pela prática dos largos,

séculos cristãos.

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O SINAL DA CRUZ

Para vós,, a experiência de dezoito séculos nada vale.. Vós não quereis o Sinal libertador.Vós não acreditais nele.Vós não marcais com. ele nem a fronte, nem os lábios,

nem o coração, nem os alimentos.Pois bem: não é preciso microscópio para descobrir o

sinal da besta em vossa fronte, em vossos lábios, em vossos corações, em vossos alimentos.

Quais são os sinais da besta na fronte?São o orgulho, a insubordinação, a cólera, o desprezo, o

descaramento, a vaidade, a agitação das feições, a inap-tidão para as ciências espirituais, o enojo para o estudo moral, o descaramento das faces por vícios impuros, ou seu abrasamento pela acção do vinho, a depressão da fronte, a pequenez do ângulo facial, os ares de baixeza, grosseria, abatimento e bestialidade na fisionomia, e, finalmente, a cínica expressão dos olhos, cheios de adultério, cheios de um pecado permanente, olhos que sem tréguas provocam as Almas inconstantes. (1)

Sobre os lábios quais são os sinais da besta?São o riso imoderado ou impudico, nèsciamente ímpio

ou cruelmente mofador; a loquacidade sem regras, sem importância e sem fim; as palavras obcenas, as expressões repassadas de mentira, de irreligião, de blasfêmia, de ódio, de maledicência, de inveja, e de concupiscência que se traduz em espuma, espuma infectante como as exalações de um sepulcro, coisa mortífera como o veneno da serpente. (2)

(1) Animalis autem homo non percipit ea quae sunt spiritus Dei, (I Cor. XI, 14) Óculos habentes plenos adulteris et incessa-bilis delicti, pellicientes animas instabiles. (II Petr., IX, 14.)

(2> Sepulcrum patens est gultur corum. (Ps. XIII, III) — Des-pumantes confusiones. (Ind., XIII.)

E sobre o coração quais são eles?São os maus pensamentos, ou maus desejos, as deso-

nestidades, os adultérios, as vergonhosas baixezas do egoísmo, os roubos, os envenenamentos, os homicídios (1), os desrespeitos à Mulher, o cortejo às perdidas e a apoteose das impudicas e da volúpia.

E sobre os alimentos, quais são os sinais da besta?São o deterioramento, a mistura, a falsificação, suas

consequências e a perniciosa influência.Não sendo purificados pelo Sinal redentor, servem,

como os próprios pagãos reconhecem, servem de veículo ao demónio.

Influindo sobre a Alma excitam maus apetites, lison-geiam gostos rasteiros, e despertam todas as paixões más.

Da sensualidade nas comidas e bebidas resulta: o despotismo da carne, a repugnância ao trabalho, a inca-pacidade para resistir às tentações, a quebra, e, às vezes, o embrutecimento da inteligência, a moleza dos costumes, o sibaritismo dos hábitos, a idolatria do ventre, que termina, hoje mais que nunca, pelo desprezo próprio, pelo abafamento da consciência e do senso moral, pelo in-fanticídio e pelo suicídio lento. (2)

Olha em torno de tí, meu caro, e procura as frontes, os lábios, os corações, as mesas, onde se conservam a san-

(1) De corde enim execunt cogitationes mamãe, homicidia, adul-teria, fomicationes, furta, falsa tatimonia, blasphemiae. (Math., XV, 19, etc.)

(2) ... Inimicos crucis Christi, quorum finis interitus: quorum deus venter est, et glória in fusione ipsorum. (Philipp., III, 18.)

tidade, a dignidade, a sobriedade do Homem e do Cristão; nota as vidas mortificadas e puras, as vidas fortes contra as tentações, as vidas dedicadas à Caridade e à Virtude; as vidas que podem sem nenhum acanhamento revelar-se a amigos e inimigos, e tudo isto encontrarás sob a protecção do Sinal da Cruz.

0 que hoje te digo, aceita como facto da experiência.Amanhã, se Deus quiser, dar-te-ei disto as

razões e as provas.Adeus.

VIGÉSIMA TERCEIRA CARTA

Paris, 20 de Dezembro de 1862.

Sumario:— 1. Dogma fundamental. — 2. A reforma,

primeira filha da renascença do paga-nismo, derruba todas as Cruzes. — 3. A revolução franceza, segunda filha do paganismo, imita sua irmã. — 4. Primeira obrigação: — fazer muitas vezes o Sinal âa Cruz. — 5. Segunda obrigação: — fazer bem o Sinal do Cruz. — 6. O Sinal da Cruz feito de preferência na fronte. — 7. Quatro coisas necessárias para se fazer bem o Sinal da Cruz. — 8. Constantino.

1

Meu caro Frederico,

Não te esqueças de que estamos tirando as consequências práticas do juízo estabelecido entre nós e nossos maiores.

A primeira consequência é, que

Devemos fazer o Sinal da Cruz bem feito e com fir-mesa.

Muito embora a decisão sem mais apelo a tribunal algum bastasse a determinar nossa conduta, quero, toda-

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O SINAL DA CRUZ

via, para torná-la mais respeitável, mostrar-te as conse-quências vergonhosas, os perigos e desgraças de uma ou-tra resolução, teórica ou prática, levantada contra aquela inapelávcl decisão.

Viste o sinal da besta gravado sobre as frontes, lábios, coração e alimentos não santificados pelo Sinal da Cruz?

Mas... por que será que o sinal da besta marca tuclo, Homem ou coisa, que não seja protegido pelo Sinal libertador do Homem e do mundo?

Há um dogma que é o mais profundo e incontestável da humanidade:

— A sujeição do homem e do mundo ao espírito do mal, depois da queda de Adão e Eva, nossos primeiros pais.

