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News Janeiro/Fevereiro 2019 Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária Noções gerais Incorporação imobiliária Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto. Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ). Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais. Lei nº 4.591/64 A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias. Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002. O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária: Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei. Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas. 01

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Page 1: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

NewsJaneiro/Fevereiro 2019

01

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

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Page 2: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

REPORTAGEM DE CAPA

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

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Page 3: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 4: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 5: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 7: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 8: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

SituaçãoO que o adquirente

terá direito?O que o incorporador

poderá reter?

Se o desfazimento ocorreu depois de

entregue a unidade

Desfazimento do contrato em razão de:

1) distrato; ou

2) inadimplemento do adquirente

Restituição das quan-tias que houver pago diretamente ao incor-porador, com corre-ção monetária.

O adquirente respon-derá também pelos seguintes valores:

1) impostos reais sobre o imóvel;

2) cotas de condomí-nio e associações de moradores;

3) valor correspon-dente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% sobre o valor atualizado do contra-to, pro rata die;

4) demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.

1) a integralidade da comissão de correta-gem.

2) pena convencional:

• 25% da quantia paga pelo adquirente;

• 50% em caso de incorporação subme-tida ao regime do patrimônio de afeta-ção.

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 9: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

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Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

Súmula 543-STJ: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata resti-tuição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazi-mento.

• Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação: o incorpo-rador restituirá os valores pagos pelo adqui-rente no prazo máximo de 30 dias após o habite-se ou documento equivalente expedido pelo órgão público municipal competente.

• Caso a incorporação não esteja submetida ao regime do patrimônio de afetação: o pagamento será realizado em parcela única, após o prazo de 180 dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Posição do STJ: imediatamente Lei nº 13.786/2018:

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 10: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 11: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 12: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 13: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 14: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

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A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 15: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

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Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

Art. 35. Ocorrendo o cancelamento do registro por inadimplemento do contrato e tendo havido o pagamento de mais de 1/3 (um terço) do preço ajustado, o Oficial do Registro de Imóveis mencionará este fato no ato do cancelamento e a quantia paga; somente será efetuado novo registro relati-vo ao mesmo lote, se for comprovada a restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado, ou mediante depósito em dinheiro à sua disposição junto ao Registro de Imóveis.

Art. 35. Se ocorrer o cancelamento do regis-tro por inadimplemento do contrato, e tiver sido realizado o pagamento de mais de 1/3 (um terço) do preço ajustado, o oficial do registro de imóveis mencionará esse fato e a quantia paga no ato do cancelamento, e somente será efetuado novo registro relati-vo ao mesmo lote, mediante apresentação do distrato assinado pelas partes e a com-provação do pagamento da parcela única ou da primeira parcela do montante a ser restituído ao adquirente, na forma do art. 32-A desta Lei, ao titular do registro cancela-do, ou mediante depósito em dinheiro à sua disposição no registro de imóveis.

Não havia § 3º. § 3º A obrigação de comprovação prévia de pagamento da parcela única ou da primeira parcela como condição para efetivação de novo registro, prevista no caput deste artigo, poderá ser dispensada se as partes conven-cionarem de modo diverso e de forma expressa no documento de distrato por elas assinado.

Redação originária Redação dada pela Lei nº 13.786/2018

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

REPORTAGEM DE CAPA

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Page 16: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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Page 17: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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Page 18: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico)

Art. 11 (...)

§ 6º Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico somente estarão disponíveis para acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes proces-suais e para o Ministério Público, respeitado o disposto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça.

Art. 11 (...)

§ 6º Os documentos digitalizados juntados em processo eletrônico estarão disponíveis para acesso por meio da rede externa pelas respectivas partes processuais, pelos advo-gados, independentemente de procuração nos autos, pelos membros do Ministério Público e pelos magistrados, sem prejuízo da possibilidade de visualização nas secretarias dos órgãos julgadores, à exceção daqueles que tramitarem em segredo de justiça.

Redação anterior Redação atual (dada pela Lei 13.793/2019)

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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Page 19: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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Page 20: News - Buscador Dizer o Direito€¦ · Art. 35-A: quadro-resumo Quadro-resumo O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão

Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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Lei 13.786/2018: dispõe sobre a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária

Noções geraisIncorporação imobiliária

Incorporação imobiliária é a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos obtidos, vai construindo o projeto.

Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, “a expressão incorporação imobiliária designa a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial” (REsp 1.537.012-RJ).

Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega, no futuro, das unidades habitacionais.

Lei nº 4.591/64A Lei nº 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias.

Parte da Lei nº 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de 2002.

O art. 28, que continua em vigor, assim conceitua incorporação imobiliária:

Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território nacional, reger-se-ão pela presente Lei.

Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de unidades autônomas.

Lei nº 6.766/79A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento.

Sobre o que trata a Lei nº 13.786/2018A Lei nº 13.786/2018 altera a Lei nº 4.591/64 e a Lei nº 6.766/79, para disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano.

Alterações na lei 4.591/64A Lei nº 13.786/2018 acrescentou três novos artigos à Lei nº 4.591/64.

Foram inseridos os arts. 35-A, 43-A e 67-A:

Art. 35-A: quadro-resumoQuadro-resumo

O quadro-resumo é uma parte (um anexo) dos contratos imobiliários (promessa de compra e venda, cessão de unidade autônoma etc) na qual haverá uma síntese contendo os dados princi-pais do ajuste.

O quadro-resumo é muito comum na prática imobiliária.

O novo art. 35-A da Lei nº 4.591/64, inserido pela Lei nº 13.786/2018 prevê agora expressamente que os contratos de...

• compra e venda;

• promessa de venda;

• cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária

... deverão ser iniciados por quadro-resumo.

Conteúdo do quadro-resumoAlém disso, o art. 35-A determina o conteúdo deste quadro-resumo.

O quadro-resumo deverá conter:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor da parcela do preço a ser tratada como entrada, a sua forma de pagamento, com destaque para o valor pago à vista, e os seus percentuais sobre o valor total do contrato;

III – o valor referente à corretagem, suas condi-ções de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

IV – a forma de pagamento do preço, com indi-cação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

V – os índices de correção monetária aplicáveis ao contrato e, quando houver pluralidade de índices, o período de aplicação de cada um;

VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VII – as taxas de juros eventualmente aplicadas, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VIII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 do CDC, em todos os contratos firmados em estan-des de vendas e fora da sede do incorporador ou do estabelecimento comercial;

IX – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do auto de conclu-são da obra pelo incorporador;

X – as informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel, em especial quando o vinculem como garantia real do financiamento destinado à construção do investimento;

XI – o número do registro do memorial de incor-poração, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XII – o termo final para obtenção do auto de conclusão da obra (habite-se) e os efeitos contratuais da intempestividade prevista no art. 43-A da Lei nº 4.591/64.

O que acontece se estiver faltando alguma das informações obrigatórias acima listadas?

Deverá ser concedido prazo de 30 dias para que a empresa faça o aditamento do contrato com o saneamento da omissão.

Se, mesmo após esse prazo, a omissão não for corrigida, o adquirente poderá rescindir o contrato por justa causa.

Inciso VI do art. 35-A (consequências do desfazimento do contrato)Vimos acima que umas das informações obriga-tórias que deverá constar no quadro-resumo diz respeito às consequências do desfazimento do contrato. Essa exigência está consignada no inciso VI do art. 35-A:

Art. 35-A. Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas integrantes de incorporação imobiliária serão iniciados por quadro-resumo, que deverá conter:

(...) VI – as consequências do desfazimento do contrato, seja por meio de distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adquirente ou do incorporador, com destaque negritado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

se o imóvel dentro do prazo de 180 dias, ela não teria que pagar multa ou qualquer espécie de indenização ao adquirente.

Essa previsão é chamada de “cláusula de tole-rância” ou “prazo de tolerância”.

A “cláusula de tolerância” é válida ou abusiva?

SIM. A jurisprudência do STJ considerava que a cláusula de tolerância é válida.

Assim decidiu o STJ recentemente:

Não é abusiva a cláusula de tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel em construção que prevê prorrogação do prazo inicial para a entrega da obra pelo lapso máximo de 180 (cento e oitenta) dias.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.318-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

Existem, no mercado, diversos fatores de impre-visibilidade que podem afetar negativamente a construção de edificações e onerar excessiva-

Veja que o legislador se preocupou em exigir que as penalidades aplicáveis e os prazos para devolução dos valores ao adquirente estejam destacados em negrito no quadro-resumo.

Além disso, a Lei fala também que o adquirente deverá fazer uma assinatura especificamente neste trecho do contrato, demonstrando assim que lhe foi chamada a atenção para essa cláusu-la. Isso está previsto no § 2º do art. 35-A:

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, referidas no inciso VI do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Art. 43-A: cláusula de tolerânciaO que é cláusula de tolerância?

Irei explicar a partir do seguinte exemplo:

João deseja comprar um apartamento e procura uma incorporadora imobiliária. Ele celebra, então, um contrato de promessa de compra e venda com a incorporadora para aquisição de um apartamento que está sendo construído e que seria entregue em 05/05/2017.

O comprador compromete-se a pagar todos os meses uma determinada quantia e a incorpora-dora obriga-se a entregar o apartamento nesta data futura e certa.

Ocorre que a cláusula 5.1.3 do ajuste previa que a construtora poderia prorrogar esse prazo de entrega em mais 180 dias, ou seja, poderia atrasar a entrega.

O contrato previa que se a construtora não cumprisse a data de 05/05/2017, mas entregas-

mente os incorporadores e construtoras, tais como intempéries, chuvas, escassez de insumos, greves, falta de mão de obra, crise no setor, entre outros contratempos.

Assim, diante da complexidade desse negócio, é justificada a existência de uma cláusula contra-tual prevendo a possibilidade de eventual pror-rogação do prazo de entrega da obra.

Não se verifica também, para fins de mora contratual, nenhuma desvantagem exagerada em desfavor do consumidor, o que comprome-teria o princípio da equivalência das prestações estabelecidas.

É que a disposição contratual de prorrogação da entrega do empreendimento adveio das práticas do mercado de construção civil consolidadas há décadas, ou seja, originou-se dos costumes da área, sobretudo para amenizar o risco da ativi-dade, haja vista a dificuldade de se fixar data certa para o término de obra de grande magni-tude sujeita a diversos obstáculos e situações imprevisíveis, o que concorre para a diminuição do preço final da unidade habitacional a ser suportada pelo adquirente.

De fato, quanto maior o risco do empreendi-mento, maior o preço final ao consumidor.

Validade da cláusula de tolerância foi inserida expressamente na Lei

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou na Lei nº 4.591/64 a previsão expressa da validade da cláusula de tolerância. Confira o dispositivo inserido:

Art. 43-A. A entrega do imóvel em até 180 (cento e oitenta) dias corridos da data estipulada contratualmente como data prevista para conclusão do empreendimen-to, desde que expressamente pactuado, de forma clara e destacada, não dará causa à resolução do contrato por parte do adqui-rente nem ensejará o pagamento de qual-quer penalidade pelo incorporador.

Se o empreendimento for entregue após os 180 dias de tolerância:

O adquirente poderá pedir cumulativamente:

• a resolução do contrato;

• a devolução de todo o valor que pagou; e

• o pagamento da multa estabelecida.

A incorporadora deverá fazer o pagamento em até 60 dias corridos, contados da resolução, acrescidos de correção monetária.

É isso que prevê o novo § 1º do art. 43-A:

§ 1º Se a entrega do imóvel ultrapassar o prazo estabelecido no caput deste artigo, desde que o adquirente não tenha dado causa ao atraso, poderá ser promovida por este a resolução do contrato, sem prejuízo da devolução da integralidade de todos os valores pagos e da multa estabelecida, em até 60 (sessenta) dias corridos contados da resolução, corrigidos nos termos do § 8º do art. 67-A desta Lei.

Prazo máximo de tolerância: 180 diasO STJ afirmava, contudo, que esse prazo de tolerância deveria ser de, no máximo, 180 dias, visto que, por analogia, é o prazo de validade do registro da incorporação e da carência para desistir do empre-endimento (arts. 33 e 34, § 2º, da Lei nº 4.591/64 e 12 da Lei nº 4.864/65) e é o prazo máximo para que o fornecedor sane vício do produto (art. 18, § 2º, do CDC).

Assim, a cláusula de tolerância que estipular prazo de prorrogação superior a 180 (cento e oitenta) dias era considerada abusiva, devendo ser desconsiderados os dias excedentes.

Dever de informaçãoVale ressaltar, por fim, que o incorporador terá que informar claramente o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo de prorrogação para a entrega da unidade imobi-liária, sob pena de haver publicidade enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.

Adquirente pode optar por não pedir a resolução do contratoO adquirente pode decidir que, mesmo tendo sido ultrapassado o prazo de tolerância, ele não quer a resolução do contrato.

Neste caso, este adquirente, quando receber o imóvel, terá direito à indenização de 1% do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, acrescido de correção monetária.

Veja a redação do § 2º do art. 43-A:

§ 2º Na hipótese de a entrega do imóvel estender-se por prazo superior àquele previsto no caput deste artigo, e não se tratar de resolução do contrato, será devida ao adquirente adimplente, por ocasião da entrega da unidade, indenização de 1% (um por cento) do valor efetivamente pago à incorporadora, para cada mês de atraso, pro rata die, corrigido monetariamente confor-me índice estipulado em contrato.

Não é possível cumular a multa do § 1º com a sanção do § 2ºA multa do § 1º é uma multa pela inexecução total da obrigação (houve a resolução do contrato).

O § 2º, por sua vez, prevê uma indenização para a mora (o contrato não foi desfeito, tendo sido apenas cumprido com atraso).

Assim, as sanções têm natureza jurídica e finali-dade diversas, sendo, portanto, inacumuláveis, conforme prevê o § 3º do art. 43-A:

§ 3º A multa prevista no § 2º deste artigo, referente a mora no cumprimento da obriga-ção, em hipótese alguma poderá ser cumula-da com a multa estabelecida no § 1º deste artigo, que trata da inexecução total da obrigação.

Art. 67-A: desfazimento do contratoExtinção do contrato

Existem algumas espécies (formas) de extinção do contrato.

Para os fins desta Lei, preciso explicar a você duas delas:

a) resilição:

Ocorre quando o contrato é rescindido por vontade das partes.

A resilição pode ser unilateral (quando só uma das partes quis a resolução) ou bilateral (quando ambas as partes optaram por essa solução).

A resilição bilateral é chamada de DISTRATO.

Veja o que diz o Código Civil:

Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notifica-da à outra parte.

Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execu-ção, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

Vale ressaltar que os contratos de incorporação imobiliária não admitem resilição unilateral, conforme prevê expressamente a Lei nº 4.591/64:

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

b) resolução:

Ocorre quando o contrato é extinto em razão do descumprimento daquilo que havia sido combi-nado.

Importante esclarecer que esse “descumprimen-to” pode ter sido:

• voluntário (inexecução voluntária): quando o descumprimento ocorreu por dolo ou culpa do devedor;

• involuntário (inexecução involuntária): quando o descumprimento se deu por uma circunstân-cia alheia à vontade do devedor.

Art. 67-A trata sobre distrato e resolução por inadimplemento do adquirente

A Lei nº 13.786/2018 acrescentou o art. 67-A à Lei nº 4.591/64 tratando, de forma detalhada sobre o desfazimento do contrato, em caso de:a) distrato; e deb) resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente.

Distrato

Como vimos, o distrato ocorre quando as duas partes escolhem romper o contrato. Por isso, o distrato é também chamado de resilição bilateral.

Resolução por inadimplemento abso-luto de obrigação do adquirente

Aqui o contrato foi extinto porque o adquirente não cumpriu com a sua obrigação.

Se houver distrato ou resolução por inadimple-mento do adquirente, ele perderá tudo que pagou à imobiliária?

NÃO. Isso porque o art. 53 do CDC proíbe a chamada “cláusula de decaimento”.Cláusula de decaimento é aquela que estabelece que o adquirente irá perder todas as prestações pagas durante o contrato caso se mostre inadimplente ou requeira o distrato.Veja o que diz o art. 53 do CDC:

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduci-árias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefí-cio do credor que, em razão do inadimple-mento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

Mas a construtora poderá reter uma parte do valor que já foi pago pelo adquirente caso este desista do negócio?