Para tornar mais palpável a elevada missão do Sinal da Cruz, vou relembrar alguns factos históricos não muito conhecidos.

O que se pasa na ordem física é o reflexo da ordem moral.

Quando uma dinastia ocupa um trono, tem o cuidado de arvorar logo em toda a parte sua bandeira e em toda a parte gravar seus brazões de armas, como sinal do seu domínio.

Se um dia vem ela a cair, o primeiro acto do vencedor é substituir pelos próprios os emblemas da dinastia vencida, para desta arte anunciar aos povos a inauguração do novo reinado.

Quantas vezes, nestes setenta anos, não se tem tido esta mudança de cores e escudos?!...

Em vindo a tomar posse de Seu reino, o Verbo En-carnado achou satanás feito rei e ídolo do mundo.

As estátuas, os troféus, os brasões de armas, as in-sígnias do antigo usurpador andavam espalhadas por toda a parte.

Apenas fora o demónio vencido, desapareceram todos os sinais de seu domínio.

E em lugar deles brilhou a Cruz, que é o brasão do Vencedor Divino.

Quando, por seus crimes, uma pobre Alma ou mesmo uma nação torna a cair nas garras de satanás e é por ele dominada, o primeiro acto do usurpador é apagar o Sinal da Cruz.

Só então, nada mais recebendo deste Sinal temível, è que ele ali manda e desmanda como tirano.

2

Relembra uma página da história de teu país. Nota bem o quadro que a Alemanha te oferece de 1520 a 1530.

Do Reno ao Danúbio, todas as Cruzes que dominavam as colinas e as montanhas, que bordavam os caminhos e esmaltavam os campos, que ornavam o cume das casas e brilhavam no vértie das Igrejas, que decoravam as salas dos rios ou consolavam a choupana do pobre, todas elas foram derribadas, quebradas e depois lançadas ao vento ou arrastadas à lama, no meio de insultos e vozerias de um povo delirante.

318 OSINALDACRUZ O SINAL DA CRUZ 319

Quererá aquele furacão destruidor?Era a volta do usurpador e o restabelecimento de seu

reinado.Etesde aquele tempo, o espirito das trevas domina a

Alemanha e, nela como no antigo mundo, ele reina pelo despotismo, voluptuosidade, crueldade, assassínio, roubo, confusão do justo pelo injusto.

E a anarquia intelectual, sob todos os nomes e todas as formas.

Oferecem igual quadro a Prússia, a Saxônia, a Holanda, a Dinamarca, a Suécia, a Noruega, a Inglaterra, a Suíça e todos os países onde o usurpador entra no lugar do Rei legítimo.

Este fato é tanto mais significativo quanto é certo não ser único nos anais da história.

Sempre que satanás se apodera de um país, ele se reproduz.Geral ou particular, lento ou rápido, tais quadros sempre

manifestam o caráter da vitória e a medida de sua extensão.

3

Em 1830 que foi a miniatura de 1793, as Cruzes derribadas contaram-se aos centos.

No território da França, quando o paganismo cantou seu triunfo completo, não se contaram aos centos, mas aos milhares, as Cruzes abatidas e quebradas.

Naquela época de uma recordação tão triste como instrutiva, salienta-se um dia que é nefasto entre todos.

Foi o dia 10 de Agosto.Aos assaltos das hordas fanatizadas, ele viu cair, no meio

das ondas de sangue, o Trono e o Altar.Os massacres do Carmo e de S. Firmino, a proclamação da

República, o assassinato de Luís XVI, as hecatombes do terror, as indecências do diretório, as apostasias, os sacrilégios, as semi-deusas da razão, foram as conseqüências nojentas daquele dia lamentável.

Marcará ele eternamente e com precisão, a hora em que satanás entrou triunfante no reino cristianíssimo da França.

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O SINAL DA CRUZ

"Neste momento, (escreve um "historiador daquela época) uma "tempestade sem igual rebentava sobre "Paris."Um calor pesado e sufocante impedira "todo o dia e respiração."A tarde, nuvens grossas, variadas em "cores sinistras tinham empanado o sol "no oceano suspenso da atmosfera."As dez horas, a eletricidade figurava "por milhares de relâmpagos, que "pareciam luminosas palpitações do "firmamento."Os ventos encarcerados neste abafado "de nuvens, romperam suas prisões e "com o rugido das vagas, alastraram "searas, quebraram árvores, levaram "telhados."A chuva e a saraiva retiniam sobre o "solo, como se doa/to fora a terra "apedrejada."Fecharam-se as casas."As ruas e vielas num instante se "esvaziaram."Durante oito horas sucessivas, o raio "não dei-

"xou de cintilar e ferir, matando grande nume-"ro de homens e mulheres."Na cinza das guaritas estavam sentinelas ful-"minadas."Torcidas pelo vento e (pelo fogo do Céu, grades "de ferro foram arrancadas às paredes a que "estavam chumbadas é arremessadas a distân-"cias incríveis."Monte Marte e Monte Valeriano, dois zimbó-"riòs que se elevam no horizonte de Paris, sus-"tentaram em sua máxima superfície o fluido "eléctrico acumulado em nuvens que os envol-"viam."Preferindo monumentos isolados ou cercados "de ferro, o raio derribou todas as Cruzes que "se elevavam nas ruas e becos, desde a planí-"cie de Issy e os bosques de S. Germano e de Ver-"solhes até a Cruz da. ponte de Charenton. "No dia imediato os braços destas Cruzes junca-" vam o sólo, como se um exército invisível tivesse "destruído em sua passagem todos os rejeitados "sinais do culto Cristão."

Como não! há saltos em a natureza, não se dá o acaso na ordem moral.