SIM. Antes da Lei nº 13.786/2018, a jurisprudên-cia do STJ definiu que a resolução do contrato de promessa de compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago.O STJ possui vários precedentes dizendo que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, especialmente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.Existem julgados do STJ afirmando que o percentual máximo que o promitente-vendedor poderia reter seria o de 25% dos valores já pagos, devendo o restante ser devolvido ao promitente comprador. Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EAg 1138183/PE, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/06/2012.Veja um precedente do STJ de 2012 que espelha esse entendimento:

É abusiva a cláusula de distrato, fixada no contrato de promessa de compra e venda imobiliária, que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumi-dor distratante.Vale ressaltar, no entanto, que a jurisprudên-cia entende que é justo e razoável que o vendedor retenha parte das prestações pagas pelo consumidor como forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tribu-tos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador.STJ. 4ª Turma. REsp 1132943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013 (Info 530).

O que fez a Lei nº 13.786/2018?

A Lei nº 13.786/2018 inseriu na Lei nº 4.591/64 boa parte desse entendimento do STJ acima exposto. Podemos assim resumir o novo art. 67-A:

Obs: o para exigir a pena convencional, o incorporador não precisa demonstrar que sofreu prejuízo.

Veja a redação do caput do art. 67-A:

Art. 67-A. Em caso de desfazimento do contrato celebrado exclusivamente com o incorporador, mediante distrato ou resolução por inadimplemento absoluto de obrigação do adquirente, este fará jus à restituição das quantias que houver pago diretamente ao incorporador, atualizadas com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, delas deduzidas, cumulativamente:I – a integralidade da comissão de corretagem;II – a pena convencional, que não poderá exceder a 25% (vinte e cinco por cento) da quantia paga.§ 1º Para exigir a pena convencional, não é necessário que o incorporador alegue prejuízo.

Outras despesas que terão que ser pagas pelo adquirente:Se o desfazimento do contrato ocorreu depois de a unidade estar pronta e entregue ao adqui-rente, significa que ele teve disponibilidade sobre o bem (posse direta).Nesse período incidiram impostos e outros encargos financeiros decorrentes dessa disponi-bilidade (ex: IPTU, taxa de lixo, cotas condomi-niais etc.).Além disso, o adquirente morou neste imóvel (ou pelo menos teve a possibilidade de morar ou alugar). Teve a disponibilidade econômica sobre o bem.Pensando nisso, o legislador determinou que o adquirente deverá pagar também por essas despesas. Veja:

§ 2º Em função do período em que teve disponibilizada a unidade imobiliária, responde ainda o adquirente, em caso de resolução ou de distrato, sem prejuízo do disposto no caput e no § 1º deste artigo, pelos seguintes valores:I – quantias correspondentes aos impostos reais incidentes sobre o imóvel;

II – cotas de condomínio e contribuições devidas a associações de moradores;III – valor correspondente à fruição do imóvel, equivalente à 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, pro rata die;IV – demais encargos incidentes sobre o imóvel e despesas previstas no contrato.§ 3º Os débitos do adquirente correspon-dentes às deduções de que trata o § 2º deste artigo poderão ser pagos mediante compensação com a quantia a ser restituída.§ 4º Os descontos e as retenções de que trata este artigo, após o desfazimento do contrato, estão limitados aos valores efetivamente pagos pelo adquirente, salvo em relação às quantias relativas à fruição do imóvel.

Em quanto tempo deverá ocorrer a devolução dos valores ao adquirente?

Vimos acima que o adquirente terá direito à restituição das quantias que houver pago ao incorporador, com correção monetária. Indaga--se: em quanto tempo a incorporadora deverá promover essa devolução?

É o que preveem os §§ 5º e 6º do art. 67-A:

§ 5º Quando a incorporação estiver submetida ao regime do patrimônio de afetação, de que tratam os arts. 31-A a 31-F desta Lei, o incor-porador restituirá os valores pagos pelo adquirente, deduzidos os valores descritos neste artigo e atualizados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, no prazo máximo de 30 (trinta) dias após o habite-se ou documento equivalente expedi-do pelo órgão público municipal competente, admitindose, nessa hipótese, que a pena referida no inciso II do caput deste artigo seja estabelecida até o limite de 50% (cinquenta por cento) da quantia paga.

§ 6º Caso a incorporação não esteja submeti-da ao regime do patrimônio de afetação de que trata a Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004, e após as deduções a que se referem os parágrafos anteriores, se houver remanescen-te a ser ressarcido ao adquirente, o pagamen-to será realizado em parcela única, após o prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da data do desfazimento do contrato.

Se o incorporador conseguir revender rapida-mente a unidade devolvida pelo adquirente, estes prazos deverão ser reduzidos e a restitui-ção será em até 30 dias:

§ 7º Caso ocorra a revenda da unidade antes de transcorrido o prazo a que se referem os §§ 5º ou 6º deste artigo, o valor remanescen-te devido ao adquirente será pago em até 30 (trinta) dias da revenda.

§ 8º O valor remanescente a ser pago ao adquirente nos termos do § 7º deste artigo deve ser atualizado com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel.

Perceba, portanto, que os §§ 5º e 6º do art. 67-A, com redação dada pela Lei nº 13.786/2018, afrontam o teor da Súmula 543 do STJ.

Não existe um dispositivo no CDC que afirme expressamente que a devolução das parcelas deve ser imediata. No entanto, para o STJ, a demora na restituição viola o art. 51, II e IV, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste Código;

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumi-dor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;

O adquirente não terá que pagar a cláusula penal prevista no contrato se conseguir vender a unidade para outra pessoa e esta seja “aprovada” pelo incorporador

§ 9º Não incidirá a cláusula penal contratual-mente prevista na hipótese de o adquirente que der causa ao desfazimento do contrato encontrar comprador substituto que o sub-rogue nos direitos e obrigações original-mente assumidos, desde que haja a devida anuência do incorporador e a aprovação dos cadastros e da capacidade financeira e econômica do comprador substituto.

Direito de arrependimentoO CDC prevê o chamado “direito de arrependi-mento” nos seguintes termos:

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contrata-ção de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta dispositivo à Lei nº 4.591/64 determinando expressamente a aplicação do “direito de arrependimento” aos contratos envolvendo incorporação imobiliária que ocorrem em estandes de vendas e fora da sede do incorporador. Confira o § 10 inserido:

§ 10. Os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do incorporador permi-tem ao adquirente o exercício do direito de arrependimento, durante o prazo improrro-gável de 7 (sete) dias, com a devolução de todos os valores eventualmente antecipados, inclusive a comissão de corretagem.

A Lei exige que o direito de arrependimento seja demonstrado por meio de carta registrada com AR:

§ 11. Caberá ao adquirente demonstrar o exercício tempestivo do direito de arrependi-mento por meio de carta registrada, com aviso de recebimento, considerada a data da posta-gem como data inicial da contagem do prazo a que se refere o § 10 deste artigo.

§ 12. Transcorrido o prazo de 7 (sete) dias a que se refere o § 10 deste artigo sem que tenha sido exercido o direito de arrependi-mento, será observada a irretratabilidade do contrato de incorporação imobiliária, conforme disposto no § 2º do art. 32 da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964.

Art. 32 (...)

§ 2º Os contratos de compra e venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas são irretra-táveis e, uma vez registrados, conferem direito real oponível a terceiros, atribuindo direito a adjudicação compulsória perante o incorporador ou a quem o suceder, inclusive na hipótese de insolvência posterior ao término da obra.

Instrumento de distrato pode estabe-lecer regras diferentes das que foram estipuladas acimaO distrato, conforme vimos, ocorre quando as duas partes concordam em desfazer o contrato.

Como se trata de um novo acordo, é possível que as regras do distrato sejam combinadas entre as partes. Assim, em tese, as partes podem até mesmo estabelecer regras diferen-tes daquelas previstas na Lei nº 4.591/64.

Foi o que estabeleceu o novo § 13 do art. 67-A:

§ 13. Poderão as partes, em comum acordo, por meio de instrumento específico de distrato, definir condições diferenciadas das previstas nesta Lei.

Importante, no entanto, esclarecer que essa liberdade das partes não é absoluta (ilimitada). Isso porque não é possível que sejam estabele-cidas condições extremamente desvantajosas ao adquirente-consumidor, sob pena de afronta ao art. 51, IV, do CDC.

Leilão

§ 14. Nas hipóteses de leilão de imóvel objeto de contrato de compra e venda com paga-mento parcelado, com ou sem garantia real, de promessa de compra e venda ou de cessão e de compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia, realizado o leilão no contexto de execução judicial ou de procedimento extrajudicial de execução ou de resolução, a restituição far-se-á de acordo com os critérios estabelecidos na respectiva lei especial ou com as normas aplicáveis à execução em geral.