Portanto, os factos referidos têm uma significação.As circunstâncias que o acompanharam e seguiram, provam

com evidência a razão de ser do Sinal da Cruz num País onde não há motivo para deixar de existir.

Provam igualmente às Nações, às Províncias, às Aldeias, aos Homens de qualquer condição, quanto lhes importa conservar, multiplicar e honrar o Sinal protector de toda a creação.

4

Segundo consequência prática da sentença dada é— Fazer muitas vezes o Sinal da Cruz.

Porque razão havemos de não fazer o Sinal da Cruz muitas vezes?

Porque razão cada um de nós ha de por sua parte não voltar à prática de nossos maiores?

Não sendo protegidos pelo Sinal Salutar, nem um instante se julgavam eles seguros, mesmo nos actos mais ordinários da vida.

Seremos nós talvez mais fortes do que eles?Serão menos numerosas ou menos vivas em nós as

tentações ?Serão menos urgentes para nós os perigos?Nossos deveres são talvez menos obrigatórios?

Sempre que saíam de casa, nossos pais, os primeiros Cristãos tinham os olhos ofendidos pela vista de estátuas, pinturas, objectos obscenos, práticas e festas em que se ostentava o espírito do mal.

Discursos, cantos ou conversações impudicas feriam seus castos ouvidos.

Debaixo de formas variadas e sedutoras, o sensualismo e o naturalismo das ideias e dos costumes, sempre conspiravam contra a vida sobrenatural, contra o espírito de mortificação, de simplicidade, de abnegação.

Ademais tinham que defender a própria Fé contra os sarcasmos, desprezos e sofismas da plebe e da filosofia pagã.

Tinham que responder por ela diante dos Juízes, tinham que confessá-la nos anfiteatros.

E para se salvarem de tantos perigos, qual era o segredo deles?

Sempre o Sinal da Cruz.E nós os Católicos de3te século em que condições nos

achamos ?Não se tornou pagão quase tudo o que nos rodeia?Encontra-se por ventura, uma palavra do Evangelho na

maior parte dos Homens e das coisas?Como as de outrora, não estão as cidades da Europa actual

inundadas de estátuas, quadros, gravuras e outros objectos, capazes de acender nos espíritos mais frio* o fogo impuro da concupiscência?

Que se ouve nas ruas, nas salas, nas prosas quotidianas ?Nas casas, na mobília, no luxo da mesa, no vestuário e nos

prazeres, que falta ao mundo actual para ser completamente pagão?

Os maus vezos são os mesmos que no tempo dosCésares. !, 7

Os espectáculos são umas armadilhas constantes.Desgraçado daquele que não velar, dia e noite, em cuidados

pelo próprio coração e pelos sentidos!...Se é tão difícil defender nossos costumes, quanta guerra não

teremos que sustentar para salvar e guardar a nossa Fé?Vivemos numa época em que as ideias falsas, as

mentiras, os sofismas circulam na sociedade tão bastos como o? átomos que compõem a atmosfera.

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O SINAL DA CRUZ

Por toda a parte as arenas dos anfiteatros onde devemos combater.

E o combate é pela Igreja,' por nossas tradições, por nossos bons costumes, pelo sobrenaturalismo Cristão.

Nunca esta arena está fechada; um combate ainda não está acabado e já começa outro mais renhido.

Colocados nas mesmas condições, os primeiros Cristãos não conheceram mais que uma arma vitoriosa, arma universal, a todos familiar, de que faziam uso contínuo.

Era o Sinal da Cruz. Teremos nós outra melhor?

Ah! Hoje mais do que nunca, é necessário fazer a miúdo o Sinal protector, sobre nós e sobre as creaturas. Quem nos impede

agora de imitarmos a nossos avós?

Que há de incompatível com nossas ocupações o fazermos o Sinal da Cruz sobre o coração?

Assim como faziam os antigos, porque não o fazemos também com o polegar sobre a fronte, ou cruzando na boca o polegar sobre o indicador?

Se formos vencidos, quem será o culpado?

"Perditio tua ex te, Israel!"

5

Fazer bem o Sinal da Cruz é a terceira aplicação da sentença pronunciada.

Quando fizermos o Sinal adorável, a regularidade, o respeito, a atenção, a confiança, a devoção, devem acom-panhar nossa mão.

A regularidade exige, que o Sinal da Cruz, em sua forma perfeita, se faça, não com a mão esquerda, mas com a mão direita.

E ela deve ir devagar, da testa à cinta e do ombro esquerdo ao direito.

Enquanto isso, se pronunciam o Nome das três Pes-soas da Trindade augusta. (1)

Nada disto é arbitrário.Se houvessem de sair de seus túmulos os primeiros

Cristãos, havíamos de ver que desde os tempos Apostó-licos, faziam assim o Sinal da Cruz.

Cumpre ouvir uma testemunha ocular.

"Apesar de só haver diferença de posição c não "de natureza, nós fazemos com a mão direita o "Sinal da Cruz sobre osi catecúmenos, diz S. Jus-"tino; porque a direita é mais nobre que a es-"querda.

"Oram,os voltados ao Oriente, por ser a parte "mais nobre da creação"

De quem recebeu a Igreja este modo de orar, senão dos próprios Apóstolos? (2)

(1) Nominate Spiritu Sancto, dum ab uno ad alterum latus sit transversio. (Navarr., Comment, de Orat. et horis canon.. c. XIXj n. 200.)

(2) Quemadmodum dextera manu in Nomine Christi, eos, qui Crucis sigmi obsignandi sunt, obisignnmus propterca quod dextera manus praestantior ccnsetur quam sinistra; quam-

Sobre a nobreza da mão direita há de Santo Agostinho uma passagem curiosa.