Alterações na lei 6.766/79Vejamos agora as modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 na Lei nº 6.766/79 (dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja estabelecido um loteamento).

Art. 26-a: quadro-resumoAssim como fez em relação à Lei nº 4.591/64, a Lei nº 13.786/2018 acrescentou um dispositivo à Lei nº 6.766/79 exigindo o quadro-resumo nos contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamento.

Valem os mesmos comentários que fiz acima para o quadro-resumo da Lei nº 4.591/64.

Confira agora o art. 26-A que foi inserido:

Art. 26-A. Os contratos de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de loteamen-to devem ser iniciados por quadro-resumo, que deverá conter, além das indicações constantes do art. 26 desta Lei:

I – o preço total a ser pago pelo imóvel;

II – o valor referente à corretagem, suas condições de pagamento e a identificação precisa de seu beneficiário;

III – a forma de pagamento do preço, com indicação clara dos valores e vencimentos das parcelas;

IV – os índices de correção monetária aplicá-veis ao contrato e, quando houver pluralida-de de índices, o período de aplicação de cada um;

V – as consequências do desfazimento do contrato, seja mediante distrato, seja por meio de resolução contratual motivada por inadimplemento de obrigação do adqui-rente ou do loteador, com destaque negri-tado para as penalidades aplicáveis e para os prazos para devolução de valores ao adquirente;

VI – as taxas de juros eventualmente aplica-das, se mensais ou anuais, se nominais ou efetivas, o seu período de incidência e o sistema de amortização;

VII – as informações acerca da possibilidade do exercício, por parte do adquirente do imóvel, do direito de arrependimento previsto no art. 49 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), em todos os contratos firmados em estandes de vendas e fora da sede do loteador ou do estabelecimento comercial;

VIII – o prazo para quitação das obrigações pelo adquirente após a obtenção do termo de vistoria de obras;

IX – informações acerca dos ônus que recaiam sobre o imóvel;

X – o número do registro do loteamento ou do desmembramento, a matrícula do imóvel e a identificação do cartório de registro de imóveis competente;

XI – o termo final para a execução do projeto referido no § 1º do art. 12 desta Lei e a data do protocolo do pedido de emissão do termo de vistoria de obras.

§ 1º Identificada a ausência de quaisquer das informações previstas no caput deste artigo, será concedido prazo de 30 (trinta) dias para aditamento do contrato e sanea-mento da omissão, findo o qual, essa omis-são, se não sanada, caracterizará justa causa para rescisão contratual por parte do adqui-rente.

§ 2º A efetivação das consequências do desfazimento do contrato, mencionadas no inciso V do caput deste artigo, dependerá de anuência prévia e específica do adquirente a seu respeito, mediante assinatura junto a essas cláusulas, que deverão ser redigidas conforme o disposto no § 4º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).”

Art. 32-a: resolução por fato imputado ao adquirenteA Lei nº 13.786/2018 acrescenta o art. 32-A à Lei nº 6.766/79 disciplinando as consequências da resolução do contrato em caso de fato imputa-do ao adquirente:

Art. 32-A. Em caso de resolução contratual por fato imputado ao adquirente, respeitado o disposto no § 2º deste artigo, deverão ser restituídos os valores pagos por ele, atuali-zados com base no índice contratualmente estabelecido para a correção monetária das parcelas do preço do imóvel, podendo ser descontados dos valores pagos os seguintes itens:

I – os valores correspondentes à eventual fruição do imóvel, até o equivalente a 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) sobre o valor atualizado do contrato, cujo prazo será contado a partir da data da transmis-são da posse do imóvel ao adquirente até sua restituição ao loteador;

II – o montante devido por cláusula penal e despesas administrativas, inclusive arras ou sinal, limitado a um desconto de 10% (dez por cento) do valor atualizado do contrato;

III – os encargos moratórios relativos às prestações pagas em atraso pelo adquirente;

IV – os débitos de impostos sobre a proprie-dade predial e territorial urbana, contribui-ções condominiais, associativas ou outras de igual natureza que sejam a estas equipara-das e tarifas vinculadas ao lote, bem como tributos, custas e emolumentos incidentes sobre a restituição e/ou rescisão;

V – a comissão de corretagem, desde que integrada ao preço do lote.

Em quanto tempo deverá ocorrer essa devolu-ção? Deverá ser imediata?

NÃO. O pagamento da restituição poderá ocor-rer em até 12 parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamento:

no prazo máximo de 180 dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 1º O pagamento da restituição ocorrerá em até 12 (doze) parcelas mensais, com início após o seguinte prazo de carência:

I – em loteamentos com obras em andamen-to: no prazo máximo de 180 (cento e oiten-ta) dias após o prazo previsto em contrato para conclusão das obras;

II – em loteamentos com obras concluídas: no prazo máximo de 12 (doze) meses após a formalização da rescisão contratual.

§ 2º Somente será efetuado registro do contrato de nova venda se for comprovado o início da restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do registro cancelado na forma e condições pactuadas no distrato, dispensada essa comprovação nos casos em que o adquirente não for localizado ou não tiver se manifestado, nos termos do art. 32 desta Lei.

As regras acima expostas não se apli-cam para alienação fiduciária de bens imóveis

§ 3º O procedimento previsto neste artigo não se aplica aos contratos e escrituras de compra e venda de lote sob a modalidade de alienação fiduciária nos termos da Lei n° 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Resolução por inadimplemento do adquirente

O caput do art. 34 da Lei nº 6.766/79 estabelece:

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeito-rias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposi-ção contratual em contrário.

A Lei nº 13.786/2018 acrescenta o § 2º ao art. 34 com a seguinte redação:

Art. 34 (...)

§ 2º No prazo de 60 (sessenta) dias, contado da constituição em mora, fica o loteador, na hipótese do caput deste artigo, obrigado a alienar o imóvel mediante leilão judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997.

A Lei nº 13.786/2018 altera também a redação do art. 35 da Lei nº 6.766/79. Compare:

VigênciaAs modificações promovidas pela Lei nº 13.786/2018 entraram em vigor na data de sua publicação (28/12/2018).

Lei 13.793/2019permite que os advogados possam visualizar e impri-mir processos eletrônicos mesmo sem estarem fun-cionando nos autos

Direito de acesso aos autos dos PROCESSOS sem procuração

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê, em seu art. 7º, XIII, que:

Em regra, é direito do advogado examinar...

• em qualquer órgão do Poder Judiciário

• em qualquer órgão do Poder Legislativo

• ou em qualquer órgão ou entidade da Administração Pública

• os autos de processos judiciais (cíveis/cri-minais) e

• os autos de processos administrativos

• que ainda estejam em andamento

• ou que já tenham sido encerrados

• mesmo sem procuração.

Exceção: se o processo estiver sujeito a sigilo ou segredo de justiça, o advogado somente poderá ter acesso aos autos se possuir procuração.

Autos de flagrante e investigações

Esse direito do advogado de acesso aos autos vale também para o flagrante, o inquérito e outras investigações de qualquer natureza?

SIM, conforme assegura o art. 7º, XIV, da Lei nº 8.906/94:

Art. 7º São direitos do advogado:

(...)

XIV – examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclu-sos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245/2016)

No caso deste inciso XIV, a situação da procura-ção é a mesma:

• Em regra: o advogado pode ter acesso aos autos dos processos e procedimentos mesmo que não tenha procuração das partes envolvi-das.

• Exceção: será necessário que o advogado apresente procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da OAB).

Documentos relacionados a diligências de investigação em andamento

Algumas vezes, pode acontecer de estarem sendo realizados determinados tipos de diligên-cias que, se forem reveladas ao investigado, se tornarão completamente inúteis.

Ex: o telefone do investigado, com autorização judicial, está interceptado.

Ex2: o Delegado está organizando uma busca e apreensão na casa do indiciado.

Se tais informações forem transmitidas ao advogado, a eficácia das diligências estará frustrada, considerando que o investigado, em tese, não irá falar nada ao telefone que possa incriminá-lo e retirará de sua casa qualquer

documento que lhe seja prejudicial. Pensando nisso, o legislador autoriza que, nestas hipóte-ses, a autoridade responsável pela investigação não junte aos autos os documentos relaciona-dos com as diligências ainda em andamento. É o que dispõe o § 11 do art. 7º do Estatuto da OAB, acrescentado pela Lei nº 13.245/2016:

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a auto-ridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em anda-mento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometi-mento da eficiência, da eficácia ou da finali-dade das diligências.