"Não repreendeis vós, diz ele, quem quer comer "com a mão esquerda?

"Se considerais acção de injúria à vossa mesa "o conviva que come com a mão esquerda, por-"que não haverá injúria à Mesa Divina fazen-"do-se com a mão esquerda o que deve ser feito "com a direita, ou com esta o que deve ser feito "com aquela?" (1)

S. Gregório acrescenta:

"O modo de entender entre o$ homens ê ter por "nobre e mais precioso o que fica à direita; e co-"mum e menos precioso o que fica à esquer-"da." (2)

Quanto às palavras que acompanham o movimento da mão, é certo terem também uma Tradição Apostólica.

quam situ non natura ab ea differat: sic ut quae pars sit in natura praestantior, ad Dei venerationem cultumque se-creta est... a quibus autem Ecclesia precandi morem acce-pit? Ab iis etiam ubi precandum sit accepit.

(1) Nonne corripis eum, qui de sinistra voluerit manducare? Si mensae tuae injuriam putas fieri, manducante conviva de sinistra; quomodo non fit injuria mensae Dei. si quod dex-trum est, sinistrum feceris; et quod sinistrum est, dextrum faceris? (In psal., c. XXXVI.)

(2) Ipso enim locutionis uso, pro dextro habere dicimur, quod pro magno pensamus; pro sinistro vero quod despicimus. (Moral., Lib. XX, c. XVIIL)

------------------------------------------------------------------------—---------------------4

" A qualquer lugar que tenhais de vos dirigir, diz "S. Éfrem, fazei primeiro o Sinal da Cruz di-"zendoi

"Em Nome do Padre e do Filho t e do Espírito-"Santo." (1)

E Tertuliano diz:

"No Padre e no Filho e no Espirito-Santo, é con-"signada a Fé." ( 2

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O SINAL DA CRUZ

Sto. Alexandre, soldado e mártir no reinado de Maxi-miano, sendo condenado à morte, volta-se para o oriente, e, fazendo três vezes o Sinal da Cruz sobre seu corpo, diz:

"Glória a Vós, ó Deus de nossos Pais, que sois —

"Padre, Filho e Espirito-Santo." (3) Entre os primeiros Cristãos era uso também fazer-se o Sinal da Cruz com o polegar sobre a fronte,

"Frontem crucis signáculo terimvs." Faziam

assim,

1 * — para facilitar a quase incessante repetição do Sinal adorável;

(1) Quoecumque pertransis, signa primum in Nomine Patris et Filii et Spiritus-Sancti. <De panoplia.)

(2) Fides absignata in Patre et Filio et Spiritu-Sancto. (De Baptism c. VI.)

(3) Totum Cruce ter signa vi t, et ad orientem versus; Gloria, inquit, tibi sit Deus Patrum nostrorum, Pater, et Filius et Spiritus-Sanctus.

O SINAL DA CRUZ-----------32T__________-----------------------------—------------------------------------------------—4

2.* — devido ao medo que tinham de se traírem.

Tal é hoje ainda o Sinal da Cruz usado mais de fre-quente na Espanha e em outros vários países.

6Por que preferiam eles a fronte em vez do coração? Meu caro Frederico, aqui como em tudo o que é antigo, há grandes mistérios.

Vou apontar cinco.

3.° — A honra do Divino Crucificado."Não é sem razão, diz S. Agostinho, que o

Verbo "Encarnado quis que nossa fronte fosse marca -"da com o Seu Sinal. A fronte é a sede do pu-"dor; e ele quis que o Cristão se não envergo-nhasse pelos opróbrios de seu Mestre. Se, pois, "o fizeres sem acanhamento diante dos homens, "conta com a Misericórdia Divina." (1)

2.° — A honra de vossa fronte."0 Sinal da Cruz, diz Tertuliano, é o Sinal das

"frontes: signaculum frontium." (2)

Diz Sto. Agostinho:"Uma fronte sem Sinal da Cruz é

semelhante a "uma cabeça sem cabelo. Cabeça calva e fronte

(1) Non sine causa Signum suum Christus in fronte nobis voluit, tanquam in sede pudoris, ne Christi epprobria Christianus erubescit. (In ps. XXX; Ernarr. VI. n. 8.)

(2) Contr. Marcion., lib. V.

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O SINAL DA CRUZ

"sem Sinal da Cruz *ão objectos de escárnio o "vergonha. Tal fronte é impudente. Escuta o "homem que insulta outro. Êle lhe diz: Tu não "tens fronte, o que equivale a chamar-lhe impudente. Deus me livre de ter a fronte nua; sem-"pre ela seja coberta e ornada pelo Sinal de meu "Mestre." (1)

3.° — O milagre da Redenção.

0 Sinal da Cruz é um troféu; e os troféus se colocam nos lugares mais altos e públicos, onde toda a gente os possa ver e por eles recordar os triunfos do vencedor.

"A troco de que, pois, exclama o grande Agostinho, haveria o Verbo Divino de não por na "fronte do homem (a fronte que é o mais nobre "e visível de seus membros), a Cruz, o Sinal da "vitória alcançada sobre as potências infernais?" (2)

Dos lugares de suplício passando para a fronte dos Imperadores, era necessário que a Cruz proclamasse eternamente o grande milagre da conversão do universo.

4.° — A propriedade divina.

Tomando posse do Homem, o Divino Crucificado marcou-nos com o seu sinete, como o proprietário faz aos objectos; que lhes pertencem.

"Logo que o Redentor, diz S. Cesário de Arles, "deu liberdade ao Homem, marcou-o com seu "Sinal, que é a Cruz. Como aparece gravada "nas portas dos palácios, nós a trazemos em "nossa fronte. E' o Vencedor quem a coloca aí, "para dizer a todos que entramos em sua posse e "somos seu palácio seu templo vivo. Por isso, "o demónio invejoso e enraivecido, trabalha "sempre a ver se nos rouba o Sinal de nossa "franquia, a carta de nossa liberdade." (1)

5.° — A dignidade do Homem.