Esse direito do advogado de ter acesso aos autos existe também nos processos eletrônicos?

SIM. Mesmo antes da Lei nº 13.793/2019, eu penso que isso já era permitido, considerando que não havia motivo razoável para uma dife-renciação, ou seja, para se permitir o acesso do advogado sem procuração aos autos de proces-so físico e vedar no caso de processo eletrônico. A forma dos autos é indiferente.

Esse aliás, já era o entendimento da maioria dos Tribunais de Justiça que, em seus sistemas

informatizados, permitia que o usuário, na internet, após se cadastrar como advogado, tivesse acesso a quaisquer processos não sigilosos, mesmo sem procuração.

O legislador, contudo, optou por deixar isso expresso. Assim, a Lei nº 13.793/2019 incluiu o § 13 ao art. 7º do Estatuto da OAB prevendo o seguinte:

Art. 7º (...)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a proces-sos e a procedimentos eletrônicos, ressalva-do o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo.

O § 10 exige procuração caso os autos estejam sujeitos a sigilo e o § 11 prevê a possibilidade de se proibir o acesso do advogado às diligên-cias em curso.

Além disso, a Lei nº 13.793/2019 alterou também o dispositivo mais “polêmico” e que era utilizado por aqueles que sustentavam não ser possível ao advogado, sem procuração, ter acesso a processos eletrônicos. Refiro-me ao § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrô-nico) que, de fato, era muito mal redigido. Com-pare a redação anterior com a atual:

Cadastro e demonstração de interesse

Antes de o advogado, procurador ou membro do MP ter acesso ao processo eletrônico, o sistema deverá exigir que ele faça um cadastro para que se prove a condição profissional e como uma forma de controle do acesso aos dados.

Vale ressaltar que esse cadastro não está sujeito à aprovação discricionária. Ao fazer o cadastro, o profissional comprova a sua condição de advoga-do, procurador ou membro do MP e, automatica-mente, já terá acesso ao processo eletrônico, salvo se estiver em segredo de justiça.

É isso que se interpreta do § 7º do art. 11, inserido pela Lei nº 13.793/2019:

Art. 11 (...)

§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vincu-lados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazenados em meio eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça.

O que significa a expressão “desde que demonstra-do interesse para fins apenas de registro”?

A redação não foi muito feliz. Penso, no entan-to, que o objetivo deste trecho foi dizer que os sistemas que gerenciam os processos eletrôni-cos (exs: PROJUDI, EPROC, SAJ etc.) devem permitir que advogados, procuradores e mem-bros do MP cadastrados acessem automatica-mente os autos eletrônicos, mesmo que não estejam vinculados àquele processo, desde que o profissional demonstre interesse em acessá--lo (clicando no número do processo, p. ex.), ocasião em que esse acesso ficará salvo no histórico do sistema para fins de registro, como uma forma de segurança e controle.

Mudança no CPC

O CPC/2015 possui um artigo no qual trata sobre alguns direitos dos advogados (art. 107).No inciso I deste artigo, é previsto justamente o acesso aos autos de quaisquer processos, mesmo sem procuração, repetindo, com outras palavras, aquilo que já era assegurado pelo art. 7º, XIII, do Estatuto da OAB.Veja o inciso I do art. 107 do CPC:

Art. 107. O advogado tem direito a:I – examinar, em cartório de fórum e secre-taria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independente-mente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anota-ções, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado consti-tuído terá acesso aos autos;

A Lei nº 13.793/2019, a fim de manter a coerên-cia no sistema e sendo extremamente cautelo-sa, também inseriu o § 5º a esse artigo dizendo, expressamente, que “qualquer processo” inclui “processos eletrônicos”. Confira o parágrafo incluído:

Art. 107 (...)§ 5º O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos eletrônicos. (Incluído pela Lei nº 13.793/2019)

Defensores Públicos

A Lei nº 13.793/2019 falhou ao não incluir expressamente os Defensores Públicos no § 6º do art. 11 da Lei nº 11.419/2006.

Contudo, os Defensores Públicos, apesar de não serem advogados, possuem as mesmas prerrogativas funcionais que os advogados, considerando que os membros da Defensoria Pública precisam dos instrumentos necessários para oferecer aos necessitados assistência

jurídica integral e gratuita (inclusive quanto à orientação jurídica), nos termos do art. 134 da CF/88.

Assim, mostra-se inconstitucional qualquer ato normativo ou medida concreta que confira ao Defensor Público menos prerrogativas funcio-nais que aos advogados, considerando que isso viola o dever estatal imposto pela Constituição Federal de fornecer assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Ora, a assistência jurídica não será integral se o necessitado estiver sendo assistido por um Defensor Públi-co que não goza das mesmas garantias que um advogado particular.

Vale ressaltar, como reforço, que o inciso XIV do art. 7º da LC 80/94 prevê expressamente o direito dos Defensores Públicos de examinar autos de flagrantes, inquéritos e processos não sendo necessário, em regra, procuração para isso:

Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:

(...)

VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;

(...)

XI – representar a parte, em feito adminis-trativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;

Vigência

A Lei nº 13.793/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (04/01/2019).

Lei 13.792/2019altera o código civil para modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas

Noções gerais sobre sociedades limitadasSociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos arts. 1.052 e seguintes do Código Civil.

Trata-se da forma mais comum de sociedade empresária.

Administração das sociedades limitadas

A sociedade limitada tem um ou mais adminis-tradores.

O administrador poderá ser nomeado:

a) no contrato social;

b) em ato separado (ex: ata de assembleia).

É o que diz o art. 1.060 do Código Civil:

Art. 1.060. A sociedade limitada é adminis-trada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.

Quem pode ser administrador

O administrador da sociedade limitada pode ser:

a) um sócio (administrador sócio);

b) um indivíduo que não seja sócio (administra-dor não-sócio).

Administrador não-sócio

A designação de administradores não sócios dependerá de:

• aprovação da unanimidade dos sócios: se o capital da sociedade ainda não estiver integrali-zado; ou de

• aprovação de 2/3 dos sócios (no mínimo): se o capital já estiver integralizado.

Término do prazo do exercício do cargo de administrador

O administrador pode ter sido designado para exercer a função com ou sem prazo determina-do.

Se o administrador for designado com prazo determinado, o exercício do cargo de adminis-trador cessa pelo término do prazo.

É possível que haja a recondução do adminis-trador no cargo.

Destituição

Se o administrador for designado com prazo indeterminado, ele pode ser, a qualquer tempo, destituído do cargo.

Quórum para destituição de administrador sócio designado no contrato social

Art. 1.063 (...)

§ 1º Tratando-se de sócio nomeado adminis-trador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição contratual diversa.

Art. 1.063 (...)

§ 1º Tratando-se de sócio nomeado adminis-trador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, salvo disposição contratual diversa.

Antes da Lei 13.792/2019 Depois da Lei 13.792/2019 (atualmente)

No mínimo, 2/3 do capital social Mais da metade (1/2) do capital social

Quórum para destituição dos administradores da sociedade limitada

• Para a destituição de administrador não sócio: exigia-se o voto de mais da metade do capital social.

• Para a destituição de administrador sócio: exigia-se o voto de, no mínimo, 2/3 do capital social.

Tanto para a destituição de administrador sócio como não sócio, o quórum exigido é de mais da metade do capital social.

Houve, portanto, uma redução do quórum para destituição de administrador sócio.

Antes da Lei 13.792/2019 Depois da Lei 13.792/2019 (atualmente)

Quórum para destituição do administrador sócioSe for um “administrador sócio”, que tenha sido designado administrador no contrato social, a sua destitui-ção precisa de aprovação dos demais sócios. Qual é o quórum, neste caso?

Resolução da sociedade em relação a sócios minoritáriosDissolução de uma sociedade:

A dissolução de uma sociedade pode ser:

a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada.

b) Total: quando a sociedade é extinta.

Dissolução parcial de sociedade

Ocorre, portanto, quando um ou alguns sócios se desligam da sociedade, mas ela continua

existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”.

Direito de retirada

Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade.

Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios.

Exclusão do sócio minoritário

Outra hipótese de dissolução parcial de socieda-de é a exclusão do sócio minoritário. Neste caso, o sócio sai do quadro societário, não por vonta-de própria, mas sim por deliberação da maioria da sociedade. Ele é expulso.