A fronte é a parte mais nobre do Homem, é quase para assim dizer, a sede da Alma.

O que domina a cabeça, domina o Homem.Por isso, de todas as partes do corpo, é a cabeça a que o

demónio, com mais empenho procura desfigurar.A desfiguração deste órgão por compressões artificiais,

correu todo o mundo e ainda existe em muitos países.Desfigurar a imagem de Deus, enfraquecer as facul-

dades intelectuais, desenvolver as inclinações baixas e vis, eis o resultado desta desfiguração humanamente inexplicável.

Nosso Senhor, Reparador de todas as coisas, quis que o Sinal da Cruz; de preferência, fosse marcado sobre a

(1) Non habeam nudam frontem; tegat earn Crux Domini mei. (In ps„ c. XXXI.)

(2) Ipsan crucem do diabulo superato, tanquam trophaeum in frontibus fídelium posituras erat. (In Joan. Tract. XXXVI.)

. (1) Et ideo nunc (diabolus) gemit, invidet. circuit, sin forte vel furto a nobis possit auferre instrumentum ipsius manumis-sionis et acquisitae tabulae libertatis. (.Homil. V. de parcfia.)

fronte para libertar o Homem e restituir-lhe, com a ple-nitude de suas faculdades, a dignidade de sua essência.

7

Quatro coisas são necessárias para fazer-se bem o Sinal da Cruz:

"— Respeito, atenção, confiança e devoção. —

Respeito. Muito grande é o respeito que devemos ao Sinal da Cruz porque é ele um acto de Religião e acto quatro vezes venerável, a saber:

1.° — pela origem; 2.° — pela antiguidade:3.° —pelo uso que fizeram dele os Apóstolos, os Már-

tires, os Católicos da primitiva Igreja e de todos os séculos, representantes do que havia de maior e mais santo no Mundo.

4.° — pela glória com que há-de brilhar no último dia, ao anunciar a chegada do Juiz Soberano.

Aparecerá então no ar, a Cruz, cintilante de luz, e se colocará ao lado do Tribunal Supremo, consolando os Justos e confundindo os pecadores.

Atenção. Sem a devida atenção o Sinal Redentor não passará de um movimento maquinal. Quase sempre inútil a quem assim sem atenção o praticar, fica sendo um procedimento injurioso àquele Cuja Majestade, Amor e Benefício o Sagrado Sinal faz recordar.

Confiança. Fundada na prática da Igreja, no teste-munho dos séculos e nos efeitos maravilhosos que ele pro-duz, nossa confiança no Sinal da Cruz deve ser filial, viva, forte.

Temível ao demónio, é ele o Sinal libertador do Homem e do mundo.

Devoção. Praticando o Sinal da Cruz o que é que eu faço?

Declaro-me discípulo, irmão, amigo e filho de um Deus Crucificado.

Mas, se o coração discordar dos lábios, se o exterior não estiver de acordo com o íntimo não há devoção.

E então minto a Deus. minto ao mundo, minto a mim mesmo.

Ouçamos a nossos pais:

"Quando te benzes, pensa nos mistérios da Cruz. Não basta formá-la simplesmente com o dedo.

E* necessário que o acto seja acompanhado de Fé e boa vontade.

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O SINAL DA CRUZ

Quando com o Sinal da Cruz marcas o peito, os olhos e outros membros, te ofereces a Deus em sacrifício agra-dável."

"Marcariáo-te com o Sinal da Cruz, tu te proclamas toldado de Cristo.

Se porém, segundo tuas forças, tu não exerces nem a Caridade, nem a Justiça, nem a Castidade, fica certo de que semelhante Sinal de nada te servirá."

"Mui grande coisa é o Sinal da Cruz; deve por isso servir de marca só para as grandes coisas e coisas pre-ciosas.

De que serve por marca de ouro em objectos de palJw ou lanna?

Que significa o Sinal da Cruz na fronte e nos lábios, guando a Alma está coberta dc manchas ou denegrida de pecados e chagada de crimes?" (1)

"Que faz quem forma o Sinal da Cruz e peca? Coloca na boca o Sinal da Vida, e crava no coração o punhal da morte." (2)

Dai o provérbio dos primeiros Cristãos:

"Irmãos, trazei a Jesus Cristo no coração e na fronte o Sinal d'Ele: Habete Christum in cordibus, et signum ejus in frontibus." (3)

Daí as palavras de Santo Agostinho:"Deus não quer pintores, mas operadores de seus

Mistérios. Se tendes em vossa fronte o Sinal da humildade de Jesus Cristo, tende também em vosso peito a imitação dessa humildade!" (4)

Portanto, ninguém pense nem diga: — "fazer bem ou mal o Sinal da Cruz, pouco importa," — porque di-ferentemente pensaram os séculos cristãos, a Igreja Ca-tólica que é a Mestra infalível da Verdade e a própria Verdade em pessoa, no Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(1) S. Chriys., Homil. 54, in Math.; S. Eph., De adorât, vivif. crue.; S. Aug., Serm., 215. De temp. — Signum maximum atque sublime. Lact., Dev. instit., lib. IV, c. XXVI.

(2) Qui se signât et aliquid de sacrilege- cibo manducat, quo-modo se signât in ore, et gladium sibi mittit in pectore. (S. Coes., Serm. 278, inter Augustim.)