Com relação às sociedades limitadas, o Código Civil trata sobre o tema no art. 1.085, afirman-do que é possível a exclusão extrajudicial do sócio por justa causa, desde que isso esteja previsto no contrato social.

Desse modo, para que ocorra a exclusão extrajudicial do sócio, é necessário o preenchi-mento dos seguintes requisitos:

1) verifica-se que o sócio está colocando a sociedade em risco por meio da prática de atos de inegável gravidade;

2) existe no contrato social previsão expressa da possibilidade de exclusão do sócio por justa causa (obs: se não houver previsão no contrato social, será possível a exclusão do sócio por justa causa, mas isso deverá ocorrer por meio de ação judicial, não sendo cabível a exclusão extrajudicial);

3) deverá ser especialmente convocada reunião ou assembleia para discutir a exclusão do sócio;

4) o sócio acusado deverá ser cientificado dessa reunião ou assembleia, devendo essa notificação ser feita em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa;

5) na reunião ou assembleia, a maioria dos sócios deverá decidir pela exclusão do sócio acusado (obs: quando se fala em maioria dos sócios significa dizer que eles devem represen-tar mais da metade do capital social).

O sócio excluído terá direito à apuração dos seus haveres, ou seja, ele terá direito ao recebi-mento do valor da sua quota, nos termos do art. 1.031 do CC e do art. 599, III, do CPC/2015.

Se a sociedade limitada for formada apenas por dois sócios

Se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não precisa ser feita em reunião ou assembleia especial-mente convocada para esse fim. Foi o que determinou a Lei nº 13.792/2019, ao alterar o parágrafo único do art. 1.085 do CC:

Lei 13.796/2019 escusa de consciência em caso de atividades escola-res realizadas em dia de guarda religiosa

Noções gerais sobre escusa deconsciênciaEscusa de consciência

Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política.

Trata-se de um direito fundamental assegura-do pelo art. 5º, VIII, da CF/88.

Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obriga-ção legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei.

Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88:

Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...)

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:(...)IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”.

Exemplo típico: participar de guerra

O exemplo mais comum de alegação de impe-rativo de consciência é o alistamento militar.

Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele ficar dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

(...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...)

§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordena-ção com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essen-cialmente militar.

§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar.

(...)

Outro exemplo: participação como jurado

Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP).

É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consci-ência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri funda-da em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto.

§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter adminis-trativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defenso-ria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins.

§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo aten-dendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Novo art. 7º-A da LDB

Lei nº 13.796/2019 garante expressamente outra hipótese de escusa de consciência

A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”.

Vamos detalhar o dispositivo inserido.

Em linhas gerais, o que estabelece o novo art. 7º-A:

• O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

• de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior),

• possui o direito de

• se ausentar de aula ou mesmo de prova

• caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual,

• segundo os preceitos da religião desse aluno,

• ele não puder exercer tais atividades,

• ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”.

O exemplo mais comum é o da Igreja Adventis-ta do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares.

Requerimento

Para ter direito de se ausentar, o aluno deverá, previamente, fazer um requerimento motiva-do, ou seja, explicando as razões pelas quais, com base na sua liberdade de consciência e de crença, ele não poderá comparecer.

Prestação alternativa

O aluno terá direito de se ausentar. No entan-to, em compensação, terá que cumprir uma das seguintes prestações alternativas:

1) fazer a prova ou assistir à aula de reposição, em uma data alternativa.

Obs: a Lei impõe que essa prova ou aula alter-nativa deverá ser realizada no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa.

2) fazer um trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela instituição de ensino.

Três observações sobre essa prestação alter-nativa:

• Cabe à instituição de ensino definir qual a prestação alternativa deverá ser cumprida pelo aluno.

• A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

• O cumprimento da prestação alternativa substituirá a obrigação original para todos os efeitos, regularizando o registro de frequência do aluno.

A instituição poderá exigir alguma cobrança extra para essa atividade alternativa? Ex: uma “taxa” de segunda chamada?

NÃO. A prestação alternativa deverá ser ofere-cida sem custos para o aluno.

Colégios Militares estão excluídos desta obrigatoriedade

O disposto no art. 7º-A da LDB não se aplica ao ensino militar.

Vigência

A Lei nº 13.797/2019 entra em vigor 60 dias após a sua publicação oficial, ou seja, no dia 05/03/2019.

Vale ressaltar, no entanto, que as instituições de ensino terão um prazo de 2 anos, ou seja, até o dia 05/03/2021, para implementar progressiva-mente as providências e adaptações necessárias para a aplicação deste novo art. 7º-A.

Veja abaixo a íntegra do art. 7º-A da LDB, inserido pela Lei nº 13.796/2019:

Art. 7º- A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I – prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II – trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objeti-vo e data de entrega definidos pela institui-ção de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá obser-var os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de presta-ção alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do regis-tro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementa-rão progressivamente, no prazo de 2 (dois)

anos, as providências e adaptações neces-sárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

Decisão do STF em sentido contrário

O STF possui uma decisão antiga (do fim de 2009), na qual o Tribunal negou o pedido de jovens judeus que pretendiam obrigar a União a marcar uma data alternativa para a realiza-ção das provas do ENEM a fim de que não coincidisse com o “Shabat”, período sagrado da religião judaica.

Vale ressaltar que o tema foi apreciado em sede de suspensão de tutela antecipada, não tendo sido feito um debate aprofundado sobre esse direito, de forma que não se pode dizer que se trata da “posição” do STF. Veja trecho da ementa:

(...) 2. Pedido de restabelecimento dos efeitos da decisão do Tribunal a quo que possibilitaria a participação de estudantes judeus no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em data alternativa ao Shabat.

3. Alegação de inobservância ao direito fundamental de liberdade religiosa e ao direito à educação.

4. Medida acautelatória que configura grave lesão à ordem jurídico-administrativa.

5. Em mero juízo de delibação, pode-se afirmar que a designação de data alternati-va para a realização dos exames não se revela em sintonia com o princípio da isonomia, convolando-se em privilégio para um determinado grupo religioso. (...)

STF. Plenário. STA 389 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes (Presidente), julgado em 03/12/2009.

Lei estadual nº 12.142/2005 (SP)

Importante pontuar, por fim, que existe uma Lei do Estado de São Paulo (Lei nº 12.142/2005), que estabelece que as provas de concur-sos públicos ou seleções de vestibulares reali-zados por universidades públicas ou privadas não deverão utilizar o horário de 8h às 18h dos sábados quando algum candidato alegue impossibilidade de comparecimento por motivo de crença religiosa.

A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) ajuizou ADI 3714 no STF contra o dispositivo, mas até o momento ainda não foi julgada.

LC 164/2018altera o art. 23 da lei de responsabilidade fiscal

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

A Lei Complementar nº 101/2000 estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Ela é popu-larmente conhecida como "Lei de Responsabili-dade Fiscal".

Limites de gastos com pessoal

A LRF estabelece valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal (despesas com servidores públicos).

A Lei prevê esses limites por força de uma determinação contida no art. 169 da CF/88:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

Quais são os limites previstos na LRF?

Tais limites estão fixados nos arts. 19 e 20 da LRF e podem ser assim resumidos:

Veja que, para cada ente, há duas espécies de limites de gastos:

1) Limite máximo (limite total). Ex: no caso dos Municípios, o limite total é de 60% da RCL;

2) Limites individualizados para o Executivo, Legislativo etc. Exs: no caso dos Municípios, os limites individualizados são 54% para o Executi-vo (“Prefeitura”) e 6% para o Legislativo (“Câma-ra Municipal”).

Sanções

A Lei de Responsabilidade Fiscal prevê, em seu art. 23, caput e § 3º, que, se esses limites forem ultrapassados, os entes poderão sofrer deter-minadas sanções:

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultra-passar os limites definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

(...)

§ 3º Não alcançada a redução no prazo estabelecido, e enquanto perdurar o exces-so, o ente não poderá:

I – receber transferências voluntárias;

II – obter garantia, direta ou indireta, de outro ente;

III – contratar operações de crédito, ressal-vadas as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à redução das despesas com pessoal.

O que fez a LC 164/2018?

Acrescentou duas exceções à regra da punição, ou seja, duas hipóteses nas quais o Município, mesmo tendo descumprido o limite de gastos com pessoal, não receberá tais sanções.

Essas duas situações foram previstas no novo § 5º do art. 23:

Art. 23 (...)

§ 5º As restrições (leia-se: sanções) previs-tas no § 3º deste artigo não se aplicam ao Município em caso de queda de receita real superior a 10% (dez por cento), em compa-ração ao correspondente quadrimestre do exercício financeiro anterior, devido a:

I – diminuição das transferências recebidas do Fundo de Participação dos Municípios decorrente de concessão de isenções tributárias pela União; e

II – diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais.

A LC 164/2018 também inseriu o § 6º prevendo o seguinte:

§ 6º O disposto no § 5º deste artigo só se aplica caso a despesa total com pessoal do quadrimestre vigente não ultrapasse o limite percentual previsto no art. 19 desta Lei Complementar, considerada, para este cálculo, a receita corrente líquida do qua-drimestre correspondente do ano anterior atualizada monetariamente.

Relembrando o que diz o art. 19, mencionado neste § 6º:

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:

I – União: 50% (cinquenta por cento);

II – Estados: 60% (sessenta por cento);

III – Municípios: 60% (sessenta por cento).

Resumindo:

Para que o Município fique livre das sanções administrativas aplicadas em caso de excesso nas despesas com pessoas, será necessário cumprir as seguintes condições cumulativas:

1) o Município deve ter tido, no quadrimes-tre, queda de receita real superior a 10%, em comparação com o correspondente quadrimestre do exercício anterior;

2) a referida queda de receita tenha decor-rido:

a) de isenções fiscais concedidas pela União que levem à diminuição das transfe-rências do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou

b) da diminuição das receitas recebidas de royalties e participações especiais;

3) a despesa total com pessoal do Municí-pio (somando-se a da “Prefeitura”/Poder Executivo com a da “Câmara de Vereado-res”/Legislativo), verificada no quadrimes-tre, não tenha ultrapassado o limite geral de 60% da Receita Corrente Líquida.

Tem uma informação importante a ser ressal-tada mais uma vez porque talvez ainda não tenha ficado muito clara:

Somente serão beneficiados com esse novo § 5º do art. 23 os Municípios que respeitaram o limite máximo de 60%, mas que descumpriram um dos dois limites individualizados (ou o limite da “Prefeitura” ou o limite da “Câmara”) em razão da queda real de arrecadação superior a 10%.

Ex: o Município X gastou 60% da RCL com pesso-al, sendo que foram gastos 55% para o Executivo (Prefeitura) e 5% para o Legislativo (Câmara). Esse Município ultrapassou o limite individualiza-do da Prefeitura (que era de 54%), mas não superou o limite máximo (que é de 60%). Logo, em tese, a ele se aplica o § 5º do art. 23.

Ex2: o Município X gastou 61% da RCL com pessoal. Não importa que isso tenha ocorrido por queda de arrecadação. A ele não se aplica o § 5º do art. 23 porque não foi respeitado o art. 19 da Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme exige o § 6º do art. 23.

Observações finais:

• A LC 164/2018 não flexibiliza (não dilata/não aumenta) o limite máximo previsto para despe-sas com pessoal dos Municípios (continua tendo que respeitar ao 60% da RCL);

• Assim, os Municípios que ultrapassarem o limite da despesa total com pessoal (60% da RCL), continuarão sofrendo as sanções previs-tas na LRF;

• Os municípios que romperem limites individu-ais de despesa com pessoal (Prefeitura ou Câmara) em razão de AUMENTOS de gastos continuam sujeitos às sanções da LRF. Ex: Município decidiu contratar mais funcionários. Isso porque o § 5º somente isenta das sanções se o desrespeito do limite individualizado decorreu de queda da receita oriunda do FPM ou dos royalties.

Vigência e eficácia

A LC 164/2018 entro em vigor na data de sua publicação (19/12/2018) e produz efeitos de 2019 em diante.

Fonte

Para entender melhor o tema, recomendo a leitura do substancioso estudo elabora-do pelos Consultores de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados Eugênio Greggia-nin e Graciano Rocha Mendes.

Lei 13.767/2018ausência remunerada do serviço para que o empre-go realize exames preven-tivos de câncer

A Lei nº 13.767/2018 alterou o art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a fim de permitir a ausência ao serviço para realiza-ção de exame preventivo de câncer.

Art. 473 da CLT

O art. 473 da CLT prevê situações de interrup-ção do contrato de trabalho, ou seja, hipóteses nas quais o empregado é autorizado a não trabalhar e, mesmo assim, terá direito à remu-neração referente ao período.

A Lei nº 13.767/2018 acrescenta uma nova hipótese ao rol do art. 473. Veja:

Art. 473. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

(...)

XII – até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devida-mente comprovada.

Exames preventivos de câncer

Infelizmente a Medicina ainda não consegue definir, com precisão, todas as causas de um câncer. Algumas delas são bem evidentes, como o tabagismo ou a exposição excessiva ao sol. No entanto, há fatores também genéticos e causas externas que somente no futuro sabe-remos da sua correlação.

Em razão disso, a prevenção de câncer envolve hábitos de vida saudáveis e um cuidado global com o corpo e a mente.

Partindo dessa premissa, qualquer exame para detectar precocemente problemas na saúde seria, em tese, um exame preventivo de câncer. Uma consulta ao dermatologista, por exemplo, com análise de manchas na pele é um exame preventivo de câncer.

A fim de evitar celeumas, é importante que a Presidência da República, assistida pelo Minis-tério da Saúde, edite um Decreto regulamen-tando a Lei e prevendo um rol (ainda que

exemplificativo) de exames médicos que são considerados, pela comunidade científica, como preventivos de câncer. Essa medida simples evitará conflitos entre empregados e empregadores.

Enquanto isso não ocorre, podemos apontar os mais comuns:

• Mamografia;

• Colonoscopia;

• Papanicolaou;

• Próstata;

• Colo do útero;

• Pesquisa de sangue oculto nas fezes;

• Ressonância magnética;

• Tomografia.

Devidamente comprovada

O trabalhador deverá apresentar ao emprega-dor o comprovante da realização do exame. Para isso, basta, por exemplo, a apresentação de cópia daquele papel fornecido pelo labora-tório indicando a data provável do resultado.

VigênciaA Lei nº 13.767/2018 entrou em vigor no dia de sua publicação (18/12/2018).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias (ADCT) somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

Art. 10. (...) II – fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.

Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida pelo empre-gador ele não soubesse de sua gravidez.

STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/10/2018 (reper-cussão geral) (Info 919).

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

Não viola a Constituição Federal a cobran-ça de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.

Os Colégios Militares apresentam peculia-ridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimen-tos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.

Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.

A quota mensal escolar exigida nos Colé-gios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.

Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.

Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder Executivo.

Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convoca-ção do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio (cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016, Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição ao cargo de Prefei-to porque seria o terceiro mandato conse-cutivo deste núcleo familiar.

STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura de emenda à Constituição Estadual

A iniciativa popular de emenda à Consti-tuição Estadual é compatível com a Consti-tuição Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49, VI, da CF/88.

Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emen-das ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedi-mento para que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência constante da Carta Federal.

STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018 (Info 921).

São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a manter empacotador para as compras

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).

STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexan-dre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

É inconstitucional lei municipal que institua loteria local

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances (loteria) em âmbito local.

A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.

Sobre o tema, vale a pena lembrar a SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.

Essa lei municipal invade a competência da União.

O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expan-são urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal impôs restrição desproporcional.

Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julga-dos em 11/10/2018 (Info 919).

A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.

Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível.

STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.

STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/10/2018 (repercussão geral) (Info 921).

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde pelos prejuízos causados pela venda indevida de ações mediante uso de procuração falsa

A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia, atual BM&F BOVESPA, não responde civilmente pelos prejuízos decorrentes da negociação de ações mobiliárias mediante uso de procuração pública falsa que não lhe foi apresentada.

Constitui responsabilidade do agente de custódia (corretoras de valores) fiscalizar a regularidade das procurações apresentadas para transferência de valores mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.983-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)

Os bens e direitos que integram o patri-mônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal.

STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O art. 305 do CTB é constitucional e não viola o princípio da não autoincriminação

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é consti-tucional, posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de exclusão da tipicidade e da antijuridicidade.

STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2018 (repercussão geral) (Info 923).

Esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido

A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra autor de mensagem que insinua que o seu marido tem uma relação extraconjugal com outro homem.

Se alguém alega que um indivíduo casado mantém relação homossexual extraconju-gal com outro homem, a esposa deste indivíduo tem legitimidade para ajuizar queixa-crime por injúria, alegando que também é ofendida.