(3) Bed., t. Ill, In collect, flor. et paraph.(4) Factorem quaerit Deus signorum suorum, non pictorem,

etc. (S. Aug., Ser. 32.) x

Mesmo que fosse pequeno o valor do Sinal da Cruz, deveríamos lembrar daquilo que disse o Verbo Encarnado:

Quem é fiel nas coisas pequenas será fiel nas gran-des; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. (S.. Lucas 16-10)

Esta fidelidade quotidiana forma a Vida Cristã e prepara a felicidade eterna.

Em negócio de salvação, não é bastante o que é su-ficiente.

Quem não faz senão o necessário, não o fará por muito tempo.

Faça eu cinquenta vezes ao dia o Sinal da Cruz, e se ele é bem feito, tenho cinquenta boas obras, cinquenta degraus de glória e felicidade <para a vida eterna

São mais cinquenta moedas para pagar minhas dívidas ou as de meus irmãos existentes na terra ou no purgatório. Mais cinquenta súplicas para obter a conversão dos pecadores e a perseverança dos justos, para afastar do mundo e das creaturas as moléstias, os perigos e os flagelos.

Calcula, meu caro, a soma de méritos acumulados no fim de uma semana, de um ano, de uma vida de cinquenta anos!?

8

Caríssimo Frederico, agora conheces o Sinal da Cruz e a maneira de o fazer.

Deixa-me confiar-te uma aspiração.Se um estrangeiro chegasse a Paris e perguntasse: Qual é o rapaz que, na imensa capital, faz melhor o Sinal da Cruz?

O indicado por todos quero que sejas tu. Por tal preço eu te prometoa) vida tão digna como tiveram nossos avós da pri-

mitiva Igreja;b) morte gloriosa diante de Deus;c) e, se tanto fosse necessário, as honras da Cano-

nização.

"In hoc signo vincos" Po?* este sinal venceras.

Expressão divina!Sempre antiga e sempre nova!E* a fórmula de uma Lei.

Quem primeiro mereceu ouvi-la foi o grande Capitão libertador de Roma.

Constantino Magno foi tipo de Homem.O grande Imperador avançava de marcha forçada a

combater Maxencio, horrível tirano, que se havia apoderado da Capital do mundo.

Em pleno meio dia, o Sinal da Cruz aparece de repente a Constantino e a seu exército, com esta inscrição:

Por este sinal vencerás. "In hoc signo vinces."

De noite, sustentando na mão a Cruz do dia, o Filho de Deus aparece ao Imperador ordena-lhe que faça um Lábaro semelhante para usá-lo nos combates, e lhe promete a vitória.

Constantino obedece; o Sinal celeste é levantado, à frente das legiões, e torna-se célebre o Labo/rum notável. (1)

Esta insígnia de confiança anima aos soldados de Constantino e intimida os de Maxencio. ;

328 329O SINAL DA CRUZ

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O SINAL DA CRUZ

As águias romanas fogem diante da Cruz.O paganismo se curva diante do Cristianismo.Satanás, o antigo tirano de Roma e do mundo, ren- •

de-se diante de Jesus Cristo, Salvador de Roma e da Hu-manidade inteira.

Assim devia ser.Maxencio é derrotado e afogado.Constantino entra em Roma.Uma está.tua lá o representa sustentando a Cruz, com

a seguinte inscrição ditada por ele mesmo.

"Por este Sinal salutar, verdadeiro símbolo ãe força, é que libertei vossa cidade do jugo da tirania cdei liberdade

ao senado e ao povo, para os restabelecer em sua majestade e esplendor, antigos." (2)

Outro Constantino és tu, meu Frederico, somos nós os batizados, é todo o mundo cristão.

(1) O Lábaro era uma Cruz com ferro de lança na extremidade superior. Dos braços pendia um véu de púrpura com uma águia pintada. Not. do trad.

(2) Hanc inscriptionem, latino sermone, mandat incidere: Hoc salutari signo, vero fortitudinis indicio, civitatem vestram tyrannidis jugo liberavi, et S. P. Q. R. in libertatem vindicans pristinac amplitudini et splendori restitui. (Euseb-, Vit. Cons-tant., lib. E, c. XXXIII.).

Lançados na arena da vida, nós todos, com as faculdades e sentidos na vanguarda, marchamos ao encontro de um tirano mais temível que Maxencio.

Roma para nós é o Céu, cujas portas ele procura fechar-nos.

Arremete ele sempre contra nós a frente de suas' le-giões infernais.

O combate é inevitável.Como a Constantino, Deus nos dá igual meio de vencer.E' o Sinal da Cruz.

"In hoc Signo vinces."

Hoje, como outrora, este Sinal é o terror dos demónios.• "Formião doemonum."

Cumpre fazê-lo com Fé.O caminho da Cidade Eterna, por Ele nos será aberto.Vencedores e para sempre, nossa gratidão levantará à

vista dos Anjos e dos Eleitos uma estátua com inscrição como a de Constantino.

"Por este Sinal salutar, verdadeiro símbolo da força, c que mide vencer o demónio, libertar meu corpo e minha Alma da tirania, e dar às minhas faculdades e sentidos a verdadeira liberdade, para os estabelecer por toda a eternidade nos esplendores de uma glória sem mancha, nem limites."

"In hoc Signo Vinces".Repetindo as palavras dos Padres e dos Doutores do Oriente e do Ocidente, diremos: Salve! ó Sinal da Cruz!

Estandarte do grande Rei, troféu imortal do Senhor, Sinal de vida, salvação e bênção.

Terror de satanás e das legiões infernais, baluarte inexpugnável, armadura invencível!

Escudo impenetrável, espada real, honra da fronte!E's a esperança dos Cristãos, o remédio das enfer-

midades, a ressurreição dos mortos; guia dos cegos, amparo dos fracos, consolação dos pobres; prazer do bons, terror dos maus, freio dos ricos; ruína dos soberbos, jugo do injustos, liberdade dos escravos.

E's a glória dos mártires, a castidade dos virgens, a virtude dos santos, és o fundamento da Igreja.

Caro Frederico, aí tens a resposta às tuas questões.A autoridade dos séculos resolveu-as a teu favor.

A vitoriosa apologia de tua nobre conduta, haja de te armar para sempre contra as zombarias e sofismas dos inferiores, tão ridículos e atrevidos como ignorantes.

Agora sabes quanto é importante e solidamente fundada a prática habitual do Sinal da Cruz.

E's competente para calcular o valor mesquinho dos que o não fazem.Sabes apreciar a falta de carácter dos que se envergonham de o fazer. Adeus.

Que o Senhor se amerceie de nós. In hoc Signo vinces.

FIM

328 329O SINAL DA CRUZ

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I N D I C E

Prefacio (da segunda edição francesa) ...................... 7Carta de S. Em. o Cardeal Altieri a Mons. Gaumo ------- 15Breve de S. Santidade o Papa Pio IX .......................... 17Nota Preliminar (da primeira edição francesa) .......... 20

PRIMEIRA CARTA

1. O mundo actual ................................................ 212. Hoje o Cristão não faz ou faz raras vezes, ou faz mal

feito o Sinal da Cruz............................................. 253. Os antigos Cristãos faziam-no, e muitas vezes, e bem

feito ................................................................ 264. Quem estará com a razão e com a Verdade? ......... 2S

SEGUNDA CARTA

1. Precedentes a favor dos primeiros Cristãos ......... 292. Primeiro precedente: a proximidade dos Apóstolos 303. Segundo precedente: a santidade ..................... 314. Terceiro precedente: o uso dos verdadeiros Cristãos 355. Foram os Padres da Igreja grandes génios? .......... 36

TERCEIRA CARTA

1. Continuação do terceiro precedente: os Doutores do oriente e do ocidente ....................................... 38

2. Constantino, Teodósio, Carlos Magno, São Luis, Bayard, D. João d'Austria, Sobieski .................... 41

3. Quarto precedente: conduta da Igreja ................ 424. Quinto precedente: os que fazem o Sinal da Cruz ... Í75. Resumo ........................................................... 48

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ÍNDICE 341

QUARTA CARTA

1. Resposta a uma objecção ..................................... 502. Razões tiradas da própria natureza do Sinal da Cruz:

O Sinal da Cruz é cinco coisas .............................. 533. É um Sinal que enobrece o homem, porque é divino 544. A idade de ouro do Cristianismo ........................... 555. Quem é o autor do Sinal da Cruz? ......................... 57

QUINTA CARTA

1. O Sinal da Cruz nos enobrece ............................... 592. É o brasão do Católico que é um grande povo ______ 613. O Sinal da Cruz nos ensina a respeitar nossa pessoa 634. Vergonha dos que não fazem o Sinal da Cruz......... 655. Desprezo do grande tesouro que é — a vida —______ 67

SEXTA CARTA

1. Resumo da carta precedente ............................... 702. O Sinal da Cruz é um Livro que encerra toda a ciência de

Deus, do homem e do mundo ............................... 713. Um Mistério ...................................................... 734. O Sinal da Cruz nos ensina com autoridade, lucidez

e profundeza ..................................................... 745. O Sinal da Cruz, Mestre o mais sábio e o mais conciso 77

SÉTIMA CARTA

1. Lugar que o Sinal da Cruz ocupa no mundo ........... 792. Em que se tornou o mundo, desde que deixou de fazer o

Sinal da Cruz........................................................ 823. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos enriquece ...851. Uma grande Lei moral .......................................... 87

OITAVA CARTA

1. O Sinal da Cruz conhecido e praticado desde a origemdo mundo ........................................................ 90

2. Sete modos de fazer o Sina! da Cruz .................... 913. Jacob, Moisés, Sansão, fizeram o Sinal da Cruz ... 924. Testemunho dos Padres, — Sansão, David, Salomão e

todo o povo judeu faziam o Sinal da Cruz e reconheciam o valor dele ........................................................... 95

NONA CARTA1. O Sinal da Crua entre os pagãos. Novas particularidades

sobre uma forma exterior do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos ............................................. 103

2. Os mártires do anfiteatro..................................... 1053. Etimologia da palavra "adorar" ............................ 1084. Os pagãos adoravam fazendo o Sinal da Cruz. De

que modo o faziam? Primeiro modo ..................... 111

DÉCIMA CARTA

1. Segundo e terceiro modo pelos quais os pagãos faziam o Sinal da Cruz. Testemunhos. Pietas publica 114

2. Os pagãos reconheciam uma potência misteriosano Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta crença? 1193. Grande mistério do mundo moral. Importância do

Sinal da Cruz aos olhos de Deus. O Sinal da Cruzdo mundo físico ...................................................... 1204. Palavras dos Padres e de Platão .......................... 1225. Inconsequência dos pagãos antigos e modernos. Razão do

ódio particular do demónio ao Sinal da Cruz 125

UNDÉCIMA CARTA

1. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos enriquece porque é uma suplica: Provas. Súplica poderosa: Provas. Súplica universal: Provas .............................................. 130

2. Ele provê a todas as necesidades. O Homem carece de luzes para o seu espírito. O Sinal da Cruz, con-segue-as: Provas .............................................................. 139

DUODÉCIMA CARTA

1. Necessidade perpétua do Sinal da Cruz para obter força. Recomendação e prática dos Chefes da luta espiritual. Sinal da Cruz nas tentações ................................. 148