Caso concreto: Roberto insinuou que Weverton teria um relacionamento homos-sexual extraconjugal com outro homem. A mulher de Weverton tem legitimidade para ajuizar queixa-crime contra Roberto pela prática do crime de injúria.

STF. 1ª Turma. Pet 7417 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Não se pode decretar a preventiva do autor de contravenção penal, mesmo que ele tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica e mesmo que tenha descumprido medida protetiva a ele imposta

A prática de contravenção penal, no âmbito de violência doméstica, não é motivo idôneo para justificar a prisão preventiva do réu.

O inciso III do art. 313 do CPP prevê que será admitida a decretação da prisão preventiva “se o CRIME envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência”.

Assim, a redação do inciso III do art. 313 do CPP fala em CRIME (não abarcando contravenção penal). Logo, não há previ-são legal que autorize a prisão preventiva contra o autor de uma contravenção penal. Decretar a prisão preventiva nesta hipótese representa ofensa ao princípio da legalidade estrita.

STJ. 6ª Turma. HC 437.535-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018 (Info 632).

A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência

O porte de droga para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006, possui natureza jurídica de crime.

O porte de droga para consumo próprio foi somente despenalizado pela Lei nº 11.343/2006, mas não descriminalizado.

Obs: despenalizar é a medida que tem por objetivo afastar a pena como tradicional-mente conhecemos, em especial a privativa de liberdade. Descriminalizar significa deixar de considerar uma conduta como crime.

Mesmo sendo crime, o STJ entende que a condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência.

Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura reincidência, mostra--se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência, considerando que este delito é punido apenas com “advertên-cia”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”, ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibili-dade de conversão em pena privativa de liberdade pelo descumprimento.

Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente questionada.

STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.

STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

Possibilidade de acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.

O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horá-rios no exercício das funções, cujo cumpri-mento deverá ser aferido pela administra-ção pública.

STF. 1ª Turma. RE 1.094.802 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/5/2018.

STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados

A Empresa Brasileira de Correios e Telé-grafos (ECT) tem o dever jurídico de moti-var, em ato formal, a demissão de seus empregados.

STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de eco-nomia mista

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestado-ras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.

STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.

Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).

STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

Prazo prescricional na responsa-bilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontra-tual é de 3 anos

É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento contratual.

É adequada a distinção dos prazos prescri-cionais da pretensão de reparação civil advinda de responsabilidades contratual e extracontratual.

Nas controvérsias relacionadas à respon-sabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002) que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.

Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva, abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.

Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:

• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).

• Responsabilidade contratual (inadimple-mento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).

STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é imprescindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente

A averbação do contrato com cláusula de vigência no registro de imóveis é impres-cindível para que a locação possa ser oposta ao adquirente.

É o que prevê a Lei nº 8.245/91:

Art. 8º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.612-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/08/2018 (Info 632).

O juiz não pode liberar o devedor de alimentos da prisão alegando que ele pagou quase toda a dívida e que, portanto, deve ser aplicada a teoria do adimplemento substancial

A teoria do adimplemento substancial não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias relacionadas a obriga-ções de natureza alimentar.

STJ. 4ª Turma. HC 439.973-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018 (Info 632).

Excepcionalmente, se a Turma, ao condenar o réu, estiver com quórum incompleto, será possível o cabimento dos embargos mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório

Em regra, cabem embargos infringentes para o Plenário do STF contra decisão condenatória proferida pelas Turmas do STF, desde que 2 Ministros tenham votado pela absolvição. Neste caso, o placar terá sido 3 x 2, ou seja, 3 Ministros votaram para condenar e 2 votaram para absolver.

Excepcionalmente, se a Turma, ao conde-nar o réu, estiver com quórum incomple-to, será possível aceitar o cabimento dos embargos infringentes mesmo que tenha havido apenas 1 voto absolutório. Isso porque o réu não pode ser prejudicado pela ausência do quórum completo.

STF. Plenário. AP 929 ED-2º julg-EI/AL, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

O juiz da execução criminal tem a faculdade de requisitar o exame criminológico e utilizá-lo como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão

Nada impede que o magistrado das execuções criminais, facultativamente, requisite o exame criminológico e o utilize como fundamento da decisão que julga o pedido de progressão.

STF. 2ª Turma. Rcl 27616 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/10/2018 (Info 919).

Havendo mais de um advogado constituído, não há nulidade na inti-mação de apenas um deles que, no entanto, já estava morto, mas cujo falecimento não foi comunicado ao juízo

Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entan-to, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal.

Vale ressaltar que, neste caso, não havia pedido da defesa para que todos os advoga-dos fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações.

Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta, em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa.

STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017.

STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barro-so, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Cumpre esclarecer, no entanto, que, se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade:

A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulida-de absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa.

STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018.

STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.

Plano de saúde não pode negar tratamento prescrito por médico sob o fundamento de que sua utilização está fora das indicações descritas na bula (uso off-label)

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescri-to pelo médico sob o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à autodeterminação e caracteri-za responsabilidade extracontratual

O médico deverá ser condenado a pagar indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

O dever de informar é dever de conduta decorrente da boa-fé objetiva e sua simples inobservância caracteriza inadimplemento contratual, fonte de responsabilidade civil per se. A indenização, nesses casos, é devida pela privação sofrida pelo paciente em sua autodeterminação, por lhe ter sido retirada a oportunidade de ponderar os riscos e vantagens de determinado tratamento que, ao final, lhe causou danos que poderiam não ter sido causados caso não fosse realizado o procedimento, por opção do paciente.

O dever de informação é a obrigação que possui o médico de esclarecer o paciente sobre os riscos do tratamento, suas vantagens e desvantagens, as possíveis técnicas a serem empregadas, bem como a revelação quanto aos prognósticos e aos quadros clínico e cirúrgico, salvo quando tal informação possa afetá-lo psicologicamente, ocasião em que a comunicação será feita a seu representante legal.

Para que seja cumprido o dever de informação, os esclarecimentos deverão ser presta-dos de forma individualizada em relação ao caso do paciente, não se mostrando suficiente a informação genérica (blanket consent).

O ônus da prova quanto ao cumprimento do dever de informar e obter o consentimen-to informado do paciente é do médico ou do hospital, orientado pelo princípio da colaboração processual, em que cada parte deve contribuir com os elementos probató-rios que mais facilmente lhe possam ser exigidos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.540.580-DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/08/2018 (Info 632).

Não é necessária a prestação da caução do art. 83 do CPC/2015 para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devida-mente representada no Brasil

Se o autor da ação judicial reside no exterior ou se muda para fora do país durante a tramitação do processo, ele precisará prestar uma caução que seja suficiente para pagar as custas processuais e honorários advocatícios caso ele perca a ação (art. 83 do CPC/2015).

Não é necessária a prestação de caução para o ajuizamento de ação por sociedade empresarial estrangeira devidamente representada no Brasil.

Ex: MSC Mediterranean Shipping Company S.A., empresa estrangeira, ajuizou, na justiça brasileira, uma ação de cobrança. O STJ afirmou que não se deveria exigir caução para a propositura da demanda, considerando que a autora, apesar de estrangeira, possuía uma agência de representação no Brasil (a MSC Mediterranean do Brasil Ltda.).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.441-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018 (Info 632).

É admissível a emenda à inicial para a substituição de executado pelo seu espólio, em execução ajuizada em face de devedor falecido antes do ajuizamento da ação

Se a ação é proposta contra indivíduo que já estava morto, o juiz não deverá determinar a habilitação, a sucessão ou a substituição processual. De igual modo, o processo não deve ser suspenso para habilitação de sucessores. Isso porque tais institutos são aplicáveis apenas para as hipóteses em que há o falecimento da parte no curso do processo judicial.

O correto enquadramento jurídico desta situação é de ilegitimidade passiva, devendo ser facultado ao autor, diante da ausência de ato citatório válido, emendar a petição inicial para regularizar o polo passivo, dirigindo a sua pretensão ao espólio.

Ex: em 04/04/2018, o Banco ajuizou execução de título extrajudicial contra João. A tentativa de citação, todavia, foi infrutífera, tendo em vista que João havia falecido em 04/03/2018, ou seja, um mês antes. Diante disso, o juiz deverá permitir que o exequente faça a emenda da petição inicial para a substituição do executado falecido pelo seu espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.791-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/08/2018 (Info 632).

NOVIDADESLEGISLATIVAS

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