2. Sinal da Cruz na morte. Exemplo dos Mártires. Exemplo dos verdadeiros Cristãos, no acto de morrer 154

3. Os moribundos nediam a seus irmãos lhes fizeram o Sinal da Cruz....................................................... 159

DÉCIMA TERCEIRA CARTA

1. O Sinal da Cruz na ordem temporal ...................... 1622. Dá vista aos cegos ouvidos aos surdos ................. 1633. Dá a fala aos mudos...........................•................ 1664. Dá uso dos membros aos coxos e paralíticos......... 1685. Cura febres e outras moléstias ............................ 1716. Limpa os leprosos e tira o câncer ......................... 1737. Traz à vida os próprios mortos ............................. 1758. Conclusão ....................................................... 177

DÉCIMA QUARTA CARTA1. O Sinal da Cruz aplaca as tempestades ............... 1782. Apaga os incêndios.............................................. 1803. Defende dos perigos ............................................ 1814. Suspende o ímpeto das ondas. Faz entrar as águas

em seu leito ...................................................... 1835. Afugenta os animais ferozes .............................. 1856. Preserva do veneno ........................................... 1877. Livra-nos das tempestades e dos raios .............;.. 1898. Protege-nos de tudo o que possa prejudicar a saúde

e a vida ............................................................ 191

DÉCIMA QUINTA CARTA1. Resposta a uma questão ...................................... 1952. O Sinal da Cruz renova hoje seus antigos milagres 1973. A vida é uma luta ................................................ 1994. Satanás existe? ................................................ 2015. O Sinal da Cruz é a arma especial, a arma de precisão,

contra os Anjos maus ou demónios ....................... 202S. Primeiro Tribunal ............................................. 2047. Segundo Tribunal................................................. 2068. Experiências .................................................... 209

DÉCIMA SEXTA CARTA1. O Sinal da Cruz despedaça os ídolos..................... 2132. O Sinal da Cruz expulsa os demónios .................. 2153. Os exorcismos .................................................. 219■1. Inutiliza os ataques directos dos demónios ........ 220fí. Inutiliza também os indirectos. Todas as creaturassujeitas ao demónio lhe servem de instrumento para nos

fazerem mal. O Sinal da Cruz impede-os em sua acção nociva contra nosso corpo o nossa Alma. Profunda filosofia dos primeiros Cristãos. Uso, que

faziam do Sinal da Cruz. Quadro por S. Crisóstomo 224ü. Duas grandes Verdades ....................................... 2267. Pára-raio e Monumento ....................................... 228

DÉCIMA SÉTIMA CARTA

1 . Natureza do Sina] da Cruz e o caso que dele hojese faz ....................................................................

...........................................................................................2312. Que coisa anunciam o esquecimento e o desprezo do

Sinal da Cruz? ..............................................................................................................................................232

3 . Espectáculo do mundo actual ..............................234

4. Permanecer fiel ao Sinal da Cruz, principalmente antes e depois da comida ...........................................................................................................................................237

5. Volta de satanás .................................................239

6. A razão, a liberdade e a honra o recomendam ......241

7. A conveniência dos que íazem o Sinal da Cruz antese depois da comida ........................................................................................ 242

DÉCIMA OITAVA CARTA

1. A honra exige que se faça oração antes e depois da comida . . 2462. Orar antes e depois de comer é tão antigo como o universo, e

tão extenso como o gênero humano.............................................................. 2184 3. Benedicite e Oraças de todos os povos ....................................... 251

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ÍNDICE 341

4. Quem nao pratica tais provas, assemelha-se aos se-res que não pertencem ao género humano........... 255

DÉCIMA NONA CARTA

1. A bênção da mesa é um acto de liberdade ........... 2602. Três tiranos ..................................................... 2623. Vitória sobre o mundo ......................................... 2644. Vitória sobre a carne........................................... 2035. Vitória sobre o demónio ...................................... 270

6. Conclusão notável ............................................ 272

VIGÉSIMA CARTA

1. Um viajor desnorteado ...................................... 2762. O Sinal da Cruz é um verdadeiro guia ........................................... 2783. A lembrança é o pulso da amizade .................................................... 2794. Importância do Sinal da Cruz ................................... 2805. Lembranças Divinas .......................................... 2836. A lei da imitação ............................................... 287

VIGÉSIMA PRIMEIRA CARTA

1, Imitação de Deus..............................,.................. 2902, O Sinal da Cruz santifieadOr do Homem e das creaturas

........................................_______.......................... 2953, Ensinando-nos a Caridade, o Sinal da Cruz é gu'a

eloquente e seguro......................................____.,; 297

VIGÉSIMA SEGUNDA CARTA

1. Decisão de um Tribunal supremo: Devemos praticar, resolutamente, muitas vezes e bem o Sinal da Cruz 302

2. Razões para praticar resolutamente o Sinal da Cruz 3043. Estado de saúde física do mundo hodierno ........... 3074. Qual o estado sanitário das Almas no mundo actual? 311

VIGÉSIMA TERCEIRA CARTA

1. Dogma ^fundamental........................................... 3152. A reforma, primeira filha da renascença do paganis-

. mo derruba todas as Cruzes.................................. 3173 : A revolução francesa, segunda filha do paganismo,imita sua irmã............................................................ 3184 . Primeira obrigação: fazer muitas vezes o Sinal d aCruz............................._____.......................................

....................................3215. Segunda obrigação: Fazer bem o Sinal da Cruz . . . .

3236. O Sinal da Cruz feito de preferência na fronte . . . . . .

3277. Quatro cousas necessárias para se* fazer bem o Sinal

d a Cruz......................................v*...................... 3308. Constantino................................,.------. . . _______... 333

Composto e Impresso na L I N O G R Á F I C AR. Almirante Barroso,

478 SAO PAULO

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